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  • Universidade de So Paulo Centro de Energia Nuclear na Agricultura

    Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

    Balano de gua e de nitrognio em uma microbacia coberta por pastagem no litoral norte do Estado de So Paulo

    Luiz Felippe Salemi

    Dissertao apresentada para obteno do ttulo de Mestre em Ecologia Aplicada

    Piracicaba 2009

  • 1

    Luiz Felippe Salemi Bacharel em Gesto Ambiental

    Balano de gua e de nitrognio em uma microbacia coberta por pastagem no litoral norte do Estado de So Paulo

    Orientador: Prof. Dr. LUIZ ANTONIO MARTINELLI

    Dissertao apresentada para obteno do ttulo de Mestre em Ecologia Aplicada

    Piracicaba 2009

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao

    DIVISO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAO - ESALQ/USP

    Salemi, Luiz Felippe Balano de gua e de nitrognio em uma microbacia coberta por pastagem no litoral

    norte do Estado de So Paulo / Luiz Felippe Salemi. - - Piracicaba, 2009. 86 p. : il.

    Dissertao (Mestrado) - - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, 2009. Bibliografia.

    1. Bacia hidrogrfica 2. Balano hdrico 3. Mata Atlntica 4. Nitrognio 5. Pastagens 6. Uso do solo I. Ttulo

    CDD 551.483 S163b

    Permitida a cpia total ou parcial deste documento, desde que citada a fonte O autor

  • 3

    DEDICATRIA

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  • 4

    AGRADECIMENTOS

    Torna-se uma tarefa rdua imprimir em palavras tamanho agradecimento e considerao

    que tenho por tantas pessoas que contriburam para que eu pudesse executar e concluir esse

    trabalho. No entanto, tentando no me esquecer de ningum, segue aqui uma tentativa. Mas, antes

    tudo, muito obrigado a todos!!!

    Ao professor Dr. Luiz Antonio Martinelli (Zebu), pela amizade, pelas risadas, pelo

    aprendizado e por essa e inmeras oportunidades proporcionadas que tive o prazer de desfrutar,

    mas, acima de tudo, por acreditar e confiar em mim.

    Ao professor Dr. Jorge Marcos de Moraes (Gejor), pela amizade, pelas risadas, pela

    oportunidade, pelas elucubraes acadmicas, pelo aprendizado, pelos cartuchos de impressora e

    por acreditar e confiar em mim.

    Aos professores Dr. Reynaldo Luis Victoria, Dr. Walter de Paula Lima e Dra. Maria

    Victoria Ballester pela amizade, por me intrigarem com os fascnios da cincia ecologia e

    hidrologia de microbacias por meio de suas prazerosas aulas que culminaram na minha

    inquietude com relao cincia.

    Ao grande amigo MSc. Juliano Daniel Groppo (Joba) por toda a convivncia prazerosa

    que tivemos em Ubatuba, Piracicaba e em vrios outros lugares. Por todas as inmeras risadas,

    pelo aprendizado, pela companhia, pela pacincia, pela compreenso, e por acreditar em mim.

    s amigas Dra. Gabriela Bielefeld Nardoto e Dra. Simone Vieira, pela amizade, pelas

    risadas, por todas as salutares discusses acadmicas e por acreditarem em mim.

    Dra. Sandra Furlan Nogueira (San) por toda a companhia, carinho, amizade,

    estmulo, aprendizado acadmico e pessoal, apoio tcnico com seu imprescindvel computador

    velhinho de guerra que muito contribuiu para a execuo deste trabalho, e por acreditar em mim.

    Ao Rodrigo Trevisan (Rodrigo), pela amizade, pelas risadas, pela companhia, pelas

    discusses acadmicas, por todo o apoio tcnico enquanto eu e Joba morvamos em Ubatuba e

    por acreditar no Salemo.

    Graziele Bueno (Gr) e ao Gustavo Bicci Seghesi (Gu), pela amizade, pelas

    risadas, pela companhia, por todo o esforo de realizar as determinaes analticas que tornaram

    o presente trabalho possvel e por acreditarem em mim.

  • 5

    Ao professor Dr. Boaventura Freire dos Reis e a Sheila Wenzel (professora) ambos do

    laboratrio de Qumica Analtica do CENA/USP pela amizade e por concederem a ajuda para

    realizar as determinaes analticas do presente trabalho.

    Ao Jadson Dezincourt Dias, pela amizade, pelas risadas, pela companhia e por ser no

    mnimo, usando o neologismo que ele mesmo utiliza uma pessoa epocltica.

    A todos os membros atuais e no atuais do Laboratrio de Ecologia Isotpica do

    CENA/USP, so eles: Simoni Grilo, Fabiana Fracassi, Carolina Barisson, Leonardo Martinelli,

    Erclito Sousa Neto, Jean Pierre Ometto, Plnio Camargo, Marcelo Moreira, Mara Bezerra,

    Janana do Carmo, Vnia Neu, Marcos Scarnelo, Jos Mauro Moura, Adelaine Michela, Luciana

    Coleta, Dona Ruth, Tatiana Morgan, Fernando Godoy, Alexandre Pereira, Uwe Herpin

    (Monsieur), Susian Martins, Thiago (Pexe), Seu Sebastio (Bastio); Luis Felipe, Edmar

    Mazzi, Maria Antnia (Tonica), Geraldo Arruda (Gera), Nei Leite, Giovana, Elizabethe

    Ravagnani, Carlos Beduschi (Carlo), Bruno Pereira, Eduardo (Duzo) e Sandra Navarro.

    Agradeo muito a convivncia pessoal e acadmica, a amizade, e as muitas risadas que pude dar

    ao lado de vocs.

    A toda a primeira turma de bacharis em Gesto Ambiental formados na ESALQ/USP por

    tornarem a minha graduao muito mais do que uma simples faculdade, por todo o acolhimento

    em Piracicaba, por crerem que possvel um mundo melhor e por acreditarem em mim.

    Aos vrios amigos adquiridos em Ubatuba (Carlinhos, Lucas, Josi, Rosinha e Gabi) que

    tornaram o meu trabalho e do Joba na referida cidade, muito mais agradvel e proveitoso.

    minha querida e amada famlia (Nando, Gugu, Mame, Papai e Vov) que sempre me

    apoiou e, tenho certeza, sempre me apoiar na minha vida pessoal e cientfica, por todo o amor,

    pacincia, carinho e compreenso.

    minha querida quase me Ana Maria Herling Krgner e seu marido Tasso Leo Krgner,

    por me tratarem e aconchegarem to bem durante e depois de minha adaptao em Piracicaba,

    pelo afeto, pela amizade, pela pacincia e compreenso.

    A todo o pessoal do Parque Estadual da Serra do Mar (Joo Paulo Vilani, Wagner,

    Douglas, Alessandra, Fernanda, Flamnio, Dona Francisca, Paulo, Carlinhos, Wanderley,

    Valdomiro, Vicente, Antonio, Alex, Klriton, Augustinho) por todo apoio a pesquisa, pela

    amizade e por lutarem para proteger um local com uma floresta tropical to maravilhosa. Vale

  • 6

    colocar aqui um agradecimento especial ao Sr. Augustinho e a Dona Maria Teixeira por

    permitirem que o estudo fosse conduzido em seu stio.

    A todos os amigos do Clube Atltico Monte Lbano pela amizade e pelas risadas.

    Lourdes e a Eliete da seo de convnios do CENA/USP pela amizade e por ajudarem a

    administrar financeiramente o projeto no qual a pesquisa deste documento est inserida.

    Ao Fundo de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (processo 06/54292-9) que com

    seu financiamento tornou possvel a execuo deste trabalho.

  • 7

    SUMRIO

    RESUMO............................................................................................................................... 9

    ABSTRACT........................................................................................................................... 10

    1 INTRODUO.................................................................................................................. 11

    1.1 Objetivo........................................................................................................................... 13

    1.2 Hipteses.......................................................................................................................... 13

    2 DESENVOLVIMENTO..................................................................................................... 14

    2.1 REVISO BIBLIOGRFICA........................................................................................ 14

    2.1.1 Conceito de bacia hidrogrfica..................................................................................... 14

    2.1.2 Conceito de microbacia hidrogrfica............................................................................ 15

    2.1.3 Vias hidrolgicas que compoem o deflvio................................................................. 16

    2.1.4 Relao entre uso e manejo do solo e as vias hidrolgicas.......................................... 19

    2.1.5 Alteraes no balano hdrico com as mudanas de uso da terra................................. 20

    2.1.6 A biogeoqumica das bacias hidrogrficas................................................................... 22

    2.1.7 Nitrognio em bacias hidrogrficas.............................................................................. 23

    2.2 MATERIAL E MTODOS............................................................................................ 26

    2.2.1 Localizao da rea....................................................................................................... 26

    2.2.2 Caracterizao fsica da microbacia............................................................................. 27

    2.2.3 Delineamento experimental.......................................................................................... 27

    2.2.4 Densidade do solo e condutividade hidrulica do solo em condio de saturao....... 30

    2.2.5 Potencial matricial da gua no solo.............................................................................. 31

    2.2.6 Coleta de gua: do solo, do riacho, do lenol fretico, da chuva e do esc. superficial. 31

    2.2.6.1 Amostragem da soluo do solo................................................................................ 31

    2.2.6.2 Amostragem de gua do rio....................................................................................... 32

    2.2.6.3 Amostragem de gua do aqfero fretico................................................................. 33

    2.2.6.4 Amostragem de gua do escoamento superficial....................................................... 33

    2.2.7 Chuva: anlise de freqncia de intensidade e amostragem de gua........................... 34

    2.2.8 Anlise qumica do contedo de nitrognio................................................................. 35

  • 8

    2.2.9 Anlises estatsticas...................................................................................................... 36

    2.3 RESULTADOS............................................................................................................... 37

    2.3.1 Hidrologia..................................................................................................................... 37

    2.3.2 Nitrognio..................................................................................................................... 47

    2.4 DISCUSSO................................................................................................................... 54

    2.4.1 Hidrologia..................................................................................................................... 54

    2.4.2 Nitrognio..................................................................................................................... 61

    3 CONCLUSES.................................................................................................................. 73

    REFERNCIAS.................................................................................................................... 74

  • 9

    RESUMO

    Balano de gua e de nitrognio em uma microbacia coberta por pastagem no litoral norte do Estado de So Paulo

    A Mata Atlntica o bioma mais ameaado do Brasil. Sua degradao substancial ocorreu

    desde a chegada dos europeus ao pas por meio da mudana de uso solo e pela explorao da floresta. No entanto, pouco se sabe a respeito das conseqncias hidrolgicas e biogeoqumicas da mudana de uso do solo nos domnios do referido ecossistema. Neste contexto, as microbacias hidrogrficas tm sido objeto de muitos estudos devido sua alta sensibilidade aos processos hidrolgicos e biogeoqumicos ocorrentes dentro delas. No presente estudo, calculou-se o balano hdrico anual de uma microbacia coberta por pastagem na regio do litoral norte do Estado de So Paulo. Essa bacia originalmente era coberta por floresta ombrfila densa. Em adio, amostrou-se gua do escoamento do riacho, escoamento superficial, soluo do solo (30, 50 e 90 cm de profundidade), gua subterrnea, e precipitao de 05/12/2007 04/12/2008 para a anlise de nitrognio inorgnico. O contedo de nitrognio (N-NH4

    + e N-NO3-) foi determinado por

    anlise por injeo em fluxo (FIA). Com o intuito de elucidar os processos hidrolgicos que geram escoamento direto, mediu-se a condutividade hidrulica do solo em condio de saturao a 15, 30, 50 e 90 cm com um permemetro de carga constante. Como resultados, foi obtido que o sistema hidrogrfico possui evapotranspirao, calculada para o perodo de estudo, de 697 mm (precipitao anual e deflvio anual, respectivamente, de 1433 mm e 736 mm); por meio da curva de durao de fluxo, o escoamento de base foi inferida como a via hidrolgica com maior contribuio ao deflvio anual. O escoamento superficial pouco expressivo devido ao fato que 77% dos eventos de chuva se enquadram na classe de intensidade de 0-5 mm h-1 que est abaixo da condutividade hidrulica do solo em condio de saturao a 15 cm de profundidade (22 mm h-1). O baixo coeficiente de escoamento superficial (0,01) obtido em parcelas corrobora essa assertiva. Ademais, como predominam chuvas de baixa intensidade, apesar de haver degradao fsica do solo, no espera-se diferenas expressivas na produo de escoamento direto. A maioria das amostras tiveram suas concentraes abaixo do limite de deteco (0,71 M e 0,35 M para N-NH4

    + e N-NO3- respectivamente). Na maioria dos compartimentos e processos hidrolgicos o

    amnio predominou em relao ao nitrato. Para a soluo do solo, percebe-se que h pulsos de nitrognio inorgnico quando o solo se torna menos mido. Nota-se pelo balano de nitrognio inorgnico associado gua que a microbacia possui um ganho lquido (0,95 kg N ha-1 ano-1) de nitrognio j que o influxo foi equivalente a 1,10 kg N ha-1 ano-1 e o efluxo foi de 0,15 kg N ha-1 ano-1. Em relao aos estudos semelhantes conduzidos em florestas e pastagens, percebe-se que a pastagem muito mais pobre que as florestas e ainda mais pobre do que muitas pastagens no tocante ao nitrognio inorgnico o que provavelmente decorre do mtodo de a mudana de uso do solo, da ausncia de fertilizao, da alta taxa de lotao e da idade da mesma. Palavras-chave: Mata Atlntica; Mudana de uso do solo; Pastagem; Microbacia; gua;

    Nitrognio

  • 10

    ABSTRACT

    Nitrogen and water budget of a small catchment covered by pasture in the north coast of

    Sao Paulo State, Brazil

    The Atlantic forest is the most endangered biome of Brazil. Its significant destruction has taken place since the arrival of Europeans settlers in the country. These Europeans destructed most part of it by changing land use and also due to forest exploitation. In this way, very little information is known about the hydrological and biogeochemical consequences of land use change in the region of this once huge ecosystem. In this context, small catchments have being used to assess these cited consequences of land use change due to their high sensitivity of hydrological and biogeochemical process that occur within them. In the present study, the annual water budget of a small watershed covered by grass (pasture) located in the north coast of the Sao Paulo State, Brazil has been calculated. Additionally, (1) stream water, (2) surface runoff, (3) soil solution (at 30, 50 and 90 cm depth), (4) groundwater and (5) precipitation were sampled weekly and, afterwards, due to analytical reasons, (2) and (3) were sampled biweekly, to determine the concentration of inorganic nitrogen (N-NH4

    + and N-NO3-) by FIA. Moreover, aiming to clarify

    the possible hydrological process of stormflow, the soil saturated hydraulic conductivity was measured at various depths (15, 30, 50 and 90 cm). The results obtained are: the evapotranspiration of the watershed vegetation, calculated for the study period, was 697 mm (annual precipitation and annual water yield, respectively, de 1433 mm e 736 mm). By the flow duration curve, the baseflow was inferred as the main hydrological pathway that contributes to the total annual water yield. The surface runoff was not very expressive for the reason that 77% of rain intensity was sited in the class of 0 - 5 mm h-1 that is lower than the median of soil saturated hydraulic conductivity at 15 cm depth (22 mm h-1). The low runoff coefficient (0,01) calculated from the runoff plots assures this result. Although soil physical degradation is present, it is not expected an expressive increment of direct runoff generation for the reason that low intensity rainfall predominates and does not exceed Ksat at 15 cm. Little inorganic nitrogen is found in the hydrological processes and pools. The majority of the samples had their inorganic nitrogen concentration below detection limits (0,71 M e 0,35 M for N-NH4

    + e N-NO3-

    respectively). In most pools and hydrological pathways the ammonium predominates against nitrate. For soil solution, it is notable that more inorganic nitrogen was found when the soil gets less wet. The observation of inorganic nitrogen balance dissolved in the water of rain and streamflow exhibits a net gain (0,95 kg N ha-1 year-1) of inorganic nitrogen because the input was 1,10 kg N ha-1 year-1 and the output was 0,15 kg N ha-1 year-1. If the results of nitrogen in the pools are compared to other similar catchment studies with land uses of forest and also pasture in Brazil and elsewhere, it is possible to conclude that the pasture presented here is poorer than forests and even some pastures. This fact may be a consequence of the land use clearing method, the lack of fertilization, the high stocking rates and also due to the pasture age.

    Keywords: Atlantic forest; Land use change; Pasture; Small catchment; Water; Nitrogen

  • 11

    1 INTRODUO

    A Mata Atlntica o bioma mais ameaado do Brasil (SCHAEFFER; PROCHNOW,

    2002). Este ecossistema predominantemente composto por fitosionomias florestais como a

    Floresta Pluvial Atlntica que se estende por quase toda a costa atlntica brasileira e a Floresta

    Estacional Semidecidual que se estende em direo ao interior do Brasil (MORELLATO;

    HADDAD, 2000). O primeiro tipo de vegetao tambm chamado de Floresta Ombrfila Densa,

    ou seja, a floresta que possui afinidade com chuva. Esta fisionomia, que cobre toda a Serra do Mar

    at a plancie costeira, caracterizada por se localizar em regies com alto ndice pluviomtrico.

    Assim como a maioria dos biomas florestais tropicais, este sistema ecolgico sofreu

    intenso desmatamento (DEAN, 1996). Sua degradao ocorreu desde o descobrimento do pas

    (DEAN, 1996; BUENO, 2006) e a supresso da vegetao, que originalmente cobria cerca de

    1.300.000 km2, reduziu este sistema natural a uma rea descontnua de aproximadamente 98.800

    km2, isto , 7,6% da sua extenso original (MORELLATO; HADDAD, 2000). Estas florestas

    foram cortadas para obteno de madeira, lenha, carvo vegetal, assim como para ceder espao

    para a agricultura, a criao de gado e a construo de centros urbanos (MORELLATO;

    HADDAD, 2000). Nesse sentido, a paisagem que era dominada por florestas passou a conter um

    mosaico de ecossistemas, entremeando sistemas naturais e antrpicos.

    Apesar desse bioma se situar em locais relativamente prximos dos grandes centros

    urbanos do Brasil, o que facilita o seu acesso para realizao de pesquisas cientficas, pouco se

    sabe a respeito do funcionamento hidrolgico e biogeoqumico dos ecossistemas inseridos no

    mesmo. Nessa direo, as microbacias hidrogrficas podem ser a escala de ecossistema ideal para

    investigar o referido funcionamento devido a sua alta sensibilidade aos processos hidrolgicos e

    biogeoqumicos que ocorrem dentro das mesmas. Na regio supramencionada, as poucas

    publicaes que existem usando a microbacia como unidade de estudo se limitam regio de

    Cunha SP devido existncia de infra-estrutura e equipamentos para tanto (e.g. FUJIEDA et al.,

    1997).

    Evidenciando a sensibilidade dessas pequenas bacias ao processos que ocorrem dentro

    delas, Brown et al. (2005), em uma ampla reviso sobre o assunto, mostram que, de uma maneira

    geral, as microbacias florestadas exibem menor deflvio anual do que aquelas com cobertura

    herbcea. Dessa forma, pode-se notar que com as mudanas de uso do solo, h mudanas

    notveis na produo de gua das microbacias.

  • 12

    As atividades antrpicas que modificam o uso da terra podem alterar tambm as vias

    hidrolgicas (escoamento superficial, escoamento sub-superficial e escoamento de base) que so

    responsveis pela resposta hidrolgica da bacia hidrogrfica (TUCCI; CLARKE, 1997;

    ZIMMERMANN et al., 2006; LIMA, 2006). Segundo Dunne (1978), essa resposta controlada

    predominantemente pelo regime pluviomtrico, topografia, vegetao e propriedades hidrulicas

    do solo e encontra-se intimamente ligada ao balano e ao transporte de nutrientes. Assim, bacias

    de drenagem com intensa mudana de uso do solo (cobertura natural para alguma cultura, por

    exemplo) mostram diferenas notveis na gua no que se refere sua composio de carga

    qumica dissolvida e particulada quando comparadas s bacias semelhantes, porm, com

    cobertura natural preservada evidenciando influncias das alteraes de uso do solo sobre a

    biogeoqumica e as vias hidrolgicas desses sistemas.

    Dessa maneira fica patente que, da mesma forma que as pequenas bacias so importantes

    para o ciclo da gua, elas tambm so fundamentais para o entendimento do fluxo de nutrientes

    uma vez que o movimento da gua pelos compartimentos das bacias hidrogrficas atua como

    agente que transporta espcies qumicas inorgnicas e orgnicas. Estudos clssicos como o de

    Likens (1975), por exemplo, comprovam este fato.

    No entanto, estudos em microbacias, principalmente em reas de Mata Atlntica, ainda

    so escassos. Como este bioma um dos mais ameaados do planeta (hotspot) (ROCHA et al.,

    2003), e j sofreu intensa modificao pelo homem, tornam-se extremamente relevantes estudos

    que caracterizem o funcionamento dessas bacias florestadas e comparaes realizadas em bacias

    semelhantes, porm com cobertura de pastagem que o propsito do presente trabalho. Assim,

    pode-se quantificar as conseqncias que a mudana de uso do solo proporcionam no balano de

    hdrico e no balano de nitrognio associado gua. Os estudos como o de Fujieda et al. (1997) e

    Donato et al. (2007) evidenciam j algum conhecimento de microbacias florestais na Mata

    Atlntica no que concerne gua. Nesse sentido, estudos semelhantes dentro do mesmo bioma,

    porm com outro tipo de uso do solo podem gerar conhecimentos para entender as conseqncias

    da mudana de uso no solo nos ciclos no apenas da gua como j mencionado, mas tambm do

    nitrognio que um nutriente regulador da produo primria lqida dos ecossistemas

    (VITOUSEK e HOWARTH, 1991) e considerado bastante sensvel s alteraes de uso do solo

    (DAVIDSON et al., 2007). A regio do bioma referido carece de estudos como este o que eleva a

  • 13

    sua relevncia na compreenso e comparao do funcionamento dos ecossistemas que se situam

    dentro da rea de abrangncia desse outrora grande ecossistema.

    Este trabalho visou elucidar o funcionamento hidrolgico e a dinmica do nitrognio em

    uma microbacia com cobertura de pastagem no litoral norte do Estado de So Paulo.

    1.1 OBJETIVO

    O objetivo deste trabalho foi determinar o balano hdrico e o balano de nitrognio

    associado gua em uma microbacia experimental coberta por pastagem, prxima ao Ncleo

    Santa Virgnia, situado no municpio de So Luis do Paraitinga, e pertencente ao Parque Estadual

    da Serra do Mar.

    1.2 HIPTESES

    O presente estudo visou analisar as seguintes hipteses:

    - Com a mudana de uso do solo de floresta para pastagem, a gerao de escoamento

    direto se torna substancialmente mais expressiva durante eventos pluviais;

    - A pastagem presente na bacia hidrogrfica possui ciclo do nitrognio conservativo

    conferindo baixas perdas ao sistema.

  • 14

    2 DESENVOLVIMENTO

    2.1 Reviso Bibliogrfica

    2.1.1 Conceito de bacia hidrogrfica

    A bacia hidrogrfica pode ser definida, de uma maneira simples, como uma determinada

    rea que drenada por um rio, crrego, ribeiro, ou riacho. Todavia, de uma maneira mais

    completa e enfocando processos que ocorrem nesses espaos geogrficos, pode-se conceituar a

    bacia como aquela rea definida pelo relevo na qual toda a gua precipitada e que no

    evapotranspirada tem o destino de passar, obrigatoriamente, em uma seo ou ponto de sada que

    a foz do rio com o mar, ou mesmo, o encontro de um pequeno rio com outro (confluncia ou

    juno). Nesse sentido, levando em considerao a geomorfologia, o limite superior de uma bacia

    hidrogrfica o divisor de guas (tambm chamado de divisor topogrfico ou espigo), e a

    delimitao inferior a sada da bacia (LIMA, 2001). De forma convergente, a bacia de

    drenagem pode ser conceituada como a rea que drenada por um curso dgua ou um sistema de

    cursos dgua conectados, de tal forma que, atravs do escoamento ao longo de uma superfcie

    ligeiramente inclinada, toda a vazo efluente dirigida, convergentemente, para uma sada

    simples (MORTATTI; PROBST, 1998).

    Este conceito contempla desde grandes reas como, por exemplo, a bacia do rio Amazonas ou

    Nilo, at diminutas reas como nascentes que originam pequenos ribeires. Dessa maneira, para

    definir qual a bacia hidrogrfica est se tratando, necessrio, antes de tudo, definir qual o corpo

    dgua em questo.

    O sistema bacia hidrogrfica composto das seguintes partes segundo Coimbra e Tibrcio

    (1995): (1) interflvio ou divisor de gua ou linha de crista, (2) vertentes que so as laterais dos

    vales fluviais, desde a margem at o interflvio, (3) margens ou vrzeas, que so as partes laterais

    que demarcam o leito fluvial, (4) o rio e (5) o vale que se estende de um interflvio a outro,

    abrangendo o rio, suas margens, e as vertentes. As vertentes geram sedimentos por fenmenos de

    eroso e estes so transportados com a gua pela rede de drenagem, junto com a carga muitas

    vezes significativa de sedimentos produzidas nos prprios leitos dos rios (SILVEIRA, 1993).

  • 15

    2.1.2 Conceito de microbacia hidrogrfica

    De uma maneira geral, o termo microbacia empregado para designar vrios tipos de

    bacias hidrogrficas. Contudo, do ponto de vista cientfico da hidrologia de florestas e da

    biogeoqumica, o termo referido utilizado para definir pequenas bacias hidrogrficas que podem

    ser desde primeira ordem at a terceira (RESCK; SILVA, 1998; VALENTE; GOMES, 2005;

    CALIJURI; BUBEL, 2006).

    A razo pela qual a microbacia definida como pequenas bacias hidrogrficas , de

    acordo com Lima e Zakia (2000), devido fato de sua rea ser to pequena que a sensibilidade a

    chuvas de alta intensidade e s diferenas de uso do solo no suprimida pelas caractersticas da

    rede de drenagem. Assim, o critrio utilizado para tal conceito o comportamento hidrolgico

    (VALENTE; GOMES, 2005). Portanto, a altssima sensibilidade hidrolgica aos vrios tipos de

    alteraes de uso do solo torna a microbacia a escala de estudo adequada para avaliar o

    comportamento da gua e dos nutrientes que ela transporta atravs das vrias vias hidrolgicas

    que compe o deflvio de um determinado sistema fluvial.

    De maneira complementar, Botelho (1999) expem que a noo do que uma microbacia

    deve levar em considerao a bacia hidrogrfica de ordem zero que correspondem aos canais

    efmeros ou cabeceiras de drenagem, isto , canais que funcionam apenas durante os eventos

    chuvosos de mdia a alta intensidade.

    Como exposto, os estudos de ciclos e balanos biogeoqumicos de nutrientes podem ser

    feitos de maneira acoplada com os estudos de balano hdrico nessa escala de estudo (ODUM,

    1988; JENKINS; PETERS e RODHE, 1994; BONILLA, 2005). Likens et al. (1977) defenderam

    a utilizao de microbacias como ecossistemas para estudar a ciclagem de nutrientes,

    comportamento hidrolgico, intemperismo das rochas e outros processos naturais. De forma

    complementar, Moldan e Cerny (1994) observam que as microbacias so as menores unidades da

    paisagem, porm, so suficientemente grandes para contemplar em seus domnios todos os

    componentes que afetam a hidrologia e a biogeoqumica como: atmosfera, vegetao, rochas,

    solos, e um riacho, de maneira a ser uma rea apropriada para estudos no apenas hidrolgicos,

    mas tambm para trabalhos que visem compreender a deposio atmosfrica, a geologia, o

    intemperismo, os processos erosivos, os solos, a ecologia, o manejo florestal, os balanos de

    elementos entre outros. Em adio, embora cada microbacia tenha suas peculiaridades, o que as

    tornam diferentes, usar tamanha heterogeneidade desses sistemas naturais como objeto de estudo

  • 16

    e tentar extrapolar seus resultados para escalas maiores se torna um desafio difcil, mas desejvel

    para entender o funcionamento dos ecossistemas (LIKENS, 1998).

    Alm destas aplicaes do ponto de vista cientfico, a gerao de estudos em microbacias

    uma maneira eficiente de gerar tecnologia regionalizada, difundir prticas de manejo do solo e

    culturas, conservar os recursos naturais e contribuir para o desenvolvimento municipal e regional

    (SILVA et al., 2003). Assim, estas unidades geomorfolgicas da paisagem so adequadas para

    elucidar as relaes entre componentes fsicos e biolgicos dos pequenos sistemas fluviais,

    garantindo assim, a sustentabilidade dos recursos hdricos (CALIJURI; BUBEL, 2006).

    2.1.3 Vias hidrolgicas que compe o deflvio

    Durante os eventos de precipitao, a gua da chuva entra em contato com o solo que, por

    sua vez, atuar determinando qual ser o caminho que esta tomar at alcanar o riacho

    (DUNNE, 1978). Geralmente, estes caminhos se subdividem em trs componentes, que em

    maior ou menor intensidade, so os responsveis pela vazo do riacho. So eles: (1) escoamento

    superficial, (2) escoamento sub-superficial e (3) escoamento de base. Esses componentes so

    chamados de caminhos da gua, vias hidrolgicas ou processos hidrolgicos prximos da

    superfcie e so geradas pela interao gua-solo.

    O escoamento superficial tambm pode ser denominado enxurrada, escorrimento

    superficial, deflvio superficial ou escoamento rpido. Este componente do deflvio do riacho

    responsvel pela forte elevao das vazes em curto espao de tempo (SILVEIRA, 1993).

    Ademais, este componente a principal responsvel pela eroso hdrica carreando sedimentos

    para os canais fluviais. Para que esse escoamento ocorra, necessrio que a intensidade da chuva

    exceda a taxa de infiltrao bsica do solo, gerando assim um excesso de gua que comea a

    escorrer sobre a superfcie do solo. Nesta situao, o escoamento superficial denominado

    escoamento superficial hortoniano em homenagem a Robert Horton, hidrlogo que props esse

    modelo terico de gerao de enxurrada.

    Entretanto, h ainda outra situao na qual ocorre a formao de escoamento superficial.

    Nas bacias de drenagem, h reas de solo que naturalmente se encontram saturadas ou que

    tendem a saturao rapidamente aps o incio do evento de precipitao. Estas reas por se

    encontrarem encharcadas atuam tambm como fontes de escoamento superficial. Segundo Zakia

    et al. (2006) essas reas so: (a) zonas saturadas que margeiam os cursos dgua e suas

  • 17

    cabeceiras; (b) concavidades do terreno para as quais convergem as linhas de fluxo (bacias de

    ordem zero ou de canais efmeros), e (c) reas de solos rasos, com baixa capacidade de

    infiltrao e armazenamento como, por exemplo, os Neossolos Litlicos e alguns tipos de

    Cambissolos e Neossolos Regolticos relativamente rasos. Tais reas so denominadas por Lima

    e Zakia (2000) e Zakia et al. (2006) como zonas riprias, e o escoamento superficial provindo

    delas chamada de escoamento superficial de reas saturadas. Hewlett e Hibbert (1965)

    analisando o carter de expanso e contrao que essas reas tm ao longo dos eventos de

    precipitao, denominaram-nas como reas variveis de afluncia. Essa rea de contribuio

    varivel, pois depende da quantidade de chuva e da umidade do solo antes do evento de

    precipitao (CHORLEY, 1978). Agnews et al. (2006) estudando a sensibilidade dessas reas em

    relao ao transporte de contaminantes por meio da enxurrada denominaram-nas como reas

    hidrologicamente sensveis.

    O escoamento sub-superficial, tambm chamado de escoamento hipodrmico

    (MORTATTI; PROBST, 1998), ocorre quando h um decrscimo na condutividade hidrulica do

    solo em condio de saturao nas camadas sub-superficiais do solo em relao superfcie e, ao

    mesmo tempo, as intensidades das chuvas excedem esse referido atributo hidrulico da camada

    profunda de tal sorte que comea a acumular gua na sub-superfcie e, alm disso, esta passa a

    fluir em direo a declividade do terreno. O decrscimo na condutividade hidrulica saturada em

    sub-superfcie, tambm chamada de anisotropia do solo, ocorre geralmente em solos com

    horizontes menos permeveis a gua (camadas de impedimento) como os Plintossolos,

    Argissolos, Planossolos ou mesmo outros tipos de solos que apresentam compactao sub-

    superficial (p de grade ou p de arado) ou com presena de horizontes fragipan e duripan

    (SILVA, 1999; SILVEIRA, 2001; ELSENBEER, 2001; MORAES et al., 2006; ZIMMERMANN

    et al., 2006; GBUREK; NEEDELMAN; SRINIVASAN, 2006). Atkinson (1978) observa que h

    dois tipos de escoamento sub-superficial: o pipeflow e o fluxo matricial. O primeiro

    caracterizado por um fluxo lateral concentrado em pipes (macroporos ou dutos que se

    assemelham a tneis ou canos, porm de origem natural) e tem um fluxo hidrulico turbulento. A

    origem desses grandes poros horizontais atribuda ao da biota (tneis de razes decompostas

    ou mesmo de animais fossoriais), a eluviao de material mineral para horizontes mais profundos

    do perfil do solo e por expanso e contrao de argilominerais do tipo 2:1. Estes dutos servem de

    passagem para a gua podendo gerar e favorecer a instalao de processos erosivos (OLIVEIRA,

  • 18

    1999). Por sua vez, o fluxo matricial caracterizado por ter um fluxo disperso laminar bem

    distribudo no terreno.

    De outra forma, em perodos chuvosos, a infiltrao alta, e as camadas superficiais do

    solo tendem saturao. Nestas condies, medida que a frente de molhamento estende-se em

    direo s camadas mais profundas do solo, em geral de menor permeabilidade, a direo do

    fluxo da gua na camada superficial do solo tende a se desviar na direo da declividade do

    terreno, resultando no j referido escoamento sub-superficial ou interfluxo (WHIPKEY;

    KIRKBY, 1978; DUNNE, 1978; LIMA, 2001).

    Muitas vezes, durante o escoamento sub-superficial pode ocorrer o afloramento da

    camada de impedimento fazendo com que o fluxo hipodrmico aflore tornando-se assim

    escoamento superficial atravs de fluxo de retorno (DUNNE, 1978; ELSENBEER; VERTESSY,

    2000). Estas reas onde ocorre o fluxo de retorno tambm faro parte da rea de contribuio

    varivel (WHIPKEY; KIRKBY, 1978). Dunne (1978) ainda expe outra modalidade de

    escoamento superficial. Nela, durante eventos de chuva, a rpida ascenso do lenol fretico, sem

    que haja afloramento de gua, em reas prximas ao canal fluvial, geram um aumento da vazo

    devido ao processo de recarga do aqfero fretico que ocorre de modo mais rpido nos solos

    com zona no saturada mais delgada. Geralmente estes solos se situam em locais prximos ao

    riacho.

    Por fim, mas no menos importante, a ltima via hidrolgica que compe o deflvio de

    uma microbacia o escoamento ou fluxo de base, isto , a parte do escoamento cuja origem

    provm do aqfero fretico, tambm chamado de aqfero no confinado ou livre. Essa

    contribuio de extrema importncia, pois, ela que alimenta o ribeiro durante os perodos de

    seca. Assim, no perodo sem chuvas, a contribuio desta componente se torna significativa

    tornando-se menos importante, do ponto de vista da quantificao das componentes da vazo,

    medida que se inicia a estao chuvosa.

    Assim, em sntese, essas so as vias hidrolgicas que compem o deflvio. O escoamento

    superficial juntamente do escoamento sub-superficial e a precipitao direta no canal fluvial so

    as vias responsveis pela resposta hidrolgica do riacho durante um evento pluvial (CHORLEY,

    1978; LIMA, 2001). Fica patente que os eventos de precipitao ativam as vias hidrolgicas que,

    por sua vez, produzem a hidrgrafa do escoamento direto no riacho (ELSENBEER, 2001).

  • 19

    2.1.4 Relaes entre o uso e manejo do solo e as vias hidrolgicas

    Existe uma inter-relao delicada entre o uso da terra, o solo e a gua (LIMA, 2001). As

    mudanas do uso da terra podem proporcionar alteraes nos atributos fsicos do solo, que por

    sua vez, alteram os processos hidrolgicos que ocorrem no mesmo. Nesse sentido, a compactao

    superficial do solo ocasiona a formao de escoamento superficial Hortoniano em detrimento das

    outras vias hidrolgicas e, como colocado por Reichardt e Timm (2004), o atributo densidade do

    solo pode servir como um ndice de compactao do mesmo. Cabe ainda observar que, os

    processos hidrolgicos no so apenas influenciados pelo uso do solo, mas tambm pelo clima,

    geologia, fisiografia, caractersticas dos solos e vegetao (DUNNE, 1978).

    Zimmermann et al. (2006) retrataram as conseqncias hidrolgicas da alterao do uso

    da terra nos atributos hidrulicos do solo sob diferentes usos na Amaznia. Estes autores

    compararam as propriedades hidrolgicas como a infiltrao e a condutividade hidrulica do solo

    em condio de saturao (Ksat) em solos sob diferentes usos como: floresta nativa, plantao de

    banana, capoeira e plantao de teca. Para a infiltrao, as maiores taxas estiveram na seguinte

    forma, em ordem decrescente: floresta, seguido por banana, capoeira, teca, seguido por pastagem.

    J a 12,5 cm de profundidade, as maiores condutividades foram tambm em ordem decrescente:

    floresta, banana, capoeira, seguido por tea e, por fim, seguida por pastagem. Tais diferenas dos

    valores de infiltrao e Ksat so explicadas pelos autores devido aos usos prvios que as reas

    tiveram ao longo de sua histria estando o solo, portanto, herdando um efeito produzido destes

    usos ocorridos anteriormente. Neste contexto, a modificao da densidade do solo, porosidade

    total, macro e microporosidade, as quais influenciam a distribuio dos poros e, por

    conseqncia, a permeabilidade do solo afetam os atributos hidrulicos do solo como a

    condutividade hidrulica do solo em condio de saturao (MESQUITA; MORAES, 2004).

    Aes do homem como desflorestamento, converso de um uso do solo em outro, o uso

    de fogo como ferramenta de manejo, deslizamentos e eventos vulcnicos podem ter efeitos

    pronunciados nas caractersticas fsicas, qumicas e biolgicas das microbacias que, por sua vez,

    afetaro a hidrologia e a biogeoqumica das mesmas (PETERS, 1994).

    No que se refere converso de reas com outros usos do solo para plantaes florestais

    como de Eucalyptus e Pinus, Lima (2006) observa que as prticas de manejo florestal que

    influenciam negativamente os atributos fsicos do solo e, portanto, sua hidrologia, devem ser

    reformuladas de forma a perturbar ao mnimo tais qualidades. Assim, o funcionamento

  • 20

    hidrolgico da microbacia est intimamente relacionado com o funcionamento hidrolgico dos

    solos contidos nela.

    Moraes et al. (2006), comparando a hidrologia de dois canais efmeros na Amaznia, um

    sob o uso de pastagem e o outro sob floresta, notaram que o primeiro mostrava maiores picos de

    vazo do que o segundo, sendo tal diferena atribuda ao fato que na pastagem, 40% do

    escoamento direto era devido a escoamento superficial hortoniano. Na floresta, 60% deste era

    causado por escoamento superficial de reas saturadas.

    imprescindvel mencionar que o volume de gua dos aqferos freticos muito

    influenciado pelo uso do solo que favorece ou no o movimento de infiltrao da gua no solo

    com posterior percolao profunda e, finalmente, alimentando a gua subterrnea. Dessa maneira,

    o uso e manejo do solo devem ser planejados de tal forma a manter altas taxas de infiltrao

    (CASTRO; LOPES, 2001; LIMA, 2001; VALENTE; GOMES, 2005). Adicionalmente, a recarga

    do aqfero no confinado, em um solo seco (baixa umidade), ocorre apenas aps os poros

    capilares do solo serem preenchidos ao longo de todo o perfil do mesmo (HURSH; FLETCHER,

    1942) sendo assim muito influenciado pelas diferentes coberturas do solo e suas respectivas taxas

    de evapotranspirao.

    2.1.5 Alteraes no balano hdrico com a mudana de uso da terra

    A forma como o solo usado e manejado tem um efeito bem definido no que se refere

    qualidade e a quantidade de gua dos riachos (WHELAN, 1957). No passado, embora tenha

    havido muita discusso e controvrsia sobre a relao entre florestas e gua (ANDRASSIAN,

    2004), uma srie de trabalhos mostraram que, de maneira geral, as microbacias florestadas

    exibem menor deflvio anual do que aquelas com cobertura vegetal de menor porte (HIBBERT,

    1965; BOSCH; HEWLETT, 1982; HORNBECK et al., 1993; SAHIN; HALL, 1996; TUCCI;

    CLARKE, 1997; BROWN et al., 2005). Dessa forma, fica evidente que com as mudanas de uso

    do solo, h tambm mudanas notveis na produo de gua das microbacias.

    Neste contexto, vrios efeitos alm dos hidrolgicos vem sendo atribudos s plantaes

    comerciais para a produo de madeira, notadamente as de Eucalyptus e Pinus (LIMA, 1996;

    JACKSON et al., 2005). Scott (2005), por exemplo, observa que a taxa de crescimento destes

    povoamentos florestais o fator que os diferencia das florestas naturais. Para o autor, a alta

    produtividade destas florestas plantadas custa gua e esta escolha envolvendo biomassa e gua

  • 21

    inseparvel. Alm disso, como afirma Zhang et al. (2001), as florestas consomem mais gua do

    que as vegetaes herbceas, mas, de acordo com Calder (1979), essa j no mais a questo a

    ser discutida, mas sim o quanto a mais estes ecossistemas com predomnio de vegetao arbrea

    consomem de gua em relao s outras coberturas do solo. De forma a tornar o assunto ainda

    mais complexo, florestas compostas por espcies distintas tm consumo de gua tambm

    distintos (SWANK; DOUGLASS, 1974).

    Cavelier e Vargas (2002) relatam que o aumento na produo de gua em bacias

    desflorestadas pode ser explicado em funo do efeito que o dossel da floresta tem sobre os

    componentes do balano hdrico. A gua que na floresta se perde para a atmosfera por

    interceptao, nas pastagens (que possuem menor ndice de rea foliar, menor sistema radicular e

    menores perdas por evapotranspirao) passa, praticamente, diretamente ao solo para recarregar a

    seus poros e o deflvio. Os mesmos autores ainda concluem que a observao que os regimes

    hdricos dos rios vm sendo deteriorados pelo desflorestamento no na realidade um resultado

    do desmatamento propriamente dito, mas sim, reflexo de uma mudana nos atributos do solo os

    quais afetam, diretamente, a velocidade e a direo do fluxo de gua (vias hidrolgicas). Dessa

    maneira, as florestas alm de terem a interceptao pela copa como um importante componente

    do consumo de gua tambm podem ter a interceptao pela serapilheira que pode reter gua em

    sua camada sobre o solo e permitir que ocorra a evaporao sem que haja adio de umidade

    sobre o horizonte mineral do solo subjacente (CHORLEY, 1978).

    vlido ainda mencionar que em reas montanhosas um outro processo alm da chuva

    pode atuar como elemento importante para o aporte de gua no balano hdrico local. Tal

    elemento conhecido como precipitao oculta. De fato, como expem Lima (1996), a presena

    de florestas em reas sujeitas formao de neblina, tais como reas montanhosas e ao longo da

    costa, pode resultar num processo de captao de gotculas de gua, as quais, acumulando-se na

    copa da floresta, podem respingar no solo, contribuindo dessa forma para aumentar a precipitao

    sobre a superfcie. Essa entrada adicional de gua pode fazer com que as microbacias situadas

    nessas regies disponham de condies para atingir a mximo rendimento hdrico anual

    (BRUIJNZEEL, 1986). Ao contrrio, se essas florestas forem cortadas, haver uma reduo do

    deflvio anual uma vez que haver tambm menor interao entre dossel florestal e a neblina

    (BRUIJNZEEL, 1986).

  • 22

    2.1.6 A biogeoqumica das bacias hidrogrficas

    Segundo Odum (1988), os elementos qumicos, inclusive todos os elementos essenciais

    vida, tendem a circular na biosfera em vias caractersticas, do ambiente fsico (rochas e solos) aos

    organismos e destes, novamente, ao ambiente. Estas vias mais ou menos circulares so chamadas

    ciclos biogeoqumicos. Ainda segundo o autor, o movimento desses elementos e compostos

    inorgnicos que so essenciais para a vida pode ser adequadamente denominado ciclagem de

    nutrientes.

    A bacia hidrogrfica, do ponto de vista biogeoqumico, pode ser a uma unidade da

    paisagem de extremo valor para estudos desta cincia (BORMANN; LIKENS, 1967). Pelo fato

    da gua atuar como agente transportador carregando consigo, atravs de diversos caminhos, tanto

    compostos dissolvidos como em suspenso em direo ao curso de gua devido ao relevo, o

    sistema bacia de drenagem torna-se ideal para medir, por exemplo, a ciclagem de nutrientes, a

    eroso mecnica (perda de solo) e a eroso qumica (BORMANN; LIKENS, 1967; MORTATTI;

    PROBST, 1998).

    Como ficou patente at o momento, os corpos de gua no so sistemas fechados, mas ao

    contrrio, pertencem a um contexto maior da paisagem denominado bacia hidrogrfica. De

    acordo com Odum (1988), estudos em bacias de drenagem experimentais avanaram

    consideravelmente o entendimento dos processos biogeoqumicos bsicos que ocorrem nesses

    sistemas geomorfolgicos.

    Em condies tropicais, Markewitz et al. (2001) estudando uma bacia na Amaznia

    encontraram resultados cujos padres so contrrios queles observados em ecossistemas

    temperados. Nesses ltimos, a composio qumica da gua subterrnea e dos riachos

    determinada primeiramente pelo intemperismo do material parental. Ainda, estes ecossistemas

    geralmente possuem solos relativamente jovens nos quais a dissoluo de minerais primrios

    atravs do ataque do cido carbnico a reao de intemperismo predominante que libera clcio,

    magnsio e potssio e gera alcalinidade nos corpos dgua. J no contexto da regio tropical em

    que h solos antigos, altamente intemperizados e que perderam suas reservas de minerais

    primrios a inter-relao gua e solo era pouco compreendida. Markewitz et al. (2001) mostraram

    que a concentrao de ctions e a alcalinidade da gua do riacho possuam correlao positiva

    com a descarga do rio, sugerindo que os ctions e o bicarbonato so carregados principalmente

    dos horizontes superficiais dos solos pela gua da chuva atravs de vrios processos hidrolgicos,

  • 23

    ao invs de serem produtos do intemperismo da rocha me que ocorre em profundidade e que

    seria carregado pela gua subterrnea sofrendo diluio em perodos midos. Por fim, o aumento

    da respirao radicular e dos microrganismos durante a estao mida gera CO2 que favorece a

    lixiviao de ctions e bicarbonato resultando em um processo de troca inica mediado

    biologicamente, que por sua vez, atua controlando os aportes de ctions e de alcalinidade dos

    solos altamente intemperizados para a gua dos riachos.

    2.1.7 Nitrognio em microbacias hidrogrficas

    O nitrognio um dos nutrientes que mais limita a produtividade primria lquida nos

    ecossistemas terrestres e aquticos (SCHLENSINGER, 1997). A ao antrpica atravs da adio

    de fertilizantes, produzidos por meio do processo Haber-Bosch, fez com que o aporte deste

    elemento nos sistemas naturais dobrasse em termos quantitativos tendo assim muitas

    conseqncia para a estrutura e funcionamentos dos sistemas ecolgicos (GALLOWAY, 1998).

    Estudos envolvendo o nitrognio em microbacias hidrogrfica no so to abundantes j

    que este elemento, por ter espcies qumica no estado gasoso, tem seu ciclo e seu balano em

    bacias ocorrendo de uma forma muito mais complexa de estudar se comparado aos demais

    nutrientes que tem origem essencialmente geolgica (BORMANN; LIKENS, 1967).

    Likens, Bormann e Johnson (1969) descreveram que aps o corte total de um ecossistema

    florestal em uma microbacia, a concentrao de nitrato aumentou substancialmente. De acordo

    com os autores, houve uma perda cem vezes maior quando comparado com a microbacia controle

    (testemunha) e esta mudana expressiva foi atribuda ao aumento significativo do processo de

    nitrificao, ou seja, da transformao de amnio em nitrato mediada por microrganismos. Ainda

    segundo os mesmos, uma conseqncia importante deste processo foi gerao nitrato e de ons

    de hidrognio sendo estes ltimos responsveis pelo decrscimo do pH, e a dissoluo dos

    ctions bsicos do solo.

    Peterson et al. (2006), estudando 12 riachos distribudos nos vrios biomas dentro dos

    Estados Unidos, mostraram que os pequenos riachos fornecem gua e nutrientes para os sistemas

    fluviais de maior porte e, embora os primeiros tenham tamanho reduzido, eles desempenham um

    papel muito importante nas nos processos do ciclo do nitrognio ao longo dos cursos dgua. Em

    riachos de cabeceira a assimilao ocorre principalmente sobre os sedimentos e biofilmes que

    cobrem as superfcies submersas do canal. Segundo os autores, o amnio foi removido da gua

  • 24

    dos riachos por meio de organismos autotrficos (algas unicelulares, algas filamentosas, e

    brifitas) e heterotrficos (bactrias e fungos) e, secundariamente, pelo processo de nitrificao.

    No que concerne a este ltimo processo do ciclo do nitrognio, esta variou bastante, sendo alto

    em um riacho da regio de floresta tropical (60% do amnio era usado neste processo) e baixo

    (3% do amnio era usado neste processo) na regio temperada com floresta decdua. Comparado

    ao amnio, o nitrato percorre distncias dez vezes maiores ao longo do riacho. Outro processo

    bastante relevante para o nitrognio inorgnico dissolvido foi a regenerao no fundo do canal,

    isto , a liberao de amnio e nitrato adsorvido nos sedimentos e presentes na matria orgnica

    para a coluna de gua. As pequenas diferenas na variao de nitrato e amnio ao longo dos

    canais sugerem que estes espcies qumicas de nitrognio esto em um equilbrio dinmico entre

    assimilao e regenerao, ao contrrio do que se estudos anteriores sugeriam, ou seja, que os

    riachos so apenas transportadores de elementos.

    Udawatta et al. (2006), em um estudo envolvendo gerao de escoamento superficial e o

    transporte de nitrognio em microbacias com agricultura (soja e milho) com solos com horizontes

    sub-superficiais muito argilosos, mostraram que os grandes eventos pluviais conseguem

    transportar mais nitrognio total e nitrato do que os eventos menores. Comparando a importncia

    desses grandes eventos no transporte do elemento mencionado, os autores notaram que em todos

    os grandes eventos de escoamento superficial (eventos iguais ou maiores que 1000 m3 ha-1)

    houveram perdas mdias de 17,6 e 13,1 kg ha-1 respectivamente. Nos menores eventos (eventos

    entre 0 - 200 m3 ha-1), as perdas mdias foram 0,88 e 0,63 kg ha-1 respectivamente, uma diferena

    significativa. Ainda, os autores mostraram que nos anos onde h a aplicao de fertilizante

    nitrogenado h, necessariamente, grandes perdas por meio do escoamento superficial.

    Bonilla (2005), em um estudo de microbacias pareadas envolvendo uma bacia com

    pastagem e outra com floresta natural na Amaznia, mostrou que no riacho da floresta a espcie

    qumica de nitrognio que predominava era o nitrato. Ao contrrio, na pastagem, o amnio

    prevalecia devido a menores taxas de nitrificao como conseqncia da invaso do canal por

    gramneas, aumentando as taxas respiratrias e favorecendo o processo de desnitrificao. Alm

    disso, o nitrognio orgnico dissolvido compreendia 93% do nitrognio total dissolvido na

    pastagem. Esse valor foi bem maior do que na floresta e pde ser explicado, pois a pastagem

    apresentava menores taxas de mineralizao.

  • 25

    Apesar de haver alguns trabalhos na literatura cientfica que relatam o transporte de

    nitrognio, ainda necessrio que a cincia hidrologia ajude a entender e a melhorar a

    compreenso do transporte deste elemento e seu destino (SCHLESINGER et al., 2006).

    Schlesinger et al. (2006) observam que com o aumento dos impactos de origem antrpica nos

    ciclos biogeoqumicos, a hidrologia precisar reunir muitos esforos de pesquisa para alcanar o

    manejo adequado das guas continentais e, assim, ajudar a humanidade a alcanar um futuro

    sustentvel.

  • 26

    2.2 Material e Mtodos

    2.2.1 Localizao da rea

    A microbacia aqui estudada (Figura 1) situa-se no bairro Vargem Grande, municpio de

    Natividade da Serra, Estado de So Paulo e que possui 47000 m2 (4,7 ha). As coordenadas e

    altitude da bacia so, respectivamente, latitude 232453,9 S, longitude 451504,0 W, altitude

    mdia de 810 m. O referido sistema hidrogrfico constitui uma sub-bacia do rio Paraibuna e, de

    acordo com os critrios estabelecidos por Strahler (1958), o canal fluvial classificado como de

    segunda ordem. O desnvel do canal fluvial ao topo do divisor de guas de aproximadamente 75

    metros.

    O stio em que a microbacia est inserida localiza-se em rea adjacente ao Parque

    Estadual da Serra do Mar, ncleo Santa Virgnia, o que tornou o presente trabalho passvel de ser

    comparado ao de Groppo (2008) que est realizando estudo semelhante, porm em uma

    microbacia coberta por floresta ombrfila densa.

    Figura 1 Ortofoto 1:10000 da microbacia de estudo. O divisor de guas evidenciado pela linha de cor roxa e a hidrografia pela linha de cor azul

  • 27

    A pluviosidade anual mdia de Natividade da Serra, distante cerca de 60 km da rea de

    estudo, de 1800 mm (FOLHES; REN; FISCH, 2007) podendo haver zonas com menor

    precipitao (1300 a 1500 mm). Em relao temperatura, esta possui mdia mnima e mxima

    de, respectivamente, 3 e 26 C com mdia de 17 C. De acordo com o sistema Kppen, o clima

    da regio subtropical (Cfa) com veres quentes e chuvas bem distribudas durante o ano todo.

    O histrico do uso da terra foi obtido desde 1963, por meio da entrevista com os atuais

    proprietrios e moradores locais. No ano aludido, houve a converso do uso do solo de floresta

    para a plantao de milho entre outras culturas e ao cultivo de espcies frutferas (laranja e

    limo). Durante este perodo, no houve preparo do solo com mquinas e implementos sendo

    feito apenas trabalhos manuais com enxada. A converso do uso do solo ocorreu por meio do

    corte e da queima da floresta, seguindo o padro relatado no trabalho de Dean (1996) em seu

    estudo sobre a regio da Mata Atlntica. De 1968 aos dias atuais, o uso do solo foi convertido

    para pastagem havendo apenas poucas rvores frutferas remanescentes do antigo uso da terra.

    Portanto, h 41 anos a microbacia permanece sob o uso de pastagem com plantel variando de

    cerca de 10 a 15 cabeas de gado (2,5 a 3,7 cabeas por hectare). A espcie de gramnea

    (Poaceae) predominante no sistema de pastagem Brachiaria decumbens Stapf. Contudo, em

    reas onde o relevo mais ngrime, h a notvel presena de plantas invasoras (herbceas e

    arbreas) de vrias espcies tais como: Pteridium aquilinum (L.) Kuhn, Schinus terebinthifolia

    Raddi, Psidium guajava L., Psidium cattleianum Sabine, Casearia sylvestris Sw., Tibouchina

    mutabilis Cogn. entre muitas outras.

    2.2.2 Caracterizao fsica da microbacia

    O material parental dos solos nesta microbacia so batlitos (stocks) de ortognaisses cujos

    constituintes minerais predominantes so: biotita ( K(Mg,Fe)3(AlSi3010)(OH)2 ), feldspatos

    potssico (KAlSi3O8) , e, em menor proporo,o quartzo (SiO2). possvel tambm notar a

    presena de fragmentos de gnaisses e quartzitos depositados ao longo do curso d gua e em

    vertentes, o que indica a presena tambm de intruses quartzticas. A presena destes

    fragmentos de rochas provvel devido ao processo de fraturamento e conseqente

    desprendimento e rolamento destas pores rochosas.

  • 28

    O gnaisse supramencionado rico em biotita e feldspatos o que, por meio de sua

    alterao, gera minerais (goethita e caulinita) (MELFI et al., 1983) que se enquadram dentro da

    frao argila na granulometria de solos. A goethita o mineral que confere a cor amarelada aos

    solos da regio.

    Sob as condies climticas previamente mencionadas o gnaisse intemperizado gerando

    solos com horizonte B pouco desenvolvido (incipiente). Estes solos so classificados como

    CAMBISSOLOS HPLICOS DISTRFICOS. Esta descrio est de acordo com o

    levantamento de solos do Estado de So Paulo realizado por Prado (2005). Em menor proporo,

    h tambm solos ainda mais jovens denominados NEOSSOLOS LITLICOS, cuja caracterstica

    principal ausncia de horizonte B, ou seja, o perfil possui seqncia A-C-R ou A-R. A

    predominncia desses solos jovens em uma regio mida pode ser justificada devido ao

    acentuado declive do relevo que intensifica o processo de eroso em detrimento ao processo de

    formao do solo. Dessa maneira, o processo erosivo age carregando o material intemperizado,

    favorecendo o rejuvenescimento do perfil.

    Por fim, as regies adjacentes ao canal fluvial possuem solos que, como se ver mais

    adiante, se desenvolvem em condies anaerbias. Nesta situao, o solo exibe caractersticas

    hidromrficas sendo, por esse motivo, caracterizado como GLEISSOLO.

    Com o intuito de facilitar a compreenso dos processos hidrolgicos que ocorrem dentro

    da bacia hidrogrfica estudada, foi feita a descrio das vertentes por meio de anlise visual

    usando os critrios de descrio adotados por Hewlett (1982). Pode-se observar que predominam

    na microbacia dois tipos de vertentes (sentido canal de escoamento at o divisor topogrfico): (1)

    cncavo-convexa e (2) convexo-cncava. Esses formatos de vertente possuem grande influncia

    no comportamento da gua assim como na profundidade do solo (relao entre gnese e perda de

    solo). Ademais, essas encostas (vertentes) apresentam sinais de intensa degradao hidrolgica j

    que apresentam elevado nmero de trilhas, que segundo Castro e Lopes (2001) se assemelham a

    uma arquibancada. O pisoteio constante de animais nessas trilhas provoca alto grau de

    compactao do solo o que dificulta a infiltrao da gua nesses locais. Ainda, algumas dessas

    trilhas desembocam diretamente no canal fluvial o que adiciona um componente hortoniano ao

    escoamento direto durante os eventos de chuva. Situao similar a essa j foi descrita na

    Amaznia em uma vertente cujo uso do solo era tambm de pasto (BIGGS, DUNNE e

    MURAOKA, 2006).

  • 29

    Em relao ao nitrognio, a pastagem que cobre as vertentes exibem degradao

    semelhante descrita por Boddey et al. (2004). Esses autores destacam que h um declnio na

    produtividade de pastagens no adubadas devido ausncia de fertilizao a base de nitrognio e

    superlotao da pastagem. Ainda de acordo com os autores, o indicativo deste fato

    evidenciado pela gerao reas de solo exposto, invaso de espcies daninhas no palatveis ao

    gado, e reduo na capacidade de sustentar o gado (capacidade de suporte ou de lotao).

    2.2.3 Delineamento experimental

    O delineamento do experimento ilustrado na Figura 2. Nota-se que h trs coletores de

    precipitao e nove parcelas de escoamento superficial, sendo que estas foram dispostas de forma

    que trs foram instaladas na poro mais baixa da vertente, trs na poro central e trs na parte

    superior. Da mesma maneira, nestas trs pores da encosta foram instalados tensimetros a 15,

    30, 50 e 90 cm de profundidade e extratores de soluo do solo (tambm chamados de lismetros

    de tenso) a 30, 50 e 90 cm de profundidade. Estes extratores foram instalados em trs rplicas

    por regio (superior, mediana e inferior) da vertente de forma que cada uma possui 9 extratores

    instalados. Para monitorar o lenol fretico, dois poos foram instalados, um em rea adjacente

    ao riacho e o outro a cerca de 15 metros de distncia do mesmo.

    Por ltimo, no que tange a vazo, esta foi monitorada por meio de um sensor eletrnico de

    nvel de gua (Water Level Sensor, Trutrack) que registra a altura da lmina (H) de gua da calha

    H a cada 5 minutos. Esta calha consistia de uma ponta de fibra de vidro com formato em V

    acoplada a um canal de aproximao construdo de alvenaria. A escolha deste tipo de calha com

    ponta no referido formato consiste no fato desta possuir boa sensibilidade para monitorar

    pequenas e mdias vazes e tambm por no provocar represamento. Deste modo, a descarga foi

    calculada aplicando a altura da gua medida em metros na equao que segue (Equao 1)

    (GWINN; PARSONS, 1976; GWINN; PARSONS, 1977):

    log Q = 0,0228 + 2,5473 x log H + 0,2540 x (log H)2 (Eq. 1)

    Assim, a vazo obtida em L s-1. Para verificar a acurcia e a preciso do valor de

    descarga obtido da Equao 1, esta foi testada semanalmente atravs do mtodo volumtrico com

  • 30

    o auxlio de um balde de volume conhecido e de um cronmetro, obtendo-se resultados

    satisfatrios.

    Figura 2 - Desenho esquemtico do delineamento do experimento

    2.2.4 Densidade do solo e condutividade hidrulica do solo em condio de saturao

    A condutividade hidrulica do solo em condio de saturao (Ksat) foi medida com o

    auxlio de um permemetro de carga constante (Figura 3). As profundidades de medio foram

    15, 30, 50 e 90 cm, sendo que a 15 cm foi utilizada a carga de 12 cm de gua e nas demais

    profundidades a carga de gua usada foi de 18 cm. Ao final da medio totalizou-se 25 pontos de

    medio de Ksat em cada profundidade. Com essas medies, espera-se obter valores a 15 cm de

    profundidade que correspondam aos valores de taxa bsica de infiltrao da gua no solo. A 30,

    50 e 90 cm de profundidade espera-se conseguir valores que representem as taxas de percolao

    da gua em cada uma dessas pores do perfil do solo.

    transees para medidas de Ksat

    Lenol fretico

    linhas de poos de observao do lenol fretico

    Bateria de tensimetros e extratores de soluo do solo

    Coletores de precipitao

    Parcelas de escoamento superficial

    Calha H

  • 31

    (A) (B)

    Figura 3 - (A) Permemetro de carga constante (Amoozemeter) para mensurar a condutividade hidrulica do solo em condio de saturao em campo (Ksat); (B) Orifcio cavado com auxlio de trado para medir a condutividade hidrulica do solo saturado

    A densidade do solo foi obtida por meio da coleta de amostras no deformadas (n = 3 para

    cada profundidade) nas mesmas profundidades que foram realizadas as medidas de Ksat.

    2.2.5 Potencial matricial da gua no solo

    O potencial matricial da gua do solo foi medido semanalmente por meio de um

    manmetro digital (Digital Pressure Gauge, Bringer) acoplado aos tensimetros j referidos no

    item 2.2.3.

    2.2.6 Coleta soluo do solo e gua do riacho, do aqfero fretico, da chuva e do

    escoamento superficial

    2.2.6.1 Amostragem de soluo do solo

    Estas coletas foram realizadas semanalmente de 05/12/2007 a 17/04/2008. A partir de

    24/04/2008 a 04/12/2008, a amostragem passou a ser quinzenal e com amostras compostas. Dessa

    forma, por exemplo, cada um dos trs extratores de soluo do solo (Figura 4) instalados a 30 cm

    de profundidade na mesma poro da vertente, fornecia uma alquota para compor a amostra

    composta representativa daquela poro das encosta. Com o objetivo de induzir a entrada da

  • 32

    soluo do solo nos extratores de gua, foi usada uma bomba de vcuo manual. Posteriormente, a

    soluo era retirada do extrator com o auxlio de uma mangueira, previamente limpa, acoplada a

    uma seringa.

    Figura 4 - Extratores de soluo do solo. De baixo para cima na foto so os extratores de 90, 50

    e 30 cm de profundidade

    2.2.6.2 Amostragem de gua do riacho

    Estas coletas foram realizadas semanalmente de 05/12/2007 a 04/12/2008. A amostragem

    foi efetuada inserindo-se manualmente o recipiente que armazena a gua dentro da gua do curso

    d gua, em um local situado antes da calha H (Figura 5).

    .

    Figura 5 - Calha H instalada para a medio da vazo

  • 33

    2.2.6.3 Amostragem de gua do aqfero fretico

    Estas coletas foram realizadas semanalmente de 05/12/2007 a 04/12/2008. Nesse perodo,

    a coleta foi feita sem realizar a prvia purga dos poos. A amostragem no poo situado em rea

    contgua ao riacho, por ser um poo muito raso, foi efetuada inserindo-se uma mangueira

    acoplada a uma seringa. No poo localizado na regio mais alta, por ter profundidade de 4,40 m,

    a amostragem foi realizada com o auxlio do amostrador Bailer. Dessa maneira, obtiam-se

    alquotas de gua que eram armazenadas em recipientes apropriados.

    Figura 6 - Poo de observao e coleta de gua do aqufero fretico situado na poro adjacente ao rio

    2.2.6.4 Amostragem de gua do escoamento superficial

    Estas coletas foram realizadas semanalmente de 05/12/2007 a 17/04/2008. Assim como a

    soluo do solo a partir de 24/04/2008 a 04/12/2008, a amostragem passou a ser quinzenal e com

    amostras compostas. Dessa forma, por exemplo, cada uma das trs parcelas de escoamento

    superficial localizadas na mesma poro da vertente fornecia uma alquota para compor a amostra

    composta representativa daquela poro da encosta.

    As parcelas consistem de um tubo de PVC medindo 1,5 m de comprimento com uma

    abertura transversal no nvel da superfcie do solo (Figura 7). Uma placa de poliestireno foi

    introduzida entre o solo e o coletor para a captao integral do escoamento superficial. Para no

  • 34

    sofrer influncia direta da precipitao o coletor foi coberto por uma lona de plstico. O PVC

    medindo 10 cm de dimetro fechado com uma tampa de PVC (cap) em uma das

    extremidades, enquanto na outra extremidade possui um cotovelo com ngulo de 90 com um

    funil de garrafa plstica acoplado, conectado a uma mangueira que conduz a gua at um galo

    plstico com capacidade 20 litros. Ademais, as parcelas foram delimitadas por meio da insero

    de tbuas madeiras de 1,5 m de comprimento e 30 cm de largura no solo.

    Figura 7 - Parcela de escoamento superficial no coberta por lona plstica (2,25 m2)

    2.2.7 Chuva: anlise das freqncias de intensidade e amostragem

    A anlise da freqncia de intesidade de chuva foi realizada atravs da instalao de um

    pluvigrafo do tipo tipping-bucket (Rain Wise) que registra o volume de chuva (mm) a cada 5

    minutos (Figura 8).

    No que concerne as coletas para a anlise de nitrognio, estas foram realizadas

    semanalmente de 05/12/2007 a 17/04/2008. Durante estas amostragens, cada coletor tinha uma

    amostra que o representava. No entanto, a partir de 24/04/2008 a 04/12/2008, a amostragem

    passou a ser com amostras compostas. Dessa forma, cada um dos trs coletores de gua pluvial

  • 35

    fornecia uma alquota para compor a amostra composta representativa da chuva da semana de

    coleta.

    Os coletores de precipitao (Figura 7) consistem de um tubo de PVC, com 2 metros de

    comprimento, 10 centmetros de dimetro, com uma abertura transversal de rea equivalente a

    0,15 m2, fechado com uma tampa de PVC (cap) em uma das extremidades, enquanto na outra

    extremidade possui um cotovelo com ngulo de 90 com um funil de garrafa plstica acoplado e

    conectada a uma mangueira que conduz a amostra at um recipiente coletor (capacidade 20

    litros). Foram construdos cavaletes de madeira a fim de posicionar os coletores a

    aproximadamente 1,5 metros acima da superfcie do solo.

    Figura 8 - Pluvigrafo Rain Wise (canto inferior esquerda) e o coletor de precipitaa para a posterir anlise de nitrognio

    2.2.8 Anlise qumica do contedo de nitrognio

    Aps a coleta, todas as amostras receberam, para fins de preservao, 1% v/v de cido

    sulfrico (95-97%). As concentraes de N-NH4+ e N-NO2

    -+NO3- foram analisadas usando um

    sistema automtico de injeo de fluxo contnuo (FIA - Flow Injection Analysis) (RUZICKA;

    HANSEN, 1981). O N-NH4+ foi medido por condutivimetria, pelo mtodo de Solrzano (1969). O

    N-NO2- + N-NO3

    - foi determinado por espectrofotometria na forma de N-NO2-, aps reduo com o

    catalisador cdmio e reao com sulfanilamida e N-naftil (GIN-ROSIAS, 1979). Desse modo, o

    nitrato aqui apresentado representa a carga de nitrato e de nitrito (N-NO3- + N-NO2

    -).

  • 36

    Para garantir a preciso e a acurcia das determinaes analticas, foram utilizadas amostras

    certificadas. Para o N-NH4+ e o N-NO3

    - (N-NO3- + N-NO2

    -) utilizou-se, respectivamente, as

    amostras Rain - 97 e Hamilton - 20 (AES - Acid Rain Water - National Research Council

    Canada) que possuem, seguindo a ordem, 0,18 0,028 mg L-1 e 2,45 0,22 mg L-1. Durante a

    execuo das anlises obteve-se resultados satisfatrios dessas amostras nas curvas-padro

    utilizadas (0,18 0,025 mg L-1 e 2,45 0,21 mg L-1 para, respectivamente, N-NH4+ e N-NO3

    - ).

    2.2.9 Anlises estatsticas

    Usando o teste de normalidade Kolmogorov-Smirnov (p < 0,01) presente no pacote

    estatstico STATISTICA 6.0 (StatSoft), observou-se que os dados obtidos relativos ao nitrognio

    no apresentaram distribuio normal (ALTMAN; BLAND, 1995). Desta forma, utilizou-se a

    mediana como a medida de maior representatividade das amostras (ALTMAN; BLAND, 1994;

    HEDIN, ARMESTO; JOHNSON, 1995). No caso de obter amostras com valores de concentrao

    abaixo do limite de deteco, os valores obtidos nesta faixa de concentrao foram substituidos

    por metade do valor deste limite (NEWMAN et al., 1989). Os referidos limites foram 0,01 e 0,02

    mg L-1 para N-NO3- e N-NH4

    +, respectivamente.

  • 37

    2.3 RESULTADOS

    2.3.1 Hidrologia

    O total precipitado durante o perodo de estudo foi de aproximadamente 1433 mm. Desse

    valor, nota-se que 77% foram consideradas de baixa intensidade, ou seja, variando de 0 a 5 mm h-

    1. Esta classe de intensidade contribui em termos totais com cerca de 48% da precipitao total

    (Figura 9). Se considerarmos o intervalo de 0 a 15 mm.h-1, a contribuio aumenta para 70%. Por

    outro lado, eventos com intensidades altas ocorrem com baixa freqncia, sendo, em relao aos

    eventos de baixa intensidade, muito menos representativos.

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    0 - 5

    5 - 10

    10 - 1

    5

    15 - 2

    0

    20 - 2

    5

    25 - 3

    0

    30 - 3

    5

    35 - 4

    0

    40 - 4

    5

    45 - 5

    0

    50 - 5

    5

    55 - 6

    0

    60 - 6

    5

    65 - 7

    0

    70 - 7

    5

    75 -

    110

    Classes de Intensidade (mm h-1)

    Po

    rcen

    tag

    em (

    %) Freqncia de Intensidade

    Contribuio em Relao ao Totalde Chuvas

    Figura 9 - Distribuio de precipitao em classes de intensidade e sua contribuio para o total

    de chuvas

    A densidade do solo do presente estudo variou de 1,33 a 1,58 Mg m-3 no havendo uma

    relao clara entre profundidade e densidade (Figura 10). Com o intuito de elucidar as diferenas

    que o uso da terra ocasionam na densidade e na condutividade hidrulica do solo sob condies

    de saturao (Ksat), esses dois atributos foram obtidos do j referido estudo de uma microbacia

    coberta por floresta ombrfila densa estudada por Groppo (2008). A densidade do solo do

    presente estudo claramente maior se comparado s da floresta, exceto a 90 cm onde essa

    divergncia de valores se torna menos conspcua (Figura 10).

  • 38

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    70

    80

    90

    100

    0,80 1,00 1,20 1,40 1,60 1,80

    Densidade do Solo (Mg m3-)

    Pro

    fund

    idad

    e (c

    m)

    Densidade do Solo Pastagem Densidade do Solo Floresta

    Figura 10 - Densidade do solo a 15, 30, 50 e 90 cm de profundidade na pastagem e floresta

    No que tange as medidas de Ksat, esta teve mediana de 22, 6, 0,4 e 0,2 mm h-1

    respectivamente em 15, 30, 50 e 90 cm de profundidade (Figura 11).

    No que concerne intensidade da chuva, nota-se que o referido predomnio de chuvas de

    intensidade baixa (0 5 mm h-1) (Figura 9) tem implicaes para a previso da gerao de

    escoamento direto na microbacia estudada. Pode-se evidenciar esta assertiva observando o efeito

    de uma chuva de 5 mm h-1 sobre os solos da microbacia (linha pontilhada da Figura 11). Percebe-

    se que a mediana de Ksat prxima a superfcie (15 cm de profundidade) excede a intensidade de

    chuva predominante. Assim, a gua pluvial se infiltra no solo ao invs de escoar em superfcie.

    Os solos da bacia mostram a possibilidade da formao de um lenol suspenso a 50 cm de

    profundidade (mediana de Ksat < intensidade de chuva predominante) podendo em alguns

    momentos a saturao atingir a superfcie, provocando escoamento superficial devido saturao

    dos solos.

    De modo a verificar a existncia da gerao de escoamento superficial devido uma

    camada de impedimento, foi instalado um poo raso (50 cm de profundidade) para a observao

    do lenol suspenso. Entretanto, no foi observada a presena de gua no mesmo.

  • 39

    0,01

    0,1

    1

    10

    100

    1000

    15 30 50 90Profundidade (cm)

    Ksa

    t (m

    m.h

    -1)

    Figura 11 - Diagrama de caixas exibindo a condutividade hidrulica do solo em condio de saturao (Ksat) na profundidade de 15, 30, 50 e 90 cm na pastagem (n = 25 para cada profundidade). A linha horizontal dentro das caixas representa a mediana, as linhas horizontais das caixas representam o primeiro e o terceiro quartil e as barras verticais os valores mximos e mnimos. A linha pontilhada na horizontal representa a intensidade de chuva de 5 mm h-1 que a mais representativa da regio de estudo

    O potencial matricial da gua do solo medido nas profundidades de 15, 30, 50 e 90 cm em

    trs locais da vertente (topo, meio e sop) teve amplitude de 0 a -87 kPa. No entanto, de maneira

    geral, percebe-se que a maior parte do ano o solo, em todas as pores da encosta, permanece em

    estados de alto grau de umidade, isto , com potencial matricial variando de 0 a -8 kPa (Figura

    12). Esses valores altos deste potencial encontram-se em consonncia com as intensidades de

    chuvas que predominantes, que so as chuvas leves de 0 a 5 mm.h-1 (Figura 9). Dessa maneira, a

    gua da chuva se infiltra no solo j que a intensidade no excede a Ksat prximo a superfcie

    (Figura 11). Aps se infiltrar, h a redistribuio da gua no perfil permitindo que o potencial

    matricial se torne menos expressivo ao longo do mesmo.

  • 40

    Figura 12 - Precipitao semanal e classes de potencial matricial da gua no solo (kPa) da vertente (Superior sop; intermedirio meio da vertente ; e inferior poro mais alta da vertente)

    Como mencionado anteriormente, o poo situado na poro ao lado do canal localiza-se

    em uma rea de solo praticamente ao lado do riacho, ou seja, bem no fundo do vale. Situao

    semelhante foi encontrada por Buytaert, Iiguez e De Bivre (2007) tambm em uma microbacia

    cujo embasamento era de rochas cristalinas. O poo bastante raso e os solos nessa regio

    permanecem praticamente com o perfil saturado a maior parte do ano (Figura 13). Este fato sugere

    que o solo nessa regio adjacente ao canal esteja propenso gerao de escoamento superficial

    devido saturao do solo em eventos de chuva de forte intensidade e escoamento subsuperficial

    durante eventos de chuva de intensidade baixa.

  • 41

    05

    101520253035404550

    10-ja

    n-08

    10-f

    ev-0

    8

    10-m

    ar-0

    8

    10-a

    br-0

    8

    10-m

    ai-0

    8

    10-ju

    n-08

    10-ju

    l-08

    10-a

    go-0

    8

    10-s

    et-0

    8

    10-o

    ut-0

    8

    10-n

    ov-0

    8

    Nv

    el d

    e

    gu

    a (c

    m)

    020406080100120140160180200

    Tempo (dias)

    Pre

    cip

    ita

    o S

    eman

    al (

    mm

    )

    Precipitao Semanal (mm)

    Nvel de gua (cm)

    Figura 13 - Precipitao semanal e o nvel de gua do aqfero fretico

    Alm da visvel proximidade do nvel de gua em relao superfcie do solo (Figura 13),

    a recarga do aqfero livre tornou-se evidente, pois o poo situado em uma regio mais alta na

    vertente, que inicialmente no tinha sido encontrado gua, apenas rocha, a partir do dia

    02/04/2008 passou a conter gua (Figura 14). Entretanto, a partir de 17/07/2008 a 04/12/2009, o

    poo voltou a secar.

    3

    4

    5

    02-a

    br-0

    8

    12-a

    br-0

    8

    22-a

    br-0

    8

    02-m

    ai-0

    8

    12-m

    ai-0

    8

    22-m

    ai-0

    8

    01-ju

    n-08

    11-ju

    n-08

    21-ju

    n-08

    01-ju

    l-08

    Nv

    el d

    e

    gu

    a (m

    )

    050100150200250300350400450500

    Tempo (dias)

    Pre

    cip

    ita

    o S

    eman

    al (

    mm

    )Precipitao Semanal(mm)

    Nvel de gua (cm)

    Figura 14 - Oscilao do nvel de gua no poo situado mais acima na vertente

  • 42

    Para elucidar o conjunto de processos hidrolgicos de superfcie que ocorrem durante

    eventos de chuva, foram selecionados dois eventos extremos (Figura 15a e 15b). O primeiro

    representa a gerao de escoamento direto em condies chuvas de baixa intensidade que so

    tpicas da regio (0 a 5 mm h-1). O segundo evento, bem menos freqente, possui pico de

    intensidade de chuva que se enquadra, de acordo com Hewlett (1982), na classe de chuvas fortes

    ou pesadas (35 a 40 mm h-1).

  • 43

    A)

    1,00

    1,20

    1,40

    1,60

    1,80

    2,00

    2,20

    2,40

    2,60

    2,80

    3,00

    12:4

    0

    12:5

    5

    13:1

    0

    13:2

    5

    13:4

    0

    13:5

    5

    14:1

    0

    14:2

    5

    14:4

    0

    14:5

    5

    15:1

    0

    15:2

    5

    15:4

    0

    15:5

    5

    16:1

    0

    16:2

    5

    16:4

    0

    16:5

    5

    17:1

    0

    Tempo (h)

    Vaz

    o (

    L s

    -1)

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    7

    8

    9

    10

    Pre

    cip

    ita

    o (

    mm

    h-1)Precipitao

    Vazo

    B)

    123456789

    101112131415

    17:2

    0

    17:3

    5

    17:5

    0

    18:0

    5

    18:2

    0

    18:3

    5

    18:5

    0

    19:0

    5

    19:2

    0

    19:3

    5

    19:5

    0

    20:0

    5

    20:2

    0

    20:3

    5

    20:5

    0

    21:0

    5

    21:2

    0

    21:3

    5

    Tempo (h)

    Vaz

    o (

    L s

    -1)

    0

    10

    20

    30

    40

    50

    60

    Pre

    cip

    ita

    o (

    mm

    h-1)

    Precipitao

    Vazo

    Figura 15 - Hidrgrafas e hietogramas exibindo gerao de escoamento direto (A) evento de precipitao de intensidade leve (B) evento de precipitao de intensidade forte

    Na Figura 15a, nota-se que h um pequeno aumento da vazo ao longo do evento de

    chuva. De fato, esse incremento deve ocorrer principalmente devido gerao de escoamento

    subsuperficial das reas adjacentes ao canal como descrito por Dunne (1978). H tambm,

  • 44

    embora em menor proporo, uma contribuio de escoamento superficial hortoniano em trilhas

    que se dirigem ao canal. Utilizando o mtodo de separao da hidrgrafa da linha reta encontrado

    em Chow, Maidment e Mays (1988) separou-se o escoamento direto do escoamento de base.

    Desse modo, em relao Figura 15a, em termos totais, o escoamento direto representou 7% do

    escoamento total. De maneira coerente, a resposta hidrolgica (volume em mm de escoamento

    direto / precipitao do evento medida em mm) foi de 1,4%, considerada muito baixa. Ademais, o

    tempo de pico (intervalo entre o mximo valor de intensidade de precipitao e o mximo valor

    de vazo na hidrgrafa) de aproximadamente 1 hora.

    Por outro lado, observa-se que as altas intensidades de chuva fazem com que vrias reas

    da microbacia produzam escoamento superficial hortoniano e de reas saturadas, engendrando

    um aumento expressivo da vazo, assim como apresentando tempo de pico de 20 minutos, que

    mais rpido do que o apresentado na Figura 15a (Figura 15b). Ainda que em menor volume, o

    escoamento subsuperficial provavelmente tambm contribui para o aumento da descarga. Nesta

    hidrgrafa, o escoamento direto representou 31% do escoamento total. Alm disso, a resposta

    hidrolgica foi de 6%. Esse valor, se comparado com o da hidrgrafa da Figura 15a,

    expressivamente mais elevado.

    No que se refere ao coeficiente de escoamento superficial, o valor mdio calculados das

    nove parcelas instaladas (Tabela 1) muito baixo, sendo inferior a 0,02, ou seja, menos de 2% do

    que chove tornou-se escoamento superficial.

    Tabela 1 - Coeficiente de escoamento superficial nas trs pores da vertente da microbacia. Os valores refletem a mdia (fora dos parnteses) e a amplitude (em parnteses) das parcelas situadas nas pores da encosta, isto , trs parcelas em cada poro

    A principal via hidrolgica que compem o deflvio o escoamento de base j que a

    curva de durao de fluxo apresenta-se uma inclinao suave em quase toda a sua extenso (Fig.

    Poro da Vertente Mdia e Amplitude

    Inferior 0,016 (0 a 0,44)

    Intermediria 0,006 (0 a 0,18)

    Superior 0,017 (0 a 0,52)

  • 45

    15) (SEARCY, 1959 apud ARCOVA e CICCO, 1997). Esta afirmao est em consonncia com

    os baixos valores de coeficientes de escoamento superficial encontrados.

    012345

    6789

    10

    0 25 50 75 100

    Porcentagem de tempo em que o deflvio igual ou maior (%)

    Def

    lvi

    o D

    iri

    o(m

    m)

    Figura 16 - Curva de durao de fluxo

    Por meio do monitoramento contnuo da descarga, de 30/11/2007 a 28/11/2008, pde-se

    obter o deflvio calculado em base diria. Esses valores foram somados at completar um ano,

    obtendo-se o deflvio anual de 736 mm. Para o mesmo perodo de medio do deflvio, mediu-se

    a precipitao que totalizou 1433 mm. Com essas informaes foi possvel calcular a razo ou

    coeficiente de deflvio (deflvio anual dividido pela precipitao anual). Dessa forma, a razo

    obtida foi de 0,51, sugerindo que 51% da precipitao se transforma em deflvio sendo o restante

    perdido por evapotranspirao.

    No que tange ao balano hdrico, de acordo com Castro e Lopes (2001), este balano

    pode ser calculado em uma microbacia de drenagem por meio da seguinte equao:

    P = Q + ET + S + G (Eq. 2)

    Onde P a precipitao (mm), ET a evapotranspirao (mm), S o armazenamento da

    gua no solo (mm) e G o armazenamento de gua subterrnea (mm). Como pde ser visto nas

    sees anteriores, a variao do armazenamento de gua no solo (S) e a variao da gua

    subterrnea (G) permitem que essas variveis da equao do balano hdrico sejam

  • 46

    consideradas como possuindo um valor prximo a zero. Com isso, a Equao 2 pode ser reescrita

    simplificadamente como Moster et al. (2003) propem (Equao 3):

    P = Q + ET (Eq. 3)

    Assim, a evapotranspirao calculada para o perodo de monitoramento foi equivalente a

    697 mm ano-1, ou, em base diria, 1,9 mm dia-1.

  • 47

    2.3.2 Nitrognio

    No que se refere soluo do solo, a maior parte das amostras dos extratores de soluo

    do solo teve valores de concentrao abaixo do limite de deteco do FIA (Tabela 2). Para os

    extratores situados a 30, 50 e 90 cm de profundidade no perfil do solo, as medianas dos valores

    de concentrao de N-NH4+ e N-NO3

    - foram iguais sendo, respectivamente, 0,71 M e 0,35 M.

    Tabela 2 - Porcentagem (%) de amostras que tiveram seus valores abaixo do limite de deteco (LoD) ( n = 140)

    Profundidade do extrator (cm) % de amostras abaixo do LoD de N-N03-

    % de amostras abaixo do LoD de N-NH4+

    30 87,00 77,00 50 86,00 75,00 90 86,00 85,00

    Observa-se que em alguns perodos menos midos em que o solo se encontra em estados

    de potencial matricial mais expressivos, h um pulso de N-NH4+ e N-NO3

    - a 30 cm de

    profundidade. A 50 e 90 cm de profundidade, o padro se repete (Figura 17).

  • 48

    Figura 17 - Variao temporal de N-NH4+ e N-NO3

    - na soluo do solo (A) 30 cm (superior); (B) 50 cm (intermedirio) e (C) 90 cm (inferior)

    0,0

    10,0

    20,0

    30,0

    40,0

    50,0

    60,0

    70,0

    80,0

    5/12

    /200

    7

    5/1/

    2008

    5/2/

    2008

    5/3/

    2008

    5/4/

    2008

    5/5/

    2008

    5/6/

    2008

    5/7/

    2008

    5/8/

    2008

    5/9/

    2008

    5/10

    /200

    8

    5/11

    /200

    8

    Tempo

    Co

    nce

    ntr

    ao

    (

    M)