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UNIVERSIDADE TECNICA DE LISBOA
INSTITUTO SUPERIOR TECNICO
Mapas Cognitivos nas Organizacoes: Ferramentas eTecnicas de Exploracao Visual e Interactiva
Luıs Manuel Pinto da Rocha Afonso Carrico
(Mestre)
Dissertacao para obtencao do Grau de Doutor em
Engenharia Electrotecnica e de Computadores
Dezembro de 1999
Mapas Cognitivos nas Organizacoes: Ferramentas eTecnicas de Exploracao Visual e Interactiva
Luıs Manuel Pinto da Rocha Afonso Carrico
Tese submetida para provas
de doutoramento em
Engenharia Electrotecnica e de Computadores
Departamento de Engenharia Electrotecnica e de Computadores
Instituto Superior Tecnico
Lisboa
Dezembro de 1999
Tese realizada sob a orientacao do
Prof. Doutor Nuno Manuel de Carvalho Ferreira Guimaraes
Professor Associado com Agregacao do Departamento de Informatica da
Faculdade de Ciencias da Universidade de Lisboa
e co-orientacao do
Prof. Doutor Pedro Alexandre Mourao Antunes
Professor Auxiliar do Departamento de Engenharia Informatica do Instituto
Superior Tecnico da Universidade Tecnica de Lisboa
Resumo
Esta dissertacao aborda o suporte computacional para trabalho com mapas cogni-
tivos, no ambito das organizacoes, como forma de lidar com os processos de mudanca.
Neste contexto, a tomada de decisoes reveste-se dum conjunto de caracterısticas,
que tornam fundamental a compreensao do pensamento, racional e intuitivo, dos in-
divıduos nela envolvidos. A utilizacao de mapas cognitivos e de modelos abrangentes
dos fenomenos organizacionais surge pois, como um instrumento essencial.
A grande maioria das ferramentas e artefactos computacionais existentes, oferece
solucoes limitadas a perspectivas particulares das actividades cognitivas, dificilmente
enquadradas em modelos organizacionais estabelecidos. Essa limitacao aplica-se, nao
so ao tipo das actividades, mas tambem ao grau de racionalidade com que se proces-
sam. Por outro lado, a faceta da interaccao pessoa-maquina parece ter sido relegada
ou confinada as representacoes exageradamente formais que, no contexto em questao,
sao manifestamente insuficientes.
Para colmatar estas deficiencias, e proposta uma bancada para criacao de lingua-
gens visuais, de representacao de mapas cognitivos, que se estende a um espectro
alargado de actividades e permite enquadrar restricoes nao totalmente peremptorias.
Propoe-se ainda um conjunto de tecnicas inovadoras de apresentacao e manipulacao
directa de diagramas, especialmente adequadas a esses mapas. Em particular, o retor-
no a manipulacao, com capacidade de veicular restricoes complexas, sustenta-se num
modelo de comportamento e numa classificacao de accoes e elementos visuais, que
se apresentam. Este conjunto de componentes e entao usado na construcao de duas
ferramentas para exploracao de mapas cognitivos enquadrados em modelos organiza-
cionais adequados.
Abstract
This dissertation covers the computational support for cognitive mapping in orga-
nizations, as a way to deal with the change processes. In this context, it is fundamental
to understand the way the decision-makers think, rationally or using intuition. The use
of cognitive maps and models covering a holistic view of organizational phenomena
emerges as an essential working instrument.
Most of today’s existing tools and computational artifacts offer solutions limited to
particular cognitive activities, hardly integrated with established organizational mod-
els. That limitation applies to the activity type but also to the degree of rationality
they assume. On the other hand, the human computer interaction facet seems to be
forgotten or oversimplified towards highly formalized representations that are clearly
insufficient in this context.
To cope with these problems, a framework is proposed to create visual languages
for the representation of cognitive maps. It embraces a large spectrum of activities
and allows the specification of uncertainty on constraints. It is also proposed a set
of innovative techniques for presentation and direct manipulation of diagrams, par-
ticularly suitable to these maps. The manipulation feedback, able to convey complex
constraints, is based on a behavior model and a classification of actions and visual ele-
ments. The whole set of components is then used to build a pair of tools for cognitive
mapping, framed into adequate organizational models.
Palavras Chave
Tomada de decisao organizacional,Mapas cognitivos,
Linguagens visuais,Visualizacao,
Manipulacao directa,Interaccao pessoa-maquina
Keywords
Organizational Decision-making,
Cognitive maps,Visual Languages,
Visualization,
Direct manipulation,Human-computer interaction
Agradecimentos
Ao meu orientador, Professor Nuno Guimaraes, a quem desejo expressar o meu
reconhecimento pela sua crıtica, apoio e paciencia, que manifestou ao longo destes
anos. A sua extensa biblioteca e o seu interesse pela area constituıram um incentivo
insubstituıvel.
Ao Professor Pedro Antunes, que co-orientou esta tese e com quem, mesmo antes
de assumir estas funcoes, mantive uma colaboracao estreita, com resultados extrema-
mente elucidativos, que, sem duvida, influenciaram o percurso e os resultados desta
dissertacao.
Ao Professor Correia Jesuino e ao Doutor Francisco Nunes, que me deram precio-
sas contribuicoes e me apontaram referencias bibliograficas de relevo, sobre o contexto
em que se enquadra este trabalho, nomeadamente nas areas de desenvolvimento orga-
nizacional e dos mapas cognitivos no ambito das disciplinas de gestao.
Aos investigadores que comigo colaboraram em diversas fases do desenvolvimen-
to, nomeadamente: ao Eng. Vasco Paulo, que desenvolveu o EdGar, um instrumento
que muito ajudou na fase inicial de exploracao de ideias e a partir do qual evoluiu a
plataforma aqui proposta; aos Engs. Joao Costa e Sandra Lopes, que na concretizacao e
extensao do EdGar num ambiente de janelas alternativo, incluıram algumas dos com-
ponentes preliminares do meu trabalho; ao Prof. Franz Penz, pelas longas e proveitosas
trocas de ideias sobre aspectos da interaccao pessoa-maquina, que estao na genese de
algumas facetas do modelo que aqui se propoe.
Devo igualmente agradecer aos meus colegas, com quem convivi durante estes
anos e que contribuıram com sugestoes para este trabalho, em particular aos Engs.
Manuel Fonseca, Jose Pereira, e Luıs Rodrigues e, mais recentemente, aos Drs. Filipe
Araujo e Hugo Miranda.
Ao INESC, ao IST e a FCUL, onde encontrei os meios tecnicos e o enquadramento
cientıfico, sem os quais este trabalho nao seria possıvel.
Nao menos importante, aos meus amigos, aos meus sogros, aos meus pais e a mi-
nha esposa, pelo encorajamento e apoio que sempre me deram. Desejo expressar o
meu especial agradecimento a minha mae, ao meu pai e a minha esposa pela dedicada
e paciente revisao que fizeram a este texto.
Finalmente a minha esposa ainda, pela compreensao demonstrada, e as minhas
filhas, por me deixarem usar o computador, sem grandes lamentos. A elas devo um
pedido de desculpas pelo tempo e dedicacao que lhes roubei.
Lisboa, Dezembro de 1999
Luıs Manuel Carrico
A minha famılia:
Ana, Joana
Paula
Manuel e Natalia
Indice
Indice i
Lista de Figuras vii
Lista de Tabelas xi
1 Introducao 1
1.1 Motivacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1.1 A descricao das organizacoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.1.2 As perspectivas globais e enquadradas . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.1.3 A tomada de decisao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.1.4 Actividades racionais e intuicao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.1.5 Genesis e praxis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.2 Definicao do problema e objectivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.3 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.4 Contribuicoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.5 Estrutura do Texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2 Contexto 19
2.1 A Cognicao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
i
2.2 Mapas cognitivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.2.1 Tipos de mapas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.2.1.1 Mapas de inventario . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.2.1.2 Mapas taxionomicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.2.1.3 Mapas causais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.2.1.4 Mapas argumentativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
2.2.1.5 Mapas interpretativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
2.2.2 Redes semanticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.2.3 Mapas de conceitos e mapas mentais . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2.3 Desenvolvimento Organizacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
2.3.1 Modelos de Desenho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
2.3.2 Modelos de Desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
2.3.3 Mapas Cognitivos no Desenvolvimento Organizacional . . . . . . 58
2.4 Discussao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
2.5 Sumario . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
3 Panorama Tecnologico 65
3.1 Conceitos de base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
3.1.1 A cognicao na comunicacao pessoa-maquina . . . . . . . . . . . . 67
3.1.2 Tecnicas de representacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
3.1.3 As tecnicas de apresentacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
3.1.4 A interaccao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
3.2 Ferramentas de suporte a mapas cognitivos . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
3.2.1 Mapas de inventario . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
ii
3.2.2 Mapas taxionomicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
3.2.3 Mapas causais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
3.2.4 Mapas argumentativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
3.2.5 Mapas de conceitos: mentais e de ambito organizacional . . . . . 87
3.3 Tecnologia para a criacao de ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
3.3.1 Meta-ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
3.3.2 Bibliotecas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
3.4 Discussao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
3.5 Sumario . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
4 Suporte a expressao de mapas cognitivos 99
4.1 Representacao conceptual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
4.1.1 Elementos de base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
4.1.2 Grafos e dependencias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
4.1.3 Mecanismos de tipificacao e refinamento . . . . . . . . . . . . . . 105
4.1.3.1 Tipificacao e definicao de propriedades . . . . . . . . . . 108
4.1.3.2 Restricoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
4.1.4 Caracterısticas comuns . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
4.1.5 Conceitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
4.1.6 Contextos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
4.1.6.1 Tipificacao e refinamento com contextos . . . . . . . . . 114
4.1.7 Associacoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
4.1.8 Juncoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
4.1.9 Taxionomias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
iii
4.2 Representacao Visual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
4.2.1 Elementos de base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
4.2.2 Articulacao com a representacao conceptual . . . . . . . . . . . . 124
4.2.3 Mecanismos de tipificacao e refinamento . . . . . . . . . . . . . . 127
4.2.3.1 Composicao de formas graficas . . . . . . . . . . . . . . 127
4.2.4 O factor espacial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
4.3 Apresentacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133
4.3.1 Tecnicas padrao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136
4.3.2 Articulacao de vistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
4.3.3 Vistas multiplas integradas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
4.4 Aspectos de concretizacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
4.5 Sumario . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146
5 Suporte a exploracao de mapas cognitivos 147
5.1 Accoes do utilizador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
5.1.1 Accoes de manipulacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
5.1.2 Elementos de base na manipulacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152
5.1.3 Nıveis de manipulacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 154
5.1.4 Espacos de manipulacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
5.1.5 Objectos operadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
5.2 Interaccao entre objectos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 160
5.2.1 Campos de interaccao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 160
5.2.2 Activacao dos campos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162
5.2.3 Activacoes mutuas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164
iv
5.2.4 Activacoes multiplas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166
5.2.5 Formas e forcas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 168
5.2.5.1 Solucoes existentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 172
5.2.6 Articulacao com representacoes e accoes . . . . . . . . . . . . . . 174
5.3 Retorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175
5.3.1 Actores nos dialectos de retorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 176
5.3.2 Metafora da barreira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179
5.3.3 Metafora da membrana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184
5.4 Enquadramento global no InCoMa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 186
5.5 Sumario . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187
6 Ferramentas 189
6.1 O FADO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 190
6.1.1 Os mapas cognitivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 190
6.1.2 A estrutura conceptual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193
6.1.3 As linguagens visuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 195
6.1.4 A apresentacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197
6.1.5 A manipulacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 200
6.2 O DETO/ARTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 202
6.2.1 A concretizacao a partir do InCoMa . . . . . . . . . . . . . . . . . 203
6.3 Sumario . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 204
7 Conclusoes e Trabalho Futuro 205
7.1 Perspectivas futuras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 211
v
Bibliografia 215
Glossario Portugues Ingles 235
Glossario Ingles Portugues 241
Indice Remissivo 247
vi
Lista de Figuras
1.1 Influencias globais na evolucao organizacional . . . . . . . . . . . . . . . 3
2.1 Contribuicoes para o desenvolvimento organizacional . . . . . . . . . . . 20
2.2 Tipos de mapas cognitivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.3 Mapa de inventario . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.4 Grelha de repertorio: prescricao de lentes de contacto . . . . . . . . . . . 32
2.5 Mapa taxionomico hierarquico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.6 Grelhas de repertorio e bases de conhecimento . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.7 Representacoes alternativas de mapas taxionomicos . . . . . . . . . . . . 34
2.8 Mapa causal: ciclos de influencia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.9 Mapa causal sobre mapas cognitivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.10 Estrutura argumentativa de Toulmin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
2.11 O IBIS e o QOC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
2.12 Um quadrado semiotico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
2.13 Esquema de enquadramentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
2.14 As redes semanticas no contexto dos mapas cognitivos. . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.15 Representacao de contextos em redes semanticas . . . . . . . . . . . . . . 50
2.16 Mapas de conhecimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
vii
2.17 Carta de correntes para diagnostico de problemas . . . . . . . . . . . . . 59
2.18 Cartas de correntes para planeamento e acompanhamento . . . . . . . . 61
4.1 Um mapa cognitivo de um vendedor numa negociacao. . . . . . . . . . . . . . . . 101
4.2 Base da taxionomia e das dependencias de representacao. . . . . . . . . . 104
4.3 Planos de refinamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
4.4 Estruturas de suporte a tipificacao e refinamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
4.5 Restricoes e dependencias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
4.6 Estrutura comum aos elementos de representacao conceptual. . . . . . . . . . . . 111
4.7 Estrutura de um conceito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
4.8 Estrutura dos contextos e relacao com os conceitos. . . . . . . . . . . . . . . . . 113
4.9 Estrutura das associacoes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
4.10 Os elementos de representacao conceptual do esquema de Toulmin. . . . . . . . . . 117
4.11 Estrutura das juncoes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
4.12 Taxionomia dos elementos de representacao conceptual do InCoMa . . . . . . . . . 119
4.13 Nıveis de representacao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
4.14 Hierarquia dos elementos de base para a representacao visual. . . . . . . . . . . . 122
4.15 Forma sinoptica de representacao visual de contextos. . . . . . . . . . . . . . . . . 124
4.16 Traducao de aspectos da representacao conceptual para visual. . . . . . . . . . . 125
4.17 Composicao de formas graficas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
4.18 O encadeamento de contentores por cooperacao e sobreposicao. . . . . . . . . . . 131
4.19 A interseccao parcial de contentores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
4.20 Os tres nıveis envolvidos na exposicao dos mapas cognitivos. . . . . . . . . . . . . 134
4.21 Mapa cognitivo de uma negociacao - estrategias de dois vendedores. . . . . . . . . 135
viii
4.22 Estrutura comum aos objectos de apresentacao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
4.23 Filtros e componentes graficos adicionais nas vistas de aproximacao. . . . . . . . . 138
4.24 A articulacao entre marcadores de uma vista e as caracterısticas de outras. . . . . . 139
4.25 Partilha de filtros e marcadores entre vistas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
4.26 Uma IMV com duas vistas integradas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142
4.27 Deslizamento e aproximacao numa IMV. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143
4.28 Sobreposicao das areas focais das subvistas de uma IMV. . . . . . . . . . . . . . . 144
4.29 Subsistemas usados na concretizacao do InCoMa. . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
5.1 Estrutura simplificada das classes que sustentam a manipulacao. . . . . . . . . . . 152
5.2 O espaco de manipulacao interna. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
5.3 Articulacao entre vistas e elementos de manipulacao. . . . . . . . . . . . . . . . . 158
5.4 Objectos operadores e espacos de manipulacao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159
5.5 Campos de rejeicao, de retencao e de actividade no modelo paternal. . . . . . . . . 161
5.6 Interaccao entre objectos independentes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163
5.7 Interaccao entre objectos dependentes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163
5.8 Activacao mutua dos campos de rejeicao de objectos independentes. . . . . . . . . 164
5.9 Interaccao do campo de actividade com o de retencao e um de rejeicao. . . . . . . . 167
5.10 Areas e direccoes preferenciais de resistencia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169
5.11 Limiares de rejeicao exteriores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 170
5.12 Ajuste do limiar de aceitacao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171
5.13 Ajuste do limiar de execucao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 172
5.14 Estrutura simplificada das classes que representam o modelo. . . . . . . . . . . . . 175
5.15 Exemplos de objectos de representacao intervenientes numa manipulacao. . . . . . 176
ix
5.16 Actores de manipulacao e retorno. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177
5.17 Alteracao do contexto de um conceito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179
5.18 Criacao de um conceito num contexto resistente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 180
5.19 Retencao total de um conceito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181
5.20 Rejeicao total e parcial de um conceito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181
5.21 Criacao de uma associacao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 182
5.22 Apagamento de uma associacao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183
5.23 Criacao de uma juncao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 184
5.24 Alteracao do contexto de um conceito, entre contentores nao adjacentes. . . . . . . 185
5.25 Manifestacao dos campos de rejeicao aquando da criacao de uma associacao. . . . . 185
5.26 Criacao de uma juncao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 186
5.27 Arquitectura do InCoMa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187
6.1 Componentes da linguagem visual das cartas de diagnostico do FADO. . . . . . . . . 195
6.2 Componentes da linguagem visual dos mapas argumentativos do FADO. . . . . . . . 196
6.3 Componentes da linguagem visual dos mapas taxionomicos do FADO. . . . . . . . . 197
6.4 FADO - editor da carta de diagnostico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 198
6.5 FADO - editor dos esquemas de argumentacao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 199
6.6 FADO - editor das taxionomias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 200
6.7 FADO: reclassificacao de um problema. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201
6.8 FADO: criacao de uma associacao causal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201
6.9 DETO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 202
x
Lista de Tabelas
2.1 Modelo da Analise de Correntes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
xi
xii
�Introducao
Esta dissertacao aborda a utilizacao de linguagens visuais com suporte computa-
cional, no domınio do desenvolvimento e da gestao das organizacoes. Em particular,
foca os aspectos de interaccao pessoa-maquina em ferramentas que providenciem es-
sa forma de comunicacao, quando orientada para a representacao dos conceitos e dos
processos de raciocınio, usados pelos intervenientes nas actividades enquadradas na-
quele domınio.
As linguagens visuais que aqui sao objecto de estudo, inserem-se no conjunto de-
signado na literatura por mapas cognitivos. As teorias que o fundamentam emer-
gem, por um lado, das ciencias cognitivas e por outro, do estudo das organizacoes,
circunscrevendo-se aos temas do diagnostico e do desenho organizacional, no contex-
to da compreensao e gestao dos processos que norteiam a sua transformacao.
Neste capıtulo introdutorio, comecar-se-a por reflectir sobre os factores que moti-
varam a elaboracao desta tese, identificando o contexto em que o trabalho surge e os
desafios que desencadearam a sua realizacao. Indicam-se de seguida, os problemas
que advem desses desafios e quais os objectivos a alcancar. Por fim, apresentam-se
os resultados obtidos e as contribuicoes cientıficas, terminando o capıtulo com uma
descricao da estrutura do restante texto.
1.1 Motivacao
Os problemas enfrentados nas organizacoes, no sentido de acompanhar a frenetica
evolucao dos dias de hoje, deixam aos seus gestores e as pessoas especializadas no
1
2 CAPITULO 1. INTRODUCAO
seu estudo e desenvolvimento, uma tarefa bastante complicada. As pressoes para a
mudanca, quer no sentido criativo, quer de acordo com um conjunto de restricoes que
lhes sao impostas, manifestam-se nos mais variados domınios, de dentro e de fora da
propria organizacao, fazendo sentir-se sobre as diferentes facetas organizacionais.
O sistema legal e polıtico, os sindicatos, o conhecimento cientıfico, o desenvolvi-
mento tecnologico, a cultura nacional e as instituicoes sociais, como a famılia, impoem
condicionantes e necessidades de inovacao, tao importantes como as que advem di-
rectamente dos fornecedores, clientes, competidores e mercados para os produtos e
servicos (Harrison, 1987). O impacto destas influencias exerce-se sobre os aspectos:
tecnologicos, computacionais ou nao, requerendo, por exemplo, a transformacao dos
processos de trabalho (Hammer & Champy, 1994) e a imposicao de regras de contro-
le de qualidade adequadas (Ross, 1994); sociais, exigindo melhores condicoes de vida
laboral e diferentes formas de controlar e interagir com as pessoas; estruturais e admi-
nistrativos, redefinindo objectivos, estrategias, hierarquias e formas de recompensa; e
ate sobre o espaco fısico, de forma a adequar-se as novas tecnologias e ao bem estar e
desempenho das pessoas que constituem a organizacao (Porras, 1987).
E normal, por conseguinte, que se tenha assistido nos ultimos anos, a um interesse
crescente sobre o modo de funcionamento das organizacoes, oriundo em particular das
areas tecnologicas, cujo rapido desenvolvimento faculta os mecanismos indispensaveis
a sua aplicacao nesse contexto. Este empenho deu origem ao aparecimento e redesco-
berta de um grande numero de teorias, recomendacoes e metodologias, que por vezes,
se materializam sob a forma de sistemas e ferramentas computacionais. Na perspecti-
va de lidar com os requisitos de mudanca, surgem aplicacoes que se podem classificar
em dois grandes grupos: aquelas com um pendor descritivo, incluindo preocupacoes
ao nıvel da analise e da concepcao, e as que se orientam para os proprios processos de
tomada de decisao. Em conjunto contribuem para os diversos passos, desde a analise
ate a implantacao de solucoes, subjacentes ao processo de mudanca.
A figura 1.1 esboca alguns factores influentes e influenciados pela evolucao organi-
zacional. As metodologias, em grande parte oriundas das ciencias sociais, as tecnolo-
gias, em particular a de foro computacional, os avancos no conhecimento, o desenvol-
1.1. MOTIVACAO 3
Figura 1.1: Influencias globais entre os mecanismos impulsionadores da evolucao dasorganizacoes, conducentes ao desenvolvimento de sistemas e ferramentas computacionaisque a suportem.
vimento das sociedades e a competitividade determinam directa ou indirectamente,
com propriedade ou sem ela, a necessidade de adaptacao das organizacoes.
1.1.1 A descricao das organizacoes
No ambito da descricao, a grande maioria dos sistemas e ferramentas concentra-
se, como seria de esperar, sobre os aspectos mais formais das organizacoes. Estes ar-
tefactos derivam dos processos de informatizacao das empresas, primeiro com siste-
mas de informacao (McFadden & Jeffrey, 1994; Date, 1994; Elmasri & Navathe, 1994)
e, mais recentemente, com sistemas de suporte aos fluxos de trabalho (workflow sys-
tems). Estes (Marshak, 1994; Nutt, 1996), para alem da componente de execucao, cujo
objectivo e o aumento do desempenho das tarefas operacionais, incluem ferramentas
de especificacao e modelacao dos processos e das estruturas organizacionais (Medina-
Mora et al., 1992; Malone et al., 1993).
Nesta ultima decada, o desenvolvimento dos sistemas de suporte aos fluxos de
trabalho, em particular no que se refere aos requisitos de mudanca, fundamenta-se em
4 CAPITULO 1. INTRODUCAO
grande medida nos movimentos da Reengenharia dos Processos de Negocio (Business
Process Reengineering) ou da Gestao de Qualidade Total (Total Quality Management) -
adiante referidos por RPN e GQT respectivamente. O primeiro (Hammer & Champy,
1994) propoe a modificacao radical dos processos de trabalho nas organizacoes, tendo
em conta, entre outros factores, a introducao dos sistemas de informacao e de trabalho
em grupo e, portanto, a forma como estes influenciam a concepcao daqueles. O segun-
do (Ross, 1994), ao contrario, propoe uma transformacao gradual das funcoes e proces-
sos organizacionais, monitorizados por formas normalizadas de controle, de modo a
alcancar nıveis de qualidade de bens e servicos, que satisfacam, em especial, os consu-
midores. Em conjunto, mantendo uma perspectiva complementar centrada nos proces-
sos de trabalho, permitem explorar formas diferentes de gerir as organizacoes (Swen-
son & Irwin, 1995; Iden, 1995).
O impulso dado por estes movimentos, em conjunto com alguma procura de en-
quadramento organizacional, levou ao desenvolvimento de ferramentas de modelacao
de processos com nıveis de abstraccao elevados (Lee, 1993; Ellis & Wainer, 1994; Nutt,
1996) e mesmo de aproximacoes que se estendem um pouco para alem dos processos
e das estruturas. Sao exemplos disso as propostas feitas sob a designacao de mode-
lacao de empresa (enterprise modeling). Estas (Fraser & Macintosh, 1994; Brathaug &
Evjen, 1996), incidindo ainda, em especial sobre os aspectos formais, propoem formas
de modelacao das organizacoes que levam em linha de conta as diferentes perspecti-
vas de gestao (e.g. organizacional, economica, financeira, de sistemas, etc.), permitindo
assim, mais facilmente, a integracao de ferramentas especıficas a cada uma delas.
O projecto Enterprise (Fraser & Macintosh, 1994), para alem de mecanismos de
modelacao de processos, especificacao e planeamento de tarefas, articuladas com ou-
tras aplicacoes de foro organizacional, define uma ontologia de conceitos relevantes
no domınio (ao nıvel das actividades, estruturas, estrategias, mercado e tempo). A sua
finalidade e suportar formas normalizadas de comunicacao entre aplicacoes (Fraser,
1994), permitindo integrar, por exemplo, sistemas de analise de objectivos e de es-
trategias organizacionais, com os sistemas formais de modelacao de processos e siste-
mas periciais (expert systems). Noutra aproximacao, Brathaug e Evjen (1996) propoem
uma interpretacao de modelacao de empresa, que oferece uma visao integrada de qua-
1.1. MOTIVACAO 5
tro perspectivas: estrutura organizacional, processos, produtos e sistema.
1.1.2 As perspectivas globais e enquadradas
As descricoes organizacionais centradas nos processos de trabalho, quer como
forma de angariar conhecimento sobre os recursos e o modo de funcionamento da
organizacao, quer como meio de especificacao de novos processos, sao, sem duvida,
um passo importante no sentido de acompanhar os requisitos de mudanca. No entan-
to, a RPN, a GQT ou as suas manifestacoes computacionais nao devem ser desenqua-
drados duma perspectiva organizacional mais vasta. Brynjolfson et al. (1997) referem
estimativas que apontam para 70% de insucesso nas tentativas de fazer reengenharia
dos processos. Essas diligencias, em grande parte derivadas de interpretacoes menos
atentas das propostas de Hammer e Champy (1994), falham por nao coordenarem as
dependencias entre a tecnologia e os restantes aspectos das organizacoes, como a es-
trategia, as estruturas existentes e mesmo formas alternativas de trabalho. Nao menos
importante, tal como e afirmado nos estudos empıricos relatados por Brynjolfson et al.
e nos desenvolvidos no ambito das ciencias sociais (Porras, 1987; Harrison, 1987; Eden
& Spender, 1998), e o factor humano. Prever a resistencia a mudanca e moldar a forma
de reaccao das pessoas que constituem a organizacao, sao elementos fundamentais na
introducao da tecnologia e na reengenharia e controlo dos processos.
Por outro lado, as solucoes da RPN e da GQT, ainda que enquadradas em visoes
globais das organizacoes, nao sao panaceia para todos os problemas que nelas se en-
contram. Porras (1987) refere situacoes de disfuncao organizacional em que a solucao e,
por exemplo, a definicao formal de objectivos, a introducao de mecanismos de recom-
pensa, programas de doutrinacao, restruturacao de quadros, modificacao do ambiente
fısico de trabalho, etc. Outros autores (Harrison, 1987; Laukkanen, 1992; Eden & Spen-
der, 1998) expoem outras tantas situacoes semelhantes. Ocorrem mesmo casos, em que
a introducao de tecnologia ou a reengenharia dos processos e simplesmente um gasto
de tempo e recursos (Brynjolfson et al., 1997).
Em qualquer dos casos acima referidos, manifesta-se real a necessidade de visoes
alargadas das organizacoes como forma de procurar problemas e especificar solucoes,
6 CAPITULO 1. INTRODUCAO
que incluam ou nao, tecnologia e reengenharia dos processos. A falta de suporte com-
putacional adequado a este domınio e o primeiro desafio que se coloca a execucao
do trabalho aqui apresentado. Este, fundamentar-se-a necessariamente nas teorias do
Desenvolvimento Organizacional (Organizational Development), oriundas das ciencias
sociais, e, em particular, nas suas componentes de diagnostico (organizational diagnosis)
e desenho (organizational design). Estas areas (Porras, 1987; Harrison, 1987; Butler, 1991;
Mintzberg, 1993) proporcionam metodologias e tecnicas orientadas segundo perspecti-
vas globais, que abrangem estruturas e processos formais e informais, tecnologia com-
putacional ou nao, factores sociais e culturais, objectivos, estrategias, etc..
1.1.3 A tomada de decisao
Desde a analise, ou mais precisamente da angariacao da informacao, ate a fase da
especificacao de solucoes e da sua implantacao nas organizacoes, as pessoas envolvi-
das no processo de mudanca, vao ter que decidir quais os problemas fundamentais,
as suas causas, as suas dependencias, definir os criterios para a escolha das solucoes,
eventualmente baseadas em outras anteriores, etc.. Estas tarefas de diagnostico, plane-
amento estrategico e desenho, vulgarmente englobadas no tema generico da tomada
de decisao, sao actividades constante, complementar a descricao das organizacoes e
essenciais a sua transformacao.
Neste contexto, correspondendo a diversidade de actividades, surge uma grande
variedade de ferramentas e sistemas, sob a designacao de Sistemas de Suporte a De-
cisao1 (Decision Support Systems) - doravante referidos por SSD. Englobam-se aqui, os
sistemas que tentam: minorar o excesso de carga cognitiva (resultante da grande quan-
tidade de informacao necessaria a tomada de algumas deliberacoes); automatizar, total
ou parcialmente, o processo de decisao; ou enquadra-lo em metodologias apropriadas.
Tecnologicamente, os SSD vao desde simples folhas de calculo, que incluem al-
goritmos de analise estatıstica, ate sistemas periciais elaborados, que apresentam re-
sultados de forma grafica sob multiplas perspectivas. Destacam-se, nao tanto pelo
1Adopta-se aqui uma interpretacao alargada do nome, nao totalmente desprovida de polemica, masque e seguida, por exemplo, por Power (1997).
1.1. MOTIVACAO 7
sucesso como pela ressonancia do seu nome, os Sistemas de Informacao de Gestao
(Management Information Systems) e os Sistemas de Informacao de Executivos (Exec-
utive Information Systems). Os primeiros sao normalmente pacotes de processamento
de informacao que apresentam relatorios normalizados, de forma grafica. Os segun-
dos, mais flexıveis, permitem a introducao de interrogacoes e a geracao de relatorios
especıficos, resultado da aplicacao de metodos de analise estatıstica. Mais recentemen-
te, surgem os sistemas de processamento analıtico local (on-line analytical processing),
que emergem das aproximacoes globais de descricao organizacional, sendo suporta-
dos por sistemas de informacao multidimensionais (Parsaye, 1997; Tanrikorur, 1997;
Ramakrishnan, 1997). Outros sistemas, para alguns autores (Holsapple & Whinston,
1996) os verdadeiros SSD, incluem mecanismos de inferencia e modelos de decisao,
que guiam os utilizadores durante o processo da tomada de decisao.
Formando um conjunto relativamente distinto, devem referir-se ainda os sistemas
que lidam com a comunicacao entre os varios participantes (humanos) na tomada de
decisao. Sao vulgarmente designados por Sistemas de Suporte a Decisao em Gru-
po (Group Decision Support Systems) - veja-se Antunes (1996) para uma apresentacao
alargada do tema. Estes sistemas permitem essencialmente, facilitar ou mesmo gerir,
a interaccao entre as pessoas envolvidas nos processos de decisao. A introducao de
um meio computacional oferece ainda a possibilidade de distribuir, no espaco e no
tempo, essas interaccoes e em certos casos, estruturar melhor a informacao trocada no
processo (Antunes et al., 1998).
1.1.4 Actividades racionais e intuicao
A grande maioria dos SSD assume uma perspectiva da tomada de decisao como-
damente simplista, em particular quando enquadrada na resolucao de situacoes com-
plexas do contexto organizacional (Spender & Eden, 1998; Hellgren & Lowstedt, 1998).
Por um lado, os sistemas que oferecem resumos consistentes, resultantes da analise de
informacao, tipicamente economico-financeira, deixam o processo de diagnostico nu-
ma fase inicial. Por outro, os sistemas mais elaborados que apontam problemas, apre-
sentam solucoes ou guiam (ou talvez espartilhem) os utilizadores durante o processo
8 CAPITULO 1. INTRODUCAO
de decisao, baseiam-se em modelos de causalidade e criterios de escolha rigorosos,
que assumem que estas actividades sao totalmente racionais2e partem de informacao
completa e objectivos bem definidos.
Infelizmente, as provas em contrario surgem dos mais variados sectores. Tal como
refere Pomerol (1997), recentes descobertas da neurobiologia mostram que, na tomada
de decisao, sao usadas partes do cerebro que introduzem intuicao e emocao no proces-
so. Noutro sentido, Brynjolfson et al. (1997) criticam que grande parte das tentativas de
reengenharia sao feitas ”as cegas”, por falta de reflexao e informacao, e portanto base-
adas intuitivamente em solucoes anteriores para problemas aparentemente semelhan-
tes. Eden e Spender (1998) e Loebbecke (1997) referem estudos e exemplos de tomada
de decisao estrategica que a apontam como um conjunto de actividades essencialmen-
te cognitivas, sociais e mesmo polıticas, por vezes com elevados graus de incerteza e
baseadas em informacao normalmente insuficiente e mal estruturada. Exemplos de di-
agnosticos (Porras, 1987; Harrison, 1987) e definicao de estrategias (Laukkanen, 1992)
oriundos de estudos da sociologia e gestao, revelam os mesmos sintomas.
Estas constatacoes levam, nos ultimos anos, ao aparecimento de uma aproximacao
cognitiva ao suporte da tomada de decisao. Nesta area da Cognicao Organizacional
e de Gestao (Managerial and Organizational Cognition), ao inves de se centrar o con-
trole do processo de decisao nas ferramentas ou em metodologias rigorosas, segundo
modelos abstractos e por vezes de validade questionavel, tenta-se capturar e descre-
ver o proprio pensamento das pessoas envolvidas nessa actividade. Uma vez exposto,
com toda a subjectividade inerente a analise e diagnostico do problema ou desenho
da solucao, as descricoes sao examinadas por algoritmos ou simulacoes, fundamenta-
dos em teorias das ciencias cognitivas, ou, simplesmente, utilizadas para confrontar os
intervenientes nas decisoes, com a sua forma de pensar3. Essas descricoes designam-
se por Mapas Cognitivos (Cognitive Maps). Assumem primordialmente a forma de
linguagens visuais, o que os torna especialmente apelativos a comunicacao e compre-
ensao dos fenomenos cognitivos, no domınio em questao (Weick, 1990; Huff, 1990a). A
2O termo racional e aqui tomado com um significado estrito, no sentido daquilo que se pode deduzire portanto que segue regras bem definidas.
3Justificando esta pratica Huff (Huff, 1990a) refere, a proposito, o aforismo de Karl Weik: Como pode-mos saber o que pensamos ate vermos o que dizemos?
1.1. MOTIVACAO 9
figura 1.1 apresenta, de uma forma simplificada, um mapa cognitivo acerca do que se
pensa serem as relacoes de causa/efeito entre os mecanismos envolvidos na evolucao
das organizacoes.
As ferramentas computacionais desenvolvidas neste contexto, focam normalmen-
te aspectos particulares dos mapas cognitivos, em grande parte com problemas de
interaccao, capacidade de exploracao e integracao no ambito organizacional. Por outro
lado, as metodologias adoptadas assumem uma perspectiva radical de distanciamento
dos modelos abstractos, individuais ou genericos, que contraria a propria perspectiva
cognitiva da tomada de decisao. No processo de decisao desencadeiam-se actividades
que se complementam, entre a criatividade e a exploracao, por um lado, e a racio-
nalidade e a reutilizacao de conhecimento, por outro (Hellgren & Lowstedt, 1998)4.
Pomerol (1997), mencionando resultados da neurobiologia, afirma que de facto o raci-
ocınio, a intuicao e a emocao se complementam na tomada de decisao. Mais, sugere
que a emocao se manifesta no recurso a ”padroes de decisao” extrapolados de decisoes
anteriores.
Todos estes aspectos, conjuntamente com o referido na seccao 1.1.2, constituem a
motivacao de base desta dissertacao, resumindo-se do seguinte modo:
���� Este trabalho decorre da necessidade de definicao de ferramentas que,
segundo uma perspectiva organizacional cognitiva, se adequem a fa-
cilitacao das actividades inerentes a evolucao das organizacoes. Estas
ferramentas devem, por um lado, ter uma natureza exploratoria mas
fundamentada em padroes de conhecimento previamente adquiridos
e por outro, enquadrar-se em visoes e classificacoes que abranjam as
diversas facetas organizacionais.
O facto de um numero apreciavel de descricoes do processo cognitivo, no ambito
organizacional, tomar a forma de linguagens visuais, nao e, de maneira nenhuma,
alheio a tomada deste desafio como motivacao de base do trabalho que aqui se apre-
senta. Essas linguagens, conjuntamente com a caracterıstica simultaneamente explo-
4Hellgren e Lowstedt referem a proposito o argumento de Empidocles de que as coisas nem saoinalteraveis, nem estao constantemente em mutacao.
10 CAPITULO 1. INTRODUCAO
ratoria e enquadrada da sua manipulacao, constituem materia particularmente interes-
sante para o desenvolvimento de ideias e aplicacoes no ambito da interaccao pessoa-
maquina. E alias neste sentido que se orienta grande parte do esforco desenvolvido.
1.1.5 Genesis e praxis
O trabalho aqui apresentado foi iniciado no contexto do grupo de Tecnicas de
Interaccao Multimedia, do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores
(INESC). Este grupo, cuja area de investigacao e desenvolvimento se centrou espe-
cialmente nos aspectos de interaccao pessoa-maquina, hipermedia e multimedia, tan-
to nas facetas arquitecturais e de suporte, como em ferramentas propriamente ditas,
envolveu-se, nos ultimos anos, no campo do estudo das organizacoes, em particu-
lar nos aspectos da tomada de decisao e desenho de processos de trabalho. Esta
integracao, teve como primeiro resultado contratual o seguinte projecto:
ORCHESTRA - Organizational Change, Evolution, Structuring and Aware-
ness (Guimaraes, 1998). Projecto ESPRIT (European Strategic Programme for
Research in Information and Technology), no 8749.
A motivacao para o trabalho desta dissertacao teve aı as suas raızes. Na fase ini-
cial, um conjunto de organizacoes piloto (que constituıam parceiros empresariais do
consorcio) foi analisado e diagnosticado por peritos com formacao de base nas ciencias
sociais, com o intuito de enquadrar, numa visao global destes organismos, sistemas
complexos para suporte e automatizacao de trabalho em grupo, os quais seriam desen-
volvidos e integrados no decurso do projecto. Os modelos adoptados, aplicados pela
equipa tambem noutros trabalhos de consultoria, provem das teorias do diagnostico
e desenho organizacional atras referidas. As metodologias usadas, embora de manei-
ra implıcita e nem sempre de forma grafica (devido a ausencia de meios tecnologicos
adequados), recorrem a mapas cognitivos simples que descrevem os raciocınios de
causalidade inerentes ao processo de diagnostico. Foi desta necessidade de utilizacao
pratica, bem como da referida inexistencia de ferramentas eficazes, que emergiu o de-
safio inicial a execucao desta dissertacao.
1.2. DEFINICAO DO PROBLEMA E OBJECTIVOS 11
Ja durante a elaboracao da tese, surgiu um novo estımulo, no ambito do qual se
desenvolveu ainda algum do trabalho aqui descrito, que se materializou no seguinte
projecto de investigacao:
MAPCOG - Mapas Cognitivos nos Processos de Negociacao (Jesuino et al.,
1996; Carrico et al., 1998). Projecto PRAXIS no PCSH/P/PSI/77/96.
O projecto recorre aos mapas cognitivos como forma de descrever, compreender
e antever os processos de raciocınio dos negociadores durante a negociacao. A com-
ponente tecnologica do projecto faculta os meios e a competencia necessarios, para a
integracao, nos prototipos desenvolvidos, dos aspectos de interaccao pessoa-maquina
e de modelacao da actividade negocial, segundo uma perspectiva cognitiva. A sua
componente experimental permite sustentar os requisitos encontrados para essas fer-
ramentas.
1.2 Definicao do problema e objectivos
Tomando em consideracao o desafio resumido em ���� e que constitui o problema
de base sobre o qual este trabalho se debruca, delinearam-se os seguintes objectivos:
� O estudo dos varios tipos e formas de mapas cognitivos e das caracterısticas da
sua utilizacao, quer no contexto da tomada de decisao nas organizacoes, quer
noutros que, de algum modo, possam contribuir para enriquecer a analise, di-
agnostico e desenho organizacionais.
� Apreciacao de teorias e metodologias de diagnostico e desenho organizacional
que possam enquadrar a perspectiva cognitiva da tomada de decisao, segundo
uma visao alargada das organizacoes, que inclua aspectos formais e informais,
ao nıvel dos fluxos de trabalho, e sociais e administrativos.
� Analise de bibliotecas de componentes, ferramentas e sistemas computacionais,
que providenciem suporte a edicao e analise dos mapas cognitivos, de acordo
com as caracterısticas de forma e uso identificadas.
12 CAPITULO 1. INTRODUCAO
Os problemas encontrados situam-se essencialmente em duas areas: a da mode-
lacao e a da interaccao pessoa-maquina. A sua natureza resulta necessariamente do
conceito de mapa cognitivo. Estes mapas, por constituırem tecnicas de representacao
e compreensao das estruturas conceptuais e dos processos de raciocınio, levantam
problemas ao nıvel da validade, do abrangimento e da adequacao dos mecanismos
de analise, que sobre eles se aplicam. A sua faceta de linguagem visual e a sua
utilizacao simultaneamente exploratoria e fundamentada, impoem desafios as formas
de representacao grafica, apresentacao, manipulacao e retorno (feedback). Na perspec-
tiva desta tese e a ultima area, da interaccao pessoa-maquina, que norteara o traba-
lho desenvolvido. No entanto, porque a utilizacao das ferramentas recai, em ultima
instancia, sobre os modelos adoptados e os metodos de analise usados, as questoes
apresentadas e as opcoes tomadas nesse contexto, repercutir-se-ao nos requisitos im-
postos ao desenvolvimento das interfaces.
Relativamente aos mapas cognitivos como forma de modelacao, cabe referir, em
primeiro lugar, as duas posicoes que se encontram na literatura: uma advoga que
estes mapas sao meros auxiliares de raciocınio, com um objectivo simplesmente me-
todologico, que confronta as pessoas com descricoes visuais, sucintas e estruturadas
de ideias que se relacionam entre si; a outra, mais completa e que se adopta nesta
tese, e a de que, para alem dessa funcao, estes mapas capturam, ainda que parcial-
mente, as caracterısticas das proprias estruturas mentais usadas pelos indivıduos, no
processo cognitivo (Huff, 1990b; Eden & Spender, 1998; Laukkanen, 1992). Esta pers-
pectiva pode interceptar (no extremo oposto a primeira) as posicoes perfilhadas pela
inteligencia artificial, nas representacoes visuais materializadas nas varias formas de
redes semanticas (Sowa, 1991). E igualmente neste sentido, que e lıcita a aplicacao
de algoritmos e mecanismos de analise, que extrapolam, por exemplo, a centralidade
de conceitos ou mesmo a utilizacao de simulacoes que pretendam antever o resultado
possıvel de estrategias ou processos negociais. Tudo isto se enquadra primeiramente
no ambito das ciencias cognitivas e, evidentemente, a tomada desta posicao quanto a
validade dos modelos, tem repercussoes tecnologicas profundas.
De acordo com o que foi referido na seccao anterior (�1.1), o suporte a criacao dos
mapas tera que permitir exprimir conceitos e relacoes, formal ou informalmente defi-
1.2. DEFINICAO DO PROBLEMA E OBJECTIVOS 13
nidos, classifica-los, especificar graus de incerteza e relevancia, etc.. O seu impacto no
aspecto da interaccao pessoa-maquina e, antes de mais, a criacao de formas graficas
que revelem essas caracterısticas. Tipicamente assumirao a forma de diagramas basea-
dos em estruturas grafo, onde nos e arcos representam conceitos e relacoes. Os atribu-
tos graficos e a sua disposicao no espaco reflectem as propriedades e classificacoes do
modelo subjacente. Claramente, essas formas deverao conciliar-se com as adoptadas
para a representacao visual dos modelos relacionados e ja usados no domınio orga-
nizacional. Esta conciliacao nao deve, no entanto, tornar-se uma limitacao. Na sua
grande maioria, as formas existentes ou se diminuem pela dificuldade de utilizacao
sem apoio de ferramentas computacionais, ou, quando as ferramentas existem, adop-
tam uma posicao comodamente simplista, que nao tira partido das capacidades de
manutencao de consistencia, exploracao e apresentacao oferecidas por esses meios.
���� Os mecanismos de representacao visual dos mapas cognitivos deverao
suportar diagramas baseados em grafo, que permitam revelar as pro-
priedades subjacentes aos conceitos e relacoes, e enquadra-los com, mas
nao limita-los a, representacoes visuais existentes.
Ao pretender-se que os mapas cognitivos sejam mais do que uma forma de esboco
que auxilia no processo de decisao, entao, as representacoes visuais deverao ter as-
sociadas restricoes que correspondem as formas validas de combinacao dos respec-
tivos elementos. E nesse sentido que se tornam linguagens. No entanto, as regras
subjacentes aos mapas cognitivos sao, na sua grande maioria, ambıguas e de foro
semantico. Elas decorrem da confianca manifestada por conhecimento resultante de
anteriores utilizacoes, de crencas ou intuicao dos utilizadores ou de teorias emergentes
das ciencias sociais. Tecnologicamente isto significa que:
���� Os mecanismos de verificacao das restricoes deverao tomar em linha de
conta diferentes graus de imposicao e adaptarem-se a cada problema e
a evolucao do conhecimento sobre ele angariado.
No respeitante a sua utilizacao, tambem esta caracterıstica se devera repercutir nas
formas de manipulacao da linguagem. Sendo estas linguagens visuais e consideran-
do o tipo de utilizadores a que se destinam (consultores, gestores, psicologos, ...), os
14 CAPITULO 1. INTRODUCAO
mecanismos de manipulacao directa, consubstanciados em diversas modalidades de
interaccao, sao os mais adequados. Os problemas que estabelecem, sao semelhantes
aos encontrados na manipulacao de ıcones nos habituais sistemas de janelas (operacoes
de drag-and-drop). No entanto e mais uma vez, a natureza ambıgua das restricoes im-
postas, introduz desafios ao nıvel do retorno semantico, que nao estao, de todo, resolvi-
dos nos sistemas disponıveis. Simples mudancas de ıcone, que transmitam permissao
ou proibicao a manipulacao, sao insuficientes. As alternativas caixas de texto, com lon-
gas descricoes, normalmente ignoradas pelos utilizadores, sao, no mınimo, fastidiosas,
para alem de violarem os princıpios basicos de reaccao imediata associados ao conceito
manipulacao directa (Shneiderman, 1998). Neste sentido pode afirmar-se que:
���� A criacao de formas elaboradas, mas consistentes, de manipulacao e
retorno, devera ter-se em conta na concepcao das interfaces pessoa-
maquina para ferramentas de suporte aos mapas cognitivos. Este fac-
to impoe o desenvolvimento de modelos adequados de interaccao en-
tre objectos, a adopcao de metaforas que permitam exprimir restricoes
complexas e melhoramentos ao nıvel das arquitecturas da interface.
Tambem do ponto de vista da apresentacao, a natureza dos mapas cognitivos e
a sua utilizacao no ambito organizacional requer o uso de tecnicas apropriadas que
facilitem a sua criacao e analise, em particular quando se trata de diagramas de gran-
des dimensoes. De entre essas, sao naturalmente interessantes as que se aplicam ge-
nericamente a diagramas baseados em grafos. Assim, mecanismos de composicao e
decomposicao de nos, formando diagramas hierarquicos, formas de distorcao ou de
distribuicao espacial (layout) de nos e arcos, que facilitem a tarefa de percepcao, ou
meios de chamada de atencao, que recorrem a padroes graficos, esquemas de cor ou
aproximacao (zoom), sao por vezes indispensaveis para manipulacoes eficientes dos
mapas cognitivos.
Todavia, algumas das formas definidas para estes mapas centram-se, sobretudo,
nas relacoes entre conceitos e portando nos arcos de ligacao entre nos. Esta carac-
terıstica fundamenta-se, em grande medida, na maior informalidade da definicao dos
conceitos, em contraposicao ao papel mais claro das relacoes entre eles estabelecidas
1.3. RESULTADOS 15
(e.g. causalidade, ou equivalencia). Este facto dificulta a utilizacao dos mecanismos
existentes, mesmo os que recorrem a algoritmos de distorcao, definidos essencialmen-
te em torno dos nos, e os de focagem por aproximacao que se definem isoladamente,
sem relacao a outros pontos, porventura relevantes, do mapa cognitivo. O problema
e ainda aumentado por algumas caracterısticas visuais de agrupamento que emergem
de alguns mapas usados no contexto organizacional. Por tudo isto, pode dizer-se que:
���� Os mecanismos de apresentacao e edicao de mapas cognitivos deverao
nao so incluir metodos usados genericamente para o estudo e criacao de
diagramas de grandes dimensoes, mas tambem outros, que tenham em
consideracao as caracterısticas e formas de utilizacao especıficas des-
tes mapas no ambito das organizacoes. Entre estes devera inscrever-
se a relevancia dos arcos como objecto de estruturacao, a necessidade
de analise comparativa entre diferentes areas focais e as caracterısticas
graficas da propria linguagem.
Tomando em consideracao os problemas definidos pode dizer-se que:
O objectivo desta tese e a concepcao de mecanismos de suporte computa-
cional para a criacao de ferramentas de edicao e analise de mapas cogniti-
vos, no ambito organizacional, em particular no aspecto da interaccao pessoa-
maquina.
Naturalmente, embora partindo de requisitos do domınio cognitivo e organizacional,
a prossecucao deste objectivo nao devera confinar-se a ele mas, sempre que possıvel,
abstrair-se, definindo modelos e encontrando tecnicas cuja concretizacao se aplique a
problemas semelhantes, doutros domınios.
1.3 Resultados
Na procura da resolucao dos problemas acima descritos, esta tese teve como re-
sultados praticos, o seguinte conjunto de especificacoes e componentes programados:
16 CAPITULO 1. INTRODUCAO
� Uma biblioteca generica para a apresentacao e manipulacao de diagramas, su-
portando a definicao de restricoes entre objectos e formas elaboradas de retorno,
sintactico e semantico, a sua manipulacao directa.
� Um conjunto especıfico de objectos e restricoes para a definicao de mapas cogniti-
vos, incluindo objectos graficos de representacao e componentes de apresentacao
e edicao de diagramas de grandes dimensoes e com multiplos focos.
� Dois conjuntos de objectos de suporte a manipulacao directa dos componentes
das linguagens visuais, que concretizam formas de retorno semantico, segundo
metaforas diferentes de interaccao, em espacos sujeitos a restricoes.
� Dois prototipos de ferramentas orientadas para o diagnostico e desenho organi-
zacional, integrando modelos adequados das ciencias sociais, recorrendo a varias
formas de mapas cognitivos e diagramas de dependencia, e suportadas, do ponto
de vista da interaccao, pelas tecnicas atras referidas.
Os tres primeiros componentes, para alem de utilizados na construcao dos referi-
dos prototipos, estao igualmente em fase de integracao com um sistema de modelacao
de mapas cognitivos (Carvalho & Tome, 1999), baseado em logica difusa (fuzzy logic).
O objectivo e concretizar uma ferramenta de especificacao e analise desses mapas, no
contexto dos processos de negociacao, e sera um dos resultados do projecto MAPCOG
atras citado.
1.4 Contribuicoes
Os resultados praticos, acima descritos, tem como base um conjunto de contribui-
coes concebidas no decurso da execucao do trabalho apresentado nesta dissertacao. As
mais importantes sao:
� A definicao de um conjunto de componentes adequados a representacao de ma-
pas cognitivos, ao nıvel conceptual e visual, incluindo contextos e regioes de
classificacao, que espelhem categorias emergentes dos modelos em que enqua-
dram as linguagens visuais especificadas.
1.5. ESTRUTURA DO TEXTO 17
� A definicao de solucoes inovadoras para a apresentacao de diagramas de di-
mensoes medias ou grandes, baseados em estruturas contendo contextos, nos e
arcos de ligacao. A solucao permite visualizar diferentes areas de foco, ajustaveis
de forma independente, mas integradas, de modo a tornar igualmente per-
ceptıveis nos e arcos de ligacao, mesmo entre os focos distintos.
� A definicao de um modelo de interaccao espacial entre objectos graficos repre-
sentativos de linguagens visuais, que considera restricoes de caracter sintactico e
semantico, as quais se devem reflectir nas representacoes visuais.
� A classificacao dos componentes que intervem na manipulacao directa e a
definicao de dialectos visuais de retorno, inovadores, que levam em linha de
conta diferentes tipos e graus de restricao, impostos aos objectos graficos e, por
conseguinte, a sua manipulacao.
� A sugestao de extensoes e melhoramentos as arquitecturas genericas de aplica-
coes interactivas, especialmente orientadas para a manipulacao directa de objec-
tos graficos componentes de linguagens visuais, que permitam formas elabora-
das de retorno semantico.
1.5 Estrutura do Texto
Este capıtulo introdutorio, para alem da definicao dos problemas, objectivos, resul-
tados e contribuicoes, teve como proposito a apresentacao do contexto global em que o
trabalho se insere. Em particular, pretendeu-se identificar a perspectiva organizacional
que se segue na dissertacao, mais ligada as visoes da sociologia e da ciencia cognitiva,
do que aos aspectos estruturais e de automatizacao, na maior parte das vezes associ-
ados a palavra ”organizacao”quando referida em areas tecnologicas, como aquela em
que se insere esta tese.
No capıtulo seguinte, apresenta-se o contexto especıfico em que se fundamenta
o trabalho aqui apresentado, identificando-se os requisitos particulares que lhe sao
impostos. Em primeiro lugar, aborda-se a cognicao e as suas diversas facetas, como
18 CAPITULO 1. INTRODUCAO
manifestacoes e influencias do funcionamento e da gestao das organizacoes. De se-
guida, descrevem-se as caracterısticas inerentes aos mapas cognitivos como forma de
facilitar a compreensao dessas facetas. Posteriormente, apresentam-se, de forma su-
cinta, algumas das teorias e metodologias do desenvolvimento organizacional que se
enquadraram no ambito destes mapas.
No capıtulo 3 apresenta-se e discute-se o panorama tecnologico. Expoem-se os fun-
damentos e as tecnicas de base que enquadram as caracterısticas requeridas e analisam-
se ferramentas que tentam ja dar suporte a criacao de alguns tipos de mapas. Reveem-
se tambem as tecnologias (sistemas e bibliotecas) que permitem a construcao de novas
ferramentas e, por fim, discutem-se as lacunas encontradas.
Nos capıtulos 4 e 5 apresenta-se o trabalho realizado com o objectivo de provi-
denciar suporte a construcao de ferramentas adequadas. No primeiro, abordam-se
os componentes propostos com objectivo de cobrir a expressao visual dos mapas.
Especificam-se ao nıvel conceptual da representacao, ao nıvel da definicao de lingua-
gens visuais e, por fim, ao nıvel da apresentacao e consequente gestao do espaco em
que ocorre a interaccao com o utilizador. No capıtulo 5, da-se enfase aos aspectos da
exploracao e, por conseguinte, a faceta dinamica da interaccao pessoa-maquina, no ca-
so vertente com os componentes descritos. Aborda-se o modelo proposto, enumeram-
se os actores intervenientes na manipulacao e propoem-se dialectos de retorno.
No penultimo capıtulo descrevem-se sucintamente os dois prototipos desenvolvi-
dos, com base no suporte proposto. O primeiro e uma ferramenta de apoio a aplicacao
de uma metodologia e de um modelo especıfico de diagnostico organizacional, que
agrega varias tipos de mapas cognitivos. O segundo, propoe a articulacao de um mo-
delo de desenho organizacional, tambem com mapas cognitivos, como forma de guiar
a adaptacao de sistemas de modelacao e trabalho nas organizacoes, a sua mudanca.
Finalmente, no capıtulo 7 conclui-se e delineiam-se perspectivas futuras.
�Contexto
Considerando os processos de analise, diagnostico e tomada de decisao organiza-
cionais conforme anteriormente expostos, i.e., como actividades essencialmente cog-
nitivas, enquadradas em visoes alargadas daquelas estruturas sociais, o suporte a sua
facilitacao devera fundamentar-se em resultados de duas areas cientıficas:
� a das ciencias cognitivas (Posner, 1993; Stubbart & Ramaprasad, 1990), cujo objec-
tivo e desenvolver teorias e tecnicas para o ”estudo e compreensao da percepcao,
raciocınio e aprendizagem humanas” (Merriam-Webster, 1998);
� a das ciencias sociais (Porras, 1987; Mintzberg, 1995), cujo intuito e estabelecer as
teorias e metodologias que ”lidam com as instituicoes, funcionamento das soci-
edades e as relacoes interpessoais dos indivıduos como membros de uma socie-
dade” (Merriam-Webster, 1998).
As duas areas nao sao independentes. Em primeiro lugar porque reunem disciplinas
essenciais comuns, como a psicologia (e a psicologia social). Para alem disso, algumas
teorias que emergem das ciencias cognitivas, levam em linha de conta as influencias
sociais e do conhecimento dos grupos, considerados muitas vezes como entidades
proprias, com caracterısticas de pensamento que ultrapassam as directamente impu-
tadas aos indivıduos que os constituem (Spender, 1998; Hellgren & Lowstedt, 1998).
Finalmente, as ciencias sociais consideram, como componente fundamental das suas
teorias, as influencias que os indivıduos, na sua forma de pensar, aprender e agir, tem
no funcionamento das organizacoes (Porras, 1987; Harrison, 1987).
No caso vertente, a ciencia cognitiva fundamenta e oferece os meios para a
representacao e compreensao dos processos mentais desenvolvidos pelos gestores,
19
20 CAPITULO 2. CONTEXTO
Figura 2.1: Contribuicoes teoricas e metodologicas para a analise, diagnostico e tomadade decisao nas organizacoes.
consultores e teoricos das organizacoes, durante a analise, diagnostico e desenho
das mesmas. No contexto deste trabalho e especialmente relevante a sua expressao
sinoptica e potencialmente grafica, que se traduz nos diferentes tipos de mapas
cognitivos (Huff, 1990b; Eden & Spender, 1998). Estes sao, em primeira analise,
representacoes de componentes do processo cognitivo, em sentido lato i.e., nao agrilho-
adas a preocupacoes de nıvel formal ou de capacidade de reproducao do raciocınio. A
segunda area cientıfica, na sua componente do desenvolvimento organizacional (Por-
ras, 1987; Porras & Robertson, 1991), particularmente nas vertentes de diagnostico e
desenho (Mintzberg, 1995; Mintzberg, 1993), proporciona o acesso ao conhecimento
ja disponıvel, sobre as dimensoes, caracterısticas e formas de evolucao tıpicas das
organizacoes. A conjuncao das duas permite assim, providenciar os meios para a
descoberta, exploracao e revisao do conhecimento, enquadrando-o em metodologias
e classificacoes, pre existentes e fundamentadas, das estruturas e actividades organi-
zacionais (ver figura 2.1).
Neste capıtulo apresentar-se-ao conceitos fundamentais do contexto em que se de-
senrola o trabalho desta dissertacao, que determinarao, em ultima instancia, os requisi-
tos a impor a definicao de ferramentas, sistemas e bibliotecas de componentes que pre-
tendam suportar a analise, diagnostico e gestao das organizacoes, segundo uma pers-
pectiva cognitiva. Comecar-se-a por apresentar alguns aspectos do que hoje em dia se
2.1. A COGNICAO 21
engloba no tema da cognicao, sempre que possıvel reportados a sua representacao e ao
seu enquadramento nas actividades de gestao. De seguida, introduzir-se-a o conceito
de mapas cognitivos, as suas categorias, bem como as formas de aquisicao, aplicacoes
e resultados, em particular no ambito das organizacoes. Por fim, far-se-a uma breve re-
visao dos modelos e metodologias de desenvolvimento organizacional que nortearam
alguns dos resultados deste trabalho.
2.1 A Cognicao
O interesse na forma como as pessoas pensam e compreendem o mundo que as
rodeia, quanto mais nao seja por constituir uma das caracterısticas essenciais do que
significa ser humano, manifesta-se desde as civilizacoes mais remotas. O assunto tem
sido foco de atencao nas mais variadas areas, desde a filosofia da Grecia antiga ate
aos mais recentes achados da neurobiologia. Psicologia, Inteligencia Artificial, Lin-
guıstica, Filosofia, Neuropsicologia, Neurobiologia, Antropologia e Psicologia Social,
todas contribuem para a construcao do que se denomina, hoje em dia, por ciencia cog-
nitiva. De acordo com Simon e Kaplan, esta ciencia ”e o estudo da inteligencia e dos
sistemas inteligentes, com referencia particular ao comportamento inteligente como
computacao” (1993, p. 1). Esta capacidade de computar, atribuıda por alguns a todas
as actividades da cognicao humana (Pylyshyn, 1993), nao se refere obrigatoriamente a
viabilidade de reproducao em computador. Pressupoe, no entanto, uma caracterıstica
de padronizacao e exactidao, que e impugnada ou relegada para segundo plano por
varios investigadores, nao so oriundos da area das ciencias sociais (Eden & Spender,
1998), mas tambem com formacao de base em Inteligencia Artificial - veja-se os traba-
lhos de Johnson-Laird (1993), Bannon e Bødker (1991) e Winograd e Flores (1986).
Em geral, no entanto, pode identificar-se um conjunto de componentes e tarefas
do processo cognitivo (Posner, 1993; Osherson & Lasnik, 1990; Osherson et al., 1990;
Osherson & Smith, 1990; Huff, 1990a), que permite orientar o esforco dos investigado-
res segundo areas de estudo mais ou menos especıficas:
Percepcao e atencao - referem-se a forma como os estımulos, particularmente os visu-
ais (Osherson et al., 1990) e sonoros, sao reconhecidos e interpretados (Dix et al.,
22 CAPITULO 2. CONTEXTO
1994) e, de entre eles, quais os que suscitam maior interesse, tendo, por conse-
guinte, mais probabilidades de serem lembrados a posteriori. A forma como se
manifestam ou se mudam os focos de atencao e a sua compreensao, permitem
em primeira analise, conduzir entrevistas e identificar mudancas de contexto,
preocupacoes centrais ou desinteresse, por exemplo, ao nıvel do pensamento es-
trategico (Huff, 1990a).
Memorizacao - relaciona-se com o modo como se processa a salvaguarda, lembranca
e esquecimento dos estımulos e conceitos adquiridos pelos orgaos sensoriais.
O modelo temporal (Simon & Kaplan, 1993), normalmente aceite para a me-
moria humana (com grandes semelhancas com a adoptada nos computadores),
subdivide-a em memoria de curto (short-term) e longo prazo (long-term) . Rela-
tivamente a memoria de longo prazo, admite-se ser composta por componentes
especıficos, ligados a forma de representacao e ao modo como sao utilizados (e.g.
informacao declarativa, associativa, ındices). Sao igualmente consideradas no
modelo, outras ”pequenas memorias” associadas aos proprios orgaos sensoriais
e com caracterısticas especıficas a sua respectiva modalidade (Simon & Kaplan,
1993; Potter, 1990; Preece et al., 1994; Dix et al., 1994). Designam-se por memorias
sensoriais (sensory memories).
As razoes pelas quais a informacao passa ou se perde na transicao en-
tre memorias, a capacidade de memorizacao ou a velocidade de esquecimen-
to, tem sido alvo de diversos estudos, sendo potencialmente relevantes na for-
ma de apresentacao, comunicacao e doutrinacao das pessoas que constituem as
organizacoes. Relativo a memorizacao e a eficiencia da evocacao, Potter (1990) re-
fere resultados que apontam como memorizacao por excelencia, aquela em que
o sujeito gera o mundo a ser lembrado. A criacao de mapas cognitivos pelos
indivıduos, como representacao da sua propria reflexao sobre a definicao de es-
trategias ou tomada de decisoes, vai ao encontro desta perspectiva.
Revelam-se ainda interessantes, os trabalhos que visam estabelecer quais as
caracterısticas dos conceitos que mais facilmente sao lembrados. Por exemplo,
e relativamente intuitivo (e demonstravel empiricamente) que as pessoas ten-
dem a lembrar e a invocar tanto mais frequentemente as coisas, quanto mais
2.1. A COGNICAO 23
importantes elas sao, ja que maior e o numero de associacoes mentais que lhes
atribuem (Potter, 1990; Huff, 1990a). Juntamente com as consideracoes tecidas
sobre a atencao, estes resultados fundamentam, entre outros, o reconhecimen-
to de discrepancias nas preocupacoes e objectivos dos intervenientes na tomada
de decisao ou a identificacao dos problemas potencialmente mais relevantes na
prossecucao de diagnosticos.
Representacao do conhecimento - refere-se a forma como sao representados na me-
moria, os conceitos e, em geral, as estruturas que permitem as pessoas pen-
sar. Neste campo distinguem-se os modelos conexionista (connectionist model)
e simbolico (symbolic model). Embora tomados inicialmente como perspectivas
antagonicas, cada vez mais se assumem como complementares ou como dois
nıveis de abstraccao do sistema nervoso humano (Simon & Kaplan, 1993). O
modelo conexionista (Rumelhart, 1993) defende uma organizacao de unidades
basicas (neuroes ou caracterısticas perceptuais) ligadas em rede, de tal modo que
a representacao de uma ideia se reflecte por um padrao de actividade ou por um
estado das unidades e das ligacoes dessa rede. O modelo simbolico (Newell et al.,
1993) assume uma organizacao associativa de sımbolos, com significados a varios
nıveis e com representacoes em diferentes tipos de memoria (Simon & Kaplan,
1993). Uma visao deste modelo, com pontos de contacto com o conexionista,
propoe uma organizacao em rede, as redes semanticas (semantic networks), mas
em que nos e ligacoes denotam sımbolos, ao inves de neuroes ou caracterısticas
perceptuais (Lehmann, 1992a; Sowa, 1991; Shastri, 1988).
O estudo da representacao do conhecimento tem particular interesse do pon-
to de vista da inteligencia artificial, na sua procura de reproduzir as varias formas
de pensamento humano (Garcia & Yi-Tzw, 1993b; Woods, 1993; Fikes & Kehler,
1993; Brachman & Schmolze, 1985). No contexto organizacional, ela materializa-
se nos sistemas de suporte a decisao ja atras referidos (�1.1.3), em particular na-
queles que se baseiam em sistemas periciais.
Representar o conhecimento e tambem uma das finalidades dos mapas cog-
nitivos (Stubbart & Ramaprasad, 1990). No entanto, ao contrario das represen-
tacoes normalmente adoptadas na inteligencia artificial, estes mapas assumem
24 CAPITULO 2. CONTEXTO
como objectivo, antes de mais, a compreensao, comunicacao e enriquecimento
do pensamento (Eden, 1992), podendo abranger as descricoes formais, mas nao
se limitando a elas. As consideracoes tecidas sobre a emocao e a intuicao, as
interaccoes entre os indivıduos e o que os rodeia - vejam-se as reflexoes feitas por
Bannon e Bødker (1991) - e a necessaria imperfeicao na representacao do conheci-
mento (Winograd & Flores, 1986) justificam esse abrangimento. Note-se que essa
natureza inexacta e incompleta, nao se refere apenas a exteriorizacao do modelo
da cognicao (i.e. aos mapas enquanto descricoes exteriores a mente). Os mo-
delos mentais (mental models) sao, segundo Johnson-Laird (1993), representacoes
simbolicas e potencialmente imperfeitas, internas a mente humana, usadas pelas
diversas actividades cognitivas (desde a percepcao, a resolucao de problemas,
passando pelo raciocınio e a aprendizagem). A sua imperfeicao, inerente a nocao
de modelo, nao contradiz a sua utilidade1.
Ainda quanto a representacao surge outro topico de interesse, que se refe-
re a relacao entre as formas de salvaguarda do conhecimento proveniente de
estımulos visuais e de mensagens linguısticas. Por um lado, admite-se que ima-
gens e proposicoes podem ser manuseadas (numa perspectiva cognitiva) de ma-
neira basicamente semelhante e que existe um sistema semantico comum, que
contem significados, independentemente da fonte de onde provem (Simon & Ka-
plan, 1993; Johnson-Laird, 1993). Por outro lado, parece evidente que a forma de
representacao e distinta. Isso explica, por exemplo, que determinado tipo de in-
ferencias seja mais eficiente sobre conhecimento armazenado a partir de imagens,
do que a partir de descricoes e vice-versa. Kosslyn (1990) argumenta que as pes-
soas usam extensivamente imagens mentais e sugere que uma das formas pela
qual essas imagens sao registadas, recorre a estruturas do tipo no/ligacao (Si-
mon & Kaplan, 1993). A utilizacao de representacoes visuais externas, como os
mapas cognitivos e em particular as variantes que recorrem ao mesmo tipo de
estrutura (no/ligacao), parece, pois, ir ao encontro da facilitacao das actividades
cognitivas (Huff, 1990a).
1Johnson-Laird cita como exemplo um relogio, que ”pode ser util, ainda que nao seja totalmenteexacto ou uma representacao completa da rotacao da terra” (1993, p. 486).
2.1. A COGNICAO 25
Raciocınio e Aprendizagem - dizem respeito aos processos de pensamento e, por con-
seguinte, a forma como as pessoas classificam novos estımulos, objectos e concei-
tos nas categorias ja existentes ou como criam outras novas. As aproximacoes
teoricas a estas actividades mentais estao, naturalmente, relacionadas com a
representacao interna assumida para o conhecimento. Primeiramente, na forma
como sao representados os mecanismos de inferencia, de seguida, no modo como
essa inferencia se processa. Representacoes sob a forma declarativa ou procedi-
mental, a que corresponderao esquemas e producoes, sao tipicamente adoptadas
nas aproximacoes simbolicas. Ja nas representacoes em rede, particularmente na
conexionista, o maquinismo de inferencia assenta na propria definicao dos pesos
atribuıdos as ligacoes. Quanto ao processo de inferir propriamente dito, este re-
sulta da resolucao da logica associada aos esquemas, do disparo das producoes
ou da alteracao dos pesos e ligacoes da rede neuronal.
Simon e Kaplan (1993) referem que os dois tipos de mecanismos adoptados
nas representacoes simbolicas coexistem em memoria e que o raciocınio (visto
como inferencia logica), a procura heurıstica (vista como disparo e resolucao
de producoes) e mesmo outros deverao ser considerados na definicao de uma
perspectiva mais correcta do pensamento humano. Segundo estes autores, os
modelos mentais (Johnson-Laird, 1993) propoem algo no meio. Johnson-Laird,
por seu turno, identifica tres tipos de teorias do raciocınio: as que assumem que
este depende de regras formais de inferencia (logica, nas suas varias formas),
advogando distanciamento do conteudo do proprio pensamento; as que reco-
nhecem a importancia desse conteudo na forma de pensar e propoem regras de
inferencia especıficas ao contexto (sistemas baseados em producoes); e os mo-
delos mentais que, como representacoes incompletas, assumem que a inferencia
resulta da manipulacao e refinamento dos proprios modelos. Esta caracterıstica
dinamica dos modelos, enquanto representacoes cognitivas internas, simultane-
amente abstractos e situados (i.e. adaptaveis as situacoes), vem igualmente sus-
tentar a pratica de utilizacao dos mapas cognitivos (representacoes externas), de
forma criativa e exploratoria, mas enquadrada em modelos e mapas anteriores,
que em particular se adopta nesta dissertacao.
26 CAPITULO 2. CONTEXTO
Cognicao social - refere-se a cognicao no ambito da interaccao entre as pessoas. Es-
tudos de foro antropologico focam a forma como se estabelece o senso comum
das culturas, famılias ou grupos em geral e como isso afecta ou e afectado pe-
la percepcao, a linguagem e a forma de pensar dos indivıduos. Claramente, no
domınio das organizacoes esta dimensao e primordial, por exemplo, na criacao
da cultura organizacional, ou na determinacao das formas de doutrinacao e
disseminacao de informacao. Esta e uma das areas fundamentais no estabele-
cimento das teorias do desenvolvimento organizacional (Porras, 1987).
Noutro sentido, mas ainda no ambito das organizacoes, o estudo articulado
da cognicao e da interaccao entre as pessoas permite, por exemplo, definir mode-
los mais completos do processo negocial. Ao contrario das perspectivas propos-
tas pelos modelos economico e da teoria dos jogos (game theoretic), que conotam
o processo negocial como racional e logico, no enquadramento comportamental
cognitivo (behavioral cognitive) identificam-se os negociadores como entidades
dinamicas e imperfeitas (Jesuino, 1992). Assim sendo e oferecendo uma base
teorica mais alargada que engloba um leque maior de processos de negociacao,
podem identificar-se, por exemplo, desvios tıpicos que os negociadores fazem
relativamente as solucoes optimas.
2.2 Mapas cognitivos
O conceito de mapa cognitivo, enquanto metodologia para a compreensao da to-
mada de decisao, definicao de estrategias, diagnostico ou negociacao, e a sua validade
como forma de estudo e de suporte a essas actividades, articula-se, em primeiro lugar,
com a nocao de mapa e da sua criacao.
Um mapa, no sentido comum da palavra, e uma representacao do espaco, que, co-
mo tal, permite as pessoas localizar um lugar em relacao a outros. E igualmente uma
forma de visualizar facilmente categorias (e.g. locais de interesse historico, grandes
cidades). Segundo Weick (1990), esta qualidade, que reflecte uma nocao de posiciona-
mento relativo e classificacao, e indispensavel a mente humana para compreender o
2.2. MAPAS COGNITIVOS 27
que quer que seja2. Num sentido mais geral, os mapas permitem igualmente exprimir
posicionamentos relativos no tempo ou noutras dimensoes. Por exemplo, no caso da
gestao das organizacoes, os mapas sao usados para reflectir causalidade ou sequencia.
Todas estas caracterısticas, associadas a sua natureza visual, levaram a aplicacao do
conceito de mapa aos mais variados domınios (mapa celeste, mapa genetico, ...). No
ambito da cognicao pode entao dizer-se que:
Os mapas cognitivos pretendem auxiliar as pessoas a ”situarem-se” nos seus
proprios pensamentos ou nos pensamentos de outrem.
Associada a nocao de mapa esta tambem a de abstraccao. De facto, o mapa e o
resultado de um processo de abstraccao a partir de um territorio. Mapa e territorio
sao, em geral, coisas distintas3. No caso dos mapas cognitivos, a esta dicotomia con-
trapoem-se duas atitudes extremas: uma, que enaltece esta distincao, sustenta que os
mapas cognitivos servem apenas como esboco para organizacao das ideias e que, pe-
la propria nocao de mapa, convidam a interpretacoes pictoricas demasiado imprecisas
(ou simplistas) da cognicao; a outra afirma que estes mapas denotam as proprias estru-
turas do pensamento humano e que, por conseguinte, mapa e territorio sao indistintos.
Uma atitude menos fundamentalista advoga que, ainda que existam diferencas
entre os mapas e a cognicao, decorrentes do proprio processo de abstraccao e
interpretacao, a validade da sua utilizacao e indiscutıvel. Primeiramente, porque os
mapas cognitivos resultam de um processo de modelizacao e que, como modelos, fa-
cilitam a compreensao e comunicacao dos assuntos objecto do pensamento represen-
tado. Ainda nesse sentido e indo um pouco mais longe, porque os mapa e a cognicao
se influenciam mutuamente. A criacao e analise de um mapa (ainda que aproximado)
esclarece a perspectiva (originadora do mesmo) que se tem sobre o problema. Este
esclarecimento, por sua vez, permite alterar o mapa de modo a melhor espelhar o
pensamento4. Em segundo lugar, pela sua natureza visual, que, em geral, constitui
2Huff menciona a proposito a seguinte maxima atribuıda a Platao: ”forma de pensar mais primitivae o simples reconhecimento do objecto. A mais elevada, e a intuicao abrangente do homem que ve tudocomo parte de um sistema.” (1990a, p. 11).
3Referindo Postman, Weick afirma que: ”As pessoa vivem em dois mundos - o mundo dos eventos edas coisas (o territorio) e o mundo das palavras sobre os eventos e as coisas (o mapa).” (1990, p. 2).
4Um exemplo interessante, relativo a mapas supostamente mais exactos, e o que refere um grupo
28 CAPITULO 2. CONTEXTO
uma forma mais imediata de comunicacao e resumo de informacao (Kosslyn, 1990;
Blackwell, 1997). Por fim, porque ha situacoes em que e difıcil destrincar onde termina
o mapa (abstraccao) e onde comeca o territorio.
Esta atitude pragmatica e particularmente favorecida na referencia as actividades
de gestao organizacional. A justificacao suporta-se, em primeira lugar, na utilizacao da
intuicao e da emocao como pedras basilares do processo (ver seccao 1.1.4, pagina 8).
Por um lado, estas caracterısticas dificultam (ou impossibilitam mesmo) a descricao
completa e exacta do pensamento, portanto admitem-se discrepancias entre mapa e
cognicao, por outro, sao actividades que, ao serem exercidas no lado direito do cerebro,
ignoram a distincao entre a representacao (mapa) e o representado (territorio)5 - veja-
se as alegacoes de Weick (1990). Esta contiguidade entre mapa e cognicao sustenta-
se ainda no facto de que uma parte significativa das actividades de gestao se situa
no mundo das palavras, intencoes e relacoes sociais. Nesse sentido, os objectos de
reflexao projectados nos mapas, sao eles proprios, conceitos fortemente subjectivos.
Nestes casos, Weick afirma que o mapa cria o territorio. Por tudo isto e baseados nas
afirmacoes de Huff (1990a), pode entao ser dito que:
Os mapas cognitivos podem capturar algo com as mesmas caracterısticas es-
senciais que o proprio pensamento e, nesse sentido, sao representacoes apro-
ximadas do conhecimento e da forma de pensar dos indivıduos (ou grupos).
2.2.1 Tipos de mapas
Os mapas cognitivos, pela sua flexibilidade e abrangimento decorrente dos varios
nıveis de formalizacao com que se podem exprimir, bem como das multiplas manifes-
tacoes do processo cognitivo que pretendem revelar, convidam a existencia de varios
tipos de estrutura, metodos de captura e formas de representacao. Huff (1990a) propoe
uma classificacao em cinco grupos, nao necessariamente disjuntos, resultantes de pers-
pectivas distintas sobre o processo cognitivo e denotando diferentes graus de comple-
de homens que, a partir de um mapa de uma regiao, se orientam noutra (da qual pensam ser o mapa),redefinindo o mapa, da primeira, de acordo com as referencias que encontram na segunda (Weick, 1990).
5O exemplo referido, no tocante ao papel da emocao, e o da bandeira nacional como representacaodo paıs. Ofender a bandeira (o mapa) e na maior parte das vezes tomado como um desrespeito ao paıs.
2.2. MAPAS COGNITIVOS 29
Figura 2.2: Os diferentes tipos de mapas cognitivos. Ilustracao das preocupacoes de umindivıduo acerca da compra de mobiliario.
xidade. Esses grupos, descritos subsequentemente, serao aqui designados por mapas
de inventario, taxionomicos, causais, argumentativos e interpretativos.
A figura 2.2 mostra, simbolicamente, as cinco categorias de mapas cognitivos. Os
de inventario enumeram os conceitos ou objectos aparentemente relevantes para o in-
divıduo, enquanto os mapas taxionomicos os classificam segundo dimensoes que o
mesmo considera pertinentes. Na sua variante causal esta esbocado o pensamento do
indivıduo sobre as consequencias de comprar um dos objectos e o impacto nos tempos
de estadia em casa e no trabalho. O mapa argumentativo ilustra a reflexao sobre os ar-
gumentos que devera apresentar para baixar o preco do que pretende comprar e quais,
em antevisao, lhe serao contrapostos. Finalmente, o mapa interpretativo apresenta a
explicacao subjacente as reflexoes anteriores.
2.2.1.1 Mapas de inventario
Os mapas de inventario pretendem identificar ”a atencao, associacao e importancia
dos conceitos” (Huff, 1990a, p. 15), com base na inventariacao dos termos usados pe-
los indivıduos. A ideia subjacente e a de que se pode conhecer relativamente bem
o interlocutor (ou interlocutores), se for feita uma analise cuidada das palavras que
usa. Baseia-se nos resultados do estudo da atencao e da memorizacao (e contribuı pa-
ra a sua fundamentacao), em particular do ponto de vista linguıstico, que apontam a
30 CAPITULO 2. CONTEXTO
frequencia, alteracao e revezamento no uso das palavras como indicadores de centra-
lidade, mudanca de atencao e ligacao entre conceitos, respectivamente.
O trabalho conducente a este tipo de mapas recorre, principalmente, a metodos de
analise de conteudo (content analysis). Estes metodos (Birnbaum-More & Weiss, 1990;
Erdener & Dunn, 1990; Bardin, 1977) permitem, por exemplo, a contagem e localizacao
de incidencia de palavras ou pequenas frases, em documentos escritos. O recurso a
algoritmos de analise estatıstica, a dicionarios (tabelas de equivalencia de termos e
frases) e a regras de construcao de frases permitem indiciar: a utilizacao de vocabulos
diferentes com significados comuns; o uso de termos potencialmente equivalentes com
interpretacoes distintas; conceitos centrais; e alteracoes tematicas.
Com base neste tipo de analise, Huff (1990a) refere varios estudos no ambito da
gestao e definicao de estrategias nas organizacoes. Por exemplo, a conclusao de que as
empresas em situacao mais delicada procuram maiores riscos, e parcialmente inferida a
partir do numero de ocorrencias de termos representativos de risco, nos seus relatorios
anuais. Outros exemplos incidem sobre a utilizacao de factores comuns nas estrategias
desenvolvidas pelas empresas ou sobre a identificacao de preocupacoes centrais de
gestores ou grupos de interesse. Em qualquer dos casos, as conclusoes sao extrapola-
das a partir dos mapas resultantes da analise de conteudo dos relatorios da empresa
(externos e internos). Birnbaum-More e Weiss (1990) identificam a base de competicao
de doze areas industriais, recorrendo a mapas de inventario das transcricoes proceden-
tes de entrevistas com peritos dessas areas6.
As principais crıticas a este tipo de mapas resultam da validade com que se po-
dem extrapolar as consideracoes sobre relevancia e associacao de conceitos, a partir de
analises essencialmente sintacticas e da superficialidade com que abordam o processo
cognitivo como um todo. Por conseguinte, nao e de estranhar que os mapas de in-
ventario constituam, principalmente, uma primeira abordagem ao estudo da cognicao
ou dos problemas abordados por esta. O que daı resulta e um catalogo de concei-
tos basicos e associacoes, potencialmente relevantes, que alimentam formas de analise
mais cuidadas, dificilmente expeditas e suportadas pelos restantes tipos de mapas.
6Uma das conclusoes refere, curiosamente, a inutilidade de medidas reguladoras, como patentes,
2.2. MAPAS COGNITIVOS 31
Figura 2.3: Representacao de um mapa de inventario - a frequencia de repeticao daspalavras e o seu significado como indıcio de comportamentos diferentes para as empresas.
A representacao destes mapas e feita recorrendo a tabelas ou graficos, que resu-
mem ou aproximam por funcoes, os resultados obtidos a partir da aplicacao de proces-
sos expeditos de analise estatıstica. Sao comuns os graficos de barras, como o que se
mostra na figura 2.3, ou as curvas estatısticas que denotam, por exemplo, a frequencia
de utilizacao de termos no tempo.
2.2.1.2 Mapas taxionomicos
Os mapas taxionomicos ”mostram as dimensoes de categorias e hierarquias de con-
ceitos” (Huff, 1990a, p. 21). Baseiam-se no pressuposto de que a memoria se organiza
em classes interrelacionadas de conceitos e que a aprendizagem e uma manipulacao
dessa estrutura. A identificacao das categorias, a forma como se relacionam e o modo
como os conceitos e objectos nelas se enquadram e, pois, o territorio cartografado.
O trabalho que precede este tipo de mapas, recorre essencialmente a entrevistas e
observacoes, normalmente enquadrados em metodos experimentais adequados ao re-
gisto e interpretacao das actividades cognitivas - veja-se a apresentacao crıtica destes
metodos feita por Bower e Clapper (1993). Genericamente, as metodologias subjacen-
tes tentam, por um lado, minorar a influencia do entrevistador nos resultados, por
outro, orientar a entrevista de modo a que os resultados sejam relevantes para o estu-
do em questao. Particularmente relevante para a construcao deste tipo mapas, tendo
em conta a quantidade de aproximacoes que nela se baseiam (Reger, 1990a; Eden, 1993;
seguranca e alta qualidade de produtos em determinados sectores de producao.
32 CAPITULO 2. CONTEXTO
Figura 2.4: Grelha de repertorio usada na prescricao de lentes de contacto (adaptado deShaw e Gaines, 1992).
Gaines & Shaw, 1993; Schuler et al., 1990), e a teoria dos constructos pessoais (personal
construct theory) de Kelly (1955). Esta teoria ve cada indivıduo como alguem potenci-
almente capaz de antever o que o circunda (Bood, 1998; Shaw & Gaines, 1992) e, nesse
sentido, capaz de construir uma taxionomia, valida no seu espaco psicologico, dos con-
ceitos - ou constructos (constructs), de acordo com a designacao proposta por Kelly -
que fundamentam o seu conhecimento.
Baseado na sua teoria, Kelly elaborou a tecnica das grelhas de repertorio (repertory
grids). Esta tecnica permite identificar as dimensoes essenciais de uma categorizacao
de elementos e classifica-los numa grelha (ver, como exemplo, a figura 2.4) de acordo
com essas dimensoes (Reger, 1990b). Numa das suas formas, e pedido aos inquiri-
dos para agruparem dois elementos a partir de subconjuntos de tres, sucessivamente,
para um conjunto de elementos de estudo. Para cada trıade, devem identificar a di-
mensao de semelhanca entre os agrupados e de dissemelhanca em relacao ao terceiro.
Noutros casos, dependendo do objectivo do estudo, as dimensoes sao conhecidas, su-
geridas ou pedidas directamente aos entrevistados (na figura as dimensoes incluem as
caracterısticas das lentes a receitar - gelatinosas, rıgidas - e as relativas a visao dos pa-
cientes). Em qualquer situacao, cada dimensao e sempre definida relativamente ao seu
oposto (e.g. mıope - hipermetrope), o que, de acordo com a teoria subjacente, clarifica
o conceito no contexto em que se encontra. Uma vez identificadas as dimensoes de si-
militude, os inquiridos (no exemplo da figura um conjunto de peritos de oftalmologia)
deverao atribuir um valor por elemento (no caso, os pacientes) para cada dimensao.
Sobre estas matrizes podem ser aplicados metodos de analise estatıstica que permi-
tem, por exemplo, identificar proximidade de conceitos, centralidade ou preferencia
de elementos (com base na escolha de dimensoes adequadas, e.g. apreco) e grau de
2.2. MAPAS COGNITIVOS 33
correlacao, a qual podera sugerir a existencia de outras dimensoes latentes - ver o tra-
balho de Reger (1990b) para uma discussao mais pormenorizada.
A obtencao das dimensoes e suas relacoes pode igualmente ser feita, pedindo aos
interlocutores para organizarem, hierarquicamente ou segundo estruturas em rede
mais complexas, os conceitos e abstraccoes de classificacao. Em qualquer dos casos,
o objectivo essencial dos mapas taxionomicos e tornar clara, aos entrevistados e aos
investigadores, a estrutura de categorizacao dos primeiros e assim promover formas
mais sistematicas de classificacao aquando da manipulacao de novos elementos. Em
particular no ambito organizacional, Huff (1990a) refere estudos sobre dimensoes es-
trategicas e de competicao entre empresas. Na figura 2.5 mostra-se, como exemplo,
uma estrutura em arvore, resultante da classificacao de potenciais competidores.
Figura 2.5: Representacao hierarquica da perspectiva de um indivıduo relativamente aospotenciais competidores (adaptado de Huff, 1990a).
As tecnicas de obtencao e formas de estruturacao dos mapas taxionomicos sao
tambem usadas na aquisicao de conhecimento para a criacao de sistemas perici-
ais (Schuler et al., 1990; Gaines & Shaw, 1993), nesse caso com nıveis de minucia e re-
quisitos de rigor mais exigentes. Na figura 2.6 mostra-se parte da grelha de repertorio
apresentada anteriormente, inserida num sistema mais vasto de representacao de co-
nhecimento (Gaines & Shaw, 1993), cuja especificacao e suportada por uma linguagem
visual (em cima), que denota uma rede semantica (Gaines, 1991a) .
Quanto a sua representacao, os mapas taxionomicos surgem sob diversas formas,
normalmente graficas, mesmo quando obtidas a partir de matrizes de classificacao do
tipo das grelhas de repertorio. A linguagem visual de representacao de conhecimento
34 CAPITULO 2. CONTEXTO
Figura 2.6: Utilizacao de grelhas de repertorio na criacao de bases de conhecimento e asua integracao em redes de definicao de conceitos (adaptado de Shaw e Gaines, 1992).
proposta por Gaines (1991a), formalizada em nos e arcos de ligacao, reflecte, entre ou-
tros, a categorizacao e o proprio conceito de dicotomia (i.e. extremos opostos de cada
dimensao) emergente das grelhas de repertorio (Shaw & Gaines, 1992). Huff (1990a)
refere mapas taxionomicos apresentados como diagramas de Venn ou representacoes
espaciais diversas. Na figura 2.7, a localizacao no espaco caracteriza os elementos re-
lativamente aos valores que tomam em cada dimensao. Por outro lado, a sua proxi-
midade relativa (a esquerda) ou agrupamento explıcito (a direita) reflectem categorias.
Figura 2.7: Representacoes alternativas de mapas taxionomicos (adaptado de Huff, 1990a).
2.2. MAPAS COGNITIVOS 35
2.2.1.3 Mapas causais
Os mapas causais sao, provavelmente, os mais divulgados, em particular no
ambito das organizacoes e do estudo dos sistemas sociais e polıticos em geral (Axelrod,
1976; Bougon et al., 1990; Huff et al., 1990; Narayanan & Fahey, 1990; Bougon & Komo-
car, 1990; Eden, 1993; Laukkanen, 1994; Jenkins, 1998). Alguns autores utilizam mesmo
a designacao de mapas cognitivos para referirem esta categoria de mapas (Eden, 1993;
Gaines & Shaw, 1995; Chameeva et al., 1997; Kosko, 1996). Os mapas causais focam
a sua atencao nas relacoes de causalidade, assumindo que esta e, nao so a estrutura
mais frequente pela qual se organiza a compreensao, mas, sobretudo, a forma essenci-
al usada para explicar os acontecimentos (Huff, 1990a) ou mesmo preve-los (Jenkins,
1998). Note-se que a nocao de causalidade e tomada em sentido lato: influencia, pre-
cedencia, facilitacao, incremento e mesmo equivalencia sao consideradas associacoes
comuns em mapas causais.
Figura 2.8: Influencia da inovacao dos metodos de acompanhamento no funcionamento deuma escola infantil (adaptado de Bougon e Komocar, 1990).
Na figura 2.8 mostra-se um exemplo destes mapas, em que sao representados os
ciclos de influencia (arcos) entre variaveis (nos) que contribuem para determinar o
funcionamento de uma escola. Note-se a existencia de um arco de influencia negativa
(assinalado com um ”-”) entre o ”pagamento pelo servico”e os ”recursos financeiros
dos pais”. Ao contrario dos restantes, indica que quanto maior a causa, menor o efeito,
36 CAPITULO 2. CONTEXTO
i.e., que o maior pagamento determina menores recursos financeiros.
O modo de obtencao destes mapas varia, quer na forma da fonte de informacao,
quer na sequencia e orientacao dada a procura de conceitos e associacoes causais. Essa
variabilidade decorre, por um lado, da utilizacao de documentos escritos ou do recurso
a entrevistas, por outro, da importancia e rigor atribuıdo aos conceitos (ou construc-
tos) como suporte das assercoes causais. No caso da utilizacao dos textos escritos e no
ambito das organizacoes, relatorios tecnicos e financeiros sao usados na procura de fra-
ses contendo palavras ou construcoes semelhantes a A causa B ou A leva a B. A e
B sao tomados como conceitos e uma associacao causal e estabelecida entre eles (Lauk-
kanen, 1994). Alternativamente, sao reconhecidos os conceitos, de acordo com um
criterio adequado ao estudo em questao, e so posteriormente sao identificadas as res-
pectivas associacoes causais. Estas aproximacoes, por vezes parcialmente suportadas
por metodos expeditos de analise de conteudo, acaba normalmente por ser comple-
tado por uma avaliacao (ou reavaliacao) exaustiva e cuidada, por parte de quem in-
vestiga. Mesmo em textos formais, as relacoes causais encontram-se dissimuladas, a
informacao e incompleta e os proprios conceitos surgem com designacoes diferentes
(ou conceitos diversos com designacoes iguais) em diferentes partes do texto.
Nesse sentido, Eden e Ackermann (1998a) defendem o uso de entrevistas, como o
metodo experimental por excelencia, para a obtencao de mapas causais. Estes autores
afirmam que a versao escrita e ja um representante do fenomeno de pensar, mediado
por barreiras de formalidade e medos de indelebilidade, que devera ser considerado
se forem tambem considerados os aspectos cognitivos, nao totalmente compreendi-
dos (Stubbart & Ramaprasad, 1990), da propria escrita. As entrevistas, ao contrario,
tomam formas mais ou menos estruturadas, interactivas ou mesmo exploratorias, po-
dendo adaptar-se a medida dos entrevistados. No extremo, pode ser pedido aos inqui-
ridos para tracarem o seu proprio mapa causal, uma vez treinados para o efeito.
As tecnicas adaptadas das trıades de Kelly como base para a obtencao dos cons-
tructos envolvidos nas associacoes causais (Jenkins, 1998) ou os auto questionarios fa-
seados, propostos por Bougon (1990) na tecnica designada por SelfQ, sao exemplos
de formas de entrevistas semi estruturadas e orientadas para a obtencao de mapas
2.2. MAPAS COGNITIVOS 37
causais. Uma evolucao destas tecnicas proposta por Eden (1993), fundamentadas nas
teorias de Kelly (nao nas tecnicas), promove uma forma verdadeiramente exploratoria
em que, frequentemente, as associacoes causais surgem simultaneamente com os con-
ceitos. As entrevistas, fortemente nao estruturadas, partem por vezes de perguntas
abrangentes e repetitivas, que fazem lembrar a ”idade dos porques” (e.g. ”Qual o pro-
blema?”, ”porque?”, ”porque?”, ...). Naturalmente, a interpretacao das respostas deve
ser cuidada e os mapas resultantes confrontados com os entrevistados e reajustados se
necessario. Alias, esta confrontacao e reajustamento e normalmente comum a todas as
tecnicas de captura de mapas causais.
Esta categoria de mapas tem servido de suporte aos mais variados estudos, coad-
juvados por metodos de analise a nıveis distintos - veja-se outros exemplos e resumos
apresentados por Jenkins (1998). O estudo do proprio processo cognitivo, por analise
estrutural dos mapas, e um dos campos de aplicacao destes (Bougon & Komocar, 1990;
Porras, 1987). Por exemplo, a simples contagem do numero de assercoes causais que
emanam de um conceito, designado por nıvel-de-saıda (outdegree), permite deduzir
sobre a importancia dada pelos indivıduos, a esse conceito. Mais concretamente:
Æ��� o nıvel-de-saıda de um conceito A e definido como o numero de
associacoes causais de que A e a causa.
Tambem a relacao entre o nıvel-de-saıda e o nıvel-de-entrada (indegree) e a variancia
desta relacao ao longo de todos os constructos de um mapa, permite determinar con-
gestionamentos na dinamica do processo causal, identificar objectivos ou potenciais
alternativas. Relativamente ao nıvel-de-entrada diz-se que:
Æ��� o nıvel-de-entrada de um conceito A e definido como o numero de
associacoes causais de que A e o efeito.
Finalmente, a deteccao e ajustamento dos ciclos fechados de associacoes, em mapas do
pensamento estrategico, e tomado por varios autores (Bougon & Komocar, 1990) como
uma forma de compreender as organizacoes e controlar a sua mudanca.
Os mapas causais tem igualmente sido utilizados no sentido de predizer a evolucao
de sistemas, organizacoes e pessoas e mesmo doutrinar a forma de pensar das ultimas.
38 CAPITULO 2. CONTEXTO
Huff e Schwenk (1990) reflectem, com base nos mapas causais, sobre as diferentes for-
mas que os gestores tem de olhar para as suas proprias empresas, ao longo do tempo,
consoante o seu desempenho relativamente a competidores e mercado. Narayanan e
Fahey (1990) examinam o declınio de uma empresa, extrapolando padroes de com-
portamento tıpicos, a partir da evolucao dos mapas causais extraıdos dos discursos
publicos dos seus gestores. Axelrod (1976) estuda a evolucao dos mapas causais na
classe polıtica e Eden (1998) refere a sua utilizacao, pelo proprio indivıduo, no pla-
neamento de estrategias para a resolucao de conflitos na compra de bens. Reporta
ainda o papel comunicativo dos mapas, na transferencia de conhecimento aquando
da mudanca de quadros directivos ou mesmo a compreensao e consolidacao de es-
trategias comuns, por visualizacao e construcao de mapas conjuntos (Eden, 1993). O
trabalho com mapas causais, desenvolvido no ambito do projecto MAPCOG (Jesuino
et al., 1996; Carrico et al., 1998), enquadra-se igualmente no estudo da evolucao do
pensamento e capacidade de predicao, quando tomado no sentido de identificar os
padroes e desvios de comportamento dos indivıduos, nos processos de negociacao.
Tal como refere Jenkins (1998), a terceira area de aplicacao dos mapas causais
orienta-se para a sua analise comparativa. Nestes casos, os objectos de estudo
relacionam-se, por exemplo, com a identificacao de conceitos e valores comuns nas
estrategias de diferentes indivıduos ou com o reconhecimento dos padroes de pensa-
mento que levam ao sucesso de estudantes ou organizacoes, por contraposicao aos que
obtem maus resultados. Laukkanen (1989; 1992; 1994; 1998) apresenta um vasto traba-
lho nesta area, no domınio da gestao, providenciando mesmo tecnicas de captura de
conhecimento e tecnologia especıfica para a comparacao de mapas causais.
A representacao deste tipo de mapas assume primordialmente a forma de diagra-
mas baseados em estruturas grafo, como a que se mostra na figura 2.9. As formas ma-
triciais correspondentes (matrizes de todos por todos os nos) sao igualmente possıveis,
mas dificilmente visualizaveis e exploraveis. Tipicamente, servem pacotes computaci-
onais de analise expedita. Stubbart e Ramaprasad (1990) consideram ainda as bases
de dados ou os programas computacionais (e.g. baseados em regras), formas possıveis
de representacao destes mapas. Estes autores sugerem que os diferentes modos de
representacao, deverao ser equivalentes em conteudo (embora nao o sejam normal-
2.2. MAPAS COGNITIVOS 39
Figura 2.9: Mapa causal usado na definicao estrategica de uma aula e na propria aula,sobre mapas cognitivos no contexto de uma disciplina de Hipermedia (Carrico, 1998).
mente), podendo assim tirar-se partido das vantagens de cada uma delas.
As variantes destes mapas e o seu consequente grau de complexidade decor-
re da quantidade de informacao que neles se pretende representar. Por exem-
plo, numa perspectiva visual, no mapa da figura 2.9 usaram-se tracos mais car-
regados nos conceitos que denotam objectivos e arcos diferentes para representar:
decomposicao (e.g. explicar um MC decompoe-se em descrever estrutura, for-
mas de representacao e objectivo); exemplificacao (ligacao etiquetada com
e.g.) e causalidade. Relativamente as associacoes, Huff (1990) propoe uma extensao
ao conjunto dos seis tipos de relacao causal definida por Axelrod (1976) - causalidade
40 CAPITULO 2. CONTEXTO
positiva, negativa, nula, indeterminada, nao positiva e nao negativa - que inclui dois
tipos de relacao nao causal: equivalencia e exemplificacao. Rouquette (n.d.) identifica
29 tipos de associacao (28 e um nulo), no contexto do que denomina por esquemas cog-
nitivos de base, que incluem esquemas ”lexicos”, de ”vizinhanca”, de ”pratica” e de
”atribuicao”. Relativamente aos conceitos, Eden (1998) propoe a identificacao de cate-
gorias, por sobreposicao de esquemas de cor ou disposicao dos mesmos ao longo do
eixo vertical de acordo com o seu grau de abstraccao. Por seu turno, van der Heijden
e Eden (1998) situam conceitos da esquerda para a direita para representar a evolucao
no tempo. Este aproveitamento das dimensoes do espaco foi igualmente utilizado no
mapa da figura 2.9, onde os constructos acima dos objectivos se referem a tecnica da
explanacao, enquanto os representados abaixo fazem mencao ao seu conteudo.
Outras variantes de mapas causais, sugeridas por Huff et al. (1990) e outros (Axel-
rod, 1976; Porras, 1987), preveem a inclusao de nıveis de incerteza, de pesos de in-
fluencia e mesmo referencias explicitas ao tempo, nas relacoes entre constructos. Ao
formalizar a quantificacao e contribuicao relativa das assercoes causais, especialmente
quando recorrem a teoria das probabilidades, os mapas causais tomam a forma do que
e designado por redes de crencas (belief networks) ou, na sua variante mais comum,
redes de Bayes (Bayesian networks). Basicamente, nestas redes (Garcia & Yi-Tzw, 1993a;
Stephanou & Sage, 1993; Koller & Pfeffer, 1997) sao associadas funcoes a cada no, que
reflectem a probabilidade dessa situacao acontecer (ou nao acontecer) de acordo com
a probabilidade de ocorrencia das suas causas (e a probabilidade a priori, da situacao).
A sua aplicacao a sistemas de diagnostico expedito e aparentemente adequada (e.g. se
um ficheiro esta corrompido, existe X% de probabilidade que tenha um vırus). Uma
das dificuldades reside, precisamente, na quantificacao das probabilidades a priori ou
na definicao das funcoes de probabilidade correctas (i.e. na formalizacao).
Recentemente tem adquirido especial atencao, em parte devido a sua aparente na-
tureza qualitativa em combinacao com a sua aptidao para a simulacao, os mapas cau-
sais que se suportam nas teorias dos conjuntos difusos (Zadeh, 1987; Zadeh, 1993).
Kosco (1996), ao introduzir estes mapas, denominou-os mapas cognitivos difusos
(fuzzy cognitive maps), embora a sua natureza exclusivamente causal (e positiva) su-
gerisse mapas causais difusos (fuzzy causal maps), como denominacao mais adequa-
2.2. MAPAS COGNITIVOS 41
da. Carvalho e Tome (1999) propoem extensoes aos mapas de Kosko, que incluem a
definicao de novas operacoes da logica difusa, no intuito de melhor se adequarem as
assercoes causais a varios nıveis e mesmo a outro tipo de relacoes. Tal como no caso
anterior, tambem os mapas difusos impoem um significado mais formal ao conceito de
causalidade. Esta formalizacao, embora permitindo a simulacao da evolucao dos pesos
ou graus de incerteza atribuıdos aos conceitos, dificulta fortemente o seu desenho.
2.2.1.4 Mapas argumentativos
Estes mapas tem como objectivo a representacao do processo deliberativo e, em
particular, da argumentacao. Toulmin (1958), pioneiro no estudo e utilizacao de esque-
mas de argumentacao e de mapas argumentativos, defende que um argumento ”[...] e
uma sequencia interligada de afirmacoes e razoes que, entre elas, estabelecem o con-
teudo e a forca de uma posicao, pela qual um indivıduo se debate” (Fletcher & Huff,
1990a, p. 356). O pressuposto subjacente a estes mapas e o de que qualquer accao ou
deliberacao nao evidente, requer uma avaliacao e uma interpretacao cuidada e enca-
deada dos elementos a favor e contra. Essa avaliacao pode ser melhorada, se for im-
posta uma estrutura semi formal e consistente as possıveis interligacoes entre posicoes,
contraposicoes, opcoes e garantias, de modo a guiar o processo argumentativo (Huff,
1990a; Fletcher & Huff, 1990a; Shum & Hammond, 1993). Mais ainda, esta estrutu-
ra coage a inclusao explıcita de consideracoes normalmente implıcitas num processo
deliberativo, que obriga, por um lado, a resolucoes melhor ponderadas, por outro, ao
registo e resumo dessas reflexoes, de modo a facilitar a comunicacao ou posterior con-
sulta das razoes que levam as decisoes.
A figura 2.10 representa graficamente a estrutura basica de uma argumentacao
de acordo com Toulmin. Um argumento compreende, explıcita ou implicitamente,
um facto ou observacao - datum - que, suportado por uma regra comum - abonacao
(warrant) - permite que seja feita uma determinada assercao - afirmacao (claim). A
abonacao pode ser apoiada por uma regra que consolida a sua validade - fundamen-
to (backing). Sobre a forma de concluir a afirmacao podem ser definidas excepcoes -
refutacao (rebuttal).
42 CAPITULO 2. CONTEXTO
Figura 2.10: Estrutura de argumentacao segundo Toulmin (adaptado de Toulmin, 1958).
Os metodos de elaboracao dos mapas cobrem, na sua essencia, as varias aproxima-
coes experimentais para a captura de conhecimento (Bower & Clapper, 1993). Normal-
mente, sao adequados aqueles que visam compreender as actividades de resolucao de
problemas (problem-solving), cujos resultados sao frequentemente codificados na for-
ma de arvores de decisao (decision trees), uma das variantes incluıdas na designacao
de mapas argumentativos (Huff, 1990a). Tambem a analise de textos escritos (Flet-
cher & Huff, 1990b) ou, no extremo oposto, a especificacao dos componentes de um
determinado esquema argumentativo pelos proprios intervenientes no processo de
argumentacao (Streitz et al., 1989), sao formas possıveis para a obtencao destes mapas.
No primeiro caso, no entanto, o papel de quem analisa os textos e fundamental e
sua interpretacao do conteudo e definitivamente relevante para a estrutura argumen-
tativa obtida (Fletcher & Huff, 1990a; Fletcher & Huff, 1990b). De certa maneira, este
papel activo do investigador no processo de criacao dos mapas argumentativos, vai
de encontro ao que Streitz et al. afirmam. Segundo eles, a argumentacao (no caso,
aplicada a escrita de documentos) ”e sempre interactiva ou pelo menos um dialogo” e
”escrever um documento argumentativo tem que contar com a ausencia do parceiro de
dialogo [...]”, de modo a que ”as objeccoes de um oponente sejam antecipadas” (1989,
p. 355). No caso da metodologia seguida por Fletcher e Huff (1990a), aplicada no sen-
tido inverso (i.e. a analise de um texto ao inves da sua escrita), esta interaccao na
argumentacao acaba por se reflectir na dinamica e caracter exploratorio do processo
2.2. MAPAS COGNITIVOS 43
de criacao dos mapas. Nestes, propoem os autores, podem incluir-se qualificadores de
incerteza quanto a identificacao e classificacao dos componentes da argumentacao e,
portanto, do processo deliberativo subjacente a essas actividades (porventura envol-
vendo mais que um investigador).
Os mapas argumentativos tem sido utilizados, como se deixou antever no para-
grafo anterior, como suporte para a analise (Fletcher & Huff, 1990a) e escrita (Streitz
et al., 1989; Neuwirth & Kaufer, 1989) de documentos. No respeitante a analise, es-
ta aplicacao decorre da necessidade de resumir o que e essencial, de forma a com-
preender facilmente a estrutura de juızos que suportam as conclusoes expressas num
determinado texto. No ambito da gestao, por exemplo, Fletcher e Huff (1990b) anali-
sam um conjunto de relatorios anuais de uma empresa, utilizando uma metodologia
fundamentada no esquema de Toulmin, como forma de estudar as mudancas na sua
estrategia. Quanto a escrita, o uso destes mapas advem da necessidade de organizar
ideias e antever crıticas aquando da criacao de textos coerentes, com forte teor argu-
mentativo, como, por exemplo, artigos de investigacao. Smolensky et al. (1987) vao
um pouco mais longe e propoem o recurso a esquemas argumentativos, como suporte
a qualquer tipo de discurso minimamente racional. Shum e Hammond (1993) englo-
bam estas e outras aplicacoes no que denominam logica do desenho (design rationale).
Esta nocao, relativa ao desenho em sentido lato, propoe a utilizacao dos mapas argu-
mentativos, numa perspectiva cognitiva, como forma de exteriorizacao das estruturas
implıcitas (e internas) envolvidas no raciocınio subjacente ao processo deliberativo.
Outras aplicacoes dos mapas argumentativos incluem o suporte ao desenho ar-
quitectural (Fischer et al., 1989), a tomada de decisao (Conklin & Begeman, 1987;
Conklin, 1988), a argumentacao em grupo (Rein & Ellis, 1991) e a argumentacao
jurıdica (Marshall, 1987). Ainda na area do desenho, formas elaboradas de mapas
argumentativos foram aplicadas no desenvolvimento de sistemas de informacao (Fi-
lippidou & Loucopoulos, 1997) e de suporte aos fluxos de trabalho (Yu, 1995b; Yu,
1995a). Noutro sentido, Huff (1990a) refere o uso do esquema argumentativo de Toul-
min para: o estudo de pressupostos estrategicos; a analise e geracao de argumentos
em determinado tipo de questionarios; a exploracao de alternativas na definicao de
estrategias; e o estudo da negociacao e da logica da tomada de decisao. Ao incluir
44 CAPITULO 2. CONTEXTO
as arvores de decisao no espectro dos mapas argumentativos tornam-se igualmente
relevantes alguns sistemas de diagnostico simples, em particular, os que resultam de
escolhas sucessivas, desde os sintomas aos problemas, ate a forma de os solucionar.
Figura 2.11: Esquemas alternativos de argumentacao: IBIS (a esquerda) e QOC (a direita).
Quanto a sua representacao, os mapas argumentativos apresentam, tipicamente,
a forma de diagramas com nos e arcos de ligacao. A figura 2.11 representa duas for-
mas alternativas ao esquema proposto por Toulmin. O IBIS (Issue Based Information
System), apresentado na sua forma grafica (Conklin & Begeman, 1987; Conklin, 1988),
inclui topicos (issues), as posicoes que respondem aos topicos e os argumentos que os
suportam ou refutam. Os elementos podem ser hierarquicamente combinados, poden-
do originar redes encadeadas de topicos, posicoes e argumentos, por exemplo, topicos
que se definem sobre posicoes tomadas para outros topicos. O QOC (Questions, Options
and Criteria), descrito pormenorizadamente em Shum (1993), inclui questoes, as quais
se podem associar um conjunto de respostas possıveis, as opcoes. A decisao sobre a
escolha de uma opcao e tomada com base num conjunto de criterios, explıcitos, que
suportam ou refutam cada uma delas. As opcoes podem, por sua vez, originar novas
questoes e os criterios encadear-se hierarquicamente.
Estes mapas, em particular os esquemas de Toulmin e o IBIS, servem de base a
definicao de outros mais elaborados e com formas graficas diferentes. Por exemplo,
Streitz et al. (1989) propoe que a categoria dos nos, no esquema de base de Toulmin,
seja determinada pelo tipo dos arcos que os interligam, podendo, deste modo, enca-
dear varios esquemas basicos (e.g. uma afirmacao num e abonacao no seguinte).
Tambem Fletcher e Huff (1990a) estendem aquele esquema de base com as nocoes de
sub-afirmacao, elaboracao e reiteracao, para alem da utilizarem os qualifi-
2.2. MAPAS COGNITIVOS 45
cadores atras referidos. No PHI (Fischer et al., 1989) o conceito de decomposicao, no
caso de topicos em sub-topicos, e tambem proposta para o IBIS. Para alem disso, o
PHI relaxa as nocoes de suporta e objecta-a para o conceito de serve, de modo a
incluir relacoes entre topicos, nao necessariamente controversas.
Algumas destas aproximacoes, como por exemplo o relaxamento das nocoes de
refutacao e suporte ou os qualificadores de incerteza, abeiram os mapas argumenta-
tivos dos mapas causais. De facto, tal como os ultimos, os mapas argumentativos in-
cluem assercoes de causa/efeito (e.g. entao, por certo, na figura 2.10). No entan-
to, segundo a classificacao de Huff (1990a) os mapas argumentativos limitar-se-ao as
relacoes causais que estao ligadas a afirmacoes potencialmente controversas. E esta ca-
racterıstica que permite formalizar a estrutura dos componentes de uma deliberacao e,
consequentemente, os metodos de captura dos mapas. Os mapas causais, ao contrario,
nao definem estruturas rıgidas, previamente estabelecidas, de classificacao dos cons-
tructos e podem incluir relacoes causais, independentemente do seu grau de evidencia.
Nesse sentido, as vantagens dos mapas argumentativos, no que respeita a clareza de
comunicacao, capacidade de antecipacao (de abonos e refutacoes) e persuasao, con-
trapoe-se uma maior exigencia de interpretacao (ou meta-interpretacao do discurso) e
consequente, maior esforco e tempo gasto na captura dos mapas, por vezes demasiado
trabalhosa para quem os utiliza.
2.2.1.5 Mapas interpretativos
Enquanto os mapas classificados nas categorias anteriores espelham as crencas e o
pensamento dos indivıduos, tipicamente aplicados a situacoes particulares, os mapas
interpretativos pretendem explanar as estruturas usadas por eles, a partir das quais se
podem explicar os seus pensamentos. Nos mapas anteriores, essencialmente descriti-
vos, sao os investigadores que, a luz das teorias cognitivas, tentam perceber, explicar
e, por vezes, prever, a partir dos mapas, as formas de pensar dos indivıduos (cujo pen-
samento foi tracado). Nos mapas interpretativos e a explicacao que esta representada.
A transicao de uns para outros nao e necessariamente abrupta, i.e. uns descrevem,
outros explicam. Ao contrario, os mapas taxionomicos, causais e argumentativos, e
46 CAPITULO 2. CONTEXTO
ate mesmo os mapas de inventario, poderao enriquecer-se continuamente no sentido
de conterem explicacoes para os pensamentos que representam (veja-se a figura 2.14
relativamente ao eixo que refere o nıvel de profundidade).
Evidentemente, a captura dos mapas interpretativos e extremamente delicada.
Por um lado, a explicacao de pensamentos requer, para alem da sua compreensao,
a analise suficientemente minuciosa das influencias e relacoes entre os conceitos di-
rectamente envolvidos e outros, indirecta ou inconscientemente relacionados (e.g. os
que decorrem do senso comum). Por outro lado, ao faze-lo, suporta-se fortemente na
interpretacao que um indivıduo tem do discurso (escrito ou verbal) em estudo. Os ma-
pas interpretativos resultam de metodos de aquisicao de conhecimento baseados em
entrevistas, analise de textos ou na sua conjuncao e impoem um papel preponderante
ao investigador. De facto, trata-se de representar o pensamento do investigador (ou in-
vestigadores), sobre a forma que ele tem, de explicar o pensamento de outro indivıduo
(ou conjunto de indivıduos) acerca de determinada situacao. Simultaneamente, a va-
lidade dos mapas depende da capacidade ou vontade que o proprio entrevistado tem
de revelar os conceitos e estruturas, que explicam o seu pensamento.
No que respeita a obtencao de mapas interpretativos, Huff (1990a) da particular
enfase aos metodos emergentes da semiotica7. Estes metodos, segundo Fiol (1990b)
permitem ao investigador, atraves da divisao e recategorizacao do conteudo de um tex-
to, aceder ao seu significado subjacente, o qual nao transparece de imediato em analises
superficiais. A autora propoe um metodo de analise em tres passagens sucessivas, que
explanam as estruturas ao nıvel superficial (porventura usando algum dos tipos de
mapas anteriores), narrativo e profundo. A identificacao dos parametros das estrutu-
ras narrativas, por exemplo, resulta da aplicacao de um conjunto regras, por tentativas,
ate a captura de estruturas coerentes (a luz das teorias respectivas). A analise ao nıvel
profundo deriva da projeccao das estruturas anteriores, em quadros como os represen-
tados na figura 2.12. Tambem nestes metodos o papel do investigador e manifesto, em
particular na interpretacao do conteudo do texto do qual extrapolam os elementos da
7Semiotica ou semiologia e o estudo dos sinais ou, numa perspectiva linguıstica, ”o estudo dasmudancas que a significacao das palavras, como sinais das ideias, sofre no espaco ou no tempo” (PortoEditora, 1996).
2.2. MAPAS COGNITIVOS 47
Figura 2.12: Utilizacao de um quadrado semiotico (a esquerda) na criacao de um mapainterpretativo (a direita) de uma narrativa (adaptado de Fiol, 1990b).
estrutura narrativa. Stubbart e Ramaprasad (1990), no entanto, questionam fortemente
a validade cientıfica desta aproximacao, em parte porque as teorias em que se funda-
mentam dao a expressao escrita e, em particular, a sua estrutura narrativa, um valor
exagerado, como representacao cognitiva8.
Os mapas interpretativos sao, segundo Huff (1990a), aqueles que mais se aproxi-
mam da ciencia cognitiva como um todo. Estruturalmente, incluem as aproximacoes
anteriores, com a perspectiva de que a importancia dos conceitos, a sua categorizacao,
as relacoes causais, os argumentos e as expectativas sao fortemente influenciados pela
experiencia passada e pela rotina. Estas expectativas, de acordo com alguns investi-
gadores, constituem-se em estruturas complexas e hierarquizadas (internas a mente)
sobre as quais as actividades cognitivas se desenrolam. Por exemplo, no reconheci-
mento e classificacao de informacao incompleta, serao estas estruturas que facultam
o preenchimento dos espacos vazios que permitem a compreensao. Nao sera de es-
tranhar, por isso, que nesta categoria de mapas se incluam os esquemas (schema), os
sistemas de enquadramentos (frames) e os guioes (scripts), emergentes da psicologia
cognitiva ou da inteligencia artificial (Minsky, 1985; Fikes & Kehler, 1993; Lehmann,
1992a; Lytinen, 1992).
Em termos de apresentacao, tal como na sua estrutura, os mapas interpretativos
englobam as representacoes das categorias anteriores. Na figura 2.13 mostra-se a ex-
pressao grafica de um sistema de enquadramentos que inclui uma taxionomia. Na
8Stubbart e Ramaprasad referem ainda que, o pressuposto de Fiol (e dos semiologos em geral) sobrea existencia de significados escondidos que podem ser extraıdos a partir da analise semiologica de umtexto, poe em causa as intencoes do proprio texto em que Fiol explica e conclui sobre a aplicacao dosmetodos da semiologia.
48 CAPITULO 2. CONTEXTO
Figura 2.13: Esquema de enquadramentos - definicao do comportamento de animais deestimacao.
figura 2.12 apresenta-se (a esquerda) um quadrado de classificacao semiotica, reflec-
tindo a nocao dos opostos e da sinceridade da narracao (termos nos rectangulos), e (a
direita) a sua aplicacao na interpretacao da narrativa de um texto infantil (Fiol, 1990b).
Neste ultimo, os termos sublinhados denotam a posicao do narrador, enquanto as pa-
lavras junto aos polos (+) e (-) se referem a atitude do personagem (princesa).
Para alem das utilizacoes acima referidas, os mapas interpretativos encontram ain-
da aplicacao sempre que e desejavel uma explicacao, predicao ou simulacao mais
fiavel dos fenomenos cognitivos ou dos assuntos objectos da cognicao. Fiol (1990a),
por exemplo, aplica os metodos da semiologia acima indicados, aos relatorios anuais
de um conjunto de firmas. Os mapas interpretativos daı resultantes permitem expli-
car, com base na perspectiva que (os seus gestores) tem do ambiente que as rodeia,
as razoes que levam ou nao, algumas dessas empresas a estabelecer acordos mutuos.
Ainda no campo da gestao, Boland Jr et al. (1990) utilizam o conceito de esquema, para
explicarem os padroes de resultados obtidos a partir de um conjunto de experiencias
controladas (com peritos e estudantes) do mesmo processo de tomada de decisao.
2.2.2 Redes semanticas
Uma rede semantica e uma representacao de conhecimento baseada numa estru-
tura grafo, em que os nos denotam unidades conceptuais e as conexoes, dirigidas,
patenteiam relacoes entre as unidades (Lehmann, 1992a; Sowa, 1991). Particularmente
abrangente, este tipo de redes tem como objectivo, segundo Lehmann, a representacao
de qualquer tipo de conhecimento, estabelecendo-se frequentemente o paralelo com a
2.2. MAPAS COGNITIVOS 49
linguagem natural. O autor refere cinco nıveis, correspondentes a cinco graus encadea-
dos de abstraccao (cada um pode definir-se a custa dos seguintes), mas potencialmente
coexistentes: o nıvel linguıstico, incluindo palavras e expressoes; o conceptual, abar-
cando objectos e accoes basicos, bem como relacoes conceptuais e semanticas; o estru-
tural, no sentido taxionomico (e.g. associacoes e hierarquias de abstraccao); o logico,
englobando proposicoes, predicados e operadores da logica; e o de concretizacao (im-
plementational), em referencia a estruturas (e.g. enquadramentos) computaveis.
Figura 2.14: As redes semanticas no contexto dos mapas cognitivos.
A caracterıstica computacional esta, alias, fortemente associada ao conceito de rede
semantica. Nestas redes, pressupoe-se a viabilidade de aplicacao de metodos e algo-
ritmos que delas permitam extrair uma quantidade de conhecimento superior ao (ex-
plicitamente) representado. E nesse sentido, que assumem um grau de formalismo e
pormenor suficientemente grandes, para que constituam representacoes computaveis.
Ao considerarem-se os mapas cognitivos como representacoes das actividades sub-
jacentes ao pensamento e, por conseguinte, do conhecimento e da sua dinamica, entao
apenas o grau de formalismo determinara a sua inclusao tambem na categoria de redes
semanticas (ver figura 2.14). No caso dos mapas causais, as redes de crencas e, em ge-
ral, a formalizacao das assercoes causais, constituem redes semanticas, cuja aplicacao
em sistemas (expeditos) de diagnostico e manifesta. No mesmo sentido e para os ma-
pas argumentativos, surgem as arvores de decisao ou mesmo os esquemas de QOC,
cujos criterios sejam computaveis. Tambem as taxionomias sao indispensaveis e
50 CAPITULO 2. CONTEXTO
Figura 2.15: Representacao de contextos em redes semanticas. A esquerda, separacao deassercoes A-Box e terminologia T-Box e a direita o encadeamento de negacoes (adaptadode Lehmann, 1992 e Sowa, 1992, respectivamente).
inerentes ao proprio sentido de rede semantica (ao nıvel estrutural, na classificacao
acima), por exemplo, nas aplicacoes de sistemas periciais. No caso dos mapas interpre-
tativos, e de notar, em especial, que as representacoes em sistemas de enquadramen-
tos e guioes sao elas proprias formas de especificacao de redes semanticas (Lehmann,
1992a). Mais ainda, o nıvel de minucia e a necessidade de autonomia (como forma de
suporte a inferencia) exigidos a estas redes, tendem normalmente, a enquadra-las num
grau de profundidade com pendor explicativo. Ficam de fora os mapas de inventario
ja que nao estabelecem directamente relacoes entre conceitos.
Outra caracterıstica essencial que reforca esta relacao entre mapas cognitivos e re-
des semanticas e a forma de apresentacao. De facto, as redes semanticas assumem
frequentemente a forma visual9 (veja-se a figura 2.15). Por exemplo, a linguagem vi-
sual definida por Gaines (1991a), aplicada em conjuncao com a grelha de repertorio
na figura 2.6, e uma linguagem de especificacao de redes semanticas. O sistema de
enquadramentos, representado na figura 2.13, e outro, ele proprio contendo uma ta-
xionomia. Finalmente, tal como nalguns mapas taxionomicos e causais atras mencio-
nados, tambem nas redes semanticas e vulgar a utilizacao do posicionamento relativo
no espaco, para classificar ou simplesmente dar contexto aos nos e ligacoes. Exem-
plo disso sao as redes da figura 2.15, em que os rectangulos envolventes classificam (a
9Esta caracterıstica visual esta, alias, presente nos grafos existenciais (existential graphs) de Peir-ce (Lehmann, 1992a; Roberts, 1992) que, ao que tudo indica, estao na origem das redes semanticas.
2.2. MAPAS COGNITIVOS 51
esquerda) ou definem operacoes (a direita) sobre os conceitos que contem.
2.2.3 Mapas de conceitos e mapas mentais
Os mapas de conceitos e os mapas mentais constituem representacoes visuais
segundo diagramas baseados em grafos e o seu objectivo, tal como as anteriores,
relaciona-se com a descricao do conhecimento. A figura 2.16 ilustra o enquadramento
destas classificacoes nas precedentes.
Figura 2.16: Mapas de conhecimento.
Os mapas mentais sao simplesmente diagramas usados pelos indivıduos na
estruturacao dos seus pensamentos. O seu enquadramento nos mapas cognitivos, a
existir, sera na representacao de taxionomias, em que uma ideia central se vai decom-
pondo hierarquicamente numa tentativa de clarificacao. A tecnica (Hampden-Turner,
1982) reflecte-se principalmente na disposicao espacial das ideias, em forma aracnıdea,
a partir da ideia central. Estruturalmente, no entanto, nao impoe restricoes ao tipo de
ligacoes ou conceitos, nem se suporta em teorias cognitivas, para alem das que indici-
am a disposicao espacial proposta, como favoravel a compreensao e memorizacao das
ideias expressas, em particular para um pequeno numero de nos.
A designacao de mapas de conceitos engloba um conjunto extremamente vasto de
representacoes. Tal como as redes semanticas, tem como objectivo representar as mais
variadas formas de conhecimento, neste caso, sempre de forma visual. Para alem dis-
so, a nocao de conhecimento e, por um lado, tomada num sentido mais abrangente,
52 CAPITULO 2. CONTEXTO
que inclui quer a forma como se conhece, quer a descricao do que e conhecido, por
outro, nao impoe as restricoes de compatibilidade e consequente formalismo inerente
as redes semanticas. Por exemplo, entre os mapas de conceitos englobam-se (Gaines &
Shaw, 1995; Kremer, 1997a; Kremer, 1997b) nao so mapas cognitivos e redes semanticas
(tomadas como contraposicao formal aos anteriores), mas tambem, redes de Petri, car-
tas de PERT (PERT charts) ou esquemas de modelacao de sistemas de informacao ou
de sistemas de suporte aos fluxos de trabalho (Batini et al., 1992; Rumbaugh et al., 1991;
Swenson, 1993; Yu, 1995a; Booch & Rumbaught, 1995; Nutt, 1996).
Em termos organizacionais, estes mapas e em particular as variantes nao inclusas
na classificacao de mapas cognitivos, sao extremamente divulgadas. Abordam essen-
cialmente as componentes mais formais das organizacoes e, no ambito da gestao, sao
usadas ao nıvel do planeamento e ao da analise e desenho de sistemas computacionais.
A sua articulacao com os mapas cognitivos permite aproximacoes melhor fundamen-
tadas, que documentam o processo deliberativo e o permitem enquadrar em visoes
alargadas das organizacoes (veja-se as consideracoes tecidas em �1.1).
2.3 Desenvolvimento Organizacional
O Desenvolvimento Organizacional e uma componente do estudo das organiza-
coes que se debruca sobre a mudanca planeada dos sistemas humanos (Porras, 1987;
Harrison, 1987; Porras & Robertson, 1991). As suas contribuicoes para ciencia organi-
zacional, sempre com objectivos praticos, incluem metodologias e tecnicas, enquadra-
das em modelos organizacionais, que permitem orientar o esforco dos investigadores
e das equipas de gestao do processo de mudanca, na compreensao e resolucao dos
problemas das instituicoes. Esses contributos, emergindo das ciencias sociais, tem,
necessariamente, uma perspectiva global e alargada, que abarca as interaccoes e com-
portamentos humanos, nao ignorando, no entanto, o impacto e o papel da tecnologia,
em particular a computacional, no funcionamento das mesmas.
Desde as fases de analise, global e pormenorizada, ate a validacao das solucoes
prescritas, o processo de mudanca planeada passa, por vezes repetidamente, pelas
2.3. DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL 53
varias actividades do que e designado por diagnostico organizacional. Nestas acti-
vidades, a pessoa ou grupo responsavel tem como objectivo a recolha dos desafios e
dos sintomas de mau funcionamento das organizacoes, a sua analise, identificacao dos
problemas fundamentais e o estudo de solucoes globais que permitam melhorar o seu
exercıcio. Posteriormente ou alternadamente, as solucoes globais escolhidas deverao
ser sucessivamente pormenorizadas e a sua aplicacao planeada de forma a minimi-
zar respostas inesperadas, de sistemas tao complexos como sao os sistemas humanos.
Trata-se de um processo cuidado de desenho que deve considerar a grande maioria das
interaccoes organizacionais (idealmente todas). Por fim, a implantacao das solucoes e
seu acompanhamento permite, por um lado, ajusta-las o mais rapidamente possıvel,
por outro, angariar conhecimento para que, em situacoes posteriores, se possa prever
com mais exactidao a resposta das organizacoes.
Tendo em conta a diversidade de factores que determinam o desempenho organi-
zacional e a complexidade das suas interaccoes (veja-se �1.1), e essencial para a exe-
quibilidade de todas estas tarefas, o seu enquadramento em classificacoes fundamen-
tadas, correspondentes a modelos emergentes das ciencias organizacionais. Por um
lado, surgem os modelos de desenvolvimento que, de uma forma geral, identificam e
categorizam as diversas vertentes da vida das organizacoes, permitindo assim orientar
e mesmo sistematizar os processos de diagnostico e, em geral, todas as actividades de
desenvolvimento. Por outro, surgem os modelos de desenho. Estes, emergindo das
actividades englobadas no que se designa por desenho organizacional (Butler, 1991;
Mintzberg, 1993), tem como principal objectivo a identificacao das estruturas e das
regras tıpicas de funcionamento das organizacoes. O seu papel na mudanca planea-
da toma varias formas: de um modo generico, oferecem refinamentos e perspectivas
distintas dos fenomenos organizacionais, contribuindo assim para a orientacao das
pessoas envolvidas na gestao da mudanca; na fase de diagnostico, permitem identi-
ficar desvios de funcionamentos tıpicos, potencialmente mais eficientes; e na fase do
desenho, estabelecem restricoes e oportunidades no desenvolvimento de solucoes.
No entanto, as regras e estruturas emergentes do desenho organizacional nao de-
vem ser consideradas axiomaticas. De facto, o modelo das organizacoes como sistemas
fechados, para os quais existe uma solucao optima e uma forma totalmente cientıfica
54 CAPITULO 2. CONTEXTO
de melhorar o seu funcionamento, foi abandonado desde meados deste seculo (Butler,
1991). Hoje em dia, e adoptado o modelo de sistemas abertos (Porras, 1987; Harrison,
1987; Butler, 1991), em que influencias externas e internas a organizacao determinam
de igual modo o seu bom ou mau funcionamento. Sao vistas como organismos vivos
que se adaptam (ou devem adaptar) as novas situacoes que se lhes deparam. Assim
sendo, o processo de desenvolvimento organizacional articula-se entre as actividades
situadas, requerendo reflexoes e processos argumentativos com caracter exploratorio e
criativo, e as estruturas e regras propostas pelos modelos supracitados.
E interessante notar que, por um lado, o processo de desenvolvimento e essenci-
almente cognitivo (veja-se as consideracoes tecidas em �1.1), por outro, os proprios
modelos se enraızam nas teorias emergentes do estudo da cognicao social (Porras,
1987), i.e., na compreensao e descricao dos fenomenos organizacionais e de grupo e
na forma como eles influenciam o comportamento e o modo de pensar das pessoas
que constituem as organizacoes. Entao, se a representacao dos processos cognitivos e
determinante para uma boa compreensao, comunicacao e reformulacao dos mesmos,
a sua articulacao com a representacao das taxionomias providenciadas pelos modelos,
fundamenta e guia a criacao dos mapas, acentuando ainda mais essa importancia.
Nos paragrafos seguintes descrever-se-ao sucintamente alguns dos modelos de de-
senho e desenvolvimento, em particular, aqueles que tiveram um papel activo no pro-
jecto ORCHESTRA (Guimaraes, 1998). O modelo de desenho, no caso o de Mintz-
berg (1993), norteou a perspectiva global da dinamica das organizacoes, em especial
no que respeita a necessidade de considerar os varios tipos de fluxos organizacionais,
aquando da introducao de tecnologia computacional. O modelo de desenvolvimen-
to, proposto por Porras (1987), foi usado no processo de diagnostico correspondente
a tarefa inicial do projecto. Esta pretendia determinar falhas em organizacoes pilo-
to, que seriam colmatadas pela introducao de sistemas computacionais adequados. O
modelo faz parte de uma aproximacao, designada por Analise de Correntes (Stream
Analysis), que propoe ainda uma metodologia de desenvolvimento, igualmente apli-
cada no diagnostico. Essa metodologia, descrita subsequentemente, e suportada por
tecnicas de criacao de mapas causais simples, sob a forma de diagramas, enquadrados
nas classificacoes definidas pelo modelo.
2.3. DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL 55
2.3.1 Modelos de Desenho
Mintzberg (1993; 1995) propoe uma classificacao pormenorizada das estruturas e
fluxos organizacionais. Em termos de estrutura, uma organizacao e constituıda por
cinco componentes fundamentais: o centro operacional (operating core) que desem-
penha as tarefas basicas directamente aplicadas a geracao de produtos e oferta de
servicos; o vertice estrategico (strategic apex) e a linha hierarquica (middle line), cor-
respondentes ao elemento de gestao, que se referem, respectivamente, ao topo da hie-
rarquia e a cadeia de comando ate ao centro operacional; a tecnoestrutura (technostruc-
ture) incluindo os analistas envolvidos no desenho e padronizacao dos processos de
trabalho e a sua adaptacao ao ambiente em que se insere a organizacao; e finalmente, o
pessoal de apoio (support staff) que suporta as tarefas colaterais ao funcionamento da
organizacao, e.g., o departamento legal, o de relacoes publicas ou a cantina.
No modelo de Mintzberg sao ainda identificadas cinco categorias de fluxos, cor-
respondentes a perspectivas distintas da dinamica organizacional: a autoridade for-
mal (formal authority) diz respeito aos mecanismos de supervisao directa, normalmente
descritos pelo organograma onde se identificam cargos e agrupamentos de cargos; os
fluxos regulados (regulated flows) referem-se aos processos de trabalho padronizados,
quer ao nıvel do centro operacional, quer atraves da cadeia de comando; a comuni-
cacao informal (informal communication) engloba os fluxos que nao seguem qualquer
dos padroes anteriores e em que os canais de comunicacao sao, muitas vezes, defini-
dos por aspectos sociais, que permitem o ajustamento mutuo da coordenacao e das
actividades organizacionais; as constelacoes de trabalho (work constellations) dizem
respeito aos grupos criados temporariamente, usualmente ao mesmo nıvel da estru-
tura hierarquica, com objectivos comuns de producao ou de resolucao de problemas
especıficos; e os processos de decisao ad hoc (ad hoc decision processes) relacionados
com as deliberacoes administrativas com caracter excepcional como, por exemplo, a
criacao de constelacoes de trabalho, ou as decisoes estrategicas.
Baseado nas classificacoes anteriores, Mintzberg propoe cinco configuracoes orga-
nizacionais primarias: a estrutura simples (simple structure), suportada pelo vertice
estrategico, apoia-se na supervisao directa; a burocracia mecanicista (machine bureau-
56 CAPITULO 2. CONTEXTO
cracy) fundamenta-se na formalizacao dos processos de trabalho; a burocracia profis-
sional (professional bureaucracy) baseia-se na padronizacao das capacidades individu-
ais dos elementos do centro operacional; a estrutura divisional (divisionalized form)
enraıza-se no desempenho da linha hierarquica e na uniformizacao dos produtos e
servicos; e a adhocracia (adhocracy), firmada no ajustamento mutuo, em que pessoal de
suporte e o centro operacional sao preponderantes. Para cada configuracao sao defini-
das regras ou indicacoes sobre o funcionamento tıpico das organizacoes, que cobrem
os criterios para a formalizacao de comportamentos e formacao de grupos, o tamanho
das unidades de trabalho, o planeamento, a descentralizacao, etc..
Outros modelos de desenho, segundo perspectivas diferentes ou menos minucio-
sas, sao definidos na literatura. Butler (1991), por exemplo, classifica as organizacoes
segundo um ponto de vista institucional, de acordo com as normas de desempenho
que adoptam. Identifica: as organizacoes de mercado (market organizations) guiadas
por regras de eficiencia e competitividade; as agencias (agencies) regidas por normas
instrumentais, com objectivos definidos, mas sem meios de comparacao; as organi-
zacoes profissionais (professional organizations) em que as regras sao vagas, mas os ob-
jectivos comparaveis com os de outras instituicoes; as associacoes de benefıcio mutuo
(mutual benefit associations) orientadas para o bem estar dos seus membros e cujos pre-
ceitos, fortemente morais, apresentam uma elevada ambiguidade; e as caridades (char-
ities) igualmente com normas de foro moral, mas em relacao ao exterior.
2.3.2 Modelos de Desenvolvimento
Os modelos de desenvolvimento tomam uma forma mais abrangente e mais abs-
tracta que os anteriores, em particular na classificacao dos fenomenos organizacionais.
O modelo associado a Analise de Correntes (Porras, 1987) propoe quatro correntes ou
dimensoes basicas: os arranjos organizacionais (organizational arrangements) que abar-
cam os aspectos formais, incluindo objectivos e estrategias; os factores sociais (social
factors) que compreendem as caracterısticas individuais e de interaccao entre as pesso-
as; a tecnologia (technology) que engloba todos os factores relacionados com a execucao
do trabalho; e as instalacoes fısicas (physical settings) que correspondem ao ambiente
2.3. DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL 57
Arranjos Organizacionais Factores Sociais Tecnologia Instalacoes Fısicas
Objectivos Cultura Ferramentas e equipamento Configuracao do espacoEstrategias Processos de interaccao Competencia Tecnica Ambiente fısicoEstrutura formal Padroes e reticulados sociais Desenho de tarefas Desenho de interioresSistemas administrativos Atributos individuais Desenho de fluxos de trabalho Desenho arquitecturalPolıticas e procedimentos ad-ministrativos
Polıticas e procedimentos tec-nicos
Sistema formal de recompensas Sistema tecnicos
Tabela 2.1: Dimensoes principais da Analise de Correntes (adaptado de Porras, 1987).
em que as pessoas trabalham. Em cada uma destas correntes, Porras propoe uma taxio-
nomia pormenorizada (ver tabela 2.1), dando indicacoes para a procura de disfuncoes
organizacionais em cada componente e nas relacoes que se devem estabelecer entre
elas. Por exemplo, instituicoes com tarefas fortemente especializadas, como sera o
caso de instituicoes de investigacao, em que o sistema de recompensas se baseia na
antiguidade e em que o local de trabalho facilita o dialogo com os colegas, dificilmente
terao resultados prometedores (Porras, 1987, p. 79). O modelo proposto inclui ainda
uma classificacao supra correntes, designada por proposito (purpose), que devera ter
um papel fundamental na definicao e integracao das quatro dimensoes de base. O
proposito sera a razao essencial para a existencia da organizacao.
A aproximacao dos sistemas abertos, no qual se baseia o modelo anterior, propoe
igualmente um conjunto de componentes que deverao ser considerados nos processos
de desenvolvimento organizacional (Harrison, 1987). Nesse modelo identificam-se: as
entradas (inputs) ou recursos, incluindo os humanos; as saıdas (outputs), como sejam
produtos e servicos; a tecnologia; o ambiente (environment) institucional e relativo as
operacoes e tecnologia; os propositos, que englobam objectivos, estrategias e planos;
o comportamento e processos (behavior and processes); a cultura (culture); e a estrutura
(structure). Sobre estes componentes, Harrison define criterios de eficacia que permi-
tem guiar os diagnosticos, minorando a influencia da ambiguidade, inerente a algumas
das dimensoes, na avaliacao dos problemas organizacionais.
Bair (1991), embora partindo de uma perspectiva centrada no uso de tecnologias
computacionais e de comunicacao, propoe um modelo organizacional (no sentido da
modelacao de empresa), que apresenta pontos de contacto evidentes com os acima des-
critos. O modelo organiza-se hierarquicamente a partir da missao (mission), cujo papel
e semelhante ao proposito nas classificacoes anteriores. Sob a missao, sao definidas as
58 CAPITULO 2. CONTEXTO
funcoes (functions) organizacionais (e.g. vendas, contabilidade) e, para cada uma delas,
os processos e procedimentos a que recorrem (e.g. tomada de decisao, comunicacao
interpessoal, processamento de informacao). Cada processo ou procedimento e de-
composto em actividades (activities) (e.g. reunioes, analise, comunicacao telefonica),
por sua vez dissecadas em termos de comportamento/movimento (behavior-motion),
com o objectivo de medir e comparar a eficiencia das actividades. Uma das afirmacoes
de base na criacao deste modelo e a necessidade do alargamento da perspectiva orga-
nizacional, aquando do desenho de sistemas computacionais.
2.3.3 Mapas Cognitivos no Desenvolvimento Organizacional
A Analise de Correntes (Porras, 1987) e uma aproximacao a mudanca planeada das
organizacoes, focada nas actividades cognitivas das equipas de gestao dessa mudanca.
A aproximacao propoe o modelo homonimo, atras exposto, e uma metodologia cujo
resultado e um conjunto de diagramas, organizados em colunas e correspondentes
as quatro correntes basicas do modelo ou, segundo Porras, as dimensoes de modelos
alternativos. Sao definidas tres fases, correspondentes ao diagnostico, planeamento e
acompanhamento, que originam tres diagramas fortemente relacionados.
O primeiro desses diagramas (ver figura 2.17) corresponde a um mapa cognitivo
causal simples, com uma vertente taxionomica. Tendo como objectivo a identificacao
dos problemas fundamentais da organizacao ou de componentes da mesma, e designa-
do por carta de correntes para diagnostico de problemas (stream problem diagnosis chart).
Nesta carta, a equipa devera descrever, sucintamente, os problemas e sintomas de mau
funcionamento da organizacao, sob a forma de nos do diagrama. Os nos serao coloca-
dos numa das quatro colunas, consoante a classificacao mais adequada. Como forma
de simplificacao dos mapas, e sugerido que este processo de descricao e classificacao
seja relativamente minucioso e ponderado, de modo a reduzir o numero de nos do dia-
grama. Assim, os problemas alvitrados pelos varios elementos da equipa, deverao ser
comparados e debatidos, de forma a que, sempre que possıvel, sejam reunidos num so
no, divididos ou simplesmente rejeitados. Tambem na classificacao, os problemas que
de forma ambıgua se enquadrem em mais que uma categoria, serao preferencialmente
2.3. DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL 59
Figura 2.17: Diagnostico de conflitos sociais num hospital usando a metodologia da Analisede Correntes (adaptado de Porras, 1987).
representados numa so coluna. Naturalmente, todo este processo de identificacao e
classificacao sera delineado segundo as dimensoes e orientacoes propostas pela taxio-
nomia pormenorizada do modelo.
Uma vez descritos os problemas, a equipa devera identificar relacoes de causalida-
de entre eles, fazendo corresponder a cada relacao, um arco dirigido entre dois dos nos
representados. O conceito de relacao causal assume um sentido lato (e.g. o problema
A contribui de algum modo para a ocorrencia de B) e sempre positivo (quanto mais se
manifestar A mais se manifestara B). Porras admite a inclusao de pesos nas relacoes,
que denotam a relevancia da causalidade, sem no entanto sugerir um esquema par-
ticular para eles ou uma forma especıfica de representacao. O metodo sugere ainda
que sejam apenas representadas as relacoes mais importantes e evitados os ciclos de
causalidade.
A carta de diagnostico facilitara, segundo Porras, a identificacao de:
Problemas de base (core problems) - os que estao na origem dos sintomas de disfuncao
organizacional que desencadearam o processo de mudanca. Como primeiro pas-
so na determinacao destes problemas, e feita uma analise dos nıveis de entrada e
60 CAPITULO 2. CONTEXTO
de saıda dos nos do diagrama. Quanto maior for o nıvel de saıda (ou a diferenca
para o de entrada), maiores serao os potenciais benefıcios que a resolucao desse
problema podera trazer a organizacao. Algoritmos mais sofisticados poderao ter
em conta a influencia indirecta (e.g. para um problema A, e igualmente conside-
rado o nıvel de saıda dos problemas que A causa, ou, acumuladamente, dos que
sao causados por esses), as influencias relativas entre os problemas mais deter-
minantes ou, caso existam, os pesos das relacoes causais. Os problemas de base
sao entao escolhidos pela equipa, normalmente de entre os topologicamente mais
influentes e menos influenciados por outros (nıvel de entrada zero).
Por exemplo, na figura 2.17, Porras descreve um caso de diagnostico de um
hospital em que foram identificados como problemas de base: primeiramente o
que tem maior nıvel-de-saıda (O3), depois um dos que, apresentando o nıvel-
de-saıda seguinte, nao e causado por nenhum outro (P3) e finalmente dois (T1 e
T5) que, tendo um nıvel-de-saıda baixo, nao sao influenciados por outros. Destes
ultimos, T1 e considerado um problema fundamental, ja que, tendo um nıvel-
de-entrada zero, e causa de um problema de base (O3). E interessante notar
que outros problemas (e.g. T3), com nıveis iguais aos de P3, sao relegados pa-
ra segundo plano. O criterio de rejeicao, tal como o da escolha de T5, suporta-se
essencialmente no discernimento da equipa e nao na simples analise topologica.
Historias (stories) - conjuntos de problemas interligados que, como grupo, descre-
vem um fenomeno mais relevante que cada um deles isoladamente. Por norma,
correspondem a problemas que devem ser resolvidos por uma solucao articu-
lada para o grupo e constituem fenomenos relativamente independentes, cuja
analise pode ser mais facilmente empreendida fora da restante carta. As historias
sao inicialmente constituıdas a partir de problemas fortemente sintomaticos (i.e.
com um nıvel de entrada muito superior ao nıvel de saıda). Alguns problemas
abrangidos pelas cadeias de causalidade que neles terminam (i.e. as suas cau-
sas, as causas das suas causas etc.), sao entao, subsequentemente, nelas incluıdos.
Tambem aqui os criterios de seleccao sao essencialmente semanticos, tipicamen-
te baseados num assunto focal e definitivamente suportados pela capacidade de
deliberacao dos membros da equipa. Um exemplo claro disso e o apresentado
2.3. DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL 61
na parte b) da figura, em que a historia nao inclui todas as cadeias causadores de
S4, mas apenas os problemas mais directos, com referencia explıcita aos assisten-
tes de enfermagem e que incluem os problemas de base encontrados na analise
anterior.
Temas (themes) - conjuntos de problemas de base que se referem a um assunto comum
e que, tal como as historias, requerem uma solucao articulada. Entre os com-
ponentes dos temas nao existe, normalmente, nenhuma relacao de causalidade
explıcita e a sua identificacao depende essencialmente, mais uma vez, da capaci-
dade e conhecimento da equipa que diagnostica.
Figura 2.18: Planeamento e acompanhamento da resolucao dos problemas encontradosnum hospital segundo a metodologia da Analise de Correntes (adaptado de Porras, 1987).
As cartas de planeamento e acompanhamento (planning and monitoring charts) sao
essencialmente cartas de PERT em que a equipa de gestao descreve: as accoes a tomar
para a resolucao dos problemas anteriormente identificados (planeamento) e o que re-
almente aconteceu durante a aplicacao dessas solucoes (acompanhamento). Note-se,
no entanto, a presenca das colunas representativas das correntes organizacionais de ba-
se (ver figura 2.18). Em contraposicao as cartas de diagnostico, e de referir a associacao
da variavel tempo ao eixo vertical e a alteracao da semantica atribuıda aos arcos. Nes-
tas cartas, os arcos representam a nocao disparo ou permissao (i.e. a execucao de uma
accao desencadeia ou permite a execucao da seguinte), ao inves de causalidade, embo-
62 CAPITULO 2. CONTEXTO
ra o disparo possa ser considerado uma forma causal, com atributos temporais.
Um aspecto importante, sublinhado na metodologia, e o da relacao entre as tres
cartas. Uma accao planeada devera: ter uma descricao correspondente, positiva, ne-
gativa ou prolongada no tempo, na carta de acompanhamento; referenciar o conjunto
de problemas da carta anterior que pretende solucionar; e classificar-se, tal como o seu
acompanhamento, na dimensao do problema mais relevante que procura considerar.
2.4 Discussao
Os mapas cognitivos tem encontrado nas actividades de gestao organizacional um
vasto e proveitoso leque de aplicacoes (Huff, 1990b; Eden & Ackermann, 1998b; Eden
& Spender, 1998). O seu papel de base e, como se viu, a explanacao das crencas, raci-
ocınios e pensamentos em geral, como forma de facilitar a compreensao e comunicacao
das actividades cognitivas. Nesse sentido e no ambito organizacional, tomam por ob-
jectivo a clarificacao, reformulacao e justificacao das deliberacoes que os responsaveis
pelo funcionamento das organizacoes tem na delineacao de estrategias, identificacao e
resolucao de problemas, desenho de solucoes, etc..
A grande divulgacao destes mapas assenta, sem duvida, na sua forma essencial-
mente visual, nos diferentes tipos e orientacoes que podem assumir e, na maioria dos
casos, na ausencia de um espartilho formal demasiado rıgido, que limite o seu cam-
po de accao ou dificulte exageradamente a sua utilizacao. E esta flexibilidade que
permite representar processos de analise e decisao, mesmo quando nascem de um
equilıbrio, por muitos considerado incontornavel e salutar, entre racionalidade, cria-
tividade, intuicao e emocao. Por outro lado, o facto de se fundamentarem em teori-
as cognitivas (Eden, 1992), coadjuvadas por metodos de angariacao de conhecimento
e de analise de resultados amplamente validados, contribui tambem para a sua cre-
dibilidade. Finalmente, o seu potencial enquadramento em modelos organizacionais
adequados, com o intuito de orientar os intervenientes nas tarefas de gestao, vai ainda
mais ao encontro da sua fundamentacao e da facilitacao do seu uso e, portanto, do seu
bom credito. Esse enquadramento, alias, e ate natural, ja que se trata de modelos que
2.4. DISCUSSAO 63
providenciam taxionomias e directrizes de foro marcadamente cognitivo.
Com o objectivo de dar suporte a este tipo de mapas e ao seu processo de criacao
e tendo em conta todas as caracterısticas e situacoes de uso explanadas ao longo deste
capıtulo, pode identificar-se como essencial o seguinte conjunto de requisitos:
Representacao: como linguagens visuais, englobam diagramas baseados em grafos,
agrupamentos e distribuicoes espaciais como forma de categorizacao, utilizacao
de formas e atributos visuais para denotar tipos e propriedades semanticas, etc..
Estas caracterısticas deverao ser suportadas, quer na sua forma mais criativa,
quer segundo formatos precisos que patenteiem linguagens visuais especıficas,
particularidades da aplicacao (e.g. apresentacao da metodologia) e caracterısticas
do domınio.
Estas representacoes visuais, como alias se deixa antever ao longo do tex-
to, emergem de uma estrutura conceptual. De facto, ate mesmo opcoes ligadas
a uma explanacao visual aparentemente rıgida, como sejam os esquemas argu-
mentativos, podem assumir diversas organizacoes espaciais, formas graficas, ou
ainda textuais. As caracterısticas conceptuais das representacoes, abrangendo
e ate possibilitando o encadeamento dos varios tipos de mapa, dos seus diver-
sos nıveis de formalismo, graus de confianca, e restricoes, estabelecem diferen-
tes exigencias de pormenor e exactidao sobre a informacao a representar. Esta
pormenorizacao, por sua vez, determinara as formas possıveis de analise que po-
derao alargar-se desde a inspeccao visual, ate mecanismos de simulacao de raci-
ocınio, passando pela utilizacao de algoritmos de exame topologico e estatıstico.
Navegacao e apresentacao: os mapas, particularmente na sua forma causal - veja-
se, como exemplos, os dados nos livros de Huff (1990b) e de Eden e Acker-
mann (1998b) - tendem a atingir dimensoes apreciaveis, que dificultam a sua
criacao, modificacao e analise. Mecanismos de facilitacao das actividades de pes-
quisa, reconhecimento, navegacao e edicao sao requisitos de base. Esse factor de
escala, conjugado com formas de apresentacao delimitadas no espaco (e.g. po-
sicionamento segundo eixos graduados, contextos em redes semanticas, corren-
tes do modelo de Porras), possivelmente afastadas entre si, exige solucoes que
64 CAPITULO 2. CONTEXTO
permitam visualizar de modo perceptıvel, ligar e transferir, elementos de varios
focos de um mapa, sem que, no entanto, se perca o seu enquadramento no todo.
Manipulacao e exploracao: em termos de uso, e de notar a natureza criativa e explo-
ratoria do processo de explanacao dos mapas. Este e fortemente baseado na expe-
riencia e na capacidade que os indivıduos tem de recordar, no contexto certo, mo-
delos estabelecidos e mapas ou pensamentos anteriores, sobre a mesma situacao
ou em conjunturas semelhantes. Suportar esta actividade passa por oferecer, quer
formas de acesso a informacao relevante quando requisitada, quer formas acti-
vas que recomendam ou desaconselham alteracoes e novas especificacoes. Neste
ultimo caso, recomendacoes e dissuasoes deverao sempre nivelar-se pelos dife-
rentes graus de confianca do conhecimento que os suportam.
2.5 Sumario
Neste capıtulo apresentou-se o contexto em que se articula o trabalho descrito nes-
ta dissertacao. Abordou-se o tema da cognicao enquanto componente fundamental
dos sistemas humanos, de que sao exemplo as organizacoes como um todo e os in-
divıduos ou grupos de indivıduos que se responsabilizam pela sua gestao ou estudo.
Expuseram-se de seguida os mapas cognitivos, como forma de facilitar as activida-
des deliberativas, descrevendo-se os diferentes tipos de mapas, as suas aplicacoes, for-
mas de representacao, variantes e enquadramento com aproximacoes mais latas ou
que abordam os aspectos cognitivos segundo perspectivas aparentemente diferentes.
Introduziu-se ainda o tema do desenvolvimento organizacional, que, como componen-
te de estudo e manifestacao de actividades humanas, se reve em modelos que constitu-
em mapas cognitivos. Por fim, faz-se uma resenha dos requisitos inerentes aos mapas
e ao modo como sao obtidos.
�Panorama Tecnologico
A contribuicao que as tecnologias computacionais podem oferecer as tarefas de
gestao organizacional e bastante vasta. Componentes, aplicacoes e solucoes globais,
que facilitem a gestao de recursos, o acesso simplificado a informacao relevante, a
circulacao de documentos, a automatizacao e facilitacao do trabalho em grupo, etc.
sao exemplos dessa contribuicao. E particularmente interessante, no ambito desta dis-
sertacao, o conjunto de tecnologias orientadas para o suporte a analise, diagnostico e
tomada de decisao organizacionais e, em especial, aquelas que os abordam na perspec-
tiva dos processos cognitivos dos indivıduos que neles intervem.
O panorama tecnologico em redor deste tema abarca um conjunto consideravel de
aproximacoes. Num extremo surgem as versoes com pendor racionalista, em grande
parte decorrentes da inteligencia artificial, que pretendem automatizar o mais possıvel
os processos de diagnostico e tomada de decisao. Salvaguarde-se, contudo, que a defi-
nicao das estruturas que suportam essa automatizacao, e alcancada atraves de activida-
des de angariacao de conhecimento, que passam por estadios relativamente informais
e fortemente baseados na experiencia (e intuicao), quer dos indivıduos que as levam
a cabo, quer daqueles que detem esse conhecimento. No outro extremo, sobrevem
as aproximacoes de especificacao livre, cujas estruturas representativas dos mapas ou
cujo processo que lhes da origem, sao praticamente definidos, na sua totalidade, pe-
los utilizadores. Nestes casos, a validade dos mapas e normalmente restrita a cada
situacao e as ferramentas de suporte resumem-se, por exemplo, as aplicacoes de dese-
nho grafico, quando muito com primitivas proximas da representacao visual associada
a algumas formas de mapa cognitivo.
No seguimento das consideracoes feitas anteriormente, a tecnologia que aqui se
65
66 CAPITULO 3. PANORAMA TECNOLOGICO
expora, e analisada segundo uma perspectiva de conciliacao entre esses extremos. Por
um lado, dar-se-a atencao a capacidade que as ferramentas tem de definir um con-
texto de utilizacao, oferecendo suporte as primitivas visuais, as estruturas subjacentes
e aos mecanismos de analise inerentes aos diferentes tipos de mapas, bem como aos
modelos, regras e recomendacoes que se pretendam adoptar. Por outro lado, avaliar-
se-a a potencialidade que essa tecnologia tem de providenciar formas de apresentacao
e de interaccao, enquadradas nas restricoes emergentes do contexto e que facilitem a
analise visual e a especificacao exploratoria dos mapas. Sublinhe-se que algumas des-
tas restricoes, quer resultem do referido contexto, quer das regras e recomendacoes im-
postas pelos modelos adoptados, quer ainda das especificacoes sucessivas do processo
de exploracao, terao um papel informativo, com maior ou menor afinco, mais do que
uma funcao peremptoria de proibicao ou obrigacao. Esta prevalencia do utilizador,
ainda que sustentada por indicacoes do sistema, articulada com a natureza visual dos
mapas, atribui uma importancia especial a componente de interaccao pessoa-maquina,
que, naturalmente, sera tida em conta na apreciacao da tecnologia abaixo expressa.
Neste capıtulo, comecar-se-a por apresentar um conjunto de conceitos e tecnicas
de base que, em conjuncao com os requisitos explanados no capıtulo anterior, veicu-
larao uma analise fundamentada das tecnologias existentes. O panorama tecnologico
e entao apresentado, comecando por apreciar ferramentas dirigidas para a construcao
e analise de mapas cognitivos. Logo apos, descrever-se-ao sistemas, incluindo ferra-
mentas (vulgo meta-ferramentas) e bibliotecas, que potencialmente poderiam usar-se
na criacao de aplicacoes computacionais, alternativas as existentes e que suportem as
actividades associadas aos mapas cognitivos de acordo com as caracterısticas persegui-
das. Por fim, discutir-se-a a adequacao das aproximacoes existentes, numa perspectiva
alargada sobre as tecnicas e os modelos disponıveis e possivelmente adaptaveis aos
requisitos impostos, mesmo que menos proximos do contexto deste trabalho.
3.1 Conceitos de base
Analisar e definir um suporte adequado para ferramentas que facilitem a elabora-
cao de mapas cognitivos, passa por compreender, por um lado, a cognicao, os mapas e
3.1. CONCEITOS DE BASE 67
o contexto em que surgem, por outro, a tecnologia e a forma como se usa. Os primei-
ros, apresentados no capıtulo anterior, constituirao o objecto de aplicacao das ferra-
mentas, enquanto a segunda providencia uma base de conceitos e tecnicas que podem
ser usados na sua concepcao. Curiosamente, essa tecnologia, dado os requisitos de
capacidade de exploracao estabelecidos, deve tambem ir de encontro as exigencias e
limitacoes das pessoas, agora enquanto utilizadores das ferramentas como artefactos
interactivos1. Essa aproximacao as pessoas recai, mais uma vez, na clarificacao de as-
pectos de cognicao, neste caso, do modo como os indivıduos reconhecem, memorizam,
aprendem e em geral comunicam com as ferramentas computacionais interactivas.
3.1.1 A cognicao na comunicacao pessoa-maquina
Relativamente a cognicao em geral, grande parte das consideracoes foram ja te-
cidas no capıtulo anterior (em �2.1), aquando da fundamentacao dos mapas cogniti-
vos, em particular, no ambito da gestao organizacional. No que respeita a interaccao
pessoa-maquina, quer no ponto de vista de representacao visual e apresentacao, quer
no de manipulacao e retorno, e importante sobrelevar ainda alguns topicos2. De fac-
to, e do estudo da percepcao e mais exactamente da acuidade visual (e auditiva)
dos indivıduos, que emergem recomendacoes quanto a utilizacao dos atributos vi-
suais (e sonoros) na codificacao de informacao (e.g. numero de cores, larguras de
traco). Revelam-se ainda interessantes, os resultados que apontam a estruturacao da
informacao, por um lado, e a concepcao de objectos interaccao com capacidade de vei-
cular o contexto e a funcionalidade a que se destinam, por outro, como formas por
excelencia de facilitar as actividades de percepcao, atencao, memorizacao e reconheci-
mento. A valorizacao da estruturacao baseia-se fortemente nas leis de organizacao per-
ceptual, emergentes da psicologia Gestalt, que apontam a proximidade, semelhanca,
continuidade e simetria como formas primarias de percepcionar. O realce dado a nocao
de capacidade (affordance), sublinhada por Norman (1988), como faculdade de veicular
1Para uma discussao alargada sobre a relacao que existe ou devera existir entre a ciencia cognitiva ea interaccao pessoa-maquina veja-se, por exemplo, os trabalhos de Carroll (1991), Green et al. (1996) eBlackwell (1996).
2Nao se pretende aqui ser exaustivo remetendo-se o leitor para textos como, por exemplo, os dePreece et al. (1994) ou os apresentados por Carroll (1991).
68 CAPITULO 3. PANORAMA TECNOLOGICO
contexto, significado e funcionalidade, toma, por seu lado, um papel central nas teorias
ecologicas da percepcao.
Devem ainda ser referidas as observacoes que indiciam a utilizacao do movimen-
to, alteracao dinamica dos atributos graficos e, em geral, a animacao, como formas
complementares as representacoes estaticas, particularmente adequadas a chamada e
focalizacao da atencao, mas tambem possıveis na clarificacao de contexto, significa-
do e funcionalidade. Por outro lado, numa perspectiva de facilitacao da aprendiza-
gem, fortemente sustentada na aproximacao dos modelos mentais, mencionem-se as
recomendacoes a utilizacao de representacoes metaforicas, como forma de estimular o
pensamento por analogia. Neste aspecto, sublinhe-se a capacidade que os indivıduos
tem de combinar diferentes metaforas, desenvolvendo modelos mentais multiplos, que
se ajustam assim as novas situacoes que se lhes deparam.
Limites de codificacao, estruturacao, capacidades, utilizacao de animacao e metafo-
ras, entre outros, relevantes na concepcao de artefactos interactivos (Preece et al., 1994;
Dix et al., 1994), sao consequentemente topicos a ter em consideracao, na concepcao
das tecnicas de representacao visual, de apresentacao e de interaccao com os mapas.
3.1.2 Tecnicas de representacao
Por tecnicas de representacao tomam-se aquelas que permitem manter informacao
sobre a composicao, propriedades, aspecto visual e condicoes de especificacao e
utilizacao dos mapas. De acordo com os requisitos apontados, os desafios colocam-
se essencialmente ao nıvel do seu abrangimento, coerencia, mas tambem da sua fle-
xibilidade. Em primeiro lugar, as tecnicas deverao ter a capacidade de representar os
varios tipos de mapa (taxionomicos, causais, etc.), permitindo assim preencher os re-
quisitos de encadeamento e complementaridade antes mencionados. Por outro lado,
em cada tipo ou em mapas que abarquem os varios tipos, deverao oferecer mecanis-
mos que reproduzam os diversos nıveis de minucia e de formalismo, decorrentes das
caracterısticas de aplicacao, da propria evolucao dos mapas ou da sua adequacao ou
adaptabilidade as formas de analise mais indicadas (e.g. visual, topologica, ou de
simulacao). Finalmente, ainda relacionada com esse abrangimento, esta a aptidao que
3.1. CONCEITOS DE BASE 69
as tecnicas tem de incorporar os modelos (aspectos visuais, regras e recomendacoes)
adequados, que possibilitem a insercao da tecnologia no domınio a que se destinam.
O impacto destes requisitos nas tecnicas que permitem a representacao dos concei-
tos, faz-se sentir, sobretudo, ao nıvel das aproximacoes de programacao. Em termos
genericos e possıvel identificar duas correntes de base, que se prendem directamente
com o tipo de analise a que se pretende dar suporte. Uma recorre a linguagens especifi-
camente orientadas para a representacao de conhecimento, associadas a sistema de su-
porte a sistemas periciais (expert system shell). Neste contexto, introduzem primitivas
para especificacao de regras, enquadramentos e em geral redes semanticas, suportando
os processos de simulacao em mecanismos de encadeamento (chaining) e acompanha-
mento (tracking). A outra aproximacao, parte de linguagens genericas, imperativas,
oferecendo um conjunto base de estruturas abstractas do tipo grafo, particularmen-
te adequadas aos algoritmos de analise topologica, que identificam conceitos centrais,
ciclos, etc.. Com o objectivo de juntar as vantagens de uma e de outra aproximacao,
os sistemas enquadrados na primeira categoria definem linguagens mistas, tal como
o CLIPS, enquanto no segundo caso, sao introduzidas funcoes de pesquisa, com com-
portamento semelhante ao encadeamento. Finalmente, refiram-se ainda as variantes,
normalmente enquadradas na segunda categoria, que oferecem meios para converter
as estruturas entre representacoes distintas.
Se por um lado as estruturas de linguagem devem permitir abranger um conjunto
alargado de aproximacoes, assumindo portanto um nıvel de abstraccao relativamente
elevado, por outro, as representacoes deverao manter-se coerentes com as restricoes
impostas aos conceitos envolvidos e as formas de representacao visual, por cada uma
das aproximacoes. Por exemplo, ao nıvel dos conceitos, numa representacao de um
esquema de Toulmin, uma refutacao so podera ser associada a implicacao que um
facto (datum) tem sobre uma afirmacao. Se sobre o esquema for adoptada a sua
versao visual basica (mostrada na figura 2.10), entao os mecanismos de representacao
visual deverao assegurar que: a associacao de uma refutacao seja simbolizada por
um arco dirigido (segmento de recta terminado por seta); que esse arco se inicie no ele-
mento visual correspondente a refutacao (uma forma rectangular); e que termine no
elemento visual (outro arco) que denota a implicacao supracitada. De entre as tecnicas
70 CAPITULO 3. PANORAMA TECNOLOGICO
possıveis para a manutencao destes diversos nıveis de coerencia, destacam-se as que
se orientam para a definicao e resolucao de restricoes (constraints), agora no sentido
computacional do termo (Myers et al., 1992; Sannella, 1994; McCartney, 1995; Borning
et al., 1996). Estas permitem a associacao de condicionantes (as restricoes) aos objec-
tos, estruturas e atributos de um sistema programado, que, quando modificados, de-
sencadeiam o funcionamento de componentes de resolucao de restricoes (constraints
solvers), cuja funcao e encontrar um novo estado de equilıbrio do sistema, em que as
mesmas condicionantes se mantenham validas.
Tambem a flexibilidade assume um papel preponderante nestas representacoes,
tendo em conta as caracterısticas criativas e exploratorias associadas aos mapas. Note-
se que a flexibilidade e tomada no sentido evolutivo dos mapas, enquanto instancias
das linguagens visuais de representacao. Esta caracterıstica impoe a disponibilidade de
informacao sobre o tipo e a estrutura (para alem dos valores) em tempo de execucao,
seja ela sob a forma de prototipos, objectos de classe, etc., que assim pode ser modi-
ficada ou enquadrada com novas primitivas, tipos e propriedades, que se vinham a
definir. Um dos exemplos e a construcao de taxionomias, em que tipos abstractos e
instancias coexistem e sao eles proprios os mapas em criacao. Para alem desta flexi-
bilidade em termos de modificacao e criacao de novas primitivas, tipos e instancias, e
ainda de salientar, a necessidade de considerar nıveis de confianca nas classificacoes e
especificacoes em geral, com consequencias directas na viabilidade de ajustar e mesmo
quebrar, algumas das restricoes impostas, entre as quais se contam subconjuntos das
referidas no paragrafo anterior. Trata-se pois de encontrar sistemas de especificacao e
resolucao de restricoes que permitam a sua hierarquizacao, em termos de exigencia de
validacao ou prioridades. Neste caso, os estados de equilıbrio antes indicados, devem
permitir a existencia de condicionantes nao completamente validas.
3.1.3 As tecnicas de apresentacao
Consideram-se tecnicas de apresentacao aquelas que, nao constituindo represen-
tacoes visuais directas dos componentes dos mapas, permitem aceder-lhes, gerindo
o espaco disponıvel de forma a oferecer, simultaneamente, o contexto e o nıvel de
3.1. CONCEITOS DE BASE 71
pormenor necessario a sua facil percepcao, providenciando mecanismos que focali-
zem a atencao do utilizador nos aspectos relevantes da utilizacao em curso. Portanto,
neste contexto, incluem-se os elementos graficos, normalmente de cariz temporario,
que marcam os componentes visuais de representacao e os artefactos que permitem
a navegacao e visualizacao daqueles ou dos resultados dos metodos disponıveis de
analise expedita.
Relativamente a estes artefactos, um dos problemas fundamentais que surge quan-
do se pretende ver uma grande quantidade de informacao, tal como a que os mapas
e os resultados da analise podem comportar, e a pequena area atraves da qual ela po-
de ser vista. Leung e Apperley (1994) decompoem o problema em tres actividades
basicas: (1) localizar um item de informacao; (2) interpreta-lo; (3) e relaciona-lo com
outros. Naturalmente subjacente esta a necessidade de o item ser perceptıvel, no senti-
do de ter um tamanho que lhe permita ser visto, e de estar inserido no seu contexto (o
que de resto e afirmado pelas teorias cognitivas sobre a percepcao visual). No caso de
alguns mapas cognitivos, o contexto de um item e particularmente pertinente, ja que
para a sua definicao podem contribuir: o texto ou imagens que acompanham o item;
os constructos ou relacoes que lhe estao associados; e a regiao do espaco em que o item
se insere, delimitada ou nao por uma forma grafica (ela propria vulgarmente designa-
da contexto). Actividades e contextos sao fundamentais e estreitamente interligados.
Por exemplo, interpretar uma relacao entre dois constructos no diagrama de um mapa,
implica identificar os nos em que eles se representam, os seus contextos (graficos), o
arco que os liga e a possıvel etiqueta que o tipifica.
Quando a informacao a visualizar e inerentemente grafica, como e o caso dos
mapas em foco, duas grandes categorias de solucoes sao definidas, com base na
ausencia ou presenca de distorcao do espaco em que se apresentam os elementos. As
que nao provocam distorcao, podem dividir-se em tecnicas de aproximacao (zoom),
hierarquizacao e distribuicao espacial (layout). Acrescentem-se ainda, relativamente a
taxionomia proposta por Leung e Apperley, as de filtragem.
Aproximacao - sao as mais vulgares, permitem visualizar em pormenor pequenas par-
tes do espaco grafico, sendo normalmente acompanhadas por mecanismos de
72 CAPITULO 3. PANORAMA TECNOLOGICO
deslizamento (scroll) ou paginacao para acesso a restante informacao.
Hierarquizacao - restruturam a informacao de acordo com uma disposicao hierarqui-
ca, de modo a que, a partir de uma visao global, normalmente abstracta, se possa
navegar, sucessivamente, por informacao mais pormenorizada, mas referida, no
seu todo, a uma area mais restrita. No extremo em que a hierarquia se torna
um grafo e em que nao ha necessariamente uma nocao de pormenorizacao, esta
tecnica confunde-se com a que e oferecida nas ligacoes dos sistemas hipertexto
ou hipermedia.
Distribuicao espacial - reorganizam a informacao, agora apenas no espaco, de modo
a facilitar a sua percepcao. Essa facilitacao e baseada nos princıpios de associacao
no reconhecimento de padroes, anteriormente referidos. Estas tecnicas sao parti-
cularmente usadas na apresentacao de diagramas do tipo no ligacao e recorrem a
algoritmos, que vao desde a simples disposicao dos nos em formas geometricas
(e.g. em linha, em arvore, em cırculo), ate outros extremamente complexos que,
por exemplo, minimizam a intercepcao de arcos - veja-se as referencias apontadas
por Battista et al. (1994).
Filtragem - permitem suprimir informacao do espaco global da apresentacao. Podem
aplicar-se interactivamente, seleccionando localmente a informacao a esconder,
ou (semi) automaticamente por temas ou conjuntos de atributos comuns.
As tecnicas de distorcao partem de uma aproximacao comum: a apresentacao de
uma vista global do espaco, em que coexistem areas que permitem uma visualizacao
de pormenor. Essa pormenorizacao, mostrada numa escala maior que o restante dia-
grama, e obtida por distorcao, i.e., uma funcao nao linear, discreta ou contınua, trans-
forma as coordenadas iniciais naquelas em a informacao e de facto apresentada. Essa
distorcao pode ser feita apenas numa das dimensoes do espaco ou nas duas, num unico
foco ou em varios. Refira-se, entre outras (Leund & Apperley, 1994), as vistas de olho
de peixe (fish-eye-views) simples (Furnas, 1986) e multifoco (Paulo, 1996), ou a parede
perspectiva (perspective wall) de Mackinlay et al. (1991).
A grande vantagem destas tecnicas prende-se com a simultaneidade da apresenta-
cao do contexto (atraves da visao global do espaco) e da area ou areas locais de porme-
3.1. CONCEITOS DE BASE 73
nor nele enquadradas, normalmente sem grandes quebras visuais. As desvantagens
apontam-se essencialmente em termos de: desempenho na alteracao interactiva das
areas focais; dificuldade de concretizacao; e, em algumas tecnicas com possibilidade
de apresentarem varios focos, de pormenorizacao de informacao menos interessante,
devido a requisitos de regularidade na sua distribuicao. Leung e Apperley referem
ainda que em determinados tipos de informacao, pouco estruturada, as tecnicas de
distorcao podem nao ter o efeito desejado. De facto, as vantagens da emersao no con-
texto podem perder-se, se os padroes que permitem reconhece-lo nao forem sequer
perceptıveis.
Nas tecnicas que nao provocam distorcao, a necessidade de contexto e a apresenta-
cao de mais que uma area focal pode ser colmatada recorrendo a vistas multiplas. Esta
solucao permite, por exemplo, a apresentacao de uma vista global e de varias vistas
em pormenor (usando tecnicas de aproximacao). A articulacao entre as vistas de por-
menor e a global pode ser feita, representando na segunda, as areas correspondentes
as primeiras. Neste caso, relativamente a outra categoria de tecnicas, tera como grande
desvantagem a falta de continuidade entre as diversas vistas de pormenor.
3.1.4 A interaccao
Relativamente a interaccao, reportar-se-ao aqui, em especial, os conceitos e as
tecnicas que se articulam em redor da manipulacao directa (Shneiderman, 1998). As
vantagens reconhecidas e atribuıdas por Shneiderman e outros autores a este estilo
de interaccao, sao especialmente relevantes quando ha ”uma representacao visual do
mundo da accao” e quando, em resposta as accoes, ”os resultados sao mostrados de
imediato e de forma contınua” (Shneiderman, 1994). No caso dos mapas cognitivos
esta e claramente a situacao, nao so devido a representacao visual que os sustenta, mas
tambem a caracterıstica exploratoria da sua criacao, modificacao e visualizacao. Nao
quer isto dizer, obviamente, que toda a interaccao com as ferramentas de trabalho com
mapas cognitivos passe pelo estilo de manipulacao directa. Ao contrario, a utilizacao
de menus, formularios ou outros, tem necessariamente o seu espaco, embora os desa-
fios sobre eles impostos, nao tomem feicoes particulares relativamente aos mapas.
74 CAPITULO 3. PANORAMA TECNOLOGICO
As caracterısticas essenciais da manipulacao directa sao:
� a visibilidade dos objectos de interesse;
� a aplicacao directa das accoes sobre esses objectos;
� a execucao rapida das accoes e a sua reversibilidade;
� a descricao incremental das accoes i.e. o retorno imediato.
Note-se, no entanto, que nao se define um valor exacto, que determine quao direc-
ta deve ser a accao e quao imediato o retorno, para que uma interaccao se integre
ou nao no estilo de manipulacao directa. Como referem Shneiderman (1998) e Dix et
al. (1994), essas qualidades manifestam-se em diferentes graus e potencialmente deter-
minam discrepancia entre os objectivos e as expectativas do utilizador, as actividades
e as respostas do sistema.
No contexto destas caracterısticas, Preece et al. (1994) propoem o enquadramento
das tecnicas de manipulacao directa nos aspectos da cognicao, de acordo com o con-
junto de princıpios de desenho sugeridos por Norman (1988), a saber: capacidades,
restricoes, mapeamento (mapping) e retorno.
Capacidades - anteriormente introduzidas, estao intrinsecamente ligadas a represen-
tacao visual dos mapas e, nesse contexto por elas limitadas. No entanto, e alvitra-
da na literatura a possibilidade de serem consideradas capacidades de outro tipo,
ditas sequenciais, em contraponto com as perceptuais anteriormente referidas.
Estas, fortemente dependentes do retorno, designam o conjunto de capacidades
(perceptuais) demonstradas pelos objectos, nao veiculadas inicialmente, mas que
surgem em consequencia da interaccao, i.e. a medida que esta prossegue, os ob-
jectos vao revelando novas capacidades.
Restricoes - no sentido agora referido, constituem o contraponto das capacidades:
se estas sugerem o que pode ser feito sobre o objecto, as restricoes denotam
o que nao e permitido. Estas restricoes, constituem, por exemplo, formas de
manifestacao das anteriormente referidas (�3.1.2).
3.1. CONCEITOS DE BASE 75
Mapeamento - refere-se a proximidade entre o que os objectos e as suas capacidades
veiculam e as consequencias praticas no sistema das accoes correspondentes de-
sencadeadas pelos utilizadores.
Retorno - pode ser definido como ”a informacao enviada como resposta ao utiliza-
dor, sobre qual a accao que realmente foi executada” e ”[...] qual o resultado
alcancado” (Norman, 1988, p. 27). Note-se, contudo, que a qualidade dessa
informacao nao se resume a accoes ou resultados completos. Ao inves, tendo em
conta os requisitos de celeridade no retorno e a nocao de capacidade sequenci-
al, essa informacao pode e deve indicar continuamente os estados da interaccao,
sendo a sua expressao visual (sonora ou tactil) compatıvel com os princıpios da
manipulacao directa (Preece et al., 1994).
Relativamente a estes princıpios, ha que salientar aqui duas condicionantes es-
senciais, inerentes ao contexto dos mapas cognitivos. Por um lado, a utilizacao das
representacoes visuais, como forma de veicular capacidades e restricoes de modo per-
ceptual, esta fortemente limitada, quer pelo elevado nıvel de abstraccao que essas
mesmas representacoes tomam nas linguagens visuais que constituem, quer pela fi-
delidade que devem assumir relativamente aos modelos e as metodologias existentes.
Por outro lado, a comunicacao das restricoes aos utilizadores, por formas dinamicas
de retorno (em alternativa as perceptuais), devera levar em consideracao a natureza
por vezes nao peremptoria, com varios graus de imposicao, dessas mesmas restricoes.
Grosso modo, o que isto significa e que as formas de retorno deverao ser mais ricas que
a simples comunicacao de proibicao e, tanto quanto possıvel, nao quebrar a sequencia
de dialogo, ja que este se desencadeia no proprio processo de exploracao, i.e. por in-
fringir uma restricao, nao se comete necessariamente um erro.
No sentido de veicular este tipo de restricoes, surgiu recentemente um conjunto
de tecnicas que permitem comunicar diferentes nıveis de resistencia a manipulacao de
objectos graficos. As tecnicas concretizam-se directamente em dispositivos fısicos, ti-
picamente de entrada e que assim passam tambem a funcionar como dispositivos de
saıda (Preece et al., 1994). Exemplos sao os Joystick com retorno de forca e o GROPE
construıdo sobre um braco mecanico articulado. Estes dispositivos, normalmente ori-
76 CAPITULO 3. PANORAMA TECNOLOGICO
entados para aplicacoes especıficas (e.g. jogos, estudo molecular), podem resistir ao
deslocamento que o utilizador lhes incute, aplicando uma forca contraria a que ge-
ra esse movimento. Se o utilizador pretende insistir no mesmo sentido tera que usar
mais forca. O aproveitamento destes dispositivos, para alem das suas caracterısticas
e vocacoes especıficas, exige a concepcao de programas que modelem essa resistencia,
podendo entao acciona-la quando assim o determinarem.
A necessidade de aumentar a dinamica do retorno a manipulacao directa originou
ainda o aparecimento de um conjunto de modelos de interaccao entre objectos. Es-
ses modelos estabelecem zonas, para alem da area definida pelo proprio objecto, que o
sistema pode considerar para gerir ou notificar outros que lhe estao proximos. Particu-
larmente completo e adequado aos ambientes virtuais de trabalho em grupo, refira-se
o modelo proposto por Benford e Falen (1993). Este estabelece em redor de cada ob-
jecto, tipicamente representativo de um utilizador, tres regioes: a aura, o nimbus e o
foco3. A aura define a area em que se pode desencadear alguma forma de interaccao.
Nesse sentido, quando duas auras se interceptam, os objectos ajustam o seu foco e o
seu nimbus. Por sua vez, o foco identifica a zona a partir da qual um objecto fica ciente
da presenca de outro e o seu nimbus a zona a partir da qual o outro fica ciente da sua
presenca. Se, por manipulacao de um objecto, ocorrer uma intercepcao entre um foco e
um nimbus, pode iniciar-se uma conversacao (num dos sentidos) entre os objectos ou,
no caso, entre as pessoas que eles representam.
Embora nao especificamente orientado para sistemas de suporte a varios utilizado-
res, o modelo espacial definido por Penz e Carrico (1993), de certo modo na origem do
definido nesta dissertacao, oferece uma perspectiva semelhante ao anterior. De facto,
a aura e omitida, designando-se o nimbus e o foco por regiao activa e sensıvel, res-
pectivamente. E ainda definida uma terceira area, correspondente a hierarquizacao de
objectos, que se designa por regiao dos filhos. As regioes definidas sobre os objectos
filhos (contidos noutros), sao truncadas pelo objecto que os contem.
Qualquer dos modelos e particularmente interessante na concretizacao de meca-
3Sao ainda definidas as nocoes de meio e adaptador. O primeiro identifica o tipo de comunicacao (ouo seu meio de propagacao) e o segundo permite introduzir ferramentas de comunicacao com impactodirecto na forma e tamanho das regioes supracitadas.
3.2. FERRAMENTAS DE SUPORTE A MAPAS COGNITIVOS 77
nismos que coordenem a interaccao entre objectos, que, em ambos os casos, se as-
sumem relativamente independentes uns dos outros. No entanto, a sua adopcao na
manipulacao de elementos de linguagens visuais, deve revestir-se de algum cuidado.
Em causa estao as restricoes impostas aos elementos e, por conseguinte, a gestao das
suas interdependencias, para alem da suas interaccoes.
3.2 Ferramentas de suporte a mapas cognitivos
Ao pretender-se encontrar mecanismos computacionais que facilitem a construcao
e analise de mapas cognitivos, deve, antes de mais, explanar-se o panorama relativo
a ferramentas que se propoem suportar este tipo de mapas, em todas as suas formas
ou, pelo menos, cobrindo alguma das suas facetas. Esta seccao surge, pois, com esse
objectivo e a sua organizacao espelha, tanto quanto possıvel, a categorizacao de mapas
cognitivos feita no capıtulo anterior. As ferramentas sao apresentadas nos contextos
de inventariacao, taxionomia, causalidade e argumentacao, enquadrando as de supor-
te aos mapas interpretativos e as redes semanticas, como uma extensao em profundi-
dade, em cada uma daquelas categorias (como alias e deixado em antevisao naquele
capıtulo e ilustrado na figura 2.14). Sao ainda referidas outras ferramentas, respeitantes
a categoria mais alargada de mapas de conceitos, pela sua proximidade ou articulacao
com os mapas cognitivos ou com o contexto organizacional deste trabalho. Contu-
do, esta organizacao nao pretende agrilhoar cada uma das ferramentas apresentadas
a uma ou a outra classificacao. De facto, na sua grande maioria, elas estendem o seu
suporte por mais do que uma forma de mapas, em particular nos casos taxionomicos
e causais. A sua classificacao pretende apenas sublinhar algumas das caracterısticas
mais importantes e peculiares de cada ferramenta, ao mesmo tempo que estabelece
um paralelo com a estrutura conceptual anteriormente delineada.
3.2.1 Mapas de inventario
O suporte computacional a ser dado na inventariacao das unidades cognitivas re-
levantes, situa-se primordialmente nos processos de analise de conteudo. Este tipo
78 CAPITULO 3. PANORAMA TECNOLOGICO
de analise, que, como se viu, constitui uma grande parte do processo de criacao dos
mapas de inventario, recorre essencialmente a metodos de analise estatıstica e, cada
vez mais, a programas baseados em regras, que permitem, ainda que parcialmente, o
reconhecimento de dialectos de linguagem natural ou pelo menos a identificacao de
contextos, termos e frases com significados potencialmente semelhantes.
Birnbaum-More e Weiss (1990) e Erdener e Dunn (1990) referem a utilizacao do
TEXTPACK (Mohler & Zuell, 1998), como forma de inventariar um conjunto de termos
chave, previamente organizados quanto ao seu significado. A organizacao semantica
e feita recorrendo a um outro programa, o Logic-Line 2, que, baseado em tecnicas
de inteligencia artificial, constroi um dicionario de termos equivalentes. Sobre os in-
ventarios sao posteriormente usados pacotes computacionais de analise estatıstica. De
entre estes, toma actualmente particular relevancia, o conjunto de ferramentas glo-
balmente conhecidas pela designacao SPSS (SPSS, 1997), pela cobertura de metodos
e areas de aplicacao que oferece, incluindo, por exemplo, subsistemas de analise de
conteudo (o TextSmart).
Em termos de interaccao, no entanto, o desafio lancado por estas ferramen-
tas e extremamente reduzido. De facto, a analise de conteudo parte de documen-
tos previamente elaborados, sendo um processo relativamente automatico onde a
interaccao so se reflecte, eventualmente, na parametrizacao dos metodos e, posteri-
ormente na utilizacao e interpretacao dos resultados. No que se refere a representacao
e apresentacao, como forma de consolidar e resumir os resultados estatısticos obtidos
pelas ferramentas, a criacao de graficos sinopticos elucidativos esta relativamente bem
coberta por inumeras ferramentas de visualizacao de informacao quantitativa, tipica-
mente tambem integrados nos programas computacionais de analise estatıstica ou em
simples folhas de calculo.
3.2.2 Mapas taxionomicos
Relativamente ao suporte computacional especificamente orientado para os mapas
taxionomicos, sobressaem as ferramentas para aquisicao de conhecimento, que, por
sua vez, se integram em sistemas de representacao formal do mesmo, em particular
3.2. FERRAMENTAS DE SUPORTE A MAPAS COGNITIVOS 79
usando redes semanticas. Estas ferramentas e sistemas oferecem, portanto, um espec-
tro mais alargado que a simples taxionomia, mas e normalmente com base nela, que
se estabelece outro tipo de relacoes, incluindo varias formas de causalidade, permi-
tindo em conjunto a geracao de sistemas periciais e, em geral, sistemas baseados em
conhecimento (knowledge based systems).
Neste contexto, devem apresentar-se, primeiramente, os sistemas que suportam
parte do processo de aquisicao de conhecimento na teoria dos constructos pessoais
de Kelly (1955) e, em particular, nas grelhas de repertorio (veja-se a descricao na
pagina 31). Esta caracterıstica confere-lhes um estatuto interessante. De certa ma-
neira, integram as perspectivas oriundas das areas da psicologia e da sociologia (de
onde emerge a teoria e onde sao aplicadas as tecnicas ha ja alguns anos), com as da
representacao de conhecimento estabelecidas na inteligencia artificial. Para atingirem
este objectivo, os sistemas aplicam as grelhas, metodologias e algoritmos de agrupa-
mento e classificacao, que lhes permitem estabelecer hierarquias de conceitos, posteri-
ormente transformados e usados em representacoes formais de conhecimento (Gaines
& Shaw, 1993).
De entre estes sistemas destacam-se o KSS0, o KSSn (Gaines, 1991b; Gaines & Shaw,
1993) e o AQUINAS (Schuler et al., 1990). O primeiro e simplesmente um sistema de
aquisicao de conhecimento, que permite a geracao de representacoes formais, para di-
versos outros sistemas. O KSSn estende o anterior e mesmo as grelhas de repertorio,
incluindo tambem um sistema de representacao de conhecimento e simulacao de raci-
ocınio baseado em redes semanticas da famılia do KL-ONE (Woods & Schmolze, 1992;
Brachman & Schmolze, 1985), nomeadamente no CLASSIC. Por fim, o AQUINAS, co-
mo o KSSn, engloba as facetas de aquisicao e representacao de conhecimento conjuga-
do com um motor de inferencia. Tem como objectivo de base o suporte a tomada de
decisao, no sentido dos sistemas periciais.
Todos estes sistemas sustentam o seu formalismo de representacao em lingua-
gens textuais, oferecendo e sugerindo a utilizacao de alternativas visuais. Em par-
ticular, integram ferramentas interactivas para a definicao das grelhas de repertorio,
dos parametros dos algoritmos de extrapolacao das hierarquias de conceitos e mes-
80 CAPITULO 3. PANORAMA TECNOLOGICO
mo edicao dessas hierarquias e das relacoes nao estruturais que se lhes sobrepoem.
Um excerto simplificado de uma representacao visual, essencialmente taxionomica, de
uma rede semantica e de uma grelha de repertorio, tal como sao apresentadas pelas
ferramentas associadas ao KSSn, pode ser visto na figura 2.6 do capıtulo anterior.
Nesse conjunto de ferramentas de interaccao, refira-se o Elicit do KSS0 (Gaines &
Shaw, 1993) e o KDraw do KSSn (Gaines, 1991a). O primeiro propoe diversas tecnicas
de identificacao de constructos e classificacao de elementos em grelhas de repertorio,
incluindo, por exemplo, o esquema das trıades anteriormente referido. Numa das su-
as formas de classificacao, os utilizadores sao levados a colocar os elementos num
segmento de recta que representa, sucessivamente, cada constructo (os extremos do
segmento indicam os polos opostos do constructo - veja-se a descricao da tecnica na
pagina 32). Esta colocacao e feita por manipulacao directa, arrastando cada elemento,
descrito textualmente, para o segmento. A ferramenta nao da qualquer indicacao sobre
contraste ou concordancia com classificacoes passadas, nem permite exprimir graus de
confianca da classificacao ou preponderancia do elemento no contexto.
O KDraw (Gaines, 1991a) propoe a contrapartida visual da linguagem textual de-
finida no CLASSIC. Permite a edicao de redes semanticas por manipulacao directa, se-
gundo a linguagem visual que adopta, definindo formalmente a sintaxe e as primitivas
graficas para o efeito - uma especificacao formal do KDraw pode ser vista em (Kremer,
1997b). Com base nessa definicao, o KDraw aplica restricoes a edicao das redes, que
asseguram a correccao sintactica das especificacoes, i.e., a ligacao de dois nos atraves
de um arco dirigido, e permitida ou negada de acordo com o tipo de base dos nos e
do arco. A criacao e alteracao de tipos, categorias e elementos especıficos a cada rede
e a sua semantica particular, nao desencadeia qualquer forma de retorno da parte da
ferramenta, a nao ser o que deriva da sua sintaxe. Assim sendo, o utilizador perde a
nocao, por exemplo, da classificacao feita anteriormente nas grelhas de repertorio, ou
de outra decisao que anteriormente tenha sido tomada.
Do ponto de vista de representacao visual, refira-se a possibilidade de no KDraw,
cada conceito poder ser mostrado em mais do que uma posicao, o que simplifica, se-
gundo os autores, a confusao visual dos diagramas e os criterios de disposicao de nos e
3.2. FERRAMENTAS DE SUPORTE A MAPAS COGNITIVOS 81
arcos (Gaines, 1991a). De facto, os varios nos que representem um conceito, podem ser
distribuıdos no diagrama, junto a outros nos com que se relacionem. Trocam-se assim
por pequenos arcos, os arcos que representam essas relacoes e que eventualmente atra-
vessariam o diagrama entre pontos distantes. Em contrapartida, esta tecnica aumenta
o tamanho dos diagramas (o numero de nos) e introduz outro tipo de dificuldade: a
que decorre da necessidade de identificar visualmente como equivalentes entre si e
distintos dos restantes, os varios nos que representam cada conceito.
Ainda sobre redes semanticas, devem citar-se, pelas caracterısticas particulares da
componente visual associada, as ferramentas desenvolvidas no ambito do projecto
PEIRCE. Este tem como objectivo fundamental, a concretizacao das nocoes associadas
aos Grafos Conceptuais4(Conceptual Graphs) de Sowa (1992; 1991). Como ferramen-
ta de edicao visual e proposto o GrIT ou seus derivados (Eklund et al., 1994; Burrow,
1994). Na linguagem visual que adopta, sobressai a nocao de contexto visual. Estes
contextos sao representados na forma de nos que, por um lado, podem fazer parte de
diagramas, por outro, contem subdiagramas. Os nos destes subdiagramas podem ser
ligados a nos de diagramas externos ao contexto. Um exemplo de um grafo conceptual,
sob a forma visual e com estas caracterısticas, foi apresentado atras na figura 2.15.
Aproximacoes com objectivos de formalizacao menos fortes, por vezes ate ine-
xistentes, podem encontrar-se em alguns sistemas de decisao em grupo. Esta semi-
formalidade e expectavel, quanto mais nao seja pela dinamica do processo de de-
cisao que estas ferramentas pretendem facilitar e que dificilmente se compadece com
preocupacoes demasiado opressivas de formalizacao. Em alguns processos de decisao,
os intervenientes sao por vezes incitados a ordenar, agrupar, definir categorias e clas-
sificar elementos pertinentes na resolucao de problemas. Sistemas como o Group Sys-
tems (Ventana, 1998) propoem, entre outras, a organizacao de componentes em listas e
hierarquias. Outras ferramentas, como as propostas por Antunes (1995; 1998) sugerem
a hierarquizacao e agrupamento de ideias, como forma de facilitar varios processos de
tomada de decisao. Em qualquer das situacoes, o retorno do sistema a manipulacao
directa dos seus componentes, no segundo caso organizados num diagrama com nos
4Estes, por sua vez, fundamentam-se nos trabalhos de Peirce sobre grafos existenciais.
82 CAPITULO 3. PANORAMA TECNOLOGICO
e arcos, e mais uma vez, meramente sintactico e ate menos restritivo, ja que advem de
linguagens de especificacao menos formais.
Embora com objectivo principal de suportar os mapas causais e, portanto, descri-
tas em mais pormenor na seccao seguinte, e importante aqui mencionar a perspectiva e
particularmente a forma de classificacao de conceitos, que ferramentas como o Decisi-
on Explorer (Banxia, 1997b) e o CMAP 2 (Laukkanen, 1992) disponibilizam. O primeiro
sugere a utilizacao de esquemas de cor, estilos e espessura de traco, para agrupar con-
ceitos (e.g. objectivos, receios, factos). O segundo suporta a definicao das assercoes
causais numa ontologia rigorosa de conceitos que permite, a posteriori, comparar os
mapas causais de varios indivıduos. Em qualquer dos casos, e deixada exclusivamen-
te ao utilizador a responsabilidade da estruturacao.
3.2.3 Mapas causais
O panorama correspondente as ferramentas orientadas para os mapas cognitivos
causais e relativamente diferente do anterior. Aqui surgem ferramentas explicitamente
orientadas para a criacao e analise de mapas causais, sem quaisquer preocupacoes de
simulacao de processos racionais ou de representacao formal de conhecimento, mesmo
quando nao inseridas em sistemas de suporte a decisao em grupo. Nao obstante, este
facto nao exclui desta classificacao ferramentas de ındole formal, quer sejam as ante-
riormente referidas, como KDraw e o GrIT, quer outras especificamente vocacionadas
para a representacao do pensamento causal e que abaixo se apontam.
De entre as ferramentas que proporcionam suporte directo aos mapas causais,
destacam-se as que resultam do trabalho de Eden, materializadas primeiramente no
COPE (Eden, 1993) e, posteriormente, no Decision Explorer5 (Banxia, 1997a). Esta
ultima permite a edicao, por manipulacao directa ou por linguagem de comandos, de
objectos graficos que representam os elementos de base dos mapas causais. Nos nos
deve ser feita uma descricao sucinta dos conceitos, sendo sugerida a inclusao dos seus
5O Decision Explorer pode integrar-se numa variante com suporte a trabalho em grupo, o GroupExplorer (Phrontis, 1998; Eden & Ackermann, 1998b), cujas caracterısticas de interaccao e exploracao saointrinsecamente as mesmas, com a excepcao de poderem ser manipuladas por mais que um indivıduo.
3.2. FERRAMENTAS DE SUPORTE A MAPAS COGNITIVOS 83
opostos, segundo a linha de pensamento dos constructos pessoais de Kelly. Nos arcos
esta prevista representacao visual de causalidade positiva e negativa. Outros atributos
dos nos e dos arcos podem ser modificados, sendo proposta a definicao de estilos, com
caracterısticas graficas proprias, como forma de representar diferentes tipos de concei-
tos e relacoes para alem das causais. Um estilo pode, posteriormente, ser aplicado a
cada elemento grafico ou a conjuntos de elementos. No entanto, enquanto mecanismo
de tipificacao, nao introduzem quaisquer restricoes aos diagramas, nem, consequente-
mente, qualquer retorno durante a edicao dos mapas. Mais ainda, do ponto de vista
dos pormenores da manipulacao directa, esta ferramenta revela-se difıcil, em parte por
se incompatibilizar com as formas de manipulacao semelhantes, no sistema de janelas
em que se enquadra.
Na perspectiva dos mecanismos de apresentacao, o Decision Explorer oferece
tecnicas de aproximacao e de filtragem de conjuntos de conceitos e relacoes. Contu-
do, as funcoes de analise que propoe, recorrem, na sua grande maioria, a uma forma
de lista textual, para apresentar os resultados. Alem disso, esses resultados e o mapa de
trabalho dificilmente se podem apresentar ou explorar em conjunto. De facto, a ferra-
menta apresenta uma unica pagina de apresentacao. Nela podem alternar-se, mas nao
coexistir, uma das diferentes perspectivas do mapa ou o resultado de uma das funcoes
de analise. Nao dispoe igualmente de mecanismos de posicionamento automatico ou
distorcao, que, sem duvida, poderiam simplificar a visualizacao, a analise conjunta de
diferentes regioes do diagrama e ate mesmo a edicao de mapas de grandes dimensoes.
Ja em termos de algoritmos de analise o Decision Explorer oferece um conjunto vas-
to e extensıvel de funcoes. De entre as disponıveis, essencialmente de foro topologico,
permite determinar, sobre conjuntos seleccionados de conceitos, o nıvel-de-entrada e
o nıvel-de-saıda, a existencia de ciclos e agrupamentos, hierarquias de causalidade,
etc.. Na perspectiva da analise comparativa de mapas causais, providencia algoritmos
simples para a identificacao de semelhancas e diferencas entre mapas. Finalmente, de-
fine ainda uma linguagem textual de alto nıvel para a definicao de novos algoritmos
e combinacao dos ja oferecidos, bem como para o acesso a alguns pacotes estatısticos
externos. Todavia, os algoritmos, tal como a manipulacao dos elementos graficos, nao
levam em consideracao o tipo das ligacoes, nem a causalidade negativa. Mesmo a lin-
84 CAPITULO 3. PANORAMA TECNOLOGICO
guagem textual que oferece, dificilmente permite estender do modelo de mapas cau-
sais subjacente, que, na realidade, apenas considera causalidade positiva simples.
Embora sem qualquer forma de interaccao ou mesmo apresentacao visual, deve
ser mencionada a ferramenta que resulta do trabalho de Laukkanen sobre o estudo
comparativo dos mapas causais (Laukkanen, 1992; Laukkanen, 1998). Contrariamente
a anterior, esta ferramenta, o CMAP 2, assenta os seus metodos de analise na definicao
cuidada e relativamente rıgida de uma ontologia de conceitos. Na definicao dessa
ontologia faz-se a traducao entre os termos normalizados e os termos ou frases de
uso corrente empregados por cada indivıduo, cujo pensamento esteja a ser objecto de
projeccao em mapas causais. A ferramenta permite aferir a centralidade dos construc-
tos, com base na frequencia de utilizacao dos termos normalizados (ou dos seus equi-
valentes naturais) e das relacoes causais, bem como na distancia causal entre conceitos
(em funcao dos sucessivos nıveis de entrada e saıda). Esta incursao sobre os mapas de
inventario, taxionomicos e causais, torna o CMAP 2 relativamente interessante e espe-
cialmente adaptado ao estudo comparativo dos mapas de varios indivıduos (ao qual,
de qualquer modo, se destina).
Numa perspectiva algo diferente, surgem as ferramentas de simulacao do pensa-
mento causal. Essa simulacao suporta-se em nocoes de causalidade, que se estendem
desde a completa especificacao de dependencias entre conceitos (ou variaveis), ate as
que recorrem a aproximacoes baseadas na logica difusa. De entre as primeiras, tome-se
como exemplo o Vensim (Ventana, 1997), uma ferramenta especialmente vocacionada
para a area da dinamica de sistemas (system dynamics). As relacoes causais definem-se
nas formulas que se podem (ou se tem que) associar aos nos e que permitem simular
o sistema. Neste sentido, sao inumeras as variantes de causalidade que permite, ja
que e possıvel especificar com exactidao como o efeito varia em funcao da causa ou
causas. Se relativamente a simulacao estas caracterısticas trazem vantagens, em ter-
mos de representacao exploratoria do pensamento causal torna-se desnecessariamente
exigente e formal e assim menos adequada que, por exemplo, o Decision Explorer.
Ja na perspectiva de interaccao, o Vensim proporciona um mecanismo de edicao de
diagramas por manipulacao directa, mais flexıvel e coerente que o Decision Explorer.
3.2. FERRAMENTAS DE SUPORTE A MAPAS COGNITIVOS 85
Em todo o caso, apesar de nao completar interaccoes que resultem em especificacoes
sintacticamente incorrectas, nao oferece, ainda assim, qualquer retorno elucidativo.
Noutras situacoes, em que a operacao e opcional ou o resultado ambıguo, exibe um
retorno textual sob a forma de caixas de dialogo. Tambem do ponto de vista de visua-
lizacao, o Vensim e ligeiramente mais elaborado que o Decision Explorer, em particular
na apresentacao dos resultados de analise, sob a forma de diagramas, que podem coe-
xistir no espaco visual dos mapas. Contudo, nao permite a visualizacao simultanea de
varios focos do diagrama, mecanismos de distorcao ou o posicionamento automatico
de nos e arcos. Finalmente, e de notar a inexistencia de algoritmos adequados a analise
de mapas causais.
Baseadas na logica difusa, mas sem grandes preocupacoes ao nıvel visual ou in-
teractivo, refiram-se as ferramentas propostas por Kosko (1996) e por Carvalho e
Tome (1999). A sua particularidade e, no primeiro caso, a atribuicao de pesos aos
conceitos e, no segundo, a possibilidade de definir o tipo de causalidade nas relacoes
(positiva ou negativa) e atribuir-lhe graus de confianca. A sua relevancia, relativamen-
te a ferramentas como o Vensim, situa-se no facto de requererem apenas a especificacao
da topologia do mapa, dos pesos ou graus de confianca e das condicoes iniciais, pa-
ra proporcionarem a simulacao. Nao exigem, portanto, uma descricao tao formal, em
termos de variaveis e formulas de dependencia.
3.2.4 Mapas argumentativos
Um vasto trabalho tem sido realizado em redor dos mapas argumentativos. As
ferramentas que aqui se enquadram, propoem primitivas graficas e estruturas de
navegacao que orientam os utilizadores segundo esquemas de argumentacao classicos,
tal como o de Toulmin, o IBIS ou o QOC, ou de acordo com extensoes a esses esquemas
(veja-se �2.2.1.4 no capıtulo anterior). Essas ferramentas sao apresentadas, quer como
solucoes genericas de facilitacao do processo argumentativo, quer integradas em sis-
temas desenvolvidos para domınios especıficos (e.g. arquitectura, escrita e gestao de
redes). Shum (1996; 1993) reve varias dessas ferramentas, descrevendo desde os seus
fundamentos teoricos ate as suas caracterısticas especıficas e aplicacao.
86 CAPITULO 3. PANORAMA TECNOLOGICO
Pela sua caracterıstica seminal, deve ser mencionado o gIBIS (Conklin & Begeman,
1987; Conklin, 1988) e os trabalhos de Marshall (1987) para suporte ao esquema de
Toulmin, com base no NoteCards. E ainda interessante fazer referencia ao JANUS (Fis-
cher et al., 1989), um sistema para a criacao de desenhos arquitecturais. O sistema
integra uma ferramenta de edicao de plantas, por manipulacao directa, uma base de
conhecimento sobre artefactos, regras e recomendacoes de construcao e uma ferramen-
ta de argumentacao que recorre a esquemas hierarquizados do IBIS (o PHIBIS - veja-se
pagina 45). O papel da ferramenta e, precisamente, oferecer aos utilizadores um local
semi-estruturado de pesquisa e anotacao das decisoes tomadas, particularmente util
quando estas violam as regras de construcao. De facto, quando a manipulacao de um
artefacto contraria uma recomendacao de construcao, o sistema expoe uma mensagem
de aviso num espaco dedicado. Essa mensagem, por sua vez, constitui um topico (is-
sue) de base para uma estrutura argumentativa, que pode ser consultada e completada
na ferramenta de argumentacao.
Mais recentemente surgem ferramentas mais elaboradas como o SIBYL (Lee, 1990)
e o SEPIA (Streitz et al., 1992). O primeiro suporta o DRL (Decision Representation Lan-
guage), uma linguagem de argumentacao que estende os conceitos do QOC e do IBIS,
apresentando-se sob a forma grafica e matricial. Oferece mecanismos de gestao de de-
pendencias entre decisoes, a deteccao de objectivos e assuncoes comuns e a introducao
de pesos na definicao de argumentacoes que suportam alternativas.
O SEPIA, integrado posteriormente no DOLPHIN (Haake et al., 1994), um sistema
de reunioes e tomada de decisao em grupo, face a face ou distribuıda, e uma ferra-
menta orientada para a escrita, individual ou em grupo, de documentos complexos,
de teor argumentativo. A ferramenta propoe a estruturacao do processo criativo, em
quatro espacos de actividades: conteudo, retorica, planeamento e argumentacao. No
de conteudo, as ideias sao expressas, agrupadas e classificadas. No de retorica, e es-
crito o documento final. Nos espacos de planeamento e argumentacao, sao usados
esquemas argumentativos propostos pelos autores e derivados, respectivamente, do
IBIS e do de Toulmin. Os componentes dos diagramas podem-se transferir ou referen-
ciar entre os diversos espacos. Quando transferidos tendem a assumir papeis distintos
e, consequentemente, corresponder a tipos diferentes em cada diagrama (e.g. posicao
3.2. FERRAMENTAS DE SUPORTE A MAPAS COGNITIVOS 87
no espaco de planeamento e afirmacao no de argumentacao), embora se refiram ao
mesmo objecto, denotando o mesmo conteudo.
Estas ferramentas oferecem caracterısticas interessantes, nomeadamente na facili-
dade de analise e manipulacao directa dos mapas. Nos mecanismos de apresentacao,
permitem a existencia de vistas multiplas com visoes globais dos mapas e perspecti-
vas focadas em pormenor (por aproximacao). Sao ainda ferramentas que articulam
representacoes formais, semi-formais e ate informais (no caso do DOLPHIN pela pos-
sibilidade de inclusao de esbocos) nos espacos de apresentacao dos mapas. Nao obs-
tante, esta articulacao e consequentemente a sua exploracao e deixada sem apoio ou,
como no caso do JANUS, e assistida por formas limitadas de retorno, de caracter tex-
tual, a manipulacoes directas de objectos graficos. No suporte a diagramas de grandes
dimensoes deixam ainda em aberto a exploracao e visualizacao de focos afastados, mas
potencialmente relacionados, de um mesmo grafico.
3.2.5 Mapas de conceitos: mentais e de ambito organizacional
Alargando o horizonte aos mapas de conceitos, encontra-se um conjunto mais
numeroso e diversificado de ferramentas. Nesta categoria enquadram-se, por exem-
plo, as anteriormente citadas, a excepcao das que dao suporte a inventariacao, mas
tambem ferramentas de Suporte Computacional a Engenharia de Sistemas Progra-
mados (Computer Aided Software Engineering) - referido doravante pelo seu acronimo
anglo-saxonico, CASE.
Num contexto proximo a cognicao devem ainda ser mencionadas as ferramentas
que servem a criacao de mapas mentais. De entre estas tome-se, como exemplos, o
Visi Map (CoCo, 1998) e o Mind Manager (Mind, 1999). Ambas oferecem mecanismos
coerentes de criacao de diagramas que se estendem a partir de um no central, tal como
propoe a aproximacao dos mapas mentais. Sao extremamente versateis do ponto de
vista da aplicacao de atributos graficos, sob a forma de esquemas de cores, estilos de
traco, ıcones, etc.. Quanto a manipulacao directa de nos e arcos, nao exibem grandes
possibilidades ja que, por um lado, a sua distribuicao espacial e quase totalmente de-
finida pela aproximacao, por outro, sao essencialmente esbocos livres do pensamento,
88 CAPITULO 3. PANORAMA TECNOLOGICO
sem enquadramento em modelos ou resultados anteriores.
No ambito organizacional e interessante referir as ferramentas associadas a apro-
ximacao proposta por Yu (1995b; 1995a) no contexto da reengenharia dos processos de
negocio. Estas combinam tecnicas semi-informais de argumentacao e enumeracao de
dependencias, com mecanismos de especificacao de fluxos de trabalho. Finalmente,
numa situacao que aparentemente se intercepta com um dos resultados deste traba-
lho, surgiu recentemente um conjunto de ferramentas especificamente orientadas para
o suporte aos metodos da Analise de Correntes (Stream Analytics, 1997). Estas ofere-
cem mecanismos para angariacao de informacao, atraves de conjuntos organizados de
perguntas, e para construcao de cartas de diagnostico e de planeamento. No entanto, o
seu objectivo essencial e a concretizacao operacional dos metodos, sem preocupacoes a
nıvel da interaccao pessoa-maquina ou da exploracao e articulacao de diferentes tipos
de mapas cognitivos.
3.3 Tecnologia para a criacao de ferramentas
Uma vez estabelecido o panorama tecnologico relativo as ferramentas que provi-
denciam suporte a mapas cognitivos, ir-se-a, nesta seccao, abordar alguns sistemas
ou componentes que poderao ser usados na criacao de alternativas. Cobrir-se-ao,
primeiramente os sistemas geradores de ferramentas, habitualmente designados por
meta-ferramentas, descrevendo-se logo apos algumas bibliotecas de componentes. As
primeiras oferecem mecanismos de alto nıvel que guiam os utilizadores no desenvol-
vimento das aplicacoes computacionais dedicadas, no caso vertente as ferramentas de
trabalho com mapas cognitivos. As segundas disponibilizam componentes que podem
constituir os nucleos centrais na programacao daquelas aplicacoes. Em contraposicao
a facilidade de construcao providenciada pelas meta-ferramentas, as bibliotecas per-
mitem uma maior flexibilidade na seleccao e ajuste dos componentes e, porventura,
uma maior adequacao as caracterısticas particulares da utilizacao dos mapas. Neste
sentido, alguns destes sistemas sao de facto hıbridos, ja que podem ser usados como
meta-ferramentas ate determinado nıvel de elaboracao, passando a bibliotecas quan-
do e necessario um ajuste mais minucioso do comportamento ou a inclusao de novas
3.3. TECNOLOGIA PARA A CRIACAO DE FERRAMENTAS 89
funcoes nas ferramentas a construir.
3.3.1 Meta-ferramentas
As meta-ferramentas surgem nos ultimos anos como forma de resolver a incapa-
cidade que algumas ferramentas tem, em particular as de CASE, de se adaptar aos
domınios em que e requerida a sua aplicacao e as opcoes e preferencias dos seus uti-
lizadores. Por um lado, as meta-ferramentas permitem ajustar as caracterısticas das
aplicacoes geradas as particularidades do domınio, por outro, conseguem suportar
as inumeras variantes entre linguagens de especificacao de modelos e a sua rapida
evolucao. Em geral, estes sistemas admitem a definicao das estruturas conceptuais
e dos elementos graficos das linguagens visuais que lhes correspondem. Por vezes,
incluem ainda a possibilidade de estabelecimento de restricoes entre essas estruturas
que, por sua vez, se podem reflectir na manipulacao dos elementos graficos quando ja
incorporados nas ferramentas geradas.
Neste contexto, comecar-se-a por referir o Hardy (AIAI, 1995; Smart & Rae, 1995),
essencialmente vocacionado para a criacao de aplicacoes que fazem uso de diagramas,
oferece ainda mecanismos para a definicao de ligacoes hipertexto e articulacao com
um sistema de suporte a sistemas periciais, o CLIPS. Para a criacao de linguagens vi-
suais, o Hardy disponibiliza meios para a composicao guiada dos elementos graficos
da linguagem (i.e. tipos de nos e de arcos), a partir de primitivas simples. E possıvel
escolher e estabelecer restricoes geometricas entre os componentes, que determinam
o seu posicionamento relativo e o seu comportamento aquando da alteracao do ob-
jecto, como um todo. O Hardy permite ainda, de forma semelhante, a definicao de
tipos de nos contentores e o estabelecimento de restricoes que decidem o tipo de nos
que as suas instancias podem conter. Tambem relativamente aos arcos, com duas ou
mais terminacoes, podem ser estabelecidas restricoes quanto ao tipo de nos que ligam.
Estas restricoes, nos nos contentores e nos arcos, ditam a sintaxe da linguagem. Os
elementos graficos assim definidos, sao apresentados em paletas e postos a merce dos
utilizadores nas ferramentas finais. O controlo pormenorizado desses elementos, a
sua ligacao a estruturas no sistema de representacao de conhecimento subjacente ou
90 CAPITULO 3. PANORAMA TECNOLOGICO
a sistemas externos, devera ser feita directamente no CLIPS. Neste caso, nao e dado
qualquer suporte a programacao guiada ou visual.
Do ponto de vista da interaccao, o Hardy e os refinamentos nele definidos sao
relativamente rıgidos. A actuacao sobre os elementos graficos pode ser feita por
manipulacao directa, nao sendo concretizadas as operacoes, quando as restricoes
sintacticas definidas nos arcos ou nos nos contentores sao contrariadas. O retor-
no oferecido, para alem da nao instanciacao do elemento grafico, e simplesmente
uma explicacao textual em rodape. Na unica situacao de foro semantico considera-
da, em que nos dentro de contentores sao arrastados para fora deles ou vice-versa,
nao contravindo as restricoes sintacticas impostas, o Hardy quebra a continuidade da
manipulacao atraves de uma caixa de dialogo. Essa caixa pergunta ao utilizador se o
no deve ou nao sair de facto, ou, no caso inverso, se o no fica sobre ou dentro do conten-
tor (originando situacoes algo confusas). Outras situacoes semelhantes que requerem
o juızo do utilizador, tıpicas na manipulacao de elementos de mapas cognitivos, nao
sao contempladas.
Sobre o Hardy ha ainda que fazer referencia as tecnicas de apresentacao que ofe-
rece. As ferramentas dele decorrentes permitem a representacao do mesmo objecto
(por um no ou um arco) em diagramas diferentes, i.e. com a mesma aparencia mas
em posicoes distintas e, eventualmente, inseridas em estruturas complementares. E
igualmente admitida a expansao de nos em novos diagramas, que assim formam uma
estrutura hierarquica. Em conjuncao, estas duas caracterısticas permitem a criacao de
diagramas relativamente simples de perceber, mas que, no seu todo, constituem estru-
turas complexas. A associacao entre os diagramas e feita atraves de ligacoes hipertexto.
Finalmente, mencionem-se dois algoritmos de distribuicao espacial de nos, em forma
de arvore e em linha.
Se e certo que, uma vez estruturados, estes mecanismos permitem uma navegacao
confortavel, ja no processo exploratorio de criacao, eles requerem demasiadas e cons-
tantes decisoes sobre os momentos certos para definir novos diagramas, copias dos
nos ou dos arcos, ou para a sua estruturacao hierarquica. Por outro lado, as ligacoes
hipertexto nao sao estaticamente visıveis, i.e. por vezes so e possıvel descobrir onde
termina uma ligacao, se esta for seguida. Esta situacao e a proliferacao de copias po-
3.3. TECNOLOGIA PARA A CRIACAO DE FERRAMENTAS 91
de originar alguma confusao na comparacao de focos ou de perspectivas distintas do
mesmo diagrama.
O Kmap (Gaines & Shaw, 1995) e uma ferramenta semelhante ao Hardy. Ofere-
ce uma capacidade comparavel para a definicao de elementos graficos das linguagens
visuais, para interagir com eles e para os visualizar, embora seja mais pobre em ter-
mos de suporte ao estabelecimento de restricoes sintacticas. Quanto a programacao,
permite a utilizacao de linguagens interpretadas como o AppleScript e o Tcl. Co-
mo caracterısticas especıficas, oferece uma maior capacidade de exportar e importar
representacoes, particularmente representacoes de conhecimento. Providencia ainda
um maior numero de tipos de base, especificamente relacionados com os mapas cog-
nitivos e de conceitos. Entre estes, evidencia-se um tipo de no, que da acesso a um
formulario para especificacao e classificacao de elementos em grelhas de repertorio.
No seguimento do anterior, por complementaridade, deve ser citado o trabalho de
Kremer (Kremer, 1997b; Kremer, 1997a), materializado no Constraint Graphs. Este sis-
tema permite a definicao de restricoes entre elementos de diagramas, de modo a criar
linguagens visuais para mapas de conceitos. Kremer faz uma analise pormenorizada
de varias linguagens, nomeadamente o gIBIS, a linguagem definida no KDraw e os
Grafos Conceptuais, entre outras, que o seu sistema consegue representar. A compo-
nente de interaccao pessoa-maquina do Constraint Graphs e suportada por uma bibli-
oteca dedicada e integrada numa ferramenta de desenho (o KSIMapper). A biblioteca
comunica e actualiza-se de acordo com as restricoes definidas no componente abstrac-
to do Constraint Graphs. Quanto a interaccao, e apenas de registar a capacidade de
oferecer vistas multiplas sem, no entanto, qualquer forma de articulacao.
Com caracterısticas proximas as ferramentas de argumentacao aponte-se o Aqua-
net (Marshall et al., 1991). E uma ferramenta de hipertexto vocacionada, segundo os
autores, ”para a organizacao de ideias”e, em geral, ”para tarefas de estruturacao de
conhecimento”. Um dos seus objectivos primordiais foi oferecer aos utilizadores a ca-
pacidade de definir os seus proprios esquemas, cujas primitivas de base emergem dos
de Toulmin e do IBIS, particularmente se forem consideradas as suas versoes que ad-
mitem decomposicao e encadeamento (como o PHIBIS ou os propostos por Streitz et
92 CAPITULO 3. PANORAMA TECNOLOGICO
al. - veja-se �2.2.1.4, pagina 44). Uma propriedade interessante e peculiar do Aquanet
e a possibilidade de estabelecer, a priori, a disposicao espacial relativa dos elementos
de um esquema, que se mantera ao longo da estruturacao. O Aquanet funciona como
meta-ferramenta para a definicao de esquemas e posteriormente como ferramenta de
argumentacao, baseada nesses mesmos esquemas.
Especificamente orientados para a construcao de ferramentas de aquisicao de co-
nhecimento e de sistemas periciais, reporte-se como exemplos o projecto PROTEGE
e o KSM (Molina et al., 1996). Ambos se baseiam fortemente na definicao de ontolo-
gias adequadas aos domınios alvo e na escolha de metodos para a resolucao de pro-
blemas, suportados por bases de conhecimento. Ontologias, metodos e suporte para
essas bases sao posteriormente integrados nas ferramentas que geram. O PROTEGE
II (Eriksson et al., 1994) e em especial a sua evolucao o PROTEGE/Win oferece ainda
meta-ferramentas que permitem a construcao de interfaces pessoa-maquina. Essas in-
terfaces sao particularmente bem articuladas em torno das estruturas ontologicas que
permitem definir e podem incluir editores de diagramas nas aplicacoes produzidas.
No entanto, a capacidade de interaccao e diminuta. Os elementos graficos dos diagra-
mas surgem, alias, em consequencia quase directa dos elementos das ontologias, i.e.,
sem grandes capacidades de parametrizacao.
Finalmente e agora no ambito das meta-ferramentas de CASE, mencione-se, pela
sua preponderancia, o MetaEdit (MCC, 1997; Kaipala, 1997; Kelly et al., 1996). Es-
te, vocacionado para a geracao de ferramentas de modelacao e desenho de sistemas,
oferece acesso a formas relativamente potentes de definicao de estruturas e correspon-
dentes representantes graficos, proporcionando mecanismos de geracao de codigo e
de comunicacao com bases de dados. No entanto, quanto a componente de interaccao
pessoa-maquina das ferramentas que gera, eventualmente mais cuidada do ponto de
vista grafico, nao difere particularmente dos sistemas anteriores.
3.3.2 Bibliotecas
No que respeita as bibliotecas de componentes, o panorama e relativamente mais
vasto. Por um lado, surgem as que tentam sustentar as diversas facetas inerentes ao
3.3. TECNOLOGIA PARA A CRIACAO DE FERRAMENTAS 93
mapas cognitivos, ou, mais precisamente, a sua perspectiva formal de representacao
de conhecimento. Por outro lado, e possıvel encontrar pacotes orientados para aspec-
tos particulares, mas que, sendo potencialmente compatıveis entre si, ou com outros
sistemas, e mais facilmente estendidos para nova funcionalidade, se podem integrar
na construcao das ferramentas pretendidas.
No ambito dos sistemas baseados em conhecimento, Gaines (1994) apresenta uma
biblioteca extremamente abrangente que, alias, constitui o nucleo de suporte a sistemas
como o KSS0, o KSSn, o KDraw e o Kmap atras referidos, bem como a ferramentas de
analise de conteudo, hipermedia e ate para a escrita de documentos activos (i.e. liga-
dos a sistemas periciais) e em grupo. Essa biblioteca, o KRS (Knowledge Representation
Server), oferece um conjunto de classes em C++ para a angariacao e representacao de
conhecimento, inferencia e interaccao pessoa-maquina, incluindo componentes para
a definicao de linguagens visuais baseadas em diagramas. Abarca ainda classes para
tratamento de textos, acesso a mecanismos de comunicacao entre processos, a lingua-
gens interpretadas, como o Tcl, e a estruturas hipertexto. De um modo geral, pode
dizer-se que as caracterısticas das estruturas e funcoes que esta biblioteca providencia,
sao semelhantes as anteriormente atribuıdas aos sistemas de que constitui o nucleo.
Ainda enquadrado com os sistemas de representacao de conhecimento, aponte-se
novamente o Hardy. De facto, embora surja como meta-ferramenta em grande numero
de aplicacoes, na perspectiva de quem pretende fazer ajustes minuciosos ao seu com-
portamento e a sua integracao com as estruturas subjacentes, o Hardy deve ser visto
como um pacote ou biblioteca de funcoes do CLIPS. Este, por sua vez, providencia su-
porte para a criacao de sistemas periciais, que incluem a definicao de regras, funcoes e
mecanismos de programacao orientada para objectos.
Na perspectiva de colmatar algumas das deficiencias de interaccao pessoa-maqui-
na, das ferramentas existentes ou construıdas por meta-ferramentas e bibliotecas par-
ticularmente orientadas para a representacao de conhecimento, abordar-se-ao de se-
guida algumas bibliotecas de componentes de interaccao. Em particular referir-se-ao
exemplares relevantes que oferecem mecanismos de visualizacao e edicao de diagra-
mas baseados em grafos ou de desenho e manipulacao de objectos graficos que inclu-
94 CAPITULO 3. PANORAMA TECNOLOGICO
am subsistemas de tratamento de restricoes. Uns e outros sao potencialmente inte-
graveis com sistemas de inferencia e representacao de conhecimento - por exemplo, o
CLIPS e o Mike (Open University, 1989) - com sistemas de gestao de bases de dados,
ou simplesmente com sistemas de ficheiros, cujas interfaces programaticas (application
programming interface – API) estao normalmente disponıveis.
No ambito das bibliotecas de suporte a diagramas, refira-se o vasto trabalho que
se tem realizado em volta do LEDA (Mehlhorn & Naher, 1995) que, nao constituin-
do um sistema que proporcione uma forma elaborada de objectos graficos, define um
conjunto alargado de estruturas de dados e algoritmos para a construcao de aplicacoes
de computacao combinatoria e geometrica. Esta biblioteca e usada, por exemplo, no
GDToolkit (ALTCOM-IT, 1997), que inclui um pacote de desenho de diagramas extre-
mamente eficiente, e no Graphlet (Himsolt, 1996), uma biblioteca entre cujos compo-
nentes se encontra um editor de diagramas. Em geral, no entanto, estas bibliotecas dao
especial atencao ao desenho dos graficos, orientando-se particularmente para questoes
de rapidez e de capacidade de disposicao automatica de nos e arcos, segundo algorit-
mos pre definidos ou, em casos mais elaborados, parametrizaveis por restricoes. As
capacidades de interaccao e retorno sao normalmente pobres ou, no melhor dos casos,
semelhantes aos sistemas anteriormente apresentados.
Numa perspectiva mais abstracta cite-se o Amulet (Myers et al., 1997). Este e o
nome de uma biblioteca generica para a construcao de interfaces pessoa-maquina que
inclui, para alem de objectos tıpicos de interaccao (botoes, barras de deslocamento,
etc.), um conjunto de base de objectos graficos (telas, ovais, rectangulos, grupos) e ou-
tro especıfico para o tratamento das entradas, em particular de diversas formas basicas
de manipulacao (movimento e redimensionamento, desenho, entrada de texto), com
suporte a gestao de comandos reversıveis (undo). Estes componentes sao construıdos
sobre dois subsistemas, um de primitivas graficas de desenho e outro que oferece um
modelo de objectos baseado em prototipos, ainda que concretizado em C++, suportan-
do mecanismos de programacao e resolucao de restricoes.
O Amulet proporciona uma bancada bastante completa para a criacao experimen-
tal de interfaces, particularmente no que concerne a utilizacao de restricoes. No en-
3.3. TECNOLOGIA PARA A CRIACAO DE FERRAMENTAS 95
tanto, em termos de mecanismos de apresentacao, o seu suporte reduz-se a formas
comuns de visualizacao sem distorcao. Por outro lado, apesar de disponibilizar me-
canismos para a definicao de resolucao de restricoes complexas, a sua articulacao com
as formas de retorno e relativamente rıgida, i.e. a definicao de linguagens mais ela-
boradas de retorno, que se enquadrem nos princıpios da manipulacao, nao e de todo
suportada. Finalmente, o facto de nao se integrar com bibliotecas de componentes de
interaccao normalizados, complica fortemente a tarefa de desenvolvimento de ferra-
mentas.
Antes de terminar a abordagem as bibliotecas refira-se o trabalho de Paulo (Pau-
lo, 1996) concretizado nas sucessivas evolucoes da biblioteca EdGar ou na sua
contribuicao no ambito do projecto MADE. Em ambos os casos e oferecido um con-
junto de classes em C++, no caso do MADE, com acesso ao Tcl como linguagem in-
terpretada, e, nalgumas versoes do EdGar, com ligacao a um subsistema de suporte a
interpretacao em C++ (Carrico, 1991). Os componentes providenciados nestas biblio-
tecas, oferecem mecanismos para a interaccao com os diagramas e formas avancadas
de apresentacao e navegacao. No caso da interaccao, e fornecido um conjunto base
de manipulacoes tıpicas, entre as quais se inclui a manipulacao directa dos elemen-
tos dos diagramas. Esta, no entanto, determina uma forma relativamente rıgida de
retorno semantico, mesmo no caso do refinamento das classes oferecidas. Na pers-
pectiva de visualizacao, permitem a definicao de vistas multiplas sobre um mesmo
diagrama (i.e. o mesmo diagrama pode ser apresentado em diferentes janelas) e de
multiplas representacoes visuais do mesmo conceito (i.e. nos e arcos com proprie-
dades graficas diferentes podem, no mesmo diagrama ou em diagramas diferentes,
constituir representacoes do mesmo conceito). Oferece ainda algoritmos de disposicao
automatica dos nos e dos arcos no espaco do diagrama, incluindo os de diminuicao do
numero de intercepcoes entre arcos, e vistas de olho de peixe, com um ou varios focos.
O EdGar toma especial importancia por estar na base de concretizacao do trabalho
apresentado nesta dissertacao. Em primeiro lugar, constituiu a plataforma inicial de
experimentacao, em que foram introduzidas algumas das primitivas de representacao
e dos mecanismos de tratamento de restricoes, que aqui se propoem. Foi tambem a
partir dessa experimentacao que se veio a delinear a arquitectura sugerida e que pro-
96 CAPITULO 3. PANORAMA TECNOLOGICO
porciona, como adiante se expora, o suporte necessario a criacao de formas de retorno
adequadas. Posteriormente, esteve ainda na genese da construcao de uma biblioteca,
o EdGar++ (Costa et al., 1996), que oferecia a possibilidade de inclusao dos compo-
nentes de edicao dos diagramas em ferramentas que suportassem o OLE2 e permitia a
definicao de estruturas hierarquicas de diagramas (i.e. em que os nos podem aceder a
subgrafos). Esta biblioteca, embora apenas com as primitivas de base do EdGar (nos
simples e arcos) e com a ausencia do mecanismo de tratamento de restricoes, denota
uma arquitectura ja mais proxima da que se propoe neste trabalho.
3.4 Discussao
A quantidade de ferramentas, meta-ferramentas e bibliotecas existentes, com po-
tencialidade de suportarem alguns dos requisitos impostos pela exploracao e analise
de mapas cognitivos e, sem duvida, bastante grande. Algumas delas, como o Kmap
e seus derivados, oferecem solucoes assaz completas no que respeita a angariacao
e representacao formal de conhecimento, articuladas com mecanismos de simulacao
que, ainda que numa perspectiva demasiado racionalista, permitem fazer analises in-
teressantes do processo cognitivo. No extremo oposto, surgem ferramentas do tipo
do Decision Explorer, que disponibilizam os meios basicos de exploracao de mapas
(ou pelo menos de seu esboco), completados por algoritmos de analise topologica com
fundamentacao teorica e acesso a pacotes estatısticos.
Se por um lado estes sistemas cobrem relativamente bem as formas possıveis de
analise, por outro ficam bastante aquem do que e requerido em termos de interaccao
pessoa-maquina e mesmo de algumas facetas respeitantes a representacao do pensa-
mento. Neste ultimo ponto, sao frequentemente ignorados os parametros de incerteza,
nıveis de importancia e, em geral, os que resultam da insuficiencia de informacao e da
impossibilidade de racionalizacao dos problemas reais. Algum avanco e dado nos sis-
temas baseados na logica difusa, infelizmente muito desenquadrados das necessidades
de interaccao e teimosamente insistentes nos aspectos de simulacao de raciocınio.
Relativamente a interaccao pessoa-maquina, o panorama tecnologico tende a foca-
3.4. DISCUSSAO 97
lizar-se na representacao visual, relativamente estatica, de linguagens formais e nor-
malmente rıgidas. Em alguns casos, circunscritos a meta-ferramentas e bibliotecas, es-
sa austeridade e colmatada por mecanismos de definicao de restricoes, que articulados
com formas de parametrizacao de atributos graficos e espaciais, permitem ja alcancar
algum do requerido abrangimento.
Quanto a apresentacao, em particular as solucoes disponibilizadas para a visua-
lizacao e comparacao de diagramas de grandes dimensoes, tambem as ferramentas
existentes nao se aproximam das expectativas. De facto, falham mesmo em providen-
ciar algumas das tecnicas de apresentacao disponıveis em bibliotecas e ferramentas
de outros domınios, como vistas multiplas, hierarquizacao, ja para nao mencionar as
mais elaboradas de distribuicao espacial e de distorcao. Em todo o caso, a verdade e
que mesmo estas tecnicas deixam alguns dos requisitos de apresentacao sem solucao
adequada. Sera o caso, como foi referido, da visualizacao de varios focos, na analise ou
edicao em pormenor, possivelmente contextuados, em que sao perceptıveis elementos,
tao essenciais, como as relacoes (arcos) entre os diversos conceitos apresentados. A
utilizacao de vistas multiplas quebra claramente a continuidade dos arcos, ao passo
que as alternativas de distorcao multifoco tendem a miniaturiza-los de tal modo no
espaco entre focos, que torna extremamente difıcil o seu seguimento visual.
Finalmente, refira-se outro dos problemas que se revela persistente em todas as
aproximacoes mencionadas e mesmo noutras nao directamente relacionadas no ambito
do contexto deste trabalho. Trata-se pois, da incapacidade que esses sistemas compu-
tacionais tem, de oferecer formas de retorno adequadas a manipulacao de objectos
sujeitos a restricoes nao necessariamente peremptorias, como aquelas que se definem
em ambientes exploratorios e nao completamente exactos, de que sao exemplo os ma-
pas cognitivos. Este facto, embora parcialmente resultante de nao ser considerado o
aspecto contingencial da especificacao dos conceitos e relacoes representados, esbar-
ra igualmente na falta de modelos de interaccao entre objectos, especificamente ori-
entados para o problema em causa. Uma vez definidos esses modelos, pode entao
conceber-se uma plataforma de suporte a definicao de dialectos de retorno, suficiente-
mente expressivos e que se enquadrem nos princıpios da manipulacao directa, como
forma por excelencia para a exploracao dos mapas.
98 CAPITULO 3. PANORAMA TECNOLOGICO
3.5 Sumario
Neste capıtulo abordou-se a tecnologia que, segundo a perspectiva do trabalho
aqui documentado, pode influenciar a concepcao de ferramentas de criacao e analise
de mapas cognitivos, no ambito das organizacoes. Comecou por se apresentar um con-
junto de conceitos e tecnicas fundamentais, que se enquadram nas areas consideradas
pertinentes aquando da analise do domınio de aplicacao. Nesse contexto, revisitou-
se a cognicao, agora enquanto actividade influente na boa utilizacao de ferramen-
tas interactivas e descreveram-se algumas tecnicas de representacao, apresentacao e
interaccao, focando-se, esta ultima, sobre os aspectos da manipulacao directa. Em pos-
se destes conceitos, fez-se entao uma analise das ferramentas disponıveis, cobrindo as
diversas perspectivas de mapas cognitivos antes introduzidas. Alargando o horizonte
de estudo a tecnologia existente para a construcao de ferramentas interactivas e de fo-
ro cognitivo, continuou-se entao pela apreciacao de meta-ferramentas e bibliotecas que
poderiam, de algum modo, colmatar algumas das falhas encontradas nas ferramentas
analisadas. Finalmente, discutiram-se as lacunas globais encontradas relativamente
aos requisitos impostos, que abrem o espaco ao desenvolvimento do trabalho desta
tese.
�Suporte a expressao de
mapas cognitivos
O trabalho elaborado no ambito desta dissertacao pretende, antes de mais, ofere-
cer um conjunto de conceitos e tecnicas de representacao, visualizacao, manipulacao
e retorno, especificamente orientadas para lidar com mapas cognitivos. Este capıtulo
debrucar-se-a sobre os aspectos relacionados com os dois primeiros temas, que englo-
bam a expressao dos mapas, nesta tese particularmente focada sobre a sua vertente
visual em forma de diagrama.
Note-se, no entanto, que esta expressao visual fundamenta-se numa estrutura de
representacao conceptual, que reflecte as caracterısticas e restricoes impostas aos con-
ceitos subjacentes, nao necessariamente ligados aos atributos graficos ou distribuicoes
espaciais. Como exemplo, tomem-se as variantes possıveis de representacao visual pa-
ra uma mesma taxionomia, mapa causal ou de argumentacao, discutidos no capıtulo 2.
So com base numa representacao conceptual comum, se podera entao projectar, de
forma consistente, um conjunto de alternativas, eventualmente complementares, que
abarque diversas linguagens visuais graficas (ou sob a forma de tabelas, ou ate textu-
ais). Finalmente, uma vez definidas as primitivas e caracterısticas dessas linguagens,
ha que mostra-las nos dispositivos computacionais, gerindo o espaco e a forma de
apresentacao, de modo a facilitar a visualizacao e analise dos mapas construıdos.
Os conceitos e as tecnicas aqui propostos (Carrico & Guimaraes, 1998c; Carrico
& Guimaraes, 1998a), em conjunto com as disponibilizadas para a manipulacao e re-
torno, foram concretizadas e incluıdas numa biblioteca, a que se chamou InCoMa -
acronimo formado a partir da designacao anglo-saxonica INteractive COgnitive MAp-
ping. A biblioteca e os conceitos que lhe estao subjacentes, foram posteriormente usa-
99
100 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
dos na concepcao e construcao de prototipos de ferramentas de exploracao e analise de
mapas cognitivos, no ambito de modelos organizacionais e de acordo com requisitos e
opcoes, anteriormente tracados.
O capıtulo comecara por abordar os elementos indispensaveis a representacao dos
mapas cognitivos ao nıvel conceptual e, posteriormente, ao nıvel visual. Num e noutro
caso, dar-se-a particular atencao aos aspectos de flexibilidade e capacidade expressiva,
em que se inclui nao so a grande variedade de formas que estes mapas podem assu-
mir, mas tambem as caracterısticas de contingencia e dinamismo, de que se reveste a
utilizacao destas representacoes. Leva-se ainda em linha de conta, o seu enquadramen-
to com as tecnicas de analise, particularmente as que decorrem da teoria dos grafos, e a
sua posterior articulacao com os mecanismos de manipulacao, desenvolvidos tambem
no ambito deste trabalho. A especificacao dos elementos de representacao sera feita,
sempre que se considerar oportuno, usando a notacao associada a aproximacao UML,
tal como e apresentada por Booch et al. (1998).
Uma vez feita a especificacao dos mecanismos de representacao, sao explicados os
artefactos de apresentacao, em especial aqueles concebidos para a facilitacao da edicao
e analise visual, pormenorizada e multifoco, de mapas que assumem proporcoes con-
sideraveis. Antes de terminar o capıtulo, abordam-se alguns aspectos da concretizacao
das tecnicas apresentadas. Discutir-se-ao sucintamente as facetas de arquitectura e de-
senvolvimento, a partir dos sistemas que estiveram na sua origem.
4.1 Representacao conceptual
Na descricao que se segue, tomar-se-a como exemplo ilustrativo de base, um
mapa cognitivo concreto resultante das actividades experimentais desenvolvidas no
ambito do projecto MAPCOG - veja-se a descricao pormenorizada da experiencia
por Carrico et al. (1998). O mapa, exibido na figura 4.1, expressa uma representacao
do pensamento de um indivıduo (e apenas deste), com o papel de vendedor, numa
negociacao. Esta, envolvendo tambem um comprador, constitui um paradigma experi-
mental simples, introduzido por Pruitt e frequentemente usado no estudo das tacticas
4.1. REPRESENTACAO CONCEPTUAL 101
Figura 4.1: Um mapa cognitivo de um vendedor numa negociacao.
de negociacao - uma apresentacao em pormenor deste paradigma pode ser vista no
livro de Jesuino (1992, p.52-54). Resumidamente, pode descrever-se a negociacao do
seguinte modo:
Foi pedido aos negociadores para (num intervalo de tempo limitado) che-
garem a um acordo em que fosse transaccionado um lote de produtos. Esse
lote seria obrigatoriamente constituıdo por uma categoria de cada um dos
tres tipos de bens disponıveis (designem-se aqui por X, Y, e Z). A cada cate-
goria, identificada por uma letra de A ate I, dentro de cada tipo de produto,
corresponde um valor de unidades de lucro. Vendedor e comprador, tendo
tabelas de lucros com o mesmo tipo de produtos e as mesmas categorias,
tem valores diferentes em cada uma delas. E possıvel maximizar o lucro
de ambos os jogadores, num lote que corresponde a uma das diagonais da
tabela (���� ��). Este facto, bem como a tabela do adversario, e desconhe-
cido pelos negociadores.
102 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
Com base neste problema foram realizadas diversas experiencias. A partir
das de preparacao, elaborou-se um conjunto de questionarios, alguns baseados nas
aproximacoes de Kelly (veja-se o capıtulo 2). Esses questionarios tem como objectivo
perceber as estrategias delineadas pelos indivıduos, antes da negociacao, e divisar a
sua evolucao, depois dela. Uma vez definidos, foram entao apresentados aos inter-
venientes de cada uma das experiencias subsequentes. As negociacoes em si mesmo,
fizeram-se por computador, utilizando um programa simples de comunicacao textu-
al por rede. Deste modo, foram registadas todas as trocas de informacao entre os
negociadores. Analisadas as respostas e os registos de cada uma das experiencias,
obtiveram-se mapas individuais, que foram sucessivamente comparados e compostos.
O mapa apresentado, resulta de uma sinopse de mapas de vendedores, que adoptaram
estrategias semelhantes a que se expressa.
4.1.1 Elementos de base
Tendo em conta os diversos tipos de mapa cognitivo, definiu-se um conjunto
de classes fundamentais, cujas instancias sao usadas na sua representacao. Essas
instancias serao genericamente designadas por elementos de base, estando patentes
no mapa da figura 4.1, numa das suas possıveis formas visuais. As classes sao:
Conceitos - simbolizam as variaveis envolvidas no pensamento (e.g. classes, crencas,
factos, opcoes, objectivos, argumentos). Na figura, sao apresentados como elipses
contendo uma descricao sucinta do seu significado.
Associacoes - representam as relacoes entre os conceitos (e.g. equivalencia, causa).
No mapa referente ao negociador, correspondem as linhas curvas ou segmentos
de recta (doravante referidos como arcos visuais, de diagrama ou simplesmente
arcos) terminados por uma seta (denotando causalidade) ou por dois cırculos
(relacao nao tipificada).
Contextos - o seu papel e agrupar um conjunto de conceitos, refinando o seu significa-
do (e.g. conceitos do oponente, comunicacao, privados). As tres formas rectangu-
lares (incluindo a exterior), que apresentam uma descricao textual sobre o canto
superior esquerdo, constituem representacoes visuais comuns de contextos.
4.1. REPRESENTACAO CONCEPTUAL 103
Juncoes - representam formas de combinar associacoes. Podem definir operadores
entre associacoes (e.g. conjuncao de associacoes causais) ou constituir, nu-
ma associacao, pontos de ancoragem para outras (e.g. relacoes entre associa-
coes). No exemplo, um pequeno rectangulo em redor do caracter ’&’ denota uma
conjuncao de relacoes causais.
As classes identificadas, apesar de constituırem um conjunto relativamente sim-
ples, permitem, atraves de processos de refinamento, ir de encontro aos requisi-
tos especıficos de cada tipo de mapa. Esses processos originam novas classes de
representacao (e.g. Topico, Posicao e Responde-a no IBIS, ou Constructo, Cau-
sa e Equivalencia em mapas causais) e traduzem-se na parametrizacao dos elemen-
tos de base, conjugada com a definicao de novas propriedades e o estabelecimento de
restricoes que orientam a sua posterior utilizacao. Ressalve-se ainda, relativamente a
estrutura encontrada, que ela nao forma necessariamente, nem o pretende, o conjunto
mınimo possıvel de classes. Antes, identifica grupos de elementos com caracterısticas
comuns, que se manifestam de forma consistente nos varios tipos de mapa.
4.1.2 Grafos e dependencias
A estrutura de representacao introduzida, provem ainda da prossecucao de dois
outros objectivos: o seu enquadramento nos componentes basicos de um grafo e o
estabelecimento de uma relacao clara de dependencias. O resultado apresenta-se resu-
midamente no diagrama de classes mostrado na figura 4.2. Relativamente ao primeiro
objectivo, tomou-se por princıpio a classificacao disjunta de nos e arcos, decorrente da
propria definicao de grafo - veja-se a enunciacao formal, por exemplo, nos trabalhos
de Paulo (1996). Mais ainda, optou-se por grafos em sentido estrito, em que os arcos
sao simplesmente binarios, i.e. cada um deles termina num par de nos, nao necessa-
riamente distintos. Estas escolhas permitem simplificar substancialmente a utilizacao
dos resultados da teoria dos grafos, nomeadamente as tecnicas e os algoritmos que
lhe estao associados, e, na sequencia, alguns pacotes computacionais existentes. Para
alem disso, a sua projeccao em diagramas torna-se bastante mais imediata (e.g. um
arco ternario teria que se decompor em tres binarios e um no). Por fim, refira-se que
104 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
Figura 4.2: Uma perspectiva simplificada da taxionomia e da estrutura de dependenciasdos elementos base usados na representacao de mapas cognitivos.
a adopcao da nocao de contexto, ainda que nao conste em estruturas grafo puras, nao
contraria fortemente a sua adaptacao. De facto, enquanto conceito, enquadra-se com-
pletamente na nocao de grafo e, enquanto agregacao de conceitos, pode facilmente
converter-se num conjunto de associacoes, entre o conceito que e e os que inclui. Por
outro lado, visualmente, tem uma representacao, e conceptualmente, um significado,
com caracterısticas proprias no ambito dos mapas cognitivos. Assim sendo, conceitos,
contextos, e juncoes sao nos de um grafo, ao passo que as associacoes constituem
arcos.
O objectivo de simplificar a estrutura base de dependencias, foi estabelecido, es-
sencialmente, como forma de facilitar a gestao dos elementos, aquando da sua criacao
e modificacao em cada mapa. Por exemplo, e com base na nocao de dependencia que
a modificacao de um elemento se propaga pelos outros que dele dependem. Noutro
sentido, e tambem com base nessa nocao, que se desencoraja ou proıbe uma accao de
criacao ou modificacao de um elemento - porque essa accao contravem as restricoes
que lhe sao impostas por outros de que depende. Pode entao dizer-se que:
dependencia e uma relacao entre elementos, em que a existencia e as pro-
priedades de um, o dependente, sao determinadas, total ou parcialmente,
pela existencia e propriedades de outro, o dominante.
4.1. REPRESENTACAO CONCEPTUAL 105
A organizacao de dependencias, tal como se mostra na figura 4.2, deriva directa-
mente da propria definicao das classes e do seu enquadramento nos mapas cogniti-
vos. Numa primeira analise relativa a dependencia existencial, pode afirmar-se que
as juncoes dependem das associacoes que combinam, as associacoes dos conceitos
que relacionam e os conceitos dos contextos em que se inserem. Neste ultimo caso,
assume-se a existencia de contextos, vulgar em mapas concretos, como abstraccoes que
se definem independentemente dos conceitos que a posteriori poderao incluir. Adopta-
se a perspectiva, igualmente pragmatica, de que os mapas sao sempre criados num
contexto (e portanto num elemento homonimo) que define o assunto em estudo (sera
o caso do contexto denotado pelo rectangulo exterior, mostrado na figura 4.1).
Quanto a simplificacao da rede de dependencias, o facto de se terem definido as
juncoes como elementos distintos dos conceitos e de serem aquelas as unicas direc-
tamente dependentes das associacoes, permite localizar e portanto gerir mais facil-
mente, as restricoes impostas a modificacao dos elementos. E tambem esse o caso da
introducao de uma entidade abstracta, cuja classe se designa por NoRepresentante,
que, entre outros aspectos, permite libertar as juncoes do jugo directo dos contextos.
Este facto, nao so contribui para simplificar o grafo de dependencias, como tambem
vai de encontro ao padrao de utilizacao de juncoes, em mapas reais.
4.1.3 Mecanismos de tipificacao e refinamento
A taxionomia apresentada na figura 4.2 forma, como se disse, uma bancada so-
bre a qual se podem construir novas classes de elementos. Na figura 4.3 mostram-
se os varios planos de representacao e algumas das suas variantes, a saber: o plano
do InCoMa, o plano da linguagem e o plano dos mapas. No primeiro, sao defini-
das as classes do sistema, anteriormente apresentadas (e.g. Conceito e Associacao).
No segundo, transparecem as classes de representacao especıficas as linguagens (e.g.
Topico e Causa), i.e., e definida a sintaxe e semantica da linguagem. No ultimo pla-
no, sao constituıdos os mapas propriamente ditos como resultado da expressao de um
pensamento em particular (e.g. ”1. fazer acordo ...” no mapa da negociacao).
Os tres planos encadeiam-se atraves dos processos de refinamento e utilizacao. A
106 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
Figura 4.3: Planos de refinamento.
partir do InCoMa, sao definidos os elementos das linguagens de representacao (no pla-
no da linguagem), normalmente tipificados, com propriedades e restricoes especıficas.
Numa perspectiva de orientacao para objectos, o processo de refinamento que lhes
da origem, podera seguir uma aproximacao baseada em classes e heranca (em bai-
xo a esquerda, na figura), em prototipos e delegacao (em cima a direita), ou mista -
veja-se a discussao destas aproximacoes, por exemplo, num trabalho anterior do au-
tor (Carrico, 1991). E entao possıvel, por instanciacao das classes ou duplicacao dos
elementos definidos no plano da linguagem, a criacao dos elementos que constituem
os mapas propriamente ditos, agora no plano dos mapas.
Por sua vez, a existencia de contextos (de refinamento) e, em geral, de mapas taxi-
onomicos, introduz tambem no plano dos mapas a nocao de tipos, instancias, proprie-
dades e restricoes. O processo, alias, e em tudo semelhante ao de refinamento, que ori-
gina a transicao entre o plano do sistema (InCoMa) e o da linguagem, com a diferenca
que se verifica durante a propria actividade de criacao dos mapas. Neste sentido, po-
de mesmo considerar-se a construcao de uma linguagem de representacao, como um
caso particular da de um mapa, i.e., um mapa taxionomico definido num determi-
4.1. REPRESENTACAO CONCEPTUAL 107
Figura 4.4: Estruturas de suporte a tipificacao e refinamento.
nado processo de refinamento no plano dos mapas, pode tornar-se a linguagem de
representacao usada na criacao de outros. A maleabilidade exigida pelo refinamento
no plano dos mapas, e ainda mais acentuada pela natureza exploratoria da sua criacao,
que inclui a necessidade de reclassificacao, restruturacao e, em geral, evolucao dos ele-
mentos nos mapas, sejam representacoes de instancias, tipos ou contextos. A solucao
passa, naturalmente, por manter em tempo de exploracao (execucao), informacao fa-
cilmente modificavel, sobre o tipo ou hierarquia de tipos, a constituicao dos elementos
e o seu estado e a forma da rede de restricoes que se aplica a cada um deles.
Todas as classes, antes mencionadas, herdam a funcionalidade definida numa ou-
tra, que proporciona mecanismos de tipificacao e refinamento. Chamou-se-lhe Repre-
sentante e esta patente no diagrama da figura 4.4. Cada representante inclui uma
forma de identificacao, unıvoca no mapa em que se insere, e um atributo ’plano’ que
indica o plano em que e definido. Sao ainda providenciados tres mecanismos basicos
para a construcao de novas categorias, acessıveis de qualquer representante, tal como
se mostra no diagrama. Sao eles: um de tipificacao, outro de definicao de propriedades
e um de gestao de restricoes. Os tres mecanismos, alias, enquadram-se naqueles que as
linguagens de programacao oferecem para a definicao e propagacao de tipos, atributos
e componentes dinamicos (no caso vertente as restricoes), em novas estruturas.
108 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
4.1.3.1 Tipificacao e definicao de propriedades
A forma de tipificacao traduz-se pela classe Tipo e inclui um ’qualificador’ e
uma ’identificacao’. O primeiro indica se se trata de heranca ou delegacao e quais
as caracterısticas de visibilidade que lhe estao associadas (e.g. heranca ou delegacao,
publica ou privada). O segundo podera conter simplesmente uma identificacao de ti-
po (e.g. Topico, Constructo e Causa) ou indicar um prototipo ou um objecto de
classe que contenha essa identificacao. A sua forma de utilizacao dependera da flexibi-
lidade pretendida e da providenciada pela linguagem de programacao adoptada1. Tal
como se indica no diagrama, a estrutura fara parte de um representante, inserida nu-
ma coleccao ordenada que pode, no conjunto, estabelecer uma hierarquia ou um grafo
de tipificacao (no caso de heranca ou delegacao multiplas).
A estrutura de propriedades apresentada na figura 4.4, integra um ’qualifi-
cador’ e uma ’identificacao’ de cada propriedade no ambito do representante
em que e definida. Agrega ainda um ’tipo’ generico que a caracterize e estabeleca
parametros comuns de acesso ao seu ’valor’. O ’qualificador’ denota as carac-
terısticas da propriedade relativamente a estrutura de tipificacao em que se insere o
representante: identifica a forma como a propriedade se propaga pelas instancias (ou
replicas) do representante (e.g. propriedade partilhada, duplicada nas instancias ou
revogada em classes ou prototipos derivados); a sua visibilidade no objecto ou nos que
a partir dele podem ser criados (e.g. privada, publica); o plano em que foi definida
(i.e. na linguagem ou localmente no mapa); e a possibilidade da sua alteracao (e.g.
constante, variavel). A ordenacao da coleccao de propriedades, permite gerir mais fa-
cilmente a sua redefinicao em prototipos ou classes derivadas (e.g. de publica numa
classe, para privada na subclasse). Como exemplos de propriedades aponte-se, no pla-
no da linguagem, as variantes de relacoes causais (e.g. positiva, negativa), e no plano
dos mapas, as ligacoes que cada representante pode ter para informacao documental
que o sustente.
1No caso da concretizacao disponıvel do InCoMa, utilizou-se o C++, uma linguagem relativamen-te rıgida, optando-se por isso por uma aproximacao que recorre a objectos de classe, suportada pelosistema.
4.1. REPRESENTACAO CONCEPTUAL 109
4.1.3.2 Restricoes
Aos representantes e ainda possıvel associar um conjunto de restricoes, cuja
versao base se mostra na figura 4.4. Na classe Restricao incluiu-se um ’qualifi-
cador’ e uma ’identificacao’ com papeis identicos aos que assumem na classe
Propriedade. A cada restricao associou-se tambem uma ’prioridade’ e um ’esta-
do’. A primeira permite resolver conflitos entre restricoes ou entre a restricao e uma
accao que a contravem. O ’estado’ indica se a restricao se encontra ou nao resolvida
(ou a que ”distancia”da resolucao) e se esta ou nao activa. Como exemplo de restri-
coes, tomem-se as impostas aos conceitos que constituem objectivos de uma estrategia
e que, num mapa causal, sao considerados indispensaveis e normalmente terminais
(i.e. sem ligacoes que deles partam) - e o caso do conceito ’1. fazer acordo...’, do mapa
da figura 4.1. Os seus representantes deverao incluir uma estrutura de restricoes, que
iniba a sua remocao e desencoraje (com um valor razoavel para a ’prioridade’) a sua
associacao a outros conceitos, como causa.
As restricoes traduzem essencialmen-
Figura 4.5: Restricoes e dependencias.
te uma relacao entre representantes, que
define como e que as caracterısticas de um,
sao influenciadas pelas de outro. Trata-
se pois de um mecanismo generico de es-
tabelecer dependencias entre representan-
tes, para alem das que sao intrınsecas a
propria constituicao dos elementos. Sobre
cada restricao e possıvel saber o represen-
tante sobre a qual se impoe - o elemento
dependente - e aqueles que a impoem - os
elementos dominantes - denotados na figura 4.5, pelas respectivas associacoes (UML).
Estabelece-se entao que:
� uma restricao define uma relacao de dependencia entre representantes;
� para que uma restricao esteja activa tera que referir pelo menos um dependente
e um dominante;
110 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
� uma restricao aplica-se no maximo a um dependente, mas pode ter mais do que
um dominante.
E ainda de notar que, para uma restricao, o representante que a define nao tera que
coincidir, necessariamente, com o seu dependente ou com um dos dominantes. Sera
esse o caso dos representantes que definem tipos (classes, ou contextos).
Nas restricoes surge tambem uma referencia ao ’aspecto coagido’ e na sua
ligacao com cada dominante a indicacao do ’aspecto coactor’:
um aspecto (feature) refere a caracterıstica de um representante que esta
envolvida numa dependencia e pode indicar uma operacao (e.g. criacao,
eliminacao, contextuacao), um tipo ou um atributo (ou propriedade).
Na pratica, permitem especificar (e posteriormente gerir) a operacao, tipo ou proprie-
dade, cuja invocacao ou alteracao no dominante, determina a invocacao ou alteracao
do correspondente aspecto, no dependente. Esta pormenorizacao da relacao de de-
pendencia permite mesmo relacionar aspectos do mesmo elemento:
� um representante pode ser simultaneamente dominante e dependente.
A restricao propriamente dita, e uma regra (funcao) que especifica a forma como essa
dependencia se transmite dos aspectos dominantes, para o dependente. Tal como se
indica na figura, sao providenciadas duas operacoes basicas: uma que resolve a restri-
cao, normalmente disparada pela invocacao ou alteracao de um aspecto dominante;
e outra que determina se a coaccao imposta e ou nao violada e com que gravidade.
4.1.4 Caracterısticas comuns
De acordo com as caracterısticas gerais dos mapas cognitivos e com a taxionomia
de base introduzida, foi identificado um conjunto de atributos, comum a todos os ele-
mentos de representacao conceptual. Uma especificacao simplificada da classe que os
inclui, designada por RepConceptual e herdando os mecanismos de tipificacao e refi-
namento antes apresentados, mostra-se no diagrama da figura 4.6. Cada instancia, um
4.1. REPRESENTACAO CONCEPTUAL 111
Figura 4.6: Estrutura comum aos elementos de representacao conceptual.
representante conceptual (tambem referido simplesmente como representante nesta
seccao), faz parte de um unico mapa e abarca dois subconjuntos de atributos: um refe-
rente aos estadios da sua evolucao e outro relativo a sua explanacao, nomeadamente a
opiniao de quem o especificou.
No primeiro subconjunto, o atributo ’ordem de criacao’ regista a sequencia de
criacao dos elementos no mapa. O ’estado’ e usado normalmente no sentido con-
trario, para indicar a sua remocao quando, ainda assim, se lhe pretenda manter o
rasto. Como exemplos, refiram-se os casos da eliminacao de representantes, a sua
inclusao noutros mais abrangentes ou a sua separacao em representantes mais especı-
ficos (veja-se em �2.3.3, as consideracoes tecidas sobre a utilizacao da Analise de Cor-
rentes). Nestes casos, o ’estado’ e constituıdo por uma coleccao de atributos que in-
dicam a situacao corrente do representante e os elementos em que se transformou (ou
de que evolui, no sentido inverso). Estes, em conjunto com a ’ordem de criacao’,
permitem manter a historia de evolucao dos mapas.
Relativamente a representacao das conviccoes do utilizador refira-se a ’importan-
cia’ e a ’confianca’. Ambas constituem uma forma de quantificacao, normalmente
simples, da importancia dada ou da certeza tida por um indivıduo na especificacao
do elemento. Esta quantificacao pode decorrer de uma declaracao verbal difusa (e.g.
muito, pouco, mais ou menos) ou de metodos mais formais, como sejam, no primeiro
caso, um processo de inventariacao e no segundo, a sua classificacao numa dimensao
adequada de uma grelha de repertorio. No mapa da figura 4.1, por exemplo, a largu-
ra traco esta associada ao nıvel de ’importancia’, enquanto que o seu padrao (traco
contınuo ou interrompido) reflecte o grau de ’confianca’. Vejam-se os conceitos e as
associacoes sobre o lado esquerdo da figura, aos quais o negociador atribuiu maior re-
112 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
levancia, e as associacoes a traco interrompido sobre o lado direito (entre os conceitos
13 e 9 e 10), denotando falta de confianca na assercao causal.
4.1.5 Conceitos
Na estrutura relativa aos conceitos, representada pela
Figura 4.7: Estrutura
de um conceito.
classe Conceito (figura 4.7), esta presente uma relacao de
ordem especıfica (’ordem-local’) e uma descricao textu-
al (’descricao’). O primeiro atributo espelha a prima-
zia que estes elementos tem nos mapas cognitivos. Nao e
possıvel tracar um mapa cognitivo sem conceitos e a sua
ordem criacao e vulgarmente usada, de forma directa, nas suas representacoes visuais
(graficas e tabulares). Esta ordem pode manifestar-se independentemente do tipo de
conceito ou reiniciar-se nas instancias de cada classe (e.g. no IBIS poder-se-ia ter: 1o
topico, 2o topico, ..., 1o argumento, 2o argumento,...). A descricao textual, tambem nor-
malmente patente nas representacoes visuais, em particular nas versoes menos formais
dos mapas, constitui uma explicacao, tipicamente curta, do conceito representado. De
acordo com as recomendacoes que decorrem das teorias de Kelly, sera possıvel, naque-
le atributo, incluir a descricao do conceito e o seu oposto.
No mapa cognitivo do negociador (figura 4.1), ambos os atributos estao projec-
tados. O primeiro corresponde ao numero sobre o topo esquerdo da elipse. A
’descricao’ aparece dentro daquela forma geometrica. Note-se ainda que em alguns
conceitos (identificados com os numeros 1, 4, 5, 6, 8) se expoe, na descricao textual, o
oposto como forma de clarificar a sua explicacao.
4.1.6 Contextos
As instancias da classe Contexto tem, primeiramente, o papel de agrupar conceitos.
A associacao (em termos da UML) apresentada no diagrama da figura 4.8, cuja classe
se designou Contextuacao, simboliza esse papel e determina que:
4.1. REPRESENTACAO CONCEPTUAL 113
Figura 4.8: Estrutura dos contextos e relacao com os conceitos.
� um contexto pode agrupar zero ou mais conceitos;
� um conceito pode ser incluıdo em mais do que um contexto.
Impoe ainda uma restricao de existencia, tambem inclusa na nocao de dependencia
antes mencionada, que estabelece que:
� um conceito esta obrigatoriamente incluıdo num contexto.
Note-se ainda, a presenca dos atributos relativos a conviccao do indivıduo, na especi-
ficacao da contextuacao - ’importancia’ e ’confianca’.
A definicao dos contextos, como um caso particular de conceitos (veja-se a
generalizacao no diagrama), tras consigo alguns pontos que e necessario relevar. Em
primeiro lugar, refira-se que a capacidade de serem relacionados por associacoes, se
estende nao so a associacoes entre contextos, mas tambem a sua relacao possıvel com
conceitos simples. Por outro lado, aponte-se que a possibilidade de encadeamento de
contextos, nao toma, obrigatoriamente, uma forma hierarquica estrita:
� um contexto pode ser incluıdo em mais do que um contexto.
Ambos os pontos sao requeridos, parcialmente ou na totalidade, em diversos tipos de
mapa cognitivo, desde as versoes informais, como sera o caso do mapa negocial da fi-
gura 4.1, ate a versoes de redes semanticas, de que sao exemplos os Grafos Conceptuais
(veja-se a representacao visual de uma destas redes na figura 2.15). Refira-se tambem
114 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
a utilizacao corrente da ’descricao’ e da ’ordem local’ nas representacoes visuais
dos contextos - uma e outra patentes no mapa cognitivo do vendedor2.
Relativamente ao impacto da relacao de generalizacao salvaguardem-se dois casos
extremos. O primeiro resulta do facto de que cada contexto, como conceito que e, se
dever incluir obrigatoriamente noutro contexto. O segundo prende-se com a possibili-
dade dos contextos criarem ciclos de contextuacao (i.e. o contexto A, inclui o contexto
B, que por sua vez inclui o A). As situacoes sao resolvidas pela revogacao de uma
restricao e pela imposicao de outras duas, a saber:
� os contextos nao tem que ser obrigatoriamente contextuados, designando-se,
no caso de nao o serem, contextos de topo;
� deve existir pelo menos um contexto de topo, podendo haver mais do que um;
� os contextos nao podem fazer parte de ciclos fechados de contextuacao.
4.1.6.1 Tipificacao e refinamento com contextos
No seu papel de refinar o significado de um grupo de conceitos, os contextos po-
dem incluir um conjunto de propriedades e restricoes, contendo imposicoes de tipo,
que se aplicam aos elementos que agrupam, ao inves de se usarem sobre o proprio
contexto. Esse conjunto e definido no ambito dos mecanismos genericos de refinamen-
to, atras expostos, sendo identificados por um ’qualificador’ especıfico. Em cada
operacao de contextuacao (contextua()) de um conceito, invocada sobre um contexto,
essas propriedades e restricoes sao verificadas (podeContextuar()), duplicadas e minis-
tradas sobre esse conceito. Assim, aquando da tentativa de inclusao de um conceito
num contexto:
� um contexto pode recusar a contextuacao do conceito;
� um contexto pode substituir ou refinar o tipo do conceito;
� um contexto pode definir novas propriedades ou refinar as caracterısticas das
ja existentes no conceito (e.g. alterar o ’qualificador’, atribuir um ’valor’);
2Como curiosidade, note-se que os contextos nao externos (14 e 15) aparecem a posteriori, como refle-xo da estruturacao do pensamento do indivıduo.
4.1. REPRESENTACAO CONCEPTUAL 115
� um contexto pode estabelecer novas restricoes sobre o conceito ou reformular
restricoes antigas.
Tal como se apresenta, a contextuacao de conceitos constitui um dos mecanismos
de propagacao de tipos, propriedades e restricoes, em tudo semelhante a que ocorre
nos de tipificacao definidos no plano da linguagem. O facto de um conceito poder
ser agrupado em mais do que um contexto, levanta, alias, um problema de coerencia
semelhante ao da heranca multipla, ja que as condicoes impostas pelos diversos con-
textos podem ser incompatıveis. A eliminacao das ambiguidades sera feita recorrendo
aos mecanismos de qualificacao (’qualificador’ e ordenacao), disponıveis nas es-
truturas de extensao, e validada na operacao de contextuacao.
4.1.7 Associacoes
Na classe que modela as as-
Figura 4.9: Estrutura das associacoes.
sociacoes, mostrada no diagrama
da figura 4.9, sublinhe-se o atribu-
to de ’orientacao’ e o conjunto de
ligacoes ordenadas. O atributo per-
mite flexibilizar essa ordenacao, in-
dicando se ela e ou nao relevante na representacao, e o seu valor e normalmente deter-
minado pelo tipo especıfico da associacao. Tome-se como exemplo, os refinamentos
desta classe que pretendam representar relacoes causais (neste caso orientadas) ou de
equivalencia (nao orientadas).
O processo de refinamento e particularmente importante no caso das associacoes.
De facto, a grande maioria das linguagens de expressao de mapas cognitivos assenta
sobre o tipo e a semantica das associacoes que oferece. Assim, por exemplo, associa-
coes do tipo Subsuncao (IsA), FazParteDe ou OpostoA estao normalmente pre-
sentes em mapas taxionomicos. Ja nos mapas causais, como sera o caso da figura 4.1,
sao comuns associacoes do tipo Causa, EquivaleA ou, numa assercao mais livre,
RelacionadoCom. Finalmente, nos mapas argumentativos, os tipos das associacoes
estao estritamente ligados com os esquemas adoptados.
116 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
Cada um destes tipos, por sua vez, define caracterısticas e introduz propriedades
e restricoes que lhe sao especıficas. Veja-se o caso da ’orientacao’, antes referido,
ou das regras de ligacao entre conceitos, impostas pelos esquemas de argumentacao,
a traduzir por restricoes. No IBIS, por exemplo, as associacoes do tipo Suporta
so poderao ser tracadas entre posicoes e argumentos, e sempre orientadas nesse
sentido. Nao tao peremptorias (i.e. com ’prioridade’ mais baixa), serao as restri-
coes que apenas encorajam ou desencorajam a existencia de uma nova associacao.
Por exemplo, podem ser desencorajadas, uma relacao de equivalencia, entre conceitos
de categorias diferentes, ou duas relacoes causais com sentidos contrarios, entre os
mesmos conceitos (vejam-se as consideracoes tecidas sobre a Analise de Correntes).
Quanto as propriedades, considere-se o exemplo das relacoes causais, em que pode
surgir a forma (e.g. positiva, negativa, nao positiva) e a amplitude da influencia (por
vezes representada pela importancia).
Relativamente ao enquadramento das associacoes nas estruturas grafo, antes
mencionado e parcialmente patente na multiplicidade atribuıda a nocao designada re-
laciona (na figura 4.9), apontem-se as seguintes imposicoes que dele decorrem:
� as associacoes relacionam dois e so dois representantes;
� nenhum dos extremos de uma associacao pode ser uma associacao.
Estas imposicoes levantam alguns problemas a representacao directa de nocoes pre-
sentes em alguns tipos de mapa cognitivo. Sera o caso das relacoes de ordem superior
a dois (normalmente ternarias) e a existencia de associacoes que terminam noutras
associacoes. O segundo caso surge, por exemplo, no esquema original de Toulmin
(veja-se a figura 4.10) - embora seja contornado nas variacoes definidas posteriormen-
te. Ambas as situacoes surgem em algumas formas de rede semantica, nomeadamente
nos Grafos Conceptuais. No caso do InCoMa, a solucao passa pela nocao de juncao.
4.1.8 Juncoes
A representacao de associacoes de ordem superior a dois sera feita por conjunto
de associacoes binarias (dominantes), combinadas atraves de uma juncao (dependen-
4.1. REPRESENTACAO CONCEPTUAL 117
Figura 4.10: Os elementos de representacao conceptual do esquema de Toulmin.
te). Veja-se o caso da associacao que denota a relacao ’entre’, normalmente usada
como exemplo de uma relacao ternaria e suportada em alguns tipos de rede semantica.
No InCoMa podera ser representada por duas associacoes binarias, que simbolizam
uma relacao de ordem (e.g. MenorQue e MaiorQue), e uma juncao que traduz a sua
conjuncao (e.g. semelhante a definida no mapa do negociador da figura 4.1). No seu
papel complementar, as juncoes dao a possibilidade de estabelecer associacoes entre
associacoes. Neste caso, constituem-se como ancoras, que se vinculam a uma as-
sociacao, de que passarao a depender. Por outro lado, como nos-representante que
sao, podem entao constituir terminos de outras associacoes, que dominarao. Por
exemplo, para a criacao da representacao conceptual do esquema de Toulmin, ex-
posta na figura 4.10, definem-se duas subclasses de Juncao - AncoraDeAbonacao
e AncoraDeRefutacao - cujas restricoes de existencia as fazem depender exclusi-
vamente das associacoes do tipo EntaoPorCerto. Sobre as associacoes do tipo
JaQue e AmenosQue, definem-se restricoes, tambem de existencia, que impoem a sua
terminacao apenas naquele tipo de juncao.
Sobre as juncoes e a sua articulacao com as associacoes deve entao relevar-se o
seguinte (expresso alias no diagrama de classes apresentado na figura 4.11):
� uma associacao pode relacionar juncoes com juncoes ou com conceitos;
� uma juncao combina pelo menos uma associacao, podendo combinar mais do
que uma;
118 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
Figura 4.11: Estrutura das juncoes.
� uma juncao e sempre dependente das associacoes que combina, mas pode ser
dominante de outras (zero ou mais);
� nao existem dependencias directas entre juncoes e conceitos ou contextos.
As dependencias estabelecidas entre as juncoes e as associacoes, particularmente as
que se referem a sua existencia, estao ligadas a relacao combina, mas tambem a relacio-
na e a generalizacao, representadas na figura. Sobre o ciclo formado por estas relacoes,
impoe-se a seguinte condicao, relativa as ligacoes (UML):
� nao podem existir ciclos fechados de dependencia entre juncoes e associacoes.
Finalmente, assinale-se ainda a ausencia de atributos relevantes nas juncoes e nos nos-
representante, que, no primeiro caso, poderao ser introduzidos pelas linguagens es-
pecıficas de representacao.
4.1.9 Taxionomias
A figura 4.12 mostra a hierarquia das classes fundamentais de representacao con-
ceptual providenciadas no nucleo do InCoMa. Para alem das anteriormente descritas
estao patentes a Subsuncao e a AncoraDeTipo, directamente relacionadas com os ma-
pas taxionomicos:
Subsuncoes - sao associacoes, orientadas, que denotam que o conceito ou juncao de
onde partem, e um caso particular do outro no-representante onde terminam.
Sao por vezes designadas relacoes IsA.
4.1. REPRESENTACAO CONCEPTUAL 119
Figura 4.12: Taxionomia dos elementos de representacao conceptual do InCoMa
Ancoras de tipo - sao juncoes que permitem aplicar subsuncoes entre associacoes.
A sua semantica particular, indispensavel a definicao de taxionomias, determina a sua
inclusao no nucleo do sistema.
Em termos praticos, as subsuncoes funcionam de modo semelhante aos contex-
tos: utilizada de um no-representante ’B’, particular, para um no-representante ’A’,
geral, aplica as propriedades e restricoes definidas por ’A’, a ’B’. Como forma de fa-
cilitar a sua utilizacao, as subsuncoes podem ser usadas directamente no modo de
delegacao ou, mais especificamente, no de heranca ou de instanciacao. O modo usado
na subsuncao em conjuncao com os qualificadores especificados para os atributos do
no-representante mais geral, determinam a sua propagacao para o no-representante
particular. As ancoras-de-tipo, por sua vez, canalizam essa propagacao para as asso-
ciacoes em que estao ancoradas.
120 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
4.2 Representacao Visual
Uma vez definido o suporte para a representacao conceptual dos mapas cognitivos,
pode agora especificar-se a aproximacao tomada para alicercar a sua representacao vi-
sual, i.e. para permitir a definicao de notacoes que correspondam as linguagens visuais
que assumem. A este nıvel, as preocupacoes situam-se, essencialmente, em redor dos
aspectos graficos e espaciais e, nao menos importante, da sua articulacao com a cor-
respondente contrapartida conceptual. Neste ponto, alias, e de salientar desde ja que,
para uma dada representacao conceptual, pode sempre existir mais do que uma vi-
sual. Cada uma destas, por sua vez, manifesta normalmente uma linguagem visual
distinta. Por exemplo, para expressar uma taxionomia podem usar-se diagramas de
Venn ou arvores hierarquicas, partindo de uma estrutura de conceitos identica. Por
outro lado, uma argumentacao de acordo com o esquema de Toulmin, pode ser sem-
pre enunciada em qualquer das linguagens visuais que lhe estao associadas (i.e. a
original e as derivadas), obtendo igualmente estruturas de conceitos comuns, a partir
de disposicoes e atributos visuais, eventualmente distintos. E tambem o caso, mais
dıspar, das representacoes graficas dos mapas causais, em forma de diagrama, e das
suas correspondentes matrizes. Esta variedade de existencia e mesmo necessidade de
coexistencia (numa mesma ferramenta) de varias formas de representacao visual de
um mapa, foi exposta ao longo do capıtulo 2.
A figura 4.13 ilustra a multiplicidade de expressoes visuais sobre o mapa causal do
negociador apresentado anteriormente (ja mostrado como uma representacao visual).
No nıvel conceptual (em baixo), simbolizam-se as estruturas correspondentes aos re-
presentantes conceptuais especificados no capıtulo anterior. No nıvel visual (acima)
mostram-se duas representacoes visuais, correspondentes a duas categorias comuns
neste tipo de mapas: em forma de diagrama (a esquerda) e tabular (a direita). A pri-
meira corresponde a anteriormente exibida na figura 4.1, usando elipses, rectangulos,
arcos dirigidos e texto para denotar a informacao inerente aos diferentes tipos de ele-
mentos. Naturalmente, outras representacoes visuais em diagrama sao possıveis (e.g.
os contextos denotados como marcas pictoricas sobre os conceitos, ou diferenciacao
de tipos de conceitos atraves de formas geometricas distintas). A segunda, dispoe os
4.2. REPRESENTACAO VISUAL 121
Figura 4.13: Nıveis de representacao.
numeros de ’ordem local’ dos conceitos sobre a linha e a coluna de cabecalho da
tabela. Os valores da matriz correspondem ao peso da associacao causal (positiva ou
negativa) entre cada par de conceitos simples (que nao sejam tambem contextos). Pelos
desafios que coloca, em termos de interaccao pessoa-maquina, e pela sua divulgacao
nas aplicacoes dos mapas cognitivos, e a primeira categoria de representacoes visuais
que constitui a preocupacao central do trabalho aqui apresentado.
4.2.1 Elementos de base
Os elementos de representacao visual formam uma hierarquia de classes, com al-
gumas caracterısticas semelhantes as apontadas para a representacao conceptual. A
figura 4.14 mostra essa hierarquia. De notar, a utilizacao da classe Representante co-
122 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
Figura 4.14: Hierarquia dos elementos de base para a representacao visual.
mo base de RepVisual, o que tambem proporciona aos elementos visuais, a flexibi-
lidade e as capacidades de refinamento antes mencionadas, e a existencia de classes
distintas, correspondentes aos componentes de diagramas baseados em grafos (i.e. ar-
cos e nos visuais), neste caso como forma de suportar a facil adaptacao de algoritmos
de distribuicao espacial, em grande medida orientados para este tipo de diagramas.
Mencione-se ainda a existencia de uma classe MapaVisual, representativa da expressao
visual dos mapas em que se agregam os seus representantes visuais. Cada um deles
faz parte de um so mapa visual.
Como caracterısticas particulares refira-se, como se deixou antever, que um repre-
sentante visual e, para alem de um representante, uma forma geometrica (e.g. elipse,
conjunto de segmentos de recta), com atributos graficos especıficos (e.g. cores, pa-
droes, tipos de letra) - designam-se genericamente por formas graficas e denotam-se
na figura pela classe FormaGrafica. Relativamente aos outros elementos concretos,
identificaram-se as seguintes categorias de base, em funcao da sua articulacao visual
com os restantes e em consequencia das caracterısticas graficas tipicamente atribuıdas
aos representantes conceptuais, antes introduzidos:
Nos visuais - constituem os elementos de um diagrama, passıveis de serem liga-
4.2. REPRESENTACAO VISUAL 123
dos por arcos visuais. Sao usados na representacao de conceitos e juncoes,
distinguindo-se essencialmente na forma e atributos graficos usados (e.g. tama-
nho) e nas caracterısticas do nıvel conceptual que transparecem na representacao
visual (e.g. para os conceitos e normalmente visıvel a descricao textual especıfica
de cada um, no caso das juncoes e codificado visualmente o seu tipo, comum a
todas as juncoes do mesmo - ’&’ na figura 4.1 do mapa da negociacao).
Arcos visuais - sao formas geometricas definidas entre um ponto de inıcio e um de
fim, estabelecidos por dois nos visuais. Na sua forma mais simples, os arcos visu-
ais sao segmentos de recta ou linhas curvas abertas, sendo tipicamente decoradas
por terminacoes (e.g. setas, cırculos) e acompanhadas por etiquetas (pictoricas ou
textuais), que em conjunto denotam o seu tipo. Este e normalmente decorrente
do tipo da associacao a que o arco visual corresponde. Os nos visuais, entre os
quais se estabelece esse arco visual, constituirao os nos-representante relaciona-
dos pela associacao.
Contentores - sao tambem nos visuais, mas tem a particularidade de definir regioes
delimitadas do espaco, que podem conter outros nos visuais. A sua forma mais
comum (e mais simples de gerir) e a rectangular. Os elementos conceptuais que
lhe correspondem sao os contextos, sendo vinculada a inclusao espacial, de um
no visual na regiao definida pelo contentor, a inclusao conceptual, do devido
conceito (se de conceito se tratar) no respectivo contexto.
Aos contextos, por serem tambem conceitos, e possıvel fazer corresponder nos
visuais simples, que nao admitem outros nos visuais como conteudo. Neste caso os
conceitos agrupados no contexto nao sao representados. Para alem disso, os arcos vi-
suais, correspondentes as associacoes entre os conceitos nao incluıdos e os incluıdos
no contexto, serao desenhados entre as representacoes visuais dos primeiros e o repre-
sentante visual do proprio contexto. Em linguagens visuais especıficas, que permitam
esta atribuicao de nos visuais simples aos contextos, estes podem funcionar como um
mecanismo de suporte a apresentacao por hierarquizacao. Na figura 4.15 mostra-se o
mapa da negociacao, em que os contextos internos foram graficamente representados
por um no visual simples, com uma forma rectangular ovalada.
124 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
Figura 4.15: Forma sinoptica de representacao visual de contextos.
4.2.2 Articulacao com a representacao conceptual
Ao pretender-se separar o nıvel visual da representacao do conceptual, aumentan-
do pois a flexibilidade do sistema, houve que providenciar mecanismos capazes de
manter a coerencia entre cada elemento visual e a sua abstraccao conceptual. Em gran-
de parte, esse mecanismo baseia-se, mais uma vez, nas restricoes e na capacidade de
verificacao e resolucao automatica de desvios as condicionantes por elas impostas. A
figura 4.16 apresenta um modelo simplificado da articulacao entre os representantes
visuais e as suas contrapartidas conceptuais.
A necessidade de coerencia entre representantes manifesta-se primeiramente, em
termos das condicionantes impostas a criacao dos elementos. Em ultima instancia, a
existencia de um representante visual devera estar dependente da criacao do repre-
sentante conceptual que lhe corresponde. Tal como e indicado na figura, esta condicao
traduz-se na multiplicidade da associacao (UML) denota, que estabelece que:
� um representante visual tem obrigatoriamente associado (denota), um repre-
sentante conceptual.
Deste modo, as restricoes impostas, no plano da linguagem ou no plano dos mapas
(por contextos ou taxionomias), a criacao de representantes conceptuais repercutem-
se de imediato nos correspondentes representantes visuais:
4.2. REPRESENTACAO VISUAL 125
Figura 4.16: Traducao de aspectos da representacao conceptual para visual.
� a criacao de um representante visual e condicionada pelas restricoes impostas
a criacao de um representante conceptual;
� se um representante conceptual e eliminado, o correspondente representante
visual tambem o sera.
Se relativamente a criacao, a correspondencia se traduz praticamente de forma
directa, ja em termos da modificacao dos representantes, a situacao e diferente. Es-
ta diferenca resulta da variedade de codificacoes graficas que podem ser estabeleci-
das por diferentes linguagens de representacao visual, ou mesmo pela ausencia de
codificacao. Por exemplo, se numa linguagem visual a espessura do traco (no repre-
sentante visual) traduz a ’importancia’ dada a um elemento (no representante con-
ceptual), noutra linguagem o mesmo atributo grafico pode nao ter correspondencia.
No primeiro caso, a alteracao do traco devera ser condicionada pelas restricoes, do
nıvel conceptual, impostas a alteracao dessa ’importancia’. Mais ainda, qualquer
alteracao deste atributo, devera repercutir-se na espessura do traco do correspondente
representante visual. No segundo caso, as modificacoes sao independentes.
Esta traducao, entre aspectos conceptuais e visuais, tera que ser explıcita, de-
finida no plano da linguagem (ou nos elementos equivalentes do plano dos mapas),
ao nıvel da representacao visual. No sistema proposto, exprime-se na atribuicao de
instancias da classe Traducao (ver figura 4.16), aos representantes visuais. A sua par-
ticularidade, em comparacao com o sistema generico de restricoes, esta em permitir
126 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
apenas como dominante um representante conceptual e como dependente um repre-
sentante visual. Em relacao a sua aplicacao e repercussao pode dizer-se que:
� se um aspecto (tipo, atributo ou operacao) de um representante conceptual
tem uma representacao visual atribuıda (numa linguagem visual), entao o aspec-
to usado no correspondente representante visual tem obrigatoriamente associado
uma traducao, cujo aspecto dominante e o do representante conceptual;
� a alteracao (ou invocacao) de um aspecto de um representante visual nestas
condicoes, obedece as restricoes impostas ao aspecto correspondente do repre-
sentante conceptual;
� a alteracao (ou invocacao) de um aspecto de um representante conceptual
repercutir-se-a no correspondente aspecto do seu representante visual.
Este encadeamento de restricoes ou, no caso, de traducoes e restricoes, e tratado pelos
mecanismos de resolucao de restricoes e, em particular, pelo proposto.
O facto das traducoes poderem ser aplicadas selectivamente, permite definir lin-
guagens visuais focadas sobre facetas particulares dos mapas. Desse modo, podem
funcionar como filtros de apresentacao. As facetas nao apresentadas, podem ser ex-
pressas em linguagens alternativas e coexistentes numa ferramenta, ou usando formas
de interaccao diferentes (e.g. formularios, menus).
No que respeita a remocao de representantes visuais, a situacao e em parte seme-
lhante ao que foi dito para a modificacao. De facto, em geral, a existencia de um repre-
sentante visual nao e obrigatoriamente exigida pela existencia do seu correspondente
abstracto. Quer isto dizer que a sua remocao (do representante visual) nao tera, em
princıpio, restricoes de ordem semantica. No entanto, se uma linguagem visual parti-
cular assim o determinar, entao as restricoes que impoem a existencia do representan-
te conceptual, devem repercutir-se no seu correspondente visual. Na especificacao da
linguagem visual essa determinacao e, na pratica, feita como para a modificacao, com
repercussoes semelhantes:
� se existir uma relacao entre a remocao de representantes visuais e conceptuais,
entao ao aspecto ’remocao’ do visual sera imposta uma restricao, cujo domi-
nante e aspecto ’remocao’ do correspondente representante conceptual.
4.2. REPRESENTACAO VISUAL 127
4.2.3 Mecanismos de tipificacao e refinamento
Os mecanismos de verificacao e resolucao de restricoes sao usados, como se
viu, para a manutencao da coerencia entre as representacoes de ambos os nıveis e,
em particular, para trazer a representacao visual, caracterısticas sintacticas e mesmo
recomendacoes semanticas definidas no nıvel conceptual. Todavia, esses mecanismos
(e em geral os de tipificacao e refinamento dos representantes visuais) nao se confinam
a esse objectivo. Tal como na sua contrapartida conceptual, cada linguagem visual re-
quer, normalmente, a definicao de tipos, propriedades e restricoes especıficos. Estes
podem ser usados em aspectos esteticos ou, no caso das restricoes, na definicao de re-
gras que facilitem a percepcao e analise dos mapas. Por exemplo, podem a este nıvel,
ser definidas restricoes de nao sobreposicao de conceitos, atraves de grelhas ou meca-
nismos de distribuicao espacial, que assim ficam ligados a propria linguagem visual.
Em particular, as restricoes aplicam-se tambem como forma de ajustar as defini-
das ao nıvel conceptual, as caracterısticas espaciais destas linguagens e sao, essen-
cialmente, condicionantes geometricas entre elementos de representacao visual. Por
exemplo, para as restricoes conceptuais associadas ao esquema de Toulmin (men-
cionadas na pagina 117), definiram-se dois tipos de juncao, AncoraDeAbonacao e
AncoraDeRefutacao. Sobre elas impos-se uma restricao que so permite a sua criacao
sobre associacoes do tipo EntaoPorCerto. Visualmente, no entanto, ha ainda que
impor que os nos visuais, correspondentes ao primeiro tipo de juncao, deverao es-
tar geometricamente mais proximos dos que simbolizam os conceitos do tipo Da-
tum. Ao contrario, os correspondentes as instancias de AncoraDeRefutacao dever-
se-ao aproximar das Afirmacoes. Alternativamente poder-se-a definir restricoes
que estabelecam pontos fixos ou distancias relativas. Em qualquer dos casos, essas
condicoes constituem refinamentos a restricao inicial, com o intuito de a adaptar as
caracterısticas particulares da sua expressao visual.
4.2.3.1 Composicao de formas graficas
Ainda relativamente aos mecanismos de refinamento refira-se, tal como se mos-
tra na figura 4.17, a sua utilizacao no ambito da definicao de formas graficas, como
128 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
especializacao de Representante. Esta opcao, permite colmatar a necessidade de com-
por formas geometricas, por vezes complexas e especıficas a cada linguagem visual as-
sociada aos mapas. E particularmente interessante na definicao do comportamento das
formas geometricas compostas, de cada representante visual, em resposta a redefinicao
do seu tamanho.
Como exemplo, tomem-se os proprios
Figura 4.17: Composicao de formas
graficas.
arcos visuais, tal como sao disponibilizados
no InCoMa. A sua forma grafica e consti-
tuıda por uma linha aberta (composta por
segmentos rectos ou curvos), definida entre
dois pontos, de outros tantos nos visuais. A
essa linha podem ser agregados tres ador-
nos: duas formas graficas terminais e uma
equidistante dos extremos. Sendo especifi-
cados, e-lhes imposta uma restricao corres-
pondente, predefinida, que os mantem no local adequado relativamente a linha aberta.
As restricoes propriamente ditas - funcoes - sao relativamente simples. Veja-se o caso
das formas graficas terminais, as quais e imposto que o seu extremo coincida com um
dos extremos da linha aberta. Quando um dos nos visuais e movido, o mecanismo
de resolucao de restricoes e desencadeado na seguinte sequencia: (1) a restricao que
coloca no visual no fim do arco visual e estimulada, tendo normalmente, como con-
sequencia, o redimensionamento do arco; (2) o redimensionamento do arco visual, por
sua vez, desperta as restricoes relativas aos adornos, originando o seu posicionamento
e orientacao, de modo a que as condicionantes geometricas se mantenham.
4.2.4 O factor espacial
Na utilizacao de linguagens visuais como forma de representacao, o factor espa-
cial tem necessariamente um papel fundamental. A utilizacao do posicionamento e
tamanho, absoluto ou relativo, dos representantes visuais permite, nalgumas lingua-
gens, expressar relevancia e mesmo categorizacao (e.g. nos mapas taxionomicos), ou
4.2. REPRESENTACAO VISUAL 129
simplesmente estabelecer condicoes que facilitem a sua percepcao por parte de quem
as usa. Estas caracterısticas, em geral, sao estabelecidas na definicao de cada lingua-
gem visual em particular. No entanto, alguns pontos devem ser analisados em mais
pormenor, tendo em conta as consideracoes tecidas sobre a semantica associada aos
contentores e a sua articulacao com os contextos.
O paralelo tracado entre a inclusao de um conceito num contexto e o encerramento
de um no visual na regiao definida pelo contentor, conduz as seguintes afirmacoes
sobre os conceitos e os nos visuais que os denotam:
� um conceito, representado por um no visual que esteja encerrado na regiao de
um contentor, fica sujeito aos refinamentos de contextuacao definidos pelo contex-
to que esse contentor simboliza;
� um no visual, para alem de reflectir as caracterısticas (traduzidas) do conceito
que representa, obedece as restricoes directamente impostas pelo contentor em
que esta encerrado.
Em geral, como forma de simplificar a explicacao, mas pretendendo veicular as duas
afirmacoes anteriores, dir-se-a que:
� um no visual esta sujeito as restricoes impostas pelo contentor que o encerra.
Se as definicoes anteriores sao claras relativamente aos nos visuais que represen-
tam conceitos (ou mesmo juncoes, em que nao ha uma relacao de dependencia entre
o contentor e o no visual), ja no caso do encadeamento de contentores deve ser es-
clarecida a sua semantica. Nesse sentido, definem-se duas operacoes basicas sobre
os contentores, que determinam a propagacao das restricoes para os nos visuais que
encerram: cooperacao e sobreposicao. A primeira estabelece que:
� numa regiao definida pela interseccao de contentores, formada por coopera-
cao, os nos visuais aı encerrados estao sujeitos as restricoes impostas por todos os
contentores envolvidos.
Esta operacao, alias tomada por omissao aquando da sobreposicao de contentores, re-
sulta da aplicacao directa das definicoes anteriores. De facto, um no visual encerrado
130 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
numa regiao de intercepcao entre contentores, esta encerrado nas regioes de cada um
deles. No caso de haver colisao de restricoes, i.e., restricoes de diferentes contento-
res que se apliquem sobre o mesmo ’aspecto’ do no visual dependente, utiliza-se o
mecanismo normal de refinamento:
� se numa regiao definida pela interseccao de contentores, formada por coopera-
cao, sobrevem restricoes contraditorias, sao aplicadas as dos contentores mais in-
ternos.
Sublinhe-se ainda que, pelo facto de um contentor ser um no visual, tambem ele se
encontra restringido por outros, que eventualmente o encerrem.
A segunda operacao sobre contentores surge como forma de facilitar a gestao das
regioes definidas no espaco e determina que:
� numa regiao definida pela interseccao de dois contentores A e B, formada pela
sobreposicao de B a A, os nos visuais aı encerrados estao sujeitos apenas as restri-
coes impostas por B.
Esta operacao devera ser explicitamente definida entre cada dois contentores, sendo
usada a cooperacao no caso implıcito. A sobreposicao pode ser vista como um ajusta-
mento da regiao definida pelo contentor A, a que e definida por B, i.e., a regiao de A e
retirada a de B. Assim sendo:
� um contentor B que se combine por sobreposicao com um contentor A, no qual
se encerre, nao esta sujeito as restricoes impostas por A (nem o seu contexto agru-
pado no de A).
E de notar que esta independencia se manifesta apenas relativamente ao contentor so-
bre o qual se estabeleceu a sobreposicao, nao se propagando a outros que o contenham.
Na figura 4.18 mostram-se as combinacoes possıveis de encadeamento entre tres
contentores designados por A, B e C. Sobre os rectangulos representativos dos conten-
tores esta indicado o seu nome, seguido da identificacao dos outros contentores, cujas
restricoes se adicionam as suas. Sera o conjunto assim formado, que se aplica aos nos
visuais neles encerrados (e.g. C�b&a� indica que se impoem as restricoes definidas
4.2. REPRESENTACAO VISUAL 131
Figura 4.18: O encadeamento de contentores por cooperacao e sobreposicao.
por C, B e A). As restantes formas denotam nos visuais correspondentes a conceitos3.
No exemplo mostrado, as restricoes impostas por A determinam que os nos visuais
tenham uma forma circular, as coagidas por B implicam uma coloracao acinzentada
(clara) e as de C acrescentam uma pequena marca rectangular aos nos visuais.
Nos paragrafos anteriores focou-se particularmente a forma de propagacao de res-
tricoes, aquando do encadeamento dos contentores, numa situacao em que cada um
e totalmente encerrado na regiao definida por outros. No entanto, e igualmente in-
3A sua aparencia e, em geral, decorrente das restricoes impostas pelos contextos, ao tipo e propri-edades dos conceitos que agrupam. Estes, por sua vez, reflectem-se na forma geometrica, marcas eatributos dos representantes visuais, atraves de traducoes especıficas da linguagem visual,
132 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
teressante a conjuntura em que os contentores se intersectam, mas nenhum fica com-
pletamente envolvido. Neste caso, em primeiro lugar, nao se pode afirmar que exista
inclusao de contentores e, portanto, nenhum dos intervenientes impoe, sobre o outro,
restricoes dela decorrentes (por contextuacao). Por outro lado, tal como foram especi-
ficadas, as operacoes de cooperacao e sobreposicao sao directamente aplicaveis neste
caso. A figura 4.19 mostra algumas das combinacoes possıveis entre os contentores
Figura 4.19: A interseccao parcial de contentores.
apresentados no exemplo anterior, agora sem encerramento de C em B. Note-se que
da combinacao entre esses contentores, resulta uma nova subregiao em que apenas se
manifesta C e nao B, mesmo que em cooperacao. E interessante assinalar ainda, no
exemplo mais a direita, que a combinacao por sobreposicao e reflectida graficamente,
de uma forma quase directa, i.e., escondendo a fronteira de B que se perde sob C.
A questao da sobreposicao de contentores nas regioes fronteira de outros, coloca-
se tambem, de outra forma, sobre os nos visuais nao representativos de juncoes. O
problema neste caso e, sobretudo, estabelecer o limiar a partir do qual se considera
que um no visual esta ou nao, encerrado no contentor. Em geral, no entanto, esta
condicao esta dependente das opcoes tomadas na definicao da linguagem visual. Em
todo o caso, os contentores providenciam uma restricao, que pode ser desactivada ou
refinada, que impede o posicionamento deste tipo de nos visuais sobre a fronteira do
contentor. Assim, tipicamente e se possıvel, os nos visuais incluıdos num contentor,
estao completamente encerrados dentro dos seus contornos. Os nos visuais externos
sao afastados, se necessario, de modo a nao se sobreporem a essa fronteira.
O facto de um conceito poder ser agrupado em mais do que um contexto, levanta
4.3. APRESENTACAO 133
alguns problemas de representacao visual. A utilizacao dos mecanismos de interseccao
de contentores, para a definicao de regioes de cooperacao pode, sem duvida, resolver
alguns desses problemas, tal como e exemplificado nas figuras anteriores. No entan-
to, a disposicao espacial dos contentores nao permite cobrir todas as situacoes ou,
simplesmente, torna a expressao visual da linguagem demasiado obscura, para uma
utilizacao eficaz. Nesse sentido, o sistema proposto oferece a capacidade de associar
varios contentores a um contexto, no mesmo mapa visual. Esta flexibilidade e alias
estendida a qualquer representante conceptual, o que vem de encontro aos requisitos
impostos por algumas representacoes visuais de mapas, anteriormente referidas (e.g.
a linguagem associada ao KDraw). Em conjuncao com o que foi dito sobre as varias
representacoes visuais (mapas visuais) de um mapa definido no nıvel conceptual, pode
dizer-se que:
� um representante conceptual pode ter zero ou mais representantes visuais,
numa representacao visual de um mapa ou em representacoes visuais diferentes.
No diagrama da figura 4.16, a associacao (UML) denota expoe ja essa possibilidade.
4.3 Apresentacao
Na perspectiva da expressao visual dos mapas cognitivos, os objectos de apresenta-
cao tem como finalidade, gerir o espaco disponıvel para o desenho dos diagramas. Sao
eles que, em ultima instancia, promovem a visualizacao e o acesso a sua representacao
grafica, de modo a facilitar o processo de criacao e analise visual. A sua responsabi-
lidade e, entao, concretizar tecnicas de apresentacao adequadas, entre as quais se en-
contram as formas padrao, mencionadas no capıtulo anterior. Distorcao, aproximacao,
coordenacao das areas em foco e ate mesmo formas simples de reorganizacao sao, pois,
operacoes definidas por estes objectos.
As alteracoes introduzidas pelos objectos de apresentacao a aparencia dos ma-
pas, parcialmente definida ao nıvel da representacao visual, nao interferem (ou nao
devem interferir) directamente, com a semantica subjacente a esses mapas, i.e., as
modificacoes da geometria e dos atributos visuais dos representantes visuais, aquando
134 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
Figura 4.20: Os tres nıveis envolvidos na exposicao dos mapas cognitivos.
do seu desenho, nao acarretam novos significados em termos dos seus correspondentes
representantes conceptuais. Naturalmente, esta ausencia de intervencao directa, nao
impede que seja atraves dos objectos de apresentacao, que os utilizadores interagem
com os representantes visuais, os criem e modifiquem e, em consequencia, alterem
os representantes conceptuais. Mais ainda, o papel moderador imputado a estes ob-
jectos, nao obsta tambem a que se possam sobrepor aos mapas, componentes visuais,
tipicamente transitorios, que se destinam, por exemplo, a marcar zonas especıficas (e.g.
areas de foco) ou a identificar subconjuntos de representantes visuais (e.g. marcas de
seleccao), para efeitos de interaccao. Neste sentido, estes objectos de apresentacao,
4.3. APRESENTACAO 135
vulgarmente designados por vistas (views), constituem um subconjunto dos objectos
de interaccao (de que sao outros exemplos as paletas, os menus e as caixas de dialogo),
indispensaveis para a criacao de editores visuais de diagramas ou, no caso vertente,
das expressoes visuais de mapas cognitivos.
Na figura 4.20 mostram-se duas vistas (e uma paleta), enquadradas no nıvel de to-
po. Pelo que foi dito, chamou-se-lhe nıvel de interaccao. A sua articulacao com os de
representacao, antes mencionados, e igualmente ilustrada. E interessante notar que,
tal como acontecia entre as duas perspectivas de representacao, e possıvel (e desejavel)
fazer corresponder mais do que um objecto de apresentacao, a cada representacao visu-
al de um mapa. Esta caracterıstica confere ao sistema a possibilidade de ser usado em
aplicacoes que recorrem a vistas multiplas, cada uma focando aspectos especıficos, e de
providenciar formas de apresentacao que vao de encontro aos requisitos estabelecidos
pela utilizacao de mapas cognitivos. A figura evidencia ainda a utilizacao de paletas,
como forma tıpica de apresentacao das definicoes feitas, nos nıveis de representacao,
no plano da linguagem.
Figura 4.21: Mapa cognitivo de uma negociacao - estrategias de dois vendedores.
Na figura 4.21 apresenta-se uma evolucao do mapa usado como exemplo de base
neste capıtulo. Nela incluiu-se a estrategia adoptada por outro vendedor, numa das
136 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
reproducoes da referida negociacao4. Este mapa, longe de apresentar a visao colectiva
do processo negocial na sua plenitude e portanto, de tomar as dimensoes bastante mais
alargadas desse mapa, providencia ja, pelo acrescimo de complexidade em relacao a fi-
gura 4.1, uma plataforma mais aliciante para a explanacao das tecnicas de apresentacao
que de seguida se abordam.
4.3.1 Tecnicas padrao
Os objectos disponibilizados no InCoMa proporcionam as tecnicas de apresenta-
cao descritas no capıtulo anterior. Em particular, oferecem vistas com possibilidades de
deslizamento e aproximacao, as quais as bibliotecas genericas de objectos de interaccao
dao, normalmente, algum suporte. A figura 4.22 mostra uma simplificacao da estrutu-
ra comum a todas as vistas. A sua articulacao com uma tela, como artefacto generico de
desenho sobre o sistema grafico subjacente, permite nao so concretizar essas operacoes
de deslizamento e aproximacao, como tambem proporcionar mecanismos globais de
distorcao, i.e., distorcoes independentes de cada objecto desenhado. Em qualquer dos
casos, trata-se da definicao de transformacoes entre coordenadas do espaco onde se
define a vista e daquele onde se define a tela5.
Cada vista esta obrigatoriamente associada a um unico mapa visual que, por seu
turno, podera ser mostrado em mais do que uma vista. O acesso aos representantes
visuais sera feito, normalmente, atraves do mapa visual. No entanto, porque algumas
tecnicas de apresentacao definem modificacoes ajustadas a cada objecto em particu-
lar, introduziram-se transformacoes especıficas, sejam elas de foro geometrico ou nao,
que se associam a cada um dos representantes visuais do mapa. A restricao (UML),
parcialmente especificada, entre a associacao mostra, a agregacao (abaixo) e a classe
Transformacao, estabelece que as instancias desta ultima se apliquem apenas a repre-
4Os mapas obtidos nas varias duplicacoes da experiencia, quer a partir das perspectivas dos vende-dores, quer das dos compradores, denotando aproximacoes diversas para abordar o problema, foramintegradas num mapa conjunto. Este, por sua vez, permitiu uma analise comparativa, que visou iden-tificar conceitos comuns e categorias de estrategias, que se enquadram em padroes negociais definidos.A base para a especificacao de mapas cognitivos difusos, que levariam a cabo a simulacao do processonegocial, e igualmente estabelecida a partir deste mapa global.
5A sua pormenorizacao sai do ambito desta dissertacao e pode ser encontrada em diversoscompendios sobre computacao grafica.
4.3. APRESENTACAO 137
Figura 4.22: Estrutura comum aos objectos de apresentacao.
sentantes visuais contidos no mapa visual que a vista mostra.
As transformacoes permitem levar a bom porto a concretizacao de alguns algo-
ritmos de distorcao, por exemplo, do tipo olho de peixe, com alegadas vantagens em
relacao as que distorcem o espaco, sem consideracao pelos elementos mostrados. Por
outro lado, facultam igualmente a possibilidade de materializar algumas tecnicas de
distribuicao espacial, em particular as que ajustam a geometria dos elementos, relati-
vamente a original. Sao exemplo disso, as grelhas de posicionamento ou as tecnicas de
acerto dos caminhos percorridos pelos arcos, de forma a evitar interseccoes. Em si mes-
mo, as transformacoes sao o resultado da aplicacao de algoritmos de ajuste-espacial,
que incluem algumas formas de distorcao e de distribuicao espacial.
Uma vista tem ainda opcionalmente associado um conjunto de filtros e um de for-
mas graficas. Os filtros especificam quais os elementos de representacao, que serao
mostrados atraves da vista, desde que incluıdos na sua area visıvel (no caso das
tecnicas de aproximacao). As formas graficas, doravante referidas como marcadores,
constituem componentes de desenho, para alem dos representantes visuais, que sao
138 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
Figura 4.23: Filtros e componentes graficos adicionais nas vistas de aproximacao.
resultado ou que facilitam o processo de interaccao com o utilizador. Na figura 4.23 po-
dem ver-se duas vistas. Na primeira, a esquerda, um filtro omite os conceitos referentes
as estrategias que nao se enquadrem no contexto de comunicacao (no caso o conceito
identificado com o numero 18, na figura 4.21) e as respectivas associacoes. Em ambas
as vistas sao visıveis marcadores que destacam os representantes visuais em estudo.
Sao constituıdos, como e vulgar neste tipo de componentes visuais, por quatro marcas
que circundam o objecto seleccionado (a esquerda o conceito 21 e a direita a associa-
cao entre os conceitos 13 e 10). Tendo em conta que, em grande numero de situacoes,
os marcadores definidos nas vistas se referem e se devem manter coerentes com os
representantes visuais mostrados, estabelece-se que:
� um marcador pode ser o elemento dependente de restricoes dominadas pelos
representantes visuais mostrados na vista em que se insere.
Esta situacao e alias contemplada pela especificacao parcial das formas graficas, mos-
trada na seccao anterior (ver figura 4.17).
E interessante notar, no conjunto das duas vistas, a dificuldade em seguir as
relacoes causais entre constructos de vistas diferentes. Este contratempo, a ser ultra-
passado para uma analise eficaz de areas focais distantes de um mapa cognitivo, e
devido, em parte, a descontinuidade que se regista na fronteira entre as duas vistas,
em parte, a informacao desnecessaria que nelas e visıvel. De facto, os arcos que termi-
nem em nos nao visıveis (posicionados fora das areas focais das vistas), tendem apenas
4.3. APRESENTACAO 139
a aumentar a complexidade, nao sendo, em geral, relevantes para este tipo de analise.
4.3.2 Articulacao de vistas
Embora as vistas funcionem normalmente de forma separada, o facto e que por
vezes e necessaria a sua articulacao, de forma a estabelecer entre elas relacoes visuais,
perceptıveis para o utilizador. E o caso, por exemplo, da denotacao de areas de foco
em vistas globais, como a que se mostra na figura 4.24. O tamanho e a posicao dos
Figura 4.24: A articulacao entre marcadores de uma vista e as caracterısticas de outras.
marcadores aqui mostrados, sob a forma de rectangulos a traco interrompido, cons-
tituem uma representacao directa das areas visıveis atraves das vistas, ilustradas na
figura anterior. Neste caso, e necessario estabelecer uma relacao de dependencia en-
tre marcadores e vistas. Mais uma vez, utilizam-se os mecanismos de tratamento de
restricoes oferecidos pelo sistema e, em geral, pode dizer-se que:
� um marcador pode ser o elemento dependente de quaisquer vistas, desde que
o mapa visual que estas mostram seja o mesmo.
As vistas adoptam igualmente o mecanismo de resolucao de restricoes do InCoMa.
Uma forma mais elementar de articulacao de vistas, tambem envolvendo os seus
marcadores, e a partilha. Tal como se mostra no modelo da figura 4.22 e tendo em conta
140 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
que os marcadores sao, como se disse, formas graficas dependentes de representantes
visuais, estipula-se que:
� um marcador pode ser usado em mais do que uma vista;
� um marcador so pode ser partilhado, se as vistas que o partilham mostrarem o
mesmo mapa visual.
Este tipo de articulacao permite, de uma forma relativamente directa, que, por exem-
plo, um marcador de seleccao se manifeste em todas as vistas que o partilhem (desde
que o correspondente representante visual esteja presente na area de foco). A figu-
ra 4.25 mostra um marcador de seleccao sobre um arco visual (entre o conceito 21 e a
juncao a direita), que e parcialmente representado nas duas vistas.
Figura 4.25: Partilha de filtros e marcadores entre vistas.
As consideracoes tecidas sobre a partilha de marcadores aplicam-se igualmente
aos filtros e aos algoritmos de ajuste-espacial, significando que:
� um filtro pode ser usado em mais do que uma vista;
� um ajuste-espacial pode ser usado em mais do que uma vista;
� filtros e ajustes-espaciais so podem ser partilhados, se as vistas que o partilham
mostrarem o mesmo mapa visual.
A partilha de filtros, em particular, permite resolver de forma simples, o problema
levantado anteriormente quanto a remocao de informacao desnecessaria no conjunto
4.3. APRESENTACAO 141
de duas (ou mais) vistas. De facto, um dos filtros providenciados no sistema, conduz
a omissao de arcos visuais que nao comecem ou terminem nas areas de foco de um
grupo especificado de vistas. O resultado da sua aplicacao sobre as duas vistas da
figura 4.23 esta tambem patente na figura 4.25.
Apesar da simplificacao derivada da omissao de tres arcos (ou excertos de arcos),
suficiente para algumas situacoes, a quebra das ligacoes na fronteira entre as vistas
mantem-se. Os problemas daqui decorrentes podem mesmo traduzir-se no seguimen-
to de arcos errados. Veja-se o caso dos dois arcos que emergem do conceito 19, que
parecem terminar ambos na juncao ligada ao conceito 10; ou a dificuldade de perceber
em que juncao termina o arco superior que sai do conceito 21. A clarificacao destas
situacoes a partir de solucoes padrao, passa pela inspeccao, por vezes penosa dada a
sua dimensao, duma vista global ou pela seleccao sucessiva de cada arco que se pre-
tende analisar.
4.3.3 Vistas multiplas integradas
Uma solucao completa para o problema apontado, da visualizacao de multiplos
focos de um mapa cognitivo, e providenciada pela tecnica que se designou Vistas
Multiplas Integradas (Carrico & Guimaraes, 1998a). Esta tecnica decorre de uma
articulacao de vistas, mais estreita do que a anteriormente referida, ja que se alarga ao
proprio desenho dos representantes visuais. Em termos genericos, pode dizer-se que
trata os arcos visuais como entidades que se sobrepoem as vistas, i.e., o seu percurso,
entre dois nos visuais, e determinado pela projeccao destes, num espaco definido no
nıvel de interaccao (e nao no de representacao visual), por todas as vistas integradas. O
resultado da aplicacao desta tecnica e mostrado na figura 4.26. De notar, para alem dos
aspectos de filtragem antes mencionados, a continuidade dos arcos visuais na fronteira
entre as duas vistas. Torna-se assim mais facil e sistematico, pelo simples seguimento
dos arcos visuais, encontrar os nos visuais que constituem os seus extremos, quer estes
se encontrem numa vista ou em vistas separadas.
Ao artefacto que disponibiliza esta tecnica chamou-se IMV - acronimo de Integrated
MultiViews. E ela propria uma Vista, na qual se podem definir uma ou mais subvis-
142 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
Figura 4.26: Uma IMV com duas vistas integradas.
tas adjacentes. E a uniao das areas destas subvistas, que define o espaco da IMV, no
nıvel de interaccao. Dado um diagrama, o algoritmo que coordena a apresentacao dos
representantes visuais atraves deste objecto, desenrola-se do seguinte modo:
1. as areas de foco definidas no mapa visual, sao desenhadas no espaco da IMV,
em conformidade com as transformacoes normalmente aplicadas as vistas nao
integradas - constituirao a representacao das subvistas;
2. os nos visuais intersectados pelas areas de foco (no espaco de representacao
visual), sao identificados e desenhados no espaco da IMV, de acordo com as
transformacoes definidas por cada subvista em que se inserem - as subvistas trun-
cam as porcoes dos nos visuais que estao fora das areas de foco (clipping).
3. um conjunto de nos de diagrama, decorrentes da projeccao dos nos visuais antes
identificados sobre as subvistas, e criado (mas nao desenhado) num diagrama
cujo espaco corresponde ao da IMV;
4. os arcos visuais definidos entre os nos visuais antes identificados, sao recriados
entre os nos gerados no ponto anterior (posicionados no espaco da IMV) e dese-
nhados independentemente das subvistas;
O resultado final, apresentado pelo conjunto das subvistas de uma IMV, constitui um
diagrama por si so.
Como vistas que sao, as IMVs sao passıveis de operacoes de deslizamento,
4.3. APRESENTACAO 143
aproximacao, filtragem, etc.. Particularmente interessantes, dado o seu impacto na
coordenacao da analise de multiplos focos, sao as duas primeiras. De facto, estas
operacoes sao refinadas na classe IMV, relativamente as vistas geneticas, de forma a
que, ao serem invocadas, actuem apenas numa das subvistas (a que tiver sido selecci-
onada de antemao). Deslizamento e aproximacao provocam alteracoes na area de foco
(deslocamento e redimensionamento), definida sobre o mapa visual e corresponden-
te a subvista em causa. Os nos visuais patentes na area de foco afectada e todos os
elementos recriados a partir deles e dos respectivos arcos visuais sao redesenhados.
a) subvista inferior seleccionada; b) desliza e afasta sobre o IMV;
Figura 4.27: Deslizamento e aproximacao numa IMV.
A figura 4.27 mostra duas fases, num conjunto formado por uma vista global, com
dois marcadores de area de foco, e uma IMV composta por duas subvistas sobre essas
areas. A situacao inicial e representada a esquerda. Estando seleccionada a subvista
inferior da IMV, e aplicado um deslizamento e uma aproximacao a esse artefacto, que
desloca para a direita e aumenta a area de foco da subvista. A nova localizacao da
area de foco na vista global e o resultado correspondente a apresentacao do diagrama
atraves da IMV e ilustrada a direita.
Uma das situacoes, que e importante ter em consideracao, ocorre aquando da
interseccao das areas de foco. Este caso, igualmente possıvel em vistas independentes
e articuladas, e particularmente pertinente nas IMVs, ja que se relaciona directamente
com o algoritmo de desenho. Quando ha interseccao de duas areas de foco, projectadas
em duas vistas, havera um conjunto de nos visuais que normalmente transparecera em
simultaneo nessas vistas. Entao, tambem os arcos visuais que terminam nesses nos vi-
144 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
suais serao desenhados, resultando em diagramas potencialmente complicados, cuja
complexidade resulta de informacao redundante. Nas IMVs essa redundancia e ain-
da mais visıvel, ja que a projeccao dos arcos visuais atravessara as fronteiras entre as
subvistas - veja-se a figura 4.28 a).
A solucao passa pela introducao de filtros que, podendo ser aplicados as vistas arti-
culadas, sao especialmente adequados para as subvistas de uma IMV, onde funcionam
por omissao. Esses filtros levam em consideracao, mais uma vez, as areas visıveis,
deixando apenas uma das projeccoes dos nos visuais completa, numa das subvistas.
Completa, significa aqui que apresentara os arcos visuais que lhe estao associados. As
restantes projeccoes de um mesmo no visual sao omitidas ou, alternativamente, esba-
tidas. Na figura 4.28 mostra-se, a esquerda, uma vista global, com duas areas de foco
Figura 4.28: Sobreposicao das areas focais das subvistas de uma IMV.
marcadas e ainda a antevisao da nova localizacao da area mais abaixo, apos o deslo-
camento de p1 para p2. Note-se que na posicao p1 existe sobreposicao de areas de
foco, sendo partilhado o no visual sombreado, enquanto na posicao p2, as areas nao se
intersectam. Nas partes a), b) e c) da figura mostra-se uma IMV com duas subvistas,
correspondentes as duas areas de foco referidas. Em a), o filtro descrito foi inibido e em
b), activado. Ambas dizem respeito a situacao indicada por p1. A direita, ilustra-se a
situacao da IMV apos o deslocamento, independentemente do estado do filtro.
Antes de terminar, refira-se um refinamento das IMVs particularmente interessan-
te para alguns tipos de mapa cognitivo. Este resulta da limitacao das areas de desliza-
mento de cada subvista, a regiao definida por um contentor especıfico (ao inves de toda
4.4. ASPECTOS DE CONCRETIZACAO 145
a area do mapa visual). Quando os contentores nao se intersectam, a subvista denota
o contexto (i.e. o representante conceptual homonimo) dos nos visuais que apresenta.
4.4 Aspectos de concretizacao
O objectivo desta seccao e providenciar uma perspectiva global da realizacao do
InCoMa, relativa ao suporte que oferece a expressao visual de mapas cognitivos. O
InCoMa concretizou-se numa biblioteca de classes de programacao, escritas na lingua-
gem C++. Essas classes organizam-se hierarquicamente, formando um conjunto de
subsistemas cuja articulacao se ilustra na figura 4.29. Entre eles inclui-se um conjunto
Figura 4.29: Subsistemas usados na concretizacao do InCoMa.
de classes, que proporcionam a funcionalidade e alguns algoritmos referentes a estru-
turas grafos, desenvolvidos no ambito do EdGar e posteriormente do EdGar++. A
interface de desenho grafico, existente tambem naqueles trabalhos, foi redefinida no
espaco do InCoMa. O objectivo foi oferecer uma solucao mais homogenea e abrangen-
te, para acesso transparente aos recursos de desenho de sistemas de janelas (i.e. dos
seus subsistemas graficos) existentes.
O Crook - acronimo de ContRaint Object Oriented Kernel - e uma biblioteca que por
si so, providencia todos os mecanismos de verificacao e resolucao de restricoes antes
mencionados. Utiliza uma aproximacao de propagacao local (de forma simplista, pro-
paga as alteracoes dos dominantes para os dependentes) e foi concretizado de raiz, no
enquadramento do InCoMa. O sistema permite encadeamentos cıclicos de restricoes e
146 CAPITULO 4. SUPORTE A EXPRESSAO DE MAPAS COGNITIVOS
a resolucao das mesmas por proximidade, com prioridades definidas.
Os subsistemas de Formas Graficas e de Vistas padrao sao evolucoes do trabalho
desenvolvido nas versoes do EdGar. No primeiro caso, e particularmente relevante o
seu ajuste a funcionalidade providenciada pelo Crook, nomeadamente na construcao
de formas graficas compostas. No segundo. o aperfeicoamento resulta, em grande
medida, da sua adaptacao a arquitectura das vistas antes exposta e a sua articulacao
com as formas graficas e os filtros.
Os restantes subsistemas sao especıficos a resolucao dos problemas de represen-
tacao e apresentacao encontrados no estudo dos mapas cognitivos e foram, por isso
mesmo, completamente realizados no ambito do InCoMa.
4.5 Sumario
Neste capıtulo apresentaram-se os conceitos e as classes do sistema proposto,
que constituem a base de suporte a expressao de mapas cognitivos, conforme os re-
quisitos anteriormente estabelecidos. Comecou entao por se abordar a questao da
representacao, primeiro enquanto forma de modelacao conceptual dos diversos tipos
de mapa e, posteriormente, enquanto meio de exprimir notacoes que estabelecem a
sintaxe e das linguagens visuais com que se manifestam. Em todo este tecido deu-se
particular atencao: ao alcance e flexibilidade exigidos, e portanto, a extensibilidade; a
contingencia do objecto de representacao (o pensamento humano); e a capacidade de
manter a coerencia, quer ao nıvel dos conceitos, quer ao nıvel das notacoes, atraves de
coaccoes entre os elementos de representacao, que levem em linha de conta essa mesma
contingencia e extensibilidade. Por ultimo, focou-se o suporte oferecido a apresentacao
daquelas representacoes e, por conseguinte, a facilitacao da edicao e analise visuais dos
mapas. Evidenciaram-se particularmente os aspectos inovadores de gestao do espaco,
proporcionados por objectos de apresentacao, que superaram os problemas patente-
ados pelas solucoes existentes, aquando da sua aplicacao a visualizacao de multiplos
focos de diagramas, baseados em estruturas grafo.
�Suporte a exploracao de
mapas cognitivos
No capıtulo anterior foi proposto um conjunto de conceitos e tecnicas, directamen-
te relacionados com a expressao dos mapas cognitivos. No entanto, uma perspectiva
abrangente, com vista a uma plataforma adequada para o desenvolvimento de fer-
ramentas de trabalho com mapas cognitivos, nao pode, de modo algum, descurar
a componente dinamica do uso das linguagens, particularmente notoria no domınio
em que estas se aplicam (a cognicao humana no ambito organizacional). De fac-
to, na especificacao de um mapa cognitivo os utilizadores embarcam num processo
de construcao e revisao constantes, de ındole fortemente exploratoria (vejam-se as
consideracoes feitas no capıtulo 2).
A exploracao de representacoes visuais, como serao os mapas cognitivos expres-
sos com base no suporte descrito, traduz-se numa interaccao continuada entre o uti-
lizador e os elementos de representacao, especialmente atraves de ou em cooperacao
com os objectos de apresentacao, dentro dos quais sao visıveis. Esta interaccao, em-
bora liderada pelo utilizador, enquadra-se numa coleccao de: imposicoes sintacticas
inerentes as linguagens de representacao; escolhas anteriores do proprio indivıduo;
e recomendacoes semanticas de modelos e conhecimento acumulado por outros. Se
entao se pretender, como advogam os princıpios subjacentes a interaccao pessoa
maquina, veicular ao utilizador indicacoes sobre essas restricoes (i.e. as imposicoes,
as escolhas e as recomendacoes), durante o processo de criacao e revisao dos mapas,
a interaccao toma vestıgios de conversacao, i.e. o utilizador dita e o sistema responde
de imediato com interjeicoes ou pequenas frases demonstrativas de compreensao, con-
cordancia, ... Tendo em conta que aquelas restricoes reflectem frequentemente, como se
viu, posicoes de contingencia, assumindo por isso diferentes graus de coercao, as res-
147
148 CAPITULO 5. SUPORTE A EXPLORACAO DE MAPAS COGNITIVOS
postas do sistema computacional terao que construir-se sobre formas de retorno mais
ricas do que as que simplesmente comunicam proibicao ou permissao peremptorias.
Este capıtulo debrucar-se-a sobre o suporte oferecido para a manipulacao dos
mapas cognitivos e, em especial, para a capacidade de definicao de dialectos de re-
torno, mais expressivos do que os habitualmente disponibilizados. Primeiramente,
clarificam-se as caracterısticas das accoes que o utilizador podera desencadear no sis-
tema, elaborando sobre as diferentes perspectivas com que essas accoes podem ser
vistas e os nıveis e objectos em que se aplicam. Estende-se ainda esse conjunto de ob-
jectos, para alem dos que se relacionam com a representacao e apresentacao, de forma
a alargar o espectro de operacoes que os utilizadores podem executar de forma directa
sobre o sistema. De seguida, descreve-se um modelo que permitira traduzir restricoes e
nocoes gerais de representacao, em formas de comportamento relacionadas com o fac-
tor espacial. E esse modelo de interaccao espacial entre objectos, que proporciona os
alicerces para a construcao de dialectos de retorno com as caracterısticas perseguidas.
Os seus elementos constituintes, particularmente na sua feicao visual, sao entao iden-
tificados, apresentando-se duas versoes exemplificativas. Os dois dialectos propostos,
baseiam-se em outras tantas metaforas e estao especialmente vocacionados para trans-
mitir ao utilizador restricoes definidas com diferentes graus de coercao.
Os conceitos, o modelo e as tecnicas aqui propostos (Carrico & Guimaraes, 1998c;
Carrico & Guimaraes, 1998b; Carrico et al., 1999), materializam-se, em conjunto com
os descritos no capıtulo anterior, na biblioteca InCoMa. No final deste capıtulo, sao
abordados alguns aspectos dessa concretizacao, sendo os modulos que disponibilizam
estas tecnicas, enquadrados no conjunto dos restantes modulos da biblioteca e a sua
relacao com os sistemas que estiveram na sua genese sucintamente referida.
5.1 Accoes do utilizador
Na utilizacao de ferramentas de exploracao e analise de mapas cognitivos, as pes-
soas desencadeiam variadas accoes, cujo resultado vai desde a simples manutencao,
nao influenciando o significado dos mapas ou mesmo o seu aspecto (e.g. salvaguar-
5.1. ACCOES DO UTILIZADOR 149
dar, imprimir), ate as que neles tem repercussoes semanticas, sintacticas ou meramente
esteticas. Independentemente da sua consequencia no sistema, essas accoes revestem-
se de uma forma que pode ser caracterizada pelo grau de directividade (directiveness)
com que sao desencadeadas, i.e. ate que ponto o utilizador actua directamente (ou
assim o percepciona) sobre as representacoes dos mapas ou indirectamente atraves de
estilos de interaccao, como sejam linguagens de comandos, menus, formularios, etc..
Sao as formas de accao mais directa, enquadradas no estilo de manipulacao homonima,
que tomam particular interesse neste trabalho. Estas, sendo extremamente relevantes
como meio de exploracao de especificacoes visuais (veja-se 3.1.4), apresentam-se de
forma embrionaria nas aplicacoes existentes no contexto do trabalho com mapas cog-
nitivos e mesmo da interaccao pessoa-maquina em geral.
5.1.1 Accoes de manipulacao
O tipo de accoes de manipulacao aqui referidas enquadram-se nas que sao vulgar-
mente referidas por arrastamento e largada (drag and drop). De uma forma geral pode
dizer-se que o utilizador tem a percepcao de que agarra (ou cria e agarra) um objecto, o
arrasta, deformando-o ou movendo-o, e o larga, dando nessa altura o aval a execucao
da tarefa que tinha (ou formou) como objectivo. Neste sentido, distinguem-se, as
accoes do utilizador, tal como ele as percepciona enquanto leva a cabo a manipulacao,
e a operacao propriamente dita, que correspondera a modificacao desejada do sistema.
As primeiras dizem respeito a forma da manipulacao (agarrar, arrastar e largar) e estao
totalmente ligadas ao estilo de manipulacao directa, enquanto as operacoes correspon-
derao a sua semantica (copiar, contextuar, mover, etc.), podendo desencadear-se por
outras formas de interaccao (e.g. menus).
Estas accoes de manipulacao podem articular-se com diferentes operacoes, atri-
buindo assim significados diferentes ao mesmo tipo de interaccao e fazendo-se sen-
tir num ou mais nıveis de expressao (apresentados no capıtulo anterior). Por exem-
plo, com impacto apenas ao nıvel da representacao visual, considere-se o ajuste da
disposicao especial dos diagramas, em que accao e operacao se mantem relativamen-
te proximas (e.g. mover nos visuais dentro de um contentor, acomodar a geometria
150 CAPITULO 5. SUPORTE A EXPLORACAO DE MAPAS COGNITIVOS
dos arcos visuais sem alterar os seus terminos). Com repercussoes ao nıvel concep-
tual, refira-se a alteracao do contexto de um conceito (operacao), que na perspectiva
da accao passa por agarrar o no visual correspondente ao segundo, arrasta-lo desde o
contentor representante do contexto ate ao contentor do contexto final e larga-lo. Outra
situacao abonatoria sera aquela em que um dos extremos de um arco visual se agarra,
se arrasta de um contentor para outro e aı se larga, modificando a associacao subja-
cente. Neste sentido estabelece-se que:
� as manipulacoes do tipo arrastamento e largada pode fazer-se corresponder
diferentes operacoes sobre o sistema.
Para alem destas operacoes, intrinsecamente ligadas ao espaco em que os represen-
tantes visuais se inserem, outras sao ainda requeridas durante o processo de criacao
e modificacao dos mapas cognitivos, cuja projeccao nas accoes de manipulacao supra-
citadas e tambem possıvel. Por exemplo, fundir dois ou mais conceitos num so (ou
decompo-los) e uma tarefa comum na exploracao destes mapas (veja-se �2.3.3). Arras-
tar um no visual sobre outro pode ser uma forma de levar a cabo esta operacao. Aqui,
no entanto, o resultado final (a operacao) nao conduz ao deslocamento do no visual
no nıvel da representacao visual, mas sim, por exemplo, a sua remocao, antecedida
pela inclusao do respectivo conceito no conceito do no visual de destino. Assim, pode
dizer-se que, no caso geral:
� as operacoes que se fazem corresponder as manipulacoes do tipo arrastamento
e largada podem nao assumir caracterısticas de posicionamento ou geometria.
Mesmo a criacao de novos representantes pode ser enquadrada nas formas de
manipulacao directa, passando normalmente pelo encadeamento de sequencias in-
completas de accoes de arrastamento e largada. A criacao de uma associacao passa
por uma fase inicial em que se larga um novo exemplar do arco visual correspondente,
junto a um no visual, agarrando de imediato o seu outro extremo e arrastando-o para
um outro no visual em que se soltara. Definir uma juncao que envolva mais do que
uma associacao passara por um processo semelhante (com resultados visıveis distin-
tos). Aponte-se ainda, como exemplo, as accoes comuns de seleccao multipla em que
5.1. ACCOES DO UTILIZADOR 151
um marcador e criado e arrastado, redimensionando-o, por forma a abarcar os repre-
sentantes que se pretende. Formas mais complexas, por exemplo para a definicao de
caminhos nos arcos visuais, sao sempre decomponıveis em sequencias de agarramen-
to, arrastamento e largada, conquanto as operacoes sejam adiadas ate a conclusao da
manipulacao no seu todo. Entao, assenta-se que:
� as manipulacoes do tipo arrastamento e largada podem encadear-se e privar-se
de algumas das suas fases, de modo a levar a bom porto operacoes nao triviais.
Um olhar mais atento sobre a manipulacao pode ainda distinguir as accoes concre-
tas levadas a cabo pelo utilizador sobre os dispositivos fısicos de entrada (e.g. premir
uma tecla, mover o rato) e as accoes percepcionadas antes referidas (agarrar, arras-
tar e largar). Do ponto de vista do sistema computacional as primeiras designar-se-ao
tambem eventos. Poder-se-a dizer que cada uma dessas perspectivas corresponde: ao
que o utilizador faz (sobre os dispositivos); ao que ele percepciona que faz ou vai fazer
sobre o sistema; e ao que o sistema realmente executa.
Se e verdade que os mecanismos apontadores (e.g. rato, caneta de luz), pela sua
capacidade de comunicarem directamente ao sistema movimentacoes no espaco real,
estao normalmente melhor adequados a este tipo de manipulacoes, tambem e certo
que a utilizacao de alternativas pode ser vantajosa. Nomeadamente na exploracao de
mapas cognitivos, em que a escrita de texto (e.g. descricoes dos conceitos) e uma activi-
dade comum e concorrente com o arrastamento e largada, o recurso a um unico dispo-
sitivo (e.g. teclado) ou a varios que nao requeiram o mesmo meio de comunicacao por
parte do utilizador (e.g. manual, vocal), evita as mudancas frequentes exigidas pelas
solucoes mais imediatas. Exemplos possıveis de uso de dispositivos nao apontadores
na execucao de accoes de manipulacao sao: a utilizacao das setas no teclado, precedi-
das por outras indicadoras da operacao e seguidas por uma de conclusao; o recurso a
comandos de voz de natureza espacial (e.g. � ������ , � �� ��� , � �� ��� ,
� ���� , � ����� ). Naturalmente, estas accoes concretas terao que traduzir-se em
posicoes relativas no espaco e, por conseguinte, associar-se-lhes deslocamentos (para o
arrastamento) e formas de acesso a objectos de trabalho (para o agarramento). Assim,
de uma forma geral:
152 CAPITULO 5. SUPORTE A EXPLORACAO DE MAPAS COGNITIVOS
� as manipulacoes do tipo arrastamento e largada podem ser desencadeadas
por varios tipos de dispositivos, em coordenacao ou separados, desde que se lhes
associe caracterısticas espaciais.
5.1.2 Elementos de base na manipulacao
No InCoMa as tres perspectivas de accao anteriormente descritas deram origem a
outras tantas classes que, no seu conjunto, constituem o suporte de base, que permite
Figura 5.1: Estrutura simplificada das classes que sustentam a manipulacao.
gerir a interaccao com o utilizador, segundo uma aproximacao de manipulacao directa.
Essas classes, representadas no diagrama da figura 5.1, correspondem aos seguintes
elementos:
Dispositivos - representam, no sistema computacional, os mecanismos fısicos que os
utilizadores tem disponıveis para actuar sobre o sistema (e.g. rato, teclado, voz).
O seu papel no InCoMa, do ponto de vista das accoes do utilizador sobre o siste-
ma, e uniformizar os diferentes eventos desencadeados pelos dispositivos fısicos
(e.g. botao pressionado, movimento, tecla premida) e traduzi-los de acordo com
o protocolo definido para o tipo de manipulacoes em causa (cuja gestao esta a
cargo dos manipuladores). Nesse sentido, e ao nıvel dos dispositivos, que se es-
tabelece a traducao entre os eventos, as accoes de manipulacao percepcionadas
e, eventualmente, as operacoes que lhe irao corresponder (e.g. botao esquerdo
premido corresponde a um inıcio de manipulacao para a operacao correntemente
5.1. ACCOES DO UTILIZADOR 153
seleccionada). A classe Dispositivo e uma classe abstracta, refinada posteriormen-
te para dispositivos especıficos (na concretizacao corrente: teclado e rato), tendo
em conta as particularidades de cada um.
Manipuladores - simbolizam as accoes percepcionadas e, nesse sentido, sao os res-
ponsaveis por gerir cada accao de manipulacao, identificando e coordenando as
relacoes espaciais dos objectos de representacao visual e de apresentacao envol-
vidos, de acordo com a operacao em processamento. Sao os manipuladores que,
com base naquela coordenacao, comandam a composicao das respostas, segundo
dialectos de retorno especıficos.
Independentemente dos dispositivos ou das operacoes a realizar as tres fa-
ses distintas das accoes de manipulacao, materializam-se nas operacoes (UML)
definidas na classe:
� na fase inicial (’agarra’) e estabelecido o objecto ou objectos que serao ma-
nipulados de novo ou em continuacao da manipulacao anterior;
� na fase intermedia (’arrasta’) e sucessivamente definido um conjunto de
pontos (ou deslocamentos), atraves do qual os objectos manipulados se mo-
vem, moldam e interagem com outros que se encontram no mesmo espaco
de manipulacao;
� na fase final (’larga’), em que o utilizador da por terminada a manipula-
cao, procede-se a execucao da operacao propriamente dita ou suspende-se
ate ser completada numa sequencia seguinte.
Tratando-se de manipulacao directa de objectos visuais, estas fases estao in-
trinsecamente ligadas a posicoes ou deslocamentos no espaco. Ao preencher es-
tes requisitos do protocolo estabelecido nos manipuladores, os dispositivos nao
apontadores partem de posicoes anteriores (e.g. do centro do objecto selecciona-
do) e de deslocamentos predefinidos e associados a eventos especıficos (e.g. tecla
�� corresponde a �������� e em conjuncao com � ���� a ��������). A
’forca’, na fase de arrastamento, denota a intencionalidade da accao do utiliza-
dor e, a menos que se usem dispositivos fısicos com reaccao incorporada, a sua
intensidade e simulada, como no caso anterior, por combinacoes de eventos.
154 CAPITULO 5. SUPORTE A EXPLORACAO DE MAPAS COGNITIVOS
Operacoes - representam as accoes de caracter permanente (mas possivelmente re-
versıveis), que se processam no sistema (e.g. duplicacao de um objecto, criacao,
remocao). Nesse sentido, agregam e coordenam as caracterısticas semanticas das
manipulacoes, constituindo os objectivos finais das mesmas. Sao eles que se
articulam com os representantes de ambos os nıveis e com as vistas, agora no
que respeita as restricoes sobre eles definidas (e nao as caracterısticas espaciais),
para os questionarem sobre a viabilidade das operacoes e determinarem a sua
execucao. Tal como para os dispositivos, a especificidade de cada operacao, cuja
execucao depende inclusive do tipo de objectos envolvidos (e.g. dois conceitos,
um conceito e um contexto), deixa uma versao abstracta desta classe, refinada
depois para a criacao de representantes, a sua contextuacao, fusao, operacoes
combinadas, etc.. E igualmente nas operacoes que e possıvel concretizar funcoes
inversas de cancelamento semantico (undo).
5.1.3 Nıveis de manipulacao
Tendo em conta o papel das vistas no contexto do InCoMa, as accoes de manipula-
cao directa, atras mencionadas, desencadeiam-se sobre ou atraves desses objectos de
apresentacao. Distinguem-se dois nıveis de manipulacao sobre as vistas:
Manipulacoes externas - dizem respeito as accoes do utilizador de que resulta o
ajustamento da apresentacao. Sao exemplos, as que originam deslizamento,
aproximacao ou o ajuste da geometria das vistas. Este tipo de manipulacao, em-
bora possa efectivar-se sobre objectos de interaccao exteriores a vista (e.g. menus
e barras de deslocamento), pode tambem desencadear-se directamente sobre o
espaco que a vista define ou sobre alguns dos seus componentes. O caso das IMVs
e em particular das subvistas e abonatorio desta situacao. O ajuste do tamanho
e da localizacao destas ultimas sera um exemplo em que accoes de manipulacao
directa, externa, e adequada.
Estas manipulacoes sao percebidas pelo utilizador como sendo executadas no
nıvel de interaccao em que e definida a propria vista (veja-se �4.3 e a figura 4.20).
Como tal, reflectem-se apenas no objecto de apresentacao em causa: o ajuste de
5.1. ACCOES DO UTILIZADOR 155
uma subvista nao altera a geometria ou o conteudo de representacao, de vistas
ou subvistas de objectos de apresentacao que nao sejam aquele em que se insere.
Manipulacoes internas - correspondem as accoes do utilizador que tem repercussoes
no espaco de representacao visual dos mapas. Sao exemplos, as que resul-
tam na disposicao espacial dos representantes visuais, na sua criacao, remocao,
contextuacao de conceitos, definicao ou ajuste de associacoes, juncoes, etc..
Tambem se incluem nesta categoria, as accoes directamente aplicadas sobre mar-
cadores, particularmente naqueles que tenham relacoes de dependencia com
representantes visuais. De facto, a manipulacao desses marcadores e tipi-
camente transformada em alteracoes sobre representantes de que dependem
(e.g. redimensionamento). As accoes de que decorre a criacao de marcadores
(seleccoes) ou a manipulacao daqueles que nao dependem de representantes vi-
suais, nao alterando a especificacao de um mapa, manifestam-se no seu espaco
de representacao. Assim a estas, chamou-se-lhes manipulacoes internas super-
ficiais, as anteriores, manipulacoes internas profundas.
As manipulacoes internas, sejam elas sobre representantes visuais ou mar-
cadores, superficiais ou profundas, sao percepcionadas sempre ao nıvel da
representacao visual, i.e. o utilizador ve a sua accao como sendo desencadeada
sobre o mapa visual e nao sobre o objecto que o apresenta. No entanto, relativa-
mente as operacoes que delas resultam, existem diferencas acentuadas. De facto,
as operacoes desencadeadas por manipulacoes profundas, propagam-se sempre
em todas as vistas da mesma representacao visual e provocam alteracoes, pelo
menos, a este nıvel (eventualmente tambem ao nıvel conceptual). Ja os resulta-
dos das manipulacoes superficiais podem circunscrever-se apenas a vista em que
foram realizadas ou, no caso de marcadores partilhados, a todas as vistas que os
partilhem.
5.1.4 Espacos de manipulacao
Enquanto que as manipulacoes externas se desenrolam somente ao nıvel de
interaccao e, por conseguinte no espaco aı assente, ja nas manipulacoes internas po-
156 CAPITULO 5. SUPORTE A EXPLORACAO DE MAPAS COGNITIVOS
derao estar envolvidos objectos definidos em nıveis distintos de expressao visual e,
potencialmente, em diferentes espacos geometricos. Tal e o caso, ja mencionado, da
manipulacao de marcadores dependentes ou dos representantes visuais que os do-
minam. Esta dependencia, normalmente peremptoria, e resolvida de forma simples,
fazendo com que o marcador acompanhe, na posicao ou tamanho, o seu dominan-
te. No entanto, outras situacoes distintas sao igualmente dignas de registo. Podem
apontar-se, por exemplo, as interaccoes entre os representantes visuais e os limites das
vistas pelas quais se veem. De facto, se na manipulacao de um representante visual
este atinge o limite da vista em que se esta a desencadear a accao, diferentes resolucoes
podem ser presenteadas ao utilizador, e.g. remocao do representante visual, cancela-
mento ou congelamento da accao, continuacao pelo seu espaco (invisıvel e subjacente)
de representacao visual.
Particularmente interessante no caso das solucoes de apresentacao propostas neste
trabalho, situa-se a interaccao de representantes visuais, ou mais exactamente de nos
visuais, com as subvistas de uma IMV. Esta circunstancia, de certo modo equiparavel
as proprias fronteiras da vista, requer um tratamento coerente com os preceitos defini-
dos para as subvistas. Ja que o espaco parece correr continuamente entre elas do ponto
de vista da apresentacao dos arcos visuais, entao uma manipulacao que transponha
a sua fronteira, devera assentar num pressuposto de espaco aparentemente comum.
Naturalmente, esta situacao tera que ser conjugada com a existencia de contextos, po-
tencialmente diferentes entre subvistas, e as restricoes por estes definidas. Neste caso,
uma subvista comportar-se-a (ou devera comportar-se) relativamente a um no visual
representante de um conceito, como um contentor se comportaria, no espaco definido
ao nıvel da representacao visual. Esta cumplicidade entre subvistas e contentores e
ainda mais forte no caso das IMVs em que cada subvista se confina a um contentor.
Por tudo isto e admitindo ainda a interaccao com outros componentes de uma
vista que se manifestem de forma grafica, e definido um espaco de manipulacao (vir-
tual), que de facto resulta da fusao dos respectivos espacos envolvidos (ver figura 5.2).
Designou-se por espaco de manipulacao interna e e especıfico a cada vista. Nele
encontram-se projectados os representantes visuais que se vem atraves dela, transfor-
mados de acordo com as caracterısticas especificadas na vista, e todos os componentes
5.1. ACCOES DO UTILIZADOR 157
Figura 5.2: O espaco de manipulacao interna.
graficos dessa vista.
Doravante, a designacao objecto de manipulacao ou simplesmente objecto, apli-
car-se-a indistintamente as entidades representadas neste espaco, aquando de mani-
pulacoes internas, ou as entidades definidas no nıvel de interaccao e em particular aos
componentes das vistas, no caso de manipulacoes externas. E da responsabilidade das
vistas a conversao entre espacos, seja de areas ou de pontos, e, em geral, a resposta a
questoes que se prendam com as transformacoes nelas definidas. Nesse sentido, dis-
positivos e manipuladores articulam-se com as vistas para obterem a informacao que
necessitam sobre coordenadas e sobre os objectos que potencialmente se encontram no
caminho definido por cada manipulacao. A figura 5.3 mostra um diagrama de classes
que denota essa articulacao. Note-se que alguns dispositivos, pelas suas caracterısticas
de localizacao (apontadores), determinarao a vista corrente com que cada manipulacao
se ira coordenar, ao passo que outros usarao seleccoes anteriores.
5.1.5 Objectos operadores
A manipulacao directa dos representantes visuais, atraves das respectivas vistas,
permite, como se disse, a partir da sua movimentacao no espaco, desencadear diversos
tipos de operacoes (e.g. contextuacao, associacao, fusao), que resultam da interaccao
158 CAPITULO 5. SUPORTE A EXPLORACAO DE MAPAS COGNITIVOS
Figura 5.3: Articulacao entre vistas e elementos de manipulacao.
entre eles. Com o objectivo de flexibilizar o numero e tipo de operacoes disponibili-
zadas, as vistas providenciadas no InCoMa, oferecem ainda a possibilidade de incluir
objectos (seus componentes) com a capacidade de, por interaccao com os representan-
tes visuais, executar outras funcoes que facilitem a criacao dos mapas. Designam-se
objectos operadores e, tal como as subvistas, sao definidos no nıvel de interaccao, in-
teragindo com os representantes visuais, no espaco de manipulacao interna. Por outro
lado, sao tambem passıveis de manipulacoes externas que os ajustem geometricamente
nas vistas em que se inserem. Sao tambem objectos de manipulacao.
A figura 5.4 mostra objectos pertencentes a duas classes oferecidas, a saber: Des-
trutor e Teleporte.
Destrutores sao regioes fechadas cuja interaccao com os representantes visuais e em
particular com os nos visuais, desencadeia a operacao de remocao dos segun-
dos. Assim, um representante visual arrastado e largado na area definida por
um destrutor, sera eliminado (grosso modo, corresponde aos caixotes do lixo nos
ambientes de janelas). Na figura, no nıvel de interaccao, e mostrado um destrutor,
assinalado com uma cruz, na base das subvistas.
Teleportes sao tambem regioes fechadas que representam canais de comunicacao pa-
5.1. ACCOES DO UTILIZADOR 159
Figura 5.4: Objectos operadores e espacos de manipulacao.
ra contentores, usualmente os nao adjacentes. Note-se que estes objectos opera-
dores nao sao vistas ou subvistas, ja que nao apresentam representantes visuais
no seu interior. Ao inves, os nos visuais arrastados e largados no seu interior,
entrarao de facto, no contentor de destino.
Na figura, estao representados dois teleportes, decorados com uma pequena
porta, na base exterior das subvistas laterais da IMV. O teleporte do lado esquer-
do comunica com um contentor, denominado C, apresentado pela subvista do
lado direito, enquanto o contentor A, visıvel atraves da subvista do lado esquer-
do, e o destino do teleporte do lado direito. Deste modo, as manipulacoes que
pretendam transitar nos visuais de um contentor para outro, exibidos em subvis-
tas nao adjacentes, poderao evitar a passagem por outras subvistas e contentores
que se encontrem de permeio.
E importante ressalvar que os destrutores e teleportes nao se aplicam em exclusivo
as IMVs. Nas vistas simples, os primeiros assumirao o seu papel normal, enquanto os
segundos oferecerao uma forma simples de contextuacao, para contextos ou contento-
160 CAPITULO 5. SUPORTE A EXPLORACAO DE MAPAS COGNITIVOS
res que, em determinada conjuntura, nao sejam interessantes de visualizar, mantendo-
se ainda assim distantes no espaco de representacao visual. Tal como as subvistas, os
destrutores e os teleportes formam um subconjunto de formas graficas associadas as
vistas definidas no espaco de interaccao e, por conseguinte, com caracterısticas espaci-
ais distintas dos marcadores.
5.2 Interaccao entre objectos
O modelo aqui descrito foi concebido com o objectivo de estabelecer uma plata-
forma comum de interaccao espacial entre os representantes visuais e entre estes e os
objectos de interaccao com eles relacionados, de modo a promover a construcao de dia-
lectos de retorno adequados a formas de comunicacao mais elaboradas. Neste modelo
define-se um conjunto de areas em torno de cada objecto, que estabelecem os pon-
tos de inıcio e fim da interaccao entre eles, aquando da sua manipulacao. Essas areas
articulam-se em torno das nocoes de dependencia mencionadas no capıtulo anterior,
em particular as de dependencia existencial, traduzindo graus de coercao em carac-
terısticas espaciais. Tendo em conta o comportamento que no modelo se delineou para
os objectos dominantes ou potencialmente dominantes chamou-se-lhe modelo paren-
tal. De uma maneira geral, pode dizer-se que estes objectos resistem as manipulacoes
que tendem a libertar os seus dependentes e aquelas que tencionam imputar-lhes no-
vos dependentes.
5.2.1 Campos de interaccao
A figura 5.5 representa os campos definidos por cada objecto, que se manifestam
durante as diferentes fases da sua manipulacao e, em particular, da sua interaccao
com outros. O rectangulo ovalado denota um objecto e as curvas fechadas, com
varios padroes de traco interrompido, simbolizam os limites dos diferentes campos.
Identificam-se tres: o de rejeicao, o de retencao e o de actividade.
5.2. INTERACCAO ENTRE OBJECTOS 161
a) Campo de rejeicao b) Campo de retencao
c) Campo de actividade
Figura 5.5: Campos de rejeicao, de retencao e de actividade no modelo paternal.
O campo de rejeicao e uma regiao do espaco em que um objecto resiste ao desencade-
ar de uma accao, que resulta da sua interaccao com outro, com o qual nao existe
relacao de dependencia. Dir-se-a, neste caso, que se trata de objectos estranhos
ou independentes. Em cada ponto do campo e definida uma forca, a forca de
rejeicao, e duas linhas de fronteira, mostrados em 5.5a. A fronteira exterior, a
partir da qual se aplicara a forca, chamou-se limiar de rejeicao e a outra limi-
ar de aceitacao, ja que a partir dela a forca deixa de se fazer sentir. A forca de
rejeicao e normalmente dirigida do limiar de aceitacao para o de rejeicao.
O campo de retencao e uma regiao do espaco, em que um objecto dominante se opoe
ao desencadeamento de uma accao, que deriva da sua interaccao com um ob-
jecto dependente - as nocoes de dominante e dependente sao as anteriormente
introduzidas. Tal como denota a figura 5.5b, e definida uma forca de retencao,
um limiar de retencao e um limiar de cedencia. O primeiro limiar determina a
regiao a partir do qual se fara sentir a forca de retencao, enquanto que, uma vez
atingido o segundo, a interaccao entre os dois objectos se deixa de fazer sentir. A
162 CAPITULO 5. SUPORTE A EXPLORACAO DE MAPAS COGNITIVOS
forca e normalmente dirigida do limiar de cedencia para o de retencao.
Utilizar-se-a a designacao campo de resistencia para referir indistintamente os campos
de rejeicao e retencao e forca de resistencia para as respectivas forcas. Ao limiar de
aceitacao ou cedencia dar-se-a o nome comum de limiar de aprovacao.
O campo de actividade e a regiao do espaco em que um objecto impoe a sua presenca
a outro. Tal como se mostra em 5.5c, e delimitado pelo limiar de actividade. E
a interseccao do campo de actividade de um objecto com o campo de resistencia
de outro, que determina a aplicacao das forcas atras referidas. Dir-se-a entao que
os campos, a forca de resistencia e os limiares envolvidos foram activados.
No ambito do campo de actividade e ainda definido o limiar de execucao. E
quando este se intersecta com o limiar de aprovacao de outro objecto, que a fase
final da accao se pode desencadear, de modo a que a operacao subjacente seja
executada. Afirma-se nestes casos, que o campo de resistencia foi ultrapassa-
do e que os limiares de aprovacao e execucao foram activados. Note-se que os
campos de resistencia so sao ultrapassados se forem previamente activados no
decurso de uma manipulacao.
Todos os campos e limiares podem ser inibidos, estando normalmente despertos.
E apenas neste ultimo estado que poderao passar a situacao de activado.
5.2.2 Activacao dos campos
Uma das accoes, vulgar no processo de exploracao dos mapas, que pode ilustrar de
forma simples a utilizacao dos diversos campos acima descritos, e a que transforma um
objecto estranho num objecto dependente. Na figura 5.6 mostra-se essa manipulacao,
no caso com o objectivo de tornar o objecto menor, inicialmente estranho, dependente
do maior. Os objectos e respectivos campos sao representados como na figura anterior.
Como forma de simplificacao, sao omitidos os campos nao directamente envolvidos,
nomeadamente, o campo de actividade do objecto maior, o de rejeicao do menor e o
de retencao de ambos. As linhas referentes aos limiares dos campos envolvidos sao
acentuadas apenas quando desencadeiam mudancas de estado.
5.2. INTERACCAO ENTRE OBJECTOS 163
a) objectos estranhos b) lim. de rejeicao activado c) lim. de rejeicao ultrapassado
Figura 5.6: Interaccao entre objectos independentes.
Em a) os objectos estao afastados e nao ha interseccao entre campos, nao havendo,
portanto, qualquer interaccao entre eles. Ao deslocar-se o objecto menor na direccao do
maior atinge-se a situacao denotada na parte b) da figura. Aqui, o limiar de actividade
do primeiro intersecta-se com o limiar de rejeicao do segundo. A partir deste ponto,
o deslocamento do objecto menor, no mesmo sentido, estara sujeito a forca de rejeicao
(normalmente de sentido contrario) definida pelo objecto maior. A manipulacao que
tem como alvo tornar o objecto dependente, sera assim contrariada. Uma vez que os
limiares de execucao e de aceitacao dos dois objectos se intersecta, em c), a forca deixa
de se fazer sentir e o objecto menor podera tornar-se dependente do maior.
a) obj. menor dependente b) lim. de retencao activado c) lim. de retencao ultrapassado
Figura 5.7: Interaccao entre objectos dependentes.
Na figura 5.7 mostram-se tres passos de uma manipulacao em que um objecto de-
pendente e arrastado de forma a tornar-se independente. A situacao de partida e aque-
la em que ficaram os objectos, apos consumada a operacao cuja manipulacao se ilustrou
na figura anterior, i.e. o objecto menor dependente do maior. Em 5.7a esta representa-
164 CAPITULO 5. SUPORTE A EXPLORACAO DE MAPAS COGNITIVOS
do esse caso, agora denotando os limites do campo de retencao do objecto dominante.
Assim que o limiar de actividade do dependente toca o limiar de retencao do objecto
maior, em b), da-se inıcio a aplicacao da forca de retencao, resistente as accoes em cur-
so. Na terceira parte da figura o limiar de execucao intersecta-se com o de cedencia do
dominante e o objecto menor pode entao tornar-se independente daquele.
5.2.3 Activacoes mutuas
Relativamente a activacao dos diferentes limiares, e pertinente dar-se alguma
atencao as situacoes em que mais do que dois campos estao envolvidos na interaccao.
Refira-se, em particular, o caso em que a presenca de dois objectos se faz sentir mutua-
mente. Esta conjuntura ocorre apenas para objectos independentes e inicia-se quando
o campo de actividade de cada um dos objectos envolvidos, se intersecta com o campo
de rejeicao do outro. Neste caso, aplicam-se as forcas de rejeicao de ambos, podendo
portanto, dificultar ainda mais a aproximacao dos objectos. A situacao e representa-
da na figura 5.8a, mostrando-se a zona de interseccao entre os campos referidos com
a) campos de rejeicao activados b) ambas as accoes se podem executar
Figura 5.8: Activacao mutua dos campos de rejeicao de objectos independentes.
um tom mais escuro. Estao tambem patentes os quatro limiares que, em cada objecto
delimitam os campos de actividade e rejeicao. A activacao desses limiares e igual-
mente mostrada como anteriormente. Continuando o deslocamento relativo dos dois
objectos, e entao possıvel atingir-se o estado denotado em b), onde, para simplificar,
foram omitidas as representacoes dos limiares de actividade e rejeicao. Neste caso,
5.2. INTERACCAO ENTRE OBJECTOS 165
os campos de rejeicao foram ultrapassados e pode, por isso, executar-se a operacao
associada a manipulacao em curso, sobre cada um dos objectos (essa aprovacao foi
simbolizada, no exemplo, pelas vozes musicais que emanam de cada objecto). Em ge-
ral, relativamente a articulacao entre os campos de actividade e rejeicao de um objecto,
estabelece-se como funcionamento por omissao que:
� o campo de actividade de um objecto pode estar desperto, mesmo nas situacoes
que o seu campo de rejeicao esteja activado ou tenha sido ultrapassado, dizendo-se
assim que o objecto tem um campo de actividade permanente.
No entanto, a situacao de activacao mutua pode ser evitada (e e-o normal-
mente), atraves de uma administracao adequada dos campos de actividade. Essa
administracao passa por deixar desperto apenas um dos campos de actividade dos ob-
jectos envolvidos, ficando inibidos todos os restantes. A ocasiao em que os campos de
actividade sao despertos ou inibidos, determina comportamentos distintos, que levam
a situacoes de interaccao com o utilizador potencialmente diferenciadas. Definem-se
assim tres outros modos de comportamento dos campos de actividade, a saber:
� o campo de actividade de um objecto, normalmente desperto, pode passar a
inibido, quando o seu campo de rejeicao for ultrapassado, dizendo-se neste caso,
que o objecto tem um campo de actividade inibido por execucao;
� o campo de actividade de um objecto, normalmente desperto, pode passar a
inibido, apos o seu campo de rejeicao ser activado, dizendo-se entao que e um
campo de actividade inibido por rejeicao;
� o campo de actividade de um objecto pode estar normalmente inibido, passando
a desperto apenas quando ele e um dos objectos manipulados, dizendo-se nesta
situacao, que e um campo de actividade desperto por manipulacao.
E interessante notar que, nos dois ultimos casos, nunca se fazem sentir em si-
multaneo as forcas de rejeicao de dois objectos que interajam mutuamente. Por outro
lado, os campos de actividade despertos por manipulacao, quando definidos global-
mente para todos os objectos, permitem simplificar sobremaneira a gestao do seu com-
portamento e tornar bastante mais clara a interaccao com o utilizador: o objecto que
este manipula e o unico que tem o campo de actividade desperto.
166 CAPITULO 5. SUPORTE A EXPLORACAO DE MAPAS COGNITIVOS
5.2.4 Activacoes multiplas
A gestao do estado de inibicao dos campos de actividade permite resolver, de for-
ma simples, as situacoes causadas pela interaccao mutua. No entanto, a activacao de
varios campos de resistencia, pode ocorrer noutros casos, nomeadamente quando ha
mais do que dois objectos envolvidos, o que alias e uma circunstancia comum. Con-
siderando, primeiramente, os campos de rejeicao, definem-se tres tipos de comporta-
mento, agora relativo a sua articulacao com os campos de rejeicao de outros objectos:
� um campo de rejeicao que nao interfira com a activacao dos restantes, designa-
se campo de rejeicao indiferente;
� um campo de rejeicao, uma vez ultrapassado, pode impedir a activacao dos
limiares de aceitacao dos outros, impondo-lhes o estado inibido - designar-se-a
campo de rejeicao absorvente;
� um campo de rejeicao, uma vez activado, pode evitar a activacao dos restantes,
impondo-lhes o estado inibido - diz-se que e um campo de rejeicao inibidor.
Em geral, a adequacao dos diferentes comportamentos dos campos de rejeicao a
cada situacao, esta fortemente ligada a operacao em jogo e a forma como evolui a
manipulacao que lhe da origem. De facto, havera casos em que um campo indiferente
e aceitavel, ja que a operacao desencadeada nos varios objectos resistentes, se pode
repetir em todos. Sera, por exemplo, o caso em que se contextua um conceito em
contextos encadeados por cooperacao. Outros ocorrerao, em que a accao desencadeada
por um deles impossibilitara a sua execucao nos outros (e.g. remocao do objecto).
Adequam-se, nesta circunstancia, as outras versoes.
No caso dos campos de retencao a eventualidade de conflito esta tambem latente,
nao tanto pela sua activacao multipla, mas sobretudo pela possibilidade de activacao
de campos de rejeicao, que contrariem as dependencias a que um campo de reten-
cao se refere. Assim sendo, estabelece-se uma supremacia dos campos de retencao,
cuja finalidade e indicar que um objecto devera libertar-se, parcial ou totalmente, da
dependencia corrente, para empreender interaccoes com objectos estranhos. Assim
definem-se os seguintes comportamentos, relativos a articulacao dos campos de reten-
cao de um dominante, com os de rejeicao de outros:
5.2. INTERACCAO ENTRE OBJECTOS 167
� um objecto dependente pode proceder a activacao de quaisquer campos de
resistencia em seu redor, independentemente do estado do campo de retencao dos
seus dominantes - diz-se, neste caso, que os dominantes tem campos de retencao
permissivos;
� um objecto pode so permitir que os campos de rejeicao de estranhos sejam acti-
vados ou ultrapassados pelos seus dependentes (ou pelos respectivos campos de
actividade), se o seu campo de retencao for activado ou ultrapassado (respectiva-
mente) - entao o objecto (dominante) tera um campo de retencao protector;
� um objecto pode so permitir que os campos de rejeicao de estranhos sejam ac-
tivados ou ultrapassados pelos seus dependentes, se o seu campo de retencao for
ultrapassado - diz-se nesta situacao, que o objecto (dominante) tem um campo de
rejeicao super protector.
Mais uma vez, a adopcao de um comportamento dependera da accao a executar.
a) dependente protegido b) campos envolvidos activados
a) protegido no campo de retencao b) ambos os campos ultrapassados
Figura 5.9: Interaccao do campo de actividade com o de retencao e um de rejeicao.
168 CAPITULO 5. SUPORTE A EXPLORACAO DE MAPAS COGNITIVOS
Na figura 5.9 mostra-se o caso de um campo de retencao protector. Nela estao
representados tres objectos, mais uma vez denotados por rectangulos de cantos arre-
dondados. Dois deles, os maiores, sao independentes entre si e o terceiro, menor, e
dependente daquele em que esta contido. Sao mostrados apenas os limiares dos cam-
pos envolvidos. Durante a manipulacao, o objecto dependente e arrastado desde o seu
dominante ate ao objecto da direita. Note-se que em a), embora o campo de actividade
se intersecte com o de rejeicao do objecto a direita, este nao se encontra activado. Em
b), far-se-a sentir a resistencia conjugada das forcas de retencao e rejeicao, tal como em
c), apesar de nesta figura o limiar de execucao do objecto dependente ter tocado o de
aceitacao do objecto de destino. Finalmente em c), a operacao definida pela interaccao
do objecto dependente com o seu destino pode executar-se, ja que o campo de retencao
foi ultrapassado.
5.2.5 Formas e forcas
Na representacao feita nas figuras anteriores, mostraram-se desde logo, limiares
cuja forma geometrica nao e de todo semelhante a dos objectos a que pertencem, nem
mesmo semelhantes entre si. Essa desigualdade, adequada a diversas situacoes, permi-
te uma flexibilidade apreciavel na definicao do comportamento dos objectos, aquando
da sua manipulacao. A sua aplicacao a objectos fixos, dominantes, por exemplo, per-
mite definir caminhos preferenciais de deslocamento dos objectos dependentes. Esses
caminhos espelham, normalmente, as relacoes de dependencia mais favoraveis (e.g.
classificacoes, contextuacoes, ancoragens). Em geral, pode afirmar-se que:
� os limiares que circunscrevem os campos, nao necessitam ter a mesma forma
geometrica, ser concentricos entre si ou com os objectos de que fazem parte;
� o ajuste da geometria dos diferentes campos de um objecto, permite definir
caminhos de mais facil manipulacao.
Note-se que, para alem da distorcao geometrica, a especificacao de objectos no
ambito deste modelo, pode ainda contar com a definicao de forcas variaveis dentro do
espaco do seu proprio campo:
5.2. INTERACCAO ENTRE OBJECTOS 169
� as forcas de resistencia sao definidas por uma direccao e uma intensidade, que
dependem do ponto do campo respectivo em que se consideram.
Tipicamente e como simplificacao, o ponto que determina as caracterısticas da forca,
e um dos que se encontra na interseccao do campo de resistencia com o limiar de
actividade que o estimulou.
a) ”Saıda”do lado direito b) ”Porta de saıda”em baixo c) ”Porta de entrada”em cima
Figura 5.10: Areas e direccoes preferenciais de resistencia.
Na figura 5.10 mostra-se a utilizacao da geometria dos limiares, de modo a esta-
belecer direccoes ou regioes preferenciais de interaccao entre objectos. As regioes dos
campos de retencao, em a) e b), e de rejeicao, em c), do objecto central, encontram-se
sombreadas. Os restantes campos nao se representam. Em a), por exemplo, o campo
de retencao, denota uma menor espessura do seu lado esquerdo. Assim, os objectos
dependentes sentirao durante menos tempo a forca de retencao ao deslocarem-se sobre
esse lado. Em b), o limiar de cedencia definido pela elipse, estabelece a unica regiao
em que e possıvel levar a cabo as operacoes desencadeadas pela interaccao dos dois
objectos. Esta disposicao forca os dependentes, uma vez ultrapassado o campo de re-
tencao, a interagir com o objecto do canto inferior direito. Finalmente, na ultima parte
da figura, apresenta-se uma situacao semelhante, agora entre objectos independentes.
Pela configuracao do campo de rejeicao, dir-se-a que o objecto central e mais receptivo
170 CAPITULO 5. SUPORTE A EXPLORACAO DE MAPAS COGNITIVOS
as interaccoes com os dependentes do objecto do topo direito.
Nos exemplos anteriormente apresentados, usaram-se objectos do tipo Contentor
como dominantes (de partida ou de destino). A relacao primordial e especıfica que
estabelecem com os seus dependentes e, nesse caso, a de encerramento, i.e. um objecto
incluso na regiao por eles definida e, a partida, seu dependente (veja-se �4.2.1). Apli-
car aı campos de resistencia passa, normalmente, por definir o limiar de retencao, do
campo homonimo, ou o de aceitacao, do campo de rejeicao, dentro ou na fronteira do
proprio contentor. Assim sendo, os objectos dependentes que pretendem desencadear
accoes fora do dominante, comecam por sentir a sua proteccao quando se aproximam
da sua fronteira. Ao contrario, os objectos independentes que se manipulem para exe-
cutar accoes dentro de um contentor, de que nao dependem, so o poderao fazer depois
de forcarem a sua entrada.
No entanto, se os objectos potencialmente dominantes nao definem regioes de
encerramento (e.g. nao contentores) ou se a dependencia nao se refere a essa ca-
racterıstica (e.g. contentores enquanto nos visuais), dificilmente se podera impor a
circunscricao daqueles limiares ao seu interior. Esse sera, sem duvida, o caso dos ar-
cos visuais quer como dominantes, quer como dependentes. Esclarece-se entao que:
� os limiares de retencao e aceitacao podem ser exteriores ao objecto que os define.
� os limiares de retencao de um objecto dominante devem incluir os campos de
actividade dos seus dependentes.
Figura 5.11: Limiares de rejeicao exteriores.
5.2. INTERACCAO ENTRE OBJECTOS 171
Um exemplo de aplicacao dos limiares exteriores e o representado na figura 5.11.
Em ambas as partes e apenas mostrado o campo de retencao. A esquerda ilustra-se a
conjuntura em que um objecto mantem uma relacao de dependencia, com outro posi-
cionado fora da area por ele definida. A direita apresenta-se o caso normal de um arco
visual que tem como dependente um no visual (e.g. correspondente a uma juncao). Em
ambas as situacoes o dependente pode ser movimentado dentro do campo de retencao,
ainda que este inclua partes exteriores ao objecto dominante.
Se o posicionamento, a definicao de geometria e o tamanho dos limiares de reten-
cao sao suficientes para abarcar a grande maioria das situacoes de dependencia, casos
ha em se torna mais difıcil a colocacao dos limiares de aceitacao e ate os de execu-
cao. As situacoes ilustradas nas figuras seguintes sao exemplos disso. Na figura 5.12
Figura 5.12: Ajuste do limiar de aceitacao.
mostra-se uma situacao em que um arco visual, de espessura reduzida, apresenta um
campo de rejeicao completamente exterior. Se, por uma questao de clareza, se optar por
nao definir um limiar de rejeicao demasiado distante, entao a espessura predefinida
do campo respectivo tera que ser pequena (lado esquerdo da figura). Pretendendo
aumentar o tempo de resistencia do campo, a opcao passa entao por reajustar o campo
de rejeicao consoante o lado pelo qual o objecto estranho se aproxime. Este reajuste,
desencadeado aquando da activacao do campo de rejeicao, mostra-se no lado direito
da figura. Em geral, determina-se que:
� os campos de um objecto podem mudar a sua forma quando activados;
172 CAPITULO 5. SUPORTE A EXPLORACAO DE MAPAS COGNITIVOS
� os limiares de aceitacao e execucao de um objecto podem ser deslocados para
fora do objecto.
Figura 5.13: Ajuste do limiar de execucao.
Na figura 5.13 mostra-se uma situacao em que se usa o deslocamento do limi-
ar de execucao para que, sem mover o objecto propriamente dito (representado pelo
rectangulo arredondado menor), se possa contudo executar a operacao definida pela
interaccao entre os dois.
5.2.5.1 Solucoes existentes
Aplicar o modelo, de forma a proporcionar comportamentos de interaccao en-
tre objectos, semelhantes aos definidos nas solucoes existentes (i.e. solucoes de
manipulacao directa de objectos graficos, normalmente ıcones), passa por parametri-
zar os campos e os seus limiares, reduzindo sobremaneira as suas capacidades:
Campo de actividade - Em todas as solucoes conhecidas, e um ponto predefinido no
cursor do dispositivo de manipulacao usado (e.g. rato), correspondente com
o ponto em que agarrou o objecto manipulado, que desencadeia as diversas
reaccoes (i.e. o retorno semantico, quando existe). Em relacao ao modelo, es-
se comportamento e determinado por uma reducao dos limiares do campo de
actividade a esse mesmo ponto.
Campo de rejeicao - Naquelas solucoes, cada objecto receptor (contentor ou ıcone)
quando reage, fa-lo de imediato, assim que o ponto actividade/execucao entra
numa area, normalmente rectangular, que o contorna. Esta reaccao (ou a sua
5.2. INTERACCAO ENTRE OBJECTOS 173
ausencia) corresponde, em geral, a tres comportamentos possıveis: indiferenca,
proibicao ou, aceitacao. No primeiro caso, a simulacao dessa conduta no modelo
far-se-a simplesmente nao definindo o limiar de rejeicao ou mantendo-o inibido.
Para os restantes comportamentos, define-se um limiar de rejeicao sobre a area
mencionada. No segundo, de proibicao, o limiar de aceitacao mantem-se inibido
(ou fora de alcance), pelo que o objecto receptor exibira sempre uma forca (cons-
tante) de rejeicao. Na ultima situacao, o limiar de aceitacao coincide com o de
rejeicao.
Campo de retencao - Na grande maioria das solucoes, o campo de retencao nao exis-
te ou, segundo o modelo, encontra-se inibido. Como excepcao aponte-se, por
exemplo, as barras de deslocamento comuns. Nelas, o seu componente central
(dependente) pode ser deslizado na barra propriamente dita (dominante). Se
o ponto de actividade/execucao sai da area definida pela barra, o componente
central nao o acompanha na direccao perpendicular, denotando resistencia nessa
direccao. Atingido um distanciamento predefinido, a accao de deslizamento do
componente central parece frustrar-se, voltando a posicao inicial.
No modelo, pode dizer-se que esta situacao se simula facilmente, definindo
um limiar de retencao coincidente com a fronteira da barra e um de cedencia
que a rodeia a distancia referida. Note-se, no entanto, que a accao desencadeada
quando o campo e ultrapassado sera sempre de cancelamento.
A simplicidade imposta ao modelo para a simulacao dos comportamentos defini-
dos em solucoes existentes e, obviamente, consequencia da pobreza de reaccoes que
normalmente sao exigidas (ou suportadas) por esses sistemas. De facto, a excepcao
do ultimo exemplo, nao ha intencao de demonstrar mais do que proibicao, permissao
ou indiferenca, nunca se considerando diferentes nıveis de cada um destes estados.
Embora esta graduacao seja mais pertinente na exploracao de representacoes de acti-
vidades humanas, como sera o caso dos mapas cognitivos em que essa progressao e
intrınseca, o facto e que tambem se poderia aplicar a algumas actividades de ambito
mais geral. Por exemplo, remover um ficheiro gerado, temporario, e bastante menos
problematico que apagar aquele que contem o texto que se acabou de escrever.
174 CAPITULO 5. SUPORTE A EXPLORACAO DE MAPAS COGNITIVOS
5.2.6 Articulacao com representacoes e accoes
O modelo aplica-se a todos os objectos identificados em �5.1.3 e �5.1.5. As areas
que introduz sao estabelecidas relativamente ao nıvel em que o objecto se define (i.e.
de representacao visual ou de interaccao), sendo ajustada ao espaco de manipulacao
interna, de acordo com as transformacoes definidas pela vista, aquando deste tipo de
manipulacoes. Cada objecto tera entao associada uma representacao no modelo, que
devera dar respostas sobre areas, forcas, estados e formas de comportamento, para os
possıveis aspectos envolvidos e de acordo com os objectos com que interagem.
Os campos definidos sobre um objecto sao determinados: pelas caracterısticas do
objecto manipulado; pelas do dominante ou dominantes (potenciais ou de facto) envol-
vidos na manipulacao; pelo significado da manipulacao (a operacao); e pelo caminho
definido pela propria manipulacao . Em geral, a forma geometrica dos limiares que
contornam cada campo e estabelecida pelas caracterısticas geometricas dos objectos
(nao necessariamente por uma relacao de identidade), pela sua mobilidade no espaco
em que se encontram e, em certos casos, pelo percurso da manipulacao (ver �5.2.5). O
distanciamento entre as duas linhas de fronteira de um campo e a sua forca sao nor-
malmente funcao: da ’prioridade’ da restricao (ver descricao da classe em �4.1.3.2),
que e posta em causa pela operacao que se pretende desencadear; e da ’confianca’
e ’importancia’ dos representantes (veja-se �4.1.4), cuja contrapartida visual se ma-
nipula ou esta envolvida na manipulacao. Por exemplo, num diagnostico organizaci-
onal (veja-se a descricao do metodo da Analise de Correntes em 2.3.3) um problema
(representado por um conceito e pelo respectivo no visual) e classificado como ”tec-
nologia”(um contexto e um contentor), com grande confianca (um valor elevado da
propriedade homonima no representante). Manipular posteriormente o no visual des-
se problema para fora do seu contexto, ira encontrar um campo de retencao de grandes
dimensoes e com uma forca de retencao de intensidade apreciavel.
Relativamente aos objectos operadores, os campos ajustar-se-ao ao objecto mani-
pulado, com o intuito de reflectir as restricoes impostas a operacao que representam
(e.g. apagamento e contextuacao). No caso das subvistas e dos teleportes, os seus
campos estao directamente relacionados com o dos contentores, que atraves das pri-
5.3. RETORNO 175
meiras se veem ou que sao destino dos segundos. E de notar, nestes ultimos casos, que
apesar dos limiares e forcas serem determinados por objectos que nao os directamente
envolvidos, isso nao significa que os seus campos e particularmente os seus limiares,
sejam exactamente iguais aos objectos que mostram ou aqueles a que se referem. Es-
tando definidos em espacos diferentes e ate vantajoso que esses campos se adaptem a
geometria especıfica definida no espaco de interaccao respectivo.
Figura 5.14: Estrutura simplificada das classes que representam o modelo.
Assim sendo, no InCoMa providencia-se o conjunto de classes mostrado no dia-
grama da figura 5.14. As almas constituirao os elementos de base representativos do
modelo. A sua estrutura, articulacao com as restantes e em particular as funcoes ofe-
recidas, seguem de perto as caracterısticas enumeradas anteriormente. Note-se que as
almas e os respectivos campos nao sao obrigatoriamente definidos em absoluto, i.e. co-
mo areas de geometria rıgida e forcas constantes. Ao contrario, os seus limiares podem
resultar de transformacoes sobre os objectos que ”personificam”.
5.3 Retorno
Uma vez estabelecidos mecanismos para a gestao das accoes de manipulacao de-
sencadeadas pelos utilizadores e um modelo de comportamento dos objectos, resta
agora referir os aspectos da definicao de notacoes para dialectos de retorno. Nesse
176 CAPITULO 5. SUPORTE A EXPLORACAO DE MAPAS COGNITIVOS
sentido, identificar-se-ao os actores envolvidos numa interaccao, que numa perspec-
tiva de manipulacao directa serao incluıdos com outros, na construcao dos dialec-
tos mencionados. A designacao actores usa-se com o intuito de alargar a perspec-
tiva de objecto computacional a outros nao directamente perceptıveis no espaco de
visualizacao, nomeadamente os dispositivos fısicos sobre os quais sao desencadeadas
as accoes de manipulacao. Com base na identificacao feita apresentam-se entao dois
dialectos possıveis, que alargam as formas normais de retorno da manipulacao directa,
a outras mais expressivas.
5.3.1 Actores nos dialectos de retorno
Os actores envolvidos nas accoes genericas de agarrar, arrastar e largar, que consti-
tuem tambem elementos de representacao e apresentacao, sao: o objecto manipulado,
o dominante ou dominantes originais do objecto e aqueles que se encontram no cami-
nho definido durante a manipulacao, sejam eles potenciais dominantes ou operadores.
Na figura 5.15 mostram-se exemplos, materializados em conceitos, nos visuais de con-
Figura 5.15: Exemplos de objectos de representacao intervenientes numa manipulacao.
ceitos e arcos visuais, revelando alguns dos seus campos de resistencia, nas zonas
sombreadas delimitadas por linhas a traco interrompido (os limiares).
Tambem directamente envolvidos na manipulacao e portanto na sua percepcao por
parte do utilizador, estao os dispositivos fısicos (o rato, o teclado, o conjunto de coman-
5.3. RETORNO 177
dos de voz, etc..) e, para manipulacoes de caracter visual, aquilo a que se denominou
dispositivos logicos.
Dispositivos logicos - directamente relacionados com o retorno, sao as representacoes
que o sistema computacional faz dos dispositivos fısicos, no espaco de manipula-
cao em que as accoes sao percepcionadas.
No caso dos dispositivos apontadores (e.g. rato, caneta de luz) o componente logico
coincide com o cursor que normalmente aparece no visor. Para outros dispositivos
com os quais se pretenda desencadear accoes de manipulacao, a contrapartida logica
pode ser criada, por exemplo, atraves de marcadores temporarios associados aos ob-
jectos manipulados. Na figura 5.16 mostram-se os casos da anterior em que se utiliza,
Figura 5.16: Actores de manipulacao e retorno.
a esquerda, um teclado para levar a cabo a manipulacao e, a direita, um rato. As te-
clas premidas do primeiro e o deslocamento do segundo sao igualmente simbolizados.
No espaco de visualizacao sao visıveis, sobre os contentores, as contrapartidas logicas
destes dispositivos.
Quando se da inıcio a manipulacao, outro conjunto de actores e envolvido, permi-
tindo assim diversificar as formas de retorno, atraves da construcao de capacidades
sequenciais (veja-se a descricao dos princıpios de manipulacao directa na pagina 74).
Definem-se, a partir do objecto manipulado, tres componentes basicos:
O componente tangıvel refere-se a um objecto ja existente (o manipulado) e indica o
178 CAPITULO 5. SUPORTE A EXPLORACAO DE MAPAS COGNITIVOS
estado em que o sistema ficara se a manipulacao for cancelada (o estado anterior
ao inıcio da accao).
O componente factıvel refere-se, em cada ponto da manipulacao, a situacao em que o
objecto manipulado ficara, caso a accao seja aı concluıda (largando-o).
O componente conjectural indica normalmente uma situacao inviavel para o objecto
manipulado, mas que, se for continuada, podera originar um estado possıvel.
Note-se que estes componentes podem ou nao ser materializados, consoante a natu-
reza da operacao e mesmo a do objecto manipulado. Por exemplo, em operacoes de
criacao de representantes o componente tangıvel nao pode existir e quando a operacao
nao pode ser concretizada de todo, o componente factıvel deixa de fazer sentido. A
representacao de cada uma destas facetas do objecto manipulado denota diferentes
estados da manipulacao, que em geral reflectem as restricoes encontradas no percur-
so. Na figura 5.16 mostram-se os componentes tangıvel e factıvel, para cada um dos
objectos manipulados.
A construcao de dialectos de retorno e entao definida com base no leque de acto-
res apresentado. Os componentes, bem como tipos especıficos de marcadores sobre
os representantes visuais, podem constituir-se a partir de modificacoes dos objectos
existentes, nomeadamente por alteracao temporaria dos seus atributos visuais, ou ser
criados propositadamente para enriquecer a expressividade do retorno. Posicionamen-
to relativo, contraste, visibilidade, etc., sao utilizaveis em cada passo da manipulacao.
Note-se que os objectos nao directamente manipulados, mas envolvidos, podem ter
papeis activos na criacao destes dialectos (como no caso adiante ilustrado). Mesmo
para os dispositivos fısicos, essa intervencao no retorno sera possıvel, se estes dispu-
serem de mecanismos adequados (como ja hoje em dia e viavel para algumas versoes
de rato). Estes diferentes modos de retorno sao, no InCoMa, coordenados nos mani-
puladores, para o caso das reaccoes do sistema as accoes de agarrar, arrastar e largar,
levando em conta as suas possıveis variacoes de permissao. Os dispositivos sao res-
ponsaveis por gerir o retorno do proprio dispositivo, i.e. a sua contrapartida logica,
naturalmente em articulacao com os manipuladores e com as operacoes.
5.3. RETORNO 179
5.3.2 Metafora da barreira
O dialecto de retorno, que aqui se descreve, assenta em dar a ideia ao utilizador
de que existe uma barreira, cuja espessura dependera da restricao que a manipulacao
contesta, e que devera ser ultrapassada para consumar a operacao. Neste sentido, sao
mostrados ao utilizador os campos de resistencia dos objectos que impoem a restricao,
quando o seu estado passa a activado. A largura do campo (e portanto da barreira a
transpor) veiculara a dificuldade em terminar a manipulacao. A intensidade da forca
de resistencia, normalmente determinante deste distanciamento entre os limiares de
um campo, pode ainda definir quao carregada sera a cor com que se mostra o campo
activado. Se o sistema de janelas subjacente assim o permitir, pode tambem alterar-se a
velocidade de deslocamento do dispositivo logico, relativamente aos movimentos (e.g.
rato) ou impulsos (e.g. teclado) da contrapartida fısica.
a) objecto agarrado b) arrastamento retido
c) arrastamento cedido d) objecto largado
Figura 5.17: Alteracao do contexto de um conceito.
Na figura 5.17 mostram-se as diferentes accoes de manipulacao de um no visual
correspondente a um conceito, desde o agarrar em a), ate ao largar em d), originando
180 CAPITULO 5. SUPORTE A EXPLORACAO DE MAPAS COGNITIVOS
uma operacao de contextuacao. Os objectos sao representados de forma semelhante
ao que foi feito na parte esquerda das figuras anteriores, a excepcao de que se omitiu
a representacao dos limiares do campo de actividade do objecto manipulado e de que
o campo de retencao se mostra apenas nas condicoes determinadas pelo dialecto. O
campo de retencao do contentor original (ou a sua projeccao no espaco de manipulacao
interna) e desenhado quando se tenta arrastar o objecto dependente para fora das suas
fronteiras, i.e. quando o limiar de retencao se intersecta com o de actividade do objecto
manipulado - mostrado na parte b) da figura. Neste ponto, e tambem separado o
componente factıvel, do dispositivo logico, embora o limiar de actividade fique com
este ultimo. Em c), quando o campo e ultrapassado deixa de ser visıvel e o componente
factıvel junta-se ao dispositivo logico.
Figura 5.18: Criacao de um conceito num contexto resistente.
Na figura 5.18 mostram-se alguns aspectos da criacao de um conceito. A esquerda,
o dispositivo logico denota estar seleccionada uma operacao de criacao. Ao centro, a
manipulacao inicia-se, dando origem ao aparecimento de um componente conjectural,
denotado por uma forma circular esbatida e sem contorno, que indica que o objecto
manipulado nao e ainda viavel. Note-se que as contrapartidas tangıvel e factıvel nao
existem. O campo de rejeicao do contentor e carregado e o limiar de aceitacao deslo-
cado, de modo a deixar espaco entre ele e o limiar de execucao do objecto a criar. O
utilizador tera assim que ultrapassar a barreira formada, confirmando a criacao do ob-
jecto, que parece contrariar as restricoes impostas pelo contentor. A direita da figura, o
deslocamento do dispositivo confirmou a operacao e, por conseguinte, o componente
conjectural deu lugar ao factıvel.
5.3. RETORNO 181
Figura 5.19: Retencao total de um conceito.
Na figura 5.19 ilustra-se um caso extremo, em que as restricoes impostas proıbem
a remocao do conceito, do contexto em que se insere, representados pelo no visual e
pelo contentor interior, respectivamente. A figura mostra ainda a possıvel codificacao
dos movimentos relativos entre as facetas do dispositivo (fısico e logico). Nesta cir-
cunstancia, em que a manipulacao nao se pode efectuar de todo para fora da area
definida pelo contentor, o dispositivo logico e, tambem aı, feito refem.
a) objecto retido b) independencia cedida / dep. proibida c) dependencia rejeitada
Figura 5.20: Rejeicao total e parcial de um conceito.
Na figura 5.20 denota-se uma situacao um pouco mais complexa, em que se fazem
sentir campos de retencao e rejeicao. Relativamente as figuras anteriores acrescentou-
se mais um contentor, representando-se a conjuntura em que se manipula um no visual
de um conceito, entre contentores nao adjacentes. No caso deste exemplo, ambos os
contentores interiores se combinam com o exterior por sobreposicao. Os contextos de
cada um dos interiores impoem restricoes nao completamente proibitivas a inclusao ou
182 CAPITULO 5. SUPORTE A EXPLORACAO DE MAPAS COGNITIVOS
remocao de conceitos. Ao contrario o contexto exterior nao permite contextuar o con-
ceito manipulado. Em a) a manipulacao sente a retencao do contentor de origem. Uma
vez ultrapassado o seu campo de retencao, o objecto manipulado fica sob a influencia
do campo de rejeicao do contentor exterior (admite-se um campo de retencao super
protector). Em b) mostra-se esse campo de rejeicao enfatizado, que assim continuara
enquanto o campo de actividade do objecto manipulado se mantiver dentro dos seus
limites. Se o movimento do dispositivo logico continuar, pode atingir-se a situacao
ilustrada em c), em que o campo de rejeicao do contentor interior mais a direita foi
activado, sendo inibido o do exterior.
Figura 5.21: Criacao de uma associacao.
Na figura 5.21 mostram-se as diversas fases por que passa a manipulacao que per-
mite a criacao de um arco visual entre dois nos visuais. Uma vez localizado o no visual
inicial, sera necessario selecciona-lo (em cima ao centro). Nessa altura torna-se visıvel
o campo de rejeicao do no e assim se mantera enquanto o limiar de execucao se man-
tiver no seu interior. E interessante notar que, no caso particular do inıcio de um arco
visual, os limiares que determinam o campo de rejeicao se encontram trocados, relati-
vamente ao que e usual num objecto, i.e. o limiar de aceitacao sera o exterior, enquanto
o de rejeicao se reduz ao ponto onde comecou a interaccao. Deste modo, o utilizador
5.3. RETORNO 183
tera que deslocar o dispositivo logico para o exterior do no visual, para que surja o
retorno materializado pelo aparecimento de um componente conjectural (linha a traco
interrompido, em cima a direita). Uma vez atingido o limiar de rejeicao de outro no
(ou do mesmo, agora com o campo orientado de forma normal) o respectivo campo de
rejeicao e mostrado, mantendo-se visıvel o componente conjectural do arco, enquanto
aquele nao for ultrapassado. As duas ultimas partes da figura denotam as situacoes em
que foi aceite a criacao do arco visual, mostrando-se o componente factıvel (em baixo
ao centro), e em que o arco foi finalmente criado (a direita).
Figura 5.22: Apagamento de uma associacao.
Na figura 5.21 ilustra-se o apagamento de um arco visual recorrendo a um ob-
jecto destrutor. Este representa-se sobre o canto inferior direito de cada quadro, por
um rectangulo marcado com uma cruz. Na parte esquerda, o arco visual e agarrado
devendo vencer-se o campo de retencao que se mostra. Uma vez ultrapassado, o cam-
po desaparece manifestando-se entao o componente conjectural ja que o arco devera
ter dois nos terminais. Neste caso os componentes tangıvel e factıvel sobrepoem-se,
mesmo quando o campo de rejeicao de outro objecto e activado. Este sera o caso do
quadro central da figura em que se tornou visıvel o campo de rejeicao do destrutor. Na
ultima situacao foi forcado o apagamento do arco visual (i.e. ultrapassado o campo
do destrutor), pelo que desaparece o componente conjectural (a manipulacao e viavel),
o factıvel e extinto ou, como se mostra na figura, substituıdo por uma referencia ex-
plicita a operacao (no caso uma cruz, indicando apagamento) e o tangıvel mantem-se,
indicando que, se for cancelada a manipulacao, o arco visual voltara a estabelecer-se.
Finalmente, na figura 5.23 mostra-se a criacao de um no visual correspondente a
uma juncao. Para alem dos componentes de retorno do objecto manipulado (factıvel a
184 CAPITULO 5. SUPORTE A EXPLORACAO DE MAPAS COGNITIVOS
Figura 5.23: Criacao de uma juncao.
direita e conjectural nos outros quadros) e da apresentacao dos campos de rejeicao dos
arcos visuais que se tornarao dominantes, e interessante notar a inclusao dos compo-
nentes de retorno correspondentes aos ultimos (conjectural do arco visual superior, ao
centro, e factıvel dos dois arcos a direita). Note-se que este envolvimento dos objec-
tos geometricamente dependentes (embora conceptualmente dominantes, neste caso)
e igualmente possıvel para os restantes representantes visuais.
5.3.3 Metafora da membrana
O dialecto de retorno baseado na metafora da membrana utiliza o mesmo tipo de
comportamento para os componentes do objecto manipulado, mas modifica a forma
de veicular os campos de resistencia e, em particular, a intensidade da sua forca. De
facto, na utilizacao deste dialecto, nao e explicitamente mostrado o campo de resisten-
cia, mas o objecto que impoe a restricao (seja o dominante corrente ou potencial, seja
um operador) e distorcido, enquanto a sua forca se fizer sentir. A area do objecto que
sofre a distorcao e proporcional a forca do campo e a profundidade da mesma alarga-se
a distancia entre os respectivos limiares. Nas figuras seguintes, que ilustram situacoes
possıveis de retorno segundo este dialecto, os limiares sao mostrados para facilitar a
explicacao, embora na concretizacao estes nao sejam desenhados.
Na figura 5.24 mostra-se a manipulacao anteriormente ilustrada na figura 5.20,
agora de acordo com o novo dialecto. Note-se, a esquerda, a distorcao alargada da
fronteira do contentor interior, significando uma forca de retencao intensa. A direita
5.3. RETORNO 185
Figura 5.24: Alteracao do contexto de um conceito, entre contentores nao adjacentes.
a forca de rejeicao e menor. No quadro central o componente factıvel mantem-se no
contentor inicial, ja que o contexto correspondente ao exterior nao admite a inclusao
de conceitos.
Na figura 5.25 mostram-se as distorcoes provocadas nos nos visuais, quando usan-
do este dialecto de retorno, se tenta criar um arco visual entre eles. Os quadros corres-
pondem as situacoes em que os campos de resistencia estao activados.
Figura 5.25: Manifestacao dos campos de rejeicao aquando da criacao de uma associacao.
Por fim, apresenta-se na figura 5.26 a manipulacao de um no visual, numa operacao
de contextuacao atraves de subvistas e de teleportes, cuja configuracao num IMV e se-
melhante a que se usou no exemplo da figura 5.4. Omitiram-se da imagem os limiares
dos campos de resistencia (ausentes tambem no caso real), mostrando-se apenas as
distorcoes causadas pelas interaccoes entre os objectos. Note-se que, em cima, o no
visual tem que atravessar o campo de retencao, do contentor visto atraves da sua sub-
vista, e os de rejeicao dos outros dois contentores. Em baixo e usado o teleporte. A
localizacao do componente factıvel no contentor de destino do teleporte e normalmen-
186 CAPITULO 5. SUPORTE A EXPLORACAO DE MAPAS COGNITIVOS
Figura 5.26: Criacao de uma juncao.
te determinada pela configuracao deste ultimo.
5.4 Enquadramento global no InCoMa
As classes e conceitos descritos nesta seccao concretizaram-se e integraram-se na
biblioteca do InCoMa, sobre a plataforma de representacao e apresentacao descritas
no capıtulo anterior. Na figura 5.27 mostra-se, em tracos gerais, a articulacao dos ele-
mentos de gestao da manipulacao com os restantes blocos de classes desenvolvidos no
ambito deste trabalho.
Os dispositivos, os manipuladores e as operacoes evoluıram de um unico compo-
nente basico do Edgar, que geria toda a interaccao e sobre o qual se podia definir uma
forma rıgida de retorno, sem consideracao pelas restricoes impostas. Estas classes, per-
mitiram flexibilizar combinacoes entre dialectos de retorno, dispositivos de interaccao
e operacoes, adaptando-se ainda a funcionalidade oferecida pelo Crook e ao compor-
tamento definido pelo modelo proposto.
5.5. SUMARIO 187
Figura 5.27: Arquitectura do InCoMa.
Criaram-se duas classes de dispositivos, uma para gestao do teclado e outra para
a gestao do rato, posteriormente refinadas para dois sistemas de janelas distintos. Os
manipuladores desdobraram-se em formas especıficas de movimentacao de objectos,
redimensionamento e criacao, coadjuvados por operacoes particulares de seleccao,
contextuacao e criacao dos diversos componentes de um mapa. Duas versoes destes
elementos de manipulacao materializaram os dois dialectos sugeridos como exemplo.
5.5 Sumario
Neste capıtulo completou-se a descricao do sistema proposto, abordando os con-
ceitos, modelos e classes que constituem o suporte a definicao de mecanismos de
exploracao de mapas cognitivos, por manipulacao directa, conforme os requisitos iden-
tificados. Comecou por se focar a atencao nos aspectos relacionados com as accoes dos
188 CAPITULO 5. SUPORTE A EXPLORACAO DE MAPAS COGNITIVOS
utilizadores, no ambito do estilo de interaccao referido. Propos-se uma decomposicao
dessas actividades, do ponto de vista do sistema computacional, facultando-se um
conjunto de componentes responsaveis pela sua gestao, nomeadamente, no plano
das accoes reais e das percepcionadas pelo utilizador e das executadas no siste-
ma. Identificaram-se os nıveis a que a manipulacao se processa e os respectivos
espacos em que se articulam, providenciando assim formas homogeneas de projeccao
e coordenacao dos objectos envolvidos na manipulacao. Outros objectos (operado-
res) foram ainda propostos, como forma de estender e facilitar as operacoes postas a
disposicao do utilizador, por manipulacao directa.
Como suporte a definicao do comportamento dos objectos envolvidos nas accoes
de manipulacao descreveu-se um modelo, capaz de espelhar em articulacoes espaci-
ais, as diversas restricoes impostas a representacao dos mapas, incluindo os graus de
coercao a elas associados. O modelo estabelece um conjunto de areas em torno dos ob-
jectos e um conjunto de reaccoes padrao desencadeadas aquando da sua interaccao. Es-
sas reaccoes podem entao servir de base a construcao de dialectos de retorno, adequa-
dos a veiculacao de restricoes contingenciais, como aquelas que emergem na utilizacao
de mapas cognitivos.
Por ultimo, identificaram os actores fundamentais que podem contribuir para
definicao de dialectos de retorno visual, mais expressivos que os habitualmente dis-
ponıveis, e propuseram-se dois dialectos exemplificativos, segundo duas metaforas de
comportamento dos objectos envolvidos na manipulacao.
�Ferramentas
Nos capıtulos anteriores descreveu-se a concepcao do InCoMa. No texto que se
segue, apresentam-se duas ferramentas, construıdas a partir dele, que se enraızam for-
temente no contexto em que se desenrola este trabalho. De facto, ambas decorrem de
necessidades sentidas no projecto ORCHESTRA, a primeira durante a sua fase inicial,
em que foi feito o diagnostico das organizacoes piloto, e a segunda apos a instalacao
dos prototipos nele elaborados. O desenvolvimento das ferramentas constituiu um
terreno valioso para a experimentacao do InCoMa, tendo em conta o espectro de lin-
guagens visuais que apresentam (quer em termos de variantes de mapas, quer em
funcao dos nıveis de formalismo de denotam) e o seu enquadramento em modelos
estabelecidos de desenvolvimento organizacional.
O capıtulo comeca por apresentar o FADO (Carrico & Guimaraes, 1997), uma fer-
ramenta que suporta o diagnostico de organizacoes em mapas cognitivos, regidos por
uma metodologia e um modelo descritos no capıtulo 2 e usados no projecto supraci-
tado. Depois de uma perspectiva geral da ferramenta e em particular das extensoes
que propoe a metodologia de base que adopta, e descrita sucintamente cada uma das
facetas do seu desenvolvimento a partir dos diversos grupos de componentes que o
InCoMa oferece. De seguida, e revisto o DETO/ARTO (Carrico et al., 1997). Este surgiu
como uma aplicacao de suporte a coordenacao da evolucao de sistemas computaci-
onais de ambito organizacional, segundo um aproximacao que os enquadra nas pers-
pectivas sociais e de gestao. Adopta igualmente mapas cognitivos, num panorama que
abrange diagramas de dependencias, articulando-os num modelo de desenho organi-
zacional, tambem atras apresentado (em �2.3.1) e que alias norteou a visao global do
ORCHESTRA.
189
190 CAPITULO 6. FERRAMENTAS
6.1 O FADO
O FADO, acronimo formado a partir da designacao Ferramenta de Analise e Di-
agnostico Organizacionais1, e como se disse uma ferramenta especificamente orienta-
da para esse fim, que toma as suas raızes na aproximacao da Analise de Correntes
(apresentada em �2.3.3). Partindo dessa metodologia, no FADO propoe-se um conjunto
de extensoes, que decorre essencialmente da descricao que e feita do proprio proces-
so de construcao das cartas (mapas) e do seu enquadramento num panorama mais
abrangente de mapas cognitivos, como aquele que se apresentou neste trabalho. Na-
turalmente, algumas delas so farao sentido, por uma questao de exequibilidade, no
contexto da capacidade acrescida que e facultada pelos meios computacionais. Deve
ainda dizer-se que, embora o modelo de desenvolvimento organizacional adoptado no
FADO seja o da Analise de Correntes, a sua adaptacao a outros modelos, como admite
o proprio autor da metodologia (Porras, 1987), e relativamente simples.
6.1.1 Os mapas cognitivos
Do ponto de vista dos mapas cognitivos usados no FADO, refira-se em primeiro
lugar os mapas causais simples que constituem as cartas de diagnostico de problemas,
enquadrados na taxionomia de classificacao nas quatro correntes de base do modelo
adoptado, aos quais se propoem as seguintes extensoes:
� a atribuicao de nıveis de confianca na classificacao e de importancia na manifesta-
cao dos problemas;
� a inclusao de atributos nas relacoes causais, que englobam a possibilidade de
expressar nıveis de confianca e pesos de influencia;
� a definicao de variantes de causalidade (positiva e negativa) e de outras associa-
coes tipificadas (e.g. equivalencia, articulacao na resolucao, associacao tematica).
1Ou dos termos anglo-saxonicos, Facilitation of Analysis and Diagnosis of Organizations (Carrico & Gui-maraes, 1997).
6.1. O FADO 191
A utilizacao de nıveis de confianca na classificacao dos problemas e na especifica-
cao de relacoes causais pode, em primeiro lugar, contribuir para uma deteccao mais
apurada das contradicoes entre os varios indivıduos duma equipa envolvida num di-
agnostico, aquando da comparacao de mapas individuais. Por exemplo, uma vez iden-
tificados os problemas, cada membro da equipa classifica-os (na corrente que considere
adequada) e define entre eles as relacoes causais que ache pertinentes. Nessas activida-
des, especifica o nıvel de confianca e possivelmente a importancia e o peso. A formacao
de um mapa conjunto parte entao dessa informacao, para estabelecer uma hierarquia
de situacoes polemicas (e, simultaneamente, definir a importancia e os pesos combina-
dos segundo criterios predeterminados) - serao preferencialmente seleccionadas para
discussao, as classificacoes e relacoes que, tendo associados nıveis de confianca eleva-
dos em mais do que um mapa individual, se revelem contraditorias.
Os nıveis de confianca, a importancia e os pesos de influencia, bem como as va-
riantes de causalidade e as relacoes tipificadas, tem tambem um papel relevante na
analise expedida (ou semi expedita) das cartas de diagnostico - veja-se a descricao da
metodologia em �2.3.3. Nos algoritmos que permitem indiciar os problemas de base, as
variantes, os pesos e a importancia sao usados em conjuncao com o nıvel-de-entrada e
o nıvel-de-saıda, de forma a veicular relacoes de causalidade mais exactas. Tambem na
definicao das historias de resolucao articulada, estes factores podem ser utilizados para
estabelecer limiares de escolha na determinacao automatica de cadeias de causalida-
de interessantes, diminuindo assim o numero de problemas que as equipas terao que
considerar nas decisoes finais. Nas historias e especialmente na identificacao de temas
a introducao de relacoes do tipo ”deve ser resolvido em conjunto”ou simplesmente
”relacionado com”, permite facilitar a pesquisa destes padroes, ao mesmo tempo que
regista o conhecimento da equipa nos proprios mapas.
Para alem das extensoes directamente aplicadas a especificacao dos mapas de di-
agnostico, o FADO disponibiliza ainda outros dois tipos de mapa que com eles se arti-
culam, bem como com os mapas conceptuais das cartas de planeamento e acompanha-
mento. Os tipos de mapa propostos sao os argumentativos e os taxionomicos. Sobre
os ultimos e ainda possıvel a definicao de variantes causais, de ındole abstracta, com
caracterısticas interpretativas.
192 CAPITULO 6. FERRAMENTAS
Os primeiros aparecem como meio de estabelecer um forum de discussao estru-
turada entre os membros da equipa e de documentar as decisoes controversas em
qualquer das tres fases da metodologia. A utilizacao de mapas argumentativos (i.e.
do componente que suporta a sua especificacao) e sugerida pela propria ferramenta
em varias situacoes, embora, naturalmente, possa ser usada noutras. De entre essas
situacoes destacam-se aquelas que ocorrem:
� sempre que e detectada uma potencial contradicao - por exemplo, aquando da
classificacao dubia de problemas importantes, na restruturacao de problemas
(fusao e divisao), na reclassificacao de problemas ou reformulacao de relacoes
causais inicialmente especificadas com elevados graus de confianca, etc.;
� nas operacoes de seleccao (semantica), apos a fase de analise expedita que indicia
problemas base, historias ou temas - por exemplo, quando um potencial proble-
ma de base e rejeitado, estando ordenado a um nıvel alto que outro escolhido, na
hierarquia criada pelos algoritmos disponıveis.
� quando se detectem desvios entre as accoes planeadas e as acompanhadas, nas
cartas respectivas - por exemplo nos deslizamentos temporais das implantacoes
das solucoes planeadas.
Estas situacoes ou outras explicitamente enunciadas constituirao as afirmacoes que
desencadeiam a argumentacao estruturada, no FADO de acordo com uma variante do
esquema de Toulmin. De facto, trata-se uma variante mais livre, na linha da que e
proposta por Streitz et al. (1989), em que o tipo dos conceitos (afirmacoes, abonacoes,
etc.) e determinado pelas ligacoes que entre eles se estabelecem - veja-se a descricao
das variantes de Toulmin na pagina 44 .
Finalmente, os mapas taxionomicos vem ao encontro da omissao, na metodologia
original, de formas especıficas para a classificacao dos problemas nas subcategorias
do modelo (apresentadas na tabela 2.1). O seu papel, no entanto, pode estender-se
a formalizacao sucessiva de outras categorias de problemas e mesmo a inclusao de
relacoes de causalidade abstracta (regras). Esta articulacao entre taxionomia e causali-
dade vai no sentido das redes semanticas e permite que o FADO possa ser questionado
sobre causas e efeitos tıpicos, especificados de forma generica.
6.1. O FADO 193
6.1.2 A estrutura conceptual
A concretizacao da estrutura de representacao conceptual dos varios mapas utili-
zados no FADO, que se estabelece no plano da linguagem, e feita com base nas classes
providenciadas no respectivo subsistema do InCoMa.
No caso dos mapas a tracar nas cartas definidas pela metodologia, identificam-se:
� Quatro contextos de topo, correspondentes as correntes definidas no modelo
adoptado. A eles impoem-se a partida restricoes que evitam o seu apagamen-
to, modificacao de atributos base e duplicacao (aspectos correspondentes a
operacoes definidas na propria classe Contexto e nas de onde ela deriva - Con-
ceito e RepConceptual).
� Um tipo de conceito denominado ’Problema’, cujas instancias corresponderao
aos problemas lancados nos mapas de diagnostico. A elas e associada uma res-
tricao de caracter nao peremptorio mas forte (i.e. com um valor de ’priorida-
de’ perto de um), que recomenda a sua contextuacao apenas num contexto. Em
particular, os atributos ’importancia’ no proprio conceito e ’confianca’ nas
instancias da classe Contextuacao correspondem as nocoes homonimas definidas
como extensao a metodologia original.
� Um tipo de conceito designado ’Accao’, ao qual se associam as propriedades
’inıcio’ e ’duracao’. A sua instanciacao e feita apenas nos mapas das cartas
de planeamento e acompanhamento.
� Um tipo de associacao denominado ’Causa’, com uma propriedade que indica
a sua variante (e.g. ’positiva’, ’negativa’). Os atributos ’importancia’ e
’confianca’ correspondem as extensoes relativas ao peso de influencia e nıvel
de confianca, atras mencionados. Como restricoes fundamentais tem a de se
poderem apenas ligar a ’problemas’, de nao poderem associar um conceito a ele
proprio (peremptorias) e uma recomendacao (forte) que pretende desencorajar a
definicao de restricoes entre dois ’problemas’, para os quais ja exista uma outra
associacao causal.
194 CAPITULO 6. FERRAMENTAS
� Associacoes dos tipos sugeridos nas extensoes e relativas a deteccao de historias
e temas, restritas tambem aos conceitos do tipo problema, e outras do tipo ’De-
sencadeia’ para a ligacao de ’accoes’ nos mapas de planeamento e acompa-
nhamento.
Nesta fase do prototipo nao se definiram juncoes, embora a introducao de juncoes
que denotem a conjuncao de associacoes do tipo ’Causa’ possa contribuir para uma
melhor especificacao de um diagnostico.
Relativamente aos mapas argumentativos, ja algumas indicacoes foram dadas
aquando da apresentacao do proprio InCoMa. A flexibilidade imputada a esta variante
do esquema de Toulmin evita a introducao dos diversos tipos de conceito e simplifica
o processo argumentativo. Essencialmente foram definidos os seguintes refinamentos:
� Um unico tipo de conceito designado ’Argumento’, a que e dada a possibilidade
de associar uma restricao, que evita (desaconselha) a sua ligacao como inıcio de
qualquer associacao. Esta restricao e atribuıda aos ’argumentos’ que iniciam
os processos de argumentacao (as afirmacoes, no esquema original de Toulmin).
� Tres tipos de associacao designados ’EntaoPorCerto’, ’JaQue’ e ’AMenos-
Que’. As associacoes do primeiro tipo podem apenas ligar ’argumentos’, ao
passo que as do segundo so poderao ter inıcio num ’argumento’ e terminar nu-
ma juncao de um dos tipos abaixo indicados e pela ordem especificada. Estas
restricoes tem caracter peremptorio (i.e. ’prioridade’ igual a um).
� Dois tipos de juncao designados ’AncoraDeAbonacao’ e ’AncoraDeRefuta-
cao’. As instancias destes tipos de juncao tem como restricoes o facto de so
poderem depender de uma unica associacao, cujo tipo seja ’EntaoPorCerto’.
Finalmente, nos mapas taxionomicos define-se um tipo de conceito designado ’Ca-
tegoria’, do qual se criam instancias correspondentes a cada uma das subcategori-
as das correntes do modelo. Estas instancias sao ainda classificadas num dos quatro
contextos antes referidos. A todos as ’categorias’ e imposta uma restricao, que es-
tabelece que as unicas associacoes entre eles e conceitos do tipo ’Problema’ sejam
subsuncoes, iniciadas nos ultimos e terminadas nos primeiros. Nas ’categorias’
6.1. O FADO 195
que denotam a classificacao do modelo e ainda acrescentada uma restricao, que re-
comenda que cada ’problema’ se ligue apenas a uma delas, e outra, que impoe que
os ’problemas’ nelas classificados estejam tambem no contexto a que corresponde a
’categoria’.
6.1.3 As linguagens visuais
Aos componentes de representacao conceptual definidos para cada tipo de mapa
do FADO, associaram-se representantes visuais especıficos, que constituem os elemen-
tos das linguagens visuais usadas nesta ferramenta. As figuras seguintes apresentam
trechos de mapas em que se mostram os componentes visuais principais de cada um
deles.
Figura 6.1: Componentes da linguagem visual das cartas de diagnostico do FADO.
Na figura 6.1 sao mostrados tres instancias do tipo de no visual definido para os
problemas da carta de diagnostico. Assumem uma forma grafica rectangular que per-
mite apresentar texto em varias linhas. O texto que contem e composto a partir dos
atributos ’ordem local’ e ’descricao’ do representante conceptual a que estao as-
sociados, atraves de uma restricao do tipo Traducao. O aspecto coagido nessa res-
tricao e o do no visual que corresponde ao metodo que altera o texto. Os aspectos
dominantes sao os dos atributos referidos no representante conceptual. Para alem
dessa traducao, cada no visual de um problema inclui ainda: uma referente ao atribu-
to ’importancia’ (dominante), que se manifesta na espessura do traco que contorna
196 CAPITULO 6. FERRAMENTAS
o rectangulo (dependente); e outra relativa a ’confianca’ na contextuacao, que se
reflecte no padrao desse mesmo traco.
A figura 6.1 revela ainda o inıcio de tres formas rectangulares, encabecadas pelas
nomes das correntes, que correspondem a tres dos quatro contextos envolvidos. Essas
formas pertencem a outros tantos contentores, cuja relacao com o contexto respectivo,
usa as opcoes definidas por omissao, no InCoMa i.e. o aspecto ”contextua”tem asso-
ciada uma restricao que evita que os representantes visuais dos problemas saiam do
contentor em que se encontram.
Relativamente a este tipo de mapas refiram-se ainda as associacoes do tipo ’Cau-
sa’, cujo arco visual (um segmento de recta terminado por uma seta) se mostra na
figura. Ambas as instancias denotam a sua variante positiva, a da esquerda com peso
elevado (’importancia’) e a direita com um grau de confianca baixo. Para alem das
restricoes que se aplicam a estes dois atributos, semelhantes as aplicadas aos nos visu-
ais dos problemas, estabelece-se ainda uma traducao que faz aparecer uma etiqueta a
meio do arco, no caso das variantes nao positivas de causalidade.
Figura 6.2: Componentes da linguagem visual dos mapas argumentativos do FADO.
Na figura 6.2 mostram-se os componentes visuais dos mapas de argumentacao.
De referir apenas os nos visuais sobre o arco visual horizontal, que correspondem as
juncoes: a esquerda (um pequeno rectangulo escuro), os associadas as instancias do
tipo ’AncoraDeAbonacao’; e a direita (uma cruz), os dos representante conceptual
do tipo ’AncoraDeRefutacao’. As estes dois tipos de nos visuais sao ainda impostas
restricoes espaciais, que as mantem sobre o arco visual correspondente a associacao
do tipo ’EntaoPorCerto’, no primeiro caso na metade inicial do arco e no segundo
6.1. O FADO 197
na metade final.
Figura 6.3: Componentes da linguagem visual dos mapas taxionomicos do FADO.
Finalmente, na figura 6.3 mostram-se os componentes visuais dos mapas taxi-
onomicos. Sao definidos tres contentores: o primeiro corresponde a um dos contex-
tos representativos das correstes do modelo, consoante o ’problema’ que se pretenda
classificar numa das subcategorias do modelo - area situada do lado esquerdo do traco
vertical carregado; o segundo, combinado com o primeiro por cooperacao, inclui os
nos visuais correspondentes as ’categorias’ da corrente em questao - em cima a di-
reita; e o terceiro contera os nos visuais das ’categorias’ especıficas a cada aplicacao
- regiao em baixo a direita. Na figura, em cada um dos contentores, e ainda mostrado
um exemplar dos nos visuais que se podem associar aos conceitos envolvidos nestes
mapas e os dois tipos de arcos visuais possıveis: a esquerda referente ao tipo Subsun-
cao e a direita a ’Causa’.
6.1.4 A apresentacao
Relativamente a apresentacao, os componentes do InCoMa aplicam-se directamen-
te ao FADO. Nas figuras seguintes mostram-se exemplos dos tres editores disponıveis
nesta ferramenta, todos eles usando variantes de vistas.
Na figura 6.4 mostra-se o editor das cartas de diagnostico. A regiao pela qual e
visıvel o mapa causal e uma IMV, cujas quatro subvistas se confinam aos quatro con-
tentores representativos das correntes do modelo organizacional seguido. Incluıram-se
198 CAPITULO 6. FERRAMENTAS
Figura 6.4: FADO - editor da carta de diagnostico.
ainda na IMV usada, formas graficas do tipo caixa de texto, que expoem o nome das
referidas correntes (em cima de cada subvista). E-lhes imposta uma restricao que de-
termina que a sua largura seja igual a da subvista junta, outra que lhes da uma cor mais
escura no caso da subvista estar seleccionada e ainda outras que lhes fixam a posicao e
a altura. O deslocamento das areas de foco das subvistas por accao sobre as barras de
deslocamento, no caso mostrado da subvista dos ”Factores Sociais”, nao interfere com
o posicionamento das formas graficas referidas, ja que estas estao definidas no nıvel
de interaccao. O mesmo se passa relativamente a aproximacao, disponıvel atraves nos
menus.
Para alem dos filtros da propria IMV, sao oferecidos outros predefinidos, acessıveis
pela barra de menus (em ”Analysis”), que permitem omitir variantes de relacoes cau-
6.1. O FADO 199
sais e problemas com nıveis de entrada e de saıda, acima ou abaixo de determinado
valor. Nesta fase nao foram usados destrutores ou teleportes, embora a utilizacao de
qualquer um deles fosse potencialmente interessante.
Figura 6.5: FADO - editor dos esquemas de argumentacao.
Na figura 6.5 mostra-se o editor dos mapas de argumentacao, no caso vertente de-
notando o debate sobre a classificacao, no contexto da corrente de ”Arranjos Organiza-
cionais”, do problema identificado com o numero 1 na carta de diagnostico. Este com-
ponente do FADO aparece, por omissao, com uma vista simples, estando disponıveis
os mecanismos normais de aproximacao (sobre cada um dos eixos) e deslizamento. E
possıvel tambem a duplicacao da vista ou a criacao de uma IMV.
Finalmente, a figura 6.6 mostra o editor dos mapas de taxionomicos. De referir a
presenca de uma IMV agora tripartida, cujas subvistas estao tambem limitadas aos res-
pectivos contentores (atras descritos). O mecanismo de identificacao destes foi igual-
mente feito recorrendo a formas graficas criadas no nıvel de interaccao (i.e. como com-
ponentes da IMV), embora as restricoes que lhe estao associadas, particularmente as
patentes nas subvistas a direita, sejam diferente (tamanho fixo).
200 CAPITULO 6. FERRAMENTAS
Figura 6.6: FADO - editor das taxionomias.
6.1.5 A manipulacao
No que respeita a manipulacao directa dos mapas apresentados no FADO, o supor-
te oferecido pelo InCoMa e tambem aplicado de forma praticamente directa. De facto,
para alem do refinamento das operacoes, algumas delas ja disponibilizadas, houve
apenas que estabelecer a articulacao das almas com os representantes visuais defini-
dos, que, ainda assim, adoptam os comportamentos por omissao.
Nas figuras que se seguem mostram-se alguns aspectos do comportamento dos
objectos aquando da sua manipulacao. O manipulador usado providencia o retorno se-
gundo a metafora da barreira e o dispositivo em jogo corresponde ao rato. No primeiro
caso (figura 6.7), ilustra-se a reclassificacao de um ’problema’ de um contexto para
outro, nomeadamente da corrente dos ”Arranjos Organizacionais”para os ”Factores
6.1. O FADO 201
Figura 6.7: FADO: reclassificacao de um problema.
Sociais”. A ”barreira”surge quando o no visual representante do ’problema’ 1 atinge
o limite da subvista em que se encontra e assim se mantem ate que o cursor a ultrapas-
se (lado esquerdo da figura). As movimentacoes de no visual que nao intersectem os
limites das suas subvista nao serao ”contrariadas”. Em ambas as partes da figura estao
patentes os componentes tangıvel (mais claro) e factıvel, do objecto manipulado.
Figura 6.8: FADO: criacao de uma associacao causal.
Na figura 6.8 mostram-se as duas fases finais do arrastamento, aquando da
definicao de uma relacao causal entre problemas. E tambem visıvel a barreira em tor-
no do no de destino e duas facetas do objecto manipulado (conjectural, a esquerda, e
factıvel, a direita). O retorno a manipulacao dos objectos que compoem os restantes
mapas e semelhante.
202 CAPITULO 6. FERRAMENTAS
6.2 O DETO/ARTO
O DETO/ARTO (Carrico et al., 1997) e uma ferramenta que surgiu no contexto dos
problemas encontrado na exploracao dos artefactos tecnologicos desenvolvidos no
ambito do ORCHESTRA. Esses problemas emergiram da necessidade de adaptacao
coordenada dos artefactos as inevitaveis mudancas organizacionais. De facto, apesar
de cada aplicacao cobrir aspectos fundamentais das organizacoes (informacao, fluxos
de trabalho, comunicacao e decisao) a sua articulacao torna-se indispensavel para uma
exploracao adequada que tire delas tire partido. Para mais, as mudancas organizacio-
nais sao, em grande parte, determinadas ao nıvel da gestao organizacional e, portanto,
segundo perspectivas globais descritas em modelos emergentes das ciencias sociais.
Figura 6.9: DETO.
6.2. O DETO/ARTO 203
O DETO/ARTO, e essencialmente formado por dois componentes interactivos2: o
DETO e o ARTO. O primeiro, cujo acronimo se forma a partir da designacao DEpendency
TOol, e um editor que permite a visualizacao e modificacao exploratoria da estrutura
de dependencias existente entre os diversos artefactos tecnologicos (desenvolvidos no
ORCHESTRA e implantados numa organizacao). A essa estrutura acrescem-se ainda
dependencias, normalmente subjectivas ou pelo menos nao explıcitas nesses artefac-
tos e especialmente entre eles, que resultam de uma perspectiva organizacional nao
necessariamente tecnologica. O DETO, apresentado na figura 6.9, articula esse mapa de
dependencias na classificacao de base estabelecida pelo modelo de desenho de Mintz-
berg (1993), sucintamente descrito na pagina 55. O ARTO, por sua vez, e um editor de
mapas argumentativos em tudo semelhante ao componente correspondente do FADO.
6.2.1 A concretizacao a partir do InCoMa
Tendo em consideracao o que foi dito sobre o FADO, referir-se-ao apenas as seguin-
tes caracterısticas relativas a construcao do DETO:
Representacao conceptual - assinale-se a criacao de cinco tipos de contextos e outros
tantos de conceitos, correspondentes as cinco dimensoes organizacionais defi-
nidas. Define-se apenas um tipo de arco visual, designado ’Depende’, com ca-
racterısticas de peso e confianca semelhantes as relacoes causais (embora sem
variantes).
Linguagem visual - os cinco tipos de nos visuais criados espelham eles proprios o
contexto em que estao inseridos, sendo as formas graficas que os constituem
compostas por outras primitivas e combinadas por restricoes geometricas ade-
quadas (e.g. formas concentricas). E particularmente interessante uma variante
usada para os nos visuais presentes no contexto de ”Autoridade Formal”, que po-
dem mostrar um conjunto de pontos, cujo numero (ate um maximo predefinido)
e determinado pelo valor de uma propriedade (’numero de indivıduos)’ do
2Outros componentes permitem a angariacao automatica de alguma informacao a partir dos artefac-tos que pretende auxiliar a gerir. Uma descricao mais em pormenor pode ser vista em (Carrico et al.,1997).
204 CAPITULO 6. FERRAMENTAS
respectivo conceito - veja-se o no visual designado ”Conduction Manager”, na
figura 6.9.
Apresentacao e manipulacao - na sua forma por omissao apresenta uma IMV com cin-
co subvistas sobre os respectivos contextos.
Manipulacao - as caracterısticas dos componentes de manipulacao sao semelhantes
aos do FADO.
6.3 Sumario
Neste capıtulo apresentou-se uma perspectiva sucinta das duas ferramentas cons-
truıdas com base no InCoMa. Para alem de uma descricao breve da sua funciona-
lidade e enquadramento no ambito das ferramentas a que se pretende dar suporte,
expuseram-se, em linhas gerais, alguns aspectos da sua concretizacao.
�Conclusoes e Trabalho
Futuro
Esta dissertacao explana a concepcao fundamentada (principled design) de um su-
porte para a construcao de ferramentas computacionais interactivas, orientadas para
o trabalho com mapas cognitivos, em particular, no contexto das organizacoes, do seu
desenho e diagnostico.
A motivacao da qual emerge este trabalho toma as suas raızes na necessidade, ma-
nifestada no ambito das ciencias sociais e projectada sobre as correspondentes verten-
tes tecnologicas, de olhar para as organizacoes como sistemas complexos, permeaveis a
influencias externas, com uma forte componente humana, em que a maneira de pensar
dos seus membros e especialmente a dos intervenientes nas tomadas de decisao, deter-
mina fortemente o seu desempenho. Assim sendo, a utilizacao de metodologias, que
permitam clarificar, comunicar e mesmo simular (ainda que parcialmente) os proces-
sos e estruturas de raciocınio dos indivıduos, e um recurso extremamente valido nesse
contexto. Prova dessa validade e o uso, cada vez mais frequente, dos mapas cogniti-
vos, em varias perspectivas da gestao e do desenvolvimento organizacional, incluindo
mesmo a concepcao de tecnologia e de sistemas computacionais complexos, que nela
se enquadrem de forma satisfatoria. A larga aceitacao deste instrumento de trabalho
nao e, como se disse, alheia a sua faceta visual, ao seu abrangimento na representacao
dos diferentes pontos de vista sobre o fenomeno cognitivo, a sua capacidade de en-
quadramento em modelos psicossociais estabelecidos e a sua faculdade de, cobrindo
diferentes nıveis de formalizacao, poder enquadrar multiplos graus de pormenor e
exactidao, que comportam, simultaneamente ou em sequencia, explanacoes intuitivas
e de foro racionalista, comuns nas deliberacoes organizacionais.
205
206 CAPITULO 7. CONCLUSOES E TRABALHO FUTURO
O desafio global que se pos a esta tese, foi entao o de estabelecer um sistema de
suporte, que cobrisse as varias formas e facetas de utilizacao destes mapas, no ambito
da gestao e desenvolvimento das organizacoes, e que permitisse enriquece-las com as
caracterısticas que um sistema computacional pode oferecer, adaptando-as aos requi-
sitos particulares de cada aplicacao. A sua natureza visual constitui, sem duvida, um
dos pontos chave desse desafio, ja que lanca esses reptos sobre uma area tecnologica,
mas tambem psicossocial e definitivamente cognitiva, como e a das interfaces pessoa-
maquina. De certo modo, esta fecha um ciclo de preocupacao sobre as ferramentas
computacionais em causa e consequentemente sobre o seu suporte, ja que se trata de
instrumentos oferecidos para auxiliar pessoas a reflectir sobre o que pensam e como
pensam as pessoas.
Partindo deste problema, procedeu-se entao ao estudo do contexto em que se
articulam os mapas cognitivos, analisando-os quer no domınio global em que se
debrucam (i.e., a cognicao humana), quer na forma que assumem e no aspecto cogni-
tivo que descrevem, quer ainda no modo como se obtem e como permitem extrapolar
consideracoes sobre a cognicao. Esta analise dos mapas foi mais longe, enquadrando-
os, num extremo, com formas racionalistas de representacao do conhecimento (as re-
des semanticas), e no outro, com esbocos estruturados para auxiliar a reflexao (mapas
mentais), passando por mecanismos visuais de explanacao conceptual em sentido la-
to (mapas de conceitos). Por fim, este estudo alargou-se ao domınio especıfico das
organizacoes, sobre o qual se apresentaram modelos de desenho e desenvolvimento,
tambem emergentes do estudo das caracterısticas psicossociais destas, que incluem
metodologias para o diagnostico organizacional, materializadas em formas simples de
mapas cognitivos.
Dessa analise em pormenor, foi possıvel identificar um conjunto de requisitos com
impacto directo na concepcao fundamentada de um suporte computacional adequa-
do. Na sua essencia, esses requisitos cobrem os aspectos de representacao conceptual
e visual, apresentacao e navegacao e manipulacao e retorno, que, como componentes
basilares no projecto de uma ferramenta interactiva, tomaram particular importancia
neste trabalho. Como denominador comum identificou-se, para alem do aspecto visu-
al, um modo de especificacao contingencial, passıvel de revisao e refinamento continu-
207
ados, articulado em conhecimento anterior, que, no componente computacional, se tera
que reflectir, tanto na forma como se guarda e se expressa a informacao (representacao),
como na maneira como se permite a sua exploracao e se guia o utilizador nesse proces-
so (manipulacao e retorno). Tambem decorrente de um processo de pormenorizacao
sucessiva e explanacao de actividades complexas, com multiplos factores envolvidos,
emergiu como requisito a capacidade de gerir diagramas de dimensoes apreciaveis,
patentes em diversos casos experimentais de aplicacao destes mapas.
Na posse destas directivas analisou-se o panorama tecnologico, num leque que
albergou as ferramentas especificamente orientadas para o trabalho com mapas cog-
nitivos, mas tambem os sistemas de suporte a criacao de ferramentas interactivas e
de representacao de conhecimento que, de algum modo, pudessem vir a dar solucao
a algumas das condicoes perseguidas. Esta analise foi inicialmente enquadrada em
princıpios e tecnicas avancadas, disponıveis genericamente para cada um dos grupos
de requisitos identificados, que no entanto, para alem de nao estarem patentes na mai-
oria das ferramentas e sistemas estudados, ficam aquem das expectativas criadas para
a construcao de um bom suporte computacional. Os problemas encontrados podem,
resumidamente, enumerar-se do seguinte modo:
� falta de um mecanismo de modelacao de representacoes conceptuais, que abar-
que os diferentes tipos de mapas cognitivos e se adapte as varias tecnicas de
analise expedita, levando em linha de conta as restricoes e recomendacoes, de
foro sintactico e semantico a eles inerentes, que se caracterizam por diferentes
graus de confianca e por requisitos de ajuste a cada situacao em particular e a
capitalizacao do conhecimento sucessivamente adquirido;
� ausencia de formas abrangentes para a definicao de notacoes adequadas as varias
representacoes visuais dos mapas, que se articulem com as restricoes conceptuais
antes referidas e com as caracterısticas espaciais e graficas das linguagens visuais
que constituem;
� desajuste das tecnicas disponıveis para a apresentacao de grandes diagramas do
tipo no/ligacao, em relacao as necessidades de navegacao e analise interactiva
de mapas cognitivos, sobre multiplos focos de interesse, cuja formalizacao e con-
208 CAPITULO 7. CONCLUSOES E TRABALHO FUTURO
sequente capacidade de providenciar contexto visual, se enraıza fortemente nas
associacoes e portanto nas ligacoes entre nos;
� carencia de expressividade nas formas de responder a manipulacao directa de
componentes dos diagramas e, em particular, de representacoes visuais dos ma-
pas cognitivos, face a necessidade de comunicar ao utilizador restricoes com
graus de proibicao e aceitacao variaveis, que, por fazerem parte integrante do
processo de exploracao, dificilmente se coadunam com interrupcoes a interaccao,
sem colidirem directamente com os princıpios para ela estabelecidos.
As solucoes propostas nesta tese, materializadas na biblioteca a que se chamou
InCoMa, assentam num conjunto de subsistemas integrados que lidam com cada um
desses problemas, a saber: o subsistema de representacao, o de apresentacao e o de
manipulacao. Todos eles se encontram, por sua vez, articulados com o CrOOK, um
subsistema de tipificacao e resolucao de restricoes.
O CrOOK e o responsavel pela coordenacao dos mecanismos de extensao e refina-
mento dos componentes basicos oferecidos nos restantes subsistemas, em particular
no de representacao. Providencia formas de especificacao de tipos, propriedades e
restricoes, que permitem a criacao dinamica de novas classes, a materializacao das
regras de comportamento das representacoes (conceptuais e visuais) e a definicao das
normas de articulacao entre os diversos subsistemas. Uma das suas caracterısticas fun-
damentais no CrOOK e a capacidade de gerir a resolucao das restricoes com base numa
relacao de prioridades, que admite, em cada estado do sistema, a existencia de desvios
a situacao de equilıbrio, i.e. restricoes nao completamente satisfeitas. Esta capacida-
de vai de encontro ao estabelecimento de hierarquias de regras de foro sintactico e
semantico, nestas ultimas espelhando os graus de confianca que lhes estao associados.
O subsistema de representacao, providenciando uma solucao para os dois primei-
ros problemas, subdivide-se nas facetas conceptual e visual. A primeira estabelece uma
estrutura de elementos composta essencialmente por conceitos, associacoes, contex-
tos e juncoes, coadjuvada por um conjunto de regras de uso, que permitem a criacao de
linguagens especıficas para a representacao conceptual de tipos predefinidos de mapas
cognitivos e para as suas evolucoes e adaptacoes as contingencias e caracterısticas de
209
cada aplicacao e do seu domınio. A segunda, directamente relacionada com a anteri-
or, define as contrapartidas visuais genericas, que podem tambem ser refinadas para as
necessidades especıficas de cada notacao. Introduz nos visuais, arcos visuais e conten-
tores e, em particular sobre estes ultimos, estabelece formas de combinacao que con-
cedem os meios para a construcao de mecanismos de expressao elaborados e consis-
tentes com os requisitos de pormenor encontrados. No seu conjunto, o subsistema de
representacao constitui uma plataforma para a criacao de linguagens especificamente
orientadas para a modelacao de aspectos da cognicao humana, naturalmente segundo
a perspectiva dos mapas. A separacao entre os nıveis conceptual e visual permite tirar
partido das vantagens especıficas de cada linguagem visual, que harmonizadas sobre
uma mesma representacao conceptual, providenciam uma imagem simultaneamente
mais completa e de mais facil percepcao.
O subsistema de apresentacao tem como responsabilidade principal gerir o espaco
visual disponıvel, atraves do qual os utilizadores veem e interagem com os mapas.
Essa funcionalidade materializa-se nas vistas, nos seus derivados e nos seus compo-
nentes, em especial os marcadores e os filtros, e encadeia-se em tres nıveis que se orien-
tam para a resolucao do penultimo problema anteriormente enumerado. No primeiro
nıvel as vistas disponibilizam a funcionalidade de base (deslizamento, aproximacao
e distorcao global), presente em objectos de interaccao comuns, normalmente desig-
nados de forma homonima, e ainda mecanismos de suporte a formas avancadas de
distorcao, bem como a meios de filtragem. Numa segunda fase, estabelecem-se formas
de articulacao entre vistas, por partilha e coordenacao de marcadores e filtros, esta
ultima recorrendo, mais uma vez, aos mecanismos de resolucao de restricoes do CrO-
OK. Desta maneira e possıvel encontrar solucoes integradas de marcacao e filtragem,
que facilitam ja a percepcao conjunta de varios focos e de visoes globais dos diagramas,
em vistas separadas. Finalmente, neste subsistema do InCoMa, propoe-se um artefacto
concebido sobre uma tecnica inovadora de apresentacao, a que se deu o nome de IMV.
Este, permitindo por si so a visualizacao e navegacao em multiplos focos de um dia-
grama, mantem a continuidade das ligacoes arcos visuais entre nos visuais patentes
em focos distintos, de modo a viabilizar a percepcao das associacoes e, portanto, as
pedras basilares de um grande numero de mapas cognitivos.
210 CAPITULO 7. CONCLUSOES E TRABALHO FUTURO
No seu todo, os subsistemas de representacao e apresentacao oferecem uma
solucao integrada para a expressao visual dos mapas cognitivos, suportada por uma
estrutura conceptual coerente. Em termos computacionais, os elementos que os
compoem dao resposta aos problemas colocados aos componentes de saıda, directa-
mente relacionados com a visualizacao dos mapas, nas aplicacoes cuja construcao se
pretende sustentar.
Como solucao para o ultimo dos problemas enumerados, o da manipulacao di-
recta, propos-se o subsistema de manipulacao. Os elementos que o formam, sao, em
primeiro lugar, responsaveis pela gestao das actividades do utilizador sobre as fer-
ramentas computacionais. Nesse sentido, identificaram-se tres grupos de elementos
de base, dispositivos, manipuladores e operacoes, correspondentes aos tres planos de
accao do utilizador sobre o sistema, i.e., actividade real sobre dispositivos fısicos de
entrada, actividade percepcionada durante a manipulacao e actividade executada no
sistema. A sua articulacao com os espacos definidos pelas vistas, faculta os meios para
interaccao com os componentes especıficos destas, com os elementos de representacao
dos mapas ou ainda com ambos. Neste ultimo caso, sao propostos componentes es-
pecıficos, os objectos operadores (destrutores e teleportes), que permitem a execucao,
sobre os representantes, de operacoes comuns na exploracao dos mapas cognitivos.
Para alem de lidar com a coordenacao das accoes do utilizador, os elementos
do subsistema de manipulacao sao ainda responsaveis pela composicao das respos-
tas imediatas que as ferramentas devem dar ao indivıduo, face as suas accoes de
manipulacao directa. No seguimento desse objectivo e proposto um modelo de
interaccao entre os objectos envolvidos numa manipulacao, que permite traduzir as
restricoes sintacticas e semanticas, postas em causa durante a mesma e definidas nas
regras de representacao, em caracterısticas de relacionamento espacial. Este modelo
define preceitos de comportamento e campos de influencia em redor dos objectos, cu-
jas caracterısticas, determinadas pelas propriedades daquelas restricoes, lancam uma
base comum para a construcao de respostas, que veiculem os diferentes nıveis de cons-
trangimento expressos, implıcita ou explicitamente, aquando da criacao dos mapas. A
notacao usada para essas respostas e entao estabelecida em dialectos de retorno, coor-
denados pelos dispositivos, manipuladores e operacoes, que gerem o posicionamento,
7.1. PERSPECTIVAS FUTURAS 211
a geometria e, em geral, os atributos graficos dos elementos de representacao, dos com-
ponentes de apresentacao envolvidos e de outros especificamente criados como formas
de retorno. Como exemplos de aplicacao do modelo e do subsistema de manipulacao
em geral, apresentam-se dois dialectos visuais de retorno distintos, concebidos especi-
ficamente para comunicarem ao utilizador diferentes nıveis de resistencia a quebra de
restricoes.
Os diferentes subsistemas foram entao usados na criacao de dois prototipos de
ferramentas orientadas para o desenho e diagnostico das organizacoes e que, natural-
mente, enquadram modelos emergentes dessas areas. A primeira, o FADO, que alias
esteve na origem do trabalho desenvolvido, concretiza os elementos necessarios para a
aplicacao da metodologia da Analise de Correntes, estendendo-a mesmo sobre outras
formas de mapas cognitivos, para alem das que ja inclui, que transparecem do proprio
processo de diagnostico. A segunda, o DETO/ARTO, surge da necessidade de coorde-
nar, a um nıvel de abstraccao elevado, o ajuste de alguns dos sistemas desenvolvidos
no ambito do ORCHESTRA, as mudancas das organizacoes em que se integram. A
ferramenta concretiza-se num componente de argumentacao (o ARTO), que usa mapas
argumentativos para documentar as dependencias definidas no outro componente (o
DETO). Este, por sua vez, adopta um modelo de desenho organizacional para estrutu-
rar as relacoes de dependencia entre os diversos aspectos das organizacoes que estao
patentes em sistemas computacionais subjacentes.
Estes prototipos e a sua construcao permitem demostrar a adequabilidade do In-
CoMa a um conjunto relativamente abrangente de linguagens visuais de representacao
de mapas cognitivos, no contexto de modelos organizacionais vigentes, o que constitui
alias o objectivo primordial deste trabalho.
7.1 Perspectivas futuras
No seguimento do esforco desenvolvido nesta tese, pode apontar-se um conjunto
de direccoes principais de trabalho futuro, que se relacionam directamente com a pla-
taforma desenvolvida, com os exemplos de manipulacao e retorno propostos ou com
212 CAPITULO 7. CONCLUSOES E TRABALHO FUTURO
linguagens visuais a desenvolver e, sem duvida, com os prototipos e outras aplicacoes
que possam vir a ser criadas. Quanto a plataforma, anteveem-se duas direccoes fun-
damentais: uma relativa a forma de especificacao dos refinamentos aos elementos de
base do subsistema de representacao, aquando da definicao de novas linguagens; outra
referente aos modos de enriquecimento e composicao dos dialectos de retorno. No pri-
meiro caso, devera ser considerada a concepcao de mecanismos de explanacao visual
guiada, que se estendam a definicao das restricoes associadas a sintaxe ou aos mode-
los adoptados em cada situacao. De certa forma, a resolucao deste repto passa pela
criacao de uma meta-ferramenta, que se estruture sobre os conceitos desenvolvidos e,
na pratica, sobre a biblioteca, e que assim permita ajustar, a um nıvel de abstraccao
elevado, as linguagens de especificacao de mapas, aos domınios em que se aplicam.
Quanto aos componentes de manipulacao, a sua extensao a outros dialectos de retorno
e a inclusao de outros modos, que nao o visual, podera vir a completar um leque alar-
gado de opcoes, para comunicacao das restricoes encontradas durante a manipulacao
dos elementos. Algum esforco foi ja desenvolvido, na integracao de componentes de
retorno auditivo, em que o timbre e volume de som pode ser usado como complemento
para veicular a intensidade das restricoes.
Relativamente a linguagens visuais e, em particular, aos dialectos de retorno pro-
postos, ha que desenvolver um trabalho de avaliacao, seja ele enquadrado em fer-
ramentas especıficas para criacao e analise de mapas cognitivos, seja noutro tipo de
aplicacoes. Em qualquer dos casos, a participacao dos utilizadores finais sera sempre
preponderante, embora, para aplicacoes de foro organizacional, nomeadamente nas
que se enquadram no ambito da gestao, a angariacao dos indivıduos seja normalmen-
te difıcil. Nesse sentido, preve-se a aplicacao dos dialectos de retorno a situacoes de
laboratorio e mesmo de ambito geral, como sejam simulacoes do proprio trabalho de
escritorio. Por exemplo, a aplicacao das metaforas ao apagamento de ficheiros, cuja in-
tensidade da restricao se articule com o tipo de ficheiro a apagar, podera ja dar algumas
indicacoes para a aceitacao ou revisao dos dialectos (e.g. ficheiros criados terao gran-
des restricoes ao apagamento, enquanto os gerados automaticamente deverao impor
pequenos entraves).
Quanto as ferramentas desenvolvidas e em particular ao FADO, e interessante a sua
7.1. PERSPECTIVAS FUTURAS 213
integracao com tecnicas de decisao em grupo suportadas por computador, como as que
sao propostas por Antunes e Guimaraes (1995). A sua adequacao ao processo proposto
pela metodologia da Analise de Correntes e evidente, dada a definicao de grupos de
trabalho, activos nos aspectos de argumentacao que se debatem sobre cada fase do
diagnostico. O mesmo tipo de consideracoes pode ser feito sobre o DETO/ARTO.
214 CAPITULO 7. CONCLUSOES E TRABALHO FUTURO
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234 BIBLIOGRAFIA
Glossario Portugues Ingles
arvores de decisao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . decision trees
aspecto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . feature
abonacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . warrant
acompanhamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . tracking
actividades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . activities
adhocracia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . adhocracy
afirmacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . claim
agencias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . agencies
ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . environment
analise de conteudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . content analysis
Analise de Correntes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Stream Analysis
aproximacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . zoom
argumentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . arguments
arranjos organizacionais . . . . . . . . . . . . . . . . organizational arrangements
arrastamento e largada . . . . . . . . . . . . . . . . . . drag and drop
as instalacoes fısicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . physical settings
associacoes de benefıcio mutuo . . . . . . . . . mutual benefit associations
autoridade formal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . formal authority
burocracia mecanicista . . . . . . . . . . . . . . . . . . machine bureaucracy
burocracia profissional . . . . . . . . . . . . . . . . . . professional bureaucracy
capacidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . affordance
caridades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . charities
235
236 GLOSSARIO PORTUGUES INGLES
carta de acompanhamento . . . . . . . . . . . . . . monitoring chart
carta de correntes para diagnostico de
problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
stream problem diagnosis chart
carta de planeamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . planning chart
cartas de PERT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PERT charts
centro operacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . operating core
Cognicao Organizacional e de Gestao . . . Managerial and Organizational Cogni-
tion
componentes de resolucao de restricoes . constraints solvers
comportamental cognitivo . . . . . . . . . . . . . . behavioral cognitive
comportamento e processos . . . . . . . . . . . . . behavior and processes
comportamento/movimento . . . . . . . . . . . . behavior-motion
comunicacao informal . . . . . . . . . . . . . . . . . . informal communication
concepcao fundamentada . . . . . . . . . . . . . . . principled design
constelacoes de trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . work constellations
constructos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . constructs
criterios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . criteria
cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . culture
de concretizacao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . implementational
desenho organizacional . . . . . . . . . . . . . . . . . organizational design
Desenvolvimento Organizacional . . . . . . . Organizational Development
deslizamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . scroll
diagnostico organizacional . . . . . . . . . . . . . . organizational diagnosis
dinamica de sistemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . system dynamics
directividade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . directiveness
distribuicao espacial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . layout
encadeamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . chaining
enquadramentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . frames
entradas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . inputs
GLOSSARIO PORTUGUES INGLES 237
esquemas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . schema
estrutura divisional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . divisionalized form
estrutura simples . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . simple structure
estrutura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . structure
factores sociais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . social factors
fluxos regulados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . regulated flows
funcoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . functions
fundamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . backing
Gestao de Qualidade Total . . . . . . . . . . . . . . Total Quality Management
Grafos Conceptuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Conceptual Graphs
grafos existenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . existential graphs
grelhas de repertorio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . repertory grids
guioes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . scripts
historias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . stories
interface programatica da aplicacao . . . . . application programming interface
logica difusa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . fuzzy logic
logica do desenho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . design rationale
linha hierarquica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . middle line
mapas causais difusos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . fuzzy causal maps
mapas cognitivos difusos . . . . . . . . . . . . . . . fuzzy cognitive maps
Mapas Cognitivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Cognitive Maps
mapeamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . mapping
memoria de curto prazo . . . . . . . . . . . . . . . . . long-term memory
memoria de curto prazo . . . . . . . . . . . . . . . . . short-term memory
memorias sensoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . sensory memories
missao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . mission
modelacao de empresa . . . . . . . . . . . . . . . . . . enterprise modeling
modelo conexionista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . connectionist model
modelo da teoria dos jogos . . . . . . . . . . . . . . game theoretic model
238 GLOSSARIO PORTUGUES INGLES
modelo simbolico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . symbolic model
modelos mentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . mental models
nıvel-de-entrada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . indegree
nıvel-de-saıda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . outdegree
opcoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . options
organizacoes de mercado . . . . . . . . . . . . . . . market organizations
organizacoes profissionais. . . . . . . . . . . . . . . professional organizations
parede perspectiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . perspective wall
pessoal de apoio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . support staff
posicoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . positions
problemas de base . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . core problems
processamento analıtico local . . . . . . . . . . . on-line analytical processing
processos de decisao ad hoc . . . . . . . . . . . . . . ad hoc decision processes
proposito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . purpose
questoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . questions
redes de Bayes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Bayesian networks
redes de crencas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . belief networks
redes semanticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . semantic networks
Reengenharia dos Processos de Negocio . Business Process Reengineering
refutacao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . rebuttal
resolucao de problemas . . . . . . . . . . . . . . . . . problem-solving
restricoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . constraints
retorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . feedback
saıdas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . outputs
sistema de suporte a sistemas periciais . . expert system shell
sistemas baseados em conhecimento . . . . knowledge based systems
Sistemas de Informacao de Executivos . . Executive Information Systems
Sistemas de Informacao de Gestao . . . . . . Management Information Systems
sistemas de informacao . . . . . . . . . . . . . . . . . information systems
GLOSSARIO PORTUGUES INGLES 239
Sistemas de Suporte a Decisao em Grupo Group Decision Support Systems
Sistemas de Suporte a Decisao . . . . . . . . . . Decision Support Systems
sistemas de suporte aos fluxos de traba-
lho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
workflow systems
sistemas periciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . expert systems
Suporte Computacional a Engenharia de
Sistemas Programados . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Computer Aided Software Engineering
topicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . issues
tecnoestrutura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . technostructure
tecnologia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . technology
temas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . themes
teoria dos constructos pessoais . . . . . . . . . . personal construct theory
tomada de decisao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . decision-making
vertice estrategico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . strategic apex
vistas de olho de peixe . . . . . . . . . . . . . . . . . . fish-eye-views
vistas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . views
240 GLOSSARIO PORTUGUES INGLES
Glossario Ingles Portugues
activities . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . actividades
ad hoc decision processes . . . . . . . . . . . . . . . processos de decisao ad hoc
adhocracy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . adhocracia
affordance . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . capacidade
agencies . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . agencias
application programming interface . . . . . . interface programatica da aplicacao
arguments . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . argumentos
backing . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . fundamento
Bayesian networks . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . redes de Bayes
behavior-motion . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . comportamento/movimento
behavior and processes . . . . . . . . . . . . . . . . . comportamento e processos
behavioral cognitive . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . comportamental cognitivo
belief networks . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . redes de crencas
Business Process Reengineering . . . . . . . . . Reengenharia dos Processos de Negocio
chaining . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . encadeamento
charities . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . caridades
claim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . afirmacao
Cognitive Maps . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Mapas Cognitivos
Computer Aided Software Engineering . Suporte Computacional a Engenharia de
Sistemas Programados
Conceptual Graphs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Grafos Conceptuais
connectionist model . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . modelo conexionista
241
242 GLOSSARIO INGLES PORTUGUES
constraints solvers . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . componentes de resolucao de restricoes
constraints . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . restricoes
constructs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . constructos
content analysis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . analise de conteudo
core problems . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . problemas de base
criteria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . criterios
culture . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . cultura
decision-making . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . tomada de decisao
Decision Support Systems . . . . . . . . . . . . . . . Sistemas de Suporte a Decisao
decision trees . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . arvores de decisao
design rationale . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . logica do desenho
directiveness . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . directividade
divisionalized form . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . estrutura divisional
drag and drop . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . arrastamento e largada
enterprise modeling. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . modelacao de empresa
environment . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ambiente
Executive Information Systems . . . . . . . . . . Sistemas de Informacao de Executivos
existential graphs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . grafos existenciais
expert system shell . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . sistema de suporte a sistemas periciais
expert systems . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . sistemas periciais
feature . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . aspecto
feedback . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . retorno
fish-eye-views . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . vistas de olho de peixe
formal authority . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . autoridade formal
frames . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . enquadramentos
functions . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . funcoes
fuzzy causal maps . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . mapas causais difusos
fuzzy cognitive maps . . . . . . . . . . . . . . . . . . . mapas cognitivos difusos
fuzzy logic . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . logica difusa
GLOSSARIO INGLES PORTUGUES 243
game theoretic model . . . . . . . . . . . . . . . . . . . modelo da teoria dos jogos
Group Decision Support Systems. . . . . . . . Sistemas de Suporte a Decisao em Grupo
implementational . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . de concretizacao
indegree . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . nıvel-de-entrada
informal communication . . . . . . . . . . . . . . . . comunicacao informal
information systems . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . sistemas de informacao
inputs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . entradas
issues . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . topicos
knowledge based systems . . . . . . . . . . . . . . . sistemas baseados em conhecimento
layout . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . distribuicao espacial
long-term memory . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . memoria de curto prazo
machine bureaucracy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . burocracia mecanicista
Management Information Systems . . . . . . Sistemas de Informacao de Gestao
Managerial and Organizational Cogni-
tion . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Cognicao Organizacional e de Gestao
mapping . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . mapeamento
market organizations . . . . . . . . . . . . . . . . . . . organizacoes de mercado
mental models . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . modelos mentais
middle line . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . linha hierarquica
mission . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . missao
monitoring chart . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . carta de acompanhamento
mutual benefit associations. . . . . . . . . . . . . . associacoes de benefıcio mutuo
on-line analytical processing . . . . . . . . . . . . processamento analıtico local
operating core . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . centro operacional
options . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . opcoes
organizational arrangements . . . . . . . . . . . . arranjos organizacionais
organizational design . . . . . . . . . . . . . . . . . . . desenho organizacional
Organizational Development . . . . . . . . . . . . Desenvolvimento Organizacional
organizational diagnosis . . . . . . . . . . . . . . . . diagnostico organizacional
244 GLOSSARIO INGLES PORTUGUES
outdegree . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . nıvel-de-saıda
outputs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . saıdas
personal construct theory . . . . . . . . . . . . . . . teoria dos constructos pessoais
perspective wall . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . parede perspectiva
PERT charts . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . cartas de PERT
physical settings . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . as instalacoes fısicas
planning chart . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . carta de planeamento
positions . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . posicoes
principled design . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . concepcao fundamentada
problem-solving . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . resolucao de problemas
professional bureaucracy . . . . . . . . . . . . . . . . burocracia profissional
professional organizations . . . . . . . . . . . . . . organizacoes profissionais
purpose . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . proposito
questions . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . questoes
rebuttal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . refutacao
regulated flows . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . fluxos regulados
repertory grids . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . grelhas de repertorio
schema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . esquemas
scripts . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . guioes
scroll . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . deslizamento
semantic networks . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . redes semanticas
sensory memories . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . memorias sensoriais
short-term memory . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . memoria de curto prazo
simple structure. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . estrutura simples
social factors . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . factores sociais
stories . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . historias
strategic apex . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . vertice estrategico
Stream Analysis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Analise de Correntes
GLOSSARIO INGLES PORTUGUES 245
stream problem diagnosis chart . . . . . . . . . carta de correntes para diagnostico de
problemas
structure . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . estrutura
support staff . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . pessoal de apoio
symbolic model . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . modelo simbolico
system dynamics. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . dinamica de sistemas
technology . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . tecnologia
technostructure . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . tecnoestrutura
themes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . temas
Total Quality Management . . . . . . . . . . . . . . Gestao de Qualidade Total
tracking. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . acompanhamento
views . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . vistas
warrant . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . abonacao
work constellations . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . constelacoes de trabalho
workflow systems. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . sistemas de suporte aos fluxos de traba-
lho
zoom . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . aproximacao
246 GLOSSARIO INGLES PORTUGUES
Indice Remissivo
A
Amulet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94–95
analise de conteudo . . . . . . . . . . 30, 36, 77
analise de correntes . . . 54, 111, 116, 190,
211, 213
ferramentas 88
metodologia 58–62
modelo 56–57
ancoras de tipo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
aprendizagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
Aquanet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91–92
AQUINAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79–80
arcos visuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .123
arvores de decisao . . . . . . . . . . . . . . 42, 43
aspectos . . . . 110, 125, 126, 130, 174, 193,
195, 196
associacoes . . . . . . . . . . . . . . . 102, 115–118
atencao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22, 67–68
B
bibliotecas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92–96
– ver tambem Amulet
– ver tambem EdGar
– ver tambem GDToolkit
– ver tambem Graphlet
– ver tambem Hardy
– ver tambem KRS
– ver tambem LEDA
C
campo
de actividade 160–162, 164–168, 170,
172, 180, 182
de rejeicao 160–172, 180–185
de resistencia 162, 166, 167, 169, 170,
176, 179, 184, 185
de retencao 160–164, 166–169, 171,
173, 174, 180–183, 185
capacidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67, 68, 74
cartas de PERT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
CASE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87, 89, 92
ciencias
cognitivas 1, 8, 12, 19, 21
sociais 2, 5, 6, 10, 13, 19
CLIPS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69, 89, 90, 93
CMAP 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82, 84
cognicao social . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25–26
componente de retorno
conjectural 178, 180, 183, 184, 201
factıvel 178, 180, 183–185, 201
247
248 INDICE REMISSIVO
tangıvel 177, 178, 180, 183, 201
conceitos 102, 112, 114, 115, 118, 123, 129
Constraint Graphs . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
constructos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .32, 36
contentores . . . . . . . . . . . . . . . 123, 129–131
contextos . . . . . . . . 102, 112–115, 123, 129
cooperacao . . . . . . . . . . . . . . . 129–132, 197
COPE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
D
Decision Explorer . . . . . . . . . . . . . . . 82–85
dependencia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
dependente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
desenho organizacional . . . . . 1, 6, 10, 20
modelos 53
Butler 56
Mintzberg 55–56
desenvolvimento organizacional . 6, 20,
21, 26, 52
modelos 53, 56
Bair 57–58
Harrison 57
Porras ver Analise de Correntes
diagnostico organizacional . 1, 6, 10, 20,
53
dinamica de sistemas . . . . . . . . . . . . . . . 84
DOLPHIN . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86, 87
dominante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
E
EdGar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .95–96
Elicit . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
enquadramentos . . . . . . . . . . . . . . . . 47, 50
Enterprise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
espaco de manipulacao interna 156–158,
180
esquemas
cognitivos de base 40
de rep. de conhecimento 47
– ver tambem IBIS
– ver tambem QOC
– ver tambem Toulmin, esquema
F
ferramentas
de argumentacao 85–87
gIBIS 85
no NoteCards 85
– ver tambem Aquanet
– ver tambem JANUS
– ver tambem SEPIA
– ver tambem SIBYL
de inventariacao de conceitos 77–78
– ver tambem Logic-Line 2
– ver tambem SPSS
– ver tambem TEXTPACK
– ver tambem TextSmart
de reengenharia e argumentacao 88
de suporte a mapas causais 82–85
difuso 85
– ver tambem CMAP 2
– ver tambem Decision Explorer
– ver tambem GrIT
– ver tambem KDraw
– ver tambem Vensim
INDICE REMISSIVO 249
de suporte a mapas mentais 87–88
– ver tambem Mind Manager
– ver tambem Visi Map
de suporte a taxionomias 78–82
– ver tambem Elicit
– ver tambem GrIT
– ver tambem Group Systems
– ver tambem KDraw
– ver tambem analise de correntes,
ferramentas
forca
de rejeicao 161, 163, 185
de resistencia 162, 169
de retencao 161, 164, 169, 184
G
GDToolkit . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
gestao de qualidade total . . . . . ver GQT
GQT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4, 5
grafos conceptuais . . . . . . . . . 81, 113, 116
grafos existenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
Graphlet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .94
grelha de repertorio . . . . . . . . . . . . . . . .111
grelhas de repertorio . . . . . . . . . . . . 32, 33
ferramentas 79, 80
meta-ferramentas 91
GrIT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81–82
Group Explorer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
Group Systems . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
guioes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47, 50
H
Hardy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89–91, 93
I
IBIS . . . . . . . . . . . . . 44, 85, 86, 91, 103, 116
IMV . . . . . . . 142–144, 154, 156, 159, 185,
197–199, 204, 209
classe 141, 143
interaccao pessoa-maquina . . . . . . 12, 13
J
JANUS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86, 87
juncoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103, 116–118
K
KDraw . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80–82
Kmap . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
KRS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
KSM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
KSS0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79–80
KSSn . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79–80
L
logica difusa . . . . . . . . . . . . . . . . . 16, 41, 96
logica do desenho . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
LEDA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
limiar
de aceitacao 161–163, 166, 168,
170–173, 180, 182
de actividade 162–164, 169, 172, 173,
180
de aprovacao 162
de cedencia 161, 162, 164, 169, 173
de execucao 162–164, 168, 171–173,
180, 182
250 INDICE REMISSIVO
de rejeicao 161, 163–165, 170, 171,
173, 182, 183
de retencao 161, 162, 164, 170, 180
Logic-Line 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
M
Manipulacao externa . . . . . . . . . . . . . . 154
Manipulacao interna . . . . . . . . . . . . . . 155
mapas cognitivos . 1, 8, 10–12, 20, 26–28
argumentativos 41–45
causais 35–41
difusos 40
de inventario 29–31
interpretativos 45–48
taxionomicos 31–34
mapas de conceitos . . . . . . . . . . . . . .51–52
mapas mentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
MAPCOG . . . . . . . . . . . . . . . 11, 16, 38, 100
mapeamento
na interaccao pessoa maquina 74
memoria
de curto prazo 22
de longo prazo 22
modelo temporal 22
sensorial 22
memorizacao . . . . . . . . . . . . . 22–23, 67–68
meta-ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . 89–92
– ver tambem Aquanet
– ver tambem Constraint Graphs
– ver tambem Hardy
– ver tambem Kmap
– ver tambem KSM
– ver tambem MetaEdit
– ver tambem PROTEGE
MetaEdit . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
Mike . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
Mind Manager . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
modelacao de empresa . . . . . . . . . . . 4, 57
modelacao de processos . . . . . . . . . . . 3, 4
modelos
comportamental cognitivo 26
conexionista 23
da teoria dos jogos 26
economico 26
mentais 24, 25, 68
simbolico 23
N
nos visuais . . . . . . . . . . . . . . . 122, 129–131
nıvel
de interaccao 135
de representacao conceptual 120,
135
de representacao visual 120, 135
nıvel-de-entrada . . . . . 37, 60, 83, 84, 191
nıvel-de-saıda . . . . . . . 37, 60, 83, 84, 191
neurobiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8, 9
O
objecto de manipulacao . . . . . . . . . . . .157
objectos operadores . . . . . . . . . . . . . . . 158
olho de peixe . . . . . . . . . . . . . . . 72, 95, 137
ORCHESTRA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10, 54
INDICE REMISSIVO 251
P
padroes de decisao . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
parede perspectiva . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
percepcao . . . . . . . . . . . . . . . . 21–22, 67–68
PHI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
PHIBIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86, 91
plano
da linguagem 105, 106, 108, 124, 193
do InCoMa 105, 106
dos mapas 105–108, 124
PROTEGE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
Q
QOC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44, 85, 86
R
raciocınio e aprendizagem . . . . . . .24–25
redes de Bayes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
redes de crencas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
redes de Petri . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
redes semanticas . 12, 23, 33, 48–51, 113,
116
reengenharia dos processos . . . . . . . . 5, 6
de negocio ver RPN
reengenharia dos processos de negocio
88
representacao do conhecimento . 23–24
resolucao de problemas . . . . . . . . . . . . . 42
restricao
na interaccao pessoa maquina 74
restricoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109–110
retorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12, 14, 75
RPN . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .4, 5
S
semiotica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
semiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .46
SEPIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .86–87
SIBYL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
sistemas
baseados em conhecimento 79, 93
de informacao 3, 4, 43, 52
de executivos 7
de gestao 7
multidimensionais 7
de processamento analıtico local 7
de suporte
a decisao ver SSD
a decisao em grupo 7
a sistemas periciais 69, 89
aos fluxos de trabalho 3, 43, 52
de trabalho em grupo 4, 10
periciais 4, 6
sobreposicao . . . . . . . . . . . . . 129–132, 181
SPSS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .78
SSD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6, 7
subsuncoes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
suporte comp. a eng. de sis. programa-
dos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ver
CASE
T
teoria dos constructos pessoais . . 32, 79
TEXTPACK . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .78
TextSmart . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Toulmin . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
252 INDICE REMISSIVO
esquema 41, 44, 69, 85, 86, 91, 116,
127, 192
trabalho em grupo . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
V
Vensim . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84–85
Visi Map . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87