medicina tradicional chinesa alternativa ou … · 3 com o número actual do boletim informativo...

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N.º 9 | III Série | Distribuição gratuita | Setembro a Dezembro de 2010 Medicina Tradicional Chinesa Alternativa ou complemento? Luís Maurício “Empenhar-me-ei no aprofundamento da investigação” Rui André “Não precisamos de nos afirmar” Augusto Faustino Osteoartrose ou osteoartrite? Da inflamação à terapêutica Destinos Atlanta – “Maior” em quase tudo

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N.º 9 | III Série | Distribuição gratuita | Setembro a Dezembro de 2010

Medicina Tradicional Chinesa

Alternativa oucomplemento?Luís Maurício

“Empenhar-me-ei noaprofundamento da investigação”

Rui André

“Não precisamos de nos afirmar”

Augusto FaustinoOsteoartrose ou osteoartrite?Da inflamação à terapêutica

DestinosAtlanta – “Maior” em quase tudo

N.º 9 | III Série | Distribuição gratuita | Setembro a Dezembro de 2010

Medicina Tradicional Chinesa

Alternativa oucomplemento?Luís Maurício

“Empenhar-me-ei noaprofundamento da investigação”

Rui André

“Não precisamos de nos afirmar”

Augusto FaustinoOsteoartrose ou osteoartrite?Da inflamação à terapêutica

DestinosAtlanta – “Maior” em quase tudo

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Com o número actual do Boletim Informativo – BI, da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, encerra-se um ciclo de seis edições – três em cada um dos dois últimos anos civis – sob um novo formato, do qual assumi a responsabilidade directa, e que, julgo, cumpriu os seus objectivos.

A estrutura do BI revelou-se homogénea, com um conjunto de rubricas que se manteve constante, numa mistura de notícias sobre a Especialidade, a revisão de uma patologia – numa abordagem que teve sempre em perspectiva o leitor “não Reumatologista” – até temas mais suaves e de leitura mais directa, como a rubrica “Privado”, onde foi possível conhecer o “outro lado” do clínico que trata doentes reumáticos.

Ao longo destes dois anos, o BI contribuiu para reforçar e consolidar a imagem da Reumatologia junto dos colegas de outras Especialidades e do público em geral, afinal um dos seus objectivos traçados desde início, tentando ser fiel ao que pulsava no seu seio.

Para que isso acontecesse, muito contribuiu a equipa competente da “Maria Design”, empresa responsável pela sua concepção, a quem agradeço o empenho, de forma particular à jornalista Dora Santos Silva, responsável pelo “escrevinhar” e ordenar de todo o conteúdo do Boletim Informativo.

De igual forma, merecem referência todos os colegas que emprestaram o seu saber ao longo das várias edições, contribuindo com a “sua pena” para o enriquecimento do Boletim Informativo. O último, mas sincero, agradecimento, vai para a Indústria Farmacêutica que sponsorizou, com o anúncio aos seus produtos, o BI.

E o futuro?

O futuro passará necessariamente pela consolidação deste projecto, sempre passível da introdução de novos factores de melhoria, pela mão do próximo Presidente-Eleito da SPR, como tem sido a tradição, desde que o BI foi criado.

O futuro passa também por uma convergência da morfologia das diferentes formas de comunicação da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, de modo que o seu trajecto comunicacional possa, para além da escrita, ser facilmente identificado pela imagem.

O futuro passa pelo reforço da Reumatologia como a especialidade de referência para o tratamento das doenças reumáticas, de que o BI, associado a outras formas de comunicação, é um importante instrumento.

Comemora-se, em 2012, o quadragésimo aniversário da SPR. Os próximos dois anos serão um estímulo para um trabalho reforçado e de homenagem àqueles que, ao longo dos últimos 40 anos, lutaram pela Reumatologia Portuguesa! A forma de comunicar será, certamente, um eixo importante do êxito dos 40 anos da SPR!

Até breve!

Dr. Luís Maurício Presidente-Eleito da SPR

Tempo de balanço

A SPR é membro da EULAR-European League Against Rheumatism

Propriedade

Sociedade Portuguesa de ReumatologiaAv. de Berlim, nº 33 B 1800-033 Lisboainfo@spreumatologia.ptwww.spreumatologia.ptPeriodicidadeQuadrimestral

Tiragem3000 exemplares

Depósito legal265378/07

Direcção

PresidenteRui André Santos

Vice-Presidente Viviana Tavares

Vice-PresidenteRui Leitão Secretária-GeralPatrícia Nero

Secretária AdjuntaHelena Canhão

TesoureiraLúcia Costa

Vogal Região NorteFilipe Brandão

Vogal Região CentroMargarida Oliveira

Vogal Região SulAna Teixeira

Vogal Região IlhasRicardo Figueira

Mesa da Assembleia Geral

PresidenteAugusto Faustino

SecretárioWalter Castelão

SecretárioJosé Ribeiro

Conselho Fiscal

PresidenteJosé Vaz Patto

RelatorJosé Bernardes

VogalMaria Manuela Parente

Presidente-EleitoLuís Maurício

4 a 8Medicina Tradicional Chinesa: alternativa ou complemento?Entrevistas a Nuno Lemos, especialista em Medicina Tradicional Chinesa, e a Fernando Saraiva, reumatologista e acupunctor

Tema de Capa

Editorial Nesta Edição

24 a 27Rui Leitão, Reumatologista“Talvez falhar de novo mas... falhar melhor!”

Ensaio

9 a 13Luís Maurício, Presidente-Eleito da SPR“Empenhar-me-ei noaprofundamento da investigação”Rui André, Presidente da SPR“Não precisamos de nos afirmar”

Sociedade Reumatológica

40 a 42Atlanta – “Maior em quase tudo”

Destinos

36 a 38Centro Cultural e de Congressos de Aveiro Ex-libris da cidade aveirense

Espaços

14 | 33 a 34 | 36Agenda cultural

Eventos nacionais e internacionais

2º Simpósio SPR: “Artrite e Osso”

Relance

29 a 31À conversa com...Mário Viana de Queiroz

Privado

18 a 21Augusto Faustino, ReumatologistaOsteoartrose ou Osteoartrite?Da inflamação à terapêutica

Revisão

16 a 17Viviana Tavares, ReumatologistaTrinta anos depois

Opinião

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Tema de Capa

Frequentou o curso de Enfermagem, mas desistiu porque não era esse o caminho. Licenciou-se em Medicina Nuclear, mas

prefere exercer Medicina Tradicional Chinesa, área na qual se graduou pela Universidade de Nanjing. É “outra” Medicina, mas a que lhe dá mais prazer.

Como é que a Medicina Tradicional Chinesa vê, em comparação com a Medicina Ocidental, as doenças no geral e as doenças reumáticas em particular?A Medicina Ocidental (MO) trabalha com doenças, que constituem formas de classificar sintomas… A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) não trabalha actualmente com essa designação, mas sim com aquilo a que chama “padrões clínicos”. Superficialmente, um padrão clínico poderá parecer uma doença, mas existem algumas diferenças: para a MTC, uma doença pode ter vários padrões clínicos e doenças diferentes podem ter o mesmo padrão clínico. O princípio da MTC é, pois, o de que podem existir tratamentos diferentes para a mesma doença e o mesmo tratamento para doenças diferentes.

Deixe-me ilustrar com um exemplo: se um doente apresentar dor muito intensa, tipo facada, que melhora com movimento e agrava à

noite ou à palpação, tenho sintomas suficientes para dizer que tenho um padrão clínico de estase de sangue. No entanto, estes sintomas podem ser apresentados quer por um doente com síndrome de canal cárpico quer por uma doente com uma infecção urinária.

São, portanto, duas doenças diferentes, com o mesmo padrão clínico. Quero com isto dizer que não é importante observar as doenças reumáticas separadamente das outras, porque nos focalizamos no padrão clínico.

Imagine que vem ao seu consultório uma doente diagnosticada com artrite reumatóide ou qualquer outra doença reumática que provoque dor. Como se desenrola a abordagem a essa doente?Em primeiro lugar, há que perceber quais são os sintomas. A MTC é sintomática, ou seja, baseia-se principalmente na análise de sintomas e sinais clínicos, ao contrário da MO, cujo nível de evolução lhe permite retirar do

doente informações às quais a MTC não tem acesso. Uma doente com osteroporose, que lhe foi diagnosticada por exemplo através de uma osteodensitometria e não por queixas próprias, pode ser considerada saudável pela MTC porque não apresenta sintomas.

Na presença de sintomas, sigo um determinado procedimento que me permite analisar a existência ou não de padrões clínicos, levantando várias questões, como o tipo de dor, a que estados emocionais está associada, se agrava com o frio ou com o calor, e relacionar esses sintomas. Se o doente tiver dor lombar, não vou saber se é um problema ortopédico ou reumático. O que vou tentar descobrir são as características dos sintomas e, de acordo com isso, definir o tratamento.

Quais são as maiores queixas dos doentes que o procuram?A grande maioria dos doentes apresenta dor. E a acupunctura é um dos melhores tratamentos da dor.

Como é que são determinados os pontos de acupunctura no corpo de um doente que apresenta, por exemplo, dor lombar? Temos de partir da premissa de que a MTC é normativa, de forma a conseguir compreender

A acupunctura é um dos melhores tratamentos da dor

Não coloca a Medicina Tradicional Chinesa acima da Medicina Ocidental. Esta última, afirma, deve ser sempre a base do Sistema Nacional de Saúde. Porém, não tem dúvidas de que, em alguns casos, a acupunctura poderá ser mais eficaz do que a terapêutica farmacológica

“Acupunctura é um complemento e não a alternativa”

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O que o levou a tirar o curso de acupunc-tura?Decidi tirar o curso de acupunctura (AC) na APA-DA - Associação Portuguesa de Acupunctura e Disciplinas Associadas, em Lisboa, para ter outras opções de tratamento para os meus doentes, além daquelas que a minha especialidade me permitiu adquirir, mas sempre considerando a AC numa perspectiva de complementaridade, não de alternativa em relação à medicina convencional.

Qual é a mais-valia da acupunctura para a sua prática clínica?Basicamente, aumenta a eficácia do tratamento da dor, permitindo poupar na toma de analgésicos e anti-inflamatórios, facto que é particularmente importante nas populações mais sujeitas aos efeitos

adversos daqueles, como são os casos dos idosos ou de outros grupos de risco. Além disso, a AC tem efeitos sedativos e miorrelaxantes, exerce acção reguladora ao nível do sistema nervoso autónomo e dos sistemas endócrino e imunológico e melhora a qualidade do sono e o bem--estar geral do doente.

Há algum denominador comum entre as diferentes doenças reumáticas do ponto de vista da acupunctura ou da Medicina Tradicional Chinesa?A doença, em Medicina Tradicional Chinesa (MTC), é encarada como uma perturbação da livre circulação da energia vital (Qi), resultante de um desequilíbrio entre Yin e Yang, que são dois princípios antagónicos, mas complementares, através dos quais aquela se manifesta. Na sua maior parte, as

Fernando Saraiva, reumatologista especializado em acupunctura

sintomas e a definir métodos de acção para lidar com eles. A MTC é de tal forma normativa que o próprio conceito de doença é “uma violação da norma”. Para aplicar as agulhas de acupunctura a um doente que apresente dor lombar, recorro à teoria dos meridianos. Há uma série de procedimentos para conseguir seleccionar os pontos: existem pontos locais, distais e sintomáticos. Para a dor, os pontos locais são os mais importantes. Assim, selecciono os pontos mais dolorosos (são tão importantes que têm até um nome próprio: pontos ashi; também há os pontos regulares e os pontos extra) e tenho em conta um conjunto de canais que percorrem o corpo, aos quais os médicos chineses chegaram através da experimentação. De facto, estes concluíram que há pontos em locais do corpo que não os da zona dolorosa que têm a mesma eficácia que os pontos localizados precisamente na área do problema, criando a teoria dos meridianos. Um meridiano não é mais do que uma forma de classificar pontos no corpo que têm funções muito semelhantes.

Assim, se eu conhecer os meridianos que passam na zona lombar, começo imediatamente a reconhecer uma série de pontos distais que podem tratar problemas na zona lombar. Se eu tiver a noção correcta da teoria dos meridianos

e dos pontos que os compõem, para tratar a dor, nem preciso, em alguns casos, de fazer o diagnóstico. Basta saber onde está localizada a dor e tratá-la.

Como é que a acupunctura se torna eficaz? Coloca as agulhas precisamente nesses pontos?Os pontos não estão milimetricamente definidos; prefiro pensar em áreas, o que também é uma questão discutível. O ponto de acupunctura significa, em chinês, “depressão” ou “buraco”. Os chineses dão importância a ligeiras depressões que possam encontrar na área. Nesse sentido, defino a localização específica de um ponto, recorrendo a marcos anatómicos (músculos, tendões, ossos, etc.) e procuro, pressionando, a zona de maior depressão que, regra geral, é onde se coloca o ponto de acupunctura. Há mesmo acupunctores, de outras escolas de pensa-mento, que nem sequer procuram os pontos: vão ao longo do meridiano e começam a

procurar zonas de maior tensão ou fraqueza muscular. É aí que colocam as agulhas.

O que é que as agulhas “fazem”?Em termos de MTC, as agulhas movem o Qi (pronuncia-se “Tchi”), o que é muito complicado traduzir literalmente. Se há dor, estamos perante um bloqueio Qi. A introdução da agulha permite a livre circulação do Qi. O idioma chinês não funciona com conceitos concretos como o nosso; não é dualista, mas normativo – actualmente traduzimos Qi

A introdução da agulha permite a livre

circulação do Qi

Acupunctura à luz da Medicina Ocidental

É um reumatologista consagrado, que utiliza a acupunctura como um reforço da sua prática clínica. Contudo, segundo Fernando Saraiva, é essencial distinguir entre o uso desta técnica milenar na Medicina Tradicional Chinesa e na Medicina Ocidental.

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Tema de Capa

doenças reumáticas são consideradas, em MTC, como síndromas Bi. Estes são definidos como obstruções dolorosas da livre circulação do Qi e/ou sangue, em resultado da penetração no organismo de energias perturbadas ou perversas, descrevendo a MTC vários tipos de síndromas Bi.

Considera que esta prática milenar chinesa é bem vista pela comunidade médica em geral e pelos reumatologistas em particular?Não tenho dados para poder dar uma resposta fundamentada, no que

respeita à posição da classe médica em geral ou à dos reumatologistas em particular. O que me parece evidente é que há curiosidade, dado que o tema anda a ser discutido em termos científicos e aparecem estudos em revistas internacionais de grande impacto e prestígio, do âmbito da reumatologia e da medicina interna. A AC funciona, indiscutivelmente, mas ao que tudo indica não pelas razões tradicionalmente referidas. Conceitos naturalistas eram a visão dominante do mundo quando a AC e a MTC nasceram, há muitas centenas de anos.

Entretanto passaram alguns séculos e a visão que o homem tinha de si próprio e daquilo que o rodeava contrasta profundamente com a visão actual. Assim, não parece razoável pedir a um médico dos nossos dias que esqueça ou ignore tudo aquilo que aprendeu à luz da ciência moderna, para poder acomodar na sua mente os princípios que sustentam a MTC. Há uma diferença entre respeito e aceitação acrítica. A MTC evoluiu através da opinião não questionada dos peritos, ao longo dos tempos. Hoje sabe-se que os peritos médicos estão frequentemente equivocados quando confrontados com dados baseados na evidência. É preciso considerar algumas diferenças quando se fala em AC à luz da MTC e em AC à luz da medicina ocidental. Assim, para a primeira, a AC actua no Qi, é potencialmente eficaz para qualquer patologia, o diagnóstico é efectuado segundo o

como energia, mas é errado. Essa adaptação lexical começou a ser feita nos anos 70 (nos anos 60, traduzia-se como “espírito”) devido a influências new age e vitalistas, que mutilaram os termos da MTC. O idiograma Qi (a língua chinesa não se presta a definições concretas como a nossa – usa ideogramas para expressar determinadas ideias) não se consegue traduzir literalmente e a sua compreensão depende do contexto em que se insere. Diz respeito ao movimento de uma substância invisível (que nós chamamos “energia” e os chineses “ar”), numa base material.

A Medicina Tradicional Chinesa é uma alternativa à Medicina Ocidental ou um complemento?Bem, a minha mãe é enfermeira… Eu frequentei o curso de enfermagem, licenciei--me em Medicina Nuclear e em Medicina Tradicional Chinesa. Portanto, sou claramente a favor da Medicina Ocidental e não considero que a MTC esteja acima da dela, aliás, está a anos-luz. Isto é, claro, muito controverso na minha área. Mas a base de qualquer Sistema Nacional de Saúde deverá ser a MO. A MTC deve ser utilizada sempre como complemento. Claro que esta atitude depende dos profissionais. Para alguns colegas meus, a MO é uma fraude.

Mas a acupunctura é a única técnica da MTC reconhecida pela OMS?A matéria médica e a dietética também são reconhecidas. A questão é que há alguma incerteza ainda em relação às doenças nas quais a acupunctura pode ser eficaz. Por exemplo, em 1986, houve um estudo feito num hospital chinês que demonstrou que se a fibrilhação atrial fosse devida a uma miocardite, a acupunctura ajudaria bastante, mas se ela fosse devido a uma doença reumática, a acupunctura já não teria efeito. Portanto, diferentes causas em termos da MO podem ser condicionantes

da eficácia da acupunctura no tratamento de determinada doença.

Mas há casos em que a acupunctura é mais eficaz do que a terapêutica farmacológica?Na minha óptica, sim. O mais importante nem é ser mais eficaz, mas sim como pode potenciar a terapêutica farmacológica. Quando falamos de MTC, não falamos só de uma terapêutica: as mais importantes são a acupunctura e a matéria médica (diferente da fitoterapia, porque esta última só considera plantas medicinais e a matéria médica também inclui produtos de origem mineral e animal, como fezes de bichos-de-seda e a hematite). Há muitos estudos que comprovam que a acupunctura consegue potenciar os efeitos dos medicamentos. A matéria médica já pode dar alguns problemas, porque há princípios activos em plantas que podem ter interacções farmacocinéticas ou farmacodinâmicas com a medicação que o doente está a tomar.

Os médicos tradicionais chineses ainda enfrentam um problema de credibilidade. Como é que essa questão pode ser ultrapassada e como é que um doente tem garantias de que está perante um “bom” acupunctor?A acupunctura não está regulamentada, logo qualquer pessoa pode tirar um curso de “fim-de-semana” ou um seminário e começar a exercer. Um doente tem de procurar um acupunctor que tenha tirado o curso numa instituição de prestígio, com duração semelhante a qualquer curso superior e que

A acupunctura não pode ser vista como

uma moda

A acupunctura funciona, indiscutivelmente, mas ao que tudo indica não pelas razões tradicionalmente referidas

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Tema de Capa

método tradicional chinês (que além do interrogatório valoriza essencialmente nuances finas das características do pulso e da língua); os meridianos e a localização precisa dos pontos de AC têm uma importância fundamental. Para a segunda, a AC actua nos nervos e músculos, é eficaz apenas nalgumas patologias, o diagnóstico é efectuado segundo os métodos da medicina convencional (recorrendo a meios

auxiliares de diagnóstico, quando necessário), os meridianos são encarados apenas como referências úteis e os pontos de AC são indicações gerais para locais apropriados de estimulação. Por outro lado, os fármacos na prática médica convencional têm a sua contra-partida na fitoterapia, a que a MTC dá grande importância. A fitoterapia constitui fonte de preocupação, dada a escassez de estudos científicos sobre os seus efeitos e o seu não enquadramento por entidades reguladoras idóneas.

Como se complementam a acupunctura e a terapêutica farmacológica? Ou a primeira substitui a segunda?A AC e a terapêutica farmacológia, nomea-damente da dor, têm em grande parte mecanismos efectores comuns. De facto, a agulha ao puncturar um ponto estimula fibras nervosas sensitivas que se encontram na pele e músculo, desencadeando potenciais de acção que se espalham na rede nervosa local, por um lado e, por outro, viajam através do nervo até ao corno posterior medular, diminuindo a sua resposta à estimulação dolorosa, através da libertação de metencefalina. Do corno posterior os potenciais de acção viajam até ao tronco cerebral onde põem em acção as vias descendentes anti-nociceptivas, com libertação de serotonina e noradrenalina. Do tronco cerebral os potenciais de acção influenciam e transmitem-se a outras estruturas como o tálamo, hipotálamo, sistema límbico e córtex cerebral, onde exercem efeitos reguladores centrais e libertam outros neuromoduladores como a β-endorfina. Muitos dos fármacos que utilizamos na nossa prática clínica diária de

reumatologistas também actuam em alguns dos níveis acima referidos, libertando os mesmos mediadores endógenos. A AC não substitui a terapêutica farmacológica comum, mas reforça-a significativamente.

Considera que a acupunctura deveria ser inserida no Sistema Nacional de Saúde e comparticipada?Se considerarmos que a AC é a terapia complementar mais popular e que, por exemplo, mais de 80 % das clínicas, do Sistema Nacional de Saúde britânico, que se dedicam ao tratamento da dor crónica, disponibilizam a AC como tratamento corrente, penso que essa possibilidade deveria também ser considerada entre nós, desde que o serviço fosse prestado por profissionais idóneos.

tenha realizado um estágio clínico. Além disso, é preciso reconhecer que a acupunctura não pode ser vista como uma moda. Há uns anos, era usada para tratar a dor; depois para emagrecer e, ultimamente, para deixar de fumar. Para esta última, os resultados são tão mínimos que o segredo é mesmo a triagem dos pacientes. E há sempre um romancismo associado a estas áreas. Quando digo a uma pessoa que faço MTC a tendência é responder-me “que giro! Sou a favor dessas coisas… Mas, cá para nós, isso funciona mesmo?”.

O que é que responde?Respondo que funciona, mas depende do problema que se quer tratar.

A AC não substitui a terapêutica farmacológica comum, mas reforça-a significativamente

Há uma diferença entre respeito e aceitação acrítica

Perfil

Nuno Lemos frequentou o cur-so de enfermagem, licenciou--se em Medicina Nuclear pela Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa. Tirou o curso de Medicina Tradicional Chinesa pela Escola Superior de Medicina Tradicional Chinesa, com diploma pela Universidade de Nanjing, e realizou o estágio clínico na China.

É professor de Acupunctura Clínica na mesma instituição e membro da Direcção da Associação Portuguesa de Acu-punctura e Medicina Tradicional Chinesa (APAMTC).

É ainda responsável pelo De-partamento de Medicina Tradi-cional Chinesa da Clínica Médica Policonsult (Santa Iria da Azóia).

Acupunctura à luz da Medicina Tradicional Chinesa Acupunctura à luz da Medicina OcidentalA acupunctura actua no Qi (energia vital) A acupunctura actua nos nervos e nos músculosÉ potencialmente eficaz em qualquer patologia É eficaz em apenas algumas patologiasO diagnóstico é efectuado segundo o método tradicional chinês O diagnóstico é efectuado segundo os métodos da medicina

convencionalOs meridianos e a localização precisa dos pontos de acupunctura são fundamentais

Os meridianos são encarados apenas como referências úteis e os pontos de acupunctura são indicações gerais para locais apropriados de estimulação

A Medicina Tradicional Chinesa dá grande importância à fitoterapia Há escassez de estudos científicos sobre os efeitos da fitoterapia e esta não está enquadrada por entidades reguladoras idóneas. São utilizados os fármacos convencionais.

Site: http://acupuntura.blogas-pt.comBlog: http://acupuntura.blogas-pt.com/blog

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Presente – balanço comopresidente-eleito

O balanço é positivo. Sempre assumi, e é este o espírito dos Estatutos da SPR, que ao Presidente-Eleito cabe acompanhar o trabalho da Direcção, de que faz parte, opinando e intervindo quando solicitado, mas sem interferência nas questões de gestão corrente da Direcção eleita. Foi assim que fiz. Tive oportunidade de, tomando conhecimento do presente, preparar o futuro. Por outro lado, procurei transmitir, nos momentos oportunos, a minha experiência, decorrente do exercício nos dois mandatos anteriores,

o primeiro como Vogal mas sobretudo o de Secretário-Geral da Direcção do Dr. Augusto Faustino.

Considero, aliás, que a figura de presidente--eleito – tradição de muitas das Sociedades Científicas de outros países da Europa – é essencial, assegurando uma continuidade informada e evitando rupturas sem nexo.

O Boletim Informativo da Sociedade Portuguesa

A edição do BI foi a tarefa directa que me coube desenvolver nestes dois últimos anos,

o que me deu enorme prazer. Propus-me assegurar a regularidade da sua publicação – foram cumpridos rigorosamente os prazos de saída – tendo sido publicados três números por ano. Melhorou-se a sua qualidade gráfica e deu-se-lhe consistência editorial. O seu “corpo” teve uma estrutura constante, alternando o carácter informativo sobre o que de mais importante se fazia na Especialidade ou com ela relacionado, com um componente de formação – consubstanciado num artigo de Revisão – até situações de leitura, que eu diria de curiosidade, sobre a vida para além da profissão, de Reumatologistas conhecidos,

Empenhar-me-ei no aprofundamentoda investigação*

*A partir de uma conversa com Luís Maurício, presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia a partir de Outubro de 2010

Sociedade Reumatológica

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Sociedade Reumatológica

Luís Sousa Inês vence Bolsa de Investigação SPR/MSD 2010

O reumatologista Luís Sousa Inês venceu a Bolsa de Investigação SPR/MSD 2010 com o projecto “Estudo

prospectivo das células T CD8+ produtoras de IL-17 (Tc17) no Lúpus Eritematoso Sistémico. Uma nova linhagem com papel na patogenia da doença?”. Em concurso estavam mais quatro trabalhos, apresentados no passado dia 12 de Julho, no Hotel Marriott, em Lisboa. A decisão foi tomada unanimemente pelo respectivo júri, constituído pelo Prof. Albino Teixeira e pelos Drs. Luís Maurício Santos e José Carlos Romeu.

A Bolsa de Investigação SPR / MSD 2010, no valor de dez mil euros, é instituída pela Sociedade Portuguesa de Reumatologia em parceria com a MSD, e destina-se a financiar a investigação na área das doenças reumáticas inflamatórias.

20Sociedade Portuguesa de Reumatologia / MSD

Bolsa de Investigação10

Regulamento

1. A Bolsa de Investigação SPR/MSD 2010, no valor de DEZ MIL EUROS, é uma Bolsa de Investigação instituída pela

Sociedade Portuguesa de Reumatologia em parceria com a MSD, com finalidade de financiar a investigação na

área das doenças reumáticas inflamatórias.

2. Podem concorrer à Bolsa de Investigação SPR/MSD 2010 os médicos sócios da SPR.

3. As candidaturas deverão ser enviadas até 31 de Março de 2010 (data de correio) para a morada da SPR

(Av. de Berlim nº 33 B. 1800-033 Lisboa) ou para o email da SPR ([email protected])

até às 24:00h do dia 31 de Março.

4. Do processo de candidatura devem constar os seguintes elementos:

a) Identificação do candidato e, se o caso, dos seus colaboradores

(nome, data de nascimento, área e categoria profissional).

b) Curriculum vitae resumido.

c) Projecto de Investigação detalhado.

d) Orçamento, com especificação da utilização do valor da Bolsa.

5. Não podem candidatar-se projectos de investigação aos quais tenha sido atribuída a Bolsa de Investigação

SPR/Schering-Plough em anos anteriores.

6. O júri da Bolsa de Investigação SPR/MSD 2010 será formado por 3 reumatologistas sócios da SPR para o efeito

designados pela Direcção da SPR, sendo constituído por um presidente e dois vogais.

7. Não podem integrar o júri candidatos e seus colaboradores envolvidos nos projectos de investigação concorrentes

à Bolsa.

8. O júri poderá promover a apresentação pública das candidaturas no processo de formulação da sua apreciação.

9. Ao presidente do Júri caberá, em caso de necessidade, voto de qualidade.

10. O júri deverá informar a Direcção da SPR da sua decisão sobre a candidatura a que atribui a Bolsa SPR/MSD 2010,

a qual deve ser fundamentada e lavrada em acta.

11. O Júri poderá decidir a não atribuição da Bolsa SPR/MSD 2010 se entender que nenhuma das candidaturas

reúne as condições necessárias estabelecidas neste mesmo regulamento.

12. Das decisões do júri não haverá recurso.

13. A Bolsa SPR/MSD 2010 será entregue em acto público em reunião científica da SPR.

14. O candidato a quem for atribuída a Bolsa obriga-se a publicar o trabalho resultante do seu projecto de investigação

na Acta Reumatológica Portuguesa de acordo com as suas normas de publicação e com referência ao seu patrocínio

pela Bolsa SPR/MSD 2010.

15. Qualquer comunicação ou publicação de resultados, ainda que parciais, do projecto de investigação a que for

atribuída a Bolsa SPR/MSD 2010, obriga igualmente à referência ao seu patrocínio, independentemente

dos seus autores e da data da mesma.

16. A não realização do projecto de investigação no prazo estabelecido obriga à devolução da totalidade do quantitativo

recebido.

17. A Direcção da SPR decidirá sobre todos os casos omissos.

apoio

organização

A Merck & Co., Inc. e a Schering-Plough Corporation concretizaram a sua Fusão nos EUA. Em Portugal estamos, agora, em pleno processo de integração da estrutura operacional, mas mantendo por enquanto entidades jurídicas autónomas nas várias Sociedades do Grupo MSD e Grupo Schering- Plough.

mas cujos “hobbies”, em algumas circunstâncias, eram desconhecidos.

O BI teve uma tiragem que lhe permitiu chegar, naturalmente, a toda a Reumatologia, aos colegas Ortopedistas e de Medicina Física e Reabilitação, aos Serviços de Medicina dos Hospitais, aos Centros de Saúde e às Bibliotecas das Unidades de Saúde. O interesse que despertou permitiu a edição de quatro separatas sobre Reuniões Científicas e de três outras, correspondendo ao conteúdo integral, reformulado apenas na Publicidade, uma por cada edição, de 2010. Neste último caso, foram 3 000 exemplares de cada edição entregues “em mão” aos colegas da Medicina Geral e Familiar.

Através da responsabilidade que assumi, a Direcção procurou que o BI se aproximasse mais dos Colegas e das pessoas em geral, como se de uma revista de banca de tratasse. Penso que se conseguiu.

Futuro

É um lugar-comum, mas não é demais repeti-lo: a Sociedade Portuguesa de Reumatologia não é só a Direcção ou os seus Corpos Sociais, mas todos os Sócios. Não serei um Presidente desagregador. Serei congregador. Nesta medida, procurarei o envolvimento de todos nas tarefas que aí vêm, gerindo, de forma positiva, o aporte de sugestões e críticas vindas dos Associados.

Para além da consolidação da organização interna da SPR, a futura Direcção empenhar-se-á no aprofundamento da investigação, estimulando os grupos de trabalho a fazê-lo

– conferindo-lhes o apoio de que necessitam – e criando um fundo financeiro destinado a suplementar os custos decorrentes de projectos de investigação apresentados individualmente, que serão avaliados por um Júri nomeado pela Direcção. Serão fomentadas as acções que compreendem a formação pós-graduada e, num trabalho conjunto com o Provedor dos Internos e com o seu representante, a SPR promoverá a formação por eles requerida, envolvendo os diversos Serviços de Reumatologia.

Empenhar-me-ei, com os meus colegas de Direcção, no aprofundamento da investigação e na internacionalização da Acta Reumatológica Portuguesa, promovendo-a em fóruns e reuniões internacionais, bem

como na potenciação da sua forma “on line”.Os Registos Nacionais serão um objectivo “persecutório”, ampliando a recolha de informação, “engrossando” assim a informação disponível.

A SPR fará, em 2012, 40 anos. Desenvol-ver-se-á uma estratégia comunicacional que dignifique aquela data e promova a Reuma-tologia. O seu apogeu será o Congresso Por-tuguês de Reumatologia, em 2012, mas re-alizaremos, também, um Simpósio em Abril de 2011, que se afirmará como uma Reunião

Científica alternativa ao Congresso, que se designará “Artrite e Osso” .

O grande estudo epidemiológico das doenças reumáticas – EpiReumaPt –, a iniciar-se em Abril de 2011, terá todo o nosso empenho.

Continuaremos a fomentar as relações com os nossos parceiros, desde logo, as Associações de Doentes, mas também os organismos Institucionais, nomeadamente a Direcção-Geral de Saúde.

São estes alguns dos objectivos a que nos propomos. Desenvolveremos outros que estarão plasmados no nosso Programa e que não cabem nesta curta conversa.

(...) procurarei o envolvimento de todos nas tarefas que aí vêm

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Sociedade Reumatológica

Rui André, presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, no mandato 2008-2010

“Não precisamos de nos afirmar”

Tem um perfil discreto, porque, diz, “uma sociedade científica não é o seu presidente”. Volvidos dois anos de mandato, Rui André, presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, entre 2008 e 2010, mantém a mesma discrição no balanço que faz

“Foi uma Direcção que impugnou pela inclusão das pessoas no sentido de aumentar a visibilidade, o prestígio e

o impacto que a Sociedade Portuguesa de Reumatologia [SPR] pode ter no panorama nacional”, responde Rui André à pergunta natural que se coloca, agora que o seu mandato está a terminar. Se herdou pontos muito positivos das direcções anteriores, limitando-se esta a continuá-los, outros há que ressaltam como obra desta Direcção. Foram nestes que Rui André se focalizou.

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As pessoas

Este ponto foi, segundo o presidente da SPR, revelador da personalidade deste mandato. Como? “Aumentando a participação dos internos e permitindo a ingressão na SPR de profissionais de Saúde não-médicos”.

Os internos têm agora um representante, Sofia Ramiro, a quem Rui André reconhece “uma personalidade e uma capacidade de trabalho que se aproximam do ideal”, e um provedor, José Canas da Silva, cuja aceitação do convite foi recebido pela SPR com o maior agrado.

Já no dia 2 de Outubro, na Assembleia-Geral, por ocasião das Jornadas de Outono, será debatida a necessidade de alterar/rever os Estatutos para permitir a existência de sócios não-médicos na SPR. Rui André refere-se, por exemplo, a enfermeiros com grande experiência em lidar com reumatologistas e doentes reumáticos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicólogos e outros profissionais que já manifestaram interesse em participar na SPR.

As relações

O aumento das relações com as diversas associações de doentes reumáticos e a ultrapassagem do diálogo “menos bom” que existia com a Medicina Interna foram outros pontos decisivos, segundo Rui André. “Já avançámos o suficiente para não podermos voltar atrás e os mal-entendidos estão completamente sanados. A anterior situação, ao pretender defender as especialidades e os doentes reumáticos, acabava, no nosso entender, por trazer mais prejuízos”, esclarece.

A “nova” relação com a Medicina Interna já deu, segundo o presidente, frutos: “estes especialistas estiveram no nosso Congresso, assim como nós estivemos presentes no deles; além disso, vamos integrar a Mesa de Moderadores do Núcleo de Doenças Auto-Imunes desta Sociedade no próximo Congresso Europeu de Lúpus”.

Esta premissa norteou também o reforço da participação da Reumatologia em áreas com outras especialidades, nomeadamente a Fisiatria e a Ortopedia. São exemplos dessa parceria o I Simpósio Temático, dedicado em 2009 à “Dor no Aparelho Locomotor” (3 e 4 de Abril), a reunião “Um Dia com o Aparelho Locomotor” (29 e 30 de Janeiro de 2010) e o “Simpósio do Pé Reumatológico” (10 e 11 de Setembro de 2010). Esta interacção foi também decisiva para o sucesso do XV Congresso Português de Reumatologia (7 a 10 de Abril de 2010), um dos grandes desafios do mandato, que decorreu, no Funchal, um mês após a conhecida catástrofe natural que assolou a Região Autónoma da Madeira.

Cada vez mais estreita está também a relação entre a SPR e instituições-chave em projectos da Reumatologia, como a Direcção-Geral de Saúde, atingindo o expoente máximo no estudo EpiReumaPt - Estudo das Doenças Reumáticas em Portugal. “É um envolvimento que espero que continue no futuro”, afirma.

Outro projecto que merece destaque é a base de dados da SPR que exigiu a criação de uma Comissão Coordenadora dos Registos Nacionais, presidida por Augusto Faustino.

O futuro

Ultrapassados alguns aspectos considerados problemáticos por Rui André – “conseguimos um secretariado estável e a tempo inteiro” –, esta Direcção plantou também uma série de sementes que, por motivos de tempo, ainda não desabrocharam, como um novo regulamento interno e uma revisão dos estatutos da SPR.

Em jeito de balanço, Rui André realça que foi uma experiência muito positiva e que tentou sempre trabalhar em benefício do grupo, para a reumatologia chegar mais facilmente aos seus objectivos sem qualquer tipo de dificuldade ou obstáculo. Contudo, realça que esta é hoje uma especialidade com prestígio no panorama nacional e que vale pelo seu trabalho. “Não precisamos de nos afirmar”, conclui.

As especialidades já têm a maturidade suficiente para saber

qual é o seu lugar

(...) os mal-entendidos [com a Medicina Interna] estão completamente sanados

Eventos emblemáticos

Simpósio “ Dor no Aparelho Locomotor”

Um Dia com o Aparelho Locomotor

XV Congresso Português de Reumatologia

Simpósio do Pé Reumatológico

“Sombras constrói-se numa espécie de paisagem cénica insólita, cheia de eventos inesperados e contrastantes (…) exalta todos os jogos de equívoco de que o Teatro nunca parece saciar-se”, afirma Ricardo Pais, criador deste espectáculo multidisciplinar, que cruza fado, canto, dança e palavras. Decididamente a não perder.

Uma exposição bem original, na coqueluche museológica da Rua Augusta, em Lisboa. O MUDE – Museu do Design e da Moda apresenta a evolução da scooter, entre 1945 e 1970, permitindo reflectir sobre este fenómeno que cruzou a Europa e os Estados Unidos da América no pós-guerra. Desde a Vespa à Piaggio, são quase cem os exemplares expostos nos pisos 0 e 1, representando as diferentes linhas, silhuetas e materiais que tornaram este meio de transporte um mítico objecto de design.

Teatro

Exposições

Sombras – a nossa tristeza é uma imensa alegriaCriação de Ricardo Pais, direcção musical de Mário Laginha e cenografia de Nuno Lacerda Lopes

Teatro Nacional São João | Porto

18 a 28 de Novembro de 2010

Lá vai ela, formosa e seguraScooters da colecção de João Seixas

MUDE – Museu do Design e da

Moda | Lisboa

Até 24 de Outubro de 2010

A companhia canadiana Cirque du Soleil regressa a Portugal para apresentar a produção “Saltibanco”, um excitante celebração da inspiração artística, com acrobacias de cortar a respiração. Com mais de 50 intérpretes, “Saltibanco” é a digressão desta aclamada companhia que dura há mais tempo (desde 1992), tendo sido vista por mais de 11 milhões de pessoas em todo o mundo.

EspectáculosCirque du SoleilPavilhão Atlântico | Lisboa

Entre 13 e 24 de Outubro

Livros

“Um Amor em Segunda Mão conta a história de Phoebe Swift, uma especialista em história da moda que decide deixar o seu emprego na prestigiosa leiloeira Sotheby’s para abrir o seu próprio negócio, uma pequena loja de roupa vintage. Ao mesmo tempo, Phoebe está a lidar com a recente perda da sua melhor amiga, Emma, e com a separação do seu noivo. Por isso, refugia-se no trabalho – restaurando as maravilhosas e antigas peças de roupa que compra, revendendo-as para que tragam algum glamour à vida das suas clientes. Mas Phoebe não consegue deixar de pensar nas “vidas passadas” destas roupas – nas histórias que contariam se pudessem falar.”

Da aclamada escritora britânica Isabel Wolff, o livro “Uma Amor em Segunda Mão” gira em torno de roupas usadas e dos passados dessas mesmas peças. Trata-se de um estilo narrativo leve, mas com um bom argumento.

Um Amor em Segunda MãoDe Isabel Wolff

Editora Contraponto2010

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Relance

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Opinião

Trinta anos depois

O meu primeiro contacto com a Reumatologia começou em 1981 quando, no último ano do curso, tive

duas aulas práticas da cadeira de Medicina III no Núcleo de Reumatologia do Serviço de Medicina IV do Hospital de Santa Maria, que recebera nesse ano dois dos médicos que iniciavam o recém-criado Internato Hospita-lar de Reumatologia. Foram essas aulas que me fizeram olhar para a escolha daquela “nova” especialidade, quase desconhecida, como uma opção com um futuro profissionalmente estimulante.

Quase 30 anos depois a Reumatologia portuguesa é uma especialidade bem reconhecida, fruto dos avanços científicos e tecnológicos dos últimos anos mas também, e principalmente, do empenho e das qualidades do trabalho, clínico e científico, dos reumatologistas. No entanto, muito está ainda por fazer. O futuro vai depender, em grande parte, da vontade e do empenhamento, individual e colectivo, dos reumatologistas, tendo como metas o crescimento e a quali-dade da Reumatologia nacional.

Os objectivos e projectos que a Sociedade Portuguesa de Reumatologia (SPR) deve alcançar e implementar nos próximos anos deverão ser consensuais para os reumatologistas e dar seguimento ao esfor-çado e produtivo trabalho que tem sido desenvolvido pelas anteriores direcções (particularmente nos últimos 10 anos), dando primazia ao crescimento/desenvolvimento e à competência/qualidade.

Sem querer apresentar aqui um manifesto eleitoral, gostaria de destacar três áreas de acção que, quanto a mim, têm sido e deverão continuar a ser prioritárias – a formação dos internos, a Acta Reumatológica Portuguesa e os Registos Nacionais/Bases de Dados – e um novo, ambicioso e fundamental projecto que terá o seu início este ano: o Estudo Epidemiológico das Doenças Reumáticas em Portugal (EpiReumaPt).

A aposta na qualidade da formação dos internos e jovens especialistas de reumato-logia deve ser uma preocupação de todos, pois ela é o garante da expansão e do reconhecimento da reumatologia. A abertura

de novos centros que se tem verificado nos últimos anos é fundamental, mas os jovens especialistas que aceitam o desafio de trabalhar de forma isolada não têm a sua vida facilitada e necessitam de uma forte bagagem clínica e científica, que lhes deve ser dada pelos serviços onde são formados. A SPR pode e deve complementar promovendo acções de formação específicas, estabelecendo protocolos e programas de intercâmbio de estágios em serviços nacionais e estrangeiros de reconhecida excelência, angariando fundos para bolsas e prémios de investigação, que permitam aos futuros especialistas abraçar o novo desafio sem receios e munidos de conhecimentos e capacidades de trabalho que serão uma enorme mais-valia para as populações que vão servir.

A Acta Reumatológica Portuguesa atingiu um patamar de qualidade único entre as revistas científicas nacionais, com a atribuição de um factor de impacto oficial. Este feito premeia o trabalho de todos os autores que publicam na Acta mas, principalmente, reconhece o esforço dos corpos editoriais, com particular destaque para os três últimos, cujo papel foi decisivo para esta distinção. Como é evidente, as responsabilidades são agora muito maiores.

A posição que a Acta ocupa no panorama das revistas de reumatologia ibero-americanas vai estar, previsivelmente, sob o fogo de revistas como a brasileira ou espanhola, que procuram os objectivos que a Acta já conseguiu. Para além da “internacionalização” do nome (deixando cair o “Portuguesa”, proposta que deverá ser apresentada na próxima revisão de estatutos) é fundamental o crescimento e a qualidade dos artigos de autores portugueses, que devem privilegiar a Acta para publicação dos seus trabalhos, devendo estes por seu lado reflectir a realidade nacional com projectos de investigação básica, clínica ou epidemiológica de cariz multicêntrico.

Exemplos de um esforço conjunto, que continuará a ser prioritário para a SPR, são os Registos Nacionais e Bases de Dados, instrumentos estratégicos para a Reumatologia cuja implementação expressa bem a capacidade de trabalho, organização e esforço de auto-avaliação dos reumatologistas.

O futuro vai depender, em grande parte, da vontade e do empenhamento,

individual e colectivo, dos reumatologistas

Viviana Tavares

Reumatologista do Hospital Garcia da Orta

Candidata a Presidente-Eleita da SPR

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A colaboração e reconhecimento da Direc-ção-Geral da Saúde confirmam a importância desta actividade, para a qual a SPR deverá arranjar apoios, monetários e logísticos, para estimular a prossecução deste trabalho de fundo.

O EpiReumaPt é um ambicioso projecto epidemiológico, idealizado há anos, que foi apresentado no último Congresso Nacional de Reumatologia e que terá o seu início previsível no fim deste ano. Este estudo, uma parceria da SPR com várias entidades nacionais, públicas e privadas, permitirá conhecer a realidade e o impacto médico-social das doenças reumáticas em Portugal, identificar carências e necessidades de cuidados médicos primários e especializados e programar adequadamente políticas e estratégias de saúde. Dará uma enorme visibilidade à Reumatologia e necessita de um colossal esforço de todos os reumatologistas, que devem ser estimulados e unidos pela sua sociedade científica.

Durante seis anos, entre 1994 e 2000, fiz parte de três Direcções da SPR. Em 2008, aceitei integrar uma nova Direcção e fui confrontada com diferenças significativas. A SPR é hoje uma estrutura complexa, com encargos e responsabilidades que necessitam de um trabalho de gestão contínuo, diário e profissional. O dispêndio de tempo e a disponibilidade intelectual que se exigem aos membros da direcção, particularmente aos que têm maior responsabilidade executiva (presidente, secretário-geral e tesoureiro) é grande e avassalador para quem, na maioria dos casos, só pode exercer as suas funções em tempo parcial. Mas é um desafio. Poder continuar a contribuir, por pouco que seja, mas de uma forma sincera, esforçada e desinteressada para projectos fundamentais para a SPR e para Reumatologia foi o estimulante desafio a que me propus nesta fase da vida.

“A SPR é hoje uma estrutura complexa,

com encargos e responsabilidades

que necessitam de um trabalho de gestão contínuo, diário e

profissional

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Revisão

A Osteoartrose (OA) é uma entidade clínica que sofreu nos últimos anos algumas evoluções relevantes no

seu compreendimento e conhecimento que modificaram de forma significativa a sua abordagem clínica e terapêutica, e, como corolário destas, a sua morbilidade e o seu impacto económico e social.

Resumiria em 3 vectores fundamentais as noções mais actuais sobre OA e a sua implicação na sua abordagem clínica:

1. A OA não é uma doença mas sim uma síndrome;

2. A OA é nas suas fases precoces uma doença eminentemente inflamatória;

3. Estas noções deverão ter implicação prática na abordagem clínica diária, contribuindo decisivamente para melhorar a qualidade de vida dos doentes (consequência imediata) e a evolução da doença (consequência a longo prazo).

1. A OA não é uma doença mas sim uma síndrome, em que distintas causas se expressam globalmente na estrutura articular, de formas distintas consoante a fase de evolução da doença.

A OA é hoje entendida não como uma doença unívoca na sua definição e apresentação, mas antes como uma forma de apresentação comum de entidades distintas ao nível da articulação. Neste sentido, a OA deverá ser assumida mais como uma síndrome, com características clínicas comuns, e com formas semelhantes de abordagem clínica.

A OA deve ser ainda encarada como uma doença global da articulação e não apenas como uma doença da cartilagem. A compreensão de que para o aparecimento, expressão sintomática e evolução da OA contribuem múltiplas estruturas articulares (cartilagem, osso subcondral, membrana sinovial, estruturas menisco-ligamentares intra-articulares, cápsula articular, tendões e outras partes moles periarticulares, músculos, …) permitiu aumentar o leque das opções disponíveis para a sua abordagem terapêutica específica e ajustada a cada caso.

A OA deve por fim ser vista como uma doença com um contínuo de apresentações clínicas, desde fases precoces e incipientes em que predomina a inflamação sinovial e alterações microscópicas a nível ósseo e da cartilagem

(potencialmente tratáveis com abordagens farmacológicas adequadas), até fases finais da sua evolução, com alterações destrutivas de todas as estruturas articulares, conduzindo a dor e incapacidade impossíveis de resolver totalmente com terapêutica farmacológica.

2. A OA é nas suas fases precoces uma doença eminentemente inflamatória; é por isso fundamental apostar no diagnóstico precoce da OA e identificar clinicamente os aspectos inflamatórios da doença, cujo controlo terapêutico permitirá a modificação da evolução da doença.

Quando falamos em identificar para cada doente individual qual a fase evolutiva da OA em se encontra, isso implica reconhecer que a OA pode ser detectada e diagnosticada em fases muito distintas da sua evolução. De facto, a OA a que comummente nos referimos classicamente corresponde a um diagnóstico tardio, clinicamente com lesões muito evoluídas, e radiologicamente com lesões irreversíveis, complicações estruturais de doenças arrastadas e inadequadamente abordadas Os aspectos radiológicos aceites como identificadores e diagnósticos da OA (diminuição da ILA, esclerose óssea subcondral, geodos (quistos) ósseos e osteofitose marginal) correspondem, assim, a doenças em que a intervenção terapêutica já perdeu a sua grande oportunidade de eficácia clínica e estrutural.

Por isso, a OA era considerada até há poucos anos como uma “fatalidade” inexorável, consequência banal e inevitável do “envelhe-cimento” (doença “dos velhos”), de limitada importância (“é só uma artrose…”) e em que nada havia a fazer!... Nada de mais errado! De facto, envelhecimento da cartilagem e doença OA são coisas bem distintas, e nos últimos anos evoluiu-se de forma notável no conhecimento dos mecanismos fisiopatológicos pormenorizados que contribuem para o aparecimento e evolução da OA. A identificação dos processos microscópicos e patológicos implicados na expressão e progressão da doença permitiu definir alvos terapêuticos específicos que serão decerto promissoras opções terapêuticas de futuro.

Mas, para isso, teremos de ser capazes de identificar esta patologia mais cedo, e uma das evoluções futuras mais decisivas passará pela nossa capacidade em realizar um

Augusto FaustinoReumatologista

Clínica de Reumatologia de Lisboa. Instituto Português de Reumatologia

Osteoartrose ou Osteoartrite?Da inflamação à terapêutica

A OA deve ser ainda encarada como uma doença

global da articulação e não apenas como uma doença da cartilagem

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(…) como poderemos então identificar mais precocemente

um quadro clínico de OA? Valorizando os aspectos

inflamatórios da doença!

diagnóstico precoce desta condição, nas fases iniciais da doença e com lesões (potencial-mente) reversíveis. Para tal contaremos de-certo com marcadores bioquímicos de lesão precoce da cartilagem, mas sobretudo com a possibilidade de utilizar rotineiramente meios complementares de diagnóstico imagioló-gicos (ecografia, mas sobretudo ressonância magnética nuclear) que permitam identificar lesões estruturais mais precoces.

Enquanto estes instrumentos não estão disponíveis na nossa prática clínica diária, como poderemos então identificar mais precocemente um quadro clínico de OA? Valorizando os aspectos inflamatórios da doença!

A OA é nas suas fases precoces uma doença eminentemente inflamatória; são diversas as evidências de fenómenos inflamatórios na OA, preponderantes nas fases iniciais e agudizações:

• Inflamação da membrana sinovial (sinovite), evidente clinicamente (ritmo da dor articular e sinais inflamatórios locais), em exames histológicos (biopsia sinovial), macroscopicamente (artroscopias), imagiologicamente (sobretudo em RMN) e em cintigrafias ósseas (com alterações de hipercaptação correspondente a processo inflamatório articular, embora com topografia e intensidade distinta dos processos inflamatórios sistémicos);

• Ocorrência de derrame articular em surtos de agudização (surtos de “con-drólise”, correspondendo a degradação da cartilagem sobretudo por libertação de produtos catabólicos da membrana sinovial);

• Identificação de uma mediação patogéni-ca assente em produtos pró-inflamatórios (citoquinas, prostaglandinas, radicais livres de oxigénio, …);

• Elevação da PCR (de alta sensibilidade), embora em valores de magnitude inferior em relação a quadros inflamatórios articulares em contexto de doença e patogenia sistémica.

Como identificar então esta OA inflamatória (verdadeira “Osteoartrite”) na nossa prática clínica diária sem termos de recorrer a meios complementares de diagnóstico complexos ou dispendiosos?

1. caracterizando o ritmo inflamatório da dor articular;

2. detectando os sinais inflamatórios associados à articulação dolorosa (edema e calor);

3. valorizando a resposta terapêutica de maior eficácia e reversibilidade dos

sintomas com a utilização de AINES (anti-inflamatórios não esteróides).

Consoante a fase da doença osteoartrósica em que o doente se encontra, ele poderá apresentar dores de ritmo puramente mecânico (ausentes de noite, melhorando com o repouso e agravando-se com carga e utilização mantida da articulação lesada) ou dores de ritmo preponderantemente inflamatório (desencadeamento nocturno, maior expressão matinal e após imobilizações prolongadas, com rigidez de longa duração e melhoria com mobilização suave e mantida da articulação lesada). A distinção do ritmo da dor que o doente apresenta permitirá intuir a fase da OA em que se encontra e desta forma melhor se adaptar a intervenção terapêuti-ca em cada situação. Assim, a dor mecânica traduz processos evoluídos e irreversíveis, em que esta se deve sobretudo a lesão estrutural com destruição articular; nestas circunstâncias, é fundamental o tratamento da dor (doença), devendo o doente ser medicado com analgésicos. Pelo contrário, a dor inflamatória (ou mista, mas com aspectos claramente inflamatórios) relaciona-se com processos mais precoces, reversíveis e evolutivos em que é fundamental diagnosticar e tratar a inflamação subjacente.

Poderíamos então dizer que existem dois extremos da mesma doença: uma OA que é o paradigma clássico de doença degenerativa articular mecânica, representando os diagnósticos tardios de doenças evoluídas, e uma OA que é paradigma da procura actual de diagnóstico precoce, com valorização dos aspectos inflamatórios da doença (verdadeira “Osteoartrite”), devendo a nossa conduta terapêutica adaptar-se a estes aspectos.

3. Estas noções deverão ter implicação práti-ca na abordagem clínica diária, contribuin-do decisivamente para melhorar a qualidade de vida dos doentes (consequência imedia-ta) e a evolução da doença (consequência a longo prazo).

A compreensão e identificação da fase evolutiva da doença implicará, assim, distintas abordagens que poderão incluir a adopção de terapêuticas que modifiquem a evolução patogénica da doença, em particular da inflamação (fases precoces), de terapêuticas que controlem a sua expressão sintomática de dor e/ou a sua evolução estrutural (fases intermédias) ou simplesmente a paliação da dor em situações “terminais” de indicação cirúrgica formal. Encarada com estes considerandos nunca se poderá falar em termos absolutos da terapêutica da OA mas sim da terapêutica de cada doente com OA, em cada fase do processo evolutivo da sua doença.

Esquematicamente, poderemos considerar os seguintes vectores primordiais na terapêutica da OA:

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1. Tratar a dor

A dor deverá ser encarada em todas as doenças reumáticas como um “incêndio” que urge tratar de imediato, precocemente, globalmente e de forma eficaz. A OA não é excepção, e nesta situação deveremos providenciar ao doentes as melhores opções terapêuticas disponíveis para tratar o seu quadro doloroso, independentemente das causas mais específicas de dor em cada doente particular, e da sua tentativa de abordagem concreta e direccionada.

No caso de se identificar uma dor com ritmo inflamatório definido (ou aspectos parcelares inflamatórios), deverão ser utilizadas todas as armas que sequencialmente se demonstrem ser necessárias para controlar de forma adequada a inflamação:

1. deve preferir-se a utilização de AINES, que para além da sua eficácia analgésica apresentam uma acção específica no controle da inflamação subjacente ao processo patogénico doloroso, mais fisiológica e eficaz no controlo da dor e podendo ainda contribuir para uma modificação da evolução do processo patogénico da OA. Neste contexto os AINES devem ser usados em permanência, “exigindo-se” o mais perfeito e sustentado controlo dos sintomas; para tal tentar-se-á encontrar a dose mínima eficaz do fármaco, com a qual o doente se sinta confortável;

2. em situações de grande actividade inflamatória (pela intensidade dos sintomas ou pela detecção de sinais inflamatórios articulares) justificar-se-á instaurar um esquema posológico com corticóides em dose baixa, em dose decrescente até obtenção do efeito terapêutico e correspondente suspensão;

3. o repouso e a descarga articular são fundamentais sempre que se verifica inflamação, em particular nos surtos de condrólise;

4. em caso de agudizações inflamatórias monoarticulares resistentes à terapêutica sistémica (e excluídas causas locais ou sistémicas que a contra-indiquem) dever-se-á ponderar a execução de infiltração intra-articular com corticói-de, geralmente muito eficazes.

No caso de se identificar uma dor com ritmo mecânico definido, deveremos privilegiar a utilização de analgésicos puros em dose terapêutica, que permita um controlo mantido e permanente das queixas; para se obter este desiderato é em regra interessante recor-rer a associação de analgésicos. Os AINES tópicos podem também aqui contribuir para o alívio dos sintomas dolorosos.

2. Identificar e tratar causas específicas de dor

Para além do tratamento inespecífico da dor (que como vimos, em fases iniciais da doença até poderá contribuir para modificar a evolução da doença) existem situações em que a identificação e correcção de situações particulares poderá implicar um alívio sintomático adicional e uma potencial intervenção na progressão patogénica da doença:

• derrame articular por surto de condróli-se – repouso, artrocentese, artroclise e eventual infiltração intra-articular de corticóides;

• periartrites (bursite, tendinite, tenosi-novite ou ligamentite) – infiltração local com corticóide, aplicação local de tópicos ou medidas locais de Medicina Física e de Reabilitação (MFR);

• lesão das partes moles intra-articula-res (lesões menisco-ligamentares) – terapêutica sintomática, imobilização com ortóteses, medidas de MFR ou artroscopia diagnóstica e terapêutica;

• instabilidade articular – colocação de ortótese de estabilização;

• alterações do eixo articular (valgismo ou varismo) – ortóteses, medidas de MFR visando a tonificação muscular ou cirurgia de osteotomia para alinhamento articular;

• dismetrias dos membros inferiores e alterações estáticas dos pés – ortóteses de correcção;

• atrofia muscular peri-articular – exer-cício e medidas de MFR para tonificação e reforço muscular e para melhoria da percepção proprioceptiva.

3. Prevenir a progressão da doença (Con-droprotecção)

Existem um conjunto de substâncias cuja utilização tem sido associada não só a uma melhoria da intensidade da expressão sintomática da doença, mas sobretudo a um retardar da evolução da doença, reduzindo a degradação estrutural da OA (nomeadamente a diminuição da interlinha articular – marca indirecta da espessura da cartilagem) e modificando o número de casos evoluindo para prótese total articular (marca de destruição final e irreparável da articulação).

Estes fármacos, globalmente designados por “Condroprotectores”, apresentam evidên-cias muito distintas da sua propriedade “modificadora da evolução da doença”, valendo a pena avaliar para cada um deles as demonstrações efectivas desta acção terapêutica.

Os fármacos potencialmente “condropro-tectores” disponíveis para utilização entre nós

(…) nunca se poderá falar em termos absolutos da

terapêutica da OA mas sim da terapêutica de cada doente

com OA

Revisão

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são: sulfato de glucosamina (apresentando as melhores evidências científicas de redução da progressão da doença), cloridrato de glucosamina, sulfato de condroitina e diacereína.

Sublinhe-se que estes suplementos “condro-protectores” devem ser usados em perma-nência, e que apresentam diferentes evidências de eficácia consoante a articulação afectada; deste ponto de vista deverá referir-se a eficácia clínica sintomática que se consegue em regra com a utilização de diacereína no tratamento da osteoartrose das mãos, sobretudo das formas de OA nodal inflamatória de IFP e IFD.

4. Estar atento e corrigir situações que impli-quem uma cronificação, amplificação e per-petuação da dor; promover a reabilitação funcional global do doente

A OA é uma doença de uma articulação (ou de várias articulações) e como tal não é uma doença sistémica na verdadeira acepção do conceito. Porém, deverá sempre enquadrar-se a doença articular focal no doente global e procurar situações que não estando direc-tamente relacionadas com a doença articular, possam surgir ou agravar-se com esta, tal como poderão ser causas importantes da sua cronificação e perpetuação.

Deveremos estar sobretudo atentos e tentar intervir de forma adequada em situações de:

• descondicionamento físico;

• tensão e contractura muscular;

• alterações ango-depressivas;

• alterações da quantidade e qualidade do sono.

Sobretudo nas situações mais evoluídas e em que predominam queixas resultantes preponderantemente de alterações estruturais irreversíveis, habitualmente com menor eficácia das intervenções farmacológicas justificáveis para cada uma das situações, deveremos sempre investir na reabilitação funcional do doente, que incidirá em duas vertentes:

• recuperação funcional local, da arti-culação envolvida – com exercícios específicos e medidas concretas de MFR;

• reabilitação funcional global, do doente como um todo, enquadrando as suas especificidades patológicas e procurando uma intervenção o mais ajustada possível à sua realidade total. Para lá da MFR, a realização de tratamentos termais (uma ou duas vezes por ano) e a prática de exercício com regularidade (em particular a hidroginástica) são abordagens terapêuticas complementares com enormes potencialidades.

A este propósito deverá contudo sublinhar-se duas noções de bom-senso muitas vezes esquecidas:

• não insistir com intervenções que anteriormente demonstraram ser ineficazes (ou até perniciosas) num doente individual; as abordagens deverão ser personalizadas, e deverá respeitar-se e usar-se como guia de orientação clínica as respostas previamente obtidas por um doente particular a uma intervenção específica;

• evitar todas as formas de actividade física ou exercício que desencadeiem dor ou sofrimento imediato com a sua concretização; a dor deverá ser respeitada e utilizada como indicador de agravamento do processo patogénico, pelo que a intervenção subjacente deverá ser abolida.

5. Viscosuplementação

Consiste na introdução intra-articular de uma substância específica, derivada de um hialano ou do ácido hialurónico e com propriedades físicas e mecânicas particulares. Esta substância, pelas suas propriedades visco-elásticas e pela sua resistência à degradação, promove uma função de “amortecimento” e lubrificação entre duas superfícies articulares degradadas. Utilizam-se diversas substâncias, com demonstrações distintas de eficácia. Está indicada para casos evoluídos de OA com destruição estrutural evidente, tendo as seguintes potencialidades terapêuticas:

• acção analgésica;

• melhoria da capacidade funcional;

• retardar da evolução estrutural da doença, podendo até conceptualmente ser-lhe associado um papel “condroprotector”;

• permitir gerir o timing cirúrgico com a melhor qualidade de vida.

6. Recorrer à cirurgia sempre que indicado

Existem sobretudo três tipos de cirurgia mais frequentemente indicadas em situações de OA:

• osteotomia de correcção de desalinha-mentos do eixo articular;

• artroscopia de diagnóstico e terapêutica, permitindo in loco identificar a causa mais provável de sofrimento articular (lesão condral, sinovite, derrame articular, corpos livres intra-articulares, lesões menisco-ligamentares) e promover a sua correcção cirúrgica;

• prótese total articular – ponderar a sua indicação, mediante a referenciação a consulta de Ortopedia, quando o doente apresentar dor de difícil manejo farmacológico, incapacidade funcional e lesão estrutural evoluída e irreversível.

[ A OA ] não é uma doença sistémica na verdadeira

acepção do conceito

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Ensaio

Talvez falhar de novo mas... falhar melhor!*

Fui ao Porto ver uma reunião de arquitectura1 e nem prédios, nem materiais, nem fachadas, estilos ou

urbanismo. Nada. Excepto algoritmos, dinâmica e instabilidade. Assimetrias e fragmentação. Informação. Contínuos músi-ca/espaço, cor/ritmo, luz/vibração. E padrões, sobretudo não-lineares. Tudo anti-intuitivo. Tudo moderno.

Foi como se numa reunião de reumatologia, as habituais osteoporose, artrite reumatóide e osteoartrose, surgissem como homeostase2, imunossenescência3 ou dialéctica doença/envelhecimento?4, sem sacrificar a sustentação científica ou o rigor do raciocínio, o puro prazer da exposição ou a sua meticulosidade. E estou certo de que reencontraria conceitos que me surpreenderam no Porto porque muitos deles são verdades absolutas, leis universais. Válidos na arquitectura, na biologia ou na física. São testemunhos de uma harmonia que aflora sempre que a reflexão se aprofunda.

A harmonia improvável

Actividade nobre, invenção ou descoberta, a procura do conhecimento está em cada momento em acção. Eu acho que descoberta porque inventados são os métodos, a forma de lá chegar. E aí, muitas analogias existem entre diferentes ramos da ciência, na aparência díspares, mas, na reflexão, cúmplices.

Sabemos hoje que a homeostase biológica ou o equilíbrio de um sistema orgânico não é uma propriedade estática avaliável por uma única determinação analítica, por especial que seja o momento escolhido para a sua realização. Como em tantos outros exemplos actuais, esta ideia errada advém de... um nome mal escolhido (stasis é grego para estático). A homeostase é antes um processo dinâmico que depende da acção concertada de muitos sistemas de feed-back e feed-forward que adaptam continuamente o ser vivo às modificações do seu meio interno e externo. Esta variabilidade é verdadeira condição de sobrevivência e perpetuação dos sistemas biológicos. O seu compromisso (isto é, a estabilidade) é sinal de incapacidade de adaptação contínua, o que significa, a prazo, doença e morte5.

Aprender a pensar nestes termos é a nossa melhor hipótese de um dia compreender co-mo funciona a realidade, um organismo como o nosso, que é constituído por um número

indeterminado destes Sistemas Adaptativos Complexos. Repare-se que não complicados mas complexos, porque são dotados da propriedade da auto-organização, são desprovidos da lei da proporcionalidade directa entre o in-put e o out-put das reacções biológicas (ou seja, o resultado final do seu funcionamento é sempre superior ao que a soma das capacidades dos diferentes componentes que o constituem deixaria prever) e pequenas modificações nas condições iniciais do sistema, podem ter implicações drásticas no resultado final (sim, é do efeito borboleta que se trata). Por isso, a vida não é aleatória nem complicada mas tem o rigor físico-matemático da complexidade e do caos. E também a imprevisibilidade, hélas. Assim, da próxima vez que um bando de aves levantar voo à vossa frente, aproveitem para apreciar a beleza de um sistema adaptativo complexo que se auto-organiza sem líder ou plano de voo e voa, com direcção e sentido, sem quebrar a regra da equidistância, e sem colisões internas ou com os obstáculos que se levantam à sua frente. Auto-organização e adaptação contínua, ao vivo e in vivo.

Variabilidade e transitoriedade são condições essenciais do funcionamento da natureza, qualquer que seja a perspectiva do nosso olhar. Mesmo sistemas complexos de origem huma-na, como as redes sociais, o sistema econó-mico e a Internet, manifestam complexidade. Embora à partida não pareça existir nada de mais estático e previsível do que um edifício, a arquitectura também pode (deve e está a) ser pensada de forma não-linear uma vez que, pensando bem, o modelo cartesiano clássico é apenas uma das formas possíveis em que a complexidade real da natureza se pode organizar. Uma forma raramente encontrada na natureza mas a que o espírito humano, de modo desarreigado da realidade, parece que-rer subjugar todas as suas realizações. Embora as estruturas assimétricas concebidas pelos arquitectos apareçam aos nossos sentidos como “impossíveis”, são mais representativas da verdadeira organização volumétrica do mundo natural e, logo, mais verdadeiras.

Estes edifícios nascem quase ao contrário. Partem de algumas características genéricas do que se pretende concretizar e avançam, não por impulso estético, mas por uma procura rigorosa das variantes matemá-ticas não-lineares que, fugindo à geometria cartesiana, oferecem equivalente ou superior sustentação estrutural. É depois, dentre

Rui Leitã[email protected]

O problema é o verbo. Integrar-se não é o que as partes constituintes de um sistema fazem

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estas, que o arquitecto escolhe a que mais se adequa à sua visão estética ou ao statement que pretende realizar. A importância do insight minimiza-se na forma para se elevar na funcionalidade, dado que o espírito criativo do arquitecto é modulado por uma panóplia de soluções possíveis, tão contra-intuitivas que só a matemática permite a sua concepção. E, por vezes, tão extraordinárias que muitos desconfiam da sua real exequibilidade. Foi por desconfianças acerca da suficiente resistência estrutural que a pala do pavilhão de Portugal na Expo ou a torre da TV em Pequim viram bastante atrasada a sua construção6.

Biologia (quase) ao contrário

Considerando que devemos muito à biologia linear e reducionista dos últimos 200 anos, porque necessitamos de re-conceptualizá-la? A descoberta, ainda que parcial, da fisiopatolo-gia de muitas doenças e a possibilidade de os médicos, finalmente, poderem intervir com mais benefícios do que prejuízo para os doen-tes, deve-se na essência à estratégia reducio-nista. Esta passa pela divisão dos problemas complexos em componentes mais simples, na expectativa de, uma vez estes esclarecidos, poder reconstituir a integridade do sistema em estudo. As três questões elementares do reducionismo são quais as partes constituintes do sistema, como funciona individualmente cada uma dessas partes e como se integram as partes para reconstituírem todo o sistema. O problema é o verbo. Integrar-se não é o que as partes constituintes de um sistema fazem. Esta é uma simplificação que visa facilitar o

desenvolvimento de teorias explicativas, sem grandes sobressaltos. Interagir é a realidade. E toda a diferença do mundo é a que separa o encontro entre o TNF-α e o seu receptor, no deserto, sem nenhuma proteína à vista num raio de centímetros, do mesmo fenómeno no meio da multidão frenética de células, citoquinas e receptores que enchem um joelho inchado. Não me interpretem mal, o raciocínio reducionista ainda é o instrumento mais eficaz para esclarecer quadros menos complicados como uma infecção urinária, uma apendicite aguda ou um aneurisma da aorta, mas começam a ser reconhecidas as suas limitações para compreender patologias mais complexas como a diabetes, a doença coronária ou a asma. É aqui que a interacção entre os diferentes componentes que constituem um determinado sistema, gera as chamadas propriedades emergentes, uma plétora de reacções inesperadas e imprevisíveis pela mera observação das partes que o constituem. Esta emergência é parte integrante e preponde-rante no balanço final da acção do sistema porque torna-o muito mais do que a mera soma dos seus constituintes e obriga a ponderar variabilidade e imprevisibilidade como pro-priedades inerentes à bioperformance.

Aí vai um exemplo de como a dinâmica de funcionamento ao longo do tempo, pode ser mais informativa sobre a sua saúde, do que determinações isoladas de parâmetros analíticos em vários momentos temporais. A secreção de insulina. Em indivíduos saudáveis ocorre em pulsos com oscilações periódicas com intervalos de 6 a 10 minutos. Oscilações

que estão ausentes nos diabéticos7 e nos seus familiares do primeiro grau8, apontando para uma associação entre a perda de variabilidade fisiológica e a doença e atestando que a homeostase saudável é dinâmica e não estática. Muitos interessantes são experiências recentes que parecem mostrar que a restauração da variabilidade biológica ausente pode melho-rar a patologia em que estão presentes9.

Estudar como múltiplas variáveis fisiológicas interferem em cada sistema complexo é difícil mas necessário, uma vez que a compreensão cabal de doenças complexas como a diabetes depende mais do estudo do contexto (genética, sistemas endócrino e imune, hábitos dietéticos, comorbilidades, etc.) do que de uma atenção preferencial sobre a glicemia. De facto, a solução terapêutica mais válida é até contra--intuitiva (inibição da interleucina-1 ou sali-cilatos)10-11, embora com forte sustentação nos dados mais recentes da fisiopatologia.

A complexidade é a realidade. Isso e o facto de se encontrarem vias patogénicas comuns entre muitas doenças crónicas, mediadas por moléculas cuja actividade biológica é mais complexa e vasta do que o inicialmente previsto, conduz-nos à necessidade de desenvolver uma visão integrada dos sistemas biológicos e à possibilidade, entusiasmante, de vir a tratar várias entidades em simultâneo, com um número reduzido de fármacos.

Mais fácil de dizer do que fazer, adquirir uma visão integrada implica equipas multidisciplinares, ferramentas informáticas

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Ensaio

e uma mudança de mentalidade. Algoritmos capazes de gerir as grandes quantidades de dados disponibilizados em continuo pelas unidades de investigação (incluindo os dados do genoma) e um foco no desenvolvimento de modelos explicativos da fisiologia nas diferen-tes escalas espaciais (de manómetros a met-ros) e temporais (de microssegundos ao tempo de vida) em que se desenrola o funcionamento do organismo humano, são requisitos essenciais, mas a validade desta abordagem joga-se na criação de modelos explicativos das vias fisiológicas, posteriormente testados por via experimental e aprovados ou descartados consoante reproduzam, ou não, a realidade observada. Um modelo que venha a comprovar ser uma representação realista de um determinado processo fisiológico, per-mite prever como as perturbações da fisiologia (uma mutação genética, por exemplo) alterarão o funcionamento do sistema12. Um bocadinho ao contrário, não?!

A dificuldade em ter opinião

Às vezes, a verdade deixa-se ver. Mas não por acaso. Não é produto de trabalho, esforço ou vontade mas compreender a natureza íntima das coisas, ver intuitivamente, só acontece aos que trabalharam esforçadamente e o desejam. No entanto, por melhor que rentabilizemos a nossa capacidade de reflexão só podemos ver aquilo que a nossa cultura, tudo aquilo que nos moldou (geografia, tradição, educação) nos deixa ver13. A solução é multidiscipli-nar. Físicos, matemáticos, informáticos e epidemiologistas compreende-se. Trazem consigo visões diferentes da nossa, mas complementares. Mas que dizer dos artistas? O que podem trazer à dialéctica da ciência?

Têm tudo o necessário para que o diálogo com a ciência seja frutuoso para as duas partes. Desde a Renascença os artistas têm vindo a desenvolver progressivamente noções de perspectiva e escala, visões de interacção dinâmica e, mais recentemente, representações abstractas de formas e forças escondidas, que lhes conferem a capacidade de compreender muito do que está em jogo na ciência actual e colaborar, segundo a sua perspectiva particular, na investigação. Paul Klee referia-se a este aspecto quando disse “Art makes the invisible, visible”13. Mas nem todos os artistas “servem”.

Há muitos artistas que acham que são modernos porque gostam de mostrar que o contacto com a ciência “moldou” a sua obra. Mas não a um nível profundo. Por exemplo, vêm uns fractais, tomam uma opção estética, dominam uma técnica decorativa e aí estão eles. Na moda, mas não modernos. Porque a modernidade é outra coisa. Começam (e acabam) num conceito visual que paira sem sustentação conceptual, sem reflexão, sem objectivo excepto (a)parecer moderno, mas o melhor que conseguem é... estar na moda. Porque a modernidade é difícil. Exige um enquadramento histórico, uma noção de “escola”, uma visão profunda e integrada da complexidade do mundo e competência. Competência técnica e zelo para representar o que emerge dessa reflexão: uma visão pessoal inovadora, corajosa e peremptória. Edward Berko, o pintor americano, cumpre14. Não por acaso, mas para poder ter uma opinião. Na sua expressão mais simples e mais nobre, ser moderno é ter uma opinião. Ter uma visão que contribua para que outros vejam também.

Mas que dizer dos artistas?

O que podem trazer à dialéctica da ciência?

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A culpa não é (só) nossa

Narrativa, significado e contemplação estética são preocupações artísticas que encontraram uma nova vida e novos públicos nas performances e nos espectáculos15. A direcção da SPR ponderou o potencial artístico e dramático da essência do nosso conhecimento e da sua apresentação pública e isso foi o que inspirou o modelo da reunião da Alfândega do Porto16. Redesenhámos a sala, omitimos tribuna e mesas de moderação, inquietámos os palestrantes e investimos na qualidade de som e imagem para desassossegar a assistência. Fidelizámos a audiência e alegrámo-nos ao rever uma sala a encher-se a partir das filas da frente. A deriva estético/dramática contribuiu de forma decisiva para a aderência do público e o resultado foi uma reunião viva e interessante sem compromisso da qualidade científica. Ouvimos elogios e críticas, claro, mas foi um empenho sério numa nova harmonia.

Entendendo que a maior parte das iniciativas visando a interacção arte/ciência não passam de abordagens superficiais e irrelevantes, Martin Kemp, professor de História da Arte em Oxford, quando convidado pelo editor da Science para publicar uma crónica periódica sobre esse tema, optou com lucidez por realizar uma análise descritiva das intuições estruturais que cientistas e artistas partilham no exercício da conceptualização da natu-reza. Seleccionou exemplos da arte ocidental produzida entre a Renascença e a actualidade e mostrou as semelhanças existentes entre o insight dos artistas e o de cientistas, de áreas tão distintas como matemática, física, botânica e ciências sociais. Parece inquestionável que a informação visual como ponto de partida para a intuição estrutural opera não apenas na arte mas também na ciência, em enquadramentos e momentos particulares. Mas ficou por saber se um artista com elevado potencial de conceptualização estrutural, pode ser chamado a colaborar na resolução de um problema particular que surja em determinado passo de uma investigação científica.

Seja como for, partindo da margem Arte, Kemp colocou a sua formação, experiência e raciocínio ao serviço da actividade meritória e necessária de ligação arte/ciência. Quem consegue fazer o mesmo, partindo da margem Ciência? Um médico?

Os médicos têm uma visão quase hiper-realista do sofrimento dos pacientes e dificuldades em conceptualizar em abstracto as nuances estruturais da fisiologia humana, dado que se defrontam diariamente com as suas consequências “macroscópicas”. Mas alguns têm interesses artísticos e conhecimento suficiente para colocá-los à altura do desafio de ligar a Ciência à Arte.

Recentemente, durante o Congresso Português de Reumatologia realizado no Funchal, o artista José António seleccionou e o médico J. A. Melo Gomes apresentou, na palestra “Reumatologia e Arte”, obras de autores que padeceram de doenças reumáticas, mostrando que as limitações físicas não podem opor-se à ânsia de desenraizar do íntimo, as paixões. E com essa escolha incentivou-nos a resguardar intacta a nossa capacidade de raciocínio e abstracção para reflectirmos sobre o sentido profundo da nossa actividade, para além do alívio, para além da cura. Dotado de uma compreensão abrangente, Melo Gomes deixou-nos a pensar que a prática clínica, por mais apropriada e eficiente que a consigamos tornar, idealmente talvez não deva passar de um subproduto nobre da reflexão teórica, essa sim, a verdadeira missão do médico mo-derno. Bibliografia* Samuel Becket1. ”Architecture as an open culture” Casa da Música, 12/6/20102. Rosen C et al. Bone, fat and body composition: evolving concepts in the

pathogenesis of osteoporosis. Am J Med 2009; 122: 409-143. Dorshkind K et al. The ageing immune system: is it ever too old to

become young again? Nature Rev. Immunology 2009; 9: 57-624. Izaks GJ et al. Ill or just old? Towards a conceptual framework of the

relation between ageing and disease. BMC Geriatrics 2003; 3 5. Goldberger AL et al. Fractal dynamics in physiology: alterations with

disease and aging. PNAS. 2002; 99 (Suppl 1: 2466-72.6. Glancey J. They said it couldn’t be done. The Guardian 2007; July 237. Staris J et al. Abnormalities in the ultradian oscillations of insulin

secretion and glucose levels in type 2 diabetic patients. Diabetologia 1992; 35: 681-9

8. Schmitz O et al. Disorderly and nonstationary insulin secretion in relatives of patients with NIDDM. Am J Physiol 1997; 272: E218-E226

9. Mutch WAC et al. Biologically variable or naturally noisy mechanical ventilation recruits atelectatic lung. Am J Respir Crit Care Med 2000; 162: 319-23

10. Larsen CM et al. Interleukin-1 receptor antagonist in type 2 diabetes mellitus. N Engl J Medicine 2007; 356: 1517-2611. Ripudaman S et al. Mechanism by wich high-dose aspirin improves glucose metabolism in type 2 diabetes.J Clin Invest 2002; 109: 1321-612. Strange K. The end of “naïve reductionism”: rise of systems biology or renaissance of physiology? Am J Physiol Cell Physiol 2005; 288: C968-C97413. Gockel B. Paul Klee’s picture-making and persona: tools for making invisible realities visible. Stud History Philosophy Science 2008; 39(3): 418-3314. Berko E. Sur le mur. Editions La Différence. 199415. Molnar-Szakacs I et al. Do you see what I mean? Corticospinal excitability during observation of culture-specific gestures. PLoS One. 2007; 2(7): e62616. Kemp M. Seen/Unseen. 2006. Oxford University Press. Pp317. I Simpósio de Dor Músculo-Esquelética.Alfândega do Porto; 3-4 Abril 2009

Aprender a pensar nestes termos é a

nossa melhor hipótese de um

dia compreender como funciona

a realidade

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Despachon.º 20510/2008

INFORMAÇÕES ESSENCIAIS COMPATÍVEIS COM O RCM Nome doMedicamento e Forma Farmacêutica Remicade 100 mg pó para con-centrado para solução para perfusão Composição Qualitativa e Quanti-tativa 1 frasco para injectáveis contém 100 mg de infliximab Indicaçõesterapêuticas Artrite reumatóide. Doença de Crohn em adultos. Doença deCrohn pediátrica. Colite ulcerosa. Espondilite anquilosante. Artrite psoriá-tica. Psoríase Posologia e modo de administração Via IV. Todos os doen-tes aos quais se administra Remicade devem ser mantidos sob observaçãodurante, pelo menos, 1-2 horas após a perfusão para despiste de reacçõesagudas relacionadas com a perfusão Artrite reumatóide (AR) 3 mg/kg, du-rante 2 horas, seguida por doses adicionais de 3 mg/kg, administradas porperfusão 2 e 6 semanas após a 1ª perfusão e, em seguida, a intervalos de8 semanas. Em doentes com AR cuidadosamente seleccionados, que to-leraram 3 perfusões iniciais de 2 horas de Remicade, poder-se-á ponderara administração das perfusões subsequentes durante um período não in-ferior a 1 hora. Remicade tem de ser administrado concomitantemente commetotrexato Doença de Crohn activa grave perfusão IV 5 mg/kg ao longode 2 horas, seguida por uma perfusão adicional de 5 mg/kg, 2 semanasapós a 1ª perfusão IV. No caso de um doente não responder ao tratamentoapós as 2 primeiras doses, não deve ser administrado tratamento adicio-nal com infliximab Doença de Crohn activa, com formação de fístulas per-fusão IV de 5 mg/kg ao longo de 2 horas, seguida de doses adicionais de5 mg/kg, administradas por perfusão às 2 e 6 semanas após a 1ª perfusão.Se um doente não responder após 3 doses, não deve ser administradoqualquer tratamento adicional com infliximab Colite ulcerosa perfusão IV de5 mg/kg administrada durante 2 horas seguida por doses adicionais de5 mg/kg, administradas por perfusão, 2 e 6 semanas após a 1ª perfusão,e em seguida, a intervalos de 8 semanas. Os dados disponíveis sugeremque a resposta clínica é geralmente atingida dentro de 14 semanas de tra-tamento, ou seja, 3 doses Espondilite anquilosante perfusão IV de 5 mg/kgadministrada durante 2 horas seguida por doses adicionais de 5 mg/kg,administradas por perfusão, 2 e 6 semanas após a 1ª perfusão e, em se-guida, a intervalos de 6 a 8 semanas. Se um doente não responder às 6 se-manas (i.e. após a administração de 2 doses), não deve ser administradotratamento adicional com infliximab Artrite psoriática perfusão IV de5 mg/kg administrada durante 2 horas seguida por doses adicionais de5 mg/kg, administradas por perfusão, 2 e 6 semanas após a 1ª perfusão e,em seguida, a intervalos de 8 semanas. Psoríase perfusão IV de 5 mg/kgadministrada durante 2 horas seguida por doses adicionais de 5 mg/kg,administradas por perfusão, 2 e 6 semanas após a 1ª perfusão e, em se-guida, a intervalos de 8 semanas. Se um doente não responder às 14 se-manas (i.e. após a administração de 4 doses), não deve ser administradotratamento adicional com infliximab. Consultar RCM completo sobre re-administração nas várias indicações, utilização em população idosa, pe-diátrica e com compromisso da função renal e/ou hepáticaContra-indicações Hipersensibilidade ao infliximab, proteínas murinas oua qualquer dos excipientes. Doentes com tuberculose ou outras infecçõesgraves tais como sepsis, abcessos, e infecções oportunistas. Doentes cominsuficiência cardíaca moderada ou grave (classe III/IV da NYHA). Adver-tências e precauções especiais de utilização Reacções da perfusão e hi-persensibilidade, infecções (ex. tuberculose, infecções bacterianas,infecções fúngicas e outras infecções oportunistas), reactivação da hepa-tite B (VHB), acontecimentos hepatobiliares, administração concomitantede um inibidor TNF-alfa e anacinra e de um inibidor TNF-alfa e abatacept,vacinações, processos auto-imunes, acontecimentos neurológicos, neo-plasias malignas e linfoproliferativas, insuficiência cardíaca. Intervençõescirúrgicas, incluindo artroplastia Interacções medicamentosas e outrasformas de interacção Anacinra, abatacept, vacinas vivas Efeitos inde-sejáveis Frequentes Infecções e infestações Infecção viral Doenças do sis-tema imunitário reacção tipo doença do soro Doenças do sistema nervosocefaleias, vertigens, tonturas Vasculopatias rubor Doenças respiratórias, to-rácicas e do miastino infecção do aparelho respiratório superior, sinusite,dispneia Doenças gastrointestinais dor abdominal, diarreia, náuseas, dis-pepsia Afecções hepatobiliares aumento das transaminases Afecções dostecidos cutâneos e subcutâneos urticária, erupção cutânea, prurido, hipe-ridrose, pele seca Perturbações gerais e alterações no local de administra-ção reacção relacionada com a perfusão, dor torácica, fadiga, febre Datada Revisão do Texto: 03/2010 Titular da AIM Centocor B.V. Einsteinweg101, 2333 CB Leiden, Holanda. Representante Local do Titular de AIMSchering-Plough Farma, Lda., Rua Agualva dos Açores 16, 2735 – 557Agualva – Cacém, Contribuinte nº 500 700 907 Medicamento de receitamédica restrita, de utilização reservada a certos meios especializa-dos. Medicamento Comparticipado ao abrigo do Despacho nº4466/2005 (escalão A) e Despacho nº 20510/2008 (escalão A), alteradopelo Despacho nº2938/2010. Para mais informações deverá contactaro representante local do titular de AIM ou o titular da AIM. R

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Schering-Plough Farma, Lda. Rua Agualva dos Açores, 16 • 2735-557 Agualva CacémTel.: 21 433 93 00 | Fax: 21 432 10 97 | Capital Social: 8.850.000 EurosRegisto Comercial: 1941 Sintra | Sociedade por Quotas - Cont. nº 500 700 907

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Em doentes com AR cuidadosamente seleccionados, que to-leraram 3 perfusões iniciais de 2 horas de Remicade, poder-se-á ponderara administração das perfusões subsequentes durante um período não in-ferior a 1 hora. Remicade tem de ser administrado concomitantemente commetotrexato Doença de Crohn activa grave perfusão IV 5 mg/kg ao longode 2 horas, seguida por uma perfusão adicional de 5 mg/kg, 2 semanasapós a 1ª perfusão IV. No caso de um doente não responder ao tratamentoapós as 2 primeiras doses, não deve ser administrado tratamento adicio-nal com infliximab Doença de Crohn activa, com formação de fístulas per-fusão IV de 5 mg/kg ao longo de 2 horas, seguida de doses adicionais de5 mg/kg, administradas por perfusão às 2 e 6 semanas após a 1ª perfusão.Se um doente não responder após 3 doses, não deve ser administradoqualquer tratamento adicional com infliximab Colite ulcerosa perfusão IV de5 mg/kg administrada durante 2 horas seguida por doses adicionais de5 mg/kg, administradas por perfusão, 2 e 6 semanas após a 1ª perfusão,e em seguida, a intervalos de 8 semanas. Os dados disponíveis sugeremque a resposta clínica é geralmente atingida dentro de 14 semanas de tra-tamento, ou seja, 3 doses Espondilite anquilosante perfusão IV de 5 mg/kgadministrada durante 2 horas seguida por doses adicionais de 5 mg/kg,administradas por perfusão, 2 e 6 semanas após a 1ª perfusão e, em se-guida, a intervalos de 6 a 8 semanas. Se um doente não responder às 6 se-manas (i.e. após a administração de 2 doses), não deve ser administradotratamento adicional com infliximab Artrite psoriática perfusão IV de5 mg/kg administrada durante 2 horas seguida por doses adicionais de5 mg/kg, administradas por perfusão, 2 e 6 semanas após a 1ª perfusão e,em seguida, a intervalos de 8 semanas. Psoríase perfusão IV de 5 mg/kgadministrada durante 2 horas seguida por doses adicionais de 5 mg/kg,administradas por perfusão, 2 e 6 semanas após a 1ª perfusão e, em se-guida, a intervalos de 8 semanas. Se um doente não responder às 14 se-manas (i.e. após a administração de 4 doses), não deve ser administradotratamento adicional com infliximab. Consultar RCM completo sobre re-administração nas várias indicações, utilização em população idosa, pe-diátrica e com compromisso da função renal e/ou hepáticaContra-indicações Hipersensibilidade ao infliximab, proteínas murinas oua qualquer dos excipientes. Doentes com tuberculose ou outras infecçõesgraves tais como sepsis, abcessos, e infecções oportunistas. Doentes cominsuficiência cardíaca moderada ou grave (classe III/IV da NYHA). 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Intervençõescirúrgicas, incluindo artroplastia Interacções medicamentosas e outrasformas de interacção Anacinra, abatacept, vacinas vivas Efeitos inde-sejáveis Frequentes Infecções e infestações Infecção viral Doenças do sis-tema imunitário reacção tipo doença do soro Doenças do sistema nervosocefaleias, vertigens, tonturas Vasculopatias rubor Doenças respiratórias, to-rácicas e do miastino infecção do aparelho respiratório superior, sinusite,dispneia Doenças gastrointestinais dor abdominal, diarreia, náuseas, dis-pepsia Afecções hepatobiliares aumento das transaminases Afecções dostecidos cutâneos e subcutâneos urticária, erupção cutânea, prurido, hipe-ridrose, pele seca Perturbações gerais e alterações no local de administra-ção reacção relacionada com a perfusão, dor torácica, fadiga, febre Datada Revisão do Texto: 03/2010 Titular da AIM Centocor B.V. Einsteinweg101, 2333 CB Leiden, Holanda. Representante Local do Titular de AIMSchering-Plough Farma, Lda., Rua Agualva dos Açores 16, 2735 – 557Agualva – Cacém, Contribuinte nº 500 700 907 Medicamento de receitamédica restrita, de utilização reservada a certos meios especializa-dos. Medicamento Comparticipado ao abrigo do Despacho nº4466/2005 (escalão A) e Despacho nº 20510/2008 (escalão A), alteradopelo Despacho nº2938/2010. Para mais informações deverá contactaro representante local do titular de AIM ou o titular da AIM. R

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Privado

À conversa com…

Mário Viana de Queiroz

Preferia ter sido historiador. “Ficou-se” pela Reumatologia, uma carreira que lhe deu a consagração nacional e internacional. Agora, dedica-se à História através da Medicina

Está reformado há uns meses. O que mudou no seu dia-a-dia?Não mudou muito. Deixei apenas

de ir ao hospital diariamente (vou à sessão científica do Serviço uma vez por semana ou de quinze em quinze dias). Sem ser isso, continuo com a minha vida de todos os dias: venho ao consultório,

leio, escrevo e passeio. De certo modo, a vida agora é mais agradável do que antes, no activo. (risos). A vida hospitalar é dura e ser director de Serviço é muito complicado porque, para além da responsabilidade que temos sobre os nossos actos, temos a responsabilidade sobre os actos dos outros, o que é muito desgastante.

A minha introversão

dá-me felicidade

A sua faceta de reumatologista dispensa apresentações. Como é o Mário Viana de Queiroz marido, pai e avô?Bom, a Reumatologia teve uma certa importância na minha vida familiar, porque tive muito trabalho há 30 ou 40 anos para criar a especialidade de Reumatologia num hospital que não via com bons olhos as doenças reumáticas. Isso fez-me perder muito tempo, que deveria ter sido dedicado à minha família, à minha mulher e aos meus filhos. A partir de certa altura, comecei a ter uma vida mais tranquila. Hoje, dedico-me mais à família e, sobretudo, às minhas netas para quem escrevi o livro “Até onde me leva a memória”, que é uma história de família. Tenho dois filhos e duas netas. Digamos que estou agora a fazer aquilo que deveria ter feito há 30 anos. Em síntese, sou muito feliz na minha vida familiar, mas admito que esta foi prejudicada pela minha profissão.

De que factos se orgulha mais na sua vida profissional e pessoal?O que realmente mais destaco é a criação da especialidade de Reumatologia no Hospital de Santa Maria e indirectamente (porque foi através dos meus colaboradores) no Sul do país e ilhas. Eu penso que esse facto é o mais relevante, embora tenha existido muitas coisas que me encheram de satisfação ao longo de 44 anos como médico.

E na sua vida pessoal?Não estou a ver nada que seja motivo de orgulho. Nos últimos anos, tenho-me dedicado mais à literatura, à escrita, mas isso foi uma preocupação desde muito novo. Fui juntando factos atrás de factos ao longo das décadas e por volta aí dos 60 anos, já com a minha vida profissional completamente estabilizada, pude dedicar-me mais profundamente à escrita aproveitando esses 30, 40 anos de factos que fui vivenciando.

Quais eram os seus sonhos há 44 anos?Não direi que tenha tido sonhos. Tive objectivos de vida que foram sendo concretizados à medida que o tempo ia decorrendo.

Fez muitos amigos na Reumatologia?Acho que fiz… Aliás, formei cerca de 40 reumatologistas e tive centenas de internos de outras especialidades. Tirando um caso, não me lembro nunca de me ter zangado com alguém.

Penso que isso é bastante elucidativo. No entanto, eu não tenho um feitio muito próprio ou apropriado para fazer amigos. Embora não pareça, sou muito introvertido. E a verdade é que me sinto feliz. A minha introversão dá--me felicidade. Não preciso dos outros para me satisfazer em termos emocionais. Nunca procurei amigos. Se os criei ou não, as pessoas o dirão.

O que lhe dá mais prazer fazer hoje em dia?O que me dá mais prazer e sempre me deu é a leitura. Leio compulsivamente – vários livros por mês, dezenas de livros por ano. Em 30 dias de férias sou capaz de ler 5 ou 6 livros.

Que género aprecia mais?Gosto muito de ficção e de História. Na ficção, aprecio sobretudo escritores portugueses e sul--americanos: brasileiros, peruanos, chilenos. O que me dá mais satisfação é, de facto, a língua portuguesa e, depois, a castelhana. Neste momento, estou a ler “A Festa do Chibo”, de Mario Vargas Llosa – interessantíssimo. Dos brasileiros, gosto muito de Machado de Assis, Jorge Amado, Érico Veríssimo e Rúben da Fonseca; dos peruanos, gosto de Mario Vargas Llosa; dos chilenos, de Isabel Allende; dos portugueses, sobretudo daqueles com raízes angolanas, como José Eduardo Agualusa ou Pepetela. Não há livro nenhum que saia dos meus escritores preferidos que eu não o leia.

Leio compulsivamente –

vários livros por mês, dezenas de livros por ano

Privado

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Gostaria de ter sido historiador. Acabei por

ser médico

E os seus livros? Escreve à mão?Exactamente.

Um dos seus livros de ficção chama-se Dembos e relata a sua experiência na Guerra Colonial de uma forma original. Porquê escrever um livro sobre este tema?A guerra em Angola foi estúpida, insensata, injusta e absurda. Procuro passar nesse livro exactamente esse absurdo, contando histórias de forma satírica e elevando-as ao ridículo. Por outro lado, é uma espécie de humanização da guerra, porque me focalizo nas pessoas e tento combater de forma irónica a ideia absurda de que as colónias portuguesas faziam parte do país. Também lhe digo que a única forma que encontrei para tolerar esta guerra foi ridicularizando-a.

E a situação política do país actualmente. Também é tolerável?A nossa democracia está estável. Temos, sim, inúmeros problemas sociais, fruto desta crise que se está a eternizar. Sete anos de crise é muita coisa e não se vislumbra o seu fim, o que é pior. É uma situação dramática se atendermos ao número de desempregados e pobres que há no país. Pelos vistos, não se vê solução a

curto prazo para que se tenha um futuro mais risonho. Se pensarmos nos jovens, estes estão a ser altamente penalizados por esta conjuntura.

Continua a escrever livros sobre Reuma-tologia e Arte?Na continuação do livro “Reumatologia, Literatura e Arte”, eu e o meu grande amigo Hilton Seda resolvemos escrever um outro mais abrangente, chamado “Medicina, Literatura e Arte”. Neste, abordamos artistas e escritores que tiveram não só doenças reumáticas, como também psiquiátricas, neurológicas, pulmonares, cardíacas, etc. Esse livro encontra-se neste momento na editora e será lançado daqui a uns meses, provavelmente. Não pretendemos escrever livros de arte, mas, sim, patobiografias dos artistas, histórias das doenças dos artistas famosos e dos escritores famosos. É curioso escrever sobre as doenças dos artistas porque nos obriga a fazer diagnósticos diferenciais através dos sintomas que encontramos. Tudo isso se insere na História da Medicina, o que é apaixonante.

Aliás, eu sempre gostei de História. Gostaria de ter sido historiador. Acabei por ser médico.

Agora estou a ser historiador através da Medicina. (risos)

Quer dizer que se não fosse médico seria historiador?Seria historiador, seguramente. Obtive a nota máxima a História no exame do antigo 5.º ano. Era um aluno brilhante a esta disciplina. Não segui porque tinha todo um passado de médicos: o meu pai era médico, o meu avô também. Agora já não é assim, mas há 50 anos, os pais tinham muita influência no futuro dos filhos e das suas carreiras. Os meus filhos tiraram os cursos que quiseram. Quando lhes perguntei se queriam ser médicos, responderam “Para levar a sua vida, nem pensar”.

Não me arrependo de ser médico, de modo nenhum. Mas gostava mais de ter sido historiador, isso é um facto.

Sente-se feliz?Sinto. Não há nada que tenha ficado para trás. Realizei todos os meus objectivos de vida e neste momento sinto uma grande serenidade e tranquilidade. Vivo realmente feliz.

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Relance

XVIII Jornadas Internacionais do Instituto Português de ReumatologiaOrganização: IPR – Instituto Português de ReumatologiaLocal: Centro de Congressos de LisboaData: 09 e 10 de Dezembro de 2010Mais informações: www.pdr.pt

XXXI Curso de Reumatologia dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC)Organização: Serviço de Reumatologia dos HUCLocal: Auditório dos HUCData: 22 a 23 de Outubro de 2010Mais informações: www.spreumatologia.pt

XIII Fórum de Apoio ao Doente Reumático – “Exercício Físico e Alimentação”Organização: Liga Portuguesa Contra as Doenças ReumáticasLocal: Hotel Olissippo Oriente (Parque das Nações, Lisboa)Data: 29 e 30 de Outubro de 2010Mais informações: www.lpcdr.org.pt

Simpósio bianual SPR - “Artrite e Osso”Organização: Sociedade Portuguesa de ReumatologiaLocal: Centro Cultural e de Congressos de AveiroData: 31 de Março a 2 de Abril de 2011Mais informações: www.spreumatologia.pt

Consulte o programa detalhado na página 36 desta revista.

8th European Lupus Meeting (Porto 2011)Organização: (vários)Local: Centro de Congressos da Alfândega do PortoData: 06 a 09 de Abril de 2011Mais informações: www.lupus2011.org O Dr. Luís Inês e a Dr.ª Maria José Santos fazem parte da Comissão Organizadora Local do evento que se realiza, desta vez, em Portugal.

VI Jornadas de Reumatologia e Medicina Familiar do AlgarveLocal: VilamouraData: 22 a 23 de Outubro de 2010Mais informações: www.spreumatologia.pt

CORA 2011 - First Internacional Congress on Controversies in Rheumatology & Autoimmunity Organização: (vários)Local: Florença, ItáliaData: 10 a 12 de Março de 2011Mais informações: www.kenes.com/cora

74th Annual Scientific Meeting of the American College of RheumatologyOrganização: American College of RheumatologyLocal: Atlanta, GeorgiaData: 6 a 11 de Novembro de 2010Mais informações: www.rheumatology.org

IV Simpósio de Patologias Metabólicas Ósseas Organização: Sociedade Espanhola de ReumatologiaLocal: Logroño, EspanhaData: 25 e 26 de Fevereiro de 2011Mais informações: www.ser.es

Rheumatology 2011 Organização: The British Society for RheumatologyLocal: Brighton, Reino UnidoData: 12 a 14 de Abril de 2011Mais informações: www.rheumatology.org.uk

Congresso Internacional da Sociedade Espanhola de ReumatologiaOrganização: Sociedade Espanhola de ReumatologiaLocal: Málaga, EspanhaData: 10 a 13 de Maio de 2011Mais informações: www.ser.es

5th European Workshop on Immune-mediated Inflammatory DiseasesOrganização: (vários)Local: Sitges, Barcelona Data: 01 a 03 de Dezembro de 2010Mais informações: www.ewimid.com/ O Prof. Doutor João Eurico da Fonseca e o Dr. Miguel Soares fazem parte, respectivamente, das comissões organizadora e científica. O evento é precedido de uma MasterClass em Psoríase.

Relance

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Espaços

Ex-libris da cidade aveirense É palco de muitas reuniões científicas e acolherá o II Simpósio Temático SPR dedicado à “Artrite e Osso”. Uma meritória recuperação de uma antiga fábrica de cerâmica tornou o Centro Cultural e de Congressos de Aveiro numa das principais atracções da cidade

Aveiro tem uma longa tradição de cerâmica. A dinâmica do porto comercial, a sua navegabilidade e o

acesso a barcos de maior porte foram condições fundamentais para a instalação de fábricas, entre as quais as de louça e de cerâmica de construção. A Fábrica de Louça Fina do Cojo, do século XVIII, a Fábrica de Louça da Fonte Nova, as Cerâmicas Aveirenses e a Fábrica de Louça dos Santos são exemplos emblemáticos. No entanto, uma das mais importantes foi a Jerónimo Pereira Campos & Filhos, criada em 1896, devido às suas instalações monumentais erguidas durante a I Guerra Mundial, que

são palco, actualmente, do ex-libris de Aveiro: o Centro Cultural e de Congressos.

Esta fábrica tem a sua origem no profundo empenho de Jerónimo Pereira Campos, um conhecido mestre-de-obras, que, com 68

anos, decide arrancar com o projecto, oficializado em 1896. Após a sua morte, os seus filhos vão sucessivamente alargando a empresa: em 1923, a sociedade por quotas Jerónimo Pereira Campos & Filhos é transformada em sociedade anónima de responsabilidade limitada, constituindo um marco decisivo no panorama da actividade cerâmica da região. São então erguidas as monumentais instalações, cujo principal pavilhão daria lugar em 1995 ao Centro Cultural e de Congressos, e o seu capital social passa de 30 mil escudos para 2 milhões e 700 mil escudos (o do Banco Regional de Aveiro era de 4 milhões de escudos!).

Centro Cultural e de Congressos de Aveiro

O Centro Cultural e de Congressos é um

edifício emblemático da arquitectura industrial

aveirense

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Espaços

Após um longo período de esplendor, Ricardo Pereira Campos Júnior (filho do fundador da fábrica) morre prematuramente em meados da década de 1960, e a família perde, anos mais tarde, o controlo da empresa para o Banco Pinto de Magalhães, que transfere a sede para Alvarães, onde ainda hoje se mantém.

O Centro Cultural e de Congressos é, assim, um edifício emblemático da arquitectura industrial aveirense. Encontra-se situado no topo do Lago da Fonte Nova, espaço que foi alvo de uma intervenção urbanística profunda, fruto do programa Polis de Aveiro.

O edifício tem dois auditórios que permitem receber até mil participantes diariamente, cinco salas polivalentes e cinco gabinetes. Além de congressos nacionais e internacionais, o edifício acolhe debates, exposições, concertos e peças de teatro, e tem bar e restaurante contribuindo, desta forma, para a dinâmica cultural da cidade.

Arte tradicional

Dada a importância desta indústria na cidade, não é de estranhar que a cerâmica seja a arte tradicional mais representativa de Aveiro. As peças em barro negro de Molelos (nas figuras ao lado), os murais de azulejaria, a faiança tradicional, o figurado em cerâmica vidrada e os famosos barcos moliceiros em miniatura são alguns dos exemplos. Os motivos mais representados são, naturalmente, relacionados com a vida fluvial, como, por exemplo, as profissões antigas mais significativas da região, desde o marnoto e a salineira ao pescador e apanhador de moliço.

Porém, a região tem atraído muitos jovens criadores que se dedicam à cerâmica artística, revestindo de contemporaneida alguns dos motivos mais tradicionais do artesanato aveirense. Prova disso é a Bienal Internacional de Cerâmica Artística de Aveiro, um dos mais importantes concursos da área em Portugal, reconhecido internacionalmente como uma relevante mostra de novas técnicas e linguagens utilizadas na criação de cerâmica artística. Aveiro conseguiu, nos últimos anos, afirmar-se como espaço aberto ao diálogo, à divulgação e ao confronto de tendências e conceitos actuais desta área de criação, sendo terra-natal de alguns dos mais promissores ceramistas da actualidade.

A cerâmica é a arte tradicional mais

representativa de Aveiro

Destinos

“Maior” em quase tudo

Atlanta

Localizada no Estado de Geórgia, é a cidade das grandezas. Atlanta tem o maior aquário do mundo, o mais movimentado aeroporto do planeta, as imponentes mansões sulistas, mas também das maiores taxas de desemprego, obesidade e pobreza

Já se chamou “Terminus”, quando foi um importante entroncamento durante a Guerra Civil, mas também podia ter sido

baptizada de “Peach Town”, dado que o pêssego é o principal produto de Atlanta e os sulistas celebram esta fruta em vários locais: Peachtree Road, Peachtree Street, Peachtree Square, Peachtree Center…

No imaginário cinematográfico europeu, Atlanta está intimamente ligada ao galardoado filme “E tudo o Vento Levou” (com a persistente Scarlett O‘ Hara) ou à aclamada série “Norte e Sul”. E, na verdade, Atlanta foi a única cidade dos Estados Unidos completamente destruída durante a guerra entre o Norte e o Sul. Quando os georgianos regressaram, reconstruíram tudo do zero e elegeram a Fénix (que mitologicamente renasceu das cinzas) como símbolo da cidade. Procuraram trabalhar o mais possível e geraram uma riqueza prodigiosa que concentraram precisamente em Atlanta. É essa persistência que está na base de algumas das atracções da cidade, que recomendamos e que não pode deixar de visitar. Desfrutá-las, enquadradas no seu contexto histórico, é uma experiência que faz toda a diferença.

Aquário da Geórgia (“Georgian Aquarium”)

É considerado o maior aquário do mundo com mais de 30 milhões de litros de água doce e salgada. Inaugurado em 2005, apresenta 60 habitats diferentes para 500 espécies, num total de mais de cem mil animais. A cidade escolhida para acolhê-lo foi, naturalmente, Atlanta.

Quem suportou uma construção cujo valor ascendeu a 300 milhões de dólares? O fundador da Home Depot, o milionário Bernie Marcus, queria dar um presente à cidade de Atlanta para encorajar o crescimento educacional e económico. Doou 250 milhões de dólares e conseguiu patrocinadores para as cinco galerias do aquário (onde caberiam cinco estádios de futebol).

Hoje, 200 pessoas trabalham nesta estrutura a tempo inteiro e mais mil voluntários doam o seu tempo diariamente. Marcus espera que o aquário seja completamente auto-sustentável através dos ingressos, do aluguer do salão e de doações.

A galeria mais procurada é a Ocean Voyager. Trata-se de um tanque com quase 20 milhões de litros de água, protegidos por uma tela de acrílico, através do qual o público pode desfrutar da beleza de duas baleias-brancas e dois tubarões-baleia, além de centenas de outras espécies.

A maior parte dos peixes veio de locais de hidrocultura no Taiwan, mas algumas espécies

foram literalmente resgatadas da morte: um cardume de tarpões (podem pesar mais de 150 kg em adultos) que estava a ser arrastado por uma maré; uma espécie de peixe sem nome, laranja com a cauda rosa, que estava a dar à costa das ilhas Fiji; várias espécies de peixes tropicais que estavam a ser contrabandeadas; uma raia-viola capturada acidentalmente por um pescador do Taiwan; e muitas outras espécies em vias de extinção que, se tivessem sido deixadas na Natureza, já teriam sido pescadas e comidas.

Cidade das sedes mundiais

O refrigerante mais popular do mundo tem a sua sede em Atlanta. Adjacente ao aquário,

encontra-se o Museu da Coca-Cola (“World of Coca-Cola”), que conta a história desta bebida e dá aos visitantes a oportunidade de beber exemplares apenas produzidos para alguns países, como a Coca-Cola de pêssego japonesa ou o guaraná brasileiro.

Atlanta sedia também a famosa emissora CNN. Os turistas podem inscrever-se nos “Behind the Scenes Tour” para um roteiro de uma hora a estúdios diversos, salas de redacção, etc.

Quem quiser conhecer a herança cultural e arquitectónica da cidade e goste de caminhar, o Atlanta Preservation Center é uma boa

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Fénix é o símbolo de Atlanta, pelo seu contexto histórico

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opção. Com sede na 327 St. Paul Avenue, o centro organiza diversos roteiros históricos francamente bons.

Um dos locais mais visitados é o famoso Martin Luther King Jr. Historic Distrit, situado na Auburn Avenue, onde se pode encontrar quase tudo sobre este activista dos direitos humanos.

Em 1996, Atlanta foi sede dos Jogos Olímpicos e parte da área que serviu este evento desportivo forma hoje o Centennial Olympic Park, um dos maiores orgulhos da cidade. Monumentos, pavimentos elaborados e outras atracções rodeiam a Fonte Olímpica, que oferece regularmente espectáculos de música, jogos de luzes e esguichos que atingem dez metros de altura.

Outra atracção ao ar livre a visitar é o Stone Mountain Park, um parque temático ao estilo sulista, que tem a maior rocha granítica do mundo. No centro, encontra-se esculpida uma homenagem aos estados confederados.

Se o seu objectivo de viagem incluir compras, então os pontos principais são o complexo comercial Lenox Square (a norte da cidade), o Underground Atlanta, considerada a “Baixa” da cidade, e a poderosa Americasmart, feira de decoração e equipamentos para casa que ocupa três edifícios com 22 andares cada.

Herança sulista

A herança sulista não se encontra nos grandes prédios e nas luzes da cidade, mas, sem dúvida, nos seus bairros residenciais. O Inman Park é um dos bairros pitorescos de maior prestígio e representativo do estilo vitoriano. A Sul do parque localiza-se Little Five Points, área de restaurantes, compras de arte e criatividade artística.

Um dos bairros mais importantes de Atlanta é o Buckhead, considerado a “Beverly Hills do Sul”. Abriga as mais grandiosas residências da cidade e também as lojas das marcas mais luxuosas. O roteiro inclui ainda a região de Druid Hills e Emory, a 10 km a leste do centro, onde foi rodado o filme “Miss Daisy”, e a Peachtree Street, onde pode visitar a casa vitoriana onde viveu Margaret Mitchel, célebre escritora de “E Tudo o Vento Levou”.

A herança sulista encontra-se, sem dúvida, nos bairros residenciais

Destinos

N.º 9 | III Série | Distribuição gratuita | Setembro a Dezembro de 2010

Medicina Tradicional Chinesa

Alternativa oucomplemento?Luís Maurício

“Empenhar-me-ei noaprofundamento da investigação”

Rui André

“Não precisamos de nos afirmar”

Augusto FaustinoOsteoartrose ou osteoartrite?Da inflamação à terapêutica

DestinosAtlanta – “Maior” em quase tudo