mestrado contabilidade fiscalidade e finanÇas …

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MESTRADO CONTABILIDADE, FISCALIDADE E FINANÇAS EMPRESARIAIS TRABALHO FINAL DE MESTRADO RELATÓRIO DE ESTÁGIO MONTEIRO & PAIS CONSULTORES, LDA. APLICAÇÃO DO SNC ÀS ENTIDADES DO SECTOR NÃO LUCRATIVO DIOGO JOÃO MARTINS MARCELO SETEMBRO 2012

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Page 1: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

MESTRADO

CONTABILIDADE, FISCALIDADE E FINANÇAS

EMPRESARIAIS

TRABALHO FINAL DE MESTRADO

RELATÓRIO DE ESTÁGIO

MONTEIRO & PAIS – CONSULTORES, LDA.

APLICAÇÃO DO SNC ÀS ENTIDADES DO SECTOR NÃO

LUCRATIVO DIOGO JOÃO MARTINS MARCELO

SETEMBRO – 2012

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MESTRADO

CONTABILIDADE, FISCALIDADE E FINANÇAS

EMPRESARIAIS

TRABALHO FINAL DE MESTRADO

RELATÓRIO DE ESTÁGIO

MONTEIRO & PAIS – CONSULTORES, LDA.

APLICAÇÃO DO SNC ÀS ENTIDADES DO SECTOR NÃO

LUCRATIVO DIOGO JOÃO MARTINS MARCELO ORIENTAÇÃO:

ISEG: PROFESSORA DOUTORA CRISTINA BELMIRA GAIO

MARTINS DA SILVA M&P: DRA. MARIA GRACINDA BARATA MONTEIRO

SETEMBRO – 2012

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1

Agradecimentos

Na conclusão deste ciclo importante queria agradecer aos meus amigos e

familiares. Em especial, aos meus pais, irmão e à Rita por todo o apoio prestado ao

longo de vários anos, principalmente, o grande sacrifício realizado para concretizar esta

oportunidade.

À Professora Doutora Cristina Belmira Gaio Martins da Silva, por ter aceite

orientar este relatório e pela disponibilidade e empenho demonstrou ao longo da

realização deste trabalho.

À Dra. Maria Gracinda Barata Monteiro e à Dra. Maria Virgínia Barata

Monteiro Pais, sócios-gerentes da empresa, pela possibilidade de realizar o estágio

curricular e por todo o apoio que me prestaram durante este tempo. Especialmente à

Dra. Maria Gracinda, orientadora por parte da M&P, por ter orientado todo o processo

do meu estágio.

Aos colegas da equipa da Monteiro & Pais – Consultores, Lda., com a qual a

relação estabelecida foi bastante enriquecedora e gratificante.

A todos,

Muito Obrigado e votos de maiores felicidades e sucesso!

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ii

Resumo

O mundo actual de crescente evolução e mudanças e a tentativa da convergência

contabilística internacional obriga as empresas a uma actualização permanente, quer a

nível contabilístico, quer a nível fiscal. Estas mudanças obrigam as empresas em geral a

apostar na formação e actualização dos seus activos humanos, porque as exigências

contabilísticas e fiscais são cada vez maiores. Em 2011, pelo DL 36-A/2011, foi

aprovado o regime de normalização contabilística para as ESNL, com aplicação

obrigatória desde 2012 para todas estas entidades. O presente trabalho tem como

finalidade estudar a aplicação deste normativo a nível Contabilístico e Fiscal e dar a

conhecer os impactos que estas entidades sofreram com a sua adopção, como

funcionavam e como passaram a funcionar. Verificaram-se grandes mudanças para este

sector, quer a nível contabilístico, quer a nível fiscal, em que as entidades tiveram de

alterar grande parte dos seus procedimentos financeiros e administrativos, passando

também, no geral, a ter custos mais elevados.

Palavras-Chave: Entidades do Sector Não Lucrativo, terceiro sector, sector sem

fins lucrativos, organizações da sociedade civil, Normalização Contabilística, SNC

Page 5: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

iii

Abstract

The current world, with their growing changes and evolutions, and with the

attempt to reach the international accounting standardization, forces the companies do a

daily update not only at the accounting level but also at the fiscal level. These changes

force the companies to bet on the instruction and update of their human resources to

face up the growing accounting and fiscal system issues. In 2011, with the DL 36-

A/2011, was approved the accounting normalization polity for the ESNL, with the

imposed application for all the institutions since 2012. The present paper intends to

study the application of this directory at the accounting and fiscal level and show the

impacts that these companies have suffered with the new directory entrance, how they

worked and how they are going to work. This sector has experienced very changes, both

at the accounting and fiscal level, with the companies having to shift a big deal of their

financial and managing procedures as also experiencing an increase on their costs.

Key words: Nonprofit companies, third sector, nonprofit sector, civil society

organizations, accounting normalization, SNC.

Page 6: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

iv

Índice

Agradecimentos ................................................................................................................. i

Resumo ............................................................................................................................. ii

Abstract ........................................................................................................................... iii

Índice .............................................................................................................................. iv

Lista de Siglas ................................................................................................................... v

1. Introdução .............................................................................................................. 1

2. Caracterização da Empresa .................................................................................... 4

3. Enquadramento do estágio..................................................................................... 6

3.1. Desenvolvimento do Estágio .............................................................................. 6 3.2. Enquadramento teórico ..................................................................................... 9

4. Entidades do Sector não Lucrativo ...................................................................... 13

4.1. Definição .......................................................................................................... 13 4.2. As ESNL em Portugal ...................................................................................... 13

5. Aplicação do novo normativo às Entidades do Sector Não Lucrativo ................ 16

5.1. Aspectos Contabilisticos .................................................................................. 16 5.2. Aspectos Fiscais ............................................................................................... 24 5.3. Aplicação Prática ............................................................................................ 27

6. Conclusão ............................................................................................................ 34

7. Referências Bibliográficas ................................................................................... 36

8. Anexos ................................................................................................................. 38

Page 7: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

v

Lista de Siglas Art.º – Artigo

CIRC - Código do Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Colectivas

CIVA - Código do Imposto sobre o Valor Acrescentado

DL - Decreto-Lei n.º

EBF - Estatuto dos Benefícios Fiscais

ESNL - Entidades do Sector Não Lucrativo

IAS/IFRS - Normas Internacionais de Contabilidade

IMI - Imposto municipal sobre imóveis

IMT - Imposto municipal sobre transmissões onerosas de imóveis

ICNPO - International Classification of Non-profit Organizations

IRC - Imposto sobre o rendimento das pessoas colectivas

IRS - Imposto sobre o rendimento das pessoas singulares

IS - Imposto do selo

ISFL - Instituições Sem Fins Lucrativos

IVA - Imposto sobre o valor acrescentado

MCFFE – Mestrado em Contabilidade, Fiscalidade e Finanças Empresariais

M&P – Monteiro & Pais – Consultores, Lda.

NCM - Normalização Contabilística para Microentidades

NCRF-ESNL - Norma Contabilística e Relato Financeiro para ESNL

OTOC - Ordem dos Técnicos Oficiais de Contas

SNC - Sistema de Normalização Contabilística

SNC-ESNL - Sistema de Normalização Contabilística para ESNL

TOC - Técnico Oficial de Contas

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1

1. Introdução

Para efeitos de conclusão do Mestrado em Contabilidade, Fiscalidade e Finanças

Empresariais (MCFFE) do ISEG, este Trabalho Final de Mestrado tem como objectivo

evidenciar o trabalho realizado ao longo do meu estágio na Monteiro & Pais –

Consultores, Lda., tendo especial articulação com a matéria académica que o mestrado

me proporcionou, bem como o impacto que a nova legislação tem no sector não

lucrativo.

Este trabalho encontra-se dividido em 6 partes. Para além da Introdução, tem a

segunda parte, composta pela caracterização da empresa onde estagiei, complementada

pela terceira parte onde é descrito todo o trabalho realizado por mim nesta empresa e

sua articulação com as matérias do mestrado. A parte teórica e prática sobre as

Entidades do Sector não lucrativo, surge na quarta e quinta parte, respectivamente, com

uma definição e caracterização das Entidades do Sector Não Lucrativo e com o tema

base do trabalho: Aplicação do SNC às Entidades do Sector Não Lucrativo, onde é

descrito um enquadramento teórico e fiscal destas entidades e as alterações práticas que

este sector sofreu com esta nova legislação e respectivo enquadramento com a teoria

dada no mestrado. Na última parte, retirei as minhas conclusões sobre o tema estudado.

O Estágio na Monteiro & Pais – Consultores, Lda. teve início a 01 de Março de

2012 e terminou a 31 de Maio de 2012. Neste período de 3 meses tive oportunidade de

aplicar os conhecimentos adquiridos ao longo do meu percurso académico, mais

concretamente no MCFFE, pois, embora a minha frequência do curso de Economia me

Page 9: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

2

tenha dado alguns conhecimentos nesta área, o Mestrado deu-me uma formação mais

específica de Contabilidade e Fiscalidade, que é a base deste estágio.

Espero que o presente relatório reflicta todo o trabalho desenvolvido e as

experiências adquiridas de maneira a que estes sejam valorizados correctamente.

Procurei descrever de forma resumida, mas rigorosa todas as actividades desenvolvidas

no estágio e enquadra-las teoricamente na formação do Mestrado.

A nível teórico, o tema escolhido para o presente trabalho foi a Aplicação do

SNC às Entidades do Sector Não Lucrativo em Portugal, pretendendo-se estudar e

apresentar as principais características deste sector e toda a legislação que o envolve,

assim como o impacto que as novas alterações legislativas trouxeram a estas entidades.

Assim, com este tema teórico, pretendo dar a conhecer todo o enquadramento do

sector não lucrativo em termos contabilísticos, com as novas regras de mensuração,

reconhecimento e relato. Em termos fiscais, com as novas regras de reporte. A nível

prático, ao estudar o que mudou nestas entidades, tanto a nível de organização interna

da documentação como da necessidade de recorrer, em muitos casos, a entidades

especializadas nas áreas contabilísticas e fiscais.

A escolha do tema deste relatório deve-se ao facto de, no estágio, ter tido muito

contacto directo e ter trabalhado com um cliente cuja actividade é sem fins lucrativos,

onde implementei toda a nova legislação. Outro motivo tem a ver com o facto de este

ser um tema de elevada importância, não só porque, como sabemos, estas entidades

passaram a estar obrigadas a adoptar a Norma Contabilística e de Relato Financeiro para

Entidades do Sector Não Lucrativo (NCRF-ESNL) a partir do início deste ano de 2012,

como porque o sector não lucrativo tem um peso muito elevado na economia e na

Page 10: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

3

sociedade portuguesa e cada vez há mais a necessidade de informação financeira de

todas as entidades. Por outro lado e em particular, as empresas de consultadoria

financeira e fiscal têm obrigatoriamente de estarem em “alerta” permanente sobre todas

as alterações neste sector, pois a alta competitividade do mesmo obriga a que estas

empresas possuam um vasto e actualizado leque de serviços para oferecer.

Na elaboração deste trabalho, tal como esperava, confrontei-me com algumas

dificuldades, sendo a mais notória, a falta de literatura sobre o tema, fundamentalmente

devido ao facto de só muito recentemente se dar a devida importância a este sector em

consequência das alterações legislativas que se verificaram, apesar do grande peso que

as entidades sem fins lucrativo têm em Portugal.

O trabalho prático com este tema também teve algumas limitações, não só pela

falta de literatura, como pelo facto de ser um tipo de trabalho recente, em que não existe

muita aplicação prática em que me pudesse basear, contudo, consegui aplicar os

conhecimentos obtidos no Mestrado e aprofunda-los neste tipo de sector. Além disso,

entrei na realidade da empresa, senti as suas dificuldades e aprendi a resolver problemas

diários e a fazer acompanhamento e aconselhamento contabilista e fiscal.

Page 11: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

4

2. Caracterização da Empresa

A empresa Monteiro & Pais – Consultores, Lda., contribuinte nº 505 417 847, é

uma empresa de consultoria, especializada nas áreas financeira, fiscal, contabilística e

administrativa.

A Monteiro & Pais – Consultores, Lda. iniciou a sua actividade em 2001,

actuando principalmente no apoio à gestão de qualquer sector de actividade e de

qualquer dimensão.

Actualmente, conta com 10 colaboradores, numero que tem vindo a aumentar

nos últimos anos, assim como o seu volume de negócios, que em 2011 foi de 400.000€.

A sua carteira de clientes é bastante diversificada. A M&P – Consultores, Lda.

trabalha para apoiar empresas de pequena, média e grande dimensão, nacionais,

estrangeiras, sucursais e inclusivamente clientes de IRS – contabilidade organizada.

Tem uma grande diversificação de sectores de actividade, desde entidades sem fins

lucrativos, empresas da área da saúde, do ensino, da higiene e segurança alimentar a

empresas do sector da engenharia civil. No gráfico seguinte podemos observar a

distribuição da carteira de clientes por sector de actividade, baseado no volume de

negócios dos clientes no ano de 2010:

Page 12: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

5

Com a observação do gráfico podemos constatar que os sectores mais

expressivos são o sector do Comércio Grosso/Retalho (63,98%) e as actividades de

Arquitectura e Engenharia (25,35%). O sector das actividades imobiliárias também tem

um peso importante nos negócios da empresa. De referir ainda que a parte

correspondente a “Outros” (3,88%) engloba sectores, tais como Institutos de Beleza,

Actividades de saúde humana, actividades de consultoria, científicas, técnicas e

similares, Actividades jurídicas e dos cartórios notariais e Reparação, manutenção e

instalação de máquinas e equipamentos.

Page 13: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

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3. Enquadramento do estágio

3.1. Desenvolvimento do Estágio Durante o estágio na M&P desenvolvi a maior parte das tarefas ligadas às várias

áreas da empresa, desde a área administrativa, contabilística, fiscal, de recursos

humanos à área da consultoria.

3.1.1. Contabilidade

Numa fase inicial foi-me dada formação sobre a forma de organização dos

documentos da contabilidade dos clientes nos termos do SNC – Sistema de

Normalização Contabilística, assim como a sua classificação e lançamento, tendo assim

começado a por em pratica tal aprendizagem.

No estágio tive oportunidade de trabalhar com três programas diferentes. A

empresa encontrava-se numa fase de transição do programa de contabilidade, contas

correntes, pessoal e imobilizado. Assim, trabalhei com o “Linha 50” da Sage, ajudei de

algum modo no processo de transição para o “Next” da Sage, sendo o programa que

utilizei posteriormente e mais frequentemente ao longo do estágio. Trabalhei ainda com

o “Primavera”, sistema utilizado por um cliente em que o trabalho é feito nas suas

instalações e que eu tive oportunidade de acompanhar.

No “Next”, o lançamento contabilístico é feito em diários distintos, cuja

organização dos documentos segue esses diários, sendo os mais utilizados os seguintes:

o VND – Vendas

o BNC – Bancos Recebimentos

o CMP – Compras

o FST – Fornecimentos e Serviços de Terceiros

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o BN – Bancos Geral

o CX – Caixa

o DIV – Diversos

Os cinco primeiros diários (VND, BNC, CMP, FST e BNP) são lançados a partir das

contas correntes com integração directa na contabilidade. Os três últimos (BN CX e

DIV) são lançados directamente no módulo da contabilidade.

No seguimento do processo de organizar, classificar e introduzir no sistema os

documentos da contabilidade, efectuei reconciliações bancárias e de Terceiros e fiz as

eventuais correcções necessárias. Emiti facturas de alguns clientes cuja facturação é

feita pela M&P e fiz a conferência dessas facturas com a sua integração na

contabilidade.

Criei e organizei a pasta “Master” de cada cliente, onde são colocados os

documentos principais da empresa, como sejam o início de actividade, registo na

Autoridade Tributária e Aduaneira e na Segurança Social, declarações de alterações,

cópias dos documentos de identificação dos gerentes e funcionários.

Criei e organizei também a pasta de imobilizado com cópia das facturas e

respectivo registo no programa informático e com os mapas fiscais associados.

Criei e organizei a pasta fiscal de cada cliente, por ano, onde foram colocados os

cálculos que serviram de base as impostos e as respectivas guias de pagamento, acta de

aprovação de contas, Demonstrações Financeiras assinadas, declarações de

responsabilidade, modelo 10, modelo 22 e demais documentos definidos na Portaria n.º

92-A/2011 de 28 de Fevereiro de 2011, do Ministério das Finanças e da Administração

Pública.

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3.1.2. Fiscal

Com a crescente adaptação ao processo contabilístico, fui-me integrando também

a nível fiscal. Comecei por conferir o IVA, cruzando as bases de incidência com os

valores do IVA, lançados na contabilidade. Emiti os mapas de IVA e, com cada vez

mais autonomia, enviei mensal/trimestralmente as declarações periódicas de IVA dos

clientes da minha responsabilidade. Preparei e emiti também guias de pagamento de

retenções na fonte de IRS/IRC.

3.1.3. Imobilizado

Criei ainda fichas de activos fixos, em função das facturas recebidas e a sua

respectiva classificação com a tabela do Decreto Regulamentar Nº25/2009, de 14 de

Setembro, emiti mapas de imobilizado, conferi esses mapas com a contabilidade e

lancei as amortizações do exercício.

3.1.4. Recursos Humanos

A nível de recursos humanos, desempenhei tarefas, tais como o registo de fichas

de pessoal e manutenção do cadastro do pessoal, o processamento mensal de salários, a

preparação e emissão do modelo 10, a emissão de declarações de rendimentos dos

funcionários e a preparação e envio dos mapas da TSU.

3.1.5. Diversos

Realizei também trabalhos de final de ano, como a conferência de toda a

contabilidade, analisando todas as contas por classes em complemento de todos os

outros controlos que referi anteriormente. Elaborei actas de aprovação de contas. Dei

apoio na preparação de um pedido de reembolso de IVA. Preenchi a declaração do

modelo 22 de IRC de alguns clientes, com o apoio do meu orientador. Preparei também

todos os elementos de apoio à elaboração da IES e preenchi todos os seus mapas. Este

Page 16: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

9

trabalho de preenchimento da IES foi-me especialmente enriquecedor, pois abrange

muitas áreas e é óptimo para consolidar conhecimentos adquiridos ao longo do estágio.

Tive ainda oportunidade de trabalhar no apoio a uma inspecção da Autoridade

Tributária à contabilidade de um cliente da M&P, onde fiz uma revisão da

documentação do cliente, fiz a conferência dos mapas de imobilizado com a

contabilidade, desloquei-me, juntamente com os membros da equipa responsáveis pelo

cliente, às instalações do mesmo aquando do momento da inspecção, a fim de responder

a alguma questão levantada pelo Inspector que eu soubesse responder melhor.

3.1.6. Consultoria

Com todo o trabalho desenvolvido que referenciei anteriormente obtive muitos

conhecimentos e experiencia da parte administrativa e financeira da empresa. Essa

minha evolução permitiu-me realizar outro tipo de trabalhos de apoio à gestão. Assim,

elaborei:

Mapas de apuramento de resultados mensal ou trimestral;

Mapas de comparação com o mês anterior;

Mapas de comparação com o período homólogo do ano anterior;

Relatórios de análise dos resultados obtidos.

3.2. Enquadramento teórico

Para além das tarefas descritas no ponto 4.1, gostava de dar relevo a alguns

trabalhos realizados no estágio que têm especial articulação com a formação curricular

do mestrado.

Contractos de Construção

Dei apoio na contabilidade de um cliente (Cliente “Beta”) do sector da

engenharia civil. Este cliente suscitou-me bastante interesse, pois pude aplicar os

Page 17: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

10

conhecimentos que obtive na disciplina “Contabilidade em Entidades Complexas” sobre

a NCRF 19 – contractos de Construção.

O Cliente “Beta” trabalha num grande projecto de engenharia civil. Tem vários

custos directamente imputáveis ao projecto, incluindo subempreiteiros contratados

(Subcontratos). Os reditos e os gastos do projecto são reconhecidos como tal nos

períodos contabilísticos em que o trabalho seja executado, sendo aplicado o método da

percentagem de acabamento (§25 da NCRF 19). Este é o método obrigatório em termos

fiscais decorrente da adaptação do CIRC ao SNC (Art.19º do CIRC). Na prática, a

percentagem de acabamento é dada pela expressão seguinte:

Leasing

Em vários clientes que trabalhei, apliquei a matéria de “Leasing”, tendo como

referência a NCRF 9, que me foi leccionada no mestrado. Esses clientes são quem

utiliza o bem (Locatários).

Neste tema, vinco o facto de ter trabalhado com Leasings de viaturas ligeiras de

passageiros, que não se deduz o IVA das rendas, com viaturas de mercadorias, em que

já se pode deduzir IVA, assim como nos Leasings de equipamento básico. A dedução ou

não do IVA nas locações segue as regras gerais do direito à dedução do IVA nas

transmissões de bens e serviços. O não direito à dedução das viaturas de turismo está

tratado no Art.21º do CIVA.

Foi uma matéria de que gostei particularmente pelo facto de se aplicar muito na

prática a teoria que aprendi no mestrado.

Page 18: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

11

Inventários

No estágio na M&P tive também oportunidade de trabalhar com Inventários –

IAS2 / NCRF18, matéria que me foi leccionada na disciplina de Contabilidade

Financeira Avançada.

Outras matérias relevantes de contabilidade

Para além dos que referi anteriormente, foram muitos os outros temas em que

pude aplicar conhecimentos adquiridos ao longo da minha formação académica, mais

concretamente no Mestrado em Contabilidade, Fiscalidade e Finanças Empresariais.

Trabalhei, por exemplo, com operações com moeda estrangeira, em que estudei

mais aprofundadamente a NCRF 23 – Os Efeitos de Alterações em Taxas de Câmbio,

para saber como tratar das transacções em moeda estrangeira na contabilidade.

Tive também a experiência de criar uma provisão, de acordo com a NCRF 21 –

Provisões passivos contingentes e activos contingentes.

Fiscal

O Mestrado ajudou-me bastante também no estágio na Monteiro & Pais na parte

Fiscal. Um exemplo particular é a matéria de Regras de Localização em sede de IVA

(art.6º do CIVA). Este é um tema bastante complexo dentro da fiscalidade, mas com a

formação curricular da disciplina de Fiscalidade 1 e com formação interna e externa no

estágio e com a experiencia ganha ao tratar de tal matéria, penso que consolidei bastante

esses conhecimentos. A M&P tem, na sua carteira de clientes, muitos clientes que

efectuam transacções intracomunitárias, exportações, inversão do sujeito passivo, etc.,

que, em sede de IVA, têm regras especificas de tratamento, cujas quais pude aprofundar

ao longo do estágio.

Page 19: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

12

Para além do IVA, aprofundei muitos outros assuntos fiscais, tanto em termos de

IRC, e IRS, como de IMI, IMT, IS, entre outros.

Contabilidade de Gestão

Nesta área trabalhei com um cliente que utiliza centros de custos com controlo

orçamental. Assim, pude aplicar na prática matérias estudadas nas disciplinas de

Contabilidade de Gestão.

Entidades do Sector Não Lucrativo

Com a minha evolução técnica e prática foi-me dada uma crescente

responsabilização por alguns clientes, quer ao nível contabilístico, quer ao nível fiscal.

Essa responsabilização fez com que me especializasse mais nas matérias específicas ao

sector desses clientes.

De entre os vários clientes que tive oportunidade de trabalhar, destaco um

cliente, do sector da Educação, sem Fins Lucrativos. O trabalho com esta entidade

consistiu em todo o processo contabilístico da entidade do ano de 2011, assim como o

seu acompanhamento fiscal. Inclusivamente acompanhei o meu superior hierárquico,

responsável pelo cliente, a várias reuniões com o mesmo, de assuntos vários nível

financeiro e fiscal. Foi um trabalho que teve um peso muito grande no meu estágio a

nível de tempo despendido, em comparação com outros trabalhos.

Com isto vou estudar mais detalhadamente no Capitulo 5 as tarefas que realizei

ao trabalhar com este cliente, os impactos da entrada em vigor do normativo para o

sector não lucrativo, assim como a articulação do trabalho realizado com a matéria

leccionada do mestrado.

Page 20: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

13

4. Entidades do Sector não Lucrativo

4.1. Definição

Às Entidades do Sector não Lucrativo, também são atribuídas outras

designações: terceiro sector, sector sem fins lucrativos, economia social, economia

solidária, organizações não governamentais e organizações da sociedade civil.

Entidades do Sector não Lucrativo - são entidades que desenvolvem actividades

sem fins lucrativos a titulo principal, ou seja, o objectivo principal dessas entidades não

é o lucro, e que não podem distribuir qualquer ganho económico ou financeiro directo

aos seus membros ou contribuintes.

São entidades privadas, organizadas, cujos objectivos principais são não

comerciais e qualquer lucro que exista tem de ser reinvestido nos seus objectivos. Pode

dizer-se que estas entidades respondem a objectivos de interesse público,

nomeadamente de caracter social, cultural, ambiental, desportivo e educacional.

Estas entidades são autogovernadas, ou seja, têm os seus próprios métodos de

governação interna. São ainda voluntárias, pois não é exigido por lei ser membro,

participar ou contribuir em tempo ou dinheiro para as mesmas, partindo isso da

iniciativa privada de cada um (Franco et Al., 2005).

4.2. As ESNL em Portugal

Em Portugal, o Sector não lucrativo tem uma longa história desde há mais de mil

anos. Ao longo dessa mesma história houve vários factores que influenciaram o

desenvolvimento deste sector, de entre eles temos a herança deixada pela Igreja Católica

Romana, pela criação e apoio de uma série de instituições de caridade, a longa tradição

Page 21: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

14

de mutualismo, muito notória no tempo da Revolução Industrial, a longa história de

controlo político autoritário que limitou o desenvolvimento deste sector e a recente

transição democrática, que conduziu a uma crescente confiança do Estado nas

organizações privadas não lucrativas. As ESNL são contribuintes consideráveis para o

rendimento e despesa nacionais e são empregadores significativos (Franco et al., 2005)

Para melhor conhecer este sector e o tipo de entidades nele incluídas, a tabela 1

apresenta a classificação internacional das entidades do sector não lucrativo,

recomendada pela ONU, aplicada à realidade portuguesa:

Tabela 1- A tabela ICNPO aplicada a Portugal

Código Área Tipos de organizações em Portugal

1 Cultura e Lazer

Associações culturais, recreativas e desportivas

Casas do Povo

Clubes sociais e recreativos

Museus

Jardins zoológicos e aquários

Sociedades históricas e literárias

Associações de artes performativas e companhias

(teatro, dança, etc)

Associações de Estudantes e Associações Juvenis

2 Educação e

Investigação

Escolas (por exemplo ligadas a congregações religiosas)

Universidade Católica

Centros de Investigação

3 Saúde Hospitais e casa de saúde

4 Serviços Sociais

Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS)

Outras associações de solidariedade social (dedicadas às

crianças, jovens, idosos, deficientes, famílias, sem-abrigo,

entre outros)

Santas Casa da Misericórdia

Cooperativas de solidariedade social

Associações mutualistas

Associações de Bombeiros Voluntários

5 Ambiente Associações Não Governamentais de Ambiente

Associações de Protecção dos Animais

6 Desenvolvimento e

Habitação

Organizações de desenvolvimento local

Cooperativas de habitação e construção

Page 22: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

15

Associações de moradores

7 Leis, defesa de causas e

política

Associações de defesas dos direitos humanos

(imigrantes, anti-racismo, apoio à vítima, defesa do

consumidor, doentes crónicos, infectados com HIV/Sida,

família, mulheres, entre outros)

Partidos políticos

Associações de moradores

8

Intermediários

Filantrópicos e

Promotores do

Voluntariado

Fundações

Associações promotoras de voluntariado

Bancos alimentares

Fonte: Franco et al. (2005), alargado por Andrade e Franco (2007).

Ao nível quantitativo, segundo o INE, em 2006 o sector não lucrativo era

constituído por 45.543 unidades, sendo que cerca de metade correspondiam a

actividades de cultura e recreio.

No gráfico seguinte podemos observar a constituição do sector não lucrativo em

Portugal, por sector, em 2006:

Page 23: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

16

5. Aplicação do novo normativo às Entidades do Sector Não

Lucrativo

As entidades do sector não lucrativo tinham formas diferentes de contabilização

e relato financeiro das entidades com fins lucrativos, muito devido aos objectivos de

cada uma delas serem diferentes. De entre essas diferenças, temos, por exemplo, o

registo das entradas e saídas de dinheiro num regime de caixa, a contabilização de

contribuições e o reporte de despesas mais detalhado no sector não lucrativo (Gross et

al., 2005).

Para além das alterações legislativas que se prendem nas novas exigências em

termos contabilísticos e fiscais a este sector, a crescente importância das Entidades do

Sector Não Lucrativo (ESNL) na actividade económica da sociedade tem-se verificado

um aumento da procura de informação financeira e não financeira sobre estas entidades.

(Costa, 2011).

5.1. Aspectos Contabilisticos

O Decreto-Lei n.º 36-A/2011 de 9 de Março estabelece que a partir de 1 de

Janeiro de 2012, todas as entidades cuja actividade principal seja sem fins lucrativos e

que não distribuam qualquer ganho económico ou financeiro directo aos seus membros

ou contribuintes, como associações, fundações e pessoas colectivas públicas de tipo

associativo, estão obrigadas a seguir regras contabilísticas próprias para as entidades

sem fins lucrativos – a NCRF – ESNL.

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17

Ficam dispensadas da aplicação da normalização contabilística para as ESNL as

entidades cujas vendas e outros rendimentos não excedam 150.000€ em nenhum dos

dois exercícios anteriores.

As ESNL têm três características distintas das entidades com fins lucrativos: a)

financiamento pode resultar do seu património ou de recursos atribuídos por pessoas

singulares ou colectivas; b) respondem a finalidades de interesse geral que transcendem

a actividade produtiva e venda de produtos e serviços prestados; c) ausência de títulos

de propriedade – controlo, ou seja, ninguém “tem o direito de mandar”.

Para além das características distintas, as ESNL seguem os seguintes princípios

gerais:

Continuidade: Manutenção da actividade de prestação de serviços ou à

capacidade da entidade cumprir os fins propostos.

Regime de Acréscimo: reconhecer os seus itens usando o regime contabilístico

de acréscimo (periodização económica).

Consistência de apresentação das Demonstrações Financeiras: a apresentação e

classificação de itens nas DF’s deve ser mantida de um período para outro.

Materialidade e agregação: Apresentar os itens materiais semelhantes na mesma

classe e os dissemelhantes em classes distintas.

Compensação: Activos, passivos, rendimentos e gastos não devem ser

compensados

Informação Comparativa: A informação comparativa deve ser divulgada com

respeito ao período anterior.

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18

5.1.1. Demonstrações Financeiras

As ESNL que adoptem as NCRF – ESNL são obrigadas a apresentar as

demonstrações financeiras seguintes, segundo a Portaria n.º 105/2011 de 14 de Março:

Balanço;

Demonstração de Resultados, por natureza ou por funções

Demonstração dos fluxos de caixa

Anexo onde se divulguem as bases de preparação e politicas contabilísticas

adoptadas e outras divulgações exigidas pela NCRF – ESNL.

Algumas entidades, por opção ou por exigência de entidades públicas

financiadoras, apresentam também uma demonstração de alterações nos fundos

patrimoniais.

As entidades dispensadas de aplicar a NCRF - ESNL e que, por sua decisão, não

optem pela sua aplicação, ficam obrigadas à prestação de contas em regime de caixa,

contendo a seguinte informação: a) Pagamentos e recebimentos; b) Património Fixo; c)

Direitos e compromissos futuros.

5.1.2. Quadro de Contas

A nível contabilístico surge um quadro de contas pelo qual estas entidades têm que

se reger. A Portaria n.º 106/2011 de 14 de Março veio publicar o Código de Contas

relativo às especificidades das ESNL. Este Código de Contas baseia-se no Código de

Contas do regime geral do SNC, com a introdução das contas específicas dirigidas às

ESNL. As principais alterações do Código de Contas são:

Na conta 25 – Financiamentos obtidos, foi criada a subconta 255 – Instituidores

e beneméritos.

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19

A conta 258 – Outros financiadores pode ser desdobrada de acordo com as

entidades financiadoras.

A conta 26 – Accionistas/sócios passou a ter a denominação de 26 –

Fundadores/patrocinadores/doadores/associados/membros.

A conta 43 – Activos Fixos Tangíveis foi desdobrada do seguinte modo:

431 – Bens do Domínio Público

432 – Bens do património histórico, artístico e cultural

433 – Outros Activos Fixos Tangíveis

A Classe 5 – Capital, Reservas e Resultados Transitados passou a ser

denominada por Classe 5 – Fundos Patrimoniais.

A Conta 51 – Capital passou a ter a denominação 51 – Fundos.

A Conta 52 – Acções (quotas) Próprias passou a ser denominada por 52 –

Excedentes técnicos.

Na conta 68 – Outros Gastos e Perdas foi criada a subconta 689 – Custos com

apoios financeiros concedidos a associados ou utentes.

A conta 72 é desdobrada do seguinte modo:

721 – Quotas dos utilizadores

722 – Quotizações e Jóias

723 – Promoções para captação de recursos

724 – Rendimentos de patrocinadores e colaborações

A conta 75 passa a ter a denominação de 75 – Subsídios, doações e legados à

exploração.

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20

A Conta 81 – Resultado líquido do período pode ser desdobrada

convenientemente por projectos, valências, actividades, etc.

5.1.3. Norma Contabilística e de Relato Financeiro para Entidades do

Sector Não Lucrativo (NCRF-ESNL)

Antes da obrigatoriedade de aplicação desta norma, não existiam regras nem de

contabilização nem de informação fiscal, esta tudo deixado ao critério de cada empresa.

Com esta norma, passamos a ter regras específicas e a seguir os mesmos critérios

que as empresas em geral têm, nomeadamente a obrigatoriedade de apresentar

Demonstrações Financeiras e seguir critérios de mensuração e divulgação.

Passo a explicar as regras definidas na Norma.

A norma destinada ao sector não lucrativo (NCRF – ESNL) pode ser consultada no

Aviso nº6726-B/2011. Esta Norma segue a mesma estrutura da NCRF-PE e tem como

objectivo de estabelecer os principais aspectos de reconhecimento mensuração e

divulgação, com as adaptações inerentes as ESNL.

Esta norma aborda, muito resumidamente, os seguintes aspectos:

Âmbito, onde refere que “sempre que na presente norma existam remissões para

as normas Internacionais de Contabilidade, entende-se que estas se referem às

adoptadas pela União Europeia nos termos do Regulamento (CE) n.º 1606/2002 do

Parlamento Europeu e do Conselho de 19 de Julho e em conformidade com o texto

original do Regulamento (CE) n.º 1126/2008 da Comissão, de 3/11” (Ponto 2.2 da

norma) e que na eventualidade desta norma não responder a aspectos particulares de

contabilização ou relato financeiro que surjam a dada entidade, esta deverá recorrer,

por ordem:

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21

Às NCRF e Normas Interpretativas;

Às Normas Internacionais de Contabilidade, ao abrigo do regulamento

n.º1606/2002, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 19 de Julho

Às Normas Internacionais de Contabilidade (IAS) e às Normas

Internacionais de Relato Financeiro (IFRS) e respectivas interpretações (SIC e

IFRIC), emitidas pelo IASB.

Reconhecimento, em que refere que, em geral, os conceitos em causa se baseiam

na Estrutura Conceptual para a Preparação e Apresentação das Demonstrações

Financeiras, com alterações decorrentes da especificidade destas entidades, como a

distinção dos activos nas categorias seguintes:

Activos com restrições permanentes, os quais têm limitações quanto ao

destino ou ao investimento obrigatório desses activos;

Activos com restrições temporárias no presente e no futuro; e

Activos sem restrições de utilização.

Outra especificidade é o facto de o fundo patrimonial constituir o interesse

residual das ESNL nos activos depois de deduzir os passivos. Nestas entidades o

fundo patrimonial é composto por fundos atribuídos pelos fundadores da entidade ou

terceiros, pelos fundos acumulados e outros excedentes e pelos subsídios, doações e

legados que o governo ou outro instituidor ou a norma legal aplicável a cada entidade

estabeleçam que sejam de incorporar no mesmo. As ESNL têm a particularidade de

os rendimentos resultarem, em geral, de subsídios. Segundo (Ferreira et al., 2012),

estas entidades têm como principal diferença nas condições gerais de

reconhecimento para com as entidades com fins lucrativos, o conceito de activo. Isto

Page 29: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

22

porque foi eliminado a condição de probabilidade de obtenção de benefícios

económicos futuros, passando a ser condição permitir actividades presentes e futuras.

A nível de mensuração este sector destaca-se no custo corrente na mensuração dos

inventários que não irão gerar fluxos de caixa (Ferreira et al. 2012).

Estrutura e conteúdo das Demonstrações Financeiras, cujas mesmas devem ser

claramente identificadas e distinguidas de outra informação publicada.

Adopção pela primeira vez da NCRF-ESNL, onde refere o regime de transição

ou seja, que as entidades abrangidas pelas NCRF-ESNL têm de elaborar um balanço

de abertura, que será o ponto de partida da contabilização de acordo com esta Norma

e servirá de comparativo nas primeiras Demonstrações Financeiras elaboradas. Na

elaboração desse balanço de abertura deve ser respeitado o ponto 5.2 da Norma.

Quaisquer quantias relativas a diferenças de transição devem ser reconhecidas no

fundo patrimonial (resultados transitados, conta 56), à data da transição.

Políticas contabilísticas, alterações nas estimativas contabilísticas e erros, com a

Selecção e aplicação de políticas contabilísticas, a sua consistência, as possíveis

alterações nas políticas contabilísticas, nas estimativas contabilísticas e erros.

Activos fixos tangíveis, em que se mantêm os princípios gerais de

reconhecimento de um Activo Fixo Tangível. Contudo, nas ESNL, podem existir

bens a título gratuito em que o custo pode ser desconhecido. Nestes casos os bens são

mensurados ao justo valor, ao valor pelo qual se encontram segurados, ou ao valor

pelo qual figuravam anteriormente na sua contabilidade. No que respeita às

depreciações, a NCRF-ESNL estabelece particularmente que os eventuais bens do

património histórico, artístico e cultural não são objecto de depreciação.

Page 30: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

23

Activos intangíveis; Que seguem os critérios gerais de reconhecimento dos

Activos Intangíveis.

Locações, que segue, no geral, a NCRF 9 – Locações. Uma distinção deste

capítulo da NCRF – ESNL que se refere às locações (capitulo 9) para com a NCRF 9

é que este não refere qualquer tratamento das locações nas demonstrações financeiras

dos locadores, já que muito dificilmente este tipo de entidades se encontrará na

posição de locadores.

Custo de empréstimos obtidos; que incluem, tal como acontece nas entidades

com fins lucrativos:

Juros de descobertos bancários e de empréstimos obtidos a curto/longo prazo;

Amortização de custos acessórios incorridos com a obtenção de empréstimos;

Encargos financeiros com locações financeiras;

Diferenças de câmbio provenientes de empréstimos obtidos em moeda

estrangeira.

Inventários, que seguem a regra geral, mas as ESNL têm a particularidade de

poder deter inventários não directamente relacionados com a capacidade de gerar

fluxos de caixa.

Rédito, que diz que neste tipo de entidades as quotizações próprias de cada

sector são consideradas prestações de serviços.

Tratamento contabilístico de Provisões, passivos contingentes e activos

contingentes, que no Sector Não Lucrativo não tem nada a destacar em relação ao

regime geral.

Page 31: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

24

Contabilização dos subsídios e Outros Apoios, onde se realça o facto de neste

capítulo, em comparação com o capítulo homólogo da NCRF-PE, ser retirada a

expressão “Governo” nas diversas situações e a expressão “Capitais Próprios” ser

substituída pela expressão “Fundos Patrimoniais”.

Os efeitos das alterações em taxas de câmbio; com os aspectos de

Reconhecimento inicial de uma transacção, do seu relato em datas de balanço

posteriores e de reconhecimento de diferenças de câmbio

Imposto sobre o rendimento; cujo tratamento contabilístico é o método do

imposto a pagar e a mensuração é pela quantia que se espera que seja paga ou

recuperada às autoridades fiscais, usando as taxas e leis fiscais aprovadas à data do

balanço.

Instrumentos financeiros; com os aspectos de reconhecimento e mensuração, as

condições de imparidade e desreconhecimento dos mesmos.

Benefícios dos empregados, onde se aplicam apenas os benefícios de curto-

prazo e de cessação de emprego, não fazendo, devido ao objecto das entidades desta

norma, qualquer referência a planos de participação nos lucros e gratificações.

Data de Eficácia, que refere que esta norma deve começar a ser aplicada a partir

de Janeiro de 2012

5.2. Aspectos Fiscais

A nível fiscal temos, em primeiro lugar, os conceitos e condições a respeitar em

sede de IVA. O Art.10º do CIVA define o conceito de Organismos Sem Finalidade

Lucrativa, logo, as entidades que queiram beneficiar deste regime, têm de cumprir os

Page 32: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

25

requisitos deste Artigo. As entidades abrangidas pelo Artigo 10º do CIVA, beneficiam

das isenções referidas nos pontos 8, 12, 13, 14, 19, 20, 21, 22 e 35 do Art. 9º do CIVA.

No caso de a entidade se encontrar numa situação de regime de caixa,

cumprindo os requisitos do art10º do DL n.º36-A/2011 de não exceder as vendas e

outros rendimentos em 150 000€ em nenhum dos dois períodos anteriores e no ano civil

anterior não ultrapassar um volume de negócios superior a 10 000€, pode beneficiar da

isenção do importo do art.53º do CIVA.

O n.º3 do Art.29º do CIVA refere que os Sujeitos Passivos que pratiquem

exclusivamente operações isentas de imposto e não tenham direito a dedução, estão

dispensados das obrigações das alíneas b), c), d) e g) do nº1 do mesmo artigo. Assim, as

ESNL podem beneficiar desta dispensa.

Uma última nota importante em sede de IVA é relativa ao art.23º do CIVA, no

caso de as entidades estarem enquadradas num regime misto (de isenção e normal). Tal

importância deve-se ao facto de esta situação ser muito comum nas ESNL.

Um outro ponto importante a nível fiscal para as ESNL é a nível de IRC.

Importa destacar o Art.10º relativo à isenção das Pessoas colectivas de utilidade Pública

e de Solidariedade social e o Art.11º do CIRC relativo às Actividades culturais,

recreativas e desportivas, onde se podem encontrar as condições para as sociedades

estarem abrangidas por estas isenções. As entidades abrangidas pelo artigo 11º do CIRC

estão retratadas no art.54º do EBF que diz que estas entidades estão isentas de IRC se o

seu rendimento bruto sujeito a tributação e não isento não exceda o montante de 7500€

e que as importâncias investidas por estas entidades em novas instalações, sem que

essas importâncias provenha de subsídios, podem deduzi-las até 90% dos rendimentos

Page 33: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

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líquidos do período. Ainda sobre isenção, o art.55º do EBF define as condições para as

Associações e Confederações estarem isentas de IRC.

As ESNL podem também beneficiar de uma taxa de IRC mais baixa (21,5%), ao

abrigo do nº 5 do Art.87º do CIRC.

Importa ainda destacar o Art.117º do CIRC, sobre as obrigações declarativas,

que foi reformulado recentemente no que toca às ESNL, pois o ponto nº6 desse artigo

foi modificado, passando estas entidades a estar obrigadas a entregar a Declaração

Periódica de Rendimentos (Mod22 IRC) e a Declaração anual de informação

contabilística e Fiscal (IES).

Ao abrigo do Art.130º do CIRC, as ESNL, tal como todas as outras,

exceptuando as isentas ao abrigo do art.9º, estão obrigadas a guardar os documentos

contabilísticos e fiscais no prazo de 10 anos.

As ESNL podem beneficiar de isenção de IMI, ao abrigo das alíneas d) e), f) i) e

m) do Art.44º do EBF.

De acordo com o CIMT, estas entidades também podem beneficiar de isenção de

IMT, de acordo com a alínea d), i) e l) do nº6 do CIMT.

Também a nível de Imposto do Selo as ESNL podem beneficiar da isenção, ao

abrigo do Art.6º, alínea c) e d).

Page 34: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

27

5.3. Aplicação Prática

5.3.1. A entidade “Alpha”

Como referi anteriormente, tive oportunidade de aplicar os conhecimentos

adquiridos e a Norma na reestruturação completa de uma entidade do Sector Não

lucrativo, cliente da M&P, que passo a designar por Cliente “Alpha”.

O Cliente “Alpha” é uma entidade que se dedica ao fomento de relações entre

Portugal e os Estados Unidos da América através da oferta de bolsas para o intercâmbio

de professores, investigadores e estudantes, com base no mérito, da disponibilização de

orientação e informação de qualidade sobre os sistemas de ensino dos dois países e da

organização de iniciativas que potenciem a partilha de conhecimento. As receitas desta

entidade provêm essencialmente de apoios vários (subsídios, donativos, etc.) do Estado

e de entidades privadas e ainda da venda de livros e sebentas a bolseiros e outros

interessados.

5.3.2. Impactos da aplicação do normativo às ESNL

Passo agora a explicar com mais pormenor as consequências práticas da

aplicação do SNC ao sector não lucrativo, mais concretamente ao cliente “Alpha”.

Assim, com este trabalho com o cliente “Alpha” e com o contacto com diversas

outras entidades deste sector, como Associações de estudantes, de Futebol e de Caça e

Pesca, apresento as principais alterações e impactos que estas entidades sofreram.

Page 35: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

28

5.3.2.1. No geral

Antes da NCRF-ESNL

Como era tratada a informação contabilística na maioria das Entidades sem Fins

Lucrativos organizadas antes da entrada em vigor da norma?

A informação era normalmente transmitida aos interessados (sócios, associados

e outros) de forma avulsa ou sem especial cuidado na sua elaboração.

O controlo de contas bancárias ou de caixa era bastante reduzido ou se o

controlo era efectuado não havia grande evidência disso.

Não havia relatórios detalhados de despesas / custos, por rubricas ou

classificação.

Não havia relatórios detalhados de proveitos / subsídios / donativos.

Não havia análises simples ou comparativas.

É evidente que havia situações em que a informação era tratada de alguma forma

de acordo com os objectivos próprios da entidade em questão. No entanto não havia

regras standard para o tratamento da informação (Anexo 1)

Com a aplicação da NRCF-ESNL

As entidades tiveram que se (re)organizar, com o consequente aumento de

trabalho e de necessidade de recursos administrativos, técnicos e humanos.

As entidades tiveram que optar por ter a sua contabilidade organizada, com

necessidade de nomeação de um TOC ou a utilização do regime de óptica de

tesouraria, também chamado de regime de caixa.

Estão obrigadas a apresentar mapas de demonstração de resultados, quer

tenham contabilidade organizada, ou adoptem o regime de caixa (anexo 2).

Page 36: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

29

Necessidade de adaptação interna de forma a cumprir com as novas obrigações

fiscais.

Todas estas alterações têm como consequência uma maior organização das

entidades, mas também um grande aumento dos custos.

5.3.2.2. Na entidade “Alpha”

Antes da NCRF-ESNL

No caso em apresso, a entidade “Alpha”, a informação já era tratada, de uma

forma específica de acordo com as necessidades próprias. Eram apresentadas “contas”

aos seus patrocinadores (sócios) de acordo com regras definidas internamente. Essa

informação era tratada em folhas de excel, nomeadamente os resultados por categoria de

subsídios, por programas de atribuição de bolsas. Havia o controlo dos custos

administrativos mas em folhas excel, pelo que se conseguia obter demonstrações de

resultados anuais consoante as necessidades dos patrocinadores. Por esta entidade estar

isenta de Imposto sobre o Rendimento ao abrigo do Estatuto dos Beneficios Fiscais

(por ser entidade sem fins lucrativos), não tinha que demonstrar o resultado obtido nem

a forma de o calcular.

Com a aplicação da NRCF-ESNL

Adopção do sistema de contabilidade organizada, com a consequente

nomeação de um TOC

Novas regras de organização da documentação

Desconhecimento total das características da Norma, o que levou à contratação

de uma empresa especializada para o tratamento contabilístico e fiscal, uma vez que

Page 37: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

30

na entidade não havia ninguém com conhecimentos técnicos para executar essas

funções

Adopção de centros de custos e rubricas para a obtenção dos resultados por

centros de custos e rubricas. Os centros de custos foram definidos em função das

necessidades práticas do cliente.

Criação de um reporting mais especializado com detalhe pelos centros de

custos e rubricas, para possibilitar a informação mensal sobre os resultados aos

patrocinadores.

Adopção de um maior controlo das contas de caixa e bancos, elaboração de

reconciliações bancárias pela tesouraria, independentes das reconciliações

contabilísticas.

Em complemento da contabilização por centros de custos (contabilidade

analítica) passaram a ser tratados informaticamente os documentos pela empresa

contrata (a M&P - Consultores, Lda) com um técnico específico (eu) e

consequentemente a obtenção de Balancetes de Contabilidade Geral e Analítica

mensais.

Com estes balancetes mensais, obteve-se o apuramento de resultados

contabilísticos e fiscais que servem de base ao cálculo do Imposto sobre o

rendimento (Modelo 22 de IRC) a enviar anualmente (até final do 5º mês do

exercício fiscal), elaboração do Anexo do Estatuto dos Benefícios Fiscais que

acompanha o Modelo 22 de IRC e serve ainda de base ao preenchimento da

Informação Empresarial Simplificada (IES) anual (a entregar até final do 6º mês do

exercício fiscal a que respeita). Refira-se que anteriormente esta informação também

Page 38: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

31

não era enviada. Com a IES, apresenta-se à Administração Fiscal e ao INE toda a

informação sobre a movimentação contabilística da empresa, desde caixa a receitas e

desdobramento de todos os custos do exercício, bem como estatística de número de

horas trabalhadas, etc.

Verificou-se assim um impacto muito grande para a entidade “Alpha”, não só a

nível de organização administrativa, como a nível de custos, pois estes cresceram

bastante, até pela necessidade de pagar a uma empresa externa e a um TOC.

Note-se que consequentemente com esta implementação, a forma de olhar para a

documentação, de a ler, de a tratar, de a solicitar a terceiros é totalmente diferente para o

pessoal que compõe estas entidades.

5.3.3. Aplicação da matéria leccionada no mestrado ao trabalho com a

entidade “Alpha”

A aplicação do normativo às entidades sem fins lucrativos, para as que adoptem

o regime de contabilidade organizada, obriga a um vasto leque de conhecimentos de

contabilidade e fiscalidade. Isto porque se definem regras e procedimentos como se de

uma empresa nova se tratasse, pois todo o sistema contabilístico, administrativo e

financeiro tem que ser alterado.

Assim, e como o trabalho com o cliente “Alpha” foi precisamente esse processo,

do início ao fim, apliquei praticamente toda a matéria da parte curricular do Mestrado.

De entre as diversas matérias que apliquei neste trabalho, destaco o seguinte:

Criação de um plano de contas de acordo com o plano de contas específico para

as ESNL, segundo a Portaria n.º 105/2011 de 14 de Março, onde pude aplicar os

conhecimentos adquiridos nas disciplinas de contabilidade geral.

Page 39: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

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A passagem da informação financeira dos mapas em Excel da entidade antes do

normativo para os saldos iniciais da contabilidade da entidade “Alpha”.

Implementação de um sistema de documentação diferente do que os membros da

entidade estavam habituados, com definição da organização dos papéis por diários de

contabilização, de acordo com o SNC.

A criação de um sistema de contabilidade analítica, tendo em linha de conta as

necessidades da entidade. Este trabalho com contabilidade analítica, onde lancei

documentos por centros de custos, rubricas e custeios permitiu-me consolidar os

conhecimentos adquiridos em matérias de contabilidade de gestão. A contabilidade

analítica nesta entidade é muito importante e é uma ferramenta muito útil para o

controlo dos gastos com bolseiros, subsídios recebidos e dos gastos administrativos,

apesar de essa informação estar tratada no plano de contas geral (Anexo 3).

Os recebimentos de subsídios e os pagamentos de bolsas passaram a ser feitos

numa base de acréscimo, o que me proporcionou um grande “treino” na matéria de

acréscimos e diferimentos.

A entidade faz uma grande quantidade de transacções em moeda estrangeira, o

que me deu também uma grande experiencia na matéria da NCRF 23 – Os Efeitos de

Alterações em Taxas de Câmbio.

O facto de esta entidade ser auditada por uma empresa externa, expandiu a

minha experiencia profissional ao trabalho de auditoria, pois participei activamente

no apoio do trabalho dos auditores, desde reuniões à entrega e demonstração de

documentação aos auditores.

Page 40: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

33

A nível fiscal, este trabalho também deu um contributo muito importante para

aplicar conhecimentos do mestrado, desta vez das disciplinas de fiscalidade. Isto

porque a entidade passou a ter mais obrigações fiscais, tal como o envio do Modelo

22 de IRC e da IES. Assim, trabalhei no processo de apuramento de resultados e do

IRC, preenchi os mapas da IES e enviei mensalmente as guias de pagamento de

retenções na fonte de dependentes e independentes. Apesar de isenta do pagamento

de IRC ao abrigo do Artigo 54º do EBF, a entidade tem de apresentar a informação

de igual modo às entidades com finalidade lucrativa. Importa realçar ainda em

termos de IRC e da respectiva isenção do Artigo 54º que a entidade não ultrapassa o

limite de 7500€ anuais de rendimentos brutos sujeitos a tributação e não isentos que

é a venda de livros e sebentas.

O ano financeiro da entidade (Out-Set) era diferente do ano civil e fiscal (Jan-

Dez), o que se tornou numa experiencia diferente para mim. A M&P, em conjunto

com o Cliente “Alpha” fez um pedido de alteração do ano fiscal, para coincidir com

o ano financeiro da entidade, ao Ministério das Finanças, o qual já teve resposta

positiva.

Page 41: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

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6. Conclusão

Todas as Entidades do Sector Não Lucrativo estão obrigadas desde o início deste

ano, de 2012, a adoptar as NCRF-ESNL ou o regime de caixa de acordo a disposição

legal, no caso de beneficiarem de isenção. Estas alterações a este sector, tornaram-se

mais notórias e causaram maior discussão sobre o tema devido ao facto de todas estas

entidades, quer apliquem o regime de caixa ou a NCRF-ESNL, terem tido, já em 2012,

a obrigatoriedade de apresentar o Modelo 22 de IRC e a IES de 2011. Com isto, até

mesmo simples associações de estudantes, de futebol, entre outros, tiveram de

apresentar tais documentos, o que causou varias dúvidas às próprias entidades e até

mesmo às empresas de consultoria contabilística e fiscal.

Foi um período de muitas alterações contabilísticas e fiscais para este sector que

viu, de uma maneira geral, os seus custos aumentarem, as suas formas de relato

melhorarem e os seus procedimentos administrativos alterarem. Assistiu-se, portanto, a

um clima de grandes incertezas, quer por parte das entidades, quer por parte dos

Técnicos Oficiais de Contas, pois esta fase de transição foi um tema praticamente novo

na sua dinâmica diária (e em constante actualização).

A realização do presente trabalho permitiu-me, não só descrever as actividades

que desenvolvi no estágio, como articula-las com os conhecimentos que adquiri no

mestrado.

Espero ainda que este trabalho tenha dado uma noção mais concreta sobre o que

são entidades do sector não lucrativo e de que modo a nova legislação para este sector

Page 42: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

35

veio alterar o “dia-a-dia” destas entidades que têm um papel muito importante para a

economia portuguesa.

Espero também ter conseguido demonstrar o que era a empresa Alpha antes da

implementação do novo sistema normativo e o que é agora, pois esta entidade mudou

muito, mesmo segundo a opinião dos trabalhadores e directores desta entidade.

Tal como esperava, encontrei algumas dificuldades em consultar literatura sobre

este tema, pois é um tema algo recente e pouco há ainda publicado. Tentei, de algum

modo, compensar essa falta de literatura com a grande experiencia que tive no estágio

com entidades sem fins lucrativos e os conhecimentos adquiridos no mestrado.

Por fim, gostaria de referir que a realização deste estágio me proporcionou

experiências muito boas, enriquecendo a minha formação académica, profissional e

pessoal, dando-me uma grande preparação para a nova fase da minha vida que é o

mercado de trabalho. Fase, essa que este estágio, não só me preparou, como também me

facilitou, pois pude continuar a trabalhar com a equipa da M&P, o que se torna um

privilégio pois, na conjuntura difícil em que nos encontramos, ter oportunidade de

trabalhar numa empresa em crescente expansão e com uma carteira de clientes tão

abrangente, é óptimo.

Page 43: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

36

7. Referências Bibliográficas

Aviso nº 6726-B/2011. (NCRF-ESNL). Disponivel em: http://www.cnc.min-

financas.pt/0_new_site/sitecnc_00.htm . [Consultado em 26/09/2012]

Código do Imposto de Selo (CISelo). Disponivel em:

http://info.portaldasfinancas.gov.pt/pt/informacao_fiscal/codigos_tributarios/ .

[consultado em 26/09/2012]

Código do Imposto Municipal Sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis (CIMT). Disponivel

em: http://info.portaldasfinancas.gov.pt/pt/informacao_fiscal/codigos_tributarios/ .

[consultado em 26/09/2012].

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http://info.portaldasfinancas.gov.pt/pt/informacao_fiscal/codigos_tributarios/ .

[consultado em 26/09/2012]

Código do Imposto Sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (CIRC). Disponivel em:

http://info.portaldasfinancas.gov.pt/pt/informacao_fiscal/codigos_tributarios/ .

[consultado em 26/09/2012]

Código do Imposto Sobre o Valor Acrescentado (CIVA). Disponivel em:

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[consultado em 26/09/2012]

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Page 45: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

38

8. Anexos Anexo 1 – Exemplos de mapas de tesouraria de uma ESNL antes da entrada em

vigor da NCRF-ESNL

Mapa 1

Mapa 2

Saldo Mês Anterios

Recebimentos em Novembro

Total Receita Total Despesas

Receita Despesas

Saldo

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Anexo 2 – Exemplo de mapas financeiros na óptica de regime de caixa

Mapa 1 - Pagamentos e Recebimentos

Mapa de Recebimentos e Pagamentos - Ano N

Recebimentos Pagamentos

1. Recebimentos actividade 1. Funcionamento

Jóias e quotas 0,00 Pessoal 0,00

Actividades 0,00 Seguros 0,00 Doações 0,00 Rendas 0,00

Subsídios 0,00 Manutenção 0,00

Cartões 0,00 Agua, electricidade e gás 0,00 Comparticipações / Patricinios 0,00 Representação e deslocações 0,00

Outros 0,00 Comunicações 0,00

Material de escritório 0,00 Higiene, segurança e conforto 0,00

2. Recebimentos comerciais Despesas específicas das actividades 0,00

Outras 0,00

3. Recebimentos capitais

4. Recebimentos prediais 2. Investimento

Aquisição de equipamentos Aquisição ou construção de instalações

Outras

Total 0,00 Total 0,00

Saldo do ano anterior 0,00

Receitas 0,00

Despesas 0,00

Saldo para o ano seguinte 0,00

Mapa 2 - Património Fixo

Mapa de Património fixo - Ano N

Património

Descrição Valor

Anos anteriores 0,00

Sub Total 0,00

Ano corrente

Sub Total 0,00

Total 0,00

Mapa 3 - Direitos e Compromissos Futuros

Mapa de direitos e compromissos futuros - Ano N

Direitos

Descrição Valor Ano previsto recebimento

Quotas

Subsídios

Rendas

Outros

Total 0,00

Compromissos

Descrição Valor Ano previsto pagamento

Empréstimos

Associados

Fornecedores

Locadoras

Outros

Total 0,00

Page 47: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

40

Anexo 3 – Mapas de contabilidade analítica

Mapa 1 – Listagem de centros de custos da entidade “Alpha”

Centro Descrição

1 GERAL SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS

2 ADM DIRECÇÃO

3 P0001 PROGRAMA A

4 P0002 PROGRAMA B

5 P0003 PROGRAMA C

6 P0004 PROGRAMA D

7 P0005 PROGRAMA E

8 P0006 PROGRAMA F

9 P0007 PROGRAMA G

10 P0008 PROGRAMA H

11 P0009 PROGRAMA I

Mapa 2 – Listagem de rubricas do cliente “Alpha”

Rubrica Descrição

1 001 Custos com Pessoal – Vencimentos

2 002 Outros Custos com Pessoal

3 003 Indemizações

4 004 Despesas de deslocação

5 005 Conferências

6 006 Custos de manutenção instalações

7 007 Despesas de representação

8 008 Comunicação

9 009 Impressões / cópias

10 010 Material escritório

11 011 Equipamento informático

12 012 Mobiliário

13 013 Custos com viaturas

14 014 Honorários de Auditoria

15 015 Serviços contratados

16 016 Provisões

17 017 Material de publicidade

18 018 Despesas com bolseiros

19 019 Juros recebidos

20 020 Subsidios recebidos

21 021 Donativos recebidos

22 099 Residual

Page 48: MESTRADO CONTABILIDADE FISCALIDADE E FINANÇAS …

41

Mapa 3 - Listagem custeios do cliente “Alpha”

Custeio Descrição

1 P00001 BOLSEIRO 1

2 P00001 BOLSEIRO 2

3 P00001 BOLSEIRO 3

4 P00001 BOLSEIRO 4

5 P00001 BOLSEIRO 5

6 P00002 BOLSEIRO 6

7 P00002 BOLSEIRO 7

8 P00002 BOLSEIRO 8

9 P00002 BOLSEIRO 9

10 P00002 BOLSEIRO 10

11 P00003 BOLSEIRO 11

12 P00003 BOLSEIRO 12

13 P00004 BOLSEIRO 13

14 P00004 BOLSEIRO 14

15 P00005 BOLSEIRO 15

16 P00005 BOLSEIRO 16

17 P00005 BOLSEIRO 17

18 P00006 BOLSEIRO 18

19 P00006 BOLSEIRO 19

20 P00006 BOLSEIRO 20

21 P00007 BOLSEIRO 21

22 P00008 BOLSEIRO 22

23 P00008 BOLSEIRO 23

24 P00009 BOLSEIRO 24

25 P00009 BOLSEIRO 25

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Mapa 4 - Modelo de balancete do cruzamento de centros de custos com rubricas do cliente

“Alpha” Balancete Centro Custo / Rubrica Acumulado

Exercício 2011 Período: Dezembro ENTIDADE ALPHA C.Custo Rubrica Descrição Acumulado Período Saldos

Débito Crédito Débito Crédito

1 ENTIDADE ALPHA 11 DIRECÇÃO 111 1 Custos com Pessoal - Vencimentos 111 2 Outros Custos com Pessoal 111 3 Indemizações 111 4 Despesas de deslocação 111 5 Conferências 111 6 Custos de manutenção instalações 111 7 Despesas de representação 111 8 Comunicação 111 9 Impressões / cópias 111 10 Material escritório 111 11 Equipamento informático 111 12 Mobiliário 111 13 Custos com viaturas 111 14 Honorários de Auditoria 111 15 Serviços contratados 111 16 Provisões 111 17 Material de publicidade 111 18 Despesas com bolseiros 111 19 Juros recebidos 111 20 Subsidios recebidos 111 21 Donativos recebidos 111 99 Residual 12 SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS 121 1 Custos com Pessoal - Vencimentos 121 2 Outros Custos com Pessoal 121 3 Indemizações 121 4 Despesas de deslocação 121 5 Conferências 121 6 Custos de manutenção instalações 121 7 Despesas de representação 121 8 Comunicação 121 9 Impressões / cópias 121 10 Material escritório 121 11 Equipamento informático 121 12 Mobiliário 121 13 Custos com viaturas 121 14 Honorários de Auditoria 121 15 Serviços contratados 121 16 Provisões 121 17 Material de publicidade 121 18 Despesas com bolseiros 121 19 Juros recebidos 121 20 Subsidios recebidos 121 21 Donativos recebidos 121 99 Residual 13 BOLSAS 131 PROGRAMAS 131001 3 PROGRAMA A 131001 300001 BOLSEIRO 1 131001 300001 BOLSEIRO 2 131001 300001 BOLSEIRO 3 131001 300001 BOLSEIRO 4 131001 300001 BOLSEIRO 5 131002 4 PROGRAMA B 131002 400001 BOLSEIRO 6 131002 400002 BOLSEIRO 7 131002 400003 BOLSEIRO 8 131002 400004 BOLSEIRO 9 131002 400005 BOLSEIRO 10 131003 5 PROGRAMA C 131003 500001 BOLSEIRO 11 131003 500002 BOLSEIRO 12 131004 6 PROGRAMA D 131004 600001 BOLSEIRO 13 131004 600002 BOLSEIRO 14 131005 7 PROGRAMA E 131005 700001 BOLSEIRO 15 131005 700002 BOLSEIRO 16 131005 700003 BOLSEIRO 17 131006 8 PROGRAMA F 131006 800001 BOLSEIRO 18 131006 800002 BOLSEIRO 19 131006 800003 BOLSEIRO 20 131007 9 PROGRAMA G 131007 900001 BOLSEIRO 21 131008 10 PROGRAMA H 131008 1000001 BOLSEIRO 22

131008 1000002 BOLSEIRO 23 131009 11 PROGRAMA I

131009 1100001 BOLSEIRO 24 131009 1100002 BOLSEIRO 25

Total