mÉtodos de identificaÇÃo, anÁlise e soluÇÃo de problemas

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MÉTODOS DE IDENTIFICAÇÃO, ANÁLISE E SOLUÇÃO DE PROBLEMAS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA Roberto dos Reis Alvarez Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Paraná - IBQP-PR - Rua Dr. Correa Coelho 741 - Curitiba - PR - 80210-350 - [email protected] Abstract The utilization of problem solving methods seems to be an important point for the companies that want to improve their activities, either in the production sector or in others. In this paper, it is presented a theoretical and analytical comparison among three methods that follow a “hard” approach to problem structuring: the Kepner & Tregoe Method, the Theory of Constraints Thinking Process and the QC Story. The methods are compared according to a set of criteria developed specifically for this purpose. The conclusions suggest that there are some similarities among the methods, for example the utilization of cause-and-effect logic. In a general sense, the methods differ in terms of their basic conceptions and operational approaches. Key-words: problem solving, problem structuring, cause-and-effect analysis. 1. Introdução Existem diferentes métodos de identificação, análise e solução de problemas. Contudo, a utilização desse tipo de método, embora importante, não é comum em muitas organizações, nas quais predominam ações do tipo “apagar incêndios”. Assim sendo, é importante que os métodos existentes sejam estudados. A bibliografia sobre métodos de identificação, análise e solução de problemas é escassa. Mais escassos ainda são os trabalhos dedicados à comparação de diferentes métodos. Buscando avançar nesse tema, apresenta-se neste texto uma comparação entre três diferentes métodos: o Método Kepner & Tregoe, o Processo de Pensamento da Teoria das Restrições e o QC Story. Para que essa comparação seja possível, é preciso, antes de mais nada, definir um conjunto de critérios. Espera-se assim, contribuir para o melhor entendimento dos métodos, ao mesmo tempo em que também se fornece elementos para a análise de outras abordagens. 2. Métodos estudados Os três métodos tratados podem ser classificados como métodos hard de estruturação de problemas, uma vez que consideram ser possível “solucionar o problema”. O Método Kepner & Tregoe, desenvolvido em meados da década de 50, compõe-se, basicamente, de três Processos de Análise: Análise de Problema (identificação da causa do problema), Análise de Decisão (escolha de uma solução para o problema) e Análise de Problema Potencial (planejamento da implantação da solução). As referência para esse método são os trabalhos de Kepner & Tregoe (1980) e Kepner-Tregoe Inc. (1977). O Processo de Pensamento da Teoria das Restrições é o mais recente dos métodos, sendo também, possivelmente, o menos conhecido desses. Esse método é composto de três grandes etapas, buscando responder às perguntas: “O que mudar?”, “Mudar para o quê?” e

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  • MTODOS DE IDENTIFICAO, ANLISE E SOLUO DEPROBLEMAS: UMA ANLISE COMPARATIVA

    Roberto dos Reis AlvarezInstituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Paran - IBQP-PR - Rua Dr. Correa Coelho 741 -

    Curitiba - PR - 80210-350 - [email protected]

    AbstractThe utilization of problem solving methods seems to be an important point for the

    companies that want to improve their activities, either in the production sector or inothers.

    In this paper, it is presented a theoretical and analytical comparison among threemethods that follow a hard approach to problem structuring: the Kepner & TregoeMethod, the Theory of Constraints Thinking Process and the QC Story. The methods arecompared according to a set of criteria developed specifically for this purpose.

    The conclusions suggest that there are some similarities among the methods, forexample the utilization of cause-and-effect logic. In a general sense, the methods differ interms of their basic conceptions and operational approaches.

    Key-words: problem solving, problem structuring, cause-and-effect analysis.

    1. IntroduoExistem diferentes mtodos de identificao, anlise e soluo de problemas.

    Contudo, a utilizao desse tipo de mtodo, embora importante, no comum em muitasorganizaes, nas quais predominam aes do tipo apagar incndios. Assim sendo, importante que os mtodos existentes sejam estudados.

    A bibliografia sobre mtodos de identificao, anlise e soluo de problemas escassa. Mais escassos ainda so os trabalhos dedicados comparao de diferentesmtodos. Buscando avanar nesse tema, apresenta-se neste texto uma comparao entretrs diferentes mtodos: o Mtodo Kepner & Tregoe, o Processo de Pensamento da Teoriadas Restries e o QC Story.

    Para que essa comparao seja possvel, preciso, antes de mais nada, definir umconjunto de critrios. Espera-se assim, contribuir para o melhor entendimento dos mtodos,ao mesmo tempo em que tambm se fornece elementos para a anlise de outrasabordagens.

    2. Mtodos estudadosOs trs mtodos tratados podem ser classificados como mtodos hard de

    estruturao de problemas, uma vez que consideram ser possvel solucionar o problema.O Mtodo Kepner & Tregoe, desenvolvido em meados da dcada de 50, compe-se,

    basicamente, de trs Processos de Anlise: Anlise de Problema (identificao da causa doproblema), Anlise de Deciso (escolha de uma soluo para o problema) e Anlise deProblema Potencial (planejamento da implantao da soluo). As referncia para essemtodo so os trabalhos de Kepner & Tregoe (1980) e Kepner-Tregoe Inc. (1977).

    O Processo de Pensamento da Teoria das Restries o mais recente dos mtodos,sendo tambm, possivelmente, o menos conhecido desses. Esse mtodo composto de trsgrandes etapas, buscando responder s perguntas: O que mudar?, Mudar para o qu? e

  • Como provocar a mudana?. Ou seja, identificar problemas (efeitos indesejveis, nanomenclatura da TOC), definir uma soluo e montar um plano de implantao. Areferncia bsica utilizada neste trabalho so as obras de Goldratt (1990, 1993 e 1994).

    O QC Story tem origem nas atividades dos crculos de controle da qualidade(CCQs), em meados da dcada de 60, no Japo. Existem diferentes apresentaes para oQC Story, o qual tambm conhecido em nosso pas por Mtodo de Anlise e Soluo deProblemas (MASP). Adota-se aqui a estrutura de 14 etapas apresentada por JUSE (1991).

    O presente artigo no tem por finalidade detalhar a estrutura e o funcionamento dosmtodos comparados. Assim, indica-se a leitura da bibliografia de referncia para a melhorcompreenso dos mtodos.

    3. Critrios para comparaoDentre a bibliografia pesquisada, somente trs trabalhos so parcialmente dedicados

    realizao de uma comparao entre diferentes mtodos; a saber: Anderson & Jason(1979), Ramakrishna & Brightman (1986) e Odriozola (1994).

    Tanto Anderson & Jason (1979) como Ramakrishna & Brightman (1986) utilizamum conjunto claro de critrios para comparar os mtodos estudados em seus trabalhos.Odriozola (1994), por sua vez, desenvolve comparaes isoladas entre os mtodosconsiderados na pesquisa, nas quais os mtodos so comparados, dois a dois, de acordocom diferentes critrios.

    Parece que o tipo de abordagem adotado por Odriozola (1994) no o maisadequado, uma vez que no permite uma avaliao comparativa global entre os diferentesmtodos. Assim, optou-se por utilizar um mesmo conjunto de critrios para contrastartodos os trs mtodos estudados, tal como propem Anderson & Jason (1979).

    Todavia, grande parte dos critrios propostos por esses autores so de difcilavaliao em um trabalho de cunho terico como este, tal como. Por exemplo,Ramakrishna & Brightman (1986) utilizam como um dos critrios o tempo necessrio paraa aprendizagem do mtodo. O autor deste trabalho acredita que a avaliao quantitativadeste tipo de critrio bastante difcil, pois depende de elementos como o tipo deorganizao, o nvel de instruo do pessoal, o arcabouo didtico utilizado, etc. Assim, autilizao desse tipo de critrio se d, fundalmentalmente, de forma qualitativa.

    Ademais, acredita-se que, em certos pontos, ambos os trabalhos citados nopargrafo anterior cometem um erro terico, comparando ferramentas com mtodos.Ramakrishna & Brightman (1986), por exemplo, comparam a ferramenta do Diagrama decausa-e-efeito por eles chamado de Diagrama Espinha de Peixe (Fishbone Diagram),com o Mtodo Kepner & Tregoe.

    Tendo em vista a srie de colocaes acima, optou-se por definir um novo conjuntode 13 critrios, prprios deste trabalho. A seguir, apresenta-se cada um desses critrios.

    1. Lgica predominanteEste critrio procura sintetizar a viso de mundo que embasa o mtodo. Existem

    dois pontos principais que podem ser associados a este critrio: o conceito de problemainserido dentro dos mtodos e a maneira como os mtodos abordam os problemas problemas considerados de forma isolada ou conectados e hierarquizados.

    2. Relaes de causa-e-efeitoProcura-se determinar at que ponto os mtodos utilizam relaes de causa-e-efeito

    na anlise dos problemas, juntamente com a forma esperada dessas relaes.3. Estruturao e extenso do mtodoBusca-se identificar quais so os momentos do processo de tratamento de um

    problema (desde a identificao do problema at a avaliao posterior da soluoimplantada) que so contemplados por cada um dos mtodos estudados.

  • 4. Conjunto de ferramentasDois aspectos devem ser considerados no que tange s ferramentas utilizadas pelos

    mtodos. Primeiramente, deve-se verificar se as tcnicas utilizadas so especficas domtodo ou no. Em segundo lugar, os mtodos so comparados de acordo com a formacomo alocam as ferramentas s suas etapas so preconizadas ferramentas especficaspara cada etapa ou simplesmente indicado um conjunto de tcnicas passveis de seremusadas, cabendo ao usurio a escolha da tcnica mais adequada para cada etapa esituao.

    5. Organizao das informaesCada mtodo utiliza uma abordagem diferente na estruturao e organizao das

    informaes e idias disponveis. Podem ser utilizadas tabelas, grficos, diagramas visuaisou simplesmente texto, dentre outras alternativas. A comparao de acordo com estecritrio procura revelar que tipo de abordagem predomina em cada um dos mtodos .

    6. Seleo de problemasComo cada um dos mtodos prioriza o ataque aos problemas? Os critrios

    utilizados podem variar de mtodo para mtodo. A priorizao pode ser feita, por exemplo,de acordo com a freqncia com que o problema se manifesta, a sua gravidade, o nmerode efeitos indesejveis que ele gera, etc. A avaliao desses aspectos pode ser feita deforma quantitativa ou ainda com base em julgamentos qualitativos.

    7. Determinao da soluoA determinao da soluo do problema pode se dar de diferentes formas, seja a

    partir de uma escolha entre alternativas ou de um processo interativo de construo dasoluo, levantando os efeitos desejveis resultantes da sua adoo e agregando elementosadicionais quando necessrio.

    8. AplicabilidadeExiste uma variedade muito grande de situaes problemticas no transcurso das

    atividades realizadas em uma organizao. Logo, interessante que se tenha indicaes dequais mtodos so mais adaptados a certos tipos de problemas. A avaliao segundo estecritrio , em grande parte, baseada nos casos documentados na bibliografia estudada.

    9. Dificuldade de aprendizagemConsidera-se que a dificuldade de aprendizagem de um mtodo est vinculada a

    alguns aspectos principais: a sua complexidade, em termos do nmero de etapas, naturezadas tcnicas empregadas no desenvolvimento dessas etapas e lgica empregada pelomtodo, a qual pode ser de difcil assimilao, dificultando sua aprendizagem. Caberessaltar que este tipo de avaliao deve ser relativizado, pois o processo de introduo deum mtodo difere de organizao para organizao.

    10. Difuso dos mtodosSegundo este critrio, a difuso dos mtodos analisada sob dois pontos de vista:

    interno e externo. De acordo com a tica interna, procura-se entender como se d autilizao e difuso dos mtodos dentro das organizaes. A viso externa, ou global,refere-se maneira como os mtodos se tornam conhecidos e so difundidos entre asempresas; pode-se afirmar que essa idia vincula-se estratgia global de difuso desses.

    11. Planejamento das atividadesEntende-se, por planejamento das atividades, a elaborao de cronogramas e

    oramentos, a atribuio de responsabilidades referentes execuo das atividadesprevistas para as etapas do processo de Identificao, Anlise e Soluo de Problemas, etc.Isto , planejamento refere-se execuo das etapas do mtodo, e no implantao dasoluo. A comparao dos mtodos de acordo com este critrio indica quais dessesdedicam ateno a esse ponto e quais so os itens considerados no planejamento.

    12. Papel da criatividade

  • A criatividade tenha um papel importante em qualquer mtodo. Contudo, cada umd um tratamento diferenciado a essa questo. A anlise de acordo com este critrio buscadiscernir, dentre os mtodos estudados, aqueles que fazem uso de tcnicas criativas e/oudispem as informaes de forma propcia ao exerccio criativo.

    13. Grupo de trabalhoDentre os mtodos estudados, existem abordagens que privilegiam o trabalho em

    grupo e outras baseadas na conduo dos trabalhos por um especialista. O tipo decomparao realizada com base neste critrio aponta a lgica de trabalho quanto autilizao das pessoas para levar adiante o mtodo. Basicamente, indica-se se o mtodoutiliza grupos de trabalho ou no, e quem conduz as atividades.

    Uma vez que os critrios utilizados j forma definidos, o prximo passo lgico desenvolver a comparao dos mtodos.

    4. Comparao dos mtodosOs mtodos so a seguir comparados de acordo com os 13 critrios propostos.

    4.1. Lgica predominanteAs definies de problema do Mtodo Kepner & Tregoe e do QC Story so

    congruentes. Por sua vez, o Processo de Pensamento da TOC afasta-se desses, encarandoos problemas como Efeitos Indesejados (EIs) que tm uma nica causa ou algumas poucascausas comuns (problemas centrais - core problems).

    No que se refere forma como os problemas se manifestam, o Processo dePensamento da TOC parte de pressuposto que esses esto conectados e devem ser tratadosconjuntamente, enquanto os outros mtodos tendem a abord-los isoladamente.

    Kepner & Tregoe Processo de Pensamento TOCQC StoryO que umproblema?

    um desvio entre oesperado e o que

    realmente verificadocuja causa

    desconhecida.

    Os diferentes problemas queaparentemente existem so naverdade Efeitos Indesejados

    (EIs).

    um resultadoindesejvel de um

    processo.

    Como osproblemas semanifestam?

    Cada problema temuma causa nica e

    especfica.

    Os diferentes problemas (EIs)encontram-se conectados por

    relaes de efeito-causa-efeito, sendo causados por unspoucos problemas centrais.

    Um problema podese manifestar a

    partir da existnciade uma srie de

    causas.Tabela 1 - Lgica predominante nos mtodos

    4.2. Relaes de causa-e-efeitoO Mtodo Kepner & Tregoe utiliza relaes de causa-e-efeito diretas (causa >

    efeito), segundo as quais uma nica causa especfica leva a um efeito.O QC Story vale-se de relaes sucessivas de causa-e-efeito (vrias causas, um

    efeito), normalmente organizadas de forma linear.O Processo de Pensamento da TOC utiliza amplamente relaes de efeito-causa-

    efeito, de forma a formar uma rede de entidades, atravs do estabelecimento de relaescruzadas entre essas entidades.4.3. Estruturao e extenso do mtodo

    Tanto o Mtodo Kepner & Tregoe como o Processo de Pensamento da TOCavanam at o ponto de definio da soluo e planejamento da sua implantao. Ou seja,esses mtodos no prevem procedimentos especficos para o acompanhamento daimplantao e posterior avaliao da soluo.

    Dentre os estudados, o QC Story o mtodo mais abrangente, uma vez que suas 14

  • etapas contemplam desde a identificao do problema at a avaliao dos resultadosobtidos aps a implantao da soluo. Ademais, o QC Story prev etapas de avaliao doprprio processo de desenvolvimento do mtodo, o que consiste em um ponto de destaquee de diferenciao em comparao com os outros dois mtodos.4.4. Conjunto de ferramentas

    O Processo de Pensamento da TOC utiliza um conjunto prprio de tcnicas denatureza qualitativa (rvore da Realidade Atual, Evaporao das Nuvens, rvore daRealidade Futura, rvore de Pr-requisitos e rvore de Transio), especialmentedesenvolvidas para a sua operacionalizao e alocadas de forma clara s etapas.

    O QC Story vale-se de uma ampla gama de tcnicas; JUSE (1991) indica quais sopassveis de serem utilizadas em cada uma de suas etapas. O QC Story o mtodo maisflexvel em termos das tcnicas utilizadas para operacionalizar suas etapas. A suaabordagem no prescritiva, ou seja, as tcnicas no so especificadas para cada etapa,mas apenas sugeridas. Assim, o QC Story , dentre os mtodos estudados, aquele que deixamais clara a separao entre as etapas do mtodo e as ferramentas utilizadas.

    O Mtodo Kepner & Tregoe utiliza, em todos os seus processos de anlise, umasrie de tabelas para sistematizar o desenvolvimento das etapas. No parece ser totalmenteadequado afirmar que o Mtodo Kepner & Tregoe faa uso de um conjunto deferramentas. Todavia, empregando-se a mesma lgica usada na anlise dos outros doismtodos, constata-se que cada etapa do corresponde uma tabela especfica.4.5. Organizao das informaes

    O Mtodo Kepner & Tregoe utiliza um srie de tabelas para estruturar asinformaes necessrias ao longo de suas etapas. As tabelas apresentadas por Kepner &Tregoe (1980) e por Kepner-Tregoe Inc. (1977) organizam as informaes de forma que aelaborao de comparaes seja possvel.

    Todas as tcnicas utilizadas pelo Processo de Pensamento da TOC, na sua maioriadenominadas de rvores, utilizam uma abordagem do tipo efeito-causa-efeito. Essastcnicas so fortemente apoiadas na utilizao de diagramas grficos. Cada rvoreutilizada pelo mtodo capaz de expressar, de maneira grfica, como se do as relaes deefeito-causa-efeito entre as diferentes entidades.

    difcil dizer qual o tipo de estruturao de informaes que o QC Story utiliza,uma vez que o mtodo contempla um conjunto amplo de tcnicas, e cada tcnica trabalhacom um tipo de informao, organizando-as de diferentes formas. Todavia, possvelconsiderar para fins de anlise apenas as tcnicas mais utilizadas, as Sete Ferramentas deCQ e as Sete Novas Ferramentas. O primeiro grupo de ferramentas utiliza uma abordagembasicamente quantitativa, que dispe as informaes em grficos; o segundo grupo temnatureza qualitativa, contendo algumas tcnicas que, de certa forma, se assemelham naforma s tcnicas utilizadas pelo Processo de Pensamento da TOC.4.6. Seleo de problemas

    O Mtodo Kepner & Tregoe e o QC Story utilizam uma lgica comum, segundo aqual os problemas so avaliados e priorizados de acordo com alguns critrios e, a seguir, escolhido um problema especfico para anlise.

    O Processo de Pensamento da TOC, por sua vez, vale-se de uma lgica diferente, deacordo com a qual todos os EIs so atacados simultaneamente, atravs da eliminao desuas causas comuns. Assim, o que o mtodo busca a eliminao dos problemas centrais.4.7. Determinao da soluo

    Tanto o Mtodo Kepner & Tregoe como o QC Story empregam uma lgica bastantesemelhante, baseada na seleo da soluo dentre uma srie de alternativas.

    O Processo de Pensamento da TOC diverge dos outros mtodos, lanando mo deuma abordagem interativa incremental, na qual injees (idias inovadoras capazes de

  • quebrar trade-offs) so desenvolvidas e agregadas ao conjunto de injees, uma a uma,realizado-se, a cada interao, um teste lgico da efetividade desse conjunto (soluo).4.8. Aplicabilidade

    O Mtodo Kepner & Tregoe normalmente aplicado a situaes tcnicas,parecendo que o tratamento de problemas que envolvem a dimenso poltica dasorganizaes no muito comum.

    O QC Story, apesar de ter as suas aplicaes geralmente associadas a problemas nocho de fbrica, pode ser aplicado a outras situaes, desde que sejam utilizadas tcnicasadequadas para tanto.

    O Processo de Pensamento da TOC voltado ao tratamento de restries polticas,podendo tambm tratar de questes tcnicas, como sugerem Noreen et alli (1995) eOliveira (1994).4.9. Dificuldade de aprendizagem

    A avaliao do grau de dificuldade na aprendizagem de um mtodo difcil de serfeita atravs de um trabalho de cunho terico como este. Entretanto, busca-se levantarindcios nesse sentido, tendo como base alguns comentrios feitos na bibliografiaconsultada e elementos surgidos durante a anlise dos mtodos.

    O Mtodo Kepner & Tregoe no parece ser de difcil assimilao, uma vez que aestrutura de desenvolvimento do raciocnio bastante linear e existem etapas definidas aserem seguidas.

    O QC Story tem sido amplamente utilizado em uma srie de empresas. Tendo umaestrutura simples, que compreendendo apenas 14 etapas, o QC Story aparentemente pareceser de fcil aprendizado. Cabe aqui uma ressalva, pois normalmente as tcnicas utilizadasrestringem-se a um conjunto limitado, quanto maior o conjunto de tcnicas consideradasmaior a dificuldade de assimilao do mtodo.

    O Processo de Pensamento da TOC foi inicialmente desenvolvido em meados de1987, conforme Noreen et alli (1995). Todavia, a sua utilizao, at o momento, bastanterestrita. Um dos pontos centrais que parece impedir sua utilizao de forma maisabrangente a dificuldade de aprendizagem. De acordo com Noreen et alli (1995), grandeparte das pessoas treinadas nesse mtodo declaram no ter assimilado completamente omesmo, no se sentindo seguras na sua utilizao. Ainda conforme Noreen et alli (1995),poucas empresas utilizam regularmente as tcnicas do Processo de Pensamento da TOC,sendo que dentre aquelas que o fazem, somente algumas desenvolvem o processo porcompleto.

    Tendo em vista os indcios colocados acima, parece razovel considerar o Processode Pensamento da TOC como o mtodo que apresenta, aparentemente, o maior grau dedificuldade na aprendizagem dentre os trs abordados.4.10. Difuso dos mtodos

    A difuso do QC Story internamente em uma organizao est, em muitos casos,vinculada s atividades dos CCQs. No se pode deixar de dizer, tambm, que a prpriaestrutura de 14 etapas do QC Story contempla, ainda que de forma implcita, a sua difuso.

    Fundamentalmente, a difuso do Mtodo Kepner & Tregoe internamente em umaorganizao tem incio com a atuao de um grupo piloto, de acordo com Vasilash (1991).

    A utilizao do Processo de Pensamento da TOC dentro de uma empresa baseadana atuao de um Jonah (pessoa treinada na aplicao do mtodo). Isto , o mtodo comeaa ser aplicado atravs do trabalho de um funcionrio, normalmente um diretor ou gerente,que tenha participado dos cursos do Avrham Goldratt Institute (AGI). O mtodo tem suaaplicao expandida medida que outras pessoas so treinadas.

    Tanto o Processo de Pensamento da TOC como o Mtodo Kepner & Tregoe tmseus processos de difuso global baseados nas aes de empresas de consultoria que detm

  • o conhecimento acerca dos mesmos. O QC Story, por sua vez, um mtodo bastanteconhecido e difundido, sendo de domnio pblico.

    Aparentemente, existe uma correlao entre a descentralizao dos mtodos e a suadifuso. Entenda-se, o QC Story o mtodo mais difundido, ao mesmo tempo em que onico que tem uma lgica descentralizada de difuso; isto , o QC Story no tem um dono,como ocorre com os outros mtodos. A difuso centralizada, baseada na atuao de umaempresa ou grupo, parece restringir as possibilidades de disseminao de um mtodo.4.11. Planejamento das atividades

    Dos trs mtodos, o QC Story o nico que inclui, dentro da sua estrutura formal, oplanejamento das atividades relacionadas anlise do problema, soluo do problema,implantao e avaliao da soluo. Isso no quer dizer que os outros dois mtodos no sepreocupem com a conduo de suas etapas, mas apenas que o planejamento no explicitado como uma das etapas do prprio mtodo.4.12. Papel da criatividade

    O Mtodo Kepner & Tregoe utiliza o pensamento criativo de forma restrita, nodesenvolvimento de alternativas para a soluo do problema. Vale comentar que Kepner &Tregoe (1980) fazem ressalvas quanto utilizao indiscriminada daquilo que eles chamamde resoluo criativa de problemas.

    O QC Story preconiza a utilizao de tcnicas de estmulo criatividade, emespecial tcnicas de brainstorming, utilizadas no desenvolvimento de possveis solues.

    O Processo de Pensamento da TOC procura estimular ao mximo o surgimento deidias inovadoras, as injees. Nesse contexto, o papel da criatividade fundamental. Umponto diferencial do Processo de Pensamento da TOC a utilizao de uma tcnica, aEvaporao das Nuvens, para verbalizar idias e pressupostos. A Evaporao das Nuvensorganiza as informaes de forma a facilitar o desafio aos pressupostos e o surgimento deuma injeo. Contudo, o Processo de Pensamento da TOC no emprega ou faz referncia atcnicas especficas de estmulo ao pensamento criativo.4.13. Grupo de trabalho

    O QC Story foi naturalmente desenvolvido para o trabalho em grupo.Pode-se especular, a partir da literatura, que o Mtodo Kepner & Tregoe

    usualmente desenvolvido por uma nica pessoa. Todavia, observa-se nas colocaes feitaspor Vasilash (1991), que a abordagem do Mtodo Kepner & Tregoe foi introduzida na FordMotor Co. com a utilizao de grupos de soluo de problemas.

    Conforme Goldratt (1990), o Processo de Pensamento da TOC deve ser conduzidopor um Jonah. Assim, o desenvolvimento do Processo de Pensamento da TOC parecedepender, basicamente, do trabalho de um nica pessoa, que detm o conhecimento acercado mtodo.

    5. ConclusesSo as seguintes as principais concluses deste trabalho:

    No existe um mtodo capaz de garantir o alcance do resultado timo, isto , a completaeliminao do problema, com o menor custo, no menor espao de tempo e sem que surjamefeitos colaterais, ou efeitos indesejveis. No existe o melhor mtodo. Apenas, podem existir indicativos que um ou outromtodo seja mais adaptado a certas situaes ou tipos particulares de problemas. consensado entre os mtodos que o principal ponto para a soluo de um problema aidentificao de sua(s) causa(s). Todavia, cada mtodo emprega uma abordagem prpria. A criatividade tem um papel de destaque dentro de qualquer mtodo. Dentre os mtodosestudados, o Processo de Pensamento da TOC o nico que tem uma tcnica paraverbalizar pressupostos e sistematizar a necessidade de utilizao do pensamento criativo.

  • A grande virtude dos mtodos estudados neste trabalho reside, exatamente, na definiorigorosa de suas etapas, e no nas ferramentas especficas empregadas. O Processo de Pensamento da TOC o mtodo no qual as tcnicas esto maisfortemente amarradas s etapas. O QC Story o mtodo mais aberto, uma vez que nodetermina de forma rgida qual ferramenta deve ser usada em cada etapa. O Mtodo Kepner& Tregoe, parece carecer da utilizao de um conjunto de tcnicas mais consistente. O Processo de Pensamento da TOC aparentemente, dentre os mtodos estudados,aquele de maior grau de dificuldade em termos de assimilao. Existe uma correspondncia clara entre as etapas dos diferentes mtodos. A lgica de determinao da soluo difere entre os mtodos. Tanto o QC Storycomo o Mtodo Kepner & Tregoe fazem escolhas entre alternativas. O Processo dePensamento da TOC utiliza um processo interativo de construo e validao da soluo.

    Finalizando, pode-se efetuar alguns comentrios com relao aplicabilidadedesses mtodos. O Mtodo Kepner & Tregoe parece ser mais indicado para problemassimples, nos quais a suposio de uma nica causa mais facilmente verificvel. OProcesso de Pensamento da TOC, aparentemente, mais efetivo quando so tratadosproblemas que envolvam a dimenso poltica da empresa. Nesses casos, tipicamente,existem relaes cruzadas de efeito-causa-efeito e os problemas esto envoltos por umasrie de pressupostos, pontos esses bem abordados pelo mtodo. O QC Story pode serconsiderado o mais adequado quando o problema tratado pode ser quantificado e existemindicadores numricos para analisar o processo e os resultados obtidos. Sugere-se queoutros estudos, que busquem ser conclusivos nesse sentido, incluam a realizao de estudosde caso.

    Por ltimo, ressalta-se que a utilizao de um mtodo no exclui o emprego deoutro. Muito pelo contrrio, tudo indica que a utilizao sinergtica e complementar dosmtodos estudados plenamente possvel.

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