mourlet lang pt final - revisado gs

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Trajetria de Fritz Lang

O que um filme, seno um implacvel e necessrio escoamento de imagens no qual a conscincia fascinada se afoga e se esquece, para se reencontrar no mais ntimo do ser? O que um filme?, esta interrogao suscitada pela obra de grandes cineastas, Fritz Lang um dos raros a t-la sondado a fundo e resolvido. Sua obra inteira se apresenta como uma aproximao lenta e tenaz, uma vez estabelecidos os fins, da perfeio dos meios suscetveis de conduzir at estes. E quais so estes fins? Trata-se, como em toda obra de arte, de impor certa forma do mundo com o mximo de intensidade, de forma a paralisar o reflexo crtico pela evidncia da revelao. Sendo o cinema um olhar sobre as coisas e sobretudo sobre os seres, convir imprimir s aparncias um movimento tal que, presa na engrenagem, a conscincia espectatorial torne-se o local passivo de uma liturgia na qual cada gesto remeta totalidade do smbolo. A obra ser ento perfeitamente fechada sobre si, um crculo que aprisiona um universo que basta a si mesmo, pois de uma margem de interferncias entre a obra e a realidade cotidiana que nasceria um eventual recuo. (Seja pela recusa do banal, como intil, ou do incerto, como prejudicial, ou do falso, como ineficaz.) Se o banal e o falso acordam o espectador do sono hipntico e o devolvem a seu presente real, que campo resta a cultivar? A nica resposta : o possvel. Em outras palavras, o que percebido ao mesmo tempo como verdadeiro e como extremo, como a realizao das virtualidades, saciando a sede original do homem. E, se o contingente rompe a unidade da obra e dispersa seu poder, a organizao do possvel necessrio de forma que a obra invista inelutavelmente a postura de espera do espectador nos conduz ao corao do problema de Fritz Lang. A eliminao do acaso e a dominao constante das formas, por uma arquitetura na qual todas as partes se comuniquem e se provoquem, resultaro numa fascinao, ou na impossibilidade do espectador se desconectar da ordem do espetculo.No surpreende que a obra de Fritz Lang tenha seguido um itinerrio que nada mais do que o do prprio cinema contemplado em seu conjunto. Os meios que ele ps a servio de seus fins realam ao mesmo tempo a permanncia destes e um sentido de transformao. De As Aranhas (Die Spinnen, 1919) a A mulher na lua (Frau im Mond, 1929) esboa-se uma esttica cujos elementos de base derivam naturalmente da situao do cinema nesta poca, isto , sobretudo de seu mutismo, sentido como falta e compensado por uma deformao das aparncias em metforas plsticas. O que se tornar uma geometria nas almas deve comear se limitando a uma geometria no espao. O expressionismo verteu-se num molde euclidiano que transpe seu valor. Sem poder apreender os seres nem desvelar suas profundezas, abstramos seus gestos em direo a um traado decorativo cujas leis so a simetria e a lentido. Assim, criada uma liturgia, fundada num hieratismo unicamente formal. J se encontra prefigurado, nesta liturgia da qual os atores so os servidores, o carter central da atitude ulterior de Lang em relao a estes. A saber: a de fazer deles o veculo mais neutralizado de uma mise en scne considerada como puro movimento, enquanto normalmente o inverso que se produz em outros cineastas, para quem a mise en scne o meio de exaltar os atores, como uma corrente impondervel que ilumina, ao passar, lmpadas eltricas. Donde a predileo de Lang por atores mais negativos do que positivos, cuja reteno, o segredo ou a passividade toleram mais facilmente a aniquilao que lhes imposta (Dana Andrews, Glenn Ford, Walter Reyer...).O acesso do cinema ao universo sonoro parece desorientar Fritz Lang, que perde de vista o rigor ao qual tinha se dedicado para se conformar s ideias, demonstrao e impureza dos postulados morais que intervm na dinmica dos seres e a falseiam. Entre outros, M., o vampiro de Dsseldorf (M, 1931) e Vive-se s uma vez (You Only Live Once, 1937) oferecem a imagem de um afrouxamento provocado pela embriaguez da palavra ainda no dominada e integrada a uma mise en scne que seja o resultado interior das premissas geomtricas do perodo mudo. Seria preciso esperar o ps-guerra, com Quando desceram as trevas (Ministry of Fear, 1944) e O diabo feito mulher (Rancho Notorious, 1952), para encontrar o rascunho de tal resultado, que se desenvolve plenamente em Os corruptos (The Big Heat, 1953), Desejo humano (Human Desire, 1954), No silncio de uma cidade (While the City Sleeps, 1956), O tesouro do Barba Rubra (Moonfleet, 1955) e Suplcio de uma alma (Beyond a Reasonable Doubt, 1956), e se conclui na maturidade completa e na soma de O tigre de Bengala (Der Tiger von Eschnapur, 1959) e O sepulcro indiano (Das indische Grabmal, 1959). evidente que a trajetria assim descrita no possui, nos detalhes, esta retido que o distanciamento lhe confere. H quebras e saltos para a frente seguidos de recadas. Deste modo, as duas pocas de Dr. Mabuse, o jogador (Dr. Mabuse, der Spieler, 1922) apresentam um som mais moderno do que Os Nibelungos (Die Nibelungen, 1924) ou Metrpolis (Metropolis, 1927). Assim, Fria (Fury, 1936), por ser o primeiro do perodo americano de Lang, no nada menos do que o melhor de seus filmes do pr-guerra, com um posicionamento e direo dos atores, em particular durante o processo, que no deixam de anunciar Suplcio de uma alma. Desta forma, sobretudo, o admirvel O segredo da porta fechada (Secret Beyond the Door..., 1948) precede de trs anos S a mulher peca (Clash by Night, 1952), que nos d a oportunidade de assistir a um singular rebaixamento do ponto de vista e do tom, a um incompreensvel encolhimento do olhar. Na verdade, Lang s reencontraria completamente a altitude em Suplcio de uma alma e nas duas pocas do Tigre. A era culminante de Fritz Lang comea, portanto, em torno de 1948, com uma mise en scne que cessa de ser o suporte do roteiro ou uma decorao superficial do espao para se tornar afiada e ntima, um questionamento dos corpos e dos cenrios, centrado em problemas fundamentais de olhares, de impulses de mo e de bruscas iluminaes de abismos. Doravante o roteiro que sustenta a mise en scne, e esta se torna o filme. O que explica por que este perodo tambm aquele a partir do qual as pessoas que chamam de mise en scne certa forma de submergir uma histria numa tela, ou o desdobramento espetacular e pueril de uma plstica incapaz de atingir o essencial, abandonam Lang.A altitude da qual eu falava, o tom propriamente languiano que procede de um olhar de guia sob o qual tudo se iguala, atesta um sentido do csmico que subjaz totalmente aos ltimos filmes e que explode bruscamente nos ltimos planos do Tigre, no qual ele se encarna at se tornar smbolo, no gesto alucinado do fugitivo descarregando sua arma contra o sol. As motivaes psicolgicas e morais so incorporadas e ultrapassadas, a narrativa desemboca de sada no terreno das relaes entre o homem e o mundo, este mundo que no lhe pertence. Temos a o trgico no estado puro; no uma crtica derrisria dos homens, mas uma descrio da fatalidade. E no h melhor forma de tornar sensvel esta elevao de tom do que comparando S a mulher peca, Desejo humano e O tigre de Bengala. A mesma situao, o tringulo eterno segundo a expresso do prprio Lang: um homem ama uma mulher que ama outro e que rechaa o primeiro , gera trs mises en scne, das quais a primeira rente ao cho e se agarra em pequenos sulcos psicolgicos cavados pelo roteiro, a segunda mais decantada, e a terceira, perfeitamente cristalina, resplandece dio e amor em estado bruto, no sendo mais do que a narrativa linear dos atos pelos quais estas paixes nuas e exacerbadas se inscrevem no mundo, atos cuja incandescncia consome e vai apagando tudo at os personagens, para liberar a paixo de todo entrave e lhe conferir, assim, em sua condio mais global, sua acuidade mais obsedante. Os filmes de Lang, liberados da preocupao de exprimir ideias pela articulao dos acontecimentos, no so mais do que narrativas insignificantes cuja significao est encerrada na mise en scne, uma significao unicamente passional, portanto unicamente esttica; no mais conceitual, mas meldica, e graas qual, entre as mos de Fritz Lang como entre as de alguns raros cineastas, o cinema acede dignidade de arte.No h mais temas, no h mais ideias de mise en scne, no h mais personagens, e podemos ainda falar de vida? Mais nada alm de uma espcie de linha que vemos progredir e que se une no fim. Os atores so mergulhados numa zona neutra onde, daqui em diante, apenas reluz a intimidade de suas relaes, estabelecidas de acordo com o movimento nu de uma invencvel marcha. Cada estado apenas um momento do movimento e abolido no momento seguinte: o filme se destri medida que se constri e apaga seu rastro atrs de si. Cada elemento indispensvel ao conjunto sem existir por si mesmo. No h plano dominante em Lang. A mise en scne no sentido mais etimolgico da palavra erguida em fim ltimo e tritura em suas engrenagens impecveis aquilo que alimenta sua rotao; os gestos, os rostos, as vozes e os cenrios nos preenchem menos com o que so do que com o que se tornam, e mais precisamente com a forma inelutvel deste tornar-se. Mencionemos de passagem que semelhante abstrao experimenta a cor como um incmodo, ou ao menos como um elemento suprfluo, e tende ao preto e branco, que revela diretamente o essencial sem empregar os desvios mesmo reluzentes do realismo concreto. Logo, as cores do Tigre e do Sepulcro so admirveis, pois esto distantes do reluzir das quentes luzes americanas (que convm a cineastas mais carnais, como Losey ou Don Weis), elas brilham de um fulgor atenuado, por um requinte de sobriedade que no contradiz mas, ao contrrio, sustenta este universo puramente inteligvel.Assim, conclui-se a fascinao buscada desde o incio da obra: pela interiorizao do traado matemtico, que no deforma mais as aparncias, mas as escolhe e as ordena sobre um substrato passional. Trata-se de se livrar de assombraes dominando-as at torn-las desumanas, calculando-as, deduzindo-as e levando-as at seu fim; em suma, de reduzir a um teorema uma dificuldade de ser, para venc-la e subjug-la. Trata-se de objetivar suas obsesses, de arranc-las de si, para se esquecer vendo-as viverem independentes, para colocar entre elas e si uma distncia de silncio e de lucidez. Trata-se, enfim, da busca, por meio da dominao enfurecida da matria, de um equilbrio tal que nele se possa inscrever e fazer aceitar, e at desejar, o intolervel. Os planos de horror (sobretudo em O segredo da porta fechada, No silncio de uma cidade, O tesouro do Barba Rubra e O tigre de Bengala) mergulham a criatura no impasse de um meio inteiramente hostil, o que nos leva a contemplar o papel do cenrio na obra de Lang. Este cenrio, ao assimilar desta forma a experincia alem, se no apagado (como em Suplcio de uma alma, em particular) pelo mesmo movimento de abstrao que o relevo fsico dos atores, instala-se numa perspectiva puramente dramtica, impregnada de um poder malfico e de angstia (sendo os famosos relgios do perodo primitivo o esboo e o smbolo); so arquiteturas massivas, opacas, e cuja nudez acentua o mistrio, quero dizer, a iminncia de desabamento ou o poder de cerco, de sufocamento e de espanto, quando a fenda do drama se abre.O dio, o assassinato pensado e um erotismo triste e destinado ao fracasso compem um universo de uma hostilidade inaltervel, de contatos gelados, no qual a nica alternativa : perseguir ou ser perseguido. Aqui, toda conscincia quer a morte das outras, segundo uma dialtica cujo rigor Hegel no teria desaprovado. Os pretextos constantes desta mise en scne vingana pessoal, punio legal, perseguio coletiva so mltiplos disfarces da selva, ou o lugar ideal da supresso do outro impossvel. O plano languiano por excelncia aquele no qual o olhar do carrasco pesa sobre a vtima e a constitui enquanto objeto, espcie de implacvel possesso distncia, evocando as relaes da aranha e da mosca. (No que, alis, Fuller coincide com Lang, s que se conformando muito mais ao arabesco.) Os corpos so atingidos por uma paralisia que reduz seus deslocamentos no interior de um quadro quase fixo. Os rostos so chaveados, impassveis no apenas por pudor, mas porque este mundo j est morto, petrificado, cada ser aprisionado sem recurso, para alm da angstia, para alm da solido, acabado por puras relaes de antagonismo, de indiferena ou de desprezo. Os contatos carnais so da mesma natureza do gelo, alterados por um interesse exterior e envenenados de repulso, tentativas de estupro sobre carnes frias ou simples juno de epidermes que se ignoram. As atrizes so frgidas como Joan Fontaine e Sally Forrest, ou aparamentadas para excitar um velho (Ida Lupino, Rhonda Fleming, Barbara Nichols). No melhor caso, o do Tigre, a mulher adornada, ao menos uma vez, com as suas mais sensuais sedues o corpo oferecendo, pelos movimentos mais lascivos, todo o seu peso opaco e firme, leve bronze vivo no qual o sangue aflora apresenta, na realidade, aos olhos de seu prncipe, apenas uma verso do suplcio de Tntalo, no qual se combinam, rodeados de perigos, o desejo, seu objeto e seu obstculo, que explodiro num longo grito mudo de impotncia e de raiva, somente aps o qual ser possvel a serenidade.Mas tal abordagem da pessoa fsica excepcional nesta obra. Enquanto Joseph Losey, seu vizinho por certa comunidade de motivaes, solicita e esgota as virtualidades do ator pela proximidade mais sensvel, Lang, recusando uma infinidade de possveis, elimina-o at a trama de sua narrativa. O universo de Fritz Lang irremedivel. Como em todas as grandes obras infelizes, o paradoxo desta de nos seduzir com seus malefcios, com o deleite sagrado de uma ordem trgica, da contemplao do inumano. O sublime nasce aqui da destruio de toda esperana, quando o homem tomado por uma fatalidade qual ope a mscara fechada de seu desprezo. Um reviramento efetua-se, assim, no prprio seio da negao, que se inverte como uma pele e mostra seu avesso da vitria; a contradio testemunha pelo vencido; o homem maior do que o que o esmaga, de Pascal.Suplcio de uma alma e, mais ainda, O tigre e O sepulcro marcam o limite para alm do qual a mise en scne, por um procedimento comparvel ao de Mallarm, cairia na ausncia de mise en scne. Uma maior dominao da matria desembocaria em sua supresso e ultrapassaria o papel mediador da arte. Esta loucura da perfeio, de um absoluto da arte pelo qual o criador tenta extrair do acaso o mais precioso de si mesmo, empurra o sistema de Lang ao extremo do audvel e do crvel. Da vem o fato de ele ser to pouco acreditado e to pouco ouvido. Publicado originalmente sob o ttulo Trajectoire de Fritz Lang, publicado originalmente em La mise enm scne comme langage. , Paris, : Henri Veyrier, 1987, pp. 129-138. Traduzido do francs por Tatiana Monassa. (N.E.)

Sug:

estes fins. E quais so eles?

Que tal incmodo? Pelo que pesquisei nuire pode ter esse sentido. E comprometedor?

enquanto necessidade?

Investir no sentido de atacar?

Melhor invista inelutavelmente contra a

Se tiver sentido de posse ou de encarregar-se (e.g., investir-se de tarefas), pronominal.

O padro este. Nunca artigo antes de possessivos. Do seu ( de seu; no seu ( em seu.

Mas no vejo problemas em deixar, se o tradutor peferir.

caixa-alta mesmo?

Isso FEIO DEMAIS, mas ok.

Mas as datas dizem 4...

?

Vrgula depois de tudo melhora um pouco. Este trecho t truncado.

Se eu entendi bem, a vrgula necessria neste caso, o mas sendo e sim.

Se for algo como, e.g., bonita mas desleal, pode deixar sem vrgula.

Evitar o uso pronominal.

Os outros to completinhos, melhor no abrevi-lo.

Considerar? Atentar para?

Prefiro ou seja