o centro - n.º 20 – 07.02.2007

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DIRECTOR JORGE CASTILHO DESPORTO AMBOS COM MAIS DE 70 ANOS Penelense e Olivais comemoram aniversários PÁG. 14 a 17 REFERENDO Por que SIM e por que NÃO PÁG. 8 e 9 UMA PRENDA ORIGINAL | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO I N.º 20 (II série) De 7 a 20 de Fevereiro de 2007 € 1 euro (iva incluído) Ofereça uma assinatura do “Centro” e ganhe uma obra de arte PÁG. 3 Inscreva-se em: Atelier de Pintura Iniciação em Artes Plásticas Conferências de Anatomia Artística Visite-nos em www.aelima.com ou Rua Gil Vicente, 86-A – Coimbra Telefone: 239 781 486 – Telemóvel: 917 766 093 Exposição de pintura de David Torres até 28 de Fevereiro Mais de 250 obras de arte em catálogo PÁG. 2 e 3 PÁG. 4 e 5 João Araújo, D.O. OSTEOPATA Guarda – Consultas à 2.ª feira Marcações pelo telefone: 271 237 039 Rua Vale Cajado 32, Marco Pereiros 3040-716 CASTELO VIEGAS Telem. 939 305 496 Café Restaurante Cozinha Regional Portuguesa Especialidades da casa: arroz de tamboril, bacalhau assado, bife à Alpendre, espetadas de boi, chanfana, sopa da pedra, negalhos, grelhados mistos e cozido à Alpendre. Ambiente simpático e profissional. Cavadinha – Penacova Tel. 239 477 388 Telem. 937 518 775 Sala típica Parque de Estacionamento Privativo Especialidades: Peixe do Rio Ensopado de Enguias Lampreia Bacalhau à Cortiço RECORRENDO A FACTOS VERÍDICOS Burlas via Internet oferecem milhões MANUEL LEMOS (NOVO PRESIDENTE DA UMP) EM ENTREVISTA AO “CENTRO” Misericórdias querem participar nos desafios do futuro Baixa de Coimbra em recuperação PÁG. 11 a 13

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Page 1: O Centro - n.º 20 – 07.02.2007

DIRECTOR JJOORRGGEE CCAASSTTIILLHHOO

DESPORTO

AMBOS COM MAIS DE 70 ANOS

Penelensee Olivaiscomemoramaniversários

PÁG. 14 a 17

REFERENDO

Por queSIM

e por que

NÃOPÁG. 8 e 9

UMA PRENDA ORIGINAL

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO I N.º 20 (II série) De 7 a 20 de Fevereiro de 2007 € 1 euro (iva incluído)

Ofereça uma assinaturado “Centro”e ganhe umaobra de arte

PÁG. 3

Inscreva-se em: Atelier de Pintura nn Iniciação em Artes Plásticas nn Conferências de Anatomia Artística

Visite-nosem www.aelima.com ou Rua Gil Vicente, 86-A – CoimbraTelefone: 239 781 486 – Telemóvel: 917 766 093Exposição de pintura de David Torres

até 28 de FevereiroMais de 250 obras de arte em catálogo

PÁG. 2 e 3

PÁG. 4 e 5

João Araújo,D.O.

OSTEOPATA

Guarda – Consultas à 2.ª feiraMarcações pelo telefone: 271 237 039

Rua Vale Cajado 32, Marco Pereiros 3040-716 CASTELO VIEGAS

Telem. 939 305 496

CaféRestauranteCozinha Regional Portuguesa

Especialidades da casa:arroz de tamboril, bacalhau assado,bife à Alpendre, espetadas de boi, chanfana, sopa da pedra, negalhos,grelhados mistos e cozido à Alpendre.Ambiente simpático e profissional.

C a v a d i n h a – P e n a c o v a T e l . 2 3 9 4 7 7 3 8 8 T e l e m . 9 3 7 5 1 8 7 7 5

Sala típica

Parque de Estacionamento Privativo

Especialidades:Peixe do Rio

Ensopado de EnguiasLampreia

Bacalhau à Cortiço

RECORRENDO A FACTOS VERÍDICOS

Burlas via Internetoferecem milhõesMANUEL LEMOS(NOVO PRESIDENTE DA UMP)EM ENTREVISTA AO “CENTRO”

Misericórdiasqueremparticiparnos desafiosdo futuro

Baixa de Coimbraem recuperação

PÁG. 11 a 13

Page 2: O Centro - n.º 20 – 07.02.2007

22 RREEPPOORRTTAAGGEEMM DE 7 A 20 DE FEVEREIRO DE 2007

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: Audimprensa– Rua da Sofia, 95, 3.º3000-390 Coimbra - Telefone: 239 854 150Fax: 239 854 154e-mail: [email protected]

Impressão: CIC - CORAZEOliveira de AzeméisDepósito legal n.º 250930/06Tiragem: 10.000 exemplares

No sentido de proporcionar mais algunsbenefícios aos assinantes deste jornal, o“Centro” estabeleceu um acordo com a li-vraria on line “livrosnet.com”.

Para além do desconto de 10%, o assi-nante do “Centro” pode ainda fazer a enco-menda dos livros de forma muito cómoda,sem sair de casa, e nada terá a pagar de cus-tos de envio dos livros encomendados.

Os livros são sempre uma excelente ofer-ta para cada um de nós ou para oferta a gentede todas as idades, pelo que este descontoque proporcionamos aos assinantes do“Centro” assume grande relevância.

Mas este desconto não se cinge aos li-vros, antes abrange todos os produtos con-géneres que estão à disposição na livraria online “livrosnet.com”.

Aproveite esta oportunidade, se já é assi-nante do “Centro”.

Caso ainda não seja, preencha o boletimque publicamos na página seguinte e envie-opara a morada que se indica.

Se não quiser ter esse trabalho, bastaráligar para o 239 854 150 para fazer a suaassinatura, ou solicitá-la através do [email protected].

Depois, para encomendar os seus livros,

bastará ir ao site www.livrosnet.com e fazero seu registo e a respectiva encomenda, quelhe será entregue directamente.

São apenas 20 euros por uma assinaturaanual – uma importância que certamenterecuperará logo na primeira encomenda delivros.

E, para além disso, como ao lado se indi-ca, receberá ainda, de forma automática ecompletamente gratuita, uma valiosa obrade arte de Zé Penicheiro – trabalho originalsimbolizando os seis distritos da RegiãoCentro, especialmente concebido para estejornal pelo consagrado artista.

Adquira livros com 10% de desconto

“BENEMÉRITOS” QUEREM “OFERECER” COLOSSAIS FORTUNAS

Cuidado com as burlas via Internet!Nos últimos tempos, temos vindo a rece-

ber via internet, nas caixas de correio elec-trónico do “Centro”, muitas mensagens pro-venientes de diversos países e subscritas porpessoas que afirmam querer oferecer-nosenormes fortunas.

O fenómeno não é novo. Surgiu háalguns anos, quando estes actos de “bene-merência” tão generosa quanto espantosaprovinham, quase sempre de países africa-nos.

Normalmente os subscritores diziam sermembros dos governos desses países ouseus familiares, mas havia também os quereivindicavam outras funções, como presi-dentes de bancos, de companhias petrolífe-ras, etc.

O “isco” era quase sempre o mesmo:uma verba avultadíssima – sempre na casados milhões de dólares! – estava disponívelpara o “feliz contemplado”, por razõesdiversas. Umas vezes era por comissões devendas, que tinham de ser depositadas naconta de um particular num banco europeu.Outras vezes tratava-se de fortuna pessoalque não podia ser transferida pelo próprio,por razões políticas. Em todos os casos os“generosos” remetentes das mensagens pro-metiam uma choruda percentagem dessescolossais montantes para quem se dispuses-se a ajudá-los.

A finalidade também era similar nageneralidade dos casos: obtenção de núme-ros de contas ou de cartões de crédito doscrédulos que pensavam ir ganhar muitodinheiro sem qualquer esforço, mas acaba-vam por ver desaparecer dinheiro da suaprópria conta.

Outras vezes tratava-se de levar os incau-tos a fazer chamadas de valor acrescentadopara os números internacionais indicados –e, em vez de ficarem multimilionários,como esperavam, os crédulos cidadãosapercebiam-se, incrédulos, que tinham depagar chorudas contas telefónicas.

BURLÕES VOLTAM A ATACAR

Apesar de todo este tempo passado, aburla deve continuar a ter efeitos benéficos

para os seus autores, já que surgiu agoranova vaga de “ataques”, em moldes que ten-tam ser mais sofisticados.

Desde a senhora que está moribunda, eque descobriu, após estudo aturado, que o“Centro” é um “filho de Deus” a quempode confiar milhões de dólares paraobras de caridade; até à jovem filha de ummilionário falecido, que pretende fazerinvestimentos em Portugal; passando porum outro que recorre a um verídico aci-dente aéreo para credibilizar a sua alician-te proposta.

A seguir transcrevemos algumas dasmensagens recebidas, após tradução paraportuguês, para que os nossos leitores seapercebam de como é fértil a imaginaçãodos burlões e de como é arriscado confiarem propostas de ganhar dinheiro de formafácil.

Assim, o melhor que tem a fazer quandoreceber este tipo de mensagens é apagá-lasimediatamente (e atenção a outra forma deburla, cuja sofisticação chega ao ponto deimitarem os sites dos bancos para tentarobter informações sobre as contas, quenunca deverão ser facultadas – em caso dedúvida contacte o seu banco!).

A SENHORA “MORIBUNDA”QUE CONSIDERA O NOSSOJORNAL COMO“UM VERDADEIROFILHO DE DEUS”

“Caro e confiável amigo:O meu nome é senhora Kate Alex, viúva

do falecido sr. John Alex, antigo proprietá-rio da companhia “Petróleo e Gás”, aquina República do Benim.

Tenho 68 anos e há muito que sofro decancro da mama. Todos os sintomas mos-tram que o meu estado de saúde se deterio-ra de cada vez mais e, de acordo com osmeus médicos, não me restarão mais dedois meses de vida.

Não pretendo que tenha pena de mim,apenas preciso de que confie em mim.

O meu falecido marido morreu no iníciodo ano passado com um ataque cardíaco, e

não tivemos filhos. O meu marido era muitorico e após a morte dele herdei toda a sujafortuna e os seus negócios.

Como os médicos me não dão mais dedois meses de vida decidi desfazer-me detoda a minha fortuna, principalmente paracontribuir para o desenvolvimento deacções de caridade em África, América,Ásia e Europa.

Peço desculpa se esta mensagem o per-turbou, mas descobri o seu endereço de e-mail como sendo de um verdadeiro Filho deDeus. Desde há cerca de um mês que tenhovindo a fazer uma investigação sobre si,para saber se o senhor está mesmo a traba-lhar de acordo com a orientação de Deus.Após esta investigação fiquei convencida deque sim, por isso decidi contactá-lo.

Contudo, se por qualquer razão conside-rar esta mensagem ofensiva, ignore-a eaceite as minhas desculpas.

Antes de morrer, o meu marido era ummagnata do petróleo no Benin e há algunsanos depositou 10 milhões de dólares (dezmilhões de dólares) numa companhia naEuropa, que eu quero legar agora.

Preciso de si para levantar esses fundose para que o senhor mesmo os distribua porobras de caridade. Assim, quando eu mor-rer a minha alma poderá descansar em paz.

Os fundos estão completamente disponí-veis para si e espero que Deus lhe concedaa sabedoria para que com esse dinheiromelhore a vida de muita gente – essa é aminha grande preocupação. 20% dessedinheiro será para si próprio, com compen-sação pelo seu tempo e pelos seus esforços,enquanto os restantes 80 % serão paraobras de caridade.

Deus o abençoe.Mrs. Kate Alex

Esta mensagem não solicitava o envio deinformações por parte do destinatário, aocontrário do que é habitual.

Este primeiro contacto servirá apenascomo engodo, para que alguns mais crédu-los respondessem para o endereço de e-mailda “moribunda” remetente: [email protected]

A HERDEIRA MISS MÓNICAQUER INVESTIREM PORTUGAL…

Caro Senhor:Tenho o prazer de o contactar para lhe

propor uma parceria de negócio que preten-do efectuar no seu país.

Existe uma quantia de 7,5 milhões de USdólares ($7,500,000.00) que o meu falecidoPai depositou para mim numa destacadacompanhia de seguros aqui em Abidjanantes de falecer.

Decidi investir esse dinheiro no seupaís e com a sua colaboração, já queserá mais seguro fazê-lo fora do meupaís, por razões políticas e de seguran-ça.

Pretendo que o senhor me ajude atransferir esses fundos para a sua contapessoal, para que venha a ser investidoem sectores que não paguem muitosimpostos.

Se me conceder esse apoio, terei muitogosto em lhe oferecer 10% do total dos fun-dos.

Fico à espera de uma urgente respostasua.

Com os melhores cumprimentosMiss Mónica Robert

[email protected]

“GERENTE BANCÁRIA”QUER DAR HERANÇADE FAMÍLIA MORTAEM ACIDENTE AÉREO

De Mrs. Mimi JohnGerente de Contas e CâmbiosBank of Africa (BOA)OuagadougouBurkina Faso

CONFIDENTIAL

Caro Amigo:Sou a Gerente de Contas e Câmbios no

Departamento de Remessas do Estrangeiro

Page 3: O Centro - n.º 20 – 07.02.2007

RREEPPOORRTTAAGGEEMM 33DE 7 A 20 DE FEVEREIRO DE 2007

O jornal “Centro” tem uma aliciante pro-posta para si.

De facto, basta subscrever uma assinaturaanual, por apenas 20 euros, para automatica-mente ganhar uma valiosa obra de arte.

Trata-se de um belíssimo trabalho da auto-ria de Zé Penicheiro, expressamente concebi-do para o jornal “Centro”, com o cunho bemcaracterístico deste artista plástico – um dosmais prestigiados pintores portugueses, comreconhecimento mesmo a nível internacional,estando representado em colecções espalha-das por vários pontos do Mundo.

Neste trabalho, Zé Penicheiro, com o seutraço peculiar e a inconfundível utilização deuma invulgar paleta de cores, criou uma obraque alia grande qualidade artística a um pro-fundo simbolismo.

De facto, o artista, para representar a Re-gião Centro, concebeu uma flor, compostapelos seis distritos que integram esta zona doPaís: Aveiro, Castelo Branco, Coimbra,Guarda, Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é representadopor um elemento (remetendo para respecti-vo património histórico, arquitectónico ounatural).

A flor, assim composta desta forma tão ori-ginal, está a desabrochar, simbolizando ocrescente desenvolvimento desta Região Cen-tro de Portugal, tão rica de potencialidades, deHistória, de Cultura, de património arquitec-

tónico, de deslumbrantes paisagens (desde aspraias magníficas até às serras verdejantes) e,ainda, de gente hospitaleira e trabalhadora.

Não perca, pois, a oportunidade de rece-ber já, GRATUITAMENTE, esta magnífi-ca obra de arte, que está reproduzida na pri-meira página, mas que tem dimensões bemmaiores do que aquelas que ali apresenta(mais exactamente 50 cm x 34 cm).

Para além desta oferta, passará a receberdirectamente em sua casa (ou no local que nosindicar), o jornal “Centro”, que o manterá

sempre bem informado sobre o que de maisimportante vai acontecendo nesta Região, noPaís e no Mundo.

Tudo isto, voltamos a sublinhá-lo, porAPENAS 20 EUROS!

Não perca esta campanha promocional, eASSINE JÁ o “Centro”.

Para tanto, basta cortar e preencher ocupão que abaixo publicamos, e enviá-lo,acompanhado do valor de 20 euros (de prefe-rência em cheque passado em nome deAUDIMPRENSA), para a seguinte morada:

Jornal “Centro”Rua da Sofia. 95 - 3.º3000–390 COIMBRA

Poderá também dirigir-nos o seu pedido deassinatura através de:

n telefone 239 854 156n fax 239 854 154nou para o seguinte endereço de e-mail:[email protected]

Para além da obra de arte que desde já lhe ofe-recemos, estamos a preparar muitas outras regali-as para os nossos assinantes, pelo que os 20 eurosda assinatura serão um excelente investimento.

O seu apoio é imprescindível para que o“Centro” cresça e se desenvolva, dando voz aesta Região.

CONTAMOS CONSIGO!

EXCELENTE OPORTUNIDADE POR APENAS 20 EUROS

Faça uma assinatura do “Centro”e ganhe valiosa obra de arte

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q Desejo receber recibo na volta do correio

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N.º de contribuinte:

Desejo receber uma assinatura do jornal CENTRO (26 edições).

Para tal envio: q cheque q vale de correio no valor de 20 euros.

#

a Internet!do Banco de África (B.O.A.) aqui em Oua-gadougou, Burkina Faso.

No meu Departamento descobrimos umaquantia abandonada no valor de 25 milhõesde US dólares numa conta que pertencia aum nosso cliente estrangeiro (Mr. AndreasSchranner, de Munique, Alemanha), quemorreu, juntamente com toda a sua família,em Julho de 2000, num desastre aéreo.

Desde que nos chegou a notícia do seufalecimento, temos estado à espera de quealgum herdeiro venha reclamar esta quan-tia, porque não podemos entregá-la amenos que alguém prove ser herdeiro dofalecido, como determina a política dobanco e a própria lei.

Infelizmente, tomámos conhecimento deque todos os seus herdeiros tinham morridono mesmo acidente aéreo que o vitimou.

O regulamento do banco estabelece que,em situações como esta, possa ser entregueo dinheiro depositado a alguém responsá-vel, em quem o Banco possa confiar comoherdeiro do depósito não reclamado.

Contudo, por se tratar de um depositan-te estrangeiro, terá também de ser umestrangeiro a reclamar o depósito.

Assim proponho que 30% desta quan-tia seja para si, com contrapartida por mefacultar uma conta bancária estrangeira,10% serão para as despesas diversas quehaja a fazer durante a nossa negociaçãoe 60 % serão para mim, que me desloca-rei ao seu País para se concretizar esteacordo.

Contudo, para que a percentagem indi-cada possa ser imediatamente transferidapara si, como combinado, terá de apresen-tar ao B.O.A. a sua candidatura como her-deiro do falecido cliente, indicando o nomedo seu Banco, o número da sua conta nessebanco, o número do seu telefone particulare o seu número de fax, para uma comunica-ção mias rápida acerca do local para ondedeve ser enviado o dinheiro.

Depois de recebida a sua mensagem comestes elementos, enviar-lhe-ei, por fax ou e-mail, o teor do texto com que deve formulara sua candidatura.

Devo esclarecê-lo de que esta transac-ção não envolve quaisquer riscos, pelo quenão deve ter receio, já que todas as medidasforam tomadas para concretizar a transfe-rência.

Deverá contactar-me imediatamenteapós receber esta carta.

Esperando notícia suas imediatasCom os melhores cumprimentos

Mrs. Mimi [email protected]

Para credibilizar esta mensagem “CON-FIDENCIAL”, a burlona (ou burlão com

nome de mulher), faculta um endereço elec-trónico que nos leva para uma notícia daBBC onde, efectivamente, se relata um aci-dente aéreo em que faleceu a família referi-da na mensagem!

Só que, depois da “generosa” oferta, soli-cita uma série de informações sobre os nos-sos dados bancários (banco, número deconta, etc.).

Reprodução da página da BBC com a notícia do desastre aéreo

Page 4: O Centro - n.º 20 – 07.02.2007

DE 7 A 20 DE FEVEREIRO DE 200744 EENNTTRREEVVIISSTTAA

MANUEL LEMOS (NOVO PRESIDENTE DA UMP) EM ENTREVISTA AO “CENTRO”

Misericórdias querem participar nos desafios do futuroFoi há dias empossadoo novo Presidente da Uniãodas Misericórdias Portuguesas(UMP), Manuel Lemos,eleito para suceder ao padreVítor Melícias (que ocupouaquelas funções durante décadae meia), com quem trabalhavadesde há vários anosna qualidade de Vice-Presidente.Muita gente ignorará que a UMPintegra e coordena cercade quatro centenas de SantasCasas da Misericórdia,que empregam milharesde pessoas e prestam assistênciaa uma relevante percentagemda população portuguesa.Estas algumas das razõesque justificam o interesseda entrevista que Manuel Lemosconcedeu ao “Centro”.

Começámos por questionar Ma-nuel Lemos sobre a importância dasMisericórdias, obtendo a seguinte res-posta:

“As Misericórdias Portuguesas, paraalém de serem parte integrante de umpassado de que nos orgulhamos (Ale-xandre Herculano escreveu que não sepodia fazer a História de Portugal, semse fazer a História das Misericórdias),estão atentas ao presente e dispostas aparticipar nos desafios do futuro. A issonos obriga não só o dever geral de coo-peração com o Estado mas, sobretudo, onosso sentido de co-responsabilidadeque me levou a assumir, com muita ale-gria, o dever de dar o meu contributopara cumprir as Obras de Misericórdiae, assim, participar na construção donosso destino colectivo”.

E prosseguiu:“Instituída vai para 30 anos, num mo-

mento em que o mais importante era

assegurar a sobrevivência das Miseri-córdias Portuguesas, evoluindo depoispara prestar pequenos serviços de apoioàs suas Associadas, a União é cada vez

mais olhada como uma referência pelas400 Misericórdias Portuguesas. Daíque, não só recorram cada vez mais aosserviços que disponibiliza, como é lici-to que pretendam também ganhos e maisvalias técnicas, sobretudo, nas áreas doEnvelhecimento, das Crianças e Jovens,da Deficiência, da Saúde e do Patri-mónio. É um trabalho e preocupaçãoque marcou o último mandato, mas queurge aprofundar, e que vai desde a con-solidação da reorganização interna aodesenvolvimento de serviços de valoracrescentado – como, por exemplo, for-mação, apoio jurídico especializado,central de negociações, etc.”.

NECESSIDADEDE ACTUALIZAÇÃOE DE PARCERIAS

Relativamente aos desafios que asMisericórdias vão enfrentar e à for-

ma de vencer as previsíveis dificulda-des, Manuel Lemos sustenta:

“As Misericórdias necessitam de seactualizar, de trabalhar em parceria –quer entre si, quer com outros parceirosdo sector social, com o sector público emesmo com o sector privado –, de per-ceberem que o percurso de cada uma sereflecte, para o bem e para o mal, emtodas as restantes. Só assim será possí-vel manter a actualidade da sua Missãoe cumprir o seu destino histórico.

Aliás, penso que se torna necessárioclarificar as relações do Sector Socialem geral, e das Misericórdias em espe-cial, com a Administração Central.Nesse aspecto, subscrevo uma afirma-ção recente do Ministro da Saúde,Correia de Campos quando referiu que‘nos últimos 30 anos as relações entre oEstado e as Misericórdias Portuguesassão como um pêndulo que oscila entre agenerosidade e o confisco; e é necessá-rio e urgente parar este pêndulo’.

Realmente, face às dificuldades cres-centes do Estado em socorrer no terrenoos mais pobres, os mais velhos, os doen-tes crónicos, as crianças em risco, os defi-cientes, enfim, os grupos desfavorecidos,e do interesse completamente marginaldos privados em prestar, de forma conti-nuada, esse serviço, parece inaceitávelque este pêndulo oscile em permanência eoscile ao sabor de interesses conjunturais.Sobretudo porque, aparentemente, é fácilparar o pêndulo: basta que com vontadepolítica a sério e com bom senso, se cum-pra, de forma efectiva, o texto e princípiosdo Pacto de Cooperação para aSolidariedade que o XIII Governo Consti-tucional celebrou com todos os parceirossociais. Está lá tudo, desde o dever geralde cooperação à co-responsabilização eao papel das intuições da sociedade civil,desde as comparticipações familiares, àhumildade que se reclama ao Estado e aosseus responsáveis para analisarem, emconjunto com o sector social, as opçõespossíveis nesta matéria”.

COOPERAÇÃOCOM AS AUTARQUIAS

As Misericórdias têm uma grandeimportância a nível local. Como temsido a relação da UMP com as autar-quias?

“A cooperação activa entre os Mu-nicípios portugueses e as Misericórdiastem tradições de séculos. Não admiraque assim seja, pois ambas cuidam dasmesmas Comunidades. Temos sabidofazer, em parceria e estreita colaboração,o desenvolvimento social dessas Comu-nidades, sempre com respeito pela auto-nomia de cada uma das instituições.

A constituição da Rede Social pode etem representado um passo importante

Perfil de Manuel LemosNascido no Porto há 57 anos, Manuel Lemos viveu em Coimbra desde a

meninice (seu pai foi, durante vários anos, Director dos Serviços de Viaçãode Coimbra) aqui se tendo licenciado em Direito, após o que regressou à suacidade natal.

Ali desempenhou destacadas funções, entre as quais as de Presidente daAdministração Regional de Saúde e de Presidente do Centro Regional deSegurança Social.

Entre outras funções, foi também Comissário do Norte da Luta Contra aPobreza.

Em Lisboa, foi Chefe de Gabinete de Leonor Beleza quando esta foiMinistra da Saúde.

Considerado uma das maiores autoridades nacionais nos domínios dasaúde e da assistência social, tem colaborado com diversos organismos por-tugueses e estrangeiros, públicos e privados.

Page 5: O Centro - n.º 20 – 07.02.2007

DE 7 A 20 DE FEVEREIRO DE 2007 EENNTTRREEVVIISSTTAA 55

r nos desafios do futurono planeamento e desenvolvimento daacção social na Comunidade. A RedeSocial só tem sentido se todos percebe-rem o seu papel – que passa pelo respei-to e autonomia de cada um dos Par-ceiros que co-responsavelmente inte-gram essa Rede.

Contudo, penso que a transferênciade competências em matéria de políticassociais para as autarquias (isto é, doEstado Central para o Estado Local) e,em especial, a simples transferência definanciamentos sem regras muito claras,não é a forma mais adequada de se pro-mover o desenvolvimento social inte-grado. Sobretudo em povos com idios-sincrasias muito próprias. Não podemosesquecer que os portugueses não sãonem nórdicos, nem saxónicos, e essarealidade não se altera por decreto. Porexemplo, tenho as maiores dúvidas quetivesse sido possível fechar uma únicamaternidade ou serviço de urgência nonosso País se a gestão dos pequenoshospitais coubesse aos Municípios. Deigual modo, penso não ser salutar con-fundir acções esporádicas para promo-ver o ‘active aging’ com a gestão diáriados equipamentos da Terceira Idade”.

RELACIONAMENTOCOM A IGREJA CATÓLICA

É conhecida a proximidade das Mi-sericórdias com a Igreja Católica. Queanálise faz desse relacionamento?

“Penso ser necessário clarificar asnossas relações com a Igreja Católica.As Misericórdias são organizações deleigos, sem prejuízo de uma autonomiaque a História e o Direito consagram,sempre se reclamaram como Institui-ções nascidas à sombra da Igreja Cató-lica no que diz respeito aos princípios evalores que orientam a sua Missão. Defacto, as Misericórdias Portuguesas,como as suas congéneres italianas, bra-sileiras ou espanholas, não pertencem –nem nunca pertenceram ao longo dosséculos –, à hierarquia da Igreja. Temos,pois, todo o interesse e todo o prazer emcolaborar com as instâncias da IgrejaCatólica, assentando essa colaboraçãono respeito mútuo e na autonomia dasinstituições e no aprofundado diálogo einstitucionalização da cooperação, hámais de uma década, proposta pelaAssembleia-Geral da UMP”.

ESPERANÇA NO FUTUROAPESAR DAS DIFICULDADES

Relativamente ao futuro das Mi-sericórdias, Manuel Lemos começapor nos afirmar:

“Reconheço que o reforço da afirmaçãodas Misericórdias na SociedadePortuguesa acontece num momento de

grande transformação e de grande espe-rança em todo o mundo civilizado à voltadas Instituições do sector social. Osmelhores Hospitais do Mundo pertencemao terceiro sector, as melhoresUniversidades são geridas por Instituiçõessem fins lucrativos, o maior criador deemprego é o sector social e todos se espan-tam com as Fundações criadas por BillGates, Warren Buffett e outros. Lembro-me frequentemente da profecia de PeterDrucker: ‘O século XX foi marcado pelodomínio dos Governos e das Empresas; noséculo XXI iremos assistir ao crescimentoexplosivo do sector social’. Contudo, emPortugal ainda se olha para o sector socialcomo coisa do passado, que se utiliza ape-nas onde der jeito e enquanto der jeito. Porcerta gente, sempre com desconfiança equase sempre pelos piores motivos”.

E sublinha:“Que Sociedade e que Estado Mo-

derno não se reveria em Instituiçõescomo as Misericórdias Portuguesas com500 anos de provas dadas no desenvol-vimento económico e social dasComunidades onde se inserem? QueSociedade e que Estado Moderno nãoprocuraria garantir-lhes estabilidade,sustentabilidade, respeito pela sua iden-tidade e natureza? Que Sociedade eEstado Moderno não as acarinharia,respeitando compromissos assumidosmas exigindo qualidade e eficácia nosseus serviços?

Ora, na verdade, ser Provedor ouMesário de uma Misericórdia é hoje,muitas vezes, nadar contra a corrente. E

o papel que nos propomos desempenharé o de ajudar a mudar a corrente.

Reafirmando sempre a nossa identi-dade, a nossa autonomia, a nossa res-ponsabilidade e a nossa Missão. Afir-mar as Misericórdias é, pois, tornar se-renamente incontornável o nosso papelna Sociedade Portuguesa. Que os Por-tugueses tenham orgulho nas suasInstituições de Misericórdia e que serevejam nelas”.

OPTIMISMO VENCE

A concluir, Manuel Lemos afirma:“As Misericórdias são Instituições

que celebram a vida e, por isso, sãopositivas e optimistas. E eu penso queos optimistas vencem, não porque este-jam sempre certos, mas porque sãopositivos. Mesmo quando erram sãopositivos e, a meu ver, esse é o caminhoda realização, da correcção, do aperfei-çoamento e do sucesso.

O optimismo de olhos abertos com-pensa; o pessimismo só pode oferecer aconsolação vazia de eventualmenteconstatar que estava certo.

Não espero por milagres, nem pre-tendo sempre a perfeição. Sou apologis-ta e que se cultive uma fé atenta, evitan-do os dogmas, procurando ouvir eobservar bem, tentando esclarecer edefinir metas, recorrendo aos melhorespara que estes nos ajudem a cumprir anossa Missão.

E, sobretudo e acima de tudo, conta-mos com o apoio, força e protecção deNossa Senhora da Misericórdia!”.

UMP tambémpresentenas antigascolónias

A União das Misericórdias Por-tuguesas (UMP) integra e coorde-na cerca de 400 Santas Casas deMisericórdia, em Portugal (inclu-indo Madeira e Açores), e apoia afundação e recuperação de Mi-sericórdias em Países de LínguaPortuguesa (nomeadamente An-gola, São Tomé, Moçambique eTimor-Leste) e ainda em comuni-dades de emigrantes dispersaspela diáspora (Luxemburgo, Parise Pretória) estando em perspecti-va a fundação de novas Miseri-córdias em Berlim, Joanesburgo,Buenos Aires, Caracas, São Fran-cisco e Newark.

Origens da UMPA UMP foi criada no Congres-

so das Santas Casas, em Viseu,em Novembro de 1976, no segui-mento das transformações sociaisque se seguiram ao 25 de Abril de1974 e do trauma institucional re-sultante da “nacionalização” doshospitais das Misericórdias (con-sumada pelo Decreto-Lei n.º 618//75 de 11 de Novembro de 1975).

A iniciativa foi especialmentedinamizada pelo padre VirgílioLopes, então Provedor da Miseri-córdia de Viseu e que foi o pri-meiro Presidente da UMP (cargoque desempenhou até ao seu fale-cimento), tendo contado com oapoio de vários Provedores, da Con-ferência Episcopal e outros agen-tes sociais.

A UMP integra a União Euro-peia das Misericórdias e a Con-federação Internacional das Mise-ricórdias, das quais foi promotorae co-fundadora.

PATRIMÓNIO DIVERSIFICADOA UMP possui e gere um patri-

mónio diversificado, que a seguirse enuncia:

Escola Superior de EnfermagemS. Francisco das Misericórdias (emLisboa); Centro de DeficientesProfundos – João Paulo II (emFátima); Centro de DeficientesSanto Estevão (em Viseu); Lar Es-cola Dr. Virgílio Lopes; Laboratóriode Análises Clínicas; Academia daCultura e Cooperação; Juvecordia –Academia Juventude e Misericór-dia; Escola de Ensino Especial “OsMoinhos”.

Edita ainda o jornal "Voz dasMisericórdias".

Page 6: O Centro - n.º 20 – 07.02.2007

DE 7 A 20 DE FEVEREIRO DE 200766 OOPPIINNIIÃÃOO

ABORTOS E MANOBRASHá que pensar a campanha que aí está

e que promete ainda maior dramatizaçãono que respeita ao referendo sobre oaborto. Devo dizer, desde já, que consi-dero todo este frenesim uma das mano-bras mais bem orquestradas de desvio daatenção das questões essenciais queavassalam o País e a governação.

Durante três meses tornou-se poucorelevante qualquer questão estratégica eo palco foi dado a um epifenómeno que,sendo uma questão dos nossos dias,bem poderia ter outra decisão. O pro-blema é tão simples quanto isto. Se o PSé a favor da despenalização, se o pri-meiro-ministro leva esta questão asério, e tenho fortes dúvidas de que aleve mesmo a sério, teria bastado que aAssembleia da República votasse a des-penalização e o caso estava arrumado.Tendo em conta que os partidários do‘sim’ afirmam que o ‘sim’ é a tolerânciapara fazer, ou não fazer, uma práticaabortiva, maior espaço de manobra teriaa maioria socialista para despachar coma sua maioria absoluta uma decisão que,por esta forma, vai custar milhões aoPaís na medida que, em termos formais,a realização de um referendo obriga àmesma mobilização de meios de qual-quer acto eleitoral.

(…) Soube-se esta semana que oBanco de Portugal já vendeu metadedas suas reservas de ouro. Sabe-se queas grandes empresas continuam a deslo-calizar-se para os antigos países socia-listas e que o desemprego se mantém aníveis astronómicos. O fecho de escolascontinua implacável, as maternidades éaquilo que se viu, a Segurança Socialameaça cada vez mais os futuros refor-mados. Quanto à reforma administrati-va estamos conversados e as medidasanunciadas do Simplex não passam demeras aspirinas para doença grave.

Dois anos após as eleições e algumasoperações de cosmética financeira,aquilo que o Governo tem mais à mãopara que ninguém se recorde da gravecrise que nos afecta é a ideia de umreferendo. É conveniente e, simultanea-mente, revela medo. Conveniente por-que o pagode está entretido em intermi-náveis discussões sem nenhum argu-mento novo em relação à discussão dehá oito anos, medo porque se o empe-nho do PS neste problema fosse sérioresolvê-lo-ia através do mandato abso-luto que o povo lhe entregou. Não é umreferendo. É apenas um longo intervalo

nas expectativas geradas pelo poderabsoluto que nos governa.

u Francisco Moita FloresCM 29/01/07

ÁFRICA RENASCEAcaba de realizar-se em Nairobi,

com pleno êxito, o sétimo Fórum SocialMundial (FSM). Cada vez mais domi-nados pelos interesses do capitalismoglobal, os grandes media não deramqualquer atenção a este acontecimentoe, ao invés, assestaram os seus holofotesno Fórum Económico Mundial (FEM),uma instituição decadente por ondepassa a má consciência dos ganhadorescom a globalização neoliberal, ganha-dores que são cada vez menos emnúmero e cada vez mais imorais peladesproporção dos seus ganhos. Se osjornalistas tivessem liberdade parainvestigar, constatariam que os temasdiscutidos no FSM precedem em algunsanos os discutidos no FEM.

Obviamente que as soluções propos-tas por um e por outro são muito dife-rentes, mas não restam dúvidas de que,desde 2001, é o FSM quem faz a agen-da das grandes questões internacionais.Foi assim com a pobreza, a dívidaexterna e a catástrofe ecológica, e assimserá com a questão da terra, da água, dasaúde e da guerra.

O FSM de Nairobi revelou que, paraalém da África do Sul, há outros paísesafricanos com capacidade de organizarcom eficiência uma reunião de 100.000pessoas. E foi importante que se reali-zasse em África, o continente maisduramente atingido pelo neoliberalis-mo, já que as sessões anteriores do Fó-rum, realizadas no Brasil e na Índia, nãopermitiram uma participação significa-tiva dos movimentos e organizaçõessociais africanas. Delegações de muitospaíses percorreram milhares de quiló-metros pelas savanas de África para tra-zerem ao FSM a notícia das suas lutas,trocarem experiências e estabeleceremcontactos com vista a acções conjuntasfuturas. (…)

u Boaventura Sousa SantosVisão 30/01/07

GLOBALIZAÇÃOE PROTECÇÃO SOCIAL

Com a economia portuguesa quaseestagnada, parece-nos estranho, mas éverdade: a economia mundial cresceumais nos últimos cinco anos do que emqualquer outro período de cinco anosdesde a Segunda Guerra Mundial. E asmais altas taxas de crescimento não seregistaram nos países desenvolvidos,mas nos outros.

Em média, as economias ditas emvias de desenvolvimento têm crescidomais do que as economias ricas, em boaparte devido à fulgurante expansão depaíses asiáticos como a China e a Índia.Este facto desmente a tão repetida ideiade que o fosso entre ricos e pobres, àescala mundial, estaria imparavelmentea aumentar. Segundo o Banco Mundial,no ano passado as economias ricas cres-

ceram 3,1 %, enquanto as outras cresce-ram mais do dobro, 7%.

Este progresso económico permitiutirar da miséria centenas de milhões depessoas. Claro que persiste uma enormemassa da população mundial a viver emcondições deploráveis. E que é umescândalo ainda haver tanta gente comfome, existindo hoje os meios materiaispara alimentar todo o mundo.

Mas a globalização fez recuar a po-breza, benefício que os seus contestatá-rios, esta semana reunidos em Nairobi,têm dificuldade em reconhecer.

Aliás, é nos países ricos que maisqueixas aparecem contra a globaliza-ção. Muitas vezes sem qualquer funda-mento. Por exemplo, apesar da entradaem força da China e da Índia no merca-do mundial, a União Europeia não ape-nas não perdeu, como ganhou, quotanesse mercado.

u Francisco Sarsfield CabralDN 27/01/07

SURDOS MUNDOS(…)PIOR DO QUE OS INIMIGOS

Nos anos 80, as facções palestinia-nas, divididas por religião, política efidelidades pessoais, exterminaram-seamargamente. O caso de Issam Sartawi,assassinado em Montechoro, em 1983,foi um exemplo próximo. Agora, doJordão ao Mediterrâneo, de Gaza aRamallah, de Nablus aos campos derefugiados, a luta continua: 40 mortosdesde Dezembro num ajuste de contasque não ouve mediadores. Pior do queinimigos, são irmãos.

ANGOLA SUBMERSAViana, Cacuaco, Samba, Kiemba

Kiaxi. Os lugares que conhecemos, emvolta de Luanda, sobrepovoados degente boa e pobre, estão debaixo deágua. Dezenas de mortos, milhares derefugiados: a desesperança feita pessoa.Treinados com ajuda portuguesa, osFuzileiros locais fizeram milagres. Masé importante que os políticos, nestesegundo maior produtor de petróleo deÁfrica, mostrem que sabem proteger,salvar e agasalhar os seus necessitados

u Nuno RogeiroCM 28/01/07

O QUE QUER A DIREITA?(…) Custa a acreditar que a Direita

portuguesa se resigne a aceitar o PSDcomo seu partido natural (o que prejudi-ca o PSD, valha a verdade) e que secontente em viver em função dos cicloseleitorais.

Fazer política traz prejuízos conside-ráveis? Decerto. Só assim se explica queninguém, dos históricos candidatos adirigentes do CDS, se disponibilize paraabandonar a vida empresarial ou acadé-mica para fazer política – veja-se oexemplo de Lobo Xavier, naturalmente.

É legítimo, portanto, que nos pergun-temos o que quer, afinal, a Direita por-tuguesa para além de ocupar um lugar

pobre no Parlamento e de querer parti-cipar numa aliança triste com o PSD?

Fundamentalmente, a Direita andacontente com o “espírito reformista” deJosé Sócrates, que “não estraga osnegócios” e tem desafiado aquilo que osdois últimos governos (o de Durão e ode Santana) não ousaram afrontar olugar do Estado, as leis laborais e o cor-porativismo na Educação, na Justiça ena Administração Pública. A Direitaagradece. Mas fica, em matéria política,manietada (tal como parte do Bloco deEsquerda vai ficar depois da vitória dosim no referendo do aborto) e sem gran-des bandeiras.

Ora, isto é uma pena. Em primeirolugar, porque ficamos sem saber o quequer e pensa a Direita, verdadeiramen-te. Em segundo lugar, porque estadesertificação do CDS é traduzida –para quem não vê o PSD como pau paratoda a obra –, por outro interessanteparágrafo das declarações de LoboXavier “Se eu quiser dizer em dezsegundos cinco grandes linhas do pen-samento do CDS, como partido deOposição, certamente que hesito muitoe isso não deveria acontecer.”Na verdade, a Direita é ou está pregui-çosa. Limita-se a vegetar. A seguir osacontecimentos com um lamentávelsentido de oportunidade. A acompanhare a alimentar a luta dos seus baronatos.Preguiça e baronatos. Foi isso quematou a Direita antes, durante os seusgovernos. É isso que ameaça liquidá-laagora, por alguns anos. Essa irrelevân-cia vai custar caro ao país. (…)

u Francisco José ViegasJN 28/01/07

O TRADUTORO primeiro-ministro acha que só por

falta de assunto a imprensa deu desta-que às afirmações do ministro ManuelPinho, e que tudo se transformou numapolémica “absurda e injustificável”.Não é verdade. Também não é verdadeque seja uma matéria sem interesse paraquem não entende nada de economia.As afirmações de Manuel Pinho dizemrespeito a todos nós. Em primeiro lugarporque o ministro não faltou à verdade -Portugal tem, mesmo, os salários maisbaixos da União Europeia.

O primeiro-ministro recitou a fórmu-la com outra limpidez; segundo JoséSócrates, o que o ministro da Economiaqueria dizer é que os nossos “custos detrabalho de mão-de-obra mais qualifica-da” são mais baixos do que a médiaeuropeia. Ou seja, para retomar a tradu-ção feita por José Sócrates, “temos cus-tos de trabalho que são muito competi-tivos ao nível das pessoas mais qualifi-cadas em Portugal”. Entende-se logooutra coisa.

Feliz do país em que o primeiro-ministro pode perder um pouco do seuprecioso tempo a traduzir o que um dosseus ministros disse antes. É um luxoque merecemos. (…)

u Francisco José ViegasJN 04/02/07

itações

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DE 7 A 20 DE FEVEREIRO DE 2007 OOPPIINNIIÃÃOO 77SER JUIZ

(…) Ser juiz não é só conhecer a lei eos códigos de cor, se não mais valia oEstado contratar máquinas para debita-rem justiça pronta e desumana. O rigortécnico-formal das decisões judiciais nãopode esquecer a componente humanaque está presente no acto de fazer justiça.

Dito isto, reconheço que esta crónicanão me é fácil, na medida em que me obri-ga a criticar colegas meus, companheirosde jornada, que não estiveram bem.

No caso do sargento Luís Gomes,não me resta outra saída. Reconheçoque os juízes têm dificuldades em lidarcom a crítica. Reina, no meio judiciário,uma mentalidade de protecção excessi-vamente corporativa que sempre com-bati, por ser negativa e nos isolar domundo moderno.

Daí não poder ficar indiferente àpolémica gerada em torno da decisão doTribunal de Torres Vedras.

Ao acórdão deste tribunal, que conde-nou Luís Gomes numa pena de seis anosde prisão, por prática do crime desequestro, escapou, lamentavelmente,tudo isto. É uma decisão cega, brutal-mente injusta e desproporcional. Aqui sóa norma jurídica violada, que, ainda porcima, se afigura de aplicação errada,quanto ao crime de sequestro, foi acolhi-da. Nesta casa da justiça, alguém esque-ceu ou deixou fugir pela porta pequenaas outras vertentes da vida.

Venceu a ditadura do Direito, perde-ram os valores humanos da Justiça, quetambém fazem parte da norma jurídica eque, neste caso, até eram facilmente con-ciliáveis. A saber, os superiores interes-ses da criança e o amor que lhe é devido.É preciso banir da cultura judiciária unscertos tiques de autoritarismo, que porfalta de formação ou por juventude amais a transformam numa presa fácil.

“HABEAS CORPUS”A providência de ‘habeas corpus’

prevista na lei criminal visa atacar umasituação de prisão ilegal. Ocorre quandoalguém é preso por entidade incompe-tente; quando os factos imputados nãojustificam a prisão; ou quando se en-contra excedido o prazo de prisão pre-ventiva. No caso do sargento LuísGomes não se verifica nenhuma destassituações. O pedido é errado e injustifi-cado e pretende criar ilusões e falsasexpectativas nas pessoas, o que não éaceitável por ter sido subscrito por figu-ras ilustres do nosso burgo que deviamconhecer a lei.

Saber se a decisão está errada e seestamos na presença de um crime desequestro só é possível por via de recur-so ordinário para o Tribunal da Relação.As dez mil assinaturas só servem paratentar deslegitimar o poder judicial enunca para resolver a prisão ordenada.Como afirma Tom Wolfe, “o que nestafogueira se consome em lume de umaprofunda e ácida ironia é a ignorância ea arrogância...”

u Rui Rangel28/01/07

PROJECTO CRAVINHOENCRAVADO?

O deputado João Cravinho tem sidonestes últimos tempos o rosto visível daaspiração dos cidadãos que vêem nocombate à corrupção uma decididaforma de tentar extirpar uma das malei-tas mais sanguessugas nos estadosdemocráticos.

O recente anúncio da ida de João Cra-vinho para o BERD (Banco Europeupara a Reconstrução e Desenvolvimento)lançou uma suspeição sobre se tal convi-te não seria uma outra elegante e clássi-ca forma de seduzir o deputado, retiran-do-o da trincheira em que se vinha iso-lando na luta contra a corrupção.

Evidentemente que quem conhece afirme integridade do cidadão João Cra-vinho não admite que ele tenha sucumbi-do a estes habituais mecanismos de pro-moções-afastamento. Mas as recentesdeclarações de João Cravinho à Im-prensa e à Televisão, e em especial aque-las proferidas na entrevista “Falar claro”,à Rádio Renascença, e bem assim a ida aBelém para falar, em privado, com o pre-sidente da República, não deixam detransparecer um certo desânimo do guer-reiro. É verdade que João Cravinho pro-meteu não abandonar o Parlamento sementregar o dossier nas mãos de quem lhepoderia dar sequência.

Alguns comentários que tenho ouvi-do de outras partes alegam que os pro-jectos contidos no dossier comportamalguns pormenores de difícil resoluçãoquanto ao enquadramento legal actualou até previsto. O Estado de direito temdestas coisas. Atrapalha-se nas redes dalegislação vigente para ressalvar certassituações. E por isso não são de estra-nhar as próprias palavras de JoãoCravinho na referida entrevista à Re-nascença “Sempre que se levanta o pro-blema de ir ao coração da luta contra acorrupção, é curioso que existam asmaiores dificuldades, sempre”. Comcerteza que a sua visita a Cavaco Silvatem alto significado, pois não se esque-ça que o combate à corrupção foi umdos primeiros temas tratados pelo presi-dente, mal chegou a Belém. (…)

u Paquete de OliveiraJN 28/01/07

O POLVO(…) A corrupção na política, definida

como o uso de cargos públicos parabenefícios privados, tem-se tornado umtema central nas democracias hoje, sejapela liberdade de imprensa e pela medi-atização de casos, seja pela exigênciados cidadãos em relação à política, ousimplesmente porque a questão da qua-lidade da democracia se coloca deforma cada vez maior.

A importância do estudo da corrupçãonos sistemas políticos só é igualada peladificuldade de medição do fenómeno.Apesar disso, existem várias instituiçõesinternacionais e rankings que se têmdado a este importante trabalho. Osrankings de níveis de corrupção sãoconstruídos de várias maneiras, mas

quase todos se baseiam nas percepçõesde grupos sociais distintos.

Um estudo recente [Daniel Treisman,The Causes of Corruption, Journal ofPublic Economics, vol. 76(2000), pp.399-457] mostra que os índices elabora-dos pela Transparency International(TI), pelo Business Institute e pelo gru-po de sondagens Gallup estão altamen-te correlacionados, dando alguma ga-rantia da robustez desses mesmos indi-cadores. Segundo a TI, no ano de 2006,Portugal é o 26.º país menos corruptodo planeta, o que nos coloca num grupointermédio em termos de níveis de cor-rupção. De 1998 para cá, não tem havi-do nem um aumento nem uma diminui-ção da corrupção significativos.

u Marina Costa LoboDN 27/01/07

DEBATE URGENTEA vinda de Al Gore – hoje uma reco-

nhecida autoridade mundial em matériade ambiente – a Portugal traz de novopara o centro da agenda da governaçãoum debate urgente o dos efeitos dasalterações climáticas para o Planeta emgeral, e para o nosso país em particular.Num país pouco habituado a reagir aum tema desta importância, não deveser deixado passar em claro, até porque– e segundo alguns estudos mais recen-tes – Portugal deverá ser um dos paísesmediterrânicos mais afectados peloaquecimento global. Além disso, e pas-sada a euforia do antiambientalismo doPartido Republicano, a agenda verde doPartido Democrata norte-americanocomeça agora a surgir como incontorná-vel nas próximas eleições.

Segundo o recente Relatório Stern(um estudo encomendado pelo Governobritânico ao ex-responsável do BancoMundial Nicholas Stern), é precisamen-te no Mediterrâneo que se vai assistir aum aumento do “stress hídrico”, comondas de calor e fogos florestais, sendoque - de acordo com este especialista –Portugal, Espanha e Itália serão os paí-

ses mais afectados. E isto pode levar,segundo o estudo, a “uma mudança paranorte no que respeita ao turismo deVerão, agricultura e ecossistemas”. (…)

u Paulo Pereira de AlmeidaJN 24/01/07

IDEIAS ILUMINANTESUm dos pontos fundamentais dos

debates no Fórum Económico Mundialdeste ano, em Davos, versou sobre asalterações climáticas e suas implicaçõesno domínio da política energética.

Segundo a Comissão Europeia, aperspectiva de uma limitação do aque-cimento global na ordem dos dois grausCelsius à escala global exigiria uma re-dução unilateral das emissões de gases,na União Europeia, na ordem dos 20%em 2020, 30% em 2030 e 60% a 80%em 2050, tomando como base os níveisde emissões de 1990.

Estas metas são consideradas dema-siado ambiciosas por alguns comenta-dores (sobretudo se as compararmoscom as condições efectivas de reduçãodas emissões de CO fixadas em Quiotoe incumpridas pela União Europeia...)e, por outros, são tidas ainda como insu-ficientes. A que acresce, em qualquerdos casos, que uma decisão unilateraldos europeus não pode deixar de seracompanhada por esforços no mesmosentido, quer de outros países desenvol-vidos (a começar pelos Estados Unidosda América) quer dos países em desen-volvimento. Neste particular, o discursosobre o “estado da União” do Presi-dente George W. Bush parece entreabriruma porta de diálogo sobre o tema, indoao encontro de uma das preocupaçõesmanifestadas pela nova maioria demo-crata no Congresso norte-americano.Do mesmo modo, os sinais que chegamda Índia e da China apontam para umamaior abertura destes países a uma dis-cussão global sobre a redução das emis-sões de gases com efeito de estufa. (…)

u António VitorinoDN 02/02/07

“Segundo a Comissão Europeia, a perspectiva de uma limitação do aquecimentoglobal na ordem dos dois graus Celsius à escala global exigiria uma redução unila-teral das emissões de gases”

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DE 7 A 20 DE FEVEREIRO DE 200788 RREEFFEERREENNDDOO // OOPPIINNIIÃÃOO

É um facto que um espermatozóidesozinho não pode aspirar a ser um serhumano; um ovócito sozinho tambémnão. Mas o zigoto que, em consequênciado encontro livre entre dois seres huma-nos, resulta da fusão daquele gâmetamasculino, entre milhões que iniciarama viagem, com o ovócito libertado,naquele ciclo menstrual concreto, seráúnico. No seu genoma, que há 30 anosnão se conhecia mas que hoje se conhe-ce, está toda a informação necessáriapara ser uma vida humana. Desde que éapenas uma célula até ao momento emque será biliões delas há uma linha decontinuidade, que hoje se ouve, vê esente, desde o início, nas ecografias.

Quem tem direito ao futuro? Na lín-gua portuguesa só existem três particí-pios futuros, e todos eles se ligam à espe-rança de continuidade da vida humana:“futuro” – o que vai ser; “nascituro” –aquele que vai nascer; “concepturo” –aquele que vai ser concebido. É nessesentido que, por exemplo, as técnicas dereprodução medicamente assistida ser-vem para que homens e mulheres quesofrem, muitas vezes durante muitosanos, por não terem os filhos que deseja-ram ter, venham a ser pais e mães.

Porquê então 10 semanas para certifi-car que alguém tem direito a nascercomo criança, como se pergunta agorano referendo, se é a própria lei (ainda

que sem financiamento público…) quefaz pensar nos “filhos impossíveis”?Sabemos que por volta do 20.º dia umcoração já bate… Na verdade, o cora-ção já bate, e intensamente, tal como nomomento em que um homem e umamulher se aproximam a tal ponto depoderem ser pais, o que não pode nuncadeixar de ser tido em conta.

Não é justo que haja filhos de primei-ra e de segunda, ou, como antigamentese dizia, filhos legítimos e ilegítimos.

Tal como não é eticamente aceitável, e oDireito não o consente, que um homemcasado, eventualmente praticando “sexoseguro”, contamine a sua mulher comSIDA e, depois, venha requerer o divór-cio com fundamento na doença da mul-her, também não é eticamente aceitávelque se desproteja inteiramente a vidahumana até ás 10 semanas de gestação,sob o pretexto de que há imprevistos navida ou homens irresponsáveis.

Os seres humanos não são assexuados.De facto, todas as crianças têm um pai euma mãe. Como excluir então o pai dadecisão de abortar? É um ponto de vistacontrário ao entendimento hoje unânime nasociedade de que a mãe e o pai devemrepartir as responsabilidades do sustento eda educação dos filhos, mesmo que nãovivam juntos. Não faz pois sentido que opai seja excluído da decisão grave de abor-

tar e, ao mesmo tempo, seja responsabiliza-do pelos alimentos e pelo acompanhamen-to devidos ao filho nascido. Se o pai não seimporta, há que obrigá-lo. A não ser que seaceite que a lei deve mudar de acordo como comportamento de cada pai, independen-temente de ser responsável ou não.

O Estado serve para garantir a liber-dade humana, de modo a que os maisfracos não sejam espezinhados pelosmais fortes.

Como compreender então que à mul-

her seja dado o direito de invocar sozi-nha, com o apoio do Estado, a sua liber-dade contra alguém? Só uma sociedadeautoritária e, ao mesmo tempo, débilpode conceber tal hipótese.

As mulheres devem ter os filhos quedesejam ter, sem medo, por exemplo, deperderem o emprego. Hoje discute-se seos patrões podem exigir às mulheres queprocuram emprego a realização de testesde gravidez. Alguém acredita que se o“sim” ganhar os patrões de poucos escrú-pulos não vão atirar esse direito à cara dasmulheres? Se o “sim” ganhar, as mulherespassam a ter um “direito”, garantido peloEstado, contra elas próprias.

O “sim” é insensato, porque, ao con-trário do que eu e outros defendemos,não despenaliza efectivamente asmulheres que praticam abortos. Todasaquelas que os pratiquem a partir das 10

semanas ou fora de um estabelecimentolegal de saúde continuarão a ser consi-deradas julgadas e, eventualmente, con-denadas.

O “sim” não despenaliza as mulheres;pelo contrário, descriminaliza, legaliza eliberaliza as actividades abortivas.

Se o “sim” ganhar, continuará a serconsiderado um crime, e a meu ver bem,porque se trata de um mal, a destruiçãode ovos de perdiz ou de luras de coelho,mas deixará de ser crime destruir a vidahumana na sua fase inicial, consideran-do-se que esta não vale a pena.

Se o “sim” ganhar, o aborto deixa deser considerado socialmente um mal,porque passa a ser um direito. É isto alegalização. E isto faz-se afastando aética da vida pública, incentivando com-portamentos individualistas e diluindoas possibilidades de uma cultura de res-ponsabilidade, solidariedade e amor.

Se o “sim” ganhar, as clínicas espa-nholas que fazem abortos em grandeescala virão estabelecer-se em Portugal,porque, ávidas de lucros, sabem que onúmero de abortos aumentará.

Na última década, em Portugal, asassociações defensoras do “não”, commuito poucos recursos, apoiaram milha-res de mulheres grávidas em dificulda-des, incluindo muitas que abortaram, eajudaram a salvar muitas vidas. Não hámulheres arrependidas, e há muitas cri-anças felizes.

Se, no próximo domingo, o “sim”ganhar, todos sabemos o que acontece-rá: mais aborto e menos solidariedade.Será que é esse o futuro que queremos?

* Membro do Fórum Ciência e Futuro e do GrupoCívico “Aborto a pedido? Não!”

SOBRE O PRÓXIMO REFERENDO

Pelo SIM

A televisão transmitiu a imagem decrentes que, dizendo-se a favor da vida,rezaram numa praça pública em apoio àcampanha do NÃO. Havendo que res-peitar as crenças e convicções profun-das de cada um, há que dizer que estasorações não isentam os que nelas parti-cipam da responsabilidade do que sepassa no país. Em Portugal, 18 mil mu-lheres fizeram uma interrupção voluntá-ria da gravidez o ano passado, algumasem condições deploráveis (50% tinham

menos de 24 anos, 40% consideraram adecisão muitíssimo difícil e 35% difícil,a maioria dos motivos que levou aoaborto são de carácter social; são indi-cações de um inquérito recentementedivulgado pela APF - Associação para oPlaneamento da Família). Depois doúltimo referendo, não foi praticamentenada feito para alterar este estado decoisas.

A responsabilidade é de toda a socie-dade. O que está em causa, neste próxi-mo referendo, é se vamos manter a leiactual, ou se a Assembleia da Repúblicavai fazer uma outra.

Podem os apoiantes do NÃO garan-tir, ou pelo menos transmitir ao Paísalguma esperança de que a situação serádiferente a partir de agora, se a lei con-tinuar a mesma?

Se o SIM vencer, a Assembleia daRepública terá de elabora uma nova lei.

Considero que esta lei deve ter as se-guintes três componentes.

Reforço da educação sexual para dimi-nuir os casos de gravidez indesejada.

Apoio dado às mulheres em situaçõesdifíceis, sobretudo às mais jovens, parapoderem não abortar, no caso de não odesejarem fazer.

Criação de condições para que asmulheres que queiram abortar no perío-do indicado no referendo o possamfazer em condições de segurança e res-peito.

Considero que os partidos que apoi-am o SIM e têm maioria na Assembleiadevem utilizar o período da campanhapara informar os eleitores das caracte-rísticas da lei que se dispõem a aprovarna Assembleia, no caso do SIM ganhar.

Permito-me, como cidadão, transcre-ver de um artigo que publiquei num jor-nal regional, em 2004:

“OPINIÃO SOBRE UMAFUTURA LEI DO ABORTO

Penso que uma nova lei sobre o abor-to em Portugal deve ter as seguintesduas características:

1- Penalizar criminalmente e forte-mente todos os que, homens ou mulhe-res, forcem ou induzam de um qualquermodo uma mulher a abortar.

2- Permitir às mulheres com uma gravi-dez de duração fixada pela lei, abortarem eminstalações hospitalares adequadas, desdeque previamente tenham sido informadas detodos os apoios que lhe podem ser dados nocaso de não abortarem, por entidades paraisso constituídas, muito facilmente contactá-veis, que devem guardar segredo absoluto detodos os contactos quando tal for desejado, ecuja função, para além de informar, é a dedar às mulheres todo o apoio possível, inclu-indo na fase hospitalar e depois, no caso deelas entenderem abortar. “

António BrotasProfessor Catedráticojubilado do InstitutoSuperior Técnico

João CaetanoJurista e ProfessorUniversitário *

Eu digo “não”!

O “sim” é insensato, porque, ao contrário do que eu e outros defendemos,não despenaliza efectivamente as mulheres que praticam abortos. Todasaquelas que os pratiquem a partir das 10 semanas ou fora de um estabeleci-mento legal de saúde continuarão a ser consideradas julgadas e, eventual-mente, condenadas. O “sim” não despenaliza as mulheres; pelo contrário,descriminaliza, legaliza e liberaliza as actividades abortivas.

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DE 7 A 20 DE FEVEREIRO DE 2007 RREEFFEERREENNDDOO // OOPPIINNIIÃÃOO 99

Aborto: Sim ou Não?

No dealbar do século XXI, em que aesmagadora maioria das mulheres portu-guesas tem acesso gratuito a consultas deplaneamento familiar, bem como aos maisvariados meios contraceptivos e à pílula dodia seguinte (que continua a ser vendida semreceita médica), e enquanto o Estado portu-guês persiste em ignorar o alarmante decrés-cimo da taxa de natalidade, fará de factosentido liberalizar o aborto?

1. Será que os portugueses queremmesmo que o aborto seja liberalizado «poropção da mulher» até às 10 semanas, i.e.,que qualquer mulher saudável possa abortarum bebé saudável apenas “porque sim”?

2. Será que os portugueses estão consci-entes de que a liberalização do aborto por«opção da mulher» significa que o pai dobebé não é necessariamente tido nem acha-do nessa decisão, pelo que poderá vir a rejei-tar uma assumpção plena da paternidade,alegando que a mulher levou por diante agravidez apenas por sua livre vontade?

3. Será que os portugueses sabem que,por exemplo, dar uma bofetada é crime, queinsultar alguém é crime ou que fotocopiarintegralmente um livro é igualmente umcrime com pena de prisão até 3 anos? Comoé que aniquilar vida humana intra-uterina,apenas «por opção da mulher», pode deixarde ser crime?

4. Será que os portugueses acreditammais na justiça quando lhes fazem crer queuma mulher que faz aborto até às 10 sema-nas não comete qualquer crime e que aque-la que o pratica às 10 semanas e 1 dia ou às11 semanas já deve ser julgada? Será que osportugueses não se interrogam sobre asrazões (mais políticas do que pragmáticas)que levaram este governo a não aceitar dis-cutir na Assembleia da República várias ini-ciativas legislativas que apelavam para a uti-lização da figura penal da «suspensão provi-sória do processo», tendente a conciliar acensura do aborto, enquanto atentado à vidahumana, com uma atitude solidária paracom as mulheres que são levadas a essa prá-tica? Este instrumento processual penal,sem prescindir de uma função sancionató-ria, pedagógica ou de advertência, permitiriamanter na lei o respeito pelo valor da vidahumana, evitando o julgamento dessasmulheres e as desbragadas manifestaçõespró-aborto que teimam em acompanhá-lo, esobretudo contribuiria para enfrentar, commedidas de apoio psico-social, as causas

que levam à prática do aborto (cf.http://www.protegersemjulgar.com, em 26-11-06).

5. Mas será que os portugueses sabemque não há, nem nunca houve, qualquermulher presa por crime de aborto emPortugal? Será que sabem que as mulheresque foram recentemente julgadas estavamgrávidas de muitos meses, pelo que teriamsempre que responder em tribunal, não sóem Portugal, mas em qualquer outro país daEuropa? Estão cientes de que o aborto clan-destino nunca deixará de existir, pois serásempre procurado pelas mulheres que que-rem abortar para além das 10 semanas degestação?

6. Será que os portugueses estão consci-entes de que irão pagar com os seus impos-tos os abortos praticados com base na mera«opção da mulher»? Será que os portugues-es aceitam que o Serviço Nacional de Saúdepossa vir a pagar a clínicas privadas (asespanholas estão preparadas para abrir emLisboa com o aval do Ministério da Saúde)entre 829 e 1074 Euros por aborto (cf.Portaria 567, de 12-06-2006)? Será que osportugueses estão dispostos a aceitar que omesmo Ministério que contratualiza abortoscom clínicas espanholas feche maternidadespor todo o país e obrigue mães portuguesasa deslocarem-se a Espanha para dar à luz?

7. Será que os portugueses estão dispos-tos a pagar um acto contra-natura, como é o

aborto a pedido, quando têm de esperar lar-gos meses, e até anos, por actos médicoscurativos, como intervenções cirúrgicas damais variada índole, tão ansiadas por tantagente abandonada a um sofrimento quetolhe toda a qualidade de vida?

8. Será que os portugueses considerammesmo que não há mulheres capazes deabortar por razões levianas? Será que osportugueses acreditam mesmo que as leissão feitas, partindo do princípio de que todasas pessoas são «bem intecionadas e inteli-gentes»? Todos temos bem presentes recen-tes notícias de mulheres que afirmam terfeito vários abortos como meio anti-concep-cional, bem como de mães que são coniven-tes com abusos sexuais dos próprios fil-hos…

9. Será correcto legalizar um acto quetoda a gente em consciência reprova, inclu-indo aqueles que defendem a sua liberaliza-ção? Será que os portugueses estão consci-entes de que se o aborto for despenalizadoestão tacitamente a aceitar a banalizaçãodessa prática? Será que os portugueses estãodispostos a deixar que os seus filhos pensemque fazer aborto até às 10 semanas «tantofaz»? Terão, de facto, consciência de que alei ficaria privada das suas primordias fun-ções dissuasora e preventiva na promoçãode uma cultura de vida, uma matéria em quesobrelevam especialmente os verdadeirosvalores intemporais da Humanidade?

Ana MariaPinhãoRamalheiraProfessora Universitária

“A favor do aborto”?!...João LouceiroDirigente do SPRC

Acusar quem vai votar SIM no refer-endo de estar “a favor do aborto” é umequívoco nada inocente. Com ele háquem ainda procure convencer os inde-cisos a votar no “não”, dando a ideia deque este é que seria o voto “a favor davida”…

O voto de todos os respondem SIMestá longe de ser um apelo a que qual-quer mulher recorra ao aborto. VotarSIM não é dizer que é “bom” abortar.Nem que é irrelevante. Nem sequer serápor se deixar de considerar e tratar asmulheres como criminosas que, a partirdaí, iríamos ter uma corrida alegre,leviana, sistemática, ao aborto!

Não me congratularia se alguma veza minha filha tomasse a penosa decisãode interromper uma gravidez. Nãosomos “adeptos” do aborto. Mas nãoquero, nem para ela nem para qualqueroutra mulher deste país que, nessa difí-cil situação, ainda fosse apontada comocriminosa. Não quereria ver a sua vida,a sua intimidade, devassada por umainvestigação em nome da lei. Não meconformo com a ideia de que, em talsituação, como outras mulheres do meupaís, pudesse ser julgada em tribunal e

até presa, de acordo com a retrógradalei que ainda temos. O voto no SIM épor tudo isto; não por ser “a favor doaborto”!

Como eu, os que vão votar SIM nãoaceitam que o aborto clandestino con-tinue a ser a única saída para tantas mul-heres. A vitória do “não” no referendoserviria para manter tudo erradamentena mesma. Na mesma, os negócios doaborto clandestino. Na mesma, os dra-mas e complicações, em particular dequem não tem recursos para recorrer aclínicas fora do país.

Repugna a ideia de latentes pecado-ras que alguns fazem das mulheres.Nauseia, o pensamento dos que asquerem menos ponderadas nasdecisões, menos responsáveis, afinal.Não é de ânimo leve que se decide pelainterrupção de uma gravidez. Os(as)leitores(as) sabem isso! É uma decisãodolorosa que só surge por razões muito,muito fortes. Ao contrário do que pre-tendem os defensores do “não”, a possi-bilidade das mulheres que recorram àIVG deixarem de ser consideradascriminosas nunca fará com que passema abortar a torto e a direito. As mulheresmerecem respeito.

Seria bom que não houvesse motivospara interromper gravidezes. Grandeparte deles radicam em problemas de

ordem económica e social. Se forematacados, muitos abortos não serãofeitos. A melhoria das condições eco-nómicas da generalidade da população,uma justa distribuição de riqueza, aredução do desempregoque atinge tantos jovens,terá efeitos poderosos nacapacidade de cada umorganizar o seu futuro, in-cluindo o projecto funda-mental de ter filhos. Tam-bém o direito ao trabalho eà estabilidade de emprego,o trabalho com direitos quecontribua para que, ao con-trário da hipocrisia vi-gente, as famílias tenhamtempo e condições de vida.

Veremos se tantos dosque hoje conduzem umacampanha agressiva, porvezes histérica, contra adespenalização da IVG,vão passar para o lado daprocura efectiva de umasociedade mais justa, ondeas condições de vida deix-em de limitar ou impedir apossibilidade de ter filhos.Ou se, pelo contrário, sólhes interessa que as mul-heres que se vêem na con-

tingência de recorrer ao aborto possamser perseguidas e consideradas crimi-nosas.

Dia 11 é preciso votar. Votar SIM,para andarmos em frente!

Limpamos, removemos e desinfectamos todos os lo-cais como por exemplo caves, sótãos, casas, aparta-mentos e também jardins, espaços de propriedadesrústicas, entulhos, etc..

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Page 10: O Centro - n.º 20 – 07.02.2007

DE 7 A 20 DE FEVEREIRO DE 20071100 CCUULLTTUURRAA

Como categoria ou expressão, a palavrainstalação entrou definitivamente na lin-guagem da arte contemporânea. Na formaverbal, instalar, pressupõe um acto ou efei-to. O dicionário define-nos instalar comocolocar, algo ou alguém, em algum lugar e,em sentido figurado, espalhar por comple-to e persistir por algum tempo. De imedia-to é possível discernir a relação existentecom a arquitectura, enquanto abrigo, umadependência umbilical com o espaço que aabraça e define.

Se inicialmente a noção de instalaçãoreferia-se, exclusivamente, à disposiçãodas obras no espaço expositivo, rapida-mente se extravasou esta ideia, passando aaludir à obra única ou, mais correctamente,à forma como o objecto de arte se nos apre-senta, quer material e formal quer espacial-mente, na sua acepção de algo mais queuma mera coisa colocada num determina-do espaço e contexto. Neste sentido, a rela-ção que a obra estabelece com o seu espa-ço de acolhimento tornou-se central naprodução contemporânea e na concepçãodo objecto artístico. Estabelecer-se numlocal (pré-definido ou não) e ocupar umespaço levanta questões de recepção, mastambém ecoa mecanismos de originação.

Deste pensar artístico (e não só) assisti-mos ao abandono da ideia romântica doestúdio e à fuga do artista para outros luga-res de criação que podem ser coincidentescom os locais de contemplação e interac-ção com o público. Uma vez mais deve-mos retomar as vanguardas históricas,onde encontramos alguns projectos quequebraram a dicotomia entre espaço deprodução e de exposição. Na Europa de

inícios do século XX, muitos foram osartistas que concebiam as suas obras inte-grando o espaço como um novo elementoque devia ser interpretado, assimilado etornado perceptível aos sentidos do espec-tador. Das experiências cubistas, no âmbi-to da perspectiva e da fragmentação dosobjectos, à recusa do entendimento doespaço como mero contentor defendidapelos artistas da Bauhaus, diversos progra-mas ensaiaram novas compreensões dosmateriais e das próprias obras de arte. Estavinculação do objecto ao espaço foi inves-tigada pelos mais importantes artistas emovimentos das primeiras vanguardas,como Malevich, El Lissitzky e KurtSchwitters, pelos dadaístas e surrealistasnas décadas de 20 e 30, pelos neoplasticis-tas como Mondrian e Van Doesburg, atéque, em 1952, o francês Yves Klein apre-sentou a exposição Le Vide – apenas umasala vazia. Yves Klein confirmava, assim, oque Marcel Duchamp com o seu urinolassinado e invertido de 1917 tinha declara-do, isto é, o contexto cria o sentido.

Contudo, foram os artistas dos anos 60 eas suas obras de condição híbrida quenegaram as categorias estanques estabele-cidas pela crítica modernista (em concretopor Clement Greenberg, Harold Rosenberge Michael Fried). Os seus trabalhos cruza-vam transversalmente vários discursos edistintas disciplinas que se viam, então,impuras e contaminadas. Esta condiçãopós-medium salientada pela ensaísta ame-ricana Rosalind Krauss, na qual a instala-ção se mostrava como uma face bizarra daarte contemporânea, levantou problemáti-cas museológicas de catalogação. Comefeito, muitas obras não encaixavam noscânones estabelecidos pela história da artee nas taxonomias dogmáticas dos museus.A catalogação deu-se assim pela negação:o que não era escultura-escultura, pintura-pintura, entrava nesse limbo permissivo einter-genérico da instalação.

A nova gramática artística reveladapela instalação e outros media - comovídeo, performance e “escultura expandi-

da” – colocou a descoberto a condiçãocontemporânea fragmentada e globaliza-da, intoxicada e contaminada que semanifesta, também, na manipulação dotempo e na exaltação do imediato e dofugaz – com o qual a história da arteenquanto disciplina teve tanta dificuldadeem se relacionar. Paradoxalmente, ao ins-talar sucede-se o desinstalar e não hánada menos solene que “desmantelar” oobjecto artístico, privá-lo do elemento

espaço (e do espectador), colocá-lo numacaixa, etiquetá-lo e guardá-lo num arma-zém institucional, onde passa a integrar oarquivo visual (ou espaço abstracto) doslivros e da memória. Apesar de tudo,estes objectos-espaços, ambientes, palcos(ou como queiramos designá-los) retra-tam a nossa relação fugidia com o tempo.No limite, é o protagonismo do espaço,que permanece, abstracto e indissociávelna vida (pós)moderna.

Tânia Saraiva

INSTALAR PARA DESINSTALAR

Afinal o que é uma instalação?

Pedro Cabrita Reis, Fundação, Julho 2006 – Abril 2007. Instalação in progress noCentro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian

ARTISTA PREPARA CATÁLOGO DA SUA OBRA PLÁSTICA

Zé Penicheiro pede contactoaos que possuem trabalhos seus

O pintor Zé Penicheiro está a preparar a edição do CATÁLOGO da suaobra plástica, que pretende seja representativo da actividade que tem vindo adesenvolver ao longo de décadas, com trabalhos espalhados por todo o Paíse pelo estrangeiro.

Assim, Zé Penicheiro pede a quantos tenham, nas respectivas colecçõesparticulares, obras de sua autoria – pinturas, desenhos, “cartoons” –, o favorde contactarem para o telemóvel n.º: 919 690 069.

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Page 11: O Centro - n.º 20 – 07.02.2007

A Baixa de Coimbra tem sido, aolongo dos tempos, um dos espaços maisemblemáticos da cidade.

Desde a famosa Rua da Sofia (ou daSabedoria, porque albergou o primeiroconjunto de colégios universitários eque foi considerada, na altura em que aabriram, uma das mais largas daEuropa), até ao Largo da Portagem, pas-sando pela Praça 8 de Maio. E depois olabirinto de ruelas estreitas (a quealguns chamam “Baixinha”), muitas dasquais ainda hoje conservam as designa-ções originais (como a Rua das Padeirasou a dos Oleiros) e outras que, apesar deterem recebido nova designação, conti-nuam a ser conhecidas pelo seu topóni-mo tradicional, que designava os ofíci-os que nelas se praticavam ou o tipo decomércio que ali se desenvolvia ouainda desenvolve (caso da Rua dosSapateiros ou da Rua dos Bazares).

Em termos de património histórico earquitectónico, a Baixa é também umadas zonas mais relevantes da cidade, avul-tando a Igreja de Santa Cruz, não apenaspor ser um dos mais antigos monumentos,mas também por nela estarem sepultadosos primeiros Reis de Portugal (D. AfonsoHenriques, Fundador da Nacionalidade, eD. Sancho I).

É ainda na Baixa que ficam os Paçosdo Conselho (ou Câmara Municipal),diversos serviços públicos, muitas em-presas privadas (entre as quais avultamos bancos) e alguns dos mais reputadoshotéis, restaurantes e cafés de Coimbra,clínicas e consultórios médicos, tribu-nais e escritórios de advogados – e tan-tas outras áreas de serviços e de comér-cio que seria exaustivo aqui referir.

O MAIOR CENTROCOMERCIAL DE COIMBRACOM MAIS DE MEIO MILHARDE ESTABELECIMENTOS

Por tudo isto, não surpreende que aBaixa, apesar do exponencial cresci-mento da cidade para outras zonas, con-tinue a ser, durante o dia, uma das zonasmais frequentadas de Coimbra, poronde passam muitas dezenas de milharde pessoas.

E mesmo apesar da concorrência daschamadas “grandes superfícies” ou“centros comerciais” que há uns anoscomeçaram a surgir, de cada vez maio-res e de cada vez com maior oferta, averdade é que a Baixa de Coimbra con-tinua a ser, inquestionavelmente, o maior

centro comercial da cidade, com maisde meio milhar de estabelecimentos detodos os sectores, portanto onde a diver-sidade de oferta se mantém mais ampla– para já não falar no tratamento perso-nalizado que leva a que muitas lojastenham clientes fiéis, que vão passandode geração em geração.

CULTURA MANTÉM-SEPRESENTE

É certo que desapareceram alguns dosemblemáticos cafés, palco de célebrestertúlias que reuniam figuras prestigia-das (como a Brasileira e o Arcádia)..

Mas outros resistem – como, por exem-plo, o Café Santa Cruz, cuja história ecuja traça espantam os que nele entrampela primeira vez, e que tem vindo a ser,desde há anos, palco de variadas mani-festações culturais.

Aliás, em termos de cultura a Baixapossui outra jóia, que é o Edifício Chia-do, com galerias de exposições tempo-rárias e uma permanente, ocupada pelamagnífica colecção de arte reunida aolongo de décadas pelo médico Telo deMorais, que a doou a Coimbra, numinvulgar gesto de cidadania.

E dispõe ainda de reputadas livrarias,casas de discos, de venda de instrumentosmusicais e outras ligadas às letras e às artes.

O património histórico e arquitectó-nico é igualmente muito significativo,destacando-se as diversas igrejas e obelo Palácio da Justiça.

Mas também há a degradação demuitos edifícios (um dos quais ruiu hápouco tempo, levantando receios denovos desmoronamentos)

E, recentemente, as demolições leva-das a cabo pela Metro Mondego, noâmbito do projecto do “eléctrico rápi-do”, que por alguns foram consideradasexcessivas e pouco cuidadas.

COMBATERA DESERTIFICAÇÃO

Se tudo quanto atrás se refere corres-ponde à realidade, não deverá omitir-seque a Baixa de Coimbra enfrenta tam-bém problemas muito complicados, omaior dos quais será a desertificaçãoem termos habitacionais.

De facto, ao longo dos anos esta zonada cidade tem sofrido esse fenómenoque é comum na maioria dos centrosurbanos, e que levam a que, após a horado encerramento das lojas, a sua vida sereduza drasticamente, sendo animada

quase em exclusivo pelo movimentodos restaurantes.

A desertificação leva ainda a quemuitos dos moradores e dos empresá-rios estabelecidos na Baixa se queixemde um sentimento de insegurança e defalta de policiamento.

Uma situação que, segundo algunsresponsáveis, é apenas aparente, pois aBaixa, em termos estatísticos, temmenor número de ocorrências anómalasdo que outras zonas da cidade.

A verdade é que há zonas problemá-ticas, como é o caso do Terreiro daErva, onde ainda há dias se verificou

uma agressão que perturba a tranquili-dade dos que ali vivem e trabalham. Orao Terreiro da Erva tem condições parase tornar numa bela praça – como, aliás,está previsto no plano de recuperaçãoda Baixa.

A Baixa de Coimbra pode ter um futu-ro risonho, desde que todos apoiem e cola-borem no trabalho das diversas entidadesempenhadas no combate à desertificaçãohabitacional e à recuperação do patrimó-nio construído, para fixar moradores.

Tudo para que a Baixa de Coimbraveja mudar a maré e volte a ficar emalta!

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Page 12: O Centro - n.º 20 – 07.02.2007

1122 BBAAIIXXAA DDEE CCOOIIMMBBRRAA DE 7 A 20 DE FEVEREIRO DE 2007

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A Baixa de Coimbra tem futuro

O momento que a Baixa de Coimbraatravessa é um momento grave.

Grave no sentido de relevante, marcante,importante.

As alterações que se projectam fisica-mente, a SRU, o Metro Mondego, a recupe-ração urbanística, a destruição de algum edi-ficado não deixará a Baixa como hoje aconhecemos.

A questão é saber se a deixará melhor oupior.

A resposta, no meu entender, é que aBaixa só pode melhorar.

É que a Baixa tem futuro.Obviamente não podemos ignorar as

questões, os problemas, as dificuldades porque passa o Comércio Independente.

Mas será só o comércio Independente,será só o comércio de Coimbra, será só aBaixa?

Todos sabemos que não. Vivemos umaépoca de alteração substancial do paradigmacomercial e vivemos, em particular em Por-tugal, um momento de desconstrução cujosresultados difíceis e dramáticos só serão

visíveis daqui a algum tempo, mas sempre acurto prazo. A mais que duplicação da ofer-ta comercial, uma lei do licenciamento iní-qua, uma lei do arrendamento que matou otrespasse fará certamente encerrar muitosestabelecimentos e arrastará muitos comer-ciantes para uma difícil situação social. Umabrandamento do momento económico,uma diminuição do poder de compra dosportugueses diminuirá o consumo e penali-zará de sobremaneira o comércio. Uma alte-ração, recentíssima á lei dos saldos e umaproliferação de “outlets” e outras práticascomerciais incompreensíveis arrastará paraum ambiente selvático o comércio.

Este é o lado negativo.Agora não nos podemos esquecer que as

Cidades recuperaram o entendimento quesó são o que são devido ao comércio, ao seucentro, ao seu espaço mais nobre e maisrelevante.

As Cidades compreenderam finalmenteque não podem tirar as pessoas do Centro,das Baixas, no caso da Baixa de Coimbra.

Que estes espaços não podem ser exclu-sivamente espaços de serviços, caros, agra-dáveis durante o dia e mortos e sombriosdurante a noite e o fim-de-semana.

As Cidades recuperam esse olhar para oseu Centro, para o seu umbigo no sentido deser a origem da Cidade mas sempre (aquiinvertendo a expressão) convicta que é aqui,a este Centro, a esta Baixa que o visitante,

que o vizinho ou o turista vem, virá passear,fazer compras, ver monumentos, relaxar,procurar animação.

A Baixa como uma sala de visitas, comoum ponto incontornável de passagem porquem visita, está, vive a cidade.

E é fundamentalmente por isso que achoque a Baixa tem futuro.

Se pudermos contar com o apoio dasentidades públicas (e temos o Urbcom, aUAC, a intervenção da SRU), se se conse-guir essa revitalização da Baixa, se houveruma dinamização da animação, da restaura-ção, a Baixa retomará facilmente esse rótu-lo de importante local de convívio, de passa-gem, de negócios, de vida.

É certo que a Baixa continua a ser o espa-ço comercial que mais diversidade apresen-ta, que mantém níveis de segurança acima

da média, que mais emprego sustentadomantém.

Isto, estes dados acerca do emprego, são,eles próprios, importantes para a relevânciasocial do Comércio Independente.

Como é determinante a proximidade e aqualidade do serviço que o ComércioIndependente propicia aos seus clientes.

É, neste equilíbrio entre a situação actualdifícil da economia e a consciência das vali-as de uma zona única comercial como aBaixa de Coimbra, que deverá assentar estemoderado optimismo e esta certeza no futu-ro da Baixa.

Sempre com a noção que novos temposexigem novas atitudes, que novos desafiosexigem novas estratégias e que nós empre-sários nos temos de adequar a essas tambémnovas exigências dos nossos clientes.

ArmindoGasparSector Comercialda ACIC

Page 13: O Centro - n.º 20 – 07.02.2007

Apesar da Sociedade de ReabilitaçãoUrbana Coimbra Viva (SRU) ter comoárea de intervenção todo o centro histó-rico, foi estabelecida a Baixa deCoimbra como prioritária.

Em debate público, o Vice-Presidenteda Câmara, João Rebelo, esclareceu asrazões dessa opção nos seguintes termos:

“Porque é a zona que está mais de-gradada e porque é a área onde é maisimportante a renovação e a colocaçãode pessoas”.

A autarquia elaborou um documentoque identifica 8 subzonas prioritárias,das quais a primeira é a que correspon-de à área de atravessamento do futuroeléctrico rápido de superfície, comoexplicou João Rebelo:

“Sendo algo que estava assumido peloGoverno, que estava posto a concurso ede que desde há 20 anos se falava na cida-de, deixou de haver naquela área investi-mento na manutenção e conservação doedificado”. Daí que a zona esteja “em pro-funda degradação e ruína”, sendo neces-sário proceder a demolições, “por razõesde segurança, devido ao risco evidente”.

CERCA DE 14 HECTARESCOM APENAS1.300 HABITANTES

O Presidente da SRU, João PauloCraveiro, destacou o posicionamentoestratégico da Baixa na dinâmica dacidade e revelou que a área a ser inter-vencionada tem cerca de 14 hectares euma população de apenas cerca de 1.300habitantes.

João Paulo Craveiro defendeu anecessidade de criação de “condiçõesde atractividade de acordo com padrõesde modernidade e conforto”, dizendoque a reconstrução dos edifícios deverá“preservar a forma arquitectónica, man-tendo o exterior das edificações e reno-vando o interior”. Sustentou tambémque deve ser dada atenção especial aoestacionamento para residentes.

Referindo que a manutenção e incre-mento de actividades económicas estra-

tégicas é outra das preocupações, JoãoPaulo Craveiro sublinhou:

“Temos que ter projectos de altíssimaqualidade e, por outro lado, temos queconseguir que a intervenção se faça semvir a originar custos de manutenção detal ordem que o projecto não tenha sus-tentabilidade económica”.

O Presidente da SRU disse ainda queCoimbra, como cidade histórica que é,não pode continuar a ter o seu centrohistórico, nomeadamente a Baixa, noestado em que se encontra.

“Temos de criar condições para atrairnovos moradores que gostem de aquiviver. Para isso, teremos que assegurarfunções e actividades âncora. Garantirvida intensa quer durante o dia, com as

lojas abertas, quer durante o fim da tardee noite” – defendeu João Paulo Craveiro.

A 1.ª unidade de intervenção engloba apassagem na “baixinha” do eléctrico rápi-do de superfície, enquanto a 2.ª unidadeabrange o Terreiro da Erva e toda a áreaenvolvente, entre a rua da Moeda e a ruada Sofia, a rua Direita e a rua João de Ruão

A primeira unidade de intervençãoabrange 80 prédios, 20 dos quais per-tencem à sociedade Metro Mondego ecerca de uma dúzia à CâmaraMunicipal. A segunda unidade englobao Terreiro da Erva e zona envolvente,limitada pela Rua da Sofia, Rua Nova eRua de João de Ruão.

BBAAIIXXAA DDEE CCOOIIMMBBRRAA 1133DE 7 A 20 DE FEVEREIRO DE 2007

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Page 14: O Centro - n.º 20 – 07.02.2007

1144 DDEESSPPOORRTTOO DE 7 A 20 DE FEVEREIRO DE 2007

MÁRIO SIMÕES CONGRATULA-SE COM O MOMENTO VIVIDO PELO CLUBE

Por um Penelense cada vez melhor“A subida de divisãoé fundamental”. Em conversacom o “Centro”, no final do jantarque assinalou a passagemdo 74.º aniversárioda colectividade, o presidentedo Clube Desportivo e RecreativoPenelense, Mário Simões,congratulou-se com os resultadosobtidos até ao momento e frisouque a ascensão aos “Nacionais”é uma meta decisiva parao futuro do futebol em Penela

António José Ferreira

Visivelmente satisfeito com o momen-to vivido pelo clube, o presidente MárioSimões realçou “a presença de mais de300 pessoas” no jantar de aniversário.“Ficou bem patente toda a nossa força”,prosseguiu, e “essencialmente a vontadeque todos temos em ter um Penelensecada vez melhor”. Atalhámos que a ade-são dos adeptos do clube não pode ser

dissociada dos bons resultados que aequipa de futebol sénior tem alcançado.“Tudo ajuda”, respondeu o dirigente, adi-antando que “a minha Direcção está emfunções há cerca de três anos e desde aídispusemo-nos em conseguir o máximopara o Penelense. De certa forma temosconseguido ir ao encontro das expectati-

vas das pessoas e hoje tivemos a prova deque a população está connosco. É óptimoestar bem desportivamente e as pessoasnão estão alheias a essa situação.Acredito que iremos continuar a ter cadavez mais apoio”.

A par com o sucesso desportivo ecom o inerente entusiasmo, o clube

“tem que estar bem financeiramente eter todas as componentes desportivasnecessárias para que as conquistas quevamos conseguindo tenham condiçõese, acima de tudo, possam ser bem estru-turadas”. Nesse contexto, a anunciadarequalificação do actual Campo de S.Jorge “é decisiva para o concelho e parao Penelense. É uma obra fundamentalpara o trabalho que desenvolvemos naformação e para que possamos dotar asnossas equipas de todas as condiçõespara que os êxitos não nos fujam. Desdea primeira hora que os prazos estão a sercumpridos. A candidatura tinha que serentregue até 31 de Dezembro, o queaconteceu, e portanto estou convencidoque ainda este ano as obras serão lança-das a concurso”. Além de oferecer supe-riores condições de trabalho ao grupode trabalho sénior, o novo espaço vaipermitir uma maior aposta na formação,que “nunca descurámos. Todas as equi-pas que temos têm como objectivoessencial formar os jovens do nossoconcelho, mantê-los ligados ao clube, a

PAULO JÚLIO INCENTIVA OS JOVENS DE PENELA A PRATICAREM DESPORTO

“A formação é fundamental”A vitalidade demonstradapelo Clube Penelenseé uma óptima aliadapara a dinâmica que o actualexecutivo da Câmara Municipalde Penela quer imprimirao concelho. Paulo Júlio,responsável máximopela autarquia, enaltece a forçado clube e o entusiasmocom que a populaçãoo tem vindo a acompanhar

AJF

Este jantar demonstra bem a pu-jança do Penelense…

Com certeza que sim, sobretudo por-que envolve a comunidade em geral. Odom de um aniversário como este é pre-cisamente esse, o de envolver todas aspessoas, que se associam mais facil-mente a eventos como este quando sen-tem que há esse espírito em torno doclube.

No seu discurso realçou o papel queo clube desenvolve na formação…

Porque eu entendo que num clubecom as características do Penelense enum concelho como o nosso, a forma-ção é fundamental. A grande mais-valia

enquanto comunidade que podemos tera partir da acção do clube desportivo éo apelo aos jovens para participarem epara praticarem desporto. E natural-mente que com boas camadas jovens ecom boa formação teremos equipasseniores equilibradas, com bons resulta-dos, e com menor esforço financeiro.

Os resultados conseguidos pelaequipa de futebol sénior fizeram cres-cer o entusiasmo em redor do clube…

As pessoas estão, de facto, entusias-madas. Estar na frente constitui apelo eatracção. Ao longo dos últimos anos temhavido uma grande identificação dapopulação com o clube, mas é um factoque esta Direcção conseguiu alargarainda mais esse entusiasmo. E natural-mente que o facto de estarmos em pri-meiro lugar orgulha qualquer penelense.

Que importância atribui à deseja-da subida de divisão?

Uma subida de divisão é sempre ummarco de sucesso. E naturalmente quetratando-se de um clube com a dimen-são e a abrangência do Penelense, essemarco será sentido e vivido pela comu-nidade como um todo. Mas naquilo queé a nossa postura nada vai mudar, poisvamos manter o entusiasmo e a força deapoio ao clube. Se lá chegarmos vamos

conseguir maior promoção do clube, doconcelho, e claro que todos esses facto-res colaterais são interessantes, até paraa própria dinâmica e para o desenvolvi-mento económico da vila de Penela.Aos domingos, por exemplo, fruto dasequipas que nos visitam, com certezaque o comércio e a restauração vão termais motivos de interesse.

A confirmar-se a subida de divisão,a Câmara está disponível para aumen-tar o apoio que dá ao Penelense?

De uma forma muito pragmática,

apoio monetário mais nenhum. Desdehá alguns anos temos um valor anualque atribuímos ao clube, ao qual asso-ciamos todo o apoio logístico. O quedesde já posso dizer é que, se necessá-rio, podemos reforçar esse apoio logís-tico, pois percebemos que o grau de exi-gência vai aumentar.

O que trará ao concelho o novoComplexo Desportivo de S. Jorge?

O Complexo Desportivo vai ser umelemento interessante para o desportono concelho. Está numa zona de equipa-mentos, perto das piscinas e das esco-las, o que faz com seja virado para ascrianças e jovens que estudam emPenela.

A concretização desta obra vai exi-gir algum esforço financeiro à autar-quia…

Naturalmente que sim. A obra estáorçada em um milhão e cem mil euros epoderá ser co-financiada em 350 mileuros. Enquanto responsável tentareiassegurar outros financiamentos. Se nãoos conseguirmos teremos que analisar oconjunto de prioridades que temos paraas obras no concelho. E a partir daídecidir, eventualmente indo por fasesem vez de partir para a obra como umtodo.

Paulo Júlio

No uso da palavra, Mário Simões vincou a importância da subida de divisão

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DDEESSPPOORRTTOO 1155DE 7 A 20 DE FEVEREIRO DE 2007

a vez melhorpraticar desporto, também para quepossamos ter cada vez mais jogadoresna equipa sénior oriundos da nossa for-mação”.

Todas estas metas que o clube se pro-põe atingir são encaradas com optimis-mo, até porque “o Penelense, nestemomento, é um dos clubes da Divisão deHonra com melhor saúde financeira.Felizmente posso garantir que, até finaldo mandato, não vamos ter qualquer pro-blema para cumprir todos os nossos com-promissos. Temos tudo bem estruturado econtamos com o apoio dos nossos sócios,patrocinadores e amigos do Penelense”.

A terminar, Mário Simões frisou quea subida de divisão “é fundamental.Desde que a minha Direcção assumiu os

destinos do Penelense foi com esseobjectivo: lutar pela subida de divisão e,se possível, conquistar a Taça daAssociação de Futebol de Coimbra. Nãoqueremos estar num clube só por estar,sem objectivos. Tal como na nossa vidaparticular e profissional, também nesteprocesso é preciso termos objectivosbem definidos. Se os vamos conseguirou não, os resultados vão dizer. Mas afasquia foi colocada a esse nível e temospessoas com coragem para conseguir-mos ultrapassá-la. Os próprios jogado-res e toda a estrutura envolvente estãomuito empenhados em lutar por essesobjectivos, o que tornará mais fácil, atéem termos psicológicos, o caminho apercorrer até os alcançarmos”.

Vitalidade do clube“Esta festa de aniversário demonstra a vitalidade

do clube. Faz 74 anos, está a crescer e com as novasinstalações poderá e deverá apostar mais nas cama-das jovens e, assim, dar um salto qualitativo e quan-titativo. Juntamente com a autarquia poderá fazerum trabalho importante com os mais novos, até paraque, no futuro, possa ter cada vez mais jovens doconcelho a jogar no Penelense. Estou há quinze diasna equipa e encontrei-a numa fase complicada. Ésempre difícil pegar numa equipa em primeiro lugar,mas estamos a trabalhar no sentido de os jogadoresperceberem o mais rapidamente possível as ideiasque quero transmitir. Por aquilo que tenho visto e pela forma como temos trabalhado,penso que temos equipa para concretizarmos os nossos objectivos, que passam pelasubida de divisão e pela conquista da Taça da Associação de Futebol de Coimbra”.

Força do balneário“É extremamente importante que o clube faça o

investimento no Complexo, até para dar novas opor-tunidades às equipas que neste momento estão emcompetição. O facto de o nível exibicional da equipanão ser complementado com uma infra-estrutura àaltura do investimento que o clube fez tem-nos criadoalgumas dificuldades nos últimos anos, e mais con-cretamente ao longo desta época. Em relação ao ani-versário, está bem patente nesta festa a força que oclube tem. Num concelho que se debate com o pro-blema da desertificação, termos aqui cerca de 300pessoas diz bem da força do Penelense. Em relação à

equipa penso que estamos no momento certo para subir de divisão. Temos uma exce-lente equipa, cuja grande força reside no balneário, fundamental para ultrapassarmos asenormes dificuldades que se nos deparam ao longo do campeonato. Este é o ano idealpara darmos uma alegria à Direcção, que tem feito um esforço, enorme, e aos jogado-res, cuja média etária é bastante baixa”.

Bem dirigido“O Estádio novo parece ser um projecto bom e

que o clube está a precisar. O clube tem um bompresidente e está muito bem dirigido. Quanto ànossa equipa, por agora está a comportar-se bem.Tem dado o seu melhor e esperamos continuarassim, ou melhor ainda. Os treinadores são exce-lentes”.

Projecto interessante“O clube está com um projecto interessante.

As expectativas são altas, como se vê pelosobjectivos de subir de divisão e de construir onovo campo. A nossa equipa está em quartolugar e a fazer uma boa época. Pretendemos as-cender ao topo”.

Atenção ao futsal“O Penelense foca-se muito no futebol de onze. Poderia

dar mais atenção ao futsal. Mas a Direcção está a fazer umbom trabalho. O clube ajuda a unir a juventude do conce-lho e quase todos os jovens de Penela aderem ao desporto.Sobre o complexo nem consigo esperar para ver. Estoumesmo ansioso para que fique pronto”.

Paulo Neves, Treinador daequipa sénior de futebol

Pedro Peão, Capitão daequipa sénior de futebol

André Matos, Capitão daequipa júnior de futebol

Filipe Marceneiro, Capitãoda equipa juvenil de futebol

André Couceiro, Capitãoda equipa de iniciados

O Clube Desportivo e RecreativoPenelense assinalou com pompa e cir-cunstância a passagem do 74.º aniversá-rio. Foram cerca de 330 as pessoas quecantaram os parabéns à colectividade, nodecorrer de um jantar realizado no salãodos Bombeiros Voluntários de Penela.Presidido por Mário Simões e Paulo Jú-lio, respectivamente presidentes do Clu-be Penelense e da Câmara de Penela, esteencontro contou com a presença de sóci-os, simpatizantes, atletas e convidados,numa demonstração de vitalidade de umclube ancião mas virado para o futuro.

Fundado em 1933, o Penelense contaactualmente com cerca de 400 associa-dos. A actividade que desenvolve repar-te-se pelas secções de futebol, futsal,sueca, dança do ventre, dança latina ekarate. O futebol e a sueca assumem omaior destaque, respectivamente por sera modalidade mais antiga e pela cami-nhada vitoriosa que poderá colocar oclube nos “Nacionais”, pela primeiravez, e pela organização do mais grandio-

so torneio, com honras de GuinnessBook of the Records.

Um dos momentos altos do jantar foia apresentação do novo ComplexoDesportivo de S. Jorge (requalificaçãodo actual Campo de S. Jorge), feita peloautor do projecto, arquitecto Mendonça.Trata-se de uma infra-estrutura tidacomo decisiva para o desenvolvimentodo desporto no concelho, especialmentepara o futebol e para o Penelense. Or-çado em cerca de um milhão e cem mileuros, dos quais cerca de 350 mil eurospoderão ser comparticipados peloEstado, o novo complexo será composto,além dos campos relvados, por um con-junto de equipamentos e material despor-tivo para uso de associados e munícipesem geral. Têm vindo a ser dados todos ospassos necessários, por exemplo a apre-sentação da indispensável candidatura aofinanciamento do projecto, prevendo osresponsáveis que as obras possam serlançadas a concurso no decorrer do anode 2007.

74.º ANIVERSÁRIO ASSINALADO COM POMPA E CIRCUNSTÂNCIA

Um clube jovem

Quim Alexandre, Paulo Rafael e João Alves, são os três resistentes da 2.ª equipade futebol do Penelense

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DE 7 A 20 DE FEVEREIRO DE 20071166 DDEESSPPOORRTTOO

RUI DENGUCHO APONTA PARA UMA BOA PARTICIPAÇÃO NO CAMPEONATO NACIONAL

“São jogos que motivam muito mais”José Dória, cadete da PTCoimbra, foi recentementechamado por Augusto Araújoaos trabalhos da selecção nacionalsub-16. Além da importânciaque assume para o percursodo próprio jogador, trata-sede um momento que reflecteigualmente o trabalho realizadopela equipa que integra,já premiada com a conquistado título distrital. E uma boaoportunidade para dar conhecerum pouco mais do trabalhodesenvolvido pelo basquetebolda PT Coimbra, nomeadamentepela equipa de cadetes masculinos,treinada por Rui Dengucho

António José Ferreira

“Atingimos os objectivos a que nos pro-pusemos no início desta época”. São pala-vras de Rui Dengucho, treinador da equipade cadetes masculinos da PT Coimbra, quehá dias se sagrou campeã distrital da catego-ria. “Este grupo tem uma base de oito joga-dores da equipa do ano passado, que ficouem segundo lugar no ‘Distrital’ e em oitavono ‘Nacional’(zona norte)”, informou o téc-nico dos “telefonistas”, adiantando que“este ano incluímos quatro jogadores maisnovos na equipa e procurámos aproveitaralguma consistência ganha na época passa-da. A equipa ficou mais equilibrada e,sabendo que havia só uma vaga para o cam-peonato nacional, não tivemos outra alterna-tiva a não ser sagrarmo-nos campeões, afi-

nal aquilo para que apontámos no início daépoca. Mas não atribuo grande importânciaao facto de ser campeão. Se apurassem duasequipas e ficássemos em segundo lugar,ficaria satisfeito na mesma, aliás comoaconteceu no ano passado. Costumo dizerque, para mim, é muito mais importante for-mar dois ou três jogadores de basquete doque ganhar um título regional”. Apesar destediscurso, Rui Dengucho frisa que “ganhar éimportante. Quando se participa num jogo

naturalmente que é para ganhar. É normalque falemos nisso e durante esta época maisfalámos ainda, porque tínhamos um objecti-vo e só o atingiríamos se ganhássemos. Porisso analisámos as outras equipas, prepará-mos bem os jogos e organizámos as coisaspara estarmos bem nos momentos chave.Isso acabou por ser positivo e reagimosmuito bem nos momentos de maior pressão,o que aliás é apanágio desta equipa”.

Se desportivamente as coisas correramcomo estavam delineadas, já em termos docrescimento da equipa e dos atletas tudopoderia ter sido bem melhor. Rui Denguchoexplica que “apenas três equipas consegui-ram realizar, entre si, jogos com algum equi-líbrio. Os restantes foram muito desnivela-dos. Apostou-se num campeonato a duasvoltas, sem fase final, quanto a mim errada-mente”. A falta de competitividade vainecessariamente reflectir-se mais tarde, no“Nacional”, dando o treinador conimbricen-se o exemplo do Porto, que “teve uma pri-meira fase onde jogaram todos contra todos,uma segunda fase com seis equipas e vão teruma fase final com quatro equipas, apuran-do três para o ‘Nacional’. Portanto, em ter-mos competitivos, serão equipas muito maisfortes do que a nossa”. Ainda assim, pers-pectivando a zona norte da competição, RuiDengucho aponta para uma boa participa-ção da sua equipa: “Temos uma dívida paracom o ‘Nacional’. No ano passado tínhamosuma equipa muito nova e sentimos algumasdificuldades, mas este ano vamos tentar quea nossa presença seja muito mais positiva.Esse foi um dos motivos que nos fez pensarque este ano teríamos forçosamente que par-ticipar nesta prova, para melhoramos a ima-

gem que deixámos no ano passado. E tam-bém porque é muito importante para a for-mação dos nossos jogadores. Acompetitivi-dade é a outro nível e os ‘miúdos’ vão ter aoportunidade de defrontar clubes que sãoreferências no nosso basquetebol, por exem-plo o Porto, a Ovarense e a Oliveirense. Sãojogos que os motivam muito mais”.

A concluir, Rui Dengucho referiu-se àchamada de José Dória à selecção nacionalsub-16: “Sou treinador do Dória há cerca dedois anos e é, sem dúvida nenhuma, um dosatletas mais trabalhadores da equipa. É evi-dente que lhe faltam outras capacidades, atépela própria idade, e também por isso a cha-mada à selecção é extremamente positiva.Cada vez há mais carência de valores nobasquetebol conimbricense, sendo poucosos jogadores que têm a oportunidade de tra-balhar a este nível, e no futuro espero que,além do José Dória, outros atletas deCoimbra possam participar nas selecçõesnacionais. Quando há clubes que apregoama formação, que dizem que fazem a melhorformação do país e depois não apresentamresultados é porque alguma coisa está mal”.

BASQUETEBOL

Campeões distritaisJogadores: José Dória, Gabriel

Reis, Tiago Silva, Bruno Cunha, An-tónio Almeida, Gonçalo Wilson, Ro-berto Wiiliam, Manuel Nunes, JoãoFerrer, Pedro Simões, Ricardo Ralha eJoão Marques.

Treinadores: Rui Dengucho eLeandro Cardoso.

Directores: Arménio Almeida,João Nunes e Valdemar Ralha.

JOSÉ DÓRIA PARTICIPOU NO ESTÁGIO DA SELECÇÃO NACIONAL DE SUB-16

Continuar a trabalhar“Continuar a trabalhar para nãodeixar de fazer parte da selecção”.Estas palavras de José Dória,a propósito da participaçãono estágio da selecção nacionalsub-16, reflectem bem o desejode evoluir e de continuar a fazerparte dos planos do seleccionadornacional. O treinadore os companheiros não foramesquecidos, considerando o jovematleta que “sem a equipada qual faço parte nadadisto seria possível”

AJF

Que significado atribuis ao facto deteres sido convocado para o estágioda selecção nacional sub-16, realiza-do em finais de Dezembro?

Era um objectivo que havia sido pormim estipulado antes do início da épocae logo, pessoalmente, foi mais um “al-cançar da meta”. Defino-o como umaetapa boa da minha vida desportiva, masjá faz parte do passado. Agora, e sempre,há que continuar a trabalhar para nãodeixar de fazer parte da selecção.

Como correu o estágio e a partici-pação na digressão a Espanha (Tor-neio de Pedrajas)?

Na minha opinião, apesar de comosempre haver aspectos positivos e nega-tivos, atribuo a esta passagem porPedrajas um balanço positivo. Numaspecto especificamente basquetebolís-tico, e pessoal, considero que foi um es-tágio que correu bem, não fugindomuito ao normal.

Trata-se naturalmente de um feitopessoal e de extrema importância para oteu percurso de jogador. Como o relaci-

onas com o trabalho que é feito no clubePT e, particularmente, na tua equipa?

Sem a equipa da qual faço parte nadadisto seria possível. É obviamente aconclusão que posso tirar e, por issomesmo, aproveito para agradecer atodos os membros que fazem parte dogrupo de trabalho, dando uma especialimportância ao treinador Rui Dengu-cho, que foi sem dúvida alguma o prin-cipal responsável pela evolução que mepermitiu chegar à selecção.

A tua equipa venceu o “Distrital” evai agora participar no CampeonatoNacional. O que esperas desta prova?

Sei que vai ser uma prova com imen-sa competitividade, logo, espero queseja possível, no fim, destacar o ClubePT e chegar à “Final Four” nacional.Uma vez aí chegados, digo o que disseanteriormente, lutarei incansavelmentepara conseguir o título nacional.

Mensagem que gostarias de deixarpara os leitores do Jornal Centro?

Gostaria apenas de pedir para quetodos os que são adeptos do desportolutassem pelo desenvolvimento do bas-quete em Portugal…

José Dória

Rui Dengucho

Page 17: O Centro - n.º 20 – 07.02.2007

O Olivais Futebol Clubecomemorou ontem 72 anosde existência. O basquetebolcontinua a ser a modalidaderainha, contando actualmentecom cerca de 220 atletas,dedicando-se o clube igualmenteao karate, à ginástica, à natação,ao campismo e à dança do ventre.Em conversa com o “Centro”,o presidente Carlos Ângelodefine o momento do clubecomo “muito bom”

AJF

Como define o momento do clube àpassagem de mais um aniversário?

O momento do Olivais é muito bom. Nobasquetebol temos todos os escalões e con-tinuamos a ser o clube com mais atletas.Temos um grupo muito grande de Minibas-quete e o número de sócios também temvindo a aumentar, o que se tem traduzido naassistência aos jogos e na participação daspessoas na vida do clube. Têm vindo aosjogos e, de uma forma geral, aos diversoseventos que organizamos.

Nos últimos anos, os eventos a que serefere têm sido uma das imagens demarca do clube. São para manter?

Vamos continuar a tentar organizar os

eventos que já começam a ser tradição noclube, como por exemplo a Gala, o Bas-quetebol Para Todos, o Torneio Dr. Valde-mar Pinho, e vamos procurar organizaroutros. Temos muitas equipas, e por vezesnão é fácil parar com a actividade porcausa de outras acções, mas vamos traba-lhar para dar vida ao clube com novas acti-vidades.

António Pratas e Maria Isabel Fer-nandes, ambos antigos jogadores doOlivais, foram escolhidos como patronosdos torneios de iniciados e cadetes, res-pectivamente. Esta é uma forma de recu-

perar a história do clube e de homena-gear aqueles que lhe deram vida ao longodos anos?

São pessoas que fazem parte da históriado clube. Para que os associados não seesqueçam delas e para que elas próprias nãose sintam esquecidas, vamos chamá-las pararecordar tempos antigos do Olivais. E paraque estejam presentes e vivam activamenteo momento actual do clube.

Que prendas gostava de receber pelapassagem de mais um aniversário?

Nós queremos sempre coisas boas.Temos um enquadramento humanomuito bom, desde directores, a seccionis-tas e treinadores. Temos associados queparticipam na vida do clube. Temos ospais dos atletas, que dão uma grande con-tribuição em tudo o que é necessário, no-meadamente nas deslocações. O quemais estamos a necessitar e mais gostarí-amos que pudesse concretizar-se era queexistissem meios financeiros para “lavar-mos a cara” ao nosso pavilhão e equipá-lo com melhores condições para a práticado basquetebol.

Apesar dos 72 anos, o Olivais é hojeum clube virado para o futuro?

Sim, claramente virado para o futuro. Eestamos a formar atletas para que, nos pró-ximos anos, consigamos ter nas equipasseniores o maior número possível de joga-dores formados no Olivais.

DDEESSPPOORRTTOO 1177DE 7 A 20 DE FEVEREIRO DE 2007

BASQUETEBOL

Torneio de CadetesAs equipas de Cadetes do Olivais

Coimbra são anfitriãs do Torneio D. MariaIsabel Fernandes, que se disputa nos próxi-mos dias 9 e 10 deste mes. Com o nome dacapitã da primeira equipa feminina doclube, que vai marcar presença nos doisdias da prova, e apoios da Câmara Mu-nicipal de Coimbra e dos Pneus Baptista,este torneio vem na sequência do progra-ma estabelecido pelo director técnico LuísGonçalves, no sentido de proporcionar aosatletas do clube o maior número de expe-riências competitivas e sociais. As presen-ças de Benfica, Porto e PT, para além dasequipas da casa, são garante de dois dias debom basquetebol.

Carlos Ângelo

TÍTULOS PARA GINÁSIO E PT

Campeões

São conhecidos mais dois campeõesdistritais de basquetebol. O Ginásio(foto de cima), treinado por ValdemarFerreira, confirmou a superioridade jápatenteada ao longo da primeira fase evenceu os três jogos da “Final Four” deJuniores B realizada no seu próprio pa-vilhão, garantindo igualmente o passa-porte para o Campeonato Nacional. Oli-vais, Académica e Sampaense ocuparamas posições seguintes (os olivanensesapuraram-se para a Taça Nacional).

O “Distrital” de Cadetes Masculinosfoi dominado pela PT (foto de baixo),de Rui Dengucho. Os “telefonistas”não consentiram qualquer derrota e,além da conquista do ceptro distrital,garantiram igualmente o apuramentopara o “Nacional”. O Olivais classifi-cou-se em segundo lugar e vai disputara Taça Nacional.

OLIVAIS FUTEBOL CLUBE FOI FUNDADO HÁ 72 ANOS

Olhos no futuro

CALENDÁRIO DO TORNEIO Sexta-feira – 9 de Fevereiro19.00h – Olivais/PT (Masculinos)19.00h – Olivais/PT (Femininos) * * disputa-se na Escola José FalcãoSábado – 10 de Fevereiro10.00h – PT/Porto (Masculinos)11.30h – PT/Benfica (Femininos)14.30h – Olivais/Porto (Masculinos)15.45h – Olivais/Benfica (Femininos)17.00h – Entrega de prémios

FUTEBOL

ZÉ FRANCISCO E PAULO GRILO CONVOCADOS PARA A SELECÇÃO NACIONAL SUB-16

Aprender com os amigosAJF

Depois de Flávio Ferreira, na convo-catória anterior, foi a vez de Zé Francisco ePaulo Grilo serem chamados porPaulo Sousa à selecção nacional desub-16. Trata-se de uma estreia, emambos os casos, embora de certaforma aguardada pois vinham sendoobservados pela equipa técnica na-cional.

Em declarações ao “Centro”, osdois jogadores da AAC/OAF, trei-nados por André Lage, deixaram bemclara a alegria que sentiram pela chamadaao estágio. “Gostei muito, claro, até porqueera um dos objectivos que estabeleci paraesta época”, congratulou-se Zé Francisco,esperando com esta experiência “conhecernovos amigos e aprender mais sobre fute-bol. Na Académica aprendemos muito, comos nossos treinadores, mas nos treinos daselecção vou poder evoluir ainda mais”.Considerando este estágio importante paraque “o seleccionador fique a conhecer os jo-gadores, as características que têm e comquais pode contar no futuro”, o atleta da

Briosa garante que esta convocatória lhe dá“ainda mais vontade de treinar bem, tantono clube como na selecção, para ser chama-do mais vezes”. Trabalhar com Paulo Sousa

será um enorme prazer, até porque se lem-bra “muito bem de o ver jogar”.

Paulo Grilo foi igualmente o espelho daalegria. “Fiquei muito contente”, enfatizou ojovem estudante, frisando tratar-se “doreconhecimento pelo trabalho que venho adesenvolver desde Agosto”. Vivendo estemomento como um êxito pessoal, o centro-campista não esquece todo o grupo de tra-balho que integra na Académica, recheado“de bons jogadores”, pois “eles é que medão força para continuar a trabalhar e aevoluir, para um dia mais tarde chegar longe

no futebol”. No estágio que está a decorrerno Jamor, espera “evoluir e aprender muitocom os meus amigos que também foramconvocados”. O seleccionador não é um

desconhecido e cita de cor os principaisclubes por onde passou como jogador:“Lembro-me dele. Jogou na Juventus, noBorussia de Dortmund, no Sporting e noBenfica. Espero que me ensine bastante”.

26 CONVOCADOS

Para além dos dois academistas, PauloSousa chamou ao Complexo Desportivo

do Jamor os seguintes jogadores: António(Sanjoanense); Nelson Pereira (Pasteleira);César Jesus (Naval); Fábio Costa (Boavis-ta); Rui Fernando (Feirense); Pedro Costa(Barreirense); João Carlos (Penafiel);Alexandre Freitas (Porto); Pedro Branco,Ricardo Cardoso e Ricardo Dias(Padroense); Tiago Gomes (Braga); ArturLourenço (Benfica); João Guerra (Mari-nha); Cédric Soares, Diogo Ribeiro, FilipePaiva, Januário, Luís Almeida, Mário Rui,Nuno Reis e Ruben Luís (Sporting); Gomeze Rafael (Guimarães).

Paulo GriloZé Francisco

Page 18: O Centro - n.º 20 – 07.02.2007

1188 OOPPIINNIIÃÃOO DE 7 A 20 DE FEVEREIRO DE 2007

Passou quase um mês (19.12.2006),mas ouço ainda, incrédula, imóvel, e semreacção, que apenas duas grossas lágri-mas teimam contrariar, o Dr. MiguelSousa Tavares chamar-nos, em directo,na TVI ao vivo e a cores, a nós Notários,de “paquidermes” e “parasitas”!

Não, não é um começo pretensamen-te apelativo para um tratado sobre oNotariado, não, não me vem à memóriauma frase batida – Hoje é o primeiro diado resto da tua vida – por poucos dias fal-tarem para eu deixar de ser catalogadacomo “Notária”, e só por isso, nem deviadar-me ao trabalho de escrever estas lin-has, vem-me antes à memória a frase deuma canção da Whitney Houston Nomatter what they take from me, they can’ttake away my dignity (traduzo porquenem todas as pessoas que me irão ler sãoobrigadas a saber inglês – “não importa oque vão arrancar de mim, mas nãopodem tirar-me a minha dignidade” \tra-dução livre).

Como dizia, falta pouco para deixarde ouvir tratar-me por “Notária” (no meuâmago, nunca deixarei de o ser, foi o queescolhi ser e o que fui durante quase trin-ta anos), ouvi nos últimos anos tantasbarbaridades sobre esta profissão, ouçoainda e leio ataques pessoais vindos dospróprios colegas, que mais uma, e nestaaltura do campeonato, não deveria afec-tar-me.

Pois é, mas vinda do Dr. MiguelSousa Tavares, doeu demais! Por várias

razões, mas principalmente pela sobran-ceria e o gozo que, da cátedra do poder datelevisão dele emanou, dando eco àquelevelho odiozinho de estimação pelos notá-rios.

Porque são fazedores de opiniãocomo o senhor, que são pagos para falare escrever para uma audiência tão vasta,que num momento tão breve como umpiscar de olhos ou um estalar de dedos,constroem ou consolidam uma imagem-boa ou má- do que quer que seja, nestecaso, de uma classe.

Apesar de ter caído vertiginosamentedo pedestal em que o colocara, porquecontinuo a considerá-lo minimamenteinteligente, gostaria de o questionar sobredois -só dois- aspectos:

1. – Por acaso já se interrogou porquerazão esses “paquidermes/parasitas”,enquanto funcionários públicos, no diaseguinte – porque muitos são os mes-mos! – deixaram de o ser, porque se tor-naram privados?

Não sou eu que estou a fazer juízos devalor, foi o senhor que afirmou que“foram privatizados contra a vontadedeles, mas agora os privados funcionambem”.

Então, por favor pare um pouco,pense e tente responder serenamente aesta questão.

2. – Por acaso, o senhor, que tantogosta do “Sul”, alguma vez veio maispara o Norte, para o interior e conheceu o“Notariado de Província”?

O “meu” Cartório, que ainda é públi-co, ainda que por poucos dias, ainda estáem funções. Mas não precisaria de o visi-tar, bastaria falar com alguns advogados(seus colegas) – já nem me refiro aocomum dos utentes- que de Coimbra,Lisboa, Loulé e tantos outros pontos doPaís me procuraram, me dignificaram

com a sua escolha, e tantas escriturasaqui fizeram.

É que, tanto quanto sei e conheço, adiferença entre este cartório e outro actu-al, privado, será a falta de bombons/rebu-çados em cima do balcão, uma televisão,música ambiente, talvez uma máquina decafé…

Operação de charme, é isso que faztoda a diferença? Por favor não insulte asua inteligência, Dr. Miguel SousaTavares!

E só para terminar quero ainda dizer-lhe que com o exíguo quadro de pessoal,contraposto ao muito trabalho – de poucorendimento, saliente-se! – mais me asse-melhei muitas vezes a um “SpeedyGonzalez” – tão distante de um “paqui-derme”, ou a uma “formiguinha” – tãodiferente de um “parasita”!

(Por isso é que só agora tive tempopara escrever….)

Como “é tão fácil passar-se de bestiala besta” Dr. Miguel Sousa Tavares!(salvo seja porque ofensas pessoais seriaa última coisa que eu poderia fazer, ape-sar de o senhor não ter tido a mesma pre-ocupação, mas é a expressão que mais seadequa).

Ou ao inverso, aplicando ao seu con-ceito sobre os notários, como “é tão fácilpassar-se de besta a bestial”!

Agora não terei mais de me preocuparem defendê-lo dos que já se revoltavamcom o seu radicalismo, com a sua parci-alidade (tão evidente quando fala de fute-bol, por ex.), a que sempre contrapus asua sensibilidade “só um Homem sensí-vel pode ter escrito as páginas belíssimasdo “Equador”!

Não, porque não irei mais ficar religi-osamente pregada à TVI às terças-feiraspara o ouvir!

Carta abertaao Dr. Miguel Sousa Tavares

João Paulo Simões

FILATELICAMENTE

Biografiade D. Luís I

Durante estas semanas, foquei as várias séri-es, valores, cores de D. Luís I na História daFilatelia Portuguesa.

Antes de passar a descrever a próxima emis-são, não queria deixar de falar, embora resumi-damente, da biografia deste monarca.

Afinal, quem foi D. Luís I?Segundo o livro “Reis e Rainhas de Portugal”

de Maria de Lurdes Marcelo, este, foi o “trigé-simo terceiro rei de Portugal, e governou de1861 a 1889. (…) Oficial da Marinha e vinha deregresso de Antuérpia na corveta BartolomeuDias, por si comandada, quando ao entrar nabarra do Tejo, a 14 de Novembro, soube do ines-perado fim de seu irmão, o rei D. Pedro V, quemorrera a 11 de Novembro, assim como doisirmãos. Partira príncipe, entrara rei. (…)

O povo queria agora proteger D. Luís, o novorei, de ser envenenado, como julgavam quetinha acontecido a D. Pedro V. Os popularesatribuíam culpas aos Ministros e aos Secretáriosde Estado e, em revoltas e desordens, manifes-tavam a sua vontade de derrubar o Governo(…).

D. Luís era um artista. Pintava, tocava vio-loncelo, piano, e compunha. Falava correcta-mente várias línguas e traduziu Shakespeare,autor que escreveu num inglês antigo e difícil.Era oficial e comandante da Marinha. Viajoupor gosto e por profissão. Mas de todas as suasqualidades, ou características, uma das maismarcantes era, sem dúvida, a sua naturezapacifista (…).

POIS...

Havia dois restaurantes. O famoso, passámospor ele – e era toda uma panóplia de carros topode gama, último modelo, matrícula recente… E,de seguida, vivendas luxuosas, adivinhavam-se-lhes a piscina e amplos jardins por detrás…

– Ó Doutor João, tu não és daqui? Teuspais…

– Exacto, sou daqui, sou. Meus pais sempreme perguntaram porque é que eu estava nessade tirar um curso superior. Continuávamos avender couves, nabiças, cenouras… no mercado– dizíamos eles. – E iríamos almoçar a esse res-taurante!... Assim, vamos ao outro, o dos reme-diados. E eu tenho um carrito utilitário – massou feliz!...

Joséd’Encarnação

Maria MargaridaLoureiro Cardoso(Ainda) Notáriaem Vila Nova de Poiares

As lições dos merceeirosOs da minha idade ainda se lembram

das duas ou três mercearias que existi-am lá na rua.

Muitas vezes, lá para as 8 da noite,faltava em casa um decilitro de vinagre.

Nós, os mais novitos, lá íamos baterà porta do senhor Silva e pedir para nosir “aviar”.

O senhor Silva tirava o guardanapo efazia aquela expressão que queria dizer:“Coitados!”.

Lá vinha abrir a loja, aviava-nos eapontava no “caderninho”.

Os senhores Silvas do nosso Paísgeriam a economia doméstica de milha-res de famílias, serviam-nos “fiado”,mandavam-nos a casa o rapazito com o

cabaz, serviam de confessores, banco eestação de correio e, alguns, até tinhamPosto Público de telefone.

Raramente os víamos fora do balcão.Saíam ao domingo, com o seu fato

“domingueiro”, família ao lado, davamduas de conversa com o padre, o médi-co e o sargento da guarda e lá iam paracasa, fumar o seu cigarro e ouvir a tele-fonia.

A seguir, estendiam os “caderni-nhos” na mesa e lá iam acertando ascontas ao centavo.

Sabiam, de ciência milenar, que asdespesas não podiam ser maiores que asreceitas.

Se assim não fosse, sabiam que tin-

ham que cortar nas despesas deles: amulher só comprava tecido para umvestido daí a três meses, em casa tinhamque comer o que não se vendia na loja,as meias solas só eram postas daí a ummês e se as coisas estivessem mesmofeias, nesse ano a mulher e as criançasnão iriam para a praia, etc. etc.

Nunca lhes passava pela cabeçaera subir os preços para fazer face aodéficit.

Como nos fazem falta os merceeiros,para darem lições de economia a quemnos (des)governa.

Que mal aplicada tem sido aquelaexpressão “escrita de merceeiro”...

Rui Lucas

OO LL EE II TT OO RR aa EE SS CC RR EE VV EE RR

Page 19: O Centro - n.º 20 – 07.02.2007

OOPPIINNIIÃÃOO 1199DE 7 A 20 DE FEVEREIRO DE 2007

A condenação a seis anos de cadeia dopai “pré-adoptivo” da pequenina Esmeraldatrouxe mais uma vez à ribalta pública a dis-cussão sobre a bondade das leis e dos seusartífices.

Aplicar-se-ia aqui a famosa tirada de umdos nossos mais ilustres monarcas: por bemfazer, mal haver.

Os meritíssimos juízes do Tribunal deTorres Novas, como lhes competia, aplica-ram a lei a um caso tipificado de sequestro epreparam-se para, sem apelo nem agravo,

entregar a criança ao superveniente pai bio-lógico.

O povo, na sua proverbial sabedoria, for-jada na intuição, na experiência de vida e nogenuíno sentimento de bondade natural dossimples, não entende as penumbrinas razõesdos aplicadores da lei.

Intuiu que não são suficientemente clarasas motivações que levaram ao intempestivoaparecimento e à radical atitude do pai bio-lógico; diz-lhe a experiência enriquecidacom as notícias de acontecimentos bemrecentes de maus tratos e mortes às mãos defamílias biológicas de crianças retiradas àsfamílias de acolhimento; fala-lhes o senti-mento de apreço por quem generosamenterecebeu a menina em seus braços e lhe deuo lar e o carinho que os progenitores lhe nãoquiseram ou não puderam proporcionar;não entende a frieza com que o tribunalencarou a situação e o zelo com que manda

procurar a criança por toda a parte para limi-narmente a entregar a alguém cujo único elode ligação resulta duma análise de ADNfeita à ordem do Ministério Público.

E quando, alargando os horizontes, sepropõe comparar tão ardoroso empenhodos tribunais com o que se vem passandoem alguns mediáticos processos e com oque vem acontecendo relativamente à regu-lação do poder paternal e à adopção, aper-cebe-se que na lei e no funcionamento dostribunais teimam em subsistir demasiadassombras.

Como cidadãos desprotegidos, as crian-ças abandonadas ou com famílias disfuncio-nais requerem do Estado um cuidado muitoespecial. A frieza da lei e da sua aplicaçãonão resolve qualquer problema. A criança éum ser frágil em permanente e delicada evo-lução. Qualquer medida que tenha de sertomada quanto à sua integração familiar e ao

seu futuro deverá ser equacionada, jamaispor simples acórdão, mas por um judiciosoe fundamentado projecto de vida delineadona tríplice intervenção dos psicólogos, soció-logos e juristas e no contexto dum ambientefamiliar reconhecidamente capaz de lhe pro-porcionar, em segurança e bem estar materi-al e espiritual, o desenvolvimento harmóni-co da sua personalidade.

As dez mil assinaturas que apoiam opedido de habeas corpus do protector damenina, forçadamente cativo, poderá serentendido como um alerta da sociedade paraa necessidade de clareza e presteza na feitu-ra e aplicação da lei, de modo que a justiçae os interesses dos mais fracos sejam escru-pulosamente assegurados.

A democracia será tanto mais perfeitaquanto mais claras forem as leis e maisrigorosos e eficientes funcionarem ostribunais.

As sombras da Lei

Renato Ávila

Oriundo do Alentejo (Évora, n- 1938),Luís Serrano cedo veio para Coimbra, ondefez todos os estudos até à licenciatura (emCiências Geológicas) na Universidade.Depois, e após uma rápida passagem peloensino, secundário, viveu algum tempo emEspanha e França, onde, em Bordéus, fezestudos de especialização nos seus domí-nios. Regressado a Portugal, trabalhou numdepartamento do Estado (uma direcçãogeral), até que, em 1975, foi para investiga-dor na Universidade de Aveiro, e em Aveirovive há cerca de trinta anos, agora já apo-sentado. Mas vem frequentemente aCoimbra, onde estão ainda muitas amiza-des e as mais fortes referências da sua for-mação como escritor – poeta, se preferir-mos.

Em Coimbra, nos anos 60, aparece liga-do à revista Vértice e a diversas interven-ções da sua geração no campo da poesia eda militância sócio-cultural e política quelhe anda associada.

Todavia, só em 1983, publica o primeirolivro, Poemas do Tempo Incerto (Vértice,Coimbra), uma selecção dos melhores poe-mas até então feitos.

Depois, e até agora, virá a publicar maistrês livros: Entre Sono e Abandono, em1990, chancela Estante, de Aveiro; AsCasas Pressentidas, em l999, edição deautor, também em Aveiro; e o mais recente,Nas Colinas do Esquecimento, em 2004, noPorto, chancela Campo das Letras.

Para além dos 45 anos com que se estreiaem livro, e com o que isso pode sugerir dematuridade, os espaços de tempo entre osque se seguem só pode reforçar tal ideia, ea do definitivo como critério de publicação

(no termo de um processo demorado deversões, variantes, correcções, etc., etc., nu-ma atitude de constante insatisfação peran-te os resultados conseguidos, e de desmar-cação em relação a facilidades, espontanei-dades, inspirações, improvisos).

As raízes mais fortes da obra de Serranoestão nos anos 60, e em Coimbra, partilha-das por toda uma geração, que poderíamosdizer uma terceira geração da vaga neo-realista, embora já algo distante das ante-riores (Manuel Alegre, Fernando Assis Pa-checo, Rui Namorado, A. M. Lopes Dias,Boaventura de Sousa, mais tarde tambémNuno Guimarães, Manuel Simões, LuísGuerreiro, Fernando António de Almeida,José Ferraz Diogo, Eduardo Guerra Car-neiro, e outros, entre eles um Rui Mendes,com quem, e com o caboverdiano JoãoVário, entra numa iniciativa de referênciaainda nos anos 50, os cadernos xodo, pro-jecto não propriamente neo-realista, o quesugere outras raízes e outras fontes, algu-mas de uma vanguarda malvista pelosmais seguidores (e seguidistas) do neo-rea-lismo.

Uma obra, portanto, a de Luís Serrano,interessada no processo político, social ecultural, e na transformação e na mudança,alinhada na poética (programa ou projectode produção) da resistência e do combate àsituação, mas empenhada também ementrar nesse programa, nesse projecto, comuma poesia de concepção e elaboraçãoesteticamente mais exigente. O que, comcuidados formais, minúcias construtivas,uma ideia muito forte de rigor estruturantedo poema como discurso e como texto,aproxima esta produção da de outra, damesma geração, mas mais situada em Lis-boa, e de que a referência hoje mais históri-ca será Poesia 61.

Neste processo vem a entrar muito a influ-

ência de um Carlos de Oliveira, que vem daprimeira geração neo-realista em Coimbra ena segunda metade da década de 60 publicadois livros profundamente alteradores dasperspectivas da poesia interessada no real ena transformação do mundo: Micropaisageme Entre Duas Memórias, sem esquecer Sobreo Lado Esquerdo, que os precede, e ondeuma certa lição (digamos assim) de poesia ede poema é mais explícita, mais dialéctica, emais pedagógica e didáctica, até.

A obra que Luís Serrano vem a constru-ir sofre razoavelmente esta influência, quepoderá ver-se em aspectos formais (adimensão textual e os cortes de verso paraverso e de estrofe para estrofe), mas tam-bém em aspectos de conteúdo (temas,assuntos, motivos, do real, da realidade, dapaisagem, da experiência e do conhecimen-to da vida e do mundo, da existência vivida,do espaço rural, do espaço urbano).

Mas é também aqui (nestas áreas de par-tilha) que o trabalho poético de LuísSerrano vem a desmarcar-se do ascendente,procurando construir um referencial pró-prio, diversificado, ligado às viagens, àdiversidade e à renovação da experiênciaque as diferenças referenciais proporcio-nam, ou mesmo impõem, projectando umregisto da percepção mais de evidências,com o que de transitório (mas sobretudodeslizante, resvalante) isso também possaimplicar.

Mais claro, duas linhas de orientaçãoestratégica, onde a lição é superada:

– Uma, a opção pela variedade e a diver-sidade do ascendente referencial (Alentejo,Beiras, cidades, paisagens, monumentos,obras de arte, etc., em grande parte doestrangeiro).

– Outra, uma muito assegurada e equili-brada fluência no processo discursivo, a parde uma maior distensão (ou tensão menos

forte, menos elíptica, menos de ruptura) noprocesso construtivo do texto.

É decerto como alguma coisa de diferen-te, de próprio, de pessoal, de novo (ou pelomenos renovado) que a (breve, mas muitoforte, e sobretudo muito concisa, contida,rigorosamente elaborada) obra poética deLuís Serrano há-de ficar. E os ascendentesnela visíveis até serão mais um motivo deinteresse, um aspecto que a valoriza e iden-tifica melhor, no tempo que a gera e fazaparecer na cena poética portuguesa (ondeserá uma referência não do topo mais eleva-do, mas sólida, segura e estável).

Numa obra que compreende quatrolivros e uma totalidade entre centena e cen-tena e meia de peças pequenas (mas, namaior parte, muito incisivas, e até, digamosassim, lapidares), e tudo isto entre os 45 e os65 anos de idade, tudo parece ser de eleva-da qualidade, e é difícil escolher o melhor.

Por isso, e para ilustrar, talvez o melhorseja destacar um poema do último livro,título “Poetas ou caçadores?”, “Em memó-ria de Miguel Torga” (o que liga a estaCoimbra com que o histórico pessoal e lite-rário de Luís Serrano tanto tem a ver, mastambém a Torga, a que a sua poética serátudo excepto indiferente). É assim, em textocorrido, por razões de economia:

“Entre tojo e mato / se perdem as lebres/ se a névoa se precipita / adversa / sobreos cães // se os caçadores / mais não são /do que a charrua / que lavra o sonho // raizadormecida / no gume sem sombra / damadrugada // e as aves passam / voltejamagora / cada vez mais alto / sob o céuliberto / de cinza e mágoa // ali / onde asespingardas / já não alcançam // só os poe-tas descem //mergulham na terra // sãocopos de água / e luz // que aparecem edesaparecvem // nas dobras cerradas / doamanhecer.”

Luís Serrano,entre Coimbra e Aveiro

Luís de [email protected]

REFERÊNCIAS

Page 20: O Centro - n.º 20 – 07.02.2007

2200 AA PPÁÁGGIINNAA DDOO MMÁÁRRIIOO DE 7 A 20 DE FEVEREIRO DE 2007

PERGUNTA DO DIA

O que faz a “Loja do Cidadão” noparque de estacionamento da Braga-parques?

(publicado no blogueem 3 de Fevereiro)

DESPORTO FOGE DO FISCO O Fisco detectou situações de omis-

são de rendimentos da ordem dos 30milhões de euros em agentes desporti-vos durante o ano passado.

Dos 30 milhões, cerca de 17 milhõesdizem respeito a receitas de IRS e os res-tantes 13 milhões à Taxa Social Única,segundo o Jornal de Negócios Online.

(publicado no blogueem 2 de Fevereiro)

POBRE PAÍS,POBRE PORTUGAL

A jornalista Clara de Sousa acaba deapresentar no “Primeiro Jornal” da SICa seguinte notícia:

“Um português de 69 anos não en-controu resposta no Serviço Nacionalde Saúde, quando estava a ficar comple-tamente cego.

Disseram-lhe que uma vista estavaperdida. A outra teria de esperar longosmeses. Ou pagar milhares de euros.

A mulher, ucraniana, levou-o a Kiev.Foi operado numa clínica pública,

em 7 horas, não pagou nada e hoje estárecuperado”.

Apetece-me comentar (perdoem a

linguagem): que porra de país, este nos-so Portugal!

(publicado no blogueem 31 de Janeiro)

SOCIALISTAS NÃO GOSTAM(NADA, MESMO NADA)DOS PROFESSORES

Apesar de todo o progresso tecnológi-co, as novidades da Europa continuam achegar a Portugal com anos de atraso.

Por outro lado, os socialistas portu-gueses continuam a olhar embevecidospara os “compagnons de route”. AFrança continua a exercer grande fascí-nio no partido de José Sócrates.

Querem um exemplo concreto?Querem mesmo, mesmo, mesmo?

E, ainda por cima, um exemplo dehoje?

Então, olhem para a primeira páginado “Libération”.

O título principal não engana: “Es-querda, que fizeste dos teus professores?”

A explicação aparece logo depois.“As propostas de Ségolène Royal [can-

didata socialista à presidência da república]sobre as 35 horas de trabalho dos professo-res acentuaram o mal-estar entre os profes-sores e os socialistas, que começou em1997 com a nomeação de Claude Allègre.

A desconfiança para com os partidosde esquerda tradicionais caracteriza[hoje] o corpo docente, anteriormenteum bastião do PS.”

É (ou não) parecido com o que sepassa em Portugal, nos nossos dias,com o governo socialista?

(publicado no blogueem 30 de Janeiro)

Mário Martins

UM CAMPO INACREDITÁVEL

O jogo foi disputado num camposecundário do Estádio do Mar, nodenominado Complexo Desportivo deMatosinhos (ou Complexo DesportivoÓscar Marques). Relvado.

Se consultarmos o “site” do municí-pio de Matosinhos, vemos que a “insta-lação” tem a seguinte “caracterização”:“campo de futebol em relva natural –98,5 x 51,9 metros”. Ou seja, o relvadonão obedece aos regulamentos, quedefinem a largura mínima de 60 metrospara um campo de futebol ser aprovado.

Mas disputam-se lá jogos oficiais!Tenho sérias dúvidas quanto às di-

mensões anunciadas.

Por um lado, porque uma pessoa deMatosinhos com quem falei durante o jogome disse que “faltam 12 metros à largura”.

Por outro lado, porque basta fazer ascontas. São assim: a grande área tem16,5 metros para o lado de cada poste,o que dá 33 metros. Se lhe juntarmosos 7,32 metros de largura da baliza,ficamos com 40,32 metros. Junte-seainda o diâmetro de cada poste e che-gamos a 40,5 metros. Para chegar àmedida anunciada, é necessário que azona entre a área e a linha lateral tenha5,5 metros de cada lado do campo.Talvez tenha... mas é capaz de não ter.

Não espanta que, num campo assim,cada lançamento de linha lateral, a partirda zona intermediária, se transforme numverdadeiro... “pontapé de canto”. O Lei-xões passou os 80 minutos a tentar, a ten-tar, a tentar. Ou seja, as características docampo contribuíram para o mau futebolpraticado pelos jovens de Matosinhos.

A terminar: como é que é possívelque um campo destes seja aprovadopara jogos oficiais?

AUTOCARRONÃO QUIS VOLTAR

Um dos motivos de interesse dofutebol juvenil é o convívio que se es-tabelece entre os familiares dos jovensatletas. Por isso, dia de jogo é sinónimode almoço em conjunto, seja emCoimbra ou fora dela. Há anos.

Ontem, em Matosinhos, decidimosrevisitar o “Mar na brasa” que tão bemnos tinha servido em meados de Outu-bro, aquando do jogo com o Pasteleira,disputado igualmente na zona da Se-nhora da Hora.

Estava o almoço no fim, quando al-

guns jovens começam a contactar ospais, por telemóvel, informando que oautocarro da Académica/OAF avariaraquando se preparavam para deixarMatosinhos, depois do almoço. Neces-sitavam de transporte para Coimbra.

Fomos ao seu encontro. (Hoje, comos aparelhos de GPS é simples: bastasaber o nome da rua). Mas a situaçãonão era famosa, já que só estavam dis-poníveis quatro automóveis, um delesde dois lugares e dois outros com ape-nas um lugar vago, em cada qual.

Chegámos ao local em 5 minutos. Omotorista, Fernando, tentava recolocaralgumas correias. A reparação estavacomplicada.

Entretanto, passou um carro patrulhada PSP, que quis saber o que estava aacontecer. Foi explicada a situação eavisados os agentes que era possívelque o autocarro tivesse de ficar imobi-lizado no local onde estava.

Ao mesmo tempo, pediram-se indi-cações sobre a compra de bilhetes parao Metro do Porto.

Num repente, oito jovens consegui-ram entrar nos automóveis. O resto dogrupo, umas 15 pessoas, foram apanharo metro na rua ao lado, com destino àestação de Campanhã. Eram 16h00.Comboios para Coimbra só “Alfa”, às17h15, 18h15 e 19h15. O primeiro“Intercidades” só às 20h20.

Cada bilhete de metro custava cercade 2 euros, o bilhete de comboio 15euros. Eram necessários 17 euros porpessoa. Havia dinheiro suficiente. Ogrupo pôs-se a caminho de Coimbra...de metro e de comboio.

Uma viagem diferente, depois de umjogo emotivo.

(publicado no blogueem 4 de Fevereiro)

EXIBIÇÃO VIBRANTE NUM CAMPO DO “OUTRO MUNDO” A minha equipa fez no domingo de

manhã, em Matosinhos, uma exibiçãode grande qualidade, com garra,“nervo”, força de vontade e... o únicofutebol que se viu no relvado.

Na verdade, o Leixões só fez umacoisa durante todo o jogo: despejar bolaspara a área do adversário, à espera de umdeslize que proporcionasse o golo. Nãoteve sorte, porque a Académica mostrou--se sempre muito segura e muito coesa.

Jogando com a bola junto à relva, em contra-ataque e com rapidez, a minha equipa deliciou os espectadores e dispôs dealgumas oportunidades de golo. A mais clara de todo o desafio ocorreu na 2.ª parte, quando Zé Francisco conseguiu iso-lar-se, correu para a baliza e rematou contra o corpo do guarda-redes adversário.

O empate acaba por aceitar-se pelo maior tempo de posse de bola dos leixonenses, contrabalançado pela melhor quali-dade do futebol da Académica.

[email protected]

Page 21: O Centro - n.º 20 – 07.02.2007

TTEELLEEVVIISSÃÃOO 2211DE 7 A 20 DE FEVEREIRO DE 2007

A TELEVISÃO DAQUI A CINCO ANOS

Já é uma ideia que vem de há muito, mas Bill Gates,presidente da Microsoft, reafirmou-a muito recente-mente. A internet revolucionará a televisão nos próxi-mos cinco anos por causa da explosão dos conteúdosde vídeo online e da fusão dos computadores com osaparelhos de televisão.

“Estou espantado por ver que as pessoas não perce-bem que, daqui a cinco anos, todos se vão rir do quetemos hoje na TV”, disse Gates aos maiores líderesempresariais e políticos no Fórum EconómicoMundial em Davos, na Suíça.

De facto, a expansão da internet de alta velocidadee a popularidade de sites de vídeo como o YouTube,recentemente adquirido pelo Google, já está a causar

uma diminuição no número de horas gasto pelosjovens em frente à televisão em quase todo o mundo.

Bill Gates foi muito preciso nas suas previsões,afirmando que nos próximos anos, cada vez maisespectadores irão optar pela flexibilidade do vídeoonline e abandonar a televisão convencional mais asua programação fixa com publicidade a que inter-romper os programas.

A ideia generalizada dos que têm vindo a acompa-nhar estas evoluções do vídeo na internet, é a de quehá muitos assuntos, como eleições ou as Olimpíadas,que realmente mostram como a televisão é limitada. Aapresentação de acontecimentos como estes, na inter-

net, é muito superior, porque muito mais diversificadae completa.

Actualmente, ver vídeos num computador é umaexperiência diferente do que é assistir a programas dehumor ou documentários na televisão. Mas a conver-gência está a chegar, apresentando novos desafiospara as empresas de televisão e, também, sobretudopara os anunciantes.

A televisão está-se a adaptar à transmissão viainternet e algumas grandes empresas de comunica-ções, essencialmente telefónicas, estão a criar as infra-estruturas para que tal seja possível. È pois uma expe-riência que se vai desenvolvendo em várias frentes.

O co-fundador do YouTube, Chad Hurley, que aliás apro-veitou a Cimeira de Davos para fazer vários depoimentosem vídeo, não através da televisão, mas através do siteYouTube, lembrou que o impacto na publicidade vai sermuito grande. O futuro promete mais anúncios direcciona-dos, feitos especialmente para o perfil de cada espectador.

Hurley anunciou ainda que nos próximos meses sevão realizar experiências para ver como é que as pes-soas interagem com esses novos anúncios, de forma acriar um modelo eficaz que funcione para os anunci-antes e para os espectadores.

De todas estas ideias e novidades, confesso, a quemais me agrada é a de que a cinco anos “todos nosriremos da actual televisão”. Mesmo que não venha aser verdade, é pelo menos uma esperança.

Avulso

Espantoso o novo concurso-passatempo da RTP 1:Aqui há talento! Nunca ouvi tantos “obrigado” em tãopouco tempo. Os concorrentes são postos a andar dopalco e desprezados pelo júri? “Obrigado ... obriga-do”. O júri achou aquilo uma maçada? De qualquerforma “obrigado ... obrigado”. Não se percebe por queé que não gostou? “Obrigado ... obrigado”. É tudo acorrer, a despachar, para supostamente manter oespectáculo (caro!) bem vivo. Só que num canal esta-

tal, isto de arranjar um júri que gosta ou não das actu-ações dos supostos talentos, só porque sim ou porquenão, é mais um péssimo exemplo de serviço público.Longe vão os tempos em que um júri de concurso tele-visivo (A visita da Cornélia), estivéssemos ou não de

acordo, fundamentava a sua opinião, argumentava econtra argumentava, geralmente com inteligência euma postura minimamente culta. Agora, o acto discri-cionário é bem vindo , faz parte da cultura instalada epretende que seja aceite como normal.

O tom de voz de certos apresentadores de telejor-nais tem vindo a subir. Há alguns que quase gritam,utilizando a táctica, aliás proibida em tempos, deaumentar o volume de som quando se entra num blocode publicidade. Felizmente há telecomando.

Depois do sketch em que imitaram Rebelo de Sousae da sua passagem pelo YouTube, os Gato Fedorentoparecem ter estado sobre pressão, aliás já esperada. Sóassim se compreende a introdução no último programade comentários do género: “ é preciso mais equilíbrio ...

eu próprio vos ajudarei a serem livres e a fazerem aqui-lo que ... eu quero !”. Espero estar enganado, mas estáali uma bota difícil de descalçar para a Administraçãoda RTP, claro, através do director de programas NunoSantos que, na ânsia de obter bons shares, se meteu,digamos assim, numa “situação desconfortável”.

Ah ! Já me esquecia. Bill Gates afirmou recente-mente na Suíça: “estou espantado por ver que as pes-soas não percebem que, daqui a cinco anos, todos sevão rir do que temos hoje na TV”.

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]

Page 22: O Centro - n.º 20 – 07.02.2007

Estão aí os três primeiros “singles”deste ano, são eles: “Intervention”, doscanadianos Arcade Fire, “The Prayer”,dos Bloc Party, e “North AmericanScum”, dos LCD Soundsystem. Gostomuito do último destes “singles”, e, sa-liento que “The Prayer”, dos Bloc Party,mostra uma grande mudança face aostempos de “Silent Alarm”, apesar de,

por momentos, a sonoridade nos pare-cer muito semelhante ao que já nos

habituaram. Resta-nos aguardar pelaedição dos novos discos de originaisdestas bandas.

Já chegou aos escaparates o primeirogrande disco de 2007 da autoria dos bri-tânicos Klaxons, intitulado “Myths OfThe Near Future”. Descobri esta bandapor causa da Van She Remix para“Gravity´s Rainbow”, e, desde logo,fiquei bastante curioso com este novoimpulso dado ao rock, denominado pe-

los media como “Rave Rock”. Interesseeste que foi aumentado por temas como“Atlantis To Interzone”, “Not Over Yet”,“Magick”, e, mais recentemente, “Gol-den Skans” (a primeira amostra do seuprimeiro registo de originais).

Mas é, ainda, 2006 a dar o mote aquino Distorções, primeiro por causa de “ACall and Response” dos The Longcut e,sobretudo, pelo álbum de estreia dosportugueses Linda Martini, “Olhos deMongol”. “A Call and Response” é umregisto mais electrónico, com melodias

fortíssimas, e com uma voz a lembrarmuitas das bandas “britpop” dos anos90, dos quais se destacam os temas: “KissOff”, “Lonesome No More”, mas,sobretudo, o fenomenal “Vitamin C”.Por sua vez, o disco de estreia dosLinda Martini era um dos mais aguarda-dos da música portuguesa, num fenó-meno em tudo semelhante ao dos ArcticMonkeys no início de 2006, com con-certos esgotados, quer em Portugal,quer no estrangeiro, com os “downlo-ads” da sua maquete de apresentação aatingirem as 7000 descargas e com“Amor Combate” a rodar com algumainsistência nas rádios nacionais. Portudo isto comprei, recentemente, este“Olhos de Mongol”, que é, sem qual-quer dúvida, um grande disco. Numregisto marcadamente cru, que apesarde mostrar muitas semelhanças com osMão Morta, ou mesmo, os OrnatosVioleta, ainda que bem mais agressivos,imprimem uma enorme criatividade aoseu trabalho, sem serem apenas maisuma cópia de qualquer destas bandas. Édaqueles discos a ouvir de uma ponta àoutra e em que é difícil detectar pontosaltos e pontos baixos.

Quanto a novidades, estas não seficam pelas edições discográficas, há adestacar mais duas grandes actuaçõesem Portugal, a primeira a 4 de Abril noLux (Lisboa) com os brasileiros Canseide Ser Sexy (Tily & The Wall na pri-meira parte), e a outra a 8 de Junho com

os Pearl Jam, também, em Lisboa. Masé já no próximo sábado (dia 10), no

Coliseu de Lisboa, que os Nine InchNails de Trent Reznor se estreiam empalcos portugueses. Eu vou e prometotrazer novidades.

PARA SABER MAIS: - www.arcadefire.com- www.blocparty.com- www.lcdsoundsystem.com- www.klaxons.net- www.lindamartini.tk- Arcade Fire “Intervention” (Rough

Trade)- Bloc Party “The Prayer” (Wichita)- LCD Soundsystem “North

American Scum” (DFA)- Klaxons “Myths Of The Near

Future” (Universal)- Linda Martini “Olhos de Mongol”

(Musicactiva)

2222 MMÚÚSSIICCAA DE 7 A 20 DE FEVEREIRO DE 2007

Distorções

José Miguel [email protected]

AMANHÃ (QUINTA-FEIRA, DIA 8)

John Captain ao vivo na Fnac

John Captain fala-nos de histórias de amor, das coisas simples da vida.Rodrigo Cassiano (Rodriguez) é a voz e o mentor de Born a Lion, um verdadei-ro contador de histórias. É ele a voz e alma dos Born A Lion, esse comborock´n´roll com alma blues. São da Marinha Grande mas a sua música é univer-sal. Remete-nos para a América negra e profunda, para o blues de John LeeHooker e Bob Dylan, o country de Johnny Cash e a aspereza sónica de uns LedZeppelin ou Black Sabbath. São ritmos simples mas contagiantes, rock tal comoo conhecemos, sem concessões a modas ou futilidades. A cereja em cima dobolo: “Jailbreak” – a voz de Rodriguez acompanhada por um coro feminimo nomelhor estilo Gospel, arrepiante e delicioso. Paulo Furtado (Legendary TigerMan/Wray Gunn) foi o convidado especial dos Born a Lion e participa em doistemas: “My Black Horse” (slide-guitar) e “67´Cadillac” (voz). O vídeo “JohnCaptain” (gravado em Torre de Moncorvo, num cenário western a envolver asua realização) foi escrito e realizado pelo cineasta Carlos Barros, com a pro-dução executiva da LightBox, Lda.

GALA NO CASINO DA FIGUEIRA DA FOZ

Antigos Orfeonistascomemoram 25 anos

Decorreu no passado sábado, no Casinoda Figueira da Foz, um espectáculo de galacomemorativo dos 25 anos do Coro dosAntigos Orfeonistas da Universidade deCoimbra (UC).

Trata-se do mais prestigiado grupo coralportuguês, integralmente constituído porantigos estudantes que pertenceram ao Or-feon Académico de Coimbra.

Não surpreende, por isso, que tenha sidoum êxito esta Gala das Bodas de Prata,com o Casino repleto de espectadores queaplaudiram calorosamente a actuação dosOrfeonistas, dirigidos pelo Maestro Virgí-lio Caseiro.

Recorde-se que ainda recentemente ogrupo conquistou o segundo lugar numfestival internacional que decorreu na Re-

pública Checa e em que participaram 66coros de vários países.

Na ocasião, o Presidente do Coro dosAntigos Orfeonistas, António Luzio Vaz,exprimiu natural satisfação pela conquistadesta prestigiante Medalha de Prata (aMedalha de Ouro foi par um grupo da Po-lónia e a de Bronze para um coro italiano).

“Esta é uma grande distinção não sópara nós, mas também para a Universidadede Coimbra, para Coimbra e paraPortugal”, considerou então Luzio Vaz,advogado e Administrador dos Serviços deAcção Social da UC.

Neste quarto de século de actividade,o coro de Coimbra tem actuado umpouco por todo o Mundo e obtido su-cessivos êxitos.

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IINNTTEERRNNEETT 2233DE 7 A 20 DE FEVEREIRO DE 2007

O Habbo Hotel é um Massively Multiplayer OnlineGame (MMOG) que se destina a adolescentes commais de 13 anos. É um hotel virtual, criado em pixelart, que permite aos utilizadores criar e desenhar (lite-ralmente) uma personagem que pode passear peloshotéis e encontrar-se com os seus amigos.

Na realidade, o Haboo pode ser definido como umchat apresentado num ambiente diferente: um hotelvirtual. O registo no site é gratuito mas as moedasHabbo permitem comprar mobília, por exemplo, parao quarto de cada utilizador. Esta é uma das comunida-des mais populares entre o público jovem de todo o

mundo. O Habbo marca presença em 30 países, entreos quais Portugal onde já há mais de um milhão de uti-lizadores registados.

Habbo Hotelendereço: http://www.habbo.pt/ | categoria: comuni-dades virtuais

O Yahoo lançou um concurso mundial de vídeos naweb. O Film Your Issue dirige-se a jovens entre os 16 e os25 anos e pretende promover filmes de curta duração compreocupações sociais, ambientais e/ou políticas. As fitas aconcurso devem ter entre 30 segundos e um minuto.

Os trabalhos vão ser apresentados no JumpCut, osite de edição de vídeo do Yahoo. O júri é compostopelo jornalista Walter Cronkite, John Cusack, PeterJackson e Terry Semel, presidente do portal Yahoo.

Film Your Issue endereço: http://www.filmyourissue.com/ | categoria:vídeo

O Climate Prediction é uma iniciativa comunitáriacom o objectivo de usar a capacidade de computaçãode cada computador caseiro para ajudar a prever oclima das próximas décadas. A ideia era os utilizado-res disponibilizarem parte da capacidade de computa-ção dos seus computadores pessoais para acelerar apesquisa sobre os impactos das alterações climáticas.O resultado foi uma adesão incrível.

Mais de 250 mil utilizadores descarregaram para oseu computador o Boinc, um software que faz previ-sões climáticas e ajuda a prever as consequências doaquecimento global. A adesão superou todas as expec-tativas dos criadores do Climate Prediction, que re-centemente apresentaram os primeiros resultados. ABBC deu voz a este projecto que demonstrou que, em75 anos, o Reino Unido vai sofrer um aquecimento detrês graus.

Climate Predictionendereço: http://climateprediction.net/ | categoria:ambiente

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do InstitutoSuperior Miguel Torga

HABBO HOTEL

FILM YOUR ISSUE

CLIMATE PREDICTION

A Internet, enquanto nova esfera da opinião públi-ca, permite a democratização da difusão de comunica-ção. Trata-se da liberdade de acesso à difusão. Logo,os webzines, as páginas pessoais, os fóruns, os chats,as listas de discussão, os weblogs (as comunicaçõesmediadas por computador) dão existência a um novofenómeno – a auto-edição. Os cidadãos foram promo-vidos de receptores passivos a emissores. Nas últimassemanas, a web tem sido palco de um intenso debatesobre o referendo ao aborto, agendado para o próximodia 11 de Fevereiro. Nos blogs, no YouTube, nos sitese fóruns oficiais dos movimentos pelo Sim e pelo Não.

O REFERENDO NO YOUTUBE

No YouTube assistiu-se a um fenómeno verdadeira-mente surpreendente: Francisco Louçã e MarceloRebelo de Sousa trocaram argumentos sobre a pergun-ta do referendo. O sketche dos Gato Fedorento quefazia uma rábula às razões de Marcelo foi visto pormais de 150 mil utilizadores. Os tempos de antena,peças televisivas e intenções de voto de utilizadorescomuns estão a dominar o YouTube, que nas últimassemanas se tornou um espaço de discussão política. Oprimeiro vídeo que Marcelo Rebelo de Sousa colocouonline, intitulado “As razões do Assim Não”, chegoua estar entre os 10 mais vistos a nível mundial.

Alguns vídeos:Marcelo Rebelo de Sousa: as razões do Assim Não

– http://www.youtube.com/watch?v=AfrMHnT3jKE Resposta de Francisco Louçã a Marcelo –

http://www.youtube.com/watch?v=1X_BDnoibu0 Sketche Gato Fedorento – http://www.youtu-

be.com/watch?v=myf5ces77PU

O REFERENDO NOS BLOGS

O argumento da rede enquanto instrumento que poten-cia o activismo e a militância dos netcitizens à escalamundial e numa esfera glocal – globalizando o local,torna-se evidente em exemplos como a contestaçãoorganizada na web (em particular em weblogs e gruposde discussão no Yahoo) contra a guerra do Iraque ou,ainda mais recentemente, quanto à eleição com maioriado Hamas nas eleições palestinianas. O referendo sobrea despenalização do aborto em Portugal está a fazermultiplicar a blogosfera portuguesa.

Alguns blogs do NÃO:Razões do Não – http://www.razoesdonao.blog-

spot.com/Açores pela Vida – http://www.acorespelonao.blog-

spot.com/Blogue do Não – http://bloguedonao.blogspot.com/Aqui há esperança – http://www.aquihaesperan-

ca.blogspot.com/

Alguns blogs do SIM:Pelo Sim – http://pelo-sim.blogspot.com/Blogue do Sim – http://bloguedosim.blogspot.com/Aborto: Direito a Decidir – http://abortodireitoade-

cidir.blogspot.com/Sim no Referendo – http://abortodireitoadeci-

dir.blogspot.com/

O REFERENDO NOS SITES,INSTITUCIONAIS E COMUNITÁRIOS

As novas redes sociais na rede, derivados das poten-cialidades das Comunicações Mediadas por Compu-tador (CMC’s) e dos chamados softwares sociais, reme-tem para activismo e militância. Tradicionalmente asso-ciados à área sócio-política, estes conceitos ganham nociberespaço uma amplitude maior. As ferramentas daweb permitem aos utilizadores transpor estas noçõespara a escala global, potenciando as relações interpes-soais e a interacção social em torno de interesses e cau-sas comuns. E todos os interesses e causas têm lugar narede. O referendo ao aborto não é excepção. Neste sen-tido, aos sites associados a entidades juntam-se dezenasde sites de grupos de cidadãos independentes.

Alguns sites sobre o SIM:Médicos pela Escolha – http://www.medicospelaes-

colha.pt/Jovens pelo Sim – http://www.jovenspelosim.org/Em Movimento pelo Sim – http://www.emmovi-

mentopelosim.org/Movimento Democrático de Mulheres – http://

www.mdmulheres.com/

Alguns sites sobre o NÃO:Assim Não – http://www.assimnao.org/Não Obrigada – http://www.nao-obrigada.org/Somos Médicos, por isso Não – http://www.medi-

cosporissonao.pt.vu/Positivamente Não – http://www.positivamentenao.com

O REFERENDO NA WEB

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2244 PPUUBBLLIICCIIDDAADDEE DE 7 A 20 DE FEVEREIRO DE 2007

«Há uma vitrine num café de Viseu que está a despertar a curiosidade de quem passa. Enão é o tradicional bolo-rei, nem o bolo-rei folhado ainda desconhecido do público. O querealmente prende o olhar cúmplice dos transeuntes é o “doce proibido” que representauma mulher semi-nua na cama, traduzido uma verdadeira obra de arte na confecção depastelaria(...) Satisfeitos com o sucesso de negócio, os gerentes do café [das Beiras] esfre-gam as mãos de contentes por terem contratado um doceiro criativo como é EduardoSilva». (in Turiviajar.tv - Revista de Apoio ao Turismo, Feiras Sectoriais, Artes e Tradições).

Veja vídeo promocional em http://www.turiviajar.tvEduardoA n t u n e sd a S i l v a

TE L E M: 933 413 720

ARTE EM PASTELARIA