o legado do julgamento de nuremberg

5
Revista da Escola da Magistratura do TRF da 4ª Região n. 2 99 O legado do julgamento de Nuremberg ĂƌůŽƐ ĚƵĂƌĚŽ dŚŽŵƉƐŽŶ &ůŽƌĞƐ >ĞŶnj Desembargador Federal do TRF da 4ª Região, Diretor da Escola da Magistratura (Emagis) do TRF4 ŝǀŝůŝnjĂƟŽŶ ĚŽĞƐ ŶŽƚ ĞdžƉĞĐƚ ƚŚĂƚ LJŽƵ ĐĂŶ ŵĂŬĞ ǁĂƌ ŝŵƉŽƐƐŝďůĞ /ƚ ĚŽĞƐ ĞdžƉĞĐƚ ƚŚĂƚ LJŽƵƌ ũƵĚŝĐŝĂů ĂĐƟŽŶ ǁŝůů ƉƵƚ ƚŚĞ ĨŽƌĐĞƐ ŽĨ ŝŶƚĞƌŶĂƟŽŶĂů ůĂǁ ŝƚƐ ƉƌĞĐĞƉƚƐ ŝƚƐ ƉƌŽŚŝďŝƟŽŶƐ ĂŶĚ ŵŽƐƚ ŽĨ Ăůů ŝƚƐ ƐĂŶĐƟŽŶƐ ŽŶ ƚŚĞ ƐŝĚĞ ŽĨ ƉĞĂĐĞ so that men and women of good will in all countries may have ‘leave to live by no man’s leave, underneath the law’.” :ƵƐƟĐĞ Robert H. Jackson, discurso de abertura da acusação, em 20 de novembro de 1945. Há quase setenta anos, em 20 de novembro de 1945, iniciaram-se os procedimentos para o julgamento dos líderes nazistas naquele que se torna- ria o primeiro julgamento internacional da história: o julgamento de Nurem- berg. dĞƌŵŝŶĂĚŽ Ž ĚĞǀĂƐƚĂĚŽƌ ĐŽŶŇŝƚŽ ŵƵŶĚŝĂů ĚĞƐĐŽďĞƌƚŽƐ ŽƐ ŚŽƌƌŽƌĞƐ ƉƌĂƟĐĂĚŽƐ ƉĞůŽ ƌĞŐŝŵĞ ŶĂnjŝƐƚĂ ŝŵƉƵŶŚĂͲƐĞ Ă ƌĞƐƉŽŶƐĂďŝůŝnjĂĕĆŽ ĐƌŝŵŝŶĂů ĚŽƐ autores dos crimes contra a humanidade. ĞǀĞͲƐĞ ĂŽ WƌĞƐŝĚĞŶƚĞ &ƌĂŶŬůŝŶ ZŽŽƐĞǀĞůƚ ŝŶĐĞŶƟǀĂĚŽ ƉĞůŽ ƐĞƵ ^Ğ- ĐƌĞƚĄƌŝŽ ĚĞ ĞĨĞƐĂ ,ĞŶƌLJ ^ƟŵƐŽŶ Ă ŝŶŝĐŝĂƟǀĂ ĚĞ ĞůĂďŽƌĂƌ Ƶŵ ƉůĂŶŽ ǀŝƐĂŶĚŽ ă ƌĞĂůŝnjĂĕĆŽ ĚĞ Ƶŵ ũƵůŐĂŵĞŶƚŽ ƉƷďůŝĐŽ ŝŶƚĞŐƌĂĚŽ ƉĞůŽƐ ũƵşnjĞƐ ĚĂƐ ƉŽƚġŶĐŝĂƐ vitoriosas na segunda grande guerra, no qual seriam julgados os 21 líde- ƌĞƐ ŶĂnjŝƐƚĂƐ ĞŶƚƌĞ ĞůĞƐ ,ĞƌŵĂŶŶ 'ŽĞƌŝŶŐ :ŽĂĐŚŝŵ ǀŽŶ ZŝďďĞŶƚƌŽƉ ůďĞƌƚ Speer, Hjalmar Schacht, Franz Von Papen e o Marechal Keitel. KƐ ĂůŝĂĚŽƐ ǀŝƚŽƌŝŽƐŽƐ ĂƚĞŶƚŽƐ ăƐ ůŝĕƁĞƐ ĚĂ ,ŝƐƚſƌŝĂ ĐŽŶĐůƵşƌĂŵ ƋƵĞ ƵŵĂ das formas de ajudar a Alemanha na sua reconstrução era o reconhecimento de que os seus líderes derrotados foram justamente os principais responsá- veis, os verdadeiros arquitetos dessa destruição. Em 12 de abril de 1945, pouco antes da rendição da Alemanha, ocorre Ă ŵŽƌƚĞ ƌĞƉĞŶƟŶĂ ĚŽ WƌĞƐŝĚĞŶƚĞ ZŽŽƐĞǀĞůƚ ƋƵĞ Ġ ƐƵĐĞĚŝĚŽ ƉĞůŽ ǀŝĐĞͲƉƌĞ- sidente, Harry Truman, que encarrega o juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos, Robert H. Jackson, de organizar o Tribunal Militar Internacional e, ao mesmo tempo, ser o promotor-chefe. A missão primordial do :ƵƐƟĐĞ Jackson foi a de assegurar um julgamen- to justo, concedendo aos réus a mais ampla defesa, aquela por eles negada

Upload: carlo-velho-masi

Post on 27-Sep-2015

13 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Há quase setenta anos, em 20 de novembro de 1945, iniciaram-se os procedimentos para o julgamento dos líderes nazistas naquele que se tornaria o primeiro julgamento internacional da história: o julgamento de Nuremberg.

TRANSCRIPT

  • Revista da Escola da Magistratura do TRF da 4 Regio n. 2 99

    O legado do julgamento de Nuremberg

    Desembargador Federal do TRF da 4 Regio, Diretor da

    Escola da Magistratura (Emagis) do TRF4

    so that men and women of good will in all countries may have leave to live

    by no mans leave, underneath the law.

    Robert H. Jackson, discurso de abertura da acusao,

    em 20 de novembro de 1945.

    H quase setenta anos, em 20 de novembro de 1945, iniciaram-se os

    procedimentos para o julgamento dos lderes nazistas naquele que se torna-

    ria o primeiro julgamento internacional da histria: o julgamento de Nurem-

    berg.

    autores dos crimes contra a humanidade.

    -

    vitoriosas na segunda grande guerra, no qual seriam julgados os 21 lde-

    Speer, Hjalmar Schacht, Franz Von Papen e o Marechal Keitel.

    das formas de ajudar a Alemanha na sua reconstruo era o reconhecimento

    de que os seus lderes derrotados foram justamente os principais respons-

    veis, os verdadeiros arquitetos dessa destruio.

    Em 12 de abril de 1945, pouco antes da rendio da Alemanha, ocorre

    -

    sidente, Harry Truman, que encarrega o juiz da Suprema Corte dos Estados

    Unidos, Robert H. Jackson, de organizar o Tribunal Militar Internacional e, ao

    mesmo tempo, ser o promotor-chefe.

    A misso primordial do Jackson foi a de assegurar um julgamen-

    to justo, concedendo aos rus a mais ampla defesa, aquela por eles negada

  • Revista da Escola da Magistratura do TRF da 4 Regio n. 2100

    Homem pblico com vasta experincia nos tribunais, imbudo daquele

    -

    -

    os e a sua determinao para realizar um julgamento que demonstrasse o

    triunfo de uma moral superior, e no simplesmente o de um poder superior

    Nesse ponto, impe-se reconhecer que o Jackson era o homem

    ideal para o trabalho a ser realizado, pois, alm de seu comprovado compro-

    na boca de Creonte:

    que seja, se no o vimos agir, com autoridade, aplicando as leis.1

    Em seu primoroso discurso inaugural, dando incio ao julgamento e

    apresentando a acusao, acentuou Robert Jackson, verbis:

    -

    sos dessa ordem de importncia. No esperem que possamos evitar

    a guerra. Essa ao jurdica impulsionar as foras do direito interna-

    cional, seus preceitos, suas proibies e, sobretudo, suas sanes em

    prol da paz, para que homens e mulheres de boa vontade, em todos

    os pases do mundo, possam ter a liberdade de viver, sem ter de pedir

    permisso a ningum, sob a proteo da lei.2

    No decorrer da instruo, avolumaram-se as provas contra os rus, cujas

    atrocidades, ricamente documentadas, horrorizaram a prpria civilizao.

    norte-americano no Tribunal, verbis:

    -3

    Decorridos setenta anos do incio desse histrico julgamento, pode-se

    concluir que o legado de Nuremberg o seu prprio precedente, visto que,

    1 In 2 In .

    3 In : from the years with Roosevelt to the Nrnberg Trial. New York: Doubleday

    Co., 1962. p. 432.

  • Revista da Escola da Magistratura do TRF da 4 Regio n. 2 101

    as pessoas que com ele colaboraram no mais podem esquivar-se de suas

    responsabilidades, escondendo-se atrs da anonmia de um governo ao qual

    servem.4

    Ademais, o julgamento de Nuremberg lanou as bases de uma nova

    que os Estados soberanos podem, por meio de um sistema organizado de ne-

    Woodrow Wilson na Conferncia de Versalhes, em 1919.5

    Por outro lado, e esse, talvez, seja o seu legado mais importante,

    as decises proferidas pelo Tribunal de Nuremberg projetaram-se direta-

    das leis internacionais visando a proteger os direitos humanos, propiciando

    os seus direitos foram violados, responsabilizando os autores dessa grave

    violao.6

    Jackson, em seu cle-

    bre discurso de acusao aos criminosos nazistas, combatendo as pessoas

    dio racial, o nacionalismo xenfobo, o militarismo exacerbado e o mais cruel

    abuso de poder, verbis:

    sesso do primeiro julgamento na histria de crimes contra a paz

    mundial, o que impe uma grande responsabilidade. Os crimes que

    vamos julgar e condenar so to premeditados, to perversos e to

    devastadores que a civilizao no pode ignor-los, nem serem repe-

    -

    mente, submetem seus inimigos capturados a julgamento neste tri-

    Estes homens so os primeiros lderes de uma nao derrotada na

    que eles tm o direito de alegar inocncia e aceitamos o nus de

    4 in . Pal-

    grave-Macmillan, 2007. p. 215-9; Paul Roland, in : the Nazis and their

    crimes against humanity. Arcturus, 2010. p. 202-5.5 HOOVER, Herbert. 6 . Departement de LIn-

    -

    , mar./abr. 2013, p. 16-21.

  • Revista da Escola da Magistratura do TRF da 4 Regio n. 2102

    comprovar os atos criminosos e de responsabilizar os acusados por

    suas aes.7

    7 Op. cit., v. I, p. 114.

  • FICHA TCNICA

    DireoDes. Federal Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz

    Assessoria

    Direo da Diviso de PublicaesArlete Hartmann

    Reviso e FormataoAdemir Arcanjo Furtado

    Carlos Campos Palmeiro

    Leonardo Schneider

    Marina Spadaro Jacques

    Ricardo Lisboa Pegorini

    Tribunal Regional Federal da 4 Regio Rua Otvio Francisco Caruso da Rocha, 300

    CEP 90.010-395 | Porto Alegre | RS

    www.trf4.jus.br/emagis

    e-mail: [email protected]

    Tiragem: 600 exemplares

    Revista da Escola da Magistratura do TRF da 4. Regio. Vol. 1, n. 1 (out. 2014)- . Porto Alegre: Tribunal Regional Federal da 4. Regio, 2014- . v. ; 23 cm.

    Semestral.

    ISSN 2358-4602

    1. Direito Peridicos. I. Ttulo. II. Brasil. Tribunal Regional Fede-ral. 4. Regio.

    CDU 34(051)