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Tópicos Especiais de Economia XVIII (ANE050) Economia Urbana
Prof. Dr. Admir Antonio Betarelli Junior Esta nota de aula tem o propósito de sintetizar o conteúdo exposto em aula a partir das referências listadas na disciplina. Representa, pois, um parâmetro, não sendo um documento exclusivo para o estudo. Grande parte do conteúdo reproduz trechos traduzidos livremente das referências, especialmente:
O’SULLIVAN, A. Urban Economics. 8th ed. New York: McGraw-Hill, 2011. cap. 3.
AULA 4 – Economias de aglomeração e crescimento urbano (parte I)
1 Introdução
Se duas firmas competem por clientes em uma região, eles vão localizar
próximos ou distantes? É natural imaginar que as duas firmas dividirão a
região em duas metades, conferindo a cada firma um monopólio local. Isso é
o que aconteceu nos modelos teóricos do tópico 3, e é isso o que acontece para
muitas firmas no mundo real. No entanto, todos os tipos de firmas
concorrentes localizam-se perto um dos outros, incluindo os produtores de
tapete na Geórgia e produtores de televisão em Los Angeles. Por quê?
Este capítulo explora as economias de aglomeração e as forças
econômicas que influenciam na formação dos agrupamentos de firmas
(O’SULLIVAN, 2011).
As duas principais forças identificadas pelos economistas que levam à
concentração espacial das firmas e são as economias de escala e as
economias de aglomeração. Com as economias de escala, também conhecidas
como "retornos crescentes de escala," as empresas se tornam mais eficientes
em grandes escalas de operação, produzindo mais produto por unidade de
insumo do que em escalas menores. Ou melhor, economias de escala
referem-se quando em certos locais as atividades econômicas adquirem
ganhos de produtividade dos fatores de produção proporcionais ao
decréscimo dos custos unitários de produção (i.e. retornos crescentes de
(A(A )
2
escala). As economias de escala favorecem, assim, a formação de grandes
empresas. Marshall (1982) afirma que as economias de escalas são
originadas fundamentalmente da divisão social do trabalho (especialização,
destrezas e produtividade).
Já as economias de aglomeração capturam os benefícios usufruídos por
uma empresa quando ela se localiza junto às demais empresas privadas.
Esses benefícios incluem o potencial de economia nos custos de insumos,
bem como os ganhos de produtividade (BRUECKNER, 2011). Assim, para
compreender o fenômeno de aglomeração das unidades produtivas (firmas)
em certas cidades dentro de um sistema urbano é necessário assumir que
em tais localidades, as firmas gozam de economias de escala por estarem
próximas. As forças que atuam sobre as firmas em uma única indústria são
chamadas de economias de localização ou “locais” para um determinado
setor. Por exemplo, firmas agrupadas (cluster) em uma indústria de
software no Vale do Silício. Se tais firmas não adquirissem economias de
escala, a concentração delas em uma cidade seria economicamente inviável,
pois os custos seriam altos (e.g., renda fundiária e salários). Por outro lado,
economias de localização, obtidas pelas firmas por estarem próximas, mais
que compensariam a elevação de tais custos. Dessa maneira, a concentração
é lucrativa às firmas. Perante tais vantagens, novas firmas e trabalhadores
seriam atraídos ao centro urbano, levando para um processo cumulativo de
crescimento local (MCCANN, 2013).
Por exemplo, considere um processo de produção como a de montagem
de automóveis. Este processo apresenta claramente economias de escala,
uma vez que as plantas de montagem tendem a ser grandes, tipicamente
empregando 2.000 trabalhadores ou mais. Assim, uma fábrica de montagem
vai levar a uma concentração espacial de emprego, e esses trabalhadores da
indústria automobilística (e seus familiares), por sua vez, atraem outros
estabelecimentos destinados a atender as suas necessidades pessoais -
supermercados, postos de gasolina, consultórios, e assim por diante. O
resultado será uma "cidade manufatureira" com a fábrica de automóveis no
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seu centro. Mas quão grande será essa cidade? Na ausência de qualquer
outro grande empregador, a sua população pode ser limitada em tamanho,
digamos próximo de 25.000. O resultado é que embora as economias de
escala por si só possam gerar uma cidade manufatureira, por si só elas não
serão tão grande como São Paulo ou Chicago. Para gerar tal metrópole,
muitas firmas devem localizar-se junto em estreita proximidade. Para este
resultado ocorrer, as economias de aglomeração têm de estar presente.
Quando as economias de aglomeração cruzam aos limites da indústria,
as mesmas são chamadas de economias de urbanização. A ideia é que a
presença de firmas em uma indústria atrai firmas em outras indústrias. Por
exemplo, as sedes de empresas de diferentes indústrias aglomeram nas
cidades. Economias de urbanização levam ao desenvolvimento de grandes
cidades diversificadas. Ou melhor, economias de urbanização representam o
ambiente econômico local, as vantagens de escala do processo de
urbanização em razão da diversidade das atividades econômicas. Enquanto
que essa diversidade é formada pela interação dos setores, a especialização
na cidade é resultado das interações econômicas dentro de um mesmo setor
(economias de localização). Dessa maneira, uma cidade com uma base
econômica principal, um grande setor, e uma ampla base de outros setores
pode ser, ao mesmo tempo, diversificada e especializada. Portanto,
diversificação e especialização não são conceitos dicotômicos. Jacobs (1960)
destaca ainda que a multiplicidade de bens e serviços, tecnologias e
conhecimentos próprios nesse ambiente econômico, que possui um centro
urbano, potencializam inovações originadas da fecundação de ideias entre os
setores a sua base econômica. A cidade é o lugar onde a inovação ocorre.
2 As fontes de economias de aglomeração
As economias de aglomeração podem ser pecuniárias ou tecnológicas. As
economias de aglomeração pecuniárias conduzem a uma redução no custo
dos insumos de uma firma sem propriamente afetar a produtividade dos
insumos. Por outro lado, as economias de aglomeração tecnológicas elevam a
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produtividade dos insumos sem baixar o seu custo. Em termos simples, as
economias pecuniárias estabelecem alguns insumos mais baratos nas
grandes cidades do que nas pequenas, enquanto as economias tecnológicas
estabelecem insumos mais produtivos nas grandes cidades do que nas
pequenas (BRUECKNER, 2011).
Esses dois conceitos representam as origens das economias externas
marshalianas. Ou melhor, enquanto que as economias internas
correspondem aos ganhos de escala no nível das firmas; as economias
externas dependem do desenvolvimento geral do setor industrial (e.g.,
disponibilidade e especialização dos recursos produtivos, acumulação de
capital humano e formação de novas ideias) (BRUECKNER, 2011).
2.1 Economias de aglomeração pecuniárias
2.1.1 Compartilhando insumos intermediários (primeira fonte)
Esta seção explora a primeira fonte de economias de aglomeração.
Algumas firmas concorrentes localizam-se perto uma das outras para
compartilhar um fornecedor que produz um insumo de intermediário. O
conceito de insumos de produção inclui, além do trabalho, capital (máquinas,
equipamentos, estruturas) e terra, os insumos intermediários (matérias-
primas). Insumo intermediário é algo que é produzido por uma firma para
ser usada no processo produtivo de uma segunda firma (O’SULLIVAN,
2011). Por exemplo, a Firma A produz bobinas de papel, cujo insumo
intermediário é utilizado na fabricação de sacos de papel na Firma B. Deste
exemplo emerge o conceito de encadeamento para trás e para frente.
Encadeamento para trás refere-se o quanto uma firma comprou em produto
da outra firma, ou seja, ótica de compra. Já encadeamento para frente
corresponde o quanto uma firma vendeu de produto para a outra, ou melhor,
ótica de venda.
Suponha uma firma especializada na produção de botões, cuja
produção apresenta insumos indivisíveis e mão-de-obra especializada, ou
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seja, o custo por unidade produzida (botão) diminui à medida que a produção
aumenta. Essas economias de escala são grandes e expressivas, o que
estimularia uma costureira a comprar botão como insumo intermediário ao
invés de produzi-lo. Além dessa hipótese, assume-se que uma costureira
deve se localizar perto do fornecedor de botão a fim de ter economia de
tempo. A costureira também incorreria em um custo se modificasse o botão
comprado.
A Figura 1 ilustra o custo médio de botões a partir da perspectiva da
costureira. Visualizando o custo de uma única costureira isoladamente,
haveria um alto custo pela compra do botão. Existem duas razões. Primeiro,
o fabricante de botão produz para uma única costureira, então o nível de
produção (produto) será relativamente baixo e o custo médio (e preço) de
botões será relativamente elevado. Segundo, o fabricante de botão produz
apenas um tipo de botão (por exemplo, botões quadrados), de modo que os
custos de modificação da costureira serão relativamente altos.
Figura 1 – Cluster e o custo médio do insumo intermediário
Fonte: Adaptado de O’Sullivan (2011).
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A costureira em um agrupamento (cluster) tem menores custos de
botão por dois motivos. Em primeiro lugar, um cluster de várias costureiras
gerará demanda suficiente pelo botão de modo que o fabricante possa
explorar economias de escala, levando a preços mais baixos de botão. Em
segundo lugar, uma maior demanda total por botões permitirá que o
fabricante se especialize em diferentes variedades de botões, reduzindo os
custos de modificações das costureiras. Em um cluster, uma costureira pode
ser capaz de escolher botões quadrados, hexagonais ou em triângulos.
Conforme a Figura 1, o custo médio (e preço) de botões cai de $ 0,50 de uma
situação isolada para $ 0,25 em um agrupamento de 6 firmas. O custo mais
baixo fornece um incentivo para as costureiras se agruparem e
compartilharem um mesmo fornecedor de botão (O’SULLIVAN, 2011).
Assim, localizar em uma cidade grande também poderia reduzir o
custo dos insumos intermediários fornecidos por certas firmas às outras.
Não somente em razão do aumento da demanda, conforme no exemplo
anterior, mas também porque os fornecedores poderiam competir entre si,
derrubando os preços e assim diminuindo o preço do insumo intermediário
(bens e serviços). Por exemplo, a competição da cidade grande também
poderia reduzir os preços de outros serviços de negócios (e.g., serviços
jurídicos e de publicidade, limpeza comercial e assim por diante)
(BRUECKNER, 2011). Em alguns casos, uma cidade pequena pode não ter
um serviço de negócio especializado (e.g., serviços jurídicos). A firma
demandante poderia, então, pagar advogados caros em cidades grandes para
viajar até a sua sede, ou então teria de desenvolver a experiência necessária
"em casa" a um custo elevado. Neste caso, os custos mais altos dos insumos
decorrem da pura indisponibilidade local do serviço na cidade pequena ao
invés do baixo grau de concorrência entre os fornecedores locais
(BRUECKNER, 2011).
As firmas também compram serviços de transporte, que são utilizados
no transporte de produto até o mercado e transporte de insumos do local de
produção. Uma firma pode reduzir seus custos de transporte de produto
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localizando perto de seu mercado, e pode reduzir os seus custos de
transporte de insumo, localizando perto de seus fornecedores. Uma cidade
grande, com muitas famílias, é um mercado provável para a produção, e
pode também acolher muitos dos fornecedores de insumos de uma firma.
Nesta situação, a firma pode minimizar seus custos de transporte, tanto
para o produto como para insumos, por também localizar na cidade grande.
Assim, em vez de enfrentar um preço menor por unidade de serviços de
transporte na cidade grande (um menor custo por tonelada-quilômetro), a
firma se beneficiaria por poder usar menos desse serviço em virtude de sua
proximidade com o mercado consumidor e com os fornecedores
(BRUECKNER, 2011).
Entretanto, como em Weber (1909), o local com o menor custo total de
transporte pode não ser na cidade grande, de modo que as economias de
aglomeração relacionadas com os transportes podem não ser operacionais
(BRUECKNER, 2011).
2.1.2 Efeito retroalimentador gera clusters industriais
Até agora, foi visto que o agrupamento é benéfico às firmas, pois o
mesmo permite que as mesmas possam tirar proveito das economias de
aglomeração, como, por exemplo, compartilhar insumos. E quanto aos
custos? Nesta seção usaremos um exemplo de agrupamento de produtores de
cinema para explorar os custos e benefícios da aglomeração. Quando as
economias de aglomeração são fortes o suficiente para compensar o custo de
se agrupar, firmas formarão clusters industriais, desenvolvendo cidades
especializadas.
2.1.2.1 Benefícios e custos de cluster
Considere as decisões de localização dos produtores de cinema.
Suponha que o fornecedor de equipamentos de filme apresente grandes
economias de escala em relação à demanda de um produtor individual.
Como resultado, os produtores de filmes compram este insumo
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intermediário ao invés de produzi-lo também. Localizando em um cluster, os
produtores de filme podem compartilhar o referido fornecedor e beneficiar
pelo menor preço dos equipamentos.
A Figura 2a apresenta os trade-offs associados com o agrupamento.
Na partir do canto superior esquerdo, a curva negativamente inclinada
mostra que o custo de produção de cada produtor diminui à medida em que o
tamanho do cluster aumenta. Observa-se também que o preço ou custo
médio dos equipamentos de filme diminui. Já a curva positivamente
inclinada aponta o custo de trabalho do produtor de filme. Quanto maior for
o número das firmas no cluster, maior a competição pelo fator trabalho, e,
assim, maiores serão os salários dos trabalhadores em cada produtora de
filmes. A curva em forma de U mostra o custo total da firma, que é igual a
soma dos custos de equipamentos (prop cost) e de trabalho (labor cost).
Figura 2a – Trade-off entre custos e benefícios no cluster
Fonte: Adaptado de O’Sullivan (2011).
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Passando de uma para duas firmas, a economia com o custo de
equipamentos mais que compensa o aumento do custo trabalhista, e a curva
de custo total atinge o seu mínimo com dois produtores de cinema no cluster.
Após esse ponto mínimo, o aumento dos custos trabalhistas domina
relativamente, tornando crescente o custo total.
A Figura 2b apresenta o nível de lucro de um produtor de filme típico
para diferentes números de produtores no cluster. Suponha que a receita do
produtor típico seja constante em $82, e o lucro é igual a essa receita fixa
menos o custo total (equipamentos mais de trabalho). O ponto a denota o
lucro de um único produto, ou seja, $10 = $82 - $ 72 ($ 60 em equipamentos
mais $ 12 em salários). Como o número de firmas do cluster aumenta, o
lucro eleva incialmente e, em seguida, diminui. A forma de U invertida
reflete esse decréscimo quando custo total está crescendo. Com cinco
produtores no cluster, o lucro por produtor neste cluster é igual ao lucro do
produtor isolado, isto é, na situação em que os mesmo não tivesse se
agrupado (ponto e).
Figura 2b – Lucratividade em cluster
Fonte: Adaptado de O’Sullivan (2011).
O gráfico a direta apresenta a diferença entre o lucro de um produtor
de cinema em um cluster e lucro de um produtor isolado ($ 10). Essa
diferença atinge o seu máximo com duas firmas no cluster, ou seja, $ 18 no
ponto B, que, posteriormente, encolhe. Com cinco firmas no cluster essa
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diferença é novamente nula (ponto E). Como muitos produtores de filmes irá
localizar no cluster? Suponha que temos um grande número de produtores
de cinema, e inicialmente cada um está isolado, ganhando um lucro de $ 10
(ponto a na Figura 2b). Será que este resultado de dispersão persiste?
Suponha que um único produtor do filme muda ao lado de outro, formando
um cluster de duas firmas. Como ilustrado na Figura 2b, cada firma no
cluster ganhará $28 (pontoa b), ou $18 a mais do que uma firma isolada
(ponto B). Este lucro maior dará as demais firmas isoladas um incentivo
para mudar ao cluster. A terceira firma no cluster ganhará $26 no cluster
em comparação com $10 em isolamento, com uma diferença (gap) de $ 16
intervalo (ponto C). Firmas continuarão a adentrar ao cluster, desde que o
hiato de lucro seja positivo, isto é, enquanto a localização do cluster for mais
lucrativa do que a localização isolada.
No equilíbrio estável, existem cinco firmas no cluster (ponto E). Neste
ponto, cada firma no cluster ganha $10, o mesmo que uma situação isolada.
As economias de aglomeração de compartilhar um fornecedor de insumo
intermediário geram mudanças retroalimentadoras, conforme o segundo
axioma da economia urbana.
Neste caso, os produtores de filmes que concorrem por fator trabalho
não se dispersam para minimizar os custos salariais, mas, em vez disso, se
agrupam para aferirem economias de aglomeração. Neste exemplo,
crescentes custos trabalhistas geram deseconomias de escala, que limitam o
agrupamento (aglomeração). Entretanto, a mesma lógica se aplica as outras
deseconomias, tais como o aumento dos custos transporte, renda fundiária, e
custos de produção (O’SULLIVAN, 2011).
2.1.3 Compartilhando o pool de trabalho (segunda fonte)
Esta seção explora a segunda fonte de economias de aglomeração.
Algumas atividades econômicas, como produtores de televisão e de software
de computador possuem pelo menos uma característica comum. Ambas
enfrentam uma demanda dinâmica e rápida pelos seus produtos. Muitos
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produtos são ofertados no mercado e somente alguns deles terão sucesso nas
vendas. Firmas sem sucesso demitirão trabalhadores, enquanto que as bem-
sucedidas os contratarão. Assim, um conjunto de firmas facilita a
transferência de trabalhadores de firmas fracassadas para as bem-
sucedidas.
A noção fundamental de compartilhar um pool de trabalho é que o
processo de expansão e recessão ocorre em nível da firma, não à indústria.
Suponha que a demanda total por um produto de uma indústria seja
constante ao longo do tempo, porém a demanda de cada firma individual
varia em ano para ano. Por exemplo, na indústria de software a demanda é
constante, enquanto o sucesso de uma firma no setor vem em detrimento
das outras, que introduzem produtos similares.
Primeiramente, considere a situação de firma isolada, isto é, fora de
qualquer cluster industrial. Nessa situação inexiste concorrência por
trabalho dentro de sua cidade, assumindo também que a oferta de trabalho
no local isolado é perfeitamente inelástica, fixada em 12 trabalhadores. Isso
significa que os salários vão subir e descer conforme as alterações na
demanda pelo produto da firma. Quando essa demanda de produto é alta,
eleva a demanda por trabalho. A Figura 3A ilustra esse caso, ou seja, o
equilíbrio no mercado de trabalho com curva de oferta vertical (inelástica).
No painel A, o aumento da demanda de trabalho alcança um salário
de equilíbrio de $ 16 (ponto b), ao passo que na demanda baixa, o salário de
equilíbrio é menor ($4 no ponto h). Para resumir, a firma isolada contrata o
mesmo número de trabalhadores durante alta e baixa demanda do seu
produto, mas paga um salário menor quando a demanda pelo produto é
baixa.
A principal diferença entre um sítio isolado e um cluster diz respeito à
competição por trabalho e a variabilidade dos salários. Trabalhadores no
cluster podem escolher entre um grande número de firmas. Para cada
contratação de trabalhadores por firmas bem-sucedidas, há uma demissão
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de trabalhadores por firmas mal-sucedidas. Portanto, a demanda total de
trabalho no cluster é constante, bem como o salário de equilíbrio.
Figura 3 – Cluster por compartilhar o pool de trabalho
Fonte: Adaptado de O’Sullivan (2011).
Trabalhadores são móveis entre o sítio isolado e o cluster, e em
equilíbrio eles serão indiferentes entre os dois locais. Lembre-se do primeiro
axioma da urbana economia: preços se ajustam para gerar o equilíbrio
locacional.
No local isolado, o salário é incerto, sendo ou $16 durante a alta
demanda ou $4 durante a baixa demanda. Os dois resultados são
igualmente prováveis, então o salário esperado (a soma das probabilidades
vezes o salário) é de $10:
Salário esperado = 0,5*16+0,50*4 = $10
Para fazer com que os trabalhadores sejam indiferentes entre os dois
locais, os salários no cluster devem ser de $ 10.
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O painel B da Figura 3 ilustra os resultados em um cluster. Uma
firma individual pode contratar tantos trabalhadores quanto ela preferir no
no salário de mercado. As contratações de uma firma típica atingem 21
trabalhadores, quando a demanda é alta (alínea d), mas apenas 3
trabalhadores quando a demanda é baixa (alínea j). Quando a demanda
pelos produtos de uma firma muda do nível alto para baixo, a firma demite
18 trabalhadores, ao mesmo tempo em que outra firma no cluster contratam
os mesmos 18 trabalhadores.
Além disso, os lucros esperados serão maiores no cluster. Para ver o
porquê, considere o que acontece quando uma firma se move de um local
isolado para um cluster e depois experimenta um ano de alta demanda,
seguido de um ano de baixa demanda.
a) Boa notícia quando a demanda é alta. A mudança para o cluster corta o
salário (de $16 para $10) e permite à firma contratar mais trabalhadores
(21 em vez de 12), gerando um maior lucro no cluster;
b) Má notícia quando a demanda é baixa. A mudança para o cluster
aumenta o salário (de $4 para $10), gerando menor lucro no cluster.
Qual a notícia que predomina? A boa notícia com alta demanda ou a
má notícia com baixa demanda?
A boa notícia vai dominar a má notícia, porque uma firma no cluster
responde a alterações na demanda pelo seu produto. Quando a demanda é
alta, a firma aproveita os salários mais baixos (uma lacuna de $6) no cluster
com a contratação de mais trabalhadores (21). Quando a demanda é baixa,
uma firma no cluster amortece o golpe de baixa demanda pelo seu produto
contratando menos trabalhadores (apenas 3). Uma vez que a firma muda a
sua força de trabalho quando se altera a demanda pelo seu produto, a boa
notícia será grande em relação à má notícia, e o lucro será maior no cluster.
Outra forma de mostrar o porquê o lucro é relativamente maior no
cluster é calcular o lucro esperado nos dois locais. No Painel A da Figura 3, o
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triângulo abc mostra o lucro de uma firma isolada quando a demanda é alta
($ 48). Já o triângulo ghi apresenta o lucro quando a demanda é baixa ($48).
No Painel B, o lucro com alta demanda é apresentado pelo triângulo adf
($147), ao passo que o lucro com baixa demanda é mostrado pelo triângulo
gjf ($3) em um cluster. Então, se os dois resultados são igualmente
prováveis, o lucro esperado no cluster é $75 (média entre $147 e $3),
comparado com $48 no sítio isolado.
2.1.4 Correspondência ou sincronização de trabalho
Esta seção explora a terceira fonte de economias de aglomeração:
labor matching. Em um modelo econômico típico de mercado de trabalho,
assumimos que os trabalhadores e firmas são combinados perfeitamente.
Cada firma pode contratar os trabalhadores que têm precisamente as
habilidades requeridas. No mundo real, as coisas não são tão organizadas
assim. No mundo real, uma grande cidade pode melhorar a correspondência
dos trabalhadores e das firmas, diminuindo os custos de treinamento e
aumentando a produtividade.
Como uma ilustração do problema de correspondência de trabalho,
considere um conjunto de firmas de software, que contratam programadores
de computador. Os programadores têm habilidades diferentes, dependendo
de sua instalação com diferentes linguagens de programação (e.g., Java) e
sua experiência com diferentes tarefas de programação (e.g., gráficos,
processamento de número, sistemas operacionais). Apesar de alguns
programadores serem mais produtivos do que outros, o que importa para o
modelo de correspondência é que eles têm diferentes habilidades. A firma
entra no mercado necessitando de habilidade particular e contratará
trabalhadores que oferecem melhores habilidades.
Helsley e Strange (1990) desenvolveram um modelo formal de
correspondência de trabalho. O modelo utiliza vários pressupostos sobre
trabalhadores e firmas, tais como:
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a) Variação de qualificação dos trabalhadores. Cada trabalhador tem uma
habilidade única descrita em uma posição ou "endereço" em círculo. No
painel A da Figura 4 existem quatro trabalhadores e as suas respectivas
competências são uniformemente espaçadas no círculo. O endereço de um
trabalhador é a distância entre a sua posição de habilidade e o polo norte
do círculo. Os endereços dos quatro trabalhadores são {0, 2/8, 4/8, 6/8};
b) Entrada de firmas. Cada firma entra no mercado, escolhendo um bem
para produzir e uma habilidade especializada requerida. No Painel A da
Figura 4, uma firma entra com uma habilidade r de S=1/8, e uma
segunda firma entra com S=5/8;
c) Os custos de formação. Trabalhadores arcam com os custos associados
para aproximar a sua habilidade do nível requerido pela firma.
Portanto, haveria um gap de habilidades;
d) Competição por trabalhadores. Cada firma oferece um salário aos
trabalhadores que atende o nível requerido de habilidade, e cada
trabalhador aceita a oferta com maior salário líquido, que é igual ao
salário menos o custo de treinamento exigido a fim de aproximar a sua
habilidade àquela requerida pela firma.
Os próximos dois pressupostos do modelo de correspondência estão
relacionados com os axiomas da economia urbana: Produção está sujeita às
economias de escala.
Devido às economias de escala na produção, cada firma vai contratar
mais de um trabalhador. Isto é importante porque, na ausência de
economias de escala, cada firma iria contratar apenas um trabalhador, e
cada trabalhador será perfeitamente sincronizado com uma firma. Para
simplificar, supomos que as economias de escala exigem que cada firma
contrate dois trabalhadores. Por fim, suponha também que a entrada de
firmas é livre. Assim, firmas continuarão a entrar no mercado até que o
lucro econômico seja zero.
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No modelo de correspondência de trabalho, entrada envolve escolher
um requisito habilidade e contratar trabalhadores com habilidades
estreitamente alinhadas (sincronizadas). Em outras palavras, cada firma é
um monopsônio local (Comprador único) e em seu entorno existe um
intervalo de habilidades. O painel A da Figura 4 ilustra o equilíbrio com
quatro tipos de habilidades e duas firmas. A incompatibilidade de equilíbrio
por trabalhador é de 1/8. Por exemplo, os trabalhadores S=0 e S=2/8
trabalham em uma firma com S=1/8, de modo que cada trabalhador tem um
gap de habilidade de 1/8. Cada firma paga um salário bruto igual ao valor do
produto produzido por um trabalhador perfeitamente compatível.
Figura 4 – Correspondência de habilidades
Painel A: 4 tipos de habilidade Painel B: 6 tipos de habilidade
Fonte: Adaptado de O’Sullivan (2011).
O salário líquido auferido por um trabalhador é igual ao salário bruto
menos o custo de treinamento:
salário líquido =
salário bruto – Gap de habilidade*custo unitário de treinamento
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Suponha que o salário bruto seja de $12 e o custo unitário de
treinamento seja $24. No equilíbrio do painel A da Figura 4, o gap de
habilidade é de 1/8, de modo que o salário líquido seria:
Salário líquido = $12 – (1/8)*$24 = $9
Economias de aglomeração: mais trabalhadores implicam em melhores
correspondências
O que acontece com as habilidades correspondentes quando uma
economia urbana cresce? Podemos representar isso pelo crescimento do
tamanho da força de trabalho, elevando o número de trabalhadores na
unidade circular. Isso aumenta a densidade dos trabalhadores no que diz
respeito às habilidades, mas não faz mudar a gama de habilidades. Como
veremos, mais trabalhadores significam uma melhora na correspondência de
habilidades e salários líquidos mais elevados.
Tabela 1 – Trabalhadores, habilidades e salário líquido
O painel B da Figura 4 apresenta os efeitos de um aumento do
número de trabalhadores, de quatro para seis. Cada firma ainda contrataria
dois trabalhadores, de modo que três firmas entrarão no mercado. No Painel
B, os seis trabalhadores estão igualmente espaçados, com correspondentes
habilidades localizadas {0, 2/12, 4/12, 6/12, 8/12, 10/12}. As três firmas
entram no mercado com habilidades requeridas {1/12, 5/12, 9/12} e a
incompatibilidade por trabalhador cai para 1/12. Por exemplo, os
trabalhadores da habilidade 0 e 2/12 são contratados pela firma localizada
4 1/8 $24/8=$3 $12 - $3 =$9
6 1/12 $24/12=$2 $12 - $2 =$10
12 1/24 $24/24=$1 $12 - $1 =$11
Fonte: Adaptado de O’Sullivan (2011)
Número de trabalhadores
Gap de habilidade
Custo de treinamento
Salário líquido
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com habilidade requerida de 1/12, e cada trabalhador tem uma
incompatibilidade de 1/12. Assim, esses trabalhadores incorrerão em
menores custos de formação e, portanto, os salários líquidos aumentarão
para $10:
Salário líquido = $12 – (1/12)*$24 = $10
Em geral, um aumento do número de trabalhadores e uma diminuição
nos custos de formação elevam o salário líquido. Isso é visualizado na Tabela
1 para até 12 trabalhadores. Assim, quais seriam as implicações da
harmonização de habilidade para o desenvolvimento da aglomeração urbana
e de firmas? A presença de uma grande força de trabalho atrai firmas que
competem por trabalhadores, gerando melhores correspondências de
habilidade e maiores salários líquidos aos trabalhadores. O maior salário
líquido fornece um incentivo para que os trabalhadores residirem nas
cidades, atraindo mutuamente trabalhadores e firmas. Tanto as firmas
quanto os trabalhares se beneficiariam pela melhor correspondência de
habilidades (O’SULLIVAN, 2011).
Em resumo, o mercado de trabalho apresenta exemplos de economias
de aglomeração pecuniárias. Considere uma cidade grande, com uma grande
concentração de empregos e, portanto, um grande mercado de trabalho, onde
muitos trabalhadores oferecem os seus serviços de trabalho para os
empregadores. Suponha que uma firma está tentando contratar um tipo
especializado de trabalhador, com habilidades que são raras entre a
população trabalhadora. Com esse grande mercado de trabalho, alguns
desses trabalhadores podem residir em uma cidade grande, o que também
reduziriam os custos de treinamento e de pesquisas por um trabalhador com
habilidade requerida por certa firma. Provavelmente o mercado de trabalho
de uma cidade pequena não dotaria de trabalhadores com habilidades
desejadas. Esta ausência forçaria o empregador a realizar uma pesquisa
mais cara em outras cidades, e trazer os candidatos ao emprego de longe
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para a entrevista. A firma também pagaria os custos de mudanças e
comutação de um trabalhador contratado, somando os seus custos de
contratação. Assim, por localizar em uma cidade grande, uma firma pode
diminuir o seu custo de contratação de mão de obra especializada. A
concentração de emprego existente na cidade grande atrai, portanto, ainda
mais empregos com as firmas localizando lá para reduzir os seus custos de
contratação. A cidade grande, então, torna-se ainda maior como resultado
deste efeito de aglomeração (BRUECKNER, 2011).
2.1.5 Resumo, economias externas pecuniárias
As economias externas pecuniárias apontam que se as firmas de uma
indústria estiverem no mesmo distrito, haverá uma maior produção de
insumos intermediários. Dessa maneira, uma maior escala de produção
resulta em uma maior diversificação dos insumos produzidos. A maior
diversificação de insumos localizados possibilita que as vendas e compras da
firma individual reduzam os custos de produção, tanto de seus clientes como
de seus fornecedores. Ou melhor, a maior diversificação de fornecedores
permite o surgimento de economias internas de escala à firma individual e
resulta em economias externas no distrito via encadeamentos para frente e
para trás. Por outro lado, a atração de trabalhadores especializados para a
localidade amplia a oferta de trabalho à indústria local e, assim, gera
ganhos de especialização pelo aumento da divisão social do trabalho
(MCCANN, 2013).
2.2 Economias de aglomeração tecnológicas
2.2.1 Transbordamentos de conhecimento (spillovers)
A quarta fonte de economia aglomeração emerge dos conhecimentos
compartilhados entre as firmas em uma indústria. Como Marshall (1920),
explicou:
20
Quando uma indústria optou por uma localidade para si, é provável que ela fique lá por muito tempo; então, grandes são as vantagens para as pessoas seguirem o mesmo comércio especializado e localizarem uma perto das outras. Os mistérios do comércio se tornou nenhum mistério; mas são como se estivessem no ar, e as crianças aprendem muitos deles inconscientemente. O bom trabalho é apreciado; invenções e melhorias nas máquinas, nos processos e na organização geral têm seus méritos discutidos prontamente; se um homem começa uma nova ideia, ela é absorvida pelos outros e combinada com sugestões de seus próprios interesses; e assim torna-se a fonte de novas ideias.
Há ampla evidência de que transbordamentos de conhecimento
causam agrupamento de firmas. Dumais, Ellison e Glaeser (2002) mostram
que os transbordamentos de conhecimento aumentam o número de novos
nascimentos de plantas, com o maior efeito sobre as indústrias que
empregam os recém-formados. Seus resultados sugerem que
transbordamentos de conhecimento são importantes para determinar a
localização de firmas em indústrias orientadas à ideia. Rosenthal e Strange
(2001) mostram que as indústrias mais inovadoras são mais propensas a
formar aglomerados. Esses autores também demonstram que
transbordamentos de conhecimento são altamente localizados, esmorecendo
a uma distância de algumas milhas.
Há também evidências de que os transbordamentos de conhecimento
são mais importantes àss indústrias com pequenas e competitivas firmas.
Um estudo recente comparou dois grupos de indústria eletrônica, Silicon
Valley e Rota 128, perto de Boston (Saxenian da Califórnia, 1994).
Transbordamentos de conhecimento são mais importantes no Vale do Silício
porque sua rede de empresas especializadas gera uma atmosfera de
colaboração, experimentação, e conhecimento compartilhado. Em contraste,
as firmas agrupadas na Route-128 são menos interdependentes e, por isso,
há menos transbordamentos de conhecimento (O’SULLIVAN, 2011).
Para entender como esse efeito pode surgir, suponha que uma firma
de alta tecnologia gaste expressivamente em pesquisa e desenvolvimento
21
(P&D). Esta despesa monetária gera novas tecnologias e produtos que a
firma pode patentear, permitindo-lhe gerar receita com o licenciamento de
suas descobertas. Suponha por simplicidade que a produção da firma é
medida pelo número de patentes que gera por ano, e que o único insumo é o
trabalho, medido pelo número de engenheiros que a firma emprega
(BRUECKNER, 2011).
A função de produção é representada na Figura 5, com o produto
(patentes) no eixo vertical e o insumo (engenheiros) no eixo horizontal. A
Figura 5 apresenta duas funções de produção diferentes, que se aplicam em
diferentes situações. A curva inferior é relevante quando a firma se localiza
em uma cidade pequena, onde algumas outras firmas de alta tecnologia
estão presentes. A curva superior é relevante quando a firma se localiza em
uma cidade grande em meio a um grande número de outras firmas de alta
tecnologia. A maior altura da curva superior indica que a firma produz mais
patentes para qualquer número de engenheiros, quando se localiza em uma
cidade grande. Assim, os engenheiros são mais produtivos, gerando mais
ideias patenteáveis na cidade grande (BRUECKNER, 2011).
Figura 5 - Economias de aglomeração tecnológicas
Fonte: Adaptado de Brueckner (2011).
.
22
Este efeito benéfico poderia ser um resultado do "transbordamento de
conhecimentos" entre as firmas de alta tecnologia, que são um tipo de
externalidade. Enquanto os engenheiros dentro de uma determinada firma
colaboram intensivamente na produção de ideias patenteáveis, os
transbordamentos surgem quando o contato entre os engenheiros em
diferentes firmas também estimula esse processo produtivo. Por exemplo, os
engenheiros de diferentes firmas de alta tecnologia podem se socializar
juntos, compartilhando uma garrafa de cerveja em uma sexta-feira de
"happy hour". Embora os engenheiros não gostem de divulgar segredos
particulares de suas firmas, a discussão happy-hour pode cobrir ideias mais
gerais, e que poderia fazer os engenheiros a pensarem em novas direções.
Pode-se, então, gerar novos processos com registros de patentes. Assim, os
engenheiros acabam sendo mais produtivos porque a grande concentração
do emprego de alta tecnologia lhes permite interagir com os colegas que
possuem um trabalho semelhante em outras firmas (BRUECKNER, 2011).
Embora numa cidade grande tenha uma provável concentração do
emprego de alta tecnologia, permitindo a ocorrência de transbordamentos de
conhecimento, algumas delas podem não ter muitas firmas de alta
tecnologia. Assim, a distinção de cidade grande/pequena pode ser menos
relevante para o transbordamento de conhecimento do que foi para as
economias de aglomeração pecuniárias. Em vez disso, o que importa é o grau
de concentração e interação de trabalhadores na indústria de uma cidade em
que ocorram esses transbordamentos. Assim, uma cidade pequena ou média
pode ter uma grande concentração e interação de trabalhadores de uma
indústria, oferecendo expressivas economias de aglomeração tecnológicas às
firmas da indústria, apesar da dimensão limitada da cidade (BRUECKNER,
2011).
Além dos transbordamentos de conhecimento, existem outros canais
para a qual esse efeito de aglomeração possa ser imaginado. Quando o
emprego de uma cidade em uma determinada indústria é grande, a
existência de um grande contingente de trabalho faz com que a substituição
23
entre os trabalhadores seja facilitada. Como resultado, os trabalhadores
improdutivos podem ser acionados com pouca interrupção para a firma, uma
vez que eles podem ser imediatamente substituídos. Reconhecendo esta
possibilidade, os funcionários irão trabalhar mais intensivamente (duro),
alcançando maior produtividade do que em um ambiente com maiores
restrições de punição e demissão.
O grande contingente de trabalho também confere aos empregadores
uma ampla gama de escolha em decisões de contratação, o que pode tornar
mais difícil para qualquer indivíduo garantir um primeiro emprego na
indústria. Os trabalhadores podem, então, ter um incentivo para melhorar
suas habilidades a partir de educação adicional e treinamento, e esses
esforços levariam a uma maior produtividade. Assim, a existência de um
grande contingente de trabalho pode aumentar a produtividade para os
trabalhadores que tentam conseguir um emprego, bem como para aqueles
que estão preocupados com a perda de uma vaga (BRUECKNER, 2011).
Outro canal pode surgir a partir do fenômeno de “Keeping up”. Em
uma cidade com níveis elevados de emprego em uma indústria particular, os
trabalhadores podem ser susceptíveis de socializar com os funcionários que
trabalham para outras firmas em sua indústria, como foi mencionado acima.
Além de fazer comparações dentro de sua própria firma, os trabalhadores
podem então julgar suas conquistas contra os amigos em outras firmas. Esta
comparação pode estimular o trabalho mais difícil do que os funcionários
que tentam "parecer bom" aos olhos de um conjunto social mais amplo
(BRUECKNER, 2011).
2.2.2 Resumo, economias externas tecnológicas
As economias externas tecnológicas apontam que o fato de existir
firmas produzindo bens parecidos, complementares ou substitutos,
possibilita maior difusão de conhecimento tecnológico dentro do distrito,
gerando externalidades. A mobilidade interfirmas dos trabalhadores
transforma o aprendizado da força de trabalho acumulado individual em
24
aprendizado coletivo de todas as firmas localizadas na indústria local
(HELPMAN; KRUGMAN, 1985; LEMOS, 2008; MCCANN, 2013).
3 Os principais tipos de economias de aglomeração
3.1 Economia de localização
Até agora, consideramos as economias de aglomeração dentre de uma
de uma indústria, também conhecidas como economias de localização. Estas
economias de localização são geradas por grupos de firmas que produzem o
mesmo produto. Ou melhor, são economias de aglomeração geradas pela
interação entre firmas dentro de uma indústria.
Existe uma interação entre economias internas e externas de escala.
Uma vez que o ganho de produtividade de cada firma reduzem os custos de
produção dos bens produzidos, amplia-se a escala do mercado setorial que,
consequentemente, altera novamente o nível de produtividade e do número
de firmas. Isso gera uma crescente atratividade para a localização em
termos populacionais e um aumento da demanda nos mercados (bens e
serviços e fatores de produção). A expansão desses mercados produz uma
maior diversidade e especialização de trabalhadores e de atividades
econômicas. Desses efeitos, têm-se maiores salários e produtividades, o que
alimenta o processo de aglomeração econômica (FUJITA e THISSE, 2002,
LEMOS, 2008). Com isso, as firmas procuram aproveitar as vantagens locais
geradas pelas aglomerações econômicas, sobretudo, em virtude de um bom
acesso a grandes mercados que propiciam uma alta demanda para os seus
produtos (encadeamentos para frente), e um grande fornecimento de
insumos e bens de consumo (encadeamentos para trás), pois nesses locais
são constituídos por um grande conjunto de produtores, por um alto poder
aquisitivo e por elevada oferta local de trabalhadores (FUJITA et al., 1999).
Para Marshall (1948), o processo cumulativo das aglomerações
econômicas é resultante dos efeitos oriundos das interações entre esses dois
tipos de economias que se retroalimentam no espaço, ou seja, quando o
25
aumento de escala do mercado ocorre em virtude dos ganhos localizados de
produtividade, o próprio tamanho da aglomeração provoca um aumento de
produtividade e do número de serviços. Assim, a interação de tais economias
promove um processo cumulativo localizado (LEMOS, 2008).
Diante das externalidades positivas, provenientes das quatro fontes
supracitadas, formam-se as cidades ou “distritos industriais” de Marshall,
nas quais englobam as indústrias especializadas. De modo geral, as
economias de especialização/localização são, sobretudo, vantagens de custos
relacionadas à disponibilidade de um mercado de trabalho qualificado e
disponível e as possibilidades de um conjunto ou mudanças de ideias –
transbordamento de conhecimentos. Tais economias dependem da escala da
indústria em uma particular localização (MCCANN, 2013).
3.2 Economias de urbanização
Uma segunda economia externa de aglomeração envolve o que são
conhecidas como economias de urbanização. As economias de urbanização
são definidas como economias de aglomeração – cruzam os limites das
indústrias – auferidas pelas firmas de diferentes indústrias ao se
localizarem uma perto da outra. São vantagens de custos gerados pela
diversidade de setores e serviços na sua forma mais abrangente (JACOBS,
1969), como serviços municipais e utilidades públicas, infraestrutura de
transporte, serviços especializados e técnicos. Como aponta Isard (1956), é
um conceito mais abrangente por englobar também as economias de
localização. Por exemplo, uma indústria de alta tecnologia pode se beneficiar
de transbordamentos de conhecimentos, gerados por interações com
trabalhadores e/ou fornecedores que atendem a outras indústrias. Portanto,
enquanto as economias de localização são vantagens de custos específicas da
indústria, a economia de urbanização são vantagens de custos especificas da
cidade. Conforme Jacobs (1969), a diversidade dos centros urbanos é uma
vantagem econômica que potencializa as inovações tecnológicas.
26
Quando uma determinada firma ou indústria toma uma decisão
locacional, essa decisão influencia o tamanho urbano. Entretanto, é mais
provável que a firma ou indústria escolha grandes centros urbanos para
obter significativas economias de urbanização.
As quatro economias de aglomeração que geram economias de
localização também geram economias de urbanização.
3.2.1 Partilha (sharing), Concentração (pooling) e correspondência
(Matching)
Considere primeiramente a partilha de insumos. Apesar de alguns
insumos intermediários (e.g., botões) serem específicos a uma indústria,
outros são compartilhados por firmas em diferentes indústrias. Por exemplo,
a maioria das indústrias utilizam serviços de negócios, tais como serviços
bancários, contabilidade, construção, manutenção e seguros. Da mesma
forma, firmas de diferentes indústrias compartilham hotéis e serviços de
transporte. Além disso, firmas compartilham infraestrutura pública, tais
como energia, rodovias, portos e universidades. Ao compartilhar estes
insumos intermediários, firmas em cidades maiores pagam preços mais
baixos e possuem uma ampla variedade de insumos.
Outra fonte de economias de aglomeração é pooling de trabalho
(conjunto de trabalhadores especializados). Lembre-se que o pooling de
trabalho é benéfico quando a demanda do produto e do trabalho por firma
varia enquanto a demanda total permanece constante. Um grupo de firmas
na mesma indústria facilita o movimento dos trabalhadores entre firmas
que estão contratando e as que estão demitindo. Pooling de trabalho gera
economias de urbanização quando a demanda varia entre indústrias, com
algumas indústrias expandindo e outras declinando.
Por fim, considere os benefícios de correspondência de habilidades de
trabalho (labor matching). Recorde-se que um aumento da força de trabalho
numa cidade eleva a densidade das competências e habilidades dos
trabalhadores, reduzindo os desequilíbrios entre o nível oferecido pelo
27
mercado de trabalho e aquele requerido pelas firmas. Uma vez que algumas
habilidades requeridas são comuns a vários setores, os benefícios da
correspondência de trabalho ultrapassam os limites da indústria. Por
exemplo, firmas em muitas indústrias exigem programadores de
computador, e firmas nestas indústrias são beneficiadas em uma cidade com
alta densidade de programadores (O’SULLIVAN, 2011).
3.2.2 Transbordamento de conhecimento
A característica essencial dos transbordamentos de conhecimento é
que a proximidade física facilita a troca de conhecimento entre as pessoas,
levando a novas ideias. As ideias conduzem a novos produtos, bem como
novos modos para produzir produtos antigos. Alguns conhecimentos ocorrem
dentro de uma indústria, mas os transbordamentos de conhecimentos
muitas vezes ultrapassam fronteiras. Uma cidade que produz uma grande
variedade de produtos é um terreno fértil para a aplicação de ideias
refinadas de uma concepção e produção de um produto para novos produtos.
Carlino e Hunt (2009) estudaram os fatores que determinam a
incidência de patentes em todas as áreas metropolitanas. Depois de ajustar
o número bruto de patentes a fim de incorporar sua importância relativa
(reflete no número de vezes que uma patente é citada em outras patentes),
os autores calcularam as elasticidades de intensidade de patente em relação
ao número de variáveis:
· densidade de emprego (empregos por milha quadrada). A
elasticidade total é de 0,22: um aumento de 10% na densidade
de emprego aumenta a intensidade de patentes em cerca de
22%. Há retornos decrescentes à densidade: a relação positiva;
· emprego total. a elasticidade geral é 0,52: um aumento de 10%
no emprego total eleva a intensidade de patentes em cerca de
5,2 %;
· capital humano (participação da força de trabalho com um
diploma universitário). A elasticidade é 1.05: um aumento de
28
10% na participação da população com um diploma
universitário eleva a intensidade de patente em 10,5%.
3.3 Outros benefícios do tamanho urbano
As economias de urbanização discutida como partilha de insumos,
pooling de trabalho, sincronização das habilidades da força de trabalho e os
transbordamentos de conhecimento geram maiores produtividade e menores
custos de produção. Podem-se listar outras três vantagens associadas a uma
economia urbana maior: i) melhores oportunidades de emprego para as
famílias; ii) um melhor ambiente de aprendizagem para os trabalhadores;
iii) melhores oportunidades sociais.
Um aumento na atratividade relativa de uma grande cidade diminui o
salário que trabalhadores estão dispostos a aceitar para viver e trabalhar na
cidade, gerando menores custos de produção às firmas. A cidade que tem
oportunidades superiores para o emprego familiar, a aprendizagem e as
interações sociais tem salários mais baixos.
3.3.1 Fornecimento conjunto do trabalho
A maioria das famílias têm dois trabalhadores, mas estão vinculados
a um único local residencial. Em outras palavras, as famílias devem
enfrentar o problema da oferta de trabalho conjunta. Se as habilidades dos
dois trabalhadores são adequadas para diferentes indústrias, a família será
atraída para os locais com diversas indústrias. Portanto, o fornecimento
conjunto de trabalho incentiva firmas em diferentes indústrias para se
agruparem. O papel das cidades na resolução da questão da oferta de
trabalho conjunta tem uma longa história. Em 1800, firmas de mineração e
o de processamento de metais (empregando homens), localizavam-se perto
de firmais têxteis (empregando mulheres), e cada indústria se beneficiava
pela presença da outra. Mais recentemente, "casais de poder" (definidos
como um par de graduados universitários) ficam concentrados nas grandes
29
cidades, onde eles são mais propensos a encontrar boas opções de emprego
para ambos simultaneamente.
3.3.2 Oportunidades de aprendizagem
Outro benefício do tamanho urbano vem das maiores oportunidades
de aprendizagem nas cidades. O capital humano é definido como os
conhecimentos e habilidades adquiridos pelos trabalhadores em educação
formal, experiência de trabalho e interação social. Capital humano pode
crescer através da aprendizagem por imitação, ou seja, observando outros
trabalhadores e imitando os trabalhadores mais produtivos. Uma grande
cidade oferece uma ampla variedade de modelos para os trabalhadores, e,
por isso, atraem trabalhadores à procura de oportunidades de
aprendizagem.
A evidência para a aprendizagem urbana vem de dados sobre os
salários auferidos pelos trabalhadores que migram para as cidades (Glaeser,
1999). Os salários são mais elevados nas cidades, reflexo da maior
produtividade dos trabalhadores urbanos. Contudo, quando um trabalhador
migra de uma área rural, ela não ganhará imediatamente um salário
urbano mais elevado. Em vez disso, ele procura aumentar o seu salário ao
longo do tempo quando a sua aprendizagem aumenta a produtividade.
Quando o trabalhador abandona a cidade, seu salário se mantem e não volta
ao patamar inicial. Agora o aumento da produtividade resultante da
aprendizagem urbana eleva o salário fora da cidade. Em outras palavras, os
benefícios de aprendizagem urbana traduzem em maiores salários em todos
os lugares.
3.3.3 Oportunidades sociais
Um terceiro benefício do tamanho da cidade vem de interações sociais.
Uma suposição implícita do modelo produção de quintal no tópico 2 é que as
pessoas não valorizam interações sociais. Naturalmente, as pessoas gostam
30
de interagir umas com as outras, e uma cidade maior fornece mais
oportunidades para interações sociais.
Para pensar sobre a dimensão social das cidades, lembre-se o modelo
de correspondência de trabalho. Suponha que substituir as habilidades de
trabalho com os interesses sociais: As pessoas têm diferentes passatempos,
tópicos de conversação e atividades sociais. Além disso, suponha que as
firmas substituem trabalhadores buscando boas habilidades em uma rede de
pessoas ou amigos com interesses semelhantes. Em um modelo de
correspondência de interesse social, uma cidade maior gerará um melhor
interesse de correspondência, com cada rede (como cada firma) alcançando
um intervalo mais apertado de interesses sociais. Algumas pessoas vivem
em cidades para aproveitar melhores oportunidades para a correspondência
de interesse social.
Para ilustrar a noção de benefícios sociais das grandes cidades,
suponha que você queira formar um clube do livro para discutir o seu livro
favorito. Em uma cidade pequena, você pode ser a única pessoa que tenha
lido o livro. Em contraste, milhares de pessoas na cidade grande típica
devem ter lido o livro e, talvez, algumas delas ficarão ansiosas para discutir
a obra-prima. Uma busca rápida pela Internet revela que maiores cidades
têm mais clubes de livros sobre uma ampla variedade de tópicos, de acordo
com a noção que as cidades maiores proporcionam melhores
correspondências sociais.
4 O crescimento das cidades de Jane Jacobs
Os conceitos da base exportadora (BX), de economias externas e suas
implicações estão relacionados com as ideias desenvolvidas por Jacobs
(1969). Em seu livro, a autora elaborou uma teoria sobre o crescimento das
cidades com base nas economias de diversificação produtivas propiciadas
pela escala de aglomeração urbana. Essa diversificação potencializa uma
maior capacidade de inovação dos agentes econômicos, uma maior base
31
exportadora (BX) e efeitos de transbordamentos no entorno imediato das
indústrias pelas interações produtivas existentes.
Segundo Jacobs (1969), uma cidade cresce por meio de um processo de
diversificação e diferenciação gradual da sua economia, estimulada pela
base exportadora e uma produção voltada ao mercado interno. No decorrer
do processo de crescimento, é necessário que os produtos e serviços não
básicos passem a ser exportados e que os novos produtos sejam criados para
o mercado interno. Portanto, para uma nova cidade crescer é preciso inovar
e diversificar.
Em sua abordagem, as exportações (X) e importações (I) são as variáveis
de um sistema recíproco de crescimento. Se um deles falhar, toda a dinâmica
de crescimento é comprometida. Nesta, existem dois efeitos multiplicadores,
oriundos das exportações (X) e de um processo de substituição de
importações (SI). Por isso, pode-se dizer que a renda urbana de uma cidade
(Y) é dependente tanto de X quanto de SI.
Vale descrever a dinâmica da abordagem de Jacobs. Inicialmente
considere uma economia local composta por quatro blocos de bens e serviços:
· Exportação inicial (E);
· Importações (I);
· Insumos intermediários ou bens de produção aos produtores (P);
· Bens e serviços para os consumidores (C).
Esses dois últimos blocos, juntos, compõe a economia local.
Suponha que a renda (Y) cresça proporcionalmente ao aumento de X de
maneira autônoma (exógena a cidade). Uma parte da renda é despendida em
bens de produção (P) e de consumo (C). A partir de uma escala mínima, os
P C
X I
32
insumos e bens de produção (P) passam a ser exportados de tal maneira que
passam a compor a base exportadora da cidade.
Desse modo, as exportações crescem (+X). Os ganhos dessa segunda
rodada geram um terceira rodada a2X sobre a renda (Y), e, assim
sucessivamente, até quando os efeitos multiplicadores das exportações (EM)
convergirem para zero. Produtores locais de bens de produção podem crescer
e diversificar o próprio crescimento das exportações; bens de consumo podem
crescer e diversificar a economia local da cidade. A demanda por bens e
serviços importados também crescem com a expansão econômica da cidade.
Esse efeito multiplicador de exportação é denotado por “+EM”.
Para Jacobs, o tamanho da escala urbana cria ganhos de diversificação
que afetam positivamente as exportações (X), sendo que os fornecedores
locais ganham competitividade via especialização produtiva e passam a
compor a base exportadora local. O efeito multiplicador das exportações
(EM) sobre a economia será tanto maior quanto for o tamanho da base
exportadora. Entretanto, conforme cresce a renda urbana, as importações (I)
P C
X I +
+ EM + EM
P C
X I + +
33
também se elevam. Esse aumento atende, sobretudo, a expansão da base
exportadora da cidade quanto à demanda de atividades não básicas.
O aumento da base exportadora de bens e serviços representa o aumento
da capacidade de importação da economia local. A expansão das
importações, em volume e variedade, segue a expansão das exportações
(↑X=↑I). Particularmente as importações de insumos intermediários pela
economia local ampliam a capacidade produtiva e contribuem para o
crescimento da cidade. Assim, quanto maior o volume e a variedade das
importações, maior será a difusão tecnológica dos bens importados nas
relações interindustriais locais.
Em razão do aumento da diversidade e volume da oferta de bens e
serviços da diversidade, mais ofertantes locais tornam-se exportadores, o
que leva a um processo contínuo. De modo geral, o multiplicador de
exportação (EM) tratado por Jacobs envolve a diversificação da economia
local e da sua base exportadora, somadas ao efeito multiplicador de renda
sobre o consumo (como em Keynes).
Portanto, nesse processo vigoroso, o efeito líquido (subtraindo qualquer
perda das antigas exportações) é um crescimento consistente em ambos os
volume e variedade de exportações de cidades jovens, acompanhado por um
grande crescimento na variedade de insumos intermediários e de bens e
serviços para consumo. Esse processo é intensificado pelo aprendizado
C
P
X I
+ EM + EM
+ +
34
tecnológico local via diversificação interna e das importações (JACOBS,
1969).
À medida que a cidade cresce e a tecnologia de insumos importados é
difundida na economia local, atinge-se um ponto crítico que deflagra um
processo de substituição de importações (SI).
Os ganhos diretos para a economia local, gerados pelo SI corresponde
ao acréscimo de produção local de bens e serviços que eram, antes,
importados. O crescimento econômico local será, neste caso, impulsionado
pelo resultante SI, que possibilitará não apenas a ampliação da base
produtiva local como também a mudança da pauta de importação de bens e
serviços ainda não demandados localmente. Tem-se, assim, um efeito
multiplicador do processo SI, ou seja, IM.
Dito em outras palavras, à medida que cidade cresce e aprende o
modo de produção de determinados produtos, deflagra-se o processo de SI. O
P C
X I
P C
X I
+ +
SI -
35
processo de SI induz uma maior diversificação e tamanho da cidade,
incluindo de maneira indireta, sobre a base exportadora. Portanto, o IM
representa a diversificação da economia local via efeito acelerador sobre P e
efeito multiplicador sobre C.
Dado o tamanho relativamente grande da cidade, tem-se um novo
ponto crítico que deflagra a mudança da base exportadora local. Os novos
fornecedores de insumos intermediários e de bens de capital surgidos na
economia local pelo processo de SI tornam-se competitivos de maneira que
passam a exportar seus produtos. Essas novas atividades não são associadas
com a as exportações tradicionais. Há um processo de substituição de
exportação (XS) para produtos de maior valor agregado ou tecnologicamente
mais avançados. Dessa dinâmica, emerge um novo processo de SI, podendo
levar a um novo clico de XS. Portanto, existem dois sistemas de
retroalimentação do crescimento das cidades: IS-IM e XS-XM.
Em suma, para Jacobs (1969) o crescimento da cidade se baseia na
diversificação produtiva pela escala de aglomeração urbana, de maneira que
se destacam três fases de crescimento:
· Diversificação da base exportadora: EM→ ↑I.
· Diversificação da pauta de importação e SI: ↑I→IS→ IM.
· Diversificação das exportações e XS: IM→XS→ XM ...
P C
X I
+ +
SI -
+IM +IM
36
5 Resumo
Agrupamentos de firmas surgem para explorar as economias de
aglomeração, incluindo economias de localização ao nível da indústria e as
economias de urbanização ao nível da cidade. Ressaltam-se os principais
pontos deste tópico de estudo:
1. As empresas podem se agrupar para compartilhar um fornecedor
de um insumo intermediário se a produção do insumo apresentar economias
escala relativamente grande e requer um tempo para modificar sua forma.
2. As empresas podem se agrupar a fim de compartilhar um pool de
trabalho se a variação na demanda do produto é maior no nível de firma do
que ao nível da indústria.
3. As cidades maiores proporcionar melhores correspondências de
habilidade, levando a uma maior produtividade e salários.
4. As pessoas e as firmas são atraídas para as cidades porque
facilitam transbordamentos de conhecimento, aprendizagem e
oportunidades sociais.
5. As economias de aglomeração causam alterações e efeitos
retroalimentadores no local: o movimento de uma firma para uma cidade
eleva o incentivo para que outras firmas movam-se também para a cidade.
6. O crescimento das cidades depende da diversificação produtiva pela
escala de aglomeração urbana, que promove multiplicadores e substituição
de exportações e importações.
Exercícios
1) Explique a diferença entre economias internas e externas, segundo o
conceito marshalliano. A partir desses dois conceitos, discorra o
porquê a base econômica de uma cidade pode ser especializada e/ou
diversificada. Por fim, justifique a razão pela qual as cidades
industriais exibem tamanhos diferentes.
37
2) Explique as quatro principais fontes de aglomeração econômica
econSuponha que a maioria dos vestidos vendidos no Brasil seja
produzida em grandes fábricas dispersas espacialmente (não
concentradas). Reconcilie essa assertiva com a discussão sobre
economias de localização que levaram ao agrupamento de costureiras,
como anteriormente discutido. Explore os resultados conclusivos e
condições centrais.
3) Em linhas gerais, exemplifique como o pooling de trabalho, fonte de
aglomeração econômica, beneficia firmas agrupadas de mesma
indústria em uma cidade. Suponha-se que bons tempos (alta
demanda) e maus momentos (baixa demanda) são igualmente
prováveis. Quais são as principais conclusões?
4) Explique o porque o aumento do número de trabalhadores em uma
cidade melhora o matching de trabalho (habilidades) e beneficia as
firmas e os trabalhadores.
5) Explique os principais canais que os transbordamentos de
conhecimentos levam ao aumento da produtividade.
6) De acordo com a sabedoria convencional sobre o desenvolvimento
econômico urbano, uma cidade deve desenvolver uma economia
diversificada, com um grande número de indústrias. Discorra sobre
isto comparando as economias de localização e de urbanização.
7) Quais seriam outros benefícios gerados pelo tamanho urbano?
Referências
BRUECKNER, J. K. Lectures on urban economics. Cambridge: MIT Press,
2011. (cap. 1)
HELPMAN, E.; KRUGMAN, P. R. Market structure and foreign trade:
increasing returns, imperfect competition, and the international economy.
Cambridge: The MIT Press, 1985.
JACOBS, J. The Economy of Cities. The New York Times, p. 2003, 1969.
(p.252-262)
38
LEMOS, M. B. A Nova Geografia Econômica: uma leitura crítica. 2008. 170
f. Tese (Professor Titular) – Centro de Desenvolvimento e Planejamento
Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (CEDEPLAR/UFMG),
Belo Horizionte, 2008. (cap.1)
MCCANN, P. Modern urban and regional economics. Second ed. Oxford:
Oxford University Press, 2013. (cap.2)
O’SULLIVAN, A. Urban economics. 8th. ed. New York: McGraw-Hill/Irwin,
2011. (cap. 3)