os catadores de materiais recicláveis e a administração pública de curitiba

99
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE QUÍMICA E BIOLOGIA TECNOLOGIA EM QUÍMICA AMBIENTAL VINICIUS ANDRE MASSUCHETTO OS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS E A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DE CURITIBA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CURITIBA 2010

Upload: vinicius-massuchetto

Post on 06-Jun-2015

1.350 views

Category:

Documents


42 download

DESCRIPTION

Trabalho de Conclusão do Curso de Tecnologia em Química Ambiental: Os Catadores de Materiais Recicláveis e a Administração Pública de Curitiba

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ

DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE QUÍMICA E BIOLOGIA

TECNOLOGIA EM QUÍMICA AMBIENTAL

VINICIUS ANDRE MASSUCHETTO

OS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS E A

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DE CURITIBA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CURITIBA

2010

VINICIUS ANDRE MASSUCHETTO

OS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS E A

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DE CURITIBA

Trabalho apresentado à disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II do Curso de Tecnologia em Química Ambiental como requisito parcial à obtenção do título de Tecnólogo em Química Ambiental.

Orientador: Julio César Rodrigues deAzevedo

CURITIBA

2010

TERMO DE APROVAÇÃO

VINICIUS ANDRE MASSUCHETTO

TÍTULO DO TRABALHO

OS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS E A

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DE CURITIBA

Trabalho de Diplomação aprovado como requisito parcial à obtenção do grau de

TECNÓLOGO EM QUÍMICA AMBIENTAL pelo Departamento Acadêmico de Química e

Biologia (DAQBi) do Campus Curitiba da Universidade Tecnológica Federal do Paraná –

UTFPR, pela seguinte banca examinadora:

Membro 1 – PROFª. Drª. TAMARA SIMONE VAN KAICK

Departamento Acadêmico de Química e Biologia (UTFPR)

Membro 2 – PROFª. Drª. VALMA MARTINS BARBOSA

Departamento Acadêmico de Química e Biologia, (UTFPR)

Orientador: PROF. DR. JÚLIO CÉSAR RODRIGUES DE AZEVEDO

Departamento Acadêmico de Química e Biologia, (UTFPR)

Curitiba, 24 de maio de 2010.

RESUMO

MASSUCHETTO, Vinicius. Os Catadores de Materiais Recicláveis e aAdministração Pública de Curitiba. 2010. 99 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Tecnologia em Química Ambiental) – Departamento Acadêmico de Química e Biologia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2010.

Este trabalho apresenta um estudo sobre as políticas públicas destinadas aos catadores de Curitiba, no Paraná. Discute o modelo de gestão do lixo e a eficiência destas politicas. Para isso, faz-se um levantamento histórico das gestões municipais, assim como o levantamento de dados em entrevista com catadores organizados. Estas informações são cruzadas com um embasamento teórico e discutidas sob uma visão social e humanista. Coloca em questão a concepção de desenvolvimento sustentável aplicada ao modelo de regulação econômica em curso, assim como critica a postura da gestão pública para com as políticas sociais destinadas aos catadores. Considera pontos falhos dos projetos sociais na área ambiental para Curitiba e região metropolitana, assim como sugere caminhos e medidas a serem tomados para determinar uma utilidade prioritariamente social na gestão pública de resíduos.

Palavras-chave: Catadores. Curitiba. Reciclagem. Governo. Políticas sociais. Pobreza.

iv

ABSTRACT

MASSUCHETTO, Vinicius. Waste catchers and government in Curitiba. 2010. 99 pages. Graduation conclusion (Environmental chemistry technology) – Chemistry and Biology Department, Federal Technology University of Paraná. Curitiba, 2010.

This paper presents a study about the public policies aimed at the waste collectors of Curitiba, in Paraná, Brazil. Discusses the model of waste management and efficiency of these policies along with a historical survey of the city administration. A database obtained from interviews with organized collectors was crossed with theoric content and discussed in a social and humanistic way. This calls into question the conception of sustainable development applied to the model of economic regulation under way, and criticizes the stance of public management for social policies aimed at these collectors. Suggest ways and measures to be taken to determine what are the priorities while managing public waste. Considers defective points of social projects in the environmental area to Curitiba and metropolitan region, as well as suggest ways and measures to be taken to determine a priority social usefulness in public management of waste.

Keywords: Waste catchers. Curitiba. Recycling. Government. Social politics. Poverty.

v

SUMÁRIO1 Introdução...............................................................................................................112 Objetivos.................................................................................................................143 Metodologia............................................................................................................154 Levantamento Bibliográfico: Histórico................................................................174.1 Década de 70: Crescimento da informalidade urbana.........................................174.2 Década de 80: Surgimento de novas profissões..................................................194.3 Década de 90: Princípios de organização............................................................254.4 Primeira década do século XXI: Consolidação do movimento social..................285 Resultados..............................................................................................................345.1 Perfil......................................................................................................................345.2 Associação............................................................................................................355.3 Educação e profissionalização.............................................................................375.4 Raízes étnicas e sociais.......................................................................................405.5 Moradia..................................................................................................................415.6 Renda....................................................................................................................476 Discussão................................................................................................................496.1 Análise e interpretação.........................................................................................496.1.1 A falsa autonomia do catador............................................................................496.1.2 Organização do movimento social.....................................................................516.1.3 Precariedade de moradia, local de trabalho e renda........................................556.2 Considerações sobre a história dos catadores em Curitiba................................586.2.1 Os conflitos do “Lixo que não é lixo”.................................................................596.2.2 A postura assistencialista do “Carrinheiro Cidadão”.........................................626.2.3 O cerceamento do associativismo do “EcoCidadão”........................................646.3 O cenário curitibano..............................................................................................676.3.1 Desenvolvimento urbano...................................................................................676.3.2 O modelo de gestão do lixo...............................................................................737 Considerações Finais............................................................................................788 Referências Bibliográficas...................................................................................809 Anexos.....................................................................................................................889.1 Ficha de caracterização dos catadores................................................................889.2 Material de Apoio..................................................................................................98

vi

7

LISTA DE FIGURASFigura 1: Fotos da matéria "Papel dos Catadores de Papel".

(Fonte: LOPES, 1983).................................................................................................20

Figura 2: Fruet em lançamento de associação de catadores na Vila Pinto (hoje Vila

Parolin)

(Fonte: JORNAL DO ESTADO, 1985)........................................................................21

Figura 3: Protesto na Praça Osório que reuniu cerca de cem catadores

(Fonte: CATADORES NÃO QUEREM ..., 1989)........................................................24

Figura 4: Catadores reunidos com o Secretário de Meio Ambiente Hitoshi

Nakamura.

(Fonte: CATADORES DE PAPEL VÃO ..., 1989).......................................................24

Figura 5: Comemoração do Dia Nacional de Mobilização

dos Catadores em 2005, na Praça Tiradentes.

(Fonte: CATADORES DE PAPEL RECLAMAM ..., 2005)..........................................26

Figura 6: Rafael Greca em solenidade de entrega de carrinhos e coletes para

catadores.

(Fonte: ENTREGA DE CARRINHOS A CATADORES DE PAPEL, 1994).................27

Figura 7: Slide da reunião realizada pela COMEC para discutir novas

tecnologias para o lixo de Curitiba.

(Fonte :MODELO DE GESTÃO É DISCUTIDO, 2006)..............................................30

Figura 8: Pirâmide etária da população de catadores entrevistados

(Fonte: ILCPR, 2006)..................................................................................................35

Figura 9: Percepção da situação após filiação à cooperativa

(Fonte: ILCPR, 2006)..................................................................................................36

Figura 10: Motivo da melhora de situação

(Fonte: ILCPR, 2006)..................................................................................................37

Figura 11: Grau de escolaridade

(Fonte: ILCPR, 2006)..................................................................................................37

Figura 12: Intenções e desejos de profissionalização

(Fonte: ILCPR, 2006)..................................................................................................38

Figura 13: Entidades conhecidas pelos catadores

(Fonte: ILCPR, 2006)..................................................................................................39

8

Figura 14: Áreas de eventos com a participação dos catadores

(Fonte: ILCPR, 2006)..................................................................................................40

Figura 15: Catadores advindos do meio urbano ou rural

(Fonte: ILCPR, 2006)..................................................................................................40

Figura 16: Época de migração para Curitiba

(Fonte: ILCPR, 2006)..................................................................................................41

Figura 17: Distribuição étnica e racial

(Fonte: ILCPR, 2006)..................................................................................................41

Figura 18: Locais em que os catadores acompanhados pelo Instituto Lixo e

Cidadania residem na grande Curitiba

(Fonte: ILCPR, 2006 e software elaborado pelo autor)..............................................43

Figura 19: Tipo de construção da casa

(Fonte: ILCPR, 2006)..................................................................................................44

Figura 20: Destino dos efluentes residenciais

(Fonte: ILCPR, 2006)..................................................................................................44

Figura 21: Situação quanto ao sistema de abastecimento de água

(Fonte: ILCPR, 2006)..................................................................................................45

Figura 22: Situação quanto ao fornecimento de energia elétrica

(Fonte: ILCPR, 2006)..................................................................................................45

Figura 23: Distância da residência do catador até sua base de trabalho

(Fonte: ILCPR, 2006)..................................................................................................46

Figura 24: Modo de locomoção até a base de trabalho

(Fonte: ILCPR, 2006)..................................................................................................47

Figura 25: Renda familiar média

(Fonte: ILCPR, 2006)..................................................................................................47

Figura 26: Renda das famílias per capta

(Fonte: ILCPR, 2006)..................................................................................................48

Figura 27: Distribuição dos grupos étnicos em Curitiba

(Fonte: IBGE, 2008)....................................................................................................57

Figura 28: Mapa de Curitiba e dos municípios que enquadram a Região

Metropolitana.

(Fonte: COMEC, 2009)...............................................................................................69

Figura 29: Taxa de pobreza de Curitiba

9

(Fonte: IBGE, 2005)....................................................................................................72

10

LISTA DE TABELASTabela 1: Índice de Desenvolvimento Humano - Municipal, 1991 e 2000.(Fonte: PNUD, 2000)...................................................................................................68

11

1 Introdução

No final da década de 70, enquanto o país atravessava uma crise

econômica geradora de alto índice de desemprego, a atenção nos bolsões de

pobreza das grandes cidades brasileiras começava a voltar-se para o emergente

mercado de recicláveis. Foi então que uma prática até então feita por uma pequena

parcela da população pobre começou a tornar-se mais comum, em boa parte

executada por pessoas vindas do processo de êxodo rural e que não mais

encontravam subsistência em suas cidades no interior (ABRAMOVAY, 1999).

Já no início da década de 80 começavam as primeiras expressões de

organização por parte destes trabalhadores, que até então sequer eram

considerados como tal. Hoje, no mundo todo – em países desenvolvidos ou não -

podemos encontrar tal atividade como fruto do mercado de meio ambiente entre as

pessoas de baixa renda (SILVA, 2006).

Esta organização mostrou-se como pioneira no sul do Brasil, e apesar de

acumular uma série de fatores e características que se apresentam bastante

desfavoráveis para estes trabalhadores, ainda assim possui um balanço positivo se

comparado aos índices de outras capitais e grandes cidades Brasileiras (SILVA,

2006).

Essa venda sempre foi baseada na continuidade da linhagem política sob a

qual a cidade esteve administrada nas últimas quatro décadas, às quais tornaram

possíveis a elaboração de grandes planos urbanísticos em complexidade

normalmente não alcançada por outras metrópoles brasileiras. É observado,

entretanto, que em meio a títulos como “Capital Ecológica” - frutos da divulgação de

tanto trabalho na área de gestão pública e prevalecimento como ícone ambiental -

Curitiba possui uma configuração excludente no seu processo de desenvolvimento

urbanístico. Com centros que representam poderio econômico e industrial e que se

formaram às custas do afastamento da camada mais fragilizada da população que,

a princípio, deveria ser o principal foco dos investimentos públicos (OLIVEIRA,

2000).

Os trabalhadores que impedem o colapso de Curitiba, por serem

12

responsáveis pela coleta da maior parte do lixo reciclável, (OLIVEIRA, 2007) são

alvos esporádicos de projetos de inclusão social que, por mais transformadores que

se revelem, ainda esbarram em problemas de total falta de reconhecimento,

programas de qualificação profissional e políticas específicas para a categoria

(MIKALOVICZ, 2007). O panorama municipal hoje encontrado é muito distante

daquilo que se espera como aceitável de uma vida digna para estes profissionais.

Como integrantes da classe trabalhadora, os catadores de materiais

recicláveis enfrentam uma rotina difícil e discriminada, sem expectativas,

aposentadoria e demais direitos trabalhistas. Executam seu trabalho em condições

extremamente precárias e insalubres, sem treinamento ou apoio para o mínimo

preparo operacional para lidar com os perigos que envolvem o manejo de resíduos

(MEDEIROS, 2006).

Ao realizar a atividade de catação de resíduos recicláveis para uma

subsistência mínima toma-se o epicentro da exploração do trabalho do mercado de

resíduos. Isto deve-se basicamente por consistir em uma forte externalização de

responsabilidades do poder público e da iniciativa privada. Retirando o lixo das ruas

os catadores executam o que é de responsabilidade do município sem estarem

sendo remunerados coerentemente para tal, envolvendo aí desde benefícios

mínimos como assistência médica ocupacional por lidar com material

potencialmente perigoso até a aposentadoria por serviços prestados durante anos a

fio (MEDEIROS, 2006).

Como se não bastasse o poder público, a iniciativa privada também

beneficia-se da emergência dos catadores – já que esta, no Brasil, ainda não é

responsável pelos resíduos que gera. O mercado de resíduos é extremamente

dependente das coletas pontuais, que apesar dos inúmeros intermédios de

produção e acréscimos ao preço (à medida que o material sofre sua triagem) acaba

compensando devido ao módico preço pago ao catador (SETOR RECICLAGEM,

2007).

Estes trabalhadores acabam sendo o final de uma cadeia que contribui

largamente com a externalização de custos e responsabilidades do poder público e

da iniciativa privada, aumentando a exclusão social à mesma medida do

13

desenvolvimento deste modelo (SETOR RECICLAGEM, 2007).

Além de uma exclusão sistemática da sociedade, os catadores também são

colocados em um processo de culpabilização, obedecendo à esta exclusão invisível,

disfarçada, que responsabiliza o próprio sujeito, vítima da exclusão, pela sua

própria incapacidade de prover condições sociais mínimas para si mesmo através

de sua própria força de trabalho (GESSER, 2004).

Assim como o motivo pelo qual estes profissionais submetem-se à rotinas

desumanas para obtenção de recursos - que muitas vezes não chegam a R$10,00

diários, e que servirão para a subsistência imediata - devem ser imediatos também

os esforços dos órgãoes públicos para o combate às mazelas sociais que atingem a

categoria (OLIVEIRA, 2007). O potencial da universidade neste sentido é enorme e

deve ser recuperado a partir da geração de conhecimento como combate à perda

de direitos e cidadania (ALMEIDA, 2001), e afirmando seu papel de transformação

social.

Embora as grandes questões econômicas também afetem a vida dos

catadores (CRISE MUNDIAL ..., 2009), os termos que devem ser enfatizados ao

estudar os problemas sociais de populações que necessitam de subsistência

imediata são os de ordem microeconômica, pois se mostram mais convincentes e

mensuráveis nas comunidades que a universidade tem acesso direto e poder de

influência muito mais evidente (BOLDRIN, 1996).

[…] “A produção simples de mercadoria é efetivamente um modo de produção inserido na economia capitalista: é uma parte importantíssima da agricultura; é uma parte muito importante do pequeno comércio; no setor de serviços, ela tem uma expressão muito grande; tem uma expressão menor na indústria, mas mesmo aí ela existe. É toda uma economia” […] (SINGER, 2000)

Curitiba vem apresentando crescentes números de trabalhadores que

sobrevivem da coleta urbana de resíduos (CEMPRE, 2009), e não possui políticas

públicas abrangentes o suficiente para incluí-los socialmente (MNCR REALIZA ...,

2006).

14

2 Objetivos

Através deste estudo, procurou-se traçar uma linha de interpretação teórica

a respeito dos catadores, assim como discutir temas e concepções consideradas

relevantes às questões sociais em que eles estão inseridos. Para isto foram

considerados os seguintes objetivos específicos, dos questionários:

1) Explorar dados obtidos via questionário referentes aos catadores

residentes em Curitiba e região metropolitana, e com isso identificar

através de contrastes e comparativos quais as principais deficiências

da categoria para com o poder público municipal;

2) Refletir sobre a autonomia obtida pelos catadores através da formação

de associações e cooperativas, assim como os moldes de trabalho

seguidos pela categoria;

3) Estudar a imagem obtida pela capital paranaense ao longo da história

quanto ao desenvolvimento urbanístico, políticas sociais e ambientais;

4) Avaliar o modelo tradicional de gestão do lixo adotado por Curitiba nos

últimos anos, e propor direcionamentos que venham de encontro a

uma postura social por parte da administração pública.

15

3 Metodologia

Este estudo consiste basicamente na busca de pelo menos um aspecto de

um grande conjunto de soluções para um problema social bem notável em Curitiba:

a existência de trabalhadores que sobrevivem da coleta de materiais recicláveis no

ambiente urbano.

As respostas para questionamentos deste patamar são bastante extensas,

e deve-se então analisar estritamente os vícios do modelo econômico que seguimos

para elucidar os motivos pelos quais o problema existe, e por isso toma-se como

proposta inicial o estudo de como este sistema infere na estrutura de vida e nas

interações diárias dos catadores.

Porém, não só para o catador as observações a seguir são feitas, pois a

busca por soluções que superem os vícios gerais do sistema capitalista requer uma

profunda análise das instituições que dele fazem parte.

A organização dos trabalhadores é um dos aspectos mais importantes na

proteção social do catador, pois assim como com outros trabalhadores, foi mediante

a ela que ocorreu grande parte da emancipação social de sua categoria. Frente a

este fato e ao objetivo de fundamentar teoricamente os dados obtidos, faz-se

necessário um estudo do espaço físico e político de Curitiba, para uma melhor

compreensão destas vias de organização, e em que momento elas foram

impulsionadas ou prejudicadas.

Há uma escassez na literatura acadêmica sobre o tema que começou a ser

estudado de modo específico em meados dos anos 80. Visando preencher esta

lacuna optou-se, através da pesquisa, pela interpretação do acervo de publicações

de jornais e revistas da Biblioteca Pública do Paraná, onde há um organizado

acervo de notícias sobre lixo, catadores e administração pública.

Estas informações foram compiladas em um estudo histórico sobre políticas

públicas para os catadores na capital paranaense subdivido por décadas, a partir da

década de 70 – visto que sequer discussões sobre meio ambiente haviam

anteriormente a este período.

16

Para uma avaliação prática da situação em Curitiba, Martins (2007) levantou

diversos indicadores entre a população de catadores assistidos pelo Instituto Lixo e

Cidadania no estado do Paraná, órgão responsável pela organização de diversas

forças políticas na formação dos catadores.

Esta pesquisa feita através do anexo 9.1: Ficha de caracterização dos

catadores, consiste no cadastro de aproximadamente quinhentos catadores (dos

quais, aproximadamente trezentos residem na Região Metropolitana de Curitiba) e

discute também aspectos fundamentais da organização e carência da categoria,

com o principal objetivo de auxiliar o trabalho do Instituto Lixo e Cidadania no seu

dia a dia.

O subsídio estatístico deste trabalho dá-se na reorganização deste cadastro

e na elaboração de um software para inserção dos dados via internet por diversos

voluntários que puseram-se a digitalizar os dados. Assim, alguns indicadores

poderão ser facilmente calculados, diretamente da base de dados sem necessitar

compilação e esforço específicos.

O objetivo deste cadastro é reunir informações relacionais de todos os

catadores de alguma forma ligados aos Instituo Lixo e Cidadania, e este trabalho

toma como base todos os catadores que foram cadastrados, e que residem em

Curitiba ou região metropolitana, resultando em cerca de 300 trabalhadores. São

tratados com mais detalhamento, portanto, os dados não explorados por Martins

(2007).

Há uma divergência significativa entre diferentes fontes interessadas em

quantificar os catadores em Curitiba. A prefeitura dimensiona seus projetos para

atender a três mil trabalhadores, mas, as organizações civis estimam que haja mais

de quarenta mil. (MILENA A, 2010). É certo somente que, apesar da população

pesquisada representa uma parcela muito pequena do total de catadores, acaba

sendo considerável se comparada a outras pesquisas entre os catadores no Paraná

– pois não encontrou-se outros estudos com dados de mesmo escopo e magnitude.

17

4 Levantamento Bibliográfico: Histórico

4.1 Década de 70: Crescimento da informalidade urbana

Não há um marco industrial exato na história no qual se possa estabelecer o

surgimento da profissão de catador, sabe-se no entanto que tal atividade não foi

recente e tem ultrapassado diversas décadas até o presente momento (BOSI,

2008).

Foram os grandes literários que parecem ter sido os primeiros observadores

de que haviam pessoas dependentes dos resíduos provenientes das classes mais

privilegiadas, tal como Manuel Bandeira quando escreveu em 1947 o famoso poema

“O Bicho” (BANDEIRA, 1966), cujo objeto da arte apesar de não ser o catador de

recicláveis já retratava as opções que os marginalizados pela sociedade recorriam

para satisfazer suas necessidades de sobrevivência imediatas. Este breve poema

presente como Já se conhecia então, neste aspecto socioeconômico, alguns dos

limites humanos em relação à manutenção da sobrevivência própria.

A venda de resíduos de maneira informal aumenta à medida que a

sociedade sofre uma série de profundas transformações principalmente a partir da

década de 70, quando uma forte característica do nosso modelo econômico, que

ainda predomina na atualidade, começa a consolidar-se: a super acumulação de

capital, incentivada naquele momento pela industrialização que começava a contrair

os princípios da globalização como esta está configurada hoje. Para obedecer à

esta super acumulação o sistema capitalista não precisou somente alterar sua base

tecnológica para geração de conhecimento, mas também a gestão da força de

trabalho disponível, o que consistiu basicamente na redução dos custos de uma

organização na relação empresa-trabalhador com o corte deste vínculo e

consequente isenção de todas as responsabilidades cabíveis designadas pelo

estado por parte da empresa (LEIBANTE, 2006).

A informalidade torna-se então bastante interessante – para não dizer

imprescindível – às metas de superar acumulação, sobretudo da iniciativa privada

multinacional. Estas mudanças tornam os processos de produção muito mais

18

flexíveis e acessíveis do ponto de vista econômico para as empresas responsáveis.

O modo de produção em plantas centralizadas foi substituído por diversas células

de produção espalhadas nos cinco continentes do mundo (LEIBANTE, 2006),

horizontalizando o processo produtivo.

Tais processos foram fragmentados para o nível de suas operações mais

mínimas, e foi aumentado o controle cronometrado sobre o trabalhador. Controle

esse que, inclusive, tornou-se mais fácil quando o personagem controlado faz parte

da seção oprimida de uma sociedade que não provê condições de reivindicação e

fornece ameaça de desemprego e falta de perspectivas e crescimento profissional

de sobra (MEDEIROS, 2007).

Indenizações trabalhistas e salários custam muito menos na Índia do que no

Reino Unido (BASU, 2005), e ao contrário dos Estados Unidos, no Brasil existe uma

massa populacional disposta a trabalhar informalmente pelos centros urbanos sem

clamar seus direitos trabalhistas. Estes exemplos podem ser colocados como a

racionalização que a indústria vem buscando e evidenciando desde este período

até hoje, tendo na exploração do trabalho o seu principal meio de sustento

descontrolado (SCHVER, 2008).

A década de 70 fica marcada, então, pelo inchaço do setor informal que,

inclusive, teve nome criado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT)

segundo seu notável crescimento. Embora o termo fosse novo, em nenhuma

novidade consistiam as atividades empregatícias que desrespeitassem a legislação

e possuíssem baixo rendimento para o trabalhador (MILHOMEM, 2003). Só não se

tinha experienciado anteriormente em outros momentos da história uma demanda

tão grande deste setor na sociedade.

Nesta época os estudos acadêmicos não estavam focados no surgimento de

profissionais com apresentação de condições precárias de trabalho no setor

informal principalmente por este não ser tão numeroso e notável como hoje (BOSI,

2008), motivo pelo qual não se encontra literatura abrangente a respeito do

surgimento dos catadores de modo específico.

A intensidade com que esses processos de abertura econômica e inovação

19

tecnológica ocorreram foi o que mais modificou as relações de trabalho desde

então, demonstrando a incapacidade do estado frente às políticas neoliberais

adotadas em fornecer subsídios que viessem a evitar uma crise do desemprego e

um acentuado processo de exclusão social (CARVALHO, 2005).

4.2 Década de 80: Surgimento de novas profissões

Os anos seguintes aos primeiros traços da informalidade caracterizam-se

pelo surgimento de não só catadores, mas de uma grande leva de novas profissões

que teriam como base a informalidade. Somam-se à horizontalização da indústria, o

crescimento populacional e o êxodo rural que fizeram com que as grandes cidades

brasileiras começassem a caminhar às grandes proporções que hoje possuem

(CAVALCANTE, 2007), e começassem a apresentar, então, uma caracterizações da

ocupação daquelas pessoas que antes eram definidas como desocupadas ao

contrário de informais. Isso deveu-se substancialmente à força de trabalho

numericamente expressiva e da popularização dessas atividades.

Fazem parte de todo este conjunto as empregadas domésticas, camelôs,

vendedores ambulantes, catadores e uma série de outras ocupações que

caracterizam-se principalmente pela dedicação total do trabalhador para a obtenção

do subsídio mínimo diário sem contribuições à serviços de previdência social e

obtenção de direitos trabalhistas (GONÇALVES, 2002), em outras palavras:

baixíssima mobilidade social.

No início desta década foi elaborada a Lei Federal nº 6.938/81, mais

conhecida como Política Nacional do Meio Ambiente. Não tanto em termos práticos,

esta iniciativa demonstra um certo reconhecimento da importância do meio

ambiente por parte do poder público. Embora não cite catadores nem estimule

políticas associativistas na reciclagem, traça formulações para a regulação de

resíduos sólidos urbanos.

A Figura 1 traz fotos da reportagem “Papel dos Catadores de Papel”,

publicada na Tribuna do Paraná no dia 05/06/83, que constitui em um antigo

registro da mídia curitibana encontrado no acervo documental da Biblioteca Pública

do Paraná, dentre as matérias de jornais publicados em Curitiba e no Paraná a

20

respeito dos catadores.

Figura 1: Fotos da matéria "Papel dos Catadores de Papel".(Fonte: LOPES, 1983)

Na presente pesquisa não foi encontrado registro mais antigo que aborde o

tema com destaque suficiente para gerar uma reportagem, muito menos como

objeto de estudo acadêmico. O texto enfoca um estudo iniciado em Janeiro de 1982,

mas idealizado e com evidências observadas desde 1980 pelas professoras do

Departamento de Psicologia e Antropologia da Universidade Federal do Paraná

Marília de Carvalho Kraemer e Veraluz Zacarelli Cravo, que elas acompanhavam

uma família de catadores a fim de caracterizar seu modo de vida. Esta natureza de

pesquisa ainda era considerada inédita do meio acadêmico brasileiro (LOPES,

1983), porém, o que mais chama a atenção foi a proximidade do modelo e

condições de trabalho com o que observamos até os dias de hoje.

Os catadores coletavam a maioria do papelão de Curitiba e possuíam

21

material de trabalho subsidiado pelos donos dos galpões, que vendiam a

mercadoria a preços muito melhores. A família acompanhada também fazia uso de

trabalho infantil na busca de resíduos pela cidade, era composta de ex-lavradores, e

sofria forte estigmatização por parte da sociedade, sendo comumente chamados de

“vira-latas” ao executarem o seu trabalho (LOPES, 1983).

Tantas semelhanças com as adversidades atuais após mais de 30 anos de

atividade acusam que a precariedade tornou-se algo tradicional para a categoria, e

que as movimentações e recursos empreendidos são bastante deficitários para a

melhoria da proteção social destes trabalhadores. A reportagem já trazia, também, a

ideia de forte exploração do trabalho e injustiça social, reconhecendo que a

atividade possuía um capital industrial de baixo custo, livre de encargos sociais

(LOPES, 1983).

Em 1983 houve uma proposta por parte da prefeitura para contratação de

300 catadores para atuação no inadequado aterro da Lamenha Pequena, o que foi

recusado devido à baixa remuneração oferecida e superada pelo próprio trabalho

autônomo destes catadores (NASCIMENTO, 2005).

Figura 2: Fruet em lançamento de associação de catadores na Vila Pinto (hoje Vila Parolin)(Fonte: JORNAL DO ESTADO, 1985)

22

Em 1987 foram documentados conflitos entre catadores e a prefeitura

devido ao fechamento do acesso de catadores ao aterro da Lamenha Pequena, fato

que levou a imprensa a iconizar e acusar a prefeitura de não possuir um plano para

gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos. A primeira usina de processamento

da Região Metropolitana de Curitiba foi instalada em Araucária em 1988

(NASCIMENTO, 2005).

Em 13 de Outubro de 1989 surgiu em Curitiba o polêmico programa “Lixo

que não é lixo” que causou bastante preocupação e revolta entre os catadores, que

temiam por perder seu principal recurso de trabalho, que era na época o papelão

das lojas, bancos e escritórios do centro da cidade. O programa previa a princípio o

cadastramento destes estabelecimentos pela prefeitura para uma coleta seletiva de

resíduos em caminhões diferenciados, mas os planos da prefeitura tiveram de ser

revistos à medida que os catadores não só passaram a discordar do programa,

como também começaram a organizar-se no centro da cidade para realizar

protestos cada vez maiores por um período de cerca de um mês e meio

(CATADORES NÃO QUEREM ..., 1989).

Na época de seu lançamento, a prefeitura justificou a necessidade de

implantação de uma coleta diferenciada administrada por si mesma para o

revertimento dos recursos para obras assistenciais, principalmente àquelas

destinadas ao resgate de crianças carentes (VALÉRIO, 1989), sendo que para isso

os recursos da venda dos recicláveis seriam destinados à PROVOPAR para serem

empregados em projetos sociais.

O Clube dos Diretores Lojistas – órgão associativo das lojas do centro na

época, defendia o programa ao dizer que os catadores seriam menos explorados na

cadeia de reciclagem por assim estarem livres dos intermediadores. O prefeito

Jaime Lerner também atribuía ao programa uma oportunidade de melhoria das

condições de vida dos catadores, alegando que eles teriam acesso aos resíduos já

separados fornecidos pelas lojas, dignificando ainda mais sua ocupação. E que

também colaborariam para que o centro da cidade permanecesse mais limpo, uma

vez que não precisariam remexer nas pilhas de lixo em busca do melhor resíduo, já

que era impossível que os catadores dessem conta de todo o volume de papelão

23

gerado no centro (VALÉRIO, 1989).

De fato algumas das menores lojas já possuíam catadores tradicionais

(VALÉRIO, 1989), mas isto acabou não ocorrendo, pois os caminhões do “Lixo que

não é lixo” recebiam prioridade por possuírem estrutura de coleta e mais

confiabilidade devido à forte propaganda da prefeitura quanto ao destino dos

recursos acumulados pela venda destes resíduos (CATADORES PODERÃO ...,

1989). A Secretaria de Desenvolvimento Social declarou que somente 5 a 10% dos

resíduos recicláveis destas lojas eram coletados pelos catadores (CATADORES

TERÃO ..., 1989).

Até hoje há casos atuais registrados a respeito de associações de

moradores e lojistas de regiões privilegiadas de Curitiba que protocolam

reclamações na prefeitura, requerendo que somente os caminhões do programa

“Lixo que não é lixo” efetuem a coleta de resíduos recicláveis em sua região

(KLOSTERMANN, 2007).

A prefeitura e a CDL esperavam que os catadores fossem procurar papelão

nos bairros circunferentes ao centro após o início do programa (VALÉRIO, 1989),

mas o efeito foi contrário e logo houve organização e diversos protestos foram feitos

no centro da cidade, revindicando a exclusividade da tarefa de coletar o papelão

das lojas, e pela abolição do programa “Lixo que não é lixo”.

Após um destes protestos (Figura 3) que reuniu cerca de cem catadores na

Praça Osório, a prefeitura decidiu, em caráter emergencial, que o serviço seria

suspenso temporariamente (CATADORES NÃO QUEREM ..., 1989).

Foi instituído um horário para que os catadores pudessem trabalhar nos

principais pontos de coleta da cidade, cerceando a autonomia de trabalho da

categoria. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente estabeleceu que não seriam

apreendidos os carrinhos que circulassem na região central a partir das 19 horas

em dias de semana, e às 14 horas dos finais de semana e feriados. Era também

proibidos os acessos a viadutos, canaletas e ao centro histórico da cidade

(CATADORES NÃO QUEREM ..., 1989).

24

Figura 3: Protesto na Praça Osório que reuniu cerca de cem catadores(Fonte: CATADORES NÃO QUEREM ..., 1989)

Para amenizar os conflitos a Secretaria de Desenvolvimento social convoca

os catadores para diversas reuniões e lança uma série de medidas de apoio (Figura

4), tais como: cadastro, emplacamento dos carrinhos e fornecimento de vassouras,

pás e coletes fosforescentes. Os catadores que circulassem sem colete e

identificação estariam sujeitos à multa e apreensão dos equipamentos de trabalho

fornecidos (COLETE FOSFORESCENTE ..., 1989).

Figura 4: Catadores reunidos com o Secretário de Meio Ambiente Hitoshi Nakamura.

(Fonte: CATADORES DE PAPEL VÃO ..., 1989)

Algum tempo após os ocorridos até o início de 1990, ainda era possível

25

evidenciar a propaganda na mídia sobre os benefícios que o programa “Lixo que

não é lixo” proporcionou para os catadores. Em 1990, a prefeitura alegava que o

programa aumentou o rendimento médio dos catadores de 60 para 80kg diários de

resíduos recicláveis, e passava a imagem de satisfação dos catadores com o

programa. Juntamente com a Fundação Rural de Educação e Integração

classificavam o desempenho do projeto como um sucesso (LIXO QUE NÃO É LIXO

BENEFICIOU ..., 1990).

Por outro lado, por toda a década de 90 podemos encontrar notícias que

denunciam exatamente o contrário, que foi a total insatisfação dos catadores para

com o programa, que existem alegações de que o caminhão da prefeitura priva os

trabalhadores da coleta de bons resíduos pelo centro da cidade. Após quase exatos

17 anos da instituição do programa, em Junho de 2006, os catadores comemoraram

o Dia Nacional de Mobilização da categoria na Praça Tiradentes, em Curitiba

(Figura 5). Possuíam como principal revindicação a interrupção do programa recém

reativado pela gestão municipal, e neste ponto tinham também o apoio da Delegacia

Regional do Trabalho (CATADORES DE PAPEL RECLAMAM ..., 2005).

Embora aqui seja alegada uma aproximação no diálogo com a

administração pública, os catadores também apresentam diversas ressalvas que

dizem respeito ao preconceito e ao apoio social prestado pelo estado, tal como

creches para seus filhos e precariedade das condições de vida e trabalho

(CATADORES DE PAPEL RECLAMAM ..., 2005).

4.3 Década de 90: Princípios de organização

Esta década foi marcada no meio industrial pelos grandes programas de

racionalização das indústrias, que envolvem a especialização em modos de

produção mais enxutos, com menos trabalhadores e menor tempo de produção, e

também pela ampliação da terceirização de seus setores sem diminuir o ritmo de

produção dos bens e serviços. Estas medidas instauram novas relações de trabalho

e reforçam outras já implementadas em períodos anteriores, forçando o crescimento

do setor informal e aumentando a sua subordinação para com o setor formal

(DEDECCA, 1997).

26

[…] “O segmento organizado vem reorganizando toda a cadeia produtiva a montante, sem que se altere sua presença nos mercados a jusante. Novas relações são estabelecidas, permitindo ao segmento organizado aproveitar a debilidade comercial dos elos mais fracos das cadeias de produção reestruturadas, que agora incorporam parte do segmento não organizado.” [...] (DEDECCA, 1997).

Figura 5: Comemoração do Dia Nacional de Mobilizaçãodos Catadores em 2005, na Praça Tiradentes.

(Fonte: CATADORES DE PAPEL RECLAMAM ..., 2005)

Após a consolidação do mercado e de intensificação da obtenção de

subsistência pelos resíduos, começaram a surgir manifestações de organização

mais fortes, e esses catadores têm se organizado em cooperativas/associações

como forma de fugirem dessa impiedosa exploração e de terem capacidade

organizativa e administrativa, qualificando-se como interlocutores e parceiros dos

poderes públicos na discussão e na adoção de políticas de gestão dos resíduos

sólidos (CARVALHO, 2005).

A gestão de Rafael Greca foi marcada pela criação de parques, bibliotecas

27

e pela venda da imagem curitibana como cidade ecológica e turística (SAKAMOTO,

2007).

O principal programa direcionado aos catadores foi o “Carrinheiro Cidadão”,

com este projeto, cada catador podia pagar um preço simbólico pelo seu carrinho

em até dez vezes, e isso era feito para manter o vínculo do catador com o

programa. Os carrinhos eram projetados pelo IPPUC, feitos de ferro e entregados

em solenidades públicas nas praças de Curitiba, oportunidades para discursos de

Rafael Greca e Margarita Sansone, presidente da FAS (Figura 6). O programa tinha

como objetivo estruturar os catadores para que eles pudessem então se organizar,

formando cooperativas e buscando melhores preços para a venda de resíduos

(CATADORES DE PAPEL GANHAM CARRINHOS NOVOS, 1994).

Figura 6: Rafael Greca em solenidade de entrega de carrinhos e coletes para catadores.

(Fonte: ENTREGA DE CARRINHOS A CATADORES DE PAPEL, 1994)

O projeto admitia menores de 14 anos desde que apresentado o boletim

com as frequências escolares, e que os pais levassem os filhos junto para trabalhar

desde que fornecidos os mesmos documentos como forma de comprovante de que

eles estariam ao menos durante meio período na escola. Em discurso, Margarita

afirmou que os carrinhos são “instrumentos de trabalho que libertam os catadores

de exploradores” - referindo-se aos atravessadores e donos de depósitos que

alugam os carrinhos sob pagamento em forma de resíduos para os catadores

(ENTREGA DE CARRINHOS A CATADORES DE PAPEL, 1994).

28

Existia a preocupação de que os carrinhos não fossem vendidos para os

atravessadores – problema enfrentado frequentemente em situações que o carrinho

foi cedido ao catador – e ações como o pagamento deste carrinho e cadastro dos

catadores visavam manter um certo controle da categoria e evitar este problema.

Margarita também explica via entrevista que a FAS preocupa-se em primeiro

momento a estruturar e fornecer condições de organização aos catadores, e que

depois disso passa a ministrar cursos que objetivem a subsistência dos cidadãos

mediante atividades alternativas, tais como: alfabetização, jardinagem, artesanato

com papel reciclado e confecção de chinelos e sapatilhas (ENTREGA DE

CARRINHOS A CATADORES DE PAPEL, 1994).

Já era uma revindicação das associações de catadores da época que a

prefeitura fornecesse um terreno próximo às imediações do centro para prover

suporte à coleta nesta região da cidade, recurso que a prefeitura comprometeu-se a

encontrar (CATADOR DE PAPEL BUSCA ..., 1994), embora não se tenha notícia do

sucesso desta ação.

Embora a FAS tenha declarado o monitoramento individual dos catadores

(CATADORES DE PAPEL GANHAM CARRINHOS NOVOS, 1994), o processo de

conscientização e formação política dos trabalhadores deve ser encarado mais

como uma política pública do que como um projeto assistencialista.

4.4 Primeira década do século XXI: Consolidação do movimento social

A constituição brasileira de 1988 deixa de definir somente como projeto

social todas as ações do governo voltadas ao desenvolvimento social, e passa a

incluir as atividades de mesma natureza quando também executadas por

organizações de modo geral, não só as estatais. Esta seção da constituição foi

concedida através de um amplo processo de mobilização social, aumentando os

direitos de cidadania política ao descentralizar a promoção das políticas públicas,

e sendo por isso um avanço indiscutível da Nova Constituição sobre as políticas

sociais (DELGADO, 2004).

A mudança de concepção da sociedade para com as vias de diminuição da

pobreza mostrou-se fundamental para o reconhecimento das organizações como

29

atrizes de projetos sociais. O modelo de tratamento dos problemas sociais

transformava-se à medida que um senso de responsabilidade pública era

propagado. A década de 90 foi, então, um período de amadurecimento e

multiplicação de organizações não governamentais, e a inferência disto na década

de 2000 para os catadores foi marcada pelo aumento do número e crescimento de

entidades do terceiro setor que promovem e modificam as políticas públicas de seu

interesse (FERREIRA, 2008).

Em 1999 surge oficialmente o Movimento Nacional dos Catadores de

Materiais Recicláveis, com o 1º Encontro Nacional dos Catadores. O 1º Congresso

Nacional veio a acontecer em 2001, e o 1º Congresso Latino-Americano em 2003.

Em meados da década já haviam na capital paranaense cerca de 10 grupos

formados - porém não formalizados, e nenhuma usina de triagem implantada

(MNCR QUER CATADORES..., 2006).

Em 2006 o programa “Lixo que não é Lixo” foi fortemente retomado, e para a

ocasião o governo do estado realizou através da COMEC (Figura 7) uma reunião

fechada para discussão de novas tecnologias a serem empregadas no projeto. Os

potenciais econômicos da geração do lixo de Curitiba e região metropolitana foram

apresentados nesta ocasião, em inglês, e com a presença de técnicos de diferentes

partes do Brasil e do mundo (MODELO DE GESTÃO É DISCUTIDO, 2006).

Em contrapartida, o Fórum Lixo e Cidadania promove uma conferência

aberta e questiona diversas orientações da administração pública de Curitiba, tais

como a contratação tradicional de uma única empresas para a realização de

serviços convencionais, e da falta de políticas públicas inclusivas no gerenciamento

do lixo (MODELO DE GESTÃO É DISCUTIDO, 2006).

As conclusões da conferência aberta do Fórum, citam:

A conferência apresentou soluções interessantes e que podem contribuir para a solução dos problemas de resíduos na Região metropolitana. Durante a conferência pode se evidenciar que não tem havido desenvolvimento das políticas públicas de resíduos e que não há um diálogo adequado entre os municípios, o estado e a sociedade. O Fórum Lixo e Cidadania do Paraná não esta sendo utilizado pelas partes como uma instância para aprofundar estes debates. Não foi

30

discutido nenhum encaminhamento ao final da conferência. (MODELO DE GESTÃO É DISCUTIDO, 2006)

Figura 7: Slide da reunião realizada pela COMEC para discutir novastecnologias para o lixo de Curitiba.

(Fonte :MODELO DE GESTÃO É DISCUTIDO, 2006)

O “Lixo que não é lixo” novamente levanta diversas críticas entre os

catadores, e uma anteposição formal do Movimento Nacional dos Catadores de

Materiais Recicláveis foi formulada, novamente com os argumentos de falta de

políticas públicas abrangentes para os catadores (CURITIBA SE-PA-RA

CATADORES..., 2006).

O presidente da república Luis Inácio Lula da Silva assinou em atendimento

a 1 milhão de catadores no Brasil, também em 2006, um decreto que institui a coleta

seletiva nos órgãos públicos e estabelece que os resíduos recicláveis advindos

destas entidades devam ser obrigatoriamente destinados a associações e

cooperativas de catadores (PRESIDENTE ASSINA DECRETO..., 2006).

No cenário político curitibano, um fato que um pouco mais tarde trouxe

31

alguma visibilidade para os catadores foram as eleições de 2008. Tirando-se os

motivos mais gerais citados anteriormente, a eleição ocorreu em um período

bastante conturbado para a licitação da coleta pública de resíduos sólidos de

Curitiba (PARANÁ ONLINE, 2008).

Foi neste mesmo período que o Fórum Lixo e Cidadania aproveitou-se da

importância política dos catadores e reforçou a sugestão da criação de um fundo

municipal de incentivo ao trabalho dos catadores. O compromisso foi assinado

somente por dois dos oito candidatos à prefeitura de Curitiba (SOBRE LIXO

RECICLÁVEL..., 2008).

O prefeito Beto Richa do PSDB foi então eleito neste ano com 77,27% dos

votos seguido por Gleisi Hoffman do PT, com 18,17%. Os outros 7 candidatos

somam juntos o restante dos votos. Essa situação coloca Beto Richa como um dos

prefeitos mais bem votados do país (RESULTADO DAS ELEIÇÕES, 2008).

Logo no primeiro ano de gestão do prefeito Beto Richa, em 2008, foi

iniciado o projeto EcoCidadão. Esta iniciativa prevê até 2011 a instalação de 25

parques de reciclagem pela capital paranaense, além de um programa de

acompanhamento, treinamento e apoio aos catadores que conta com a organização

da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, a Fundação de Ação Social e com a

parceria conveniada das ONGs Aliança Empreendedora e Fundação Avina

(PREFEITURA ENTREGA..., 2008).

O programa surge com grandes expectativas e boa divulgação, diversas

notícias foram veiculadas repetidamente em diversos canais de comunicação,

notadamente advindas das principais assessorias de imprensa. A presença do

prefeito Beto Richa nas inaugurações dos primeiros parques foi ponto marcante das

reportagens, e entrevistas individuais também citam com frequência o programa. A

entrega do primeiro parque acontece na metade de maio de 2008, no bairro

Boqueirão, e durante o período de um ano foram inaugurados mais quatro parques

em Curitiba (RENDA MÉDIA..., 2009).

Pouco mais de três meses após a implantação deste primeiro parque –

quanto também já havia sido implantada a unidade do Cajuru – a prefeitura divulga

32

nota afirmando um aumento de 65% na renda média dos 61 catadores participantes

do projeto – número bem abaixo da meta dos 100 catadores por parque. Esta foi

uma informação recebida com bastante desconfiança pela comunidade dos

catadores já organizados em outras cooperativas (BOREKI, 2008). Por outro lado,

uma porcentagem maior não deixa de ser razoável uma vez que um consórcio de

organizações coordenadas pela prefeitura de uma metrópole possui melhores

condições de receber e repassar os resíduos no mercado do que uma cooperativa

de catadores.

Já um ano depois, a Agência de Notícias da prefeitura divulga juntamente

com diversas outras vias de comunicação que em julho de 2009 que a renda dos

catadores envolvidos no programa aumentou cerca de 43%, juntamente com

diversos depoimentos de catadores que enfatizam a melhoria de sua condição de

vida e satisfação com o regime associativista empregado no trabalho do dia-a-dia

(RENDA MÉDIA..., 2009). Com esta nova média, o aumento de renda entre os

catadores envolvidos com o EcoCidadão aproxima-se com a dos catadores

associados em cooperativas.

Embora seja um valor bastante questionado, na proposição do projeto, com

a entrega dos 25 parques de reciclagem, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente

esperava envolver cerca de 3.500 catadores nos processos de coleta e triagem dos

resíduos (PROJETO ECO CIDADÃO, 2008), porém, segundo levantamentos de

organizações civis, estima-se que existem em Curitiba cerca de 40 mil

trabalhadores vivendo da coleta informal de resíduos pelas ruas (MILENA A, 2010),

o que na melhor das hipóteses, representaria um atendimento de menos de 10%

desta população pelo projeto.

O gerenciamento destes parques está sob responsabilidade da ONG

Aliança Empreendedora, e este modelo acaba por abandonar características

cooperativistas e emancipatórias que são chave da proteção social de um catador,

ficando muito mais próximas de um modelo gestionário e empreendedor (BOREKI,

2008), e uma vez que há uma disputa sem acordo pelo controle dos resíduos entre

o poder público e o movimentos social dos catadores, fica evidente que todo o

potencial social da geração de resíduos não está sendo muito bem aproveitada na

33

capital paranaense (MILENA A, 2010).

Por defender tais pontos de vista e sofrer o desgaste de tentar mudar o

programa sem grandes resultados, a coordenação do Fórum Lixo e Cidadania

decidiu, em Fevereiro de 2009, que iria deixar de participar do projeto EcoCidadão,

ato que se deu em uma reunião ordinária, com argumentação, leitura de uma carta,

discussão e pedido de investigação das denúncias documentadas entregadas pelo

órgão a respeito do projeto (RIBEIRO, 2008).

Em 2008 a estimativa era de que os catadores coletavam 92,5% do lixo de

Curitiba, o que resulta em cerca de 550 toneladas diárias. Com base neste papel

social importantíssimo e na situação de que os catadores não possuem nenhum

reconhecimento formal da sociedade por desempenhá-lo, o Fórum Lixo e Cidadania

propôs, em 2001, que os catadores recebessem parte do dinheiro licitado destinado

à Cavo. Isso oficializaria o trabalho de catação de uma maneira legítima e digna.

Esta medida foi discutida e justificada com alguma frequência pelo Fórum Lixo e

Cidadania (RIBEIRO, 2008), mas a resposta oficial do poder público até então foi

evasiva, e justificada pelo argumento de que a organização carrinheira é ainda

muito incipiente para pensar em um repasse desta natureza (FERNANDES, 2008).

Para 2010 espera-se que a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PL

203/91) seja aprovado e contemple uma diretriz deste molde, que o poder público

receberá incentivos para contratar associações e cooperativas em licitações para

execução da limpeza pública. O documento deveria ter sido aprovado em 2009, mas

algumas questões relacionadas ao Pré-Sal e o Plano Nacional de Direitos Humanos

interferiu no calendário de votação (MILENA B, 2010).

34

5 Resultados

Como o banco de informações não foi exato em todos os seus pontos

devido à falta de alguns dados pontuais, e como também notou-se a diferença de

interpretação das questões por parte de entrevistadores, entrevistados e voluntários

digitalizadores, optou-se por apresentar os dados sempre quantificados em forma

de porcentagem de acordo com a população de interesse e as perguntas

respondidas. Desta maneira pôde-se obter indicadores bastante satisfatórios, se

comparados com aqueles que encontramos no IBGE e outras entidades que

ocupam-se de pesquisas sociais.

Outros dados também ficaram um pouco esparsos devido à elaboração de

perguntas abertas e não muito direcionadas no questionário. Neste caso tentou-se

aninhar as respostas semelhantes e agrupá-las entre grupos distintos

quantificáveis, embora a percepção da pergunta e da resposta possa ser diferente

na visão do trabalhador. Tais itens foram especificados na discussão.

Esta metodologia é considerada razoável por apenas utilizar os dados de

interesse e apresentar distorções mínimas para diferentes testes de valores das

variáveis duvidosas que foram excluídas, não permitindo que estas exclusões

pontuais tenham interferência significativa no valor final e ainda facilitando o

entendimento do contexto de dados apresentados.

5.1 Perfil

O perfil dos entrevistados está ilustrado na pirâmide etária da Figura 8.

Nota-se que 62% são mulheres, dentre elas a maioria encontra-se na faixa de idade

de 31 a 50 anos. À medida que a idade avança a quantidade de catadores do sexo

feminino diminui drasticamente, dando vez à uma maioria de homens quando trata-

se de uma população com mais de 60 anos de idade.

35

Figura 8: Pirâmide etária da população de catadores entrevistados(Fonte: ILCPR, 2006)

5.2 Associação

O item 40 do questionário procura saber sobre a percepção da condição de

trabalho após a associação, a Figura 9 ilustra o resultado da pergunta: “O que você

pensa sobre suas condições de trabalho na associação, grupo ou cooperativa, em

relação ao trabalho antes da formação do grupo, associação ou cooperativa?”.

Uma minoria de 5% considera que a situação está pior, 21% não consegue

notar mudanças significativas, enquanto a maioria, cerca de 73%, considera que

houveram vantagens na decisão de associar-se a um grupo ou cooperativa.

36

Melhoraram

Não Mudaram

Pioraram

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8

0,73

0,21

0,06

Figura 9: Percepção da situação após filiação à cooperativa(Fonte: ILCPR, 2006)

Ao detalhar estas estatísticas da pergunta 40, encontram-se três principais

grupos de motivos colocados espontaneamente pelos catadores:

1) a formação, aprendizado e enriquecimento da vivência profissional;

2) a organização, trabalho em grupo e companheirismo presente na

cooperativa;

3) a melhoria das condições financeiras e de trabalho, tais como a

remuneração, o aumento da renda, o recebimento de doações e

melhores equipamentos de trabalho.

A quantificação destas opiniões está relacionada na Figura 10. Uma

pequena parcela, de 4%, vê vantagem em atividades formativas, porém, a maioria

das respostas circulam entre a oportunidade de se trabalhar em grupo (47%) ou por

aspectos que refletem na própria melhoria da condição (49%) de vida ou trabalho.

Como resultado das práticas gestionárias herda-se um conjunto de lógicas

com discursos adaptados para que as mazelas sociais viessem a se tornar

toleráveis na sociedade. A Figura 9: Percepção da situação após filiação à

cooperativa (Fonte: ILCPR, 2006), demonstra como o catador entrevistado sente-se

em relação à diversos aspectos de sua vida e de sua família após ter-se filiado a um

cooperativa. A maioria deles – 73% dos entrevistados – vê sua vida tomando rumos

melhores e mais dignos.

37

Condição

Trabalho em grupo

Formação

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6

0,49

0,47

0,04

Figura 10: Motivo da melhora de situação(Fonte: ILCPR, 2006)

5.3 Educação e profissionalização

A pergunta número 16 procura traçar um perfil educacional da população

entrevistada, tendo os dados apresentados na Figura 11. Através dela percebe-se

que 61% destes catadores não ultrapassou a 4ª série do sistema educacional

brasileiro, e menos do que 11% sequer concluiu o primeiro grau.

1ª série

2ª série

3ª série

4ª série

5ª série

6ª série

7ª série

8ª série

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25

0,08

0,15

0,16

0,22

0,18

0,05

0,04

0,11

Figura 11: Grau de escolaridade(Fonte: ILCPR, 2006)

O segundo item, da mesma pergunta 16, procura saber: “Gostaria de

participar de algum curso?”, a maioria dos entrevistados expressa desejo de

38

continuar os estudos ou de profissionalizar-se em alguma outra área, e as respostas

mais comuns constam na Figura 12.

A resposta mais dada foi a de concluir os estudos no sistema educacional

formal, através de um supletivo, que 28% dos entrevistados possui este desejo,

seguidos por 22% de informática, 16% de corte e costura e 15% de culinária.

Supletivo

Informática

Corte e Costura

Culinária

Artesanato

Reciclagem

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3

0,28

0,22

0,16

0,15

0,13

0,06

Figura 12: Intenções e desejos de profissionalização(Fonte: ILCPR, 2006)

A pergunta 38 coloca: “Você conhece alguma instituição?”. São fornecidas

as opções a) Movimento Nacional de Catadores de Material Reciclável (MNCR); b)

Instituto Lixo e Cidadania; c) Outras Associações de Catadores; d) Outras.

As opções “c” e “d” acabaram por confundir-se dentre as respostas, motivo

pelo qual elas foram rearranjadas em uma única opção “Outras cooperativas”.

Percebe-se também em outros trabalhos acadêmicos que a percepção de

capacitação em “reciclagem” dos catadores pode estar um pouco confundida com

“artesanato”. Isto explicaria uma parcela do baixo interesse na atividade, uma vez

que os números possam ter-se divididos entre ambas as estatísticas.

As respostas presentes na Figura 13 retrata que a maioria dos catadores –

70% deles – conhece o Instituto Lixo e Cidadania. Próximo da meta deles, 55%,

conhecem o Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis, e uma

39

pequena parcela, comparada às demais, de 13%, conhece outras cooperativas.

Instituto Lixo e Cidadania

MNCR

Outras cooperativas

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8

0,7

0,55

0,13

Figura 13: Entidades conhecidas pelos catadores(Fonte: ILCPR, 2006)

A Figura 14 contém as respostas para a pergunta 39: “Você já participou de

algum encontro/curso de catadores?”. As respostas foram das mais variadas, e

pode-se organizá-las em três principais grupos:

1) eventos de cunho político-partidário, tais como comícios de

candidatos, entrega de carrinhos e outras doações, demais eventos

que tenham como objetivo a promoção de um candidato ou seja

marcada pela aparição política;

2) cursos e seminários de capacitação promovidos principalmente pelas

suas cooperativas e por outras entidades tais como o Instituto Lixo e

Cidadania;

3) congressos, encontros, fóruns e seminários direcionados e

organizados pela categoria, geralmente ocorridos fora da cidade onde

reside e que possuem como objetivo a discussão, formação e

promoção do catador de materiais recicláveis.

40

Não participa

Formação

Capacitação

Político

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8

0,73

0,14

0,09

0,05

Figura 14: Áreas de eventos com a participação dos catadores(Fonte: ILCPR, 2006)

5.4 Raízes étnicas e sociais

A pergunta 3: “Onde você nasceu?”, divide os catadores em dois grandes

grupos, dentre aqueles que nasceram na cidade ou no campo, independente de ter

sido em uma cidade grande ou não. 62% deles responderam que são advindos de

meios urbanos, tal como colocado na Figura 15.

Campo

Cidade

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7

0,38

0,62

Figura 15: Catadores advindos do meio urbano ou rural(Fonte: ILCPR, 2006)

“Há quanto tempo mora nesta cidade?” foi a pergunta feita pelo item 4 do

questionário, o que reflete-se na Figura 16. O modo de apresentação deste item foi

modificado para uma aglutinação dentre a década de migração para Curitiba, válido

somente para as pessoas que possuíam resposta diferente da idade, o que

interpreta-se como não nativo da cidade. Optou-se por este modelo para melhor

relacionar a população com o fenômeno social do êxodo rural.

41

Verifica-se um inchaço de migração nos anos 90, em que 35% dos

catadores advindos de outras cidades vieram para Curitiba. De todos estes

catadores, 60% migraram para a capital paranaense entre as décadas de 80 e 90.

Anos 60

Anos 70

Anos 80

Anos 90

Anos 00

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4

0,12

0,17

0,25

0,35

0,12

Figura 16: Época de migração para Curitiba(Fonte: ILCPR, 2006)

Em resposta à pergunta 1: “Qual a sua raça?”, os entrevistados declararam-

se majoritariamente como brancos (43%), seguidos de pardos (34%) e negros

(0,16%), como mostra a Figura 17.

Branca

Parda

Negra

Indígena

Amarela

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4 0,45 0,5

0,43

0,34

0,16

0,03

0,02

Figura 17: Distribuição étnica e racial(Fonte: ILCPR, 2006)

5.5 Moradia

Dentre as primeiras informações cadastrais do questionário estão os

42

endereços dos entrevistados. Uma aproximação média foi feita de acordo com os

valores de latitude e longitude com consulta automática no serviço de mapeamento

Google MapsTM, o que resultou no mapa de densidade geográfica da Figura 18,

onde os pinos nas localidades do mapa representam as aglomerações de onde as

famílias residem.

Algumas vezes a rua fornecida não ainda possui cadastro formal na

prefeitura, e portanto, não foi detectada pelo serviço de busca a partir das

informações fornecidas. Por tal motivo optou-se por marcar somente as

aglomerações, a fim de visualizar aonde estas famílias estão concentradas pela

grande Curitiba.

De acordo com a pergunta 9: “O local que você mora é:”, quase 90% dos

catadores entrevistados residem em casas, e o restante divide-se em barracões e

albergues. O item 11, “A construção é:”, detalha este dado de acordo com o tipo de

construção das residências, o que está exposto na Figura 19.

Vê-se que a maioria das casas eram feitas de madeira, constituindo em 69%

do total de moradias. O restante divide-se entre 27% de alvenaria e 4% de

construção mista.

43

Figura 18: Locais em que os catadores acompanhados pelo Instituto Lixo eCidadania residem na grande Curitiba

(Fonte: ILCPR, 2006 e software elaborado pelo autor)

44

Madeira

Alvenaria

Mista

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8

0,69

0,27

0,04

Figura 19: Tipo de construção da casa(Fonte: ILCPR, 2006)

Através da seção de perguntas 15: quanto a que se o entrevistado possui

água encanada, energia elétrica, ligação com a rede de esgoto e instalação

sanitária, foram obtidas as informações a seguir:

De todas as casas, 20% não possuem banheiro instalado, possuindo

“casinhas” ou outras estruturas improvisadas para escoamento dos dejetos – tal

como perguntado no item 15.4: “Você possui banheiro?”.

A Figura 20 retrata que 56% dos catadores entrevistados não possuem em

suas casas ligação homologada pela SANEPAR com a rede pública de esgoto, e

que dentre eles 23% possui esgoto a céu aberto.

Fossa

Céu Aberto

Rede Pública

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4 0,45 0,5

0,33

0,23

0,44

Figura 20: Destino dos efluentes residenciais(Fonte: ILCPR, 2006)

De acordo com as informações da Figura 21, uma parcela de 70% das

45

casas possui fornecimento de água regularizado pela SANEPAR, 20% possuem

esta mesma alimentação de maneira irregular, e 10% não possuem água encanada.

SANEPAR

Informal

Nenhum

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8

0,7

0,2

0,1

Figura 21: Situação quanto ao sistema de abastecimento de água(Fonte: ILCPR, 2006)

Quanto ao fornecimento de energia elétrica, quase 80% dos catadores são

atendidos formalmente pela COPEL. Conforme o mostra a Figura 22, somente 3%

dos trabalhadores não possuem energia elétrica em casa.

COPEL

Informal

Nenhum

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9

0,78

0,2

0,03

Figura 22: Situação quanto ao fornecimento de energia elétrica(Fonte: ILCPR, 2006)

O tempo de locomoção é um fator crucial na saúde ocupacional de um

trabalhador, pois podem aí estar adicionadas até três horas juntamente à jornada de

trabalho cumprida.

46

A pergunta 35: “O grupo, associação ou cooperativa fica a que distância da

sua casa?”, procura saber a distância da cooperativa, associação ou centro de

triagem da casa do catador, e tem seus resultados representados na Figura 23.

Boa parte dos catadores reside próximo de seu local de trabalho, a maioria

– 56% dos entrevistados – tem residência fixada em uma distância de até 500m da

associação ou cooperativa, enquanto 20% está a mais de 1km.

Mora no local

Até 100m

101 a 500m

501 a 1000m

1 a 5km

5km ou mais

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25

0,12

0,2

0,24

0,2

0,21

0,04

Figura 23: Distância da residência do catador até sua base de trabalho(Fonte: ILCPR, 2006)

Coloca-se também em questão como esse trajeto é realizado através da

pergunta 36: “grupo, associação ou cooperativa fica a que distância da sua casa?”,

e as respostas mais comuns estão na Figura 24.

Quase 70% dos catadores locomove-se a pé, 21% aproveitam o trajeto para

levar o carrinho, e 7% utilizam bicicleta. Somente uma fração muito pequena usufrui

do sistema de transporte coletivo, 3%.

47

A pé

Puxando o carrinho

Bicicleta

Ônibus

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8

0,68

0,21

0,07

0,03

Figura 24: Modo de locomoção até a base de trabalho(Fonte: ILCPR, 2006)

5.6 Renda

Ao informar sua renda familiar mensal segundo a questão 13: “Qual é sua

renda familiar?”, obteve-se o gráfico da Figura 25 dentro os valores respondidos.

Resulta deste levantamento que cerca de 40% das famílias de catadores

sobrevive com menos de R$300 mensais., e 70% com menos do que R$450. Uma

pequena parcela de 16% compõe a população que consegue retirar mais do que

R$600 deste meio de sustento.

Menos que R$ 150,00.

Entre R$151,00 e R$300,00

Entre R$301,00 e R$450,00

Entre R$451,00 e R$600,00

Acima de R$601,00

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35

0,13

0,31

0,28

0,13

0,16

Figura 25: Renda familiar média(Fonte: ILCPR, 2006)

48

Ao dividir este rendimento pelo número de pessoas que compõem cada

família combinando as perguntas 13 e 8, obtém-se faixas de distribuição de renda

per capta como mostrado na Figura 26.

A maioria destas famílias distribui seu rendimento mensal por cada

integrante em até R$100. São raras as famílias que possuem renda superior a

R$200 mensais per capta.

Até R$50

De R$51 a R$100

De R$101 a R$150

De R$151 a R$200

De R$201 a R$250

De R$251 a R$300

De R$301 a R$350

Mais que R$351

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35

0,33

0,32

0,16

0,1

0,03

0,02

0,03

0,01

Figura 26: Renda das famílias per capta(Fonte: ILCPR, 2006)

49

6 Discussão

6.1 Análise e interpretação

6.1.1 A falsa autonomia do catador

Segundo a Figura 10: Motivo da melhora de situação (Fonte: ILCPR, 2006),

o quesito 2 – da organização e do trabalho em grupo – foi significativamente citado

por quase metade dos entrevistados. Percebemos o quão benéfico foi para o bem-

estar ocupacional do trabalhador desta área a promoção da organização e de um

bom ambiente cooperativo de trabalho, libertando-o de “inconvenientes” como

chefes e atravessadores. Situações como esta satisfazem e motivam o profissional

no seu dia-a-dia, fortalecem a cooperativa e ajudam a disseminar a ideia do

associativismo. Sentir-se “dono do negócio” é para muitos catadores até mais

importante do que a melhoria de renda.

É comum um catador alegar que prefere esta profissão à outras disponíveis

devido à autonomia que ele possui no serviço, como colocado em entrevista da

Gazeta do Povo com Daniel Tiê, um catador de Curitiba.

“[...] Vocês são empregado, me descurpa dizê, se arguém tá mandando voceis aqui, voceis tão ganhando dinhero pros otro. Eu sei que voceis tem o salarinho de voceis, meu negócio não é salarinho, se dependê de mim pra ganhá dinhero vocês vão morrê de fome. [...]

Daniel Tiê, o homem da ilha” (KÖNIG, 2007).

Depoimentos como estes tem se tornado comuns, realizando uma contínua

referência da tão confortante autonomia advinda do trabalho autônomo explorado e

não especializado. Esta situação como um todo carece de uma profunda análise

frente ao processo de precarização do trabalho que a sociedade sofreu para dar

vez às vias capitalistas (LEIBANTE, 2006).

O que é pouco observado, porém, é que o serviço de catação – assim como

tantos outros que podem ser considerados autônomos no mercado de trabalho que

conhecemos hoje – encaixa-se perfeitamente no sistema de serventia com pouco

50

retorno que o sistema capitalista exige de seus trabalhadores. Esta exploração tem

poucas mudanças quando observadas as jornadas, remuneração, saúde social e

cultural do trabalhador tanto autônomo quanto empregado. O trabalho parece deixar

de ser subordinado quando o trabalhador não tem horários definidos ou está sob

vigilância constante, dando esta falsa ideia de autonomia, uma vez que há uma

necessidade de resultados da mesma forma e às vezes até sob maior exploração.

Trata-se, portanto, de uma impressão marcada por baixíssima remuneração e pela

precariedade, na qual o tempo de trabalho continua a ser uma categoria dominante

(SOUZA, 2008).

Obviamente que a organização de qualquer categoria de trabalhadores será

benéfica quando feita para reivindicação de seus direitos e melhoria das condições

de trabalho, em qualquer circunstância. E de fato conforme pesquisa realizada,

grande parte dos catadores enxergam diversas melhorias em suas condições a

partir do momento que adentram em uma cooperativa que trabalha coerentemente

com a vontade de seus integrantes. Esta concepção de autonomia é ainda menos

subsidiada em catadores não cooperados ou associados, onde não existe uma

tarefa de formação e situação do ser no espaço social a que ele pertence

(GONÇALVES, 2004).

[…] Os “catadores do lixo” buscam outras formas de sobrevivência diferente daquelas que estão postas pelo sistema técnico produtivo, o que não significa que estão sendo autônomos no seu processo de sobrevivência. Só buscaram tal alternativa porque não conseguiram se incluir nos padrões estabelecidos pelo sistema. E, quando saem às ruas para “catar” lixo, não saem por uma nova consciência, com o desejo de mudança. Pelo o que foi constatado nesta pesquisa, eles saem às ruas, trabalhando nesta atividade, para, de certa forma, se manterem incluídos no sistema, para adquirirem os bens de consumo postos por este. […] (GONÇALVES, 2004)

O interesse aqui em questionar a autonomia de uma organização de

catadores é que, embora hajam várias vantagens imbuídas para seus membros, a

entidade não pode ser considerada definitivamente emancipadora por si só, e deve

ser encarada como um caminho à conquista de uma séria de direitos e

posicionamentos sociais, trabalhistas e educacionais os quais todo membro da

sociedade é digno de possuir.

51

6.1.2 Organização do movimento social

Os movimentos sociais são a base da transformação de uma sociedade

democrática. É através deles que a população tem a possibilidade de intervir e

reivindicar seus interesses e de propor planos de desenvolvimento para o país.

Mostrar insatisfação e pressionar os governantes é ainda a principal forma de

melhorar situações consideradas popularmente ruins (SILVA, 2007).

[…] “A ampliação dos espaços da cidadania ocorre através de uma nova cultura política que faz a interlocução entre carência e reivindicação. Para Warren essa cidadania caracteriza-se por sua constituição coletiva, através de ações que enfrentam modelos políticos existentes e apontam novas direções para as relações sociais. A sociedade civil e o Estado se interpenetrariam em campos de ações diferentes.” […] (SILVA,2007)

Porém, há um controverso repúdio popular pelas questões deste mundo

conturbado de luta e interesses políticos, pois pouco percebe-se que é através dele

que as mudanças definitivamente ocorrem, por mais lentamente pareçam ser. O

Brasil particularmente entre os países da América do Sul possui uma população

com elevada desconfiança política e insatisfação com o sistema democrático de

governo, possuindo forte influência pela percepção de insuficiência de renda

exigida para uma condição de vida satisfatória, e também pelo sentimento negativo

quanto às leis trabalhistas (MOISÉS, 2008).

A classe trabalhadora de modo geral já possui uma deficiência grave

advinda da falta de formação política. Isto é um reflexo combinacional de vários

outros elementos que procuram manter a hegemonia de um grupo limitado de

interesses, tais como a privação de direitos cidadãos como acesso à educação e da

manipulação midiática (FERREIRA, 2006).

[…] “Acredita-se que, em primeiro lugar, a falta de interesse da sociedade civil em participar e interferir politicamente na vida pública deve-se ao fato da população se encontrar em permanente estado de apatia; e isto acontece, principalmente, pela forma como temos sido mantidos imobilizados pelas informações e mensagens transmitidas pela grande mídia, que constituí-se em poderoso instrumento de dominação das elites detentoras do capital econômico, impondo, assim, sua visão distorcida e parcial dos fatos .” […] (FERREIRA, 2006)

52

A interpretação libertadora das informações – principalmente aquelas com

veiculação manipulada – que recebemos no dia-a-dia torna-se difícil, sendo que a

percepção da condição de explorado por um trabalhador resulta da quebra de uma

série de condicionamentos impostos implicitamente por estas deficiências.

Uma das respostas para o caminho da quebra destes condicionamentos é a

formação crítica e política. O sistema educacional Brasileiro por si só raramente

consegue fornecer estes recursos, e nem todos os trabalhadores tem vivências que

a eles possibilite receber tal formação.

Interpreta-se a partir daí a importância que esta educação possui para o

movimento dos catadores, e como o caminho a ser percorrido para sanar todas as

deficiências e dificuldades é longo. Este quesito torna-se então uma atribuição

também esperada dos movimentos de trabalhadores, cuja força não por acaso

depende diretamente do nível de formação política de seus integrantes.

Pelo menos 15% dos catadores são envolvidos com a diretoria de sua

cooperativa de alguma forma, desde os cargos de presidente até conselheiros

fiscais. Esta é uma porcentagem mais relativa ao tamanho do grupo e seus

princípios organizacionais do que de interesse de envolvimento do cooperado

propriamente dito.

Procurou-se, portanto, medir o interesse político do catador a partir de sua

participação em outros eventos e averiguando o quanto ele conhece sua profissão,

e não só de ouvir falar dos nomes das entidades que representam ele.

É natural que uma grande parcela dos catadores entrevistados conheça o

Instituto Lixo e Cidadania, pois é esta entidade que procura organizar e orientar as

cooperativas formadas pelos catadores, e para isso ela precisa estar próxima do

grupo e ser de conhecimento dos integrantes para então ter sua confiança e poder

recomendar ações que serão de fato seguidas.

Conhecer o Movimento Nacional dos Catadores de Recicláveis é mais um

indicador da força de atuação desta entidade do que de interesse político do

catador. O conhecimento da entidade representativa por uma parte dos

trabalhadores de baixa renda de uma determinada categoria normalmente é muito

53

baixo, e o fato de que pelo menos metade dos entrevistados conhece a sua

representação nacional já é positivo, embora isto não signifique diretamente que

existe o interesse de forte atuação no movimento.

A participação em movimentos nacionais requer um passo a mais no

envolvimento com a profissão e com as causas da categoria, uma iniciação que

consiste principalmente em uma atuação, aproximação e liderança muito mais forte

no grupo local.

Visto que menos do que 15% dos entrevistados já participou de uma

atividade – encontros, congressos, vivências – que relacione-se com a formação

política na vida profissional (Figura 14: Áreas de eventos com a participação dos

catadores (Fonte: ILCPR, 2006)), este número parece transparecer um certo

desinteresse pela política do movimento nacional de modo geral, o que indica que o

dado em questão da Figura 13: Entidades conhecidas pelos catadores (Fonte:

ILCPR, 2006), possui uma boa subjetividade por parte do catador entrevistado.

Outro dado alarmante que demonstra o desconhecimento da amplitude de

sua profissão são as respostas da pergunta 43:”Você sabe o preço de venda dos

materiais que você coleta e são vendidos pela associação?”, resultando que 57%

dos catadores entrevistados não sabem o preço a que os resíduos por ele coletados

são vendidos, e esta porcentagem é ainda maior se forem consideradas as demais

cooperativas pelo Paraná. Diversas interpretações podem ser retiradas somente

deste dado.

Além de estes trabalhadores terem uma relação de confiança – ou alheia –

em relação à administração da cooperativa ao designar à ela a responsabilidade de

venda da sua força de trabalho empregada no dia-a-dia, este dado mostra talvez a

falta de entendimento em relação ao motivo da venda dos resíduos e também ao

que leva à diferença de preços entre os materiais que ele coleta, ou seja: ao

entendimento da cadeia produtiva à qual ele faz parte.

Se sequer ficou claro para um trabalhador o modo como funciona a sua

cadeia produtiva, qual será então a dificuldade em entender as dinâmicas de custo

e trabalho que levam à exploração do seu trabalho?

54

As limitações educacionais e o condicionamento à exploração antepõem-se

às de formação política necessárias ao desejo de emancipação, e tornam-se um

muro para a formação de cooperativas e questionamento do poder público sobre a

promoção e manutenção da dignidade de sua categoria.

Somente 11% destes trabalhadores completaram a 8ª série, e quando

perguntados se possuíam interesse em continuar os estudos as respostas foram

bastante variadas apontando diversas possibilidades de estudo, desde cursos

superiores a profissões mais simples. No entanto nota-se uma percepção sobre a

valorização da informática e ao desejo de recuperar os anos de estudo perdido,

conforme a Figura 12: Intenções e desejos de profissionalização (Fonte: ILCPR,

2006).

Em múltipla escolha, 28% dos catadores gostariam de fazer um supletivo e

completar os níveis fundamental e médio de escolaridade. Após isso, 22%

gostariam de fazer um curso profissionalizante em informática.

A partir destas duas principais manifestações que refletem as tendências

globais de profissionalização, seguem profissões mais próximas ao dia-a-dia, tais

como artesanato cooperativista; confeitaria, cozinha e culinária em geral; estética,

beleza, cabelo e manicure; obras e carpintaria.

O dado em destaque na Figura 12 é justamente o primeiro item: somente

6% dos entrevistados manifestaram interesse em aprender mais sobre o seu ofício e

aprofundar conhecimentos sobre processos de reciclagem de modo geral.

São algumas principais interpretações:

1) que não há interesse em continuar no ramo da reciclagem, e portanto

há um outro leque de áreas do conhecimento para priorizar;

2) que o catador não conhece a amplitude do campo de reciclagem e

também não entende como funcionaria a expansão do seu trabalho

para usinas de triagem, reciclagem, valorização e reincorporação de

resíduos ao mercado;

Estes dados podem contrastar como uma controvérsia, pois embora pouco

55

mais da metade dos catadores conheçam sua representação nacional, muito poucos

participam de eventos que promovem e formam este movimento, e tampouco

mostram conhecer bem sua profissão e as dinâmicas de mercado da reciclagem que

levam ao entendimento do porquê que um movimento faz-se necessário frente à

situação precária de vida e trabalho enfrentada cotidianamente.

Embora possa-se considerar o alcance e a presença do Movimento

Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis para com os catadores Brasil

afora, a principal responsabilidade pela educação da população de baixa renda não

é do movimento que os representa, mas sim do estado enquanto provedor dos

direitos civis para cada cidadão.

O movimento deve revindicar a execução destes direitos, assim como

formar o máximo possível de catadores. Isto não é uma tarefa que ocorre da noite

para o dia, e cuja eficiência depende do apoio de múltiplas instituições, tais como o

estado.

6.1.3 Precariedade de moradia, local de trabalho e renda

Enquanto o poder público em Curitiba anuncia que já tomou o caminho para

os melhores índices de saneamento básico do país (JUSBRASIL POLÍTICA, 2009)

com cerca de 80% de cobertura da população quanto à coleta de esgoto, percebe-

se um índice muito menor entre a população de catadores estudada, aproximando-

se mais do índice brasileiro que é menor do que 50% para os mesmos critérios

(LAGINSKI, 2009).

Entre os catadores entrevistados obteve-se 44% de cobertura (Figura 20:

Destino dos efluentes residenciais (Fonte: ILCPR, 2006)), um valor ainda inferior ao

resultado obtido pelo estudo da FGV para todo o país. Este é um dado muito

importante por revelar a carência da categoria frente ao planejamento urbano,

principalmente devido à significância do dado sobre uma série de variáveis que

acabam resultando em qualidade de vida.

A cobertura do abastecimento de água em Curitiba é uma das melhores do

país, mas embora 100% da população urbana e 89% de toda população seja

56

atendida (JUSBRASIL POLÍTICA, 2009), um índice bem menor de 70% é

encontrado entre os catadores. Mesmo com 20% recebendo água informalmente,

não há como averiguar a qualidade sanitária desta água, o que faz com que 30%

destes trabalhadores possam estar sob risco sanitário, por consumirem água

imprópria.

Este é um outro dado que reflete a qualidade de vida e a segurança das

famílias, pois para receber energia informalmente, geralmente são necessárias

ligações clandestinas que comprometem a segurança da comunidade, das casas –

que em sua maioria eram de madeira – e principalmente da própria pessoa que

realiza a conexão.

A distinção étnica dos entrevistados também possui contraste notável. Há

uma considerável distorção da população engajada na atividade de catação para

com a população de Curitiba e região metropolitana de modo geral. Cerca de 16%

dos catadores declara-se da cor negra. A Figura 27 mostra que a média curitibana

para a mesma pergunta é de 3% somente.

Este contraste reforça as estratificações sociais e étnicas (Figura 27) em

curso no país que se potencializam e refletem entre os catadores. O crescimento e

a economia não atingem de forma igualitária os diferentes grupos étnicos e raciais,

principalmente aqueles que experienciam na história o preconceito e a

discriminação (PNUD, 2005).

57

Branca

Parda

Negra

Amarela ou Indígena

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9

0,77

0,18

0,03

0,01

Figura 27: Distribuição dos grupos étnicos em Curitiba(Fonte: IBGE, 2008)

A locomoção até o local de trabalho mostra-se ainda mais importante no

caso dos catadores, pois a fadiga e o cansaço são potencializados juntamente ao

trajeto diário já realizado para a procura dos resíduos pelas ruas, como a maioria

desloca-se a pé até chegar ao ponto onde está o carrinho e aí sim começar a

jornada definitivamente. Há também uma carência de estudos relacionados à

condição física e à debilidade ocupacional que o serviço de catação causa.

Além disso, segundo todo o histórico ocupacional como catador destes

trabalhadores, ocorre que pelo menos 11% deles já sofreram algum tipo de acidente

significativo relacionado à sua locomoção no trânsito, o que alimenta ainda mais

esta discussão sobre a segurança ocupacional da categoria.

Vale destacar também que somente 3% dos entrevistados declarou utilizar o

sistema de transporte público com alguma frequência. Nota-se aí a tamanha

exclusão que este trabalhador já sofre. O esforço físico é a base do

desenvolvimento deste serviço, e muitas vezes sem a possibilidade de receber vale-

transporte ou muito menos de arcar com os altos valores da tarifa, a locomoção

torna-se ainda mais custosa fisicamente.

A renda familiar média dos catadores obedece à oscilações que dependem

da região e do mercado de resíduos como um todo. O montante da renda mensal de

58

uma família na qual as pessoas trabalham como catadoras talvez seja o quesito

mais significativo para mensurar a transformação social que uma cooperativa está

exercendo na comunidade cooperada.

A representação da Figura 26: Renda das famílias per capta (Fonte: ILCPR,

2006), é mais significativa quando analisada juntamente à família que possui o valor

de renda em questão. A maioria destas famílias sobrevive com valores inferiores a

R$100 mensais per capta.

Curitiba possui a maior renda per capta média do Paraná, de cerca de

R$850 segundo a relação produto interno bruto e população (WIKIPEDIA, 2009). A

população 40% mais pobre da região metropolitana de Curitiba possui uma renda

mensal média de R$318, já os 10% mais pobres, R$147,36 (IBGE, 2008).

Estes dados demonstram que apesar das transformações ocorridas nas

comunidades – pois a maioria dos catadores declara que sua situação financeira

melhorou após envolvimento com a cooperativa – os catadores ainda fazem parte

de uma parcela extremamente pobre. carente e explorada da população.

A proximidade da residência de muitas destas famílias aos grandes centros

de geração econômica do Paraná pouco significa para a diminuição da miséria que

eles experienciam todos os dias.

6.2 Considerações sobre a história dos catadores em Curitiba

De certa forma, são escassas as fontes bibliográficas a respeito dos

catadores, e por tal motivo a análise histórica destes trabalhadores na capital

paranaense teve de acompanhar trabalhos acadêmicos sobre assuntos correlatos

que se aproximem da situação de interesse, assim como nas matérias de jornais,

principalmente aquelas a partir da década de 80.

Não encontrou-se registro específico em trabalhos acadêmicos que datam

da década de 70 ou de décadas anteriores. Recursos midiáticos também são

escassos, pois para este mesmo período também não foram encontradas

reportagens em jornais e revistas publicados em Curitiba.

59

As primeiras aparições de conteúdo com bom nível de destaque começaram

a aparecer na década de 80, comumente munidos de reforçado tom

sensacionalístico de espetacularização da pobreza e das péssimas condições de

trabalho. Esta mesma característica ainda é observada nas reportagens sobre o

tema até os dias de hoje com variadas intensidades.

Também é nesta época – mais especificadamente no final da década – que

começaram a surgir as primeiras manifestações de organização. Embora não tenha-

se encontrado registro de pessoa jurídica para cooperativas, algumas fontes

midiáticas afirmaram que associações foram formadas. E aí também que percebe-se

uma certa aproximação política da categoria e início do reconhecimento legal da

atividade. Focos de organização também são notados a partir dos conflitos com a

prefeitura.

No entanto, é mesmo na década de 90 que podemos, finalmente, ter acesso

a trabalhos acadêmicos de modo mais amplo, pois foi a época em que o tema

começa a ser tratado com particularidades e enfoque cooperativista e

organizacional. Nesta década houve uma maior exploração do tema pela mídia e

uma aproximação significativa da administração pública, que já havia percebido a

importância estratégica de estar a par da movimentação dos catadores.

As revindicações dos catadores começaram neste período a ganhar um

pouco mais de força, e tornou-se essencial para políticos e para a prefeitura o

diálogo com este trabalhador devido à crítica pública e ao crescimento dos

movimentos sociais.

6.2.1 Os conflitos do “Lixo que não é lixo”

A criação do “Lixo que não é lixo" é um fato marcante na história da gestão

do lixo em Curitiba, pois nele reside uma oportunidade única de trabalho conjunto

com os catadores. O fato do modelo adotado negar a participação integrada destes

trabalhadores afirma uma posição de descaso e falta de direcionamento social por

parte da prefeitura.

O tema de um debate bastante controverso por quase 30 anos na capital

60

paranaense, e ao pesquisar pelo tema “Lixo que não é lixo” é comum encontrar

relatos de conflitos e insatisfação dos catadores para com o projeto.

Instaurado com a justificativa de fortalecer os projetos da PROVOPAR e

limpar a cidade, sabe-se também que este modelo de coleta no centro da cidade em

muito atendia aos interesses dos comerciantes donos das lojas – que foram os

próprios sugeridores do projeto.

Os catadores acabavam naturalmente competindo entre si para terem

precedência de acesso aos resíduos colocados na rua, gerando uma aglomeração

indesejada. O incômodo causado pelos catadores a lojistas e condomínios não é

uma situação nova em Curitiba, e não é incomum encontrar reclamações e

insatisfações que reforçam o estigma de desocupação e indignidade dos catadores

ao criticar o modo como executam o seu trabalho.

As demais justificativas apresentadas foram muito subjetivas, dentre elas

por exemplo, a de que o programa melhoraria a dignidade do trabalho dos

catadores pelo fato dos lojistas fornecerem o resíduo já separado, e assim, eles não

precisariam mais remexer nos entulhos de lixo atrás do papelão. Isso é bastante

controverso, pois se o desejo dos lojistas era evitar os catadores, fornecer resíduos

a eles não mudariam seus objetivos, e assim somente forneceriam estes resíduos

aos catadores caso decidissem. O programa não previa nenhum tipo de situação

por quem teria acesso ao lixo prioritariamente, e contava com propaganda da

prefeitura por direcionar os recursos para lugares mais “socialmente apropriados”.

Também era justificado que os catadores estariam livres dos

intermediadores com o programa, mas como seria isso possível se nem sequer

resíduos teriam para vender? Negando um diálogo popular o programa foi lançado

com ampla divulgação favorável pela mídia, declarando recolher cerca de 8

toneladas por dia em 170 estabelecimentos, ao passo que era anunciado que os

catadores davam conta de coletar somente 10% dos resíduos das lojas.

Após os protestos que a implementação do programa gerou, a prefeitura

precisou suspender o programa temporariamente e rever sua postura quanto ao

acesso dos catadores aos resíduos do centro da cidade. Foi então que a Secretaria

61

Municipal do Meio Ambiente instituiu que os trabalhadores poderiam circular pelo

centro somente à noite e nos finais de semana.

Esta medida foi um tanto quanto agressora a qualquer indício de direito

trabalhista que os catadores poderiam ter recebido no momento. Como se já não

bastasse a enorme suscetividade social, desproteção civil e contribuição para o

capital industrial, teriam o seu bem estar ainda mais avariado por estarem obrigados

a trabalhar às noites e madrugadas – horários mais desgastantes, marginalizados e,

por isso, com piores condições para execução de um trabalho que já é pesado por

definição.

É controverso alegar uma decisão desta natureza como sendo em prol da

integridade do trabalhador, e ainda afirmar que o programa “Lixo que não é lixo”

dignificaria mais o trabalho deles por poupá-los de remexer nos entulhos do centro,

como se fazê-lo madrugadas afora fosse mais íntegro.

O cadastro dos catadores que poderiam ter circulação noturna e nos finais

de semana tem outra questão interessante que foi o fornecimento de vassoura e pá

juntamente com um colete de identificação, que são equipamentos de trabalho

necessários às atividades dos garis, mas não de catadores, que estão interessados

em grandes quantidades de resíduo.

Não foi encontrada uma justificativa dentre as fontes citadas para o

fornecimento deste material, e também não foi evidenciado o fornecimento de

equipamentos de proteção individual como luvas ou botas – o que no caso seriam

muito mais relevantes do que pás e vassouras.

O episódio da administração pública de Curitiba que diz respeito aos

catadores e à instituição do programa “Lixo que não é lixo” constitui na maior

densidade de cobertura jornalística sobre os catadores de papel na década de 80

em Curitiba.

A maioria das matérias encontradas são do segundo semestre de 1989, e

dizem respeito principalmente à justificativas da prefeitura para as decisões de

limitar o trabalho dos catadores no centro, e coloca o fato com certa

condescendência benéfica.

62

Percebeu-se neste período uma divisão de opiniões por parte dos textos

dos jornais. Parte ficava com a palavra de Lerner e seus secretários, enquanto outra

parte menor, colocava críticas e questionava as decisões da prefeitura. Da mesma

forma existe até hoje também uma divisão de opinião pública bastante controversa a

respeito da permissão de coleta dos resíduos recicláveis pelos catadores.

Ao mesmo tempo que existem organizações que lutam para mobilizar os

catadores e inferir nas regras de coleta da capital paranaense a fim de promover

melhores oportunidades e tornar a coleta de resíduos mais relevante socialmente,

outras organizam-se e reforçam o programa com base na desorganização e sujeira

que os catadores deixam à medida que passam e remexem nos amontoados de lixo,

ou até mesmo pelo simples incômodo de ter pessoas de naturezas diferentes

circulando em frente às lojas e shoppings.

Como de praxe dos conflitos da administração pública, acima de um

episódio com uma categoria de trabalhadores, esteve posta uma oportunidade de

anteposição política, a qual foi muito bem utilizada pelas principais frentes políticas

de Curitiba que até então configuravam-se entre a base do antigo Movimento

Democrático Brasileiro – Maurício Fruet e Roberto Requião, e a nova e corrente

administração do prefeito e ex-funcionário do IPPUC Jaime Lerner.

6.2.2 A postura assistencialista do “Carrinheiro Cidadão”

Em se falando mais especificamente dos catadores em Curitiba, pode-se

basicamente definir a gestão pública de Rafael Greca e Cassio Taniguchi como

basicamente assistencialista. As discordâncias para com o programa “Lixo que não

é lixo” continuam, e a prefeitura coloca em algumas ocasiões que existem planos de

integração dos catadores com o sistema de coleta seletiva vigente, embora esta

proposta não tenha sido averiguada nas fontes pesquisadas.

A gestão de Rafael Greca foi para os catadores um período de

aproximação, embora não hajam heranças significativas deste diálogo. Esta gestão

propôs junto à FAS um direcionamento mais ativo para com os catadores, mantendo

um cadastro dos catadores e viabilizando carrinhos.

63

O programa “Carrinheiro Cidadão” foi elogiado por diversos textos nas

colunas dos jornais da capital. Uma característica importante foi a exposição da

figura pública de Rafael Greca, predominantemente no jornal Gazeta do Povo,

muitas vezes acompanhado da logomarca da prefeitura, e de uma pequena coluna

permanentemente presente em todos as edições, titulada “Prefeitura nos bairros”,

que traziam notícias sempre otimistas sobre os projetos da prefeitura como um todo.

Os projetos voltados a catadores tiveram um foco jornalístico entre 1994 a 1995, e

no restante da gestão permaneceram mais omissos midiaticamente.

O programa tinha como forte característica a venda de carrinhos a preços

simbólicos, o que entra em discussão proposta por este texto em outras seções a

respeito da difícil tarefa de emancipação social de uma categoria explorada, e

procura-se mostrar que ações com fundamentos fortemente assistencialistas não

são suficientes para gerar focos de organização fortes e convictos dentre uma base

explorada e desorganizada.

Mesmo embora o fornecimento de carrinhos seja fundamental para quebrar

o vínculo com a primeira camada de exploradores da categoria, é preciso que

muitos outros fatores sejam atendidos para uma iniciativa na área ser caracterizada

como eticamente e organizacionalmente eficiente.

Fatores esses como: terrenos próximos para servirem de depósito para a

separação dos resíduos coletados, prensas, caminhonetas e demais estrutura para

garantir a qualidade e a logística do material e, principalmente, a formação política

dos catadores dentro de seu movimento social para gerar uma base forte que faça

com que os catadores permaneçam unidos e convictos, lutando juntos sem

submeterem-se à exploração, mesmo que organizada.

Ao assumir diversas promessas de melhoria para os catadores

publicamente e não levá-las adiante – tal como a providência de terrenos próximos

ao centro da cidade para servirem de centros de triagem, Rafael Greca reflete uma

participação pouco incisiva da prefeitura na organização dos catadores, com apoio

limitado ao fornecimento de equipamentos de trabalho e ministração de cursos

profissionalizantes sem grande enfoque conscientizador, porém com forte enfoque

midiático e repercussivo para a boa imagem do meio ambiente da cidade.

64

As gestões de Cássio Taniguchi mantém fortes características da gestão de

Rafael Greca, e embora a sua esposa Marina Klamas Taniguchi tenha ocupado o

cargo de presidente da FAS – fato repetido na gestão de Beto rixa (a esposa do

prefeito como presidente desta entidade), a aproximação com os catadores parece

ter sido bem tímida durante o seu mandato. De qualquer forma, as ações sociais

estabelecidas no final dos ano 90 para o início dos 2000 foram basicamente de

continuidade e ampliação dos governos Lerner e Greca.

6.2.3 O cerceamento do associativismo do “EcoCidadão”

Na entrada da década de 2000 existiam mais entidades propostas a

promover a organização, educação e apoio aos catadores do que nunca, o que

influenciou o processo de formação de diversas associações. Exatamente por este

motivo é que torna-se mais difícil enxergar as ações políticas que envolvem a

promoção dos catadores.

Com a rápida disseminação de instituições que sustentam um debate social

que acaba por englobar a causa dos catadores com variadas intensidades, e com o

crescimento do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis,

aumentou também a visibilidade política proporcionada por um grupo de catadores,

e por isso tornou-se mais natural a aproximação de políticos e empresários deste

setor.

A ênfase dada à figura do catador em diversas campanhas torna-se algo

novo, e portanto difícil de se mensurar em termos de retorno social. Uma vez que

uma aproximação desta natureza torna-se imprescindível para a força política de

uma entidade ou personalidade, as publicações de notícias tornam-se um pouco

mais abertas e diversificadas. Baseiam-se as conclusões nesta época, portanto, nas

colocações dos grupos políticos que antagonizam-se nos debates sociais

relacionados aos catadores.

A proximidade alcançada pelo governo federal aos movimentos sociais

altamente desfavorecidos é uma situação bastante inédita no cenário nacional,

dada a quantidade de projetos sociais implantados e leis específicas ao

favorecimento das organizações dos catadores. Tais políticas fazem parte da razão

65

pela qual este governo tem recebido uma boa popularidade entre as camadas mais

pobres da população

Os problemas com a licitação do lixo da prefeitura em 2008 colocaram uma

oportunidade de ataque político entre os candidatos, pois foram frequentemente

citados em diversos momentos como grandes contribuidores para a limpeza da

cidade, e que deveriam ser inclusos como membros principais dos projetos de

coleta de resíduos da cidade, adicionando argumentos de que a prefeitura estava

sob má administração por não ser capaz de conduzir uma licitação regular sobre a

coleta de resíduos. As críticas tiveram pouco efeito, visto que a oposição político-

partidária à situação não conseguiu impor-se nas eleições, fazendo com que Beto

Richa fosse eleito com quase 80% dos votos.

A pouca importância dada pelos candidatos desta eleição às questões

levantadas pelo Fórum Lixo e Cidadania foram retratadas pela forte ausência à

conferência para apresentação da proposta de criação de um fundo municipal para

os catadores, uma vez que em outros eventos de cunho eleitoreiro propostos por

entidades como o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura, e a Associação

Comercial do Paraná, tiveram completa participação de todos os candidatos. Este

fato acaba mostrando um certo paradigma entre o interesse político de promover

iniciativas sociais voltadas aos catadores ou simplesmente comparecer e assinar

um termo em tom diplomático.

A análise política da gestão pública municipal iniciada em 2008 começa

pela força de suas eleições. Qualquer eleição em que um candidato recebe uma

fatia de votos de 80% transparece uma profunda falta de diversidade política por

parte da população, e principalmente da capacidade das forças políticas

oposicionistas em criarem estratégias de embate político com discussões

eficientemente questionadoras, que venham a explorar os pontos fracos da gestão

em andamento pela situação.

Na apresentação de suas propostas, o que ocorreu foi o contrário. Ao invés

de propor o embate a oposição aderiu uma posição de “melhorar o que está bom”, o

que por fim acabou assinando uma esmagadora derrota nas urnas. Para que então

serve a oposição senão para defender diferentes ideias de gestão pública? O que

66

significa dois grupos com os mesmos ideais lutando pelo controle de uma mesma

situação política?

Um fato peculiar do programa EcoCidadão – que também ocorreu com

outros programas de gestões anteriores direcionados aos catadores, foi que a

avaliação do retorno público conta com diversas dificuldades que passam pela falta

de mobilização e fragilidade intrínseca dos catadores, e acaba sendo um reflexo da

falta de debate e reflexão da atuação destes projetos.

Na mídia convencional são difíceis os questionamentos e anteposições,

sendo preservada uma posição pouco interpretativa e um tanto quanto reacionária

dos meios de comunicação, ao passo em meios mais alternativos há uma postura

bastante diferenciada, principalmente quanto advinda de órgãos intimamente

ligados ao Movimento Nacional dos Catadores, tais como: o Fórum Lixo e Cidadania

e o Ministério Público do Trabalho do Paraná.

Mesmo assim, na mídia alternativa – blogs, jornais e revistas de

posicionamento político diferenciado – o projeto foi pouquíssimo citado, e não existe

entre os movimentos sociais de Curitiba e região metropolitana um acúmulo de

debate a respeito, a não ser pelos órgãos ligados aos catadores.

Deve-se reconhecer os esforços da prefeitura municipal em prover

condições dignas aos catadores através do EcoCidadão, que apesar de todas as

limitações acaba sendo o maior e mais incisivo projeto já organizado pelo poder

público municipal. Embora esta afirmação possa parecer otimista, ela resguarda

diversos aspectos bastante preocupantes.

Apesar de ser o maior projeto já executado, o EcoCidadão em seus moldes

atuais está muito distante de ser suficientemente abrangente. Até mesmo os

números anunciados para a sua conclusão são bastante limitados e, se assim

continuarem, conseguirão atender uma parcela muito pequena da população de

catadores.

Outro aspecto ainda mais importante é que o modelo de organização dos

centros de triagem exclui práticas associativistas, ficando sobre administração

baseada na prestação de serviços por parcerias com instituições terceirizadas.

67

O processo formativo do catador – tão importante para sua emancipação e

força de organização – assim como o envolvimento com os movimentos sociais que

levantem bandeiras pertinentes às suas causas, acabam ficando de lado e

transformam estes centros de triagem em verdadeiras linhas de produção.

6.3 O cenário curitibano

6.3.1 Desenvolvimento urbano

De acordo com a Figura 15: Catadores advindos do meio urbano ou rural

(Fonte: ILCPR, 2006), a maioria dos catadores é advinda de meios urbanos, seja

tanto de outras cidades quanto na própria Curitiba. Dentre os catadores não

nascidos em Curitiba, perguntou-se quando que ocorreu a vinda para a Capital, e

detalhando-se estes dados por década obtém-se uma relação crescente de

migração apresentada na Figura 16: Época de migração para Curitiba (Fonte:

ILCPR, 2006).

Estas informações correlacionam-se com as estatísticas do inchaço urbano

experienciado pelo Paraná nos últimos anos, no qual tem-se uma taxa de

crescimento do êxodo rural em volta de 25% (WURMEISTER, 2008) para uma

diminuição de 10% a partir de 2000.

Normalmente o êxodo rural desencadeia um inchaço das periferias e

regiões pobres das grandes cidades que não têm condições de absorver

socialmente e profissionalmente tantas pessoas ao fluxo em que elas chegam, e

que por falta de emprego acabam envolvendo-se com o trabalho informal – dentre

eles a catação (ABRAMOVAY, 1999).

O objetivo aqui em descrever o crescimento da cidade é uma tentativa de

demonstrar como estas áreas em que os catadores residem foi excluída em certos

momentos do plano de desenvolvimento urbanístico de Curitiba, e como este plano

acabaram servindo para desenvolver a cidade em aspectos socioambientais

antagônicos ao bem estar desta categoria e de outras categorias de trabalhadores

que compõem a população pobre da cidade. Embora o estudo do espaço social de

Curitiba enfatizando estas áreas ocupadas pelos bolsões de pobreza seja um

68

capítulo extensivo em urbanismo, mantém-se a importância de discorrer

sucintamente sobre isso para desmistificar a imagem de cidade modelo passada por

Curitiba.

A Tabela 1:Índice de Desenvolvimento Humano - Municipal, 1991 e 2000.

(Fonte: PNUD, 2000), com dados retirados do Atlas do Desenvolvimento Humano

por si só esclarece a preocupante situação que Curitiba tem em relação à sua

Região Metropolitana. Embora seja considerada a 16ª melhor cidade no ranking

nacional, sendo a 3ª capital emplacada como a melhor de se viver – antecedida

somente por Florianópolis e Porto Alegre – fica a pouco mais de 100Km de distância

de Dr. Ulysses (Figura 28: Mapa de Curitiba e dos municípios que enquadram a

Região Metropolitana. (Fonte: COMEC, 2009)), a cidade com o pior IDH do estado e

um dos piores do país.

Município Posição no Brasil Posição no Paraná

Curitiba 16 1

Pinhais 296 14

Araucária 548 23

São José dos Pinhais 640 28

[...] [...] [...]

Almirante Tamandaré 2470 245

Bocaiúva do Sul 2655 273

Tijucas do Sul 2694 277

Quitandinha 2722 291

Agudos do Sul 2772 291

Rio Branco do Sul 2953 330

Tunas do Paraná 3221 370

Cerro Azul 3254 372

Adrianópolis 3268 374

Itaperuçu 3365 381

Dr. Ulysses 4179 398

Total de Municípios 5507 398

Tabela 1: Índice de Desenvolvimento Humano - Municipal, 1991 e 2000.(Fonte: PNUD, 2000)

O objetivo em iconizar os municípios que compõem o norte da região

69

metropolitana é justamente contrastar com o desenvolvimento do bloco como um

todo. Ao passo que existem municípios altamente industrializado e que com fortes

planos de incentivo atraíram grande capital como Araucária – extensão da Cidade

Industrial de Curitiba ao sudoeste da capital – e São José dos Pinhais, existem

outros com os piores indicadores do país.

Figura 28: Mapa de Curitiba e dos municípios que enquadram a Região Metropolitana.(Fonte: COMEC, 2009)

Abismos sociais não são nenhuma novidade na realidade brasileira, e não

questiona-se aqui a concentração de riqueza na lógica do capital, mas sim procura-

se enfatizar que este fenômeno torna impossível que os benefícios gerados tanto

70

por iniciativas público-privadas ou pelas próprias riquezas naturais de uma região

propaguem-se em raios socialmente significativos.

Se observado com mais atenção a Figura 18: Locais em que os catadores

acompanhados pelo Instituto Lixo e Cidadania residem na grande Curitiba (Fonte:

ILCPR, 2006 e software elaborado pelo autor), que mostra a distribuição geográfica

dos catadores entrevistados que residem em Curitiba, não por acaso estas

densidades coincidem muito com estratégias de desenvolvimento urbano que

acabam por promover a desigualdade social na cidade.

A favor disto, Curitiba tem uma peculiaridade muito significativa em sua

história: a continuidade do alinhamento político de suas gestões públicas. Este

aspecto em especial possibilitou a consolidação de obras extra gestionárias maiores

do que as que seriam possíveis caso o direcionamento mudasse com mais

frequência. A principal incidência deste fato no presente trabalho é analisar a

extensão dada à execução do plano diretor, que acabou por ocorrer de uma

maneira mais incisiva do que as outras grandes cidades brasileiras foram capazes

de implementar (OLIVEIRA, 2000).

Projetos urbanísticos aplicados à cidades do patamar de Curitiba

caracterizam-se por serem irreversíveis a partir do momento que são iniciados,

ficando a cargo das próximas gestões dar continuidade ou desvirtuarem o que já foi

feito, o que neste caso é uma tarefa difícil que requer habilidade pública e amplo

conhecimento do espaço social e urbano da cidade. Na interrupção oposicionista de

Fruet e Requião, o Plano Diretor foi complementado para esferas sociais e

ambientais à qual não haviam sido enfatizadas anteriormente, sendo realizados os

primeiros estudos para gerenciamento de resíduos sólidos de Curitiba

(NASCIMENTO, 2005), assim como os primeiros contatos e projetos da prefeitura

direcionados aos catadores (JORNAL DO ESTADO, 1985).

No mesmo período de 11 mandatos, desde o golpe militar de 1972, Curitiba

teve 7 prefeitos, enquanto São Paulo teve 16, e Rio de Janeiro teve 12. A capital

paranaense também alternou de linhagem política somente uma vez neste mesmo

período, sendo que 5 prefeitos governaram a cidade durante 36 anos.

71

Em partes, como consequência disso, e até como fato mais relevante nos

resultados da execução desse plano, foi a falta de conflitos entre o poder público e

a iniciativa privada, dando lugar à uma composição de interesses das obras

públicas com diversos empreendimentos (OLIVEIRA, 2000), e mais marcadamente

neste estudo com o ramo imobiliário.

Em curtos termos, este raro caso de cooperação entre o poder público e a

iniciativa privada foi crucial para toda a notoriedade pertencente à capital

parananense internacionalmente e também para a promoção pessoal e profissional

de seus mentores. As regiões mais pobres e povoadas de Curitiba continuam sendo

as mais pobres, já por outro lado, as regiões antes compostas por várzeas e

banhados tornaram-se hoje grandes centros comerciais e residenciais. A proposta

do PD reflete-se na densidade econômica encontrada na cidade (FILHO, 2009).

A adoção destas estratégias de desenvolvimento mostraram-se muito

eficientes na criação de um núcleo elitizado no centro-norte da cidade, submetendo

as regiões mais pobres às periferias e regiões metropolitanas, como mostra a

Figura 29: Taxa de pobreza de Curitiba (Fonte: IBGE, 2005).

72

Figura 29: Taxa de pobreza de Curitiba(Fonte: IBGE, 2005)

A Curitiba ecológica e das propagandas é eficiente em diversos quesitos

quando observada somente ao espectro do núcleo azul que abrange uma boa fatia

da riqueza da região metropolitana. Os indicadores nestes bairros são realmente

satisfatórios a nível de uma cidade que pode exportar sua imagem urbanista sem

73

grandes preocupações, só que infelizmente os poréns ocorrem muito próximos dali

(FILHO, 2009).

A discrepância das situações em regiões tão próximas colocam bem os

contrastes vividos pela capital paranaense e aos poucos bairros de elite a que serve

a forte economia da cidade. Estaria neste contexto a cultura desenvolvimentista,

inovadora e socialmente correta de Curitiba colocada de maneira plural?

Ao analisar a história de um município pode-se também conhecer seus

principais rumos. Neste processo é importante esclarecer – e até desmistificar –

saberes comuns que dizem respeito ao espaço urbano, e assim melhor analisar

seus problemas ambientais e sociais.

Curitiba mostra com sua história um tratamento urbano bastante indigno

para as massas mais pobres. As conquistas efetuadas no processo político-histórico

deram-se principalmente devido à atuação de movimentos sociais, e subsídios para

movimentação devem ser retiradas destas análises de construção do espaço

urbano.

Esta situação impera tanto pelo fato de que Curitiba com o seu processo

histórico de desenvolvimento urbano pôde isolar geograficamente aqueles que não

poderiam contribuir com o fortalecimento do seu núcleo de elites, e também pela

aparente apatia do poder público na mobilização dos catadores e na promoção de

uma efetiva integração do serviço público de coleta de lixo com o trabalho das

cooperativas.

6.3.2 O modelo de gestão do lixo

A reciclagem e gestão pública do lixo é um negócio milionário por todo o

mundo, e embora as companhias procurem sempre passar a imagem de proteção

ao meio ambiente, não é difícil perceber a sobressaída dos benefícios econômicos

da reciclagem. O mercado de resíduos no Brasil é o maior dentre toda a América do

Sul. A coleta dos resíduos cresce a uma média de 5,9% ao ano, enquanto a

geração cresce 0,6% no mesmo período. Somente a região sul do país é

responsável por 14 mil toneladas por dia, sendo que a região sudeste encarrega-se

74

de gerar metade de todo o contingente brasileiro. A coleta na região sudeste é

também a mais cara, estimando-se uma contribuição per capita dos habitantes de

R$10 por mês, enquanto este mesmo valor situa-se na faixa de R$7 para a região

sul, que possui o custo mais baixo do país somente à frente da região centro-oeste

(ABRELPE, 2009).

Uma família que encaixe-se no programa Luz Fraterna do Governo do

Estado do Paraná para residências com baixo consumo de energia elétrica, pagará

no máximo pouco menos do que R$25 mensais em sua conta de luz (COPEL,

2009). Para uma família com quatro ou mais pessoas este valor converte-se no

mínimo para R$6 considerando consumo máximo permitido e ainda observando que

a COPEL possui uma das tarifas mais baixas do país (ANEEL, 2009).

Como visto, o gasto público com a limpeza não é nada baixo. Só a

conturbada licitação repleta de suspeitas para gerenciar os resíduos da capital

paranaense em 2008 foi ganha pela Cavo por um valor de R$353 milhões (PARANÁ

ONLINE, 2008).

O mercado de limpeza urbana no sul do país já movimenta cerca de R$2

bilhões ao ano, e este é um ramo que cresce com as perspectivas políticas e

econômicas do país em discretos 2% ao ano (ABRELPE, 2009). Os índices em

regiões mais pobres do país são muito maiores, o que de certa forma demonstra o

fortalecimento deste mercado.

As empresas controladas por capital estrangeiro no país são responsáveis

por cerca de 70% do volume monetário em exportações (FRANCO, 2004), e um

grande responsável por este número é o setor de serviços que a partir de meados

dos anos 90 mostrou um crescimento significativo na economia brasileira,

resultando no setor que mais contribui para o PIB atualmente. Isso deve-se pelo fato

de que, neste mesmo período da década de 90 iniciou-se uma abertura por parte do

governo para a participação em áreas de serviços antes inacessíveis ao capital

internacional, tais como: telefonia, energia elétrica e saneamento (SCHERER,

2004).

Vertentes direcionados à terceirização dos serviços públicos já estavam em

75

curso desde a década de 1970 e foram intensificadas neste período. O estado

abandonava a centralização dos serviços e tonava-se cada vez menos abrangente

em suas competências diretas. Assim seguia-se a cultura de delimitar a

participações do estado nas atividades não produtivas e nas atividades econômicas

de modo geral. O aumento da presença multinacional no Brasil também ocorreu

neste setor de terceirização de serviços públicos, que é claramente explorado por

empresas estrangeiras. Não é nada incomum termos de nos relacionar com

empresas multinacionais para exercer alguma obrigação ou direito civil (ALVES,

2006).

Os maiores grupos e concessionárias de limpeza pública do país pertencem

a grandes grupos internacionais que atuam em áreas de engenharia, manutenção e

saneamento. É comum que estes grupos aglomerem-se em diversas empresas

menores, cada qual especializando-se em um determinado campo, ou mesmo

frequentemente atuando exatamente no mesmo segmento. Isto não é um impeditivo

legal para a participação em licitações e concorrências, mas pouco mudam o fluxo e

destino dos recursos públicos empregados na área de limpeza pública (MILENA B,

2010).

É interessante citar aqui o conceito de teoria da captura de regulação

econômica do estado, que traduz muito bem a situação dada pelo gerenciamento de

resíduos:

“Os políticos tendem a apoiar as regulamentações que lhes dêem o que procuram. Isso, de acordo com a teoria, implicaria que grupos de menor tamanho, porém mais diretamente interessados em determinados assuntos, e com recursos mais vultosos, como é o caso dos produtores, saiam vencedores em relação a conseguir vantagens junto à classe política quando comparados a grupos maiores, porém menos organizados e com menor conhecimento do assunto, como é o caso dos consumidores. Sindicatos de trabalhadores também podem colocar-se a favor das direções das companhias, visando a conseguir aumentos em seus vencimentos ou mesmo condições mais satisfatórias em seu ambiente laboral.” (BASSO, 2000)

Como visto, o gerenciamento de resíduos de qualquer cidade é um bom

negócio para as empresas do ramo e também para os administradores públicos que

76

queiram tirar proveito da situação, movimentando grandes interesses e quantias de

dinheiro. É de se esperar, portanto, que o modo como um município opta por

dispender seus recursos disponíveis siga a linhagem proposta pela teoria da

captura de acordo com o seu grau de suscetividade a este modelo de regulação

econômica (BASSO, 2000).

E de fato, frente a todo este cenário, Curitiba mantém os contratos com a

empresa Cavo de gerenciamento resíduos sólidos há mais de 15 anos (MACHADO,

2007) sobre renovações milionárias de anos em anos, ignorando propostas de

integração social que inclua a organização de catadores . Este mercado de maneira

geral possui fortes características de irregularidades e ilegalidades presentes em

diversos fatores da administração pública, tais como: formação de cartéis, licitações

mal elaboradas, concorrências encobertas, casamento de interesses, monopólios e

mal execução dos termos do contrato é manchete comum nos meios de

comunicação Brasil afora.

De acordo com a teoria da captura, não importam os contratempos políticos,

institucionais ou ilegais. O fluxo de riquezas acaba sendo remanejado de alguma

maneira para aqueles com maior poder de influência na gestão pública (BASSO,

2000), o que não é uma grande novidade para o que observa-se no dia a dia das

relações econômicas do Brasil.

Em 2008 começaram a ser intensivadas as discussões a respeito da

desativação do aterro sanitário da Caximba – estrutura que até então recebe todo o

espaço, e com isso foi planejada a formação de um consórcio para gerenciamento

do lixo de Curitiba e região metropolitana. Com a capacidade esgotada, o aterro

funciona desde o final de 2008 muito deficitariamente e com diversas ampliações

realizadas com regime de urgência (CRISTO, 2009).

A definição deste consórcio tem sido um verdadeiro desastre administrativo,

com os prazos sendo continuamento revogados, e definições formais sendo

tomadas esparsamente e morosamente. Em uma recente ocasião a licitação que

escolhe o grupo que irá administrar uma nova área de destinação dos resíduos foi

vetada pela justiça. O preço de R$51,11 por tonelada processada havia sido o

ganhador, mesmo sobre o preço muito menor da proposta concorrente de R$35,78,

77

até 30% mais baixo. Segundo a quantidade de geração destinada à Caximba em

2009 de 2,4 mil toneladas diárias, um valor licitatório de R$50,00 por tonelada

implicaria em um custo mensal de 3,6 milhões (SGARBI, 2010).

Um projeto tão importante e oportuno como a formação deste consórcio não

estimula – seja por parte do direcionamento de recursos ou pela própria

configuração da prestação de serviços – um fortalecimento da coleta seletiva

inclusiva na capital paranaense. Ao contrário disto, parece ser mais interessante

manter um sistema economicamente centralizador e socialmente omisso, privando

da comunidade recursos perfeitamente passíveis de utilização. O próprio aterro da

Caximba sequer possui uma política de segurança consistente o suficiente para

impedir catadores de adentrar o lixão para procurar utensílios e comida, fato

apresentado em março de 2009 através de um vídeo constrangedor em audiência

pública na assembleia legislativa (FRANÇA, 2009).

78

7 Considerações Finais

É certo dizer que nenhuma política pública de Curitiba até a atualidade veio

de encontro satisfatório às necessidades dos catadores, e que a situação das

comunidades afins cidade afora é extremamente deficitária, com falta de recursos e

espaço para trabalhar estas comunidades lutam, ocupam e antepõem-se ao poder

público e suas práticas através de seu movimento social.

Curitiba tem uma grande população de catadores, e com isso uma

oportunidade incrível de mobilizá-los e incluí-los nos processos de limpeza da

cidade de uma maneira digna, humana e com amplo oferecimento de autonomia e

exclusão de atravessadores.

Percebe-se também que as tradições sociais da cidade nunca foram

especialmente compatíveis às necessidades de sua população mais pobre. Desde o

início do planejamento urbano a cidade sistematicamente exclui e isola aqueles que

não podem contribuir para o enriquecimento ostensivo de seu centro que virou

referência nacional em planejamento, e não direciona grande importância às

populações marginalizadas das periferias e várzeas de rios.

Defende-se a que o gerenciamento de resíduos deve ter uma prioridade

social, mas o que vive-se hoje é que esta prioridade é econômica e focada no

reparo de custos dos demais processos produtivos, ou no beneficiamento de

materiais para venda. Procura-se demonstrar que isto não corresponde a um

conceito de sustentabilidade que englobe a inclusão social, e o fato de que este

mesmo conceito está enraizado no discurso padrão de meio ambiente corporativo

sugere que, para que se alcance um retorno social na geração de resíduos, se

construa uma outra linha de pensamento dentro do campo da sustentabilidade.

Tampouco nos deve ser fatalista a visão sobre os catadores e sua situação

social, ou tomar as associações e cooperativas como meios de emancipação para

as pessoas. A via de tornar-se catador organizado precisa ser uma rota digna,

humana e merecedora de muito respeito pela sociedade, mas ainda assim somente

uma rota. Este trabalho toma como um erro admitir a catação como um posto de

trabalho permanente na sociedade brasileira.

79

Deve-se criar toda uma situação necessária para a organização e

fortalecimento dos catadores, mas juntamente à isso deve-se também prover um

plano de crescimento que venha a emancipar o trabalhador politicamente,

educacionalmente, financeiramente e psicologicamente. Cabem aí, por exemplo,

fundos de apoio e investimentos em organizações de catadores advindos do setor

industrial da reciclagem.

Além de exclusivo, o modelo de gestão do lixo presente na capital

paranaense é também milionário. Este sistema favorece diversas empresas e

obedece a regulação proposta pela teoria da captura que resume: quem tem mais,

manda mais.

Uma proposta social para Curitiba deve, antes de mais nada, romper com

duas lógicas hoje dominantes na cidade:

1) a exclusão geográfica, dando a toda a região metropolitana o mesmo

esforço de investimento, atenção social e acesso aos recursos

públicos que é dado no centro da cidade ;

2) a lógica financeira que tem dado aos empresários do mercado de

serviços a direção do planejamento urbano.

Estas vias dependem em muito da organização e articulação dos

movimentos sociais, através da cobrança e pressão deles sobre as governanças é

que se viabilizará a vontade política necessária para implementação das mudanças

em questão.

80

8 Referências BibliográficasABRAMOVAY, 1999: ABRAMOVAY, Ricardo; CAMARANO, Ana A., Êxodo Rural, Envelhecimento e Masculinização no Brasil: Panorama dos Últimos 50 Anos, 1999. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Rio de Janeiro.

ABRELPE, 2009: Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, Panorama dos resíduos sólidos no Brasil, 2008. ABRELPE, São Paulo.

ALMEIDA, 2001: ALMEIDA, Bernadete L.F., A Questão da Desigualdade Social e a Universidade brasileira, 2001. Conferência da Mesa Redonda: "A Universidade Face às Desigualdades Sociais: O Desafio do Milênio" do VII Seminário de Pesquisa do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da UFRN, Natal.

ALVES, 2006: Acessado em 02/01/2010, Terceirização de serviços na Administração Pública, 2006. <http://www.ticontrole.gov.br/portal/page/portal/TCU/comunidades/licitacoes_contratos/detalhes_documento?thingid=1951085&masterthingid=1951084&siteid=35>, Brasília.

ANEEL, 2009: Agência Nacional de Energia Elétrica, Tarifas residenciais vigentes, 2009. <http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/tarifaAplicada/index.cfm?fuseaction=tarifaAplicada.mostrarFrmValorOrdenado&tipoOrdenacao=valor&ordenacao=asc&dataVigPesq=05/08/2009&ativaMenu=1>, Acessado em 04/01/10.

BANDEIRA, 1966: BANDEIRA, Manuel, Estrela da Vida Inteira: Poesias Reunidas, 1966. José Olympio, Rio de Janeiro.

BASSO, 2000: BASSO, Leonardo Fernando Cruz; SILVA, Marcelo Roque, Reflexões sobre a regulamentação, 2000. Revista de Administração Contemporânea vol.4, n.2, Acessado em 15/02/10 <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1415-65552000000200005&script=sci_arttext>.

BASU, 2005: BASU, Kaushik, Why India Needs Labour Law Reform, 2005. <http://news.bbc.co.uk/1/hi/world/south_asia/4103554.stm>, Acessado em 24/03/2009 Ithaca.

BOLDRIN, 1996: BOLDRIN, Michele; ALONSO, Ana M., Educacion Publica, Crecimiento y Desigualdad Social, 1996. Anais del IX Simposio "Moneda y Crédito" sobre "La Reforma del Estado de Bienestar", Madrid.

BOREKI, 2008: BOREKI, Vinicius, Parque eleva renda, mas atende poucos catadores, 2008. Gazeta do Povo de 03/10/08, Curitiba.

BOSI, 2008: BOSI, Antônio de P., A Organização Capitalista do Trabalho "Informal": O Caso dos Catadores de Recicláveis, 2008. Revista Brasileira de Ciências Sociais, Vol. 23, No. 67, São Paulo.

CARVALHO, 2005: CARVALHO, Ana M.R.; LADEIA, Carlos R; FERREIRA, Samyna

81

T., Catadores de Recicláveis: Representações Sociais de Coleta Seletiva, 2005. Anais do III Encontro de Economia SolidáriaDesenvolvimento Local, Trabalho e Autonomia, São Paulo.

CATADOR DE PAPEL BUSCA ..., 1994: Gazeta do Povo, Catador de papel busca formação de cooperativa, 1994. Gazeta do Povo de 23/09/1994, Curitiba.

CATADORES DE PAPEL GANHAM CARRINHOS NOVOS, 1994: Gazeta do Povo, Catadores de papel ganham carrinhos novos, 1994. Gazeta do Povo de 30/05/94, Curitiba.

CATADORES DE PAPEL RECLAMAM ..., 2005: O Estado do Paraná, Catadires de papel reclamam da concorrência, 2005. O Estado do Paraná de 08/06/2005, Curitiba.

CATADORES DE PAPEL VÃO ..., 1989: Gazeta do Povo, Catadores de papel vão ter mais segurança ao trabalho, 1989. Gazeta do Povo de 31/08/1989, Curitiba.

CATADORES NÃO QUEREM ..., 1989: Correio de Notícias, Catadores não querem que Lerner cate seu lixo, 1989. Correio de Notícias de 22/09/1989, Curitiba.

CATADORES PODERÃO ..., 1989: O Estado do Paraná, Catadores poderão perder ganha-pão, 1989. O Estado do Paraná de 17/08/1989, Curitiba.

CATADORES TERÃO ..., 1989: O Estado do Paraná, Catadires terão cadastro e carrinho emplacados, 1989. O Estado do Paraná de 30/08/1989, Curitiba.

CAVALCANTE, 2007: CAVALCANTE, Sylvia; FRANCO, Márcio F. A;, Profissão Perigo: Percepção de Risco à Saúde Entre os Catadores do Lixão do Jangurussu, 2007. Revista Mal Estar e Subjetividade, Vol. 7 No. 1, Fortaleza.

CEMPRE, 2009: Compromisso Empresarial Para a Reciclagem, A Evolução da Coleta Seletiva e Reciclagem de Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil, 2008. <http://www.cempre.org.br/imprensa.php?codeps=fHx8fHx8fHx8fHx8fDE1>, Acessado em 22/03/2009.

COLETE FOSFORESCENTE ..., 1989: Jornal Indústria e Comércio, Colete fosforescente vai ajudar catador de papel, 1989. Jornal Indústria e Comércio de 14/09/1989, Curitiba.

COMEC, 2009: Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba, Mapa de Curitiba e Região Metropolitana, 2009. , Curitiba.

COPEL, 2009: Companhia Paranaense de Energia Elétrica, Programa Luz Fraterna, 2009. <http://www.copel.com/hpcopel/root/nivel2.jsp?endereco=%2Fhpcopel%2Froot%2Fpagcopel2.nsf%2Fdocs%2F8E4D366598F91398032573FB0067A1B4>, Acessado em 04/01/10.

CRISE MUNDIAL ..., 2009: Jornal da Mídia, Crise Mundial Reduz Renda de Catadores de Materiais Recicláveis, 2009.

82

<http://www.jornaldamidia.com.br/noticias/2009/03/20/Brasil/Crise_mundial_reduz_renda_de_cata.shtml>, Acessado em 22/03/2009.

CRISTO, 2009: CRISTO, Luciana, Aterro da Caximba poderá ser usado até novembro de 2010, 2009. Paraná Online, Acessado em 15/02/10 <http://www.parana-online.com.br/editoria/cidades/news/409655/?noticia=ATERRO+DA+CAXIMBA+PODERA+SER+USADO+ATE+NOVEMBRO+DE+2010>.

CURITIBA SE-PA-RA CATADORES..., 2006: Centro de Mídia Independente, Curitiba SE-PA-RA catadores/as da coleta e gestão dos recicláveis, 2006. <http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2006/05/354013.shtml>, Acessado em 03/02/09.

DEDECCA, 1997: DEDECCA, Carlos Salvadori; BALTAR, Paulo Eduardo de Andrade, Mercado de Trabalho e Informalidade nos Anos 90, 1997. Est. Econ, V. 27, São Paulo.

DELGADO, 2004: DELGADO, Maria Viviane Monteiro, O Terceiro Setor no Brasil: Uma Visão Histórica, 2004. Revista Espaço Acadêmico n.37, Acessado em 04/02/10.

ENTREGA DE CARRINHOS A CATADORES DE PAPEL, 1994: Gazeta do Povo, Entrega de carrinhos a catadores de papel, 1994. Gazeta do Povo de 28/09/1994, Curitiba.

FERNANDES, 2008: FERNANDES, José Carlos, Revolução na hora do almoço, 2008. <http://celepar7cta.pr.gov.br/mppr/noticiamp.nsf/9401e882a180c9bc03256d790046d022/8eddb6276c25b83e8325744000588257?OpenDocument>, Acessado em 05/02/10.

FERREIRA, 2006: FERREIRA, Débora Nitz, participação política e violência simbólica, 2006. Faculdade de Viçosa, Viçosa.

FERREIRA, 2008: FERREIRA, Elisete, Dinâmicas de apropriação do conhecimento por famílias de catadores de material reciclável: políticas públicas, projetos e tecnologias sociais, 2008. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba.

FILHO, 2009: FILHO, Paulo Bearzoti, O planejamento urbano exclusivo de Curitiba, 2009. Palestra conferida na "Flor da Palavra", em 2009 - Reitoria da UFPR, Curitiba.

FRANÇA, 2009: FRANÇA, Letícia, Sipar: nova tecnologia ou velho discurso?, 2009. Jornal Comunicação da UFPR, Acessado em 15/02/10 <http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/node/6359>.

FRANCO, 2004: FRANCO, Gustavo H.B., Investimento direto estrangeiro (IDE) no Brasil:passivo externo ou ativo estratégico?, 2004. SOBEET - Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica,

83

São Paulo.

GESSER, 2004: GESSER, Marivete; ZENI, Ana L. B., A Educação Ambiental Como Uma Possibilidade de Promover Cidadania aos Catadores de Materiais Recicláveis, 2004. Anais do 2o. Congresso Brasileiro de Extensão Universitária, Belo Horizonte.

GONÇALVES, 2002: GONÇALVES, Marcelino A; JUNIOR, Antonio T., Informalidade e Precarização do Trabalho: Uma Contribuição à Geografia do Trabalho, 2002. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales, Vol. 6, No. 119, Barcelona.

GONÇALVES, 2004: GONÇALVES, Denise; GUIMARÃES, João Landi, A Carne é Fraca, 2004. Insitituto Nina Rosa, São Paulo.

IBGE, 2005: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Produto Interno Bruto dos Municípios 1999-2002, 2005. <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_impressao.php?id_noticia=354>, Acessado em 15/11/09.

IBGE, 2008: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, 2008. <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2009/default.shtm>, Acessado em 12/12/09.

ILCPR, 2006: Instituto Lixo e Cidadania do Paraná, Pesquisa de caracterização dos catadores, 2006. Instituto Lixo e Cidadania do Paraná, Curitiba.

JORNAL DO ESTADO, 1985: Jornal do Estado, Lançado programa para amparar catadores de papel de Curitiba, 1985. Jornal do Estado de 21/05/1985, Curitiba.

JUSBRASIL POLÍTICA, 2009: JusBrasil Política, Curitiba terá os melhores índices de saneamento básico, 2009. <http://www.jusbrasil.com.br/politica/2706040/curitiba-tera-os-melhores-indices-de-saneamento-basico>, Acessado em 15/11/09.

KLOSTERMANN, 2007: KLOSTERMANN, Fabiano, Criticada atuação dos carrinheiros em Curitiba, 2007. Paraná Online <http://www.parana-online.com.br/canal/viagem-e-turismo/news/250316/>, Curitiba. Acessado em 04/02/10..

KÖNIG, 2007: KÖNIG, Mauri, O Reverso do Espelho, 2007. Gazeta do Povo 05/08/2007, Curitiba.

LAGINSKI, 2009: LAGINSKI, Flávio, Saneamento básico está estagnado, 2009. <http://www.parana-online.com.br/editoria/cidades/news/382194/>, Acessado em 16/11/09.

LEIBANTE, 2006: LEIBANTE, Thiago, Trabalho Informal e Acumulação Capitalista: Autonomia ou Precarização?, 2006. Universidade Estadual de Londrina, Londrina.

84

LIXO QUE NÃO É LIXO BENEFICIOU ..., 1990: O Estado do Paraná, "Lixo que não é lixo" beneficiou catadores, 1990. O Estado do Paraná de 21/04/1990, Curitiba.

LOPES, 1983: LOPES, Adélia Maria, Papel dos Catadores de Papel, 1983. Tribuna do Paraná, Curitiba.

MACHADO, 2007: MACHADO, Danielle, Curitiba comemora 18 anos de coleta seletiva, 2007. Jornal Comunicação da UFPR - Um olhar sobre Curitiba, Acessado em 15/02/2010 <http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/redacao3/node/158>.

MEDEIROS, 2006: MEDEIROS, Luiza F.R; MACÊDO, Kátia B., Catador de Material Reciclável: Uma Profissão Para Além da Sobrevivência?, 2006. Revista Psicologia e Sociedade, Vol. 2, No 18, Florianópolis.

MEDEIROS, 2007: MEDEIROS, Luiza F. R; MACÊDO, Kária B., Profissão: Catador de Material Reciclável, Entre o Viver e o Sobreviver, 2007. Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional Vol. 3, No. 2, Taubaté.

MIKALOVICZ, 2007: MIKALOVICZ, Maria I; SANTOS, Rosana M; SOUZA, Luciana A. C; ROCHA, Eliana P., Discutindo o Invisível - Cinedebate Sobre Documentário do Projeto Olho Vivo: "O Papel dos Catadores", 2007. Revista Científica da Faculdade Modelo, Vol. 1 No. 2, Curitiba.

MILENA A, 2010: MILENA, Lilian, Estudo analisa coleta da ‘Capital Ecológica’, 2010. <http://blogln.ning.com/profiles/blogs/estudo-analisa-coleta-da>, Acessado em 20/02/10.

MILENA B, 2010: MILENA, Lilian, A marcha dos catadores de lixo, 2010. <http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2010/02/09/a-marcha-dos-catadores-de-lixo/>, Acessado em 20/02/10.

MILHOMEM, 2003: MILHOMEM, Alzirene V., Trabalho Informal: Precarização do Trabalho e Exclusão Social em Goiás e no Brasil, 2003. Revista Anhangüera Vol. 4 No. 1, Goiânia.

MNCR QUER CATADORES..., 2006: Centro de Mídia Independente, MNCR quer catadores/as operando um novo sistema de reciclagem, 2006. Centro de Mídia Independente, <http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2006/05/353806.shtml> Acessado em 03/02/09.

MNCR REALIZA ..., 2006: Centro de Mídia Independente, MNCR Realiza Ato Nacional, 2006. <http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2006/06/355184.shtml>, Acessado em 22/03/2009.

MODELO DE GESTÃO É DISCUTIDO, 2006: Centro de Mídia Independente, Modelo de gestão é discutido, 2006. <http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2006/05/353713.shtml>, Acessado em 03/02/09.

MOISÉS, 2008: MOISÉS, José Álvaro; CARNEIRO, Gabriela Piquet, Democracia,

85

desconfiança política e insatisfação com o regime – o caso do Brasil, 2008. Revista Opinião Pública, vol. 14, Campinas.

NASCIMENTO, 2005: NASCIMENTO, Camila Victória; ROSENMANN, Leonardo Chemin, Sistema de Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos - Estudo de Caso: Curitiba, 2005. Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná, Curitiba.

OLIVEIRA, 2000: OLIVEIRA, Denninson, Curitiba e o Mito da Cidade Modelo, 2000. Editora da Universidade Federal do Paraná, Curitiba.

OLIVEIRA, 2007: OLIVEIRA, Nilza A. S., A Produção e Gerenciamento dos Resíduos Sólidos em Curitiba e as Alternativas de Contribuição Com o Meio Ambiente, 2007. Revista Eletrônica Geografar, Vol. 2, No. 2, Curitiba.

PARANÁ ONLINE, 2008: Paraná Online, Vícios e suspeitas marcam licitação do lixo em Curitiba, 2008. <http://www.parana-online.com.br/editoria/cidades/news/108538/>, Acessado em 04/01/10.

PNUD, 2000: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Índice de Desenvolvimento Humano - Municipal, 1991 e 2000, 2000. <http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/IDH-M%2091%2000%20Ranking%20decrescente%20%28pelos%20dados%20de%202000%29.htm>, Acessado em 15/11/09.

PNUD, 2005: Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento, Número de pobres só não cai entre negros, 2005. <http://www.pnud.org.br/raca/reportagens/index.php?id01=1608&lay=rac>, Acessado em 01/12/2008.

PREFEITURA ENTREGA..., 2008: Bem Paraná, Prefeitura entrega o primeiro parque de reciclagem, 2008. <http://www.bemparana.com.br/index.php?n=68300&t=parana>, Acessado em 30/02/09.

PRESIDENTE ASSINA DECRETO..., 2006: Ministério das Cidades, Presidente assina decreto que institui coleta seletiva, 2006. <http://www.cidades.gov.br/secretarias-nacionais/programas-urbanos/Imprensa/reabilitacao-de-areas-urbanas-centrais/noticias-2006/outubro/presidente-assina-decreto-que-institui-coleta-seletiva/>, Acessado em 15/09/09.

PROJETO ECO CIDADÃO, 2008: Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Curitiba, Projeto para incremento da reciclagem e inclusão socioambiental dos catadores informais, 2008. SMMA, Curiitba.

RENDA MÉDIA..., 2009: Agência de Notícias da Prefeitura Municipal de Curitiba, Renda média dos catadores dos parques EcoCidadão aumentou 43%, 2009. <http://www.curitiba.pr.gov.br/publico/noticia.aspx?codigo=16982>, Acessado em 15/09/09.

RESULTADO DAS ELEIÇÕES, 2008: Tribunal Superior Eleitoral, Divulga2008,

86

2008. , .

RIBEIRO, 2008: RIBEIRO, Marcia, Um dia no Fórum Lixo e Cidadania, 2009. <http://curitibamaishumana.blogspot.com/2009/03/um-dia-no-forum-lixo-e-cidadania.html>, Acessado em 05/02/10.

SAKAMOTO, 2007: SAKAMOTO, Eliane Harumi, Elementos da marca "Cidade ecológica" em Curitiba (Brasil) e Kitakyushu (Japão), 2007. Programa de Pós Graduação em Gestão Urbana da Pontifície Universidade Católica do Paraná, Curitiba.

SCHERER, 2004: SCHERER, André Luis Forti, Investimento direto estrangeiro, fusõese aquisições e desnacionalização daeconomia brasileira: um balançoda década do Plano Real, 2004. Indic. Econ. FEE, v. 32, n. 2, Porto Alegre.

SCHVER, 2008: SCHVER, Paula, Dúvidas Cercam Ocupação de Catador, 2008. Sistema Jornal do Comércio de Comunicação <http://www2.uol.com.br/JC/sites/lata/vinc_informalidade.html>, Acessado em 24/03/2009.

SETOR RECICLAGEM, 2007: Setor Reciclagem, Recorde de Reciclagem Ligado à Exclusão Social, 2007. <http://www.setorreciclagem.com.br/modules.php?name=News&file=print&sid=529>, Acessado em 23/03/2009.

SGARBI, 2010: SGARBI, Vinicius, O lixo de Curitiba: mais um capítulo enfadonho, 2010. CBN Curitiba, Acessado em 10/03/10 <O lixo de Curitiba: mais um capítulo enfadonho>.

SILVA, 2006: SILVA, Rosemeire B., O Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis: Atores, Governação, Regulação e Questões Emergentes no Cenário Brasileiro, 2006. Revista Internacional Interdisciplinar INTERthesis, Vol. 3, No. 2, Florianópolis.

SILVA, 2007: SILVA, Berenice Gomes; FONSECA, Luciane Nunes, Movimentos de mulheres rurais em rede, 2007. Universidade de Brasília, Brasília.

SINGER, 2000: SINGER, Paul I., Economia dos Setores Populares, 2000. In: TOMÉ, Geruza. Economia Solidária: Humanização Possível no Interior do Capitalismo?, Petrópolis.

SOBRE LIXO RECICLÁVEL..., 2008: Zé Beto, Sobre lixo reciclável e catadores de papel, 2008. <http://jornale.com.br/zebeto/2008/08/07/sobre-lixo-reciclavel-e-catadores-de-papel/>, Acessado em 03/02/09.

SOUZA, 2008: SOUZA, Alessandra Martins; SILVA, Flávio Cristina Silva e; MANO, Marcelo, O trabalho informal domiciliar nas bancas de pesponto no setor calçadista de Uberaba: Novas e velhas demandas do serviço social, 2008. Anais do VI Seminário do Trabalho, Uberaba.

VALÉRIO, 1989: VALÉRIO, Roseli, Catador de papel, figura ameaçada, 1989. Folha de Londrina, Londrina.

87

WIKIPEDIA, 2009: Wikipédia, Lista de municípios do Paraná por renda per capita, 2009. <http://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_munic%C3%ADpios_do_estado_do_paran%C3%A1_por_renda_per_capita>, Acessado em 12/12/09.

WURMEISTER, 2008: WURMEISTER, Fabiula, Ritmo do êxodo rural cai no PR, 2008. <http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/vidaecidadania/conteudo.phtml?tl=1&id=756508&tit=Ritmo-do-exodo-rural-cai-no-PR>, Acessado em 27/11/2009.

88

9 Anexos

9.1 Ficha de caracterização dos catadores

Associação/ Cooperativa/ Grupo de que faz parte.

Nome:

Endereço:

Bairro:

Cidade:

Telefone:

Idade:

Data de nascimento:

Sexo: (a) masculino (b) feminino

1. Qual sua raça?

a) branca

b) negra

c) parda

d) amarela

e) indígena

2. Que documentos você possui?

a)certidão de nascimento

b)certidão de casamento

c)RG

d)CPF

e)título de eleitor

f)carteira de trabalho

g)PIS

3. Onde você nasceu?

a)cidade

b)campo

4. Há quanto tempo mora nesta cidade?

89

5. Você é chefe de família?

a)sim

b)não

6. Você tem filhos?

a)sim

b)não

Quantos?

7. Você é:

a)solteiro

b)casado

c)amigado

d)separado

e)viúvo

8. Quantas pessoas moram com você?

8.1. Quantas são crianças (menor de 12 anos)?

8.2. Quantos são adolescentes (entre 12 e 18 anos)?

8.3. Quantas pessoas da família trabalham?

8.4. Quantos estão na escola?

9. O local que você mora é:

a)casa

b)cômodo

c)pensão

d)lixão

e)depósito

f)albergue

g)rua

h)outro

10.Sua casa é:

a)própria com documentos

b)própria sem documentos

90

c)alugada

d)cedida

e)outro

11. A construção é:

a)alvenaria

b)madeira

c)outro

12. Você paga o INSS?

a)sim

b)não

Porquê?

13. Qual é sua renda familiar?

14.Qual a sua remuneração atual decorrente da coleta de material.

( ) Menos que R$ 150,00.

( ) Entre R$ 151,00 e R$ 300,00

( ) Entre R$ 301,00 e R$ 450,00

( ) Entre R$ 451,00 e R$ 600,00

( ) Acima de R$ 601,00.

15. Você tem:

15.1. Água encanada:

a)sim

b)não

Fornecimento pela Sanepar?

15.2. Energia elétrica:

a)sim

b)não

Fornecimento pela Copel?

15.3. Esgoto:

a)rede pública

b)fossa

91

c)céu aberto

d)outro

15.4. Banheiro:

a)sim

b)não

16.Até que série estudou?

16.1. Gostaria de voltar a estudar?

a)sim

b)não

16.2. Gostaria de participar de algum curso?

a)sim

b)não

Qual?

17.Em relação à sua saúde e de sua família:

17.1. Você:

a)não fuma

b)fuma

c)ingere bebidas alcoólicas

d)não ingere bebidas alcoólicas

e)consome drogas

f)não consome drogas

g)já fumou

h)já foi alcoolista

i)já consumiu drogas

Se sim, quanto tempo?

17.2) Sua família:

a)não fuma

b)fuma

c)ingere bebidas alcoólicas

d)não ingere bebidas alcoólicas

e)consome drogas

f)não consome drogas

92

g)já fumou

h)já foi alcoolista

i)já consumiu drogas

Se sim, quem e quanto tempo?

18.Você freqüenta médico regularmente?

a)Sim

b)Não

Se sim, qual a freqüência?

Onde/Nome?

19.Você faz algum tratamento de saúde?

a)Sim

b)Não

Se sim, qual?

20.Você toma algum medicamento com freqüência (remédio continuado)?

a)Sim

b)Não

Se sim, qual?

21.Você faz algum acompanhamento psicológico?

a)Sim

b)Não

Se sim, quem encaminhou?

22.Você freqüenta o dentista?

a)Sim

b)Não

Se sim, qual a freqüência?

Onde/Nome?

23.Como você considera o atendimento no posto de saúde ou hospital que

freqüenta?

a) ótima

b) boa

93

c) regular

d) ruim

e) péssima

24.Na sua região existe o Programa Saúde da Família (PSF).

a)Sim

b)Não

Já foi atendido pelo programa: (Sim) (Não)

25.Você participa da reunião do Conselho de Saúde Local, promovido pela

autoridade sanitária local.

a) participo

b) já ouvi falar

c) nunca ouvi falar

26.Você segue alguma religião?

a) Sim

b) Não

Se sim, qual?

27.Antes de se tornar catador, você já trabalhou com outras coisas?

a) Sim

b) Não

Se sim, com o quê?

28.Já trabalhou com carteira assinada?

a)sim

b)não

29.Há quanto tempo é catador?

30.Você já sofreu algum acidente no trânsito (como catador)?

a)sim

b)não

31.Além de coletar, você tem algum outro trabalho?

a)sim

94

b)não

Qual?

32.Você recebe algum benefício?

a)nenhum

b)pensão

c)aposentadoria

d)seguro desemprego

e)auxílio doença

f)Benefício de Prestação Continuada – BPC

g)outro

33.Sua família recebe algum benefício?

a)nenhum

b)pensão

c)aposentadoria

d)seguro desemprego

e)auxilio doença

f)Benefício de Prestação Continuada – BPC

g)Outro

34.Sua família faz parte de algum programa social?

a)Não

b)PETI

c)Bolsa Família

d)Programa do Leite

e)Luz Fraterna

f)Tarifa Social da Água

g)Agente Jovem

h)Outros

i)Doações. O quê? De quem?

35.O grupo, associação ou cooperativa fica a que distância da sua casa?

36.Como você faz para chegar até a associação?

95

a)vai à pé

b)vai puxando o carrinho

c)vai de ônibus

d)vai de carro

e)outro

37.Você faz parte da diretoria da associação?

a)sim

b)não

Qual cargo?

38.Você conhece alguma instituição?

a)Movimento Nacional de Catadores de Material Reciclável (MNCR);

b)Instituto Lixo e Cidadania;

c)Outras Associações de Catadores;

d)Outras.

39.Você já participou de algum encontro/ curso de catadores?

a)sim

b)não

Se sim, qual?

Gostou?

Porquê?

40.O que você pensa sobre suas condições de trabalho na associação, grupo ou

cooperativa, em relação ao trabalho antes da formação do grupo, associação ou

cooperativa?

a)Estão melhores

b)Estão piores

c)Não mudaram nada

Porquê?

41.Seus rendimentos decorrentes da coleta de material melhoraram, em relação aos

rendimentos antes da formação do grupo, associação ou cooperativa?

a)sim

96

b)não

42.Quais as vantagens em participar de um grupo, associação ou cooperativa de

catadores? (no máximo 4 alternativas)

a)maior remuneração

b)equipamentos de trabalho

c)cargo horária

d)cursos

e)recebimento de doações

f)organização da comunidade

g)participação da família

h)contato com instituições de apoio

43.Você sabe o preço de venda dos materiais que você coleta e são vendidos pela

associação?

a)Sim

b)Não

44.Tem alguém na sua família que é catador?

a)sim

b)não

Quem?

45.Seus pais eram catadores?

a)sim

b)não

46.Como você considera a sua condição de vida e de sua família?

a) ótima

b) boa

c) regular

d) ruim

e) péssima

47.Quais as maiores dificuldades em relação ao trabalho de catador? (no máximo 4

alternativas)

97

a) esforço físico

b) distâncias (para coleta)

c) insegurança/irregularidade financeira

d) baixa remuneração

e) relacionamento com catadores informais

f) falta de reconhecimento/valorização das outras pessoas

g) incompreensão das outras pessoas

h) relacionamento com a sociedade em geral.

48.Quais as maiores dificuldades encontradas no trabalho junto aos grupos,

associações ou cooperativas? (no máximo 4 alternativas)

a) falta de organização das pessoas

b) distâncias para trabalhar

c) insegurança/irregularidade financeira

d) baixa remuneração

e) relacionamento com os outros catadores

f) relacionamento com a comunidade local

g) falta de equipamentos

h) recebimento com datas determinadas

49.Quando você tem problemas, observações ou solicitações em relação ao seu

grupo, associação ou cooperativa, quem você procura? (indicar no máximo dois

integrantes do grupo que considera como líder

98

9.2 Material de Apoio

Este trabalho demandou a busca de diversos materiais de apoio, desde a

referência até o próprio cadastro de catadores. O material pode ser obtido via CD,

ou através de outros meios de compartilhamento de mídia, tais como FTP, página

web ou ferramentas próprias para envio de arquivos grandes.

Para requerer tanto este material, quanto o próprio trabalho em formatos

acessíveis para edição, pode-se contatar o autor via e-mail em viniciusandre

Ꙩgmail.com.

Materiais:

• Pré-projeto:

▪ Pré-projeto

(formato ODF e PDF);

▪ Apresentação

(formato ODF e PDF);

• Trabalho de conclusão de curso:

▪ Trabalho

(formato ODF e PDF);

▪ Apresentação

(formato ODF e PDF);

• Caracterização dos catadores (formato ODF):

▪ Planilha de estatísticas extraída do software

(formato ODF);

▪ Planilha de dados

(formato ODF);

▪ Ficha de caracterização

99

(formato ODF);

▪ Programa de cadastro

(scripts em PHP e MySQL);

• Referências

▪ Versões eletrônicas das referências bibliográficas

(57 arquivos - formato PDF);

▪ Fotografias em alta resolução de jornais de época da

Biblioteca Pública do Paraná

(177 arquivos - formato JPEG);

Observação: O formato ODF é um padrão livre de documentação eletrônica

homologado pela ISO. Editores como o BrOffice.org (também livre) ou a ferramenta

online Google Docs podem trabalhar tranquilamente com esse tipo de formato.