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WWW.AUTORESESPIRITASCLASSIC OS.COM LIVRO CAMILLE FLAMMARION AS CASA MAL ASSOMBRADAS Prólogo ESPIRITUALISMO E MATERIALISMO CAPITULO I AS PROVAS EXPERIMENTAIS DA SOBREVIVENCIA Resposta, preliminar a algumas críticas. - A averiguação dos fatos. - Cegos e negadores por preconceito. - Laplace e o cálculo das probabilidades. - Escolha de observações exatas CAPITULO II AS CASAS MAL-ASSOMBRADAS. - PROSPECÇÃO NO ASSUNTO Há o falso e há o verdadeiro. - Realidades verificadas. - Observações antigas e modernas. - Reconhecimento jurídico de casas mal assombradas. -

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Page 1: OS.COM LIVRO … · Fenômenos ,de assombramento sem indício de ação dos defuntos. - Espíritos turbulentos. – Poltergeist ... acordar, pouco me preocupei com o caso,

WWW.AUTORESESPIRITASCLASSICOS.COM

LIVROCAMILLE FLAMMARION

AS CASA MAL ASSOMBRADAS

Prólogo ESPIRITUALISMO E MATERIALISMO

CAPITULO IAS PROVAS EXPERIMENTAIS DA

SOBREVIVENCIAResposta, preliminar a algumas críticas. - A

averiguação dos fatos. - Cegos e negadores porpreconceito. - Laplace e o cálculo das probabilidades. -

Escolha de observações exatas

CAPITULO IIAS CASAS MAL-ASSOMBRADAS. -

PROSPECÇÃO NO ASSUNTOHá o falso e há o verdadeiro. - Realidades

verificadas. - Observações antigas e modernas. -Reconhecimento jurídico de casas mal assombradas. -

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Contratos rescindidos. - Certeza dos fenômenos deassombramento

CAPITULO IIIFENÔMENOS ESTRANHOS OBSERVADOS

NUM CASTELO DO CALVADOS

CAPITULO IVA CASA DA CONSTANTINA

(Corrèze)

CAPÍTULO VUma casa perturbada, no Auvergne. - Incidente

psíquico no Bispado de Mônaco. - Fenômenospsíquicas correspondentes a óbitos. - A Morte e os

relógios

CAPITULO VIOs rumores misteriosos do presbitério. - A casa do

professor de Labastide-Paumès. - Um companheiroinvisível

CAPITULO VII

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A CASA FANTÁSTICA DE COMEADA,COIMBRA, PORTUGAL

CAPITULO VIIIOBSERVAÇÕES FEITAS EM CHERBOURG. -

QUAL SERÁ O AMBIENTE DESSAS CASAS?O Dr. Nichols e o quarto fatal. - O teto maléfico de

Oxford. - A obsessão de Cambridge. - A mesquita dePierre Loti, em Rochefort

CAPITULO IXEXCURSAO GERAL PELAS CASAS MAL –

ASSOMBRADAS

CAPITULO XClassificação dos fenômenos. - Fenômenos

associados a pessoas falecidas

CAPITULO XIFenômenos ,de assombramento sem indício de ação

dos defuntos. - Espíritos turbulentos. – Poltergeist

CAPITUTO XII

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OS CASOS CLANDESTINOS

CAPITULO XIIIINVESTIGAÇÃO DAS CAUSAS

Origem e modo de produção dos fenômenos. Oquinto elemento.

EpílogoO DESCONHCECIDO DE ONTE M E A

VERDADE DE AMANHÃO progresso inçado de obstáculos . – Relatório de

Lavoisier apresentado à Academia das Ciências, sobreos aerólitos.

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Prólogo ESPIRITUALISMO E MATERIALISMO

Resposta a Camilo Saint-Saens. (Artigo publicadona 1 página de Nova Revista, em 15 de Dezembro de

1900).

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Subsistente o desacordo de psiquistas e nãopsiquistas, nada obstante o progresso das observaçõesmais positivas, parece-me cabível aqui intermitir depreâmbulo esta página já antiga, de vez que elaressalta, de paralelo, os argumentos das duas correntesopostas. Meu amigo Camilo Saint -Saens acabava depublicar um estudo a favor das faculdades cerebrais econtra a teoria da personalidade da alma . Secompararmos os termos deste artigo com as cartaspublicadas em A Morte e seu Mistério (tomos II, pág.34 e II, 8), veremos que, no século XIX, ainda nãocaturrávamos. Apesar das divergências de prisma,continuamos amigos, até que ele faleceu em 16 deDezembro de 1921. Todos os que buscam a Verdadecom -espírito despido de preconceitos, podem divergirnas idéias, sem quebra de amizade. Esses nãoconhecem a intolerância. Seja, pois, este artigo,publicado no último ano do último século, o prólogodeste livro:

Caro amigo:Acabo de ler um pouco tardiamente - por isso que,

como sabe, moro mais no céu que na Terra - o seu beloe sábio artigo da Nova Revista . Li -o como seescutasse uma das fortes sinfonias de que possui vocêo segredo, e nas quais rivalizam ciência e arte, para

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produzir nos espíritas o máximo efeito. Tenho aimpressão de que conseguiu enflorar realmente oassunto, deixando-o entrever-se em toda a suaprofundeza. Dou-lhe absoluta razão, quando diz que aspalavras espiritualismo e materialismo não passamhoje de mero verbalismo, por isso que a essência dascoisas nos fica desconhecida e as recentes descobertascientíficas induzem a alicerçar o metido visível sobreum mundo invisível, que lhe é, por assim dizer, osubstrato . Agradeço-lhe o haver assinalado minhamodesta excursão nesses domínios do Desconhecido,mas venho pedir licença para responder à suainterpretação. Receia o meu amigo que o étimo dovocábulo psíquico tenha exercido qualquer influênciano meu pensar. Os fatos expostos em meu livro, ao seuver, não levam s admitir a existência da alma. Essesfatos que, de resto, aceita como autênticos, apenasdemonstrariam que as força que produz o pensamento,poderia projetar-se sobre outros cérebros, à distância,sem que daí se infira que essa força seja de naturezaespiritual, independente do cérebro .

Eis o argumento que eu desejaria examinar edissecar. Se lhe apraz, tomemos e analisemos um fato.Jovem rapariga vai ao meu gabinete, em Paris, e meentrega o seguinte relatório, do qual omito os nomespróprios:

Ao tempo em que nos entrevistamos pela primeiravez, tinha eu 22 e ele 32 anos. Nossas relações

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duraram 7 e nós nos amávamos com ternura. Um diaele me comunicou, pesaroso, que a sua situação, a suapobreza, etc., forçavam-no a contrair matrimônio. Dassuas escusas embaraçosas pareceu -me adivinhar o seudesejo de não interromper nossas relações.

Liquidei, para logo, o penoso assunto e, mal gradoo meu enorme desgosto, não mais revi o companheiro .No meu amor único e absoluto, repugnava -mecompartir com outra as graças do homem a quem tantoamava.

Mais tarde, por linhas travessas, soube que ele secasara e já tinha um filho.

Passaram-se anos e, uma noite, em Abril de 1893,vi penetrar na alcova uma forma humana. Estaturaelevada, envolto num manto alvo q ue lhe encobriaquase todo o rosto, vi, aterrada, aproximar-se, inclinar-se para o meu leito e colar nos meus os seus lábios.Mas... que lábios! - jamais esquecerei a impressão queme produziam! Não era pressão, nem movimento, nemalgo mala que frio... O frio de uma boca morta!

E, contudo, eu experimentei um desafogo, umgrande bem-estar enquanto durou esse beijo. Verdadeé, também, que, , nesse transe, nem o nome nem aimagem do falecido amigo me assomaram à mente. Aoacordar, pouco me preocupei com o caso, até que àtarde, percorrendo o jornal de (; . .), li o seguinte:Comunicam-nos de X. . . que ali se realizaram, ontem,os Funerais do Senhor Y... Enumeradas as qualidades

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do morto, terminava o artigo dizendo que elesucumbira de uma infecção tífíca, conseqüente aexcesso de trabalho no cargo que exercia abne gada eesforçadamente. Caro amigo - monologuei : - tantoque, liberto das convenções mundanas, vieste dizer-meque era a mim que amavas e contínuas amando paraalém da morte. 'Também por mim te agradeço e amo -te sempre.

Senhorita Z...

Eis o fato, tal como se passou. A velha e cômodahipótese de uma alucinação simples, já não nos podemsatisfazer. O que se procura explicar é a coincidênciada morte com essa aparição. Tão numerosas são asmanifestações deste gênero, que não mais as podemosconsiderar fortuitas. Elas indicam uma relação decausa e efeito.

O meu amigo e eu admitimos, livres de quaisquerprejuízos, que a senhorita Z . . . viu e sentiu a presençado visitante, no momento critico do seu trespasse.Centenas de episódios idênticos por ai s e verificam.Entretanto, divergimos na sua interpretação ; mas,enquanto o meu amigo apenas vê um ato cerebral domoribundo, vejo eu um ato psíquico.

(A mim mesmo perguntei se a depoente não teria.lido o jornal na véspera do sonho, desprecavidamente,e se a associação das idéias não se teria condensado nomesmo sonho. Reafirmou que a leitura só fora feita no

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dia seguinte. Devemos, portanto, suprimir essahipótese. houve então, aí, comunicação entre os doisseres.)

Certo, é sempre difícil discernir o que pertence aoespírito, à alma, e que toca ao cérebro. Em nossasapreciações e julgamentos, deixamo-nos guiarnaturalmente pelo sentimento íntimo que resulta dadiscussão dos fenômenos. Ora, não temosessencialmente aqui uma manifestação do espírito?Duas hipóteses se apresentam. Ou bem, como indica adescrição, o manifestante estava morto, ou estavaainda vivo e, no momento da morte, pensou na,depoente, nessa amiga dos bons tempos, eexperimentando a seu respeito um arrependimento,talvez um remorso e quem sabe, uma e sperança,também no além-túmulo? A comunicação telepáticanão se teria feito imediatamente, durante as agitaçõesdiurnas e se retardaria para as horas de sono ètranqüilidade. Não se trata, bem entendido, de umqualquer fantasma, que se transponho de uma a outracidade; trata-se de uma transmissão mental, de que asondas da telegrafia sem fio nos oferecem uma imagemfísica. À distância de 100 quilômetros, entre as duascidades, sabemos nós que nada representa. Essacomunicação mental tomou a forma descrita pelanarradora. Tal a impressão que nos fica do exame detodos estes fatos e que de mais a mais se evidencia, à

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medida que avançamos no estudo destes fenômenos.Vejamos, por exemplo, um segundo caso:

Já casado, fazia meu curso na, Universidade deKiev, quando, certa feita, foi passar o verão no campo,na casa de uma irmã, não longe de Pskow. De regressopor Moscou, minha querida mulher foi a li subitamenteassaltada por um ataque gripal e, n ão obstante a suamocidade, não pode resistir. Uma paralisia do coraçãoabateu-a subitamente, como fulminada por um raio.

Não lhe direi da minha dor, do meu de sespero.Simplesmente quero submeter à sua competência oseguinte problema, cuja solução assaz me preocupa:

Meu pai residia em Pintava, ignorava aenfermidade da nora, sabendo apenas que nosachávamos em Moscou. Enorme foi, portanto, a suasurpresa ao vê-la a seu lado, como que saindo de casae acompanhando-o por momentos e logodesaparecendo! Tomado de angústia e espanto,passou-nos imediatamente telegrama pedindo n oticiasda nora, e isso precisamente no d ia que ela faleceu...Gratissimo lhe ficaria se me explicasse este fatoextraordinário.

Venceslau (Estudante de Medicina, Nikolakaja,21, Kíev)

Aqui, igualmente, a observação se verificou depo isdo falecimento.

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Ainda neste exemplo, não temos a impressão deuma origem imaterial, de uma causa moral, mental, aindicar não apenas a existência de faculdadesdesconhecidas no ser humano, mas também aexistência de um ser intelectual, operante? Sim, poisnão posso ver, nos fatos desta ordem, um produto daanatomia, da fisiologia animal, ou da químicaorgânica.

Examinemos ainda outro exemplo, diferente dosprecedentes, posto que pertencendo, como eles, àtelepatia: Ouçamos o próprio relator:

De Perpignan, minha terra natal, parti nosprimeiros dias de Novembro de 1889, a fim decontinuar os estudos de farmacologia em Montpellier.Minha família. compunha-se de mãe e quatro irmãs.Deixei-as satisfeitas e de perfeita saúde. A 22 dessemês, minha irmã Helena, bela criatura de 18 anos, ácaçula e minha predileta, reuniam em nossa casaalgumas amiguinhas. Cerca de 3 ho ras, após o almoço,dirigiram todas, minha mãe inclusive, para o passeiodoa Plátanos. Fazia um tempo magnífico. Ao fim demeia hora, Helena sentiu-se mal: Mamãe - disse -,sinto arrepios por todo o corpo, tenho frio, doe agarganta... Vamos para casa.

A noite seguinte, pelas 5 da manhã, Helenaexpirava nos braços de minha mãe, vitimada pelaangina diftérica, que dois médicos não puderamdebelar.

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Únicos varões da família, competindo-merepresentá-la nos funerais, foram-me passadosrepetidos telegramas para Montpellier. Entretanto, poruma terrível fatalidade que ainda hoje deploro,nenhum de tais despachos me foi entregue a tempo .

Ora, na noite de 23 para 24, que Pui presa deespantosa alucinação. Recolhera -me a casa pelas 2 damadrugada, calmo e satisfeito das emoções recolhidasnos dias 22 e 23; em parte destinadas ao prazer. Deitei -me alegre e logo adormeci,. Havia de ser 4 horas,quando a vi surgir diante de mim pál ida, sangrenta,inanimada e um grito insistente, pe netrante, punitivo,feria-me os tímpanos: Que fazes, meu Luis Mas vem,vem!

No meu sonho, nervoso e agitado, tomei um carro,mas, a despeito de esforços nobre -humanos, nãoconseguia fazê-lo avançar. Via sempre minha irmã,pálida, sangrenta, inanimada, a gritar: Que fazes meuLuiz!!!!

Despertei súbito, face congesta, cabeça em fogo,garganta seca, respiração curta e suando por todos osporos. saltei da cama e procurei acalmar -me. Umahora depois, tornei a deitar-me, mas não pudereconciliar o sono ai da manhã fui à pensão, assomadode indefinível tristeza.

Argüido pelos colegas, contei-lhes tím-tim por tim-tim o que aí passara, não - seja dito - sem ouvir

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algumas pilhérias. As 2 dirigi -me para a Faculdade, nointuito de encontrar no estudo algum repouso.

Deixando a aula às 4 horas, vi caminhar ao meuencontro uma mulher alta, trajando rigoroso luto, elogo reconheci minha irmã mais velha a perguntar -meaflito o que fizera de mim. Lacrimosa, comunicou-mea fatal ocorrência, que nada me faria prever, de vezque, ainda na manhã de 22, recebera de casa asmelhores notícias.

Entregando-lhe este depoimento, abstenho-me deemitir qualquer opinião a respeito e só me obrigo agarantir, sob palavra de honra, a sua absolu taautenticidade.

Vinte anos são passados e a impressão que o fatome deixou é sempre a mesma, emocional, profunda(sobretudo neste momento), e se os traçosfisionômicos de Helena não me aparecem tão nítidos,o seu apelo é sempre o mesmo: plangente, repeti do,desesperado: Que Jazes, meu Luís! vem, vem. . .

Luís Noeil Farmacêutico, em Cette.

Tal a narração do fenômeno psíquico. Se você, meucaro amigo, não admite que o corpo da defunta, 23horas após o falecimento, seja o agente dessaimpressão e que haja, no feito, algo que não oorganismo material - seja o transporte do espírito deNoell para a morta, durante o sono, ou seja que açãotelepática tivesse nela, a morta, o seu pon to de

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emanação -, encontramo-nos diante de um fatopertinente aos domínios da alma, nunca ao corpo,induzindo-nos a crer que a alma existe pes soalmente enão é um efeito, uma função ou secreção do cérebro.Se vote, o artista e pensador que eu conheço, assimnão entende, será só por não haver dispensado tempona ponderação do problema.

Que supor houvesse feito o cérebro dessa moçadepois da morte? Toda hipótese material éinverossímil.

Poder-se-á supor tenha ela chamado pelo irmãoantes de morrer e que a recepção do seu apelo ficasselatente no espírito do irmão, até que um momento detranqüilidade cerebral lhe permitisse percebê -lo.Poder-se-á supor, igualmente, que o apelo fosseposterior à morte. Tudo está por estudar.

O mais simples seria negar, quero dizer, declararque o jovem estudante apenas teve um pesadelo, acoincidir com a morte da irmã. Sim, esta é a soluçãomais simples, mas, pergunto: satisfaz? Satisfará aomeu amigo, máxime quando tenha centenas deatestados da mesma natureza? Satisfará, igualmente,nos casos em que o narrador visse, o que se chamouver a distância, todos os pormenores de umfalecimento, de um suicídio, de um desastre, de umincêndio? Não. Você tem critério assaz cientifico, eracionalmente severo, para satisfazer -se com a cediça

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hipótese do acaso e sabe que o cálculo dasprobabilidades nos prova a sua impr ocedência.

Que dizer, que julgar então? Nem mais, nemmenos, que o problema psíquico está posto .Confessemo-lo sem reticências. Não me encarrego deo explicar, é claro. A ciência ainda vem longe. Admitiré uma coisa, e outra coisa é explicar. Os fa tos se nosimpõem, mesmo que não expliquemos. Passa umhomem por uma rua e cai-lhe na cabeça. um vaso deflores: ele é forçado a registrar o fato antes deadivinhar-lhe a origem, e como a vertical e ahorizontal se cruzaram justo sobre a sua. cabeça.

Não, absolutamente a que chamamos - matéria,com as suas propriedades, não basta para explicar estesfatos e eis porque eles são de uma outra ordem, deuma ordem que reivindicam todos os direitos àqualificação de psíquicas e que induz a admitir aexistência de almas, espíritos, seres intelectuais,espirituais, que não são meras funções do cérebro. Atransmissão do pensamento, a visão à distância semauxílio dos olhos e a previsão de acontecimentosfuturos, não nos dão os mesmos testemunhos ?

A transmissão do pensamento não oferece dúvidas,notadamente entre um magnetizador e o seu su jet.Disso poderia citar aqui mil exemplos . Eis um, poucosentimental, certamente, mas bem característico,citado pelo Dr. Bertrand, que é um experimentador dosmais competentes.

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Um magnetizador assaz imbuído de idéias místicastinha um sonâmbulo que, durante o transe, não viasenão anjos e Espíritos de toda a espécie, visões queserviam para robustecer cada vez mais a sua crençareligiosa. Como citasse de continuo os sonhos do seusonâmbulo em apoio do seu credo, outromagnetizador, seu conhecido, se encarregou de odesiludir, demonstrando-lhe que o sonâmbulo nãotinha as visões que alegava, senão porque as guardavana própria mente. Propôs, então, para comprovar o seuasserto, que faria, com que o sonâmbulo visse reunidode anjos a mesa e comendo um peru. Assim é queadormeceu o sonâmbulo e, depois de algum tempo,perguntou-Ihe o que via de extraordinário. Umagrande reunião de anjos - foi à resposta. E que fazemeles ? Estão sentados à mesa, comendo. . . Não pôde,porém, nomeai as iguarias.

Aí temos um exemplo de sugestão mental, comovocê bem sabe. À vontade do magnetizador atuasilenciosamente sobre o magnetizado . Certo, podemosaqui dizer que se trata da ação de um cérebro sobreoutro, mas, não Ihe parece que o cérebro não passa deinstrumento da vontade? Por mim, jamais felicitaria océrebro por pensar, assim como não felicitaria umalente astronômica pelo fato de bem focar Saturno. Nãolhe parece seja o cérebro órgão do pensamento, ta lcomo os olhos o são da vista? E a visão à distância, emsonho? Não nos coloca em face de um ser espiritual

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dotado de faculdades especiais ? Eis, por exemplo, oque me escreve um marinheiro de Breat:

Entre 1870 e 74, tinha eu um irmão trabalhando noarsenal de Fou-Tcheou, na China. Certa manhã, orecebeu a visita de um colega, conterrâneo e amigo,também operário mecânico, que lhe relatou o seguinte:Estou deveras acabrunhado, pois sonhei esta noite quemeu filhinho morrera de crupe, no meio de grandesangústias, deitado num colchão vermelho. Meu irmãochasqueou da sua credulidade, talou -lhe de pesadelose, a fim de o distrair, convidou -o para o almoço. Nadaconseguiu; porém. O pobre rapaz persistia emconsiderar o filho morto e bem morto .

Pois bem: na primeira carta, chegada de França, aesposa confirmava o sonho, dizendo que o meninomorrera de crupe, após grandes pad ecimentos e -curiosa circunstancia. -, deitado num colchãovermelho. Essa carta, tanto que a recebeu, foi elemostrá-la a meu irmão, que, por sua vez, me relatou ofato.

Não estão os fatos desta natureza, aliás numerosos,a indicarem a existência no homem de algo mais que ocorpo ?

Que pensarmos, igualmente, desta visãoO general Charpentier de Cossigny , amigo de

infância de meu pai, sempre me dispensou muitaafeição. Acometido de uma enfermidade nervosa,tinha as suas esquisitices e não nos surpreend ia

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quando, após treis ou quatro visitas seguidas, retraiapor muito tempo . Em Novembro de 1892 (havia 3meses que o não víamos) tive uma forte e nxaqueca efui deitar-me, por isso, muito cedo. Quando começavaa adormecer, ouvi chamarem-me pelo nome, emsurdina, e logo depois, mais alto. Pres tei atençãojulgando fosse meu pai quem chamava, mas logopercebi que ele dormia e ressonava regularmente noquarto vizinho. Procurei adormecer novamente esonhei que via a escadaria da residência do general, navila Vaneau n. 7 ele próprio me apareceu, encostadono gradil do patamar do 1 ° andar, descendo logodepois para beijar-me na testa. A impressão daqueleslábios frios despertou-me e vi, então, distintamente, nomeio do quarto, aliás aclarado pelo combustor da rua,o vulto esguio do general, que se afastava. Não pudemais conciliar o sono, tanto que ouvi dar 11 horas noLiceu Henrique IV e assim vigi ei o resto da noite,sentindo na testa a algidez daquele beijo. Pela manhã,disse logo à minha mãe: Vamos ter noticias do generalCossigny, pois o vi em sonho esta noite... Minutos aseguir, meu pai lia no jornal o falecimento do seuvelho Camarada, conseqüente a uma queda da escada.Nenhum de nós tinha visto aquele jornal.

João DreuiheRua Boulangers, 36, Paris.

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Como no caso precedente e em todos os análogos,custa não admitir que o espírito veja, à distância. Nãoé o olho, nem a retina, nem o nervo óptico, nem océrebro.

Você deveria ter notado, igualmente, o caso domarechal Serrano, contado pela própria mulher dele.

Havia já um ano que meu marido sofria e viaagravar-se a enfermidade que o devia levar.Pressentindo o próximo desenlace, meu sobrinho,general Lopez Dominguez, dirigiu-se ao presidente doministério, Senhor Canovas, para obter o enterramentonuma igreja, como se fazia com os militares dessapatente. O rei encontrava-se na sua Quinta do Prado erecusou o pedido do general, ajuntando, contudo, queprolongaria o seu estágio ali, a fim de que a suapresença em Madrid não impedisse as honras militaresa que tinha direito o meu marido. Os sofrimentos desteaumentavam dia a dia, a ponto de já não poder deitar-se, passando as noites numa poltrona. Um dia, p elamadrugada, em estado de completo aniquilamentodevido ao uso da morfina, ele, que não podia fazerqualquer movimento sem auxilio de terceiros,levantou-se de súbito, ereto e firme, e, num timbre devoz forte, que nunca lhe surpreendi na vida, gritou:Vamos, depressa, façam montar um oficial! Ao Prado!O rei acaba de morrer! E retumbou, exausto, napoltrona. Todos nos convencemos que aquilo nãopassava de um delírio e recorremos aos calmantes. Ele

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pareceu sossegar, mas, dai a minutos, tornou a erguer -se e, agora, com voz débil, quase sepulcral, disse Meuuniforme, a espada.. . o rei esta morto! Esta a suaúltima manifestação de inteligência. Depois derecebidos os sacramentos e a bênção do papa, expirou.Afonso XII morreu sem estas consolações.

Essa tremenda visão de um moribundo era verídica.No dia seguinte toda Madrid, atônita, comentava amorte do soberano, quase isolado no Prado. O realcadáver veio para Madrid e por isso não pode Serranoreceber as homenagens que lhe estavam prometidas. E'sabido que, estando o rei no seu palácio de Madrid,todas as honras lhe pertencem, ainda mesmo quemorto, enquanto ali estiver o corpo. Foi o rei queapareceu a meu marido? Como lhe chegou à notícia dofato distante? E' assunto para meditação.

Condessa de Serrano ( Duquesa de La Torrc. )

Temos aqui, pois, um moribundo, duplamenteaniquilado pelo uso da morfina, a assinalar umacontecimento imprevisto e de toda a gente ignorada.Como, também neste caso, repelir a conclusão de queo seu espírito houvesse percebido, d e qualquer forma,a ocorrência?

A visão à distância, notadamente em estadosonambúlico e em sonho, está demonstrada porobservações tão copiosas, que se torna incontestável.Não sei como lobrigar nela um argumento favorável às

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hipóteses ditas materialistas , mas ao contrário,argumentos em prol de uma entidade psíquica, dotadade faculdades especiais.

Mas, que dizer dos sonhos premonitórios e da visãoexata de acontecimentos posteriores ? Com isso é queme parece oportuno coroar esta resposta.

Leia, por exemplo, este sonha banal, ao demais, eque nada tem de preparado pelas teorias filosóficotranscendentes.

Encaminhava-me, no sonho, para o externato e iaatravessando a praça da República, em Paria, com umguardanapo debaixo do braço, quando, justo em frenteàs lojas do Pobre-Jaques, passou um cão acossado porum bando de garotos. Contei -os exatamente, eramoito. Caixeiros preparavam os mostruários, umavendedora ambulante passava com o seu carro pejadode frutas e flores. No dia seguinte pela manhã,buscando o colégio, vi o mesmo quadro, no mesmolocal e com todos os pormenores sonhados: o cão acorrer pela sarjeta, os oito malandrotes a perseguirem -no, a vendora com a sua carreta em direção à alamedaVoltaire, e os caixeiros do Pobre-Jacques arrumandoas fazendas nas portas.

D . Hanrwás Avenida Lagache, 10 (Sena).

Se admitirmos que o cérebro, órgão físico, sejacapaz, com todas as suas secreções, de assim entreverem todas as suas minudências um evento a realizar -se,

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importa, creio bem, substituirmos, no Inst ituto, aAcademia de Ciências Morais pela de Medicina, ou,mais simplesmente falando, por uma clínica qualquer.

Ver o futuro! Não estamos em pleno psiquismo?Note-se que estes sonhos premonitórios não são raros,ao demais. Tenho citado muitos e conheço mui tosmais.

Lembra-se do que me contou o pai daquelaencantadora pensionária do segundo Teatro Francês ?

Em 1869, por ocasião do plebiscito, tive um sonhoou melhor - um pesadelo horrível. Via-me fardado,militar, estávamos em guerra. Simples soldado,amargurava todas as exigências do cargo: marchas,fome, sede; ouvia as vozes de comando, a fuzilaria, ocanhão; gritos de moribundos e muitos mortostombados a meu lado . De repente, eis num pais enuma aldeia onde deveríamos enfrentar terrível ataquedo inimigo: Prussianos, Bávaros e cavaleiros (dragõesbadenaes), dos quais nunca vira os uniformes, poisninguém pensava em guerra. Em dado momento, vium oficial dos nossos trepar a um forno, munido deumas barras, a fim de observar os movimentos doinimigo; depois, vi-o descer, ordenar o toque deavançar e levar-nos céleres, baionetas caladas, sobreuma bateria prussiana . A essa altura do sonho, travadaa luta corpo a corpo com os artilheiros, vi um delesdar-me um golpe de espada na cabeça, tão forte queme abriu o crânio de meio a meio. Foi assim que

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despertei. Tinha cuido da cama e machucado a cabeçano fogareiro.

Este sonho teve confirmação real no dia 6 deOutubro de 1870. Local, escola, a igreja, nossocomandante trepado no forno, o toque de clarim e ainvestida às baterias prussianas. Ai, pelo sonho,deveria ter fendido a cabeça por um golpe de sabre, e averdade é que o esperava realmente. Não deixei,contudo, de receber um golpe de lanada (certo atiradoà, cabeça), mas, aparado a tempo e derivado para acoxa direita.

RégnierAntigo sargento-mor da Companhia de franco-

atiradores de Neuilly-sur-Seine, rua Joana Hachette,23, Havre.

Poderíamos supor, com Alfredo Maury, que apancada foi o que originou o sonho, mas essa hipótesenada tem que ver com a premonição.

Objeta-se, às vezes, que os sonhos desta espécie -são a desoras arranjados, mui sinceramente embora, naimaginação dos narradores . Certo não será impossívelque se produzam modificações da memória; mas aobjeção se anula por si mesma se considerarmos aimpressão do observador, pois é precisamente essaimpressão do já visto, que o tocou. E, depois, há casosem que se torna impossível qualquer modificação,como por exemplo este:

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Sonhei que estava passeando de bicicleta, quandoum cão se atravessou no caminho e eu caí, quebrando-se o pedal da máquina. De manhã, contei o sonho àminha mulher, que, conhecedora da exatitude dosmeus sonhos, concitou-me a não sair de casa. Resolvisatisfazê-la, mas, às 11 horas, justamente quando nossentávamos ã mesa do almoço, chegou o estafeta comuma carta com a noticia de haver adoecido minhairmã, que morava distante de nós 8 quilômetros.Esquecendo o sonho, apressei o almoço e monteiabicicleta. Fiz o percurso normalmente até ao ponto emque me vira em sonho, na noite an tecedente. Mal seme desenhava na mente o quadro onírico e eis quesurgiu, de uma granja, um canzarrão tentandoabocanhar-me a perna. Sem refletir, quis dar -lhe umaponta-pé; desequilibrei-me e caí com a máquina,quebrando-se-lhe o pedal.

Realizava-se, assim, o sonho com todos ospormenores. Notai, peço-vos, que era a centésima vez,no mínimo, que eu fazia aquele trajeto, sem quehouvesse ocorrido qualquer acidente.

Amadeu Basset Tabelião em Vitrac ( Charente )E mais esteEm 1868, contava eu 17 anos e est ava como

empregado de um tio, estabelecido com mercearia narua de S. Roque, 32. Certa manhã, impressionado como sonho que tivera, contou-me ele que se vira à soleirada porta e, dirigindo o olhar para a rua dos Campinhos,

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viu aproximar-se um ônibus da E. de Ferro do Norte,que parou em frente do seu armazém. Desse ônibusdesceu sua genitora e o veiculo seguiu o itinerário,levando sua avó e uma outra senhora vestida de preto,com uma cesta ao colo. Ambos nos rimos daquelesonho tão fora de termo, visto que minha avó jamais aiatrevera a vir sozinha da Estação do Norte à rua de SãoRoque. Residindo perto de Beauvais, sempre quedesejava passar algum tempo com os filhos, em Paris,ela escrevia de preferência a meu tio, a fim de esperá -la na Estação e conduzi-la invariavelmente decarruagem ..

Ora, naquele mesmo dia, à tarde, estando meu tio àporta, aconteceu que, olhando casualmente para aesquina da rua dos Campinhos, viu desembocar umônibus da E . de Ferro do Norte, vindo parar à porta,da loja, Havia no dito ônibus duas mulheres e umadelas era justamente minha avó. Esta desceu e oônibus seguiu levando a outra dama, tal qual aentrevisada no sonho, isto é, vestida de preto e comuma cesta ao colo. Calcule-se a estupefação geral!Minha avó acreditando fazer-nos uma surpresa, e meutio contando-lhe o sonho!

Paulo Leroux Neuborg

Restrinjo-me a estes testemunhos, por isso que, nofim de contas, é só querer e recolher a mancheiasquantos desejemos. As ciências mais exatas, mais

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positivas, não se estabeleceram senão mercê doraciocínio humano e a própria astronomia - rainha dasciências - baseia-se na teoria da gravitação, da qualdizia Newton, seu fundador, que: As coisas se passamcomo se os corpos celestes se atraíssem na razão diretadas massas, e inversa do quadrado das distâncias. Poisbem: diante dos exemplos de visão espiritual, àdistância, sem auxílio dos órgãos corporais; diante dofato, ainda mais misterioso e incompreensível, dofuturo entrevisto com precisão, digo por minha vez: ascoisas se passam como se no organismo humanohouvesse uns seres psíquicos, espirituais, dotados defaculdades de percepção ainda desconhecidas . Esseser, essa alma, esse espírito, opera e percebe pelocérebro, mas não é função material de um órgãomaterial. Eis aí, parecem-me, conclusões lógicas,estabelecidas sobre um método escrupuloso,inatacável. Elas afiguram-se-me superiores àsnegações, tanto quanto às afirmaçõesdesacompanhadas de provas e baseadas numa fé cega.A Fé, os pretensos milagres, o próprio martírio, na daprovaram jamais, pois têm servido a todas as causaspolíticas ou religiosas mais díspares, antagônicas e atéabsurdas, às vezes . Só a ciência pode,verdadeiramente, esclarecer a Humanidade.

FLAMMARION

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Este o estudo que publiquei no último ano dopassado século. Como já o disse, meu amigo Saint -Saens não guardou ressentimento desta minhaoposição ao seu sistema e, muito pelo contrário, nossasrelações se tornaram mais íntimas . Contudo, ele nãoignorava a existência dos fenômenos psíquicos, comose evidencia nesta carta de Julho de 1921:

Relendo pela nona vez teu último livro ocorreu-meuma reminiscência que te quero contar hoje mesmo.

Foi em Janeiro de 1871, no último dia da guerra.Estava eu num posto da vanguarda, em Arcueil -Cachan, e acabávamos de jantar um excelente cavalo,ensopado com taráxaco por nós mesmos colhido.Aquele repasto reconfortara-nos a todos e estávamosaté alegres, mais do que o permitiam as circunstancias. Súbito, sinto timbrar-me no cérebro o musicalqueixume de acordes dolorosos, dos quais fiz, maistarde, o prelúdio do meu Réquiem, ao mesmo tempoem que me assaltava o pressentimento de umadesgraça. Fiquei profundamente acabrunhado. Depois,soube, naquele momento exato morria HenriqueRegnault, a quem me ligava a mais profunda amizade.A noticia de sua morte causou-me tal impressão queme levou ao leito por três dias. Tive, assim, como vê,uma prova real da telepatia, antes que o vocábulo seinventasse. Razão tem tu em pensar que a ciênciaclássica ignora o ser humano e que todo s temos o queaprender.

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Camila Saint-Saens.

Aqui, cabe apenas repetir o que já havíamosreplicado ao ilustre amigo:

Es o mais inspirado dos compositores, glória doInstituto, pensador contemporâneo dos maisprofundos, mas, não és lógico.

E achava-o ilógico tanto mais quanto, por outrolado, me havia ele assinalado observações pessoaisbastante característicos, que publiquei no tomo II de AMorte e o seu Mistério.

Não é o espírito o que estará em jogo nestasmanifestações? Como considerar as propriedades d amatéria? Ora, os meus leitores sabem que estes casospsíquicos são assaz freqüentes para que possamosatribuí-los a coincidências fortuitas. O cálculo dasprobabilidades comprova-lhe matematicamente arealidade.

A mim me pareceu que esta revocação ao pas sado,com a permuta de idéias entre dois investigadoresindependentes, tinha cabimento como prólogo desteatual estudo.

Direi, ainda, que o próprio Saint -Saens deu, de aímesmo, um exemplo pessoal da independência daalma em relação ao corpo. Ele faleceu n a idade de 86anos, aos 16 de Dezembro de 1921. Ainda no dia 16 deOutubro, jantara em Juvisy e todos ficaram encantadoscom a sua conversação. Espírito ágil, como se tivesse

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20 anos, queixava-se, todavia, da sua fraquezaorgânica e mal pode escalar a copula para observarVênus e Arcturo, na companhia doa nossos colegas daSociedade Astronômica, quais o príncipe Bonaparte,os condes de Gramont e de Baume Pluvinel e outros.Ele queixava-se das pernas. Nessa mesma ocasião, a21 de Outubro, O Menestrel publico u-lhe um artigofulgurante a respeito de Berlioz, Via -se, assim, que,enquanto o corpo deperecia, o espírito mantinha -se naplenitude do seu vigor. Esse contraste, entre oorganismo físico e o elemento espiritual, não é raro.

CAPITULO IAS PROVAS EXPERIMENTAIS DA

SOBREVIVENCIA

Resposta, preliminar a algumas críticas. - Aaveriguação dos fatos. - Cegos e negadores por

preconceito. - Laplace e o cálculo das probabilidades. -Escolha de observações exatas

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Os leitores sérios e competentes, que co nhecemexatamente a situação em que se encontra o nossoproblema e dão o devido valor aos resultados colhidosna sua pesquisa, acharão talvez supérfluo que mehouvesse proposto responder, neste capítulo, aobjeções destituídas de valor intrínseco, formulad aspor negadores intransigentes, que recusam admitir aqualquer preço a existência dos fenômenosmetapsíquico . Eu, porém, por minha vez, penso nãoser supérflua uma resposta formal a essas denegações,por isso que a maioria das criaturas ignora,inevitavelmente, esses fenômenos, disposta porconseqüência, a recusá-los. Ainda que eu não pudesseconvencer mais que um leitor, da erronia dessesnegadores cegos, prestaria um serviço ã causa dainstrução geral.

Se quisermos, para convicção pessoal, possuir umaopinião firme e inatacável sobre a realidade, a naturezae o interesse dos fenômenos psíquicos, importa saber,antes de tudo, que as ilusões da vista como do ouvido ;do tato como de todos os sentidos, são fáceis e podemderivar de mil causas inesperadas, p elo que, devemos

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primacialmente precatar-nos de todos os errospossíveis .

Em regra, observa-se mal, não se vai ao âmago dascoisas, contentamo-nos com as aproximações. Ométodo científico, contudo, impõe -se aqui, mais quealhures, se é que visamos uma ins truçãofundamentada. Tomadas estas precauções preventivas,apreciando com inteira liberdade os fatos observados,todas as opiniões de milhões de criaturas deixam deter, para nós, qualquer valor.

Que isso fique entendido de uma vez para sempre.Quanto às superstições, conscientes ou inconscientes,eu lhes consagrei um copioso comentário de 50páginas em meu livro - As Forças Naturais-Desconhecidas, tornando-se inútil repisar no assunto.

Com Emílio Boirac, podemos pensar que a razãoprincipal das prevenções e desconfianças que asciências psíquicas ainda suscitam a alguns confradescontemporâneos, provém da feição que primitivamenteas revestiu, e da qual não me parecem bastantementeemancipadas. De fato, elas começaram por demonstraras Ciências ocultas, ou, pelo menos, fazendo partedesse confuso conjunto de observações empíricas, detradições, hipóteses e sonhos, abrangidos naqu ela.designação e assim vizinha da astrologia, da magia ede ciências outras embrionárias, da antiguidade, daIdade Média e da Renascença.. Há somente doisséculos que elas se emanciparam, e pode ser que ainda

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subsistam para um que outro praticante de índolemística, em sua feição antiga; mas, por isso mesmo,devemos esforçar-nos em dar-lhe o verdadeiro espíritocientífico moderno, ainda mais sabendo que daastrologia saiu definitivamente à astronomia, daalquimia, a química, sem que uma e outra guardassemeiva de ancestralidade, à guisa de pecado original.Assim, pois, as ciências psíquicas que tiveram mais oumenos por berço a magia e o sortilégio, hão demerecer progressivamente o qualificativo de ciênciasefetivas e positivas, graças ao emprego perseverantedo método experimental. Aqui estudamos, de fato, omaior dos problemas. O conhecimento da alma ainvestigação do seu destino, é um estudo que apaixonaUm biógrafo acaba de escrever que a minha vida, apósa investigação do mundo astronômico e ademonstração da vida universal, não fez senão provara existência da alma, e pelo que não teria sido inútil aoprogresso da Humanidade. Por mim, espero que assimseja.

Uma discussão criteriosa se impõe atualmente. Apublicação do 3.° volume da minha trilogiametapsíquica - A Morte e o seu Mistério, consagradaàs manifestações post mortem, provocou tempestadese recriminações de alguns publici stas ignorantes, unsparecendo ponderados, de boa fé, a raciocinarem,como toda a gente, leviana, inconscientemente; outros

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dando provas de má fé, de acrimônia mesmo, o que étão extravagante quanto inútil.

Aqui, cabe fazer uma curiosa advertência: nossodesejo tão legítimo, tão natural, de conhecer a naturezada alma; saber se ela tem, de fato, existência pessoal,sobrevivência à destruição inevitável do corpo; essedesejo, digo, nos cria inimigos, adversários que sepõem a engendrar mil obstáculos contra essainvestigação imparcial e independente, no intuito de adeterem, seja como for! Oposição sistemática, incrível,mas real.

Oportuno, portanto, examinar agora o assunto comatenção toda especial e aplicar -lhe os princípios dométodo científico-positivo . Tomemos essa discussãona origem mesma dos incidentes que a provocaram.

A 16 de Junho de 1922„ O Jornal honrou -me com apublicação do seguinte artigo a ele endereçado

OS MORTOS SE MANIFESTAM

As investigações atinentes à natureza esobrevivência da alma devem ser feitas com o métodoidêntico ao das demais pesquisas cientificas, livres deprejuízos e preconceitos e fora de toda e qualquerinfluência sentimental, ou religiosa. Há, ou não hámanifestação de mortos? Essa a questão. Ora, eu digoque há. O Jornal, no qual me orgulho de haver

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colaborado, ao tempo do seu fundador, meu espiritualamigo Xau, chamou a atenção para este problemasecular, e assim venho oferecer aos seus leitores umfato dos que melhor me provaram a sobrevivência daalma. Ao mais céptico dos contraditores, desafio a suaexplicação sem que admita a ação do defunto.

Trata-se de um engenheiro e proprietário de duasfábricas, uma em Glasgow, outra em Londres. Nafábrica escocesa, tinha ele um empregado de nomeRoberto Mackenzie, que lhe era profundamentereconhecido e devotado. O patrão residia em Londres.Uma sexta-feira, à noite, os operários de Glasgowdavam o seu baile anual. Roberto Mackenzie, que nãogostava de dançar, pediu licença para ficar no serviçodo buffet. Tudo correu bem e a festa continuou nosábado. Na terça-feira seguinte, pouco antes de 8horas, o engenheiro teve na sua casa d e Campden-Hilla seguinte manifestação, que ele mesmo resumiu assim

Sonhei que estava assentado junto de umaescrivaninha e conversava com um rapazdesconhecido. Roberto Mackenzie aproximou e eu,contrariado, perguntei-lhe um tanto áspero se me nãovia ocupado. Afastou-se contrariado, mas logo seaproximou novamente, como se precisasse de atençãoimediata. Repreendi-o, então, com maior aspereza,exprobrando-Ihe a impertinência. Nesse ínterim, apessoa com quem antes conversava despediu -se eMackenzie aproximando-se mais . . .

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- Que é isso Roberto? - disse-Ihe irritado. - Não vêsque estou ocupado?

- Sim - respondeu -, mas é que eu preciso falar -Iheimediatamente. . .

- Mas a que propósito? Que urgência é essa?- Quero dizer-lhe que estou sendo acusado por um

Peito que não pratiquei e necessito que o senhor osaiba e me exculpe do que me atribuem, porque estouinocente. - Depois, acrescentou: - não fiz o que elesdizem...

- Mas, que foi? - repliquei ainda.Repetiu a mesma coisa e então lhe perguntei

naturalmente- Mas, como te perdoar se não sei de que te

acusam? Jamais esquecerei o tom enfático da suaresposta em dialeto escocês: Saibamos em breve.Minha pergunta foi Peita, no mínimo, duas vezes ecerto estou de que a resposta foi dada três vezes, damaneira mais expressiva. Nessa altura acordei,guardando certa inquietação do sonho tão singular,Não cogitava de qualquer significação, e eis queirrompe no quarto, minha mulher muito comovida, aagitar uma carta aberta e a exclamar:

- Ah! James, que coisa horrível no baile dosoperários... O Roberto suicidou!

Compreendendo o sentido da minha visão,repliquei-lhe tranqüilizado e convicto:

- Não, ele não se suicidou.

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- Como podes saber? - Porque ele me disse.Quando ele apareceu - para não interromper a

narrativa omiti este pormenor -, fiquei impressionadocom o seu aspecto. O rosto azulado, d e um azuldesmaiado e a testa manchada como que de gotas desuor.

Eis o que ocorrera: Ao recolher, na noite de sábado,Mackenzie se enganara, tomando como de uísque umagarrafa de água-forte, e tendo de um trago ingerido umcálice, faleceu no domingo, em atrozes sofrimentos.Todos pensavam num suicídio e dai a su amanifestação, no intuito de desculpar . O mais curiosovem a ser que, procurando inteirar -me dos sintomasque produz o envenenamento pela água -forte,verifiquei serem mais ou menos idênticos aos queapresentava a fisionomia de Roberto. A versão dosuicídio não tardou a desfazer, conforme carta do meupreposto na Escócia, recebida no dia imediato.

Ao meu ver, esta aparição ai pode ser atribuída aoprofundo reconhecimento do rapaz, p elo fato de ohaver tirado da miséria, Ele quereria conservar dignoaos meus olhos.

Eis a narrativa do industrial de Glasgow.Procurando revelar a verdade, a propósito de umpretenso suicídio, não prova esse operário asobrevivência da alma? Convém assi nalar, depassagem, que o suicídio é considerado crime, naInglaterra.

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Nós possuímos centenas de observações análogas,feitas por homens ponderados, que contamsimplesmente o que ai passou com eles. O único meiode fugir a explicações é negar os fatos, dizendo quesão criações imaginárias, que as pretensas testemunhasmentiram. Ora, esse industrial de Glasgow era amigode Gurney, um doa fundadores da Sociedade Inglesade Investigações Psíquicas, que o conceituava eestimava como homem de bem a toda prova. Poisbem: a menos que acusemos de impostura todos osobservadores, que os averbemos de visi onários oumais ou menos sandeus, havemos de admitir estesfatos, tal como admitimos a queda de um raio,caprichoso e inexplicados. Não se pode negar.Importa, antes, confessar francamente que há por aitoda uma ordem de coisas ainda desconhecidas àsinvestigações cientifica. No caso particular que acabode expor, este rapaz, envenenado por equivoco, nanoite de sábado para domingo, em Glasgow, apareceuna terça-feira seguinte, em Londres, ao seu patrão (queignorava o fato) para lhe declarar que não se sui cidara.Estava morto havia 48 horas. Ninguém poderáimaginar, neste caso, a coincidência de um sonho tãoexato e tão-pouco obra do acaso, ou o que quer queseja.

Os que negam estes fatos, são ignorantes, ilógicos,ou capciosos, de vez que, conhecendo-os, não atinocomo possam eliminar o ato do defunto.

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Camilo Flammarion.

Este o artigo publicado pelo Jornal . Confesso que,contra os meus hábitos, empreguei nele um tom algoagressivo, no intuito de provocar discussão e ver o quepoderia daí resultar. No dia seguinte, o confrade-Senhor Clemente Vautel, reconhecidamente cépticonestes assuntos, respondeu com esta negativa radical:

MEU FILME

Por uma bela tarde de verão do ano de 1861, oSenhor Henrique Cower encontrava-se na sala dejantar de sua residência em Sydney, Austrália.Indisposto, inapetente, não conseguia

afugentar os pensamentos tristes que o as saltavam .De repente, ouviu um estalo brusco e seco . Rachara-seo espelho que estava em cima do aparador. E' esquisito- disse o Senhor Cower. Semanas depois, veio a saberque, no momento exato em que o espelho se fendera,falecia repentinamente em Mineápolis, nos EstadosUnidos, sua velha tia Dona Doroteia Mac Clure. Estefato autêntico não prova, de maneira, irrefutável, arealidade das manifestações de al ém-túmulo

Doutra feita, é um tal Arquibaldo B. Blackburn, deChicago, que, em 1874, vê aparecer -lhe em Woodston(Ohio) o seu amigo João Guilherme, de NewTipperary (Massasuchets) . João Guilherme apresenta-

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ai de rosto congesto, como que sufocado, a fazergestos extravagantes.

Que tens? - pergunta-lhe o amigo.- Vale-me, afogo-me - responde-lhe João

Guilherme, logo desaparecendo,Blackburn recolheu-se ao leito, muito

impressionado, e oito dias depois teve a noticia de queo amigo perecera afogado no rio Mis souri, na data e nomomento preciso em que o fantasma lhe pedirasocorro.

Os que negam estes fatos eloqüentes - diz-nos oSenhor Flammarion - são ignorantes, ilógicos, ou demá fé.

Pois bem: eu os nego a todos, em bloco e damaneira mais categórica. Tenho lido livros do SenhorFlammarion e de outros exploradores do mistério,inumeráveis episódios estranhamente semelhantes aestes aqui relatados. Considero-os, porém, destituídosde qualquer valor documentário. Tudo se tem passadomuito longe, alhures, numa época fabulosa, e asgarantias faltam absolutamente... Quando penso emnossa inépcia para contar fielmente um acidente hápouco presencia,do ali na rua de Panoyaux, concluoque é estulto estribar toda uma filosofia, uma forma dereligião, em anedotas antigas, contadas ao sabor decriaturas que não conhecemos e de quem nadasabemos.

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E demais, fala-se muito inglês nessas histórias dooutro mundo. Os espíritos, fantasmas, espectros, etc.,não são nativos de Pontarlier ou de Romorentin. E'sempre na. Inglaterra ou na América do Norte que elesaventuram as suas manifestação. Dar-se-á, que o Alémseja também uma colônia inglesa? Porque, porexemplo, o louco Bessarabo não aparece ao Presidentedo Tribunal, ou - melhor ainda - Senhora MoroGiafferri, em pleno Júri, a fim de explicar porqueelegeu o domicilio no fundo de uma canastra?

Eis o que melhor venceria o nosso cepticismo,antes que toda coletânea de fatos pseudopsíquicos,recolhidos pelo amável pensador Camilo Flammarion.

Clemente Vautel.

E' assim com chocarrices, simples jogo de palavras,avelórios enfim, que o nosso confrade da grandeimprensa imagina ter explicado a manifestaçãopóstuma de Roberto Mackenzie! Permito -me advertir,então, que a sua solução nada tem que .ver com oproblema em causa. De fato, ela pode traduzir-senestas simples palavras: nada disso existe.

Nada? mas, é pouco, realmente, diante de todos osfatos irrecusàvelmente verificados .

Afirmando o Senhor Vautel que tudo se tempassado alhures, muito longe, em época fabulosa ecom absoluta falta de garantias, expus-lhe um episódioacorrido aqui na França e, portanto, indene de

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antipodismo e nada remoto, nem anedótico. Trata -sede uma observação do Senhor Frederico Wingfield, deBelle-Isle-en-Terre. Eis o fato:

À noite de 25 de Março de 1880 - escreve ele -,sonhei que via meu irmão Ricardo assentado num. acadeira diante de mim. Falava-lhe e ele apenas sacudiaa cabeça em sinal de assentimento, até que se levantoue saiu do quarto. Despertei e vi -me aprumado, com umpé assente no chão e outro na cama, ao mesmo tempoem que me esforçava para pronunciar o nome de meuirmão. A impressão da sua presença era tão forte, tãovivo o quadro, que deixei logo o quarto e caminheipara a sala em busca de meu irmão . Escusado dizerque lã não estava ninguém. Tive, então, opressentimento de uma desgraça iminente e registreiessa aparição no meu anotário, assim que Deus tal nãoPermita! Três dias depois recebi a noticia da morte demeu irmão, às 8 1/2 daquele dia, em conseqüência deuma queda quando caçava. O falecimento precedera,portanto, de algumas horas, essa visão tão nítida .

O muito parisiense e muito sutil negativista doJornal houve por bem acusar o recebimento destetestemunho, fazendo-o, aliás, em carta amabilíssima,da qual destacaria aqui apenas estas linhas

E verdade que o fato se deu ali nas Costas doNorte, mas, ainda assim, os personagens são anglo-saxônicos. Ricardo Wingfield Baker não é n ada bretão

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. Ora, essa historia como todas as outras, não memerecem fé ilusões, gabolices, lérias.

Vê-se, então, que uma observação tão carac terísticanada vale parque o narrador não é francês! Fosse elefrancês e a sentença. não deixaria de ser idêntica.Lérias, não mais que lérias em todas essas histórias .Mortes, luto, dores, desesperos, tudo isso vale nada e oque nos cumpre é rir. Essa maneira de interpretarfenômenos inexplicáveis é, evidentemente, de umaextrema simplicidade! Notemos, contudo, que essa é apauta comum, pois todas as c iências foram assimjulgadas nos seus primórdios.

A objeção não tem, de resto, nenhum valor, vistoque uma observação em Roma ou em Londres é tãorespeitável como em Paris, e ainda porque se trata defatos verificados no mundo inteiro e a França não temdeles monopólio.

Alguns dias depois, isto é, a 18 de Junho, recebiesta carta de Boulogne-sur-Mer, sumariando umaobservação bem francesa, portanto:

Li vosso artigo do dia 16, intitulado Os mortos semanifestam. Li, também o Meu filme do nossohumorístico Vautel, que nega os fatos de que falais,pretextando que eles ocorrem sempre em paísesdistantes. Vou então contar vos um, ocorrido em Paris,em 1911, que podeis transmitir ao Senhor Vautel.

Em Fevereiro de 1906 perdi meu pai no hospitalCochin, em conseqüências de uma operação. Como

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minha mãe não tivesse, no momento, recur sos paracustear o enterro, o hospital o fez por sua conta e ainumação se verificou em vala comum, no cemitériode Bagneux.

Cinco anos mais tarde, achava-me em casa, na ruaEtex, por sinal, e passeava em meu quarto de um ladopara outro, isto de manhã. Em dado instante, aoencaminhar-me para a cozinha, a fim de fazer aprimeira refeição (precisamente às 7 horas), vi, derepente, ali surgir meu pai, tendo a mão direitapousada no cano da pia. Era exatamente ele, com afisionomia calma que tinha em vida.

Passaram-se meses e eu a ninguém relatei o caso,temeroso de que me ridiculizassem. Uma noite,entretanto, ao visitar uma irmã, resolvi contá -lo e elalogo me interrompeu: Olha, foi justamente nesse diaque desenterraram papai...

- Mas - objetei - como é que me não avisaram? -Porque pensávamos que lá não estarias tão cedo. -Então a que horas ?

- As 7 da manhã.Pois fora precisamente há essa hora que ele me

apareceu. Agora, pergunto: porque o teria feito? Seriauma censura pela minha ausência na reabertura da suacova? Contudo, não era minha culpa, de vez que nãofora prevenido.

Nessa época eu em nada cria, pois fora educadofora de qualquer religião, Asseguro-vos, porém, agora,

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que, depois de ter visto meu pai, acredito em Deus e naimortalidade da alma.

Aceitai os protestos de minha escrupulosasinceridade.

Senhorita H. H. (meu nome reservado) .Pode-se ainda aventar, aqui, a sediça hipótese de

uma alucinação sem causa, mas, como lhe não opor acoincidência da visão com o desenterramento do paida narradora ?

E' nesse ponto que o problema, se nos impõe .Qualificar de gabolice a narrativa? Não será preferívelconfessar que nada sabemos, mas, que há nisso algemacoisa e que o nosso dever é reconhecer os fatos?

(O Senhor Vautel é um homem muito espirituoso.Voltaire também o era... Copérnico, Képler, Galileu,Newton, Colombo, Gutenberg, Denis, Papin, Fúlton,Volta, Ampère, espíritos científicos, eram menoshumorísticos e, contudo, o progresso lhes deve algumacoisa de sua ascensão.)

Eis, agora, um caso no qual a hipótese alucinatóriaé inadmissível, pois apresenta dois testemunhosindependentes. Ele me foi comunicado de Estrasburgoem 17 de Junho deste ano de 1922:

Meu irmão, Hubert Blanc, era capelão dos fradesMaristas em Saint-Paul-Trois-Châteaux (Drõme) . Ummonge que, enfermo, há muito não se levantava dacama, achava-se às portas da morte. Meu irmão

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visitava-o sistematicamente. Certo dia, em conversa,disse-lhe o enfermo:

- Saiba que não irei sem dar-lhe o meu adeus.- Perfeitamente - respondeu meu Irmão em tom de

gracejo.Dois ou três dias depois, mal se haviam deitado, as

10 da noite, minha mãe e meu irmão perceberam aomesmo tempo, posto que em quartos afastados, umruído bem acentuado de chave abrindo a porta da rua,logo seguido de passos no corredor. Mi nha mãe,assustada, gritou com todas as forças por meu irmão,dizendo:

- Hubert, tem gente no corredor .Meu irmão, que também ouvira o mesmo ruído,

levantou-se de um salto, percorreu toda a casa,verificou que a porta estava intacta e nada havia deanormal. E contudo, mal terminava essa inspeção, otelefone tilintou : Alô! alô! venha imediatamente,Senhor Capelão, pois alguém está morrendo. Meuirmão apressou-se e lá encontrou o frade a exalar oúltimo suspiro. Este fato, contado por testemunhasfidedignas, causou grande sensação em toda acomunidade. Minha mãe e meu irmão moconfirmaram muitas vezes, e eu vos autorizo a publicá-lo, se assim lhe aprouver. Meu irmão faleceu emGrignan (Drome), onde exercia o paroquiano.

Mário Blanc

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Diretor técnico da confeitaria A Cegonha,Estrasburgo .

Essas manifestações, ruído de passos, de chaves,chamados telefônicos, etc . , são efetivamenteinexplicáveis, mas são fatos observados cora certeza,incontestável. E conta-se por milhares. Não se podedizer que tenham sido inventados. O número denarrativas em meu poder passa de 5.600, sem contar asde outras fontes, em todos os países. Não ver nissomais que farsa, é inadmissível. Das muitas cartasrecebidas a propósito do artigo em questão, destacareiesta, literalmente transcrita

Dampierre (Seroe-et-Oise), 16 de Junho de 1922.Caro Senhor e ilustre Mestre.Peço-lhe desculpar a indiscrição e importunidade

destas linhas. Depois de ler, hoje, o seu artigo no OJornal, ocorreu-me lembrar o seguinte fato, cujaautenticidade posso garantir. Meu falecido avô, queera fiscal municipal aposentado, ao sair um dia do seuquarto, contou que tivera naquela noite um sonhoesquisito: sonhara com o seu primo J. P. a dizer -lheque acabava de morrer e lhe pedia que.oacompanhasse ao tabelião, onde faria o seu testamento.Bem não acabava de relatar o sonho, chegava oestafeta com o telegrama avisando a morte do primo,cuja enfermidade ignorávamos .

Essa coincidência muito impressionou a todos.Mais tarde, aberto o testamento, grande foi o espan to

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da família ao verificar que não legara coisa alguma aosparentes que tanto estimava . O herdeiro contempladochegou a ser acusado de falsificação. Dar -se-á que J.P, quisesse, com aquele sonho, despertar atenção paiaa anomalia do referido testamento ? E' o que poderámelhor ajuizar o Mestre, se dignar de ler estas linhas.Finalmente, peço-lhe que aceite os protestos de minharespeitosa e profunda admiração.

Paulo BrustierColetor de Dampierre (Seroe-et-Oise).A estas observações inexplicadas e inexplicá veis

poderíamos juntar outras muitas, análogas. Poder -se-átentar interpretá-las como transmissões telepáticas esubconscientes, mas, negá-las é absurdo. Como seexplicam? Antes de afirmar a ação de uma inteligênciaestranha à nossa, importa engatar todas as hipótesesnaturais, tanto as de um trabalho inconsciente doespírito, quanto às de uma memória a que nada tenhaescapado. Este rigorismo é necessário.

*

Regressemos, contudo, ao precedente caso deRobert Mackenzie e à sua interpretação, analisando-a,dissecando-a. O que procuramos são provas dasobrevivência da alma. E demonstração de talimportância, que exige exame rigoroso e máximaponderação de todas as abjeções formuladas. A

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aparição de Mackenzie, em sonho, no intuito de seexculpar de uma falta imaginária, suscita mais de umaobjeção.

Notarei, desde logo, que esta narrativa foi extraída,um tanto resumido pelo O Jornal, do meu livro -Depois da Morte - e que, entre as objeções possíveisassinalei, nesse mesmo livro, a de sugestão retardada.E como, de regra, o público é alheio a estes estudos,não falei disso em meu artigo.

Examinemos então, aqui, essa hipótese de umatransmissão de pensamento do moribundo, antes deexpirar e permanecendo latente no cérebro do receptor,para só aflorar depois do sono repousado. A estepropósito, recebi, de um leitor, os comentáriosseguintes, que expõem nitidamente não só essahipótese, como a de uma transmissão de pensamentopela leitura da carta recebida pela mulher doengenheiro:

Pode ser - escreve-me o amável correspondente -que Mackenzie, durante a sua demorada agonia tivesseapreendido, sem poder desmenti -los, os comentáriosdas pessoas que o cercavam. Falar-se-ia de suicídio,num meio em que o suicídio tem foros de crime. Ohonesto rapaz ficaria, então, no seu delírio, possuídoda idéia fixa de esclarecer o seu benfeitor, de lhe dizera verdade. E, como o pensamento não podia vocalizar -se, o instinto poderia, talvez, encontrar os meios decomunicação admitidos em telepatia, que o senhor não

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recusa. Lançada no espaço, a mensagem chegaria logoao destinatário desprevenido? De início, o industrialmuito absorvido pelos negócios - mesmo em sonho, anarrativa o prova - mostra-se refratário à entrevista,terá possivelmente repelido o importuno murmúrio;mas, em vindo à noite, apaziguados pouco a poucooutros ruídos dissonantes, o inconsciente se lhe tornoumais sensível ao sutil apelo e, constrangido pelainsistência do fantasma, dá-lhe, enfim, audiência. Oreato o senhor o sabe. Mas, esse fantasma, a que títulopoder-se-á afirmar seja uma entidade que regressa doalém, antes que um ser ainda vivente no momento daemissão? Exemplos de comunicações retardadas sãopelo senhor mesmo citado e como tais admitidas, emcasos análogos, notadamente em Antes da Morte,págs. 137 e 162.

Ao demais, outra hipótese se aprese nta, inspiradapela sua própria narração, Consideremos que já existauma carta em viagem, ainda ignorada do engenheiro.Essa carta levava-lhe os pormenores do infaustoacontecimento, o que vale dizer que o contexto dessacarta era de natureza a dar ao sonho os primeiroselementos de afloramento e a imaginação, sempremais imaginativa no estado de sonho, saberiaaproveitar a dramaticidade da aparição. Aquele saberem breve, repetido três vezes pelo fantasma, não lheparece uma alusão direta e precisa ã chegada iminentedessa carta, sugestiva, à distância?

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E assim sendo, eis reconduzidos aos fenômenos umpouco menos discutidos de segunda vista, de telepatia,etc. .. Estes, porém, para os que os admitem, nãoprovam inelutavelmente a sobrevivência, objeto únicoda controvérsia.. A sua interpretação, caro Mestre, demodo algum se anula pelas minhas pois que podemsubsistir paralelamente. Mas, desde que ela, ensejahipóteses concorrentes, deixa de ser decisiva de simesma.

Jorge Izambard (Neuilly)

Uma carta muito séria, esta, que contrasta com aamiga de Clemente Vautel. Ela emite duas hipótesespara explicar o fato. Comecemos pelo exame daprimeira.

Tendo-a estudado de há muito tempo, não me serádifícil responder.

Recebi, ao iniciar meu inquérito, em 1899, mais de5.600 observações psíquicas, diferentes, que aditei a500 outras já em meu poder. Além dessas, outrastantas me chegaram de sociedades e núcleos de estudoda França, da Inglaterra, da Alemanha, etc . ; de sorteque estimo em mais de 10.000 o número de fatosdocumentados. Nesse número não há dois episódiosiguais, como manifestação total, ao de Mackenzie .

O que mais se lhe aproxima, no concernente àimpressão cerebral retardada, é o que se encontra emA Morte e seu Mistério, tomo II, pág. 7, e que acima

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referi: - a irmã de Luís Noell, bela jovem de 18 anos,subitamente atacada de angina durante um passeio efalecendo após dolorosa agonia, ao mesmo tempo quese manifestava ao irmão em Montpellier.

Inscrevi este fato, absolutamente autêntico e contrao qual não pode haver negação admissível, em onúmero das comunicações telepáticas entre vivos, enão como póstuma, deixando aberta a porta para asegunda hipótese, por isso que devemos buscarexplicação, primeiramente, na mentalidade dos vivos.Frederico Myers, o autor da impressão latenteretardada e que a estudou com tanto zelo, admite que oretardamento não pode exceder de a lgumas horas,doze no máximo e que esse retardamento se explicapela preocupação do cérebro dur ante o dia, de modo anão facultar a manifestação antes que o espíritorepousado possa ressenti-la. No dia da morte oestudante divertia-se. A irmã, acometida no dia 22, àtarde, morreu na manhã seguinte. Ele não se recolheusenão antes da noite de 23 para 24, às 2 da madrugada.Deitou-se satisfeito, adormeceu logo e, lá pelas 4horas, sonha com a irmã, pálida, sangrante, angustiada,lançando-lhe aquele grito desesperado eindefinidamente repetido . A hipótese do retardamentoperceptivo aí se apresenta logicamente. O rapaz nãoestava em estado de receber, antes, o apelo fraterno.Concebemos, portanto, essa demora de 24 horas apóso falecimento, admitindo que a moribunda tenha

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desejado a presença do irmão, até que exalasse oderradeiro alento . Assiste-nos o direito, parece-me,dada a situação especial do percipiente, de prolongar aesse ponto o retardamento, posto que, regra geral, elese limite a poucas horas . Poderemos basear -nos nessaexperiência para explicar o caso Mackenzie? Aqui,vemos, essa interpretação não se adapta à realidade.

Ao meu ver, repito, entre milhares de casosobservados, o de Luís Noell é o único que se podecomparar ao de Mackenzie. Mas, ainda assim, quantadiferença! Vejamos, analisemos.

Luís Noell ressente a impressão logo que ent ra emestado propiciatório, na primeira noite seqüente aoapelo, duas horas depois de começar o sono a libertar -lhe o cérebro .

O sonho do patrão de Mackenzie só chegou na,segunda noite, 48 horas depois da morte. Paraaplicarmos a este sonho a hipótese do re tardamento,importaria supor que o patrão não houvesse dormido anoite precedente. Nada que se relacione, portanto, como que publicou o próprio Myers e a idéia de umaimpressão latente aí não colhe, sendo ele, embora, oautor desta hipótese. Deveríamos, a mais, supor que océrebro não estivesse em estado de receptividadesenão após toda uma noite de sono, até à hora deacordar. Parece-me, portanto, devermos eliminar estaexplicação e que, em matér ia de retardamento, o deLuís Noell constitui um máximo único, desde que há

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um limite ao intervalo possível entre a emissão e arecepção. A ação do morto subsiste, então, como aexplicação mais provável e mais admissível .

Quanto à de uma transmissão de pensamento,devida à chegada da carta à mulher do engenheiro,tenho-a por menos concebível ainda, visto que essacarta anunciava o suicídio e não a falsid ade dainterpretação . Seria preciso admitir que a leitora dacarta não acreditasse no que lia e imaginasse umengano fatalístico . Leitura telepática da carta, e ntão,feita pelo engenheiro adormec ido e combinações doseu espírito? Hipóteses sobre hipóteses! Aqui, não setrata de relação direta original. Notemos que FredericoMyers, autor da célebre obra Fantasma dos Vivos, nãochegou a escrever Fantasmas dos mortos, senão emdefesa própria e após 10 anos de discussõescontraditórias. Quanto a mim, estou no mesmo caso,só tendo admitido a manifestação dos mortos, naimpossibilidade de as explicar como de vivos. Asoutras hipóteses não resistem a uma análise rigorosa ecompleta .

Entre as muitas cartas recebidas como fruto deinvestigações tendentes a explicai o caso, por atos domoribundo, em vida, noto as de Grandmougin,Geoffriault,

Clemente de Saint-Marcq, Kontz, de Schildkvecht,Flobert. A maior parte invoca uma tr ansmissão depensamento, proveniente da carta recebida pela mulher

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do engenheiro. Como temos visto, essas duas hipótesesnão colhem. Lembro-as aqui para provar, ainda umavez, que nós buscamos, antes de tudo, a elucidaçãocompleta . Houve nisto um belo exe mplo decontrovérsia na imprensa francesa; que merece aquiregistrado, não obstante a sua extensão.

Ajuntarei, ainda, que o aspecto cadavérico dosuicida - lividez da cútis e manchas sintomáticas deenvenenamento letal - atestam superiormente, maisque todas os argumentos, a realidade dessamanifestação póstuma. Pode-se divergir nasexplicações, como nas teorias suscetíveis deracionalizar os fatos, mas, negar simplesmente os fatosé um erro indesculpável.

Nossas primeiras impressões levam-nos a atribuir àtelepatia entre vivos estas manifestações post -mortem,mas há, casos em que essa interpretação não cabe. Osautores de Fantasmas dos vivos assinalaram, a esterespeito o exemplo da Senhora Menncer, a sonhar duasvezes na mesma noite, que via de pé, junta d o leito, oirmão decapitado, com a cabeça num esquife ao lado.A senhora ignorava o paradeiro desse irmão, SenhorWellington, em viagem no estrangeiro . De fato, estavaele então em Sarawok com o Senhor James Brooke efora morto numa insurreição chinesa. Haviam-notomados por filho do rajá, cortaram-lhe as cabeças equeimaram o corpo com a casa do próprio rajá. A datado sonho coincidiu mais com o feito. E' quase certo

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que a degolação fosse praticada, visto não se tratar desoldados chineses, mas de operári os de -uma minaaurífera que, ao assaltá-la, utilizavam como armas tudoque lhes caía em mão. Destarte não poderiam matarum europeu em defensiva, senão degolando -o de umgolpe. Há que concluir, portanto, que a impressãosobre a irmã se produziu depois de consumado oseccionamento do cérebro.

O mesmo volume de Fantasmas registra outro casonão menos probante, contra a hipótese telepática antesda morte. E este:

A Senhora Storie, de Edimburgo, morava então emHobart Town, na Tasmânia. Uma noite, teve um sonh oestranho, confuso, numa Série de visões destacadas.Via o irmão gêmeo assentado numa elevação deterreno obliquamente aclarado pela lua. Ele erguia osbraços para ela, gritava - o combóio! o combóio!Depois, algo que o esbarra; ele cai inanimado e logopassa um objeto volumoso e negro, apitando. Depois,entrevê um compartimento de vagão ferroviário, oirmão comprimindo a cabeça com as mãos e,finalmente, uma voz desconhecida a dizer -lhe que oirmão acabava de morrer. Ora, o que se verificou foique, nessa mesma noite, o irmão fora colhido e mortopor um combóio, no local em que se assentara paradescansar.

Os pormenores deste sonho correspondem àrealidade. O Rev. Johnston era passageiro do combóio

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sinistro. Não podendo o acidente ser conhecido davítima, ainda em vida, é preciso admitir a visãosonambúlica produzida pela vítima, atuando sobre airmã, no momento de passar o combóio, para que elaentrevisse o acidente mortal. Não foi, pois, antes, masdurante e depois do golpe fatal, que ele agiu.

Lógica e normalmente devemos atribuir essesfenômenos a faculdades do ser vivente, porventuraainda desconhecidas da Ciência e, pelo que me toca,sinto-me tanto mais inclinado a isso, quanto aAstronomia nos mostra estrelas já inexistentes, dasquais ainda estamos recebendo os raios que elasemitiram há milhares de anos . Assim, mortas, é comose ainda nos falassem. Mas, nem por isso devemoscontentar-nos com raciocínios insuficientes.

*

E' muito natural - é até dever nosso - duvidar damanifestação dos defuntos, desde que a prova se nãofaça. A nossa tendência é para considerar suspeitastodas as narrativas inerentes a manifestações demortos. A isso nos autorizam a improbabilidadeaparente e a raridade das provas positivas ocorrentes .Antes de tudo, a sinceridade dos narradores pode serposta em dúvida. Há mentirosos, há farsantes.

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Depois, no caso de haver sinceridade absoluta, nemsempre a memória são fiéis e, assim, possibilitam-searranjos e exageros.

Enfim, o problema, em si mesmo, é tão grave quenão podemos nem devemos admitir observações quenão sejam absolutamente indiscutíveis . E de resto,importa ainda saber interpretar essas observações,convencidos de não poderem elas explicar -se pelasfaculdades humanas, só admitindo ação dostrespassados quando não h aja hipótese outraadmissível. Estes elementos de estudo só prevalecem evingam sob a condição de ser o observador, de simesmo, instruído e adestrado nessa ordem de fatos,para falar com conhecimento de causa.

Notarei mesmo, a propósito, que, em geral, seimpingem ao público as mais estranhas confusões, arespeito de assuntos metapsíquicos. Assim que,tomando um exemplo recente, parece que umas taisexperiências de três professares da Sorbona, em 1922,sobre formação de protoplasmas, deram resultadonegativo ou - para ser mais verídico - incompleto, daíresultando a afirmativa da inexistência demanifestações post-mortem. Singular raciocínio!Efetivamente, que pode haver de co mum entre aimortalidade da alma e os produtos orgânicos,quaisquer, saídos da boca ou do nariz da senhorita Aou da senhora B ? Certo, milhares de leitores dessesperiódicos terão acreditado em tais deduções,

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estúpidas quão ridículas. Sim, conviria saber do que setrata... Se alguém me dissesse que acabava depresenciar um descarrilamento de trem com mortos eferidos, assegurando-me, concomitantemente, que aLua não gira em torno da Terra, eu me perguntariadesde logo por qual série de falsos raciocínios odepoente chegara a passar da locomotiva à Lua.

Pois a verdade é que todos os dias vêem aberraçõesdeste jaez. Estas observações, a mim dirigida porpessoas desconhecidas, não diferem das apresentadaspor velhos conhecidos, nas quais confio tanto comoem mim mesmo. Se as primeiras são verídicas, não hárazão para supor que estas não o s ejam. A classe dosfarsantes rara transparece em narrativas deste gênero,máxime em se tratando de um parente. Elas traduzemluto e mágoas, que não comportam pilhérias. Não sebrinca com uns tantos assuntos . E depois, asinceridade tem as suas característ icas, o estilo é ohomem, como disse Buffon .

Encontro-me perante estes correspondentes, namesma atitude que mantenho com quantos me enviam,de todos os pontos do globo, as suas observações sobreAstronomia e Meteorologia.

Quando alguém me escreve que obs ervou umeclipse, um bólido, estrelas cadentes, uma variação emJúpiter ou Marte, uma aurora boreal, um tremor deterra, um furacão, um arco-íris lunar, etc., eu o creio desincera e boa fé, sem no entanto deixar de examinar e

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julgar a comunicação. Poderão dizer-me que o casonão é identicamente o mesmo, visto que umaobservação astronômica, ou meteorológica, pode tersido feita por diversas pessoas ao mesmo tempo, o quevale por uma espécie de contraprova. E' fato. Mas,quanto ao meu juízo sobre a sincerid ade doobservador, o caso é absolutamente idêntico: eu oadmito a título de inventário e com todos os direitos delivre exame. Nos casos de telepatia, e outros, são oshumanos mesmos que estão em jogo, que gozam detodas as suas faculdades intelectuais, qu e estão noestado de espírito mais normal, provando -o por seuspróprios raciocínios . Não tenho, a priori, mais razãopara desconfiar de um sábio, de um professor, de ummagistrado, de um padre, de um lavrador, quando meexpõem um fato psíquico, do que qua ndo se trata deuma observação física. Entretanto, como essesfenômenos são mais raros e menos críveis, comeceipor controlar grande número, tomando informações epromovendo inquéritos, que chegaram, quase sempre,a confirmar pura e simplesmente os relatór iosrecebidos .

Foi o que o seu turno fez a Sociedade Psíquica deLondres. Apesar da algumas variações na formanarrativa, de certas obnubilações de memória, semprese chega à conclusão da realidade do fato original.Contudo, se os impostores são raros, muitos são os quese iludem. Nesta ordem de fenômenos, poderíamos

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dizer que eles formam legião. Ninguém pode avaliar alatitude da credulidade humana! O estilo é tambémmuito característico. Todavia, a falsa moeda nãoimpede exista a legítima. O mais difícil para o homemé, talvez, manter-se independente, dizer o que sabe e oque pensa, liberto de preconceitos . Vitam impenderavero!

Consagrar sua vida à Verdade. Nobre divisa deJuvenal e de Rousseau, que só produz inimigos , poisque esta humanidade é antes de tudo grosseira,bárbara, ignorante, covarde e hipócrita.

O que ainda existe de curioso, talvez, e a pesquisafranca da verdade desagrada a toda a gente, porquecada cérebro alimenta os seus pequeninos pre juízos,dos quais não quer desapegar-se.

Se eu disser, por exemplo, que a sobrevivência daalma, já comprovável pela Filosofia, s erá dentro embreve experimentalmente provada pelas ciências;psíquicas, mais de um céptico sorrirá da minhaafirmação

Se eu disser, ao contrário, que o espiritista queinvoca Sócrates ou Newton, Arquimedes ou SantoAgostinho, supondo tutear com eles, é vítima de umailusão pela frente todo um partido disposto a lapidar-me.

Pois bem! Enquanto chove o granizo com que mehonram, insisto em afirmar que o ser humano não é

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conhecido dos naturalistas, nem dos fisiologistas, nemdos filósofos.

Uma pessoa falecida em Paris pode aparecersimultaneamente na Argélia, na América ou na China.E aparece sem deslocar-se.

Uma jovem a dançar uma valsa com o noivoadorado, pode ver, de repente, sur gir no salão agenitora e gritar que ela está morrendo, naqueleinstante, a 1.000 quilômetros de distância.

Um indivíduo passando na rua, sob as janelas depessoa amiga, pode aparecer -lhe no quarto sem sair darua. Vosso pensamento pode atuar em outrem,independente dos sentidos.

Poderemos, em sonho, ver um país desconhecido,lá nos sentindo tal como deva suceder 10 anos maistarde.

Passado e futuro são perceptíveis, só o presenteinexiste, atento a que ele se reduz, cientificamenteanalisado, a menos de um centésimo de segundo .Espaço e tempo não existem, tais como osconcebemos, mensuradamente. O que há é o Infinito, éa Eternidade.

À distância de Sírius não tem maiores longos, emrelação ao infinito, do que a existente entre a vossamão esquerda e a direita. A eletricidade já nosfamiliarizou com as transmissões rápidas, à distância.Eletricidade o luz não necessitam de dois segundospara ir da Terra à Lua. A matéria, tão -pouco, é o que

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parece ser. Em resumo: a ciência de todas asacademias da Terra não representa mais que enormeignorância.

Nada sabemos de exato, preciso, absoluto, sejasobre o que for, e a verdade é que estamos rodeados deforças ainda desconhecidas.

Que, pais, ninguém tenha a arrogância de afirmarque isto ou aquilo é possível, ou impo ssível. Um sódireito nos compete - o da modéstia, sobretudo noconcernente aos problemas da vida e da morte.Vivemos no desconhecido. Mas, ainda assim, é belo, ébom, é útil investigar .

Laplace raciocinava acertadamente ao escrever, nasua Teoria Analítica das Probabilidades, o seguinte:

Tão longe estamos de conhecer todos os agentes daNatureza e seus modos de ação, que seria poucofilosófico negar quaisquer fenômenos só pelo fato deserem inexplicáveis no estado atual dos nossosconhecimentos. Precisamos, somente, examiná-loscom atenção tanto mais escrupulosa, quanto maisdifíceis de admitir. E o cálculo das probabilidades sefaz indispensável, para determinar até que ponto épreciso multiplicar as observações, a fim de obter, afavor dos agentes que el as indiquem, umaprobabilidade superior às razões existentes para nãoadmitir o fenômeno.

Este argumento do imortal astrônomo francêsconfirma toda a índole do nosso labor atual sobre os

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problemas metapsíquicos. Note -se que ele o publicou apropósito do magnetismo animal e da varinhadivinatória. Peço a meus leitores ponderarem a últimafrase, aplicando-a ao número das observações que eutive que discutir. Com Laplace, estou em boacompanhia. Continuemos pois. Há observações queacabam por tornarem-se irritantes. Assim, a quepretende só admissível o fenômeno científico quandosuscetível de renovação. Tanto vale concluir pelainexistência do raio, por não podermos recomeçá -lo .

Negar a queda de um aerólito, por não podermosreproduzi-la à vontade. Haver por fabuloso um eclipse,por ser preciso esperar condições lúni -solares idênticaspara revê-lo, ou que um abalo sísmico não ocorreuporque não nos é possível repeti-lo.

Tanto vale confundir duas ordens de coisasinteiramente distintas, isto é : a observação e aexperimentação. Um fenômeno espontâneo observa -se; um composto químico fabrica. -seexperimentalmente. Ora, não é raro constatarmos esseerro de raciocínio, mesmo entre homens habituadosaos métodos científicos. A Astronomia, aMeteorologia, são ciências de observação, mas aMecânica e uma ciência experimental. Deverão asmanifestações dos mortos ser admitida entre os fatoscientificamente demonstrados por observaçõessuficientes? Esta a questão, que se torna inútilcomplicar com dissertações marginais. A campanha

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insensata contra a manifestação dos mortos ensejadospela publicação do 3.° volume da minha obra induz -me a insistir na realidade incont estável dessasmanifestações. São inumeráveis os testemunhos. Paratestemunhos, é preciso acusar os depoentes d ehaverem observado mal, de se terem iludido, e atémentido. Acusações que se justificariam talvezparciais, mas não totalmente. Examinemos a frio,atentamente, algumas dessas manifestações,começando por uma das mais remotas.

Este velho depoimento que os meus leitores jáconhecem, por havê-lo transcrito em Urânia, é de umescritor. justamente reputado, pela integridade dojulgamento e cuidado que dispensava a tudo quantoredigia. Trata-se da história de dois viajantes, contadapor Cícero:

Dois amigos chegaram a Megara e alojaram-se emcômodos separados. Um deles, mal adormeceu, viu ooutro diante de si, anunciando -lhe que o seuhospedeiro tinha o intuito de o assassinar e pelo quelhe pedia fosse imediatamente socorré -lo.Impressionado, chegou a levantar -se, mas, logopersuadido de que era tudo sonho, não tardou areadormecer. De novo lhe apareceu o amigo e oconcitou a apressarem-se, porque os assassinosestavam na iminência de lhe invadir o quarto . Maisimpressionado com a persistência do sonho, resolveuprocurar o amigo, mas o raciocínio e a fadiga

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acabaram triunfando e ele tornou a deitar -se. Eis queainda uma vez lhe aparece o outro, a dizer:Desgraçado, não foste quando te implorava! agora, sóresta vingar-me: ao clarear o dia, veras uma carreta deesterco parada a porta da cidade; mandas descarregar eacharás o meu corpo. Providencia para o meusepultamento e pune os assassinos.

Tamanha insistência e tantos pormenores nãoadmitiam hesitação. O homem levantou-se, foi ao localindicado, lá encontrou a carreta, deteve o carreteiroque logo se perturbou, e assim descobriu o cadáver doamigo.

Ai tem a narração do célebre autor latino. Quepensar? Poderão objetar que a coisa não se passou talcomo no-la conta Cícero; que foi amplificada,exagerada; que dois amigos em chegando a umacidade estranha podem temer um acidente; que,temendo pela sorte de um amigo, fatigado da viagem eno silêncio da noite, chega-se a sonhar com umhomicídio. Quanto a.o episódio da carreta, os viajantespodiam ter avistado alguma no pátio da hospedária eela se insinuaria no sonho, por associação de idéias.Sim, podem imaginar-se todas as hipótesesexplicativas, mas, serão sempre hipóteses.Satisfatórias? Para. mim, não, absolutamente. Não meparece que Cícero houvesse contado essa h istóriacomo exemplificante de sonhos divinatórios, se nãotivesse tido boas razões para isso, tanto que, sem maior

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estranheza, acrescenta: Quid hoc somnio dici diviniuspoteat.

E' difícil suprimir com uma penada esta página deCícero . Os mais recalcitran tes, em matéria desobrevivência, não ousam fazê-lo e até costumam citá-la a título de curiosidade: Brière d e Boismont, comoalucinação; Ch. Richet, como fenômeno metapsíquico,etc . Mas, que é o que nos ensinam essas palavras?Não ocultam, simplesmente, uma verdade a descobrir?Se admitirmos a narrativa tal como é, devemos aceitarque a vítima anunciasse a sua morte, tanto quanto ascircunstâncias que a acarretaram . Dir-me-ão : não hácerteza. . . De acordo. Não há certeza, também, de quepossais receber um soco na cara ou uma bala nocoração, e por isso tenho dito que há gradações entre aprobabilidade e a certeza. O estrito dever do homemsincero é, porém, exercer livremente o seu julgamento.Aos meus leitores peço apenas atenção e lealdade.

Ora, supor que Cícero tenha inventado essahistória, não é admissível. As observações desta ordemsão numerosas e atribuí-las a alucinação, coincidênciasfortuitas, etc., não é explicação que satisfaça, ou será,a rigor, uma explicação que nada explica. Uma turbade ignorantes de todas as classes, idades e profissões -lavradores, negociantes, cépticos por índole ou pordesconhecimento de causa - declara simplesmente nãoacreditar nessas coisas. Este não é também umargumento satisfatório, e muita menos uma solução.

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Os estudiosos não podem contentar -se comdenegações tão ocas. Um fato é sempre um fato e nãohá como recusá-lo, só porque os conhecimentos daatualidade não nos permitem explicá -lo. Certo, osanais da Medicina atestam a realidade da alucinação, ede mais de um gênero, a que estão sujeitas certasorganizações nervosas . Mas, daí a concluir que todosos fenômenos psico-biológicos não explicados sejamalucinações, vai um abismo.

*

O espírito científico do nosso século procura, comrazão, destacar todos estes fatos das névoas enganosasdo supranaturalismo, atento a que nada existesobrenatural e a Natureza, cujo reino é infinito,abrange tudo. Neste momento, estamos a verjornalistas ignorantes ou de má fé, pretenderem quetodos esses relatos de aparições e comu nicações demanos procedem de pessoas destituídas de valorintelectual. Poder-se-á tal coisa dizer de um Cícero,um Montaigne, um La Rochefoucault, um Goethe,todos, enfim, que versaram este nosso assunto?

Eis outra observação bem conhecida de meusleitores, isto é, a de Lord Brougham, contada por elepróprio, que era, como sabemos, membro eminente doInstituto de França e da Sociedade Real de Londres .Os homens da minha geração viram esse belo ancião

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em Paris, ou em Cornes, onde faleceu, em 1858. Essepensador escreveu a sua biografia e publicou, emOutubro de 1862, o extrato a seguir. Ninguémduvidou, jamais, da exatidão dessa lembrançaremontante ao mês de Dezembro de 1799, quando ofuturo político e célebre historiador inglês não contavamais de 20 anos e viajava pela Suécia.

A temperatura estava fria. Chegando a um alberguede boa aparência, em Gotemburgo, pedi um banhoquente e nele sucedeu-me uma coisa tão curiosa quenão resisto ao desejo de contá -la desde o principio.Tive um condiscípulo amigo, na High School,Chamava-se G. e eu tinha por ele uma afeiçãoparticular. Muitas vezes discutíamos o grande tema daimortalidade da alma. Um dia tivemos a fantasia deredigir um pacto, escrito com o próprio sangue, peloqual o que primeiro morresse haveria de manifestar-seao sobrevivente, a fim de desfazer toda e qualquerdúvida a respeito. O amigo morrera nas índias e eutinha-o mais ou menos esquecido.

Estava assim, como dizia, deliciosamentemergulhado no meu banho e, qual não foi meu espantoquando, disposto a erguer-me, a.o fitar a cadeira ondedeixara a roupa, deparou-se-me nela assentado ofalecido G... a encarar-me com serenidade! Até hojenão sei como sai da banheira, senão que, quando deiacordo de mim, estava estendido no chão.

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A aparição, ou o que melhor nome tenha, haviadesaparecido, mas, a impressão que ela me causou foitão forte que me levou a escrevê-la imediatamente ecom todos os pormenores, nesse mesmo dia que era,por sinal, o 19 de Dezembro .

Lord Brougham acrescenta que, ao regressar aEdimburgo, ali encontrou uma carta na qual lhecomunicavam a morte de G... no dia. 19 de Dezembro.Parece-me que Lord Brougham, tanto como Cícero,não é um valor desprezível e que esta observaçãomerece considerada. Ela não representa, concordo,mais que uma probabilidade, mas, pergunto: essaprobabilidade não se avizinha da certeza.? Euconjeturei, antes de tudo, uma ilusão causada pelodispositivo das roupas na cadeira, mas tambémconsiderei logo que: 1° - a semelhança foi tãosurpreendente como inesperada ; 2° - que acoincidência da morte e a existência do pacto depõema prol da visão.

Um dos membros mais ilustrados do nossoInstituto Metapsíquico, o professor Richet, não admitea prova de sobrevivência que, para nós, ressalta destasobservações. Entretanto, ele próprio cita, no seumonumental Tratado de Metapsíquico, vários fatos quenos levam, tal como os dois precedentes, à mesmaconclusão . Um deles, é o seguinte:

Certa feita, quando começava a adormecer, viudeslizar uma sombra branca e transparente, q ue ai

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destacou lentamente da chaminé, avançou para o seuleito e fez ouvir interiormente estas palavras: sejasempre amigo de meu filho. Depois, a sombra elevou -se lenta e ele reconheceu a um de um dos seusmelhores amigos, a qual deixara de perfeita saúde .Levantou-se, então, procurou certificar -se de que nãofora vítima de uma ilusão. Mas, a noite estava escura,não havia luar. O fato é que a pessoa, cuja formareconhecera, havia falecido duas horas antes.

Ora pois! se essa mãe morreu duas horas antes,porque atribuir essa observação a uma criptestesiamisteriosa, vocábulo que, antes de tudo, faz-se precisodefinir claramente? Não digo que, muitas vezes, secontentam com palavras? Dizer que vemos o que estáoculto não é explicar melhor a significação da pa lavralucidez. Outro exemplo colhido no mesmo autor:

A Srta. Beale contava 14 anos e uma noite viuentrar-lhe pelo quarto um vulto de homem envoltonum roupão flutuante e como a procurar abrir caminhocom as mãos. Súbito, desapareceu . A senhorita,apavorada, chamou pela companheira de quarto, quelhe disse: - há de ser meu irmão C... No dia seguinte,ao almoço, o C... negou ter vindo, mas, declarou quetambém ele tinha visto, no seu quarto, o dito vulto,parecendo-lhe um amigo enfermo, porém não grave eque um dia lhe dissera : o que morrer primeiro, daráum sinal Verificaram mais tarde que o óbito se deraprecisamente naquela noite.

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O defunto desobrigava-se de uma promessa.Porque duvidar ?

A criptestesia, a lucidez, explicam o fato? Não vemo morto ao caso? Isso é o que desejamos saber.

Outro exemplo, citado na mesma obra e que, deresto, também publiquei no A Morte e o seu Mistério,t. III, pág. 144:

O Senhor Belbéder, do 6.° Colonial, tinha ido comalguns amigos gozar uns dias de férias em Ribérac(Dordogne) .

A Srta. Estela, 17 anos de idade, viu na sua alcovaum jovem camarada que lhe votava fraternal afeição.A porta abriu-se, diz ela - eu vi-o entrar. Levantei-mepara colocar a poltrona junto do fogão, pois fazia frio,e notei que ele não trazia agasa lho. Censurei-lhetamanha imprevidência e ele, ao invés de responder -me, levou a mão ao peito e ã cabeça. Estava assim afalar-lhe, quando entrou o Dr. G... e me perguntoucom quem me entretinha... Veja, disse -lhe: - estenaaluquinho sem capote e tão rouco que nem podefalar; empreste-lhe o sobretudo e mande-o para casa,meu caro doutor. . . Nunca poderei esquecer a cara deespanto que fez o doutor, por isso mesmo que, sabia -oele, Bertie havia falecido 20 minutos antes. E,contudo, eu o vira dar volta à ma çaneta e abrir a porta,entrar e assentar-se, enquanto eu acendia as lâmpadas.

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Esse rapaz tinha morrido e a Srta. Esteia não sabia.Ele se mostrou em casa dela, eis o que importaexplicar.

Alegam que as nossas provas são insuficientes, masnão consideram que as provas que podemos e devemosexigir nestas pesquisas não são as me smas a queestamos afeitos nos laboratórios experimentais deQuímica ou de Física. Sim, porque os mortos não estãoao nosso dispor e somos forçado s a nos louvar na boafé, na honestidade, na consciência enfim, dosnarradores . Se uma honrada mulher me escreve, empapel ainda molhado de lágrimas, que acaba de obteruma prova do marido enterrado na véspera, eu possoconjeturar uma ilusão visual, mas, não uma h istóriainventada para me enganar, e, menos ainda, que osconselhos solicitados não passem de simples comédia.Se alguém adoece em conseqüência de uma aparição,não posso coligir daí uma cilada à minha credulidade,etc. Quando as informações confirmam que estamoslidando com gente honesta, o simples bom sensomanda que aceitemos os depoimentos, examinando -os,analisando-os e interpretando-os com o máximocuidado, eliminando todos os casos possíveis de ilusãoe alucinação. Muito tenho publicado e redito sobre asprecauções tomadas contra os farsantes e impostores, oque dispensa de repisai no assunto . E' o que ignoram,em geral, os superficiais e incompetentescontraditores. Não resta, portanto, de seriamente

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admissível, senão a hipótese da ilusão, raro viável e,muitas vezes, refratária a todos os pontos de vista,como no seguinte caso:

Sexta-feira 22 de Agosto de 1890, às 10 horas damanhã, um tal Senhor Russel, cantor da Igreja de S.Lucas, em S. Francisco tombou em plena rua,acometido de apoplexia. Transportado a su aresidência, ali expirou às 11 horas. No sábado, deveria,ele repetir um trecho musical. O fato é que, nessasexta-feira, ã tarde, o mestre de canto Senhor Reevesestava a procurar o trecho de música a ser cantado noseguinte domingo, quando, ao sair do aposento,deparou com o cantor pálido, na. escada e tendo umrolo de música em uma mão, enquanto na. outraapoiava a testa.

Ele se apresentava tão real, tão vivo - diz o SenhorReeves -, que fui resoluto ao seu encontro paracumprimentá-lo e dar-lhe as boas vindas. Mas, eis queele se desfez qual nuvem no ar. O observador,estupefato, pôs-se a gritar - Meu Deus! A irmã e asobrinha acudiram prestes, ele queria falar e nãopodia.. A pesar de robusto, sadio e céptico, ado eceu eassim esteve alguns dias.

Escusado dizer que ignorava a morte do cantor, trêshoras antes. Seu grilo foi ouvido por três pessoas. Avisão se verificou em condições todas normais devigília, em pleno dia, não permi te sequer imaginaruma alucinação hipnótica.

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Esta narrativa tão minudente, confirmada peloreitor da Igreja de São Lucas em carta dirigida aoprofessor Adams, de Cambridge, poderá ser averbadade suspeita? Não nos autoriza o simples bom senso adar as costas aos narradores? porque negarobservações desta espécie é tudo negar. Também nosadvertem que não somos obrigados a a ceitar tudo oque nos contam e precisamos ter em con ta que háfarsantes e impostores. Mas, isso mesmo me temrepetido dez vezes, sem que daí se colija a inexistênciade casos como este, que não comportam a tocha deinvencionice. A palavra coincidência também temgrande consumo na boca dos nossos contraditores.Pergunto, então, que virtudes lhe assinariam nestecaso? Não vemos nele evidente relação de causa eefeito? Não e o defunto o agente produtor da aparição? Não vos parecem, caros leitores, que é tempo desermos afirmativos em nossas constatações edeclararmos, de uma vez por todas, a verdadecomprovada de que os mortos continuam a viver

Examinemos, agora, o seguinte caso:Tinha eu um amigo chamado Carlos, rap az dos

seus 16 anos - diz o meu correspondente. - Uma noite,em 1908, ao entrar em casa ouvi, nitidamente, chamame muitas vezes o reconheci a voz desse rapaz.Perturbado, só pude adormecer mais tarde, mas irãodemorei a despertar, tocado no rosto e ou vindo alguémque me chamava, No mesmo instante, vi distintamente

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Carlos à minha cabeceira, a dizer-me: adeus! adeus!estou; feliz, consola os meus - e desapareceulentamente.

Mal clareou o dia, corri à casa dos pais de Carl os,que estavam muito inquietos porque o rapaz não serecolhera àquela noite. Não sei porque,instintivamente, veio-me à mente uma pequenapropriedade que a família possuía no campo e,confiando à família os meus temores, convidei a láchegarmos. No caramanchão do jardim deparou -se-noso corpo estendido no solo, tendo na mão direita umfrasco com um resto de cianureto.

Carlos suicidara-se e me havia prevenido comaquela manifestação. Aí tem, caro mestre, o que possoatestar como verdade e pode ser controlado.

HENRIQUE BOURGEOIS

A correlação entre a manifestação e o ato dosuicida é certo. Invocar o subconsciente, o sublimal,tudo o que quiserem, não selecionará estia visão, essaaudição . Só a interferência do próprio suicida poderáexplicar o fato. E ele mesmo o demonstrou, emboramorto.

*

Eu gostaria, também, de saber a explicação quereservam - ou o direito com que possam recusar - à

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seguinte observação do meu colega Carlos Tw eedale,da Sociedade Real Astronômica de Londres

Na sexta-feira, 10 de Janeiro de 1879, despertandodo primeiro sono, vi através da janela, do lado sul, aLua cujos raios iluminavam brandamente o quarto.Tive o olhar logo atraído para as almofadas de umretábulo embutido na parede, e que servia de armário.Indistinta a princípio, e depois gradualmente maisnítida, viu dali surgir uma forma, até que reconheci osemblante de minha avó. Pude observá -la por algunssegundos, até que se afastas se e se apagasselentamente. Uma particularidade me impressionou e segravou mais nítida na minha. retina, qual a do antigopenteado de minha avó, com um boné estampado, ouenfeitado de conchas. Não tive medo algum e, tudoatribuindo à ilusão, motivada pela claridade lunar, nãome custou reconciliar o sono. No dia seguinte demanhã, à hora do almoço, mal começava a contar osonho, meu pai levantou-se muito nervoso e deixou amesa, com grande surpresa para mim. Interrogueiminha mãe e ela fez sinal para que calasse. Depois,disse-me: vou revelar-te uma coisa extraordinária, deque nunca ouvi falar: é que teu pai, hoje de manhã, meinformou que acordara durante a noite e vira minhasogra de pé, junto da cana e, quando ia interrogá -la, eladesapareceu.

Esta conversa realizou-se às 8 1/2 da manhã desábado, e antes do meio-dia chegava o telegrama

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comunicando o falecimento de minha avó, naquelanoite. Mas isso não era tudo, pois meu pai veio asaber, depois, que uma sua irmã, residente a 30quilômetros de nossa casa, também vira minha avó.Destarte, fomos três pessoas separadas a terem amesma visão. Meu pai anotou a hora exata, 2 damadrugada. Eu, por mim, tenho certeza que a Luaestava longe do meridiano, o que confirmaadmiravelmente a notação de meu pai. Minha tia, porsua vez, registrou os fatos posteriores ao desenlace,que se dera 15 minutos depois da meia-noite. Assim,pois, deveremos concluir que a falecida, emboraaparentemente morta, estava ainda suficientementeviva, horas depois, para manifestar -se a três pessoasdistantes e separadas entre si.

A respeito da indumentária das aparições, escrevi ameu tio rogando-lhe esclarecer-me uns tantos pontos eeis o resumo de sua resposta: Pergunta -me você se odesenho de boné que me enviou tem qualquersemelhança com o penteado da defunta. Digo que asemelhança é evidente, pois assim era o boné que suaavô usou desde que adoeceu, até morrer. A suadescrição também retrata fielmente a fisionomia damoribunda no momento de expirar. Esta a verdade,pura e simples, cujos pormenores poderei certificar,sob juramento, se necessário for. O fenômeno aquidescrito apresenta garantias tais de autenticidade quenão podemos considerá-lo suspeito .

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Rev. Charles Tweedale Membro da Sociedade RealAstronômica de Londres.

Pareceu-me útil transcrever na íntegra estanarrativa, notável por se tratar de fenômeno observadouma hera e três quartos após o falecimento, por trêspessoas,

individual e separadamente. A morte deu-se aos 15minutos da manhã e a aparição às 2 horas. Qual aexplicação? Impossível imaginar uma fraude qualquer.A ilusão, a alucinação de três testemunhasindependentes, parece-me inadmissível. O narradordeclara que, para ele, como para seu pai, o fantasma láestava, objetivamente, e que o boné bem o prova.Parece-me que a realidade da aparição poder -se-áinterpretar como tendo a morta agido sobre o espíritodos filhos, e que essa sugestão se traduzisse emimagem. Um morto pode atuar, à distância, sobre umvivo, manifestando-se-lhe de uma ou de outra forma,certo, por impressão cerebral. Mas, seja qual for àinterpretação, esta vidência não pode ser negada.

Agora, um caso de aparição bem nítida, bemexaminada pelo observador e por ele próprio escrita.(Publicada por Frank Podmore em Apparitions andThought Transference, pág. 427. )

Vago por morte o cargo de bibliotecári o, entrei aocupá-lo em 1880. Não cheguei a conhecer, nemmesmo de retrato, o meu antecessor. E ' possível que

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alguém mo houvesse descrito acidentalmente, masdisso também não me lembra . Uma noite, em 1884,deixei-me ficar até mais tarde, sozinho, na biblioteca,quando súbito me veio à idéia de que ia perder o trem.Eram 10 h. 55 e o último trem part ia às 11 h. 5.Levantei-me apressado, tomei a lâmpada em uma dasmãos e na outra uns livros, saindo pelo corredor. A luzda lâmpada, divisei na extremidade do corredor umvulto e pensei logo se tratasse de um ladrão, pelo que,voltei ao gabinete e, lá deixando os livros, apanhei orevólver . Com a lâmpada na esquerda, atrás dascostas, e na direita o revólver, voltei ao corredor, atéum ponto no qual supunha se houvesse escondido ointruso, a fim de ganhar o salão. Ali chegando, porém,nada mais vi que a grande sala atapetada de livros.

Gritei repetidamente ao intruso que se rendesse, naesperança de ser ouvido por algum policial lá na rua.Notei, então, que o meliante, insensível ao meu apele,estava como a inspecionar as estantes, Muito calvo epálido, os olhos eram-lhe cavos, profundos. Avanceipara ele e o velho, indiferente, virou -me as costas,prosseguindo na sua tarefa, até que se afastou a passosarrastados e desapareceu no compartimento sem saída,onde ficava o lavatório. Acompanhei -o até ali, e qualnão foi minha surpresa ao constatar que lá não estava.Assim logrado, confesso que comecei a sentir, pelaprimeira vez na vida, o que poderíamos denominarmedo do sobrenatural. Deixei a biblioteca, tinha

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perdido o trem. No dia seguinte contei o caso a umclérigo, que, em me ouvindo, replicou: Pois é o velhobibliotecário! Pouco depois, mostraram -me umafotografia do meu antecessor e a semelhança eraperfeita! Ele havia perdido os cabelos, e até os cílios esupercílios, em conseqüência de uma explosão. Altode ombros, também tinha o passo bamboleante .

Indagações ulteriores provaram que o óbitocoincidira, mais ou menos, com a aparição . Esta,como a antecedente, é também inexplicável, a menosque admitamos a ação pessoal do desencarnado. Serápossível que os mortos conservem, às vezes, os hábitosterrenos ? Temos a respeito mais de um exemplo. Omistério subsiste, contudo, pois de qualquer forma asua visibilidade é um problema. Podmore confessafrancamente que, ampliar a hipótese da transmissão depensamento, tem parecido extravagante para uns tantosleitores. Mas, daí a concluir que alguém,desconhecido, pensasse no velho bibliotecário, justonaquele instante, e que esse pensamento originasse avisão do seu substituto a seguir a sombra até esvaecer -se no fim do corredor, vale por arquitetar uma hipótesemais audaciosa, e porventura mais inverossímil, que ado fantasma como imagem projetada pelo pensamentodo morto - fantasma assaz nítido, aliás, para sertomado coma um ladrão e perseguido pelo vidente derevólver em punho .

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Submeto igualmente, ao juízo imparcial do leitor,as seguintes observações respigadas no Tratado deMetapsíquica do professor Richet (pág. 403)

Um Senhor L. V., de Bordéus, estando a mesa detrabalho, teve a impressão de que a porta se ab ria e,voltando-se, viu, de relance, o seu tio G. 15 minutosapós, chegava-lhe o telegrama participando que o tioacabava de suicidar-se. A monição ocorrera às 9 h. 30e o suicídio às 5 horas. O telegrama chegara a Agênciade Bordéus às 8 horas.

Aqui, temos uma visão não onírica. (Lastimo, aindauma vez, que os observadores não ousem subscrever onome em suas cartas, mas há que aceitar aHumanidade como ela é.) Esse tio apareceu aosobrinho 4 1/2 horas depois da morte, e isto é o queimporta reconhecer e... explicar.

Outra observação (pág. 409):No dia 28 de Dezembro de 1906, às 23 horas,

recolhida a,o leito, a Senhora X. . . viu uma formafeminina, distinguindo-lhe perfeitamente os traçosfisionômicos e o vestuário . Com voz abafada, disse -lhe o fantasma: Sou Helena Ram e venho buscar -te;ficaremos juntas no outro mundo. Esta Senhora Helenahavia falecido no dia 28 de Dezembro à.s 4 horas da.manhã, ou seja 20 horas antes da aparição. Ospormenores nobre o vestuário er am exatos. A SenhoraRam não estava enferma, e a Senhora X... pouco aconhecia.

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Estimo assaz a sinceridade do professor Richet,para deixar de exprimir-lhe, com toda a franqueza, adificuldade de conciliar a sua negação dasobrevivência com os exemplos que ele mesmo cita .Quanto a saber como se produzem essas aparições, istoé outro caso. Por minha vez, perguntarei ao meu ilustreamigo como admite a seguinte observação da página436, sem admitir ao mesmo tempo a causadeterminante.

A Senhora K... acariciava a gatinha ao colo. Derepente, o animal mostrou-se inquieto, arrepiou-setodo e entrou a rosnar, como que atemorizado. Nessecomenos, a Senhora K... enxergou, assentada napoltrona a seu lado, uma velha megera de rostoencarquilhado, a fitá-la com rancor. A gatinha ficoucomo louca e atirava-se contra a porta, em saltosdesesperados. A senhora, apavorada, clamava socorro.Acudiu-lhe a genitora, mas o fantasma desaparecera. Avisão durou talvez cinco minutos. Dizem que nessequarto, há muito tempo, uma velha se enforcou.

Repitamos ainda uma vez: como admitir todas estasmanifestações sem atribuí-las ao defunto? Sim,porque, de outra forma, teremos que tudo atribuir aalucinações sem causa, coincidindo, todavia, comfalecimentos mais ou menos remotos. Vejamos aindaoutra observação, abonada por du as testemunhas. ACondessa Carandini assinalou-me o fato seguinte

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Uma noite, cerca de 9 horas, todos os de casaestávamos ainda em atividade, Minha firma, moça de17 anos, ao passar pelo corredor viu, estupefata, bemdebaixo do bico de gás, uma bela e robu sta raparigacom trajes de camponesa. Assustou -se, gritou e ofantasma sumiu. Depois, como entrasse a chorar demedo, minha mãe repreendeu-a com severidade. Namanha seguinte, a filha da cozinheira, moça dos seus25 anos, veio contar à, minha mãe que, na v éspera, ànoite, logo que se deitara, ouviu um sopro, parecendo -lhe que alguém respirava a seu lado.

Abrindo então os olhos, viu junto do leito umarapariga da sua aldeia, trajada à camponesa. Essa belacriatura, acrescentou, não se conduzia lá muito bem,pelo que teve ocasião de lhe dar muitos conselhosinutilmente. Pois bem: essa rapariga tinha morrido navéspera.

Poder-se-á recorrer, neste caso, à velha hipótese,algo simplista, das alucinações? Certo que não. Aqui,temos duas impressões independentes, s em causadeterminável, de vez que o falecimento era ignorado.E' fácil dizer e supor que não é verdade ; que éinvencionice ; que a primeira vidente foi vítima deuma ilusão e que a segunda mentiu, etc. Mas, quandoessas ocorrências se desdobram aos milhar es,provenientes de todos os países do mundo, é caso de selhes dispensar um exame sério. Instruamo -noslealmente nesse exame. As aparições de mortos já se

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não podem negar. Recapitulemos aqui as últimasobservações, afora as precedentes

I - Narrativa de Cícero; II - Dita de LordBrougham; III - A mãe do amigo de Belbéder, falecida2 horas antes; IV - O morto visto pela Senhora Beale;V – O amiguinho da Srta. Estela, após 20 minutos; VI- O cantor Russel morto por acidente ; VII - - O amigoCarlos logo após o suicídio; VIII - A avó doastrônomo Tweedale; IX - O bibliotecário inglês; X -A aparição do tio ao sobrinho, em Bordéus; XI - Aaparição da Senhora Helena Ram 20 horas depois desua morte, ignorada; XII - A velha percebida pela gata;XIII - A dupla manifestação relatada pela CondessaCarandini.

Aqui temos 13 observações, às quais só podemosopor negativas arbitrárias, indemonstráveis.Admitamos que as duas primeiras sejam menosradicalmente prováveis que as demais, e, ainda assim,não deixam de merecer atenção. Atendo-nos a estestreze casos, verificamos que o grau de suaprobabilidade é igual ao que chamamos certeza, emtodos os eventos humanos.

E quantos exemplos outros não poderiam juntar aestes, começando por aquele (pág. 251) de uma mãeaparecendo aos filhos e detendo-os no momento emque, na sua correria, eles se aproximavam do poço.Mas, eu não quero aqui repetir tudo o que foi dito eprovado nesse tomo III. Todo aquele que nega a.

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realidade dos fenômenos psíquicos, revela -seignorante ou mentiroso - dizia Victor Hugo após assuas experiências de Jersey. De fato, esse dilema éradical, dele não se pode fugir. E preciso ser ignoranteou de má fé para negar esses fenômenos. Todos oshomens independentes que se dispuseram a estudá -los,sem idéias preconcebidas, verificaram a sua realidade .Podem-nos ser imitado, simulados, fraudadosclandestinamente, da mesma forma como se podedizer missa sem ser padre nem crer em missas; ouescamotear nas cartas, ou fabricar moeda falsa. Nadacasso. porém, faz prova contra a verdade, e apenasserve para difundir no público interpretações ridículas.

Em vez de negar todos estes fatos e os ridiculizar,seria mais sensato procurar a sua melhor interpretação,discuti-los amplamente, respeitá -los, assimconcorrendo para aclarar o maior dos problemas,sobretudo na hora que passa.

Porque essas verificações são da mais altaimportância filosófica.

De bom grado, direi dos fenômenos psíquicos omesmo que dizia Poincaré, em 1911, das nebulosas emespiral; Essa forma espiral é ass az encontradiça paraque a conceituemos fruto do acaso, e compreende -sequanto é incompleta qualquer teoria cosmogonia quefaça abstração dela . Assim, também os fenômenospsíquicos não podem abstrair -se, nem se negligenciar,

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em qualquer teoria filosófica, mas, constituir parteintegrante do estudo do homem.

Outrora, as nebulosas espirais eram desconhecidase só gradual e lentamente se foram descobrindo esendo estudadas. A princípio, ninguém acreditavanelas, tomando-as por ilusões instrumentais. Quando,aos 16 anos, entrei para o Observatório de Paris, comoaluno de Astronomia, ouvia falar que eram falsas asimagens do telescópio de Lord Rose, por ser oaparelho, ao que supunham, facetado em curvasópticas, que originavam tais imagens. Agora, essasnebulosas valem por elemento essencial da astronomiasideral. O mesmo, penso, se dá com os fenômenospsíquicos, em relação ao perfeito conhecimento dohomem e dos seus destinos. O quadro dos raciocínioshumanos é comumente muito limitado. Não háexemplo de um sábio incrédulo que, depois de estudarsuficientemente estes fenômenos, concluísse pela suairrealidade. O físico Croókes, o naturalista Wallace,Lord Lindsay,o engenheiro Varley, o astrônomoZóllner, o fisiologista Richet, o Doutor Lombroso, ouniversitário Morselli, o professor Oliver Lodge, emuitos outros, dão eloqüente testemunho.

Os críticos que, encastelados na sua ignorânciaenorme, se metem a discutir, averbando de ingênuosos investigadores dos fenômenos psíquicos e quantosacreditam na imortalidade da alma, fazem-me lembrarigualmente esses geólogos que, pela só inspeção de um

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quilômetro da crosta terráquea, determinamclassicamente as constituições internas do planeta,cujo diâmetro é de 12.742 quilômetros , e fixam o graude calor no seu ponto central!

A Ciência avança e progride em todo s os seusramos. Há pouco lembramos a opinião de VictorHugo. No seu livro : Postscriptum de ma Vie, podeler-se que da Francoeur a Flammarion, o telescópioaumenta de 60 para 100 milhões o número de estrela s.

O poeta faleceu em 1885. Se ainda vivesse hoj e,que diria? A Uranografia de Francoeur data de 1830, aminha Astronomia Popular é de 1880. As descobertasastronômicas decuplicaram desde essa época, bemcomo as físicas e as metapsíquicas . Acabamos de vera exposição de fenômenos concernentes àsobrevivência, que se impõem à nossa atenção e ànossa filosofia. Sim, o progresso está em marcha, mas,quantos obstáculos lhe atravancam o caminho! Osleitores dos meus livros sobre este vasto assunto, osque conhecem o número considerável das informaçõesrecolhidas (só em cartas, mais de 5.600), sabem que apublicação integral desse documentário, e respectivoscontroles, representaria uma vintena de volumes comoeste, e, por conseqüente, que não pude dar mais queextratos ou resumos. Mas, afora a falta de espaço paraos atestados confirmativos, importa dizer que, muitasvezes, nos faltaram com esses atestados, alegando -seconveniências de família e motivos outros

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sentimentais . Assim, por exemplo, em ODesconhecido (pág. 181), a seguinte narrativa:

Meu primo adoecera gravemente de febre tifóide.Os pais não se afastavam da sua cabeceira, a velaremdia e noite. Uma noite, porém, já exaustos de forças, aenfermeira os obrigou a repousarem um pouquinho,prometendo acordá-los se fosse preciso. Mal haviamadormecido profundamente, foram de súbitodespertados em sobressalto com o estrondo da portaque se abria e meu tio perguntou: - Quem está aí?Minha tia, pensando que os vinham chamar, ergueu -seà pressa, mas, apenas se assentara no leito, sentiu-seabraçada por alguém que lhe dizia: - Sou eu que vouembora, mamãe; mas, não chore; adeus... Ni sto, aporta fechou-se brandamente. Mal dominando aemoção, minha tia precipitou-se para o quarto do filho,onde meu tio já se encontrava. Lá lhe disseram seu orapaz acabava de expirar naquele momento.

25 de Abril de 1899.Senhora Ackeret, na Argélia.

Fiel ao meu método científico, escrevi a SenhoraAckeret fazendo-lhe ver que as ilusões e asalucinações são sempre possíveis, pelo que muitograto me seria obter da própria sua tia a descrição dofato, e o conceito em que o tinha. Eis a resposta:

Caro Mestre.

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Apesar do muito desejo de atender a.o seu pedido,para obter de minha tia uma declaração pessoal arespeito do fenômeno por mim relatado, nada possofazer neste sentido.

Ela se conserva fiel ao propósito de guardar,exclusivamente para si, essa lembrança do filho,supondo talvez profanar a sua memória, e pelo que nãotem divulgado o fato senão a pessoas da família. Naverdade, é com tal ou qual ciúme que esses pobres paisguardam o último adeus do filho querido, e eu não meanimo a dizer-lhes que cometi essa indiscrição a vossofavor e no só intuito de ser útil à vossa obra, com oacréscimo de mais um exemplo concludente. Certatestou de que não houve ilusão, nem alucinação.. Meustios, residindo na Alsácia, e no campo, descriamabsolutamente destas coisas, e, sempre que lhescontavam algo de semelhante, riam -se e nãotrepidavam em chamar loucos aos que os propalavam.Hoje, ao contrário, riem-se dos cépticos, convictos deque o filho querido não quis partir sem lhes dizeradeus.

Ackeret

Não se contam por uma, nem dez, nem cem, asreservas deste gênero, opostas a confirmaçõe ssolicitadas. Mas, perguntamos : essas reservas nosimpedem de crer na autenticidade dos fatos narrados?Não, por certo. Eles, os informantes, merecem -nos

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todo o respeito e eu não sei como agradecer bastante aessas almas íntegras, que souberam dominar as suasmágoas e contribuir com o seu precioso testemunhopara o progresso da Ciência.

Incontestavelmente, estas provas póstumas noscausam espanto, afiguram-se-nos inverossímeis.Entretanto, o real nem sempre é verossímil, como bemo proclamou Boileau antes de nós: Le vrai peut,quclquefois, nêtre pas vraisemblable.

Se eu me afirmasse contemporâneo de uma senhoracujo marido privou com Luís XIV, haveria de causarsurpresa. Pois bem: O Dr. Legrand mostrou que em1862 a Duquesa de Richelieu podia dizer a NapoleãoIII: - Senhor, Luís XIV perguntava a meu marido...Isto em 1710 , E' que ela em 1786, com apenas 16anos de idade, esposara o Duque de Richelieu, quecontava 90, e, quando assim se expressava em 1862,estava por sua vez com 92 anos . Nascera o duque em1696, e Luís XIV morreu em 1715. O sobrinho -netodo cardeal tinha sido apresentado ao grande monarcana idade de 14 anos, por ocasião do seu primeiromatrimônio . Quanto a mim, em 1862 contava 20 anose poderia, eventualmente, ter ouvido de viva voz umapessoa a que estivesse ligado um contemporâneo deLuís XIV .

Sim, o verdadeiro pode não ser verossímil. Estouescrevendo estas linhas em 1923. Não neguemos coisaalguma, jamais.

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Os escritores franceses do século XIX, mesmo doXX, mostram-se em geral completamente ignorantesdos fenômenos psíquicos. Raros, excepcionaisdiríamos, os que afirmam. Assim, Hugo e Maupassant.Não falo dos filósofos e intelectuais, outros, mas deliteratos e cientistas propriamente ditos. Em regra,desdenham-se estes fatos e há mesmo certo prazer emignorá-los. Meu único escopo é convencer os meusleitores, não mais que apelando para a sua curiosidade,para o seu livre exame e para a sua consciência, a fimde que conheçam a verdade. A sobrevivência da almaé coisa provada, experimental e positivamente. Até opresente pelo menos, no estado atual dos nossosconhecimentos, não se há encontrado outra explicarampara os fatos. Temo-la procurado lealmente e com todaa isenção de ânimo, À c iência do futuro estarãoreservadas grandes e imprevistas descobertas, quehajam de transformar a nossa síntese filosófica.

Qual a duração dessa sobrevivência? Será aimortalidade da alma? Em princípio, não há razão parasupor que, sobrevivendo ao corpo por sua próprianatureza, esteja a alma destinada a uma futuradestruição . E' uma questão metafísica, esta, fora doquadro da observação científica, no qual deve manter -se esta obra: a observação não pode provar senão oque lhe seja contemporâneo. Nas investigações aquiexaminadas, nós não constatamos a imortalidade e sima sobrevivência temporária.

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Nos treze casos expostos não temos mesmo, sob osolhos, mais que uma breve sobrevivência, de minutosno caso de Cícero e de horas nos de Lord Brougham econseguintes. Vemos, também, que, em geral, asmanifestações acompanham de perto a morte . Aliás, éo que já havíamos observado no 3. ° volume de AMorte e o seu Mistério .

A condição essencial para investigar fenômenosnaturais - dizia Claude Bernard - é conservar emnossos estudos uma inteira liberdade espiritual,baseada na, dúvida filosófica. Eis um princípio do qualimporta não nos afastarmos, jamais.

O estudo da alma está muito longe de ser praticadoe, por enquanto, mal se delineia, máxime, no campoexperimental, cujo terreno apenas principiamos arevolver.

Agora que o princípio da sobrevivência se fundaem fatos impossíveis de serem logicamente negados, ,podemos ir rum pouco além nas nossas excursõesmetapsíquicas.

Antes de tudo, ocorre-nos à mente uma pergunta:As casas mal-assombradas? A antepenúltima das 13observações precedentes é delas um eco: de fato, quefigura de velha seria aquela, perceptível a uma gata evisível a uma criatura humana

Anunciei (III, pág. 442) que poderia juntar todauma documentação suplementar aos numerosos fatosjá averiguados, e é isso que aqui intento a fazer.

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CAPITULO IIAS CASAS MAL-ASSOMBRADDAS. -

PROSPECÇÃO NO ASSUNTO

Há o falso e há o verdadeiro. - Realidadesverificadas. - Observações antigas e modernas. -

Reconhecimento jurídico de casas mal assombradas. -Contratos rescindidos. - Certeza dos fenômenos de

assombramento

Haverá quem acredite em casas mal-assombradas?Os espíritos fracos e os crédulos, talvez, pois tudo issonão passa de contos de vovozinha, para intimidarcrianças.

E' o que comumente se pensa e diz. E de fato,parece que outro não deve ser o veredicto do sensocomum. Que haverá nisso de falso, ou de verdadeiro?Quod grafia asseritnr grafia negatnr, dizia-me Aenan,certa feita em que versávamos o dogma da

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infalibilidade papal, recentemente proclamado peloconcílio do Vaticano (1870) . O que se afirma, semprovas, é simples e naturalmente negado. Se as casasmal-assombradas não fossem identificadas porobservações irrefutáveis, estaríamos no direito denegá-las; e com isso, cumpriríamos até um dever.Velho provérbio diz que não há fumo sem fogo. Certo,muitas vezes, pode suceder haja mais fumo que fogo.Mas o adágio não deixa de ser verdadeiro. As legendasanais absurdas têm uma origem.

Diga-se, então, que essa história de casas mal -assombradas é tão velha quanto o mundo. Emmuitíssimos casos, principalmente nos temposmodernos, os processos judiciários e a crítica nãoencontram, nessas histórias de assombramentos, maisque fatores simplesmente humanos. No fundo daanálise, elas se resolvem em artifícios de histéricosmais ou menos conscientes, mistificações, comédias,farsas e passatempos, a degenerarem muitas vezes emjogos sinistros. O que se pretendia era: amedrontar osmoradores, vingar uma injustiça, desacreditar umacasa a fim de comprá-la barato, ou simplesmente rir acusta dos ingênuos e dos poltrões .

Mas, a verdade é que nem todos os casos seexplicam dessa forma. Em suma: qual teria sido aprimeira casa mal-assombrada? Só o que existe podeser imitado. Os farsistas puderam renovar cenasterrificantes . Tais cenas poderiam ter sido reais e

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poderiam não passar, também de interpretaçõestimoratas de acidentes elementaríssimos, tais comoruídos desconhecidos, aumentados no silêncio dasnoites. Tudo poderá ter provindo, em começo, deanimais domésticos em movimento, tais como cães,gatos, ratos, morcegos; ou ainda do vent o a estalarvelhas traves e junturas, bater de portas, tombar deparedes sem causa aparente, etc .

Se todos os casos de assombração pudessemenquadrar-se nestas explicações, não valeriam, por suabanalidade, um só capítulo deste livro. Mas a verdadeé outra e nós devemos examinar os fatos sem idéiaspreconcebidas, embora com circunspeta severidade,para julgá-lo depois com conhecimento de causa .

Que se não tem escrito por aí destas histórias? E,quanta coisa se tem dito contra elas ? Por mim, de hámuito que as venho examinando, comparando,analisando, discutindo. Compilasse os comentários de20 anos, oriundos deste meu curso de instruçãopessoal, e formaria um grande volume. Entre eles,muitos atinentes à ilusão, erras, exageros, farsas ; ruas,nada obstante, há certo número de realid adesseguramente verificadas e que importa conhecer. Nóstemos casas verdadeira e falsamente mal -assombradas,assim como temos a boa e a clandesti na moeda ;homens verazes e mendazes, honestos e traficantes,inteligentes e obtusos. Rejeitar sem exame tudo quanto

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dizem das casas mal-assombradas, seria tão absurdocomo aceitar tudo sem nada examinar.

As antigas tradições, os velhos adágios, não sãopara menosprezar. Errante qual alma penada, é umalocução que se perde na noite do s tempos . De ondeprocederia e qual a sua origem? Nem todas asnarrativas merecem rejeitadas. Neste caso, como emtudo mais, se quisermos instruir -nos, temos o dever deexaminar sem prevenção. E' com este critério quevamos aqui analisar este curioso prob lema,.

Um eminente cientista, cuja opinião é altamentecotada por todos que o conhecem, o Senhor GeneralBerthaut, antigo Diretor do Serviço Geográfica doExército, membro do Conselho do Observatório deParis, escrevia-me há pouca uma longa carta, da qual,data vênia, transcrevo aqui as primeiras linhas .

Caro Mestre:Casas mal-assombradas?... Não me admiro,

absolutamente, de vos ver envolvido nisso.Desconfiais e tendes cem vezes razão. Não que ofenômeno seja mais inverossímil que outro qualquer,do gênero psíquico, mas porque nele se reconhecemais facilmente uma causa interessada, e porque sepresta., quase sempre, à trapaçaria.

Sobejam razões para que os vivos procuremimpedir o próximo de residir em tais ou tais locais. Desorte que, em tese, a casa mal -assombrada é sempreum caso de suspeição . Há, também, mu ita facilidade

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para combinar ruídos, deslocamentos de objetos emesmo presumidas aparições, para que possamosaceitar tudo o que se propala. A o demais, além dosembustes, o concurso de causas natur ais, nãopsíquicas e difíceis de precisar. Finalmente,precisamos contar com as partidas e pilhérias adredeforjadas, sem outro interesse que o de rir à nossa custa.Se vos prouver, posso dar aqui um exemplo: umahistória de casa, digo melhor - apartamento mal-assombrado, foi-me contada pelo amigo Vibert, onosso pintor falecido em 1902. O caso ocorreu emParis, não sei bem quando e em que rua. Também nãoretive os nomes, mas guardo bem os episódios. Apolícia movimentou bateu o campo e nada descobriu;e, apesar disso, o acaso permitiu verificar -se, depois,que era tudo uma farsa arranjada num atelier depintores, Grande é os engenhos humanos, certos ; maseu penso que, para admitir a realidade dosassombramentos, não basta que as manifestaçõesobservadas tenham ficado sem explicação, que osfenômenos sejam incontestáveis, reconhecidos e semcausa possível, no conceito de todo o mundo; poistudo isso somente prova que ninguém descobriu acausa natural, e não que essa causa natural inexista.

Eu creio que os únicos fatos a considerar são osque trazem consigo mesmos a prova de sua origemsobrenatural, quer se trate de casas mal-assombradas

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ou de modalidades outra, qualquer, de fenômenospsíquicos.

Estou de pleno acordo com o ilustre general.Assim, devidamente precavidos, não tardará tenhamosaqui, sob nossos olhos, exemplos típicos erigorosamente observados, sobre os quais não podepairar qualquer dúvida. Há cerca de meio século quevenho tendo ensejo de examinar essas narrativas maisou menos surpreendentes, ma is ou menos confusas,bastas vezes irrisórias, de casas mal -assombradas.Julgo-me, assim, com direito de aqui afirmar um tantocruamente, talvez, mas nitidamente de certo, oseguinte:

As pessoas que mofam desdenhosamente das casasmal-assombradas, negando-lhes realidade, são míopesde natureza especial, cujo horizonte não vai além daponta do nariz. Há pouco, disse que de há muito tempovenho estudando esses fenômenos. Começarei estecapítulo por uma, lembrança que conta 63 anos. Corriao ano de 1860 e eu costumava regressai diariamente doObservatório do Sena, passando muitas vezes junto deuma rua mais tarde absorvida pela alameda S .Germano . Era a rua das Nogueiras, que teve nessaépoca a seu momento de celebridade e foi objeto deum inquérito judiciário, a pedido de certo locatário deuma casa mal-assombrada e que teve de abandonar - aSenhor Lesage, ecônomo do Tribunal de Justiça.. Ocontrato foi rescindido par sentença. Eis um pormenor

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geralmente ignorado e que tem o seu valor. Recebicentenas de informações de assombrações de casas ede outros fenômenos ocultos, mas, nada obstante, ovultoso número de testemunhos e a variedade equalidade dos seus observadores, o que se conclui éque ninguém se apressa em divulgá -los. Para não citarmais que um exempla: ao tempo em que meempregava a comparar as manifestações póstumas,recebi esta carta, em respeito ao meu inquérito de ODesconhecido.

Paris, 30 de março de 1899

Respondo – Não as suas duas perguntas. Entretantofui testemunha eu própria em minha casa alias só pormim ocupada, de fatos absolutamente inexplicáveis eque eu tinha o maior cuidado em ocultar para não ficarsem criados.

Já se foi o tempo de considerar imaginários osfenômenos de assombramento. Inumeráveis são eles.Numerosos quão variados, também, os exemplos deresto geralmente incompreensíveis e aparentementeridículos. Mas, falemos aqui em primeiro lugar destecaso da rua das Nogueiras.

Aluno do Observatório, como disse, voltava ao larpaterno diariamente, atravessando quase sempre a ditarua. Havia nela uma casa apontada como turbada porum Espírito turbulento. O seguinte relato resume o queo respeito se propalava. Consta no jornal O Direito, de

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Junho de 1860, sob a epígrafe : Cena, de feitiçaria noséculo XX

Um fato extraordinário o que ora se passa na ruadas Nogueiras. O Senhor Lesage, ecônomo doTribunal de Justiça, ocupa um apartamento nessa rua.De tempos a esta parte, projéteis, arremessados não sesabe de onde, quebram-lhe as vidraças e vão atingirmais ou menos gravemente os mora dores da casa. Sãofragmentos de madeira meio carbonizados, ou pedaçosde carvão de pedra, etc. Uma criada do Senhor Lesagerecebeu fortes contusões no peito. Requerida aintervenção da polícia, os agentes para lá enviadosforam também alvejados e atingido s, sem poderemdescobrir a proveniência do estranho bombardeio.Impossibilitado de habitar uma casa em permanenteestado de alarme, o Senhor Lesage solicitou a rescisãodo respectivo contrato de arrendamento. Deferido opedido, chamaram a Senhora Vaillant - porteira cujonome se adequava perfeitamente às circunstanciais, afim de redigirem o termo rescisório.

E mal o oficial da Justiça começava a lavrar odocumento, uma grande pedra de carvão entrou comextrema violência pela janela, esfarelando-se deencontro à parede. A Senhora Vaillant, imperturbável,serviu-se do pó para secar a tinta da escrita, tal comofizera Junot, certa feita, com a terra levantada por umbalázio. Ninguém pôde descobrir a causa da projeçãode objetos tão variados, mas, esperamos que o Sr,

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Hubaut, Comissário do Distrito, ainda possa esclarecero mistério.

O inquérito, porém, nada adiantou e o que cumpreassinalar é que, na maioria dos casos, os inquéritosapenas têm servido para atestar a realidade dos fatos,sem lhes dar explicação. Nada encontrar não prova quenão exista, em tudo isso, uma causa natural, oculta .Não apressemos qualquer conclusão. Notamos que osobjetos atirados provinham da vizinhança, não eramprocurados muito longe.

No exame que há muito venho fazendo, cheguei àconclusão de que se torna indispensável umaclassificação, para tomarmos pé nestes fenômenosmuitas vezes desconcertastes. Esses arremessos têmsido observados às centenas e milhares; a sua causa éconsciente e invisível, freqüentemente associada a atosque se podem atribuir aos defuntos, mas, não sempre;ou, pelo menos, nos quais não podemos descobrir aexistência de um defunto. Se os desencarnados nissotêm parte - o que temos de examinar -, os encarnadosigualmente devem tê-la. Parece que forças invisívei satuam sobre o mundo visível, servindo -se defaculdades orgânicas dos médiuns ou intermediárias,senhoras ou senhoritas (às vezes adolescentes), cujapresença, faz crer ao público ignorante - ou a certosjuízes do mesmo valor negativo - que são essaspessoas os agentes responsáveis, ou, por outras

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palavras, farsantes mais malignos que todos osinquisidores

Na casa da rua das Nogueiras, a criada, vítima elamesma dos distúrbios, era uma donzela . Esse primeiroregistro da minha. juventude ofereceu-me três motivosde instrução: 1.° - a constatação de fenômenosinexplicados; 2.° - rescisão de um contrato,conseqüente a essa constatação ; 3 : - existência deuma rapariga, molestada ela própria com .aquelessucessos.

Ora, fatos análogos já haviam sido observado s onzeanos antes, em 1849, não longe dali, na rua des Grès,próximo da Sorbona. Também esses motivaram umainformação jurídica. A Gazeta dos Tribunais, de 2 deFevereiro de 1849, relata o seguinte:

Um fato extraordinário, que se vem repetindo todasas noites, há três semanas, e cuja causa permaneceignorada, apesar da mais rigorosa investigação eextrema vigilância, tem revolucionado toda a populosazona de Santa Genoveva, Sorbona e Praça de SãoMiguel. O que aqui vamos contar constitui umacontecimento verídico, em que pesem às reclamaçõesdo público e um inquérito judiciário e administrativo,durante muitos dias, sem que o mistério se aclarasse dequalquer forma.

Durante os trabalhos de demolição para abertura denova rua destinada a ligar a Sorbona .ao P anteão e à,Escola de Direito, cortando a rua des Gr ès em direção

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à velha igreja, os operários atingiram uma estância decarvão e lenha, na qual se encontrava uma casadesabitada, com apenas um andar provido de sótão.

Um tanto afastado da rua e separada dasconstruções demolidas por grandes escavações depermeio, essa casa foi acometida, todas as noites,intensas e ininterruptannente, por um chuveiro deprojeteis que, dado o seu volume e a vigilância comque eram arremessados, produziram verdadeirosrombos, com janelas e portas em frangalhos, qual sehouvera experimentado os embates de uma catapulta.

De onde provinham os projéteis, constituídos depedaços de muro, pedras do calçamento, blocos dematerial que, pelo peso e pela distância em que seencontravam, não podiam ser atirados por mãoshumanas? Isso o que ninguém logrou descobri, apesarda vigilância permanente, dia e noite, de uma turma deinvestigadores competentes, sob a direção docomissário de policia.. Em vão, manteve-se ele no seuposto; em vão todas as noites se distribuíram cães deguarda pelas sebes vizinhas. Nada aproveitou, àexplicação do fenômeno, que o povo em suacredulidade atribuiu a causas misteriosas . Os projéteisque continuaram cair sobre a casa. eram arremessadosde grande altura, por cima da cabeça dosinvestigadores postados nos telh ados das casasvizinhas, como se viessem de muito longe, visando ummesmo alvo, com precisão matemática, sem se

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desviarem da sua linha parabólica, evidentementetraçada.

Não entraremos em maiores minúc ias sobre estesfatos, que, certo, vão ter pronta explicação. Felicitandoa quem de direito pelas providenciais tomadas, nãodeixaremos de notar que, em circunstâncias bemanálogas e igualmente sensacionais, Paris em peso seabalou com uma chuva noturna de moedas na ruaMontesquieu, ao mesmo tempo em que, na rua deMalta, invisível mão tocava todas as campainhas.Ninguém conseguiu, então, descobrir a causa materialdo fenômeno. Agora, esperamos possam chegar aconclusões positivas.

Este o relato da Gazeta dos Tribunais. Advirtamos,como a pouco, que os objetos provinham davizinhança e que tudo isso é de uma extremavulgaridade.

Pois bem: as rigorosas pesquisas não deramnenhum resultado, em 1860, na rua das Nogueiras,como em 1849 na rua des Grès. Depois de tanto tempoperdido, parece que ninguém se ocupou mais com oassunto. Apenas - notas pitorescas - acusaram oproprietário do imóvel de ser o autor dos distúrbios,com intuitos interesseiros, coisa que ele desmentiu,chamando os acusadores aos tribunais . Osconsiderando de sua petição, respigados em O Direito,merecem aqui transcritos:

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No ano de 1860, aos 9 de Julho, a requerimento doSenhor Lerible, antigo negociante de lenha e carvão;proprietário e residente em Paris, na rua de S .Germano n.° 64, eleitor qualificado em domicilio:

Eu, Albino Júlio Demouchyh meirinho do TribunalCivil do Sena, residente em Paris e morador à rua de S.Vitor 43, - tenho por intimado o Senhor Garat, gerentedo jornal A Pátria, nos escritórios do mesmo jornal, àrua do Crescente, a inserir no seu periódico a seguintenotificação, feita pelo requerente ao jornal O Direito,comprometendo-se ele requerente a pagar as linhasporventura excedentes ao limite que a lei lhe assegura:

Eu, Albino Júlio Demouchy, meirinho do Tribunaldo Sena,, tenho intimado ao Senhor Francisco, por ai ecomo gerente do jornal O Direito, com sede na praçaDelfins, a comparecer em audiência do dia 8 deAgosto de 1860, perante os Srs. Presidente e Juízescomponentes da Sexta Câmara do Tribunal dePrimeira Instância, em Paris, às 10 horas da manhã,para:

Atento a que, em seu número de 26 de Junho, e apropósito de fatos que se teriam passado em uma casada rua das Nogueiras, O Direito conta que fatosanálogos teriam ocorrido em 1847, em outra casa darua des Grès, e mais

Que o redator ilustra as suas observações deconceitos tendentes a fazer crer que os ataques ã casada rua des Grès, em 1847, partiam do próprio

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locatário, no intuito de assim obter por meiosdesonestos a rescisão do contrato, e assim;

Que, havendo-se efetivamente desenrolado os fatosassinalados pelo O Direito, não em 1847, mas em1849, em casa então ocupada pelo requerente na ruades Grès e, portanto:

Que tais imputações são de natureza a lesar a honrae a reputação do requerente, e mais

Que elas são tanto mais repreensível quantonenhuma constatação dos acontecimentos em apreçofoi feita, e, tal como se deu com os da rua dasNogueiras, eles ficaram inexplicados;

Que, ao demais, o requerente possuía, desde 1847,a casa e terreno por ele próprio ocupados na rua desGrès;

Que a suposição em que se deteve o diretor de ODireito não procede e jamais foi formulada e,finalmente;

Que os termos empregados pelo jornal constituemdifamação e incorrem nas penas da lei;

Que todos os jornais parisienses re produziram oartigo de O Direito e que a honra do requerente foiatingida por uma ofensa cuja reparação lhe é devida, e,

Por esses motivosSe veja o Senhor Francisco condenado às penas

cominadas em Lei, independente de prisão corporal, apagar ao requerente os prejuízos monetários, que ele sereserva o direito de reclamar em plenário, e que,

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previamente, declara destinar à pobreza, e mais asdespesas de publicidade da sentença pendente emtodos os jornais de Paris.

E para que o supracitado não o ignore, lev ei-lhe adomicilio a presente e depois de lida lhe dei cópia.

Custas: 9 fr. 10 c.Assinado : Demouchy .

Contratos revogados, retratações sentenciadas, a.ítemos declarações que desautorizam a rir do que senão compreende, tudo negando como cegos.

Estas duas observações de pedras arremessadassem causa aparente, foram abjeto de vários inquéritos,dos quais um - o do Marquês de Mirville - foipublicado em 1863, em sua opulenta obra de 5volumes, intitulada:

Os Espíritos e suas Manifestações, que ele teve agentileza de me ofertar. A conclusão foi que nada sepôde concluir, de vez que todas as explicaçõesimaginadas resultavam absurdas, quão ridículas. Mas,a conclusão mais surpreendente é a do própriomarquês, ao confessar que as suas experiências ofortaleceram na crença da existência do diabo! Vale apena ouvi-lo um instante:

Conversamos com o carvoeiro Lerible: Pois o fato -disse - é que tiveram a ingenuidade de me acusar detudo isso, a mim, o proprietário; a mim, que fui apolicia mais de trinta vezes para pedir socorro; a mim

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que, no dia 29 de Janeiro recorri ao Coronelcomandante do 24, que me cedeu um pelotão dos seuscaçadores. E fartei-me de lhes dizer: - acreditai queseja eu mesmo o meliante, se vos prouver, mas nãodeixeis de intervir, dizendo-me somente como mearranjo, ou prendei o indivíduo que emprazei, vistoque, vede bem, tendes-me ao vosso lado. Assim, pois,seja eu, ou seja quem for, dai -me a parte que me toca.Isso vos compete e não tereis servido a um ingrato.Mas qual! senhor, eles, os pobres diabos, tudo fizerame não conseguiram agarrar ninguém. Depois, ainda, asuposição de que fosse eu a arruinar-me. . . Mas,então, porque haveria de mobiliar d e novo toda a casa,um mês antes? Como consentir no destroço de todoesse mobiliário, como, por exemplo, estes aparadoresespelhados, que as pedras pareciam preferir ? Ai tende,senhor.. . - e o pobre homem exibia-nos os cacos doespelho, do relógio, dos vasos, dos candelabros;destroços que ele avaliava em 1.500 francos, coisa deque não nos admirávamos, mas que valorizavam a suadefesa, sobretudo quando acrescentava: Então, nãoseria eu o primeiro a resguardar -me? Não viam que aspedras me atingiam com mais violência que aosoutros? Vede, senhor, esta ferida que ainda aqui tenhona testa. Ah! é preciso convir que há muita genteordinária neste mundo.

Um pormenor deveras curioso, o daquele quartocoalhado de pedras e cacos de telha, compridos e

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chatos, que nos despertaram atenção. Por que obra doacaso? - dissemos. . . - E' que eu tinha fechado opostigo. Vedes esta fenda? - De fato, é muito estreita. -Pois bem: logo que fechei o postigo, todas as pedrasvieram nesse formato, e através dessa fenda que temmais ou menos a mesma largura! Ficamos ambosaturdidos com a agilidade e a precisão de pon taria dosfarsantes, visando alvo tão distante. Era como dar umpor cem mil ao Ariol, mesmo a vinte e cinco passosque não a um quilômetro, pelo menos.

Esse homem valoroso nos interessara, mas nãodesistimos de interrogar os vizinhos e procuramosdiversos, inclusive o dono de uma grande livraria naesquina da rua. Esse, como os outros, achava a coisaabsolutamente inexplicável e ainda mais absurda àpecha de fraude. Fomos, então, ao Comissário dePolícia e não o encontrando falamos ao seu substituto.O Senhor Comissário - disse - vos afirmaria, qual ofaço eu mesmo, que, apesar de todos os esforços,nunca se pode algo descobrir e, de antemão vos digo,nem se descobrirá jamais. - Disso estava certo, carosenhor, mas sempre queríamos ouvi -lo da sua boca.Muito obrigado...

Eis como fala o Marquês de Mirville, a propósitodessa casa da rua das Nogueiras. Fixemos, comBozzano, que essa é a história de quase todos asinquéritos neste sentido. De fato, as causaspermaneciam impenetráveis, constrangendo os

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cépticos a se pagarem com induções mais ou menosabsurdas, que, embora inócuas, enquanto asmanifestações persistem em toda a sua evidência,tomam, não obstante, certo incremento e infirmam averdade, desde que elas cessam; e com isso seenfraquecem as impressões de a utenticidadeinconteste, recebidas pelos que as presenciaram. Onotável incidente dos projéteis facetados, de molde aatravessar a estreita fenda do postigo, posto quemaravilhoso, não é raro nesta espécie de fenômenos.Mesmo a circunstância mais curiosa d a certeirapontaria, confunde-se com outros numerososincidentes de projéteis que denotam segura esistematicamente um objetivo. Dir-se-ia, até, ser aregra nessa ordem de coisas.

E' fácil compreender a grande importância teóricadesses fatos, porque levam a pressupor origensintencionais, servidas por faculdades e poderessupranormais . Somos, então, levados a desculpar osque acreditam no diabo de permeio. De resto, valeanotar que o diabo ainda continua associado a todo oensinamento cristão. Todavia, co nfessemos que aprimeira impressão que nos causam esses fenômenos éa de sua banalidade e vulgaridade. Seja qual for àcausa, aí temos exercícios bem singulares! Forçasinteligentes em ação, mas, inteligências bemmedíocres. Passemos a considerar outras

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manifestações, instruamo-nos livremente, sem idéiaqualquer preconcebida.

Estes exercícios físicos, extravagantes eincompreensíveis, são sempre idênticos em toda parte,com variantes mais ou menos estranhas . Entre osinúmeros exemplos que possuo no mele re pertório,destacarei um, recente, que tem completa analogiacom os precedentes. Foram-me comunicado por umpastor evangélico do Ardèche, Senhor Laval, eigualmente observado a rigor. Eis a curiosa narrativaque tomou o número 5208 na correspondênciametapsíquica por mim começada em 1899 . S. Miguelde Chabrillanoux, 15 de Dezembro de 1922.

Prezadíssimo Mestre.Os fatos incompreensíveis que vos relatei no ano

passado e a respeito dos quais me concitastes averificar, com o máximo rigor possível, sãoirrecusáveis. Envio com esta o plano exato da casa eseus arredores, assim como os nomes dessas honestascriaturas assaz prejudicadas com os acontecimentos.Não me oponho a que publiqueis meu nome eendereço, se assim julgardes útil ã vossadocumentação científica. O pobre M. R. muito sofreumoralmente com a pravidade e a crendice do vulgo,considerando-o comparsa de espíritos malignos.Talvez convenha não lhe publicar o nome, que aquivos confio discretamente, para infirmar no vossoconceito o valor científico do documento.

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Este Senhor M. R. é agricultor na Comuna de. . . epossui num burgo próximo uma quinta com uma velhacasa, não longe da qual há uma outra pertencente aoSenhor E... O Senhor M. R. costuma visitar a suaherdade na época dos grandes trabalhos agrícolas. Asvivendas mais próximas estão a 400 metros dedistância. Ai tende, a vista, a situação das duas casascom as suas granjas, regatos, caminhos, prados,vinhedos, bosques, etc. Assinalo os aposentosatingidos pelas pedras e maçãs, bem como o ponto, n ocruzamento de dois caminhos, onde fui eu mesmoatingido por uma pedra, que me roçou verticalmenteda cabeça aos pés. As pedras começaram a cair nosprimeiros dias de Setembro de 1921 e continuaram,sem tréguas, até fins de Dezembro. A fase de máximaintensidade, pode-se dizer que foi de 1 a 10 deOutubro. Elas caiam, a toda hora, em pleno dia, ealvejavam o Senhor M. R. até no campo, a 200 metrosda casa. A porta de entrada foi atingida, quebrada ajanela n. 1, e a n. 2, que da para um terreno baldio com400 metros de extensão, foi a que mais sofreu. Aspedras choviam sem que se pudesse saber como, poissó eram vistas quando atingiam o alvo. Outras caíamem sentido vertical. M. R. tem 3 filhos: Heli, André eHenrique, de 12, 17 e 22 anos respectivamente, o squais foram logo suspeitados e, conseqüentemente,vigiados, espreitados a rigor, sem que nadadescobrissem. Um domingo, o Senhor M. R. me pediu

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lhe redigisse uma queixa ao Procurador da República.Procurei, antes do mais, certificar -me pessoalmentedos fatos. No dia seguinte, achava-me às 5 da tarde nopátio da casa, tendo à minha frente dois dos rapazes,quando uma pedra do tamanho de um ovo de galinhacaiu verticalmente, resvalando por um deles, sem omolestar.

Pouco depois, outra pedra me roçou nas mes mascondições, a 50 metros distante da casa. Os rapa zesestavam defronte de mim, não podiam ser os autoresda façanha. As pedras chegavam com poucavelocidade, dando a impressão de caírem da altura de2 metros, no máximo. Esta uma obs ervação que fizmuitas vezes. E incompreensível. Resolvi recolher -mee nada ocorreu durante a noite. No dia seguinte às ?horas, enquanto M. R. e seu amigo Senhor D.trabalhavam no quarto junto da cozinha, duas maçãsbateram no pára-brisa de uma janela e foram tocar aM. R. A primeira maçã despregou uma velha tábua dopára-brisa, que apenas se sustinha nas outras, e passounessa abertura. O Senhor D., atribuindo-me o feito,exclamou: - E' você, Laval, que assim aí diverte?Julgai da minha surpresa. E' verdade que no momentopreciso eu me achava no local, do lado de fora edefronte da janela visada. O mais curioso é que sentique alguma coisa batia no pára -brisa; mas nada vi.Percebendo que não fora eu o autor da brincadeira, oSenhor D. tratou logo de investigar o que se passava.

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Segundos após, duas outras maçãs, atravessando amesma fresta, caiam no quarto, aos pés de M. R...Como da primeira vez, ouvimos o ruído, mas nadapercebemos. Grande a nossa estupefação. O Senhor M.R., exímio caçador, que, ainda na véspera, juraradesentocar os culpados, confessava nada compreenderde tudo aquilo. Evidente que as maçãs vinham de fora,em plano horizontal, e com bastante velocidade. Seriaimpossível, a quem quer que fosse, ocultar-se empleno dia, defronte de uma janela que abre para umterreno de 400 metros, totalmente descoberto. Osujeito mais hábil, a menos que se colasse à janela,jamais conseguiria intrometer a maçã num orifício dealguns centímetros, por mais certeira que lhe fosse amão .

Enquanto estávamos do lado de fora, ouvimos umchoque contra a janela, mas nada vimos que o pudesseter produzido. M. R. apelou para a Delegacia deGourdon, que ali acorreu. Nos quatro meses queduraram os fatos, havia tempo bastante para descobrirqualquer tramóia dos rapazes. O Senhor M. R. chegoua suspeitar do seu único vizinho, Senhor E..., que temtambém dois filhos de 17 e 22 anos. Interrogueiseveramente a família E... que me replicou: - Sabemosque nos acusam, mas nós estamos inocentes. O chefeentregou-me a carta junta ao relatório e declar ou-mesubmeter-se a todas as devassas. Por demonstrar seu

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alheamento de todo esse negócio, deu -me uma provairrefutável, afirmando-me textualmente:

1 ° - No dia 25 de Setembro, ao meio -dia, meufilho mais velho saíra a compras e o mais moçoachava-se acamado. Por mim, há essa hora, mantinha-me simplesmente à, cabeceira de meu pai agonizante.O Senhor M. R. veio pedir-me a espingarda e eu láestive com ele, em sua casa, experimentando a arma.Poucos minutos depois, duas pedras batiam na porta.Estava eu, portanto, junto do Senhor M. R., e meufilho, esse, lá se conservava no leito.

2.° - A 6 de Outubro, à,s 6 horas da manhã,conversava com o Senhor M. R. no pátio da sua casa etínhamos junto de nós os rapazes, os meus e os dele,quando duas pedras caíram no t eto e outras duas naporta da granja.

O Senhor M. R. acreditará no que por aí se diz damorte do pai dele? Quererá ele, porventura, iludirtemores ancestrais, atribuindo aos vizinhos essesfenômenos? E' possível que assim seja e, tanto maispresumível, dado o afervoramento da sua devoção,depois desses acontecimentos.

O pai dele, que atingiu idade avançada, foi, navelhice, atacado de loucura. Um dia, ausente o filho,fugiu, desapareceu. Os parentes debalde o procurarame acabaram convictos de que se afogar a no rio e foraarrastado pela corrente. Sete meses mais tarde, umcaçador que vadeava o marnel existente entre X... e

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X..., deu com um cadáver à flor dágua estagnada.Chamaram então a polícia e um médico, que disse aoSenhor M. R. : - Uma vez que reconhece o cadáver deseu pai, o melhor é enterrá -lo logo, para evitarcomplicações judiciárias. M. R. obedeceu ã sugestão,uma cova foi apressadamente aberta e o esquife levadoao cemitério, quase às ocultas, sem assistência dopadre. O cura de X..., homem argut o, tirou partido dosfenômenos para si e os seus fiéis censuram a M. R. ohaver privado a alma paterna dos socorros da religião.Não é desculpável a suspeita de M. R., atirada àfamília E. O Senhor E. é estimadíssimo no local,exerce há vinte anos o mandato de conselheiromunicipal, eleito sempre por grande maioria. Eis,finalmente, a declaração há pouco referida:

Tendo vivido de há muitos anos, como bonsvizinhos, em perfeita harmonia com o Senhor M. R., aquem considerei sempre um bom vizinho, declaro, emconsciência, que nada tenho com os fenômenosinexplicáveis, ocorridos em sua casa. - J. E.

Como explicar esses fatos ? - escreve-me o pastorLavai. - Estaremos, sem o saber, mergulhados nummeio psíquico desconhecido? Existirão forças eletropsíquicas a manifestarem-se em tal maneira? Depoisda leitura do seu livro - Os Caprichos do Rato, pensohaver compreendido que alguns fenômenos elétricosse associam a um psiquismo inexplicável para nós.Terá razão o senso comum atribuindo esses fenômenos

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a Espíritos desencarnados ? Mas, então, porque essasmanifestações extravagantes? Depois de havercoordenado uns tantos fatos análogos, terá o senhorencontrado alguma conexão entre os assombramentose os suicídios, crimes, mortes trágicas? Aqui na vila asinterpretações divergem. A maioria opina pelamanifestação dos mortos; outros boquejam que opároco representa o prestidigitador, de quem temossido vitimas, Outros há que só querem ver embuste:Meu avô, pastor ortodoxo, tudo recusa em bloco,estribado nuns tantos versículos bíblicos. Eu, paramim, tenho que a realidade das observações nãocomporta a presunção de fraude. Quanta à hipótesealucinatória, tão-pouco se agüenta, de vez que maçãs epedras são coisas concretas. Prefiro, assim. afetar estesfatos ao domínio do Desconhecido, enfileirando-meentre os que o senhor inculca ao estudo dosintelectuais competentes. Afinal de contas, serão essesfenômenos mais misteriosos que os outros c ujanatureza conhecemos e explicamos? Talvez sejam,apenas, mais raros e dificilmente constatados. Só aausência de sã filosofia autoriza rejeitar a priori o queultrapassa a esfera dos nossos pensamentos habituais.O mundo que vemos e sobre o qual se exerce nossopensamento, não deve passar de fraco reflexo darealidade objetiva. O senhor descobriu os liamesenigmáticos entre a agulha imantada e as tempestadessolares. Outros laços mais misteriosos devem unir os

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mundos e os seres, através de inúmeras gradações pornós ignoradas. As forças novas, que mal apreende mos,serão cabedais de estudo assaz interessantes para oscientistas do futuro.

Esses fatos, talvez insignificantes na aparência, hãode modificar um dia a nossa concepção do mundo e davida.

Eu nasci em Treignac, na Corrèze, em 1885ultimamente, em minha cidade natal, ouvi falar de umacasa que 30 anos antes fora assombrado, casa queainda existe, a 7 quilômetros de Treignac. À noite aspedras caíam no meio das pessoas que vigilavamconchegadas ao fogão, e, durante o dia, à plena luz,choviam grãos de centeio e de trigo mourisco sobre acabeça dos presentes embasbacados. Convém assinalarque o proprietário da casa se suicidara em condiçõestrágicas. De acordo com a sua opinião, digo que épreciso tudo estudar, sem idéias preconcebidas.

Laual (Pastor evangélico) .

Está a ver que estas observações oferecem a maioranalogia com as precedentes . No interregno que vaida casa da rua das Nogueiras a esta do pastor Lavai -1860 -1922 - tomei conhecimento de mais de umacentena de casos desta natureza. Este foi observadocom particular cuidado e agradeço ao comunicante oseu relato, que pode auxiliar -nos a esclarecer estesproblemas, cujos estudos são variados e numerosos. Só

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pelo que me diz respeito, este corresponde ao n.° 5208da correspondência metapsíquica iniciada em 1899, jáprecedida de muitos e variados documentos. O quemais nos impressiona, nesses eventos, é a suabanalidade, a dar idéia de forças estúpidas e, todavia,trágicas às vezes . Depois, vem à circunstância de aeles se associarem, quase sempre, crianças e raparigashistéricas, daí resultando que os exames superficiaisnão prossigam e vejam todos, nessa coincidência, umajustificativa de fraude. Ora, o estudo mais profundodestes casos mais notáveis, provou que há forçasdesconhecidas em jogo, e que, muitas vezes, essascrianças e adolescentes são as suas primeiras vítimas .Tenho à vista, neste momento, grande número deprocessos sumariados, de resci são de contratos porinabitabilidade dos respectivos imóveis.

Como já o assinalamos, esses lançamentos depedras e maçãs nas parecem tão infantis quantoabsurdos. Mas, se ali se deu o suicídio do antigoproprietário e se os seus manes subsistem, talvezpudéssemos ver nessas traquinados atos póstumos deum camponês . Voltemos, contudo, à primeira visada,que remonta aos anos próximos de 1860.

*

Há esse tempo e sempre sob as nossas vistas, porassim dizer fui informado por excelente observador - o

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Conde de Oouches, que cooperava com o Barão deGuldenstubbe e com o General de Brevcrn - de quefenômenos tão misteriosos e inexplicá veis como os deParis, foram observados em Poitiers. A esse respeito,guardei o relatório publicado no Journal de la Vienne,de 21 de Janeiro de 1864, e que aqui o transcrevo

De 5 ou 6 dias a esta parte, ocorre em Poitiers umfato tão extraordinário, que se torna o tema de todas asconversas e provoca os mais estranhos comentários.Todas as noites, a partir das 6 horas, estranhos rumoresse fazem ouvir em uma casa da rua Nova de S . Paulo,ocupada pela Srta. de 0... Esses rumores, ao que nosinformam, assemelha-se a tiros de artilharia, pancadasviolentas nas portas e janelas, etc. A princípio,supuseram que tudo provinha de garotadas vadias, oude vizinhos mal intencionados, pelo que organizaram amais severa vigilância. Atenta à queixa do inquilino, apolícia tomou providências tão minudente, quãorigorosas, colocando agentes dentro e fora do prédio.Os rumores não cessaram, contudo, e nós sabemos defonte segura que o Brigadeiro M... foi, ã noite deanteontem, vítima de um desmaio, do qual ainda nãodespertou. Toda a cidade está preocupada com omistério. As indagações e batidas da policia nãoderam, até agora, nenhum resultado. Cada qualprocura decifrar o enigma à sua maneira. Osestudiosos do Espiritismo atribuem aos Espíritosbatedores essas manifestações, mercê de um famoso

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médium, que aliás já não reside nesse quarteirão;outros, lembram que nessa rua existiu outrora umcemitério, e daí já se podem avaliar quantas conjeturaspululam a respeito.

De tantas explicações, não sabemos qual averdadeira e o que só podemos afirmar é que a opiniãopública se encontra grandemente emocionada. Aindaontem à noite, enorme multidão se juntou defronte dacasa, tornando-se necessário requisitar um piquete do10.° de Caçadores para dissolvê -la. No momento emque estamos escrevendo esta notícia, os gendarmesocupam a casa. A primeira idéia que acode, nestescasos, é a da fraude, pelo que fizeram rigorosoinquérito, inteiramente negativo. Os exorcismos foramtambém tentados, sem proveito algum, visto que,interrompidos por instantes, os ruídos logorecomeçaram mais violentos e - dizem - semelhantesao estouro de pequenas bombas. Mas. . . de ondeprovëm elas ? Até agora, ninguém lhes pôdedeterminar a trajetória. Do sub solo não pode ser, vistoque tiros de pistola disparados no porão não se ouvemno primeiro andar.

Num terceiro artigo, o magno jornal pensavacontentar toda a gente com as seguintes linhas:

Vimos recebendo, há algum tempo, cartas deassinantes nossos e até de pessoas residentes fora doDepartamento, nas quais nos pedem noticias maiscircunstanciadas a respeito das ocorrências da rua S .

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Paulo . Mas, nós já dissemos tudo o que sabíamos. E'absolutamente certo que os rumores se apresentamtodas as noites, das 6 da tarde ã meia -noite, na casa daSrta. 0... São ruídos semelhantes a descargassucessivas de uma arma dupla, que fazem estremeceras portas, janelas e tabiques. Ninguém vê fogo, nemfumaça, e tão-pouco a cheiro de pólvora. São fatosobservados por pessoas circunspetas e fidedignas, eanotados mediante inquérito da policia, requerido pelafamília mesma do Senhor

Conde de 0... O Senhor H. de Orange tudo atribui acausas físicas, gases que se desprendem de velhocemitério sobra o qual estaria assentada a casa...Entretanto, a verdade é que a casa foi alicerçad a narocha e não há qualquer subterrâneo ou galeria quecom ela se comunique. Por nós, o que pensamos é queesses fenômenos que se vem repetindo há mais de ummês, roubando o sossego de uma família respeitável,não ficarão definitivamente envoltos no mistério.Acreditamos haja uma habilíssima trapaça, e nãoduvidamos que os defuntos da rua S. Paulo acabemajustando contas com a polícia correcional .

Mas apesar de tudo, a verdade é que não se apuroucoisa alguma e a polícia correcional deixou de lado aforça misteriosa e a causa daqueles tiros e ruídosinsólitos .

Como disse, os fatos se deu na residência do Condede Ourches, cuja irmã, Srta. de Ourches, é médium ou,

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melhor dito - dinamógena, segundo a denominaçãoque propus.

A propósito dessa casa de Poitie rs, podemos notarque, em tempos idos, fenômenos análogos ocorreramno mesmo quarteirão.

Gürres, o conhecidíssimo autor da célebre obra - ATIistica - nos conta que, segundo Guilher me deAuvergne, bispo de Paris f alecido em 1249, umEspírito batedor se havia introduzido em uma casa doquarteirão S. Paulo e atirava pedras que quebravam asvidraças. Pedro Mamoris, professor de Teologia, autordo Flagellum Maleficortun, registra o mesmo caso.Certo Espírito atirava pedras, arrastavam móveis,quebrava louças, chegava mesmo a atingir de leve aspessoas, sem que pudessem saber como operava.

Há esse tempo, o cura de S . Paulo, João Delorme,teria vindo acompanhado doutras pessoas visitar olocal de tão estranhos acontecimentos e, munido develas bentas, água benta e água gregoriana, percorreratodos os compartimentos, exorcismando . . . Notemosesta coincidência de localidade e prossigamos.

Eis agora manifestações observadas em Fives,perto de Lile, na mesma época. Pode ler -se noIndependente, de Douai, números de 6 e 8 de Julho de1865, a seguinte narrativa de fatos tão bizarros, quantoinfantis:

I - Há cerca de 15 dias que, na rua do Priorato, emFives, se vêm desenrolando fatos inexplicáveis e

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alarmantes em todo um quarteirão. E' que, no pátio deduas casas ali existentes, cai, a intervalos, verdadeirachuva de projéteis a quebrarem vidros, a atingirem porvezes os moradores, sem que possam descobrir deonde partem, nem quem os lança. A coisa foi a talponto que dois inquilinos julgaram necessário gradearas janelas, para se resguardarem. A princípio, osinteressados montaram guarda; mas acabaramchamando a polícia, que, seja dito, vem mantendo ali amais ativa vigilância, sem impedir, contudo, acontinuação dos bombardeios. Um agente chegoumesmo a ser atingido nas costas, quando procuravaexplicar ao companheiro a parábola descrita pelosseixos antes da queda. Um vidraceiro que procuravareparar alguns danos, foi igualmente atingido nascostas. Indignado, largou logo a tarefa, jurando quehavia de descobrir o autor da façanha, mas, nem porisso, foi mais feliz que os outros. Ao fim de algunsdias, notou-se que os projeteis diminuíam de volume eaumentavam quantidade, de sorte que a emoçãopopular perdura. Nada obstante, há. esperanças de serem breve esclarecido o mistério de tão estranhoevento.

II - Os estranhos fenômenos em curso na rua doPriorato, desde o dia 14 do corrente, e dos quais já nostemos ocupado nestas colunas, entraram em nova fase,de sábado para cá. Não se trata agora de projeteisatirados de fora, com estrondo, contra portas e janelas

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e, muito menos, contra as pessoas. Eis o que sucedeagora. No sábado caíram no pátio oito setes e cincomoedas belgas de 2 cëntimos .

A dona da casa vendo, ao mesmo tempo,trepidarem móveis e tombarem cadeiras, cham ou pelosvizinhos. Estes, tanto que levantavam as cadeiras, logoas viam de novo derrubadas, ao mesmo tempo em queuns tamancos esquecidos pela criada, no jardim,matracavam cadenciados, como se alguém com elesestivesse dançando.

À tarde, uma folhinha colocada em cima do fogãovotijou no ambiente, enquanto uns sapatos saltavam dochão c caíam de sola para cima. Quando caiu à noite, adona da casa, resolveu ficar de vigília. Apenas se viusozinha, ouviu o baque de uma lâmpada de encontro àchaminé, e, mal tentava apanhar a lâmpada, já umconchário rolava por terra. Procurou igualmentelevantá-lo e outra lâmpada bateu-lhe nas costas.Manobras que tais, tomaram parte da noite. Enquantoisso, a criada, que dormia no primeiro andar, entrou agritar por socorro e foram encontrá-la tão apavoradaque não deixava dúvidas quando afirmava ter sidoespancada. Fizeram-na descer e deitar-se num quartovizinho, mas, dentro em breve, eis que se lamentava ehouve quem ouvisse as pancadas que lhe aplicavam.Essa rapariga adoeceu, teve de recolher-se ã casapaterna. Domingo de manhã, soas e cêntimos belgastornaram a cair no pátio. À tarde, a Senhora X... lá foi

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com uma de suas amigas e, depois de percorrer a casatoda, nada viu de anormal. A porta mantinha -sefechada, ninguém poderia entrar. Voltando a penates, aSenhora X. . . encontrou desenhado em seu leito umgrande 8, com os lenços e meias que tinham sidofechados no armário.

À noite, acompanhada pelo marido, o sobrinho eum pensionista, que eram todo o pessoal da casa, e lavisitou todos os compartimentos e no dia seguinte demanhã, ao subir ao quarto antes ocupado pela criada,encontrou sobre o leito um desenho extravagante,formado com carapuças e toucados. Na escada, embaixo, uns dez degraus forrados com casacos domarido, do sobrinho, do pensionista, encimados de umchapéu, Ao varrerem a sala de jantar, viram aparecerrepentinamente duas facas espetadas no soalho e outrana parede. Cai no pátio uma chave, era a da porta darua e logo a seguir a da escrivaninha, e lenço samarrados, que há muito estavam sumidos. De tarde,foram vistos um circulo formado de roupas, na, camado Senhor M..., e no celeiro um desenho do mesmogênero, arranjado com um canistrel e um capote. Tu doisso é abonado pelos moradores da casa, aliás pes soasinsuspeitas, calmas e ponderadas. A explicaçãodificilmente se encontra, pois que a vizinhança étambém conceituada e há três semanas se desdobra amais rigorosa vigilância. E' fácil imaginar quantosofrem com essas coisas os moradores da casa.

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Começando por gradear as janelas do pátio, houver amde abandonar em seguida os cômodos visados, para seencontrarem agora encantoados, por assim dizer, emdois ou três compartimentos, até que findem seusdissabores .

Estes fatos, tanto quanto os precedentes, da rua dasNogueiras, da rua des Grès e de P oitiers, puseram emcheque a argúcia e vigilância policiais . Diante deacontecimentos assim presenciados e multiplicadoscom abono de numerosas testemunhas, qualquernegativa se torpe impossível. Certo, deverá hav er nissoalgum exagero, mas, também há fatos evidentes epositivos. Eles me foram atestados pelo CoronelMallet, homem de real valor científico, que seinformou in loco com os próprios interessados.Podemos, então, assegurar a realidade dos fatos econfessamos que eles são absurdos, idiotas,inexpressivos, assemelhando-se a traquinadas degarotos astuciosos, e que esta seria a explicação maislógica se permitido nos fosse aplicá-la. Moedas?Sapatos que saltam e mudam de posição?Deslocamento de móveis? Pancadas? Não mais quevulgaridade, como nos casos precedentes. (Todavia, ascamadas inferiores da Humanidade pouco maisespirituais se afirmam.)

Criançadas? Perfeitamente; mas, o grande caso éque nada se pode apurar e nós vamos ver, mais de

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espaço, que esses movimentas também se operam emquartos hermeticamente fechados.

Antes de passarmos adiante, advirtamos que aintervenção das almas do outro mundo não nos pareceabsolutamente indicada, pois antes dizermos diabólica.Imaginamos, mui naturalmente, fenômenos elétricos, alembrarem os do raio, mas com tal ou qual intençãorudimentar. Essas manifestações deixam -nos ver porum lado fenômenos naturais, sem significaçãoaparente, e por outro lado manifestações de Espíritose, ainda aqui, certas propriedades orgâni cas decriaturas jovens, porventura a elas associadas. Vê -se,pois, quanto o fenômeno é complexo. Mas, seja comofor, o que se não pode recusar é a existência de forçasinvisíveis e desconhecidas, em jogo. Não poderiahaver, na atmosfera, entidades psíquic as desprovidasde qualquer valor intelectual e moral? NossaHumanidade carnal está cheia delas... De vez que aalma não perece, que é feito da alma dos idiotas? E ados animais, superior a de uns tantos homens ?

*

Uma das casas mal-assombradas que mereceumaior estudo e atenção, foi a de Glasgow, naInglaterra, por mim retro-citada quando me referi àSociedade Dialética de Londres, expressamente

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organizada para estas investigações. Eis o relatório deuma testemunha ocular:

Ivy Bank, Glasgow, 30 de Agosto de 1869

O fato passou-se há alguns anos e eu pude observá -lo pessoalmente, enquanto a polícia procedia aorespectivo inquérito .

Foi em Abril de 1864. Toda a população de Scott'sLane, Port Glasgow, impressionou -se grandementecom os tabiques de um compar timento ocupado pelojardineiro Hugo Cardle e família. Duas semanas haviaque os ruídos se' prolongavam por toda à noite e, desdeque a nova se espalhou, era de ver -se a multidão decuriosos que ali se juntava na rua, até as 10 horas.Escada, ante-sala e todo o compartimento,regurgitavam de curiosos, enquanto os policiaiscirculavam procurando manter a ordem. Meu primeirocuidado foi uma inspeção da casa, auxiliado pelovendeiro James Fegan .

Enquanto me detinha no cômodo onde começava otabique, entrou o sargento acompanhado do meirinho.Expus-lhe o fim da minha visita e, como também eledesejava descobrir a fraude, prontificou -se me fazercompanhia. As pancadas começaram às 9 horas eprosseguiram por mais de uma hora. Os primeirosruídos assemelhavam-se ao atrito de dois sarrafos nãoacepilhados. Depois, como que marteladas noassoalho, em baixo da cama, situada quase no tope da

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escada que dava para fora. Eu e o sargento Mc Donaldmunimo-nos de velas para aclarar o local ondepercutiam as pancadas. O Senhor Fegan conservava-sedefronte da cama; os Srs. J. F. Anstruther, Esq. eoutros, permaneciam no quarto, por trás do meirinho.Disseram-nos que as pancadas eram dadas, muitasvezes, como respostas afirmativas ou negativas, e nósformulamos perguntas, propondo três pancadas porsim e uma por não.

As pancadas eram violentas e rápidas, vindo antesdo argüente completar a pergunta. No intervalo de umaa outra pergunta as pancadas prosseguiam como queritmadas.There is nae luck about the house... Assobieiesta canção, as pancadas soaram mais fortes,acompanhando-me o ritmo. Assobiei outras melo dias,e desde o segundo verso fo i perfeitamenteacompanhado. Formulei várias perguntas em vozmuito baixa, quase murmurada e de tal jeito queninguém poderia surpreender o movimento de meuslábios, nem suspeitar o teor das perguntas. Nem porisso a manifestação se alterou, nítida, perfeita. Aobadalar das 10 horas, na cidade, as badaladas sereproduziram debaixo da cama e nas paredes . Pediuma talhadeira e arranquei uma tábu a do assoalho, nolocal de onde parecia provirem as pancadas. Elasmudaram de sede, por instantes, mas logoContinuaram. Dir-se-ia que alguém, armado demartelo, estivesse ~, bater nas bordas do buraco por

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nós aberto no assoalho. Este, as paredes, o teto, tudofoi minuciosamente inspecionando. As criançastiveram que sair da cama, as camas foram removidas,revirados os colchões, sacudidas as cobertas. Emsuma: tudo, tudo se fez de molde a descobrir a causado fenômeno. Outras pessoas, entre elas o intendent e eos agentes de polícia, esquadrinharam a ante -sala, ovão inferior da escada e até os porões. Tambémprocuraram imitar o fenômeno, batendo um pouco portoda à parte, mas, em vão.

André Glendinning.

Longe iríamos se aqui reproduzíssemos todos asatestados. Cingir-me-ei a estas linhas:

Atestamos convictamente que a narrativa supra, doSenhor Glendinning, é a expressão da verdade.

JAMES FEGANJAMES M. DONALD .

Há muito que conheço o Senhor Hugo Mc Cardle,jardineiro, e estou absolutamente convencido de que éum homem honesto, sóbrio, laborioso, justo efidedigno.

JAMES FEGAN.

Essas coisas foram presenciadas por muita gente,estranhos e vizinhos, como por nós mesmos.

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Afirmamos, sob palavra de honra, que em nadacontribuímos para produzir esses fenômenos e nãosabemos a que os atribuir. Para nós, eles permanecemabsolutamente misteriosos. Por mim e por toda aminha família, assino,

HUGO MC CARDLE .

Ainda aqui, banalidade vulgaríssima, mas, nadaobstante, indícios de entidade pensante. (As palavrasgrifadas pareceram-me bem singulares e tive o cuidadode as verificar no próprio relatório inglês, página 261).

Estes fenômenos de comunicação revestem todasas modalidades .

Pareceu-me lógica começar este primeiro bosquejodo assunto com as reminiscências velh as de meioséculo, que têm, no mínimo, o valor intrínseco demostrar que não freqüento de ontem o estudo destesfenômenos; que o meu conceito é fundado em longaexperiência e por isso não posso mais sorrir de unstantos publicistas que se metem a falar do quedesconhecem, com isso induzindo em erronia aopinião pública, quando afirmam que as casas mal -assombradas não passam de farsas indignas da mínimaatenção. O que, na verdade, desmerece atenção, é amentalidade superficial dos escritores ignorantes .

Estas lembranças, de mais de meio século, foramdepois completadas por centenas de observações

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diversas, que as confirmam e ampliam sob váriasformas. Duas grandes classes de fenômenos seimpõem ao nosso exame. Uma concernente a ruídos,agitações, lançamento de projeteis, deslocamento demóveis, movimento de objetos sem conta cto aparente,fatos físicos de telecinesia; outra que diz com asmanifestações inteligentes, seja de espíritosdesconhecidos e incognoscíveis, seja de pessoasfalecidas, defuntos, almas penadas. Aí estão duascategorias bem diferentes e tudo está por estudar,porque nada se sabe a preceito.

Ao tempo de Descartes, a Ciência não estavaorganizada para a observarão direta dos fatos, pormétodo oposto à dialética das discussões nominais.Hoje, essa organização, longe de estar concluída,precisa continuar, aditando aos fatos físicos os deordem psíquica, não menos importantes.

Laplace dizia no leito da morte : O que sabemos épouco, o que ignoramos é muito. O que vigorava paraos tempos de Laplace, prevalece ainda hoje, apesar dosprogressos da Ciência, ou antes e maiormente, devidoa eles, pois cada passo avante no conhecimento dascoisas nos deixa entrever horizontes novos. O preceitoé, sobretudo, aplicável às observações metapsíquicas,das quais nada compreendemos. Ai é todo um mundonovo que nos depara e que não temos, parece-me, odireito de qualificar de sobrenatural. Não deve aNatureza tudo abranger, tudo conhecer?

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Acabamos de expor as observações feitas mesmoem Paris, em 1860 e 1849 ; as de Poitiers em 1864, deFives-Lille em 1865, da Glasgow em 1864, etc .Teremos de escolher, entre centenas de outras, paradiscutir as bases do nosso estudo. Não se passa um anoque não tenhamos um que outro caso de casa mal -assombrada.

Antes de passarmos adiante, registremos umexemplo assaz curioso, destacado da Revista deEstudos Psíquicos, dirigida pelo lealdoso e competenteescritor C . de Vesme (Agosto de 1904)

O poeta inglês Stephens Phillips, conhecidosobretudo pelos dramas Herodes e Paulo e Fran cisca,desejando repousar num ambiente tranqüilo, a fim deconcluir importante trabalho, alug ara uma casa decampo nos arredores de Egham, pequena e calmacidade vizinha de Windsor sobre o Tamisa. Todavia,diz ele, em conhecerem meus pendores e propósitos,ninguém teve a gentileza de me prevenir que a casatinha fama, de mal-assombrada.

Mal me instalei e logo estranhos rumores entrarama apoquentar-me. À noite, vezes à tarde, erampancadas, rangidos de tábuas, rumores fortes oubrandos demorados ou rápidos. Dentro em pouco,surgiram os gritos, abafados, angustiados, como depessoa aterrorizada e preste a ser estrangulada . Mas,não apenas isso, pois que víamos, mesmo a pleno dia,as portas abrirem-se e fecharem-se automaticamente.

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Sempre que eu me ensaiava, p or exemplo, paraescrever no meu gabinete, não deixava de serincomodado, como se alguém ali houvesse penetrado eandasse no quarto vizinho, pisando forte. Vo ltava-me,então, e via abriu a porta, movida por força invisível,continuando a ouvir passos de um lado para outro.Nunca tive medo de coisa alguma. A verdade, porém,é que esses fenômenos acabaram por me irritar eimpressionar. A tranqüilidade tão ardentementeambicionada tornava-se impossível. De resto, não erasó eu que ouvia aqueles barulhos; a família e oscriados estavam mais impressionados do que eumesmo. Uma noite, minha filhinha chamou -me paradizer que vira no jardim um velhinho - assim umafigura de anão - que logo desaparecera.

O pobre poeta não suportou muito tempo às noitesde insônia. Jamais residira daquela região, mas teve ocuidado de proceder a um inquérito e sempreconseguiu arrancar aos prudentes campônios aconfissão de uma legenda a respeito daquela casa.Diziam que no local em que a construíram ocorrera, 50anos antes, um crime atroz : - um vagabundo ali teriaestrangulado uma mulher e o filho desta. Quando aspessoas da casa tiveram conhecimento da lenda,generalizou-se o pavor, os criados fugiram,esquecendo até de receber os ordenados. Só nomomento de partir é que o Senhor Phillipa soube não

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ser ela a única vítima. Todos os inquilinos que oprecederam tinham-se mudado às carreiras

Não creio - declara o autor do Herodes - seja eu umhomem pobre de espírito,, mas sempre desejaria medessem uma explicação. Nessa expectativa, aband oneia Casa .

Tendo noticia destes fatos, a sapiente quãocircunspeta Sociedade Inglesa de InvestigaçõesPsíquicas nomeou uma comissão de inquérito, queconstatou a autenticidade dos ditos fatos, sem lhesdescobrir o mistério. Notemos que, neste caso, nadaindica a presença da causa orgânica (moça ou rapaz) aque antes aludimos.

Esta casa mal-assombrada provocou muita celeumana Inglaterra. O próprio Senhor Phillipa concedeudiversas entrevistas a respeito. Tudo marchou bem,enquanto ele ocupou a casa; logo que se mudou, oproprietário, Senhor Artur Barrett, não mais achouinquilinos. Ninguém queria conviver com espíritosinvisíveis, que abriam e fechavam portas e janel as;batiam nos móveis e nas paredes, etc. O Senhor Barrettintentou, então, um processo de perdas, e danos contrao Daily Mail, que foi um dos jornais que se ocuparamdoa assombramentos de Egham, e também contra oLight, que reproduzira o publicado. O primeiro, foicondenado a pagar 90 e o segundo 10 libras . O DailyMail recorreu da sentença, alegando a dificuldade emque ela colocava a imprensa para tratar de tais

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assuntos, e o segundo julgado lhe foi favorável, atentaà circunstância de ser a casa já conhecida como mal -assombrada, antes de haver o jornal noticiado os fatos.Reconhecia-se à imprensa o direito de agasalhar taisfatos, uma vez que o fizesse de boa fé, sem intençãodeliberada de prejudicar alguém.

Incidentes que tais, não são tão raros quanto osjulgam. Por mim, confesso que os negadores é que mesurpreendem. Lombroso escrevia,.há muito tempo, quemais de 150 casas, na Inglaterra, tinham sidoabandonadas por mal-assombradas. Saboreie-se estahistória.

A excelente revista italiana Lute e Ombro publicou,em 1905, com a assinatura de V. Cavalli, um artigointitulado - Processo radical para apanhar os espíritosdas casas mal-assombradas - artigo aliás interessante .Aqui o traduzimos:

Será um recurso dificilmente aceitável, mas,parece-nos que é o único meio eficaz, em certos casosextremos, quando, por exemplo, aparece uma casafantasmógena, isto é, quando nela somente seencontram as condições psíquicas necessárias e aindaignoradas, dessa física provisoriamente transcendental,com manifestações turbulentas de entidades ocultas.Esse meio é arrasar totalmente a casa.

Essa prática, como outras muitas, vem de longe naantiguidade. Eis um exemplo curioso, do século XVI.

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Fernando de Aragão, rei de Nápoles, entre asmuitas dádivas ao seu secretário, o célebre JoãoPontano, deu-lhe uma torre quadrada e muito alta, quedepois se chamou Pontaniana. Ora, essa torre, dizCapaccio em sua História Napolitana, liv. 1, pág. 61,houve de ser demolida como tomada e monopolizadapor cacodaemona incoli. Lógico é supor que, paradecidir a demolição de um edifício assim importante,não sô pela sua antiguidade como pelo valor histórico,teriam concorrido motivos sérios, e que a escolha dosmeios radicais só pode significar que outros nãoencontraram para invalidar o fenômeno. Outroexemplo, mais recente, é o apontado pela SenhoraCrowe em seu apreciado livro - Os lados obscuros daNatureza, onde lemos que o grande Frederico daPrússia mandou arrasar uma casa mal -assombrada naaldeia de Quercey, Não podemos admitir que ovoltaireano monarca tomasse precipitadamente umaresolução tão radical, de vez que mandou ao localoficiais de sua guarda, a fim de verificarem asmanifestações propaladas. Ora, os mensageiros reais,tanto que se aproximavam do local, se viramprecedidos e acompanhados de uma c haranga militar,cujos músicos não puderam lobrigar. Um capitão,surpreso, gritou: é coisa do diabo! - e logo recebeu umgrande sopro no rosto,

Eis outro caso ainda mais recente:

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A Senhora Ida Pfeiffer, célebre viajante, mulherinteligente e de caráter varonil, registrou em suasegunda Viayeni ao redor do Mundo, pág. 340, oevento de lamentável assombramento (infestazione)ocorrido em 1853, em uma casinha de Cheribon, ilhade Java.

A população ficara tão impressionada que oGoverno holandês encarregou um ofic ial de inteiraconfiança, de autenticar os fatos. Esse observador ,estupefato, empregou todos os meios para descobrir acausa do que via, mas, acabou desistindo. O Governoresolveu, então, para liquidar o assunto, mandardemolir a casa.

Assim ficamos sabendo que empregavam tãoradical medida para acabar com as assombraç ões.Também a propósito de bruxarias, soubemos quequeimavam, não só as pessoas, como os objetosincriminados.

Será que o sublata causa, tollitur ef fectus tem aquicabimento? Suprimir-se-á a causa? Ou, apenas, ascondições necessárias ã sua atuação ? Cum Hoc nãoequivale, em boa lógica, a propter hoc. A causa podeser de natureza psíquica, inteligente, e a condiçãomaterial. Estes casos de locis infestis, muito ao invésdo que podemos supor, são dos mais obscuros napsicologia transcendente: Espiritismo, mé diuns, forçaódica, que há de fundamento em tudo isso? De háséculos que se vem batendo o campo em todos os

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sentidos e pouco, quase nada se há encontrado.Escava-se muito sem atingir a fonte. Ainda mais queda Medicina, podemos repetir com Hipócrates : - Arslonyua, frita brevis .

Do estudo da revista romana guardamos s omenteisto: o assunto deste livro tem sido universalmentediscutido .

O processo relativo à casa de Egham, suscitoualgumas dissertações algo jurídicas, algo humorísticas,na imprensa britânica. André Lang, antropologistabem conhecido, publicou em o Morning Post umartigo citando os processos que, de todos os tempos, osEspíritos batedores ensejaram, bem como a legislaçãoque acabou por se firmar a tal respeito.

Alfenus, autor do Digesto, é a principal autoridadeem que se apóiam quantos afirmam que o locatáriotem que provar algo mais que o simples terror comum,para que possa obter rescisão de contrato.

Arnaldo Ferton, em Costumes da Borgonha,compartilha a opinião do Senhor Lang. Julga que osfantasmas que perturbam o repouso dos humanos ecriam noitadas sinistras oferecem r azão bastante pararomper os contratos de locação. O Parlamento deGranada perfilhou este critério diversas vezes.

Na Idade Média, Le Loyer citou ( a propósito demanifestações defronte do Parlamento) casas nas quaisos espíritos apareciam ou produziam toda espécie debarulho, inquietando os moradores. Referiu -se a

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Daniel e Nicolau Macquereau, que alugaram uma casapor contrato e não tardou que ouvissem rumores ealgazarra de espíritos invisíveis, sem poderem dormirou repousar sequer . O Parlamento anulou o contrato,admitindo que poderia haver locais mal -assombradospor seres sobrenaturais .

O Senhor Maxweli, advogado nos auditórios deBordéus, encontrou, nos arqui vos da Carta deApelação dessa cidade, diversos julgados do séculoXVIII, concernentes à rescisão de contratos de aluguelpor motivo de assombração. A jurisprudênciacontemporânea também os conta, e assim é que oJournal des Débats, de 18 de Abril de 1912, relata oseguinte.

O Senhor J. Denterlander possui em Chicago,South Dakley Avenue 3375, uma casa de apartamentosde aluguel. Os lançadores do imposto resolveram taxaro valioso móvel tomando por base o aluguel de 12.000dólares. O Senhor Denterlander protestou, alegandoque, ao invés de lucros, a casa só lhe davaaborrecimentos e trabalhos. Nem conseguia arrendá -la,porque era mal-assombrada. O caso é que lá falecerauma rapariga em condições misteriosas, possivelmenteassassinadas; e, a partir dessa data, os i nquilinospassaram a ser perseguido por gritos e gemidos que osnão deixam dormir. Os ditos inquilinos vão -se,desanimados, uns após outros. Pleiteava então umabatimento no respectivo imposto e a comissão o

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atendeu, arbitrando em 8 e não 12.000 dólares o valorlocativo. E aí temes, de paralelo, reconhecidaoficialmente à existência dos fantasmas.

Não é, pois, um romance de fantasia essa históriade casas mal-assombradas . Muito se tem escrito arespeito dessas rescisões e abatimentos de impostos,fundados em tais circunstâncias . Lembrarei aqui,apenas, a tese notável, defendida em Nápoles pelaadvogado Zingaropoli, patrocinando a causa daDuquesa de Castelpoto contra a Baronesa LauraEnglen, em 1907, e cuja premissa é: - se o locatário deuma casa infestada pelos Espíritos tem direito apleitear a rescisão do contrato. Ei s como ele resume aquestão.

Existe a respeito uma doutrina e umajurisprudência muito ricas. A lei mais antiga queassinala o inicio da controvérsia, e da qual partiramquantos hão versado a matéria, é a do jurisconsultoAlfenus, inserida no tomo XIX do Digesto (tit. II, Lei27) .

Iterum interrogatus si quis timoris causaemigrasset, deberet mercedem, nec rem? Respondit: sicausa fuisset cur periculum timeret, quamvispericulum vere non fuisset, tamem non deberemercedem; sed si causa noris justa non fwisset,nihilomiseus debere.

Este fragmento é comentado por Gotofred (trad.Vignali, Digesto, vol. III, pág. 133, Nápoles, 1857)

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O terror deve ser iminente, o locatário tem o direitode abandonar o imóvel, em conseqüência de um terrorjustificado. Lembro-me de que, na minha juventude,meu curador e primo Ludovico Antônio, eloqüenteadvogado no foro de Paris, obteve a rescisão de umcontrato de locação cujo signatário alegava não terpodido utilizar a casa, devido aos espectros que ainfestavam. Afirmava o causídico que, sendo a locaçãosemelhante à venda, era evidente que deveria transferirde pronto ao locatário os riscos decorrentes da coisalocada. Citava testemunhos extremes de qualquersuspeição, recorria aos Santos Evangelhos, isto é, aMateus, capitulo VIII, a Marcos, V, a Lucas, VIII e àpassagem de Plínio, o moço, no Liv. XXVII, bemcomo ao fantasma de Samuel diante de Saul, semesquecer a cita notável de Santo Agostinho em seutratado De cura pro mortuis gerenda.

Os comentários e citações de Gotofred atestam aimportância que atribuíam ao assunto. Na Idade Médiamaior se tornara ela, exagerada pela preponderância daliteratura demonológica. Essas manifestaçõesmisteriosas, distúrbios e prejuízos causados aosmoradores de uma casa, aterrorizavam mais ainda pelaconvicção enraizada de uma origem satânica. Precisofora versar os livros mais conhecidos da Demonologia,tais como o Malleus de Sprenger, o Form icarius deNider, o Disquisitiones magicae do Padre Martinl:odel Rio, bem como os dos teólogos protestantes da

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época, a começar por Lutero, para ver até que pontoacreditavam nos poderes do diabo. Ele, o diabo,intrometia-se em tudo e os mínimos acidentes eramhavidos por maléficos dele. Onisciente, conhecia opassado, o presente, e o futuro.

Grande cópia de citações de autores antigos emodernos ilustra as Disquisitiones do espanhol delRio.

Grimaldi Ginesio, na Istoria delle leggi e magistratidel regnó-àbi Napoli (vol. IX, pág. 4) comentár io àPragmática, de locato et condado, publicado peloConde de Miranda em Dezembro de 1857, escreve oseguinte: Sucedendo que, na casa alugada, o locatário,levado pelo temer pânica, se julgue assaltado porespíritos malignos, chamados em Nápo les deMonacelli, permite a mudança isento de qualquerindenização. Os mais célebres comentaristas doDireito francês tratam longamente dessa questão,mencionando a jurisprudência dos antigos Tribunaisde Bordéus e de Paris.

Troplong, tratando Da permuta e da locação ( art.1702 do Código Civil de Napoleão, correspondente ao1577 do Código Italiano, § 197), assinala este vicioredibitório: a aparição de espectros e fantasmas nascasas alugadas.

Fulano de tal, havendo alugado uma casa - dizCharondas - (Responsi, livro VII, 232 ) , apenas láentrou, ouviu fortes e apavorantes rumores de

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Espíritos que sa tornavam visíveis e lhe causavam, aele e â família, insuportáveis tormentos. À noite, asvisões surgiam e apavoravam as crianças. Por isso,pediu ao proprietário fosse o contrato rescindido eanulado, visto que o dito proprietário sabia, ao fazer alocação, da existência de tais fantasmas, conformeestava informado por outros locatários que oantecederam. O fato ficou exuberantemente provado, esó o direito era controverso. O Tribunal não tomouconhecimento da causa, no que concernia âmanifestação dos Espíritos, por ser isso pertinente àalçada eclesiástica, julgando, todavia, caber-lhe a parteconcernente à observância, dos contratos e convençõespessoais, não encontrando no Direito Romano, nem nofrancês, nada que autorizasse a julgar suficientes aaparição e o temor dos espectros, para rescindir eanular a locação. Assim foi arrazoado e julgado. Hátambém que ver Dalloz (Jurisprudência geral,Repertório de Jurisprudência. Paris, 1853, vol. XXX,pág. 313, § 190) ; Duvergier, n.° 528; Troplong,número 197), etc.

Tal a tese sustentada pelo advogado italiano.Vemos que os jurisconsultos estão de acordo com aopinião geral. Assinalo estes fatos para estabelecerantes de tudo esta verdade: - As casas mal-assombradas foram reconhecidas de muitos séculospela jurisprudência européia.

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Negar os fenômenos é um erro, aliás próprio daignorância, como sucede amiúde com tantas outrascoisas. O assombramento é de todos os tempos. Osteólogos os têm comentado muitas vezes, dado que,por muitos séculos, a cultura consistia na discussão depalavras, ao invés de estudar observando, ouexperimentando as realidades. Assim que, tudoexplicavam com e pelo demônio. Hoje, porém, quaseninguém acredita em demônios e impõe-se, então, umaexplicação mais controlável.

Este primeiro conspecto nos patenteou uns tantosexemplos variados, extravagantes, inexplicáveis,pueris, de uma banalidade algo irritante e, contudo,reais, observados, verificados, subme tidos atestemunhas irrecusáveis, que sofreram vexames ehouveram de abandonar moradias onde seencontravam bem instalados, pleiteando a rescisão decontratos vantajosos. Que significações poderãoatribuir a esses efeitos incompreensíveis, cujabanalidade nos revolta? Eles revelam atos intencionais,idéias confusas, próprias de uma mentalidade inferior.Neste nosso planeta não há exemplos de pensamentosem cérebro e, no entanto, certos efeitos do raio sedeparam tão singulares que deixam a impressão deocultos propósitos, como no caso daquela rapariga, deque se ocupou a Academia de Ciências (Em Torno daMorte, página, 311) .

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Por outro lado, as leis que regem o sistemaplanetário não derivam de um cérebro. Há espírito naNatureza. Que é o instinto da galinha , que choca osovos durante vinte dias para gerar pintos ?

Que significa, a renovação perpetuamenteassegurada de bilhões de seres vivos? Os fatossingulares, que pretendemos aqui estudar, denotamfantásticas manifestações desse espírito desconhecidoe, sem dúvida, incognoscível para nós.

Não passa isto, repetimos, de um primeiroconspecto. Uma excursão mais ampla, nesse terreno,será exposta mais adiante.

Temos grande número de fatos que requeremcuidadoso exame. São tão numerosos mesmo, que,antes de nos embrenharmos no cipoal, julgamosprudente deter-nos em alguns exemplos formais,nitidamente observadas. Começaremos por um dosmais típicos e completos. ~ história verídica edificilmente crível que se vai ler, far -nos-á penetrarprestos no âmago desses la tifúndios tão misteriososdas casas mal-assombradas.

CAPITULO IIIFENÔMENOS ESTRANHOS OBSERVADOS

NUM CASTELO DO CALVADOS

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Aqui, penetramos sem demora, como acabei dedizer, no âmago da questão. Esta exposição deestranhos fenômenos observados em 1875, na,Normandia, foi redigida pelo Senhor G. Morice,doutor em ciências jurídicas, tendo em vista a narrativado proprietário e testemunhas, publicadas em Anais deCiências Psíquicas, do ano de 1893. A honorabilidadee inteligência do proprietário desse castelo, escrevia-me o sábio amigo Doutor Darieux, diretor dosreferidos Anais, não podem ser suspeitas a quem querque seja. Trata-se de homem enérgico, inteligente, queanotou de próprio punho, dia por dia e à medida que seproduziam, todas os episódios do castelo. Essaspessoas atestaram, por sua vez, a realidade dos fatos.Contudo, ele, o proprietário, exigiu do narrador quenenhum nome fosse divulgado. (E restrição quepodemos lastimar.)

Eis a exposição, que encurtarei quanto possível,visto que as observações, sobre serem numerosas,prolongaram-se por muito tempo:

Em 1835 existia, nesta comuna, um antigo castelopertencente à família B. Seu estado de vetustez era detal monta que a restauração foi considerada inútil. Para

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substituí-lo, ergueram novo edifício, a uns 150 metrosao norte. Herdado pelo Senhor X., em 1867, passou elea habitá-lo. Em Outubro desse ano, houve ali umasérie de incidentes extraordinários: ruídos noturnos,pancadas, etc., e que, havendo cessado por algunsanos, reproduzem-se atualmente, segundo informa oSenhor V. em sua agenda de 1875. O castelo de T.sempre gozou da fama de palco fantástico, freqüentadopor Espíritos mais ou menos maléficos, mas a famíliaX. ignorava tais coisas quando ali passou a residir.

Damos, a seguir, extratos da Agenda cotidiano.Esses apontamentos são um tanto extensos, masoferecem grande interesse, pois se trata de verdadeiraprocesso de documentação verbal.

Estamos em Outubro de 1875 - escreve oproprietário - e proponho-me anotar aqui, dia a dia, oque se houver passado em a noite anterior. Devo frisarbem, aqui, que, quando os ruídos se produziam com osolo coberto de neve, nenhuma pegada se encontrav aem torno do castelo. Ocultamente coloquei fios emtodas as passagens e nunca os encontrei partidos.Neste momento, habitamos aqui 8 pessoas, a saber: eu,minha mulher e meu filho; o Senhor Abade X.,preceptor do menino; o cocheiro Emílio, o jardineiroAugusto, a criada Amelina e a cozinheira Celina.Todos os serviçais pernoitam em casa e nos merecemabsoluta confiança.

Quarta-feira, 13 de Outubro de 1875.

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Tendo-nos dito o Senhor Abade que a sua poltrona.mudava de lugar acompanhado pela minha mulher eeu, ao seu quarto e nos cer tificamos atentamente dolocal de cada objeto. No

lugar correspondente aos pés da poltrona tivemos ocuidado de colar papel gomado. Ao retirar -nos,recomendei ao abade que me chamasse tão logonotasse qualquer coisa. As 10 menos um quarto eleouviu na parede uma série de pancadinhas, bastantefortes, contudo, para serem igualmente ouvidas porAmelina,, que dorme no quarto fronteiro.

Depois, ouviu no canto do quarto um ruído comose alguém dessa corda a um relógio; um castiçaldeslocou-se estridente sobre o fogão e, por fim,acreditou ter visto a poltrona automover-se. Sem ousarerguer-se, tocou a campainha e eu logo acudi. Desdeque entrei no quarto, percebi que a poltrona se arredaraum metro, no mínimo, do primitivo local, tombandoem frente à chaminé. Uma arruela, antes junto docastiçal, havia-se sobreposto, Outro castiçal se hav iadeslocado e colocado de maneira a ultrapassar dealguns centímetros a borda do fogão. Uma estatueta,antes encostada ao espelho, havia avançado uns 20centímetros. Ao fim de 20 minutos retirei -me, e logoouvimos duas fortes pancadas no quarto do SenhorAbade, que logo tocou a campainha para dizer -me que

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essas pancadas foram dadas na porta do gabinete, pertoda cama.

Eis uma estréia prometedora. Continuemos a leiturada agenda.

Quinta-feira, 14 de Outubro - Violentas pancadas.Armamo-nos, percorremos todo o castelo, nadaencontramos.

Sexta-feira, 15 de Outubro - Cerca de 10 horas oSenhor Abade e Amelina ouviram, distintamente,passos imitando os meus e de minha mulher, bemcomo a nossa voz. Pareceu -lhes que vínhamos pelocorredor em demanda de nossos apo sentos. Amelinateima que nos ouvia falar e que depois abríamos aporta; e tanto é verdade, que não teve medo algum.Mas a verdade é que nós estávamos dormindo e nadaouvimos .

As 11 e um quarto toda a casa desperto u com aspancadas violentas do quarto ver de, Augusto e euentramos a percorrer a casa, e, quando na sala,ouvimos barulho na dispensa. Lá fomos e.. . nada!Tornamos a descer. Minha mulher e Amelina ouvemarrastar um móvel no primeiro andar, onde não havianinguém. Parecia que o móvel tinha tombad o emcheio.

Sábado, 16 de Outubro - Fomos todos despertadospor fortes pancadas, cerca da meia-noite. A rondaarmada resultou inútil.

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Segunda-feira, 18 de Outubro - Aumentaram astestemunhas: o vigário da paróquia resolveu pernoitarno castelo, desde sábado. Ouviu ele, perfeitamente, osrumores e resolveu passar aqui as noites paratestemunhar o que ainda pudesse ocorrer. Esta noitechegou-nos o Senhor Marcelo de X., ficando instaladono 2.° andar e deixando entreaberta a porta do quarto,a fim de melhor perceber a direção dos rumores.Augusto deitou-se no corredor, perto da porta. Porvolta de 11 horas todos foram despertad os com obarulho de uma grande e pesada bola rolassecontinuamente, Pela escada, do 2° ao 1 ° andar. Meiominuto após, fortíssima pancad a isolada, seguida denove ou dez pancadas surdas.

Terça-feira, 19 de Outubro - O cura de M. a nossopedido veio pernoitar aqui. Também ele ouviu pesadospassos na escada, logo seguidos, como na véspera, deforte pancada isolada, partindo do meio da escada dopavimento térreo.

Convencido está de que a coisa é mesmosobrenatural. O Senhor Marcelo é da mesmaopinião.Mais porque sobrenatural? Conhecemosporventura todas as forças da natureza?Continuemos afantástica narrativa:

Os rumores cessaram completamente até a noite desábado, 30 de Outubro, em que todos foramdespertados com fortes pancadas.

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Domingo, 81 de Outubro - Noite agitadíssima.Parece que alguém sobe a escada do andar térreo,batendo com os pés; mas, com agilidade inconcebívelnum ente humano. Ao chegar ao patamar, cincopancadas tão fortes que fazem estremecer objetospendentes das paredes. Depois, dir -se-ia que maciçabigorna, ou grande viga de ferro, marretasse asparedes, de maneira a sacudir a casa toda. Ninguémpode determinar o ponto exato de tais percussões.Todos se ergueram da cama e se reuniram no 1.°andar. Damos uma busca rigorosa, nada lobrigamos,Tornamos a deitar-nos, novos rumores nos fizeramlevantar: Só podemos repousar ás 3 da madrugada.

Quarta-feira, 3 de Novembro - A partir das 10 h.20, todos estamos acordados pelos rumores que sobemceleremente a escada. Uma série de pancadas faztrepidar as paredes. Levantamo-nos e logo ouvimos oruído de um corpo pesado e elástico, c omo quesaltando degrau a degrau a escada do 2.° andar.Chegando ao 1.°, rolou pelo corredor e parou nopatamar. Súbito, duas pancadas fortes, seguidas deformidando estalo, como se vigorosa marretadahouvesse rachado a porta do quarto verde. A seguiruma série de pancadinhas repicadas e repetidas,imitando passos de animais diversos.

Quinta-feira, 4 de Novembro - Esta noite, quandosubíamos para nos deitar, Augusto pediu -me fosse

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ouvir uma série de pancadas lá no 2.° andar, onde elese encontrava, já deitado. Em lá chegando, nada ouço.

Esquadrinhei o sótão e o quarto vermelho, cujaporta deixei aberta. Estão comigo Augusto e Armando,irmão de Amelina e a luz está acesa. Ao fim de trêsminutos, cinco pancadas nitidamente distintas partiramdo quarto vermelho, onde ninguém poderia terpenetrado sem ser visto e, ao d emais - digo -, sob amira do revólver, que, todos o sabem, não largo nunca.Mal desci, outras cinco pancadas foram distintamenteouvidas por Augusto, não tanto por mim, já no andarinferior.

Sexta feira, 5 de Novembro - Às 2 horas alguém seprecipitou escada acima, até o 1.° andar, atravessou ocorredor e barafustou pela escada do 2°, pisando apassos tão fortes que mal se diriam de gente humana.Todos ouviram. Dir-se-iam passos de alguém privadode pés, caminhando com os cotos. Depois, muitas eviolentas pancadas na, escada e na porta do quartoverde.

Quarta-feira, 10 de Novembro a 1 hora damadrugada. Galope precipitado no vestíbulo, pancadaforte no assoalho, seguida de outra mais forte ainda, naporta do quarto verde.

Uma chuva acompanhada de ventania, relâmpagose trovões, fazem mais tétrica esta noite. A 1 h. 20escancara-se a porta do quarto verde. A seguir, duasfortes pancadas na mesma porta, três dentro do quarto

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e, por fim, pancadinhas no 2 ° andar, em número de 40mais ou menos. Duração, 2 minutos. Nesse comenos,todos ouvem um grito, um som como de trombeta, quedomina a tempestade. A impressão era como se otoque viesse de fora. Pouco depois, três agudos gritosouvidos por todos, vindos também como do exterior.A 1 h. 30, pancada surda no 2.° a ndar, acompanhadade grito demorado e logo seguido de outro, como quede mulher, do lado de fora. A 1 h. 45, ouvimos desúbito três ou quatro gritos estridentes no vestíbulo ena escada. Erguemo-nos logo e, como sempre,encetamos minuciosa pesquisa. As 3 h . 20, novagalopada no corredor, dois gritos fracos, estes, porém,bem no âmago da casa.

Sexta feira, 12 de Novembro - Várias pancadas sefazem ouvir, acompanhadas de gritos como queemitidos por diversas pessoas. Outros gritos maisplangentes no vestíbulo.

As 11 h. 45, três gritos abafados como provindosdo porão, seguidos de outros mais fortes, na escada. Ameia-noite, levantamo-nos todos : ouviram-se gritosno porão, no interior do quarto verde e, finalmente,soluços e gemidos, como de mulher muito sofre dora.

Sábado, 13 de Novembro = Não só à noite, mastambém de dia, Pomos assaz molestados. Às 3 horas,pancadas na sala de jantar. As 3 h. 15, rumores noquarto verde. Lá fomos e verificamos que umapoltrona se deslocara e estava colada d porta, de

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maneira a impedir a entrada. Repusemo -la, no seulugar. As 3 h. 40, sapateado no quarto de minhamulher, arrastamento de cadeiras. Segundamanifestação no quarto verde, a cadeira lá estavaembaraçando a porta. Minha mulher, o abade eAmelina, dirigem-se ao quarto desta e logo viraescancarar-se a janela do gabinete, que estava , aliás,bem fechada. O vento, diga-se, soprava do sul e ajanela dava para o norte. No quarto de minha mulherdesloca-se outra vez a poltrona . No quarto do SenhorAbade também se abriu automaticamente outra janela.À noite, galopadas como as precedentes, 13 pancadasno patamar e 8 mais fortes na porta do quarto verde.

Corremos o trinco da maçaneta e a porta tornou afechar-se bruscamente. 15 minutos depois de meia -noite, dois gritos agudíssimos no patamar, não já demulher que pranteia, mas, gritos estridentes, furiosos,desesperados satânicos e demoníacos . Pancadasviolentas ainda perduraram por mais de uma hora.

Domingo, 14 de Novembro - As janelas do SenhorAbade, posto que bem aferrolhadas , abrem-se durantea missa. Ele fechara a porta levando consigo a chave,de sorte que ninguém poderia lá ter entrado. Ao cair danoite, ainda uma janela foi aberta.

Terça-feira, 23 de Novembro - Por volta das 2horas fui despertado de profundo sono, co m aspancadas no corredor e rumores outros em meupróprio quarto. Entretanto, o súbito e penoso despertar

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não permitiu distinguir a verdadeira natureza dofenômeno. No dia seguinte, o Senhor Abade contouque ouvira, à mesma hora, aqueles rumores. Minh amulher, logo que acordou, viu a desarrumação no seutoucador.

Domingo, 19 de Dezembro - Durante à tarde,Emília, que ficara guardando a casa, ouve ganchos epanelas a caírem na cozinha, e minha mulher aoregressar ouviu largos e pesados passos no quarto doSenhor Abade, onde, claro, ninguém se encontrava.

Segunda-feira, 20 de Dezembro - Às 4 horas datarde a Senhora X. encontra, ao entrar em seu quarto,duas cadeiras de pernas para o ar , sobre duaspoltronas. Visito outros quartos e no azul encontrouma cadeira em cima. elo velador.

Sexta-feira, 21r de Dezembro - Ao meio-dia, todosos servos estavam à mesa e encontramos a cama d oSenhor Abade tombada de lado, com o lavador porbaixo. As 6 da tarde tornamos a abrir a porta por nósfechada à chave e encontramos a me sa em cima dacama

Sábado, 25 de dezembro – Ao meio dia enquantoos criados almoçavam, ouvem-se pancadas no quartodo Senhor Abade cuja porta esta fechada àchave.Demos lá uma batida e encontramos umapoltrona em cima da escrivaninha de Mauricio. Ao cairda noite, lá voltamos e encontramos o canapé virado, odespertador sobre o relógio de parede e uma cadeira

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em cima da mesa. À noite, pelas 9 horas, ouve-sevarrer o corredor do 2.° andar. Lá acorremos eencontramos a vassoura fora do lugar.

Domingo, 26 de Dezembro - Em regressando damissa do galo, subimos com o Senhor Abade até aoseu quarto, que ficara trancado â chave. As almofadasdo canapé tinham desaparecido e fomos encontrá -iasaprumadas juntas, no parapeito da janela do gabinete.Essa janela eu a interceptara, desde quando notei quese abria de si mesma, pregando -lhe um sarrafo pelolado de dentro. O sarrafo foi arrancado sem vestígio deemprego de qualquer ferramenta, e estava junto dasalmofadas. À 1 hora da madrugada, repetidas pancadasse ouviram por toda a casa. A Senhora X. encetou umapesquisa e encontrou aberto o quarto do SenhorAbade, cuja porta ficara trancada à chave. Minutosdepois, o sofá da sala de visitas deu dois saltosviolentos. Em cima, novos ruídos, nova pesquisa: aporta do Senhor Abade, pouco antes fechada d chave,tornara a abrir-se. Às 5 horas, depois da Ave-Maria,encontramos um castiçal em cima da lâmpada doSenhor Abade, e a garrafa dágua sobre o copoemborcado. No gabinete, dois sapatos dispostos emforma de leque no peitori l da janela, e outros doissobre um prato, perto da lamparina.

Noite de 26 para segunda-feira 27 - Às 9 horas eu eAugusto nos vamos instalar no roupeiro, deixandoaberta à porta. Ouvimos uma série de pancadas como

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se alguém estivesse passeando e batendo com abengala no corredor, à nossa frente. A luz estavaacesa. Pouco depois, Amelina ouve passos descendo àcozinha, onde logo se produziram estalidos secos,como se alguém lá estivesse a quebrar gravetos. Mas,gravetos é o que lá não havia então. Nem grave tos,nem ninguém.

Seguida-feira, 27 de Dezembro - Na tarde destedia, fomos todos a V... A cozinheira ficou só, com umajornaleira, e ao regressarmos disse que tudo correrasem novidade. Fomos ao quarto do Senhor Abade e láencontramos os seus livros, uns cem talvez, espalhadosno chão. Trás volumes, apenas, ficaram de pé, cadaqual na sua prateleira e, por sin al, que eram os TrêsEvangelhos. Outras obras religiosas talham sidoarremessadas ao chão, e a vassoura posta em cima daestante.

Este depoimento é assaz longo, evidentemente, masnós conceituamos a sua variedade. Ainda assim, eu oencurtei quanto pude, mas, de forma a não lhe tirar ovalor intrínseco. Eis o seguimento

Noite de terça 28, para quarta -feira, 29 deDezembro - Três grandes pancadas surdas no 2.°andar, logo seguidas de inúmeras outras, rápidas, quepercutem ao longo do corredor. Imediatamente, trásbaques muito vivos na porta do Senhor Abade, maisdois isolados e um chocalhar de ferragens. Depois,

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duas séries de trás pancadas vivas, impacie ntes,terminando por um estrondo na porta do quarto verde.

Quarta-feira, 29 de Dezembro - HÁ meia horadepois da meia-noite fomos subitamente despertadospor quatro fortíssimas pancadas na porta do quarto daSenhora X. Para dar uma idéia da violência dofenômeno, figuremos o esboroamento de uma parede,um cavalo escoiceando uma porta, ou quatro balas decanhão alvejando-a. Sem exagero. O barulho sedeslocou logo para a outra extremidade do corredor eviolenta pancada sacudiu a porta do quarto verde.Desfecham-se, então, vários golpes surdos e possantes,que fazem estremecer toda a casa. Esses golpes sedeslocam e aumentam de intensidade, à proporção quese deslocam. Aos 40 minutos depois da meia -noite,forte barulho de ferros no corredor, grande pancada na.porta do quarto verde. 10 minutos após, prolongadospassos no segundo andar. Alguém contou cento e trintae dois. Catorze pancadas na, porta do Senhor Abade,cinco na do quarto verde, dez no assoalho, duas na,porta de entrada e cinco, surdas e fortes, que fizeramtremer as paredes e móveis em toda a casa. A duraçãofoi de 4 minutos.

Quinta-feira, 30 de Dezembro - Depois do almoço,enquanto os serviçais estavam à mesa, fomosencontrar no quarto do Senhor Abade um tamboretecoberto com uma capa de cadeira e esta em cima dasecretária de meu filho . Às 2 horas, fui com o Senhor

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Abade ao seu quarto e lá encontramos a poltrona emcima da mesa. Na cadeira, estenderam uma toalha ecolocaram sobre ela uma lâmpada. Na maçaneta daporta, penduradas, uma cruz e al gumas verônicashaviam desaparecido. A meia -noite, trás pancadasvagarosas soaram na, porta do quarto verde; oito ditas,surdas, no teto, tudo estremeceram. Três estalosagudos no patamar do 1 andar e muitas gessadas nocorredor do 2°, Os passos ora são lentos , ora rápidos, enada têm de humanos. Nenhum animal, tão -pouco,poderia caminhar assim. Dir -se-ia uma bengala soapulos. São 8 horas e ainda se ouvem algumaspancadas. O vigário de S. P. pernoitou aqui e tudopresenciou. Alguns fenômenos ocorreram no seuquarto. Ele ouviu como que a marcha de animal quetivesse pés de pau e que, tendo penetrado no quartocontíguo, dali passasse ao seu, e, trepando ã mesa decabeceira, pisasse o travesseiro e acabasse, por deter-se no leito, a altura do seu cotovelo esquerdo . OSenhor Vigário tinha a luz acesa e estava bemacordado, mas nada viu.

As 6 da manhã, entrando no quarto verde, ele ouviuum ruído de palha remexida, primeiro no canapé,depois num canto da janela e seguidamente naarmação das cortinas e em cima da cama . O SenhorVigário certificou-se de que não havia ali palhaalguma, nem coisa que se lhe assemelhasse. Marçal, onosso rendeiro, também pernoitou aqui e foi

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perseguido com ruídos debaixo mesmo dos seus pés epresenciados pelo jardineiro,

Noite de sexta feira 81 de Dezembro para sábado,1.° de Janeiro de 1876 - 40 minutos depois da meia-noite, somos todos despertados por uma série depancada terrificantes na porta do quarto verde. Emseguida, outras no interior e nas escadas. Prolongadaspancadinhas no corredor do 2° andar, terminando porquatro fortes estrondos surdos. Duração de 7 minutos.

Noite de sábado 1.° para domingo 2 de Janeiro -HÁ 2 horas e 5 minutos fortes pancadas fazem -seouvir na porta do quarto verde. Levantamo-nos todos.Em primeiro lugar, grande galope no corredor do 1° edepois no do 2.° andar. Em seguida, treze pancadasirregulares, mas, batidas duas a duas, no interior doquarto verde. Depois, passos vários como queprovindos de cima. Uma pancada violenta na porta doquarto verde e três no interior. Depois, oito, parecendovir do 2.° andar. O castiçal, a meu lado, estremece atodo o momento. Às 6 horas e 30 minutos, váriaspancadas, quais as noturnas, sendo de notar que, apartir das 3 da madrugada, todos quantos descem deseus quartos são acompanhados passo-a-passo e emmarche-marche, até ao rés-do-chão, por pancadas queparam ou continuam, com eles. O vigário da paróquiafoi assim acompanhado e nada conseguiu ver.

Segunda-feira, 3 de Janeiro - À noite, fiquei só, nasala de visitas. A luz estava acesa e ouvi seis pancadas

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bem nítidas no consolo, que se achava dois metrosdistante. Voltei-me, nada vi.

Noite de segunda para terça-feira 4 de Janeiro - Às3 horas doze pancadas, duas por duas, foram dadas naporta da Senhora X. A janela mais próxima estremeciaa cada golpe. O quarto está iluminado, nós estamosalertados, bem senhores de nós. Nada vimos. Cincominutos após, ouvimos uma galopada, algo comoporrete caminhando aos saltos no corredor do 1.°, elogo a seguir no do 2 andar. Finalmente, pancadasleves e surdas. O Dr. L., que aqui pernoitou, ouviuperfeitamente o estrupido no corredor e nada mais. OSenhor Cura de B, deitou-se no quarto vermelho epassou grande parte da noite ouvindo uma série derumores pouco violentos, mas assaz estranh os, nocorredor, tanto que nem aí deitou. Este convicto de quetudo só pode ser sobrenatural.

Quarta-feira, 5 de Janeiro - O rev. frade H. L. aquiveio mandado pelo Senhor Bispo, para observar osfatos e auxiliar-nos. À tarde, cerca de 5 horas, isto é,pouco antes de sua chegada, estando a Senhora X. como filho, na sala de visitas, ouviram o barulho da portaempurrada com violência, ao mesmo tempo em que amaçaneta aí movia com rapidez. Maurício estavaaterrado e a senhora pôs a cantar alto para impedi-lode ouvir.

Estada do. Rev. H. L. - A partir do momento emque aqui chegou, a calma entrou a reinar de maneira

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absoluta. Nada, absolutamente, ocorreu nem de dianem de noite. No dia 15, celebrou; um ofício religioso.A partir desse dia, ouvimos alguns ruídos isolados eextraordinários, noturnos e sempre em locais distantesdo frade H., de modo que ele não poderia ouvir. Oreverendo nos deixou na segunda -feira 17 e a suapartida foi logo acompanhada de uma série defenômenos tão intensos quanto os anteriores à suavisita.

Noite de 17 para 18 de Janeiro - Às 11 horas ruídocomo a queda de um corpo no corredor do 1.° andar,seguido do rolamento de uma bola, a esbarrar na portado quarto verde. Galope interminável no 2 ° andar,acompanhado de vinte detonações surd as, na mesmadireção, dezoito no interior do quarto verde. São 11horas e 35 minutos e 5 fortes pancadas deflagram naporta do quarto verde; quinze surdas na escada do 2.°andar. Dois sapateados no patamar e dez pancadassurdas na escada do 2.° andar e tudo estremecem emtorno de nós.

Noite de 19 para 20 de Janeiro - Às 11 horas e 15minutos somos despertados por uma galopada no 2 °andar, terminando por doze pancadas na porta doquarto verde e cinquenta e cinco outras no interior.Pouco depois, nove pancadas como de macete, naescada do 1.° andar. Outros galopes prolongados,cinco pancadas secas, tamborinagem no interior doquarto verde, três toques na ponta do mesmo, vinte e

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sete na janela do meu quarto. As duas últimas janelasda Senhora X. estremecem. Duração, 10 minutos. Às11 horas e 45 minutos onze pancadas no meu quarto.

Tendo-se ausentado por alguns dias, em visita a umirmão, o Senhor X... rogou à esposa que se incumbissedesta agenda durante a sua ausência. Eis o queregistrou a Senhora X.:

Noite de 20 para 21 de Janeiro - 1 h. 8 m., cincopancadas comuns, seguidas de dezenove violentas, nocorredor. Duas na porta do roupeiro, seis no interior damesma, nove na porta do quarto verde, onze no 2 °andar, seguidas de inúmeros pequenos estalidoscadenciados no 2.° andar. Duração, 7 minutos. Maisdoze pancadas surdas, sempre no 2 ° andar, e pancadasque pareciam vibrar de porta em porta. A 1 h. e 20 m.todos ouvem quatro fortes gritos, semelhando berrosde boi e como que vindos de fora, mas, ao nível dajanela; e logo como que duas vergastadas na escada. Aseguir, dez pancadas mais fortes e rufos de tambor no2 ° andar, A 1 h. 30 m., dois estrondos no 2° andar,estremecendo vidraças, móveis, quadros, etc. As 2 h. 5m. numerosas pancadas na escada, uma na porta doroupeiro, outra na porta do quarto verde, destacando -seuma sonoríssima. Cinco estrondos surdos no 2.° andarfazem estremecer todos os móveis, seguindo -se cincopancadas fracas na escada e quatro no 2.° andar. Ummugido de fora, ao norte da casa, ao nível das janelas.As 5 h. 45 m. um estrondo repercute no corredor e

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logo um tropel. Depois, é a porta do quarto verde quese abre e fecha com fragor. Essa porta está fechada àchave e o trinco lhe foi arrancado. Enfim, o rolar deuma bola nesse mesmo corredor e uma pancada no altoda escada. Nessa mesma noite, a Senhora X., quemantinha a luz acesa, ouviu como que o baque de umobjeto volumoso, caído da mesa de cabeceira.Procurando ver o que fosse, nada encontrou.

Noite de 21 para 22 de Janeiro - Às 3 horas fomostodos despertados por quinze pancadas partidas do 2.°andar.

Noite de 22 para 23 de Janeiro - Às 3 horas fomosdespertados por vinte pancadas surdas no 2° andar.

Prosseguem aqui as anotações do Senhor X.:Noite de 23 para 24 de Janeiro - Às 9 horas uma.

galopada no corredor, seguida de pancadasamortecidas. A noite está calma. De manhã, primeiroàs 6, depois às 7 horas, ouvimos uma série depancadas, sempre no corredor. Hoje sigo para P. ..Minha mulher anotará o que ocorrer em minhaausência.

Dia 25 de Janeiro - As 4 h. 30 m. ouvimos muitobarulho em cima. Lá fui com Amelina e encontreirevolvidas as camas de Augusto e Emília, mas - coisasingular - de modo absolutamente idêntico. Depois deverificar esse distúrbio, encaminhei -me ao quartoverde e a porta resistiu, calçada por dentro com umapoltrona. Recoloquei a poltrona, no seu lugar e

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prossegui. Ao entrar no meu gabinete, um quadrocolocado por dentro, de encontro à porta, tombou -meaos pés. Tudo ali estava em desordem: cartõesespalhados pelo chão, a poltrona de pernas para o ar eatupida de papéis, cartas, etc. 5 h. 10 m.: O SenhorAbade lia o breviário. Posto que há três dias tenhamostido um belo tempo, eis que esguicha d a chaminé umjacto dágua, apagando o fogão e espalhando as cinzasdo borralho, que entraram pelos olhos do reverendo elhe polvilharam a batina.

Noite de 25 para 26 de Janeiro - 20 m . damadrugada, duas pancadas no vestíbulo. 1 ho ra, dozepancadas seguidas de tamborinagem e depois trintapancadas rápidas e singulares, que antes se diriamsacudimento de todo o edifício, como se fôssemosembalados em todos os pavimentos. A seguir, novepancadas ininterruptas, cinco na porta do quarto verdee depois uma galopada, Não foi tudo além de 5minutos. Um minuto mais e toda a casa es tremecia dealto a baixo, ouvindo-se logo após dez golpes terríveisna porta do quarto verde. Doze gritos do lado de fora,três mugidos e mais gritos furiosos se sucedem.Tamborinagem como que ritmada no vestíbulo,cinquenta estalos próximos do meu quarto. . . Batem,por vezes, à porta do quarto de meu filho. - 1 h. 30 m.,a casa é vinte vezes sacudida. Sete pancadas fortes naporta do quarto verde, seguidas de outras que, por suarapidez, não se podem contar. Mais: duas na porta do

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quarto verde, doze perto do quarto de Maurício, trezeque fazem estremecer tudo e depois cinco, dez,dezoito, que sacodem paredes e móveis e mal nos dãotempo de escrever. Nove tremendas pancadas reboamna porta do quarto verde; uma tamborinagem se fazacompanhar de grandes pancad as; seta que tudoabalam, uma assaz sonora, e mais dez em ritmobinário. Nesse instante, ouve-se como que mugir detouros e a seguir gritos estranhos, furiosos e nadahumanos, no corredor e perto da porta do quarto deminha mulher, que logo se levantou e t ocou acampainha para alertar os criados, Enquanto sereuniam todos no quarto do Senhor Abade, ouviram-seainda dois mugidos e um grito. As 4 h . 20 m .somente, pudemos tornar ao leito. Minha mulher aindaouviu um estalo violento no órgão colocado em seuquarto, a dois metros do leito, seguido de dois outrosque não pôde localizar. Esses ruídos eram ouvidos emtoda a herdade.

Noite de 26 para 27 de Janeiro - Temos duastestemunhas a mais, que são o cura de S. M., que aquipernoitará e a Srta. L., que ficar á conosco alguns dias.Aos 15 minutos depois da meia-noite, todosdespertaram com forte barulho, qual se uma pesadatábua houvesse caído no corredor do 1 ° andar. Segue -se um grito, Aos 45 minutos, galopes entremeados depancadas e recomeçando, depois de b reve intervalo,com grandes ruídos de tambor. A porta de Maurício é

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violentamente sacudida e tudo termina por quatrofortes pancadas na porta do quarto verde.

Noite de 28 para 29 de Janeiro - 11 h. 15 m.Grande grito na escada, um grito rouco e sibilante; setepancadas na porta do quarto verde, seguido de seisoutras mais violentas. As 11 h. 45 m. de zenovepancadas surdas em uma porta do corredor do 1.°andar. 55 minutos depois da meia -noite, ouvimos umavoz masculina no corredor do 1.° andar. Tive aimpressão de ouvir ah! ah! e logo a seguir foram dezestrondos de abalar tudo em torno de nós. Umapancada na porta do quarto verde e depois tosse nocorredor. Levantamo-nos prestes e nada vimos, mas, ãporta do quarto de minha mulher, deparou -se-nos umgrande prato partido ao meio! Mandamos rezar umnovenário em Lourdes. O reverendo frade procedeuaos exorcismos e tudo cessou.

Confesso que todo leitor profano que jamais tivesseouvido falar destes fenômenos, poderia atribuir asdescrições aqui exaradas a cérebro s de loucos, oualucinados. Nada obstante, os fatos são reais. A idéiado sobrenatural domina em toda esta família e na suaroda. Para nós outros, porém, impõe -se umaapreciação puramente científica. Dos inúmerosatestados reclamados pelo Doutor Darieux, destacareiainda alguns documentos, como declaraçõessuplementares e substitutivos dos pormenores

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suprimidos nas descrições precedentes, para ganharespaço.

Carta, do Abade D., velho preceptor do filho daSenhora X.,, atualmente exercendo um paroquiano naNormandia:

Testemunhei todos os fatos do castelo de T., apartir de 12 de Outubro de 1875 até 30 de Janeiro de1876. Posso, assim, atestar que os fenômenosconstantes do manuscrito precedente não podem serobra do homem. Todos esses ruídos foram ouvidos,não por uma e sim por muitas pessoas, e as pancadaseram tão fortes que poderiam ser ouvidas a 500 metrosde distância. Não voa farei aqui um novo relato dosacontecimentos já de vós conhecidos. Fatos idênticosjá se haviam passado no antigo castelo. Em toda essaembrulhada o Senhor X. tomou todas as possíveisprecauções. Nem vejo como pudesse ele, fisicamentefalando, introduzir-se em meu quarto e deslocarobjetos sem que eu o visse. Como trepar ao cimo dachaminé e de lá derramar água no quarto e cobrir decinzas, ao demais em pleno dia e dia enxuto? Meudiscípulo presenciou o fato e ainda parecer-me vê-lo afugir. E, como explicar que a cadela, bem amestrada,do Senhor X., não desse qualquer sinal de inquietação?Como conceber que uma janela bem fechada pud esseabrir-se automaticamente diante de nós? Os gritos queouvimos não eram de boca humana; as paredes eram,às vezes, abaladas de tal forma, que eu temia o

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desabamento do teto. Onde o homem capaz depromover tudo isso? Por mim e para mim, só o diabo.

m . . . , 12 de Janeiro de 1893 .Carta do Senhor Morice ao Senhor Darieux:

Meu caro Doutor.O Senhor X., qual vimos pela última carta do seu

manuscrito, atribuía ao exorcismo e às precesconseqüentes ao ofício religioso, a cessação dosfenômenos. Quando ele escrevia, isto é, a 29 deJaneiro, estava, certamente, de boa fé, mas os fatos nãotardariam a desenganá-lo. Por isso mesmo, a cerimôniado exorcismo não deu resultado. De fato, realizada a14 ou 15 de Janeiro, sabemos pelo próprio relatório doSenhor X. o que ocorreu depois dessa data, até 29 deJaneiro. E' força reconhecer que, depois das oraçõesordenadas pelo exorcista, a calma pareceu renascer nosúltimos dias de Janeiro. Entretanto, em fins de Agostoe principalmente em Setembro, o castelo de T. volt ou aser teatro das cenas que já conhecemos. Escrevi a umatestemunha das ocorrências de 1876, isto é, aopreceptor do filho do Senhor X. e aqui tendes a suaresposta.

Carta do Abade M . ao Sr . G . MoriceB . . . , 20 de Janeiro de 1893 .

Caro Senhor.:

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Depois dos exorcismos produziu-se grande calma.Deu-se mesmo um fato quase incrível, que ensejougrandes esperanças para o futuro. Eis o fato: lestes nojornal que medalhas de S . Benedito, cruzes bentas everônicas de Lourdes haviam sido colocadas em todasas portas. Tudo isso formava um pacote algovolumoso. Vistes, igualmente, que, na noite imediata,se produzira enorme algazarra e, de manhã, medalhase cruzes haviam desaparecido e não foi possívelencontrá-las. E, contudo, eram elas em númeroconsiderável. Ora, o exorcismo terminou em calma, eessa calma continuou por alguns dias. Podeis avaliarquão grata nos foi à trégua, mas, o certo é que dois outrês dias depois, quando a Senhora X. escreviaalgumas linhas, ajoelhada junto de uma secretária, viucair de chofre, sobre a mesma secretária, um grandepacote de cruzes e medalhas. Isto se deu as 10 1/2horas da manhã, mais ou menos. De onde vinhamessas medalhas? E eram elas as mesmas penduradasnas portas, exceto as de Lourdes . O bom do cura de T., a quem contaram o feito e que, como eu mesmo,conhecia a lealdade dos seus castelões, disse -lhes:Coragem! o diabo depõe as armas, tudo acabará bem,ficai certos. Mas consigo dizia: Não a muito que temerainda, pois Lourdes não voltou.

Em fins de Agosto esses p equenos rumoresvoltaram freqüentes e bem mais caracterizados. Certanoite, diversas pessoas (eu em particular) ouviram

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pancadas rápidas e violentas no roupeiro,absolutamente semelhantes às produzidas no inicio dosfenômenos.

Uma noite de sábado, preceden te ao 3 ° domingode Setembro, enorme alarido irrompeu no salão devisitas e perdurou toda à noite. De manhã a SenhoraX., com a chave do salão no bolso, para lá se dirigiuinquieta e, logo ao abrir a porta, viu que o sofá e ascadeiras estavam em desordem, muito afastadas dosrespectivos lugares. O conjunto, porém, denotava aconfiguração de ferradura, como se assim fosseintencionalmente preparado para uma entrevistacoletiva, com o sofá no centro.

Ora pois! o demônio convocou o concílio e vaiprosseguir... O Senhor X. abre o harmônio e dedilhapor muito tempo. Quando fechava o instrumento,ouviu repetidas, no canto da sala, as melodias queacabara de tocar, e isso por longo tempo. Dias depois,ausenta-se o Senhor X. por espaço de três dias, Aesposa costumava deixar acesas em seu quarto umalâmpada e duas velas. Como temesse sobretudo asaparições, mandou colocar um ferrolho na porta dogabinete de vestir, dizendo: assim, não terei que vigiarsenão a porta de entrada... A meia -noite ouvimosformidável estrondo, todos acordaram e a Senhora X.ouviu a queda em seu quarto como que de um fardo defazendas, ao mesmo tempo em que a lâmpada e asvelas se apagavam. A seguir, pareceu -lhe que corriam

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o ferrolho, o que de fato se verificou. No dia seguinte,a Sra, X. ouviu ressonar a nota de pequeno órgão quetinha em seu quarto, e isso por longo tempo. Ainda nodia em que o Senhor X. regressou, ouvi eu, por voltadas 2 h. 30 m., muitas lerias misteriosamenteexecutadas, estando ausente a Senhora X., que sóvoltou às 6 horas. Comuniquei-lhe o sucedido e aresposta foi: tenho aqui no bolso a chave. Era verdade,o órgão estava realmente fechado!

Outra feita, em meu quarto, uma cômoda pesada esobrecarregada de livros ergues se a meio metro dealtura, assim se conservando p or algum tempo.Advertido pelo meu jovem aluno, agarrei-meinutilmente ao móvel, até que ele baixou por si mesmoao seu lugar. Passou-se isto às 3 da tarde, mais oumenos. Outra noite foram às janelas do quarto que seabriram e se fecharam, automaticamente, posto quenão ventasse.

X... Vigário de B...

Uma só coisa nos cumpre acrescentar aqui: é queos signatários destas cartas são sacerdotes de cujahonorabilidade e boa fé não se poderia duvidar,

G. Morice.

Vejamos, ainda de acréscimo, o trecho de umacarta da Senhora N. des V. ao Doutor Darieux:

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Suponho que o castelo veio a caber em herança aoSenhor X. A velha proprietária teria falecido sem ossacramentos e pelo que - dizia-se - ali penava a suaalma.

Quando surgiram os primeiros fenômenos, oSenhor X. julgou que se tratasse de qualquer conluiointeressado na aquisição do imóvel a terras adjacentes,a resto de barato. Ele fez portanto, rigorosas pesquisase experiências, sondou paredes e adegas, tudovarejando no intuito de encontrar uma pista. Nadaobstante tamanha canseira e vigilância, os ruídosprosseguiram misteriosos; ocultos e até aumentados, àmedida que as precauções redobravam. Até doistemíveis cães de guarda foram adquiridos e nadaadiantaram. Um dia, esses animais entraram a ladrarpara os lados de certa moita no jardim, com tamanhainsistência, que se diria ali estivesse alguémescondido. O Senhor X, lá foi armado e seguido doscriados, deu uma batida no jardim, mas, nada viram,senão que os cachorros, ao penetrarem naquela moita,em vez de ladrarem passaram a ganir plangentemente,como se houvessem recebido qualquer corretivo, atéque se retiraram de rabo entre as pernas. Os homens,por sua vez, esquadrinharam, desbastaram a moita enada adiantaram. O quarto do abade foi sempre o maispreferido no desdobramento das diabruras. O abade, aosair, não se esquecia de dar duas voltas ã chave,guardando-a no bolso, Precaução inútil. Sua janela,

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sempre cuidadosamente fechada, abria -se por simesma e os móveis eram deslocados ou derrubados.Deliberaram, então, parafusar solidamente essa janelae sempre a encontravam aberta, com os parafusosespalhados no assoalho. Certa feita, enquanto o abadedescia a escada, ouviu no quarto uma pancada tão forteque o fez lá voltar de pronto. A estante havia tombadoe os livros jaziam espalhados por to do o quarto, masespalhados intencionalmente, porque dispostos emfilas simétricas e regulares, qual nas prateleiras.

Seu espanto foi tal, que, tanto ele como os alunosforam instalar-se no quarto do vigário. Outro episó dio:um oficial (primo ou amigo) resolveu dormir umanoite no quarto habitualmente mais visado e, por issomesmo, desocupado. Tinha o seu revólver e prometiaatirar em quem se atrevesse a perturbar -lhe o sono.Apagou a luz, adormeceu. Despertando com o roç agarde um vestido de seda, sentiu que lhe puxavam ascobertas e interpelou o ignoto visitante. Não obtendoresposta, acendeu a vela, que logo se apagou.Reacendeu-a três vezes, debalde! A vela se apagava eo frufru da seda continuava, bem como o repuxamen todas cobertas. . . Decidiu atirar no escuro e na direçãoque lhe indicava o movimento das cobertas. Disparoue... nada! Mas o incrível está em que as balas nãosaíram das cápsulas e foram pela manhã encontradas,assim perfeitas, embutidas na parede.

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Registremos ainda outra carta complementar. Cartado Cura de M. ao Senhor Morice:

Posso certificar que ouvi os ruídos extraordinários,constantes do memorial do Senhor X Tive em mãoesse memorial, li-o e achei-o fidelíssimo. Não tenho amenor dúvida sobre a natureza desses fenômenos, que,para mim, são sobrenaturalmente diabólicos. A esterespeito, podereis consultar o Rev. H ., que exerce oparoquiano de M. Ele passou 15 dias ou 3 semanas nocastelo, como delegado do Senhor Bispo diocesano, afim de utilizar o exorcismo, se o julgasse necessário.

J. A. (Cura de S. D.)

A carta do Rev. Frade também foi publicada. Mas,a bem dizer, seria supérfluo avolumar a documentação,pois estamos absolutamente convictos da realidadedestes fatos estupeficantes.

Depois, com o prosseguimento da coisa, oproprietário, desesperado, acabou vendendo o castelo emudando-se para alhures. O Doutor Darieux encerrouo importante relatório desses fenômenos com asseguintes linhas:

Tive, não há muito, a visita do Príncipe H., que vaiesforçar-se, em combinação com o Senhor Morice,para levar ainda mais longe, se possível, este inquéritojá tão rico em documentos e testemunhos de pessoashonradas e fidedignas,

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O castelo de T. constituiu, de há muito, o maisnotório exemplo de assombramento, entre os muitosvindos ao nosso conhecimento, pela sua rigorosadocumentação e pelo valor pessoal das testemunhas.Não podemos pôr em dúvida essas copiosasobservações, notabilíssimas por muitos títulos, nemtão-pouco a boa fé e a sinceridade de quem as fez.

Xavier Darieux .

Esta história nunca foi desmentida. Suaautenticidade é tão certa quanto à da guerra de 1914,seguramente mais louca e mais estúpida, com os seuscrimes espantosos . Ela é, confirmamos, das maisdocumentadas que conhecemos, e por iss o aqui ainserimos à testa da nossa explanação, com as suasprincipais minudenciai, que não sumariamentereduzidas . Também não me deterei em discutir ahipótese do diábolismo sobrenatural. Continuemosnossas investigações libertas de idéia preconcebidas .As investigações explicativas só poderão virlogicamente do conjunto das observações. Parece,todavia, que não podemos deixar de concluir, diante detudo isso, que haja seres invisíveis. Porei, agora, sob asvistas dos meus leitores, um outro caso típico, nãomenos proveitoso à nossa instrução pessoal.

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CAPITULO IVA CASA DA CONSTANTINA

(Corrèze)

Meu ilustre e saudosismo amigo Albert de Rochas,diretor da Escola Politécnica, assaz conhecido euniversalmente admirado por suas inve stigaçõespsíquicas, falar sempre com particular interesse dasobservações feitas nesta herdade, situada noDepartamento de Corrèze (Comuna de Objat) e,principalmente, do respectivo inquérito promovido porMaxwell, substituto do Procurador Geral, e cujacompetência nestes assuntos é também geralmenteconhecida.

O Coronel de Rochas, diga-se, inseriu esseinquérito no seu livro acompanhado de uma descriçãoda casa, tal como se segue:

Constantínia é uma propriedade muito importante.A casa residencial, construída na encosta de umacolina compõe-se de pavilhões em esquadrias. À parteda casa, onde se encontram as portas de entrada, ficaao nível do solo e compreende uma grande cozinha em

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toda a extensão do pavimento, tendo à direita grandesalão e um quarto de dormir. A esquerda fica a ala doedifício, com um quarto baixo e um celeiro em sótea.O nível desta parte da casa é pouco superior ao dacozinha e das outras duas peças. Há nesta sala quatropeças, a saber: um grande quarto de casal, com duasjanelas para frente; uma ante-sala ou corredor, umsegundo quarto menor - dito da Senhora Faure - e,finalmente, um aposento servido por quatro janelas,comunicando com o pátio, fechado pelas dependênciasreservadas aos fâmulos e aos trabalhos domésticos.Nesse aposento há também dois le itos. O pessoal daConstantínia compreendia, além de uns tantosoperários agrícolas, a Senhora Faure, sua avó (com 80anos de idade) e Maria Pascarel, rapariga dos seus 17anos. A Senhora Faure é uma criatura bem educada ede boa família. Inteligente e ené rgica, superintende porsi mesma os seus negócios. A avó, senecta embora,conserva íntegras todas as faculdades, conquantofisicamente se sinta alquebrada. A jovem Maria, essa éinteligente, resoluta e uma tanto desenvolta, posto quenada conste contra a sua honestidade. Fisicamentefalando: baixinha, compleição franzina, tanto queimpúbere, ainda, ao tempo em que ocorreram estesfatos. Maria tem uma irmã sonâmbula e toda a famíliaé tida como algo extravagante. Os numerosos serviçaisde Constantínia fazem a refeição na cozinha, onde seencontra pesada mesa de 1 metro de largura por 3 de

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comprimento. Na cozinha há um forno com enormechaminé, cuja aba protege um banquinho à esquerda,duas cadeiras ã direita, armários e prateleiras. Osfenômenos começaram na 2.a quinzena de Maio de1895, por pancadas na parede que divide a sala dejantar, do quarto da octogenária. A 21 de Maio, às 9horas da manhã, a velha diz ã neta que a sua camaestalava; mas a viúva Faure não ligou importância aofato, julgando pura ilusão . No dia seguinte, às mesmashoras, o ruído se repetiu no mesmo ponto, e a própriaSenhora Faure ouviu nitidamente. No dia 23 nadahouve. No dia 25, sexta-feira, o ruído recomeçou maisforte, sempre no mesmo ponto. O ruído dava idéia deestar à cama batendo na parede.

Uma hora depois, a Senhora Faure entrou no quartoe viu espalhadas no chão peliças, cobertas e fronhasdos travesseiros. No resto da casa notaram -se outrosdistúrbios. Três tonéis vazios deslocaram -se na adega.Noutro quarto, a cama foi desmanchada e a respectivaguarnição dispersa no assoalho. Uma imagem daVirgem e um bule cheio de café foram levados dacômoda para o meio do quarto. Ao lado desses objetos,um Cristo retirado da parede.

Estes episódios inexplicáveis acabaram poratemorizar a Senhora Faure, pelo que levou para seuquarto, à noite de sexta para sábado, a avó e a servaPascareli. Essa noite correu normalmente tranqüila. Nosábado de manhã, três fortes pancadas foram dadas na

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porta do celeiro, sendo que a escada de acesso aomesmo é fechada por uma porta que dá para ovestíbulo. As Sras. Faure e a criada precipitaram -selogo para o quarto e encontraram as camas outra vezdesfeitas, as roupas espalhadas no chão e quebrado obule de café. Dali, foram à cozinha, aonde, malchegaram, ouviram grande algazarra. No chão, emcacos, três açucareiros, doze xícaras e alguns quadroscom gravuras e fotografias. Grande o terror das três,ainda porque, no momento, o pessoal da lavouraestava ausente. Para logo convencidas dasobrenaturalidade dos fenômenos, os vizinhosprocuraram dissuadi-las, ao princípio, mas acabaram,também eles, terrificados.

Amélia Bayle, mulher de Madrias, senhora de seus30 anos, inteligente e sensata, foi às 7 horas da manhãà casa da Senhora Faure, a fim de inteirar -se dasocorrências, Em sua presença a tampa de uma sopeira,colocada diante da boca do fogão, foi violentamenteatirada no centro da cozinha. A Senhora Madriasestava assentada de costas para o fogão e de permeio àsopeira e as pessoas ali agrupadas, que eram as duasFaures, a criada e um pequeno pastor. Apavorada, aSenhora Madrias tratou de retirar-se com as suas duascriadas. Quando voltaram, às 11 1/2, a Pascarelicuidava, de remover os destroços que juncavam o solo,pois diziam que foi uma verdadeira chuva de pratos,copos, panelas, etc., arremessados das prateleiras por

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mãos invisíveis. A Senhora Madrias viu um boião demadeira projetar-se, com inaudita violência, daprateleira aos seus pés. Outros distúrbios foramconstatados no quarto. Revolvido o leito da SenhoraFaure, um espelho despregado, jornais espalhados nochão. Mais tarde, abrindo um desses jornais, neleencontraram duas gotas de sangue ainda úmido. Cincominutos após, voltou a esse quarto e constatou que jánão eram duas, mas seis gotas de sang ue.

Finalmente, houve grande quebra de utensíliosnesse dia, até de um caldeirão de ferro fundido. Dasmãos de uma criada arrancaram o prato. No domingo26 e quarta 29 nada ocorreu; no dia 30, porém, adesordem recomeçou co:n intensidade crescente.Panelas enganchadas na chaminé, arremessaram -se aosolo com estrépito. As 6 da tarde a velha Faure viu acama automover-se, a cadeira em que se assentava foideslocada e tombada logo que ela a deixou. Tinhaconsigo a Pascareli e, das 7 para as 8, quandojantavam, foram alvejadas por lascas de pau vindas dacozinha. O pavor foi tanto que levou as senhoras e acriada a pernoitarem em casa dos vizinhos. Sexta -feira31 de Maio, procuraram o Prefeito de Objat, SenhorDelmas, funcionário integro e assaz conceituado, quelogo se prestou a tomar conhecimento dos fatos,levando a peito descobrir-lhes a causa. Custava-lheadmitir que objetos materiais, inertes, pudessemdeslocar por ai mesmos.

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Assim que, entrou na cozinha e colocou com aspróprias mãos alguns pratos em cima da mesa, onde jáestava uma vassoura. Assentou depois, frente aofogão, tendo à esquerda a Senhora Faure. A jovemcriada pervagava, ocupada com as atribuições caseiras.A vassoura arremessou-se da chaminé comextraordinária violência, sob as vistas do Pref eito. Acriada achava-se então muito longe da mesa. A idéiado honrado Prefeito abriu falência: ali fora convicto deque os fatos denunciados eram fictícios, ou oriundosde alguma tramóia, e, contudo, o que se lhe deparavaera movimentos autônomos, espontâneos. E a surpresapassou a mal-estar, logo que viu um fole deslizar pelobanco da chaminé evitando a saliência dos seus pésnele apoiados, precipitar-se no solo com fragorespantoso. Mandou, então, desocupar imediatamente acasa. A jovem Pascarel, quando se retirava emcompanhia das Sras. Faure, foi atingida nas costas porum sarrafo de madeira, atirado com extrema violência.Mal chegava a Objat, o Senhor Delmas foi novamentechamado, porque a Constantínia pegara fogo. De fato,a Pascarel notara que espessa fumarada se desprendiado quarto da patroa. Lá entrando, verificaram que afumaça safa do leito da Senhora Faure. E, contudo,não havia vestígio de chamas, nem fogareiro (s ic) . ASenhora Faure em seu depoimento chegou a empregaresta expressão singular: o fogo como que tornava acentrar no leito. Aliás, fenômeno idêntico já tinha eido

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observado pela Pascarel e pela velha Faure, notando -seque das saias denta última ai desprendia, às vezes, umafumaça espessa.

Dois dias depois, a criada Pascarel abandonav a oemprego, mesmo sem receber o ordenado. As Sras.Faure voltaram para casa e dai por diante nada maissucedeu.

*

Entes sucessos me foram assinalados pelo SenhorN., funcionário do Banco de Limoges e cuja famíliapossuí terras em Objat. Dirig i-me logo ao amigo B.,juiz de paz em D. e amigo do Prefeito de Objat,pedindo-lhe informações das ocorrências de Objat, quea imprensa divulgava e constituíam um pratoescolhido. As informações de B. pareceram -mesuficientes para que fosse até Objat. Ali, emcompanhia do referido magistrado, conseguientrevistar a Pascarel e o seu irmão e tutor. Fuitambém à casa da Senhora Faure, que, de começo, nãoqueria ver em sua casa a ex-empregada. Expliquei-lheo objetivo exclusivamente cientifico das minhaspesquisas; disse-lhe que os fenômenos dessa naturezainteressavam a alguns sábios de minhas relações, e queo valor pessoal e o número das testemunhas dasocorrências da sua casa encareciam um relatóriominucioso a tal respeito. De bom grado, então, foi -me

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permitido colher in loco todos os apontamentos e fazeras experiências que quisesse.

Assim que, percorri toda a casa, tracei um gráficodos compartimentos e procurei ouvir minuciosamentea todos. O resultado corresponde ao sumário acima.Nele me limitei ao principal, visto que, em regra, nãose passava um dia em Constantínia, sem a deslocaçãoautomática de objetos quaisquer. Um dia, o própriogato foi jogado sobre a velha octogenária, que, deoutra feita, ai viu atingida e ferida, por um gancho deferro. A singularidade dentes fatos, contados pelosmoradores e pelos vizinhos da casa, poderá por sijustificar sua recusa? E' claro que todos os contestantesa priori da possibilidade desses deslocamentosdificilmente ai convenceriam.

Mas, também nós podemos perguntar ai é razoávelnegar, por sistema, tudo o que se nos deparainexplicável. Tal negação, penso, não se conformacom o verdadeiro espírito cientifico. E' que, naverdade, mal conhecemos as forças naturais que temosaprendido a utilizar. E poder afirmar não haja outras,porventura ainda desconhecidas? Por mim, creio maiscerta a afirmação em contrário, de que o futuro nos háde revelar muitas coisas. A Natureza é infinita e nósmal a conhecemos. Sob este ponto de vista, o estudodestes fenômenos de Constantínia apresentaconsiderável interesse, e tão útil me parece vo -losdescrever, como discutir a sua realidad e. Tal discussão

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pode reduzir ao exame de duas hipóteses , a saber: 1 -houve fraude? 2 - houve erro ou falha de observação?Esta segunda hipótese é inadmissível. As provasobjetivas são irrefutáveis. Utensílios e móveis emquantidade foram quebrados à vista das testemunhas.O ruído provocado pela queda desses objetos, arealidade dos destroços apanhados no próprio local emque pareciam espedaçar-se, dão aos testemunhos umasanção ínconfutável e não permitem conjeturar umestado alucinatório. Resta a hipótese da fraude, que seapresenta naturalmente ao nosso espírito e podeexplicar alguns desses fenômenos; mas, ao meu ver, sóprovida de outras hipóteses acessórias e i mprováveis,de molde a explicar todos os fatos aqui men cionados.Praticada uma fraude, a quem atribuí -la? Três pessoas,apenas, podem ser suspeitadas, isto é: as Sras. Faure ea criada, porque, efetivamente, a maioria dosfenômenos ocorreu em presença das três.

Muitos movimentos de objetos, sem contacto, severificaram na ausência dos outros moradores da casa,que não podiam, ipso facto, promovê-las. Tais, porexemplo, os observados pelo Prefeito de Objat e ostoques, quebra de móveis e desarrumação de cama s,quando as patroas e a empregada estavam sós. Podeigualmente, afastar as duas Faur es. À parte a suahonorabilidade, o terror e os prejuízos que osfenômenos lhes causavam, não se descobriu conexãoqualquer entre eles e elas. Os fenômenos cessaram

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inteiramente com o afastamento da empregada e, poroutro lado, dá-se que uns tantos fatos sobrevinhamquando a rapariga estava só com alguma das patroas.Um indício, contudo, se apresenta relacionado com apresença da dita criada, sem a qual inexistiam osfenômenos. Destes, una ai apresentavam quando elaestava só, como, por exemplo, o da deslocação dostonéis e o incêndio da cama. A ela, pois, é que sepoderia afetar a causa desses fatos estranhos, ejustamente dela é que todos suspeitam. E, dada acessação conseqüente ao seu afastamento, ninguémpoderia exculpá-la de fraude. Nada obstante, essahipótese também não é fácil de admitir, visto que, emhavendo circunstâncias que a , possibilitam, outras,pelo contrário, a repelem,

As primeiras podem ser resumidas ass im : - APascarel nunca esta ausente quando se produz ofenômeno; seu caráter deixa algo a desejar; às vezesinsubmissa e grosseira, inteligente e absurda, gosta deintrometer-se onde não é chamada, mas a suaprobidade é insuspeitável. Fo i ela mesma quedenunciou o incêndio.

Se esses fatos radicam em fraude, podemos dizerter sido a Pascarei quem imaginou todos esses feitos econseguiu habilmente enganar as testemunhas.Atenda-se a quais circunstancia incompatíveis com afraude são mais numerosas e mais sér ias do que as quelevam a presumi-la. Temos, assim: 1 - ausência de

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motivo compreensível. A rapariga estava bemempregada, e no ambiente do campo, em Limousín,não poderia facilmente achar outra colocação naquelaépoca. Não tinha, portanto, interesse algu m em deixaros patrões. Também precisamos notar que, na suaidade e condição, não poderia aspirar a outro encargo.Seu finito mister era o de criada de aluguel.

Considerações são estas, que infirmam a hipótesede fraude inspirada por maldade. Reconhecendo,todavia, a sua possibilidade, preciso admitir umaestupenda ousadia. A rapariga teria, habilìssimamente,acabado com a louça das patroas, depredado a casatoda, no intuito de as prejudicar e aterrorizar. Nadainduz a emprestar-lhe tais sentimentos e, ao demais,importaria fossem eles assaz poderosos para que elaassim se expusesse aos riscos de ser desmascarada. Poroutro lado, o incêndio não se enquadraria nesse plano,pois se ela colimasse prejuízos não seria a primeira adar o alarme. Enfim, precisamos supor umatemeridade ainda maior ateando fogo ao leito dapatroa, no momento justo em que todos seexacerbavam com os fenômenos e já começavam asuspeitar dela, Junte-se a isto a circunstancia de severificarem os fenômenos sempre à luz do dia.Qualquer malfeitor, ou embusteiro, penso, teria sempreelegido a noite, já porque se encontraria em maiorsegurança, e já para efeito de maior terrorismo, sabidocomo a treva influencia os espíritos crédulos e

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timoratos. Pois ao invés disso, Maria Pascarel -admitido que haja alguma vez operado de ma fé -sempre escolheu a plena luz do dia e a presença deinúmeras testemunhas, a fim de realizar as façanhasmistificadoras .

Mas, seria mesmo o desejo de mistificar que aimpelia? Quereria ela convencer de que possuía um afaculdade sobrenatural ? Por mim, não o creio . Noprimeiro caso, as mistificações só lhe ocasionavamaumento de trabalho, pois era obrigada, logo depois, arecolher e remover os destroços refazer as camas, tudorepor em ordem . Expunha-se, além disso, a serdescoberta e escorraçada, em condições que lhedificultariam colocar-se em outra parte.

No segundo caso, ela ganharia fama de feiticeira.Basta-nos conhecer a,opinião dos campônioslimousinenses sobre a feitiçaria, para concluir que areputação era indesejável a qualquer rapariga. Ainfeliz Pascarel não escapou à pecha, e eu pudecertificar-me da repulsa, inteiramente imerecida, quelhe dispensavam. Em 2 ° lugar, impõe -se o fator deuma destreza inconcebível. E' requisito indispensável àadmissão da fraude, visto como, durante muitos dias, acada momento, os objetos se deslocavam sem contactoaparente, diante de várias testemunhas, Uma fraudegrosseira teria sido de pronto descoberta, máxime,tendo alguns observadores, qual o prefeito, por

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exemplo, acurada atenção, pela suspeita demalevolência intencional.

O testemunho deste magistrado; o das Sras. Fauce;da Senhora Madrias e seu servo, são probantes. Oprefeito colocou, ele mesmo, os objetos em cima damesa; ao pé deles estava uma vassoura, que foi ati radacom força de encontro à chaminé. Poderia a Pascarelfazê-lo, mesmo que estivesse prevenida? Poderia terarremessado o copo, da prateleira de um armário, aoabri-lo, quando o prefeito lhe vigiava todos osmovimentos? Como poderia arremessar o fole, queestava na chaminé, ao centro da cozinha?

Neste último caso, o prefeito estava entre ela e ofole, metros distante. Haveria algum fio preso ao fole?Vê-lo-iam, sem dúvida. Como, porém, admitir que elapudesse empregar o ardil ocultamente? Não seria,então, forçoso admitir também a cumplicidade detodas as pessoas probidosas, que relataram as nuasimpressões? E' deveras inverossímil que umacamponesa de 16 anos realize, em pleno dia, em localfreqüentado por numeroso pessoal e na presença detanta gente, números de prestidigitação que um hábilprofissional não conseguiria reproduzir três vezes, semdescobrir os seus processos. O exame dascircunstâncias em que se deram os fenômenos,referidos pela Senhora Madrias, confirma esta maneirade ver. No dia 30 de Maio, na hora da refeição datarde, feita na cozinha, toda uma série de fenômenos se

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apresentou. A Pascarel tinha na mão um prato de sopae, no momento em que ia tomá -la, foi-lhe o pratobruscamente arrebatado e atirado no meio da cozinha.Tudo o que ai encontrava em cima da mesa, em tornoda qual se assentavam a Senhora Faure e seus famulos,foi colhido e espalhado, Um cesto de cavacos,colocado ao canto do fogão, revirou -se e os pedaços demadeira voavam pelo ambiente, caíam noscircunstantes, chegando a contundir o Senhor Bosche.Haverá um truque possível em tudo isso ?

Sem entrar em mais pormenores, é forçosoreconhecer que as testemunhas viram, real enitidamente, tudo o que contam; que a hipótese defraude é inadmissível e que, ai o testemunho humanotem algum valor, importa considerar Comoverdadeiros os fenômenos desdobrados naConstantinía . As declarações de tantas pessoas, emsua maior parte sinceras e probidosas, não deixariamde acarretar, na espécie, a convicção do júri e de umTribunal superior.

Este o relatório do notável magistrado Maxwell. Ocaso é seguramente diferente do de Calvados, mas, nãomenos interessante. Nele vemos pancadas sem causaaparente, reviravolta de móveis, deslocação de objetos,movimentos sem contacto, quebra de utensílios,manchas de sangue, incêndio. Contudo, nem rumores,nem gemidos, nem indício qualquer de atuação dosmortos. Entre as forças físicas conhecidas, a primeira

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que nos surge à mente é a eletricidade, verdadeiroProteu. Mas, aquelas manchas de sangue? Verídicas asobservações, a causa persiste indecifrável para onarrador Maxwell, tanto quanto para o estudiosoespecialista de Rochas, e para mim mesmo.

Que a criada seja autora responsável, isso me podenegar, convicto, pela completa experiência que tenhodo assunto. O velho adágio jurídico - cum hoc ergopropter hoc - aí está, como alhures, falsamenteaplicado. Por outro lado, neste como no caso doCalvados, uma ilação se impõe: é a da existência deseres invisíveis. Imaginar o desdobramentoinconsciente da personalidade da criada, em estado devigília, dotada de faculdades fantásticas, é maistemerário que admitir a existência dos seres invisíveis.Trata-se de explicar esse deslocamento intencional,inteligente qual o de um crucifixo transportado, umespelho desatarraxado, uma vassoura arremessada àvista de todos - exercícios que nada têm de comparávelcom os efeitos do sonambulismo.

As constatações deste gênero são bastantenumerosas, e o número não é valor que se despreze.Eu não direi que Victor Hugo foi um gra nde poeta porhaver escrito e publicado 124.934 versos, e sim que aquantidade não prejudica a qualidade.

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CAPÍTULO V

Uma casa perturbada, no Auvergne. - Incidentepsíquico no Bispado de Mônaco. - Fenômenos

psíquicas correspondentes a óbitos. - A Morte e osrelógios

Não seria em um volume, mas, em quinze ou vinte,que se poderiam reunir os casos autênticos de casasmal-assombradas. Sem computar as inúmerasinformações diretamente recebidas de longa data, asobservações publicadas por autores comp etentes são,às vezes, tão características, que me vejo obrigado apublicá-las em primeiro lugar, para instruçãoindependente, dos meus leitores .

Um dos exemplos mais antigos é o de Pausanias,general lacedemônio em Platea, condenado a morrerde fome no templo de Minerva, 477 anos antes de J. C.e cujo Espírito, dizem, lá se manifesta em gritos, hámuito tempo. Legendas ou memórias, a História ant igaestá repleta desses episódios de manifestaçõespóstumas.

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Em uma obra ainda hoje lida por todos os eruditos,conta Plínio, o moço, o caso que se tornou quaseclássico, do espectro de Atenas, em virtude do qual ofilósofo Atenodaro adquirira uma casa a baixo preço.

Na primeira noite, lendo e escrevendo como decostume, ouviu um como arrastar de correntes noassoalho . Ergueu os olhos e viu um velho triste,carregado de ferros, que se aproximou e lhe fez sinalpara que o acompanhasse, levando -o a um ponto docorredor e aí desaparecendo. O filósofo levou o fatoaos juízes, escavações se fizeram e acabaramencontrando um esqueleto acorrentado. Deramhonrosa, sepultura e cessaram os fenômenos .Efetivamente, poderia aqui transcrever centenas deepisódios como este, contados há milhares de anos, deorigens diversas e que não devemos, certo, tomar àletra, mas que também não podemos, em sua maiorparte, julgar simples invencionices. Entre outros; estaeste relato de Plínio, que sempre foi consideradofidedigno:

Dos tempos mais remotos, estas descriçõeschegaram aos nossos dias, sem solução d econtinuidade. Os fatos modernos estão, geralmente,mais bem documentados. Em numero considerável, oque só nos embaraça é á escolha, mesmo limitando -aaos confirmados por grande número de testemunhas.

Georges de Dubor, erudito autor de Mistérios daHipnose (1920), publicou o seguinte caso que lhe foi

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informado por pessoas honradas, inteligentes, sincerase isentas, portanto, de qualquer suspeição. O chefe dafamília, Senhor Boussoulade, exerce alto cargo noMinistério da Fazenda. E' homem grave, sério,geralmente benquisto. Vejamos, en tão, os fatos pelorelatório do próprio punho da Senhora Boussoulade,confirmado por todos os membros da família,testemunhastes dos fenômenos .

Deixamos Paris no dia 1 de Julho de 1914. Éramoseu, duas filhas de 9 e 12 anos, e mais uma prima efilhos. Alugáramos em Vodable, no Auvergne, umaherdade encantadora, cujo panorama abrangia um ricovale. A casa, reconstruída sobre os alicerces de umcastelo feudal, tinha ao rés-do-chão grossas paredes esólidas abóbadas. De longa data ocupada pela mesmafamília, ostentava, naturalmente, muitos móveis equadros de retratos. A divisão interna era: nopavimento térreo, biblioteca e sala de jantar; no 1.°andar, sala de espera, mobiliada e ornada de retratos, etrês quartos, sendo: um forrado de vermelho, outromuito amplo e contíguo a um menor, com uma sócama de acaju, estilo império. No 2.° andar, doisquartos (os meus) e outros dois ocupados peloscriados.

O mês de Julho transcorreu calmo. Em Agostosobrevieram as angústias da guerra; e a 1.° deSetembro, fugindo de Paris ameaçada, chegou minhairmã com o filho, um guapo rapaz de 19 anos.

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Mal se refizeram das fadigas da viagem, longa epenosa, quando começaram os fenômenos quemotivam esta carta. A 7 de Setembro, cerca de 8 1/2 danoite, reunidos no quanto vermelho d o 1.° andar,ocupado por minha irmã, ouvimos tocar a campainhada sala de espera. Ninguém tocara o cordel, que estavaà nossa vista. No dia 8, nova campainhada, à mesmahora da véspera. Depois, na dita sala, um quadro caiuna cabeça do meu sobrinho. Repuse mos, no seu lugar,quadro e gancho . No dia 9, de manhã, no assoalho dabiblioteca, um sabre sem a bainha, arrancado dapanóplia. Os ganchos estavam intactos. Nessa noite, acampainha do 1.° andar começou a tilintar e o quadrotornou a cair, precisamente à mesma hora.

No dia 10, nada; no dia 11, toques reiterados das 9as 9 1/2 da noite. Impacientes, metemos papel nacampainha: o papel caiu e a campainha continuoutilintando. Pedi, então, ao sobrinho que arrancasse omartelo da campainha, o que se não fez sem pena.Instantes depois um retrato no vestíbulo agitou-seviolentamente, balançando-se da direita para aesquerda.

No dia 12 os quadros da sala de jantar estavamtodos deslocados, As 7 da noite, um porta vasocolocado na janela da escada, à meia altura d o pédireito, tombou com fracasso e rolou a fundo, até osolo. Reposto no lugar, tornou a cair.

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No dia 13, as 7 da noite, procurando entrar noquarto, verifiquei, espantada, que a fechadura estavacorrida a duas voltas e com a chave do lado de dentro.A mesma coisa se dava com a porta do corredor para osegundo quarto, impossibilitando portanto, a entrada.Tivemos, assim, ele arrombar a fechadura. Na mesmanoite, reunidos todos, inclusive dois visitantes, nabiblioteca, vimos um retrato destacar -se da parede ecair no meio da sala. O gancho ficou intacto, bemcomo o cordel. Subimos a ver os quartos o atrás de nóstombou a mala, de cima de um armário; uma portaestava fechada à chave e esta desaparecera da gavetaem que minha irmã costumava guardá -la.

No dia 14, grande fogaréu, espontâneo, nuaquecedor do salão. Um quadro da sala de espera vooupor cima da cabeça da empregada, mas as escápulas,bem como o cordel, ficaram na parede. Assentados àmesa de jantar, nessa noite, vimos o cordão diacampainha flexionar-se, enquanto a mesma tilintava.Na biblioteca, à nossa vista, um quadro foiviolentamente arrancado da parede, com as escápulas etudo. Na manhã, de 15, minha prima acordouenclausurada, pois as portas do quarto estavamfechadas e as chaves desaparecid as. Procuramo-las emvão, mas logo que chamamos o serralheiro, elasreapareceram como por encanto. A partir desse dia,resolvemos trazer as chaves sempre conosco, paraevitar novas partidas, E contudo, minha prima, minha

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irmã e o sobrinho haveriam de encon trar em suascamas, todas as noites, mudas de nabo, pinças, pratos,cardos e até um busto do antigo proprietário.

No dia 16, o porta-vaso subiu ao 1 ° andar,entornando-se no soalho a terra nele contida. A 17, umprato oculto no leito de meu sobrinho, ao s er depostosobre a cômoda, projetou-se ao chão, espatifando-se.Defronte, noutro móvel, também caiu um lampião. Nodia 19, segui com os filhos para Bordéus, ao encontrode meu marido e satisfeita por deixar aquela casapouco acolhedora, mas, estava escrito que minhaausência não interromperia os fenômenos. No dia 20,meu sobrinho, quando se dispunha a adormecer,sentiu-se alçado com o leito de acaju, aliás pesado, emsentido quase vertical. Minha irmã e a primaacudiram-lhe aos gritos, e chegaram a tempo depresenciar o fato.

Diante de ocorrências tais, tão insólitas quãoincomodas, ficou decidido regressarmos a Paris e logoas facécias se multiplicaram. O busto já referido foiencontrado no leito do quarto vermelho, com a cabeçano travesseiro e com as cobertas conchegadas até oqueixo. Um porta.-vasos de ante-sala deu um saltomirabolante para cair no meio da escada. Recolocadona janela, desceu os degraus ã vista de todos, como daprimeira feita. Um vaso de louça projetou -se do pátioda cocheira e foi, atravessando a janela, espatifar -se namesa da sala de jantar. No dia da partida. repusemos

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os quadros nos seus lugares e eles tornaram a cair. Osmóveis da sala de visitas, onde nada havia ocorrido,foram derrubados e, tanto que erguidos, logoretumbavam . O mesmo ai deu no quarto do 2.° andas,O mostrador do relógio de parede abriuautomaticamente, nenhuma cadeira ficou de pé.Reunidos para. a última refeição, na sala de jantar,todos viram a mesa oscilar, levantar -se e partir para olado de minha irmã.

Reinstalados em Paris, minha prima, minha irmã esobrinho entraram a gozar a mesma calma que eu jádesfrutava em Bordéus, livre de tão fantásticosfenômenos.

Neste Dezembro corrente, regresso a Paris commeu marido e os filhos . No dia 17, achamo -nosreunidos em casa de minha prima, para um jantar defamília, a fim de marcar a partida do sobrinho, no diaimediato, para o serviço militar. Mal nos assentamos, amesa estremeceu e levantou-se, a madeira começou aestalidar ininterruptamente. Fizemos -lhe perguntas,convencionando uma pancada para o sim, duas para onão. As respostas foram ridículas ou incoerentes.Terminamos o jantar com muita pena.. Durante a noiteas campainhas elétricas retiniram três vezes e no diaseguinte, nova reunião de almoço em minha casa. Amesa agitou-se com mais força que na véspera e s altoua ponto de só conjugados podermos retê-la. Na sala devisitas, depois do almoço, um porta vasos deslocou-se

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da sua coluna e deu três saltos no assoalho; umacadeira também foi derrubada três vezes. Aoretirarem, os convidados tiveram grande trabalho paraencontrar os chapéus, que tinham sido escondidosdebaixo das camas ou atrás dos móveis.

Minha prima se foi e a calma logo se restabeleceu.Ao regressar, uma hora depois, a mesa começou atrepidar, os objetos a caírem. Tudo cessou com o seuafastamento definitivo. A propósito, cabe aqui dizerque meu sobrinho partiu para o iram, onde foi mortoem Maio de 1915, e daí por diante não tivemos outrofato deste gênero, a registrar.

Este relatório da Senhora Boussoulade demonstraque a ausência, do rapaz interrompeu os fenômenos.Entretanto, esses fenômenos só ocorreram quandoreunida à família, deixando presumir a necessidade deoutras forças, além das do referido rapaz.

A narrativa foi ias totem confirmada pe lo SenhorBoussoulade e demais testemunhas. Todos esses feitosmar feriais parecem-nos incoerentes, baldos deobjetivo, mas nem por isso deixam de ser reais edignos de registro e de estudo . Nesta resenha, notávelpor tantos títulos, dois incidentes sobre ssaemespecialmente: o toque de campainha sem causaapreciável, e a queda repetida da mesa por forma tãocaprichosa quanto inexplicável. Conheço dezenas decasos semelhantes, de quedas de quadros sem causaconhecida, a coincidirem com falecimentos e mais de

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uma centena de toques de campainha igualmenteinexplicados, e ainda terei ocasião de voltar aoassunto.

Não é raro um retrato à hora exata do t raspasse doretratado. No tomo III de A Morte e o seu Mistério(págs. 347, 348), encontrará o leitor a narrativ a deAlexandre Dumas, a propósito da queda de beloquadro, coincidente com um falecimento, bem comode outro retrato a óleo, em circunstâncias idênticas.

Ora, ainda há pouco, um fato análogo se verificoupróximo de mim. Durante o inverno de 1920 -1921, porocasião de minha estada em Monte Cario, contaram -me um incidente desse gênero, ocorrido no Bispado deMônaco. Pude fazer uma sindicância direta, ias loco, econhecer todos os pormenores, verbalmente contadospelas próprias testemunhas, aliás gentilíssimas em suascomunicações. Vejamos a curiosa história:

Monsenhor Beguinot, bispo de Nimes, faleceu nodia 3 de Fevereiro de 1921 às 6 da manhã. lastimoamigo de Monsenhor de Curei, bispo de Mônaco,falecido em 5 de Junho de 1915, recebera e guardava,deste, uma fotografia em penhor de carinhosarecordação. Era uma bela gravura finamenteemoldurada e posta rio salão do palácio episcopal, emfrente do seu próprio retrato. Depois do falecimento deMonsenhor de Curei, o bispado de Mônaco foipreenchido por Monsenhor (16 de Agosto de 1916 a10 de Julho de 1918). A 3 de Fevereiro de 1921, o

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palácio estava deserto e guardado pelo CônegoPerruchot, única pessoa que lá se encontrava. E o casoé que, atravessando o salão, na manhã daquele dia, ocônego viu o retrato por terra, o vidro quebrado, e tevelogo a idéia de que o acidente inexplicável, nãoprovindo do cordel ou do gancho, poderia significarqualquer mau prenúncio.

Nesse mesmo dia, o Abade Foccart, capelão dohospital, por lá passando apanhou os destroços doquadro, reconstituiu a tela e o repôs no lugar. (O novobispo de Mônaco dali o retirou mais tarde,substituindo-o pelo seu) . Naquele mesmo dia tiverama notícia da morte do bispo de Nimes. MonsenhorBeguinot tinha visitado muitas vezes o seu amigo ecolega de Curei, e as suas relações eram tão íntima sque o levaram a constituí-lo ao seu herdeiro universal .

Estes fatos me foram informados pessoalmente porMonsenhor Perruchot e pelo Abade Foccart, aos quaisme cumpre agradecer. (Este abade é irmão do sábioviajante naturalista a quem devemos um estudopitoresco do Laivo Flammarion, na ilha de Guada lupe). E lícito perguntar como pode a alma, no momento damorte, produzir acidentes físicos que tais. Seja qual forà explicação, o que verificamos é que havia aqui u mnexo de simpatia entre os dois bispos. À distância deNimes a Mônaco é de 233 quilômetros, mas nóssabemos também que em telepatia não se contaespaço, podendo o Espírito do morto estar em Mônaco

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como em Nimes. Notarei, de passagem, que a minhacoletânea de observações documentadas contém váriascartas deste gênero. Esta que se segue, indicando umquadro caído logo após o falecimento, consta da cartaque transcrevo textualmente:

Merignac (Gironde) 10 de Novembro de 1922.

Venerando Senhor e Mestre.Tomo a liberdade de vos comunicar o seguinte fato,

ocorrido inopinadamente em minha casa, no dia 5 deOutubro próximo passado.

A Senhora Lafargue, médium curados, residenteem Bordéus, na rua de Lescure, faleceu no dia 4 deOutubro às 11 da noite. No dia seguint e pela manhã,entre 9 e 10 horas, uma pessoa das suas relações veioprevenir-me do sucedido. Eu estava ausente, porém.Minha mulher recebeu a mensageira e levou -a, porminutos, ao nosso quarto, onde lhe mostrou, de longe,o retrato em corpo inteiro, do nos so filho único, mortopela Pátria, em Setembro d~ 1918, depois do que,retiraram-se, fechando a porta do quarto. Preciso dizerque, de um e outro lado desse quadro, encontram -seigualmente enquadrados e pendentes da parede váriosdiplomas universitários do rapaz, isto é: o título demédico, o de bacharel e o seu P. C. N.

Os quadros são presos . por fio de latão aosgrampos fixados na parede. Minutos depois doregresso da visitante, minha mulher voltou ao quarto,

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onde ninguém poderia ter penetrado durante a suacurta ausência. Em lá entrando, experimentou intensodesejo de contemplar o retrato do filho querido e,surpresa, notou que o quadro do diploma de medicoestava voltado para a parede. Acrescentarei que, feita aexperiência, a viravolta só se poderia dar levantando oquadro acima da escápula em que se fixa. Sem essamanobra prévia, apenas se verifica meia volta, ficandoo quadro perpendicular à parede. E qualq uer esforçoimportaria no arrancamento da escápula. Eis o fatoestranho, que julguei útil levar ao vosso conhecimento,pois dele tirareis, sem dúvida, conclusõesconvinháveis ao fim que vos propondes, qual o deconhecer as múltiplas faculdades da alma humana..

Aceitai, etc.F. Monlinet

Professor primário aposentado e oficial daInstrução Pública.

P. S. - A Senhora Lafargue conhecendo a grandemágoa de minha mulher, lamentava sinceramente asua incredulidade a respeito da sobrevivência da alma:seria possível que, dez ou onze horas após a mortesobrevivesse dar-lhe uma prova tangível, com essamanifestação? Por mim, não estou longe de o crer,pois conheço inúmeros casos igualmente autênticos eimpressionantes, quanto este.

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São fenômenos que se constatam, como vemos, emtodos os países e em todas as camadas sociais. Deles,nada compreendemos, está visto . Em regra, havidospor fortuita coincidência, não se lhes dá a atenção quemerecem .

A verdade é que ações materiais como queda dequadros, ruptura de telas, parada de relógios, acoincidirem com certos falecimentos, são assaznumerosos para não se admitirem, e nós estamosautorizados a eliminar a hipótese das coincidênciasfortuitas.

Seguimos o preceito de Laplace (v. paga. 45/46) .Poder-se-á ler em Ao Redor da Morte (pág. 351) ocaso ocorrido em Bischeim (1913), do relógio queparou no quarto da falecida e ninguém conseguiu fazertrabalhar, até que ele - o relógio - se resolvesse a fazê-lo espontaneamente, depois de alguns anos e, o quemais é, no momento justo de falecer um neto da velhadona. O pastor Luc Mathey, de Jura Bernois, falou -meda parada de um despertador, rigorosamente observadapor ele próprio (carta 4.833 de 21 de Fevereiro de1922) .

Nós invocamos o acaso, mas estes exemplos sãotão freqüentes. . . E, ao demais, não é presumível aparada de pêndulas senão por falta de corda.

O Senhor Duquesne, de Orsay, falou-me, a 25 deJunho de 1922, da parada de uma pêndula, a coinc idircom a morte de pessoa por ele internada n a Salpêtiere,

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e que o havia presenteado com a dita pêndula. OSenhor Luciano Jacquin, de Paris, comunicou -me(carta de 1 de Outubro de 1922) que, no dia da mortedo avô, o relógio do mesmo parou, com grandeespanto da família.

Estas manifestações, repito, não são tão rarasquanto se presume . Tendo conversado, não há muito,com o amigo e notável historiógrafo Artur -Levy, autorde Napoleão íntimo, Napoleão e a paz, e obras outrashistóricas assaz reputadas, dele recebi a seguinte carta,datada de 11 de Junho de 1923:

Meu caro e grande amigo.Aqui tem uma pequena contribuição ao seu

inquérito a respeito dos fenômenos psíquicos, quedesperta em todo o mundo adormecidas lembranças detodos os tempos. O que vou dizer remonta a datas queeu mesmo não saberia hoje determin ar; todavia, pensopoder fixar entre 1856 e 1860.

A coisa deu-se em casa de meus pais, em Epinal.Havia lá um relógio montado num globo, em cima dofogão. A família toda rodeava a mesa, e o lampiãopendente do teto enchia o ambiente de tonalidadesavermelhadas. Os velhos jogavam as cartas, enquantoos filhos preparavam as lições escolares. No ambientesilencioso e morro, apenas se ouvia o tique-taque dapêndula. De repente, um ruído estranhamente sonoro,como saindo da caixa do relógio, fez que todosvoltassem a cabeça.

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Bom! - disse meu pai - eis que o relógio malucou. .. Depois, mais nada, o tique-taque prosseguiu no seuritmo... Mas, como? Chamaram o relojoeiro, no diaseguinte, e o exame demonstrou que o mecanismoestava perfeito; nada havia de anormal. Não haviaexplicação para o estranho caso. Ao outro dia - otelégrafo era parcimonioso naquele tempo - recebemosnotícia do falecimento de meu avô materno, na noiteda ocorrência e, talvez, ã mesma hora do timbresonoro, Coincidência curiosa, de que muito se fala,mas a que se não dá a devida importância... Entretanto,no inverno seguinte, o mesmo fenômeno sereproduziu, desta vez com verdadeiro alarme de meuspais... Seria uma outra infausta nova? Pois foi, de fato,a morte de um tio materno, ocorrido na hora exata doaviso. Aquela pêndula constituiu daí por diante, objetode angústia doméstica. Ao menor ruído duvidoso, osolhares espantados voltavam-se para o relógio. Taissão, meu nobre amigo, os fatos observados num meioonde ninguém cogitava de problemas psíquicos, isto é:um lar numeroso e só ocupado em coisas da vidaprática. Mas, do que aqui digo, garanto a exatidãoabsoluta. Minhas recordações são muito nítidas. E deresto, creia consideraria um sacrilégio envolver amemória de parentes caros, em depoimento de fatosduvidosos.

Arthur-Lévy.

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Mas, os relógios não só param em taiscircunstâncias, como, parados de longo t empo,também se põem a trabalhar. Eis o caso de um relógioenferrujado, que recomeçou a trabalhar sem que otocassem. Esta carta me veio de Paris, com data de 5de Janeiro de 1923:

Meu caro Mestre:Estudante parisiense, honro-me em solicitar a vossa

benevolência e parecer, a respeito de um fato que medeixa profundamente intrigado. A 19 de Dezembroúltimo, tive o imenso desgosto de perder minha mãe,com a idade de 49 anos. Na noite imediata aofalecimento, enquanto conversávamos - eu e mais duaspessoas - na câmara mortuária, um velho relógio,parado havia muitos anos, pôs -se de repente atrabalhar e ouvimo-lo dar, mais nítida e vigorosamenteque nunca, as 12 pancadas da meia -noite, posto que osponteiros marcassem 11 h. e 20 m. Que forçamisteriosa poderia ter vencido a inércia da velhamáquina enferrujada? A vós, que tendes analisado aalma humana, submeto a questão, assegurando -vos omeu reconhecimento pela honra da vossa resposta.

E . Imbert23, rua Santo André das Artes - Paris .

A única resposta, no estado atual da Ciência, é quepossuímos grande número de fatos análogos, provando

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A única resposta no estado atual da ciência e quepossuímos grande numero de fatos análogos provandoa sua realidade, o que não permite levá-los a conta decoincidência ou de acaso. Inexplicáveis, só pelo seuestudo comparativo poder-se-á tirar conclusões. Nãoentrará em jogo, aí, a alma da falecida? Podemosensaiar a interpretação dessas coincidências? Nãoseriam elas simbólicas? Que significam um relógio,uma pêndula, um mostrador? Evidentemente, umaparelho que mede o tempo.

Ora, o Tempo é o elemento essencial da vida econduz à morte. Na força universal que tudo rege, háum princípio intelectual desconhecido, associado atodos os acontecimentos, grandes e pequenos: àevolução de um planeta, ao instinto de uma ave, de uminseto.

A parada de um aparelho que mede o tempo nãopoderia corresponder à parada de uma vida? E nãohaveria um sentido, uma significação, antes que efeitoqualquer de uma causa desconhecida? Estes fatosmateriais, associados a defuntos, são, certamente,incompreensíveis. Um relógio parado, que se põe afuncionar, um objeto que cai, e o acaso em função docálculo das probabilidades, não explica essascoincidências. Há muito que publiquei o caso da quedafragorosa de um aparelho de café, coincidindo com ahora do falecimento do dono da casa, na África. Nessa

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mesma carta de 4 de Maio de 1899, constava outroincidente que não divulguei, o que ora faço. Ei -lo:

Meus avós tinham renunciado à vida do campo,instalando-se em La Rochelle.

Um novo aparelho (serviço) de café tinha sidocolocado a titulo ornamental do fogão, em lugar doantigo. Ora, 6 anos mais tarde, em 1841, meus avósescutaram o mesmo fragor na sua sala de espera.Subiram tão rápido quanto possível, enc ontraramfechada a porta e as janelas, pois, tanto como daprimeira vez, não ventava. Logo de entrada, ei -losconsternados com o mesmo fenômeno ocorrido porocasião da morte do filho - o aparelho de café estavareduzido a cacos.

Assaltou-os, então, profunda angústia. Que novadesgraça teria sucedido? Dias depois, chegou -lhes anoticia da morte do genro, vitimado pela epidemia, namanhã mesma em que o aparelho se quebrara pelasegunda vez.

Meu avô, pouco inclinado a superstições, por nãodizer céptico a respeito de coisas imaginativas,confirmou estes fatos a meu pai e, seguidamente, ãminha mãe, Disso estou eu bem certo. A seriedade daspessoas em causa não me deixam quaisquer dúvidasquanto ã autenticidade dos fatos.

( Carta n .549 ) .Senhorita Meyer Em Niort (Deux-Sèvres) .

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Repitamos, uma vez mais, que nadacompreendemos destes fatos estapafú rdios . Mas ahonestidade mais estrita manda divulgá -los. Asreflexões que essas banalidades suscitam, de há muitosanos venho propondo-as a mim mesmo. Já em 17 deAbril de 1900, o Senhor Castex-Degrange, eruditoDiretor da Escola Nacional de Belas Artes, de Lião,escrevia-me depois de ler L'Inconnu:

Até que enfim, pude começar a ler os diversoscasos de manifestação de moribundos, constantes doseu livro. Quer permitir-me uma advertência? Estouimpressionado com a puerilidade dessasmanifestações, tais como: ruídos insólitos, janelas quese fecham, um indivíduo a quem lhe entornam o seucafé, etc. etc.

Em todos esses casos, inclusive o de meu avô, apuerilidade é o que mais me tem impressionado.Efetivamente, o caso é autêntico, mas parece -me quepoderíamos supor que o agente encontrasse outrosobjetos ou se utilizasse outros meios. Meu tio-avô nãoera uma inteligência vulgar: bacharel em l etras,conhecia o hebraico e o sânscrito; portanto, umverdadeiro intelectual. Creio, pois, que seria maisdigno dele e do irmão, encontrasse algo de menos...culinário. E é sempre por esse lado que pega o carro.

Segundo a informação do Dr. Darieux, tudo foivarejado no gabinete dele. Havia, assim, uma forçacapaz de manejar um objeto leve. Como, então, não

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tomar de uma pena e escrever coisa de inteligente ?Papel e pena é coisa que sempre se encontra nogabinete de um doutor. Eis o que sempre me intrigounestes assuntos. Em suma, a raz ão está do seu lado,quando afirma que é preciso investigar com cuidado enada admitir nem recusar sem motivos sérios.

Receba, caro mestre, a segurança da minharespeitosa simpatia .

(Carta n. 899).Castex - Degrange Palácio das Artes, Lião

A interpretação racional destas manifes taçõespóstumas induz a crer não seja a alma inteligente queas produz, e sim uma força inerente a essa alma,operando fisicamente de ricochete - contra-choqueelétrico - como vibração no éter, um ato automático.Nossa ignorância no que concerne ao mundo psíquicoé formidável. Não há hipótese que satisfaça.. Pretenderque tudo derive de nós é tolice insustentável.

A estas observações, poderia adit ar inúmeras outrasmas não quero abusar da atenção do leitor,suficientemente advertido por sua instrução pessoal.

Entretanto, como se trata de fenômenos físicospresumidamente atribuíveis a defuntos, assinalareimais uma observação, pois que temos o dever de tudoanalisar friamente e eliminar todas as causas ilusórias.Isso é o que faço com a maior cuidado, levando emconta o valor científico dos testemunhos. Vimos, há

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pouco, o episódio do bispado de Mônaco, o daGironda, de Epinal, Paris, etc. Se este depoimento mefosse endereçado por qualquer ilustre desconhecido,talvez lhe não dessa importância, de vez que a ilusãose tornaria fator presumível. Mas, neste último caso, aobservação foi rigorosa e o autor jamais experimentououtra sensação idêntica em toda a sua vida.

Eis o que ele diz:Em princípios de 1893, destacado na guarnição de

Mont-Valerien fraturei a perna direita, escorregandono gelo e Pui imediatamente recolhido ao hospital deVersalhes. Foi isto precisamente no dia 23 de Janeiro.Minha mulher, enferma na ocasião, estava acamadahavia mais de um mês. No dia 17 de Fevereiro chegou-me a noticia da sua morte . Só pude ter al ta hospitalarem Abril, voltando ao apartamento de Mont-Valerien .

Na mesma noite que lã cheguei, deitei -me às 10horas. Antes de adormecer, rememorei tudo o que sehavia passado nos três últimos meses. A certa altura,em plena escuridade, senti no rosto um sopro forte,como se alguém me abanasse com um leque. Pensandoem minha mulher, exclamei alto: és tu que assim temanifestas, querida? Logo o sopro me repassou pelorosto, e foi tudo. Que conclusão tirar daí? Fiquei econtinuo convencido de que foi a alma da esposa queveio dar-me o último adeus, no dia mesmo em que euregressava ao nosso lar. Deliberei contar -lhe o

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sucedido, no pressuposto de haver algo de roboranteaos seus estudos sobre a sobrevivência da a lma.

(Carta n .4 . 473) .Deflandre

Coronel reformado, rua Dorien, 4, Paris.

Como frisávamos mais acima, o valor dasobservações depende muito da idoneidade pes soal dosobservadores. Aqui, não nos pare ce admissível àilusão. Agora, vamos fixar outros fatos em que essahipótese se torna absolutamente inadmissível.

CAPITULO VIOs rumores misteriosos do presbitério. - A casa do

professor de Labastide-Paumès. - Um companheiroinvisível

Se o castelo do Calvados nos mereceu particularatenção pela indiscutível autenticidade dos fenômenos,não menos se nos recomenda o presbitério que vamosvisitar .

No seu estudo sobre aparições, publicado naPsychical Society e reproduzido em Annales desSciences Psychiques, o célebre naturalista Russel

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Wallace historiou um caso notável de assombramento,observado por conceituado membro da IgrejaAnglicana, que residiu na casa durante um ano,observando, principalmente, a atitude dos cães.Quando ali se deu uma tentativa de roubo, o presbíteropôde evitá-lo, graças aos alarmes dos ditos cães, aopasso que os rumores mais fortes, produzidos semcausa aparente, nenhum latido provocavam dosterríveis animais, que, ao invés, procuravam ocultar -se, tremendo e ganindo lamentavelmente. Vamos,porém, ler o próprio original na verdade digno deatenção.

Depõe o próprio observador, homem culto esensato, na plena posse de suas faculdades intelectuais:

Há dezoito anos, mais ou menos, terminado o meuestágio diaconal, andava a procura de um curato. Entreos visualizados, um havia a sudoest e do Condado de S.A paróquia era grande e assaz afastada, dispondo deespaçosa casa para o serventuário. Optei por essecurato e fomos, eu minha mulher, tomar posse da novaresidência, ali chegando em certo dia de Fevereiro, àtardinha.

O presbitério era um grande edifício quadrado erodeado de canteiros de flores e ár vores frutíferas.Isolado, portanto, mas não muito longe do povoado., Àmargem do caminho que até lá conduzia, duas ou trêscasas apenas vizinhavam. Os quartos eram espa çosos ebastante altos . Encontramos tudo bem tratado e

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conservado, felicitando-nos pelo conforto que assim senos proporcionava. Lembro-me de que chegamos emuma sexta-feira, ã tarde, e de que trabalhamos comafinco para arrumar dois ou três cômodos, a fim deocupar a casa no dia imediato .

Sábado à noite, as janelas estavam fechadas;ferrolhos e fechaduras corridos, íamos, enfim, deitar -nos satisfeitos, depois de trabalharmos dois dias nasarrumações. Como ainda não tivéssemos criada,valíamo-nos dos préstimos de uma' boa cria tura, quemorava perto. Uma vez fechada à casa toda, nessanoite de sábado, éramos eu, minha mulher e essecamponês, as únicas criaturas vivas dentro dopresbitério. Muito antes da meia -noite, vagamos noreino de Morfeu, ou talvez além, no de Apolo, ondenenhum sonho extravagante e desgarrado achaguarida. Súbito, estala-nos aos ouvidos adormentadosum barulho a que nenhum sono poderia resistir.

Num ápice, antes mesmo de qualquer raciocínio,vi-me fora da cama, parecendo-me que o barulhoinsólito acabava de atravessar o silêncio próprio danoite. Minha mulher havia acordado tão brusca ecompletamente quanto eu, e ficáramos esperando arepetição do fato que nos aturdira, ou qualquer coisaoutra, de feição a elucidar-nos a ocorrência. Nada maisse verificou. Eu estava, naturalmente, resolvido atentar investigações imediatas, pois a presunçãonatural era a de haver alguém invadido a casa. Vesti -

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me rápida e sumariamente e comecei a batida.Contudo, tive o cuidado de consultar antes o relógio,eram 2 h. e 5 m. da manhã. Chamo atenção para esteponto. Procedi a uma devassa completa em toda acasa, examinei portas, janelas, trincos, fechaduras,tendo encontrando em perfeita ordem. Nada mais mecompetia fazer que voltar ao leito e esquecer oincidente, o que aliás não era fácil, pois nem eu nemminha mulher podíamos julgar vitimas de um engano.O barulho, tão evidente, tinha estourado enquantodormíamos, de maneira tão violenta e demorada, que asua realidade não admitia dúvida. Tal barulho pareceu -me então, e mais tarde, análogo aos de barras de ferrocaindo no assoalho. O timbre metálico era assazpronunciado e, nada obstante, prolongado e semprocedência de ponto fixo, antes parecendo percorrertoda a casa em sucessão de ecos sonoros, querepercutissem rapidamente . Não me refiro a isso tãosó para o caso particular aqui expresso, mas pelaimpressão que tenho da natureza desse barulho, com oqual, posso dizê-lo desde logo, meu conhecimento nãose limita às experiências dessa manhã domingueira,Naturalmente, de volta ao quarto, trocando idéia srespeito do fato, ocorreu-nos logo verificar se acamponesa também acordara. Mas, como não desse elaqualquer sinal de alarme, resolvemos aguarda r quealgo nos dissesse espontaneamente, pela manhã. Oresto da madrugada correu tranqüilo e, quando

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amanheceu o dia, constatamos que a terceirapersonagem doméstica também tivera o seu quinhãono fenômeno misterioso. Tanto quanto nós, forabruscamente despertada e ficara impressionada e aflita,por muito tempo. Todavia, a coisa não era tãoinesperada e estranha para ela, quanto para nós. Oh!meus caros - disse - já que haviam falado nessa coisa,mas eu nada vira nem ouvira até agora, e o que nãoquero é repetir a experiência.

Sim, ouvira falar antes, de tudo aquilo; mas, nadamais se lhe pôde arrancar e parecia até constrangida.Coisa imaginária - dizia; e foi tudo o que lhe pudemosouvir. Um ponto há, contudo, a respeito do qual foimuita, positiva, isto é, a necessidade que tinha de ir,todas as noites, ver a casa e os filhos. Dar -nos-ia seutrabalho diurno, mas queria pernoitar em seu lar.Assim combinados, fomos eu e minha mulher osúnicos ocupantes do presbitério, para o caso de ser eleassaltado por uma força tangível, ou por um ruídoimpalpável. Meus deveres dominicais foramreligiosamente cumpridos. Vi meus paroquianos pelaprimeira vez, na igreja, e pude contemplar satisfeitoum auditório numeroso e atento, posto que pouc ointelectual. Eu não podia imaginar que qualquerdaqueles aldeões, cujas faces se voltavam tão calmaspara o altar, pudesse engendrar alguma zombaria smeu respeito. Afinal, chegou o momento de nosrecolhermos ao presbitério. Em noites de rija invernia,

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nada como um bom fogo para alegrar o coração e,assim, aquecendo-nos, permanecemos até às 8, quandotivemos a idéia de inspecionar a casa toda, posto que ahouvéssemos cuidadosamente fechado logo queanoitecera. Levantamo-nos, e, deixando o salão,encontramos no vestíbulo, cuja porta abria para ojardim. Assim, ali chegados, ouvimos um rumor quenos fez parar e escutar. Esse rumor provinha do longocorredor, para o qual dão todos os quartos, e ma is nãoera que passos humanos, vagarosos e firmes.Historiemos os fatos:

I

Não podia haver dúvidas. Distintamente nítidosnão perdíamos um só passo daquele ritmo cadenciado .De repente, candeia na mão, escalei a escada de quatroem quatro degraus e atingi o patamar, de onde sedivisa todo o corredor. Nada vi de anormal. Minhamulher me seguira, naturalmente, sendo excusadodizer do seu nervosismo. Entramos juntos em todos osquartos, vasculhamos todos os cantos e nada,absolutamente, lobrigamos , Se alguém ali estivesse,não haveria como se escapar. Um exame. mais atento emeticuloso foi levado a toda a casa e deu-nos aconvicção de não haver viva alma portas adentro, fossequal fosse a causa do fenômeno. Para maior segurança,ainda abri a porta do pátio e examinei o exterior. Neste

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comenos, minha mulher adverte que os passosinexplicáveis recomeçavam lá dentro. Aqui, cabe dizerque, ao reentrarmos no salão, comentando o fato ,aventamos a hipótese de ter caído em uma casa mal -assombrada.

Contudo, é de justiça ajuntar que éramos ambos tãorefratários à. crença do sobrenatural, que logo arejeitamos por absurda, contentando -nos com a idéiade algo extraordinário. Os fatos não se repetiram nessanoite e durante umas duas semanas nada se fez notarde anormal. Nesse interregno, terminamos a nossainstalação. Uma criada muito ativa bastava para darconta do serviço doméstico, e além dela contratamosum rapazola de 14 anos para tratar uma parelha deponeys e de outros pequenos encargos. Esse rapaz,vale dizer, não dormia em casa; de sorte que, nãohavendo ,visitas, alias raras, lá ficávamos apenas trêspessoas, à, noite. A criada era filha de outra aldeia, nãotinha relações locais, a menos que o ignorássemos.Havia já algum tempo que nos não incomodavam. Dequando em quando, ouvíamos os passos misteriosos,mas, afinal, já não ligávamos maior importância,concluindo que, qualquer que fosse a causa, erainofensiva e não valia os sacrifícios das nossasconveniências e do nosso conforto, Não tardou, porém,fôssemos aquinhoados com outros feitos de naturezainsuportável. E' que a casa tinha em toda a extensãouma série de mansardas, que, por nós, foram

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aproveitadas para a guarda de malas, ca ixas eutensílios diversos. Dava-lhes acesso uma escadinhaque partia do corredor principal, no pavimentosuperior. Depois de lá arrumarmos a tralha, tínhamosfechado a porta respectiva .

Ora, uma noite, enquanto dormíamos tranqüilos,começou a desencadear-se por lá uma barulheirainfernal, que nos despertou alarmados a mais nãopoder. Era uma atoarda das mais vulgares, das maiscomuns e materialíssimas. Era - ou melhor dito -pareceu-me ser o resultado do choque, no assoalho dasmansardas, de todos os obje tos lá depositados. Obarulho era forte e contínuo: pancadas, rolamentos,crepitações. Naturalmente, as investigações seimpunham e foram feitas, mas não deram resultado ,Em lá chegando, tudo estava em seus lugares,silencioso, sem vestígios quaisquer de movimentação.Confesso que estávamos perplexos e que, desta feita,como das que se lhe seguiram, sentíamo -nosdesapontados, humilhados e incapazes de firmar idéia.

II

Mas as coisas não pararam nessa altura e nãotardou fossemos obsequiados com outrasmanifestações suplementares. De tempos a tempos,surpreendia-nos uma série de pancadas perfeitamentedistintas e ritmadas, ora fortes, precipitadas,

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impacientes; ora tímidas, surdas, hesitantes. Dequalquer forma, porém, posso dizer que as tivemos emmédia de quatro manifestações semanais, por todo otempo que lá permanecemos. De resto, não er a coisapara terrificar e que, a força do hábito, tornava-semenos impressionante. Há, porém, um fato que merecenotado: é que às vezes, deitado mas acordado, ouviasem querer o barulho e era tentado a fazer o que osgarotos denominariam uma partida . Dirigia -me, porexemplo, ao hipotético agente e pedia -lhe que aiacalmasse e não estivesse a incomodar quem dormiasossegado, ou então, que, se de algo precisasse,dissesse logo com toda a franqueza e lealdade.

Exortações que tais não eram, contudo, bemrecebidas, de vez que sempre acarretavam pancadasmais violentas, mais apaixonadas, se assim podemosdizer. O leitor poderá sorrir à idéia de qualquer nexoentre as minhas apóstrofes e a tonalidade dos rumores,mas eu apenas quero assinalar um fato de singularcoincidência e nada mais. Não formulo teorias, limito -me a contar uma história, sem floreios. E' bem possívelque em tudo isso não haja mais que simplescoincidências. Mas, perguntarão: não falaste aosvizinhos, dessas freqüentes aventuras? Sim, por muitotempo as calei e leso por diversos motivos. Emprimeiro lugar, falando dessas coisas misteriosas,ensejaríamos exagero e alarmes. que nos impediriamde arranjar criados, e, por outro lado, não conhecendo

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bem a índole do povo local, pensávamos que, setratasse de uma farsa, seria mais fácil descobri -laguardando segredo, ou, ainda, cansando os seuspromotores com a nossa impassibilidade. Sempre quea criada procurava tocar no assunto, desviávamos aconversa e desiludíamo-la de semelhante coisa. Todosos fenômenos surgiram logo após a nossa chegada ereproduziram-se toleravelmente durante a nossaestada. Também tenho razões para crer quecontinuassem depois que nos retiramos. O grandeestrondo do primeiro domingo, quando lá chegamos,foi o fenômeno mais impressionante e mais freqüente.Semanas se escoavam sem nada ouvirmos, e sempreque nos ocorria ver o relógio, eram 2 horas damadrugada. Passado o inverno, a região tornou -se maisalegre e tivemos algumas visitas, entre as quais umajovem parente de minha mulher, Ficou assentado quenada lhe disséssemos, já pela desnecessidade deimpressioná-la previamente, e já pela perspectiva deum testemunho espontâneo, que não se fez demorado.De fato, não tardou muito que nos procurasse indagarque espécie de reboliço doméstico ali se fazia depoisque todos se acomodavam para dormir. Como de ver,nossas respostas não podiam deixar de ser vagas. Umaou duas vezes ela nos perguntou se teria havido algumenterramento, pois a impressão era de que estavamabrindo uma cova mesmo em baixo da janela, e muito

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se admirava escolhessem àquela hora para tão lúgubretarefa.

Lógico que lhe asseguramos a inexistência de talenterramento e mais que o cemité rio Picava do outrolado da casa. O argumento era, parece -nos,concludente, porém, insistia ela em afirmar que ouviravárias vezes, perto da janela, um ruído de cavadeira.Por mim, não duvido da veridicidade da suaimpressão, mas nunca ouvi semelhante ruíd o. Tão-pouco me surpreendia quando, douta feita, ela megarantiu que alguém andara pelo corredor e lhe bateraà porta, sem contudo lhe responder ao quem é, nemforçar a entrada.

Enfim, chegou o domingo e assentamo-nos paraalmoçar. Que houve esta noite? - foi logo perguntandoa jovem. Safa? que barulheira... Eu me levantei tãoespantada que teria saído a ver o que se passava se nãotivesse medo dos cachorros. Minha impressão era talque não tornei a deitar-me e, como me debrucei ajanela escrutando a treva noturna., ouvi o sino daigreja badalar duas horas. Em tal ouvindo, minhamulher trocou comigo um olhar significativo. E que ahóspede acabava de ouvir naquela noite o quetínhamos convencionado chamar o grande alarme dossábados. Isso posto, não mais lhe guardamos reservase pudemos certificar-nos de que as suas impressõeseram concordes com as nossas. Tendo -nos ausentado

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por duas semanas, no outono, quando regressamos acriada nos contou o seguinte:

Uma noite, fora a aldeia, a compras, e deixarasozinho o rapazola. Assentou-se ele na cozinha,defronte do fogão, quando lhe pareceu que alguémcaminhava no corredor. Tratou de ver quem era e oque desejaria, mas voltou decepcionado e crente deque se iludira. Contudo, os passos recomeçaram maisnítidos e ele voltou a pesquisar, se bem que maisimpressionado, sem nada haver lobrigado. Pelaterceira vez, do seu banco ao canto do fogão, ouviu omesmo rumor e achando que era mui to para um pobrelabrujo, pôs a panos em direção a aldeia, só se detendona casa paterna para contar o ocorrido a quem oquisesse ouvir. Como já declarei, abstive -me por muitotempo de falar no assunto aos meus paroquianos.

Por último, sempre!, o abordei com uma excelentecriatura, muito paciente e velha padecent e de umaenfermidade que lhe não permitia deixar o leito. A boasenhora tivera a sua fase áurea, era um exemplar dosbons tempos, dotada de sãos princípios religiosos. Suacasa ficava bem defronte do presbitério, de ondedivisava, através da janela, o seu leito de enferma.

Contei-lhe o que ocorria e perguntei se nuncaouvira Falar de tais coisas. Respondeu prontamenteque muito se havia falado a respeito e que um de meusantecessores, pelo menos, havia sido assaz molestadopor esses fenômenos. Acrescentou, ainda, que ela

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mesma tivera ocasião de ver luzes oscilantes eintermitentes nas janelas das mansardas. Aqui, importadizer que, enquanto ocupamos a casa, nunca. nosservimos dessas mansardas e que lá não entrei depoisdaquela noite em que procurava descobrir a origem dobarulho; e bem assim que, para franquear , só haviauma porta, cuja chave guardávamos cuidadosamente.

Minha interlocutora falou-me a seguir de uns tantosepisódios transcorridos naquela casa, no séculopassado, contados pelos seus pais, episódios que, umavez certificados e conjugados aos fenômenos, levara ma induzir uma teoria sobre a natureza dos própriosfenômenos. Mas, repito, meu intuito não é formularteorias e sim relatar fatos, deixando a c ada qual otrabalho de os julgar, Quanto a estes fatos, eu o atestode plena consciência, lealmente; mas, quanto causadeterminante, não me julgo mais nem menos adiantadoque os leitores, visto que, a despeito dos maioresesforços, nada consegui descobrir. As explicações quea muitos ocorrem, também a nós ocorreram. Antes domais, pensei tratar-se de simples farsa; mas, admitindoque, a despeito de todas as precauções e vigilâncias,pudesse alguém introduzir em minha casa, era forçosoconcluir que se tratava de farsantes tão tenazes quantohabilíssimos, e, ao demais, inconcebíveis sem outrointeresse que o da pura intrujice. Deixando de parte osanos anteriores, como supor pudesse alguém sededicar durante um ano, todas as noites (e muitas

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vezes de dia), com o dar uma série de ruídosincoerentes e desarticulados ?

Há também que ,pensar em ratos. Claro que nãobarateei o talento dos ratos, em matéria de ruídosnoturnos, mas debitar por tudo o que precede seriaabsurdo.

A seguinte observação merece considerada porquem quer que procure elucidar os Patos relatados. E'que eu sempre fui grande apreciador de cães e possuía,nessa ocasião, dois puros terr iers, excelentes vigias,inimigos da gentalha e sempre agressivos edestemerosos. Certa feita, no rigor do inverno,diversas casas das cercanias tinham eido furtadas.Chegada à vez do presbitério, os cães ladraram atempo, e com Paria tal, que me levou a abrir a janela atempo de ver. mais de um vulto esgueirando -se narelva.

Gritei-lhes e, disparando o revólver, afugentei -os.Menciono este incidente apenas para assinalar aconduta desses cães, absolutamente contrastante daque mantinham em face dos rumores misterioso s.Estes, jamais lhes suscitaram qua lquer reação, e querocrer que nem mesmo os entendessem. Sempre que osprocurava depois das pesquisas, encontrava -osencolhidos, trêmulos, evidentemente acovardados.Penso, também, que eram mais impressionados quenos outros, e que, ai não estivessem presos, acabariamdeitando-se ã porta do nosso quarto. Estes fenômenos

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abrangem um período de 12 meses. Ao fim dessetempo, fui chamado a outra reg ião e deixei o meucurato, satisfeito, confesso, por livrar-me dos alarmesnoturnos, mas algo desapontado por não l he terdescoberto a causa.

Este assombramento, tanto quanto o do Calvados eo da Corrèze, não dão margem a quaisquer duvidas .

Eis agora outro caso semelhante ao precedente. ODoutor Darieux obteve a sua descrição em 1895 e deu -lhe publicidade, ainda esse ano, nos Annales desSciences Psychiques (pág. 76). Trata -se de observaçãocientificamente feita e minuciosamente descrita.

Guardei em segredo, por mais de 20 anos, osestranhos, inconcebíveis acontecimentos cujadescrição hoje faço com a mais rigorosa minudencia eexatidão.

Em 1867 era eu professor público em Labastide -Paumès (Haute-Garonne) e tinha então 20 anos deidade. Minha residência ficava a uns 40 metros daigreja e era, nem mais nem menos, que o antigopresbitério, posto ã minha disposição. Ainda muitoarruinado em 1865, sofreu no ano seguinte grandesreformas, justo para servir -me de moradia. Quando lácheguei, a sua aparência era a de um prédio novo. Opavimento térreo, assaz baixo para ser habitado,servia-me simultaneamente de adega e dispensa,comunicando com o pavimento superior por amplaescada de carvalho. Junto dessa escada havia duas

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portas, dando respectivamente para o exterior e para opavimento térreo, que não tinha outra comunicaçãointerior. O andar superior nunca o aproveitei, sempreestive no primeiro, em companhia de meu irmão Vital- hoje lente de matemáticas no liceu de Belfort - e deminha irmã Francisca. Esse pavimen to dividia-se emquatro peças espaçosas, aqui assinaladas no respectivográfico pelas letras A, B, C, D, A, servia -nossimultaneamente de cozinha e sala de jantar; B - meudormitório; C - dormitório de meu irmão e D - o deminha irmã. A letra E indica o pa tamar da escadasituada no 1.° andar. O são escolar não Fazia parte dopresbitério e fora-lhe simplesmente agregado comoconstrução nova, isto é, em 1865.

Nós nos deitamos habitualmente às 9 horas danoite, para acordar às 6 da manhã. Antes de merecolher, tinha o cuidado de fechar todas as portas ejanelas, inclusive a porta interna que comunicava como pavimento térreo. Note-se que não tínhamos gatos,nem cachorros, nem pássaros quaisquer. Tendo sido acasa reformada recentemente, nenhum animal davizinhança poderia lá se introduzir. Antes de entrar noâmago da questão, preciso dizer que não pertenço anenhuma família de iluminados. De resto, aqui estãomeu nome e residência atual. Minha sanidade mentalpode ser sindicada como e por quantos o queiramfazer. Ora, certa noite de Abril, às 11 horas, acordeisobressaltado com um barulho singular: pancadas

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secas, violentíssimas, eram dadas na mesa e noguarda-louça da cozinha, como se alguém, abengaladas, se dispusesse a quebrá -los.

Apuro o ouvido: ba! e logo depois ba! ba! Mas ointeressante é que me não sinto apavorado. De prontoacendo a vela, salto da cama, atravesso o corredor eganho a cozinha. Nada aí vejo de extraordinário, osilencio é completo. Desço a escada e as duas portasretro referidas conservam-se trancadas ã chave, com osferrolhos corridos. Nenhum ser humano poderia terfugido por ali'. Sim, ninguém poderia, por dentro oupor fora, operar de tal maneira, deixando as chaves nasfechaduras, Contudo, eu não tinha sonhado! Subi denovo ã cozinha, abro o guarda-louça e nada! Procurei,com a vela, aclarar o interior da chaminé e vi que astelhas para vedar a chuva e escoar a fumaça estavamno seu lugar. Tornei a atravessar a cozinha, o corredor;fui ao quarto de meu irmão, ao da irmã e certifiquei -me de que dormiam a sono solto. Sonhei com certeza,- disse para comigo, e tornei a deitar -me. Mal, porém,apaguei a vela, a barulheira recomeçou.

Agora eram pratos a se atritarem, colheres e garfossaltando das gavetas, cadeiras em sarabanda. Essereboliço foi até às 3 horas da madrugada, renovandotodas as noites, durante duas semanas. Nada obstante,de manha, ao levantar-me, tudo estava em ordem nosseus respectivos lugares, nada quebrado! Apenas umavez, encontramos uma cadeira tombada e um

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guardanapo que lhe ficara no encosto foi atirado ameio metro de distância, mais ou menos. Ao ver talcoisa, estremeci pela primeira vez e fui empolgado porum temor absurdo, insensato. Porque ocultá -lo?

Uma noite, antes de deitar -me, tomei um poucodágua açucarada. A colherinha de que me servia ficoudentro do copo, debaixo do qual deixei um bilhetedobrado e assim redigido: - Se são Espíritos os autoresdesses fenômenos, peço-lhes deixem dormirtranqüilos.

Durante mais de 3 horas a colherinha bateu no copocom intervalos apenas de um minuto. Por duas vezes,creio, parecia que o copo rolava na mesa, sem cair noladrilho da cozinha, onde fatalmente se quebraria. Aolevantar-me encontrei o copo, o bilhete e a colher nomesmo lugar em que os deixara.

Uma noite, trás pancadas foram dadas na madeirada cama. Eram como bengaladas vibradas de cima, nasalmofadas da cabeceira, Dessa feita, um amigo (T. L .)consentira em passar a noite comigo. Em face do quevia, não ai conteve que me não dissesse: quer -meparecer que você dispõe de algum poder satânico, comessa cara de santo, a engendrar esses sarambeques.

Adiante, ver-se-á o atestado que firmou. Outranoite foi L. N., um companheiro de infância, que seprestou a fazer-me companhia e do qual tambémtranscrevo o depoimento. Incluo, igualmente, adeclaração do Abade Ruffat, que, ainda o ano passado,

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apesar dos seus 86 anos, dirigia a paróquia deLabastide-Paumès. Além desses, verão o testemunhodo mano Vital. Estes depoentes aí estão, todos vivos.Uma noite, ouvi passos na cozinha, l entos, pesados,como de homem. Para lá me encaminhei e nada maisconstatei que absoluto silêncio e completa ausência deentidades vivas.

Outra feita, ausentei-me e regressei muito tarde.Durante uma hora, pelo menos, meu irmão ouviupassos no meu quarto. Acreditando que eu tivesseregressado, dirigiu-me diversa pergunta e insistindopara que o deixasse dormir. Quando efetivamentevoltei, ele, furioso, ainda me repetiu: Então, queres ounão, deixar-nos dormir? Olha que há mais de uma horaque nos ensurdeces!

- Mas, ai eu estou chegando agora mesmo ?Contudo compreendo o teu nervosismo, pois o subir aescada ouvi o estardalhaço lá na cozinha, E eraverdade. Contudo, aquele alvoroço- começava aimpressionar e resolvi falar ao pároco local, ovenerando Abade Ruffat. O excelente homem acolheua minha declaração com mais indiferença quesurpresa. Tudo isso, disse, não tem maior importâ ncia;trata de uma casa velha e há muito tempo que ela, nãoé benzida; ai a coisa continuar, eu irei benzê-la e,como a prece a Deus é sempre exaltada, talvezpossamos acabar com isso.

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E de fato, dai por diante tudo ai normalizou. Estacoincidência será mais admirável, talvez, que aspróprias anomalias aqui relatadas.

Salières . (Professor em Pontivy):

ATESTADOS

I - Confirmo inteiramente tudo quanto diz meuirmão a respeito dos fatos ocorridos em Labastide -Paumès, Cantão de Isle-en-Dodon, na, casa que aPrefeitura destinou ao professor.

(25-1-1891).Vital Salières -, Professor.

II - Em 1867 o Senhor J. Salières, professor emLebastide-Paumès, convidou-me a passar uma noiteem sua casa, a fim de observar umas tan tas coisasextraordinárias e o que se verificou: às 11 horas danoite, pancadas fortes, como produzidas a porrete,foram desferidas na. mesma e no armário da cozinha.Simultaneamente, as cadeiras dançavam, os pratosestalavam, os copos retiniam. Mas, no fim, tudo estavaincólume, Por volta de 1 hora, três pancadas distintas efortíssimas foram dadas na cabeceira da cama, noquarto em que estávamos.

Toda a casa era ocupada pelo Senhor Salieres, umirmão e uma irmã, que não poderiam, de modo algum,

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ser os autores de tais fenômenos, circunscritos ao 1 °andar. Todas as janelas, bem como a única porta desaída, ficavam cuidadosamente fechadas, nenhum serhumano poderia ali penetrar de qualquer forma. Deresto, esquadrinhando todos os cômodos, nada aideparava de insólito. por mim, estou absolutamenteconvicto de que nenhum mortal seria capaz de realizartais coisas.

III - Ao tempo em que o Senhor Salières, hojeprofessor de Matemática em Pontivy, lecionava emLabastide-Paumès, isto é, em 1867, pediu -me fossepassar com ele uma noite, a fim de constatar umastantas ocorrências singulares. Cerca de 11 horas, todasas portas e janelas foram solidamente fechadas e toda acasa revistada. Começamos por ouvir pancadasviolentas na mesa da cozinha, pancadas que sereproduziram até às 3 da madrugada, inclusive noarmário da cozinha e na porta que lhe dava acesso.Acesa a vela, examinamos todo o ambiente, e,enquanto o fazíamos, era tudo silencio; mas logo queapagamos a vela o barulho recomeçou. Não podendoadmitir que criaturas de carne e osso, como nós,possam insinuar-se pelo buraco das fechaduras, paraoperar invisivelmente, sou levado a confessar queesses fatos são tão inexplicáveis quanto incontestáveis.

Que conclusão podemos tirar de tudo isto? Sãofatos que, como os antecedentes, provam a realidadedas casas mal-assombradas e que os seus negadores ou

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os ignoram ou procedem de má fé. Tão-pouco,admissível é julgar alucinados quantos os tê mobservado.

Eu não discuto a explicação, constato a realidade.A explicação é menos fácil que a constatação. Araridade de observações autênticas nada prova contra arealidade, ainda que assim pensem uns tantosracionalistas singulares. Quem é que se conv oca paradepor em juízo? - naturalmente, quem viu. Que dizer,então, da seguinte sentença: considerando que dezpessoas viram o réu cometer o crime; mas,considerando que quarenta milhões de pessoa,.s nadaviram, dou por absolvido o réu. Teriam os quarentamilhões de francesas, neste nosso caso, algum valornegativo ? E, contudo, assim é que raciocinam, muitasvezes, os adversários das nossas pesquisas tãolealdosas. O professor Guilherme Barrett assimresumiu suas impressões a respeito, num magníficoartigo.

1.° - Alucinação e fraude não bastam para explicartodos os fenômenos.

2.° - Os ruídos, os movimentos de objetos e outrosfenômenos físicos, parecem ter qualquer relação comuma inteligência invisível, que, mal grado à suaimperfeição, assemelha-se à inteligência humana.

3.° - Esses fenômenos se apresentam, as mais dasvezes, em correlação com uma pessoa ou com um

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local, de sorte a induzir a necessidade de una ponto deapoio para se produzirem .

4.° - Trata-se de fenômenos esporádicos etemporários, que podem durar dias ou meses,aparecendo e desaparecendo subitamente, sem causaconhecida.

Estou de acordo com Barrett e Richet quandoafirmam que os testemunhos são bastante positivospara que se não possa negá-los . Grande número decasos, rigorosamente examinados, permitem afirmar aexistência de movimentos sem contacto e de ruídosque a mecânica comum jamais poderia esclarecer.

E' absurdo supor que, durante semanas e meses,diversas pessoas, senhoras de si, conscientes e lúcidas,vigiando escrupulosamente uma casa dita mal-assombrada, declarem ter visto coisas inexistentes eouvido barulho imaginário . Se tratasse de um casoapenas e de um único observador, poder -se-ia admitira hipótese das alucinações e da ilusão. Mas, issotambém não passa de simples infa ntilidade, pois ilusãonão é mais que um vocábulo de feição a nosdesembaraçar de um fenômeno insólito, que nosperturba e confunde. Processo puramente simplista,diga-se. Mas, não percamos tempo com discussõesinúteis e prossigamos em nosso estudo. Em todo ocaso, podemos concluir, do que ocorreu na casa doprofessor, tal como no Calvados e na Corrèze, etc., quehá seres invisíveis.

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Os fenômenos de assombramento revestem mil euma formas. Ele os há que revelam a maisdesconcertante banalidade, enquanto que outrosaparecem associados a pessoas falecidas. Também oshá independentes, não só de defuntos conhecidos,como de quaisquer defuntos. Outros há que dão provasde inteligência, sem que neles vejamos, todavia,qualquer manifestação de almas viventes ou vividas .Debatemo-nos, assim, em pleno mundo invisível edesconhecido, que, por isso mesmo, mais impõem umestudo analítico dessas estupificantes observações.

Vou intermitir aqui uma carta recebida em 1900,(carta 898 do meu cadastro) da Senhora Manoel deGranford, meu confrade da Sociedade de Letras, naqual relata uma observação pessoal, assaz curiosa eincontestavelmente sincera:

Paris, rua da Primavera, n.° 9 - Fevereiro de 1900.

Sabe o meu caro mestre e amigo que sou incapazde enganá-lo e incidir na increpação feita a outrosinformantes, que o senhor conhece tanto quanto aAdão e Eva. Em que pese à severidade do seu métodocientifico, não pode o amigo, creio, duvidar de mim.Sem prejuízo do seu precioso tempo, quero contar -lheeste fato ocorrido comigo mesma, certa de que lhe

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merecerá interesse, pois, além de absolutamenteverídico, é fruto de experiência pessoal.

Quando ainda muito jovem, meu estado de saúdeera assaz delicado, pelo que, apresentando -se rigorosoo inverno, fui mandada para o sul, a, fim de ali ficarum ano, pelo menos.Parti para uma grande cidade doLanguedoc, onde residiam minha mãe e minha avó,instalando-me não longe delas, numa rua e numa casatranqüilas. A casa era térrea, com porão somente econstruída entre o pátio e o jardim, aliás rodeado dealtos muros. Ninguém poderia lá entrar senão por umportão de ferro gradeado e sempre fechado, mesmodurante o dia, e por um poial de sete degraus, até aavestíbulo . Estes pormenores ai tornam necessáriospara demonstrar que eu estava be m guardada egarantida de qualquer assalto. Meu criado foi -mecedido por Khalil-Pachá e muito recomendado peloseu devotamento. Esse honesto rapaz era, às vezes, umtanto pernóstico, mas, afora isso, era um serviçalexcelente, capaz de se deixar matar por defender-mede qualquer perigo. Ao demais, levara comigo a minhacriada de quarto, e, para completar o quadrodoméstico, tomei uma cozinheira da terra.

Eis, portanto, bem instalada com os meus filhinhos,em uma casa batida de sol de manhã até à tarde, eembalsamada por aquelas magníficas violetas queparecem estremecer ao exalar o seu perfume. Nemvizinhos, nem vizinhas; nenhum bulício em torno,

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antes uma grande, inefável paz a estender sobre nós oseu manto azul. Acreditei -me, assim, num paraíso,mas, enganei-me. A primeira noite passada na rua. . daCruz n.° 9, foi pacífica.; mas, a partir da segunda, fuibruscamente despertada por barulhos semelhantes aosque faria um criado estouvado em sua faina matinal.De olhos fechados, eu conjeturava que a diligenteAntônia estaria em campo, quando o relógio bateumeia-noite e desfez-me essa ilusão. Levantei-me depronto, chamei o criado que acorreu tonto de sono, eordenei-lhe que esquadrinhasse a casa foi feito e nadaencontrou de anormal; mas, vendo -me assazimpressionada, pediu-me um livro (creio que lhe dei oMonte Cristo) e ele vigiou toda a noite, na, sala, lendoa obra-prima de Dumas. Assim tiveram inicio asmanifestações, que haveriam de continuar todo o ano.Algazarra, livros atirados ao chão, arranhados nasportas, agitar de cortinas, tiros, cheiro de pólvora,gargalhadas... tudo nos propinaram, mas o fato maisextravagante foi o seguinte: Todas as noites - vejambem - entre as 10 e a meia-noite, davam uma grandemarretada no portão que dava para o poial. No te que,para fazê-lo, era preciso galgar uma grade muito alta,atravessar o corredor e subir os degraus do pequenoterraço.

Logo que ouvíamos a pancada, o Antônio abria aporta e... quem diz que lã estava alguém! Enganadovárias vezes e um tanto melindrado por ai ver assim

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ludibriado por qualquer daqueles provincianos, que eletanto desdenhava, o Antônio resolveu montar guarda àporta. De pé, mão posta no trinco e bengala pronta adesancar o farsante. Mas, foi debalde que deixou asdelicias da sua poltrona e a companhia da loura criadade quarto, que tanto o enamorava. Ja mais a marretatrabalhou, enquanto o António cabeceando de sononão deixasse o seu posto para voltar ao interior.Furioso com o truque, ele voltava num relâmpago,bengalão alçado, abria a porta, atravessava o pátio eprecipitava-se para o portão... Nada, nada mais quesilêncio em toda a rua!!! Tudo repousava, até os cães eos galos, na rua da Cruz, onde eu fui parar em buscade repouso.

Certa feita quis, ainda que de mim escarnecesse,que meu irmão observasse o que ocorria e pedi -lhe quelá pernoitasse. Ele aquiesceu, embora me crivando desarcasmos e tratei de acomodá-lo no quarto de vestir,separado do meu por .uma saleta. Posto que nessanoite eu nada ouvisse, meu irmão foi o primeiro aacordar-me e eu notei-lhe a fisionomia alterada. Ai , jánão gracejava, vinha apenas dizer que não e sperariapelo almoço, porque não pregara olho toda à noite .

- Sabeis? - acrescentou - pois eu te juro que nempor cem mil francos passaria aqui outra noite...

Que teria havido? Ignoro-o ainda hoje, porque elejamais mo disse, e sempre que tocávamos no assunto,encolerizava-se. Suponho, porém, que Coco (assim

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chamávamos irreverentemente o nosso Espíritofamiliar) ter-lhe-ia pregado alguma das suas peças, talcomo o fizera, certa vez, ã minha mãe, desferindoperto dela uma pancada tão forte que quase a fezdesmaiar. Meu caro amigo poderá perguntar comopude tolerar tal hóspede tanto tempo.. . E de fatoentranhável, visto que sou medrosa por índole, mas averdade é que Coco não me causava pavor e atéchegava a dirigir-lhe a palavra, a repreendê-los e apedir-lhe obséquios. Lembro-me de que uma noite, aovestir-me para ir ao teatro, disse à criada que esperavareceber uma carta importante e que, se ela chegassenaquela mesma noite, pelo último correio, Coco teria agentileza de me prevenir com duas pancadas noespelho em que me revia. Pois as duas pancadassoaram e a criada deixou cair o frasco que tinha n asmãos, deitando a correr, espavorida. E a carta chegou,efetivamente. E depois... Mas é tudo. Ao fim de umano, regressei a Paris. Esperava que Coco meacompanhasse, mas tal não se deu .

Não mais ouvi coisa alguma. Perdi a faculdade deatrair os Espíritos, em cuja existência não creio muito,apesar do que acabo de expor. Custa-me realmenteacreditar que, ficando invisíveis a nós tantos seresqueridos, seja permitido a manifestação de estranhos.Mas, dai nada concluo, porque nada sei e só me limitoa contar uma história verdadeira.

Manoel de Granford .

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Que nome poderemos dar à causa dessasmanifestações? Discuti com a narradora a hipótese deum desdobramento inconsciente, da personalidade, daexteriorização do seu próprio espírito, como aventavao nosso amigo A. de Rochas. Nenhuma hipótese,contudo, me pareceu ponderável. A observação do seuirmão a isso se opunha, particularmente . Seria umespírito qualquer, um. Invisível audível? Alma de ummorto? Em todo caso, é um espírito anônimo. E anossa interpretação e idêntica à conclusão da página156.

Recebi observações provindas de todas as classessociais, das mais altas às mais modestas. Elasdesbordam por toda à parte, para quantos seproponham a estudá-las, e a que se vai seguir não é dasmenos estranhas.

CAPITULO VIIA CASA FANTÁSTICA DE COMEADA,

COIMBRA, PORTUGAL

Em Comenda, arrabalde de Coimbra, cidade dePortugal afamada por sua Universidade secular,

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ocorreram coisas fantásticas, que valem reproduzidasaqui .

Em começos de Outubro de 1919 o Senhor HomemCristo, primeiranista de Direito, foi expulso daUniversidade por desobediência a pragmatismoreligioso e tentativa de sedição à, mão armada.Alugou, então, em Comenda, um sobrado de um sóandar, ali se instalando coro sua mulher e duas criadas.Essa senhora, desde a primeira noite, entrou a queixar -se que ouvia rumores estranhos. Oito dias depois, umamigo, Senhor Gomes Paredes, também universitário,indo a Comenda tratar de negócios, houve de pernoitarem casa do ex-colega. Depois de muito palestrarem,até 1 hora da madrugada, foi cada qual para o seuquarto. Mal apagou a vela, o Senhor Paredes ouviupancadas na janela. Reacendeu a vela, ergueu -se,escancarou a janela e nada viu. Tornou a deitar -se,soprou a vela e eis que ouve passos junto dele, e portasque se abrem e fecham por toda a casa. Reacendeu aluz e pós a esquadrinhar debaixo da cama, dos móveis,etc. Ninguém! Nada! Extinta a luz, recomeçou obarulho.

Não querendo incomodar ninguém, conformou -secom a situação e pela manhã perguntou ao SenhorHomem Cristo se algo havia notado. Absolutamentenada - foi a resposta. Aliás, não há que estranhar,porque eu durmo como um frade. Mas, afinal, quepoderia eu escutar? Ladrões é coisa que aqui não há e

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tudo o mais, a meu ver, é pura fantasia. Paredes, queconhecia o positivismo do outro, não insistiu. Voltoupara Coimbra e contou ao pai o sucedido. Este, depoisde ouvi-lo com atenção, disse: - E' singular, visto queo locatário anterior deixou a casa devido a essesbarulhos e a atual zeladora do ObservatórioAstronômico, que lhe fica em frente, havendo lãpassado uma noite, declarou que nunca mais o faria,porque a casa tem bruxedo. A meu ver, deves tudocontar ao colega e pedir-lhe que se sacrifique umanoite para observar o que por lã ai passa.

Gomes Paredes seguiu o conselho e pediu a H.Cristo que observasse por si mesmo. Era o que faltava-- gracejou - e foi deitar-se, disposto a dormir como decostume. Todavia, essa noite, ouviu rumores ointrigaram e decidiu vigiar durante a noite seguinte,em companhia do amigo. Preciso é notar que todosdormiam no andar superior, e que no térreo não ficavaninguém.

Às 11 horas da noite o Senhor H. Cristo mandouque as criadas se recolhessem, na forma do costume.Enquanto houve luz na casa, nada se verificou; maslogo que apagaram a última vela, ouviram -se fortespancadas na porta do pavimento térreo, que dava parao jardim... O Senhor H. Cristo desceu, lesto, colocou -se junto da porta. As pancadas recomeçaram e eleabriu instantaneamente a porta.

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Nada e a ninguém vendo, saiu a verificar se alguémfugiria por uma ruela vizinha. Mal se viu do lado defora, a porta fechou-se com estrépito e a chave volteouna fechadura, de sorte que, para reentrar, teve de baterpara que lha abrissem. Muito intrigado, convencido dapresença de alguém que se divertisse à sua custa,tomou do revólver e exclamou agora veremos!...

As portas continuavam batendo, e num pequenocompartimento contíguo ao quarto de dormir,compartimento sem saída, as pancadas eram aindamais fortes. Tudo isso se dava no escuro e cessavalogo que feita qualquer luz. Cada vez mais ansioso pordescobrir o intrujão, O Senhor Cristo se postou nopatamar da escada, de revólver em punho. Apenas aiapagou o fósforo geie mantinha entre os dedos, ouviubem perto uma estridente gargalhada, que ecoou emtoda a casa, e viu à sua frente uma nuvem branca,enquanto das próprias narinas lhe safam dois filetes deluz alvacenta. Era demais! Começou a arrefecer -se-lhea coragem. E a coisa se prolongou até às 4 horas damadrugada! No dia seguinte, como não pudesseadmitir fenômenos psíquicos, resolveu requisitar umagente de polícia para testemunhar o que pudessesobrevir. Queria, a todo o transe, agarrar o farsante ereceava perder a calma e matar alguém. Deram -lhe uminspetor e dois agentes. Chegada a noite, o inspetorficou de fora, no jardim, frente à porta, no intuito decontrolar qualquer movimento de entrada ou saí da. Os

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dois agentes, os Srs. Cristo, Paredes e outro amigo(Henrique Sotto), especialmente chegado paraobservar o caso, ficaram no interior. Depois de tudoexaminarem meticulosamente, apagaram a luz e aspancadas logo soaram no pavimento térreo. Estãoouvindo? - perguntou o Senhor Cristo aos agentes.Perfeitamente - responderam. Os ruídos continuaram eo Senhor Cristo abriu de repente a porta, mas, como navéspera, a ninguém viu senão o inspetor, a passearcalmamente por ali perto. Quem bateu? - perguntou.Ninguém - respondeu o policial. Mas... não ouviu aspancadas? - Nada, absolutamente. E' demais! Entre,então, e vamos ver se os agentes são mais felizes.Repete-se o feito, o inspetor ouviu as pancadas, mas osagentes não. Ah! - disse o Senhor Cristo - é assim?Então, entremos todos, porque a coisa é cá por dentro .Um agente foi destacado para o quarto em que dormirao Senhor Paredes, no 1 ° andar. Quando puxava umbanco para assentar-se, este lhe foi retirado de tal arte,que o agente não pode evitar a queda. Os dois amigos,Paredes e Sotto, ficaram no pavimento térreo, com oinspetor. Em seus respectivos quartos, todosigualmente no 1 ° andar, permaneciam a senhora e oscriados. O Senhor Cristo, tal como na véspera,plantou-se no topo da escada. Logo que apagaram asluzes, as pancadas ai repetiram, sobretudo no pequenocompartimento contíguo ao seu quarto, e onde apenasexistia uma canastra. Aquilo parecia até um desafio...

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De repente, um grande barulho no quarto do amigo,parecendo antes violento conflito, fez com que todospara lá convergissem, persuadidos de que o inspetortinha descoberto o farsante. Mas, oh decepção! O queai lhes deparou foi o agente afobado, a bater com osabre a torto e a direito, acabando por esgueirar -senum pequeno gabinete, onde, na sua fúria, quebrou oespelho do armário. Tiveram de subjugá -lo à força,pois o homem parecia. louco. Restabelecida a calma,tornaram a apagar a luz e o Senhor Cristo retomou oseu posto, no patamar da escada, recebendo logo emcheio, no rosto, um bofetão tão forte que o fez gritar,pois - diz ele - era como ai alguém lhe enterrasse asunhas, lacerando-lhe a face. Depressa acenderam a luze todos puderam ver a marca de quatr o dedos na faceesquerda do Senhor Homem Cristo. Outrasingularidade: o rosto do Senhor Cristo estava rubro,mas a face direita apresentava lividez cadavérica.Procuraram ver as horas, era meia -noite. O SenhorCristo e sua mulher, as criadas, os amigos e o spoliciais, todos enfim, apavorados, não quiseram láficar nem mais uma hora e foram passar o resto danoite no hotel. Os policiais, por sua vez, recolhendo-seaos seus penates, protestavam que jamais voltariamàquela casa. O Senhor H. Cristo sublocou a dita casa,mas, ao fim de dois dias, o novo locatário retirou-se,declarando que ninguém poderia habitá -la.

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Esta narrativa foi feita pela minha amiga SenhoraFrondoni-Lacombe, de Lisboa, nos Annales desSciences Psychiques, em seu número de Março de1910. O observador, Senhor Homem Cristo, contou elepróprio a sua história, em outros termos, maisminuciosos, tal como se encontra em sua obra - OParque do Mistério, escrita em colaboração com aSenhora Rachilde, em 1923. Eu tenho a honra e oprazer de conhecer esta senhora há cerca de trintaanos, e sei que ela não quer admitir, de maneiraalguma, a realidade dos fenômenos psíquicos, pelarazão, certo respeitável, mas discutível, de haveremsido seus pais enganados pelos médiuns.

O Senhor Homem Cristo, ao invés , comoobservador direto, foi levado a convencer -se cada vezmais da autenticidade e valor científico dosfenômenos. De ateu, tornou-se espiritualista convicto.

Eis porque se torna interessante conhecer na íntegrao seu depoimento, extraído do citado livro .Preliminarmente, o amigo, que com ele foi passar umanoite, conta-lhe o seguinte:

Adormeci depois de muito fumar e verificar quenão tinha mais fósforos. Despertei com uma sensaçãode claridade através das pálpebras, tal como quando,de olhos fechados, recebemos a claridade de umalâmpada muito forte, ou de um fogo muito vivo. Eracomo se visse antes de ver, e isso me impressionavatanto que abri, finalmente, os olhos e vi que as janelas,

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bem fechadas, conforme recomendaste, estavamabertas e o luar batia-me em cheio no rosto. Eu estava,ou pensava estar certo de haver tudo fechado eexaminado antes de me deitar; que havia corrido todosos fechos, mas, também podia ter -me enganado. Nessecaso, nada ouvindo de suspeito, e dispos to à bemdormir, como aquela réstea de luar me incomodasse,fui até ã janela, levantei a vidraça e prendi -a no ganchoque deveria mantê-la acima da minha cabeça, pois euprecisava debruçar-me para colher as persianasabertas. Elas resistiram, e a verdade é que não haviavento .

No pavimento térreo poderia dar-se tal coisa,operada por alguém que viesse do jardim. Lembrando -me, súbito, de quanto me havias dito, resmungueibaixinho para não acordar ninguém: olá! fuja que lávai fogo... Mas, logo o gancho do postigo cedeu e apancada que recebi na nuca me entonteceu e vi -meabarbado para safar-me da vidraça. Não queriachamar-te, pensando no ridículo da situação. Quandome livrei da alhada, tornei a prender as folhas da janelae, para maior segurança, fui inspecionar asproximidades da porta do jardim. Nada no jardim, naestrada, fora, nada! A noite era tranqüila e o luarclaríssimo, permitindo distinguir os menores objetos eas folhas da janela na posição em que as deixara, semque houvesse, bem entendido, qualquer obstáculo atrásdelas. A evidência nos sugere, sempre, a ordem e nos

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tranqüiliza. Era evidente que me havia enganado. Asjanelas não tinham sofrido pressão manual deninguém; a queda da vidraça fora uma simplescasualidade.

Estaria tonto de sono, meu ato descoordenados ,tudo muito natural, quando acordamos sobressaltados.Fechei cuidadosamente as janelas, arriei a vidraça etornei a deitar-me. Doía-me o pescoço, latejavam-meas fontes, sentia-me opresso, nervoso,. Aquilo nãopodia continuar. Foi então que pude ver esta coisaespantosa, bem defronte de mim, com os olhos bemabertos a todas as realidades possíveis: aa janelastornavam a escancarar-se, o fecho suspendeu por aimesmo (e lembro-me de que havia esgaravatado oembute para evitar que rangesse) . A seguir , Acabeceira da cama, outro ruído estranho, imitante arisadas surdas. Alguém, fosse quem fosse, pilheriavaA minha custa...

Onde te metes, homem? - disse, fechando ospunhos... A resposta foi uma série de pancadasviolentas na parede, no soalho, nos móveis; pancadasque repercutiam em mim, como ai a mim somentevisasse. No quarto não havia animal oculto, nem genteem conflito, a não ser eu comigo mesmo, banhado poruma réstea de luar... Perdoa-me, Francisco, o não tehaver procurado; perdoa-me, porque não tive tempo derefletir quando me atirei louco, pelo jardim, e abaleisem chapéu, sem mesmo cuidar de fechar a porta. Para

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entrar em minha casa, creio que foi coisa de minutos,pois a verdade é que me sentia mais leve que o vento .Quando o meu colega acabou de falar, fiquei caladoum instante. Tinha ouvido os nossos lente s contaremhistórias de alucinações coletivas, mas não podiaexplicar-me tantas coisas simultâneas, ao demais,impressionado pela circunstAncia de ocorrerem taiscoisas A meia luz, quando sabia que a clari dadedestrói essas fantasmagorias. Disse-lhe a titulo deobjeção e logo me respondeu: Sim, é verdade quehavia esgotado os fósforos, fumando até meia tarde,mas tudo vi com estes olhos, graças ao luar: as janelasabriam-se como que impelidas por du as mãos, e,quando tentei fechar, senti resistência. Isso significaque o seu detentor tinha mais força - respondi-lhe - epelo que, a vidraça, A guisa de guilhotina, poderia ter -me decepado a cabeça.

Depois, os ruído a que ouvia são exatamente oscontados por tua mulher! Disse ela que andavam peloquarto, de varias maneiras, como ai arrastassemfardos, sacudissem móveis, preparassem, enfim, uma -verdadeira mudança. E tu nada ouvindo, ai temosoutro mistério!

Ah! - exclamei dominando-me - ainda bem quetudo isso vai acabar. Esta noite, aqui vigiarei eumesmo, e não me faltarão fósforos nem armas parareceber esses marotos. Herde dar -lhes uma boa lição,juro-te!

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Para mim, tudo aquilo se explicava : depois doalarido pela minha atitude escandalosa naUniversidade, espirituosos de mau gosto estariamprocurando apoquentar-me. Nada mais que calouradados divertidos estudantes de Coimbra. Mas haviam delevar o seu quinhão, la isso havia, porque, além domais, estava em jogo uma jovem e um pequeno de seissemanas. No dia seguinte, mal anoiteceu, instalei -meno quarto suspeitado, depois de examinar toda a casa etrancar as criadas A chave.

E' que podiam, dada a astúcia própria da classe, terconivência com os pândegos. Provi-me de fósforos e,considerando mais prática a vela que o lampião, retireiuma de um candelabro muito alto, dizendo comigo :quero ver soprar a um palmo do nariz. Minha mulher,tremula como varas verdes, se bem que nãoconhecesse a aventura do colega colocou o berço dopetiz aos pés da cama e tomou todas as precauçõespara bem vigiar, não só o berço como a portaaferrolhada. Ela sabia que, comigo, não haviatransigências com o sobrenatural e que, portanto, se aideixassem fisgar, seriam brutalmente massa crados. Naguerra como na guerra. Eu começava a esquecertotalmente porque estava a ler uma obra dejurisprudência, repoltreado na cadeira de braços, em

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vez de estar na, cama, À uma hora da manhã e quandoa vela liquefazia em placa de cera, com o restantepavio solto e prestes a apagar . Também não precisodizer que tinha fechado a janela, firmando -lhe osfechos e correndo a vidraça nos caixilhos. Então, aoestender o braço para apanhar os fó sforos, vi... - issopassou automaticamente, desde que a luz se extinguiu- vi as folhas da janela abrirem-se lentamente e umraio branco de luar insinuar -se pela abertura,alongando-se sob a forma de uma espada. De um saltoatirei-me à vidraça, levantei-a, firmei-a nas barbetasestendendo os braços, sem insinuar a cabeça para fora,-- como que advertido pelo. . .. primeiro acidenteinexplicável -- puxei as folhas da janela com toda aforça e elas resistiram, parecendo soldadas em granito.E o mais curioso é que se me figuravam ao mesmotempo rígidas e elásticas ao tato, como se fossemmúsculos opostos aos meus. Abstinha -me de gritar, nopropósito de não assustar os que dormiam n o sobrado,mas estava suando em bicas e recebia, por assim dizer,o batismo do terror; uma primeira impressão de medo,que é cólera inominável; uma raiva impotente, que jáse não pode descarregar em blasfêmias. Tal como sedeu com o meu amigo, acovardei -me e corri até à portado corredor, que abria para o jardim. Abri -a de chofree verifiquei que lá não havia ninguém junto dasjanelas, nem galho de árvore, nem corda capaz de asprender. Nada, nada mais que o silêncio da noite!

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Contornei a casa, correndo, e voltei à janela...Fechara-se! Quando tentei reabrir a porta do corredor,também fechada, vi que a chave estava do lado opostoe a lingüeta da fechadura com duas voltas. Preso eu,portanto, do lado de fora! De quem ou de que metornava joguete? Fiquei atônito um instante, a rilhar osdentes, praguejando. Mas havia que sair daquelasituação, desmascarar a farsa tão bem urdida eexecutada. Mas... executada por quem ? Procurando,então, dar à voz um tom natural, chamei pela mulher.Ela acorreu logo à janela do sobrado, aliás vestida eassim provando que não procurara do rmir. Abre-me aporta, disse . E' que, idiota, saltei pela janela cujasfolhas se fecharam por si mesmas, e a porta de entradaestá naturalmente fechada. E' ridículo, mas, penso quedepois dessa ligeira ronda poderemos dormirtranqüilos . Tal dizendo, batia os queixos como seestivéssemos no inverno e não no estio. Minha mulherdesceu logo e abriu-me a porta, sem perceber a minhaansiedade. Fui buscar o revólver que tinha Picado namesa de cabeceira e disse à minha mulher, cingindo -acom o braço esquerdo : Acabou à vela e subo contigopara buscar outra; agi ouvires algum tiro, não teassustes. A bem dizer, ninguém aí anda, mas,compreendes, agi alguém por ai andasse, seria um bomaviso, este. . . Não, não empreendo - retrucou muitoimpressionada - mais com a minha voz do que com asminhas palavras. - Dar-se-á que também tenhas medo?

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Mas não há o que temer, repliquei, tentando sorrir.Vamos ao teu quarto, dar-me-ás outra vela, porquetudo provém da lua, que mal aclara o ambiente... Eudivagava... evidentemente. Depois, subindo a escadaabraçada, ela estacou de repente, inclinando -se paratrás com todo o peso de dois corpos.

E pôs-se a gritar e a debater-se: Acode Francisco!Estão amarrando-me os pés! Tínhamos atingido opequeno patamar aclarado por uma janela que davapara o jardim, nos fundos da casa Sem volver o olhar,por convencido de que a ninguém veria, dobrei o braçodireito por cima do ombro esquerdo e atirei nessadireção. O tiro repercutiu formidável em toda casa eminha mulher, amparada ao meu braço esquerdo,pareceu-me morta... Quem não morreu, porém, foi oagente oculto que me perseguia, porque logo senti norosto violenta bofetada, que me deixou a impressão decinco vergastas. Mas... coisa extraordinária! Abofetada como que me despertou a energia. Apanharimporta em lutar, reagir desde logo. Tratei de arrebatarminha mulher à. força brutal que parecia di sputar e,graças ao luar indeciso através da janela, verifiqueique não havia ninguém junto, nem atrás de nós.Chegamos, enfim, ao nosso quarto, cuja porta tateeifebrilmente, como se quisesse esmagar alguma coisaentre os batentes. Minha mulher, sentindo -se livre, ecrente ainda na presença de algum malfeitor, pois que

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me via armado de revólver, precipitou -se para o berçodo filho. O berço estava vazio - e a mulher desmaiou.

Apatetado, aguardei, no ambiente indeciso que alâmpada fraca mal aclarava, surgisse fosse o que fosse,daquelas ocorrências. Toda defesa afigurava-se-meinútil. Cruzei os braços. Punhal, revólver, tudo mais,que valeria contra o inimigo indomável ?

De longe, tendo as criadas ouvido o disparo,entraram a ganir como cães ladrando à lua. Nadaconheço mais desmoralizante que o grito de mulheresno silêncio da noite... Somente o choro de umacriancinha, parecendo sair de sob o assoalho, pôdearrancar-me daquele torpor moral. Importava procuraro inocentinho, pois o delíquio da genitora indicava quenão fora ela a removê-lo dali. Enchi-me de coragem -já se fazia necessário tê-la mui grande para descer esubir aquelas escadas - e fui esquadrinhar todo opavimento térreo, munido de boa lâmpada. Encontrei opetiz nuzinho, despojado de todas as vestes ecoberturas, estendido de costas sobre uma mesa demármore, como coisa de somenos, que o miserávelbandido houvesse ali deixado na sua pressa de fugirã... luz.

Passei o reato da noite a acalmar o nervosismo damulher e o choro do filho, e só com o clarear do diapude vê-la adormecer, com os lábios da criançacolados ao seio.

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Devo dizer que essa aventura me lançou emmarasmo tal que me não senti capaz de pensar eminimigo ou inimigos. Aquela última escamoteação dopequeno, transportado de um para outro pavimento,pela escada ou através das paredes, não era coisa quese pudesse explicar, nem sequer imaginar. Meucoração abria-se a um novo temor, qual o de cederantes de compreender. Resolvi, então, não desistir,sem pelo menos informar a policia do que me estavaacontecendo.

Chamo aqui toda a atenção da minha prezadaRachilde, pois todos a ouvimos dizer que estes fatosmisteriosos se passavam com uma ou duas pessoas demais ou menos boa fé, e que as in vestigações policiaisacabavam reduzindo a zero essas casas assombradas,que não costumam guardar segredos para os agentesda ordem pública.

Ora, neste caso de delírio de perseguição, ou demistificação, que eu procurava explicar a mim mesmo,tal como ai faz com um teorema no quadro negro (e oquadro era bem negro, na verdade), eu não encontravaoutra solução que não fosse a de prevenir a polícia deCoimbra contra os temíveis salteadores, desejosos denos expulsarem da casa pelo terror noturno, a fim demelhor poderem saqueá-la.

Note-se que a primeira impressão foi deincredulidade geral; mas, logo que dispensamos ascriadas, no dia imediato ao drama, elas lhe

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acrescentaram um último ato, dos maisimpressionantes. Tais duas galinhas espantadas àpassagem de um automóvel, lá ai foram piando,cacarejando em todos os tons, e aditando pormen oresdo que viram e do que... não viram.

O amigo que me acompanhou na primeira noite,voltou trazendo consigo outros camaradas eorganizamos uma caçada ao fantasma, com sobra deamadores. No circulo dos inimigos polític os (eu já ostinha) esperavam que tudo redundasse em ridículo paramim. Ao primeiro sinal de perigo, puseram sentinelasdiante e atrás das portas, que, nem por isso, deixavamde abrir e fechar por ai mesmas, bem como junto dasjanelas, que imitavam ai portas, como se zombassemdos ferrolhos e fechaduras mais resistentes.

Todos os fenômenos ai reproduziram integral eidêntica e, sempre que a luz se apagava. E sempre quea reacendíamos, encontrávamos vestígios do melianteou doa meliantes, mas não e nunca a sombra doe seusbraços.

Um guarda que se fechou na latrina para agarrar omalfeitor invisível, que lá ria a bandeiras despregadas,levou tantos encontrões que andou a dar com a cabeçanas paredes, e, quando de lã saiu, declar ou preferir milvezes demitir, antes que repetir tais diligencia . Malasde roupa ainda pedradas, porque não havíamoscompletado a instalação, foram esvaziados no assoalhopor mãos que ninguém viu. Aa pancadas reboavam em

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toda a casa, audíveis para quantos lá acorreram; osgritos e risotas esfuziava em torno, e ninguém podesaber como e por quem eram emitidos.

Nessa casa não havia porão, nem adega por ondepudessem deslizar fios, bons ou maus condutores deperigosa eletricidade; nem jardim muito denso, quepudesse dissimular qualquer pessoa.

Não. Aquilo era simplesmente o mi stérioapossando-se de um cenário moderno e representandoo drama do terrorismo, sem prólogos nem epílog os, esó dedicado à mentalidade do homem céptico, quiçápara fazer-lhe compreender melhor, que, de todos ostempos, as forças desconhecidas permanecem s empretemíveis, e que o mísero mortal por elas envolvido ésobretudo culpável por não procurar instruir das suasfinalidades, e nesse caso tudo ignora, ou quer tudoignorar das suas origens.

A bem dizer, eu estava mais furioso que abalado,não podia admitir qualquer embuste, mas, parecia -mehumilhante voltar costas a esse inimigo poltrão e -atrevido, que feria anonimamente. Impunha porémfugir, abandonar na mesma noite aquela casa,atendendo à criancinha que chorava e ü genitora que semostrava cada vez mais nervosa.

Esta a narrativa, a história vivida do escritorportuguês homem Cristo . Uma observação quemerecia, sob todos os títulos, associar-se àsprecedentes. Ela será talvez mais impressiona nte que a

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do castelo de Calvados. Que mundo invisível é esse?Os negativistas só têm um partido a tomar, que é o deaverbarem os depoentes de perfeitos mentirosos...

Vejamos, ainda, outros fatos observados.

CAPITULO VIIIOBSERVAÇÕES FEITAS EM CHERBOURG. -

QUAL SERÁ O AMBIENTE DESSAS CASAS?

O Dr. Nichols e o quarto fatal. - O teto maléfico deOxford. - A obsessão de Cambridge. - A mesquita de

Pierre Loti, em Rochefort

As manifestações de assombramento nem sempreapresentam a mesma intensidade e características. Aque passo a contar, tem, para mim, o interesse de umaligação pessoal mais próxima, mas não tem nada dedramático, salvo a ansiedade inerente a esses casos.

Será que nessas casas subsista alguma coisa dematerial em conexão com as pessoas que ashabitaram? E' o que algumas observações parecemindicar. Nisso, como em tudo o mais, há ilusões,erronias, falsas apreciações e fraudes também; mas há,

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por outro lado, fatos que não se podem recusar. Este,por exemplo, é de uma autenticidade extreme dequalquer suspeição, posto que não mais fácil deexplicar do que os precedentes . Este pequenoincidente verificou-se na noite de 26 para 27 de Abrilde 1918 e na seguinte, em Cherbourg, rua de la Polle,13. A casa pertence ao meu amigo Dr. Bonnefoy, aotempo chefe de clínica do Hospital de Marinha.

Eu já lá estivera em Setembro de 1914, emcompanhia da esposa, da minha secretária, Srta.Renaudot e da jovem cozinheira, a convite da SenhoraBonnefoy, presidente da Cruz Vermelha e dasMulheres Francesas, que suplicaram saíssemos deParis, ao aproximarem-se as hostes bárbaras . Tendo-nos recolhido a Paris em Dezembro do mesmo ano, sóvoltamos a Cherbourg em Abril de 1918, convidadospela segunda vez, diante as ameaça de outra investidaà capital e para evitar os bombardeios aéreos e dosberthas . Nesse intervalo de Deze mbro de 1914 a Abrilde 1918, faleceu a Senhora Bonnefoy, a 25 de Outubrode 1916. Havia entre nós profunda afeição, tanto queela mandou colocar na casa uma placa de mármoreassinalando a nossa visita de 1914. O Dr. Bonnefoyfez de um quarto uma espécie d e oratório, aliarrumando o leito mortuário, quadros, móveis, todosos objetos de estimação da sua querida morta. Quandolá voltamos, em 1918, esse quarto coube à Srta.Renaudot e foi nele que se produziram rumores

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inexplicáveis: verdadeiras algazarras, de slocamento deobjetos, ruídos de passos. As duas testemunhas sãocriaturas incapazes de se deixarem influenciar porqualquer ilusão, ainda que intelectualmente díspares: -a Srta. Renaudot, possuidora de alta cultura científica,e a cozinheira apenas alfabetizada, mas muito sensata.Pedi-lhes que redigissem imediatamente, com a maisescrupulosa naturalidade, as suas impressões, e elas ofizeram no dia 7 de Maio. Dou-lhes a palavra:

RELATORI0 DA SRTA, RENAUDOT

Chegamos a Cherbourg na quinta-feira, 16 deAbril. Desde que recebemos o convite do Dr.Bonnefoy, entrei a cogitar na hospedagem que agoranos acomodaria naquela casa onde, havia mais de trêsanos, convivêramos intimamente, e cuja situaçãodoméstica se modificara com as segundas núpcias doanfitrião. Não queria que me reservassem, de modoalgum, a cama da falecida, a querida e velha amiga,que me dispensara tantas gentilezas e de quem merecordava com profunda tristeza. Pois a verdade é queme coube, não precisamente o quarto, mas o leito daSenhora Susana Bonnefoy, removido do pavimentotérreo, onde ela faleceu, para uma alcova do 1.° andar,que lhe pertencera quando solteira. Trata -se de umgrande leito bretão, antiqüíssimo, artisticamentetorneado e armado sob um dossel adamascado. Todo o

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quarto está cheio de preciosos móveis, mesa decabeceira, secretária, estantes e, frente ao leito, umquadro com a fotografia da morta, ampliada e de umasemelhança absoluta.

Tudo isso me impressionou bastante e me faziarelembrar o passado, a cada momento . Saudosa, eracomo se revisse a boa amiga, feliz na sua existênciaativa quão harmônica e consagrada ao bem . Figurava -a, também, estendida naquele mesmo leito em quepenara dois dias e trás noites, antes de morrer, Naprimeira noite de 25 para 26 de Abril, não pudedormir, só pensando nela, no seu passado e naatualidade da sua casa. Além disso, sentia -me um tantoenferma. No dia imediato, fiz propósito de recuperar osono. Deitei-me às 11 horas e procurei cancelar asreminiscências do passado. As 4 da madrugada umestrondo formidável me despertou e percebi quearranhavam a parede, com força, à esquerda do leito:O estranho rangido propagava-se à mesa de cabeceirae às beiradas do leito . Depois, abrandaram e tornaram -se como produzidos por alguém que se virasse nacama. Por fim, um rumor de pessoa apressados,começando à esquerda do leito e extinguindo no salão,à direita, onde a Senhora Bonnefoy costumavapermanecer ouvindo o marido tocar órgão ou piano,pois que era excelente musicista. Esses rumores meimpressionavam a tal ponto que o coração entrou abater precipite e cerrei os maxilares.

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No meu exaltamento levantei -me, acendi a vela eassentei-me num cesto de roupa, junto à porta quedava para o patamar da escada. Ali assim, procureireconsiderar a origem possível de tais rumores. Elesprosseguiram, porventura mais fortes, mas eu nadaconsegui ver. As 5 horas da manhã, já presa de maiorterror, não me contive e subi à procura da cozinheiraMaria Thionet, que dormia no 3.° andar. Descemosjuntas e, desde que reentramos no quarto, nada maisouvimos . Não será ocioso, talvez, notar que o gênioda cozinheira não se identificava muito com o daSenhora Bonnefoy. As 6 menos um quarto o doutorlevantava-se na 2.° andar e, dirigindo-se ao gabinetede vestir, notei que os seus passos em nada aiassemelhavam aos ouvidos pouco antes. Durante o diaprocurei decifrar o enigma: gatos? ratos escalando aparede? Examinei a parede à esquerda do leito e vi queera revestida exteriormente de ardósias muito lisas,partindo do pátio. Terreno impróprio para ratos egatos, tanto quanto a parede frontal, que dava para arua. De resto, os rumores eram muito diferentes dosque poderiam fazer esses animais. No sábado, 27,deitei-me nervosa e impressionada, pouco antes das 11horas. Há essa hora, precisamente, recomeçaram osfenômenos, tal como na véspera e, logo presa de vivaemoção, fui buscai a cozinheira. Ela veio e deitou ameu lado, deixando as velas acesas. Os barulhoscontinuaram durante meia hora, com estalidos

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fortíssimos na parede da esquerda. Pancadas no retratoda Senhora Bonnefoy, ou atrás do quadro, tãoviolentas que nos davam a impressão de que eleacabaria caindo. Enquanto isso, a ronda de passos nãocessava em todo o quarto.

Maria tudo ouviu e ficou impressionadíssima,quanto eu mesma. As 11 1/2 tudo cessou. Confessoque essas manifestações ai tornam extremamentedesagradáveis, sobretudo por sabermos que se trata decausa desconhecida., incompreensível, e por isso,conjeturando que a morta estivesse nelas envolvida,pois que ocorriam em sua casa, lembrei-me de lhesuplicar, ao deitar-me, que ma poupasse aquelasemoções dolorosas .

Em lá demorando até o dia 4 de Maio, nada maisouvi e agora, mais calma, tenho pedido à boa amigaque se manifeste e me comunique, de qualquermaneira, o que por ventura possa pretender. Averdade, porém, é que nada mais logrei observar, emque pese ao meu desejo (algo timorato) de controlarmelhor o fenômeno e obter, se possível, a suaexplicação.

Cherbourg, 7-5-1918.Gabriela Renaudot.

DEPOIMENTO DA COZINHEIRA

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Na manhã de sábado, 27 de Abril de 1918, porvolta das 5 horas, a Srta. Renaudot procurou -me paraque fosse certificar-me dos rumores do seu quarto.Acompanhei-a e nada ouvi. Na noite imediata, poucodepois das 11, veio ela de novo chamar -me para omesmo fim e aqui têm o que pude observar. Ruídosatrás da mesa de cabeceira, como se alguém estivessearranhando a madeira. Depois, era como ai andassealguém, apressadamente, a passear até à porta da sala.Também ouvimos fortes pancadas atrás do retra to daSenhora Bonnefoy. Os ruídos duraram coisa de meiahora e confesso que lhes tive muito medo, a ponto debater os queixos. O quarto estava alumiado por duasvelas e nós inteiramente acordadas, comentando osrumores e procurando localizá-los. Na outra noite, ainstâncias da senhorita, que não ai animava a ficarsozinha, desci e deitei-me ao lado dela. Ainda ouvirumores, fracos, mas confesso que já não tive tantomedo e acabamos dormindo sossegadas. Depois, tudocessou. Penso que a minha presença contrar iava os teiarumores, visto que abrandavam com a minha chegadae acabaram logo depois. Nada obstante, eu os ouvimuito nítidos e confesso que me impressionaram tantoquanto desagradaram. Ainda dormi com a senhorita asnoites de segunda, terça e quarta -feira, mas nada maisouvimos. E ainda bem que assim foi, porque, pelo queme toca, não quisera repetir aquela meia hora da noitede 27.

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Cherbourg, 7 de Maio de 1918.

Convém notar que a Srta. Renaudot, jovemastrônoma do Observatório de Juvisy, matemáticadistinta, ora secretária do Conselho da SociedadeAstronômica de França e diretora do seu BoletimMensal, no período da guerra, além de colaboradora devárias revistas científicas, é um espírito afeito àsciências exatas, nada impressionável e até muitocéptica, no concernente a fenômenos psíquicos .

Não poderia, então, ter-se deixado iludir. E,contudo, ela que jamais soube o que era medo; ela quepassa noites inteiras na solitude das observaçõesastronômicas sob a cúpula dos céus ; ela que cruza,impávida, jardins desertos e ruas escuras, teve, nessanoite, medo terrível, pela primeira vez na vida ? Comoexplicai semelhante coisa? Nada de comum que ajustifique: nem vizinhos, nem gatos, ratos, morcegos,ou qualquer coisa imaginável.

Que a falecida ai esteja envolvida de qualquermaneira, é muito possível, por não dizer - certo - vistoque a coisa se passou em sua casa e no seu quarto desolteira, ocupado por mais de vinte anos, o que valedizer no seu ambiente pessoal, perto do leito em quemorreu, a coincidir com uma centena de casosanálogos, por nós reunidos e comparados . Mastambém há convir em que esses rumores nadaexprimem e são de uma banalidade indigna de um

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espírito culto, qual o da Senhora Bonnefoy do nossoconhecimento. O caráter essencial desta mani festaçãoconsiste na sensação de horror e angústia das duasobservadoras, como apanágio do fenômeno, que, umavez observado, ninguém deseja experimentar segundavez. Tal comoção penetrante e angustiosa, jamaistinham conhecido essas duas criaturas .

Maria Thionnet .Manifestação vulgar e bizarra, portanto, sem

resultado prático. Justo é, também, assinalar que o seuprosseguimento era indesejável e poderia mesmo sernocivo para as duas moças. A experiência demonstraque a criatura humana nem sempre suportaimpunemente estas intrusões de um outro mundo,sejam elas de que naturezas foram Nenhuma hipóteseexplicativa se pode aqui aplicar.

Seria demasiada ousadia supor que os vivosdeixam de si quaisquer resíduos de energ ia, de fluidovital, impregnado no ambiente e passíveis, ao contactode um sensitivo; de produzir esses estranhosfenômenos?

“Por onde quer que passemos, Sempre algo de nósdeixamos assegura uma doutrina professada por

Paracelso e Jacob Bohme .”Um amigo assaz culto, Leão Morei, a quem contei

este caso, recentemente, retribuiu -me com o seguinte:Também me lembro de haver experimentado, há

una 18 anos, uma emoção semelhante, no meu quarto

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de rapaz, no lar paterno e um ou dois anos após amorte de minha mãe. Barulheira enorme dentro degrande armário, fez passar algumas noites em claro.

Não era propriamente o ruído da madeira queestala, mas o de fortíssimas detonaçõ es, como dearmas de fogo. Ainda que ateu ingênuo há esse tempo,não deixei, confesso, de experimentar grande abalo,mas abstive-me de falar a meu pai, certo de que menão tomaria a sério. O fenômeno não se repetiu, masdeixou-me apreensão incoercível, todas as vezes quepernoitava nesse quarto. Minha mãe era criaturaaustera, prudente e assaz rel igiosa, que me atribuíadefeitos de libertino e nunca mos perdoou em toda asua vida. Em face destas manifestações, tenhoconsiderado bastas vezes, sob o prisma da hipótesesupra, ai tais manifestações não teriam relação comaquele seu desgosto, impregnado naquele quarto ondetanto penei diante dela, física, e moralmente falando.Neste particular, é força convir que nos encontramosimersos em absoluto mistério. Nada mais temerárioque admitir eflúvios indetermináveis, remanescentesde nós .

Muita gente tem verificado a impregnação deperfumes conservada longos anos em cabelos cortados,flores murchas e certas vestes e objetos de uso.Notemos, também, que as causas mínimas podemoriginar grandes efeitos. Pequena espoleta podedeflagrar tremendas descargas de artilharia, a simples

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chama de um fósforo pode acarretar pavorososincêndios.

Estas precedentes páginas foram escritas poucosmeses depois do episódio acima relatado e ainda emCherbourg, embora noutra casa com vista para o mar(Setembro de 1918) . Muitas vezes, ia assentar -me na.praia, vizinhando as ondas montantes . Diariamente,víamo-las aproximarem-se ou afastarem-se no cursodas marés. Hoje conhecemos as horas de praia e baixa -mar, calculadas pela posição da Lia e podemos, até,avaliar o peso dágua levantada pela atração do nossosatélite associada a do Sol. Temos, assim, inteiramenteexplicado o fenômeno das marés. Ora, pergunto eu, apropósito das casas mal-assombradas, a cujo respeitonenhuma teoria explicativa possuímos: que poderiampensar das marés os nossos antepassados, antes deNewton com a lei da atração universal? Eles já haviamnotado, há dois ou três mil anos, a correlação dasmarés com o mês lunar, associando -as à Lua, porconseguinte. E contudo, Galileu ainda zombou deKepler por ensinar essa interdependência. Tudo que sepudera imaginar sobre a natureza ativa do astronoturno houvera de ser inevitavelmente falso . E o quese dá com, o que pudéssemos conjeturar, naatualidade, para explicar o fenômeno das casas mal -assombradas . Antes de se descobrir que a Lua era ofator principal das marés, quantas hipótesesfantasistas, e todas errôneas, não se aplicaram ao fluxo

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e refluxo dos mares? Os fenômenos aqui versadosaberram completamente de toda e qualquer explicação.Que eflúvios, resíduos de força, fluido vital, ou seja oque for, fiquem impregnados nos ambientesdomésticos e nos objetos, podendo reavivar-se aocontacto de alguém que de qualquer forma os reanime,é coisa perfeitamente admissível. Paredes, móveis, etc. , podem conservar a impressão de eventos a elesassociados. Falai ao fonógrafo, conservai a chapa etereis reproduzido a voz, sempre que o aparelho semovimente, estejais vivo ou morto. A propriedadeoculta a que me reporto fica geralmente latente eapenas perceptível por alguns sensitivos, que, emdados casos, descrevem, minuciosos, todas ascircunstâncias complementares . Por outro lado, amorta poderia ter pensado no seu meio terrestre, nassuas reminiscências, nos amigos, excitar tais eflúvios,produzir vibrações. Mas, ainda uma vez : a ciênciaatual não está bastante avançada para autorizarqualquer teoria que se recomende como definitiva.Continuamos a observar, a constatar não mais quefatos.

Regredindo ao caso de Cherbourg, os leitores selembrarão de que a Senhora Bonnefoy eraespiritualista convicta. Pelo que eu sabia dessa boaamiga, apreciando-lhe as idéia espiritualistas eanticlerical, sabendo-a igualmente muito devotada aolar, era natural presumir fosse ela a autora da

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manifestação e que tivesse, possivelmente, algo adizer. No intuito de elucidar a questão , dirigi-me àsmelhores Sociedades espíritas solicitando a evocaçãodo seu Espírito. Passei pela decepção de verificar que,dos dez médiuns argüidos, todos reputados lúcidos,nem um só deu resposta referente à Senhora Bonnefoy,ao marido, ao caso enfim. Os Espíritos falaram antescomo reflexos de auto-sugestões quaisquer, e note-seque eu me havia dirigido às sociedades maisimportantes, que, seja dito, me acolheram com toda asolicitude e boa vontade. Mas a verdade é que não sódeixei de obter qualquer prova de identidade nasrespostas, como verifiquei divagações fantásticas,como se os médiuns tudo engendrassem da própriacachola, em completa ignorância da realidade. ODoutor Bonnefoy assegurou-me o seu grande desejode obter quaisquer indícios de sobreviv ência da esposae que nada conseguira, apesar das preces feitas nosprimeiros cinco meses de viuvez, diante do oratórioonde, materialista embora, colocara o retrato da morta,para concentrarem as suas mais caras lembranças. Aesse tentame também associara o meu nome, nopressuposto de aliciar qualquer influência. Uma noite,contudo, pareceu-lhe ver deslizar uma sombra, aomesmo tempo em que o invadia um terror jamaisexperimentado. Mas logo reagiu e atribuiu talimpressão o possível efeito de luz. De acordo com essahipótese, a matéria inanimada teria a propriedade de

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registrar e conservar, em estado potencial, toda espéciede vibrações e de emanações físicas, psíquicas e vitais,tal como a substância cerebral registrando econservando, em estado latente, a s vibrações dopensamento, e seguindo-se daí que as faculdadestelestésicas da subconsciência teriam a faculdade dereencontrar e interpretar essas emanações e vibrações,tanto quanto as faculdades mnemônicas da consciênciatêm a propriedade de encontrar e revocar as vibraçõeslatentes do pensamento. Podemos advertir comBozzano que a analogia é completa e nada se oporia,do ponto de vista científico, a que a matéria brutativesse propriedades idênticas às da substância viva.Neste caso, veríamos opor -se ao mecanismomnemônico cerebral uma outra espécie de mecanismoinfinitamente mais vasto: a mnemônica cósmica. E aspropriedades de expansão, investigadoras e peculiaresàs faculdades telestésicas da subconsciência, seencontrariam com a memória cósmica num e stado derelação idêntico ao das propriedades investigadorasdas faculdades psíquicas normais, encontrando -se coma memória cerebral Há, nisso, alguma contra dição comas leis físicas ou físio-psíquicas conhecidas? Poderãocertos fenômenos de assombramento provir dashabitações ? Poderão as paredes e móveis de uma casaimpregnar-se de vibrações e apresentar aos sensitivosuma ambiência especial, como ensina a psicometria?O Dr. Luys mo afirmou, mais de uma vez, no Hospital

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da Misericórdia, onde assisti às su as experiências. E oprofessor d'Arsonval pareceu-me admitir a hipótese.No seu livro - Supramundan fada in the life of the Rev.J. B. Fergusson (Fatos supramundanos na vida do Rev.J. B. Fergusson) pág. 168, o Dr. Nichols conta oseguinte episódio que ouviu em pessoa:

Uma senhora de minhas relações começou a tergrandes sofrimentos logo que ocupou a casa, aliásbonita e confortável. A sua angústia tocava ao augesempre que penetrava no melhor quarto; e, se teimavaem lá permanecer, vinha-lhe a idéia de atirar-se pelajanela.

Em compensação, bastava-lhe sair ã rua para que seacalmasse e desaparecessem todos os pensamentos eimpulsos tenebrosos. Essa obsessão foi a ponto deforçá-la a mudar-se. Informado a respeito, tratei decolher informes sobre os inquili nos anteriores, nointuito de esclarecer o fato e vim logo a saber que acasa tinha sido ocupada por um homem cuja esposa sesuicidara, atirando-se da janela do melhor quarto etendo morte instantânea.

Poder se inferir dai uma como saturação doambiente, capaz de transmitir-se a ocupantes domesmo quarto, suscitando-lhes as mesmas angústias eimpulsos da suicida?

Registre-se que a locatária a que me refiro nãoconhecia a cidade, e muito menos os antecedentes dosinquilinos que a precederam .

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Aqui temos outro caso, captado por Podmore e quetodos poderão ler em Proceedings of the PsychicalSociety (IV, pág. 154) . A Senhora Erlen Wheeler,pessoalmente conhecida do escritor, narra o seguinte:

Durante o verão de 1874, instalamo-nos noapartamento que ainda hoje ocupamos, da High Street160, Oxford. Tínhamos alugado a casa toda, anosantes, mas cedêramos a outros o dito apartamento.Para dormitório escolhemos o quarto que ficava emcima da porta principal, de acesso às carruagens. Logona primeira noite, despertei em sobressalto aos 45minutos da madrugada (digo-o porque o relógio daigreja estava batendo os quartos de hora). Minhaimpressão era das mais penosas, parecia -me que o tetoia desabar a cada instante e que nele se ocultavaqualquer coisa horrível .

Não tinha idéia nítida do que pudesse haver, mas aimpressão obsidente tirava-me o sono, até que, passadauma hora de angústias, resolvi despertar meu marido econtar-lhe o que me ocorria, Pensou ele que umapequena dose de licor tudo resolveria; mas a verdad e éque não consegui dissipar a estranha impressão, nemmais pude conciliar o sono. Reconhecendo que oambiente daquele quarto tornava -se intolerável, fuipara a sala de visitas e lá fiquei até 8 horas da manhã.Longe do quarto tudo se desvanecia. Na segun da noitedespertei precisamente ã mesma hora, e assimcontinuei por algumas semanas, presa de insônia até às

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5 da manhã, lutando para repelir o pressentimentoterrífico de algo oculto no teto. Aquela insôniaconsecutiva e a forte tensão mental, acabaram po rcombalir-me a saúde, obrigando-me a ir para casa demeu irmão, em Cambridge.

Pouco depois de lá chegar fui informada de que oforro do quarto havia desabado e a cama do quartosuperior caíra juntamente sobre a nossa. Tive, então,por bem justificados meus sobressaltos e apreensões.Mas isso não era tudo, porque, pouco tempo depois,veio a saber que o desabamento evidenciou aexistência do cadáver mumificado de uma criança coma cabeça brutalmente torcida. Evidente que haviam lãocultado um recém-nascido, bem dissimulado.

Acrescentemos a este quadro trágico, aconfirmação do marido da narradora e mais que oSenhor Podmore encontrou, nos jornais da época,notícias concernentes ao desabamento da casa e aoencontro do cadáver. De acentuar, também, que forado quarto a Senhora Erlen nada sentia deextraordinário. Certo número de casos levam aestabelecer uma como associação das moradias com osfenômenos nelas desenrolados. Em sua obra Seen andIlnseen, Katherine Bates conta, por sua vez, curiosaobservação pessoal, notificada à Sociedade PsíquicaInglesa e publicada no Journal (vol. VII, pág. 282) .Ei-la em resumo:

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Aos 18 de Maio de 1896 cheguei a Cambr idge ealojei-me na rua Trumpington, 35. Minha amiga, Srta.Walen, estava ausente e assim tive de passar a noi tesozinha. Quando ela voltou no dia seguinte, contei-lhea noite horrível que passei, assomada por sonhospersistentes com um homem que nunca mais vi, e doqual não tivera noticias, depois que rompemos umaintima e velha ligação. Via-o no sonho, junto de mim,a recriminar-me por não o haver esposado e bolsandoalusões irônicas às dificuldades de vida que me teriapoupado, se não o houvera repelido. Acordei ereadormeci muitas vezes, e ele me ressurgia semprecom as mesmas palavras e atitudes. Num intervalo devigília, tive tão forte impressão d a sua presença quecheguei a gritar: - Vai-te, deixa-me em paz; nãoguardo ressentimentos maus a teu respeito, mas tu tecomprazes em atormentar-me, assim provando que menão farias feliz se te esposasse. Em nome daSantíssima Trindade ordeno-te: - deixa-me em paz.

Depois dessa apóstrofe, pareceu -me que ainfluencia maléfica se atenuava e consegui dormir umsono penoso e agitado. Foi um alivio quando a filha dasenhoria entrou com o chá. Ainda por duas noites, namesma semana, o sonho ai repetiu e tanta foi minhaangústia que não vacilei em dizer ã Srta. Wales: Estequarto é mal-assombrado por esse homem e eusempre. gostaria de saber a causa. Dar -se-á que ocolégio de Peterhouse fique por aqui perto? Pergunto,

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porque, há 30 anos, esse homem freqüentava umcolégio desse nome. - Sim, a resposta foi afirmativa; ocolégio não estava longe. Da última vez que sonhei,disse para comigo: não posso compreender a suapreferência por ente quarto, a menos que o tivesseocupado. Um inquérito nesse sentido afigurava difícil,senão impossível, ao fim de 28 anos. Nada obstante,perguntei à Srta. Hardrick quantos anos havia que suamãe instalara a pensão. - Há 17 anos, respondeu.

- E antes, quem morava aqui? - Um casal que semudou da cidade e que, acredito, já não existe . - Eantes disso ? Assim insistente, fiz ver que desejavaencontrar a pista de alguém que por ali andara, comoaluno do Peterhouse. A resposta foi que, antes doaludido casal, a pensão fora de um tal Peck, que tinhaagora farmácia em uma rua próxima. Dirigi -me aofarmacêutico e, a pretexto de comprar ácido bórico,perguntei-lhe se por acaso, há una 30 anos, nãoresidira no 35 da rua Trumpington, Que sim - disse - eindaguei, então, se lembrava de um aluno doPeterhouse, de nome tal. - Perfeitamente, por sinal quefora seu hóspede 18 meses. Guardava do rapaz vivalembrança e logo me exibiu o seu retrato, ao lado deum cão bem meu conhecido, chamado Léo. O SenhorPeck também se lembrava deste nome. Perguntei -lhe,ainda, qual o quarto do rapaz. - O maior, por cima dacozinha e que tem uma salinha ao lado, respondeu.Ora, é precisamente nesse quarto que eu durmo...

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Confesso que nunca, anteriormente, pusera os pésem Cambridge e não sabia nem tinha idéia do lugaronde estudara a minha personagem. Sabia, apenas, queentre 1867-88 tinha sido aluno do Peterhouse. Nessaépoca, pouco nos conhecíamos e era natural quetambém me não interessasse conhecer a sua vida deestudante.

(Seguem-se as confirmações do farmacêutico e daSrta. Mildred Wales) .

Destarte, a realidade da influência do ambienteparece estabelecida por observações independentes econcordantes. Idêntica impressão decorre dosepisódios verificados na casa turca do Senhor PierreLoti, em Rochefort, e que, no seu conceito, eramisteriosamente mal-assombrada. Nunca pude vernada absolutamente pormenorizado a esse respeito,pois o sensitivo poeta tem tão grande temor da morteque se torna impossível tocar -lhe no assunto. Aliás,conheci o fato muito tarde, num tempo em que ele, opoeta, já tinha as faculdades adormecidas como emsonho. De fato, vários anos havia que os fenômenostinham sido constatados em sua casa, de mistura areminiscências orientais que lhes acrescentavam.Pierre Loti faleceu em 10 de Junho de 1923. EmFevereiro de 1922, palestrando a respeito dessesfenômenos com o célebre escritor Courteline, contou -me ele o que lhe dissera de viva voz o autor dePescadores da Islândia, isto é: que muitas vezes, ele

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Loti e seus amigos, sempre que lá pernoitavam, eramacordados com fortes pancadas na porta da mesquitaque mandara construir na 1.° andar da casa deRochefort. E acrescentava que muitas vezes tinhavisto, ele mesmo, no azulejo do piso, traços nítidos depés de criança. Referindo-me esses fatos, diziaCourteline não ser possível duvidar. Ambiência dosobjetos? Emanações sutis? Ação subconsciente dopróprio orientalista apaixonado? Manes despertados?Alguma coisa há. Mas... quê? Este estudo nos leva,efetivamente, a penetrar em um mundo desconhecido .

CAPITULO IXEXCURSAO GERAL PELAS CASAS MAL –

ASSOMBRADAS

Antes de tudo, procurei evidenciar aos leitoresávidos de conhecer a verdade, o tipo característico dascasas mal-assombradas e assim passaram, diante denós, os quadros acabados dessas estranhasmanifestações. Tais quadros completos, são

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raríssimos. Em compensação, os exemplos menosricos e mais ou menos parciais, são freqüentíssimos .

Há muito que, tendo em vista esta obra, coletei -osàs centenas. Vamos respigar alguns, dado que nos faltaespaço para mais.

Quatro séculos antes de nossa era, já Isócrates diziaaos atenienses: Mostrai sempre, em quaisquercircunstâncias, tal respeito à verdade que uma sópalavra vossa inspire mais confiança que todos osjuramentos. Pensemos e procedamos como Isócrates.

Como não admitir a realidade objetiva de certosfenômenos de casas mal-assombradas, depois de ler oscapítulos precedentes e quando observações como aque se vai seguir foram identificadas com absolutacerteza? Aqui intercalo, sem demora, esta experiência,por julgá-la particularmente notável. Se a tivesseconhecido antes, tê-la-ia publicado no 3.° tomo de AMorte e o seu Mistério, com as que lhe são análogas.Todavia, ela não fica deslocada aqui, por mostrar -nosque os fenômenos de assombramento, asmanifestações físicas dos invisíveis, podem c omeçarno momento exato do falecimento, o que aliás jásabemos por observações concordantes.

Que é o espaço para o moribundo? Morre umhomem acidentalmente, e, a 28 quilômetros dedistância, é percebida a sua presença!

Entre as inúmeras comunicações queobsequiosamente recebi, esta é, sem dúvida, das mais

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significativas, tanto mais quanto foi cientificamenteobservada por três...cachorros. Este relato me foienviado a 6 de Julho de 1922, por observador erudito,o Senhor P. Legendre, professor de Literatura do liceude Brest.

Estou acabando de ler a sua última obra e não façomais que um dever fornecendo -lhe um documentopessoal, certo de serem desta espécie os que maisdeseja.

1 ° O Testemunho - O abaixo assinado é professorde Literatura no liceu de Brest, tem 50 anos de idade eestá no pleno gozo de suas faculdades físicas eintelectuais. Outrora, teve a honra de o conhecer nassegundas-feiras de Fouché rua Soufflot, em companhiade Roujon, Debled, Bernard, etc. Outrossim, c olaborouno dicionário cuja publicação lhe coube organizar. Istodigo, para que não suponha estar tratando com algumlimpador de chaminés. Até aqui, tenho feito ciênciaprática e filosofia pacífica, sem me apaixonar pelametafísica e sem deixar de cortejá -la, o que vale pordizer que, na critica doa fatos, como observadorcompetente que me prezo ser, não tenho idéiapreconcebidas nem tendências escolásticas. Quero,enfim, demonstrar a absoluta imparcialidade de umtestemunho cujo merecimento fica ao seu cri tériojulgar.

2.° Os fatos - Foi em 1883, tinha eu 20 anos eterminara, com os estudos ns Sorbona, o meu primeiro

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ano de magistério, Resolvi passar as férias na pacificaherdade que meus pais poasufam perto de Rennes(Comuna de Chantepie). A estação da caç a ia começar.Meu pai convidara para o feito três velhos camaradas(os Srs. Richelot e Siancé, professores aposentados, eo Dr. Cuisnier) bem como o primo Roberto, jovem daminha idade mais ou menos. Todos estes senhores seconheciam perfeitamente, de velh a data. No sábado,véspera da caçada inaugural, achávamo -nos todos(exceto o primo Roberto) reunidos em torno da mesa,depois do jantar muito burguês e muito simples, porsinal. Tínhamos comentado a demora de Roberto eprocurávamos explicá-la. Recomendáramos àcozinheira que lhe reservasse ao fogo algumasiguarias, certos de que, fosse qual fosse a causa de susdemora, não deixaria de chegar até ã noite, para apartida do dia seguinte.

'Meu pai e seus amigos discutiam finanças. O Dr.Cuisnier e ele, meu pai , estavam defronte da portaenvidraçada, que dava para o jardim e cujos postigospintados de verde escuro conservavam -se fechados. Depé, também diante da porta, eu montava o meu fuzil.Súbito, os cães pacificamente deitados em baixo damesa levantaram-se, começaram a rosnar e atiraram-seà porta. Fora, nenhum rumor, nem uma aragem sequer.Concluímos fosse a simples passagem de algumanimal farejado e tratamos de acalmar os cães. Mas,um silêncio estranho como que se impõe a todos, e foi

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uma impressão singularíssima, da qual nunca mais nosesquecemos. Passado um minuto, os cães investempara a porta, ao mesmo passo que uma claridadecérula,, muito diáfana e da altura de 1 m. 70, mais oumenos, oscilou duas ou três vezes entre a portaenvidraçada e os postigos arriados, da porta externa.Uns doze segundo, se tanto, foi esmaecendo edesapareceu de todo . Algum fogo -fátuo - disse meupai - esse imbecil do Morel deixou por aí perto algumanimal morto. (Aliás, essa porta ficava quase semprefechada, pois abria para o sudoeste, do lado da herdadevizinha, a uns 50 metros da estrumeira) . Por mim,céptico c sabendo que Roberto gostava de pregar su aspeças, supus que ele estivesse deixado o carrinhoinglês no povoado, distante um quilometro e houvessepenetrado no parque por alguma fenda do muro, paradivertir-se, então, riscando fósforos ou qualquer outrasubstância química, alI nos postigos.

Abri a porta e os postigos, saí ao jardim e gritei:Roberto, deixa de bobagem e vem jantar, senãomamãe... Mas... nenhum rumor, nenhuma resposta! Ocachorro da granja permaneceu quieto, os nossos aindarosnaram, mas, repousados. Esperamos pelo Robertouma longa hora, tudo presumindo, menos aparições.Depois, recolhemo-nos todos, não sem apreensões, éclaro. No dia seguinte as 11 da manhã, um portadornos levava a noticia de que o rapaz morreraacidentalmente, as 7 1/2 da noite.

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Aqui me detenho para deixar ao seu cuidado ocomentário do seguinte: que a morte se deu às 7 1/2 danoite e que, à mesma hora, distante 28 quilômetros eno local onde ele deveria encontrar -se, aquelaclaridade se tornou nitidamente perceptível a tráspessoas nada nervosas e, o que mais é, saudada portrás cães... A impressão foi tal, que, durante muitotempo, declaravam os testemunhantes nada teremvisto, jamais, que se lhe assemelhasse. Também sobreessa impressão, exclusivamente única e da qualconservo perfeita lembrança, é que aqui me permitoinsistir. Ainda posso defini-la como se segue: umaespécie de atração para a ponta, atração a que euobedecia sistematicamente, convicto, por um lado, deque Roberto estava atrás dessa porta e, por outro, deque não podia ali estar, de vez que qualqueraproximação, mesmo as ocultas, afigurava seimpossível, dadas as disposições locais e a extremaacuidade do meu sentido auditivo, nessa época.Acrescentarei mais, que, no dia imediato, ficoudevidamente constatado que o imbecil do Morel haviasolicitamente raspado as afeias e nada havia perto daporta. De resto, entre a porta e os postigos, nenhumtraço de combustão ou de produto químico, qualquer.Aí tem os fatos e, como recordação de nossasdiscussões científicas e literárias de antanho, queiraaceitar, etc...

P. Legendre.

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Como vemos, documentação segura: um homem,que morre acidentalmente, manifesta -se a 28quilômetros de distância, aos amigos que o esperam etudo ignoram. Aí temos a realidade que afirmamos, eque importa explicar. Os fogos -fátuos não vêm aocaso. Mortes deste gênero, anunciadas pormanifestações físicas variadas, temos registrado nocapítulo IX do 2 ° tomo e nos capítulos IV e V do 3., enão precisamos repisar no assunto, definitivamenteassentado. Invocaremos, contudo, a título documentalde observação positiva e comparável à do professor deBrest, a do célebre Lineu e sua mulher, concernente aaudição de passos no museu deserto de um naturalistaamigo - passos ouvidos e reconhecidos pelo seu ritmo,na hora exata do falecimento desse amigo. (Em tornoda morte, pág. 301). Os fenôme nos podem, porconseguinte, começar na hora precisa do falecimento.

Acabamos de fixar sinais inexplicados namanifestação de Chantepie. Recebi a relação de váriosacidentes da mesma ordem, entre os quais este, quenão deixa de ter analogia com o que acabo de expor.Alguém que me pede não lhe publicar o nome econtentar-me com as iniciais, caso aproveitasse o fato,escreveu-me de Nimes, em 27 de Março de 1899:

Em 1868, certa noite, meus pais acordaram comum barulho inexplicável, ao mesmo tempo em quemeu pai via uma luz atravessar o quarto. Foi isso ã

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meia-noite e ninguém mais, de quantos dormiam nacasa, viu nem ouviu coisa alguma. Investigaçõesfeitas, no dia seguinte, nada adiantaram. O fenômenoinsólito levou minha mãe a dizer que, provavelmente,teríamos perdido algum parente - coisa que nospareceu romântica e imaginária. Ma s, a verdade é queno dia seguinte chegava a noticia de uma parentafalecida a 50 quilômetros de distância, na hora precisaem que se dera o fenômeno.

Fala-se comumente de acaso e coincidências . . .Mas, porque estas associações de idéia, estando emjogo só acaso?

Entre as manifestações deste gênero, recomendareitambém, ao leitor, esta que poderia, talvez, serinterpretada como alucinação, se não houvesserepetido em perfeitas condições de exame . Respigo -ade uma carta de 9 de Agosto de 1922:

Agradecendo-vos pelo beneficio que tendesprestado à Humanidade, quero co ntar um fenômenocurioso, por mim testemunhado: Reunimos numcastelo feudal, muito bem conservado e cheio derecordações. Ocupando um grande quarto, muitasvezes acordo bruscamente, alto noite , com urna luzmisteriosa que aclara todo o ambien te e quanto nele seencontra. Essa luz dura segundos e desapareceinstantaneamente. sem que até hoje pudesse saber lhe aorigem. Tenho-a visto em noites escuras, com asjanelas bem fechadas e sei que não é sonho, pois

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muitas vezes me assento na cama para melhor apreciare reter o fenômeno. Minha mãe também viu no seuquarto a mesma coisa, mas só uma noite. Comoexplicar essa luz ?

(Castelo de Boissieres - Gard) .Fernanda Boissier.

Estas observações, das quais aqui apresento apenasum espécime, provam à evidência o erro dosnegativistas, visto que elas são reais e nos fornecemelementos de estudo de uma ciência nova, anexável àsciências duas positivas, no quadro das quais oprograma científico tem permaneci do confinado até apresente. Mas, quantas observações variadas aexaminar! O estudo das casas mal -assombradas é umimenso mosaico . Acabamos de ver, pela comunicaçãodo professor de Brest, que as manifestações podemseguir-se imediatamente à morte . A que vamos agoraapresentar, oferece o mesmo ensinamento, porcoincidir com a hora da morte.

Eis a carta do observador, que lhe foi objetivo:Caro Mestre.Acabo de ler o seu O Desconhecido e os Problemas

Psíquicos, que ainda não conhecia. Sinto não ter tidonoticia do seu inquérito, quando podia concorrer aoseu valioso estudo, interessante sobretudo para os queforam um dia atingidos por manifestações dessegênero. Ter-lhe-ia então, desde logo, confiado o meu

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caso. Nada obstante, sinto-me ainda hoje na obrigaçãode fazê-lo, apenas por demonstrar a freqüência dascomunicações psíquicas,

Eu me casara em 4 de Julho de 1888. Uma irmã de15 anos adoecera gravemente, e na data do casamentojá se encontrava, senão de todo restabelecida, emfranca convalescença, que lhe permitiu assistir à festa.No dia 6, parti em viagem de núpcias e ela assistiu ànossa partida. íamos satisfeitos e tranqüilos, note-se,porque nenhum receio nutria quanto ao seu estado desaúde. As cartas recebidas do lar paterno, entre 6 e 12de Julho, nenhuma inquietação deixavam entrever deanormal. O dia 12, passado em Paris, foi para nós umdia cheio, até as 10 da noite. Tínhamos ido aoChantelet. A partir dessa hora, senti -me acabrunhado,triste, de uma tristeza indefinível. Minha mulher nãopodia, tanto quanto eu mesmo, explicar aquelatransformação.

Em saindo do teatro, apressei -me a conduzi-la aonosso hotel - Hotel de Espanha - por sinal. Sempretaciturno, deitei-me e assim permaneci de olhosabertos, mudo, sem compreender -me a mim mesmo.Isso devia ser 1 hora. De repente, ouça no quarto umestalido e logo a seguir um barulho infernal. Minhamulher, assustada, começou a gritar. Acendi a vela e vique a porta de espelho do guarda -roupa estava aberta.Não havíamos, aliás, tocado nesse móvel, que est avavazio. Tranqüilizei a companheira, fechei a porta do

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guarda-roupa e tornei a deitar-me, já então senhor demim mesmo. De manhã recebemos telegramachamando-nos a Marseillant (Hérault) e dizendo queminha irmã tinha falecido na véspera, às 10 horas danoite Ela sabia que estávamos no Espanha. Ter -nos-ia,destarte, enviado o seu derradeiro pensamento? Seráque não pudéssemos também recebê -lo senão ali noHotel de Espanha? Não preciso afirmar a verdadeabsoluta desta narrativa. Posteriormente, sofri outrosinfortúnios imensos e nada de extraor dinário me foidado observar. Os meus queridos mortos nunca maisse comunicaram comigo. Verão eles as minhaslágrimas, meus sofrimentos? Quanto o desejaria...

Queira aceitar, etc.Etienne Mimard .

Manifestação notável, muito digna de atenção.Invocam-se abusivamente as coincidências fortuitas,mas o argumento não se me afigura plausível. Averdade é que existem forças psíquicas e forças físicasdesconhecidas. Não neguemos, não fechemos os olhos,antes observemos, verifiquemos e discutamos. Talvezpossamos encontrar uma explicação. Porque essesruídos coincidentes com o trespasse? Por absurdos queos consideremos, eles não deixam de existir. Dar -se-ãoantes, durante, ou depois do desprendimento?Imagina-se uma comoção elétrica... Mas que éeletricidade? Ninguém sabe.

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Vamos, agora, passar em revista grande número deobservações recolhidas em todas as camadas sociais.Esta a seguir, foi-me enviada de Rothau, na Alsácia,em 30 de Maio de 1899, com a recomendação de sópublicá-la sob iniciais:

No curso do ano passado hospedamos em casa umanegrinha sul-africana. Seis semanas após o seuregresso ao pais natal, a família estava toda reunida nasala de jantar, quando ouvimos passos na escada queconduzia ao pavimento superior. E sses passos seencaminharam para o quarto sobreposto à sala ondeestávamos, e nele penetraram e se detiveram, afinal.Mas, não ouvimos qualquer abrir de porta. Tratamoslogo de ver o que seria, mesmo porque, o andarsuperior estava então desocupado. Percor remos todosos cômodos, tudo examinamos e nada encontramos.Conjeturamos, então: se a negrinha ainda aquiestivesse, diríamos que era ela que tinha subido, tal asemelhança do seu andar cadenciado, lento, pesado.Quatro semanas mais tarde tivemos noticia d o seufalecimento em data coincidente com a do fenômeno,Essa rapariga nos estimava muito e ao expirar sófalava nos seus amigos da Alsácia. E' um fatoconstatado por cinco ou seis pessoas.

M. C. (Rothau, Alsácia) .

E' um fenômeno que sucede imediatamente àmorte, como o do primeiro caso deste capítulo. Não se

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passa um ano que me não venham comunicadosanálogos, de diversos países . Aqui temos um maisrecente, isto é, de 1923, apresentando fenômenosfísicos singulares no momento da morte. Estamanifestação deu-se em Frontignan, no dia 15 de Maioàs 23 h. e 30 m. e foi-me comunicada pelo Senhor Al.Garnier, diretor de importante usina petrolífera e avôdo herói desta história, falecido com vinte anos e cincomeses, em conseqüência de uma meningitetuberculosa, que o abateu em 5 dias .

Esse rapaz, Luís Garnier, a quem se auspiciavabrilhante futuro pelos seus predicados de inteligência ecapacidade de trabalho, estava então na casa paterna,em Sassenage. O avô, esse residia em Frontignan,onde também morava a noiva do rapaz, afetuosa ededicadíssima ao noivo, pois que se conheciam eestimavam da mais tenra infância. O dia de Páscoa,(1.° de Abril) motivara uma reunião festiva das duasfamílias e nos os parentes - escreve o Senhor Garnier -sentamo-nos alegres pensando na felicidade que o belopar deveria completar dentro de pouco tempo. Mas,quem o diria! Seis semanas depois, a traiçoeiramoléstia tudo destruía! Luís morreu falando na noiva.Ouçamos, porém, o narrador:

Preparava-me para seguir viagem, a fim de assistiras exéquias de meu filho, quando me disseram que aMariazinha acabava de chegar, banhada em lágrimas.

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- Ele morreu às 11 h. e 30 m. - foi dizendo logo queme viu, atirando aos braços.

- Como podes sabê-lo ?- Porque ele próprio me veio dizer.E, soluçante, começou a discorrer uma série de

coisas que a principio não pude compreender, mas queme foram depois repetidas por seus país e resultamneste relatório.

Na noite de 15 para 16 de Maio, toda a família S .composta então do casal e da Srta. Maria ( havia outrafilha casada, em Corbes) tinha deitado às 21 horas. Oquarto da senhorita é contíguo ao dos pais e contémduas camas, isto é, a dela e da irmã. O quarto do casaltem apenas o leito comum, cuja cabeceira ficaencostada ao tabique que separa os dois quartos. Entrea beirada da cama e a parede, um espaço livre, dalargura mais ou menos de 1 metro, de sorte que o leitopode ser contornado por três lados. Correspondendoaos pés da cama, no angulo esquerdo, uma cômodacom prateleiras (E), encostada à parede. Sobre essacômoda está um pequeno soco de madeira, no qual seapóia um pequeno relógio de salão (P), sempreregulado e funcionando admiravelmente. Poucodistante e fronteando o meio da cama , tambémencostada a parede, vê-se uma poltrona (F) deixandoum vão de 0,70 cm. entre ela e a dita cômoda. Istoposta, para melhor compreensão do sucedido,voltemos aos três ocupantes ali acomodados. A

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senhorita não podia adormecer, muito angustiada, esoluçava convulsivamente, de quando em quando.Depois de procurarem acalmá-la com palavrascarinhosas, os velhos começaram a adormecer quandoum grito estridente, inarticulado, como de alguém quese estivesse estrangulando, a todos sobressaltou. Mariaexclamou: - Papais, mamãe, ouviram ? !

Ao mesmo tempo, queda como de um corpopesado sobre almofadas macias. O Senhor S. ligou depronto a luz. A primeira coisa que se lhe deparou foi orelógio, inda há pouco isócrono em seu tique -taque, deperues para o ar, no assento da poltrona. Os ponteirosparados marcavam justo 11 horas e 30 minutos!

O Senhor S. levantou-se e examinou toda a casa,nada encontrando de anormal; nem gato, nem cachorroe muito menos viva alma que pudesse emitir o longogemido simultaneamente ouvido por todos.Imediatamente após esses fatos psíquicosinexplicáveis, a senhorita sentiu dissipar a angústia eaté a empolga um certo bem-estar, concluindo logoque o noivo havia falecido naquele momento.

Resumindo : quem deu aquele gemido lúgubre ?Quem atirou o relógio à distância de um metro? Quemo teria parado na hora exata do trespasse? Tudomistério...

Nós constatamos simplesmente os fatos, mas ascausas nos escapam . Ao caro mestre cabe -lhe tirar asconclusões que lhe parecerem mais verossímeis.

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Procuremos ambos essas conclusões. Por mim ofaço, analisando cada caso em si. A manifestaçãopsíquica é coisa incontestável, mas, como traduzi -laem movimentos materiais? Eletricidade... dizem. Deacordo, provavelmente, mas, os processos detransmissão? Conforme sempre faço, pedi à família S.me descrevesse pessoalmente as observações de cadaum dos seus componentes. A senhora e a senhoritaaquiesceram em responder textualmente com os seusdepoimentos, aliás, idênticos ao do Senhor Al.Garnier. O gemido foi de todo ouvido e odeslocamento do relógio foi constatado p or trêstestemunhas . Nosso dever é registrar todos os fatosíntegros, certos, sem nos despreocuparmos dafaculdade de exame primordial.

Em Novembro de 1913 muito se falou de uma casamal-assombrada, em Blois. Nem mais nem menos quealgazarras, berros e pancadas nas paredes de uma casahabitada pela família Jarossay, composta do casal euma filha de 10 anos. O inquérito a que procedidemonstrou que nada se passou de sério por lá. Cartasns. 2.495 e 2.510, de 18 de Fevereiro e 24 de Março de1914) . Os ruídos cessaram com a intervenção daJustiça e teriam por fim atrair para os moradores acomiseração pública. Dava-se o fato no quarteirão deGranges, não longe da rua Gallières. A observaçãoseguinte merece, ao meu ver, atenção muito mais séria.A pouca distância de Blois, em Fougère-sur-Bièvre -

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modesta aldeia de 700 habitantes e que se orgulha deostentar velho castelo classificado entre osmonumentos históricos, verificaram -se rumores maisextraordinários e menos suspeitos que os supraditos,alvoroçando toda a população, a partir de 27 deDezembro de 1913. Recebi, neste sentido, a narrativado Senhor Paul Gauthier, industrial e antigo maire deBlois, bem como do Senhor Boutin, que houve porbem proceder às sindicâncias especiais, enviando -meao mesmo tempo o noticiário das gazetas. Eis oresumo:

O morador da casa é o perito geômetra SenhorHuguet-Prouateau, homem dos seus 60 anos. Temconsigo a mulher, o genro e uma netinha de 12 anos. Aprimeira manifestação deu a 27 de Dezembro. Nessanoite o Senhor Huguet lembrou-se, de repente, queomitira na véspera uma carta urgente. Levantou -se,pois, as 3 1/2 da madrugada e acendeu a luz. Malentrava no gabinete, ouviu o vizinho a rachar lenha,coisa que deveras o surpreendeu, atenta a hora. Demanhã chamou às falas o Sr, Colier (o vizinho) egrande e recíproca foi a estupefação de ambos, vistoque o Senhor Celier não só não rachara coisa alguma,como também ouvira a mesma coisa, tanto quetencionava exprobrar-lhe o haver perdido o sono. Apartir dessa data, todas as noi tes, ouviam pancadas nasdivisões internas e as paredes como a oscilarem.Depois, o fenômeno se ampliou, degenerou em

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charivari infernal, audível a 200 metros de distância.Se for alguém que isso promove - dizia de começo oSenhor Huguet - trata-se de cavalheiro atencioso, poisnos deixa, comer tranqüilamente .

Nós jantamos entre 6 e 7 e a festança não começaantes das 8. E quando me sucede entrar às 7 1/2, acoisa transfere-se para as 9!

Conquanto não pudesse explicar as ocorrências, onosso geômetra não se mostrava alarmado, bem comoo genro e a neta. A mulher, sim, inquietava -se,profundamente impressionada, e desejava verliquidado o fato. Chegamos aos fatos por mimobservados - escreve uma testemunha - eram 8 horasda noite, encontrava-me em casa do Senhor Huguet.Como deixasse transparecer dúvidas sobre o que eleexpunha, acabou por dizer: Estamos na hora e você vaicertificar-se por si mesmo; quanto a mim, não estoulonge de admitir que se trate de fenômenos elétricos.Mas, seja como for, o fato é que o barulho ontem,domingo, foi estupendo e toda a aldeia o comenta.Prolongou-se das 8 às 10 da noite e repetiu -se de 5 1/2às 6 da manhã.

Tanta firmeza não podia deixar de impressionar eentrei a imaginar que ia assistir a algum pandemônio.Lá estava, enfim, com toda a família. O amávelhospedeiro encheu os copos e bebericámos, semembargo, De fora nos vem um murmúrio inicial deaglomeração popular. Aberta a porta, o corredor

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encheu-se de curiosos e deixamo-los entrar, quantoscoubessem, para melhor poderem ouvir. Enquantoisso, eu e o Senhor Baranger passamos revista nadespensa e outras servidões da casa, aliás bem antiga.Dai fui à despensa do vizinho e escusado é dizer quenada encontrei de suspeitável. Mas, como a ssim? Teriaeu intimidado o espírito? Deram 9 horas e nada seproduziu! Fora, enquanto espera, a multidão ilude otempo, alegre e galhofeira, como sói fazer em noite defogos e nas festas campesinas. Toda a população deFougères ali está, e mais os vinhateiros das cercanias .O tempo calmo, a temperatura suave, favoreciam alonga expectativa. Olhei o relógio, marcava 9 h. 20 m.A família Huguet mostrava-se surpresa e eu comecei arir intimamente. Mas, continuavam dizendo: a coisa háde vir, fatalmente. Nada obstante, conseguimos que opequeno fosse deitar, e, quando ele anuiu, estrondosformidáveis abalaram a parede que separa o corredordo quarto onde estávamos. São 9 horas e 25 minutos.

Precipito-me para o corredor e examino a paredecom uma vela. As pancadas se repetem sucessivas,fortes, nessa parede que mede 2 metros de altura por 5metros de comprimento. Depois, cessam para dar lugara um estremecimento terrível de toda a parede, comonão fariam dez homem conjugados. O fenômeno nãodurou irais de 5 minutos e o Senhor Huguet ali catavaà, minha frente, sorrindo fleumático. Tenho visto maisdo que isso - disse. Isco não é nada, verá. . . Mas,

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nesse dia, nada mais sobreveio e eu pedi licença pararetirar-me assaz intrigado, mas, não céptico.

Os assistentes não se cansavam de comentar ofeito, trocando impressões. Na despensa puderam ver-se fragmentos de reboco e de gesso arrancados dasparedes, sob as vistas do jovem Huguet. Perguntei aesse heròizinho de 12 anos se não tivera medo, e ele,arregalando os olhos: Mas eu estou com vovô! Nodomingo à noite, o Senhor Lepage-Girault, jornaleiroem Fougêres, bateu doze pancadas na parede e teve aresposta de outras tantas pancadas, imediatamente. Naaldeia não se fala de outra coisa e todos querem saber -lhe a causa. A principio indagavam r indo, alias agoraninguém sabe o que dizer.

Naturalmente, o primeiro encrespado seria o garotode 12 anos, mas, depois, certificaram -se de que elenada tinha com o peixe. Ao demais, as pancadas eramfortíssimas. Continuemos com a descrição:

A casa está localizada dentro de um pátio comum,enquadrada por duas outras da mesma aparência. Nosfundos fica o jardim do pároco, tornando -se assimfacílima à vigilância rigorosa do local. Os rumorescomeçaram em fins de Dezembro e prolongou-se atéFevereiro. O Senhor Huguet e família nada haviampropalado; os moradores da vizinhança, intrigadoscom o fenômeno e com a sua pontualidade horária, éque deram o alarme no povoado. E foi como se

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houvessem mexido em formigueiro. Todo o mundoqueria ver.

Das aldeias próximas convergiram curios os detodas as classes, a ponto de suscitar uma portaria doPrefeito de Fougères proibindo aquelas romariasconstantes e o estacionamento em certas zonas.

Uma noite, o barulho foi tal que pode ser ouvidonas casas vizinhas como do outro lado da rua, àdistância de 60 metros. Toda a casa era sacudida dealto a baixo, as divisões internas rangiam, janelas eportas estalavam. Ao dizer de testemunhas fidedignas,os rumores que se seguiam as formidáveis vibraçõeseram roncos de longínqua trovoada. Por outro lado , ocortinado da cama agitava-se incessante, comosacudido por forte ventania embora fechada a casa. Nointerior da casa, pessoas estranhas à família fizeramexperiência, batiam nas paredes umas tantas pancadase obtinham em resposta outras tantas, mas, desonoridade inimitável. Eram ruídos fortes e surdosparecendo emitidos por todo o edifício .

Uma noite, alguns homens resolutos escalaram oforro e mal lá chegaram o barulho começou e a casaestremecia, as luzes se apagaram e eles se apressarama descer. ''Essas manifestações extraordinárias quetodos puderam ver - diz o Senhor Boutin - causaramprofunda impressão. Os mais maliciosos já não sabemo que dizer. Houve quem presumisse pilhas elétricasnas paredes, mas a casa foi rigorosamente examinada

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por eletricistas da usina de Montils, que nadaencontraram . O neto de Huguet, cujo leito eraparticularmente sacudido enquanto ele dormia, foilevado a dormir fora e substituído por outro menino damesma idade. Afastado, assim, o jovem Prousteau,nada mais ocorreu. Aqui há notar uma circunstancia: afamília Prousteau residiu em uma aldeia de Sologne eparece que também por lá se deram em sua casafenômenos análogos. Houve inquérito oficial arespeito, registrando os mesmos fatos, em idênticascondições.

O Senhor Boutin acrescentava ao comunicado de14 de Fevereiro o seguinte: Conheço o Senhor Huguethá uns 15 anos e sempre o considerei umtemperamento calmo, incapaz de excentricidadesdestinadas a divertir o público; goza de sólido conceitolocal e os seus antecedentes são os melhores possível,pelo que, não atino com o interesse em criar para si,voluntariamente, uma situação estranha.

Neste, como na maior parte dos casos análogos, acausa desconhecida, produtora dos fenômenos, estáassociada a um organismo moço, m as não quer issodizer que seja uma condição exclusiva . Este mundo émais desconhecido do que a América anterior aColombo e Vespúcio, e a sua exploração é porventuramais complicada que a dos silvícolas do Novo Mundo,posto que não tenhamos que temer a a ntropofagia.Procuremos, portanto, estudá-lo com todo o rigorismo

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dos métodos científicos. Comparemos as observações.O que só nas embaraça é a escolha do cabedal desseestudo, preocupados com a eliminação dos casosduvidosos, ou adulterados.

*

Gentil leitora e artista de conceito, enviou -me emFevereiro de 1920 a seguinte narrativa:

Devo dizer-vos, caro mestre, que estes fatosocorreram em nossa casa, na herdade deMontmorency, em Outubro de 1912. Havia 6 mesesque meu pai guardava o leito em conseqüência de umanefrite e uremia consecutiva. Os criados, assazdedicados, eram em número de três a saber:cozinheira, arrumadeira de 28 anos e uma pequena de14 para serviços leves. Em Agosto desabou tremendotemporal e uma faísca atingiu a cozinha, justamentequando as criadas lá faziam refeição e com o quemuito se impressionou a arrumadeira. A casa, situadaem uma elevação do terreno, tem dois andares,pavimento térreo e porão. Jardim em toda a volta

Daí, em Outubro ou Novembro, a rapariguita -criatura tarada, filha de alcoólatra e na crise dapuberdade - deu em manifestar-se medrosa,assustadiça e nos contava coisas fantásticas, com umsemblante macilento e fundas olheiras roxeadas.

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Também a arrumadeira se mostrava presa de mil idéiaimaginárias.

Dai a pouco, graças ã língua da rapariga, nossa casaadquiriria má fama em toda a região. Minha mãe, eu euma tia quisemos enfrentar essas lendas e, sobretudo,não despertar a atenção do querido enfermo, para adesordem existente no lar. O demônio esmurra asvidraças, senhorita; deu fortes pancadas em tal quartodo 2.° andar, etc. - era o que dizia a rapariga. Claroque não podíamos tomar a sério pataratices que tais,até o dia em que (uma sexta-feira), ao regressarmos dopasseio a Paris, eu e mamãe encontramos o jardineiropálido e sobressaltado, à nossa espera na cozinha. Acriadinha e a arrumadeira tinham-se sentido muito male o secretário de meu pai, que lá fora assinar algunspapéis, mostrava-se embaraçado.

- Que teria havido?1 ° Quando ele, secretário, quis tom ar o chapéu no

cabide, foi detido por pancadas regulares na porta deentrada, duas ou três vezes, e para ali se dirigindo nãoencontrou ninguém;

2.° As gavetas dos móveis abriam -se por simesmas.

3.° Na cozinha, enorme algazarra, balanças aoscilarem, caçarolas a dançarem no fogão, ao mesmotempo em que a carvoeira com 50 quilos decombustível deslocava-se nos seus roletes.

4.° Pancadas retinindo em todas as vidraças.

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Ficamos seriamente aborrecidas com o ver o larassim perturbado, resolvemos usar de severi dade etudo se acalmou, com surpresa para nós mesmas.Entretanto, à noite, depois do jantar, elas, as criadas,presumem ouvir gritos que eu não conseguia perceber.Nem eu, nem o médico assistente de meu pai. Nointuito de surpreender algum ardil, postei -me nojardim mais de uma hora e nada vi. Optei, então, pelaalucinação as duas supersticiosas serviçais. Mas, aoreentrar em casa ouvi, por minha vez, distintamente, astais pancadas. Seria que os nervos, muito t ensos, mepusessem em sintonia com quaisquer ondas? Dizia-meo médico: tome cuidado, pois do contrário sucede -lhea mesma coisa. .. Sim, é possível, mas... a verdade éque ouvi. No dia seguinte, cerca das 8 horas, acozinheira, muito afobada, veio dizer -me: não possofazer o almoço; a coisa lá está ba tendo, em cima e navaranda é um verdadeiro caos.

Desci a sala de jantar, que dá uma porta para avaranda, a fim de acompanhar a cozinheira no seumister, enquanto a arrumadeira trabalhava no 2.°andar. Disse a pequena que corresse e vi, então, umespetáculo inédito: urna cadeira dançando tona um pésó, só ladrilho da varanda e os móveis a trepidarem.Calma, imperturbável, procurei tranqüilizar acozinheira; e depois, subindo ao 2.° andar, ouvi duaspancadas singulares no próprio quarto que a raparigaestava arrumando. Vendo assim perturbado o lar e

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conjeturando que a meninota fosse médium, pedimosaos pais que a levassem e isso não deixou de nosacarretar dissabor, visto assoalharem que meu pai era ocausador de tudo aquilo. A arrumadeira também foidespedida e com isso tudo desapareceu como porencanto. Estou convicta de que ambas as raparigasoperavam inconscientemente. Da menina não sei o queé feito; a segunda sei que se casou e é hoje mãe defamília. O pobre enfermo faleceu no mês de Março enão chegou a ter conhecimento das nossasatribulações. De resto, tínhamos feito tudo para lhasocultar.

S. de Bellecourt

Tal a narrativa da observadora, que reproduzi comtodos os pormenores, para melhor instrução pessoal.Esses ruídos inexplicados, esses movimentos semcausa aparente são verdadeiros e associados à presençada rapariga de 28 ou, sobretudo, à menina de 14 anos.

E' também certo que lhes não cabe partícula, deconsciência e sim de uma força desconhecida,servindo-se delas. Teria o enfermo exercido qualq uerindeterminada influência?

*

Consideremos ainda outras observações, feitas comcritério. Prefiro sempre as que me vieram de primeira

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mão, oferecidas pelos próprios observadores . Anarrativa a seguir é das mais inverossímeis.

Entre milhares de comunicados que tenho recebidonestes 25 anos, em resposta a inquéritos por mimprovocados paia, elucidação de problemas que, namaior parte, parecem insolúveis, este é dos primeiros enão foi publicado até agora, posto que date de 1899.Ele poderá causar ao leitor a mesma estupefação queme causou. Trata-se de passos estranhos em umaescada, e de uma porta violentamente arrombada.

Dizia Ptolomeu, há 200 anos, que nada havia maisridículo, estúpido e risível que a hipótese domovimento da Terra... Meu patrício Fili pe Lebonobjetava ao inventor do gás, em 1804: Que tolicesupor lâmpadas a arder e aclarar, sem óleo e se mmechas! - Insensato - clamavam a Stephensen antes deconstruída a primeira locomotiva - admitir carruagenssem cavalos... - Tirar retratos sem lápis, pincéis etintas, é absurdo - afirmavam a Daguerre, em 1838... Eassim por diante...

Neste livro, temos sob as vistas fatos nãoexplicados e atualmente incompreensíveis, cujaaparente impossibilidade não nos deve deter comparadoxos anticientíficos, anter iores aosconhecimentos humanos especializados. Estaobservação não é menos surpreendente que asanteriores . São fatos ocorridos em E strasburgo, na ruaSanglier n .5.

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Estávamos em Fevereiro de 1855 - escreve atestemunha. Tinha eu 15 anos e morava com min hamãe viúva, e uma irmã. A casa, no centro da cidade,era um velho sobrado de dois pavimentos; o primeiroocupado por um ourives muito assíduo ao trabalho epai de sete filhos, dos quais o mais velho tinha 12anos. Nós ocupávamos o segundo, no forro do qu alficavam as respectivas despensas, com acesso porescada partindo do limiar do nosso alojamento. Oourives, não raro, tinha em casa jóias de g rande valor ea única precaução que tomava era o segredo, para queninguém o soubesse. E ninguém suspeitaria quenaquela modesta habitação pudesse haver, às vezes,adereços preciosos que representavam fortunas. Certafeita, a mulher do ourives nos confidenciou que vinhade algum tempo ouvindo passos noturnos, subindo edescendo a escada... Pura ilusão - respondemos, rindo-nos.

Ela insistiu, porém, e mais tarde voltou ã cargadizendo-nos que costumava passar parte das noitesacordada, por causa das crianças; que estava certa doque dizia e receosa dos ladrões, mas o marido tambémsorria, como nós, pois tinha o cuidado de bem fechar aporta, aliás verdadeira fortaleza, e dormia tranqüilo.Contudo, aquela insistência da boa senhora acabou porinteressar-me. Minha mãe me ensinara, de pequenina,a dominar todos os impulsos de covardia. Assim que,muitas noites me levantei e percorri a escada, do porão

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ao forro, nada vendo nem ouvindo de anormal.Contudo, a insistências da mulher, cheguei a colocarna beira dos degraus copos dágua, cheios e recolhidosintactos, de manhã, Imaginei outro artifício : atravessarum fio de linha preta em toda a escada e em níveisirregulares. De manhã os fios estavam intactos e amulher continuava afirmando haver gente na escada.Isso acabou por impressionar -me e mais direi -inquietar-me, temer os ladrões, um atentado à pessoado ourives, sei lá que mais! Levei para o quarto amachadinha e dormia com ela ao alcance da mão.

Aquela noite, deitei às 10 horas, na forma docostume e li até 2 da madrugada, atenta ao primeirosinal. Nada. . . A porta do meu quarto, a Cínica que dáentrada ao alojamento, é uma peça maciça, decarvalho, da espessura de 5 centímetros no mínimo, talcomo as do século XVII; larga de. 1 m. 20 por 2 m. dealtura. Os portais de cantaria e nesta embutidos osgonzos de ferro. Ela abria para fora., por meio deenorme fechadura interna, cuja chave pesava nada.menos de meia libra e acionava a lingüeta grossa detrês centímetros pelo menos. Acima do orifício dachave, um ferrolho correndo em tubo de ferro cravadona própria fechadura. Todas as noites, depois devoltear a chave, eu suspendia o gancho e corria oferrolho. Prendia o gancho na própria chave,impossibilitando abrir a porta., de qualquer maneira.Com tal porta e tais fechos, podia -se dormir

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tranqüilamente. Não seria estético, mas era seguro, e,naquelas conjunturas, o que me p reocupava era afechadura. Insisto nesta particularidade.

Uma noite, às 10 1/2, acabava eu de tomar asdisposições habituais e lembro-me que estava a lervelhos folhetins de Mistérios de Paris, de EugeneSue... (por sinal, uma página que principiava assim: aherdade Para a qual Rodolfo conduzia Flor de Maria. .. )- quando um choque violento, terrível, arrombou aporta e deu com ela contra a parede e com tal força,que ainda me parece vê-la trepidante nos seus gonzos.Minha mãe saltou do leito sobressaltada e gritou: -Que é isso? Sem lhe responder, saltei também, nadestra a machadinha, na sinistra a vela, e atirei -meescada abaixo, onde fui encontrar os fios de linhaintactos! Subi logo, a galope, examinando todos osrecantos... Tomei a chave da despensa, abri a porta deacesso, lá estive, e... nada! Voltando ao quarto,procurei fechar novamente a porta e só então mecertifiquei de que a lingüeta e o ferrolho permaneciamcorridos, como se a porta estivesse fechada, quando,ao invés, ela estava aberta. . . E com que violência'.Nesse instante, apenas tive uma sensação de enormepavor; os cabelos se me arrepiavam:, parecia-me queos miolos se tinham congelado. Fechei finalmente aporta, tornei a deitar-me, mas toda me tremia e nãopodia despregar os olhos da p orta. Minha mãe selevantara, contei-lhe o que acabava de suceder.

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Suspirou e disse que não tardaríamos a receber algumanotícia infausta. Tal não se deu, porém, conosco e tão -pouco com a família do ourives. Assim, pois, o quevenho de expor fielmente, não se prende a qualquercoincidência

Esse fato me causou tão profunda impressão, que,escrevendo estas linhas, passados 44 anos, aindaexperimento, em parte, o terror que me invadiuquando, de regresso ao quarto, quis fechar a porta. Nãocreio no sobrenatural e, no entanto, jamais pudeexplicar esse prodígio da abertura violenta, quantoespontânea, de uma porta tão só lida e fechada comuma fechadura que mais parecia de masmorra que desimples apartamento doméstico.

Besançon, 26 de Março, 1899.Ernesto Frantz

Este relato cuja data vai longe, como disse, me foimandado com todas as minúcias que poderiamempregar um engenheiro e um arquiteto versandoplanos de compartimentos, escadas, etc. (Julgosupérfluo reproduzi-los, guardando embora essesdocumentos) .

Todavia, é verdadeiramente fantástico, incrível e eunão o publicaria há 20, ou mesmo há 10 anos, porqueos leitores, mesmo os instruídos nos conhecimentosmetapsíquicos, não estavam preparados para isso. Sim,tal manifestação parece absurda, ridícula, antes f arsa

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destituída de sentido. E, no entanto, também asencontramos incríveis nos fenômenos do raio, cujasbizarrices são inumeráveis, e cujos efeitos são, porvezes, formidáveis. Enseja-se, aqui, lembrar algunsmuito semelhantes ao que acabamos de expor.

No dia 1 ° de Junho de 1903 caiu uma faíscaelétrica na igreja de Cussy-la-Colonne, derrubou oabrigo do sineiro, espedaçou o sino e foi abrir oarmário na sacristia, destruindo totalmente o seuconteúdo. Em Abril de 1868, na igreja de M ontrédon,o raio demoliu o campanário, e vários sinos com asrespectivas barras de suporte foram arremessadosmuito longe. Em Agosto de 1868, em Liège, varou aparede de uma ferraria, estragou quanto lá estava,arrancou unia gaveta, quebrando -a em pedacinhos eespalhando no chão os objetos que ela continha;rachou os ladrilhos da escada, tornou a atravessar aparede e foi matar um coelho que se abrigara numburaco, deixando no solo um sulco assaz longo.

Em Julho de 1896, num burgo de Boulens, o raioentrou pela chaminé e derrubou em primeiro lagar acremalheira, arrancando-lhe os gonzos e deixando nolugar deles um orifício de lado a lado. Depois, levoupara o meio da sala a marmita e respectiva tampa, queestavam em cima do fogão, e arrancou na suapassagem alguns ladrilhos do p iso. Fez saltar oferrolho da porta da rua, bem como a chave dafechadura, mais tarde encontrada dentro de um sapato,

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no aparador. Nos meados de Agosto de 1887, emFrancines, perto de Limoges, penetrou no quarto emque repousava o dono da casa, que experim entou fortecomoção. O cobertor foi perfurado em diversos pontose o fluido pérfido, seguindo sua trajetória, aindaespatifou a cômoda com tudo o que continha,transpondo-se ao quarto contíguo, cuja porta demoliu.Em Niederdorf (Suíça) a casa do conselheir o Jallerapresenta, entre outros fenômenos, portas que seabrem com estrondo, linguetas brutalmente arrancadase ferrolhos que saltam dos encaixes.

Aos 20 de Abril de 1807, fulgurante descargaabateu-se sobre o moinho de vento de Great -Marton(Inglaterra) . Grossa corrente de ferro destinada a alçaro trigo foi, senão de todo fundida, bastante molgada.Assim que, os elos quebrados de alto a baixo, pelopeso inferior, se juntaram e amalgamaram de maneiraa transformar a dita corrente em barra de ferro. Vale,então, perguntar como se opera ria a fusão, em tempotão curto que podemos dizê-lo (e aqui compropriedade) rápido como o relâ mpago.

Que força mágica confere à chispa escapada danuvem o poder de transformar o ar em verdadeiraforja, onde arrobas de metal se volatilizam emmilésimo de um segundo! Em 26 de Julho de 1911, emHéricy-sur-Seine, não longe de Fontaineblau essachispa se precipitou num tanque com 3 metros de águae o secou instantaneamente! No mesmo dia em

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Bagneux próximo a Moulins, essa fagulha a rrebatoutrás carretas da estrada para uma barraca, metrosdistante, sem contudo derramar um grão de areia queLhes constituía a carga. Mas os cavalos foramfulminados e as correntes de tiro desapareceram! EmMaussane cai um raio na Quinta Monte Branco.Penetrando pela chaminé, passou sobre a mesa dacozinha, onde fundiu o bico da candeia, quebrou u mcopo e rasgou o oleado que a forrava. Isso feito,atravessou o teto e barafustou no quarto da viúvaPiquet, lá deitada; chamuscou as cortinas, reduziuparte do leito a pedacinhos, sem tocar a referidasenhora; ao passo que, outras vezes, fulminam aspessoas poupando-lhes às vestes! Ainda um exemplorespigado nas minhas coleções: Depois de me h averreferido uns tantos fenômenos psíquicos singulares, oSenhor Torelli escreveu-me de Nice o seguinte: EmNovembro último (estávamos em 1898) e em data quepoderei determinar, se necessário, por volta das 2 datarde e depois de grande temporal e trovoada, subi aopavimento superior da casa que tenho em Mônaco, e láse me deparou um quarto completamente alagado.Visitei o telhado para certificar -me do que havia eencontrei uma fileira de seis telhas chatas, deslocadasmetodicamente e colocadas a uns 40 centímetrosabaixo, isto é, duas filas de telhas em baixo, mas bemajustadas e alinhadas, qual se o fizera um bom

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operário. E as telhas confinantes com as deslocadasnão tinham sinal de avaria qualquer.

Quantos e quantas fatos outros poderiam ser aquiadicionados? (V. Em torno da Morte, págs. 308-311) elia um certo número que sugere a idéia de quartadimensão. Certo, negar o depoimento de Frantz, que aíestá, seria tudo simplificar; mas isso não é assim tãofácil, porque ele viu, examinou, verificou. E depois,essa observação não é única, há centenas delas,análogas. Repetirei mais uma vez, que, inconteste eaceito o fenômeno, seria ingênuo supor que a c iênciacontemporânea pudesse explicá-lo. Entretanto, umaconsideração dinâmica se nos impõe aqui. Todos osfísicos e matemáticos conhecem a expressão mV2 esabem que a quantidade de movimento de um corpo seestima multiplicando a massa pelo quadrado davelocidade. Uma velocidade duplicada é quatro vezesmais potente; nove, se triplicada; e dezesseis, sequadruplicada. Quintuplicada, se -lo-á centos e vinte ecinco e assim por diante. Segundo esta fórmula.,poder-se-á obter o efeito mecânico desejado,aumentando a velocidade. Não é a bala e sim avelocidade que mata. Atirai com a mão a bala ao peitode alguém e o choque mal se fará sentido, através daroupa. Lembro-me de que em 1886 ganhei uma apostaperfurando uma tábua de carvalho, com uma bala dequeijo suíço. Era o epílogo da discussão travada apropósito de Força e Matéria. (Memórias, págs. 353 -

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354) . Certo número de ruídos e algazarras, assimcomo diversos efeitos e atitudes do raio, poder-se-iamexplicar mediante essa fórmula. Todas as modernasdescobertas científicas induzem, a admitir que amatéria é de natureza elétrica, e que as forças decoesão molecular, que dão rigidez aos corpos sólidos,são forças elétricas. Abstenhamo-nos, porém, de muitaexplicação, pois ninguém sabe o que sejaverdadeiramente a matéria. Um átomo rádio -ativoencerra enorme quantidade de energia intra -atômica,capaz de arrasar uma cidade . Mas, ainda mesmo quenão possamos explicar os fenômenos, temos o devercientífico de os admitir, desde que rigorosamenteobservados. Essas histórias, mais ou menos estranhas,quase sempre incríveis, nem todas representaminvencionices, imposturas, ilusões, erros, etc .

Aqui, como em tudo, convém encarar o problemacom largueza de vista, sem prevenções . A conclusãode todas essas experiências é que existe, em nós e emtorno de nós, forças naturais desconhecidas, e que, semembargo de suas admiráveis conquistas, a ciênciahumana apenas amanhece . O mundo invisível é tãoreal quanto o visível.

*

Os fenômenos de assombrament o são muitovariados e nem todas têm a mesma explicação, por

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derivarem, também, de causas diversas. Prod uzidosuns por obras de mortos, outros por seres de naturezadesconhecida, e outros ainda por or ganismos humanos,que operam inconscientemente. Esta última causa éfreqüente e tem levado a se lhe atribuir ascendenteúnico em todos os casos, pela razão (insuficiente) dehaver, quase sempre, um adolescente ou uma jovemassociada aos fenômenos, tendo a invisívelnecessidade de uma força orgânica, humana, paraproduzi-los. Todos quantos hão procurado conhecer,de experiência própria, o que há de verdade nessesfenômenos, convenceram-se e foram levados areconhecer que as hipóteses da alucinação e da ilusã onão bastam, absolutamente, para os explicar. Esentença, esta, há muito passada em julgado, mas quemuita gente finge ignorar. Quem se lembra, porexemplo, que, desde o século XVII, um dos membrosmais ativos da Sociedade Real de Londres, JosephGlanvill (1630-1680), ventilou o assunto em sua obra -Saducismus Triumphatus - coletânea de fatos análogosaos aqui estudados por nós e já observados em 1661?

A Real Sociedade antecipou-se em mais de deisséculos à Academia de Paris, neste sentido, e hoje, noséculo XIX, aí estamos vendo titulares seus, quaisMoor em 1841, Crookes em 1871 e Wallace em 1875,enfrentarem o problema com a mesma coragem eindependência. Os Srs . William Barrou e OliverLodge os sucederam com brilhantismo, diga -se. A

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Academia de Ciências só há pouco atingiu esse nívelcom Richet, o Conde de Gramont e d'Arsonval. OSenhor Barrett exprimiu a sua conversão em termosprecisos, que valem transcritos aqui

Pensava eu que, em experiências e observações dehomens de absoluta competência e integridade, taiscomo Crookes e Morgan, não se cogitava de fraudepossível, mas poderia haver ilusão, como se deu, aprincípio, com a hipnose. Minhas pesquisas destruírampor completo a minha teoria. Foi em 1876. Umadvogado inglês, de reconhecida honorabilidad e - M.C. - tinha alugado para veraneio, em Kingston,Condado de Dublin, a casa de um amigo meu.Travando relações com M. C., fiquei surpreso quandome falou de manifestações em sua casa, não sendo eleespiritista, nem ninguém da sua família. Ficavamperplexos e aborrecidos quando pancadas e rumoresoutros se verificavam, aliás freqüentemente, empresença da filhinha Florrie, menina de 10 anos,inteligente e viva. A principio supuseram fosse ela quelhes armava a partida, mas logo se convenceram deque isso não era possível. A mestra queixava -se depancadas na sala de estudo e a professora de pianoafirmava que o instrumento dava fortes estalos quandoa menina o dedilhava.

O casal M. C. me permitiu, de bom grado, uminquérito pessoal e lá me fui a sua residência, no diaseguinte, depois do almoço as 10 horas da manhã

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ensolarada. Assentamo-nos em torno da grande mesade jantar, lisa, sem toalha, eu, o Basal M. C. e apequena Florrie, O transparente das janelas que davampara o gramado deixavam coar a luz de fo ra, e demaneira que os pés e mãos de todos nós ficavamperfeitamente visíveis. Ouvimos logo um comoarranhar da madeira, seguido de pancadas na mesae,no encosto das cadeiras. Eu tinha de vista os pés emãos de Florrie e certifiquei-me de sua absolutaimobilidade .

Agora eram marteladas no assoalho, como seestivessem a pregá-lo, e eu tinha a idéia de carpinteirosno pavimento superior. As pancadas tornavam -se maisfortes sempre que ensaiávamos uma canção alegre, ouquando fazíamos música. Elas davam, entã o, de modoengraçadíssimo, o ritmo do compasso, transformando -se em rangido semelhante ao de um arco de violonceloraspando a madeira. Muitas vezes coloquei o ouvidono local em que nos parecia produzir -se o ruído epercebi distintamente a vibração rítmica da mesa, semlhe descobrir causa visível e tangível, infra ou surra.As pancadas se deslocavam as vezes, mais perto oumais longe. Um dia, pedi que batessem no velad or, ameu lado, móvel no qual F lorrie não tocava. Fuiatendido. Coloquei as mãos, uma em b aixo, outra emcima da mesa e experimentei, nitidamente, a ligeiravibração das pancadas no lugar que tateava. Quer

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estivéssemos sós, eu e Florrie, quer em companhia deoutrem, o fenômeno era inalterável.

Às vezes, mandava entrar outras pessoas, a fim dever até que ponto se justificaria minha teoria daalucinação, mas a verdade é que todos percebíamos osruídos. Repetimos pausadamente o alfabeto e ainteligência invisível correspondia sempre, com umapancada, à. letra precisa para formular as palavras erespostas. Chegamos assim a saber que o comunicanteera um rapazinho, Walter Hussey. A Senhora C. medisse mais tarde que, quando ia dar boas -noites ã filha,ouvia, as pancadas e surpreendia a pequena aconversar com o seu camaradinha. Tive ocasião deverificar algumas das respostas assim obtidas, econstatei serem alegres, simples e ingênuas, ou fosseem perfeita concordância com as perguntas que apequena poderia formular, até na ortografia. Oscépticos não deixarão de objetar que tudo isso nãopassa de invencionices de criança maliciosa, parazombar do professor. Que lhes faça bom proveito. Pormim, limito-me a advertir que, depois de algumassemanas de investigação, todas as nossas teorias(minhas e dos amigos que me secundaram) nosfizeram rejeitar, unânimes, qualquer hipótese defraude, ilusão ou falha de observação.

Os fenômenos eram inexplicados a menos quepresumisse uma inteligência invisível ou fosse daprópria criança. Contudo, a força despendida

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ultrapassava de muito a de Fiorrie. Presenciamos odeslocamento de móveis. Um dia, na sala de jantar, ãplena luz, assentados à mesa que podia comportar 12pessoas, eu e os pais de Florrie vimos a dita mesalevantar-se três pés, de maneira a podermos insinuar erepassar o bico da botina entre o soalho e as r oldanas.Tente alguém fazê-lo e verá, mesmo agarrando a mesa,que o não conseguira senão mediante vigorosa esfor ço.De outra feita obtivemos raps depois de tirar as mãosda mesa, e dela afastados. Mãos e pés à vista ai todos,fora de qualquer contacto, a mesa andou de lado, emmarcha irregular. Essa mesa, diga -se, era muito pesadae tinha 1 m. 20 c. A meu pedido ela ergueu primeiro osdois pés mais próximos de mim, e depois os doisoutros, alto de Om,20 a Om,25, mais ou menos, assimse mantendo por momentos , sem contacto de pessoaalguma. Recuei a cadeira, a mesa avançou para mim(sempre isolada de qualquer contacto) e acaboucolando-se à cadeira e impedindo que me levantasse.Quando atingiu o nível do meu rosto, levantou-sevárias vezes e pude, então, certi ficar-me, pelo tato epela vista, de que não repousava no chão e queninguém poderia imprimir-lhe aqueles movimentos.Deixo aos cépticos o direito de supor a existência defios invisíveis, manejados por imaginário cúmplice, aflutuar também invisível no espaço.

Estas as minhas primeiras experiências, que,comparadas as posteriores, jamais me deixaram

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quaisquer dúvidas. Atrás dessas manifestações existeuma inteligência oculta, afirmativa esta que destróitodos os fundamentos do materialismo. Não sou assazingênuo para supor que minhas assertivas vãomaiormente impressionar a opinião pública, e que meutestemunho tenha maior peso que outro qualquer; masespero que sirva de estimulo a outras testemunhas,para que nos comuniquem seus dados e provas, até quepossamos constranger os opositores a reconhecerem arealidade dos fenômenos, ou, então, que somos nósoutros de uma cegueira e patetice só compatíveis coma mais perfeita idiotia.

Assim se expressa William Barrett, titular daSociedade Real. Pois essas forças psíquicas são asmesmas que atuam nas casas mal -assombradas.Minhas experiência nestes assuntos, levou-me a umaconclusão idêntica a de Barrett. E todos quantos sederam ao trabalho de ver viram como vimos. As forçasem jogo nestes fenômenos ,são ainda in teiramentedesconhecidas, qualquer que sela sua afinidade com asforças elétricas, por isso que entram nelas fatores deevidente mentalidade. Mentalidade de vivos e demortos. Lombroso escrevia em 1910 (Hipnotismo eEspiritismo, pág. 228) : Os fenômenos das casas malassombradas trazem importante contribuição Pararesolver o problema da atividade pós tuma dosdefuntos. Tais fenômenos seriam perfeitamenteanálogos aos mediúnicos comuns, além de mais,

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espontâneos, amiúde sem causa aparente, e quasesempre circunscritos a uma casa, um cômodo, umnúcleo de pessoas. Os mais freqüentes são os de rapamuito fortes, atritos, passos, transporte de objetos,mesmo através de cômodos fechados à chave e, maisraramente, aparições.

Outras características: absurdidade apar ente,ausência, de objetivo conhecido, nos fenômenos demotilidade, tais como timbre de campainhas, extinçãode luzes, remoção de objetos como sapatos, toucados,etc . , para lugares imprevisíveis; roupas amarfanhadasou amarradas, etc.. De notar, também, o grandeestridor das pancadas, a projeção brutal dos objetos,sem consideração a pessoas ou coisas, tanto quanto abanalidade vulgar e, por vezes, intencionalidademaléfica, incêndios, depredações e quejandas. Tudoisso nos parece banal e mesquinho.

Mas, se daí resultai a prova da sobrevivência além -túmulo, havemos de confessar que não é banal, nemmesquinho. Quem não desejará, no momento da perdade um ente querido, obter, depois de lho pedir, umsinal qualquer de sobrevivência, ainda que seja o sómovimento da ponta de um dedo? Os fatos são reais,incontestes. A crença nas casas mal -assombradas éantiga quanto 0 mundo, como se evidencia pelaexistência de vocábulos que as designam, em todas aslínguas. Temos, assim, em alemão - spuken, em inglês- haunted, em italiano spiritate ou infestate, em francês

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hautées, sem falarmos de numerosas expressõesregionais .

Vimos, também, a sua realidade confirmada. emsentenças judiciais. Casas assombradas! Estas simplespalavras, emitidas ao acaso no curso de uma pales tra,têm o condão de suscitar ironias e anedotas estultas.De um lado, os que não vêem em tudo isso mais queintrujice, truques, ventríloqua; de outro lado, os contoslendários, supersticiosos, vão deformando eexagerando os fatos, graças à influência da i maginaçãoe pendor para o sensacionalismo .

O prurido do mistério vibra o sistema nervoso dasmulheres; a jactância dos homens expande -se àvontade... Pouco há, negavam tudo; agora já admitemas mais absurdas fantasmagorias. Entre os doispartidos extremos e igualmente falsos, há posiçãoconvinhável para o observador imparcial e atento.Continuemos a nossa visada .

*

Desde o começo do meu inquérito, uma leitoraassaz ponderada e já conhecida do leitor, Srta. AdéliaVaillant, membro da Sociedade Astronômic a daFrança, escreveu-me de Foncquevillers, em 10 deJulho de 1900, o seguinte:

Nos dias 16 e 17 de Fevereiro de 1881, ouvimosbarulho em uma porta da casa em que ainda moramos.

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Eu e minha irmã estávamos então em Arras, e aindaagora aqui tenho a vista a carta de minha mãe, datadade 28 de Fevereiro de 1881, em que nos participava asinsólitas ocorrências. A principio, pancadas secas,depois sacudidelas, serrar de madeiras, raspagens,fechaduras que se abriam, queda de chaves... Omitotodos os pormenores para economizar tempo e queroapenas dizer que o ar estava calmo, não ventava eninguém se poupou a pesquisas minuciosas paraconvencer-se de que se não tratava de algum animal oude algum pândego de mau gosto. Que pensam vocêsde tudo isso? - perguntou minha mãe aos meus irmãos,ainda muito jovens. E' a alma de tio Edmundo, quequer uma missa em Foncquevillers - teriam elesrespondido sem hesitação . Esse tio, advogado nosauditórios de Paris, falecido havia pouco e quase derepente, em Arras, ocupava-se um tanto de Espiritismoe mostrara desejo de manifestar -se post-mortem, se lhefosse permitido - dizia.

Na manhã do segundo dia, o serralheiro C aron foi anossa casa, a serviço de sua profissão. Examinando afechadura e a porta, encontrou-as perfeitas. Contaram-lhe o caso e ele, logo: - Morreu-lhes alguém da famíliahá pouco tem? Pergunto-o porque lá na minha aldeiade Fampoux se deu um caso semelhante e de maioresproporções. E contou o seguinte, por ele própriotestemunhado: O conterrâneo havia perdidoprematuramente a esposa com a qual tinha

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compromisso de umas tantas missas. Nos primeirostempos cumpriu pontualmente a promessa, masdepois, distraiu-se com os planos de segundomatrimônio. A tralha da cozinha e a louça no armárioentraram então a dançar todas as noites, e a coisa sóterminou quando ele se desobrigou inteiramente docompromisso com a defunta.

Pouco antes de 1880, noutra casa deFoncquevillers, ouviram-se rumores sem causaconhecida. Diversos moradores da aldeia lá acorriampor averiguar o que se passava. Contaram na minhapresença que, todas as noites, davam pancadas fortesde abalar as janelas. Meu avô, que lá foi com umamigo, ouviu esses rumores na porta do forno, que,concluiu, achava-se completamente vazio. De quandoem vez, o estrépito era tal que houve quem ocomparasse à descarga de um carroção de cascalho.

Todas as investigações resultaram inúteis. Asmanifestações cessaram com as missas em intençãodos familiares falecidos, mas, neste como no caso pré -citado, pode ser que isso não passe de fortuitacoincidência. Em uma terceira casa da mesma aldeia, eem tempos mais afastados, ouviram Certa noiterumores semelhantes aos de grandes pedradas nasjanelas. E sempre que isso ocorria, à noite, osmoradores eram acordados em sobressalto.Terrificados, pensavam eles que só podia ser algumignoto malfeitor, oculto no jardim. Quando chovia,

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procuravam no solo amolecido o rastro do inimigoimaginário, mas, excusado é dizer que nuncaencontraram coisa alguma. Pergunto -vos, caro Mestre,se as almas dos mortos podem, efetivamente, ter partenesses distúrbios inexplicáveis, ou se devemos anteslhes atribuir uma causa natural desconhecida. Nocampo e nas aldeias é voz corrente que esses barulhosextraordinários, deslocamentos de louça, móveis, etc.,são promovidos por almas do outro mundo, quepretendem orações, missas ou cumprimento de votos epromessas feitas. Que dizeis?

(Carta 923).Adélia Vaillant.

Aqui, de pronto vemos uma idéia religiosaassociada à explicação do fenômeno: uma almapenada. Esses pedidos de missas e preces podemparecer surpreendentes, mas não podemos desconhecerque são freqüentes e podemos apontar doze exemplosno tomo III do A Morte e o seu Mistério , entre eles odo quadro de Van Eyck, do museu de Bruges. Nãoestaria a causa na mente dos assistentes? Tudo está porestudar, sem idéias preconcebidas. Que dizer dosexorcismos, às vezes eficientes, das casas mal -assombradas? Às vezes, digo, e não sempre .

Entre as numerosas comunicações que possuo,destacarei a seguinte, tanto mais notável quanto bem

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observado. Ela me veio de Buenos-Aires, com estacarta:

Museu de História Natural, 20 de Junho, 1921.Prezado MestreOs dois volumes de sua obra - A Morte e o seu

Mistério despertaram a atenção do nosso grandepúblico para os problemas ps íquicos, induzindo-o apensar no Além. Permito-me, então, comunicar-lhe umcaso espontâneo e prolongado de assombramento, quepoderá talvez, se chegar a tempo, ser incluído noterceiro volume.

Só ultimamente tive conhecimento dele, por umadas testemunhas, homem sério e inteligente, cuja boafé posso abonar. Até agora, esquivou -se de tocar noassunto, temendo o ridículo. Refiro -me ao Senhor JoséAmadei, italiano de 37 anos de idade, que trabalha há10 anos neste Museu, como marceneiro. Chegando daItália, em 1903, foi morar com o irmão AmadeuAmadei, casado e residindo com a família na VilaDevoto, num arrabalde desta cidade. Compunha -se afamília de 5 pessoas, isto é: sua cunhada com trêsmeninos de 1, 3 e 5 anos, sua velha mãe e uma jovemcriada de 17 anos.

Contaram-lhe que a casa tinha sido teatro defenômenos estranhos - ruídos noturnos, etc. - no anoanterior, a ponto de provocar a intervenção da polícia,aliás inútil. Espírito forte e liberto de superstições,recusou acreditar no que lhe diziam e, contu do, teve de

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render-se à evidência, constatando por, ai mesmo arealidade dos fatos, que recomeçaram com maiorintensidade logo após a sua ch egada. Os fenômenosocorriam ordinariamente à noite, quando todos sedeitavam e apagava-se a luz. Eram pancadas fortes nasportas e nas janelas, no âmago das paredes, nos móveise no soalho. As portas estalavam como que asestivessem arrombando. Por fim, o Senhor Amadeiquis, armado de revólver, saber o que ocorria e quesupunha não passar de estúpida brincadeira. firmo u asua tocaia e nada logrou descobrir. Por vezes, atiravamas cobertas para baixo da cama e apagavam a vela,quando tentava acedê-la. O mesmo se passava emtodos os quartos: roupas tiradas das gavetas emisturadas no chão, louça removida dos armários, etc .Certa feita, em pleno dia, acharam, sobre a mesa deum quarto fechado à chave, três vasos de flores e alâmpada derrubada e artisticamente dispostos em cruz.

Impossibilitados de dormir, a moradia tornava -seintolerável e já pensavam na mudança quando al guémnotou que, no meio de todo o distúrbio, o berço dacriança de um ano sempre fora poupado. Daí a idéia deque tudo proviesse do avô paterno do menino, homemmuito piedoso e falecido havia 29 anos, no intuito,talvez, de forçar o batizado do petiz. Isso feito, comalegria geral da família cessaram de todo edefinitivamente os fenômenos, que se haviam

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prolongado por dias consecutivos. Devo acrescentarque essa família nunca praticou o Espiritismo nemtinha dele a mínima noção.

Aí tem, Senhor Flammarion, o fato que julguei útilcomunicar-lhe e sobre o qual me será fácil dar outrosapontamentos, se assim o entender, visto que o SenhorAmadei aqui trabalha e está sempre em contacto com afamília.

(Carta 4.549).Pedro Serié Zoólogo do Museu de Buenos Aires.

O inquérito por mim promovido confirmouplenamente a realidade dos fatos. Uma carta de 24 deAgosto de 1921 contém, entre outros, um depoimentodo Senhor José Amadei. Esta observação é inatacável.Certo, não faltarão leitores (um por cento, talvez) aimaginarem que o correspondente, apesar dos seustítulos científicos, não passa de engraçado farsista oucrédulo ingênuo, para ficarem com a sua convicção defraude, entremez, ilusão, erronia, e o mais.

Deixemo-los falar. . . Sem irreverência aospegadores contumazes, calha aqui lembrar o provérbioárabe que diz: Os cães ladram e a caravana segue.Estamos na caravana, a caminho para a terra dapromissão. Força é reconhecer que tudo isso é muitoestranho e inexplicável, no estado atual de nossosconhecimentos. Afirmamos, porém, ao mesmo tempo,que esses fenômenos de Buenos -Aires são, tais como

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os do Calvados, Corrèze, Auvergne, Inglaterra ePortugal, etc. ; e que, para negar a realidade dos fatosreunidos neste livro é preciso desprezar a suaevidência. Vemos, também, idéias religiosasassociadas a essas manifestações, indiciandoraciocínio e finalidade. Entretanto, elas são variadas emuito diferentes, como vamos ver nesta narrativa queme veio do Haure com data de 12 de Janeiro de 1920.

Não passo de um pobre operá rio sem instrução eque melhor andaria, talvez, em se não preocupandocom estas coisas. Mas a verdade é que, aos meus 12anos de idade, presenciei em Manneville-la-Goupil,um fato sensacional e de grande repercussão nalocalidade. A coisa passava-se na granja de Puy-Varin,onde se ouviam, parece, insólitos barulhos e issoporque, comentavam, o proprietário não se desobrigarade umas tantas promessas de um parente recentementefalecido. Uma noite fui com meu avô - condecorado deSanta-Helena e mais o pai Vot te, comandante depolícia assim alcunhado - verificar o que por lá sepassava na dita granja. Lá estávamos havia duas horassem nada ver, e, quando resolvemos retirar -nos, disseo pai Votte a meu avô: Vê lá, Torquato, a boa peça quenos pregaram... Mal acabava de o dizer e os móveis e alouça entraram a dançar em toda a casa. Era assim umcomo sabá de feiticeiros. O barrete de meu avô foiarremessado ao fogão, queimando -se, e eu próprio fuiatirado de encontro à porta da rua. Nisso, ouvi meu

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avô iracundo dizer: Tu que te mostras tão pimpão, sevens de Deus, fala. . . se do diabo, eu te esconjuro!Estes fatos, como a pouco dizia, passaram-se emManneville e os velhos moradores ainda os têm delembrança.

Não havia por lá encenação alguma, nem médium,nem prestidigitador e sim, apenas, simplórioscampônios. Eis o que me julguei na obrigação de vosinformar, ficando ao inteiro dispor, caso preciseis demais amplos apontamentos.

(Carta 1014 ) .Saturnino Tinel Haure, rua Lefevreville, 7.

Tomando informações verifiquei a fidelidade destanarrativa. Eis agora outra mais recente. Em Dezembrode- 1922, a Srta. Lasserre, proprietária em Cape, Port -Sainte-Marie, comunicou-me a ocorrência de unstantos fenômenos na escola leiga das filhas de apropósito da inquirição que sempre faço para instruçãopessoal, a missivista aconselhava que me dirigissediretamente à Srta. X. (professora jubilada) que, comoutras colegas, testemunhara o feito. Os distúrbioseram tão violentos - diz a narradora - que houveram derecorrer ao vigário de ... a fim de que as orientasse.Escrevi, portanto, à Srta. X. e aqui têm o que merespondeu, com fecho de 14 de Janeiro de 1923:

A casa em que morei 16 anos era (não sei se aindao será hoje) mal-assombrada. Todas as noites as

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minhas adjuntas eram despertadas por intensabarulhada, que eu mesma ouvia, muitas vezes. A Srta.X. atualmente diretora da Escola Carnot, em A., fazia -me ainda ontem o histórico das suas emoções. Assimque, uma noite, viu agitar-se o cortinado e divisou umamão que crescia e o arrepanhava. Terrificada,assentou-se na cama e, como a lâmpada estivesseacesa, pôde acompanhar aquela mão em todos seusmovimentos, até que desaparecesse, continuandoembora o cortinado a agitar-se com violência. Outrasvezes, pareceu-lhe que o guarda-roupa se abria e,levantando-se, via o molho de chaves a balançar -se.Sendo o dormitório das adjuntas sobreposto às salas deestudo, era comum ouvirem reguadas nas carteiras,parecendo-lhes que as ditas carteiras estavam sendoarrastadas e removidas. Uma n oite, eu mesma ouvigrande estrondo na cozinha e tive a impressão de que aprateleira houvesse desabado e que o vasilhame seesfrangalhava no ladrilho. Quando a criada entrou demanhã em meu quarto, ordenei -lhe que fosseimediatamente ã cozinha, pois a prateleira tinha caído.Dali a pouco, voltou dizendo que tudo estava emordem. Passado algum tempo, farta de extravagâncias,resolvi levar o caso ao Senhor Vigário, que ai prestoua benzer a casa. Todavia, os distúrbios continuaram enão tivemos remédio senão investigar por nós mesmas.Tudo resultou inútil, vale dizê -lo, pois nadaencontramos que pudesse justificar aquela anomalia.

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Fastidioso e longo seria enumerar aqui tudo o queobservamos. Aditarei apenas que, uma noite, osvizinhos ouviram como que a desca rga de uma carroçade pedras no pátio.

Eis o relato de mais uma testemunha, a quemagradecemos. O que mais nos impressiona nestesfenômenos é a sua banalidade.

Rumores inexplicáveis, como em Fougères (página257), rachamento de lenha, abalo de paredes, pan cadasnuméricas respondendo a perguntas feitas, agitação decortinas, tombamento de móveis, são coisasinexplicáveis, fenômenos objetivos e subjetivos cujademarcação teórica se dificulta, porque nãocorrespondem a qualquer finalidade. Que haja forçasocultas em jogo, é indubitável. Mas, que forças serãoessas? Nas casas mal-assombradas, em algumasmanifestações fantasmáticas, ouvem -se, às vezes,ruídos fortíssimos, golpes de marreta, bater de portas ejanelas, queda e quebra de louça, e, quando se vai averificar o resultado de tudo isso, nada se encontrademolido, depredado, removido, posto que a hipóteseda ilusão alucinatória seja inadmissível, ante oconjunto das observações e constatações.

Nós tínhamos em Paris, em 1907, uma SociedadeUniversal de Estudos Psíquicos, que foi convidada acompartilhar de vários inquéritos sobre o assunto aquifocalizado. Assinalemos especialmente a história de

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uma casa nos arredores de Beuvry, grande povoado de7.000 habitantes, a 8 quilômetros de Béthune:

A viagem muito demorada - dizia o relatório doengenheiro Chaplain- não nos permitiu presenciar osfenômenos, que tinham cessado alguns d ias antes.Todavia pudemos vencer a desconfiança doproprietário, entrar na casa, interrogar os moradores eexaminar no mobiliário os incontestáveis vestígios daviolência que experimentara. Os primeiros fenômenosremontam a 3 de Janeiro. O Senhor Senechal, que temum pequeno armarinho, mora com sua mulher, já idosae completamente inválida, em conseqüência de umavelha paralisia, e de uma rapariga dos seus 15 anos,que faz o serviço doméstico.

A partir daquela data, os móveis entraram asaracotear de maneira incrível. Cadeiras a voarem deum compartimento para outro, a espatifarem -se noassoalho ou contra paredes, vasos e utensílios acaírem, em cacos; na loja, o balcão virou de pernaspara o ar, caixas de sabonete voavam de um lado paraoutro, sapatas vazios galgavam escadas, um prato decarne saiu do forno e foi reposto no lugar, fez a mesmatrajetória e dessa vez quebrou-se mesmo. Tudo isso aipassava durante o dia e cessava ao cair a noite, Osfenômenos explodiam sempre no cô modo em queestivesse a criada, e nunca em sua ausência. Tendo elasolicitado férias de alguns dias, a casa entrou em

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repouso; mas, logo que regressou, reincidiram osfenômenos.

Outra nota típica é que ninguém pôde ver omovimento dos objetos: ouviam, sim, o barulho pelascostas, e quando se voltavam o fato estava consumado.A própria criadita nunca viu tais movimentos e o casalSenechal também não Ihe notou, nela cr iadita,qualquer preocupação, gesto ou atitude irregular,preenchendo calmamente as suas funções. Dias antesde nossa chegada, foi ela despedida e, daí por diante,nada mais se produzira. Fizemos o possível porencontrar essa rapariga e não o conseguimos, pois ocasal Senechal, muito aborrecido com os sucessos,negou-se peremptoriamente a informar o endereço daex-criada.

Paulo Chapiai-n, engenheiro.

E' muito natural que tenham acusado a criada. Oleitor, porém, sabe, pelos exemplos aqui lidos, que elanão era responsável.

Eis agora o resultado do inquérito a respeito deoutra casa, feito igualmente por iniciativa da mesmaSociedade:

Tendo os jornais do Norte publicado um artigosobre uma casa mal-assombrada, em Douai vara lános dirigimos - no domingo, 13 de Janeiro, a fim deconhecer o fato.

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A casa em apreço e a de nª 19 na rua dasescolas.Esteve desocupada algum tempo e agora ameses e tem como inquilino o Sr. D. (FuncionárioPostal) com a família composta de mulher, cinco filhose mais uma criada com 17 anos. Os fatos mechamaram a atenção para casa são os seguintes. Haviauns 15 dias que a Sra. D. ouvia baterem a portafreqüentemente e lá verificando nada encontrava. Aprincipio pensou tratar de alguma brincadeira mas nãotardou que os toques da campain ha se intensificaram ea ponto de alarmar toda a casa. Diante de toda afamília aturdida, a campainha tilintava forte, e o cordele o pegador se agitavam com os mesmos movimentos.Todo o quarteirão acorreu e mais de trezentas pessoaspuderam constatar o fenômeno.

A polícia, avisada a tempo, pôs -se em campo, masnada adiantou. Ou melhor, adiantou que, ao fim de trêsdias, mesmo nas barbas de um agente, a campainha sedestacou da parede, num toque final e despedaçou -seno solo. Estes os episódios publicados pelos jornais.Chegando fomos primeiramente ao comissariadocentral da polícia e lá obtivemos a confirmação dosfatos, mas a autoridade pública declarou que nãopudera descobrir-lhes a origem. Fomos então ao 19,mas lá esbarramos com o decreto formal da família D.,resolvida a tudo calar e a ninguém receber.

Apesar de muito insistirmos, nada obtivemos. Nosrápidos instantes de nossa entrevista com a Senhora D.

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pudemos lançar uma olhadela à famosa campainha E'um artigo dos mais simples, acionado pelo cordelpendente da porta, do lado da rua, (Eles se limitaram asubstituir a campainha quebrada) . Ficamos, assim,reduzidos a interrogar a vizinhança, tendo conversadocom diversas testemunhas de vista e de outiva. Todosafirmaram, unânimes, a realidade e grande intensidadedos fenômenos: a campainha nã o timbravasimplesmente, mas repicava, floreava, e o cordão serepuxava como se alguém o manobrasse. Uma vizinhade parede-meia, deu-nos apontamentos preciosos.Ouviu, por vezes, os gritos de pavor da Senhora D., e,sempre que lá acudira, verificou que a campainhatocava por si mesma. Dias houve em que a ouviu tocarde cinco maneiras diferentes, enquanto o cordão seagitava loucamente. De outra feita, enquantoconversava com a Sra . D . , à port a de sua casa,referiu-se campainha e esta tilintou imediatamente.Este fato se deu mais de uma vez. Dir-se-ia que acampainha zombava de mim comentava a senhora. Asua opinião era a de todos os vizinhos, isto é: que obruxedo estava na criada.

O padre, chamado a benzer a casa , limitou-se aaconselhar, a substituição da campainha, O construtorda casa fez um exame em regra, examinouparticularmente a campainha e assegurou ainexistência de qualquer artifício que pudesse acioná -la, intra et extra muros. Nada mais restando a faze r, a,

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polícia organizou um serviço de vigilância e. . . nada!Uma noite, novo alarme sugeriu o chamado doserralheiro no dia seguinte, mas, justame nte nesse dia,verificou-se o ultimo toque com a queda e quebra dacampana, que, substituída, não mais timbro u. Nem porisso, digam-se, os pobres inquilinos ficaram tranqüilos,pois começaram a ouvir passadas fortes por toda acasa, lâmpadas a se apagarem, a criada lobrigandovultos na escada e nos quartos. Tais alucinaçõesreincidiam amiúde. Também os móveis mud avam delugar, um berço foi depredado, colchões atirados nochão e as roupas de cama cuidadosamente dobradas earrumadas nos cantos do aposento. Essa a situação,quando procedíamos ao nosso inquérito. Mais tardenos disseram que tudo cessara com o afastame nto dacriada. A bem da verdade, cumpre aditar aqui umacircunstância bem curiosa, qual a de se haver retiradoa rapariga em companhia do pai, que, gozando fama defeiticeiro, fez, antes de partir, um trabalho para afastaros maus espíritos . E' uma coinci dência que merecenotada, posto que a hipótese de conchavo entre pai efilha nos pareça improvável .

Lille, 3 de Fevereiro de 1907Dhuique, químico.

Vemos, assim, que são sempre as m esmasbanalidades: ruídos, movimentos de móveis, toques decampainha . Apesar da fama de feiticeiro, não vemos

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como inferir sua conivência com a filha, desde que acampainha operava autonômica e espontaneamente.Conforme temos dito, as observações verificadas comas melhores garantias de autenticidade são tãonumerosas quão variadas, e difícil nos é restringir acoleção instrutiva que temos organizado. A respectivadocumentação desta obra é considerável. Devo -a, emparte, aos meus correspondentes, ansiosos como eumesmo por chegar ao conhecimento da verdade, e quese deram ao trabalho de me transmitir suasobservações pessoais, ou o resultado de suas pesquisas. Corre-me o dever de citar aqui, particularmente, oSenhor Mário Guillot, de Nice, erudito bibliotecário daSociedade de Estudos Psíquicos da referida cidade, eque, só ele, me forneceu um contingente de 140 casoscriteriosamente escolhidos. Bem a meu pesar, nãoposso publicar senão uma parte mínima dessesdocumentos que valem, só por si, uma verdadeirabiblioteca. O número desses depoimentos é tanto maisdigno de atenção, quanto - abstração feita de erros,ilusões e mesmo farsas - devemos levar em conta amediania da mentalidade humana, sua subserviênciamental, timidez e covardia. Na comprovação dosfenômenos de assombramento só nos embaraça,repetimos, a escolha. Vejamos mais este. Paris-Journal, de 6 de Abril de 1910, publicou umacorrespondência de Saint-NicoIas-du-Port, perto deNancy, da qual extraímos o seguinte:

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A criada do atual proprietário do bazar parisiense,guapa camponesa de suas dezoito prima veras, estavalavando roupa no tanque do pátio, quando lhe caiu aospés um pedaço de pão. Na terça -feira imediata, quandoGermana Maria - assim se chamava a lavadeira -preparava a sua barrela semanal, a coisa foi maisexpressiva, visto que um grande prego zuniu no ar,varou-lhe a manga esquerda da camiseta e foi alojar -se-lhe na dobra do avental. Refratária a crendices,concluiu que seria tudo um truque de vizinhos. A horado jantar, desceu à adega e remontou com a garrafa devinho, na forma do costume, mas, eis que grandecalhau lhe quebrou- nas mãos. A zombaria passava,assim, dos limites toleráveis e Germana, começou agritar. A resposta não lhe tardou: ouviu tinido de ferrose foi uma verdadeira chuva de projeteis diversos, porcima do muro, tais como pedras, sarrafos, pregos,ganchos, etc... Dois dias correram, evitando a criada,quanto possível, entrar no malsinado pátio. procuroudesobrigar-se da sua tarefa no quintal vizinho e novasaraivada rompeu logo que lá chegou . Pregos,ganchos, calhaus foram, dessa vez, ating ir as janelascujas vidraças ficaram em cacos.

A partir dessa sexta-feira, o bombardeio cresceu,todas as noites, com pontualidade infalível e chegandoa atingir a própria loja. O carpinteiro Fournier estava aexperimentar um gorro quando longo prego lhoperfurou entre as mãos. O que só restava a fazer era

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entregar o caso à polícia e foi o que fizeram. Ocomissário do distrito, Senhor Michelet, entrou emsindicâncias e chegou à. presunção de haverdescoberto a misteriosa saraivada. Em seu relatórioresponsabiliza simplesmente a rapariga, de quem,afirma, obtivera a confissão.

Aqui temos um exemplo pitoresco dos errosfreqüentemente cometidos no estudo destes assuntos .Não é raro que um médium intermita, alguma coisa desua inteligência nas suas faculdades r eais. Fase enxertonão anula, entretanto, a realidade das ditas faculdades.Isso o verifiquei eu mesmo, com Eusápia, Srta. Huet,etc. ; como se poderá ver em As Forças NaturaisDesconhecidas. A Sociedade de Estudos Psíquicos deNancy publicou a este respei to magnífico parecer doDr. Boucher, que reduz esse caso de Saint -Nicolas-du-Port ás suas verdadeiras proporções e merecimento.

O que me impressionou desde logo - o escreve - foia forma por que passavam os projeteis, varando osalvos de madeira e de papel ão, dispostos pelocomissário. O orifício era nítido, mais ou menosredondo, apenas raiado nas bordas quase sem estilhas,por comprovar que a força projetiva era de alta,potência. Viam-se, assim, dois grandes pregosencravados num vidro e os estilhaços de ste enterradosna parede. Para explicar estes fatos pelos meioscomuns, é forçoso admitir o concurso de instrumentosespeciais : tiradeiras, bodoques, aríetes, etc. Essa

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hipótese não teria escapado, cento, às autoridadescompetentes. Houveram, porém, de as desprezar,Idevez que se tornariam praticamente impossíveis. Defato, ninguém arremessa pregos e pedras suspunhados, ou a granel, servindo -se de fundas,bodoques, etc. E ao demais, nada disso foi láencontrado nas rigorosas buscas e perquiriçõesminuciosas.

Tendo em vista os estragos e calculando a potenciados projeteis arremessados, uma e outros muitíssimosuperiores à capacidade humana, pessoal, tratei deexaminar os respectivos moradores da casa e devodeclarar que não me foi preciso fazer demoradasinvestigações para descobrir o intermediárioinvoluntário dos fenômenos: - era a jovem criada de 20anos, com todos os sintomas de desequilíbrio nervoso,que são o apanágio dos bons médiuns. Muitíssimoimpressionável, acontecia-lhe - e isso desde criança -parar de súbito, ficar como que hipnotizada, privada devisão e audição. Despertavam-na com aspersões deágua fria. Isso me levou a denunciar sem vacilação, aocomissário e aos patrões, como sendo a causadorainconsciente e irresponsável dos distúrbios, e isso adespeito dos protestos gerais, de vez que o primeirotinha suas vistas sobre um determinado individuo, e ossegundos, tendo em conta os bons serviços da criada,não admitiam fosse capaz de semelhantes feitos.Todavia, impressionado com a firmeza dos meus

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assertos, o magistrado não hesitou em prender srapariga, logo que me ausentei. Confessando terjogado, ela mesma, algumas pedras nas vidraças,negou, contudo, que houvesse quebrado mais que duase afirmou, quanto às demais, que tudo se passar a comocostumava dizer, isto é, que via arremessarem as , -dras, mas nunca pode saber de onde provinham.Naturalmente, esta última parte do depoimento não foitomada em consideração, e, para tranqüilidade geral, apobre rapariga foi considerada autora única, con scientee responsável por todos os danos e prejuízos.

O Dr. Boucher tem absoluta razão. Esses laudoserrôneos, condenando agentes irresponsáveis, sãofrutos da ignorância dos juízes, no concernente aassentos de psicologia. Uma herdade de Pleiber -Christ,na Bretanha, deu muito que falar, em 1909.

Em Le Matin de 1: de Março desse ano, lê -se oartigo depois reproduzido nos Annales . Esta casabretã é típica no gênero, com o seu enredo enxertadode visões imaginárias, sobre o fundo psíquico aquiestudado. Este episódio é de 1909. Quatro anos depois,nesse mesmo distrito de Finisterre e cantão de Saint -Thegonnec, mas noutra herdade da comuna dePlouniour-Menez, verificaram-se fenômenos análogos,que muito impressionaram o público.

A Via Mysterieuse de 10 de Abri l de 1913publicou longo relatório a respeito, firmado por Jean

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Mettois, que lá passou um dia e uma noite. Desserelatório respigo o seguinte:

No pátio, quando entramos, as galinhasmariscavam airosamente, indiferentes à tragédia. doambiente, e até os cavalos pareciam dar-nos as boasvindas, relinchando... E' tudo calmaria e paz. A buzinado auto fonfonou repetidamente, roncava o motor.Nada, ninguém se move! Dir -se-ia estarmos não nagranja do diabo e sim da Bela adormecida dosbosques. Nossa algazarra a ninguém perturbou, nemmesmo aos animais.

Batemos, então, na parta e nada de resposta.Entramos na clássica peça de todas as casas bretãs,com o grande fogão de onde pende a grelha, a mesaenorme a atravancar o espaço.

A essa mesa, assentada com a cabeça e ntre asmãos, uma mulher cinquentona. Com a nossa entrada,parece despertar de um sonho e diz em bretão: - bomdia. E a proprietária da granja. Meu amigo fala obretão como verdadeiro celta e apressa -se a explicar omotivo da visita. Desejávamos apontament os sobre osfenômenos correntes.

- Louvado seja Deus, se conseguirdes acabar comeles de uma vez. Será possível? Bons feiticeiros ossenhores?

Atribuía-nos, assim, poderes que não temos . Nadaobstante, para conseguir o objetivo, afirmamos, com

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toda a galhardia de repórter, que talvez fosse possívelacabar com o malefícios.

- Diga-nos por favor o que se passa...- Ah! meu caro senhor, os rebanhos morrem, as

plantações definham. Se aqui passásseis uma noite,morreríeis talvez de medo. A barulheira noturna nã onos deixa pregar olho. Ali, vede .. . - e apontava para achaminé - as pedras chovem uma por uma, com fragorterrível. Dir-se-ia que o trovão se concentra nessachaminé. Quando se aproxima a meia -noite, vemosdeslizar formas brancas arrastando pesados fa rdos; asportas fechadas à chave abrem-se por si mesmas; oscavalos entram a correr no pátio, as vacas mugemcomo que terrificadas. E' de enlouquecer!

E invocando as cenas de todas as noites, a locutoraempalidece, os traços fisionômicos se lhe alteram, dá-nos a faces do terror.

A visitante conversa no seu calão com o rendeiro,corte a mulher, com os filhos, e chega a compre enderatravés dos kr, kr e brusk, que se trata de uma terracujo aluguel pagavam ao pároco e passaram a pagar aoEstado, após a separação da Igreja; e mais que ofalecido proprietário estava descontente, por lhefaltarem à promessa de missas, etc.

Por toda à parte, prossegue o narrador, encontro àsuperstição, uma crença nas velhas práticas dafeitiçaria. Nenhuma explicação plausível e conformecom as nossas teorias psíquicas se vislumbra no

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conceito dos meus interlocutores. Dois ou trêscampônios falam um francês compreensível e a cadapasso lhes ouvimos a palavra demônio. Sobre isso, nãohaja dúvidas: todas as manifestações, venham dosparentes ou dos gênios da região, são obras diabólicas,.Convidaram-me a jantar... Sopa de legumes, belhatalhada de toucinho, coelho ensopado, ameixas, cidra.Às 8 horas a mãezinha dia a prece - agora é latim, umlatim em que os ous, de acordo com as instruçõespapalìnas, substituem os us. Depois, oferecem-me umcolchão e travesseiro arrumados a um canto da sala.Isto posto, cada qual se precipita no leito, preparando -se para dormir, se for possível... No quarto, onde ardeuma lamparina de azeite, ninguém p ernoita. O rendeirodiz-me qualquer coisa em bretão, que eu nã o chego acompreender. Estirei-me no colchão e confesso que,apesar da sua dureza, ali assim no chão liso, não tardeiem adormecer,

Súbito, desperto com os gemidos dos hospedeiros.Então, ouvi pancadas furiosas, como se alguém, amarretadas, estivesse arrombando a porta. Levantei . Acoisa vinha ali do lado do fogão; parecia-me quetentavam arrebentá-lo. Saí, avistei uma escada no pátioe, encostando-a no muro e nela une encarapitando,disposto a desmascarar qualquer mistificação . Nada!No telhado, agarrado à chaminé, lancei os olhos emtorno da casa. A calma, o silêncio eram absolutos, masa verdade é que no meu observatório continuava

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ouvindo as pancadas na parede. 2 horas da manhã...Voltei à sala. Veja o rendeiro e sua mãe assentados na,cama, sempre a gemer. Até às 2 h. 22 m.,precisamente, as pancadas se repetem com intervalosregulares, depois cessam de chofre e não renovam atépela manhã. Eis o que vi, ou melhor ouvi, pois averdade é que não lobriguei nenhum fantasma dos que,dizem, atravessam o quarto para promover malefícios

Isso que ouvi, porém, é assaz perturbador parapermitir que acreditemos no testemunho do SenhorCroguennec e em manifestações outras, porventuramais terríveis. Não quero tirar conclusões. Aos maiscompetentes e experientes no assunt o é que competejulgar esta narrativa, cujo único valor está na suaabsoluta sinceridade.

Jean Mettois.

A hipótese que primeiro nos ocorre, isto é, aalucinação coletiva, em absoluto não ca be aqui. Estasmanifestações, insistimos, apresentam na sua estranhabanalidade os mais variados aspectos.

Detenhamo-nos ainda na que vai a seguir e que mefoi comunicada em Setembro de 1920. Ela nos lembra,desde as primeiras linhas, a fantasmagoria da ca sa doourives de Estrasburgo, diferindo tão só nacircunstância de indiciar algo de intencionalidade (noseguinte capítulo teremos ocasião de fazer uma

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classificação característica, tal como requer o assunto). Eis a narrativa na integra, deste caso especial:

Os fatos são de 1865. Meu pai era ateu,republicano, livre pensador. Eu era criança ainda.Morávamos então em Moravamos , perto de Amboise,numa casinha muito asseada e quase elegante, na qualminha mãe estabelecera pequena mercearia, enquantomeu pai trabalhava de ferrador. Saudável, f rondeur,expansivo e loquaz, não se lhe dava de ridiculizar osbeatos de qualquer devoção, e maiorment e quantos,sempre numerosos no campo, acreditam em feitiços,milagres e leituras da buena d icha . Um dia, oumelhor, uma noite, dormindo o bom sono dos quemourejam de sol a sol, meu pai foi despertado com oestranho barulho que se fazia na escada. Há Essetempo tinha meu pai um ajudante chamado Angevin.A camaradagem florescia nesta bela época e cadaoperário reivindicava para si o nome de sua provínciaou aldeia natal. Logo aos primeiros rumores, meu paipercorreu a escada, foi ao sótão e, nada encontrando,voltou a deitar-se. O barulho recomeçou mais forte.Meu pai levantou-se novamente e foi bater à porta, doajudante, que dormia no primeiro andar.

- Estás dormindo, Angevin?- Não, meu patrão: essa barulheira infernal me

endoidece e até já calcei a porta, a ver no que param asmodas.

- Se Vista, poltrão, vamos visitar o sótão.

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- Já lá fui, meu patrão, e nada encontrei . . .- Não importa, vamos agora os dois.Lá chegados, os dois homens se entreolharam

desconcertados.- Que diabo pode fazer esse barulho, Angevin?- Sei lá, meu patrão . . . (e os dentes lhe

rilhavam) .- Eu também não . Desçamos . . .O barulho só terminou às 3 horas da manhã. Nesse

dia ouviram a forja a trabalhar mais cedo. Ant es doamanhecer, a oficina reboava aos golpes do martelo eda bigorna esbraseada e os vizinhos comentavam : oferrador madrugou . Na noite seguinte, a mesma coisa. O livre pensador começava a inquietar-se.

Angevin, aterrorizado, ao quarto dia, de capa aoombro e mala na mão, abordou meu pai

- Vou-me embora porque, se aqui ficar mais umdia, enlouqueço; ainda se tratasse de alguém que agente pudesse enfrentar. . , Mas assim, não. De sculpe-me, não posso ficar.

Depois de esvaziarem uma garrafa de vinho, emdespedida, apertaram-se as mãos.

Angevin mostrava-se entristecido, confuso, e meupai taciturno e preocupado. E a primeira vez que recuoforam às últimas palavras do operário, a quem meu paiacompanhou de vista, até que desaparecesse na fileirade choupos que margina a estrada de Mosnes aAmboise. Ainda assim, o pandemônio aumentava lá

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por casa. Os agentes invisíveis revelavam-se dia a diamais audaciosos e ativos; tomaram conta do qu arto demeus pais, onde estalidavam móveis, dançava a louça,obrigando os velhos a saltarem da cama. Muitas rezes,lá molhei a camisa - costumava repetir meu pai quandonarrava o fato, ilustrando-o com os gracejos comunanos homens do seu ofício. Que lhe c ompetia fazer?Continuaria a chasquear dos que acreditam emadivinhos e dos que acendem velas a Virgem e aossantos ?

- Sobretudo, oh! bom Deus, nada contes a ninguém- recomendava à minha mãe - para que não se riam aminha custa. Em Amboise havia feiras m ensais e ele láfoi para se distrair.. Encontrou amigos dos povoadosvizinhos e com eles almoçou. O que guardava emsigilo para os conterrâneos, temeroso do ridículo,contou-o aos outros. A sobremesa, cada qual se sai acom a sua história, mais ou menos chu la e ele, comopara aliviar-se, desfechou a sua, mais ou menosmacabra. A gargalhada foi geral, todos se dispunham àzombaria, quando um dos ferreiros tomou a palavra edisse:

- Não há que rir, amigos, do que diz o Bourdain.Essa coisa é mais séria do que vocês imaginam; aquininguém melhor do que eu pode dizé -lo e vou dizer:Caro amigo, tem defuntos em casa, defuntos quevoltam e com os quais, não se espantem, já seencontrou meios de conversar.

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E desdobrou uma lição de Espiritismo, queinteressou a meu pai. Curioso, procurou assistir àsexperiências de um vizinho e, convencido, confessou -se à minha mãe, que lhe objetava

- Mas tu dizias que era tudo patarata e que osmortos não voltam, como dizem também os padres...

- Os padres nada sabem a respeito. Que há mortosque voltam, não resta dúvida. O que não há mesmo, éparaíso nem inferno. Mas parece que também há umDeus, o que por enquanto não afirmo, senão que oacho mais admirável, pela maneira como o explicam.

Nas sessões espíritas, responderam-lhe que osdistúrbios de nossa casa tinham a significação deesforços do mundo invisível para atrair à atenção doshomens para os problemas do além -túmulo; que,descarte, ai comprova a sobrevivência da alma e quenosso caso, em não ser isolado, visava converter meupai e convencer-me a mim, que já contava 12 anos, dasverdades espiritualistas. Asseguraram que, atingido odesideratum, tudo cessaria. De fato, os fenômenosforam diminuindo até desaparecerem de todo. Lembro -me do que nos disseram em uma sessão: As forçasimponentes e necessárias à produção dos fenômenosestão agora dissociadas e ficareis inteiramentetranqüilos. Pois bem,! suponho que meu pai, reduzidoa contentar-se com o que via nas sessões - fenômenosmuitas vezes difíceis de discernir, para saber o queprovém realmente dos mortos e o que procede da

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sugestão ou da auto-sugestão - chegou a ter saudadesda infernal sarabanda que no começo lhe causara, e àminha mãe, tantos aborrecimentos e temores .

Edmundo Baurdain.

Este simples, curioso e veraz testemunh o, aqui otranscrevemos indene de qualquer alteração. E difícilnegar, nestas como em muitas outras manifestaçõesestranhas, a atuação de uma inteligência invisível.

Teria havido em tudo isso qualquer intenção, doponto de vista espírita? Essa é outra questão. Tantassão as manifestações chegadas ao nosso conhecimento,que é impossível expô-las todas. Não silenciaremos,todavia, as de Valente-en-Brie, que tanta celeumacausaram em 1896. Meu malogrado amigo Dr.Encausse (Papás), que, por mais de 20 anos,especializou-se no estudo da Magia, da Cabala, daFeitiçaria, forneceu-me notável relatório deste caso,não menos surpreendente e verídico que os anteriores.Eis a carta abreviada que ele me endereçou:

Muito interessantes, para os ocultistas, estesfenômenos de Valente-en-Brie. Uma casa até entãotranqüila, dessa aldeia de 700 habitantes, e na qualreside uma senhora enferma em companhia de doisfilhos e duas criadas, tornou-se o foco dos fenômenosperturbadores. A casa é própria do Senhor Lebègue, esua mulher mantém de cama, combalida por tantasemoções.

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1.° Antes de tudo, uma voz grossa e forte a proferirpesadas injúrias, ouvida por uma das criadas, no porão.Essa voz produz tal algazarra que atrai logo dozevizinhos, os quais constatam o fato.

2.° Nos dias imediatos a voz continua, estende -sepor toda a casa, podendo ser ouvida no porão, novestíbulo, na cozinha e em todos os compartimentosdo 1.° andar. Ela parece sair do solo, mas o timbre étão agudo e repercute s imultaneamente em tantospontos diversos que não se pode admitir fraude.

3.° Grandes tábuas, bem como um tonel, têm sidoremovidos do porão; móveis derrubados nos quartosvazios e utensílios desarrumados por toda parte .

4.° Para coroar a obra, a partir do décimo quartodia, os ladrilhos começaram a voar um por um,estilhaçados á plena luz, isto é, 4 horas da tarde, à vistados moradores espavoridos.

Em sua mor parte os fatos ocorreram enquanto odono da casa se encontrava em Paris, de sorte que nãose lhe pode atribuir qualquer participação em t odo essenegócio.

À noite as criadas se despediram, foram -se e tudoprosseguiu como se lá estivessem, o que vale pordizer que nenhuma interferência lhes cabia nosfenômenos. Estes prosseguiram g revelia daprovidência. Resolveram, então, remover a própri aenferma para outra casa e os fenômenos com ela setransferiram. O leito foi revolvido e até tombado. Mais

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de cinquenta pessoas idôneas presentearam esses fatose os reafirmaram perante as autoridades.

Que fenômenos serão esses? Farsa de mau gosto,como acontece tantas vezes? Teremos uma simplescriada a zombar de toda uma aldeia com história dedefuntos? Penso que não e vou dizer porquê: - Osfenômenos fraudulentos ocorrem comumente à noite esempre no mesmo local. Cessam com o afastamentodo seu promotor. Aqui, vemo-los dia e noite, após oafastamento de todos os membros da família. Seriapreciso, pois, admitir uma cumplicidade coletiva, que,ainda assim„mal explicando alguns efeitos físicos maisgrosseiros, jamais explicaria as vozes e es sesdeslocamentos instantâneos. Ao demais, temos aquebra de um espelho, por tal maneira que não poderiadar-se artificialmente. Trata-se de um orifício circularmuito perfeito, com uma convexidade entre a madeirae a abertura, a indicar que a operação partiu de dentropara fora, como no caso de uma descarga elétrica. Osingênuos que pretendem tudo explicar, não deixaramde dizer: o ventríloquo está oculto em qualquer parte.Mas, basta estudar a ventríloqua para ver o absurdo,pois é impossível promover fenômenos que tais nofundo do porão, e, se de fato alguma pessoa da casapossuísse essa arte, Aa ditos fenômenos teriamcessado com o seu afastamento. Enfim, o locatário nãodeixou de proceder a pesquisas rigorosas nesse porão,fazendo até escavações para certificar -se da

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inexistência de fios e dispositivos quaisquer emcomunicação com os pavimentos superiores. Todos osvizinhos inquiridos, crédulos ou não, afirmam arealidade das vozes. Pessoas honestas, incapazes dementir; pessoas idosas, insusce tíveis por índole, comopela madureza dos anos, de alucinarem -se oudeixarem-se sugestionar, atestam que ouviram essasvozes.

O Senhor Hainot, prefeito de Valente e o professorestão nesse número, bem como o vigário, que serecusa, aliás, a estimar nestes fenômenos umainfluência diabólica. A garotinha (criadinha) nãomanifesta receio de tal hóspede, posto com ela queprincipiaram os fenômenos, apagando a vela quando láfora buscar o carvão. Este o prelúdio de tais supostasintrujices, que - e esta a nota dolorosa - acabrunhamuma pobre velha paralítica. O auditório esta prevenido: indaga; será desta vez como sempre, para seu castigo.

Dr . Encousse ( Papus ) .

Este caso de Valence-en-Brie não se nos figuramais impressionante que os precedentes . Essa vozmisteriosa, temo-Ia, por assim dizer, ouvido noutrostópicos destas mesmas páginas . Conhecemos,igualmente, esses deslocamentos de móveis, quebra devidraças, etc. Tudo isso quer dizer movimento deforças ignoradas. Meus leitores estão disso inteirados.

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Não teriam porventura anotado, antes desta obra, em AMorte e o seu Mistério (páginas 91 -94) um casosingular que facultou a descoberta de um furtocometido por uma criada? Há pouco, dizíamos querecebemos grande número de comunicações de todosos países. Só a cidade de Turim apr esenta copiosocontingente. Eis, entre outras, a curiosa manifestaçãopublicada pelo Senhor de Vesme na Revista deEstudos Psíquicos, em 1901.

La Stampa, jornal italiano dos mais importantes,publicava em 10 de Maio o seguinte artigo. Estranhofato ocorreu ontem num pequeno alojamento de duasmansardas, habitado há muito por um tal JuvenalMenardi e sua família, no caminho do Valdocco, n. 6.As 5 da tarde, o dito Juvenal surpreendeu algunsmóveis a balouçarem-se e logo a seguir panelas eutensílios de cozinha, lá dependurados, rolaram porterra fragorosamente.

Fácil de imaginar o espanto daquela boa gente.Depois do alarme ã vizinhança, Menardi se lembrouque, naquele mesmo edifício, no 1.° andar, estáinstalado o comissariado de polícia do quarteirãoMontcenis. Desceu a escada desabalado e dirigiu -seaos agentes, requisitando-lhes providenciais. Umagente subiu presto e pode constatar, não só o reboliçoe destroço dos utensílios, como ver um ferro deengomar desprender-se da chaminé e rolar noassoalho. Dizem mesmo que, instantes depois, uma

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bilha de leite se derramou, tombada por si mesma.Todo mundo perguntava se os alicerces da casaestariam firmes.

Enquanto discutiam, a notícia correu célere e olocal se encheu de curiosos, ávidos de assistir aoespetáculo. Mas o Senhor Menardi e família, já assazimpressionados, não estiveram pelos fecharam a casa etodos se retiraram. No dia seguinte o jornal voltava a oassunto. Ontem à tarde visitamos a casa do Valdocco,no intuito de assistir, se possível, aos apregoad osfenômenos. O alojamento do Senhor Menardi é no 3.°andar e, quando lá chegamos, não encontramosninguém da família. Entretanto, ao retirar -se, aSenhora Menardi confiara a chave ao porteiro AdolfoSchiappa, a fim de facultar a entrada aos visitantes.Tivemos, assim, ocasião de ver que o assoalho deambos os quartos está coalhado de cacos de louça e degarrafas. Enquanto examinávamos os destroços,chegou uma boa velhinha, a Senhora Francesetti,carregando ao colo o último filho do casal Menardi,aliás um belo pimpolho de 6 meses apenas. A SenhoraFrancesetti tinha presenciado os primeiros distúrbios eaqui oferecemos só leitor o que ela nos contou:

Eu estava assentada ali assim, junto da janela, epreparava-me para costurar. Todos os pequenos merodeavam, porque sua mamã tinha saído para comprarleite. De repente - seriam 4 1/2 horas mais ou menos -vi tombar o velador. A primeira idéia que me veio foi

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a do vento. Reergui a mesinha e pus -me a trabalhar.Um instante, o velador torna a cair e de novo oaprumo. Mas, a coisa repetiu-se várias vezes...Impacientada, mas sempre convicta de que tudo fossecausado por alguma corrente de ar, transportei ovelador para outro canto do quar to, onde ele não maistombou. Somente, dali a pouco, com grande espantoouvi cair um vaso de porcelana que estava em cima dofogão e que ficou em frangalhos. Levantei -me logopara ver o que havia, mas, eis que uma garrafa tambémse estilhaçou no assoalho. Diversos vizinhos acudiram,entre eles o porteiro Schiappa e o agente de policiaAndreis. A Senhora Menardi mandou chamar logo omarido e também um padre. O vigário Valimberto, daparóquia de Gormine, não tardou em Chegar. O quecom ele se passou nos foi contado pela vizinhaKreifemberg. Quando o padre chegou, achávamo -noseu e outras pessoas no apartamento dos Menardi. Elebenzia os dois quartos e nós, genuflexos,acompanhávamos-lhe as preces, Algumas mulheresempunhavam galhos de oliveira, desses que sedistribuem no domingo de Ramos. Ao terminar aaspersão, o sacerdote colocou o copo dágua benta emcima da mesa, onde estava também uma pequenaimagem da Virgem e eis que, de repente, a imagem caiao chão, espatifando-se e o copo não tardou a imitá -la.Daí por diante o vandalismo não mais deu tréguas .Em toda a casa, de tudo o que era v idro apenas um

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espelho e uma garrafa ficaram incólumes. Tudo maisera caco, inclusive o lampião de querosene. Ociosoacrescentar que de outra coisa não ai fala em toda acidade. Essa pobre família ficou em situação assazprecária. A Senhora Menardi, criatura robusta e sadia,mostra-se enervada e chora a cada instante; ascrianças, principalmente a mais velha, estãoapavoradas. Finalmente, no dia 14 de Maio, o jornalinsere esta nota: O Duque dos Abruzzos veio visitar acasa e esteve uns dez minutos a interr ogar uns e outrossobre os pormenores do feito, sobretudo astestemunhas oculares. Deu, assim, mais uma prova doseu amor à Ciência, a essa ciência que o levou aoscumes do Monte Santo-Elias e aos gelos do póloártico.

Resumindo: como sempre acontece, houv e grandealarido, toda a gente falou, comentou, procurou, masnada descobriu e muito menos explicou. Outra casa damesma cidade provocou especial sindicância doprofessor Lombroso, que assim se expressa:

Em Novembro de 1900 ouvi falar de movimentossingulares, inexplicáveis, na casa n. 6 da rua Bava, noporão que o taverneiro, ali residente, Senhor Fumero,destinava exclusivamente para depósito de garrafas ,Dizia-se que sempre que lá entrava alguém, asgarrafas, vazias ou cheias estalavam, graças aos taisagentes ocultos. O padre chamado a benzer o local,nada adiantou.

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A policia acorreu a seu turno e... nada concluiu,dizendo, contudo e à socapa, ao pobre do Fumero, queera preciso acabar com aquilo. Assim, quando lá meapresentei sem declinar meu nome, no dia 21 deNovembro, fiquei muito surpreso quando me disseramque os fatos ai haviam dado realmente, mas depois davisita do professor Lombroso nada mais ocorrera,graças a Deus. Muito intrigado com essa declaração,de vez que jamais pusera ali os pés, dei-me a conhecer,no pressuposto de haver alguém abusado do meu nomepara quaisquer fins que me cumpria averiguar depois .O casal Fumero confessou-me então, que, tendoouvido dizer que eu deveria visitar a casa, ocorreu -lhesaquele recurso de afirmar que a minha presençaafugentara os espíritos! Destarte, libertavam-se dasimpertinências estúpidas da policia. E desculpavam -seacrescentando que não havia maldade em meatribuírem poderes de Grande Exorcista.

A seguir afirmaram que os fenômenosprosseguiam, infelizmente, e talvez pudesseconstatamos com os meus próprios olhos, ai quisessedar-me ao incomodo de descer ao porão. Anuí comprazer e penetrei no porão completamente escuro.Ouvi logo o fragor de vidros quebrados e garrafasColando-me aos pés. As garrafas estavam arrumadasem cinco prateleiras superpostas. No centro havia umamesa rústica e nela mandei colocar seis velas acesas,supondo que os fenômenos cessassem por efeitos de

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maior claridade. Verificou ao contrário; vi trêsgarrafas vazias, colocadas no chão, tombarem erolarem como impelidas a ponta-pé, até quebrarem-sedebaixo da mesa. Para obviar qualquer truque possível,eu examinava à luz da veia todas as garrafas cheias,nas prateleiras e me certificava de não haver fios nemartifícios que pudessem promover aquelesmovimentos. Ao fim de alguns minutos, duasprimeiro, depois quatro e s seguir mais duas garrafasse destacaram da segunda e terceira prateleiratombando ao solo suavemente, como depositadas poralguém. E depois de assim arriadas cautelo samente,seis rebentaram e apenas duas ficaram intactas. Quinzeminutos depois, três garrafas mais caíram da primeiraprateleira,, quebrando-se. Ao retirar-me, ainda ouvi ofragor de mais uma garrafa quebrada.

Dentre os observadores destes fenômenos, citareiapenas o Senhor Pedro Merini, cujo depoimentodatado de 9 de Janeiro de 1901, completa o meu: Láno porão - diz ele – em companhia doutas pessoas, viquebrarem-se garrafas, sem causa aparente. Propus lápermanecer sozinho para melhor observar, e, quandotodos se retiraram, tranquei -me no porão. Oscompanheiros postaram-se no extremo do corredor,onde começa a escada para o pavimento superior. Meuprimeiro Cuidado foi certificar -me, vela em punho,que estava realmente só . Coisa fácil, alias, porque oporão não é espaçoso e não permitia lá se escondesse

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alguém atrás dos poucos utensílios existentes. Aolongo das paredes mais extensas, assentaram travesfortes, apoiadas em grossos suportes, também demadeira, nas extremidades. As prateleiras, assimimprovisadas, estavam inteiramente abastecidas degarrafas, cheias e vazias. Cumpre também notar que aúnica janela que abria para o pátio estavaabsolutamente interceptada por uma t ábua. Vi, então,de olhos bem abertos às garrafas se quebrarem por aimesmas . Aproximei a escada do local e que se davamas quebras, tomei uma garrafa vazia que se quebrarapouco antes e da qual só restava a metade inferior,isolei-a das outras, distante do local primitivo, e ao fimde alguns instantes ela se partiu e voou como um raioem estilhas luminosas. Este é um dos efeitos que possoatestar com a maior segurança . Examinandoatentamente como as garrafas se quebravam, pudeverificar que a fratura era precedida do estalidopróprio, peculiar do vidro quando se parte. Já advertique as garrafas vazias também se quebravam,fato queexclui a hipótese de explosimento por gases dafermentação, coisa de resto pouco provável. Por daruma idéia do ruído das garrafas ao quebrarem -se, bemcomo do esmigalhamento que lhe s ucedia, di-lo-eicomparável à rutura dessas contas de vidro que sepulverizam quando as arranhamos, ge ralmenteconhecidas por lágrimas batávicas. A 22 de Novembroa Senhora Fumero partiu para a sua aldeia natal e lá

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permaneceu três dias, durante os quais nada houve deextraordinário. Com o seu regresso reapareceram osfenômenos. A 26 de Novembro ela retirou -senovamente, mas, desta feita, os fenômenosprosseguiram.

Resolveram, então, afastar o caixeiro da taverna eos fenômenos cessaram definitivamente. Deveremosdeduzir dai que era ele o médium? E' lícito fazê-lo,mesmo porque, nada autoriza admitirmos qualquerfraude da sua parte. Vimos, com efeito, que osfenômenos se verificavam no porão, ainda que o rapazlá não estivesse. Mas também sabemos que na próprialoja se operavam transportes, quando o rapaz lá estava;e isso à vista de todos. Destarte, tudo prova que orapaz é um instrumento inconsciente. Mas esse rapaznada tem de anormal. A intensidade dos fenômenosmediúnicos parece estar em relação com o seu estadofísico, pois durante uns dias que esteve enfermo aspancadas se tornaram mais brandas. Este fato tem sidoobservado com outros médiuns e parece -nos muitodesconcertante.

A propósito de casas mal-assombradas, releva notarque podemos, agora, assinalar estes fatos numeroso s eabonados por testemunhas idôneas, depois de, porlongo tempo, passarem como ignorados e desprezados.Hoje eles são anotados, estudados, registrados, mas,sem embargo, ainda facilmente esquecidos. Oscientistas assaz corajosos e emancipados de

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preconceitos, que por eles se interessam, também nãosão numerosos. Aí temos que, se eu lá não fosse, opúblico, enganado pelos próprios moradores da casa,ficaria crente de que a policia, ou eu, era suficientepara anular os fenômenos. Em outros termos: aindaque não descobrissem o autor da fraude, ficariamconvicto de que esses fenômenos eram simplesmenteartificiosos e, por conseqüência, indignos de estudo.

Por mim, confesso que se cometi a leviandade denegar esses fenômenos antes de os observar, não devocontinuar negando-os pela só razão de não conseguirexplicá-los.

Lombroso .

Este sábio ilustre e probidoso, tanto tem de ilustre eprobidoso quanto de independente. Ele examinou, sóem Turim, dez casas mal-assombradas. Sua convicçãoé inabalável. Ele adverte que, se em 28 por 100 casosse evidencia ação mediúnica, esse fator se torna tantomais notável, quanto a energia dos fenômenos seapresenta em contradição com a fraqueza das criançase mulheres a eles associados. Examinemos todas asobjeções a título instrutivo, sem nos deixarmos seduzirpor miragens . A realidade dos fatos é indubitável.Quanto às causas. . . há que as procurar.

Poderia talvez acrescentar, no fim deste capítulo,um caso particular, que causou grande sensa ção emGrenoble (1907 ) . Um Espírito batedor manifestava-se

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todas as noites no apartamento da Senhora Massot.Não era, porém, o Espírito de um defunto, mas de umarapariga viva, em carne e osso, e que desejavasimplesmente... casar-se. Eis uma súmula do relatórioem meu poder:

O Senhor de Beylié, velho presidente do Tribunalde Comércio, proprietário da casa mal -assombrada,promoveu um curioso inquérito, com a presença doSenhor Pelatant, comissário central, e do inspetorBerger. Agentes de policia foram destacados para otelhado, outros nos quartos e na rua, para prevenirqualquer manobra fraudulenta. Todos os presentes seacercaram da parede contra a qual se esgrimia oEspírito batedor.

Verificaram que as pancadas eram dadassimultaneamente por dentro e por fora. Os fenômenossó ocorriam quando presente a Srta. Alice Cocat,sobrinha da Senhora Massot. Não havia, porém, comoatribuir fraude a essa moça, estando ela entre osassistentes e, ao demais, por eles vigiada. Ela é noiva,a 5 anos, de um sobrinho da Senhora Massot, rapaz de26 anos, eletricista de profissão e que serviu no 2.°Regimento de Artilharia de Grenoble. Estesapontamentos correspondem aos fornecidos pelomisterioso batedor. Não sendo as pancadas atribuídas aum defunto e sim a uma pessoa viva, é verossímil nãohaver em tudo isso mais que u efeito das faculdades dasenhorita. Pensa-se, naturalmente, em uma comédia

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bem representada. Mas, a parede não tem mais que 10centímetros de espessura e serve de divisão dos doisquartos, que foram visitados e examinados pelas lentesda Universidade, funcionários da polícia, nume rososagentes, em presença da família Massot. Ora, sendoimpossível qualquer dissimulação nessa parede,inadmissível se figura a idéia de fraude.

Este caso singular, traindo pensamentos de pessoavivente, foi muito comentado. Os jornais de Grenobleestamparam meu retrato, deram tiragens especiais eatribuíram-me comentários que não fiz, uma vez queme mantive inteiramente alheia ao caso.

Meu amigo Coronel de Rochas, que viera então mevisitar, declarou que também ele nada compreendia detudo aquilo.

- Parece-me que é o subconsciente da moça queatua.

Urge, porém, encerrar este capítulo. Ainda tenhodiante dos olhos centenas de comunicados, entre osquais um verdadeiramente extraordinário, ocorrido emNeuville, em 1906, e outro de 1909, em Florença. Masseria, ainda assim, repetir o que acabamos de ler.Vamos, agora, classificar os fenômenos, fixando -nosespecialmente nos caos concernentes a pessoasfalecidas.

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CAPITULO XClassificação dos fenômenos. - Fenômenos

associados a pessoas falecidas

A excursão que vimos de fazer, pelas casas mal -assombradas, nos desvendou uma série de quadrosmultifários, que conviria classificar, para nossainstrução pessoal. Vamos ten tar fazê-lo. Talvezcheguemos a descobrir as causas em jogo,aproximando-nos da explicação há tanto tempoprocurada.

Nessa classificação teremos de constatar produçõesde forças físicas, que nos não parecem, de maneiraalguma, associadas ao problema da sobrevivência,enquanto que outras a ele se prendem,incontestavelmente, como vimos no capítuloprecedente. Essa interdependência. nos impressionouem muitas circunstâncias e estamos tanto maispreparados para admiti -la, quanto possuímos,solidamente estabelecidas, provas experimentais dasobrevivência. da alma. Começaremos a classificaçãopelos fenômenos pertinentes a pessoas falecidas,reservando os demais para o capítulo imediato. Não

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nos deixemos cegar por um mais que por outro aspectoda questão. Há fenômenos que evidenciam intenção depessoas falecidas, como os há inteiramente isentosdela.

A teoria antropológica exclusiva foi refutada nestemesmo livro, mediante observações diretas quedemonstram à saciedade a sua insuficiência. Levadossomos, pois, a discernir as manifestações propriamentede moribundos, e as de mortos.

Antes de tudo, lembremos que, de todos os tempose em toda os países, estes fenômenos imprevistossempre foram atribuídos aos defuntos. Não teriahavido nisso mais que o fruto da ignorância e dotemor? Mas, se tudo prova o contrário? Sup érfluo érepisar o que foi dito no capítulo anterior. Cadaexemplo assinalado poderia desdobrar -se em muitosoutros análogos. Em coincidências assaz freqüentespara se haverem por fortuitas, mortes ignoradas serevelam instantaneamente, através de fenômenosfísicos. A quebra de espelhos, por comum, chegou acriar uma, legenda tradicional. Neste caso, não há queinvocar auto-sugestão, nem ilusão. Eis, ainda apropósito, uma carta recente, pois que de 30 de Abrilde 1922:

Tipógrafo compositor, trabalho atualm ente na ruaTurgot, 20. A minha frente trabalhava Ida Schaub,moça de 17 anos. Um dia, às 12 horas, preparando -se

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para sair, remirava-se ela no espelhinho de bolso eaplicava ao rosto o seu pó-de-arroz .

Nossa intimidade permitia-me gracejar da suafaceirice e, fazendo-o, acompanhava-lhe todos osmovimentos quando o espelho se lhe estilhaçou namão, sem causa aparente!

- Ah! minha mãe! - gritou angustiada. . .E quando, meia hora depois, chegava a casa,

encontrou a mãe morta, atravessada na porta.Sucumbira a uma embolia e o corpo ainda estavaquente.

Augusto Pautré

Aí está um fato material, objetivo. Nada de ilusãopassível. Dado que fosse produzido por influência,orgânica da rapariga, inegável se torna, a coincidênciacom a morte súbita da genitora. O Ac aso? também háquem o presuma. .. Mas, não, senhores: esse deusinhotem de fato costas largas.

Vejamos ainda outro de mil casos. O Senhor G.Brocheni, morador na rua de Conflans, em Charenton,escreveu-me, em data de 22 de Fevereiro de 1922, oseguinte:

De vez que, a bem da Humanidade, perseverais novasto e laborioso inquérito concernente aos mistériosdo além-túmulo, considero-me no dever de assinalarum episódio quadrante aos vossos estudos. Trata -se doseguinte: Em casa da Senhora Colassot, matrona que

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hoje conta os seus 60 janeiros, foi -me relatado um fatodo qual a Senhora Colassot e recorda perfeitamente,posto que ocorrido há bons 30 anos e se bem queconserve em casa uma prova material. Com estremodevotamento de mãe carinhosa, cuidava ela de umacriancinha de vinte e dois meses, gravemente enferma,criança que sucumbiu, apesar de todos os desvelos .Foi, então, que ai verificou o fato notável. Nomomento justo da morte, ouviram grande rumor e aSenhora Colassot pôde constatar que o mármore dobufe, com mais de 1 metro de compri mento eespessura de alguns centímetros, fendera -se de ponta aponta. Esse fato a impressionara por coincidir com omomento exato da morte do filho, a ponto de o estimarcomo, sobrenatural, inexplicável. A Senhora Colassotsempre foi uma criatura afetuósíssima, máxime para osparentes, e prestimosa para todo o mundo . Abaladapela dor intensa, não poderia suceder queexteriorizasse de si mesma algum fluido semelhante aoraio (guardadas as devidas proporções) capaz de racharo mármore ? Desculpai, caro mestre, se, bisonho noassunto, aqui me atrevo com essa hipótese .

Essa hipótese da eletricidade é a que primeiroocorre a todo espírito investigador. Aqui, temos umfato bem material, a coincidir com o traspasse, comono caso do espelho, antes descrito. Eis agora um outrogênero de movimento material, relatado por

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conceituada artista e por mim registrado em ODesconhecido .

Há ano e meio, mais ou menos, conversava na salade jantar, meu pai, minha mãe e uma prima. Eram elesas únicas pessoas no ambiente, quando, súbito,ouviram tocar o piano na sala de visitas . Intr igadacom o fato, minha irmã para lá se encaminhou delâmpada em punho e viu perfeitamente movimentar oteclado, timbrando acordes . Regressando à sala dejantar, contou o que vira e todos se riram dela,imaginando ai tratasse de algum morcego maluco.Mas, passada a primeira impressão, consideraram queminha irmã, sobre possuir excelente vista, n ada tinhade supersticiosa, e ,concordaram que a coisa algo tinhade estranho. Ora, passados 8 dias, uma carta de NovaYork noticiava-nos a morte de um tio lá residente .

O mais extraordinário, porém, é que, 3 dias depoisde recebida a carta, o piano tornou a tocar e 8 diasdepois recebíamos outra notícia fúnebre - a morte datia. Esses tios sempre constituíram um casal muitounido e grandemente afeiçoados aos p arentes e ao seutorrão natal - o Jura. Escusado dizer amue o pianonunca mais repetiu a façanha. As testemunhas dessefato ainda estão prontas a confirmá-lo, se assim oentenderdes. Nós residimos no campo, arredores deNeuchâtel, e por mim vos asseguro que aqui não haneuropatas .

Eduardo Paris.

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Victorien Sardou contou-me idêntica observaçãocom o seu próprio plano, quando morava no 5.° andarda esquina do Cais dos Agostinhos com a praça S.Miguel.

Disse-me ter visto, com os seus próprios o lhos, asteclas se abaixarem em correspondência com sonsemitidos, atribuindo o fato a uma irmã recém -falecida.No livro que venho citando, há grande número deexemplos análogos, isto é: de movimentos observadosno momento da morte, ou logo depois. E' de ver,especialmente, o da página 112 (XL) referente a duaspessoas despertadas por um amigo que morria emGranville, e o da página 188, do tio de Júlio Claretiebatendo à janela dos pais, em Nantes, no momentopreciso em que tombava em Wagram.

Certo, não podemos absolutamente compreendercomo possa alguém morrer em Wagram e vir bater auma janela em Nantes; mas também não podemosdeixar de aceitar, ou negar esses fatos. Atribuí -lostodos a ilusão, erro, falsa interpretação, parece-meexpediente anticientifico, se bem que cômodo, masinadmissível. Fala-se da audição de sons de teclas nãotocadas. Temos, então, uma tampa de piano que selevanta no momento exato em que ocorre ofalecimento.

A 6 de Julho de 1922, um estudante parisiense,cujo nome julgo conveniente omitir, escreveu -me que,

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morando num edifício onde também morava umserventuário da Sorbona, certa noite, ele e outrostocavam e dançavam a uma centena de metros do localem que o referido rapaz agonizava, vindo a falecer. Oruído que faziam não podia repercutir a tal distância.

Éramos, ao todo, cinco no salão: dois dançavam,um tocava, eu me conservava atrás da pianista, quetinha a seu lado a irmã. Então vi a tampa do pesadopiano de cauda levantarem-se uns dez centímetros,sem contudo derrubar os objetos nela arrumadas .Tivemos logo conhecimento da morte do pobre rapaz einferimos que ele quisesse, por essa forma, manifestar -nos seu descontentamento, Sou, confesso, um jovemestudante de 16 anos, mas incapaz, creia, de faltar gverdade. O que digo é o que vi.

Desculpai, portanto, ao colegial cu jo intuito éapenas auxiliar na pesquisa da verdade. Fatos sãoestes, de observação direta e inesperada. Eu possoconjeturar mentiras, ilusões, mas os inquéritos sempreme provaram a veracidade dos fatos. Para explicá-los,vamos ainda uma vez pensar nas transmissões elétricas.

Que será a eletricidade? Que será o elementomagnético que, partindo do Sol, à distância de 150milhões de quilômetros, vem movimentar o ponteiroda bússola? Ignoramo-lo na mesma proporção. Queserá a transmissão telegráfica ou a telefônica atravésdos mares e florestas, podendo ser captada em sua

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passagem, dentro de um quarto 'fechad o? E' o mesmomistério. Conseguintemente, há que sermos maismodestos em nossas negações de cegos e moucos.Fenômenos há, subjetivos, que podem tornar -seobjetivos. Também pode ser lida em O Desconhecido,no capítulo concernente aos moribundos, aquela cartade um morador de Valabre (carta 714), na qual sehistoriava o seguinte:

Eu podia ter meus 12 anos. Meu pobre pai, um dosheróis de Sidi-Brahim, passara parte da noite e do dia acabeceira de minha avó gravemente enferma.Regressando a casa por volta das 4 da tarde, foiprocurado por um de meus tio s, para dizer-lhe que avelha piorara e queria ver os netos. Convidados asegui-lo, meu irmão mais moço obedeceu, mas eu meopus de tal modo que não me puderam levar; e issosomente pelo medo que tinha aos defuntos. Fiquei,assim, sozinho com minha mãe, que, depois do jantar,mandou-me deitar. Recusei-me, sempre por medo, jáse vê. Ela me deitou, então, na sua própria cama,prometendo vir logo me fazer companhia. As 7 1/2,mais ou menos, deram-me uma tapona violentíssima epus a boca no mundo. Minha mãe acu diu logo, disse-lhe o sucedido e ela teve ocasião de ver que eu tinha aface vermelha e inchada. Aturdida, impressionada,minha mãe enlangueceu, até que meu pai regressou as9 horas. Informado da ocorrência, quando minha mãe

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lhe precisou a hora, disse ele suspirando: foijustamente a hora que ela morreu.

Conservei na face, mais de 6 meses, essa impressãode uma mão direita bem visível, principalmentequando fazia exercício e o rosto se corava. Centenasde pessoas tiveram ocasião de constatar esse estigma.O traço da mão era branco.

A . Michel, tintureiro .Essa tapona memorável, no pequeno que se

recusara visitar a avó moribunda, é, sem dúvida,burlesca; mas havemos de convir que é também muitológica e aparentemente justificada. Quanto a explicá -la, isso é mais difícil. Teria havido qualquer efeito desugestão, devido ao temor ou remorso? - fenômenosubjetivo tornando-se verdadeiramente objetivo!Teremos ocasião de, mais de espaço, discutir estassingularidades, assim como os estigmas .

Que os mortos se manifestam no momento deexpirar, mediante incidentes inesperados einexplicáveis, tais como visões, audições, ruídos esensações diversas, tenho-o afirmado de público e dehá muitos anos, com abonos de testemunhos que secontam por centenas. Ainda no capitulo precedenteocupamos daquela observação positiva dos três amigosque, à espera de outrem para iniciar a partidavenatória, tiveram a singular manifestação perceb idapelos próprios cães. Vimos, também, a esquisita quedado retrato no arcebispado de Mônaco, e as demais

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observações seguintes. Já se pôde nota a carta de umprofessor de Petersburgo, assinalando que na hora emque lhe morria a irmã, seu retrato, posto quesolidamente fixado, havia caído sem que os pregos sealuíssem; e que o relógio parara na me sma hora. Sãoobservações muito significa tivas, estas, visto que oacaso também tem limites.

Eis ainda um cano que merece atençãoTenho, de fonte insuspeita, um caso extraordinário

e absolutamente autêntico . Meus pais tinham sidoconvocados à cabeceira de um vizinho agonizante. Láai juntaram a outros amigos, silenciosos e tristes, naexpectação do desenlace. Súbito, o relógio de parede,longos anos parados, entrou a bater desordenado,fazendo um barulho formidável, de ensurdecer, comose alguém ali estivesse a malhar uma bigorna. Osassistentes ergueram-se aterrados, a perguntarem-se oque podia ser aquilo... - Reparem bem - houve quemdissesse apontando para o moribundo que, poucodepois, exalava o último suspiro .

H. Faber Engenheiro agrônomo em Bissen(Luxemburgo.)

A juntar-se às observações anteriores, temos outracomunicação da mesma época (1899), assinalando fatonão menos curioso, posto que subjetivo. Trata -se doSenhor Ferdinando Esteve, que me escrevia deMarselha, nestes termos

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Tinha eu 16 anos e estava passando minhas fériasno povoado dos Gavots. Meu pri mo, recém-casado,alojou-me em casa da vizinha, que pensou obsequiar -me excepcionalmente, cedendo-me o quarto em quelhe morrera o marido - um quarto amplo, desprovidode porta. Quem estivesse deitado no leito avistava ogrande saguão de onde partia a escada. Nesse leito medeitei sem fechar a janela, porque à noite de agostoestava quente. Adormeci logo, e profundamente, masnão tardei a despertar com um barulho infernal,barulho de panelas derrubadas, louças quebradas,pratos a voarem e os cacos a tinirem no pavimentocimentado da cozinha. Dir-se-ia que um regimento degatos andassem aos pinotes por toda a casa. Estaconjetura encheu-me de Garagem. Todavia, a coisaprolongou-se por mais de uma hora, com intervalos.Quando tudo se acalmou, ouvi passos precipitadossubindo a escada e encaminhando -se para mim.

Depois, um animal que me pareceu gato saltou nacama e dali para a janela, onde sumiu. Tratei logo defechar a janela e qual não foi meu espan to ao verificarque ela estava vedada pelo lado de fora com uma telametálica, cuja malha não teria mais de um centímetro.E a estupefação cresceu-me de ponto quando, pelamanhã, vi a cozinha em ordem, sem um caco sequer delouça quebrada! Três dias depois , pernoitando nessequarto, minha mãe presenciou os mesmos fenômenos .

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Alucinação? Mas nós não vemos qual a sua causanesse jovem de 16 anos, ao demais, observador serenotudo isso é muito complexo. E' verdade que, antes detudo, a explicação que nos ocorre é essa - alucinação. .. Mas, a tapona do Miguel não o seria, e se esse gato eo barulho de louça quebrada não passam de ilusão,como explicar que a mãe do rapaz tivesse as mesmasimpressões? Depois, qual a causa, a origem dessassensações?

Nestes últimos casos podemos ver impressõessubjetivas, mas, ainda assim, produzidas por causasexternas, sendo no primeiro caso pela avó do rapaz,expirando enraivecida, e, no segundo, pelos manes doparente falecido. Esses barulhos incompreensíveis noslembram as muitas observações do mesmo gênero,estudadas mais para trás. Os fatos são mesmoinumeráveis. Aqui temos um outro bem surpreendente:

Baeschly, de Saverne, 20 anos de idade, está emcasa apenas com seu pai, quando, c erca de meia-noite,ouvem grande estrondo . Levantam-se imediatamente,atônitos. sem nada compreender. Deitam-se. Segundoestrépito. A pé novamente, dão com a portaescancarada. Fecham-na e ela torna a abrir-se, peloque resolvem prendê-la com uma corda grossa. Poucotempo depois recebem carta comunicando a morte doirmão Baeschly na América e precisamente no dia damanifestação, à 1 hora da tarde. Parece que omoribundo ao despertar de prolongada coma teria dito;

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acabo de fazer uma longa viagem e estive em casa demeu irmão, em Brumath.

Sim, é incontestável que os movimentos materiais,distantes ou próximos, estão associados ao fenômenofísico da morte. Esses ruídos, constatados in extremis,são da mesma ordem dos ocorrentes nas casas mal-assombradas e devem ter a mesma causa. Há inúmerosexemplos desta espécie. Eis a carta que a Senhora deLa Garde me endereçou em 11 de Fevereiro de 1899:

A benefício de suas pesquisas tão interessantes,quero assinalar uma notável manifestação que seproduziu por ocasião da morte de Monsenhor de Lau.E' que talas as janelas do seu castelo de Cotte, comunade Biras, se abriram simultaneamente, levando oscamponeses da região, e quantos testemunharam ofenômeno, a dizer que o santo bispo acabava defalecer. De fato, mais tarde souberam que o patrãoausente havia três longos anos, expirara naquela data.

Penso que Monsenhor de Lau foi martirizado. Umeclesiástico de Perlgord, Senhor Pecout, escreveu a suabiografia, na qual se encontra, registrado o fato, talcomo lhe foi contado pela gente do local, que o haviatestemunhado.

Eis ainda uma comunicação recebida na mesmaépoca, isto é, a 3 de Junho de 1899.

As inúmeras cartas que vos enviam a propósito deum empreendimento tão útil, podeis juntar mais esta:

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Nos últimos dias de Fevereiro de 1868, eu deviaseguir para Taulignan, Comuna de Drone, não longede Montélimar onde me chamava minha mãegravemente enferma. Cheguei a tempo de lhe assistirao derradeiro alento. No dia do enterro, 1 ° de Março,estando eu e a empregada no quarto mortuário, a portaai abriu e fechou de repente, sem que estivesseventando.

Fomos logo abri-la e não vimos ninguém na escada. Minha mãe morava sozinha. A criada, apavorada,lançou-se de joelhos e exclamou : é a senhora a pedirpreces, com certeza! E pôs a desfiar o seu rosário. Esoluçava, a pobre rapariga, chamando pela sua mamãeAlançon . Por mim, estava mais comovido do quepodeis imaginar, e agora, em vos lendo e relembrandoo caso, pergunto a mim mesmo ai haverá uma outravida.

Leitor constante e respeitosoAlançon

Agente da Cia. União, em Moulins.( Carta 726 ) .

Aqui, o fenômeno tornou-se bem objetivo, comono caso precedente. E evidente que só pelacomparação de todos os fatos poderemos chegar a umaconclusão.

(Notemos de passagem estas conexões de fundoreligioso, tão freqüentes).

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Vejamos outra carta de Poitiers, datada de 7 deJunho de 1922:

Caro MestreDepois de haver lido a sua trilogia psíquica,

cumpre-me trazer modesta contribuição às suaspesquisas sobre o Além-túmulo . Este episódio foiconstatado por minha mulher e uma tia, prontas acertificá-lo. Poucos dias após o faleci mento deFrancisco Condreau, avo materno de minha mulher, oufosse precisamente a 30 de Setembro de 1889, ouviramrumores no quarto do falecido. Minha mulher, entãomuito nova, dormia com a avó. Sua tia, hoje viú vaRoy, tinha acabado de se acamar no mesmo quarto.Eram 10 horas da noite quando os três ouviram umruído como de pedrinhas arremessadas aos vidros dajanela . Não havendo chuva nem vento, tomaram acausa por qualquer brincadeira de mau gosto. A velhagritou: quem está ai? Claro que ninguém respondeu,mas o ruído continuou por dez minutos, comintermitências. Ouviram também como que o ruído deuma pá raspando a carvoeira e atirando o carvão contraa parede. Aqui, vale dizer que o falecido costumavaremexer nessa carvoeira. E como ai isso não bastasse,a lingüeta da fechadura rangia, como se alguémtentasse abrir a porta. Assustadas, as três criaturasrezavam, convictas de que ali andava a alma dodefunto, até que a tia de minha mulher ousou dizer em

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voz alta: Se és tu, Pedro, dize o que nos queres. Comisso, o barulho cessou.

De manhã verificaram que tudo estava intacto,dentro e fora de casa. Nenhum vestígio nas vidraças ounas paredes, a carvoeira perfeitamente em ordem, coma pá no respectivo lugar. Manda ram dizer missas etudo acabou. Um pormenor talvez importante é que,no dia da manifestação, a avó de minha mulher,remexendo em uma mala que o falecido interditavaciosamente, lá encontrara, queimando -a, umaesplendida trança de cabelos da primeira consor te, aquem ele dedicara entranhado afeto. As testemunhasdeste fato `afirmam que não poderia ter havido farsa,pois os vidros teriam sido quebrados, se realmenteatingidos com tamanha violência. (As janelas nãotinham venezianas.) De resto, ninguém podia e ntrar nopátio para atirar carvão às paredes, do que também nãoficara vestígio.

Digne-se aceitar, etc.Pouillart

ATESTADOSE. Pouillar. - Viúva Roy.

Certificamos bem e fielmente a veridicidade danarrativa supra.

Supor que tudo isso seja inventado, é frioleira .Não podemos, contudo, deixar de assinalar a

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vulgaridade destas manifestações. Mas também temosque o dever dos que investigam é tudo estudar. Essesruídos eram puramente subjetivos, nãocorresponderam a movimentos reais quaisquer. Omesmo se verifica neste caso contado pelo SenhorRenato Gautier, estudante em Buckingham, e por elepróprio assim redigido

Meu pai habitava um castelo isolado em plenafloresta. Acabávamos de jantar e ficamos a mesa,conversando e esperando a volta de meu avo ausente .Passou-se assim distraidamente o tempo, quando, a s 2horas, todos quantos estavam inclusive meus tios edois soldados cépticos, ouviram distintamente fechar-se a porta da sala, com violência tal que. os sac udiu emsuas cadeiras. Não restava dúvida, a porta que assim sefechava, ou pelo menos, que a família presumia haver-se fechado, era uma porta ali próxima. E o fragortambém era de uma porta, e de uma porta interna.Minha mãe ainda costuma repetir: Ouvimo -la batercomo se forte lufada de vento a hou vesse colhido emcheio. Essa lufada, absolutamente irreal, tinha,contudo, isto de real: - que todos a sentiram perpassar -lhes pelo rosto, inundando-o de suor frio, como o quecostuma sobrevir nos pesadelos.

A conversação parou, aquele estrondar da portacausou a todos um mal-estar indefinível, Mas, nãotardou que meu tio entrasse a rir das carascompungidas que faziam minha mãe e minhas tias.

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Depois, organizou uma caçada divertida. Homemcorajoso, encabeçou a patrulha e foram verificar aporta do salão de visitas, que todos presumiram fosse ado acidente. Mas encontraram-na fechada ã chave ecom os ferrolhos corridos, o mesmo se dando comtodas as demais portas e janelas de toda a casa. Tão -pouco havia qualquer corrente de ar. Meu avôregressou pela manhã do d ia seguinte, levando-nos anova do falecimento de seu irmão... A que horasmorreu? - perguntaram-lhe. - As da madrugada,exatamente. Sim, exatamente a hora em que o estrondofora ouvido por sete pessoas.

Impressões subjetivas, causadas por umfalecimento ignorado. E' o mesmo caso do GeneralParmentier. (O Desconhecido, caso 1) . Coisaentranhável, certa, que a morte de alguém produza , adistância, o efeito de um pé de vento, abrindo portas .Entretanto, é coisa observada muitas vezes.

Eis mais uma comunicação inédita, não obstanteantiga, porque datada de Budapeste, em 16 de Abril de1901.

Prezado irmãoPermita que assim o trate, porque assim me

considero e sinto, pela comunhão de idéia noconcernente ao que de oculto ainda existe sobre asfaculdades da alma, e quanto à importância do seuestudo. Julgo-me, assim, no dever de cientificar de um

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fenômeno inerente à categoria dos que tem ocupadosua atenção, e que me sucedeu não há muito tempo.

Atacado de forte nevralgia, que se vinhaprolongando de algumas semanas, meu pai, com osseus 75 anos, preocupava-me seriamente. Eu e minhamulher não sossegávamos um instante, até que, nanoite de 4 para 5 de Abril fomos bruscamenteacordados por violenta ventania, que abriu a janela doquarto vizinho, janela que, seja dit o, ouvíramos acriada fechar. Sentimos perfeitamente a corrente de arque penetrava por baixo da porta de comunicaçãoentre os dois quartos.

Ao acordar, não sei porque me veio a idéia de quemeu pai teria falecido naquele momento. Acendi a luz,eram 3 horas e alguns minutos. Nada disse a mulher,para não impressioná-la, mas, quando pela manhãrecebemos o telegrama infausto, minha mulherconfessou que também tivera a mesma impressão, sebem que mais positiva, pois enquanto para mim aitraduzira em mera possibilidade, fora para ela deabsoluta convicção. Acrescento que a força do ventoera excepcional, não durando mais de dois min utos eresolvendo-se em branda viração, até pela manhã.

Quando chegamos ao lugar onde residia meu pai,isto é, a Trencien, na Hungria (175 quilômetros daqui,em linha reta), um de meus primeiros cuidados foisaber a hora exata do traspasse. Poucos minutos depoisdas 3 horas - disse minha irmã, que lhe fechara os

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olhos. Permita-me acrescentar que sou um espíritoponderado por índole; engenheiro mecânico eeletricista, habituado a tudo observar minuciosamente,a raciocinar com clareza e não precipitar conclusões.Dou-lhe minha palavra de honra que nada acrescentei,nem omiti, nas circunstancia que me parecemessenciais para o julgamento d este caso, ao mesmotempo em que autorizo a sua publicação com aresponsabilidade do meu nome. Poderá, outrossim,obter informações de minha pessoa com o SenhorDésiré Borda, diretor do serviço elétrico daCompanhia Fives-Lilies-a-Paris, rua Caumartin, e como Senhor Mauricio Loewy, diretor do Observatório deParis.

Aceite, caro irmão, o testemunho da minhaprofunda consideração.

Budapeste, Covohaz, 34.(Carta 988).

Leopoldo Stark.Recolhidas as informações, é força considerar

fidedigno este relato. O informante e um homem decaráter e mentalidade científica. Na realidade, estefenômeno era subjetivo: a janela não se abriu, houveapenas sensação, impressão. Mas, pensem comoquiserem, o fato é que essa tal sensação foiincontestavelmente experimentada.

Aqui temos, agora, um caso assoa estranho deassombramento, correspondendo ao aniversário de

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uma sentença capital, e que me foi comunicado em1899.

Para mudar de ares, pessoa de minha amizadealugou apartamento em uma casa de campo. A casatinha outros inquilinos. Certa manhã, às 4 horas, todosforam acordados com rumores extraordinários. Osmóveis do salão pareciam arrastados como que porcorrentes. Um verdadeiro pandemônio. Todos oshóspedes eram mulheres e uma foi logo acometida decrise nervosa.

A criada de minha amiga pernoitava em cômodojunto ao seu. A rapariga surgiu -lhe toda trêmula eafirmou que um indivíduo calçado de pesados sapatosnão parava de lhe andar ao redor, isso antes de estourara barulheira. Minha amiga, apavorada, regressou àcidade e, à, noite, contou o fato a diversas pessoas, asquais exclamaram em unís sono: - Mas, fazprecisamente m ano que Sainlouis foi executado as 4da manhã!

A tal criada fora concubina do dito Sainlouis eabandonara-o disposta a regenerar-se, pelo que ele ajurara de morte. Infeliz na pontaria, a bala que.Mandou-lhe foi vitimar outra pessoa. Preso, julgado econdenado, sucumbiu na mesma data e à mesma horaem que se produziram os fenômenos, no local em quese encontrava a ex-amante. Ia-me esquecendo notarque o salão em causa não fora aberto e os móveis lá seencontravam em perfeita ordem.

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(Carta 614) .H. Cotei.

Nos fenômenos de casas mal -assombradas, uns,dissemos, são objetivos, materiais, exteriores aospercipientes; ao passo que outros são subjetivos,percebidos pelo espírito, e, nada obstante, tão reaisquanto os primeiros, produzidos por uma causatelepática mais ou menos distante, geralmente umfalecimento ignorado. Importa consagrar especialatenção a esses ruídos estranhos, dos quais ainda nãotemos nenhuma explicação e muita gente aindaduvida. Quero crer que nem um dos meus leitorescontestará mais a realidade das transmissõestelepáticas, a qualquer distância. Tal incredulidade jáse não justificaria. Mas, quanta variedade nessastransmissões! O caso a seguir, observado com todo origor, é dos mais notáveis. O Senhor A. Riondel,advogado em Montélimar, escrevia ao Dr. Dariex em23 de Maio de 1894, o seguinte:

Eu tinha um irmão muito mais moço (falecido a 2de Abril com 40 anos de idade) , empregado dosTelégrafos em Marselha e agente da MessageriesMaritimes. Depauperado, devido a longo estágio nascolônias, acabou impaludado e sucumbindo de modoimprevisto e quase fulminante.

No domingo, 1.de abril pp., recebia dele uma cartaem que me dizia estar gozando b oa saúde. Pois bem:

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nessa mesma noite, ou melhor, na noite de domingopara segunda-feira, fui despertado por insólito e fortebarulho, semelhante ao rolamento de um sapato noassoalho do quarto que ocupo exclusivamente e ficasempre fechado à chave. Verifiquei que o despertadormarcava justo 2 horas. Ao levantar -me, meu primeirocuidado foi procurar o objeto que me havia despertadoe aliás causado estranho terror. Não havia lá sapatoalgum, nem nada que pudesse justificar aquele ruído,mas a verdade é que meu irmão tinha falecido naquelamesma noite, sem agonia, sem sofrimento, sem dizerpalavra. Procurei saber a hora. O amigo que o assistiudisse que fora precisamente às 2 horas menos umquarto.

Para completar estas informações, devo acrescentarque nossa velha mãe, cega há 15 anos, ouviu, tambémela, rumores noturnos e fortes pancadas na porta doseu quarto. Devo igualmente dizer que resolvi ocultaro evento à minha mãe, que até hoje o ignora.Impressionada com o que ouvira, ela veio ao meuquarto justamente quando eu regressava do enterro e,na presença de minha mulher, disse -me de chofre:Tive há duas ou três noites um aviso concernente àsaúde de teu irmão. Precisas ir a Marselha quantoantes, pois ele está doente e com certeza procuraocultar o seu estado. Vai socorrë-lo! Procureidesvanecer os tristes pressentimentos maternos,averbando-os de meramente quiméricos.

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Eis os fatos que me honro de lhe assinalar. Se,como suponho, eles se enquadram no seu plano detrabalho, poderá publicá-los com o meu nome integrale o meu endereço. São fatos que se não podem atribuirà imaginação, porque tangíveis. Não tenhonecessidade de repetir que, até este momento, minhamãe acredita vivo o seu Benjamim e eu me considerona obrigação de manter nessa ilusão certo de que alúgubre notícia lhe seria funesta, talo precário estadode saúde em que se encontra,

R. Riondel (Advogado) .

Aí estão fatos rigorosamente observados, mas queficam incompreensíveis. Como poderiam produzir -seesses ruídos? Sapatos a rolarem no assoalho! H á entãoque imaginar: 1.° - alucinação auditiva de tal barulho;2.° - uma coincidência fortuita com o falecimento nãoprevisto. E' uma hipótese difícil de amparar. E asensação telepática da genitora? Fenômenos são estes,assaz freqüentes, para deixarem de entrar no quadro daciência moderna . Chegado é o tempo de procurarexplicá-los . Nós já conhecíamos o calçado que rolavano castelo do Calvados. Este outro é tão notável e temcom aquela tanta analogia, que não devo publicá -losem comentário, sem ensaiar uma explicação. Omoribundo estava muito ligado ao irmão . Nomomento extremo, uma corrente psíquica ter -se-ia.estabelecido entre ele e o irmão, traduzindo -se no

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cérebro deste pela sensação de ruído perfeitamenteouvido, como se um sapato tivesse rolado no assoalho.E mais: acompanhado de uma sensação de angústia.Este o fato. Conhecemos outros muitos, máxime osregistrados no tomo II de A Morte e o seu Mistério,capítulo referente aos Avisos de morte . Sãotransmissões telepáticas incontestáveis: ouvem -seruídos que diferem segundo o estado de receptividadedo percipiente, ruídos subjetivos, nada materiais. Háprojeção entre a causa e o efeito, entre o moribundo eo que percebe, e nós somos levados a pensar que,nestes casos, não são ondas esféricas proje tando-selonge e alargando-se, como as sônicas e as luminosas .Não seria, certo, uma onda dessa ordem, que teriapartido de Marselha para toda a parte e fosse captadade passagem em Paris, pelo irmão do moribundo. Nósadivinhamos, antes, uma corrente psíq uica, lembrandoa corrente magnética, produzida entre a barra de ferroe a agulha imantada.

Essa corrente psíquica lembra a que vimosestabelecer-se entre o Capitão Escourrou, morto noMéxico a 29 de Março de 1863, e sua mãe residenteem Sevres, perto de Paris, a qual divisou no retrato dofilho um dos olhos vazados e o rosto coberto desangue.

Publicando este notável fenômeno de telepatia, napré-citada obra, deixei de o secundar com osnumerosos atestados e os atos oficiais que lhe abonam

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a autenticidade (falta-nos espaço para reproduzirtantos testemunhos), mas os leitores que quiseremcomprová-los poderão recorrer aos Annales, de 1891,págs. 148-156. Ora, nesta como na observação deRiondel há, evidentemente, fenômenos subjetivos. Oretrato não teve olho vazado, nem sangue a escorrer -lhe na face, mas, ao morrer, o oficial projetou o últimopensamento para sua mãe e a corrente psíquica setraduziu sob uma forma visual, pelo aspecto do retrato.Estas transmissões são tão numerosas e tãoirrecusàvelmente estabelecidas que devem ser inscritasdoravante no quadro das ciências positivas .

Ouçamos ainda esta:Um homem se manifesta a duas pessoas em

aposentos diferentes, no momento em que morria. ASrta. Tverdianski, de Dormelles, escrevia ao Dr.Richet, em Novembro de 1891, o seguinte

Acabava de instalar-me num pequeno povoado doSeine-et-Mame para ali passar a estação calmosa.Minha senhoria, uma boa velha, tinha-me cedido seupróprio quarto e respectivo leito. Ali dormiregaladamente a primeira noite e só acordei tarde, aliásdespertada pela boa senhora, que me levava o leitequente.

A segunda noite, porém, a coisa foi outra, pois malacabava de conciliar o sono quando fui despertadocom um grande estrondo. Nada menos que a janelaaberta de par em par, embora antes bem fechada.

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Dando essa janela para uma estrada deserta, veio -melogo a idéia de ladrões, que, sabendo a casa ocupadasó por mulheres, houvessem estourado os fechos parapenetrar no quarto. De um salto alcancei o peitoril, nointuito de fechar de nova a janela, bem como ospostigos, com a maior segurança possível. Nadaobstante, não mais pude adormecer, afigurava -se-meque alguém há via saltado para dentro de casa, epareceu-me ouvir alguém ou alguma coisa durante oresto da noite.

Mal despontou o Sol, percebi os passos dasenhoria, na cozinha. Gritei -lhe que me levasse o leitequanto antes. E quando me apareceu, fui -lhe dizendo: -Sabe? Estou a pensar que um algum grande pássaronoturno tivesse esbarrado e aberto à janela esta noite,facultando a entrada de algum ou alguns morcegos,visto que ouvi depois, toda a noite, rumores em voltade mim. Não dormi um minuto! - Tal como eu -respondeu-me sorrindo, pois era dotada de gênioalegre e gostava de gracejar. - Olhe, eu me havialevantado para receber a visi ta do meu vizinho, orendeiro Dufour, Um dia lhe contarei como se houveele para roubar-me toda a minha fortuna, sem incidirnas malhas da lei. Pois bem: Ei -lo, o vilão a visitar-meesta noite; apostaria em como fui acordada por ele,perfilado junto da cama, a dizer com aquela sua vozinconfundível: perdoa – me Vitória! Veja só quantocinismo! Tratar-me pelo meu sobrenome... Ah!

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Realmente, muito tenho chorado por sua causa e issobasta para que me não indigne contra ele em meussonhos.

Precisamente nesse instante bateram a porta...Alguém que vinha anunciar a morte do rendeiro,naquela mesma noite .

Júlio Tverdianski.

Este relato veio acompanhado de outrosdocumentos complementares, que deixo de reproduzirpor angústia de espaço, tais como cartas outras damesma Srta. Tverdianski, da viúva Petit, e certidão deóbito de Edme-Firmin Dufour, falecido no dia 10 deAbril de 1891 às 4 horas da manhã.

Atribuir ao acaso esta dupla, esta triplacoincidência das duas impressões independentementeexperimentadas, com a da morte do indivíduo, parece-me hipótese tão inaceitável quanto à de negar o casoque tanto nos impressionou e relatamos em A Morte,III tomo, página 373: J. Lewis esmagado pelocomboio, anunciando a sua morte. Este fato nosconduziu, sem solução de continuidade, da telepatiaentre vivos à telepatia entre vivos e mortos, O defuntoLewis, desejando que lhe identificassem o cadáver,tentou comunicar-se com as pessoas prepostas a essafúnebre tarefa e, não o conseguindo, foi procurar aléme encontrou em dada família sensitivos capazes de

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serem telepàticamente influenciados, de sorte aconseguir o seu intuito .

Pensar que sejam falsas todas estas narrativas, écoisa inadmissível. Não podendo explicá-las, nossodever é afirmar a sua realidade. Este é o começo, p oisque até agora continuam a duvidar. Nós apenasestamos reunindo pedras, que sirvam para construir oedifício da ciência futura . A Astronomia, ciênciauniversal, amiúde nos oferece exemplos aplicáveis aoutros estudos. Eis um deles, por mim assinalado h ámuito tempo. Algumas nebulosas espirais,fotografadas com possantes aparelhos, mostramestrelas simetricamente distribuídas ao longo de suasespirais gasosas, deixando suspeitar o segredo daformação desses astros. As coincidências são tãonumerosas e concordantes que não podem ser levadasà conta do acaso e nos levam a reconhecer, nessesaspectos, uma associação de causas e efeitos. Omesmo se dá com as coincidências de morte e asmanifestações e aparições . O acaso aqui não temcabimento Confessamos, porém, que a explicação édifícil.

A alma humana ainda não foi dissecada. Platão, emFedra, escrevia: Pensas que a natureza da alma possaconhecer-se bastantemente, quando se ignora anatureza do Todo? Poderíamos aplicar esta máxima atodos os problemas da vida. Os juízos emitidos sobre oser humano, pelos humanos, são quase sempre falsos,

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porque nós ignoramos as causas diretas (ou indiretas)de todos os atos. Os estudos que aqui fazemos têm umalcance enorme .

*

As faculdades psíquicas e f ísicas da alma humana,durante a vida como depois da morte, estão quase queinteiramente por descobrir, e a observação dosfenômenos de assombramento nos faculta, a respeito,claridades inesperadas. Assim que, movimentos deobjetos sem contacto se produzem em dadascircunstâncias, devido à influência dos mortos. Eis umexemplo quase incrível e de feição romanesca, masescrupulosamente estudado por Fred Myers e SenhoraSidgwick, e publicado em Proceedings, da SociedadePsíquica da Inglaterra, t. VII, pág. 383. A narrativa élonga e eu não contarei, com Bozzano, senão aspassagens essenciais. Os fatos desenrolaram -se na,aldeia de Swanland, arredores de Hull, Inglaterra, emuma carpintaria onde o Senhor Bristow trabalhavacomo aprendiz. Eis o que ele escreveu:

Na manhã em que se verificaram os fenômenos, euestava trabalhando no banco, perto da parede e deonde podia acompanhar o trabalho de dois colegas,fiscalizando ao mesmo tempo a porta. de entrada. Derepente, um dos colegas voltou -se e gritou: Amigo, émelhor que tratem do seu trabalho e deixem os

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sarrafos. Que dizes?? - respondi surpreso. Vocêssabem o que eu quero dizer, pois um de vocês atirou -me com isto... E mostrava-nos um cavaco de quatrocentímetros quadrados. E' claro que ambosprotestamos e, quanto a mim, estava convicto de que ooutro não largara a ferramenta um minuto sequer.

O incidente ia quase esquecido quando o outrocamarada ai voltou brusco, qual o primeiro, a mim sedirigindo: Agora foi você quem me jogou este... Eapontava um sarrafo pontudo que lhe jaz ia aos pés. Jáagora, eram os dois a me acusarem e de nada valia onegar-lhes, pelo que, terminei rindo e dizendo: Cá pormim, sei que não fui, mas, se de fato vocês foramalvejados, agora me cabe a vez... Mal acabava de odizer e outro sarrafo bateu-me no quadril. Fui atingido!- gritei - aqui há, mistério, vamos ver o que seja.Varejamos todos os cantos, fora e dentro de casa, nadadescobrimos .

Depois de muito comentar o fato, acabamosrecomeçando nossa tarefa. E bem não principiávamos,persianas depositadas num estrado alto, sobre vigasembutidas na parede, entraram a trepidar comviolência tal que pareciam esfrangalhar -se. Pensamoslogo: Anda alguém lá por cima... Agarrei a escada,trepei rápido, espiei... As persianas es tavam imóveis erecobertas de pó e teias de aranha. Ao descer, quandoa cabeça atingia o nível das vigas, deparou um pedaçode pau da grossura de dois dedos a deslizar, sal titando

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em cima de uma tábua e, num salto derradeiro, passou -me junto do ouvido. Assustado, saltei por minha vez,gritando: Não há que rir! O sobrenatural existe... queacham vocês? Um colega concordou, o outro insistiuem dizer que alguém estava a zombar de nós.Enquanto assim discutíamos, do ângulo extremo daoficina voou um sarrafo que foi bater no chapéu docontraditor, Nunca me hei-de esquecer da carapasmada que ele fez. De quando em quando, um tocode madeira, pouco antes serrado, saltava do chão paraos bancos e punha-se a dançar entre as ferramentas. Eo que é muito para notar é que, apesar dos esforçosfeitos, não conseguimos agarrar esses estranhosdançarinos, que iludiam todos os estratagemas, comose possuíssem inteligência. Lembro -me de um, que, dabanca, saltou para um cavalete distante 3 metros, e dalipara outro móvel, até que foi parar num canto. Aindaoutro atravessou a oficina, como ai fosse uma flecha,em plano horizontal, a um metro do solo. Seguiu -se-lhe daí a pouco outro, em linha ondeante e finalmenteoutro em linha obliqua, abatendo -se a meus pés...Enquanto o mestre da oficina, Senhor Clarck, meexplicava às minúcias de um desenho e tínhamos osdedos nele colocados, com espaço de dois centímetrosapenas, um pedaço de madeira pontudo bateu na mesae resvalou os nossos dedos.

Esse estado de coisas perdurou 6 semanas, commaior ou menor intensidade. Por vezes, gozávamos um

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pouco de tranqüilidade, durante um ou dois dias; maslogo sobrevinham dias de atividade extraordinária,como se quisessem ressarcir o tempo perdido. Em umadessas fases, enquanto um operá rio reparava umapersiana em banco próximo do meu, vi aprumar-se umsarrafo de 15 centímetros quadrados por 3 deespessura e descrever no ar três quartos de grandecirculo, para bater na persiana que o companheiroaparelhava. Esse o maior sarrafo que vi voar. A maiorparte não ultrapassava o tamanho de uma caixa defósforos, posto que dos mata variados formatos. Oúltimo era de carvalho e tinha 8 centímetrosquadrados, mais ou menos, por 2 1/2 de espessura.Caiu-me em cima, vindo dos fundos da oficina edescrevendo em seu curso uma linha heli coidal, àguisa de uma escada de saca-rolhas, com 40centímetros de diâmetro, mais ou menos. Convémadvertir que todo esse material, sem exceção, provinhada oficina e nenhum lá, entrou pela porta.

Uma das singularidades mais estranhas consistiaem que os pedaços de madeira, cortados por nós erolados ao chão, eram empilhados nos cantos daoficina, de onde se alçavam ao teto, de formamisteriosa e invisível . Nem um dos operários, nem umdos inúmeros curiosos que lá acorreram, durante seissemanas, conseguiu surpreender qualquer dessesprojeteis a pique de se moverem. E contudo, a despeitode nossa maior vigilância, eles ganhavam altura e

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choviam sobre nós, de um local onde nada existiapouco antes.

Pouco a pouco, fomos habituando com a coisa e obombardeio dos cavacos, que se diriam animados devida e até inteligentes, em certos casos, não mais nossurpreendia nem lhe dávamos maior atenção.

Respondendo a uma pergunta de Myers, o SenhorBristow escreveu-lhe, em 19 de Julho de 1891, oseguinte:

Nenhuma relação havia entre as manifestações e aspessoas. Os operários trabalhavam muitas vezes emcasas particulares e nós, os três que assistimos aoinício dos fenômenos, trabalhamos freqüentementefora, no período das manifestações. Mais de uma feita,sucedeu estarmos ausentes todos três. Outro tanto nãoai deu com outros operários, que se ausentaram portodo o período anormal, sem que por isso jamaiscessassem os fenômenos. Salvo em casos especiais, osprojeteis caiam e batiam sem fragor, posto chegassemcom força tal, que, em condições normais, deveriamproduzir um choque forte.

Ninguém viu, jamais, um projétil no momento deser arremessado: dir-se-ia que só poderiam serpercebidos, no mínimo a uns 15 metros do ponto departida. O que leva a considerar outro aspecto domistério, é que os projeteis se deslocavam quandoninguém os fitava ou aguardava .

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Às vezes, um de nós vigiava atento, por longotempo, um pedaço de madeira, e e le não se mexia;mas, desviado o olhar, um segundo que fosse, atirava-se a nós... Nunca pudemos cons tatar se o surtocomeçava de forma invisível, ou ai, ao contrário,aproveitava qualquer distração nossa. Por vezes, adireção dos projeteis era retilínea, mas a maioria eraondulatória, rotatória, helicoidal, serpeante ousaltitante. Inúmeros visitantes fi caram profundamenteimpressionados com essas manifestações, mas nenhumcomo o dono da oficina, Senhor João Gray; e isto pormotivo de ordem particular, isto é, a perda de umirmão, falecido em circunstancia econômicasembaraçosas. Esse irmão deixara um fil ho, que tinha omesmo nome de João Gray, e foi logo admitido comoaprendiz da oficina, tendo falecido pouco depois.Dizia-se que os credores do pai não chegaram areceber integralmente os seus créditos (100 libras maisou menos) e que o tio do rapaz era o responsável poresse prejuízo. Além disso, vieram a saber que o rapazse empenhava para que o tio solvesse oscompromissos paternos. Posso dar testemunho pessoaldo terror que ao Senhor Gray causaram aquelasmanifestações. Um dia levou-me consigo a inspecionardiversas obras e, de caminho, entrou a comentar osfenômenos, dando-me a entender que eles poderiamser explicados naturalmente. Sua atitude era a de umhomem petrificado pelo terror, e eu estou persuadido

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de que ele tinha feito observações próprias, que nãoqueria ou não lhe convinha confessar.

Um dia, soube-se que saldara as dividas do irmão eas manifestações cessaram incontinente. Na sepulturado sobrinho não havia lápide, mas logo que osfenômenos começaram, ele apressou-se a preencheressa formalidade. A lousa ainda lá está, no cemitériode Swanland, podendo ler-se nela a seguinte inscrição:John Gray, falecido aos 22 anos, em 5 de Janeiro de1849.

Publico este curioso caso com todos ospormenores, sem embargo de longos, por julgá -lomuito instrutivo sob todos os pontos de vista. Aindacom Myers, acrescentarei:

Não lobrigamos neste caso qualquer manifestaçãointelectual, mas tão só projeção de sarrafos em todasas direções, por atos intencionais, no propósito deatrair atenção e sem molestar a nin guém. Astestemunhas, em tese, concordam em que osfenômenos foram provocados por pessoa falecida, nointuito de impressionar um vivo e levar a cumprir umdever de consciência. O objetivo foi alcançado. Seconsiderarmos plausível este ponto de vista e setomarmos em consideração concomitantes provasdouta natureza, devemos concluir que os processos, naaparência indeterminados e a sua absurdez, já nãoconstituem motivo de objeção, por isso que ninguémpode, verdadeiramente, avaliar os recursos de uma

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entidade desencarnada. Em todo o caso, certo é queesses movimentos objetivos, pela maneira como seefetuaram, estavam em relação com o mister que emvida exerceu o suposto agente e, na opinião dastestemunhas, redundaram eficientes. Muito de notar,também, que, para alcançar os fins colunados, asmanifestações pareciam prescindir de personalidadesespeciais. Judiciosamente prosseguidas, estasobservações evidenciariam o sólido fundamento dahipótese de intervenção dos desencarnados em certasmanifestações físicas, por mais vulgares que pareçam.

Interpretação perfeitamente admissível. Concordacom a conclusão por nós emitida acima, isto é: 1.° -que há seres invisíveis, 2 ° - que podem ser criaturasque viveram entre nós, e 3.° - que podem não diferirdo que foram em vida corporal.

As forças operantes não são inconscientes, quais asde gravitação, peso, calor, e sim pensantes, agindointencionalmente . As provas aqui reunidas sãonumerosas e demonstrativas. Vimos que, no castelo doCalvados, a Castela, ouvindo movimento num quartoonde os móveis pareciam espedaçar -se e pancadasviolentas abalavam as paredes, procura lá entrar,estende a mão direita para abrir a porta e vê a chavedestacar-se, voltear na fechadura e vir bater -lhe namão esquerda, produzindo uma equim ose que duroudois dias. Havia uma testemunha ao lado, o abadepreceptor do filho. E isso foi em uma quarta -feira, 29

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de Dezembro de 1875. Observação positiva. Nada deilusões, tal qual como nos projeteis de toda espécieatravessando pequenos orifícios, pr é-citados aqui e quese podem conhecer em outras fontes, entre elas AMística, de Gorres, tomo III, página 361. O bispoGuilherme d'Auvergne já assegurava, no século XIII,que as pedras atiradas nos assombramentos raramentecontundiam. (Ver também A Místic a, página 351, parao ano de 1746, e Carré de Montgeron, La Verité desMiracles du Diacre Paris ) . Estas provas de atosinteligentes dos Invisíveis são tão conhecidas que seriainfantil insistirmos no assunto.

Acabamos de ver desenrolar-se a nossos olhosobservações feitas a frio e para as quais não seencontram explicação normal.

Outro exemplo, abonado por atestados autênticos econstatado de 1882 a 1889, é o que assinala o inquéritoda Sociedade Psíquica de Londres, na grande obra deMyers (Human Personality), publicada em 1904. Eis oseu resumo

Em 1882 a família do Capitão Monton foi residirem uma casa construída em 1860 e ocupada 16 anospor um anglo-indiano, depois por um ancião, e nãomais habitada. Uma noite a Srta Monton, filha docapitão, escutou rumores ã sua porta e, supondo fossea Senhora Monton, abriu. A ninguém vendo, expiou nocorredor e divisou perto da escada uma mulher alta, devestido preto. Essa desconhecida foi vista

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posteriormente por toda a família, composta dó casal,três filhas, um pequeno criado e criada. Também aidirá percebido pelos cães, que uivavamsignificativamente. Depois de rebuscas e indagações,disseram-lhe que o fantasma era o retrato da segundamulher do anglo-indiano, que costumava embriagar -see com ela turrar, a ponto de separarem-se, indo elaviver longe e falecendo em 1878.

De 1882 a 1884 a Srta. Monton viu seis vezes ofantasma. Uma de suas irmãs pôde vê-lo durante overão de 1882, persuadida, de que fosse alguma freira.No outono de 1883, a criada deu de rosto com ele. EmDezembro do mesmo ano, o capitão e um rapaz que láestava, o entreviram na sala de jantar. No dia 29 deJaneiro de 1884, a senhorita dirigiu -lhe a palavra pelaprimeira vez, mas, não obteve resposta. Depois,procurou tocá-lo, sem o conseguir,pois sempre se lheesquivava. À noite, ouviam-lhe os passos muitorápidos. Em suma, era como se ali morasse e nadapretendesse. Por fim, todos se habituaram e mais devinte pessoas puderam vê-lo. Tentaram fotografá-lo,não conseguiram. De tempos a tempos, ouvi ram-serumores violentos. Ouçamos, porém, a narrativa.

Descrita a casa e o jardim, a Srta. Monton assim seexprime:

M.S. o proprietário, perdera a consorte que muitoestremecia, Por afogar o desgosto, entrou a beber. Doisanos depois tornou a casar -se. A segunda mulher

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tentou, de começo, regenerá-lo, mas acabou viciando-se também, e daí uma vida conjugal tormentosa,constantemente entremeada, de altercações e cenasviolentas.

Meses antes da morte de M. S. (14 de Julho de1876), a mulher separou-se dele e foi residir emClifton. Ausenta quando ele morreu, é de crer que nãomais voltasse ao lar.

Ela veio a falecer também, em 23 de Setembro de1878. Por morte de M. S., a casa foi comprada por umsenhor já idoso, que também morreu ao fim de seismeses, ficando a casa longos anos desabitada, até quemeu pai a comprou em Março de 1882. Nossa famíliaé numerosa, pois tenho quatro irmãs e dois irmãos. Háesse tempo, eu tinha 19 anos e nenhum de nós ouviradizer algo sobre essa casa. Ocupamo -la em fins deAbril e somente em Junho surgiu a primeira aparição.

Em meu quarto, preparando-me para acamar, ouvibaterem à porta e fui abri -la supondo que fossemamãe. Surpresa, deu alguns passos no corredor e vium vulto de mulher alta, com um vestido de lã escuro,e cujos passos eram quase imperceptíveis. Com umlenço na mão direita, ocultava o rosto. A mão esquerdaestava meio oculta na manga larga, com o cabeçãodistintivo da viuvez.

Sem chapéu, tinha à cabeça qualquer coisa preta,semelhante a gorro, envolvido num véu. Eu não tinhapodido observar outra coisa, mas, às vezes, conseguia

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distinguir parte do rosto e dos cabelos. Nos dois anosseguintes, entre 1882 e 1884, vi o fantasma cinco ouseis vezes. Cheguei mesmo, por vezes, a segui -lo.Geralmente, ele descia a escada, entra va no pequenosalão e ficava de pé no ângulo direito da varanda, ondecostumava demorar-se mais tempo. Voltava-se depoise seguia pelo corredor até à porta do jardim, ondeinstantaneamente desaparecia. A primeira vez que lhefalei foi no dia 29 de Janeiro de 1884. Como já o disseem carta escrita dois dias depois a uma pessoa amiga,aqui reproduzem esse trecho: Abri cautamente a portado pequeno salão e entrei ao mesmo tempo em que ofantasma; mas, ele passou-me à frente e foi deter-seimóvel, perto do sofá. Avancei também e perguntei emque lhe poderia ser útil. A tais palavras, estremeceuligeiramente e pareceu-me disposto a falar, mas nãopude ouvir mais que um breve suspiro. Depois,encaminhou-se para a porta e, quando atingia a soleira,repeti a pergunta. Nada. Voltou no salão, seguiu até àporta do jardim, desapareceu...

Outras vezes, procurei tocá-lo, em vão, pois seesquivava de maneira curiosa, não que fosseimpalpável, mas por me parecer sempre fora dealcance; e quando procurava acuá-lo num canto, logose esvaecia. As aparições atingiram a maior freqüêncianos meses de Julho e Agosto de 1884, decrescendo daipor diante. Guardo um calepino desses dois meses,anotações destinadas a uma amiga. Dele respigo esta

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passagem, com data de 21 de Julho. Eram 9 horas danoite, estávamos assentados eu, meu pai e irmãos, nasala de espera, perto da varanda. Enquanto lia, vi ofantasma entrar pela porta meio cerrada, atravessar asala e postar-se atrás da minha cadeira. O que meadmirava é que ninguém o percebesse, quando eu o viatão nítido. Meu irmão, que já o tinha visto, não estavaconosco. A visão ali permaneceu meia hora, até que seencaminhou para a porta. Acompanhei -a a pretexto debuscar um livro e vi que atravessou a sala edesapareceu na porta do jardim. Ao aproximar-me daescada, dirigi-lhe a palavra, sem resposta, posto que,como da primeira feita, parecesse querer falar... Em ànoite de 2 de Agosto os passos foram ouvidos porminhas três irmãs e pela cozinheira, que pernoitava noandar superior, bem como por minha irmã casada,Senhora K., esta no pavimento térreo. De manhã,todos confessavam ter ouvido alguém andar diante desuas portas... E que eram passos estranhos, diferentesdos de qualquer pessoa da família. Ressoavampausada, delicada, mas firmemen te. Minhas irmãs e oscriados não se atreviam a sair, quando tal se dava,

No dia 12 de Agosto, por volta das 8 da noite(ainda claro portanto), minha irmã E. preparava -separa o seu estudo de canto, quando correu a dizer -meque, ao assentar-se ao piano, foi surpreendida com ofantasma a seu lado. Fomos à sala de espera e lá estavaele, de fato, parado no canto da varanda, onde

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costumava demorar. Falei-lhe pela terceira vez e. ..nada. Assim permaneceu uns dez minutos, até queatravessou a sala, entrou no co rredor e desapareceu naporta do jardim. Instantes depois, entra do jardimminha irmã M. a gritar que vira o fantasma subindo aescada externa, da cozinha. Salmos todas ao jardim eminha irmã K., que estava à janela, gritou qu e ofantasma tinha atravessado o gramado dirigindo-separa a horta. Nessa noite fomos quatro videntes.Advirto que, sempre que nos previnamos parasurpreender a aparição, à hora do costume, a decepçãoera certa.

Por todo o fim de 1584 e no ano seguinte, ofantasma prosseguiu mostrando -se muitas vezes,sobretudo em Julho; Agosto e Setembro, meses quecomportavam três datas de morte, a saber: de M. S. em14 de Julho; de sua primeira mulher em Agosto, e dasegunda em 23 de Setembro. As apariçõescontinuaram uniformes para todos que a viam adeambular nos mesmos sí tios, e em circunstânciasdiversas. Até 1886, eram tão especificas e reais quepodiam ser tomadas com de pessoa viva; depois sedescondensaram, tornando-se menos distintas, se bemque, até o fim, interceptassem a luz. Não houve ensejode verificar se projetava sombra.

Algumas vezes, antes de deitar e quando a famíliajá estava recolhida, eu atravessava a escada com fiosde linha, em niveis diversos. Ligava-os dois a dois

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com pequenas bolas de cera e de maneira que o maisleve contacto os desprendera, sem que o transeuntedesse por isso. Duas vezes vi o fantasm a Passaratravés das linhas, deixando intactas. Chegamos aconcluir que esse fantasma correspondia a segundaesposa de M. S. e vamos dizer porquê:

1 ° - O histórico da casa era assaz conhecido e,comparando-se a forma misteriosa a qualquer dosantigos moradores, a Senhora S. é a única que se lheassemelha. 2.° - O fantasma apresentava-se de luto,coisa que absolutamente não caberia a primeiraesposa. 3.° - Diversas pessoas que conheceram emvida a segunda esposa, logo a identificaram com aaparição por nós descrita. Apresentaram -me tambémum álbum e eu, entre muitas fotografias, indiquei a quemais se parecia com a visão, e vinha a ser de uma suairmã, justamente a que mais se lhe identificava nostraços fisionômicos . 4.° - Sua nora, bem como outraspessoas de suas relações, afirmaram que ela costumavapassar horas a fio na sala de espera, juntamente nolocal perto da varanda, onde nos apareceu tantas vezes.As narrações de outras testemunhar são todasconcordes com a Srta. Mortos, e daí resulta que ofantasma aparecia constantemente em atitudepungitiva, com o véu arrepanhado na mão direita,cobrindo-lhe parte do rosto.

Proceedings, da Sociedade Psíquica de Londres, deonde extraímos esta narrativa, bem como as rigorosas

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sindicâncias de Myers, publicadas nesse órgão ereproduzidas no seu grande livro A PersonalidadeHumana, lhe conferem foros de autenticidadeincontestável. A hipótese de uma alucinação coletiva,de oito pessoas, separadamente - e de dois cãesinclusive - é simplesmente absurda. Ouvidos e olhosperceberam a aparição, sua realidade é tão certa comoa do obelisco da Praça da Concórdia .

*

Eis mais uma observação, cuja importância nãodesmerece das precedentes. Foi fe ita por um grupo decrianças que mal podiam avaliar a importância doproblema, assim como pelos criados da casa e por umhomem de bom senso, que só aceitou o fato com omaior constrangimento. Gurney estudou rigorosamentearte curioso caso e deu-lhe publicidade emProceedings t. III, pág. 126) . Bozzano igualmente ofez em Fenômenos de Assombramento, pág. 86.

O fato ocorreu em 1854 e originou um relatóriocom todas as minúcias. Eis o que di sse a respeito aSrta. Mary E. Vatas-Simpson

Lembro-me muito bem de uma velha dama que nosaparecia quando éramos crianças ( eu era a mais velhae tinha abaixo de mim uma irmã e outros irmãozinhosmais novos) e que constituiu o maior dissabor da nossameninice, já porque essa dama era um mistério para

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nós, e já porque nos acarretava severas reprimendaspaternas. Morávamos, então, numa casa muito velha,cuja sala de jantar ficava no último andar e tinha trêsjanelas e duas portas fronteiras. Escada estreita, degrandes lances e muitos patamares, do cimo dos quaisaprazia-nos debruçar e espionar o que ai passava embaixo, máxime quando os criados introduziam algumavisita no salão.

Um dia, assim debruçada no meu ponto deobservação, vi uma mulher velha, muito franzina,subir lentamente a escada e entrar sozinha no salão.Grande a surpresa, porque a passagem livre da escadaera interrompida por uma porta suplementar, queseparava o gabinete de meu pai dos escritóriossituados no pavimento térreo.

Assim, as pessoas que quisessem entrar deveriamtimpanar como o faziam na porta prin cipal. Ora, eutinha visto a velha subir aquém daquela porta, estandoa mesma fechada e ninguém a tendo aberto. Dai oentrar em confabulação com o Walter, escarranchadono patamar superior, a fim de reconhecer a intrusa.Descemos silenciosos e cautos ao sa lão, certos de láencontrá-la, e grande foi a desilusão quando não vimosninguém. Regressei em ponta de pés, sabendoperfeitamente que nos era proibido entrar no salão;mas, enquanto subia a escada, escapou um grito desurpresa ao ver a velha saindo por um a portahabitualmente fechada, e justamente no patamar onde

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eu estivera pouco antera. Tornei a entrar no salão paraavisar o Walter, visto que me dispun ha a espiar nopatamar e eis que vejo a velha a descer vagarosamente,já para além da porta que intercep tava a escada. Nomomento em que ela desaparecia, meu pai rompeu noescritório e deu-nos um bom corretivo pela tagarelice ebarulho que fizéramos. Dias depois, entretidos com onosso brinquedo predileto, que consistia em virar duascadeiras à guisa de diligência na qual nosaboletávamos com um tapete a cabeça, representandoo toldo, meu irmão Garry machucou -me e eu mevinguei jogando o tapete ao ar... E a primeira coisa quevi foi a velha, com a mesma roupa, isto é, com umvestido preto muito usado, mantilh a de veludo e umaenorme touca na cabeça.

Supus que pretendia dirigir -se ao gabinete de meupai e tivesse, por equívoco, caminhado de mais, porémela continuou a subir. Subi também, lépida, no intuitode embargar-lhe a passagem e. . . não mais a vi! Corri,então, ao patamar, desci a escada e encontrei Walter acorrer também no encalço da velha, já então descendorápida, também, e rente à parede, Mas. .. a meio dacaçada, eis que reponta o velho a porta do gabinete eameaça o Walter de chicote se não acabass e com abarulheira.

Pedimos explicação aos cr iados, sobre a velha, evimos trocarem sinais entre si, antes de nosinformarem que se tratava de uma velhinha que viera

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visitar mamãe . Posto que a víssemos muitas vezes,sem experimentar nenhum pavor, parece q ue ninguémnos dava crédito e por isso comentávamos o caso entrenós, evitando referi-lo aos adultos. Nada obstante,havíamos tomado nossas precauções e, quandobrincávamos de diligência, metíamos um postilhão adescoberto, a fim de assinalar de pronto a c hegada davelhinha. De fato, tinha-nos parecido que ela nosfixava com muita insistência e temíamos que,surpreendendo-nos de cabeça coberta com o tapete,nos pregasse alguma peça desagradável, algo detemeroso. Além disso, escondida pelo mesmo tapete,guardávamos uma régua para lhe atirar, se tentassetocar-nos.

Depois disso, compreende-se que sempreconsideramos o fantasma como personalidade real e,apesar dos longos anos transcorridos, ainda guardodele uma lembrança muito viva, parecendo -me queestou a vê-lo.

(Assinado) Mary E. Vats-Simpson.

Nesta altura o texto se referta de longas citações,colhidas no diário da Senhora Simpson, onde constaque, além da velha, manifestava -se o fantasma de umhomem idoso, bem como rumores de toda espécie.

A casa, muito antiga, tinha fama de mal -assombrada., tanto que a família, que lá residiraanteriormente, se mudara por causa do barulho

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noturno que não deixava as crianças dormirem. Veja -se este trecho característico

Meu marido não acreditava em nada dessas coisas.Ontem, porém, sua incredulidade experimentou forteabalo, pois viu, com os próprios olhos, o fantasma eteve uma sensação de temor que mal suspeitaria. Eiscomo se deu o fato: Devido a recente enfermidade,ficaram-lhe acumuladas na escrivaninha pilhas e pilha sde cartas e documentos. Resolveu, então, consagrarparte da noite à classificação e expediente da papelada,ordenando peremptoriamente aos criados que nãopermitissem visitas, nem algo que pudesseinterromper-lhe a tarefa. Eu, por minha vez, tomeiprevidências para garantir-lhe absoluta tranqüilidade.Assim que, ontem, depois do jantar, ele isolou -se nogabinete e ainda lá estava quando deram onze horas.Eu tinha-me assentado na sala, porta aberta, comocostumo fazer quando lá fico sozinha. De repente, ouvium rumor do lado do gabinete e logo a seguir umaporta que se abria de chofre, e a voz indignada de meumarido verberando os criados por haverem permitido aentrada de pessoa estranha no seu gabinete. Quem lhedesrespeitara as ordens? Ninguém - responderam-lhe -e ele insistiu - não mintam; onde está essa mulher?Quando é que veio? Que deseja ela? - Sabem que anoite não recebo ninguém. Portanto, que volte amanhã,se quiser e tratem de por já no olho da rua.

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Tudo isso ele o dizia como se a intrusa ainda láestivesse, dentro de casa, e no propósito de lhe falar,enquanto os criados protestavam que ninguém entrarae que ninguém subira nem descera a escada. Súbito,meu marido tomou outra atitude: calou -se, imóvel,como se houvesse perdido a noção da vida ex terior,estuporado. Depois voltou a si, tremulo, caminhoualgum passo e ordenou aos criados que serecolhessem, acrescentando que no dia seguinte seincumbiria de saber quem ousara introduzir aquelamulher no gabinete. Isto dizia por disfarçar o que defato pensava, pois logo que ficamos a sós, outro foi oseu dizer. Contou que, em dado momento, quandoprocurava um documento importante, absorvido porgraves preocupações, levantando os olhos perceberano umbral da porta uma velhinha franzina. Nãoobstante a impertinência da visita, procurou ser Cortése convidou-a a entrar, levantando-se imediatamente.

Vendo que ela não se movia nem falava, limitando -se a fitá-la deu um passo e repetiu o convite. Elacontinuou imóvel, calada, fitando -o com expressão deternura. Supondo, então, que não pudesse falar devidoao cansaço em subir a escada, esperou algum tempo,mas, como a resposta não viesse, adiantou-se mais aoseu encontro, ao mesmo passo que ela o imitava comoque deslizando. Todavia, atenta a extensão da sala, deumais alguns passos, já então resolvido a acabar comaquele misterioso mutismo, Nesse comenos, ela

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desapareceu! Chegando a este lance da narrativa, meumarido calou e engolfou-se em profunda meditação.Parecia-me muito nervoso, tremiam-lhe os lábios evia-se que procurava dominar a intima comoção.

Depois, como se despertasse de um sonho,concluiu dizendo que o gabinete estava bem iluminadoe que se não lembrava de ter visto abrir -se à portaquando apareceu, nem quando desapareceu ofantasma; ao invés, lembrava-se - ou melhor - estavacerto de haver fechado a dita porta ao entrar nogabinete. Não lhe passara pela mente que estivessedefrontando uma aparição, antes supondo pessoa emsérios apuros, que o fosse consultar, cônscia de que aurgência do caso e a sua idade avançada seriamsuficientes para lhe desculparem a inoportunidade dahora. Essas considerações o levaram a acolher comafabilidade, mas o inexplicável mutismo acabara porirritá-lo e não trepidou em demonstrara-lo por gestos epalavras.

Eis a descrição que fazia do fantasma: umavelhinha franzina, muito pálida, vestes surradas,grande toucado preso ao mento com um lenço, econservando as mãos sempre cruzadas. Por fim,resume nestes termos as suas impressões: Expus emtermos precisos o que me sucedeu, não posso duvidardo que vi e reconheço que é coisa inexplicável; porconseguinte, não falemos mais nisso. Por mim, estoucerta de que não mais zombará das nossas visões

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absurdas. De fato, ele foi tocado de maneira a nãosaber o que deva pensar, e mui to tempo correrá antesque esqueça a pálida velhinha que costuma perambularem nossa casa.

Esta a narrativa de Gurney. Esta múltiplaobservação, feita em primeiro lugar por crianças,infirma, se é que de todo não anula, a hipótesealucinatória, hipótese que eu conheço sob todas asformas, pois tenho sempre à mão a obra clássica deBeire de Boismont. Que personalidade singular seráesta? Tudo leva a crer que se trata de pessoa morta,que houvesse morado na casa. procure -se outrahipótese que mais concorde com os fatos observados.Podemos aplicar a ,esta aparição o que acimaexpendemos sobre o caso da família Morto n, isto é:que é tão real como o obelisco da Praça da Concórdia.Reconheçamos, com lealdade, que nos encontramosaqui fronteando absoluto mistério, tanto quanto oevidente nos testemunhos do Calvados e todos osdemais catalogados nestas páginas. Confessemos quenada sabemos, justificando a.nossa curiosidade eperquirição. Tudo iria vale bem mais que os rom ancesfantasistas por ai publicados todos os dias. . .geralmente sobre o mesmo assunto passional. Sódevemos afirmar o que foi rigorosamente observado,mas não é honesto nem razoável recusarmo -nos, sejaqual for o pretexto, a reconhecer a realidade evidente.

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O Senhor Conan Doyle publicou, em 1919, umlivro notável - A Nova Revelação no qual nos contaque, fazendo parte da Sociedade de InvestigaçõesPsíquicas, foi, com dois outros delegados, designadopara. passar uma noite em certa casa mal -assombrada.Também se trata aí de uma observação pessoal. Eramrumores e pancadas incompreensíveis, perfeitamenteidênticos sos do caso da família. John Wesley, deEpworth, em 1726, ou ainda o da família Fox, deHydesville, em 1848, de que originou o modernoEspiritismo.

O resultado desse inquérito foi à constatação defenômenos análogos aos descritos nesta obra, emprovável conexidade com uma inumação anterior.

*

Ao lado destes problemas suscitados por fantasmasde mortos, quantos outros se nos deparam! Todas asentidades, todas as forças, todas as causas invisíveis,todos os Espíritos que se manifestam de qualquermaneira nos fenômenos inúmeros que estudamos, nãosão produzidos por almas desencarnadas. Também osencarnados podem exteriorizar -se e atuar fora de simesmos, bem como podemos agir de nós mesmos, nocorpo, inconscientemente. Estamos, em suma,rodeados de elementos psíquicos conhecidos edesconhecidos. A curiosíssima observação, a seguir,

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denotará ação humana, realização de uma vontade depessoa encarnada, ou de um desencarnado a quem sereferiam? As aparências favorecem esta últimainterpretação. Ponderemos com inteira liberdade e semprejuízos quaisquer. Qual a parte cabível ao nossoorganismo nos fenômenos metapsíquicos? Em AMorte e o seu Mistério (t. III, pág. 351) anunciei umaobservação do Senhor Oscar Belgeonne, secretário doTribunal de Anvers, a qual, por excesso de matéria,deixei de ali relatar, reservando-a para esta obra . Essaobservação é interessante, do ponto de vista em queacabamos de nos colocar. Eis o que consta na carta n.°4.421, de 5 de Abril de 1921:

Eu tinha já 12 anos de serviço na Repartição emque ainda hoje trabalho. Um dia, alguns amigosvieram oferecer-me um bom emprego em umaempresa particular e, alegando urgência de solução,insistiam teimosamente para que aceitasse a pro posta,chegando até a comissionar um amigo íntimo, a fim deconvencer-me. Acabei pedindo 24 horas para decidir .

Nesse dia, à noite, fazia intenso frio. Eu tinha feitoum longo passeio pelas ruas mais ou menos desertas eassim caminhando ponderava os prós e contras dopartido que se me oferecia.

Recolhi-me as 11 h . 15 m . e encontrei assentadasna cozinha, lendo, a minha espera, duas irmãs.Disseram-me que a luz se apagara na sala de jantar ena varanda, pelo que trataram de bem fechar as portas

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e ali se instalarem junto do fogão. Elas sabiam quantome preocupava a proposta que decidiria do meu futuro,desejavam saber a decisão tomada. Assentamos os trêsà mesa encostada na parede, com o rosto voltado parao forno. Ao lado da chaminé ficava o grande armárioembutido na parede. Na prateleira, o trem de cozinha epor baixo da mesma, una cinquenta centímetros, haviauma tábua com ganchos e, num deles, pendurada umatoalha. Ninguém mais ali se encontrava, nem corria amais leve aragem. Discutíamos o caso, minhas irmãsesforçavam-se por convencer-me e eu relutava. Quefazer?

A coisa afetava o meu futuro... Se ainda tivéssemosalguém que nos esclarecesse - disse uma delas. . . Ouse papai ainda fosse vivo... - obtemperou a outra. Asimples pronúncia daquele nome, que evocava apersonificação da honestidade e da bondade, todosemudecemos, pensativos. Passado um instante, eudisse: convirá aceitar!

Então, vi que a toalha começou a agitar -se nogancho, ora à esquerda,, ora à direita; mas, retesada,rígida, como se alguém a manobrasse. Aquelemovimento era como se a toalha estivesse a dizer - nãoDepois, nada mais. Todos vimos perfeitamente ofenômeno. Ele foi, aliás, tão rápido, tão imprevisto, tãooportuno, tão manifestamente traduzido por uma f orçainvisível, que minhas irmãs não puderam conter aslágrimas e eu tive um arrepio. Adotei a resposta

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sugerida e hoje, passados nove anos, só me possofelicitar de a haver aceitado. O fato se deu em 1912 e aguerra tudo alterou. Hoje a empresa que se me ofereciajá não existe, o que vale dizer que teria perdido o meuganha-pão .

Gostaria que estes fatos, cuja autenticidadecertifico, sob palavra de honra, pudessem aproveitar aomonumento científico que estais constituindo comtanta competência e imparcia lidade.

O. Belgeonne.Em carta subseqüente, de 14 de Maio, o Sr .

Belgeonne acrescentava:O que assinalo como digno de ma ior atenção é que

a força que aproveitou da toalha (único meio talvez deque dispunha) deu resposta adequada à minhapergunta, como se previsse p futuro.

Mas. .. que força? Como poderia ela prever? Nãoseria essa mesma força que um dia, em Folkestone,durante a guerra, bateu num móvel e me fez chegar atempo de evitar um incêndio - fato este que tambémvoa comuniquei?

Confesso que o meu primeiro juízo a o ler estedepoimento foi que o depoente forçava uma tanto ainterpretação de um incidente banal e quase ridículo.Mas, depois, considerei que um homem a feito adiscussões jurídicas não é um tipo qualquer. O maissimples seria supor que não passasse tudo de ilusão;mas como, se havia afirmativas concordantes de três

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testemunhas? E depois, sobretudo, aquele balanço datoalha seria mais ridículo que a contração das patas darã de Galvani? Todavia, é lícito perguntar se o SenhorBelgeonne não teria agido inconscientemen te. Mas,como pôr em movimento um objeto sem saber que ofazemos, e, ao demais, de improviso? O problema nãoestá, resolvido, confessemo-lo.

Do inquérito feito em Anvers e ao qual o missivistase prestou do melhor grado, obtive uns tantosdocumentos oficiais, sobre a data de falecimento dopai de Balgeonne, a 3 de Fevereiro de 1900, co m 67anos de idade, bem como testados em separado dasduas irmãs, e informes outros prestáveis à elucidaçãodo problema. A teoria da atuação do defunto, cujabondade e paternal amor aos filhos conheciam, nãodeixa de ser admissível. Continuemos, porém, aestudar e comparar. Não esqueçamos que foi com aanatomia comparada que Cuvier obteve suasdescobertas paleontológicas.

Tenho de contínuo manifestado e meu espanto epesar por ver comunicações de mortos e manifestaçõestão insignificantes e tão banais; e contudo,imponderados sempre, não deixam os adversários deencrespar-me essa circunstância. Mas, pergunto: nãodeve a sinceridade impor-se antes de tudo? Nósestudamos. Nós constatamos. Certo, preferíramos (eumais que ninguém) obter revelações da vida espirituale de outros planetas.

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Se o resultado dos nossos estudos fosse negativo,comprovando que certas almas não se comunicam emesmo que não há senão manifestações fragmentária s,ecos imperfeitos de Espíritos ainda ligados à vidaterrena, ou ainda produções pessoais inconscientes,não deixaríamos de o proclamar com toda a franqueza.

Tudo está por aprender. A verdade antes de tudo.

CAPITULO XIFenômenos ,de assombramento sem indício de açãodos defuntos. - Espíritos turbulentos. - Poltergeist

No capítulo precedente reunimos observaçõesindiciais de tal ou qual co-participação de mortos, comobjetivos mais ou menos definidos, levando -nos apresumir intenções, votos a cumpr ir, atos póstumosenfim. Aliás, já o havíamos notado n o exame geral doassunto. Constatamos, porém, ao mesmo tempo, aexistência de fenômenos singulares, que não deixavamentrever qualquer indício de origem e finalidade.Tivemos a impressão de que esses fa tos misteriosossão muito variados e longe estão de moldar -se à

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mesma explicação, destarte nos situando nas fronteirasde todo um novo mundo a descobrir. Neste capítuloclassificaremos exclusivamente os fenômenos semindícios de influência póstuma. Não dig o em oposiçãoao capítulo antecedente - sem associação de mortos,porque o mundo extra terreno está todo ele por estudare as precedentes revelações aconselham estremaprudência. Digo, porém, sem indícios presumíveis.

Já em nosso Primeiro bosquejo do assun to, quandodas pedras atiradas na rua. das Nogueiras, em Paris,constatamos a ausência de qualquer indício de ordempsíquica. Não o encontramos, tão-pouco, através dafantástica, fenomenologia do castelo de Calvados; nopresbitério misterioso, etc.

Posto que intenções póstumas, inesperadas, fossemmuitas vezes sugeridas, parece que se trata aí de outracoisa.

Há muito tempo que toda uma classe de fenômenosde assombramento foram reunidos s ob a denominaçãode Espíritos turbulentos, estudados p rincipalmente naAlemanha e lá designados pol tergeist, (de polter, fazerbarulho e geist espírito) .

Assim rumores, pancadas, algazarra, audiçõesvariadas, passos, murmúrios, gemidos, etc., produzid ospor causas inapreciáveis. Na prospecção do capítulo II;focamos espetáculos estranhos de projeção - de pedras,móveis derrubados, etc., cuja banalidade nos deixouestupefatos, e perguntamos qual poderia ser a causa de

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tais distúrbios . Os exemplos típicos, posteriormenteexpostos, demonstraram que esses fenômenos tambémsão multiformes e fantásticos. Assim sendo, comrelação aos exemplos do capítulo precedente,revelador de ação oculta de criaturas falecidas, outroshá que nos parecem inteiramente diferentes e, comotais, merecedores de um capítulo especial. Que causalhes poderemos atribuir?

Faculdades humanas desconhecidas, animismo,vitalismo, agentes psíquicos extra -humanos,fragmentos da alma terrena, entidades incognoscíveis?Não percamos de vista, a partir das primeiras linhas, asverificações irrecusáveis, retro -expostas, tais como asda rua das Nogueiras, da rua dos Gregos, de Ardeche,Fives-Lille, Calvados, Auvergne, a casa do professor,a porta de Estrasburgo e todas as análogas, nas quaisnenhuma fonte se indiciou . Anônima, turbulência,diabruras apenas. Reunamos, pois, aqui, algumasdessas manifestações e comparemos entre si. Estaprimeira, muito singular, certamente, foi -me enviadade Cherchell (Argélia) em data de 17 de Julho de1922:

Em 1913, quando nos achávamos no Tonquin, fuicom minha mulher repousar algumas semanas nacidade de Mong-Zen (China Younan) . Em umaespécie de campo adstrito à concessão francesa,habitavam uma casa isolada, sendo que a maispróxima lhe ficava distante uns 20 metros. Leváramos

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conosco o nosso boy, um garoto anamita de seus 16anos. Dois dias depois da chegada, fomossurpreendidos, alta noite, com um estrondoformidável, que parecia vir do exterior, sobre o telhado. Pensei na repercussão de alguma trovoada e fui ver ofirmamento. Límpido, escampo de nuvens. . . Deventos, nada. Contudo, em Cambodge tínhamosobservado muitas vezes que os trovões reboavam semque houvesse ventania e nuvens perceptíveis. Assim,apenas me preocupei com o fato para, de manhã,interrogar os vizinhos, que me afirmaram não terouvido estrondo algum, muito menos de trovão.

Dias depois, igualmente à noite, novo estrondo.Perdemos o sono, passamos a noite em claro e pude,então, analisar o caráter desta audição. Pensei queseria algum bloco de rocha destacado da montanhavizinha, que tivesse rolado; ou, então, l igeiro tremor deterra, peculiar ã região. Nada obstante, essa explicaçãonão me satisfazia plenamente, pois o estrondo emborafortíssimo era, se assim posso dizer, surdo e único.Para que a minha opinião tivesse fundamento, seriapreciso supor um bloco de pedra tombando em cheionum terreno nivelado, o que é absurdo. Como da outravez, ninguém na concessão ouvira coisa alguma. Tão -pouco se registrou qualquer abalo sísmico. Essas duasmanifestações poderiam ter sido esquecidas, se umaterceira mais formidável não ocorresse nas mesmascondições meteorológicas de perfeita calma. Num

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ápice, pusemo-nos de pé e o nosso boy - (Deus sabe seos anamita têm o sono pesado) - que dormia no quartocontíguo, com a porta aberta, aprumou -se de súbito,estupefato.

Eu conjeturava que não deveria restar uma só telhana comíeis, imaginei imprevisto ciclone, sai logo.Fora, tudo calmo, a casa estava perfeita, integra.Avistando luz nas casas vizinhas, chamei osmoradores. . . Não ouviram? - perguntei. Admirados,responderam que estavam a ler tranqüilamente enenhum barulho os perturbara. Diante disso e pelo quetenho lido sobre o assunto, não duvido que entidadesmisteriosas ali se manifestavam. Como a casa éalugada todos os anos a pessoas em transito, é difícilsaber se os anteriores ocupantes apreciaram o mesmofenômeno. A causa desses estrondos é o que restadescobrir.

Max RousselRecebedor dos Domínios em Cherchell .

Fenômeno subjetivo. Como? Porquê? Nãolobrigamos aí qualquer indício de intencionalidadepost-mortem. Também não se pode admitir ilusão.Audição positiva. Como vimos no esf orço geral, estasobservações são numerosas, variadas e extensivas atodos os países.

Uma queda de pedras, enigmática, absolutamenteinexplicável, lembrando a observada pelo pastor

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Lavai, em Ardeche, descrita pela Sociedade deInvestigações Psíquicas (Journal XII, pág. 260) ereproduzida por Bozzano em Phénomènes de hantise,vale inserida aqui, de acordo com o relato do SenhorGrottendieck, de Dordrecht, Holanda.

Em Setembro de 1903 foi -me dado o ensejo depresenciar um fenômeno anormal, e ainda bem quepude fazê-lo com o maior cuidado, em todos os seuspormenores.

Tinha terminado a travessia da jungle dePalembang a Djambi, em Sumatra, levando comigouma escolta de cinquenta indígenas. Ao regre ssar aponto de partida da nossa exploração, encontreiocupada a minha residência hAbitual. Tive, portanto,de me transportar com a minha cama de viagem parauma cabana por concluir, feita de vigas aderentes entresi e coberta de grandes folhas secas de ka djang.Estendi a cama no assoalho de madeira, desdobrei omosquiteiro e não tardei a adormecer. Por volta de 1hora da madrugada, levantei -me com o baque de umobjeto junto do travesseiro e fora do mosquiteiro.Olhei em torno e vi seixos escuros, da largur a de dois -centímetros finais ou menos . Levantei -me, tomei avela e, permanecendo na expectativa, certifiquei-me deque aa pedras caiam do teto, descrevendo umaparábola para atingir as proximidades do travesseiro .

Fui ao outro quarto despertar o jovem m alaio queme servia, ordenando-lhe que saísse a investigar fora o

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que ocorria. E enquanto ele cumpria a ordem,procurava auxiliai-lo projetando na folhagemcircundante a lâmpada elétrica. Quando o rapaz voltou,coloquei-o de sentinela na cozinha e, para me lhorobservar as pedras cadentes, pus -me de joelhos pertodo travesseiro, tentando fixar -lhes a trajetória. Intuitobaldado, afinal, porque elas cabriolavam no ar , sempreque tentava agarrar Trepei então numa cerca e,examinando a cumieira, certificou -me de que as pedrassaíam da camada de folhas de kadjang, que, nadaobstante, não apresentava buraco algum. Lá de alto,procurei nova e inutilmente agarrar- as pedras. Quandodesci, o rapaz disse-me que nada havia na cozinha. Euestava convencido de que havia por ali escondidoalgum birbante, atrevido e de mau gosto . Tomei daespingarda e fiz cinco disparos para fora. Resultado: aspedras passaram a cair com mais fúria e inten sidade.Contudo, sempre logrei despertar inteiramente o rapaz,que, antes dos tiros, permanecia apático, modorrado.Agora, vendo cair às pedras, ei-lo a gritar que era odemônio, a fugir pela jungle, na escuridão da noite.Desde que ele desapareceu, o fenômeno cessou.Escusado dizer que não voltou e perdi o empregado.

As pedras não apresentavam nada de particular, anão ser que, tocando-as, sentia-se-lhes maior quenturaque a natural. Quando amanheceu, lá estavam elas noassoalho e vi que também os cinco cartuchosdeflagrados jaziam em baixo da janela. Procurei ainda

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uma vez examinar a cumieira, no local de ondepartiam as pedras, mas não descobri o mais leveindício de rombo na camada de folhas.

Durante o pouco tempo do fenômeno, haviamcaído mais de vinte pedras. Recolhi algumas econservo-as até hoje. A principio, supus tratar -se depedras meteóricas, de vez que vinham aquecidas; mas,como explicar a penetração pelo teto sem o perfurar?

Em conclusão: o pior para mim, de toda essaaventura, foi, com a fuga do rapaz, ter de preparar ómeu almoço e renunciar ao café e as torradinhashabituais.

Respondendo a perguntas nossas, o ConselhoDiretor da Sociedade Psíquica acrescentou algunsesclarecimentos, entre os quais destacamos osseguintes:

Eu e o rapaz éramos as únicas pessoas que estavamna cabana completamente mergulhada no juncai .

Do ponto de vista da fraude o rapaz é insuspeitável,pois ele dormia junto da porta e, quando procurav adespertá-lo; duas pedras caíram sucessivamente e eu asvi e ouvi cair, pois a porta estava aberta.

As pedras caiam com vagareza notável, de modoque, no caso mesmo de fraude, restaria algo demisterioso a explicar. Dir-se-ia que elas demoravamno ar, descrevendo uma curva parabólica.e batendocom força no chão. O próprio ruído que faziam era

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anormal, porque muito forte, em relação à lenteza tiaqueda.

Disse que o rapaz me parecera apático até omomento que os tiros o espertaram, porque assim odemonstravam os seus movimentos incertos e tardos.Assim foi que se ergueu, entrou no juncai e de láregressou, sempre vagaroso. Essa vagareza mecausava a mesma impressão que a das pedras cadentes.

Estes os pontos essenciais dos relatórios do SenhorGrottendieck .

De outra feita, na Sicília, em Junho de 1910 e àplena luz meridiana., o Senhor Paulo Palmisano, que atestemunhou, assinala a queda lenta de pedras semcausarem qualquer dano, e que uma de entre elas, nolocal em que se sentara uma jovem camponesa surda -muda, destacou-se do muro e, descrevendo lentamenteum semicirculo, foi pousar na. mão de um amigo.Entreolhamo-nos aturdidos - escreve ele - mas asaraivada continuou.

A propósito de projeteis partindo de pontos ondenão há qualquer orifício, bem como de sua temperaturaanormal, devemos notar que, nã o obstanteincompreensíveis, estes fatos se repetem nasmanifestações turbulentas.

Não podemos recusar essas constata ções. Notemosnestes três casos de Cherchell, Suma tra e Sicília, apresença. de uma jovem criatura humana,inconsciente. Procurando as causas desses misteriosos

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eventos, não lobrigamos qualquer indício deintervenção de pessoas falecidas ; e contudo aí es tão,certamente, vestígios de intencionalidade, diretivas,inteligência. Tratar-se-á de seres invisíveis diferentesdos humanos ? Esta hipótese afigura -se-medesnecessária. Uma vez admitida à sobrevivência, élógico que haja milhões de Espíritos medianos, ouinferiores, capazes de se divertirem dessa ma neira.Divertir-se! A palavra poderá parecer estranha; noentanto, casa-se admiravelmente com as observaçõesem sua opulenta variedade, e com a complexidade dosmovimentos inexplicados.

Em Fevereiro de 1913 recebi vários jornais belgas,entre os quais Le Sincériste, de Anvers, L'Etoile Belge,de Bruxelas, La Fraternité, Le Siècle XX.e, etc.,relatando por diversas formas os fenômenos de umacasa mal-assombrada, em Marcinelle. A melhordescrição é a dos Annales des Sciences Psychiques, de1913, página 152. Reproduzamo-la aqui:

Toda a imprensa do país registrou os fatosextraordinários de apedrejamento, ocorridos emMarcinelli, perto de Charleroy, de uma casa da ruaCesar-de-Paepe, ocupada pelo Sr . Van Zantem .

Começadas na quinta-feira, 30 de Janeiro, as ditasmanifestações cessaram no domingo, durando assimquatro dias apenas. Tiveram, contudo, a virtude demovimentar a polícia e a gendarmeria locais, chegandoa determinar o arrancamento do respectivo assoalho,

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sem resultado. Por nossa vez, lá estivemos no dia 5 deFevereiro . A casa em apreço é a última de uma sériede construções idênticas. Ao lado, faceando a rua,existe grande e umbroso jardim, que se estende até à,esquina da primeira rua transversal e conf ina,igualmente, pelos fundos, com os muros e cercas dolance de casas em cuja extremidade fica a do SenhorZantem.

Pouco depois de lã chega tivemos ensejo deconversar com um agente da policia, que tomara parteativa na diligencias. O que mais o haviaimpressionado, nas circunstâncias que lhe competiaobservar, era a precisão com que os projeteis atingiamo ponto de antemão visado pelo operador.

Vi - disse-me ele - uma pedra bater no centro degrande vidraça e, a seguir, uma série de outras bateremem espiral, em volta da primeira mossa, de modo aquebrar metodicamente toda a vidraça. Chegueimesmo a ver, noutra janela, um primeiro projétil retidopelos fragmentos do vidro no orifício aberto e logoatingido e deslocado por outro, com absoluta precisão.Pelo que observamos, as pedras só podiam provir deuma casa situada do lado oposto ao quadrilátero, a 150metros do alvo, mais ou menos. Para lograr tal retidãode pontaria, fora preciso que o atirador dispusesse decatapulta assaz possante e perfeitamente reg ulada.

Isto - objetei-lhe -, não resolve o problema, vistoque os projeteis lançados diferiam, como acaba de

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dizer, em forma, peso, tamanho. Cada projétil deveria,portanto, seguir trajetória muito variável, dada adesigualdade dos efeitos da resistência do ar. Aodemais, o vento devia também influir grandementepara desviar as pedras, ora de um, ora de outro lado, desorte a podermos afirmar que uma pontaria assimprecisa, com projeteis tão variados, ultrapassa aspossibilidades humanas .

Instante depois, pôde entreter-me com o SenhorVan Zantem, que, muito complacentemente, se prestoua mostrar-me a casa, os danos sofridos, os projeteisguardados, respondendo com toda a minúcia àsperguntas que entendi de fazer -lhe. Antes de tudo,referi-me à conversa que tivera com o agente dapolicia. A primeira assertiva é absolutamente verídica- respondeu-me - a primeira pedra bateu precisamenteno centro da vidraça, e as que lhe sobrevieram vinhamformar uma espiral em volta do primeiro orifício.

O que mais nos surpreendeu, porém, é que nemuma das 300 pedras arremessadas atingiu quem querque fosse. No primeiro dia, meu criadinho encontrava -se no jardim; minha filhinha dormia no 1 ° andar e oberço estavam perto da janela aberta. Nem um nemoutra foram molestados. E' v erdade que a criadarecebeu na cabeça um pedaço de tijolo; mas foi coisaleve, que não chegou a contundi-la. Meu avô, tacadono braço, exclamou : Olhem que nem dei por ela

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Este - objetei -, pelo, que dizem as teorias, é umdos sinais que melhor distinguem os projeteis deassombramento, dos oriundos de intervenção humana;e como a criada aparecesse na ocasião, tratei deinterrogá-lo também. Sabida a freqüência com que sedeparam, nas casas mal-assombradas, pessoas do sexofeminino chegadas à puberdade, a ra pariga pareceu-menão ter mais de 15 anos e dir -se-ia que os fenômenostinham qualquer ligação com ela, visto que as pedrasai caiam depois que ela acordava e deixava o leito.Mostrou-me na cabeça o ponto atingido, dizendotrazê-la completamente descoberta , no momento.Doeu-Ihe muito? - Oh! sim, tanto que chorei tudo odia. Mas a verdade é que não sangrou, nemencalombou, pois não ? - Sim, nada disso . O projétilpoderia ter a quarta parte de um tijolo, e não parecenatural que o efeito fosse assim tão brando, vindo detão longe e, ao demais, em linha vertical.

Uma vez requerido o inquérito, a policia deMarcinelli, depois de observar a direção aproximadados projeteis, deu uma batida em regra nas quatrocasas vagamente suspeitadas como sendo o campoentrincheirado do suposto inimigo. Nada foiencontrado e os inquilinos das ditas casas não estavammenos estupefatos que o próprio Senhor Jacob VanZantem .

Este o depoimento do jornalista de Antuérpia. ComBozzano, que também registrou o caso, notemos

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preliminarmente que, basta considerar a quantidade deprojeteis arremessados, para concluirmos pela origemsupranormal dos fenômenos, tendo em vista que umoperador humano, até que pudesse atirar trezentaspedras, ter-se-ia deixado apanhar em flagrante pelosgendarmes

Por outro lado, há notar que, quando os projeteisatingiam alguém, não contundiam, ou contundiamquase nada, em comparação com os estragos quecausavam nos objetos, proporcionais ao seu peso evolume. Isto é coisa sabida há setecentos anos, com obispo Guilherme d'Auvergne (v. pág. 352).

Esta curiosa particularidade constitui regra nasmanifestações de poltergeist e nas induz a admitir umaintencionalidade e volição ocultas nestasmanifestações.

Estes atos intencionais ainda sugerem outraobservação, ligada ao caso de Sumatra, a propósito dealguns exemplos de projeteis que desenvolvem marchalenta em relação com a respectiva parábola. Fenômenoteoricamente interessante, mas muito raro, de projeteisinofensivos às pessoas, mas sumamente danosos aportas, janelas, móveis, etc .

Idênticas observações têm-se registrado um poucopor toda à parte. O professor Perty, da Universidade deBerne, publicou um opúsculo, em 1863, referente àcasa mal-assombrada, do Conselheiro Joller deNiederdorf, Cantão de Unterwalden .

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Eis aqui um resumo:De 15 a 27 de Agosto de 1863, cadeiras e mesas

misteriosamente tombadas, pancadas nas portas,janelas e no assoalho; portas que se abriam e fechavamautomaticamente e, por fim, um barulho infernal, osferrolhos a saltarem. Parec ia que a casa sedesmoronava, Para as pessoas que estavam no interior,as pancadas provinham do porão; e para os queobservavam no porão, era como se proviessem debaixo e de cima ao mesmo tempo.Concomitantemente, marteladas nos móveis e nascadeiras. A despeito das buscas mais rigorosas, não foipossível lobrigar uma causa justificável, o que nãoimpediu o jornal Der Eidgenoss, de Lucerne, publicar,dias depois, que tudo ficara explicado com provaspalpabilíssimas : - nada menos que o achado dosinstrumentos utilizados no fenômeno, com o intuito deforçar a venda do imóvel .

No Bund de 4 de Setembro, o Conselheiro Jollerrefutou essas afirmativas destituídas de qualquerfundamento, declarando categoricamente que oinsólito fenômeno, a despeito do inquérito oficial e dasprovidências tomadas, não ficou racionalmenteesclarecido. O distúrbio prosseguiu num círculo muitorestrito, até o dia 27 de Agosto, quando cessou poralgum tempo. Fácil de imaginar o que foram, para umafamília numerosa, aqueles d ias de terror indizível, quenão deixaram de acarretar os maiores dissabores.

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Enquanto os cépticos pretendiam dar umaexplicação mecânica, os devotos nada mais viam queartimanhas do demônio. Enorme a repercussão daimprensa a falar, como sempre acontece, de ilusões,crendice e conceitos. Em Allgemeine Zeitung, de 28de Setembro, um correspondente de Berne assegurouque o X do problema fora encontrado, isto é, que opromotor de tudo era um rapaz de 18 anos, filho doconselheiro. O rapaz teria aprendido com algunsciganos toda a espécie de truques e estaria procurandoexercitá-los, aterrorizando os pais e divertindo -se. Aomeu pedido de informações, o Senhor Joller escreveu-me em 2 de Outubro o seguinte: Respondendo à vossahonrosa carta de 30 de Setembro, cumpre -me, antes detudo, declarar que os fenômenos continuam, emborasem a violência tumultuosa do seu início, e que tudo oque o respeito há sido publicado nada contém deverdadeiro.

Depois de lamentar que a comissão de sindicânciativesse redigido o processo-verbal sem ouvirnumerosas pessoas idôneas, que presenciaram os fatos,o Senhor Joller acrescenta:

Exposto por um lado ao fogo cruzado da populaçãogrosseira e fanática, e por outro ao da imprensaincrédula, caluniosa e mordaz, fiquei, com minhafamília, entregue ao meu infortúnio e ainda agora, como abalo de saúde da mulher e dos filhos, me vejoobrigado a mudar de domicílio. Procurei, a princípio,

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guardar segredo do que se passava, mas o distúrbio foitão grande que não pude escondê -lo por mais tempo .Os fenômenos que, de bom ou mal grado, fui obrigadoa reconhecer, verificaram-se à plena luz meridiana,durante seis semanas, e apresentam modalidadesdiversas.

A princípio ouviram-se pancadas nas paredes, noassoalho e sobretudo nas portas. Às vezes, as pancadaseram tão violentas que as portas se abriam e fechavamarrebentando os respectivos trincos. Esses choquesdiminuíram depois, transformando -se em levestrepidações. Mesas, cadeiras, vasos eram derrubados,ora com estrépito, ora sutilmente; quadros arrancad osdas paredes, jarras retiradas das mesas e das cômodase depois atiradas ao chão; grande número de objetosforam caprichosamente pendurados nos pregos e,finalmente, quadros que, à nossa vista, voltavam à facepara a parede . Pedras, frutas, roupas, etc . , chegavamde todos os lados e dos recantos mais esconsos efechados. Muitas pedras caíram no fogão. Nada.quebrado, nada estragado e - nota curiosa - as pedrasprovindas da cozinha, atingindo meus filhos, lhesdavam apenas sensação de leve contacto.

Também tivemos o contacto de mãos e dedosgelados, e sentimos uma corrente de ar frio, como queproduzida por afiar de asas e sentida por todos osdomésticos. Outras vezes, imitavam com habilidadenotável o ruído de um relógio a que dessem corda; de

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madeira que se lasca, tinir de moedas, atritosestranhos, cantos e vozes articuladas como por órgãohumano. Em geral, esses ruídos, por vezes muitofortes, tinham relação com o trabalho e asconversações caseiras. Ante ontem à noite, por voltade 8 horas, uma pedra rociada de orvalho foi cair noalto da escada, quase em frente da porta do quarto. Hásete semanas, se alguém me falasse nestas coisas, ver -me-ia sorrir e dar de ombros; hoje, porém, me sinto naobrigação de as afirmar com todas as veras de minhaalma.

O professor Perty acrescenta: O SenhorConselheiro Joller, geralmente considerado umhomem leal, esclarecido, veraz, há de consolar-se como desgosto e a inquietação que lhe acarretaram estesfenômenos misteriosos, considerando que elescontribuem para ampliar nossos horizontes espirituais,abrindo perspectivas novas a uma nova ordem decoisas, e que os falsos juízos a ele irrogados sãoapenas o fruto da ignorância.

Poderíamos pensar com Perty e Bozzano, que ocomenta, repetindo o que acima dissemos, isto é, queestas manifestações banais, vulgares, materiais,análogas a tantas outras constatadas nesta obra, sãoproduzidas por via de menor resistência (como osfenômenos do raio) e podem ser dirigidas porInteligências invisíveis no intuito de impressionar astestemunhas, despertando-as da sua indiferença e

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convidando-as a meditar a possibilidade dasobrevivência da alma, com todas as suasconseqüências morais e sociais. Se admitirmos essainterpretação, admitiremos ipso facto que nobilíssimosfins são colimados por meios assaz modestos, o que seadapta à natureza comumente vulgar do homem, pois épreciso confessar que a maior parte das criaturas nãoconhecem mais que a vida material, indiferentes aquaisquer argumentos filosóficos ou psicológicos,apenas suscetível de serem tocadas pelo fato brutal.Assim que, um soco violento nas costas as impressionamuito mais que uma dissertação de Buda, Platão ouJesus-Cristo. Constatemos agora, de conjunto, que osfenômenos de assombramento, de poltergeist ouEspíritos batedores, independentes e não associados apessoas falecidas, são muito menus numerosos que osdenotantes de qualquer associação, tal como aestudada no capítulo precedente. Todavia, osrelatórios, que ora tenho à minha mesa, dariam umastrinta páginas.

Que haja intervenção de Inteligências invisíveis nasmanifestações de poltergeist, é incontestável. Projeteisque atingem alvos escolhidos, amortecem por nã o feriros espectadores, descrevem trajetórias caprichosas,surgem sem sabermos donde, atravessam fendasestreitas como se lhes fossem ajustados, penetramambientes hermeticamente fechados. Atos são estespertinentes a um mundo supranormal.

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Atribuir esses atos raciocinados a faculdadesbizarras do subconsciente, parece -me hipótesedificilmente sustentável.

Temos advertido que a vulgaridade e banalidadedas manifestações podem explicar -se pelo simplesintuito de atrair atenção, e pela facilidade de operarsegundo a lei de menor resistência. Também podehaver nisso ação de Espíritos vulgares, tal como se dáem nosso mundo . Porque não haveria do outro, comodeste lado da barreira, brincalhões de mau gosto e atémaldosos e imbecis?

Laboriosa estatística, elaborada por Bozzano,oferece-nos o seguinte resultado:

Sobre 532 casos comparados, há 374 da categoriados produzidos por defuntos e 158 concernentes abatedores anônimos, ou poltergeist. Assim, temos umaproporção de 28%. Se examinarmos separadamente ascategorias, verificaremos que, na dos poltergeist, há 46apedrejamentos, 7 incêndios e 7 casos de audição devozes humanas desconhecidas, bem como 39 decampainhadas espontâneas. Nos fenômenos deassombramento propriamente ditos, sobre 374 de 572casos, ou seja 72% a coincidirem com adventos demorte - quase sempre trágicos - ocorridos nos próprioslocais ou sítios mal-assombrados. Estes 374 casospodem ser divididos em vários grupos muito distintose muito sugestivos. Assim, por exemplo, em umprimeiro grupo de 180 casos - baseados em

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informações quase sempre seguras - a origem doassombramento teria coincidido co m um sucessotrágico . Noutro grupo de 27, a falta de documentaçãoteria sido compensada pela descoberta de cadávereshumanos, enterrados ou emparedados no local, aindiciarem cruentos dramas ignorados. Em 51 casos deum terceiro grupo, notam-se falecimentos associadosao local e no quarto grupo constante de 26 casos, omanifestante teria falecido há muito tempo, e alhures.

Em 304 de 374 casos vê-se, portanto, um óbitocoincidente. Restariam, pois, 70 casos nos quais falhoua coincidência ou - para ser mais exato - não foipossível descobri-la. Essa grande maioria de casoscom a procedência de marte, parece suficiente paralegitimar a hipótese de um elo entre as causas das duasordens de fatos.

A conclusão de quanto se tem desdobrado à nossavista é que estes fatos, extraordinários e inexplicáveis,são reais, apesar das dificuldades de observação e dasilusões especiais, inevitavelmente ligadas ao seuestudo. Certos são eles, como a existência do Sol e daLua. Verdade, também, que são mais fáceis deconstatar que de explicar. Contudo, importa -nosconsagrar um último capítulo a essa explicação. Antes,porém, detenhamo-nos um instante nos casosclandestinos.

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CAPITUTO XIIOS CASOS CLANDESTINOS

São tão numerosos quanto os legítimos. E assunto,este, que se presta grandemente à superstição, àtrapaça, a farsas e ilusões, tanto quanto a alucinações,devaneios histéricos, fantasias infantis, etc. Tive apachorra de examinar centenas de relatórios, entre elesos de há muito discutidos pelas Sociedades psíquicasda Inglaterra, Norte-América, França, Itália; assimcomo por diversas publicações nacionais eestrangeiras. Esses vários relatórios representamvolume tão considerável que me parece perfeitamenteinútil dar-lhes publicidade especial. Perdi com elesmuito tempo e quero poupar esse prejuízo aos meusleitores . Aqueles que quiserem inteirar -se melhor doassunto, não têm mais que folhear a coleção deAnnales des Sciences Psychiques e de Proceedings ofthe Society for Psychical Research, de Londres e deNova York, assim como `'Lute e Umbra, de Roma,periódicos todos fartamente documentados.

Os fatos e atos de perto ou de longe associados aoEspiritismo, estão particularmente sujeitos a ilusões, afalsas interpretações e, sobretudo, a mistificações dosembusteiros. Em que pese à infâmia dos falsosmédiuns, que especulam cinicamente com a dor alheia,

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com a mágoa de criaturas enlutadas e ávidas deconsolo, são eles, ainda assim, numerosos e nuncaseria demasiada a suspeição a tal respeito . Por mim,desmascarei mais de um, em condições tais quehouveram de ser expulsos dos locais de suas façanhas,inescrupulosas quão grosseiras. Há. também pessoasdotadas de reais faculdades psíquicas e que, noentanto, não vacilam em fazer o seu jogo, quando asditas faculdades lhes falham. Os homens estudiosos,que não têm tempo a perder, houve bastas vezes delamentar essa falta de critério. Entre outras por mimpublicadas em As Forças Naturais Desconhecidas, háuma carta do eminente astrônomo Schiaparelli, queilustra o assunto e nós compreendemos perfeitamenteque, apesar do desejo de se instruírem, os sábios emtais emergências desanimem, com, grande prejuízopara a Ciência. Os homens dotados de espíritocientífico são naturalmente francos, sinceros, nãocompreendem a mentira .

Para nós, o mais importante em nossas experiênciasé descobrir a causa ou causas das realidadesobservadas. Constatação irrecusável: as casas mal -assombradas são de todos os tempos e paises.

CAPITULO XIIIINVESTIGAÇÃO DAS CAUSAS

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Origem e modo de produção dos fenômenos. Oquinto elemento.

Cecí est un Livre de bonne foi. MONTAIGNE.

Felix qui potuit rerum connoscere causas! !! Feliz oque pode conhecer as causas, proclamava Virgílio hádois mil anos, em suas Geórgicas admiráveis (II, 489),assinalando a ventura daqueles cuja inteligênciarobusta penetra os segredos da Natureza e se elevaacima das vulgaridades. Chegaremos a atingir essaventura com a documentação reunida nesta obra?Nessa documentação livre, independente de qualquerprejuízo, meus leitores sabem que não tive intuitooutro que o de instruir-me a mim mesmo e apresentar -lhes o resultado das minhas investigações. Permitam,pois, lembrar-lhes que o meu estudo pessoal sobremundo oculto começou em Novembro de 1861, deparceria com Allan Kardec, fundador do modernoEspiritismo, e, incontestavelmente, o homem maisdocumentado há esse tempo. Dele para cá, até opresente (1923), tenho tido ocasião de conhecer, maisou menos, os trabalhos realizados sobre o assunto, emtodas as partes do mundo. Confess o, portanto, que

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muito me surpreendo, quando vejo esses fenômenosnegados por homens que parecem inteligentes,instruídos e ponderados.

Como já disse, é, em geral, de muito bom tomprofessar um cepticismo absoluto sobre os fatos queconstituem esta obra.

Para três quartas partes da gente deste nossoplaneta, todos os ruídos inexplicados das casas mal -assombradas; todos os deslocamentos de corpos semcontacto; todos os movimentos de mesas, móveis equaisquer objetos, verificados nas experiências ditasespíritas; todas as comunicações tiptológicas ou deescrita inconsciente; todas as aparições totais ouparciais de formas fantasmáticas são ilusões,alucinações, ou farsas. Não há que procurar outraexplicação qualquer. A única opinião razoável é quetudo isso não passa de erros e que todos os médiuns,sejam ou não profissionais, não passam de impostores.Finalmente: não há fenômenos e as testemunhas queos certificam são uns imbecis.

Certo, o assunto é complexo e o problema aresolver é de equação para muitos de sconhecida. Masa Ciência resolveu muitos outros problemas, a partirdas equações de primeiro grau, até às funçõestranscendentes do cálculo integral. Aqui, antes detudo, há dois elementos a defrontar: faculdadeshumanas a analisar, a determinar, e um ele mentopsíquico invisível, exterior a nós.

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Em As Forças Naturais Desconhecidas (ediçãodefinitiva de 1906, pág. 591) pode ler -se o seguinte:

Em matéria de Espiritismo o campo está.franqueado a todas as hipóteses explicativas. Nota-seque as comunicações ditadas pelas mesas estão emrelação com o estado da alma, as idéia, opiniões,crenças, conhecimentos, etc., dos própriosexperimentadores. Será., então, um como reflexo desseconjunto.

Prejulgando o que está por demonstrar, a palavramédium é inteiramente descabida, considerando apessoa dotada dessas faculdades como intermediariados Espíritos e dos homens. Ora, admitindo que assimseja, algumas vezes, o certo é que nem sempre o é. Arotação de mesas, o seu levantamento, o desvio de ummóvel, o agitar de cortinas, a audição de rumores, sãocausados por força emanante daquela pessoa, ou doconjunto dos assistentes. Nós não podemos, a rigor,dizer que haja sempre um Espírito em tudo isso, parasatisfazer as nossas fantasias. E a hipótese é tantomenos necessária, quanto os pretensos Espíritos nadanos ensinam.

A maior parte das vezes o que atua, certamente, é anossa força psíquica. A pessoa que exerce a principalinfluência, nessas manifestações, deveria chamar -semais propriamente dinamogeno, pois que engendraforça: Este, parece-me, o vocábulo mais apropriado, de

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vez que exprime o constatado em todas asobservações.

Aí estavam os convites ao método científico.Nossos estudos sobre estes assuntos exigemcircunspeção excepcional. Já em 1869, no discurso pormim pronunciado no enterro de Allan Kardec, advertique o Espiritismo não deve ser considerado comoreligião e, sim, como ciência a estudar; que as causasem ação diversificam-se e avultam, mais do que sesupõe.

Nós não conhecemos todas as faculdades humanas. A legenda do templo de Delfos - Conheceste a timesmo -- não perdeu os foros de atualidade. Nossospróprios poderes concorrem em parte, certamente, paraa produção dos fenômenos aqui estudados. Escravofiel do método experimental, penso que devemosexaminar todas as hipóteses naturais antes de recorrera outras quaisquer.

Quando, em O Desconhecido, ensaiei uma primeiraclassificação metódica destas observações tãovariadas, comecei pelas transmiss ões telepáticas,melhormente provar, e pelas manifestações demoribundos e de pessoas viventes, suscetíveis deverificações testemunhais fidedignas, merecedoras detoda a confiança.

Sempre me pareceu que toda a prudência era poucana interpretação dos fatos, sobretudo quando se tratade estabelecer cientificamente as provas da

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sobrevivência da alma, pois nossa impressão é a deestar à alma intimamente ligada ao cérebro, à suaevolução e finalidade. Trata-se de provar o erro dessaaparência. Certos fenômenos ocorridos no momento damorte sucederiam, ou precederiam e sse momento?

A princípio supus, naturalmente, que o fenômenosse possibilitassem pela força psíquica do vivente,admitindo que este exame poderia levar -nos à prova daação post mortem. Houve quem me censurasse estaprudência. O Senhor A. Erny escreveu em Annales desSciences Psychiques, de 1900, pág. 22, o seguinte:

Erro completo é o do Sr, Flammarion, acreditandoserem os moribundos e não os mortos, que podemmanifestar-se. Um morto pode manifestar -se de modomais ou menos objetivo, porque está desprendido e oseu corpo psíquico pode operar momentaneamente,transportando-se a distâncias enormes, tal como ofluido elétrico. De resto, é quase sempre a parentes eamigos que o morto se manifesta, atraído pela afeiçãojá existente na Terra. Quanto aos moribundos , não lhesé possível manifestarem-se, pela excelente razão daluta de todos os elementos psíquicos no momento damorte, a fim de se desembaraçarem do corpo físico.Não será, pois, no meio dessa crise suprema, que omoribundo haja de manifestar-se, seja como for . Omoribundo está numa espécie de estado comatoso, noqual parece sofrer muito; mas, na realidade, éinsensibilizado pela crise e pelo tempo de sua duração.

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Lembro-me de que, quando meu pai agonizava eparecia sofrer extremamente, disse-lhe o seguinte: -Dir-se-ia que estás sofrendo muito; mas se assim. nãoé, aperta-me a mão. Impossibilitado de falar, eleapertou-me levemente a chão. Aí, temos a provaevidente, palpável, de que ele não sofria, seu estadonão seria penoso. Meu pai acreditava firmeme nte naimortalidade da alma e, depois de expir ar, seu rosto,contraído pela moléstia, tomou uma expressão deserenidade e majestade que muito nos impressionou, amim e minha mãe .

Eu jamais disse nem pensei que os mortos nãopodiam manifestar-se: apenas aventei uma hipótese deanálise teórica. Ao invés, acredito que essamanifestação está hoje provada pelos fatos observadose devemos admiti-la, mas, com a condição de nãoincidirmos em malha de erros ou de ilusões. O SenhorErny interpretava então (1900) a minha obra - ODesconhecido, que acabava de ser publicada e versaprincipalmente a telepatia e manifestação dosmoribundos . Era por aí que devia começar minhaobra. Ele cita os casos por mim publicados, do GeneralParmentier, Renato Kraemer, Senhora Feret, ClóvisHugues, Barão Deslandes, Baronesa Staffe, e concluique estou em erro atribuindo esses fenômenos amoribundos, ou a alucinações, enquanto que, a seu ver,eles foram certamente produzidos por mortos.

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Desejaria crê-lo, tanto quanto o meu contraditor ; mas,em matéria de provas, sou mais difícil de contentar.

O método científico é inexorável. E a verdade éque navego muitas vezes entre dois escolhos, isto é,entre os negadores que tudo negam e os crentes quetudo aceitam. Não será lícito perguntar se a caso nãoestaremos ambos errados, que estes fenômenos sejamproduzidos, não por mortos nem moribundos, mas porfaculdades humanas ainda desconhecidas? E' umapergunta muito natural. O fato constante danecessidade de um médium para que se produzamfenômenos espiritóides, não é indício paranegligenciar. Como a pouco recordei, dinamogeno eracomo denominava os médiuns. Porquê? Porque ohomem não se conhece a si mesmo. Os estudoscomparativos de Aksakof demonstraram que mais deum fenômeno de assombramento po de levar-se a contade ação, a distância, produzida por força psíquica depessoas vivas. Em muitos casos, é fato inteiramenteprovável. Kerner nos conta do poeta Lénan, oseguinte:

Vou citar um fato que prova quanto seu corpoetéreo estava pouco ligado ao corpo físico. Um dia emque jantávamos juntos e quando, à sobremesa, maisviva era a palestra, ele calou-se de súbito, empalideceumuito e ficou imóvel na cadeira. Entretanto, no quartovizinho, onde ninguém se encontrava, ouvimosentrechocar de copos e ruídos outros, como se alguém

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lá estivesse. Chamamo-lo pelo nome, interrogamo-lo -que é isso ? Ele despertou como de um sonomagnético, e quando lhe contamos o sucedido,replicou: Isso me acontece muitas vezes e tenho aimpressão de achar-me fora do corpo .

Sem nos ocuparmos no momento com a teoria docorpo etéreo, constatamos somente que o ser humano édotado de faculdades ainda desconhecidas. Em suastão engenhosas investigações sobre os fenômenosfísicos atribuídos por sua mulher, excelente médium, àprópria mãe já falecida, o Dr. W. de Sermyn concluicom estas curiosas anotações:

Como os ruídos continuassem a repetir -se detempos a tempos, aproveitei uma noite em quedespertei com rumor de passos e de móveis derrubadosenquanto Gisela dormia, em sono hipn ótico. Repetiu-me então, depois de muito hesitar, o que já me haviadito quando personificava sua mãe. Ordenei -lhe selembrasse no dia seguinte, ao despertar, de tudo o queacabava de me dizer, ou fosse, mandar dizer umamissa pela alma sofredora e pedir -lhe que noslibertasse da sua presença. Ignoro se Gisela mandoucelebrar tal missa, mas o fato é que os distúrbios nãomais se reproduziram. Os ruídos atribuídos por Giselaao Espírito de um morto eram, evidentemente,produzidos por ela mesma. Em todas as c asas mal-assombradas há um médium. A nossa o era, comcerteza. Muitas vezes as cobertas da cama eram

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arrebatadas, mãos invisíveis me apalpavam por cimadas cobertas. Certa feita, despertei e, assentado nacama, senti forte aperto de mão. Por vezes, ouviadistintamente subirem a escada e chegarem até à portado quarto, procurando abri -la. Os móveis pareciamdeslocar-se e tombar, mas tudo não passava de sonsimitativos, aliás perfeitíssimos. Suponho que asubconsciência de Gisela era levada pelo desejo de meconverter ao Espiritismo. Ela sofria com a minhaincredulidade e valia-se, para conseguir seus fins,daquele: meio absurdo, haurido nas crenças populares.

Mal grado ao qualificativo de dinamogeno outroradado aos médiuns, penso que também não podemosser tão exclusivistas. As faculdades desconhecidas, doser humano, cooperam mas não bastam, por si sós,para explicar umas tantas manifestações póstumas.Nada obstante, não as percamos de vista. O SenhorErny me antepôs entre outras, em prol da certeza dasmanifestações de mortos, a seguinte observação(Annales, 1900, pág. 98)

Alfredo Ohagen assim me historiou um fenômenosucedido ao seu amigo H., materialista convicto, paraquem a morte era o fim de tudo. Essa convicção foiabalada com o que lhe sucedeu por morte do cunhado,¢ quem muito se afeiçoara e compartilhava das suasopiniões materialistas. O Senhor H. estava assentadoperto do leito em que jazia o cunhado, poucas horasdepois de falecido. A porta, entreaberta, não havia no

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quarto mais que uma vela acesa junto à mesma porta.Ele pousou a mão na fronte hirta do cadáver e disse emvoz alta: Poderás dizer-me se há ou não sobrevivênciaMal acabava a frase, a porta fechou -se e a vela seapagou. O Sr, H. levantou-se calmo e, nada crente deque se tratasse de qualquer fenômeno, reacendeu avela no pressuposto de que uma corrente de ar ahouvesse apagado e movido à porta. Entretanto, paramelhor certificar-se, foi buscar um pedaço de giz everificou que a porta não tinha de si mesma qualquertendência a fechar-se automaticamente, bem como nãocorria nenhum vento dos cômodos vizinhos, cujasportas e janelas estavam, aliás, fechadas. Colocou avela em frente à porta, repetidas vezes, e notou que achama não oscilava. Levou, então, a porta ao primitivolugar e traçou por ela uma linha no assoalho...Expectante, viu que a porta não mais se movia eexclamou: Alberto, se ë de fato um sinal que mequeres dar, fecha de novo a porta. E a porta bateu logo,como da primeira vez. Sua irmã, que repousava nosofá, na sala contígua, perguntou, agastada, porquehavia duas vezes fechado a porta com tamanhaviolência, ao que ele revidou perguntando, por sua vez,se nunca tinha visto aquela porta fechar por si mesma.- Que não, nunca, respondeu ela. No dia seguinte,ainda fez algumas experiências com a porta e ela nãomais se fechou automaticamente.

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De resto, a criada apagara, à sua vista, os traços degiz do assoalho, assim se comprovando que ele nãohavia sonhado, assim como o fato da i rmã haver-seperturbado duas vezes com o barulho da porta, provaque não houvera alucinação. Este caso, dos maiscaracterísticos, foi publicado na Light de 27 deFevereiro, de onde o traduzi. Convido o SenhorFlammarion a meditá-lo, pois, tratando-se deexperiência de um materialista, é nada menos quechocante.

Pois bem: direi que este caso, em ser notável, nãome parece absolutamente probante. Qual, de fato, aprova de que o experimentador não pudesseinconscientemente produzir o fenômeno? A ação dodefunto é, certo, muitíssimo provável. Mas... seráabsolutamente certa? Longe estou de recusar amanifestação dos mortos, antes, pelo contrário. Secomecei pela, de moribundos e dos vivos, é que mepareceu preciso abordar e provar primeiro estas, quenos levariam naturalmente a discutir aquelas, segundoa ordem metódica, que se impõe às afirmações desteteor. Não esqueçamos que, a bem da própria convicçãopessoal, devemos neutralizar, mediante observaçõespsíquicas positivas, a objeção capital do paralelismoentre o nascimento e o desenvolvimento dainteligência da criança e a evolução material do seucérebro.

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Não percamos de vista as faculdades fisiológicas epsicológicas do ser humano e seus possíveisdesdobramentos. Não há quem ignore a beladescoberta feita em Bordéus pelo Dr. Azam, dos doisestados mentais de Félida. Quando fixamos estesexemplos, adivinhamos a extensão inexplorada domundo psíquico e fisiológico e nos dispomos aatribuir-lhe um cociente importante na produção dosfenômenos aqui estudados. E tudo isso concorda como que demonstramos no 1.° tomo de A Morte e seuMistério, no concernente às faculdades humanasdesconhecidas. Estamos no vestíbulo doconhecimento, nada sabemos e repetimos com Millet,na bela obra que é Lendo Fabre : Nada sei, mas esperosaber.

No Congresso Internacional de Inves tigaçõesPsíquicas reunidas em Copenhague de 28 de Agosto a2 de Setembro de 1921, do qual possuímos excelenterelatório redigido por Carlos Vett, o Doutor SchrenckNotzing expôs, sob a epígrafe de Der Spuk inHopfgarten, uma constatação judiciária de fenô menosde telecinesia, cujo resumo, feito pelo sábio colegaSenhor Luís Maillard, foi publicado na RevistaPsíquica e demonstra quanto os casos deassombramento ainda se ressentem de incerteza. Eis oque ele diz:

Este caso oferece duplo interesse: em primei rolugar, sugere umas tantas hipóteses sobre as causas

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que se lhe possam atribuir, o que é geralmente raro, naespécie; e, em segundo, o haver sido objeto de uminquérito judicial, que lhe estabelece a autenticidadede forma indiscutível. Eis o fato:

Em Hopfgarten, perto de Weimar, mora umrelojoeiro chamado Sauerbrey, casado em segundasnúpcias e tendo um filho do primeiro matrimônio. Essefilho, residente em localidade próxima e dedicado aoestudo de ciências ocultas, fez uma visita ao pai, nodia 10 de Fevereiro de 1921, e encontrou a madrastade cama, em virtude da enfermidade crônica que de hámuito a amofinava. Tentou, então, tratá -la pelohipnotismo, ou, segundo depuseram as testemunhas,lhe teria apenas tomado o pulso e feito na fronteimposição de mãos, coisa que o inquérito não deixoubem apurado. A verdade, porém, é que, sempre que orapaz se afastava, a doente queixava-se de cefalalgia.No dia 17 de Fevereiro a doente piorou: tevealucinações, alegando ver constantemente o enteadocom os olhos pregados nela. À noite, por volta de 11horas, ouviram-se rumores no seu quarto, nas paredes,na mesa, nas portas, etc. Os rumores duraram todo oresto da noite, cessando pela manhã e nas noitesseguintes, para recomeçarem ao fim de alguns dias.Diversos objetos moviam-se sem contacto, uma taçacaiu ao chão, quebrando-se. Esses diferentesfenômenos ocorreram à plena luz da lâmpada elétrica,

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aumentando, porém, de intensidade, quando apagavama luz.

Os moradores da casa, impedidos de dormir,queixaram-se a policia de Weimar e, no dia 24 deFevereiro, comissário e agentes lá foram e tomaramposição, dispostos a desmascarar o presumido farsante.Entretanto, nas barbas mesmo da polícia, osfenômenos se desenrolaram e o comissário não pôdemais que os afirmar no seu relatório. Um agentecolocou vários objetos a 2 metros de distancia daenferma e os viu movimentarem-se, sem que alguémos tocasse. Outros, inclusive um enfermeiro e umvizinho, foram igualmente testemunhas do estranhoespetáculo. O cão doméstico, aliás m uito vivo,mostrava-se tímido, acabrunhado em todo o curso dosfenômenos.

Um relógio parado, se bem que Sauerbrey afirmeque não foi danificado. Finalmente, no dia 28, foichamado o médico alienista, que procurou tratar apaciente por sugestão, insinuando -lhe que ela dispunhade mais força que a de quantos a influenciavam. Essesesforços vingaram êxito, tendo a paciente exclamadoque estava liberta. A partir desse momento osfenômenos não mais se reproduziram. Em virtude dofeito, Sauerbrey filho foi denunc iado e processado porcrime de ferimentos e lesões devido à imprudência dosprocessos hipnóticos supostamente empregados.Chamado ao Juizado municipal de Vieselbach, lá

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compareceu aos 19 de Abril de 1921. Como aculpabilidade não estivesse suficientementeestabelecida, o réu foi absolvido. Mas, o processoverbal das audiências, relatando - bem entendido - odepoimento das testemunhas e as razões da sentença,estabeleceram, de modo peremptório, a materialidadedos fatos e a impossibilidade em que se encontra va aenferma de os produzir, de vez que a própria fraquezaa impedia de deixar o leito .

Parece que o estado hipnoidal da enferma era acondição necessária à eclosão dos fenômenos, de vezque acompanhavam esse estado e com ele cessavam. Eo autor do opúsculo, cujo resumo aqui fizemos,conclui que a hipótese animista explica perfeitamenteessas manifestações, que - acrescenta - nunca tiveram,em tempo algum, caráter religioso ou espiritóide .

Mas, apressa-se em declarar, esta explicação estálonge de atingir todas as manifestações desta natureza.Outras há que se verificam à revelia de influênciaspessoais, que se possam considerar como agentes,antes parecendo mais relacionadas com os lugares doque com determinadas pessoas, etc.

Se, pois, no presente caso podemos, até certoponto, atingir no seu âmago a produção modal dofenômeno, não há. que ter pressa em generalizar oconceito. Será mais exato reconhecer que a etiologiados assombramentos ainda está envolvida emprofundo mistério, salvo em circunstâncias especiais .

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Este arrazoado do Senhor Maillard é exato ejudicioso, concorde com as numerosas observaçõesexpostas nesta obra. O ser humano tem o seucoeficiente apreciável na produção dos fenômenos.Isso, porém, não explica os fenômenos. A verdade éque ignoramos como eles se produzem. Há,indubitavelmente, fantásticos lançamentos de pedras everdadeiras demolições de casas, cometidosinconscientemente por senhoras e donzelas histéricas,mercê da exteriorização de suas forças nervosas.Assinalarei ainda, como achega à investigação decausas, estupeficantes exemplo publicado em Annalesdes Sciences Psychiques (1899, páginas 302-309), fatoque mal podemos admitir e, todavia, verificado. E oseguinte:

Epigrafando: Unta jovem mal-assombrada em Ootyde 7 de Maio de 1897, conta que uma tal Floralinatinha ido, em companhia de uma amiga, visitar ocemitério católico e que três dias antes um suicida foralá enterrado,

De gênio folgazão e pouco escrupulosas, as duasjovens elegeram o cemitério como lugar de recreiopara aquela tarde. Arrastadas por sua í ndole travessa,ei-las a dançarem sobre as covas, a escavarem a terra,derrubando cruzes, etc. Ao voltarem para casa,adoeceram e deram a entender que estavam realmentepossessas do demônio.

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Ouçamos, porém, a história dessas malucashistéricas, que lembram as convulsionarias de S.Medard, os possessos de Loudun e outros espécimespsico-fisiológicos.

Mostravam-se agitadas, olhavam todo o mundocom rancor, tornaram-se tão outras que houveram deser fechadas num quarto, como medida de prudência.Rasgavam as vestes e, se acaso outras mulherestentavam acalmá-las, enfrentando-as, derrubavam-nascom a maior facilidade. Aos homens, porém,atendiam, fosse por julgá-los mais fortes, ou por outrarazão qualquer.

Os dias se escoaram e as bizarras criaturas,constantemente atormentadas, desgrenhavam,arrancavam os cabelos, por vezes inteiramentefuriosas. Uma, isto é, a Srta. Graça, casou-se (é o quede melhor poderia fazer) e deixou a casa.

Domingo à noite, 25 de Abril, tive o prazer de serapresentado a Srta. Floralina, que me pareceu já entãotranqüila. Mas contaram-me que, a partir do dia 20,entre 10 e 12 horas da noite, pedras e cacos de vidroeram atirados violentamente, de fora., se bem que aninguém ferissem. No dia 27, à no ite, lá estava às 7horas e ouvi o estrépito de grande e pesado vidrocaindo ao solo. Avançando alguns metros, ouvi baquescomo de pedras que alvejassem os quatro ângulos dacasa. Pouco depois, diversos vidros estilhavam -se noassoalho. Os moradores da cas a pediram socorro.

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Apressei-me a voltar a minha casa, em busca. de umamigo e de um guarda-policial no Posto vizinho,

Para lá voltamos todos e estupefatos encontramosvidros em migalhas, como pulverizados por grandespedras despedidas com grande força de p rojeção. Oque nos surpreendeu foi a quebra de vidros que nãopodiam ser atingidos por pedras vindas do exterior.Enquanto as pedras choviam, a Srta. FloralinaBurbalina nos disse que uma grande pedra havia caídodo teto roçando-lhe na cabeça. Fora isso ias 2, horas datarde, quando procurava pentear -se, frente ao toucador.Contou-nos mais que o bombardeio tinha começado aomeies dia. Certos de haver farsistas atrás de tudoaquilo, congregamos alguns guardas a mais e fomospostar-nos em volta da casa, escondidos em moitas efossos. Atalaiámos em vão, até 11 horas, visto que, portodo esse tempo, as pedras continuavam a cair dentrode casa.

No dia 28 de Abril, com uns tantos guardasdirigidos por dois chefes, lá voltamos às 7 horas danoite. Dessa feita vimos pedras atiradas as vidraças,bem como vidros a caírem por si mesmos, sem serematingidos, o que nos aumentou a curiosidade. Asenhorita acusava fadiga e mostrou desejo de recolher -se ao seu quarto. Enquanto para lá se dirigia, umapedra de tamanho regular partiu um vidro perto dela.Momentos depois, o irmão vinha informar -nos de queela perdera os sentidos. Efetivamente, fomos encontrá -

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la hirta, fria, sem respiração. Depois de muito trabalho,conseguimos chamá-la a si, mas ,dentro de poucosminutos, tornou a desmaiar, mais profundamente doque a primeira vez.

No dia 29, cerca de meio-dia, ouvimos ainda oestalar de vidraças, Ao correr da noite, lá voltamos eencontramos numerosos guardas prontos a fazer o quelhes determinassem, ou por outra, dispostos para tudo.Perguntamos à jovem como ia passando e elarespondeu: Eis as sombras da noite, que começam acair; tenho arrepios de frio em todo o corpo, os c abeloscomo que se eriçam, sinto-me acabrunhada...

Das 5 as 7 h. 30, caiu uma saraivada que reduziu acacos todos os caixilhos. Floralina, tomando umacadeira, as sentou-se a um canto da sala. Tinhareadquirido a natural jovialidade, mostrava -secomunicativa, calma, mas de repente agitou -se,agressiva e possante, a ponto de cinco homens malpodem contê-la . Particularidade digna de atenção éque, enquanto ela permaneceu inconsciente, nã o sequebrou um só vidro. Momento depois, levantou-se dacadeira com ímpeto tal que nos dominou a todos osque a segurávamos. Mantendo-se de pé, por pouco nãonos derrubava. Por fim, a muito custo, conseguimosque se reassentasse. Mas, fê -lo inteiriçada, rígida, canose o corpo lhe fosse um tronco de pau. Tornou logo alevantar-se e nos deu muito trabalho, pois queria sair.A força, reconduzimo-la ao quarto, enquanto dava

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ponta-pés a torto e a direito e manejando as mãos comtal destreza que muitos receavam aproximar -se.

Minutos depois de estar na cama, desabou umgrande espelho, quase pulverizado. O quarto, diga -se,ficava bem no interior da casa. Os guardas lembraram -se, então, de chamar um tal Malayali que tinha o poderde expelir demônios. Enquanto esperávamos ohomem, procurando impedir que Floralina selevantasse, seu livro de preces, que estava na gaveta dacômoda do quarto próximo, veio, voando através dasbandeiras quebradas pouco antes, cair-lhe na mãodireita. A surpresa foi geral. Floralina sossegou uminstante e logo depois insistiu em sair. Perguntei -lhe:porquê? - e a resposta foi esta coisa extravagante: duasmulheres sem cabeça. Agitadíssima, tentava fugir. Foipreciso, ainda uma vez, empregarmos a força. Disseainda: preciso ir ao cemitério . . . Para quê ? -perguntou-lhe o meu amigo . Para ver a Grace... - acompanheira das traquinadas, que se havia casado.

Malayale, o exorcista esperado, entrou no quarto e,logo que se aproximou da cama, a moça, que sempremantivera os olhos fechados, abriu -os e fitou o homemcom expressão terrível, ao mesmo tempo em que seesforçava para atirar-se a ele. Malayale falou-lhe comenergia e, enquanto falava, ela não pestanejava, nãodespregava dele o rancoroso olhar. O Malayale,também alcunhado Kunjini Gandhu, pôs então aescrever algo em uma tira de papel, da qual fez uma

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espécie de cigarro, adicionando -lhe ghee, pimenta enão sei que mais . Enrolou a comprida tira e colocou -anos cabelos da moça. Ela ergueu a mão par a afastar opapel, mas o lentíssimo, já o havia ligado aos cabelos.Entrou, então, a cuspi-lo e ele, apontando-lhe umacana de Malaca (poderosa ao seu dizer), colocou àfrente e desafiou-a a prosseguir na. cusparada. Elaainda tentou fazê-lo, debalde.

Eis que ele acendeu, então, a ponta de tal esdrúxulocigarro e pediu a um dos presentes que o segurasse, deforma que Floralina pudesse aspirar a fumaça pelonariz. Passado algum tempo, ela mostrou -seperfeitamente calma, normalizada, bem disposta..Eram 11 horas da noite e assim conversamos, como dehábito, até às 11,45, quando um grande vidro sequebrou com grande estrépito.

Ela desfaleceu. Malayale havia deixado a casa às11 horas. Nós empregamos o mesmo rolinho de papel,ela pareceu recobrar-se logo e tomou uma chávena dechá. Sexta-feira, 30 de Abril, às pedras começaram acair ao meio-dia e foram até 11 horas da noite.Floralina foi tomada, ainda uma vez, não c om aprimitiva violência, se bem que conservando o mesmoaspecto terrificante. No sábado, 1 ° do corrente, disse -nos que pouco depois do meio -dia fora buscar umprato na sala de jantar e que o prato lhe forabrandamente arrebatado das mãos. A noite, mostrava -se bem melhorada e, não obstante, ainda houve vidros

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quebrados. Saiu a passeio e, quando regressou, umvidro isolado, que restava na bandeira da porta,desabou-lhe quase na cabeça. Falando-nos da suadesdita, referiu que via, todas as noites, duas mulheressem cabeça, e mal acabava de o dizer, quando umgrande paralelepípedo caiu no quarto e um vidroestalou por si mesmo.

Avisado por telegrama, o pai de Floralina chegoude Goodalur, a 132 milhas de Oooty, na segunda -feiraà noite. Nesse dia, a depredação foi simplesmenteformidável, mas a moça não chegou a perder o ssentidos. Ontem, terça-feira, ela e o pai aprontaram asmalas para voltar a Goodalur. Enquanto ela andavapelos quartos arrumando a bagagem, não houve maispedras nem caixilhos estourados, mas alguns copos lheforam atirados. Ontem à noite, deixaram Ooty e oSenhor F. seguiu outro rumo.

Na minha longa resenha desta jovem possessa,nada exagerei, apenas aponto os fatos tal como sederam. A casa, ainda agora, ostenta aspecto desolador,de ruína completa. E quando cai a noite, toda a genteevita passar por lá.

Este longo artigo do Medras foi publicado com asduas seguintes cartas, a respeito desta espécie deloucura:

I - Ootacamiunde, 1.° de Julho de 1897

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Dou-lhe o autentico testemunho de dois amigospessoais, que me endereçaram as inclusas cartas paraque lhas entrepasse com franquia de publicidade. Um éoficial de Marinha reformado e outro é o médicochamado a ver e estudar o caso, cuja veracidadetambém eu posso atestar.

G. Burby.Na convicção de que o assunto lhe possa aprove itar

escrevo etc .

II - Ootacamunde,Presidência de Medras, 28 de Maio de 1897

Posso certificar a exatidão da reportagem docorrespondente do Madras Times, em Ooty, sob aepígrafe Fantasma de Oooty. Esse correspondente émeu conhecido e relatou fatos realíssimos. Fui tambémtestemunha ocular de muitas coisas e, posto que hajaprocurado descobrir-lhes a causa, nada encontrei quepudesse satisfazer-me. Posso igualmente mencionarque diversos companheiros de pesquisa, em casa dapossessa, estão de inteiro acordo comigo.

Jas. Z. Selly. Z. M. S.Provedor do Hospital de S. Bartolomeu.

III - Hope Villa, Ootacamvunrle, 9 de Maio de1897

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Caro Senhor Burby.Devo começar por dizer que nada acredito em

matéria de Espiritismo, mas encontrava -me emEthelcottage, na véspera da partida do seu homônimopara Indabar. Diversos caixilhos foram quebrados portodos os lados, sem que pudéssemos lobrigar qualqueragente humano. Eu lá permaneci mais de uma hora enada consegui descobrir. Alguns assistentes atribuíamo estranho fenômeno a uma intervenção sobrena tural,mas, por mim, necessito de provas para admitir essapresumida explicação.

Sinceramente seuW . M . Burthell.

Estas observações, reunidas às precedentes,mostram-nos tal ou qual associação do organismohumano na produção dos fenômenos, mesmo naquelesmenos característicos, tais como a projeção de pedras,quebra de vidros, deslocamento de móveis, de cujarealidade não podemos duvidar. Neste caso último, arapariga dinamogeno era, a sua causa inconsciente, evítima ao mesmo tempo .

E mesmo de entristecer quando pensamos quecentenas de possessos foram queimados vivos pelaInquisição, incriminados de sortilégio! Lembramo -nostambém, a propósito, de que uma das mulheres maispuras da História - Joana d'Arc - foi também queimada

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como feiticeira. Hoje a Humanidade está um poucomais esclarecida. Mas, que trecho de caminho longoainda lhe resta a percorrer!

Temos, aqui, outra demonstração psico -fisiológicamuito semelhante à precedente. Foi extraída daGazette de Lausanne, de 1.° de Maio de 1914, assinadapor um correspondente dessa folha:

A uma légua de Sion, à margem direita do Rone edominando a estrada de S. Leonardo, existe umlugarejo chamado Molignon, que deu nome a umvinho afamado. Compõe-se o dito lugarejo de umacapela que tem Santana por orago, alvo de grandesperegrinações, e de uma dúzia de casas e granjas. Daía cinco minutos de caminho pedregoso, depara -se belochalé de madeira cor de cinza, tendo na fachada a datade 1874. Nesse chalé, bastante isolado , mora umjovem casal, com um rapaz de 11 anos.

Ora, a 18 de Abril pp., o rapaz foi su bitamenteacometido de crises nervosas, seguidas de fenômenosestranhos. Sob influências desconhecidas, extorcia -se,sapateava, atirava-se ao solo de olhos fulgurantes,gritava e acabava tombando de costas.

Enquanto isso se dava, areia e pedras choviam noquarto; o queijo, as facas e objetos outros, caíam damesa uma pia quebrava-se atingida por uma pedra,entornando-se a água-benta trazida por umcapuchinho. Um copo de vinho estalou na mão de umparente que acorrera para assistir o pobre rapaz.

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Este, desde que se acamou, sentia -se violentamenteempurrado, recebia pedradas no rosto, etc.Conduziram-no à capela de Santana e as coisas seagravaram; as crises torna.ram-se violentas, a ponto dedois homens mal poderem conté-lo, Houve momentosem que o rapaz foi bruscamente arrojado aos ladrilhos.Uma senhora presente foi jogada por terra. Enquantoprocuravam prender uma verônica ao pescoço dorapaz, o cordão se desatava e a efíg ie voava longe. Umcapuchinho de Sion, os curas de Savieze e Grimisuat eum monge de São Bernardo dirigiram-se ao chaléencantado, sem conseguirem melhorar o paciente. Océlebre mège de Heremence, do qual nos falou tãolongamente o Senhor Victor Tissot em seu livro SuíçaDesconhecida, foi prestes chamado e não tardou ainstalar-se no quarto fatídico, cercado dos parentes eamigos da casa.

Pôs a ler num breviário as preces e evocaçõesadequadas ao caso, e, enquanto o fazia, as pedras nãocessavam de cair-lhe no livro e na cabeça. Estes fatosse passavam no último domingo e, a partir de segunda -feira, os fenômenos desapareceram completamente.Muita gente, ouvindo contar estas coisas, têm -nas porsonhos, e, contudo, nada inventamos neste escrito.Durante esses dez dias agitados, centenas de pessoasresidentes em Molignon e nas aldeias vizinhas, gentede Sion e até de Conthey, presenciaram,profundamente impressionados, estes fatos insólitos.

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Fui ontem a Molignon, estive no chalé e converseicom o rapaz, por sinal que muito simpático e bemdisposto. Falei com o pai, robusto campônio desemblante algo melancólico, e com a mulher aindacom a vista contundida por pedrada que recebera nasala de jantar, estando esta fechada. Todos mecontaram os sucessos com a maior n aturalidade,acrescentando que se tratava, indubitavelmente, deFeitiço feito ao pequeno. Até a data de 18 de Abrilnada de anormal se passara naquele chalé, com 40anos de existência, Quanto à autoria do feitiço,pareceu-me que o casal tinha suspeitas que não ousavarevelar. Aliás, vivem de boa harmonia com a gente deMolignon e não sabem a quem acusar. Quanto aomenino, repito que é sadio e nada indica nele qualquervicio constitucional. Até então, nada lhe sucedera,nesse gênero.

Aqui temos, mais uma vez , a prova de que osfenômenos estão associados ao organismo de umadolescente.

Um intelectual de grande valor, Hjalmar Wijk, deGotemburgo, Suécia, publicou em 1904 importantetrabalho a respeito: - um estudo experimental dosrumores e movimentos inexplicados. Os leitores oencontrarão nos Annales dos Sciences Psychiques, deSetembro de 1905, de onde extraímos o excerto infra.São observações que induzem a atribuir essasatividades à influência inconsciente de alguma pessoa

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cuja presença se tornava necessá ria, à produção dofenômeno:

Na primavera de 1904, os habitantes de uma aldeiada Suécia meridional notaram ruídos e pancadas fortesno assoalho e no âmago das paredes de certa casa, semque pudesse encontrar-lhes a causa. Moravam na ditacasa o guarda florestal N. e sua mulher, a criada e umfuncionário alemão. Cedo, porém, perceberam que osfenômenos indiciavam uma correlação indefinível coma Senhora N., visto que as pancadas nunca se davamna ausência da mesma senhora.

Comecemos pelo retrato da Senhora N., a quem,para abreviar o assunto, chamaremos pelo sobrenomede Karin, Ela é de compleição delicada, tem 27 anos ena fisionomia, e nas maneiras, algo de infantil. Degênio alegre e expansivo, não deixou totalmente deressentir as realidades e amaritudes da vida, semcontudo perder o seu feitio natural ao demais, umcoração aberto, confiante, que não sabe dissimular oque sente e o que pensa. Todo o seu ser transpira saúdee dá idéia de que os acidentes nervosos dos ú ltimosanos não se radicam num estado patológico original.Também os ascendentes de família não acusam tarasquaisquer. Casada em 1897, não tivera filhos. Suasprimeiras provas remontam a dez anos atrás, quandoouviu, várias vezes, passos e suspiros em torno dela.Mais importante, porém, do que estes casos isolados,parece-nos a sua vocação psicografia, descoberta três

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anos antes dos ataques histéricos, e cujasmanifestações apresentam com estes algumassemelhanças. As informações psicografias nãooferecem maior interesse. Por fim, ela acredita verpessoas conhecidas, amigos e parentes seus e domarido, que se revesam aos dois ou três, no curso damesma sessão. Um dia, em 1903, o copo que tinha na.mão começou a tamborilar alegremente na mesa eentrou em cena uma personagem que disse chamar-sePiscátor, mas não deu de si mais que vagas referenciabiográficas.

Entre familiar, impertinente, jovial e grosseiro, feza Karin declarações de amor, revelando caráter diversode todos os demais interlocutores. Violento e irritadiçoao extremo, acabou por tornar-se para Karin um tipobestial; e pensando ela que a sua faculdade não revelanada mais que a sua própria vida subconsciente,afigura-se-lhe que a personalidade de Piscátor nela seprojeta qual uma sombra, representando uma parcelaodiosa de ai mesma. Piacátor dá impressão perfeit a deser um tipo imaginário possivelmente nesse caráterque ele suplanta., de mais a mais, os seuspredecessores adidos à psicografia .

A 18 de Abril Karin e seu marido instalaram -se emuma casa alugada, perto de uma usina - casa demadeira, de um só pavimento, rodeada de jardim eassente em terreno elevado, entre a estrada e a orla dafloresta. O celeiro é amplo e compõe -se de várias

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peçam. A adega corresponde a meio corpo da casa.Esta parece abandonada, em conseqüência da má famaque gozou de longos anos. Diziam que, quandodesabitada, lá brilhavam luzes nas janelas e rumoresesquisitos eram ouvidos através das paredes . A vozpública pretendia houvesse relação entre esses boatos ealguns crimes lá suposta ou realmente perpet rados. Detudo isso, porém, Karin e o marido só tiveram noticiaquando os fenômenos de que nos ocupamos deram aosinformantes um novo impulso.

A 9 de Maio, o diretor da usina foi visitado pordiversas pessoas que lá ficaram até o dia seguinte. Anoite, os visitantes reuniram-se no gabinete da casa,situado defronte do quarto de Karin, que comunicavacom a ante-sala. O Senhor N. estava ausente, anegócios. Karin, que se deitara muito cedo, ficoulongo tempo acordada e atenta à conversação ruidosadoa hóspedes.

Cerca de meia-noite ela percebeu que eles seseparavam. Dois que deveriam pernoitar na residênciado diretor, para lá seguiram logo, e o terceiro, que alidevia ficar, fechou a porta e recolheu-se ao seu quarto. Estabelecido o silêncio, Karin estava qu aseadormecendo quando ouviu pesados passos nosdegraus da varanda e, logo depois, três pancadasfortes. Passada a primeira surpresa, vestiu -se e foiabrir a porta, dando de cara com um dos visitantes quese haviam retirado pouco antes e que, não acertando

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com o caminho, devido à escuridão da noite, vinhapedir uma lanterna. Karin o atendeu e tornou a deitar -se, Mal ia adormecendo, três pancadas soaram denovo, perfeitamente idênticas d,s primeiras. Outra vezlevantou-se, foi à porta, lá não encontrou viva alma.Novamente na cama, as três pancadas se repetiram porespaço de uma hora.

Depois um interregno de silêncio até às 3 horas,quando repercutiram ainda uma vez e de todocessaram para o resto da noite. Karin não se mostrouimpressionada com o fato e quis crer que se tratava debrincadeira dos hóspedes, ou de qualquer outra pessoa.

Mas, na noite seguinte, mal se deitou e apagou aluz, as três pancadas se repetiam com intervalos,durante duas horas e foram também distintamenteouvidas pela criada, que dormia na sala de jantar, eque ficou apavorada. No dia imediato o Senhor N.regressou. Como à noite o barulho recomeçasse, eleresolveu tirar o negócio a limpo e agarrar o patusco.Destacaram sentinelas fora e dentro de casa, depois dehavê-la varejado da adega ao celeiro. Nadadescobriram, e contudo as pancadas não cessavam. N.e sua mulher mudaram de quarto, chegaram a instalar -se na dispensa e o barulho os acompanhava por todaparte. Assim, não tardaram a perceber que havia umarelação qualquer da pessoa del a Karin, com osfenômenos. Salvo um dia em que se ausentou para ir aaldeia, o fenômeno se reproduziram sistematicamente,

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todas as noites, até 30 de Maio. Exausta, Karinausentou-se de casa por oito dias a fim de repousar e acalma se restabeleceu, para só interromper-se nasegunda noite do seu regresso, embora com menorintensidade. Daí por diante os fenômenos tornaram -semenos regulares; noites havia em que falhavam. EmOutubro cessaram completamente e apenasreincidiram uma vez, na véspera de minha chega da.Nesse dia Karin recebeu um telegrama que lhe causougrande inquietação e logo se ouviram pancadas noassoalho, bem debaixo dos seus pés. Pouco depois,repetiam-se mais fortes.

Enquanto esteve ausente de casa, Karin tinha aimpressão de ter a seu lado, na alcova, um sermaléfico. Essa impressão era particularmente forte, umpouco antes e no curso das manifestações. Quando aobscuridade era completa, Karin ouvia passosabafados e ligeiros ruído; semelhante ao de solas desapato a rasparem o soalho. Esses diversos ruídos eramtambém ouvidos pelo Senhor N. sempre que seencontrava junto da esposa. Além dessas, outrassensações auditivas surgiram na estação estival. Noprimeiro período ela pressentia a aproximação domarido, ouvia-o entrar, depor o sobretudo noutroquarto, etc., isso 15 minutos ou meia hora antes do seuefetivo regresso. Por duas vezes, achando -seassentada, no escuro, viu em seu quarto estranhaclaridade. Outra feita viu pequena flama junto à

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espádua do marido este por sua vez, também viuperfeitamente o fenômeno.

Ocasiões houve em que Karin e com ela outraspessoas, ouviram o deslocar de uns tantos objetoscomo, por exemplo, uma cadeira. Estes fatossobrevinham quase sempre em completa escuridão enunca puderam constatar se houvera deslocamen toreal.

Uma tarde em que Karin escrevia sozinha, na salade jantar, ouviu barulho na cozinha, parecendo quearrastavam cadeiras e lavavam o assoalho. Sabendoausente a empregada, foi, muito admirada, até a portada cozinha, ouvindo através da mesma a estr anhaazáfama. Sem ousar abrir a porta, saiu em busca daempregada, que se entretinha a caçar passarinhos.Quando as duas voltaram à cozinha o ruído dalavagem tinha desaparecido, porém ambasexperimentaram estranha sensação e um rumor depassos leves com arrastamento de cadeiras . Karinevidenciou sua inteira boa fé com os esforços que fezpor descobrir a causa das pancadas misteriosas. O seubom senso repeliu, desde o princípio, a idéia deintervenção de qualquer espírito , antes supondo quetudo partia dela mesma, mediante processosincompreensíveis. O marido, por sua vez, mostrava omesmo empenho na solução do enigma. A notícia dosfenômenos fizera reviver antigas histórias da casa mal -assombrada e o proprietário começou a insinuar aos

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inquilinos que suspeitava houvessem eles maquinadoum entremez, no intuito de corroborar a má fama doimóvel. No fim de contas, o casal tinha o máximointeresse de aclarar as coisas, e, no curso daPrimavera, quantos amigos o visitaram tiveram cartabranca para fazer as inves tigações que entendessem.Como é natural, essas investigações consistiram emcomprovar a inexistência de qualquer mistificação.

Quando as pancadas começavam, Karin devia, porexemplo, colocar num coxim isolado; e, sepermanecesse deitada, seguravam-lhe os braços e aspernas. O fenômeno amortecia então, mas não cessavade todo. Só em Setembro, graças a um artigo deimprensa, tivemos notícia do fato, eu e n SenhorBjerre. Logo que manifestamos desejos de estudar ofenômeno in loco o casal N. apressou-se a franquear acasa. O caso pareceu-nos singularmente interessante.Tínhamos que nos avir com uma criatura quedemonstrava um fraco grau diversas particularidadespsíquicas, peculiares aos médiuns e uma dessasparticularidades ressaltava de forma excepcionalment epura e nítida. As muitas analogias entre o estado detranse e os fenômenos mediúnicos de um lado e deoutra a hipnose profunda com sua sugestão. A hipnosee o melhor de estudar esta classe de fenômenospermitindo atingi-los ao mesmo tempo cominstrumento próprio das ciências exatas - aexperimentação. Os fenômenos mediúnicos são, as

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mais das vezes, como aia pancadas insólitas nestecaso, manifestações de uma inteligência que tem assuas raízes - podemos admiti-lo pelo menos de modogeral - na vida subconsciente do médium. Nãopoderemos então, graças à hipnose, atingir essa vidasubconsciente, modelá-la a nosso grado pela sugestão,e assim dominar os fenômenos físicos, provocar,modificar, estancar a mistificação ?

Esta a tese de Hjalmar Wijk . O leitor terá podidonotar mais de uma analogia deste relatório com oscasos publicados nesta obra. As experiências a queacabamos de aludir podem ser assim resumidas:

1.° Parece haver, neste caso, uma relação decausalidade entre uma enfermidade nervosa conhecida(a histeria) e o fenômeno ainda obscuro das pancadas.Este íntimo apresenta-se intimamente mesclado defenômenos psíquicos, talvez emanantes da própriadoença nervosa, tais como alucinações e associaçõesimaginativas subconscientes, desenvolvidas pelapsicografia .

Enfim, um certo papel coube a influênciaspsíquicas ulteriores, histórias de almas do outromundo, atmosfera de assombramento, etc.

2.° Os corpos podem ser submetidos ã influênciada vontade pela sugestão hipnótica. Se os resultados denossas investigações são exatos, devem acarretarconseqüências importantes, dado o papel prático daprodução de ruídos no Espiritismo e na provável

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afinidade com outros fatos mediúnicos. Essesresultados forneceriam uma base sólida para julgarmoso valor psíquico da tiptologia espiritista, da suadependência do médium e do círculo, e confirmariamas conclusões já inferidas a respeito, por processosseguros. Além disso, eles nos levam a esperar apossibilidade de provocar e estudar por idênticamaneira outros fenômenos m ediúnicos maiscomplexos, tais como a levitação, etc. Este trabalhovisa menos dar conta de um caso particular do queesclarecer a possibilidade de introduzir o métodoexperimental neste novo campo de estudos,Desnecessário seria encarecer a importância de talmétodo, de vez que é unicamente invocando as nossasespeculações em experiências cientificas que nospoderemos acercar da explicação destes fenômenosobscuros, ainda merecedores, em parte cem razão, doqualificativo de ocultos .

Meu ilustre colega e nobre amigo William Barrou,pensa com Aksakof e comigo, que, tal como nosfenômenos mediúnicos, o animismo e o Espiritismoestão associados nos fenômenos físicos aquiestudados. Barrett concluiu seu abalizado estudo dospoltergeist com as seguintes reflexõ es:

Aqui ai nos depara a questão de saber porque umfoco irradiador humano se torna necessário nosfenômenos de poltergeist. Em química verificamosque, em solução salina a ponto de saturação, há um

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estado de instabilidade tal, que, ai uma partícula dematéria sólida cair no líquido em repouso, provocainstantânea perturbação molecular, transmissível aotodo, produzindo um agregado de cristais sólidos. E acomoção torna-se geral, até que toda a solução setenha mudado em sólida massa de cristal. Tudo issoprovindo da circunstância da entrada de um núcleo emcontacto com um conjunto de coisas que, antes,permaneciam perfeitamente tranqüilas. Fenômenos sãoestes, familiares aos microscopista . E éparticularmente no desenvolvimento das células que apresença de um núcleo ai mostra essencial.

Ora, poderíamos considerar o rapaz ou qualqueroutro sujet, nos fenômenos de poltergeist, como onúcleo que, nestes fenômenos, representa o fatordeterminante. Nós meamos talvez, com o nossomundo, não passaremos de células em núcleospertencentes a um organismo vivo, muito mai s vasto, edo qual não podemos fazer uma idéia. Indubitável quealgo de inteligente inescrutável aí revela, tanto nocondicionamento das células como na desfilada demundo e sois. E, como não possamos admitir que aevolução da Natureza, animada e inanimada ecircunscreva ao Universo visível, ã força pensar quepossam existir seres vivos de tipos dif erentes e deinteligência muito variada, tanto no Universo visívelcomo no invisível. Neste caso, a origem dosfenômenos de poltergeist poder-se-ia atribuir à ação de

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umas tantas Inteligências invisíveis, quiçá perversas,quiçá rudimentares .

Porque persistir supondo que não possa haverperversos e levianos no mundo espiritual, quando, aoinvés, racionalmente, eles aí devem existir em maiornúmero? Em todo caso, não conseguimos explicar -nospor que motivo a combinação de determinadalocalidade com um certo organismo humano, emparticular, deva levar uma e outro a improvisar forçasno mundo dos vivos, assim como não pode o selvagemcompreender como a combinação de um dia seco co mum material especial, põe a máquina em condições deproduzir eletricidade .

A observação direta, positiva, científica., dosfenômenos e de sua interpretação normal nos levou apensar na existência de seres invisíveis operando emnossa atmosfera. E' uma afirmação que parece ousadae temerária, a que não anuímos senão em defesaprópria, em caráter obrigatório. E, contudo, nãopodemos, ainda assim, considerar uns tantos casosrelatados nesta obra, deixando de admitir a existênciade forças independentes de nós, e não somente deforças, porque também de seres.

Esta conclusão experimental concorda com a teoriafilosófica da palingenésica, confirmando-a. Não hárazão para que a evolução psíqui ca geral se detenha nohomem.

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Sem se deixar enclausurar num sistema, todos ospensadores conhecem a obra de Carlos Bonnet -Palingenesia Filosófica, publicada em Gênova, em1770, e Contemplação da Natureza, editada emAmsterdã, em 1764. Quem não conhece igualmente aFilosofia do Universo, de Dupont de Nemours (1796)? Ballanche, Saint Martin, Schlegel, Savy, Esquiros,João Reynaud, Pezzani, continuaram essa tradição noséculo XIX. Mas, repetimos, não é sob o ponto devista filosófico que traçamos esta obra, e sim do pontode vista científico da observação experimental.

*

Mas, é tempo de concluir.Há em toda a Natureza, na direção da vida terrestre,

nas manifestações do instinto de plantas e de animais,no espírito geral das coisas, na Humanidade, nocosmos, por toda a parte, enfim, um elemento psíquicoque se revela de mais em mais através dos estudoshodiernos, notadamente das investigações de ordemtelepática, e da observação dos fenômenosinexplicados e constantes desta obra. Esse elemento,esse princípio, a ciência contemporânea ainda não oconhece, mas, como em tantos outros casos, el e foiadivinhado pelos antepassados. De mim, não invento,não fantasio. Além dos quatro elementos ar, água,terra, fogo, os antigos admitiam um quinto, que

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denominavam animas, alma do mundo, princípioanimador, éter. Arístoto, - escreve Cícero (Tuscul.Quaest. I, 22) - depois de lembrar os quatro elementosmateriais, acredita dever admitir uma quinta natureza,quinta natos, da qual provém a alma, de vez que opensamento e as faculdades intelectuais não podemresidir em nenhum dos elementos materiais e forçoso éadmitir um quinto elemento, a que chamou enteléquia,isto é, movimento eterno e contínuo. Os quatroelementos materiais foram dissecados pela análisemoderna. O quinto é talvez o mais fundamental.

Virgílio escreveu na Eneida (livro VI) estesadmiráveis versos que toda gente conhece:

Spiritus intus alit, totamque infusa per art usMens agitat molen, et magno se corpore m iscet.

Lembremo-nos, também, das Questões Naturais d eSêneca e do Sonho de Scipião (I, 6) de Macrobe.

O gramático latino Marciano Capella, assim comotodos os autores dos primeiros séculos cristãos,assinala essa força diretriz, chamando -lhe tambémquinto elemento, que elo designa por éter.

Um imperador romano bem conhecido, Juliano,dato o apóstata, celebra esse quin to princípio em seusdiscurso de homenagem ao rei Sol, qualificando-o orade princípio solar, ora de alma do mundo nu pr incípiointelectual, éter .

Este elemento psíquico os filósofos não oconfundem com Deus, senão como parte da Natureza.

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Encontramo-lo em tudo e flor toda à parte entreexemplos outros, ele ressalta e transparece nosprocessos de Joana d'Arc e de Sócrates. Repito,portanto: propondo-me admitir cientificamente aexistência deste quinto elemento -- o elementopsíquico - como corolário das observações versadasnesta obra, nada inventei e mais não faço querestabelecer um princípio relegado ao esquecimento.Do resto, as faculdades humanas são mais latas do quegeralmente sc imagina.

Sobre os fatos aqui estudados, a opinião de umhomem judicioso como o Senhor Jaurés (cujo estúpidoassassínio todos deploramos), não é para desprezar.Eis o que ele escreveu no seu livro A Realidade doMundo Sensível (1902)

Como o cérebro se encontra encer rado numinvólucro orgânico resistente e aparentemente fechado,a imaginação se lhe apresenta como isolada do mundo.Mas, na realidade, bem pode suceder que aquilo a quechamamos cérebro esteja perpetuamente misturado econfundido com o que denominamos mun do, devido àpermuta sutil e constante de secreta atividade. Se forverdade, como afirmam numerosos testemunhos, decuja boa fé não podemos suspeitar, que o organismohumano pode, em certos casos, desenvolver ummagnetismo capaz de levantar mesas; e de vez que é,sobretudo, pela aplicação da vontade e a expensas dopróprio organismo que essas pessoas atingem objetos

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exteriores, explícitos fica a irradiação da energiacerebral fora e distante do respectivo foco.

Parece, também, que o eu pode atuar na matériasem recorrer, pelo menos conscientemente, à mediaçãodo organismo, que deixa de ser um instrumento ativopara tornar-se condutor passivo.

O fenômeno da vista dupla, em certos estadoshipnóticos especiais, está hoje demonstrado. A certosindivíduos é facultado ver e ler através de corposopacos. Destarte, a opacidade da matéria não é maisque relativa. E como para a imaginação, o que maissepara o cérebro da massa envolvente é a opacidade doorganismo, segue-se que, desvanecida esta, o contactosurge imediato para a própria imaginação, para o fococerebral e para o universo. Pode assim o cérebroultrapassar infinitamente o organismo, irradiar,palpitar, operar fora dos seus limites. O cérebro já nosnão aparece como órgão fechado em rija cavidade evemos, mesmo na ordem fisiológica, dilatar -se o euindividual, sem perder as ligações a um organismoparticular e criando, fora desse organismo, uma esferade ação indefinida.

Quando o indivíduo transmite uma idéiainarticulada, uma vontade ou qualquer impressão aoutrem, há evidentemente uma irradiação me ntal noespaço, que põe dois cérebros em relação imediata. Oproblema do livre arbítrio de novo se apresenta sobforma mais aguda, em presença destes fatos. Os fatos,

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porém, reivindicam o mais elevado alcance, poisatestam no homem poderes extraordinários edesconhecidos, mais ou menos nulos no seu estadonormal, e manifestáveis em condições quedenominamos anormais. Existe em nós una eudesconhecido, que pode exercer ação direta sobre amatéria, levantar por meio de enérgica vontade umcorpo estranho, como se o fizesse ao próprio corpo,varar com a vista a opacidade de qualquer barreira ecaptar, a distância, através do espaço, o pensamentoinexprimido de um outro eu. No dia em que o homemhouvesse assimilado os poderes do estado magnético ehipnótico, ver-se-ia como, na existência humana, oorganismo individual se tornaria acessório. Semdúvida, ele ficaria presente à, consciência como raiznecessária da individualidade, mas o eu poderiaacionar voluntária e diretamente outros corpos, qual ofaz com o seu próprio e, portanto, não mais seria almaexclusiva de um organismo particular, e sim de todasas coisas, até onde pudesse estender a sua atividade. Ese pudesse aplicá-la ao Universo inteiro, tornar-se-ia aalma do mundo.

Espírito liberal e independente, Jaurés sabia ver ejulgar. Para ele os fenômenos de levitação, de açãomental e física, a distância, de telepatia, de vista dupla,devem elucidar-nos a constituição do Universo. Aalma humana é parte integrante da al ma do mundo.

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O quinto elemento a que há pouco aludimoscontém em si Inteligências invisíveis e desconhecidas,reveladas por uns tantos episódios expostos nestelivro. Os observadores, as testemunhas em seu estadonormal, em plena posse dos seus raciocínios , sãoespectadores e não atores.

Como admitir, por exemplo, a precisão dosdisparos assinalados nas páginas 94 e 99, semreconhecer a existência de atiradores invisíveis ?Como admitir um castiçal saltando em cima do fogão(pág. 130) ou uma poltrona a move r-se para barrar aporta (págs. 134-143); uma chave que se desprende dafechadura, ou verônicas retiradas das portas onde ascolocaram de salvaguarda (pág. 147) - mobíliaintencionalmente arrumada como para uma reunião(pág. 148) ? Como não inferir de tudo isso a ação deum Espírito? Não temos também visto um copo que sedestaca do aparador, um prato arrebatado das mãos dequem o conduzia, um cesto atirado longe, coisas sóexplicáveis mediante intervenção de uma forçainvisível ? Depois, uma porta fechada p or dentro,cordões de campainhas arrancados, retratosderrubados, relógios parados e uma colherinhatimbrando o copo? E o companheiro anônimo daSenhora Granfort? As persianas resistindo ao esforçodo Senhor Homem Cristo, o seu filhinho despido eremovido do berço? Mais: o assombramento daSenhora Botts, em Cambridge, o do primo do Senhor

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Legendre e a manifestação do jovem Garnier emFrontignan... E aquele invisível que atirava sarrafos, namarcenaria, sem machucar ninguém e não deixandoperceber de onde e como partiam? Os reaparecidos dasfamílias Morton e Vatas-Simpson? Seres geralmenteinvisíveis, mas, às vezes, visíveis, aí temos outrastantas manifestações de força pensante, muitas delasidentificadas. Estes seres invisíveis são, todos eles,estranhos aos vivos ? Ou serão, por vezes,desdobramentos do espírito dos experimentadores? Dequalquer forma, o certo é que eles se manifestam.

Os fenômenos aqui em apreço são produtos dodinamismo universal com a qual os nossos cincosentidos só nos põem em relaçã o muitoimperfeitamente. Nos vivemos no meio inexplorado naqual forças psíquicas tem um papel não observado.Essas forças são de ordem superior às forçasanalisadas pela química e pela física. Elas têm algo devital e possuem uma mentalidade. Elemento quecompartilha a constituição do universo e por seuintermédio que os seres se comunicam a distancia .

Por outro lado tudo nos prova que explicaçãomecânica do universo e incompleta e que existe algomais que a pretensa matéria isto é um elementopsicodinâmico. A matéria não e senão modalidade demovimento manifestação de força e expressão deenergia. Ao demais ela desaparece em uma analise,

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pois acaba por se refugiar no átomo intangível,invisível, imponderável e de alguma forma imaterial.

Por outro lado, tudo nos prova que a explicaçãopuramente mecânica da Natureza é incompleta e quehá no Universo algo mais que a pretensa matéria, istoé: um elemento psicodinâmico. A matéria não é, em simesma, senão modalidade de movimento,manifestação de força, expressão de energia. Aodemais, ela desaparece diante da análise, pois acabapor se refugiar no átomo intangível, invisível,imponderável e, de algum modo, imaterial

O átomo, base da matéria, ha cinquenta nos que sedilui e se transforma em turbilhão hipotético einatingível.

Aqui, permito-me repetir o que cem vezes tenhodito: no universo um dinamismo e parece que tudo sejade natureza elétrica. Alma universal, eletricidadeanimal, fluido magnético são denominações diversasdesse mesmo princípio dinâmico - mundos psíquico efísico associados, universos de Inteligências em todosos graus, cosmos ainda inexplorado em seu conjunto.

As manifestações freqüentemente tão vulgares, tãoincoerentes, das casas mal-assombradas, tanto quantoas experiências espiritistas, nas quais a auto-sugestãomediúnica pode ser eliminada, nos levam a discutir ovalor das forças e das Inteligências invisíveis que asproduzem, e a regressarmos por outro caminho à velhacomparação do ser humano ao inseto . Será que as

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horas, os dias, as semanas, possivelmente os meses eanos, que se seguem à morte, sejam atos de crisálidashumanas, antes que atos de almas desprendidas damatéria?

Os Espíritos de todos os graus, que passamperpetuamente do mundo vital material para o mundoinvisível, são valores intelectuais muito diversos.Quantos ficam no plano terrestre? Quantos sereencarnarão, e quando?

Repitamos, então, pela milésima vez, que anatureza intrínseca da alma humana, durante a vidacomo depois da morte, nos é ainda completamentedesconhecida. Que é a imortalidade?

Um dia, o senador Naquet me procurou, aindamuito impressionado com uma conversa que tiveracom Victor Hugo .

- Falávamos - disse - da pluralidade dos mundos eda vossa obra - Lúmen . Somos todos imortais? - disseele de chofre e à queima-roupa. - Meu caro mestre, oubem que tudo, ou bem que nada sobrevive.. . Por mim,confesso que não creio muito nem pouco. Hádiferenças, há gradações - acrescentou - e, quanto amim, considero-me indestrutível. Estou convicto -continuou Naquet - de que ele tem como certa aimortalidade desde, no que lhe ela concernepessoalmente e pareceu-me que ele tem disso um certoorgulho individual.

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- A questão da desigualdade das almas já se meapresentou ao espírito - respondi ao senador - e meparece digna de estudo.

Não,- não era questão de orgulho de Hugo, eraantes um sentimento de justiça., pois ele bem sabia quesuas obras provavam a sua individualidade pessoal.

Esta conversa foi em 1880, mais de 40 anos sãopassados e eu ainda mantenho a mesma opinião,reforçada pelos meus estudos psíquicos. Nenhumaalma pode ser destruída, mas, haverá muitas almasconscientes da sua própria existência espiritual ?

Não são conscientes de si mesmas, após otranspasse, senão o que o eram antes dele. A variedadeprossegue sábios e ignorantes, inteligentes e idiot as,bons e maus a guilhotina não faz um santo de ummalfeitor. Os fenômenos tão incoerentes das casasmal-assombradas se harmonizam com esta teoria .

Conclusão : - Se o Universo é um dinamismo, se oCosmos bem justifica, o seu nome (ordem), se omundo desconhecido é mais importante que oconhecido, se há forças inteligentes e seres invisíveis,devemos preferir só negativismo de Naquet, Berthelot,Le Dantec, Littré, Cabanis, Lalande, Voltaire, asconvicções de Hugo, Pasteur, Ampère, Goethe, Euler,Pascal, Newton, espiritualistas, de vez que estesatravessam a crosta das aparências e descobre, naanálise das coisas, o dinamismo invisível,fundamental.

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Epílogo

O DESCONHCECIDO DE ONTEM E AVERDADE DE AMANHÃ

O progresso inçado de obstáculos. – Relatório deLavoisier apresentado à Academia das Ciências, sobre

os aerólitos.

O desconhecido de ontem é a verdade de amanhã.O que nos importa é tudo estudar, discutir analisar,sem idéia preconcebidas . Nada obstante, a his tória dasciências atesta que muitos homens eminentes, espíritossuperiores, estacaram na senda do progresso,imaginando que a Ciência lhes dissera a últimapalavra. Em Astronomia, em Física, Química, óptica,História Natural, Fisiologia, Anatomia, Botânic a,Medicina, Geologia; em todos os ramos doconhecimento humano, enfim, seria fácil apontarinúmeros homens célebres e convictos de que aCiência jamais iria além do seu tempo e nada maisrestava por descobrir.

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Entre os sábios atualmente vivos, também não seriadifícil nomear grande número de mentalidades deescol, anquilosadas na convicção de nada mais haver aperquirir nas esferas do seu magistério.

Nós não devemos admiti r senão o que édemonstrado . E preciso não ser crédulo nemincrédulo, estudar sem prevenções, ser, antes de tudo,livre e independente.

E' muito natural que as corporações oficiais sejamconservadoras. O essencial ao progresso das idéias énão se deixar circunscrever e recusar, por clássicacegueira, a evidência dos fatos. E isso é o que se temverificado com a Astronomia, com a física, com aMedicina e todas as demais ciências; com aeletricidade, o vapor, os flogísticos, os uranólitos, etc .

Um grande e nobre espírito, que foi Lavoisier,estagnou, também ele, no século XVIII! Ele que ha viaderrubado o flogístico e criado a química, ficousolidário com as idéia correntes ao seu tempo.Encarregado pela Academia das Ciências de formularparecer sobre a queda de um aerólito, aliás observada,redigiu em 1769 este documento, que deve equivaler àproveitosa lição para todos nós. Por isso, aqui dou umextrato textual, digno de conservado, a título deinstrução pessoal. E' documento histórico e bem demolde a edificar-nos . Destaquei-o da edição oficialdas obras de Lavoisier. (Paris, Imprensa Imp erial,1868. L. IV.)

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RELATORIO SOBRE UMA PEDRAPRETENSAMENTE CAIDA DO CEU DURANTE

UMA TEMPESTADE

Os Srs. Fongeroux, Cadet, e eu, fomos incumbidospela Academia de julgar uma comunicação do SenhorAbade Bachelay, relativamente a uma pedra que dizemter caído do céu durante uma tempestade.

Não haverá pedras de que mais nos tenha falado aHistória, do que das pedras de raio. Isto, se quisercoligir quanto há escrito sobre o assunto, pordiferentes autores.

Poder-se-á julgar pelo grande número desubstâncias que gozam desse nome.

Entretanto, mal grado ã opinião corrente naantiguidade, os verdadeiros físicos sempre houverampor muito duvidosa a existência de tais pedras. A esserespeito, pode consultar-se a memória escrita porLémery e impressa pelos acadêmicos em 1700 .

Se a existência das pedras de raio foi tida comosuspeita numa época em que os físicos quase nãotinham idéia da natureza do raio, agora, com mais forterazão, devemos negá-la, depois que os físicos

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modernos descobriram que os efeitos desse meteorosão os mesmos da eletricidade. Mas, seja como for,vamos relatar fielmente o fato comunicado peloSenhor Bachelay, para examinarmos em seguida asconseqüências que podemos dele tirar.

Aos 13 de Setembro de 1768, pelas quatro e meiada tarde, surgiu das bandas do castelo de laChevallerie, perto de Lucé, Maine, uma nuvemtempestuosa na qual se fez ouvir um estrondo forte eseco, mais ou menos semelhante ao tiro de canhão. Aseguir, num circulo de 2 1/2 léguas, mais ou menos,foi ouvido, sem relâmpago, um silvo considerável etão parecido com o mugir do boi, que muita genteficou confusa. Por fim, diversas pessoas quetrabalhavam no campo, em Perigué, a 3 horas d e Lucé,tendo ouvido o mesmo ruído, olharam para cima e viraum corpo opaco descrever uma curva e cair numrelvado à margem da estrada de Mans . Lá acorrendoimediatamente, encontraram urna espécie de pedrameio enterrada no solo, mas, tão quente, tão ardente,que não puderam tocá-la. Tomados então de pavor,trataram de fugir; mas, voltando mai s tarde, viram quea pedra não mudara de lugar e havia esfriado, podendoeles manejá-la e examinar melhor .

A pedra pesava 7 1/2 libras, era de formatotriangular, isto é, apresentava trê s como ângulosarredondados, dos quais um, no momento da queda,havia penetrado no solo. Toda a parte enterrada era de

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cor cinzenta, ao passo que o resto, exposto ao ar,apresentava-se muito enegrecido. O Senhor AbadeBachelaq, tendo obtido um fragmento da pedra, veioapresentá-lo ã Academia, no intuito de esclarecer anatureza da mesma. Vamos, assim, dar conta dasexperiências feitas a propósito, e que nos ajudarão adecidir o que se deva pensar de tão singular episodio .

A substancia dessa pedra é cor de cinza clara, e,vista ao microscópio, apresenta -se coalhada depequeníssimos e infinitos pontos metálico -brilhantes,de um amarelo pálido. A superfície externa, que, aodizer do Senhor Abade, não estava enterrada, revestiade leve camada de matéria muito negra, túrgida emalguns pontos e parecendo que tinha sido negra.Tocada com instrumento de aço, no seu âmago, nãoengendrava fagulha, enquanto que ferida na camadaexterna, que parecia ter sido atacada pelo fogo, sempredava algumas faíscas. Submetemo -la em primeirolugar à prova da balança hidrostática e notamos queperdia dentro da água 2/7 de peso, ou mais exatamente- que o seu peso especifico era, para o da água, naproporção de 3.535 por 1.000, peso este que, de muitoexcedente ao das pedras silicosas, já. nos deixavaentrever considerável quantidade de partes metálica s.

Pulverizada, combinamo-la em primeiro lugar afrio com o fluxo negro e obtivemos um vidro preto,absolutamente semelhante, na aparência, à crostasuperficial da pedra. Feita a calcinação, procedemos à

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redução e não encontramos mais que negra massaalcalina, pelo que, supomos possível presumir que ometal contido nessa pedra seja o ferro, que aicombinou com o álcali.

Supérfluo seria aqui reproduzir a seqüência daanálise química a que foi submetida à misteriosapedra, análise pela qual vemos que Lavoisie r estavapreocupado, principalmente, com a tradição popularque atribuía ao raio a origem da pedra. Vamos semmais demora ai conclusões.

Acreditamos portanto - escreve ele - poder concluirdesta análise, - independente de outras muitas razo escuja enumeração é aqui supérflua - que a pedraapresentada pelo

Senhor Bachelay não é originada da trovoada, nãocaiu do céu, nem foi tão-pouco formada por matériasminerais fundidas pelo raio, como se poderia pr esumir.Que a referida pedra passa de uma espécie de gréspiritoso, nada apresentando de particular , a não ser oodor hepático que desprende ao dissolver -se em ácidomarinho, fenômeno este que, efetivamente, não ocorrena dissolução das pirites comuns. A opinião maisprovável e que melhor ai harmoniza com os princípiosda Física, com a narrativa do Senhor Abade Bachelaye com a nossa própria experiência, é que essa pedra,possivelmente mal recoberta de terra ou de relva, teriasido atingida pelo raio e assim viesse à flor do solo . Ocalor teria eido bastantes intenso para fundir a

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superfície da parte atingida, mas não por tempo assazprolongado para penetrar no seu interior. E por isso éque a pedra não foi decomposta. A quantidadeconsiderável de matérias metálicas nela contidas,opondo menor resistência que ou tro corpo a correntede matéria elétrica, poderia mesmo ter influído paradeterminar a direção do raio. De fato, observa que oraio ai dirige mais voluntariamente para os corposmais eletrizáveis, por comunicação.

Não podemos aqui deixar em olvido umacircunstAncia muito curiosa: o Senhor Morand filho,tendo-nos remetido um pedaço de pedra dos arredoresde Coutances, e que também supunha ter caído do céu,verificamo-lo mais ou menos idêntico ao do SenhorAbade Bachelay. E' precisamente um grés semeado depontos de pirite marcial e só diferente da outra pelocheiro hepático e acidez salina. Duvidamos que aipossa encontrar outra semelhante, a não ser que o raioincide, preferentemente, sobre as substancia metálicase mais ainda, talvez, sobre as matérias piri tosas. Dereato, por fabulosos que possam parecer os fatos destaespécie; e como os aproximando das experiências ereflexões que acabamos de expor, podem-os contribuirpara aclarar a história das pedras de raio, tambémpensamos oportunas a sua referencia nos Anais daAcademia .

Este memorial de Lavoisier, apresentado àAcademia das Ciências, inspira -nos reflexões

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diretamente ligadas às investigações versadas nestelivro. Assim que, testemunhas v iram cair à pedra emcampo raso e a pleno dia, apanharam -na, ela lá estava;examinaram-na, analisaram-na e concluíram que... nãohavia caído do céu. As idéias preconcebidas impedemo reconhecimento da verdade. A opinião vulgar, atradição popular, atribuía essas pedras ao raio eninguém se lembrou de recusar a teoria e imaginar quepudesse haver outra explicação.

O testemunho humano é ai considerado nulo, qualo considera, ainda hoje, uma certa escola amiga doparadoxo, continuando a pontificar que ostestemunhos, sejam quais forem, não têm valor algumprobatório.

Certo, o testemunho humano é falível, todo mundopode enganar-se e não é científico nele confiarmoscegamente; mas, daí a tudo recusar, a distância éenorme. Ora, a verdade é que não era a primeira vezque viam cair do céu uma ou várias pedras, que asapanhavam e guardavam . Para citar apenas uma, amais célebre, registremos que 7 de Novembro de 1491,em Ensishein (Alto Reno) grande meteorito se abateudiante de todo um exército e bem próximo deMaximiliano I, rei dos Romanos. São fenômenosobservados cada ano, aqui e acolá. Em 1768, duasquedas se registraram, em Aire (Pas-de-Calais) e emMaurkirchen, Baviera. Lavoisier bem o sabe e,

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contudo, escreve que os verd adeiros químicosconsideraram duvidosa a existência dessas pedras.

Esta secular cegueira por tudo o que nos édesconhecido, tem sempre entravado o progresso dasciências. Ao mesmo tempo, é de ver -se o quanto éimprudente arriscar teorias prematuras, pois aexplicação doa aerólitos pelo raio, atuounegativamente nos pareceres da Academia:

Temos, assim, que este fato histórico nos convidaa desconfiar das teorias prematuras .

Os seres humanos, de qualquer categoriaintelectual, que ainda pensam que os fenômenosmetapsiquicos são inadmissíveis por infirmarem econtrariarem una tantos princípios do ensino cl ássico,deve lembrar-se que todas as descobertas começarampelas negativas .

Desde há milhares de anos safam aerólitos à vistade centenas de pessoas, grande número deles foirecolhido e alguns conservados na s igrejas, nosmuseus, etc .O que faltava em 1769 era um homembastante independente para os afirmar. Esse homemapareceu finalmente, em 1794, e chamou,ai Chaladni.

Não atiro a pedra a Lavoisier, nem à Academia,nem a ninguém e sim e só à tirania doa preconceitos.Ninguém acreditava, ninguém queria acre ditar quefosse possível caírem pedras do céu. Era coisa havidacomo contrária ao senso comum.

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Gassendi, por exemplo, é um dos homens maisindependentes e mais instruídos do século XVIII: - umaerólito de trinta quilogramas caiu na Provence em1627, à plena luz de um dia ensolarado, e Gassendi oviu, palpou, examinou e... atribuiu a qualquerdesconhecida erupção terrestre.

Por fim, essa. mesma Academia, diante do relatórioapresentado pelo seu delegado Biot, acaboureconhecendo a realidade doa uranólitos, q uando sedeu à queda de um em Laigle (Orne) soa 26 de Abrilde 1803. As pedras foram apanhadas ainda quentes,por inúmeras testemunhas e, assim, só poderia m tereido lapidadas ao céu. Dai para cá, a Academia houvede registrar muitas vezes os estudos feitos nestesentido . Apesar de tudo, o mundo caminha e asverdades se impõem.

Os professores peripatéticos contemporâneos deGalileu afirmavam ex-cátedra que o Sol não podia termanchas. O espectro de Brocken, la fata morgana amiragem, foram negados por mui tas pessoas sensatas,enquanto não tiveram explicação.

Há sempre quem pense que para admitir a realidadede um fato é preciso poder explicá -lo.

Ainda não há muito tempo (1890) o raio esféricoera posto em dúvida, em plena Academia de Ciências,por aquele mesmo titular desse Instituto - que melhordeveria conhecê-lo - ou seja Mascart, diretor doServiço Meteorológico . Mascam sustentava que a

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minha convicção era infundada, ainda mesmo citando -lhe eu exemplos nas minhas obras.

A história dos progressos da Ciê ncia demonstra-nos, a cada passo, que grandes e fecundos resultadospodem provir de simples é vulgares observações. Nosdomínios do estudo científico nada se deve desdenhar .

Cumpre-me respeitar sempre o duplo preceito.

“Nada negar a prioriNada afirmar sem provas.”

Em 1831, o Dr . Cartel dizia à Academia deMedicina, após a leitura do relatório de uma comissãonomeada para dar parecer sobre o magnetismo animal:

Se a maior parte dos fatos denunciados fosse real,esses fatos destruiriam metade dos conhecim entos daFísica. Imprimindo o relatório, importa, contudo, n osabstermos de o propagar.

A advertência da Escola de Medicina da Baviera,contra a adoção do caminho de ferro, nos ofereceexemplo típico dessa antipatia a toda e qualquerinovação.

Aquela corporação de sábios supunha que umdeslocamento tão rápido deveria, infalivelmente,provocar abalo cerebral nos viajantes e vertigens nosespectadores de fora, pelo que recomendavam fosse,pelo menos, construída uma tapagem de madeira decada lado da linha.

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De lembrar, igualmente, a celeuma suscitada peladescoberta da circulação do sangue, feita por Harvey,averbado de louco pelos sábios da sua época, bemcomo a acolhida dispensada à vacina de Jenner, etc.,etc. A invenção da fotografia passou pelas mesmaspenas com Niepce e Daguerre, e, contudo, que mundode revelações ela, a fotografia, não vinha oferecer àCiência! Para citar a Astronomia, diremos que, desde oSol até as nebulosas!

Ninguém ainda se esqueceu do acolhimento que ossábios dispensaram à descober ta de Júpiter e a recusadeles em espiar pelo telescópio de Galileu. Professorbem conhecido, adversário da Bacteriologia, não senegou além de recusar a descoberta do bacilo detuberculose, a utilizar o microscópio do seu próprioassistente, que pretendia apresentar-lhe uma culturabacilar? O Doutor Schrenck.

Notzing lembrou o julgamento de um grande sábio,emitido nos Grenzboten, que nos patenteia a m esmadisposição de espírito : Eu não creio na sugestãohipnótica, até que possa ver um caso; mas, decerto,jamais o verei, visto ser coisa que por questão deprincípio, não me interessa.

Temos de Lord Kelvin, o grande físico inglês, oseguinte depoimento escrito.

Insisto em refutar todas as aparências que induzema aceitar essa mísera superstiçã o do magnetismoanimal, mesas girantes, espiritismo, mesmerismo,

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clarividência. Não existe um sexto sentido de naturezamística. Clarividência e tudo mais, não passam deresultado de más observações, permeadas de imposturavoluntária,, atuando sobre almas simples e crédu las.

Tal o grau de cegueira a que foi conduzida uma dasmaiores mentalidades contemporâneas! Ele não sedigna de estudar, de experimentar, de procurarcompreender.

Podemos aqui juntar Ernesto Haeckel à lista dossábios enceguecidos de falso orgulho, que tê m negadoos fenômenos inexplicados. Em página assaz infeliz dasua obra interessante - Os Enigmas do Universo -depois de mui superficial e apressadamente refere -seaos fenômenos mediúnicos, qualificando -os deaberrações de inteligências exaltadas, fala -nos dosfedores do pensamento, nestes termos:

O a que chamam telepatia , ou ação do pensamentoa distancia e à revelia de intermediário material, nãosaíste, pela mesma razão que não existem espíritos,fantasmas, etc. .

Em que pese a Haeckel e seus pares, a t ransmissãode pensamento, o hipnotismo e outras muitasmanifestações psíquicas têm hoje a sanção de homenseminentes, e o psicólogo ousa conceituar os problemasque se lhe impõem num plano de estudos consideradooutrora como amálgama de superstições emistificações. Raciocinemos antes com Jaurés, páginasatrás. Notemos ainda, com Richet, que a compreensão

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dos fenômenos psíquicos é vedada a umas tantascriaturas .

Temos, em primeiro lugar, homens de grande valornas ciências, verdadeiros catedráticos, altos expoentesno magistério, na administração, competentíssimos emcertos assuntos, muito retos, muito ponderados, mas,que não saem do seu quadro e para os quais a Ciênciajá disse a última palavra sobre todas as coisas .Convencidos, assim, de que as leis . da Natureza estãoperfeitamente conhecidas e definidas ! Estes, são oshomens que de todos os tempos se vêm opondo a todasas novas conquistas : ao movimento da Terra, aotelescópio, à circulação do sangue, aos uranólitos, àvacina, à eletricidade, à iluminação a gás, aoscaminhos de ferro, à fotografia, ao telégrafosubmarino, ao fonógrafo, à aviação, etc. Eles jamaisconsagrariam seu tempo em perquirir essas coisas, porestarem convictos de impossibilidade. São os eternosobstinados, de um cepticismo que lhes parece racional.

A seguir, vem a classe dos malignos, hábeis nosnegócios, falsos, velhacos, inconseqüentes, habituadosa explorar o próximo. Para esses mais vales ser ladrãoque roubado, e não se Ihes dá de mistificar os outrossem escrúpulo. Estes, nas suas atividades epreocupações, jamais podem conceber algo que nãoseja escamoteação, trapaça, artificialismo, nestasperquirições .

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Há, enfim, os igualmente incapazes de ajuizar estesfenômenos, mas, sob outro ponto de vista, a saber: osingênuos, os crédulos, os destituídos de senso crítico,que fazem do Espiritismo uma crença cega, umareligião e que não podem analisar com precisão osefeitos observáveis . Mas, parece -nos que ainda restauma boa parte de homens libertas, no plano daHumanidade.

Confessemos, todavia, que em regra geral oshomens são incapazes de atenção muito demorada eque, no conjunto da espécie terrícola, a indiferençapelo conhecimento da verdade é mais ou menosuniversal. Essa indiferença perpetua a pasmosaignorância, que qualquer observador advertido podeapreender em todos os domínios históricos ecientíficos. Depois de tantos séculos de progresso, detantas descobertas, essa ignorância universal éverdadeiramente fantástica! Não se ama a instrução.Os habitantes do mundo vivem sem saber onde estão emesmo sem a curiosidade de o saberem. As colunasdos jornais andam abarrotadas de atividades esportivasde todo o gênero : campeonatos e disputas develocidade, de musculatura, de natação; jogos,diversões, concertos, jantares, cine mas, paradas,crimes estúpidos, tragédias passionais, anúncios dedrogas, inócuas e venenosas, d issertações políticas,etc. Quanto a progressos científicos e educação geraldo povo, o absenteísmo é completo . E sobretudo, no

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referente aos problemas psíqu icos, que tal ignorânciase torna mais notável e lamentável, pois que isso nosinteressa a todos pessoalmente. O mundo psíquico émais importante e mais vasto que o mundo físico.

Uma palavra ainda: Vale a pena conhecer estenosso mundo psíquico e longe est amos de esgotar oassunto. Não pudemos, tão-pouco, ocupa:-nos com ospróprios fantasmas vistos e ouvidos - um tema querequer estudos muito complexos e nos desdobrahorizontes imprevistos. A mim me parece chegado omomento de consagrar, em que pese ao para doxoaparente, uma obra especial aos fantasmasmetodicamente discutidos à luz das ciências e daobservação. Será esse portanto o objeto do nossopróximo trabalho, visto que o mundo desconhecido ebem maior e mais importante que o mundo conhecido.

FIM