pardela 34

36
REVISTA DA SOCIEDADE PORTUGUESA PARA O ESTUDO DAS AVES NÚMERO 34 | 2009 | 2,00 | GRÁTIS PARA SÓCIOS ardela As aves em revista P ican ço -ba rre te iro A ve do Ano 2009 P r io lo 5 ano s depo is IBA s M a r inhas M issão Cum p r ida !

Upload: pedro-farinha

Post on 01-Mar-2016

220 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Revista Ornitologia

TRANSCRIPT

Page 1: Pardela 34

REVISTA DA SOCIEDADE PORTUGUESA PARA O ESTUDO DAS AVES

€NÚMERO 34 | 2009 | 2,00 | GRÁTIS PARA SÓCIOS

ardelaAs aves em revista

Picanço-barreteiroAve do Ano 2009

Priolo 5 anos depois

IBAs Marinhas Missão Cumprida!

Page 2: Pardela 34

25

Breves

| Programa Marinho

| SPEA Madeira

| SPEA Açores

MnemónicasOrnitológicas

2009 é o ano do

Picanço-barreteiro

Projecto LIFE IBAs Marinhas

2004-2008Missão Cumprida!

Observaçãode Aves Marinhas

na Ilha da Madeira

Priolo5 anos depois

Recuperação de Aves Selvagens

Causas de ingresso - II

Decifrandoos nomes científicos...

| 6

| 7

| 4

| 10

| 11

| 14

| 16

| 18

| 20

| 22

| 24

2 | ardela As aves em revista | N.º 34

EDITORIAL ÍNDICE

SeixalUm dos segredos

mais bem guardados do estuário do Tejo

Falsterbono centro da principal rota

migratória do Norte da Europa

CONCURSOFOTOREDE NATURA 2000

Vencedores

VII – Memórias de trabalhos etnozoológicos no Rif (Marrocos)

| Onde Observar o Noitibó-cinzento

Caprimulgus europaeus

Voando com as Aves no Passado

Juvenis

| A Ciência das Aves

| Ciber-OrnitofiliaObservar aves

Sozinho em Grupo?!

| 25

PARDELA N.º 34 | 2009

DIRECTOR: Carlos Pereira

COMISSÃO EDITORIAL: Ana Leal, Carlos Pereira, Maria Dias e Vanessa Oliveira

FOTOGRAFIA DA CAPA:Picanço-barreteiro Lanius senatorde Joaquim Antunes

FOTOGRAFIAS: Ana Isabel Fagundes,André Gonçalves, André Vieira, Arnaldo Carvalho, Artur Vaz Oliveira, Bruno Abreu, Bruno Domingues, Carlos Pimenta, Carlos Ribeiro, Domingos Leitão, Fábia Azevedo, Faísca, Gabriel Lascas, Guilherme Lima, Helder Costa, Iván Ramírez, João Neves, João Reis, Joaquim Teodósio, Jorge Rodrigues, José Viana, Maria Marques, Marta Moreno-García, Nuno Botelho, Orlando Teixeira, Pedro Geraldes, Pedro Lourenço, Pedro Monteiro, Pedro Nunes, Pedro Sousa, Ricardo Brandão, Susana Figueiredo, Vanessa Arede

TEXTOS: Alexandra Lopes, Ana Isabel Fagundes, Carlos Pimenta, Domingos Leitão, Equipa do LIFE Priolo, Gonçalo Elias, Helder Costa, Iván Ramírez, Joana Domingues, João Petronilho, Luís Gordinho, Marco Correia, Marta Moreno-Garcia, Paulo Marques, Pedro Lourenço, Ricardo Brandão, Sílvia Nunes,Vanessa Oliveira.

ILUSTRAÇÕES:João Tiago Tavares, Marco Correia, Paulo Alves e Pedro Alvito.

PAGINAÇÃO E GRAFISMO:BB3design.com

IMPRESSÃO:Rolo & Filhos SA

TIRAGEM:1500 exemplares

ISSN 0873-1124

Depósito legal: 189 332/02

Os artigos assinados exprimem a opinião dos seus autores e não necessariamente a da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves

A fotografia de aves, nomeadamente em locais de reprodução, comporta algum risco de perturbação para as mesmas. A grande maioria das fotografias incluídas nesta publicação foi tirada no decorrer de estudos científicos e de conservação sobre as espécies, tendo os seus autores tomado as precauções necessárias para diminuir ao máximo o grau de perturbação sobre as aves.

A SPEA agradece a todos os que gentilmente colaboraram com textos, fotografias e ilustrações.

SPEA - DIRECÇÃO NACIONAL

Presidente: Ricardo ToméVice-presidente: Maria Ana Peixe DiasSecretária: Ana LealTesoureiro: Pedro GuerreiroVogais: João Jara, Paulo Travassos, Pedro Coelho Avenida da Liberdade, nº 105 2º Esq.1250-140 LisboaTel. 213 220 430 | Fax 213 220 439E-mail: [email protected] www.spea.pt

A SPEA é uma Organização Não Governamental de Ambiente que tem como missão o estudo e a conservação das aves e dos seus habitats em Portugal, promovendo um desenvolvimento que garanta a viabilidade do património natural para usufruto das gerações vindouras. Faz parte da BirdLife International, uma organização internacional que actua em mais de 100 países. Como associação sem fins lucrativos, depende do apoio dos sócios e de diversas entidades para concretizar as suas acções.

Para patrocínios contactar: Joana Domingues: [email protected]

ardelaFICHA TÉCNICA

BirdI N T E R N A T I O N A L

Life

6

| 11

Jorg

e R

odrig

ues

Bru

no D

omin

gues

Falsterbo

Priolo

| 28

| 30

| 32

7

Iván

Ram

írez

Projecto LIFE IBAs Marinhas

Novo ano, vida nova, e uma nova Pardela junto de si!

A revista Pardela, que já vai na sua 34ª edição, tem acompanhado o crescimento e a evolução da SPEA ao lon-go dos seus 15 anos de existência. Passámos por vários for-matos, temas e rubricas, tendo sido já muitos os sócios e amigos que colaboraram neste projecto (como autores, fotógrafos e ilustradores) e aos quais deixamos aqui reno-vado agradecimento.

A Pardela é o meio privilegiado de comunicação com os sócios, cujo perfil é cada vez mais abrangente, servindo também para divulgar as aves, a SPEA e os seus projectos junto de públicos que ainda não nos conhecem. Neste sentido, temos tentado diversificar as temáticas aborda-das, pois as aves estão presentes nas nossas vidas de muitas formas: são objecto de estudo para os profissio-nais, de lazer para os birdwatchers de todos os níveis, fonte de inspiração para fotógrafos e outros artistas, e acima de tudo são parte fundamental dos ecossistemas, dos quais nós, os humanos, fazemos parte (apesar de nem sempre nos lembrarmos disso), funcionando como excelentes bio-indicadores.

A Pardela pretende ser um hino às aves, dando a conhe-cer a quem a folheia paragens próximas e distantes, espé-cies, notícias do mundo das aves, actividades, projectos e problemáticas de conservação, entre outros assuntos, sempre acompanhados por imagens cativantes.

E é com o sentido de cada vez fazer mais e melhor que continuamos, pois sentimos que é nosso dever, sempre cumprido com muito gosto, divulgar as aves e a Natureza, tentando sensibilizar todos os que nos lêem para a sua conservação. E para objectivos tão ambiciosos, 36 páginas nem sempre chegam…

Fale connosco e ajude-nos a fazer uma Pardela cada vez melhor. As suas sugestões e comentários serão sempre bem-vindos:

o e-mail [email protected] está à sua disposição.

A Comissão Editorial da Pardela

Esta edição contou com os patrocínios de: Pentax, Steiner e TradiCampo.

Picanço-barreteiro2009 é o ano do

2004-2008

anosdepois5

Recuperação deAves Selvagens

Fáb

ia A

zeve

do

Ped

ro L

oure

nço

| 14

| 22

Orla

ndo

Pau

lo T

eixe

ira

CONCURSOFOTOREDE NATURA 2000

o seu olharsobre a natureza

| 34

| 3ardela As aves em revistaN.º 34 |

Page 3: Pardela 34

25

Breves

| Programa Marinho

| SPEA Madeira

| SPEA Açores

MnemónicasOrnitológicas

2009 é o ano do

Picanço-barreteiro

Projecto LIFE IBAs Marinhas

2004-2008Missão Cumprida!

Observaçãode Aves Marinhas

na Ilha da Madeira

Priolo5 anos depois

Recuperação de Aves Selvagens

Causas de ingresso - II

Decifrandoos nomes científicos...

| 6

| 7

| 4

| 10

| 11

| 14

| 16

| 18

| 20

| 22

| 24

2 | ardela As aves em revista | N.º 34

EDITORIAL ÍNDICE

SeixalUm dos segredos

mais bem guardados do estuário do Tejo

Falsterbono centro da principal rota

migratória do Norte da Europa

CONCURSOFOTOREDE NATURA 2000

Vencedores

VII – Memórias de trabalhos etnozoológicos no Rif (Marrocos)

| Onde Observar o Noitibó-cinzento

Caprimulgus europaeus

Voando com as Aves no Passado

Juvenis

| A Ciência das Aves

| Ciber-OrnitofiliaObservar aves

Sozinho em Grupo?!

| 25

PARDELA N.º 34 | 2009

DIRECTOR: Carlos Pereira

COMISSÃO EDITORIAL: Ana Leal, Carlos Pereira, Maria Dias e Vanessa Oliveira

FOTOGRAFIA DA CAPA:Picanço-barreteiro Lanius senatorde Joaquim Antunes

FOTOGRAFIAS: Ana Isabel Fagundes,André Gonçalves, André Vieira, Arnaldo Carvalho, Artur Vaz Oliveira, Bruno Abreu, Bruno Domingues, Carlos Pimenta, Carlos Ribeiro, Domingos Leitão, Fábia Azevedo, Faísca, Gabriel Lascas, Guilherme Lima, Helder Costa, Iván Ramírez, João Neves, João Reis, Joaquim Teodósio, Jorge Rodrigues, José Viana, Maria Marques, Marta Moreno-García, Nuno Botelho, Orlando Teixeira, Pedro Geraldes, Pedro Lourenço, Pedro Monteiro, Pedro Nunes, Pedro Sousa, Ricardo Brandão, Susana Figueiredo, Vanessa Arede

TEXTOS: Alexandra Lopes, Ana Isabel Fagundes, Carlos Pimenta, Domingos Leitão, Equipa do LIFE Priolo, Gonçalo Elias, Helder Costa, Iván Ramírez, Joana Domingues, João Petronilho, Luís Gordinho, Marco Correia, Marta Moreno-Garcia, Paulo Marques, Pedro Lourenço, Ricardo Brandão, Sílvia Nunes,Vanessa Oliveira.

ILUSTRAÇÕES:João Tiago Tavares, Marco Correia, Paulo Alves e Pedro Alvito.

PAGINAÇÃO E GRAFISMO:BB3design.com

IMPRESSÃO:Rolo & Filhos SA

TIRAGEM:1500 exemplares

ISSN 0873-1124

Depósito legal: 189 332/02

Os artigos assinados exprimem a opinião dos seus autores e não necessariamente a da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves

A fotografia de aves, nomeadamente em locais de reprodução, comporta algum risco de perturbação para as mesmas. A grande maioria das fotografias incluídas nesta publicação foi tirada no decorrer de estudos científicos e de conservação sobre as espécies, tendo os seus autores tomado as precauções necessárias para diminuir ao máximo o grau de perturbação sobre as aves.

A SPEA agradece a todos os que gentilmente colaboraram com textos, fotografias e ilustrações.

SPEA - DIRECÇÃO NACIONAL

Presidente: Ricardo ToméVice-presidente: Maria Ana Peixe DiasSecretária: Ana LealTesoureiro: Pedro GuerreiroVogais: João Jara, Paulo Travassos, Pedro Coelho Avenida da Liberdade, nº 105 2º Esq.1250-140 LisboaTel. 213 220 430 | Fax 213 220 439E-mail: [email protected] www.spea.pt

A SPEA é uma Organização Não Governamental de Ambiente que tem como missão o estudo e a conservação das aves e dos seus habitats em Portugal, promovendo um desenvolvimento que garanta a viabilidade do património natural para usufruto das gerações vindouras. Faz parte da BirdLife International, uma organização internacional que actua em mais de 100 países. Como associação sem fins lucrativos, depende do apoio dos sócios e de diversas entidades para concretizar as suas acções.

Para patrocínios contactar: Joana Domingues: [email protected]

ardelaFICHA TÉCNICA

BirdI N T E R N A T I O N A L

Life

6

| 11

Jorg

e R

odrig

ues

Bru

no D

omin

gues

Falsterbo

Priolo

| 28

| 30

| 32

7

Iván

Ram

írez

Projecto LIFE IBAs Marinhas

Novo ano, vida nova, e uma nova Pardela junto de si!

A revista Pardela, que já vai na sua 34ª edição, tem acompanhado o crescimento e a evolução da SPEA ao lon-go dos seus 15 anos de existência. Passámos por vários for-matos, temas e rubricas, tendo sido já muitos os sócios e amigos que colaboraram neste projecto (como autores, fotógrafos e ilustradores) e aos quais deixamos aqui reno-vado agradecimento.

A Pardela é o meio privilegiado de comunicação com os sócios, cujo perfil é cada vez mais abrangente, servindo também para divulgar as aves, a SPEA e os seus projectos junto de públicos que ainda não nos conhecem. Neste sentido, temos tentado diversificar as temáticas aborda-das, pois as aves estão presentes nas nossas vidas de muitas formas: são objecto de estudo para os profissio-nais, de lazer para os birdwatchers de todos os níveis, fonte de inspiração para fotógrafos e outros artistas, e acima de tudo são parte fundamental dos ecossistemas, dos quais nós, os humanos, fazemos parte (apesar de nem sempre nos lembrarmos disso), funcionando como excelentes bio-indicadores.

A Pardela pretende ser um hino às aves, dando a conhe-cer a quem a folheia paragens próximas e distantes, espé-cies, notícias do mundo das aves, actividades, projectos e problemáticas de conservação, entre outros assuntos, sempre acompanhados por imagens cativantes.

E é com o sentido de cada vez fazer mais e melhor que continuamos, pois sentimos que é nosso dever, sempre cumprido com muito gosto, divulgar as aves e a Natureza, tentando sensibilizar todos os que nos lêem para a sua conservação. E para objectivos tão ambiciosos, 36 páginas nem sempre chegam…

Fale connosco e ajude-nos a fazer uma Pardela cada vez melhor. As suas sugestões e comentários serão sempre bem-vindos:

o e-mail [email protected] está à sua disposição.

A Comissão Editorial da Pardela

Esta edição contou com os patrocínios de: Pentax, Steiner e TradiCampo.

Picanço-barreteiro2009 é o ano do

2004-2008

anosdepois5

Recuperação deAves Selvagens

Fáb

ia A

zeve

do

Ped

ro L

oure

nço

| 14

| 22

Orla

ndo

Pau

lo T

eixe

ira

CONCURSOFOTOREDE NATURA 2000

o seu olharsobre a natureza

| 34

| 3ardela As aves em revistaN.º 34 |

Page 4: Pardela 34

BREVES

| 5ardela As aves em revistaN.º 34 |

A SPEA está a dinamizar o projecto “Aumenta a Biodiversidade da tua escola e da tua cidade! Construção de come-douros e caixas-ninhos para aves”, em parceria com o FAPAS (Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens), e com o apoio do Programa AGIR-Am-biente 2008 da Fundação Calouste Gulbenkian.

Este projecto, que decorre desde Janeiro e terminará no próximo mês de Julho, tem como objectivo a divulgação da biodiversidade existente nas cida-des, em particular para o público em idade escolar. Os participantes vão aprender a identificar as espécies de aves típicas das suas cidades, a cons-truir comedouros para aves reutili-zando embalagens usadas, e a construir e colocar caixas-ninhos nas escolas ou proximidade das mesmas.

Aumenta aBiodiversidadeda tua escolae da tua cidade!

Em Outubro, foi aprovado o Decreto Regulamentar que cria a Zona de Pro-tecção Especial (ZPE) de Torre da Bolsa, em Elvas. Esta área, de apenas 900 ha, alberga populações importantes de três espécies de aves Globalmente Ameaça-das (Francelho, Abetarda e Sisão). Esta ZPE foi criada por imposição da Co-missão Europeia, na sequência de uma queixa formal da SPEA contra o Estado Português, por não designar um núme-ro suficiente de ZPE para a conservação de aves das estepes cerealíferas.

Elvastem novaZona deProtecção Especialpara as Aves

O VI Congresso de Ornitologia da SPEA & IV Congresso Ibérico de Ornito-logia está marcado para os dias 5 a 8 de Dezembro de 2009, em Elvas. O evento, organização conjunta com a Sociedad Es-pañola de Ornitología (SEO/BirdlLife), conta desde o primeiro momento com o apoio da Câmara Municipal de Elvas.Já estão abertas as inscrições para o con-gresso e o período para submissão de re-sumos para comunicações orais e pos-ters, com prazo até 31 de Maio.

Elvas5 a 8 de Dezembro 2009

VI Congressode Ornitologiada

O “Atlas das Aves Nidificantes em Portugal”, lançado em Dezembro, é uma nova obra de referência para a Orni-tologia Portuguesa! São 600 páginas a cores, com informação sobre a distri-buição das aves nidificantes, acompa-nhadas por belas ilustrações.

Esta publicação, da Assírio & Alvim, é fruto de uma parceria entre o Instituto de Conservação da Natureza e Biodiver-sidade, a SPEA, o Parque Natural da Ma-deira e a Secretaria Regional do Am-biente e do Mar dos Açores e contou com a ajuda de mais de 500 voluntários e colaboradores. O livro está à venda na loja SPEA, e disponível para consulta na Sede da SPEA.

Saiu onovo

Atlas das AvesNidificantes em Portugal

Uma nova espécie de ave marinha, o Painho de Monteiro Oceanodroma monteiroi, foi descrita recentemente num artigo científico publicado na re-vista científica Ibis. Esta espécie, an-teriormente considerada como uma população do Roquinho Oceanodroma castro, foi diferenciada devido a resul-tados de estudos genéticos efectuados em colónias do Oceano Atlântico e Pacífico. O Painho de Monteiro torna-se assim uma nova espécie endémica dos Açores, de nidificação restrita apenas a dois pequenos ilhéus, e com uma popu-lação estimada em cerca de 250-300 casais. Este estudo teve como principal impulsionador o Doutor Luís Monteiro, falecido em 1999, a quem é prestada uma sincera e merecida homenagem.

SPEA e Qual Albatroz juntam-se à campanha da BirdLife

“Save the Albatross”!Brevemente à venda na Loja SPEA! Os lucros da venda revertem a favor da campanha.

Esteja atento ao lançamento desta pjá disponíveis em www.qualalbatroz.pt

ublicação e às tiras cómicas

A SPEA coordena desde Janeiro dois novos projectos LIFE+.

O Projecto Laurissilva Sustentável visa a recuperação, conservação e ges-tão sustentável dos habitats naturais da serra da Tronqueira e do Planalto dos Graminhais na ilha de São Miguel, bem como a procura de benefícios para a economia local através da gestão do sítio e do fomento do turismo de natu-reza. O projecto, com uma duração pre-vista de quatro anos, é uma parceria entre a SPEA, a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar e a Câmara Munici-pal da Povoação, no valor de 2.297.598 euros, financiados pela União Europeia a 71,5%.

O Projecto “Safe Islands for Seabirds” (LIFE Corvo), também com uma dura-ção de quatro anos, é liderado pela SPEA em parceria com a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar, da Câmara Municipal do Corvo e da Royal Society for the Protection of Birds, no valor total de 1.057.761 euros, financiado pela União Europeia a 50%. O projecto tem como objectivo aumentar, a longo prazo, o número e a área de distribuição das aves marinhas nas ilhas de São Miguel e do Corvo, nos Açores, através de acções de gestão de habitat com vista à minimização das principais ameaças.

Projectos

LIFE+para 2009

O “Semear o Futuro II – uma agricultura com biodiversidade” é um projecto de comunicação para agricul-tores e técnicos agrícolas sobre agri-cultura sustentável e conservação das aves e da biodiversidade em meios agrícolas. O projecto, iniciado em Ja-neiro, está previsto decorrer ao longo de dois anos, e inclui a edição de materiais informativos e a organização de semi-nários e campanhas; é financiado pelo Fundo ONG – Componente Ambiente do mecanismo financeiro do Espaço Económico Europeu.

Semear o

Futuro IIuma agriculturacom biodiversidade

A SPEA integra desde Dezembro a “EPSON Gardunha Biodiversity Initiati-ve”, que tem como objectivo restaurar a biodiversidade na Serra da Gardunha, no concelho do Fundão, através da re-florestação com espécies autóctones de uma área devastada por incêndios. A SPEA é responsável pela componente de caracterização e monitorização da fauna.

O projecto, patrocinado pela EPSON, tem como parceiros a Câmara Munici-pal do Fundão, a Gardunha Verde, a Pi-nus Verde, a Agência Gardunha 21 e a SPEA.

integra EPSONGardunhaBiodiversityInitiative

ardela As aves em revista4 | | N.º 34

Nova espécie de ave marinhapara os Açores:

Painho de Monteiro

NOVOS PROJECTOS

João

Nev

es

Dom

ingo

s Le

itão

Ped

ro G

eral

des

Page 5: Pardela 34

BREVES

| 5ardela As aves em revistaN.º 34 |

A SPEA está a dinamizar o projecto “Aumenta a Biodiversidade da tua escola e da tua cidade! Construção de come-douros e caixas-ninhos para aves”, em parceria com o FAPAS (Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens), e com o apoio do Programa AGIR-Am-biente 2008 da Fundação Calouste Gulbenkian.

Este projecto, que decorre desde Janeiro e terminará no próximo mês de Julho, tem como objectivo a divulgação da biodiversidade existente nas cida-des, em particular para o público em idade escolar. Os participantes vão aprender a identificar as espécies de aves típicas das suas cidades, a cons-truir comedouros para aves reutili-zando embalagens usadas, e a construir e colocar caixas-ninhos nas escolas ou proximidade das mesmas.

Aumenta aBiodiversidadeda tua escolae da tua cidade!

Em Outubro, foi aprovado o Decreto Regulamentar que cria a Zona de Pro-tecção Especial (ZPE) de Torre da Bolsa, em Elvas. Esta área, de apenas 900 ha, alberga populações importantes de três espécies de aves Globalmente Ameaça-das (Francelho, Abetarda e Sisão). Esta ZPE foi criada por imposição da Co-missão Europeia, na sequência de uma queixa formal da SPEA contra o Estado Português, por não designar um núme-ro suficiente de ZPE para a conservação de aves das estepes cerealíferas.

Elvastem novaZona deProtecção Especialpara as Aves

O VI Congresso de Ornitologia da SPEA & IV Congresso Ibérico de Ornito-logia está marcado para os dias 5 a 8 de Dezembro de 2009, em Elvas. O evento, organização conjunta com a Sociedad Es-pañola de Ornitología (SEO/BirdlLife), conta desde o primeiro momento com o apoio da Câmara Municipal de Elvas.Já estão abertas as inscrições para o con-gresso e o período para submissão de re-sumos para comunicações orais e pos-ters, com prazo até 31 de Maio.

Elvas5 a 8 de Dezembro 2009

VI Congressode Ornitologiada

O “Atlas das Aves Nidificantes em Portugal”, lançado em Dezembro, é uma nova obra de referência para a Orni-tologia Portuguesa! São 600 páginas a cores, com informação sobre a distri-buição das aves nidificantes, acompa-nhadas por belas ilustrações.

Esta publicação, da Assírio & Alvim, é fruto de uma parceria entre o Instituto de Conservação da Natureza e Biodiver-sidade, a SPEA, o Parque Natural da Ma-deira e a Secretaria Regional do Am-biente e do Mar dos Açores e contou com a ajuda de mais de 500 voluntários e colaboradores. O livro está à venda na loja SPEA, e disponível para consulta na Sede da SPEA.

Saiu onovo

Atlas das AvesNidificantes em Portugal

Uma nova espécie de ave marinha, o Painho de Monteiro Oceanodroma monteiroi, foi descrita recentemente num artigo científico publicado na re-vista científica Ibis. Esta espécie, an-teriormente considerada como uma população do Roquinho Oceanodroma castro, foi diferenciada devido a resul-tados de estudos genéticos efectuados em colónias do Oceano Atlântico e Pacífico. O Painho de Monteiro torna-se assim uma nova espécie endémica dos Açores, de nidificação restrita apenas a dois pequenos ilhéus, e com uma popu-lação estimada em cerca de 250-300 casais. Este estudo teve como principal impulsionador o Doutor Luís Monteiro, falecido em 1999, a quem é prestada uma sincera e merecida homenagem.

SPEA e Qual Albatroz juntam-se à campanha da BirdLife

“Save the Albatross”!Brevemente à venda na Loja SPEA! Os lucros da venda revertem a favor da campanha.

Esteja atento ao lançamento desta pjá disponíveis em www.qualalbatroz.pt

ublicação e às tiras cómicas

A SPEA coordena desde Janeiro dois novos projectos LIFE+.

O Projecto Laurissilva Sustentável visa a recuperação, conservação e ges-tão sustentável dos habitats naturais da serra da Tronqueira e do Planalto dos Graminhais na ilha de São Miguel, bem como a procura de benefícios para a economia local através da gestão do sítio e do fomento do turismo de natu-reza. O projecto, com uma duração pre-vista de quatro anos, é uma parceria entre a SPEA, a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar e a Câmara Munici-pal da Povoação, no valor de 2.297.598 euros, financiados pela União Europeia a 71,5%.

O Projecto “Safe Islands for Seabirds” (LIFE Corvo), também com uma dura-ção de quatro anos, é liderado pela SPEA em parceria com a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar, da Câmara Municipal do Corvo e da Royal Society for the Protection of Birds, no valor total de 1.057.761 euros, financiado pela União Europeia a 50%. O projecto tem como objectivo aumentar, a longo prazo, o número e a área de distribuição das aves marinhas nas ilhas de São Miguel e do Corvo, nos Açores, através de acções de gestão de habitat com vista à minimização das principais ameaças.

Projectos

LIFE+para 2009

O “Semear o Futuro II – uma agricultura com biodiversidade” é um projecto de comunicação para agricul-tores e técnicos agrícolas sobre agri-cultura sustentável e conservação das aves e da biodiversidade em meios agrícolas. O projecto, iniciado em Ja-neiro, está previsto decorrer ao longo de dois anos, e inclui a edição de materiais informativos e a organização de semi-nários e campanhas; é financiado pelo Fundo ONG – Componente Ambiente do mecanismo financeiro do Espaço Económico Europeu.

Semear o

Futuro IIuma agriculturacom biodiversidade

A SPEA integra desde Dezembro a “EPSON Gardunha Biodiversity Initiati-ve”, que tem como objectivo restaurar a biodiversidade na Serra da Gardunha, no concelho do Fundão, através da re-florestação com espécies autóctones de uma área devastada por incêndios. A SPEA é responsável pela componente de caracterização e monitorização da fauna.

O projecto, patrocinado pela EPSON, tem como parceiros a Câmara Munici-pal do Fundão, a Gardunha Verde, a Pi-nus Verde, a Agência Gardunha 21 e a SPEA.

integra EPSONGardunhaBiodiversityInitiative

ardela As aves em revista4 | | N.º 34

Nova espécie de ave marinhapara os Açores:

Painho de Monteiro

NOVOS PROJECTOS

João

Nev

es

Dom

ingo

s Le

itão

Ped

ro G

eral

des

Page 6: Pardela 34

6 | ardela As aves em revista | N.º 34

votação foi renhida entre as três espécies seleccionadas, mas os sócios escolheram, e o Picanço- A

-barreteiro foi o eleito. Pelo terceiro ano consecutivo temos o desafio de divulgar a Ave do Ano, sendo o grande tema deste ano as aves dos meios rurais, e o Pi-canço-barreteiro o seu representante.

O Picanço-barreteiro frequenta ha-bitats agro-florestais, como montados abertos, mas também olivais, pomares, sebes e matas ribeirinhas. É uma espécie com estatuto de "Quase Ame-açado" em Portugal e que, tal como ou-tras espécies comuns de zonas agrícolas e agro-florestais, se encontra em declí-nio por toda a Europa. As várias espé-cies de picanços, e as aves das zonas agrícolas em geral, têm diminuído dras-ticamente, tendo decrescido mais de 50% desde 1980. A intensificação agrí-cola e florestal, o aumento do uso de pesticidas, a diminuição dos prados e sebes, a florestação com espécies exóti-cas e as alterações climáticas têm contribuído para esta situação. As me-didas de conservação propostas para o Picanço-barreteiro indicadas pelo Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal incluem o aumento do conhecimento e a monitorização das suas populações, a conserva-ção dos montados de sobro e dos siste-mas agrícolas extensivos.

2009 é o ano do

Picanço-barreteiro

Picanço-barreteiro

A organização do concurso “Desenha a mascote Ave do Ano 2009” foi a pri-meira acção lançada no decorrer da cam-panha Ave do Ano. Este mês de Março será também lançada a terceira edição do concurso “Conheça as Aves da Sua Propriedade”, destinada a agricultores que queiram saber mais sobre as aves dos seus campos, no qual o Picanço-barreteiro terá um lugar de destaque. Outras acções de sensibilização estão previstas no âmbito do novo projecto

Semear o Futuro II – uma Agricultura com Biodiversidade, de modo a promover uma agricultura mais

sustentável junto dos agricultores e do público em geral.

A página alusiva à Ave do Ano, inserida no site da SPEA, apresentará entre outros, os regulamentos dos concursos, curiosidades sobre o Picanço-barre-teiro e ligações a acções de voluntariado relacionadas com contagens de aves (CAC, CANAN e Projecto Chegadas – pa-ra mais informações ir a www.spea.pt). Merece igual destaque a actividade “Um dia com o Picanço-barreteiro”! Para este dia estamos a preparar saídas de campo, workshops e um almoço biológico, tudo a decorrer num espaço rural. E conta-mos consigo para passar um dia agra-dável com a sua família, na companhia da SPEA e do Picanço-barreteiro!

Autores: Joana Domingues eDomingos Leitão

As regras ã simples e estão d sp ní e s

s o

i o v i

n site d SPE ww.spea.

w

pt

oa

A

.

Pro uramo uma m g m forte, a -

cs

i a e pe

la v boni . u remos a sh rt

ti a eta Q e

t- i

dos que ra er! Por iss

que to i m t

o

e is m s da tua cri ti id de.

pr c a o a v a

ão á m tes d ida e ne

N h li ie d , m é

e is e um Pic ss

pr c o s ra o

ara pa ticipa

pr

r!

é umSe s

par cia no c

c so

tip

onur

tale

to sc

odi

ne

ndo

Faís

ca

José

Via

na

Como identificarum Picanço-barreteiro e onde o posso encontrar?

O Picanço-barreteiro Lanius senator é conhecido pela sua bonita plumagem, de onde se destaca o castanho-aver-melhado da coroa e nuca, mais arrui-vada nas fêmeas, e o preto e branco do corpo. Esta pequena ave migradora inverna em África e regressa ao nosso país na Primavera para se reproduzir. A sua dieta consiste em grandes insectos e pequenos vertebrados.

Podemos encontrar este passeriforme em todo o país, sendo mais comum no interior norte e sul do território em mon-tados abertos, charnecas ou pomares, pousando sobretudo em locais altos.

ES NHA A ASC ED E M OT

Os trabal os enviados serão alvo e oh

d vtação pe o sócios da SPEA e de um júri l s

onstituíd por elemento da SPEA e da

c os empresa parceira “Qu l Al atroz?”

a b .Os trabalho a con rso serão colocados s cun site d SPEA e o vence or erá a sua

o ad vt-shirt produzida com a sua assina

tura. Participa até 12 de Abr l i e env a ios trabalhos para:

Page 7: Pardela 34

Projecto LIFE IBAs Marinhas

2004-2008

Missão Cumprida!A IdeiaEstávamos no ano de 2003 quando a SPEA decidiu candi-

datar, em colaboração com o parceiro Espanhol da BirdLife (SEO/BirdLife), um projecto LIFE para realizar o primeiro inventário de IBAs (zonas importantes para as aves, IBAs no seu acrónimo inglês) Marinhas de Portugal.

Pouco a pouco, página a página, e devido sobretudo ao esforço e dedicação da Manuela Nunes, então a trabalhar na SPEA, a ideia vai tomando forma e no final do mês de Outubro de 2003 converte-se numa candidatura ao pro-grama LIFE Natureza de mais de 120 páginas. Os parceiros do Projecto são o Instituto para a Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB), o Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP) e o Instituto do Mar (IMAR) nos Açores, o Par-que Natural da Madeira, a Universidade de Aveiro e o Insti-tuto de Investigação das Pescas e do Mar (IPIMAR). No final, a proposta tinha um orçamento total de 1.515.000 €.

O ProjectoOutubro de 2004. O Projecto LIFE está aprovado e prestes a

começar. Luís Costa tinha acabado de ser promovido a Director Exe-

cutivo da SPEA e Iván Ramírez, nessa altura Coordenador do Programa IBAs, tem à sua frente quatro anos de duro traba-lho para implementar o novo projecto LIFE IBAs marinhas. É necessário contratar novos profissionais para esta missão: chegam Pedro Geraldes e Ana Meirinho à Sede da SPEA, e a Patrícia Amorim ao DOP-Açores (no âmbito da parceria do Projecto). Também chega um estudante de Doutoramento através da Universidade de Coimbra: Vítor Paiva. A equipa permanente está constituída, agora é apenas necessário trabalhar duro.

| 7ardela As aves em revistaN.º 34 |

Page 8: Pardela 34

| 9ardela As aves em revistaN.º 34 |

PI ÉU LQR AA GO

10

ºW

20

ºW

30

ºW

40ºN

30ºN

PI É LUAQ

GR

OA

A T L O ÂN NATE

ICCO

O

rg

Pot

ua

l

Ep

an

ha

s

ah

ar

S

a

Oc

d

n

i

e

ta

l

Ar

é l i a

g

Ma r

cr o

o s

Ma u

t

i a

r iâ n

aM

l i

PTM02

PTM03

PTM04

PTM09

PTM13

PTM11

PTM12

PTM08

PTM07

PTM06

PTM05

PTM14

PTM15

PTM10

MA01

PTM01

MA02MA03

MA04

PTM16

PTM17

MA05

MA07MA06

MA08

MA09

MA10

L AH SI

IBAs Marinhas

Áreas importantesidentificadas forada ZEE de Portugal

Limite da ZonaEconómica Exclusiva

Zona Continental Portuguesa

PTM01 - Figueira da FozPTM02 - BerlengasPTM03 - Cabo RasoPTM04 - Ria Formosa

Arquipélago dos Açores

PTM05 - Corvo e Flores PTM06 - Faial PTM07 - Pico NortePTM08 - São Jorge - OestePTM09 - São Jorge - NordestePTM10 - GraciosaPTM11 - TerceiraPTM12 - São Miguel - SulPTM13 - Santa MariaPTM14 - Norte do Corvo - OceânicaPTM15 - Norte do Corvo e Faial - Oceânica

MA01/MA02/MA03/MA04

Áreas Marinhasidentificadas em águasinternacionais

Quer conhecer mais sobreosresultados deste projecto?

Consulte a nossa página Web em:http://lifeibasmarinhas.spea.pt/

Autor: Iván Ramirez

Também pode adquirir uma cópia da publicação

“Áreas Importantes para asAves Marinhas em Portugal”

nas sedes da SPEA.

Participantes na viagem

Ana

Pon

tes

Participantes na viagem

IPIMAR

universidadede aveiro

SEO/BirdLife

Parceiros

50 100 500 1000 2000 3000 4000 5000 6000 m

Arquipélago da Madeira

PTM16 - DesertasPTM17 - Selvagens

O Esforço Anos 2005 a 2007. O Projecto LIFE

IBAs Marinhas avança com passo firme. São realizados os primeiros embarques e a equipa, com o apoio dos consulto-res, aprende a colocar data-loggers ou a analisar as variáveis ambientais e ma-rinhas. A colaboração com os parceiros é total e vão-se atingindo os objectivos estabelecidos.

No fim do projecto, o esforço de amos-tragem traduzir-se-ia em quase 300 aves marinhas marcadas e mais de 400 via-gens individuais registadas com data- -loggers nas colónias de aves marinhas do Continente, Açores e Madeira. Perto de 65 000 km percorridos no mar, mais de 4000 km de censos aéreos... Todas as dúvidas iniciais vão encontrando res-posta e o mapa de IBAs marinhas come-ça a ser uma realidade... No final de 2007 recebemos uma excelente notícia: um júri internacional dá ao projecto o 1.º Prémio Nacional BES de Biodiversidade.

Os ResultadosAno 2008. O Projecto LIFE IBAs Ma-

rinhas chega agora ao seu final, e com ele é publicado o primeiro Inventário Nacional de IBAs Marinhas. Esta publi-cação constitui não só o melhor estudo sobre a distribuição das aves marinhas na ZEE Portuguesa, mas também um guia para os países que começam agora identificar as suas IBAs Marinhas e que olham para Portugal e a SPEA como um (bom) exemplo a seguir.

O projecto tem sido um êxito e po-demos sorrir:

Missão Cumprida!

Participantes na viagem

Ana

Pon

tes

8 | ardela As aves em revista | N.º 34

Ana

Pon

tes

100 200 km0

Áreas Marinhasidentificadas situadasem águas territoriaisde outros países

MA05/MA06/MA07/MA08/MA09/MA10

Page 9: Pardela 34

| 9ardela As aves em revistaN.º 34 |

PI ÉU LQR AA GO

10

ºW

20

ºW

30

ºW

40ºN

30ºN

PI É LUAQ

GR

OA

A T L O ÂN NATE

ICCO

O

rg

Pot

ua

l

Es

pa

nh

a

a

a

S

h

ra

O

d

n

ci

e

ta

l

A

é l

r g

i a

a

c

Mr r o

o s

a

t

i

Mu r i

â na

Ma l i

PTM02

PTM03

PTM04

PTM09

PTM13

PTM11

PTM12

PTM08

PTM07

PTM06

PTM05

PTM14

PTM15

PTM10

MA01

PTM01

MA02MA03

MA04

PTM16

PTM17

MA05

MA07MA06

MA08

MA09

MA10

L AH SI

IBAs Marinhas

Áreas importantesidentificadas forada ZEE de Portugal

Limite da ZonaEconómica Exclusiva

Zona Continental Portuguesa

PTM01 - Figueira da FozPTM02 - BerlengasPTM03 - Cabo RasoPTM04 - Ria Formosa

Arquipélago dos Açores

PTM05 - Corvo e Flores PTM06 - Faial PTM07 - Pico NortePTM08 - São Jorge - OestePTM09 - São Jorge - NordestePTM10 - GraciosaPTM11 - TerceiraPTM12 - São Miguel - SulPTM13 - Santa MariaPTM14 - Norte do Corvo - OceânicaPTM15 - Norte do Corvo e Faial - Oceânica

MA01/MA02/MA03/MA04

Áreas Marinhasidentificadas em águasinternacionais

Quer conhecer mais sobreosresultados deste projecto?

Consulte a nossa página Web em:http://lifeibasmarinhas.spea.pt/

Autor: Iván Ramirez

Também pode adquirir uma cópia da publicação

“Áreas Importantes para asAves Marinhas em Portugal”

nas sedes da SPEA.

Participantes na viagem

Ana

Pon

tes

Participantes na viagem

IPIMAR

universidadede aveiro

SEO/BirdLife

Parceiros

50 100 500 1000 2000 3000 4000 5000 6000 m

Arquipélago da Madeira

PTM16 - DesertasPTM17 - Selvagens

O Esforço Anos 2005 a 2007. O Projecto LIFE

IBAs Marinhas avança com passo firme. São realizados os primeiros embarques e a equipa, com o apoio dos consulto-res, aprende a colocar data-loggers ou a analisar as variáveis ambientais e ma-rinhas. A colaboração com os parceiros é total e vão-se atingindo os objectivos estabelecidos.

No fim do projecto, o esforço de amos-tragem traduzir-se-ia em quase 300 aves marinhas marcadas e mais de 400 via-gens individuais registadas com data- -loggers nas colónias de aves marinhas do Continente, Açores e Madeira. Perto de 65 000 km percorridos no mar, mais de 4000 km de censos aéreos... Todas as dúvidas iniciais vão encontrando res-posta e o mapa de IBAs marinhas come-ça a ser uma realidade... No final de 2007 recebemos uma excelente notícia: um júri internacional dá ao projecto o 1.º Prémio Nacional BES de Biodiversidade.

Os ResultadosAno 2008. O Projecto LIFE IBAs Ma-

rinhas chega agora ao seu final, e com ele é publicado o primeiro Inventário Nacional de IBAs Marinhas. Esta publi-cação constitui não só o melhor estudo sobre a distribuição das aves marinhas na ZEE Portuguesa, mas também um guia para os países que começam agora identificar as suas IBAs Marinhas e que olham para Portugal e a SPEA como um (bom) exemplo a seguir.

O projecto tem sido um êxito e po-demos sorrir:

Missão Cumprida!

Participantes na viagem

Ana

Pon

tes

8 | ardela As aves em revista | N.º 34

Ana

Pon

tes

100 200 km0

Áreas Marinhasidentificadas situadasem águas territoriaisde outros países

MA05/MA06/MA07/MA08/MA09/MA10

Page 10: Pardela 34

SPEA MADEIRA

Q ue o arquipélago da Madeira al-berga algumas das mais impor-tantes colónias de aves marinhas

da Europa e que é o local de nidificação de duas aves únicas no mundo, a Freira da Madeira Pterodroma madeira e a Freira do Bugio Pterodroma feae, já é do conhecimento de grande parte dos lei-tores. Mas será que todos conhecem a potencialidade da ilha da Madeira para a observação de aves marinhas em migração?

É verdade, todos os anos, entre Agosto e Setembro, esta ilha recebe a visita de centenas de observadores de aves, espe-

10 | ardela As aves em revista | N.º 34

cialmente oriundos do Reino Unido e países nórdicos, para se deliciarem com a observação das aves nidificantes as-sim como para dedicarem muito tempo a observar, desde a costa, as diversas es-pécies que ocorrem nos nossos mares.

O melhor local para a realização das observações é Porto Moniz, pequena vi-la situada no extremo Noroeste da ilha. Segundo Klaus Olsen, no livro “Road-runner”, Porto Moniz é um dos melho-res locais no Paleártico Ocidental para a observação de aves marinhas a partir da costa, não só porque é possível a obser-vação de elevado número de indivíduos como também, em especial nas épocas de migração, pela variedade considerá-vel de espécies. Apenas como exemplo pode-se referir a observação anual de milhares de pardelas-de-bico-preto Puf-finus gravis e de pardelas-pretas Puf-finus griseus, assim como centenas de alcaides Stercorarius skua e moleiros do Ártico Stercorarius pomarinus, além das cagarras Calonectris diomedea, almas- -negras Bulweria bulwerii e patagarros Puffinus puffinus.

Observaçãode Aves Marinhas na Ilha da Madeira

Autora: Ana Isabel Fagundes

Devido a este potencial a SPEA-Ma-deira associou-se, desde 2007, à RAM - Rede de observação de Aves e Mamífe-ros Marinhos, que promove a monito-rização de toda a costa da Península Ibé-rica e arquipélagos atlânticos (Açores, Madeira e Canárias). Uma das princi-pais acções desta rede é a organização, no primeiro sábado de cada mês, de dias de observação de aves marinhas, com contagens simultâneas em diferentes lo-cais da costa, para registo de todas as passagens de aves.

Desde que a SPEA-Madeira se asso-ciou aos Dias RAM, já foram realizadas contagens em 14 meses, nas quais cola-boraram 15 voluntários. Durante as con-tagens foram observadas sete espécies de aves marinhas, desde pintainhos Puf-finus assimilis às freiras Pterodroma sp., assim como sete espécies de limícolas. Alguns dias de observação têm ainda sido coroados pela presença de cetá-ceos tais como a Baleia-sardinheira Balaenoptera borealis, golfinhos-co-muns Delphinus delphis e golfinhos- -pintados Stenella frontalis.

Grupo de observadoresA

na Is

abel

Fag

und

es

Ana

Isab

el F

agun

des

Turistas a observar aves no Porto Moniz

Local de contagem de aves no Porto Moniz

Cagarras Calonectris diomedea

Ana

Isab

el F

agun

des

Ana

Isab

el F

agun

des

Page 11: Pardela 34

Priolo anos depois5

A pós cinco anos de trabalho intensivo terminou oficialmente em Novembro de 2008 o projecto LIFE Priolo, coor-

denado pela SPEA. Terminou oficialmente o projecto, mas para os esforços de conservação desta ave tão ameaçada foi apenas o concluir de mais uma etapa.

Coordenado pela SPEA, teve como parceiros a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar, a Direcção Regional de Recursos Florestais, a Royal Society for the Protection of Birds, a Câmara Municipal de Nordeste e o Centro de Conservação e Protecção da Natureza da Uni-versidade dos Açores.

Cinco anos depois, os resultados superaram largamente as expectativas iniciais. A grande maioria das acções foi plenamente cumprida e, felizmente, muito mais foi possível fazer. Muitos factores terão por certo contribuído pa-ra que tal fosse possível, e ainda estamos longe de assegurar a sobrevivência da espécie, mas obtivemos excelentes indicadores de que o trabalho desenvolvido tem sido correcto e de que estamos no caminho certo para que o Priolo deixe um dia de ser “uma das aves mais ameaçadas do Mundo”.

SPEA AÇORES

Ped

ro M

onte

iro

| 11ardela As aves em revistaN.º 34 |

Page 12: Pardela 34

12 | ardela As aves em revista | N.º 34

O LIFE Priolo atingiu também outros objectivos para além da conservação da Natureza. O seu impacto económico e social foi muito significativo e permitiu comprovar que um projecto deste tipo é igualmente um investimento no desen-volvimento das populações das localidades que abrange.

É de salientar as mais de 150 empresas que, de alguma forma, intervieram neste processo. Seria igualmente im-possível cumprir os objectivos propostos sem uma extensa equipa a realizar as diferentes acções. Desde a equipa téc-nica à equipa de campo, em algumas épocas do projecto foram cerca de 35 pessoas a trabalhar a tempo inteiro para o Priolo. A este número devem-se juntar todos os parceiros, estagiários, bolseiros e voluntários que colaboraram ao lon-go do LIFE Priolo. No total terão sido mais de 200 pessoas a trabalhar efectivamente neste projecto.

Tudo somado, o impacto económico deste projecto acaba por ser bastante relevante para a economia local, sendo que foi calculada uma contribuição anual de 335 mil euros para o PIB regional dos Açores.

A importância do LIFE Priolo estende-se também ao inten-so esforço realizado na área da divulgação e sensibilização ambiental. Foram cerca de 3000 as pessoas que ao longo do projecto vieram visitar os trabalhos em curso, sendo na sua

Um habitat em perigoÉ na floresta laurissilva de altitude dos Açores que o Priolo

encontra a maioria do seu alimento, sendo por isso essencial à sua sobrevivência. Este habitat tem sido sujeito a várias pres-sões nas últimas centenas de anos, sendo que, as manchas existentes actualmente (uma pequeníssima fracção do que seriam aquando da descoberta da ilha) estão agora sujeitas à invasão de espécies vegetais exóticas, como a Conteira, a Cle-tra e o Incenso, que ocupam o espaço da floresta nativa. Se na-da fosse feito, estas espécies poderiam levar, em poucos anos, ao completo desaparecimento do Priolo e do seu habitat.

A mais ambiciosa tarefa do LIFE Priolo foi a recuperação de mais de 200 ha de floresta nativa, sendo que para tal foi ne-cessário fazer um controlo minucioso das plantas exóticas invasoras. Estas plantas tiveram de ser eliminadas uma a uma, através de corte e da aplicação individual de herbicida. Apesar deste herbicida ser bastante específico, foi essencial reduzir ao mínimo os danos colaterais sobre as espécies nati-vas, o que tornou o processo de controlo moroso e altamente exigente para a equipa que executou estes trabalhos.

Para aceder às áreas de trabalho, em encostas com inclina-ções muito acentuadas e em locais remotos longe de qualquer estrada, foi necessário criar cerca de 15 km de trilhos. Estes trilhos tinham de ser percorridos todos os dias, muitas vezes com condições climatéricas adversas, que constituíram sem-pre uma dificuldade acrescida para a execução das acções.

Em algumas das áreas onde a intervenção era mais pro-funda e o controlo de exóticas deixava o solo mais desco-berto, foram realizadas acções de plantação com espécies

Autores: Equipa do LIFE Priolo

Quando se procedem a trabalhos desta envergadura é essencial tentar perceber a cada momento o resultado das al-terações provocadas pelo próprio trabalho. É necessário estar atento a uma grande diversidade de aspectos. Se as plantas exóticas morrem. Se as plantas nativas são dani-ficadas. Se os Priolos mudam os seus comportamentos por causa dos trabalhos. Se a sua população está a diminuir ou a aumentar. Entre outras coisas…

Foram vários os técnicos envolvidos neste trabalho ao longo dos últimos cinco anos, desde a monitorização do Prio-lo até à monitorização da vegetação. Os trabalhos de acom-panhamento dos efeitos na vegetação permitiram saber que o sucesso das técnicas de controlo foi bastante alto, atingindo taxas superiores a 90% para a mortalidade de exóticas. A taxa de re-invasão também foi estudada permitindo ter uma me-lhor ideia de quando se terá de realizar a manutenção das áreas intervencionadas.

A monitorização da população de Priolo foi feita intensivamente ao longo do projecto, por exemplo, através da realização de censos anuais e do primeiro Atlas do Priolo em Junho de 2008 (que contou com 48 pessoas no campo, ao mesmo tempo, a contar aves). Estas actividades permitiram perceber as tendências populacionais e com o atlas perceber a área de distribuição do Priolo, tendo sido observados em áreas onde a espécie não era registada há muitos anos. Estes são dois bons indicadores de que, aparentemente, a popu-lação de Priolos estará a recuperar do declínio acentuado verificado ao longo do século XX.

Compreender o que fazemos

nativas, produzidas nos viveiros dos Serviços Florestais do Nordeste. Igualmente foi replantada com plantas nativas uma área de 10 ha ocupada por uma plantação de Cripto-méria, após a sua exploração florestal. Este foi um teste para possíveis reconversões de áreas de floresta de produção para floresta nativa.

Todos os indicadores utilizados apontam para a recu-peração do habitat intervencionado e para o facto de que a competição das plantas exóticas seja efectivamente um factor limitante para as plantas nativas. Ainda existem algumas centenas de hectares de floresta invadida, mas as técnicas apuradas ao longo destes cinco anos permitem encarar com maior optimismo o grande desafio de um dia recuperar na totalidade a floresta laurissilva ainda existente na ZPE do Pico da Vara / Ribeira do Guilherme.

Ped

ro M

onte

iro

Nun

o B

otel

ho

Joaq

uim

Teo

dós

io

Ped

ro S

ousa

E as pessoas? maioria alunos e professores das escolas de São Miguel. Para além destas acções no local foram dezenas as iniciativas realizadas noutros locais (em Portugal e a nível internacional) com o objectivo de levar mais longe o conhecimento sobre o Priolo. Desde palestras em escolas, feiras e exposições, activi-dades com jovens e menos jovens, concursos, colaboração com os meios de comunicação social, campanhas diversas, foram muitos os meios utilizados para esse fim.

O Centro Ambiental do Priolo (CAP) inaugurado em De-zembro de 2007, será por certo um dos mais significativos e menos esperados marcos do LIFE Priolo. O CAP surgiu de uma colaboração da SPEA com a Secretaria Regional do Am-biente e do Mar e a Direcção Regional dos Recursos Flores-tais, e representa muito do que se alcançou com o LIFE Priolo, nomeadamente contribuir para a conservação de uma espé-cie e um habitat alargando as possibilidades de desenvolvi-mento das populações locais, valorizando desta forma o Pa-trimónio Natural único que estas possuem e criando con-dições para a sua recuperação e conservação. A conservação do Priolo deixou de ser encarada como uma despesa com pouco sentido, para ser encarada com seriedade pelas popu-lações locais como uma mais-valia e um investimento im-portante na sua região. Esperemos que desta forma seja possível garantir a sobrevivência desta espécie a longo prazo.

Patrocínio

Page 13: Pardela 34

12 | ardela As aves em revista | N.º 34

O LIFE Priolo atingiu também outros objectivos para além da conservação da Natureza. O seu impacto económico e social foi muito significativo e permitiu comprovar que um projecto deste tipo é igualmente um investimento no desen-volvimento das populações das localidades que abrange.

É de salientar as mais de 150 empresas que, de alguma forma, intervieram neste processo. Seria igualmente im-possível cumprir os objectivos propostos sem uma extensa equipa a realizar as diferentes acções. Desde a equipa téc-nica à equipa de campo, em algumas épocas do projecto foram cerca de 35 pessoas a trabalhar a tempo inteiro para o Priolo. A este número devem-se juntar todos os parceiros, estagiários, bolseiros e voluntários que colaboraram ao lon-go do LIFE Priolo. No total terão sido mais de 200 pessoas a trabalhar efectivamente neste projecto.

Tudo somado, o impacto económico deste projecto acaba por ser bastante relevante para a economia local, sendo que foi calculada uma contribuição anual de 335 mil euros para o PIB regional dos Açores.

A importância do LIFE Priolo estende-se também ao inten-so esforço realizado na área da divulgação e sensibilização ambiental. Foram cerca de 3000 as pessoas que ao longo do projecto vieram visitar os trabalhos em curso, sendo na sua

Um habitat em perigoÉ na floresta laurissilva de altitude dos Açores que o Priolo

encontra a maioria do seu alimento, sendo por isso essencial à sua sobrevivência. Este habitat tem sido sujeito a várias pres-sões nas últimas centenas de anos, sendo que, as manchas existentes actualmente (uma pequeníssima fracção do que seriam aquando da descoberta da ilha) estão agora sujeitas à invasão de espécies vegetais exóticas, como a Conteira, a Cle-tra e o Incenso, que ocupam o espaço da floresta nativa. Se na-da fosse feito, estas espécies poderiam levar, em poucos anos, ao completo desaparecimento do Priolo e do seu habitat.

A mais ambiciosa tarefa do LIFE Priolo foi a recuperação de mais de 200 ha de floresta nativa, sendo que para tal foi ne-cessário fazer um controlo minucioso das plantas exóticas invasoras. Estas plantas tiveram de ser eliminadas uma a uma, através de corte e da aplicação individual de herbicida. Apesar deste herbicida ser bastante específico, foi essencial reduzir ao mínimo os danos colaterais sobre as espécies nati-vas, o que tornou o processo de controlo moroso e altamente exigente para a equipa que executou estes trabalhos.

Para aceder às áreas de trabalho, em encostas com inclina-ções muito acentuadas e em locais remotos longe de qualquer estrada, foi necessário criar cerca de 15 km de trilhos. Estes trilhos tinham de ser percorridos todos os dias, muitas vezes com condições climatéricas adversas, que constituíram sem-pre uma dificuldade acrescida para a execução das acções.

Em algumas das áreas onde a intervenção era mais pro-funda e o controlo de exóticas deixava o solo mais desco-berto, foram realizadas acções de plantação com espécies

Autores: Equipa do LIFE Priolo

Quando se procedem a trabalhos desta envergadura é essencial tentar perceber a cada momento o resultado das al-terações provocadas pelo próprio trabalho. É necessário estar atento a uma grande diversidade de aspectos. Se as plantas exóticas morrem. Se as plantas nativas são dani-ficadas. Se os Priolos mudam os seus comportamentos por causa dos trabalhos. Se a sua população está a diminuir ou a aumentar. Entre outras coisas…

Foram vários os técnicos envolvidos neste trabalho ao longo dos últimos cinco anos, desde a monitorização do Prio-lo até à monitorização da vegetação. Os trabalhos de acom-panhamento dos efeitos na vegetação permitiram saber que o sucesso das técnicas de controlo foi bastante alto, atingindo taxas superiores a 90% para a mortalidade de exóticas. A taxa de re-invasão também foi estudada permitindo ter uma me-lhor ideia de quando se terá de realizar a manutenção das áreas intervencionadas.

A monitorização da população de Priolo foi feita intensivamente ao longo do projecto, por exemplo, através da realização de censos anuais e do primeiro Atlas do Priolo em Junho de 2008 (que contou com 48 pessoas no campo, ao mesmo tempo, a contar aves). Estas actividades permitiram perceber as tendências populacionais e com o atlas perceber a área de distribuição do Priolo, tendo sido observados em áreas onde a espécie não era registada há muitos anos. Estes são dois bons indicadores de que, aparentemente, a popu-lação de Priolos estará a recuperar do declínio acentuado verificado ao longo do século XX.

Compreender o que fazemos

nativas, produzidas nos viveiros dos Serviços Florestais do Nordeste. Igualmente foi replantada com plantas nativas uma área de 10 ha ocupada por uma plantação de Cripto-méria, após a sua exploração florestal. Este foi um teste para possíveis reconversões de áreas de floresta de produção para floresta nativa.

Todos os indicadores utilizados apontam para a recu-peração do habitat intervencionado e para o facto de que a competição das plantas exóticas seja efectivamente um factor limitante para as plantas nativas. Ainda existem algumas centenas de hectares de floresta invadida, mas as técnicas apuradas ao longo destes cinco anos permitem encarar com maior optimismo o grande desafio de um dia recuperar na totalidade a floresta laurissilva ainda existente na ZPE do Pico da Vara / Ribeira do Guilherme.

Ped

ro M

onte

iro

Nun

o B

otel

ho

Joaq

uim

Teo

dós

io

Ped

ro S

ousa

E as pessoas? maioria alunos e professores das escolas de São Miguel. Para além destas acções no local foram dezenas as iniciativas realizadas noutros locais (em Portugal e a nível internacional) com o objectivo de levar mais longe o conhecimento sobre o Priolo. Desde palestras em escolas, feiras e exposições, activi-dades com jovens e menos jovens, concursos, colaboração com os meios de comunicação social, campanhas diversas, foram muitos os meios utilizados para esse fim.

O Centro Ambiental do Priolo (CAP) inaugurado em De-zembro de 2007, será por certo um dos mais significativos e menos esperados marcos do LIFE Priolo. O CAP surgiu de uma colaboração da SPEA com a Secretaria Regional do Am-biente e do Mar e a Direcção Regional dos Recursos Flores-tais, e representa muito do que se alcançou com o LIFE Priolo, nomeadamente contribuir para a conservação de uma espé-cie e um habitat alargando as possibilidades de desenvolvi-mento das populações locais, valorizando desta forma o Pa-trimónio Natural único que estas possuem e criando con-dições para a sua recuperação e conservação. A conservação do Priolo deixou de ser encarada como uma despesa com pouco sentido, para ser encarada com seriedade pelas popu-lações locais como uma mais-valia e um investimento im-portante na sua região. Esperemos que desta forma seja possível garantir a sobrevivência desta espécie a longo prazo.

Patrocínio

Page 14: Pardela 34

14 | ardela As aves em revista | N.º 34 | 15ardela As aves em revistaN.º 34 |

No próximo número da Pardela fique a conhecer mais um pouco sobre o funcionamento dos centros de recuperação de aves selvagens.

Centro de Ecologia, Recuperaçãoe Vigilância de Animais Selvagens (CERVAS)

Autor: Ricardo M. L. Brandão

SOS Ambiente808 200 520

Juvenil de Açor Accipiter gentilis que estava em cativeiro ilegal numa aldeia de Gouveia e a quem foram cortadas todas as penas das asas

Art

ur V

az O

livei

ra

Causas de ingresso - II

a Pardela número 33 listámos algumas das causas mais comuns para o ingresso de aves em cen-N

tros de recuperação em Portugal, lista essa que completamos de seguida.

A captura e posse de aves selvagens au-tóctones é ilegal, e como tal, deve ser denunciada às autoridades. Em alguns centros, esta é de longe a principal causa de ingresso de aves selvagens, princi-palmente devido ao elevado número de passeriformes, como por exemplo pin-tassilgos Carduelis carduelis ou corví-deos como a Gralha-preta Corvus coro-ne ou o Corvo Corvus corax apreendidos pelas autoridades. No entanto, este pro-blema também ameaça diversas espé-cies de aves de rapina, sendo de desta-car negativamente o elevado número de casos de cativeiro ilegal de Milhafre- -preto Milvus migrans, mas também de outras rapinas mais ameaçadas.

Cativeiro ilegal

A electrocussão ocorre quando uma ave levanta voo ou poisa num poste de electricidade que usa como poleiro, e há contacto com elementos não isolados do fio de electricidade, o que leva à passagem de corrente eléctrica pelo cor-po. Geralmente a entrada ocorre pela ponta de uma das asas e a saída dá-se por uma garra do lado oposto, mas nem sempre segue este padrão, por isso, a diversidade de lesões é muito grande. A electrocussão é uma das ameaças mais letais, porque a passagem da corrente eléctrica pelo corpo da ave geralmente resulta em morte fulminante.

A gravidade das lesões depende essen-cialmente da voltagem da linha eléctrica e do tamanho da ave afectada. Uma ave de grandes dimensões pode suportar um grau de destruição tissular que deixaria irreversivelmente incapacitada uma ave de menor massa corporal. Geralmente, aves de grande tamanho como cegonhas Ciconia ciconia, águias-reais Aquila

Electrocussão

São raros os casos de aves vítimas de envenenamento que entram num centro de recuperação com vida e com possibilidades de serem totalmente re-cuperados. A actuação de alguns tóxicos é geralmente rápida e a morte ocorre em pouco tempo, por vezes, em menos de 30 minutos após a ingestão do veneno. Um dos maiores problemas relacio-nados com a existência de substâncias tóxicas no ambiente é a possibilidade da sua acumulação e persistência, que leva a que vários animais possam ser afecta-dos ao longo da cadeia trófica. O uso ilegal de alguns venenos de maior potência como a estricnina ou diversos grupos de insecticidas pode gerar consequências gravíssimas e incontro-láveis. Em Portugal, existe uma plata-forma de luta contra o uso ilegal de ve-nenos denominada Programa Antídoto – Portugal (www.antidoto-portugal.org). No que respeita às intoxicações “mode-radas” e crónicas, são conhecidos os efeitos que alguns tóxicos podem ter na fauna selvagem, mas este problema raramente é diagnosticado em centros de recuperação. Alguns estudos reve-

Intoxicação / Envenenamento

As doenças que afectam os animais selvagens estão a adquirir um maior interesse. Torna-se cada vez mais im-portante identificar os principais agen-tes envolvidos em problemas relacio-nados com conservação de algumas espécies em perigo, mas também em espécies cinegéticas, pela possibilidade de transmissão de doenças entre as populações selvagens e os animais domésticos, bem como o próprio Ho-mem. Os centros de recuperação constituem por isso um local privile-giado para a recolha de amostras e de bases para estudo epidemiológicos que se podem revestir de grande impor-tância em termos de saúde pública e de conservação da fauna selvagem. Geral-mente, os processos infecciosos que se diagnosticam nos centros de recupe-ração têm como antecedentes algumas situações de stress prolongado, como por exemplo o cativeiro, inanição devi-do a traumatismo que impeça o animal de continuar a conseguir alimento, inex-periência ou ao baixo grau na escala hierárquica da sua comunidade (ex: jovens). Também é de grande interesse para os centros de recuperação receber animais mortos, pois constituem uma base de trabalho para diversos estudos.

Doenças infecciosas

Apesar do maior número de ingressos de aves selvagens em Portugal ser de espécies de aves terrestres, não pode-mos esquecer o elevado número de aves aquáticas que ingressam principalmen-te em centros localizados próximos da costa. Uma das ameaças mais sérias destas espécies é a contaminação da água, que quando é provocada por der-rames de petróleo pode levar à morte de milhares de indivíduos e muitos ingres-sos em centros de recuperação. O ingres-so de aves petroleadas em centros locali-zados no litoral ocorre com alguma fre-quência, ao longo de todo o ano, mesmo sem que ocorram derrames massivos de petróleo em acidentes de barcos.

Há outras causas de ingresso que obri-gam a procedimentos de lavagem seme-lhantes ao petróleo, como por exemplo o

Petróleo, óleos, resinas

chrysaetos, bufos-reais Bubo bubo ou diversas espécies de abutres, como por exemplo o Abutre-preto Aegypius mona-chus, podem ser recuperáveis caso não tenha ocorrido lesão nervosa ou se as lesões dos tecidos forem recuperáveis.

lam, no entanto, que a acumulação de tóxicos pode predispor os animais sel-vagens a outras causas de ingresso, como as doenças, debilidade, atropela-mentos, entre outros.

Abutre-preto Aegypius monachus electrocutado num poste em Portalegre, com extensa lesão ao longo da asa. A recuperação deste individuo pro-longa-se há mais de um ano, sendo considerado recuperável devido à lenta mas progressiva regeneração de todos os tecidos afectados

Vane

ssa

Are

de

ingresso de animais sujos com óleo, azeite, resinas, cola e outras substâncias pegajosas. Os procedimentos clínicos e de maneio gerais podem ter semelhan-ças com os casos relacionados com petróleo, mas é sempre importante ter a certeza total do produto em causa, de forma a seleccionar os materiais de limpeza adequados. Nalguns casos, se o animal está estável, poderá ser impor-tante proceder à remoção imediata do elemento contaminante, por ser tóxico ou cáustico para o corpo da ave. Noutros casos, a remoção não é urgente e deverá ser dada à estabilização no animal e recuperação da sua condição corporal, caso esteja muito debilitada.

Necrópsia a uma Águia-de-asa-redonda Buteo buteo para determinação da causa de morte

Instalações para recuperação de aves petroleadas na costa da Galiza (2002)

Recuperação de Aves Selvagens

Sus

ana

Figu

eire

do

Ric

ard

o B

rand

ão

Page 15: Pardela 34

14 | ardela As aves em revista | N.º 34 | 15ardela As aves em revistaN.º 34 |

No próximo número da Pardela fique a conhecer mais um pouco sobre o funcionamento dos centros de recuperação de aves selvagens.

Centro de Ecologia, Recuperaçãoe Vigilância de Animais Selvagens (CERVAS)

Autor: Ricardo M. L. Brandão

SOS Ambiente808 200 520

Juvenil de Açor Accipiter gentilis que estava em cativeiro ilegal numa aldeia de Gouveia e a quem foram cortadas todas as penas das asas

Art

ur V

az O

livei

ra

Causas de ingresso - II

a Pardela número 33 listámos algumas das causas mais comuns para o ingresso de aves em cen-N

tros de recuperação em Portugal, lista essa que completamos de seguida.

A captura e posse de aves selvagens au-tóctones é ilegal, e como tal, deve ser denunciada às autoridades. Em alguns centros, esta é de longe a principal causa de ingresso de aves selvagens, princi-palmente devido ao elevado número de passeriformes, como por exemplo pin-tassilgos Carduelis carduelis ou corví-deos como a Gralha-preta Corvus coro-ne ou o Corvo Corvus corax apreendidos pelas autoridades. No entanto, este pro-blema também ameaça diversas espé-cies de aves de rapina, sendo de desta-car negativamente o elevado número de casos de cativeiro ilegal de Milhafre- -preto Milvus migrans, mas também de outras rapinas mais ameaçadas.

Cativeiro ilegal

A electrocussão ocorre quando uma ave levanta voo ou poisa num poste de electricidade que usa como poleiro, e há contacto com elementos não isolados do fio de electricidade, o que leva à passagem de corrente eléctrica pelo cor-po. Geralmente a entrada ocorre pela ponta de uma das asas e a saída dá-se por uma garra do lado oposto, mas nem sempre segue este padrão, por isso, a diversidade de lesões é muito grande. A electrocussão é uma das ameaças mais letais, porque a passagem da corrente eléctrica pelo corpo da ave geralmente resulta em morte fulminante.

A gravidade das lesões depende essen-cialmente da voltagem da linha eléctrica e do tamanho da ave afectada. Uma ave de grandes dimensões pode suportar um grau de destruição tissular que deixaria irreversivelmente incapacitada uma ave de menor massa corporal. Geralmente, aves de grande tamanho como cegonhas Ciconia ciconia, águias-reais Aquila

Electrocussão

São raros os casos de aves vítimas de envenenamento que entram num centro de recuperação com vida e com possibilidades de serem totalmente re-cuperados. A actuação de alguns tóxicos é geralmente rápida e a morte ocorre em pouco tempo, por vezes, em menos de 30 minutos após a ingestão do veneno. Um dos maiores problemas relacio-nados com a existência de substâncias tóxicas no ambiente é a possibilidade da sua acumulação e persistência, que leva a que vários animais possam ser afecta-dos ao longo da cadeia trófica. O uso ilegal de alguns venenos de maior potência como a estricnina ou diversos grupos de insecticidas pode gerar consequências gravíssimas e incontro-láveis. Em Portugal, existe uma plata-forma de luta contra o uso ilegal de ve-nenos denominada Programa Antídoto – Portugal (www.antidoto-portugal.org). No que respeita às intoxicações “mode-radas” e crónicas, são conhecidos os efeitos que alguns tóxicos podem ter na fauna selvagem, mas este problema raramente é diagnosticado em centros de recuperação. Alguns estudos reve-

Intoxicação / Envenenamento

As doenças que afectam os animais selvagens estão a adquirir um maior interesse. Torna-se cada vez mais im-portante identificar os principais agen-tes envolvidos em problemas relacio-nados com conservação de algumas espécies em perigo, mas também em espécies cinegéticas, pela possibilidade de transmissão de doenças entre as populações selvagens e os animais domésticos, bem como o próprio Ho-mem. Os centros de recuperação constituem por isso um local privile-giado para a recolha de amostras e de bases para estudo epidemiológicos que se podem revestir de grande impor-tância em termos de saúde pública e de conservação da fauna selvagem. Geral-mente, os processos infecciosos que se diagnosticam nos centros de recupe-ração têm como antecedentes algumas situações de stress prolongado, como por exemplo o cativeiro, inanição devi-do a traumatismo que impeça o animal de continuar a conseguir alimento, inex-periência ou ao baixo grau na escala hierárquica da sua comunidade (ex: jovens). Também é de grande interesse para os centros de recuperação receber animais mortos, pois constituem uma base de trabalho para diversos estudos.

Doenças infecciosas

Apesar do maior número de ingressos de aves selvagens em Portugal ser de espécies de aves terrestres, não pode-mos esquecer o elevado número de aves aquáticas que ingressam principalmen-te em centros localizados próximos da costa. Uma das ameaças mais sérias destas espécies é a contaminação da água, que quando é provocada por der-rames de petróleo pode levar à morte de milhares de indivíduos e muitos ingres-sos em centros de recuperação. O ingres-so de aves petroleadas em centros locali-zados no litoral ocorre com alguma fre-quência, ao longo de todo o ano, mesmo sem que ocorram derrames massivos de petróleo em acidentes de barcos.

Há outras causas de ingresso que obri-gam a procedimentos de lavagem seme-lhantes ao petróleo, como por exemplo o

Petróleo, óleos, resinas

chrysaetos, bufos-reais Bubo bubo ou diversas espécies de abutres, como por exemplo o Abutre-preto Aegypius mona-chus, podem ser recuperáveis caso não tenha ocorrido lesão nervosa ou se as lesões dos tecidos forem recuperáveis.

lam, no entanto, que a acumulação de tóxicos pode predispor os animais sel-vagens a outras causas de ingresso, como as doenças, debilidade, atropela-mentos, entre outros.

Abutre-preto Aegypius monachus electrocutado num poste em Portalegre, com extensa lesão ao longo da asa. A recuperação deste individuo pro-longa-se há mais de um ano, sendo considerado recuperável devido à lenta mas progressiva regeneração de todos os tecidos afectados

Vane

ssa

Are

de

ingresso de animais sujos com óleo, azeite, resinas, cola e outras substâncias pegajosas. Os procedimentos clínicos e de maneio gerais podem ter semelhan-ças com os casos relacionados com petróleo, mas é sempre importante ter a certeza total do produto em causa, de forma a seleccionar os materiais de limpeza adequados. Nalguns casos, se o animal está estável, poderá ser impor-tante proceder à remoção imediata do elemento contaminante, por ser tóxico ou cáustico para o corpo da ave. Noutros casos, a remoção não é urgente e deverá ser dada à estabilização no animal e recuperação da sua condição corporal, caso esteja muito debilitada.

Necrópsia a uma Águia-de-asa-redonda Buteo buteo para determinação da causa de morte

Instalações para recuperação de aves petroleadas na costa da Galiza (2002)

Recuperação de Aves SelvagensS

usan

a Fi

guei

red

o

Ric

ard

o B

rand

ão

Page 16: Pardela 34

16 | ardela As aves em revista | N.º 34 | 17ardela As aves em revistaN.º 34 |

Autor (texto e ilustrações):

Marco Nunes Correia

ste é apenas um exemplo das mnemónicas populares que repro-duzem os cantos de algumas aves e E

da forma como têm passado de pais para filhos… ou de avós para netos... ao longo dos tempos.

Provenientes dos meios rurais, con-textualizam quase sempre temáticas agrícolas e/ou religiosas. Estas expres-sões assentam na fonética auditiva das palavras e nem sempre é fácil reconhe-cer a associação, entre as palavras e o canto, que estas pretendem reproduzir.

Mnemónicas Ornitológicas

Estas são apenas algumas das mne-mónicas de cantos das nossas aves. Fazem parte da nossa cultura popular, e representam o conhecimento empírico que as populações têm, ou tiveram, sobre as aves que ocorrem no nosso território.

Por último, e mais uma vez de contextualização religiosa, fica a mne-

mónica que talvez se possa considerar a mais difícil de reproduzir.

Pode também ser avaliada como a que melhor representa um canto

de uma ave. Embora esta avaliação seja um pouco subjectiva, depen-

dendo sobretudo da forma como cada um interpreta a mnemónica.

À semelhança do Chapim-real, verifica-se também aqui um

contexto agrícola. Neste caso enfatizando o espanto, perante o

raizame exagerado de uma planta.

Podemos encontrar alguns nomes vernáculos que, com alguma

facilidade, também nos sugerem o canto do Trigueirão: "Tem-te-na-

raiz", "Tentarraiz", "Tintarraiz" ou "Trinta-raízes".

Assentando também na fonética auditiva, esta mnemónica refor-

ça o nome comum da ave, referindo-se o artigo definido "o" ao

"figo". De todos os nomes vernáculos desta espécie o "Tiroliro"

destaca-se dos restantes por, de certo modo, fazer uma analogia com

o canto aflautado e de notas ligadas, característico da espécie.

…Era um final de tarde de Verão. A avó descansava, sentada num saco cheio de batatas.

O dia tinha sido longo. Desde manhã cedo que ela e os seus três netos apanhavam as batatas que o pai e o avô arrancaram da terra com a enxada.

Agora era altura de carregar os sacos para o reboque do tractor que o pai e o avô tinham ido buscar a casa. Por isso, restava esperar que eles chegassem, aproveitando para algumas

brincadeiras e zaragatas que o momento proporcionava.De repente a avó exclamou:

- Olhem! Lá está o paspalhão!- Paspalhão!? Aquilo é uma codorniz! - Diz o neto mais novo.

- Não é nada! - responde a avó- Então não percebes o que ele diz?- "Eu-eu, eu-eu, eu-eu! Paspalhão! Paspalhão! Paspalhão!"

Oh, tomem lá atenção!Espantados, os netos deliciaram-se com as palavras da avó, reproduzindo o canto da codorniz,

enquanto esta continuava a cantar espaçadamente, em intervalos regulares, à espera de atrair uma fêmea…

A grande variedade de cantos que uma espécie é capaz de emitir poderá con-fundir-nos e dificultar a identificação do canto que a mnemónica pretende re-produzir. Além disso é necessário dar a entoação correcta às frases. Tarefa que será mais fácil para aqueles que, sendo conhecedores dos cantos das aves, tenham também alguns dotes musicais!

No caso da codorniz, nem sempre é possível apercebermo-nos da primeira parte do canto, pois é menos audível que a segunda. No entanto, é possível aceder

a gravações de som e imagem onde é fácil distinguir estas duas vocalizações.

Há indivíduos que vocalizam apenas a primeira parte do canto ("...eu-eu, eu-eu, eu-eu..."). Facto que pode estar directamente relacionado com in-divíduos imaturos. Outros reproduzem uma única vez o som dissílabo da primeira parte, antes de entoarem a se-gunda. Ou seja, é necessário ter em conta que o número de vocalizações, do mesmo som, que compõem um canto, varia de indivíduo para indivíduo.

Chapim-real Parus major

O Chapim-real é uma das aves mais difíceis de relacionar as

mnemónicas devido à sua grande diversidade de cantos. Para além

de que nem todos os espécimes apresentam o mesmo repertório. No

entanto, das duas apresentadas, a primeira é relativamente fácil de

identificar no canto desta ave.

Aproveitando este exemplo, convém salientar que, algumas destas

mnemónicas, fazem referência a nomes vernáculos da espécie que

representam. Podendo, tal como estes, apresentar variações de região

para região. Da mesma forma que, em alguns casos, os nomes

vernáculos são, eles próprios, mnemónicas ao canto da espécie.

1. "Semeia-milho, semeia-milho, semeia-milho, semeia-milho!" 2. "Trigo, semeia-trigo, semeia-trigo, semeia-trigo!"

Papa-figos Oriolus oriolus "...já o engoliu!... já o engoliu!...

já o engoliu!..."

Sendo uma ave bastante discreta é mais vezes ouvido do que

visto, cantando quase sempre escondido entre os ramos, onde facil-

mente se confunde com os verdes amarelados das folhas ilumi-

nadas pelo sol.

Trigueirão Miliaria calandra "...Eeeh'na tem tanta raizzzzz!..."

Tentilhão-comum Frigilla coelebs "...Tem - tem - tem-tem qualquer coisinha pr'ó São Sebastião?"

Para ajudar à sua reprodução, imaginemos um gago a pedir uma

esmola para S. Sebastião! Esta deverá ser reproduzida de forma

inicialmente espaçada e acelerando até ao último "tem", mantendo

a aceleração até ao fim da frase. Deste modo consegue-se uma

referência quase perfeita a um dos vários cantos desta ave.

A tendência natural é para que este conhecimento se perca, à medida que as gerações mais velhas forem desapa-recendo, sem que se tenha transmitido aos mais jovens.

Partilhe as suas mnemónicas connosco através do e-mail [email protected]

Page 17: Pardela 34

16 | ardela As aves em revista | N.º 34 | 17ardela As aves em revistaN.º 34 |

Autor (texto e ilustrações):

Marco Nunes Correia

ste é apenas um exemplo das mnemónicas populares que repro-duzem os cantos de algumas aves e E

da forma como têm passado de pais para filhos… ou de avós para netos... ao longo dos tempos.

Provenientes dos meios rurais, con-textualizam quase sempre temáticas agrícolas e/ou religiosas. Estas expres-sões assentam na fonética auditiva das palavras e nem sempre é fácil reconhe-cer a associação, entre as palavras e o canto, que estas pretendem reproduzir.

Mnemónicas Ornitológicas

Estas são apenas algumas das mne-mónicas de cantos das nossas aves. Fazem parte da nossa cultura popular, e representam o conhecimento empírico que as populações têm, ou tiveram, sobre as aves que ocorrem no nosso território.

Por último, e mais uma vez de contextualização religiosa, fica a mne-

mónica que talvez se possa considerar a mais difícil de reproduzir.

Pode também ser avaliada como a que melhor representa um canto

de uma ave. Embora esta avaliação seja um pouco subjectiva, depen-

dendo sobretudo da forma como cada um interpreta a mnemónica.

À semelhança do Chapim-real, verifica-se também aqui um

contexto agrícola. Neste caso enfatizando o espanto, perante o

raizame exagerado de uma planta.

Podemos encontrar alguns nomes vernáculos que, com alguma

facilidade, também nos sugerem o canto do Trigueirão: "Tem-te-na-

raiz", "Tentarraiz", "Tintarraiz" ou "Trinta-raízes".

Assentando também na fonética auditiva, esta mnemónica refor-

ça o nome comum da ave, referindo-se o artigo definido "o" ao

"figo". De todos os nomes vernáculos desta espécie o "Tiroliro"

destaca-se dos restantes por, de certo modo, fazer uma analogia com

o canto aflautado e de notas ligadas, característico da espécie.

…Era um final de tarde de Verão. A avó descansava, sentada num saco cheio de batatas.

O dia tinha sido longo. Desde manhã cedo que ela e os seus três netos apanhavam as batatas que o pai e o avô arrancaram da terra com a enxada.

Agora era altura de carregar os sacos para o reboque do tractor que o pai e o avô tinham ido buscar a casa. Por isso, restava esperar que eles chegassem, aproveitando para algumas

brincadeiras e zaragatas que o momento proporcionava.De repente a avó exclamou:

- Olhem! Lá está o paspalhão!- Paspalhão!? Aquilo é uma codorniz! - Diz o neto mais novo.

- Não é nada! - responde a avó- Então não percebes o que ele diz?- "Eu-eu, eu-eu, eu-eu! Paspalhão! Paspalhão! Paspalhão!"

Oh, tomem lá atenção!Espantados, os netos deliciaram-se com as palavras da avó, reproduzindo o canto da codorniz,

enquanto esta continuava a cantar espaçadamente, em intervalos regulares, à espera de atrair uma fêmea…

A grande variedade de cantos que uma espécie é capaz de emitir poderá con-fundir-nos e dificultar a identificação do canto que a mnemónica pretende re-produzir. Além disso é necessário dar a entoação correcta às frases. Tarefa que será mais fácil para aqueles que, sendo conhecedores dos cantos das aves, tenham também alguns dotes musicais!

No caso da codorniz, nem sempre é possível apercebermo-nos da primeira parte do canto, pois é menos audível que a segunda. No entanto, é possível aceder

a gravações de som e imagem onde é fácil distinguir estas duas vocalizações.

Há indivíduos que vocalizam apenas a primeira parte do canto ("...eu-eu, eu-eu, eu-eu..."). Facto que pode estar directamente relacionado com in-divíduos imaturos. Outros reproduzem uma única vez o som dissílabo da primeira parte, antes de entoarem a se-gunda. Ou seja, é necessário ter em conta que o número de vocalizações, do mesmo som, que compõem um canto, varia de indivíduo para indivíduo.

Chapim-real Parus major

O Chapim-real é uma das aves mais difíceis de relacionar as

mnemónicas devido à sua grande diversidade de cantos. Para além

de que nem todos os espécimes apresentam o mesmo repertório. No

entanto, das duas apresentadas, a primeira é relativamente fácil de

identificar no canto desta ave.

Aproveitando este exemplo, convém salientar que, algumas destas

mnemónicas, fazem referência a nomes vernáculos da espécie que

representam. Podendo, tal como estes, apresentar variações de região

para região. Da mesma forma que, em alguns casos, os nomes

vernáculos são, eles próprios, mnemónicas ao canto da espécie.

1. "Semeia-milho, semeia-milho, semeia-milho, semeia-milho!" 2. "Trigo, semeia-trigo, semeia-trigo, semeia-trigo!"

Papa-figos Oriolus oriolus "...já o engoliu!... já o engoliu!...

já o engoliu!..."

Sendo uma ave bastante discreta é mais vezes ouvido do que

visto, cantando quase sempre escondido entre os ramos, onde facil-

mente se confunde com os verdes amarelados das folhas ilumi-

nadas pelo sol.

Trigueirão Miliaria calandra "...Eeeh'na tem tanta raizzzzz!..."

Tentilhão-comum Frigilla coelebs "...Tem - tem - tem-tem qualquer coisinha pr'ó São Sebastião?"

Para ajudar à sua reprodução, imaginemos um gago a pedir uma

esmola para S. Sebastião! Esta deverá ser reproduzida de forma

inicialmente espaçada e acelerando até ao último "tem", mantendo

a aceleração até ao fim da frase. Deste modo consegue-se uma

referência quase perfeita a um dos vários cantos desta ave.

A tendência natural é para que este conhecimento se perca, à medida que as gerações mais velhas forem desapa-recendo, sem que se tenha transmitido aos mais jovens.

Partilhe as suas mnemónicas connosco através do e-mail [email protected]

Page 18: Pardela 34

| 19ardela As aves em revistaN.º 34 |

José

Via

na

Faís

ca

uem se inicia na observação de aves, rapidamente se apercebe que muitos observadores mais Q

experimentados preferem designar as aves pelos chamados nomes científicos, em detrimento dos nomes portugueses ou vernáculos. Embora esta terminolo-gia faça confusão numa fase inicial e possa mesmo intimidar, a verdade é que, a pouco e pouco, mais pessoas se vão habituando a utilizá-la. Como dizia Fer-nando Pessoa, "primeiro estranha-se e depois entranha-se".

Mas surge um problema. Sendo o latim uma língua morta, que quase nin-guém sabe falar e pouca gente entende, a única forma de aprender a utilizar os nomes científicos consiste em decorá-los ou, quiçá, em “empiná-los”. Este mé-todo é pouco prático e fica sujeito a erros de aprendizagem. Se por um lado é verdade que alguns nomes cujo signi-ficado é mais ou menos intuitivo (como por exemplo Cuculus canorus ou Picus

18 | ardela As aves em revista | N.º 34

viridis), há outros que são absoluta-mente incompreensíveis (por exemplo Acrocephalus schoenobaenus ou Neo-phron percnopterus), não se vislum-brando qualquer significado que per-mita associar as características da ave aos termos que compõem o nome.

A fim de ajudar todos os interessados a ultrapassar este obstáculo, foi criada esta nova rubrica da Pardela que tem como principal objectivo ajudar a des-codificar esta linguagem. Não se pre-tende apresentar uma mera lista de tra-duções e significados, mas sim fornecer as bases necessárias à boa compreen-são dos nomes científicos, evitando des-ta forma que os nomes tenham de ser decorados (“empinados”), pois da boa compreensão resulta a melhor assimi-lação e a correcta utilização.

Os nomes serão abordados tematica-mente, isto é, em cada artigo serão tra-tados nomes que pertencem à mesma família de nomes.

Antes, porém, de analisarmos o tema em detalhe, é importante referir alguns aspectos mais gerais sobre a origem dos nomes científicos.

O primeiro aspecto a ter em conta é que o sistema em vigor é o sistema bi-nomial, que foi criado pelo naturalista sueco Carolus Linnaeus (Lineu) em 1758. Cada nome é assim composto por duas palavras, sendo que a primeira palavra designa o género (sendo tam-bém chamado nome genérico) e a combinação das duas palavras designa a espécie (a segunda palavra designa-se epíteto específico). Assim, por exemplo, no caso da Andorinha-das-chaminés, o nome científico é Hirundo rustica, sen-do que Hirundo designa o género e rus-tica corresponde ao epíteto específico.

Existe uma ideia generalizada de que os nomes científicos provêm do latim (ideia esta que é enfatizada pela expres-

são “Latin names” que é utilizada em língua inglesa para designar esta termi-nologia). Contudo, cerca de metade dos nomes científicos usados para deno-minar as espécies de aves provêm, na verdade, do grego. Este aspecto é muito importante para a boa compreensão de muitos nomes, como veremos adiante.

Poderia pensar-se, com base nesta ideia, que alguns nomes são então em latim e outros em grego. Contudo, a situação é mais complexa. Em muitos casos, o nome científico é composto por duas palavras no mesmo idioma (latim ou grego), mas há outros em que o no-me genérico é em latim e o nome espe-cífico é em grego, ou vice-versa (ver caixa acima).

Há ainda alguns casos, menos frequentes, em que uma das palavras (género ou espécie) é obti-da por justaposição de ele-mentos provenientes de grego e de latim. Estes casos serão analisados mais tarde.

Para além dos elementos de origem grega ou latina, surgem tam-bém numerosos nomes latizinados, cuja grafia, porém, nada tem a ver com o latim genuíno. Os casos mais frequen-tes envolvem nomes de naturalistas fa-mosos, que se decidiu homenagear atribuindo-lhes nomes de aves. Nestes casos, mantém-se a grafia na língua de origem, adicionando--se o genitivo.

Aqui ficam alguns exemplos:

·Calidris temminckii (Pilrito de Tem-minck) – em homenagem a Coen-raad Jacob Temminck (1778-1858), que foi um zoologista e aristocrata holandês. A grafia com “ck” corres-ponde ao nome do naturalista em causa e não aparece em latim.

·Larus audouinii (Gaivota de Au-douin) – em homenagem a Jean Victor Audouin ou simplesmente Victor Audouin (1797 –1841), natu-ralista, entomologista, ornitólogo e médico francês.

·Gyps rueppellii (Abutre de Rüppell) - Wilhelm Peter Eduard Simon Rüp-pell (1794 - 1884) foi um naturalista e explorador alemão.

·Falco naumanni (Peneireiro-das-torres) – em homenagem a Johann Friedrich Naumann (1780 –1857), cientista e editor alemão que é mui-tas vezes considerado o fundador da ornitologia científica na Europa.

Como se pode ver pelos exemplos acima, quando se homenageiam indiví-duos do sexo masculino, o nome especí-fico termina geralmente em “i” ou “ii”. Isto significa que quando encontramos

um nome com esta terminação, facil-mente podemos concluir que esse

nome homenageia alguém (por exemplo Calidris

bairdii, Calidris mauri, Larus

sabini, Larus genei, Sterna forsteri, Sterna dougallii, Porphyrula alleni, Cettia cetti, Phylloscopus bonelli, Emberiza pallasi – para todos estes nomes uma pesquisa na internet facilmente permitirá obter mais informação). Contudo, há excep-ções a esta regra das terminações em “i”, como por exemplo Oenanthe deserti (Chasco-do-deserto), em que o termo “deserti” se aplica ao habitat frequen-tado por esta ave, sem evocar nenhuma personalidade.

Refira-se ainda que, para indivíduos do sexo feminino, a terminação do no-me específico é em “ae”. Os dois casos mais conhecidos a nível europeu são:·Falco eleonorae (Falcão-da-rainha)

– em homenagem a Eleanor (Eleo-nora em italiano: 1347–1404), uma juíza de Arborea (Sardenha), que a tradição defende ter decretado a protecção das aves de rapina na-quela ilha.

·Chrysolophus amherstiae (faisão de Lady Amherst) – em homenagem a Sarah Countess Amherst, mulher de William Pitt Amherst, Governor ge-ral de Bengala, que foi responsável pelo envio do primeiro espécime deste faisão para Londres em 1828.

No próximo artigo abordaremos um tema que está presente em inúmeros nomes de aves: as cores. Aprenderemos a distinguir alguns nomes que vêm do latim de outros equivalentes com ori-gem no grego. E ficaremos a saber um pouco mais sobre as diferenças entre os nomes masculinos e os femininos.

Autor: Gonçalo Elias

Hirundo rusticalatim + latim

Oenanthe leucuragrego + grego

Luscinia megarhynchoslatim + grego

Apus pallidusgrego + latim

José

Via

na

Decifrandoos nomes científicos...

O nome Picus viridis provém do latim e a sua tradução para português é intuitiva: pica-pau verde.

Cuculus canorus - tal como acontece em português, o termo latino Cuculus é onomatopaico.

Andorinha-das-chaminés Hirundo rustica - o nome genérico Hirundo designa andorinha em latim; o termo rustica também provém do latim e refere-se aos hábitos rurais desta ave.

I - Nomes latinos ou gregos?

Page 19: Pardela 34

| 19ardela As aves em revistaN.º 34 |

José

Via

na

Faís

ca

uem se inicia na observação de aves, rapidamente se apercebe que muitos observadores mais Q

experimentados preferem designar as aves pelos chamados nomes científicos, em detrimento dos nomes portugueses ou vernáculos. Embora esta terminolo-gia faça confusão numa fase inicial e possa mesmo intimidar, a verdade é que, a pouco e pouco, mais pessoas se vão habituando a utilizá-la. Como dizia Fer-nando Pessoa, "primeiro estranha-se e depois entranha-se".

Mas surge um problema. Sendo o latim uma língua morta, que quase nin-guém sabe falar e pouca gente entende, a única forma de aprender a utilizar os nomes científicos consiste em decorá-los ou, quiçá, em “empiná-los”. Este mé-todo é pouco prático e fica sujeito a erros de aprendizagem. Se por um lado é verdade que alguns nomes cujo signi-ficado é mais ou menos intuitivo (como por exemplo Cuculus canorus ou Picus

18 | ardela As aves em revista | N.º 34

viridis), há outros que são absoluta-mente incompreensíveis (por exemplo Acrocephalus schoenobaenus ou Neo-phron percnopterus), não se vislum-brando qualquer significado que per-mita associar as características da ave aos termos que compõem o nome.

A fim de ajudar todos os interessados a ultrapassar este obstáculo, foi criada esta nova rubrica da Pardela que tem como principal objectivo ajudar a des-codificar esta linguagem. Não se pre-tende apresentar uma mera lista de tra-duções e significados, mas sim fornecer as bases necessárias à boa compreen-são dos nomes científicos, evitando des-ta forma que os nomes tenham de ser decorados (“empinados”), pois da boa compreensão resulta a melhor assimi-lação e a correcta utilização.

Os nomes serão abordados tematica-mente, isto é, em cada artigo serão tra-tados nomes que pertencem à mesma família de nomes.

Antes, porém, de analisarmos o tema em detalhe, é importante referir alguns aspectos mais gerais sobre a origem dos nomes científicos.

O primeiro aspecto a ter em conta é que o sistema em vigor é o sistema bi-nomial, que foi criado pelo naturalista sueco Carolus Linnaeus (Lineu) em 1758. Cada nome é assim composto por duas palavras, sendo que a primeira palavra designa o género (sendo tam-bém chamado nome genérico) e a combinação das duas palavras designa a espécie (a segunda palavra designa-se epíteto específico). Assim, por exemplo, no caso da Andorinha-das-chaminés, o nome científico é Hirundo rustica, sen-do que Hirundo designa o género e rus-tica corresponde ao epíteto específico.

Existe uma ideia generalizada de que os nomes científicos provêm do latim (ideia esta que é enfatizada pela expres-

são “Latin names” que é utilizada em língua inglesa para designar esta termi-nologia). Contudo, cerca de metade dos nomes científicos usados para deno-minar as espécies de aves provêm, na verdade, do grego. Este aspecto é muito importante para a boa compreensão de muitos nomes, como veremos adiante.

Poderia pensar-se, com base nesta ideia, que alguns nomes são então em latim e outros em grego. Contudo, a situação é mais complexa. Em muitos casos, o nome científico é composto por duas palavras no mesmo idioma (latim ou grego), mas há outros em que o no-me genérico é em latim e o nome espe-cífico é em grego, ou vice-versa (ver caixa acima).

Há ainda alguns casos, menos frequentes, em que uma das palavras (género ou espécie) é obti-da por justaposição de ele-mentos provenientes de grego e de latim. Estes casos serão analisados mais tarde.

Para além dos elementos de origem grega ou latina, surgem tam-bém numerosos nomes latizinados, cuja grafia, porém, nada tem a ver com o latim genuíno. Os casos mais frequen-tes envolvem nomes de naturalistas fa-mosos, que se decidiu homenagear atribuindo-lhes nomes de aves. Nestes casos, mantém-se a grafia na língua de origem, adicionando--se o genitivo.

Aqui ficam alguns exemplos:

·Calidris temminckii (Pilrito de Tem-minck) – em homenagem a Coen-raad Jacob Temminck (1778-1858), que foi um zoologista e aristocrata holandês. A grafia com “ck” corres-ponde ao nome do naturalista em causa e não aparece em latim.

·Larus audouinii (Gaivota de Au-douin) – em homenagem a Jean Victor Audouin ou simplesmente Victor Audouin (1797 –1841), natu-ralista, entomologista, ornitólogo e médico francês.

·Gyps rueppellii (Abutre de Rüppell) - Wilhelm Peter Eduard Simon Rüp-pell (1794 - 1884) foi um naturalista e explorador alemão.

·Falco naumanni (Peneireiro-das-torres) – em homenagem a Johann Friedrich Naumann (1780 –1857), cientista e editor alemão que é mui-tas vezes considerado o fundador da ornitologia científica na Europa.

Como se pode ver pelos exemplos acima, quando se homenageiam indiví-duos do sexo masculino, o nome especí-fico termina geralmente em “i” ou “ii”. Isto significa que quando encontramos

um nome com esta terminação, facil-mente podemos concluir que esse

nome homenageia alguém (por exemplo Calidris

bairdii, Calidris mauri, Larus

sabini, Larus genei, Sterna forsteri, Sterna dougallii, Porphyrula alleni, Cettia cetti, Phylloscopus bonelli, Emberiza pallasi – para todos estes nomes uma pesquisa na internet facilmente permitirá obter mais informação). Contudo, há excep-ções a esta regra das terminações em “i”, como por exemplo Oenanthe deserti (Chasco-do-deserto), em que o termo “deserti” se aplica ao habitat frequen-tado por esta ave, sem evocar nenhuma personalidade.

Refira-se ainda que, para indivíduos do sexo feminino, a terminação do no-me específico é em “ae”. Os dois casos mais conhecidos a nível europeu são:·Falco eleonorae (Falcão-da-rainha)

– em homenagem a Eleanor (Eleo-nora em italiano: 1347–1404), uma juíza de Arborea (Sardenha), que a tradição defende ter decretado a protecção das aves de rapina na-quela ilha.

·Chrysolophus amherstiae (faisão de Lady Amherst) – em homenagem a Sarah Countess Amherst, mulher de William Pitt Amherst, Governor ge-ral de Bengala, que foi responsável pelo envio do primeiro espécime deste faisão para Londres em 1828.

No próximo artigo abordaremos um tema que está presente em inúmeros nomes de aves: as cores. Aprenderemos a distinguir alguns nomes que vêm do latim de outros equivalentes com ori-gem no grego. E ficaremos a saber um pouco mais sobre as diferenças entre os nomes masculinos e os femininos.

Autor: Gonçalo Elias

Hirundo rusticalatim + latim

Oenanthe leucuragrego + grego

Luscinia megarhynchoslatim + grego

Apus pallidusgrego + latim

José

Via

na

Decifrandoos nomes científicos...

O nome Picus viridis provém do latim e a sua tradução para português é intuitiva: pica-pau verde.

Cuculus canorus - tal como acontece em português, o termo latino Cuculus é onomatopaico.

Andorinha-das-chaminés Hirundo rustica - o nome genérico Hirundo designa andorinha em latim; o termo rustica também provém do latim e refere-se aos hábitos rurais desta ave.

I - Nomes latinos ou gregos?

Page 20: Pardela 34

SeixalUm dos segredos mais bem guardados do estuário do Tejo

Quando se fala em observação de aves no estuário do Tejo pensa-se quase de imediato nas magníficas áreas que se en-contram abrangidas pela Reserva Natu-ral e que constituem de facto locais pri-vilegiados para o efeito.

No entanto, o estuário do Tejo não se resume a essas zonas. Pressionadas pela densa teia urbana que se expandiu pelas duas margens do estuário, e bastante maltratadas por vezes, subsistem ainda muitas áreas com elevado interesse or-nitológico e que são relativamente pou-co conhecidas dos ornitólogos nacio-nais. O Seixal é uma delas.

Introdução Como explorar

O chamado Sapal de Corroios não é mais do que um esteiro do Tejo que, par-tindo da baía do Seixal, se estende até à localidade que lhe dá o nome. É uma zo-na sujeita à influência das marés e onde, na baixa-mar, as lamas expostas alter-nam com manchas de vegetação estua-

A exploração desta zona pode consi-derar-se fácil sendo o único problema o elevado tráfego automóvel que por vezes circula nas estradas envolventes. A rede de transportes públicos é razoável e po-de ser utilizada para quem queira aceder a partir de Lisboa. Os meios disponíveis incluem comboio (Fertagus e metro de superfície), barco ou autocarro.

O sapal de Corroios e a Ponta dos Corvos

rina. A zona é frequentada por uma grande diversidade de límicolas sendo de salientar o elevado número de maça-ricos-reais Numenius arquata, milhe-rangos Limosa limosa, tarambolas-cin-zentas Pluvialis squatarola, pernas-ver-melhas Tringa totanus e alfaiates Recur-virostra avosetta habitualmente presen-tes nos meses de Inverno. Muitas gaivo-tas frequentam a zona, destacando-se, no período pós-nupcial, a presença re-gular de bastantes gaivotas-de-cabeça- -preta Larus melanocephalus. A Águia- -pesqueira Pandion haliaetus pode ser vista com frequência nesta área. Nas manchas de vegetação estuarina ocor-rem espécies como a Alvéola-amarela Motacilla flava, a Petinha-ribeirinha An-thus spinoletta ou o Pisco-de-peito-azul

Flamingos na Baía do Seixal tendo em pano de fundo a Amora

Hel

der

Cos

taH

eld

er C

osta

Moinho de maré de Corroios

20 | ardela As aves em revista | N.º 34 | 21ardela As aves em revistaN.º 34 |

A baía do Seixal encontra-se ladeada por áreas densamente urbanizadas. Na sua margem oeste fica situada a locali-dade da Amora ao passo que na margem leste se localizam a Arrentela e o Seixal.

Esta é uma zona particularmente interessante no Inverno, época em que é possível observar facilmente muitas garças, limícolas e gaivotas. Entre as es-pécies normalmente presentes con-tam-se a Garça-real Ardea cinerea, a Gar-ça-branca Egretta garzetta, o Alfaiate, o Milherango, o Perna-vermelha e a Ta-rambola-cinzenta. As gaivotas tendem a concentrar-se na foz do Rio Judeu,

A baía do SeixalAutor: Helder Costa

A zona da Azinheira fica situada junto ao Seixal e aí existem alguns moinhos de maré abandonados e alguns tanques que proporcionam refúgio de maré a muitas centenas de límicolas. Os alfaia-tes e os milherangos são comuns, o mes-mo se passando com os pernas-verme-lhas, os pilritos-de-peito-preto Calidris alpina ou as tarambolas. O número de rolas-do-mar Arenaria interpres que utiliza esta zona como refúgio pode ser extremamente elevado no contexto do estuário (já foram vistos grupos com mais de 300 aves).

O acesso é feito a partir do terminal dos barcos da Transtejo no Seixal. Uma vez aí deve seguir-se em direcção das instalações do Instituto Hidrográfico. Depois de passar o campo de futebol do Seixal deve virar-se à direita para uma estrada de terra que segue ao longo da vedação do centro de estágios do S.L. e Benfica. Os moinhos de maré dos Pau-listas ficam situados a escassas cente-nas de metros (ver mapa).

Azinheira

Luscinia svecica. O Pernilongo Himan-topus himantopus nidifica regularmen-te na área tendo-se verificado também tentativas de nidificação de Chilreta Sterna albifrons e de Borrelho-de-colei-ra-interrompida Charadrius alexandri-nus. Os terrenos envolventes do sapal de Corroios são provavelmente dos melho-res sítios do país para ver o Mainato-de- -poupa Acridotheres cristatellus, espécie asiática recentemente introduzida em Portugal.

Separando o sapal do curso principal do Tejo estende-se uma restinga are-nosa que, começando no Alfeite, termi-na na denominada Ponta dos Corvos já em frente ao Seixal. Esta área encontra- -se coberta por um pinhal pouco denso e, na sua parte final existem alguns terrenos abertos. A diversidade ornito-lógica desta península não é por norma muito elevada. Entre as espécies habi-tualmente presentes salientam-se o Peneireiro Falco tinnunculus, o Mocho- -galego Athene noctua ou a Cotovia-de- -poupa Galerida cristata. No entanto, no período de passagem pós-nupcial, e sob condições climatéricas favoráveis, pode verificar-se a chegada de muitos migradores.

O Sapal de Corroios pode ser explo-rado a partir da Rua do Rouxinol que começa junto à rotunda de Corroios e se prolonga até Miratejo. Um dos melho-

res locais para observar nesta área é o moinho de maré existente entre Corroi-os e Miratejo cujo acesso infelizmente está agora vedado. A Ponta dos Corvos é acessível a partir de Miratejo (ver mapa).

junto à Ponte da Fraternidade e nas saí-das de esgoto junto ao Seixal. Algumas espécies raras como a Gaivota-de-bico--riscado Larus delawarensis ou o Fame-go Larus canus têm sido aí observadas.

É possível percorrer todo o perímetro da baía utilizando uma estrada margi-nal e, para além disso, nos últimos anos foi construído um passeio ciclo-pedo-nal a partir do qual se pode observar as aves. O melhor acesso à baía do Seixal é feito a partir da N10 (ver mapa).

Hel

der

Cos

ta

Hel

der

Cos

ta

Hel

der

Cos

ta

O Perna-vermelha Tringa totanus é uma das limícolas mais comuns no sapal de Corroios

Gaivotas alimentando-se na zona do Seixal. Em primeiro plano Gaivota-de-bico-riscado Larus delawarensis, em segundo plano Gaivota-de-cabeça-preta Larus melanocephalus e em terceiro plano guinchos Larus ridibundus

Perspectica do sapal de Corroios a partir da zona do Alfeite

MIRATEJOAlfeite

R. SoeiroPereira GomesAlameda

25 Abril

R. FerreiraCastro

Rua doRouxinol

CORROIOS

AMORA

Moinho de Maréde Corroios

Sapal deCorroios

Baía doSeixal

SEIXALCentro de

estágios SLBMoinhos de Marédos Paulistas

Rio Tejo

Azinheira

ARRENTELA

N10

Ponta dos Corvos

Page 21: Pardela 34

SeixalUm dos segredos mais bem guardados do estuário do Tejo

Quando se fala em observação de aves no estuário do Tejo pensa-se quase de imediato nas magníficas áreas que se en-contram abrangidas pela Reserva Natu-ral e que constituem de facto locais pri-vilegiados para o efeito.

No entanto, o estuário do Tejo não se resume a essas zonas. Pressionadas pela densa teia urbana que se expandiu pelas duas margens do estuário, e bastante maltratadas por vezes, subsistem ainda muitas áreas com elevado interesse or-nitológico e que são relativamente pou-co conhecidas dos ornitólogos nacio-nais. O Seixal é uma delas.

Introdução Como explorar

O chamado Sapal de Corroios não é mais do que um esteiro do Tejo que, par-tindo da baía do Seixal, se estende até à localidade que lhe dá o nome. É uma zo-na sujeita à influência das marés e onde, na baixa-mar, as lamas expostas alter-nam com manchas de vegetação estua-

A exploração desta zona pode consi-derar-se fácil sendo o único problema o elevado tráfego automóvel que por vezes circula nas estradas envolventes. A rede de transportes públicos é razoável e po-de ser utilizada para quem queira aceder a partir de Lisboa. Os meios disponíveis incluem comboio (Fertagus e metro de superfície), barco ou autocarro.

O sapal de Corroios e a Ponta dos Corvos

rina. A zona é frequentada por uma grande diversidade de límicolas sendo de salientar o elevado número de maça-ricos-reais Numenius arquata, milhe-rangos Limosa limosa, tarambolas-cin-zentas Pluvialis squatarola, pernas-ver-melhas Tringa totanus e alfaiates Recur-virostra avosetta habitualmente presen-tes nos meses de Inverno. Muitas gaivo-tas frequentam a zona, destacando-se, no período pós-nupcial, a presença re-gular de bastantes gaivotas-de-cabeça- -preta Larus melanocephalus. A Águia- -pesqueira Pandion haliaetus pode ser vista com frequência nesta área. Nas manchas de vegetação estuarina ocor-rem espécies como a Alvéola-amarela Motacilla flava, a Petinha-ribeirinha An-thus spinoletta ou o Pisco-de-peito-azul

Flamingos na Baía do Seixal tendo em pano de fundo a Amora

Hel

der

Cos

taH

eld

er C

osta

Moinho de maré de Corroios

20 | ardela As aves em revista | N.º 34 | 21ardela As aves em revistaN.º 34 |

A baía do Seixal encontra-se ladeada por áreas densamente urbanizadas. Na sua margem oeste fica situada a locali-dade da Amora ao passo que na margem leste se localizam a Arrentela e o Seixal.

Esta é uma zona particularmente interessante no Inverno, época em que é possível observar facilmente muitas garças, limícolas e gaivotas. Entre as es-pécies normalmente presentes con-tam-se a Garça-real Ardea cinerea, a Gar-ça-branca Egretta garzetta, o Alfaiate, o Milherango, o Perna-vermelha e a Ta-rambola-cinzenta. As gaivotas tendem a concentrar-se na foz do Rio Judeu,

A baía do SeixalAutor: Helder Costa

A zona da Azinheira fica situada junto ao Seixal e aí existem alguns moinhos de maré abandonados e alguns tanques que proporcionam refúgio de maré a muitas centenas de límicolas. Os alfaia-tes e os milherangos são comuns, o mes-mo se passando com os pernas-verme-lhas, os pilritos-de-peito-preto Calidris alpina ou as tarambolas. O número de rolas-do-mar Arenaria interpres que utiliza esta zona como refúgio pode ser extremamente elevado no contexto do estuário (já foram vistos grupos com mais de 300 aves).

O acesso é feito a partir do terminal dos barcos da Transtejo no Seixal. Uma vez aí deve seguir-se em direcção das instalações do Instituto Hidrográfico. Depois de passar o campo de futebol do Seixal deve virar-se à direita para uma estrada de terra que segue ao longo da vedação do centro de estágios do S.L. e Benfica. Os moinhos de maré dos Pau-listas ficam situados a escassas cente-nas de metros (ver mapa).

Azinheira

Luscinia svecica. O Pernilongo Himan-topus himantopus nidifica regularmen-te na área tendo-se verificado também tentativas de nidificação de Chilreta Sterna albifrons e de Borrelho-de-colei-ra-interrompida Charadrius alexandri-nus. Os terrenos envolventes do sapal de Corroios são provavelmente dos melho-res sítios do país para ver o Mainato-de- -poupa Acridotheres cristatellus, espécie asiática recentemente introduzida em Portugal.

Separando o sapal do curso principal do Tejo estende-se uma restinga are-nosa que, começando no Alfeite, termi-na na denominada Ponta dos Corvos já em frente ao Seixal. Esta área encontra- -se coberta por um pinhal pouco denso e, na sua parte final existem alguns terrenos abertos. A diversidade ornito-lógica desta península não é por norma muito elevada. Entre as espécies habi-tualmente presentes salientam-se o Peneireiro Falco tinnunculus, o Mocho- -galego Athene noctua ou a Cotovia-de- -poupa Galerida cristata. No entanto, no período de passagem pós-nupcial, e sob condições climatéricas favoráveis, pode verificar-se a chegada de muitos migradores.

O Sapal de Corroios pode ser explo-rado a partir da Rua do Rouxinol que começa junto à rotunda de Corroios e se prolonga até Miratejo. Um dos melho-

res locais para observar nesta área é o moinho de maré existente entre Corroi-os e Miratejo cujo acesso infelizmente está agora vedado. A Ponta dos Corvos é acessível a partir de Miratejo (ver mapa).

junto à Ponte da Fraternidade e nas saí-das de esgoto junto ao Seixal. Algumas espécies raras como a Gaivota-de-bico--riscado Larus delawarensis ou o Fame-go Larus canus têm sido aí observadas.

É possível percorrer todo o perímetro da baía utilizando uma estrada margi-nal e, para além disso, nos últimos anos foi construído um passeio ciclo-pedo-nal a partir do qual se pode observar as aves. O melhor acesso à baía do Seixal é feito a partir da N10 (ver mapa).

Hel

der

Cos

ta

Hel

der

Cos

ta

Hel

der

Cos

ta

O Perna-vermelha Tringa totanus é uma das limícolas mais comuns no sapal de Corroios

Gaivotas alimentando-se na zona do Seixal. Em primeiro plano Gaivota-de-bico-riscado Larus delawarensis, em segundo plano Gaivota-de-cabeça-preta Larus melanocephalus e em terceiro plano guinchos Larus ridibundus

Perspectica do sapal de Corroios a partir da zona do Alfeite

MIRATEJOAlfeite

R. SoeiroPereira GomesAlameda

25 Abril

R. FerreiraCastro

Rua doRouxinol

CORROIOS

AMORA

Moinho de Maréde Corroios

Sapal deCorroios

Baía doSeixal

SEIXALCentro de

estágios SLBMoinhos de Marédos Paulistas

Rio Tejo

Azinheira

ARRENTELA

N10

Ponta dos Corvos

Page 22: Pardela 34

| 23ardela As aves em revistaN.º 34 |

Autor: Pedro M. Lourenço

Falsterbono centro da principal rota migratória

do Norte da Europa

A Península de FalsterboLocalizada na extremidade sul da Suécia, nas margens do

Báltico, a Península de Falsterbo é reconhecida internacional-mente como um dos melhores locais para observação de aves na Europa. O forte de Falsterbo é a migração outonal. Toda a Península Escandinava forma como que um imenso funil

22 | ardela As aves em revista | N.º 34

para aves da Escandinávia, La-pónia e do Noroeste Russo, que se juntam em Falsterbo antes da travessia do Báltico no seu ponto mais estreito. Um dia bom, e em Falsterbo os dias bons não são raros, pode render ao birdwat-cher atento alguns milhares de ra-pinas e centenas de milhares de passeriformes.

Fui a Falsterbo no Outono, ten-do aproveitado a participação num curso sobre migração ani-mal na Universidade de Lund como desculpa para passar al-guns dias nesta “Meca” do birdwatching. Vindo de Malmö, a principal cidade do Sul da Suécia, uma viagem de meia hora de automóvel leva-nos a Falsterbo, passando pelo caminho por algumas praias interessantes para observar gaivotas, patos, gansos e, com um pouco de sorte, mobelhas. Chega-dos a Falsterbo, apresentasse-nos uma pequena aldeia pito-

resca, antiga aldeia de pescadores agora dedicada sobretudo ao turismo, de veraneio e de observação de aves.

O local chave para observar aves é a zona junto ao farol, um local chamado Nabben que consiste na verdadeira extremi-dade sul da península. Aí, a grande surpresa, o principal local

de observação de aves no norte da Europa é um cam-po de golfe! Nos caminhos de acesso, uma bizarra mis-tura de golfistas carregados de tacos e birdwatchers ar-mados de telescópios entre-olha-se com estranheza. Ca-da grupo parece olhar para o outro sem compreender a finalidade da sua visita. Chegados à extremidade do campo de golfe, junto a um lago onde abundam patos- -olho-d'ouro Bucephala

clangula, zarros-negrinha Aythya fuligula, mergansos Mergus mergus e patos-de-cauda-afilada Clangula hyemalis, entre outros anatídeos, encontramos o local onde se senta todos os dias, de 1 de Agosto a 20 de Novembro, Nils Kjellén, o principal responsável pelas contagens de migradores desde 1981.

Aqui, só numa época de migração outonal foram contadas 1.82 milhões de aves, na sua maioria tentilhões-monte-ses Fringilla montifringilla, tentilhões-comuns Fringilla coelebs, chapins-azuis Parus caeruleus, chapins-reais Parus ma-jor e pardais-monteses Passer monta-nus, mas também centenas de milhares de pombos-bravos Columba oenas e pombos-torcazes Columba palumbus, e mais de 50 000 rapinas. Pessoalmente, não sei o que me impressionou mais em Nabben, se os bandos de chapins e ten-tilhões que passam a baixa altitude logo acima das nossas cabeças, enchendo o ar de chilreios, se os enormes bandos de pombos que formam nuvens no céu, só para se desfazerem em magníficos bai-lados à chegada de um Falcão-peregrino Falco peregrinus, se os bandos de cente-nas de águias-de-asa-redonda Buteo buteo e bútios-calçados Buteo lagopus que desenham imensas espirais no céu.

Além de Nabben, outro local muito atractivo para a observação de aves é Skanör, uma zona aberta de vegetação arbustiva que atrai muitas aves de rapina como local propício para caça. Aqui, assim como em Nabben, as aves de rapina voam por vezes a muito baixa altitude, permitindo excelentes obser-vações de águias de grande porte, como a Águia-real Aquila chrysaetos, a Águia- -rabalva Haliaeetus albicilla, a Águia- -gritadeira Aquila clanga e a Águia- -pomarina Aquila pomarina, assim como de rapinas de menor porte, como o Milhafre-real Milvus milvus, o Tarta-ranhão-azulado Circus cyaneus ou o Esmerilhão Falco columbarius.

Outras partes da SkaniaFalsterbo integra-se na península sue-

ca da Skania, região essencialmente agrícola e de relevos suaves, onde os campos de cultivo se sucedem a bos-ques de caducifólias e magníficos lagos nórdicos. A melhor forma de explorar a região é de carro, viajando de lago em lago, com paragens frequentes para ana-lisar os bandos de gansos-bravos Anser anser, gansos-grandes-de-testa-branca Anser albifrons e gansos-de-faces-bran-cas Branta leucopsis, em busca dos mais raros gansos-pequenos-de-faces-bran-cas Anser erythropus e gansos-de-

weblinks de interesse: www.skof.se/fbo/

Oslo

CopenhagenMalmo

Estocolmo

SUÉCIA

NORUEGA

FIN

LA

ND

IA

DINAMARCA

ALEMANHAPOLÓNIA

LETÓNIA

ESTÓNIA

RÚSSIA

LITUÂNIA

-pescoço-ruivo Branta ruficollis. Nos mesmos prados são avistados grandes números de abibes Vanellus vanellus e tarambolas-douradas Pluvialis aprica-ria, enquanto que as sebes que separam os campos são bons locais para avistar piscos-de-peito-azul Luscinia svecica, rabirruivos-de-testa-branca Phoeni-curus phoenicurus e pintarroxos-de- -peito-roxo Carduelis flammea.

Os lagos, além de proporcionarem pai-sagens de beleza extasiante, são tam-bém bons locais para avistar mergu-lhões-de-crista Podiceps cristatus e mer-gulhões-de-pescoço-ruivo Podiceps gri-segena, assim como cisnes-mudos Cyg-nus olor e cisnes-bravos Cygnus cygnus. Muitos destes lagos albergam casais re-sidentes de águias-rabalvas, proporcio-nando assim boas observações desta es-pécie. Nos caniços, para o birdwatcher mais atento, pode espreitar ainda um Chapim-de-bigodes Panurus biarmi-cus, um final perfeito para um dia bem passado na Skania.

Falsterbo

Nabben

Ped

ro L

oure

nço

Observadores de aves em Nabben

Ped

ro L

oure

nço

Ped

ro L

oure

nço

Milhafre-real Milvus milvus

Bando de gansos

Ped

ro L

oure

nço

Page 23: Pardela 34

| 23ardela As aves em revistaN.º 34 |

Autor: Pedro M. Lourenço

Falsterbono centro da principal rota migratória

do Norte da Europa

A Península de FalsterboLocalizada na extremidade sul da Suécia, nas margens do

Báltico, a Península de Falsterbo é reconhecida internacional-mente como um dos melhores locais para observação de aves na Europa. O forte de Falsterbo é a migração outonal. Toda a Península Escandinava forma como que um imenso funil

22 | ardela As aves em revista | N.º 34

para aves da Escandinávia, La-pónia e do Noroeste Russo, que se juntam em Falsterbo antes da travessia do Báltico no seu ponto mais estreito. Um dia bom, e em Falsterbo os dias bons não são raros, pode render ao birdwat-cher atento alguns milhares de ra-pinas e centenas de milhares de passeriformes.

Fui a Falsterbo no Outono, ten-do aproveitado a participação num curso sobre migração ani-mal na Universidade de Lund como desculpa para passar al-guns dias nesta “Meca” do birdwatching. Vindo de Malmö, a principal cidade do Sul da Suécia, uma viagem de meia hora de automóvel leva-nos a Falsterbo, passando pelo caminho por algumas praias interessantes para observar gaivotas, patos, gansos e, com um pouco de sorte, mobelhas. Chega-dos a Falsterbo, apresentasse-nos uma pequena aldeia pito-

resca, antiga aldeia de pescadores agora dedicada sobretudo ao turismo, de veraneio e de observação de aves.

O local chave para observar aves é a zona junto ao farol, um local chamado Nabben que consiste na verdadeira extremi-dade sul da península. Aí, a grande surpresa, o principal local

de observação de aves no norte da Europa é um cam-po de golfe! Nos caminhos de acesso, uma bizarra mis-tura de golfistas carregados de tacos e birdwatchers ar-mados de telescópios entre-olha-se com estranheza. Ca-da grupo parece olhar para o outro sem compreender a finalidade da sua visita. Chegados à extremidade do campo de golfe, junto a um lago onde abundam patos- -olho-d'ouro Bucephala

clangula, zarros-negrinha Aythya fuligula, mergansos Mergus mergus e patos-de-cauda-afilada Clangula hyemalis, entre outros anatídeos, encontramos o local onde se senta todos os dias, de 1 de Agosto a 20 de Novembro, Nils Kjellén, o principal responsável pelas contagens de migradores desde 1981.

Aqui, só numa época de migração outonal foram contadas 1.82 milhões de aves, na sua maioria tentilhões-monte-ses Fringilla montifringilla, tentilhões-comuns Fringilla coelebs, chapins-azuis Parus caeruleus, chapins-reais Parus ma-jor e pardais-monteses Passer monta-nus, mas também centenas de milhares de pombos-bravos Columba oenas e pombos-torcazes Columba palumbus, e mais de 50 000 rapinas. Pessoalmente, não sei o que me impressionou mais em Nabben, se os bandos de chapins e ten-tilhões que passam a baixa altitude logo acima das nossas cabeças, enchendo o ar de chilreios, se os enormes bandos de pombos que formam nuvens no céu, só para se desfazerem em magníficos bai-lados à chegada de um Falcão-peregrino Falco peregrinus, se os bandos de cente-nas de águias-de-asa-redonda Buteo buteo e bútios-calçados Buteo lagopus que desenham imensas espirais no céu.

Além de Nabben, outro local muito atractivo para a observação de aves é Skanör, uma zona aberta de vegetação arbustiva que atrai muitas aves de rapina como local propício para caça. Aqui, assim como em Nabben, as aves de rapina voam por vezes a muito baixa altitude, permitindo excelentes obser-vações de águias de grande porte, como a Águia-real Aquila chrysaetos, a Águia- -rabalva Haliaeetus albicilla, a Águia- -gritadeira Aquila clanga e a Águia- -pomarina Aquila pomarina, assim como de rapinas de menor porte, como o Milhafre-real Milvus milvus, o Tarta-ranhão-azulado Circus cyaneus ou o Esmerilhão Falco columbarius.

Outras partes da SkaniaFalsterbo integra-se na península sue-

ca da Skania, região essencialmente agrícola e de relevos suaves, onde os campos de cultivo se sucedem a bos-ques de caducifólias e magníficos lagos nórdicos. A melhor forma de explorar a região é de carro, viajando de lago em lago, com paragens frequentes para ana-lisar os bandos de gansos-bravos Anser anser, gansos-grandes-de-testa-branca Anser albifrons e gansos-de-faces-bran-cas Branta leucopsis, em busca dos mais raros gansos-pequenos-de-faces-bran-cas Anser erythropus e gansos-de-

weblinks de interesse: www.skof.se/fbo/

Oslo

CopenhagenMalmo

Estocolmo

SUÉCIA

NORUEGA

FIN

LA

ND

IA

DINAMARCA

ALEMANHAPOLÓNIA

LETÓNIA

ESTÓNIA

RÚSSIA

LITUÂNIA

-pescoço-ruivo Branta ruficollis. Nos mesmos prados são avistados grandes números de abibes Vanellus vanellus e tarambolas-douradas Pluvialis aprica-ria, enquanto que as sebes que separam os campos são bons locais para avistar piscos-de-peito-azul Luscinia svecica, rabirruivos-de-testa-branca Phoeni-curus phoenicurus e pintarroxos-de- -peito-roxo Carduelis flammea.

Os lagos, além de proporcionarem pai-sagens de beleza extasiante, são tam-bém bons locais para avistar mergu-lhões-de-crista Podiceps cristatus e mer-gulhões-de-pescoço-ruivo Podiceps gri-segena, assim como cisnes-mudos Cyg-nus olor e cisnes-bravos Cygnus cygnus. Muitos destes lagos albergam casais re-sidentes de águias-rabalvas, proporcio-nando assim boas observações desta es-pécie. Nos caniços, para o birdwatcher mais atento, pode espreitar ainda um Chapim-de-bigodes Panurus biarmi-cus, um final perfeito para um dia bem passado na Skania.

Falsterbo

Nabben

Ped

ro L

oure

nço

Observadores de aves em Nabben

Ped

ro L

oure

nço

Ped

ro L

oure

nço

Milhafre-real Milvus milvus

Bando de gansos

Ped

ro L

oure

nço

Page 24: Pardela 34

João

Tia

go T

avar

es

24 | ardela As aves em revista | N.º 34

Onde Observar

Autor: João Petronilho

as 69 espécies de noitibós conhe-cidas no nosso planeta, cerca de metade pertence ao género D

Caprimulgus, das quais quatro ocorrem no Paleárctico Ocidental. Destas, duas nidificam em Portugal: o Noitibó-de-nuca-vermelha Caprimulgus ruficollis e o Noitibó-cinzento Caprimulgus euro-paeus. Das seis sub-espécies desta últi-ma, apenas C. e. meridionalis se repro-duz no nosso país, embora durante as migrações ocorra também a sub-espé-cie C. e. europaeus, a qual nidifica na maioria dos países da Europa Central e do Norte. Imensamente desconhecido da esmagadora maioria da população – ainda que, no meio rural e entre os mais idosos, ainda haja quem o conheça e que curiosamente lhe atribua o nome de Boa-noite - ocorre sobretudo de fi-nais de Abril a meados de Outubro. O seu excelente mimetismo e os seus há-bitos nocturnos fazem desta espécie uma das aves mais difíceis de observar na natureza, mesmo entre os observa-dores de aves. Durante o dia permanece deitada no solo ou estendido ao longo dos ramos das árvores e, a não ser que seja incomodada, quer por predadores quer por algum outro animal, incluindo o Homem, que casualmente passe jun-to do local onde se encontra, aí perma-necerá até ao anoitecer. E é a partir daqui que a altura ideal para observar noitibós se proporciona. Quanto aos locais, apenas posso dizer que na sua área de ocorrência, que se localiza sobretudo no Norte e Centro de Portu-gal, é uma espécie que deve ser pro-curada em povoamentos florestais de jovens coníferas, clareiras, zonas de ma-tos, zonas agrícolas, dunas e em terre-nos ardidos em anos anteriores.

o Noitibó-cinzentoCaprimulgus europaeus

A região localizada entre as Dunas de Quiaios e as Dunas de Mira e a zona en-volvente ao castelo de Montalegre são áreas privilegiadas para observação da espécie. Contudo, não são únicas e para quem procura um contacto mais próxi-mo, e outros pontos do país também podem ser prospectados. Para isso acon-selho a adoptar as seguintes estratégias: 1) efectuar percursos de automóvel em estradas secundárias ou estradões ru-rais, atentos às aves em voo rasante ou aos reflexos produzidos pelos olhos das aves pousadas no asfalto face às luzes do veículo; 2) realizar algumas paragens para escutar eventuais sons emitidos pela espécie. Neste caso, poderemos po-tenciá-los recorrendo a emissões de cha-mamentos previamente gravados (co-migo trago sempre um leitor de MP3 com os sons da maioria das espécies que ocorrem no nosso território, pronto a ser utilizado a qualquer momento); 3) esta última técnica também pode ser utili-zada durante o dia e por vezes produz uma resposta por parte das aves que se encontram nas proximidades. Com estas dicas, muito provavelmente terão a oportunidade de observar de muito per-to uma das aves, que pessoalmente, considero ser uma das mais belas cria-ções da natureza.

Page 25: Pardela 34

Ped

ro M

onte

iro

| 25ardela As aves em revistaN.º 34 |

Concurso

“Rede Natura 2000 em Foto” resulta em calendário SPEA 2009

VENCEDORES

C a t e g o r i a A v e s

CONCURSOFOTOREDE NATURA 2000

F O T O G R A F A R | S E N S I B I L I Z A R | C O N S E R V A R

Autor: Orlando Paulo TeixeiraLegenda: Luta tardia - Cegonhas brancas

Autor: Pedro Miguel NunesLegenda: Rouxinol-grande-dos-caniços

A qualidade e número de fotografias recebidas no concurso “Rede Natura 2000 em Foto” superou todas as expectativas! No total, recebemos 280 fotografias, enviadas por 120 participantes.

O concurso divulgado na revista “O Mundo da Fotografia Digital”, na “Visão” e em blogs relacionados com temas como a fotografia e o ambiente, contou com o apoio técnico de um Júri, constituído pelo fotógrafo profissional de Natureza Faísca; pelo representante da revista Visão, João de Deus; pelo Director da revista “O Mundo da Fotografia Digital” e também fotógrafo, Joel Santos; pelo fotógrafo profissional Octávio Alcântara e por último pelo Presidente da SPEA, Ricardo Tomé. A todos eles, obrigada pelo apoio.

Os vencedores de cada categoria ganharam um voucher no valor de 100€ em material Pentax, para ser utilizado nas lojas da Beltrão Coelho, e viram as suas fotografias publi-cadas no calendário de 2009 produzido pela SPEA, já á venda na nossa loja.

O concurso pretendeu acima de tudo divulgar mais as Áreas Importantes para as Aves (IBA), que se situam em áreas abrangidas pela Rede Natura 2000, e sensibilizar ao mesmo tempo para as boas práticas, essenciais à conservação destes locais.

o seu olhar sobre a natureza

Autora: Joana Domingues

Page 26: Pardela 34

| 27ardela As aves em revistaN.º 34 | 26 | ardela As aves em revista | N.º 34

C a t e g o r i a F a u n a

C a t e g o r i a F l o r a

C a t e g o r i a A m e a ç a s

C a t e g o r i a F o r m a s d e u s o s u s t e n t á v e l

C a t e g o r i a P a i s a g e m

Autor: Guilherme LimaLegenda: À espreita

Autor: João Jorge Rolão Vinhas ReisLegenda: Planta

Autor: Gabriel J. E. LascasLegenda: Sem título

Autor: Guilherme LimaLegenda: Energia positiva

Autor: André Oliveira Rios VieiraLegenda: Nas escarpas da Mizarela

Autor: Arnaldo Alves de CarvalhoLegenda: Deus e a Natureza

Autor: Bruno Virgílio Faria Abreu Legenda: Ilhéu da Cal

Autor: André Vicente GonçalvesLegenda: Bee

Autor: Guilherme LimaLegenda: Floresta Protegida

2ºAutor: Maria Cristina Pinto Macias MarquesLegenda: Fundo no caminho para a serra1º 2º

1º NOTA: Os geradores eólicos,quando colocados em algunslocais, podem ter impactosnegativos sobre a avifauna.

2º 1º 2º

Patrocínio

Page 27: Pardela 34

| 27ardela As aves em revistaN.º 34 | 26 | ardela As aves em revista | N.º 34

C a t e g o r i a F a u n a

C a t e g o r i a F l o r a

C a t e g o r i a A m e a ç a s

C a t e g o r i a F o r m a s d e u s o s u s t e n t á v e l

C a t e g o r i a P a i s a g e m

Autor: Guilherme LimaLegenda: À espreita

Autor: João Jorge Rolão Vinhas ReisLegenda: Planta

Autor: Gabriel J. E. LascasLegenda: Sem título

Autor: Guilherme LimaLegenda: Energia positiva

Autor: André Oliveira Rios VieiraLegenda: Nas escarpas da Mizarela

Autor: Arnaldo Alves de CarvalhoLegenda: Deus e a Natureza

Autor: Bruno Virgílio Faria Abreu Legenda: Ilhéu da Cal

Autor: André Vicente GonçalvesLegenda: Bee

Autor: Guilherme LimaLegenda: Floresta Protegida

2ºAutor: Maria Cristina Pinto Macias MarquesLegenda: Fundo no caminho para a serra1º 2º

1º NOTA: Os geradores eólicos,quando colocados em algunslocais, podem ter impactosnegativos sobre a avifauna.

2º 1º 2º

Patrocínio

Page 28: Pardela 34

| 29ardela As aves em revistaN.º 34 | 28 | ardela As aves em revista | N.º 34

Voando com as Aves no Passado

VII – Memórias de trabalhos etnozoológicos no Rif (Marrocos)

Como estes relatos aconteceram num passado recente,

porquê a sua inclusão nesta rubrica...?

A razão é simples: para melhor conhecermos o passado e

podermos enquadrar práticas e objectos que através da arqueo-

logia o ilustram, vamos ao encontro das gentes em lugares

“cristalizados” no tempo. No caso da Península Ibérica, sete

séculos de presença islâmica, deixaram marcas profundas nos

mais variados e quotidianos alicerces culturais. Há anos inte-

grámos um projecto de investigação etnoarqueológica da

Universidad de Cantábria, nas montanhas do Rif, no Norte de

Marrocos (Fig.1). Durante cinco campanhas sucessivas uma

equipa que integrou arqueólogos, arqueobotânicos, arqueo-

zoólogos e antropólogos abordou temas tão diversos como agri-

cultura, caça, pastorícia, produção de cerâmica, cutelaria, cesta-

ria, lacticínios, tecelagem, etc. No nosso caso, ao longo das duas

últimas campanhas, procurámos conhecer o tipo de exploração

que aquelas comunidades faziam dos recursos animais domés-

ticos e selvagens… Consultados os cadernos de campo e

revisitadas as gravações áudio, alinhavámos os dois

apontamentos que se seguem.

Aghbalou16 de Novembro de 2000Como as chuvas dos últimos Invernos

tinham rasgado sulcos profundos na estrada de terra batida, o guia aconse-lhou-nos a abandonar o jipe e a fazer-mos o resto do trajecto a pé. No fundo do vale, a cerca de meia hora por ser-penteantes atalhos, estava a aldeia. Ali conhecemos uma mulher de longa ida-de que nos explicava um processo ca-seiro de produzir azeite (Fig.2). Repará-mos então que numa das franjas do lenço que lhe cobria a cabeça tinha pre-so um pequeno cilindro metálico que, de relance, nos pareceu uma anilha or-nitológica… Através do intérprete per-guntámos se poderíamos observar aquele pequeno objecto que ela nos facultou com um enrugado e desden-tado sorriso. “Sim”, tirara-a da pata de uma ave pequena que os netos haviam

capturado nas imediações com uma armadilha… prática regular naquelas paragens (Fig. 3). A sua leitura revelou-nos o nº X 350711 e a proveniência: Finnish Museum! Com um mapa da Europa apontámos-lhe a Finlândia, a terra de origem daquele passeriforme que atravessara toda a Europa para se transformar num petisco marroquino. Pedimos-lhe que nos dissesse como era: – “pequenita, avermelhada e”… pouco mais. Tudo se passara haveria algumas semanas e a memória por vezes falhava. Depois desta sumária descrição debru-çámo-nos sobre o Guia de Aves. Os seus olhos deslumbrados brilhavam diante de tantas formas e cores. Algumas pareciam-lhe familiares, mas outras… eram absolutamente desconhecidas naquelas paragens. Perante tanta diversidade, flamingos e colhereiros

mereceram-lhe alegres comentários que Ab-dulah não conseguiu traduzir. Acabou por “se fixar” no macho de Dom-fafe Pyrrhula pyrrhu-la que, apesar de ultrapassar as fronteiras da sua distribuição a sul, era uma eventualidade a considerar. De qualquer modo, como a ave estava devidamente referenciada seria questão de contactarmos o Museu que nos iria escla-recer. Era-nos particularmente grato contri-buir com aquela informação inesperada em-bora as possibilidades de resgatarmos a anilha fossem muito reduzidas. Aquela peça metálica era uma jóia, um objecto com enorme valor afectivo, inegociável, sobretudo depois de lhe revelarmos que viera de um país distante. Por lá ficou integrando o parco património familiar para que, ao passar das gerações, a história con-tinuasse a ser contada referindo uns estran-geiros que por lá passaram e ajudaram a ler aquelas letras e números que ninguém na aldeia aprendera a decifrar… Já em Lisboa, con-tactado o Museu de História Natural da Fin-lândia, recebemos a informação, primeiro por e-mail, mais tarde por carta (Fig. 4) que afinal se tratava de um Rabirruivo-de-testa-branca Phoenicurus phoenicurus que fora anilhado no ninho havia mais de dois anos, a 3759 km de

Dahar21 de Novembro de 2000O “pássaro da noite” já nos tinha sido anteriormente men-

cionado em dois povoados (Homar e Mokriset) sem que tivéssemos chegado a qualquer conclusão quanto à sua identidade. No vastíssimo rol de utilidades de diferentes partes de alguns animais (muitas delas já referidas em documentação medieval) aquela ave era fantástica: uma vez morta devia ser conservada seca num lugar protegido e obscuro. Depois, caso “a mulher se revelasse infértil”, “o burro deixasse de comer”, etc., cortava-se uma parte do cadáver mumificado, queimava-se e… a inalação daqueles fumos produziria resultados milagrosos! Uma vez mais, consultado o Guia, nem mochos, nem corujas, nem noitibós, nada cor-respondia. Até que Fátima, a camponesa entrevistada, se recordou que, apesar de já ter sido parcialmente utilizado para bem de “qualquer coisa”, devia ter algum resto no forro da casa. Regressou pouco depois com um morcego resse-quido a que já faltava uma asa – um Vespertilionidae do Gé-nero Myotis, esclarecendo-se assim o mistério ornitológico que nos perseguiu durante alguns dias.

distância, em Joutseno, Kymi. Demos conta dessa informa-ção ao nosso guia que, vivendo em Chefchauen, sem viatura própria, numa zona desprovida de transportes não terá con-seguido fazê-la chegar a Aghbalou.

Autores : Carlos Pimenta Marta Moreno-García

Laboratório de ArqueozoologiaIGESPAR, IP

Fig.1 Dahar, aldeia do Rif no norte de Marrocos

Car

los

Pim

enta

Fig.2 Explicando um método caseiro de produzir azeite. Numa das franjas azuis do lenço estava presa a anilha

Mar

ta M

oren

o-G

arcí

aFig.3 Algumas das armadilhas utilizadas para capturar aves e mamíferos.

Do lado direito, na mão, a última vítima – um Pisco-de-peito-ruivo Erithacus rubecula.

Fig.4 Carta do Finnish Museum com as informações relativas à anilha de Aghbalou, Chefchauen, Marrocos

Car

los

Pim

enta

Page 29: Pardela 34

| 29ardela As aves em revistaN.º 34 | 28 | ardela As aves em revista | N.º 34

Voando com as Aves no Passado

VII – Memórias de trabalhos etnozoológicos no Rif (Marrocos)

Como estes relatos aconteceram num passado recente,

porquê a sua inclusão nesta rubrica...?

A razão é simples: para melhor conhecermos o passado e

podermos enquadrar práticas e objectos que através da arqueo-

logia o ilustram, vamos ao encontro das gentes em lugares

“cristalizados” no tempo. No caso da Península Ibérica, sete

séculos de presença islâmica, deixaram marcas profundas nos

mais variados e quotidianos alicerces culturais. Há anos inte-

grámos um projecto de investigação etnoarqueológica da

Universidad de Cantábria, nas montanhas do Rif, no Norte de

Marrocos (Fig.1). Durante cinco campanhas sucessivas uma

equipa que integrou arqueólogos, arqueobotânicos, arqueo-

zoólogos e antropólogos abordou temas tão diversos como agri-

cultura, caça, pastorícia, produção de cerâmica, cutelaria, cesta-

ria, lacticínios, tecelagem, etc. No nosso caso, ao longo das duas

últimas campanhas, procurámos conhecer o tipo de exploração

que aquelas comunidades faziam dos recursos animais domés-

ticos e selvagens… Consultados os cadernos de campo e

revisitadas as gravações áudio, alinhavámos os dois

apontamentos que se seguem.

Aghbalou16 de Novembro de 2000Como as chuvas dos últimos Invernos

tinham rasgado sulcos profundos na estrada de terra batida, o guia aconse-lhou-nos a abandonar o jipe e a fazer-mos o resto do trajecto a pé. No fundo do vale, a cerca de meia hora por ser-penteantes atalhos, estava a aldeia. Ali conhecemos uma mulher de longa ida-de que nos explicava um processo ca-seiro de produzir azeite (Fig.2). Repará-mos então que numa das franjas do lenço que lhe cobria a cabeça tinha pre-so um pequeno cilindro metálico que, de relance, nos pareceu uma anilha or-nitológica… Através do intérprete per-guntámos se poderíamos observar aquele pequeno objecto que ela nos facultou com um enrugado e desden-tado sorriso. “Sim”, tirara-a da pata de uma ave pequena que os netos haviam

capturado nas imediações com uma armadilha… prática regular naquelas paragens (Fig. 3). A sua leitura revelou-nos o nº X 350711 e a proveniência: Finnish Museum! Com um mapa da Europa apontámos-lhe a Finlândia, a terra de origem daquele passeriforme que atravessara toda a Europa para se transformar num petisco marroquino. Pedimos-lhe que nos dissesse como era: – “pequenita, avermelhada e”… pouco mais. Tudo se passara haveria algumas semanas e a memória por vezes falhava. Depois desta sumária descrição debru-çámo-nos sobre o Guia de Aves. Os seus olhos deslumbrados brilhavam diante de tantas formas e cores. Algumas pareciam-lhe familiares, mas outras… eram absolutamente desconhecidas naquelas paragens. Perante tanta diversidade, flamingos e colhereiros

mereceram-lhe alegres comentários que Ab-dulah não conseguiu traduzir. Acabou por “se fixar” no macho de Dom-fafe Pyrrhula pyrrhu-la que, apesar de ultrapassar as fronteiras da sua distribuição a sul, era uma eventualidade a considerar. De qualquer modo, como a ave estava devidamente referenciada seria questão de contactarmos o Museu que nos iria escla-recer. Era-nos particularmente grato contri-buir com aquela informação inesperada em-bora as possibilidades de resgatarmos a anilha fossem muito reduzidas. Aquela peça metálica era uma jóia, um objecto com enorme valor afectivo, inegociável, sobretudo depois de lhe revelarmos que viera de um país distante. Por lá ficou integrando o parco património familiar para que, ao passar das gerações, a história con-tinuasse a ser contada referindo uns estran-geiros que por lá passaram e ajudaram a ler aquelas letras e números que ninguém na aldeia aprendera a decifrar… Já em Lisboa, con-tactado o Museu de História Natural da Fin-lândia, recebemos a informação, primeiro por e-mail, mais tarde por carta (Fig. 4) que afinal se tratava de um Rabirruivo-de-testa-branca Phoenicurus phoenicurus que fora anilhado no ninho havia mais de dois anos, a 3759 km de

Dahar21 de Novembro de 2000O “pássaro da noite” já nos tinha sido anteriormente men-

cionado em dois povoados (Homar e Mokriset) sem que tivéssemos chegado a qualquer conclusão quanto à sua identidade. No vastíssimo rol de utilidades de diferentes partes de alguns animais (muitas delas já referidas em documentação medieval) aquela ave era fantástica: uma vez morta devia ser conservada seca num lugar protegido e obscuro. Depois, caso “a mulher se revelasse infértil”, “o burro deixasse de comer”, etc., cortava-se uma parte do cadáver mumificado, queimava-se e… a inalação daqueles fumos produziria resultados milagrosos! Uma vez mais, consultado o Guia, nem mochos, nem corujas, nem noitibós, nada cor-respondia. Até que Fátima, a camponesa entrevistada, se recordou que, apesar de já ter sido parcialmente utilizado para bem de “qualquer coisa”, devia ter algum resto no forro da casa. Regressou pouco depois com um morcego resse-quido a que já faltava uma asa – um Vespertilionidae do Gé-nero Myotis, esclarecendo-se assim o mistério ornitológico que nos perseguiu durante alguns dias.

distância, em Joutseno, Kymi. Demos conta dessa informa-ção ao nosso guia que, vivendo em Chefchauen, sem viatura própria, numa zona desprovida de transportes não terá con-seguido fazê-la chegar a Aghbalou.

Autores : Carlos Pimenta Marta Moreno-García

Laboratório de ArqueozoologiaIGESPAR, IP

Fig.1 Dahar, aldeia do Rif no norte de Marrocos

Car

los

Pim

enta

Fig.2 Explicando um método caseiro de produzir azeite. Numa das franjas azuis do lenço estava presa a anilha

Mar

ta M

oren

o-G

arcí

a

Fig.3 Algumas das armadilhas utilizadas para capturar aves e mamíferos.Do lado direito, na mão, a última vítima – um Pisco-de-peito-ruivo Erithacus rubecula.

Fig.4 Carta do Finnish Museum com as informações relativas à anilha de Aghbalou, Chefchauen, Marrocos

Car

los

Pim

enta

Page 30: Pardela 34

30 | ardela As aves em revista | N.º 34

V E N I SJ U

| 31ardela As aves em revistaN.º 34 |

Nas 7 fatias desta figura encontrarás 7 palavras diferentes.

Encontra-as e escreve-as.

Mas atenção, pois em cada fatia vais

encontrar uma letra a mais. Junta essas

letras e encontrarás a palavra mistério.

RV J R

R

R

V

ME

E

E

ÉE

A

AA

A

A

A

Ã

A

I

I

I

I

IP

P

P

C

CC

C

H

H

H

O

O

O

O

OU

U

N

N

N

N

NN

G

S

S

SD

D

EE

1. _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

2. _ _ _ _ _ _ _ _

3. _ _ _ _ _

4. _ _ _ _ _ _ _ _ __

5. _ _ _ _ _ _ _ _

6. _ _ _ _ _

7. _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

SO

LUÇ

ÃO

PA

LAV

RA

MIS

TÉR

IO:

1

. PR

IMA

VER

A

2. C

EGO

NH

A

3. S

PEA

4

. AN

DO

RIN

HA

5

. ESP

ÉCIE

6

. CU

CO

7

. AN

DO

RIN

O

PA

LAV

RA

MIS

TÉR

IO:

JU

VEN

IS

O que é o Spring Alive? O Spring Alive é um projecto de observação de aves, dirigido a todos os residentes na Europa.

Qual o objectivo do projecto? Com este projecto pretende-se conhecer as datas de chegada de algumas espécies de avesmigradoras a cada país da Europa. Os dados obtidos, embora não tenham um caráctercientífico, podem ajudar a conhecer um pouco mais sobre a migração das aves.Mas o principal objectivo é envolver as populações na celebração da migração de aves,pelo que, quanto mais pessoas participarem maior será o sucesso do projecto.

Quantos países participam? Em 2008 participaram 28 países. Portugal participa desde o início deste projecto, em 2006.

Quais as aves do projecto? Andorinha-das-chaminés, Cuco-canoro, Andorinhão-preto e Cegonha-branca.

Porquê estas espécies? Foram escolhidas espécies de aves mais ou menos cosmopolitas na Europa e de identificação fácil, e que estão presentes em todos os países participantes.

Como participar? Este projecto decorre todos os anos, durante os primeiros 6 meses. Para participares tens apenas que enviar para o site do projecto a data referente à primeira vez que observaste, nesse ano, cada uma das espécies de ave do projecto e o local dessa observação. Podes fazer isso para cada uma das regiões de Portugal Continental.

Apesar da maior parte destas espécies ser comum na Europa, e das suas populações serem numerosas e amplamente distribuídas, há alguns perigos para estes mensageiros da Prima-vera, sendo um dos mais importantes a perda de habitats adequados para estas aves.

Estas aves estão ameaçadas?

Como ajudar estas aves? Há várias maneiras de contribuires para a salvaguarda destas espécies. Algumas acções são simples e estão ao alcance de todos, como por exemplo, construir caixas-ninhos para o Andorinhão-preto ou sensibilizar as pessoas para não destruirem os ninhos das andorinhas; mas há também formas indirectas de ajudares, como por exemplo, tornando-te sócio/a de organizações como a SPEA, e incentivando outras pessoas a fazê-lo. Quantas mais pessoas apoiarem o trabalho que desenvolvemos, mais meios teremos para continuar a actuar em prol da conservação destas e, e de muitas outras, espécies de aves.

- 56.000 registos- 28 países participantes- Países com mais registos: Itália, Rússia, Polónia e Irlanda

Spring Alive em números

Encontra a

P A L A V R A

M I S T É R I O

Começa aqui!

Pau

lo A

lves

Ped

ro A

lvito

por Sílvia Nunes

Participa!www.spring .netalive

Page 31: Pardela 34

30 | ardela As aves em revista | N.º 34

V E N I SJ U

| 31ardela As aves em revistaN.º 34 |

Nas 7 fatias desta figura encontrarás 7 palavras diferentes.

Encontra-as e escreve-as.

Mas atenção, pois em cada fatia vais

encontrar uma letra a mais. Junta essas

letras e encontrarás a palavra mistério.

RV J R

R

R

V

ME

E

E

ÉE

A

AA

A

A

A

Ã

A

I

I

I

I

IP

P

P

C

CC

C

H

H

H

O

O

O

O

OU

U

N

N

N

N

NN

G

S

S

SD

D

EE

1. _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

2. _ _ _ _ _ _ _ _

3. _ _ _ _ _

4. _ _ _ _ _ _ _ _ __

5. _ _ _ _ _ _ _ _

6. _ _ _ _ _

7. _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ S

OLU

ÇÃ

O P

ALA

VR

A M

IST

ÉRIO

:

1. P

RIM

AV

ERA

2

. CEG

ON

HA

3

. SPE

A

4. A

ND

OR

INH

A

5. E

SPÉC

IE

6. C

UC

O

7. A

ND

OR

INH

ÃO

P

ALA

VR

A M

IST

ÉRIO

: J

UV

ENIS

O que é o Spring Alive? O Spring Alive é um projecto de observação de aves, dirigido a todos os residentes na Europa.

Qual o objectivo do projecto? Com este projecto pretende-se conhecer as datas de chegada de algumas espécies de avesmigradoras a cada país da Europa. Os dados obtidos, embora não tenham um caráctercientífico, podem ajudar a conhecer um pouco mais sobre a migração das aves.Mas o principal objectivo é envolver as populações na celebração da migração de aves,pelo que, quanto mais pessoas participarem maior será o sucesso do projecto.

Quantos países participam? Em 2008 participaram 28 países. Portugal participa desde o início deste projecto, em 2006.

Quais as aves do projecto? Andorinha-das-chaminés, Cuco-canoro, Andorinhão-preto e Cegonha-branca.

Porquê estas espécies? Foram escolhidas espécies de aves mais ou menos cosmopolitas na Europa e de identificação fácil, e que estão presentes em todos os países participantes.

Como participar? Este projecto decorre todos os anos, durante os primeiros 6 meses. Para participares tens apenas que enviar para o site do projecto a data referente à primeira vez que observaste, nesse ano, cada uma das espécies de ave do projecto e o local dessa observação. Podes fazer isso para cada uma das regiões de Portugal Continental.

Apesar da maior parte destas espécies ser comum na Europa, e das suas populações serem numerosas e amplamente distribuídas, há alguns perigos para estes mensageiros da Prima-vera, sendo um dos mais importantes a perda de habitats adequados para estas aves.

Estas aves estão ameaçadas?

Como ajudar estas aves? Há várias maneiras de contribuires para a salvaguarda destas espécies. Algumas acções são simples e estão ao alcance de todos, como por exemplo, construir caixas-ninhos para o Andorinhão-preto ou sensibilizar as pessoas para não destruirem os ninhos das andorinhas; mas há também formas indirectas de ajudares, como por exemplo, tornando-te sócio/a de organizações como a SPEA, e incentivando outras pessoas a fazê-lo. Quantas mais pessoas apoiarem o trabalho que desenvolvemos, mais meios teremos para continuar a actuar em prol da conservação destas e, e de muitas outras, espécies de aves.

- 56.000 registos- 28 países participantes- Países com mais registos: Itália, Rússia, Polónia e Irlanda

Spring Alive em números

Encontra a

P A L A V R A

M I S T É R I O

Começa aqui!

Pau

lo A

lves

Ped

ro A

lvito

por Sílvia Nunes

Participa!www.spring .netalive

Page 32: Pardela 34
Page 33: Pardela 34
Page 34: Pardela 34

34 | ardela As aves em revista | N.º 34

Para muitos, o prazer de observar aves, pelo menos em parte, está no convívio com outras pessoas que par-tilham com eles um mesmo interesse. Se este é o seu caso, por favor passe para a página seguinte!

Depois há aqueles que preferem ob-servar sozinhos. Uns serão anti-sociais, outros talvez especialmente sensíveis ao facto de a perturbação causada aumen-tar exponencialmente com a dimensão do grupo. Isto ao mesmo tempo que a capacidade de concentração dos seus elementos tende a diminuir. Além disso, um conjunto de observadores que actuem isoladamente consegue cobrir uma área muito maior e detectar muito mais aves do que se se mantiverem juntos. Na perspectiva do grupo, isso é vantajoso, o pior é se não somos nós a dar com a tal ave especial...

Mesmo esse segundo tipo de obser-vador não poderá negar que quatro olhos e quatro ouvidos detectam mais aves do que dois, nem que partilhar despesas de deslocação é uma grande vantagem. Ele poderá, sim, argumentar que a capacidade de detecção de um grupo aumenta pouco com o incremen-to do respectivo número de elementos e que esse aumento não compensa o que se perde devido à perturbação e à des-concentração.

Então e será que existe uma aborda-gem que minimize os inconvenientes da observação em grupo, ao mesmo tempo que aproveita as suas vantagens? Será que é possível observar aves “sozi-nho em grupo”?!

Bom, não me venham com telemó-veis porque todos sabemos que, em áreas remotas, mal o relevo aumenta fica-se logo sem rede. Além disso, um observador ver uma raridade de manhã e telefonar a outro para este a ir ver à tarde, não é observação em grupo – é twitching!

A verdadeira solução são os walkie-talkies. Um grupo de observadores des-loca-se para uma mesma área num único veículo e aí separam-se para co-brir a zona o melhor possível. Regular-mente vão mantendo o contacto para garantir que ninguém “perde pitada” e que, na hora de abandonar o local, estão todos presentes.

No final de Outubro de 2008 testei este sistema na Ilha do Corvo (Grupo Ocidental do Arquipélago dos Açores), utilizando aparelhos de três marcas diferentes. Na Tabela 1 apresenta-se um resumo das características de cada mo-delo, tal como anunciadas pelo fabri-cante. De notar que as características publicitadas raramente coincidem com o que se observa no terreno, particular-

Observar aves

Sozinho emGrupo

Agradecimentos:A David Monticelli, Richard Ek, Olof Jönsson, Ingvar Torsson e Simon Buckell por me permitirem testar os seus equipamentos no campo.

mente em condições adversas (relevo acentuado, floresta densa, vento, etc.). Por exemplo, nestas condições, o alcan-ce máximo dos Cobra poderá não ultra-passar os 2 km e o dos Topcom ser da or-dem dos 300 a 400 m! Destaca-se ainda o facto de o modelo da Motorola testado não ser o que consta da Tabela 1, mas sim o mais antigo Talkabout T5522, cujo fabrico foi descontinuado.

Globalmente, a difícil selecção de sub-canais e o preço do Motorola, alia-dos aos fracos alcance e durabilidade do Topcom, parecem fazer do Cobra a me-lhor opção. Este equipamento pode ser adquirido no Media Markt (www. mediamarkt.pt) por cerca de 50 euros o par. Se pretender encomendar on-line, sugere-se uma visita a www.onedirect .pt/fr/walkie-talkies e www.minfo.pt/ catalogo.

Não ficou convencido? E se eu lhe disser que foi graças a uma destas jiga-jogas que eu vi uma fragata Fregata sp. descoberta por Ingvar Torsson e que os meus colegas não perderam um noiti-bó-americano Chordeiles minor que eu detectei?! Ah pois é, sabe o que é que eu lhe digo...

Boa Navegação!

Autor : Luís Gordinhowww.naturlink.pt

?!

URL

www.motorola.com (Rádio para negócios curta

www.cobra.com (Two-Way Radios)

www.topcom.net/communication.html (Radio-Motorbike Walkie-Talkies)

distância)

Marca

Motorola

Cobra

Topcom

Modelo

XTR 446

microTALK 975

Twintalker 6800

Alcancemáx.

8 km

12 km

6 km

Preço par(euros)

90

50 a 70

52 a 62

Tabela 1 - Os três modelos de walkie-talkies testados no campo em Outubro de 2008 e alguns elementos básicos sobre os mesmos.

Pa

tro

cín

io

Page 35: Pardela 34

34 | ardela As aves em revista | N.º 34

Para muitos, o prazer de observar aves, pelo menos em parte, está no convívio com outras pessoas que par-tilham com eles um mesmo interesse. Se este é o seu caso, por favor passe para a página seguinte!

Depois há aqueles que preferem ob-servar sozinhos. Uns serão anti-sociais, outros talvez especialmente sensíveis ao facto de a perturbação causada aumen-tar exponencialmente com a dimensão do grupo. Isto ao mesmo tempo que a capacidade de concentração dos seus elementos tende a diminuir. Além disso, um conjunto de observadores que actuem isoladamente consegue cobrir uma área muito maior e detectar muito mais aves do que se se mantiverem juntos. Na perspectiva do grupo, isso é vantajoso, o pior é se não somos nós a dar com a tal ave especial...

Mesmo esse segundo tipo de obser-vador não poderá negar que quatro olhos e quatro ouvidos detectam mais aves do que dois, nem que partilhar despesas de deslocação é uma grande vantagem. Ele poderá, sim, argumentar que a capacidade de detecção de um grupo aumenta pouco com o incremen-to do respectivo número de elementos e que esse aumento não compensa o que se perde devido à perturbação e à des-concentração.

Então e será que existe uma aborda-gem que minimize os inconvenientes da observação em grupo, ao mesmo tempo que aproveita as suas vantagens? Será que é possível observar aves “sozi-nho em grupo”?!

Bom, não me venham com telemó-veis porque todos sabemos que, em áreas remotas, mal o relevo aumenta fica-se logo sem rede. Além disso, um observador ver uma raridade de manhã e telefonar a outro para este a ir ver à tarde, não é observação em grupo – é twitching!

A verdadeira solução são os walkie-talkies. Um grupo de observadores des-loca-se para uma mesma área num único veículo e aí separam-se para co-brir a zona o melhor possível. Regular-mente vão mantendo o contacto para garantir que ninguém “perde pitada” e que, na hora de abandonar o local, estão todos presentes.

No final de Outubro de 2008 testei este sistema na Ilha do Corvo (Grupo Ocidental do Arquipélago dos Açores), utilizando aparelhos de três marcas diferentes. Na Tabela 1 apresenta-se um resumo das características de cada mo-delo, tal como anunciadas pelo fabri-cante. De notar que as características publicitadas raramente coincidem com o que se observa no terreno, particular-

Observar aves

Sozinho emGrupo

Agradecimentos:A David Monticelli, Richard Ek, Olof Jönsson, Ingvar Torsson e Simon Buckell por me permitirem testar os seus equipamentos no campo.

mente em condições adversas (relevo acentuado, floresta densa, vento, etc.). Por exemplo, nestas condições, o alcan-ce máximo dos Cobra poderá não ultra-passar os 2 km e o dos Topcom ser da or-dem dos 300 a 400 m! Destaca-se ainda o facto de o modelo da Motorola testado não ser o que consta da Tabela 1, mas sim o mais antigo Talkabout T5522, cujo fabrico foi descontinuado.

Globalmente, a difícil selecção de sub-canais e o preço do Motorola, alia-dos aos fracos alcance e durabilidade do Topcom, parecem fazer do Cobra a me-lhor opção. Este equipamento pode ser adquirido no Media Markt (www. mediamarkt.pt) por cerca de 50 euros o par. Se pretender encomendar on-line, sugere-se uma visita a www.onedirect .pt/fr/walkie-talkies e www.minfo.pt/ catalogo.

Não ficou convencido? E se eu lhe disser que foi graças a uma destas jiga-jogas que eu vi uma fragata Fregata sp. descoberta por Ingvar Torsson e que os meus colegas não perderam um noiti-bó-americano Chordeiles minor que eu detectei?! Ah pois é, sabe o que é que eu lhe digo...

Boa Navegação!

Autor : Luís Gordinhowww.naturlink.pt

?!

URL

www.motorola.com (Rádio para negócios curta

www.cobra.com (Two-Way Radios)

www.topcom.net/communication.html (Radio-Motorbike Walkie-Talkies)

distância)

Marca

Motorola

Cobra

Topcom

Modelo

XTR 446

microTALK 975

Twintalker 6800

Alcancemáx.

8 km

12 km

6 km

Preço par(euros)

90

50 a 70

52 a 62

Tabela 1 - Os três modelos de walkie-talkies testados no campo em Outubro de 2008 e alguns elementos básicos sobre os mesmos.

Pa

tro

cín

io

Page 36: Pardela 34

Encurtar distânciaEncurtar distância

A derradeira experiência visualA derradeira experiência visual