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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADES CEARENSES CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL COM HABILITAÇÃO EM JORNALISMO PAULA RACQUEL ARRUDA DUARTE ÉTICA NO JORNALISMO: ANÁLISE DE CONTEÚDO DO FILME FACES DA VERDADEFORTALEZA 2014

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADES CEARENSES

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL COM HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

PAULA RACQUEL ARRUDA DUARTE

ÉTICA NO JORNALISMO: ANÁLISE DE CONTEÚDO DO FILME “FACES DA VERDADE”

FORTALEZA 2014

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PAULA RACQUEL ARRUDA DUARTE

ÉTICA NO JORNALISMO: ANÁLISE DE CONTEÚDO DO FILME “FACES DA VERDADE”

Monografia submetida à aprovação da Coordenação do Curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo do Centro de Ensino Superior do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social. Orientação: Prof. Ms. Henrique Pereira Rocha.

FORTALEZA 2014

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PAULA RACQUEL ARRUDA DUARTE

ÉTICA NO JORNALISMO: ANÁLISE DE CONTEÚDO DO FILME “FACES DA VERDADE”

Monografia como pré-requisito para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores. Data de aprovação: 18 / 06 /2014

BANCA EXAMINADORA

Professor Ms. Henrique Rocha Pereira (Orientador)

Professor Ms. Paulo Tadeu Sampaio de Oliveira

Professora Ms. Márcia Maria Ximenes

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Dedicatória:

A minha família, a Stephan Focks e a Joe.

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AGRADECIMENTOS

Para aquele de cuja presença em todos os momentos de minha vida

tenho certeza, meu Senhor Jesus.

Aos meus pais, José Irapuan Duarte e Argentina Arruda Duarte, por

sempre me amarem.

Às minhas irmãs, Renata e Sara, pela amizade e carinho.

Ao meu namorado Stephan, que tanto me incentivou a investigar e

pesquisar o tema deste trabalho, e a escrevê-lo com conteúdo e qualidade.

Ao meu orientador, professor mestre Henrique Pereira Rocha, que

prontamente tem lido os textos e orientado a construção desta monografia, pela

paciência e, mesmo sem saber, pela empatia com que me desafiou a escrever e

concluir essa etapa da minha vida.

À professora Zoraia Nunes, por ser sempre prestativa e gentil, tendo o

cuidado de me ouvir, de compreender e explicar pontos importantes a serem

considerados, oferecendo-me orientação e a segurança de que, ao final, tudo dá

certo.

Aos professores que aceitaram o convite para compor minha banca,

professor mestre Paulo Tadeu Sampaio de Oliveira e professora mestra Márcia

Maria Ximenes, propondo-se a ler este trabalho e participar desse momento tão

desafiador, obrigada!

Obrigada à professora Conceição Vasconcelos que, com seu jeito

atencioso, leu com afinco os textos, corrigindo-os, dando expressão exata às

palavras para que pudessem ter resultados relevantes.

Estou certa de que seguir e obedecer às regras é sempre o melhor

caminho, e de que a disciplina é um meio para se alcançar o objetivo, que, neste

caso, não teria sido possível sem a ajuda de vocês. Obrigada!

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O caráter de alguém, para mim, não está na cara, na altura, na cor da pele, na força ou na posição social. Esta rara qualidade só existe em homens justos, dignos, que honram suas raízes e, acima de tudo, têm seu valor. Nada, nem ninguém, pode comprar um homem integro e honesto. Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal do Brasil (STF).

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RESUMO

A visualização da ética no exercício da profissão do jornalista a partir da análise do filme “Faces da Verdade” constituiu a temática que suscita reflexões acerca do comportamento desse profissional diante dos conflitos éticos com os quais depara no desempenho de sua atividade laboral. Este trabalho teve como objetivo geral investigar a importância ética de se resguardar uma fonte jornalística, a partir da realização de uma análise dos conteúdos implícitos nas mensagens exibidas no filme “Faces da Verdade”, seguida da reflexão acerca dos diálogos e ações conduzidos pela personagem protagonista, dos ambientes presentes no filme e nas cenas escolhidas para serem analisadas. Evidenciou-se que o exercício ético do jornalista vai além das competências ou da experiência de desenvolver um bom trabalho, e garantir à fonte a certeza do sigilo sobre as informações de interesse público prestadas seria agir com coerência em relação a sua consciência moral de cumprir seu mister de acordo com a lei e livremente baseado em princípios pessoais de responsabilidade social sobre a vida da fonte, na segurança de exercer com dignidade sua profissão. Palavras-chave: Ética. Profissão. Fontes jornalísticas. Comportamento. Política.

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ABSTRACT

The preview of ethics in the profession of journalist from the screening of the film "Faces of Truth", was the theme that raises reflections about the behavior of a trader on the ethical conflicts with which they faced in carrying out their work activities. This work has as main objective to investigate the ethical importance of safeguarding a news feed from conducting an analysis of the implicit content in the messages displayed in the movie "Faces of Truth" followed by reflection about the dialogues and actions conducted by the main character , the environments present in the film and the scenes chosen for analysis. It was evident that the ethical exercise of journalist goes beyond the skills or experience to develop a good work, and make sure the source of the confidentiality of the information provided public interest would act coherently in relation to his moral conscience to fulfill its mister in accordance with the law and loosely based on personal principles of social responsibility on the source life, safety to exercise their profession with dignity. Keywords: Ethics. Profession. Journalistic sources. Behavior. Policy.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO......................................................................................................... 09

1 ÉTICA: DOS PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS À PRÁXIS PROFISSIONAL...... 13

1.1 Pressupostos e conceitos da Ética filosófica.......................................... 14

1.2 Abordagem da Ética na vida e na profissão.............................................. 20

1.3 Princípios da Ética jornalística.................................................................. 24

2 PRINCIPAIS PROBLEMAS ÉTICOS DO JORNALISMO............................ 28

2.1 Conflitos éticos no Jornalismo................................................................... 29

2.2 Exemplos e casos paradigmáticos para a discussão da Ética

jornalística....................................................................................................

34

2.3 Sobre o sigilo das fontes no Jornalismo.................................................. 42

3 O CINEMA COMO REFLEXO DA REALIDADE JORNALÍSTICA................ 46

3.1 O filme “Faces da Verdade”: a defesa do sigilo da fonte......................... 49

3.2 Conflitos éticos: o compromisso do jornalista com a fonte.................... 57

3.3 Análise de conteúdo: onde a ficção se aproxima da realidade.............. 65

CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 69

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 72

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INTRODUÇÃO

Elege-se a Ética como temática a ser estudada nesta monografia a partir

da visão do filme “Faces da Verdade”. A motivação para a escolha deste entre

tantos outros temas existentes nasceu após o contato direto com o seu conteúdo no

cinema, que suscitou reflexões acerca da persistência da jornalista (personagem

principal) em se negar a declinar, ao Tribunal de Justiça dos Estados Unidos, o

nome de sua fonte. O fato direcionou a elaboração dos seguintes questionamentos:

que princípios, numa profissão, levariam alguém a defender uma fonte a ponto de

renunciar à própria vida, à carreira e à família? Qual a importância ética de se

resguardar o sigilo de uma fonte jornalística?

Intentando-se obter respostas para tais indagações, propôs-se a

realização de um estudo destinado a investigar a importância ética de se resguardar

uma fonte jornalística, a partir da realização da análise dos conteúdos implícitos nas

mensagens exibidas no filme “Faces da Verdade”, seguida da reflexão acerca dos

diálogos e ações conduzidos pela personagem protagonista, dos ambientes

presentes no filme e nas cenas escolhidas para serem estudadas.

Como metodologia, adotou-se a pesquisa bibliográfica, na fase inicial da

pesquisa, de modo a se reunir um referencial teórico consistente sobre a temática,

seguida do estudo de caso, que tem como unidade de análise o filme “Faces da

Verdade”.

O texto resultante do estudo compõe esta monografia, distribuído em três

capítulos, antecedidos desta introdução, na qual se aborda o delineamento da

pesquisa e a sua estruturação, e sucedidos pelas considerações finais extraídas dos

dados obtidos, devidamente tratados e sistematizados.

O primeiro capítulo foi escrito como forma de se oferecer o embasamento

teórico necessário ao desenvolvimento do estudo, abordando os fundamentos da

Ética e seus significados. Ao longo de sua construção serão levantadas questões

relacionadas ao tema situando o momento de surgimento, que ocorreu durante a

formação das chamadas Polis Gregas, espécies de pequenas cidades.

O Crescente Fértil, na região do Oriente Médio, oito mil anos antes da

vinda de Cristo, na antiga mesopotâmia devido à riqueza de seus solos e à

abundância de água em seu entorno, oportunizou a comercialização de produtos os

mais variados e especiarias para essas polis. Nesse período, existiam homens que

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pensavam acerca dos fenômenos naturais que ocorriam na terra e no ar,

associando-os a sensações da alma e ao mundo da imaginação. O crescimento das

polis resultou no surgimento das cidades-estados, na Mesopotâmia, e o

desenvolvimento econômico dessas regiões serviu de base para a emergência de

questões políticas e argumentações sociais ligadas ao comportamento humano.

Evidenciou-se o surgimento da política e dos discursos produzidos

mediante o emprego da retórica e da argumentação nas cidades-estados como

Atenas e Esparta. Sócrates, em sua filosofia, foi quem primeiro refletiu acerca do

comportamento ético, da vida política e do senso de valor humano. Deixou

discípulos como Platão e Aristóteles, que, por sua vez, também abordavam, de

diferentes maneiras, o sentido da ética e do comportamento humano.

Não se pode falar de jornalismo sem se adentrar no assunto da Ética na

vida e na profissão, porquanto o conceito de princípios éticos guarda estreita relação

com as convicções de dignidade, moral e juízos de valor que, por sua vez, remetem

ao caráter, à vida e à profissão dos indivíduos. Nessa linha de raciocínio, abordou-se

a discussão acerca da ética na profissão jornalismo.

O segundo capítulo discorreu sobre o problema da ética relacionado às

leis e aos códigos apresentando conceitos para a prática da profissão de jornalista,

com o intuito de abrir caminho para se levantar, posteriormente, casos existentes no

Jornalismo considerados paradigmas éticos. Valeu-se, para tanto, de filmes que

apresentam as temáticas da política, economia, segurança pública e

sensacionalismo e abordando os principais exemplos de escândalos éticos, como

“Todos os Homens do Presidente”, “Doces Poderes” e “O Informante”, e de assuntos

polêmicos, a exemplo de “Cazuza” e “Snowden”, para se realizar comparações com

o objeto de estudo, o filme “Faces da Verdade”.

“Faces da Verdade” se enquadra na categoria “Política”, razão pela qual

os dois primeiros filmes citados darão ênfase maior a essa temática. O terceiro filme

abordou temas ligados à economia, à empresa e ao tratamento conferido à fonte

jornalística, assunto que será tratado em diversos momentos deste trabalho. No

caso de “Cazuza”, evidenciou-se o sensacionalismo, que lembra a cena de “Faces

da Verdade” em que a jornalista presa é entrevistada e depreciada ao vivo em rede

de televisão. Todas as temáticas abordaram questões intrínsecas conectadas às

cenas do objeto em análise.

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Para se responder à pergunta de partida foi preciso dispor de bases que

oportunizassem uma abordagem relacionada ao resguardo da fonte jornalística,

insistentemente defendido pela protagonista, que ao se negar a publicar o nome da

sua fonte revelou um forte compromisso para com ela. Tal compromisso está ligado

a um comportamento, baseado em princípios, conforme relatado durante as cenas.

O terceiro capítulo apresenta a análise de conteúdo, descrevendo as

cenas consideradas mais importantes na construção da organização das

mensagens a serem explicitadas. Traça uma breve discussão sobre o jornalista,

identificando-o no cinema e na realidade. Apresenta os dados técnicos do filme em

estudo e faz uma sucinta explanação acerca do caso real da jornalista Judith Miller,

que inspirou o autor Rod Lurie a produzir o filme.

Ao se relatar as sequências escolhidas para figurar no quarto capitulo,

remete-se às leis de proteção aos agentes federais publicadas no Brasil e nos

Estados Unidos, de modo a se oferecer alicerces sólidos aos argumentos

apresentados na análise do conteúdo das mensagens para as sequências

escolhidas. Serão apresentadas, ainda, as narrações e cenas em que a jornalista

está reunida com editores do Jornal Sunday Times e, depois, vai ao encontro de sua

fonte.

Na sequência, analisa-se o conteúdo da cena em que a jornalista Rachel

Armstrong conversa com o Promotor Federal e depois é levada à presença do Júri,

para declinar o nome de sua fonte, negando-se a fazê-lo, o que resulta em sua

prisão. Apresenta-se a entrevista que ela forneceu à apresentadora de televisão e,

em seguida, a cena em que é autorizada pelo Governo Federal e pelo Federal

Bureau of Investigation (FBI) a indicar o nome da fonte. Adiante, a discussão sobre a

iniciativa do advogado de Armstrong, que foi defender a jornalista diante da

Suprema Corte dos Estados Unidos, após o que foi liberada pelo Juiz para ir para

casa. Na mesma sequência, o Promotor Federal conseguiu autorização da justiça

para prendê-la novamente. A análise em questão apoia-se nas Emendas

Constitucionais e na Lei nº 1.982, de proteção do agente federal, ambas dos

Estados Unidos. E no Projeto de Lei nº 6.873, de 5 de abril de 2006, que acrescenta

dispositivo à Lei nº 9.883, de 7 de dezembro de 1999, que “Institui o Sistema

Brasileiro de Inteligência, cria a Agência Brasileira de Inteligência – Abin, e dá outras

providências”, com o intuito de tipificar o crime de revelar a identidade do profissional

de Inteligência.

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Ao final do capítulo, na análise da última cena, encontrou-se a

oportunidade exata para, a partir dos dados obtidos, tentar responder à pergunta de

partida: Qual a importância ética de se resguardar uma fonte jornalística?,

discutindo-se sobre profissão, princípios éticos e o compromisso da jornalista com a

fonte e avaliando-se a relação entre a ficção produzida por Rod Lurie e a realidade

da profissão, da vida e do jornalismo.

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1 ÉTICA: DOS PRINCÍPIOS FILOSÓFICOS À PRÁXIS PROFISSIONAL

Antes de se abordar propriamente o tema da Ética, o primeiro tópico

deste capítulo apresenta, em ordem cronológica, os acontecimentos que culminaram

na discussão destinada a clarificar a definição dessa disciplina, iniciando-se com o

nascimento das primeiras cidades-estados, na Grécia Antiga, onde viviam os

primeiros pensadores (STORIG, 2008). A Grécia desse período serviu de berço para

o pensamento cosmológico e as questões existenciais humanas.

Aranha e Martins (1993) dizem que os precursores dos pensadores

gregos - Tales, Anaxímenes, Demócrito, entre outros – preocupavam-se em

compreender os fenômenos da natureza, o que os levou a estudar o contexto e as

características em que ocorriam e, posteriormente, a desenvolver as primeiras

ciências: astrologia, meteorologia, aritmética, psicologia e as teorias filosóficas,

ligadas à alma, ao pensamento e ao mundo das ideias.

Na sequência, Chauí (2003) acrescenta que a aplicação dos novos

conhecimentos na agricultura favoreceu o desenvolvimento das cidades-estados,

localizadas em região fértil e banhadas por águas abundantes. Essa conjuntura,

aliada ao comércio e às atividades econômicas, transformava a Grécia em um

grande centro de comercialização de especiarias, atraindo o interesse de pessoas

que se preocupavam com os rumos que iria tomar, abrindo espaço, por essa razão,

para a emergência do pensamento político. Vernant (1984) afirma que, à época, os

homens começavam a olhar para questões sociais e discutir sobre o ser humano.

Essa importância conferida às questões sociais partia, principalmente,

dos primeiros filósofos, Sócrates, Platão e Aristóteles, que se deleitavam em

confabular e conjeturar acerca do comportamento humano, cabendo a Sócrates a

primazia de tecer as primeiras considerações acerca de questões morais e éticas,

ligadas ao juízo de valor e à moral do ser humano (MAIA, 1999; VALLS, 2006).

Já que o objeto deste estudo, o filme “Faces da Verdade”, discute, entre

outras questões, o comportamento ético e social do ser humano, entende-se que é

necessário oferecer bases teóricas a essa discussão a título de contribuição para a

construção final da análise. O foco do segundo tópico, então, está na definição da

palavra ética, o que servirá de estofo para se discutir, posteriormente, a aplicação do

comportamento ético na vida do profissional, com base nos ensinamentos dos

autores que discorrem acerca da ética na profissão.

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O terceiro tópico deste capítulo trata da questão do comportamento ético

do jornalista, iniciando com uma pequena discussão sobre a prática e o

desenvolvimento da profissão relacionada a princípios éticos.

1.1 Pressupostos e conceitos da Ética Filosófica

O objeto deste estudo, o filme “Faces da Verdade”, é baseado num caso

polêmico, vivenciado pela jornalista do New York Times, Judith Miller, que passou 85

dias na prisão. A obra cinematográfica tem como personagem principal Rachel

Armstrong, cujo comportamento – de se submeter à prisão para resguardar sua

fonte - é considerado ético, de acordo com Noblat (2003, p. 65): “Percam o emprego,

vão para a cadeia, mas, não desrespeitem o acordo com a fonte. É questão de

ética”. Para se compreender o conteúdo do filme em análise há que se apreender,

primeiramente, conhecimentos acerca do surgimento, das bases e dos significados

da ética desde o principio até a atualidade, quando se imiscui na vida e na profissão

dos indivíduos e, por pertinência com o objeto desta pesquisa, no jornalismo.

Remete-se, então, à formação das cidades-estados, conhecidas como

polis, na Grécia Antiga, que ao longo de sua existência foram se desenvolvendo e

elaborando leis, calendários e moedas próprias. De acordo com Storig (2008, p. 1),

“Na estreita faixa litorânea da orla ocidental da Ásia Menor, ao longo do Egeu, os

jônios, a mais genial tribo grega, haviam erguido doze florescentes cidades estados”.

As caravanas que vinham da Ásia traziam as mercadorias que seriam

comercializadas para todo o país, já que essa era uma faixa de terra bastante

acessível, como explica Storig (2008, p. 102): “Era aqui que acabavam as grandes

estradas das caravanas provenientes do interior do continente asiático, e era aqui

que as mercadorias trazidas pelas caravanas eram transferidas para os navios e

despachadas para a Grécia.”. Esse caminho pelo mar Egeu facilitou o comércio e

oportunizou muitas conquistas culturais para o povo da Ásia:

Com o fluxo das mercadorias do Oriente, por esse mesmo caminho chegou também para os Gregos o conhecimento de muitas conquistas culturais dos povos Asiáticos. Astronomia e calendário, moedas e pesos, talvez também a escrita, vieram do Oriente, primeiramente para os Jônios da Ásia Menor, sendo por estes, em seguida, transmitidos aos demais Gregos. (STORIG, 2008, p. 101).

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Storig afirma que o desenvolvimento do crescente fértil na região, rica em

solos agricultáveis e em água, propiciou o crescimento das polis, e os produtos –

cultivados ou produzidos artesanalmente (cerâmicas, tecidos, roupas, entre outros) -

juntamente com as especiarias, destinavam-se à comercialização.

Storig aponta o fato de as polis funcionarem como centro de convergência

de mercadores de toda a região como uma espécie de estofo para o nascimento da

filosofia:

A mais meridional dessas doze cidades estados jônicas era Mileto, no sexto século um importante porto comercial, e possivelmente a mais rica cidade do mundo Grego de então. Esta cidade, onde se entrecruzavam raças, línguas e religiões, é o lugar de nascimento da ciência e da filosofia Grega, e com ela também da Ocidental. (STORIG, 2008, p. 102).

Chauí (2003, p. 33) afirma que, além de possuir data e local de

nascimento, a filosofia também apresenta um conteúdo preciso ao nascer, oriundo

da cosmologia, em cujo âmbito ocorre a transformação e a ordenação lógica dos

sentidos, dos pensamentos e das reflexões:

A palavra cosmologia é composta de duas outras: cosmos (Kósmos), que significa a “ordem e organização do mundo” ou o “mundo ordenado e organizado”, e logia, que vem da palavra logos, que significa, “pensamento racional, discurso racional, conhecimento”. Assim a cosmologia nasce como conhecimento racional da ordem do mundo, ou da natureza. (CHAUÍ, 2003, p. 33).

Os pensadores pré-socráticos preocupavam-se com a cosmologia

relacionada à origem do mundo e com as causas das transformações da natureza,

do cosmos, e as reflexões lógicas. De acordo com Chauí (2003), os pensadores

gregos, antes de descobrir a ética como ciência, construíram ciências como a

matemática, as representações gráficas, a astronomia, a meteorologia, e

fundamentalmente buscavam na natureza a obtenção de resultados para os

estudos.

Os gregos fizeram nascer duas ciências, a aritmética e a geometria; da astrologia, fizeram surgir também duas ciências: a astronomia e a meteorologia; das genealogias fizeram surgir mais outra ciência: a história dos mistérios religiosos de purificação da alma, fizeram surgir a psicologia ou as teorias filosóficas sobre a natureza e o destino da alma humana. (p. 32).

Por meio da metafísica, foram além do que se pode ver e conhecer a

partir dos sentidos, da alma humana, da abstração e da razão. Refletiam acerca de

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teorias e mistérios religiosos, psicológicos, e da filosofia da alma, do destino das

questões ligadas ao ser humano.

Essas reflexões, produzidas a partir da necessidade e inquietação de se

conhecer as causas dos acontecimentos naturais, geraram outras e mais outras,

sempre voltadas à produção de respostas para essa inquietação (CHAUÍ, 2003).

Nascem os filósofos, “por volta do século VI A.C. e, mais tarde, foram classificados

como pré-socráticos (a divisão da filosofia grega se centraliza na figura de Sócrates)

e agrupados em diversas escolas”. (ARANHA; MARTINS, 1993, p. 67).

Eles buscavam respostas na natureza durante o período cosmológico, de

modo que cada um cultivava argumentos para explicar seus pensamentos acerca do

comportamento natural das coisas. No entendimento de Aranha e Martins (1993, p.

67), “As respostas dos filósofos à questão do fundamento das coisas são as mais

variadas. Cada um descobre a arché, a unidade que pode explicar a multiplicidade”.

Cada pensador, assim, tinha sua forma de explicar os fenômenos naturais,

utilizando-se dos elementos existentes na natureza e suas manifestações, sob cujas

experiências viviam. “Para Tales é a água; para Anaxímenes é o ar; para Demócrito

é o átomo; para Empédocles, os famosos quatro elementos, terra, água, ar e fogo”.

(ARANHA; MARTINS, 1993, p. 67).

Assim, o surgimento das organizações, de cidades-estados, nas palavras

de Vernant, contribuiu para que se iniciasse a história do pensamento grego, que

tomava conta da vida social nas relações que se estabeleciam entre as

comunidades do período Greco-Romano. Nasciam as relações políticas entre os

homens, sendo o Poder Oligárquico a chave da autoridade do Estado e do poder

nas relações sociais de Roma: “O aparecimento da polis constitui na história do

pensamento grego, um acontecimento decisivo. [...] por ela a vida social e as

relações entre os homens tomam uma nova forma, cuja originalidade será

diretamente sentida pelos gregos." (VERNANT, 1984, p. 41).

As controvérsias existentes entre os homens da área rural e urbana nas

cidades-estados, segundo Vernant, cada vez mais geravam as reflexões e

argumentações acerca da vida social e da democracia na Grécia. Vernant observa a

importância dessas argumentações para a época, principalmente levando em conta

que “O que implica o sistema da polis, é primeiramente uma extraordinária

preeminência da palavra sobre todos os outros instrumentos de poder”. Referindo-se

ao uso das palavras como instrumento de poder, afirma ainda que tem o condão de

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tornar-se “[...] o instrumento político por excelência, a chave de toda autoridade no

Estado, o meio de comando e de domínio de outrem” (VERNANT, 1984, p. 41).

Surgiam necessidades de se usar o argumento politico, e de exercer as

práticas da linguagem em comunidade nas praças de cada polis grega, visto que,

como explica Vernant, “a palavra não é mais o termo ritual, a fórmula justa, mas o

debate contraditório, a discussão, a argumentação. A arte política é essencialmente

exercício da linguagem” (1984, p. 41). E assim se iniciava a constituição dos temas

referentes ao discurso moral e político como forma de enquadramento social, para o

que os filósofos estavam movidos pela disposição do mundo de ideias sobre o

pensamento.

Para Storig, a Grécia foi o lugar onde nasceram os maiores pensadores

do período helenístico: Sócrates, Platão e Aristóteles, onde o pensador mais jovem

sempre se tornava discípulo do pensador mais velho.

No limiar do primeiro para o segundo período principal encontramos os sofistas gregos, que descobrem as contradições do pensamento filosófico de então, e ao mostrarem que não é suficiente, preparam o caminho para os três maiores pensadores produzidos pelo helenismo: Sócrates, Platão, Aristóteles, dentre os quais o mais jovem sempre é discípulo do mais velho. (STORIG, 2008, p. 100).

É importante frisar que os sofistas, ao sair do lugar de normalidade,

desviaram o olhar da natureza e dirigiram-no para o homem, dando inicio às

primeiras filosofias e pensamentos sobre a ética. Para Storig (2008, p. 120), “[...]

foram eles os primeiros a fazer do pensamento objeto do pensamento, dando inicio

a uma crítica de suas condições, possibilidades e limites; [...]”.

Os filósofos usavam seus pensamentos para desenvolver criticas que se

justificassem por meio da razão, estabelecendo condições e limites na busca de

delinear uma postura para o homem, que o caracterizasse como um ser ético.

Assim, surgia o espaço para que a ética pudesse ser tratada como uma ciência,

como se verifica a partir das próprias palavras de Storig: “E por último [os sofistas]

submeteram os padrões dos valores éticos a uma reflexão perfeitamente racional,

com isto, abrindo a possibilidade de a ética ser tratada cientificamente.” (2008, p.

120).

Maia afirma que as ideias de Sócrates são ricas em discussões sobre

ética, política, educação, conhecimento, morte, amor, beleza, entre outros temas, o

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que se devia ao seu caráter cosmopolita, de cidadão do mundo. Sobre o filósofo,

acrescenta que:

Amava a cidade de Péricles, (Polis grega), de onde se originava a linha de governo independente na antiga Roma. A missão de Sócrates é uma ação filosófica da qual ele não se afasta, pois acredita que o importante é viver com honestidade e justiça, sem jamais trair a sua consciência. [...] O seu espirito fascinava a juventude ateniense, em conversas que fluíam num renovado espetáculo dialético das questões humanas. (MAIA, 1999, p. 33).

O principal discípulo de Sócrates era Platão. O mundo de Platão é o

mundo dos valores, da razão e das essências. Na visão de Maia, “Em Platão

encontramos a razão que aciona as reminiscências do mundo das ideias, onde o sol

brilha em todo seu esplendor, iluminando a verdadeira realidade, formada por ideias

entre as quais a mais elevada é a ideia do bem.” (1999, p. 33).

Em Fearn (2004, p. 33), Sócrates não estava preocupado com a sua

própria concentração, mas com as dos expectadores reunidos, porquanto, em seu

entendimento, “Para gozar o pleno beneficio de seu pensamento, os homens

precisavam aprender a ouvir”. O filósofo é considerado o fundador da filosofia

oriental.

Sobre o segundo discípulo de Sócrates, Platão, Valls observa que em

seus diálogos reconhece que a ideia central dos homens é a busca da felicidade

como cerne da vida. A ética, para a maioria das doutrinas gregas, realmente tinha

como preocupação maior a busca pela felicidade:

O grande sistematizador, entre os discípulos de Sócrates, foi Platão (427-347 a. C.). Nos diálogos que deixou escritos, ele parte da ideia de que todos os homens buscam a felicidade. A maioria das doutrinas gregas colocava realmente a busca da felicidade no centro das preocupações éticas. Mas, não se deve pensar, dai, que Platão pregava um egoísmo rasteiro. Pelo contrário, ao pesquisar as noções de prazer, sabedoria, prática e virtude, colocava-se sempre a grande questão: Onde está o sumo bem? (VALLS, 2006. p. 25).

A busca pela alegria ou contentamento, de acordo com Valls (2006), não

tinha por finalidade uma satisfação egoísta qualquer, propondo-se, antes, a

encontrar o bem por meio do conhecimento das noções de prazer, sabedoria, prática

ou virtude.

Além de grande filósofo, Platão foi poeta e literato, e a maioria de seus

escritos assume a forma de diálogos, sendo lidos com muito prazer e interesse

intelectual por estudiosos das mais diversas áreas do conhecimento. Já Aristóteles,

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embora seja filósofo do mesmo porte de Platão, tem outro estilo de escrita, e não

partilha da sua mesma visão, como explica Valls:

Aristóteles não isola muito um bem supremo, pois ele sabe que um homem, como um ser complexo, não precisa apenas do melhor dos bens, mas sim de vários bens, de tipos diferentes, tais como amizade, saúde e até alguma riqueza. Sem um certo conjunto de tais bens não há felicidade humana. (VALLS, 2006, p. 33).

Em Aristóteles, de acordo com Valls, o pensamento é um componente

divino do homem e seu bem mais valioso. “Assim, quem é sábio, não carece de

muitas coisas [...] [porquanto] a felicidade verdadeira é conquistada pela virtude”,

aqui considerada a apresentação de boas atitudes, a realização do bem. Nesse

sentido, “[...] o homem precisa converter suas melhores disposições naturais em

hábitos, de acordo com a razão: virtudes intelectuais” (VALLS, 2006. p. 33).

Não se pode falar de costume e caráter ético do cidadão sem antes se

discorrer sobre a moral humana, já que um está intrinsecamente ligado à outra, pelo

sentido característico que ambos possuem. Na moral, existem dois pontos

importantes caracterizados como o senso moral humano, que para Chauí (2003, p.

305) constitui “a maneira como avaliamos nossa situação e a de nossos

semelhantes segundo ideias como as de justiça e injustiça”. Complementa, ainda,

sobre a consciência moral do cidadão, que diz respeito aos “nossos sentimentos

quanto ao certo e o errado, ao justo e ao injusto”.

Sendo a ética um fenômeno individual Chauí, afirma que cabe ao homem

decidir o que é certo ou errado no ato moral. Em sua visão, “A filosofia moral ou a

ética nascem quando, além das questões sobre costumes, também se busca

compreender o caráter de cada pessoa, isto é, o senso moral e a consciência

individual” (CHAUI, 2003, p. 306).

Desse modo, enquanto a ética se afigura um fenômeno individual da

consciência humana, a moral se estabelece como uma norma. “Como as próprias

palavras indicam, ética e moral referem-se ao conjunto de costumes tradicionais de

uma sociedade e que, como tais, são considerados valores e obrigações para a

conduta de seus membros.” (CHAUÍ, 2003, p. 306).

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1.2 Abordagem da Ética na vida e na profissão

Aborda-se, nesse momento, a ética propriamente dita, a partir do

significado da palavra e da apresentação de sua definição. Segundo Tugendhat,

pensador e filósofo alemão, a palavra ética vem do grego “éthikós”, de feminino

singular “éthikê”, que significa ético. A reflexão sobre a ética está relacionada à

filosofia pelo fato de ela ter bases gregas, de acordo com o contexto grego “êthos”,

“eos-ous”, podendo ser conceituada como uma forma de ser, ligada ao caráter e ao

costume.

Etimologicamente, na “ética aristotélica não apenas ocorre o termo „éthos‟

(com e longo), que significa propriedade do caráter, mas também o termo „éthos‟,

(com e curto), que significa costume, hábito, norma, valores” (TUGENDHAT, 2000,

p. 36). Para o dicionarista Abbagnano, a ética pode ser visualizada como ciência da

conduta, por ser possuidora de duas vertentes, que a caracterizam como ciência do

comportamento:

Existem duas concepções fundamentais dessa ciência: 1ª, a que a considera como ciência do fim para o qual a conduta dos homens deve ser orientada e dos meios para atingir tal fim, deduzindo tanto o fim quanto os meios da natureza do homem; 2ª, a que a considera como ciência do móvel com vistas a dirigir ou disciplinar essa conduta. (ABBAGNANO, 1962, p. 372).

Na primeira ele afirma que a conduta de um homem é orientada por meio

de situações que lhe permitam encontrar os fins desejados, enquanto na segunda a

aponta como ciência que mobiliza o indivíduo a disciplinar sua conduta para

alcançar um fim.

A primeira fala a língua do ideal para o qual o homem se dirige por sua natureza e, por conseguinte, da “natureza”, “essência” ou “substância” do homem. Já a segunda fala dos “motivos” ou “causas” da conduta humana, ou das “forças” que a determinam, pretendendo ater-se ao conhecimento dos fatos. (ABBAGNANO, 1962, p. 372).

Para Marcondes Filho, a ética é um conceito que discute o

comportamento humano e é esse comportamento que valida determinados

procedimentos, atribuindo valores relacionados ao juízo de valor do que é o bem e o

mal, o certo e o errado para a consciência. “Trata-se de interrogação sobre o

comportamento humano, e seus desdobramentos, que variam segundo o tempo,

lugar, circunstâncias e obstáculos” (2009, p.130).

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Alguns filósofos utilizam a palavra ética como forma de reflexão sobre o

porquê de determinados comportamentos, que podem ser considerados válidos ou

inválidos se comparados aos adotados por outras culturas, com costumes e moral

diferenciados. Refletem sobre as características da ética e o que a torna diferente

das outras ciências estudadas na filosofia, na esteira do que explica Souza Filho:

Devemos salientar, outrossim, uma característica singular da ética que a distingue de todas as outras investigações da filosofia. É o caráter subjetivo de seu critério de verdade. Aqui a verdade deixa de ser uma busca meramente teorética e especulativa para se traduzir como uma simbiose da razão e da emoção do sujeito humano em busca da felicidade. (2001, p. 36).

Sendo assim, o autor, ao falar sobre ética, discorre sobre um caráter que

a submete ao critério da verdade, tornando-se uma associação entre razão e

emoção, tendo a felicidade como fundamento existencial que é passado através da

prática de vida de cada pessoa, como se observa em suas próprias palavras: “tendo

a felicidade como critério de verdade a ética renuncia à condição exclusivamente

teórica de sua investigação para ressaltar as lições existenciais transmitidas através

da historicidade individual de cada sujeito” (SOUZA FILHO, 2001, p. 36).

Por outro lado, outros filósofos utilizam a palavra “moral” para designar

um conjunto de ações e normas concretas orientadoras do viver, que alguns aceitam

como válidas ou que lhe convêm no contato com o outro e com a sociedade. Nesse

sentido, “Salienta, pois, os dados da experiência moral dos sentidos, das emoções,

da vida concreta do homem em contato com o outro e com a sociedade” (SOUZA

FILHO, 2001, p. 36).

Em seu caráter ético o cidadão deve seguir os costumes e normas que

foram já estabelecidos pelo meio em que se insere, vivenciando, assim, a moral no

âmbito do exercício de sua profissão. Isso porque, como observa Chauí, “A

consciência moral manifesta-se, antes de tudo, na capacidade para deliberar diante

de alternativas possíveis, avaliando cada uma delas segundo os valores éticos, e

para decidir e escolher uma delas antes de lançar-se na ação.” (2003, p. 310).

Pereira Júnior (2012) afirma que, numa definição enxuta, Kidder (1991),

editor do Christian Science Monitor e fundador do Instituto de Ética Mundial,

“considera a ética como a obediência a algo que não é obrigatório. É a conduta que

adotamos mesmo quando não somos forçados por lei.” (PEREIRA JÚNIOR, 2012, p.

41).

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Sobre a profissão e a vida cotidiana de um jornalista, Abramo afirma que

a ética de um cidadão é a mesma ética vivenciada na profissão, porque não existem

duas éticas, ou você é ético na conduta ou não é. Não existe um meio termo nessa

seara:

Sou Jornalista, mas gosto mesmo é de marcenaria. Gosto de fazer móveis, cadeiras, e minha ética como marceneiro é igual à minha ética como jornalista – não tenho duas. Não existe uma ética específica do jornalista: sua ética é a mesma do cidadão. (ABRAMO, 1999. p. 9).

De acordo com Pereira Júnior, se o indivíduo obedecer a um preceito que

ninguém o obriga a exercer é porque o preceito já faz parte de seus atos, sendo

absorvido como natural em suas atitudes cotidianas. “aprendemos algo pelos

exemplos que testemunhamos e com os quais nos posicionamos diante do mundo.”

(PEREIRA JÚNIOR, 2012, p. 42).

Um cantor, ao dedicar horas a treinar exercícios vocais para aprender a

afinar sua voz e usá-la com habilidade, ao passar várias horas ensaiando uma

canção e suas letras, poderá cantá-la com a maior naturalidade possível. Como

explica Pereira Júnior (2012), “Há grande dose de sacrifício na incorporação de um

hábito. Mas uma vez incorporado nem parece que foi tão difícil assim. Todo perito

faz parecer fácil aquilo que alguém despreparado suaria para realizar.” (PEREIRA

JÚNIOR, 2012, p. 42).

Conclui afirmando, sobre o exercício moral e a atitude que gera a

consciência que promove paz ao indivíduo, que “Cada nova necessidade de dar

direito a quem de direito, cada tentativa de praticar a justiça, aperfeiçoa o ato até

torná-lo natural, executado sem grande dificuldade, porque já incorporado e

aplicável a outras situações, no futuro.” (PEREIRA JÚNIOR, 2012, p. 43).

Em seu livro sobre a ética, Vázquez vê a moral como forma de explicar a

diversidade de comportamentos sociais, e a ética como teoria do comportamento

humano: “A ética é teoria, investigação ou explicação de um tipo de experiência

humana ou forma de comportamento dos homens, o da moral, considerando a sua

totalidade, diversidade e variedade.” (VÁZQUEZ, 1995, p. 65).

Sá observa que, para se ter consciência sobre o que vem a ser uma

conduta sadia para com as pessoas em comunidade e em sociedade é preciso

buscar um estado de espirito que conduza ao agir social, aceitando e efetivando

julgamentos próprios:

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A consciência ética, portanto, é esse estado decorrente de mente e espirito, através do qual não só aceitamos modelos para a conduta, como efetivamos julgamentos próprios; ou ainda, nos condicionamos mentalmente, para a realização dos fatos inspirados na conduta sadia para com nossos semelhantes em geral e os de nosso grupo em particular e também realizamos criticas a tais condicionamentos. (SÁ, 2005, p. 65).

Isso implica dizer que se pode preparar a mente e assumir atitudes que

culminem na realização de atos bem inspirados, assim, no que se refere à profissão,

o jornalista pode decidir agir em harmonia completa com seus princípios e

condicionamentos (SÁ, 2005). Para Sá, cada pessoa tem uma função a executar no

trabalho, seja qual for a empresa em que trabalhe. Desse modo, todos os que se

encontram no quadro de funcionários dependem de uma disciplina que os oriente no

exercício laboral de sua função, “[...] uma disciplina comportamental e de conduta”

(2005, p. 65).

Pode-se ilustrar essa assertiva com uma empresa de jornalismo, que teria

como funcionários, entre outros, repórteres, editores, apresentadores. O que o autor

quer ressaltar é que existe uma conduta comportamental desenvolvida no cotidiano

em que cada um é guiado pelas características adquiridas em seu comportamento.

Cada ser, assim como a somatória deles em classe profissional, tem seu comportamento específico, guiado pela característica do trabalho executado. Cada conjunto de profissionais deve seguir uma ordem que permita a evolução harmônica do trabalho de todos, a partir da conduta de cada um, através de uma tutela no trabalho que conduza a regulação do individuo perante o coletivo. São exigíveis, pois, uma conduta humana especial que denominamos ética e o exercício de virtudes dela defluentes. (SÁ, 2009, p. 117).

Um profissional deve buscar a harmonia do seu trabalho diante da vida

coletiva e, com as virtudes que tem, “O sentimento social é um imperativo na

construção dos princípios éticos, [...] incompreensíveis sem aquele” (SÁ, 2009, p.

117). O cidadão pode, assim, fazer fluir o sentimento de construção dos princípios

éticos no meio em que convive, e em matéria divulgadas na mídia, como afirmou

Basile, na vida e na profissão as palavras são carregadas de significados, e “Uma

boa atitude, no exercício de escrever, o conduzirá a elevadas atitudes na profissão –

como, aliás, na vida também.” (BASILE, 2011, p. 151).

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1.3 Princípios da Ética Jornalística

Neste tópico se discutirá a ética no jornalismo, apresentando-se algumas

questões conceituais e relacionadas à atuação desse profissional que ao relatar um

acontecimento ou fato, e divulgá-lo corretamente, nem sempre é algo que

proporciona conforto a quem adota a iniciativa de comunicar a verdade.

De acordo com o Código de Ética do Jornalista brasileiro, no Capítulo II,

que trata Da conduta profissional do jornalista, em seu art. 4º, “O compromisso

fundamental do jornalista é com a verdade no relato dos fatos, razão pela qual ele

deve pautar seu trabalho pela precisa apuração e pela sua correta divulgação.”

(FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS, 2007, p. 1). Num comportamento

ético, existe a omissão da verdade ou é possível agir conforme está escrito no

Código do Jornalista?

Se se fizer uma comparação entre a conduta de um administrador de

empresas e a de um jornalista, pode-se pensar na seguinte situação: o

administrador busca atender ás necessidades de sua empresa e de seus clientes

para permanecer no mercado, e ter sua moral ética reconhecida. Já o jornalista,

deve apresentar habilidade e competência para lidar com situações, porém, o seu

foco é a correta divulgação dos fatos, das imagens, das notícias que lhes chegam às

mãos. O administrador não precisa se preocupar tanto com a relevância pública de

suas ações, mas o jornalista sim, já que suas matérias são de interesse do público.

Marcondes Filho (2009) afirma que relatos tipicamente jornalísticos ou os

programas religiosos podem ser examinados pela perspectiva da ética social: “No

caso das profissões próprias do campo dos meios de comunicação, tais como o

jornalismo, as relações públicas, a publicidade e a propaganda, a ética interroga

suas fronteiras, seus valores, sua aplicação geral em cada caso especificamente.”

(MARCONDES FILHO, 2009, p. 131). Não apenas isso, o tema se expande para

discutir assuntos das mais diversas áreas da comunicação, estando presente em

temas específicos:

No campo da comunicação, excluindo-se as relações comunicativas pessoais e de grupos, entre outras, a ética envolve o exame do conjunto de processos, produtos, mensagens e procedimentos diretos e indiretos ocorridos no âmbito dos meios de comunicação social, desde os temas tratados (politica, economia, cultura etc) até os suportes pelos quais se distribuem: jornal, revista, televisão, internet... (MARCONDES FILHO, 2009, p.131).

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Ou seja, A ética envolve a análise de diversos temas e editorias da

comunicação, e pode ser discutida nos veículos que distribuem o jornalismo, a

comunicação. Segundo Marcondes Filho (2009), para que a profissão seja

reconhecida no campo da comunicação, é preciso que ela seja reconhecida

profissionalmente. Em suas palavras, “A especificidade da ética dos procedimentos

profissionais precisa ser reconhecida e validada pelo conjunto da sociedade para

manter a legitimidade das profissões do campo da comunicação.” (MARCONDES

FILHO, 2009 p. 131).

A ética jornalística só pode ser constituída, de acordo com Karam, em sua

vivência real, se se compreender que o jornalismo se desenvolve na complexidade

crescente da humanidade, que carrega não apenas atos, fatos, versões e opiniões,

mas valores morais que todos os dias o caracterizam com propriedade (KARAM,

1997, p. 42).

Para Bourdieu, nos assuntos relacionados ao jornalismo de televisão há

uma tendência natural para que o olhar do jornalista seja diferente. Isso porque “Os

jornalistas, grosso modo, interessam-se pelo excepcional para eles. O que pode ser

banal para outros poderá ser extraordinário para eles ou ao contrário. Eles se

interessam pelo extraordinário, pelo que rompe com o ordinário, pelo que não é

cotidiano” (BOURDIEU, 1997, p. 26). Ou seja, os jornalistas, normalmente, ao

coletar dados, conseguem reunir informações que lhes permitem ter uma visão que

vai além do olhar natural, parecendo que “[...] têm óculos especiais, a partir dos

quais vêem certas coisas e não outras; e vêem de certa maneira as coisas que

vêem. Eles operam uma seleção e uma construção do que é selecionado”

(BOURDIEU, 1997, p. 25).

A importância da profissão no âmbito social é discutida por Karam como

forma de analisar o contexto da prática jornalística e do seu desenvolvimento. O

potencial do jornalismo se desenvolve de maneira espontânea, no que está ligado à

vida social. Desse modo, para o autor, “Só mesmo a práxis jornalística, inserida no

contexto geral dos desdobramentos sociais da humanidade pode fazer com que o

jornalismo tenha alguma potencialidade revolucionária diante do „andar natural e

espontâneo‟ do mundo.” (KARAM, 1997, p. 47).

Como se pensar a prática da profissão, quando a teoria é também

fundamental? Ou como se introduzir um padrão ético nas relações, quando a ação

política age em divergência com as leis? “A teorização sobre a atividade é

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fundamental. Os desdobramentos éticos e morais disso também. Da mesma forma a

ação política cotidiana do profissional.”, explica Karam (1997, p. 47). Afirma, ainda,

que, em se tratando da matéria produzida por um jornalista, “O caminho mais

próximo da verdade é o controle social da informação por aqueles que produzem e

aprendem a própria humanidade”. Como exercer, dessa forma, o controle social

sobre a informação no jornalismo? Já que existem tantos acontecimentos, como

exercer esse controle sobre as informações dentro da perspectiva ética:

Daí também que, com a carga enorme de acontecimentos diários, relevantes para a humanidade, a multiplicidade dos meios de comunicação sua diversidade de proprietários, e de controle, a segmentação do mercado e dos conteúdos e a variedade de abordagem dos fatos (incluindo a linguagem) constituem bases reais para a formulação e defesa de uma ética jornalística que exija uma práxis política consciente do profissional e um compromisso com os desdobramentos gerais do cotidiano. (KARAM, 1997, p. 49).

Os princípios éticos no jornalismo expressam ideias políticas e

manifestações que geram ações jornalísticas e coberturas apenas em parte. Por que

não é feita a cobertura completa do assunto? Karam (1997) explica que ocorre

dessa forma pelo fato de existirem ambições expressas por pessoas, órgãos e

empresas voltadas para o interesse público. Nesse sentido, “embora aqueles que a

produzem achem, em geral, que a verdade, a imparcialidade, a honestidade, a

responsabilidade, o compromisso social, a exatidão, a relevância pública ou o

interesse público estão, enfim, ali revelados, naquela página de jornal ou revista”,

pode-se dizer que mediante as colocações feitas, os acontecimentos e a divulgação

deles passa por reflexões acerca do comportamento prático e teórico da ética no

jornalismo.

Karam observa que alguns questionamentos pertinentes sobre a

consciência do jornalista cabem na produção da notícia: Será que ter consciência

resolve o problema profissional da ética jornalística? E se a notícia deve ser

submetida à análise dos fatos e das versões, também deve sê-lo à consciência

individual do jornalista, que, por sua vez, passa a ser a juíza dos fatos? (KARAM

1997, p. 47).

Um bom jornalista é mais bem reconhecido, para Marcondes Filho (2002),

quando dá conta das exigências de produção das notícias que precisam ser

divulgadas em tempo hábil, do que quando escreve muito. Isso significa que, sob o

ponto de vista do autor, escrever muito nem sempre significa obter os resultados

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esperados. Abramo (2002) diz que o jornalismo, pelo fato de constituir o exercício

diário da inteligência e da prática cotidiana do caráter, é a soma de habilidades -

competências e ética -, visto que não há como separar habilidade de competência.

De acordo com as afirmações de Abramo (2002) e Marcondes Filho

(2002), surge a seguinte reflexão: o que leva um jornalista a divulgar uma notícia em

tempo hábil, e o que o leva a escrever muito e não alcançar os resultados

esperados? Seria ausência de competência? – aqui considerada um comportamento

natural, baseado em princípios e costumes, que remetem às afirmações de (Basile,

2011, p. 151) de que “Quando você estiver escrevendo, não se esqueça, em

primeiro lugar, de que a atividade jornalística é um exercício de integridade e

caráter”.

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2 PRINCIPAIS PROBLEMAS ÉTICOS DO JORNALISMO

Tendo-se já no capitulo anterior conceituado ética e discutido sobre o

tema relacionando-o à vida, à profissão e ao jornalismo, pretende-se, no capítulo ora

em construção, discutir os problemas éticos identificados no jornalismo, inicia-se a

abordagem com a apresentação do problema existente entre as leis e a teoria.

Para se compreender diferenciadamente o abismo que se formou entre

teoria e prática da profissão de jornalista, discorre-se acerca da questão existente na

ética quando se busca aproximar a teoria e relacioná-la ao desempenho profissional,

visando-se esclarecer os princípios relativos ao sigilo estabelecidos na Constituição

Federal do Brasil e os específicos da comunicação, que têm validade universal,

estabelecidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e

Cultura (Unesco) já que o filme “Faces da Verdade” retrata questões jurídicas que

implicam a prisão da jornalista. Na sequência, tece-se uma discussão sobre a teoria

jornalística e a aplicação dos conceitos e princípios éticos da profissão.

No segundo tópico deste capítulo busca-se explicitar a existência dos

conflitos propriamente ditos por meio da apresentação de exemplos de casos

concretos, para isso, os conflitos éticos aparecerão em filmes que abordam temas

de casos políticos, econômicos, dentre os filmes citados neste tópico são: “Todos os

Homens do Presidente”, “Doces poderes” e o “O informante”, cujos enredos

envolvem temáticas como: política, economia e conflitos éticos na profissão do

jornalista, como forma de evidenciar o objeto deste estudo, o filme “Faces da

Verdade”.

O ponto principal, nessa parte do capitulo, consiste em abordar os

conflitos relacionados à fonte jornalística buscando da mesma forma comparar

temáticas com o sensacionalismo feito pela Revista Veja ao caso do artista Cazuza,

equiparando-o a cena da protagonista do objeto de estudo filme “Faces da verdade”

quando entrevistada na penitenciária. Assim citaremos um caso de segurança

pública atual de Snowden que deu entrevista a jornalistas vazando informações

importantes. Todos os assuntos tem proximidade com a análise de conteúdo que

será feita no próximo capitulo.

No terceiro e último tópico serão apresentados comentários e citações

que abordam discussões acerca da fonte jornalística, da relação entre o repórter e a

fonte e da importância que uma fonte tem para o jornalismo. Conclui-se, assim, a

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descrição do conteúdo deste segundo capítulo, que funcionará como espécie de

apresentação para o capitulo de análise do filme “Faces da Verdade”.

2.1 Conflitos éticos no Jornalismo

Os problemas éticos identificados na teoria do jornalismo, quando

vinculada à prática do desempenho da profissão, tem o intuito de se apresentar as

leis da ética, de valor universal, estabelecidas por órgãos mundiais para a profissão,

Para se relatar a verdade e realizar a correta divulgação de acontecimentos,

segundo Karam, exige-se, daquele que a esse mister se dedica, a adoção de uma

série de ações, com base nos princípios, valores e crenças pelos quais foi ensinado

a se guiar, tanto individual, quanto profissional e coletivamente.

É fato, como já estudado alhures, que as antigas teorias morais estão até

hoje relacionadas ao comportamento social, como explica Karam, ainda que “Da

Grécia Antiga à contemporaneidade, o homem [se] preocupa[s]se em elaborar

teorias morais que correspond[esse]m [apenas] às sociedades, [...] [visto que] [...]

têm sido reflexos de movimentos e momentos particulares do comportamento

humano”. (KARAM, 1997, p. 4).

De acordo com Mondin, o problema da ética está ligado à teoria que a

envolve. Nesse sentido, ao relatar os problemas existentes em diversas vertentes

ideológicas da filosofia, afirma que “O problema ético toma dois aspectos principais:

um relativo aos códigos, dos princípios, das normas, das convicções morais já

existentes; [...]” (MONDIN,1980, p.106). Aqui a teoria e os códigos éticos significam

uma norma de conduta a ser praticada e vivida por um individuo. Mas será que a

teoria jornalística é praticada na profissão do jornalista?

Ainda de acordo com o autor, o segundo problema existente na vivência

ética está ligado à ação moral, ou seja, às condutas que direcionam uma pessoa a

atingir seus objetivos profissionais, apontando que “diz respeito às condições que

possibilitam a ação moral em absoluto; o critério daquilo que é moral e imoral para o

homem; o fim último da vida humana e os meios mais aptos para atingi-lo”,

(MONDIN, 1980, p. 106). Que diferenças existem entre a teoria e a prática do

jornalismo?

Para Barbeiro e Lima, as leis do mercado e a necessidade de se adquirir

e divulgar informações em velocidades cada vez mais estonteantes, entre outras

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demandas da contemporaneidade, exigem eficiência da parte dos comunicadores,

implicando que é importante que os jornalistas elejam “um norte que possa guiá-los

através da sua frágil independência” (BARBEIRO; LIMA, 2003, p. 20). O que o autor

quer dizer é que diante das inúmeras pressões que esses profissionais vão enfrentar

no exercício cotidiano de sua atividade laboral devem pautar sua atuação em um

comportamento tal que lhe sirva de Norte em qualquer circunstância.

Há proximidade entre a teoria do conhecimento social existente nos

códigos de ética, de conduta e de honra do jornalismo, restando “[...] interiorizada

nos artigos e princípios escritos em códigos e manuais, nas afirmações sobre

procedimentos profissionais, nos discursos solenes sobre a função jornalística”

(KARAM, 2004, p. 90).

Lage afirma que as legislações refletem a forma e o estado como vive

uma sociedade, com sua distribuição desigual de poder e de riqueza, de modo que

podem “conter, permitir ou, mesmo, obrigar os cidadãos a violar princípios morais”, e

que as leis costumam ser validadas de acordo com o seu conteúdo ético, “portanto,

ética e legislação deveriam confundir-se” (LAGE, 2008, p. 90).

Em sua concepção, a instância que decide sobre a lei é possivelmente

policiada por uma justiça que envolve corrupção e fanatismo, sendo, assim, “inepta

ou formalista”. Obedecer à leis ou compromissos éticos tem, em muitas instâncias,

resultado na permanência frequente de profissionais “em redações empasteladas e

[em] profissionais assassinados, sem contar carreiras brilhantes interrompidas e a

infinidade de casos de sofrimento pessoal, a desmoralização e prejuízos financeiros”

(LAGE, 2008, p.91) Conclui que, como resultado da subserviência às leis, existe

também essa outra possibilidade que foi citada, provocada pelo engessamento

normativo das redações.

Sobre as leis, Karam explica que, ao se tentar ampliar o direito social à

informação, é preciso que se tenha cuidado com a questão ética, visto que os

princípios que regem “aquelas normas que devem ser seguidas, sempre tentaram

vincular a medição jornalística à responsabilidade social que exige a profissão”

(KARAM, 1997, p. 54) Daí a importância de se manter a responsabilidade social com

a informação, por meio dos Códigos de Ética.

Ao falar sobre o Jornalista, Nalini observa que um dos problemas que

enfrenta no exercício de seu mister diz respeito ao fato de que a profissão que optou

por abraçar está exposta a grandes tentações, principalmente em razão dos baixos

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salários percebidos pelos profissionais que a fazem, condição que os tornam um

alvo permanentemente atrativo para a corrupção, que pode se manifestar de

diversas maneiras, seja vendendo-se à imprensa, rendendo-se ao silêncio ou se

omitindo:

A murmuração pública, o escândalo e o crime costumam ser as primeiras matérias; a delação, a mentira, a dissimulação, a lisonja, a adulação mútua ou personalismos, com vistas ao próprio engrandecimento e com injusto desprezo pelos valores alheios ou do adversário, são procedimentos – se não obrigatórios – pelo menos bastante frequentes e não tão fáceis de evitar como parece; na imprensa pode vender-se a preço elevado e sem perigo algum, tanto para denúncia como o silêncio. E este, às vezes mais daninho e mais impune do que aquela. (NALINI, 2008, p. 252).

Para se continuar a relatar os problemas éticos ligados não só à realidade

do jornalismo, mas aos códigos e leis, é preciso evidenciar de maneira específica o

que cada um deles diz, já que seu conteúdo está ligado ao que se vai encontrar por

ocasião da análise de conteúdo do filme “Faces da Verdade”. Inicia-se com o

disposto na Lei Maior do País, a Constituição Federal de 1988, em cujo art. 5º,

incisos XII e XIV, são assegurados, respectivamente, a inviolabilidade do sigilo da

correspondência e das comunicações por qualquer meio, e o direito à informação,

resguardado o sigilo da fonte, quando for importante para a atuação profissional,

como transcrito na continuidade:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;

[...]

XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;

[...] (BRASIL, 1988).

No âmbito dos instrumentos internacionais de proteção aos direitos

humanos, uma subcomissão da Organização das Nações Unidas (ONU), que tem

por objetivo promover a paz entre as nações, desde 1950 se voltava para o

segmento da comunicação social, na tentativa de avaliar de que modo poderia

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contribuir para a construção da paz mundial, dentre outras oferendas, culminando na

elaboração da Declaração dos Princípios Fundamentais Relativos à Contribuição

dos Meios de Comunicação Social para o Reforço da Paz e da Compreensão

Internacionais, para a Promoção dos Direitos Humanos e para o Combate ao

Racismo, ao Apartheid e ao Incitamento à Guerra, proclamada pela Conferência

Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura

(Unesco), na sua 20.ª sessão, em Paris, França, a 28 de Novembro de 1978.

Adiante, a transcrição de alguns de seus artigos:

Artigo II

2. O acesso do público à informação deverá ser garantido pelas diversas fontes e meios de informação ao seu dispor, assim permitindo a todas as pessoas verificar a exactidão dos factos e avaliar os acontecimentos de forma objectiva. De forma semelhante, é importante que os meios de comunicação social estejam receptivos às inquietações dos povos e dos indivíduos, assim promovendo a participação do público na feitura da informação.

[...]

4. Para que os meios de comunicação social estejam em posição de promover os princípios da presente Declaração no âmbito das suas actividades, é necessário que aos jornalistas e outros profissionais na área da comunicação social seja assegurada uma protecção capaz de lhes garantir as melhores condições para o exercício da sua profissão, quer no seu próprio país quer no estrangeiro. (BRASIL, 1978).

Em 1983 foi formalizado um documento com validade universal, em que,

após cinco anos de encontros consultivos capitaneados pela Unesco, foram

aprovados “os princípios internacionais da ética profissional dos jornalistas”. Visto

que o filme “Faces da Verdade” foi produzido nos Estados Unidos, importa, para o

melhor entendimento da análise que se está a construir, já que o enredo do filme

aborda questões legais e éticas de cunho internacional, explicitar alguns dos

princípios do Código:

Princípio VI — Respeito à Privacidade e à Dignidade Humana: Uma parte integrante dos padrões profissionais do jornalista é o respeito ao direito de privacidade do indivíduo e à dignidade humana, em conformidade com o que está previsto na lei nacional e internacional relativa à proteção dos direitos e da reputação de outros, proibindo calúnia e difamação.

Princípio VII — Respeito ao Interesse Público: Os padrões profissionais do jornalista prescrevem respeito devido à comunidade nacional, suas instituições democráticas e sua moral pública.

Princípio VIII — Respeito aos Valores Universais e à Diversidade de Culturas: Um verdadeiro jornalista zela pelos valores universais de humanismo, acima de tudo paz, democracia, direitos humanos, progresso social e liberação nacional, enquanto com respeito ao caráter distintivo,

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valor e dignidade de cada cultura, como também o direito de cada pessoa escolher e desenvolver livremente seus sistemas políticos, sociais, econômicos e culturais. Assim o jornalista participa ativamente na transformação social para a melhoria democrática da sociedade e contribui em todos os lugares através do diálogo para um clima de confiança nas relações internacionais que conduz à paz e à justiça em todo lugar, para o desarmamento e o desenvolvimento nacional. Pertence à ética da profissão que o jornalista esteja atento às providências pertinentes contidas nas convenções, declarações e resoluções internacionais. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA, 1983).

Em seu livro sobre a ética jornalística, Karam afirma que se os discursos

éticos dos códigos de conduta válidos universalmente se tornarem uma prática

dominante, servirem apenas para reforçar os comportamentos de quem admira a si

mesmo, para os que agem imprudentemente tentando apropriar-se dos valores

consagrados e do patrimônio da humanidade com fins de consolidar questões

próprias, só se preocupam consigo próprios. O autor questiona: de que valerá a

retórica tão convincente desses que usam dos códigos e do poder político simulando

exercer cidadania? E ele mesmo responde, afirmando que “No lugar da participação

politica sonegada emergem as ideologias das liberdades individuais, simulacro das

liberdades públicas reais”. (KARAM, 2004, p. 129).

Enfim, os códigos contêm princípios cuja utilização, quando não vinculada

à verdade, resulta numa flexibilização do cotidiano de tal sorte, que proliferam as

subjetividades, e aquele que tiver mais força certamente puxará para o seu lado os

desdobramentos implícitos no conteúdo dos artigos, parágrafos, incisos. Na

realidade é como afirma Nalini, há Jornalistas que se preocupam com o resguardo

de um mínimo ético na imprensa, enquanto “outros escolhem o deboche, o acinte a

irresponsabilidade”, dizem que os problemas morais continuam a existir arraigados à

civilidade, e que a qualquer preço pregam o sucesso acima de qualquer lei; “o

homem perde a capacidade de indignação e se acostuma com a infração ética. Ela

parece-lhe menor diante de outras faltas” (NALINI, 2008, p. 253).

A realização de muitos debates e assembleias em torno dos “códigos,

palestras, conferências, livros, revistas que tratam sobre a liberdade de expressão,

de informação, de ética profissional” não impediu e nem impede que os limites da

ética continuem a ser ultrapassados, seja com base em um ponto de vista, seja em

razão de algum juízo de valor. Nesse sentido, “Se eles tivessem dado o resultado

que previa sua expectativa, os continuados problemas éticos não se sucederiam na

intensidade atual” (KARAM, 1997, p. 43). Assim, pode-se compreender que a

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realidade parece não estar para a teoria, assim como a teoria não deixa de ser

verdade.

2.2 Exemplos e casos paradigmáticos para a discussão da Ética jornalística

Conectados ao conflito principal do filme “Faces da Verdade”, discute-se o

tema de conflito ético da política no jornalismo, já que o objeto de estudo é um filme

que também enfrenta questões políticas. Discorre-se sobre o caso Watergate1,

ligado ao filme “Todos os Homens do Presidente”, e inúmeros outros casos de

corrupção política no jornalismo, retratados no filme “Doces Poderes”.

Depois, como tema de economia, já que o filme “O Informante” aborda

questões de ética e a relação entre o jornalista e a fonte, parte-se para falar sobre o

escândalo ético na mídia vivido pelo cantor e compositor Cazuza. Finaliza-se o

tópico com um conflito ético atual no âmbito da segurança pública: o caso Snowden,

que tem produzido polêmicas para o governo dos Estados Unidos (local onde o filme

foi produzido).

De acordo com os autores e jornalistas Robert Woodword e Carl Berstein,

citados por Christofoletti (2008), um fato real levou à publicação do livro “O homem

secreto”. O livro “Ética no Jornalismo” descreve o fato que gerou o caso “Watergate”,

discorrendo a respeito do maior segredo do jornalismo investigativo da história,

atualizado no livro “Todos os homens do presidente”, posteriormente transformado

em filme com o mesmo título, relatando casos de escândalos éticos da política.

No filme, cinco homens invadiram a Casa Branca2, nos Estados Unidos,

em 1972, levando quantias em dinheiro, durante a reeleição do presidente Richard

Nixon. Esse fato levou dois jovens jornalistas a iniciar uma série de investigações

sobre os homens que trabalhavam para o presidente. De acordo com Nuzzi (2007),

“tudo começou com as reportagens dos jornalistas Woodword e Berstein, no jornal

The Washington Post” (p.129). Pelo que se pode observar em “Todos os Homens do

presidente”, os jornalistas seguem bem o que foi dito no livro de Kolscho (2007, p.

34): “Em qualquer época, uma das funções principais do Jornalismo é a de fiscalizar

os poderes públicos, e é o repórter o encarregado desta tarefa”.

1 Foi a invasão aos escritórios do Partido Democrata americano em Washington, no conjunto de edifícios Watergate. O incidente aconteceu em 1972 e, após dois anos de investigação, culminou com a renúncia do presidente Richard Nixon (CABRAL, 2010).

2 The White House – Prédio em que fica instalada a Presidência dos Estados Unidos.

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Ao longo dos tempos, em verdade a imprensa dos Estados Unidos da América vive “brigando” com o governo federal, a fim de ter liberdade para divulgar documentos relacionados com vários aspectos da atividade do pentágono e da política interna e externa daquele país. (NUZZI, 2007, p. 129).

De acordo com Nuzzi (2007), os americanos sempre usam a primeira

emenda da constituição de seu país como meio para justificar a divulgação de

matérias polêmicas. Muitas vezes, buscando possíveis fontes, e parte delas no filme,

mostravam-se anônimas, como no caso de um “personagem misterioso, que foi

alcunhado de “Garganta Profunda”. A identidade dessa pessoa ficou preservada até

2005, quando teve seu nome divulgado após sua morte” (KOLSCHO, 2007, p. 34).

Para Christofoletti (2008, p. 43), “jornalistas devem orientar seus esforços pelo

interesse público, que muitas vezes colide com os desejos das fontes de

informação”.

Ainda para Kolscho (2007, p. 34), os dois repórteres do “The Washington

Post”, Woodward e Bernstein, buscavam obter documentos que montassem sua

matéria, o que levou o presidente Richard Nixon à renúncia:

Carl Bernstein era um repórter de “geral” do Post e, a partir de algumas denúncias que o jornal recebeu, começou a checar as informações com várias fontes, até ligar o caso de um arrombamento no escritório do partido democrata instalado no edifício Watergate a importantes figuras da Casa Branca, chegando finalmente ao presidente. Sua luta se travava – como em qualquer relação em qualquer época – em duas frentes: levantar as informações e convencer seus superiores e publicá-las. (KOLSCHO, 2007, p. 34-35).

O trabalho do jornalista, nas palavras de Kolscho (2007, p. 35), não está

acabado quando a matéria é publicada, já que o que foi escrito por ele é polêmico e

tem repercussões, Desse modo, como explica o autor, tudo se torna mais delicado,

e o “ideal, sempre, é o repórter participar de todo processo, da pauta à edição final”.

Segundo Christofoletti (2008, p. 43), para se realizar a cobertura de

matérias que envolvem os centros de poder político é preciso ter preparo técnico,

“apurado senso ético, sensibilidade, inteligência, e um constante sinal de alerta

ligado. A política é um assunto importante que interessa a todos na sociedade,

mesmo àqueles que não o manifestem”, sendo o senso político e o preparo técnico

“uma das principais formas de disputa, mediação e harmonização das vontades

sociais”.

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Outro caso de conflito ético encontra-se no filme “Doces Poderes”,

produzido em 1996, que retrata uma espécie de trama, documentada em vídeos,

vivida por jornalistas da sucursal de uma conhecida rede de televisão brasileira da

capital Brasília, cujo nome não é identificado no filme. Baseado em fatos reais,

retrata a disputa pela sucessão presidencial em 19893, entre os candidatos

Fernando Collor de Melo e Luiz Inácio Lula da Silva.

Nessa trama, o diretor da empresa em Brasília e os funcionários da

emissora abandonam seus trabalhos para fazer jingles e spots de políticos

envolvidos em casos de escândalos éticos e corrupção. Os jornalistas que

abandonaram seus trabalhos para trabalhar na política se assemelham ao que Nalini

preconizou, agindo e pensando do modo como os reais detentores do poder político

esperavam que se comportassem, impedindo, dessa maneira, que houvesse ética

na política. Na ocasião, torna-se pertinente a pergunta que o próprio autor faz: “mas

o que será a honestidade jornalística do ponto de vista daqueles que recebem

verbas do governo?” (NALINI, 2008, p. 247).

Para Bourdieu, os jornalistas vivenciam momentos difíceis na jornada

profissional e são envolvidos naturalmente em uma onda de sentimentos

contraditórios ao depararem com a realidade:

O jornalismo é uma das profissões em que se encontram mais pessoas inquietas, insatisfeitas, revoltadas, ou cinicamente resignadas, em que se exprimem muito comumente [...], a cólera, o asco, ou o desencorajamento diante da realidade de um trabalho que se continua a viver ou a reivindicar. (BOURDIEU, 1997, p. 54).

Estariam eles errados por se sentirem inquietos, insatisfeitos, ou

revoltados? Será que esses sentimentos afetam um jornalista a ponto de o levarem

a divulgar realidades sem avaliar seus efeitos? Para Nalini, uma pessoa que se

identifica com o povo, muitas vezes, confunde o poder de interação com o poder de

ser reconhecido, assim, muitos jornalistas tornam-se “alvo fácil das proclamações

emocionais, bombásticas e singelas, com frases de efeito e o trivial convertido em

verdade absoluta” (NALINI, 2008, p. 247).

3 “Em 1989, os brasileiros foram às urnas para escolher o novo presidente da República. Era a primeira eleição presidencial pelo voto direto, depois de 29 anos. O pleito foi bastante disputado. Havia 23 candidatos, entre os quais estavam os líderes dos principais partidos políticos. No primeiro turno, Fernando Collor (PRN) saiu vitorioso, com 20,6 milhões de votos (o equivalente a 28% do total). Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguiu 11,6 milhões de votos (16,08% do total)” (DEBATE...[201-?]).

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Conflitos constantes de poder aconteciam cada vez que as matérias iam

ser publicadas na sede do jornal em Brasília naquele período, sugerindo que

“quando o repórter não estiver totalmente seguro da noticia”, só vale a pena correr

riscos em casos extremamente relevantes, e quando “o impacto da suposta

exclusividade da informação é tão pequeno, que não compensa a ameaça a sua

credibilidade” (MARTINS, 2008, p. 97).

No filme “Doces Poderes”, a ética, no jornalismo, parece distanciar-se do

real significado atribuído à profissão. De acordo com Christofoletti, “fama, vantagens

financeiras e glamour são ilusões despertadas pelo jornalismo aos mais

desavisados, corrompendo novatos e decanos”. Dentre os escândalos éticos na

política, merece destaque aquele protagonizado por uma das jornalistas, que se

envolve num relacionamento com sua fonte, um deputado conhecido, como forma

de viver o glamour que a profissão oferece.

Christofoletti, analisando o filme, observa que alguns jornalistas

preferiram o dinheiro fácil oriundo do financiamento das campanhas políticas a atuar

como agentes transformadores da sociedade, mesmo “conscientes de suas

responsabilidades, sem visão aguda para os seus limites” (CHRISTOFOLETTI,

2008, p. 40). As polêmicas, ao que parece, são introduzidas no filme como forma de

camuflar as irregularidades do político principal, “Cavalcantti”, que interpreta

Fernando Collor de Melo.

Mesmo com os conflitos, a nova diretora, “Bia”, interpretada por Marisa

Orth, ao assumir o jornal, opta por manter a verdade em relação aos fatos, e pela

correta divulgação dos acontecimentos, durante seu tempo na empresa, embora

estivesse ciente da influência da política sobre o segmento jornalístico, o que remete

ao pensamento de Karam, (1997), segundo o qual o controle social da informação

produzida pelos meios de comunicação seria o viés que a manteria mais próxima da

verdade:

Daí também que, com a carga enorme de acontecimentos diários relevantes para a humanidade, a multiplicidade de meios de comunicação, sua diversidade de proprietários e de controle, a segmentação do mercado e dos conteúdos e a variedade de abordagem dos fatos (incluindo a linguagem) constituem bases reais para a formulação e defesa de uma ética jornalística que exija uma práxis politica consciente do profissional e um compromisso com os desdobramentos gerais do cotidiano. (KARAM, 1997, p. 49, grifo do autor),

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Ao que parece, a jornalista “Bia”, mesmo sabendo da influência da política

e de empresas que exercem controle sobre os conteúdos das matérias veiculadas

no mercado, foi adiante com a apuração dos fatos, organizando o que deveria ou

não ir ao ar. As apelações criadas pelo candidato mais forte compeliam a direção da

empresa e seus funcionários a publicar o discurso de um candidato por mais tempo

e cortar as falas do outro, o que levaria os eleitores indecisos a votar no candidato

mais apoiado pela emissora.

Gerenciar ou analisar os conflitos éticos para então tomar decisões é

mais importante do que querer ser o dono da verdade (Christofoletti, 2008). O autor

continua a assegurar que o ex-governador da Bahia, Antônio Carlos Magalhães,

definia e diferenciava os profissionais da imprensa dizendo o seguinte: “Existem dois

tipos de jornalistas: os que querem informação e os que querem dinheiro. Você não

pode dar dinheiro àquele que busca informação e nem informação aos que querem

dinheiro”. (CHRISTOFOLETTI, 2008, p. 45) Assim, pode-se dizer, de acordo com o

autor, que a corrupção está no dinheiro, mas está, principalmente, na corrupção dos

valores éticos.

Entendendo a distorção de valores de seus colegas de trabalho, a

protagonista “Bia” preferiu pedir demissão a prejudicar as fontes envolvidas na

campanha, dessa forma, ela também não romperia com seus princípios. Para

Christofoletti (2008, p. 50), a prática da “Alta exigência, pressão constante e grande

concorrência, são ingredientes que, somados, podem resultar num certo

afrouxamento moral e consequentes atitudes que contrariem valores éticos”.

Como diz Christofoletti, (2008), “Assim como o jornalismo politico, o

noticiário de economia tem alta importância no cotidiano das pessoas”. O impacto de

medidas governamentais e as questões ligadas à produção e à movimentação da

economia, bem como ao modo como as empresas afetam o Produto Interno Bruto

do país todos os dias, são de interesse público. “Não é à toa que política e economia

dominem tanto o tempo dos telejornais ou as páginas dos meios impressos de

comunicação.” (CHRISTOFOLETTI, 2008, p. 50).

“O Informante” é um filme que relata os conflitos econômicos enfrentados

por uma família, e também pela empresa jornalística Columbia Broadcasting System

CBS4, que apurava os fatos da vida de Jeffrey Wigand. De acordo com o diretor do

4 O significado da sigla não foi identificado no filme “O Informante”.

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filme, Michael Mann, é baseado em fatos reais e relata o caso em que o jornalista

convence sua fonte a revelar informações importantíssimas sobre a fabricação do

cigarro.

No principio a fonte estava muito assustada com o fato de ter perdido o

emprego e questionando-se acerca de como conseguiria sustentar sua família,

então, o jornalista, para apurar os fatos, precisou ganhar sua confiança. Para Caldas

(2005, p. 50), “A fonte ganha confiança do repórter quando suas informações são

sempre fiéis, verdadeiras, não deixam um repórter na mão, sujeito a um desmentido.

A relação de confiança é fundamental no jornalismo econômico”.

Confiança e competência andam juntas, são independentes na evolução da carreira do repórter. A competência é construída a partir da experiência e da escolha qualificada dos assuntos, que só lhes chegam às mãos com exclusividade se ele desfrutar da confiança de seus informantes. (CALDAS, 2005, p. 50).

Quando Abramo fala sobre adquirir confiabilidade da fonte, ele quer dizer

que “O cidadão não pode trair a palavra dada, não pode abusar da confiança do

outro, não pode mentir. No jornalismo, o limite entre o profissional como cidadão e

como trabalhador é o mesmo que existe em qualquer outra profissão.” (ABRAMO,

1999, p. 9).

Ao dar crédito às palavras do jornalista Lowell, o engenheiro Jeffrey, bem

como a emissora, estava sendo pressionado, pelos ex-chefes de trabalho, a não

revelar os dados importantes que tinha da grande e poderosa empresa de tabaco

Brown & Williamson; ao mesmo tempo, a grandiosidade das informações parecia

deixar o jornalista Lowell Bergman, interpretado por Al Pacino, deslumbrado com a

matéria.

Para o funcionário demitido, revelar uma informação ao jornal e receber

dinheiro para ajudar sua família era o que mais lhe importava num momento

financeiramente difícil. Como avalia Caldas (2005), “Ninguém pode negar: cada vez

mais, as preocupações de ordem econômica são centrais em nossas vidas, e ter

informações atualizadas, precisas e corretas é fator de sobrevivência.” (p. 50).

A emissora de televisão tinha grande interesse em divulgar a verdade

acerca da produção de cigarros, já que o lucro da empresa afetava setores da saúde

e da economia do país, sendo uma pauta impetuosa para o jornalista Lowell, que

sabia de sua responsabilidade para com a fonte e, no filme, demostra ir contra o

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jornalismo sem apuração, numa luta incansável pela utilização de princípios éticos

na profissão.

Sobretudo no jornalismo econômico, que trata de poder e dinheiro, é preciso ser honesto e responsável, limitar o texto estritamente aos fatos apurados, não cair na tentação de ganhar uma chamada na capa do jornal em troca de “exagerar só um pouquinho”. Deve-se, também, procurar incansavelmente as pessoas envolvidas para darem suas versões. (CALDAS, 2005, p. 50).

Divulgar a matéria revelando a quantidade de nicotina e amônia contida

num cigarro afetaria a empresa que o produzia e muitos não iriam mais consumi-lo.

Ao mesmo tempo, traria repercussão a CBS (emissora de televisão), elevando sua

audiência em 100% e garantindo a venda de muitos exemplares de jornais.

Christofoletti (2008, p. 50) observa, com base nessa perspectiva, que “existem

interesses distintos na sociedade, o noticiário de economia deve ser amplo, plural,

evitando estar a serviço de um grupo social ou outro. Essa preocupação é de

natureza ética para o jornalismo econômico”.

Os efeitos de uma matéria publicada recaíram depois sobre a emissora

de TV, sobre a empresa envolvida, que a todo tempo ameaçava a família do

funcionário demitido. No entanto, a projeção sobre o que estava por vir não foi

calculada. Christofoletti (2008, p. 54) diz que “qualquer que seja o caminho escolhido

é fundamental que não se esqueça que ele terá consequências. Esses efeitos

podem marcar profundamente uma carreira ou apenas se tornarem episódios na

memoria profissional”.

Após a divulgação da matéria, o jornalista pediu demissão, por não

concordar com a forma como sua fonte estava sendo exposta. Sobre a sua atuação,

Caldas (2005, p. 55) observa que “o repórter deveria raciocinar e projetar

consequências de seus atos, visando ao mal menor. A lógica seguida aqui é a do

utilitarismo, um modo pragmático de ver a vida e o mundo”.

Um dos casos de escândalos éticos em Karam (1997, p. 77) encontra-se

na Revista Veja. A edição de 26 de abril de 1989 colocou em sua capa a foto do

cantor Cazuza, que à ocasião já estava com Aids, “com as mãos cruzadas sobre os

ombros, magro, óculos, cabelo ralo, e, para quem não o via há algum tempo,

fisionomia e aspectos físicos já bastante diferentes de suas anteriores aparições em

público”.

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A matéria tem oito páginas, intitulada “A luta em público contra a Aids” e

apresentando como subtítulo “Abatido aos poucos pela doença, o compositor

Cazuza conta como resiste em nome da vida e da carreira", depois de lembrar que

“o mundo de Cazuza está se acabando com estrondo e sem lamúrias”, e que ele

“faz questão de morrer em público sem esconder o que está se lhe [sic] passando”

(KARAM 1997, p. 80).

A imagem do cantor foi exposta em uma revista de circulação nacional e

vendeu milhares de exemplares, com o seguinte título: “Cazuza: uma vítima da Aids

agoniza em praça pública”, e “deixava antever os desdobramentos ao redor dos

limites éticos da atividade jornalística em relação à vida privada do cidadão”

(KARAM, 1997, p. 77). Questão polêmica, a exposição gerou revolta em muitos

leitores e personalidades públicas como a atriz “Marilia Pera”, o ex-ministro do

esporte “Pelé”, o cantor e compositor “Roberto Carlos”, a apresentadora “Xuxa”,

entre outros que enviaram cartas criticando essa matéria da Revista Veja.

Especialistas decidiram analisar a cobertura jornalística dessa matéria e

discutiram os limites da atuação profissional, o interesse público e a vida privada do

individuo, questionando que tipo de liberdade seria essa que desrespeita a dor e o

sofrimento do outro, e que tipo de ética jornalística seria essa (KARAM, 1997, p. 77).

Segundo Nalini, a imprensa tem o poder de construir e descontruir a

carreira ou reputação de um profissional. Com as palavras ela cria verdade,

transmite e forma opiniões públicas, e o faz por vias muitas vezes ambíguas. O

poder da mídia “[...] é tamanho que as concessões são disputadas por políticos, por

líderes religiosos, e por grupos com a intensão de empolgar outras espécies de

poder, seja econômico ou politico” (NALINI, 2008, p. 252).

Um caso recente de escândalo ético que se encontra na mídia é o de

Edward Snowden, ex-técnico do Federal Bureau of Investigaton (FBI) dos Estados

Unidos, fonte das informações e dados divulgados no jornal “The Guardian”, pela

primeira vez, a matéria dos programas de espionagem feita pelos agentes.

A Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (ANS) coleta

dados com ligações telefônicas de milhões de americanos acessando fotos, e-mails,

videoconferências de pessoas que usam os serviços do Google, Facebook e Skype.

Com a denúncia de Snowden, os jornalistas responsáveis pela matéria, Glenn

Greenwald e Laura Poitras, na reportagem enviada pela Revista Istoé, na edição de

11 de março de 2014, agiram conforme descreve Christofoletti (2008, p. 45): “Não

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convém ao jornalismo ficar a serviço de governos, mas sim fiscalizá-los e denunciar

ações inapropriadas e danosas à coletividade”.

Países como França, Alemanha, México, Venezuela, Equador e

Argentina, dentre outros, segundo Snowden, são alvos de espionagem por meio das

redes de comunicação pertencentes aos Estados Unidos. Acusado de vazar

informações sigilosas dos Estados Unidos, deixou o governo perplexo, ao mesmo

tempo em que suscitou a seguinte reflexão, sobretudo em um caso como esse, em

que alguém defende os interesses do público: “a mídia nunca pode cooperar com o

governo? Essa é uma situação muito delicada, principalmente porque podem estar

em jogo os interesses da população ou as regras do jornalismo”.

(CHRISTOFOLETTI, 2008, p. 45).

Snowden está exilado na Rússia, estima a ajuda que recebe dos direitos

humanos e dos países como Rússia, Brasil e outros, além do apoio dos jornais e

jornalistas aos quais confiou as informações. E afirmou: "Não tenho nenhuma

intenção de me esconder, porque sei que não fiz nada de errado", afirma Snowden. A

segurança pública, a ética e os direitos humanos são casos de análise no

jornalismo, que acompanha esses movimentos diariamente. “Aliás, o jornalismo não

pode estar distante dos centros decisórios, seja porque também se constitua num

importante player no jogo das relações sociais, seja porque precisa cobrir e

acompanhar esses movimentos.” (CHRISTOFOLETTI, 2008, p. 41).

2.3 Sobre o sigilo das fontes no Jornalismo

No filme “Faces da Verdade” evidenciam-se conflitos éticos, dentre os

quais o principal envolve a fonte jornalística. Onde discorre-se mais sobre a

importância da fonte para o jornalismo, já que, de acordo com Christofoletti (2008, p.

41), “não se tem notícias sem apuração, checagem de dados e confirmação de

versões”, assim como também “não se faz jornalismo sem fontes de informação [...]”.

Um comportamento ético pressupõe a omissão da verdade ou pode se

manifestar com base no Código do Jornalista? Que limites existem entre a

divulgação dos fatos de interesse público e o resguardo da fonte? Conforme o art. 5º

do Código de Ética do Jornalista Brasileiro (FEDERAÇÃO NACIONAL DOS

JORNALISTAS, 2007, p. 1), “É direito do jornalista resguardar o sigilo da fonte.”

Compreende-se que o jornalista tem esse direito disponível, que também não deixa

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de ser ético, de não revelar uma fonte quando esta não autoriza que seus dados

sejam divulgados, seja por razões pessoais ou motivos de segurança.

Lage (2008, p. 96) afirma que se o jornalista tem consciência de seu

papel, não tanto por causa das leis postas, o direito de manter sigilo sobre as suas

fontes pode ser aplicado a muitos casos, mas não a todos, cabendo-lhe discernir

sobre aqueles a que se aplica.

Para Alsina (2009, p. 162), a construção da notícia tem suma importância

para a profissão e os acontecimentos são o alicerce que oportunizam este

levantamento. “Os acontecimentos são um conjunto de fatos conhecidos. Um

acontecimento é uma informação [de] que alguém lança mão [...], num determinado

momento, para estruturar sua experiência”. O autor fala da importância que as

fontes assumem nesse processo:

O tema das fontes é uma parte muito importante no processo produtivo da noticia e o estudo do profissionalismo jornalístico. O elo entre acontecimento-fonte-notícia é básico para a construção da realidade jornalística. (ALSINA, 2009, p. 162).

Sobre a conduta de um jornalista em relação a sua fonte, Rossi (2007, p.

51) observa que esta pode até ser corrompida pela vaidade de aparecer nos jornais

ou revistas, ou ser estimulada pelo jornalista a querer aparecer, e para isso há

caminhos fáceis, porém, “o caminho correto é fazer-se respeitar pela irrestrita

dignidade no comportamento pessoal e profissional”. Há muitos exemplos de

repórteres que são respeitados por suas fontes de informação pela maneira como

veiculam as notícias, mesmo quando não os agradam:

Extrair dessas fontes informações que as prejudiquem é, evidentemente, muito difícil, se não impossível. Cabe, então, ao repórter, pesar cada informação passada pelas fontes, confrontá-la com outras, oriundas de outros informantes, avaliá-la em função de seus próprios conhecimentos ou informações anteriores sobre o seu tema – e, assim, compor seu próprio quadro. (ROSSI, 2007, p. 51).

Para Christofoletti, um jornalista depende de sua fonte e precisa confiar

nela, mas, na mesma medida, deve também desacreditar das informações que lhe

são passadas, como forma de investigar o que está por trás de suas palavras, na

busca pela verdade, e afirma: “Confuso não, mais é assim que acontece todos os

dias”. Para o autor, “o drama, para jornalistas e empresas é gerenciar as distâncias

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entre duas fontes sem desviar-se das funções que diz desempenhar”.

(CHRISTOFOLETTI, 2008, p. 41).

Quando há desrespeito para com a fonte jornalística, que limites podem

existir entre profissionalismo e confiança de que uma informação não irá escapar?

Encontrar e manter uma opinião sobre as opções acerca de como deve ser o mundo

fornece o estofo moral necessário para se julgar uma situação e compreender o que

é bom e o que não é. Isso significa que “É preciso ter opinião para poder fazer

opções e olhar o mundo da maneira que escolhemos. Se nos eximimos disso,

perdemos o senso crítico para julgar qualquer outra coisa.” (ABRAMO, 1999. p. 9).

O jornalismo se distingue da fofoca, do boato e do diz-que-diz por esse

compromisso de oferecer informação confiável e responsável, entre outras

importantes diferenças. Por isso, todos os dias jornalistas saem às ruas, ligam para

suas fontes, entrevistam, pesquisam e investigam (CHRISTOFOLETTI, 2008).

Os problemas éticos levantados por Lage (2008, p. 96) e que estão

relacionados com as fontes referem-se ao que pode ou não ser divulgado, ao que o

público pode ou não saber e ao que é privado, de interesse apenas da fonte:

O que acontece com as celebridades e personagens-tipo chama a atenção não apenas dos jornalistas, mas de qualquer pessoa. Se um homem caminha bêbado pela calçada, não merecerá mais que um olhar; se é um politico ou um cantor popular, não faltará quem registre o fato e saia comentando. (LAGE, 2008, p. 97)

Afirma ainda Lage (2008, p. 97) que tudo aquilo que é do mundo privado

tem a tendência de tornar-se público quando há pessoas notáveis envolvidas nas

publicações ou então vão para o extremo de divulgar os excluídos. Nessa forma de

fazer jornalismo se questiona o tratamento dado às fontes.

Em seu livro “A arte de fazer um jornal diário”, Noblat diz que “A melhor

fonte de informação não é a que sabe tudo, mas a que nos conta o que sabe.”

(NOBLAT, 2003, p. 62). Para Christofoletti (2008, p. 41), assim como a notícia não

pode ser feita sem apuração e confirmação das versões, não se pode fazer

jornalismo sem as fontes de informação.

Por que é difícil cultivar as fontes de informação, se Rossi (2007, p. 51)

considera esse cultivo “[...] exercício indispensável ao jornalista [...]”? O autor

responde afirmando que existem numerosas maneiras de um jornalista se cercar de

fontes, e que e a única delas que se torna mais difícil é, na verdade, a única correta,

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porquanto requer “[...] rigorosa honestidade no trabalho jornalístico”. Ou seja, a

honestidade é fundamental para o trabalho jornalístico nos dias de hoje, e a

segurança da informação é importante.

O que pode levar uma pessoa a contar ao jornalista tudo que sabe?

Como já mencionado anteriormente: a confiança, sem a qual esse depoimento não

seria possível. Para Noblat, “[...] não basta para o jornalista dispor de boas fontes e

em grande número. É necessário cuidar bem delas. Procurá-las sempre, mesmo que

seja só para jogar conversa fora. E treiná-las. Sim, treiná-las. Fonte se treina. Como

se treinam repórteres” (NOBLAT, 2003, p. 62). Ou seja, fidelizar alguém é também

papel do jornalista, já que não é a quantidade que importa, e sim o relacionamento

entre a fonte e o jornal.

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3 O CINEMA COMO REFLEXO DA REALIDADE JORNALÍSTICA

A proposta deste capítulo é fazer a análise de conteúdo do filme “Faces

da Verdade”, apresentando-se, inicialmente, a metodologia utilizada para a análise e

os elementos que serão empregados na pesquisa. Debate-se brevemente sobre o

jornalista visto no cinema e na vida real para, então, seguir para o tópico

subsequente.

Inicialmente apresentam-se os dados técnicos do filme, indicando quem é

o diretor e a atriz protagonista, para, então, se adentrar um pouco no assunto da

jornalista que inspirou o filme: Judith Miller, que passou 85 dias presa por não

revelar sua fonte ao Júri dos Estados Unidos.

A análise das mensagens de conteúdo e as informações que estão

implícitas nas cenas principais iniciam com a descoberta da identidade da agente do

FBI. Na segunda cena, evidencia-se a reunião da jornalista com a equipe com o fim

de divulgar a matéria, revelando o nome da agente. Na terceira, ocorre o encontro

da jornalista com a agente. Na quarta cena se visualiza uma conversa com o

promotor de justiça. E na quinta cena acontece a prisão da jornalista Rachel

Armstrong defendendo sua fonte. Na sequência, cita-se a Lei de proteção dos

agentes federais do FBI, de 1982, e a Emenda Constitucional sobre a liberdade de

expressão. Em todas as cenas, discute-se sobre o conteúdo das mensagens,

citando-se os autores que contribuem para as discursões.

No segundo tópico discute-se sobre o compromisso da jornalista com a

fonte ao permanecer na cadeia e sobre os embates éticos travados para que isso

aconteça. Discorre-se sobre a cena em que Rachel Armstrong é entrevistada pela

apresentadora de TV dentro da unidade penitenciária, depois, sobre a cena em que

aconteceu a reunião com as pessoas da Casa Branca e com os advogados

envolvidos na causa, para que ela possa revelar a fonte. Também se discute a cena

em que o advogado vai à Suprema Corte defender a jornalista e, ao final, a última

cena deste tópico, em que a jornalista é libertada pelo Juiz e presa novamente pela

apelação do Promotor Federal.

Realiza-se o desfecho da análise no tópico três, com a última cena do

filme acompanhada dos comentários que respondem à pergunta de partida: Qual a

importância ética existente no fato de se resguardar uma fonte jornalística? Discorre-

se sobre o que levou o diretor Rod Lurie, inspirado no caso de Judith Miller, a dirigir

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as cenas do filme “Faces da Verdade”. Adota-se a análise de conteúdo como

recurso metodológico para a discussão do filme.

De acordo com Duarte e Barros (2008), a análise de conteúdo envolve a

exploração e a discussão das ideias passadas nas mensagens, nas cenas do filme a

ser analisado. Segundo os autores, a análise de conteúdo permite que o objeto seja

programado, comunicado e avaliado de maneira critica. Na análise de conteúdo, de

acordo com os autores em estudo, admite-se que os dados obtidos sejam

relacionados ao contexto. Busca-se, por seu intermédio, a compreensão do que está

por trás do conteúdo implícito das mensagens do objeto de estudo em análise, o

filme “Faces da Verdade”.

Ainda para Duarte e Barros (2008), a análise de conteúdo caracteriza-se

como uma pesquisa exaustiva em documentos cujas informações vão oportunizar a

resposta ao problema que norteou a sua realização.

Bauer e Gaskell afirmam que a análise de conteúdo apresenta duas

dimensões principais: a análise sintática e a semântica, a primeira destinada a

descrever os meios de expressão e influência na forma como algo é dito ou escrito.

Assim, busca-se analisar sintaticamente o fato de que “A frequência das palavras e

sua ordenação, o vocabulário, os tipos de palavras e as características gramaticais e

estilísticas, são indicadores de uma fonte e da probabilidade de influência sobre uma

audiência” (BAUER; GASKELL, 2008, p. 193). No procedimento semântico, os

mesmos autores afirmam que o foco é dirigido para a relação entre os sinais e seus

sentidos normais, conotativos e denotativos de um texto, já que a semântica tem a

ver com “o que é dito em um texto”.

Há dois pontos importantes que precisam ser esclarecidos antes de se

iniciar a análise de conteúdo propriamente dita. O primeiro é que o jornalista é visto

no cinema de uma forma diferente de como se apresenta na vida real. De acordo

com Xavier (1996, p. 88), o sucesso do jornalista no cinema se deve a mais de uma

causa, e o principal motivo desse êxito é que os temas de jornalismo, ligados a

imprensa têm como base a afinidade entre o cenário e os temas, “de um lado o

contexto fortemente afetivo que une o leitor ao jornal e, de outro, as afinidades

internas que aproximam os registros jornalístico e cinematográfico”.

O segundo ponto diz respeito à existência de aspectos em comum entre

jornalismo e cinema, ambos “participa[ndo] de uma mesma vizinhança técnica, se

partilha[ndo] os mesmos artefatos técnicos e uma mesma concepção, de registro,

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havendo uma estreita conexão entre a narrativa cinematográfica tradicional e a

narrativa jornalística mais consagrada”, resultando, por conta da compatibilidade

técnica e narrativa, em que “a personagem do jornalista se adequa de modo

exemplar ao tratamento cinematográfico mais convencional” (XAVIER, 1996, p. 89).

Em se tratando de elementos da narrativa, pode-se afirmar, de acordo

com Bourdieu (1997, p. 25), que “a televisão convida à dramatização, no duplo

sentido: põe em cena, em imagens, um acontecimento e exagera-lhe a importância,

a gravidade, e o caráter dramático trágico”, e que o mundo da imagem é dominado

pelas palavras, portanto, uma foto nada seria sem a legenda, pois é ela “que diz o

que é preciso ler” (BOURDIEU, 1997, p. 25)

Tanto no cinema quanto no jornalismo, a questão técnica e os recursos

narrativos e de linguagem foram desenvolvidos com suas características próprias a

fim de registrar e garantir, para o jornal, a afirmação do seu propósito para o cinema,

ambos relacionados à insistência de aproximação com a realidade das imagens

(XAVIER, 1996).

Como já se viu no tópico três do capitulo um, a prática da profissão do

jornalista não está tão parecida com a imagem que dela fazem no cinema. Para

Xavier (1996), no cinema, geralmente os filmes conferem ênfase à figura do

jornalista como um ser vocacionado.

A estratégia do discurso cinematográfico é a de colocar esse personagem

em evidência, enfatizando suas ações e tornando-o um ser individual com um

conjunto de qualidades profissionais “que propiciam um estado de disponibilidade e

alerta permanentes e se explicitam justamente como um impulso à ação: a vocação

jornalística” (XAVIER, 1996, p. 93)

Para Bourdieu (1997), a imagem tem uma característica peculiar, capaz

de produzir o que críticos literários afirmam ser o “efeito real”, porquanto “[...] pode

fazer ver e fazer crer no que faz ver. Esse poder de evocação tem efeitos de

mobilização”. A imagem, no cinema ou no jornalismo televisivo, “[...] pode fazer

existir ideias ou representações, mas também grupos. As variedades, os incidentes

ou os acidentes cotidianos podem estar carregados de implicações políticas, éticas

etc.” (BOURDIEU, 1997, p. 28).

Essas implicações podem desencadear diversos tipos de sentimentos em

seus interlocutores, porquanto “[...] construção social da realidade capaz de exercer

efeitos sociais de mobilização (ou de desmobilização)” (BOURDIEU, 1997, p. 28). O

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autor acrescenta que “A televisão tem uma espécie de monopólio de fato sobre a

formação das cabeças de uma parcela muito importante da população.”

(BOURDIEU, 1997, p. 23).

3.1 O filme “Faces da Verdade”: a defesa do sigilo da fonte

Apresenta-se, aqui, a ficha técnica do filme “Faces da Verdade”,

originalmente intitulado “Nothing But the Truth”, filme norte-americano, de gênero

Drama, que foi lançado em 2008 pelo diretor Rod Lurie, que também produziu filmes

como “Straw dogs”, “O Renascer do campeão”, “O último castelo” e o “Jogo de

poder”. Baseado no caso da jornalista Judith Miller, que passou 85 dias na prisão

por não querer revelar a fonte de suas informações. A protagonista do filme foi

vivenciada pela atriz Kate Beckinsale, que atuou em filmes como "Escrito nas

Estrelas", "Pearl Harbor", "Anjos da Noite" e "Click".

Das informações contidas no Jornal Folha de São Paulo de 9 de setembro

de 2011 (SÁ, 2011), o caso da jornalista Judith Miller, que inspirou a produção do

filme “Faces da Verdade”, apresenta fatos relacionados aos percalços que ocorrem

na Casa Branca em razão do vazamento de informações de segurança pública dos

Estados Unidos, algumas delas provocadoras de polêmicas relacionadas à liberdade

de imprensa e de expressão dos jornalistas responsáveis pelas matérias.

Segundo o Jornal Folha de São Paulo de 3 de novembro de 2005

(CASO..., 2005), Judith Miller teve acesso a documentos que revelavam uma

organização Islâmica acusada de financiar atividades terroristas. A divulgação do

nome da agente da CIA Valerie Plame, mulher do embaixador americano Joseph

Wilson, “envolve informações sobre a suposta existência de armas de destruição em

massa no Iraque”, um dos principais motivos alegados pelo governo do presidente

George W. Bush para o início da guerra do Iraque.

Após ficar 12 semanas presa por não querer revelar quem foi a fonte que disse a ela o nome da agente da CIA, a repórter do jornal americano "The New York Times" Judith Miller -- que teve acesso à informação sobre a identidade de Plame -- é solta porque sua fonte lhe dera permissão para testemunhar perante uma corte que investiga o caso. A fonte da repórter era Libby. (CASO..., 2005).

“Faces da Verdade” é uma ficção, baseada em fatos reais, cujas cenas

serão objeto de análise na continuidade.

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Na primeira cena do filme, durante um atentado ao presidente dos

Estados Unidos, uma fonte revela à jornalista Rachel Armstrong que Erica Van

Doren, interpretada pela atriz Vera Farmiga, era agente da Cia dos Estados Unidos.

Armstrong é colunista de política e escreve para o jornal “Sunday Times”.

A cena dois demonstra que a equipe de jornalismo queria adiantar a

publicação da matéria, que “[...] poderá ser um furo”, como alerta Bonnie,

interpretada pela atriz Angela Basset, diretora de redação. Sobre essa avaliação da

personagem, Martins (2008, p. 97) considera que “Há furos e furos. Uns referem-se

a informações extremamente relevantes, outros, a fatos de menor importância”,

apontando para a importância de que mesmo “quando o repórter não estiver

totalmente seguro da noticia, só vale a pena correr riscos no primeiro caso”, em que

as informações são relevantes. No segundo, o impacto da suposta exclusividade da

informação é tão pequeno que não compensa a ameaça a sua credibilidade.

Ainda na cena dois, durante a reunião com a redação do jornal, a

jornalista Rachel considerou, com a sua equipe, a ideia de divulgação imediata da

matéria, afirmando o seguinte: “é eu sei, é como o „Watergate‟, vai chocar o país,

mais que isso, vai „derrubá-lo‟”. Bonnie chamou-lhe a atenção com essa declaração,

para que tivesse cautela. Rachel desculpou-se, alegando empolgação. Bonnie

conclamou a equipe a pensar com objetividade e perguntou a Rachel: “o que falta

para vc escrever essa matéria”? Armstrong esclareceu: “Objetivamente vamos

incendiar a Casa Branca, falta Ligar para a Casa Branca, falarei eu mesma com Van

Doren.” (FACES..., 2008).

As declarações dos jornalistas permitem evidenciar a emergência da

matéria e a empolgação com a escrita do texto para sua divulgação no menor tempo

possível, para que não se tivesse que refletir muito sobre os riscos. Afirmações

fortes como “vamos incendiar a Casa Branca” remetem à reflexão: será que ela

queria incendiar a Casa Branca? Seria ético para um jornalista desejar isso? Embora

exista uma causalidade na afirmação, é bom para um profissional do jornalismo,

mesmo não sabendo o que pode acontecer com a divulgação de uma matéria dessa

natureza, pensar nas consequências que sua ação pode desencadear?

Para Noblat, “Jornalista é jornalista o tempo todo. Em qualquer lugar onde

estiver”. Portanto, sem se preocupar se a informação vai fazer bem ou mal a quem a

forneceu ou a qualquer pessoa, “Se tiver acesso a uma informação de interesse

público e se estiver convencido de sua veracidade, deverá publicá-la”. (NOBLAT,

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2003, p. 64). Aqui o autor fala sobre a questão ética de informar com veracidade.

Mas, e o compromisso com a fonte, como pode ser identificado no filme?

Um dos diretores no filme, o Sr. Avril, interpretado pelo ator Noah Wyle,

disse: “estou curioso, por que não falou com Van Doren ainda? Legalmente a

história é sólida, tudo está se encaixando, não há nenhum problema. A propósito,

Rachel, eu queria saber quais são as suas fontes.” Bonnie prontamente respondeu:

“Nós temos duas fontes que confirmam as informações e Rachel não se sente

confortável em revelá-las. A carta de Van Doren ao diretor da Cia, que os federais

deram a Rachel, é o suficiente pra publicar” (FACES..., 2008).

A jornalista já tinha o contato da fonte. Para Nuzzi (2007, p. 113), “Há

quem afirme que o bom jornalista, além de sua capacidade técnica cultural, precisa

apenas de um bom caderno de telefones e de fontes bem situadas”. O autor diz que

é preciso dispor sobre o resguardo do sigilo, proposto na lei, e que isto “é a

salvaguarda dos jornalistas quanto às fontes informativas, indispensáveis à atividade

profissional” (NUZZI, 2007, p.113).

Ao que se percebe a jornalista não queria revelar a ninguém a verdadeira

identidade de sua fonte. De acordo com Barbeiro (2003, p. 31), “O uso de fonte

identificada, desde que não haja necessidade de protegê-la, é fundamental para

credibilidade da imprensa”.

O diretor representante do jornal Sunday Times, Sr. Avril, afirmou, durante

a reunião: “Há dois lados da moeda, eu só digo o que pra vocês está de acordo,

talvez para o governo não esteja, as leis são implacáveis”, ao que Rachel retrucou:

“Desculpe, eu não entendi”. Avril reitera, esclarecendo: “É ilegal para o pessoal do

governo revelar a identidade de um agente da CIA”. A resposta de Rachel a Avril

parecia ter um ar de descontração: “Tá, eu não sou oficial do governo”. Afirma,

então, que iria encontrar com a agente da CIA Erika Van Doren, dizendo que seus

filhos estudam juntos.

Na cena três do filme “Faces da Verdade”, durante o encontro com Van

Doren, Rachel diz-lhe que acha interessante que seus filhos estudem na mesma

escola, e que está escrevendo uma história, e que trabalha para o Jornal Sunday

Times, e escreve nas colunas de terças-feiras do editorial. E acrescenta que, em sua

matéria no jornal, dirá que Erica Van Doren é uma agente da CIA e que estava em

uma missão para reunir provas contra a Venezuela, para determinar se o governo

era responsável pela tentativa de assassinato do presidente “Lion”.

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Rachel sabia que Van Doren estava envolvida nesse trabalho da CIA, e

que a agente conseguiu identificar que o governo não era o responsável pelo ataque

ao presidente Venezuelano, informando isso a seus chefes da CIA. Comunicou

também a Van Doren que diria na matéria que a Casa Branca ignorou as

descobertas da agente e lançou, mesmo assim, ataques declarando que ela estava

só, e que observava a tentativa do assassinato. Para Nuzzi (2007, p. 115), “É certo

que o sigilo da fonte não deve ser utilizado para proteção de crimes ou de

criminosos”. Na realidade, o que se observa é que o sigilo não foi utilizado para

proteger a criminalidade política.

Van Doren irritou-se e disse, sobre a matéria que ela iria escrever, que

era a coisa mais estúpida de que havia tido notícia, chamando a imprensa de

“maldita”, afirmando que isso era contra o marido dela: “como eu posso ser uma

agente da CIA se eu não consigo nem usar o sistema de navegação do carro, isso é

absurdo, seu jornal só quer ferrar o meu marido, desde que ele falou mal da

administração”. Van Doren disse que a fonte de Rachel era 110% falha. A jornalista

respondeu que sua fonte era impecável, e que tem relatórios e descobertas que

confirmam que Van Doren é agente da CIA (FACES..., 2008).

O Manual de jornalismo, em uma de suas dicas para que os profissionais

se relacionem eticamente com suas fontes, ensina que “O Jornalista não pode ter

amizade pessoal com a fonte. Quem se envolve em amizade pessoal com suas

fontes corre o risco de ficar limitado ou influenciado por ela” (BARBEIRO, 2003, p.

32).

Para Erika Van Doren, a informação estava sendo manipulada, já que

havia um conflito existente entre o seu marido e a administração do jornal. No

entanto, pelo que se constatou na reunião que houve no princípio, não havia nada

contra o marido dela, e nada foi declarado nas cenas do filme a esse respeito. De

acordo com Vicchiatti (2005, p. 21), “Os jornalistas não têm a clara noção de que

manipulam a informação e por isso deveriam ter consciência de seu importante

papel social”.

A pergunta que cabe fazer é: ela desrespeitou a confiança de sua fonte,

sem medir as consequências, ao procurar a agente da CIA fazendo essas

declarações? Ainda, divulgar a verdade na matéria do jornal, ou agir de acordo com

a necessidade de divulgação da informação, foi melhor, já que era um fato tão

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recente? Para Barbeiro (2003, p. 31), “O jornalista não divulga notícias para agradar

ou desagradar suas fontes. Seu compromisso é com a verdade”.

Após o encontro com Van Doren, Rachel se dirigiu à Redação do Jornal

para escrever o texto, e afirmava: “Isso vale cada centavo que não ganho”, e passou

a noite toda escrevendo a matéria. Enquanto isso, um dos agentes da CIA, em uma

conversa com Van Doren, tentava descobrir se ela era a fonte da jornalista Rachel.

Na cena quatro, a jornalista é convidada a manter uma conversa

particular com o promotor especial Patton Dubois, interpretado pelo autor Matt

Dillon. Esse tipo de promotor, segundo relatado no filme, tem mais poderes que uma

agência federal. Ela tinha ido buscar seu filho na escola e foi levada imediatamente

a falar com o promotor. Durante a conversa disse à jornalista que não podia proteger

uma fonte: “Há uma lei de 825. O ato de proteção da identidade da inteligência (sua

fonte vai ter um grande problema). Será desacatada pelo júri se não revelar sua

fonte” (FACES..., 2008).

A deputada Laura Carneiro publicou uma matéria no site de Consultoria

Jurídica sobre o Projeto de Lei nº 6.873, de 2006, que diz, em seu art. 9º- B, o

seguinte: “Revelar a identidade de profissional de Inteligência, fora das hipóteses e

condições previstas na lei: Pena: reclusão, de um a cinco anos”. A mesma afirma

que se baseou na Lei norte-americana de 1982, ato de proteção à identidade da

inteligência dos Estados Unidos, em que a divulgação da identidade secreta de

funcionários da inteligência, de agentes e de informantes, em geral, é considerada

crime desde 1982, e que "a preservação da identidade desses profissionais é

fundamental para que o Sistema Brasileiro de Inteligência cumpra seus objetivos,

sendo a preservação da soberania nacional uma das principais metas" (BRASIL,

2006).

A reação do diretor do Sunday Times foi de extremo nervosismo,

afirmando que ela não deveria ter ido falar com o promotor sem a orientação da

empresa, que o comportamento do FBI estava sendo polêmico, que estava

preocupado com a possibilidade de ela fornecer o nome de suas fontes, ao que ela

respondeu que não havia informado e não informaria nunca. A jornalista se sentia no

direito de proteger sua fonte, mas o governo federal não entendia do mesmo modo,

5 O nome do agente é preservado pela reportagem por recomendação de analistas da Abin

consultados pelo Estado, em razão da Lei de Proteção de Identidade de Inteligência, de 1982. Embora não alcance outros territórios, como o Brasil, a legislação americana pode ser usada para atingir os envolvidos em outras circunstâncias (MONTEIRO, 2013).

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por causa da segurança nacional. “Os 49 estados têm proteção contra jornalistas, o

governo federal luta contra um principio, e se alguém revelou informação

ultrassecreta para Rachel é um ato de traição, é assim que eles vêem”, palavras do

Diretor do Sunday Times, Sr. Avril (FACES..., 2008). A diretora de Redação, Sr.ª

Bonnie, afirmou que a administração iria recuar, quando visse até onde o jornal iria

para proteger a jornalista.

Depois dessa conversa, a agente da CIA procurou a jornalista Rachel e

tentou saber amigavelmente quem era a fonte, se era alguém próximo, e a jornalista

não revelou. Van Doren usou palavras de baixo calão e Rachel Armstrong se retirou

do local de encontro. Agora Rachel teria que refletir sobre a divulgação da fonte.

Para Nuzzi, “Em circunstâncias especiais, a divulgação ou não da fonte caberá ao

próprio profissional, para preservar interesses maiores da sociedade” (NUZZI, 2007,

p. 115).

Na Vara Jurídica a Jornalista foi anunciada como correspondente de

politica nacional (uma delas). E foi recebida com a seguinte pergunta do Juiz: “Quem

é sua fonte”? A jornalista se negou a responder a essa pergunta, invocando, em sua

defesa, a Primeira Emenda Constitucional e a Lei Federal de 826.

Congress shall make no law respecting an establishment of religion, or prohibiting the free exercise thereof; or abridging the freedom of speech, or of the press; or the right of the people peaceably to assemble, and to petition the Government for a redress of grievances. (UNITED STATES OF AMERICA, 1791).

O Promotor indagou, como quem sonda: “você é uma das Repórteres de

política do jornal”? E ela respondeu que sim. Ao que parece ele a indagava para

saber se ela publicara a matéria e se se sentia à vontade com a veracidade da

apuração, averiguando se havia agido dessa forma a fim de conseguir sucesso na

carreira, mas a resposta dela foi: “sou uma entre as milhares que existem”, dada em

tom de informação. O Juiz então perguntou: “A Sr.ª Rachel está ciente de que se

alguém reconhecer não oficialmente a identidade de um agente da CIA está proibido

por lei de divulgar essa informação”? Ela disse que está ciente e que não pode

revelar a fonte. Seu advogado era conhecido por vencer audiências, e, ao que foi

constatado no filme, era amigo próximo do Ex.º Sr. Juiz, e mesmo assim, não houve

6 Tradução livre: O Congresso não deve fazer leis a respeito do estabelecimento de uma religião, ou

proibindo o seu livre exercício; ou diminuir a liberdade de expressão, ou da imprensa; ou sobre o direito das pessoas de se reunirem pacificamente, e de peticionarem ao Governo para a reparação por agravos. (UNITED STATES OF AMERICA, 1791).

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influencias na decisão de prisão da jornalista, pois, não revelar o nome da fonte,

nesse momento, ia de encontro às normas de segurança nacional (FACES..., 2008).

Ao que se pode analisar, a jornalista negou-se a revelar ao juiz quem lhe

confidenciou o assunto, já que informar o nome da fonte iria de encontro às normas

de segurança nacional, segundo as quais um agente do FBI não pode ter sua

identidade revelada. Por outro lado, as próprias normas violam a Primeira Emenda

Constitucional, que confere ao jornalista a prerrogativa da liberdade de expressão e

de imprensa. Que se pode afirmar? Foi falta de ética revelar o nome da agente? Ou

não foi ético manter sigilo sobre a fonte jornalística, já que não revelar a fonte ao

Juiz é considerado um crime para os Estados Unidos, como diz a Lei de 1982 de

proteção de identidades da inteligência?

O Ex.º Juiz, Sr. Hall, permitiu-lhe ir a casa falar com a família, com o

editor do jornal e com a fonte. Rachel, porém, afirmou que não iria fazê-lo, voltando

do intervalo a ela cedido duas vezes seguidas num mesmo dia. O advogado recebeu

a intimação do governo para que Rachel revelasse a fonte no mesmo dia, caso

contrário, incorreria em desacato. Mesmo sob a tentativa do advogado, Sr. Albert,

não houve espaço para argumentações, e Rachel Armstrong foi presa

imediatamente, a requerimento e por influência do promotor federal. De acordo com

Vicchiatti, “A manipulação nada mais é do que a capacidade de usar a persuasão

como aliada" (2005, p. 28).

Na cena cinco, a jornalista, agora na cadeia, deveria usar roupas comuns

a todos os presidiários. Armstrong teve seus pertences - joias, roupas - confiscados

na recepção do presidio, já que não são permitidos acessórios de valor lá dentro,

recebeu da policial todas as instruções para a permanência no local, e estava,

agora, em uma cela com as “moças boas” da prisão, que gritavam umas com as

outras na hora em que ela se dirigia para sua cama. Na visita que recebeu de seu

filho, ficou chocada com o tratamento que recebia na presença da criança, já que

não poderia receber o lanche que lhe levara. Decidiu que era melhor que seu

esposo e pai da criança não o levasse mais até lá.

Passando até o 105º dia presa, na cena seis é levada até o júri e o

advogado, Sr. Albert, pediu para que o juiz a liberasse até que o tribunal de

apelação pudesse julgar a validade da acusação. O Ex.º Juiz, Sr. Hall, interpretado

pelo ator Floyd Abrams, respondeu: “Em primeiro lugar, isso acabaria invalidando o

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motivo da prisão; ela tem a chave da sua própria cela”. Para Sr. Albert, “uma chave

que tem forma de perda de identidade não é chave nenhuma” (FACES..., 2008).

Mais uma vez o Ex.º Juiz declarou: “A integridade é subjetiva, Srª

Armstrong, estou em seu favor, mas tem que me ajudar. Pode afirmar para mim que

irá para casa, pegará o telefone de sua fonte e ligará ou contatará seu informante e

tentará uma autorização para revelar o nome dela e pôr fim a tudo isso?”. A

jornalista respondeu que seria desonesta se dissesse que poderia fazer isso, então,

o Sr. Hall disse: “não posso fazer nada, a petição será negada” (FACES..., 2008).

Nuzzi (2007, p. 118) observa que “A preservação da fonte de informação é uma

garantia da liberdade de imprensa”, motivo pelo qual, aparentemente, a jornalista

não revelou a fonte.

O promotor, Sr. Dubois, pediu ao juiz que aplicasse ao jornal Sunday

Times uma multa diária de 10 mil dólares até que a jornalista revelasse a sua fonte.

O diretor de redação, Sr. Avril, respondeu que, como eles não têm o nome da fonte,

não podem ser responsabilizados. Insistentemente, falando como Juiz, o promotor

afirmava: “O jornal não só apoia, mas também encoraja a jornalista a continuar em

silêncio, devendo ser obrigado pelo juiz a demiti-la se ela não confessar.“. A

resposta de Avril, diretor representante do Sunday Times, na audiência, foi que não

iria demiti-la: “isso nem pensar”.

Sobre a relação entre o advogado, a jornalista e a empresa Nalini observa

que “A divulgação de dados que só interessam ao individuo é coibida, por força de

preceito constitucional que protege a privacidade”. Ou seja, a jornalista está

protegida por preceito constitucional de qualquer informação que possa vir a vazar

sobre a sua fonte, inclusive sobre a empresa. Para Nalini:

Todos os responsáveis têm o dever de adotar as precauções mais rigorosas para o acesso à informação, de manter o interessado cientificado e de cancelar as informações quando concluída a relação ou a operação para a qual a sua coleta se mostrou necessária. (NALINI, 2008, p. 304).

Para Karam, uma empresa e seus donos deve promover o bem social,

ajustando-o ao que é necessário para a organização, de maneira que esse “bem”

venha a expressar, “em sua particularidade politica, ideológica, moral e ética a

universalidade mediada de todos os interesses sociais”. A análise que se faz, do

exposto, é que a empresa está do lado da jornalista e, por princípios éticos, a

manterá protegida. Karam explica que é como se a moral e a ética “fossem únicas,

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uniformes, homogêneas” (KARAM, 1997, p. 52), como uma forma de se fazer o que

é certo.

3.2 Conflitos éticos: o compromisso do jornalista com a fonte

Presa há 198 dias, na cena oito do filme “Faces da Verdade”, Armstrong

recebe a notícia de que ganhou o Pulitzer entre os três melhores jornalistas da

editoria de Política. Recebeu a visita da colega do jornal, Sr.ª Bonni, para escrever

um editorial sobre, por exemplo, o fato de ela não poder usar o diário ou ter uma

maçã em seu dormitório, e pelo fato de não poder escrever para sua família. Nessa

visita, a colega de trabalho lhe informou que uma jornalista conhecida na mídia

queria entrevistá-la, porque também era de interesse público e do povo, a fim de que

a reportagem causasse mobilização social para soltá-la, já que não é do interesse

do governo fazer isso. Pode-se compreender a intenção do jornal Sunday Times de

provocar essa mobilização para ajudar Rachel, respeitando ao princípio ético de

defender sua fonte. Pensando sobre isto é que, nesse sentido, a jornalista Rachel

deveria confiar, de acordo com Noblat:

Existe uma lei que lhes permite omitir a identidade da fonte até perante a justiça. Mas se o chefe de vocês perguntar para conhecimento só dele quem foi a fonte de tal qual informação, revelem. Porque, se não confiarem no seu chefe, ele poderá sentir-se desobrigado de confiar em vocês. (NOBLAT, 2003, p. 65).

Ao que se pode observar a jornalista não falou de sua fonte primária ao

jornal Sunday Times, ou a Bonni, sua colega de trabalho mais próxima. Pode-se

dizer que, por isso, ela não confiou na empresa? Ou que não confiava em seus

chefes? Nuzzi (2007, p. 118) diz que “O jornalista não saberá se lá na frente alguém

vai romper a garantia de sigilo que ele deu a fonte”. Parece que a situação da fonte

é um caso complicado, e só será desvendado ao final deste capitulo.

Para Vicchiatti, “o jornalista trabalha com um poder muito perigoso: o de

transformar conhecimentos privados em públicos”. Ilustra-se, na sequência, como a

imprensa, de forma vexatória, é capaz de entrar na vida particular de uma pessoa:

“São muitos os casos em que a imprensa se infiltra na vida particular de políticos,

artistas ou personalidades e dá uma dimensão totalmente pública a fatos de

interesse particular” (VICCHIATTI, 2005, p. 78).

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O advogado de Rachel, na cena nove, presenciou a entrevista que

forneceu à colega de que Bonni falara, e vale ressaltar que dizia a marca de seu

relógio à entrevistadora, já que ele está sempre preocupado com os bens, roupas e

acessórios caros que é capaz de comprar. Na cena quatro, em que foi convidado a

advogar para a jornalista, Albert observava que conhecia o estilista da marca do

blazer que Rachel usava, e que o diretor de redação e o marido dela deveriam

contratar um alfaiate tão bom quanto o dele. Percebe-se que Albert parecia ser um

homem bem ligado às aparências e que, embora apresentando características de

um bom caráter, era uma pessoa materialista.

Nalini concebe um advogado como um profissional com princípios e

comportamento mais reservado, em cuja atuação, não obstante as circunstâncias,

prevalece seu desejo de guardar a intimidade do interessado, no caso, a jornalista:

O homem de bem é um homem discreto. Desprestigia-se – e à categoria – o profissional que comenta com terceiro aquilo que se tornou conhecimento no exercício profissional. Fala-se que o principio da reserva, é mais abrangente que o principio do segredo. Este imporia silêncio quanto à controvérsia ou processo. Já o principio da reserva se estende a todas as demais circunstâncias, nas quais parte ou terceiro venham a ser direta ou indiretamente implicados. O ideal é uma conduta inspirada em uma absoluta reserva, uma circunspecção, prudência na conduta, discrição e recato no trato das coisas profissionais. (NALINI, 2008, p. 303).

Iniciando a pré-gravação da entrevista, ainda na cena nove do filme

“Faces da Verdade”, a jornalista visitante disse a Rachel Armstrong que ali era seu

momento, e não o dela. Que Rachel é que teria substância, que seria sério, foi o que

disseram (mas, analisando-se a cena, as colocações da entrevistadora provaram o

contrário durante a entrevista). O jornal disse que estavam felizes de Rachel ter

aceitado o convite, Rachel disse à jornalista entrevistadora que a admira, e que já

quis ser sua assistente de reportagem uma vez. A jornalista visitante parabenizou-a

pelo Pulitzer, dizendo que estavam com ela e ao lado dela pelo fato de ela estar

nessa situação de prisão. Rachel agradeceu e disse que ela era muito amável.

A entrevista foi uma afronta em todas as perguntas a ela direcionadas. A

entrevistadora perguntava: pelo fato de ela estar lá há sete meses, como se sentia?

Sucintamente respondeu que se sentia fisicamente bem. A apresentadora

prosseguiu dizendo que olha para Rachel e se pergunta como ela consegue lidar

com suas emoções como jornalista, como mãe substituta suburbana, e como

encontra tempo para fazer tudo isso? Está casada com o escritor Ray Armstrong,

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como se sustenta o casamento? Deve ser muito duro! Rachel disse que, quando

acorda de manhã, precisa de tempo para pensar sobre quem é, e que ainda não se

habituou a isso, e vive sob pressão, que “é duro, mas somos fortes, e ele me apoia

muito, muito mesmo, nós somos amigos e isso ajuda.” (FACES..., 2008).

Parece que a apresentadora, diante das câmeras e do público, atacava

cada vez mais a jornalista, que se sentia constrangida com o rumo que as perguntas

iam tomando. Segundo Vicchiatti, “[...] esse sentimento de muito poder, que na

realidade não existe, faz com que os jornalistas ou profissionais de comunicação se

sintam embriagados pela ilusão de poder, rompendo, assim, preceitos estéticos e

éticos, não só da profissão, mas, principalmente, de cidadania” (VICCHIATTI, 2005,

p. 79). O sensacionalismo e o desejo pela audiência, ao que parece, beiravam a

falta de dignidade humana e de ética para com a jornalista presa, mas, porque será

que merecia tais tratamentos?

As perguntas continuam: “Rachel, o que me diz do seu filho e qual a

ultima vez que o viu”? Rachel: Há muito tempo. Jornalista: “Quando”? Rachel:

“quando eu acabei de chegar aqui, mas pedi a ele que não viesse mais me visitar

nesse lugar”. Jornalista: “Isso deve ser brutal, a maioria das mães teria dificuldade

de entender”. Rachel: “A maioria das mães sentiria também dificuldade se estivesse

em minha situação, seria egoísmo receber a visita do meu filho, me pergunto muito

se consigo sobreviver sem ver meu filho, mas eu o conheço e sei o mal que lhe faria

ver-me neste lugar” (FACES..., 2008).

É perceptível o sensacionalismo no tom de voz da apresentadora, que,

provavelmente, sabe que seu programa tem audiência de muitas mães e donas de

casa, atraindo, também, a atenção de milhares de pessoas. Dentro dos padrões da

ética já discutida anteriormente, parece expor a jornalista como uma pessoa

irresponsável, esquecendo-se da existência das leis de proteção à fonte jornalística

e do direito à liberdade de imprensa dispostas na Primeira Emenda Constitucional

anteriormente citada. Para Pereira Júnior:

A ética começa quando em nosso horizonte aparece a necessidade do outro, o que devemos fazer com ele. Numa reação cínica, podemos reagir de forma utilitária: Tomar contato com o outro para aproveitar-se dele, obter lucro. Mas o bicho homem é de tal sorte que essa relação lhe será insuficiente. (PEREIRA JÚNIOR, 2012, p. 45).

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A apresentadora seguia com as perguntas: “vamos direto ao ponto,

porque tenho que tentar! Rachel, quem foi a sua fonte”? Então, com tranquilidade,

disse: “Molly, deixa eu te perguntar: por que tem que tentar? Você quer que uma

jornalista traia sua integridade? Sei que você pode melhor que isso, antes das

câmeras ligadas você disse que estava comigo”. A apresentadora respondeu: “Eu

concordo como você, mas, às vezes, as fontes têm seus motivos”. Então Rachel

complementou:

Se a informação que você consegue tem valor e é verdadeira como os documentos do Watergate ou do Pentágono, os motivos não importam. Qualquer jornalista deveria estar preparado para ir preso para proteger sua fonte. Eu estou dizendo que é para proteger suas fontes como se estivesse dizendo Deus seja louvado. Você nunca terá que se preocupar com o governo atrás de você. [...] Porque o governo não está interessado em quem jantou em Paris ontem à noite. (FACES..., 2008).

Parece que a resposta da Jornalista calou a apresentadora, de modo

semelhante ao que diz Noblat em seu livro sobre a arte de fazer um jornal, segundo

o qual ser ético é estar disposto a perder o emprego, ou ir para a cadeia, para não

desrespeitar o acordo com a fonte (NOBLAT, 2003, p. 65).

Para Vicchiatti, essa “voracidade de informar a qualquer custo, que

culmina em julgamentos dolorosos e imprecisos, é, na maioria das vezes, fruto do

„jornalismo de resultados‟”. Ao que parece, a apresentadora queria tirar proveito da

situação de vulnerabilidade da jornalista presa, aparentava criar uma mensagem

subentendida e preocupar-se com o interesse em conseguir audiência: “O jornalista

não leva em consideração que numa mensagem subliminar pode estar uma

preocupação latente de toda uma coletividade” (VICCHIATTI, 2005, p. 24). Será que

as informações que foram ao ar são “[...] organizadas não somente para informar ao

público, mas para convencê-lo de que as conclusões e decisões são corretas”?

(VICCHIATTI, 2005, p. 27). Pelo que se pode perceber a partir da resposta de

Rachel Armstrong, a apresentadora passou vergonha ao tentar manipular as

informações.

Na cena dez, o Sr. Albert, advogado da jornalista Rachel, encontrou o

marido de Rachel com uma amante e lhe disse: Se você puder dormir à noite, tudo

bem, Ray. Rachel tomou sua decisão e decisões têm consequências. Se você pensa

que sua mulher tem alguma opção nisso tudo, talvez não devessem estar juntos. A

resposta de Ray ao advogado foi: “Se quer contar ou não, fica a seu critério,

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continue seu bom trabalho”. A entrevista fornecida pela Sr.ª Armstrong e a resposta

do Sr. Albert a Ray, quando diz que Rachel “não tem outra opção a não ser defender

sua fonte”, demonstram, no filme, a mudança de comportamento desse homem

materialista, que agora passa a ter uma visão mais humana da situação. De acordo

com Nalini, um advogado deve merecer a confiança de seu cliente:

O operador jurídico ainda exerce uma artesania do direito. Prevalece o caráter essencialmente individual de qualquer das atuações no campo do direito, onde o profissional é escolhido mercê de atributos personalíssimos e não intercambiáveis. Essa realidade é muito mais próxima à advocacia do que às carreiras jurídicas públicas. O cliente constitui seu advogado o profissional que lhe merece confiança. Será o detentor de seus segredos, terá acesso às informações intimas, terá em suas mãos a chave da resolução dos problemas que lhe atormentam. (NALINI, 2008, p. 300).

Após a morte de Van Doren, Rachel é chamada ao Tribunal, na cena

doze, pois pensavam em tudo que aconteceu e que já estava passando dos limites.

Com a morte da agente, os advogados e o juiz se reuniram com a jornalista Rachel

e disseram que todos os agentes e chefes da CIA e toda a equipe da Casa Branca

assinaram um termo de responsabilidade autorizando por escrito que ela pode e

deve revelar a fonte, bastando apenas ela ver a assinatura de quem foi e revelar. A

resposta dela foi de que o presidente está envolvido; ela não quis nem ver as

assinaturas e disse que essas pessoas foram coagidas e ameaçadas pelo governo

da Casa Branca a fazer isso.

No que se propõe até aqui, agir em consonância com os fatos e divulgá-

los são considerados princípio e atitude ética? Que importância existe no fato de a

jornalista Rachel Armstrong manter o sigilo de sua fonte? Estaria ela apenas sendo

integra ou pode ser que estivesse poupando a vida de alguém? Noblat (2003, p. 65)

declarou algo interessante em seu livro, que quando um jornalista assume o

compromisso de manter sigilo acerca de uma fonte, ele está obrigado a honrá-lo. Ao

que se consta, a jornalista se manteve a ética, de honra e compromisso com sua

fonte.

Ainda na cena dez do filme “Faces da Verdade”, o advogado foi conversar

com Rachel na biblioteca, e ela, em tom sério, disse-lhe: “você acha que devo olhar

essas autorizações”? O advogado disse:

Um homem pode ser bom, mas, ao final, o número de pessoas que vai ao seu funeral depende do tempo. Ele quis dizer o tempo mudou, que o público reconheceria que ela é uma heroína, só que a imprensa hoje não tem mais o papel de cavaleiro branco, que agora e imprensa tem papel de dragão,

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não há mais nenhum jornal que cubra ou fale sobre a história dela, e o ciclo de 48 horas da notícia acabou há meses. Seu filho está crescendo e você não pode estar com ele por causa de um principio? (FACES..., 2008).

Sobre a relação ética identificada entre o advogado e a jornalista, Nalini

observa que “Existe, assim, um caráter fiduciário na relação advogado/cliente. O

advogado tem ainda o dever da fidelidade em relação ao seu cliente, pois foi por

este escolhido em razão de particularíssima confiança em seus méritos, capacidade

e pessoa.” (NALINI, 2008, p. 300). Pode-se perceber que existe diálogo e realmente

a preocupação em ajudar a jornalista nessa situação.

Ainda no diálogo com o Sr. Albert a jornalista, em tom de reflexão,

respondeu firmemente:

Um homem pode deixar uma família e ser preso para honrar um princípio, vai para uma guerra, deixa seus filhos, e erguem um monumento em sua homenagem. Uma mulher faz isso e é considerada um monstro? O que vamos fazer Albert? Confiamos em jornalistas desde que não sejam mães porque elas cedem? A verdade é que se essa história ia me separar do Jimi, eu jamais teria escrito, não há jeito de voltar. No final meu filho vai ficar bem, porque o Ray é um grande pai, eu não vou delatar minha fonte porque ela vai ser assassinada publicamente como Erica Van Doren foi, eu garanto, será a destruição da fonte! (FACES..., 2008).

Nuzzi diz, em uma de suas opiniões acerca do sigilo da fonte jornalística,

que, ao longo do tempo, esse tem sido um dos assuntos mais discutidos e debatidos

pela mídia, “Sobretudo pelas tentativas dos governos de desrespeitar ou restringir o

que é garantido pela Constituição” (NUZZI, 2007, p. 113).

Na cena treze, o diretor do Sunday Times, Sr. Avril, sentia pela situação

que a colega de trabalho enfrentava e disse a Rachel, que a sua fonte sabia os

riscos que correria. “Minha fonte não sabia o que estava fazendo quando revelou a

identidade de Erica Van Doren, complementou”. O promotor, Sr. Dubois, recebeu a

informação de que “Stepm” confirma que é a fonte e de que Rachel pediu para ele

confirmar se Erica era agente da CIA. Stepm disse que todos sabem que ela é da

CIA (esposa do embaixador Van Doren). Rachel perguntou a ele se Erika Van Doren

descobriu alguma coisa na Venezuela, ou seja, a jornalista Rachel já sabia, então,

“Stepm” não era a fonte verdadeira, havia uma fonte primária, e todos queriam

descobrir quem era.

No 342º dia, na cena dezesseis do filme “Faces da Verdade”, Rachel foi

espancada na cadeia por ter se irritado com uma mulher que estava deitada na

cama dela e não queria sair. Ao visitar Rachel na prisão no 355º dia, o advogado

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disse que tinha boas notícias, que haveria uma audiência especial para Rachel

Armstrong, que o governo não pode fazer nada contra ela e que aceitaram ouvir

sobre seu caso. O advogado contou, naquela ocasião, que seu marido Ray tinha

outra mulher, e que não concorda que ela esteja defendendo esse principio.

Ninguém poderia compreender porque alguém defenderia uma fonte,

abrindo mão da própria vida para resguardar outra vida. Tal atitude lembra a

mensagem do cristianismo que diz: Ninguém tem maior amor do que este, de dar

alguém a sua vida pelos seus amigos (ALMEIDA, 1956).

No Código de Ética e Disciplina da Ordem dos Advogados do Brasil

(OAB), em seu art. 8º, diz: “o advogado está, em primeiro lugar a serviço da justiça,

mas, direta e secundariamente, a serviço de quem, o constituiu”. Sensibilizado pela

situação de sua cliente, Rachel Armstrong, no filme “Faces da Verdade”, a cena

dezessete contém as palavras do Advogado de Rachel, Sr. Albert, que agora estava

realmente lutando pela jornalista na justiça. Falou à Suprema Corte dos Estados

Unidos, cena dezessete:

Em 1992ª esta corte tomou a decisão contrária ao direito que o jornalista tem de resguardar o nome da sua fonte, diante do grande júri. Deu o poder ao governo de mandar prender os jornalistas que o fizessem. (Decisão de 5 a 4 quase empates). Nesse mesmo despacho o Juiz disse que o poder do governo se tornará cada vez maior. Aqueles que estão no poder seja lá quais forem suas politicas, só querem se perpetuar, e o povo é a vitima, os anos passam e esse poder cresce, e Rachel Armstrong não pode fazer nada contra as exigências do governo. Ela poderia ter abandonado seu compromisso de confidencialidade, poderia ter ido para casa, com sua família, mas, fazê-lo, significaria que nenhuma fonte falaria nunca mais com seu jornal, então amanhã quando prenderem os jornalistas de outros jornais tornarão irrelevantes, estas publicações também. E isso tornaria a primeira emenda irrelevante. E ai como saberemos se o presidente encobriu crimes ou se o oficial do exército torturou alguém? Nos como nação, não podemos responsabilizar os que estão no poder, perante os que não detém tal poder, Qual é a natureza de um governo quando não tem medo de ter que prestar contas? Deveríamos refletir; prender jornalistas é para outros países, para países com medo dos seus cidadãos, não para países que os protegem. A algum tempo comecei a sentir a pressão humana pessoal sobre Rachel Armstrong, e disse a ela que estava ali para apresenta-la, não a um principio, e só quando a conheci é que me dei conta de que para uma grande pessoa, não há diferenças entre os seus princípios e a pessoa. (FACES..., 2008).

Entre o 356º e o 359º dia de prisão da jornalista, na cena dezoito, o

Promotor conversou com o Advogado de Rachel Armstrong e com o Juiz, que os

chamou até sua casa para conversar sobre o resultado da audiência especial do

advogado Albert com a Suprema Corte. Nas palavras do Juiz, Albert “recebeu votos

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contra como antes e o promotor foi chamado novamente, a corte quer ele outra vez”

(FACES..., 2008).

Nalini observa que, no momento atual, em que a informação custa

dinheiro, é difícil crer que os interesses econômicos irão se sujeitar aos cânones

éticos. “Órgãos respeitados na imprensa possuem seus próprios Códigos de Ética.

Nos Estados Unidos eles são muito divulgados, pois se receia venham a ser

conhecidos pelos juízes e aplicados como norma para todos os jornalistas” (NALINI,

2008, p. 254).

O Juiz da vara de prisão da jornalista Rachel Armstrong decidiu mandar

libertá-la. O Promotor foi contra a ordem do Juiz dizendo que ela está protegendo

uma pessoa criminosa e que isso faz dela uma criminosa. O Juiz disse que tem que

deixá-la ir embora da prisão, e que mesmo ameaçada de morte, ela não revelará a

fonte. Finalizou dizendo que ela não é uma criminosa, e só será se for condenada

por um Júri. Nuzzi afirma que não faltam os que tentam dificultar o livre exercício da

profissão de jornalista. “A luta pela liberdade de atuação dos jornalistas é

permanente, porque também não cessam as tentativas de dificultar o livre exercício

profissional dos comunicadores” (NUZZI, 2005, p. 121).

Na cena dezenove do filme “Faces da Verdade”, mesmo diante da ordem

do Juiz responsável pela causa de liberação da Jornalista, o Promotor apelou ao

Supremo Tribunal para que ela continuasse presa. No caminho para casa, com sua

colega de trabalho Bonni, o Promotor seguiu-as com a polícia para mandar prendê-

la de novo, recorrendo ao mandado de prisão. Mandou-a descer imediatamente do

carro, prendeu-a como se fosse uma criminosa, afirmando ser ela acusada de

esconder a informação criminal da corte, completando a frase: significa que por

destruir a justiça pode vir a julgamento (FACES..., 2008).

O Promotor parecia sentir animosidade pela jornalista que, ao que parece,

não revidava na mesma medida as afrontas recebidas. Presa pelo 363º dia na cena

vinte do filme “Faces da Verdade”, ouviu do Promotor que corria o risco de ser

condenada por cinco anos por esconder uma informação federal, e que ele oferecia

dois anos se ela revelasse o nome da fonte. Vicchiatti (2005, p. 28) diz que “A

manipulação nada mais é do que a capacidade de usar a persuasão como aliada”. E

que a defraudação é a própria falta de ética. Assim, se vê que a atitude do Promotor

é de manipulação.

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Nas cenas em que o Promotor atua, pode-se observar que “Não há força

de coesão legal, apenas moral”. De acordo com Karam, a aplicação jurídica e a

aplicação da lei se assemelham. Porém, a ação jurídica do Promotor tem

interpretação falha. O principio VI do Código de Ética Internacional da Unesco diz o

seguinte:

Principio VI – o direito à vida privada e à dignidade humana:

Parte integrante das normas profissionais do jornalista é o respeito do direito do individuo à vida privada e à dignidade humana, de acordo com os estipulantes do direito internacional, relativos a proteção dos direitos da reputação das pessoas, proibindo-se o libelo, a calúnia, a maledicência e a difamação. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA, 1983).

Não se pode dizer que o Promotor agiu exatamente com base no principio

da dignidade humana, que foi firmado universalmente, e, portanto, seu

comportamento é considerado equivocado. Mas por que a jornalista permitiu que os

fatos chegassem a causar tanta polêmica?

Ao final, ainda na mesma cena, ouvia-se o desespero do advogado de

Rachel, Sr. Albert, que repetia em voz alta: “Já chega, pare com isso!! Ela já tomou

sua decisão, não irá revelar quem é a sua fonte”! E assim, Rachel disse que ficaria

presa (FACES..., 2008).

3.3 Análise de conteúdo: onde a ficção se aproxima da realidade

Na última cena, Rachel Armstrong passava a ter encontros com seu filho

ao ar livre, acompanhada pela polícia ao local. Na conversa com seu filho ele

parecia decepcionado, e saiu do encontro com a criança arrasada. De acordo com

Abramo, o que pode ser ruim para o cidadão deve, também, ser um problema para

um profissional de jornalismo? “O jornalista não tem ética própria. Isso é um mito. A

ética do jornalista é a ética do cidadão. O que é ruim para o cidadão é ruim para o

jornalista”. (ABRAMO, 1988, p. 109). Se a ética está ligada ao senso de justiça e de

valor do cidadão, como diz o autor, a jornalista sabia que isso teria consequências,

mesmo assim prosseguiu com suas convicções e, de acordo com o filme “Faces da

Verdade”, continuou presa por mais dois anos.

No caminho para a cadeia, no ônibus, lembrou quando seu filho chamava

a filha de Erica Van Doren de “dedo duro”, (expressão popular associada ao gesto

de se esticar o dedo indicador, para apontar alguém, delatando-o). O filho dela

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chamava a filha da agente da CIA de dedo duro e Rachel Armstrong lhe dizia que

parasse e afirmava para o menino que também não se deve suportar mandões. Foi

então que a colega de Jimmy (filho da jornalista) perguntou à jornalista se ela era

escritora, e ela respondeu que sim, que trabalhava para o Sunday Times. Então a

menina (Alisson Van Doren) informou que ela e sua família liam esse jornal e que o

pai dela era escritor. Rachel então perguntou sobre o que ele escrevia, e Alisson

disse: “ele escreve artigos para o jornal, mas a minha mãe não gosta do que ele

escreve”. “E sobre o que ele escreve?”, pergunta Rachel. A criança respondeu:

“escreve sobre o presidente”. “E qual seu sobrenome?”, continua Rachel. “Van

Doren”, respondeu a menina.

Falando à jornalista, Alisson continuava respondendo à medida que

Rachel indagava sobre o que o pai dela escrevia, e o que a mãe dela descobriu:

“Uma vez, ela gritou com o meu pai, porque ele usou umas coisas secretas que ela

tinha descoberto, quando foi pra Venezuela, quando estava trabalhando para o

governo”. Ao final a criança disse: “Você não pode contar pra ninguém que eu te

disse isso, tá bom?”, e a jornalista respondeu em tom de confiabilidade: “pode

acreditar” (FACES..., 2008).

Que importância ética se pode apontar no fato de se resguardar uma

fonte jornalística? Cumpriu-se o disposto no livro de Noblat que, coincidentemente,

fez a colocação: “Já que você, jornalista, assumiu um compromisso de manter o

sigilo e a identidade de uma fonte, agora, em nome de um principio ético, está

obrigado a honrá-lo” (NOBLAT, 2003, p. 65).

Para Noblat, “Quem declara algo emite uma opinião. Se não quer ter o

nome ligado à opinião de quem emitiu, é porque teme seus feitos. Se não se

responsabiliza por ela, porque devo eu responsabilizar-me?” (NOBLAT, 2003, p. 63).

Era justo o que a menina fez, pedir que a jornalista não falasse a ninguém que ela

revelou a identidade de seus pais? Certamente essa criança nunca imaginou que

contar um segredo como esse a alguém poderia causar a morte de sua mãe. Na

prática, as fontes jornalísticas são resguardadas, ou isso é um mito?

Lage diz que “relações entre jornalistas e fontes são as mais citadas

quando se trata de ética do jornalismo”. Que isso acontece naturalmente pelo

simples fato de que, no percurso da informação, que vai das fontes até o público, a

fonte é a parte mais indefesa. Que as fontes institucionais, pelo contrário, costumam

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ser mais poderosas: e que “segundo estatísticas americanas, elas respondem por

60% de tudo que é publicado” (LAGE, 2008, p. 91).

Karam observa que alguns questionamentos pertinentes sobre a

consciência do jornalista cabem na produção da notícia: Será que ter consciência

resolve o problema profissional da ética jornalística? E se a notícia deve ser

submetida à análise dos fatos e das versões, também deve sê-lo à consciência

individual do jornalista, que, por sua vez, passa a ser a juíza dos fatos? (KARAM

1997, p. 47).

Ter consciência moral, na prática, é deixar sua família para defender um

princípio, mesmo correndo o risco de se submeter à solidão da prisão? A atitude

adotada pela jornalista no filme “Faces da Verdade” foi a mais acertada? Muito da

preocupação ética, para Pereira Júnior,

Começa quando temos de considerar o “outro”. Essa relação é tudo menos simples – o “outro” é o “não eu”, carapuça que, depois de Freud, serve barbaridade até a nós mesmos, quanto mais àquele, está no mesmo nível, acima ou abaixo dele que nos é próximo ou desconhecido, é bem do vizinho ou bem público, que é de todos e não é de ninguém. (PEREIRA JÚNIOR, 2012, p. 45).

O autor defende que se fosse apenas uma regra imposta para proteger os

jornalistas do outro, no caso, a fonte, a ética seria apenas uma exceção, ela não

existiria. No entanto, os juízos morais não são apenas simples ordenanças a serem

cumpridas, mas preceitos universais aplicados a todas as pessoas. Desse modo,

“Um princípio ético é prescritivo porque, uma vez aceito, não seria sincero se a

pessoa agisse em desacordo com ele” (PEREIRA JÚNIOR, 2012, p. 46).

Em entrevista exclusiva concedida a Jenny Halper, o diretor do filme

“Faces da Verdade”, Rod Lurie, dizia que teve a oportunidade de escrever sobre a

jornalista que foi presa para proteger uma fonte, mas disse as ideias dele foram

descartadas por um colega de trabalho. Ele ficou com aquilo em mente e, depois de

um tempo, pôde colocar em prática o que estava planejando. O que o intrigava era o

fato de a jornalista Judith Miller ter sido presa como um profissional que não tem

nobreza, visto considerar o jornalismo a mais nobre das profissões, quando

exercitada corretamente, com base na palavra empenhada e no compromisso com a

verdade. Então ele pensou: “Vamos dizer que Miller tinha um garoto que ia para a

escola com a filha de uma pessoa que ela tira de um armário (lugar em que ninguém

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pensará em procurar a fonte). “Onde se pode ir de lá”? A primeira coisa que eu

escrevi foi o final, eu disse: O que realmente poderia prender a atenção”?

O autor pensou em algo que pudesse capturar a atenção do público ao

desenvolver a ficção e, ao mesmo tempo, quis fazer o telespectador refletir acerca

da realidade da profissão, o que se pode perceber no filme “Faces da Verdade”. De

acordo com Jenny Halper, a jornalista expõe a agente da CIA para avançar na sua

carreira, divulgando-a rapidamente nas primeiras cenas do filme, e fez a pergunta

seguinte: “Será que ela a protegeria como forma de servir de modelo para o seu

filho”? A resposta de Rod Lurie foi:

Eu me lembro de ter essa conversa com minha esposa. Eu disse: "Eu acho que fiz uma boa regra de ouro para a vida, em atuar como se o seu filho estivesse na sala assistindo você e você será uma pessoa melhor" Porque nós sempre queremos ser pessoas boas para nossos filhos. Acho que ela está tomando decisões com base no que faria seu filho pensar. Eventualmente, ela vai no caminho da ambição jornalística, mas ela acredita na proteção de suas fontes. O que a criança em “Faces da verdade” quer aprender naquele momento, é por isso que a sua mãe não o deixa ir na cadeia. Ela quer o seu respeito, e ser uma pessoa melhor para ele. (ALLIANCE OF WOMEN FILM JOURNALISTS, 2008).

É possível que a regra de ouro a qual se refere o autor do filme esteja em

consonância com o que se encontra na Bíblia, que diz “Tudo que você quiser que os

homens façam a você, você faça a eles” (ALMEIDA, 1956). Essa é a regra de

relacionamento colocada por Jesus, para quem se deve amar o próximo como a si

mesmo. Querer que um filho veja apenas o melhor de seus pais, ou de sua mãe,

como é o desejo da jornalista para seu filho no filme “Faces da Verdade” é também

um princípio ético, em que se pratica o bem ao outro, conforme já foi citado.

Lurie também afirma, na entrevista concedida ao Film Maker Magazine

(DAWSON, 2008) em dezembro de 2008, que quis provocar uma reflexão no seu

público acerca de princípios, uma das coisas que mais admirava em Judith Miller

(que passou mais do que 85 dias na prisão), que insistentemente persistia em

resguardar sua fonte, entendendo ser o caminho mais nobre, mais justo a seguir,

como pessoa e como profissional.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O mundo tem sido alvo constante de transformações, oriundas da

globalização, tanto cientifica, quanto tecnológica, que produzem efeitos no ambiente

e nas relações sociais, na forma como se desenvolve a vida, a profissão e os

princípios para os dias de hoje. E o estudo dessas relações que se estabelecem

entre os homens no âmbito da sociedade produz conhecimentos que vão propiciar o

desenvolvimento humano, da vida, da profissão e do caráter.

Conclui-se que a ética é definida de formas diferentes e assume

significados diversos para cada autor, mas, em suma, é reconhecida pela prática do

bem ao próximo e a si mesmo. A busca pelo prazer e a felicidade de fazer o que é

bom é um principio que começou a ser discutido por Sócrates, filósofo da Grécia

Antiga, e até os dias de hoje é um assunto gerador de discussões, sendo estudado

nas empresas, nas relações humanas, nos códigos de ética e comportamento do ser

humano no mundo inteiro.

Vê-se que o jornalismo consiste em uma profissão com muitos

significados a serem definidos sobre a sua prática. Pode-se afirmar que, embora não

seja uma profissão apropriada para quem almeja ter posses e bens, tem

características que podem proporcionar a um cidadão fama, glamour,

reconhecimento e, dependendo da oferta de mercado, ganhos para aqueles que

desejam omitir a verdade, que é de interesse público, ofertas de salários para

defender partidos políticos corruptos e outras características citadas na monografia.

Christofoletti (2008, p. 22) diz que para cumprir seu compromisso ético de

informar bem o jornalista precisa delinear uma ética específica, por meio de um perfil

de conduta que desenvolva nele um comportamento de um individuo que segue

valores. Diz o ditado popular que “a vida de um individuo não se resume ao seu

trabalho”, porém, se em sua vida não puder se pautar por princípios e limites, é

muito possível que na profissão também não possa fazê-lo. Para Abramo, não existe

ética para o cidadão ou para a profissão separadamente, “a ética do jornalista é a

ética do cidadão, o que é ruim para o cidadão, é ruim para o jornalista”.

A ética, no filme “Faces da Verdade”, busca compreender questões

relacionadas à vida, à profissão, à política, à segurança pública, aos códigos

prescritos no Brasil, nos Estados Unidos e no mundo. Ao se discutir os conflitos

éticos existentes no cinema e na mídia para compará-los a situações vividas pelas

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personagens do filme “Faces da Verdade”, verificou-se que as ações das

personagens, especificamente da protagonista, provocam a construção de reflexões

que visam responder às mensagens implícitas nas cenas e às questões do sigilo da

fonte jornalística, assim como do compromisso da jornalista com a fonte.

Muito se ouve criticar acerca das taxas e impostos cobrados pelo

governo; proliferam manifestações por parte do povo deste País, porém, não se

ouve falar que o povo queira mudar, que queira ser ético e aprender sobre política,

sobre as leis, que queira ler o Código de Ética da sua empresa ou da sua profissão e

segui-lo, porque ler é “maçante” e toma um tempo que pode ser usado em outras

atividades mais prazerosas ou rentáveis. Surge, então, o seguinte questionamento:

os que elaboram códigos de ética pretendem atrair o maior número de leitores? Não

se sabe ao certo, ouve-se apenas “que lei é lei e deve ser seguida”.

Recentemente, a mídia veiculou que a policia militar fez greve na cidade

do Recife, Salvador e em várias cidades do Brasil, inclusive em Recife. A greve dos

policiais provocou ataques a lojas e supermercados, saqueados por grupos e

quadrilhas, que seguiam noite adentro quebrando, roubando e danificando lojas.

Pessoas civilizadas aproveitaram-se da situação para também tomar para si bens

materiais que não lhes pertenciam. A pergunta que se faz diante de situações como

essa é: existe ética? No caso de jornalistas que têm seu material danificado por

ocasião da gravação de cenas como as relatadas e cenas de manifestações da

copa, e sofrem até espancamentos para que não divulguem determinada notícia,

existe ética?

Estar preparado para ir para a cadeia em nome de um princípio é algo

que se vê facilmente em um jornalista nos dias de hoje? Parece ser preciso refletir

sobre o assunto. A jornalista do filme, a principio, parecia querer avançar na carreira

e, sem medir as consequências, divulgou não só a matéria, mas o nome de agentes

federais, conduta considerada criminosa pelo ordenamento jurídico estadunidense.

Ao que parece é necessário, para um jornalista, ter conhecimentos das leis antes de

divulgar uma matéria. Constatado isso, questiona-se: a jornalista, sabendo que não

se pode divulgar o nome de um agente, assim mesmo o faria?

Ao que se pode observar, a empresa e o advogado defenderam a

jornalista presa em todos os momentos. Indaga-se: por que o fizeram, já que Rachel

Armstrong não queria revelar o nome da fonte? Ela preferiu ficar presa mesmo

dispondo de uma autorização do governo dos Estados Unidos, com o nome de todos

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os agentes, para que revelasse a identidade de quem lhe forneceu o nome da

Agente Federal.

Nesse caso, a pessoa que supostamente teria dito o nome a Rachel não

seria mais considerada um traidor e não seria morta, como Erica Van Doren foi. O

fato é que havia alguém que lhe havia revelado a informação e não era nenhum dos

agentes listados pelo governo, mas uma criança, a filha da agente Erica Van Doren,

que teve sua identidade protegida até o fim pela jornalista. Na mesma medida,

pensava que, ao revelar o nome da fonte, estaria violando o sentido da liberdade de

expressão, direito do jornalista assegurado constitucionalmente.

O exercício ético da profissão do jornalista vai além das competências ou

da experiência que possui para cumprir ou desenvolver um bom trabalho, sendo

preciso, acima de tudo a busca pelo bem, por garantir à fonte jornalística a firmeza

de caráter, a certeza de que suas informações serão mantidas no mais absoluto

sigilo. Nesse sentido, ao deliberadamente oferecer informações de interesse público,

a fonte se sentirá segura por confiar na garantia de sigilo, e o jornalista, por sua vez,

restará moralmente consciente de estar cumprindo seu trabalho de acordo com a lei,

e livremente baseado em princípios pessoais de responsabilidade social sobre a

vida da fonte, na segurança de cumprir com dignidade sua profissão.

É importante refletir e questionar sobre o que motiva o indivíduo a agir de

uma forma ou de outra, ou sobre o que pode ser feito para a promoção do bem

social ou para resguardar a fonte de uma matéria jornalística. A ética é um assunto,

ao que se pode concluir, inesgotável em seus conteúdos, que oferece lições para a

vida e respostas que, muitas vezes, só o tempo pode responder.

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