photonotes dos mapeamentos

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Por dentro dacidade //// l Especia Edição Mapeamento de Riscos Socioambientais Guiado pela Juventude já capacitou mais de cem jovens para monitoramento e prevenção de riscos socioambientais em suas comunidades Treinamento no Morro dos Prazeres O Mapeamento de Riscos Socioambientais é uma iniciativa do UNICEF Nova York, desenvolvido pelo Public Laboratory for Open Technology and Science (PLOTS) em parceria com o MIT (Massachusetts Institute of Technology). Este é um projeto pioneiro na área tecnologia de mapeamento comunitário com foco na prevenção de desastres. Este tipo de mapeamento oportuniza aos próprios jovens em parceria com a comunidade destacarem os problemas que eles avaliam serem mais graves. A ação começou a ser desenvolvida em agosto de 2011, quando a equipe do UNICEF Nova York veio ao Brasil junto com o PLOTS para o “Treinamento dos Treinadores”. Esta capacitação contou com representantes do poder público e outros órgãos que tem ingerência sobre as áreas de emergência e prevenção de desastres ambientais, como Defesa Civil, GeoRio, Rio Águas, Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos, Cruz Vermelha, Fundação Abrinq/Save the Children, além dos líderes comunitários e adolescentes das comunidades que participariam do piloto. O piloto vem sendo implementado pelo CEDAPS (Centro de Promoção da Saúde) em colaboração com o UNICEF Brasil e representantes do poder publico que compõem um grupo de acompanhamento do projeto. A equipe do InSTEDD (Innovative Support to Emergencies Diseases and Disasters) está prestando assessoria técnica para melhoramento do aplicativo utilizado no celular, fazendo pesquisas de opinião para tornar a interface mais fácil e interativa para os usuários. Cinco comunidades foram estrategicamente escolhidas para receberem o Mapeamento. Além de serem participantes da Plataforma, essas localidades sofreram grandes danos nas chuvas de abril de 2010, somando dezenas de mortes e casas destruídas. São elas: Morro dos Prazeres, Morro dos Macacos, Morro do Borel, Morro do Urubu e Rocinha. Liz Barry, do PLOTS no Treinamento Riscos socioambientais identificados e registrados pelos jovens Confecção do mapa da comunidade

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Descrição do Mapeamento de Riscos Socioambientais Guiado pela Juventude

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Page 1: Photonotes dos Mapeamentos

Pordentrodacidade

//// l EspeciaEdição

Mapeamento de Riscos Socioambientais Guiado pela Juventude já capacitou mais de cem jovens para monitoramento e prevenção

de riscos socioambientais em suas comunidades

Treinamento no Morro dos Prazeres

O Mapeamento de Riscos Socioambientais é uma iniciativa do UNICEF Nova York, desenvolvido pelo Public Laboratory for Open Technology and Science (PLOTS) em parceria com o MIT (Massachusetts Institute of Technology). Este é um

projeto pioneiro na área tecnologia de mapeamento comunitário com foco na prevenção de desastres. Este tipo de mapeamento oportuniza aos próprios jovens em parceria com a comunidade destacarem os problemas que eles avaliam serem mais graves.

A ação começou a ser desenvolvida em agosto de 2011, quando a equipe do UNICEF Nova York veio ao Brasil junto com o PLOTS para o “Treinamento dos Treinadores”. Esta capacitação contou com representantes do poder público e outros órgãos que tem ingerência sobre as áreas de emergência e prevenção de desastres ambientais, como Defesa Civil, GeoRio, Rio Águas, Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos, Cruz Vermelha, Fundação Abrinq/Save the Children, além dos líderes comunitários e adolescentes das comunidades que participariam do piloto.

O piloto vem sendo implementado pelo CEDAPS (Centro de Promoção da Saúde) em colaboração com o UNICEF Brasil e representantes do poder publico que compõem um grupo de acompanhamento do projeto. A equipe do InSTEDD (Innovative Support to Emergencies Diseases and Disasters) está prestando assessoria técnica para melhoramento do aplicativo utilizado no celular, fazendo pesquisas de opinião para tornar a interface mais fácil e interativa para os usuários.

Cinco comunidades foram estrategicamente escolhidas para receberem o Mapeamento. Além de serem participantes da Plataforma, essas localidades sofreram grandes danos nas chuvas de abril de 2010, somando dezenas de mortes e casas destruídas. São elas: Morro dos Prazeres, Morro dos Macacos, Morro do Borel, Morro do Urubu e Rocinha.

Liz Barry, do PLOTS no Treinamento Riscos socioambientais identificados e registrados pelos jovens Confecção do mapa da comunidade

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As tecnologias:O que é o mapeamento?

O mapeamento é realizado em duas etapas, utilizando duas tecnologias diferentes, porém complementares.

faz a localização através do GPS, tira fotos, faz vídeos e tem um espaço para comentários. Funciona assim: o jovem capacitado observa o problema, faz a localização com o GPS, faz uma foto e/ou um vídeo e uma descrição do problema.

A pipa é utilizada para r e a l i z a ç ã o d o mapeamento aéreo, que visa observar problemas maiores, como queda de encostas ou a inda localizar áreas onde as pessoas não conseguem c h e g a r e m segurança.Uma câmera com o modo contínuo acionado é acoplada à pipa. Enquanto a pipa sobe, a câmera vai capturando as imagens – quanto mais alto ela subir, maior será a área de abrangência da fotografia.

Já de volta ao chão, essas imagens são baixadas direto para um site público chamado “Cartagen”, que tem um software parecido com o Google Earth. Uma das vantagens dessa ferramenta é que, além de mostrarem as imagens mais atualizadas do que as dos satélites, elas mostram mais a realidade da comunidade. O programa possibilita fazer montagens e colagens das imagens disponíveis, como a montagem de um quebra-cabeça. A ideia é que essas informações sejam disponibilizadas tanto para a sociedade civil quanto para o poder público. Deste modo, a população poderá fazer o advocacy e o Follow Up dos pontos marcados no mapa. O conceito geral é chamar a atenção para territórios mais críticos – Joseph Agoada, do UNICEF Nova York explica “Se tiver uma localidade com muitos pontos marcados, por exemplo, as pessoas, incluindo o poder público, vão saber que ali tem um problema sério e que a comunidade está alertando”.

O celular

A pipa

Até hoje, cerca de 120 jovens, com idades entre 13 e 22 anos, das cinco comunidades já foram capacitados e aplicaram o mapeamento nos seus locais de moradia. O trabalho ser realizado por jovens é importante, pois o exercício é de projeção de futuro. Os jovens tem um olhar mais crítico e aguçado sobre os problemas locais. Além disso, esses jovens serão uma geração de adultos mais conscientes e preocupados com os problemas ambientais.

Jovens do Morro dos Prazeres elaborando o Plano de Ação

A metodologia As oficinas geralmente acontecem em três dias diferentes, somando 20 horas divididas entre teoria e prática. No primeiro dia os jovens aprendem os conceitos de vulnerabilidade, susceptibilidade, risco e desastres, além de fomentarem um debate sobre a cidade, a comunidade onde vivem e condições das moradias. Passada esta etapa, eles discutem quais locais devem ser mapeados e que estratégias utilizar. Por último eles saem para um tour na comunidade para marcar com o celular os pontos debatidos em sala.

No segundo dia, os jovens aprendem a confeccionar a cápsula protetora da câmera utilizada para o mapeamento aéreo. Esta cápsula é confeccionada com garrafa pet, barbantes, fita adesiva, presilhas e anzóis. Depois eles sobem até um ponto bem alto da comunidade para soltar a pipa. Esta etapa prioriza o trabalho em equipe, já que para que a pipa suba é necessário o trabalho simultâneo de pelo menos três jovens por vez. O terceiro dia serve para colocar os pontos nos mapas, separando-os por temas. Caso haja alguma etapa que eles avaliem ser necessária repetir, também podem fazê-lo. A última parte é sempre para a elaboração de um Plano de Ação para a comunidade, onde os jovens discutem o que é dever da comunidade e o que é dever do poder público, além de proporem soluções para os problemas observados durante toda a oficina.

Hora de avaliar o trabalho realizado

O mapeamento com ce l u l a r é u t i l i z a d o p a r a i d e n t i f i c a r problemas mais locais, como lixo, fios soltos, buracos na rua e etc. Ele é feito através de um aplicativo instalado n o a p a r e l o , o UNICEF GIS, que

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Morro dos Prazeres O Morro dos Prazeres foi a primeira comunidade a receber o Mapeamento, nos dias 6, 7 e 8 de outubro. Participaram 26 jovens, que atenderam à todas as etapas do processo descritas acima. A comunidade foi atingida duramente por desastres causados pelas chuvas em abril de 2010 resultando em 34 mortos. Os pontos mapeados pelos jovens demonstram que os riscos socioambientais ainda persistem e ações de prevenção e redução de riscos são urgentes por parte do poder público. Por parte da comunidade, na etapa do Plano de Ação, os jovens reconhecem a responsabilidade de não jogar lixo no chão e nas encostas, de cuidar das obras que já foram realizadas e de denunciar às autoridades competentes os problemas que existentes. Eles destacaram que a oficina os apresentou uma ideia diferente do local onde eles vivem. “Agora eu vou repassar essa idéia de que a gente não deve jogar lixo no chão e nem deixar aí pela rua. Eu não tinha noção de que a comunidade tinha tanto lixo assim acumulado. Vou cooperar para diminuir este problema”, afirmou Cássio, de 16 anos.

Morro dos Macacos No Morro dos Macacos participaram vinte e quatro meninos e meninas, entre 13 e 22 anos, nos dias 18, 20 e 22 de outubro. Um dos problemas mais observados foi a quantidade de lixo nos barrancos e valas, entupindo e atrapalhando o fluxo das águas das chuvas, aumentando o risco de desastres. Para o Plano de Ação, eles avaliaram que uma boa estratégia para o Morro dos Macacos seria que os moradores se aliassem à Associação de Moradores, formando um braço mais forte para cobrar melhorias do poder público, com destaque para uma ação voltada a melhores condições de moradia aliada a um trabalho de conscientização e alerta para a população deixar de construir em áreas interditadas pela Defesa Civil e parar de jogar lixo nas encostas.

Morro do Borel O Mapeamento do Borel aconteceu nos dias 14 e 16 de dezembro, com a participação de quinze jovens. As oficinas aconteceram em dois dias, com o horário extendido, à pedido dos próprios jovens. O Plano de Ação do Borel teve ideias como a criação de programas de crédito facilitado para a que população que vive em áreas de risco possa comprar imóveis em locais mais seguros. Eles também falaram que o foco da educação sobre os riscos socioambientais deve ser nas crianças. “As crianças aprendem fácil e perturbam os pais. Uma criança é capaz de modificar o comportamento de seus parentes. E, o mais importante, vai crescer já sabendo o que pode e o que não deve fazer para manter toda a sua vizinhança segura”, avaliou Iuri Pereira, 14 anos.

Morro do Urubu O mapeamento no Urubu aconteceu nos dias 2, 3 e 4 de fevereiro, com 32 jovens. A comunidade foi palco, em 2010, de um deslizamento de terras que não acabou em tragédias graças à mobilização dos moradores. Poucas horas antes da ocorrência, todas as casas foram desocupadas e ninguém foi ferido ou morto com o deslizamento, que destruiu mais de 250 casas. O local atingido agora é uma praça com quadra para a prática de esportes e serve como ponto de encontro para os jovens. Os participantes da oficina, principalmente aqueles que ajudaram na evacuação e presenciaram o deslizamento, relataram como foi a experiência e mediaram o debate sobre a percepção de risco. Junto ao risco de deslizamento, a resolução do descarte e coleta inapropriada dos resíduos sólidos foi também eleita como principal prioridade da comunidade. Estes dois riscos impedem que a comunidade implemente um desejo do grupo de jovens: a criação de uma cooperativa para turismo sustentável . “Pude conhecer novos lugares da comunidade e depois do que vi me senti mais pertencente a ela. Temos uma vista do Rio de Janeiro quase inteiro, muito bonita. Eu gostaria que pessoas de fora nos visitassem para ver, e isso traria renda para a comunidade”, sugeriu Jorrana, 15 anos. Rocinha

Na Rocinha, o mapeamento será executado nos dias 27 e 28 de fevereiro e 1° de março. Os jovens de lá resolveram mapear os riscos envolvidos ao chegar e sair da escola, incluindo os problemas do trânsito local. O trabalho será realizado em parceria com os jovens da Rede de Adolescentes Promotores de Saúde (RAP da Saúde)

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Resultados

O trabalho vem gerando resultados positivos. Alguns dos jovens que participaram do mapeamento aderiram ao grupo “Acredite & Faça Acontecer, no Morro dos Prazeres.Os moradores se articularam com a Comlurb, a UPP, UPP Social, Secretaria de Conservação e começaram um trabalho de melhorias dentro da comunidade. A primeira iniciativa foi a limpeza do Campinho e remoção de um lixão localizado no alto da comunidade. A Prefeitura também fez uma reforma na ponte do Uga-Uga, que oferecia grande risco aos pedestres e ciclistas. A estrutura de madeira foi substituída por uma de concreto, muito mais segura.

O lixão antes do mutirão

Comlurb, UPP e moradores trabalhando

A área do lixão após a limpeza

A ponte do Uga-Uga,antes. Desnível e buracos oferecendo riscos

A ponte depois da reforma

A ponte e o caminho reformados

Perspectivas

Em março, os jovens, juntamente com organizações comunitárias parceiras, participarão de um Seminário para apresentação do trabalho resultados e perspectivas do piloto. Além dos jovens, o evento contará com a presença de representantes de diversos órgãos municipais, responsáveis pelas áreas temáticas mapeadas e, consequentemente, pela prevenção de futuros desastres. Além disto, contribuirão no processo de acompanhamento dos riscos encontrados. Dentre estes órgãos, destacam-se GeoRio, Instituto Pereira Passos, Rio Águas, SET-Rio, Centro de Operações Rio e as Secretarias Municipais de Habitação, Saúde e Defesa Civil, Conservação Pública, Meio Ambiente e Assistência Social.

Os mapas confeccionados se tornarão domínio público e as comunidades poderão fazer o advocacy diretamente com os órgãos competentes. A disponibilização deste material permitirá que todos acompanhem os processos de mudança e melhoria dentro das comunidades.