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Plano de Manejo e Plano de Manejo e Plano de Manejo e Plano de Manejo e

ZoneZoneZoneZoneaaaamento da mento da mento da mento da Reserva Reserva Reserva Reserva

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Março de 2005

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O Sonho domado Thiago de Mello

Sei que é preciso sonhar.

Campo sem orvalho, seca

a fronte de quem não sonha.

Quem não sonha o azul do vôo

Perde o seu tempo de pássaro.

A realidade da relva

Cresce em sonho no sereno

para ser não relva apenas,

mas a relva que se sonha.

Não vinga o sonho da folha

se não crescer incrustado

no sonho que se fez árvore.

Sonhar, mas sem deixar nunca

que o sol do sonho te arraste

pelas campinas do vento.

É sonhar, mas cavalgando

o sonho e inventando o chão

para o sonho florescer.

Realização O Instituto Ambiental - Associação do Patrimônio Natural

Apoio Fundo Nacional do Meio Ambiente - Ministério do Meio Am-biente

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Ficha Técnica José Carlos Marques – Biólogo – Coordenador do projeto - Edição de texto - Estudos Ambi-entais - Planejamento Verônica da Silva Ciscoto – Bióloga – Estudos Ambientais e de Integração Sócio Ambiental – Planejamento – Estudos de Fauna Marília Vargas Freitas – Assistente Social – Inserção Comunitária Deise Moreira Paulo – Química – Articulação das RPPNs Deise Maria Corrêa Goettnauer – Pedagoga – Formatação Pedagógica – Inserção comuni-tária Marcos Werneck Pereira Jeronymo – Guia de Turismo – Estudos relativos ao turismo José Américo de Lacerda Júnior – Educador – Moderador de Seminários – Revisor Francisco Pontes de Miranda Ferreira - Geógrafo – Estudos Geomorfológicos Mauricio Cordeiro de Mello – Arquiteto – Organizador do SIG Laís Catherine Sonkin – Engenheira Florestal – Estudos de Vegetação Otávio José Magalhães Samôr – Engenheiro Florestal – Estudos de Vegetação Eugênio Scismmarella Júnior – Historiador – Colaborador na História da Magé Cristiane Mendes da Cruz – Bióloga – Estudos de Fauna Alexandre Ribeiro de Fonseca – Geógrafo – Colaborador nos Estudos Geomorfológicos Vasco Alves Secco Neto – Administrador - Compilação de Relatórios Grace Caroline Storni Rocha – Psicóloga – Treinamento de Monitores Ambientais Rodrigo Castelo Branco Godoy – Artesão – Instrutor em Oficinas de Artesanato Pascoal José Fonseca – Artesão – Instrutor em Oficinas de Artesanato

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Realização:

Apoio

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PLANO DE MANEJO E ZONEAMENTO DA RESERVA PARTICULAR DO PATRIMÔNIO NATURAL QUERÊNCIA, MUNICÍPIO DE MAGÉ, ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

I - ORIGEM

O presente Plano de Manejo e Zoneamento da Reserva Particular do Patrimônio Natu-ral Querência foi desenvolvido pelo O Instituto Ambiental em parceria com a Associa-ção do Patrimônio Natural e com o apoio do Fundo Nacional de Meio Ambiente. Trata-se de um resultado do Convênio 24/2003, assinado entre o Ministério do Meio Ambien-te e O Instituto Ambiental, que trata do ”Plano de Manejo e Zoneamento da RPPN El Nagual e da RPPN Querência – Município de Magé, Com o Estabelecimento de Ob-servatório e Integração Participativa das RPPNs do Estado do Rio de Janeiro”, que identifica, analisa e propõe diretrizes e estabelece programas, propondo os projetos imediatos para o manejo eficiente e ecologicamente correto da Reserva Particular do Patrimônio Natural El Nagual e da Reserva Particular do Patrimônio Natural Querên-cia. Respaldados pelas informações obtidas através de um estudo inicial da região, estes critérios e métodos, estabelecidos aqui como Plano de Manejo, objetivam identi-ficar, em cada uma das reservas, suas potencialidades e características e estabelecer normas, indicativos e métodos de gestão, em conformidade com as condicionantes ambientais e o atendimento da legislação em vigor, considerando os interesses de cada proprietário e as vocações e influências das populações residentes nas suas proximidades.

Destaque-se que o convênio 24/2003 inova, em se tratando de estratégia de aplicação de planos de manejo, na medida em que não só estabelece parâmetros para cada uma das reservas, mas as integra através de um corredor de ligação, no eixo norte sul do município de Magé – Estado do Rio de Janeiro (mapa 1 ), formando uma área de estudos e planejamento integrado de aproximadamente cento e vinte e três quilôme-tros quadrados (123,13Km²), integrando a Serra dos Órgãos à Baía de Guanabara e aos manguezais da região flúvio litorânea. Esta integração está formatada através do planejamento solidamente integrado à realidade das populações desta área de influ-ência e voltado para o desenvolvimento sustentável de toda a região.

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Inova também pela oportunidade que cria o projeto, quando se apóia no conhecimento e experiência de outras reservas particulares, através dos seminários participativos, com o envolvimento de 15 proprietários ou representantes de RPPNs do Estado do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo, e de representações comunitárias da região de El Nagual e da região de Querência, na sua elaboração. O projeto 24/2003 teve na sua concepção inicial, a integração entre as duas reservas, através de um corredor de desenvolvimento sustentável, formado através de uma linha imaginária nas cumeeiras divisórias das bacias hidrográficas, uma interação no con-texto do mosaico das demais unidades de conservação da região (mapa 2). El Nagual encontra-se localizada dentro da Área de Proteção Ambiental – APA PETRÓPOLIS e com seus limites a menos de três quilômetros do Parque Nacional da Serra dos Ór-gãos. Querência, por sua vez, encontra-se situada nas formações de baixada, a me-nos de oito quilômetros dos limites da Área de Proteção Ambiental – APA GUAPIMIRIM (Quadro 1). Desta forma, os Planos de Manejo das Reservas Particulares El Nagual e Querência nascem inseridos e já contribuindo para a organização daquele mosaico, alcançando as bacias dos Rios Suruí e Irirí e incluindo a cabeceira do Rio Santo Aleixo, integrado à bacia do Rio Roncador, ligando diretamente o Parque Na-cional da Serra dos Órgãos aos limites da Área de Proteção Ambiental de Guapimirim. O polígono correspondente aos limites da área total de influência do projeto está com-preendido na seguinte descrição: partindo do ponto extremo norte de coordenadas UTM 697883 e 7509377, segue para o sudeste sobrepondo com o limite do PARNASO até o ponto de coordenadas 699705 e 7507403. Segue a linha de delimita-ção da bacia do Rio do Pico até o encontro dos rios Santo Aleixo e Rio do Pico, no ponto de coordenadas 700727 e 7504241. Segue o Rio Santo Aleixo até o ponto de coordenadas 699057 e 7501892, na passagem da estrada sobre o Rio Santo Aleixo. Segue a linha de delimitação da bacia do Rio Suruí até o ponto de coordenadas 698621 e 7496998, onde passa a sobrepor a linha de delimitação da bacia do Rio Irirí, cruzando a rodovia BR-116 no ponto de coordenadas 698266 e 7494328 e seguindo, cruzando a rodovia BR- 493 no ponto de coordenadas 69162 e 7493191. Segue até o ponto de coordenadas 698671 e 7489865 e encontra o litoral da Baía de Guanabara. Segue na direção noroeste a linha de litoral, passando sob a foz do rio Irirí, no extremo norte da Baía de Guanabara, no ponto de coordenadas 696964 e 7490695. Segue a linha de litoral na direção sudoeste até a foz do Rio Suruí, no ponto de coordenadas 694531 e 7488987. Segue a margem oeste do Rio Suruí, cruzando a rodovia BR 116 sob o ponto de coordenadas 693298 e 7493210. Segue em direção a oeste em sua margem norte até o ponto de coordenadas 689414 e 7493773, sobrepondo a linha de delimitação da bacia do Rio Suruí sob a Serra da Palha. Segue a linha de delimitação da bacia do Rio Suruí, cruzando a estrada no ponto de coordenadas 693234 e 7500298. Segue a linha de delimitação da bacia do Rio Suruí, encontrando os limites do PARNASO, no ponto de coordenadas 694796 e 7507050. Segue sob a linha limite do PARNASO, passando novamente pelo ponto extremo norte da área de influência, citado no início da descrição.

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II - APRESENTAÇÃO DO PLANO DE MANEJO E ZONEAMENTO DA RPPN QUERÊNCIA

Incorporado ao contexto do convênio 24/2003, que designa uma estratégia entre as duas reservas, o Plano de Manejo e Zoneamento da Reserva Particular Querência ajusta-se ao Roteiro Metodológico para Elaboração de Plano de Manejo para Reser-vas Particulares do Patrimônio Natural (IBAMA – Outubro 2004), fortalecendo a inter-face de Querência com o seu entorno comunitário. Desta forma, apresenta-se interati-vo aos seus demais vizinhos próximos, quando tenta auxiliar e fortalecer as iniciativas dos seus proprietários e quando busca mobilizar as iniciativas comunitárias do entor-no, através de ações integradas, voltadas para o desenvolvimento sustentável da regi-ão. Metodologicamente, este documento surgiu através de um projeto maior que não só permitia a elaboração do plano de manejo de Querência e do plano de manejo de El Nagual como criava uma concepção regionalizada e sistêmica no trato e na interação entre as duas regiões, ou seja, os limites do Parque Nacional da Serra dos Órgãos aos limites da APA GUAPIMIRIM (Imagem 1). Portanto, ao se estudar a área de influência, a visão era sistêmica, tendo a percepção absoluta de cada um dos componentes do sistema. Com fundamento em cada objeto de estudo (componentes sociais e humanos em geral, fauna, vegetação, geomorfologia, geologia e turismo) conseguiu-se, através de um enfoque regionalizado, ter uma visão de planejamento para a RPPN Querência, que resultará em sua integração com a RPPN El Nagual através do documento, tam-bém resultante do convênio OIA/FNMA 24 2003, denominado ”Termo de Referência e Indicativos para a Integração entre a RPPN EL NAGUAL e a RPPN QUERÊNCIA”, com a criação de um corredor ecológico de desenvolvimento sustentá-vel desde as cabeceiras do Rio Santo Aleixo e as bacias dos rios Suruí e Irirí até a Baía de Guanabara, utilizando as reservas particulares como base (Imagem tridimensio-nal 1).

De outro lado, no que diz respeito ao Plano de Manejo de Querência, os estudos fo-ram direcionados para a sua localidade, exceto nas análises que tratam de um contex-to evolutivo integrado, como a influência das florestas e rochas no estágio das forma-ções atuais. Tratou-se também, em um formato unificador, o assunto voltado para o ecoturismo, integrando o manguezal e a Baía de Guanabara às montanhas da Serra dos Órgãos através das duas RPPNs.

Ressalte-se que o resultado deste trabalho teve também a contribuição de represen-tantes das comunidades da região e de outras reservas particulares, quando o projeto 24/2003 cria os seminários participativos, integrando 15 RPPNs do Estado do Rio de Janeiro, recebendo também contribuições de representações do Espírito Santo e Mi-nas Gerais.

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III - SUMÁRIO

I - ORIGEM ........................................................................................................ 5

II - APRESENTAÇÃO DO PLANO DE MANEJO E ZONEAMENTO DA RPPN QUERÊNCIA...................................................................................................... 7

III - SUMÁRIO.................................................................................................... 8

IV - LISTA DE QUADROS, TABELAS, MAPAS E IMAGENS. ....................... 10

V - LISTA DE SIGLAS..................................................................................... 12

VI - O Plano de Manejo .................................................................................... 9

6.1 - INFORMAÇÕES GERAIS ......................................................................... 9

6.1.1 - O MUNICÍPIO DE MAGÉ........................................................................ 9

6.1.2 - ACESSO............................................................................................... 10

6.1.3 - HISTÓRICO DE CRIAÇÃO E ASPECTOS LEGAIS ............................ 11

5 FICHA RESUMO DA RPPN ............................................................................13

VII – DIAGNÓSTICO ....................................................................................... 14

7.1 - CARACTERIZAÇÃO DA RPPN......................................................................14

Componentes físicos ............................................................................................14 7.1.1 - Hidrografia ............................................................................................................... 14 7.1.2 – Meio Físico ............................................................................................................. 14 7.1.3 - Clima ....................................................................................................................... 17

Componentes Bióticos .........................................................................................18 7.1.4 – Vegetação .............................................................................................................. 18 a) Considerações iniciais ............................................................................................... 18 b) Caracterização da Cobertura Vegetal ....................................................................... 19 CARACTERIZAÇÃO DA VEGETAÇÃO ORIGINAL........................................................... 19 7.1.5 - A fauna da região de Querência ............................................................................. 25 a) Considerações iniciais.................................................................................................... 25 b) A região .......................................................................................................................... 25 c) Ecossistema local........................................................................................................... 26 7.1.6 - Aspectos Históricos e Culturais ............................................................................. 30 7.1.7 - Visitação e ecoturismo ............................................................................................ 35 7.1.8 - Ocorrência de Fogo................................................................................................. 36 7.1.9 - Atividades desenvolvidas em Querência ................................................................ 37 X Sistema de Gestão .................................................................................................... 37 X Pessoal ...................................................................................................................... 38 X Infra Estrutura ............................................................................................................ 38 7.1.10 - CARACTERIZAÇÃO DA PROPRIEDADE............................................................ 38 7.1.11 - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DO ENTORNO................................................... 39 7.1.12 - CARACTERIZAÇÃO SOCIAL DO ENTORNO ..................................................... 40

VIII - POSSIBILIDADE DE CONECTIVIDADE ................................................ 42

IX - DECLARAÇÃO DE SIGNIFICÂNCIA ....................................................... 42

X - OBJETIVOS ESPECÍFICOS DE MANEJO................................................ 43

XI - ZONEAMENTO......................................................................................... 43

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11.1 - ZONA DE PROTEÇÃO .................................................................................43

11.2 - ZONA DE RECUPERAÇÃO .........................................................................44

XII - PROGRAMAS DE MANEJO.................................................................... 44

12.1 - PROGRAMA DE ADMINISTRAÇÃO, SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA e COMUNICAÇÃO.....................................................................................................44

A - Para efeito administrativo ............................................................................................. 45 B - A Sustentabilidade Econômica ..................................................................................... 46 C - A Comunicação ............................................................................................................ 47

12.2 - PROGRAMA DE PROTEÇÃO E FISCALIZAÇÃO........................................47

12.3 - PROGRAMA DE PESQUISA E MONITORAMENTO....................................48

12.4 - PROGRAMA DE VISITAÇÃO.......................................................................48

12.5 - PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO DE AMBIENTES...................................53

XIII - PROPOSTAS DOS PROJETOS............................................................. 55

13.1 - PROJETOS ESPECÍFICOS..........................................................................55

13.2 - PROJETOS IMEDIATOS PARA QUERÊNCIA.............................................56 13.2.1 - Projeto de Revegetação de Querência ................................................................. 56 13.2.2 - Centro de Recepção e Educação Ambiental – Portal Querência......................... 60 13.2.3 – Projeto Sítio Sustentável ...................................................................................... 68

13.3 - Agências e Fundos de Financiamento com linhas temáticas compatíveis com os projetos propostos (recursos a fundo perdido).....................................72

XIV – OBSERVAÇÕES FINAIS....................................................................... 73

XV - BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ............................................................. 74

XVI - GLOSSÁRIO........................................................................................... 78

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IV - LISTA DE QUADROS, TABELAS, MAPAS E IMAGENS. QUADROS

� QUADRO I – PRINCIPAIS DISTÂNCIAS DA ÁREA DE INFLUÊNCIA DO PROJETO

TABELAS

� TABELA I – FLORA DA REGIÃO � TABELA II – FAUNA � TABELA III – CRONOGRAMA DE DESEMBOLSO – PROJETOS ESPECÍFI-

COS � TABELA IV – CRONOGRAMA FÍSICO E FINANCEIRO DOS PROJETOS ES-

PECÍFICOS

MAPAS e IMAGENS

� Mapa 1 – Estado do Rio de Janeiro e o município de Magé. Em detalhe o mu-nicípio de Magé e a área de influência do projeto.

� Mapa 2 - Localização dos limites da área de influência do projeto

FNMA/OIA/APN 24/2003 e sua relação com as demais UC próximas, integran-tes do Corredor da Mata Atlântica Fluminense.

� Imagem tridimensional 1 - relevo e limites da área de influência do projeto

24/2003 (azimute 270 – elevação 30).

� Imagem 1 - Definição do corredor de desenvolvimento sustentável e a distribui-ção por microbacias.

� Mapa 3 - Mapa de arruamento do Município de Magé. Em detalhe a área de

influência do projeto 24/2003. � Mapa 4 - Mapa de acesso desde a cidade do Rio de Janeiro. � Imagem tridimensional 2 - Vista superior da base de imagem tridimensional (a-

zimute 360 – altitude 45), que proporciona a visão do relevo da região de influ-ência do projeto 24/2003. Mais ao Sudoeste a Reserva QUERÊNCIA e seu po-sicionamento na Serra da Palha.

� Mapa 5 - Microbacias, com dados altimétricos, da área de influência.

� Mapa 6 - Distribuição dos rios na Região de QUERÊNCIA – Santa Dalila. � Imagem tridimensional 3 – Perfil da região – leste - azimute 90º.

� Mapa 7 – Distribuição da vegetação por altitude na floresta ombrófila densa.

� Mapa 8 – Cobertura vegetal e uso do solo na área de influência do projeto

24/2003.

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� Mapa 9 – Cobertura vegetal e uso de solo de Querência.

� Mapa 10 - mapa de formações vegetais e uso de solo da região de Santa Dali-

la.

� Mapa 11 – Localização da área construída do Sítio Querência.

� Mapa 12 – Trilhas e localização da caixa d’água.

� Mapa 13 – Comunidades da área de influência de Querência.

� Mapa 14 – Distância do córrego.

� Mapa 15 – Declividade em Querência.

� Mapa 16 – Zoneamento da RPPN Querência.

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V - LISTA DE SIGLAS ADASA - Associação de Defesa Ambiental

AIDEIA - Associação Internacional de Desenvolvimento Econômico Inter Ambiental

APA - Área de Proteção Ambiental

APN - Associação do Patrimônio Natural

APP - Área de Preservação Permanente

BS - British Standard (Norma Inglesa)

CAPES – Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Supe-rior.

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

CTI - Centro de Integração Turística

DAP - Diâmetro na Altura do Peito

EMBRATUR - Empresa Brasileira de Turismo

ETE - Estação de Tratamento de Esgoto

FAPERJ - Fundação do Amparo a Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro.

FNMA - Fundo Nacional do Meio Ambiente

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renová-veis

ISO - International Standard Organization (Organização de Normas Internacional)

Km - Quilometro

Kw - Kilowatt

M - Metro

M² - Metro Quadrado

MMA - Ministério do Meio Ambiente

NBR - Norma Brasileira

OIA - O Instituto Ambiental

PARNASO - Parque Nacional da Serra dos Órgãos

RPPN - Reserva Particular do Patrimônio Natural

UC - Unidade de Conservação

UERJ - Universidade Estadual do Rio de Janeiro

UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro

UTM – Universal Transversal Mercartor (Projeção Universal Transversal de Mer- cartor)

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VI - O Plano de Manejo

6.1 - INFORMAÇÕES GERAIS

6.1.1 - O MUNICÍPIO DE MAGÉ

O município de Magé ocupa uma grande área de planície, estando a parte urbana, na sua maioria, entre as cotas de 20m e 40m de altitude. Observa-se a presença de al-gumas pequenas elevações, na maioria com cotas de até 70m, que consistem em áreas verdes com predomínio de vegetação arbustiva e presença de algumas espé-cies arbóreas. Ocorrem também depressões, formando bacias alagáveis, em diversas partes do território municipal. Na região de baixada, observam-se vários rios e canais navegáveis, favorecidos pela largura e profundidade da calha. Ao Norte, o município de Magé faz divisa com o mu-nicípio de Petrópolis, nas vertentes da Serra da Estrela e do Parque Nacional da Serra dos Órgãos. As áreas do município situadas acima da cota 100 estão contidas na APA de Petrópolis e, embora já se evidencie a ocorrência de algumas habitações isoladas, essas áreas ainda se encontram pouco comprometidas pelo processo de ocupação irregular1. Ao Sul, o município de Magé fica limitado pelas águas da Baía de Guanaba-ra. Ao Leste, pelo município de Guapimirim e Oeste, por Duque de Caxias.

A região foi originariamente constituída de antigas fazendas que, ao longo do processo de desenvolvimento, foram loteadas, criando-se pequenas propriedades. Os pequenos sítios resultantes foram parcelados em loteamentos residenciais urbanos. Ao longo desse processo, ocorreu uma nítida divisão entre área rural e área urbana. A área ur-bana tornou-se densamente ocupada, com um planejamento tardio que contemplou apenas as áreas centrais destes núcleos. As áreas rurais mantiveram suas caracterís-ticas originais por muito tempo e foram lentamente se adensando e se integrando à região metropolitana do Rio de Janeiro. Essas áreas, hoje, mantêm os mesmos aspec-tos urbanos e culturais antigos e os problemas urbano-estruturais mais recentes.

A maioria das edificações localizadas fora do centro urbano é térrea ou com dois pa-vimentos, em alvenaria de tijolos de barro cozido sem emboço2 ou com emboço rústi-co, destinado a moradia ou ao comércio varejista. As principais vias do Município de Magé encontram-se asfaltadas e sinalizadas e o escoamento do tráfego é, em geral, eficiente, absorvendo o volume de veículos sem maiores transtornos (mapa 3). Vias secundárias calçadas em paralelepípedos rece-bem grande volume de tráfego de veículos pesados e não estão em boas condições. O sistema de drenagem de águas pluviais é inexistente ou insuficiente, aspecto carac-terístico de uma rede de infra-estrutura urbana inadequada. As vias internas na área periférica do município, em grande parte ainda não estão pavimentadas (Fotografia 1).

1 Exceto na Serra da Estrela, território onde a ocupação irregular foge ao controle do Poder Público nos dois municípios que alcança (Magé e Petrópolis). 2 Emboço – também denominado reboco.

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A – INFORMAÇÕES GERAIS

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Fotografia 1 – Muitas ruas no interior de Magé ainda não são pavimentadas.

No que se refere às condições de saneamento básico, o Município de Magé é deficien-te. O esgoto é conduzido juntamente com as águas pluviais, atingindo córre-gos e canais da região ou as águas da Baía de Guanabara. Para minimizar este problema, estão sendo construídas duas Estações de tratamento de Esgoto, a ETE da Praia de Mauá e a ETE de Santo Aleixo3. O abastecimento de água en-contra-se comprometido, conseqüência da ocupação desordenada e das inun-dações constantes. A coleta de lixo é insuficiente ocasionando depósitos irre-gulares a céu aberto.

6.1.2 - ACESSO Da cidade do Rio de Janeiro, partindo de ônibus da Rodoviária Novo Rio ou do Termi-nal Menezes Cortes (próximo ao Aeroporto Santos Dumont), segue-se para Magé. Saltar no quilômetro 130 da rodovia BR 116, na localidade denominada Santa Dalila (linhas para Magé). Atravessar a pista por passarela suspensa, dirigindo-se ao outro lado. De frente para a praça de Santa Dalila, seguir para a direita, dobrando a primeira esquerda, onde, no poste, encontramos seta indicativa do Sítio Querência. Daí se-gue-se até alcançar a segunda entrada à esquerda, uma rua menor, com leve subida, denominada Rua Marta, onde, a cem metros, no número 328, encontram-se os por-tões do Sítio Querência. Do Aeroporto Internacional Tom Jobim, seguindo pela linha vermelha, pega-se a rodo-via BR 040 (Rio Juiz de Fora) e, seguindo em direção à BR 116 (Rio Magé), passa-se por Santa Dalila. Seguir adiante até o viaduto na localidade de Suruí, onde se pega o retorno. Ainda na BR 116, retorna-se pela pista de descida até Santa Dalila, onde, no quilômetro 130 da rodovia, dobra-se à direita, seguindo-se uns cinqüenta metros, on-de, contornando parte da praça, dobra-se novamente na primeira à esquerda, seguin-do o caminho descrito para quem vem de ônibus (mapa 4). Automóveis em geral têm acesso à propriedade, ainda que, em grande parte do traje-to, a rua é de solo compactado, o que na época das chuvas causa grandes poças de água e possíveis atoleiros. Desde a estrada, o caminho passa por ruas com casas que, nas proximidades do Sítio Querência, dão lugar a sítios de recreio e lazer, com muita vegetação e pássaros.

3 A ETE de Santo Aleixo está sendo questionada por segmentos sociais de Santo Aleixo, sob o argumento de que está inserida no conjunto arquitetônica da antiga fábrica de Santo Alei-xo, que é a primeira indústria implantada na região. Sua construção encontra-se paralisada.

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A – INFORMAÇÕES GERAIS

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6.1.3 - HISTÓRICO DE CRIAÇÃO E ASPECTOS LEGAIS

O sítio Querência, adquirido em 01 de setembro de 1996 pelos seus atuais proprie-tários, Sr. Ângelo César Bottino e sua esposa, Sra. Nilma Marques Bottino, possui uma extensão de 63.177,00 m2 de área total, situada entre os 25 e 125 metros de altitude. Está localizado em uma formação vegetal de baixo montana, com integra-ções com as formações aluviais e de planície. Por estar situado em região com crescente processo de urbanização, ainda que com características agrícolas, seu patrimônio sofre intensa influência e pressão antrópica, ilhado entre vários campos de pastagem e a formação da Serra da Palha. No entanto, após interesse e muito empenho do proprietário Ângelo Bottino, em 01 de fevereiro de 1996, a RESERVA QUERÊNCIA foi então criada conforme a portaria 05/99-N do IBAMA, contendo uma área tombada de 4,8 ha. A RPPN de Querência encontra-se entre os limites da APA Petrópolis e da APA de Guapimirim . Os recursos necessários para a manutenção do Sitio Querência e da RPPN que lhe pertence são obtidos através da pousada que oferece atrativos como um campo de futebol, vôlei e piscina natu-ral, uma grande extensão verde e um pomar. A área possui uma grande extensão verde sendo utilizada para o ecoturismo.

� Memorial descritivo do Sítio Querência

Partindo do ponto inicial no extremo sul da propriedade, sob o marco do padrão de energia elétrica, de coordenadas UTM 690214/7494592, segue em linha reta até o ponto de coordenadas UTM 690099/7494671. Desse ponto, segue em linha reta até o ponto de coordenadas 690079/7494649. Desse ponto, segue em linha reta até o ponto de coordenadas 689938/7494739. Desse ponto, segue em linha reta até o ponto de coordenadas 689766/7494798, no ponto de extremo oeste, definindo o limite sudoeste da propriedade. Desse ponto, segue em linha reta até o extremo norte da propriedade de coordenadas, UTM 689848/7494940, definindo o limite noroeste da propriedade. Desse ponto, segue em linha reta até o ponto de extremo leste da propriedade de co-ordenadas UTM 690258/7494699 sob o marco da pedra, definindo o limite nordeste da propriedade. Desse, ponto segue sob a linha de arruamento até o ponto inicial, sob o marco do relógio, definindo o limite sudeste da propriedade, com área total de 63.349m² e perímetro de 1.277m.

� Memorial descritivo da Reserva Querência

Partindo do ponto inicial de extremo leste da Reserva, de coordenadas UTM 690155/7494760, segue em linha reta até o ponto de coordenadas UTM 690099/7494762. Desse ponto, segue em linha reta até o ponto de extremo sul da Reserva, de coordenadas 690078/7494649, definindo o limite sudeste da Reserva. Desse ponto, segue em linha reta até o ponto de coordenadas 689936/7494739. Des-se ponto, segue em linha reta até o ponto de extremo oeste, de coordenadas 689766/7494798, definindo o limite sudoeste da Reserva. Desse ponto, segue em li-nha reta até o ponto de extremo norte da Reserva, de coordenadas 689847/7494940, definindo o limite noroeste da Reserva. Desse ponto, segue em linha reta até o ponto inicial de extremo leste, definindo o limite nordeste da Reserva, com área total de 48.349m² e perímetro de 997m.

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A – INFORMAÇÕES GERAIS

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Seminário participativo El Nagual – Outubro de 2004

Composição fotográfica 1 – Seminário participativo que inseriu os proprietários de RPPNs e representantes das comunidades da região na elaboração do Plano de Manejo e Zoneamen-to da Reserva El Nagual e da Reserva Querência

Fotografia 2 – Entrada do Sítio Querência – ao fundo a formação florestal da Serra da Palha.

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A – INFORMAÇÕES GERAIS

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• FICHA RESUMO DA RPPN

Reserva Particular do Patrimônio Natural El Nagual Proprietários Ângelo César Bottino

Nilma Marques Bottino

Endereço Rua Marta, 209 – Loteamento Santa Dalila Santa Dalila, Magé – RJ

Telefone (21) (21) 2647 0352 Home page www.sitioquerencia.kit.net

Área da RPPN 48.349 m2 Área da propriedade: 63.349m2

Altitude mais baixa – 25 m (limite da propriedade – fora da reserva protegida)

Altitude mais alta – 125 m (limite com maior altitude da RPPN)

Altitude no local onde se localiza a sede do Sítio Querência – 32 m

Principal Município de acesso a propriedade: Distrito de Santa Dalila – Magé

Município e Estado abrangido: Magé, Estado do Rio de Janeiro

Coordenadas UTM 690188 Geográfica – Latitude 22:38’:39”

7494675 Longitude 43:08’:57”

Data de criação 2 de fevereiro de 1999 Número de criação: Portaria IBAMA 5/99

Marcos de referência importantes nos limites e confrontantes

Marco 1 Marco 2

Relógio de energia 690214 7494592 Pedra grande

690258 7494701

Bioma e ecossistemas

Bioma Mata Atlântica em floresta ombrófila de baixo montana e formações de terra baixa

Distância de centros urbanos próximos 9Km do centro de Magé

Atividades ocorrentes No sítio: pousada com hospedagem e restaurante. Na RPPN: Ecoturismo, Educação Ambiental.

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B – DIAGNÓSTICO

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VII – DIAGNÓSTICO

7.1 - CARACTERIZAÇÃO DA RPPN

Componentes físicos

7.1.1 - Hidrografia Querência está localizada em uma sub bacia, composta de pequenos córregos, nasci-dos na Serra da Palha e que desembocam em um lago, situado na direção Sudeste da RPPN, em terreno vizinho cuja vista é alcançada a partir da sede de Querência4. Daí desce um único rio que alcança a rodovia BR 116, onde segue no sentido leste atra-vés de um canal que margeia a estrada, desembocando no Rio Suruí (Mapa 6). Há um único córrego que passa pela propriedade, margeando o seu rumo Sudeste, próximo à sede e fora da área gravada como RPPN. A montante, o mesmo córrego segue próximo à propriedade em seu lado Norte/Leste, local que ainda apresenta uma vegetação em estágio de recuperação médio da mata. Este córrego abastece o Sítio Querência. Nos períodos de estiagem, correspondentes aos meses de maio a setem-bro, o nível do córrego baixa significativamente, expondo as rochas boleadas e lisas, formatadas pela erosão dos ventos e das águas, em seu intemperismo contínuo. Na época das cheias, contudo, os níveis podem subir, atingindo, em alguns trechos, 2,5 metros de altura, na margem. Dada a constituição morfológica da região, considerando-se o encaixe de um vale na direção noroeste-sudeste, o ambiente apresenta-se em um ponto estratégico, onde se destaca a necessidade de uma fiscalização rotineira e contínua objetivando a sua pro-teção e conservação, bem como projetos de recuperação, como cabeceira contribuinte da bacia do Rio Suruí.

7.1.2 – Meio Físico

Em 1865, iniciaram-se as observações científicas sobre o fundo rochoso abaixo do solo argilo-arenoso que serve de suporte para a marcante biodiversidade da Mata A-tlântica, característica da encosta sul da Serra do Mar, nas proximidades da Baía de Guanabara. Desde meados do século XIX, estudos têm apontado a forte decomposi-

4 É importante mencionar que na área do referido lago, que compõe a sub bacia da região, foi realizado um movimento de solo no final do ano de 2004. Ainda que devidamente embargado e autuado pelo IBAMA, o citado movimento alterou de forma visualmente agressiva e impactante as margens do corpo de água que geomorfologicamente forma a recepção dos córregos que lhe descarregam. Há indicativos de refluxo no córrego que confronta Querência a partir deste movimento de solo, o que deve ser mais bem averiguado. Assim, é oportuno citar a importância hidrográfica do referido lago, recomendando-se medi-das que lhe promovam a recuperação da citada Área de Preservação Permanente, bem como a respon-sabilidade de seu proprietário em sua conservação e controle.

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B – DIAGNÓSTICO

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ção química e a presença de pontões rochosos em toda essa região. Pesquisadores como Louis Agassiz acreditavam se tratar de formações provocadas por geleiras numa antiga glaciação.

No século XX, as interpretações mudaram de rumo com as observações do sedimen-tologista André de Cailleux e do geomorfólogo Jean Tricart, que interpretaram as for-mações como herança de um período mais árido e menos quente no Quaternário su-perior. Em 1970, estudos do geógrafo Ab’Sabber aprofundaram a interpretação da gênese da região da Baía de Guanabara, apontando variações do nível do mar no fim do Quaternário e uma estabilidade tectônica alcançada no Pleistoceno superior e Ho-loceno. Outros estudos também argumentavam um recuo do mar e fortes erosões flu-viais laterais. “... temos certeza de que, após ter sido rio, a Guanabara se tornou baía com a rápida ascensão do mar entre 12700 e 6000 A.P. O afogamento do eixo principal do paleo-rio da Guanabara respondeu pela ampliação do embaíamento regional, enquan-to as transgressões marinhas por entre morros e penedos empurraram areias e cria-ram condições para gerar restingas, tômbulos e praias maravilhosas que hoje consti-tuem o diversificado Sítio das cidades do Rio de Janeiro e Niterói”. (Ab’Sabber, 2001: 195-6).

Segundo o autor acima, a formação desta região se iniciou na fase megatectônica da separação entre Brasil e África, que permitiu a ocorrência de falhamentos profundos preenchidos por sedimentação marinha, alterando radicalmente a borda ocidental pas-siva do escudo brasileiro. Este processo tectônico é responsável pela escarpa da serra do mar ocorrido entre fins do Cetáceo e início do Cenozóico (terciário).

Segundo Amador (1997), “a região da baía abrange quatro importantes províncias fisiográficas de expressão regional. A escarpa da Serra do Mar, os maciços litorâneos, a Baixada Fluminense e a baía de Guanabara” (p. 32) - (Imagem tridimensional 2).

A RPPN Querência fica localizada na Baixada Fluminense, entre a baía de Guanabara (S) e a base da Serra do Mar (N) e, portanto, influenciada pelos processos de forma-ção da baía de Guanabara e da Serra do Mar (Imagem tridimensional 3). Nesta parte da Baixada Fluminense, encontra-se uma sucessão de colinas com formas de meia-laranja convexas que podem ocorrer isoladamente ou agrupadas em pequenos nú-cleos (Fotografia 3). Pode-se caracterizar estas formas como colúvios ou rampas de colúvio, por se caracterizarem como depósitos originados in situ, essencialmente atra-vés de processos erosivos superficiais. No ambiente analisado, encontram-se sedi-mentos argilosos-arenosos de coloração avermelhada e afloramentos rochosos em forma de blocos provenientes da formação descrita acima.

O clima também é um fator essencial na compreensão dos processos erosivos e na formação rochosa desta região. Como descreve bem Bigarella e Meis (in: Amador p. 32): “Nas flutuações climáticas do úmido para o seco, chuvas concentradas podem contribuir para a saturação do manto de intemperismo, favorecendo o processo de solifluxão”.

A Serra do Mar é basicamente constituída de gnaisses, granitóides ricos em feldspato e de granulação grosseira e sofre com o processo de intemperismo e erosão descritos acima. A região contribui, portanto, com a drenagem que flui para a baía da Guanaba-ra, transportando sedimentos, processo que tem se acentuado com a ação histórica predatória de ocupação, onde se destacaram as atividades agrícolas como as planta-

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Fotografia 3 - Pequenas colinas que compõe a região. Ao fundo, as bases da Serra dos Órgãos.

ções de café no século XIX e a substituição por pastos extensivos e cultivo de mandi-oca, no século XX. Atualmente encontramos também uma ocupação peri-urbana for-mada por pequenas comunidades como a de Santa Dalila, próxima da entrada da RPPN de Querência. A degradação ambiental provocada pela ocupação desordenada e pelo alto índice de desmatamento acarretam processos de assoreamento dos canais fluviais, sendo destacado por Amador (1997: p.17), “de todos os problemas ambientais o mais preocupante, tendo em vista que poderá vir a acarretar a morte física da baía e com isso a perda de todos os usos benéficos de suas águas”. As construções e o as-falto, por sua vez, aceleram os processos, aumentando o escoamento superficial e provocando inundações.

A região é cortada por vários canais que descem da Serra em direção à baía pela verten-te Sul (mapas 5 e 6). Nos colú-vios localizamos pequenas nascentes que contribuem para a rede de drenagem geral desta vertente. Na área de baixada, em direção à baía, sob influência da maré, os ca-nais encontram os mangue-zais, onde, com a perda de energia, passam a meandrar. Muitos destes canais sofrem degradação com a quantidade enorme de lixo e esgoto. As bacias fluviais estão sendo modificadas desde o período colonial, mas, a partir do século XX, os rios passaram a ser canalizados e retilinizados, aumentando os processos de assoreamento e conse-qüentemente a poluição da baía de Guanabara.

7.1.2.1 – Estudos de campo na região da RPPN de Querência

Na região que compreende a subida da localidade de Santa Dalila para a Serra da Palha (UTM: 7495030, 0689902, com altitude que varia de 100 a 220 metros) encon-tramos agrupamentos de depósitos coluvionares com a presença de Mata Atlântica secundária, serrapilheira um pouco desenvolvida e alta umidade, acentuada por se tratar de período com pluviosidade elevada. Em toda esta área há predominância de afloramentos de blocos de granito. Na baixa encosta encontramos formação de brejos, devido à diminuição da declividade.

Na cabeceira do morro do Inglês, localizam-se formas côncavas indicando o desenvol-vimento de canais de 1a ordem, assim como fendas nos blocos rochosos, causadas pelo elevado grau de intemperismo químico.

Na vertente sul, a vegetação predominante é de Mata Atlântica secundária, com gran-de presença de espécies exóticas (principalmente jaqueiras). A história de ocupação da região estudada é marcada pela presença de cafezais, que foram substituídos por pastos e finalmente pela recuperação da mata, através da regeneração natural, facili-tada pelo remanescente de mata nativa localizado no topo das colinas e, sobretudo,

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pelo abandono das pastagens nas últimas décadas. Na alta encosta, devido à mata mais composta, encontramos a serrapilheira um pouco mais estruturada, incorporada ao horizonte A do solo, misturada a blocos e seixos e com pouca argila (Fotografia 4). Na baixa encosta, onde se encontra Santa Dalila, localizam-se afloramentos rochosos com nascentes de água, onde a vegetação penetra nos pontos de diáclise dos blocos, acentuando a fragmentação (Fotografia 5). Na vila, encontram-se cortes na encosta, fei-tos pelos moradores para aumentar a área de construção, expondo o horizonte B do solo, bem desenvolvido, que, favorecendo o escoamento superficial, podem acarretar movimentos de massa, pondo em risco os moradores.

Na vertente norte de maior declividade (local do ponto fotográfico da fotografia três), encontra-se o mesmo tipo de vegetação, porém, com predomínio de gramíneas, como o capim colonião. Também foram encontrados afloramentos rochosos. Ao norte, há formação de um anfiteatro, onde se concentram fluxos para formação de brejos na baixa encos-ta.

7.1.3 - Clima

A seca metereológica, sem influência sobre a vegetação, consta de 1 a 3 meses secos que são compensados pelas reservas de água do solo e superados pela natureza es-tanque da vegetação5. A área em questão situa-se em zona intertropical, com varia-ções significantes que oscilam entre temperaturas elevadas, que ultrapassam 40º C no verão nas áreas mais rebaixadas, a temperaturas mínimas absolutas negativas de até -6º C no inverno nas áreas mais elevadas da Serra dos Órgãos. Com relação ao regi-me de precipitação, a variabilidade também é relevante, apresentando oscilação de

5 Rizzini, Carlos Toledo. Tratado de Fitogeografia do Brasil – aspectos ecológicos. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1976.

Fotografia 4 – afloramento rochoso na cota 100

Fotografia 5 – Afloramento rochoso com mina de água em Santa Dalila.

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cerca de 1000mm nas áreas deprimidas da Baixada até superiores a 2200mm nas áreas a montante da Serra do Mar. Pode-se caracterizar o clima da região como quen-te e úmido, com temperatura média anual de 24º na Baixada e 20º na Região Serrana.

Componentes Bióticos

7.1.4 – Vegetação

a) Considerações iniciais Os estudos de vegetação, relativos à elaboração do Plano de Manejo de Querência foram realizados a partir de trabalhos de campo, feitos dentro da reserva e em seu entorno próximo. Para a caracterização da vegetação original, foram utilizadas como fonte de referência o Projeto Radam Brasil (BRASIL, 1983), a Classificação da Vege-tação do Brasil (EITEN, 1983), o Tratado de Fitogeografia do Brasil, aspecto sociológi-cos e florísticos (RIZZINI, 1979) e Classificação da Vegetação Brasileira adaptada a um Sistema Universal (VELOSO et.al.,1991).

No levantamento de campo, a Floresta Ombrófila Densa com suas formações fo-ram identificadas e podendo ser hierarquizadas em função de sua densidade, da sua composição, da sua estruturação e da sua idade. Esse procedimento permitiu a divi-são em cronoseqüências dessa formação em: “macega”, “capoeira”, “capoeirão” e “mata”.

• A “macega” apresenta indivíduos arbóreos, ocorrendo isolados ou em agrupa-mentos e podendo até ser interligados por manta de cipós. Nesta vegetação aberta, influenciada pela insolação, ainda ocorre grande quantidade de gramí-neas, como sapé, capim-gordura e braquiária.

• A “capoeira” é um agrupamento em definição, formando moitas, apresentando imbaúbas, quaresmeiras, pimenteira, pixirica e cambará, espécies pioneiras e colonizadoras cuja dispersão é realizada principalmente pelo vento.

• O “capoeirão” é um agrupamento com maior densidade, apresentando, além das pioneiras, as espécies secundárias iniciais, dispersadas por pássaros e morcegos, portanto com maior diversidade.

• A “mata” é uma formação florestal composta por espécies secundárias, tanto iniciais quanto tardias, em dominância nos estratos superiores (em torno de 20m), ocorrendo principalmente em áreas onde o abandono da lavoura de café se deu há mais tempo.

• Mata primária – mata original • Matas Ciliares – conhecidas igualmente como Ripárias ou de Galeria. Desem-

penham funções muito importantes na manutenção da qualidade das águas, na estabilidade dos solos, na regularização dos regimes hídricos (manutenção de um fluxo menos flutuante ao longo do ano), na questão das cheias/inundações, no processo de controle do assoreamento dos rios, contribuindo, finalmente, para o sustento da fauna aquática e ribeirinha. Possuem, ainda, importância vi-tal para a proteção dos mananciais, para o controle dos nutrientes, sedimentos, adubos, agrotóxicos e erosão do solo sendo, por fim, importantes na definição das características físicas, químicas e biológicas dos rios.

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b) Caracterização da Cobertura Vegetal

O alto grau de interferência na Mata Atlântica é conhecido, desde o início da coloniza-ção européia, com a ocupação dos primeiros espaços territoriais próximos à região costeira e a exploração do pau-brasil – árvore da qual era extraída uma tintura muito utilizada pela indústria têxtil na época. A região também sofreu os impactos dos dife-rentes ciclos de exploração que vieram depois: do ouro, da cana-de-açúcar e, posteri-ormente, do café. Novos ciclos econômicos de desenvolvimento e de integração na-cional surgiram e instalou-se de vez um processo de industrialização e, conseqüente-mente, de urbanização, com as principais cidades e metrópoles brasileiras assentadas hoje na área originalmente ocupada pela Mata Atlântica, que fizeram com que sua vegetação natural fosse reduzida drasticamente. A dinâmica da destruição foi mais acentuada nas últimas décadas, resultando em alterações severas para os ecossiste-mas pela alta fragmentação do habitat e perda de sua biodiversidade. O resultado atu-al é a perda quase total das florestas originais, a contínua devastação dos remanes-centes florestais existentes.

CARACTERIZAÇÃO DA VEGETAÇÃO ORIGINAL

� Contexto Regional

Veloso et al. (1982) apresentam as seguintes descrições das fitofisionomias ocorren-tes na região de estudo – Região Florística do Sudeste (Floresta Ombrófila Densa): a maior parte dos ecótipos que revestiram o “planalto do Juratriássico” meridional bra-sileiro partiu do Escudo Atlântico, onde estava refugiada a flora que originou parte da atual cobertura florística da região sudeste.

O termo Floresta Ombrófila Densa, criado por Ellemberg & Mueller-Dombois (1965/66), substitui Pluvial (de origem latina) por Ombrófila (de origem grega), ambos com o mesmo significado – “amigo das chuvas”. Além disso, empregaram pela primei-ra vez os termos “Densa” e “Aberta” como divisão das florestas dentro do espaço inter-tropical, muito embora este tipo de vegetação seja conhecido também pelo seu nome original dado por Schimper (1903) e reafirmado por Richards (1952) de “Floresta Plu-vial Tropical”. Aceitou-se a designação de Ellemberg & Mueller-Dombois, porque a-presenta as duas fisionomias ecológicas tanto na Amazônia como nas áreas costeiras, justificando-se assim o uso da terminologia mais recente.

Este tipo de vegetação é caracterizado por fanerófitos, justamente pelas subformas de vida macro e mesofanerófitos, além de lianas lenhosas e epífitas em abundância, que o diferenciam das outras classes de formações. Porém a característica ecológica prin-cipal reside nos ambientes ombrófilos que marcam muito bem a “região florística flo-restal”. Assim, a característica Floresta Ombrófila Densa está relacionada a fatores climáticos tropicais de elevadas temperaturas (médias de 25ºC) e de alta precipitação, bem distribuída durante o ano (de 0 a 60 dias secos). Além disso, dominam nos ambi-entes desta floresta, latossolos distróficos e excepcionalmente eutróficos, originados de vários tipos de rochas, desde as cratônicas (granitos e gnaisses) até os arenitos com derrames vulcânicos de variados períodos geológicos. Destaque-se o fato de que, diversos microambientes tais como encostas íngremes, vales, grotas e áreas de aflo-ramentos rochosos podem ser caracterizados por uma fisionomia com composição

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florística e estrutura própria6. Tal tipo vegetacional pode ainda ser subdividido em for-mações, ordenadas segundo hierarquia topográfica que refletem fisionomias diferentes de acordo com as variações ecotípicas7 das faixas altimétricas resultantes de ambien-tes também distintos. O mapa de vegetação (Mapa 8) é o resultado da pesquisa de campo, com base nas amostras em toda a área de influência do projeto FNMA/OIA 24/2003 e sua leitura geoprocessada.

A Reserva Querência encontra-se no extremo Sudoeste da Serra da Palha, entre a cota 25 e a cota 125, enquadrando-se nas formações de terra baixa e na sua transição para a Floresta Ombrófila Densa Submontana - (Mapa 7).

Nas terras baixas da floresta Atlântica, os tabuleiros são formados em terrenos qua-ternários estabelecidos em baixas altitudes, até 50 metros, em áreas alagadas ou mui-to úmidas. Manchas florestais incluídas nesta tipificação são denominadas, freqüen-temente, matas paludosas. Esta vegetação apresenta composição florística variada, com a presença em destaque do pau tamanco (Aegiphila sp.). Seu sub-bosque pode estar presente com várias Piperaceae (Piper sp., Potomorphe sp., Ottonia sp.) e Cos-tus spiralis (Zingiberaceae). Outras espécies arbóreas com freqüência nesta formação são as figueiras (Fícus organensis, Fícus insípida – Morácea), Ingá (Inga sp.), e a car-rapeta (Guarea sp.). A umidade destes ambientes favorece a incidência de epífitas representadas por Araceae, Bromeliaceae, Cactaceae, Piperaceae e Orchidaceae. Ocorrem nas matas paludosas algumas trepadeiras, como certas espécies de Diosco-reaceae, escova de macaco (Combretum fruticosum e Combretum laxum – Combreta-ceae).

Já a formação submontana, com o seu dessecamento do relevo montanhoso e dos planaltos, com solos medianamente profundos, é ocupada por uma formação florestal que apresenta fanerófitos8 com altura aproximadamente uniforme. A submata é inte-grada por plântulas de regeneração natural, poucos nanofanerófitos9 e caméfitos10, além da presença de palmeiras de pequeno porte e lianas herbáceas em maior quan-tidade. Suas principais características ficam por conta dos fanerófitos de alto porte, raramente ultrapassando os 20 m na região de Santa Dalila.

Os principais remanescentes da formação submontana da Floresta Ombrófila Densa estão situados na escarpa frontal da Serra do Mar, com declive geralmente muito a-centuado e constituem quase sempre as Áreas de Preservação Permanente (APP). A composição florística é rica e variada, sendo alguns elementos bastante comuns, co-mo os tapiás (Alchornea sp.), as embaúbas (Cecropia sp.) e a quaresmeira (Tibouchi- 6 Manuais Técnicos em Geociências. Número 1 - Manual Técnico da Vegetação Brasileira. Rio de Janei-ro: IBGE, 1992. 7 Ecótipo: conjunto de indivíduos de uma comunidade com um mesmo padrão genotípico. 8 Fanerófitos: plantas lenhosas com gemas e brotos de crescimento protegidos por catafilo, situados aci-ma de 0,25m do solo. 8 Plantas cuja altura varia entre 0,25 e 5m

. 9 Plantas sublenhosas e/ou herbáceas com gemas periódicas, protegidas por catafilos e situadas até 1 metro do solo.

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na sp.) – características de mata secundária. As figueiras são presenças significativas, dando substrato para uma diversidade de epífitas, incluindo bromélias, samambaias e orquídeas.

No seu rumo Norte, na Serra da Palha, existem áreas reflorestadas com talhões ho-mogêneos de eucaliptos. Em áreas rurais, o eucalipto é útil para a confecção de cer-cas e cabos de ferramentas, ripas, caibros, lenha e outros usos. Os trabalhos de campo não puderam avaliar em que situação se encontram os talhões e qual a quanti-dade em hectares de reflorestamento dentro da área de influência do projeto FNMA/OIA 24/2003. O eucalipto é espécie arbórea exótica, de fácil e rápido cresci-mento. O reflorestamento com eucalipto atingiu o auge na década de 1970, quando havia, inclusive, incentivos fiscais e empréstimos disponíveis em bancos públicos para o plantio. Hoje a situação é de abandono da maioria dos plantios, o que se comprova pela regeneração de mata atlântica no dossel inferior.

� Descrição da Vegetação da RPPN Querência

A área próxima à sede de Querência, seguindo a tendência de toda a região, foi usada para o cultivo de café (Cofea arabica) e pode ser caracterizada como capoeirão. No estrato herbáceo, ocorrem várias Pteridophitas, com diversos tipos de samambaias, e também as piperáceas, as heliconias, as marantáceas, as aráceas rasteiras, a Zebrina pendula, algumas orquídeas terrestres (Eulophidium maculatum) e muitas mudas de árvores como o camboatá (Cupania vernalis). Nota-se a ocorrência de Climbing to-wers, trepadeiras heliófilas que unem as copas como uma teia. As árvores têm diâme-tros pequenos. Árvores baixas, com até 3m de altura e 10 a 15cm de diâmetro, são características desta área.

O terreiro da sede foi implantado em uma área de cerca de 6.000m2. Existem muitas espécies frutíferas na área, dentre elas caju, manga, banana, goiaba, acerola, ameixa, laranja, limão, jambo, coco. Algumas árvores como camboatá, jacaré, quaresma e embaúba também ocorrem na área de influência da sede.

Na reserva, entre a cota 50 e a cota 100 encontramos uma dominância de legumino-sas entre os demais indivíduos arbóreos. O dossel não ultrapassa os 20 metros de altura, já ocorrendo maior diversidade de espécies florestais arbóreas (fotografias 6 e 7). A cobertura é fechada, ainda que apresente locais com clareiras formando pequenas capoeiras (mapa 9 e mapa 10). O DAP das árvores varia entre 15 e 35 centímetros. Per-cebe-se uma presença contínua de serrapilheira. Destaque-se a presença de espécies pioneiras, características do estágio inicial da formação atlântica da região, e outras características das formações secundárias. Assim, encontra-se nesta cota o cinco-folhas (Sparattosperma leucanthum), o mulungu (Erythrina sp.), a candiuva (Trema micrantha), a quaresmeira (Tibouchina granulosa), o açoita cavalo (Luehea grandilflo-ra) o jacatirão (Miconia cinnamomifolia), a canafístula (Cassia ferruginea), carrapeta (Guarea guidonia), imbaúba (Cecropia sp.), a palmeira baba de boi ou côco-catarro (Syagrus romanzoffiana), a aroeira ( Astronium sp.), o tanheiro (Alchornea sp.), a leitei-ra (Peschiera fuchsiaefolia), o cedro (Cedrela fissilis), o angico (Piptadenia sp.), a ma-taiba (Sapindaceae ) e o guaritá (Astronium sp.), o Sparatosperma sp. e a maminha de porca (Zanthoxylum rhoifolium ). O estrato, já não tão expressivo do sub-bosque, é formado por algumas rubiáceas e melastomáceas, apresentando também ampla dis-persão de diversas espécies de Pteridophyta ao longo da sua extensão. Podem-se

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encontrar algumas epífitas compondo integrações entre samambaias, e algumas bro-mélias.

Acima da cota 100, em direção ao Noroeste, a mata já se apresenta mais uniforme, com uma fisionomia arbustiva/arbórea bem definida, início de diferenciação de estra-tos e a presença de algumas espécies características de locais com sombra. Seu es-tágio sucessional correspon-de ao estágio médio de re-cuperação, com dominância de leguminosas pioneiras e secundárias, já formando um dossel de até 20 metros de altura e apresentando alguns indivíduos emergentes. Seu solo, sempre coberto com serrapilheira, apresenta, em alguns pontos mais ao Norte, afloramentos rochosos que limitam as condições de de-senvolvimento das matas para algumas espécies. Há sempre uma presença signi-ficativa de plântulas, assim como exemplares de várias idades competindo pelo espaço de desenvolvimento, ca-racterístico da sucessão natural (fotografia 8).

Fotografia 6 – estratos florestais com formações herbáceas, arbustivas e arbó-reas.

Fotografia 7 - estratos florestais com formações herbáceas, arbustivas e arbó-reas.

Fotografia 8 – presença significativa de plântulas na formação do estrato herbáceo

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O subosque presente apresenta uma composição entre samambaias (Pteridofitas), begônias (Begoniacea), jibóias e filodendros (Cyclanthaceae) com as melatomáceas, marantáceas, musáceas e rubiáceas de maior porte. Em alguns locais, mais próximos às raras trilhas ainda existentes, encontra-se o solo revestido por dois tipos de trapoe-raba (Tradescantia sp.). Em alguns locais, podemos encontrar trepadeiras lenhosas (lianas) e algum índice de epifitismo, com presença de diferentes espécies de bromé-lias.

Nessa altitude, encontramos as quaresmeiras (Tibouchina granulosa), o ipê cinco fo-lhas (Sparattosperma leucanthum), o açoita cavalo (Luehea divaricata), a caroba (Cy-bistax antisyphilítica), o camboatá (Cupania vernalis), a carrapeta (Guarea guidonia), a maminha de porca (Zanthoxylum rhoifolium), o ipê amarelo (Tabebuia sp.), alguns e-xemplares de embaúba (Cecropia sp.), o jacarandá (Machaerium sp.), a figueira mata pau (Fícus sp), a bicuíba (Virola oleifera), a leiteira (Peschiera fuchsiaefolia), o cedro (Cedrela fissilis) e o jacatirão (Miconia sp.), distribuídos de maneira regular.

� Descrição da Vegetação seguindo em direção Norte, para a Serra da Pa-

lha.

Na altitude de 150 metros, fora do Sítio Querência, no sentido Norte da propriedade,

dando continuidade a Serra da Palha, encontramos a região em uma fase inicial de regeneração, tomando ainda uma feição de capoeira e de macega (fotogra-fia 9). Severamente castigada por incêndios flores-tais, esta face da serra deverá aos poucos se rege-nerar, estando agora dominada por capins agressi-vos, bastante sujeitos a novos incêndios.

Uma parte mais plana funciona como divisor de águas entre as duas áreas já antropi-zadas, com a ocorrência de clareiras e colônias de bambu (fotografia 10), com feições de paisagismo antigo. Para chegar a esta parte, próxima aos limites do Sitio Querência, percorre-se uma trilha de cerca de 700m de comprimento que parte da sede e serpen-

Fotografia 9 - capinzal

Fotografia 10 – bambuzal

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teia ao longo de um pequeno corpo d’água até o divisor de águas. O local, situado nas imediações de Querência, é próprio e indicado para passeios e piquenique para os visitantes do sítio.

Nas proximidades da reserva, acima dos 50 metros de altitude, a jaqueira (Artocarpus integrifolia) ocorre em grande quantidade, com uma grande dominância sobre os demais indivíduos arbóreos. O dossel superior não ultrapassa os 20 metros de altura, ocorrendo pouca diversidade de espécies florestais arbóreas. Pode-se destacar a cinco-folhas (Spa-rattosperma leucanthum), a candiuva (Trema micrantha), a quaresmeira (Tibouchina gra-nulosa), o jacatirão (Miconia cinnamomifolia), canafístula (Cassia ferruginea), a bicuíba (Virola oleifera), a carrapeta (Guarea guidonia), imbaúba (Cecropia sp.), a palmeira baba de boi ou côco-catarro (Syagrus romanzoffiana), aroeira ou gonçalo-alves (Astronium sp. – 15 m de altura e DAP 20 cm), o tanheiro (Alchornea sp. – 8m de altura e DAP 15cm), a leiteira (Pes-chiera fuchsiaefolia), cedro (Cedrela fissilis), açoita-cavalo (Luehea divaricata - 10 m de altura e DAP 18 cm), angico (Piptadenia sp.), mataiba (Sapindaceae - 15 m de al-tura e DAP 30cm e guaritá (Astronium sp.), o Sparatosperma sp. – com 18 m de altu-ra e área basal 35cm, a maminha de porca (Zanthoxylum rhoifolium ). No estrato pou-co diferenciado entre o sub-bosque e o arbustivo podemos observar negamina (Sipa-runa guianensis), copiúba (Trichilia elegans) e varas de camboatá (Cupania vernalis).

Neste estrato, observa-se ainda o cafeeiro (Cofea ara-bica) e a Simira sp., com 8 m de altura, e o cambará (Go-chnatia polymorpha), o pri-meiro ocorrendo em espa-çamento dos antigos planti-os, e o segundo, indicador de estádios iniciais de rege-neração, sendo uma planta pioneira e comumente en-contrada nas macegas e pastos sujos.

Há uma parte do rio bem conservada, principalmente, na sua margem direita com uma formação ciliar bem de-

finida. Na margem esquerda encontramos um imponente jequitibá (Cariniana sp.), com um DPA de 4,4 metros e altura de 30 metros. Conforme a árvore foi crescendo, suas raízes, em forma tabular, desenvolveram-se ao em direção à beira do rio, garantindo a sua estabilidade na declividade do terreno e a sua fixação, com a pressão das águas do rio, durante as chuvas fortes.

Fotografia 11 – profissional da equipe medindo o DAP de um jequitibá

Fotografia 12 - copa do jequitibá

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Para efeito do resultado dos estudos e de informações originárias de publicações da flora da região, conferir a Tabela I - FLORA DA REGIÃO.

7.1.5 - A fauna da região de Querência

a) Considerações iniciais

Seguindo o padrão descritivo da área de influência estabelecida neste plano, a pes-quisa foi direcionada para a região de Santa Dalila, área onde se localiza Querência. O levantamento de fauna foi realizado com a utilização de duas metodologias distintas. A primeira, estabelecida com estudos diretos na mata, busca a observação de exempla-res ou a identificação de seus rastros. A segunda metodologia adotada no projeto i-dentifica, através de pesquisa direta com a população residente, indicadores e vestí-gios da presença de exemplares da fauna da região. Neste caso, foram duas as ações empreendidas: (1) a primeira através do encontro da equipe com pessoas que tenham convivência atual ou anterior (antigos caçadores, mateiros e outros), onde se tentou identificar as percepções e experiências adquiridas e considerar os relatos quanto à presença da fauna regional; (2) a segunda, agregando quesitos relativos à fauna na pesquisa realizada pelos monitores ambientais, cumprida no estudo da área antropi-zada, realizado para a elaboração deste plano de manejo (item 7.1.1.2). As informações resultantes do levantamento foram cruzadas, gerando a listagem rela-tiva à Tabela II – FAUNA, relativa aos animais da região de influência do projeto e a interação dessa população com o ambiente. A pesquisa nos forneceu indicativos das espécies originais, as que ainda habitam a região e aquelas que desapareceram. Para o estudo do ambiente, realizaram-se dois acampamentos de cinco dias dentro da reserva e cinco excursões de campo, sem dormida na mata. Nestes, foram estabeleci-dos dois horários para observação da fauna: um ao amanhecer (5:30h até 8:30h) e outro ao anoitecer (18:30h até 9:30h). Também foram levados em considerações e-ventuais avistamentos fora desses períodos. (Pianca, 2001). Em campo, os dados foram registrados em uma caderneta, sendo todos fotografados e geoprocessados. As chuvas dificultaram por vários dias o trabalho da equipe no campo. Em outros dias, a lua cheia pode ter atrapalhado um pouco, já que aumenta o campo de visão dos animais. Não foram utilizadas armadilhas durante os estudos e somente adotados métodos de observação em campo.

b) A região

A região de influência, segundo as análises da pesquisa antrópica realizada pelo projeto, é muito pressionada, decorrência das pressões promovidas, sobretudo pelo crescimento de uma população com poucas ofertas de desenvolvimento, onde em grande parte é significativa a ausência de infra-estrutura básica e o desemprego é quase generalizado. Devido às condições de pobreza, algumas famílias sobreviveram durante anos caçan-do, conservando alguns, até hoje, esta prática. Em geral, os animais são caçados para alimento e outros tantos, sobretudo da avifauna, para a comercialização ilegal. Cite-se o vestígio de ranchos de caçadores nas imediações de Querência, encontrados duran-

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te os levantamentos de campo. Um outro grande impasse identificado foi, quando da realização das pesquisas dos monitores ambientais, o medo dos moradores entrevis-tados em responder se conheciam algum caçador (ainda que não lhes fosse solicitada qualquer identificação deste). Nas vistorias de campo, constatou-se a pressão promovida pela Rodovia BR 116 para a fauna da região, por ter fragmentado a cobertura vegetal, dificultando a circulação dos animais, que muitas vezes são atropelados naquela via. Com a construção da rodovia, vieram as indústrias e as ocupações irregulares, seguindo a sua extensão.

c) Ecossistema local

Nos estudos de campo no interior da mata, foram estabelecidos pontos amostrais. O primeiro ponto trabalhado foi dentro da reserva Querência, próximo a uma enorme rocha, local de abrigo de algumas espécies como anfíbios, répteis e muitos insetos, por ser uma área extremamente úmida. O topo da vertente na direção norte-noroeste, já fora dos limites da reserva, possui muitas jaqueiras, algumas das quais centenárias, formando hoje um platô composto também por angicos e outras espécies secundárias, onde, em sua parte mais baixa, o plano forma lagoas cercadas por bambuzais. Foi em algumas destas pequenas lagoas periódicas, resultantes, provavelmente, da chuva e que devem permanecer pelo me-nos até o final da estação das águas, que encontramos um grande número de rãs, escondidas sob o substrato do bambuzal, coaxando em função do acasalamento. Foram encontradas quatro desovas, sendo uma na água e três no solo formado por folhas do bambu caídas no chão. Além da presença de anfíbios, estas lagoas são utili-zadas por pássaros – sanhaços (Thraupis sp.), beija-flores (Glaucis hirsuta) e, duran-te a noite, as corujas (Othus sp.) na dessedentação. Supõe-se que estes poções de-vem ser também utilizados pelas espécies de mamíferos e répteis existentes na locali-dade. Há notícias de caça intensa na região. No campo, foram encontrados dois ranchos de caçadores. Isso traz a reflexão de que existem animais na área, ainda que não se te-nha tido muito êxito em sua observação, durante o acampamento. Na trilha em direção ao morro Inglês, foram encontradas algumas locas de tatu e pe-gadas, provavelmente de um porco do mato (Tayassu sp.). Nesse local, foi identificado um dos ranchos de caçadores, abandonado. Percorrendo a trilha na direção sul do Morro Inglês, foram observados dois calangos. Em toda área de entorno, dentro da mata, há grande presença de aranhas, mosquitos e formigas. Segundo os moradores, esta área tem uma grande quantidade de cobras diferentes, sendo que não se encontrou nenhum exemplar no trabalho de campo. O proprietário de Querência encontrou recentemente uma caninana na sede da propriedade. Também através de relatos de moradores, constata-se a redução da presença de vá-rias espécies antes encontradas na mata, desde o coelho do mato ou tapiti (Sylvilagus brasiliensis), o gato do mato (Felis tigrina ), o furão (Grison vittatas ), o cachorro do mato (Cerdocyonsp.) e o macuco (Tinamus sp.), porém também há informação de aparecimento de certos animais em suas residências, como o tamanduá mirim (Ta-mandua tetradactylus) e a preguiça (Bradypus sp.).

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d) Pesquisa dirigida aos moradores de Santa Dalila A segunda parte do levantamento de fauna foi realizada através de entrevistas espon-tâneas e induzidas com os moradores, mateiros e antigos caçadores, fornecendo indi-cativos dos exemplares de fauna ainda existentes ou já desaparecidos da região. A pesquisa foi aplicada na região de Santa Dalila e seus dados foram compilados, ob-tendo-se os seguintes resultados. Em relação à referência exercida pela reserva Que-rência na comunidade, 60% da população conhecia a reserva e 40% não tinha qual-quer informação. A reserva tem atuação no local por ser uma área de sítio de recreio e não desenvolve atividades de Educação Ambiental na comunidade.

Outro ponto importante foi o relato da população em relação à área de proteção, onde 96% dos entrevistados julgam-nas necessárias para a pre-servação das espécies da fauna, 3% julgam ruim e apenas 1% não sabiam para que servem essas áreas de proteção. Esse dado torna clara a preo-cupação da população

com o meio ambiente. Fato confirmado pelas espécies de animais presente nas resi-dências. Há um número significativo de animais domésticos, com dominância de ca-chorros (67%), que são utilizados, em grande parte, para proteger as casas, ainda que muitos sejam utilizados por caçadores; os gatos, com percentual de 14%, criação de galinhas, com 5%, e com 2%, a criação de patos. O gráfico apresenta um percentual de 5% referindo-se a outros animais como vaca, coelho, jabuti, papagaio e peixe, que não obtiveram um número expressivo na pesquisa. Quanto aos animais silvestres pre-

Fotografia 13 – concha de molusco abundante em Querência

Fotografia 14 – desova de rãs, depositada pró-ximo ao bambuzal.

sim

60%

não

40%

Gráfico 1 – Conhece a Reserva Querência?

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sentes nas residências, encontram-se os pássaros com 7%11; o jabuti e o papagaio com menos de 1% dos entrevistados.

As respostas que se se-guem mostram uma contra-dição na população. Apesar de haver um número signifi-cativo de entrevistados con-tra a caça (90%), diante de 10% que informaram ser a favor. No primeiro momento, mostra a preocupação da população em relação à fauna. Contudo, ao contra-pormos o gráfico abaixo (carne de caça mais consu-mida na região) com as res-

postas dadas anteriormente, quase a metade dos entrevistados já consumiu ou ainda consomem carne de caça, mesmo alegando ser contra a caça. Liderando a lista dos animais mais consumi-dos temos o tatu, com 34%, o gambá com 27%, a paca com 12% e o la-garto com 11%. Houve relatos de outros ani-mais, sendo que o con-sumo é bem reduzido, como a cobra com 4% e, com 2%, capivara, porco do mato (cateto), cotia, macuco e pássaros. Há entrevistados que con-somem todo tipo de car-ne (2%).Ainda na pesquisa, foram identificados os motivos que levam as pessoas a caçarem. Para consumo, 45%, por esporte, 15%, para vender, 12%, já 10% caçam para manter os animais presos, 2% caçam por prazer, enquanto 1% da população argumenta estar desempregada. 15% não opinaram. A população, em relação aos motivos descritos acima, justificou da seguinte forma: “é justo que uma população extremamente carente, que não tenha condições de comprar alimentos e carne comercializada, utilize a carne de caça como meio de sobrevivên-cia”. Quando se deparam com a questão da caça por esporte, justificaram que “a caça é um prática que passa de pai para filho, romper uma tradição é praticamente impos-sível”. Em relação à venda, a maioria dos entrevistados relatou ser uma prática cruel, pois os animais sofrem demasiadamente e grande parte morre antes de chegar ao seu destino, em geral as feiras livres. Há ainda indicativos de comercialização de carne de

11 Por existir uma atividade econômica em torno dos pássaros, algumas espécies se encontram muito

vulneráveis e até totalmente desaparecidas.

Gráfico 2 - Animais presentes nas residências

67%

5%

14%

7%

2%

5%

cachorro

galinha

gato

pássaros

pato

outros

Gráfico 3 - Carne de caça mais consumida na região

2%

4%

2%

27%2%

34%

2%

11% 2%

12%

2%

capivara

cobra

cotia

gambá

porco do mato

tatu

macuco

lagarto

pássaros

paca

todas

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caça para alguns restaurantes12. Já o resultado de 10% dos que caçam para manter os animais presos corresponde aos passarinheiros da região.

O estudo também resultou em uma definição própria das carac-terísticas dos caçadores, obten-do-se três vocações de caçado-res, distintas para a região. O primeiro encontrado é o caça-dor de baixa renda ou da comu-nidade, com baixa escolaridade, que caça para comer, pois em geral não tem condições para compra da carne comercializa-da. O segundo também perten-ce à comunidade de baixa renda e em geral sobrevive da comer-

cialização da carne de caça e de animais silvestres. Vende seus produtos para restau-rantes e feiras livres. Esse se torna uma grande ameaça, pois é o que mais utiliza ar-madilhas na mata, como trabucos e laços, afetando, sem limites, a fauna (matando fêmeas grávidas e filhotes), muitas vezes tornando inviável a prática de trilhas na mata ou simplesmente o direito de ir e vir de cada cidadão. E o terceiro tipo de caçador caça por esporte e, muitas vezes, o que caça nem sempre é para ser consumido. Toda a sua ida na mata é por diversão, e nem sempre o seu resultado é a caça, “senão o en-contro com a natureza”. De acordo com as informações colhidas na comunidade, tivemos a informação dos animais mais vistos e os animais pouco vistos na região – os dados se encontram na tabela abaixo. Analisando todos os dados, constata-se que os animais mais consumi-dos são aqueles que se encontram com mais freqüência no local, sendo de fácil captu-ra, como a paca, o gambá, os pássaros, o tatu, o lagarto e a cobra, embora muitos relatassem que esses animais não estão tão freqüentes, como ocorria há décadas atrás.

ANIMAIS % ANIMAIS %

Paca 16,4 Preguiça 2,1

Gambá 13,9 Preá 1,8

Pássaros 11,1 Tamanduá 1,8

Tatu 8,9 Capivara 1,4

Mico 8,6 Pica pau 1,4

Cobra 8,6 Macaco 1,1

Lagarto 8,3 Jacaré 0,7

*Outros 4,6 Furão 0,7

Não relataram 4,3 Papagaio 0,7

Ouriço 3,6

• Outros: cachorro do mato, coruja, coelho, cotia, gato do mato, gavião, jaguatirica, lon-tra, macuco, onça, pardal, sábia, sanhaço.

12 A pesquisa não identificou os estabelecimentos citados, o que merece atenção e investigação dos ór-

gãos competentes.

45%

12%

15%

10%

1%

15% 2% comer

vender

esporte

manter preso

desemprego

não opinaram

prazer

Gráfico 4 - Motivos que levam as pessoas a caçarem

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7.1.6 - Aspectos Históricos e Culturais 13 Na época da chegada dos portugueses ao Brasil, a região onde hoje é o Rio de Janei-ro era habitada pelos índios Tupinambás. Os tamoios, verdadeiros senhores da Baía de Guanabara, aliados dos franceses – maris – e liderados pelos caciques Cunham-bebe e Aiberê, lutaram contra os portugueses – pêros – até o último homem. A nação Tupinambá era composta de aproximadamente 70 mil índios.

Os Temiminós ocupavam a atual Ilha do Governador – Paranapuã –, na baía de Gua-nabara, e o Sul do Espírito Santo. Inimigos dos Tamoios, aliaram-se aos portugueses sob a liderança Araribóia e foram decisivos na conquista do Rio de Janeiro. Eram oito mil na ilha e mais de dez mil no Espírito Santo. A terra dos Tupinambás também tinha abundância de Pau-Brasil (Caesalpina echina-ta), mercadoria muito valorizada na Europa desde a Idade Média e, pelo menos já no século XIII, era empregada nos trabalhos de marcenaria e nas fábricas de tecidos. Aliás, a tinta vermelha extraída da madeira servia para sua designação na língua dos vários povos que a empregavam: os povos europeus e asiáticos indicando sempre a idéia de brasa (vermelho), em tupi: “ibirapitinga” ou pau vermelho.

O pau-brasil foi o primeiro monopólio estatal do Brasil: só a metrópole podia explorá-lo – ou terceirizar o empreendimento. Seria também o mais duradouro dos cartéis: a exploração só foi aberta à iniciativa privada em 1872, quando as reservas já haviam escasseado brutalmente. Exploração não é o termo: o que houve foi uma devastação, que atingiu não só outros estados, mas a Baixada Fluminense, onde está localizada Magé. Foram mais de 70 milhões de árvores derrubadas. Como que confirmando a vocação simbólica, o pau–brasil seria usado, em setembro de 1826, para o pagamento dos juros do primeiro empréstimo externo tomado pelo Brasil. Ao deparar com o Te-souro Nacional desprovido de ouro, D. Pedro I enviou à Inglaterra 50 quintais (três toneladas) de toras de pau-brasil para leiloá-los em Londres. A esperança do impera-dor de saldar a dívida com o pau-de-tinta esbarrou numa inovação tecnológica: o ad-vento da indústria de anilinas reduzia em muito o valor da árvore – símbolo do Brasil. Os juros foram pagos com atraso em dinheiro, não em paus. As duas viagens ao Brasil realizadas por Américo Vespúcio, ambas provavelmente comandadas por Gonçalo Coelho, a primeira de 10 de maio de 1501 a julho de 1502, e a segunda de 10 de maio de 1503 a 28 de junho de 1504, foram também as duas grandes missões de reconhecimento da terra “descoberta” por Cabral. E, por meio século, traçaram-lhe um destino inglório: não havia ouro à flor da terra, nem impérios a serem conquistados na região. A coroa Portuguesa desinteressou-se em colonizar o Brasil, embora não deixasse de enviar freqüentemente expedições ao País. Vinte e seis anos depois, no instante em que a cobiça dos navegantes e traficantes franceses pelo território brasileiro tornou-se ostensiva, e seu conhecimento com o lito-ral e a aliança com várias tribos indígenas, como os tamoios que habitavam a Baía de Guanabara, evidente, a Coroa abandonou a inércia e decidiu enviar ao Brasil uma

13 Baseado no texto “Conhecendo Magé” do historiador Eugênio Scismmarella Júnior

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poderosa expedição. Desta vez, não apenas uma missão militar, mas também coloni-zadora. Para comandá-la, foi escolhido o fidalgo Martim Afonso de Souza, amigo do rei D. João III, que além de ser guerreiro, era também homem de letras e de ciência. A frota com cinco embarcações – um galeão, duas naus e duas caravelas – chega ao Brasil em janeiro de 1531, quando trouxe as primeiras mudas de cana de açúcar. Martim Afonso chegou com plenos poderes, inclusive sobre a vida e a morte. Poderia também distribuir terras em sesmarias, criar e nomear tabeliães e demais oficiais de justiça. Partiu de volta para Lisboa e daí para Índia. Jamais retornou ao Brasil. Há fortes indícios de que as expedições enviadas ao Brasil no início do século XVI, com grupos de reconhecimento aos sertões de Magé, tenham deixado alguns homens. Por volta de 1550, depois de meio século percorrendo o litoral brasileiro – o que os levara a conhecer os melhores portos e estabelecer com os índios uma relação mais harmônica e rentável do que os portugueses – aos franceses faltavam apenas o ho-mem certo para liderar uma expedição colonizadora às terras do Brasil. Quem poderia supor que Nicolau Durand de Villegaignon era o homem errado? Cavaleiro da Ordem de Malta, “Homem de Toga e Espada”, universitário e de formação militar por tempe-ramento, soldado, navegador, diplomata, historiador, agricultor, erudito e até filósofo, Villegaignon tivera uma carreira brilhante e invejável. Nomeado Vice-Almirante da Bre-tanha, o cavaleiro de Malta se indispôs com o governador local no início de 1555. Inju-riado com a posição do rei Henrique II, que apoiou seu desafeto e disposto a provar seu valor, Villegaignon idealizou um plano ousado: a fundação, no Rio de Janeiro, de uma colônia que lançasse os alicerces de um futuro império ultramarino francês. Para concretizá-lo, buscou o apoio do almirante Gaspard de Coligny, líder dos Huguenotes – Calvinistas (protestantes) franceses –, que já começavam a ser perseguidos. Villegaignon, porém, quis contar com a ajuda do cardeal de Lorena, o mais influente católico da França. A ambos prometeu que a liberdade religiosa na nova terra seria total. Graças a eles, conseguiu que o rei liberasse mais de 10 mil francos e armasse dois navios para a aventura brasileira. Desde o início, porém, saiu tudo errado. Em 12 de junho de 1555, a expedição partiu de Havre, mas colhida por medonha tem-pestade, foi forçada a ancorar em Dieppe. Lá quase todos os tripulantes desertaram – sobraram apenas os degregados. Pelas ruas de Dieppe, entre “desclassificados, va-gabundos e mercenários”, recrutaram-se outros 80 homens. No dia 10 de dezembro de 1555, após uma viagem marcada por dificuldades, os navios chegaram à Baía de Guanabara. Villegaignon, porém, decidiu se instalar na ilhota de 1,5 quilômetro de cir-cunferência, chamada de Sergipe pelos índios. Ali, ergueu um baluarte de madeira, que batizou de Forte Coligny. Foi o início da França Antártica. Na madrugada de 21 de fevereiro de 1560, a frota armada pelo terceiro governador-geral do Brasil, Mem de Sá, chegou à Guanabara para dar início à luta contra os fran-ceses e deparou, segundo o próprio Sá, “com uma das mais fortes fortalezas da cris-tandade”, “virtualmente insuperável às forças humanas”. Os conflitos internos que grassavam na cidade de Coligny, porém eram tais que a luta entre lusos e franceses iria se prolongar por apenas dois dias, se fossem atacados naquele momento. Já apelidado de Caim das Américas, Villegaignon partira do Rio de Janeiro em outubro de 1558. Em seu lugar ficaria seu sobrinho Bois-Le-Comte, que havia vindo da França em março de 1557, com três navios e 250 homens, entre os quais 14 pastores envia-dos por Calvino. No instante em que Comte chegou, a situação era caótica na fortale-za. Os conflitos tinham começado já em fevereiro de 1556, quando Villegaignon exigiu de um marinheiro normando que se casasse ou abandonasse a índia com quem vivia.

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Insultado, o marujo arma uma conspiração para matá-lo. O plano foi descoberto, cinco homens foram executados e Villegaignon tornou-se paranóico e despótico. Após a chegada dos pastores de Calvino, tudo piorou. O confronto entre católicos e calvinistas explodiu de vez, com Villegaignon assumindo posições cada vez mais ambíguas. De-pois de dezenas de deserções, torturas, prisões e conspirações, o auto-instalado “Rei do Brasil”, foi embora. Ao receber um ultimato de Mem de Sá, Bois-Le-Comte recusou a rendição. Apesar do apoio de mais de mil índios Tamoios para enfrentar apenas 120 portugueses e 140 nativos, os 74 franceses restantes da ilha estavam tão desmotivados que quando Sá, enfim, os atacou, na manhã de 15 de março de 1560 (após 20 dias de cerco), os com-bates duraram menos de 48 horas. Depois que um marujo luso conseguiu nadar até a ilha e explodiu seu paiol, os franceses desistiram da luta e fugiram, a maioria para a França, alguns para o fundo da Baía de Guanabara. Porém, aliados dos Tamoios, os franceses restantes ainda resistiam provendo ataques a embarcações e a povoações que surgiram no recôncavo Guanabarino. Ao partir do Rio, em fins de março de 1560, Mem de Sá deixou arruinado o forte de Coligny. Mas com poucos homens e os navios avariados, não pôde se estabelecer na Guanabara. Em 1º de março de 1565, quando o seu sobrinho Estácio de Sá chegou ao Rio com 200 homens e nove navios, os Tamoios, orientados pelos franceses, já haviam construído três paliçadas e estavam preparados para um novo confronto. Es-tácio de Sá estabeleceu um arraial no sopé do Morro “cara-de-cão” (Pão-de-açúcar) e ali permaneceu por dois anos combatendo o inimigo. Em 18 de janeiro de 1556, Mem de Sá chegou ao Rio de Janeiro com reforços. No dia 20 de janeiro de 1565 – Dia de São Sebastião –, as tropas portuguesas lideradas por Mem de Sá, com o apoio dos Tamiminós, enfrentaram e venceram os franceses e seus aliados Tamoios. No último confronto, os lusos, com a ajuda dos Tamiminós de Araribóia, atacaram Uruçumirim (morro da Glória). A luta durou o dia inteiro. No dia seguinte, 10 franceses foram exe-cutados e então os portugueses atacaram a ilha de Paranapuã (Governador) e a do Gato (Paquetá). Provavelmente as praias mageenses e seus sertões foram palco de intensos combates. Foram escravizados quase mil índios Tamoios, que se renderam. O Rio e a Baía de Guanabara estavam conquistados. Padre José de Anchieta, que chegou ao Brasil em 1553, ainda noviço, culpou os por-tugueses pelo rompimento das relações com os Tamoios: “sendo dantes muito amigos dos portugueses, se levantaram contra eles por grandes agravos e injustiças que lhes fizeram e receberam os franceses, dos quais nenhum agravo receberam”. Christóvão de Barros, 3º capitão do Rio de Janeiro e seu 4º Governador em 1566, re-sidindo na Bahia, aproveitando a expulsão dos franceses e de seus aliados, resolve mudar-se para o Rio de Janeiro, com sua família e escravaria. Solicita a Estácio de Sá uma sesmaria, para aí construir um engenho. O solicitante, no dia 12 de outubro de 1566, é agraciado com as terras pretendidas. As mesmas possuíam 4.500 braças (antiga medida de cumprimento, equivalente a 2,20m) ao longo da água e 7.500 bra-ças para o sertão de Magepe, uma das mais extensas doações até então concedidas. Em 29 de outubro do mesmo ano, Christóvão de Barros solicitou ao Governador Mem de Sá mais 6.000 braças de largura por 9.000 de comprimento de terras, no sertão do Rio Macacu, chegando aos limites de Miguel de Moura. Mas o fato de doações de sesmarias pelo Capitão-Mor Estácio de Sá trouxe para Ma-gé a grande incógnita de quem seria seu fundador e iniciador. Tal é o caso que Simão

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da Motta, em setembro de 1565, recebeu 600 braças ao longo da água e 1.000 braças adentro do rio Magepe. Muitos foram agraciados e muito poucos tomaram posse. Por vários motivos: os franceses continuavam no sertão, ao fundo da Baía de Guanabara, junto aos Tamoios e era o impossível, para alguns, o povoamento pelas duras condi-ções de alimento, víveres, materiais, doenças, desconforto, falta de mão-de-obra, me-do dos corsários que rondavam a costa brasileira, etc. Christóvão de Barros foi o construtor do primeiro engenho de açúcar em Magé, às margens do Rio Magepe e próximo ao Morro da Piedade, surgindo aí o desenvolvi-mento de uma nova civilização típica, característica do açúcar, assim descrita por A-fonso Arinos: “Com a cana se instaura a colonização. Nascem as cidades, abrem-se caminhos, aperfeiçoa-se a vida. Forma-se uma unidade política brasileira na costa, facilitada, talvez determinada, pela solidariedade econômica. Recursos maiores per-mitem um levantamento do nível de vida. Aparece uma aristocracia rural nas casas grandes do litoral pernambucano, baiano e fluminense. Floresceu a arquitetura típica do açúcar, levantaram-se monumentos, igrejas, conventos, fortalezas. Desperta a vida intelectual”.

Não há dúvida de que Christóvão de Barros vem a ser o fundador e mantenedor da integridade do núcleo populacional de Magé. Assim nasceu Magé, com a preocupação dos conquistadores da terra. Em 1557, tem início a colonização e nela o objetivo de fixar o homem e prevenir-se contra ataques de corsários, de franceses e de índios que ainda estavam escondidos na Baía de Guanabara, das duras condições de vida, falta de matérias, assolada por doenças, pela maleita (malária), dos recursos escassos, de tantas coisas. Nasceu também com a preocupação de se erigir uma capela, sob o orago de Nossa Senhora da Piedade, que anos mais tarde foi convertida em Igreja e transformou-se no famoso e belo santuário de nossa Senhora da Piedade (1696), a quem faz referência Frei Agostinho, em seu livro ”Santuário Mariano”, descrevendo o lugar bem como a igreja e a única imagem. É muito provável que, assim como os Je-suítas construíram a Capela de São Lourenço, tenha ocorrido o mesmo com Piedade e que logo o benfeitor João de Antas e sua mulher deram esplendor e magnificência. Hoje, no lugar, não existem sequer as ruínas. A Igreja Católica em Magé soube, através de suas ordens religiosas, legar um patri-mônio do qual hoje se tem orgulho. As igrejas seculares, que em todo o território ma-geense erguem-se no município: Guia de Pacobaíba, São Nicolau, Nossa Senhora da Piedade de Inhomirím, Nossa Senhora da Estrela dos Mares, Nossa Senhora da Pie-dade de Magé e as capelas de Nossa Senhora dos Remédios, São Francisco de Croa-rá, Santo Aleixo, Nossa Senhora da Conceição, Santa Ana, São Sebastião do Meio da Serra, Nosso Senhor do Bonfim e São Roque, segundo os testemunhos de Monsenhor Pizarro (José de Souza Alves do Pizarro de Araújo), o único historiador que se deteve num levantamento de todas as freguesias. Em Magé, cognominado acertadamente de “Portal da Glória”, deram-se as grandes penetrações que desbravaram grande parte do Brasil, através de quatro dos cinco grandes caminhos para as “minas gerais”: O de Garcia Paes, através de Pilar, que na época pertencia a Magé; o de Bernardo Soares de Proença, com a abertura do cami-nho novo das minas gerais, conhecido como Variante da Estrela, que ia da Freguesia de Inhomirím até a picada de Secretário (Petrópolis) a qual já tinha comunicação com o Rio Paraíba; o de Custódio Ferreira Leite, o Barão de Ayruóca, ligando o Porto da Piedade, em Magé, a Mar de Espanha (MG). Esse caminho ou estrada ficou conheci-do como o “do Ayruóca” e se tornou um rumo, uma direção, um símbolo do ciclo flumi-

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nense do café, muito importante na formação de várias cidades do estado. Assim, grande contingente de portugueses e de brasileiros se deslocou atravessando o cami-nho, para atingirem São José do Vale do Rio Preto, Teresópolis, Sumidouro, Friburgo, Cantagalo, Itaocara, Pádua, Miracema, Itaperuna e Bom Jesus do Itabapoana, no ex-tremo norte fluminense, divisa com o Espírito Santo, tendo esses colonizadores trans-formado a região-norte fluminense em fantástico pólo produtor cafeeiro.

E veio o esplendor dos portos mageenses, que granjearam renome mundial de capital importância para a economia do País: Estrela, Piedade, Mauá, Iriri, Suruí, Armazéns, Opa, Anhangá etc. Magé abria as portas do interior ultrapassando a Serra da Estrela e dos Órgãos. Depois viriam: a primeira fábrica de pólvora, em Vila Inhomirim (1808), a primeira fábrica de papel (1850), a primeira fábrica de tecidos em 1830, a primeira estrada de ferro do Brasil (1854). Magé era o grande celeiro da Corte, fornecendo a-çúcar, farinha de mandioca, anil, peixes e crustáceos, hortifrutigranjeiros, madeira (pau-brasil), café etc. Magé, em 09 de junho de 1789, foi elevado a Vila, por ordem do Vice-Rei Dom Luíz de Vasconcelos de Souza. Foi cabeça de comarca em 1802, ba-ronato em 1810 e viscondato em 1811. Foi uma trajetória gloriosa até alcançar os foros de cidade em 02 de outubro de 1857. Foi ainda o maior centro industrial de tecidos da América do Sul. Depois do apogeu veio a queda, provocada por inúmeros fatores como a maleita (malária), a abolição da

Composição fotográfica 2

Algumas igrejas da região

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escravatura e a perda do braço escravo e a flageladora revolta de 1893, que atingiu Magé em 02 de fevereiro de 1894 e que foi documentada pelo Jornal do Brasil sob a manchete “Horrores de Magé”. Magé também produziu homens de notável expressão: Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, patrono do Exército; Marechal Bernardes Vasques, herói da Guerra do Paraguai e Ministro da Guerra do Supremo Tribunal Militar; Alcindo Guanabara, jornalista, escritor, político, deputado e senador, patrono Nacional da Comunicação e Príncipe dos Jornalistas Brasileiros; Dr. Francisco Ferreira de Siqueira; Dr. Eduardo Portela; Dr. José Tomás Porciúncula; o escritor, poeta, jornalista e historiador Renato Peixoto dos Santos; Dr. Anísio de Castro Peixoto; Joaquim de Abreu Lacerda, Dr. Jo-ão de Souza Mendes; Odílio Alves de Macieira; Monsenhor Godofredo Barenco Coe-lho; Padre Portela e Costa Lobo; Barão do Pilar; João Pedro da Sião; Dr. Domingos Bellizzi, mesmo tendo nascido em São Simão, Estado de São Paulo, é até hoje consi-derado filho de Magé; Mané Garrincha e tantos outros vultos. Magé, no recôncavo da Baía de Guanabara, custodiada pela imensidão da Serra da Estrela que deslumbrava colonizadores, bandeirantes, viajantes, como George H. Von Langsdorff, um apaixonado pelo Brasil. Depois do fausto e da fama, da glória imortal, os percalços naturais, os entraves políticos, o bravo povo de Magé sobrepujou a tudo e reiniciou a luta ingente do seu segmento.

7.1.7 - Visitação e ecoturismo

O já citado convênio 24/2003, realizado entre O Instituto Ambiental e o Fundo Nacional do Meio Ambiente, que deu origem a este plano de manejo de QUERÊNCIA, apresen-ta uma peculiaridade do ponto de vista da formatação turística quando estabelece um corredor de desenvolvimento sustentável integrando a RPPN El Nagual, na Serra dos Órgãos, e a RPPN QUERÊNCIA, muito próxima ao litoral. Cria, portanto, uma integra-ção entre o meio ambiente natural e construído e os aspectos sócio-econômicos de toda uma região.

Com a criação do corredor de ligação, considerando as microbacias da área de influ-ência e o mosaico de unidades de conservação da Mata Atlântica Central Fluminense, onde a RPPN QUERÊNCIA está inclusa, a contra-partida lógica é o desenvolvimento de atividades economicamente sustentáveis relacionadas às ações exercidas no cor-redor, para que a população inserida tenha garantido um meio de vida compatível com as diretrizes conservacionistas propostas. A vocação turística do corredor é inequívoca. Podemos citar:

- O plano de implantação do Pólo de Ecoturismo RJ 4, pela Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do Ministério do Meio Ambiente, que indicou várias potencialidades na região.

- A realização de diversas provas de esportes relacionados à Natureza na região.

- A localização nas vias de acesso de tradicionais destinos como a Região Serrana e a Região dos Lagos (BR-116).

- A proximidade ao maior centro receptor da região, o Rio de Janeiro. - A proximidade com a Região Serrana, tradicional centro receptor.

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- A vizinhança com o PARNASO, principal área de Turismo de Natureza da região.

- A existência de projeto de formatação turística das trilhas localizadas dentro da APA Petrópolis, na região.

- A existência de grande público-alvo consumidor, residente a pequena dis-tância, no Rio de Janeiro e cidades vizinhas.

- A possibilidade de atendimento a vários segmentos do mercado turístico. - Possibilidade de desenvolvimento de produtos turísticos associados a ou-

tros atrativos da região. - A possibilidade de criação de postos de trabalho, dentro do corredor, indire-

tamente ligados aos atrativos.

7.1.8 - Ocorrência de Fogo Durante o ano inteiro, todos os que labutam na área ambiental se preocupam em evi-tar queimadas de florestas, que ocorrem principalmente pelas seguintes razões14:

• Queima de restos de cultura, palhadas e gravetos; • Limpeza de pastagens, com fogo não controlado; • Derrubada com destruição de remanescentes florestais com abertura de novas

fronteiras agrícolas ou não; • Queima provocada por fogueira em acampamento não apagada devidamente,

pontas de cigarro e outras formas de discuido; • Garrafas ou cacos de vidro que, sobre a vegetação seca, funcionam como len-

tes e provocam combustão; • Balões.

Os efeitos do fogo na mata são irrefutáveis. O fogo, como agente de decomposição, funciona como o inverso da fotossíntese, processo químico através do qual o dióxido de carbono, energia solar e água se combinam para produzir celulose e outros carboi-dratos. O fogo reverte rapidamente este processo, liberando, sob a forma de calor, a energia armazenada pela fotossíntese. Inicialmente é necessária uma fonte de calor suficiente para elevar a temperatura do material combustível à de ignição. Sendo o fogo uma reação de oxidação, o oxigênio é necessário para a continuidade da mesma. Sem material combustível, não haverá a combustão. Depois de iniciada, a combustão é geralmente auto-sustentável. Os in-cêndios podem se propagar através da camada orgânica do solo, através do piso da floresta ou através da sua copa, causando diferentes tipos de estragos ou danos. Querência apresenta grande fragilidade ao fogo principalmente nas bordas da mata em áreas dominadas por capim gordura e capim navalha. A taquara, bambu caracte-rístico de formações regenerativas bastante abertas e iniciais, é alvo de combustão instantânea, espalhando o fogo com facilidade por baixo do dossel emergente. Porem se este é o cenário nas testadas dos fundos do sitio Querência, em interfaces com áreas de pastagens, o mesmo não acontece em outras interfaces da propriedade.

14 Baseado na publicação do I Seminário Sobre Prevenção e Combate a Incêndios Florestais,

1994 Nossas Florestas nossa maior - riqueza – Rio de Janeiro: SEMAN/IEF ( Série Técnica --2)X

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As ruas que passam na frente e no fundo do terreno de Querência criam um aceiro permanente nestes dois lados da propriedade. Já os pastos situados na base da Serra da Palha, com suas diversas espécies de gramíneas invasoras, maior parte das quais de alta combustão, tornam-se um fator limitante e pressionam a recuperação natural da mata. Na mata da serra, também em suas cotas mais elevadas revestidas de for-mações mais fechadas e densas, há várias trilhas de gado que vem pastar as gramí-neas e brotos que competem nas bordas das matas. A evidência mais recente de queimadas nas proximidades de Querência deu-se duran-te o período de estiagem do ano em que foram realizados os estudos deste documen-to, quando ocorreu um incêndio em terrenos situados a Leste da sede do sítio, em uma distância não maior que 300 metros, em linha reta. Tratava-se de uma capoeira rala composta por gramíneas já com alguns exemplares de lenhosas, em geral xerófi-las, características das formações iniciais destas recuperações naturais.

7.1.9 - Atividades desenvolvidas em Querência O sítio Querência vem se estruturando para a recepção turística, principalmente a de-nominada day use e de lazer. São shows nos finais de semana, com música ao vivo, onde funciona uma lanchonete e bar. Nos dias mais quentes, durante os finais de se-mana, o sítio permite o uso de seu campo de futebol soçaite ou o mergulho na piscina, ou simplesmente na sombra de uma de suas árvores, dispostas ao longo do gramado, próximo à sede da propriedade. Na ocasião, é servido um saboroso almoço, acompa-nhado de verduras colhidas na horta. Seu hóspede é certamente atraído pela paisa-gem e recanto natural, muito próximo ao asfalto da BR 116. Há uma pequena pousada com três quartos no interior da residência da família. Ge-ralmente há hospedagens em finais de semana prolongados. Está sendo construído um abrigo, com espaço para 20 camas beliches, destinado a hospedar pesquisadores e estagiários, assim como dar estrutura física de hospedagem a alunos originários de projetos de educação ambiental. Há também o interesse de sua integração em alber-gue da juventude. Querência produz pães caseiros, comercializados entre seus visitantes ou para fre-gueses já estabelecidos ao longo de um tempo. Querência se organiza para participar do Conselho Gestor da APA GUAPIMIRIM. De-ve também pleitear uma cadeira no Conselho Municipal de Turismo de Magé, a ser constituído pelo Município.

� Sistema de Gestão

O sítio ainda não é economicamente auto-suficiente, no entanto a luta árdua de seus proprietários traz-lhes dia a dia a sensação das conquistas que se apresentam, princi-palmente na organização e melhoria física e estrutural da propriedade. A administra-ção da propriedade e da reserva é realizada de forma familiar, não adotando métodos para um gerenciamento voltado para os princípios da qualidade e segurança. Com a nova dimensão de Querência a partir do presente Plano de Manejo, deve a sua admi-nistração buscar capacitação para seus proprietários e funcionários, objetivando a

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criação de um sistema de gerenciamento, integrando os conceitos ambientais da NBR 14000, NBR 9000 e BS 8800 e a adoção de uma política voltada para a otimização e profissionalização de seus procedimentos, alcançando todas as suas atividades reali-zadas, já se estruturando para o seu possível crescimento.

� Pessoal A propriedade no geral tem uma oferta única de pessoal. A começar pelos seus pro-prietários, que assumem pessoalmente papéis importantes na administração da casa e na administração das atividades produtivas. Seus proprietários dedicam tempo para a propriedade, incluindo muitos trabalhos pesados. Atualmente a propriedade, dentro de suas inúmeras atividades, conta com um tipo de apoio pessoal, o denominado biscateiro, trabalhador solicitado de acordo com a ativi-dade que se apresenta, para a produção de trabalhos específicos conforme a sua competência. Os proprietários arregimentam, periodicamente, serviços de comunitá-rios para a manutenção de hortas e aceiros. Na época de encontros, seminários ou outras em que a hospedaria fique lotada, os serviços de cozinha e limpeza são tam-bém auxiliados por comunitários locais, remunerados para este fim.

� Infra Estrutura O Sítio Querência, com uma propriedade de 63.349m², tem toda a sua infra-estrutura voltada para o lado Sudeste da propriedade, em seus 15.000m² de área não gravada como reserva. A pousada possui 368m² e está inserida em uma área aproveitada de 5.400m². Esta área está distribuída entre a residência de seus proprietários, propria-mente dita, a área da hospedagem, o espaço do bar e restaurante e a área de lazer (mapa 11). As trilhas existentes estão em péssima manutenção e não cobrem toda a região da reserva particular. A energia elétrica é toda recebida pela empresa operado-ra e Querência não possui tecnologia própria para a sua produção alternativa.

7.1.10 - CARACTERIZAÇÃO DA PROPRIEDADE A propriedade conta com 6,3 hectares e área de reserva gravada com 4,8 hectares, com os respectivos registros no livro 445, fls. 93 e 94 – matrícula 35.151do Registro de Imóveis do 2º Ofício de Notas, situado na Rua João Valério, nº 262 – Magé, RJ. Des-membrada da maior porção das Granjas Santa Tereza, mede 120,43m de frente para a Rua Marta; 164,01m na linha dos fundos, limitando-se com Belmonte Indústria e Comércio de Mármores e Granitos Ltda; 515,48m de extensão pelo lado direito em 4 segmentos, sendo o primeiro com 150m, o segundo com 35m, o terceiro de 165,38m e o quarto de 165,10, limitando-se com a área remanescente de 4.855 m² e com o se-nhor Jorge Pereira de Souza; e 555,13m de extensão pelo lado esquerdo, limitando-se também com Belmonte Indústria e Comércio de Mármores e Granitos Ltda. A proprie-dade encontra-se inscrita no INCRA sob o nº 518026193569. Passado o portão de entrada, por uma pequena rampa de pedras cortadas, chega-se à sede de Querência. O terreno da sede tem a maior vista, voltada para as matas com

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a sua panorâmica toda aberta em direção ao Leste, onde podem-se ver as serras mais adiante e, em um primeiro plano, as propriedades vizinhas a Querência. A sede é composta de dois andares, sendo o primeiro a residência mesclada com a pousada e o segundo, uma área coberta, neste momento sendo utilizada para guardar ferramentas e materiais em geral. No térreo localiza-se o salão, com a cozinha e o bar. Próximo ao térreo, em nível abaixo, está sendo construído um alojamento voltado para turistas mochileiros e albergue para a juventude. Abaixo do nível do alojamento, o jar-dim com a piscina, próprios para o lazer e o entretenimento. O abastecimento de água é feito através de captação na mata, em terreno vizinho à reserva (mapa 12). O esgotamento sanitário de Querência é captado e canalizado para um sumidouro. Não há tratamento dos efluentes. O lixo sólido é todo coletado separa-damente, sendo o orgânico compostado e reintegrado ao solo. A horta está localizada na parte dos fundos da construção, sendo produzida sem a adição de agrotóxicos ou adubos químicos. O adubo orgânico é produzido através da compostagem, misturada a esterco bovino que seus proprietários compram.

7.1.11 - CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DO ENTORNO

Querência está inserida em uma região outrora explorada pela produção do café, substituído progressivamente pela cultura da mandioca, que lhe deu destaque durante anos, garantindo a tradição e qualidade da sua farinha de mandioca. Com o declínio da comercialização e as ofertas de desenvolvimento e lucros promovidas pelo cresci-mento da metrópole, as grandes áreas foram dando lugares a parcelamentos meno-res, gerando vários projetos de loteamento. Surgiram os lotes agrícolas, originários de grandes áreas de terras que compunham as antigas fazendas. Os lotes próximos a Querência formam pequenos sítios, alguns com vocação de re-creio e lazer e outros, na vertente Oeste da Serra da Palha, já com produção agrícola e criação de gado. Em direção à estrada (BR 116), os lotes vão progressivamente re-duzindo o seu tamanho, tendo já um uso mais residencial. Em geral os terrenos são bem arborizados ainda que a rua não seja pavimentada (mapa 13). Grande parte dos proprietários de sítios localizados nas imediações de Querência re-sidem na capital, onde desenvolvem outras atividades e procuram o local como recan-to para descanso e lazer. Estes mantêm caseiros para os cuidados com a proprieda-de. Nenhuma das moradias tem tratamento de esgoto, sendo que geralmente são do-tadas de sistema de sumidouro, sem o tratamento em fossas sépticas que, quando existem, não recebem o manejo correto. As moradias próximas aos rios lhes despejam o esgotamento sem nenhum tratamento prévio. A área, com forte valorização em face da proximidade com a capital e o atrativo da paisagem camponesa e interiorana, sofre a pressão econômica do parcelamento, que é extremamente prejudicial no que diz respeito à proteção da vegetação e das nascen-tes de água existentes no extremo Sul da Serra da Palha, onde a RPPN QUERÊNCIA está contida.

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7.1.12 - CARACTERIZAÇÃO SOCIAL DO ENTORNO

Querência está situada em Santa Dalila, 4º Distrito do Município de Magé. No local, as casas na sua maioria, são de média a boa qualidade e há falta de saneamento básico sendo o esgoto sanitário jogado em valas existentes nas ruas. Quando chove, princi-palmente a Rua 22 é alagada e as casas são invadidas pelo esgoto. Muitas vezes co-bras aparecem nos quintais e há grande infestação de mosquitos.

Existe em Santa Dalila um Posto de Saúde da Família que, segundo os moradores, é deficiente, e uma Escola Municipal, ambos na margem oposta ao Sítio Querência, na BR 116, onde moram as famílias mais pobres. Os pontos positivos do local, segundo os moradores, são o clima, a calma e, conse-qüente, segurança do lugar, associados à extensa área verde. Quanto aos pontos fra-cos, são identificados a falta de saneamento básico, o alagamento nas chuvas fortes e

a infestação de mos-quitos. As explosões ocasionadas com a extração mineral pró-xima ao local (na re-gião da Conceição) são consideradas incômodas, gerando, inclusive, rachaduras em algumas casas. Há também a falta de iluminação e conser-vação na praça ali existente, além da falta de uma área de lazer melhor orienta-da, apesar de existir uma quadra desporti-va na praça do bairro.

Os moradores apontaram ainda a ausência de uma escola para o ensino médio e um transporte coletivo deficitário. Reclamou-se também da não continuidade dos projetos ali iniciados. Em Santa Dalila, encontramos uma população onde mais de 50% dos moradores resi-dem há mais de 10 anos. A renda familiar de 33% das famílias está entre 1 a 3 salá-rios mínimos; 36% têm renda familiar superior a 3 salários mínimos, chegando até 10 salários; somente 5% das famílias têm renda maior que 10 salários mínimos. 3% das famílias declararam não ter renda alguma (Gráfico 5) .

Fotografia 15 – Santa Dalila: muitas ruas sem pavimentação, com va-lões de esgoto a céu aberto.

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B – DIAGNÓSTICO

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Gráfico 5 – Distribuição da Renda Familiar na região de Santa Dalila

Trata-se de uma população jovem adulta, estando a maior porcentagem variando en-tre 21 a 39 anos. Quanto ao gênero, pode-se dizer que é uma comunidade formada por 49,8% de homens e 50,2% de mulheres. Em média, são 3,6 pessoas por família. No total das famílias pesquisadas, 1,7% das pessoas são portadoras de necessidades especiais. O nível de escolaridade da maioria das pessoas é de ensino fundamental incompleto. A taxa de analfabetos é de 6,3%, onde 2,3% são de pessoas entre 16 e 49 anos e 4% possuem mais de 50 anos. Somente 1% das pessoas têm o nível superior completo. Quanto às atividades profissionais: 15% é composta por domésticas; 5% é de caseiros; 6% são motoristas e pedreiros; 10% das pessoas disseram estar desem-pregadas, 5% das pessoas acima de 17 anos disseram estar somente estudando e há aproximadamente 10% de aposentados e pensionistas.

A maioria das pessoas entrevistada disse que não participam das discussões ligadas ao movimento comunitário e social, o que possibilita uma frágil organização dos mora-dores. A participação comunitária se dá mais ao nível religioso, sendo que a grande maioria da população freqüenta algum tipo de culto. A maioria dos entrevistados disse gostar de ficar descansando ou fazendo algum trabalho em casa, em dias de folga.

Há casas e sítios em Santa Dalila onde geralmente só se encontram moradores em finais de semana prolongados ou em férias. Segundo os moradores fixos, estas famí-lias residem na cidade do Rio de Janeiro e veraneiam na região em busca de sossego e tranqüilidade. Na entrevista, os dados demonstraram que a maioria das famílias ori-ginárias do Rio de Janeiro e que fixaram residência na região vêm da Leopoldina, Zo-na Norte da cidade do Rio de Janeiro. Essas pessoas também buscavam, na ocasião, sossego e segurança que, segunda elas, ainda é peculiar ao bairro.

SANTA DALILA

17%

33%

19%

17%

5%

3% 6%

<=1 salário

de 2 a 3 salários

4 a 5 salários

6 a 10 salários

mais de 10 salários

sem renda

não informou renda

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B – DIAGNÓSTICO

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VIII - POSSIBILIDADE DE CONECTIVIDADE A localização de Querência é ecologicamente estratégica enquanto trampolim de liga-ção, integrando-se ao Norte, através da Serra da Palha com a APA PETRÓPOLIS (4.930 metros) e com o Parque Nacional da Serra dos Órgãos (12.940 metros); no eixo Norte/Sudeste, com a RPPN El Nagual (14.280 metros). Já a Sudeste de Que-rência encontra-se próxima a APA GUAPIMIRIM. Portanto, a RPPN Querência passa a ser um ponto estratégico na possível conectividade do litoral com o interior, em re- gião do mosaico da Mata Atlântica Central Fluminense, com a composição terrestre de um corredor ecológico, através da implantação de trabalhos de recomposição vegetal e o desenvolvimento da agricultura ecológica na região da Serra da Palha.

De resto, por ser uma unidade de conservação e poder direcionar projetos, tem um papel de intervenção e mobilização muito forte na recuperação e fortalecimento do extremo Sul da Serra da Palha.

IX - DECLARAÇÃO DE SIGNIFICÂNCIA Ainda que com uma pequena reserva, se comparada com outras extensões particula-res protegidas, QUERÊNCIA tem um papel muito importante em sua interferência e influência para a sua região. Componente geográfico do Mosaico da Mata Atlântica Central Fluminense, fora o seu principal objetivo que trata da proteção do seu patrimô-nio natural, a RPPN QUERÊNCIA deve ser reconhecida pelo seu potencial de integra-ção e interação com o seu entorno próximo, como facilitador da organização comunitá-ria de toda a região, referendados por parâmetros de desenvolvimento econômico, ecologicamente corretos e socialmente justos.

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C - PLANEJAMENTO

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X - OBJETIVOS ESPECÍFICOS DE MANEJO � PROTEÇÃO DE ÁREAS NATURAIS � RECUPERAÇÃO DE FORMAÇÕES FLORESTAIS � PESQUISA CIENTÍFICA � CRIAÇÃO DE INTERFACE COMUNITÁRIA DA RESERVA COM A REGIÃO

XI - ZONEAMENTO

Buscou-se, no ordenamento territorial de Querência, um zoneamento bem simplifica-do. Como a propriedade, na sua totalidade, tem a sua reserva dividida da sua menor área, que contém a recepção e a parte administrativa, não foi considerada a Zona de Administração. Para efeito de proteção da biodiversidade, não se considerou também a Zona Silvestre15, eis que as formações vegetais de Querência se caracterizam por formações com influência antrópica, com estágios inicial e médio de recuperação, ain-da que possuindo alguns exemplares característicos de espécies clímax. Consideran-do os 4,8ha de área protegida e as suas distâncias onde a maior extensão lateral não ultrapassa 137 metros, e 348 metros o seu maior comprimento, optou-se também por não considerar neste zoneamento uma Zona de Transição e uma Zona de Visitação, atividade que pode ser desenvolvida de forma controlada nas zonas criadas.

Assim, tomou-se por base os mapas de Querência, principalmente vegetação (mapa

10)), proximidade de córregos (mapa 14) e declividade (mapa 15) e definiu-se a reserva em duas zonas distintas – Zona de Proteção e Zona de Recuperação (Mapa 16).

11.1 - ZONA DE PROTEÇÃO

A Zona de Proteção da RPPN QUERÊNCIA foi formada com base em 3 aspectos dis-tintos. (1) a distância da margem do pequeno córrego que faceia o lado Norte/ Nordes-te do terreno; (2) áreas com declividade superior a 30°, distribuídas ao longo da reser-va e (3) formações florestais mais bem compostas, em estágio avançado de regene-ração ou tendo sofrido pouca influência antrópica.

Concluiu-se, dentro destas condicionantes, que a área mais bem preservada, ainda que já extremamente descaracterizada no que diz respeito à sua natureza original, encontra-se na porção do terreno acima dos cem metros de altitude. Assim, a Zona de Proteção incorpora toda a área acima da cota 100 da reserva e a vertente voltada para Noroeste de Querência, já na contraface da vertente principal.

Para facilitar o controle e a fiscalização, será permitida nessa zona a implantação de infra-estrutura, desde que estritamente voltada para controle e a fiscalização, como aceiros, trilhas de fiscalização e torre de observação. As formas primitivas de visitação nessa zona compreendem exemplos como turismo científico, observação de vida sil-vestre, trilhas e acampamentos rústicos16.

15 Previstas no Roteiro Metodológico para a Elaboração de Plano de Manejo para Reservas Particulares do Patrimônio Natural. Brasília: IBAMA, 2004.

16 Também chamados de acampamentos selvagens, ou seja, sem infra-estrutura e equipa-mentos facilitadores, entre outros.

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11.2 - ZONA DE RECUPERAÇÃO Localizada na parte mais frontal da reserva, a partir dos 55 metros de altitude até a cota 100, a Zona de Recuperação é composta por formações vegetais com um grau significativo de alterações e contém variações de estágios ecológicos de capoeira e capoeirão17, reflexo de atividades e impactos anteriores à formação da reserva. Em alguns de seus pontos, possui vegetação exógena à região, invasoras que concorrem ecologicamente com as espécies nativas, criando limites ou dificuldades para a suces-são natural de florestas.

A recuperação poderá ser espontânea (deixada ao acaso) ou induzida, incluindo-se a remoção progressiva das espécies exóticas. Além da recomposição vegetal prevista para a Zona de Recuperação ficam permitidas as atividades de visitação e educação ambiental. No que diz respeito a estrutura também devem ser reestruturadas as tri-lhas e aberta a possibilidade de implantação de torre de observação e atividades de arvorismo.

XII - PROGRAMAS DE MANEJO Ainda que com um gerenciamento historicamente integrado de toda a sua proprieda-de, é importante, neste momento, criar para a RPPN QUERÊNCIA uma formatação voltada especialmente para o seu gerenciamento, prevendo no entanto todas as pos-sibilidades de integração e sinergia voltadas para as atividades realizadas no âmbito da propriedade e considerando a influência das vizinhanças.

12.1 - PROGRAMA DE ADMINISTRAÇÃO, SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA e COMUNICAÇÃO

Tendo em vista a pequena dimensão territorial da propriedade e, sobretudo, a prática administrativa de seus dirigentes, integram-se em um mesmo programa o processo administrativo, a sustentabilidade econômica e a comunicação – considerando o con-junto da propriedade e a mobilização de suas ações.

17 Rizzini, C.T. Tratado de Fitogeografia do Brasil – Aspectos sociológicos e florísticos. Derru-bada a floresta primária, a tendência é para a reconstituição imediata, visto o solo não estar inteiramente degradado e haver sementes nas circunvizinhanças. Assim, as próprias plantas da floresta, acrescidas de espécies heliófitas vulgares, constituem uma matinha fina conheci-da como capoeira. Esta, impertubada, cresce e dará origem a mata mais alta, mais grossa e mais rica, dita capoeirão, mediante recepção de elementos silvestres mais exigentes de umi-dade e sombra; nele há excelentes árvores, como cedro, jacarandá, peroba, canelas, jequiti-bás, canjica, etc. Melastomatáceas, rubiáceas, epífitas e lianas são muito comuns no capoei-rão. Finalmente, se as condições o permitirem, chega-se à mata secundária, cujo aspecto pode igualar a mata primitiva, mas nunca a composição. Segundo algumas observações, uns 15-20 anos bastariam para formar boa capoeira e o dobro para um capoeirão explorável.

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A - Para efeito administrativo

a) Infra-estrutura e instalações A área gravada da Reserva Querência não possui hoje nenhuma construção e suas trilhas são bem fechadas, originárias dos antigos caminhos em direção à montanha. É objetivo de seus gestores a recuperação e melhoria de suas trilhas, criando possibili-dades para visitação e controle.

No que diz respeito à infra-estrutura e instalações, há também toda uma estrutura físi-ca e operacional que tem base na sede do sítio. Portanto, devem ser integrados, con-siderando-se as possibilidades e facilidades do gerenciamento de uma propriedade com 6,3 hectares, estratégica para a amortização e minimização dos impactos ambientais que pressionam toda a região. A operacionalidade administrativa do con-junto da propriedade dá maior suporte para a gestão da RPPN QUERÊNCIA.

b) Equipamentos

Querência não possui equipamentos para dar suporte à administração projetada neste trabalho. Possui um velho computador, não tem impressora e conta apenas com linha telefônica fixa e telefonia móvel (celular). Há, portanto a necessidade de se estruturar a administração de Querência, incluindo a organização de um escritório, de forma a se implantar uma estrutura mínima que dê apoio à implementação deste Plano de Manejo e seus projetos.

e) Programas de estágio e voluntariado

O Programa de Administração deverá direcionar programas de estágio e voluntariado, envolvendo as ações práticas relativas a cada projeto/atividade de Querência. Deve considerar as parcerias com universidades e centros de pesquisa, na forma de está-gios para pesquisa científica e na disseminação tecnológica. De outro lado, deve dispor de participações voluntárias, fundamentada na Lei do Vo-luntariado, o que lhe ampliará as ações. Destaque-se a necessidade do processo pre-ver capacitação e treinamento para voluntários, facilitando as operações e procedi-mentos de cada ação prevista após a implantação de projetos que poderão se materializar através de parcerias.

Portanto, o Programa de Administração deve incorporar um planejamento amplo, inte-grando com outras organizações o desenvolvimento do seu Plano de Manejo e os pro-jetos específicos.

Ainda que as atuais condições não permitam uma maior operacionalidade do proces-so, já que Querência sempre trabalhou com recursos próprios, investidos sobretudo, com o resultado do trabalho de seus proprietários, a propriedade conta com uma estrutura considerável que pode lhe permitir uma sustentabilidade econômica. Para que se consolide a autosuficiência, é importante a sua organização voltada para o crescimento, com a implementação deste plano, nos próximos cinco anos.

Considere-se que, de acordo com o pretendido e projetado, a execução dos projetos recomendados não só cria instrumentos de conservação e recuperação de áreas tam-pão como também contribui e beneficia diretamente o desenvolvimento sócio econô-

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mico da região. Principal disseminador destas mudanças, Querência deve, em conso-nância com o desenvolvimento de cada projeto, integrar de forma justificada, a neces-sidade de uma maior estrutura de escritório que lhe permita o controle de cada ação, incluindo pessoal e a sua qualificação. Da mesma forma, é importante a presença de uma assessoria que oriente os seus proprietários e funcionários na adoção de um sis-tema de gestão e qualidade ambiental baseado nas normas da Organização Interna-cional para a Normalização - ISO relativas à qualidade (ISO 9000) e gestão ambiental (ISO 14000), bem como a norma inglesa relativa a segurança e saúde (BS 880018). Assim, Querência integraria a sua produção e desenvolvimento adotando procedimen-tos e processos voltados para a sua qualificação administrativa e técnica. Não obstan-te as possibilidades futuras que lhe trariam outros diferenciais, não se considera ne-cessária, neste momento, a busca de certificação, mas é fundamental a existência de sistemas de controle e estabelecimento de procedimentos integrando o gerenciamento de projetos a métodos reconhecidamente eficientes.

Deve-se criar, para cada projeto a ser desenvolvido, um sistema de controle específi-co, com geração de controle financeiro e físico próprios, baseados no sistema de qua-lidade e melhoria contínua, considerando-se controle e fluxo de caixa, procedimentos e rotinas de serviços administrativos e procedimentos e rotinas técnicas19. Fortaleça-se a necessidade de cursos de capacitação e cursos de qualificação que permitam a formação de um quadro funcional eficiente e comprometido com o conjunto produtivo, de acordo com a sua atividade/setor. Considere-se a inclusão da recepção da pousa-da no modelo proposto. No que diz respeito ao sistema contábil a ser adotado para cada projeto, o mesmo deve obedecer às Normas Brasileiras de Contabilidade.

B - A Sustentabilidade Econômica Na visão de âncora do desenvolvimento sustentável da região, Querência deve orga-nizar sua estrutura e criar parcerias que viabilizem a sustentabilidade econômica da reserva e de seu entorno. O perfil adotado historicamente pelos proprietários de Que-rência, mesmo antes da criação da reserva, prima pela boa vizinhança e relação de cooperação com os vizinhos de Santa Dalila, o que lhe favorece a mobilização das comunidades como parceiras. Portanto, os projetos deste plano ligados ao contexto comunitário devem prestigiar e interagir estas populações, integrando-as no processo de geração de renda consoante com o equilíbrio ambiental.

Assim, a captação de recursos passa por quatro formas, a saber:

(a) A primeira trata da continuidade dos esforços e resultados profissionais de seus proprietários, que desdobram grande parte de seu tempo e trabalho, ainda que ambos exercendo outra atividade profissional principal. Com seus braços e competência, so-ergueram as pedras de sua casa, dedicando-se no seu dia-a-dia à organização e ao desenvolvimento do Sítio Querência. Com as informações deste plano de manejo inte-gradas a outras que venham a ser acrescentadas, a direção de Querência deve orga-nizar uma divulgação da importância do local, da reserva e de seus trabalhos, criando um referencial a ser visitado por segmentos turísticos, como portal do corredor de de-

18 BS (British Standard) - Relativo à norma inglesa.

19 Considerando-se todas as ações de plantio, construção e recuperação na área construída ou na área da reserva e controle de processos erosivos, de fauna e de flora.

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senvolvimento sustentável a ser desenvolvido na região, fortalecendo a consolidação do mosaico da Mata Atlântica Central Fluminense. Este documento resulta em três projetos a fundo perdido, estabelecidos como de im-portância imediata para os próximos cinco anos. Para tanto, surge a importância das parcerias com as organizações não governamentais, que em geral pelo seu escopo de comprometimento público sem fins lucrativos, viabilizam a proposição de projetos atra-vés dos chamados recursos a fundo perdido. Assim, a (b) segunda forma de captação de recursos, realizada através de parcerias com ONGs e OSCIPs, objetiva a execução dos projetos definidos neste plano de manejo. (c) Já a terceira fonte de recursos trata da realidade de parcerias que resultem no a-poio a processos através da iniciativa privada. Estas articulações se darão com facili-dade quando o produto, objeto do apoio, trouxer imagem voltada para o comprometi-mento social das empresas. Querência pode desempenhar este papel na organização e articulação do desenvolvimento de ações sócio-ambientais para o seu entorno. (d) A quarta fonte de recursos trata do estabelecimento de parcerias com universida-des objetivando a pesquisa científica. Existem recursos específicos para a pesquisa, via projetos financiados pelo CNPq e pela CAPES, submetidos pelo pesquisador res-ponsável. Indicam-se, no item 14.1 deste documento, dois projetos que são relevantes em se tratando de pesquisa científica, por resultarem em subsídios para a conserva-ção e a recuperação da biota, já na fase de revisão deste plano de manejo.

C - A Comunicação

A divulgação de Querência é uma forma estratégica de vender os seus produtos, se-jam projetos, sejam seus resultados. Daí a importância da organização das informa-ções que devem ser difundidas segundo a sua função, forma de sensibilização e resul-tados. Ou seja, buscar parceiros que auxiliem com recursos para a execução de proje-tos exige uma forma de apresentação bem diferente daquela indicada para a atração de hóspedes na pousada ou realização de eventos.

Como instrumentos de comunicação que Querência pode contar, estão:

• Internet, onde já se identificou a importância da atualização contínua das in-formações de seu website, com suas ações e resultados, incluindo a organiza-ção e apresentação de seus produtos e diferenciais;

• Folder e filipetas integrando as possibilidades de aventura e lazer para os hós-pedes, a serem distribuídos em eventos;

• Integração dos projetos e ações com as rádios comunitárias locais; • Divulgação através de matérias em redes de televisão e imprensa.

12.2 - PROGRAMA DE PROTEÇÃO E FISCALIZAÇÃO

O Sítio Querência sempre foi monitorado pelo seu proprietário, que também se preo-cupa com a conservação e recuperação das matas e a proteção dos exemplares de fauna que ocupam as formações da Serra da Palha. Com as intervenções preliminares para a elaboração deste plano de manejo, foi facilitada a integração de Querência den-tro de um contexto do mosaico de unidades de conservação existente na região, o que

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lhe fortalece as articulações e mobilizações integradas, sobretudo com a administra-ção da APA GUAPIMIRIM, já se consolidando como portal do corredor, formatado a-través da área total de influência do projeto OIA/FNMA – 24/2003.

Desta forma, articula-se diretamente a administração do mosaico da Mata Atlântica Central Fluminense através de seu sistema operacional, o que facilitará o controle e o monitoramento com relação à caça, à extração ilegal e outras atividades que impac-tam de forma negativa o ambiente da região de Santa Dalila e da Serra da Palha.

Deverá, a princípio, buscar o apoio dos órgãos públicos na intensificação da fiscaliza-ção, com diligências em dias alternados, de forma semanal, promovendo uma ação efetiva no apoio aos projetos de recuperação ambiental da região.

Deve também organizar um plano de prevenção contra incêndios, criando estrutura e planejamento integrado ao processo de recomposição florestal que viabilize aceiros nas áreas ocupadas por gramíneas e com o aproveitamento das ruas e trilhas, dentro de um perímetro que integre inclusive os seus vizinhos, minimizando os riscos de fogo e estabelecendo um sistema de controle que fomente a sucessão natural da mata da RPPN QUERÊNCIA e para todo o seu entorno.

12.3 - PROGRAMA DE PESQUISA E MONITORAMENTO

Não obstante o esforço de seus proprietários, este é o primeiro estudo técnico ambien-tal que efetivamente foi realizado na propriedade. Indicam-se neste plano algumas necessidades que permitem avançar o próprio estudo até então realizado. O item Pro-jetos Específicos indica a importância de estudos relacionados à Dinâmica de Popula-ções, considerando, sobretudo, a diversidade da fauna original e sua apresentação e distribuição ao longo do tempo e do espaço geográfico. A análise da influência de me-canismos antrópicos deve ser também considerada para efeito de dinâmica de popu-lações de toda a biota.

Um outro perfil que deve ser averiguado, em se tratando da pesquisa científica para os próximos cinco anos, está voltado para o entorno da reserva, já considerando a sua integração às populações vizinhas. Trata-se do estudo da organização e da motivação comunitária, objetivando facilitar a compreensão das motivações sociais, facilitando a elaboração de projetos que fomentem a participação da sociedade no incremento de um processo de construção do desenvolvimento sustentável da região.

12.4 - PROGRAMA DE VISITAÇÃO 12.4.1 – Visitas na RPPN QUERÊNCIA

Atualmente a visitação de trilhas na mata, organizada pela administração de Querên-cia, não é direcionada para dentro de seu terreno e sim para áreas de melhor acesso em propriedades vizinhas. Segundo o estabelecido no zoneamento deste projeto, é possível a visitação dentro da reserva, permitida com critérios nas duas zonas criadas.

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Para a realização de visitas nas trilhas da reserva, deve ser criado um projeto que i-dentifique, mapeie e estabeleça a capacidade de suporte daquele ambiente, conside-rando os aspectos físicos e a biota. Este projeto deve identificar e recuperar as trilhas já existentes e implantar pontes, corrimãos, torre de observação e outras facilidades e estruturas de segurança. 12.4.2 – Projeto de Formatação Turística do Corredor de EL NAGUAL e QUERÊNCIA Por Formatação Turística entenda-se a transformação dos recursos Naturais e Cultu-rais existentes na área do corredor de ligação entre as reservas Querência e El Nagual e seu entorno em produtos turísticos comercialmente viáveis.

A Formatação Turística abrange quatro pontos definidos:

I – identificação dos atrativos

- Levantamento das potencialidades, ou seja, a identificação dos recursos Naturais e Culturais da região.

II – definição dos produtos

- Adequação dos atrativos à exploração econômica, de acordo com suas ca-racterísticas únicas.

III – adequação da estrutura e capacitação da mão-de-obra

- Construção de facilidades (escadas, sanitários, estacionamentos, bebedou-ros, etc.) visando o fácil e seguro acesso dos turistas.

- Treinamento de todo o pessoal envolvido em suas respectivas funções. - Ressalta-se a importância de parceria com instituições de fomento (princi-

palmente micro-crédito) e capacitação profissional para a criação de uma cadeia profissional que exceda os limites das Reservas.

IV– inserção do produto no mercado

- Desenvolvimento de estratégias específicas, de acordo com as característi-cas de cada produto, para a inserção na cadeia produtiva do Turismo.

12.4.2.1 - Produtos Turísticos Descrição dos produtos turísticos existentes, já em funcionamento, e de produtos po-tenciais. a) – RPPN Querência A RPPN Querência encontra-se em estágio embrionário de exploração turística. Não obstante, são identificadas várias atividades potenciais. A – Hospedagem: serviço de pousada com suítes, piscina, alimentação e área de la-zer. B - Day Use: utilização das facilidades da pousada/reserva sem necessidade de hos-pedagem. C – Alimentação: Serviço de restaurante para turistas praticando atividades no Corre-dor ou cruzando a região. D – CIT (Centro de Informações Turísticas) do Corredor: local de informações, ponto de encontro e contratação de atividades turísticas oferecidas ao longo do Corredor.

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E - CIT (Centro de Informações Turísticas) da Região: local de informações, ponto de encontro e contratação de atividades turísticas oferecidas na região. F – TEAL (Treinamento Experimental ao Ar Livre): Atividades para empresas promove-rem a integração de seus funcionários através de atividades lúdicas e esportivas. G – Caminhadas Ecológicas: Passeios guiados pela área da reserva. Tem como tema a observação de fauna e flora. H – Esportes de Aventura: Prática de esportes na Natureza. I – Observação de Pássaros: Atividades de observação de avifauna na Reserva e pro-ximidades. É oferecida na forma de caminhadas e em pontos estáticos de observação. J – Turismo Pedagógico / Educação Ambiental: Programações para escolas vivencia-rem, na prática, a solução de problemas ambientais corriqueiros de maneira harmoni-osa. K – Atividades para Melhor Idade e Portadores de Necessidades Especiais: Programas específicos para a Terceira Idade e Deficientes Físicos. L – Ponto de Venda de Produtos da Região: Local de venda de artesanato e produtos gastronômicos da região. b) – Produtos Regionais Produtos turísticos existentes e potenciais na região do Corredor. São considerados os produtos que têm similaridade ou que possam exercer influência no mercado turístico local. São essenciais para o manejo das potencialidades do corredor ecológico e arre-dores próximos, dentro do conceito de mosaico. Uma vez que o corredor está inserido em um mosaico de Unidades de Conservação, nada mais lógico que o Corredor Turís-tico seja formatado em conjunto com a oferta turística regional.

� Produtos regionais voltados para o turismo histórico: A - Centro Histórico de Petrópolis

- Conjunto arquitetônico dos séculos XIX (segunda metade) e XX (início). A-briga alguns dos mais importantes atrativos turísticos históricos relaciona-dos ao Segundo Reinado e à Primeira República, além de museus relacio-nados a personagens da época.

- Localizado no centro da cidade de Petrópolis, cerca de uma hora de deslo-camento de Querência.

B – Caminho do Ouro Novo, trecho da Estrada Real

- 1ª estrada calçada do Brasil, construída em 1808, por ordem de D.João VI. - Trecho de 3km permanece intacto dentro da floresta. - Localizado na Serra da Estrela, a 30 minutos da Reserva.

C - Ferrovias Barão de Mauá e Príncipe Grão-Pará

- Construções remanescentes da 1ª ferrovia brasileira, 1854, que ia da Baía da Guanabara até Vila Inhomirím, e sua seqüência que seguia para Petró-polis subindo a Serra da Estrela, este trecho sendo a 1ª do Brasil com sis-tema de cremalheira.

- Conjunto de antigas estações, ruínas do porto e pontes construídas pelo Barão de Mauá.

- Localizados a 20 minutos da Reserva.

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D – Acervo da Diocese de Petrópolis

- Conjunto de igrejas dos séculos XVIII, XIX e XX. Apresenta acervo de arte sacra e importante patrimônio arquitetônico e histórico.

- Espalha-se pelos municípios de Magé e Petrópolis.

E – Museu Von Martius, subsede do PARNASO

- Pequeno museu dedicado ao naturalista que, no século XIX, percorreu o Brasil coletando importante acervo sobre a flora brasileira.

- Localizado na subsede do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, em Gua-pimirim, a cerca de 30 minutos de Querência.

� Produtos Regionais voltados para o Ecoturismo: A – Parque Nacional da Serra dos Órgãos

- Principal área de preservação da região, tem ampla utilização turística na área formatada para este fim.

- Tem grande potencial para tal utilização nas proximidades das Reservas. - Sede principal localizada em Teresópolis, a 60 minutos da Reserva.

B – Trilhas da APA Petrópolis - Conjunto de trilhas não formatadas, tradicionalmente utilizadas por morado-

res locais para recreação, extrativismo predatório, eventuais montanhistas da região e caçadores.

- Possuem vários graus de dificuldade e fazem a ligação da área das Reser-vas com Petrópolis, Teresópolis, Guapimirim e Serra da Estrela.

C – APA Guapimirim - Pantanal Fluminense - Área de manguezal nas margens da Baía da Guanabara. Importante local

para a biodiversidade da região. - Local de atividades turísticas, dentro da área de abrangência das hospeda-

gens propostas nas reservas. 12.4.3 - Inserção da Reserva Querência no mercado turístico.

� Análise Interna

A Reserva Querência apresenta vocação para o Turismo, principalmente pela localiza-ção, às margens da principal rodovia da região (BR-116). Apesar da pequena estrutura existente, as atividades de hospedagem são uma realidade.

A topografia e qualidade da Natureza justificam o planejamento de várias atividades.

� Análise Externa: A necessidade de um ponto referencial para o turismo na região é evidente. Apesar da pouca oferta de atividades turísticas organizadas, pode-se observar que várias ocorrem. O fluxo turístico em trânsito para tradicionais destinos é intenso e a proximidade com destinos tradicionais e centros emissores coloca Querência dentro de distância aceitável para passeios de poucas horas de duração.

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12.4.4 - Recomendações para a implantação de produtos no Sítio Querência e na área

de influência do Corredor até El Nagual e até a APA Guapimirim. a) Ecoturismo:

A – Mapeamento, implantação de facilidades e interpretação de trilhas. B – Implantação de facilidades para atividades de esportes radicais e treinamento em-presarial. C – Implantação de estrutura para observação de pássaros. D – Implantação de facilidades (estacionamentos, vestiários, alimentação, etc.) para praticantes de esportes de aventura na área de influência do Corredor. b) Turismo Pedagógico

A – Implantação de horta orgânica, biodigestor e outras facilidades que possam ser visitadas, compreendidas, e que sejam palco de aulas práticas de Educação Ambiental e correto uso da terra e recursos hídricos. B – Implantação de local para palestras e seminários. C – implantação de trilhas interpretativas para serem utilizadas por escolas no desen-volvimento de atividades curriculares de diversos níveis.

Fotografia 16 – Terminal ferroviário de Guia de Pacobaí-ba - 1ª Ferrovia do Brasil – Em primeiro plano o caís das barcas para a conexão com o Rio de Janeiro.

Fotografia 17 – Caminho do Ouro

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c) Turismo Sócio-Cultural A – Implantação de facilidades para o acesso de grupos da Melhor Idade e portadores de necessidades especiais. B – Aproveitamento dos recursos culturais exteriores a área da Reserva, visando um intercâmbio entre turistas e habitantes locais.

12.5 - PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO DE AMBIENTES

A Reserva Querência apresenta diferenciados estágios de desenvolvimento ecológico, com formações de capoeira em diversos níveis (capoeira rala, capoeira e capoeirão) e formações secundárias, apresentando algumas espécies de estágio primário ou clí-max. Não apresenta, contudo, formações florestais primárias.

Fotografia 18 – Serra da Estrela APA PETRÓPOLIS

Fotografia 20 – caranguejo do mangue Fotografia 21 – Rio Irirí – manguezal da

APA Guapimirim

Fotografia 19 – Vista da Serra dos Órgãos

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Um dos objetivos específicos a ser alcançado por este plano de manejo é o fomento à recuperação das formações vegetais, muitas das quais extremamente descaracteriza-das se comparadas com as formações primitivas características da região. Assim, o programa, que objetiva a recuperação e o fortalecimento de ambientes, deve considerar inicialmente as possibilidades de sucessão natural de florestas e adotar três métodos distintos em seu desenvolvimento.

O primeiro atua basicamente na Zona de Recuperação de Querência e consiste na identificação e retirada de espécies exóticas e introdução de espécies vegetais, com características distintas, considerando os fatores limitantes20 que se apresentarem e, para as espécies vegetais a serem introduzidas, a sua capacidade de desenvolvimen-to, dadas as condições físicas de umidade, temperatura e luminosidade, permitidas em cada local a ser recuperado, de acordo com o estágio sucessional ocorrente. Portanto, este método trata da introdução estratégica de espécies herbáceas, arbustivas e arbó-reas características daquela região através da indução ao seu crescimento. Deve con-siderar a importância e a atenção para com os domínios fitosociológicos possíveis, cuidando-se para não ocorrer introdução de quantidades exageradas de indivíduos de uma mesma espécie. É notória a importância da reprodução do ambiente natural e a diversificação de espécies, considerando-se a sua distribuição por entre os estratos florestais. A Tabela I - FLORA DA REGIÃO identifica as espécies vegetais, sua intera-ção com a fauna e sua caracterização ecológica.

O segundo método consiste na distribuição estratégica de frutíferas nativas em todas as formações existentes, incluindo as que compõem a Zona de Proteção de Querên-cia, introduzidas com a função de se integrar ao comportamento e uso de inúmeros mamíferos e aves, dotando a fauna de seus frutos, sementes, néctar, folhas ou cas-cas. Deve considerar os parâmetros fitosociológicos de distribuição e dominância, pre-ocupando-se ainda com a origem das espécies a serem introduzidas, cuidando-se para que sejam preferencialmente originários de matrizes da própria propriedade ou de região próxima e ocupem ambiente ecologicamente similar ao projetado. A Tabela I orienta, identificando as espécies alimentícias nativas daquela região da Mata Atlânti-ca. O terceiro método a ser adotado pelo programa trata da demarcação e da proteção direta de áreas próximas às matas mais formadas, com o objetivo do acompanhamen-to de sua evolução natural, através da sucessão natural das espécies. Este método deve estabelecer amostras na zona de recuperação e na zona de proteção, em parce-las de 100 a 400m².

20 Segundo Odum, P. Eugene. Ecologia. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1988: “A presen-ça e o sucesso de um organismo ou de um grupo de organismos dependem de um complexo de condições. Diz-se que qualquer condição que se aproxime de ou exceda os limites de tole-rância é uma condição limitante ou um fator limitante. Sob condições de estado constante, o material essencial que está disponível em quantidades que mais se aproximam da necessi-dade mínima, tende a ser o fator limitante, conceito este que ficou conhecido como a lei do mínimo de Liebig”.

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XIII - PROPOSTAS DOS PROJETOS

13.1 - PROJETOS ESPECÍFICOS

Como são muitos os projetos, foram utilizados dois critérios demonstrativos. No pri-meiro, foram indicados os projetos gerais, motivos de maior organização de dados para a sua execução. Neste caso se encontra o projeto de interpretação de trilhas em QUERÊNCIA, que deve ser incorporado ao PORTAL QUERÊNCIA, referido abaixo.

Há também projetos relacionados à pesquisa científica que são de extrema importân-cia. De pronto, há a necessidade de estudos científicos relativos a:

13.1.1 Dinâmica de populações, considerando a diversidade da fauna e as riquezas

biogenéticas – Os organismos modificam, mudam e regulam ativamente o am-biente físico21. Em outras palavras, os seres humanos não constituem a única população que modifica e tenta controlar o ambiente. Trata-se de um estudo que permita a interação entre os sistemas genéticos e o ambiente, avaliando o curso de seleção natural e, portanto, não apenas a forma como os organismos individuais otimizem a sua sobrevivência, mas também a maneira pela qual os ecossistemas como um todo se modificam e estão se modificando ao longo de um tempo.

13.1.2 Aspectos fitosociológicos das espécies vegetais, com a sua caracterização, distribuição e freqüência nas configurações da flora regional.

Hoje, a direção de Querência tem a intenção de estabelecer contatos com uni-versidades e centros de pesquisa, objetivando o desenvolvimento de ações de pesquisa aplicada, voltadas para o aumento do conhecimento científico da re-gião, facilitando a conservação e recuperação da biodiversidade nativa. O mais importante é que estas pesquisas respondam, complementem ou avancem o desenvolvimento deste plano de manejo, criando suporte de informações cien-tíficas que facilitem o seu desenvolvimento e as revisões futuras. Os projetos de pesquisa referentes à Dinâmica de Populações e aos aspectos fitosociológicos podem ser financiados pela CAPES e o CNPq, na linha de pesquisa universitária. Também fazem parte da linha temática da Fundação O Boticário. Fora da área acadêmica, objetivando facilitar o desenvolvimento do plano de manejo de Querência, estabeleceu-se aqui os projetos já identificados, deline-ados, e que precisam de recursos imediatos para ser executados. Estes, já fo-ram organizados de forma mais detalhada para melhor orientar os proprietários de Querência no conteúdo básico que norteie a elaboração dos respectivos projetos, de acordo com a formatação de cada agência, fundo ou outra organi-zação de apoio. Os projetos estão mensurados com estimativas, que devem ser mais bem qualificadas quando da elaboração definitiva de cada documento, incorporando as especificações a seguir e outras que se apresentem de acordo com as condicionantes de cada organização patrocinadora22.

21 Odum 22 Cada organização ou fundo financiador tem critérios próprios para a elegibilidade de projetos a serem

chancelados.

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Há dois enfoques diferentes para os projetos. O primeiro está voltado para den-tro da RPPN QUERÊNCIA e o segundo, com projetos voltados para a área da propriedade não gravada como reserva e para o seu entorno, considerando to-da a região de Santa Dalila e proximidades da Serra da Palha.

É oportuno retomar as considerações já mencionadas neste documento, relati-vas à importância das articulações com as organizações ambientalistas, princi-palmente aquelas atuantes na região, objetivando a ação de formação, propo-sição e/ou execução dos projetos em questão.

13.2 - PROJETOS IMEDIATOS PARA QUERÊNCIA

13.2.1 - Projeto de Revegetação de Querência I – INTRODUÇÃO O projeto destina-se à recuperação da composição vegetal das áreas previstas por este Plano de Manejo da RPPN QUERÊNCIA, de acordo com o seu Programa de Re-cuperação de Ambientes (item 12.5). Deve também ter uma previsão de desdobra-mento para dentro dos limites vizinhos, buscando a sua integração para o benefício de toda a região, contribuindo com a recuperação de todo o extremo sul da Serra da Pa-lha. As áreas destinadas à recuperação são em geral parcelas descaracterizadas por a-ções humanas, conseqüência de ações ao longo do uso histórico da região. Para melhor entendimento do processo, distingue-se a recomposição florestal em du-as vertentes: (1) aquela destinada a áreas degradadas, considerando a minimização dos processos erosivos, a recuperação e o fortalecimento de nascentes de água, a substituição de espécies invasoras e a aceleração da recuperação sucessional da ma-ta, com a introdução de espécies conforme as condições de cada local a ser plantado e a característica ecológica de cada planta, conforme caráter pioneiro ou secundário23 e; (2) enriquecimento florestal, com a introdução de espécies que contribuam significa-tivamente com o fortalecimento dos mananciais e com a alimentação da fauna. Para base de fundamentação das espécies vegetais a serem utilizadas pelo projeto, utilize-se a Tabela I. Assim, as linhas do projeto cumprem o estabelecido pelo Programa de Recuperação de Ambientes do Plano de Manejo e Zoneamento de Querência.

23 Segundo Lorenzi, H. Árvores Brasileiras, “existem, na flora arbórea brasileira, vários tipos de plantas com relação ao comportamento ambiental. Algumas só crescem na fase jovem da mata (capoeira) e são denominados de “pioneiras”, outras, denominadas “secundárias”, predominam numa fase intermediária da mata e outras, que só crescem e reproduzem-se mais tardiamente na floresta madura ou primária, são chamadas “plantas clímax”. Eventualmente podem ser encontrados exemplares adultos de plantas pionei-ras e secundárias na floresta clímax, contudo não conseguem regenerar-se naturalmente nesse ambien-te.

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Existem hoje diversos modelos possíveis de serem implantados visando o repovoa-mento vegetal utilizando espécies arbóreas nativas regionais (KLEIN, 1984; SALVADOR, 1987; KAGEYAMA, 1986; BARBOSA, 1989, BARBOSA et al., 1996a). Todos, contudo, pressupõem levantamentos florísticos e fitosociológicos prévios e estudos da biologia e de aspectos ecofisiológicos das espécies, complementados pelo conhecimento dos solos e microclima, entre outros. Diversos resultados obtidos atra-vés de modelos de recomposição florestal mostram que é possível recuperar algumas das funções ecológicas da floresta como a estabilidade do solo (PINAY et al, 1990, apud JOLY, 1994).

Assim sendo, são três os princípios básicos para a recuperação de áreas degradadas: a fitogeografia, a fitosociologia e a sucessão secundária (RODRIGUES & GANDOLFI, 1996). Um conceito que começa a ser explorado nas atuais pesquisas e que foi adota-do no projeto relaciona-se à auto-sustentabilidade das florestas implantadas, que deve ser procurada através da biodiversidade e das relações de fauna e flora, visando à auto-renovação da vegetação. Pesquisas envolvendo forma de copa, longevidade de sementes, exigência de luz para o desenvolvimento, freqüência e densidade natural são abordagens que podem resul-tar na determinação das combinações ideais de cada espécie dentro dos mosaicos de estádios sucessionais nas florestas tropicais. De acordo com BARBOSA et al. (1996a), dentre estes estudos incluem-se as avaliações da dinâmica de ocupação das espécies integrantes das comunidades implantadas, com base na capacidade produtiva dos indivíduos e estratégias de reprodução das espécies. Para melhor definir e classificar as espécies na sucessão ecológica em florestas tropi-cais, alguns autores como SWAINE & WHITMORE (1988) e WHITMORE (1989) utili-zaram como critério as clareiras, classificando as espécies como pioneiras, secundá-rias e climácicas. Já BAZZAZ & PICKETT (1980), DENSLOW (1987) e SCHUPP et al (1989) basearam-se em critérios ecofisiológicos. MARTINEZ-RAMOS et al. (1989) utilizaram critérios demográficos. HARPER (1977), CHARLES-DOMINIQUE (1986), GUEVARA & GOMEZ - POMPA (1988) e MURRAY (1988) basearam-se na dispersão de sementes. MENDONÇA et al. (1992) classificaram as espécies em três grupos eco-lógicos: pioneiras (totalmente heliófitas que não toleram sombreamento); secundárias (oportunistas de clareiras e tolerantes à sombra). BARBOSA et al. (1996b) apresenta-ram a seguinte classificação para algumas espécies arbóreas: pioneiras, secundárias inicial e tardia e climácicas, em função de vários parâmetros e características de flo-restas naturais e implantadas.

Assim, compreende-se que o projeto deva criar o seu próprio viveiro de produção de mudas, considerando a coleta de sementes existentes na própria região ou em forma-ções o mais próximas possível, tendo como base as informações da Tabela I com a referência ecológica e de interação com a fauna. Para a coleta de sementes, é neces-sária a identificação de matrizes adultas, preferencialmente duas ou mais fontes distri-buídas na macro-região. Com relação ao número de sementes, este deve ser coletado sem necessidade de grande quantidade por árvore, eis que a observância do recolhi-mento em várias fontes facilita e fortalece a variedade genética da região. O viveiro deve ser organizado com uma parte mais clara e outra mais sombreada. Deve estar protegido em suas laterais para minimizar as possibilidades de acesso de insetos, pássaro e pequenos mamíferos que degustam os brotos de várias espécies de plan-tas. O viveiro deve ser dotado com sistema de tubetes de PVC com estrias, ou correla-tos de isopor, próprios para o cultivo de espécies nativas de semente grande, que

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permitam um desenvolvimento radicular conduzido sem o enovelamento característico dos sacos plásticos.

Quanto ao plantio direto de sementes na mata, deve ser feito se consideradas as exi-gências da planta e se houver o entendimento de suas possibilidades de êxito ou até pela fartura de sementes, considerando possíveis futuros sacrifícios de alguns exem-plares, minimizando os impactos de um domínio fitosocial induzido.

O projeto deverá dotar recursos para a capacitação e treinamento de funcionários no manejo com a produção de espécies arbóreas, arbustivas e herbáceas da região. De-vem ser priorizados, na seleção para esta atividade, aqueles comunitários que se iden-tificarem ou até tiverem experiência na relação com a natureza e sua vegetação. Os trabalhos, desde a coleta das sementes até o plantio final em campo, serão realizados por este funcionário, orientado tecnicamente por biólogo e/ou engenheiro florestal e/ou agrônomo. O projeto disporá de recursos para o pagamento de serviços de profissio-nal que realize o acompanhamento técnico, as orientações no controle de eventuais pragas e até a orientação na reposição de mudas. Quanto aos recursos, deve ainda o projeto contemplar os equipamentos e insumos necessários para a sua execução.

Devido ao processo erosivo, muitos solos apresentam-se descaracterizados quanto a sua acidez e nutrientes. Para estes locais, é recomendável a análise de solo que iden-tifique a acidez, a composição mineralógica e os seus nutrientes. Nestes casos, os níveis de controle devem prever o adubo orgânico e fosfato e as possíveis correções com calcário. Não são recomendados adubos químicos, dados os seus possíveis im-pactos com a micro-fauna do solo, que pode provocar desequilíbrios em toda a cadeia ecológica. Para os locais mais conservados onde o projeto visa o enriquecimento da floresta, não se considera a necessidade de análise de solo, somente a possibilidade de enriquecimento da cova com adubo orgânico. Todas as covas plantadas devem ser estaqueadas e localizadas, com as mudas identificadas. II – OBJETIVOS Recomposição e recuperação de formações vegetais, incorporando a região da RPPN QUERÊNCIA e de seu entorno. III - DESCRIÇÃO, PROCEDIMENTOS E PROCESSOS 3.1 – Recomposição Vegetal Diversos autores (in: SIMPÓSIO SOBRE MATA CILIAR, 1989 e 1995) têm alertado sobre as condições originais de um ecossistema florestal que se devem incluir na sua conservação ou recuperação, além dos fatores bióticos e abióticos, a complexidade de suas funções e inter-relações, não podendo ser confundido com situações particula-res, como reflorestamentos para fins energéticos ou que visem à recreação. Seguindo os princípios acima elencados, o presente projeto adequa-se às condições locais, levando-se em conta a recuperação de formações vegetais características da formação de terras baixas e sub-montanas da Mata Atlântica. As áreas a serem recu-peradas incorporam toda a RPPN Querência e distinguem-se em conformidade com seu estágio ecológico entre áreas de recuperação, com suas formações em estágio de capoeira e capoeirão, onde serão introduzidas espécies pioneiras e secundárias, já consorciadas com exemplares de melíferas, frutíferas ou outras espécies arbóreas e arbustivas que facultem o uso direto da fauna local. Devem ser georeferenciadas com

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a caracterização das espécies introduzidas, sua origem e data de plantio, distância de plantio e outros dados que possam auxiliar no seu monitoramento. IV – METAS E ATIVIDADES Meta 1 – Implementação de viveiro de produção de mudas Atividade 1.1 – Construção de estrutura física; Atividade 1.2 – Identificação de matrizes; Atividade 1.3 – Coleta de sementes; Atividade 1.4 – Plantio de sementes em viveiro;

Atividade 1.5 – Produção de estacas e enxertos; Atividade 1.6 – Cuidados e manutenção das mudas. Meta 2 – Preparo do solo para o plantio Atividade 2.1 – Análise do solo;

Atividade 2.2 - Remoção de espécies invasoras; Atividade 2.3 – Preparo de covas;

Atividade 2.4 – Correção do solo e introdução de nutrientes orgânicos; Atividade 2.5 – Corte e preparo de estacas de bambu. Meta 3 – Plantio nos locais definitivos

Atividade 3.1 – Seleção das mudas a serem plantadas, de acordo com o objeti- vo do plantio e o local onde será plantado;

Atividade 3.2 - Plantio das sementes e mudas de acordo com os critérios identi- ficados.

Meta 4 – Monitoramento e cuidados com as mudas plantadas Atividade 4.1 - Controle de pragas e doenças sendo feito através de

acompanhamento semanal das espécies plantadas24.

V - INDICADORES PARA ATUALIZAÇÃO (RESULTADOS) Os indicadores relativos ao Projeto de Recomposição Vegetal serão exclusi-vamente mensurados pelo desenvolvimento das mudas e a recuperação dos estratos florestais. VI – PRAZO DE EXECUÇÃO DO PROJETO � Período para a Implantação do projeto: 2 anos � Período para monitoramento e controle: 2 anos. VII – CUSTO ESTIMADO DO PROJETO

R$ 135.000,00 (Cento e trinta e cinco mil reais)

24 É recomendável que o acompanhamento técnico seja feito por, pelo menos, três anos após o plantio.

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13.2.2 - Centro de Recepção e Educação Ambiental – Portal Querência I – Apresentação A reserva particular QUERÊNCIA deve criar um centro de canalização de ações e in-formações destinadas ao desenvolvimento e divulgação de trabalhos e educação am-biental. Assim, surge o Centro de Recepção e Educação Ambiental – Portal Querên-cia, que disporá de exposições sobre temas diretos, desde coleções naturais, fotogra-fias e ilustrações, painéis de divulgação e sistema de projeção multimídia.

Destaque-se que o escopo do projeto consolida-se no contexto sócio ambiental, bus-cando, através da educação ambiental e dos produtos turísticos e seus subprodutos, formas de gerar articulações comunitárias que fortaleçam o desenvolvimento integrado e sustentável de toda a região.

Além da sua importância como centro de Educação Ambiental e, portanto, de centro formador e disseminador de conceitos, tem como função a informação e orientação quanto aos destinos turísticos da região de Magé, criando interfaces com as ofertas turísticas da região, seja através de passeios a barco, caminhadas no mangue, visitas a igrejas e monumentos históricos, passeios a cavalo, charretes, jipes e outras possibi-lidades que surjam no contexto.

Assim, Querência passa a ser o portal de entrada ambiental do corredor ecológico em direção à RPPN El Nagual25. Torna-se um orientador receptivo para as ofertas de eco-turismo da região, considerando a Baía de Guanabara, os manguezais da APA GUAPIMIRIM, as paisagens cênicas e monumentos arquitetônicos, ou para a Serra dos Órgãos.

1.1 – Estrutura Física

O proprietário construirá em design rústico, com seus recursos, a estrutura física do prédio, que deve ser construído baseado em projeto paisagístico e arquitetônico que consolide o espaço construído, conforme as funções pretendidas para cada ambiente do centro de referência. O projeto poderá considerar os recursos com o acabamento e a adequação final do prédio, seja pela pintura, seja pela instalação elétrica e, sobretu-do, a estrutura de iluminação e design final. O conjunto disporá de espaço para auditó-rio, salão de exposições e uma sala de cursos voltados prioritariamente para toda a comunidade e para treinamento de equipe. 1.2 – Equipamentos O projeto deverá dispor de recursos para a aquisição de equipamentos e a sua organi-zação estrutural. Considere-se a importância de sua formatação, voltada para a pro-dução de um sistema multimídia contendo datashow, computador com impressora e demais equipamentos que viabilizem a implantação e o desenvolvimento do projeto. Os recursos para a sua aquisição podem ser integrados ao projeto, de acordo com os

25 O Projeto 24/2003 – OIA/FNMA propõe a criação de um corredor de desenvolvimento sustentável entre as duas RPPNs.

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critérios e condições apresentados pelas agências ou fundos, conforme as parcerias e convênios que se apresentem para a sua execução26. 1.3 – Administração Quanto ao seu efeito administrativo, a implementação do Portal Querência será, após a execução do projeto, integrada ao programa administrativo do Plano de Manejo da RPPN QUERÊNCIA. Para que haja uma forma organizada na implantação e no gerenciamento do projeto e sua posterior administração, feita pela direção da reserva em conjunto com os parcei-ros27 a serem estabelecidos, o projeto considerará a organização administrativa do Portal Querência e todas as suas atividades, integrado as demais ações da proprieda-de e resultará em um sistema de procedimentos e rotinas administrativas do conjunto da propriedade baseado nas normas NBR ISO 14000, NBR ISO 9000 e BS 880028. Ou seja, o projeto possibilitará que a administração do Sítio Querência e sua organização funcional, sejam realizados em conformidade com os preceitos da gestão ambiental, com qualidade, considerando a segurança e saúde de seus trabalhadores, integrando também os demais projetos e atividades desenvolvidas na propriedade. Para tanto, tornará disponível consultoria específica que elaborará, em conjunto com os seus proprietários, funcionários, equipe de projeto e comunitários envolvidos no processo, uma política de gestão baseada em normas de qualidade, gestão ambiental, segurança e saúde, criando conformidades para cada atividade realizada. Não se pre-tende com isso qualquer certificação, ainda que seja um destaque uma certificação compartilhada para trabalhos sócio-ambientais. O mais importante é se criar regras, divisões de tarefas, formas de monitoria e controle, resguardando-se de que todos os processos já se iniciem dentro de um sistema operacional bem definido. Quanto à for-matação, deve ter a visão processual e integrada, envolvendo as três normas e consi-derando a política, a conformidade de métodos e processos, contemplando cada ativi-dade a ser desenvolvida e o treinamento para o seu desenvolvimento. 1.4 – Recursos Humanos O projeto deverá contar com recursos para o pagamento, durante 18 meses, de dois comunitários que trabalharão diretamente no atendimento ao visitante. Com relação à capacitação e qualificação, o projeto destinará recursos para o paga-mento de consultores que orientem em todo o processo técnico de sua implantação, seja no que diz respeito aos seus proprietários e funcionários, seja no que diz respeito à capacitação e qualificação de comunitários através de cursos específicos.

26 Em face de eventuais dificuldades para viabilizar o financiamento de equipamentos através destas organizações de apoio, deve a direção de Querência buscar parcerias com empresas, podendo oferecer espaços que se integrem, através de merchandising, observados os cuidados para não criarem qualquer dificuldade ou impedimento ao seu desenvolvimento e alcance dos resultados. 27 Comunidades, associações, organizações comunitárias e cooperativas, organizações não governamen-

tais e governamentais e empresas. 28 NBR 14000 – Norma Brasileira de Gestão Ambiental. NBR 9000 - Norma Brasileira de Qualidade. BS 8800 - British Standard - Norma inglesa de segurança e saúde.

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Assumirá ainda os custos relativos a mão-de-obra de assessoria e operários, nos pro-cessos de construção do biodigestor e reforma e acabamento do prédio do Portal Que-rência. 1.5 – Divulgação do Portal Querência O projeto criará um sistema de divulgação através de website na Internet, garantindo recursos para o mesmo durante dezoito meses. A página divulgará as ações realiza-das e conteúdos e informativos voltados para a região, sua natureza, sua população, cultura, a história e arquitetura. Conterá assuntos relativos à área do corredor de El Nagual e Querência. Informará ainda as possibilidades de roteiros na região e os ser-viços comunitários criados com Querência. O projeto deverá dotar recursos para a criação de folder inerente a Querência e sua região. 1.6 – Outras ações agregadoras à estrutura do sítio Querência a) Construção de um biodigestor – o projeto disponibilizará de recursos para a cons-trução de um biodigestor que se integre ao conjunto estrutural da propriedade tratando os efluentes de toda a propriedade. O gás resultante no processo será canalizado e utilizado na cozinha do sítio. O biodigestor construído ficará aberto à exposição pública como ferramenta de educação ambiental e técnicas ambientais eficientes.

b) Organização das trilhas de Querência – as trilhas de dentro da reserva e no conjun-to da propriedade são trilhas antigas que seguem as curvas de nível de forma suave, ultrapassando em vários momentos os rumos da propriedade. O projeto disporá de recursos para a recuperação das trilhas, considerando inclusive a possibilidade de integrações a partir de um caminho que não exceda os limites da propriedade. Para este caminho que se destinará, sobretudo, à fiscalização e monitoramento da proprie-dade, serão construídas pequenas pontes e sistema de drenagem, facilitando a cami-nhada e estruturando a trilha em seu suporte ambiental. 1.7 – Interface comunitária O projeto de implementação do Portal Querência identificará ações voltadas para o ecoturismo, já realizadas, e aquelas potenciais que possam ser implementadas de imediato, objetivando a criação de uma rede integrada de serviços comunitários para a região do corredor de El Nagual e Querência, envolvendo os pescadores, produtores rurais e outros segmentos produtivos e de serviços da região, de acordo com os seus conhecimentos e estrutura de suporte. Por exemplo, há pescadores que já possuem barcos destinados a passeios de pescaria. Estas embarcações podem ser adequadas para outros tipos de passeios, obedecidas às conformidades estabelecidas. Um outro exemplo é o dos agricultores, que além da venda direta dos produtos e de sua indus-trialização, podem oferecer passeios com visitas a criações de animais e outras ativi-dades da roça, fortalecendo o denominado agroturismo. Assim, segue-se uma ainda desorganizada, mas existente tendência para toda a região, ocupando-se o projeto em identificar as possibilidades de sua organização e integração. Deverá eleger os critérios de segurança, qualidade e conhecimentos específicos rela-cionados aos atrativos a serem integrados nesta rede regionalizada que deve alcançar desde a Baía de Guanabara até a Serra dos Órgãos, em um conjunto de ações inte-grando o turismo de aventura e o ecoturismo, os passeios de barcos, a história e a

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arquitetura, enfim, as ofertas que identifiquem como ajustáveis ao processo local, mais viáveis de execução em um primeiro momento. Passa o Portal Querência a ser o centro gerenciador e integrador destas atividades mobilizadas ao longo do corredor, podendo também acioná-las.

O processo de mobilização será através de reuniões iniciais em cada comunidade e a identificação das atividades já desenvolvidas, voltadas para a interface cultural e turís-tica, seus potenciais, atores e outros dados que serão organizados pela equipe. Tais reuniões gerarão um grupo de trabalho comunitário que organizará o circuito inicial e seu planejamento, desde a chegada do visitante em Querência até os procedimentos seguintes, com o seu encaminhamento de acordo com o seu atrativo/circuito de inte-resse. Assim, o circuito mobilizado pelo Portal Querência atenderá a uma oferta de produtos já potenciais e estabelecidos (barcos, trilhas, jipes, aventura, etc.), integrando neste contexto os comunitários que tenham perfil ou, efetivamente identidade e voca-ção, provocando a sua capacitação e inserção. A proposta deve alcançar a identificação, mobilização, organização, discussão e resul-tados que gerem um modelo de produtos e serviços para a região organizada através de um conjunto de parceiros e suas diferentes possibilidades de contribuição para a implantação e o desenvolvimento do processo. II – Objetivos Específicos

� Estruturar a RPPN QUERÊNCIA, com a criação e desenvolvimento de um cen-tro de informação, capacitação e visitação, com informações relativas à região, ao seu ecossistema, flora e fauna.

� Divulgar os projetos da reserva e das comunidades próximas. � Criar uma política de Gestão Ambiental e de Qualidade para a RPPN QUE-

RÊNCIA e seus projetos em desenvolvimento. � Identificar, organizar e construir, em conjunto com as comunidades da região,

uma integração de ações objetivando a recuperação e a conservação dos re-cursos naturais e o desenvolvimento sustentável.

III - DESCRIÇÃO, PROCEDIMENTOS E PROCESSOS A visão proposta ocupa-se de uma contextualização multidisciplinar voltada para a construção e o desenvolvimento de um processo sistêmico integrado, compondo a educação ambiental à gestão e ao desenvolvimento de atividades ambientalmente sustentáveis para a região. Desta forma deve ainda considerar as seguintes diretrizes, a saber: 1 - Estrutura física Considere-se, neste contexto, como contrapartida, a disponibilidade do uso da estrutu-ra física pelas comunidades do entorno, em processos integrados voltados para a e-ducação ambiental e cursos de formação e qualificação.

A equipe do projeto deve incorporar um arquiteto para a elaboração de um projeto de construção e paisagismo adequado com o formato de informação, educação, integra-ção, voltado para público diversificado. O paisagismo deve integrar-se à formatação pedagógica dada pela Educação Ambiental enquanto produção de conteúdo.

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2 – Educação Ambiental Criando formato com linguagem local, integrando o mangue de Guapimirim, a Baía de Guanabara, os rios locais, Serra dos Órgãos, a história, arquitetura, economia e eco-logia, dentro das bacias dos Rios Suruí e Irirí bem como as cabeceiras do Rio Santo Aleixo, formatando o corredor que envolve El Nagual e Querência. Assim, Querência assume o papel de integrador, de acordo com a sua localização centrada no eixo entre as serras e a região flúvio marinha, e posicionado estrategicamente próximo à rodovia federal.

Para o desenvolvimento do conteúdo voltado para a educação ambiental, o projeto criará roteiros, produzindo informações através de edição de filmagens, fotografias e desenhos enfocando diversos temas tais como fauna, flora e vegetação, ecossiste-mas, paisagens, história e arquitetura, dentre outros. Os roteiros devem incorporar também as experiências e a realidade das populações de pescadores, agricultores, ribeirinhos e outros núcleos dentro de suas especificidades e histórias.

Para a realização destes roteiros, o projeto deverá contar com profissionais como bió-logo, sociólogo ou assistente social e pedagogo. Deve também considerar o profissio-nal de imagens e edição. O resultado destas imagens deve gerar CDs temáticos a serem projetados em tela, em exposição permanente aberta à comunidade. Estas filmagens devem também ser utilizadas como ferramenta de mobilização para a sensi-bilização dos grupos comunitários da região quanto à importância da participação no processo de planejamento e desenvolvimento da região, a partir da organização co-munitária. . 3 – Identificação de Roteiros Turísticos e fomento ao desenvolvimento de serviços comunitários de ecoturismo, de forma integrada. O projeto deverá identificar, dentre alguns dos roteiros turísticos destacados neste plano de manejo, aqueles que já estão sendo trabalhados por comunitários e os que podem ser desenvolvidos sem muitos entraves, objetivando a criação de um circuito, conforme o descrito na Interface Comunitária, item 1.7 desta proposta. Para o desenvolvimento de toda a interface comunitária e o planejamento dos roteiros, mecanismos administrativos e de controle, procedimentos, divulgação e processo ope-racional, o projeto contará com equipe multidisciplinar composta de, no mínimo, um administrador, um profissional de marketing, um profissional de turismo, um biólogo, um pedagogo e um assistente social. O papel da equipe é o de mobilizar as comuni-dades, face o seu potencial, e o de assessorar os grupos comunitários articulados ao Sítio Querência, na organização de um processo produtivo integrado, de acordo com os seus interesses, que gere resultados efetivos para os envolvidos com benefícios sócio econômico e ambiental para toda a região. 4 – Gerenciamento dos projetos e processos Como já citado, o projeto adotará para todas as suas atividades um modelo de desen-volvimento baseado nas Normas Brasileiras de Qualidade, Meio Ambiente, conside-rando também as questões relacionadas a segurança e saúde. Para tal, será criada uma assessoria composta por profissionais que, de forma compartilhada, implantarão uma política de gestão do projeto, gerando os processos conforme o estabelecido para

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cada norma. Assim, no geral, a equipe deverá realizar no mínimo as atividades29 pre-vistas na meta três deste projeto (Criação de um Sistema de Gestão). O gerenciamento de projetos e processos incluirá também as especificidades ineren-tes à administração do Sítio Querência, considerando o conjunto de suas atividades. 5 – Curso de Ecoturismo O Curso de Ecoturismo será dirigido para as comunidades integradas no processo e a sua seleção será realizada com critérios a serem estabelecidos pela plenária de co-munitários envolvidos na organização do processo, com a assessoria da equipe técni-ca. Terá a carga horária de 180 horas dispostas ao longo de um ano

PROGRAMA DO CURSO

� Gestão de Empreendimentos Turísticos � Gestão de Empreendimentos � Gestão de Recursos Humanos � Gestão de Recursos Financeiros � Gestão Pública de Ecoturismo � Tomada de Decisões

� Legislação � Leis relativas ao Turismo � Leis relativas ao Meio Ambiente

� Educação Ambiental � Ecologia e Meio Ambiente � Desenvolvimento de Turismo Sustentável

� Envolvimento das Populações Locais � Envolvimento do Setor Público � Envolvimento do Setor Privado

� Elaboração de Roteiros e Condução de Grupos � Liderança e Criatividade � Seleção de Áreas e Interpretação de Trilhas

� Procedimentos em campo � Primeiros Socorros � Métodos de Orientação � Métodos de Sobrevivência

� Técnicas de Reconhecimento em campo � Reconhecimento de Ambientes � Fauna e Flora � Meio Físico

� Análise Paisagística � Elementos de Paisagem – descrição e avaliação � Aplicação dos elementos de paisagem � Conceituação da integração dos elementos das unidades paisagísticas� Descrição e avaliação de paisagens � Valorização das paisagens

� Valorização dos Recursos Naturais

29 - Conforme procedimentos gerais para a implantação das normas estabelecidas

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� Valoração econômica na gestão ambiental � Importância da valoração � Estabelecimento de prioridades, ações e procedimentos � Custos de oportunidade de proteção ambiental � Métodos de valoração � Valor econômico dos recursos naturais

� Planejamento Ambiental � Concepção de Sinalização

IV – Metas e atividades Meta 1 – Estruturar o Centro de Educação Ambiental – Portal Querência

Atividade 1.1 – Realizar as reformas e arremates necessários ao prédio incluindo o projeto paisagístico e de iluminação. Atividade 1.2 – Organizar projeto paisagístico e pedagógico, de acordo com a projeção e finalidades de cada cômodo.

Atividade 1.3 – Fabricação de bancadas, bancos, mesas, prateleiras. Atividade 1.4 – Aquisição de equipamentos. Atividade 1.5 – Construção de biodigestor.

Atividade 1.6 - Organização e estruturação das trilhas da RPPN Que- rência.

Meta 2 – Criar e adquirir conteúdos, imagens e relatos para a exposição e tra-

balhos com Educação Ambiental. Atividade 2.1 – Adquirir material já produzido sobre a região voltado pa-

ra as temáticas cultural, ambiental e social. Atividade 2.2 – Produzir imagens e editar dois vídeos temáticos Atividade 2.3 – Produzir folheteria relativa a região

Meta 3 – Criação de um Sistema de Gestão30 Atividade 3.1 - Identificação dos processos Atividade 3.2 - Identificação dos aspectos ambientais Atividade 3.3 - Análise da qualidade Atividade 3.4 - Análise da segurança e saúde Atividade 3.5 - Avaliação

� Aspectos/impactos (sociais, ambientais, econômicos, a saúde e segurança)

� Incidentes anteriores � Práticas já existentes

Atividade 3.6 - Definição de uma gerência que crie a interface entre as a-tividades. Atividade 3.7 - Elaboração de uma política compartilhada, considerando meio ambiente, qualidade e segurança e saúde. Atividade 3.8 - Sensibilização dos envolvidos – implantação de atividades de educação ambiental, oficinas, cartilhas, etc, voltadas para os comuni-tários e público envolvido no processo.

30 Considerando os procedimentos estabelecidos pelas normas citadas em sua aplicação voltada para o

meio ambiente, qualidade e a segurança e saúde.

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Atividade 3.9 - Estabelecimento de indicadores e métodos de controle e monitoramento. Atividade 3.10 - Definição de objetivos e metas. Atividade 3.11 - Estabelecimento de programas de gestão (estabelecidos para cada atividade e a sua interface com o conjunto). Atividade 3.12 - Estabelecimento de fluxograma. Atividade 3.13 - Implantação de Manual de Gestão – considerando os as-pectos gerais e particularizados para cada atividade/ação criada. Atividade 3.14 - Capacitação

� Atribuição de responsabilidades, conforme o manual � Treinamento e motivação � Avaliações

Atividade 3.15 - Comunicação e Relato Atividade 3.16 - Documentação Atividade 3.17 - Controle Operacional

� Medição e avaliação – estabelecimento de medições, indicadores, procedimentos, ações corretivas e preventivas.

� Auditorias – treinamento para auditores internos � Análise crítica – com a previsão de melhoria contínua e reuniões

bimestrais de avaliação

Meta 4 – Mobilização da comunidade e geração de roteiro e sistema operacio-nal Atividade 4.1 – Realização de reuniões nas comunidades Atividade 4.2 – Organização de comissão comunitária Atividade 4.3 – Definição dos atrativos e roteiros Atividade 4.4 – Estabelecimento de sistema operacional comunitário Meta 5 – Curso de Ecoturismo

Atividade 5.1 – Implementação do Curso de Ecoturismo Meta 6 – Divulgação do Portal Querência

Atividade 6.1 – Criar página na Internet relativa ao Portal Querência

IV - INDICADORES PARA ATUALIZAÇÃO (RESULTADOS)

• Prédio adequado e aparelhado • Articulação com comunitários • Gerenciamento compatível com normas técnicas • Equipes qualificadas para o desenvolvimento dos trabalhos • Freqüência de visitantes por mês

V – PRAZO DE EXECUÇÃO DO PROJETO � Período para a Implantação do projeto: 2 anos VI – CUSTO DO PROJETO Recursos necessários: R$ 150.000,00 (Cento e cinqüenta mil reais)

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13.2.3 – Projeto Sítio Sustentável

O Sitio Querência possui quinze mil metros de área não gravada como RPPN. Desta área, cinco mil metros quadrados estão sendo ocupados pela sede da propriedade, em uma área já retaludada e com alguns aterros, incorporando a sua área frontal e sua área de recreação. Exceto por uma pequena horta, o hectare restante não é ocu-pado por nenhuma atividade produtiva, sendo que, quase oito mil metros quadrados desta área estão cobertos por uma capoeira em regeneração. A região ainda que não gravada como RPPN deve ser objeto de trabalho de enriquecimento da mata, confor-me o estabelecido no item 13.2.1 – Projeto de Revegetação de Querência. A intenção dos proprietários para a área em questão é também de otimizar os seus espaços, den-tro da formação vegetal que está sendo naturalmente desenvolvida, integrando a cul-tura do palmito pupunha. A outra intenção é a organização de um galinheiro orgânico, integrado à produção de hortaliças. 1 – Objetivos

O Projeto Sítio Sustentável objetiva a organização e o desenvolvimento produtivo de espaço não registrado como reserva, obsoleto ou sub-utilizado enquanto o seu atual uso.

2 – Justificativa

O projeto justifica-se pela necessidade da implementação de métodos de produção e uso para a área, onde uma pequena parte (cerca de dois mil metros quadrados) é descoberta de formações de mata e sua maior parte – aproximados oito mil metros de área, contém vegetação em formações fisionômicas de estágio inicial, com ocorrência de pioneiras e algumas espécies secundárias.

A otimização destes espaços não só podem gerar recursos financeiros que auxiliem na financeira da propriedade como, sobretudo, cria referencial através de exemplos práticos que podem ser visitados, com objetivo de disseminação de tecnologias efici-entes e educação ambiental aberto a toda a população.

Passa, portanto, a ser um atrativo que fortalece e se integra ao projeto do Portal Que-rência.

3 – Procedimentos e Processos O projeto se propõe a trabalhar através de uma visão interativa onde a propriedade, ao longo de um tempo, se mantenha através da sua própria sustentabilidade, observada a busca de independência de insumos originários de outros ambientes, externos à área do sítio.

Em termos práticos, em um primeiro momento, o projeto cria um galinheiro orgânico integrado a horta e pomar, um plantio de pupunha e uma produção de minhocas.

a) Galinheiro Orgânico integrado a horta e pomar

O galinheiro será construído na área próxima ao lago existente nos fundos da sede do sítio. Sua organização física constará de um espaço cercado de 10 metros de largura

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e 20 metros de comprimento, toda coberta com rede31. A estrutura conterá um peque-no galpão, construído em área não menor que 12m², com divisórias para ninhos, pin-teiro e poleiros.

A raça das aves será selecionada, conforme a intenção do proprietário na produção de carne ou na produção de ovos. O espaço não deverá conter mais que cinqüenta aves adultas, considerando uma distribuição em torno de sete fêmeas para cada macho. O tipo de criação adotado será o de confinamento, eis que não haveria compatibilidade de galinhas soltas com o espaço projetado em torno da sede da reserva. Para a ali-mentação das galinhas, será criado um espaço agrícola integrando horta, pomar e cultivos temporários de leguminosas e grãos em geral. O alimento das aves deverá ser produzido pela integração de excedentes da horta e pomar e, sobretudo, com folhas e grãos dos cultivos temporários.

Os cultivos que alimentarão as aves serão feitos com base em cultura orgânica sem a utilização de agrotóxicos e insumos químicos. Para a correção do pH do solo, poderão ser utilizados corretores com base mineral (fosfato, calcário).

O adubo orgânico utilizado pela horta será o esterco curtido dos dejetos das aves cria-das. Serão plantadas leguminosas de crescimento rápido (mucuna, feijão de porco, feijão guandu e outros) cujas folhas e sementes serão direcionadas para a alimenta-ção das aves. Como as folhas de leguminosas em geral carregam uma grande quanti-dade de nitrogênio, produzido através de simbiose com bactérias nitrificantes, os deje-tos das aves, após o seu curtimento, serão utilizados como adubo orgânico em todas as colheitas, aumentando significativamente a oferta de nitrogênio no solo. As legumi-nosas serão também oferta de alimentação suplementar para o cultivo de minhocas, disposto neste projeto. Estas minhocas servirão de alimento para as aves, dotando-lhes da proteína necessária ao seu desenvolvimento.

Uma outra forma de alimentação para as galinhas é através das frutas que serão tam-bém produzidas em pomar, consorciado a horta. Resta também a cultura intercalada de milho e feijão, com resultados múltiplos na produção de grãos e folhagem que se integrará ao sistema.

Destaque-se que, com a implantação do biodigestor pelo projeto Portal Querência, parte das folhas e até dos dejetos das aves podem ser tratados diretos no biosistema, resultando no gás de cozinha. O composto orgânico final do biodigestor será reinte-grado nos plantios em geral. b) Criação de minhocas

Como já citado, a criação de minhocas se integra no processo, recebendo folhas, le-gumes e produtos orgânicos em geral. Para a região, dado o clima quente, a espécie adotada deve ser a minhoca canadense, que se adapta bem, com desenvolvimento rápido. Nesta opção, é importante destacar a necessidade de integração de sua ali-mentação com esterco curtido de eqüinos ou bovinos. Contudo, para a garantia de um sistema orgânico pleno, na hipótese do esterco não ter origem em criação orgânica confiável, deve-se optar pela minhoca maluca, encontrada nos solos da região. Esta, ainda que sem desenvolvimento precoce em relação à minhoca canadense, é rústica, adaptando-se facilmente aos nutrientes orgânicos com base em vegetais.

31 As cercas devem ser presas a vigas, impedindo a passagem de animais cavadores.

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Para o minhocário, serão construídos inicialmente dois canteiros de 2 metros com, no máximo, 1 metro de largura e trinta centímetros de profundidade. O fundo deve ser impermeabilizado, para evitar a fuga dos anelídeos. Os canteiros devem oferecer uma eficiente linha de drenagem e serem protegidos contra os muitos predadores das mi-nhocas e os animais que possam ser atraídos pelo leve cheiro do substrato orgânico produzido. Devem também ter cobertura que controle a luminosidade, protegendo o substrato das chuvas e mantendo uma temperatura mais quente no micro ambiente criado.

Ao invés de canteiros, os viveiros podem ser também construídos com anéis de mani-lhas e até em caixas de madeira.

Não é recomendada, para a criação de minhocas, a utilização de esterco de aves, que mesmo curtido, tem forte presença de amônia.

O cultivo não exige muitos esforços, senão, após a inclusão do plantel, a formação de substrato, conforme a exigência da espécie de minhoca adotada e o correto manejo, evitando-se a saturação por umidade, a exposição contra luz e uma quantidade de diferentes tipos de alimentos de origem controlada. c) Plantio de pupunha integrado na mata

Dentro do contexto do aproveitamento racional e ecológico do espaço, tem-se o plan-tio da palmeira pupunha – Bactris gasipaes, de origem amazônica, cuja variedade plantada tem origem nas florestas peruanas. Alimento nobre e muito apreciado, a in-trodução da cultura do palmito pupunha no sítio Querência pode proporcionar uma nova alternativa de produto, com possibilidades de rentabilidade.

Da aparência ao paladar, a pupunha é hoje uma das substitutas naturais do palmito obtido das espécies juçara ou açaí. Por todas as qualidades que apresenta, vem a ser uma planta economicamente viável e ambientalmente correta. É uma cultura precoce e permanente que, a partir do segundo ano de cultivo, proporciona o retorno do capital investido com certa margem de lucro na primeira colheita. Seu sistema de reprodução por brotação (perfilhamento) possibilita nova colheita a cada oito meses, garantindo rendimento por 18 a 20 anos se a lavoura for bem conduzida.

O produtor corta a planta adulta, escolhendo entre 2 a 4 brotos que a cada safra serão as novas plantas para o consumo. Com seu desenvolvimento não uniforme, o produtor faz a colheita sem o acúmulo de trabalho, podendo optar quando mais lhe convir ou quando o mercado ofertar melhor preço, visto não possuir riscos de perdas das plan-tas a serem colhidas. É possível obter 1,5 plantas/cova, em média, a cada oito meses. Assim, se Querência plantar 200 mudas em um primeiro ano, no final da colheita, irão aumentar para 300 plantas aptas para o consumo. Ou seja, cada cova rende 1,5 pé de palmito de pupunha, a média da lavoura.

No segundo ano de cultivo, a planta está apta para o consumo. É possível utilizar a planta por completo. As folhas podem ser compostadas, originando adubo orgânico. Podem também ser utilizadas na a confecção artesanal de cestarias, enfeites e outros.

Assim, na área localizada na encosta a montante da sede do Sítio Querência, até pró-ximo aos 50 metros de altitude, já nos limites da RPPN QUERÊNCIA, serão plantadas

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duzentas mudas de palmeiras, distribuídas nas margens das trilhas e por entre o som-breado da cobertura vegetal das formações arbustivas e arbóreas daquela cota. Os locais de plantio serão delimitados e marcados, objetivando o sistema de monitora-mento e controle do cultivo.

O projeto deverá observar e assessorar o proprietário no cumprimento da legislação vigente, inclusive no cumprimento das instruções normativas, portarias e resoluções da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura e do IBAMA em face da produção, colheita, processamento e comercialização.

4 – METAS E ATIVIDADES

4.1 – Meta 1 – Implantação do galinheiro Atividade 1.1 – Aquisição de material e construção do viveiro, incluindo infra-estrutura e pequeno galpão Atividade 1.2 – Aquisição e introdução de plantel de matrizes Atividade 1.3 – Cuidados com alimentação e doenças

4.2 – Meta 2 – Organização de lavoura orgânica Atividade 2.1 – Aquisição de ferramentas e introdução de esterco Atividade 2.2 – Aquisição de mudas e sementes Atividade 2.3 – Formação de sementeiras e mudas Atividade 2.4 – Plantio de frutíferas Atividade 2.5 - Criação de canteiros e plantio de verduras Atividade 2.6 – Plantio das leiras de grãos e leguminosas Atividade 2.7 – Controle e manutenção

4.3 – Meta 3 – Criação de minhocário Atividade 3.1 – Aquisição ou formação de plantel Atividade 3.2 – Construção de viveiros e implantação de matrizes Atividade 3.3 – Controle e manutenção

4.4 – Meta 4 – Introdução de sistema agroflorestal com base na pupunha Atividade 4.1 – Aquisição de plantel de mudas Atividade 4.2 - Identificação dos pontos e plantio de mudas Atividade 4.3 – Controle e manutenção

IV - INDICADORES PARA ATUALIZAÇÃO (RESULTADOS)

• Produção orgânica de ovos e carne de aves • Produção de palmito

V – PRAZO DE EXECUÇÃO DO PROJETO � Período para a Implantação do projeto: 18 meses VI – CUSTO DO PROJETO Recursos necessários: R$ 60.000,00 (Sessenta mil reais)

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13.3 - Agências e Fundos de Financiamento com linhas temáticas com-patíveis com os projetos propostos (recursos a fundo perdido)

Projeto de Revegetação

� FNMA � WWF – FUNDO MUNDIAL PARA A NATUREZA � FAUNA AND FLORA PRESERVATION SOCIETY � ROUND UP FOR THE RAINFOREST � SOPHIE DANFORTH CONSERVATION BIOLOGY

FUND � THE WILLIAM & FLORA REWLETT FOUNDATION � UNIBANCO ECOLOGIA

Portal Querência

� FNMA � EMBAIXADA DO REINO DOS PAÍSES BAIXOS � FUNDAÇÃO FORD � COORDINADORA DE ONGD PARA EL

DESARROLLO � INTERAMERICAN FOUNDATION � KONRAD-ADENAUER-STIFTUNG � KRESGE FOUNDATION � EMBAIXADA DA SUIÇA � THE STARR FOUNDATION � OXFAM � FLEMING IN THE WORLD DEVELOPING

COOPERATION � KARL DUISDERG GESELLSCHAFT � CHARLES STEWART MOTT FOUNDATION � EARTH COUNCIL � FUNDAÇÃO MAC ARTHUR � GENERAL SERVICE FOUNDATION � THE GOLDMAN ENVIRONMENTAL PRIZE � THE MORIAH FUND � THE ROLEX AWARDS FOR ENTERPRISE � UNIVERSITY OF PITTSBURGH CENTER OF FOR

LATIN AMERICAN STUDIES � WORLD NATURE ASSOCIATION

Sítio Sustentável

� PRONAF – Programa Nacional de Agricultura Familiar � CIDA – CANADIAN INTERNATIONAL DEVELOP-

MENT AGENCY � EMBAIXADA DO REINO DOS PAÍSES BAIXOS � THE ROCKFELLER FOUNDATION � FLEMING IN THE WORLD DEVELOPING

COOPERATION

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D – OBSERVAÇÕES FINAIS

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XIV – OBSERVAÇÕES FINAIS A propósito de monitoramento, o Plano de Manejo e Zoneamento da RPPN QUE-RÊNCIA tem toda a sua base digitalizada e geoprocessada com base no SPRING32, podendo ser atualizada, servindo como um banco de dados e informação para seus administradores, instituições de pesquisa, órgãos públicos e comunidade em geral.

Seus programas, seus projetos e planejamento objetivam ações para os próximos cin-co anos, seguindo-se, então, a necessidade de revisões e atualizações do processo, conforme o seu desenvolvimento.

Dada a diversidade de abordagens, algumas em áreas técnicas de conhecimento bem específico, devem os gerentes da Reserva Querência organizarem-se na implantação do presente Plano de Manejo considerando, sobretudo, as interfaces de parceria que possam ser realizadas para o seu efetivo cumprimento. Estas articulações já se inicia-ram quando, para o resultado final deste plano, foram movimentados esforços de par-ticipação de comunidades, proprietários de RPPN e os órgãos e unidades públicas – através de seminários, reuniões e contato do dia-a-dia com representantes da socie-dade mageense, que deram informações e parâmetros para o presente resultado. De-vem agora estes atores, serem mobilizados na execução do presente plano, princi-palmente no que diz respeito ao implemento de uma política pública para a região que estabeleça um sistema de controle e fiscalização para o uso e a ocupação do solo. Considere-se também fundamental a mobilização para a fiscalização e inibição da caça e do extrativismo predatório, atingindo especialmente algumas espécies vegetais.

Uma outra questão a ser considerada é, fora as parcerias de Querência com as orga-nizações não governamentais envolvidas neste projeto, as outras integrações e parce-rias que devem ser efetivadas através da mobilização das organizações não governa-mentais que atuam na localidade, integradas neste contexto regionalizado, que o pla-no de manejo de Querência efetivamente cria no Sul da Serra da Palha.

Outra situação a ser considerada é a financeira. Todas as ações deste plano de mane-jo preconizam custos que devem ser levantados, sobretudo para os projetos, através de recursos a fundo perdido. Assim, consolidam-se as parcerias técnicas com ONGs e universidades para a elaboração de projetos que objetivem o levantamento de recur-sos para cada ação projetada. A administração e o gerenciamento dos resultados de cada projeto devem primar pela eficiência e qualidade, considerando inclusive a for-mação e a qualificação de profissionais adidos a cada um dos projetos, na sua imple-mentação.

Portanto, recomenda-se o fortalecimento das parcerias na organização administrativa do Sítio Querência e na organização e integração comunitária, que este documento preconiza, conservando e controlando a reserva e contribuindo com a implantação de um desenvolvimento econômico socialmente justo e ecologicamente sustentável para toda a região.

32 SPRING. Brasil, Ministério da Ciência e Tecnologia.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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XV - BIBLIOGRAFIA CONSULTADA � A’B SABER, A. N. Litoral do Brasil. São Paulo, Metalivros, 2001. � AMADOR, E. S. Baia de Guanabara e Ecossistemas Periféricos: Homem e Na-

tureza. Rio de Janeiro, Reproarte, 1997. � ANDERSON, OTTO. As frutas silvestres do Brasil. Editora Globo, Rio de Janei-

ro, RJ: 1988, 236p. � ARANHA, C; LEITÃO Fº, H.F e YAHN, C.A. Sistemática de Plantas Invasoras –

Instituto Campineiro de Ensino Agrícola – Campinas, SP. 1987. 174p. � BAITELLO, J. B. e AGUIAR, O.T. Flora arbórea de Serra da Cantareira. São

Paulo. Silvicultura, v.16A. � BARBOSA, L. M.; ASPERTI, L. M.; SANTOS, M.R.º; SERRA FILHO, R. Repo-

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� BARBOSA, L. M; ASPERTI, L. M. & BARBOSA, J.M. Características Importan-tes de Componentes Arbóreos na Definição dos Estádios Sucessionais em Flo-restas Implantadas. 4º Simpósio Internacional de Ecossistemas Florestais, Anais. Belo Horizonte, MG. 1996a. p 241-242

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GLOSSÁRIO

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XVI - GLOSSÁRIO A

Aceiro - Desbaste da vegetação em volta de terreno, para evitar a propagação do fogo. Afloramento rochoso - Qualquer exposição de rochas ou solos na superfície da Terra. Podem ser naturais (escarpas, lajeados) ou artificiais (escavações). Afluente - Curso de água cuja vazão contribui para aumentar o volume de outro curso. Agenda 21 - Documento emitido em 1992 no Rio de Janeiro pela Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente. Agricultura de Subsistência - Cultivo para sustentar a vida. Agricultura orgânica - Cultivo de horta com métodos sustentáveis, sem agrotóxi-cos. Altitude - Altura em relação ao nível do mar. Ambientes ombrófilos - Ambiente úmido. Amortecimento - Enfraquecer, diminuir os impactos antrópicos em uma área de proteção. Antrópica - Resultado das atividades humanas, sociais, econômicas e culturais no meio ambiente. Arbóreo - Relativo ou semelhante à árvore. Arbustos - Plantas lenhosas, menores do que as árvores, as quais ramificam-se desde a base. O tronco dos arbustos tende a pouco se destacar dos ramos late-rais. Área de influência - Ação que uma comunidade ou coisas exercem sobre a área de estudo. Área de Preservação Permanente - Área onde não é permitido uso Área de Proteção Ambiental - Unidade de Conservação que visa a proteção da vida silvestre e a manutenção de bancos genéticos, bem como dos demais recur-sos naturais, através da adequação e orientação das atividades humanas na área. Árvores – Plantas, em geral eretas, fanerófitas, com mais de cinco metros de altu-ra, possuidoras de caule robusto, de tecido lenhoso e revestido de casca mole, às vezes suberosa (consistência de cortiça). Seu caule desenvolve-se vigorosamente, na forma de tronco, o qual sustenta significativa ramificação e galhos (coroa, fron-de ou copa). Arvoretas - Formam verdadeiras touceiras ou moitas. Não ultrapassam os cinco metros de altura. Exemplo: caatingas, carrascais, etc. Assoreamento - Processo de elevação de uma superfície por deposição de sedi-mentos. Atrativo - É todo lugar, objeto, infra-estrutura (peculiar), equipamento ou aconte-cimento de interesse para o turismo. Atrativos Cênicos - A paisagem deve ser compreendida como um atrativo na me-dida que esta se destaca das paisagens do dia-a-dia do visitante. Assim sendo, um acidente geográfico, como por exemplo, uma escarpa como a da Chapada dos Guimarães ou Diamantina, como também a paisagem bucólica de uma vila de pescadores à beira mar são componentes do produto ecoturístico. Atrativos Culturais - Os atrativos culturais contemplam obras e ações realizadas pela atividade humana em determinada região, assim como suas festas, costumes, folclore, artesanato, etc. Atrativos Naturais - Os principais atrativos naturais variam de região para região, mas sempre contemplam aspectos da flora, fauna, formações geológicas, corpos d’água em todas suas manifestações e da atmosfera, cujas variações são sentidas

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GLOSSÁRIO

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na pele. Atrativo Turístico - Foco de interesse dos turistas, vem a ser local de visitação e tema regional. Avifauna - Termo que se refere a toda espécie de pássaros de uma região.

B Balneário - Recinto ou estabelecimento para banho. Biodiversidade - Representa o conjunto de espécies animais e vegetais que vi-vem no planeta (ou uma dada região), considerando a importância de todos. Bioecológica - Que não agride o meio ambiente. Bioma - É uma comunidade maior composta de todos os vegetais e animais, inclu-indo os estágios de sucessão da área. As comunidades de um bioma possuem certa semelhança e análogas condições ambientais. Biota - Conjunto de componentes vivos de um ecossistema. Bordas - Extremidade de uma superfície; margens. Bota-fora - Local onde são despejados aterros, entulhos de obras, restos de poda, etc. Briefing - Proposta a partir da análise do cliente.

C Cabeceira - Local onde nasce um curso d'água. Parte superior de um rio próxima à sua nascente. Caméfitos - São plantas sublenhosas e/ou herbáceas com gemas periódicas, pro-tegidas por catafilos e situadas a 1 metro do solo. Capacidade de Carga - Medida que determina o número máximo de visitantes (por dia, mês e ano) que o meio ambiente de uma área consegue suportar ao nível de subsistência, pelos recursos ambientais disponíveis, sem que ocorram altera-ções nos meios físico e social. Capacidade de Carga Efetiva - Capacidade de Carga Efetiva é determinada pelo limite máximo que a Capacidade de Carga Real pode ser aplicada em função da possibilidade de se ordenar, controlar e manejar uma área, conhecido como Capa-cidade de Manejo. Variáveis consideradas em sua determinação: pessoal, equi-pamentos, informações, infra-estrutura e facilidades. Capacidade de Carga Física - Capacidade de Carga Física é dada pela simples relação entre o espaço disponível e a necessidade normal de espaço dos visitan-tes. Capacidade de Carga Real - Capacidade de Carga Real é o limite máximo de visitas, determinado a partir da Capacidade de Carga Física, após submetê-lo aos fatores de correção definidos em função das características particulares da área. Variáveis consideradas em sua determinação: físicas, ambientais, ecológicas, so-ciais e de manejo. Capacidade de carga Turística - Capacidade de carga turística é o nível de uso que uma determinada área pode suportar, num determinado período de tempo, sem que ocorram danos excessivos ou irreversíveis aos recursos culturais, ambi-entais e cênicos locais / regionais, sem prejuízo da qualidade da experiência objeto da visitação. Incorpore-se ao conceito de "Turismo": o lazer, a contemplação, a recreação, a educação ambiental, os esportes, etc. Capoeira - Vegetação secundária que sucede a derrubada das florestas pluviais. Vai desde a arbustiva até arbórea, porém com árvores finas e compactamente ordenadas. Capoeirão - Capoeira formada por árvores bem altas e mais grossas, cuja riqueza florística é apreciável. Catafilo - Folhas modificadas, geralmente escamiformes, de consistência variável, freqüentemente sem clorofila, encontradas, por exemplo, em gemas, rizomas e bulbos.

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Centro Emissor - Local que concentra grande número de turistas potenciais. Centro de Informação ao Turista - Local onde o turista obtém informações sobre a atividade turística local (hospedagem, programações, histórico da região, etc.). Pode agregar ponto de venda das atividades locais e regionais e de souvenires, além de servir de ponto de encontro para grupos e guias locais. Centro Receptor - Faz a recepção dos turistas, apresentando folders informativos que indicam os hotéis da região, pousadas, pontos turísticos, horários de funcio-namento dos mesmos, indicação de eventos culturais, etc. Cicloturismo - Passeio por pontos turísticos de bicicleta. City tour - Passeio pelos principais pontos turísticos de uma cidade. Colina - Pequeno monte, de cume convexo. Conectividade de Formações - Estabelece conexão entre as formações vegetais. Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento – UNCED. Conhecida como ECO - 92 ou Rio 92, fixa metas a serem alcançadas para conter a degradação do meio ambiente. Conselho Gestor – Corpo consultivo ou deliberativo, de acordo com a sua cria-ção. Consultivo - Que emite parecer. Corredor Ecológico - Porções de ecossistemas naturais e seminaturais ligando unidades de conservação que possibilitam, entre elas, o fluxo de genes e o movi-mento de biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam, para sua sobrevivência, áreas com extensão maior do que aquela das unidades individuais. Cotas - (em geografia) Unidade de medida em relação ao nível do mar. Cremalheira - (ferrovia) Sistema que foi utilizado na locomotiva que ligava a Raiz de Serra a Petrópolis. Este sistema era composto de engrenagens que ajudavam a locomotiva a vencer a aclividade da serra. Criptófitas - Plantas que apresentam gemas enterradas no solo ou submersas na água, subdivididas em geófitas (plantas que possuem órgãos subterrâneos como: tubérculos, rizomas ou bulbos), hidrófitas (plantas aquáticas). Cristas - Linha determinada pelos pontos mais altos da montanha, a partir dos quais divergem os dois declives das vertentes. Cume Litólico - Ponto mais alto de um morro ou elevação constituída basicamen-te de rochas (Resolução nº 12, de 4.05.94, do CONAMA). Curral - Tipo de armadilha para peixes em forma de curral, confeccionada com varas de bambu. Curva de Nível - "Linha traçada sobre um mapa, indicando o lugar geométrico dos pontos para os quais uma determinada propriedade (altitude) é constante" (DNAE-E, 1976).

D Destino Turístico - locais para onde se dirigem os turistas. Pode ser local ou regi-onal. Declividade - Inclinação de terreno ou estrada, de cima para baixo; descida. Degradação Ambiental - Termo usado para qualificar os processos resultantes dos danos ao meio ambiente, pelos quais se perdem ou se reduzem algumas de suas propriedades, tais como a qualidade ou a capacidade produtiva dos recursos ambientais."Degradação da qualidade ambiental e alteração adversa das caracte-rísticas do meio ambiente” (Lei nº 6.938, de 31.08.81). Desenvolvimento Sustentável - Modelo de desenvolvimento que considera, além dos fatores econômicos, os aspectos sociais e ecológicos de uma dada região. Na implantação de um modelo de desenvolvimento sustentável, são avaliados as con-dições ambientais, os recursos disponíveis e as conseqüências negativas e positi-vas que a interferência humana terá no local a curto, médio e longo prazo.

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Dinâmica de População - Relativo ao movimento da fauna local. Dreno Natural - ver talvegue.

E Ecossistema - Local onde existe uma unidade biológica e uma interdependência entre os seres vivos. Exemplos de grandes ecossistemas: o cerrado, a mata atlân-tica. Ecótipos - São populações de espécies de grande extensão geográfica, localmen-te adaptada e que possuem graus ótimos e limites de tolerância adequados às condições do lugar (Odum). Ou conjunto de indivíduos de uma comunidade com um mesmo padrão genotípico. Ecoturismo - Turismo relacionado à Natureza. Denominação utilizada no Brasil e no exterior. As traduções Ecotourism (Inglês) e Ecoturisme (Francês) são relacio-nadas a uma forma de turismo relacionada ao estudo da Natureza.Também co-nhecido como turismo ecológico é a atividade de lazer em que o homem busca, por necessidade e por direito, a revitalização da capacidade interativa e do prazer lúdico nas relações com a natureza. É o segmento da atividade turística que de-senvolve o turismo de lazer, esportivo e educacional em áreas naturais utilizando, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentivando sua conserva-ção, promovendo a formação de uma consciência ambientalista através da inter-pretação do ambiente e garantindo o bem-estar das populações envolvidas. Educação Ambiental - "O processo de formação e informação social orientado para: (I) o desenvolvimento de consciência crítica sobre a problemática ambiental, compreendendo-se como crítica a capacidade de captar a gênese e a evolução dos problemas ambientais, tanto em relação aos seus aspectos biofísicos quanto sociais, políticos, econômicos e culturais; (II) o desenvolvimento de habilidades e instrumentos tecnológicos necessários à solução dos problemas ambientais; (III) o desenvolvimento de atitudes que levem à participação das comunidades na pre-servação do equilíbrio ambiental" (Proposta de Resolução CONAMA nº 02/85). Efluente - "Qualquer tipo de água, ou outro líquido, que flui de um sistema de cole-ta, de transporte, como tubulações, canais, reservatórios, elevatórias, ou de um sistema de tratamento ou disposição final, como estações de tratamento e corpos d'água" (ABNT, 1973). "Descarga de poluentes no meio ambiente, parcial ou com-pletamente tratada ou em seu estado natural" (The World Bank, 1978). "Águas servidas que saem de um depósito ou estação de tratamento" (DNAEE, 1976). "Águas servidas que saem de um depósito ou estação de tratamento" (DNAEE, 1976). Enriquecimento Florestal - Plantio de espécies nativas em uma determinada á-rea. Epífitas - Plantas que se desenvolvem em ambientes sombrios e úmidos, apoian-do-se no tronco e nos galhos das árvores ou, até mesmo, nas folhas que lhes ser-vem de hospedeiras. Podem ser de estrutura herbácea, arbustiva ou arbórea. Nes-te último caso, tende a assumir sua fase epífita apenas em etapa inicial do seu desenvolvimento (Ficus, sub-gênero Urostigma). Alimentam-se de detritos vegetais e umidade que se acumulam nas forquilhas, nos ocos e cicatrizes dos galhos, a-lém de fendas das cascas das árvores, nas axilas das folhas e em qualquer con-cavidade favorável a isto. Exemplo: orquidáceas, bromeliáceas, cactáceas, etc. Escarpas - Face ou talude íngreme abruptamente cortando a morfologia, freqüen-temente apresentando afloramento de rochas. Genericamente distinguem-se as escarpas tectônicas (produzidas por falhamentos) e escarpas de erosão (formada por agentes erosivos). Linha de penhascos produzida por falhas ou erosão; uma encosta relativamente linear em penhasco, de extensão considerável, que quebra a continuidade geral do terreno separando as superfícies situadas em níveis dife-rentes.

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Estágio Primário ou Clímax - É o estágio final da sucessão. As diferentes etapas evolutivas de uma sucessão variam de acordo com o início da mesma, mas termi-nam sempre numa etapa de equilíbrio a que se dá o nome de Clímax. Eutrófico - Um corpo d'água rico em nutrientes. Extrativista - Relativo à extração.

F Facilidade Turística - Estrutura construída para facilitar o acesso e utilização de um atrativo. Faixas Altimétricas - Ver curva de nível. Fanerófitas - Plantas mais desenvolvidas, com gemas em posições acima de 25 centímetros do solo, representadas pelas árvores e arbustos, muito embora com uma pertinente subdivisão (macrofanerófitas, mesofanerófitas, etc.). Fitossociológico - Caracteriza o número maior de indivíduos da mesma espécie vegetal em uma determinada região. Formatação Turística - Ato de adaptar um local para a atividade turística. Pode ser feita em um atrativo isolado ou em uma região. Fragmentação - Cada uma das partes de uma coisa que foi dividida ou quebrada.

G Guia de Turismo - Profissional habilitado, credenciado pela Embratur, a acompa-nhar grupos de turistas.

H Hidrografia - Ramo da ciência geográfica que estuda os diversos lugares ocupa-dos pelas águas na superfície da Terra. Hemicriptófitas - Plantas que mantêm suas gemas na superfície do solo, protegi-das pelos detritos vegetais (categoria onde se incluem determinadas gramíneas).

I Impacto Ambiental - Ameaça à biodiversidade (ou diversidade biológica) devido às atividades humanas. Pode provocar um colapso de todo o ecossistema. In natura - Na forma natural. In situ - No local. Inférteis - Não fértil, estéril. Intemperismo - Conjunto de processos atmosféricos e biológicos que causam a desintegração e modificação das rochas e dos solos. Os fatores principais são a variação de temperatura, a ação das raízes e do gelo (Goodland, 1975). Inundações - Ação ou efeito de inundar, enchente.

L Lâminas Foliares - Parte expandida da folha; o mesmo que limbo. Lençol Freático ou Lençol Subterrâneo - Superfície superior da manta de água que existe no solo face à infiltração de águas das chuvas. Lianas - Plantas que germinam junto ao solo e, à medida que se desenvolvem, apóiam-se, de variados modos, nas árvores próximas, até atingirem o teto das florestas (popularmente conhecidas como trepadeiras, cipós, etc.). Entretanto, no caso dos cipós, estes podem tanto se tratar de lianas quanto de raízes aéreas emi-tidas por algumas epífitas (como o filodendro). A velocidade de crescimento maior das lianas (com relação às árvores) é devida aos hormônios e às estruturas espe-ciais do lenho (fatores positivos na competição pela luz). Qualquer que seja o seu meio de subida, as lianas formam sua ramagem e a sua floração nas frondes das árvores ou na orla da mata, concorrendo assim para dar-lhes um aspecto mais denso, por onde os raios solares se infiltram com dificuldade. As florestas tropicais, as matas ciliares e o cerradão possuem lianas em grande quantidade.

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Linha de Cumeada - "Intersecção do plano das vertentes, constitui o oposto do talvegue. A crista é constituída por uma linha determinada pelos pontos mais altos, a partir dos quais divergem os dois declives das vertentes". "Intersecção dos pla-nos das vertentes, definindo uma linha simples ou ramificada, determinada pelos pontos mais altos a partir dos quais divergem os declives das vertentes".

M Macrofanerófitas - Ver em fanerófitas. Manancial - Qualquer corpo d'água, superficial ou subterrâneo, utilizado para a-bastecimento humano, industrial ou animal, ou irrigação."Conceitua-se a fonte de abastecimento de água que pode ser, por exemplo, um rio um lago, uma nascente ou poço, proveniente do lençol freático ou do lençol profundo". Manejo - Ação de manejar, administrar, gerir. Termo aplicado ao conjunto de a-ções destinadas ao uso de um ecossistema ou de um ou mais recursos ambien-tais, em certa área, com finalidade conservacionista e de proteção ambiental. Manguezal - "São ecossistemas litorâneos, que ocorrem em terrenos baixos sujei-tos à ação da maré e localizados em áreas relativamente abrigadas, como baías, estuários e lagunas. São normalmente constituídos de vasas lodosas recentes, às quais se associa tipo particular de flora e fauna". "É o conjunto de comunidades vegetais que se estendem pelo litoral tropical, situadas em reentrâncias da costa, próximas à desembocadura de cursos d'água e sempre sujeitas à influencia das marés". Mata Ciliar - Vegetação que compõe as margens de um rio. Monitor Local - profissional capacitado, mas não habilitado, que acompanha o grupo nos atrativos do destino. Normalmente serve de suporte local para o guia do grupo. Montanhismo – Esporte ou lazer específico para regiões montanhosas com cami-nhadas, ascensão e acampamento; necessita condicionamento físico. Montante e Jusante - Dado um ponto no rio, as águas desse rio que estão acima são as águas de montante e as águas que estão abaixo são as águas de jusante. Mountain bike - Exploração de trilhas por bicicletas; necessita de condicionamen-to físico e habilidades de pilotagem.

O Observação de Pássaros - Observação técnica de pássaros com instrumentos e relatórios. Ocupação Irregular - Ação ou efeito de ocupar o solo tomando posse física do mesmo sem a autorização do proprietário ou órgão competente. Operadora de Turismo - Responsável pela formatação de pacotes turísticos e oferta destes junto às agências de viagem.

P Pacote Turístico - Formatação do produto turístico de forma fechada, mediante acordo junto aos fornecedores, cotizando para grupos de pessoas interessadas em um mesmo destino turístico. Este pacote é formado de passagem aérea, terrestre, marítima ou lacustre, hotéis, transfers in/out, city tours (com acompanhamento de guia turístico local) e seguro viagem, e em alguns casos gorjetas locais. Oferece um custo mais baixo em relação à viagem individual. Pangea – No planeta terra, há cerca de 245 milhões de anos atrás, todos os conti-nentes estavam reunidos em uma única massa continental denominada Pangea.

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Parques Nacionais, Estaduais ou Municipais - São áreas relativamente exten-sas que representam um ou mais ecossistemas, pouco ou não alterados pela ocu-pação humana, onde as espécies animais, vegetais, os sítios geomorfológicos e o habitat ofereçam interesses especiais do ponto de vista científico, educativo, re-creativo e conservacionista. São superfícies consideráveis que contêm caracterís-ticas naturais únicas ou espetaculares, de importância nacional, estadual ou muni-cipal. Patrimônio Cultural - Como bem ou patrimônio cultural pode-se inserir uma gama de costumes, produtos e atividades passados e presentes, valiosos pela signifi-cância de uma dada cultura e que dão identidade a uma região ou país. Consta de atrativos tais como paisagens, história, estórias e lendas, festas populares, e de bens materiais como arte, arquitetura, artesanato, sítios arqueológicos, edificações representativas como conjuntos históricos, monumentos, museus, etc, testemu-nhos da vida passada e presente de comunidades. Patrimônio Natural – Denomina-se patrimônio natural os recursos dos biomas, ecossistemas e sua biodiversidade, considerando-se as inter-relações entre eles, seu dinamismo e potencialidades, que foram modificados ou não pelo homem, mas que formam a base de sustentação do planeta. Podem ser as paisagens, as formações rochosas, os acidentes geográficos (canyons, cachoeiras, cavernas, escarpas, etc), os corpos d’água, a fauna, a flora e o clima regional. Planície Aluvial - Área contígua ao leito fluvial recoberta por água nos períodos de cheia e transbordamento. É constituída de camadas sedimentares depositadas durante o regime atual de um rio e que recobrem litologias pré-existentes. Ao transbordar, há a formação de diques naturais (depósitos que flanqueiam o canal) e depósitos de várzea que se espalham pela planície de inundação. O mesmo que área de inundação. Plano de Desenvolvimento Turístico - É o conjunto de medidas, de tarefas e de atividades por meio das quais se pretende atingir as metas, o detalhamento e os requisitos necessários para a ordenação e a exploração de áreas com potenciali-dade turística. Plano Diretor - A Constituição Federal diz que toda a cidade brasileira com mais de 20.000 habitantes tem que ter um Plano Diretor. Para definir os espaços da cidade (como e onde devem estar as ruas, as praças o comércio, a habitação, as indústrias, os parques etc); para definição de propostas criativas em busca de uma cidade/território socialmente justos, ambientalmente equilibrados, com mais opor-tunidades culturais, econômicas e políticas para sua população; para a construção do Planejamento e da gestão Local. Pólo Turístico - Conjunto de atividades turísticas matrizes que criam efeitos atrati-vos sobre outros conjuntos definidos no espaço econômico e geográfico. Tal con-junto de atividades turísticas é capaz de aumentar o produto, modificar as estrutu-ras e favorecer o processo econômico em um espaço determinado. Produto Turístico - È o conjunto de atrativos, de acessos, de bens e serviços tu-rísticos disponíveis ou ofertados de forma organizada ao consumidor.

R Remanescente florestal – O que sobra ou resta de uma vegetação.

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Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN - Área de domínio privado onde, em caráter de perpetuidade, são identificadas condições naturais primitivas, semi-primitivas, recuperadas ou cujo valor justifique ações de recuperação desti-nadas à manutenção, parcial ou integral, da paisagem, do ciclo biológico de espé-cies da fauna e da flora nativas ou migratórias e dos recursos naturais físicos, de-vidamente registrada. Áreas consideradas de notável valor paisagístico, cênico e ecológico que merecem ser preservadas e conservadas às gerações futuras, abri-gadas da ganância e da sanha predadora incontrolável dos destruidores do meio ambiente. Esta categoria de unidade de conservação foi criada pelo Decreto nº. 98.914, de 31 de janeiro de 1990. Compete, contudo, ao IBAMA reconhecer e re-gistrar a reserva particular do patrimônio natural, após análise do requerimento e dos documentos apresentados pelo interessado. O proprietário titular gozará de benefícios, tais como isenção do Imposto Territorial Rural sobre a área preservada, além do apoio e orientação do IBAMA e de outras entidades governamentais ou privadas para o exercício da fiscalização e monitoramento das atividades desen-volvidas na reserva. Resíduo Sólido - "Material inútil, indesejável ou descartado, cuja composição ou quantidade de líquido não permita que escoe livremente: (1) resíduos sólidos agrí-colas: resíduos sólidos resultantes da criação e abate de animais e do processa-mento da produção das plantações e cultivos; (2) resíduos sólidos comerciais: ge-rados por lojas, escritórios e outras atividades que, ao final, não apresentam um produto; (3) resíduos sólidos industriais: resultantes dos processos industriais e das manufaturas; (4) resíduos sólidos institucionais: originados dos serviços de saúde, educação, pesquisa e outros. (5) resíduos residenciais: que normalmente se originam no interior das residências, algumas vezes chamados resíduos sólidos domésticos". Resíduos nos Estados Sólido e Semi-sólido - São os que resultam de ativida-des da comunidade de origem industrial, comercial, doméstica, hospitalar, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes dos sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos de con-trole da poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviáveis seus lançamento na rede pública de esgotos ou corpos d'água, ou exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis, em face à melhor tecnolo-gia disponível. Rocha Metamórfica - Rocha proveniente de transformações sofridas por qualquer tipo e natureza de rochas pré-existentes que foram submetidas à ação de proces-sos termodinâmicos de origem endógena, os quais produziram novas texturas e novos minerais, que geralmente se apresentam orientados.

S Sazonal - Aspecto que muda com a época do ano. Certas indústrias são sazonais e por isso sua interferência com o meio ambiente varia com o tempo. A indústria da cana depende de safra e, portanto, é uma indústria sazonal. A indústria de ali-mentação prepara no inverno produtos para o verão e vice-versa. A sazonalidade industrial é mais típica da industrialização de produtos alimentícios. A industria ligada ao petróleo é classificada como não sazonal, ou seja, sua produção depen-de pouco da época do ano. Sedimentação - Formação de sedimentos. Serrapilheira - Camada que se forma na superfície do solo através da decomposi-ção de folhas, galhos e animais em decomposição. Sinergia - Condição gerada pela ação simultâneas de vários fatores e agentes e que produz um resultado maior que a soma das partes isoladas. Sistêmico - Relativo a sistemas Soerguimento - Erguer-se.

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Sumidouro - (1) Lugar por onde um líquido escoa; (2) Abertura por onde as águas de um rio desaparecem no interior da terra.

T Talvegues - Linha que segue a parte mais baixa do leito de um rio, de um canal ou de um vale. Tectônica – Ramo da Geologia que trata da arquitetura da crosta terrestre, em seus aspectos estruturais, sob a ótica descritiva. Terófitas - Plantas de ciclo vegetativo curto, produtoras de numerosa quantidade de sementes que se disseminam pelo solo, plantas anuais. Já quanto ao aspecto do porte, as formas vegetais poderiam ser classificadas em: ervas – plantas fane-rógamas de pequeno porte, rasteiras em sua grande maioria, possuidoras de caule tenro e verde destituído de lignina (substância que enrijece os tecidos vegetais), sensíveis às oscilações climáticas sazonais (calor, frio, umidade, seca), das quais derivam os aspectos das ervas em cada época do ano. Algumas são geófitas, cuja folhagem se deteriora durante a estação climática desfavorável. Outras são hemo-criptófitas, perdurando como verdes durante quase todo o ano (gramíneas). Por fim, haveria as terófitas, com ciclo vegetativo muito curto (semanas ou meses), as quais se propagam por meio de sementes. Exemplo: pradarias, estepes, savanas, campos alpinos, etc. Trilhas Interpretativas - Sinalização das peculiaridades geológicas e de fauna e flora de uma trilha. Normalmente a interpretação é realizada por um monitor que acompanha o grupo. Algumas trilhas podem ser auto-interpretativas, ou seja, os turistas podem compreendê-la sem auxílio do monitor. Turismo de Aventura ou de Esportes Radicais - Práticas de esportes relaciona-dos ao Patrimônio Natural que apresentam certo grau de perigo e geralmente ne-cessitam de equipamentos específicos. Turismo de Natureza - Segmento turístico relacionado ao Patrimônio Natural. Apresenta várias divisões: Turismo de Aventura, Turismo de Observação ou Con-templação, Ecoturismo, etc. Turismo Pedagógico - Atividade turística com fins educacionais. Turismo Sócio-Cultural - Atividade turística relacionada a uma atividade cultural, visa o envolvimento do turista com os moradores do destino. Turismo Cultural Programas - Direcionados a participantes interessados em co-nhecer costumes de determinado povo ou região. Atividades: arte, artesanato, dança, culinária, etc. Turismo de Aventura - Programas com conotação de desafio, com viagens e “ex-pedições arrojadas”, na maioria das vezes para adultos, envolvendo viagens arro-jadas e imprevistos. Atividades: Escaladas, Espeleologia, Jeep, Safáris, Rapel, etc. Turismo Rural - Evolução do turismo dos hotéis-fazenda, trata-se de uma modali-dade de turismo que recupera e utiliza antigas tradições culturais com atividades do cotidiano rural tais como: hortas naturais sem agrotóxicos, ordenha e manejo de gado, cavalgadas, gastronomia regional, costumes culturais, etc. Também deno-minado agroturismo.

U Unidades de conservação - Denominam-se coletivamente Unidades de Conser-vação as áreas naturais protegidas e "Sítios Ecológicos de Relevância Cultural, criadas pelo Poder Público: Parques, Florestas, Parques de Caça, Reservas Bioló-gicas, Estações Ecológicas, Áreas de Proteção Ambiental, Reservas Ecológicas e Áreas de Relevante Interesse Ecológico, nacionais, estaduais ou municipais, os Monumentos Naturais, os Jardins Botânicos, os Jardins Zoológicos, os Hortos Flo-restais”.

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Z Zoneamento - "A destinação, factual ou jurídica, da terra a diversas modalidades de uso humano. Como instituto jurídico, o conceito se restringe à destinação admi-nistrativa fixada ou reconhecida". "É o instrumento legal que regula o uso do solo no interesse do bem-estar coletivo, protegendo o investimento de cada indivíduo no desenvolvimento da comunidade urbana". "É o instrumento legal de que dispõe o Poder Público para controlar o uso da terra, as densidades de população, a loca-lização, a dimensão, o volume dos edifícios e seus usos específicos, em prol do bem-estar social".