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POLLYANNA COSTA CARDOSO
VITAMINA C, CAROTENÓIDES, MINERAIS E METAIS PESADOS EM FRUTAS ORGÂNICAS E CONVENCIONAIS
VIÇOSA
MINAS GERAIS - BRASIL 2008
Dissertação apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Nutrição, para obtenção do título de Magister Scientiae.
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Ficha catalográfica preparada pela Seção de Catalogação e Classificação da Biblioteca Central da UFV
T Cardoso, Pollyanna Costa, 1981- C268v Vitamina C, carotenóides, minerais e metais pesados 2008 em frutas orgânicas e convencionais / Pollyanna Costa Cardoso. – Viçosa, MG, 2008. xi, 129f.: il. (algumas col.) ; 29cm. Inclui anexos. Inclui apêndices. Orientador: Helena Maria Pinheiro Sant’Ana. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Viçosa. Inclui bibliografia. 1. Frutas - Teor vitamínico. 2. Vitamina C na nutrição humana. 3. Carotenóides. I. Universidade Federal de Viçosa. II.Título. CDD 22.ed. 641.3
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POLLYANNA COSTA CARDOSO
VITAMINA C, CAROTENÓIDES, MINERAIS E METAIS PESADOS EM FRUTAS ORGÂNICAS E CONVENCIONAIS
Dissertação apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Nutrição, para obtenção do título de Magister Scientiae.
APROVADA: 07 de abril de 2008.
_________________________ __________________________ Profa. Neuza Maria Brunoro Costa Prof. Paulo César Stringheta
(Co-Orientadora) (Co-Orientador)
______________________________ ______________________________
Profa. Sônia Machado Rocha Ribeiro Prof. Gilberto Bernardo de Freitas
_________________________________
Profa. Helena Maria Pinheiro Sant’Ana
(Orientadora)
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“Sejam bons administradores dos diferentes dons que receberam de Deus. Que cada um use seu próprio dom para o bem dos outros”.
(Pedro 4:10-11)
Agradeço à Deus por tudo que me concede dia a dia. Especialmente por minha determinação e fé para superar as dificuldades vividas.
Por colocar em meu caminho pessoas especiais que me auxiliaram neste trabalho e
que se tornaram um exemplo de profissionalismo.
Por colocar em meu caminho pessoas que dificultaram esta caminhada e com as
quais aprendi sobre os princípios da perseverança, da força e da superação.
Dedico aos meus pais, Edson e Vera, e à minha querida irmã, Lorena.
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AGRADECIMENTOS
À Universidade Federal de Viçosa e ao Departamento de Nutrição e Saúde,
pela oportunidade de realização da graduação e do mestrado.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq), pelo financiamento da pesquisa e concessão da bolsa de mestrado e
iniciação científica; e à FAPEMIG, pela concessão de bolsa de iniciação científica.
À empresa Kórin Agricultura Natural de Atibaia-SP, em especial ao técnico
Nivaldo, pela imensa presteza e colaboração no fornecimento das frutas para a
pesquisa.
À Profa. Helena Maria Pinheiro Sant’Ana, pela excelente orientação, pela
amizade, pelos ensinamentos e pelo exemplo de profissionalismo. Agradeço pela
oportunidade de crescimento pessoal e de formação profissional desde a minha
graduação.
À Profa. Neuza Maria Brunoro Costa, pela presteza, pela colaboração, pela
valiosa orientação na etapa de análise de minerais e pela concessão do Laboratório de
Nutrição Experimental e de equipamentos.
À Profa. Sônia Machado Rocha Ribeiro, pelas valiosas informações e
discussões, e por sempre estar disponível em me receber e orientar.
À Profa. Hércia Stampini Duarte Martino, pela disponibilidade em me ajudar,
pelas orientações e valiosas sugestões na análise de minerais.
Ao Prof. Paulo César Stringheta, pelas discussões na etapa de liofilização das
frutas e pelo valioso empréstimo do Laboratório de Pigmentos e Secagem e dos
equipamentos.
Ao Prof. José Benício Paes Chaves, pelo aprendizado e auxílio no
delineamento experimental e orientação na análise estatística dos dados.
Aos funcionários do Departamento de Saúde e Nutrição, Regina Célia, pelo
empréstimo do pHmetro; e Cassiano, pela inestimável ajuda e ensinamento na
análise de minerais.
Aos funcionários do Departamento de Tecnologia de Alimentos, D. Lígia e
Valério, pelo carinho, pela imensa ajuda e colaboração na etapa de processamento da
polpa de frutas e liofilização das amostras.
Aos funcionários do Departamento de Solos, Sr. José Américo, pelos
eventuais préstimos do pHmetro; Carlinhos e Janilson, pela colaboração em toda a
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etapa de determinação dos minerais nas amostras; ao doutorando Igor, pela
contribuição na construção da curva-padrão; e Brás, pela valiosa contribuição no
preparo das soluções padrão de minerais.
Aos demais professores do Departamento de Saúde e Nutrição pelos
ensinamentos e eventuais préstimos; à Profa. Maria do Carmo Gouveia Pelúzio, pelo
empréstimo da capela; e aos demais funcionários, pelas inúmeras colaborações.
Aos professores Fernando Pinheiro Reis, pelos ensinamentos de análise
estatística; Everaldo Gonçalves de Barros, pelo empréstimo do freezer -70°C;
Antônio Carlos Gomes de Souza, pelo auxílio na fabricação de polpas de frutas
pasteurizadas; Márcia Rogéria de Almeida Lamego, pelo empréstimo do Laboratório
de Bioquímica e de equipamentos necessários para a digestão das amostras para
análise de minerais, e ao seu técnico de laboratório, Adenilson.
À minhas queridas amigas e bolsistas de Iniciação Científica, Ana Paula
Batista Tomazini e Flávia Galvão Cândido, pela dedicação a este trabalho, pela total
disponibilidade, pela valiosa ajuda, pelo companheirismo e pelas boas risadas.
Às estagiárias do curso de Nutrição, Elisângela e Juliana, pelas eventuais
colaborações nesta pesquisa.
A todos os colegas que utilizaram o Laboratório de Análise de Vitaminas,
Ceres, Daniela, Clarice, Marina, Maria Carolina, pela convivência, amizade e
eventual ajuda; e os colegas do Laboratório de Pigmentos e Secagem, pela troca de
informações.
À todos os meus colegas de Pós-Graduação, pelo excelente tempo de
convívio e troca de alegrias e angústias. Em especial, à querida amiga Helen
Hermana, doutoranda na Universidade de Navarra, pela contribuição com artigos
científicos para a escrita da dissertação.
Aos meus queridos pais, Edson e Vera, pelo amor incondicional, pelo
exemplo de seres humanos, por todo esforço para a boa educação e formação dos
filhos, e por acreditar e confiar em mim.
À minha irmã, Lorena, pela amizade verdadeira, pelo amor, pela
cumplicidade, pela força e por torcer sempre pelo meu sucesso.
Ao meu namorado, Mário, pelo amor, pelo incentivo, pela paciência e pelo
companheirismo em todos os momentos vividos.
Aos meus tios e primos, pelo apoio, pelo estímulo e por acreditar na minha
vitória.
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Às minhas companheiras de república, Jane, Aline, Regiane e Sara pela
amizade, pela cumplicidade, pelo crescimento pessoal e pela ótima convivência
nestes anos.
À todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização
deste trabalho.
À Deus, pelas bênçãos, pela vida e por permitir a minha chegada até aqui.
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vi
BIOGRAFIA
Pollyanna Costa Cardoso nasceu em 12 de abril de 1981, no município de
Coronel Fabriciano, Minas Gerais.
Em abril de 1999, iniciou o curso de graduação em Nutrição na Universidade
Federal de Viçosa (MG), concluindo-o em janeiro de 2004. Foi bolsista de Iniciação
Científica do PIBIC/CNPq durante o período de agosto de 2000 a julho de 2002,
atuando em pesquisas sobre o valor provitamínico A de hortaliças servidas em
Unidades Produtoras de Refeições, e de frutas e hortaliças comercializadas no
município de Viçosa.
Em abril de 2004, ingressou no Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em
Nutrição Humana e Saúde da Universidade Federal de Lavras (MG), adquirindo o
título de especialista em abril de 2005.
De maio de 2004 à janeiro de 2006, atuou em Consultório de Nutrição na O2
Academia, IOOR, em Coronel Fabriciano.
Em julho de 2004, após aprovação no concurso público de Coronel
Fabriciano, foi nomeada técnico de nível superior para o cargo de nutricionista,
atuando como responsável técnico do Programa Nacional de Alimentação Escolar,
membro do Conselho de Alimentação Escolar e do Conselho de Segurança
Alimentar e Nutricional, permaneceu no cargo até julho de 2006.
De fevereiro à dezembro de 2005, lecionou às disciplinas Bioquímica e
Patologia para o Curso Técnico em Farmácia no Centro de Pesquisa Souza Martins
em Coronel Fabriciano.
Em fevereiro de 2006, ingressou na docência do Curso de Nutrição do Centro
Universitário do Leste de Minas Gerais-UnilesteMG, em Ipatinga (MG), ministrando
as disciplinas Nutrição em Saúde Pública e Nutrição em Geriatria, além de
orientação e supervisão de estágio curricular em Nutrição Social. Atualmente,
ministra as disciplinas de Avaliação Nutricional e Estágio Supervisionado em
Nutrição Social I, além de supervisionar estágio curricular em Nutrição Social.
Em maio de 2006, iniciou o Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência
da Nutrição da Universidade Federal de Viçosa, atuando na linha de pesquisa ‘Valor
Nutricional, Funcional e Controle de Qualidade de Alimentos e de Dietas’, pleiteou o
título de mestre em abril de 2008.
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SUMÁRIO
RESUMO ..................................................................................................................viii ABSTRACT................................................................................................................. x 1. INTRODUÇÃO GERAL......................................................................................... 1 2. OBJETIVOS ............................................................................................................ 7
2.1 OBJETIVO GERAL .......................................................................................... 7 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................................. 7
3. METODOLOGIA GERAL...................................................................................... 8 3.1 MATERIAL ....................................................................................................... 8
3.1.1 Matéria-prima.............................................................................................. 8 3.1.2 Equipamentos.............................................................................................. 8 3.1.3 Reagentes e outros materiais....................................................................... 9
3.2 MÉTODOS ...................................................................................................... 10 3.2.1 Delineamento experimental e análise estatística dos dados...................... 10 3.2.2 Coleta, amostragem, preparo e acondicionamento das amostras.............. 10 3.2.3 Extração de vitaminas e carotenóides ....................................................... 11
3.2.3.1 Ácido Ascórbico ................................................................................ 11 3.2.3.2 Carotenóides....................................................................................... 12
3.2.4 Isolamento dos padrões de licopeno, α e β-caroteno................................ 12 3.2.5 Curvas-padrão de ácido ascórbico, licopeno, α e β-caroteno .................. 14 3.2.6. Análise cromatográfica ............................................................................ 18
3.2.6.1 Análise de ácido ascórbico................................................................. 18 3.2.6.2 Conversão de ácido desidroascórbico em ácido ascórbico ................ 18 3.2.6.3 Análise de carotenóides...................................................................... 19
3.2.7 Identificação e quantificação dos componentes vitamínicos .................... 19 3.2.8 Testes de recuperação e da faixa de linearidade ....................................... 20 3.2.9 Cálculo do valor de vitamina A ................................................................ 20 3.2.10 Preparo das amostras para análise de minerais e metais pesados ........... 20
3.2.10.1 Desmineralização do material .......................................................... 20 3.2.10.2 Liofilização das amostras................................................................. 21 3.2.10.3 Preparo da solução mineral .............................................................. 21
3.2.11 Análise por Espectrometria ..................................................................... 22 3.2.11.1 Curvas padrão de minerais e metais pesados ................................... 22 3.2.11.2 Análise de minerais e metais pesados nas frutas.............................. 23
ARTIGO 1.................................................................................................................. 26 Agricultura orgânica e convencional: impactos ambientais, questões socioeconômicas e aspectos nutricionais ............................................................... 26
ARTIGO 2.................................................................................................................. 54 Vitamina C e carotenóides em frutas orgânicas e convencionais .......................... 54
ARTIGO 3.................................................................................................................. 89 Efeito do sistema de cultivo orgânico e convencional sobre o conteúdo de minerais e metais pesados em frutas..................................................................................... 89
4. CONCLUSÕES GERAIS .................................................................................... 115 APÊNDICES............................................................................................................ 116 ANEXOS ................................................................................................................. 127
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RESUMO
Cardoso, Pollyanna Costa, M.Sc., Universidade Federal de Viçosa, abril de 2008. Vitamina C, carotenóides, minerais e metais pesados em frutas orgânicas e convencionais. Orientadora: Helena Maria Pinheiro Sant’Ana. Co-Orientadores: Neuza Maria Brunoro Costa, Paulo César Stringheta, Hércia Stampini Duarte Martino.
A preocupação com a presença de pesticidas em alimentos e os possíveis danos à
saúde, tem levado cada vez mais consumidores a optarem pelo consumo de alimentos
orgânicos. A agricultura orgânica é um sistema de produção baseado na preservação
ambiental, na agrobiodiversidade, nos ciclos biológicos e na qualidade de vida do
homem, visando à sustentabilidade social, ambiental e econômica. As frutas possuem
um alto conteúdo de nutrientes, como a vitamina C e carotenóides, que têm chamado
a atenção devido ao seu potencial antioxidante e papel na prevenção de doenças
crônicas, além dos carotenóides provitamínicos A atuarem na prevenção da
hipovitaminose A. As frutas fornecem minerais, importantes elementos que
participam de atividades fisiológicas e bioquímicas vitais, cujo conteúdo é variável
em alimentos, podendo sofrer influência das condições de cultivo. A forma de
cultivo, o uso de adubos, a contaminação das águas e do ar podem influir no
conteúdo de metais pesados em frutas; estes se acumulam no organismo, podendo
levar a efeitos deletérios à saúde humana. Estudos que avaliem o impacto do sistema
de produção agronômica sobre o conteúdo de nutrientes e elementos tóxicos em
alimentos são escassos. O presente estudo investigou e comparou o conteúdo de
vitamina C (ácido ascórbico-AA e ácido desidroascórbico-ADA), carotenóides
(licopeno, α e β-caroteno), minerais (Ca, Fe, Mg, Mn, Cu, Cr, Se, Zn, Mo, Na, K, P)
e metais pesados (Ni, Pb, Cd e Al) em manga Palmer, caqui Rama Forte, acerola
Olivier e morango Oso Grande produzidos pelo sistema orgânico e convencional. A
análise da vitamina C e carotenóides foi feita por Cromatografia Líquida de Alta
Eficiência (CLAE). A quantificação do conteúdo de minerais e metais pesados foi
feita por Espectrometria de Emissão Atômica em Plasma Indutivamente Acoplado
(ICP-AES). Acerola e manga orgânicas mostraram maior conteúdo de AA e de β-
caroteno, respectivamente. Caqui, morango e acerola convencionais mostraram
maior teor de ADA, de AA e de β-caroteno, respectivamente. Manga orgânica
apresentou maior conteúdo de Mg e K, e a convencional, de Cr; caqui orgânico
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apresentou maior teor de Cu, Zn e Pb, e o convencional, de Mg, P, Na e K; acerola
convencional apresentou maior teor de Ca, Fe, Mn, Mo, Al e Ni; e morango
orgânico, maior conteúdo de Mo e Al. A forma orgânica de cultivo não comprovou
superioridade da qualidade nutricional para todas as frutas analisadas, tampouco
proporcionou frutas isentas de metais pesados. Entretanto, há necessidade de maior
atenção para os efeitos adversos à saúde humana e ao meio ambiente causados pelo
cultivo convencional conduzido indevidamente. Todas as frutas analisadas, tanto
orgânicas quanto convencionais, devem ser consumidas diariamente pela população
nas porções recomendadas, uma vez que são excelentes fontes de vitamina C,
contribuem para adequação nutricional de vitamina A e de minerais, e apresentam
baixos teores de metais pesados.
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ABSTRACT
Cardoso, Pollyanna Costa, M.Sc., Federal University of Vicosa, April of 2008. Vitamin C, carotenoids, minerals and heavy metals in organic and conventional fruits. Adviser: Helena Maria Pinheiro Sant’Ana. Co-advisers: Neuza Maria Brunoro Costa, Paulo César Stringheta, Hércia Stampini Duarte Martino.
The concern about the presence of pesticides in food and their possible hazards to the
health has leading many consumers to choose the consumption of organic food. The
organic agriculture is a production system based on environmental preservation, on
agro biodiversity, on biological cycles and on man’s quality of life, aiming the social,
environmental and economic sustainability. Fruits have a high content of nutrients,
like vitamin C and carotenoids, that have drawing attention due to their antioxidant
potential and their role in the prevention of chronic diseases, besides of provitamin A
carotenoids act in the prevention of hypovitaminosis A. Fruits provide minerals,
important elements that participate of physiologic and biochemical vital activities,
whose content is variable in food, that can suffer influence of growing conditions.
The form of growing, the use of fertilizer, the water and air contamination can
influence on the content of heavy metals in fruits; these accumulate in the organism,
leading to deleterious effects to human health. Studies that evaluate the impact of the
agronomic production system on the content of nutrients and toxic elements in food
are rare. The present study investigated and compared the content of vitamin C
(ascorbic acid – AA and dehydroascorbic acid – DHA), carotenoids (lycopene, α and
β-carotene), minerals (Ca, Fe, Mg, Mn, Cu, Cr, Se, Zn, Mo, Na, K, P) and heavy
metals (Ni, Pb, Cd and Al) in Palmer mango, Rama Forte persimmon, Olivier acerola
and Oso Grande strawberry produced by the organic and conventional system.
Vitamin C and carotenois analysis was carried out by High Performance Liquid
Chromatography (HPLC). The quantification of the content of minerals and heavy
metals was carried out by Inductively Coupled Plasma Atomic Emission
Spectrometry (ICP-AES). Acerola and mango showed the largest content of AA e β-
carotene, respectively. Conventional persimmon, strawberry and acerola showed the
largest content of DHA, AA and β-carotene, respectively. Organic mango presented
the largest content of Cu, Zn and PB, and the conventional one, of Cr; organic
persimmon presented the largest content of Cu, Zn and PB, and the conventional
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xi
one, of Mg, P, Na and K; conventional acerola presented the largest content of Ca,
Fe, Mn, Mo, Al and Ni; and organic strawberry, the largest content of Mo and Al.
The organic form of growing didn’t confirm the superiority of its nutritional quality
for all the analyzed fruits, nor provided fruits free of heavy metals. However, there’s
a need of larger attention to the adverse effects to the human health and to the
environment caused by the conventional growing conducted improperly. All the
analyzed fruits, both organic as conventional, must be consumed daily by population
in the recommended portions, since they are excellent sources of vitamin C, help to
supply nutritional adequacy of vitamin A and minerals, and present low contents of
heavy metals.
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1. INTRODUÇÃO GERAL
O interesse dos consumidores por alimentos mais saudáveis, de grande valor
nutricional e isentos de contaminantes, tem gerado demanda por alimentos
produzidos de maneira diferente do sistema convencional, o qual emprega
fertilizantes químicos e agrotóxicos em larga escala. A agricultura orgânica, ao
contrário, emprega práticas em que os resíduos vegetais e animais são reutilizados na
fertilização do solo, com rotação de culturas e controle biológico de pragas
(Trivellato e Freitas, 2003). Em síntese, o principal objetivo da produção orgânica é
produzir alimentos saudáveis, preservando a biodiversidade e conservando os
recursos produtivos, como o solo, sem a utilização de pesticidas (Brasil, 1999; Bourn
e Prescott, 2002; Araújo et al., 2007).
Aparentemente existe uma percepção generalizada, entre os consumidores, de
que os alimentos orgânicos são mais saudáveis e nutritivos que os convencionais
(Williams, 2002; Saba e Messina, 2003; Ismail e Fun, 2003; Araújo et al., 2007). No
entanto, nas revisões feitas por Bourn e Prescott (2002) e Williams (2002), os
pesquisadores salientam a insuficiência de dados conclusivos.
Atualmente são diversos os alimentos produzidos no sistema orgânico. O
Brasil é um dos maiores produtores mundiais em potencial de alimentos orgânicos
(Instituto Biodinâmico, 2007), embora a fruticultura orgânica ainda seja incipiente.
Entretanto, o seu desenvolvimento tem sido significativo e tende a ser ainda maior,
dada a crescente demanda internacional (Borges et al., 2003).
As frutas são importantes fontes de vitaminas e minerais. Entre elas, merecem
destaque a manga pelo importante valor vitamínico, apresentando quantidades
consideráveis de vitamina C, carotenóides e pequenas quantidades de vitaminas do
complexo B (Cardello e Cardello, 1998); o caqui, que apresenta boas quantidades de
carotenóides e vitaminas do complexo B e C (Sato e Assumpção, 2002); a acerola,
que é uma das mais ricas fontes naturais de vitamina C, além de ser fonte de
carotenóides, tiamina, riboflavina, niacina e antocianinas, e minerais como cálcio e
fósforo (Badejo et al., 2007; Yamashita et al., 2003); e o morango, fonte de cálcio,
magnésio, potássio (Hakala et al., 2003) e uma das mais ricas fontes de vitamina C,
entre as frutas (Cordenunsi et al., 2005).
O consumo regular de frutas e hortaliças está associado à redução do risco de
doenças cardiovasculares, de câncer, de Alzheimer, de catarata e outros declínios
fisiológicos decorrentes do envelhecimento, por esses alimentos serem fontes de
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compostos antioxidantes, como a vitamina C, e outros fitoquímicos, como os
compostos fenólicos e carotenóides (Temple, 2000; Liu, 2003), além dos minerais.
Desde 1989, a National Academy of Sciences recomendou o consumo de, pelo
menos, cinco porções de frutas e hortaliças diariamente (5-a-Day Program) como
estratégia de prevenção de doenças crônicas, o que reforça a necessidade de ampliar
os estudos sobre os benefícios desses alimentos.
A vitamina C é um nutriente de grande importância para a nutrição humana
(Lee e Kader, 2000). Entre as suas funções no organismo humano estão a
participação na produção de colágeno, no metabolismo da tirosina, na biossíntese de
carnitina, no metabolismo do colesterol e na absorção de ferro não-heme (Davey et
al., 2000; Lee e Kader, 2000), na melhora do sistema imune e na defesa contra danos
oxidativos. É ainda usada como aditivo na indústria de alimentos (Rios e Penteado,
2003).
Os carotenóides constituem potentes antioxidantes capazes de sequestrar
espécies reativas do oxigênio, especialmente radicais peroxila e “oxigênio singlet”
(Tapiero et al., 2004), sendo que o licopeno é o carotenóide com maior capacidade
antioxidante (Shami e Moreira, 2004). Uma importante função dos carotenóides é a
sua atividade provitamínica A, desempenhada principalmente pelos compostos α e
β-caroteno (Rodriguez-Amaya, 1989). Além disso, também é usado como corante
natural para produtos alimentícios (Olson, 1999).
Contudo, o conteúdo de vitaminas em alimentos pode ser afetado por uma
série de fatores como: espécie e variedade do vegetal, grau de maturação, condição
climática, local e forma de cultivo, exposição à luz solar, condições de colheita,
transporte, armazenamento e de processamento (Lee e Kader, 2000; Rodriguez-
Amaya, 2001; Franke et al., 2004; Rosso e Mercadante, 2005).
Os minerais participam de muitas funções e processos metabólicos no
organismo humano. Estudos com humanos e animais mostram que a ingestão
adequada de elementos como sódio, potássio, magnésio, cálcio, manganês, cobre,
zinco e iodo reduz fatores de risco para doenças cardiovasculares, por exemplo
(Sanchez-Castillo et al., 1998). O selênio tem sido reconhecido como importante
elemento para prevenção de alguns tipos de câncer (World Cancer Research, 1997).
O conteúdo de minerais em frutas e hortaliças é variável e depende de uma
série de fatores como espécie e variedade do vegetal, grau de maturação, solo,
condições climáticas, uso de fertilizantes (Sanchez-Castillo et al., 1998). A condição
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de cultivo, o uso de adubos, a contaminação das águas e do ar podem influir no
conteúdo de minerais e de metais pesados nas plantas. Estes últimos se acumulam no
organismo, podendo levar a efeitos deletérios para a saúde humana (Lee, 1990;
Fischer et al., 1997), como alterações hepáticas e neurológicas (Tolonen, 1990).
É cada vez maior o interesse quanto à importância da ingestão dietética de
vitaminas e minerais para prevenção de doenças. Estudos que avaliem o impacto do
sistema de produção sobre o valor nutricional de alimentos são escassos, muitas
vezes contraditórios e inconsistentes. Desta forma, são necessárias pesquisas,
controladas experimentalmente e que utilizem metodologia validada, para determinar
o conteúdo de vitaminas e minerais em frutas produzidas através do sistema de
cultivo orgânico e convencional. Espera-se assim, que as pesquisas possam evoluir
de forma a se tornarem mais consistentes e conclusivas, facilitando a orientação e a
elaboração de guias nutricionais.
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7
2. OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Avaliar o conteúdo de vitamina C, carotenóides, minerais e metais pesados
em manga, caqui, acerola e morango produzidos no Brasil, provenientes de sistemas
de cultivo orgânico e convencional.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Quantificar e comparar o conteúdo de vitamina C (ácido ascórbico e
desidroascórbico), licopeno, α e β-caroteno em frutas produzidas orgânica e
convencionalmente;
Quantificar e comparar o conteúdo de minerais e metais pesados em frutas
produzidas nos sistemas de cultivo orgânico e convencional;
Calcular o valor de vitamina A de frutas obtidas pelos sistemas de cultivo
orgânico e convencional;
Categorizar as frutas obtidas pelos dois sistemas de cultivo agronômicos como
fontes ou ricas em vitamina A e C, e minerais.
-
8
3. METODOLOGIA GERAL
3.1 MATERIAL
3.1.1 Matéria-prima
Foram utilizadas as frutas: manga (Mangifera indica L. var. Palmer), caqui
(Diospyros kaki L. var. Rama Forte), acerola (Malpighia punicifolia L. var. Olivier) e
morango (Fragaria vesca L. var. Oso Grande) obtidas da empresa paulista Kórin
Agricultura Natural Ltda, sediada na cidade de Atibaia-SP.
As frutas foram cultivadas pelos sistemas de produção orgânico e
convencional, na mesma região geográfica (Atibaia-SP), sob as mesmas condições
climáticas e colhidas na época de safra de cada uma delas, no decorrer do ano de
2007. As frutas orgânicas possuíam certificação conferida pela empresa Motika
Okada (CMO).
As frutas foram colhidas “parcialmente maduras”, em estágio de
comercialização, acondicionadas em caixas de papelão, protegidas contra choques, e
no prazo de 48 horas pós-colheita, chegavam ao Laboratório de Análise de Vitaminas
do Departamento de Nutrição da Universidade Federal de Viçosa-MG, por transporte
terrestre. Cada tipo de fruta, orgânica e convencional, foi analisada no mesmo estágio
de maturação, definido visualmente pela coloração da casca do fruto (Apêndice 1).
No Anexo 1 está o protocolo de cultivo das plantas, utilizado em cada um dos
sistemas de produção agronômica, cedido pela Kórin.
3.1.2 Equipamentos
Para homogeneização das amostras, utilizou-se processador doméstico Faet
Multipratic, modelo MC5.
Para o preparo das amostras, para a análise de vitaminas e carotenóides,
utilizou-se microtriturador Marconi modelo MA 102; bomba de vácuo, modelo CA
Fanem; evaporador rotativo, modelo 344.1, Quimis; centrífuga Excelsa Baby II, com
cruzeta angular 4 x 100 mL, modelo 206-R, Fanem. Para o preparo da fase móvel
foram usados: vibrador ultrassônico Odontobrás, T-14; pHmetro Hexis, UB10;
sistema de filtração All Glass e membranas de filtração de 0,45 μm de porosidade.
O Sistema de Cromatografia Líquida de Alfa Eficiência - CLAE (Shimadzu,
modelo SCL 10AT VP) empregado para análise de ácido ascórbico e carotenóides
-
9
foi composto de bomba de alta pressão, modelo LC-10AT VP; injetor automático
com “loop” de 50 μL, modelo SIL-10AF; detector de arranjo de diodos UV-visível
modelo SPD-M10A. O sistema foi controlado pelo “software” Multi System, Class
VP 6.12.
Para análise de minerais, utilizou-se liofilizador Terroni, modelo Fauvel LH
0400, para secagem das amostras; bloco digestor com termostato Tecnal, modelo TE
040/25; capela de exaustão de gases, para digestão ácida a quente; e agitador de
tubos Phoenix, modelo AP56, velocidade 3800 rpm, tipo Vortex, para
homogeneização dos extratos.
O Espectrômetro de Emissão Atômica em Plasma Indutivamente Acoplado
(ICP-AES) (Perkin Elmer, modelo Optima 3300 DV) empregado para análise de
minerais e metais pesados das amostras, com fonte de plasma de argônio induzido,
apresentava as seguintes condições: potência de 1300 W, fluxo de ar refrigerante de
15 L/min, fluxo de ar auxiliar de 0,7 L/min, fluxo de ar carregador de 0,5 L/min,
velocidade de introdução de amostra de 1,5 mL/min e uso de nebulizador Perkin
Elmer.
3.1.3 Reagentes e outros materiais
Para análise de vitaminas e carotenóides, foram utilizados os seguintes
reagentes grau HPLC: metanol (Tedia, USA), acetonitrila (Vetec, Brasil), acetato de
etila (Mallinckrodt, USA), ditiotreitol-DTT (Sigma Aldrich, Alemanha) e ácido
acético (Vetec, Brasil). A água ultrapura foi produzida em sistema Milli-Q®
(Millipore, USA). Utilizou-se reagentes grau de pureza para análise (p.a.): ácido
metafosfórico (AMP) (Merck, Alemanha), ácido sulfúrico (Mallinckrodt, USA),
tampão Trizma (Nuclear, Brasil), sal etilenodiaminotetraacético (EDTA), ácido
fosfórico (Proquímios, Brasil), fosfato de sódio monobásico (Synth, Brasil), acetona,
éter de petróleo, éter etílico, sulfato de sódio anidro, celite e óxido de magnésio.
Para filtração das amostras foram utilizados papel de filtro livre de cinzas
Inlab, tipo 50,9 cm de diâmetro (para carotenóides); papel de filtro tipo Melita, 9 cm
de diâmetro (para ácido ascórbico). Antes da injeção, as amostras e soluções padrão
foram filtradas em unidades filtrantes HV Millex, em polietileno, 0,45 μm de
porosidade (Millipore, Brasil).
-
10
O padrão de ácido L-ascórbico foi adquirido da Vetec (Brasil). Os padrões de
licopeno, α e β-caroteno foram isolados por cromatografia de coluna aberta.
Para análise de minerais e metais pesados, foi utilizado ácido nítrico 65% p.a.
A água deionizada foi produzida por um deionizador TKA
Wasseraufbereitungssysteme GmbH, modelo Lab-UPW 483.
Os padrões dos minerais e metais pesados foram adquiridos da Vetec (Brasil)
e Merck (Alemanha).
3.2 MÉTODOS
3.2.1 Delineamento experimental e análise estatística dos dados
Foi utilizado um delineamento inteiramente casualizado, com 2 tratamentos
(produção orgânica e convencional) e 6 repetições por tratamento para a análise de
vitamina C e de carotenóides; foram realizadas 3 repetições por tratamento e análise
em duplicata para a determinação de minerais e metais pesados nas amostras. As
frutas foram coletadas aleatoriamente durante o período de safra de cada uma delas.
O teste t de Student (α=5%) foi utilizado para verificar a existência de
diferenças significativas no conteúdo de vitamina C, licopeno, α e β-caroteno,
minerais e metais pesados nas frutas, entre os tratamentos estudados. A análise
estatística foi realizada utilizando o SAS (Statistical Analysis System), versão 9.1
(2002-2003), licenciado para a UFV.
3.2.2 Coleta, amostragem, preparo e acondicionamento das amostras
As frutas orgânicas e convencionais foram colhidas de forma a se obter seis
diferentes repetições. A área produtora foi subdividida em seis pequenas áreas. Em
cada subárea, foram coletados dois quilogramas de manga e caqui; e um quilograma
de acerola e morango, referentes ao tratamento orgânico e convencional. As seis
repetições foram enviadas numa única etapa, totalizando doze quilogramas de manga
e caqui, e seis quilogramas de acerola e morango por tratamento.
Após o recebimento de cada fruta, para cada tratamento, cada repetição foi
subdividida à metade para preparação das amostras. Por exemplo, para manga, 1 kg
foi destinado à análise de vitamina C, e 1 kg foi armazenado em geladeira, à
temperatura em torno de 10°C, para a análise de carotenóides no dia posterior. As
-
11
demais frutas foram preparadas da mesma forma, ou seja, cada repetição foi
subdividida à metade.
As frutas foram lavadas em água corrente, seguindo a remoção das partes não
comestíveis, como a casca e o caroço da manga, a semente da acerola e as folhas do
caqui e do morango. Em seguida, foram picadas e processadas em um
multiprocessador durante 5 minutos para completa homogeneização e produção da
polpa. Este procedimento foi realizado seis vezes para cada tratamento (orgânico e
convencional).
Após a análise de vitamina C nas amostras, foram pesados em torno de 200 g
de polpa homogeneizada de três repetições, escolhidas aleatoriamente e oriundas de
cada tratamento. Em seguida, o material foi armazenado em freezer a -70°C, para
posterior liofilização e análise de minerais e metais pesados nas amostras.
3.2.3 Extração de vitaminas e carotenóides
Durante as análises químicas, as amostras foram mantidas sob proteção da luz
solar e artificial, pela utilização de vidrarias âmbar, papel alumínio e cortinas do tipo
“blackout”, e sob proteção do oxigênio através da utilização de vidrarias com tampas
e de ambiente com gás nitrogênio.
3.2.3.1 Ácido Ascórbico
A extração de ácido ascórbico (AA) foi realizada conforme metodologia
otimizada por Campos (2006). A solução extratora foi composta por AMP 3%, ácido
acético 8%, ácido sulfúrico 0,3 N e EDTA 1 mM. O preparo de 100 mL de solução
extratora foi realizado da seguinte forma:
3 g de AMP foram dissolvidos em pequena quantidade de água ultrapura (cerca de
10 mL);
0,0294 g de EDTA foram dissolvidos em pequena quantidade de água ultrapura
(cerca de 10 mL);
8 mL de ácido acético foram adicionados em balão volumétrico de 100 mL
contendo cerca de 30 mL de água ultrapura;
O AMP e o EDTA dissolvidos foram adicionados ao balão volumétrico de 100 mL
e os béqueres em que estes foram dissolvidos foram enxaguados com água
ultrapura e esta água adicionada ao balão;
0,8 mL de H2SO4 a 90% foram adicionados lentamente ao balão volumétrico;
-
12
Por último, completou-se o volume para 100 mL de solução.
O procedimento de extração foi realizado conforme descrição a seguir:
Cerca de 1 g de fruta homogeneizada foi pesado e triturado com 15 mL de solução
extratora, por 5 minutos;
Em seguida, a amostra foi filtrada a vácuo, em papel de filtro;
O papel de filtro foi lavado com cerca de 5 mL de água ultrapura;
O filtrado foi diluído com água ultrapura até volume de 25 mL em balão
volumétrico;
O extrato foi então centrifugado por 15 minutos a 4000 rpm;
O sobrenadante foi separado e armazenado a 5 ºC até a análise cromatográfica.
3.2.3.2 Carotenóides
O processo de extração dos carotenóides foi realizado segundo Rodriguez et
al. (1976), com algumas modificações:
Cerca de 1 g de manga, caqui e acerola e 5 g de morango homogeneizados foram
triturados com 60 mL de acetona resfriada, dividida em três volumes de 20 mL;
O material foi então filtrado a vácuo em funil de Büchner utilizando-se papel de
filtro. A extração com acetona foi repetida até o resíduo do filtro se tornar
descolorido.
Em seguida, o filtrado foi transferido, aos poucos, para um funil de separação, onde
foram adicionados 50 mL de éter de petróleo resfriado.
Lavou-se cada fração com água destilada três vezes, para retirar toda a acetona.
Acrescentou-se sulfato de sódio anidro (aproximadamente 3g) ao extrato etéreo
para retirar qualquer resíduo de água que tivesse restado e que pudesse prejudicar a
evaporação do material;
A evaporação do extrato em éter de petróleo foi feita em evaporador rotativo, na
faixa de temperatura entre 35 e 37 ºC;
Os pigmentos foram, então, dissolvidos novamente em 25 mL de éter de petróleo e
armazenados em frascos de vidro âmbar a -5ºC, até a análise dos carotenóides.
3.2.4 Isolamento dos padrões de licopeno, α e β-caroteno
Os padrões de α e β-caroteno foram isolados de cenoura e o padrão de
licopeno foi isolado de tomate, por cromatografia de coluna aberta, conforme
descrição de Rodriguez-Amaya (2001).
-
13
Para separação de α e β-caroteno, cerca de 20 g de cenoura foram triturados
com acetona resfriada (150 mL) e posteriormente transferidos para éter de petróleo
(100 mL), conforme descrito no item 3.2.3.2. O extrato assim obtido foi concentrado
em evaporador rotativo por 5 minutos. Para concentrar ainda mais o extrato sem
estender o tempo de exposição ao calor foi empregado fluxo de nitrogênio, até obter
um volume de cerca de 5 mL. A coluna cromatográfica foi empacotada com óxido de
magnésio e celite (1:2) e a fase móvel foi composta por 2 % de éter etílico em éter de
petróleo. Foi empregada coluna de vidro de cerca de 50 cm de comprimento e 5 cm
de diâmetro e recheio de cerca de 15 cm de altura. O extrato foi acrescentado ao topo
da coluna vagarosamente. Após a penetração do extrato na fase estacionária
adicionou-se a fase móvel aos poucos até a separação do α e β-caroteno.
Para obtenção do padrão de licopeno cerca de 20 g de tomate foram
preparados conforme descrito para cenoura. A coluna cromatográfica foi empacotada
com óxido de magnésio e celite (1:1) e o recheio ativado por 4 horas a 110 ºC. Foi
empregada coluna de vidro de cerca de 50 cm de comprimento, 5 cm de diâmetro e
recheio de cerca de 20 cm de altura. Foram empregadas fases móveis com
concentrações crescentes de éter etílico em éter de petróleo (2 a 5 %) e concentrações
crescentes de acetona em éter de petróleo (2 a 100 %) para separação dos
carotenóides, da seguinte forma:
Após a penetração do extrato de carotenóides na fase estacionária adicionou-se
cerca de 50 mL de fase móvel (2% de éter etílico em éter de petróleo) e aguardou-
se a sua passagem;
Em seguida adicionou-se, aos poucos, fase móvel composta por 5% de éter etílico
em éter de petróleo (50 mL);
Após a passagem dessas fases, adicionou-se ao topo da coluna outra fase móvel
composta por 2% de acetona em éter de petróleo (50 mL);
A concentração de acetona na fase móvel foi gradativamente aumentada até 20%.
Neste caso foram usados cerca de 20 mL para cada concentração intermediária (5,
10, 15 e 20 %);
Continuou-se a elevar a proporção de acetona na fase móvel empregando entre 10 e
20 mL de fases móveis contendo 30, 40, 50, 60, 80 e por último 100% de acetona;
Retirou-se a fase estacionária da coluna de vidro, deixando secar a coluna e virando
ao contrário em uma superfície plana;
A parte da coluna contendo o licopeno foi seccionada;
-
14
Para retirada total do licopeno da fase estacionária foi necessário empregar fase
móvel contendo 5% de água em acetona e em seguida uma solução de 10% de água
em acetona;
A mistura foi então filtrada a vácuo em funil de Büchner utilizando-se papel de
filtro para separar a fase móvel (contendo os carotenóides) da fase estacionária.
Os padrões assim obtidos foram transferidos para frascos de vidro âmbar,
secos sob fluxo de nitrogênio, lacrados e armazenados a -5ºC. A pureza das soluções
foi verificada por CLAE e a quantificação foi realizada por espectrofotometria,
baseando-se na absorvância máxima, segundo a lei de Lambert-Beer. Os coeficientes
de absortividade (em éter de petróleo) utilizados foram 2800 para α-caroteno, 2592
para β-caroteno e 3450 para licopeno. Os comprimentos de onda de máxima
absorção foram: α-caroteno, 443 nm; β-caroteno, 450 nm e licopeno, 469 nm
(Rodriguez-Amaya, 1989).
A confirmação da identidade dos padrões foi feita baseada nos seguintes
parâmetros: ordem de eluição das frações na coluna; coloração dos pigmentos
eluídos; tempo de retenção em CLAE; espectros de absorção característicos.
3.2.5 Curvas-padrão de ácido ascórbico, licopeno, α e β-caroteno
A solução padrão estoque de AA (1 mg/mL) foi preparada em água ultrapura
e as soluções com concentrações crescentes foram preparadas pela diluição da
solução estoque em solução extratora, cuja composição foi descrita no item 3.2.3.1.
A construção da curva padrão de AA foi realizada de acordo com a
concentração dos componentes nas frutas. Para as amostras de manga, caqui e
morango, utilizou-se injeção em duplicata, de cinco concentrações crescentes de
soluções padrão entre 16,48 e 52,30 μg/mL; para acerola, utilizou-se injeção em
duplicata de cinco concentrações crescentes de soluções padrão entre 52,30 e 2275
μg/mL.
A concentração real da solução foi verificada por espectrofotometria e
corrigida adequadamente. A equação e coeficientes usados para cálculo da
concentração foram:
C (μg/ml) = Abs x 104 / E1%1cm, onde C é a concentração real, Abs é a absorvância
máxima (lida a 245 nm), em solução tampão fosfato pH 2,0 e E1%1cm é o coeficiente
de absortividade molar (560) (Ball, 1994).
-
15
A solução tampão fosfato foi preparada da seguinte forma:
2,57 g de NaH2PO4 foram diluídos em água até volume final de 100 mL, utilizando
balão volumétrico;
Em seguida, 1,5 mL de H3PO4 foram diluídos em água até volume final de 100 mL,
utilizando balão volumétrico;
Misturaram-se partes iguais das duas soluções obtidas e o pH foi checado em
pHmetro digital (pH 2,0).
Para construção da curva padrão de α-caroteno foi feita injeção, em duplicata,
de cinco concentrações crescentes de soluções padrão entre 0,0019 e 0,2280 μg/mL.
Para a curva de β-caroteno foram injetadas, em duplicata, cinco
concentrações crescentes de soluções padrão entre 0,0275 e 2,13 μg/mL, para as
amostras de caqui, acerola e morango; e entre 0,2867 e 5,054 μg/mL, para manga,
em decorrência das diferentes condições cromatográficas utilizadas.
A curva-padrão de licopeno foi construída pela injeção, em duplicata, de
cinco concentrações crescentes de soluções padrão entre 0,1154 e 0,7690 μg/mL. A
concentração real dos padrões de carotenóides foi determinada por
espectrofotometria e adequadamente corrigida.
As curvas-padrão de AA, licopeno, α e β-caroteno são apresentadas nas Figuras
1 e 2.
-
16
Figura 1. Correlação linear entre a concentração de AA e a área dos picos
correspondentes (1: curva para manga, caqui e morango, 2: curva para acerola).
0
1800000
3600000
5400000
7200000
0 0,5 1 1,5 2
Peso Injetado (m cg)
Áre
a do
pic
o de
AA
0
15000000
30000000
45000000
60000000
0 30 60 90 120
Peso Injetado (mcg)
Áre
a do
pic
o de
AA
Y = 3909184,1374 X - 197853,4522
1
2
Y = 352032,8501 X + 11566906,0091
R2 = 0,9937
R2 = 0,9941
-
17
Figura 2. Correlação linear entre a concentração de licopeno (1), α-caroteno (2) e β-
caroteno (3: curva para manga, 4: curva para caqui, acerola e morango) e a área dos
picos correspondentes.
0
40000
80000
120000
160000
0 0,008 0,016 0,024 0,032
Peso Inje tado (m cg)
Áre
a do
pic
o de
lico
peno
0
10000
20000
30000
40000
0 0,0005 0,001 0,0015
Pe s o In je tado (m cg)
Áre
a do
pic
o de
alfa
0
50000
100000
150000
200000
0,00 0,02 0,03 0,05 0,06
Pe s o Inje tado (m cg)
Áre
a do
pic
o de
bet
a
0
200000
400000
600000
800000
0 0,03 0,06 0,09 0,12
Peso inje tado (m cg)
Áre
a do
pic
o de
bet
a
1
Y = 5463961,4012 X + 5040,6000
2
Y = 26484312,4181 X - 571,1973
3
Y = 3036079,2839 X + 1030,6798
4
Y = 6811968,9034 X - 17822,3994
R2 = 0,9902
R2 = 0,9955
R2 = 0,9958
R2 = 0,9982
-
18
3.2.6. Análise cromatográfica
Antes da análise por CLAE, as amostras e as soluções padrão foram filtradas
em unidades filtrantes com 0,45 μm de porosidade.
3.2.6.1 Análise de ácido ascórbico
Para análise de AA, empregou-se a metodologia otimizada por Campos (2006). A
fase móvel foi composta por 1 mM NaH2PO4 (0,0120 g para cada 100 mL) e 1 mM
EDTA (0,0294 g para cada 100 mL), pH ajustado para 3,0 com H3PO4. O fluxo foi
ajustado para 1 mL/min e eluído isocraticamente. A separação foi feita em coluna
Lichospher 100 RP18, 250 mm x 4 mm, 5 μm (Merck, Alemanha). A detecção foi
realizada através de detector de arranjos de diodos, sendo os cromatogramas lidos a
245 nm.
3.2.6.2 Conversão de ácido desidroascórbico em ácido ascórbico
O conteúdo de ácido desidroascórbico (ADA) foi calculado por diferença
entre o conteúdo de vitamina C total (após conversão do ADA em AA) e o conteúdo
de AA inicial. Assim, a conversão de ADA em AA foi realizada segundo
metodologia descrita por Campos (2006), e adaptada para frutas. Uma solução de 40
mM de ditiotreitol (DTT), diluída em tampão Trizma (Tris hidroximetil amino
metano) 0,5 M (pH 9,0) foi utilizada para converter o ADA porventura existente nas
amostras em AA, devido à baixa sensibilidade do detector UV em relação ao ADA
(Gökmen et al., 2000). Uma solução 0,4 M de ácido sulfúrico foi empregada para
redução do pH das amostras antes das análises cromatográficas.
Para as amostras de frutas utilizou-se o seguinte procedimento:
Foi pipetado 1 mL de amostra em um frasco âmbar;
Em seguida, foi adicionado 1,5 mL de solução tampão Trizma 0,5 M, contendo 40
mM de DTT para manga; 2,0 mL para caqui e acerola; e 2,5 mL para morango;
A reação processou-se por 10 minutos, em temperatura ambiente e ao abrigo da
luz;
Após os 10 minutos, adicionou-se 0,5 mL de H2SO4 0,4 M, para manga; 1,5 mL
para caqui e acerola; e 2,0 mL para morango;
Após filtração, injetou-se 30 μL das amostras para análise por CLAE.
-
19
A adição de tampão ao extrato elevou o pH para próximo à neutralidade (pH
5,5-6,0). Embora a solução tampão Trizma contivesse 40 mM de DTT, a
concentração final de DTT durante a reação foi ≥ 24 mM (dependendo da amostra).
Campos (2006) relata que o emprego de 20 mM de DTT já é suficiente para a
conversão utilizando 10 minutos de reação. O H2SO4 foi adicionado às amostras para
reduzir novamente o pH, entre 1,5 a 2,0, antes da injeção cromatográfica. Para todas
as amostras, a injeção cromatográfica foi feita imediatamente após a reação de
conversão.
3.2.6.3 Análise de carotenóides
A análise de carotenóides baseou-se nas condições cromatográficas
desenvolvidas por Pinheiro-Sant’Ana et al. (1998), com algumas modificações. A
fase móvel foi composta por metanol, acetato de etila e acetonitrila, na proporção de
50:40:10, exceto para manga (70:20:10). A separação foi feita em coluna
Phenomenex C18, 5μm, 250 x 4,6 mm, sendo o fluxo ajustado em 2 mL/min,
utilizando eluição isocrática. A detecção foi realizada por detector de arranjos de
diodos, sendo os cromatogramas lidos a 443 e 450 nm, para α e β-caroteno,
respectivamente.
Antes da injeção os pigmentos foram transferidos novamente para acetona. O
procedimento é descrito a seguir:
2 mL de amostra em éter de petróleo foram pipetados em frasco âmbar e secos sob
fluxo de nitrogênio;
Foram adicionados 2 mL de acetona à amostra seca;
Em seguida, a amostra foi filtrada utilizando unidades filtrantes;
O extrato foi, então, adicionado em vials, injetando-se 30 μL de amostra na coluna
cromatográfica.
3.2.7 Identificação e quantificação dos componentes vitamínicos
A identificação do AA, licopeno, α e β-caroteno nas amostras foi realizada
por comparação dos tempos de retenção obtidos nas amostras com os obtidos para os
respectivos padrões analisados sob as mesmas condições, bem como através da
comparação dos espectros de absorção dos padrões e dos picos de interesse nas
amostras, empregando-se o detector de arranjos de diodos.
-
20
A partir das curvas padrão obtidas, foram calculadas as concentrações da
vitamina C e carotenóides presentes nas amostras. O valor real da concentração nas
amostras foi obtido pelos cálculos das diluições realizadas.
3.2.8 Testes de recuperação e da faixa de linearidade
Testes de recuperação de AA, licopeno, α e β-caroteno foram realizados pela
adição de padrão às amostras de manga, caqui, acerola e morango na proporção de
20 a 100% do conteúdo médio original das amostras. As porcentagens de
recuperação foram obtidas a partir da diferença percentual entre os teores iniciais
analisados e os adicionados às amostras previamente homogeneizadas.
A determinação da faixa de linearidade foi feita pela injeção, em duplicata, de
cinco concentrações crescentes das soluções padrão de AA, licopeno, α e β-caroteno,
utilizando as mesmas condições cromatográficas empregadas para análise das
amostras. Os dados obtidos para as áreas dos picos foram usados para análise de
regressão linear. A avaliação da linearidade foi feita pelo coeficiente de
determinação (R2).
3.2.9 Cálculo do valor de vitamina A
O valor de vitamina A foi expresso em Equivalente de Atividade de Retinol
(RAE) por 100 g de amostra, de acordo com os novos fatores de conversão para
valor de vitamina A estabelecidos pelo Institute of Medicine (IOM, 2001). O IOM
define que 1 RAE corresponde a 1 μg de retinol ou 12 μg de β-caroteno ou 24 μg de
outros carotenóides provitamínicos.
3.2.10 Preparo das amostras para análise de minerais e metais pesados
3.2.10.1 Desmineralização do material
Todo o material utilizado para a análise de minerais das frutas foram
devidamente desmineralizados. Primeiramente, lavou-se com água e detergente e
enxaguou-se com água deionizada. Preparou-se uma solução de água deionizada e
detergente, e deixou-se o material sob imersão por um período de 24 h. Depois,
lavou-se o material três vezes com água deionizada, deixando-o sob imersão em uma
solução de 10% de ácido nítrico em água deionizada por um período de 24 h.
-
21
Novamente, lavou-se o material três vezes com água deionizada e finalmente
colocou-se para secagem em estufa a 50°C, sem circulação de ar.
3.2.10.2 Liofilização das amostras
A liofilização foi realizada como processo necessário para a quantificação
dos teores de minerais e metais pesados nas amostras visando a concentração de
sólidos totais, devido ao elevado percentual de água nas frutas, ao baixo conteúdo
destes elementos nas amostras e à reduzida quantidade de amostra necessária para o
preparo.
A descrição do procedimento de liofilização das polpas de frutas é mostrada a
seguir:
Descongelou-se 200 g de polpas de frutas, armazenadas previamente em freezer a -
70 °C, em geladeira a 10 °C, por um período de 16 h;
Pesou-se as bandejas do liofilizador e colocou em torno de 100 g de amostra em
cada uma delas, obtendo uma camada super fina, pesou-se novamente as bandejas;
Acondicionou-se as bandejas em freezer a – 18°C por um período de 24 h para
congelamento das amostras;
Colocou-se, posteriormente, as bandejas no liofilizador, a – 1°C sob vácuo, por
aproximadamente 20 h;
Pesou-se novamente as bandejas, após o processo de liofilização;
Acondicionou-se as amostras em sacos plásticos devidamente identificados e
lacrados, armazenou-se em freezer a –18°C até o preparo da solução mineral.
3.2.10.3 Preparo da solução mineral
Utilizou-se ácido nítrico para a digestão ácida das amostras. O procedimento
de digestão foi realizado segundo Ekholm et al. (2007), com algumas modificações,
conforme descrição abaixo:
Pesou-se, em um tubo de digestão de 100 mL, em torno de 1 g de amostra
liofilizada;
Acrescentou-se 10 mL de ácido nítrico, em capela de exaustão de gases. Esta
mistura permaneceu sob reação, por um período de aproximadamente 24 h em
temperatura ambiente, para evitar a formação excessiva de espuma e perda de
amostra durante o aquecimento;
-
22
Em seguida, os tubos foram colocados em um bloco digestor para digestão ácida a
quente, em capela de exaustão de gases. Iniciou-se a digestão com a temperatura de
50°C e elevou-se gradativamente a temperatura até atingir 80°C, para que o vapor
de cor alaranjado fosse completamente desprendido das amostras;
Após aproximadamente 6 horas de digestão a quente, adicionou-se mais ácido
nítrico (5 mL);
Elevou-se a temperatura gradativamente até atingir cerca de 120°C (fervura
branda). A digestão ácida a quente nas amostras foi completada após um período
entre 16 e 20 horas, até que a solução estivesse límpida ou incolor, e que fumos
esbranquiçados se desprendessem dos tubos.
Após a digestão, esperou-se esfriar a solução digerida, acrescentou-se pequena
quantidade de água deionizada (5 mL) e levou-se o tubo com esta solução para
agitação em Vortex. Após agitação, a solução foi transferida para um balão
volumétrico de 25 mL. Acrescentou-se água deionizada no tubo por 2 vezes e
transferiu-se para o balão volumétrico, completando-se o volume do balão com água
deionizada. Transferiu-se o extrato para um frasco plástico com tampa até a leitura
de minerais no ICP-AES. Foi colocado, em três tubos de digestão, apenas ácido
nítrico para leitura do branco e preparou-os nas mesmas condições supracitadas.
3.2.11 Análise por Espectrometria
3.2.11.1 Curvas padrão de minerais e metais pesados
Inicialmente, foram preparadas duas soluções padrão multielementar (SPME)
em decorrência da concentração dos minerais (cálcio-Ca, ferro-Fe, magnésio-Mg,
manganês-Mn, cobre-Cu, zinco-Zn, selênio-Se, molibdênio-Mo, cromo-Cr, fósforo-
P, potássio-K e sódio-Na) e metais pesados (cádmio-Cd, alumínio-Al, chumbo-Pb e
níquel-Ni) em amostras de frutas.
A SPME 1 foi preparada em um balão volumétrico de 100 mL, contendo 12,5
ppm de Cr, Se e Mo; 25 ppm de Zn, Pb, Ni, Cd, Cu e Al; 50 ppm de padrão de Fe e
Mn. A SPME 2 foi preparada em um balão volumétrico de 100 mL, contendo 50
ppm de Na; 97,84 ppm de P; 200 ppm de Mg e Ca; 250 ppm de K. Ao final da
mistura dos padrões de cada SPME, completou-se o volume dos balões com água
deionizada.
-
23
Para a construção das curvas-padrão, usou-se volumes crescentes da SPME 1
(0 a 2 mL), da SPME 2 (0 a 20 mL), completados para 50 mL com branco e água
deionizada para a construção dos seis pontos da curva.
A concentração máxima dos elementos nas soluções padrão multielementar
foi: 0,5 ppm de Cr, Se e Mo; 1,0 ppm de Zn, Pb, Ni, Cd, Cu e Al; 2,0 ppm de Fe e
Mn; 20 ppm de Na; 39 ppm de P; 80 ppm de Mg e Ca; 100 ppm de K (Figura 3).
Figura 3. Curvas padrão de minerais e metais pesados.
3.2.11.2 Análise de minerais e metais pesados nas frutas
As amostras foram analisadas quanto aos teores de Ca, Fe, Mg, Mn, Cu, Zn,
Se, Mo, Cr, P, K, Na, Cd, Al, Pb e Ni, por ICP-AES, os respectivos comprimentos de
onda (nm) utilizados foram: 317,933; 259,939; 285,213; 259,372; 224,700; 213,857;
196,026; 202,031; 267,716; 213,617; 404,721; 589,592; 214,440; 308,215; 220,353;
231,604.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
0 1 2 3 4 5 6
Pontos da curva
Con
cent
raçã
o m
g/L
Mn, Fe
Cr, Se, Mo
Zn, Pb, Ni, Cd, Cu e Al
0
20
40
60
80
100
120
0 1 2 3 4 5 6Pontos da curva
Con
cent
raçã
o m
g/L
Mg, CaKNaP
-
24
Após as leituras, as concentrações encontradas, em ppm (mg/L), nas amostras
foram convertidas em teores de minerais e metais pesados, considerando as diluições
e a possível presença destes elementos no branco.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Chapman & Hall.
Campos, F. M. (2006). Avaliação de práticas de manipulação de hortaliças visando
a preservação de vitamina C e carotenóides. Viçosa, 92p. [Dissertação de Mestrado
em Ciência da Nutrição, Universidade Federal de Viçosa, MG].
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Rodriguez-Amaya, D. B. (2001). A guide to carotonoid analysis in foods (71p.).
Washington: International Life Sciences Institute Press.
-
26
ARTIGO 1
AGRICULTURA ORGÂNICA E CONVENCIONAL: IMPACTOS AMBIENTAIS, QUESTÕES SOCIOECONÔMICAS E ASPECTOS
NUTRICIONAIS
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27
RESUMO
A agricultura orgânica tem expandido significativamente nos últimos anos,
com destaque para a fruticultura orgânica, devido ao seu grande crescimento em
nível nacional e internacional, embora ainda incipiente. Acredita-se que o sistema
orgânico de produção de alimentos seja menos danoso ao meio ambiente e que os
alimentos orgânicos sejam mais saudáveis, saborosos e nutritivos quando
comparados aos convencionais, pois são creditados a eles atributos sensoriais
superiores, menores teores de pesticidas e fertilizantes sintéticos, maiores níveis de
nutrientes e proteção de fitoquímicos. Já o sistema convencional utiliza-se de
diversas técnicas agrícolas na busca pelo aumento da produtividade, como o uso de
agrotóxicos, a monocultura, a mecanização intensiva, a fertilização com adubos
sintéticos altamente solúveis, o que pode comprometer tanto o solo como a saúde
humana. Diante deste contexto, o presente artigo objetivou descrever e analisar os
principais estudos publicados nas últimas décadas enfocando de forma geral a
agricultura orgânica e convencional, considerando a importância do cultivo
agronômico para a saúde humana e o meio ambiente, e as controvérsias a respeito da
superioridade da qualidade alimentar de produtos orgânicos em relação aos
convencionais. Conclui-se que no sistema orgânico pode haver uma maior
viabilidade ambiental e socioeconômica em relação ao cultivo convencional, mas não
implica, necessariamente, na melhoria do seu valor nutricional.
Palavras-chave: alimentos orgânicos, agrotóxicos, valor nutricional, segurança
alimentar, produção e comercialização orgânica.
-
28
INTRODUÇÃO
A consciência das questões ambientais em combinação com a segurança dos
alimentos tem levado a população ao questionamento sobre as práticas agronômicas
modernas (Chen, 2007). O modelo de agricultura convencional, construído sob a
perspectiva da Revolução Verde, pode estar comprometido devido à
insustentabilidade deste sistema, que não deve ser resumida apenas à sua dimensão
ambiental, mas deve ser extrapolada para as dimensões social, econômica, ética,
política e cultural (Nuñez, 2000; Assis e Romeiro, 2002; Cerveira, 2002). Diante
deste cenário, surgiu a busca por uma agricultura ecologicamente equilibrada,
economicamente sustentável e socialmente justa, que tem como elemento essencial,
os manejos ecológicos dos agroecossistemas, denominada agricultura orgânica
(Pelinski e Guerreiro, 2004).
A agricultura orgânica possui como pontos essenciais, a preservação do meio
ambiente, a manutenção e aumento da fertilidade do solo, a minimização da
poluição, a redução do uso de fertilizantes químicos e pesticidas, a obtenção da
diversidade genética do sistema de produção, além da verificação do impacto social e
ecológico do sistema de produção e processamento, visando produzir alimentos de
alta qualidade e em quantidade suficiente (Brasil, 1999; Bourn e Prescott, 2002;
Neves et al., 2004; Araújo et al., 2007; Winter e Davis, 2007).
No Brasil, a produção orgânica cresceu consideravelmente nos últimos anos
(Instituto Biodinâmico, 2007), a fruticultura orgânica, embora ainda seja incipiente,
merece destaque,. Existe uma crescente demanda interna e externa por frutas
produzidas neste sistema; os consumidores buscam não apenas produtos de elevado
valor nutricional, mas isentos de contaminantes que ponham em risco a vida do
consumidor e do agricultor, e o meio ambiente (Borges et al., 2003). No entanto,
existem controvérsias sobre os alimentos orgânicos, principalmente, quando são
classificados como mais nutritivos e seguros (Trewavas, 2004), devido à escassez de
dados científicos que assegurem tais vantagens em relação aos produtos
convencionais.
Considerando a importância do cultivo agronômico para a saúde humana e o
meio ambiente, o presente estudo objetivou descrever e analisar alguns dos principais
estudos que caracterizam a produção e a comercialização de alimentos orgânicos no
mundo, a segurança alimentar, a qualidade nutricional e a decisão de compra do
consumidor frente ao tipo de sistema de produção.
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29
Foi realizado levantamento bibliográfico de artigos publicados nas bases de
dados Scielo, Periódicos CAPES, Pubmed, Bireme, Highwire e Science Direct, além
de pesquisas em sites da área publicados nas últimas décadas. Os descritores
utilizados para a busca de artigos científicos foram: agricultura, cultivo, sistema de
produção, alimento, produto, fruta, fruticultura orgânico(a) e convencional, alimentos
produzidos orgânica e convencionalmente, agrotóxicos, pesticidas, metais pesados,
vitaminas, vitamina C, carotenóides, carotenos, minerais, antioxidantes e seus
correspondentes em inglês.
EVOLUÇÃO MUNDIAL DA AGRICULTURA
A evolução da agricultura ocorreu, principalmente, em três estágios: o início
ocorreu há dez mil anos, cada povo criava sua técnica de produção, adaptava-a a
condição da população, criando seus próprios manejos de produção. A agricultura
nesta época era basicamente orgânica (EPUB, 2003). A partir de 1960 iniciou-se o
segundo estágio, a chamada Revolução Verde, implantando pacotes tecnológicos
para a atividade agropecuária, com introdução de novas técnicas utilizando
herbicidas, fertilizantes e variedades de plantas mais produtivas. Atualmente, está em
andamento o terceiro estágio conhecido como biorevolução, produzindo sementes
resistentes às pragas (Biotecnologia, 2003).
O conceito utilizado para agricultura convencional foi adotado para as
atividades agrícolas criadas a partir da Revolução Verde, que tinha como argumento
principal a “luta contra a fome”, buscando o aumento da produtividade agrícola
(Pelinski e Guerreiro, 2004). Diversas técnicas agrícolas foram utilizadas para
aumentar a produção, como o uso de agrotóxicos, a mecanização intensiva, a
fertilização com adubos sintéticos altamente solúveis, a monocultura, o uso de
sementes geneticamente melhoradas e animais selecionados, incluindo ainda o uso de
organismos geneticamente modificados (Cerveira, 2002). Entretanto o melhoramento
da produção de alimentos é dependente de intensivas adições de fertilizantes e
pesticidas sintéticos (Araújo et al., 2007), podendo comprometer tanto a saúde
humana quanto o meio ambiente.
Basicamente a Revolução Verde teve duas missões: a maximização da
produtividade e o lucro, e não simplesmente acabar com a fome. Mesmo com todo o
aporte tecnológico à agricultura moderna, investindo na importação de insumos,
-
30
maquinários e em novas tecnologias, os problemas de fome e pobreza da população
não foram solucionados (Nuñez, 2000).
O esgotamento do modelo da Revolução Verde teve como sintoma, o declínio
da produção agrícola mundial a partir de 1987, e um dos componentes desse declínio
foi a degradação ambiental, principalmente com perda de matéria orgânica e
contaminação das águas (Pelinski e Guerreiro, 2004). Isto levou a população mundial
exigir agriculturas alternativas, que visassem à recuperação do meio ambiente e que
se preocupassem com o “bem-estar” de todos (EPUB, 2003). Segundo Darolt (2002),
o aumento das práticas orgânicas é conseqüência do aumento dos custos da
agricultura convencional, da degradação do meio ambiente e da crescente exigência
dos consumidores por produtos livres de agrotóxicos.
Na década de 1990 ocorreu o último estágio de evolução da agricultura,
marcado pela globalização econômica que privilegiou o mercado entre blocos no
mundo. Além disso, houve preocupação das autoridades públicas e das organizações
não-governamentais (ONGs) com o meio ambiente, tendo em vista o efeito estufa, a
preservação de ecossistemas, a poluição dos mares e rios, o uso indiscriminado dos
produtos químicos e também a geração de lixos domésticos e industriais (Camargo
Filho et al., 2004). Neste contexto, surgiu a chamada biorevolução, com pesquisas na
área de biotecnologia, principalmente de sementes modificadas resistentes a doenças,
que reduzem o uso de agrotóxicos (Pelinski e Guerreiro, 2004).
AGRICULTURA ORGÂNICA: EVOLUÇÃO MUNDIAL, DEFINIÇÃO,
PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO
No Mercado Comum Europeu, o início da produção de orgânicos foi na
década de 1920, e este tema está regulamentado na lei CEE no 2092/91, de 24 de
junho de 1991 (CEE, 1991), que instituiu o modo biológico de produção agrícola e a
sua indicação nos produtos agrícolas e gêneros alimentícios. Para receber a
denominação de produto orgânico, a unidade de produção precisa ser analisada e
avaliada segundo as normas das instituições certificadoras. Esta lei de 1991 definiu a
produção das lavouras orgânicas, sendo que a regra para importação exige
equivalência para produtos comercializados como orgânicos. No Japão, a produção
de orgânicos iniciou-se na década de 1930 e a regulamentação foi estabelecida pela
Lei JAS, definindo critérios técnicos para certificação e orientação às certificadoras.
As importações devem ser reconhecidas por entidades japonesas. Nos EUA, a
-
31
produção com agricultura orgânica iniciou-se no decênio de 1940 e a lei de 1990
regulamentou a produção, estabeleceu padrões e orientou o credenciamento, sendo
que o United States Department of Agriculture (USDA) controla as importações
(Dulley, 2003).
No Brasil, a produção orgânica iniciou-se na década de 1970, porém a sua
ascensão se deu a partir do início da década de 1980. A Instrução Normativa nº 007,
de 1999 estabeleceu normas de produção, certificação e orientação ao órgão
colegiado (Brasil, 1999). A Portaria nº 19, de 2001 aprovou o Regimento Interno do
Colegiado Nacional de Produtos Orgânicos e detalhou normas de certificação. A Lei
Federal n° 10831, de 2003, regulamentou normas disciplinares para a produção,
tipificação, processamento, envase, distribuição, identificação e certificação da
qualidade dos produtos orgânicos, sejam de origem animal ou vegetal (Brasil, 2003).
O Decreto n° 6323, de 2007, regulamenta a Lei n° 10831 que dispõe sobre a
agricultura orgânica e estabelece normas para relação de trabalho, produção,
comercialização, informação de qualidade, insumos, mecanismos de controle,
fiscalização, proibições e penalidades (Brasil, 2007).
Define-se agricultura orgânica como sistema de manejo sustentável da
unidade de produção, com enfoque holístico que privilegia a preservação ambiental,
a agrobiodiversidade, os ciclos biológicos e a qualidade de vida do homem, visando à
sustentabilidade social, ambiental e econômica no tempo e no espaço. Baseia-se na
conservação dos recursos naturais e não utiliza fertilizantes químicos, pesticidas
sintéticos, antibióticos, hormônios de crescimento, organismos transgênicos e
radiações ionizantes (Neves et al., 2004; Winter e Davis, 2007), e sim fertilizantes
naturais, como resíduos orgânicos, estercos de animais, adubação verde, adubação
orgânica, compostagem, controladores biológicos e botânicos de pestes e não
sintéticos (Ismail e Fun, 2003; Winter e Davis, 2007). O manejo orgânico reduz
alguns efeitos negativos atribuídos ao cultivo convencional e potencializa benefícios
de aumento da qualidade da terra (Araújo et al., 2007).
Segundo Darolt (2002) a agricultura orgânica visa a oferta de produtos
saudáveis e de elevado valor nutricional isento de qualquer tipo de contaminante que
ponha em risco a saúde do consumidor e do agricultor, e o meio ambiente.
A FAO (Food and Agriculture Organization) propõe um conceito, visando
subsidiar novas legislações e favorecer a organização do comércio internacional de
produtos orgânicos:
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32
“A agricultura orgânica, segundo o Codex Alimentarius, é um sistema holístico de manejo
da produção, que promove a saúde e o desenvolvimento sustentável nos agroecossistemas,
observando a biodiversidade, os ciclos biológicos e a atividade biológica no solo. Ela
enfatiza o uso de práticas de manejo em detrimento da entrada de insumos externos ao
sistema, levando em conta sistemas adaptados localmente, de acordo com as condições
requeridas para a região. É complementada pelo uso de métodos agronômicos, biológicos e
mecânicos, onde possível, para cumprir qualquer tipo de função dentro do sistema, se
opondo ao uso de produtos sintéticos” (FAO, 1999).
O Decreto n° 6323, de 27 de dezembro de 2007, no capítulo I, artigo 2°,
define como sistema orgânico de produção agropecuária, todo aquele em que se
adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e
socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades
rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização
dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não renovável,
empregando, sempre que possível métodos culturais, biológicos e mecânicos, em
contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos
geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de
produção, processamento, armazenamento, distribuição e comercialização, e a
proteção do meio ambiente.
Na década de 90, a demanda de alimentos orgânicos cresceu
consideravelmente e hoje constitui a atividade agrícola que mais cresce no mundo,
sendo que, atualmente, os maiores mercados de produtos orgânicos correspondem à
Europa, Estados Unidos e Japão (Darolt, 2002). Segundo Trivellato e Freitas (2003),
os países que possuíam as maiores áreas manejadas organicamente eram a Austrália
(10,5 milhões de hectares), a Argentina (3,2 milhões de hectares) e a Itália (mais de
1,2 milhão de hectares). O Brasil ocupava a 13ª posição quanto à área destinada à
agricultura orgânica certificada, com mais de 275 mil hectares.
Atualmente, de acordo com dados do International Federation of Organic
Agriculture Movements (IFOAM, 2006), a área destinada ao cultivo orgânico no
mundo já ultrapassa os 31 milhões de hectares (Yussefi e Willer, 2006). Segundo
Araújo et al. (2007), a taxa anual de expansão foi cerca de 20% na última década.
Quanto ao comércio mundial de orgânicos, houve intensificação no período
de 1997 a 2001, em 2004 chegou a US$ 27,8 bilhões (Yussefi e Willer, 2006).
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Segundo dados da empresa de consultoria Organic Monitor (2006), o mercado
mundial de orgânicos movimentou US$ 40 bilhões no ano de 2006.
De acordo com Darolt (2002), a agricu