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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Silvana Ferreira de Lima Relações entre professores e materiais curriculares no ensino de números naturais e sistema de numeração decimal MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA SÃO PAULO 2014

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Silvana Ferreira de Lima

Relações entre professores e materiais curriculares no ensino de números naturais e sistema de numeração decimal

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA

SÃO PAULO 2014

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC/SP

Silvana Ferreira de Lima

Relações entre professores e materiais curriculares no ensino de números naturais e sistema de numeração decimal

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA

Trabalho Final apresentado à Banca Examinadora da Pontifíc ia Universidade Católica de São Pau lo, como exigência parcial para a obtenção do tít ulo de MESTRE PROFISSIONAL em ENSINO DE MATEMÁTICA, sob a orientação da Professora Doutora Célia Maria Carolino Pires.

SÃO PAULO 2014

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Banca Examinadora

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Autorizo exclusivamente para f ins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos. Assinatura:________________________________ Local e data:___________

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DEDICATÓRIA

Aоs mеus pais Nevalter e Maria Helena, аоs meus irmãos Fernanda e Nevalter Junior, a minha cunhada Caliandra, a todas as minhas tias e aos meus tios, as minhas primas e aos meus primos e, aos meus avós que me edificam como pessoa. Família a base de tudo.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente а Deus, pоr ser essencial еm minha vida, autor dе mеu destino e mеu guia. A minha orientadora Professora Doutora Célia Maria Carolino Pires, companheira dе caminhada. Posso dizer quе а minha formação profissional, de pesquisadora e inclusive pessoal, não teria sido а mesma sеm os seus ensinamentos. A todos оs professores dо curso, quе foram tãо importantes nа minha vida acadêmica е no desenvolvimento desta pesquisa. A Banca Examinadora, pela paciência e pelas riquíssimas contribuições para esta pesquisa. Às pessoas cоm quem convivi nesses espaços ао longo desses anos Claudia, Eliane, Jefferson, Helena, Nalva, Nilza, Neto, Regina e Raquel. Em especial, a minha companheira de luta Maira Tereza Mastroianni. А experiência dе umа produção compartilhada nа comunhão cоm amigos nesses espaços foram а melhor experiência dа minha formação acadêmica. Aos meus familiares amigos, que com carinho е apoio nãо mediram esforços para quе еu chegasse аté esta etapa dе minha vida. Em especial as minhas Tias Cícera Maria de Souza e Célia Maria de Souza. Aos meus pais de coração Veronice e Moacir, obrigado pelo carinho, pela paciência е pоr me trazer pаz nа correria dеsta jornada que é a vida. А todos оs meus amigos, pеlаs alegrias, tristezas е dores compartilhadas. Em especial a Ana Cristina Grivol Lima, Ana Luiza Tayar Lima, Edimilson Ribeiro, Elza Nacasaki, Glaucinete Moreira, Sandra Regina Braga e Silviomar Barufi. Cоm vocês, as pausas entre um parágrafo е outro dе produção melhora tudo о que tenho produzido na vida. À Luciana Aparecida Fakri e Renata Rossi Fiorim Siqueira heroínas que dеram apoio e incentivo nаs horas difíceis, de desânimo, de cansaço e sеmprе me fizeram entender quе о futuro é feito а partir dа constante dedicação nо presente. Companheiras dе trabalhos е irmãs nа amizade quе fizeram parte dа minha formação е quе vão continuar presentes еm minha vida cоm certeza. A aqueles que me deram força, me ajudaram a tomar diversas decisões e que fizeram e fazem parte da minha história de vida. A todos aqueles quе dе alguma forma estiveram е estão próximos dе mim, fazendo esta vida valer cada vеz mais а pena. A todos, muito obrigada!!!

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LIMA, Silvana Ferreira de. 2014. Relações entre professores e materiais curriculares no ensino de números naturais e sistema de numeração decimal. Dissertação (Mestrado Profissional em Educação Matemática). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica De São Paulo: Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática (Orientadora: Célia Maria Carolino Pires).

RESUMO

A presente pesquisa tem com o objetivo analisar com o os professores que atuam nos Anos Iniciais do Ensino Fundam ental da Rede Estadual Paulista interpretam e colocam em prática os diferentes tipos de orientações didáticas, aprese ntados nos m ateriais curriculares de apoio ao professor e entender, como utilizam esses materiais para ampliar os conhecimentos numéricos de seus alunos. Diante deste objetivo, voltam os nossas discussões às mudanças curriculares propostas para a disciplina de Matemática dos Anos Inicia is do Ensino Funda mental, implementadas pela Secretaria da Educação d e São Paulo no âm bito do Projeto de Educação Matemática nos Anos Iniciais (EMA I), iniciado em 2012. Trata-se de um a pesquisa qualitativa, fundamentada na análise de ques tionários, depoimentos e áudio gravações de aulas de quatro professoras, sendo duas professo ras do 3º ano e duas do 5º ano dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Pudemos identificar a ocorrência de diferentes tipos de uso do material pelas professoras, elencados por Brown (2009), a ad aptação, a reprodução e a criação. Em certa medida, em diferentes momentos da atuação, elas ora reproduzem, ora adaptam e mais raramente “criam”. Consideramos que a adaptação foi o uso mais frequente durante as práticas observadas sendo motivadas pelas crenças e concepções que as professoras possuem em relação ao conteúdo e ao ensino desta disciplina. Os objetivos em relação à aprendizagem dos números naturais e do sistema de núm eração decimal foram alcançados com maior e m enor êxito de acordo com conhecimentos de cada um a para articular/exp lorar os recursos do mate rial. Os resultados apontam que, não basta reconhecer a existên cia da relação ou os elem entos que a configuram , mas é necessário des tacar que o material deve ser o bjeto/recurso de formação dess es profissionais, aprofundando-se tanto os conteúdos matem áticos envolvidos com o os conhecimentos didáticos a eles referentes.

Palavras-chave: Educação Matemática – Currículo – Materiais Curricular – Números Naturais –

Sistema de Numeração Decimal

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LIMA, Silvana Ferreira de. 2014. Relationships between teachers and curricular materials the teaching of natural numbers and the decimal system. Dissertation (Professional Master's in Mathematics Education). London: Catholic University Of Sao Paulo: Postgraduate Education in Mathematics (: Célia Maria Pires Carolino Advisor) Syllabus.

ABSTRACT

This research aims to analyze how teachers working in the first years of elementary school at the State Network Paulista interpret and put into pr actice the different types of teaching guidelines, presented in curriculu m materials to support the teacher and understand how to use these materials extend th e numerical knowledge of their students. Gi ven this goal, we turn our discussion to the curriculum proposed changes to the discipline of mathematics in the first years of elementary school, implemented by the Secretary of Education of São Paulo under the Project in Mathematics Education in Early Years ( EMAI ), started in 2012. This is a qualitative research based on the analysis of questionnaires, interviews and audio recordings of lessons four teachers, two teachers of the 3rd year and tw o in the 5th y ear in the first years of elementary school. We were able to identify the occurrence of different types of m aterial usage by teachers, listed by Brown (2009 ), adaptation, reproduction and creati on. To some extent, at different mom ents of the performance, they now reproduce, adapt and pray more rarely " create ". We consider the adaptation was m ore frequent use during practic es observed being motiv ated by beliefs an d conceptions that teach ers have regarding the content and teaching of this disciplin e. The objectives in relation to learning of natural numbers and the decimal system were achieved with greater and lesser su ccess according to knowledge of each to articulate/exploit the resources of material. The results show that it is not enough to recognize the ex istence of the relationship or the elements that shape, but it is necessary to em phasize that the m aterial should be object/feature of these professionals, deepening both the m athematical content involved as didactic knowledge to thereto.

Keywords: Mathematics Education – Curriculum – Curriculum Materials – Natural Num bers – Decimal System

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Lista de Quadros

Quadro 1: Distribuição dos Momentos de Formação do Projeto EMAI...................................45

Quadro 2: Distribuição dos Polos de Formação do Projeto EMAI...........................................45

Quadro 3: Currículo Prescrito do Tema Números Naturais e SND do 3º ano..........................84

Quadro 4: Currículo Prescrito do Tema Números Naturais e SND do 5º ano..........................85

Quadro 5: Reflexões Sobre Hipóteses de Aprendizagem do Tema Números Naturais e SND para

os Alunos 3º ano................................................................................................................90

Quadro 6: Reflexões sobre Hipóteses de Aprendizagem do Tema Números Naturais e SND para

os Alunos 5º ano................................................................................................................93

Quadro 7: Expectativas de Aprendizagem do Tema Números Naturais e SND para os Alunos 3º

ano.........................................................................................................................................95

Quadro 8: Expectativas de Aprendizagem do tema Números Naturais e SND para os Alunos 5º

ano.........................................................................................................................................95

Quadro 9: Atividades Propostas para o Trabalho com Números Naturais e SND no Material do

3º ano..................................................................................................................................104

Quadro 10: Atividades Propostas para o Trabalho com Números Naturais e SND no Material do

5º ano..................................................................................................................................107

Quadro 11: Relação das Atividades Trabalhadas pela Professora Fernanda..........................115

Quadro 12: Análise da aula da Professora Fernanda do 3º ano – Atividade 2.1.....................117

Quadro 13: Análise da aula da Professora Fernanda do 3º ano – Atividade 1.5.....................126

Quadro 14: Relação das Atividades Trabalhadas pela Professora Renata..............................142

Quadro 15:Análise da aula da Professora Renata do 3º ano – Atividade 2 – Página 7..........144

Quadro 16: Relação das Atividades Trabalhadas pela Professora Sandra..............................157

Quadro 17: Análise da aula da Professora Sandra do 5º ano – Atividades 1.4 e 1.5..............158

Quadro 18: Análise da aula da Professora Sandra do 5º ano – Atividade 3.3........................167

Quadro 19: Relação das Atividades Trabalhadas pela Professora Luciana............................181

Quadro 20: Análise da aula da Professora Luciana do 5º ano – Atividade 4 – Página 8.......183

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: A estrutura da CGEB.................................................................................................16

Figura 2: A objetivação do currículo no processo de seu desenvolvimento.............................32

Figura 3: Ciclo de Ensino de Matemática ................................................................................40

Figura 4: Sumário do Material do Professor – 5º ano...............................................................42

Figura 5: Atividade do Material do Professor – 5º ano ...........................................................43

Figura 6: A capacidade do planejamento para a promulgação.................................................62

Figura 7: Projeto EMAI – Plano de Atividades – Material do Professor 3º ano......................97

Figura 8: Projeto EMAI – Plano de Atividades – Material do Professor 5º ano......................98

Figura 9: Projeto EMAI – Atividade – Material do Aluno 3º ano.............................................99

Figura 10: Projeto EMAI – Atividade – Material do Aluno 5º ano.........................................100

Figura 11: Projeto EMAI – Material do Professor 3º ano – Atividade 1.2.............................102

Figura 12: Projeto EMAI – Material do Aluno 3º ano – Atividade 1.2..................................103

Figura 13: Projeto EMAI – Material do Professor 5º ano – Atividade 3.2.............................105

Figura 14: Projeto EMAI – Material do Aluno 5º ano – Atividade 3.2..................................106

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SUMÁRIO APRESENTAÇÃO DA PESQUISA ......................................................................................... 13

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL ......................................................................................... 13 RELEVÂNCIA DO TEMA PESQUISADO ........................................................................ 17 OBJETIVOS DO TRABALHO E QUESTÕES DE PESQUISA ....................................... 21 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ......................................................................... 22 SUJEITOS DE PESQUISA .................................................................................................. 25 ESTRUTURA DO TRABALHO ........................................................................................ 26

CAPÍTULO 1 - BREVE RETROSPECTIVA DE AÇÕES DE IMPLEMENTAÇÃO CURRICULAR NA DISCIPLINA DE MATEMÁTICA ...................................................... 28

1.1 O CURRÍCULO EM AÇÃO ...........................................................................................28 1.2 PANORAMA HISTÓRICO DE IMPLEMENTAÇÕES CURRICULARES ................ 33 1.3 AÇÕES DE IMPLEMENTAÇÃO CURRICULAR POR MEIO DE MATERIAIS DIDÁTICOS ......................................................................................................................... 35 1.4 PROJETO EMAI PRESSUPOSTOS E PROPOSTAS DE AÇÕES .................... .37

CAPÍTULO 2 - IMPLEMENTAÇÃO CURRICULAR, MATERIAIS CURRICULARES E PROFESSORES: LIMITES E POTENCIALIDADES DESTA RELAÇÃO - REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................................................................... 49

2.1 POR QUE DISCUTIR AS RELAÇÕES ESTABELECIDAS ENTRE O PROFESSOR E OS MATERIAIS CURRICULARES? ................................................................................. 50 2.2 AS CONCEPÇÕES E CRENÇAS DOS PROFESSORES E O ENSINO DA MATEMÁTICA ................................................................................................................... 52 2.3 CONHECENDO MELHOR A RELAÇÃO ENTRE PROFESSORES E MATERIAIS DIDÁTICOS.......................................................................................................................... 58

CAPÍTULO 3 - O ENSINO E A APRENDIZAGEM DOS NÚMEROS NATURAIS E SISTEMA DE NUMERAÇÃO DECIMAL ............................................................................. 66

3.1 AS PRIMEIRAS REFERÊNCIAS SOBRE O TEMA ................................................... 68 3.2 ESTUDOS POSTERIORES SOBRE O TEMA ............................................................. 73 3.3 CONTRIBUIÇÕES DE PESQUISAS NO BRASIL ...................................................... 81 3.4 O CURRÍCULO DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO (SEE/SP) REFERENTE AO TEMA NÚMEROS NATURAIS E SND............................... 83 3.4.1 NÚMEROS NATURAIS E SND NO CURRÍCULO PRESCRITO DA SEE/SP

...................................................................................................................................... 83 3.4.2 NÚMEROS NATURAIS E SND NO CURRÍCULO APRESENTADO DA

SEE/SP ........................................................................................................................ 86 3.4.2.1 MATERIAL DO PROFESSOR ............................................................. 89 3.4.2.2 MATERIAL DO ALUNO ..................................................................... 99 CAPÍTULO 4 - O USO DOS MATERIAIS CURRICULARES NO COTIDIANO ESCOLAR PARA O ENSINO E A APRENDIZAGEM DOS NÚMEROS NATURAIS E DO SISTEMA DE NUMERAÇÃO DECIMAL .................................................................... 109

4.1 ACOMPANHAMENTO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DA PROFESSORA FERNANDA – 3º ANO........................................................................................................111

4.1.1 ENTREVISTA DA PROFESSORA FERNANDA ......................................... 111 4.1.2 PRÁTICA PEDAGÓGICA DA PROFESSORA FERNANDA ...................... 115

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4.1.3 DEPOIMENTO DA PROFESSORA FERNANDA ........................................ 134 4.1.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS RELAÇÕES DA PROFESSORA FERNANDA COM MATERIAIS CURRICULARES ............................................. 137

4.2 ACOMPANHAMENTO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DA PROFESSORA RENATA – 3º ANO ...................................................................................................... 138

4.2.1 ENTREVISTA DA PROFESSORA RENATA .......................................... 138 4.2.2 PRÁTICA PEDAGÓGICA DA PROFESSORA RENATA........................ 141 4.2.3 DEPOIMENTO DA PROFESSORA RENATA ......................................... 150 4.2.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS RELAÇÕES DA PROFESSORA RENATA COM MATERIAIS CURRICULARES ............................................................... 152

4.3 ACOMPANHAMENTO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DA PROFESSORA SANDRA – 5º ANO .......................................................................................................152

4.3.1 ENTREVISTA DA PROFESSORA SANDRA .......................................... 152 4.3.2 PRÁTICA PEDAGÓGICA DA PROFESSORA SANDRA. ..................... 156 4.3.3 DEPOIMENTO DA PROFESSORA SANDRA . ...................................... 175 4.3.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS RELAÇÕES DA PROFESSORA SANDRA COM MATERIAIS CURRICULARES ................................................................176

4.4 ACOMPANHAMENTO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DA PROFESSORA LUCIANA – 5º ANO ......................................................................................................179

4.4.1 ENTREVISTA DA PROFESSORA LUCIANA ........................................ 179 4.4.2 PRÁTICA PEDAGÓGICA DA PROFESSORA LUCIANA ..................... 181 4.4.3 DEPOIMENTO DA PROFESSORA LUCIANA ....................................... 188 4.4.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS RELAÇÕES DA PROFESSORA

LUCIANA COM MATERIAIS CURRICULARES.............................................. 189

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 192 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 199 ANEXOS .............................................................................................................................. 204

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APRESENTAÇÃO DA PESQUISA

Na apresentação da pesquisa Relações entre professores e materiais curriculares no

ensino de números naturais e sistema de numeração decimal, trago inicialmente informações

sobre minha trajetória profissional procurando explicitar como ela se relaciona com a escolha

do tema de investigação. Apresento também informações sobre minha inserção no grupo de

pesquisa "Desenvolvimento Curricular e Formação de Professores em Matemática" e em

particular no projeto "Relações entre professores e materiais que apresentam o currículo de

Matemática: um campo emergencial". Organizo argumentos sobre a relevância do tema

pesquisado e defino meus objetivos e questões de pesquisa. Descrevo os procedimentos

metodológicos utilizados e trago algumas informações sobre os sujeitos de pesquisa.

Finalmente, exponho a estrutura do texto da dissertação descrevendo os capítulos que

compõem.

TRAJETÓRIA PROFISSIONAL

Ingressei na Educação Básica em 1989, em uma Escola Estadual Paulista, localizada

no município de Americana. Nesta unidade, cursei os antigos oito anos do Ensino

Fundamental e conheci profissionais que aprendi a respeitar e admirar. Por admirar meus

professores, que a meu ver faziam a diferença na vida daqueles que ali passavam, foi que

decidi me tornar pedagoga. Neste momento, os materiais curriculares, como a cartilhas e

livros didáticos, estão presentes em minha vida escolar como recursos para auxiliar minha

aprendizagem.

No ano de 2000, concluí o magistério e neste mesmo período comecei a lecionar como

professora de aulas de reforço das disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática. Tenho

clareza de que minhas aulas trouxeram contribuições tímidas aos meus então educandos,

embora essenciais para minha formação profissional. Para subsidiar essas aulas de reforço,

neste momento inicial de minha carreira profissional, contei integralmente com as orientações

oferecidas pelas então Assistentes Técnicas Pedagógicas (ATP) da Diretoria de Ensino de

Americana, que ofereciam as estagiárias do magistério, momentos de estudo para discutir o

que se esperava que os alunos do então Ciclo I, soubessem.

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As ATP exploravam conosco os materiais curriculares disponíveis, livros didáticos

que apresentavam atividades alfabetizadoras e atividades matemáticas. Elas nos mostravam

quais conteúdos deveriam ser trabalhados com os alunos e como estes materiais curriculares

poderiam nos auxiliar para este propósito. Os materiais apresentados me acompanharam e

subsidiaram minha prática docente por muito tempo.

No ano de 2002, ingressei no Curso de Pedagogia na Universidade Estadual Paulista –

UNESP – no Campus de Marília, e tive à oportunidade de continuar a construir minha

identidade profissional conciliando teoria e prática, pois, frequentava a universidade no

período noturno e estagiava em escolas municipais dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental

durante o dia, trabalhando mais uma vez, com alunos que apresentavam dificuldade em

acompanhar o ensino e a aprendizagem na sala regular, ou seja, com o reforço escolar. Neste

momento, já não era mais uma estagiária inexperiente, minhas ações pedagógicas eram

embasadas pela minha experiência e também pela experiência das professoras com quem

trabalhei, estas sempre me apresentavam materiais curriculares que lhes eram oferecidos por

suas coordenadoras pedagógicas, com o intuito de embasar e melhorar a prática docente.

Nos dois últimos anos da graduação, pleiteei uma vaga no Núcleo de Ensino da

Universidade. Este núcleo de ensino era organizado pelos professores da Universidade para a

discussão de seus projetos de pesquisa e para a orientação de graduandos bolsistas que

estavam ingressando na iniciação científica. Fui contemplada com bolsa nas duas tentativas.

Desde então, iniciei minha trajetória como pedagoga e pesquisadora. Nos momentos de

estudo do grupo, minha maior contribuição era conciliar exatamente o que estávamos

estudando, com o cotidiano vivenciado nas escolas públicas estaduais pelas quais passei. Tive

ainda, a oportunidade de conciliar realmente a prática adquirida com os estudos de

pesquisadores sobre as políticas educacionais então viventes.

Ao aprofundar meus estudos na graduação, me deparei com um conflito em minha

prática docente, pois comecei a questionar as orientações pedagógicas oferecidas pela

Secretaria Municipal de Marília e pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo

(SEE/SP), locais onde estagiei. Inquietava-me o uso dos materiais. Será que suas propostas

ofereciam as melhores estratégias para o ensino e a aprendizagem dos conteúdos? Será que a

forma com que eu me relacionava com as orientações daqueles materiais contribuía para

minha prática pedagógica e para a aprendizagem dos meus alunos?

Levei esta discussão para o grupo de estudo em que era inserida no momento, no

entanto, pouco avançamos, mas, como pedagoga passei a questionar mais e refletir um pouco

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melhor tanto em relação às aulas que preparava quanto aos meus objetivos de aprendizagem e

de aprendizagem.

No ano de 2005, me efetivei como Professora de Educação Básica I (referente ao atual

Anos Iniciais do Ensino Fundamental) na rede Estadual de Educação do Estado de São Paulo,

no município de Campinas. Município este, em que a Rede Estadual de Ensino é dividida em

virtude da grande demanda de escolas, em duas regiões: a Região Oeste e a Região Leste. A

sede da escola onde lecionava situa-se na Região Oeste.

Em 2006, já graduada, ministrei aulas para um grupo do atual 2º ano dos Anos Iniciais

do Ensino Fundamental. Permaneci na mesma unidade escolar por três anos e meio, sempre

trabalhando com o ciclo de alfabetização, melhor dizendo, com os dois primeiros anos do

antigo ensino de oito anos. Durante esse período em que permaneci na escola, fui apresentada

a várias propostas de intervenção pedagógica vindas da Diretoria de Ensino a qual era

vinculada, orientações estas então oferecidas pelos Professores Coordenadores da Oficina

Pedagógica (PCOP).

Não atuei como Professora Coordenadora, no entanto, no ano de 2009, após apresentar

um projeto e ser avaliada por uma banca de Supervisores de Ensino, fui designada como

Professora Coordenadora da Oficina Pedagógica (PCOP), função conhecida atualmente como

Professora Coordenadora do Núcleo Pedagógico (PCNP). Embora “novinha” na profissão,

como denominavam minhas colegas, nesta função eu tinha como papel contribuir para a

formação dos Professores e também dos Professores Coordenadores dos Anos Iniciais do

Ensino Fundamental e, portanto, para a melhoria do ensino e da aprendizagem desenvolvidos

na Diretoria de Ensino de Campinas Região Oeste.

A equipe de quatro PCOP se dividia em duas frentes, três trabalhavam com a

alfabetização dos alunos e um com as discussões referentes a Matemática, sendo este

Professor Especialista de Matemática. Aventurei-me a trabalhar com a Matemática, mesmo

sendo professora polivalente, mas sempre consciente de minhas limitações e aberta a novas

oportunidades de estudo e reflexão.

Durante um ano e meio, experienciei ser formadora de professores, contribuí para a

formação do grupo em que trabalhava ao conciliar os conteúdos matemáticos às

especificidades dos alunos e dos professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e, ao

mesmo tempo, descobri o meu entusiasmo pela disciplina de Matemática e a imensa

necessidade de ampliar meus conhecimentos sobre a atual Educação Matemática proposta e

discutida por muitos pesquisadores.

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Pela primeira vez, tive a oportunidade de participar da elaboração de materiais e

orientações curriculares que eram oferecidos para auxiliar a prática pedagógica, sempre com a

preocupação de questionar se aqueles materiais seriam bons para os professores. Procurava

aproximar cada vez mais às discussões que aconteciam na Diretoria de Ensino a necessidade

de oferecer subsídios as unidades escolares que pudessem potencializar a prática pedagógica e

interferir positivamente no ensino e na aprendizagem dos alunos. Com esse intuito, participei

efetivamente de orientações técnicas que promoviam momentos de análise e estudo do

currículo vigente na SEE/SP e dos materiais curriculares oferecidos, procurando aproximá-los

da sala de aula e, por fim, da prática docente como um recurso norteador e benéfico e não

como um material burocrático e imposto.

Desde 2011, desempenho a função de Técnica da Equipe Curricular dos Anos Iniciais

da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas, a antiga CENP, incorporada pela atual

Coordenadora de Gestão da Educação Básica (CGEB), a coordenadoria que compreende os

centros responsáveis pelos aspectos pedagógicos da rede estadual paulista, dentre este o

Centro de Ensino Fundamental dos Anos Iniciais – CEFAI, do qual sou integrante.

Figura 1: A estrutura da CGEB.

Fonte: Equipe CEFAI, 2012.

A equipe curricular do CEFAI desenvolve ações com objetivos diversos, entre os

quais se destacam a formação e o acompanhamento dos Professores, dos Professores

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Coordenadores e dos Professores Coordenadores do Núcleo Pedagógico dos Anos Iniciais do

Ensino Fundamental, das 91 Diretorias de Ensino do Estado de São Paulo, como também a

contribuição para a formação dos profissionais da educação que atuam com os Anos Iniciais

do Ensino Fundamental e para melhoria do ensino dos professores e da aprendizagem dos

alunos da rede estadual.

Atualmente na função que desempenho, tenho a oportunidade novamente de contribuir

efetivamente na elaboração de materiais e orientações curriculares, porém agora, para toda a

rede Estadual de Ensino. Deste modo, participo do processo de implementação do projeto de

Educação Matemática nos Anos Iniciais, conhecido como EMAI. Ele compreende um

conjunto de ações que têm como objetivo articular o processo de desenvolvimento curricular

em Matemática, a formação de professores, o processo de aprendizagem dos alunos em

Matemática e a avaliação dessas aprendizagens, elementos chave de promoção da qualidade

da educação. Caracteriza-se pelo convite feito a todos os professores que atuam nos Anos

Iniciais do Ensino Fundamental a participar da ação, a partir da consideração de que o

professor é protagonista no desenvolvimento do currículo em sala de aula e na construção das

aprendizagens dos alunos. Novamente, uma de minhas maiores inquietações é saber se os

materiais curriculares elaborados e oferecidos realmente “conversam” com a realidade das

escolas, como se dá a relação entre professores e estes materiais e se de fato contribuem para

a melhoria do ensino dos professores e da aprendizagem dos alunos.

RELEVÂNCIA DO TEMA PESQUISADO

Quando ingressei no Mestrado Profissional em Educação Matemática da PUC/SP,

passei a integrar o Grupo de Pesquisa "Desenvolvimento Curricular e Formação de

Professores em Matemática", coordenado pela Professora Doutora Célia Maria Carolino Pires,

e o projeto “Relações entre professores e materiais que apresentam o currículo de Matemática:

um campo emergencial".

No texto base de apresentação desse projeto, elaborado por Pires (2012b),

encontramos justificativas, das quais destacaremos alguns trechos. Pires faz um paralelo entre

a situação brasileira e alguns dados apresentados nos estudos de Remillard, J. T; Herbel-

Eisenmann, B. A.; Lloyd, G. M. (2009, p. 3):

Nos Estados Unidos, há um número crescente de pesquisas na área de

Educação Matemática que procuram entender o que acontece com

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professores e alunos quando do uso de materiais que apresentam os

currículos prescritos. Tomam como pressuposto a concepção de que os

professores são os principais atores no processo de transformação dos ideais

curriculares, capturados nas formas de tarefas Matemáticas, planos de aula e

recomendações pedagógicas, nos eventos reais em sala de aula. Desse modo,

consideram essencial compreender o que os professores fazem com os

materiais curriculares de Matemática, porque e como fazem suas escolhas e

como os materiais influenciam a atividade de sala de aula. Essas pesquisas

são importantes para informar sobre a organização e o desenvolvimento

curricular, como também as investigações e ações no mundo das práticas,

focalizando especialmente os resultados sobre o que os estudantes aprendem.

Pires (2012b) destaca que segundo pesquisadores norte-americanos, embora o campo

de pesquisa sobre o uso de recursos curriculares por professores esteja crescendo, é ainda

insuficientemente desenvolvido.

Estudos de professores usando livros didáticos de Matemática, ou sobre a

influência dos livros didáticos no currículo começam a surgir por volta dos

anos 70. Ao longo dos anos, o interesse por essas pesquisas tem oscilado, ora

aumentando, ora diminuindo. Também ao longo do tempo, pesquisadores

têm trazido contribuições sobre a relação currículo e professor. No entanto,

antes da década de 90, este campo nunca reuniu impulsos ou coesão em

torno de um conjunto particular de questões. Na primeira década do atual

milênio, contudo, o campo cresceu consideravelmente, sinalizando um

aumento no interesse pelas questões sobre como os professores usam os

materiais curriculares e se estes de fato podem influenciar as práticas em sala

de aula e o ensino de forma mais ampla (REMILLARD, J. T; HERBEL-

EISENMANN, B. A.; LLOYD, G. M., 2009, p. 3).

Essa discussão é aprofundada quando a autora relata que pesquisadores americanos

revelam que atividades nas áreas da política e prática, têm gerado um interesse considerável

no impacto dos materiais curriculares nos professores e no ensino:

Na era atual de prestação de contas e aumento da pressão provocada pela No

Child Left Behind Act (NCLB, 2002), os distritos escolares e as escolas estão

sobre intensa pressão para elevar a pontuação dos alunos. Como resultado,

muitos distritos começaram a regular as práticas de ensino de matemática

através do uso obrigatório de um programa de currículo único em cada nível

de ensino ou área de conteúdo (ARCHER, 2005).

Seu projeto de pesquisa estabelece um paralelo entre Brasil e Estados Unidos, no

tocante a essa problemática, destacando inicialmente que seria importante investigar o estado

de conhecimentos produzidos em nosso país sobre o tema. Conjectura que no Brasil, embora

existam pesquisas sobre o assunto, elas ainda são isoladas e que a temática se configura como

um campo emergencial, tecendo as seguintes considerações:

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Desde a apresentação dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN, feita

pelo Ministério da Educação na segunda metade da década de 90, os

currículos prescritos em estados e municípios foram reformulados seguindo,

de modo geral, as mesmas concepções e orientações presentes nos PCN.

Mesmo estabelecido o status de não obrigatoriedade para os PCN, no

período de 1999 a 2002, alguns projetos foram desenvolvidos em diversas

localidades do país, configurando-se como uma etapa inicial de

implementação das ideias veiculadas nos PCN. Também os livros didáticos

passaram a exibir o carimbo “De acordo com os PCN” (PIRES, 2012b).

Aponta ainda que, ao longo dos últimos anos, estados da federação e municípios

desenvolveram suas propostas curriculares para a Educação Básica. Cita o Relatório de

Análise de Propostas Curriculares de Ensino Fundamental e Ensino Médio, publicado em

2010 pelo Ministério da Educação1 (BRASIL, 2010) que afirma que há semelhança

indiscutível entre as propostas, na medida em que levam em conta orientações nacionais,

destacando-se os fundamentos da psicologia da aprendizagem, na perspectiva do

construtivismo.

Quanto à fundamentação das propostas, é central a concordância com as

indicações legais e com as perspectivas teóricas presentes nas orientações

oficiais centrais, principalmente a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

(LDB 9.394/96), as Diretrizes e Parâmetros Curriculares Nacionais (DCN e

PCN), os fundamentos da psicologia da aprendizagem, na perspectiva do

construtivismo. Diferentes concepções, tendências e tradições pedagógicas,

presentes no campo pedagógico, misturam-se, fundem-se com as orientações

citadas, produzindo explicações e abordagens que fazem sentido e

confirmam o hibridismo de contribuições distintas na constituição do

discurso curricular no país, apontado por muitos estudiosos do currículo

(BRASIL, 2010, p.441).

No entanto, ressalta Pires, há que se levar em conta que no Brasil, assim como em

outros países, documentos curriculares prescritos parecem ter pouco impacto nas práticas

docentes, estes são mais influenciados por materiais didáticos como os livros didáticos.

Sem dúvida, os materiais curriculares mais difundidos e utilizados são os

livros didáticos. Certamente há pesquisas sobre eles na área de Educação

1 Documento da Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Concepções e Orientações Curriculares para

Educação Básica. Foram analisadas propostas das secretarias municipais das capitais, compondo uma amostra de

13 propostas de Ensino Fundamental. A análise incidiu sobre um total de 60 propostas, sendo 34 de Ensino

Fundamental (incluindo as 13 citadas e 21 de secretarias estaduais) e 26 propostas de Ensino Médio. Não

apresentaram propostas de Ensino Fundamental os estados: Roraima, Maranhão, Paraíba, Rio Grande do Norte,

Sergipe e Piauí. De Ensino Médio, apenas o estado de Rondônia não apresentou proposta. Para o Ensino

Fundamental as propostas elaboradas pelas secretarias municipais das capitais e incluídas no estudo foram:

Fortaleza, Campo Grande, Boa Vista, Macapá, Maceió, João Pessoa, Recife, Goiânia, Cuiabá, Vitória, São

Paulo, Curitiba e Florianópolis.

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Matemática, mas provavelmente sem o foco em como os professores os

utilizam e se, e como, estes de fato influenciam as práticas nas aulas de

Matemática. Por outro lado, Secretarias de Educação, há algum tempo vêm

oferecendo materiais curriculares a seus professores. No caso do Estado de

São Paulo, podemos citar alguns exemplos importantes: Geometria

Experimental - Secretaria Estadual da Educação de São Paulo - destinado a

alunos de 3ª, 4ª e 5ª séries do Ensino de Primeiro Grau - 1980. Atividades

Matemáticas - Secretaria Estadual da Educação de São Paulo - destinado a

alunos de 1ª a 4ª séries do Ensino de Primeiro Grau – 1990. Experiências

Matemáticas - Secretaria Estadual da Educação de São Paulo - destinado a

alunos de 5ª a 8ª séries do Ensino de Primeiro Grau - 1994. Cadernos de

Apoio e Aprendizagem - Secretaria Municipal da Educação de São Paulo -

destinado a alunos de 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental - 2010. Livretos

de Alunos e Diários do Professor - Secretaria Estadual da Educação de São

Paulo - destinado a alunos de 1º ao 5º anos do Ensino Fundamental – 2012

(PIRES, 2012b).

A partir destes fatos, Pires assinala que estudos sobre esses materiais, especialmente

como o foco na relação que o professor estabelece com eles, têm relevância e merece atenção

da pesquisa em Educação Matemática Brasileira. Com base nestas inquietações justifica-se a

criação em seu Grupo de Pesquisa "Desenvolvimento Curricular e Formação de Professores

em Matemática", do projeto de pesquisa "Relações entre professores e materiais que

apresentam o currículo de Matemática: um campo emergencial" que tem como objetivos

gerais:

Realizar estudos sobre materiais que apresentam o currículo de Matemática, como

foco na relação que o professor estabelece com eles.

Identificar características dos materiais que favorecem e que dificultam melhor

interação com os professores.

Minha escolha do tema de pesquisa teve origem decorrente de minha atuação

profissional, como também, de minha participação no Grupo de Pesquisa "Desenvolvimento

Curricular e Formação de Professores em Matemática", atuando mais especificamente no

projeto "Relações entre professores e materiais que apresentam o currículo de Matemática:

um campo emergencial". Ao conhecer o projeto observei que suas finalidades vinham ao

encontro de minhas aspirações, ou seja, buscar compreender o processo de implementação

curricular, o uso de materiais curriculares em meio a este processo e os possíveis benefícios e

limites que envolvem essa ação desenvolvida em escolas públicas no âmbito da Secretaria do

Estado de São Paulo.

Para melhor delimitar minha pesquisa analisaremos um dos projetos realizados pelo

CEFAI, o projeto de Educação Matemática nos Anos Iniciais, conhecido na Rede Estadual de

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Ensino como EMAI. O EMAI oferece oportunidades como à de formação profissional dos

professores em Educação Matemática e a proposta de melhoria do processo de aprendizagem

dos alunos na disciplina de Matemática, por meio da oferta de Materiais Curriculares. Assim,

suas ações fomentam demandas no sentido de compreender como os materiais elaborados

apresentam o currículo de Matemática, quais características desses materiais podem favorecer

ou dificultar o uso pelos professores e que tipo de relação os professores estabelecem com

eles.

Contudo, aliando minha atividade profissional à minha atividade de iniciante na

pesquisa, entendo como pertinente e relevante desenvolver um estudo focalizando como

professores, que participam do Projeto EMAI, se relacionam com materiais didáticos que são

produzidos em seu âmbito, trazendo contribuições para a pesquisa sobre o tema e para as

ações de implementação curricular desenvolvidas pela SEE/SP, de modo particular.

OBJETIVOS DO TRABALHO E QUESTÕES DE PESQUISA

Objetivo geral: compreender as relações entre professores e materiais curriculares

para o ensino de números naturais e sistema de numeração decimal.

Objetivo específico:

Analisar como professores dos Anos Iniciais interagem com materiais

curriculares de Matemática, para ensinar números naturais e sistema de

numeração decimal.

Avaliar e perceber que características de materiais curriculares possibilitam

melhor apropriação das concepções subjacentes.

Compreender que recursos os professores mobilizam nos usos que fazem de

materiais curriculares.

Em função desses objetivos formulamos nossas questões de pesquisa, a saber:

a. Quais as relações que um grupo de 4 professores estabelecem com o material

curricular de Matemática, para ensinar números naturais e sistema de

numeração decimal?

b. Que elementos/características do material possibilitam a esses professores

melhor apropriação das concepções subjacentes?

c. Que recursos os professores mobilizam na sua interação com os materiais

curriculares?

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PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

De modo geral, autores como Lüdke e Andre (1986) e Fiorentini e Lorenzato (2006)

apontam que os objetivos de um pesquisador estão diretamente relacionados à escolha de sua

metodologia de pesquisa.

Tendo em vista nosso objetivo que é compreender a relação entre professores e

materiais curriculares para o ensino de números naturais e sistema de numeração decimal,

optamos por uma pesquisa de natureza qualitativa, caracterizada por diversos autores como

Godoy (1995), que indicam que:

a. O ambiente natural é fonte direta de dados, ou seja, a sala de aula é nossa fonte

direta de observação e coleta de dados.

b. O pesquisador é instrumento fundamental para observar, selecionar e interpretar os

dados adquiridos.

c. A descrição dos dados coletados, por meio de transcrições e registros de

observações é a melhor estratégia para futura análise dos dados.

d. Que os conhecimentos didáticos e de conteúdo, crenças e concepções dos

envolvidos na pesquisa são fontes imprescindíveis para melhor compreendermos

os fenômenos estudados.

Esses aspectos são apontados e discutidos por Godoy (1995a) como essenciais em uma

pesquisa qualitativa, segundo a autora:

[...] a pesquisa qualitativa não procura enumerar e/ou medir os eventos

estudados, nem emprega instrumental estatístico na análise de dados. Parte

de questões ou foco de interesses amplos, que vão se definindo à medida que

o estudo se desenvolve. Envolve a obtenção de dados descritivos sobre

pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do pesquisador

com a situação, procurando compreender os fenômenos segundo a

perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo

(GODOY 1995a, p. 58).

Estes aspectos são apontados também como imprescindíveis em nossa pesquisa, assim,

entendemos que a metodologia mais apropriada para este estudo é a pesquisa qualitativa.

A análise qualitativa dos dados é desenvolvida em diferentes tipos de pesquisa como a

documental, a de campo, o estudo etnográfico entre outros.

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Neste trabalho optamos pela pesquisa de campo, exatamente por se tratar de uma

modalidade em que o pesquisador colhe suas informações no ambiente em que fenômeno

acontece, em nosso caso, a sala de aula.

Segundo Fiorentini e Lorenzato (2009) a pesquisa de campo possui alguns tipos

especiais de procedimentos, o levantamento que se constitui em um estudo exploratório, a

observação participante ou etnográfica que se define como o procedimento em que o

pesquisador frequenta os espaços em que os fenômenos acontecem naturalmente; o estudo de

caso que permite a construção de hipóteses, a confirmação ou reformulação do problema

quando se quer estudar uma situação singular; e por fim, a pesquisa ação e colaborativa, a

primeira se caracteriza como forma especial de pesquisa participante e a segunda quando um

grupo de pessoas trabalha durante todo o processo investigativo.

Dentre os tipos apresentados, a observação participante será o procedimento realizado

durante nossa pesquisa de campo. Adotamos ainda a definição do termo “participante” assim

como Fiorentini e Lorenzato (2006, p. 107), que é definida como uma participação com

registros das observações, procurando produzir pouca ou nenhuma interferência no ambiente

de estudo. Ou entendida ainda por Lüdke e André (1986, p. 29) como observação total “em

que o pesquisador não interage com o grupo observado”.

Para a coleta de dados utilizamos primeiro a entrevista semiestruturada (ANEXO I). A

entrevista é um instrumento básico para a coleta de dados. Para Lüdke e André (1986),

Fiorentini e Lorenzato (2006), trata-se de uma conversa a dois, com propósitos bem definidos,

em que se cria uma interação entre pesquisador e o pesquisado e que pode ser de enorme

utilidade para a pesquisa em educação.

A grande vantagem da entrevista como coleta de dados, segundo estes autores, é que

ela permite a captação imediata e corrente da informação desejada, bem como correções,

esclarecimentos e adaptações.

Segundo Lüdke e André (1986), Fiorentini e Lorenzato (2006) podemos encontrar

basicamente, três possibilidades de entrevistas:

Não estruturada, também conhecida como não padronizada ou aberta que é

associada à liberdade de percurso, esta é preferível em abordagens

fenomenológicas e hermenêuticas.

Estruturada, que está associada a seguir um roteiro de perguntas feitas e até, a

aplicação de um questionário pelo entrevistador, este instrumento é

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considerado fácil de ser tratado estatisticamente. É preferível em abordagens

empírico-analítica.

Estes dois tipos de entrevistas são considerados extremos.

Entre esses extremos, temos a entrevista semiestruturada, esta acontece a partir

de um roteiro, no entanto, permite ao entrevistador adaptações no

desenvolvimento da ação. É preferível em abordagens histórico-dialética.

O tipo de entrevista mais adequado para o trabalho de pesquisa em educação é a de um

instrumento mais flexível, ou seja, a entrevista semiestruturada. Quando a entrevista é

realizada com sujeitos que discorrerão com facilidade sobre o assunto em questão, como no

caso dos educadores, é interessante ter um roteiro que guia a ação e que contenha os

principais tópicos a serem pesquisados. Este roteiro deve apresentar certa ordem lógica, ou

seja, uma sequência lógica dos assuntos para garantir o respeito de seu encadeamento.

A transcrição da entrevista, bem como a análise das informações obtidas serão

apresentadas no Capítulo 4.

O segundo instrumento adotado foi a observação de aula com registro dos

acontecimentos pelo pesquisador, registros estes que foram digitados e ampliados por meio

das informações colhidas nas áudiogravações das aulas. Esse procedimento foi escolhido por

ser “um dos instrumentos mais ricos de coleta de informações durante o trabalho de pesquisa

de campo que, é o diário de bordo. É nele que o pesquisador registra observações de

fenômenos, faz descrições de pessoas, descreve episódios ou retrata diálogos” (FIORENTINI,

LORENZATO, 2006, p. 118-119). Segundo os autores ainda, os registros podem ser

entendidos como descrições e como interpretações. A primeira perspectiva procura

literalmente descrever tudo o que puder acontecer na aula observada, como ações, expressões

entre outras. Já ao entender os registros enquanto interpretações, o pesquisador considera a

situação em foco de uma forma mais ampla, ou seja, para além do que está se observando

naquele momento, entendendo a situação observada como parte de um processo e não

simplesmente como fatos isolados e estanques. Ambas as perspectivas, devem ser adotadas

pelo pesquisador de forma equilibrada, com objetivo de se garantir a maior veracidade e

confiabilidade possível aos registros obtidos (FIORENTINI, LORENZATO, 2006). Os

registros, bem como a análise das informações obtidas serão apresentadas no Capítulo 4.

O terceiro instrumento foi à aplicação de um questionário, com o intuito de coletarmos

a opinião dos sujeitos observados, após o período de trabalho desenvolvido. A diferença

básica entre este instrumento e a entrevista é que pode ser aplicado em larga escala e não

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requer a interação direta entre entrevistador e entrevistado. Os questionários são instrumentos

tradicionalmente usados na coleta de informações, podem ser elaborados de forma fechada,

ou seja, é constituído por alternativas, pois, o pesquisador considera não haver outras

possibilidades de resposta. Abertos, sendo caracterizado pela ausência de alternativas. E

misto, ou seja, com uma parte fechada e uma parte aberta.

A modalidade adotada na pesquisa foi o questionário aberto (ANEXO II), por

possibilitar a ampla coleta de informações, ação esta imprescindível para uma pesquisa

qualitativa, assim, procuramos levantar a opinião das professoras sem indicar possíveis

respostas, procurando estabelecer um diálogo franco e acolhedor a suas opiniões. A

transcrição dos depoimentos, bem como a análise das informações obtidas que serão

apresentadas também no Capítulo 4.

SUJEITOS DE PESQUISA

Uma vez definido que esta dissertação contaria com sujeitos de pesquisa para a análise

da prática docente, entendemos a necessidade de submeter nossos objetivos e a metodologia

adotada ao Comitê de Ética, desta forma realizamos todos os procedimentos necessários e

somente após a aprovação do Comitê iniciamos a pesquisa de campo e a coleta de dados.

Cabe ressaltar, que os nomes dos sujeitos que aqui serão apresentados são fictícios,

cumprindo assim, o item de confidencialidade da pesquisa que assegura aos participantes que

em nenhum momento suas identidades serão divulgadas.

Para a coleta de dados nossa opção foi a de selecionar quatro professoras dos Anos

Iniciais, sendo duas do 3º ano e duas do 5º ano. Anos estes significativos, uma vez que o

terceiro ano representa a culminância do processo de alfabetização Matemática e o quinto ano

representa o término de um processo de aprendizagem, conduzido por professores

polivalentes e que será decisivo na continuidade das futuras aprendizagens dos estudantes.

Para o acompanhamento de duas escolas usamos como critério de escolha a condição

de que as pessoas estivessem realizando, nos momentos de Aula de Trabalho Pedagógico

Coletivo (ATPC), o estudo do Material oferecido pelo Projeto EMAI. Essa informação foi

fornecida pela Diretoria de Ensino, que indicou as escolas e pela própria Professora

Coordenadora Pedagógica da Unidade Escolar. As Coordenadoras de cada uma das escolas,

confirmaram que realizavam os momentos de estudo e, por sua vez, convidaram a participar

da pesquisa somente duas professoras, uma do 3º ano e uma do 5º ano, que de fato realizavam

as atividades do Projeto. Assim, na escola A temos como sujeitos de pesquisa as professoras

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Fernanda do 3º ano e Sandra do 5º ano e na escola B, as professoras Renata do 3º ano e

Luciana do 5º ano, mediante o aceite das professoras, a pesquisa foi realizada no primeiro

semestre do ano letivo de 2013.

Na escola A fomos recebidas por uma professora do 3º ano, a Professora Fernanda que

tem 41 anos, fez magistério, é graduada em Pedagogia e possui Pós-graduação em

Psicopedagogia. Atua nos anos inicias há 18 anos na Rede Estadual Paulista e não possui

outra atividade profissional. E pela professora Sandra, que leciona para o 5º ano, tem 59 nove

anos, 28 destes dedicados totalmente ao magistério na Rede Estadual Paulista e aos alunos

dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Formada no Ensino Normal, também conhecido

como Magistério, em 1973 e em meados dos anos 90 graduou-se em Pedagogia e não possui

outra atividade profissional.

Na escola B nos acolheu a professora Renata do 3º ano que tem 50 anos, 28 destes

dedicados somente a lecionar na Rede Estadual Paulista. Formada em Magistério e em

Pedagogia com especialização em Pré-escola. Por fim, a Professora Luciana do 5º ano, que

possui 45 anos, é formada em Magistério e leciona há 15 anos destes, sendo 8 anos na Rede

Estadual Paulista e os outros 7 anos na rede particular. Sua atuação profissional, assim como

os outros sujeitos de pesquisa, sempre foi a de lecionar.

ESTRUTURA DO TRABALHO

Iniciamos o nosso trabalho com a apresentação de nossa trajetória realizada até o

momento e em seguida organizamos a pesquisa em cinco capítulos.

No Capítulo 1, apresentaremos uma breve retrospectiva de ações de implementação

curricular, por meio de materiais didáticos, na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo

(SEE/SP) e traremos mais informações sobre o projeto de Educação Matemática dos Anos

Iniciais.

No Capítulo 2, realizaremos uma revisão da literatura, especialmente das pesquisas

norte-americanas como as de Matthew William Brown, Gwendolyn M. Lloyd, Janine T.

Remillard, Beth A. Herbel-Eisenmann, com o intuito de melhor compreender e discutir a

relevância de pesquisas sobre implementações curriculares e a relação dos professores com os

materiais didáticos para a melhoria do ensino e da aprendizagem. E também as contribuições

de Alba Thompson e de Shulman para discutir como os conhecimentos, as crenças e valores

dos professores influenciam sua prática cotidiana.

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No Capítulo 3, analisaremos as orientações apresentadas para o ensino de números

naturais e sistema de numeração decimal, segundo os estudos de Piaget (1964) e de Kamii

(2012), as contribuições mais recentes com Fayol (1996) e Lerner e Sadovsky (1996) e para

finalizar esse referencial, pontuamos contribuições nacionais com Pires (2013), bem como

identificaremos este conteúdo no material curricular elaborado no âmbito do Projeto EMAI.

No Capítulo 4, detalharemos cada um dos nossos sujeitos de pesquisa ao apresentar: os

registros obtidos durante as entrevistas sobre seus conhecimentos, as crenças e concepções a

respeito do Projeto, dos materiais oferecidos e sobre o ensino e aprendizagem dos números

naturais e sistema de numeração decimal; a transcrição e análise das práticas pedagógicas para

ensinar números naturais e sistema de numeração decimal nas aulas de Matemática; Os

depoimentos dos sujeitos de pesquisa sobre novos conhecimentos, desafios e mudanças na

prática de ensinar números naturais e sistema de numeração decimal, com o apoio do Material

oferecido pelo projeto EMAI. Findaremos com alguns apontamentos sobre os dados

encontrados.

E ao final serão apresentadas nossas conclusões e considerações finais.

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CAPÍTULO 1

BREVE RETROSPECTIVA DE AÇÕES DE IMPLEMENTAÇÃO

CURRICULAR NA DISCIPLINA DE MATEMÁTICA

Para definir a concepção de Currículo que estará em discussão nesta pesquisa, iremos

apresentar os estudos de Gimeno Sacristán (2000). E ao falarmos especificamente do

Currículo de Matemática ampliaremos a discussão com as contribuições Rico Romero (1998).

Em seguida, realizaremos um panorama histórico de grandes implementações

curriculares em Matemática e uma breve retrospectiva de ações de implementação curricular,

por meio de materiais didáticos, na Secretaria de Educação do Estado de São Paulo (SEE/SP).

Para finalizar este capitulo, nos dedicaremos em pontuar as características e os

pressupostos principais do Projeto de Educação Matemática dos Anos Iniciais. foco deste

trabalho.

1.1 O CURRÍCULO EM AÇÃO.

Segundo Gimeno Sacristán (2000), as reformas curriculares justificam-se por se

acreditar que “através delas se realiza uma melhor adequação entre os currículos e as

finalidades da instituição escolar, ou a de que com elas se pode dar uma resposta mais

adequada à melhoria das oportunidades dos alunos e dos grupos sociais” (2000, p. 18). De

uma maneira geral, as reformas curriculares emergem da necessidade de adequações

curriculares, da melhoria das oportunidades de ensino e de aprendizagem oferecida aos alunos

e da potencialização da formação dos professores.

Fundamentado nessa premissa de melhoria de oportunidades, Rico Romero (1998)

define o que devemos entender por Currículo de Matemática, assim, o descreve como um

plano de formação em Matemática destinado aos sujeitos envolvidos em um determinado

sistema educativo obrigatório. Esses planos de formação são apresentados durante reformas

curriculares e atendem as emergências de cada período.

Assim, para iniciar nossas discussões entendemos ser necessário traçar uma breve

linha histórica das implementações curriculares referentes aos Anos Iniciais do Ensino

Fundamental na Disciplina de Matemática e dos materiais didáticos presentes nessas ações, no

entanto, antes de nos debruçarmos a traçar essa breve linha histórica, faz necessário

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explicitarmos nossa concepção de Currículo, com esse intuito nos servimos ainda dos estudos

de Gimeno Sacristán (2000) que afirma:

O currículo é uma práxis antes que um objeto estático emanado de um

modelo coerente de pensar a educação ou as aprendizagens necessárias das

crianças e dos jovens, que tampouco se esgota na parte explícita do projeto

de socialização cultural nas escolas. É uma prática, expressão, da função

socializadora e cultural que determinada instituição tem, que reagrupa em

torno dele uma série de subsistemas ou práticas diversas, entre as quais se

encontra a prática pedagógica desenvolvida em instituições escolares que

comumente chamamos de ensino. É na prática que se expressa em

comportamentos práticos diversos (GIMENO SACRISTÁN, 2000, p. 15-

16).

Entendido por esta perspectiva, o currículo não se limita a reflexões ou pretensões

expressas em um documento de papel, este caracteriza-se pelos objetivos de uma determinada

instituição, objetivos esses efetivados na prática pedagógica.

Uma vez que compreendemos o currículo como um objeto em movimento, não

podemos ignorar que sua constituição está à mercê dos interesses culturais, políticos,

econômico, sociais, subjacentes dos sujeitos envolvidos e do contexto histórico em que está

inserido. Visto desta forma, o currículo não está livre de valores e pressupostos que são

passíveis de identificação e requerem entendimento.

Em relação à estas influências e voltando-se as especificidades do currículo de Matemática

Rico Romero (1998) coloca que:

Los Sistemas Educativos planifican y gestionan la educación matemática de

niños, adolescentes y adultos mediante el diseño y puesta en práctica de

planes de formación que han de tener en cuenta la complejidad de los

procesos de enseñanza y prendizaje de esta disciplina, las necesidades

formativas de los ciudadanos y las demandas sociales de conocimiento

matemático (RICO ROMERO, 1998, p. 1).

Portanto, se aprofundarmos as discussões curriculares com o olhar voltado às

especificidades de cada disciplina, neste caso, a de Matemática, compreenderemos que os

conteúdos propostos explicitam as concepções de formação, de ensino e de aprendizagem que

atendem a demanda social do conhecimento matemático, melhor dizendo, representam os

conteúdos matemáticos que o sistema educativo vigente acredita ser necessário naquele

período.

Para Gimeno Sacristán (2000), o currículo é composto por conteúdos e formas, reflete

os interesses concretos de um determinado sistema educativo, sistema este que possui um

esquema socializador, formativo e cultural, portanto, desvelar e compreender os currículos

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adotados não somente permite discutir o papel da educação e a qualidade do ensino oferecido

como recupera a escola enquanto instituição facilitadora de cultura.

O autor aponta ainda, que toda prática pedagógica se desenvolve em torno de um

currículo, sua configuração no espaço escolar ora se apresenta como determinante de uma

prática, ora como determinada pelas diferentes práticas desenvolvidas. Essa inter-relação

abona a ação de renovação curricular, toda vez que se constata a falta de qualidade em um

sistema educativo, a partir deste ponto volta-se às atenções aos conteúdos oferecidos e as

metodologias efetivadas nas aulas.

Por assumir uma perspectiva ativa no cotidiano escolar para Rico Romero (1998), o

currículo é a ferramenta principal para a prática pedagógica de um professor, em especial em

seus estudos para o professor de Matemática. Assim, por ser um objeto dinâmico e resultado

de diversas intervenções é necessário perceber a construção curricular como um processo,

logo é o produto deste processo de transformações que resultará no ensino que de fato chega

ao aluno, ou seja, na prática pedagógica.

Em relação a este processo, Gimeno Sacristán (2000, p. 101) define que “o currículo

poder ser visto como um objeto que cria em torno de si campos de ação diversos, nos quais

múltiplos agentes e forças se expressam em sua configuração, incidindo sobre aspectos

distintos”. Portanto, a construção curricular se dá por níveis ou fases que determinam suas

características. Embora não apresentem dependências estreitas ou hierárquicas, estes níveis ou

fases atuam de forma convergente na definição da prática pedagógica, com poderes distintos e

mecanismos peculiares.

Para melhor entendermos o processo de desenvolvimento curricular e os níveis

envolvidos, definimos a seguir, cada um deles e apresentamos também a figura “a

objetivação do currículo no processo de seu desenvolvimento”, apresentada por Gimeno

Sacristán (2000, p.104-106):

O Currículo Prescrito: este nível refere-se ao currículo proposto por um sistema

educativo, trata-se de prescrições ou orientações do que deve ser o conteúdo, principalmente

na escolaridade obrigatória. Atua como referência na ordenação do sistema curricular,

servindo de ponto de partida para a elaboração de materiais e para o acompanhamento e

controle do sistema.

O Currículo apresentado aos professores: geralmente, este currículo se revela aos

professores por diferentes meios e interpretações, principalmente por livros-textos e materiais

didáticos, que expressam o significado e os conteúdos do currículo prescrito.

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O Currículo moldado pelos professores: este currículo está diretamente ligado ao

papel ativo do professor, uma vez que o educador realiza interpretações peculiares a respeito

do currículo prescrito e do currículo apresentado pelos materiais e molda-os por meio de suas

crenças, valores, ou seja, de sua cultura profissional.

O currículo em ação: esta fase revela o currículo que se efetiva no cotidiano escolar,

na ação pedagógica determinada pelos esquemas teóricos e práticos do professor. É na prática

que o currículo se transforma em método e é em meio a essa dinâmica que podemos

identificar a qualidade do ensino proposto.

O currículo realizado: este currículo torna visíveis as consequências do currículo

praticado, consequências cognitivas, afetivas, sociais, morais etc. Estas consequências

ressaltam no sistema proposto ou no método pedagógico adotado e refletem principalmente

nas aprendizagens dos alunos.

O currículo avaliado: destaca por meio da avaliação de aspectos do currículo,

confrontando aquilo que identifica com o que se prescreveu, elaborou, pretendeu ou efetivou e

assim, acaba impondo critérios para o ensino dos professores e para a aprendizagem dos

alunos. Atribuindo então, às aprendizagens escolares um significado de atividade e resultados

valorizados.

A seguir, apresentamos um modelo de interpretação do currículo que segundo Gimeno

Sacristán (2000, p.104), permite perceber que o currículo é “algo construído no cruzamento

de influências e campos de atividades diferenciados e inter- relacionados”:

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Figura 2: A objetivação do currículo no processo de seu

desenvolvimento.

Fonte: Gimeno Sacristán, 2000, p. 104.

Com base na importância do currículo para um sistema escolar, e por consequência,

para análise da qualidade do ensino oferecido, este estudo se dedicará a analisar e discutir nos

próximos capítulos, sobre o atual Currículo prescrito da Secretaria de Educação do Estado de

São Paulo proposto para a Educação Matemática dos alunos dos Anos Iniciais do Ensino

Fundamental, o Currículo apresentado aos professores por meio dos materiais didáticos

oferecidos no âmbito do Projeto de Educação Matemática dos Anos Iniciais EMAI, o

Currículo moldado pelos professores do 3º e 5º ano dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental

e por fim o Currículo em ação que efetivamente são desenvolvidos no cotidiano escolar.

CURRÍCULO PRESCRITO

CURRÍCULO APRESENTADO AOS PROFESSORES

CURRÍCULO MOLDADO PELOS PROFESSORES

ENSINO INTERATIVO

CURRÍCULO EM AÇÃO

CURRÍCULO REALIZADO

Efeitos complexos: explícitos-ocultos, em

alunos e professores, meio exterior, etc.

CURRÍCULO AVALIADO

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21

1.2 PANORAMA HISTÓRICO DE IMPLEMENTAÇÕES CURRICULARES

Por décadas, o currículo esteve presente nas pautas de discussões da Educação

Brasileira, ora com mais ou menos intensidade. As propostas de organização curricular

constituíram-se em reformas que buscavam identificar e atender as demandas educacionais de

cada período (FILHO, 2002; PIRES, 2008).

No ano de 1931, a Reforma Francisco de Campos, também conhecida como Reforma

Campos, propôs diferentes graus de ensino, entre eles o Ensino Secundário. Este passou a se

organizar entre o ensino primário e o ensino superior, correspondendo ao ensino da 5ª série ao

3º ano do ensino médio. A Reforma Campos consistiu-se na primeira iniciativa de

organização Nacional da Educação Brasileira.

Na década de 30, surge também a disciplina Matemática, proposta por Euclides Roxo,

segundo Pires:

[...] Euclides Roxo teve papel importante, ao propor a unificação dos

campos, matemáticos - Álgebra, Aritmética e Geometria - numa única

disciplina, a Matemática, com a finalidade de abordá-los de forma articulada

inter-relacionada, uma vez que anteriormente cada um deles era estudado

como disciplina independente. Roxo defendeu ainda a ideia de que o ensino

da geometria dedutiva deveria ser antecedido de uma abordagem prática da

geometria (2008, p. 15).

Euclides Roxo marca ainda sua participação neste momento, ao lançar livros didáticos

para difundir sua proposta didático-pedagógica de junção dos conteúdos de Aritmética,

Álgebra e a Geometria por meio do “Curso de Matemática Elementar”. Esta proposta é

considerada inovadora, pois, o material elaborado constitui-se como um referencial para o

ensino e a aprendizagem da Disciplina recém-criada, a Matemática (VALENTE, 2004).

Segundo Valente (2004) a Reforma Francisco Campos ensejou a publicação de

inúmeros livros didáticos para atender à criação da nova disciplina Matemática.

Anos mais tarde, em 1942, se deu a Reforma Capanema, proposta por Gustavo

Capanema que sucedeu Francisco Campos como Ministro da Educação e Saúde Pública. Da

mesma maneira que a Reforma Campos a Reforma Capanema também se deu na era Vargas.

A segunda estruturou o Ensino Industrial, reformou o Ensino Comercial, criou o Serviço

Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e instituiu uma nova organização para o

Ensino Secundário, criando o ginásio de quatros anos e os cursos clássicos e científicos de

três anos, o Colegial. Esta organização corresponde ao atual Ensino Fundamental Ciclo II e ao

Ensino Médio (FILHO, 2002; PIRES, 2008).

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Durante a reforma Capanema, a exemplo da Reforma Campos, são publicadas levas de

livros didáticos, com o fim de atender às suas determinações didático-pedagógicas

(VALENTE, 2004).

Ambas as reformas, se destacam como fundamentais para a discussão aqui propostas,

uma vez que identificam historicamente o surgimento da disciplina Matemática e a difusão do

uso do livro didático como recurso para a deliberação de ideias.

Nos anos 50, 60 e 70 localizamos as influências do grupo Bourbaki, que pesquisava a

Matemática pura, perguntava-se o que é a Matemática, quais seriam suas unidades e suas

estruturas, queriam olhar a Matemática como um todo. O Movimento da Matemática

Moderna – MMM se destacou por propor mudanças no currículo de Matemática do período,

com o foco no ensino da Álgebra por meio da Teoria dos Conjuntos. Cabe ressaltar que no

Brasil, a Matemática Moderna foi veiculada inicialmente por meio de livros didáticos (PIRES,

2008).

Anos mais tarde as contribuições inovadoras do MMM foram questionadas, pois, o

ensino proposto demonstrou estar para além das necessidades educacionais da época, por

vezes não possibilitando a compreensão dos alunos dos conteúdos matemáticos.

Na década de 80 encontramos as contribuições do National Council of Teachers os

Mathematics, NCTM dos Estados Unidos. O conselho iniciou as discussões sobre o ensino

por meio da Resolução de Problemas, propondo novos rumos para as discussões curriculares

que vigoram até os dias de hoje. Os novos rumos indicados pela proposta de um ensino

centrado na Resolução de Problemas impulsionaram reformas educacionais no mundo todo.

Nos anos 90 iniciaram-se no Brasil, as discussões sobre os Parâmetros Curriculares

Nacionais - PCN, com o intuito de oferecer um documento de orientações para o currículo das

diversas disciplinas, que respeitasse a necessidade de adequações regionais do País, ao mesmo

tempo em que indicasse objetivos comuns, ou seja, um conjunto de conhecimentos

socialmente elaborados e reconhecidos por todo o Brasil. Neste momento, portanto, o país não

tinha um único currículo, mas parâmetros que poderiam referenciar seus currículos prescritos

para cada disciplina.

O PCN de Matemática do Ensino Fundamental Ciclo I (BRASIL, 1997), atual Anos

Iniciais é dividido em dois ciclos, o primeiro contempla as 1ª e 2ª séries, atuais 2º e 3º anos e

o segundo ciclo as antigas 3ª e 4ª séries, atuais 4º e 5º anos e apresenta objetivos para o ensino

e para a aprendizagem, como também, orientações didáticas e conteúdos. Divide os conteúdos

matemáticos em quatro blocos: Números e Operações, Espaço e Forma, Grandezas e Medidas

e Tratamento da Informação.

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De maneira geral, após os anos 90 as reformas curriculares passaram a ser

desenvolvidas para atender as demandas específicas de cada secretaria ou órgão educacional.

1.3 AÇÕES DE IMPLEMENTAÇÃO CURRICULAR POR MEIO DE MATERIAIS

DIDÁTICOS

O breve panorama realizado anteriormente a respeito do Currículo e do ensino da

Matemática, situa nossas futuras discussões, bem como contribui para a nossa reflexão a

respeito da forte presença de materiais didáticos em implementações curriculares.

Os materiais didáticos que aqui serão destacados são compreendidos como Currículos

apresentados aos professores, ou seja, são interpretações do currículo prescrito vigentes em

cada época, elaborados para disseminar valores políticos, sociais e educacionais do período

em que estão inseridos.

Gimeno Sacristán (2000) justifica a necessidade da elaboração e difusão dos

currículos apresentados devido ao déficit presente na formação profissional dos professores,

na urgência de se aproximar as orientações curriculares aos professores a sua prática cotidiana

e por consequência, ao ensino oferecido aos alunos. Os materiais produzidos são entendidos

como dispositivos intermediários, essenciais e indispensáveis ao sistema escolar.

Ao voltarmos nossas apreciações para os materiais didáticos oferecidos em meio a

mudanças curriculares em Matemática, no âmbito da Secretaria de Educação de São Paulo,

podemos destacar.

O material denominado como Geometria Experimental destinado a alunos de 3ª, 4ª e

5ª séries do Ensino de Primeiro Grau, em 1978; os Subsídios para a implementação do Guia

Curricular de Matemática, em 1979 e por consequência os Guias Curriculares de Matemática.

Os subsídios explicitam em seu prefácio que a elaboração do material teve como objetivo

fornecer aos professores elementos que permitam resolver o problema de identificar as

atividades necessárias à obtenção dos resultados esperados, permitindo, portanto, a efetiva

implementação das propostas curriculares, no que diz respeito à Matemática (SÃO PAULO,

1979).

Em meados dos anos 90, destacamos as Atividades Matemáticas - AM. Este material

foi elaborado para os alunos de 1ª a 4ª séries do Ensino de Primeiro Grau, composto por

quatro volumes: dois para o Ciclo básico, antigas 1ª e 2ª série, atuais 2º e 3º do ensino

fundamental; um para a antiga 3ª série, atual 4º ano do ensino fundamental e um para antiga 4ª

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série, atual 5º ano do ensino fundamental. No prefácio do documento encontramos a seguinte

apresentação:

A proposta do presente trabalho é a de ajudar os professores de 1ª série a

proporcionar a seus alunos atividades nas quais eles possam trabalhar

naturalmente com conceitos matemáticos, tendo liberdade de experimentar,

discutir e sobretudo tirar conclusões (SÃO PAULO, 1991).

Segundo suas orientações de uso, o material é composto por atividades que

apresentam orientações tanto para o aluno quanto para o professor. A parte destinada ao aluno

contém objetivos, material necessário e desenvolvimento e a segunda parte destinada ao

professor explicita o tema, a meta e contém comentários (sugestões de intervenções). Além

das atividades, os professores ainda encontravam modelos de atividades para reprodução.

No ano de 2008, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo publica as

Orientações Curriculares do Estado de São Paulo: Língua Portuguesa e Matemática – Ciclo I

e os Guias de Planejamento e Orientações Didáticas – Professor – da 1ª a 4ª série, atuais 2º a

5º ano. No mesmo ano, pouco tempo depois, distribuem a coletânea do aluno do 2º ao 5º ano

do Ensino Fundamental.

O material destinado ao professor e ao aluno foi produzido no campo das ações do

Programa Ler e Escrever, que tem como objetivo primeiro propiciar a aprendizagem da leitura

e da escrita, no entanto, conforme a apresentação a seguir, inclui também em suas discussões,

conteúdos e orientações para a disciplina de Matemática:

Incluímos também conteúdos e orientações de Matemática. Tratamento da

informação, números naturais, grandezas e medidas, além de cálculo serão

abordados a partir de situações-problema vividas no cotidiano, jogos e outras

propostas desafiantes para as crianças. Espera-se que elas desenvolvam

gosto pelo pensamento matemático, não tenham medo de errar e, sobretudo,

fiquem à vontade para expor suas ideias e buscar soluções originais (SÃO

PAULO, 2008, p.6)

Embora o material tenha sido distribuído aos alunos e professores do 2º ao 5º ano do

Ensino Fundamental e em 2010 também para alunos e professores do 1º ano, somente os

materiais do 3º, 4º e 5º ano possuem discussões e orientações para o trabalho com a disciplina

de Matemática, os demais priorizam a leitura e a escrita.

Em 2012, a rede pública de ensino estadual de São Paulo apresentou o Projeto

Educação Matemática nos Anos Iniciais (EMAI), uma proposta de reorganização curricular

para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Para tanto, deu início a elaboração conjunta a

diversos integrantes da própria rede estadual paulista (Professores, Professores,

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Coordenadores, Diretores, Professores Coordenadores do Núcleo Pedagógico, Supervisores

de Ensino, entre outros), ao Material do Aluno e do Professor do 1º ao 5º ano dos Anos

Iniciais do Ensino Fundamental.

O Projeto EMAI teve inicio em janeiro de 2012 e tem ações previstas até dezembro de

2014, com o intuito de atender a uma demanda emergencial apontada pelo baixo desempenho

dos alunos do Ensino Fundamental em relação aos conteúdos matemáticos e da necessidade

de formação continuada de seus professores polivalentes em relação à Educação Matemática.

O texto introdutório do projeto, elaborado por sua Assessora Pedagógica, a Professora

Doutora Célia Maria Carolino Pires (SÃO PAULO, 2012), explica que, o projeto apóia-se em

três pilares de atuação: organização e desenvolvimento curricular; formação de professores; e

avaliação das ações e do desempenho dos alunos.

No item a seguir, nos dedicaremos a conhecer melhor as propostas e pressupostos

deste projeto, uma vez que será em seu processo de implantação que colheremos os subsídios

necessários para a nossa análise de como se estabelece a relação entre professores e materiais

curriculares, para o ensino e a aprendizagem dos números naturais e sistema de numeração.

1.4 PROJETO EMAI PRESSUPOSTOS E PROPOSTAS DE AÇÕES

A formação continuada de professores que atuam na Educação Básica em grandes

redes públicas, como a do Estado de São Paulo, sempre se constituiu num grande desafio para

a formulação de políticas públicas. Programas de formação e projetos incluindo diferentes

tipos de cursos na modalidade presencial e na modalidade a distância, abrangendo uma

diversidade de temas, há algumas décadas vêm sendo desenvolvidos.

Nesse universo desafiador, destacamos o Projeto de Formação de Professores

denominado "Educação Matemática nos Anos Iniciais - EMAI" que teve início em 2012 e

abrange dos 24.000 professores dos anos iniciais da rede estadual cerca de 20.271 professores,

ou seja, em torno de 85% do número total de docentes dos anos iniciais da Rede Estadual

Paulista.

No segundo semestre de 2011, a atual Coordenadoria de Gestão da Educação Básica -

CGEB, da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo avaliou que o Programa de

Formação de Professores dos Anos Iniciais, denominado "Ler e Escrever" vinha obtendo

excelentes resultados no tocante às questões de alfabetização e ensino de Língua Portuguesa.

No entanto, mesmo oferecendo sugestões para as aulas de Matemática para as antigas 2ª série,

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3ª série e 4ª série do ensino fundamental (atuais 3º, 4º e 5º anos dos Anos Iniciais do Ensino

Fundamental), os avanços em relação a essa área de conhecimento eram insuficientes,

conforme resultados de diferentes avaliações institucionais.

Como relatado na apresentação, o baixo desempenho dos alunos em relação aos

conteúdos Matemáticos foi identificado por avaliações, como o Sistema de Avaliação de

Rendimento Escolar do Estado de São Paulo – SARESP.

Segundo os dados apresentados na escala de proficiência do SARESP – 2011 (SÃO

PAULO, 2013b), o desempenho obtido pelos alunos dos 3º e 5º anos dos Anos Iniciais do

Ensino Fundamental aponta uma crescente significativa no número de alunos com baixo

desempenho. Ao término do 3º ano menos de 20% dos alunos dominam as habilidades

avaliadas ou dominam minimamente os itens da prova, apresentando resultados insuficientes,

percentual que aumenta para aproximadamente 30% no 5º ano, apontando uma queda no

desempenho dos alunos.

Com os dados apontados pelo SARESP para a disciplina de Matemática e a criação do

ensino fundamental de nove anos, coloca-se como demanda premente, reestruturar o currículo

de Matemática para os anos iniciais e oferecer condições para sua implementação com apoio

de materiais curriculares e criação de espaços de formação docente.

Para atender a essa demanda emergencial, como apontado anteriormente, o projeto

EMAI se apóia em três pilares de atuação: organização e desenvolvimento curricular;

formação de professores; e avaliação das ações e do desempenho dos alunos.

Quanto ao pilar de organização e desenvolvimento curricular, o projeto tem como

pretensões revitalizar o então vigente currículo de Matemática para os Anos Iniciais do

Ensino Fundamental ao apresentar Orientações Curriculares e Expectativas de Aprendizagem

Matemática aos alunos do 1º ano, que até então não eram propostas e ao revisar e ampliar as

Orientações Curriculares e Expectativas de Aprendizagem já existente do 2º ao 5º ano, no que

se refere a educar matematicamente as crianças e jovens para a sociedade contemporânea.

Ampliando as ações pretendidas por este pilar, suas discussões voltam-se para a

articulação dos diferentes níveis de desenvolvimento curricular, buscando coerência entre

eles, em benefício da aprendizagem dos alunos. Desse modo, inspirados no esquema

apresentado por Gimeno Sacristán (2000), o projeto propõe ações no sentido de estimular

reflexões, nos níveis do currículo prescrito apresentado, do currículo moldado pelos

professores e do currículo avaliado.

Para contribuir para a reflexão sobre o currículo moldado pelo professor para seu

grupo de alunos, o que é feito para certos períodos do trabalho em sala de aula (bimestre,

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semana) o projeto recorreu aos estudos sobre Trajetórias Hipotéticas de Aprendizagem

(THA), desenvolvidos por diferentes pesquisadores e, em especial pelo pesquisador Martim

Simon (1995).

Essa ideia baseia-se no pressuposto de que é preciso planejar trajetórias –

caminhos, percursos – que imaginamos serem interessantes e potentes para

que os alunos de uma turma consigam atingir as expectativas de

aprendizagem que estão previstas para um determinado período da

escolaridade. São hipotéticas porque na sua realização em sala de aula são

sempre sujeitas a ajustes e redirecionamentos. Para Simon, a consideração

dos objetivos da aprendizagem, as atividades de aprendizagem e pensamento

e conhecimento dos estudantes são elementos importantes na construção de

uma trajetória hipotética de aprendizagem e sua construção está assentada

em conhecimentos teóricos e práticos do professor (SÃO PAULO, 2012,

p.6).

Este pesquisador baseia-se no pressuposto de que é preciso planejar trajetórias –

caminhos, percursos – que imaginamos serem interessantes e potentes para que os alunos de

uma turma consigam atingir as expectativas de aprendizagem que estão previstas para um

determinado período da escolaridade. São hipotéticas porque na sua realização em sala de

aula são sempre sujeitas a ajustes e redirecionamentos.

Para Simon, a consideração dos objetivos/expectativas da aprendizagem, as atividades

de aprendizagem e pensamento e conhecimento dos estudantes, são elementos importantes na

construção de uma trajetória hipotética de aprendizagem e sua construção está assentada em

conhecimentos teóricos e práticos do professor.

Na figura a seguir, está representado o Ciclo de Ensino da Matemática. Nele, podemos

observar que a partir de seus conhecimentos, o professor vai conduzir o processo de

realização de THA, constituídas pela definição de objetivos que ele seleciona para as

aprendizagens dos alunos e do plano de atividades de ensino que elabora com base nas

hipóteses que formula sobre o processo de aprendizagem e construção de conhecimentos dos

seus alunos.

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Figura 3: Ciclo de Ensino de Matemática.

Fonte: SIMOM, 1995, p. 29.

Para Simon, a noção da trajetória hipotética de aprendizagem pressupõe a importância

da relação entre a meta pretendida e o raciocínio sobre decisões de ensino e a hipótese sobre

esse percurso. A Trajetória Hipotética de Aprendizagem pode ser inserida como parte

integrante de um importante nível do desenvolvimento curricular, o nível do currículo

moldado e realizado pelo professor que vai se basear em seus conhecimentos da disciplina,

em seus conhecimentos pedagógicos, mas especialmente em sua vivência em sala de aula a

partir da qual ele é capaz de formular hipóteses sobre como vai se processar a aprendizagem

dos alunos, quais dificuldades podem surgir e como contorná-las.

Com maior ou menor nível de consciência, todo professor percorre esse “ciclo de

ensino”. Contudo, a riqueza das experiências e das formas de atuação depende do grau de

clareza sobre cada elemento em jogo na THA e sobre seu processo de realização em sala de

aula. Assim, durante o desenvolvimento de atividades pelos professores, um objetivo inicial

planejado geralmente pode ser modificado muitas vezes (talvez continuamente), durante o

estudo de um conceito matemático particular. Quando os alunos começam a comprometer-se

nas atividades planejadas, os professores deveriam “comunicar-se” com as observações dos

alunos, nas quais eles formatam novas ideias sobre esse conceito. Assim, o ambiente de

aprendizagem envolve resultados da interação entre o professor e os alunos e como eles se

engajam em um conteúdo matemático.

Segundo Simon, um professor pode propor uma tarefa; contudo, as formas pelas quais

os alunos constroem suas tarefas e suas experiências é que vão determinar seu potencial de

aprendizagem. Assim por exemplo, se um aluno dá uma resposta a um problema elaborado

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pelo professor e, no entendimento do professor não foi uma compreensão adequada sobre

conceitos ou procedimentos envolvidos, isso deve resultar num novo objetivo de ensino sobre

o assunto. Este objetivo, temporariamente, substitui o original.

Segundo Pedro Gómez e José Luis Lupiáñez (2007), quando nos referimos à

Trajetória Hipotética de Aprendizagem podemos reconhecer três elementos núcleo, são eles

os objetivos de aprendizagem, tarefas matemáticas e suposições sobre o processo de

aprendizagem. Esses elementos são reconhecidos por diferentes pesquisadores como Steffe

(2004), Lesh e Yoon (2004) e Clements e Sarama Wilson (2004) que entendem as THA como

uma ferramenta para investigação; Gravemeijer (2004) e Simon e Tzur (2004) que entendem

as THA como uma ferramenta para o planejamento e por fim, Battista (2004) que centra seus

estudos em relação a THA com foco na avaliação.

Embora Pedro Gómez e José Luis Lupiáñez (2007) desenvolvam suas pesquisas em

relação às contribuições das THA para a prática em sala de aula sob diferentes perspectivas,

ambos reconhecem que o processo de aprendizagem dos alunos são interdependentes, que as

tarefas são selecionadas com base em hipóteses sobre como os alunos aprendem e que as

suposições sobre o processo de aprendizagem se baseiam nas tarefas propostas, sendo esta

construção referendada pelas seguintes suposições apresentada por Simon e Tzur (2004):

1º A construção de uma trajetória hipotética de aprendizagem baseia-se na

compreensão do conhecimento atual dos estudantes que recebem instrução.

2º Uma trajetória hipotética de aprendizagem é o veículo para o

planejamento do aprendizado sobre conceitos matemáticos específicos. 3º As

tarefas matemáticas fornecem as ferramentas para promover a aprendizagem

de conceitos matemáticos específicos e, portanto, eles são um elemento-

chave do processo de instrução. 4º Dada à natureza hipotética e

inerentemente incertas deste processo, o professor vai ser forçado a mudar

de forma sistematicamente cada aspecto da trajetória hipotética de

aprendizagem. (SIMOM e TZUR, 2004, p. 93)

Portanto, para a construção de uma THA é necessário considerar tanto seus

elementos chaves como a forma em que eles se articulam naquele contexto educacional, com

o conteúdo matemático que se pretende ensinar, com os saberes que os alunos já possuem e

com os saberes didáticos e de conteúdo dos professores.

Essas contribuições impulsionaram os estudos realizados no âmbito do Projeto

EMAI, e deu inicio ao processo de construção de um rol de expectativas de aprendizagem por

ano e por bloco de conteúdo, para o levantamento de hipóteses sobre processo de

aprendizagens das crianças e a elaboração de plano de atividades. O material é composto de 8

unidades para cada ano da escolaridade, dividido em Volume 1, que contém as 4 primeiras

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unidades e Volume 2, que contém as 4 últimas unidades. Cada unidade é prevista para ser

realizada no período de 1 mês, estas são constituídas em média por 4 sequências com 5

atividades cada:

Figura 4: Sumário do Material do Professor – 5º ano.

.

Fonte: Material do Professor - 5º ano - Projeto EMAI.

Para cada atividade, o material traz indicações para uma conversa inicial do professor

com seus alunos, com vistas a levantar informações sobre conhecimentos prévios deles sobre

os temas e também de inseri-los no contexto de apresentação da situação de aprendizagem. Na

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sequência, são apresentadas as propostas de atividades, tendo como meta uma dada

expectativa de aprendizagem e orientações de Observação/Intervenção para o professor.

Figura 5: Atividade do Material do Professor – 5º ano.

Fonte: Material do Professor - 5º ano - Projeto EMAI.

Inicialmente as propostas elaboradas foram apresentadas a toda a rede estadual em

2012 para análise e discussões, em função das observações, críticas e sugestões, a primeira

versão das THA foi sendo modificada. Em 2012, as devolutivas das escolas se restringiram às

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quatro primeiras unidades. Em 2013, ocorreu um segundo momento de realização das THA já

reformuladas e de novas propostas que ainda não haviam sido discutidas. No ano de 2013

ainda as novas propostas do volume 1 foram disponibilizadas no site do Programa Ler e

Escrever, e as propostas do Volume 2 elaboradas e submetidas também a apreciação da rede

estadual. Em 2014, o volume 1 foi impresso e distribuído as escolas e o volume 2, já

reformulado, tem previsão de entrega para o segundo semestre letivo.

Em relação ao pilar de formação de professores, o projeto se utiliza dos pressupostos

de Tardif (2000), que diz que o saber docente é um saber plural, oriundo da formação

profissional, de saberes disciplinares, curriculares e experienciais, assim aponta que:

Refletindo sobre o processo de formação de professores Tardif, por exemplo,

argumenta que se deve levar em conta o conhecimento do trabalho dos

professores, seus saberes cotidianos. Tal postura desconstrói a ideia

tradicional de que os professores são apenas aqueles que transmitem saberes

produzidos por outros grupos. As escolas tornam se, assim, lugares de

formação, de inovação, de experiência e de desenvolvimento profissional,

mas também, lugares de pesquisa e de reflexão crítica. Tal pressuposto

orienta o Projeto EMAI a colocar como meta o envolvimento de todos os

professores que atuam nos cinco anos iniciais do ensino fundamental em

situações de estudo e de reflexão sobre a atuação em sala de aula. Para tanto,

sua ação central é a constituição de Grupos de Educação Matemática dos

Anos Iniciais nas escolas, usando o horário destinado as aulas de trabalho

pedagógico coletivo (ATPC), com reuniões quinzenais de 2 horas/aula de

duração. O formato desses grupos é o de grupos colaborativos, organizados

pelo professor coordenador de Ciclo I, com atividades conduzidas com a

participação dos próprios professores (SÃO PAULO, 2012, p.9).

Assim, o projeto apresenta como um de seus compromissos envolver todos os

professores que atuam nos cinco anos iniciais do ensino fundamental, para tal, uma de suas

ações centrais é a constituição de Grupos Colaborativos de Estudo de Educação Matemática

dos Anos Iniciais nos polos de formação de formadores, nas Diretorias de Ensino - DE e nas

Unidades Escolares – UE.

A principal meta do Projeto EMAI é que gradativamente, as escolas se tornem um

lugar de formação, inovação, experiência e desenvolvimento profissional, como também,

lugar de pesquisa e reflexão crítica.

Uma preocupação do projeto é investir na formação continuada dos profissionais

envolvidos em suas ações, portanto, optou-se em iniciar a formação continuada no próprio

contexto de desenvolvimento do projeto ao constituir uma estrutura de apoio ao trabalho dos

Professores Coordenadores dos Núcleos Pedagógicos (PCNP) e Professores Coordenadores

(PC) em grupos de estudo, que conta com:

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33

Quadro 1: Distribuição dos Momentos de Formação do Projeto EMAI

1º GRM 2º Polos Regionais de Formação 3º Diretorias de Ensino 4º Escolas

32 PCNP

263 PCNP dos anos iniciais,

76 PCNP Especialistas em

Matemática,

91 Supervisores

1872 PC 20.271

Professores

Fonte: Equipe CEFAI, 2013.

1º A criação do Grupo de Referência de Matemática (GRM) composto por 32 PCNP

das Diretorias Regionais de Ensino, sendo 16 especialistas em anos iniciais e 16 especialistas

em Matemática, responsáveis pelo planejamento e desenvolvimento das ações do Projeto

junto à CGEB e à assessoria pedagógica do Projeto. Esse grupo se reúne quinzenalmente,

durante dois dias, para discutir conteúdos, elaborar propostas de materiais e analisar os

encaminhamentos necessários para a continuidade e realinhamento das ações.

2º A realização de reuniões nos 14 polos regionais de formação, que agregam os

demais PCNP dos especialistas dos Anos Iniciais e especialistas em Matemática das

Diretorias Regionais de Ensino. Os estudos se dão, no caso dos polos de formação, com

reuniões de oito horas com PCNP dos anos iniciais, especialistas em Matemática e

Supervisores de Ensino, organizados por uma dupla de PCNP, sendo um dos anos iniciais, e

um PCNP especialista em Matemática integrantes do Grupo de Referência de Matemática.

Quadro 2: Distribuição dos Polos de Formação do Projeto EMAI

Polos Diretoria por Polo

Número de

Professores

Atendidos

1 Norte 1 Norte 1, Norte 2, Centro e Centro-oeste Dados não

disponíveis.

2 Suzano

Guarulhos Sul, Guarulhos Norte,

Itaquaquecetuba, Suzano, Mogi das Cruzes 1283

3 Americana Americana, Mogi Mirim, Limeira, Piracicaba,

São João da Boa Vista 686

4 Presidente

Prudente

Andradina, Birigui, Penápolis, Araçatuba,

Adamantina, Presidente Prudente, Ourinhos,

Assis, Santo Anastácio, Tupã, Mirante do

Paranapanema

387

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5 São Carlos Catanduva, Taquaritinga, Araraquara, José

Bonifácio, São José do Rio Preto, Jaboticabal,

São Carlos, Pirassununga 596

6 Bauru Lins, Piraju, Bauru, Jaú, Botucatu, Marília,

Avaré 693

7 Jacareí Jacareí, Caraguatatuba, São José dos Campos,

Guaratinguetá, Pindamonhangaba e Taubaté 648

8 Leste 1 Leste 1, Leste 2, Leste 3, Leste 4 e Leste 5 1148

9 Campinas

Oeste

Bragança Paulista, Capivari, Jundiaí,

Sorocaba, Sumaré, Campinas oeste 1486

10 Campinas

Leste

Itu, São Roque, Votorantim, Campinas Leste,

Apiaí, Itapetininga, Itararé, Itapeva 502

11 Santo André Diadema, Mauá, Santo André, Centro-Sul, São

Bernardo do Campo, Sul 1 e Sul 2 2799

12 Carapicuíba Caieiras, Carapicuíba, Itapecerica da Serra e

Taboão da Serra 3713

13 São Vicente São Vicente, Santos, Miracatu, Registro e Sul

3 4268

14 Ribeirão

Preto

Ribeirão Preto, Fernandópolis, Barretos,

Votuporanga, Jales, São Joaquim da Barra,

Sertãozinho, Franca 944

Fonte: Equipe CEFAI, 2013.

3ª A realização de reuniões nas Diretorias Regionais de Ensino com os PC de cada

escola que serão os responsáveis pelos estudos a serem realizados nos Grupos Colaborativos

de Estudo nas escolas com os professores. A formação nas DE é quinzenal, de oito horas e

organizados pelo PCNP.

4º Nas Unidades Escolares este momento de estudo acontece no horário destinado a

atividades de trabalho pedagógicas coletivas - ATPC, com reuniões quinzenais de 2

horas/aula de duração de 50 minutos cada hora/aula para os professores, organizados pelo PC.

A pretensão da ação é que estes Grupos de Estudo se constituam como grupos

colaborativos, organizados, com atividades conduzidas e com a participação de todos os

envolvidos. Segundo o projeto, grupos colaborativos são aqueles em que todos os

componentes compartilham as decisões tomadas e são responsáveis pela qualidade do que é

produzido em conjunto, conforme suas possibilidades e interesses. Assim, ao trabalharem

juntos, os membros de um grupo se apóiam, visando atingir objetivos comuns negociados

pelo coletivo, estabelecendo relações que tendem à não hierarquização, liderança

compartilhada, confiança mútua e corresponsabilidade pela condução das ações.

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35

Com o intuito de potencializar esta ação a SEE/SP editou a Resolução SE 46, de 25-4-

2012 (ANEXO III), que dispõe sobre formação em serviço do Professor Educação Básica I, e

dá providências correlatas, no sentido de garantir a participação dos professores interessados.

Segundo a resolução:

O Secretário da Educação, considerando a significativa melhora do

rendimento escolar alcançada pelos alunos dos anos iniciais do ensino

fundamental no SARESP/2011, especificamente quanto à aquisição das

competências leitora e escritora, resultante da eficácia da implementação do

Programa Ler e Escrever; a importância que o desenvolvimento de ações

articuladas, de formação em serviço e de acompanhamento da prática

docente, representa para a equipe escolar, na elaboração do plano de ação; a

diversidade das condições de exequibilidade dessas ações nas escolas, que

continuam a reivindicar ampliação da reorganização dos tempos e espaços

escolares de forma a assegurar, com a eficácia desejada, na continuidade do

Programa Ler e Escrever, a aprendizagem dos demais conceitos e

conhecimentos relativos às disciplinas que integram o currículo do ensino

fundamental, em especial à Matemática; resolve: Artigo 1º - Os docentes

regentes de classe do segmento de 1º a 5º anos do ensino fundamental,

interessados em ampliar sua formação profissional, com aprofundamento de

conhecimentos, poderão, opcionalmente, a partir do corrente ano, fazer jus a

mais 2 (duas) horas semanais de trabalho, para participar de ações e reuniões

voltadas à melhoria da prática docente, previstas pelo Programa Ler e

Escrever, com especial ênfase ao ensino da Matemática (DIÁRIO OFICIAL

ESTADO DE SÃO PAULO, 2012, p. 18).

Para orientar os estudos e discussões a serem feitos pelos professores nos momentos

de ATPC, na concepção do projeto EMAI está muito presente a disposição de levar em conta

o conhecimento do trabalho dos professores, seus saberes e desafios cotidianos. Estão

presentes as ideias de Tardif (2000), indicando que o saber docente é um saber plural, oriundo

da formação profissional (o conjunto de saberes transmitidos pelas instituições de formação

de professores); de saberes disciplinares (saberes que correspondem ao diverso campo do

conhecimento e emergem da tradição cultural); curriculares (programas escolares) e

experienciais (do trabalho cotidiano). O ponto de partida do projeto apoiava-se na

desconstrução da ideia tradicional de que os professores são apenas aqueles que transmitem

saberes produzidos por outros grupos, para tanto o desafio é envolver aproximadamente

24.000 professores no processo de construção curricular em Matemática, ou seja, no pilar de

organização e desenvolvimento curricular.

No que se refere à avaliação das ações e do desempenho dos alunos, a proposta é

desenvolver um projeto envolvendo os professores na avaliação do currículo existente e

utilizar estes resultados em reformulações que se mostrarem necessárias, entendendo o

currículo como elemento dinâmico da prática educativa.

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Mediante a esse cenário, a presente pesquisa se dedicará nos próximos capítulos, a

analisar e compreender como os professores que atuam nos Anos Iniciais do Ensino

Fundamental da Rede Estadual Paulista interpretam e colocam em prática os diferentes tipos

de orientações curriculares, apresentados nos materiais curriculares de apoio ao professor

oferecidos pelos Projeto EMAI e entender, como utilizam esses materiais para ampliar os

conhecimentos numéricos de seus alunos.

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CAPÍTULO 2

IMPLEMENTAÇÃO CURRICULAR, MATERIAIS CURRICULARES E

PROFESSORES: LIMITES E POTENCIALIDADES DESTA RELAÇÃO -

REVISÃO DA LITERATURA

Tendo definidos nossos objetivos e objetos de pesquisa, neste capítulo nos

dedicaremos a realizar uma revisão da literatura, com o intuito de apresentar os pressupostos

dos autores que embasarão nossas análises e discussões.

Para compreender a relação entre professores e materiais curriculares temos como

aporte teórico as pesquisas de Matthew W. Brown (2009). Suas pesquisas dedicam-se em

definir o papel de cada um desses agentes em meio à relação estabelecida no cotidiano

escolar, bem como procuram categorizar as possíveis relações existentes, portanto trará luz a

essa pesquisa durante a análise dos dados levantados.

Matthew W. Brown é um dos integrantes de um grupo americano que pesquisa a

relação professor-currículo. O grupo organizado por Remillard, J. T; Herbel-Eisenmann, B. A.;

Lloyd, G. M. (2009) compilou e sintetizou no livro Mathematics Teachers at Work:

Connecting curriculum materials and classroom instruction, suas pesquisas sobre o uso de

materiais curriculares de matemática pelos professores e o impacto de materiais curriculares

no ensino e nos professores. Segundo os organizadores:

[...] Num todo, os capítulos do volume não apenas relatam resultados de

pesquisa empírica, mas também oferecem quadros e perspectivas sobre a

relação professor-currículo que pode orientar futuras pesquisas. Os

comentários oferecem pensamentos, questões e desafios que falam da

importância dos capítulos para pesquisa e prática (REMILLARD, J. T;

HERBEL-EISENMANN, B. A.; LLOYD, G. M., 2009, p.16).

Por reconhecer a possibilidade de que estas discussões fomentam e embasam tanto a

pesquisa como a prática, o grupo de pesquisa a qual faço parte Desenvolvimento Curricular

em Matemática e Formação de Professores, mais especificamente os integrantes do Projeto

Relações entre professores e materiais que apresentam o currículo de Matemática: um campo

emergencial voltaram seus estudos a essas contribuições. Para tal, os membros traduziram e

discutiram alguns dos capítulos desta obra. Cada um ficou responsável em traduzir e

apresentar aos demais o capítulo que mais se aproximasse de seu objeto de pesquisa, assim

todos poderiam se aproximar das discussões e usufruir dos subsídios.

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Uma vez que minha pesquisa e prática estão centradas na utilização de materiais

curriculares pelos professores como ferramenta para auxílio de sua prática pedagógica,

inicialmente apresento as discussões de Remillard, J. T; Herbel-Eisenmann, B. A.; Lloyd, G. M.

(2009), que definem o porquê entender a relação entre professores e materiais curriculares é

necessário.

Para ajudar a compreender-se e como as concepções e crenças dos professores

intervêm nos usos que fazem de materiais curriculares, nos serviremos dos apontamentos de

Alba Thompson (1997) e de Shulman (1986), que pontuam a biografia intelectual do

professor, biografia esta que se constitui como fonte de suas compreensões da disciplina que

ensina.

Em seguida, o foco volta-se para as contribuições de Matthew W. Brown (2009) que

trará decisivamente subsídios para a definição do papel de cada um destes agentes, professor e

materiais curriculares e, principalmente, as relações que estes podem estabelecer no cotidiano

pedagógico.

2.1 POR QUE DISCUTIR AS RELAÇÕES ESTABELECIDAS ENTRE O PROFESSOR

E OS MATERIAIS CURRICULARES?

Segundo autores como Remillard, J. T; Herbel-Eisenmann, B. A.; Lloyd, G. M. (2009), os

professores podem ser entendidos como peças fundamentais para os efeitos que os materiais

curriculares podem ou não causar nas aulas e no aprendizado das crianças. Sendo assim, é

necessário reconhecer que o professor possui um papel importante durante o desenvolvimento

de novos programas ou projetos, como também é fundamental analisar e compreender suas

escolhas e ações em relação ao uso destes materiais para identificar os limites desta relação,

pois, nesta perspectiva, suas escolhas podem potencializar ou não o processo de uma

implementação curricular.

Embora os materiais curriculares sejam idealizados para fundamentar e propagar

currículos prescritos, servindo portanto, a propósitos pré-estabelecidos, não podemos ignorar,

segundo estes autores, que são os professores os responsáveis diretos pela escolha de quais

materiais serão utilizados durante suas aulas e como estes serão utilizados.

Segundo os pesquisadores acima, o interesse por essas discussões surgiu em meados

dos anos 70 e vem crescendo significativamente desde a publicação das Normas do Conselho

Nacional de Professores de Matemática (NCTM), em 1989. A publicação destas normas não

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somente impulsionou a necessidade de melhor compreender o papel dos professores em

implantações curriculares, como excitou a revisão de livros didáticos de Matemática e de

programas curriculares. Esse movimento foi acompanhado por uma pressão intensa para que

as instituições escolares elevassem a nota de aproveitamento dos alunos e, por consequência,

fomentou a adoção de novos programas curriculares e a elaboração de novos materiais

curriculares.

Os programas curriculares são definidos por Remillard, J. T; Herbel-Eisenmann, B. A.;

Lloyd, G. M. (2009) como currículos prescritos e a ação pedagógica desenvolvida em sala,

como o currículo praticado. Para estes autores, o professor é o “elo crítico” entre ambos os

currículos, possuindo assim, por meio do currículo praticado, um papel fundamental no uso

dos materiais curriculares para a efetivação do currículo prescrito. Essa perspectiva evidencia,

portanto, a relevância de se compreender como os professores usam os materiais curriculares,

bem como quais são os fatores que influenciam este uso.

Este apontamento traz à tona a necessidade de reconhecer que o professor possui um

papel importante durante o desenvolvimento de novos programas ou projetos. Assim como, a

importância em compreender suas escolhas e ações em relação ao uso destes materiais para

identificar os limites desta relação.

Encontramos algumas problemáticas ao considerar que são os professores os

responsáveis em colocar em prática as implementações curriculares, por meio do uso de

materiais curriculares, uma vez que corremos o risco de diminuir o seu papel. Segundo os

pesquisadores essa noção assume que:

[...] embutidos nestes recursos está tudo o que um professor precisaria para

por em prática o currículo precisamente como previsto pelos

desenvolvedores. Em segundo lugar, este ponto de vista da implementação

sugere que o processo de colocar as ideias captadas em materiais curriculares

previamente concebidos em prática é simples e não envolve um

compromisso substancial, interpretação e tomada de decisão (REMILLARD,

J. T; HERBEL-EISENMANN, B. A.; LLOYD, G. M., 2009, p. 7).

Para evitarmos a delimitação do papel do professor, adotamos o uso de materiais

curriculares, como é definido por estes pesquisadores, como um conjunto de atividades

pedagógicas inter-relacionadas que inclui como os professores se envolvem ou interagem,

como e até que ponto dependem deles no planejamento e na prática de instrução, e o papel

que os recursos desempenham em sua prática. Portanto, em meio a essa discussão é

imprescindível entender e considerar o papel ativo deste sujeito e considerarmos que suas

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crenças, sua experiência profissional e sua compreensão da Matemática, influenciam

diretamente em suas decisões pedagógicas.

Para melhor compreender o papel ativo do professor no ensino da Matemática, no

próximo item, identificaremos seus conhecimentos, segundo os pressupostos de Shulmam

(1986), e como estes são integrados a prática pedagógica de acordo com as contribuições de

Thompson (1997).

2.2 AS CONCEPÇÕES E CRENÇAS DOS PROFESSORES E O ENSINO DA

MATEMÁTICA

Shulman (1986), ao traçar a biografia intelectual dos professores, seu conjunto de

entendimento, suas concepções e as orientações que possuem, ou melhor, que constituem a

base de suas compreensões da disciplina que ensinam, aponta que, estes profissionais

possuem três categorias de conhecimento do objeto de estudo: o conhecimento do conteúdo

do objeto de estudo, o conhecimento pedagógico do objeto de estudo e o conhecimento

curricular.

O autor descreve cada uma destas categorias, para tal, inicialmente delineia o

conhecimento do objeto de estudo, servindo-se dos estudos de Schwab (1978), que define

que:

Para pensar apropriadamente sobre o conhecimento do objeto de estudo é

preciso ir além do conhecimento de fatos e conceitos de um domínio. É

necessário o entendimento de estruturas da disciplina como definem os

estudos de Joseph Schwab. Para Swab, as estruturas de uma matéria incluem

as estruturas substantivas e sintéticas. As estruturas substantivas são os

vários modos que os conceitos e princípios básicos da disciplina estão

organizados para incorporar seus fatos. A estrutura sintética de uma

disciplina é o conjunto de formas no qual a verdade e a falsidade, validade e

invalidade, são estabelecidas. Quando existem alegações concorrentes a

respeito de um dado fenômeno, a sintaxe da disciplina proporciona as regras

para determinar qual alegação tem garantia. A sintaxe é como a gramática. É

o conjunto de regras para determinar o que é legítimo para ser dito no âmbito

disciplinar e para determinar o que “quebra” as regras (SCHWA, 1978, apud

SHULMAN, 1986, p. 9).

Portanto, o autor pontua que é de extrema importância que os professores tenham

conhecimento sobre o conteúdo que será seu objeto de ensino e ainda afirma que:

Esperamos que o entendimento de conteúdo do objeto de estudo do professor

seja pelo menos semelhante aos dos colegas de trabalho, o mero conteúdo

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aprendido em seu curso. O professor precisa não só entender que algo

funciona assim; o professor deve entender porque é assim, em quais

fundamentos isso é garantido e afirmado, e em quais circunstâncias nossa

crença nessa justificativa pode ser diminuída ou negada. Além disso, nós

esperamos que os professores entendam porque um dado tópico é

particularmente central para uma disciplina, ao mesmo tempo em que outro

pode ser de alguma forma periférico. Isso será importante nos julgamentos

pedagógicos subsequentes em relação à ênfase curricular relativa

(SHULMAN, 1986, p. 16).

No entanto, para o autor conhecer somente o conteúdo do objeto de estudo não é

pedagogicamente o suficiente e deve ser articulado apropriadamente ao conhecimento

pedagógico do objeto de estudo. Em relação a este conhecimento coloca que:

Dentro da categoria de conhecimento pedagógico do objeto estudado, eu

incluo, para os tópicos mais ensinados em uma área disciplinar, as formas

mais úteis de representação dessas ideias, as analogias mais poderosas,

ilustrações, exemplos, explicações, e demonstrações enfim: as formas de

representar e formular o tópico que o faz mais compreensivo para outros.

Pelo fato de não haver eficientes formas isoladas de representação, o

professor deve ter em mãos um verdadeiro arsenal de formas alternativas de

representação, algumas das quais derivam de pesquisas enquanto outras

originam de experiências práticas. O conhecimento pedagógico do objeto

estudado também inclui a percepção do que faz a aprendizagem de assuntos

específicos tornar fácil ou difícil: as concepções e pré-concepções que os

alunos de diferentes idades trazem com eles para a aprendizagem dos tópicos

e lições mais frequentemente ensinados. Se essas pré-concepções são

concepções errôneas, que geralmente são, os professores precisam de

conhecimento de estratégias mais precisas afim de reorganizar o

entendimento do aprendiz, pois é muito improvável que esses aprendizes não

tenham conhecimentos prévios (SHULMAN, 1986, p. 16-17).

Assim, como dito anteriormente, conhecer o conteúdo é importante, no entanto,

articular este conhecimento ao conhecimento pedagógico é essencial para potencializar o

ensino e consequentemente a aprendizagem do aluno.

Shulman (1986), ainda traz um terceiro conhecimento que considera de suma

importância que o professor tenha, pois contribuirá e muito para a prática pedagógica, o

conhecimento curricular, segundo o autor:

Se formos negligentes regularmente ao não ensinar o conhecimento

pedagógico para nossos estudantes em nossos programas de educação para

professores, seremos muito mais negligentes a respeito da terceira categoria

do conhecimento do objeto estudado, o conhecimento curricular. O currículo

é representado por uma grande quantidade de programas designados para o

ensino de matérias e tópicos particulares de dado nível, pela variedade de

materiais instrucionais disponíveis em relação a esse programa, e por um

conjunto de características que servem tanto como indicações quanto como

contra-indicações para o uso de um currículo particular ou materiais de

programas em circunstâncias particulares. O currículo e seus materiais

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associados são a matéria médica da pedagogia, a farmacopéia dos quais

professores retiram ferramentas de ensino que apresentam ou exemplificam

um conteúdo particular e remediam ou avaliam a adequação das realizações

do estudante. Nós esperamos que um médico experiente entenda todos os

diferentes tratamentos disponíveis para melhorar uma certa desordem, assim

como as alternativas para circunstâncias particulares de sensibilidade, custo,

interação com outras intervenções, conveniência, segurança ou conforto.

Similarmente, nós temos que esperar que o professor maduro tenha tais

entendimentos sobre alternativas curriculares para instrução (SHULMAN,

1986, p. 17).

O conhecimento curricular do objeto que se quer ensinar, nesta perspectiva, torna-se

imprescindível para potencializar a prática pedagógica e se alcançar os objetivos de

aprendizagem.

Para Shulman (1986) ainda, é necessário que o professor conheça os materiais

curriculares alternativos para uma dada matéria ou tópico do ano de escolaridade que está

trabalhando. Isto posto, o desafio deste profissional da educação é muito maior do que utilizar

materiais curriculares, consiste em ter conhecimentos de conteúdo, pedagógico e curricular do

objeto de estudo, neste caso a Matemática, a fim de articular estes conhecimentos a seu favor

ao utilizar os materiais curriculares disponíveis.

Identificar que os professores possuem conhecimento do conteúdo, curricular e

pedagógico do objeto de estudo, é de extrema importância, no entanto, segundo Thompsom

(1997), não é o suficiente para entender como os professores interagem seus conhecimentos

matemáticos na prática pedagógica, e que papel suas crenças e concepções de matemática

podem ter no ensino. Para a autora,

Os professores desenvolvem padrões de comportamento característicos de

sua prática pedagógica. Em alguns casos, estes padrões devem ser

manifestações de noções, crenças e preferências, conscientemente

sustentadas, que saem como “forças motrizes” na formação do seu

comportamento. Em outros casos, as forças motrizes podem ser crenças ou

intuições, inconscientemente sustentadas, que podem ter evoluído fora da

experiência do professor (THOMPSON, 1997, p. 13).

Portanto, não se pode ignorar que seja de forma inconsciente ou consciente que os

professores desenvolvem padrões de comportamento, muitas vezes sendo manifestações de

suas crenças e preferências. Para a autora, os professores não desenvolvem esses padrões de

comportamento por intuição ou por instinto, mas pelas interações que estabeleceram em suas

experiências profissionais com o processo de ensino e de aprendizagem, logo, por meio de

crenças e concepções adquiridas racionalmente em sua prática diária. Assim, [...] “na medida

em que o comportamento do professor é racional, é razoável assumir que suas concepções

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sobre o conteúdo e o seu ensino terão alguma influência em suas ações” (THOMPSON, 1997,

p. 13), sendo responsável também pela forma com que coloca ou não em prática o uso de

materiais curriculares.

Para a autora ainda,

Se os padrões característicos do comportamento dos professores são

realmente uma função de seus pontos de vista, crenças e preferências sobre o

conteúdo e seu ensino, então qualquer esforço para melhorar a qualidade do

ensino de matemática deve começar por uma compreensão das concepções

sustentadas pelos professores e pelo modo como estão relacionadas com sua

prática pedagógica (THOMPSON, 1997, p. 14).

Para compreender quais são estas crenças e concepções presentes na prática

pedagógica, nos serviremos da análise comparativa realizada por Thompson (1997), esta

análise teve como fundamentação o estudo de caso de três professoras durante o ensino de

conteúdos matemáticos. O acompanhamento de suas práticas permitiu identificar três aspectos

das concepções e dos comportamentos das professoras que as diferenciam marcadamente:

Primeiro aspecto, as diferenças nos elementos específicos das concepções de

Matemática e de ensino de Matemática. A autora identifica que este item está inicialmente

relacionado à visão dos professores sobre a Matemática, ao ser entendida como um produto

acabado, alguns profissionais adotam uma abordagem de ensino apenas conceitual,

concebendo a matemática como um conjunto de tópicos integrados e inter-relacionados. Nesta

mesma perspectiva, outros profissionais ainda adotam uma abordagem de ensino apenas

mecânica, como um conjunto de regras e procedimentos que servem para descobrirmos

respostas de questões específicas.

Em contrapartida, existem os profissionais que assumem uma visão dinâmica da

Matemática, a compreendendo como uma ciência viva e em construção e, portanto, abordando

em sua prática de ensino processos criativos e geradores de discussão. Sendo assim, aqui

temos visões que são extremos, a Matemática como produto acabado de um lado e a

Matemática como uma ciência viva do outro.

Estas formas de ver a Matemática, segundo Thompson (1997), influenciam

diretamente em crenças como do controle do processo de ensino, melhor dizendo, no papel

que desempenham professor e aluno durante o processo de ensino e de aprendizagem.

Ao entender a Matemática como um produto acabado, alguns professores demonstram

crer que devem ter o controle total das atividades desempenhadas pela sala, portanto sua

responsabilidade é dirigir e controlar. Assim, não se considera o processo do aluno em busca

das repostas, mas se valoriza as respostas desde que estejam corretas. Sob essa perspectiva,

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outros professores acreditam que seu papel é demonstrar os procedimentos que devem ser

desempenhados pelos alunos e somente então, permitir que realizem atividades de forma

independente. Nesta abordagem a habilidade do aluno é medida conforme sua capacidade de

seguir e verbalizar os procedimentos ensinados e em ambas as perspectivas, o papel do

professor está no centro da ação e o do aluno de receptor de conhecimentos.

No outro extremo, ao compreender a matemática como dinâmica, cabe tanto ao

professor quanto ao aluno um papel ativo no processo de ensino e de aprendizagem. O

professor oferece e acompanha os alunos em situações exploratórias, como também valoriza

as manifestações de suas habilidades em integrar seus conhecimentos na busca de soluções

para as tarefas matemáticas.

A crença acerca do planejamento e do preparo das aulas também é sustentada por estes

pontos de vista. Ao entender que o ensino de Matemática se define pelo ensino de

procedimentos, o professor não entende que existam grandes benefícios em planejar suas

aulas e muitas vezes acham que o planejamento delimita sua aula.

Por outro lado, os profissionais que optam por ter o controle total de suas aulas, usam

seus planos como roteiros mentais e acabam engessando-as. E os educadores que entendem o

dinamismo da matemática, planejam para fortalecer seus conhecimentos e para antecipar

possíveis dúvidas dos alunos, permitindo certa flexibilidade durante a aula. Embora em

perspectivas metodológicas diferentes em relação ao planejamento, ambos apontaram que

planejar é uma etapa essencial no sentido de assegurar a qualidade do ensino.

Uma última diferença é apontada neste aspecto em relação aos objetivos globais e os

objetivos do ensino de Matemática. Os resultados práticos são mais importantes para aqueles

que baseiam seu trabalho no controle e direcionamento. Estes profissionais preocupam-se

com o interesse dos alunos pela matemática, mas pontuam que esse interesse é algo além de

seu controle, enquanto para os outros profissionais os resultados disciplinares do estudo da

Matemática são mais importantes, bem como tornar suas aulas mais animadas e envolver os

estudantes em atividades que melhorem sua relação com a Matemática.

Segundo aspecto, as diferenças nas integrações das concepções das professoras. Esta

dimensão está relacionada à capacidade do professor de reconhecer que possui crenças

contraditórias a sua ação e de agir para modificá-las, esse processo é denominado por

Thompson (1997), como um sistema conceitual integrado. Podemos entender que, alguns

profissionais conseguem em meio a sua prática relacionar suas crenças, colocá-las em

conflito, reconhecer sua origem, suas limitações e que nem sempre estas crenças são

generalizáveis em suas práticas. Somente conseguem estabelecer essas relações, aqueles que

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possuem um sistema conceitual integrado, que possibilita agir sobre as crenças, como também

modificar a prática do professor. Ao contrário, aqueles que não possuem um sistema

conceitual integrado são totalmente limitados por suas crenças, por exatamente não fazerem

essas relações e por colocarem em prática crenças que se contradizem. A autora atribui esse

movimento a uma maior ou menor capacidade do profissional em refletir sobre suas ações,

suas crenças e sobre os conteúdos da matéria.

Terceiro aspecto, as diferenças na reflexão dos professores sobre suas ações

pedagógicas, sobre o conteúdo e suas crenças. Este aspecto está diretamente relacionado aos

outros dois e ao seu costume e predisposição, ou não, para pensar sobre suas ações em relação

às suas crenças, aos seus alunos e no conteúdo da matéria. Alguns profissionais reconhecem a

necessidade de refletir sobre suas crenças, pois identificam os benefícios que este processo de

reflexão traz para o processo de ensino e de aprendizagem. Em contrapartida, existem aqueles

que estão tão presos as suas visões, que dificilmente entendem que precisam repensar suas

crenças, pois não reconhecem que estas não contribuem para sua prática pedagógica.

Pontuar esses três aspectos das concepções e dos comportamentos dos professores

permite dizer, segundo a pesquisadora, que estes não estão relacionados de uma maneira

simples com as decisões e os comportamentos pedagógicos, ao contrário, esta é uma relação

extremamente complexa, pois muitos são os fatores que interferem em suas decisões.

Entretanto, podemos afirmar segundo Thompson (1997),

[...] crenças, visões, e preferências dos professores sobre a matemática e seu

ensino, desconsiderando-se o fato de serem elas conscientes ou não,

desempenham, ainda que sutilmente, um significativo papel na formação dos

padrões característicos do comportamento docente dos professores. Em

particular, a consistência observada entre as concepções de matemática

professadas pelas professoras e o modo pelo qual elas tipicamente

apresentaram o conteúdo, sugere fortemente que as visões, crenças e

preferências dos professores sobre a matemática influam sobre sua prática

docente (THOMPSON,1997, p. 40).

Com base nesta afirmação destacamos que, para discutir a relação estabelecida entre o

professor e os materiais curriculares, será necessário muito mais do que reconhecer a

importância histórica de cada um destes sujeitos para ao processo de implementação

curricular, e para o ensino e a aprendizagem dos alunos, é necessário reconhecer e

compreender que estes profissionais possuem saberes, crenças e concepções que interferem

totalmente em sua prática pedagógica e, portanto nas escolhas e nos usos que fazem dos

materiais curriculares.

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46

Tendo como referencial os apontamentos realizados até o momento reconhecemos que

o professor é “elo crítico” entre currículo prescrito e currículo praticado, que nesta pesquisa

chamaremos de currículo moldado pelo professor. Reconhecemos também que os materiais

curriculares são recursos para propagar o currículo prescrito, assim, nos dedicaremos no

próximo momento a compreender melhor a relação entre esses agentes (professor e materiais

curriculares), o papel que cada agente desempenha e os limites e potencialidades desta

relação.

2.3 CONHECENDO MELHOR A RELAÇÃO ENTRE PROFESSORES E MATERIAIS

DIDÁTICOS

Para discutir a relação professor e materiais curriculares adotaremos a perspectiva de

Brown (2009), com o intuito de discutir a importância de ambos agentes para o currículo.

Compreender a relação estabelecida por estes sujeitos se justifica devido à frequência com

que os materiais curriculares são usados por desenvolvedores de currículo e por políticos,

como ferramenta para influenciar a formação dos professores e o ensino e a aprendizagem dos

alunos.

Brown (2009) explica como entende a relação do professor com materiais curriculares

(ferramentas) com uma analogia, assim, descreve a interpretação de diferentes músicos de

uma mesma canção e esclarece que, apesar da base ser a mesma, ou seja, uma única música,

de fácil identificação (semelhanças essenciais), as interpretações são distintamente diferentes

(diferenças óbvias e menos óbvias), pois cada intérprete deixa suas influências e seu trabalho

criativo. Portanto, os professores são como músicos que possuem suas próprias interpretações

durante a prática pedagógica no uso do mesmo material curricular.

O autor amplia essa analogia com a música para definir os materiais curriculares como

uma ferramenta e discute que, os professores ao planejar suas aulas confiam nos materiais

curriculares, assim como, os músicos confiam nas partituras. Desta maneira, os materiais

curriculares são ferramentas para conduzir e reproduzir concepções, formas e práticas

curriculares, como a partitura é ferramenta para a execução de uma música.

Se entendermos os materiais curriculares desta forma, ou seja, como uma ferramenta,

um recurso para a implementação curricular podemos apontar que, os professores interpretam

as várias palavras e representações destes materiais para dar vida ao currículo, assim como a

partitura é interpretada para dar vida à canção.

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Em relação a estes materiais ainda, o pesquisador os assemelha a artefatos. Para expor

sua ideia descreveremos, a seguir, os três propósitos apresentados pelo autor:

Primeiro, para ele os artefatos são criados através de uma transformação deliberada

por parte do meio ambiente para fins de sobrevivência e incluem as ferramentas físicas que

usamos, bem como a linguagem (WARTOFSKY, 1973 apud BROWN, 2009).

Segundo, estes artefatos têm como uma de suas características fundamentais ajudarem

as pessoas a atingir metas que elas não poderiam realizar por conta própria, como por

exemplo, o artefato vara, no salto em vara (WERTSCH 1998 apud BROWN, 2009).

Terceiro, estes artefatos mediam a atividade de duas maneiras muito específicas pela

perspectiva do “meio–cheio” (disposições e potencialização) e pela perspectiva “meio–vazio”

(limitações). “A perspectiva do "meio cheio" enfatiza o potencial, permitindo a mediação dos

artefatos. [...] Por exemplo, alicates enviam uma mensagem de forte percepção de que eles são

para agarrar um objeto” (BROWN, 2009, p 20). Já a perspectiva de “meio-vazio”,

[...] assinala que as ferramentas que usamos não só abrem as portas às novas

experiências, mas também colocam restrições importantes sobre a atividade.

De acordo com este ponto de vista, a nossa capacidade de agir sobre a

realidade é inerentemente limitada, ou restringida, pelas ferramentas que

usamos. [...] Considere, por exemplo, um guia de viagem. Esta ferramenta -

ou seja, um livro contendo mapas, descrições de atrações e sugestões de

itinerários - serve para definir um conjunto de possibilidades para visitar um

lugar novo: aonde ir, como chegar lá, quanto tempo permitir, e como

interpretar o que se vê. Ao fazer isso, o guia de viagem ajuda a dar sentido e

coerência a um conjunto de outra forma ilimitada de possibilidades,

oferecendo restrições significativas. Ao invés de serem enquadradas como

obstáculos (como o termo implica, muitas vezes), essas restrições podem ser

interpretadas, em termos, de como eles definem a natureza da tarefa e como

eles fornecem limites claros que definem a atividade (BROWN, 2009, p 20).

Com vistas a estes três propósitos atribuídos aos artefatos, ou seja, serem criados de

acordo com uma necessidade, mediar uma situação que não poderia ser resolvida sem um

recurso, viabilizar ou restringir a ação do sujeito, os autores os pontuam definitivamente como

recursos necessários.

Com base nesta discussão entendemos assim como Brown (2009), que os materiais

curriculares atendem a estes propósitos, caracterizando-se desta forma como recursos

necessários para auxiliar a prática pedagógica do professor. Resumindo, os materiais

curriculares são criados de acordo com uma necessidade, mediam uma situação que não

poderia ser resolvida sem um recurso e viabilizam ou restringem a ação do sujeito, sendo

assim, recursos necessários.

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Para Brown (2009) ainda, o ensino é de muitas maneiras uma atividade de

planejamento. Faz parte deste processo de planejar, avaliar as limitações da sala de aula, as

compensações de equilíbrio e elaborar estratégias em busca de objetivos de ensino.

Ao planejar, o professor se depara com alguns fatores como o papel desempenhado

pelos materiais curriculares de ora viabilizar e ora restringir suas ações; o fato de que cada

profissional da educação percebe e utiliza tais materiais curriculares de maneiras diferentes,

dada a sua experiência, intenção e habilidade e com a questão de que, o ensino por

planejamento não é tanto uma escolha consciente, como uma realidade inevitável.

Segundo o pesquisador, quando planejam sua prática docente, os professores primeiro

selecionam os materiais de acordo com seus conhecimentos, crenças, habilidades e objetivos

ou, adotam por obrigação. Segundo, interpretam e estudam estes artefatos. Terceiro,

reconciliam, ou seja, articulam seus objetivos com os dos materiais. Quarto acomodam os

materiais à realidade da sala. E por fim, podem adicionar seus próprios recursos, podem

modificar ou omitir partes de acordo com seus interesses e com suas capacidades. Esse

movimento aponta que a relação professor-ferramenta envolve influências bidirecionais que

aqui traduzimos em duas indagações: como os artefatos curriculares, por meio de suas

disposições e restrições, influenciam os professores? Como os professores, por meio de suas

percepções e decisões, mobilizam os artefatos curriculares?

Para responder a tais indagações as contribuições do autor apresentam três construções

teóricas:

Inicialmente defende que as interações dos professores com materiais didáticos

podem ser entendidas em termos de diferentes graus de apropriação, são elas a

reprodução, a adaptação ou a criação.

Em seguida, analisa essa relação por meio do quadro que denomina como

Design Capacity for Enactment (DCE) - A capacidade do planejamento para

promulgação - ponderando as interações que ocorrem entre as características

dos materiais curriculares e as capacidades dos próprios professores.

Por fim, apresenta a necessidade de se discutir a capacidade de planejamento

pedagógico dos professores, isto é, sua capacidade de perceber e mobilizar os

recursos existentes, a fim de criar contextos de ensino.

Quanto aos tipos de uso do currículo: reprodução, adaptação e criação, o autor destaca

que

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estes três tipos de uso caracterizam diferentes formas em que professores

adaptam os recursos curriculares em seus planejamentos, resultando em

diferentes distribuições dos agentes que orientam a instrução do professor e

os recursos de ensino disponíveis. Com base nos recursos pessoais e

materiais, os professores podem criar um episódio de ensino em que eles

confiam em tarefas, planilhas e nas etapas pedagógicas dos materiais

(reproduzindo), ou podem criar um episódio em que eles elaboram uma

estratégia espontânea para provocar os estudantes à discussão em um

laboratório (improvisando). Cada possibilidade representa um caso

específico de planejamento baseado em tomada de decisão (EDELSON,

2002), em que os professores determinam como usar materiais instrucionais

para atingir seus objetivos (BROWN, 2009, p 25).

O uso de materiais curriculares desta forma, está relacionado à tomada de decisão dos

professores durante o planejamento de suas aulas, tendo assim uma gama de possibilidades

que provavelmente serão influenciadas por suas crenças, seus valores e suas concepções a

respeito de materiais. O pesquisador acrescenta a essa discussão a seguinte afirmação, “cada

decisão envolve a sua própria consideração dos objetivos de ensino, as necessidades dos

alunos e a melhor forma de utilizar os recursos disponíveis para alcançar os resultados

desejados” (BROWN, 2009, p 25).

É importante destacar que essa tomada de decisão não está relacionada à experiência

do professor e que não existe um grau de hierarquização entre os tipos de uso, ou seja, um

tipo de uso não é considerado superior aos outros. A noção de reprodução que significa usar

as orientações oferecidas de forma literal, por exemplo, pode ser relacionada à confiança e

representa uma decisão consciente do professor por acreditar que o material oferecido possui

o necessário para que alcance os seus objetivos de ensino. De mesmo modo, criar não

significa improviso, mas tomada de decisão intencional para atender a realidade de sua sala.

Segundo o pesquisador, “a distinção entre as decisões do professor que envolve

reproduções, adaptações e criação revelam as diferentes formas pelas quais os materiais

podem contribuir para o oficio do ensino” (BROWN, 2009, p 25).

Ele completa ainda que

compreender como os professores adaptam os artefatos curriculares no seu

ofício diário pode ajudar o currículo e os elaboradores de desenvolvimento

profissional a criarem materiais que sejam mais úteis para professores e

profissionais com experiência na aprendizagem, que os apóiem no uso

desses materiais para atender seus objetivos. Esse entendimento também

pode contribuir para a investigação sobre o ensino, esclarecendo aspectos

particulares da prática docente (BROWN, 2009, p 25).

Tendo estes apontamentos como referencial, durante nossa análise, poderemos

identificar no contexto escolar observado, se e como se dão cada um desses tipos de uso.

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Definido os tipos de uso, faz se necessário discutir e compreender as especificidades

de ambos agentes, materiais e professores. Para tal, vamos analisar o quadro da capacidade do

planejamento para promulgação apresentado e ilustrado por Brown (2009) pela seguinte

figura:

Figura 6: A capacidade do planejamento para a promulgação

Fonte: Brown, 2009, p.26

Segundo autor este quadro

captura os diferentes elementos da dinâmica professor-ferramenta e

representa os diferentes tipos de interações que ocorrem entre os recursos

dos professores e os recursos curriculares, como os professores adaptam,

adotam ou improvisam com os recursos curriculares. Por um lado, o quadro

abrange o conhecimento dos professores, habilidades, objetivos e crenças e

como elas influenciam as maneiras que os professores percebem e se

apropriam dos diferentes aspectos dos planejamentos curriculares. Por outro

lado, o quadro abrange as características de um planejamento e dos

conhecimentos incorporados que compõem os materiais curriculares -

incluindo representações de ação, representações de conteúdo e

representações de objetos físicos. Esses aspectos refletem as intenções

implícitas e explícitas dos elaboradores do currículo (BROWN, 2009, p 27).

Ao lado esquerdo da figura encontramos os Recursos Curriculares, neste caso os

materiais curriculares, que apresentam três aspectos:

Os objetos físicos e as representações de objetos físicos, estes denotam a

natureza material dos materiais curriculares em si mesmos, incluindo

suprimentos de acompanhamento, no entanto, as representações de objetos

Resultados Instrucionais

Tipos de Uso Reprodução, Adaptação

e criação Recursos

Curriculares

Objetos Físicos

Procedimentos Representações de Domínio

Recursos

Professores

Conhecimento Pedagógico do

Conteúdo

Objetivos e

Crenças

Conhecimento

do Assunto

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físicos representam materiais que são recomendados, mas não incluídos dentro

dos materiais curriculares;

As representações de domínio ou de conceitos que se referem à forma e a

organização de conceitos e conteúdos, suas relações como diagramas, modelos,

explicações, descrições e analogias.

Por fim, as representações de tarefas, os procedimentos, ou melhor, as

representações de tarefa que incluem instruções, procedimentos e scripts que

são destinados à aprovação de professores e alunos. Estes podem incluir

recomendações sobre como estruturar uma aula (para os professores) ou

problemas para resolver (para estudantes).

Já ao lado direito, encontramos os Recursos dos Professores que apresentam mais

três aspectos:

O conhecimento do conteúdo, que denota o conhecimento dos fatos e conceitos do

conteúdo.

O conhecimento pedagógico do assunto, que reúne em geral conhecimentos

pedagógicos com conhecimento de domínio, para descrever o conhecimento de

como ensinar um conteúdo particular.

E os objetivos e crenças, o qual expressam "compromissos" - referentes às

orientações dos professores para com o material que ensinam. A natureza dos

objetivos e crenças dos professores é altamente relevante para a compreensão de

como os professores percebem e se apropriam dos materiais curriculares.

Identificar a existência destes aspectos é um ponto de partida segundo o pesquisador,

para compreender que relação se estabelece entre materiais curriculares e professores, uma

vez que situam os fatores que podem influenciar como um professor adapta, reproduz, ou cria

com os recursos curriculares. Mas ressalta que outros fatores podem explicar tal relação,

como o contexto em que foi instituído certo material, o ambiente escolar etc.

Entendemos que em meio a nossa análise sobre a relação estabelecida entre professor

e materiais curriculares, ao identificar a existência dos tipos de uso podemos nos apoiar na

descrição da figura 6, para melhor entender e pontuar as características de ambos agentes,

bem como as consequências dessa relação.

Quanto à capacidade do Planejamento Pedagógico - Pedagogical Design Capacity

(PDC) – que se refere à habilidade do professor em perceber as disposições dos materiais e

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tomar decisões sobre como usá-los para planejar suas aulas e alcançar seus objetivos de

ensino. O conceito de capacidade pedagógica do planejamento sugere que pode ser possível o

planejamento de materiais e o desenvolvimento profissional, de maneira a facilitar diferentes

tipos de uso produtivo do currículo por professores. Os professores que possuem elevadas

capacidades de planejamento podem desconstruir materiais curriculares, reconhecer seus

elementos essenciais e reconstruí-los, a fim de atender às suas necessidades. Mas os

professores com menos capacidade para o planejamento pedagógico, precisam de apoio

adicional para determinar as diferentes maneiras que um modelo curricular pode ser utilizado

para atingir objetivos de ensino.

Nesta construção fica explícita a ideia de que o uso de um material curricular, além de

ser um recurso para o planejamento e para a prática em sala de aula, pode caracterizar-se

como um material formativo, potencializando assim, os conhecimentos didáticos e de

conteúdo do profissional da educação.

Cabe ressaltar que a capacidade pedagógica do planejamento indica, para este

pesquisador, a habilidade de um professor em perceber a disposição, tomar decisões e

acompanhar planos, não tendo como foco simplesmente identificar se o profissional adota

reproduções, adaptações ou criações. Para ele, é a desenvoltura de articular vários modos de

uso conjunto e em organizar as várias peças da sala de aula, que determinam a capacidade

pedagógica do planejamento. A capacidade pedagógica do planejamento “descreve a maneira

e o grau em que os professores criam intencionalmente, planejamentos produtivos que ajudam

a realizar seus objetivos educacionais” (BROWN, 2009, p. 30).

Uma vez definido o papel do professor como agente de efetivação ou não do currículo

e dos materiais curriculares como ferramenta ou recursos necessários, que a relação entres

esses agentes se dá pelo uso que pode ser por reprodução, adaptação e criação, variando

conforme as características de ambos., vamos analisar, como um grupo de 4 professoras dos

Anos Iniciais do Ensino Fundamental interagem com um material curricular de Matemática

para ensinar números naturais e sistema de numeração decimal. Que elementos/características

do material possibilitam a essas professoras melhor apropriação das concepções subjacentes.

Como os materiais curriculares dialogam com as concepções e crenças dos professores para o

ensino dos números naturais e sistema de numeração? Que fatores podem interferir nas

diversas formas de uso dos materiais?

Antes de nos dedicar a essa análise, é necessário ainda direcionarmos o nosso olhar e

definir a perspectiva aqui adotada para o ensino e a aprendizagem dos números naturais e

sistema de numeração, definição essa que será realizada no próximo capítulo segundo os

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estudos de Piaget (1964), Kamii (2012), Fayol (1996), Lerner e Sadovsky (1996) e Pires

(2013).

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CAPÍTULO 3

O ENSINO E A APRENDIZAGEM DOS NÚMEROS NATURAIS E SISTEMA

DE NUMERAÇÃO DECIMAL

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, a Matemática surgiu “na Antiguidade

por necessidades da vida cotidiana, converteu-se em um imenso sistema de variadas e

extensas disciplinas, como as demais ciências, reflete as leis sociais e serve de poderoso

instrumento para o conhecimento do mundo e domínio da natureza” (BRASIL, 1997, p.19).

Esta ciência atualmente ainda é entendida como um poderoso instrumento para o

conhecimento do mundo, destacando-se como uma das disciplinas mais exploradas nos

currículos escolares.

De acordo com os PCN (BRASIL, 1997) ainda, no tocante do ensino e da

aprendizagem da Matemática é necessário considerarmos três variáveis: o aluno, o professor e

o conhecimento matemático. Em relação ao aluno, o documento ressalta a importância de

conhecer sua vivência e os conhecimentos informais que possui. Quanto ao professor, aponta

que este profissional precisa ter claro suas concepções em relação à Matemática, pois estas

influenciarão diretamente em suas escolhas didáticas (conteúdo, objetivos e avaliação). Por

fim, em relação ao conhecimento matemático, discute que é uma ciência e que precisa ser

entendida como tal, que possui características pontuais como métodos, ramificações e

aplicações.

Articular essas três variáveis no processo de ensino e de aprendizagem é necessário,

uma vez que somente ao conhecer as diversas possibilidades de trabalhos em sala de aula é

que cada profissional da educação poderá construir sua prática e atingir seus objetivos de

aprendizagem.

Nós destacamos neste estudo, os conteúdos matemáticos propostos para os Anos

Iniciais do Ensino Fundamental que atende aos alunos do 1º ao 5º ano. Os conteúdos

desenvolvidos nesta faixa etária estão divididos nos PCN (1997) em quatro Blocos, essa

divisão é justificada pelo documento devido ao caráter de essencialidade ao desempenho das

funções básicas do cidadão, são eles: I - Números e Operações, II - Grandezas e Medidas, III -

Espaço e Forma e IV - Tratamento da Informação.

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O currículo prescrito pela SEE adota em suas Orientações Curriculares2 referências

trazidas pelo PCN (1997), porém divide os blocos de conteúdos de forma diferente, estes

estão distribuídos em quatro grandes eixos para os alunos do 1º ao 3º ano: o primeiro é

Números Naturais, Sistema de Numeração Decimal e Operações com Números Naturais, o

segundo Espaço e Forma, o terceiro Grandezas e Medidas e o quarto Tratamento da

Informação. Esta organização se diferencia para os alunos de 4º e 5º ano ao incluir um quinto

eixo, o dos Números Racionais.

São amplas as possibilidades de discussões que o currículo prescrito pela SEE nos

fornece, no entanto, para melhor acompanhar a prática pedagógica no cotidiano escolar

optamos por observar como os professores se relacionam com os materiais curriculares para o

ensino dos números naturais e do sistema de numeração decimal (SND).

Segundo os PCN (1997),

Ao longo do ensino fundamental os conhecimentos numéricos são

construídos e assimilados pelos alunos num processo dialético, em que

intervêm como instrumentos eficazes para resolver determinados problemas

e como objetos que serão estudados, considerando-se suas propriedades,

relações e o modo como se configuram historicamente (BRASIL, 1997,

p.19).

Conforme coloca o documento, os alunos constroem e assimilam seus conhecimentos

numéricos ao longo da escolaridade, não ficando a cargo de um único ano esta função, mas

sim de um processo gradativo.

Foi por reconhecer a importância deste processo que escolhemos dentre os outros

conteúdos, o eixo números naturais e SND. Percebemos com o acompanhamento de

professores, que estes nem sempre reconhecem que o conceito do número é construído em

meio a um processo gradativo que perpassa todo os Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

Em meus acompanhamentos identifiquei que um número significativo de professores

intensificam o trabalho com números somente no 1º e 2º ano da escolaridade e aos poucos

diminuem esse trabalho, pressupondo que os alunos já sabem tudo que deveriam saber. Essa

questão parece ser muito marcante no 3º e 5º ano, anos estes, escolhidos para as nossas

discussões, uma vez que o 3º ano é considerado o final do ciclo de alfabetização e o 5º como o

fechamento de todo um ciclo. Desse modo, em ambos os casos supõem-se que conhecimentos

básicos como o conceito de número já tenha se constituído.

2 Fonte: < http://lereescrever.fde.sp.gov.br/SysPublic/InternaMaterial.aspx?alkfjlklkjaslkA=301&manudjsns=2&tpMat=0&

FiltroDeNoticias=3> acesso em 17_02_2014

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Neste capítulo iremos apresentar algumas referências sobre como construímos o

conceito de número, inicialmente nos voltamos a conhecer as primeiras contribuições sobre o

tema por meio dos estudos de Piaget (1964) e de Kamii (2012), em seguida retomamos as

contribuições mais recentes com Fayol (1996) e Lerner e Sadovsky (1996) e para finalizar

essa referencial pontuamos contribuições nacionais com Pires (2013). Esta breve retomada

histórica procura pontuar o dinamismo e a ampliação das pesquisas sobre o tema, existentes

com o passar dos anos.

Após este breve histórico em relação ao conteúdo números naturais e SND nos

deteremos em perceber se e como essas contribuições podem ser identificadas no Currículo da

SEE e nas atividades propostas no âmbito do Projeto EMAI.

3.1 AS PRIMEIRAS REFERÊNCIAS SOBRE O TEMA

Para Piaget (1964), “todo conhecimento seja ele de ordem científica ou se origine do

simples senso comum, supõe um sistema, explícito ou implícito, de princípios de

conservação” (PIAGET, 1964, p.23). O autor aponta ainda que:

Dito isso, é evidente que o pensamento aritmético não escapa a tal regra. Um

conjunto ou uma coleção não são concebíveis a não ser que seu valor total

permaneça inalterado, sejam quais forem as mudanças introduzidas nas

relações dos elementos: as operações que foram denominadas de “grupo de

permutação” no interior de um mesmo conjunto mostram exatamente a

possibilidade de efetuar qualquer permutação com os elementos, deixando

invariante a “potência” total do conjunto. Igualmente um número só é

inteligível na medida em que permanece idêntico a si mesmo, seja qual for à

disposição das unidades das quais é composto: é isso o que se chama de

“invariância” do número (PIAGET, 1964, p.24).

Essa afirmação fundamenta a discussão, por ele apresentada, em torno das três fases

que detalharemos a seguir, uma vez que é em busca da conservação que o conceito do número

será construído. Assim, o conceito de número é construído por descobertas ou progressos da

lógica, que acontecem gradativamente por meio de três fases hierárquicas e articuladas.

A primeira fase se constitui na ausência da conservação, nesta fase a criança

estabelece “relações” perceptivas, não podendo ser consideradas exatamente “relações” por

não serem coordenadas uma a outra. As razões que levam a criança a não conservação variam

de um sujeito a outro ou de um momento a outro, no entanto, o que chama a atenção é que a

criança não chega à noção de conservação da quantidade por quantificar de forma insuficiente

as qualidades percebidas, atendo-se somente às quantidades perceptíveis em jogo e não as

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qualidades. Exemplo: quando são questionadas sobre a quantidade de um determinado líquido

que foi transvasado para outros recipientes. Ao perguntarmos se este aumenta ou diminui em

função da forma do recipiente ou do aumento do número de recipientes, nesta fase de não

conservação, as crianças não conseguem perceber que independente do recipiente ou do

número em que é distribuído, o líquido sempre é o mesmo, ou melhor, possui a mesma

quantidade inicial.

A segunda fase é a das respostas intermediárias em que a criança inicia a coordenação

segundo operações aditivas ou multiplicativas. Nesta fase, a criança é capaz de reconhecer a

conservação do líquido quando o mesmo é despejado de um vidro para outros dois, mas isso

não se mantém ao serem distribuídos em três ou mais recipientes, neste caso, ela retorna a não

conservação. Esse movimento evidencia que a noção de conservação não é alcançada de

imediato, mas por meio da coordenação progressiva das relações que estão em jogo.

A última fase, a da conservação necessária, em que a criança tem a noção de uma

quantidade intensiva. Nesta etapa a criança realiza a conservação do líquido independente do

número de recipiente ou da natureza deste (largo, comprido, etc.). Realiza também

coordenações corretas das relações em jogo, por exemplo, ao relatar o que acontece quando o

conteúdo de um determinado vidro é transvasado em outro mais largo, diz que quantidade de

líquido diminui, acrescentando que, parece diminuir porque o recipiente é maior (mais largo),

mas a quantidade de líquido é a mesma.

Segundo o pesquisador, a conservação não se dá simplesmente quando a criança

compara as diversas quantidades, pois neste contexto, ela não teria nenhum meio para julgar a

igualdade ou não. Esta problemática aparece ao transvasar o líquido de um recipiente a outro,

no entanto, esta ação não explica a conservação. Este processo conta como fator determinante

a alteração das formas, pois estas alterações ou propriedades (largura, altura) é que estarão em

julgamento pela criança, que por sua vez perceberá que as diferenças se compensam.

Para Piaget (1964), a conservação não se dá por simples identificação lógica sem a

intervenção da Matemática, mas sim pelo reconhecimento de uma proporção precisa em que a

criança estabelece diferenças e igualdades ou, o que ele chama de “igualização das

diferenças”, aritmetizando assim, o processo. Em resumo coloca que:

[...] quão simples é no fundo o processo de quantificação de que dá

testemunho a descoberta da conservação das quantidades pela criança. O

sujeito começa – e nisso permanece durante a primeira fase – por não

considerar mais que relações perceptivas não-coordenadas entre si de

igualdades ou de diferenças qualitativas, constituindo assim respectivamente

as qualidades e as quantidades brutas, não componíveis como tais. Depois,

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no decorrer da segunda fase, inicia um processo de coordenação lógica que

se conclui na terceira fase e que resulta na classificação das igualdades e na

seriação das diferenças (aditiva e multiplicativamente), com esta seriação

levando à constituição das quantidades intensivas. Por fim, a terceira fase é

assinalada pela constituição das quantidades extensivas, graças à igualização

das diferenças intensivas e consequentemente, à aritmetização dos

grupamentos lógicos (PIAGET, 1964, p.23).

Kamii (2012), aluna e colaboradora de Piaget, apresenta as três fases acima descritas

denominado-as como níveis e situando a questão numérica ao colocar as crianças em uma

situação em que teriam que comparar dois conjuntos (fichas) com quantidades iguais, mas de

cores diferentes (fichas vermelhas e fichas azuis).

Para o Nível I, destaca que neste momento a criança não consegue fazer um conjunto

com o mesmo número, ou seja, não consegue conservar a igualdade de dois conjuntos. Essa

afirmação é exemplificada, com a situação em que a professora dispõe duas fileiras de fichas

no chão, uma de fichas vermelhas e a outra de fichas azuis com a mesma quantidade e

informa isso a criança. Em um segundo momento, a professora modifica a disposição de uma

das fileiras e ao indagar a criança, esta relata que há diferença em suas quantidades, ou seja,

não consegue conservar a igualdade dos dois conjuntos.

No Nível II, a criança consegue fazer um conjunto, mas quando indagada não

consegue conservar, ou melhor, argumentar conservando a igualdade. Já no Nível III, a

criança conserva a resposta correta e não se confunde com argumentações, como acontece no

Nível II. Kamii (2012) aponta também, que a conservação não se dá imediatamente entre os

Níveis II e III existindo, portanto, um nível intermediário, que se justifica por esta variação na

hora de conservar.

Segundo Kamii (2012) para discutir a natureza do número, Piaget afirma que “o

número é construído por cada criança a partir de todos os tipos de relações que ela cria entre

os objetos” (KAMII, 2012, p. 16). E situa que para tal, é necessário reconhecermos três tipos

de conhecimentos.

O conhecimento físico que é definido como o conhecimento dos objetos da realidade

externa, ou seja, as propriedades físicas que são conhecidas pela observação como, por

exemplo, da cor e do peso, estas são propriedades físicas de um objeto.

O conhecimento lógico-matemático que se constitui na capacidade do sujeito de

estabelecer relações com objetos e na coordenação destas relações criadas mentalmente, como

por exemplo, ao notarmos a diferença entre o mesmo objeto só que de cores diferentes, a

diferença é uma relação criada mentalmente, ou seja, a cor difere os objetos de mesma

natureza.

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E o conhecimento social, este conhecimento é adquirido necessariamente pela

interferência de outra pessoa, o que não significa que esta interferência baste para que a

criança adquira o conhecimento em questão (KAMII, 2012; PIRES, 2013).

Segundo a pesquisadora, Piaget concebe a natureza do número tendo como base estes

três tipos de conhecimento, assim, é indispensável definir como se dá a construção destes.

Iniciemos pelo conhecimento físico e conhecimento lógico-matemático, ou melhor, da

abstração reflexiva e empírica, para tal,

A abstração da cor a partir dos objetos é considerada de natureza muito

diferente da abstração do número. As duas são, de fato, tão diferentes que até

se distinguem por termos diferentes. Para a abstração das propriedades a

partir dos objetos, Piaget usou o termo abstração empírica (ou simples). Para

a abstração do número, ele usou o termo abstração reflexiva (KAMII, 2012,

p. 20).

Desta forma, define-se a abstração empírica entendida como o conhecimento físico

pois, neste tipo de abstração, a criança localiza a propriedade de um objeto, e a abstração

reflexiva é entendida como o conhecimento lógico-matemático, pois, nesta forma de abstração

a criança constrói relações entre os objetos.

Essas abstrações ou estes conhecimentos são interligados, ou seja, um não existe sem

o outro. Exemplo: “Para perceber que certo peixe é vermelho [...] a criança necessita possuir

um esquema classificatório para distinguir o vermelho de todas as outras cores. Ela também

precisa de um esquema classificatório para distinguir peixe de todos os outros objetos que já

conhece.” (KAMII, 2012, p. 20). Portanto, é necessário que ela recorra ao seu conhecimento

lógico-matemático e abstração reflexiva, para que a abstração empírica identifique o objeto

(peixe) e suas propriedades (a cor).

Em relação ao conhecimento social cabe ressaltar que segundo Pires (2013),

Piaget é contrário à afirmação de que o conceito de número é transmitido

para a criança como o conhecimento social. Para ele a base fundamental do

conhecimento lógico-matemático é a própria criança. A criança desenvolve

uma estrutura lógico-matemática para assimilar o conhecimento (PIRES,

2013, p.62).

Para Kamii (2012) segundo os estudos de Piaget, o conceito de número é construído

por meio dos três conhecimentos descritos e também por mais dois fatores, pela relação de

ordem e pela relação de inclusão hierárquica.

Quanto à relação de ordem, ao contar um grupo de objetos a criança geralmente salta

alguns ou conta o mesmo objeto duas vezes, pois não sente a necessidade de colocar esses

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objetos em uma determinada ordem. Porém, é sabido que somente podemos nos assegurar que

não saltamos nenhum objeto, ou que não contamos o mesmo objeto duas vezes, se

estabelecermos uma ordem, mesmo que esta ordem não seja espacial, mas mental, ou seja, o

importante é ordená-los mentalmente.

Entretanto, ordenar não é uma ação suficiente para que a criança quantifique segundo

Kamii (2012), pois ao contar, considera um objeto de cada vez ao invés do grupo. Para

quantificar os objetos em um grupo é necessário que ela estabeleça uma relação de inclusão

hierárquica, o que significa incluir mentalmente um em dois, dois em três etc. (KAMII, 2012;

PIRES, 2013). A construção desta estrutura hierárquica não é simples, uma vez que a criança

pensa nas partes, nas unidades e não no todo, embora consiga pensar no todo, mas não no

momento em que está pensando nas partes. Para a construção do conceito de número é

imprescindível que a criança coloque os dois conteúdos em relação, tornando seu pensamento

mais móvel.

Com base nestas discussões e nas colaborações sobre os estudos de Piaget (1964) e de

Kamii (2012), podemos entender que o número é construído pelo ser humano por meio da

criação e coordenação de relação e não pela linguagem como é muitas vezes trabalhado nas

salas de aulas.

Kamii (2012) amplia esta discussão sobre o ensino dos números ao apontar a

necessidade de que a autonomia da criança seja uma finalidade da educação, para que os

alunos não reproduzam aquilo que ouvem de seus professores, mas, que expressem o que de

fato entendem e acreditam. Segundo a pesquisadora, existe uma enorme diferença na

aprendizagem do aluno quando qualquer matéria é ensinada com autonomia, deste modo,

O objetivo para “ensinar” o número é o de construção que a criança faz da

estrutura mental de número. Uma vez que esta não pode ser ensinada

diretamente, o professor deve priorizar o ato de encorajar a criança a pensar

ativa e autonomamente em todos os tipos de situação. Uma criança que

pensa ativamente, à sua maneira, incluindo quantidades, inevitavelmente

constrói o número. A tarefa do professor é a de encorajar o pensamento

espontâneo da criança, o que é muito difícil, porque a maioria de nós foi

treinada para obter das crianças a produção de respostas “certas” (KAMII,

2012, p. 40).

Assim, no que se refere à sala de aula e ao papel do professor diante da construção do

conceito de número, Piaget coloca que, uma vez entendido que este processo é formado de

construções coordenadas de relação do indivíduo, a finalidade da educação é desenvolver a

autonomia da criança, ou seja, o aluno não pode ser levado a reproduzir verdades eternas ditas

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por seus professores, mas ser colocado diante de contextos reais em que a autonomia seja

construída e exercitada.

Para melhor discutir essa necessidade de se criar situações em que as crianças

desenvolvam autonomia para a construção do número, Kamii (2012) apresenta princípios de

ensino.

A criação de todos os tipos de relação: encorajar a criança a estar alerta e colocar todos

os tipos de objetos, eventos e ações em todas as espécies de relações (KAMII, 2012).

A quantificação de objetos: incentivar as crianças a pensarem sobre número e

quantidades de objetos quando estes sejam significativos para ela; a quantificar objetos

logicamente e a comparar conjuntos (em vez de encorajá-las a contar); a fazer conjuntos com

objetos móveis (KAMII, 2012).

Interação social com os colegas e os professores: estimular a criança a trocar ideias

com seus colegas; imaginar como é que a criança está pensando e intervir de acordo com

aquilo que parece estar sucedendo em sua cabeça (KAMII, 2012).

Assim, como dito anteriormente, cabe ao professor oferecer situações em que os

alunos sejam encorajados a desenvolver estes princípios, de forma que estabeleçam o máximo

de relações possíveis, com cada vez mais autonomia.

No próximo item, nos voltamos às contribuições mais recentes sobre a construção do

conceito de número.

3.2 ESTUDOS POSTERIORES SOBRE O TEMA

Para discutir a aquisição do número pela criança Fayol (1996) aponta que a aritmética,

pelo menos parcialmente, deve ser considerada como um objeto de estudo linguístico, [...] “a

questão é saber como se organizam esses sistemas verbais para exprimir a numerosidade

subjacente” (FAYOL, 1996, p.21).

A palavra parcialmente é utilizada pois, a solução mais simples parece ser que

existisse um nome para cada quantidade como em três, cem, porém, com tempo

perceberíamos que é inviável que exista um termo para cada número pelas infinitas

possibilidades que teríamos. Na falta deste termo, a quantidade a ser expressa deve ser

decomposta em uma expressão aritmética como 50+4, 100+50+9 etc. (POWER e

LONGUET-HIGGINS, 1996 apud FAYOL, 1996).

Os estudos de Fayol (1996) mostram que a neuropsicologia e a linguística trazem

contribuições importantes para entendermos a aquisição do número pela criança, a primeira

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porque nos permite conhecer e entender um sistema cognitivo de tratamento das informações

numéricas e a segunda porque, como dito anteriormente, ao enumerar recorremos à

denominação linguística.

Para analisar sua perspectiva em relação à atividade de enumerar é necessário

identificarmos três tarefas: primeiro, a de ativar a memória para recorrer a uma série ordenada

de denominações verbais. A segunda, que ele conte termos por termos, não esquecendo

nenhum e não os repetindo. E a terceira, a de coordenar as duas primeiras ações.

Primeira tarefa: segundo o pesquisador, a primeira tarefa é a que leva a exatidão da

enumeração assim, esta apresenta duas fases que acontecem durante o desenvolvimento da

corrente numérica verbal: inicialmente a criança adquire “de cor” uma ordem convencional de

“etiquetas verbais”. Em seguida, essa ordem estaria decomposta em entidades/abstrações

relacionadas umas com as outras.

Segunda tarefa: quanto à aquisição da sequência verbal coloca que as crianças desde

pequenas reconhecem as palavras que são utilizadas para contar e as que não, assim, quando

estão na aquisição da sequência verbal podemos identificar em suas falas e decisões de três

partes:

Parte I estável e convencional – estável por ser reencontrada em cada experiência e

convencional por estar relacionada às regras adultas. Nesta parte a criança sofre influências

inegáveis do ambiente, expondo aquilo que ela sabe de cor, ou seja, respeita absolutamente a

sequência adulta.

Parte II estável e não convencional – estável por também ser reencontrada em cada

experiência, no entanto, não convencional por não ser adotada pelos adultos. Trata-se da

aprendizagem dos números que vai de 10 a 19 e dos números 15, 16 e 17. Para enumerar as

sequências maiores utilizam números parcialmente memorizados e parcialmente inventados.

As crianças, neste momento, não compreenderam e nem construíram as regras linguísticas da

produção das denominações verbais dos números, por exemplo, ela tenta memorizar números

21, 22, 23 ao invés de utilizar o princípio da formação 20 + 1, 20 + 2, 20 + 3.

Por fim a parte III nem estável e nem convencional, pois varia no mesmo sujeito e de

uma experiência para a outra. Nesta parte a criança fala números fora da sequência, isolados,

sendo que alguns aparecem com certa frequência. As crianças apresentam, ainda,

denominações inventadas a partir de regras de formação como por exemplo, dez-dez,

produzido após o dezenove para a denominação do número 20, ou emprestadas de outros

conjuntos organizados de acordo com as mesmas modalidades (alfabeto, cores, etc.).

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Em suma, o autor afirma que as crianças aprendem a contar desde muito cedo em

torno de dois anos, no entanto, “a própria idade das aquisições revela-se extremamente

variável de uma criança a outra e, no mesmo sujeito, de um período a outro. Uma das razões

das diferenças depende, sem dúvida alguma, da diversidade dos estímulos fornecidos pelo

ambiente” (FAYOL, 1996, p.33).

Em relação à interferência deste ambiente na aprendizagem da contagem, o autor

aponta que pode acontecer na interação em casa, com seus pais, com outros adultos e que

aqueles que não sofrem essas influências, rapidamente conseguem alcançar seus colegas

quando iniciam a escolaridade.

Embora inicie o processo de aquisição da corrente numérica verbal precocemente, o

que pode dar a falsa impressão de facilidade e aquisição rápida deste conceito, o problema

maior para criança está em descobrir regras. Por não serem de fácil percepção é necessário

que o professor identifique as regras e as analise juntamente aos seus alunos, portanto, para

apresentar os diferentes níveis de estruturação da corrente numérica verbal Fayol (1996),

apresenta quatro níveis que podem ser identificados durante a elaboração do conceito de

número, bem como os procedimentos da organização da cadeia numérica.

O nível “rosário” (string level) em que os nomes dos números ainda não possuem

nenhuma individualidade, no entanto a criança não estabelece relação termo/nome, um, dois,

três e quatro, essa recitação é sustentada verbalmente sem nenhum significado aritmético.

O nível “cadeia não seccionável” em que a criança (de cinco anos) já utiliza palavras

individuais, mas ainda não pode começar a contar de qualquer número. A criança também

compreende a significação de cardinal e ordinal da contagem. Neste nível, ainda se organizam

as primeiras atitudes de enumeração e a capacidade de contar até um número dado, sendo uma

tarefa árdua, pois além de estabelecer a relação termo a termo, a criança deve também

controlar sua recitação quando alcançar o número definido previamente. Esta fase pode durar

muito tempo e está relacionada basicamente ao desenvolvimento de duas habilidades: a

exatidão da contagem verbal e a capacidade em dizer que número segue o outro.

O nível “cadeia seccionável”, a criança (de seis anos) desenvolve a habilidade de

contar a partir de um dado número e de contar a partir de um dado número. até outro número

definido. Inicia a contagem para trás ou decrescente. “O que caracteriza o nível da cadeia

“seccional” é a aparição e o desenvolvimento da flexibilidade no emprego da sequência

verbal” (FAYOL, 1996, p.37).

O nível cadeia “terminal”, neste momento, as crianças enumeram ao tratarem os

números como entidades distintas e desenvolvem duas novas habilidades, contam para frente

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ou para traz a partir de qualquer número dado e contam de X a Y. O que diferencia este nível

dos outros necessariamente é automatização e a possibilidade de mudar de direção com

rapidez.

Para Fayol (1996) estes níveis deixam explícito que as crianças abordam inicialmente

um subsistema linguístico em termos de memorização daquilo que sabem de cor e que

precisam gradativamente atingir certo nível de modo que a descoberta e a organização das

regras de formação das expressões aritméticas tenham espaço.

Até este ponto da discussão nos referimos somente à linguagem oral, entretanto, Fayol

(1996), também apresenta em seus estudos discussões sobre a codificação escrita. Para tal,

expõe que

[...] os sistemas de notação posicional, como os nossos, possuem um caráter

muito econômico. De fato, só exige dez números de (0 a 9). Todavia, a

necessidade de se levar em consideração a posição – que corresponde à

potências diferentes de 10 (ou, mais geralmente, da base) – os tornam mais

difíceis de serem compreendidos e mais complexos na sua utilização. Daí

emerge a necessidade de um ensino sistemático dispensado pela escola, mas

que não ocorre sem problemas (FAYOL, 1996, p.37).

Deste modo, diferente da linguagem oral a codificação escrita em nosso sistema de

notação posicional precisa considerar a posição dos números o que, como coloca o autor,

torna os números escritos mais difíceis de serem compreendidos e utilizados pelas crianças.

O pesquisador apresenta ainda três ordens de fenômenos decorrentes da codificação

escrita:

No primeiro fenômeno aparentemente as crianças percebem cedo a diversidade

das funções do número, mesmo sem entender plenamente, bem como inventam

notações pertinentes com o objetivo de se comunicarem indicando a

cardinalidade de objetos. Para alcançar este objetivo elas podem apresentar

registros como indicações idiossincrásicas, ou seja, incomunicáveis; indicações

pictográficas que ilustram tanto a numerosidade como a aparência dos

elementos; os símbolos que garantem uma correspondência termo a termo com

os elementos, mas sem prestar atenção na semelhança com estes e os sinais

convencionais;

No segundo fenômeno, está o momento em que as dificuldades surgem com a

notação posicional, principalmente na sua compreensão. As crianças

encontram muitos problemas ao passar da fase ordinal (contar, enumerar) para

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a fase de codificação e decodificação. Apresentam também limitações para

compreender o papel do zero;

No terceiro fenômeno, momento em que a utilização fica mais complexa, é

quando precisam empregar os sinais de operações.

Fayol, neste momento, traz à tona a preocupação da não existência de estudos mais

aprofundados a respeito do código escrito naquele momento, fator que pode dar a falsa

impressão de que o ensino e a aprendizagem da cadeia verbal mereça mais atenção, ou que a

notação escrita seja simples.

Já em relação à quantificação de um número, o pesquisador aponta que existem três

grandes categorias de procedimentos que permitem aos seres humanos determinarem quantos

elementos um determinado conjunto comporta: A categoria de percepção global da

numeração de uma coleção, que permite uma quantificação eficaz de conjuntos com tamanhos

limitados ou com organizações espaciais regulares. A categoria da contagem, que permite

uma quantificação precisa de conjuntos com tamanhos bem variados. A terceira categoria a de

avaliação global, que permite uma quantificação muito rápida, mas também aproximativa, do

tamanho de um conjunto.

Para discutir a conservação do número, Fayol (1996, p.67) cita Piaget e seus

colaboradores: “em resumo de acordo com Piaget, [...] a conservação do número, isto é, sua

invariância afirmada apesar das modificações perceptivas das configurações, não resulta de

uma constatação indutiva, mas de uma dedução”.

Aponta também, alguns problemas colocados pela conservação. O primeiro relaciona-

se com a influência do contexto pragmático, que consiste na forma com que as crianças são

questionadas e no tipo de atividade, ou objetos, que são apresentados à criança durante uma

atividade , na qual o que está em jogo é a conservação. O segundo a influência da linguagem,

que se refere à interferência da linguagem durante uma atividade de conservação em que os

termos utilizados para questionar as crianças podem levá-las ao erro. O terceiro problema está

nas diferenças perceptivas, que podem induzir as respostas erradas.

Essas problemáticas trazem a tona uma inquietação sobre a relevância da conservação

e da forma como esta foi pesquisada, pois se estes fatores fossem levados em consideração às

crianças poderiam ter um desempenho melhor diante da conservação.

Para discutir a relevância da conservação para a contagem Fayol (1996) cita Greco

(1962) este último aponta que “os sujeitos que enumeram nem sempre alcançam o sucesso na

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prova de conservação” (GRECO, 1962, apud FAYOL, 1996) e que muitos autores relatam

que a enumeração precede à conservação. Resume esta discussão apontando que

As concepções das relações entre conservação e contagem evoluíram

consideravelmente durante os dois últimos decênios. Enquanto Piaget, de um

lado e Greco, de outro, consideram as atividades de enumeração secundárias

em relação ao caráter fundamental da conservação das quantidades

descontinuas, os trabalhos posteriormente mostraram-se sucessivamente

contraditórios a este ponto de vista (FAYOL, 1996, p.81).

A discussão apresentada explicita dois lados distintos referentes às relações da

conservação e da contagem, por um lado algumas pesquisas mostram existir um impacto

importante da contagem sobre a conservação. Do outro, há pesquisas que afirmam que não é

comprovado que este impacto aconteça. No entanto, este paradoxo pode ser resolvido se for

considerado que as influências das atividades numéricas sobre o acesso à conservação, não

resultam do impacto direto dessas atividades, e sim, da abstração reflexiva (Piaget, 1964)

operada pela criança (FAYOL, 1996; PIRES, 2013).

Delia Lerner e Patrícia Sadovsky apresentam suas contribuições em relação à

aquisição do número pela criança, ao discutirem como é que as crianças se aproximam do

conhecimento do sistema de numeração.

Com foco neste questionamento, as pesquisadoras entrevistaram algumas crianças da

faixa etária de 5 a 8 anos e procuraram compreender quais conhecimentos estas possuíam

sobre os números e como expressam estes conhecimentos.

Os dados coletados permitiram identificar não somente que as crianças possuem

muitos conhecimentos sobre os números antes da escolaridade, como também que apresentam

hipóteses peculiares sobre a escrita destes e, ainda, traçam um interessante percurso na

tentativa de conhecer o sistema de numeração. Para explicar os aspectos essenciais deste

percurso traçado pela criança, as autoras apresentam as hipóteses identificadas em relação à

comparação dos números e em relação a escrita dos números.

Para a comparação dos números as crianças apresentaram hipóteses sobre a quantidade

de algarismos e a magnitude do número, ou seja, quanto maior a quantidade de algarismos

maior é o número e, portanto, sua magnitude. Esta hipótese é utilizada para a comparação

entre os números, principalmente por crianças que não conhecem a denominação oral dos

números que estão comparando. Esta ferramenta contribui, e muito, para notação numérica,

uma vez que permite a comparação de quaisquer dois números, desde que a quantidade de

algarismos seja diferente.

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As crianças entrevistadas demonstraram também possuir hipóteses sobre a posição dos

algarismos como critério de comparação, conhecida como “o primeiro é quem manda”. Ao

comparar dois números em que a quantidade de algarismo é igual, estas crianças

demonstraram já compreender que os algarismos possuem valores e supõem que é o valor do

primeiro algarismo que indica qual deles é o maior, sabem também que se o primeiro

algarismo entre dois números for igual, ela terá que recorrer ao segundo número para decidir

qual é o maior e assim por diante.

Quanto à produção escrita dos números, as autoras puderam identificar que a

apropriação da escrita convencional dos números não segue a ordem da série numérica, assim,

as crianças manipulam em primeiro lugar a escrita dos chamados “nós”, das dezenas, das

centenas, das unidades de milhar etc. estes números exatos (10, 100, 200, 1000). Somente

após esta apropriação é que escrevem os números que estão no intervalo (12, 152, 238, 1647).

As crianças também elaboram hipóteses sobre a escrita dos números, baseando-se em

informações que extraem da numeração falada e articulando muitas vezes as informações que

extraem dos “nós”. A numeração falada supõe sempre uma operação que em alguns casos é a

adição e outras situações uma multiplicação, exemplo, adição: 154 = 100+50+4 e

multiplicação: 8000 = 8 * 1000.

Este percurso se encerra, segundo as autoras, quando

As escritas que correspondem à numeração falada entram em contradição

com as hipóteses vinculadas à quantidade de algarismos das notações

numéricas. Tomar consciência deste conflito e elaborar ferramentas para

superá-los parecem ser passos necessários para progredir até a notação

convencional (LERNER, SADOVSKY, 1996, p. 108).

Assim, as crianças elaboram critérios próprios para produzir representações numéricas

e ao serem colocadas diante de situações em que precisem validar essas hipóteses e confrontá-

las, que se inicia a aproximação da notação convencional dos números.

Ao explorar os critérios utilizados pelas crianças e os conflitos gerados por suas

hipóteses, é que o professor pode ajudá-las a construir gradativamente escritas convencionais,

ou seja, a intervenção deve ser realizada através de atividades de pesquisas em que os alunos

coloquem em jogo o que já sabem, confrontem suas ideias, ampliem, construam o

conhecimento e validem esta aprendizagem ao identificar regularidades. Contudo, considerar

estes critérios durante o processo de ensino e de aprendizagem é uma opção didática.

É necessário oferecer situações que permitam mostrar a própria organização do

sistema de numeração, bem como de que forma ele caracteriza a propriedade posicional que

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representa, ou seja, o aluno precisa estabelecer regularidades. Discutir e analisar as

regularidades permite aos alunos confrontar suas hipóteses e validá-las ou não ampliando e

consolidando, em muitos casos, o seu conhecimento sobre os números e sua notação

numérica.

Após detalhar as hipóteses apresentadas pelas crianças, as autoras procuram discutir a

especificidade de nosso sistema, uma vez que as propriedades dos números são universais.

Entretanto os sistemas numéricos, que se constituem como um conjunto de símbolos

elaborado por meio de determinadas regras, representam as peculiaridades de seus

idealizadores, isto é, do contexto histórico em que estão inseridos.

O nosso sistema é posicional e a posicionalidade é a responsável pela relação

quantidade de algarismo e valor do número. Sabemos também que, “o valor que representa

cada algarismo se obtém multiplicando esse algarismo por uma determinada potência de

base” (LERNER, SADOVSKY, 1996, p. 108).

Segundo as autoras

No entanto, como já vimos, nem tudo é posicional na vida das crianças. A

numeração falada se interpõe no caminho da posicionalidade e dá origem a

produções “aditivas”. Estas produções são facilmente interpretadas não só

pelos adultos, como também pelos colegas que já escrevem

convencionalmente os números em questão, o que coloca em evidência uma

indubitável vantagem dos sistemas aditivos: sua transparência (LERNER,

SADOVSKY, 1996, p. 110).

Visto desta forma, a posicionalidade não é transparente, mas é muito mais econômica

do que o sistema aditivo. Não é transparente porque o valor do número depende da posição

que ocupa. É econômica porque possui um número finito de símbolos, dez. “Quem, como as

crianças, tenta apropriar-se de nosso sistema de numeração, deverá descobrir o que ele oculta.

Elas começam – como vimos – por detectar aquilo que lhes resulta observável no contexto da

interação social” (LERNER, SADOVSKY, 1996, p. 111).

As pesquisadoras apontam ainda dois equívocos que geralmente são cometidos

durante o ensino dos números: o primeiro está na decorrente questão de graduar o

conhecimento, ou seja, ensinar o sistema por meio de pequenas doses. Esta ação dificulta o

processo de comparação entre os números e assim, a descoberta de regularidades. O segundo,

no outro extremo, a tendência de querer que os alunos saibam com rapidez o saber oficial, ou

seja, não se reconhece este ensino e a aprendizagem como um processo e desde o começo

oferecem prontos conceitos que precisam ser construídos.

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Nas discussões apresentadas fica claro que compreender a notação numérica não é o

ponto de partida, contudo, o ponto de chegada. “Usar a numeração escrita é produzir e

interpretar escritas numéricas, é estabelecer comparações entre tais escritas, é apoiar-se nelas

para resolver ou representar operações” (LERNER, SADOVSKY, 1996, p. 116). Portanto, o

ponto de partida é trabalhar com diferentes intervalos favorecendo assim, a comparação entre

os números e de diferentes quantidades para que os alunos estabeleçam relações, identifiquem

e reconheçam regularidades, como também as utilizem para produzir suas escritas.

No item a seguir, vamos nos aproximar de contribuições de pesquisas no Brasil, sobre

a construção do conceito de número.

3.3 CONTRIBUIÇÕES DE PESQUISAS NO BRASIL

Os estudos da Professora Doutora Célia Maria Carolino Pires (2013) sobre como

ensinar os números, mostram que a construção de um percurso de aprendizagem é um

processo que inclui três momentos especiais.

O primeiro momento é a definição de hipóteses de aprendizagem que se pretende que

os alunos construam; é em muitos casos definidos por expectativas de aprendizagem, ou seja,

o que se espera que o aluno aprenda em um determinado período e sobre um bloco de

conteúdo específico, como por exemplo, Números.

O segundo momento é a consideração de hipóteses sobre as potencialidades e os

desafios inerentes às idades dos alunos na construção desses conhecimentos. Constitui-se na

articulação destas expectativas sob o olhar de estudos e pesquisas a respeito de como os

alunos se apropriam de determinados conceitos, limites e potencialidades.

Como por exemplo, a partir do bloco Números a pesquisadora destaca em pesquisas

como as de Piaget (1964), Kamii (2012), Fayol (1996), Lerner e Sadovsky (1996) a

importância de se envolver as crianças na discussão de perguntas como: Para que servem os

números? Que números fazem parte da nossa vida?

Coloca também que estas perguntas devem surgir por meio de atividades

problematizadoras e no uso real, em que os sujeitos precisem comparar duas coleções,

organizar uma coleção, registrar dados, identificar quantas casas, antecipar o número de

objetos que será obtido, antecipar o número de objetos que é preciso acrescentar, indicar o

número de objetos e repartir uma coleção em subcoleções.

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O terceiro diz respeito a um plano de atividade que, hipoteticamente, seja interessante

e potencialmente rico para possibilitar aos alunos a construção das expectativas (PIRES,

2013).

Estes três momentos são articulados, segundo os estudos da autora, em Trajetórias

Hipotéticas de Aprendizagem (THA), o conceito de THA defendido pela mesma, tem como

referencial os estudos de Simon (1995), estudos estes já discutidos nesta pesquisa.

As THA ou o planejamento do trabalho apresentam, de forma articulada, as

expectativas de aprendizagem que se quer alcançar para determinado conteúdo e para um ano

específico da escolarização, objetivos de aprendizagem. As contribuições de pesquisas sobre

como os alunos aprendem o conteúdo em questão, o referencial teórico. Por fim, a escolha de

uma sequência de atividades que irá promover um percurso hipotético de discussão e

apropriação do conteúdo pelo aluno.

Para o bloco Números Pires (2013) destaca a importância da prática da contagem por

meio do trabalho com coleções, do estímulo à produção escrita como em ditados de números,

o uso de calculadoras, de cartelas sobrepostas, a observação de regularidades em suas escritas

e, por fim, a escrita e leitura de números quaisquer por meio da observação de quadros.

As teorias pontuadas até este ponto deixam claro o dinamismo da pesquisa em relação

ao tema, ou melhor, as contribuições dos vários autores explicitam que a discussão de como o

conceito do número é construído sofreu ampliações com o passar dos anos. Ao estudarmos

estas contribuições nos apropriamos um pouco de cada teoria, percebendo suas articulações e

seus limites.

Assim, podemos observar que as discussões aqui apresentadas revelam cada qual e a

seu modo, como as crianças se apropriam do conceito de número, embora apresentem

especificidades, entendemos que tais ideias ampliam uma a outra expandindo, desta maneira,

nossas possibilidades de análises e de reflexão.

Ao analisarmos as propostas curriculares dos anos 60 da SEE de São Paulo, citadas no

capítulo I, percebemos que estas possuem grandes influências pelos pressupostos de Piaget e

Kamii, pesquisadores então vigentes. Com o passar dos anos, novas contribuições foram

incorporadas devido a ampliação das discussões, como já mencionamos.

No próximo item, iremos apresentar o material curricular, currículo apresentado,

oferecido no âmbito do Projeto EMAI, com o intuito de identificar se e como as teorias então

expostas, sobre o conteúdo números naturais e sistema de numeração decimal, são

incorporadas nestes materiais.

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71

3.4 O CURRÍCULO DA SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO

PAULO (SEE/SP) REFERENTE AO TEMA NÚMEROS NATURAIS E SND

Como dito anteriormente, o currículo é um recurso carregado de regulações políticas,

econômicas e administrativas, regulações estas que causam implicações evidentes para a

organização de um sistema educativo, segundo Gimeno Sacristán (2000), essas implicações

não se dão simplesmente pelo interesse ideológico, mas também pela necessidade de se

organizar um sistema educativo de forma técnica e administrativa. Assim, pode-se afirmar,

sendo o autor, que

A passagem de alunos pelo sistema, a necessidade de que sua progressão

tenha relação com o domínio progressivo de alguns conteúdos e

aprendizados básicos, a ordenação do professorado especializado em áreas

ou cadeiras do currículo, o controle mínimo na expedição de validações, etc.

leva a uma intervenção administrativa inexorável. A regulação dos sistemas

curriculares por parte do sistema político e administrativo é uma

consequência da própria estrutura do sistema educativo e da função social

que cumpre. Pensar em outra possibilidade suporia se situar em outro

sistema educativo e em outra sociedade (GIMENO SACRISTÁN, 2000, p.

108).

Portanto, o currículo tem como função ordenar um sistema educativo, de acordo com o

contexto social que está inserido e conforme os objetivos de seus idealizadores. Pode se

encontrar graus e modalidades diferentes de intervenção, entretanto não se pode negar sua

existência.

Neste momento da discussão vamos conhecer duas modalidades do currículo: o

prescrito pela SEE/SP e o apresentado no âmbito do Projeto EMAI. Iremos também, situá-los

no que se refere ao ensino e a aprendizagem dos números e do sistema de numeração decimal.

3.4.1 NÚMEROS NATURAIS E SND NO CURRÍCULO PRESCRITO DA

SEE/SP

O currículo prescrito, como dito anteriormente, trata de prescrições ou orientações do

que deve ser o conteúdo, principalmente, na escolaridade obrigatória. Atua como referência

na ordenação do sistema curricular, servindo de ponto de partida para a elaboração de

materiais e para o acompanhamento e controle do sistema.

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O Currículo prescrito da SEE de São Paulo está apresentado por meio de um

documento de Orientações Curriculares3, neste documento localizamos referências para o

trabalho ,atemático com os alunos do 1º ao 5º ano, em relação aos conteúdos dos blocos

Números Naturais e Sistema de Numeração Decimal e Operações com Números Naturais,

Espaço e Forma, Grandezas e Medidas e Tratamento da Informação para todos os anos e o

bloco Números Racionais somente para os alunos de 4º e 5º ano.

No que se refere ao ensino e a aprendizagem dos números e do SND, especificamente

para o 3º e 5º ano dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, focos deste estudo, o documento

proporciona as seguintes prescrições.

Quadro 3: Currículo Prescrito do Tema Números Naturais e SND do 3º ano.

Fonte: Orientações Curriculares do Estado de São Paulo Anos Iniciais do Ensino Fundamental – p.26 ,

2014.

Quadro 4: Currículo Prescrito do Tema Números Naturais e SND do 5º ano

3 Disponível em: http://lereescrever.fde.sp.gov.br/SysPublic/InternaMaterial.aspx?alkfjlklkjaslkA=301&manud

jsns=2&tpMat=0&FiltroDeNoticias=3

TERCEIRO ANO

No terceiro ano, amplia-se e aprofunda-se a compreensão dos números naturais e do

sistema de numeração decimal que constituem o alicerce sobre o qual a maioria das

capacidades matemáticas é construída.

As ideias de agrupamento, valor de posição e notação posicional estão interligadas e

são interdependentes no nosso sistema de numeração. Embora não seja necessário que os

alunos sejam capazes de distingui-los de um modo formal, há atividades que contribuem

para a sua compreensão. A ideia de base, por exemplo, tem a ver com o fato de, quando

contamos, fazemos agrupamentos e os contamos, mantendo o número de itens (base) que

cada um dos grupos contém por meio do sistema. Qualquer algarismo pode representar um

número de elementos ou um número de grupos de grupos e, por isso, é possível exprimir

qualquer quantidade numérica usando apenas 10 símbolos (os algarismos 0-9). Este fato

constitui a ideia fundamental do valor de posição. A escrita lado a lado dos algarismos para

nos dizer quantos elementos de cada valor de posição nós temos, é o que se costuma

chamar valor posicional.

Em síntese, espera-se que o aluno do terceiro ano, ao longo de um ano letivo,

construa conhecimentos que lhes permitam:

Ler, escrever, comparar e ordenar números pela compreensão das características do

sistema de numeração decimal.

Observar critérios que definem uma classificação de números (maior que, menor

que, estar entre) e de regras usadas em seriações (mais 1, mais 2, dobro, metade).

Contar em escalas ascendentes e descendentes a partir de qualquer número dado.

Utilizar a calculadora para produzir e comparar escritas numéricas.

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QUINTO ANO No quinto ano, retoma-se, amplia-se e consolida-se o trabalho com o sistema de

numeração decimal. As crianças devem ser capazes de ler, escrever, comparar e ordenar

números naturais de qualquer ordem de grandeza. Além disso, devem ser capazes de utilizar

os números naturais em situações-problema da vida prática, como também de observar a lei

de formação de uma sequência de números para poder completá-la ou continuá-la.

Em síntese, espera-se que o aluno do quinto ano, ao longo de um ano letivo, construa

conhecimentos que lhes permitam:

Compreender e utilizar as regras do sistema de numeração decimal, para leitura e

escrita, comparação, ordenação e arredondamento de números naturais de qualquer

ordem de grandeza.

Utilizar a decomposição das escritas numéricas para a realização do cálculo mental

exato e aproximado em adições e subtrações.

Utilizar a decomposição das escritas numéricas para a realização de cálculos em

adição e subtração.

Utilizar a decomposição das escritas numéricas para a realização do cálculo mental

exato e aproximado em multiplicações e divisões.

Utilizar a decomposição das escritas numéricas para a realização de cálculos de

multiplicação e divisão.

Reconhecer a composição e decomposição de números naturais em sua forma

polinomial.

Fonte: Orientações Curriculares do Estado de São Paulo Anos Iniciais do Ensino Fundamental – p. 36,

2014.

Como colocado anteriormente, a construção do conceito de número se dá de forma

gradativa, por meio de aproximações dos alunos às situações que os levem a colocar em jogo

o que já sabem sobre o tema e a compreender as regras que constituem o SND. Essa

construção se dá também em meio a um processo que pode durar todo um ciclo de

escolarização ou ir para além dele.

Podemos observar nos quadros acima apresentados que o que se espera dos alunos do

3º e 5º ano, é que utilizem o que já sabem sobre os números e sobre o SND, para ampliar seus

conhecimentos sobre as funções dos números. Assim, as orientações presentes neste currículo

prescrito não preveem que estes alunos saibam tudo, mas considera o processo de

aprendizagem.

No próximo item, verificaremos como estas orientações estão presentes no currículo

apresentado da SEE/SP, elaborados no âmbito do Projeto EMAI.

3.4.2 NÚMEROS NATURAIS E SND NO CURRÍCULO APRESENTADO DA

SEE/SP

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Neste momento, nos dedicaremos a conhecer como o currículo prescrito se configurou

no currículo apresentado da SEE de São Paulo, e quais pressupostos apresentam em relação

ao ensino e aprendizagem dos números e do SND para o 3º e 5º ano dos Anos Iniciais do

Ensino Fundamental.

Os currículos apresentados são os agentes intermediários do currículo prescrito, uma

necessidade fundamental para o sistema educativo, por isso devem ser entendidos como uma

possibilidade de se desenvolver a profissionalidade do educador e não uma prática de controle

daí a necessidade de se perguntar quais são os meios mais úteis para instrumentalizar um

determinado currículo, que sejam eficazes para apoiar o professor em sua prática pedagógica,

e ao mesmo tempo fomentadores de formação profissional (GIMENO SACRISTÁN, 2000).

Normalmente estes currículos apresentados são expressos por meio de livros didáticos,

ou melhor, materiais curriculares. Os materiais curriculares, segundo Gimeno Sacristán

(2000) são acometidos por um antagonismo, pois encontramos materiais que trazem em suas

páginas um recorte do currículo de forma limitada e direcional, tornando-se um material

muito pobre e esquemático. Em contrapartida, não poderíamos contar com um material que

explorasse de forma detalhada e aprofundada todos os conceitos, conteúdos e a didática

necessária ao professor para a aprendizagem de seus alunos, uma vez que seria um material

muito extenso, denso, de difícil compreensão e caro.

Esse antagonismo enfatiza novamente o desafio de oferecer ao profissional da

educação um material que realmente o subsidie, ou seja, que apresente orientações pertinentes

para que coloque em prática o currículo prescrito, que não o torne dependente, mas sim, que

fomente sua autonomia, para que ao reconhecer as limitações do material ou a necessidade de

ampliação das discussões ele sinta-se autorizado a fazê-lo. Em resumo, um material que

definitivamente impulsione a formação deste profissional.

O material apresentado pelo Projeto EMAI é fruto de uma ação conjunta entre

Assessoria Pedagógica – Professora Doutora Célia Maria Carolino Pires, a Equipe Técnica –

Técnicos da Equipe Curricular do CEFAI e vários representantes da Rede Estadual Paulista –

Supervisores de Ensino, Diretores de Escola, Diretores do Núcleo Pedagógico, Professores

Coordenadores do Núcleo Pedagógico, Professores Coordenadores e Professores.

As discussões se iniciaram em 2012, em reuniões centralizadas na SEE. Nestas

reuniões as primeiras propostas dos materiais do 1º ao 5º ano para o professor e para o aluno,

contendo os cinco eixos de conteúdo, foram planejadas e elaboradas pelo Grupo de

Referência de Matemática (GRM). Os materiais foram levados pelo GRM para análise e

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discussão aos pólos de formação de PCNP e Supervisores de Ensino. Em seguida os PCNP e

Supervisores encaminharam as discussões nas Orientações Técnicas desenvolvidas nas

Diretorias de Ensino com os PC e, por fim, os PC conduziram as discussões nas ATPC com

os Professores. Nestes espaços de estudo, os materiais eram colocados em prática e avaliados

as sínteses dos apontamentos, críticas e sugestões eram registradas e voltavam às reuniões

centrais para que os materiais, inicialmente apresentados, fossem retificados e submetidos

novamente a análise.

Essa ação conjunta com a Rede, ou seja, o processo de pré-elaboração, análise e

retificação durou dois anos (de 2012 a 2013) e impulsionou o protagonismo da rede na

elaboração de um material que subsidiaria sua própria prática, tornando–os agentes

participativos na elaboração do material e no processo desta implementação curricular.

O produto deste trabalho são dois Volumes do Material dos Professores e do Material

do Aluno, para cada ano do 1º ao 5º ano dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Cada

volume é constituído por oito unidades, que se materializam em trajetórias hipotéticas de

aprendizagem (THA).

Segundo a perspectiva adotada pelo material, a THA dá ao professor a possibilidade

de construir seu projeto de decisões, em busca de seus objetivos de aprendizagem, portanto, o

material do Projeto inclui um plano de atividades de ensino, organizadas a partir da definição

de objetivos para a aprendizagem (expectativas) e das hipóteses sobre o processo de

aprendizagem dos alunos:

O volume I, da 1ª a 4ª THA, foi discutido durante todo o ano de 2012 e

corresponde ao trabalho a ser desenvolvido no primeiro semestre do ano letivo. Tendo

início em março e finalizando em julho, ou seja, cada unidade é prevista para o

trabalho durante um mês letivo. Cada unidade é dividida em 4 sequências de

atividades, que geralmente apresentam de 5 a 6 atividades o trabalho com cada

sequência dura em média uma semana.

O Volume II, da 5ª a 8ª THA, corresponde ao segundo semestre do ano letivo,

tendo início em agosto e finalizando em novembro. Este volume foi discutido durante

todo o ano de 2013, e cada unidade também é dividida em 4 sequências de atividades

que de modo geral, contêm de 5 a 6 atividades e cada sequência também prevê

igualmente que o trabalho seja realizado em uma semana.

Cabe ressaltar que conforme o próprio material indica são trajetórias hipotéticas, sendo

necessário em alguns casos, adequações e retomadas durante o percurso, assim o material não

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tem como pretensão ocupar todos os dias letivos, prevendo o protagonismo do professor e

portanto, sua autonomia em buscar complementações para atingir seus objetivos de

aprendizagem.

Durante o processo de discussão, o material foi oferecido à rede em versões

preliminares. Após as análises e discussões mencionadas anteriormente, estas versões foram

retificadas, ampliadas e oferecidas à rede estadual novamente em versão on line no site do

Programa Ler e Escrever4. Os documentos encontrados no site possuíam orientações aos

professores (Material do Professor) e sugestão de atividade ao aluno (Material do Aluno) na

mesma unidade. No entanto, em 2014 a versão final e impressa do Volume I, Material do

Professor e o Material do Aluno do 1º ao 5º ano, foi distribuída separadamente à rede

Estadual de Ensino. O material de cada ano da escolaridade é identificado por uma cor: O

primeiro ano é laranja, o segundo ano é azul, o terceiro ano é vermelho, o quarto ano é verde e

o quinto ano é roxo. Esta última versão também está disponível no site do Programa Ler

Escrever.

Como vimos anteriormente, segundo Brown (2009), os materiais curriculares são

ferramentas, recursos para a implementação curricular e são interpretados pelos professores

para dar vida ao currículo. Caracterizam-se como recursos necessários para auxiliar a prática

pedagógica do professor, ao apresentarem os objetos físicos e as representações de objetos

físicos, as representações de domínio ou de conceitos e as representações de tarefas.

Portanto, enquanto recurso o material não pode somente se configurar como um

conjunto de atividades e orientações para prática docente, nele encontramos as indicações

daquilo que o professor precisará para desenvolver as atividades (objetos físicos), modelos e

representações destes objetos, as próprias atividades (representações das tarefas) e,

principalmente, os conceitos e pressupostos que embasaram a elaboração destas tarefas e a

concepção de ensino e aprendizagem subjacentes.

A seguir especificaremos as características destes materiais, primeiro o Material do

Professor e depois o Material do aluno.

3.4.2.1 MATERIAL DO PROFESSOR

O Material do Professor está constituído por um texto padrão de boas vindas, um texto

que apresenta a estrutura do material. Após estas apresentações o material se organiza em três

4 http://lereescrever.fde.sp.gov.br/SysPublic/Home.aspx

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pontos estruturais: primeiro um texto sobre reflexões pedagógicas, segundo o quadro de

expectativas de aprendizagem e terceiro o plano de atividades.

Estes três pontos estruturais acima citados, se justificam, pois, como dito

anteriormente, o Material do Professor foi elaborado com referência nos estudos de SIMOM

(1995), sobre as Trajetórias Hipotéticas de Aprendizagem, desta maneira, o material

representa um Ciclo de Ensino da Matemática (ver Figura 3: Ciclo de Ensino de Matemática).

Assim, a partir do texto de reflexões pedagógicas, de seus conhecimentos sobre o conteúdo e

sobre o ensino do conteúdo, o professor vai conduzir o processo de realização da THA. Estas

THA, por sua vez, são constituídas pela definição de objetivos, que são expressos nas

expectativas de aprendizagem que se têm sobre aquele conteúdo, e no plano de atividades de

ensino que foi elaborado com base nas hipóteses sobre o processo de aprendizagem e

construção de conhecimentos dos seus alunos. É a articulação entre estes três pontos durante a

prática pedagógica, que poderá promover o Ciclo de Ensino de Matemática e, portanto, a

aprendizagem dos alunos.

O texto intitulado como Reflexões Sobre Hipóteses de Aprendizagem dos Alunos,

apresenta e explicita alguns estudos e fundamentos sobre o ensino e aprendizagem dos

conteúdos, que serão apresentados naquela unidade e tem o intuito de contribuir para o

conhecimento dos professores sobre o que os alunos sabem sobre determinado conteúdo,

como também o de fomentar e impulsionar a necessidade de estudo acerca destes conteúdos e

do processo de aprendizagem dos alunos, melhor dizendo, a formação continuada do

profissional da educação.

Estes textos foram elaborados nos grupos de estudos do GRM, após a leitura crítica

dos estudos de pesquisadores conceituados como Piaget (1964), Fayol (1996), Lerner e

Sadovsky (1996), Vergnaud (1996 e 2009), Parzysz (2006), Piaget e Inhelder (1993), Van

Hiele (2002), Curcio (1987), Pires (2013), Post, Behr e Lesh (1982), entre outros, cada qual

em sua área de atuação de acordo com os cinco blocos de conteúdos listados anteriormente.

As fontes desses estudos ficam explícitas nos textos, permitindo aos professores, não somente

que os leiam no material para compreenderem quais discussões embasam as atividades

propostas, como principalmente para que os tenham como referência para aprofundar seus

estudos durante os grupos de estudos nas Diretorias de Ensino e nas ATPC.

A seguir realizaremos um recorte destes textos de Reflexões Sobre Hipóteses de

Aprendizagem dos Alunos, pontuando apenas o que o material apresenta somente sobre o

ensino e a aprendizagem dos números naturais e SND, para os alunos do 3º e 5º ano da 1ª a 4ª

unidade – THA. Estas unidades correspondem, como foi dito anteriormente, ao primeiro

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semestre letivo (de março a junho), período ao qual acompanhamos as ações nas unidades

escolares.

Quadro 5: Reflexões sobre Hipóteses de Aprendizagem do Tema Números Naturais e

SND para os Alunos 3º ano

3º ANO

UNIDADE REFLEXÕES SOBRE HIPÓTESES DE APRENDIZAGEM DOS ALUNOS

PRIMEIRA

Pesquisas recentes, como das argentinas Delia Lerner e Patricia

Sadovsky (1996), sobre como as crianças se apropriam do conhecimento do

sistema de numeração, servem de base para propostas de situações didáticas

que permitem aos meninos e meninas colocar em jogo todos os seus

conhecimentos prévios sobre as funções dos números em seu cotidiano.

Isso ocorre quanto à função do número em seu aspecto cardinal (para

identificar idade, o preço de algum produto, a quantidade de alunos em uma

sala de aula, etc.), em seu aspecto ordinal (a colocação de cada aluno na fila,

ordem da chamada, etc.), de medida (quanto cabe) ou de codificação (nº de

telefone, CEP da rua, nº do RG, etc.). Os alunos do 3º Ano do Ensino

Fundamental já possuem conhecimentos sobre esses aspectos, porém, os

mesmos precisam ser ampliados, levando-os a compreender as características

do sistema de numeração decimal.

A ampliação desses conhecimentos deve apoiar-se na vivência dos

alunos, com exploração de atividades diversificadas, em que são abordados,

inicialmente, números familiares e frequentes. Dentre os números familiares,

estão os que indicam o número de suas casas, de seus telefones, do ônibus

que utilizam, as datas de seus aniversários, etc. Os números, como os que

indicam o ano em que estamos (2011, 2012,...) ou o dia do mês (23, 24, 30,

31) ou os canais de televisão são números frequentes, comuns na vida da

criança. Com base nesse conhecimento, ela vai se apropriando de outros

números frequentes, como 10, 20, 30,... 100, 200, 300,...

As pesquisas nos mostram, também, que as crianças são capazes de

indicar qual é o maior número de uma listagem, mesmo sem conhecer as

regras do sistema de numeração decimal, pois, com base em suas

observações pessoais, elas identificam e compreendem algumas

regularidades das escritas numéricas.

Para usar esses conhecimentos, é necessário que você, professor, faça

um levantamento do que seus alunos já sabem sobre os números, seus usos,

quais identificam, quais sabem ler, quais sabem escrever, e os ajude a

organizar esses conhecimentos.

Ao mesmo tempo, é fundamental a criação de um ambiente especial,

estimulante e desafiador para a aprendizagem matemática, com a exposição e

o uso de quadros numéricos; calendário; materiais de contagem, como

tampinhas e botões; caixas e sucatas variadas; materiais para confecção e

realização de jogos; sólidos geométricos; cartazes; álbuns; calculadoras, etc.

Os cartazes podem ser permanentes (como o quadro numérico e o

calendário anual) ou temporários e devem ser planejados de acordo com

conteúdos específicos de cada bimestre, por isso, ficam temporariamente

expostos, podendo depois ser colocados num arquivo à disposição dos alunos

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para eventuais pesquisas.

Desde muito cedo, as crianças mostram-se capazes de identificar

números, não apenas os de 1 a 9 (LERNER e SADOVSKY, 1996;

PANIZZA, 2006); por exemplo, os familiares e frequentes, constituídos por

mais de um algarismo. Isso é possível, pois conseguem estabelecer critérios

de comparação entre eles, observando características, como quantos dígitos

compõem sua escrita. Podem, também, produzir escritas pessoais apoiando-

se na fala.

Nesse caso, a escrita numérica é registrada a partir de suas hipóteses

(relação com a numeração falada). Assim, para representar 125 podemos

encontrar 100 20 5 – essa forma de registro somente gera “conflito” para

criança, quando confrontada com a escrita convencional.

Você, professor, pode explorar essas escritas para ajudá-los a

construir, progressivamente, uma escrita convencional e com significado. A

compreensão de características e de regularidades do Sistema de Numeração

Decimal se constrói por uma série de atividades diversificadas, que incluem

contagens, agrupamentos, leitura, escrita, comparações e ordenação de

notações numéricas, etc., sempre tendo como ponto de partida os números

que as crianças conhecem.

Atividades permanentes ou habituais como o uso regular do quadro

numérico ou fita métrica, poderão contribuir para que a criança avance em

suas escritas numéricas. Ao socializar as produções de seus alunos, que

identificam, nomeiam e escrevem números com dois, três ou mais dígitos,

você fará todo o grupo avançar no entendimento de composições e

decomposições desses números. Seu papel de mediador é fundamental no

desenvolvimento dessas atividades em sala de aula.

Já nas atividades de contagem, progressivamente, os alunos percebem

a associação entre cada nome de número que enunciam e cada objeto da

coleção que estão contando, devendo ser incentivados a contar de 1 em 1, de

2 em 2, de 5 em 5 e assim por diante, bem como a formar pareamentos e

outros modos de agrupamentos para realizar a contagem.

SEGUNDA

Neste período do terceiro ano, espera-se que as crianças já tenham

trabalhado com algumas situações que proporcionam reflexões sobre as

regras do Sistema de Numeração Decimal (SND). Também se espera que

tenham tido a oportunidade de observar suas regularidades fazendo

comparações, ordenações de números familiares e frequentes.

Estudos como o das pesquisadoras Delia Lerner e Patrícia Sadovsky

(1996) mostram que as crianças são capazes de indicar qual é o maior

número de uma listagem, mesmo antes de saber as regras do Sistema de

Numeração Decimal. Por isso, faz-se necessário retomarmos algumas

atividades sobre números para estruturarmos os conhecimentos

diagnosticados.

É importante que os alunos compreendam que os números são

utilizados em diversas situações com diferentes propósitos. Em uma roda de

conversa podemos investigar se nossos alunos sabem reconhecer os números

na função cardinal, ordinal, de codificação e de medida, sem ainda precisar

explicar essas funções com suas nomenclaturas formais.

Com relação ao sistema de numeração decimal, esperamos que o uso

das fichas sobrepostas, a leitura rotineira do quadro numérico e o uso de

outros instrumentos, como fita métrica, proporcionem o avanço do

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conhecimento dos alunos em relação às regras do SND, como a compreensão

do valor de cada algarismo de acordo com sua posição no número, além da

escrita e leitura dos números.

Espera-se que os alunos do terceiro ano já possam realizar a leitura e

a escrita de números naturais compostos por duas ordens, bem como os

familiares e frequentes de três ordens. Contudo, se isso ainda não estiver

ocorrendo com todos os alunos, é preciso propor novas atividades que os

levem a compreender melhor as regras do SND. É importante que as

atividades estejam referidas aos conhecimentos prévios dos alunos.

Também é importante verificar se o ambiente escolar tem sido

motivador e desafiador para que ocorra a aprendizagem. Explore o entorno

da sala de aula e da escola. A visita a um supermercado ou padaria pode

auxiliar muito o nosso trabalho com a Matemática. Renove seus cartazes,

busque propagandas atuais que despertem o interesse das crianças. Aproveite

as datas festivas, o comércio em geral investe muito em propagandas e

promoções que enchem os olhos de nossas crianças.

Não abandone as atividades de contagem, pois elas garantem a

associação entre o nome do número que contam e o objeto contado. Incentive

diferentes formas de contagem: 3 em 3, 6 em 6, saindo das tradicionais 1 em

1, 2 em 2. Dê voz aos alunos, socializando os seus diferentes modos de

contar.

TERCEIRA

Antes de prosseguir com as atividades, para ampliar o entendimento

do Sistema de Numeração Decimal, precisamos verificar qual o

conhecimento numérico de toda a turma: “Que ordem de grandeza já

compreende? Lê e escreve convencionalmente? Compara e ordena de acordo

com as regularidades do SND?”. Diagnosticar em qual grandeza as

dificuldades aparecem e retomar os conceitos de número natural não

sistematizado. Elabore atividades para atender às necessidades da turma.

Conforme ocorre o avanço dos conhecimentos, apresente situações-problema

mais complexas. A sequência didática com números não pode ser

apresentada de forma segmentada, de um em um, ou seja, aumente

sucessivamente a quantidade em “doses homeopáticas”. Esse tipo de

atividade não leva à compreensão da lógica da regularidade numérica e do

valor posicional.

Atividades com números devem refletir as funções sociais do

cotidiano: o número da casa, do telefone, número de documentos pessoais...

Propor situações em que comparem os números do dia a dia, que mostrem as

diferentes ocasiões em que os números são usados. No aspecto cardinal, o

número indica uma quantia de elementos e permite que se imagine essa

quantidade sem que eles estejam presentes. Por exemplo, a quantidade de

pessoas que mora com o aluno.

No aspecto ordinal, o número indica posição e permite ordenar, por

exemplo, o lugar ocupado por pessoas, objetos, sequências de

acontecimentos ou classificar um determinado campeonato esportivo. Os

números podem ainda servir como códigos sem nenhuma relação com os

aspectos cardinais e ordinais, por exemplo, o número da placa de um carro.

Nesta unidade propomos atividades sobre o quadro numérico com um

novo intervalo de números (100 a 298). Trabalharemos com a sequência de

dois em dois para completar e intensificar a leitura oral e as regularidades

numéricas. É importante lembrar que apresentar números grandes aos alunos

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é uma boa atividade para perceberem que quanto mais algarismos o número

tem, maior é o seu valor. Estimule a troca de ideias entre os alunos e a

socialização de suas descobertas.

QUARTA

Para esta sequência, daremos continuidade ao trabalho com números

e operações. Os algoritmos tornam-se necessários à medida que os problemas

tornam-se mais complexos e os números maiores (dois dígitos ou mais),

principalmente, para os alunos que ainda recorrem a procedimentos de

contagem, perder a conta e não encontrar o resultado certo são indicadores de

que tal procedimento não atende mais às suas necessidades. Para superar essa

dificuldade na contagem, os alunos, muitas vezes, usam a decomposição. Ao

trabalhar com essa estratégia, as crianças procuram resolver sua dificuldade

de forma eficiente e mais fácil. Assim, utilizam conhecimentos que já foram

construídos em relação aos números, ou melhor, ao Sistema de Numeração

Decimal. Para desenvolver tais capacidades é importante a interação das

crianças com números de diferentes grandezas, proporcionando momentos de

discussões e de troca de ideias ao mesmo tempo em que trabalham com os

algoritmos.

Fonte: EMAI – Educação Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Terceiro Ano –

Organização dos Trabalhos em Sala de Aula – Material do Professor – Volume 1. Páginas: 9, 37, 64 e

92. 2013.

Quadro 6: Reflexões sobre Hipóteses de Aprendizagem do Tema Números Naturais e

SND para os Alunos 5º ano

5º ANO

UNIDADE REFLEXÕES SOBRE HIPÓTESES DE APRENDIZAGEM DOS ALUNOS

PRIMEIRA

No quinto ano, espera-se que os alunos já tenham conhecimentos

sobre as escritas numéricas, observem suas regularidades, façam

comparações, ordenações de números naturais até a ordem dos milhares e

contem em escalas ascendentes e descendentes a partir de qualquer número

dado. Esses conhecimentos precisam ser consolidados e ampliados para que

eles possam ter estratégias de compreensão de escritas de números de

qualquer ordem de grandeza. Para usar esses conhecimentos, é necessário

que você faça um levantamento do que os alunos já sabem sobre os

números, solicitando que digam em quais situações os números aparecem

no dia a dia, listando na lousa os itens que vão surgindo.

É importante que os alunos saibam que os números naturais são

utilizados em diferentes situações, desempenhando diferentes funções:

cardinal (para identificar idade, o preço de algum produto, a quantidade de

alunos em uma sala de aula, etc.), ordinal (a colocação de um time no

campeonato, por exemplo), a função de um código (número de telefone,

placa de carro, etc.) e também de medidas (quantos metros, qual a altura,

qual o peso, qual temperatura, quantas horas).

SEGUNDA

Na Trajetória hipotética de Aprendizagem 1, foi realizado o

diagnóstico dos saberes dos alunos sobre o Sistema de Numeração Decimal

(SND). Trabalhamos com os números naturais em situações de leitura,

escrita e arredondamento.

TERCEIRA Contemplamos todos os eixos da Matemática, as expectativas de

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82

aprendizagem referentes aos números naturais serão retomadas, ampliadas e

exploradas, com foco na resolução de situações-problema do campo

multiplicativo.

QUARTA

As expectativas de aprendizagem, quanto aos números naturais e

racionais, são retomados para ampliação da compreensão dos diferentes

significados das operações do campo aditivo e multiplicativo, por meio de

estratégias pessoais.

Fonte: EMAI – Educação Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Quinto Ano –

Organização dos Trabalhos em Sala de Aula – Material do Professor – Volume 1. Páginas: 9, 38, 62 e

90. 2013.

Ao analisar estes quadros, podemos perceber que as contribuições encontradas nos

textos de Reflexão de cada unidade, textos estes que foram elaborados durante os momentos

de estudo em um trabalho conjunto dos vários agentes envolvidos na construção do material,

são fundamentadas diretamente por pesquisas atuais como Lerner e Sadovsky (1996),

indiretamente pelos apontamentos de Fayol (1996) e Pires (2013) e que procuram de fato

apontar o que se sabe sobre o que as crianças conhecem em relação ao conteúdo. Estes textos

buscam assim, por meio de pesquisas atuais, embasar teoricamente o material para que amplie

os conhecimentos didáticos e de conteúdo dos professores.

Para explicitar os objetivos de aprendizagem, articulados aos textos de reflexões

apresentados, encontramos os quadros de expectativas de aprendizagem, ou seja, aquilo que

se espera que os alunos aprendam ao longo de um ciclo ou daquele ano de escolaridade. Estas

expectativas também foram discutidas em todos os grupos de estudo e, portanto construídas

conjuntamente com vários sujeitos da Rede Estadual de Ensino.

São identificadas as expectativas de aprendizagem que serão desenvolvidas naquela

THA, para cada um dos quatro blocos de conteúdos e que serão distribuídas nas quatro

sequências de atividades. Primeiro são apresentadas de maneira geral e depois retomadas no

início de cada uma das quatro sequências, destacando assim especificamente, qual das

expectativas de aprendizagem serão exploradas na sequência.

Vejamos quais são as expectativas de aprendizagem propostas pelo Projeto EMAI,

para os alunos do 3º e 5º ano no primeiro semestre letivo, somente no que se refere a números

naturais e ao SND:

Quadro 7: Expectativas de Aprendizagem do Tema Números Naturais e SND para os

Alunos 3º ano

3º ANO

UNIDADE EXPECTATIVAS DE APRENDIZAGEM QUE SE PRETENDE ALCANÇAR:

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83

PRIMEIRA

1 – Ler, escrever, comparar e ordenar números pela compreensão das

características do sistema de numeração decimal.

2 – Observar critérios que definem uma classificação de números (maior que,

menor que, estar entre) e de regras usadas em seriações (mais 1, mais 2, dobro,

metade), explorando principalmente números com mais de 3 ordens.

3 – Contar, em escalas ascendentes e descendentes, a partir de qualquer

número dado.

4 – Utilizar a calculadora para produzir e comparar escritas numéricas.

SEGUNDA Não há.

TERCEIRA 1 – Ler, escrever, comparar e ordenar números.

QUARTA Não há.

Fonte: EMAI – Educação Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Terceiro Ano –

Organização dos Trabalhos em Sala de Aula – Material do Professor – Volume 1. Páginas:12 e 67.

2013.

Quadro 8: Expectativas de Aprendizagem do Tema Números Naturais e SND para os

Alunos 5º ano

5º ANO

UNIDADE EXPECTATIVAS DE APRENDIZAGEM QUE SE PRETENDE ALCANÇAR:

PRIMEIRA

1 – Compreender e utilizar as regras do sistema de numeração decimal para

leitura e escrita, comparação, ordenação de números naturais de qualquer

ordem de grandeza.

2 – Utilizar a decomposição das escritas numéricas para a realização do

cálculo mental, exato e aproximado, em adições e subtrações.

3 – Utilizar a decomposição das escritas numéricas para a realização de

cálculos de adição e subtração.

SEGUNDA Não há.

TERCEIRA Não há.

QUARTA

1 – Compreender e utilizar as regras do sistema de numeração decimal, para

leitura e escrita, comparação, ordenação de números naturais de qualquer

ordem de grandeza.

Fonte: EMAI – Educação Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Quinto Ano

– Organização dos Trabalhos em Sala de Aula – Material do Professor – Volume 1. Páginas: 10 e 91.

2013.

Como podemos observar, as expectativas de aprendizagem apresentadas no material

estão completamente articuladas com os apontamentos do texto de reflexão e esperam, que ao

final dos anos em questão, os alunos ampliem seus conhecimentos sobre o conceito de

número e também sobre as regras que regem o nosso SND. Essas expectativas estão de acordo

também, com os estudos apresentados no capítulo anterior sobre o tema FAYOL (1996),

LERNER E SADOVSKY (1996) e PIRES (2013), o que mostra que sua elaboração buscou

embasamento em pesquisas recentes sobre o que os alunos sabem e no como formulam

hipóteses.

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84

Não podemos deixar de ressaltar, ainda, que os dois primeiros itens do Material do

Professor, o texto de reflexão sobre o tema em articulação com as expectativas de

aprendizagem, compõem as representações de domínio ou de conceitos sobre os conteúdos,

ou seja, as ideias centrais do material sobre o tema, seus pressupostos e fundamentos.

Passemos agora ao terceiro item do ciclo de ensino, o plano de atividade. Cada THA

está organizada em quatro sequências, enumeradas de forma contínua totalizando 33

sequências, da 1ª à 17ª sequência no Volume I e da 18ª à 33ª sequência no Volume II.

No início de cada sequência localizamos as expectativas de aprendizagem que serão

trabalhadas nas atividades sugeridas. Cada sequência está organizada em até seis atividades,

com a previsão de que cada sequência possa ser realizada no período de uma semana. As

atividades propostas são estruturadas em conversa inicial, problematização e

observações/intervenções.

A conversa inicial foi idealizada com o objetivo de orientar o professor em como

realizar o levantamento do conhecimento prévio dos alunos sobre o assunto que será

discutido. Tem o intuito também de fornecer a estes, informações importantes que

viabilizarão as discussões durante a atividade. A problematização tem como intuito apresentar

a consigna da atividade e orientar o professor em como encaminhá-la. Já o item

intervenção/observação foi pensado como um momento rico de interação do e professor, pois

pode oferecer tanto informações sobre o conteúdo em questão, como o de procedimentos

didáticos que devem ser garantidos, visando potencializar a aprendizagem dos alunos e o

desenvolvimento da atividade e de boas perguntas para serem realizadas com a finalidade de

provocar as discussões entre os alunos ou durante uma intervenção individual. Vejamos

alguns exemplos a seguir.

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85

Figura 7: Projeto EMAI – Plano de Atividades – Material do Professor 3º ano.

Fonte: EMAI – Educação Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Terceiro Ano –

Organização dos Trabalhos em Sala de Aula – Material do Professor – Volume 1, p. 29. 2013.

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86

Figura 8: Projeto EMAI – Plano de Atividades – Material do Professor 5º ano.

Fonte: EMAI – Educação Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Quinto Ano –

Organização Dos Trabalhos Em Sala De Aula – Material Do Professor – Volume 1, p. 105. 2013.

Após as atividades, o material ainda conta com o quadro de anotações referentes às

atividades desenvolvidas, o quadro de anotações referentes ao desempenho dos alunos e é

finalizado com alguns Anexos (cartelas, moldes, etc.) que contribuem para o desenvolvimento

de atividades específicas. Agora vamos conhecer o Material do Aluno.

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87

3.4.2.2 MATERIAL DO ALUNO

O Material do aluno apresenta todas as atividades elaboradas e discutidas pelos

envolvidos da Rede Estadual nessa ação conjunta. É consumível, ou seja, foi feito para uso

total do aluno. Neste material localizamos somente o plano de atividades. O Volume I possui

quatro THA, portanto, da 1ª até a 17ª sequências. Cada sequência está organizada em até seis

atividades, com a previsão de que cada sequência possa ser realizada no período de uma

semana.

As atividades são identificadas por dois números, o primeiro indica a sequência a qual

pertence e o segundo, a ordem em que está localizada naquela sequência, exemplo

ATIVIDADE 2.1, o 2 indica que é uma atividade da sequência 2 e o 1 indica que é a primeira

atividade daquela sequência.

Figura 9: Projeto EMAI – Atividade – Material do Aluno 3º ano.Fonte: EMAI –

Educação Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Terceiro Ano – Organização dos

Trabalhos em Sala de Aula – Material do Professor – Volume 1, p. 14. 2013.

.

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88

Figura 10: Projeto EMAI – Atividade – Material do Aluno 5º ano

Fonte: EMAI – Educação Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Quinto Ano –

Organização Dos Trabalhos Em Sala De Aula – Material Do Professor – Volume 1, p. 108. 2013.

Estas propostas são compostas por enunciados que orientam o aluno a como resolver

as atividades, espaços para registros e anotações. Ao final do material localizamos os anexos

que contribuem para o desenvolvimento de atividades específicas.

Ao analisar as propostas para o ensino e a aprendizagem dos números naturais e do

SND, presentes no currículo apresentado pela SEE de São Paulo, podemos observar que está

explícita a organização de acordo com a perspectiva apresentada pelos pesquisadores aqui

destacados Piaget (1964), Kamii (2012), Fayol (1996), Lerner e Sadovsky (1996) e Pires

.

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89

(2013), ao levar em consideração que a aprendizagem do aluno se dá por um percurso e não

por momentos estanques. Haja vista que o documento apresenta expectativas de

aprendizagem progressivas, mas no sentido de ampliação do que já foi estudado, ano a ano

para cada conteúdo.

Podemos identificar também que o currículo apresentado no material do professor e no

material do aluno, se enquadra no movimento discutido por Pires (2013), que mostra que a

construção de um percurso de aprendizagem é um processo que inclui três momentos

especiais:

O primeiro, o momento de definição de hipóteses de aprendizagem que se

pretende que os alunos construam. Este primeiro momento está expresso no

material do Projeto EMAI pelas expectativas de aprendizagem oferecidas;

O segundo, o momento de se considerar as hipóteses sobre as potencialidades e

os desafios inerentes às idades dos alunos na construção desses conhecimentos

e de articulação das expectativas de aprendizagem, sob o olhar de estudos e

pesquisas a respeito de como os alunos se apropriam de determinados

conceitos. Podemos localizar este momento no texto presente no Material do

Projeto EMAI, denominado Reflexões Sobre Hipóteses de Aprendizagem dos

Alunos, texto este que expõe estudos e pesquisas a respeito dos conteúdos em

questão.

E o último momento, em que se constitui um plano de atividades, com

referência nas expectativas de aprendizagem e nas contribuições a respeito de

como os alunos se apropriam de determinados conceitos. Este plano é

hipotético e pressupõe que as atividades oferecidas sejam interessantes e

potencialmente ricas, para possibilitar aos alunos a construção das

expectativas. Este terceiro momento é identificado, claramente, no plano de

atividades presentes no Material do Projeto EMAI.

Uma vez identificados os três momentos, podemos afirmar que o Projeto EMAI, tem

como objetivo oferecer um percurso de aprendizagem aos alunos, levando em consideração

não somente aquilo que já sabem, mas oportunizando atividades que procurem potencializar

seus conhecimentos e ampliá-los.

Ao refletirmos sobre as propostas apresentadas para os alunos do 3º ano percebemos

que este aluno está inserido no ensino de nove anos, portanto, neste momento da escolaridade,

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90

seu percurso já conta com as experiências matemáticas de dois anos anteriores, neste caso, as

orientações presentes nos materiais curriculares do Projeto EMAI explicitam acertadamente

que as atividades propostas devem ampliar os conhecimentos numéricos dos alunos.

O material, desta maneira, oferece situações exploratórias aos alunos, em que tenham

que colocar em jogo o que já sabem sobre os números ao compará-los e ao construir notações.

Os alunos ainda são desafiados a identificar e explorar regularidades, confrontando seus

achados com suas próprias hipóteses validando-as ou não, ampliando assim seus

conhecimentos numéricos.Vejamos um exemplo de atividade exploratória no 3º ano,

articulando as Orientações do Material do Professor com a atividade oferecida no Material do

Aluno:

Figura 11: Projeto EMAI – Material do Professor 3º ano – Atividade 1.2.

ATIVIDADE 1.2 Conversa inicial

Converse com as crianças sobre o quadro numérico apresentado na atividade do aluno. Solicite algumas leituras de números desse quadro. Discuta o que há em comum nos números, observando as linhas e as colunas.

Problematização Peça para lerem em voz alta os números da primeira linha da tabela. Verifique se

observam as regularidades do quadro numérico, se percebem que, nas linhas, os números aumentam de 1 em 1. Depois, peça que leiam em voz alta os números que aparecem na primeira coluna. Verifique se percebem que, nas colunas, os números aumentam de 10 em 10. Convide os alunos, um de cada vez, para completar os quadrinhos que estão em branco. Discuta oralmente as questões: O que há em comum nas escritas dos números, observando as linhas? O que há em comum nas escritas dos números, observando as colunas? Depois, peça para responderem às questões propostas. Verifique se identificam os números que vêm, imediatamente, antes de um número dado (antecessor) ou imediatamente depois (sucessor). Verifique, também, se identificam números que estão entre dois outros dados. Observe se usam o quadro numérico ou se já memorizaram a sequência.

Observação/Intervenção Problematize outras questões que permitam aos alunos identificarem regularidades

no quadro. Aproveite para observar o que eles já sabem sobre essas escritas numéricas e o que ainda precisam aprender. Não fale das regularidades de imediato, deixe que os alunos percebam por meio de boas perguntas que você poderá fazer. Fonte: EMAI – Educação Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Terceiro Ano –

Organização dos Trabalhos em Sala de Aula – Material do Professor– Volume 1, p. 15. 2013.

Figura 12: Projeto EMAI – Material do Aluno 3º ano – Atividade 1.2.

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Fonte: EMAI – Educação Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Terceiro

Ano – Material do Aluno – Volume 1, p. 10. 2013.

São apresentadas como expectativas de aprendizagem desta atividade: ler, escrever,

comparar e ordenar números pela compreensão das características do sistema de numeração

decimal; Observar critérios que definem uma classificação de números (maior que, menor

que, estar entre) e de regras usadas em seriações (mais 1, mais 2, dobro, metade). É sabido

que os alunos do terceiro ano já possuem muitos conhecimentos sobre os números e sobre as

regras do sistema de numeração decimal, assim, por meio de um quadro de números, esta

proposta procura explorar os conhecimentos dos alunos sobre essas regras, (primeira

expectativa) desafiando-os posteriormente a colocá-las em uso para encontrar o número

pedido nas sequências isoladas (segunda expectativa).

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92

A atividade apresentada acima é uma dentre as várias presentes no Material do 3º ano,

que discutem o tema em questão. O quadro a seguir localizará cada uma das atividades

propostas para o trabalho com números naturais e SND:

Quadro 9: Atividades Propostas para o Trabalho com Números Naturais e SND no

Material do 3º ano

UNIDADE SEQUÊNCIA EXPECTATIVA (S) TRABALHADA (S) ATIVIDADE

Primeira

1ª Sequência

Ler, escrever, comparar e ordenar

números pela compreensão das

características do sistema de numeração

decimal.

Observar critérios que definem uma

classificação de números (maior que,

menor que, estar entre).

Contar em escalas ascendentes e

descendentes a partir de qualquer número

dado.

Utilizar a calculadora para produzir e

comparar escritas numéricas.

1.1

1.2

1.3

1.4

1.5

2ª Sequência

Ler, escrever, comparar e ordenar

números pela compreensão das

características do sistema de numeração

decimal.

Observar critérios que definem uma

classificação de números (maior que,

menor que, estar entre).

Contar em escalas ascendentes e

descendentes a partir de qualquer número

dado.

2.1

2.2

2.3

Segunda Não há atividades referentes a Números ou SND.

Terceira 10ª Sequência Ler, escrever, comparar e ordenar

números.

10.1

10.2

Quarta Não há atividades referentes a Números ou SND.

Fonte: EMAI – Educação Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Terceiro Ano –

Material do Aluno – Volume 1. Páginas: 9 - 16, 60 e 61. 2013.

Em relação ao 5º ano estas características se mantém, ou seja, os alunos que já

passaram por quatro anos de escolaridade são o tempo todo levados a colocar em jogo o que

já sabem sobre os números naturais e o SND, por meio de atividades exploratórias e

desafiadoras, bem como a ampliar seus conhecimentos em relação à grandeza dos números

naturais, sua função social e notação convencional. Vejamos um exemplo de atividade

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exploratória no 5º ano, articulando as Orientações do Material do Professor com a atividade

oferecida no Material do Aluno:

Figura 13: Projeto EMAI – Material do Professor 5º ano – Atividade 3.2

ATIVIDADE 3.2 Conversa inicial

Comente que, nesta atividade, vão comparar alguns números grandes referentes a populações. Inicie fazendo a leitura do texto e dos dados da tabela. Explore a tabela e pergunte: quantos são os habitantes do Amazonas? E do Ceará? Qual é o estado que tem a população de 10.439.601?

Problematização Peça para que comparem os números apresentados na tabela. Pergunte: quais são

os estados com população maior que 11.000.000? Pergunte se tem algum Estado com população maior que São Paulo? Peça para que descrevam as estratégias usadas na comparação dos números. Verifique se percebem que o maior é o que tem maior quantidade de algarismos e se os dois tiverem a mesma quantidade de algarismos, o maior é o que se inicia pelo algarismo maior.

Observação/Intervenção Verifique as estratégias utilizadas pelos alunos e faça algumas sínteses com

procedimentos que auxiliam a comparação de números grandes.

.

Fonte: EMAI – Educação Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Quinto Ano –

Organização dos Trabalhos em Sala de Aula – Material do Professor – Volume 1, p. 22. 2013.

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94

Figura 14: Projeto EMAI – Material do Aluno 5º ano – Atividade 3.2

Fonte: EMAI – Educação Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Quinto Ano –

Material do Aluno – Volume 1, p. 22. 2013.

Esta atividade explora a expectativa de aprendizagem compreender e utilizar as regras

do sistema de numeração decimal para leitura e escrita, comparação, ordenação de números

naturais de qualquer ordem de grandeza, por meio de um contexto exploratório e desafiador,

neste exemplo, o número da população de alguns estados brasileiros. O aluno é solicitado a

utilizar os conhecimentos que possui sobre a notação convencional de um dado número e

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sobre as regras do SND, para compará-lo a outros números e para responder aos

questionamentos.

Novamente ficam explícitas as contribuições de Lerner e Sadovsky (1996), em relação

à necessidade se explorar regularidades, confrontando as hipóteses dos alunos e ampliando

seus conhecimentos numéricos, principalmente, na comparação entre os números de

diferentes grandezas.

Assim, como no caso do Material do 3º ano, a atividade apresentada acima é uma

dentre as várias presentes no Material do 5º ano, que discutem o tema em questão. O quadro a

seguir localizará cada uma das atividades proposta para o trabalho com números naturais e

SND.

Quadro 10: Atividades Propostas para o Trabalho com Números Naturais e SND no

Material do 5º ano

UNIDADE SEQUÊNCIA EXPECTATIVA (S) TRABALHADA (S) ATIVIDADE

Primeira 1ª Sequência

Compreender e utilizar as regras do

sistema de numeração decimal para

leitura e escrita, comparação, ordenação

de números naturais de qualquer ordem

de grandeza.

1.1

1.2

1.3

1.4

1.5

3ª Sequência

Compreender e utilizar as regras do

sistema de numeração decimal para

leitura e escrita, comparação, ordenação

de números naturais de qualquer ordem

de grandeza.

3.1

3.2

3.3

3.4

3.5

3.6

Segunda Não há atividades referentes a Números ou SND.

Terceira Não há atividades referentes a Números ou SND.

Quarta 16ª Sequência

Compreender e utilizar as regras do

sistema de numeração decimal para

leitura e escrita, comparação, ordenação

de números naturais de qualquer ordem

de grandeza.

16.1

Fonte: EMAI – Educação Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Quinto Ano –

Material do Aluno – Volume 1. Páginas: 9-13, 21-26 e 108. 2013.

Podemos perceber pelos dois exemplos, que as atividades propostas no Material do

Projeto EMAI (3º e 5º ano) são de cunho investigativo e exploratório, colocando sempre o

aluno como agente das ações e construtor do conhecimento, e o professor como parceiro mais

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experiente e mediador destas construções, sendo assim, é inegável a possível contribuição

destas atividades para o ensino e a aprendizagem dos números naturais e para o sistema de

numeração decimal.

No próximo capítulo, nos dedicaremos a detalhar e analisar como o Currículo

Prescrito e o Currículo Apresentado se configuram na prática cotidiana escolar, como o

Currículo Moldado pelos Professores. Quais são os conhecimentos das professoras sobre o

Projeto EMAI, sobre o tema Números Naturais e SND e quais são os usos que fazem dos

materiais curriculares oferecidos.

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97

CAPÍTULO 4

O USO DOS MATERIAIS CURRICULARES NO COTIDIANO ESCOLAR

PARA O ENSINO E A APRENDIZAGEM DOS NÚMEROS NATURAIS E DO

SISTEMA DE NUMERAÇÃO DECIMAL

Neste capítulo nos dedicaremos a apresentar o currículo moldado pelos professores.

Para tal, relataremos a pesquisa de campo realizada no primeiro semestre do ano letivo de

2013, de abril a junho, com o intuito de analisarmos quais as relações que um grupo de 4

professoras estabelecem com o material curricular de Matemática, para ensinar números

naturais e sistema de numeração decimal; que elementos/características do material

possibilitam a essas professoras melhor apropriação das concepções subjacentes e que

recursos as professoras mobilizam na sua interação com os materiais curriculares.

Foram acompanhadas duas escolas. O critério de escolha baseou-se na condição de

que as pessoas realmente estivessem realizando, nos momentos de Aula de Trabalho

Pedagógico Coletivo (ATPC), o estudo do Material oferecido pelo Projeto EMAI. Essa

informação foi fornecida pela Diretoria de Ensino, que indicou as escolas e pela própria

Professora Coordenadora Pedagógica da Unidade Escolar. As Coordenadoras confirmaram

que realizavam os momentos de estudo e, por sua vez, convidaram a participar da pesquisa

somente 2 professoras, uma do 3º ano e uma do 5º ano, que de fato realizavam as atividades

do Projeto.

Assim, na escola A temos como sujeitos de pesquisa as professoras Fernanda do 3º

ano e Sandra do 5º ano e na escola B, as professoras Renata do 3º ano e Luciana do 5º ano.

Apresentaremos os dados coletados, agrupados por professora e de acordo com a

seguinte organização.

Primeiramente pontuaremos os dados coletados por meio de uma entrevista semi-

estruturada. O roteiro elaborado para a entrevista (Anexo I) é composto por quatro eixos

concernentes à caracterização do sujeito; os conhecimentos e crenças sobre o Projeto EMAI;

os conhecimentos, crenças e concepções sobre os Materiais Curriculares e os conhecimentos,

crenças e concepções sobre o conteúdo números naturais e SND.

As entrevistas foram gravadas em áudio antes do acompanhamento das aulas, com

duração em média de 40 minutos. Esse tempo variou conforme o relato de cada professora e a

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predisposição em expor suas opiniões sobre os eixos. Por meio das entrevistas levantaremos

hipóteses e os conhecimentos das professoras sobre os itens listados acima.

Em segundo lugar, traremos nossas observações das práticas pedagógicas para o

ensino dos números naturais e SND. Cada professora permitiu que acompanhássemos de 3 a 5

aulas, em um total de 16.

Para uma análise mais contundente, serão apresentadas somente as apreciações de

algumas aulas, o critério desta seleção foi detalhar aquela em que as professoras

desenvolveram de fato o trabalho com o Material do Projeto EMAI, e que o conteúdo das

atividades propostas fosse, especificamente, Números Naturais e Sistema de Numeração

Decimal.

As aulas serão analisadas por meio de um quadro que articulará as características das

atividades propostas, os procedimentos utilizados pelas professoras e a ação desenvolvida, ou

seja, os Recursos do Material. Neste item apresentaremos literalmente as orientações contidas

no material do Projeto EMAI para o desenvolvimento da atividade; As orientações serão

confrontadas com os Resultados Instrucionais, neste componente será transcrita integralmente

a aula acompanhada. Por fim, os Recursos do Professor, em que discutiremos o conhecimento

do conteúdo, o conhecimento didático e as crenças das professoras. A análise da prática

pedagógica permitirá que identifiquemos qual a relação que as professoras estabelecem com

os materiais curriculares, para o ensino dos conteúdos em questão.

Em terceiro lugar, discutiremos os depoimentos das professoras acompanhadas. Os

relatos foram coletados após três meses de trabalho com o Material do Projeto EMAI. O

roteiro elaborado para a coleta dos depoimentos (Anexo II) é composto por 10 questões

abertas, sobre os novos conhecimentos, desafios e mudanças na prática de ensinar números

naturais e SND, com o apoio do Material oferecido pelo projeto EMAI.

Após um ano de implementação do Projeto EMAI alguns fatores pareciam influenciar

o uso deste em sala de aula, tais como, o não reconhecimento de que os Materiais do Projeto

ampliam os conteúdos matemáticos, que estão contidos no Material do Programa Ler e

Escrever, também oferecido pela SEE-SP. Outra reclamação dos professores em 2013, foi o

fato de esta segunda versão estar disponível somente em verão on line e, portanto, requerer o

acesso no site para pesquisá-lo; o não conhecimento da estrutura do Material do Professor,

dividido em conversa inicial, problematização e intervenções/observações, bem como o

desconhecimento da função de cada um destes itens. Esperamos que os depoimentos

coletados possibilitem a validação ou não dessas hipóteses.

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99

Cabe ressaltar que, como comentamos nos capítulos anteriores, o Material Curricular

elaborado no âmbito do Projeto EMAI foi uma ação conjunta com a rede de ensino, portando

passou por um processo de elaboração, análise e revisão. Desse processo resultaram três

versões distintas, que geraram três versões definitivas.

A primeira versão foi divulgada à rede em 2012, esta versão sofreu mudanças drásticas

em relação à estrutura do documento, as atividades foram ampliadas, principalmente no item

de orientação ao professor.

A segunda versão, elaborada em 2013, incorporou as ampliações sugeridas em 2012 e

retornou à rede para uma nova discussão, com orientações ao professor sempre seguida por

uma sugestão de atividade para o aluno. Esta segunda versão por sua vez, sofreu pequenos

ajustes e deu origem a terceira e última versão.

A terceira e última versão, constitui-se no Material do Professor e no Material do

Aluno, que foi impresso e distribuído à Rede Estadual de Ensino em 2014.

Essas informações são de extrema importância para nossa pesquisa, pois nos

permitirão identificar qual é a versão utilizada pelas professoras em 2013 e se, as mesmas,

tanto conhecem o processo de construção do Material, quanto se reconhecem como agentes

deste processo. Iniciaremos as análises pelas duas professoras do 3º ano e finalizaremos com

as duas professoras do 5º ano.

4.1 ACOMPANHAMENTO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DA PROFESSORA

FERNANDA – 3º ANO

4.1.1 ENTREVISTA DA PROFESSORA FERNANDA

Retomemos à caracterização da professora Fernanda. Ela tem 41 anos, atua nos Anos

Inicias do Ensino Fundamental há 18 anos na Rede Estadual Paulista e não possui outra

atividade profissional. Cursou magistério, é graduada em Pedagogia, possui Pós-graduação

em Psicopedagogia e em 2013 estava com uma turma de 3º ano.

Durante a entrevista a professora apontou que tem uma boa relação com a Matemática

ao dizer: “Na verdade a Matemática é um conteúdo que eu gosto e o que a gente entende é a

Matemática do fundamental”. Sua afirmação deixa claro que ela gosta dos conteúdos

matemáticos que estão presentes em seu campo de atuação com os Anos Iniciais do Ensino

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100

Fundamental, provavelmente, porque tem mais familiaridade com os conteúdos deste

segmento.

Quando indagada em relação a como se avalia ensinando Matemática, a professora

apontou que tem um bom desempenho e completou afirmando, “acho que eu procuro estar

atenta a ela”. Ela acredita que tem conhecimentos suficientes dos conteúdos matemáticos que

se propõe a ensinar e que, um bom professor que ensina Matemática para os alunos dos Anos

Iniciais deve ser um educador dinâmico.

Em relação ao Projeto EMAI, a professora relatou que embora tenha ouvido falar de

suas propostas em 2012, no início de 2013 ainda estava se familiarizando com material, o que

não permitia que ela o descrevesse. Relatou ainda que suas amigas de escolas particulares, já

haviam falado da proposta e que ela achou muito boa, no entanto, que não havia participado

do processo em 2012. Diante da colocação, foi apontado a Fernanda que poderíamos não estar

falando do mesmo projeto, uma vez que o Projeto EMAI não é uma iniciativa privada, mas

sim um processo de implementação curricular da Rede Estadual Paulista. Após o alerta, a

professora retomou a fala, dizendo que se enganou e que sabia a qual projeto nos referíamos.

Os momentos de estudo deste Material foram realizados por ela quando estava no

espaço escolar, somente durante as ATPC, pois não aderiu, em 2013, às duas horas a mais de

estudos propostas pela Resolução 46.

Embora tivesse pouca familiaridade com o Material, Fernanda colocou que

considerava a proposta objetiva, contribuindo para o planejamento de suas aulas de

Matemática e na mudança de suas crenças e concepções sobre o ensino da disciplina, pois

oferece, como ela mesma denominou, “um rumo” ao seu trabalho.

Quanto aos Materiais Curriculares, disse que estes sempre estão presentes quando

prepara suas aulas de Matemática, em parceria com a outra professora do 3º ano de sua escola

e que utiliza para este planejamento, principalmente, o material do Programa Ler e Escrever e

algumas atividades do EMAI. As propostas do Material do EMAI eram trabalhadas uma vez

por semana, no entanto, a professora deixou claro que trabalhava com a Matemática por

blocos de conteúdos, várias vezes por semana, ou seja, ela distribuía os conteúdos na rotina da

semana e utilizava outros materiais, além do material do Projeto, para este trabalho.

Ao desenvolver uma atividade, segundo ela, procura seguir o que foi proposto no

material que pesquisou, mas caso a turma não corresponda, durante o desenvolvimento

acrescenta coisas, pula outras e ou, adapta a atividade.

Quando indagada em relação à estrutura do Material do Professor, indicou que é

fantástico que as expectativas de aprendizagem antecedam as atividades, pois, por diversas

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vezes, durante o trabalho com outros materiais, sentiu-se perdida ao tentar identificar a

proposta de uma atividade. No entanto, em relação à conversa inicial sugerida no material,

não a utiliza já que prefere, como indicou anteriormente, fazer do seu jeito, contar uma

história, ler um texto sobre o assunto e até mesmo antecipar qual será o conteúdo abordado na

próxima aula, a fim de aguçar a curiosidade dos alunos.

Fernanda não apresentou críticas ao material, acredita que sua estrutura é objetiva, que

ele está pronto, restando ao professor desenvolver as propostas e que assim, os alunos

aprenderão melhor e gostarão da Matemática.

Apontou ainda, que seus alunos apresentaram dificuldade em desenvolver algumas

atividades com autonomia, esta dificuldade foi motivada, segundo ela, por não conseguirem

ler as propostas. Contudo, a partir do momento que ela realizava a leitura para eles, a maioria

conseguiu desenvolver com autonomia e somente alguns precisavam de intervenção.

Avaliou que a proposta de ensino de números naturais, apresentada no material do

Projeto EMAI, está adequada e que seus alunos conseguem o que denomina de “visualizar e

fazer uma boa interferência”.

Em relação à exploração das funções dos números, exposta no material, a professora

relatou que para ela o trabalho deve ser focado na quantificação e na associação das ordens e

classes, ou seja, no valor posicional. Já quanto à produção escrita, o seu trabalho se dá por

meio do ditado de números, da grafia dos números, da exploração do quadro lacunado, da

construção de 100 em 100 e conclui dizendo: “Isso eu acho importante, para a própria

construção”.

Para o trabalho com as cartelas sobrepostas, pensa que este é um bom recurso para que

os alunos aprendam a “armar contas”.

Ainda segundo Fernanda, seus alunos já compreenderam o sistema de numeração e

diz: “eles entendem a formação dos números, que do zero ao nove os algarismos são sempre

usados e repetidos, sabem também que conforme a classe e a ordem, o valor muda. Eles

sabem escrever os números e até de valores altos, lidam melhor com números do que com

letras. Dinheiro, que é bem da vivência deles”.

Porém, acredita que falta muito para que compreendam os números e o SND. “O

problema é o raciocínio quando envolve os números, para operar, quando se refere à cálculos.

O cálculo mesmo é treino, mas a situação-problema é que empaca, na hora de bolar uma

estratégia”.

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Finaliza a entrevista dizendo, “eu acho que as crianças antes tinham pavor da

matemática e agora não sinto mais isso, acho que agora temos uma leveza maior, uma nova

metodologia, tem uma diversidade maior, então são poucos os que não gostam”.

Fernanda mostrou estar aberta a expor seus conhecimentos sobre o Projeto, seus

Materiais e como trabalha o conteúdo de Números e SND, entretanto, durante nosso diálogo

ficou claro que conhece muito pouco sobre a proposta. Embora tenha relatado que ocorrem

momentos de estudo do material em ATPC, a professora não se reconhece como agente ativa

do processo de elaboração deste Material, intuito inicial da implantação do Projeto EMAI.

Mesmo com poucos subsídios para expor sobre a estrutura do material, durante sua

fala, ficou explícito já ter desenvolvido algumas atividades, entretanto, para responder sobre a

concepção que o material possui sobre o conteúdo em questão, ela se referiu o tempo todo à

sua concepção de ensino e de aprendizagem.

Em seu discurso, Fernanda entende que o conceito de números e do SND deva ser

construído gradativamente e que os alunos do 3º ano estão passando por esse processo.

Compreende também que o aluno é agente ativo deste processo de aprendizagem. Todavia,

parece não reconhecer o ensino dos números como um conteúdo em si, nem a necessidade da

exploração dos números em diferentes funções para a apropriação de seu conceito, conforme

apontam as contribuições sobre o tema de Fayol (1996), Lerner e Sadovsky (1996) e Pires

(2013), uma vez que para ela o ensino dos números serve a um propósito, o de quantificar,

portanto, sua maior preocupação parece estar no ensino das operações.

Da mesma forma, o aprendizado das regras do SND está centrado em compreender as

características do sistema para que se opere corretamente. Nesta perspectiva, por muitas

vezes, durante a entrevista ela se referiu a este conteúdo como se estivéssemos falando do

ensino das operações e não do conteúdo números naturais e SND. Provavelmente, porque

identifica a existência do bloco de conteúdos Números e Operações, mas naquele momento,

não percebe a necessidade do trabalho com o conceito de número para uma futura articulação

com os demais conteúdos.

No próximo item, relataremos como estes conhecimentos, do material e do conteúdo,

se configuram na prática pedagógica desta professora e assim poderemos validar, ou não,

algumas das hipóteses levantadas durante a entrevista.

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103

4.1.2 PRÁTICA PEDAGÓGICA DA PROFESSORA FERNANDA

Durante a entrevista, foi combinado com a professora Fernanda que suas aulas de

Matemática seriam assistidas às segundas-feiras. Nesta oportunidade, ficou acordado que o

foco de observação seria o trabalho com números naturais e sistema de numeração decimal.

Acordamos também, que suas aulas seriam gravadas em áudio, no entanto, antes do

início da observação da primeira aula, a professora solicitou que o recurso não fosse usado

porque acredita que sua sala é um pouco agitada demais, desta forma, suas aulas foram

registradas em meu diário de bordo e depois aqui transcritas. Após estes combinados, foram

acompanhadas quatro aulas não consecutivas.

Em média estiveram presentes 20 alunos, alguns eram agrupados em duplas, em uma

fileira próxima à mesa da professora e os demais em fileiras individuais. A sala possui duas

lousas, uma à frente das carteiras e outra ao lado. A maioria dos registros são realizados na

lousa que fica à frente, a lousa lateral é usada como mural de recados e lembretes durante as

atividades ou para a exposição de trabalhos realizados. Havia ainda um calendário, em que os

dias que já se passaram eram riscados, um quadro com tabuadas e um quadro numérico de 0 a

99.

No quadro a seguir estão relacionadas às atividades que foram trabalhadas pela

professora, durante as quatro aulas acompanhadas.

Quadro 11: Relação das Atividades Trabalhadas pela Professora Fernanda

AULA

VERSÃO

2013

UNIDADE

SEQUÊNCIA EXPECTATIVA (S) TRABALHADA (S) ATIVIDADE

1ª Segunda 6ª

Sequência

Analisar, interpretar, resolver e

formular situações-problema,

compreender alguns os significados da

adição e da subtração.

6.1

Página 42

2ª Primeira 2ª

Sequência

Ler, escrever, comparar e ordenar

números, pela compreensão das

características do sistema de numeração

decimal.

2.1

Página 19

3ª Primeira 1ª

Sequência

Utilizar a calculadora para produzir e

comparar escritas numéricas. 1.5

Página 17

4ª Primeira 2ª

Sequência

Ler, escrever, comparar e ordenar

números, pela compreensão das

características do sistema de numeração

decimal.

2.2

Página 20

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104

Contar em escalas ascendentes e

descendentes, a partir de qualquer

número dado.

Observar critérios que definem uma

classificação de números (maior que,

menor que, estar entre) e de regras

usadas em seriações (mais 1, mais 2,

dobro, metade), explorando,

principalmente, números com mais de 3

ordens. Fonte: EMAI – Educação Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Terceiro Ano –

Organização dos Trabalhos em Sala de Aula – Material do Professor – Volume 1, 2013.

Todas as atividades desenvolvidas, durante as aulas observadas, na sala da Professora

Fernanda, foram retiradas do material oferecido pelo projeto EMAI versão 2013. Conforme

listamos no capítulo 3, existem 10 atividades no Material do 3º ano que contemplam,

especificamente, a discussão sobre Números Naturais e SND, no entanto, podemos observar

pelo quadro acima que nem todas as atividades escolhidas por ela, para a observação

proposta, contemplavam este conteúdo.

A primeira atividade desenvolvida por ela tinha como objetivo o trabalho com

operações de significados da adição e subtração. Ao final da primeira aula, foi ressaltada a

necessidade de observarmos o desenvolvimento de atividades que contemplassem os

conteúdos sobre números naturais e SND. Ela se desculpou e disse que havia entendido que o

bloco era números e operações, e que prepararia para as outras aulas o conteúdo solicitado,

assim, as outras três aulas acompanhadas tinham como expectativa de aprendizagem o

conteúdo pretendido.

Além disso, poderemos observar no quadro, que mesmo escolhendo duas atividades de

uma mesma sequência, a professora não optou pelo trabalho com as atividades na ordem de

apresentação como propõe o material, exatamente porque a educadora possui poucos

conhecimentos sobre sua estrutura, como antecipamos na entrevista. Assim sendo, Fernanda

escolheu, aleatoriamente entre as sequências, atividades que serviam aos seus objetivos de

ensino. Dentre as quatro aulas, duas foram escolhidas para serem analisadas, conforme os

quadros a seguir:

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105

Quadro 12: Análise da aula da Professora Fernanda do 3º ano – Atividade 2.1

Legenda: As colocações da Professora serão indicadas pela letra P e as dos alunos pela letra A.

VERSÃO 2013 – TERCEIRO ANO – UNIDADE 1 – 2ª SEQUÊNCIA – ATIVIDADE 2.1 – (ANEXO IV)

PRIMEIRO MOMENTO – CONVERSA INICIAL

RECURSOS DO MATERIAL RESULTADOS INSTRUCIONAIS RECURSOS DA PROFESSORA

FERNANDA A atividade realizada pela professora era

proposta no material relacionada à seguinte

expectativa de aprendizagem: Ler, escrever,

comparar e ordenar números, pela

compreensão das características do sistema de

numeração decimal.

Esta atividade propõe: Compor diferentes

números com dados de três algarismos.

No material era proposta uma conversa

inicial do professor com a turma no sentido

de: Levantar os conhecimentos dos alunos

sobre como construir um anagrama com

palavras e depois com números.

Conversa Inicial: Comente com as crianças

que, trocando de lugar as letras de uma

palavra, podemos escrever outras palavras.

Diga que chamamos isso de anagramas. Dê

exemplos: AMOR — ROMA; AMERICA —

IRACEMA. Comente ainda que nem sempre as

novas palavras criadas existem na nossa língua.

A professora iniciou a aula explicando que

iriam fazer uma comparação.

A: O que é uma comparação?

P: Comparar uma coisa com a outra.

Hoje vamos trabalhar com um anagrama.

Com a palavra ROMA se eu trocar as letras

de lugar eu consigo formar outras...?

A: PALAVRAS. Gritaram os alunos.

Eles continuaram.

A: AMOR.

P: Legal vocês entenderam. Mas hoje

nós vamos fazer isso na Matemática, só usei

essa palavra como exemplo.

A: Mas na matemática é diferente?

P: Na matemática usamos números.

Então vamos explorar o número 243. Que

número é este, Duzentos e quarenta e três?

Que numero está na unidade?

A: 3.

P: Na dezena?

A: 4

P: E na centena?

A: 2.

Para iniciar a conversa a professora

realizou alguns questionamentos procurando

saber o que os alunos já sabiam sobre

comparar coisas e sobre um anagrama. Não

explorou muito este recurso, pois percebeu

que os alunos já sabiam o que era um

anagrama com palavras, deste modo, passou a

explorá-lo com números.

A partir deste momento fez

adaptações, de acordo com aquilo que

acreditou ser importante os alunos saberem. A

conversa inicial proposta no material explora

primeiro a construção de números a partir de

três algarismos dados, sem repeti-los.

Possibilitando assim, ao aluno entender que

existem várias possibilidades de organizá-los,

sem que estes algarismos se repitam.

Diferente do proposto, Fernanda optou

em oferecer primeiro um número já

constituído, o 243 e discutiu o valor

posicional de cada algarismo deste número,

dando ênfase a grandeza de cada posição,

conduzindo a discussão para outra direção.

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106

Pergunte se eles têm ideia do que acontece

com a escrita dos números. Deixe as crianças

exporem suas ideias para depois socializar que,

alternando a posição dos algarismos também

podemos formar diferentes números.

Pergunte se eles sabem ler esses números e, na

sequência, peça que componham números com

os algarismos 4, 6, 9 usando todos eles e sem

repeti-los.

Explore as respostas das crianças e depois peça

que leiam o texto da atividade 2.1.

P: Quantas unidades temos?

A: 3.

P: E quantas dezenas?

A: 40 dezenas ou 40 unidades.

P: E quantas centenas temos?

A: 2 que é o 200.

A professora registrou o número 243 na lousa

e perguntou:

P: Que outro número podemos

formar?

Os alunos disseram prontamente:

A: O 324.

No entanto, para formar o terceiro número os

alunos tiveram dificuldade. A professora

perguntou:

P: Podemos formar mais algum

número com o 4 na ordem das unidades?

Como eles tiveram dificuldade em identificar

a ordem em que estava o quatro ela registrou

as ordens:

C D U

2 4 3

3 2 4

Fernanda pediu para que dissessem outro

número em que o 4 estivesse na ordem da

unidade, assim um aluno disse: 394.

Ela anotou na lousa e perguntou se era

possível.

A: Não, porque não temos o 9.

A professora retomou a pergunta e outra

criança ditou.

A: 234

Nesta atividade, a professora valida

como correta a resposta dos alunos de que o

número 243 tem 3 unidades, 40 dezenas e 2

centenas quando, de fato o número 243 tem

243 unidades, 24 dezenas e 2 centenas.

A partir de então iniciou a exploração

da possibilidade de organizar os números em

várias posições.

Fez isso de duas formas diferentes.

Primeiro, perguntou se poderiam formar outro

número, permitindo que os alunos pensassem

livremente. Essa tarefa foi cumprida

prontamente por eles e com sucesso ditaram o

324. Em seguida, ela preferiu direcionar um

pouco mais a comanda e pediu um número

em que o 4 permanecesse na ordem das

unidades. Perante essa nova informação os

alunos encontraram dificuldade em pensar em

novas posições para os algarismos e na ordem

em que deviam ocupar ao mesmo tempo.

Diante da dúvida de seus alunos

Fernanda registrou as ordens na lousa e

analisou os números já construídos por eles,

segundo suas ordens, direcionando a

discussão mais uma vez para outra direção.

Esse novo direcionamento da proposta

fica claro a partir do momento que um de seus

alunos dita o número 394, para satisfazer a

comanda de criar um novo número com o 4

na unidade. Esse aluno perde o referencial de

que deve criar um novo número a partir de

243 e passa a preocupar-se com a ordem da

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P: Está correto? Perguntou aos demais

A: Sim. Disseram os alunos.

Ela validou e registrou na lousa

C D U

243

324

234

Em seguida repetiu a pergunta.

P: Podemos formar mais algum

número em que o 4 esteja na ordem da

unidade?

Um aluno ditou.

A: 342.

Ela registrou o número e explorou:

P: Em que ordem está o número 4, na

ordem das unidades?

A: Não. Os alunos disseram.

P: Isso mesmo está na ordem das

dezenas, é o número 40 e não o 4.

Outro aluno ditou:

A: 343

Ela registrou o número na lousa, discutiu que

não poderiam repetir os algarismos e mudou a

consigna.

P: Para formar um número em que o 4

esteja na ordem da centena. Qual seria?

Um aluno ditou:

A: 423.

P: O 4 na ordem da centena vale

quanto?

A: 400.

Ela validou e eles ditaram outro número, o

unidade. No entanto, com a intervenção de

uma segunda criança ao dizer que o nove não

era válido, a discussão volta ao número de

origem.

A atividade foi retomada, mas a

intervenção da professora volta a ser

necessária quando indagou pela segunda vez

se eles conseguiriam formar outros números

com o 4 na ordem da unidade e os alunos

ditam 342. Essa resposta corresponde a uma

nova possibilidade de organizar os

algarismos, porém, não atende a solicitação

de que o 4 deveria permanecer na ordem da

unidade.

Diante desta limitação novos números são

ditados e outras questões aparecem, como a

repetição de algarismo na formação de um

novo número, como foi o caso de 343. Até

este momento os alunos não haviam sido

informados que não poderiam repetir os

algarismos, orientação esta que estava

presente no material.

A professora os informou, então, que

não poderiam repetir os algarismos e passa a

uma nova comanda. Tudo se repetiu, o

primeiro número é ditado por eles

corretamente, 423, ela insistiu em outra

possibilidade e eles encontraram problemas

em articular uma nova maneira de

organização, fixando o 4 na ordem das

centenas e começaram a ditar vários números

ignorando qualquer combinado estabelecido

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432 e o processo de validação continuou. Em

seguida ela perguntou.

P: Podemos formar mais algum

número?

Eles ditaram vários como: 243, 421, 456, 442,

1050, 4022.

A Professora registrou os números em um

canto da lousa. Os próprios colegas da sala

diziam ao que ditava se valia ou não, se o 4

estava na ordem da centena. Ela parou a

discussão e explorou o registro feito na lousa,

dizendo:

P: Eu já tinha dado uma dica, o 4 só

pode ficar na ordem da centena então, eu só

posso trabalhar com a dezena e com a unidade

e com os algarismos da posição 2 e 3. Se eu já

mudei esses algarismos de posição tenho mais

opções?

C D U

4 2 3

4 3 2

A: Não.

P: Olha como ficou.

423 C = 400, D = 20 e U = 3.

432 C = 400, D = 30 e U = 2.

Após a exploração retomou cada um dos

números ditados aleatoriamente, que estavam

registrados em um espaço a parte da lousa e

perguntou:

P: Como eu disse, a dica é que, que

número tinha que estar na ordem da centena?

A: O 4.

até então.

Assim, Fernanda interviu com uma

nova comanda, mostrando a eles que era

necessário fixar o 4 na centena e trabalhar

somente com a dezena e com a unidade.

Ela explorou novamente as grandezas

desses algarismos nas diferentes posições,

dando ênfase a esse trabalho. Iniciou o

processo de validação e exclusão dos números

ditados pelos alunos, para essa ação, centrou a

discussão na necessidade de que o 4 se

mantivesse na ordem da centena, que não

houvessem algarismos repetidos e que

estivessem presentes somente os algarismos

2, 4 e 3.

Finalizou este momento de conversa

inicial pedindo novamente que os alunos

ditassem possibilidades de organização com o

número 243. Os alunos conseguiram ditar

todas as possibilidades, porém desconheciam

essa informação e passaram a repetir os

números já ditados. A professora não discutiu

a questão e somente optou em passar para a

problematização da atividade.

Fernanda definiu de forma consciente

direcionar a conversa inicial, e demonstrou ter

um bom conhecimento didático para lidar

com a agitação de sua sala, intervindo

prontamente, sem perder o foco em seu

objetivo de ensino.

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P: Então vamos olhar cada um dos

números ditados e decidir se vale ou não para

mim.

P: 243, vale para mim?

A: Não, pois, o 4 não está na centena.

P: 421, vale para mim?

A: Não por causa do 1.

P: 456, vale para mim?

A: Não por causa do 6.

P: Esses números com milhar (1050,

4022), estamos trabalhando com milhar?

A: Não.

P: Então não vale para mim.

Ela retomou os registros corretos e sem dar

dicas pediu para formarem outros números. C D U

243

324

234

423

432

342

243

Visto que não conseguiam formar números

novos e começaram a repetir os já ditados, a

professora pediu que lessem número por

número e começou a passar a

problematização na lousa.

SEGUNDO MOMENTO – PROBLEMATIZAÇÃO

RECURSOS DO MATERIAL RESULTADOS INSTRUCIONAIS RECURSOS DA PROFESSORA FERNANDA

Problematização: Peça que observem o

número 837. Pergunte:

A professora passou a atividade na lousa.

A professora registrou a atividade na

lousa como estava no material, leu o que

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- Se você mudar a ordem dos algarismos, você

obtém um novo número, o que acontece?

Peça que escrevam os novos números no

espaço destinado. Depois, peça aos alunos que

utilizem os outros três algarismos, o 4, o 6 e o

9 e alterem as ordens e registrem os resultados.

Socialize todas as possibilidades encontradas e

verifique se sabem ler os números formados.

Atividade EMAI

Observe o número 837 e mude a ordem dos

algarismos e descubra um novo número.

Quando terminou de passar, orientou:

P: Com esse número 837 vocês vão

mudar a ordem e formar novos números.

Registrou as ordens na lousa, mas antes

perguntou:

P: Quais são as ordens mesmo?

A: C D U

Após esse momento um aluno perguntou:

A: É para fazer um número

professora?

A professora retomou.

P: Quem não entendeu levante a mão?

Bom, não acabamos de fazer uma atividade?

A: Sim.

P: Então com o número 837 vocês

terão que fazer a mesma coisa e formar o

maior número de números.

A: Pode repetir o número?

P: Não, não podem repetir o mesmo

número. Tenho que usar os três que estão na

lousa e também não posso fazer eles duas

vezes iguais.

A professora se sentou e pediu que tentassem

fazer em silêncio. Alguns alunos foram

registrando e mostrando para ela, assim, ela

validava ou não e intervinha lembrando-os

das regras.

P: O maior número de números sem

pedia a comanda, retomou quais eram as

ordens e solicitou que fizessem. Ela

novamente adaptou as orientações dadas pelo

Material ao se referir à ordem do número,

como se essa fosse uma informação

fundamental para que os alunos formassem

novos números.

Mesmo após todo o momento

exploratório, que promoveu com os alunos

durante a conversa inicial, este não foi o

suficiente para compreenderem que deveriam

organizar os algarismos do número 837, em

diferentes possibilidades. Aparentemente,

como as possibilidades de organização dos

algarismos não foi o foco da discussão inicial,

mas sim, a ordem que ocupavam, os alunos

apontaram não terem entendido a comanda e

lhes fizeram perguntas que constavam nas

orientações do material e, que ela já havia

dado durante a conversa inicial, mas que não

ficaram claras para eles, então perguntavam:

“é para formar um número? podemos repetir

os algarismos?”.

Diante das dúvidas ela retomou

novamente as comandas e logo se sentou

pedindo para que realizassem a atividade

individualmente e em silêncio, não

permitindo que trocassem informações com

seus colegas. Como não podiam consultar

seus pares, os alunos optaram em registrar

suas repostas e irem até a mesa da professora

para conferência.

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repeti-los, usando 837.

Ela aguardou alguns minutos e foi passando

nas mesas, principalmente, daqueles que não

estavam tentando fazer e pareciam ter

dificuldade, conferindo e intervindo quando

necessário. Após alguns minutos orientou:

P: Nessa atividade vamos fazer a

correção coletiva, embora eu já tenha

corrigido alguns cadernos, vamos fazer a

escrita desses números depois, mas, primeiro

eu vou passar mais um número.

Ela registra na lousa:

Escreva números com os algarismos 4, 6, 9.

Use todos eles, sem repeti-los.

P: Preste bem atenção, olhem a

diferença dessa atividade aqui.

Solicitou que um aluno lesse o enunciado. Ele

leu e ela explicou.

P: Esse daqui eu não tenho um número

pronto, vocês terão que pensar nos algarismos

e construir esses números, mas, eu estou

dando a quantidade. Quantos números terão

que formar?

A: 6 números.

P: Na atividade anterior eu dei um

Após alguns minutos ela modificou o

procedimento e passou a fazer intervenções

mesa por mesa, principalmente, porque

identificou que alguns alunos não estavam

fazendo a atividade.

Fernanda aguardou mais um tempo,

registrou a próxima parte da atividade na

lousa e solicitou que a realizassem. Chamou a

atenção de seus alunos, para o fato de que

essa atividade tinha uma comanda diferente. E

então enfatizou que não teriam um número,

mas, sim algarismos para formar seis novos

números, sem repetí-los.

A professora não recorreu às

orientações dadas no material, pois, não

socializou as escritas realizadas e nem

promoveu a leitura desses números, ela

escolheu registrar na lousa uma terceira

atividade que não constava no material.

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pronto, mas nessa quais são os números que

vocês têm para montar?

A: 4, 6, e 9.

P: Então a partir deles que vocês vão

encontrar 6 números novos.

Ela retomou essa explicação a um aluno que

não estava entendendo. Caminhou pelas

mesas fazendo intervenções e corrigindo os

cadernos. Após alguns instantes passou para

uma terceira atividade.

TERCEIRO MOMENTO – OBSERVAÇÃO E INTERVENÇÃO

RECURSOS DO MATERIAL RESULTADOS INSTRUCIONAIS RECURSOS DA PROFESSORA FERNANDA

Observação/Intervenção: Explore, ainda, o

sucessor e o antecessor desses números. Faça

contagens orais, usando como base, um dos

números compostos. Organize rodas de

contagem oral a partir de um número qualquer

de 3 algarismos e verifique até que número

seus alunos conseguem contar.

Aguardou alguns instantes, até que a maioria

terminasse e disse:

P: A partir da última atividade

realizada vocês vão realizar mais uma.

A professora leu a consigna e os alunos

disseram:

A: AH! Em ordem crescente do menor

para o maior.

Um aluno disse:

A: Um exemplo, a gente era bebê e

estamos crescendo e ficaremos cada vez

maiores.

A Professora desenha círculos na

lousa:

Ela perguntou:

Organizem os números acima em

ordem crescente.

O material traz no item observação e

intervenção a proposta de que a atividade seja

ampliada com análises de algumas

características do SND, como o antecessor e o

sucessor de um número, propõe também a

contagem oral a partir dos números

compostos.

Fernanda observou que a maioria de

seus alunos havia terminado e escolheu

ampliar a atividade, assim como sugerido no

item Observação/Intervenção, no entanto,

resolveu criar uma nova proposta ao solicitar

que seus alunos organizassem os números

criados em ordem crescente.

Para exemplificar o que era uma

ordem crescente ela desenhou círculos na

lousa, que crescem gradativamente, na

procura de concretizar este conceito.

Ela retomou com os alunos o que era

ordem crescente, e pontou a qual ordem da

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P: A ordem crescente é do menor para

o...?

A: “MAIOR”, gritaram os alunos.

Um aluno perguntou:

A: Até que número?

Outro respondeu:

A: Até o número que fizemos na

atividade, até o número maior que aqueles.

A Professora orientou os alunos da seguinte

maneira para colocar em ordem crescente:

P: Primeiro olhamos pela ordem da

centena e não pela unidade. Do 4, 6 e 9 qual é

a minha menor centena?

A: A do 4.

P: Ah! Então a do 4 será a minha

menor centena e depois?

A: A do 6.

P: E depois?

A: A do 9.

O tempo da aula já estava no final, então a

professora solicitou que os alunos

finalizassem em casa para retomar no outro

dia a atividade e a correção das três propostas.

centena deviam recorrer primeiro para saber

qual era o menor número, direcionando

novamente a discussão para o seu foco que

era a análise do valor posicional dos números.

Não houve tempo para a finalização da

atividade em sala, deste modo os alunos

finalizaram suas atividades em casa. Desta

forma não foi possível acompanhar o

momento de correção de suas produções, pois

o mesmo aconteceu em outra aula.

QUADRO 13: Análise da aula da Professora Fernanda do 3º ano – Atividade 1.5

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Legenda: As colocações da Professora serão indicadas pela letra P e as dos alunos pela letra A.

VERSÃO 2013 – TERCEIRO ANO – UNIDADE 1 – 1ª SEQUÊNCIA – ATIVIDADE 1.5 – (ANEXO V)

PRIMEIRO MOMENTO – CONVERSA INICIAL

RECURSOS DO MATERIAL RESULTADOS INSTRUCIONAIS RECURSOS DA PROFESSORA

FERNANDA A atividade realizada pela professora era

proposta no material relacionada à seguinte

expectativa de aprendizagem: Utilizar a

calculadora para produzir e comparar escritas

numéricas.

Esta atividade propõe: O uso da calculadora

para que os alunos produzissem escritas

numéricas.

No material era proposta uma conversa

inicial do professor com a turma no sentido

de: Explorar o instrumento que será usado para

a produção das escritas numéricas, suas

características e funções.

Conversa Inicial: Nessa atividade, você vai

usar calculadora. Distribua uma calculadora

para cada aluno. Deixe que eles explorem a

máquina e façam perguntas para verificar se

sabem usá-la. Diga que eles vão fazer a leitura

dos números da atividade do aluno e que cada

um deles vai digitar na calculadora esse

número, para que ele apareça no visor da

calculadora.

A professora iniciou a aula com leitura diária,

depois registrou na lousa:

1. Rotina

2. Leitura diária: “Como a noite apareceu” - lenda

Tupi – Livro texto Ler e Escrever.

3. Atividade EMAI - CALCULADORA

Um aluno veio até a Professora e disse:

A: Professora como vamos aprender se

a calculadora é quem vai calcular? Assim não

vamos aprender nada?

Ela respondeu:

P: Isso é o que você pensa. No final da

aula eu vou te perguntar o que você aprendeu e

ai você responde.

Os alunos abriram a tampa que fica na parte de

baixo da calculadora e ficaram preocupados

porque não tinha pilha. Diante desta

curiosidade a professora iniciou a exploração

do recurso:

P: A calculadora não tem pilha mesmo,

pois funciona com energia solar. Aqui em cima

temos o visor e ao lado do visor um painel que

capta a luz e faz à calculadora funcionar.

Fernanda registrou na lousa o botão que indica

ligar e apagar e o que indica desligar e

Antes mesmo de iniciar a atividade,

como os alunos haviam registrado a rotina na

lousa e sabiam que iriam trabalhar com a

calculadora, eles estavam ansiosos e

curiosos. Deste modo, um aluno indagou a

professora sobre o uso do instrumento e seus

benefícios. A professora garantiu a ele que se

surpreenderia com a atividade.

Ela seguiu a orientação do Material

em relação à conversa inicial, e promoveu

um amplo momento de exploração do

recurso, principalmente das teclas que

possibilitam resolver as operações, que

pareceu ser importante para a proposta que

iriam fazer.

Novamente o foco de Fernanda

voltou-se a operar, assim durante a

exploração do instrumento ela traz a

discussão a ideia de metade para se referir a

divisão. Consciente que essa discussão

pouco contribuiria, naquele momento, para

que seus alunos de 3º ano entendessem a

divisão, devido ao pouco conhecimento que

tinham sobre os números racionais, ela

afirma sua colocação e passa a exploração de

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explorou suas funções. Os alunos estavam bem

interessados em explorar a calculadora. Assim,

ela registrou na lousa o sinal, e perguntou aos

alunos o que eles indicavam, ou seja, qual

operação indicava.

P: Que sinal é este -?

A: De menos.

P: Que sinal é este +?

A: De mais.

P: Que sinal é este x?

A: De vezes.

P: Este é o sinal da multiplicação.

P: Que sinal é este ÷?

A: É o de dividir professora. Esse é o

sinal que me ajuda a saber, a metade, eu

coloquei o 5 e descobri que a metade é 2,5.

P: Isso mesmo a metade de 5 é 2,5.

A: O M é a milhar professora?

P: Não, esse é de Memória. E a

porcentagem, %, vocês vão aprender depois

para saber descontos.

uma nova tecla.

A professora optou em não

comunicar, naquela ocasião, aos alunos que

iriam digitar os números lidos, como solicita

as orientações do Material, assim adapta a

conversa segundo seus objetivos de

aprendizagem.

SEGUNDO MOMENTO – PROBLEMATIZAÇÃO

RECURSOS DO MATERIAL RESULTADOS INSTRUCIONAIS RECURSOS DA PROFESSORA FERNANDA

Problematização: Leia com a classe um

número de cada vez. A cada número lido, peça

aos alunos que compartilhem as escritas e

solicite a um deles que registre na lousa.

Essa atividade pode ser repetida em outros

momentos, com outros números, que podem

ser ditados por você. A próxima atividade

permite ao professor introduzir o sucessor e o

antecessor de um número, a partir da

A partir deste momento a professora iniciou a

problematização da atividade.

P: Agora vou falar um número e quero

que vocês digitem para mim. O número 61,

digitem para mim?

Eles digitaram e a professora pediu para ver

todas as calculadoras para conferir. Nesse

momento a maioria dos alunos estavam

sentados em frente à lousa junto à professora.

Neste momento, a professora

procurou controlar a agitação da sala

convidando-os a sentarem no chão, próximos

a lousa.

Para o momento de problematização

Fernanda ditou os números, portanto,

adaptou a proposta que pedia uma leitura

conjunta dos nomes dos números.

Após ditar o primeiro número ela

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problematização apresentada na atividade em

que a criança deve fazer aparecer um número

no visor da calculadora. A partir de um número

dado e sem apagá-lo, para aparecer o sucessor

ou o antecessor, a criança deverá adicionar ou

subtrair 1. Depois, peça que completem a

tabela, usando a calculadora.

P: Que número é a dezena:

A: 6.

A:1.

Eles ficaram em dúvida. A professora registrou

na lousa as ordens D U e perguntou:

P: Que número vocês digitaram

primeiro?

Um aluno disse o 1, alguns alunos riram e

disseram:

A: Mas, se você tivesse digitado o 1

primeiro o número não seria 61.

A professora solicitou que uma aluna

registrasse o número 61 na lousa e validou o

que o aluno disse:

P: Isso mesmo se ela tivesse digitado o

1 primeiro não seria 61.

A professora solicitou que digitassem o

número 27 e repetiu a intervenção, verificou se

todos haviam digitado certo e perguntou:

P: Que número digitamos primeiro?

A: O 2.

Ela pediu que um aluno registrasse na lousa,

confirmou o registro e, continuou.

P: Digitem o número 132?

Ela aguardou alguns instantes e perguntou:

P: O que teve de fácil para digitar esse

número?

A: É só apertar a última fileira.

P: Qual é o número de ordens desse

número?

A: Três números.

P: Para digitar esse número começamos

conferiu se a maioria havia acertado e

somente então registrou na lousa.

Em seguida adaptou novamente a

atividade de acordo com o seu objetivo,

assim indagou os alunos sobre o valor

posicional do número em questão.

Os alunos não conseguiram

responder de imediato, portanto, a professora

registrou as ordens na lousa (DU) e

perguntou qual número foi digitado

primeiro. Somente após essa alteração no

questionamento (qual número foi digitado

primeiro) é que um aluno se arriscou, pois

não precisou fazer relação do número com a

classe, somente lembrar qual número digitou

primeiro.

Este aluno diz que o primeiro número

digitado foi o 1. Com a intervenção dos

próprios colegas a criança percebe que para

ser o número 61 ela somente poderia ter

digitado o 6 primeiro.

Ao terminar a validação deste

número a professora ditou outro, aguardou

um instante e validou as escritas de seus

alunos, porém, neste momento não optou em

explorar a ordem dos números.

Esse movimento se repete com o

terceiro ditado. Como ditou um número de

três algarismos, ela volta a explorar as

ordens dos números.

A segunda parte da problematização,

segundo o material, seria explorar o

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a digitar por qual ordem?

A: Pela centena, pelo1.

A professora validou e registrou o número na

lousa.

P: Agora vocês vão fazer aparecer

outros números na calculadora, façam aparecer

o 12. Desse 12 eu quero que apareça um outro

número, mas vocês não poderão apagar. Vou

dar uma dica, vocês poderão usar um sinal.

A professora registrou a regra na lousa:

NÃO PODE APAGAR.

P: Vamos entender a regra. Que

números estão registrados na calculadora?

A: 12.

P: Desse número 12 eu quero o número

15. Não vou falar como fazer, vocês é que vão

pensar. Está o 12, eu quero o 15, sem apagar o

12. Os botões amarelos não devem ser usados.

Alguns alunos digitaram o 12 e o 15 e

mostraram para a Professora, 1215, que

explicou:

P: Não é 1215 (doze e quinze), não

vale, não é assim. Agora vamos registrar.

Desenhou um quadradinho na lousa e registrou

o número 12.

+ 3 = 15

Alguns alunos foram até ela e disseram:

A: É só fazer o 12, o + e o 3 dá 15.

A professora disse:

P: Alguém fez outro cálculo ou pensou

antecessor e sucessor de um dos números

ditados, por meio da adição ou da subtração

de uma unidade daquele número. A operação

deveria ser informada aos alunos e estes

precisavam somente acrescentar uma

unidade ao número inicial.

Entretanto, Fernanda adaptou a

proposta e solicitou que seus alunos

escrevessem um número na calculadora e

que sem apagá-lo realizassem uma operação

para encontrar o resultado 15. Desta maneira,

ela mudou o foco da discussão do antecessor

e sucessor e passou a explorar novamente as

operações.

Sem compreender muito bem a

proposta os alunos registraram tanto o 12

quanto o 15, assim Fernanda realizou a

intervenção enfatizando que deviam fazer

uma operação e não simplesmente digitá-los.

Desta forma, registrou a operação na lousa,

orientando seus alunos para a próxima

proposta.

Ela continuou a atividade marcando

na lousa um novo número, o 21, o sinal de

igual e o 29, que neste caso é o resultado.

Assim os alunos deveriam encontrar um

número que somado a 21 resultasse em 29.

A professora passou pelas mesas

fazendo intervenções e como percebeu que

poucos haviam realizado a operação.

Solicitou que uma aluna fosse a lousa e,

registrasse sua conta. A conta apresentada

12

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de uma maneira diferente?

A: Eu pensei 12 + 15.

P: Mas aí daria um número muito

grande e diferente, 12+15=27. E a professora

pediu um resultado que fosse 15. Não daria

certo. Vamos para outro número, digitem o

número 21.

= 29

A professora não colocou o sinal da operação e

deixou o espaço do segundo número em

branco.

P: É do mesmo jeito sem apagar e tem

que dar 29.

A professora passou nas mesas olhando os

resultados e fazendo as intervenções

necessárias. E dizia:

P: Tem que dar 29 e não pode apagar.

Convidou uma aluna à lousa e ela registrou:

21 + 9 = 29 A professora pediu para a aluna zerar a

calculadora e digitar 21+9=. Ela fez e deu 30.

Fernanda perguntou:

P: O que aconteceu?

A: Fiz conta errada.

P: O que está errado?

A: O nove.

P: Que número podemos colocar no

lugar?

Outro aluno disse:

A: O 8.

pela aluna não estava correta, então, a

educadora aproveitou para fazer intervenções

diante de todos para que percebessem qual

deveria ser o procedimento para encontrar o

resultado correto. Com algumas perguntas

problematizadoras e, ao incentivar a aluna a

validar seu resultado, Fernanda encontrou

junto à sala a resposta correta.

O intuito inicial da atividade,

proposto pelo material era de produzir e

comparar as escritas numéricas, contudo,

devido a seus objetivos de aprendizagem esta

proposta toma outra forma e suscita nos

alunos outras curiosidades, que nos levam ao

terceiro momento desta atividade.

21

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A professora registrou na lousa e validou.

21 + 8 = 29 TERCEIRO MOMENTO – OBSERVAÇÃO E INTERVENÇÃO

RECURSOS DO MATERIAL RESULTADOS INSTRUCIONAIS RECURSOS DA PROFESSORA FERNANDA

Observação/Intervenção: Verifique se as

crianças descobrem que, se o número digitado

for 99, para aparecer o número 100 devem

adicionar 1. Da mesma forma, verifique se as

crianças descobrem que se o número digitado

for 86, para chegar ao 85 devem subtrair 1.

Comente com as crianças que o sucessor de um

número é aquele que vem imediatamente

depois dele, sendo obtido adicionando-se 1, e

que o antecessor de um número é aquele que

vem imediatamente antes dele, que para ser

obtido, é necessário subtrair-se 1. Use o quadro

numérico e solicite que indiquem, nesse

quadro, o sucessor e o antecessor de alguns

números selecionados por você.

Um aluno questionou:

A: Mas só usamos o sinal de +, não

pode ser o de -?

A Professora disse:

P: Podemos usar o sinal de - mas que

número você digitaria com 21 - que daria 29.

Nós sempre aprendemos que seria um número

maior na frente para fazer a subtração e agora

como faremos se o 21 está primeiro?

Um aluno fez 21-50 e deu -29. A

professora perguntou:

P: Que número deu?

A: Um número negativo, - 29.

Os demais alunos disseram:

A: Número Negativo?

P: A professora sempre disse que

fazemos primeiro o número maior e o menor

depois, mas nos outros anos vocês irão

aprender a trabalhar com o número em que se

faz o menor primeiro e o maior depois e assim

podemos encontrar os números negativos.

Registrou na lousa.

21 - 50 = -29 Número Negativo. P: Nós aprendemos que os números

começam pelo 0, mas, antes do 0 tem números,

esse são os negativos.

Desenhou na lousa.

Como comentado anteriormente, o

segundo momento desta atividade deveria

explorar os números antecessores e

sucessores dos números ditados, entretanto, a

atividade foi conduzida para a exploração

das operações.

Como a professora somente propôs

adições, um aluno a questionou se com uma

subtração também não chegariam ao

resultado solicitado, o 29. A professora disse

que sim e os desafiou a encontrar um número

que ao subtrairmos ele de 21 resultaria 29.

Logo um dos alunos encontra a

seguinte operação 21-50 = -29 e o lê para a

professora como resposta ao seu desafio.

Devemos reconhecer o esforço e a

estratégia do aluno como válidos e

louváveis, no entanto, não podemos deixar

de enfatizar que o número encontrado foi -29

e não 29, pois, ao subtrairmos de 21,

qualquer número não é possível encontrar

como resultado o 29.

Diante da nova informação dada pelo

aluno, a existência dos números negativos,

Fernanda não se intimida e passa a explicar a

seus alunos, de uma forma resumida o que

são números negativos, enfatizando que

saberão mais e melhor futuramente. Porém,

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... -4 -3 -2 -1 0

P: Temos o -1, -2, -3, -4 e assim por

diante como os positivos, os negativos são

infinitos.

Uma aluna disse:

A: Entendi. O dois (presente no número

21) é menos que o cinco (presente no número

5) por isso, que o 29 é negativo. Então sempre

que o número de cima for menor e o de baixo

maior teremos um número negativo.

P: É quase isso, mas, nem sempre o

número será negativo. Eu tenho 21 balas e

tenho que te dar 50 sobra 29 que eu não tenho

então é negativo. Vamos voltar.

21 + = 29

P: Existe outra forma de somar e dar

29?

Ela mesma registra um exemplo, usando giz de

cores diferentes:

21 + 2 + 2 + 4 = 29

P: Isso pode?

A: sim, porque dá 29.

P: Qual outro exemplo?

Um aluno registrou:

21 + 7 + 1= 29

A professora validou e pediu outros exemplos.

Eles registraram.

21 + 5 + 2 + 1 = 29

21 + 3 + 3 + 2 = 29

21 + 5 + 3 = 29

21 + 4 + 4 = 29

em momento algum diz que o -29 não

satisfaz a reposta e volta à discussão anterior,

21 somado a um número que dá 29.

Aparentemente Fernanda adaptou a

atividade sem um planejamento detalhado

antes, pois não estava atenta ao fato de que a

atividade proposta desta forma, somente

levaria seus alunos a adicionar, caso

contrário, inevitavelmente, encontrariam um

número negativo. Não cabendo a escolha da

operação, mas sim, do número a ser

adicionado.

Novamente, apresentou aos alunos

uma possível resposta e solicitou que a partir

de seu exemplo encontrassem novas

soluções.

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Os alunos faziam a conta na calculadora,

registravam na lousa e a professora validava ou

não, esse procedimento se repetiu até final da

aula.

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A professora Fernanda realizou várias adaptações em suas aulas. Suas adaptações por

diversas vezes beneficiaram o encaminhamento da atividade, entretanto, cabe enfatizar que,

principalmente no caso da segunda atividade, estas distorceram o foco inicial da proposta

atividade que era o de produzir e comparar escritas numéricas, colocando em pauta outro

conteúdo, o das operações. Esse fator se dá exatamente pelas crenças da professora em

relação ao ensino dos números e do SND. Antes de nos dedicar a detalhar sobre suas crenças

e concepções, agreguemos à nossa análise o depoimento da Professora.

4.1.3 DEPOIMENTO DA PROFESSORA FERNANDA

Após três meses de uso do material proposto pelo Projeto EMAI e o acompanhamento

de algumas aulas, entendemos que seria importante ouvir novamente as opiniões da

professora sobre o Material, e entender o que ela conseguiu apreender sobre a estrutura deste.

Vamos acompanhar as respostas da professora Fernanda quando indagada sobre o material e

sua prática pedagógica.

Quando questionada sobre qual versão do material estava utilizando para preparar suas

aulas, a Professora Fernanda apontou que era a versão 2012. No entanto, esta informação está

equivocada, sendo que muitos dos procedimentos utilizados por ela, para o desenvolvimento

das atividades, não constavam na primeira versão do Material, portanto, ela utilizou o tempo

todo, sem tomar conhecimento, a versão 2013. Essa confusão entre as versões nos faz crer que

a professora realmente desconhece o processo de construção do Material e da implementação

do currículo de Matemática, pois, se quer sabe que o material possui duas versões.

Ao ser questionada a respeito de como tem se organizado para trabalhar as propostas

do Material do Projeto EMAI relatou que, quando necessário, imprime as atividades ou utiliza

a lousa, o que demonstra que o fato de o material ter sido disponibilizado somente em versão

on line, não foi um impedimento para que desenvolvesse as atividades. Enfatizou ainda, que

utilizou o Material do Projeto juntamente ao material do Programa Ler e Escrever e a outros

materiais preparados por ela.

Para planejar suas aulas a professora indicou que lê as orientações do Material e que

geralmente as adapta. Atribuiu essas adaptações ao fato de sua turma ser agitada e conclui

dizendo: “Para me localizar durante a aula faço um esquema, muito flexível, pois a aula

“caminha” de acordo com as necessidades e dúvidas das crianças”. Por meio desta afirmação

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é importante ressaltar que a professora fez adaptações de acordo com a agitação de sua sala e

de suas concepções e crenças sobre o conteúdo.

Ao questionarmos sobre a estrutura do material em conversa inicial e intervenções, ela

apontou que realmente prefere inventar as conversas iniciais para criar o que ela chama de

“um certo mistério, para instigá-los ao conhecimento”. Essa colocação explicita que a

professora desconhece que a proposta da conversa inicial também é introduzir o tema, por

meio do levantamento de conhecimentos prévios dos alunos. Quanto às intervenções acredita

que lhes foram bastante úteis, no entanto, para as duas atividades aqui analisadas ela cria

novas propostas e não acata as orientações contidas no Material.

Solicitamos à professora que indicasse uma das atividades propostas pelo Projeto

EMAI, e desenvolvida por ela durante uma das aulas acompanhadas, que considerasse ter

contribuiu para o ensino e aprendizagem dos números naturais e SND. Ela deveria também,

justificar tal escolha, segue a resposta apresentada:

A aula onde trabalhamos “A ordem dos números”. Formando números com

a calculadora, sem dúvida foi a mais proveitosa e divertida para as crianças.

Primeiro pela descoberta de utilizar a calculadora, após por entender de

forma divertida o valor posicional dos números e o cálculo mental. Onde a

soma ou subtração de apenas 1 muda o número de todas as ordens

(299+1=300), ou ainda com o número 46 no visor da calculadora, sem

apagá-lo, terá que aparecer o número 50.Também criar um número que tenha

o 8 na ordem da dezena [...] e assim por diante. Com os resultados

registrados na lousa, ainda trabalhamos esses números colocando-os em

ordem crescente/decrescente e fizemos a escrita por extenso. Essas

atividades tiveram real significado para as crianças e iremos refazê-las

aumentando as dificuldades (Questionário da professora Fernanda).

A professora apontou mais de uma atividade e deixou explícito novamente o que

entende pele ensino dos números e do sistema de numeração decimal, assim, dá extrema

importância que os alunos saibam o valor posicional de um número, mas não se refere em

nenhum momento a importância de que reconheçam suas funções.

Da mesma forma, solicitamos à professora que indicasse uma das atividades propostas

pelo Projeto EMAI e também desenvolvida por ela durante uma das aulas acompanhadas, que

considerasse que menos contribuiu para o ensino e aprendizagem dos números naturais e

SND. Ela deveria também justificar sua resposta, segue a resposta apresentada:

A atividade que achei menos producente foi o enigma numérico. Notei que

poucas crianças perceberam que se tratava da operação inversa. Senti que

ficaram curiosos com a atividade, mas apresentaram dificuldades para

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efetuá-la. Não associaram pensamento ao cálculo, ficavam perguntando

conta do quê? Ou ainda somavam/subtraiam de acordo ao enunciado.

Retomei na lousa e oralmente o mesmo estilo de atividade com números

bem simples, usei o quadradinho como enigma, o que facilitou a

compreensão (Questionário da professora Fernanda).

A Professora acertadamente apontou esta atividade, entre as que foram acompanhadas,

como a que menos contribuiu para o ensino e a aprendizagem dos números naturais e sistema

de numeração decimal. Essa atividade foi idealizada para que os alunos analisassem,

interpretassem e resolvessem situações-problema, compreendendo alguns dos significados da

adição e da subtração, portanto, pouco ou nada contribuiria para a aprendizagem dos números.

Com esse depoimento a professora confirma nossa hipótese de que ela conhece o bloco de

conteúdos Números e Operações, mas não reconhece as especificidades do trabalho com os

números e com o SND para a construção do conceito de número.

A educadora relatou ainda que não encontrou nenhuma dificuldade para planejar e

desenvolver suas aulas, principalmente, por achar o material bem explicado. E afirma

novamente que adaptou as atividades, como a do uso da calculadora, devido à indisciplina dos

alunos, assim, diz:

Como minha sala é agitada o foco se desvia rapidamente, então na atividade

com a calculadora, mesmo adorando, precisei reduzir os números ditados

para formarem na calculadora, pois estavam dispersando formando o que

queriam. Outro momento foi quando estavam sentados perto da lousa e

falavam/digitavam números para eu escrever na lousa, logo virou uma

bagunça/conversa até sobre o assunto, mas desordenada que ninguém

aproveitava e outros bagunçavam. Daí a comanda foi retornarem aos lugares

e prossegui com a atividade (Questionário da professora Fernanda).

Assim, como reconhece suas adaptações, pontua suas criações, ou melhor, as

ampliações das atividades, “aproveitei para trabalhar ordem crescente/decrescente, ditado de

números da tabela numérica onde completaram com apenas alguns números”. A professora

identifica que suas contribuições potencializaram o ensino e a aprendizagem dos alunos.

Depois de relatada a entrevista, prática pedagógica e depoimento, vamos à algumas

considerações destes três objetos.

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125

4.1.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS RELAÇÕES DA PROFESSORA

FERNANDA COM MATERIAIS CURRICULARES

Após a entrevista, o acompanhamento da prática e do depoimento da professora

Fernanda podemos perceber que ela conhecia muito pouco dos recursos do material mas,

mesmo assim, se propôs a trabalhar da melhor forma possível as quatro atividades escolhidas,

estudando as orientações destas atividades e as adaptando conforme seus objetivos para a

aprendizagem de seus alunos.

Mesmo com uma sala agitada a professora Fernanda entende o caráter exploratório das

atividades e as desenvolve nesta perspectiva. Ela escolheu no material em questão, quatro

atividades que exploravam a produção escrita dos números, no entanto, adaptou todas as

propostas, pois tinha claro o seu objetivo de ensinar a seus alunos as regras do SND, para que

trabalhassem melhor com as operações. Possivelmente, essas escolhas também estão

pautadas na crença no que 3º ano, seus alunos já construíram o conceito de número sendo

assim, não entende como necessário oferecer a eles, atividades em que tenham que produzir

escritas numéricas e muito menos que explorem a função dos números.

Após a análise dos três instrumentos: entrevista, prática pedagógica e depoimentos,

podemos apontar que a professora Fernanda, apresenta uma visão dinâmica da Matemática,

procura abordar o ensino por meio de processos criativos e geradores de discussão, pois

compreende o papel ativo no processo de ensino e de aprendizagem.

Logo, ela tanto oferece e acompanha os alunos em situações exploratórias, valorizando

as manifestações de suas habilidades em integrar seus conhecimentos em busca de soluções

para as tarefas matemáticas, como também, torna suas aulas mais animadas e envolve os

estudantes em atividades que melhorem sua relação com a Matemática, explicitando que

possui um bom conhecimento didático para o ensino do conteúdo (BROWN, 2009;

THOMPSON, 1997).

Ela reconhece a utilização do Material do Projeto EMAI, como ferramenta para

potencializar suas propostas, por meio de adaptações, que serve à sua concepção e crença do

que é o ensino dos números naturais e do SND, ou seja, o seu conhecimento do conteúdo

(BROWN, 2009). O uso contínuo de adaptações durante sua aula tendo, neste caso

redirecionando algumas vezes os objetivos das propostas iniciais e se distanciado da discussão

central que era o ensino dos números naturais, nos faz questionar se a professora entende o

planejamento como ferramenta que pode antecipar possíveis dúvidas dos alunos, bem como se

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ela relaciona sua prática pedagógica com suas crenças, as coloca em conflito, reconhece sua

origem e suas limitações. Pois, em momento algum Fernanda sinaliza entender que não

trabalhou propriamente o conceito de número e que seu foco foi o trabalho com operações. A

professora considera que após três anos de escolaridade seus alunos já saibam o que deveriam

sobre os números, como afirma, durante a entrevista e que, portanto, a sua missão é ensiná-los

como operar com estes números, conforme sua afirmação durante a entrevista.

Embora Fernanda tenha pontuado que a apresentação das expectativas de

aprendizagem no início das atividades é de extrema importância para nortear o seu trabalho, a

presença destas não foi o suficiente para impedi-lá de direcionar ambas as atividades para

conteúdos diferentes.

O recurso que mais promove a interação da professora com o material são as propostas

de problematização, pois tanto em seu discurso, quanto em sua ação ela demonstra não

reconhecer a função da conversa inicial para a atividade. E embora elogie as propostas de

intervenção e observações nas duas atividades descritas, elas não foram adaptadas.

Com base nos relatos acima, podemos afirmar que, a pouca proximidade de Fernanda

com os pressupostos do material, não permitiu que ela se apropriasse das concepções

subjacentes neles propostas. Por isso, a exploração dos recursos oferecidos por essa

ferramenta, em articulação com os seus conhecimentos dos conteúdos para o ensino e a

aprendizagem dos alunos, do tema em questão, nem sempre atingiu os seus objetivos

propostos pelo material, o de produção escrita dos números, mas serviram a seus próprios

objetivos, os de utilizar os números para operar.

4.2 ACOMPANHAMENTO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DA PROFESSORA

RENATA – 3º ANO

4.2.1 ENTREVISTA DA PROFESSORA RENATA

Vamos relembrar a caracterização da professora Renata do 3º ano. Ela tem 50 anos,

destes 28 dedicados somente a lecionar na Rede Estadual Paulista, é formada em magistério e

em pedagogia com especialização em Educação Infantil.

Breve em seus apontamentos, quando questionada sobre a sua relação com a

Matemática, afirmou: “Eu gosto da Matemática”. Deixando claro que, não identifica

problemas em sua relação com esta disciplina, e que avalia ter um bom desempenho ao

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ensinar, pois possui conhecimentos suficientes tanto do conteúdo, quanto didáticos para

ensinar seus alunos. Acredita que para ser uma boa professora de Matemática, é necessário

estar sempre pesquisando e saber sobre o conhecimento dos alunos.

Renata conheceu o projeto EMAI na escola, em 2012. Relatou que a proposta de

grupos colaborativos de estudo já existia em sua escola antes da proposta do Projeto, e que

realiza o estudo do material, quando está no espaço escolar, em ATPC, porém não aderiu às

duas horas a mais de estudo deste material. Acredita que o Material do Projeto EMAI veio ao

encontro das propostas do Programa Ler e Escrever, programa este, já conhecido por ela e

utilizado pela escola. Portanto, não identifica mudanças em suas concepções e crenças, sobre

o ensino e a aprendizagem da Matemática, após o uso do material do Projeto EMAI. Apontou

ainda, que a concepção do material é apresentar em suas propostas o que realmente os alunos

devem aprender em relação aos conteúdos matemáticos.

Para planejar suas aulas ela relatou que, utiliza os materiais do Programa Ler e

Escrever, os Materiais do Projeto EMAI, livros didáticos e atividades que pesquisa na

internet.

Quando indagada sobre a nova versão do material, apresentada no início de 2013,

aparentou não saber do que se tratava, e responde: “Ah tá! Tem bastante atividade, que você

pode estar inserindo dentro do seu planejamento. Acho que tem bastante atividade como de

matemática, assim ... coisas lúdicas. Atividades que vem ao encontro do planejamento”.

Sua resposta indicou que não possuía muitos conhecimentos sobre o material, pois

sequer sabe que o material somente possui atividades de matemática. Mesmo assim, a

professora afirmou que utilizava as atividades do Projeto EMAI dois dias por semana, e nos

outros dias diversifica com o uso dos materiais já descritos. Colocou também que, escolhe

uma atividade e, a partir daquela, cria novas situações e quando não cria, trabalha do jeito

indicado no material.

Ao ser questionada sobre a estrutura do Material, no que se refere a como organiza na

rotina da semana as atividades propostas em cada sequência, ela disse que geralmente segue a

sequência da rotina descrita em sua lousa, mas que às vezes, precisa alterar a ordem das

atividades propostas. Neste momento, ficou claro que ela se referia à lista de atividades que

seriam desenvolvidas no dia, a rotina diária, recurso que é adotado pelas professoras para

organizar o trabalho em sala de aula. A pergunta foi retomada, enfatizando que se referia à

sequência das atividades propostas, como estrutura de trabalho pelo Material do Projeto

EMAI, e não sobre a sua rotina diária. Novamente aparentou não saber sobre o se tratava mas

mesmo assim, disse que procura trabalhar na sequência.

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Ainda sobre a estrutura do Material, quanto às proposições de expectativas de

aprendizagem presentes no material, apontou ver relação das expectativas com as atividades.

Pedimos também sua avaliação sobre a proposta de conversa inicial, a professora relatou: “Eu

acho ótimo, porque qualquer coisa que eu vou dar para eles eu converso com eles antes,

explico, tiro algumas coisas que eles sabem. Eu acho que ter essa conversa vai ser ótimo para

eles mesmos. Conversar antes, explicar, saber o que eles sabem”. A professora demonstrou

saber que os objetivos da conversa inicial são contextualizar os alunos e levantar seus

conhecimentos prévios sobre o assunto que será discutido.

Renata apontou acreditar que o Material do EMAI contribui para que os alunos

aprendam melhor a Matemática, pois sua proposta está muito próxima a do Material do

Programa Ler e Escrever. Sua crítica, ao material, está exatamente no fato de que ele repete

muito as propostas do programa.

Ela nos disse também que forma alunos autônomos, uma vez que, após as suas

explicações, a maioria dos seus alunos conseguem realizar as atividades sem muitas

intervenções.

Em relação aos conteúdos números naturais e SND, aponta que as proposta do

material são boas, que explorar a função dos números é importante e, que é necessário

levantar os conhecimentos prévios das crianças sobre estes usos.

Quanto à produção de escritas numéricas relatou: “Eu falo bastante da escrita dos

números, escrever por extenso, escrever os nomes dos números. Eu acho que é importante

eles saberem a função, a escrita dos números. Tanto é que sempre que eu dou matemática,

uma atividade dessas eu sempre trabalho. Eu já trabalho, eles falam oralmente, depois

escrevem”. Por meio dessa resposta, podemos afirmar que a professora ignora sobre qual

produção escrita estamos nos referindo, visto que relaciona escrever números com escrever o

nome dos números.

Sobre o uso de cartelas sobrepostas para o ensino dos números naturais e SND,

desconhece a proposta. Já em relação ao quadro numérico, mostrou ter conhecimento do

trabalho e das potencialidades deste material e apontou: “Quadro de número a gente trabalha

direto sequência, os números que estão faltando para completar, calendário”. A professora

apontou ainda que já utilizou o quadro numérico e o jogo do bingo, que são atividades do

Projeto EMAI sobre números naturais, e que trouxeram mais ganhos para os seus alunos.

Não assinalou nenhuma dificuldade em utilizar o material, acredita que as atividades

estão bem elaboradas, e que este está completo.

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Finalizou a entrevista dizendo que seus alunos vieram bem preparados dos outros

anos, pois tinham uma professora que trabalhava bastante o lúdico, portanto, a maioria deles é

bem “afiado” quanto ao sistema de numeração decimal, já que a proposta do terceiro ano é

que saibam até o 100 e eles já sabem para além disso. No entanto, apontou que ainda precisam

aprender sobre as unidades, dezenas e centenas, situações-problema e raciocínio.

Durante a entrevista a professora Renata aparentou não conhecer muito sobre a

estrutura do material, sobre seus pressupostos e concepções, bem como, não acreditar que

suas propostas se diferenciem daquilo que ela já trabalhava e dos outros materiais que já

utilizava, desta forma não reconhece muitas contribuições em seu uso.

Conhece a importância do trabalho com as funções do número e a importância do

quadro numérico, como um dos recursos possíveis para o ensino do conceito de número e das

regras do SND, mas demonstrou ter crenças e concepções equivocadas quanto ao ensino dos

conteúdos matemáticos, ao colocar que os alunos aprendem os números de forma

fragmentada, por isso é necessário o trabalho gradativo de sequências numéricas ano a ano.

4.2.2 PRÁTICA PEDAGÓGICA DA PROFESSORA RENATA

Durante a entrevista ficou acordado com a professora, que suas aulas de Matemática

seriam assistidas às segundas-feiras. Ela informou que trabalhava com Matemática nas duas

últimas aulas, ou seja, duas aulas de 50 minutos. Nesta oportunidade, foi informada que o

foco de observação seria o trabalho com números naturais e sistema de numeração decimal.

Após estes combinados, foram acompanhadas por meio de observação, o desenvolvimento de

três aulas não consecutivas. Além disso, foi combinado também que suas aulas seriam

gravadas em áudio.

Renata possui 25 alunos. A sala tem duas lousas, uma a frente das carteiras e outra ao

lado. A lousa lateral é usada como mural de recados, lembretes durante as atividades ou para a

exposição dos trabalhos realizados.

No quadro a seguir estão relacionadas às atividades que foram trabalhadas pela

professora durante as três aulas acompanhadas:

QUADRO 14: Relação das Atividades Trabalhadas pela professora Renata:

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AULA

VERSÃO

2012

UNIDADE

SEQUÊNCIA EXPECTATIVA (S) TRABALHADA

(S) ATIVIDADE

Terceira 4ª Sequência Ler e interpretar gráficos de

colunas. Atividade 2

Páginas 20 e 21

Quarta 1ª Sequência Identificar relações entre fatos

básicos da adição e da subtração. Atividade 2

Página 10

Terceira 1ª Sequência Ler, escrever, comparar e

ordenar números. Atividade 2

Página 7

Segunda 1ª Sequência

Analisar, interpretar, resolver

e formular situações-problema,

compreender alguns dos

significados da adição e da

subtração.

Atividade 1

Página 6

Terceira 1ª Sequência Ler, escrever, comparar e

ordenar números. Atividade 2

Página 7

Segunda 3ª Sequência

Estabelecer relação entre

unidade de tempo – dia, semana,

mês, bimestre, semestre, ano.

Atividade 4

Página 17

Terceira 1ª Sequência

Analisar, interpretar, resolver

e formular situações-problema,

compreender alguns dos

significados da adição e da

subtração.

Atividade 3

Página 8

Terceira 2ª Sequência

Analisar, interpretar,

resolver e formular situações-

problema, compreendendo

alguns dos significados da

multiplicação e da divisão.

Atividade 5

Página 14

Fonte: EMAI – Educação Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Terceiro Ano –

Organização dos Trabalhos em Sala de Aula – Material do Professor – Volume 1, 2012.

Algumas atividades desenvolvidas, nas aulas observadas na sala da professora Renata,

foram retiradas do material oferecido pelo projeto EMAI versão 2012. Podemos observar no

quadro, que mesmo escolhendo atividades de uma mesma sequência, a professora não optou

pelo trabalho com as atividades na ordem de apresentação como propõe o material,

exatamente, porque a educadora possui poucos conhecimentos sobre sua estrutura, como

antecipamos na entrevista. Assim sendo, Renata não somente escolheu aleatoriamente as

sequências, como as atividades que serviam aos seus objetivos de aprendizagem,

desenvolvendo até mesmo em uma mesma aula várias atividades de sequências diferentes.

Das 8 atividades do material desenvolvidas por ela, somente 1, que foi repetida duas

vezes, contemplava o tema pedido. Cabe ressaltar ainda, que somente estão listadas no quadro

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14, as propostas que ofereceu que pertenciam ao material do Projeto EMAI, pois houve outras

propostas de atividades que não constavam no material como ditado de número, escrita dos

números por extenso.

Dentre as três aulas acompanhadas, uma foi escolhida para ser analisada, conforme o

quadro a seguir:

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Quadro 15: Análise da aula da Professora Renata do 3º ano – Atividade 2 – Página 7

Legenda: As colocações da professora serão indicadas pela letra P e as dos alunos pela letra A.

VERSÃO 2012 – TERCEIRO ANO – UNIDADE 3 – SEQUÊNCIA 1 – ATIVIDADE 2 – PÁGINA 7 – (ANEXO VI)

PRIMEIRO MOMENTO – CONVERSA INICIAL

RECURSOS DO MATERIAL RESULTADOS INSTRUCIONAIS RECURSOS DA PROFESSORA RENATA A atividade realizada pela professora era

proposta no material relacionada à seguinte

expectativa de aprendizagem: Ler, escrever,

comparar e ordenar números.

Esta atividade propõe: O trabalho com a

ordem crescente e descrente de dados números.

No material era proposta uma conversa

inicial do professor com a turma no sentido

de: A proposta de conversa inicial para cada

atividade foi incorporada ao material na versão

2013. Como essa atividade faz parte do

documento de 2012, é uma das que não possui

conversa inicial.

A professora iniciou a aula colocando que

eles fariam uma atividade de Matemática, que

deveriam registrar o cabeçalho e depois

escrever DITADO DE NÚMEROS.

Muitas foram as perdas para aqueles

que ainda desenvolviam as propostas do

material antigo, a começar pela conversar

inicial que em 2012 era contemplada somente

em algumas atividades.

Esta atividade, em 2012, não possuía

tal proposta de conversa inicial, então, a

professora registrou sua rotina diária na lousa

e solicitou que os alunos a copiassem.

SEGUNDO MOMENTO - PROBLEMATIZAÇÃO

RECURSOS DO MATERIAL RESULTADOS INSTRUCIONAIS RECURSOS DA PROFESSORA RENATA

Problematização: Apresente na lousa a

listagem de números a seguir. Peça que

individualmente primeiro organizem e

registrem em seus cadernos os números na

ordem crescente (do menor para o maior), e

depois na ordem decrescente (do maior para o

menor).

Problematização: Após o registro do

cabeçalho e do nome da atividade (DITADO

DE NÚMEROS) a professora disse:

P: Vocês devem escrever os números e

não seus nomes. É o algarismo. E devem ser

escritos um abaixo do outro. Após o ditado

corrigiremos os números na lousa.

A professora iniciou a

problematização com a proposta de um ditado

de números. Esta atividade não pertence à

nenhuma proposta do material do terceiro

ano.

Ela enfatizou aos alunos que deviam

registrar os números e não seus nomes e

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Ela iniciou o ditado, foi ditando conforme

observava que seus alunos terminavam, sem

muita distância entre os números. Ditou uma

sequência de números com três algarismos

alguns na casa do 100, do 200 e 300. Ao

finalizar perguntou se era necessário repetir

algum número, mas os alunos recusaram.

Então explorou:

P: Qual sequência ditei?

A: Do 100 ao 300.

P: Mas eu ditei todos os números de

100 a 300 na ordem?

A: Não.

P: Como ditei então?

Os alunos não sabiam como responder então

ela disse:

P: Ditei salteando.

Em seguida os alunos foram à lousa e

registraram os números conforme haviam

marcado em seus cadernos. Ela validava os

acertos dos alunos, mas antes perguntava se

alguém havia feito de uma forma diferente,

ninguém se manifestava. Era perceptível que

algumas crianças estavam apagando seus

erros e corrigindo antes que a professora

percebesse. Após todo o registro, uma aluna

percebeu que estes estavam em ordem

crescente:100, 108, 121, 129, 131, 135, 148,

156, 169, 234, 236, 239, 297 e 300.

Essa mesma aluna apontou que os números se

pareciam de dois em dois o 100 e o 108, o

121 e 129 tinha 20 e 131 e 135 tinha 30. A

iniciou o ditado, ditando um número após o

outro até chegar ao último.

Quando finalizou o ditado explorou

com eles a sequência ditada, o que

demonstrou que vinha seguindo intervalo de

números e que, neste momento, estava

trabalhando do 100 ao 300. Esta informação

se confirma quando ao final da correção dos

números na lousa, um de seus alunos

identifica que os números estão em ordem

crescente do 100 ao 300.

Durante a correção a professora tenta

dialogar com os alunos e identificar seus erros

no momento do ditado, mas como não

acompanhou diretamente seus registros no

caderno, não conseguiu.

Foi perceptível, que enquanto se

preocupou com os registros na lousa seus

alunos apagavam aquilo que verdadeiramente

haviam registrado nos cadernos e os

corrigiam, acabando com qualquer

possibilidade dela realizar a análise de seus

registros e uma intervenção individual

futuramente.

Enquanto corrigia o ditado seus alunos

apontaram algumas regularidades, como a

ordem crescente e a proximidade das ordens

de grandezas dos números. Ao finalizar essa

correção, ela solicitou uma segunda atividade,

a partir dos números ditados os alunos

tiveram que escrever os nomes por extenso.

Durante essa atividade sua intervenção teve

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professora validou suas observações.

Após terminarem o registro e a correção em

seus cadernos a professora perguntou:

P: Olhem para o número 234 tem

unidades nele?

A: Sim, 4 unidades.

P: E dezenas?

A: Sim, 3 dezenas.

P: E centenas?

A: Sim, 2 centenas.

Exploraram também o número 100. Em

seguida a professora solicitou que

escrevessem, por extenso, o nome destes

números.

A professora foi passando nas mesas, e

intervindo nas produções dos alunos e

ajustando o escrito com o falado. Os mesmos

alunos que registraram o número ditado na

lousa foram convidados a escrever os nomes

destes números por extenso. Ela acompanhou

a discussão e foi corrigindo os equívocos

ortográficos, pediu que os alunos prestassem

bastante atenção e que corrigissem também

em seus cadernos. Depois de observar os

registros da maioria da sala, passou para a

próxima atividade, dizendo:

P: Vou colocar os números e vocês

vão colocar o antecessor. Vou colocar o

número colorido e vocês também podem

colori-los e a resposta à lápis.

como foco a correção ortográfica de escrita.

Na sequência, a professora incluiu

uma atividade para explorar as ordens de

alguns números, que segundo seu relato

durante a entrevista, é o conteúdo que seus

alunos ainda não sabem.

Nesta atividade, a professora valida

como correta a resposta dos alunos de que o

número 234 tem 4 unidades, 3 dezenas e 2

centenas quando, de fato o número 234 tem

234 unidades, 23 dezenas e 2 centenas.

A segunda atividade também não está

presente no material. A professora registrou

uma série de números na lousa e solicitou que

os alunos indicassem seu antecessor. Para tal,

optou em explorar a sílaba AN, da palavra

antecessor, na tentativa de que seus alunos

entendessem que antecessor é o que vem

antes.

Mesmo antes que terminassem Renata

passou para atividade que foi sugerida no

material. No início seguiu a orientação

apresentando a listagem de números sugeridos

na lousa, solicitando que os colocassem em

ordem, no entanto, optou que colocassem

somente em ordem decrescente, diferente do

material, que pede as duas ordens.

Explorou com seus alunos

rapidamente o que é uma ordem decrescente e

logo registrou na lousa a quarta atividade,

situações-problema.

A quarta atividade era constituída por

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2 – Dê o antecessor dos seguintes

números:

145 139

273 148

187 231

220 296

Após terminar o registro perguntou:

P: O que vocês devem fazer mesmo?

A: Colocar o antecessor.

P: Vamos ler os números.

Assim, solicitou que cada criança lesse um

número. Ao final da leitura um aluno disse

que não havia entendido, portanto, a

professora retomou o significado da palavra

ANTECESSOR.

P: O que é ANTECESSOR, a palavra

já diz AN, AN ... O que quer dizer?

A: O que vem antes.

Após essa explicação e a intervenção de um

amigo, o aluno que apontou a dúvida disse

que havia entendido.

P: Esses números devem ser

registrados na direita ou na esquerda dos

números coloridos?

A: Na esquerda.

P: Sim, o antecessor vem à esquerda.

Enquanto os alunos resolviam a segunda

atividade, ela passou para a terceira:

duas situações-problema. Ela registrou os

problemas na lousa e novamente com muita

concisão explicou o que deveria ser feito,

discutiu o que é adicionar e deixou que

terminassem de responder para a correção na

lousa.

Essas quatro atividades, que podem

ser contadas como cinco, pois os alunos após

o ditado ainda escreveram os nomes dos

números por extenso, foram realizadas em

apenas uma hora e meia. Portanto, embora

todas as propostas explorassem a seu modo o

conteúdo proposto, a forma como foram

desenvolvidas pouco pode contribuir para a

reflexão dos alunos, em relação aos registros

que estavam realizando.

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3 – Coloque os números em ordem

decrescente:

74 – 105 – 23 – 79 – 98 – 43 – 202 – 93

Quando finalizou o registro na lousa,

perguntou aos alunos:

P: O que é ordem decrescente?

Uma aluna disse: “É colocar os números do

maior para o menor”.

P: Vocês concordam?

A: Sim.

A professora validou e em seguida passou

duas situações-problema:

4 – Pensei em um número, adicionei 30 e

o resultado foi 70. Que número pensei?

5 – Pensei em um número, adicionei 50 e

o resultado foi 150. Que número pensei?

Depois que registrou, leu os problemas e

pediu para que resolvessem.

Um aluno teve dúvida e perguntou: “O que é

adicionar?”

A Professora perguntou à sala:

P: O que é adicionar?

A: É somar.

Ela confirmou:

P: Isso, quando eu adiciono, eu somo.

TERCEIRO MOMENTO – OBSERVAÇÃO E INTERVENÇÃO

RECURSOS DO MATERIAL RESULTADOS INSTRUCIONAIS RECURSOS DA PROFESSORA RENATA

Observação/Intervenção: Circule pela sala e A Professora passou em todas as mesas, A professora optou por não realizar a

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137

observe quais procedimentos os alunos

utilizam para resolver o desafio. Assim que os

alunos terminarem, solicite que alguns leiam a

sua sequência, registre na lousa exatamente

como as crianças escreveram em seus

cadernos, compare as sequências

potencializado às corretas e corrigindo os

possíveis equívocos. Proponha que os alunos

verbalizem os critérios usados para colocar os

números em ordem crescente/decrescente.

algumas vezes, e conferiu que a maioria havia

terminado, assim, iniciou a correção na lousa.

Os alunos foram à lousa, registraram suas

respostas e a professora foi fazendo

intervenções e validando ou não as repostas

apresentadas de todas as atividades.

proposta de intervenção recomendada. Como

solicitou junto à atividade do material uma

série de outras propostas não havia tempo

para um acompanhamento mais detalhado

como sugeria o item observações e

intervenções.

Embora ela tenha acompanhado

algumas escritas nas mesas fazendo

intervenções, não é possível afirmar que

houve tempo para reflexão e exploração das

regras apresentadas e das dificuldades

encontradas pelos alunos. Ao final, a

professora acaba corrigindo todas as

atividades na lousa e os alunos que não

fizeram ou que não entenderam, copiaram da

lousa as repostas corretas.

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138

Fica explícito que, pela forma que apresentou as atividades, a professora Renata

adapta as propostas a partir de recortes de atividades do material. Relatamos aqui somente

uma aula, pois, esta é a única que tem, especificamente, uma atividade que estava presente no

material e que contemplava o conteúdo números naturais e SND, sendo estas condições para

que a atividade fosse analisada. Seus procedimentos foram os mesmos nas outras duas aulas

assistidas, ou seja, ela desenvolveu com seus alunos vários recortes de atividades do material.

Cabe ressaltar ainda que a atividade de ordenar os números em ordem crescente e, ou,

decrescente se repetiu na terceira aula.

A maioria das propostas apresentadas pela professora, nesta aula, enfatizou o trabalho

com as regras do SND, no entanto, nenhum procedimento adotado por ela explora de fato as

potencialidades destas propostas. Antes de nos dedicarmos a detalhar sobre suas crenças e

concepções, acrescentaremos à nossa análise o depoimento da professora.

4.2.3 DEPOIMENTO DA PROFESSORA RENATA

Depois de três meses de uso do material proposto pelo Projeto EMAI e o

acompanhamento de algumas aulas, entendemos que seria importante ouvir novamente a

opinião da professora Renata sobre o Material, e perceber o que conseguiu apropriar de suas

estruturas. Suas impressões serão detalhadas e analisadas neste momento da pesquisa.

Ao ser indagada sobre qual versão do material do EMAI estava utilizando para

desenvolver seu trabalho enfatizou que: “a versão utilizada é a última que nos foi enviada,

independente de ser de 2012 e 2013 a orientação que temos da Diretoria de Ensino é que não

existe nenhum problema em relação à aprendizagem do aluno e o desenvolvimento do projeto

na escola”. Segundo esta resposta, podemos entender que, as orientações equivocadas que

recebeu sobre o material, não permitiram que ela fosse a busca da nova versão, mesmo após

ser notificada diversas vezes sobre o fato de que o material de 2012 havia sido ampliado. Isso

pode ter limitado a sua atuação e as possibilidades de estudo, pois a professora não tomou

conhecimento das várias contribuições presentes no material versão 2013.

Em relação à organização das atividades colocou que as adapta, articulando-as, com as

atividades que já possui. Quanto ao planejamento, apontou que, de acordo com as propostas

de atividades organizou os alunos em duplas ou individualmente. No entanto, nas três aulas

acompanhadas os alunos realizaram as atividades somente individualmente.

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139

Para a conversa inicial, afirmou que a realiza sempre antes do trabalho com qualquer

disciplina. Não se remeteu em nenhum momento às propostas de intervenção. A professora dá

respostas curtas e objetivas.

Solicitamos à professora que indicasse uma das atividades propostas pelo Projeto

EMAI, desenvolvida por ela durante uma das aulas acompanhadas, cuja contribuição foi

maior, para o ensino e aprendizagem dos números naturais e SND. Ela deveria também,

justificar sua resposta, conforme segue: “foram as situações-problemas, pois, ajudam muito na

leitura, no raciocínio e faz o aluno pensar”. Ela não especifica qual situação, mas aparenta

estar se remetendo às situações que exploram as operações, não se atentando assim, que a

pergunta se referia ao ensino dos números naturais e ao SND.

Da mesma forma, solicitamos à professora que indicasse uma das atividades propostas

pelo Projeto EMAI, desenvolvida por ela durante uma das aulas acompanhadas, que

considerasse ter menor contribuições, para o ensino e aprendizagem dos números naturais e

sistema SND. Ela deveria também justificar sua escolha, segue a resposta apresentada: “Na

minha opinião não considero nenhuma atividade mais ou menos, considero sim que todas são

importantes cada uma com o seu objetivo”.

Segundo Renata, não encontrou dificuldade em planejar e nem em desenvolver as

atividades, pois considera que as mesmas estão bem elaboradas. Realizou constantemente,

adaptações às propostas de atividade, assim como faz em todas as disciplinas para levantar os

conhecimentos prévios dos alunos, ação esta que não conseguimos identificar nas práticas

acompanhadas.

Finaliza o depoimento enfatizando que, acrescentou coisas às atividades assim como,

criou novas situações, que ela denomina como “situações didáticas”, atribui esse

procedimento ao fato de que possui alunos que necessitam de uma maior atenção, portanto,

ela procurou buscar atividades diversificadas que aprofundem, ampliem e atendam suas

necessidades.

Depois de relatados entrevista, prática pedagógica e depoimento, vamos à algumas

considerações destes três objetos.

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140

4.2.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS RELAÇÕES DA PROFESSORA RENATA

COM MATERIAIS CURRICULARES

Após a entrevista, o acompanhamento da prática e do depoimento da professora

Renata podemos perceber que ela conhecia muito pouco dos recursos do material, mas,

mesmo assim, se propôs a trabalhar da melhor forma possível as três atividades escolhidas,

estudando as orientações destas atividades e as adaptando, conforme seus objetivos para a

aprendizagem de seus alunos. A professora tem claro o seu objetivo de ensinar os números

naturais e as regras do SND a seus alunos, todavia, na busca de contemplar todas as

discussões sobre estes conteúdos, sem perceber, ela minimiza o caráter exploratório de suas

propostas.

Com base na análise dos três instrumentos: entrevista, prática pedagógica e

depoimentos, podemos apontar que a professora Renata entende a Matemática como um

produto acabado, desta forma, desenvolve suas aulas com o intuito de oferecer o máximo de

atividades possíveis abordando o ensino, como um conjunto de regras e procedimentos que

servem para descobrirmos respostas de questões específicas.

Em relação aos materiais, ela acredita que os está utilizando como uma ferramenta, no

entanto, suas adaptações assemelham-se à uma colcha de retalhos, cheia de recortes e

emendas não sendo possível, reconhecer as contribuições dos materiais entrelaçados. Sem

perceber, ela minimiza as orientações apresentadas, adaptando-as de acordo com os seus

objetivos de aprendizagem. Por sempre preferir adaptar, ela dificilmente se apropria das

concepções subjacentes no material.

Como entende a disciplina como um produto acabado, crê que seu papel é demonstrar

os procedimentos que devem ser desempenhados pelos alunos e, somente então, permitir que

realizem atividades de forma independente, medindo a capacidade destes de seguir e

verbalizar os procedimentos ensinados, para dizer se são habilidosos ou não. Nesta

perspectiva, o papel do professor está no centro da ação e o do aluno de receptor de

conhecimentos (BROWN, 2009; THOMPSON, 1997).

Ela demonstra reconhecer a importância do trabalho com as funções dos números e a

importância do quadro numérico, como antecipamos na entrevista, no entanto, tem crença de

que os números devem ser ensinados de forma fragmentada, por isso, trabalha gradativamente

com sequências numéricas, concepção que ficou explícita quando realizou o ditado de

números com intervalo entre 100 a 300.

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141

Renata apresenta também, propostas de atividades interessantes para a exploração das

regras dos SND como o ditado de número, a exploração do antecessor dos números, porém,

suas propostas são pouco exploratórias e, dificilmente, levam os alunos a refletir sobre as

situações propostas e a serem autônomos, condições estas necessárias para que os alunos se

apropriem de qualquer conteúdo e que foram pontuadas como essenciais, segundo as

contribuições de Piaget (1964), Kamii (2012), Fayol (1996), Lerner e Sadovsky (1996) e Pires

(2013).

Renata não reconhece a necessidade de melhorar a relação de seus alunos com a

Matemática, ela acredita que todos estão acompanhando as discussões assim, não percebe que

alguns de seus alunos simplesmente copiam as respostas da lousa sem refletir sobre seus erros

e hipóteses. A professora também não reconhece que possui crenças que limitam sua ação,

como a de um ensino conteudista e da graduação do saber, consequentemente, não existe

reflexão sobre sua ação e muito menos sobre o quanto suas crenças engessam sua prática

pedagógica.

Na busca de acertar e oferecer o melhor aos seus alunos, Renata acaba se preocupando

em oferecer o conteúdo, sem se questionar quanto à qualidade das situações oferecidas e, dos

momentos de reflexão que deveriam ser proporcionados para a construção do conhecimento

de seus alunos.

4.3 ACOMPANHAMENTO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DA PROFESSORA

SANDRA – 5º ANO

4.3.1 ENTREVISTA DA PROFESSORA SANDRA

Relembrando as características da professora Sandra do 5º ano, ela tem 59 anos, 28

destes dedicados totalmente ao magistério na Rede Estadual Paulista e aos alunos dos Anos

Iniciais do Ensino Fundamental. Formou-se no Ensino Normal, também conhecido como

magistério, em 1973, em meados dos anos 90 graduou-se em Pedagogia e não possui outra

atividade profissional.

Sandra declarou sua paixão pela disciplina de Matemática ao afirmar que:

“Matemática, eu adoro, adoro. Eu acho que é uma coisa tão exata. É aquilo, você pode ter

outros caminhos para chegar num resultado, mas o resultado é aquele, não tem muito que

olhar se você fez uma coisa diferente. Eu gosto porque é uma coisa totalmente exata”. Diante

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142

disso, avaliou seu desempenho: “Eu acho que ensino bem. Se eu não ensino bem naquele

momento, em casa, eu vou verificar no que eu errei e na próxima aula eu vou melhorar”.

Deste modo, considera que tem conhecimento suficiente do conteúdo para o trabalho

que se propõe e que, quando tem dúvidas está disposta a estudar e ampliar suas noções. Já em

relação ao seu conhecimento didático, colocou que sabe como os alunos aprendem, então,

prepara suas aulas antecipando possíveis dúvidas e dificuldades. Em sua opinião, um bom

professor de Matemática tem que saber o conteúdo.

Em relação ao projeto, disse que o conhece desde 2012, período em que começou os

estudos na escola, e que recebeu as “apostilas” da coordenadora para desenvolver o trabalho

bimestralmente. Relatou também, que gostaria que sua escola tivesse grupos de estudos de

Matemática. Essa resposta indica que não participou de grupos colaborativos de estudos para

a análise e discussão dos materiais.

Sandra, não aderiu às duas horas a mais de estudo propostas na Resolução 46, porém,

descreveu que os momentos de ATPC para o estudo do material são momentos ricos e

reflexivos e, contou: “Ela manda estudar o material em grupo, cada ano com o seu, então a

gente dá uma lida e escolhe as atividades que combinam com todas. Na outra semana, a gente

volta e mostra como foi a atividade e como foi aplicada. Cada uma vai demonstrando como

fez as atividades do EMAI”. Por esse relato podemos dizer que mesmo que não reconheça, os

APTC de sua escola, possuem a proposta de grupo de estudos.

Em relação ao planejamento, colocou que o material tem sido norteador para o seu

trabalho. Que prepara suas aulas em casa atenta às propostas e, caso tenha dúvidas, estuda.

Utiliza durante o planejamento de suas aulas tanto o material do Projeto EMAI, quanto o do

programa Ler e Escrever e de livros didáticos. Acredita que o estudo do material sempre

acaba acrescentando algo às suas crenças e concepções.

Ao descrever o material, expôs que gosta das propostas, pois gosta de matemática. No

entanto, pareceu não saber que o material tinha naquele momento a versão 2013.

Para o seu trabalho com a disciplina, relatou que segue a matriz curricular da SEE que

orienta que sejam ministras 9 aulas semanais de Matemática para os alunos de 5º ano. Assim

divide sua rotina da seguinte forma: “segunda-feira números, terça-feira operações e

problemas, na quarta-feira espaço e forma e tratamento da informação, porque são três aulas e

na quinta grandezas e medidas”. Para este trabalho contou que utiliza, sempre que considera

importante, as atividades do Projeto EMAI. Apontou ainda que, quando faz uso das propostas

do Projeto EMAI não realiza adaptações, a menos que o faça de maneira inconsciente, pois

procura trabalhar a atividade como ela está descrita.

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143

Quanto à estrutura do material, Sandra assinalou que já está acostumada a trabalhar

com as expectativas de aprendizagem de matemática, de tal modo que, reconhece que as

atividades sugeridas estão articuladas às expectativas. Já em relação à conversa inicial, não

conhece a proposta, a professora acredita que conversar com os alunos no início de cada

atividade demanda tempo, e que isso pode atrapalhar o desenvolvimento de outras matérias.

Ainda sobre a estrutura do material, pensa que este aproxima os alunos da Matemática.

Em relação à autonomia, prefere que os alunos façam junto quando o conteúdo é novo e disse:

“E eu dou aula junto, eu sei que ele tem que ter muita autonomia, eu dou autonomia, mas só

que em um momento de uma coisa nova, quando estou em um conteúdo novo eu gosto de

ficar junto com eles”. Deste modo, segundo Sandra, somente após ela ter explicado tudo que

eles precisam saber é que seus alunos terão autonomia para fazer suas atividades sozinhos.

Sua crítica ao material foi somente em relação à forma como está disponível, gostaria

que ele fosse apresentado impresso e não em arquivo para impressão, ou melhor, como ela

mesma disse “um material pronto para entregar na mão do aluno, igual o do Ler”, referindo-se

ao Material do Programa Ler e Escrever.

Acerca do conteúdo números naturais e SND, assinalou que acredita que as propostas

do material do Programa Ler e Escrever são melhores.

No entanto, demonstrou não conhecer a proposta do material do Projeto EMAI, em

relação ao trabalho com os números a partir de suas funções. Relacionou a proposta de

produção escrita às atividades de escrita de sequências numéricas, e às atividades em que os

alunos escrevem os números como se leem, enfatizando que não gosta dessas atividades.

Sobre o trabalho com cartelas sobrepostas, apontou que somente é feito se os alunos

apresentarem dificuldade. Ela não conseguiu apontar uma atividade no material que tenha

desenvolvido, e que acredite ter trazido ganhos aos seus alunos para aprenderem o conteúdo

em questão. Tenta listar uma atividade e indica a de recortar números de jornais, mas, não tem

certeza se essa é uma atividade proposta pelo Projeto EMAI. Da mesma forma, não consegue

lembrar uma atividade que não tenha contribuído.

Sandra expõe ainda, que não encontrou dificuldades em utilizar o material, mas acha

que ele deveria ser igual ao do Programa Ler e Escrever. Finalizou, colocando que seus alunos

possuem uma boa apropriação do conteúdo em questão, porque ela já revisou com eles todo o

conteúdo que precisam saber, e que eles tem também bastante a aprender, uma vez que

mostram ter dúvidas ao resolverem situações-problema que envolva o trabalho com o sistema

monetário.

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144

Suas respostas pouco detalhadas, sobre como o material trabalha o conteúdo números

naturais e SND, nos deixa a dúvida se ela realmente conhece o material, ou se conhece apenas

parte dele.

Durante a entrevista a professora indagou várias vezes se acompanharíamos o

trabalho, porque acredita que não há muito que fazer, uma vez que são alunos de quinto ano e

já sabem quase tudo a respeito.

No próximo item iremos verificar como seu discurso se efetiva na prática pedagógica.

4.3.2 PRÁTICA PEDAGÓGICA DA PROFESSORA SANDRA

Durante a entrevista foi acordado que suas aulas seriam assistidas às segundas-feiras.

Ela informou que trabalhava com Matemática nas duas primeiras aulas, ou seja, duas aulas de

50 minutos. Nesta oportunidade, ela foi informada que foco da observação seria o trabalho

com números naturais e SND. Após estes combinados, foram acompanhados o

desenvolvimento de quatro aulas não consecutivas.

Nesta escola, as professoras do 4º e 5º anos trabalham por área, ou seja, os alunos têm

uma professora responsável, mas as disciplinas são ministradas por duas ou mais professoras,

sem contarmos com os especialistas de Arte e Educação Física. Esta divisão se dá,

geralmente, quando os profissionais consideram que possuem mais domínio no ensino de um

determinado conteúdo e que, portanto, dividindo as tarefas potencializariam os conhecimentos

dos alunos.

Assim, nesta unidade escolar somente os alunos dos 4º e 5º anos possuem além dos

dois especialistas de Arte e Educação Física, uma professora que ensina Língua Portuguesa e

demais disciplinas e uma professora específica para o ensino da Matemática, logo, a

professora que foi observada não foi a professora regular desta sala, mas sim a ”professora de

Matemática”.

Sandra possui 25 alunos, que são organizados em duplas. A sala possui duas lousas,

uma a frente das carteiras e outra ao lado. A lousa lateral é usada como mural de recados,

lembretes durante as atividades ou para a exposição de trabalhos realizados.

Antes de iniciar a aula a professora relatou que no momento da entrevista percebeu,

que estávamos falando de materiais diferentes. Deste modo, entendeu que estava com a versão

do material do EMAI de 2012 e foi à procura da versão 2013, encontrando-a no site do

Programa Ler e Escrever, encadernou, explorou o material em casa e pediu que suas

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afirmações negativas sobre a estrutura do material fossem desconsideradas, pois, gostou da

forma que o material está organizado atualmente e, se soubesse que estava assim antes, estaria

usando o desde o início do ano.

No quadro a seguir estão relacionadas às atividades que foram trabalhadas pela

professora, durante as quatro aulas acompanhadas.

Quadro 16: Relação das Atividades Trabalhadas pela Professora Sandra

AULA

VERSÃO

2013

UNIDADE

SEQUÊNCIA EXPECTATIVA (S) TRABALHADA (S) ATIVIDADE

1ª Primeira 1ª

Sequência

Compreender e utilizar as regras do

sistema de numeração decimal para leitura

e escrita, comparação, ordenação de

números naturais de qualquer ordem de

grandeza.

1.4

Página 14

1.5

Página 15

2ª Primeira 3ª

Sequência

Compreender e utilizar as regras do

sistema de numeração decimal para leitura

e escrita, comparação, ordenação de

números naturais de qualquer ordem de

grandeza.

3.3

Página

23

3ª Primeira 3ª

Sequência

Compreender e utilizar as regras do

sistema de numeração decimal para leitura

e escrita, comparação, ordenação de

números naturais de qualquer ordem de

grandeza.

3.5

Página 24

4ª Primeira 3ª

Sequência

Compreender e utilizar as regras do

sistema de numeração decimal para leitura

e escrita, comparação, ordenação de

números naturais de qualquer ordem de

grandeza.

3.2

Página 22

Fonte: EMAI – Educação Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Quinto Ano –

Organização dos Trabalhos em Sala de Aula – Material do Professor – Volume 1, 2013.

Todas as atividades desenvolvidas durante as aulas observadas na sala da professora

Sandra, foram retiradas do material oferecido pelo projeto EMAI versão 2013. Conforme

listamos no capítulo III, existem 12 atividades no Material do 5º ano, que contemplam

especificamente a discussão sobre Números Naturais e SND destas, ela desenvolveu 5

atividades. Podemos perceber ainda, que Sandra escolheu as atividades conforme seus

objetivos de ensino, não se atentando à orientação do material de seguir a ordem das

atividades dentro de uma sequência de trabalho. Dentre as quatro aulas acompanhadas, duas

foram escolhidas para serem analisadas, conforme os quadros a seguir:

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146

Quadro 17: Análise da aula da professora Sandra do 5º ano – Atividades 1.4 e 1.5.

Legenda: As colocações da Professora serão indicadas pela letra P e as dos alunos pela letra A.

VERSÃO 2013 – QUINTO ANO – 1ª SEQUÊNCIA – ATIVIDADE 1.4 – (ANEXO VII)

PRIMEIRO MOMENTO – CONVERSA INICIAL

RECURSOS DO MATERIAL RESULTADOS INSTRUCIONAIS RECURSOS DA PROFESSORA SANDRA A atividade realizada pela professora era

proposta no material relacionada à seguinte

expectativa de aprendizagem: Compreender

e utilizar as regras do sistema de numeração

decimal para leitura e escrita, comparação,

ordenação de números naturais de qualquer

ordem de grandeza.

Esta atividade propõe: A exploração da reta

numérica para a localização de um número

natural.

No material era proposta uma conversa

inicial do professor com a turma no sentido

de: Levantar seus conhecimentos prévios a

respeito do que é uma reta numérica e suas

características.

Conversa inicial: Comente que, nesta

atividade, vão localizar alguns números na reta

numérica. Explique que, na reta numérica, os

intervalos entre dois números consecutivos são

sempre iguais. Peça para analisarem a primeira

reta numérica desenhada no livreto do aluno e

explore a colocação dos números de 1 a 10

A professora iniciou a aula retomando com os

alunos quais são os algarismos, após

questioná-los, registrou os 10 algarismos na

lousa:

N = 0,1,2,3,4,5,6,7,8,9

Em seguida retomou com os alunos suas

funções, e perguntou:

P: Que funções os números

desempenham?

A: Contar – contar galinhas,

Ordenar – alunos,

Medir – a altura de pessoas e objetos e

Codificar – cartão de crédito.

Ela registrou na lousa e continuou a

exploração:

P: Vocês conhecem uma reta

numérica? Quem pode desenhar uma na

lousa?

Um aluno se prontificou e realizou o seguinte

registro:

I I I

10

Outra criança que observava o registro

Para iniciar a exploração desta

atividade Sandra optou em retomar com os

alunos quais são os algarismos e quais as

funções dos números. Fez uma breve

discussão e registrou as colocações de seus

alunos na lousa.

Embora tenha registrado o conjunto

dos números naturais, N =

0,1,2,3,4,5,6,7,8,9, na lousa, a professora

somente leu o seu registro, não se dedicou a

explicar o que significava. Seus alunos não

questionaram a respeito e assim ela prosseguiu

a aula.

Somente então, passa a levantar dos

alunos conhecimentos prévios a respeito do

que sabem sobre uma reta numérica.

Neste momento dá total liberdade para

que um aluno vá à lousa e expresse o que

entende sobre o assunto, bem como, pede a

seus alunos para respeitarem a decisão do

colega de iniciar sua reta pelo10.

Ela adapta a conversa inicial, visto que

ao invés de informar o que iriam fazer e

pontuar as características de uma reta

numérica, como orienta o material, ela

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147

nessa reta.

atentamente gritou:

A: Coloca o 300.

A professora interviu:

P: Ele escolheu um número e foi o 10.

Em seguida, perguntou ao aluno que estava

na lousa:

P: E agora, como continuar?

A criança que estava à lousa parou, olhou

para seu registro e pareceu não saber como

prosseguir. A professora interviu novamente,

solicitando que alguém o ajudasse a continuar

o registro. Outra criança foi à lousa e realizou

o seguinte registro:

I I I

10 15

A partir desse ponto o aluno que iniciou o

registro pediu para prosseguir e a professora

perguntou:

P: Qual é o intervalo?

A: De um em um até o 15.

P: E do 10 ao 15, se eu olhar o

intervalo, qual é o próximo número?

A: É o 20.

P: Então a reta está...?

A: De 5 em 5. Gritaram eles.

A Professora registrou os números do

intervalo na lousa e na reta:

escolheu deixar os alunos registrarem o que

sabiam sobre uma reta numérica. A partir de

seus registros realizou validações e

intervenções.

Depois de levantar o conhecimento

prévio de seus alunos, a professora resolveu

ampliar a conversa inicial, preenchendo na

reta numérica os números que estavam no

intervalo e discutindo o antecessor e o

sucessor de alguns desses números.

Esse momento de ampliação não foi

aproveitado no desenvolvimento da atividade,

pois, para realizá-la os alunos precisavam

saber a regra de formação desta sequência,

portanto, explorar o intervalo, números

sucessores e antecessores, procedimento

adotado pela professora, pouco contribuiu

para a discussão.

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I I I 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

E aproveitou a reta que já estava registrada e

explorou o conteúdo de antecessor e sucessor.

I I I 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

SEGUNDO MOMENTO – PROBLEMATIZAÇÃO

RECURSOS DO MATERIAL RESULTADOS INSTRUCIONAIS RECURSOS DA PROFESSORA SANDRA

Problematização: Explore a colocação de

outros números maiores que 10 na reta

numérica. Inicie pela colocação do número 12;

depois, explore a localização do número 15, 18

e 20. Passe às outras retas numéricas

exploradas na atividade. Comente que, nas

duas últimas retas, os intervalos vão de 10 em

10, em vez de 1 em 1.

Após esse momento de conversa e exploração

iniciou o trabalho com a atividade 1.4.

Entregou a folha para que os alunos lessem e

após uns minutos realizou a leitura.

P: O que tem no desenho?

A: Uma reta numérica.

P: Ela vai de quanto em quanto?

A: De 0 a 10! Gritou um aluno.

P: Sim ela vai do 0 ao 10. E no

intervalo?

A: De um em um.

A professora prosseguiu pedindo que uma

aluna lesse a comanda, e a primeira questão

responderam juntos. Enquanto os alunos

respondiam suas atividades, a professora

caminhou pela sala verificando seus registros

e realizando intervenções. Constatou que

alguns alunos usaram a reta para responder a

No momento da problematização,

Sandra solicitou que seus alunos lessem a

comanda da atividade mas, após alguns

segundos, mudou a comanda e resolveu ler no

coletivo. Como ela já havia comentado,

prefere fazer junto.

Portanto, mesmo com uma sala de

quinto ano, em que ela mesma considerava

que sabem tudo o que deveriam saber sobre os

números naturais, ela prefere fazer a primeira

parte da atividade coletivamente.

Ela explorou a colocação de outros

números maiores que 10 na reta numérica,

assim como orientava o material do Projeto

EMAI.

Passou por todas as carteiras e

verificou as respostas de cada um de seus

alunos. Pediu para que o aluno que

SUCESSOR ANTECESSOR

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149

questão e que outros não. Após percorrer a

sala toda, ela registrou a reta na lousa e

quando percebeu que todos haviam

terminado, pediu que registrassem suas

respostas na lousa, mas para o primeiro

registro escolheu um aluno que considerava

ter dificuldades. O aluno apresentou sua

resposta e acertou a questão, este estava

sentado em dupla, portanto, a professora

enfatizou que ele estava sentado com um

aluno bom, por isso havia acertado.

Para a segunda comanda pediu para que

lessem e esperassem pela ordem dela para

registrar. Alguns alunos leram rápido e

pediram para responder a questão, outros

fizeram mesmo sem o aval da professora,

pois consideraram a questão fácil de ser

respondida. A professora caminhou pela sala

e verificou que a maioria já havia realizado.

Ela constatou que a resposta de uma aluna

não estava correta, mas não fez intervenção,

pediu para que prestasse atenção na correção

da lousa.

Deste modo, escolheu um aluno para

registrar a resposta na lousa. Ele registrou

corretamente, nesse mesmo instante,

perguntou para sala se a resposta registrada

estava correta e os alunos disseram que sim.

Pediu que o aluno que havia registrado

explicasse sua resposta, ele ficou

envergonhado e não conseguiu justificá-la,

portanto, a professora pediu para que outro

considerava apresentar mais dificuldade, fosse

à lousa para registrar sua resposta. O aluno

registrou corretamente, no entanto, ela atribui

o mérito ao seu colega de dupla, indicando

que o aluno não conseguiria sozinho, e que,

provavelmente, recebeu ajuda.

Somente após a correção desta

primeira parte é que solicitou aos alunos que

lessem a segunda etapa da atividade, mas eles

não poderiam responder sem a permissão dela,

exercendo novamente seu controle sobre o

trabalho dos alunos.

E assim se desenvolveu todo a

atividade. A professora acompanhou passo a

passo as respostas dos alunos, validou-as e

apontou aqueles que haviam errado, fazendo-

os irem à lousa e intervindo até que

entendessem a proposta.

Por se preocupar que seus alunos não

consigam realizar as atividades sozinhos, ela

encaminha as propostas a todo o momento,

sem dar muita autonomia a seus alunos, não

admite também que errem e prefere que

realizem suas tarefas com agilidade.

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150

aluno explicasse e que direcionasse essa

explicação à aluna que havia errado.

A: Começou no 100 e andou 10.

P: Então ao 100 eu acrescento 10?

Perguntou à sala.

A: Sim.

P: E foi para quanto?

A: 110. Do 110 andou para o 120.

P: Acrescentou 10 ao 10, a quem?

A: Acrescentamos 10, ao 100 dá 110.

Após esse momento de exploração a

professora voltou-se a aluna que havia errado

e perguntou:

P: Você compreendeu?

A aluna respondeu que sim. A professora

continuou questionando-a:

P: De quanto é o intervalo?

A: De 10 em 10.

Para a correção da terceira proposta, a

professora conferiu o resultado do primeiro

aluno de cada uma das fileiras, constatou que

estava certo e solicitou que estes passassem

nas demais mesas conferindo as respostas de

seus colegas. Após a conferência de toda a

sala a professora identificou que apenas um

aluno havia errado, foi para a correção na

lousa e pediu que exatamente o aluno que

havia errado explicasse sua resposta.

P: A reta começa de quanto em

quanto?

Outro aluno respondeu:

A: De 5 em 5.

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151

A exemplo do colega o aluno que estava na

lousa também respondeu de 5 em 5. A

professora então solicitou que realizassem a

leitura da reta numérica:

P: Inicia no 1960 vem depois o 1965 e

no quadrado colocamos?

A: 1970 e assim por diante.

TERCEIRO MOMENTO – OBSERVAÇÃO E INTERVENÇÃO

RECURSOS DO MATERIAL RESULTADOS INSTRUCIONAIS RECURSOS DA PROFESSORA SANDRA

OBSERVAÇÃO/INTERVENÇÃO: Faça as

intervenções necessárias e explique essas

noções aos alunos com dificuldade. Explore a

colocação de outros números em retas

numéricas.

Para finalizar a atividade 1.4 retomou cada

uma das propostas perguntando aos alunos

quais eram as repostas corretas. Discutiu

com eles que, entre os números 1 e 2 na reta

numérica, temos os números racionais mas,

que naquele momento falariam somente dos

números naturais. Validou o que apontaram e

somente então declarou como finalizada a

atividade.

Neste terceiro momento Sandra

retomou cada item da atividade para garantir

que todos os seus alunos estavam

acompanhando.

O material, neste item, sugeria que ela

acompanhasse os alunos fazendo intervenções

quando necessário, movimento esse garantido

por ela o tempo todo.

VERSÃO 2013 – QUINTO ANO – 1ª SEQUÊNCIA – ATIVIDADE 1.5 – (ANEXO VIII)

PRIMEIRO MOMENTO – CONVERSA INICIAL

RECURSOS DO MATERIAL RESULTADOS INSTRUCIONAIS RECURSOS DA PROFESSORA SANDRA

A atividade realizada pela professora era

proposta no material relacionada à seguinte

expectativa de aprendizagem: Compreender

e utilizar as regras do sistema de numeração

decimal para leitura e escrita, comparação,

ordenação de números naturais de qualquer

ordem de grandeza.

Esta atividade propõe: O trabalho com a

regularidade de sequências numéricas.

Ao iniciar a atividade 1.5, a professora

retomou o que são números pares e números

ímpares, registrou na lousa o seguinte

número:

Milhões Milhar Unidade simples Classes

6 . 347 . 98 Ordens

Para iniciar essa atividade, Sandra

considerou ser importante retomar com os

alunos o que entendiam por classe e ordem e

também números pares e ímpares.

Embora a orientação do material,

solicitasse somente, que ela comentasse com

os alunos que iram descobrir regras de

formação de uma sequência numérica para

completá-la.

É possível que, por ter conhecimento

de todas as partes da atividade, e por saber que

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152

No material era proposta uma conversa

inicial do professor com a turma no sentido

de: Levantar o conhecimento dos alunos sobre

as regras de formação de uma sequência

numérica.

Conversa inicial: Comente que, nesta

atividade, os alunos vão explorar algumas

sequências numéricas e que devem descobrir a

regra de formação para, depois, completarem

cada sequência. Comente que precisam

analisar cada sequência separadamente, para

descobrirem a regra que está sendo usada na

formação.

Após o registro perguntou aos alunos:

P: Para saber os números pares e

ímpares, olho para qual ordem?

A: Para a última ordem.

P: Que número precisa estar no final

para ser par?

A: 0, 2, 4, 6 e 8.

P: E para ser ímpar?

A: 1, 3, 5, 7 e 9.

A professora voltou-se para a lousa e

substituiu o quadrado por alguns algarismos e

indagava os alunos se aquele número, da

forma como estava, era par ou ímpar,

exemplo, colocou o algarismo 5 na última

ordem obtendo o número 6.347.985 e

perguntou se este número era par ou ímpar,

os alunos prontamente disseram

A: Ímpar.

Repetiu o mesmo procedimento com o

algarismo 7 e depois com o 8.

essa instrução, sobre os números pares e

ímpares, seria usado na segunda parte desta

atividade a Professora tenha optado em

adiantar a discussão, inserindo-a assim na

conversa inicial.

SEGUNDO MOMENTO – PROBLEMATIZAÇÃO

RECURSOS DO MATERIAL RESULTADOS INSTRUCIONAIS RECURSOS DA PROFESSORA SANDRA

Problematização: Pergunte qual é a regra de

formação da sequência (a). Verifique se

descobriram que esta vai de 5 em 5,

começando do 36. Com essa descoberta, peça

que completem os números que estão faltando.

Na sequência (b), verifique se percebem que

ela é decrescente e que os números vão

diminuindo de 10 em 10. Após essa

descoberta, peça que completem os números

que estão faltando. Na sequência (c), também

Somente após a conversa inicial entregou a

atividade para os alunos e solicitou que

lessem individualmente em 5 minutos. Em

seguida, registrou o quadro presente na

atividade na lousa. Ao finalizar o registro

pediu que um aluno lesse a comanda em voz

alta, nesse momento percebeu que a atividade

orientava que os alunos conferissem suas

respostas com a de uma colega, assim,

orientou os alunos a retomarem suas

Neste momento de problematização,

Sandra novamente procurou realizar a

atividade passo a passo com os alunos.

Os alunos dessa sala estavam

organizados em duplas, no entanto, só podiam

compartilhar suas atividades com os colegas

quando eram orientados pela professora, do

contrário, sentavam juntos mas realizavam

suas tarefas individualmente.

Portanto, como ela não havia

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153

decrescente, os números diminuem de 100 em

100. Descoberta essa regra, os alunos podem

completar a sequência. Na sequência (d), os

números aumentam de 4 em 4, na sequência (e)

os números diminuem de 5 em 5, e na

sequência (f) aumentam de 10 em 10.

atividades nas duplas. A partir de então,

passou a acompanhar o trabalho nas duplas e

realizar algumas intervenções como,

perguntar qual era o intervalo nas linhas. No

momento em que caminhava pela sala um

aluno gritou:

A: Professora o quadro está errado!

P: Não está, porque conferi mais de

uma vez em casa, quando estava preparando a

aula.

Ela foi até o aluno e constatou que havia

realmente um equívoco no quadro, linha D,

sexto quadrado. A professora se desculpou

por não ter identificado o erro anteriormente,

enfatizando mais uma vez que havia

conferido em casa, chamou a atenção de

todos à lousa, explicou que havia um

quadrado a mais e o inutilizou.

Novamente para iniciar a correção a

professora escolheu um dos alunos que,

segundo ela, apresentou mais dificuldade. O

aluno escolhido deveria tentar responder para

a professora, porém, como mais de um aluno

apresentou dificuldades, ela optou em

registrar as respostas. Durante o registro fazia

perguntas aos alunos que haviam errado:

P: Qual a operação usada, adição ou

subtração? Qual era o intervalo? Qual número

deveria ser registrado? Etc.

Somente após questioná-los registrava suas

respostas, se estivessem corretas. Para

socializar suas respostas ela pedia que os

percebido que atividade deveria ser realizada

em dupla antes de autorizá-los a ler, teve que

retomar a comanda e pedir que eles

discutissem com seus pares.

Foi possível observar que a

organização dos alunos em dupla é opção da

professora responsável pela sala e não da

Professora de Matemática (Sandra), assim,

quando estava nesta sala ela não interferia na

organização das mesas, por respeitar a opção

da colega, mas somente utilizava o

agrupamento quando julgava muito

necessário.

Durante a leitura um dos alunos

percebeu que uma das sequências propostas

estava errada, ou seja, a forma como está

apresentada a sequência D, não permitia que

ela fosse completada, pois o número 1006

estava registrado em um local equivocado (ver

anexo VIII).

A professora resolveu a questão ao

anular um quadradinho, mas ficou

incomodada por não ter percebido o erro em

sua casa no momento em estava planejando a

aula. E pediu aos alunos que corrigissem,

segundo a decisão que tomou, entendemos que

ela perdeu um ótimo momento para

problematizar a regra de formação daquela

sequência.

Sandra exigia de seus alunos o máximo

de atenção possível, tanto durante a execução

de uma atividade, quanto no momento de

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154

alunos dissessem o que ela denominava como

linguagem matemática, como por exemplo:

ao invés de dizer “coloquei o número 990”,

no caso da linha D, segundo quadrado. Eles

deveriam falar “somei 4 ao 986, encontrei o

resultado 990 e registrei”.

socialização das respostas, portanto,

estabeleceu que se comunicassem

matematicamente, ou conforme ela mesma

dizia, como alunos de quinto ano.

TERCEIRO MOMENTO – OBSERVAÇÃO E INTERVENÇÃO

RECURSOS DO MATERIAL RESULTADOS INSTRUCIONAIS RECURSOS DA PROFESSORA SANDRA

Observação/Intervenção: Faça as

intervenções necessárias e explore outras

sequências numéricas, sempre

problematizando, para a descoberta da regra de

formação antes de pedir o completamento.

Explore, também, as sequências crescentes e

decrescentes, as formadas apenas por números

pares ou apenas por ímpares etc.

A segunda parte desta atividade também foi

sala realizada no coletivo. A professora lia,

eles respondiam oralmente e depois,

registravam na folha. Para identificar os

números pares ou ímpares de uma sequência.

A professora leu junto à sala, número por

número da sequência até terem certeza que

todos correspondiam ao pedido. Para

responder a última questão, primeiro retomou

o que era ordem crescente e decrescente.

Pediu para que um aluno explicasse o que era

uma ordem crescente, ele respondeu:

A: Quando inicia do menor e vai para

o maior.

P: O que é decrescente então?

Perguntou ela ao mesmo aluno.

O aluno hesitou em responder, então foi

auxiliado pelos colegas que responderam:

A: Do maior para o menor.

Então a professora registrou os seguintes

símbolos:

CRESCENTE < >

DESCRESCENTE > <

Novamente Sandra trouxe a comanda

da atividade para si e decide realizar este

momento também coletivamente.

O material solicitava que este

momento de intervenção ampliasse a

atividade, ao explorar no quadro de sequências

numéricas os números pares e ímpares e, as

ordens crescente e decrescente, ela atende a

proposta com algumas adaptações.

Como já havia retomado os números

pares e ímpares na conversa inicial, não o faz

novamente e também não permitiu que os

alunos respondessem sozinhos, assim optou

em perguntar a eles a resposta e validou ou

não cada hipótese.

Para a exploração da ordem crescente e

decrescente ela escolheu registrar os símbolos

< > e > < na lousa e realizar a leitura destes,

acreditando que seus alunos compreenderiam

por meio desse registro o significado de ordem

crescente e decrescente, No entanto, esse

registro não contribuiu para o que ela

pretendia além de não estar correto,

matematicamente.

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155

E leu seu o registro:

P: < do menor para o maior > e do >

maior para o menor <.

Os alunos apontaram qual sequência

correspondia à comanda, eles conferiram

número por número novamente e somente

então a professora registrou na lousa. Ela

solicitou que colassem suas atividades no

caderno e passou a lição de casa, pois, a aula

de matemática do dia estava finalizada.

Na condução da atividade a opção da

professora em direcionar excessivamente o

raciocínio dos estudantes, não possibilitou aos

alunos, em alguns casos, tempo para a

reflexão e validação de suas hipóteses,

conforme a proposta das atividades oferecidas

pelo material.

Quadro 18: Análise da aula da professora Sandra do 5º ano – Atividades 3.3.

Legenda: As colocações da professora serão indicadas pela letra P e as dos alunos pela letra A.

VERSÃO 2013 – QUINTO ANO – 1ª SEQUÊNCIA – ATIVIDADE 3.3 – (ANEXO IX)

PRIMEIRO MOMENTO – CONVERSA INICIAL

RECURSOS DO MATERIAL RESULTADOS INSTRUCIONAIS RECURSOS DA PROFESSORA SANDRA A atividade realizada pela professora era

proposta no material relacionada à seguinte

expectativa de aprendizagem: Compreender

e utilizar as regras do sistema de numeração

decimal para leitura e escrita, comparação,

ordenação de números naturais de qualquer

ordem de grandeza.

Esta atividade propõe: sistematizar os

conhecimentos dos alunos sobre a composição

de um número de vários algarismos com o uso

A professora iniciou a aula dizendo:

P: Vou entregar uma atividade para

vocês e farão sozinhos, não vou falar nada.

Ela aguardou alguns segundos e perguntou:

P: Está difícil?

A: Sim, por causa do número.

Diante desta resposta ela aguardou mais um

pouco, enquanto eles liam e tentavam

responder a atividade. Após mais alguns

segundos ela pediu para que eles lessem junto

a ela e marcou na lousa as palavras ORDEM e

A professora iniciou a atividade sem

fazer a conversa inicial, apenas orientou que

os alunos realizassem a leitura individual.

No entanto, como relatamos nas duas

atividades anteriores, logo ela modificou a

comanda e passou a realizar a leitura coletiva

da atividade, pois prefere manter o

acompanhamento passo a passo do

desenvolvimento das atividades.

Neste momento, seguiu as orientações

do material que solicitava o levantamento dos

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156

da tabela de ordens e classes.

No material era proposta uma conversa

inicial do professor com a turma no sentido

de: O levantamento do conhecimento prévio

dos alunos sobre classes e ordens de um

número.

Conversa inicial: Esta atividade sistematiza

um pouco os conhecimentos sobre a

composição de um número de vários

algarismos com o uso da tabela de ordens e

classes. Comente que, agora, vão usar uma

tabela que vai auxiliar na leitura e escrita de

um número. Discuta que cada algarismo em

uma escrita numérica corresponde a uma

ordem, que pode ser a unidade, a dezena ou a

centena, sendo que cada três ordens formam

uma classe: a das unidades simples, dos

milhares, dos milhões etc.

Explore algumas questões como:

- Quantas ordens e quantas classes tem o

número 6875?

- Qual é o maior número de duas ordens?

- Qual é o maior número de três ordens?

- Qual é o maior número de quatro ordens?

CLASSES e enfatizou essas duas palavras.

Colocou na lousa que ficava na lateral da sala

cartazes, que ela havia produzido, com as

ordens (centena, dezena e unidade) e com as

classes (unidades simples, milhares, milhões e

bilhões). Embora a atividade do aluno tenha 4

classes ela colocou na lousa 5 cartazes

incluindo assim a classe dos trilhões. E

perguntou aos alunos:

P: O que é cada cartaz?

A: Cada classe.

P: E quais são as ordens?

A: 1º, 2º e 3º...

P: Essas ordens e classes acabam

aqui?

A: Não.

Neste momento a professora registra do lado

esquerdo do cartaz reticências. E continua a

exploração:

P: Cada classe está contando de

quanto em quanto.

A: De três em três.

P: O que está de três em três?

A: As classes.

conhecimentos prévios dos alunos a respeito

do que eram classes e ordens. Para tal,

demonstrou ter planejado antecipadamente a

aula ao apresentar aos alunos cartazes que

registravam as classes e as ordens.

Bem detalhista, Sandra lembra com

seus alunos toda a composição do quadro de

classes e ordens, registrando cada item na

lousa lateral, para auxiliá-los durante a

atividade. Questionava seus alunos a todo o

momento, na busca de garantir que estavam

acompanhando a discussão e compreendendo

o que estava sendo estudado.

SEGUNDO MOMENTO – PROBLEMATIZAÇÃO

RECURSOS DO MATERIAL RESULTADOS INSTRUCIONAIS RECURSOS DA PROFESSORA SANDRA

Problematização: Peça para lerem o número

41252160. A seguir, peça que coloquem esse

número na tabela e escrevam por extenso.

Explore quantas ordens e quantas classes tem

Ela colocou na primeira classe o número 62 e

explicou que o 2 eram, 2 unidades e que o 6

era, 60 dezenas. Colocou na lousa o número

41.252.160 e indagou os alunos:

Para a problematização a professora

explorou no coletivo a primeira parte da

atividade, não permitindo que seus alunos

explorassem sozinhos a leitura do número

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esse número. Depois, proponha que escrevam

um número com 9 ordens que tivesse dois

algarismos repetidos e comparem com a

resposta de um colega. Explore os números

apresentados pelos alunos, verifique os que são

iguais ou diferentes, faça algumas

comparações, leituras e escritas por extenso

desses números.

P: Como este número é lido? Se estou

na rua e não tenho este quadro eu coloco

pontos “imaginários”. Aonde vocês acham

que eu coloco.

A: De três em três pelas classes.

P: Colocamos pontos imaginários de

três em três.

Inseriu os pontos no número na lousa e pediu

para que tentassem ler. Eles leram. Ela voltou

à lousa em que estavam os cartazes e pediu

para que os alunos ditassem aonde ia cada

algarismo. Em seguida, pediu para que

lessem, apoiando-se no quadro. Eles leram.

Ela retomou a leitura da atividade que havia

entregado e solicitou que registrassem o

número (41.252.160) no quadro de classes e

ordens. Passou observando seus registros e

percebeu que dois alunos haviam errado onde

se iniciava o registro do número, e decidiu

retomar o número na lousa perguntando:

P: Por que vocês registraram no local

errado?

A: Não entendemos.

Diante da resposta ela explicou novamente a

proposta:

P: Quando iniciamos, o registro é feito

pela unidade simples, dezena simples...

embora a leitura seja realizada pela classe dos

milhões, o registro é feito pela classe das

unidades simples. Ela marcou os pontos

“imaginários” novamente no número que

estava escrito na lousa, retomou a leitura

solicitado.

Acompanhou integralmente a escrita

do número por extenso corrigindo os erros de

ortografia. E logo registrou suas repostas na

lousa.

Como já havia explicado como

deveriam proceder, acreditava que seus

alunos não teriam mais dúvidas para

realização da atividade, o que não se efetivou,

pois ao passar observando os registros,

detecta que alguns alunos haviam anotado o

número de forma equivocada no quadro de

classe e ordem. Deste modo, retomou

novamente a explicação e optou pela correção

na lousa. Esse procedimento se repetiu para

cada item da atividade.

Cabe ressaltar que embora a discussão

coletiva muita vezes garanta a socialização

das respostas e a circulação de informação,

neste caso, ela assume o papel total de

controle, uma vez que mesmo que pergunte a

seus alunos a resposta, somente um ou dois

respondem e os demais copiam e quando

ninguém responde a professora registra na

lousa a sua resposta. Essa ação fez com que

seus alunos estivessem sempre à espera da

intervenção da educadora ou, de respostas

prontas.

A professora tentou em alguns

momentos acompanhar de perto os registros

de seus alunos, e o faz muito bem, no entanto,

ao invés de somente intervir em suas

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desse número, leu mais uma parte da

atividade e solicitou que escrevessem por

extenso, pontuando para a sala que a escrita

deveria se iniciar pelo quarenta e um milhões

e assim por diante...

Ela acompanhou os registros dos alunos

intervindo quando necessário em relação aos

erros ortográficos. Pediu que um aluno fosse a

lousa registrar a escrita do número e que cada

um verificasse se não havia erros na escrita.

Enquanto o aluno registrava enfatizou:

P: Embora 41 tenha somente dois

algarismos, pela pontuação sabemos que já

esta na classe dos milhões, não precisa ter três

basta ter 1 e já está na classe dos milhões.

Após essa explicação, realizou a leitura

coletiva na lousa.

Retomou a atividade e leu a pergunta:

P: Quantas classes tem esse número?

A: 3.

P: E ordens?

A: 8.

Ela registrou na lousa:

ESSE NÚMERO TEM 3 CLASSES

E 8 ORDENS.

Em seguida solicitou que lessem a última

parte da atividade. Um dos alunos já havia

lido e tinha uma dúvida. O aluno perguntou à

professora se o algarismo que deveria repetir

era o 9. Para explicar a ele, ela reproduziu a

atividade na lousa e perguntou:

P: Quantas ordens deve ter o número

dificuldades, ela enfatiza o erro como se

alunos do quinto ano não pudessem ter

dúvidas e nem errar.

Visivelmente os alunos sentem-se

intimidados durante a correção e não

assessorados, desta forma, o intuito primeiro

da professora de ajudá-los fica comprometido.

Consequentemente, os momentos de

intervenção passam a ser momentos de

controle e não de auxílio.

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que você criará?

A: 9.

P: São 9 números. Quantas classes

serão?

A: 3 classes.

Ela colocou o quadro na lousa com as classes,

e disse que o número só pode ter dois

algarismos repetidos e não como o número

registrado anteriormente que tinha duas vezes

o 1 e duas vezes o 2. Sandra retomou o

número de Fábio (41.252.160) e explorou o

valor dos números 1, que se repetia um que

valia 1.000.000 e o outro que valia 100. O 2

que um valia 2000 e outro que valia 200.000.

Após essa explicação, retomou a atividade e

pediu que registrassem em uma tira de sulfite

o número que inventaram, para que ela

colocasse na lousa. Eles registraram e

enfeitaram seus números.

Enquanto registravam foi necessário que ela

enfatizasse novamente que o número só

poderia ter 2 algarismos iguais.

Alguns alunos registraram no quadro de

classes e ordens, presente na atividade, e

somente depois registraram na tira de papel

entregue pela professora. Eles registravam e a

professora os colava na lousa lateral. Como os

alunos estavam demorando em entregar a

folha, ela optou em registrar com giz os

números criados.

Após o registro, pediu que as crianças lessem

o número criado. O primeiro aluno a expor

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160

encontrou dificuldade em ler o seu número

que era 854.321.890, pois, iniciou a leitura

pelo 8.

A professora pediu para que parasse e lesse

como um aluno de 5º ano.

O aluno retomou a leitura e iniciou dizendo:

A: Oito mil...

Alguns alunos tentaram ajudá-lo e na quarta

tentativa com o auxílio de um colega, que

sussurrava baixinho a leitura ao seu lado, ele

conseguiu realizar a leitura.

TERCEIRO MOMENTO – OBSERVAÇÃO E INTERVENÇÃO

RECURSOS DO MATERIAL RESULTADOS INSTRUCIONAIS RECURSOS DA PROFESSORA SANDRA

Observação/Intervenção: Faça um cartaz

com todos os números de 9 algarismos escritos

pelos alunos. Peça que coloquem esses

números em ordem crescente e que expliquem

como procederam para essa organização.

Após esse momento, a professora voltou a

registrar aos poucos:

854.321.890

312.543.987

212.350.946

201.785.793

938.762.591

945.358.170

Ela parou o registro e perguntou:

P: Qual desses números é o maior?

A: 945.385.170

P: Por quê?

A: Por causa do 1º número.

P: Só pelo primeiro número dá para

saber?

A: Não tem que olhar o segundo

número também, porque tem mais um número

que se inicia pelo mesmo algarismo.

P: Qual é o menor?

A professora acatou a orientação do

material para a exploração da ordem crescente

e decrescente dos números construídos.

Ela pretendia registrar os 25 números

na lousa para controlar o registro de cada

aluno e intervir como vinha fazendo,

pontualmente, em cada caso. Ação esta que

aos pouco perdeu sentido já que os erros

cometidos pelos alunos eram muito próximos.

Mais uma vez, esse momento de

acompanhamento dos registros de seus alunos

perdeu o caráter de intervenção e passou a ser

controle da produção dos alunos.

Suas observações levaram seus alunos

a raciocinar sobre as regras do sistema e,

como optou em registrar todos os números na

lousa, todos estavam envolvidos e refletindo

sobre suas escritas.

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A: O 201.785.793

Após esta exploração foi pedindo que alguns

alunos dissessem a ordem crescente dos

números, assim ao mesmo tempo em que

faziam isso, liam os números, ajustando o lido

as classes. Ela foi registrando ao lado:

854.321.890 4º

312.543.987 3º

212.350.946 2º

201.785.793 1º

938.762.591 5º

945.358.170 6º

Depois desse registro, anotou mais alguns

números inventados e explorou. Em três

casos, que estão destacados a seguir, teve que

fazer uma intervenção pontual:

123.456.077

89.591.609

123.345.678

414.325.369

531.425.780

531.525.790

Primeiro, um dos alunos registrou um número

com uma ordem a menos, 89.591.609, ela

interviu retomando a consigna que solicitava

um número com 9 ordens e pediu que ele

contasse o seu número. Ele contou e registrou

mais um algarismo, 489.591.609.

Segundo, um aluno repetiu 2 algarismos o 4 e

o 3, 414.325.369. A professora retomou a

consigna e pediu que escolhesse somente um

algarismo para se repetir e o número passou

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para 414.325.769.

Terceiro, uma aluna repetiu o algarismo 5,

três vezes, 531.525.790. Ela pediu para que a

aluna escolhesse um desses algarismos para

ser substituído. A aluna substitui 5000 por

6000, 531.526.790 e em seguida leu como

ficou seu número.

A atividade foi interrompida neste momento,

pois já havia chegado ao fim do período e os

alunos tinham que sair para o intervalo.

Portanto, a professora pediu que guardassem

os seus registros, mas antes que observassem

se seria necessária alguma correção.

Devolveu os números que já havia colocado,

principalmente, os que precisavam ser

retificados e disse que esta atividade seria

retomada na próxima aula, para que ela

conseguisse registrar os números de todos e

explorar cada uma das escritas.

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163

Ainda que Sandra tenha enfatizado durante a entrevista que quando escolhe uma

atividade do material a desenvolve como é, e que, se faz adaptações é sem perceber, podemos

entender por meio da análise das três atividades anteriormente descritas, que de fato, sua

intenção é a de reproduzir as orientações presentes no material, no entanto, o que se efetiva,

devido às suas crenças e concepções sobre o conhecimento que tem do conteúdo e sobre o seu

conhecimento didático que tem de como trabalhar esse conteúdo com seus alunos, faz com

que ela realize adaptações o tempo todo.

Todas as suas propostas procuraram contemplar as expectativas das atividades

escolhidas. Seu objetivo de aprendizagem, em relação aos números naturais e SND, estão

claros e em muitos momentos foram alcançados, todavia, sua crença sobre a exatidão da

disciplina implica em ações limitadas. Antes de nos dedicarmos a detalhar sobre suas crenças

e concepções, associaremos à nossa análise o depoimento da professora.

4.3.3 DEPOIMENTO DA PROFESSORA SANDRA

Durante três meses de uso do material proposto pelo Projeto EMAI e o

acompanhamento de algumas aulas, entendemos que seria importante ouvir novamente a

opinião da professora Sandra sobre o Material, e perceber o que ela conseguiu apropriar sobre

a estrutura deste. Com esse intuito, a professora respondeu a um questionário e suas resposta

serão detalhadas e analisadas neste momento da pesquisa.

Quando indagada a respeito de qual versão do material utilizava, Sandra respondeu

prontamente: “Utilizo a versão 2013 que está disponível no site do Programa Ler e Escrever”.

Como relatamos, após a entrevista a professora tomou conhecimento do material e passou a

estudá-lo atentamente.

Em relação à proposta do material colocou que trabalha todas as atividades, mas não

de forma sequencial, pois prefere ela mesma fazer a sua seleção de acordo com as demandas

do seu planejamento semanal, mostrando que ainda não percebeu a articulação das atividades

e o processo de construção que propõe, por isso a necessidade de trabalhá-las na sequência.

Para planejar disse que faz a leitura de todas as orientações e que muitas vezes amplia

as propostas, confirmando as adaptações que percebemos em sua prática pedagógica.

Quanto à conversa inicial, recurso que durante a entrevista considerou desnecessário

para o desenvolvimento das atividades, depois de uma maior aproximação do material, a

avalia como relevante dizendo: “Sempre as utilizo, pois são relevantes para o

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164

desenvolvimento das atividades e, ao mesmo tempo, são um parâmetro para o direcionamento

do trabalho”.

Solicitamos à professora que indicasse uma das atividades, propostas pelo Projeto

EMAI, e desenvolvida por ela durante uma das aulas acompanhadas, que considerasse que

mais contribuiu para o ensino e aprendizagem dos números naturais e SND. Segue a resposta,

com a devida justificativa: “A atividade 3.3 da Unidade 1, uma vez que os alunos tinham que

criar um número e, a partir disso, foi possível fazer uma conversa e um fechamento do que os

alunos vinham aprendendo desde o começo do ano sobre números naturais”. Realmente a

professora explorou cada parte desta proposta, e pôde perceber quais de seus alunos

conseguiram realizar com facilidade e os que apresentaram limitações na leitura e escrita de

números com diversas ordens e classes, principalmente, nas ordens maiores das que estão

acostumados, como os milhões.

Igualmente, solicitamos à professora que indicasse uma das atividades propostas pelo

Projeto EMAI, e desenvolvida por ela durante uma das aulas acompanhadas, que identificasse

ter contribuído menos para o ensino e a aprendizagem dos números naturais e sistema SND.

Ela deveria também justificar suas respostas, conforme segue: “Em minha opinião todas as

atividades contribuíram positivamente para o ensino e a aprendizagem dos números naturais,

pois todas são relevantes e formam uma rede de conhecimento sólido e sistematizado”. Mais

uma vez podemos perceber que a sua familiaridade com o material a fez mudar de opinião,

em relação a alguns apontamentos realizados durante a entrevista, pois ela até mesmo chegou

a sinalizar que o material do Projeto EMAI pouco contribuía para o trabalho com números

naturais e SND.

A professora colocou ainda que, não encontrou dificuldades para planejar e

desenvolver suas aulas com base nas sugestões do material, e que adaptou algumas propostas

bem como, ampliou as que trabalhavam situações-problema.

Depois de relatados entrevista, prática pedagógica e depoimento, vamos à algumas

considerações destes três objetos.

4.3.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS RELAÇÕES DA PROFESSORA SANDRA

COM MATERIAIS CURRICULARES

Após a entrevista o acompanhamento da prática e do depoimento da professora

Sandra, podemos perceber que ela conhecia bem os recursos do material e que se propôs a

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165

trabalhar da melhor forma possível as cinco atividades escolhidas, estudando as orientações

destas atividades e as adaptando conforme seus objetivos para a aprendizagem de seus alunos.

Mesmo restringindo a autonomia em alguns momentos, entende o caráter exploratório

das atividades e procura desenvolve-la segundo a sua perspectiva do que é autonomia, ou seja,

ela explica e somente então eles fazem e enquanto fazem, ela acompanha passo a passo

intervindo.

A professora escolheu no material em questão, cinco atividades que exploravam a

produção escrita dos números e as realizou, com boas intervenções em relação ao

conhecimento dos alunos. No entanto, parece ter pressa para desenvolver as atividades, por

isso não permite a interação entre as duplas e não admite o erro, possivelmente, porque

acredita que no 5º ano, seus alunos já construíram o conceito de número, sendo assim, não

entende como necessário oferecer a estes, atividades em que tenham que produzir escritas

numéricas e muito menos que explorem a função dos números.

Por meio da análise dos três instrumentos entrevista, prática pedagógica e depoimentos

podemos apontar que a professora Sandra entende a disciplina de Matemática como um

produto acabado, deste modo, adota uma abordagem de ensino conceitual, concebendo a

matemática como um conjunto de tópicos integrados e inter-relacionados (THOMPSON,

1997).

A professora reconhece os materiais curriculares como ferramentas para auxiliar suas

aulas, todavia, ao entender seu papel de educadora, como o de controle total das atividades

desempenhadas pela sala, passa a dirigir e monitorar seus alunos, evitando atividades

exploratórias que requer que eles tenham mais autonomia para desenvolvê-las. O papel do

professor está no centro da ação e o do aluno de receptor de conhecimentos (BROWN, 2009;

THOMPSON, 1997).

De tal modo, não considera o processo que o aluno percorre em busca de alternativas,

mas valoriza as respostas, desde que estejam corretas. Não permite a seus alunos errar e

quando erram, atribui ao fato de que, não estavam atentos o suficiente ao que foi explicado.

Ignora que estão em um processo de construção e que precisam de outras opções ou

interações com o conteúdo. Uma vez que Sandra demonstra acreditar que ao chegar ao quinto

ano os alunos já devem saber tudo sobre os números naturais e SND, não compreende esse

ano da escolaridade como um momento de sistematização e ampliação deste conteúdo mas,

somente como retomada, assim, fica posto que o conteúdo já deveria estar aprendido.

Sandra usa seus planos como roteiros mentais e acaba engessando suas aulas, pois

planejar é uma etapa essencial para ela, no sentido de assegurar a qualidade do seu ensino. Ela

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166

aparenta não se preocupar com o interesse dos alunos pela disciplina, melhor dizendo de

aproximá-los à Matemática, parecendo que esse interesse está para além do seu pedagógico.

Portanto, por mais que tenha conhecimentos do conteúdo, a crença que tem sobre a

disciplina, limita seus conhecimentos didáticos e pouco beneficia sua prática pedagógica. Ela

atinge seus objetivos de aprendizagem, desde que seus alunos permaneçam quietos e

controlados, o que muitas vezes, como podemos perceber no relato de sua prática pedagógica,

os torna dependentes de sua permissão para tudo, extinguindo o caráter exploratório das

atividades propostas pelo Projeto EMAI.

Mesmo realizando essas adaptações, ao estudar o material, ela consegue perceber os

benefícios da proposta como a conversa inicial e as intervenções e, ainda que, timidamente,

ou por alguns segundos, procure mudar sua prática, mostrando que aos poucos pode se

apropriar das concepções subjacentes. Como por exemplo, do papel ativo dos alunos, da

necessidade de ouvi-los durante a atividade e de oferecer mais situações exploratórias. Essa

possibilidade ficou perceptível ao compararmos a primeira aula com a terceira aula

acompanhada, na qual deixa que seus alunos leiam sós, mesmo que por pouco tempo, e ao

permitir também que elaborem os números com 9 algarismos sozinhos, para somente depois

registrar e intervir.

As observações da aula da professora Sandra nos remetem às considerações de que ela

é limitada por suas crenças, por exatamente não entender que estas não são generalizáveis em

suas práticas e, que muitas vezes, são contraditórias. Em nenhum momento ela parece

questionar-se sobre o não dar autonomia a seus alunos, assim como o fato de que eles podem

errar, a crença de que seu papel de professora é conduzir as atividades, passo a passo,

centradas nela e sem abrir espaço para seus alunos é visível, portanto, ela parece não refletir

sobre suas ações, suas crenças e sobre os conteúdos da matéria, não estabelecendo relações de

causa e consequência entre estes objetos.

Ela alcança seus objetivos de aprendizagem com a maioria dos alunos, mas não vai

além, porque está presa às suas visões, já que não reconhece que estas não contribuem para

sua prática pedagógica.

4.4 ACOMPANHAMENTO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DA PROFESSORA

LUCIANA – 5º ANO

4.4.1 ENTREVISTA DA PROFESSORA LUCIANA

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167

Por fim, resgatemos as características da professora Luciana do 5º ano. Ela possui 45

anos, é formada em magistério, não possui graduação. Leciona há 15 anos, dos quais 8 na

Rede Estadual Paulista e os outros 7 anos na rede particular.

Sua atuação profissional sempre foi a de lecionar. Sua relação com a Matemática é

apresentada como prazerosa, assim ela coloca: “Em primeiro lugar eu gosto de ensinar

Matemática. Eu gosto. Pelo menos essa parte que eu consigo dominar, por exemplo, do

primeiro ano ao quinto ano. Então eu gosto de ensinar Matemática. Eu acho que é uma

matéria, um conteúdo dinâmico. Acho que os alunos conseguem se envolver bastante. Eles

mostram que estão gostando”.

Quanto ao seu desempenho explicitou que: “Eu me avalio, acho que, dependendo do

retorno do aluno. Do que chega ao aluno. Eu acho que, o aluno dando aquele retorno, e eu

conseguindo perceber que ele está entendendo, porque a avaliação é contínua, é a todo

instante”. Diante do retorno que tem de seus alunos, ela acredita que tem um bom

desempenho, pois eles mostram interesse pela Matemática e aprendem bem, segundo sua

avaliação.

A Professora Luciana acredita formar alunos autônomos, pois a maioria faz as

atividades bem rápido. E que pensa ter conhecimento suficiente sobre os conteúdos

matemáticos e sobre a didática para o ensino desta disciplina. Apontou também que, um bom

professor de Matemática é aquele que tem conhecimento e que se mantém informado fazendo

cursos.

Com relação ao projeto, colocou que o conheceu na escola, no ano de 2012. Acha que

ele foi criado porque a SEE quer que as escolas desenvolvam atividades mais direcionadas ao

que realmente importa que as crianças aprendam. Disse que o projeto não pode ser cumprido

à risca, pois ela precisa explorar outros conteúdos e outras coisas na disciplina de matemática.

No entanto apontou que o Projeto ajuda em seu planejamento, que vem a somar a suas

concepções e crenças, e que suas propostas vêm ao encontro com as do Programa Ler e

Escrever. Deste modo, indicou que o projeto repete muitas atividades oferecidas pelo

programa.

Luciana não conhece a proposta de grupos colaborativos e não aderiu às duas horas a

mais de estudo, portanto, quando estava no espaço escolar estudava o material somente no

ATPC. Para planejar suas aulas ela expôs que usa como fonte um apanhado de coisas, sua

experiência profissional, coisas que tem guardado, livros didáticos e agora as atividades do

Projeto EMAI.

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Quanto à versão 2013 do material, descreveu que já estava trabalhando com a unidade

1 e que foi fácil para os alunos realizarem as atividades, pois ela já havia feito a retomada dos

conteúdos. Falou ainda que, somente desenvolve as atividades do projeto em dias específicos,

toda quarta-feira e que, quando as utiliza, cria novas atividades a partir das sugestões, ou faz

adaptações, porém, se a considerar interessante, usa igual ao proposto no material.

A professora disse compreender a proposição das expectativas de aprendizagem e sua

relação com as atividades, e que não acreditava ser necessário que o material fosse tão

detalhado, a menos que tenha sido idealizado para uma professora inexperiente, pois, para ela,

que já tem tantos anos de experiência, não são necessárias tantas orientações. Mesmo assim,

apontou as atividades como boas propostas que aproximam os alunos da Matemática.

Sua crítica ao material é em relação ao tempo, pensa que suas propostas são muito

extensas e que ela precisa desenvolver outros conteúdos. Critica também o fato do material

estar disponível somente em arquivo e não impresso, dificultando a reprodução de tabelas e

gráficos.

Quando indagada sobre como avalia as propostas do ensino de números naturais,

Luciana colocou que acha as propostas interessantes, e que as atividades de exploração de

funções dos números vão ao encontro daquilo que já trabalha com seus alunos. Reconheceu a

produção escrita como a base do trabalho de compreensão do funcionamento do SND e dos

números naturais. Não conhece a proposta de cartelas sobrepostas. E considera o quadro

numérico, um recurso importante para potencializar o ensino dos números naturais e do SND.

Ela aponta o quadro de valor posicional, como uma atividade sobre números naturais que

realizou e que trouxe ganhos para os seus alunos.

Sua única dificuldade com o material era providenciá-lo em tempo hábil, mas não

acrescentaria mais nada a proposta, que, segundo ela, é clara.

Sobre o conhecimento de seus alunos a respeito do conteúdo em questão, disse que

eles já sabem valor posicional, sabem ler os números e a classificação das ordens, entretanto,

acreditava que ela ainda precisava fazer várias retomadas dos conteúdos.

4.4.2 PRÁTICA PEDAGÓGICA DA PROFESSORA LUCIANA

Durante a entrevista, tratamos com a professora que suas aulas seriam assistidas às

quartas-feiras. Nesta oportunidade, ela foi informada que o foco de observação seria o

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trabalho com números naturais e sistema de numeração decimal. Após estes combinados,

foram acompanhadas cinco aulas não consecutivas. Suas aulas foram gravadas em áudio.

Ela possuía 25 alunos. A sala tinha um calendário como portador numérico.

No quadro a seguir estão relacionadas às atividades que foram trabalhadas pela

professora, durante as cinco aulas acompanhadas.

Quadro 19: Relação das Atividades Trabalhadas pela professora Luciana

AULA

VERSÃO

2012

UNIDADE

SEQUÊNCIA EXPECTATIVA (S) TRABALHADA

(S) ATIVIDADE

1ª Primeira 1ª Sequência

Compreender e utilizar as regras

do sistema de numeração decimal,

para leitura e escrita, comparação,

ordenação de números naturais de

qualquer ordem de grandeza.

Atividade 4

Página 8

Resolver problemas com dados

apresentados de maneira

organizada por meio de tabelas

simples e de dupla entrada.

Atividade 8

Página 11

2ª Primeira 2ª Sequência Utilizar o sistema monetário

brasileiro em situações-problema.

Atividade 4

Páginas 17 e 18

Atividade 6

Página 32

3ª Primeira 3ª Sequência

Resolver situações-problema

que envolvam o cálculo de

distâncias.

Atividade 4

Página 22

Utilizar o sistema monetário

brasileiro em situações-problema. Atividade 2

Página 22

Resolver situações-problema

que envolvam o cálculo de

distâncias.

Atividade 5

Páginas 22 e 23

4ª Segunda 4ª Sequência

Resolver problemas com dados

apresentados de maneira

organizada por meio de gráficos de

colunas.

Atividade 6

Página 32

Resolver problemas com dados

apresentados de maneira

organizada por meio de gráficos de

colunas.

Atividade 7

Páginas 32 e 33

5ª Segunda 3ª Sequência

Resolver situações-problema

que envolvam o uso de medidas de

comprimento, massa e capacidade,

representadas na forma decimal.

Atividade 5 –p.

25

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170

2ª Sequência

Comparar e ordenar números

racionais de uso frequente, na

representação fracionária e na

representação decimal,

localizando-os na reta numérica.

Atividade 2 –p.

14

4ª Sequência

Resolver problemas com dados

apresentados de maneira

organizada por meio de gráficos de

colunas.

Atividade 8 –p.

33 e 34

Fonte: EMAI – Educação Matemática nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental – Quinto Ano –

Organização dos Trabalhos em Sala de Aula – Material do Professor – Volume 1, 2012.

Todas as atividades desenvolvidas, na sala da professora Luciana durante as aulas

observadas, foram retiras do material oferecido pelo projeto EMAI versão 2012. Conforme

listamos no capítulo 3, existem 12 atividades no Material do 5º ano que contemplam,

especificamente, a discussão sobre Números Naturais e SND, no entanto podemos observar

pelo quadro acima que somente uma das doze atividades escolhidas por ela, para a observação

proposta, contemplavam este conteúdo.

Apenas a primeira atividade desenvolvida por ela, na primeira aula acompanhada, tem

como objetivo os conteúdos números naturais e SND. Ao final da terceira aula, foi ressaltada

a necessidade de observarmos o desenvolvimento das atividades que contemplassem o

conteúdo em questão, no entanto, a professora se incomodou com o pedido e afirmou que

todas as atividades que estava trabalhando continham números, portanto ela estava sim

atendendo à proposta. Sua resposta deixa explícitos dois fatores: primeiro, ela desconhece as

especificidades do trabalho com números naturais e com o SND e, segundo, ela desconhece

que cada atividade por ela desenvolvida, até aquele momento, tinha como objetivo o trabalho

com blocos de conteúdos distintos como, grandezas e medidas e tratamento da informação.

Nas outras duas aulas que se seguiram ela desenvolveu atividades que também não

contemplavam o conteúdo solicitado. Além disso, podemos observar no quadro, que mesmo

escolhendo duas atividades de uma mesma sequência, a professora não optou pelo trabalho

com as atividades em ordem de apresentação, como propõe o material.

Dentre as cinco aulas acompanhadas, uma foi escolhida para ser analisada. Cabe

ressaltar, que nas duas atividades desenvolvidas nesta aula, analisaremos somente a que

contempla o conteúdo foco desta pesquisa conforme o quadro a seguir.

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Quadro 20: Análise da aula da professora Luciana do 5º ano – Atividades 4 – Página 8.

Legenda: As colocações da professora serão indicadas pela letra P e as dos alunos pela letra A.

VERSÃO 2012 – QUINTO ANO – UNIDADE 1 – 1ª SEQUÊNCIA – ATIVIDADE 4 – PÁGINA 8 – (ANEXO X)

PRIMEIRO MOMENTO – CONVERSA INICIAL

RECURSOS DO MATERIAL RESULTADOS INSTRUCIONAIS RECURSOS DA PROFESSORA LUCIANA A atividade realizada pela professora era

proposta no material relacionada à seguinte

expectativa de aprendizagem: Compreender

e utilizar as regras do sistema de numeração

decimal, para leitura e escrita, comparação,

ordenação de números naturais de qualquer

ordem de grandeza.

Esta atividade propõe: a utilização das regras

do sistema de numeração decimal, para leitura,

escrita e comparação de números da ordem de

grandeza dos milhões.

No material era proposta uma conversa

inicial do professor com a turma no sentido

de: O levantamento do conhecimento prévio

dos alunos sobre as cinco regiões do Brasil.

Conversa inicial: Em outro momento

proponha uma atividade para explorar números

com muitos algarismos dentro de um contexto

real.

Inicie com uma roda de conversa sobre as

cinco regiões do Brasil.

- Vocês sabem quantas regiões o Brasil

possui? Quais são elas?

A Professora iniciou a aula com a

proposta de correção da lição de casa, que foi

uma atividade matemática do Guia de

Planejamento e Orientações Didáticas do

Programa Ler e Escrever.

Ao perceber que a correção se

adiantava no tempo, um pouco mais do que

havia programado, ela optou por interrompê-

la e iniciar o trabalho com as atividades do

projeto EMAI, para que o trabalho fosse

observado. Assim, solicitou que os alunos

registrassem no caderno “Atividade do

EMAI” e entregou uma folha impressa para

cada aluno.

Um aluno ficou intrigado ao receber a

atividade com o título “ATIVIDADE

PROJETO EMAI – 1” e perguntou a

professora, o porquê daquele nome.

Imediatamente uma colega se levanta e diz:

A: Todo mundo já sabe que o EMAI é

organizado em apostilas, apostila 1, apostila 2

etc.

Após a explicação todos se voltaram a ler a

atividade. A professora explicou:

P: Essa é uma atividade com tabelas,

vocês já estão acostumados a fazer, e

A professora iniciou sua aula

corrigindo uma atividade matemática do

Programa Ler e Escrever. Como relatou

durante a entrevista, acredita que as propostas

do programa e do projeto estão muito

próximas, portanto, trabalha com os dois

materiais.

Parou a correção e distribuiu a

atividades, fazendo questão que seus alunos

anotassem em seus cadernos que estavam

realizando atividades do EMAI.

Aparentemente ela não reconhecia o

projeto como parte do currículo, mas sim,

como uma proposta independente, fato que se

confirmou quando uma de suas alunas

descreveu as características do material e ela

valida essa explanação com a cabeça, como se

por ser uma ação diferente, os alunos

devessem saber toda a estrutura.

A professora não seguiu as orientações

do material a respeito da conversa inicial,

portanto, não explorou as regiões brasileiras,

preferiu ampliar as informações dos alunos

sobre a fonte dos dados populacionais, o

IBGE. Uma vez que ela já havia, durante o

planejamento da aula em sua casa, modificado

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172

Leve para a sala de aula, ou encontre nos livros

didáticos um mapa do Brasil Regional. Peça

para os alunos observarem e compararem o

tamanho das cinco regiões, a quantidade de

estados e os seus nomes.

explorou:

P: A tabela apresenta o índice

populacional de cada região brasileira, são

dados de 2011, e que estes dados são do

IBGE. O IBGE realiza pesquisa e depois de

um tempo juntam os números e sabem a

população de cada região.

a proposta original da atividade (ver Anexo

X), sendo assim, retirou o mapa do Brasil

sugerido pelo material. Ou seja, adaptou a

proposta.

SEGUNDO MOMENTO – PROBLEMATIZAÇÃO

RECURSOS DO MATERIAL RESULTADOS INSTRUCIONAIS RECURSOS DA PROFESSORA LUCIANA

Problematização: Para dar continuidade à

atividade, apresente uma tabela com o índice

populacional de cada região.

a) Todas as regiões possuem o mesmo índice

populacional?__________________________

b) Qual região possui o maior índice

populacional e qual possui o menor

índice?________________________________

c) Escreva por extenso o número que

representa o índice populacional de cada região

brasileira:

Norte:________________________________

Nordeste:______________________________

Sul:__________________________________

Sudeste:_______________________________

Centro-Oeste___________________________

d) Organize esses números em ordem

crescente:

______________________________________

______________________________________

______________________________________

_____________________________________

A professora propôs a leitura da atividade no

coletivo e explorou a tabela junto à sala. Ela

lia a primeira coluna (as regiões) e os alunos

liam os números que indicavam a população.

Quando percebia que algum aluno se perdia

na leitura dos números, retomava a questão de

ordens e classes dos números, dizia:

P: Vocês devem prestar atenção nos

pontinhos presentes nos números, pois estes

determinavam primeira classe, segunda classe

e terceira classe.

Fazia a todo o momento referência a tabela de

classes e ordens. Solicitou que um aluno lesse

a questão:

A: TODAS AS REGIÕES POSSUEM

O MESMO ÍNDICE POPULACIONAL?

Assim que finalizou a leitura o mesmo aluno

respondeu a questão dizendo:

A: Claro que não.

Ela explorou a leitura dos enunciados junto

aos alunos. Os que conseguiam identificar a

resposta mais rápida respondiam a ela. No

geral, dois ou três alunos somente conseguiam

No momento da problematização,

optou em fazer exatamente o que solicitava as

orientações do material. Escolheu ler junto

aos alunos e respondeu os itens A e B

coletivamente. A partir do item C os alunos

realizaram as proposta individualmente.

A Professora Luciana aguardou que a

maioria da sala terminasse seus registros e

iniciou a correção na lousa.

Neste momento, ela pergunta e uma

criança responde, ela confirma com a sala, os

alunos validam ou não e ela mesma registra

na lousa.

A professora não percebeu que

participam sempre destes momentos de

interação e validação um número mínimo de

alunos e, sempre os mesmos. E que os demais

estavam copiando a resposta correta da

atividade da lousa.

Esse mesmo procedimento se deu com

o item D. Realizaram a leitura

individualmente, responderam, passaram para

o momento de correção na lousa e os alunos

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173

responder a atividade, os outros copiavam da

lousa o que era registrado pela professora.

Após receber a resposta de um aluno, Luciana

repetia ao grupo para confirmar se

concordavam. Estes por sua vez, validavam

ou não a resposta. A proposta desenvolveu-se

desta maneira até o primeiro item da questão

C.

Quando iniciaram a escrita por extenso da

região nordeste, a comanda da atividade foi

redirecionada, a partir deste momento, os

alunos deveriam escrever os outros índices

populacionais sozinhos, prestando bastante

atenção no que estavam escrevendo.

Os alunos liam a atividade e diziam:

A: Essa está fácil.

A professora confirmou e os lembrou que

haviam estudado os números no quadro de

ordem, por isso, achavam que estava fácil. Ela

aguardou um pouco e, em seguida, passou de

em mesa observando os registros dos alunos e

realizando intervenções. Aguardou mais um

pouco, perguntou se haviam terminado a

questão C e, após a confirmação da maioria

iniciou a correção.

Os alunos leram sem grandes dificuldades os

números apresentados e enfatizavam que a

atividade estava fácil. Durante a leitura a

professora procurou observar se todos

acompanhavam, quando percebia que algum

aluno havia se perdido, ela retomava a leitura

para que este conseguisse acompanhar.

de sempre validaram e, os que erravam ou

simplesmente não fizeram, copiavam da

lousa.

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Solicitou que realizassem a questão D e os

alunos diziam:

A: É fácil professora, é só ler a tabela

do último para o primeiro número e copiá-los.

É fácil.

TERCEIRO MOMENTO – OBSERVAÇÃO E INTERVENÇÃO

RECURSOS DO MATERIAL RESULTADOS INSTRUCIONAIS RECURSOS DA PROFESSORA LUCIANA

Observação/Intervenção: Explorando mais a

atividade, converse com os alunos:

- Vocês conhecem uma forma diferente para

escrevermos um número com muitos

algarismos?

- Quando lemos notícias em jornal em que está

escrito, por exemplo: 75 milhões, este número

poderia ser, por exemplo, 74.987.533. Por que

será que o jornal se utiliza da forma escrita,

75 milhões?

Você pode explicar também que a combinação

de números e palavras facilita a compreensão

da grandeza numérica, além de economizar

espaço na diminuição dos espaços com o zero.

Explique para os alunos como fazer

arredondamento, como por exemplo:

O número 253.816 está mais próximo de

253.000 ou 254.000?

O número 465.123 está mais próximo de

465.000 ou 466.000?

O número 584.586 está mais próximo de

584.000 ou 585.000?

Na próxima aula, retome a atividade “Números

e populações” e faça o arredondamento para o

milhão mais próximo dos números de

Quando a maioria terminou, novamente os

números foram registrados na lousa. Os

alunos ditaram e a professora registrou. Os

mesmos alunos ditaram a resposta e os demais

procuraram acompanhar a leitura e as

anotações na lousa, comparando com o que

haviam escrito no caderno.

Ela passou para atividade de exploração de

problemas com dados apresentados, de

maneira organizada e por meio de tabelas

simples.

Luciana optou por não fazer a

ampliação na atividade sugerida no material,

que propunha a exploração do

arredondamento.

Prefere passar para outra atividade que

tem como objetivo a exploração de

problemas, com dados apresentados por meio

de tabelas simples.

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175

habitantes das regiões e escreva com os

algarismos seguidos da palavra milhão.

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176

Pela descrição e análise da prática pedagógica de Luciana, podemos afirmar que ela

não conhecia o material, suas estruturas e seus pressupostos. Já em sua entrevista minimizou a

importância deste, ao considerá-lo uma simples réplica do material oferecido pelo programa

Ler e Escrever, sem reconhecer que a proposta do material do Projeto EMAI amplia e

aprofunda o primeiro. Ao não validar o material como um currículo oficial, ela escolheu

adaptar suas proposta e extinguiu partes essenciais como a conversa inicial, as observações e

intervenções.

Antes de nos dedicarmos a detalhar sobre suas crenças e concepções, anexaremos à

nossa análise o depoimento da professora.

4.4.3 DEPOIMENTO DA PROFESSORA LUCIANA

Após três meses de uso do material proposto pelo Projeto EMAI e acompanhamento

de algumas aulas, entendemos que seria importante ouvir novamente a opinião da professora

Luciana sobre o material e perceber o que conseguiu se apropriar sobre a estrutura.

Embora tenha afirmado durante a entrevista que estava trabalhando com material do

Projeto EMAI versão 2013, no depoimento respondeu que estava utilizando “A versão 2012,

conforme orientação da Diretoria de Ensino que a coordenação recebeu e me informou”.

Informação esta dada de maneira equivocada e que pode ter limitado os seus momentos de

estudo do material, uma vez que, o material versão 2013 ampliou suas orientações inicias.

Luciana relatou que organizava as atividades sugeridas pelo projeto, verificando com

antecedência o conteúdo a ser desenvolvido, e assim preparava os exercícios para os alunos. E

que antes de desenvolvê-los verificava se os alunos precisavam retomar a discussão proposta.

Em relação à conversa inicial disse que não utilizou as propostas do material, mas sim

a sua fala, o seu conhecimento e a experiência que tem sobre o assunto. Essa afirmação deixa

explícito que a professora não compreende a conversa inicial como um momento para

levantar os conhecimentos prévios dos alunos, mas apenas como um momento de

contextualizá-los sobre o assunto que será abordado.

Solicitamos à professora que indicasse uma das atividades propostas pelo Projeto

EMAI, e desenvolvida por ela durante uma das aulas acompanhadas, que acreditava ter

contribuiu mais para o ensino e aprendizagem dos números naturais e SND. Conforme os

questionamentos anteriores, ela deveria justificar suas respostas: “As atividades envolvendo

leitura de números, cálculos com tabelas, gráficos, nota fiscal e quadro de classes e ordens,

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acho que contribuíram bastante para a aprendizagem dos alunos”. Ao responder à questão, a

professora não se atenta para a especificidade da pergunta e responde indicando uma série de

atividades que contemplam outros conteúdos, diferente do indagado.

De modo igual, solicitamos à professora que indicasse uma das atividades propostas

pelo Projeto EMAI, e desenvolvida por ela durante uma das aulas acompanhadas, que

considerava que menos contribuiu para o ensino e aprendizagem dos números naturais e

sistema SND. Segue a resposta apresentada: “Na minha opinião não houve nenhuma atividade

que contribuiu menos para o ensino, todas tiveram sua importância”.

Quanto ao planejamento de suas aulas indica novamente, como na entrevista, o pouco

tempo para trabalhar várias demandas como maior dificultador. Em relação ao

desenvolvimento das atividades, expôs não encontrar nenhuma dificuldade. Finaliza relatando

que por diversas vezes realizou adaptações nas propostas, como também criou novas

situações.

4.4.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS RELAÇÕES DA PROFESSORA

LUCIANA COM MATERIAIS CURRICULARES

Após a entrevista, o acompanhamento da prática e do depoimento da professora

Luciana pudemos perceber que ela conhecia muito pouco dos recursos do material, mas,

mesmo assim, se propôs a trabalhar da melhor forma possível as atividades escolhidas,

estudando as orientações destas atividades e as adaptando conforme seus objetivos para a

aprendizagem de seus alunos.

A professora não tem claro o seu objetivo de ensinar os números naturais e as regras

do SND, pois das 12 atividades desenvolvidas durante o nosso acompanhamento, somente

uma promovia diretamente o trabalho com esse bloco de conteúdo. No entanto, quando

questionada ela afirmou que estava trabalhando números em todas as propostas, uma vez que

havia números em todas elas. Deste modo, ela desenvolveu várias propostas explorando

diversos blocos de conteúdos.

Com base na análise dos três instrumentos: entrevista, prática pedagógica e

depoimentos, é possível apontar que a professora Luciana, entende a Matemática como um

produto acabado, desta forma, desenvolve suas aulas com o intuito de oferecer o máximo de

atividades possíveis abordando o ensino, como um conjunto de regras e procedimentos, que

servem para descobrirmos respostas de questões específicas.

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Em relação aos materiais, ela os reconhece como ferramentas, no entanto, suas

adaptações, transformam suas atividades em recortes das propostas originais e, em alguns

casos, descaracteriza as orientações iniciais, não sendo possível reconhecer as contribuições

do material. Desta forma, ela minimiza as orientações apresentadas adaptando-as, por

entender que o planejamento apresentado no material delimitaria sua aula, assim, dificilmente

se apropria das concepções subjacentes ao material.

Por conceber a disciplina como um produto acabado, crê que seu papel é demonstrar

os procedimentos que devem ser desempenhados pelos alunos e, somente então, permitir que

realizem atividades de forma independente, medindo a capacidade destes de seguir e

verbalizar os procedimentos ensinados, para dizer se são habilidosos ou não. Nesta

perspectiva, o papel do professor está no centro da ação e o do aluno de receptor de

conhecimentos (BROWN, 2009; THOMPSON, 1997).

Ela atinge seus objetivos de aprendizagem, no entanto, somente para alguns alunos, ou

seja, com aqueles que acompanham prontamente as suas orientações. Isso fica claro no relato

de sua prática, pois ela somente interage com aqueles que respondem suas perguntas,

confiante de que todos a estão acompanhando. No entanto, não percebe que uma minoria a

responde e são sempre as mesmas crianças, os demais permanecem calados, não se expõem,

aparentando terem medo de explicitar que mesmo no 5º ano ainda não sabem o conteúdo. Por

conseguinte, limitam-se a copiar as respostas corretas da lousa, sem expor suas dúvidas e

hipóteses.

Esse movimento é consequência da falta do caráter exploratório das propostas,

característica essa minimizada ou até mesmo extinta em decorrência do tempo. A professora

na busca do melhor para seus alunos aparenta sentir-se pressionada por suas obrigações

enquanto educadora. Preocupada em cumprir metas, luta contra o tempo e, sem perceber, se

esquece de avaliar a qualidade do ensino oferecido e a aprendizagem de fato alcançada pelos

alunos.

As propostas pouco exploratórias dificilmente levam os alunos a refletir sobre as

situações apresentadas e a serem autônomos, condições estas necessárias para que os alunos

se apropriem de qualquer conteúdo, conforme apontado nas contribuições de Piaget (1964),

Kamii (2012), Fayol (1996), Lerner e Sadovsky (1996) e Pires (2013).

Luciana parece desconhecer a necessidade de melhorar a relação de seus alunos com a

Matemática, desta maneira, a professora está presa a algumas crenças e concepções que não

contribuem para a reflexão sobre sua prática pedagógica.

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Findada nossa análise individual de cada professora acompanhada, nos dedicaremos,

no próximo item, a apresentar nossas considerações gerais a respeito do percurso traçado

nesta pesquisa, finalizando as discussões e apresentando nossas conclusões.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para compreendermos a relação entre professores e materiais curriculares no ensino de

números naturais e sistema de numeração decimal, ao longo desta pesquisa, procuramos

identificar e delimitar a relevância e a função que assumem estes elementos, em meio a um

processo de implementação curricular e, mais especificamente, no cotidiano escolar.

Nos estudos de Brown (2009), pudemos identificar que tanto os professores, como os

materiais curriculares, são agentes fundamentais para o processo de implementação de um

currículo. Ao analisarmos as funções desses agentes e identificá-los no Projeto EMAI,

podemos apontar que:

Os materiais curriculares do EMAI apresentam atividades para os diferentes eixos de

conteúdo dos anos iniciais, as orientações didáticas explicitam concepções teóricas que as

sustentam, recursos visuais (figuras, moldes, peças para jogos) e indicações para possíveis

orientações e intervenções do professor em sala de aula. Caracterizam-se, pelo que Gimeno

Sacristán (2000) denomina, como currículo apresentado.

O material oferecido pelo projeto EMAI adotou como pressuposto, as concepções do

Ciclo de Aprendizagem da Matemática (SIMON, 1995). Este ciclo inclui a ideia de

Trajetórias Hipotéticas de Aprendizagem, que são constituídas por duas características

básicas: a definição de objetivos para as aprendizagens dos alunos e o plano de atividades de

ensino, plano este elaborado com base nas hipóteses sobre o processo de aprendizagem e de

construção do conhecimento dos alunos. Ambas as características são sempre embasadas

teoricamente por pesquisadores relevantes para o conteúdo que a trajetória se propõe a

desenvolver.

O material elaborado no âmbito do Projeto EMAI, diferencia-se dos demais

exatamente por explicitar as expectativas de aprendizagem que se tem em relação ao conteúdo

matemático, propor atividades que são elaboradas com base nestas expectativas e nas

hipóteses que se tem sobre como as crianças aprendem e, por fim, por oferecer orientações

formativas quanto ao conteúdo e a didática de ensino, segundo fundamentações teóricas. São

essas características do material que possibilitam aos professores uma melhor apropriação das

concepções subjacentes.

Para o trabalho com números naturais e sistema de numeração decimal foram adotadas

no material do EMAI, especialmente as contribuições de Fayol (1996), Lerner e Sadovsky

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(1996) e Pires (2013). As idéias desses autores também foram exploradas em nossa pesquisa,

por serem imprescindíveis para melhor entendermos o ensino e a aprendizagem do conteúdo

em questão. Como pudemos observar as pesquisas sobre ensino de números naturais e sistema

de numeração decimal se ampliaram, ao longo das últimas décadas, potencializando as

contribuições para a prática pedagógica.

De um modo geral, as contribuições desses pesquisadores oferecem subsídios para

pontuarmos que nosso papel, diante da construção do conceito de número e da apropriação

das regras do SND, é o de percebermos que este processo é construído gradativamente por

parte do indivíduo, pela compreensão da função dos números e de seus usos. Esta perspectiva

está em acordo com o pressuposto mais amplo de que a finalidade da educação é desenvolver

a autonomia da criança, ou seja, o aluno não pode ser levado a reproduzir meros

procedimentos e regras, apresentados por seus professores, mas deve ser colocado diante de

contextos reais do uso dos números em que seu pensamento seja desafiado e sua autonomia

seja construída e exercitada.

No processo de investigação, para nós foi muito importante compreender que tanto a

oralidade quanto a produção escrita são imprescindíveis para a construção do conceito de

número. Que a notação numérica deve ser compreendida como ponto de chegada e não como

ponto de partida, usar a numeração escrita é produzir e interpretar escritas numéricas, é

estabelecer comparações entre tais escritas, é apoiar-se nelas para resolver ou representar

operações FAYOL (1996) LERNER E SADOVSKY (1996) E PIRES – (2013).

Outra aprendizagem importante, mas ainda pouco discutida nas nossas escolas, refere-

se à possibilidade e adequação de se trabalhar com diferentes intervalos de números,

favorecendo assim, a comparação entre os números de diferentes quantidades, para que os

alunos estabeleçam relações, identifiquem e reconheçam regularidades, como também as

utilizem para produzir suas escritas. Diferente de um ensino que tem como premissa a

gradação do conhecimento, ou seja, ensinar o sistema por meio de pequenas doses (ensinar de

0 a 9, de 10 a 20 etc.). Distinto também da tendência de querer que os alunos exibam com

rapidez um “conhecimento formalizado”, em que não se reconhece este ensino e a

aprendizagem como um processo e que, desde o início, oferece conceitos prontos que

precisam ser construídos.

A intenção do projeto EMAI é também a de que os professores sejam compreendidos

como sujeitos ativos e regentes de suas escolhas, podendo estas potencializar ou minimizar os

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momentos de instruções e, neste caso, os processos de uma implementação BROWN (2009);

SHULMAN (1986), marcando assim, o seu papel de moldar o currículo.

Esse papel dos professores relaciona-se fortemente com os recursos de que ele dispõe:

seus conhecimentos sobre os conteúdos matemáticos que vai ensinar, seus conhecimentos

sobre o processo de construção desse saber pelas crianças, seus conhecimentos didáticos, seus

conhecimentos sobre a organização do currículo e seu sistema de crenças e concepções sobre

ensinar e aprender matemática.

Tais recursos explicitam suas compreensões em relação ao ensino e a aprendizagem, e

fundamentam suas tomadas de decisões. Assim, se o professor entende que a Matemática é

um conjunto de regras a serem transmitidas às novas gerações, ele se coloca no papel de

transmissor desse conhecimento, de regras ou conceitos. Ao aluno cabe o papel de receptor

passivo (THOMPSON,1997).

Entretanto, se ele percebe a matemática como uma disciplina dinâmica e passível de

construção, vai se colocar na função do professor, que é a de oferecer aos seus alunos,

condições de se apropriar de forma exploratória e reflexiva dos conteúdos matemáticos. Nesta

perspectiva, os alunos são agentes de um processo gradativo de construção

(THOMPSON,1997).

Por reconhecer o papel ativo e determinante dos professores em meio a um processo

de implementação curricular, o Projeto EMAI teve como premissa a construção coletiva do

currículo de matemática e de seus materiais. Para tanto, foram realizados os grupos

colaborativos de estudos, momentos de reflexão, discussão e formação dos profissionais

envolvidos. Essas discussões não somente contribuíram para o processo de elaboração dos

documentos, como fomentaram a formação dos profissionais envolvidos.

Quanto à relação entre esses dois agentes, materiais curriculares e professores,

pudemos entender, com base nas contribuições do pesquisador Brown (2009), que a prática

pedagógica é o resultado dos tipos de uso, realizados pelos professores, dos materiais

curriculares. Essas formas de utilização são expressas em adaptações, reproduções ou

criações. Desta forma, durante sua interação com os materiais curriculares, os professores

mobilizam o conhecimento que possuem sobre o conteúdo, o conhecimento didático sobre o

ensino, as crenças e concepções, para então adaptar, reproduzir ou criar suas aulas,

articulando seus próprios recursos aos recursos oferecidos pelos materiais curriculares.

Nossa investigação nos possibilitou compreender também que, os recursos dos

professores poderão tanto viabilizar, quanto limitar suas ações, interferindo diretamente na

sua capacidade pedagógica de planejamento. Por meio desta habilidade, alguns professores

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podem explorar materiais curriculares, reconhecendo seus elementos essenciais, e

reconstruindo-os, a fim de atender às suas necessidades.

Ao acompanharmos a prática pedagógica das professoras Fernanda e Renata – 3º ano –

e Sandra e Luciana – 5º ano –, em aulas destinadas ao trabalho com números naturais e SND,

tendo como ferramenta o material do aluno e o material do professor do Projeto EMAI, foi

possível levantar diferentes elementos sobre como essas mobilizam seus recursos e como

interagem com os recursos oferecidos pelo material.

Das quatro professoras acompanhadas, somente as da escola A, Fernanda e Sandra,

utilizavam o material versão 2013. As da escola B, Renata e Luciana foram orientadas

equivocadamente pela Professora Coordenadora (PC) a utilizar a versão 2012, com a alegação

de que não havia diferença entre os documentos.

No momento da entrevista essas quatro professoras demonstraram ter pouco

conhecimento da estrutura e dos pressupostos do material. Desconheciam o fato de que o

Projeto EMAI e o Programa Ler e Escrever são ações da mesma SEE, portanto, não possuem

caráter excludente. O Projeto EMAI tem o foco voltado para Matemática, já o Programa Ler e

escrever, tem o foco em Leitura e Escrita.

Mesmo com pouco conhecimento do material todas se propuseram a desenvolver as

atividades da melhor forma possível, evidenciando que essas professoras se mostraram

abertas e disponíveis para se desenvolver profissionalmente, em benefício de sua prática

docente e da aprendizagem de suas crianças.

Com o desenvolvimento das aulas algumas professoras se aproximaram mais do

material. Sandra, desde que acessou o material atualizado no site, após a entrevista, passou a

estudá-lo e a cada acompanhamento demonstrava ter se apropriado mais de sua estrutura e

pressupostos. Fernanda dedicou-se a estudar somente as atividades que desenvolveu mas,

mesmo assim pareceu ter se apropriado melhor das propostas. Luciana e Renata, mesmo tendo

sido alertadas, por diversas vezes, sobre a versão atualizada do material não se entusiasmaram

em procurá-la, e também não demonstraram nenhuma mudança de opinião em relação a ele,

após o desenvolvimento das atividades.

Em relação ao conhecimento do conteúdo, como declararam durante as entrevistas,

todas elas consideram que dominam o que precisam ensinar para os alunos dos Anos Iniciais

do Ensino Fundamental.

Entretanto, nossa hipótese é a de que esse conhecimento não é suficiente, pois durante

o desenvolvimento das aulas demonstraram insegurança, imprecisões e incorreções. Um

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exemplo ocorreu durante a exploração do valor posicional dos números, quando uma delas

afirma a seus alunos que o número 234 possui somente 4 unidades, 3 dezenas e 2 centenas,

quando na verdade possui 234 unidades, 23 dezenas e 2 centenas.

Mesmo combinando antecipadamente que nosso interesse era o de assistir aulas sobre

o bloco Números Naturais e Sistema de Numeração Decimal, de um total de 16 aulas

assistidas, apenas 10 contemplavam atividades que tinham, especificamente, o trabalho com

essa temática. Esse fato pode indicar que algumas das professoras não sabiam identificar o

tema central das atividades. A professora Sandra foi a única que explorou somente atividades

com esse bloco de conteúdo. Fernanda, que explorou as operações com números naturais, em

algumas das aulas que assistimos, justificou o fato dizendo que se preocupa em oferecer

atividades de acordo com o indicado no material, mas as adapta para atender ao seu objetivo

de ensino, as operações. Renata explorou várias atividades com o conteúdo em questão,

porém, a maioria delas não constava no material, ou eram pequenos recortes de atividades do

material do Projeto EMAI. Luciana não reconhece o bloco de conteúdo em questão, nem a

necessidade de um trabalho específico com os números, desta maneira, desenvolve atividades

dos diversos blocos durante a investigação, com a justificativa de que todas as atividades, por

exemplo, sistema monetário, gráficos e tabelas, envolviam números.

Com relação ao conhecimento didático, todas as professoras demonstraram

reconhecer a importância do planejamento antes de desenvolver as suas aulas para elaborar

estratégias, confeccionar materiais, elencar intervenções e potencializar a aprendizagem de

seus alunos. Fernanda e Sandra foram as que se preocuparam mais com intervenções

individuais durante as aulas, e mesmo entre elas essa intervenção assume características

diferentes, pois as intervenções de Sandra, em alguns momentos, são no sentido de controlar

seus alunos mais do que de auxiliá-los em seu pensamento. Luciana e Renata procuram “dar

voz” a seus alunos, contudo não percebem a necessidade, em alguns casos, da intervenção

individual, atendendo somente aos alunos que acompanham com facilidade as discussões e

respondem “corretamente” ao que perguntavam.

Observando as diferentes aulas entendemos que a forma de atuação das quatro

professoras revela crenças e concepções. Sandra, Renata e Luciana entendem a Matemática

como um produto acabado, deste modo, o papel do professor está no centro da ação e o aluno

é receptor de conhecimentos. Renata e Luciana adotam um ensino por meio de regras e

procedimentos. Elas ensinam, seus alunos reproduzem. Já Sandra, acredita que o ensino deva

ser conceitual, para que os alunos se apropriem de todos os fundamentos matemáticos.

Fernanda por sua vez, entende a Matemática como um conteúdo dinâmico e, portanto, coloca-

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se no papel de oferecer a seus alunos condições de se apropriarem de forma mais exploratória

e reflexiva dos conteúdos matemáticos. Nenhuma delas parece notar que suas crenças as

levam a adaptar o material curricular e, em alguns casos, a reformular ou a ignorar orientações

importantes para o trabalho com o conteúdo em questão, de forma a limitar suas ações.

Durante o acompanhamento das aulas foi possível identificar a ocorrência de

diferentes tipos de uso do material pelas professoras, elencados por Brown, quais sejam:

adaptação, reprodução e criação. Em certa medida e em diferentes momentos da atuação, elas

ora reproduzem, ora adaptam e mais raramente “criam”.

Consideramos que a adaptação foi o uso mais frequente durante as práticas

observadas e que estas, aconteceram geralmente, durante os momentos de conversa inicial e

de observação e intervenção, sendo motivadas pelas crenças e concepções que as professoras

possuem em relação ao conteúdo e ao ensino desta disciplina. O momento em que mais se

observa a reprodução é o da proposição da atividade para que o aluno desenvolva, isto é, não

fizeram alterações nos enunciados. Quando acrescentam atividades ou explicações que não

constam do material, geralmente o fazem apoiadas em outros materiais, como livros didáticos.

O acompanhamento revela as potencialidades do material do curricular do Projeto

EMAI, no sentido de ajudar o professor a preparar suas aulas de forma mais orientada pelos

objetivos de aprendizagem. No entanto, esses objetivos em relação à aprendizagem dos

números naturais e do SND foram alcançados com maior e menor êxito de acordo com

conhecimentos de cada uma para articular e, ou, explorar os recursos do material, ou seja,

com as suas habilidades de elaborar planejamentos produtivos que as ajudassem a entender e,

a utilizar as os materiais de forma a alcançar seus objetivos educacionais.

Por fim, não basta reconhecer aqui, a existência desta relação ou os elementos que a

configuram, mas é necessário destacar que o material deve ser objeto/recurso de formação

desses profissionais, aprofundando-se tanto os conteúdos matemáticos envolvidos como os

conhecimentos didáticos a eles referentes.

A grande meta não deve ser a de que ao professor caiba apenas a recepção passiva de

conteúdos, nem a transmissão desses a seus alunos, mas sim a de que possa explorar de forma

competente materiais curriculares disponíveis, tomar decisões mais fundamentadas no sentido

de realizar reproduções, adaptações ou criações.

A realização dessa pesquisa contribui para reconhecermos a importância destes

elementos no âmbito da implementação curricular e no cotidiano escolar, pela compreensão

da necessidade da articulação entre recursos dos materiais, e recursos dos professores e suas

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implicações nas aprendizagens dos alunos. O estudo também nos revelou a importância de

que o professor se aproprie das produções de pesquisa sobre os conteúdos que vai ensinar,

como é o caso dos números naturais e do SND, de modo que não seja um mero reprodutor de

atividades cujos fundamentos teóricos são desconhecidos.

.

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ANEXOS

ANEXO I

Pesquisa: Professores do Ensino Fundamental Anos Iniciais e sua Relação com Materiais Didáticos no Contexto do Projeto "Educação Matemática nos Anos Iniciais" da Secretaria da Educação do Estado São Paulo Pesquisadora: Silvana Ferreira de Lima

ROTEIRO DE ENTREVISTA

CARACTERIZAÇÃO DO SUJEITO

ESCOLA:

SÉRIE:

NOME:

IDADE:

FORMAÇÃO: DE ENSINO MÉDIO DE GRADUAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO

TEMPO DE ATUAÇÃO NO MAGISTÉRIO:

TEMPO DE ATUAÇÃO NA REDE ESTADUAL E TIPO DE VÍNCULO

OUTROS VÍNCULOS OU OUTRAS ATIVIDADES PROFISSIONAIS

SUA RELAÇÃO COM A MATEMÁTICA

COMO SE AVALIA, ENSINANDO MATEMÁTICA?

PROJETO EMAI O que você sabe sobre o Projeto Educação Matemática nos Anos Iniciais (EMAI)? Desde quando o conheceu? Como isso ocorreu?

O que você pensa sobre a proposta de grupos de estudo de Matemática na escola?

Você aderiu às aulas de estudo propostas pela resolução 46, que é destinada ao estudo dos materiais do Projeto EMAI? Se sim, há quanto tempo participa destas aulas de estudo? Como é sua participação?

Como o EMAI tem contribuído para a organização do planejamento das suas aulas de Matemática?

Quais as principais concepções sobre ensinar e aprender Matemática você identifica no EMAI?

Você considera ter modificado algumas concepções ou crenças sobre o ensino de Matemática, participando do EMAI? Quais?

Você considera que seu conhecimento matemático é suficiente/razoável para ensinar seus alunos?

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E seu conhecimento didático sobre ensinar e aprender Matemática?

O que em sua opinião, é fundamental para ser um bom professor que ensina Matemática a crianças dos anos iniciais?

MATERIAIS DIDÁTICOS Como você prepara suas aulas? Em que materiais/livros você se apóia?

Como você descreve o material proposto pelo projeto EMAI. apresentado na unidade 1, neste inicio de 2013 ?

Como você trabalha as atividades propostas no material do EMAI: usa esporadicamente ou rotineiramente. Por quê?

Como você usa as propostas do EMAI: trabalha exatamente como são propostas. Faz adaptações, cria novas atividades? Em que situações? Dê exemplos.

Como você organiza na rotina da semana as atividades propostas em cada sequência?

Você compreende bem a proposição das expectativas de aprendizagem e a relação delas com as atividades propostas?

No material do EMAI, há uma sugestão de conversa inicial com a classe, antes de apresentação de uma atividade problematizadora. Como você avalia essa proposta de conversa inicial?

Você acha que as propostas de atividades do EMAI ajudam seus alunos a aprenderem melhor e a gostar de Matemática? Justifique.

Você acha que forma alunos autônomos nas aulas de Matemática?Justifique e relacione essa análise com o material do EMAI.

Que críticas você faz às propostas de atividades apresentadas?

CONTEÚDOS: NÚMEROS NATURAIS E SISTEMA DE NUMERAÇÃO DECIMAL Como você percebe e avalia a proposta de ensino de números naturais apresentada no material do EMAI?

No material do EMAI os números são explorados a partir de suas funções. Como você entende isso?

A produção de escritas numéricas pelas crianças é à base do trabalho de compreensão do funcionamento do SND. O que isso significa para você?

As cartelas sobrepostas e os quadros numéricos são dois recursos bastante explorados no material do EMAI. Qual a potencialidade desses materiais?

Descreva uma atividade do EMAI sobre números naturais que você realizou e que trouxe ganhos de atividade para os seus alunos.

Descreva uma atividade do EMAI sobre números naturais que você realizou, mas não compreendeu muito bem sua importância.

Que dificuldade(s) você tem para utilizar o material proposto pelo projeto EMAI em suas aulas?

Que informações o material proposto pelo Projeto EMAI precisa oferecer para potencializar ainda mais o trabalho dos professores dos anos iniciais?

O que você acha que a maioria de seus alunos já sabe sobre os números naturais e sobre o SND?

O que você acha que a maioria de seus alunos ainda precisa saber sobre os números naturais e sobre o SND?

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ANEXO II

PESQUISA: Professores do Ensino Fundamental Anos Iniciais e sua Relação com Materiais Didáticos no Contexto do Projeto "Educação Matemática nos Anos Iniciais" da Secretaria da Educação do Estado São Paulo

PESQUISADORA: Silvana Ferreira de Lima

Após estes três meses de utilização dos materiais oferecidos pelo Projeto EMAI gostaria de seu depoimento sobre o trabalho desenvolvido:

ESCOLA:

SÉRIE:

1. Qual versão do Material utilizado pelo Projeto EMAI você tem trabalho a versa 2012 ou a verão 2013 que está disponível no site do programa Ler e escrever?

2. Como você está se organizando para trabalhar com as atividades propostas pelo EMAI?

3. Antes de realizar as atividades escolhidas como planejou o seu desenvolvimento?

4. Nas atividades do EMAI há uma indicação de conversa inicial antes da proposição das atividades e orientações para possíveis intervenções do professor. Em que medida você utilizou essas sugestões?

5. Indique uma das atividades propostas pelo Projeto EMAI, desenvolvidas por você nas aulas que presenciei que considera que mais contribuiu para o ensino e aprendizagem dos números naturais e sistema de numeração decimal. Justifique sua resposta:

6. Indique uma das atividades propostas pelo Projeto EMAI, desenvolvidas por você nas aulas que presenciei que considera que considera que menos contribuiu para o ensino e aprendizagem dos números naturais e sistema de numeração decimal. Justifique sua resposta:

7. Você encontrou alguma dificuldade para utilizar o material proposto pelo projeto EMAI para planejar suas aulas? Qual ou Quais?

8. Você encontrou alguma dificuldade para utilizar o material proposto pelo projeto EMAI para desenvolver as aulas planejadas? Qual ou Quais?

9. Você realizou alguma adaptação nas atividades desenvolvidas nas aulas que presenciei, como por exemplo, retomar conteúdos, utilizar atividade de outro material com o mesmo conteúdo etc.? Se sim, descreva a adaptação realizada.

10. A partir do material apresentado no EMAI você criou novas situações didáticas para aprofundar/ampliar os conhecimentos de seus alunos? Dê exemplos.

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ANEXO III

Resolução SE 46, de 25-4-2012

Dispõe sobre formação em serviço do Professor Educação Básica I, e dá providências

correlatas

O Secretário da Educação, considerando a significativa melhora do rendimento

escolar alcançada pelos alunos dos anos iniciais do ensino fundamental no SARESP/2011,

especificamente quanto à aquisição das competências leitora e escritora, resultante da

eficácia da implementação do Programa Ler e Escrever; a importância que o

desenvolvimento de ações articuladas, de formação em serviço e de acompanhamento da

prática docente, representa para a equipe escolar, na elaboração do plano de ação; a

diversidade das condições de exequibilidade dessas ações nas escolas, que continuam a

reivindicar ampliação da reorganização dos tempos e espaços escolares de forma a

assegurar, com a eficácia desejada, na continuidade do Programa Ler e Escrever, a

aprendizagem dos demais conceitos e conhecimentos relativos às disciplinas que

integram o currículo do ensino fundamental, em especial à Matemática; resolve:

Artigo 1º - Os docentes regentes de classe do segmento de 1º a 5º anos do

ensino fundamental, interessados em ampliar sua formação profissional, com

aprofundamento de conhecimentos, poderão, opcionalmente, a partir do corrente ano,

fazer jus a mais 2 (duas) horas semanais de trabalho, para participar de ações e

reuniões voltadas à melhoria da prática docente, previstas pelo Programa Ler e Escrever,

com especial ênfase ao ensino da Matemática.

Parágrafo único – As 2 (duas) horas semanais, a serem acrescidas à carga horária

total atribuída ao Professor Educação Básica I, deverão ser cumpridas na unidade

escolar, em horas de trabalho docente, consecutivas, que serão remuneradas a título de

horas de trabalho pedagógico.

Artigo 2º - As atividades de aprofundamento de conhecimentos, desenvolvidas

nas 2 (duas) horas semanais de trabalho, a que se refere o artigo anterior, deverão:

I - integrar, obrigatoriamente, o plano de ação elaborado pela unidade escolar,

como atividades destinadas ao trabalho de planejamento e formação em serviço, a serem

explicitadas em documento específico, indicativo dos conteúdos, procedimentos

metodológicos, estratégias e recursos selecionados, bem como do horário de

desenvolvimento e da natureza dos instrumentos de acompanhamento e monitoramento

dos resultados alcançados pelos professores em sua rotina docente;

II – ser atribuídas ao professor interessado em participar dessas atividades e que

apresente condições de cumprir as normas estabelecidas.

Parágrafo único – As 2 (duas) horas semanais, de que trata esta resolução, são

devidas, exclusivamente, ao regente em exercício da respectiva classe, sendo que o

pagamento correspondente dar-se-á mediante o efetivo cumprimento dessas horas, não

podendo ser estendido a casos de ausências ou afastamentos a qualquer título.

Artigo 3º - Orientações específicas, destinadas ao desenvolvimento das atividades

de aprofundamento de conhecimentos, com ênfase ao ensino da Matemática, serão

objeto de normas complementares, a serem expedidas pela Coordenadoria de Gestão da

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Educação Básica – CGEB.

Artigo 4º - Fica acrescentado ao artigo 1º da Resolução SE 86, de 19-12-2007, o

inciso III com a seguinte redação:

Artigo 1º -

...............................................................................................................

............................................................................................................................

............................................................................................................................

............................................................................................................................

...................................

“III – na continuidade, a partir do ano de 2012, assegurar a eficácia da

aprendizagem dos conteúdos programáticos das demais disciplinas integrantes do

currículo do ensino fundamental, em especial os da Matemática.” (NR)

Artigo 5º - Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação, ficando

revogadas as disposições em contrário, em especial os artigos 2º, 3º e 4º da Resolução

SE 86, de 19-12-2007.

Notas:

Acrescenta inciso III ao artigo 1º da Res. SE n° 86/07, à pág.194 do vol. LXIV;

Revoga artigos 2º, 3º e 4º da Res. SE nº 86/07, à pág. 194 do vol. LXIV.

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ANEXO IV

VERSÃO 2013 – TERCEIRO ANO – UNIDADE 1 – 2ª SEQUÊNCIA

ATIVIDADE 2.1

ANEXO V

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VERSÃO 2013 – TERCEIRO ANO – UNIDADE 1 – 1ª SEQUÊNCIA – ATIVIDADE

1.5

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ANEXO VI

VERSÃO 2012 – TERCEIRO ANO – UNIDADE 3 – SEQUÊNCIA 1 – ATIVIDADE 2 –

PÁGINA 7

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ANEXO VII

VERSÃO 2013 – QUINTO ANO – UNIDADE 1 – 1ª SEQUÊNCIA – ATIVIDADE 1.4

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ANEXO VIII

VERSÃO 2013 – QUINTO ANO – UNIDADE 1 – 1ª SEQUÊNCIA – ATIVIDADE 1.5

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ANEXO IX

VERSÃO 2013 – QUINTO ANO – UNIDADE 1 – 3ª SEQUÊNCIA – ATIVIDADE 3.3

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ANEXO X

VERSÃO 2012 – QUINTO ANO – UNIDADE 1 – 1ª SEQUÊNCIA – ATIVIDADE 4 –

PÁGINA 8 (ORIGINAL).

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VERSÃO 2012 – QUINTO ANO – UNIDADE 1 – 1ª SEQUÊNCIA – ATIVIDADE 4 –

PÁGINA 8 (ADAPTAÇÃO DA PROFESSORA).

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