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VII Congresso da ABEQUA, Porto Seguro - BA 03-09 de Outubro de 1999 Fundação Universidade Federal de Rio Grande Mestrado em Oceanografia Física, Química e Geológica CP474 CEP 96201-900 Rio Grande, RS e-mail: dgelseQsupçr.furg.br 0 balneário do Hermenegildo, município de Santa Vitória do Palmar, localiza-se no extremo sul da Planície Costeira do Rio Grande do Sul, 12 km ao norte da fronteira com o Uruguai (Figura 1). A ocupação no balneário iniciou por volta de 1890 através de acampamentos, que com o tempo passaram a ser substituídos por pequenas casas construídas na beira da praia. Desde esta época, a urbanização deu-se de forma desordenada, intensificando-se a partir da década de 50 pela construção de casas de veraneio da população do município de Santa Vitória. Hermenegildo ainda hoje é um vilarejo cuja população fixa é de aproximadamente 500 habitantes, basicamente pescadores e aposentados; embora a população seja dez vezes maior no verão. Também é comum a presença de turistas uruguaios, cuja presença oscila em função das desvalorizações da moeda brasileira. A praia do Hermenegildo é estreita (média de 12 m de largura), ficando totalmente submersa quando sujeita a ventos do quadrante sul. Em termos morfodinâmicos, esta praia oscila entre o estágio intermediário com características mais refletivas (Calliari & Klein, 1993). Os ventos dominantes são de NE, mas a maior energia de ondas ocorre nas ondulações de SE, geradas pelos fortes ventos de Sul. Embora as ondas sejam o principal processo hidrodinâmico, as marés meteorológicas (storm surges) são determinantes nos eventos de intensa erosão praial. Ali, as marés meteorológicas ocorrem pela ação dos ventos do quadrante S associados à passagem de sistemas frontais e raramente ultrapassam 2 m de altura Calliari et 1996). 0 poder erosivo das marés meteorológicas é intensificado quando esta é combinada a marés de sizígia e ondas de maior altura, causando destruição catastrófica das construções à beira-mar. Além das marés meteorológicas, fatores como a elevação do nível relativo do mar (Tomazelli et 1995), a concentração de energia de ondas por processos de refração (Pimenta, 1999) e a presença de turfa e lama em subsuperfície (Silva, 1998) também contribuem para a forte tendência à erosão praial no balneário. Os processos erosivos naturais vêm sendo acelerados por atividades antrópicas como a retirada e ocupação das dunas frontais e o aterro de sangradouros antes existentes. Repetidos eventos de tempestade que resultaram em perda total ou parcial de casas e terrenos próximos da linha d'água fizeram com que os moradores buscassem meios para conter esta erosão através da construção de obras de contenção. Este trabalho visa caracterizar as estruturas de contenção de erosão utilizadas nas construções à beira-mar do balneário do Hermenegildo, em função do tipo de estrutura, material, dimensão, estado da obra e funcionalidade. A beira-mar urbanizada do balneário foi percorrida com o objetivo de determinar quantas casas apresentavam estruturas de contenção e quantas estavam desprotegidas, além de fazer um registro fotográfico das estruturas. Na presença de estruturas foram realizadas medições de comprimento (paralelo à praia) e altura e registrados o tipo de material utilizado e o estado da obra (bom, precário, destruído). Baseado nas observações de campo e registro fotográfico, as construções foram agrupadas em quatro classes: (1) sem

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VII Congresso da ABEQUA, Porto Seguro - BA 03-09 de Outubro de 1999

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Fundação Universidade Federal de Rio GrandeMestrado em Oceanografia Física, Química e GeológicaCP474 CEP 96201-900 Rio Grande, RS e-mail: dgelseQsupçr.furg.br

G H�I�J�KML�N�O�P�K0 balneário do Hermenegildo, município de Santa Vitória do Palmar, localiza-se no extremosul da Planície Costeira do Rio Grande do Sul, 12 km ao norte da fronteira com o Uruguai(Figura 1). A ocupação no balneário iniciou por volta de 1890 através de acampamentos,que com o tempo passaram a ser substituídos por pequenas casas construídas na beira dapraia. Desde esta época, a urbanização deu-se de forma desordenada, intensificando-se apartir da década de 50 pela construção de casas de veraneio da população do municípiode Santa Vitória. Hermenegildo ainda hoje é um vilarejo cuja população fixa é deaproximadamente 500 habitantes, basicamente pescadores e aposentados; embora apopulação seja dez vezes maior no verão. Também é comum a presença de turistasuruguaios, cuja presença oscila em função das desvalorizações da moeda brasileira.

A praia do Hermenegildo é estreita (média de 12 m de largura), ficando totalmentesubmersa quando sujeita a ventos do quadrante sul. Em termos morfodinâmicos, esta praiaoscila entre o estágio intermediário com características mais refletivas (Calliari & Klein,1993). Os ventos dominantes são de NE, mas a maior energia de ondas ocorre nasondulações de SE, geradas pelos fortes ventos de Sul. Embora as ondas sejam o principalprocesso hidrodinâmico, as marés meteorológicas (storm surges) são determinantes noseventos de intensa erosão praial. Ali, as marés meteorológicas ocorrem pela ação dosventos do quadrante S associados à passagem de sistemas frontais e raramenteultrapassam 2 m de altura Calliari et Q6R S 1996). 0 poder erosivo das marés meteorológicas éintensificado quando esta é combinada a marés de sizígia e ondas de maior altura,causando destruição catastrófica das construções à beira-mar.

Além das marés meteorológicas, fatores como a elevação do nível relativo do mar(Tomazelli et T+U6V 1995), a concentração de energia de ondas por processos de refração(Pimenta, 1999) e a presença de turfa e lama em subsuperfície (Silva, 1998) tambémcontribuem para a forte tendência à erosão praial no balneário. Os processos erosivosnaturais vêm sendo acelerados por atividades antrópicas como a retirada e ocupação dasdunas frontais e o aterro de sangradouros antes existentes. Repetidos eventos detempestade que resultaram em perda total ou parcial de casas e terrenos próximos da linhad'água fizeram com que os moradores buscassem meios para conter esta erosão atravésda construção de obras de contenção. Este trabalho visa caracterizar as estruturas decontenção de erosão utilizadas nas construções à beira-mar do balneário do Hermenegildo,em função do tipo de estrutura, material, dimensão, estado da obra e funcionalidade.

W�X�Y@ZM[�ZM\.Z�]M^ _A beira-mar urbanizada do balneário foi percorrida com o objetivo de determinar quantascasas apresentavam estruturas de contenção e quantas estavam desprotegidas, além defazer um registro fotográfico das estruturas. Na presença de estruturas foram realizadasmedições de comprimento (paralelo à praia) e altura e registrados o tipo de materialutilizado e o estado da obra (bom, precário, destruído). Baseado nas observações decampo e registro fotográfico, as construções foram agrupadas em quatro classes: (1) sem

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proteção, quando não há estruturas de contenção ou a estrutura encontra-se total ouparcialmente destruída; (2) protegidas por revestimentos, (3) protegidas por muros decontenção e (4) protegidas por combinações de estruturas (mistas). As classes 2, 3 e 4ainda foram subdivididas em função do tipo de material predominante nas estruturas. Osrevestimentos foram subdivididos em (a) enrocamento, quando o revestimento consistia emblocos rochosos e (b) outros, quando outro tipo de material era utilizado. Os muros decontenção foram subdivididos em (a) madeira e (b) concreto. A classe de estruturas mistasconsistiu basicamente de muros de contenção de madeira ou concreto com enrocamento.

`�a�b�c�d.e.fg�h�b0 balneário do Hermenegildo apresenta 110 casas à beira-mar que foram construídassobre as dunas primárias, estando assim a aproximadamente 2,5 m acima da linha d'água.Foi feito o mapeamento das construções em função dos tipos de estrutura para toda abeira-mar, como mostra a figura 1. A tabela 1 resume a classificação utilizada nomapeamento, apresentando o número de estruturas em cada categoria e a suaporcentagem em relação ao número total de casas.

Tabela 1. Classificação das construções à beira-mar no balneário do Hermenegildo emfunção da presença ou ausência e do tipo de estruturas de contenção.

Tipos de Estruturas Material Principal Número de casas (%)

Sem Proteção — — 43 (39 %)

RevestimentosEnrocamento

Outros

31 (28 %)

02 (02 %)

Muros de

Contenção

Madeira

Concreto

10 (09 %)

10 (09 %)

MistaMuros de Madeira ou

Concreto c/ enrocamento14 (13 %)

Com Proteção

TOTAL 110 (100 %)

i�jMk�il*m�n�o@p�nApesar do balneário do Hermenegildo ser um vilarejo pequeno e pouco urbanizado, a suabeira-mar apresenta-se bastante armada contra a erosão costeira. Os revestimentos e osmuros de contenção são as estruturas utilizadas pelos moradores que buscam protegersua propriedade contra investidas do mar. Estas estruturas caracterizam-se por proteger apropriedade que está atrás da estrutura contra o impacto direto das ondas em detrimentoda faixa de areia a sua frente. Ou seja, apesar de proteger a propriedade, estas estruturascausam a redução da largura da praia adjacente. Isto, a longo prazo, toma as construçõesmais suscetíveis à erosão costeira, já que reduz a área de dissipação de energia dasondas, que é a própria praia. Muros de contenção também deveriam reduzir o risco ainundações causadas por níveis de água mais altos durante tempestades, mas para istodeveriam ser construídos a uma altura superior ao nível atingido por estas tempestades, oque não acontece no balneário estudado. As obras são construídas pelos próprios

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moradores, sem qualquer tipo de especificação ou acompanhamento técnico, o que resultaem obras inadequadas para o tipo de proteção desejada.

Assim, na maioria dos casos, as obras de contenção na praia do Hermenegildo nãocumprem sua função por três motivos: (1) serem inadequadas, ou (2) terem sidoconstruídas de forma inadequada (tamanho, forma e material), ou (3) quando adequadasnão tenham recebido a devida manutenção.

q�r q�s*r t�uMv�wx*r wCalliari, LÁ & Klein, A.H.F., 1993. Características morfoidinâmicas e sedimentológicas daspraias oceânicas entre Rio Grande e Chuí, RS. y�z+{ |+}�~ { �+{ � 20(1): 48-56.

Calliari,L.J.; Tozzi,H.A.M.; Klein,A.H.F., 1996. Erosão associada a marés meteorológicas nacosta sul-riograndense (COMEM IRIOSN LR). ���+�6� ���.��������� �����6�6�.� �+� ������� �+� � � �6� � ���+�� �.��� ���+� �6� (4): 430-434.

Pimenta, F.M., 1999. Caracterização dos Regimes de Refração de Onda ao Longo da ZonaCosteira do Rio Grande do Sul. Monografia de conclusão do curso de Oceanologia,Fundação Universidade Federal de Rio Grande, Rio Grande. 66p.

Silva, R.P., 1998. Ocorrência, Distribuição e Características Morfodinâmicas dosSangradouros na Zona Costeira do Rio Grande do Sul: Trecho Rio Grande-Chuí, RS. Tesede Mestrado, Instituto de Geociências da UFRGS, Porto Alegre. 146p.

Tomazelli,L.J.; Villwock;J.A.; Bachif.A. & Dehnhardt,B.A., 1995. A Tendência atual desubida do nível relativo do mar na costa do Rio Grande do Sul: Uma análise dasevidências. 60 �*� ���@�6� � ������  ¡ ¢�£ ¤+� �   ¥6� £ ��¦+¥�§¥.��  ��¨+� ¤6©�ª�« ¬�­+®��6­+¯ £ ��¦+¥�§¥.��  ��¨+� ¤�¦.�±°��6­+¥�����  ©281-283.

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Figura 1. Localização do balneário do Hermenegildo e a classificação da linha de costaem função das estruturas de contenção de erosão existentes. Fotos mostram asestruturas que representam as principais classes, (1) revestimento de concreto, (2)revestimento tipo enrocamento e (3) muro de contenção de madeira.