processos cognitivos cultura estereotipos sociais

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Processos cognitivos, cultura e estereótipos sociais Rosa Cabecinhas 1 “The pictures inside the heads of these human beings, the pictures of themselves, of others, of their needs, purposes, and relationship, are their public opinions. Those pictures which are acted upon by groups of people, or by individuals acting in the name of groups, are Public Opinion with capital letters”. Walter Lippmann, 1922 1. Introdução Em 1922, o jornalista e analista político Walter Lippmann publica Public Opinion, uma obra que analisa como as pessoas constroem as suas representações da reali- dade social e de que forma essas represen- tações são afectadas tanto por factores in- ternos como externos. Segundo Lippmann, as ‘representações’ the pictures inside the heads – funcionam como ‘mapas’ guiando o indivíduo e ajudando-o a lidar com infor- mação complexa, mas também são ‘defesas’ que permitem ao indivíduo proteger os seus valores, os seus interesses, as suas ideolo- gias, em suma, a sua posição numa rede de relações sociais. As representações não são o espelho da realidade, mas sim versões hiper- simplificadas da realidade. As representações nunca são neutras, pois dependem mais do observador do que do objecto, já que este define primeiro e depois: “For most part we do not first see, and then define, we define first and then see. In the great blooming, buzzing confusion of the outer world we pick out what our culture has already defined for us, and we tend to perceive that which we have picked out in the form stereotyped for us by our culture” (Lippmann, 1922/1961: 81) Lippmann debruça-se sobre a forma como a cultura nos fornece os elementos para ‘recortar’ a realidade em elementos signi- ficativos, conferindo-lhe nitidez, distintivi- dade, consistência e estabilidade de signifi- cado. O autor reflecte sobre as limitações humanas no processamento da informação e sobre a forma como os preconceitos intro- duzem enviesamentos na selecção, interpre- tação, memorização, recuperação e uso da informação. Neste sentido, podemos consi- derar que esta obra de Lippmann constitui um primeiro esboço de uma área de estudo hoje dominante no seio da psicologia social: a cognição social. 2 2. Imagens e clivagens: as funções dos estereótipos sociais Lippmann (1992/1961) é considerado o fundador da conceptualização contemporânea dos estereótipos e do estudo das suas fun- ções psicossociais (e.g., Ashmore e DelBoca, 1981; Marques e Paéz, 2000). O termo ‘estereótipo’ já existia desde 1798, mas o seu uso corrente estava reservado à tipografia, onde designava uma chapa de metal utiliza- da para produzir cópias repetidas do mesmo texto (Stroebe e Insko, 1989). O termo também já era usado de forma esporádica nas ciências sociais para denotar algo ‘fixo’ e ‘rígido’, o que se prende com a origem etimológica da palavra: stereo que, em gre- go, significa ‘sólido’, ‘firme’. Por analogia, Lippmann salientou a ‘ri- gidez’ das imagens mentais, especialmente aquelas que dizem respeito a grupos so- ciais com os quais temos pouco ou nenhum contacto directo. A visão dos estereótipos como algo rígido caracterizou muitos dos estudos posteriores sobre esta temática. No entanto, o autor não descurou a possibi- lidade de mudança dos estereótipos e sa- lientou o carácter criativo da mente huma- na.

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Page 1: Processos cognitivos cultura estereotipos sociais

539OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS

Processos cognitivos, cultura e estereótipos sociaisRosa Cabecinhas1

“The pictures inside the heads of thesehuman beings, the pictures ofthemselves, of others, of their needs,purposes, and relationship, are theirpublic opinions. Those pictures whichare acted upon by groups of people,or by individuals acting in the nameof groups, are Public Opinion withcapital letters”.Walter Lippmann, 1922

1. Introdução

Em 1922, o jornalista e analista políticoWalter Lippmann publica Public Opinion,uma obra que analisa como as pessoasconstroem as suas representações da reali-dade social e de que forma essas represen-tações são afectadas tanto por factores in-ternos como externos. Segundo Lippmann,as ‘representações’ – the pictures inside theheads – funcionam como ‘mapas’ guiandoo indivíduo e ajudando-o a lidar com infor-mação complexa, mas também são ‘defesas’que permitem ao indivíduo proteger os seusvalores, os seus interesses, as suas ideolo-gias, em suma, a sua posição numa rede derelações sociais. As representações não sãoo espelho da realidade, mas sim versões hiper-simplificadas da realidade.

As representações nunca são neutras, poisdependem mais do observador do que doobjecto, já que este define primeiro e vêdepois:

“For most part we do not first see,and then define, we define first andthen see. In the great blooming,buzzing confusion of the outer worldwe pick out what our culture hasalready defined for us, and we tendto perceive that which we havepicked out in the form stereotypedfor us by our culture” (Lippmann,1922/1961: 81)

Lippmann debruça-se sobre a forma comoa cultura nos fornece os elementos para‘recortar’ a realidade em elementos signi-ficativos, conferindo-lhe nitidez, distintivi-dade, consistência e estabilidade de signifi-cado. O autor reflecte sobre as limitaçõeshumanas no processamento da informação esobre a forma como os preconceitos intro-duzem enviesamentos na selecção, interpre-tação, memorização, recuperação e uso dainformação. Neste sentido, podemos consi-derar que esta obra de Lippmann constituium primeiro esboço de uma área de estudohoje dominante no seio da psicologia social:a cognição social.2

2. Imagens e clivagens: as funções dosestereótipos sociais

Lippmann (1992/1961) é considerado ofundador da conceptualização contemporâneados estereótipos e do estudo das suas fun-ções psicossociais (e.g., Ashmore e DelBoca,1981; Marques e Paéz, 2000). O termo‘estereótipo’ já existia desde 1798, mas o seuuso corrente estava reservado à tipografia,onde designava uma chapa de metal utiliza-da para produzir cópias repetidas do mesmotexto (Stroebe e Insko, 1989). O termotambém já era usado de forma esporádica nasciências sociais para denotar algo ‘fixo’ e‘rígido’, o que se prende com a origemetimológica da palavra: stereo que, em gre-go, significa ‘sólido’, ‘firme’.

Por analogia, Lippmann salientou a ‘ri-gidez’ das imagens mentais, especialmenteaquelas que dizem respeito a grupos so-ciais com os quais temos pouco ou nenhumcontacto directo. A visão dos estereótiposcomo algo rígido caracterizou muitos dosestudos posteriores sobre esta temática. Noentanto, o autor não descurou a possibi-lidade de mudança dos estereótipos e sa-lientou o carácter criativo da mente huma-na.

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Lippmann conceptualizou os estereótiposcomo resultantes de um processo ‘normal’e ‘inevitável’, inerente à forma como pro-cessamos a informação, mas a maior partedos estudos empíricos realizados até aos anoscinquenta caracterizaram os estereótiposcomo um tipo inferior de pensamento, situ-ando-os no domínio do ‘patológico’: estesseriam projecções de fantasias indesejáveis,deslocamentos de tendências agressivas paraos membros de outros grupos, ou subprodutosde síndromes de personalidade associadas aoautoritarismo e intolerância (e.g., Adorno,Frenkel-Brunswick, Levison e Sanford, 1950;Rockeach, 1948). Assim, algumas das ideiasinovadoras de Lippmann foram negligenci-adas pela grande maioria das investigaçõesefectuadas nas três décadas seguintes sobreestereótipos, só sendo recuperadas e ampla-mente desenvolvidas a partir dos trabalhosde Bruner, Allport e Tajfel.

Lippmann (1922/1961) define os estere-ótipos como imagens mentais que se inter-põem, sob a forma de enviesamento, entreo indivíduo e a realidade. Segundo o autor,os estereótipos formam-se a partir do siste-ma de valores do indivíduo, tendo comofunção a organização e estruturação da re-alidade:

“For the real environment is altogethertoo big, too complex, and too fleetingfor direct acquaintance. We are notequipped to deal with so muchsubtlety, so much variety, so manypermutations and combinations. Andalthough we have to act in thatenvironment, we have to reconstructit on a simpler model before we canmanage with it. To traverse the worldmen must have maps of the world”(Lippmann, 1922/1961: 16)

Interrogando-se sobre os factores quecontribuiriam para o que “the pictures insideso often misleads men in their dealing withthe world outside”, Lippmann aponta limi-tações externas – a censura e a falta decontacto directo – e limitações internas: “thistrickle of messages from the outside isaffected by the stored up images, thepreconception, and the prejudices whichinterpret, fill them out, and in their turn

powerfully direct the play of our attention,and our vision itself” (1922/1961: 16).

Lippmann salienta o papel activo doindivíduo na construção dos estereótipos quesão sempre ‘selectivos’ e ‘parciais’ (1922/1961: 80). Na sua análise encontramos ele-mentos sobre as funções psicossociais dosestereótipos, que viriam a ser desenvolvidase estudadas empiricamente algumas décadasdepois por Allport (1954/1979), que ligaexplicitamente os estereótipos ao processode categorização, e por Talfel (1969) que,pela primeira vez, explicita as suas funçõescognitivas e sociais, integrando-as nummodelo explicativo das relações intergrupais.Relativamente às funções cognitivas,Lippmann (1922/1961: 81-95) salienta a‘economia de esforço’, as necessidades de‘definição’, ‘distinção’, ‘consistência’ e‘estabilidade’. No que respeita às funçõessociais, o autor enfatiza o papel dos este-reótipos na ‘defesa’ dos interesses do in-divíduo:

“The systems of stereotypes may bethe core of our personal tradition, thedefenses of our position in society.(…) In that world people and thingshave their well-known places, and docertain expected things. We feel athome there. We fit in. We aremembers” (Lippmann, 1922/1961:95).

Um dos motivos que explicaria o ca-rácter ‘fixo’ dos estereótipos seria precisa-mente a necessidade do indivíduo protegera sua definição da realidade:

“any disturbance of the stereotypesseems like an attack upon thefoundations of the universe. It is anattack upon the foundations of ouruniverse, and, where big things areat stake, we do not readily admit thatthere is any distinction between ouruniverse and the universe. (…) Apattern of stereotypes is not neutral.(…) It is the guarantee of our self-respect; it is the projection upon theworld of our own sense of our ownvalue, our own position and our ownrights. The stereotypes are, therefore,

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highly charged with the feelings thatare attached to them. They are thefortress of our tradition, and behindits defense we can continue to feelourselves safe in the position weoccupy” (Lippmann, 1922/1961: 96).

É precisamente pelo seu papel na manu-tenção do sistema de valores do indivíduoe do statu quo, que os estereótipos dificil-mente são abalados por informação incon-gruente com os mesmos.

“There is nothing so obdurate toeducation or to criticism as thestereotype. It stamps itself upon theevidence in the very act of securingthe evidence. (…) If what we arelooking at corresponds successfullywith what we anticipated, thestereotype is reinforced for the future(pp.98-99). (...) For when a systemof stereotypes is well fixed, ourattention is called to those facts whichsupport it, and diverted from thosewhich contradict” (Lippmann, 1922/1961: 119).

Neste sentido, Lippmann faz referênciaao que posteriormente se veio a designarcomo ‘profecias auto-confirmatorias’ (Merton,1949/1968), amplamente demonstradas pelosestudos em cognição social (e.g., Hamilton,1979). Quando um membro de determinadogrupo age de forma contraditória ao estere-ótipo, Lippmann considera que, na maiorparte das vezes, este membro passa a ser vistocomo uma excepção, mantendo-se o estere-ótipo intacto. Este só é abalado se o indi-víduo ainda tiver alguma flexibilidade deespírito ou se a informação incongruente fordemasiado impressionante para ser ignorada:

“If the experience contradicts thestereotype, one of two things happens.If the man is no longer plastic, or ifsome powerful interests make it highlyinconvenient to rearrange hisstereotypes, he pooh-poohs thecontradiction as an exception thatproves the rule, discredits the witness,finds a flaw somewhere, and managesto forget it. But if he is still curious

and openminded, the novelty is takeninto the picture, and allowed to modifyit. Sometimes, if the incident isstriking enough, and if he has felt ageneral discomfort with hisestablished scheme, he may be shakento such an extent as to distrust allaccepted ways of looking at life”(Lippmann, 1922/1961: 100).

Estes aspectos viriam a ser estudadosalgumas décadas mais tarde por Allport(1954/1979) e amplamente demonstrados porestudos em cognição social. O autor salientao carácter rígido dos estereótipos e o factode estes constituírem imagens demasiado‘generalizadas’ e ‘exageradas’ que descurama variabilidade dos membros dos outrosgrupos e negam a sua individualidade(Lippmann, 1922/1961: 116).

Este aspecto foi empiricamente demons-trado pelos estudos sobre o efeito de acen-tuação – a tendência para exagerar assemelhanças entre os membros da mesmacategoria social e para acentuar as diferençasentre membros de categorias diferentes (Tajfele Wilkes, 1963) – e sobre o efeito dehomogeneidade do exogrupo – a tendênciade perceber o grupo dos outros como maishomogéneo do que o grupo de pertença(Quattrone e Jones, 1980).3

Lippmann debruçou-se ainda sobre opoder dos ‘rótulos’ e os seus efeitos nefastosna percepção das pessoas: “They are tooempty, too abstract, too inhuman” (1922/1961: 160). Na perspectiva do autor, só umalonga educação crítica permitiria aos indi-víduos tomarem consciência do carácterdiferido e subjectivo da respectiva apreensãoda realidade social (p.126). Embora salien-tando o papel da educação – “the supremeremedy”(p.408) – Lippmann considera osestereótipos inevitáveis:

“Yet a people without prejudice, apeople with altogether neutral vision,is so unthinkable in any civilizationof which it is useful to think, that noscheme of education could be basedupon that ideal. Prejudice can bedetected, discounted, and refined, butso long as finite men must compressinto a short schooling preparation for

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dealing with a vast civilization, theymust carry pictures of it around withthem, and have prejudice” (1922/1961: 120).

Esta concepção sobre a inevitabilidade dosestereótipos, porque inerentes ao funciona-mento cognitivo normal, só começou a sersistematicamente analisada pelas investiga-ções da Nova Vaga no estudo dos estereó-tipos (e.g., Bruner, 1957). Outros dos aspec-tos enfatizados por Lippmann foi o facto dosenso comum, na maior parte dos casos, nãoprocurar infirmar as suas hipóteses, mas simconfirmá-las: “in the codes that comeunexamined from the past or bubble up fromthe caverns of the mind, the conception isnot taken as an hypothesis demanding proofor contradiction, but as a fiction acceptedwithout questions” (1922/1961: 122-123).

A delimitação das condições em que osindivíduos enveredam pela confirmaçãoautomática das hipóteses ou em que encetamprocessos de infirmação das mesmas cons-titui um aspecto central na pesquisa actualsobre os estereótipos (e.g., Snyder, 1981).

Lippmann considera que as pessoas ‘ig-norantes’ têm maior tendência para efectu-arem estas generalizações acriticamente doque as ‘cultas’, mas recorda que todospossuímos estereótipos, uma vez que“inevitably our opinion cover a bigger space,a longer reach of time, a greater number ofthings, than we can directly observe” (1922/1961: 79). Todos os seres humanos são comoos prisioneiros da caverna de que nos falaPlatão, no Sétimo Livro da A República.

3. Imagens a Preto e Branco: O poder dosestereótipos sociais

O estudo empírico dos estereótipos co-meçou pouco depois da publicação da obrade Lippmann. Ainda na década de vinte,fortemente influenciado pela definição dosestereótipos como ‘pictures inside our heads’,Rice (1926-1927; referido por Oakes, Haslame Turner, 1994) realizou um estudo em queapresentou aos participantes uma série defotografias de pessoas pertencentes a dife-rentes grupos sociais. Estes efectuaram fa-cilmente correspondências entre as fotogra-fias e os ‘social types’ e procederam a

atribuições de traços de personalidade, ba-seando-se neste processo de correspondên-cia. Esta técnica não teve, contudo, grandesucesso na altura, só vindo a ser recuperadamuito mais tarde (Leyens et al., 1994).

Durante as primeiras décadas do estudodos estereótipos, a técnica mais utilizada foia lista de adjectivos (Katz e Braly, 1993).Antes de nos referirmos aos estudos destesautores, parece-nos necessário abrir um breveparêntese a propósito de alguns estudosclássicos sobre discriminação social realiza-dos no âmbito do modelo das atitudes.

Numa época caracterizada por um grandefluxo migratório de grupos de origem asi-ática e europeia para os EUA, Bogardus(1928) estudou as ‘atitudes raciais’ dosamericanos a partir de uma Escala de Dis-tância Social. Os participantes (americanosbrancos) deveriam indicar as suas atitudesface a diversos grupos raciais, étnicos ereligiosos (por exemplo: franceses, indianos,judeus, chineses, ingleses, negros, etc.), numaescala de sete pontos, ordenados da menordistância à maior distância social: ‘casariacom um membro deste grupo’; ‘aceitariacomo amigo íntimo’; ‘aceitaria como vizi-nho do lado’; ‘aceitaria como colega deescritório’; ‘aceitaria como conhecido’; ‘ape-nas como turista no país’; ‘excluí-los-ia dopaís’ (Lima, 1993/2000: 198).

O estudo revelou que os participantesrejeitavam, sobretudo, os grupos de origemasiática e africana, preferindo os imigrantesde origem europeia, principalmente os anglo-saxónicos e os nórdicos. Esta hierarquizaçãodos grupos estava em perfeita consonânciacom os estudos do ‘racismo científico’ re-alizados no século XIX e início do séculoXX, testemunhando o carácter normativo doracismo nesse período nos EUA e na Europa.No início da década de quarenta, Hartleyefectuou um estudo sobre o preconceito emrelação a 49 grupos-alvo utilizando a escalade Bogardus. Para além dos grupos-alvopresentes no estudo precedente, Hartley ave-riguou o preconceito em relação a grupospolíticos (nazis, socialistas, comunistas, etc.)e a três grupos fictícios: Danarean, Pireneane Wallonian (1946/1969: 5).

Os resultados indicadores de maior dis-tância social foram obtidos pelos grupospolíticos “extremistas” (nazis, fascistas e

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comunistas), logo seguidos dos grupos étni-cos minoritários – judeus, negros, turcos,árabes, chineses, hindus, mexicanos, imigran-tes da Europa de Leste (romenos, russos,lituânios, etc.), e imigrantes da EuropaMediterrânica (gregos, italianos e portugue-ses). Mais uma vez, os imigrantes anglo-saxónicos e nórdicos (irlandeses, ingleses,alemães, dinamarqueses, etc.) obtiveramresultados indicadores de menor distânciasocial, e o grupo de pertença foi o único aocupar o topo da escala.

O aspecto mais curioso deste estudo éque os três grupos fictícios obtiveram resul-tados idênticos aos dos grupos étnicos ‘in-desejáveis’, indicadores de grande distânciasocial, isto é, a simples evocação de um grupodesconhecido, logo minoritário e eventual-mente perigoso, levou os participantes arejeitar esses grupos. Estes resultados de-monstram que o preconceito não está direc-tamente ligado ao nível de conhecimento dosgrupos-alvo em causa e são indicadores docarácter normativo da discriminação socialnesta época, já que os participantes nãohesitaram em discriminar com base numsimples rótulo evocativo de minoria étnica.

No início do estudo das atitudes, estavaimplícita a consonância entre atitudes ecomportamentos, pressupondo-se que asatitudes eram boas preditoras do comporta-mento. No entanto, o poder preditivo dasatitudes, avaliadas por questionários, foiquestionado por LaPiere, num estudo clás-sico sobre preconceito racial.

LaPiere, um psicólogo social americanobranco, viajou pelos EUA acompanhado porum casal de chineses, bem parecidos e bemvestidos, muito sorridentes e com um “inglêssem pronúncia” (1934: 232). O autor foianotando as reacções dos funcionários dosdiversos estabelecimentos hoteleiros. Nestaviagem foram recebidos em 66 hotéis e em184 restaurantes e cafés, tendo apenas so-frido uma recusa num hotel. Algum tempodepois foi enviada uma carta a cada um destesestabelecimentos, perguntando se aceitariamchineses como clientes. Das respostas rece-bidas, 92% eram negativas, tendo as restan-tes afirmado que dependeria das circunstân-cias.

Estes resultados mostraram que é possí-vel haver uma manifestação de tolerância ao

nível comportamental e, simultaneamente,uma expressão de intolerância ao nívelatitudinal, pelo que foram interpretados comoreflectindo uma inconsistência entre atitudese comportamentos (Lima, 1993/2000). Paraalém da importância deste aspecto, interessa-nos salientar outro: este estudo demonstraclaramente o carácter normativo da discri-minação racial nos EUA nos anos 30. Nestaaltura, havia um forte preconceito contra oschineses, sendo comum os restaurantes e lojasterem uma placa à porta com a seguinteinscrição: “É proibida a entrada a cães e achineses”.

A discrepância entre atitudes e compor-tamentos está bem ilustrada empiricamentepor réplicas do estudo de LaPierre. Porexemplo, Kutner, Wilkins e Yarrow (1952)replicaram este estudo de LaPiere usandocomo grupo-alvo os negros, tendo obtidoresultados idênticos. De referir, no entanto,que o estudo foi realizado com três jovens,duas brancas e uma negra, “bem vestidase bem educadas” (p.649). Assim, tanto nesteestudo como no anterior, o estatuto socialpercebido das pessoas-alvo poderá ter tidoforte impacto nos resultados.

Apesar das críticas iniciais ao método dequestionário, esse foi, sem dúvida, o maispopular no estudo dos estereótipos, pelomenos até à ‘revolução cognitiva’. O métodomais utilizado foi o da ‘lista de adjectivos’,desenvolvido por Katz e Braly (1933; 1935).Os autores construíram uma lista de 84 traçosde personalidade, seleccionados a partir daimprensa e da literatura da época e/ou for-necidos por uma amostra de 100 estudantesuniversitários (americanos brancos) nasdescrições de dez grupos: alemães, ameri-canos, chineses, ingleses, irlandeses, italia-nos, japoneses, judeus, negros e turcos.

Katz e Braly (1933) pediram a uma outraamostra de 100 estudantes universitários paraseleccionarem os cinco traços mais típicosde cada um dos dez grupos-alvo referidos.Não surpreendentemente para a época, os‘americanos’ (referindo-se aos americanosbrancos) foram considerados empreendedo-res, inteligentes, materialistas, ambiciosos eprogressistas, enquanto os ‘negros’ foramconsiderados supersticiosos, preguiçosos,despreocupados, ignorantes e musicais. As-sim, ao grupo de pertença (americanos) foram

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atribuídas características positivas,consonantes com o chamado ‘sonho ameri-cano’, enquanto que aos ‘negros’ foramatribuídas características negativas quecontrariavam os valores dominantes da so-ciedade americana, justificando assim a suaexclusão social. Outro aspecto importanteressalta dos resultados: o estereótipo sobreos ‘negros’ é muito mais uniforme do queo estereótipo sobre os ‘americanos’, sendorelativamente a este grupo que existe menorconsenso entre os participantes. Assim, maisuma vez se verifica que o elevado consensodos estereótipos não está ligado ao maiornível de contacto com os grupos-alvo emcausa, já que os estudantes em questão ti-nham pouco ou nenhum contacto directo comos grupos sobre os quais havia maior con-senso. Katz e Braly (1933; 1935) consideramos estereótipos como um fenómenosociocultural. Para os autores, os estereóti-pos são crenças transmitidas pelos agentesde socialização (família, escola, meios decomunicação social, etc.), o que explica oconsenso dos estereótipos face aos diversosgrupos sociais, a sua independência doconhecimento ‘real’ dos membros dessesgrupos e a sua dependência do contextohistórico e cultural.

Uma réplica do estudo de Katz e Braly,realizada no início dos anos cinquenta, namesma universidade (Gilbert, 1951), indica-va um declínio na consistência dos estere-ótipos face a certas minorias, nomeadamen-te os ‘negros’ e os ‘judeus’. Este “fadingeffect” foi atribuído à difusão de imagensmais tolerantes desses grupos nos mass media,a uma maior popularidade das ciênciassociais entre os estudantes e ainda ao factoda composição sociológica dos estudantes dePrinceton ser menos elitista do que a dadécada de 30.

Segundo Gilbert (1951), os estudantestornaram-se mais ‘sofisticados’ e ‘objectivos’tendo relutância em efectuar generalizaçõesinfundadas acerca de outros grupos, o queconduziu o autor a um certo optimismo.Replicações realizadas por outros autoresnoutros locais na década de 50 pareciamconfirmar o declínio dos estereótipos, mos-trando que estes não eram ‘rigídos’, mas‘flexíveis’, isto é, sensíveis às mudanças sociaisocorridas depois da II Guerra Mundial.

Contudo, uma segunda réplica do mesmoestudo na Universidade de Princeton reali-zada nos anos sessenta (Karlins, Coffman eWalters, 1969) produziu resultados quedesiludiram os psicólogos sociais. Embora oconteúdo de alguns estereótipos tivessesofrido alterações e se apresentasse global-mente mais positivo, aos ‘americanos’ e aosgrupos de origem europeia continuavam aser associados atributos com grandedesejabilidade social, consonantes com osvalores da sociedade americana, enquanto queaos grupos minoritários de origem africanae asiática continuavam a ser associadosatributos socialmente indesejáveis.

Verificou-se igualmente um incremento daconsistência dos estereótipos face a algumasminorias étnicas, contrariando a tendênciaobservada nos anos 50. Em contrapartida, oestereótipo dos ‘americanos’ foi o que apre-sentou menor consistência, confirmando osresultados dos anos 30. No que respeita aoestereótipo dos ‘negros’, os autores fazem aseguinte observação:

“The most dramatic and consistenttrend over then 25- years period hasbeen the more favorablecharacterization of the Negro. [...]The ‘new view’ of the Negro focuseson the term ‘musical’ (47%) andincludes ‘pleasure loving’ (26%),‘ostentatious’ (25%), and ‘happy-go-lucky’ (27%). This image wouldappear to be more innocuous moderncounterpart of the minstrel figure,probably reflecting the success ofNegroes in the popular entertainmentworld supported by teen-age andcollegiate audiences. Certainly, theCivil Rights movement of the pastdecade has strongly influenced thepresent generation of collegestudents” (Karlins et al, 1969: 8).

Mas, se analisarmos o conteúdo do es-tereótipo dos ‘negros’ à luz dos valores dasociedade ocidental, constatamos que esta‘nova visão’ dos negros corresponde mais auma mudança facial do que profunda, já quea este grupo são negadas as característicasinstrumentais necessárias para participaremno desenvolvimento e progresso da socieda-

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de, sendo-lhes atribuídas características ex-pressivas e exóticas, o que, embora apresen-tando uma conotação positiva nas camadasjuvenis, continua a retirar-lhes o estatuto depessoa adulta, responsável e com capacidadede realização. De salientar que este padrãode resultados continua a ser encontrado hojeem dia em estudos realizados em diversospaíses ocidentais relativamente às minoriasde origem africana (e.g., Cabecinhas, 2002).

No estudo realizado por Karlins e cola-boradores (1969) constatou-se, mais uma vez,que o grau de consenso dos estereótipos sobredeterminado grupo não está directamenteligado ao grau de preconceito exibido emrelação a esse grupo. Comparando os seusresultados com os de Gilbert (1951), osautores salientam:

“the apparent ‘fading’ of socialstereotypes in 1951 is not upheld asa genuine overall trend. Wheretraditional assignments have declinedin frequency they have, in the longrun, been replaced by others, resultingin restored stereotypes uniformity. (...)A feature of this data which is stillimpressive is the extent to which ‘new’stereotypes resemble previous ones.Paradoxically enough, the changeswhich have occured stand outbecause so much has remained thesame. Uniformity and favorablenessscores correlate significantly acrossthe three generations of students. Thecollections of traits selected tocharacterize specific groups are verymuch alike from one generation to thenext, though the relative popularitiesof those traits have been thoroughlyrearranged. A great deal of changeconsists of a shift of emphasis in thealready existing picture” (Karlins etal., 1969: 14; itálico nosso).

Como os autores referem, o conteúdo dos‘novos estereótipos’ é mais consistente comas “atitudes mais liberais” da sociedadeamericana, como demonstrado em diversosestudos nos anos 60. A esse propósito, osautores citam Triandis e Vassiliou (1967:238): “it is no longer appropriate to beprejudice toward other groups”. Isso não

significa que o preconceito tenha desapa-recido, pois, como os próprios autores sa-lientam, alguns dos resultados obtidos “aretoo good to be true” (Karlins et al., 1969:11).

Nesse sentido, os autores salientaram anecessidade de distinguir entre estereótipopessoal, fenómeno psicológico, e estereótiposocial, fenómeno cultural:

“we may refer to a single individual’sassignments as his personal stereotypeand the consensual assignment of agiven population of judges as a socialstereotype. (...) The absence of atraditional pattern of stereotyping maynot indicate a decline of stereotypingitself, but perhaps the formation of arevised social consensus” (Karlins etal., 1969: 3; itálico no original).

Os resultados de um estudo realizado porSigall e Page (1971) são bem elucidativosdas pressões normativas que deram origemaos ‘novos racismos’. Os autorescomplementaram o uso da tradicional listade adjectivos com uma manipulação expe-rimental. Numa das condições os participan-tes respondiam simplesmente (condiçãocontrolo) e na outra (bogus pipeline) eraminformados que o experimentador detinhauma medida fisiológica infalível capaz demedir a atitude, uma espécie de ‘detector dementiras’. Os autores compararam os este-reótipos dos participantes (americanos bran-cos) face aos americanos e aos negros, nasduas condições de resposta. Verificou-se quena condição bogus pipeline o estereótiporelativo aos ‘americanos’ era mais favorávele o relativo aos ‘negros’ mais desfavoráveldo que na condição controlo, isto é, ofavoritismo pelo grupo de pertença aumen-tou quando os participantes julgavam que asua ‘verdadeira atitude’ estava a ser medidaatravés de um instrumento infalível. Sigalle Page consideram este resultado “asrelatively distortion-free, as more honest and‘truer’ than rating-condition responses”(p.254; citados por Oakes et al., 1994), oque sugere que os estudos com base na listade adjectivos, sobretudo os realizados a partirdo momento em que se tornou contra-

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546 ACTAS DO III SOPCOM, VI LUSOCOM e II IBÉRICO – Volume IV

normativo discriminar, subestimam os este-reótipos negativos e o preconceito.

Numa revisão sobre as mudanças ocor-ridas na expressão dos estereótipos relativa-mente aos ‘negros’, Dovidio e Gaertner(1991) afirmam: “adjective checklist studies,in which respondents are asked to select traitsthat are the most typical of particular racialor ethnic categories, indicate that negativestereotypes are consistently fading” (p.202).No entanto, os autores salientam que aevolução observada no conteúdo e na con-sistência dos estereótipos pode decorrer maisde uma maior sensibilidade às normas so-ciais anti-discriminação do que de uma ver-dadeira mudança nos estereótipos.

No entanto, esta interpretação de carácternormativo é recusada por autores da pers-pectiva da cognição social, que interpretamestes resultados estabelecendo uma claradistinção entre crenças pessoais e estereó-tipos culturais (e.g., Devine, 1989; Devinee Elliot, 1995).

Numa ‘revisitação da triologia dePrinceton’, Devine e Elliot (1995: 1142)introduziram algumas alterações no procedi-mento com vista a colmatar algumas “falhasmetodológicas” dos estudos precedentes.Partido da lista de adjectivos de Katz e Braly(1933) efectuaram as seguintes alterações:introduziram novos adjectivos com o objec-tivo de actualizar a referida lista (essesadjectivos foram os seguintes: “athletic,criminal, hostile, low intelligence, poor,rhythmic, sexually perverse, uneducated, andviolent”); os participantes responderam duasvezes à referida lista, uma vez tendo em contaas suas ‘crenças pessoais’ e outra partindodos ‘estereótipos culturais’ (efectuadas emordem contrabalançada); e, finalmente, osparticipantes responderam a uma “nonreactivemeasure of anti-Black attitudes” que consis-tia na Escala de Racismo Moderno (ModernRacism Scale) de McConahay (1986). Com-parando as respostas dos participantes nascondições de “stereotype assessment” e“personal belief assessment”, os autoressalientam:

“In contrast to the commonlyespoused fading stereotypeproposition, data suggest that there

exist a consistent and negativecontemporary stereotype of Blacks(p.1139). (…) The stereotype hasremained stable through the years (inconsistency and valence, notnecessarily in specific content),whereas personal beliefs haveundergone a revision” (Devine eElliot, 1995: 1141).

Na perspectiva dos autores, enquanto oestereótipo cultural dos ‘negros’ é consisten-te e muito negativo, as crenças pessoais sãomuito mais positivas, especialmente as cren-ças pessoais dos participantes que demons-tram uma atitude favorável aos negros naEscala de Racismo Moderno (MRS). Segun-do os autores, a comparação dos resultadosobtidos pelos participantes muito e poucopreconceituosos na MRS apoia o modelodissociativo de Devine (1989), segundo o qual“high- and low-prejudiced individuals bothpossess the same stereotype of Blacks butthat the stereotype is only endorsed by theformer group of individuals” (Devine e Elliot,1995: 1145). No entanto, em determinadascircunstâncias (por exemplo, nas situações desobrecarga de informação) pode haver uma‘contaminação mental’ pelos estereótipos,levando os indivíduos não preconceituososa ser influenciados por estes, uma vez que,tendo sido aprendidos ao longo do processode socialização, estão armazenados na me-mória, interferindo nos processos cognitivosdos indivíduos, a não ser que estes estejampermanentemente vigilantes a uma possível‘contaminação mental’ e procurem evitá-laactivamente, o que exige grande esforçocognitivo e motivação.

No nosso entendimento, esta interpreta-ção, baseada na clara separação entre ‘cren-ças pessoais’ e ‘estereótipos culturais’ epressupondo que quando os indivíduos ‘nãopreconceituosos’, em situações de grandecarga cognitiva (Devine, 1989), associammentalmente características negativas aosnegros porque sofrem uma ‘contaminaçãomental’ pelos ‘esteótipos culturais’ é inacei-tável, pois não se coaduna com aconceptualização dos estereótipos sociaisenquanto ‘representações sociais’ (Moscovici,1988).4

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547OPINIÃO PÚBLICA E AUDIÊNCIAS

Se os estereótipos culturais existem, masnão estão na cabeça de ninguém, ou de quaseninguém, onde se encontram então? E se nãoestão na cabeça das pessoas ‘nãopreconceituosas’ porque é que estas têm queter energia mental disponível e motivaçãopara não se deixar influenciar por eles?

Na nossa perspectiva, os resultados dediversos estudos indicando crenças pessoaismais positivas do que os estereótipos sociais(e.g., Devine e Elliot, 1995; Garcia-Marques,1999; Vala, Brito e Lopes, 1999) assim comoos estudos que indicam que as pessoas

geralmente se consideram menos racistas doque a média das pessoas do seu grupo depertença (e.g., Miranda, 2001), podem serinterpretados como uma manifestação doefeito Primus Inter Pares (Codol, 1975).Conhecendo as normas sociais de nãodiscriminação, os indivíduos tendem a apre-sentar-se de forma mais consonante comessas normas do que os restantes membrosda sociedade em que se encontram, o queconsiste numa forma de obter distintividadepessoal através da adesão a normas social-mente valorizadas.

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_______________________________1 Universidade do Minho.

2 A expressão ‘cognição social’ foi introdu-zida na Psicologia Social por Bruner e Tagiuri(1954), num artigo sobre a percepção de pessoas.Na altura, esta expressão não captou a atençãodos investigadores, que a consideraram demasi-ado vaga e imprecisa (Leyens, Yzertyt e Schadron,1994: 15). Esta designação só viria a tornar-secorrente nos anos oitenta, quando a perspectivada cognição social se tornou dominante no seioda disciplina.

3 Posteriormente, foi demonstrado que estesenviesamentos perceptivos não são simétricos ouuniversais, mas estão dependentes do contexto e daestrutura das relações entre os grupos (e.g., Lorenzi-Cioldi, 1998; Cabecinhas e Amâncio, 1999).

4 Na acepção de Tajfel (1981/1983), os es-tereótipos sociais são representações socialmentepartilhadas sobre as características e os compor-tamentos de determinados grupos humanos,estratificados segundo critérios socialmente valo-rizados e traduzindo uma determinada ordem nasrelações intergrupais. Neste sentido, existe umacoincidência conceptual entre estereótipos sociaise representações sociais. No entanto, o conceitode representação social é mais amplo do que ode estereótipo social, uma vez que o primeiroabrange todo o tipo de representações indepen-dentemente do seu objecto, desde que estas sejampartilhadas no seio de determinado grupo social,enquanto que o segundo se restringe às represen-tações sobre grupos humanos.