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Profª Neusa
Conjunto das obras de Eça de Queirós
1ª- Ideologia romântica: Prosas Bárbaras
2ª- Realismo- Naturalismo:
O crime do padre Amaro (1875)
O primo Basílio (1878)
crítica ácida
reforma social
zoomorfismo
Transição: A relíquia (1887)
Os Maias (1888)
3ª - Realismo-fantasia:
A ilustre casa de Ramires (1900)
A cidade e as serras (1901)
crítica
postura mais humanista
otimismo
“Geração de 70” de Portugal: Eça de Queirós, Oliveira
Martins, Ramalho Ortigão e Antero de Quental
Crítica à decadente realidade portuguesa
É necessário, com efeito, estabelecermos cuidadosamente
uma rigorosa distinção entre cristianismo e catolicismo,
sem o que nada compreenderemos das evoluções
históricas da religião cristã. (...) É que realmente o
cristianismo existiu e pode existir fora do catolicismo. O
cristianismo é sobretudo um sentimento: o catolicismo é
sobretudo uma instituição. Um vive da fé e da inspiração:
o outro do dogma e da disciplina. Toda a história religiosa,
até ao meado do século 16º, não é mais do que a
transformação do sentimento cristão na instituição
católica.
(Antero de Quental, conferência “Causas da decadência dos Povos
Peninsulares nos últimos três séculos”)
David Roberts
Viagem de Eça de Queirós ao Oriente: entre outubro de 1869
e janeiro de 1870
Já no contexto de publicação da obra houve
certa celeuma por conta da temática
anticlerical e antirreligiosa que predominava
no enredo. (...), logo após A relíquia ter
perdido o concurso de melhor livro do ano
de 1887, (...) .(...), Pinheiro Chagas
reconheceu a importância de Eça no
cenário das letras portuguesas, mas
divulgou uma das críticas mais ferinas que A relíquia viria a
receber e que se circunscreveu, (...), na dificuldade em
classificar a obra em um gênero narrativo específico: obra
realista, fantasista, sátira, romance pícaro ou farsa.
(A RELÍQUIA (EÇA DE QUEIRÓS): ANTICLERICALISMO E (ANTI) RELIGIOSIDADE PARA
ALÉM DA PAIXÃO DE CRISTO- Ribanceira – Revista do Curso de Letras da UEPA.
Belém. Vol. 1. n. 1. Jul-Dez.2013)
“não admiro especialmente A relíquia. A estrutura e a
composição do livreco são
muito defeituosas. (...) e
falta-lhe ser atravessado por
um sopro naturalista de
ironia forte, que daria
unidade a todo livro.” (“Correspondência”, Obras de Eça de Queirós, Porto, Lello & Irmão, 1966, vol. III, p.575)
A relíquia Prólogo
• O século encerra uma lição lúcida e forte • Desfazer equívocos
“Decidi compor, nos vagares deste verão, na
minha quinta do Mosteiro (antigo solar dos
condes de Lindoso), as memórias da minha vida -
que neste século, tão consumindo pelas
incertezas da inteligência e tão angustiado pelos
tormentos do dinheiro, encerra, penso eu e pensa
meu cunhado Crispim, uma lição lúcida e forte.”
“Há, porém, um ponto de JERUSALÉM PASSEADA que não
posso deixar sem enérgica contestação. E quando o
doutíssimo Topsius alude a dois embrulhos de papel, (...)
Porque faz supor, (...), que eu viajava pelas terras do
Evangelho - trazendo embrulhados num papel pardo os ossos
dos meus avós.
(...)
Por isso, intimo o meu douto Topsius (que, [...] viu formar os
meus embrulhos, já na terra do Egito, já na terra de Canaã), a
que na edição segunda de JERUSALÉM PASSEADA, (...)
divulgue (...) qual era o recheio que continham esses papéis
pardos – tão francamente como eu o revelo aos meus
concidadãos nestas páginas(...), onde a realidade sempre vive,
ora embaraçada e tropeçando nas pesadas roupagens da
História, ora mais livre e saltando sob a caraça* vistosa da
Farsa.”
*Caraça: semblante
5 partes: • Parte I: Origem/ Colégio/ Direito em Coimbra/
Aventuras amorosas X rígida prática religiosa/ Decisão
de ir a Jerusalém
Avô: Pe Rufino
da Conceição
Avó: Filomena
Raposo
Pai: Rufino da
Assunção Raposo
Mãe: D.
Rosa
Teodorico Raposo
“Raposão”
“Numa sala forrada de papel
escuro, encontramos uma
senhora muito alta, muito seca,
vestida de preto, com um grilhão
de ouro no peito; um lenço roxo,
amarrado no queixo, caía-lhe num
bioco* lúgubre sobre a testa; e no
fundo dessa sombra, negrejavam
dois óculos defumados. Por trás
dela, (...), uma imagem de Nossa
Senhora das Dores olhava para
mim, com o peito trespassado de
espadas.”
*Bioco: lenço
“Donzela, e velha, e ressequida
como um galho de sarmento (...)”
Traços caricaturais
“(...) e o oratório da Titi deslumbrou-me, prodigiosamente. Era todo revestido de seda roxa, (...), contando os trabalhos do Senhor; as rendas da toalha do altar (...); os santos de marfim e de madeira, com auréolas lustrosas, (...). A luz das velas de cera fazia brilhar duas salvas nobres de prata, (...); e erguido na sua cruz de pau preto, sob um dossel, Nosso Senhor Jesus Cristo era todo de ouro, e reluzia.”
“Detestei logo o Doutor Roxo.
Em sua casa sofri vida dura e
claustral; e foi um inefável
gosto quando, no meu primeiro
ano de Direito, o desagradável
eclesiástico morreu (...). Passei
então para a divertida
hospedagem das Pimentas, e
conheci logo, (...), e as fortes
delícias da vida. (...) vadiei ao
luar, ganindo fados; (...); (...0,
aceitei com orgulho a alcunha
de Raposão. Todos os quinze
A Banhista – Jean- Auguste Ingres (Aquarela sobre papel – 1864)
dias, porém escrevia à Titi,
na minha boa letra, uma
carta humilde e piedosa,
onde lhe contava a
severidade dos meus
estudos, o recato dos meus
hábitos, as copiosas rezas e
os rígidos jejuns, (...), e as
novenas (...).”
Cristo de São João da Cruz – Salvador Dali (ost, 1951)
“— A Titi tem-lhe amizade — atalhou com a boca cheia o
magistrado — e você é o seu único parente... Mas a questão é
outra, Teodorico. É que você tem um rival.
(...)
— (...). E além disso o seu rival não é outro, Teodorico, senão
Nosso Senhor Jesus Cristo!”
Cristo Crucificado
Viktor Vasnetsov
(1896)
“(...)Um clarão sulcou-me a alma.
E gritei, (...), que fez estremecer a
castíssima Senhora do Patrocínio
(...):
— Caramba, vou fartar o
bandulho!
(...).
— Ó Titi! Pois não quer saber?
Estava agora no oratório, a rezar
de satisfação, e vai de repente
pareceu-me ouvir a voz de Nosso
Senhor, de cima da cruz, a dizer-
me baixinho, sem se mexer "Fazes
bem, Teodorico, fazes bem em ir
visitar o meu Santo Sepulcro...
(...)Tua tia é das minhas!..."
O sepultamento (1602-03)
Caravaggio
• Parte II: Viagem a Alexandria/ Topsius/ camisola de
Miss Mary/ Jerusalém (coroa de espinhos)
“Foi num domingo e dia de S.
Jerônimo que meus pés latinos
pisaram, enfim, no cais de Alexandria
a terra do Oriente, sensual e religiosa.
(...). E o meu companheiro, o ilustre
Topsius, Doutor alemão pela
Universidade de Bonn, (...), murmurou
(...):
— Egito! Egito! Eu te saúdo, negro
Egito!
(...)
Amei logo esta terra de indolência, de
sonho e de luz. (...)” A grande esfinge de Gizé
“A minha luveirinha ergueu-se,
trêmula, descorada — e teve um
poético rasgo de paixão. Enrolou a sua
camisinha, atirou-me para os braços,
tão ardentemente, (...).
— Dou-ta, Teodorico! Leva-a,
Teodorico! Ainda está amarrotada da
nossa ternura!... (...) Espera, espera
ainda, amor! Quero por-lhe uma
palavra, uma dedicatória!
(...)
Mas a minha bem-amada já sacudia o
papel, (...): "Ao meu Teodorico, meu
portuguesinho possante, em
lembrança do muito que gozamos!"
Philosophy in the bourdoir René Magritte
“(...) Era aquela! Eu tinha, ante meus frívolos olhos de
bacharel, a sacratíssima árvore de espinhos!
E logo uma ideia sulcou-me o espírito, (...). Levar à Titi
um desses galhos, o mais penugento, o mais espinhoso,
como sendo a relíquia fecunda (...).
(...).
Mas de repente assaltou-me uma áspera inquietação... E
se realmente uma virtude transcendente circulasse nas
fibras daquele tronco? E se a Titi começasse a melhorar
do fígado, (...)? Eu que só começaria a viver, quando ela
começasse a morrer!”
Final da Parte II
“O embrulho da coroa de espinhos estava à beira do meu
catre. O lume apagara-se; o nosso acampamento dormia
no infinito silêncio do Vale da Escritura... Tranquilo,
regalado, adormeci também.”
• Parte III: Sonho/ Vivência mística = Últimos momentos
da vida de Jesus Cristo
Influência da obra
A vida de Jesus
(1863)
Ernest Renan,
filósofo e
historiador
“no seu corpo humano e real,
vestido do linho de que os
homens se vestem, coberto
com o pó que levantam os
caminhos humanos!”
A relíquia, Eça de Queirós
Cristo na cruz entre os dois ladrões
( 1619 - 1620) Rubens
Início da Parte III
“Havia certamente duas horas que assim dormia,
denso e estirado no catre, quando me pareceu que
uma claridade trêmula, (...), e através dela uma voz me
chamava, lamentosa e dolente:
— Teodorico, Teodorico, ergue-te, e parte para
Jerusalém!”
“— D. Raposo! Esta aurora que vai nascer (...), é a de 15 do
mês de Nizam; e não houve em toda a história de Israel,
(...), um dia mais interessante! Eu preciso estar em
Jerusalém para ver, viva e rumorejando, esta página do
Evangelho! Vamos pois fazer a santa Páscoa à casa de
Gamaliel, (...), patriota forte e membro do Sanedrim. (...).
Portanto, a pé, D. Raposo!”
A Santa Ceia, 1944
Carlos Oswald (Brasil,
[Itália], 1882-1971)
ost, 60 x 73 cm
“— Mas Pôncio teve
um escrúpulo... Não
quis julgar um
homem de Galileia,
(...).. E como o
tetrarca veio à
Páscoa a Jerusalém,
Pôncio mandou o
Rabi à sua morada,
a Bezeta...”
Cristo diante de Pilatos (1566-67),
Tintoretto
“— Topsius! Topsius! Quem é esse Rabi que pregava em
Galileia e faz milagres e vai ser crucificado?
(...)
— Rabi Jexua bar Joseph, que veio de Nazaré em Galileia,
a quem alguns chamam Jesus e outros também chamam
o Cristo.”
“Ecce Homo
(Pôncio Pilatos Apresenta
Cristo à multidão), 1547
por Tintoretto
“Eu, caridoso, ia louvar Manassés. Mas já ele bradava,
com violência e fervor.
— Todavia, esse Rabi de Galileia deve decerto morrer,
porque é um mau cidadão e um mau judeu! (...). Há três
anos que prega, e ninguém jamais lhe ouviu proclamar a
necessidade santa de expulsar o estrangeiro. Nós
esperamos um messias que traga uma espada e liberte
Israel, e este, néscio e verboso, declara que traz só o pão
da verdade!”
“(...).E aquele homem não
era Jesus, nem Cristo, nem
Messias — mas apenas um
moço de Galileia que, cheio
de um grande sonho, desce
da sua verde aldeia para
transfigurar todo um mundo
e renovar todo um céu (...),
entre um ladrão que roubara
na estrada de Siquém e
outro que atirara facadas
numa rixa em Emá!”
Calvário (1661), Karel Dujardin
“— Teodorico, a noite termina;
vamos partir de Jerusalém!... A
nossa jornada ao passado
acabou... A lenda inicial do
cristianismo está feita, vai findar o
mundo antigo!
(...)
— Depois de amanhã, (...), as
mulheres de Galileia voltarão ao
sepulcro de José de Ramata, onde
deixaram Jesus sepultado... E
encontram-no aberto, (...)!...
"Desapareceu, não está aqui!..."
Então Maria de Magdala, (...), irá
gritar por Jerusalém –
“ressuscitou, ressuscitou!” E
assim o amor de uma mulher
muda a face do mundo, e dá uma
religião mais à humanidade!” O sepultamento de Cristo (1560)
El Greco
Reconstrução dos últimos momentos da vida de Cristo
- Jerusalém desmistificada (humana e mercenária)
- Contestação da narrativa do Evangelho
- Figuras bíblicas dotadas de humanidade e contradição
- Desconstrução do ideal religioso burguês
A experiência mística
• Parte IV: Retorno a Portugal/ As relíquias para Titi e os
seus
“Durante esta atarefada semana, o embrulho da coroa
de espinhos permanecera na cômoda (...). Forrei a
madeira de chita azul comprada na Via-Dolorosa; fiz
fofo e doce o fundo do caixote, com uma camada de
algodão (...); e coloquei dentro o adorável embrulho,
(...), no seu papel pardo e no seu nastro vermelho —
porque estas mesmas dobras do papel vincadas em
Jericó, este mesmo nó do nastro atado junto ao
Jordão, teriam para a senhora D. Patrocínio um
insubstituível sabor de devoção... (...).”
• Parte V: Chegada à Lisboa/ Desmascaramento de
Teodorico/ Inutilidade da hipocrisia/ Associação com
Crispim & Cia
Acordando do seu langor, trêmula e pálida, (...),
a Titi tomou o embrulho, fez mesura aos santos,
colocou-o sobre o altar; (...), foi desfazendo uma
a uma as dobras do papel pardo... Uma brancura
de linho apareceu... (...), repuxou-a bruscamente
— e sobre a ara, por entre os santos, em cima
das camélias, aos pés da cruz — espalhou-se,
com laços e rendas, a camisa de dormir da
Mary!
“— Quando tu ias ao alto da graça beijar no pé
uma imagem — era para contar servilmente à Titi a
piedade com que deras beijo; porque jamais houve
oração nos teus lábios, humildade no teu olhar (...).
O deus a que te prostravas era dinheiro de G.
Godinho; e o céu para que teus braços trementes
se erguiam — o testamento da Titi... (...)Tu foste
ilimitadamente o hipócrita! (...) Ora, justiceiramente
aconteceu que o embrulho que ofertaste à Titi e
que a Titi abriu — foi aquele que lhe revelava a tua
perversidade! E isto prova-te, Teodorico, a
inutilidade da hipocrisia!”
“Eu não sou Jesus de Nazaré, nem outro deus criado pelos
homens... Sou anterior aos deuses transitórios; eles dentro em
mim nascem; dentro em mim duram; dentro em mim se
transformam; (...) Chamo-me consciência; sou neste instante a
tua própria consciência refletida fora de ti, (...) , e tomando ante
teus olhos a forma familiar, sob a qual, tu, mal-educado e
pouco filosófico, estás habituado a compreender-me (...)”
A verdade está na consciência
“Sim! Quando em vez de uma coroa de martírio aparecera,
sobre o altar da Titi, uma camisa de pecado — eu deveria ter
gritado, com segurança: "Eis aí a relíquia! Quis fazer a
surpresa... Não é a coroa de espinhos. E melhor! E a camisa
de Santa Maria Madalena!... Deu-ma ela no deserto..."
M.M. Miss Mary Maria Madalena
“―Porque houve um momento em que me faltou
esse descarado heroísmo de afirmar, que, batendo
na terra com pé forte, ou palidamente elevando os
olhos ao céu – cria, através da universal ilusão,
ciências e religiões.”
E por que não gritou????
Narrador: 1ª pessoa
Teodorico Raposo Tom memorialista
Discurso irônico e sarcástico
TEODORICO (Teodoro) : origem no nome grego
Theódoros, composto por théos “deus” e dôron
“dom, dádiva” dádiva divina
RAPOSO ( Raposão) astúcia, ardil, artimanha
Caráter neopicaresco
Teodorico Raposo
“No meu leito de ferro, desperto pelo barulho das
seges, eu pensava nela, rezando ave-marias. Nunca
roçara corpo tão belo, dum perfume tão penetrante:
(...), o Senhor estava com ela, e passava, bendita
entre as mulheres, com um rumor de sedas claras.”
Comportamento
dúbio
“Casaram. Eu nasci numa tarde de sexta-feira de
Paixão; e a mamã morreu, ao estalarem, na manhã
alegre, os foguetes da Aleluia.”
Sagrado X Profano
Beatice X Impulsos libidinosos
Sacrifício X Recompensa
Consciência X Hipocrisia
Personagens Maria do Patrocínio das Neves
“- Esta é a Titi - disse-me o Senhor Matias. - E necessário
gostar muito da Titi... E necessário dizer sempre que sim à
Titi!
Lentamente, a custo, ela baixou o carão chupado e
esverdinhado. Eu senti um beijo vago, de uma frialdade de
pedra; e logo a Titi recuou, enojada.
“porque para a tia Patrocínio todas as ações humanas,
passadas por fora dos portais das igrejas, consistiam em
andar atrás de calças ou andar atrás de saias: - e ambos
estes doces impulsos naturais lhe eram igualmente odiosos
(...) a titi entranhara-se, pouco a pouco dum rancor invejoso
e amargo (...) a toda graça do amor humano”
“Pelo caminho a Vicência falava-me da Titi, (...). Assim eu fui
sabendo que ela padecia do fígado; tinha sempre muito
dinheiro em ouro numa bolsa de seda verde; e o
Comendador Godinho, tio dela e da minha mamã, deixara-lhe
duzentos contos em prédios, em papéis, e a quinta do
Mosteiro ao pé de Viana, e pratas e louças da Índia...”
Maria do Patrocínio das Neves Virgem Maria + Nossa Senhora do Patrocíno + Neve (Frieza)
Horror aos relacionamentos amorosos
Representa o fanatismo religioso (beatice doentia)
Impiedosa, hipócrita e rancorosa
Universo da burguesia clerical, rentística e conservadora
Bajulação, ociosidade, estrutura de práticas aristocráticas
Pe. Casimiro
Pe. Pinheiro
Pe. Negrão
Dr. Margaride
Dinheiro e status social
Convencionalismo
Culto das aparências
Justino
Casa de Titi
Teodorico
2 pacotes: relíquias a falsa coroa de espinho e a camisola de Miss Mary
Estrutura ambivalente do romance
Desmascaramento
da hipocrisia
religiosa
Descoberta das
aventuras
sexuais de
Teodorico
3º pacote : ossos dos antepassados de Teodorico
Desmentido
Paralelo entre o sagrado e o profano
Beatice e fé cega X Hipocrisia e ambição
Ambas trazem o
gozo e a ruína de
Teodorico
Riqueza Prazer
Burguesia liberal e industrial
Firma Teles, Crispim & Cia
Teodorico = casamento com Jesuína (“Assim eu
conheci a irmã da firma. Chamava-se D. Jesuína; tinha
trinta e dois anos e era zarolha.”)
“Crispim & Cia. admirava a paixão e o ideal. Eu ia já dizer que
adorava a senhora D. Jesuína como a uma estrela remota...
Mas recordei a voz altiva e pura da Travessa da Palha! (...)— e
disse corajosamente:
— Amor, amor, não... Mas acho-a um belo mulherão; gosto-
lhe muito do dote; e havia de ser um bom marido.”
Topsius “o ilustre Topsius, Doutor alemão pela Universidade de
Bonn, sócio do Instituto Imperial de Escavações
Históricas”
“Raramente compreendia as suas sentenças, sonoras e bem
cunhadas, (...) mas, como diante da porta impenetrável de um
santuário, eu reverenciava, (...). Por vezes, (...) rosnava uma
praga imunda; (...). Ficou-me a dever seis moedas; mas esta
diminuta migalha de pecúnia, desaparece na copiosa onda de
saber histórico, (...). Uma cousa apenas, além do seu pigarro
de erudito, me desagradava nele, o hábito de se servir da
minha escova de dentes.”
Civilizado e moderno
Teodorico Conservadorismo português
Ridicularização ao
Cientificismo de Topsius
Miss Mary
Espaço: Portugal e Palestina
Tempo: Presente e Passado
Inglaterra adere às
ações sobre o
Canal de Suez
(1859-1869)
Origens religiosas de
Portugal
“Por causa da sua meiguice e do seu riso de ouro quando
lhe fazia cócegas, eu pusera-lhe o nome galante e
cacarejante de Maricoquinhas. Topsius, (...), chamava-lhe "a
nossa simbólica Cleópatra"
1875 15 do `mês de Nizam (Sec I d.c.)
“Decerto! Eu amava a Mary. A esperança que em breve
na terra do Egito seria apertado pelos seus braços
gordinhos, (...). Mas guardando fielmente a sua imagem
no coração, não necessitava trazer perenemente à
garupa a sua camisinha de dormir. Com que direito pois
corria esta bretanha atrás de mim, pelas ruas de
Jerusalém, querendo instalar-se violentamente nas
minhas malas e acompanhar-me à minha pátria?”
Posso estar enganado, mas a camisola representa sim a modernidade industrial inglesa invadindo a velha estrutura nobiliárquica portuguesa. Vamos lembrar que seria a antiga noção de colonialismo sendo substituída pela agressiva presença britânica, tanto em África quanto no Oriente. A ideia ultrapassada do Cristianismo colonizador é substituída pelo capitalismo financeiro e de rapina da Inglaterra.
Profº Hélio Moreti
Adélia Amante de Teodorico e Adelino e mantida por Eleutério,
e, no final, por Pe. Negrão
Empregada de Titi Vicência
Conterrâneo de Teodorico
e carregador de malas Alpendrinha
Pote Guia de Teodorico e Topsius, em Jerusalém
Xavier Primo de Teodorico, metido em “relaxações”
“(...). Depois, por trás de um penedo, surgiu-nos um homem nu,
colossal, tisnado, de cornos; os seus olhos reluziam, vermelhos
(...); e, com o rabo infindável, (...). Eu percebi bem que era o
diabo; mas não senti escrúpulos, nem terror.
(...) O diabo, depois de escarrar, murmurou, travando-me da
manga: "A do meio é a de Jesus, filho de José, a quem também
chamam o Cristo; e chegamos a tempo para saborear a
Ascensão“. (...) E o diabo, olhando para mim, pensativo:
- "Gonsummatum est, amigo! Mais outro deus! Mais outra
religião! E esta vai espalhar em terra e céu um inenarrável
tédio."
(...) Depois, o diabo contava-me como brilhavam, doces e belas,
na Grécia, as religiões da natureza.
(...)”
Visão do diabo
“Mas aparecera este carpinteiro de
Galileia, e logo tudo acabara! A
face humana tornava-se para
sempre pálida, cheia de
mortificação; (...); e era grata ao
deus novo a fealdade das formas.
Julgando Lúcifer entristecido, eu
procurava consolá-lo: "Deixe estar,
ainda há de haver no mundo muito
orgulho, (...). E ele, espantado:
‘Eu? Uns ou outros, que me
importa, Raposo? Eles passam, eu
fico!’ "
A tentação de Cristo(1854),
Ary Scheffer
- Crítica à Instituição religiosa
e às atitudes de abnegação e
sacrifício
- Construção de um diabo
injustiçado e indestrutível
Comércio
em torno
do Santo
Sepulcro
“— Ora aqui estão os cavalheiros diante do Santo Sepulcro...
(...) E imediatamente, um bando voraz de homens sórdidos
envolveu-nos com alarido, oferecendo relíquias, rosários,
cruzes, escapulários, bocadinhos de tábuas aplainadas por São
José, medalhas, bentinhos, frasquinhos de água do Jordão,
círios, agnus-dei, litografias da Paixão, flores de papel feitas em
Nazaré, pedras benzidas, caroços de azeitona do Monte Olivete,
e túnicas "como usava a Virgem Maria!“ (...).”
Banalização dos símbolos cristãos
“Até a cruz, a forma suprema, tem perdido entre os homens a sua
divina significação. A cristandade, depois de a ter usado como
lábaro, usa-a como enfeite. A cruz é broche, a cruz é berloque;
pende nos colares, tilinta nas pulseiras; é gravada em sinetes de
lacre, é incrustada em botões de punho; e a cruz realmente neste
soberbo século pertence mais à ourivesaria do que pertence à
religião...”
Naturalismo Hotel das Pirâmides
“Sobre a mesa murchava um ramo grosso de flores escarlates; no frasco do azeite flutuavam familiarmente cadáveres de moscas; as chinelas do criado topavam a cada instante um velho Jornal dos Debates, manchado de vinho, rojando ali desde a véspera, pisado por outras chinelas indolentes; e no teto, a fumaraça fétida dos candeeiros de latão juntara nuvens pretas as nuvens cor-de-rosa, onde esvoaçavam anjos e andorinhas. (...). E em quanto Topsius se alagava de cerveja, eu sentia, estranhamente, crescer o meu amor por esta terra de preguiça e de luz.”
Sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia
Estátua de Eça de Queirós