programa de pÓs-graduaÇÃo stricto sensu mestrado … · 2019. 12. 9. · ficha catalogrÁfica...
TRANSCRIPT
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM
BIOCIÊNCIA ANIMAL
ANNY CAROLINA PRATI
PESQUISA DE Rickettsia spp. EM CARRAPATOS DE ANIMAIS SILVESTRES DE MATO GROSSO
Cuiabá 2019
ANNY CAROLINA PRATI
PESQUISA DE Rickettsia spp. EM CARRAPATOS DE ANIMAIS SILVESTRES DE MATO GROSSO
Dissertação apresentada à UNIC, como requisito oficial para a obtenção do título de Mestre em Biociência Animal. Orientadora: Profª. Drª. Andréia Lima Tomé Melo
Cuiabá 2019
FICHA CATALOGRÁFICA
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca UNIC
Terezinha de Jesus de Melo Fonseca - CRB1/3261
P912p PRATI, Anny Carolina.
Pesquisa de Rickettsia spp. em carrapatos de animais silvestres de Mato Grosso. / Anny Carolina Prati – Cuiabá, 2019.
40f.
Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-graduação Stricto Sensu de Mestrado em Biociência Animal. Como requisito para título de Mestre em Biociência Animal – Área de concentração em Saúde Animal. Universidade de Cuiabá, 2019.
Orientador: Profª. Drª. Andréia Lima Tomé Melo.”
1. Ectoparasitos. 2. Parasitologia Animal. 3. Saúde Pública. 4. Centro Oeste.
CDU: 619:576.8
ANNY CAROLINA PRATI
PESQUISA DE Rickettsia spp. EM CARRAPATOS DE ANIMAIS SILVESTRES DE MATO GROSSO
Dissertação apresentada à UNIC, no Mestrado em Biociência Animal, área e concentração em Saúde Animal como requisito oficial para a obtenção do título de Mestre conferida pela Banca Examinadora formada pelos professores:
BANCA EXAMINADORA
___________________________________ Profª. Drª. Andréia Lima Tomé Melo
Universidade de Cuiabá (UNIC)
__________________________________ Prof. Dr. Alexandre Mendes Amude
Universidade de Cuiabá (UNIC)
__________________________________ Prof. Dr. Dirceu Guilherme de Souza Ramos
Universidade Federal de Goiás (UFG) – Regional Jataí
Cuiabá, 07 de Março de 2019.
Dedico este trabalho à minha mãe, Carla Elenise Bernardes da Silva, que é meu porto seguro e fonte inesgotável de amor e confiança em mim.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, por me iluminar, cuidar e abençoar durante toda vida. “Guarda-me Senhor como a menina dos teus olhos, esconde-me á sombra de tuas asas.” (Salmo 17.8).
À minha mãe, Carla Elenise Bernardes da Silva, pelo maior amor, cuidado, dedicação, confiança, amizade, apoio, cumplicidade, ternura, saudade e torcida depositados à mim a cada segundo de minha vida. “Não há eu sem você!”
Ao meu pai, pelas oportunidades que me proporcionou, por aceitar minhas decisões, estar sempre ao meu favor e ao carinho que nos aproxima cada vez mais.
Aos meus avós, pelo amor incondicional e apoio inesgotável que dedicam a mim... me faltam palavras!
À toda minha família pelo carinho, torcida, segurança e confiança depositadas em meus sonhos.
Às minhas amigas, que sempre estiveram comigo nos bons e maus momentos, que compreenderam minhas ausências e minhas escolhas, torceram e sempre acreditaram no meu potencial.
À minha orientadora, Profª. Drª. Andréia Lima Tomé Melo, a qual me acolheu, apoiou, direcionou e ensinou com toda dedicação. Foi uma grande surpresa, uma experiência incrível e tenho enorme gratidão por ter sido você!
À todos os professores e profissionais que durante a minha formação me inspiraram.
Ao Programa de Suporte à Pós-Graduação de Instituições de Ensino Particulares (PROSUP) por contribuir para o desenvolvimento e manutenção de padrões de excelência por meio da concessão de bolsa de estudo pra minha pesquisa.
Aos professores Dr. Richard de Campo Pacheco e Dr. Daniel Moura de Aguiar, à Discente de Doutorado Maerle Oliveira Maia e demais colaboradores da Universidade Federal do Mato Grosso pela parceria ao executar esse projeto.
À todos os protetores dos animais.
RESUMO Os patógenos transmitidos por carrapatos representam variadas e complexas afecções, dentre os quais destaca-se o gênero Rickettsia. As riquetsioses são enfermidades infecciosas transmitidas por artrópodes, causadas por bactérias gram-negativas e parasitas intracelulares obrigatórios, cuja relevância está no fato de representarem um risco para saúde animal e humana em função do caráter zoonótico. O conhecimento do parasitismo de animais silvestres por carrapatos é essencial e serve de fomento para novas descobertas sobre a ecologia e a distribuição destes artrópodes, bem como a relação com seus hospedeiros e os aspectos relacionados aos patógenos transmitidos por eles num ambiente selvático. Nesse sentido, o presente trabalho teve por objetivo avaliar a presença de espécies do gênero Rickettsia pela Reação em Cadeia pela Polimerase (PCR) em carrapatos da “Coleção de Carrapatos da Universidade Federal de Mato Grosso” (Cuiabá, Mato Grosso, Brasil) que foram coletados de animais silvestres entre 2015 e 2017. Ao todo, 148 animais silvestres foram amostrados, incluindo mamíferos, anfíbios anuros, répteis e aves, tanto de vida livre quanto de cativeiro (Zoológico da Universidade Federal de Mato Grosso). Os carrapatos amostrados neste período totalizaram 2.056, divididos entre 100 larvas, 548 ninfas, 815 adultos machos e 593 adultos fêmeas pertencentes a 4 gêneros (Amblyomma, Dermacentor, Haemaphysalis e Rhipicephalus). Trezentos e cinquenta carrapatos foram selecionados aleatoriamente para serem avaliados pela PCR e, após o sequenciamento, observou-se a presença de carrapatos positivos para Rickettsia amblyommatis, R. parkeri, R. rhipicephali, ‘Candidatus Rickettsia andeanae’, ‘Candidatus Rickettsia antechini’ e Rickettsia sp. Estes resultados demonstram que há presença de bactérias pertencentes ao gênero Rickettsia nos carrapatos avaliados, o que representa uma informação muito importante pois contribui para o melhor entendimento da circulação de agentes transmitidos por carrapatos na região de estudo. Palavras-chave: Ectoparasitos. Parasitologia animal. Saúde pública. Centro-oeste.
ABSTRACT The pathogens transmitted by ticks represent varied and complex affections, among which the Rickettsia spp. The rickettsial diseases are infectious diseases transmitted by arthropods, caused by gram-negative bacteria and obligate intracellular parasites, whose relevance lies in the fact that they represent a risk to animal and human health due to the zoonotic character. The knowledge of the parasitism of wild animals by ticks is essential and serves as a stimulus for new discoveries on the ecology and distribution of these arthropods, as well as the relation with their hosts and aspects related to the pathogens transmitted by them in a jungle environment. In this sense, the present work had the aim of evaluating the presence of species of the Rickettsia spp. by the Polymerase Chain Reaction (PCR) in ticks of the “Coleção de Carrapatos da Universidade Federal de Mato Grosso” (Cuiabá, Mato Grosso, Brazil) collected from wild animals between 2015 and 2017. A total of 148 wild animals have been sampled, including mammals, anuran amphibians, reptiles and birds, both free-living and captive (Zoo of the Federal University of Mato Grosso). The ticks sampled in this period totaled 2,056, divided into 100 larvae, 548 nymphs, 815 adult males and 593 adult females belonging to 4 genera (Amblyomma, Dermacentor, Haemaphysalis and Rhipicephalus). Three hundred and fifty ticks were randomly selected to be evaluated by PCR and, after sequencing, positive ticks were observed for Rickettsia amblyommatis, R. parkeri, R. rhipicephali, 'Candidatus Rickettsia andeanae', 'Candidatus Rickettsia antechini' and Rickettsia sp. These results demonstrate the presence of bacteria belonging to the Rickettsia spp. in the ticks evaluated, which represents a very important information because it contributes to a better understanding of the circulation of agents transmitted by ticks in the region of study. Keywords: Ectoparasites. Animal parasitology. Public health. Midwest.
LISTA DE TABELAS
ARTIGO – Pesquisa de Rickettsia spp. em carrapatos de
animais silvestres de Mato Grosso
Tabela 1 – Oligonucleotídeos iniciadores utilizados na
amplificação dos genes de Rickettsia spp. em
carrapatos da “Coleção de Carrapatos da
Universidade Federal de Mato Grosso” (Cuiabá,
Mato Grosso, Brasil) que foram coletados de
animais silvestres entre 2015 e 2017.
30
Tabela 2 – Carrapatos da “Coleção de Carrapatos da
Universidade Federal de Mato Grosso” positivos na
PCR para presença do gênero Rickettsia que foram
submetidos ao sequenciamento de nucleotídeos.
32
LISTA DE ABREVIATURAS
CEUA Comitê de Ética de Uso de Animais
FMB Febre Maculosa Brasileira
FMMR Febre Maculosa das Montanhas Rochosas
GFM Grupo da Febre Maculosa
GT Grupo do Tifo
RIFI Reação de Imunofluorescência Indireta
IHQ Imunohistoquímica
PCR Reação em Cadeia pela Polimerase
DNA Ácido desoxirribonucleico
RNA Ácido ribonucleico
ICMBio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis
s. l. sensu lato
s. s. sensu stricto
UFMT Universidade Federal do Mato Grosso
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................11
2 REVISÃO DE LITERATURA..................................................................................13
2.1 ETIOLOGIA..........................................................................................................13
2.2 EPIDEMIOLOGIA.................................................................................................13
2.3 PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLÍNICA....................................................15
2.4 DIAGNÓSTICO....................................................................................................16
2.5 TRATAMENTO E PROFILAXIA...........................................................................17
REFERÊNCIAS.........................................................................................................19
3 OBJETIVOS............................................................................................................24
3.1 OBJETIVO GERAL..............................................................................................24
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................................24
4 ARTIGO
Pesquisa de Rickettsia spp. em carrapatos de animais silvestres de Mato
Grosso.......................................................................................................................25
RESUMO....................................................................................................................25
ABSTRACT................................................................................................................26
INTRODUÇÃO...........................................................................................................27
MATERIAL E MÉTODOS..........................................................................................28
RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................................31
CONCLUSÃO............................................................................................................34
REFERÊNCIAS..........................................................................................................35
5. CONCLUSÕES GERAIS.......................................................................................40
11
1 INTRODUÇÃO
As riquetsioses são enfermidades infecciosas, causadas por bactérias gram-
negativas que pertencem à ordem Rickettsiales, família Rickettsiaceae e gênero
Rickettsia. Elas são parasitas intracelulares obrigatórios e transmitidas por
artrópodes aos hospedeiros suscetíveis (DUMLER et al., 2001). As espécies deste
gênero estão divididas em grupos: i) grupo da Febre Maculosa (GFM); ii) grupo do
Tifo (GT); iii) grupo Rickettsia bellii e iv) grupo Rickettsia canadensis (PAROLA et al.,
2013).
A doença causada pela bactéria Rickettsia rickettsii foi relatada pela primeira
vez nos Estados Unidos, onde foi denominada de Febre Maculosa das Montanhas
Rochosas (FMMR). No Brasil, a enfermidade é denominada de Febre Maculosa
Brasileira (FMB), sendo considerada a mais importante zoonose transmitida por
carrapatos no Brasil (LABRUNA, 2009).
Os carrapatos são considerados vetores de um grande número de agentes
infecciosos e, o fato de haver circulação de agentes transmitidos por carrapatos em
diversas partes do mundo, inclusive de algumas bactérias do gênero Rickettsia, fez
com que as pesquisas sobre a atuação destes artrópodes como fonte de patógenos
para os animais e para os seres humanos aumentassem ao longo dos tempos
(HOOGSTRAAL, 1967; PAROLA et al., 2013).
Estima-se que existam no Brasil milhares de espécies de mamíferos, aves,
répteis, anfíbios e peixes que convivem com uma enorme variedade de espécies de
insetos, incluindo os carrapatos. É comum a presença de cães parasitados por
Amblyomma ovale, Amblyomma aureolatum, Amblyomma spp e Rhipicephalus
sanguineus, bovinos acometidos por Boophilus microplus, eqüinos parasitados
Amblyomma cajennense e Anocentor nitens e nas áreas de florestas nativas
acometendo animais silvestres existe um potencial do parasitismo dos gêneros
Amblyomma, Ixodes e Haemaphysalis (BRASIL, 2012). E certamente, a
possibilidade de co-habitação do mesmo local entre esses hospedeiros e os
carrapatos pode contribuir para o parasitismo e para transmissão de agentes
patogênicos, que têm importância tanto para saúde animal quanto humana.
12
Neste contexto, tem havido um número crescente de relatos de parasitismo
de carrapatos em animais selvagens em diferentes regiões do Brasil (HORTA et al.,
2011; SARAIVA et al., 2012; SPOLIDORIO et al., 2012; MARTINS et al., 2014;
SOARES et al., 2015; WITTER et al., 2016). Entretanto, informações à cerca da
ecologia, biologia, distribuição geográfica e capacidade vetorial de carrapatos
encontrados em fase de parasitismo em animais silvestres ainda são necessárias
(BARROS-BATTESTI et al., 2006, SOARES et al., 2015; WITTER et al., 2016).
Desse modo, as investigações que possam averiguar a presença de agentes
da ordem Rickettsiales e de ectoparasitos em animais silvestres, indubitavelmente,
tornam-se necessárias pois podem contribuir para um maior conhecimento científico
sobre os patógenos transmitidos por carrapatos num ambiente selvático.
13
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 ETIOLOGIA
As riquetsioses são enfermidades infecciosas, causadas por bactérias gram-
negativas que pertencem à ordem Rickettsiales, família Rickettsiaceae e gênero
Rickettsia. Elas medem 0,8 a 2,0 µm de comprimento e 0,3 a 0,5 µm de largura e
são parasitas intracelulares obrigatórios transmitidos por artrópodes aos hospedeiros
suscetíveis (DUMLER et al., 2001). Atualmente, as espécies estão divididas em
grupos: i) grupo da Febre Maculosa (GFM) contendo cerca de 60 espécies de
riquétsias e, dessas, 22 são reconhecidamente patogênicas para humanos: R.
aeschlimannii, R. africae, R. australis, R. conorii caspia, R. conorii conorii, R. conorii
indica, R. conorii israelensis, R. heilongjiangensis, R. helvetica, R. honei, R.
japonica, Candidatus Rickettsia kelly, R. massiliae, R. monacensis, R. parkeri, R.
philipii, R. raoultii, R. sibirica sibirica, R. sibirica mongolotimonae, R. slovaca, R.
tamurae e Rickettsia sp. strain Atlantic rainforest; ii) grupo do Tifo (GT), contendo as
espécies R. prowazekii, transmitida por piolhos e R. typhi, transmitida por pulgas; iii)
grupo Rickettsia bellii e iv) grupo Rickettsia canadensis (PAROLA et al., 2013).
2.2 EPIDEMIOLOGIA
A doença causada pela bactéria R. rickettsii foi relatada pela primeira vez nos
Estados Unidos, onde foi denominada de Febre Maculosa das Montanhas Rochosas
(FMMR). Este agente foi isolado em 1909 pelo pesquisador Howard Taylor Ricketts,
o qual estabeleceu a participação do carrapato da espécie Dermacentor andersoni
no processo de transmissão desta riquetsia. Nos Estados Unidos, R. rickettsii é
vetoriada pelo Dermacentor variabilis na Costa Leste, enquanto que na Costa Oeste
o carrrapato D. andersoni é o responsável por desempenhar essa função (MCDADE
e NEWHOUSE, 1986; PAROLA et al., 2013); entretanto, o carrapato Rhipicephalus
sanguineus sensu lato (s. l.) também é apontado como um importante vetor desta
14
riquétsia em algumas áreas (DEMMA et al., 2005). Outros países, como Canadá,
México, Costa Rica, Panamá, Colômbia e Argentina também relataram a ocorrência
deste patógeno, onde primariamente foi reportada a transmissão por carrapatos do
gênero Amblyomma (MCDADE e NEWHOUSE, 1986; DUMLER e WALKER, 2005).
No Brasil, a doença causada por riquétsias do GFM é denominada Febre
Maculosa Brasileira (FMB), cujo principal agente etiológico é a bactéria Rickettsia
rickettsii, sendo considerada a mais importante zoonose transmitida por carrapatos
do país (LABRUNA, 2009). A espécie Amblyomma sculptum, que faz parte do
complexo Amblyomma cajennense é reconhecida como o principal vetor da R.
rickettsii no Brasil; e na região metropolitana da cidade de São Paulo, é o carrapato
Amblyomma aureolatum quem desempenha esse papel (PINTER e LABRUNA,
2006; PINTER et al., 2008; LABRUNA, 2009), principalmente em áreas com
elevadas altitudes (BARBIERI et al., 2015).
Aqui no Brasil, a doença causada por R. rickettsii é a riquetsiose mais
prevalente e reconhecida. Essa zoonose é observada em áreas urbanas e rurais,
sendo que a população mais atingida inclui homens com idade entre 20 e 49 anos e
que foram expostos a carrapatos de animais domésticos e/ou silvestres. Foram
confirmados casos de Febre Maculosa Brasileira em São Paulo, Minas Gerais, Rio
de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul,
Distrito Federal, Goiás, Ceará, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Pernambuco, sendo
mais significativo no Sudeste e Sul do Brasil (BRASIL, 2017).
Ainda em relação às espécies patogênicas ao ser humano que já foram
descritas no Brasil também estão a Rickettsia parkeri, na qual evidências apontam
que os carrapatos Amblyomma triste e Amblyomma ovale poderiam ser
considerados possíveis vetores de duas novas cepas existentes no país (SILVEIRA
et al., 2007; SPOLIDORIO et al., 2010; MELO et al., 2016; WITTER et al., 2016); e a
Rickettsia felis, que está associada às pulgas (PÉREZ-OSORIO et al., 2008). Por
outro lado, apresentando patogenicidade ainda desconhecida ou incerta para o ser
humano, as bactérias Rickettsia amblyommatis, Rickettsia rhipicephali, Rickettsia
monteiroi, Rickettsia bellii, ‘Candidatus Rickettsia andeanae’, Rickettsia sp. cepa
Pampulha e Rickettsia sp. cepa Colombianensi’ já foram relatadas no território
nacional causando infecção em diferentes espécies de carrapatos (LABRUNA, 2009;
PAROLA et al., 2013; KARPATHY et al., 2016; LUZ et al., 2018; NIERI-BASTOS et
al., 2018).
15
Os cães são considerados animais sentinelas da doença (HORTA et al.,
2004; SANGIONI et al., 2005; LABRUNA, 2009); no entanto, a circulação e
manutenção das riquétsias dependem de hospedeiros amplificadores, como os
gambás (Didelphis marsupialis) e as capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris), que
mantêm níveis altos de bacteremia por um período prolongado, permitindo que
carrapatos não infectados adquiram a infecção (BURGDORFER, 1988; HORTA et
al., 2009; SOUZA et al., 2009). As infecções por riquétsias em capivaras (PACHECO
et al., 2007), gambás (HORTA et al., 2007) e pequenos mamíferos não voadores
(PENA et al., 2009; MILAGRES et al., 2013), também vêm sendo descritas por meio
de análises sorológicas.
A circulação de riquétsias na natureza é um processo dinâmico que envolve
a participação de diferentes espécies de carrapatos e animais vertebrados, de
maneira que a vigilância epidemiológica ativa deve ser adotada continuamente, a fim
de determinar o surgimento de novas áreas endêmicas para riquetsioses, mesmo
antes da ocorrência de casos humanos da doença (SILVA et al., 2010).
2.3 PATOGENIA E SINTOMATOLOGIA CLÍNICA
A transmissão da riquétsia causadora de Febre Maculosa ocorre através da
picada de carrapatos, que devem permanecer fixados à pele do hospedeiro por um
período varíavel de cinco a vinte horas, tempo necessário para uma possível
reativação da bactéria na glândula salivar do carrapato. Dessa forma, a partir da
picada do carrapato infectado, a riquétsia se dissemina pelo organismo através dos
vasos linfáticos e pequenos vasos sanguíneos, atingindo pele, cérebro, pulmões,
coração, fígado, baço, pâncreas e trato gastrointestinal (LABRUNA e PEREIRA,
1998; WALKER et al., 2003). Entretanto, em estudo experimental com A. aureolatum
infectado com R. rickettsii, foi observado que o tempo mínimo de fixação para haver
transmissão desta bactéria para cobaias por ninfas e adultos que não estavam
alimentados foi superior a 10 horas. Por outro lado, carrapatos alimentados
precisaram de no mínimo 10 minutos para transmitir o agente ao hospedeiro
susceptível (SARAIVA et al., 2014).
16
A bactéria causadora da Febre Maculosa Brasileira pode ser introduzida no
organismo através da pele lesada ou de mucosas íntegras e sua disseminação
ocorre pelos vasos linfáticos e capilares até atingir a circulação sistêmica e
pulmonar, tendo tropismo para células endoteliais. Em seres humanos ela pode
causar lesões vasculares no pâncreas, fígado, rins, estômago, intestino, baço e
musculatura, podendo ocorrer pneumonia, miocardite, encefalite, exantema, edema,
hipovolemia e hipotensão. Laboratorialmente é possível observar hipoalbuminemia,
hiponatremia e trombocitopenia (Figura 1) (BRASIL, 2009).
Já a infecção nos cães pela bactéria R. rickettsii resulta em febre, letargia,
emese, anorexia, diarreia e comprometimento do sistema nervoso central, lesões
oculares, anemia e trombocitopenia (LABRUNA et al., 2009; PIRANDA et al., 2008).
2.4 DIAGNÓSTICO
A Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI), método padrão-ouro
segundo a Organização Mundial de Saúde (WHO, 1988) e preconizado pelo
Ministério da Saúde do Brasil, é a técnica sorológica mais usada no diagnóstico das
riquetsioses. Apesar de utilizar antígenos específicos, obtidos a partir de culturas
puras, podem ocorrer reações cruzadas principalmente entre espécies de Rickettsia
do mesmo grupo (GALVÃO et al., 2005). A RIFI permite a pesquisa de anticorpos
das classes IgM e IgG. Em geral, os anticorpos são detectados entre o 7º e o 10º dia
de doença. Títulos iguais ou superiores a 64 em única amostra, ou uma diferença de
quatro vezes no título entre amostras de soro pareadas, colhidas com intervalo de
duas a quatro semanas, confirmam o diagnóstico (BRASIL, 2009). A RIFI para
detecção de anticorpos séricos apresenta sensibilidade de 94 a 100% e
especificidade de 100% (DUMLER, 1996; CDC, 2006).
Também é possível proceder o isolamento da bactéria por meio do sangue
(coágulo), de fragmentos de tecidos/órgãos (pele, pulmão, baço, fígado) e do próprio
carrapato retirado do paciente, desde que haja laboratório estruturado pois esse
agente exige nível 3 com relação à biosseguridade (BRASIL, 2009). A
imunohistoquímica (IHQ), que consiste na submissão de cortes histológicos a
anticorpos anti-riquétsias, é uma técnica mais utilizada na histopatologia (PADDOCK
et al., 1999).
17
Uma das técnicas por biologia molecular consiste na amplificação de
segmento de DNA, comum as riquétsias, do gene que codifica uma proteina de
17kDa (htra), e/ou o gene citrato sintase (gltA) e ainda amplificação de segmentos
de genes que codificam proteínas de superfície de membrana ompA do GFM, por
PCR, e posterior digestão por enzimas de restrição (RFLP), a fim de obter mapas de
fragmentos de DNA espécie-específicos (MARRERO & RAOULT, 1989). Mas
diversos fatores deletérios como a ação de DNAses, RNAses, a inibição da reação
pelo íon Fe+2 ou pela heparina podem dar origem a reações falsos negativas
(GALVÃO et al., 2005).
A detecção de Rickettsia spp em espécies de carrapatos por PCR tem sido
amplamente utilizada em estudos epidemiológicos ou de surtos de riquetsioses. Os
oligonucleotídeos iniciadores (primers) de genes riquetsiais mais utilizados são: os
gênero específicos, gltA e o gene de uma proteína de 17-kDa, os quais amplificam
regiões mais conservadas dos genes, e o ompA (outher membrane protein A) e
ompB (outher membrane protein B) que amplificam regiões mais variadas de
fragmentos de genes que codificam proteínas externas (proteínas de superfície de
membrana) específicas do GFM, as quais sofrem maior pressão de seleção (WEBB
et al., 1990; REGNERY et al., 1991; SANGIONI, 2003; LABRUNA et al., 2004;
GUEDES et al., 2005; SANGIONI et al., 2005).
2.5 TRATAMENTO E PROFILAXIA
Segundo o Ministério da Saúde do Brasil a droga de escolha para o
tratamento da FMB é a doxiciclina, utilizada em casos leves e moderados, ou o
cloranfenicol pode ser usado nos casos mais severos (BRASIL, 2009).
Para se prevenir a infecção é importante evitar regiões com altas infestações
de carrapatos e tratar animais hospedeiros de carrapatos, principalmente os
domésticos, com agentes carrapaticidas respeitando-se o ciclo dos vetores (SUCEN,
2004). Além disso, é necessária a capacitação dos profissionais de saúde, alertando
para a importância do diagnóstico precoce e diferencial com outras doenças e ações
educativas de esclarecimento da população sobre a circulação do carrapato em
determinados locais, bem como a utilização de barreiras físicas quando for se expor
18
a áreas com possibilidade de presença de carrapatos. Também é importante
esclarecer que, ao entrar em contato com carrapatos, uma vez identificada a fixação
no organismo hospedeiro, deve-se retirá-lo rapidamente para evitar a transmissão
de patógenos (LABRUNA e PEREIRA, 1998; BRASIL, 2009).
19
REFERÊNCIAS
BARBIERI, J. M.; ROCHA, C. M. B. M.; BRUHN, F. R. P.; CARDOSO, D. L.; PINTER, A.; LABRUNA, M. B. Altitudinal Assessment of Amblyomma aureolatum and Amblyomma ovale (Acari: Ixodidae), Vectors of Spotted Fever Group Rickettsiosis in the State of São Paulo, Brazil. Journal of Medical Entomology, v. 52, p. 1-5, 2015. BARROS-BATTESTI, D. M.; ARZUA, M.; BECHARA, G.H. (Ed). Carrapatos de importância médico-veterinária da região neotropical: um guia ilustrado para identificação de espécies. São Paulo: Vox/ICTTD-3/Butantan; 2006: 53-113. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. 2009. Disponível em: < http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2012/04/fauna-silvestre> Acesso em: 14/11/2017. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Meio Ambiente. 2012. Disponível em: < http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2012/04/fauna-silvestre> Acesso em: 30/10/2017. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretária de Vigilância em Saúde. 2017. Disponível em: <http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2017/outubro/06/Volume-Unico-2017.pdf> Acesso em: 08/11/2018. BURGDORFER, W. Ecological and epidemiological considerations of Rock Mountain spotted fever and scrub typhus. In: WALKER, D. H. Biology of rickettsial diseases, v. 1, p. 33-50, 1988. CDC - Centers for Disease Control and Prevention. Diagnosis and Management of Tickborne Rickettsial Diseases: Rocky Mountain Spotted Fever, Ehrlichioses, and Anaplasmosis - United States; a practical guide for physicians and other health-care and public health professionals. Morbidity and Mortality Weekly Report. CDC, Atlanta, GA. v.55, n.RR-4, 36p, 2006. DEMMA, L. J.; TRAEGER, M. S.; NICHOLSON, W. L.; PADDOCK, C. D.; BLAU, D. M.; EREMEEVA, M. E.; DASCH, G. A.; LEVIN, M. L.; SINGLETON, J. JR.; ZAKI, S. R.; CHEEK, J. E.; SWERDLOW, D. L.; MCQUISTON, J. H. Rocky Mountain spotted fever from an unexpected tick vector in Arizona. New England Journal of Medicine; v. 53, p. 587–594, 2005. DUMLER, J.S. Laboratory diagnosis of Rickettsial and Ehrlichial infections. Clinical Microbiological Newsletter, v.15, p.57-60, 1996. DUMLER, J. S.; BARBET, A. F.; BEKKER, C. P. J.; DASCH, G. A.; PALMER, G. H.; RAY, S. C.; RIKIHISA, Y.; RURANGIRWA, F. R. Reorganization of genera in the families Rickettsiaceae and Anaplasmataceae in the order Rickettsiales: unification of some species of Ehrlichia with Anaplasma, Cowdria with Ehrlichia and Ehrlichia with Neorickettsia, descriptions of six new species combinations and designation of Ehrlichia equi and HGE agent as subjective synonyms of Ehrlichia phagocytophila.
20
International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, v. 51: p. 2145-2165, 2001. DUMLER, J. S.; WALKER, D. H. Rocky Mountain spotted fever-changing ecology and persisting persisting virulence. New England Journal of Medicine, v. 353, p. 551–553, 2005. GALVÃO, M. A. M.; SILVA, L. J.; NASCIMENTO, E. M. M.; CALIC, S. B.; SOUSA, R.; BACELLAR, F. Riquetsioses no Brasil e Portugal: ocorrência, distribuição e diagnóstico. Revista Saúde Pública. v. 39, n. 5, p. 850-6, 2005. GUEDES, E.; LEITE, R. C.; PRATA, M.C.A.; PACHECO, R.C.; WALKER, D.H.; LABRUNA, M.B. Detection of Rickettsia rickettsii in the tick Amblyomma cajennense in a new Brazilian spotted fever-endemic area in the state of Minas Gerais. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, v.100, n.8, p.841-845, 2005. HOOGSTRAAL, H. Ticks in relation to humam diseases caused by rickettsia species. Annual Review Entomology, v. 12, p. 377-420, 1967. HORTA, M. C.; LABRUNA, M. B.; SANGIONI, L. A.; VIANNA, M. C.; GENNARI, S. M.; GALVAO, M. A.; MAFRA, C. L.; VIDOTTO, O.; SCHUMAKER, T. T.; WALKER, D. H. Prevalence of antibodies to spotted fever group rickettsiae in humans and domestic animals in a Brazilian spotted fever-endemic area in the state of Sao Paulo, Brazil: serologic evidence for infection by Rickettsia rickettsii and another spotted fever group Rickettsia. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, Deerfield, v. 71, n. 1, p. 93-97, 2004. HORTA, M. C.; LABRUNA, M. B.; PINTER, A.; LINARDI, P. M.; SCHUMAKER, T. T. S. Rickettsia infection in five areas of the State of São Paulo, Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 102, p. 793–801, 2007. HORTA, M. C.; MORAES-FILHO, J.; CASAGRANDE, R. A.; SAITO, T. B.; ROSA, S. C.; GRZEWALSKA, M.; MATUSHIMA, E. R.; LABRUNA, M. B. Experimental infection of opossums Didelphis aurita by Rickettsia rickettsii and evaluation of the transmission of the infection to ticks Amblyomma cajennense. Vector-Borne and Zoonotic Diseases, Larchmont, v. 9, n. 1, p. 109-118, 2009. HORTA, M. C.; NASCIMENTO, G. F.; MARTINS, T. F.; LABRUNA, M. B.; MACHADO, L. C. P.; NICOLA, P. A. Ticks (Acari: Ixodida) parasitizing free-living wild animals in the Caatinga biome in the State of Pernambuco, northeastern Brazil. Systematic and Applied Acarology, v. 16, p. 207–211, 2011. KARPATHY, S. E.; SLATER, K. S.; GOLDSMITH, C. S.; NICHOLSON, W.L.;
PADDOCK, C. D. Rickettsia amblyommatis sp. nov., a spotted fever group rickettsia
associated with multiple species of Amblyomma ticks in North and South America.
International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, v. 66, p.
5236-5243, 2016.
LABRUNA, M. B.; PEREIRA, M. C. Febre Maculosa: aspectos clínico-epidemiológicos. Clínica Veterinária, v. 12, p. 19-23, 1998.
21
LABRUNA, M. B.; WHITWORTH, T.; HORTA, M. C; BOUYER, D. H.; MCBRIDE, .W.; PINTER, A.; POPOV, V.; GENNARI, S. M.; WALKER, D.H. Rickettsia Species infecting Amblyomma cooperi Ticks from an Area in the State of São Paulo, Brazil, Where Brazilian Spotted Fever Is Endemic. Journal of Clinical Microbiology. v.42, n.1, p.90–98, 2004. LABRUNA, M. B. Ecology of rickettsia in South America. Annals of the New York Academy of Sciences, v. 1166, p. 156-66, 2009. LUZ, H. R.; COSTA, S. F.; WEKSLER, M.; GENTILE, R.; FACCINI, J. L. H. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 27, p. 409-414, 2018. MARRERO, M.; RAOULT, D. Centrifugation-shell vial technique for rapid detection of Mediterranean spotted fever Rickettsia in blood culture. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 40, p.197-9, 1989. MARTINS, T. F.; VENZAL, J. M.; TERASSINI, F. A.; COSTA, F. B.; MARCILI, A.; CAMARGO, L. M.; BARROS-BATTESTI, D. M.; LABRUNA, M. B. New tick records from the state of Rondônia, western Amazon, Brazil. Experimental and Applied Acarology, v. 62, p. 121-128, 2014. MCDADE, J. E.; NEWHOUSE, V. F. Natural history of Rickettsia rickettsii. Annual Review of Microbiology, v. 40, p. 287-309, 1986. MELO, A. L. T.; WITTER, R.; MARTINS, T. F.; PACHECO, T. A.; ALVES, A. S.; CHITARRA, C. S.; DUTRA, V.; NAKAZATO, L.; PACHECO, R. C.; LABRUNA, M. B.; AGUIAR, D. M. A survey of tick-borne pathogens in dogs and their ticks in the Pantanal biome, Brazil. Medical and Veterinary Entomology. 30, p. 112–116, 2016. MILAGRES, B. S.; PADILHA, A. F.; MONTANDON, C. E.; FREITAS, R. N.; PACHECO, R. C.; WALKER, D. H.; LABRUNA, M. B.; MAFRA, C. L.; GALVÃO, M. A. M. Spotted fever group rickettsia in small rodents from areas of low endemicity for brazilian spotted fever in the eastern region of Minas Gerais state, Brazil. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, Deerfield, v. 88, n. 5, p. 937-939, 2013. NIERI-BASTOS, F. A.; MARCILI, A.; DE SOUZA, R.; PADDOCK, C. D.; LABRUNA, N. B. Phylogenetic evidence for the existence of multiple strains of Rickettsia parkeri in the New World. Applied Environmental Microbiology Journal, 2018. PACHECO, R. C.; HORTA, M. C.; MORAES-FILHO, J.; ATALIBA, A. C.; PINTER, A.; LABRUNA, M. B. Rickettsial infection in capybaras (Hydrochoerus hydrochaeris) from São Paulo, Brazil: serological evidence for infection by Rickettsia bellii and Rickettsia parkeri. Biomédica, Bogotá, v. 27, n. 3, p. 364-371, 2007. PADDOCK, C. D.; GREER, P. W.; FEREBEE, T. L.; SINGLETON, Jr. J.; McKECHNIE, D. B.; TREADWELL, T. A. Hidden mortality attributable to Rocky Mountain spotted fever: immunohistochemical detection of fatal, serologically unconfirmed disease. Journal of Infections Disease. v. 179, p.1469-76, 1999.
22
PAROLA, P.; PADDOCK, C. D.; SOCOLOVSCHI, C.; LABRUNA, M. B.; MEDIANNIKOV, O.; KERNIF, T.; ABDAD, M. Y.; STENOS, J.; BITAM, I.; FOURNIER, P. E.; RAOULT, D. Update ontick-borne rickettsioses around the world: a geographic approach. . Clinical Microbiology and Infection v. 26, p. 657–702, 2013. PENA, D. C. H.; MAFRA, C. L.; CALIC, S. B.; LABRUNA, M. B.; MILAGRES, B. S.; WALKER, D. H.; GALVÃO, M. A. M. Serologic survey for antibodies to Rickettsia among domestic and wild animal populations in Brazil. Clinical Microbiology and Infection, Basel, v. 15, n. 2, p. 243-244, 2009. PÉREZ-OSORIO, C. E.; ZAVALA-VELÁZQUEZ, J E.; ARIAS-LEÓN, J. J.; ZAVALA-
CASTRO, J. E. Rickettsia felis as emergent global threat for humans. Emerging
Infectious Diseases Journal, v. 14, p. 1019-1023, 2008.
PIRANDA, E. M.; FACCINI, J. L.; PINTER, A.; SAITO, T. B.; PACHECO, R. C.; HAGIWARA, M. K.; LABRUNA, M. B. Experimental infection of dogs with a Brazilian strain of Rickettsia rickettsii: clinical and laboratory findings. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 107, n.7, p. 696-701, 2008. REGNERY, R.L.; SPRUILL, C.L.; PLIKAYTIS, B.D. Genotypic identification of rickettsiae and estimation of intraspecies sequence divergence for portions of two rickettsial genes. Journal of Bacteriology. v.173, p.1576-89, 1991. SANGIONI, L. A. Pesquisa de infecção por rickettsias do grupo da febre maculosa em humanos, cães e eqüinos e adultos de Amblyomma cajennense, em área endêmica e não-endêmica do Estado de São Paulo. 2003. 86f. Tese (Doutorado em Epidemiologia Experimental e Aplicada às Zoonoses). Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de são Paulo, São Paulo. SANGIONI, L. A.; HORTA, M. C.; VIANNA, M.C.B.; GENNARI, S. M.; SOARES, R. M.; GALVÃO, M.A.M.; SCHUMAKER, T.T.S.; FERREIRA, F.; VIDOTTO, O.; LABRUNA, M. B. Rickettsial lnfection in Animals and Brazilian Spotted Fever Endemicity. Emerging Infectious Diseases. v. 11, n. 2, p.265-270, 2005. SANGIONI, L. A.; HORTA, M. C.; VIANNA, M. C.; GENNARI, S. M.; SOARES, R. M.; GALVÃO, M. A.; SCHUMAKER, T. T.; FERREIRA, F.; VIDOTTO, O.; LABRUNA, M. B. Rickettsial infection in animals and Brazilian Spotted Fever endemicity. Emerging Infectious Diseases Journal, v. 11, p. 265-270, 2005. SARAIVA, D. G.; FOURNIER, G. F.; MARTINS, T. F.; LEAL, K. P.; VIEIRA, F. N.; CÂMARA, E. M.; COSTA, C. G.; ONOFRIO, V. C.; BARROS-BATTESTI, D. M.; GUGLIELMONE, A. A.; LABRUNA, M. B. Ticks (Acari: Ixodidae) associated with small terrestrial mammals in thestate of Minas Gerais, southeastern Brazil. Experimental and Applied Acarology, v. 58, p. 159-166, 2012. SARAIVA, D. G.; SOARES, H. S.; SOARES, J. F.; LABRUNA, M. B. Feeding period required by Amblyomma aureolatum ticks for transmission of Rickettsia rickettsii to vertebrate hosts. Emerging Infectious Diseases Journal, v. 20, p. 1504-1510, 2014.
23
SILVA, J. N.; ALMEIDA, A. B. P. F.; SORTE, E. C. B.; FREITAS, A. G.; SANTOS, L. G.; AGUIAR, D. M.; SOUZA, V. R. Soroprevalência de anticorpos anti-Ehrlichia canis em cães de Cuiabá, Mato Grosso. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 19, p. 34–37. 2010. SOARES, H.S.; BARBIERI, A. R.; MARTINS, T. F.; MINERVINO, A. H.; LIMA, J. T.; MARCILI, A.; GENNARI, S. M.; LABRUNA, M. B. Ticks and rickettsial infection in the wildlife of two regions of the Brazilian Amazon. Experimental and Applied Acarology, v. 65, p. 125–140, 2015. SOUZA, B. M. P. S.; LEAL, D. C.; BARBOZA, D. C. M.; UZÊDA, R. S.; DE ALCÂNTARA, A. C.; FERREIRA, F.; LABRUNA, M. B. Prevalence of ehrlichial infection among dogs and ticks in northeastern Brazil. Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária, v. 19, p. 15-19, 2009. SPOLIDORIO, M. G.; LABRUNA, M. B.; MANTOVANI, E.; BRANDAO, P. E.; RICHTZENHAIN, L. J.; YOSHINARI, N. H. Novel spotted fever group rickettsiosis, Brazil. Emerging Infectious Diseases, v.16, p. 521-523, 2010. SPOLIDORIO, M. G.; ANDREOLI, G. S.; MARTINS, T. F.; BRANDÃO, P. E.; LABRUNA, M. B. Rickettsial infection in ticks collected from road-killed wild animals in Rio de Janeiro, Brazil. Journal of Medical Entomology, v. 49, p. 1510-1514, 2012. SUCEN. Superintendência de Controle de Endemias-SP. Manual de Vigilância Acarológica, São Paulo: SUCEN, 2004, 62p. WALKER, D. H.; VALBUENA, G. A.; OLANO, J. P. Pathogenic mechanisms of diseases caused by Rickettsia. Annals of the New York Academy of Sciences, v. 990, p. 1-11, 2003. WEBB, L.; CARL, M.; MALLOY, D.C.; DASCH, G.A.; AZAD, A.F. Detection of murine typhus infection in fleas by using the polymerase chain reaction. Journal of Clinical Microbiology. v.28, p.530-4, 1990. WHO. World Health Organisation. Laboratory diagnosis of Rickettsial diseases. Bull World Health Organ,v.66, p. 283-420, 1988. WITTER, R.; MARTINS, T. F.; CAMPOS, A. K.; MELO, A. L.T.; CORRÊA, S. H.R.; ORGADO, T. O.; WOLF, R. W.; MAY-JÚNIOR, J. A.; SINKOC, A. L.; TRÜSSMANN, C.; AGUIAR, D. M.; ROSSI, R. V.; SEMEDO, T. B. F.; CAMPOS, Z.; DESBIEZ, A. L.; LABRUNA, M. B. ; PACHECO, R. C. Rickettsial infection in ticks (Acari: Ixodidae) of wild animals in midwestern Brazil. Ticks and Tick-borne Diseases, v. 7, p. 415-423, 2016.
24
3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL
Realizar a pesquisa de Rickettsia spp. em carrapatos de animais silvestres de
Mato Grosso e avaliar a presença de espécies do gênero Rickettsia em carrapatos
da “Coleção de Carrapatos da Universidade Federal de Mato Grosso” (Cuiabá, Mato
Grosso, Brasil) pela Reação em Cadeia pela Polimerase (PCR).
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Caracterizar os agentes detectados pela sequência parcial de nucleotídeos para
Rickettsia spp.
25
4 ARTIGO
PESQUISA DE Rickettsia spp. EM CARRAPATOS DE ANIMAIS SILVESTRES DE
MATO GROSSO
A survey of Rickettsia spp. in ticks of the wild animals
from the Mato Grosso State
RESUMO
PRATI, A. C. Pesquisa de Rickettsia spp. em carrapatos de animais silvestres de Mato Grosso. 2019. Dissertação (Mestrado Biociência Animal) – Universidade de Cuiabá, Cuiabá, 2019.
Os patógenos transmitidos por carrapatos representam variadas e complexas afecções, dentre os quais destaca-se o gênero Rickettsia. As riquetsioses são enfermidades infecciosas transmitidas por artrópodes, causadas por bactérias gram-negativas e parasitas intracelulares obrigatórios, cuja relevância está no fato de representarem um risco para saúde animal e humana em função do caráter zoonótico. O conhecimento do parasitismo de animais silvestres por carrapatos é essencial e serve de fomento para novas descobertas sobre a ecologia e a distribuição destes artrópodes, bem como a relação com seus hospedeiros e os aspectos relacionados aos patógenos transmitidos por eles num ambiente selvático. Nesse sentido, o presente trabalho teve por objetivo avaliar a presença de espécies do gênero Rickettsia pela Reação em Cadeia pela Polimerase (PCR) em carrapatos da “Coleção de Carrapatos da Universidade Federal de Mato Grosso” (Cuiabá, Mato Grosso, Brasil) que foram coletados de animais silvestres entre 2015 e 2017. Ao todo, 148 animais silvestres foram amostrados, incluindo mamíferos, anfíbios anuros, répteis e aves, tanto de vida livre quanto de cativeiro (Zoológico da Universidade Federal de Mato Grosso). Os carrapatos amostrados neste período totalizaram 2.056, divididos entre 100 larvas, 548 ninfas, 815 adultos machos e 593 adultos fêmeas pertencentes a 4 gêneros (Amblyomma, Dermacentor, Haemaphysalis e Rhipicephalus). Trezentos e cinquenta carrapatos foram selecionados aleatoriamente para serem avaliados pela PCR e, após o sequenciamento, observou-se a presença de carrapatos positivos para Rickettsia amblyommatis, R. parkeri, R. rhipicephali, ‘Candidatus Rickettsia andeanae’, ‘Candidatus Rickettsia antechini’ e Rickettsia sp. Estes resultados demonstram que há presença de bactérias pertencentes ao gênero Rickettsia nos carrapatos avaliados, o que representa uma informação muito importante pois contribui para o melhor entendimento da circulação de agentes transmitidos por carrapatos na região de estudo. Palavras-chave: Ectoparasitos. Parasitologia animal. Saúde pública. Centro-oeste.
26
ABSTRACT
PRATI, A. C. Pesquisa de Rickettsia spp. em carrapatos de animais silvestres de Mato Grosso. 2019. Dissertação (Mestrado Biociência Animal) – Universidade de Cuiabá, Cuiabá, 2019. The pathogens transmitted by ticks represent varied and complex afecctions, among which the Rickettsia spp. The rickettsial diseases are infectious diseases transmitted by arthropods, caused by gram-negative bacteria and obligate intracellular parasites, whose relevance lies in the fact that they represent a risk to animal and human health due to the zoonotic character. The knowledge of the parasitism of wild animals by ticks is essential and serves as a stimulus for new discoveries on the ecology and distribution of these arthropods, as well as the relation with their hosts and aspects related to the pathogens transmitted by them in a jungle environment. In this sense, the present work had the aim of evaluating the presence of species of the Rickettsia spp. by the Polymerase Chain Reaction (PCR) in ticks of the “Coleção de Carrapatos da Universidade Federal de Mato Grosso” (Cuiabá, Mato Grosso, Brazil) collected from wild animals between 2015 and 2017. A total of, 148 wild animals have been sampled, including mammals, anuran amphibians, reptiles and birds, both free-living and captive (Zoo of the Federal University of Mato Grosso). The ticks sampled in this period totaled 2,056, divided into 100 larvae, 548 nymphs, 815 adult males and 593 adult females belonging to 4 genera (Amblyomma, Dermacentor, Haemaphysalis and Rhipicephalus). Three hundred and fifty ticks were randomly selected to be evaluated by PCR and, after sequencing, positive ticks were observed for Rickettsia amblyommatis, R. parkeri, R. rhipicephali, 'Candidatus Rickettsia andeanae', 'Candidatus Rickettsia antechini' and Rickettsia sp. These results demonstrate the presence of bacteria belonging to the Rickettsia spp. in the ticks evaluated, which represents a very important information because it contributes to a better understanding of the circulation of agents transmitted by ticks in the region of study. Keywords: Ectoparasites. Animal parasitology. Public health. Midwest.
27
INTRODUÇÃO
As riquetsioses são enfermidades infecciosas, causadas por bactérias gram-
negativas que pertencem à ordem Rickettsiales, família Rickettsiaceae e gênero
Rickettsia. Elas são parasitas intracelulares obrigatórios e transmitidas por
artrópodes aos hospedeiros suscetíveis (DUMLER et al., 2001). As espécies deste
gênero estão divididas em grupos: i) grupo da Febre Maculosa (GFM); ii) grupo do
Tifo (GT); iii) grupo Rickettsia bellii e iv) grupo Rickettsia canadensis (PAROLA et al.,
2013).
A doença causada pela bactéria Rickettsia rickettsii foi relatada pela primeira
vez nos Estados Unidos, onde foi denominada de Febre Maculosa das Montanhas
Rochosas (FMMR). No Brasil, a enfermidade é denominada de Febre Maculosa
Brasileira (FMB), sendo considerada a mais importante zoonose transmitida por
carrapatos no Brasil (LABRUNA, 2009).
Os carrapatos são considerados vetores de um grande número de agentes
infecciosos e, o fato de haver circulação de agentes transmitidos por carrapatos em
diversas partes do mundo, inclusive de algumas bactérias do gênero Rickettsia, fez
com que as pesquisas sobre a atuação destes artrópodes como fonte de patógenos
para os animais e para os seres humanos aumentassem ao longo dos tempos
(HOOGSTRAAL, 1967; PAROLA et al., 2013).
Estima-se que existam no Brasil milhares de espécies de mamíferos, aves,
répteis, anfíbios e peixes que convivem com uma enorme variedade de espécies de
insetos, incluindo os carrapatos (BRASIL, 2012). E certamente, a possibilidade de
co-habitação do mesmo local entre esses hospedeiros e os carrapatos pode
contribuir para o parasitismo e para transmissão de agentes patogênicos, que têm
importância tanto para saúde animal quanto humana.
Neste contexto, tem havido um número crescente de relatos de parasitismo
de carrapatos em animais selvagens em diferentes regiões do Brasil (HORTA et al.,
2011; SARAIVA et al., 2012; SPOLIDORIO et al., 2012; MARTINS et al., 2014;
SOARES et al., 2015; WITTER et al., 2016). Entretanto, informações à cerca da
ecologia, biologia, distribuição geográfica e capacidade vetorial de carrapatos
encontrados em fase de parasitismo em animais silvestres ainda são necessárias
(BARROS-BATTESTI et al., 2006, SOARES et al., 2015; WITTER et al., 2016).
28
Desse modo, as investigações que possam averiguar a presença de agentes
da ordem Rickettsiales e de ectoparasitos em animais silvestres, indubitavelmente,
tornam-se necessárias pois podem contribuir para um maior conhecimento científico
sobre os patógenos transmitidos por carrapatos num ambiente selvático.
MATERIAL E MÉTODOS
Local de estudo
O Estado de Mato Grosso está localizado na região Centro-Oeste do Brasil,
abrangendo os biomas: Amazônia, Cerrado e Pantanal. A Amazônia ocupa a porção
norte do Estado com vegetação predominantemente florestal enquanto que o
Cerrado, na porção central do Estado, reúne formações florestais e principalmente
savânicas. Já o Pantanal, no sul do Estado, é o bioma com menor representação em
área e apresenta formações florestais com grande diversidade de espécies, na qual
apresenta um pulso de inundação, com níveis de enchente, cheia, vazante e seca,
que altera a paisagem e ecologia do ambiente sazonalmente (SEMA, 2014).
Amostragem
Para execução deste trabalho foram utilizados os carrapatos da “Coleção de
Carrapatos da Universidade Federal de Mato Grosso” (Cuiabá, Mato Grosso, Brasil)
que foram coletados de animais silvestres entre 2015 e 2017 provenientes do estado
de Mato Grosso. Os carrapatos foram obtidos a partir de animais silvestres de vida
livre ou cativeiro atendidos no Hospital Veterinário ou do Zoológico da Universidade
Federal de Mato Grosso (UFMT) e adicionalmente também foram obtidos carrapatos
de animais silvestres encontrados mortos na estrada. Eles permaneceram
armazenados em álcool isopropílico e foram identificados segundo as chaves
29
taxonômicas de Barros-Battesti et al. (2006), Martins et al. (2010) e Nava et al.
(2014).
Ao todo, 148 animais silvestres foram amostrados, incluindo mamíferos,
anfíbios anuros, répteis e aves, tanto de vida livre quanto de cativeiro (Zoológico da
Universidade Federal de Mato Grosso). Os carrapatos amostrados neste período
totalizaram 2.056, divididos entre 100 larvas, 548 ninfas, 815 adultos machos e 593
adultos fêmeas pertencentes a 4 gêneros, conforme segue: Amblyomma spp. (100
larvas); Amblyomma cajennense sensu stricto (s. s.) (60 ninfas, 153 machos, 41
fêmeas), Amblyomma calcaratum (2 ninfas, 24 machos, 1 fêmea), Amblyomma
coelebs (31 ninfas, 31 machos, 22 fêmeas), Amblyomma dissimile (143 ninfas, 103
machos, 67 fêmeas), Amblyomma dubitatum (5 ninfas, 9 machos, 43 fêmeas),
Amblyomma humerale (5 ninfas, 9 machos), Amblyomma longirostre (8 machos, 2
fêmeas), Amblyomma naponense (3 ninfas, 3 fêmeas), Amblyomma nodosum (45
machos, 33 fêmeas), Amblyomma oblongoguttatum (1 ninfa, 5 machos, 10 fêmeas),
Amblyomma ovale (4 machos), Amblyomma parvum (1 fêmea), Amblyomma
rotundatum (20 ninfas, 19 fêmeas), Amblyomma romitii (4 ninfas, 8 machos, 12
fêmeas), Amblyomma scalpturatum (7 ninfas, 44 machos, 28 fêmeas), Amblyomma
sculptum (250 ninfas, 329 machos, 260 fêmeas), Amblyomma triste (9 ninfas, 5
machos, 6 fêmeas), Dermacentor nitens (1 ninfa), Haemaphysalis juxtakochi (1 ninfa,
3 fêmeas), Rhipicephalus microplus (6 ninfas, 22 machos, 33 fêmeas),
Rhipicephalus sanguineus sensu lato (16 machos, 9 fêmeas).
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética de Uso de Animais da
Universidade Federal de Mato Grosso (número de protocolo do CEUA:
23108.033602/12-0) e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio) sob licença de coleta número 40617. Já os animais mortos na estrada
foram cordialmente doados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
Extração de Ácido Nucléico
30
Para extração de ácido nucléico, os carrapatos foram submetidos ao
processo de extração de DNA utilizando o Tiocianato de Guanidina conforme
descrito por Sangioni et al. (2005). Os carrapatos adultos foram processados
individualmente, ao passo que os estágios imaturos foram testados em pools com 5
ninfas ou 10 larvas.
Reação em Cadeia pela Polimerase (PCR)
Os DNAs dos carrapatos foram submetidos a PCR utilizando-se um par de
oligonucleotídeos iniciadores denominados de CS-78 senso e CS-323 anti-senso
que amplifica um fragmento de 401 pb do gene citrato sintase (gltA) detectado em
todas as espécies de Rickettsia (LABRUNA et al., 2004). Para a confirmação da
infecção por Rickettsia spp. do GFM, as amostras positivas foram avaliadas frente a
um par de oligonucleotídeos iniciadores Rr190.70p senso e Rr190.602n anti-senso
que amplifica um fragmento de 530 pb do gene ompA (Outher Membrane Protein A)
(REGNERY et al., 1991) (Tabela 1). A amplificação resultante das reações foi
visualizada em Gel de Agarose a 1,5-2,0% corado com GelRed nucleic Acid Gel
Stain, 10000x (Biotium - Uniscience®) e examinado no transiluminador com luz UV
(ultravioleta).
Tabela 1 - Oligonucleotídeos iniciadores utilizado na amplificação dos genes de Rickettsia spp. em carrapatos da “Coleção de Carrapatos da Universidade Federal de Mato Grosso” (Cuiabá, Mato Grosso, Brasil) que foram coletados de animais silvestres entre 2015 e 2017.
Agente Etiológico
Gene Oligonucleotídeo
Sequência dos oligonucleotídeos (5’-3’) Tamanho
(pb) Referência Senso
Anti-senso
Rickettsia spp. gltA CS-78 GCAAGTATCGGTGAGGATGTAAT
401 Labruna et al.
(2004) CS-323 GCTTCCTTAAAATTCAATAAATCAGGAT
Rickettsia spp. ompA Rr190.70p ATGGCGAATATTTCTCCAAAA
530 Regnery et al.
(1991) Rr190.602n AGTGCAGCATTCGCTCCCCCT
Sequenciamento de nucleotídeos
31
Os produtos amplificados foram purificados com illustra GFX PCR DNA and
Gel Band Purification kit (GE Healthcare®) e suas sequências foram determinadas
em sequenciador automático de DNA modelo ABI 3500 Series Genetic Analyser®,
segundo seu manual de instruções. As sequências obtidas foram alinhadas com
outras sequências correspondentes a diferentes amostras de Rickettsia spp.
disponíveis no GenBank, utilizando-se o programa NCBI Nucleotide BLAST
Searches (ALTSCHUL et al., 1990).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Do total de 2.056 carrapatos coletados de 148 animais silvestres incluindo
mamíferos, anfíbios anuros, répteis e aves, tanto de vida livre quanto de cativeiro
(Zoológico da Universidade Federal de Mato Grosso), trezentos e cinquenta foram
selecionados aleatoriamente para serem avaliados pela Reação em Cadeia pela
Polimerase (PCR) para investigação da infecção por Rickettsia spp. Ao todo, 52
(14,85%) foram positivos para o gene citrato sintase (gltA); e destes, 19 foram
positivos para o gene ompA sendo que, em função da qualidade do material
amplificado, foi possível sequenciar 21 amostras positivas. Desse modo, o
sequenciamento resultou em carrapatos positivos para Rickettsia amblyommatis, R.
parkeri, R. rhipicephali, ‘Candidatus Rickettsia andeanae’, ‘Candidatus Rickettsia
antechini’ e Rickettsia sp. (Tabela 2).
32
Tabela 2 – Carrapatos da “Coleção de Carrapatos da Universidade Federal de Mato Grosso” positivos na PCR para presença de Rickettsia que foram
submetidos ao sequenciamento de nucleotídeos.
Hospedeiros Espécies de carrapatos Positivos na PCR Identidade mais próxima do GenBank
(número de acesso)
Capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) Amblyomma sculptum 1 pool com 5 ninfas* 100% Rickettsia amblyommatis (gltA: MH425445)
Veado mateiro (Mazama americana) Amblyomma cajennense sensu stricto (s. s.) 1 pool com 5 ninfas* 100% Rickettsia amblyommatis (gltA: MH425445)
Capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) Amblyomma romitii 1 fêmea 100% Rickettsia amblyommatis (gltA: MH425445)
Anta (Tapirus terrestris) Amblyomma coelebs 1 macho 100% Rickettsia amblyommatis (ompA: KT722803)
Anta (Tapirus terrestris) Amblyomma coelebs 1 macho 100% Rickettsia amblyommatis (ompA: KT722803)
Seriema (Cariama cristata) Amblyomma sculptum 1 pool com 5 ninfas* 100% Rickettsia amblyommatis (ompA: MF188914)
Indeterminado Amblyomma humerale 1 macho 100% Rickettsia amblyommatis (ompA: MF188914)
Veado mateiro (Mazama americana) Amblyomma cajennense s. s. 1 pools com 5 ninfas* 100% Rickettsia amblyommatis (ompA: MF188914)
Anta (Tapirus terrestris) Amblyomma cajennense s. s. 1 pools com 5 ninfas* 100% Rickettsia amblyommatis (ompA: MF188914)
Anta (Tapirus terrestris) Amblyomma cajennense s. s. 1 macho 100% Rickettsia amblyommatis (ompA: MF188914)
Veado mateiro (Mazama americana) Haemaphysalis juxtakochi 1 fêmea 100% Rickettsia rhipicephali (ompA: KX434736)
Anta (Tapirus terrestris) Amblyomma triste 1 macho 100% Rickettsia parkeri (ompA: MG574938)
Veado-catingueiro (Mazama gouazoubira) Rhipicephalus microplus 1 macho 100% ‘Ca. R. andeanae’(gltA:MG887826
Anta (Tapirus terrestris) Amblyomma coelebs 1 macho 99% ‘Ca. R. antechini’ (gltA: DQ372954)
Anta (Tapirus terrestris) Amblyomma coelebs 1 macho 99% ‘Ca. R. antechini’ (gltA: DQ372954)
Anta (Tapirus terrestris) Amblyomma coelebs 1 fêmea 99% ‘Ca. R. antechini’ (gltA: DQ372954)
Anta (Tapirus terrestris) Amblyomma sculptum 1 macho 99% ‘Ca. R. antechini’ (gltA: DQ372954)
Anta (Tapirus terrestris) Amblyomma sculptum 1 fêmea 99% ‘Ca. R. antechini’ (gltA: DQ372954)
Anta (Tapirus terrestris) Amblyomma scalpturatum 1 macho 99% ‘Ca. R. antechini’ (gltA: DQ372954)
Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) Amblyomma nodosum 1 macho 100% Rickettsia sp. (ompA: Y008394/KP987310/KM262193)
Tamanduá-mirim (Tamandua tetradactyla) Amblyomma nodosum 1 macho 100% Rickettsia sp. (ompA: Y008394/KP987310/KM262193)
*Os resultados referem-se à taxa mínima de infecção porque os carrapatos positivos para PCR incluíram um conjunto de 5 ninfas.
33
Neste estudo foi possível identificar R. amblyommatis em diferentes espécies
de carrapatos do gênero Amblyomma. De maneira similar, esta infecção já foi
relatada em outros estudos nas espécies A. cajennense s. s. (LABRUNA et
al.,2004b), A. sculptum (ALVES et al., 2014; WITTER et al., 2016), A. coelebs
(LABRUNA et al., 2004b; PAROLA et al., 2013; SILVEIRA et al., 2015; WITTER et
al., 2016) e A. humerale (LABRUNA et al., 2004).
Apesar de haver muitos relatos da infecção em carrapatos, a patogenicidade
da R. amblyommatis para o ser humano ainda é desconhecida. Entretanto, já
existem suspeitas de que ela pode ser um potencial patógeno, tendo em vista alguns
relatos sorológicos de infecção humana, bem como possível associação com
manifestações da doença em alguns pacientes nos Estados Unidos (APPERSON et
al., 2008; DELISLE et al., 2016). Além disso, há evidências moleculares de que este
organismo pode infectar cães (BARRETT et al., 2014), bem como causar febre e
sinais patológicos da doença em cobaias (RIVAS et al., 2015).
Por outro lado, foi relatada neste trabalho a presença da espécie patogênica
para o ser humano, que é a R. parkeri. Nos Estados Unidos ela já foi encontrada em
carrapatos da espécie Amblyomma maculatum (Parola et al., 2013). Já aqui na
América do Sul há relatos de casos humanos no Uruguai (CONTI-DÍAZ et al., 2009;
PORTILLO et al., 2013) e na Argentina (ROMER et al., 2011) associados ao
carrapato A. triste (VENZAL et al., 2004; PACHECO et al., 2006; NAVA et al., 2008;
MONJE et al., 2014).
Aqui no Brasil há vários estudos que demonstram a circulação da R. parkeri
em carrapatos A. triste (SILVEIRA et al., 2007; WIDMER et al., 2011; MELO et al.,
2015). Além disso, existem também relatos de detecção sorológica em capivaras,
cães e equinos (PACHECO et al., 2007; SAITO et al., 2008; MELO et al., 2011;
ALVES et al., 2014).
Já a espécie R. rhipicephali encontrada em H. juxtakochi foi descrita
inicialmente em carrapatos R. sanguineus s. l. nos Estados Unidos onde,
posteriormente, também foi encontrada em carrapatos do gênero Dermacentor. De
modo semelhante, esta bactéria já foi observada também em H. juxtakochi em
diferentes estudos realizados no país (LABRUNA et al., 2005; 2007b; SOARES et
al., 2015). Apesar do seu potencial patogênico para os seres humanos ainda ser
desconhecido, infecções experimentais em camundongos sugerem que ela possa
causar doença moderadamente grave (WIKSWO et al., 2008; PAROLA et al., 2013).
34
Em relação à presença de ‘Candidatus Rickettsia andeanae’ em R. microplus,
tudo indica que este seja o primeiro relato desta infecção nesta espécie de
carrapato. Existem alguns trabalhos no país que já encontraram esse agente em
outras espécies de carrapatos, incluindo A. parvum (NIERI-BASTOS et al., 2014;
LUGARINI et al., 2015), A. auricularium (LUGARINI et al., 2015) e A. sculptum
(WITTER et al., 2016). Há também relatos no Peru (A. maculatum e Ixodes
bolivensis) (Blair et al., 2004), Argentina (A. parvum) (PACHECO et al., 2007),
Estados Unidos (A. maculatum) (PADDOCK et al., 2010), Chile (A. triste) (ABARCA
et al., 2012) e Paraguai (A. parvum) (OGRZEWALSKA et al., 2014). Todavia, ainda é
desconhecido o papel desta bactéria como patógeno humano (FERRARI et al.,
2013).
Ao que se refere à bactéria ‘Candidatus Rickettsia antechini’ ela foi
inicialmente detectada em Ixodes antechini na Austrália e, cujo potencial patogênico
é desconhecido (GRAVES e STENOS, 2009; PAROLA et al., 2013). Aqui, foi
observado a sua presença nos carrapatos A. coelebs, A. sculptum e A. scalpturatum,
o que evidencia a sua capacidade de infectar diferentes espécies de carrapatos.
Dois exemplares de A. nodosum foram positivos na PCR mas apesar do
sequenciamento de nucleotídeos, não foi possível determinar a espécie Rickettsia
sp. responsável pela infecção.
CONCLUSÃO
Em suma, a partir deste estudo foi possível determinar a presença de
bactérias pertencentes ao gênero Rickettsia nos carrapatos avaliados, o que
representa uma informação muito importante pois contribui para o melhor
entendimento da circulação de agentes transmitidos por carrapatos na região de
estudo. Ademais, a circulação de riquétsias na natureza é um processo dinâmico
que envolve a participação de diferentes espécies de carrapatos e animais
vertebrados, de maneira que a vigilância epidemiológica ativa deve ser adotada
continuamente, a fim de determinar o surgimento de novas áreas endêmicas,
especialmente antes da infecção em seres humanos.
35
REFERÊNCIAS
ABARCA, K.; LÓPEZ, J.; ACOSTA-JAMETT, G.; LEPE, P.; SOARES, J.F.; LABRUNA, M. B. Athird Amblyomma species and the first tick-borne Rickettsia in Chile. Journal of Clinical Microbiology, v. 49, P. 219-222, 2012. ALVES, A. S.; MELO, A. L. T.; AMORIM, M. V.; BORGES, A. M. C. M.; SILVA, L. G.; MARTINS, T. F.; LABRUNA, M. B.; AGUIAR, D. M.; PACHECO, R. C. Seroprevalence of Rickettsia spp. in equids and molecular detection of ‘Candidatus Rickettsia amblyommii’ inAmblyomma cajennense sensu lato ticks from the Pantanal region of Mato Grosso,Brazil. Journal of Medical Entomology, v. 51, p. 1242–1247, 2014.
ALTSCHUL, S. F.; GISH, W.; MILLER, W.; MYERS, E. W.; LIPMAN, D.J. Basic local alignment search tool. Journal of Molecular Biology, 215, 403-410, 1990. APPERSON, C. S.; ENGBER, B.; NICHOLSON, W. L.; MEAD, D. G.; ENGEL, J.; YABSLEY, M. J.; DAIL, K.; JOHNSON, J.; WATSON, D. W. Tickborne diseases in North Carolina: is ‘‘Rickettsia amblyommii’’ a possible cause of rickettsiosis reported as Rocky Mountain spotted fever? Vector-Borne and Zoonotic Diseases, v. 8, n. 5, p. 597–606, 2008. BARRETT, A.,LITTLE, S.; SHAW, E. ‘‘Rickettsia amblyommii ’’ and R. montanensis Infection in Dogs Following Natural Exposure to Ticks. Vector-Borne and Zoonotic Diseases, v. 14, p. 20-25, 2014. BARROS-BATTESTI, D. M.; ARZUA, M.; BECHARA, G.H. (Ed). Carrapatos de importância médico-veterinária da região neotropical: um guia ilustrado para identificação de espécies. São Paulo: Vox/ICTTD-3/Butantan; 2006: 53-113. BLAIR, P. J.; JIANG, J.; SCHOELER, G. B.; MORON, C.; ANAYA, E.; CESPEDES, M.; CRUZ, C.; FELICES, V.; GUEVARA, C.; MENDOZA, L.; VILLASECA, P.; SUMMER, J. W.; RICHARDS, A. L.; OLSON, J. G. Characterization of spotted fever group Rickettsiae in flea and tickspecimens from Northern Peru. Journal of Clinical Microbiology, v. 42, p. 4961–4967, 2004. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Meio Ambiente. 2012. Disponível em: < http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2012/04/fauna-silvestre> Acesso em: 30/10/2017. CONTI-DÍAZ, I. A.; MORAES-FILHO, J.; PACHECO, R. C.; LABRUNA, M. B.
Serological evidence of Rickettsia parkeri as the etiological agent of rickettsiosis in
Uruguay. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo, v 51, p. 337–
339, 2009.
DELISLE, J.; MENDELL, N. L.; STULL-LANE, A.; BLOCH, K. C.; BOUYER, D. H., MONCAYO, A. C. Human Infections by Multiple Spotted Fever Group Rickettsiae in
36
Tennessee. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 94, p. 1212-1217, 2016.
DUMLER, J. S.; BARBET, A. F.; BEKKER, C. P. J.; DASCH, G. A.; PALMER, G. H.; RAY, S. C.; RIKIHISA, Y.; RURANGIRWA, F. R. Reorganization of genera in the families Rickettsiaceae and Anaplasmataceae in the order Rickettsiales: unification of some species of Ehrlichia with Anaplasma, Cowdria with Ehrlichia and Ehrlichia with Neorickettsia, descriptions of six new species combinations and designation of Ehrlichia equi and HGE agent as subjective synonyms of Ehrlichia phagocytophila. International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, v. 51: p. 2145-2165. 2001. FERRARI, F. A.; GODDARD, J.; MORARU, G. M.; SMITH, W. E.; VARELA-STOKES, A. S. Isolation of ‘Candidatus Rickettsia andeanae’ (Rickettsiales: Rickettsiaceae) inembryonic cells of naturally infected Amblyomma maculatum (Ixodida:Ixodidade). Journal of Medical Entomology, v. 50, p. 1118–1125, 2013. GRAVES, S.; STENOS, J. Rickettsioses in Australia. Annals of the New York Academy of Sciences, v. 1166, p. 151–155, 2009. HOOGSTRAAL, H. Ticks in relation to humam diseases caused by rickettsia species. Annual Review Entomology, v. 12, p.377-420, 1967. HORTA, M. C.; NASCIMENTO, G. F.; MARTINS, T. F.; LABRUNA, M. B.; MACHADO, L. C. P.; NICOLA, P. A. Ticks (Acari: Ixodida) parasitizing free-living wild animals in the Caatinga biome in the State of Pernambuco, northeastern Brazil. Systematic and Applied Acarology, v. 16, p. 207–211, 2011. LABRUNA, M. B.; WHITWORTH, T.; HORTA, M. C.; BOUYER, D. H.; MCBRIDE, J. W.; PINTER, A.; POPOV, V.; GENNARI, S. M.; WALKER, D. H. Rickettsia species infecting Amblyomma cooperi ticks from an area in the state of Sao Paulo, Brazil, where Brazilian spotted fever is endemic. Journal of Clinical Microbiology, v. 42, p. 90-98, 2004. LABRUNA, M. B., Jorge, R. S., SANA, D. A. Ticks (Acari: Ixodida) on wild carnivores in Brazil. Experimental and Applied Acarology, v. 36, p. 149–163, 2005. LABRUNA, M. B.; OGRZEWALSKA, M.; MORAES-FILHO, J.; LEPE, P.; ALLEGOS, J. L.; LÓPEZ, J. Rickettsia felis in Chile. Emerging Infectious Diseases, v. 13, n. 11, p. 1794-1795, 2007. LABRUNA, M. B. Ecology of rickettsia in South America. Annals of the New York Academy of Sciences, v. 1166, p. 156-66, 2009. LUGARINI, C.; MARTINS, T. F.; OGRZEWALSKA, M. Rickettsial agents in avian ixodid ticks in northeast Brazil. Ticks and Tick-borne Diseases, v. 6, n. 3, p. 364-375, 2015. MARTINS, T. F.; ONOFRIO, V. C.; BARROS-BATTESTI, D. M.; LABRUNA, M. B. Nymphs of the genus Amblyomma Acari: Ixodidae) of Brazil: descriptions,
37
redescriptions, and identification key. Ticks and Tick-borne Diseases, v. 1, p. 75-99, 2010. MARTINS, T. F.; VENZAL, J. M.; TERASSINI, F. A.; COSTA, F. B.; MARCILI, A.; CAMARGO, L. M.; BARROS-BATTESTI, D. M.; LABRUNA, M. B. New tick records from the state of Rondônia, western Amazon, Brazil. Experimental and Applied Acarology, v. 62, p. 121-128, 2014. MELO, A. L.; MARTINS, T. F.; HORTA, M. C.; MORAES-FILHO, J.; PACHECO, R. C.; LABRUNA, M. B.; AGUIAR, D. M. Seroprevalence and risk factors to Ehrlichia spp. and Rickettsiaspp. in dogs from the Pantanal Region of Mato Grosso State, Brazil. Ticks and Tick-borne Diseases, v. 2, p. 213–218, 2011. MELO, A. L. T.; ALVES, A. S.; NIERI-BASTOS, F. A.; MARTINS, T. F.; WITTER, R.; PACHECO, T. A.; SOARES, H. S.; MARCILI, A.; CHITARRA, C. S.; DUTRA, V.; NAKAZATO, L.; PACHECO, R. C.; LABRUNA, M. B.; AGUIAR, D. M. Rickettsia parkeri infesting free-livingAmblyomma triste ticks in the Brazilian Pantanal. Ticks and Tick-borne Diseases, v. 6, p. 237–241, 2015. MONJE, L. D.; NAVA, S.; ANTONIAZZI, L. R.; COLOMBO, V. C.; BELDOMENICO, P. M. In vitroisolation and infection intensity of Rickettsia parkeri in Amblyomma triste ticksfrom the Paraná River Delta region, Argentina. Ticks and Tick-borne Diseases, v. 5, p. 924-927, 2014. NAVA, S.; ELSHENAWY, Y., EREMEEVA, M. E., SUMNER, J. W. MASTROPAOLO, M.; PADDOCK, C. D. Rickettsia parkeri in Argentina. Emerg. Infect. Dis. 14, 1894–1897, 2008. NAVA S.; BEATI, L.; LABRUNA, M. B.; CÁCERES, A. G.; MANGOLD, A. J.; GUGLIELMONE, A. A. Reassessment of the taxonomic status of Amblyomma cajennense(Fabricius, 1787) with the description of three new species, Amblyommatonelliae n. sp., Amblyomma interandinum n. sp. and Amblyomma patinoi n.sp., and resurrection of Amblyomma mixtum Koch, 1844 and Amblyommasculptum Berlese, 1888 (Ixodida: Ixodidae). Ticks and Tick-borne Diseases, v. 5, p. 252–276, 2014. NIERI-BASTOS, F. A.; LOPES, M. G.; CANÇADO, P. H. D.; ROSSA, G. A. R.; FACCINI, J. L. H. GENNARI, S. M.; LABRUNA, M. B. Candidatus Rickettsia andeanae, a spotted fevergroup agent infecting Amblyomma parvum ticks in two Brazilian biomes. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 109, p. 259–261, 2014. OGRZEWALSKA, M.; LITERAK, I.; MARTINS, T. F.; LABRUNA, M. B. Rickettsial infections in ticks from wild birds in Paraguay. Ticks and Tick-borne Diseases, v. 5, n. 2, p. 83-89, 2014. PACHECO, R. C.; VENZAL, J. M.; RICHTZENHAIN, L. J.; LABRUNA, M. B. Rickettsia parkeriin Uruguay. Emerging Infectious Diseases, v. 12, p. 1804–1805, 2006. PACHECO, R. C.; HORTA, M. C.; MORAES-FILHO, J.; ATALIBA, A. C.; PINTER, A.;
38
LABRUNA, M. B. Rickettsial infection in capybaras (Hydrochoerus hydrochaeris) from São Paulo, Brazil: serological evidence for infection by Rickettsia bellii and Rickettsia parkeri. Biomédica, v. 27, p. 364-371, 2007. PADDOCK, C. D.; FOURNIER, P. E.; SUMNER, J. W.; GODDARD, J.; ELSHENAWY, Y.; METCALFE, M. G.; LOFTIS, A. D.; VARELA-TOKES, A. Isolation of Rickettsia parkeri and identification of novel spotted fever group Rickettsia sp. From Gulf Coast ticks (Amblyomma maculatum) in the United States. Applied and Environmental Microbiology, v. 76, p. 2689-2696, 2010. PAROLA, P.; PADDOCK, C. D.; RAOUL, D. Update on tick-borne rickettsioses around the world: a geographic approach. Clinical Microbiology Reviews, v. 26, p. 657–702, 2013.
PORTILLO, A.; GARCÍA-GARCÍA, C.; SANZ, M. M.; VENZAL, J. M.; OTEO, J. A. A
confirmed case of Rickettsia parkeri infection in a traveler from Uruguay. The
American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 89, p. 1203–1205, 2013.
REGNERY, R. L.; SPRUILL, C. L.; PLIKAYTIS, B. D. Genotypic identification of rickettsiae and estimation of intraspecies sequence divergence for portions of two rickettsial genes. Journal of Bacteriology, 173, 1576-1589, 1991. RIVAS, J.J.; MOREIRA-SOTO, A.; ALVARADO, G.; TAYLOR, L.; CALDERÓN-ARGUEDAS, O.; HUN, L.; CORRALES-AGUILAR, E.; MORALES, J. A.; TROYO, A. Pathogenic potential of a Costa Rican strain of “Candidatus Rickettsia amblyommii” in guinea pigs (Cavia porcellus) and protective immunity against Rickettsia rickettsii. Ticks and Tick-borne Diseases, v.6, p.805-811, 2015. ROMER, Y.; SEIJO, A. C.; CRUDO, F.; NICHOLSON, W. L.; VALERA-STOKES, A.; LASH, R. R. PADDOCK, C. D. Rickettsia parkeri rickettsiosis, Argentina. Emerging Infectious Diseases, v. 17, p. 1169–1173, 2011. SAITO, T. B.; CUNHA-FILHO, N. A.; PACHECO, R. C.; FERREIRA, F.; PAPPEN, F. G.; FARIAS, N. A.; LARSSON, C. E.; LABRUNA, M. B. Canine infection by Rickettsiae and Ehrlichiae in southern Brazil. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v 79, p. 102–108, 2008. SANGIONI, L. A.; HORTA, M. C.; VIANNA, M. C.; GENNARI, S. M.; SOARES, R. M.; GALVÃO, M. A.; SCHUMAKER, T. T.; FERREIRA, F.; VIDOTTO, O.; LABRUNA, M. B. Rickettsial infection in animals and Brazilian Spotted Fever endemicity. Emerging Infectious Diseases Journal, v. 11, p. 265-270, 2005. SARAIVA, D. G.; FOURNIER, G. F.; MARTINS, T. F.; LEAL, K. P.; VIEIRA, F. N.; CÂMARA, E. M.; COSTA, C. G.; ONOFRIO, V. C.; BARROS-BATTESTI, D. M.; GUGLIELMONE, A. A.; LABRUNA, M. B. Ticks (Acari: Ixodidae) associated with small terrestrial mammals in thestate of Minas Gerais, southeastern Brazil. Experimental and Applied Acarology, v. 58, p. 159-166, 2012.
39
SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE (SEMA). Mapa dos Biomas Mato-Grossenses. 2014. Disponível em: <http://www.sema.mt.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=170&Itemid=107> Acesso em: 04/11/2018. SILVA, M. E.; RIBEIRO, R. R.; COSTA, J. O.; MORAES-FILHO, J.; PACHECO, R. C.; LABRUNA, M. B. Prevalência de anticorpos anti-Rickettsia spp. em cães da cidade de Belo Horizonte, MG. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 62, n. 4, p. 1007-1010, 2010. SILVEIRA, I.; PACHECO, R. C.; SZABÓ, M. P.; RAMOS, H. G.; LABRUNA, M. B. Rickettsia parkeri in Brazil. Emerging Infectious Disiseases, v. 13, p. 1111-1113, 2007. SILVEIRA, I.; MARTINS, T. F.; OLEGÁRIO, M. M.; PETERKA, C.; GUEDES, E.; FERREIRA, F.; LABRUNA, M. B. Rickettsial infection in animals, humans and ticks in Paulicéia, Brazil. Zoonoses Public Health, v. 62, p. 525–533, 2015. SOARES, H.S.; BARBIERI, A. R.; MARTINS, T. F.; MINERVINO, A. H.; LIMA, J. T.; MARCILI, A.; GENNARI, S. M.; LABRUNA, M. B. Ticks and rickettsial infection in the wildlife of two regions of the Brazilian Amazon. Experimental and Applied Acarology, v. 65, p. 125–140, 2015. SPOLIDORIO, M. G.; ANDREOLI, G. S.; MARTINS, T. F.; BRANDÃO, P. E.; LABRUNA, M. B. Rickettsial infection in ticks collected from road-killed wild animals in Rio de Janeiro, Brazil. Journal of Medical Entomology, v. 49, p. 1510-1514, 2012. WIDMER, C. E.; AZEVEDO, F. C.; ALMEIDA, A. P.; FERREIRA, F.; LABRUNA, M. B. Tickbornebacteria in free-living jaguars (Panthera onca) in Pantanal, Brazil. Vector-Borne and Zoonotic Diseases, v.11, p. 1001–1005, 2011. WIKSWO, M. E.; HU, R.; DASCH, G. A.; KRUEGER, L.; ARUGAY, A.; JONES, K. HESS, B.; BENNETT, S.; KRAMER, V.; EREMEEVA, M. E. Detection and identication of spotted fever group rickettsiae in Dermacentor species from southern California. Journal of Medical Entomology, v. 45, p. 509-516, 2008. WITTER, R.; MARTINS, T. F.; CAMPOS, A. K.; MELO, A. L.T.; CORRÊA, S. H.R.; MORGADO, T. O.; WOLF, R. W.; MAY-JÚNIOR, J. A.; SINKOC, A. L.; STRÜSSMANN, C.; AGUIAR, D. M.; ROSSI, R. V.; SEMEDO, T. B. F.; CAMPOS, Z.; DESBIEZ, A. L.; LABRUNA, M. B. ; PACHECO, R. C. Rickettsial infection in ticks (Acari: Ixodidae) of wild animals in midwestern Brazil. Ticks and Tick-borne Diseases, v. 7, p. 415-423, 2016.
VENZAL, J. M.; ESTRADA-PEÑA, A.; PORTILLO, A.; CASTRO, O.; CABRERA, P. A.; OTEO, J. A. Rickettsia parkeri in Amblyomma triste from Uruguay. Emerging Infectious Diseases, v. 10, p. 1493-1495, 2004.
40
5 CONCLUSÕES GERAIS
Em suma, a partir deste estudo foi possível determinar a presença de
bactérias pertencentes ao gênero Rickettsia nos carrapatos avaliados, o que
representa uma informação muito importante pois contribui para o melhor
entendimento da circulação de agentes transmitidos por carrapatos na região de
estudo. Ademais, a circulação de riquétsias na natureza é um processo dinâmico
que envolve a participação de diferentes espécies de carrapatos e animais
vertebrados, de maneira que a vigilância epidemiológica ativa deve ser adotada
continuamente, a fim de determinar o surgimento de novas áreas endêmicas,
especialmente antes da infecção em seres humanos.