programa engenho teatral 05 2014 internet

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A estética não se separa das condições concretas de sua produção ZONA LESTE/SP MAIO/JUNHO – 2014 Sábados e Domingos – 19:00 horas Até 29/06/14 no Engenho Teatral Ingressos Grátis, na hora, no teatro Lotação: 200 lugares Estacionamento Gratuito no local Dentro do Clube Escola Tatuapé Rua Monte Serrat, 230 – fone 2092.8865 [email protected] • http://engenhoteatral.wordpress.com Estação Carrão do Metrô Patrocínio Realização A estética não se separa das condições concretas de sua produção

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Programa da peça Pequenas histórias que à História não contam, em cartaz no Engenho Teatral em maio/junho de 2014. Grátis.

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Page 1: Programa engenho teatral 05 2014 internet

A estética não se separa das condições concretas de sua produção

ZONA LESTE/SPMAIO/JUNHO – 2014

Sábados e Domingos – 19:00 horas Até 29/06/14 no Engenho TeatralIngressos Grátis, na hora, no teatroLotação: 200 lugaresEstacionamento Gratuito no local

Dentro do Clube Escola TatuapéRua Monte Serrat, 230 – fone 2092.8865 [email protected] • http://engenhoteatral.wordpress.com

Estação Carrão do MetrôPatrocínio

Realização

A estética não se separa das condições concretas de sua produção

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Maio / Junho de 20142 Engenho Teatral

historinha 1Na TV, caras e bocas anunciam as pessoas que “chegaram lá”: Ronaldo, Neymar, Gisele Bundchen, Sabrinas, o BBB do momento, o último funkeiro. Tudo é uma questão de competência, dom, dedicação, esforço pessoal...

Então, tá. Quer dizer, eu não cheguei lá, o meu salário é pequeno, o emprego é uma droga, o chefe é chato, tô desempregado, a PM me humilha, o PCC me cerca, o médico só vai me ver no ano que vem, minha escola é um horror e tudo isso é culpa minha?!! Isto é, eu não “cheguei lá” porque sou incompetente, não tenho nenhum dom, não me esforço nem me dedico o suficiente?!! Eu e os milhões e milhões de brasileiros comuns como eu?!

Pequenas histórias que à História não contam é um espetáculo que fala disso: de uma sociedade que exclui pessoas e não de pessoas excluídas. E tudo se passa num programa de televisão ou é parte de uma peça teatral que um escritor está escrevendo; só que ele também é personagem e não autor. Enfim, quem cria quem, quem é objeto de quem? Quem comanda? E quem constrói esse palco, esse mundo?

A encenação é uma espécie de colagem de personagens e situações que se justapõem, espécie de quebra-cabeças prá você brincar, montar, dar um sentido. Nada parecido com o que passa na TV, na novela, no filme americano. E você pode ver de graça no Engenho Teatral: informações neste jornal-programa

historinha 2O Engenho é um grupo que existe desde 1979. Em 93, abandonou o circuito comercial do centro e partiu pra periferia com um teatro especialmente construído para isso: para se apresentar de graça junto à população que não tem acesso ao teatro. Depois de rodar as 4 regiões de São Paulo, fixou-se, a partir de 2004, na Zona Leste.

É essa experiência de anos que ele passa a limpo: está encenando seu repertório mais recente. Quem nunca viu, pode ver agora. Quem viu, pode conferir de novo, em sequência: Cabaré do Avesso (outubro/dezembro de 2013) e Opereta de Botequim (março/abril deste ano) já foram; mas Pequenas histórias fica em cartaz em maio e junho, Em Pedaços se apresenta em agosto e setembro, Outro$ 500 reestréia em novembro e se estende até o meio de dezembro.

historinha 3Terminando a Copa do Mundo, do meio de julho até o meio de agosto, o Engenho Mostra Um Pouco Do Que Gosta: como faz há anos, o grupo traz coletivos e espetáculos significativos do teatro brasileiro para a Zona Leste. Neste ano, você poderá ver a Cia. do Tijolo, o Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, a Cia. do Feijão e o Coletivo Negro.

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Maio / Junho de 2014 3Engenho Teatral

Brasil, 1998, 2002. Crise econômica, desemprego, patrimônio público entregue aos donos da grana, periferia abandonada e esquecida pelo tal Estado mínimo. Crescem a violência, o tráfico, as mortes. Nada de direitos: se você quer alguma coisa, vá ao mercado e compre! Se não conseguir, a culpa é sua pois o mercado resolve tudo. Afinal, o mundo é dos indivíduos e quem for incompetente, que se dane!

Enquanto isso, até hoje, aqui e no mundo, a riqueza produzida por todos vai, cada vez mais, para os bancos e as grandes corporações, mergulhando bilhões de seres humanos na miséria. Um detalhe que mostra isso mas ninguém discute: quase metade do que o governo federal do Brasil arrecada vai direto pros banqueiros. São bilhões e bilhões de reais, mas a gente fica discutindo o “troco”, isto é, os mensalões, a Copa do Mundo, etc., etc. Tudo cortina de fumaça, distração.

Essa é a política do FMI – Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, que sabem: só polícia e leis não seguram esse estado de coisas, então, além da indústria cultural para esconder tudo e distrair todos, vamos bancar ONGs e projetos como as Fábricas de Cultura montadas na periferia para controlar a moçada, fabricar sonhos de inclusão (inclusão no quê, mesmo?!) e impedir a revolta. Essa é a política de muitos políticos e partidos, é a política da Veja, Folha, Globo, Estadão e cia. limitada, que se dizem neutros, democráticos, imparciais.

Nesse contexto, na periferia de São Paulo, um grupo de teatro resolve fazer um espetáculo sobre os indivíduos tão incensados pela propaganda e tão massacrados pela realidade, isto é, sobre eu, você, a maioria da população. Nascia Pequenas histórias que à História não contam: o texto foi criado em 1998, na Zona Norte, a partir de improvisações com atores; a peça estreou em 2002, no Campo

Limpo, Zona Sul. E é esse espetáculo, modificado, que você pode ver, gratuitamente, na Zona Leste, em maio e junho deste ano.

Os olhos de quem vê

Representar indivíduos ferrados é meio caminho andado para provocar compaixão, piedade, para envolver o espectador até às lágrimas. É o caminho das novelas e dos filmes americanos. É o caminho que vê o mundo a partir de historinhas de indivíduos e conflitos pessoais e privados.

Mas o Engenho não quer falar de pessoas excluídas e sim de uma sociedade que exclui as pessoas e ainda põe a culpa nelas. E num momento onde a articulação coletiva para um projeto de outro país ou sociedade não se coloca. Não há sonhos coletivos, apenas sonhos privados:

– O impossível meu, maior que o impensável nós!, alerta um dos personagens da peça, que completa: como fazer teatro sem diálogo, eu, você, sem nós?

O resultado é um desfile de depoimentos individuais, isolados, cada um com seu sonho particular. E tudo se passa num programa de auditório onde o apresentador trai o discurso da TV, ou numa peça que um escritor, ele próprio mais um personagem, escreve. Um coro interfere, comenta, critica. E briga com os comerciais de TV, reeditados para que mostrem, sem disfarces, a quem realmente servem.

Essa colagem ou justaposição de recursos e cenas impede que o espectador seja consumido pelas histórias pessoais: não há tempo para ele se envolver e se emocionar, o espetáculo salta de um ponto a outro constantemente para que o sentido do todo se imponha.

A idéia partiu do vídeo-clip e do comercial, onde dificilmente uma imagem permanece na tela mais

de 1 segundo. Ou dos programas do Faustão, por exemplo. Nele, você pensa ver e ouvir aquele cantor ou aquela celebridade. Mas o que você vê e ouve é sempre o programa do Faustão: junto ao cantor ou celebridade, quaisquer que sejam, vem a fala e a imagem do apresentador, as dançarinas, o público... O que você vê e ouve, ao fim e ao cabo, é sempre esse conjunto, não importa quem esteja no centro, o significado é sempre dado pela totalidade das imagens e sons selecionados.

Obviamente, essa aparente confusão é extremamente organizada e editada para mostrar a realidade com os olhos de quem comanda essa máquina.

Mas é possível usar os mesmos recursos para subvertê-los? Da aparente e caótica mistura feita para distrair tirar um significado que revele a realidade com outros olhos? E, com isso, divertir sem distrair?

Respostas com Pequenas histórias que à História não contam.

E como acaba tudo isso?

Aí, diz o espetáculo, a resposta é com você, desde que se veja como “nós”.

FICHA TÉCNICA

Até 29/06/14Sábados e Domingos, 19 horasNo Engenho TeatralIngressos Grátis na Hora, no Local75 Minutos de DuraçãoRecomendado para maiores de 14 anos(Não se proíbe a entrada de crian-ças acompanhadas)

Texto, Cenário, Iluminação e Direção: Luiz Carlos MoreiraElenco: Beto Nunes, Débora Miran-da, Dinho Prado, Irací Tomiatto, Juh VieiraMúsica: Fábio Prado e Cecília MoitaVídeo: Ana Carolina RodriguesReedição de vídeo: Diogo NoventaFigurinos: EngenhoPreparação Corporal: Kellyi AnjosTelas dos personagens: Costa Âvila, Juh VieiraAdereços: Silvana Marcondes, Juh VieiraConstrução do Cenário: Brasil e equipeOperação de Luz: Carolina CoelhoOperação de Som e Vídeo: Hiles MoraesProgramação Visual: Agnaldo NicoletiPortaria: Dirce AnneAtividades de Apoio: Miguel Novaes NetoFotos: Xandi Gonça, João Valério, Adriana Kostiw, Irací Tomiatto

Visite nosso blog:[email protected]

UMA HISTÓRIA NADA OFICIAL

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Maio / Junho de 20144 Engenho Teatral

Perguntas de um trabalhador que lê

Por Bertolt Brecht

Quem construiu Tebas, a cidade das sete portas?Nos livros estão nomes de reis;os reis carregaram as pedras?E Babilônia, tantas vezes destruída, quem a reconstruía sempre? Em que casas da dourada Lima viviam aqueles que a construíram?No dia em que a Muralha da China ficou pronta,para onde foram os pedreiros?A grande Roma está cheia de arcos-do-triunfo:quem os erigiu? Sobre quemtriunfaram os Césares? A tão cantada Bizânciosó tinha palácios para seus habitantes?Até a legendária Atlântidana noite em que o mar a engoliuviu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou a Índia.Sozinho?César ocupou a Gália.Não estava com ele nem mesmo um cozinheiro? Felipe da Espanha chorou quando sua armada naufragou. Foi o único a chorar?Frederico 2º venceu a Guerra dos Sete Anos. Quem partilhou da vitória?

A cada página uma vitória.Quem preparava os banquetes? A cada dez anos um grande homem.Quem pagava as despesas?

Tantas histórias, Tantas questões