proposta de metodologia para a coleta de dados de escores visuais para programas de melhoramento

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PROPOSTA DE METODOLOGIA PARA A COLETA DE DADOS DE ESCORES VISUAIS PARA PROGRAMAS DE MELHORAMENTO 1 William Koury Filho 2 , Lúcia Galvão de Albuquerque 3 1 Trabalho apoiado pela CAPES. 2 Doutorando pelo Curso de Zootecnia (Produção animal) da FCAV UNESP/Jaboticabal, e-mail [email protected] 3 Professora Assistente Dra. da FCAV UNESP/Jaboticabal - CNPq e-mail [email protected] O olho humano, utilizado desde o início do processo de domesticação dos bovinos, é a mais antiga ferramenta de seleção de animais com características desejadas pelo homem. Quando características medidas objetivamente foram incorporadas na seleção de bovinos de corte, ocupando lugar de destaque em programas de melhoramento animal, o peso em suas diferentes maneiras de ser expresso passou a ser a mensuração mais utilizada, seguido de perímetro escrotal e outras características reprodutivas. Porém, poucos são os programas de avaliação genética que contemplam características avaliadas visualmente. No Brasil a grande realidade é a criação de animais a pasto, com suplementação mineral. A seleção para peso nas diferentes idades, ao longo do tempo, resulta em animais de maiores pesos a idades adultas, conseqüentemente mais exigentes quanto aos requerimentos nutricionais. Assim fica evidente que: “a seleção não pode ser pensada somente em peso, mas sim na composição e distribuição do peso” (SEMINÁRIO NACIONAL, 1996). KOURY FILHO et al. (2000), dizem ser importante o subsídio que as avaliações visuais a campo podem dar para as pistas de julgamento, quantificando o que empiricamente é tido como melhor, através das estimativas de herdabilidades e correlações dos escores visuais com características produtivas e reprodutivas. Para uma pecuária de corte mais produtiva no país, é preciso que o modelo de animal preferido nas pistas de julgamento seja igual ao modelo do animal produtivo que os programas de melhoramento identificam. É provável que os escores visuais sejam a única fórmula de viabilizar esta integração (SEMINÁRIO NACIONAL, 1996). Existem hoje diversas metodologias de avaliação visual, sendo que todas elas tiveram influência do sistema ANKONY de avaliação (LONG, 1973). No Brasil, as mais conhecidas metodologias são: a avaliação de tipo denominada PHRAS utilizada pela ABCZ; a metodologia empregada pelo PROBOV, que contempla oito características; e, a metodologia CPMU, que é utilizada pelos programas de melhoramento da CFM, Aliança e Conexão Delta G. Esta última, é a única que atualmente resulta em DEP’s disponíveis para serem utilizadas pelos produtores. O detalhamento das metodologias citadas estão na dissertação de mestrado de KOURY FILHO (2001). A partir da redefinição de algumas características já utilizadas, e da inclusão de outras inéditas, o presente estudo propõe uma metodologia de avaliação visual que poderá ser incorporada em programas de melhoramento genético animal. As características eleitas e suas respectivas importâncias são: - Estrutura Corporal (E): Prediz visualmente a área que o animal abrange visto de lado, olhando-se basicamente para o comprimento corporal e profundidade de costelas. Justificativa: A área que o animal abrange está intimamente ligada aos seus limites em deposição de tecido muscular e, avaliada em conjunto com precocidade e musculosidade, dá uma noção mais precisa do biótipo do indivíduo. - Precocidade (P): A avaliação do biótipo mais precoce é realizada com base na deposição de gordura subcutânea, buscando animais de melhores proporções de profundidade de costelas em relação à altura de membros. Observa-se, também, o arredondamento das massas musculares, baseada em menos “pontas” ou ossos salientes (ílieo, ísquio, costelas e escápula), além do enfoque principal em pontos específicos como a inserção da cauda, a maçã do peito, a paleta e a coluna vertebral. Justificativa: Os sistemas de resfriamento dos frigoríficos brasileiros exigem camada mínima de espessura de gordura de acabamento de 3 a 6 mm uniformemente distribuídas pela carcaça, para que não haja escurecimento da carne e encurtamento das fibras musculares pelo resfriamento rápido (cold shortening), que fazem com que a carne perca uma série de qualidades. Além disso, animais mais precoces permanecem menos tempo nos pastos e/ou confinamentos, encurtando o ciclo de produção, aumentando a eficiência da atividade e, conseqüentemente, os lucros do produtor. - Musculosidade (M): A musculosidade é avaliada através da convexidade e da distribuição das massas musculares, dando ênfase ao posterior e à linha dorso-lombar, regiões onde estão situados os cortes nobres. Justificativa: Animais mais musculosos e com os músculos bem distribuídos pelo corpo, além de pesarem mais na balança, apresentam ainda melhor rendimento e qualidade da carcaça, o que reflete diretamente no bolso do pecuarista. - Umbigo (U): É avaliada a partir de uma referência do tamanho e do posicionamento do umbigo. Justificativa: A maioria dos rebanhos é criada em grandes áreas de pastagem, e nos machos, umbigos (bainha, prepúcios e umbigo) de maior tamanho e/ou pendulosos, são mais susceptíveis a patologias muitas vezes irreversíveis ou extremamente complicadas em termos de manejo curativo. - Aptidão ao controle (AC): No momento da concessão do registro genealógico de nascimento (RGN), automaticamente os animais serão classificados em aptos ou inaptos. O profissional responsável levará consigo uma planilha que contemplará características de desenvolvimento, funcionais e raciais, assinalando com um (x) os defeitos

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"Proposta de Metodologia para a Coleta de Dados de Escores Visuais para Programas de Melhoramento", é um resumo publicado nos anais do V Congresso Brasileiro das Raças Zebuínas, promovido pela ABCZ em Uberaba, MG. Essa proposta foi o grande passo para a criação do EPMURAS. Referência Bibliográfica: KOURY FILHO, W.; ALBUQUERQUE, L.G.; Proposta de metodologia para coleta de dados de escores visuais para programas de melhoramento. In: CONGRESSO BRASILEIRO DAS RAÇAS ZEBUÍNAS, 5., Uberaba, 2002. Anais... Uberaba, 2002, p. 264-266.

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Page 1: Proposta de Metodologia para a Coleta de Dados de Escores Visuais para Programas de Melhoramento

PROPOSTA DE METODOLOGIA PARA A COLETA DE DADOS DE E SCORES VISUAIS PARA PROGRAMAS DE MELHORAMENTO 1

William Koury Filho 2, Lúcia Galvão de Albuquerque3

1Trabalho apoiado pela CAPES. 2Doutorando pelo Curso de Zootecnia (Produção animal) da FCAV UNESP/Jaboticabal, e-mail [email protected] 3Professora Assistente Dra. da FCAV UNESP/Jaboticabal - CNPq e-mail [email protected]

O olho humano, utilizado desde o início do processo de domesticação dos bovinos, é a mais antiga ferramenta de

seleção de animais com características desejadas pelo homem. Quando características medidas objetivamente foram incorporadas na seleção de bovinos de corte, ocupando lugar

de destaque em programas de melhoramento animal, o peso em suas diferentes maneiras de ser expresso passou a ser a mensuração mais utilizada, seguido de perímetro escrotal e outras características reprodutivas. Porém, poucos são os programas de avaliação genética que contemplam características avaliadas visualmente.

No Brasil a grande realidade é a criação de animais a pasto, com suplementação mineral. A seleção para peso nas diferentes idades, ao longo do tempo, resulta em animais de maiores pesos a idades adultas, conseqüentemente mais exigentes quanto aos requerimentos nutricionais. Assim fica evidente que: “a seleção não pode ser pensada somente em peso, mas sim na composição e distribuição do peso” (SEMINÁRIO NACIONAL, 1996).

KOURY FILHO et al. (2000), dizem ser importante o subsídio que as avaliações visuais a campo podem dar para as pistas de julgamento, quantificando o que empiricamente é tido como melhor, através das estimativas de herdabilidades e correlações dos escores visuais com características produtivas e reprodutivas.

Para uma pecuária de corte mais produtiva no país, é preciso que o modelo de animal preferido nas pistas de julgamento seja igual ao modelo do animal produtivo que os programas de melhoramento identificam. É provável que os escores visuais sejam a única fórmula de viabilizar esta integração (SEMINÁRIO NACIONAL, 1996).

Existem hoje diversas metodologias de avaliação visual, sendo que todas elas tiveram influência do sistema ANKONY de avaliação (LONG, 1973). No Brasil, as mais conhecidas metodologias são: a avaliação de tipo denominada PHRAS utilizada pela ABCZ; a metodologia empregada pelo PROBOV, que contempla oito características; e, a metodologia CPMU, que é utilizada pelos programas de melhoramento da CFM, Aliança e Conexão Delta G. Esta última, é a única que atualmente resulta em DEP’s disponíveis para serem utilizadas pelos produtores. O detalhamento das metodologias citadas estão na dissertação de mestrado de KOURY FILHO (2001).

A partir da redefinição de algumas características já utilizadas, e da inclusão de outras inéditas, o presente estudo propõe uma metodologia de avaliação visual que poderá ser incorporada em programas de melhoramento genético animal. As características eleitas e suas respectivas importâncias são:

- Estrutura Corporal (E) : Prediz visualmente a área que o animal abrange visto de lado, olhando-se basicamente para o comprimento corporal e profundidade de costelas.

Justificativa: A área que o animal abrange está intimamente ligada aos seus limites em deposição de tecido muscular e, avaliada em conjunto com precocidade e musculosidade, dá uma noção mais precisa do biótipo do indivíduo.

- Precocidade (P): A avaliação do biótipo mais precoce é realizada com base na deposição de gordura subcutânea, buscando animais de melhores proporções de profundidade de costelas em relação à altura de membros. Observa-se, também, o arredondamento das massas musculares, baseada em menos “pontas” ou ossos salientes (ílieo, ísquio, costelas e escápula), além do enfoque principal em pontos específicos como a inserção da cauda, a maçã do peito, a paleta e a coluna vertebral.

Justificativa: Os sistemas de resfriamento dos frigoríficos brasileiros exigem camada mínima de espessura de gordura de acabamento de 3 a 6 mm uniformemente distribuídas pela carcaça, para que não haja escurecimento da carne e encurtamento das fibras musculares pelo resfriamento rápido (cold shortening), que fazem com que a carne perca uma série de qualidades. Além disso, animais mais precoces permanecem menos tempo nos pastos e/ou confinamentos, encurtando o ciclo de produção, aumentando a eficiência da atividade e, conseqüentemente, os lucros do produtor.

- Musculosidade (M): A musculosidade é avaliada através da convexidade e da distribuição das massas musculares, dando ênfase ao posterior e à linha dorso-lombar, regiões onde estão situados os cortes nobres.

Justificativa: Animais mais musculosos e com os músculos bem distribuídos pelo corpo, além de pesarem mais na balança, apresentam ainda melhor rendimento e qualidade da carcaça, o que reflete diretamente no bolso do pecuarista.

- Umbigo (U): É avaliada a partir de uma referência do tamanho e do posicionamento do umbigo. Justificativa: A maioria dos rebanhos é criada em grandes áreas de pastagem, e nos machos, umbigos (bainha,

prepúcios e umbigo) de maior tamanho e/ou pendulosos, são mais susceptíveis a patologias muitas vezes irreversíveis ou extremamente complicadas em termos de manejo curativo.

- Aptidão ao controle (AC): No momento da concessão do registro genealógico de nascimento (RGN), automaticamente os animais serão classificados em aptos ou inaptos. O profissional responsável levará consigo uma planilha que contemplará características de desenvolvimento, funcionais e raciais, assinalando com um (x) os defeitos

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permissíveis e desclassificatórios As características que não forem assinaladas indicam a performance satisfatória do indivíduo para as mesmas.

Justificativa: A partir desses dados será possível, por exemplo, saber que o touro X produz 90% de filhos aptos ao controle, sendo que dos 10% inaptos, 4% são por desvio de chanfro e 6% por despigmentação. A característica AC, é importante para os programas de melhoramento de animais puros, uma vez que seja economicamente importante para os criadores, identificarem os reprodutores que produzem mais, e os que produzem menos filhos(as) que sejam aptos ao registro. Já a descrição detalhada, que contemplarão as características assinaladas no momento do controle, poderá servir como ferramentas bastante funcionais para serem utilizadas em programas de acasalamento dirigido.

- Aptidão ao registro (AR): Esta característica segue exatamente o mesmo roteiro descrito na AC, só que os dados serão coletados no momento da concessão do registro genealógico definitivo (RGD).

A metodologia proposta neste trabalho, deve coletar dados apropriados para serem analisados em programas de melhoramento animal. Para as características E, P e M, recomenda-se que os escores devam ser atribuídos aos animais, de acordo com a média do grupo de manejo avaliado, ou seja, para um grupo de animais com pouca diferença de idade e criados sob as mesmas condições de ambiente, para que assim se consiga uma maior amplitude de notas, separando assim o “joio” do “trigo”, pois se os escores são atribuídos com relação a uma referência absoluta, as notas tendem a permanecer ao redor da média (FRIES, 1996). A sugestão é a utilização de uma escala que vai de 1 a 5, assim os animais 1 e 2 seriam o fundo, os 3 a média, e os 4 e 5 a cabeceira do lote avaliado (FRIES, 1996). A avaliação para U segue a mesma escala descrita anteriormente, mas os escores de 1 a 5 serão atribuídos de acordo com uma referência pré-estabelecida.

Para a análise da característica AC e AR, os animais inaptos receberão escore 0 e os aptos receberão escore 1. Já as características que detalharão o indivíduo, coletadas com um (x) no momento do controle, serão enquadradas em uma, de três classes, classes 1 - quando o defeito for desclassificatório; classe 2 - quando existir o defeito permissível e classe 3 - quando o animal não exibe o defeito.

Algumas importantes dicas a serem seguidas para que os dados sejam confiáveis serão descritas a seguir. Ao realizar-se a avaliação visual de um determinado lote de animais que formem grupos de contemporâneos, é importante lembrar que a mesma deve: 1) ser feita pelo(s) mesmo(s) avaliador(es) que deve(m) ter em mente o biótipo referência e as definições de cada característica em questão, sabendo com precisão que região do animal deve ser observada; 2) ser individual para cada animal e característica. Vale lembrar que os indivíduos estão sendo comparados dentro do respectivo grupo de contemporâneos, portanto a observação do lote antes do momento da avaliação é fundamental para que se identifique a média do grupo para as diferentes características avaliadas. Já a nota de umbigo, será dada a partir de uma referência pré-estabelecida; 4) procurar avaliar os animais sob o mesmo campo de visão, a pé ou montado a cavalo; 5) não considerar o pedigree do animal, nem dados dos seus genitores; 6) ser realizada de forma rápida e precisa, preferencialmente após as pesagens de controle de desenvolvimento ponderal, no sentido de facilitar o manejo da propriedade.

Além disso, para que os dados coletados sejam confiáveis, é imprescindível que os profissionais envolvidos nas avaliações visuais passem por treinamento no sentido de “calibrarem os olhos”, e que periodicamente haja reciclagens dos conceitos e discussão dos resultados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FRIES, L.A. Uso de escores visuais em programas de seleção para a produtividade em gado de corte. In: SEMINÁRIO NACIONAL- REVISÃO DE CRITÉRIOS DE JULGAMENTO E SELEÇÃO EM GADO DE CORTE. Anais. Uberaba, 1996. p.1-6. KOURY FILHO, W.; FERRAZ, J.B.S.; ELER, J.P.; BORGATTI, L.M.O. Importância do uso de avaliações visuais e medidas morfométricas em programas de seleção em bovinos de corte. In: CONGRESSO BRASILEIRO DAS RAÇAS ZEBUÍNAS, 4., Uberaba, 2000. Anais. Uberaba, 2000, p. 342-346. KOURY FILHO, W. Análise genética de escores de avaliações visuais e suas respectivas relações com desempenho ponderal na raça Nelore. Pirassununga, 2001. 82 p. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, USP. LONG. R.L.; El sistema de evaluación de Ankony y su aplicación en la mejora del ganado. Colorado. Ankony Corporation, 20p. 1973 SEMINÁRIO NACIONAL. Revisão de critérios de seleção e julgamento em gado de corte. ABCZ: Uberaba - MG, 1996. p.43.