proposta plano de dissertação ines batista 24459

15
130+&5"3 " .&.ª3*" 6N PMIBS TPCSF P 1BUSJNÊOJP *OEVTUSJBM EF 7JMB 3FBM EF 4BOUP "OUÊOJP

Upload: ines-batista

Post on 28-Mar-2016

217 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: Proposta plano de dissertação ines batista 24459

PROJETAR A MEMÓRIA:Um olhar sobre o Património Industrial de Vila Real de Santo António

Page 2: Proposta plano de dissertação ines batista 24459

UNIVERSIDADE DE ÉVORA - ESCOLA DAS ARTES

DEPARTAMENTOArquitetura

TÍTULO DA DISSERTAÇÃOProjetar a Memória: Um Olhar Sobre o Património Industrial de Vila Realde Santo António

NOME DA ALUNAInês Palma Godinho Batista | 24459 |

DISSERTAÇÃO DE MESTRADOMestrado Integrado em Arquitetura

ORIENTADOR CIENTÍFICOProfessor Daniel Nicolas Jiménez Ferrera

CO-ORIENTADOR CIENTÍFICOProfessor Jorge Alberto dos Santos Croce Rivera

DATAAbril, 2014

PROPOSTA DO PLANO DE DISSERTAÇÃO

Page 3: Proposta plano de dissertação ines batista 24459

RESUMO

Em 1773, Vila Real de Santo António, recebeu na sua fundação a sede da Companhia Geraldas Pescarias Reais, no âmbito do projeto de “restauração” do Reino do Algarve, que seencontrava em perfeita sintonia com o ideário emergente na Europa - o Iluminismo.Executado no governo do Marquês de Pombal e com estratégias políticas, administrativase económicas mais vantajosas, definiu-se o carácter manufactor da nova urbe algarvia quetinha na Pesca e Produção de Conservas, as suas principais atividades.Como em todas as cidades, Vila Real de Santo António, foi alvo de grandes mudançasdevido ao crescimento repentino e descontrolado da população. O crescimento industrialexpandiu-se por toda a zona ribeirinha, que molda a estrutura urbana desde a sua criação,no final do século XVIII, até há crise das indústrias no século XX. Traduzida através desoluções arquitetónicas simples, as novidades introduzidas nas unidades conserveirasmodernas - Fábricas, dão um novo destaque há cidade, embora os modelos formais econstrutivos usados na sua concepção tenham sido já reproduzidos nas salgaspombalinas.Esta investigação leva ao reconhecimento de um lugar como registo de um patrimónioindustrial, procurando caracteriza-lo quanto há inserção urbana e ao tipo de elementos

arquitetónicos, que pelo seu carácter são dignos de ser valorizados e salvaguardados. É

neste sentido, que se apontam soluções e se criam "chaves" de leitura à memória materiale imaterial, que se constiui igualmente de rostos e memórias das gentes que durantedécadas fizeram desta atividade conserveira uma das localidades-cenário daindustrialização.

PALAVRAS-CHAVE: Vila Real de Santo António, Património Industrial, Memória, Fábricas,Indústria Conserveira, Salvaguarda,

Page 4: Proposta plano de dissertação ines batista 24459

PROJETAR A MEMÓRIA :

Page 5: Proposta plano de dissertação ines batista 24459

PROJETAR A MEMÓRIA :

01 INTRODUÇÃO

1.1 Motivação1.2 Objeto e Objetivo1.3 Metodologia1.4 Estado de Arte

2.1 Vila Real de Santo António e o conceito de Vila-Fábrica2.2 Entre o Rio Guadiana e o Mar: Instalação do porto comercial2.3 Transformações sociais e territorialização da Indústria Conserveira

02 O TERRITÓRIO DA URBANIZAÇÃO INDUSTRIAL

03 TRANSFORMANDO A AVENIDA DA REPÚBLICA NUM ARRUAMENTO MODERNO

04 PROJETAR A MEMÓRIA

05 CONSIDERAÇÕES FINAIS

06 BIBLIOGRAFIA

07 APÊNDICE DOCUMENTAL E VISUAL

08 ANEXOS

3.1 A expansão da frente urbana: os novos edificios 3.1.1 Os anos 20 e 30 - Experiências na produção industrial 3.1.2 Os anos 40 - A arquitetura industrial do Estado Novo 3.1.3 Os anos 50 e 60 - Da modernização ao fim da Arquitetura Industrial3.2 Confrontos: lógica industrial oitocentista vsa nova dimensão industrial3.3 Evolução das técnicas de construção e organização espacial em edifícios fabris

RESUMO

3345

9

4.1 Registos de um Passado Industrial na Atualidade4.2 Os Novos usos e as novas adaptações programáticas 4.2.1 Análise comparativa: Entre o Barlavento e o Sotavento - o caso de Portimão4.3 Proteger a Memória 4.3.1 O Diálogo imaterial como preservação de uma identidade

5.1 Por uma sustentabilidade do património industrial de Vila Real de Santo António 5.1.1 Dilemas e Oportunidades5.2 Conclusões finais

ÍNDICE (esquema inicial)

Page 6: Proposta plano de dissertação ines batista 24459

01

PROJETAR A MEMÓRIA :

Page 7: Proposta plano de dissertação ines batista 24459

02

PROJETAR A MEMÓRIA :

Page 8: Proposta plano de dissertação ines batista 24459

03

PROJETAR A MEMÓRIA :

A história da urbe portuguesa na foz do Guadiana pertence ao iluminismo. Contudo, estenão é o único motivo pela qual a cidade de Vila Real de Santo António é conhecida. A vila,agora cidade, foi palco de modelos de organização fabril que se sentiram até 1970,transmitindo-se como solução arquitetónica tanto no algarve e outras do país; merece porisso destaque no território nacional. Importante Pólo Industrial, esta vocação constituiu umestímulo à sua evolução fabril.Com a crise da indústria a partir do final do século XX, assiste-se em Portugal a umprocesso de desindustrialização de algumas regiões, e Vila Real de Santo António não éexcepção. Este processo desencadeou profundas alterações económicas que resultam doprogresso científico e tecnológico da época e estão associadas à extinção de unidades deprodução, desativação de edifícios, obsolescência de equipamentos e novos modos deorganização do território. Por este motivo, a evolução e modernização nesses espaços foiparalisada e obrigaram a cidade a interromper as suas origens conserveiras e o seu papelna história da indústria.Esta dissertação visa portanto um estudo sobre a arquitetura industrial e evolução urbanarelacionada com a atividade da indústria conserveira numa zona delimitada pelo rioGuadiana na cidade de Vila Real de Santo António, concebida no chamado Novo Regimeapós a Revolução industrial em meados do século XIX.Logo, importa a esta investigação estabelecer alguns critérios que possam influenciar deforma positiva futuras investigações em relação à Indústria na zona sul de Portugal, etambém fornecer elementos necessários que melhorem o conhecimento do patrimóniomaterial e imaterial da urbe, conservando e enriquecendo a memória e identidade cultural.

divulgar estes vestígios deixados pela indústria, que com diferentes valores e identidades,caracterizam uma sociedade, que na sua maioria permanece vulnerável.Existem muitos testemunhos que integram este universo, desde edificações isoladas, aconjuntos ou sítios, que definidos pelos diversos programas construtivos ou pelasdiferentes funções em articulação com o território envolvem questões de preservação devalores culturais que interessa à disciplina da arquitetura. Só assim, é possivel contribuirde forma significativa na gestão desses recursos e constituir um mecanismo dedesenvolvimento sustentável entre o passado e presente, mantendo viva a singularidadeda identidade de cada local. Logo é necessário que se criem registos que deem a conhecereste universo que integra o território nacional.Atualmente, pouco nos resta do património industrial conserveiro de Vila Real de SantoAntónio. O abandono inglorioso a que foi votado, por parte das autoridades vilarealenses,poderá levar à extinção de uma memória coletiva, diluindo-se assim a nossa própriaidentidade. Sendo um dos momentos áureos e de maior importância histórica de Vila Realde Santo António, com o florescimento e desenvolvimento da sua indústria conserveira,hoje, importa perpetuar e consciencializar a memória deste legado para as geraçõesseguintes.Tomando consciência do processo de desindustrialização que se começou a verificar apartir dos anos setenta, torna-se então pertinente colocar várias questões: Como olhar empleno século XXI para os vestígios materiais e imateriais que até há pouco tempo foramdecisivos para a evolução da modulação urbana ou da estrutura económica da sociedadenesta cidade? Há repetição desses modelos atualmente? Que novos entendimentos se têmde Vila Real de Santo António? Que influências as construções industriais tiveram naregião do Algarve? Será o património industrial o novo património cultural comodocumento insubstituível da industrial vilarealense? Como é que a sociedade atual se revênesse património se o souber salvaguardar? A partir de novas intervenções em espaçosindustriais agora desativados, e em muitos casos abandonados e deixados à ruína a vilapoderá manter a sua identidade fundadora?

1.1| MOTIVAÇÃO

O tema do Património Industrial Português, surgiu primeiramente pela vontade emaprofundar o conhecimento nesta área, pois considero que é uma das que terá maisrepercussão nos próximos anos. Por este motivo, a cidade de Vila Real de Santo António,pareceu-me ser interessante investigar enquanto caso de estudo, pelas suas característicasregionais, históricas e culturais que enuncia ainda hoje reflexos de um passado ligado àindústria. Outra das razões que motivaram a escolha deste lugar e não outro, deve-se peloseu carácter singular: uma cidade estruturada como uma fábrica, uma grande unidademanufatureira criada inteiramente de raiz para receber uma nova povoação que revê nestaatividade conserveira a sua própria identidade. As fábricas de conserva surgem então comoobjeto principal neste estudo devido a três factores: primeiro, pelo seu carácter poucoaprofundado enquanto trabalho de investigação e reflexão arquitetónica; em segundo, pormotivos patrimoniais; em terceiro, pelo facto de eu ser natural desta cidade, e teracompanhado a sua estrutura urbana, o seu edificado, as suas vivências e hábitos docidadão desde criança, o que traz-me redobrado interesse em conhecer e aprofundar estamatéria.Em Portugal, estudar e proteger este património é uma atitude muito recente. De facto,tem-se verificado uma crescente consciência da necessidade de reconhecer esse território,criando incentivos à sua prospeção, inventariação e valorização, desse modo é um temaque está na ordem do dia. Esta preocupação ganhou especial atenção a partir dos anosoitenta do século XX, , quando surgiu a necessidade por parte de vários investigadores em

1.2| OBJETIVO E OBJETO

A presente dissertação pretende tornar-se uma base indispensável à compreensão dastransformações que o território da indústria portuguesa sofreu no sul do país,particularmente na cidade de Vila Real de Santo António - exemplo singular do urbanismoutópico português - durante um período muito específico da arquitetura industrial: operíodo correspondente ao movimento moderno (1920-1970).Com o objetivo de ampliar o conhecimento neste local, que sofreu alterações de naturezacultural, social e espacial e tentando perceber que operações foram desencadeadas àmedida que iam sendo instaladas as fábricas e o impacto que tiveram nesse território, esteestudo fornece pistas que possibilitam não só conhecer as vertentes tipológicas da suaurbanização, como também refletir sobre a importância de salvaguardar e valorizar oPatrimónio Industrial Vilarealense, conservando e enriquecendo a memória e a própriaidentidade, anteriormente símbolo de afirmação da soberania nacional numa região defronteira. Serve ainda de entendimento comum à memória patrimonial e convida à reflexãoe reinterpretação da cidade nesse período, através de elementos que conferem esse sentido

Page 9: Proposta plano de dissertação ines batista 24459

04

PROJETAR A MEMÓRIA :

enquanto património industrial material e imaterial produzido pelos diferentes agentessociais e económicos que perpetuam a memória coletiva; a produção de um vídeo deentrevistas torna-se assim uma das peças “chave” na dissertação.Desta forma, dando a conhecer aos arquitetos este património, será possível realizar umaintervenção que salvaguarde de forma cuidadosa e consciente a integridade da memória, eainda possibilitar novas reflexões e olhares críticos sobre a importância de renovar essesedifícios que restam atualmente.Nesse âmbito, Projetar A Memória: Um Olhar Sobre O Património Industrial De Vila RealDe Santo António, tem como objeto em estudo a análise da individualidade conserveira deVila Real de Santo António, e também as Fábricas - os espaços industriais ligados a essesector. No fundo o que está em causa é estudar edifícios que seguem uma matriz tipológicadiferente, a par das construções pombalinas do núcleo urbano de Vila Real de SantoAntónio, estas já amplamente estudadas por vários autores. Os modelos em estudodiferenciam-se dos protótipos pombalinos mas refletem, por vezes, a sua influência devidoao paralelismo temporal.

Assim, será desenvolvido um trabalho de investigação que tem como objetivos específicos:

- Contribuir para enriquecer: a memória física e oral, a recuperação e divulgação, dopatrimónio industrial e imaterial que constrói o ser do lugar;- Compreender o modelo de desenvolvimento urbano e económico de Vila Real de SantoAntónio desde a sua fundação no século XVIII até meados do século XX, e como este sematerializar numa necessidade contemporânea;- Identificar a repercussão simbólica desse modelo;- Perceber a matriz tipológica e construtiva das Fábricas de Conserva (Parodi e Ramirez) àluz dos modelos pombalinos das Salgas e a sua complementaridade;- Analisar as mudanças e continuidades da linguagem arquitetónica, e tipos de arquiteturanos quarteirões da frente ribeirinha onde estavam instaladas estas fábricas;- Conhecer as consequências dessas mudanças na zona ribeirinha, como modelos dereferência de organização fabril nos séculos XIX e XX na região do Algarve;- Considerar a reutilização atual destes espaços industriais, que se destinam sobretudo aoalojamento turístico;- Questionar usos/ações a tomar nesse património industrial físico para manter a suaidentidade fundadora.

Em último lugar, com as conclusões obtidas na investigação, o leitor poderá desfrutar deuma visão abrangente sobre o tema em questão, incentivando futuras investigações, noâmbito da História da Indústria Conserveira vilarealense, até à data pouco estudado, e guiarfuturos investigadores na área da Arqueologia Industrial. Em suma, preservar, formatar epromover a identidade cultural da cidade, procurando medidas adequadas de intervençãoneste tipo de património.

1.3| METODOLOGIA

Tendo sempre como epicentro Vila Real de Santo António e a sua articulação com oterritório da indústria conserveira, este estudo pretende debruçar-se sobre a cidadeenquanto episódio urbanístico de modelos de organização fabril em Portugal.Esta investigação assume-se como análise às diferentes lógicas de funcionamento eexpressões arquitetónicas que sugiram em diferentes épocas de instalações das fábricas,até ao abandono inglorioso a que foram dotadas, desaparecendo na maioria dos casos osedifícios que transformaram e marcaram a malha urbana da cidade em tempos áureos. VilaReal de Santo António, é portanto estudada apenas e só no momento que compreende esteperíodo da história; quando chega a industrialização de influência estrangeira com o vapore novos maquinismos, importantes para o desenvolvimento desta vila com característicasparticulares no território português, mesmo que a sua origem remonte ao século XVIII.As questões do património e da memória são então essenciais para entender que impactoesta indústria teve no território. Assim, partindo da memória de um lugar poder-se-áproceder à compreensão, valorização, divulgação e preservação do património industrial, e“(…) conservar vivo um laço com o passado ao qual devemos a nossa identidade e que éconstitutivo do nosso ser”, como sugere Françoise Choay, em Desta forma, pretende-se transpor esta temática com vista a satisfazer os objetivos acimareferidos; definiu-se um objeto de estudo - as Fábricas de conservas de Vila Real de SantoAntónio, integradas no âmbito de um plano de recuperação nacional, que pelo seu caráctersingular construíram de raiz toda uma povoação pensada para funcionar como uma grandee avantajada unidade manufatureira.Assim, para que este estudo seja possível, é necessário delinear uma metodologia detrabalho.Numa primeira abordagem aos processos de investigação, este trabalho consiste numaaproximação ao território da indústria conserveira vilarealense, através da recolha e análisecriteriosa de componentes que permitem estabelecer o seu estado de arte: elementos denatureza iconográfica (Cartografia, Planos, Plantas, Cortes, Alçados, Fotografias da época,Fotografias atuais, Postais, Desenhos Esquemáticos e Desenhos Originais) e elementos denatureza teórica (monografias, teses, artigos de revistas específicos aos temas da indústriaconserveira vilarealense, arquivos das fábricas, processos de licenciamento industrial, erestante bibliografia no âmbito da minha investigação).Toda a informação será obtida a partir das seguintes fontes: Arquivo Municipal de Vila Realde Santo António, Biblioteca Municipal Vicente Campinas - Vila Real de Santo António,Biblioteca Nacional, Fundação Calouste Gulbenkian, Sociedade de Gestão Urbana de VilaReal de Santo António (SGU), Repositórios digitais e Plataformas online.Uma vez completada esta primeira fase e tendo em mãos o material possível de seranalisado, cruza-se toda a informação recolhida de forma a interpretar e caracterizar esteuniverso temático.Estabelece-se comparações procurando divergências e parecenças com outros casossemelhantes de ocupação fabril, nomeadamente Portimão, visto ter sofrido mudanças enovas adaptações programáticas como Vila Real de Santo António; resultado do processode desindustrialização das fábricas.

Page 10: Proposta plano de dissertação ines batista 24459

05

PROJETAR A MEMÓRIA :

Não abundam dados bibliográficos relativo ao estudo das fábricas, desse modo o trabalhode campo revela-se indispensável para uma investigação desta natureza; assume-se apesquisa junto das entidades locais e regionais, pois só assim é possível estabelecer umarelação mais consciente e verídica sobre o tema em estudo, tirando partido da leitura dopatrimónio industrial, que ainda existe.A abordagem direta às pessoas (com recurso a entrevistas), cria importantes “chaves” deleitura, que a partir dos vários contextos de interação vão permitir a compreensão adiferentes escalas: utilização do espaço fabril e do espaço urbano da cidade. Estaperspetiva temporal acompanha e relaciona os diferentes agentes que compõem esteterritório industrial, reconstituindo as suas histórias de vida naquele lugar, o que permiteauxiliar e reforçar a leitura, a reflexão e conclusão na dissertação.

Organização da dissertação:

A dissertação vai ser estruturada em dois volumes. O primeiro, permite a leitura emparalelo, do corpo de texto e dos seus complementos de ordem icnográfica e escrita; osegundo, resulta num Apêndice documental, que pode ser lido com alguma autonomia e écomposto por elementos gráficos (plantas, cortes, alçados, esquemas e fotografias), porelementos escritos (um conjunto de entrevistas) e por elementos visuais (o vídeo deentrevistas) que contribuem diretamente para o entendimento geral da dissertação e estãoordenados segundo dois critérios: o cronológico e o funcional.

Relativamente à sua estrutura, o trabalho é organizado em duas partes:

A primeira parte corresponde à fundamentação teórica e divide-se em três capítulosestruturados de forma cronológica, em que as barreiras temporais no presente estudo,apesar de não serem estritas, podem estabelecer-se entre os finais do século XIX e meadosdo século XX, para benefício da exposição; descrição, análise e interpretação cruzam-se econtribuem para valorizar, preservar e divulgar o património industrial, a memória e aidentidade conserveira de Vila Real de Santo António, sem perder a visão do passado. Oprimeiro capítulo, , é um pequeno capítulo de ordemgenérica que trata de caracterizar o universo ligados às fábricas. Deste modo, é elaboradauma breve abordagem a este território através de um conjunto de matérias que serelacionam e explicam a importância histórica, geográfica e económica para a instalação deum novo porto comercial em Vila Real de Santo António. Após enquadrar e analisar osdiferentes âmbitos que singularizam este território no extremo oriental algarvio, façoreferência às condições em que surgem as fábricas ao longo da zona ribeirinha e de queforma a sua manutenção é assegurada. Concluo assim o primeiro capítulo identificando alocalização dessas fábricas na malha urbana da cidade de Vila Real de Santo António.O segundo capítulo, -tem como objetivo justificar e realçar as diferentes mutações urbanas de que esta zona foialvo e que albergava a “linha de produção” da indústria conserveira. É aqui estudado deforma sistematizada um conjunto de edifícios que mostram as preocupações enecessidades de uma nova burguesia que cresce nesse e para esse meio. Confronta-secom a lógica industrial oitocentista e analisa-se a evolução de técnicas de construção eorganização

espacial entre as salgas pombalinas e os novos edifícios fabris (Parodi e Ramirez). Assim,é possível analisar as mudanças e continuidades da linguagem arquitetónica e tipos dearquitetura nos quarteirões da frente ribeirinha em diferentes épocas de instalação dasfábricas, e como estes se afirmam no tecido urbano da cidade.

, é tratada no terceiro capítulo. Neste, reflete-se sobre as mudanças defunção espacial, as novas adaptações programáticas e suas consequências nesses velhosespaços, e outros com as mesmas características no sul de Portugal, nomeadamentePortimão. É feita uma análise comparativa entre esta duas urbes. Discute-se ainda queusos/ações a tomar nesse património industrial físico devemos aplicar e manter para nãoperder a história e identidade do lugar.Por fim, em , procede-se à síntese das conclusões que foram sendoelaboradas ao longo da dissertação e apresentam-se novas orientações, usos, e cuidados anível urbano e social a tomar nesse património industrial físico por forma a colaborar naevolução da cidade de Vila Real de Santo António, sem descurar a realidade da indústriaconserveira, que teve bastante significado na vivência social das gentes vila-realenses. Nãointeressa portanto, afastar as necessidades do cidadão atual, mas sim apresentar aspetosque possam manter a identidade vilarealense e que em muito enriquecem a memóriacoletiva desta cidade.Finalmente, apresenta-se alguns anexos considerados úteis como complemento de análiseao longo da dissertação (esquemas, plantas, quadros cronológicos,etc).A segunda parte, tem como principal objetivo a criação de um vídeo de entrevistas. Esteserá documentado por pessoas que pertencem ao território desta história: arquitetos,pescadores, trabalhadores. Deste modo, pretende ser um instrumento de reflexão queregiste a memória oral, como futura fonte de pesquisa, a partir de três óticas diferentes deolhar o património industrial, permitindo posteriormente novas interpretações sobre esteterritório na região do algarve. Mais importante ainda, o vídeo pretende contribuir nasalvaguarda de uma identidade cultural para as gerações futuras, onde fica documentadoum dos períodos mais importantes da história de Vila Real de Santo António - oflorescimento e o desenvolvimento da sua indústria conserveira.

1.4 | ESTADO DE ARTE

Diversos autores realizaram estudos sobre o caso ímpar e original de Vila Real de SantoAntónio. A cidade ocupa um lugar de destaque no contexto do urbanismo português. Semquaisquer antecedentes/vestígios que possam ter originado a sua fundação, esta é umacidade bastante recente onde existe uma grande diversidade patrimonial. Edificada por cartarégia em 1773, durante o reinado de D. José I e o governo do Marquês de Pombal, evisando principalmente interesses económicos da época, surge no sudeste do “Reino doAlgarve”, uma vila regular, uma cidade nova, concebida como um “Pólo de afirmaçãofronteiriça, de soberania” - cidade ideal do iluminismo, onde são cumpridos os doisobjetivos fundamentais por razão da sua configuração: o controlo do negócio das pescariase a afirmação absolutista do poder régio. Alia funções -económicas, ideológicas, políticas-o que faz de Vila Real de Santo António, uma urbe que não é igual a tantas outras quesurgiram na mesma época. É, por excelência a representante máxima do “Século das Luzes

Page 11: Proposta plano de dissertação ines batista 24459

06

PROJETAR A MEMÓRIA :

” em Portugal. A importância desta cidade não se restringe à época pombalina. Com o fimdo reinado de D. José I em 1777, e o afastamento do Marquês de Pombal, a nova rainha(D. Maria) não dá especial importância ao projeto de recuperação económica do “Reino doAlgarve” a que a vila-fábrica estava associada. Posta em segundo plano, a vila cai emdesgraça e fica parcialmente desertificada. Sem atividade, a descoberta da pasteurização ea implementação de novas políticas liberais relativo às pescas, motivaram o investimentode negociantes estrangeiros na indústria conserveira, transformando a vila num centroindustrial conserveiro ímpar, isto já na segunda metade do século XIX, quase 100 anosdepois da sua fundação. Vila Real de Santo António é como se renascesse, como sereimplantasse, como se o seu desígnio finalmente se cumprisse. A vila pombalinatransformou-se assim, no principal núcleo industrial algarvio, produtor e exportador deconservas de atum, onde na atividade económica por ela relacionada e determinada cresceuma burguesia que vive nesse meio e desse meio.As referências à evolução histórica de Vila Real de Santo António, desde os tempos queantecederam a sua fundação até atualidade, são encontradas em diversas obras das quaisse destaca: o catálogo-síntese de uma exposição -

(2010) integrada na exposição, de âmbito algarvio, titulada “Algarve- Do Reino à Região”, editada pela Câmara Municipal de Vila Real de Santo António emparceria com o CHEPHA/UALG (Centro de Estudos de Património e História do Algarve daUniversidade do Algarve); um número monográfico da Revista do Instituto da Habitação eda Reabilitação Urbana - (2009) onde estão reunidos uma série deartigos que enriquecem o conhecimento do património e acompanham a evolução física,urbana, e económica de Vila Real de Santo António; o livro de Rui Figueiras -

(1999), permite ordenar ideias e prestar um entendimento claro sobre as géneseda Vila as relações Urbanísticas, Arquitetónicas e Sociais concebidas por Reynaldo Manueldos Santos, arquiteto da Casa do Risco das Obras Públicas, no governo do Marquês dePombal.A tese de doutoramento de José Eduardo Horta Correia, o maior especialista do urbanismopombalino vilarealense, publicada em 1997 -

fornece um forte contributo para a compreensão dasdiferentes interdisciplinas da História Urbana: História Económica, História Social eSociologia. Nela, é “abordada uma outra criação de Pombal, que 20 anos depois da suareconstrução da capital se afirmou como caso único no urbanismo português europeu: Aconstrução de uma nova vila, nascida do nada num areal desértico na foz do Guadiana,frente a Espanha, ou seja, Vila Real de Santo António.” tal afirma, Horta Correia. A obraapresenta um carácter monográfico exemplar, assumido pelo autor enquanto episódiourbanístico pombalino. É abordada a criação e constituição da nova vila, a análise das suasestruturas formais e a reflexão sobre o seu significado. O estudo situa-se entre 1773-1776e tem como objeto de estudo a vila (agora cidade) de Vila Real de Santo António. Naspalavras de Horta Correia “ Concebida como “cidade ideal”, representa a concretização deuma política de Absolutismo e uma incarnação de uma utopia renascentista que éconcretizada urbanisticamente segundo uma mera técnica de construção de cidadesmilitares na Europa, ou no Novo Mundo, reforçando as relações entre os novos conteúdose certos aspectos programáticos. Horta Correia, refere que ambas as situações, afirmam-se

” em Portugal. A importância desta cidade não se restringe à época pombalina. Com o fimdo reinado de D. José I em 1777, e o afastamento do Marquês de Pombal, a nova rainha(D. Maria) não dá especial importância ao projeto de recuperação económica do “Reino doAlgarve” a que a vila-fábrica estava associada. Posta em segundo plano, a vila cai emdesgraça e fica parcialmente desertificada. Sem atividade, a descoberta da pasteurização ea implementação de novas políticas liberais relativo às pescas, motivaram o investimentode negociantes estrangeiros na indústria conserveira, transformando a vila num centroindustrial conserveiro ímpar, isto já na segunda metade do século XIX, quase 100 anosdepois da sua fundação. Vila Real de Santo António é como se renascesse, como sereimplantasse, como se o seu desígnio finalmente se cumprisse. A vila pombalinatransformou-se assim, no principal núcleo industrial algarvio, produtor e exportador deconservas de atum, onde na atividade económica por ela relacionada e determinada cresceuma burguesia que vive nesse meio e desse meio.As referências à evolução histórica de Vila Real de Santo António, desde os tempos queantecederam a sua fundação até atualidade, são encontradas em diversas obras das quaisse destaca: o catálogo-síntese de uma exposição -

(2010) integrada na exposição, de âmbito algarvio, titulada “Algarve- Do Reino à Região”, editada pela Câmara Municipal de Vila Real de Santo António emparceria com o CHEPHA/UALG (Centro de Estudos de Património e História do Algarve daUniversidade do Algarve); um número monográfico da Revista do Instituto da Habitação eda Reabilitação Urbana - (2009) onde estão reunidos uma série deartigos que enriquecem o conhecimento do património e acompanham a evolução física,urbana, e económica de Vila Real de Santo António; o livro de Rui Figueiras -

(1999), permite ordenar ideias e prestar um entendimento claro sobre as géneseda Vila as relações Urbanísticas, Arquitetónicas e Sociais concebidas por Reynaldo Manueldos Santos, arquiteto da Casa do Risco das Obras Públicas, no governo do Marquês dePombal.A tese de doutoramento de José Eduardo Horta Correia, o maior especialista do urbanismopombalino vilarealense, publicada em 1997 -

fornece um forte contributo para a compreensão dasdiferentes interdisciplinas da História Urbana: História Económica, História Social eSociologia. Nela, é “abordada uma outra criação de Pombal, que 20 anos depois da suareconstrução da capital se afirmou como caso único no urbanismo português europeu: Aconstrução de uma nova vila, nascida do nada num areal desértico na foz do Guadiana,frente a Espanha, ou seja, Vila Real de Santo António.” tal afirma, Horta Correia. A obraapresenta um carácter monográfico exemplar, assumido pelo autor enquanto episódiourbanístico pombalino. É abordada a criação e constituição da nova vila, a análise das suasestruturas formais e a reflexão sobre o seu significado. O estudo situa-se entre 1773-1776e tem como objeto de estudo a vila (agora cidade) de Vila Real de Santo António. Naspalavras de Horta Correia “ Concebida como “cidade ideal”, representa a concretização deuma política de Absolutismo e uma incarnação de uma utopia renascentista que éconcretizada urbanisticamente segundo uma mera técnica de construção de cidadesmilitares na Europa, ou no Novo Mundo, reforçando as relações entre os novos conteúdose certos aspectos programáticos. Horta Correia, refere que ambas as situações, afirmam-se

Page 12: Proposta plano de dissertação ines batista 24459

07

PROJETAR A MEMÓRIA :

sobretudo com novos tipos de sociedade e de cultura, opondo-se às sociedades epensamentos vividos durante a Idade Média. (…) Vila Real de Santo António seguepropósitos idênticos proclamando princípios semelhantes em outras utopias urbanasiluministas construídas sob o signo do neoclássico.”Sem esquecer, os factores que levaram à criação da identidade vilarealense e que emmuito enriquecem a memória coletiva, importa conservar e preservar o património que lhepertence. As referências à Salvaguarda dos valores patrimoniais e respostas deReabilitação do Núcleo Histórico podem ser encontradas em obras de Rui Figueiras -

(1999); de João Manuel Horta -

(1992) e no livro editado pelo Departamento de Arquitetura da Faculdade deCiências e Tecnologia da Universidade de Coimbra -

(2005).A par do Núcleo Histórico, o Património Industrial, originado pela exploração dasindústrias conserveiras, contribuiu e enriqueceu a divulgação e memória de uma cidadeoutrora industrial. Do seu parcial desaparecimento apenas restam alguns vestígiosdocumentais e materiais encontrados no espaço conserveiro das Fábricas. É necessáriosalvaguardar e preservar essa memória histórica e cultural. As referências a essepatrimónio podem ser encontradas no artigo de Jorge Custódio -

(2009) narevista Monumentos nº30; no artigo de José Alexandre Pires -

. na revista V.R.S.A (Verão e Outono 2008); no artigo de Miguel Medeiros e PedroMiguel Bandarra - , e no trabalho deinvestigação de Marco Lopes -

(1999) no âmbito de um seminário em Reabilitação do Património Cultural(Património Industrial) realizado em Évora no mesmo ano.

Page 13: Proposta plano de dissertação ines batista 24459

08

PROJETAR A MEMÓRIA :

Page 14: Proposta plano de dissertação ines batista 24459

09

PROJETAR A MEMÓRIA :

Page 15: Proposta plano de dissertação ines batista 24459

10

PROJETAR A MEMÓRIA :

ALVES JÚNIOR, José Ribeiro - . (S.I: s.n, s.d.), VilaNova de Famalicão: Tipografia “Minerva”, 1941

CAVACO, Hugo - . Vila Real de Santo António: Câmara Municipal de Vila Real de Santo António,

1997

CAVACO, Hugo; ROMÃO, João - . Vila Real de Santo António: Câmara Municipal de Vila Real de Santo António, 1987

CHAGAS, Fernando - “O Sector Conserveiro Português, Análise Regional, História e Futuro” , Nº 5, Lisboa: s. e., 2001

Exposição: Algarve do Reino à Região VilaReal de Santo António: Câmara de Vila Real de Santo António, CHEPHA/UALG, 2011

FERNANDES, Hugo Nazareth -

in Mundos do Trabalho, Edição: 2011, pp. 1-13

FERNANDES, Hugo Nazareth, [dissertação de Mestrado em Teoria da

Arquitectura]Universidade Lusíada, Lisboa, 2003

FIGUEIRAS, Rui - : s.n., 1999, Texto policopiado

FIGUEIRAS, Rui - , Vila Real de Santo António. Vila Real de Santo António,CâmaraMunicipal de Vila Real de Santo António, 1999HORTA, José Eduardo Capa Horta -

. Porto: Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, 1999

HORTA, João Manuel -. Vila Real de Santo António: s.n, 1992, texto

policopiado

HORTA, João Manuel - (tese para obtenção do grau de doutor no ramo de História de Arte, especialidade de História daArquitetura e do Urbanismo). Universidade do Algarve, Faculdade de Ciências Humanas e Sociais.Faro, 2006.

OLIVEIRA, Francisco Xavier d' Athaíde - .Porto: Livraria Figueirinhas, 1908

. ECDJ - EM CIMA DO JOELHO. Coimbra:Departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra,Set. 2005, nº9ROSA, Walter - , in Monumentos nº 30,2010, pp.16-31

CUSTÓDIO, Jorge - A

, in Monumentos nº 30, 2010, pp.106-121

INQUÉRITO INDUSTRIAL de 1881. Inquérito Directo. Segunda Parte. Visita às Fábricas. Ed. Comissão

Central Directora do Inquérito Industrial. Lisboa: Imprensa Nacional, 1881, Livro III, pp. 18-23

LOPES, Marco - . Évora:

Reabilitação do Património Cultural (Património Industrial), 1999.

LOUREIRO, Adolpho - . Lisboa, 1904, Vol. IV, pp.321

PIRES, José Alexandre - . V.R.S.A, Vila Real de Santo António,Verão e Outono de 2008, nº 1, pp.42 - 59

REIS, Jaime - , inAnálise Social, Vol XXII (94), 1986-5.°, pp. 903-928

RODRIGUES, Joaquim Manuel Vieira - inO Algarve da Antiguidade aos Nossos Dias, Coord. - Maria da Graça Maia Marques, Lisboa: EdiçõesColibri, 1999, pp. 416-423.

RODRIGUES, Joaquim Manuel Vieira - , Dissertaçãode mestrado em História dos séculos XIX e XX (secção do séc. XX), apresentada à Faculdade deCiências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1997. Texto policopiado