quase 300 transgêneros esperam cirurgia na rede pública 10 ... · fonte: ministério da saúde...

16
Quase 300 transgêneros esperam cirurgia na rede pública 10 anos após portaria do SUS g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2018/08/19/quase-300-transgeneros-esperam-cirurgia-na-rede-publica-10-anos- apos-portaria-do-sus.ghtml Pelo menos 288 pessoas trans estão inscritas em listas de espera para cirurgias envolvendo transição de gênero nos cinco hospitais habilitados pelo SUS que oferecem estes tipos de procedimentos na rede pública de saúde. Os números foram calculados com base nas respostas das instituições obtidas pelo G1 por meio da Lei de Acesso à Informação e pelas assessorias de imprensa. O Processo Transexualizador, no SUS, foi criado em 18 de agosto de 2008, a partir de uma portaria do Ministério da Saúde. Dez anos depois, no entanto, médicos ouvidos pelo G1 relatam que as equipes ainda são reduzidas e que não há profissionais suficientes para aumentar o número de cirurgias por mês. Em geral, a média é de apenas uma ou duas cirurgias por mês em cada instituição. Parte dos médicos diz ainda que o número de hospitais que fazem as operações precisa aumentar para um paciente não ter de viajar, por exemplo, de Feira de Santana (BA), para fazer o procedimento em Porto Alegre (RS). “As pacientes e os pacientes fazem dois anos [de acompanhamento] e estão prontos [para a cirurgia], mas não adianta eles estarem prontos porque a gente não consegue dar vazão. A gente não consegue fazer quatro, seis cirurgias por mês, mas só uma cirurgia. Esse é o problema. Se a gente tivesse duas ou três equipes, eles não precisariam esperar tanto”, diz a ginecologista Mariluza Terra, que trabalha há 19 anos com a saúde da população trans no Hospital das Clínicas da UFG, em Goiás. Nos últimos dez anos, o governo federal pagou 474 procedimentos cirúrgicos a transgêneros. Cirurgias em pessoas trans pelo SUS Dados são de levantamento do Ministério da Saúde enviado ao G1 1/16

Upload: dothuan

Post on 05-Mar-2019

226 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Quase 300 transgêneros esperam cirurgia na rede pública 10 ... · Fonte: Ministério da Saúde Isso não significa, porém, que 474 pessoas trans foram operadas desde 2008 na rede

Quase 300 transgêneros esperam cirurgia na redepública 10 anos após portaria do SUS

g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2018/08/19/quase-300-transgeneros-esperam-cirurgia-na-rede-publica-10-anos-apos-portaria-do-sus.ghtml

Pelo menos 288 pessoas trans estão inscritas em listas de espera para cirurgiasenvolvendo transição de gênero nos cinco hospitais habilitados pelo SUS que oferecemestes tipos de procedimentos na rede pública de saúde. Os números foram calculados combase nas respostas das instituições obtidas pelo G1 por meio da Lei de Acesso àInformação e pelas assessorias de imprensa.

O Processo Transexualizador, no SUS, foi criado em 18 de agosto de 2008, a partir deuma portaria do Ministério da Saúde. Dez anos depois, no entanto, médicos ouvidos peloG1 relatam que as equipes ainda são reduzidas e que não há profissionais suficientes paraaumentar o número de cirurgias por mês. Em geral, a média é de apenas uma ou duascirurgias por mês em cada instituição. Parte dos médicos diz ainda que o número dehospitais que fazem as operações precisa aumentar para um paciente não ter de viajar,por exemplo, de Feira de Santana (BA), para fazer o procedimento em Porto Alegre (RS).

“As pacientes e os pacientes fazem dois anos [de acompanhamento] e estão prontos [paraa cirurgia], mas não adianta eles estarem prontos porque a gente não consegue dar vazão.A gente não consegue fazer quatro, seis cirurgias por mês, mas só uma cirurgia. Esse é oproblema. Se a gente tivesse duas ou três equipes, eles não precisariam esperar tanto”,diz a ginecologista Mariluza Terra, que trabalha há 19 anos com a saúde da populaçãotrans no Hospital das Clínicas da UFG, em Goiás.

Nos últimos dez anos, o governo federal pagou 474 procedimentos cirúrgicos atransgêneros.

Cirurgias em pessoas trans pelo SUSDados são de levantamento do Ministério da Saúde enviado ao G1

1/16

Page 2: Quase 300 transgêneros esperam cirurgia na rede pública 10 ... · Fonte: Ministério da Saúde Isso não significa, porém, que 474 pessoas trans foram operadas desde 2008 na rede

Fonte: Ministério da SaúdeIsso não significa, porém, que 474 pessoas trans foram operadas desde 2008 na redepública. A cirurgia de redesignação sexual (que adequa a genitália ao gênero da pessoa),por exemplo, costuma exigir mais de um procedimento. Essa operação é considerada “omaior sonho” da maioria das mulheres trans que recorrem aos hospitais públicos, emboranem todas queiram necessariamente fazer mudanças irreversíveis no corpo.

Processo Transexualizador no SUS

Paciente Procedimento Definição Complexidade Especialidade

Mulhertrans

Plástica mamáriareconstrutiva bilateralincluindo prótesemamária de siliconebilateral no processotransexualizador

Cirurgia plástica mamáriareconstrutiva bilateralcomplementar ao processo deredesignação sexual no sexomasculino no processotransexualizador, incluindoimplante de prótese mamária desilicone bilateral.

Média Hospitalar

Ambos Acompanhamento deusuário no ProcessoTransexualizadorexclusivamente paraatendimento clínico

Acompanhamento de usuário noprocesso transexualizador comatendimento mensal por equipemultiprofissional, diferente doacompanhamento exclusivo dasetapas no pré ou pós operatóriono processo transexualizador.

Média Ambulatorial

2/16

Page 3: Quase 300 transgêneros esperam cirurgia na rede pública 10 ... · Fonte: Ministério da Saúde Isso não significa, porém, que 474 pessoas trans foram operadas desde 2008 na rede

Ambos Cirurgiascomplementares deredesignação sexual

Cirurgias complementares taiscomo: reconstrução da neovaginarealizada, meatotomia,meatoplastia, cirurgia estéticapara correções complementaresdos grandes lábios, pequenoslábios e clitóris e tratamento dedeiscências e fístulectomia.

Alta Hospitalar

Homemtrans

Histerectomia comanexectomia bilaterale colpectomia emusuárias sobprocessotransexualizador

Cirurgia de remoção do útero e deovários, com colpectomia.

Alta Hospitalar

Homemtrans

Mastectomia simplesbilateral em usuáriasob processotransexualizador

Cirurgia de remoção de ambas asmamas com reposicionamento docomplexo aréolo mamilar.

Alta Hospitalar

Mulhertrans

Tratamentohormonalpreparatório paracirurgia deredesignação sexualno processotransexualizador

Terapia medicamentosa hormonala ser disponibilizadamensalmente no período de 2anos que antecede a cirurgia deredesignação sexual no processotransexualizador.

Média Ambulatorial

Mulhertrans

Tireoplastia Cirurgia de redução do pomo deadão para a feminilização da voze/ou alongamento das cordasvocais no processotransexualizador.

Alta Hospitalar

Mulhertrans

Redesignaçãosexual no sexomasculino

Cirurgia de remoção dostestículos com a amputação dopênis e a construção deneovagina.

Alta Hospitalar

Ambos Tratamentohormonal noprocessotransexualizador

Terapia medicamentosa hormonaldisponibilizada mensalmente paraser iniciada após o diagnóstico noprocesso transexualizador(estrógeno ou testosterona).

Média Ambulatorial

Ambos Acompanhamento dousuário no processotransexualizadorexclusivo nas etapasdo pré e pós-operatório

Acompanhamento mensal deusuário no processotransexualizador, no máximo doisatendimentos mensais durante,no mínimo, 2 anos no pré-operatório e por até 1 ano no pós-operatório.

Média Ambulatorial

Fonte: Ministério da SaúdeOu seja, depois de 10 anos, há apenas cinco unidades habilitadas pelo SUS e queoferecem as cirurgias. Elas estão localizadas em São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia,Recife e Rio Grande do Sul. A unidade mais recente é o HC de Recife, que está habilitadopelo SUS desde outubro de 2014 e ainda é a única instituição no Nordeste. Não háunidade na Região Norte.

3/16

Page 4: Quase 300 transgêneros esperam cirurgia na rede pública 10 ... · Fonte: Ministério da Saúde Isso não significa, porém, que 474 pessoas trans foram operadas desde 2008 na rede

Há, porém, atendimentos ambulatoriais a pessoas trans em hospitais de outras capitais.Essas unidades oferecem, por exemplo, acompanhamento psicológico e endocrinológicoao público. Seis estão credenciadas pelo SUS e outras 18 iniciativas funcionam poriniciativa do governo estadual ou municipal. Dessas 18, sete estão no estado de SãoPaulo.

Apenas três unidades no Brasil fazem acompanhamento preventivo, com foco em criançase adolescentes de 3 a 17 anos. Uma das unidades está na capital de São Paulo; outra, emCampinas; e a terceira, em Porto Alegre.

Unidades hospitalaresDos cinco hospitais habilitados pelo SUS que fazem as cirurgias em transgêneros, osdados do Ministério da Saúde mostram que, nos últimos 10 anos, 153 procedimentosforam realizados no Hospital das Clínicas de Porto Alegre; 118 no HC da Faculdade deMedicina da USP; 88 no HC da UFG, em Goiás; 68 no Hospital Universitário PedroErnesto, no Rio; e 47 no HC de UFPE, em Recife.

O chefe do serviço de urologia do HC de Porto Alegre, Tiago Elias Rosito, afirma que onúmero de cirurgias no hospital deve ser ainda maior que o informado pelo Ministério daSaúde. Ele conta que a instituição faz, no mínimo, duas operações por mês – sempre emuma mulher trans e em um homem trans. O público atendido é “o mais variável possível”,com diferentes idades e níveis socioeconômicos. Em agosto, por exemplo, a equipeoperou uma mulher trans de quase 60 anos.

O hospital opera mulheres transexuais desde o fim da década de 1990, quando oConselho Federal de Medicina autorizou e criou regras para o procedimento no Brasil. Otexto publicado em 1997 diz que um transexual deve obedecer a alguns critérios("desconforto com o sexo anatômico natural" e "desejo expresso de eliminar os genitais,perder as características primárias e secundárias do próprio sexo e ganhar as do sexooposto", por exemplo) e, para a cirurgia, ter o mínimo de 21 anos.

4/16

Page 5: Quase 300 transgêneros esperam cirurgia na rede pública 10 ... · Fonte: Ministério da Saúde Isso não significa, porém, que 474 pessoas trans foram operadas desde 2008 na rede

Transgênero é a pessoa que se identifica com gênero diferente do que ela nasceu. Nãohá relação com orientação sexual. (Foto: Alexandre Mauro / G1)

O procedimento, porém, só foi incorporado ao SUS em 2008, o que permitiu que o númerode cirurgias aumentasse ao longo dos anos. “Nós operávamos aqui no HC baseado numconvênio que tínhamos com a Secretaria de Estado da Saúde do Rio Grande do Sul. Issomuito antes de o SUS cobrir esse tipo de procedimento, e está aí o nosso pioneirismo”,afirma Rosito, cirurgião-chefe do Programa de Transtorno de Identidade de Gênero do HCde Porto Alegre.

A primeira cirurgia no país, porém, ocorreu em 1971 pelo cirurgião Roberto Farina. Elechegou a ser condenado, porém, cinco anos depois por fazer o procedimento. Farinatambém fez a primeira cirurgia em um homem transexual no Brasil – o paciente foi opsicólogo e escritor João Nery, autor do livro “Viagem solitária – memórias de umtransexual 30 anos depois”.

Já a primeira cirurgia de redesignação sexual na rede pública no Brasil foi realizada em1998, no Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas. Na época, oprocedimento só foi possível após a resolução 1482/97 do Conselho Federal de Medicina.A primeira mulher trans a ser operada pela rede pública de saúde foi Bianca Magro, em1998.

“É um alívio. É o alívio de você olhar para baixo e não ver nada. Então você olhar e não vere se sentir inteira é um complemento. Não para ninguém. Não para o homem. É umcomplemento para mim como mulher. (...) Foi uma luta porque era ilegal no país, não tinha

5/16

Page 6: Quase 300 transgêneros esperam cirurgia na rede pública 10 ... · Fonte: Ministério da Saúde Isso não significa, porém, que 474 pessoas trans foram operadas desde 2008 na rede

uma legislação. Eu tive que entrar na Justiça com todos os meus laudos provando que euera [transexual] para ter autorização para fazer a primeira cirurgia”, disse Bianca, ementrevista ao Fantástico, em março de 2017.

A primeira operação pelo SUS

Cirurgias desejadasA redesignação sexual masculina (cirurgia que transforma o pênis e os testículos em umavagina) é o procedimento mais procurado pelos pacientes que participam do ProcessoTransexualizador do SUS. Também foi a primeira cirurgia para trans a ser oferecida peloSUS. No levantamento do Ministério da Saúde, essa operação consta também como acirurgia mais frequente nos últimos 10 anos. Foram 415 procedimentos (87,6% do total).

Segundo Tiago Elias Rosito, a técnica “padrão-ouro”, ou seja, a técnica “mais testada emais comprovada” é a inversão peniana. A vagina é construída a partir do pênis; e oclitóris, a partir da glande (cabeça do pênis). Rosito diz que a técnica evoluiu nos últimos50, 60 anos e que é a técnica mais usada no mundo para esse tipo de cirurgia. Oprocedimento é de alta complexidade.

A ginecologista Mariluza Terra, do HC da UFG, lembra que, após a redesignação sexual, amulher trans precisa fazer a dilatação para o canal vaginal ganhar profundidade eelasticidade. Segundo Mariluza, essa etapa é “extremamente dolorosa” e as pacientes“são preparadas para isso”.

“Se elas não dilatam, a vagina fica curta, não fica flexível ou elástica. E, se não dilatarmesmo, ela fecha totalmente. É serviço perdido. Isso é avisado antes do processo”, afirma.

Quando a paciente não segue todas as recomendações dos médicos, como a dilatação docanal vaginal, ela pode ter complicações depois da cirurgia. No livro “O nascimento deJoicy”, por exemplo, a jornalista Fabiana Moraes acompanha uma mulher trans que passapela transição de gênero e faz a cirurgia de redesignação sexual.

6/16

Page 7: Quase 300 transgêneros esperam cirurgia na rede pública 10 ... · Fonte: Ministério da Saúde Isso não significa, porém, que 474 pessoas trans foram operadas desde 2008 na rede

Ela enfrenta, porém, complicações no pós-operatório, e a situação fica ainda mais difícilporque ela morava no município de Alagoinha, uma pequena e pobre cidade no interior dePernambuco, a mais de 200 km de Recife – onde fazia o procedimento e oacompanhamento pós-operatório.

Redesignação sexual no SUSDados são de levantamento do Ministério da Saúde enviado ao G1

Fonte: Ministério da SaúdeA segunda cirurgia mais comum, de acordo com os números do Ministério da Saúde, é aplástica mamária reconstrutiva bilateral, incluindo prótese mamária de silicone. Oprocedimento é feito em mulheres trans. No total, foram 23 procedimentos (4,9% do total).A maioria foi em São Paulo (14), seguido por Porto Alegre (7), Rio de Janeiro (1) e Recife(1).

O levantamento mostra ainda que houve 18 cirurgias de retirada do útero, dos ovários e davagina (histerectomia com anexectomia bilateral e colpectomia). Foram 9 operações emPorto Alegre, 5 no Rio de Janeiro e 4 em São Paulo. A portaria do Ministério da Saúde quepassou a oferecer o procedimento para homens trans é de novembro de 2013. Ou seja,completa 5 anos daqui a três meses.

A retirada das mamas (mastectomia simples bilateral), também oferecida para homenstrans, foi mais frequentes nos hospitais de Recife (7), São Paulo (4), Rio de Janeiro (3),Porto Alegre (2). Somadas as operações desse tipo, foram 16 cirurgias.

O procedimento chamado de tireoplastia (redução do pomo de adão para feminilizar a voze alongar as cordas vocais), para mulheres trans, foi feito apenas duas vezes, segundo oMinistério da Saúde. Ambas as vezes no HC da Faculdade de Medicina da USP, em SãoPaulo.

7/16

Page 8: Quase 300 transgêneros esperam cirurgia na rede pública 10 ... · Fonte: Ministério da Saúde Isso não significa, porém, que 474 pessoas trans foram operadas desde 2008 na rede

Nem sempre a pessoa trans deseja fazer cirurgias na genitália – o que acontece,principalmente, no caso de homens trans. O ativista trans Buck Angel, por exemplo,prefere ser identificado como “um homem com uma vagina”. Ele é um homem trans, masnão fez a cirurgia de redesignação sexual. Buck Angel esteve no Brasil para a 1ª edição daConferência Internacional [SSEX BBOX], que discute gênero e temas LGBTs, emnovembro de 2015, em São Paulo.

Desde junho deste ano, a transexualidade não está mais na lista de doenças daOrganização Mundial de Saúde (OMS). Segundo a entidade, a transexualidade passa aintegrar como “incongruência de gênero" a categoria denominada “condições relativas àsaúde sexual”.

Fila para cirurgia pelo SUSDas 288 pessoas trans que estão na lista de espera para fazer uma cirurgia, 80 estão nafila do HC da FMUSP; 70 na fila do HC da UFPE; 70 na fila do HUPE; 50 na fila do HC dePorto Alegre; e 18 na fila do HC de Goiânia. Os dados foram enviados pela Lei de Acessoà Informação (RJ, GO e RS) e por assessorias de imprensa (PE e SP).

Todos os médicos ouvidos pelo G1 dizem que, para atender a toda a demanda, a equipeprecisa de reforços. Em Goiânia, por exemplo, a ginecologista Mariluza Terra conta que háapenas um profissional de cada especialidade. Recentemente, diz Mariluza, umginecologista que era dedicado exclusivamente para o atendimento da população detransexuais e travestis deixou a equipe.

A ginecologista afirma ainda que, para tentar reduzir a fila de espera, tem organizadomutirões, com médicos de outros setores. Assim, conta a médica, em 5 de maio deste ano,foi realizada uma série de cirurgias de redesignação complementar (para retoques,correções). Os pacientes atendidos na instituição são, principalmente, do próprio estado.

“É doloroso a pessoa se olhar no espelho e não reconhecer aquele corpo como sendo dele oudela. É uma dor intensa, diária, de 24 horas, e ninguém imagina isso. Só a gente realmente queestá trabalhando há tanto tempo que consegue identificar e mensurar o tamanho dessa dor. Agente precisava sensibilizar mais médicos para trabalhar com essa população e aliviar umpouco essa dor”, diz Mariluza.

A sensibilização de outros profissionais também é uma das tarefas assumidas peloginecologista José Carlos de Lima, do Hospital das Clínicas da UFPE. No momento, contao médico, cinco profissionais estão em treinamento e devem formar uma nova equipe.Apesar disso, ele reconhece que parte dos médicos não se envolve por causa da“formação pessoal e familiar” ou por questões religiosas e culturais.

“Há um estigma infelizmente muito grande. No HC, a gente tem de trabalhar essa questãodesde o profissional da portaria até o cirurgião e o clínico que vão acompanhar o paciente paraque não ocorra nenhum tipo de constrangimento. A gente pretende trabalhar o hospital comoum hospital amigo nessa questão da transexualização”, diz Lima.

Para o psiquiatra Miguel Chalub, o baixo número de cirurgias por mês no HospitalUniversitário Pedro Ernesto também cria um “verdadeiro engarrafamento”, com pacientes

8/16

Page 9: Quase 300 transgêneros esperam cirurgia na rede pública 10 ... · Fonte: Ministério da Saúde Isso não significa, porém, que 474 pessoas trans foram operadas desde 2008 na rede

que se queixam, vão à Ouvidoria e até recorrem à Justiça para pedir o procedimento.Chalub estima que acompanha cerca de 100 transexuais e que, dentre os pacientes,muitos são da região Nordeste e de Minas Gerais.

O psiquiatra ainda afirma que a maioria não tem condições financeiras para pagar ascirurgias e que, por isso, permanece na lista de espera. Ele conta que parte dos pacientestransexuais foi expulsa de casa e chegou a morar na rua, além de ter enfrentadodiscriminação e dificuldades amorosas.

“Outros começam a juntar dinheiro para fazer particular. Não é muito frequente porque apopulação em geral é de classe média baixa ou pobre. A cirurgia custa uns R$ 40 mil, 45mil, então as pessoas não têm condições de fazer e ficam aguardando chegar a vez nacirurgia”, diz Chalub.

“É um problema de saúde pública. Nós precisamos de mais centros no país. Nós aqui jáalcançamos a nossa capacidade de novos procedimentos. E o nosso grande objetivo écapacitar outros centros. Ou seja, ensinar todo o manejo dessas pessoas. A questãopsicológica, a questão hormonal, a questão cirúrgica. Para que a gente não precise, como nomês passado, que uma pessoa venha de Feira de Santana, na Bahia, para operar em PortoAlegre”, afirma Tiago Elias Rosito.

Em nota, o Ministério da Saúde diz que a contratação de profissionais “está sob aresponsabilidade dos gestores locais de saúde” e que “não há orientação específica para aexclusividade desses profissionais no atendimento à população trans”. O ministériotambém afirma ainda que criou um curso online sobre a Política Nacional de SaúdeIntegral LGBT e que destinará R$ 10 milhões para uma pesquisa científica feita pelaSociedade Beneficente Israelita Brasileira – Hospital Albert Einstein durante dois anos, até2020.

“Para garantir mais qualidade nos cuidados e na segurança aos usuários do processotransexualizador, é necessário estudar os impactos na saúde dessas pessoas,considerando o caráter irreversível da cirurgia de redesignação sexual e os efeitos do usode hormônios, por exemplo. Por isso, a importância da pesquisa sobre a segurança e osprotocolos de atendimentos, bem como os critérios para a habilitação e a exclusão dosprocedimentos”, diz a nota.

'Transfobia internalizada'A atriz e professora Laysa Machado, de 47 anos, passou a se identificar como mulherdepois que trocou Guarapuava por Curitiba, municípios separados por 250 km, ambos noParaná. Lá a recém-formada em história se viu distante da família, já empregada e commaior autonomia. Procurou o Hospital das Clínicas, onde encontrou um médico que aajudou nas etapas para adequar seu corpo ao gênero com o qual já se identificava.

“Eu tinha uma transfobia internalizada muito forte, muito intensa. Por isso, fiz a transiçãosó aos 25 anos. Fui segurando essa vontade e esse desejo que não passavam nunca. Aos25 anos, quando entrei em depressão, eu sabia que só tinha dois caminhos: ou me

9/16

Page 10: Quase 300 transgêneros esperam cirurgia na rede pública 10 ... · Fonte: Ministério da Saúde Isso não significa, porém, que 474 pessoas trans foram operadas desde 2008 na rede

matava ou me assumia. E aí eu me assumi como trans. E rapidamente fui mandadaembora dos dois empregos que eu tinha. Fiquei sem trabalho”, lembra.

Laysa conta que esperou para tomar a atitude porque sofria repressão da família em casae morava numa cidade que considera “extremamente religiosa, conservadora, tradicional”.Na infância, ela chegou a ser coroinha da igreja e também interpretou o papel de Jesusnuma peça do teatro. Já na universidade os colegas a consideravam um “homem ‘cis’ dotipo gay discreto”.

Laysa Machado, de 47 anos, vendeu dois imóveis e um carro para custear cirurgias10/16

Page 11: Quase 300 transgêneros esperam cirurgia na rede pública 10 ... · Fonte: Ministério da Saúde Isso não significa, porém, que 474 pessoas trans foram operadas desde 2008 na rede

para a transição de gênero (Foto: Arquivo Pessoal)

Quando começou a sua transição de gênero, em meados de 1996, Laysa diz que nãoencontrou muitas opções na rede pública. Acabou tirando do próprio bolso o dinheiro parao terapia hormonal e as cirurgias. Não tinha dinheiro suficiente para fazer a redesignaçãosexual na Tailândia e acabou fazendo o procedimento no Brasil. A atriz e professora estimater gastado R$ 50 ou R$ 60 mil na época. O dinheiro veio da venda de dois imóveis e umcarro, os únicos bens de Laysa.

Para ajudar outras pessoas trans, Laysa criou há um ano um canal do YouTube chamado“Coisa da Laysa”. Os vídeos falam, principalmente, sobre experiências pessoais comomulher trans e assuntos ou termos do mundo LGBT.

“Às vezes as pessoas vinham na ‘inbox’ das minhas redes sociais me perguntar, comdúvidas. Às vezes eu achava que eram dúvidas que eu já tinha superado. Mas aí eucomecei a lembrar que, quando eu iniciei o processo, essas dúvidas que pareciam tãoínfimas, tão pequenas, não eram naquela época para mim. E faltam pessoas para informare ser sincera. Queria que fosse uma pessoa trans falando para pessoas trans e que fezuma cirurgia.”

Laysa não é a única a criar um canal do YouTube para dar visibilidade à temática trans.Um dos canais de sucesso, com cerca de 100 mil inscritos, por exemplo, é do jovem ArielMordara. Ele conta um pouco sobre a vida dele e sobre suas experiências como homemtransexual. Outro canal feito por trans se chama “Thiessita”, da youtuber ThiessaWoinbackk, com mais de 500 mil inscritos.

Conquistas pela via judicialPara o ativista trans Kaio Lemos, a trajetória para buscar atendimento e cirurgias na redepública ainda é “complicada e burocrática”, “com muitos preconceitos” e com “falta deconhecimento sobre a transexualidade”. Lemos não teve boas experiências no ambulatóriodo Hospital de Saúde Mental de Messejana, em Fortaleza, e reclama também de“situações constrangedoras”.

O mestrando em antropologia pela UFC acabou, depois de um ano de tratamento,recorrendo à Justiça para fazer os procedimentos de que precisava. Primeiro, conseguiuque o SUS pagasse um endocrinologista, já que o serviço especializado para o público nãoera oferecido no estado. Depois, ganhou também o direito de receber gratuitamente oshormônios.

“São processos dificultosos. Se você não tem profissional [médico], você não tem receita.Se não tem receita, eu não posso me hormonizar. É preciso levar receita com carimbo,CPF, CID, informando que é transexual e que a hormonioterapia é importante”, diz.

11/16

Page 12: Quase 300 transgêneros esperam cirurgia na rede pública 10 ... · Fonte: Ministério da Saúde Isso não significa, porém, que 474 pessoas trans foram operadas desde 2008 na rede

Kaio Lemos é um homem trans e fez, em abril deste ano, a cirurgia para a retirada dasmamas (Foto: Arquivo pessoal)

Nos últimos meses, Lemos ainda fez três viagens a Recife pelo Tratamento Fora doDomicílio (TFD) para conseguir um relatório psicológico, o último documento necessáriopara realizar a sua última conquista: a retirada das mamas (mastectomia bilateral total). Foio segundo procedimento do tipo em homem trans no Hospital das Clínicas de Fortaleza.Agora, o ativista trans se sente melhor com o seu corpo e não precisa mais usar o binder –faixa que aperta os seios, reduzindo o volume na roupa.

Ao G1, a instituição diz que está trabalhando para futuramente ser habilitado peloMinistério da Saúde na modalidade cirúrgica do processo transexualizador.

Sem acompanhamento médicoÉ consenso entre os médicos que os pacientes trans procuram a rede pública já tomandohormônios sem o acompanhamento médico. Em alguns casos, as pessoas já apresentamproblemas de saúde, após procurarem orientação de pessoas não habilitadas e

12/16

Page 13: Quase 300 transgêneros esperam cirurgia na rede pública 10 ... · Fonte: Ministério da Saúde Isso não significa, porém, que 474 pessoas trans foram operadas desde 2008 na rede

comprarem os medicamentos de forma ilegal, sem receita ou pela internet. Eles contamque isso ocorre porque nem todos conseguem acesso ao tratamento ambulatorial etambém porque “eles se sentem aprisionadas no corpo do sexo oposto”.

A Anvisa lembra que “a venda [de hormônios] pela internet ou em feiras livres éconsiderada crime”. “Os hormônios são medicamentos controlados e só podem servendidos em estabelecimentos farmacêuticos devidamente habilitados mediante retençãode receita médica”, diz a nota.

O médico José Carlos de Lima, do HC da UFPE, afirma que o uso de hormônios semacompanhamento acarreta uma série de riscos, principalmente se envolver doseselevadas. Segundo Lima, já houve, inclusive, paciente que estivesse tomando hormôniosutilizados na medicina veterinária, e não na medicina para humanos. "Muitas vezes, embusca de resultado mais imediato, eles [os pacientes] fazem uso de doses muito elevadas,o que é muito preocupante. Recebemos pacientes que estão usando diversos hormôniosem doses elevadas com o objetivo de ter um efeito mais imediato”, afirma.

Já Mariluza Terra, do HC da UFG, lembra que o uso de hormônios tem efeitos colaterais eexigem acompanhamento médico. O hormônio masculino, por exemplo, interfere nocomportamento da pessoa e pode causar irritação. Sem acompanhamento, de acordo coma médica, o paciente ainda corre risco de ter doença hepática e doença renal, além de terrisco de doenças cardiovasculares. Já o uso de hormônio feminino, segundo Mariluza,pode causar a trombose venosa profunda, levando à embolia pulmonar, ou mesmo aoAVC ou à morte, além do risco de doença hepática.

Lima afirma ainda que há pacientes chegam ao consultório já com sequelas oudeformidades de cirurgias feitas em locais precários, sem condições higiênicas ousubstâncias antissépticas, de forma clandestina. Ele cita, por exemplo, o uso de injeção desilicone líquido por mulheres trans que desejam aumentar as mamas ou preencher osglúteos.

“O silicone, quando injetado em nível vascular, dentro de um vaso, dentro de uma artéria,pode levar à embolia ou à morte. Como se acredita que vários casos tenham ocorrido comesse tipo de prática indiscriminada. Por exemplo, a pessoa injetou nos glúteos e foi pararno tornozelo. Com isso, [o procedimento] causou deformidades, inclusive.”

Acompanhamento preventivoPara Alexandre Saadeh, o atendimento e os serviços para transgêneros na rede públicade saúde são focados, principalmente, no público adulto. Saadeh começou a trabalharcom a população trans em 1997 e, na época, atendia transgêneros e travestis adultos.Atualmente, o médico acompanha crianças e adolescentes de 3 a 17 anos que são levadosao ambulatório de São Paulo pelos pais por algum conflito de gênero. Esse público nãonecessariamente é composto por transexuais.

“Para adultos, o acompanhamento é reparador. Você tenta diminuir os problemas que apessoa já tem. Com as crianças e os adolescentes, o acompanhamento é preventivo, épara evitar essas coisas. São duas propostas bem distintas”, diz o coordenador do

13/16

Page 14: Quase 300 transgêneros esperam cirurgia na rede pública 10 ... · Fonte: Ministério da Saúde Isso não significa, porém, que 474 pessoas trans foram operadas desde 2008 na rede

Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Instituto dePsiquiatria da USP.

Ele acrescenta que os pacientes são levados à instituição pelos pais e que a maioria aindanão começou a transição de gênero. O público é, principalmente, de crianças eadolescentes nascidos com o gênero biológico masculino. Mas há uma lista de espera com160 crianças e adolescentes.

O acompanhamento é feito por uma equipe multidisciplinar que engloba profissionais deserviço social, fonoaudiologia, psiquiatria, psicologia, entre outros. O bloqueio dehormônios é uma das opções durante a puberdade do paciente, já que a hormonioterapiasó pode começar depois dos 16 anos, ainda como projeto de pesquisa. Na maioria dosambulatórios, porém, a idade mínima para o tratamento hormonal é 18 anos. SegundoSaadeh, nem todos os pacientes se percebem transexuais. Há, por exemplo, adolescentesque não se identificam com o gênero feminino nem com o masculino – chamados de não-binários.

“Há crianças que circulam, que transicionam de um para outro, muitas se definem,algumas não. Tem de tudo que a gente acompanha. Em adolescente é muito comum ogênero não-binário. Na maior parte dos trabalhos de fora e a percepção que a gente tem éque na vida adulta o gênero não-binário, fluido some para uma definição de homem oumulher, desaparece. Parece mais que é mais uma vivência transicional, de experiênciaantes de uma definição”, afirma Saadeh.

Por outro lado, mesmo nas unidades ambulatoriais, é comum que as unidades façam umatriagem dos pacientes porque não têm capacidade de atender a todas as demandas. PelaLei de Acesso à Informação, por exemplo, o Hospital Universitário Pedro Ernesto, no Rio,informa que “a fila para a inclusão de novos pacientes para a primeira consulta se encontrafechada”. Não é o único caso. O atendimento para novos pacientes também já chegou aser interrompido no HC da UFG, em Goiás, de novembro de 2012 a março de 2016.

Atendimento a pessoas trans na rede pública

Unidade Serviço HabilitadopeloSUS?

Cidade Estado

Ambulatório do Centro Estadual Especializado emDiagnóstico, Assistência e Pesquisa

Ambulatorial Não Salvador BA

Hospital Universitário Professor Edgard Santos Ambulatorial Sim Salvador BA

Ambulatório de Saúde Trans do Hospital deSaúde Mental Professor Frota Pinto

Ambulatorial Não Fortaleza CE

Ambulatório Trans Ambulatorial Não Brasília DF

Hospital Universitário Cassiano Antonio deMoraes

Ambulatorial Não Vitória ES

Programa Transexualizador do HospitalUniversitário Cassiano Antonio de Moraes

Ambulatorial Sim Vitória ES

Ambulatório de Transexualidade do Hospital Geralde Goiânia Alberto Rassi

Ambulatorial Não Goiânia GO

14/16

Page 15: Quase 300 transgêneros esperam cirurgia na rede pública 10 ... · Fonte: Ministério da Saúde Isso não significa, porém, que 474 pessoas trans foram operadas desde 2008 na rede

Hospital das Clinicas - Hospital das Clínicas daUniversidade Federal de Goiás

Ambulatoriale hospitalar

Sim Goiânia GO

Ambulatório de atenção especializada noProcesso Transexualizador do Hospital Eduardode Menezes – Rede FHEMIG

Ambulatorial Não BeloHorizonte

MG

Hospital das Clínicas de Uberlândia Ambulatorial Sim Uberlândia MG

Ambulatório de Saúde de Travestis e Transexuaisdo Hospital Universitário Maria AparecidaPedrossian

Ambulatorial Não CampoGrande

MS

Ambulatório transexualizador da Unidade deReferência Especializada em DoençasInfecciosas e Parasitárias Especiais

Ambulatorial Não Belém PA

Ambulatório para travestis e transexuais doHospital Clementino Fraga

Ambulatorial Não JoãoPessoa

PB

Ambulatório de Saúde de Homens Trans doCentro Integrado de Saúde Amaury de Medeirosda Universidade de Pernambuco

Ambulatorial Não Recife PE

Hospital das Clínicas da Universidade Federal dePernambuco

Ambulatoriale hospitalar

Sim Recife PE

Centro de Pesquisa e Atendimento para Travestise Transexuais do Centro Regional deEspecialidades Metropolitano

Ambulatorial Sim Curitiba PR

Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia(Iede)

Ambulatorial Sim Rio deJaneiro

RJ

Universidade Estadual do Rio de Janeiro -Hospital Universitário Pedro Ernesto

Ambulatoriale hospitalar

Sim Rio deJaneiro

RJ

Hospital de Clínicas de Porto Alegre -Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Ambulatoriale hospitalar

Sim Porto Alegre RS

Ambulatório para pessoas travestis, transexuais,transgênero do Centro de Saúde da Lagoa

Ambulatorial Não Florianópolis SC

Ambulatório de Saúde Integral Trans do HospitalUniversitário da Federal de Sergipe CampusLagarto

Ambulatorial Não Lagarto SE

Ambulatório de Estudos em Sexualidade Humanado HC da Universidade de São Paulo / CampusRibeirão Preto

Ambulatorial Não RibeirãoPreto

SP

Ambulatório Municipal de Saúde Integral deTravestis e Transexuais

Ambulatorial Não São José doRio Preto

SP

Ambulatório Transdisciplinar de Identidade deGênero e Orientação Sexual do Instituto dePsiquiatria do HC da USP

Ambulatorial Não São Paulo SP

Ambulatório do Núcleo de Estudos, Pesquisa,Extensão e Assistência à Pessoa Trans ProfessorRoberto Farina da UNIFESP

Ambulatorial Não São Paulo SP

UBS Dr Humberto Pascalli - Santa Cecília Ambulatorial Não São Paulo SP

Unidade Básica de Saúde com projeto de atençãoe acolhimento à população LGBT

Ambulatorial Não São Paulo SP

15/16

Page 16: Quase 300 transgêneros esperam cirurgia na rede pública 10 ... · Fonte: Ministério da Saúde Isso não significa, porém, que 474 pessoas trans foram operadas desde 2008 na rede

Centro de Referência e Treinamento (CRT)DST/Aids

Ambulatorial Sim São Paulo SP

Hospital de Clínicas da Faculdade de MedicinaFMUSP

Ambulatoriale hospitalar

Sim São Paulo SP

16/16