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Universidade Federal de Campina Grande Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino 1 ANAIS ELETRÔNICOS ISSN 235709765 REFERENCIAÇÃO COMO FATOR DE ARGUMENTAÇÃO EM REDAÇÕES ESCOLARES Valmir Joaquim da Silva Junior 1 UFPE RESUMO O presente artigo tem como objetivo apontar como a referenciação, enquanto atividade processual textual e discursiva, está diretamente ligada com a argumentação e com a intencionalidade em redações escolares produzidas por alunos do Ensino Médio. Como aporte teórico, usamos os pressupostos de Cavalcante (2003, 2009) e Koch (2002, 2005) no que tange à referenciação e ao discurso; e os estudos sobre argumentação de Fiorin & Platão (2006) e Magalhães (2013). O tema das redações analisadas foi “A redução da maioridade penal”. Por isso, achamos necessária também a contribuição do Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA. Em seus textos, os alunos tinham que se posicionar e apresentar argumentos defendendo seus pontos de vista. As quatro redações selecionadas, do tipo dissertativo-argumentativo, foram analisadas através dos três argumentos mais recorrentes dos que eram contra e dos três argumentos mais frequentes dos que se colocaram a favor da redução da maioridade penal. Assim, expomos como tais argumentos eram trazidos pelos alunos em suas produções através de suas visões de mundo. A análise dos textos mostrou que a referenciação atua juntamente com um projeto de dizer dos estudantes. Seus argumentos advêm de uma interpretação subjetiva da realidade que os circundam e são materializados no texto através do processo de referenciação. Palavras-chave: Referenciação; Discurso; Argumentação; Redações escolares. INTRODUÇÃO É sabido que a referenciação, enquanto atividade processual, é um fenômeno textual que está diretamente ligado com a coesão e de certa forma com a coerência do texto. A precisão referencial tem um importante papel no êxito das nossas interações. 1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE.

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REFERENCIAÇÃO COMO FATOR DE ARGUMENTAÇÃO EM REDAÇÕES ESCOLARES

Valmir Joaquim da Silva Junior1 UFPE

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo apontar como a referenciação, enquanto atividade processual textual e discursiva, está diretamente ligada com a argumentação e com a intencionalidade em redações escolares produzidas por alunos do Ensino Médio. Como aporte teórico, usamos os pressupostos de Cavalcante (2003, 2009) e Koch (2002, 2005) no que tange à referenciação e ao discurso; e os estudos sobre argumentação de Fiorin & Platão (2006) e Magalhães (2013). O tema das redações analisadas foi “A redução da maioridade penal”. Por isso, achamos necessária também a contribuição do Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA. Em seus textos, os alunos tinham que se posicionar e apresentar argumentos defendendo seus pontos de vista. As quatro redações selecionadas, do tipo dissertativo-argumentativo, foram analisadas através dos três argumentos mais recorrentes dos que eram contra e dos três argumentos mais frequentes dos que se colocaram a favor da redução da maioridade penal. Assim, expomos como tais argumentos eram trazidos pelos alunos em suas produções através de suas visões de mundo. A análise dos textos mostrou que a referenciação atua juntamente com um projeto de dizer dos estudantes. Seus argumentos advêm de uma interpretação subjetiva da realidade que os circundam e são materializados no texto através do processo de referenciação. Palavras-chave: Referenciação; Discurso; Argumentação; Redações escolares.

INTRODUÇÃO

É sabido que a referenciação, enquanto atividade processual, é um fenômeno

textual que está diretamente ligado com a coesão e de certa forma com a coerência do

texto. A precisão referencial tem um importante papel no êxito das nossas interações.

1 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFPE.

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Porém, podemos ir além ao percebermos o quanto a referenciação está associado com

um projeto de dizer e com a orientação do leitor na construção de sentidos.

Neste trabalho, tentaremos expor como o processo de referenciação está

diretamente ligado com a argumentação e com uma percepção de mundo do

individuo. Para isso, analisaremos redações escolares do tipo dissertativo-

argumentativo. Mostraremos o quanto a referenciação, processo que diz respeito à

construção e reconstrução de objetos do discurso no texto, está diretamente

relacionada com a intenção do produtor do texto, ou seja, trata-se de uma atividade

estratégica, implicando, assim, escolhas significativas no decorrer do texto. Tanto as

construções quanto as reconstruções depende da forma como determinado autor

apreende aquilo de que está se falando. Dessa forma, a questão que se formula para o

prosseguimento do trabalho é: De que forma é construída a argumentação no texto

através do processo de referenciação? Nosso objetivo é mostrar como a referenciação

pode ser uma aliada do aluno na hora da elaboração de um texto dessa natureza, na

qual se precisa argumentar e defender um ponto de vista.

Esse tipo de estudo se torna importante uma vez que as redações do tipo

dissertativo-argumentativo, o mais solicitado ao aluno do ensino médio, tem se

transformado numa fórmula, num simples esquema engessado, no qual o aluno teria

que seguir algumas regras para a “boa” elaboração de seu texto. Assim, quando o

assunto é produção textual muitos processos e fenômenos discursivos que ocorrem

nesses tipos de textos deixam de ser estudados. Observar os textos produzidos pelos

alunos pelo prisma da referenciação, olhando também para a argumentação, pode nos

fazer perceber como tais estudantes entendem o mundo em que vivem e como

defendem seus pontos de vista.

REFLEXÕES TEÓRICAS

De acordo com Koch (apud Mondada, 2003), o termo referenciação vem

ampliar e substituir a noção da palavra referencia. A referência, interesse não apenas

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da linguística, mas também de outras áreas do conhecimento como filosofia da

linguagem e lógica, era um tema posto como uma atividade de representação do

mundo, privilegiando a noção de correspondência entre as palavras e as coisas, a

referência agia como espelhamento do mundo; já a referenciação opera de forma

discursiva, no qual o objeto de discurso em questão é atualizado de acordo com a

situação contextual e o propósito comunicativo do autor. Seguindo esse raciocínio,

concordamos com Mondada e Dubois quando dizem que “as categorias e os objetos

de discurso pelos quais os sujeitos compreendem o mundo não são preexistentes nem

dados, mas se elaboram no curso de suas atividades, transformando-se a partir dos

contextos” (Mondada & Dubois 2003 [1995]: 18). Assim, não há uma representação ou

retrato fiel do mundo, uma vez que as coisas do mundo ganham significado somente

quando atualizados no discurso.

Para Koch e Elias (2004), a referenciação está atrelada com a noção de

progressão referencial, estabelecendo assim um processo no qual haveria a construção

e a reconstrução dos objetos de discurso. O sujeito opera dentro de um procedimento

de escolhas para representar as coisas e retomá-las, essa representação varia de

acordo com o autor e sua intenção para com o seu interlocutor, sobretudo, porque

essas escolhas não são aleatórias, elas emergem do caminho argumentativo que o

autor pode escolher para informar seu leitor sobre determinadas coisas do mundo. E

cada autor tem uma interpretação do mundo diferente, através da língua, as pessoas

deixam evidentes seus posicionamentos sobre temas diversos. Assim, entendemos que

a reconstrução de um objeto do discurso, através de uma expressão referencial

nominal, por exemplo, não se circunscreve num simples ato de localização do

referente, é sim, uma retomada de caráter informacional. É esse movimento de

introdução e retomada dos objetos do discurso que ajudam não apenas na tessitura do

texto, mas também na criação de unidade do texto baseado num projeto de dizer do

autor.

O movimento de introdução dos objetos de discurso no texto diz respeito à

colocação de um novo referente no texto, ganhando tal referente papel de destaque

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na cadeia coesiva e argumentativa. Essa introdução pode ser feita de duas formas: a)

introdução não ancorada: quando um objeto totalmente novo é introduzido no texto,

tornando-se o referente em destaque; b) introdução ancorada: é quando um novo

objeto é introduzido no texto baseado em algum elemento do co-texto ou do

contexto. Tanto na introdução ancorada, como na não ancorada, o autor pode dar

indícios de que caminho seguirá no que tange a organização argumentativa do texto.

Outro processo relativo à introdução de novos referentes é a desfocalização, nada

mais é do que a entrada de um novo objeto de discurso no texto, fazendo com que

esse objeto seja o foco a partir de então. O objeto que foi retirado de foco, para que

esse novo assumisse tal posição, continua no texto podendo ser utilizado novamente

quando o autor desejar.

As redações que serão analisadas neste trabalho são do tipo dissertativo-

argumentativo. Sobre tal gênero, Xavier (2010) ressalta que circulam em várias

instituições sociais entre elas a escola e a universidade, cujas características formais e

funcionais permitem demonstrar o domínio de determinadas habilidades. Uma dessas

habilidades, sem dúvida, diz respeito à capacidade argumentativa. Ou seja, a

habilidade de defender um ponto de vista.

A introdução de objetos de discurso no texto, como já foi apontado, tem

estreita relação com a direção argumentativa que o autor pretende seguir. Mas o que

é argumentar? Que tipo de texto se configura como argumentativo? Primeiro, é

preciso deixar claro que todo texto é um canal de interação entre interlocutores. Nessa

interação, quando se comunica com o outro, não se espera apenas que a mensagem

seja recebida e entendida, mais que isso, espera-se que ela seja aceita e que o

interlocutor, ouvinte ou leitor, acredite em seu conteúdo (FIORIN & SAVIOLLI, 2006).

Isso significa que todo texto tem certo teor argumentativo. Para fazer com que o outro

aceite e acredite no que está sendo dito, é preciso persuadi-lo, sobretudo, através de

argumentos.

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Exporemos abaixo, sem muitos detalhes, a classificação proposta por Fiorion e

Saviolli (2006) no que concerne aos tipos de argumentos que podem ajudar o autor na

redação de seu texto, sobretudo o do tipo dissertativo-argumentativo:

a) Argumento de autoridade: Trata-se da citação de autores que são

autoridades em determinadas áreas do saber para legitimar seu

posicionamento. O uso de citação trás implicações como: deixa subentendido

que o autor do texto tem conhecimento do assunto, na medida em que já leu

autores que abordem tal tema; e também deposita no autor citado um status

de fiador da verdade num determinado assunto ou tema.

b) Argumento baseado no consenso: Refere-se a argumentos baseados em

máximas e proposições, que, maioria dos casos, são universalmente aceitas.

Platão exemplifica com a seguinte proposição “a educação é a base do

desenvolvimento”. O autor adverte ainda para não confundirmos argumentos

baseados no consenso com lugares-comuns carentes de qualquer base

científica.

c) Argumentos baseados em provas concretas: Está relacionado com a

comprovação do que é dito, sobretudo através de dados pertinentes e que

corroborem com o ponto de vista do autor. Os dados, na argumentação de uma

tese, podem evitar generalizações que prejudicam e diminuem a força

argumentativa do texto, uma vez que tais generalizações podem ser facilmente

desconstruídas.

d) Argumentos com base no raciocínio lógico: Tem relação com o item

anterior, pois os dados e os fatos apresentados implicam em novos aspectos,

isto é, o que é dito tem causas e consequências que precisam fazer sentido na

construção da argumentação. Apresentar uma consequência equivocada ou

que não tem relação com o fato apresentado, certamente, quebrará a linha

argumentativa que o autor pretende instaurar no texto.

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e) Argumento da competência linguística: Diz respeito à adequação

vocabular. Dependendo da situação comunicativa e da esfera onde tal situação

se realize, o discurso deve ser mais ou menos formal. Tal competência textual

pode dar credibilidade ao que se pretende argumentar.

O movimento de retomada de objetos do discurso, o qual pode ser considerado

como movimento que completa a atividade de referenciação, se torna extremamente

importante na progressão do texto, não só porque reativa na memória do leitor o que

já fora dito, mas também pode categorizar e ressignificar o termo ao qual se refere.

Assim, os argumentos citados anteriormente podem ser trazidos de volta para o texto.

Koch (2002), atenta para o quão importante são as escolhas lexicais nas construções

de expressões referenciais. A autora destaca três possibilidades de argumentação no

texto através de expressões nominais referenciais:

A) Descrições nominais: A escolha de descrever o referente, entre uma gama de

possibilidades, através de categorizações e recategorizações está diretamente ligada

com a proposta de sentido do produtor do texto. Em geral, os autores assimilam

conhecimentos partilhados que levem a construção de determinadas imagens, para

progredir na sua argumentação. Tais expressões podem revelar o ponto de vista do

produtor do texto a respeito do tema tradado.

B) Encapsulamentos: É uma operação de recategorização de segmentos precedentes,

sumarizando-os ou encapsulando-os sob um determinado rótulo. São expressões que,

na maioria das vezes, são introduzidas por um demonstrativo, que retomam o

referente através de uma rotulação, mas também criam um novo referente, que pode

ser posto em destaque para novas remissões.

C) Remissão metadiscursiva: Diferente da anterior, não tem a característica de

sumarizar o conteúdo do referente, mas sim opera num processo de nomeação e de

qualificação da própria atividade enunciativa. Não há propriamente uma retomada

referencial, uma vez que é o discurso que é tomado como objeto. Ocorre a

qualificação metadiscursiva de um segmento anterior.

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É bom lembrar que esses três aspectos relativos à orientação argumentativo no

texto, através da referenciação, não são únicos e têm questões pontuais que são

subjacentes a cada um deles. Artigos, pronomes e demonstrativos podem operar

juntamente com as expressões referenciais, corroborando o propósito do autor.

METODOLOGIA

Entendendo a referenciação como fator de orientação argumentativa,

escolhemos um gênero que se caracteriza justamente pela possibilidade de a

argumentação ficar evidente, a redação escolar do tipo dissertativo-argumentativo.

Essa configuração textual é, atualmente, a mais trabalhada e a mais cobrada no âmbito

educacional. Os alunos são avaliados de acordo com a sua capacidade de desenvolver

o tema proposto, persuadir o leitor e, por vezes, defender e apontar uma possível

solução para o problema suscitado no texto.

Diante desse panorama, analisaremos como estudantes, do 2º ano do Ensino

Médio de um colégio privado do Recife, argumentam sobre seus pontos de vistas,

focalizando os processos de referenciação e de argumentação subjacentes às

redações. Tentaremos estabelecer a cadeia argumentativa proposta pelos produtores

dos textos através dos argumentos mais recorrentes nas redações. O tema proposto

aos alunos foi “Redução da maioridade penal”, assim sendo, os estudantes tinha que

se posicionar contra ou a favor. Num total de aproximadamente trinta textos, quatro

foram selecionados, dois que se posicionaram contra a redução da maioridade penal e

dois que argumentaram a favor de que a idade penal passasse a ser dezesseis anos.

Essas quatro redações foram escolhidas porque de fato atenderam ao tema proposto e

se posicionaram. Além do mais, elas dão conta para evidenciar o que se pretende

neste trabalho. Inúmeras foram as redações nas quais seus autores apenas

dissertaram e comentaram o assunto e se esqueceram de se colocar apoiando ou

discordando a redução da maioridade.

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Vale lembrar que o objetivo do trabalho não foi fazer uma espécie de correção

ortográfica ou gramatical dos textos, mesmo sabendo da importância desses aspectos

para a elaboração de um texto. Tais redações foram digitadas e se encontram ao final

do trabalho em anexo.

ANÁLISE DE DADOS

Prosseguiremos da seguinte forma na análise de dados: serão expostos os três

principais argumentos, os que foram mais recorrentes no processo de argumentação

dos alunos, tanto dos que se colocaram a favor quanto dos que se posicionaram contra

a redução. E veremos como esses argumentos são introduzidos e/ou retomados nos

textos pelos alunos.

A população apoia a redução

Esse argumento inicial é uma tentativa de trazer uma voz coletiva para

corroborar a tese defendida, ficando já saliente no primeiro parágrafo do texto A:

“A maioria da população brasileira apoia a redução...”

No ultimo parágrafo, há uma retomada de tal argumento, ancorado no que foi

dito acima:

“A população aprova, só faltam atitudes mais atitudes...”

Na tentativa de construção da argumentação do texto, o autor opta,

inicialmente, por informar ao leitor que a redução da maioridade penal é uma medida

apoiada pela maioria dos brasileiros. Ao utilizar “maioria”, o autor tenta conquistar o

apoio do leitor, porém não apresenta fatos para comprovar seu argumento. No último

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parágrafo, o estudante retoma a perspectiva de um apoio maciço da população em

prol da redução. Agora, de forma a abranger não só a “maioria da população”, nessa

parte o autor toma a aprovação da redução da maioridade penal como sendo

legitimada pela população em sua totalidade, sem nenhuma espécie de modalizador. A

não utilização de algo que atenue o seu dizer circunscreve-se justamente na tentativa

de intensificar seu argumento. Embora, outra vez, o estudante tente argumentar sem

apresentar algo que corrobore seu dizer.

O estudante produtor da redação “B” também tenta sustentar argumento

relativo ao apoio da população à redução da maioridade penal:

“A redução da maioridade penal no Brasil deveria ser uma lei e

muito rígida, pois várias pessoas já concordam com a

diminuição da idade em que uma pessoa deve responder por

seus atos...”

Apesar da expressão “várias pessoas”, aqui já há uma atenuação maior em

relação ao apoio das pessoas a redução. Não são “a maioria” e nem a população em

sua totalidade, são “várias pessoas”. Ainda assim, persiste a tentativa de levar a cabo

o argumento que se baseia no apoio das pessoas à redução da maioridade penal.

Porém, o estudante não consegue levar seu argumento adiante, uma vez que “a

diminuição da idade em que uma pessoa deve responder por seus atos” não é

equivalente a “redução da maioridade penal”. Há uma tentativa de introdução de um

referente retomando um referente anterior, porém essa retomada não se estabelece

de forma satisfatória uma vez que os objetos do discurso não significam a mesma

coisa. Pois, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a partir dos

doze anos, os adolescentes já são responsabilizados pelos seus atos.

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A redução da maioridade penal reduziria a violência

“...e é claro que além de reduzir a maioridade penal, também

iria reduzir a violência.”

Outro argumento que se mostra saliente nos textos favoráveis a redução,

presente no trecho acima, diz respeito à diminuição da violência. Esse argumento é

introduzido como consequência da redução da maioridade penal, e também é

suscitado no texto como algo baseado num raciocínio lógico. Porém, esse argumento,

no texto A, não é desenvolvido e não tem nenhum embasamento ou exemplificação

através de dados, por exemplo. O autor apresenta um pensamento particular em

relação ao tema, sem desenvolvê-lo e nem relacioná-lo aos demais argumentos.

Outro trecho selecionado para análise foi o seguinte:

“O Brasil tem essa violência elevada por não haver punição

para os criminosos”

Introduzindo um outro argumento, mas ainda ancorado no argumento anterior,

no qual relaciona a diminuição da violência com a redução da maioridade penal, o

autor apresenta como causa da violência a falta de punição aos criminosos. Até pode-

se aceitar que o Brasil tenha uma violência elevada, não é novidade para ninguém.

Porém, alegar que não há punição é um argumento pouco consistente, uma vez que

para isso, existe o código penal brasileiro.

Provavelmente, o estudante quis se referir ao rigor, nesse caso a falta dele, das

punições sofridas pelos criminosos. As descrições nominais realizadas através de

escolhas como a da palavra “criminosos”, que traz consigo forte carga semântica, deixa

evidente o posicionamento do aluno em relação ao tema. Essa escolha tenta levar o

leitor a se compadecer da tese defendida pelo autor, que poderia ter usado expressões

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modalizadas como “jovens infratores” ou “pessoas que cometem delitos” caso seu

propósito não fosse defender a redução da maioridade penal.

Todas as pessoas (inclusive os adolescentes) devem pagar pelos crimes cometidos

Um dos argumentos mais suscitados nas redações A e B, as que se colocavam a

favor da redução, revelam um sentimento de impunidade e necessidade de justiça dos

autores de tais textos.

“ Se um adolescente cometer um crime ou qualquer outra coisa

que seja contra a lei, merece ser julgado de acordo com seu ato

e a pena tem que vim também. Um adolescente quando faz

seus atos errados tem que ser responsáveis pelos mesmos”

O trecho acima, da redação B, sintetiza o argumento que provavelmente é o

mais recorrente dos estudantes que se dizem a favor da redução da maioridade penal.

Da forma que os alunos apreendem essa realidade do mundo, e tentam transpô-la nos

textos, parece não haver punição para tais jovens que infringem a lei, ainda que, de

acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, os adolescentes com mais de doze

anos já respondam por seus atos. Provavelmente, eles se referem à gravidade e a

rigidez de tais punições. Certamente acham que as leis devessem ser mais rígidas. E

isso fica claro no trecho abaixo, da redação A:

“Não tem sentido um adolescente cometer um crime e não

pagar judicialmente e não ter uma punição adequada para os

seus atos...”

O autor do texto A já se coloca de forma mais clara, porém comete alguns

equívocos conceituais em relação aos termos jurídicos, o que pode ser totalmente

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compreendido uma vez tal aluno tem por volta de quinze anos de idade. O termo

“crime” se aplica apenas aos atos que infringem a lei cometidos por maiores de

dezoito anos. Os adolescentes, por sua vez, ao infringir determinada lei comete o que

convencionou-se chamar de ato infracional. O produtor do texto A entende que há,

sim, uma punição para os adolescentes infratores, porém acha que a punição deve ser

adequada, podemos entender adequada como “rigorosa”, ou “mais rigorosa” uma vez

que o aluno é a favor da redução da maioridade penal.

A seguir, a análise dos principais argumentos dos estudantes que se colocaram

contra a redução da maioridade penal. As redações (B e C) cujo os trechos serão

utilizados nessa parte também se encontram em anexo.

Uma parcela mínima de crimes são cometidos por adolescentes entre dezesseis e

dezoito anos

“A redução da maioridade penal não reduziria

significativamente a criminalidade no país, até porque uma

parcela muito pequena dos crimes são cometidos por jovens

entre dezesseis e dezoito anos”

O trecho acima apresenta o primeiro argumento levantado pelo autor da

redação D. Apesar de não comprovar seu argumento, podemos tomá-lo como um

argumento do tipo baseado num raciocínio lógico, sobretudo porque o número de

pessoas entre dezesseis e dezoito anos é, obviamente, menor do que os indivíduos

maiores de idade. Então, logicamente, a porcentagem de crimes cometidos por jovens

nesta faixa etária é menor se comparada à porcentagem dos maiores de idade.

Atenta-se também para o fato da palavra “criminalidade” em vez de

“violência”, está última bastante recorrente quando o assunto é a redução da

maioridade penal. Entendendo criminalidade por conjunto de infrações, podemos

destacar que tal palavra tem efeito discursivo diferente de violência. Percebemos que

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quando o aluno escreve “criminalidade no país” ele está se referindo aos números de

casos de infrações da lei em sua totalidade, uma vez que criminalidade está

diretamente ligado com infringir a lei. O aluno constrói seu argumento baseado numa

provável estatística. O termo violência, normalmente, é mais usado se referindo a uma

forma de coerção individual, enquanto criminalidade seria a coletividade dessas

coerções. Destacamos ainda que violência não necessariamente tem ligação direta

com infringir leis, pois existem atos violentos, em esportes, sobretudo os de luta, que,

obviamente, não são considerados crimes. Assim, o aluno tenta passar a ideia de os

índices de criminalidade de uma forma geral não diminuiria com a redução da

maioridade penal.

O sistema carcerário brasileiro não ressocializa os presos

Apontado como um dos principais problemas em reduzir a maioridade penal, e

com isso, colocar os adolescentes em cadeias defasadas e sem estrutura de suportar

uma nova quantidade de presos, os estudantes alegam que as prisões brasileiras, além

de não ressocializarem os presos, fazem com que eles cometam novos crimes:

“Não podemos discordar que um adolescente de 16 anos tem

valores morais e éticos definidos, contudo seria um retrocesso

diminuir a maioridade penal por esse motivo, e, submeter este

jovem a um sistema penitenciário lotado, sub-humano e que

não cumpre o papel de recuperar o indivíduo para devolvê-lo a

sociedade.”

“A maioria das pessoas que vão para a cadeia, ao saírem

voltam piores do que eram e cometem crimes novamente pois o

sistema carcerário brasileiro não ressocializa os presos...”

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No texto C, o estudante afirma categoricamente que adolescentes de

dezesseis anos já têm valores morais e éticos definidos. O que poderia ser um

argumento contrário à tese defendida por ele. Observamos também, nesse trecho, as

escolhas lexicais presentes. O autor utiliza as palavras adolescente, jovem e indivíduo.

As duas primeiras são correferentes, pois se referem diretamente ao menor que

comete infrações, mas a última, individuo, já amplia a noção de referência a todos as

pessoas que se encontram na prisão, funcionando, desse modo, de forma mais

genérica.

É recorrente também a ideia da cadeia enquanto lugar marginalizado e de

legitimação de uma postura criminosa. Por isso, o uso desse argumento, que apesar de

não ter sido corroborado com dados, que o aluno traz quando diz que ocorre

reincidência dos crimes, é validado haja vista os diversos veículos de comunicação

confirmando essa posição.

A solução para reduzir a violência é investir na educação

O investimento na educação foi, sem dúvida, o principal argumento ao qual os

alunos recorreram quando o assunto era uma solução para a diminuição da violência.

“...se tivéssemos políticas públicas que melhorassem a

educação e incentivassem programas sociais para os

adolescentes, a quantidade dos mesmos na criminalidade seria

menor, além disso o país cresceria em educação diminuindo

assim a violência.”

“Em vez de reduzir a maioridade penal, seria mais eficiente

investir em educação e incentivos aos jovens, já que muitos são

vítimas do trabalho infantil. Fazendo isso, diminuiria

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drasticamente o número de criminosos adolescentes, além de

trazer melhorias no desenvolvimento do país.”

Os dois trechos acima trazem um argumento baseado no senso comum, o de

que o investimento e a melhoria na educação diminuem os índices de violência e

corrobora no desenvolvimento de um país. Haveria também, além da redução da

criminalidade como um todo, diminuição no número de jovens envolvidos em crimes.

Percebe-se também a direta ligação que os alunos encontram entre a redução da

violência e o desenvolvimento do país. Enquanto no texto D, o autor fala de forma

mais geral em investimento na educação, no texto C, fala-se de como esse

investimento pode ser concretizado através de políticas públicas e programas sociais.

No texto D, suscita o tema trabalho infantil, mas não o desenvolve e nem o relaciona

diretamente com o tema da redação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Viu-se aqui que o processo de referenciação, entendido como uma espécie de

interpretação subjetiva da realidade transposta no texto, está diretamente ligado com

as intenções e com um querer dizer, que nasce não apenas da necessidade

comunicativa, mas também de uma intencionalidade do autor. As pessoas têm visões e

percepções diferentes do mundo, e através da referenciação, materializada no texto,

esse aspecto subjetivo da linguagem pode ficar evidente.

Se posicionar a respeito de um tema não é apenas mostrar seu ponto de visto,

mas sim defendê-lo e argumentá-lo mostrando um entendimento do tema proposto.

As redações analisadas conseguiram expor seus argumentos, na maioria das vezes, de

forma clara, construindo, com a ajuda de tais argumentos, a defesa de seu ponto de

vista. Vimos que ambos os lados, de quem se posicionou contra ou a favor da redução,

trouxeram argumentos que sem dúvida nenhuma corroboram com uma visão e

percepção do mundo do autor, além de servir de parâmetro para verificar como os

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estudantes argumentam em suas produções, como relacionam tais argumentos e de

que forma o fazem.

REFERÊNCIAS CAVALCANTE, Mônica Magalhães. Expressões referenciais: uma proposta classificatória. Cadernos de Estudos Linguísticos (UNICAMP), Campinas, v. 44. 2003. ______. Metadiscursidade, argumentação e referenciação. Estudos linguísticos, São Paulo, 38 (3): 345-354, set.-dez. 2009 FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Argumentação. In: Lições de texto: leitura e redação . 5.ed. São Paulo: Ática, 2006. KOCH, I. G. V. Argumentação e linguagem. São Paulo: Cortez, 1984. ______. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1989. ______. A referenciação como atividade cognitivo-discursiva e interacional. Cadernos de Estudos Lingüísticos (UNICAMP), Campinas, v. 41, n.41, p. 75-89, 2002. ______. A referenciação textual como estratégia cognitivo-interacional. In: Kazue S Monteiro Barros. (Org.). Produção Textual: interação processamento, variação. Natal: Edufurn, 1999, v. , p. 69-80. ______.Referenciação e orientação argumentativa. In: Ingedore Grunfeld Villaça Koch; Edwiges Maria Morato; Anna Christina Bentes da Silva. (Org.). Referenciação e Discurso. 1ed.São Paulo: Contexto, 2005, v. , p. 33-52. MARQUESI, S. C. . Referenciação e intencionalidade: considerações sobre escrita e leitura. In: CARMELINO, A. C.; PERNAMBUCO, J.; FERREIRA, L. A.. (Org.). Nos Caminhos do Texto: atos de leitura. Franca - SP: UNIFRAN, 2007, v. , p. 215-233. MAGALHÃES, Monica Moreira. A argumentação em redações escolares. Anais do SILEL. Volume 3, Número 1. Uberlândia: EDUFU, 2013. XAVIER, Antonio Carlos. Como se faz um texto: a construção da dissertação argumentativa. 4.ed. Catanduva, SP: Respel, 2010.

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ANEXOS

Redação A: Deve reduzir a maioridade penal? A maioridade penal no Brasil é um dos fatores para o país estar na desordem

que está. A maioria da população brasileira apoia a redução e é claro que além de reduzir a maioridade penal, também iria reduzir a violência.

Não tem sentido um adolescente cometer um crime e não pagar judicialmente e não ter uma punição adequada para os seus atos, se os adolescentes tem a noção disso, o ideal seria pagar.

O Brasil tem essa violência elevada por não haver punição para os criminosos. A população aprova, só falta atitudes mais drásticas de órgãos públicos e aprovar leis para punir os criminosos, independente que estes sejam adolescentes ou não, a punição para o crime não deveria ter “idade”. Se houvesse mais rigidez para esses assuntos, o país progrediria mais.

Redação B: Redução da maioridade penal no Brasil A redução da maioridade penal no Brasil deveria ser uma lei e muito rígida, pois

várias pessoas já concordam com a diminuição da idade em que uma pessoa deve responder por seus atos logo cedo.

Se um adolescente cometer um crime ou qualquer outra coisa que seja contra a lei, merece ser julgado de acordo com seu ato e a pena tem que vim também. Um adolescente quando faz seus atos errados tem que ser responsáveis pelos mesmos.

Por ainda não ter acontecido essa redução, há adolescentes que se aproveitam disso, porque sabe que se fizer uma coisa errada vai ser apenas apontado por aquilo que fez e não acusado ou culpado, neste caso quem fica pra responder os atos dos adolescentes são os pais e não os filhos que fazem as besteiras, por isto a redução da maioridade penal no Brasil deve acontecer rapidamente.

Redação C: Redução da maioridade penal, a solução errada para a violência Atualmente corre em tramitação no congresso a PEC 171/93, que prevê a

redução da maioridade penal de 18 para 16 anos no Brasil. Contando com a aprovação de 87% dos brasileiros, segundo o Datafolha, esse dado mostra que a população deposita nesse a esperança de com sua aprovação a impunidade e a violência venham diminuir e a justiça seja feita. Porém ao pensarmos assim fechamos nossos olhos para o impacto social que isso pode causar.

A redução da maioridade penal tem sido bastante discutida principalmente em relação ao fato de que por alguém de 16 anos ter o direito ao voto o mesmo está apto para ser preso e condenado caso cometa algum crime. Não podemos discordar que um adolescente de 16 anos tem valores morais e éticos definidos, contudo seria um

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retrocesso diminuir a maioridade penal por esse motivo, e, submeter este jovem a um sistema penitenciário lotado, sub-humano e que não cumpre o papel de recuperar o indivíduo para devolvê-lo a sociedade.

O governo tende a buscar uma maneira mais fácil de resolver crimes cometidos por menores, neste caso, encarcerando-os, todavia isso resolve o efeito, não a causa, ou seja, se tivéssemos políticas públicas que melhorassem a educação e incentivassem programas sociais para os adolescentes, a quantidade dos mesmos na criminalidade seria menor, além disso o país cresceria em educação diminuindo assim a violência.

O adolescente envolvido na criminalidade clama por uma sociedade que primeiro conceda os direitos que lhe são negados como: educação de qualidade, segurança, saúde; e depois venha puni-los. Que a população, em vez de pedir a maioridade penal, peça a melhoria das escolas, pois mantendo esses adolescentes nos estudos, eles jamais se interessarão pelo crime ou violência, serão cidadãos de bem que lutarão, não contra a polícia, mas sim a favor de nossas crianças e adolescentes.

Redação D: Redução da maioridade penal é eficaz? Segundo uma pesquisa Datafolha, 93% da capital paulista aprova a redução da

maioridade penal, visando ter maior rigidez a certos jovens que cometem delitos e saem impunes pelo fato de serem menores de idade, algo que requer uma certa atenção da sociedade e das autoridades. Mas não seria muito eficaz reduzir a maioridade penal.

A redução da maioridade penal não reduziria significativamente a criminalidade no país, até porque uma parcela muito pequena dos crimes são cometidos por jovens entre dezesseis e dezoito anos. A maioria das pessoas que vão para a cadeia, ao saírem voltam piores do que eram e cometem crimes novamente pois o sistema carcerário brasileiro não ressocializa os presos, além disso, uma grande parte dos presos são pobres e moradores de periferia que não tiveram boa educação escolar e incentivo aos estudos. Isso não resolveria o problema da criminalidade, só traria mais problemas.

Em vez de reduzir a maioridade penal, seria mais eficiente investir em educação e incentivos aos jovens, já que muitos são vítimas do trabalho infantil. Fazendo isso, diminuiria drasticamente o número de criminosos adolescentes, além de trazer melhorias no desenvolvimento do país.