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1 RELATÓRIO DE ESTÁGIO FORMAL Nuno Miguel Carvalho Cordeiro dos Santos Membro estagiário nº 20687

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Page 1: Relatório de Estágio.pdf

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RELATÓRIO DE ESTÁGIO FORMAL

Nuno Miguel Carvalho Cordeiro dos Santos

Membro estagiário nº 20687

Page 2: Relatório de Estágio.pdf

2

Conteúdo 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4

1.1 Dados do estágio ................................................................................................ 4

1.2 Objectivos do estágio ......................................................................................... 4

2 APRESENTAÇÃO DA EMPRESa - SOMAFEL S.A. ........................................................ 5

2.1 Enquadramento do estágio na actividade da SOMAFEL S.A ............................. 8

3 ACTIVIDADES DESENVOLVIDAS durante o estágio ................................................. 10

3.1 Formação inicial na empresa ........................................................................... 10

3.2 Análise do caderno de encargos do cliente ..................................................... 12

3.3 Definição e caracterização dos cadernos de encargos referentes aos trabalhos

de topografia ............................................................................................................... 13

3.4 Visitas técnicas à Obra ..................................................................................... 19

3.5 Análise dos levantamentos de campo, tratamento dos dados, geração de

Modelo Digital de Terreno .......................................................................................... 25

3.6 Definição da Directriz e Rasante ...................................................................... 27

3.7 Análise das restrições, condicionalismos e parâmetros geométrico/dinâmicos

com o objectivo de validação ou redefinição da Directriz e/ou Rasante ................... 31

4 CONCLUSÕES .......................................................................................................... 36

5 Avaliação do relatório de estágio pelo patrono ..................................................... 39

6 ANEXOs ................................................................................................................... 40

6.1 Materiais, armamento de via e Perfis tipo ...................................................... 40

6.2 Meios logísticos ................................................................................................ 44

6.3 Nota Técnica sobre Aparelhos de Dilatação .................................................... 47

6.3.1 OBJECTO ................................................................................................... 50

6.3.2 NORMAS APLICÁVEIS ................................................................................ 50

6.3.3 CRITÉRIOS DE APLICAÇÃO DE AD’s .......................................................... 50

6.3.4 COMPORTAMENTO DA BARRA LONGA .................................................... 50

6.3.4.1 INTRODUÇÃO .................................................................................... 50

6.3.5 DESLOCAMENTO NA ZONA DE RESPIRAÇÃO DA BLS ............................... 52

6.3.6 JUSTIFICAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DOS AD.................................................... 53

6.3.6.1 TROÇO EL GOURZI-BISKRA ................................................................ 53

6.3.6.2 Início da Intervenção - PK 156+000 .................................................. 54

6.3.6.3 Ponte Metálica ao PK 148+278 ......................................................... 54

Page 3: Relatório de Estágio.pdf

3

6.3.6.4 Entrada do Túnel ao PK 146+900 ...................................................... 55

6.3.6.5 Ponte Metálica do PK 145+288 ......................................................... 55

6.3.6.6 Saída da Gare de El-Kantara ao PK 145+290 ..................................... 55

6.3.6.7 Ponte Metálica do PK 140+761 ......................................................... 56

6.3.6.8 Ponte Metálica do PK 137+992 ......................................................... 56

6.3.6.9 Ponte Metálica do PK 137+145 ......................................................... 56

6.3.6.10 Ponte Metálica do PK 129+83 ........................................................... 57

6.3.6.11 Fim da Intervenção – PK 127+500 ..................................................... 57

6.3.7 TROÇO BISKRA-TOUGGOURT (PK 0+700 a PK 50+000) ........................... 57

6.3.7.1 Ponte metálica ao PK 24+760 ........................................................... 57

6.3.8 A SUPERESTRUTURA DA VIA NA PONTE ................................................... 60

6.3.8.1 Fixação Elástica Permissiva ............................................................... 60

6.3.8.2 Fixação Especial de Ancoragem ........................................................ 61

Page 4: Relatório de Estágio.pdf

4

1 INTRODUÇÃO

1.1 Dados do estágio

De acordo com o regulamento de estágios da ANET eu, Nuno Miguel Carvalho Cordeiro

dos Santos, membro estagiário com o nº 20687, venho pelo presente apresentar o

relatório do meu estágio sob a modalidade de Estágio Formal realizado na empresa

SOMAFEL – Engenharia e Obras Ferroviárias S.A. sob a orientação do Exmo Sr. Eng.

Téc. Rui Pedro Lopes Costa, membro efectivo da ANET com o nº 5764.

O estágio realizou-se na empresa SOMAFEL – Engenharia e Obras Ferroviárias S.A na

vertente de Projecto, Gestão e Execução de Vias Férreas, formalmente durante os

meses de Janeiro a Junho de 2010; muito embora por motivos profissionais

relacionados como meu vínculo profissional à SOMAFEL bem como à própria

actividade da empresa, a minha colaboração no Projecto Internacional a que este

plano de estágio está associado tenha começado nos finais de 2009.

1.2 Objectivos do estágio

Uma vez que eu já era colaborador da empresa SOMAFEL S.A este estágio teve uma

componente teórico-prática que julgo ter acrescentado valor não apenas na vertente

académica mas também na vertente profissional.

Desde o ano 2000 e até Janeiro de 2009, desempenhei as funções de topógrafo na

SOMAFEL. Em Janeiro de 2009 fui convidado a integrar o Gabinete de Estudos e

Projecto (GEP) da SOMAFEL uma vez que estava a terminar a licenciatura em

Engenharia Civil no ISEL, e a empresa julgou ser uma mais-valia para a empresa a união

dos conhecimentos académicos entretanto adquiridos no ensino superior com os anos

de prática e saber adquiridos no estudo, interpretação e materialização no terreno de

projectos de obras ferroviárias.

Neste contexto, este estágio teve como objectivo principal, formar e possibilitar que o

Engenheiro Técnico estagiário adquirisse competências necessárias para que possa

desenvolver as actividades de Gestão de Projecto de vias de Comunicação, mais

especificamente na vertente de Projecto de Vias Férreas.

Page 5: Relatório de Estágio.pdf

5

Esse objectivo será atingido, com esforço, dedicação e empenho por parte do

estagiário, contando com o acompanhamento, pedagogia e saber-fazer pela parte do

patrono.

Após a conclusão do estágio, os objectivos estarão cumpridos se o estagiário tiver

adquirido as competências necessárias para o desempenho de funções para a

elaboração de projectos ferroviários ou para a coordenação desses mesmos projectos.

2 APRESENTAÇÃO DA EMPRESA - SOMAFEL S.A.

A SOMAFEL - Engenharia e Obras Ferroviárias S.A é uma empresa fundada em 1956

que se dedica à Construção, Renovação, Conservação e Electrificação de Vias Férreas

que desde 1992 é detida pelas construtoras Teixeira Duarte em 60% e pela Soares da

Costa em 40%.

Com um capital Social de 15.000.000 € e um volume de negócios médio entre os

30.000.000 € e os 60.000.000 €, a SOMAFEL posssui um invejável parque de máquinas

e um saber-fazer acumulado de mais de 50 anos na especialização ferroviária.

A SOMAFEL tem a sua sede no complexo empresarial Lagoas Park em Porto Salvo e

possui um parque oficinal na Vila de Carregal do Sal, na Beira-Alta com mais de

100.000m2 de terreno, com 8.000m2 de área coberta e com acessos e cais ferroviários

próprios.

A SOMAFEL tem como lema “Tradição na Inovação”, e dentro desta óptica foi pioneira

em Portugal na introdução de novas tecnologias e de novos processos construtivos no

sector ferroviário no domínio de Via e Catenária.

A SOMAFEL tem como principais domínios as áreas de Via e Catenária e desde 1997

constituiu a empresa OFM - Obras Ferroviárias e Marítimas para o sector da

Construção Civil e Obras Marítimas.

Desde há mais de 20 anos que a SOMAFEL está qualificada para concorrer a obras

internacionais de grande envergadura, e dentro de uma lógica estratégica da empresa,

a SOMAFEL iniciou uma nova etapa em meados dos anos 2000 que foi a aposta no

mercado ferroviário do Magreb (Marrocos, Argélia e Tunísia).

Page 6: Relatório de Estágio.pdf

6

DIRECÇÃO DE

PRODUÇÃO

DIRECÇÃO

FINANCEIRADIRECÇÃO

ADMINISTRATIVA

DIRECÇÃO

RECURSOS

HUMANOS

DIRECÇÃO

INFORMÁTICA

DIRECÇÃO DE

SEGURANÇA,

QUALIDADE E

AMBIENTE

DIRECÇÃO

TECNOLOGIA DE

EQUIPAMENTOS

DIRECÇÃO

TÉCNICA E

COMERCIAL

DIRECÇÃO

COMERCIAL

INTERNACIONAL

DIRECÇÃO DE

EXPLORAÇÃO DE

EQUIPAMENTOS

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

ADMINISTRATIVA E

FINANCEIRA

PRODUÇÃO

SEGURANÇA, QUALIDADE

E AMBIENTE

TÉCNICA E COMERCIAL EQUIPAMENTOS

fig1 - Organograma da SOMAFEL

Fig.2 - Parque Oficinal da SOMAFEL

Page 7: Relatório de Estágio.pdf

7

Fig. 3- Sede da SOMAFEL no Lagoas Park

Page 8: Relatório de Estágio.pdf

8

2.1 Enquadramento do estágio na actividade da SOMAFEL S.A

À SOMAFEL, enquanto líder do consórcio internacional GITRA (GROUPEMENT

INTERNATIONAL DE TRAVAUX DE RENOUVELLEMENT EN ALGERIE), constituído pela

SOMAFEL – Portugal, INFRARAIL – Argélia e CCECC – Rep. Popular da China foi-lhe

adjudicado o Projecto de Concepção/Construção para a empreitada de Estudos de

execução e trabalhos de renovação de 580Km de via, balastro, aparelhos de via e

todos os trabalhos acessórios para ligação à rede Ferroviária Nacional na Argélia - “

ETUDES D’EXECUTION ET TRAVAUX DE RENOUVELLEMENT DE 580Km DE VOIE,

BALLAST, APPAREILS DE VOIE ET TRAVAUX CONNEXE A TRAVERS LE RESEAU FERRE

NATIONAL”

Nesta 1ª fase da Obra seriam renovados 240Km da seguinte forma:

i) Entre as Cidades de Biskra e Touggourt numa extensão de 217Km no Troço

Sul e todas as estações intermédias

ii) Entre o PK 127+500 e o PK 156+000 no Troço Norte

iii) As estações de Biskra e a Estação de Touggourt

Neste contexto, a SOMAFEL designou o seu Gabinete de Estudos e Projecto (GEP) que

é um departamento da Direcção Técnica e Comercial (DTC) para a coordenação de

todo o projecto, integrando as várias especialidades (via, terraplenagem, Obras de

Arte, etc.) enquanto a Direcção de Produção (DP) ficaria a cargo da Direcção do

Consórcio GITRA bem como das empreitadas de Renovação Integral de Via (RIV) entre

a cidade de Biskra e o PK 50+000 no Troço Sul e os PK 126+500 e 156+000 no Troço

Norte, bem como da Renovação da Estação de Biskra.

A mim enquanto Eng. Téc. Estagiário, a SOMAFEL proporcionou-me a oportunidade de

desenvolver o meu estágio no âmbito desta empreitada, uma vez que estando eu

afecto ao GEP, poderia através do estágio desenvolver as competências técnicas e

profissionais, de forma a que no final do estágio essas competências estivessem bem

cimentadas de forma a fazer face aos desafios futuros que me esperariam dentro da

própria orgânica da empresa como Eng. Técnico.

Page 9: Relatório de Estágio.pdf

9

Fig. 4 - Logotipo do GITRA

REPUPLIQUE ALGERIENNE DEMOCRATIQUE ET POPULAIRE

MINISTÈRE DES TRANSPORTS

Fig. 5 - Logotipo do Dono de Obra

GITRA GROUPEMENT INTERNATIONAL DE TRAVAUX DE RENOUVELLEMENT

EN ALGERIE

Page 10: Relatório de Estágio.pdf

10

3 ACTIVIDADES DESENVOLVIDAS DURANTE O ESTÁGIO

3.1 Formação inicial na empresa

A formação inicial na empresa no que concerne à Execução de Projecto Ferroviário foi

a primeira etapa pela qual passei enquanto estagiário.

Nesta fase, fui tomando conhecimento do normativo internacional em vigor para

projecto de Vias Férreas.

A grande referência em termos de projecto de via, é a ENV 13803-1, elaborada pelo

Comité Técnico do Centro Europeu de Normalização (CEN). Esta Norma elaborada em

2002 e adoptada e Portugal como Norma Portuguesa (NP) no ano de 2007, trata de

todos os parâmetros de projecto de traçado de via, geométricos, estáticos e dinâmicos

para bitolas de via 1435mm e superior.

Para além da ENV-13803 fui estudando as várias normas francesas da SNCF (Societé

National dês Chemins de Fer), as normas espanholas NRV e as normas UIC (Union

International de Chemins de Fer).

Num projecto ferroviário, antes da Recepção Provisória, a Via deve ser objecto de um

processo chamado de “Optimização de Traçado”. Esta optimização consiste, como o

próprio nome indica, numa optimização dos parâmetros dinâmicos da Via através de

um processo conhecido como “Método das Flechas” .

À medida que os comboios circulam, a superestrutura de via sofre solicitações que

com o passar do tempo vão desviando a Via da sua posição inicial, e que vão

provocando defeitos na mesma. O “Método das Flechas” é um método que consiste na

aquisição dos valores existentes de traçado da Via através da medição das suas flechas,

juntamente com um algoritmo de cálculo, que através de tratamento desses valores,

resulta num conjunto de elementos que são posteriormente implantados no terreno

com recurso às mais modernas máquinas de ataque pesado (atacadeiras), optimizando

o traçado. Ou seja, mantendo mais ou menos intactas as suas características

geométricas em termos de projecto (Raios das curvas, comprimentos das curvas,

sobreelevação, etc.) mas melhorando as suas características dinâmicas quer seja por

supressão de defeitos, quer seja pela introdução de “doucines” nas suas curvas de

transição.

Entre 1996 e 1997, a SOMAFEL desenvolveu em conjunto com a MATISA - fabricante

Suiço de máquinas pesadas de Via, com a REFER e com o Laboratório Nacional de

Page 11: Relatório de Estágio.pdf

11

Engenharia Civil, (LNEC) um software que utiliza o Método das Flechas para executar

as optimizações de Traçado denominado RECTIF.

Tive durante o período de estágio formação em RECTIF bem como em atacadeiras

pesadas de Via da marca MATISA, de forma conhecer não só o software que permite

efectuar os cálculos do Método das Flechas através de meios informáticos, mas

também conhecer os meios mecânicos e informáticos de aquisição/implantação dessas

mesmas flechas numa Via já existente.

Fig.6 - Brochura de curso sobre Atacadeira MATISA B66-U

Fig. 7 - Atacadeira B50-D no Parque Oficinal da SOMAFEL

Page 12: Relatório de Estágio.pdf

12

3.2 Análise do caderno de encargos do cliente

Passada a 1ª fase de formação inicial em projecto de vias férreas e sobre a utilização

de equipamentos pesados de Via no projecto de vias férreas, passei à fase em que

conjuntamente com o Eng. Pedro Nunes e com o Eng. Técnico Rui Costa, meu patrono

de estágio, iniciei as actividades que iriam orientar os estudos para a concepção do

projecto na Argélia. Esse fase foi a análise do caderno de encargos do cliente.

Numa empreitada desta natureza, o caderno de encargos é de uma complexidade

notável, no qual estão estabelecidas todas as possíveis situações contratuais, desde as

condições técnicas, enquadramento e personalidade jurídica, definição de termos,

condições de utilização da rede ferroviária Argelina, base de regulamentação dos autos

de medição, revisão de preços, condições de pagamento, etc, etc.

No fundo, eu definiria este caderno de encargos como sendo a “Lei” da Obra.

No entanto, um dos itens do caderno de encargos chamado de Termos e Referências

seria o item mais relevante no que diz respeito à elaboração do Projecto.Este item do

caderno de encargos foi dividido em duas partes. A primeira diz respeito aos estudos

de execução e a segunda aos trabalhos da RIV.

A primeira parte seria a parte que o GEP da SOMAFEL iria utilizar como referência para

desenvolver os seus estudos para elaboração do projecto, e nela constavam as

exigências do cliente no que concerne a:

i) Características geométricas e técnicas das vias a renovar

ii) Estudos de execução de RIV com rectificação/ optimização do traçado

iii) Topografia

iv) Projecto de Execução de Via, Drenagem e Construção Civil

v) Geotecnia

vi) Materiais e seu fornecimento

vii) Condições técnicas de execução dos trabalhos

Foi definida uma velocidade de projecto de 120Km/h para comboios de passageiros e

de 80 Km/h para comboios de mercadorias e seria para essas velocidades que seriam

analisados todos os condicionalismos/restrições ao Projecto.

Page 13: Relatório de Estágio.pdf

13

De uma maneira geral esta RIV era abordada no caderno de encargos como sendo o

“Estudo e Execução de todos os trabalhos de Renovação da Via, balastro, melhoria

da Estações, Drenagem e Protecção da plataforma”, compreendendo as prestações

da parte do empreiteiro duas vertentes:

1) A substituição de todos os constituintes materiais da superestrutura da via

existente por elementos novos, incluindo balastro e aparelhos de Via.

2) O Projecto de Execução que possibilite a melhoria das condições de

circulação, reconfiguração das Estações aumentando o comprimento útil

das vias de cruzamento, aumento dos cais de passageiros e mercadorias,

velocidade de circulação nos cruzamentos de linhas, melhoria da drenagem

da plataforma, aumento dos entre-eixos e gabarits quando aplicável.

3.3 Definição e caracterização dos cadernos de encargos referentes

aos trabalhos de topografia

Era no subcapítulo “Topografia” do capítulo “Termos e Referências” do caderno de

encargos, que eram adiantadas as premissas estabelecidas pelo Dono de Obra para os

trabalhos de topografia que conduzissem aos estudos, bem como aos trabalhos de

topografia de apoio à obra, e à materialização da rede de apoio para utilização futura.

Devido ao meu passado e experiência adquirida neste domínio ao longo de 10 anos de

empresa, 9 dos quais como topógrafo, fui incumbido de analisar com detalhe este

subcapítulo e de elaborar um caderno de encargos para adjudicação da topografia a

uma empresa subcontratada.

A empreitada de topografia deveria abranger 3 áreas a desenvolver, que seriam:

1) Determinação e implantação no terreno de uma rede de apoio topográfico.

2) Levantamentos topográficos

3) Piquetagem e apoio à obra

Atendendo à grande extensão da obra, 240 Km só nesta 1ª fase, tornou-se imperioso

que a poligonal principal fosse efectuada com recurso a GPS. No entanto, foi

necessário estabelecer as condições para que a rede de poio pudesse cumprir os

critérios de aceitação necessários. Essas condições diziam respeito ao modo de

observação do GPS, ao número de mínimo de satélites permitido para observação

Page 14: Relatório de Estágio.pdf

14

contínua, ao valor de PDOP (Diluição da Precisão Posicional) máximo admitido, o

Horizonte de Observação mínimo, o tempo mínimo de observação, o número de

receptores a utilizar, a distância entre pontos de apoio, o método de ajustamento da

poligonal e o erro médio quadrático admitido para cada vértice da rede de apoio.

Por outro lado, definiu-se também que os vértices pertencentes à Rede Geodésica

Nacional Argelina deveriam ser levantados para confirmação e re-ajustamento da nova

rede de apoio.

Desta forma, e depois de ter estudado as exigências do capítulo da topografia no

caderno de encargos da obra, definimos que deveria ser estabelecida uma Poligonal de

apoio principal observada apenas com recurso a GPS, com um PDOP máximo de 4,

com estações no máximo a cada 4 Km, em que cada ponto de apoio fosse triangulado

com pelo menos 3 pontos pertencentes à Rede Geodésica Nacional Argelina, com 4

receptores simultâneos, em modo estático, com 30 minutos de tempo de observação

mínimo, com um mínimo de 5 satélites e um horizonte de observação nunca inferior a

15o.

A partir desta poligonal principal seria estabelecida uma poligonal secundária

observada com GPS e/ou estações totais de precisão com leituras directas e inversas

sempre com 3 tripés para eliminar erros de estacionamento. A distância média entre

pontos desta poligonal secundária deveria andar entre os 100/150m para zonas sem

visibilidade e entre os 150/300m para zonas de boa visibilidade.

A altimetria desta poligonal deveria ser obtida com recurso a nivelamento geométrico

em detrimento do nivelamento trigonométrico, níveis ópticos digitais, e referenciado à

rede N.G.A. (Nivellement Général Algerian), que é rede altimétrica argelina.

Foi também definido o local preferencial de materialização dos marcos de apoio, as

suas formas, dimensões e informação constante em cada um dos marcos.

Apresenta-se de seguida um exemplo de um marco de apoio à obra. Este marco

corresponde ao marco de apoio nº 1 do Km 30

Page 15: Relatório de Estágio.pdf

15

Fig.9 - Exemplo de marco de apoio ao Km 30

No que diz respeito à parte de levantamento topográfico, foram definidos 3 tipos de

levantamento a efectuar.

i) Levantamento do eixo da Via

ii) Levantamento de perfis transversais

iii) Levantamento de perfil longitudinal

Para o levantamento do eixo da via definiu-se um espaçamento de pontos a cada

25m quer em recta quer em curva no Troço Norte, já que este troço se situa numa

zona de montanha,

No Troço Sul o espaçamento seria de 50m para as rectas e de 25m para as curvas

dado que este troço se desenvolve para uma zona de deserto até chegar a

Touggourt.

Deveriam também ser levantados todos os pontos singulares existentes na via, tais

como passagens de nível, pontes e pontões, passagens hidráulicas, marcos

hectométricos e quilométricos, túneis, aparelhos de via existentes, cais das

estações, edifícios, etc.

Muito embora o meu estágio fosse fundamentalmente na parte de Projecto de Via,

seria óbvio que o Projecto de Execução desta RIV (Renovação Integral de Via) para

ser bem sucedido teria que ser articulado com as várias especialidades e com todos

Page 16: Relatório de Estágio.pdf

16

os condicionalismos que existiriam no terreno. Por esse motivo foi dado algum

relevo ao levantamento das PH’s dados que deveria ser feito um estudo de

drenagem ao longo da obra.

Fig.10 - Exemplo do levantamento efectuado

No que concerne ao levantamento de perfis transversais, a premissa seria de que o

local de levantamento dos perfis deveria coincidir com o local de levantamento dos

pontos do eixo de via de forma a uniformizar o trabalho e também poupar tempo na

tarefa do levantamento. Os perfis transversais deveriam ser levantados numa faixa

mínima de 15m para cada lado da via, muito embora devesse ser as equipas de

topografia a definir “In Situ” a necessidade ou não de aumentar esta faixa.

Para o levantamento do perfil longitudinal, este deveria corresponder não ao eixo da

via como nas obras de estradas, mas sim ao plano do carril da fila baixa.

Em caminhos de ferro, a rasante é definida sempre à cota da fila baixa do carril. O que

corresponde nas curvas, ao carril da fila interior.

A componente de sobreelevação - “escala” em linguagem ferroviária é sempre dada

em valor absoluto e não em percentagem. O valor da escala é então somado à cota do

Page 17: Relatório de Estágio.pdf

17

carril da fila baixa, resultando na cota da fila alta, que corresponde à cota do carril

exterior numa curva.

Desta forma, a rasante da fila baixa de uma via de caminho de ferro varia da esquerda

para a direita consoante o sentido das curvas.

Se no levantamento topográfico em plena via as cotas são obtidas

trigonometricamente, foi exigido que as cotas nos pontos singulares fossem

levantadas com recurso a nivelamento geométrico, dada a sua superior precisão.

Estes trabalhos topográficos foram adjudicados à sociedade A.T.G.T. (Association dês

Topographes Géométres et Techniciens d’Etudes) com sede em França mas com

sucursal na Tunísia e Argélia.

Foi elaborado um programa de trabalhos com a duração de 266 dias, mas que devido a

necessidades operacionais do GITRA, foi encurtado em 100 dias já que se optou por

mandar equipas de topografia da SOMAFEL para o apoio da obra em vez das equipas

da A.T.G.T.

Apresenta-se de seguida o programa de trabalhos referente às actividades da

topografia.

Page 18: Relatório de Estágio.pdf

18

PROGRAMA DE TRABALHOS

DAS ACTIVIDADES DA

TOPOGRAFIA

Page 19: Relatório de Estágio.pdf

19

3.4 Visitas técnicas à Obra

No contexto de melhor conhecer a situação existente, efectuai duas visitas técnicas à

Argélia. A primeira de 9 dias e a segunda de 15 dias.

Na primeira visita, fui conhecer o terreno de uma forma mais abrangente entre Biskra

e Touggourt e efectuar contactos com as equipas de topografia locais.

Na segunda visita, fui fazer um apanhado da situação nas zonas que se mostraram

mais críticas para elaboração do projecto. Essas zonas foram as zonas das pontes

metálicas, a zoda inundável ao Km 97, todas as estações entre Biskra e Touggourt,

assim como as zonas desérticas.

Fig11 – Vista da Estação de Djamaa ao Km 164+100

Page 20: Relatório de Estágio.pdf

20

Fig.12 – Vista de zona no deserto ao Km 184+000

A cidade de Touggourt - “a porta” ou “o portão” em árabe - é uma cidade que se

localiza na Willaya (província) de Ouargla, que foi construída em volta de um oásis no

deserto do Sahara. É desde à vários séculos, um importante centro de produção e

distribuição de tâmaras para todo o Mundo.

A Estação de Touggourt foi inaugurada com a 1ª ligação ferroviária entre Biskra e

Touggourt em 1914, e foi crescendo até se tornar num importante cluster rodo-

ferroviário, com ramais de ligação a uma refinaria da industria petrolífera e gás, fábrica

de cimento e depósitos de cereais e tâmaras.

Nos últimos anos do sec. XX a estação foi ficando degradada chegando mesmo a existir

numerosas composições que foram abandonadas nas suas linhas de resguardo ao

ponto de a tornar quase inoperacional.

Dentro desta lógica, a ANESRIF juntou ao contrato desta RIV, a reabilitação total da

Estação de Touggourt, com elaboração de um projecto de via para uma nova estação,

com a premissa de manter o Layout da estação actual, e manter as ligações aos polos

industriais contíguos à estação.

Para isso, foi necessário fazer um reconhecimento da zona, e um levantamento das

características de todos os AMV’s (aparelhos de mudança de via) existentes – raio,

sentido do desvio, tangente e dimensões. Este registo serviria para a construção de um

Diagrama Unifilar de Via, que é um diagrama esquemático com a representação das

características do traçado, no qual constam as informações de todos os pontos

singulares, para quantificação de materiais e mais importante ainda, com a

organização e hierarquização de todas linhas existentes na estação, para estudo das

manobras a efectuar nos AMV’s Num projecto para uma estação ferroviária este

diagrama geral unifilar é uma ajuda preciosa para que de uma forma sucinta se consiga

visualizar a hierarquização das linhas, seus AMV’s e esquema geral.

Page 21: Relatório de Estágio.pdf

21

Este registo efectuado durante a visita, seria utilizado juntamente com os elementos

recolhidos pela topografia, para o estudo do projecto para a nova Estação de

Touggourt

Fig.13 – Estação de Touggourt

Fig.14 – Vista de um AMV de ramal de ligação na estação de Touggourt

Page 22: Relatório de Estágio.pdf

22

Uma outra zona que mereceu especial atenção, foi uma zona de aproximadamente

2Km, entre os Km 96+500 e o Km 98+000.

Esta zona em época de chuvas e devido à deficiente drenagem existente e à obstução

de várias passagens hidráulicas (PH) submerge a via na totalidade e de forma quase

repentina, o que provoca graves deficiências na via ferroviária.

A água ao inundar a via, arrasta consigo uma quantidade de detritos, incluindo finos,

que vão preencher os vazios do balastro resultando na sua colmatação. O balastro é

um elemento importante na superestrutura de via férrea, dado que é ele que através

do seu atrito “segura” a via no sentido longitudinal e transversa, confere à via uma

maior capacidade elástica, para além de contribuir para a degradação das cargas

impostas à plataforma.

Com a colmatação do balastro, essa propriedade elástica perde-se, aumentando a

rigidez da superestrutura da via no Verão, e transformando-a num lamaçal na época

das chuvas, contribuindo para a ruína da plataforma.

Por este motivo realizou-se uma visita a esta zona de forma a estudar as melhores

soluções a empregar.

Optou-se por se fazer uma subida da rasante em cerca de 1.5m bem como um

tratamento especial da plataforma. Para além disso, melhorou-se substancialmente a

drenagem transversal e longitudinal da via férrea, nomeadamente a limpeza e

reabilitação de PH’s existentes, bem como o aumento de secção das mesmas.

Fig.15 – Zona de iundações ao Km 97+000

Page 23: Relatório de Estágio.pdf

23

Fig.16 – Resultado da colmatação do balastros no comportamento da via

Fig.17 – PH obstruida

Page 24: Relatório de Estágio.pdf

24

Outra das situações que foi necessário avaliar, foi o estado das fixações das travessas

de madeira às pontes metálicas, bem como o tipo de fixação utilizado.

Esta informação é de capital importância uma vez que a via a montar nesta RIV seria

toda ela em Barra Longa Soldada (BLS). Este tipo de via é uma via sem recurso a juntas

entre as barras de carril, sendo que as barras são todas soldadas quer seja por

processo de soldadura aluminitérmica quer seja por soldadura eléctrica.

Numa via em BLS, as zonas das pontes metálicas são zonas críticas dado que as tensões

internas no carril passam para a Obra de Arte uma vez que as travessas são fixadas

directamente à estrutura da OA. Essas tensões são normalmente absorvidas com

recurso a Aparelhos de Dilatação (AD) que se colocam nas extremidades da OA.

No Capítulo 6 - ANEXOS, junto uma nota técnica elaborada por mim de forma a

justificar a utilização (ou não) de AD nas pontes metálicas entretanto visitadas.

Fig.18 – Pontão Metálico ao Km 24+800

Page 25: Relatório de Estágio.pdf

25

Fig 19 – Sistema de fixação em ponte metálica

3.5 Análise dos levantamentos de campo, tratamento dos dados,

geração de Modelo Digital de Terreno

À medida que as equipas de topografia da A.T.G.T. iam efectuando os levantamentos

de campo e os iam enviando para Portugal, o GEP ia fazendo uma compilação dos

elementos e análise dos dados de forma a dar início aos estudos para elaboração do

projecto..

Os levantamentos foram enviados em ficheiro de texto ASCII e em ficheiro DWG

(AutoCAD) com representação gráfica da orografia do terreno.

Estabelecemos que para quantificação do movimento de terras a efectuar no âmbito

da RIV os perfis transversais levantados em obra não seriam os únicos elementos a

considerar. Dever-se-ia também construir um Modelo Digital de Terreno (MDT) de

forma que o tratamento dos elementos que definem o terreno natural possa ser

efectuado informaticamente. A criação do MDT permite que através de uma forma

bastante mais rápida, através de software apropriado possa ser construído um mapa

Page 26: Relatório de Estágio.pdf

26

de declives de forma a melhor estudar a orografia do terreno, bacias de retenção, etc.

para concepção do projecto de drenagem.

Esse MDT foi efectuado com recurso ao software AutoCAD Civil 3D, e para a sua

construção utilizei os elementos da topografia - pontos cotados, linhas de talude,

muros cais e obstáculos, linhas de água, vedações, etc. etc. – definiram-se as

“BREAKLINES” (linhas de quebra) e construi-se a rede de triângulos que define a

superfície 3D.

Apresenta-se de seguida um exemplo em que se pode ver que o local de levantamento

do perfil transversal 119 do troço entre o Km 154 e o Km 164 se situa alguns metros

atrás de uma PH. Sem recurso à criação do MDT, não se teria uma noção exacta da

topografia nesse local e a representação não seria fidedigna da realidade, com a

consequente perda de rigor na análise da drenagem e quantificação dos movimentos

de terras

Fig.20 – Exemplo do MDT criado numa zona de PH

Page 27: Relatório de Estágio.pdf

27

3.6 Definição da Directriz e Rasante

No âmbito do nosso contrato, fora estabelecido que o traçado deveria desenvolver-se

de uma maneira geral segundo o traçado actual, fazendo as respectivas alterações ao

traçado de via de forma a que as velocidades de projecto atrás referidas; 120Km/h

para comboios de passageiros e 80Km/h para comboios de mercadorias fossem

atingidas.

Numa linha de caminhos de ferro tanto circulam comboios mais rápidos (passageiros)

como comboios mais lentos (mercadorias). E como tal, devido às diferenças de

velocidade e de peso por eixo de cada uma das composições, as solicitações que o

material circulante impõe à superestrutura de via será também diferente.

Como primeira aproximação, pegaram-se nos antigos diagramas de via da SNTF

(Société Nationale de Transports Ferroviaires - ة شرك ية ال ن وط ك ل ن ال ة ل دي حدي de (ال

forma a conhecer os elementos de traçado e perfil longitudinal da via existente. Estes

diagramas são representações da via nos quais estão representados o traçado em

planta, traçado em perfil longitudinal, armamento da via e respectivo plano de

assentamento, pontos singulares (PN’s, Viadutos, etc.) e toda a informação que seja

pertinente constar para representar uma via férrea de uma forma esquemática.

Page 28: Relatório de Estágio.pdf

28

Fig.21 – Exemplo de um diagrama da SNTF utilizado para 1ª caracterização do Projecto de Via

Com o auxílio destes diagramas e com os levantamentos topográficos, tiveram início os

primeiros esboços no que diz ao traçado em planta. No entanto, a primeira grande

contrariedade deu-se com o facto de a velocidade de projecto definida no caderno de

encargos ser superior à velocidade admitida em várias zonas do Troço Norte, com base

nos antigos diagramas da via.

Para que isto seja mais facilmente compreendido é necessário fazer uma pequena

apresentação dos parâmetros geométricos e dinâmicos mais importantes para

dimensionamento da geometria de uma via ferroviária em planta:

V – Velocidade (km/h)

R – Raio (m)

D – Sobreelevação/Escala (mm);

I – Insuficiência de escala (mm);

dD/dl – Variação de escala no comprimento (mm/m);

dI/dt – Variação da insuficiência de escala no tempo(mm/s);

dD/Dt – Variação de escala no tempo (mm/s);

E – Excesso de escala – (mm)

Se uma linha recta não apresenta problemas de maior, é sabido pelas leis da Física que um

veículo ao inscrever-se numa curva, sofre uma força centrífuga de magnitude

que o

puxa para fora. Esta força pode ser contrariada dando uma sobreelevação à via, de forma

que o valor da componente normal do peso (do veículo) iguale o valor da força centrifuga,

anulando-a.

Ao valor de sobreelevação que iguala a força centrifuga chamamos de Escala Teórica.

Contudo, como circulam na mesma via comboios a diferentes velocidades, um comboio

que circule a uma velocidade menor, necessitará de uma valor de escala menor para se dar

o equilíbrio de forças. Por este motivo não se adopta o valor de escala teórica mas sim um

valor a que chamamos Escala Prática.

Desta forma iremos ter uma Insuficiência de Escala para os comboios mais rápidos e um

Excesso de Escala para os comboios mais lentos.

Page 29: Relatório de Estágio.pdf

29

Numa situação de Insuficiência de escala a resultante das forças será no sentido do carril

da fila exterior, enquanto que com excesso de escala essa resultante actuará no sentido do

carril interior.

Fig.22 – Secção Transversal da Via numa curva à direita

Estas resultantes de forças somadas aos efeitos das cargas verticais dos bogies, efeito de

lacete do bogie na via e acelerações laterais não compensadas contribuem para a

deformação lateral da via piorando a sua qualidade geométrica e consequentemente as

condições de seguranças da circulação.

Por este motivo é de capital importância que o projectista em função da quantidade e tipo

de tráfego que uma via férrea irá ter durante a sua exploração, defina bem os valores de

Escala Prática a dar às curvas, para que os valores de Insuficiência de Escala e de Excesso de

Escala provoquem solicitações nas duas filas de carril que sejam equilibradas.

Page 30: Relatório de Estágio.pdf

30

Para se fazer a transição de um alinhamento recto para uma curva circular, utilizam-se

assim como nas rodovias, curvas de transição, cuja existência é justificada pela necessidade

de fazer uma transição progressiva da escala.

Essa transição é regulamentada também em normas internacionais devido a factores de

segurança e de factores de conforto para os passageiros.

Nessa lógica de limitação de esforços e de efeitos fisiológicos desconfortáveis nos

passageiros surgem os parâmetros de Variação de escala no comprimento (dD/dl),

Variação da insuficiência de escala no tempo (dI/dt) e Variação de escala no tempo

(dD/Dt).

No que diz respeito à definição da rasante, as normas definem inclinações máximas dos

traineis e seu comprimento máximo, bem como os valores dos Raios verticais (Rv) a utilizar

de forma a limitar o valor de aceleração vertical máxima admissível.

A aceleração vertical máxima admissível

, é um valor que está definido de forma a

verificar os aspectos de segurança face ao risco de descarrilamento devido à diminuição da

carga da roda na passagem de curvas convexas, mas também o conforto da marcha para os

passageiros na eventualidade de existência de uma plataforma de via instável.

Com base nestes (e em muitos outros) parâmetros de concepção de projectos ferroviários,

começámos então a esboçar os primeiros estudos.

Devido a questões contratuais e principalmente de prazo, não houve lugar a um estudo

prévio na concepção do traçado, pelo que passámos logo à fase de projecto de execução,

definiu-se que os estudos seriam colocados à disposição do Dono de Obra para apreciação

e eventual aprovação de uma forma faseada, em troços de aproximadamente 10Km, sendo

que os trabalhos em obra começariam poucas semanas após a aprovação de cada um dos

troços

Page 31: Relatório de Estágio.pdf

31

3.7 Análise das restrições, condicionalismos e parâmetros

geométrico/dinâmicos com o objectivo de validação ou

redefinição da Directriz e/ou Rasante

Naturalmente que a validação tanto do traçado como da rasante não se obteve à

primeira tentativa, não tanto no troço Sul mas fundamentalmente no troço Norte

devido à natureza da sua orografia. Se no troço Sul nós temos zonas que se vão

tornado cada vez mais desérticas à medida que nos deslocamos até Touggourt, no

troço Norte à medida que nos afastamos de Biskra na direcção de El Gourzi, o terreno

é cada vez mais montanhoso.

De forma a cumprir os parâmetros de traçado necessários para a velocidade de

projecto, o traçado teria forçosamente que se afastar por vezes vários metros do

traçado original, o que obrigaria não só a grandes movimentações de terras para

construção de uma nova plataforma, como também à aberturas de trincheiras em

zonas de rocha. Isto não só era bastante oneroso para o Dono de Obra em termos de

custos, como implicaria uma derrapagem substancial no prazo de execução da obra e

contratualmente estava fora do âmbito do contrato da RIV.

Fig. 23 – Vista de zona montanhosa no Troço Norte

Page 32: Relatório de Estágio.pdf

32

Contratualmente a situação só se poderia resolver com a elaboração de aditamentos

ao contrato (Avenant), que devido à morosidade e burocracia envolvidas, as

respectivas diligências nesse sentido não foram efectuadas atempadamente.

Outra questão prendia-se com a existência de ínumeros pontões metálicos e a

existência de uma zona de Túneis à saída da estação de El Kantara no troço Norte, o

que obrigou a que o novo traçado tivesse obrigatoriamente que respeitar estes pontos

fixos de alinhamento.

Por estes motivos, houve necessidade de se baixar a velocidade de projecto

pontualmente nas zonas mais complicadas de forma a manter o novo traçado o mais

próximo possível do actual, minimizando as ripagens de via para fora da plataforma

existente.

Fig.24 – Ponte Metálica e Túnel no Troço Norte

Page 33: Relatório de Estágio.pdf

33

Em termos de perfil longitudinal também houve a necessidade de subir a rasante mais

do que o previsto. Essa alteração deu-se com a necessidade de haver uma substituição

de materiais com alturas muito diferentes.

Se a via antiga era composta por carril de tipo 46 assente em travessa metálica com

uma espessura de balastro de cerca de 15 a 20cm, a nova via e seria assente com

travessa bibloco VAX U 31 (patente SOMAFEL) e carril UIC 54 e com uma altura de

balastro mínima de 25 cm.

Fig.25 – Travessa metálica

Fig.26 – Travessa bibloco VAX U 31

Page 34: Relatório de Estágio.pdf

34

Os trabalhos da RIV implicam desguarnecimento mecânico do balastro, transporte a

vazadouro e tratamento da plataforma. No entanto existem zonas em que a relação

custo/benefício dessa metodologia não seria vantajosa, pelo que óptica do Dono de

Obra o desguarnecimento deveria ser efectuado apenas até ao “calo” da plataforma,

pelo que nessas zonas a subida de rasante, de forma a incorporar os novos materiais

teve que ser substancialmente aumentada em relação às estimativas iniciais.

De resto, apenas a existência dos pontões metálicos condicionou a rasante, pelo facto

de nestas zonas apenas se daria uma substituição de carril 46 para carril UIC 54 e

substituição das travessas de madeira por travessas novas, pelo que a concordância da

rasante da plena via com as zonas a montante e a jusante das obras de arte foi alvo de

atenção especial

No troço Sul os condicionalismos existiram numa escala bastante menor, dado que

neste troço predominam as grandes rectas e o terreno passa por zonas de estepe

semi-desertica e zonas de deserto.

Neste contexto as únicas condicionantes foram as zonas que mereceram atenção da

segunda visita técnica que efectuei à obra juntamente com os projectistas das várias

especialidades. As zonas das pontes metálicas, as zonas inundáveis, e principalmente

as estações devido à imposição do Dono de Obra em manter o layout próximo do

actual.

Se no caso das estações intermédias de Oumache, Bir-Djefeir, Still, Ourir, Meghaier,

Sidi Khelil, Berd, Tamerna, e Moggar não houve condicionalismos, nas estações de

Biskra, Touggourt e na estação intermédia de Djamaa houve necessidade de efectuar

um ante-projecto detalhado (APD) antes de se passar ao projecto de execução.

Na estação de Djamaa, a maior dificuldade foi a de manter o layout da estação sem

baixar a velocidade de projecto. Contudo não foi possível satisfazer ambas as

premissas, dado que para manter a velocidade em 120Km/h a curva de entrada do

lado Norte teria que ter um Raio de 750m para 140mm de escala.

Esse aumento de raio em relação ao traçado actual faria com que as ripagens de via se

dessem em cerca de dois metros na zona mais desfavorável. Isso obrigaria a um

aumento da largura da plataforma, e o posicionamento do AMV de entrada teria

forçosamente que se dar num local diferente. Isto iria obrigar a deslocar também os

cais de passageiros.

Page 35: Relatório de Estágio.pdf

35

De forma que isso não acontecesse, os AMV’s deveriam ser diferentes em termos de

geometria (raio e ângulo de abertura), o que por sua vez obrigaria a um novo contrato

de fornecimento de material de via.

Por este motivo a estação de Djamaa acabou por se tornar um desafio que no entanto

devido mais uma vez a questões económicas, acabou por não se concretizar. A solução

adoptada depois de estudadas várias alternativas acabou por ser a de se baixar a

velocidade para 100Km/h, mantendo os AMV’s praticamente no mesmo local dos

AMV’s existentes, e não intervencionar os cais de passageiros.

A existência de PH’s ao longo do traçado foi também determinante em termos de

condicionalismo ao traçado.

Nas grandes rectas, uma ligeira alteração no rumo faz com que ao fim de alguns

quilómetros a via se desvie em vários centímetros (por vezes metros) do traçado

original. A existência de PH’s determinou que se adoptassem ao longo do traçado

várias curvas circulares de grande raio, na casa dos milhares de metros, de forma a

corrigir os rumos dos alinhamentos rectos para que a via passasse ao eixo das PH’s.

Isto não só evitaria cargas estáticas e dinâmicas excêntricas como evitaria obras de

intervenção em várias PH’s com o intuito do seu prolongamento.

Estes foram os condicionalismos mais determinantes ao longo do projecto e que

motivaram uma redefinição tanto do traçado como da rasante.

Page 36: Relatório de Estágio.pdf

36

4 CONCLUSÕES

Durante este período de estágio, o GEP foi solicitado por diversas vezes para dar apoio

à produção da obra. Apesar da programação que se faz em termos de planeamento

das actividades de projecto há sempre situações que escapam ao normal desenrolar

das coisas. Um exemplo disso são as alterações ao projecto por situações que só

durante o desenrolar dos trabalhos vão aparecendo.

Durante a 2ª visita técnica que efectuei à Argélia no passado mês de Maio no qual

foram levantadas as questões abordadas no capítulo 3.4 , no fundo o que se

pretendeu foi dar resposta a questões que se verificaram durante o decorrer dos

trabalhos de desmontagem da linha velha.

A minha actividade enquanto Eng. Técnico ligado ao Gabinete de Projectos da

SOMAFEL, e afecto a este projecto internacional não se esgotará seguramente nas

actividades entretanto desenvolvidas.

Numa primeira fase o meu estágio centrou-se na formação na área de projecto de

superestrutura de via, e depois passei para as optimizações de traçado.

Nesta área em primeiro lugar, conheci o “Método das Flechas” através de bibliografia

francesa da SNCF, começando por uma abordagem teórica ao Método e depois com

aplicações de exemplos práticos.

Posteriormente tive formação no software RECTIF e depois formação em atacadeiras

pesadas de via da marca suíça MATISA.

Na parte do projecto da Argélia aqui descrito, o meu envolvimento neste projecto

começou, com uma solicitação para dar apoio a um dossier que me era

particularmente familiar, que era o da topografia; no qual colaborei na elaboração das

definições do caderno de encargos para uma prestação de serviços por parte de uma

outra empresa, e de seguida para um envolvimento numa vertente de projectista de

via, na parte da superestrutura.

Tive é certo, uma grande facilidade em integrar os conceitos de projecto de via devido

ao meu passado enquanto topógrafo de obras ferroviárias durante 9 anos e por 1 ano

enquanto técnico projectista em que colaborei em outros projectos ferroviários, pelo

que rapidamente fui aprofundando conhecimentos das normas internacionais e

Page 37: Relatório de Estágio.pdf

37

nacionais em vigor, que dizem respeito ao traçado, materiais, especificações de

material circulante, etc.

Passei depois por uma fase de criação dos Modelos Digitais de Terreno a partir dos

levantamentos topográficos efectuados na Argélia, enquanto continuava a aprofundar

conhecimentos na área de projecto. Esses MDT’s foram utilizados para geração dos

perfis transversais do terreno de forma a criar os perfis transversais do projecto e

cálculo dos movimentos de terras.

Esses conhecimentos puderam ser postos em prática na medida em que fui depois

integrado na equipa que coordenava os estudos para a elaboração do traçado, rasante

e perfis transversais.

Esses estudos foram adjudicados às empresas Ferbritas e COBA, coordenados pelo

Eng. Pedro Manual Nunes da SOMAFEL, com assessoria do Eng. Técnico Rui Costa, meu

orientador de estágio, por mim enquanto Eng. Técnico estagiário e por dois

desenhadores.

À medida que o projecto ia ficando pronto por troços, eu fui fazendo a sua análise

técnica, respectivos comentários e validação dentro dos critérios definidos nas normas

europeias, nomeadamente pela NP ENV 13803-1.

Esses comentários são posteriormente analisados na SOMAFEL e as considerações

finais são então comunicadas às empresas Ferbritas e COBA , de forma a haver uma

eventual redefinição do projecto.

Para além destas actividades, destaco a minha participação na elaboração da Revisão

ao Projecto de Execução da Estação de Touggourt, e a criação de todos os MDT entre

Biskra e Touggourt, numa extensão de 217Km.

Em relação ao troço Norte, efectuei as alterações de rasante devido à imposição do

Dono de Obra (Anesrif) em não permitir o desguarnecimento a uma profundidade

superior à do “calo” da plataforma existente.

Neste momento, e com a saída do Engenheiro Pedro Nunes - director do GEP - da

empresa, e com a passagem em definitivo do Engenheiro Técnico Rui Costa para a área

da Produção de Via, estou interinamente responsável pelos estudos deste projecto de

via, servindo de Interface entre o GITRA na Argélia e a Direcção de Produção da

SOMAFEL em Portugal. É nesse enquadramento de responsável pelos estudos em

Portugal que elaborei a Nota Técnica sobre Aparelhos de Dilatação, emitida em Junho

de 2010, que apresento como anexo neste relatório de estágio.

Page 38: Relatório de Estágio.pdf

38

Neste contexto, penso que este estágio formal da ANET com uma duração de pouco

mais de 6 meses abrange apenas um pequeno período da minha vida profissional que

agora se inicia enquanto Eng. Técnico.

O desafio, já há me tinha sido lançado há cerca de ano e meio quando fui convidado

para integrar o GEP da SOMAFEL, e penso que a confiança em mim depositada pela

SOMAFEL enquanto estudante universitário do último semestre de Engenharia Civil no

ISEL, serviu de mote para não só este estágio, mas também para uma futura vida

profissional que, acredito, vir a ser recheada de êxitos.

Considero pois como grandemente positivo este período de estágio. Foi um período

de aquisição de novos conhecimentos e competências, consolidação dos

conhecimentos já adquiridos e uma posta em prática do conhecimento em actos de

engenharia.

Tudo isto realizado ao serviço de uma empresa sólida como é a SOMAFEL, num

projecto internacional muito importante não só para a empresa sob o ponto de vista

económico, mas um projecto que dignifica a SOMAFEL e a Engenharia Portuguesa

além fronteiras.

Page 39: Relatório de Estágio.pdf

39

5 AVALIAÇÃO DO RELATÓRIO DE ESTÁGIO PELO PATRONO

No seguimento do relatório elaborado pelo Engenheiro Técnico Nuno Cordeiro dos

Santos, confirmo que o mesmo desempenhou de uma forma responsável, interessada

e muito competente as tarefas nele descritas.

O Engenheiro Técnico Nuno Cordeiro dos Santos enquanto estagiário manifestou com

o decorrer do tempo uma crescente capacidade de trabalho e espírito de equipa, que

aliados à sua disponibilidade, capacidade técnica e fácil relacionamento com os colegas

e colaboradores demonstraram, no final destes seis meses, o seu reconhecimento na

Empresa.

Estas qualidades não são de estranhar a quem conhece o homem para lá do

engenheiro, e julgo que o Engenheiro Técnico Nuno Cordeiro dos Santos reúne as

competências necessárias para ser recebido entre nós como colega.

_________________________________________

(Rui Pedro Lopes Costa)

Page 40: Relatório de Estágio.pdf

40

6 ANEXOS

6.1 Materiais, armamento de via e Perfis tipo

Os materiais de via utilizados nesta RIV compreendem o carril com perfil UIC 54,

assentes em travessa bibloco VAX U 31 com sistema de fixação elástica do tipo NABLA

para as ditas travessas.

As travessas terão um espaçamento de 60cm entre si, medidos ao eixo das travessas.

A via é assente em Barra Longa Soldada (BLS) numa camada de balastro de 25cm de

espessura mínima medida ao eixo do carril da fila baixa em curva, ou em qualquer um

dos carris em recta

Sistema de fixação elástica NABLA para carril UIC 54 em travessa VAX U31

Page 41: Relatório de Estágio.pdf

41

Travessa bibloco VAX U 31

Page 42: Relatório de Estágio.pdf

42

AMV tg 1:9 concebido pela VOSSLOH/COGIFER

AD concebido pela VOSSLOH/COGIFER

Pormenor da lança e contra lança do AD

Page 43: Relatório de Estágio.pdf

43

Perfis Transversais Tipo

2.240.40 0.40

PROFIL EN TRAVERS-TYPE A VOIE UNIQUE

REMBLAI ET DEBLAI

3

2

3

2

0.70

BALLAST min 25cm

0.70

1.435

RAIL UIC 54

ATTACHE NABLA

TRAV BI-BLOC

0.200.20

1.51

0.600.60

0.30

2.24Var Var

PROFIL EN TRAVERS-TYPE A VOIE UNIQUE EN COURBE

REMBLAI ET DEBLAI

3

23

2

Var Var

BALLAST min 25cm

RAIL UIC 54

ATTACHE NABLA

TRAV BI-BLOC

1.435

0.200.20

1.51

0.600.60

0.30

Page 44: Relatório de Estágio.pdf

44

6.2 Meios logísticos

Estaleiro e fábrica de travessas da SOMAFEL em Biskra

Page 45: Relatório de Estágio.pdf

45

Estaleiro e fábrica de travessas da SOMAFEL em Biskra

Stock de travessas

Page 46: Relatório de Estágio.pdf

46

O balastro é descarregado por camião e transportado para z zona de trabalhos em vagões balastreiros

Stock de balstro. Nesta imagem é patente a grandiosidade do stock em comparação com o camião e os vagões balastreiros

Page 47: Relatório de Estágio.pdf

47

6.3 Nota Técnica sobre Aparelhos de Dilatação

Page 48: Relatório de Estágio.pdf

48

REPUBLIQUE ALGERIENNE DEMOCRATIQUE ET POPULAIRE

MINISTÈRE DES TRANSPORTS

ETUDES D’EXECUTION ET TRAVAUX DE RENOUVELLEMENT DE 580 KM

DE VOIE, BALLAST, APPAREILS DE VOIE ET TRAVAUX CONNEXE A TRAVERS

LE RÉSEAU FÉRRE NATIONAL – LOT Nº 3 EL GOURZI / BISKRA / TOUGGOURT

Ligne El Gourzi/ Touggourt

Juin 2010

Nota Técnica

Assentamento de Aparelhos de Dilatação

Page 49: Relatório de Estágio.pdf

49

Índice

6.3.1 OBJECTO ................................................................................................... 50

6.3.2 NORMAS APLICÁVEIS ................................................................................ 50

6.3.3 CRITÉRIOS DE APLICAÇÃO DE AD’s .......................................................... 50

6.3.4 COMPORTAMENTO DA BARRA LONGA .................................................... 50

6.3.4.1 INTRODUÇÃO .................................................................................... 50

6.3.5 DESLOCAMENTO NA ZONA DE RESPIRAÇÃO DA BLS ............................... 52

6.3.6 JUSTIFICAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DOS AD.................................................... 53

6.3.6.1 TROÇO EL GOURZI-BISKRA ................................................................ 53

6.3.6.2 Início da Intervenção - PK 156+000 .................................................. 54

6.3.6.3 Ponte Metálica ao PK 148+278 ......................................................... 54

6.3.6.4 Entrada do Túnel ao PK 146+900 ...................................................... 55

6.3.6.5 Ponte Metálica do PK 145+288 ......................................................... 55

6.3.6.6 Saída da Gare de El-Kantara ao PK 145+290 ..................................... 55

6.3.6.7 Ponte Metálica do PK 140+761 ......................................................... 56

6.3.6.8 Ponte Metálica do PK 137+992 ......................................................... 56

6.3.6.9 Ponte Metálica do PK 137+145 ......................................................... 56

6.3.6.10 Ponte Metálica do PK 129+83 ........................................................... 57

6.3.6.11 Fim da Intervenção – PK 127+500 ..................................................... 57

6.3.7 TROÇO BISKRA-TOUGGOURT (PK 0+700 a PK 50+000) ........................... 57

6.3.7.1 Ponte metálica ao PK 24+760 ........................................................... 57

6.3.8 A SUPERESTRUTURA DA VIA NA PONTE ................................................... 60

6.3.8.1 Fixação Elástica Permissiva ............................................................... 60

6.3.8.2 Fixação Especial de Ancoragem ........................................................ 61

Page 50: Relatório de Estágio.pdf

50

6.3.1 OBJECTO

Esta nota técnica tem por objectivo descrever e justificar a utilização de AD’s

(aparelhos de dilatação) no âmbito de uma revisão ao projecto de execução El Gourzi-

Tougourt, com vista à redução ao máximo da quantidade de AD´s a utilizar no projecto.

6.3.2 NORMAS APLICÁVEIS

Foi utilizado como normativo de referência a norma Portuguesa NT 4/b e as normas

espanholas NTV 3-3-5.0, NTV 3-5-1.0 e NRV 3-5-1.1 e a norma suíça R RTE 22541.

6.3.3 CRITÉRIOS DE APLICAÇÃO DE AD’s

Com base nas referidas normas, existem situações nas BLS em que ocorrem tensões no

carril que determinam a utilização de AD´s, nomeadamente:

Via assente em Pontes - Metálicas não balastradas e/ou de Betão balastradas;

Existência de Aparelhos de Via que não suportem as tensões das Barras longas;

Transição entre barras Longas e barras curtas;

Zonas de Entradas e Saídas de Túneis;

6.3.4 COMPORTAMENTO DA BARRA LONGA

6.3.4.1 INTRODUÇÃO

Nas zonas de Barra Longa Soldada (BLS), o carril está fixado às travessas através de

fixações elásticas que aplicam uma determinada força para fixar o carril à travessa.

Esta força de fixação normalmente desenvolve-se de forma que todos os movimentos

longitudinais sejam transmitidos às travessas, uma vez que normalmente a força de

Page 51: Relatório de Estágio.pdf

51

resistência que se opõe ao deslizamento do carril sobre a travessa é maior que a força

de atrito longitudinal criada pelo balastro na própria travessa.

Uma vez que o movimento livre do carril sob influência térmica é contrariado pelo

atrito travessa/balastro, geram-se desta forma tensões internas longitudinais no carril.

A força de tensão devida exclusivamente às diferenças de temperatura é dada por:

Em que:

a – Coeficiente de expansão térmica do aço

ΔTr - Diferença de temperatura em relação à temperatura de assentamento

E - Módulo de Elasticidade do aço

A - Área da secção transversal do carril

Estas tensões internas longitudinais necessitam de uma extensão de carril a que se

chama “comprimento de respiração da barra longa” e que por definição é, a extensão

de via necessária para que as forças da resistência externas do conjunto balastro,

travessas e fixação, igualam a força interna no carril.

Para o carril UIC 54 temos A=6077mm2, E=210 (Gpa), a=10-5 e (se considerarmos pelo

lado da segurança) ΔTr = 50oC, o que origina:

F=638KN 63800Kgf

Considerando as duas filas de carris teremos

2F=127.6KN 127 600Kgf

Para a travessa bibloco VAX U31 com fixação elástica NABLA temos como força

resistente R=1250Kgf/m, logo para anular as tensões internas necessitamos de um

comprimento de respiração L tal que:

1250Kgf/m * L = 127600Kgf

L = 102.08m

Page 52: Relatório de Estágio.pdf

52

6.3.5 DESLOCAMENTO NA ZONA DE RESPIRAÇÃO DA BLS

Para o tipo de carril utilizado (UIC 54), fixação (NABLA) e travessa (VAX U31), existe no

final da zona de respiração da BLS uma Força total de 1276KN, ou seja, de 638KN por

cada fila de carril.

Se a dilatação se desse de forma livre teríamos:

Sendo a=1.1*10-5m/m°C

L=102.08m

ΔT=±50oC

Uma vez que o deslocamento não é livre mas sim restringido devido ao atrito entre o

carril e a travessa, e devido ao atrito mobilizado pelo “encastramento” da travessa no

balastro, teremos que contar com essa força resistente na equação.

Essa força resistente sendo de atrito será proporcional à extensão da superfície e por

isso crescerá desde a extremidade da barra até ao fim da zona de respiração.

Neste caso estamos perante uma dilatação com tensão interna, que de acordo com a

norma Suiça R RTE 22541 poderá ser calculada por:

Em que

a – Coeficiente de expansão térmica do aço

ΔT - Diferença de temperatura em relação à temperatura de assentamento

E - Módulo de Young para o aço

A - Área da secção transversal do carril

R - Força resistente por metro linear

Page 53: Relatório de Estágio.pdf

53

Para travessa bibloco VAX U31 e fixação elástica NABLA tomamos o valor de da força

resistente de 12.5 KN/m por travessa, o que representa R=6.25KN/m por cada fila de

carril. Dessa forma obtemos um deslocamento de:

6.3.6 JUSTIFICAÇÃO DA UTILIZAÇÃO DOS AD

6.3.6.1 TROÇO EL GOURZI-BISKRA

Neste troço foi revista a utilização de AD´s, tendo-se o reduzido de 5 AD´s na

versão do projecto anteriormente entregue para 4 AD´s , conforme o seguinte:

Início da Intervenção ao PK 156+000. Não havia sido previsto. Foi

introduzido um AD;

Ponte Metálica ao Km 148. Previsto na versão anterior 3 AD´s. Foram

eliminados;

Entrada do Túnel ao PK 146+900. Foi mantida a localização deste AD;

Saída da Gare de El-Kantara ao PK 145+290. Foi mantida a localização

deste AD;

Fim da intervenção - PK 127+500: Não havia sido previsto. Foi

introduzido um AD neste local;

A justificação da colocação dos AD´s nos pontos notáveis do traçado é a seguir

apresentada.

Page 54: Relatório de Estágio.pdf

54

6.3.6.2 Início da Intervenção - PK 156+000

Uma vez que nos limites da zona de intervenção deste projecto, os carris existentes

estão assentes sob a forma de barra fraccionada (barra curta), de acordo com as

normas prevê-se colocar 1 (um) AD no início do Troço ao PK 156+000 para protecção

da barra curta (fraccionada). Este AD de protecção à barra curta justifica-se de forma a

que as tensões internas no carril na BLS não provoquem garrotes na via na ligação

entre a zona de respiração e a zona de barra fraccionada devido aos deslocamentos.

O AD a inserir, com 180mm de curso máximo (±90mm) satisfaz no que concerne à

absorção de deslocamentos provocados pelas forças internas do carril que serão de 31

mm de acordo com o demonstrado em 4.1

90mm > 31mm

6.3.6.3 Ponte Metálica ao PK 148+278

Esta OA situada entre os PK’s 148+278 e 148+352 tem 74m de extensão, muito

embora a sua parte metálica seja apenas de 44m.

De que de acordo com a norma NRV 3-5-1.0, está previsto o assentamento de

via em BLS com carril UIC 54 sem recurso a Aparelhos de Dilatação em Pontes

Metálicas cujo comprimento seja inferior a 100m.

De acordo com esta norma, a montagem de via dentro da OA far-se-á com

recurso a uma fixação permissiva que permite o movimento longitudinal

relativo do carril em relação à OA, restringindo contudo os movimentos

transversais e nivelamento do carril.

Por este motivo julga-se pertinente retirar desta OA os AD anteriormente

previstos, cuja utilização tinha ainda o inconveniente de introduzir zonas de

respiração da BLS em locais com PN´s .

Para a correcta restrição dos movimentos transversais e nivelamento do carril, é

fundamental garantir-se previamente o bom estado da superestrutura da via, e

Page 55: Relatório de Estágio.pdf

55

do sistema de ligação entre a via e a ponte metálica, conforme peças de

projecto já apresentadas na peça desenhada AL-10-BSK-004_REVA.dwg.

6.3.6.4 Entrada do Túnel ao PK 146+900

O assentamento do AD ao PK 146+900 é justificado também pelo facto de se

tratar de uma zona de transição de barra longa em barra fraccionada.

Existe BLS desde o início dos trabalhos ao PK156+000 até ao PK 146+900. Neste

PK começa a barra curta,.

Deste modo torna-se necessário colocar um AD neste ponto, como protecção à

barra curta para absorver as dilatações ou contracções que decorrem das

tensões internas da BLS, nas duas zonas de transição referidas.

Conforme demonstrado em 4.1, essas dilatações/contracções serão da ordem

de ±31mm para ΔTr = 50oC.

6.3.6.5 Ponte Metálica do PK 145+288

Este Ponte Metálica está inserida dentro de zona de barra curta. Por outro lado,

esta OA é composta por dois tabuleiros com 9.30m cada.

De acordo com a norma NRV 3-3-5.0. não existe a necessidade de colocar AD

em viadutos metálicos com comprimento inferior inferior a 20m, nem a

necessidade de colocação de fixação permissiva.

6.3.6.6 Saída da Gare de El-Kantara ao PK 145+290

O assentamento do AD ao PK 146+900 é justificado também pelo facto de se

tratar de zonas de transição de barra longa em barra fraccionada.

Existe BLS desde o PK 145+290 (saída Norte da Estação de El-Kantara), até à

extremidade Norte da intervenção.

Page 56: Relatório de Estágio.pdf

56

Deste modo torna-se necessário colocar um AD como protecção à barra curta

para absorver as dilatações ou contracções que decorrem das tensões internas

da BLS, nas duas zonas de transição referidas.

Assim temos BLS desde o início dos trabalhos (PK156+000) ao PK 146+900.

Neste PK começa a à barra curta, que se prolonga até ao PK 145+290 (saída

Norte da Estação de El-Kantara). A Partir deste Pk , temos novamente barra

longa até à extremidade da intervenção.

Conforme demonstrado em 4.1, essas dilatações/contracções serão da ordem

de ±31mm para ΔTr = 50oC

6.3.6.7 Ponte Metálica do PK 140+761

Esta OA tem 30m de comprimento dilatável, o que de acordo com a norma NRV

3-5-1.0, a coloca em igualdade de circunstâncias com a Ponte Metálica ao PK

148+278 acima referida.

Portanto não será aplicado AD. A instalação de via far-se-á com a utilização de

fixação permissiva de forma a permitir o deslocamento relativo longitudinal.

Mantêm-se as ressalvas na correcta fixação da super estrutura da Via à Ponte.

6.3.6.8 Ponte Metálica do PK 137+992

Esta OA em 27m de comprimento dilatável, aplicando-se o mesmo critério das

Ponte metálica do item anterior.

6.3.6.9 Ponte Metálica do PK 137+145

Esta OA tem um comprimento dilatável de27m, o que de acordo com a norma

NRV 3-5-1.0, a coloca em igualdade de circunstâncias com as OA atrás referidas.

A instalação de via far-se-á com a utilização de fixação permissiva de forma a

permitir o deslocamento relativo longitudinal, não sendo necessária instalação

de AD.

Page 57: Relatório de Estágio.pdf

57

6.3.6.10 Ponte Metálica do PK 129+83

Esta OA tem um comprimento dilatável de27m, o que de acordo com a norma

NRV 3-5-1.0, a coloca em igualdade de circunstâncias com as OA atrás referidas.

A instalação de via far-se-á com a utilização de fixação permissiva de forma a

permitir o deslocamento relativo longitudinal, não sendo necessária instalação

de AD.

6.3.6.11 Fim da Intervenção – PK 127+500

Utiliza-se o mesmo critério para o Início da zona de intervenção ao PK 156+000,

dado que no final do Troço, os carris existentes estão assentes sob a forma de

barra fraccionada (barra curta).

De acordo com o exposto anteriormente, dever-se-á colocar um AD no final do

Troço, ao PK 127+500 para protecção da barra curta (fraccionada).

Este AD de protecção à barra curta é justificado de forma a evitar que os

deslocamentos na zona de respiração da BLS provocados pelas tensões internas

no carril sejam absorvidos.

6.3.7 TROÇO BISKRA-TOUGGOURT (PK 0+700 a PK 50+000)

Neste troço foi revista a utilização de AD´s, tendo-se o reduzido de 3 AD´s na

versão do projecto anteriormente entregue para 2 AD´s , conforme o seguinte:

6.3.7.1 Ponte metálica ao PK 24+760

Na concepção de viadutos metálicos não balastrados, a interacção entre a

superestrutura da Obra de Arte (OA) e a via, é de capital importância dado que

estes dois elementos estão interligados, nomeadamente através da fixação das

travessas à estrutura da OA.

Esta interacção resulta em esforços nos carris, no tabuleiro e nos seus apoios,

assim como o consequente movimento dos vários elementos da via ou da

Page 58: Relatório de Estágio.pdf

58

estrutura. Essa resistência é função do deslocamento do carril em relação à sua

estrutura de suporte

Desde que esta interacção esteja controlada, então o viaduto continuará a

cumprir o seu objectivo principal, isto é, suportar a via sem que se dêem

anomalias no seu funcionamento.

Por este motivo, e de forma a absorver de modo controlado os esforços que se

produzem no carril e consequentemente na estrutura da OA, prevêem-se

instalar dois AD’s neste viaduto com o seguinte esquema estrutural:

Esta OA tem um eixo de simetria no pilar central, onde se encontram dois

apoios fixos, originando duas estruturas simétricas com uma extensão de

150.6m cada.

Deverá ser colocada uma fixação fixa especial que garanta a fixação das

primeiras 3 travessas à estrutura da OA, desde o seu eixo de simetria para cada

um dos lados.

Como as travessas estão espaçadas de 75cm, existem 1.33 travessas em cada

metro linear de carril. Sendo R=3.5KN a força resistente por carril da fixação

M M F M F F M F FF

47.20 m 9 m

ADAD

47.20 m 47.20 m 47.20 m 47.20 m 47.20 m9 m

FIXAÇÃO ELÁSTICA PERMISSIVA FIXAÇÃO ELÁSTICA PERMISSIVA

F M M F M M

FIXAÇÃO ESPECIAL DE

ANCORAGEM ÀS 3

PRIMEIRAS TRAVESSAS

DE CADA UM DOS

TABULEIROS

Page 59: Relatório de Estágio.pdf

59

permissiva utilizada nas pontes metálicas ao movimento longitudinal

1

utilizaremos a expressão para o cálculo da dilatação do carril sob a restrição de

uma força de atrito (movimento restringido) de acordo com R RTE 22541, na

zona da ponte metálica.

Dados os seguintes valores:

ΔTr = 50oC, E=210GPa, A=6077mm2, a=1.1*10-5m/m.oC, R=3.5KN

Desta forma obtemos:

A este valor devemos somar 31mm que é a amplitude máxima de

deslocamento que resulta das tensões libertadas na zona de respiração da BLS.

Este valor está dentro do curso admitido pelo AD, que é de 90mm, pelo que o

assentamento de apenas 2 (dois) AD’s, um de cada lado da OA, garante uma

absorção das dilatações do carril.

90mm > 72mm

1 Ver especificações técnicas da RAILTECH enviadas em anexo

Page 60: Relatório de Estágio.pdf

60

6.3.8 A SUPERESTRUTURA DA VIA NA PONTE

6.3.8.1 Fixação Elástica Permissiva

Conforme nota técnica em Anexo, este sistema de fixação será composto pelos

mesmos elementos que a fixação NABLA normal, com o acréscimo de um

sistema deslizante NABLA que permite reduzir a resistência ao deslizamento

longitudinal do carril.

Este sistema deslizante é composto por uma guia de deslizamento e por um

butée anti-fricção que permite reduzir em mais de 50% a resistência ao deslize.

Guia de deslizamento

Butée anti-fricção

Page 61: Relatório de Estágio.pdf

61

6.3.8.2 Fixação Especial de Ancoragem

Pretende esta fixação solidarizar a via à estrutura da Ponte na zona fixa da

mesma. Na zona do apoio central, a via deverá ser eficientemente ancorada à

estrutura da ponte de forma que o carril fique intimamente ligado à estrutura.

Esta ancoragem deverá verificar-se no mínimo em 3 (três) travessas para cada

um dos lados do apoio central, assegurando que as dilatações/contracções se

dêem para o lado dos Aparelhos de Dilatação.

Apresenta-se uma possível solução de ancoragem a desenvolver para a zona do

apoio central de acordo com a norma NRV 3-5-1.1