relatório para sedh
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7/31/2019 Relatrio para SEDH
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RELATRIO SOBRE AS EXPEDIES DA SEDH EM BUSCA DOS
DESAPARECIDOS POLTICOS NA ESTRADA DO COLONO
Militantes da extinta Vanguarda Popular Revolucionria (VPR) OnofrePinto, Jos Lavchia, Joel e Daniel de Carvalho, Vitor Ramos e mais
Ernesto Enrique Rggia, foram atrados pelo aparelho repressivo da
ditadura e assassinados sangue frio na regio de Foz do
Iguau/Medianeira.
Pois bem, desde que eu voltei do exlio/clandestinidade aps a anistia,
venho tentando descobrir em que circunstncias esses companheiros
morreram e onde foram enterrados.
Aps vrias tentativas frustradas, em 2004, graas a um credenciamento
da Comisso dos Mortos e Desaparecidos da SEDH (Comisso 9140), eu
tive acesso aos arquivos da Polcia Federal de Foz do Iguau. Com base
nas informaes colhidas nesses arquivos e cruzadas com outras
informaes de Inquritos Policiais e Inquritos Policiais Militares, eu
consegui algumas e importantes pistas. Com estes dados em mos e as
fotografias dos desaparecidos, incursionei pela Regio Sudoeste do
Paran (mais precisamente Capanema e Santo Antnio do Sudoeste) e
pela Regio Noroeste do Rio Grande do Sul (Cidade de Braga, Coronel
Bicaco e Trs Passos).
Enfim, depois de checar o que eu havia descoberto aos vasculhar os
arquivos, eu tinha a confirmao do nome de um dos participantes da
chacina Otvio Camargo, na poca agente do CIEX e hoje soldado da
Polcia Civil do Estado do Paran.
Tendo em vista que esta pessoa no fala comigo (acredito que o motivo
seria porque este ex-agente estava encarregado de me capturar ou
mesmo assassinar quando eu estava clandestino) procurei chegar at ele
por intermdio de outras pessoas. Acabei descobrindo que o ex-militante
do MR8 e hoje empresrio Csar Cabral, e o agente da Polcia Federal
licenciado e atual Secretrio de Segurana de Foz do Iguau, Ado
Almeida, so amigos do Rainolfo.
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Foi graas a estes contatos e aps muitas conversas que ficamos
sabendo que em julho de 1974 os irmos Carvalho, Onofre Pinto, Jos
Lavchia, Vitor Ramos e Enrique Ruggia foram atrados desde Buenos
Aires para uma armadilha montada no Parque Nacional do Iguau. Dos
seis, cinco foram assassinados sangue frio e enterrados nas
imediaes da emboscada. Onofre Pinto foi poupado para interrogatrio e
dias depois assassinado com requintes de crueldade.
Tendo como base estas informaes a SEDH colaborou at o ano de 2010
com o trabalho de buscas. Infelizmente, at o momento no tivemos
sucesso. Porm, acredito que estamos bem prximos para a elucidao
deste caso e a descoberta dos restos mortais dos companheiros.
RELATRIO
Programada inicialmente para ser realizada nos dias 19, 20, 21, 22,23 e 24
de novembro de 2010, a terceira expedio ao quilmetro seis da antiga
Estrada do Colono acabou sendo resumida a apenas quatro dias de
trabalho.
Apesar dos diversos contratempos advindos do escasso tempo, das trs
expedies esta foi a nica rigorosamente realizada a partir das
informaes da testemunha da chacina ocorrida em julho de 1974. (1)
Para que fique registrado e no ocorram mais erros semelhantes, reitero
que as outras duas expedies, realizadas em junho e agosto deste ano
de 2010, foram prejudicadas pelo desprezo s informaes colhidas
anteriormente. Fez-se limpeza, aquisies pelo GPR e pelo EM 38, e
escavaes de uma rea selecionada a partir de dados subjetivos, apesar
de minha insistncia de levar a testemunha para indicar o local preciso da
execuo. Devido a subestimao do estabelecimento da rea prioritria
foi perdida uma imensa mobilizao de recursos materiais e humanos,
alm, claro da frustrao de no encontrar vestgios de inumaes.
Ressalto que aps o fracasso da primeira expedio realizada em junho, e
dias antes da equipe de geofsica baixar em Foz do Iguau, eu consegui
frceps que a testemunha fosse conduzida ao local. No dia 10 de agosto,
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dois dias antes do comeo dos trabalhos planejados, o ex-militar Otvio
Rainolfo da Silva foi ao local acompanhado por Csar Cabral, ex-preso
poltico e hoje empresrio bem sucedido.
Assim que desceram do helicptero, Rainolfo caminhou uns vinte metros
pela Estrada do Colono e no vrtice da curva entrou na mata indo direto
(1) Esta informao eu obtive aps descobrir em 2004 a identidade do motorista que conduziu
o grupo da VPR at o local da cilada. Esta descoberta resultou de pesquisas em documentos
dos rgos de represso depositados no arquivo da delegacia da Polcia Federal de Foz do
Iguau, em inquritos policiais em Medianeira (PR) e Trs Passos (RS), alm de diversas
entrevistas, inclusive com familiares de Alberi Vieira dos Santos. Aps a descoberta a
testemunha aps relutar em fornecer informaes acabou cedendo a partir da intermediao
de Ado Almeida e Csar Cabral.
ao tronco de uma guajuvira cada, e ali apontou o local das execues,
dizendo que os corpos foram levados para o fundo. Com essa
informao Rainolfo confirmou informaes passadas em 2005 e anos
posteriores Csar Cabral e Ado Luis Almeida, policial federal
aposentado e hoje Secretrio Municipal de Segurana de Foz do Iguau.
Vale lembrar que em todas as vezes que foi inquirido Rainolfo, apesar de
ter um comportamento relutante e ser lacnico, afirmou que apenas
acompanhou Alberi Vieira dos Santos na conduo das vtimas at o local
simulando ser um membro da base da VPR no Paran. Ainda durante as
indagaes feitas a ele nos ltimos cinco anos Rainolfo manteve a
informao que as vitimas foram conduzidas num veculo Rural Willys e
na curva mais sinuosa aps um riozinho eles entraram na mata utilizando
um antigo caminho carrovel. (2)
Causou-me admirao que apesar desta informao, alis, a nica, a
equipe da SEDH, continuou trabalhando do dia 13 ao dia 18 de agosto
numa rea escolhida a partir de suposies e que eu sempre considerei
secundria.
Tendo em vista este desvio de objetivo, eu insisti que fossem criadas
condies para que Rainolfo voltasse ao local e se fizesse acompanhar
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por dois membros da equipe da SEDH, para que no pairassem dvidas
sobre a indicao do local em que tombaram os desaparecidos polticos.
Finalmente no dia 18 de agosto a testemunha retornou ao local
acompanhado pelas pessoas por mim indicadas e confirmou as
informaes fornecidas anteriormente.
Somente a partir deste fato que a equipe da SEDH deu o brao a torcer.
Lastimvel que todo um imenso esforo, recursos humanos e materiais
tenham sido desperdiados.
(2) A testemunha Otvio Rainolfo da Silva, atualmente agente da Polcia Civil do Paran. Na poca
servia no Batalho de Fronteiras e estava lotado na Segunda Seo. Ele declara que juntamente com
Alberi conduziu as vtimas da fronteira at um stio na localidade de Santo Antonio e dali at o local daemboscada.
Passados esses contratempos e desperdcios voltamos no dia 19 de
novembro ao quilmetro seis da antiga Estrada do Colono acompanhados
pelo grupo de geofsicos disponibilizados para a misso.
Ao chegar ao local da rea prioritria (tronco de Guajuvira) constatamos
que no havia sido feito o trabalho de limpeza conforme estava
programado. Enquanto a rea prioritria era preparada, aproveitamos para
fazer aquisies de dados geofsicos numa rea aleatria que o pessoal
de limpeza havia escolhido por conta.
Vale ressaltar que consideramos rea prioritria um permetro de no
mnimo 2500 metros quadrados a partir do tronco e traado em direo
oposta Estrada do Colono. Isso porque a testemunha indicou j em 2005
e confirmou em anos posteriores que os corpos foram arrastados para
longe, mais ou menos cinqenta metros do local da execuo
(recentemente ele afirmou no saber para onde os corpos foram
arrastados).(3)
Ainda nas diversas inquiries a testemunha Otvio Rainolfo da Silva
disse que as escavaes deveriam ser feitas onde tivesse terra firme,
terreno em aclive e no mximo at 50 metros, e ainda no cavar perto da
estrada, onde tivesse lodo e beira de rio.
Ento no dia 19 comeamos a realizar um trabalho coerente e dentro do
permetro sugerido.
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Para que no pairasse mais nenhuma dvida quanto a localizao da rea
onde ocorreu a emboscada levei no dia 20 de novembro o ex-diretor do
Parque Nacional do Iguau, Adilson Simo, ao stio apontado pela
testemunha Rainolfo.
No ponto referido o ex-diretor do PNI revelou que no passado naquela
rea habitava o guarda-parque de nome Francisco Teixeira e sua
(3) A testemunha Rainolfo revelou em 2005 e em anos posteriores ter levado cinco pessoas at
o local da cilada, localizada numa clareira prxima Estrada do Colono.
Disse que numa curva aps um riacho entrou com a Rural Willys numa estradinha no meio do
mato e quando ocorreram os tiros ele e Alberi se jogaram atrs de um tronco de rvores. Disse
ainda que eles permaneceram algum tempo por ali e mais tarde foram buscar a outra pessoa(Onofre Pinto) que havia ficado no stio.
numerosa famlia. O guarda-parque, que era mais conhecido pelo apelido
de Jaan, mantinha na rea uma plantao de arroz e pocilga nas
proximidades da residncia instalada h aproximadamente
30 metros da Estrada do Colono e h pouca distncia de um crrego. Na
parte alta eram cultivados milho, feijo e mandioca entre imensas e
centenrias guajuviras, canelas, cedros e lapachos.
Segundo Adilson Simo no incio da dcada de 70 o guarda-parque teve
de sair do local. Portanto acredita-se que no ano da execuo do grupo
remanescente da VPR julho de 1974 a rea no passado utilizada para
plantio estava ocupada pela capoeira. Acrescentou ainda o ex-diretor do
PNI que em toda a extenso (17 quilmetros) da estrada hoje fechada por
deciso judicial a nica entrada de carro para a mata fica exatamente no
local onde estamos realizando as pesquisas. Com essa informao
Adilson Simo confirma o que vem dizendo desde 2005 a testemunha
Rainolfo.
Portanto o local apontado de forma incisiva como o cenrio onde houve a
chacina um terreno em aclive tendo um tronco de guajuvira como
referncia. O referido tronco est cado, segundo tcnicos, h mais de 50
anos; portanto seria atrs dele que Alberi Vieira dos Santos e Otvio
Rainolfo da Silva se jogaram em busca de proteo durante a execuo
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das vtimas da cilada. Ainda no local permanecem imensas e centenrias
canelas. (4)
Acredito que deve ser traado um permetro de 2500 metros quadrados,
traando uma linha de 50 metros em direo norte, 50 metros em direo
norte, 50 metros em direo sul e 50 metros em direo oeste, tendo o
tronco cado como ponto de partida. neste permetro que devem ser
concentradas as aquisies geofsicas e as escavaes.
(4) relato da testemunha que era noite ao chegarem ele, Alberi e as vtimas ao local da
emboscada. Assim que passaram pelo tronco cado umas luzes se acenderam e eles se
jogaram atrs do tronco. Nas primeiras conversas Rainolfo disse que viu quando os soldados
arrastaram os corpos para o fundo e que ouviu barulho de galhos sendo cortados. Porm,quando voltou em agosto, Rainolfo diz que ele e Alberi viram os corpos estendidos no cho,
mas que em seguida voltaram Santo Antnio para executar a segunda fase da misso,
buscar Onofre Pinto.
Acredito que os trabalhos realizados na terceira expedio representam o
incio de uma pesquisa sria e realizadas a partir de dados objetivos.
Infelizmente na expedio de novembro de 2010 os seis dias
programados acabaram sendo resumidos a dois dias de aquisio
geofsica e apenas um dia de escavao. Menos de um quarto da rea
suspeita foi pesquisada.
Por isso, e com objetivo de evitar uma mobilizao desnecessria de
recursos humanos e materiais PROPONHO que a prxima expedio seja
realizada aps a limpeza de todo o permetro indicado como o local onde
os corpos dos desaparecidos polticos foram inumados. Por medida de
economia proponho que eu coordene esta tarefa. Com isso vamos
economizar passagens areas, despesas de hospedagem e dirias.
Somente aps a limpeza que a equipe de geofsica deve se deslocar a
Foz do Iguau e com tempo disponvel para fazer as aquisies em toda a
rea preparada.
Ressalto que as escavaes podem ocorrer na medida em que os
geofsicos forem apresentando seus relatrios de processamento de
dados.
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Para terminar quero dizer que estou convencido que desta vez estamos
indo num caminho certo. Se antes eu tinha muitas dvidas, acredito que
hoje estamos chegamos ao trmino de uma busca que tem me envolvido
nos ltimos 25 anos.
Foz do Iguau, 29 de novembro de 2010.
Aluzio Ferreira Palmar
45 3027 3922
45 9905 9249
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