relatÓrio preliminar sobre o acidente de chernobyl
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NÚCLEOS DIVISÃO DE HIGIENE E MEDICINA DO TRABALHO
ÁREA DE SAÚDE SETOrt DE MEDICINA DAS RADIAÇÕES
RELATÓRIO PRELIMINAR
SOBRE O
ACIDENTE DE CHERNOBYL
ALEXANDRE RODRIGUES DE OLIVEIRA
JULHO/8S
z. a t-a
J I ' - t w ^ í j f * . - ^ 1 - • ' " / • • • • ' • •
ERRATA
PAGINA II:
19 Parágrafo:
onde se lê
ticada
leia-se
PAGINA 3:
39 Parágrafo:
onde se lê
leia-se.
PAGINA 8:
Fase 4:
a mais segura, analisada, estudada e cri-
a mais analisada, estudada e criticada
O vapor movimenta dois turbo-alternadores
O vapor movimenta dois turbo-geradores
onde se lê
leia-se
. coeficiente de vácuo positivo
. coeficiente de "vazios" positivo
PAGINA 13:
19 Parágrafo:
onde se lê ... todo o material radioativo será completa
mente liberado
leia-se ... grande parte do material radioativo será
liberado
PAGINA 16:
49 Parágrafo:
ond» se lê ... níveis de ordem de 70 a lüOmR/h
leia-se - ... níveis entre 70 e lOOpR/h
onde se lê ... até 12 vezes superiores aos limites má-
ximo* admissíveis
leia-se ... até 12 vezes superiores ã radiação de
fundo
PAGINA 28:
39 Parágrafo:
onde se lê ... numa quantidade de até 10% daquele dos
iodos
leia-se ... numa quantidade bem superior aquela re-
lativa aos iodos
NOTA INTRODUTÓRIA
Mais de 40 anos já foram decorridos desde que a primeira
reação em cadeia foi obtida em um laboratório da Universidade
de Chicago. A produção pioneira de energia elétrica de ori-
gem nuclear ocorreu há mais de 35 anos. 350 reatores nuclea
res de potência foram instalados no inundo, 150 unidades es-
tão atualmente era fase de construção e bilhões de pesuoas se
beneficiam desta formidável fonte de energia. Até recentemen-
te, não se conhecia ura único caso de acidente fatal envolven-
do trabalhadores de um reator industrial e nenhum indivíduo
do público havia sido tocado, mesmo levemente, pelos efeitos
prejudiciais desta energia quando utilizada para produção nú-
cleoelétrica.
Naturalmente, tal nível de segurança, recorde quando com
parado com outras atividades industriais, não é simplesmente
o resultado dos caprichos do acaso. Ele é fruto de uma filoso
fia de trabalho, de uma concepção industrial que favorece a
proteção dos trabalhadores, do público e do meio-arbiente, a
través da adoção de mecanismos de segurança cada vez mais efi
cazes, usualmente redundantes, em todas as instalações que m£
nipulam materiais radioativos, da execução de programas contí
nuos de pesquisas no campo da segurança e do elevado nível de
formação dos trabalhadores especializados cia indústria nucle-
ar.
Mo entanto,a despeito de todas as medidas preventivas a-
dotadas, os acidentes em instalações nucleares podem ocorrer.
Mas, paradoxalmente, por serem tão raros, apresentam uma cara
cterística muito peculiar. Eles não se reproduzem, isto i, um
acidente que ocorreu hoje e certamente diferente daquele que
foi descrito no passado, apesar das condições se aparentarem
similares. Tal fato, um complicador naturalmente, sempre colo
ca problemas, particularmente paro aqutílos que têm a difícil
tarefa de "gerenciá-los". Os "gerentes" se sentem diante de
uma situação inédita, diferente daquela que foi teoricamente
discutida, analisada, e mesmo objeto de cálculos ,e programas
complexos.
Tomei conhecimento do acidente de Chernobyl na manhã áo
dia 29 de abril, quando me encaminhava, para uma visita técivi
ca, ã Central Nuclear de Creys - Malville, êu raats^segura, s.na
lisada, estudada e criticada central existente na França, vis
to tratar-se de um reator do tipo super-regenerador (fast -
breeder) , de 1200 MVie, ou seja, o reator operacional deste ti
po mais potente existente no mundo. O rádio da viatura da Ele
ctricité de France (EDF), trazia notícias oriundas da Suécia.
Um elevado nível de radioatividade havia sido detectado, no
dia 28 de abril, em vários pontos do território sueco, pa£
ticularmente, na região onde se localiza a central de Fors
mark, no mar Báltico, justificando, inclusive, a evacuação de
600 trabalhadores daquela instalação. 0 elevado nível de ra-
diação (foi detectada uma taxa de até 12 vezes os valores
normalmente existentes no ambiente), a presença de certos pro
dutos de fissão e transurân.ícos (Cs , Cs , l , Mo ,95 107 143 239Zr , Ru , Ce , Np ' ) e a inexistência de qualquer teste
atômico programado para aquela data, levavam a crer que aJrjo
importante havia ocorrido na União Soviética, e que provável
mente estaria ligado a uma das centrais soviéticas existentes
no outro lado do Báltico. Uma maior anal is • dos dados lt-van-
tados em todo o pais bem como a confirmação de que a Finlân-
dia havia detectado no dia anterior n mesma elevação, acabou
desencadeando uma reação das autoridades suecas junto ã
U.R.S.S. no sentido de confirmar a ocorrência de um acidente
em uma das instalações da região, tendo esta confirmado o e
vento no decorrer do dia 28.
Passados 100 dias do acidente, as inforr-ações oficiais
disponíveis, se referem ao pronunciamento do líder soviético
Mikhail Gorbatchev na televisão estatal russa, ãs notas ofici_
ais emitidas pelas autoridades soviéticas e ietransmitidas pe
Ia Agência Tass e a declaração do diretor-geral da AIEA, Hans
Blix, ao final de sua visita, após haver sobrevoado o reator
acidentado.
Ill
Os dados que fazem parte do nosso relatório preliminar, :
se baseiam nas declarações de autoridades francesas emitidas
alguns dias após o acidente (Tanguy e Cogné), nos relatórios
1 e 2 do Institut de Protection et de Süreté Nucléaire, de
discussões que mantive com o representante francês na OMS
(Nénot) e do testemunho do Prof. Jaratnet, consultor do Coramis- •'•
sariat ã 1'Energie Atomique (CEA), que esteve na União Sovie-ts
tica após o acidente, onde manteve contatos com representan- i
tes dos Ministérios da Saúde e da Indústria. Outros documen-
tos consultados constam do item Referências Bibliográficas.
jAcho oportuno esclarecer que o presente documento foi o ;
riginalmenfce concebido para ser divulgado entre os integrar* '.
tes da Ãrea de Saúde da NUCLEBRÃS, razão pela qual alguns !
tópicos foram tratados genericamente. A própria formação pro ;
fissional do autor, um radiopatologista, o impediu de refle :
tir profundamente sobre os aspectos conceituais do reator e
outros pontos que exigem conhecimento e formação prévia na ma
teria. Não obstante, com vistas ã elaboração de um relatório
mais concludente sobre o acidente de Chernobyl, gostaríamos
de contar com a colaboração de colegas do setor nuclear vi-
sando corrigir as imperfeições e conhecer detalhes que nos
permitam analisar mais objetivamente os fenômenos que antece-
ceram e sucederam esse grave acidente.
Í N D I C E
I - SlTIO DE CHERNOBYL
II - A CENTRAL NUCLEAR DE CHERNOBYL
III - O ACIDENTE
IV - EXTINÇÃO DO INCÊNDIO
V - MEDIDAS ADOTADAS PELOS SOVIÉTICOS NOTTC1VL DO ACIDENTE
VI - TERMO-PONTE - ESTIMATIVA DO REJEITO
VII - AS CONDIÇÕES METEREOLOGICAS NO DIA DO ACIDENTE
VIII - AS VÍTIMAS E O ATENDIMENTO MÉDICO
IX - ASPECTOS SANITÁRIOS E CONSEQÜÊNCIAS Ã MÉDIO E LONGO
PRAZO SOBRE A POPULAÇÃO ATINGIDA
X - AVALIAÇÃO DAS DOSES RECEBIDAS A CURTA E MÉDIA DISTÂNCIA
XI - POPULAÇÃO DA REGIÃO ATINGIDA
XII - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
XIII - ANEXOS:
I - Comunicado oficial do Conselho de Ministros da URSS
II - Declaração do Diretor-Geral da Agencia Internacio-
nal de Energi s Atômica du • ate uma entrevista cole_
tiva em Moscou, no dia 09 de maio.
III - Pronunciamento do Secre?ário-Geral do Partido Co-
munista da URSS, Mikhail Gorbatchev, na Televi -
são Russa, em 14 de maio.
StTIO DE CHERNOBYL
A central nuclear do Chernobyl so encontra no limite
norte da Ucrânia, uma das repúblicas mais importantes da
URSS, e sua dimensão pode ser comparada grosseiramente com
o estado de Minas Gerais, apresentando uma população de apro
ximadamente 50.000.000 de habitantes. A central acidentada,
localizada a 15 km da divisa com a Bielo Rússia, foi constru
Ida â margem direita do rio Pripyat, afluente do rio Dniepr.
A cidade de Chernobyl encontra-se a 14 km ã sudeste da cen
trai e a cidade de Kiev, ao sul, a cerca de 100 km de distãn
cia (Figura 1).
Todo o sitio se situa numa região denominada Polésia
(região de florestas), sendo entrecortada por uma rede de a
fluentes da margem direita do rio Pripyat, que se estende do
"oblasto" de Gomei até uma boa parte do "oblasbo" de Brest.
A região é considerada pobre em terras férteis, es tan
do distante dos campos de trigo existentes na maior parte da
superfície agricultavel da Ucrânia Central. A existência de
pântanos e de áreas de baixo valor comercial associada ã posi
ção relativamente próxima da cidade de Kiev, econômica e demo
graficamente a mais importante da região, parecem justificar
a escolha daquele local para sediar uma central nuclear. A re
gião é, portanto, mais agrícola que industrial.
Chernobyl é servida por uma estrada de ferro que faz
a ligação Tchernigov - Ovrutch, estando,entretanto, afastada
das principais rodovias.
II A CENTRAL NUCLEAR DE CHERNOBYL
A central nuclear de Chernobyl é composta de 4 reato-
res - Chernobyl 1, 2, 3, 4 - do tipo RBMK, iniciais das pala
vras russas que significam reator de grande potência a tubos
de pressão, que apresentam 1000 megawatts de potência cada um,
tendo sido comissionados respectivamente em 1977, 1978, 1981
POPULAÇÃO VIZINHA AO REATOR ACIDENTADO
LITUÂNIA
RESERVATÓRIO KIEV
KIROVOSftAO
DNEPROPETROVSK
<S>
LEGENDA
POPULAÇÃO
> 1 MILHÃO
300.000 A t MILHÃO
100.000 A 300.000
30.000 A 100.000
< 30.000
M» í f lnl»f(»8fí»: Mt»A».t> THI6UNE, «AT 5, »»B* - f
e 1983. Duas unidades suplementares estão sendo construídas
no raesmo sitio e estavam previstas para serem entregues em
1986 e 1988, respectivamente. A unidade acidentada, a de
número 4, ê geminada com a de numero 3, o mesmo ocorrendo
em relação ãs unidades 1 e 2.
O reator RBMK é arrefecido com água leve e moderado
com grafite. De concepção inteiramente soviética, só ê en
contrado na URSS, não tendo sido objeto de exportação nem
mesmo para os países do leste europeu. Ê considerado pelos
especialistas ocidentais como sendo um reator rústico e pou
co econômico. Apresenta algumas características similares
ao reator do tipo B1O (Figura 2) .
O núcleo do reator (180 toneladas de oxido _de urânio
pobremente enriquecido - 1,8% a 2%) é formado por um empi
lhamento de grafite, em forma de blocos de 25 cm de compri^
mento, de elementos combustíveis e dos chamaâos "tubos de
pressão" .Todo o conjunto mede 12 metros de diâmetro e 7 IP.ÇÍ
tros de altura. A massa total de grafite, 2500 blocos apro-
ximadamente, é atravessada verticalmente por 1883 canais,
sendo 1661 utilizados para acondicionar os elementos combu£
tlveis e os 222 restantes concebidos para receber as barras
de controle. A água que atravessa os canais é aquecida quan
do em contato com os elementos combustíveis até a produção
de vapor, ligeiramente radioativo como nos reatores do tipo'
BWR. o vapor movimenta dois turbo-alternadores de 500 mega
watts de potência cada um. A pressão da água que circula pe
los cubos de pressão é de 65 bars e a temperatura do siste
ma atinge normalmente 2309.
Iguais ao reator acidentado existem 12 unidades já
instaladas na URSS (Quadro I) as quais, na verdade, são des
cendentes diretas da primeira central nuclear russa -
Obninsk - cuja operação foi iniciada em 1954. Uma central
de 1500 megawatts está sendo construída em Drukshai, na Li-
tuânia (Ignalina I) e u;n projeto de uma superunidade d<j
2500 megawatts transitava até recentemente no terreno das
especulações.
DIAGRAMA DO REATOR DO TIPO "RBMK"
I - REATOR
2 - PILHA DE GRAFITE
3 - PROTEÇÃO BIOLÓGICA
4 - CANAIS DE COMBUSTÍVEL
5 -TAMBOR SEPARADOR{rapar de água)
6 - TURBINA GERADORA
7 - EJETOR ( i ir bino )
0 - CONDENSADüR
9 - LIMPEZA DE RADIOATIVIDADE CONDENSADA E IMPUREZAS
10 -DESAREADOR
11 -BOMBA PARA FORNECIMENTO AUXILIAR DE ÁGUA
12 - REMOÇÃO DE IMPUREZAS POR TROCA IONICA
13 -BOMBA PRINCIPAL DE CIRCULAÇÃO
14 - CHAMINÉ' DE VENTILAÇÃO
15 - FILTRO DE AEROSOL
16 - TANQUE DE GAS (esfocagem para diminuição da radioatividade)
17 -ABSORVEDOR DE DIOXIDO DE CARBONO, MONo'xiDO DE CARBONO, NITROGÊNIO E AMONIA
IB - COMPRESSOR
19 - FILTROS DE AEROSOL E IODO ( fi'troi ohsolufos f
QUADRO I
REATORES DO TIPO "RBMK11
EM FUNCIONAMENTO NA URSS
CENTRAL
AES-1 OBNINSKBELOYARSK-2CHERNOBYL-1CHERNOBYL-2CHERNOBYL-3CHERNOBYL-4DRUKSHAI IGNALINA-1KURSK-1KURSK-2KURSK-3KURSK-4LENINGRAD-1LENINGRAD-2LENINGRAD-3LENPIGRAD-4SMOLENSK-1SMOLLNSK-2
POTÊNCIA
6/ 5200/ 185
1000/ 9501000/ 9501000/ 9501000/ 9501500/14501000/ 9501000/ 9501000/ 9501000/ 9501000/ 9501000/ 9501000/ 9501000/ 9501000/ 9501000/ 950
INICIODE OPERAÇÃO
05.195411.196708.197711.197806.198112.198310.198309.197612.197808.198311.198509.197315.197509.197912.198012.198204.1985
INTERLIGADAAO SISTEMA
27.06.195429.12.196729.09.197722.12.1978" 12.1981
21.12.198331.12.198320.12.197626.01.197919.10.198307.12.198521.12.1973
07.197507.12.197909.12.1981
12.198205.1985
EM CONSTRUÇÃO NA URSS
CENTRAL
CHERNOBYL-5DRUKSHAI-IGANALINA-2KOSTROMA-1 (JAROSLAV)SMOLENSK-3CHERNOÜYL-6KOSTROMA-2 (JAROSLAV)SM0LEN3K-4
POTÊNCIA
1000/ 9501500/14501500/14501000/ 9501000/ 9501500/14501000/ 950
INICIODA CONSTRUÇÃO
1981197819811981198219831982
* Reato mode rodo com grafite e arrefecido com oguo leve a tu boi de pressão.
Ill O ACIDENTE
O acidente teve lugar na unidade número 4 da central nu
clear de Chernobyl, no dia 26 de abril, sábado, ã Ih23m (hora
local), guando o reator operava a 7% de sua potência. Explo-
sões provocaram um incêncio na casa de máquinas, produzindo
labaredas de até 30 metros de altura, descritas como semelhan
tes a uma chama de maçarico. Os eventos que redundaram na des
truição do reator foram relatados por Mikhail Gorbatchev, Se
cretãrio-Geral do Partido Comunista Soviético, em pronuncia
mento na televisão estatal russa, no dia 14 de maio. (Anexo
III). O trecho central do discurso, pouco elucidativo por
sinal, pode ser transcrito da seguinte forma:
"... O acidente teve início quando a potência do rea-
tor inesperadamente aumentou durante a paralização da quarta
unidade. A emissão de vapor e a subseqüente reação provocou a
liberação de hidrogênio, sua explosão, destruição do núcleo e
conseqüente liberação de materiais radioativos. A explosão a
lim de causar a destruição do núcleo do reator gerou um incêri
dio no teto da casa de máquinas onde se encontravam os meca-
nismos empregados para a recarga do combustível ..."
Informações adicionais dão conta de que parte do prédio
do reator ruiu junto com o sistema de recarga, o que teria
comprometido seriamente o núcleo do reator, havendo, inclusi
ve, destruição parcial cio sistema de arrefecimento da porção
superior do núcleo e perda de líquido refrigerante. Inúmeras
tentativas no sentido de se injetar liquido refrigerante no
segmento inferior do núcleo foram realizadas visando reduzir
a temperatura do sistema, mas foram frustradas devido ã iru
possibilidade de recirculação do mesmo. Deve-se acrescentar
que, concomitantemente, surgiram problemas incontornáveis no
sistema de alimentação elétrica.
A impossibilidade em se controlar a temperatura da reas_
sa de grafite acabou permitindo sua combustão, com posterior
fusão dos elementos combustíveis. O cõrio resultante, isto 5,
o núcleo e estruturas metálicas diversas fundidos, ameaçaram
destruir a base de concreto onde se assenta normalmente o nú-
cleo do reator, o que certamente teria provocado uma importan
te e incontrolável dispersão de radioatividade no ambiente. A
combustão aparentemente só foi detectada 3 dias apôs o início
do acidente e o incêndio sõ pôde ser "estabilizado" ao final
de 5 dias.
A segurança da área pôde ser mantida graças ao ininter-
rupto trabalho realizado pelas equipes soviéticas encarrega-
das em esvaziar e posteriormente concretar a câmara de supres^
são de pressão que, no reator do tipo RBMK, se localiza s< b a
base de sustentação do núcleo do reator. Normalmente» aquela
câmara está repleta de água. Caso o cório tivesse caldo nessa
cavidade teria provocado aquilo que os especialistas chamam
de explcsão-vapor, interações extremamente violentas entre a
água e os materiais em fusão, que poderiam provocar a destrui^
ção de todo o prédio do reator e a dispersão do cório no ambi
ente, o que agravaria consideravelmente a magnitude da catás-
trofe.
A reação em cadeia que se desenvolvia no interior do re
ator foi automaticamente neutralizada e tal fato pôde ser po£
teriormente confirmado devido a inexistência de produtos de a~ 24
tivaçao neutronica, particularmente o Na , no organismo dasO A
vítimas do acidente. O Na é o resultado da ativação por neu23trons do Na , estável e normalmente encontrado nos líquidos
corporais. Sua presença pode ser detectada pelo raio y que
emite.
Qual teria sido a seqüência dos eventos que provocaram
a explosão inicial? Autoridades francesas, uma semana após a
catástrofe, apresentaram ã imprensa uma seqüência plausível
para o acidente, que aqui resumimos em dez fases:
Fase 1: Ruptura do circuito primário.
Fase 2: Parada da turbina e das turbo-bombas de circu-
lação.
Fase 3: Superaquecimento do combustível.
Fase 4: Vaporização da água nos tubos do pressão e, (;ven
tualmente, excursão crítica devido ao coefici-
8
ente de gS?^» positivo.
Fase 5: Reação Zircônio - H20 a partir de 12009(H2).
Perda da estanqueidade do núcleo devido ã ru£
tura da laje de concreto que se situa imedia
tamente acima do reator.
Fase 6: Fusão parcial do combustível e liberação dos
primeiros rejeitos importantes, ocorridos ain
da no sábado, 26.04.
Fase 7: Aquecimento dos tubos de pressão.
Fase 8: Aumento da temperatura do empilhamento do gra_
fite a 12009.
Fase 9: Inicio de incêncio do grafite (entrada de ar
pelo coletor rompido).
Fase 10: Inicio das tentativas de se extinguir o incên
dio pelos bombeiros. Explosão vapor e/ou H?,
com vitimas e destruição.
Em relatório distribuído pelo Institut de Protection
et dí Stireté Nucléaire do Commissariat ã 1'Energie Atomique,
datado de 21.05.86, os especialistas do referido Instituto le
vantaram a possibilidade de ter ocorrido uma obstrução de ura
dos sub-coletores de entrada do núcleo, na madrugada do dia
25.04, que teria provocado uma importante redução na transfe
rência de calor de 25 ou 30 canais relacionados ao mesmo. Tal
obstrução teria ocasionado uma elevação anormal da temperatu-
ra daquele setor, que se estenderia ãs demais partes do rea
tor até ã ruptura dos encapsulamentos do? elementos combustí^
veis e, em seguida, dos tubos de pressão.
Uma quantidade significativa de vapor d'água, bem como
de H-, oriundo da reação Zr-H-0, foi liberada no interior do
envoltório do reator, usualmente estanque e repleto de uma
mistura de He e Ne, destinada a evitar toda e qualquer oxi_
dação. Esse envelope, não tenco sido concebido para suportar
pressões, se rorape imediatamente. 0 hidrogênio e o vapor à^_
água atingem locais onde normalmente são baixas as pressões,
sendo que o primeiro se localiza preferencialmente nas partes
altas do sistema, particularmente sob a laje onde se proces
sam as recargas e nas porções elevadas do circuito ãgua-vapor.
Estas condições possibilitariam a explosão do prédio do
reator ainda no dia 25.04, às 21h23m, hora locai, comprometen
do o circuito primário e causando um incêndio, que por sua
vez atingiria todo o sistema de alimentação elétrica externa.
Tal comprometimento inviabilizou, segundo o mesmo relatório,
qualquer tentativa de refrigeração do núcleo do reator. Houve,
como era de se esperar, uma elevação da temperatura dos ele
mentos combustíveis até atingir o limiar de reação exotêrmica
entre o Zr e a água (1200 ). A ruptura generalizada dos enca£
sulamentos dos elementos combustíveis justificou,segundo as
mesmas fontes, o aumento significativo da atividade observada
entre 04 e 05 horas do dia 26.04, fato este que veio a ser
confirmado pelas autoridades soviéticas mais tarde. É quase
certo que esse aumento de atividade tenha provocado o alarme
no dia 28.04 na central nuclear sueca de Forsmark.
IV EXTINÇÃO DO INCÊNDIO
Dificuldades consideráveis para debelar o fogo foram en
frentadas pelos grupos de combate a incêndio, cujos membros
vieram a se constituir nas principais vitimas do acidente. A
impossibilidade na utilização de água e produtos químicos, o
risco devido ã intensa radioatividade existente na área do
reator, o caráter inédito do acidente, acrescido da fusão do
betume que recobria o piso de certas partes do prédio e que
dificultaram enormemente a locomoção dos bombeiros, retarda-
ram consideravelmente o controle da situação.
Face ãs condições tão desfavoráveis para o trabalho das
equipes de bombeiros, optou-se pela utilização de helicópte
ros militares especiais, que derramariam nos dias subseqüen-
tes pelo m<-ios 5000 toneladas de areia, chumbo, argila e boro
sobre o que restou do reator. Erros em tais lançamentos, rea-
lizados de uma altura considerável tendo em vista o risco de
10
exposição de suas tripulações, puderam ser posteriormente ~ons
tatados através de fotografias aéreas, que evidenciavam a exis
tência de enormes buracos nos tetos do prédio onde se situavam
as turbinas e de edifícios vizinhos.
Autoridades soviéticas informaram que o incêndio só foi
estabilizado 5 dias após o seu início, mas informações poste
riores, inclusive fotos obtidas de satélites, nos pemitem di_
zer que o controle completo da situação só ocorreu 2 semanas
após.
Naquele período, autoridades suecas e alemãs foram con
sultadas a respeito da possibilidade de ajudarem no combate ao
incêndio. Possivelmente os ingleses também o foram, pois são
os únicos que detém experiência no combate a incêndio em cen
trais nucleares que utilizam grafite (o incêndio no reator de£
tinado â produção de plutônio militar de Sellafield, nome com
o qual foi rebatizado Windscale, foi combatido com relativo su
cesso em 1957 após 2 dias de trabalho).
A empresa alemã Atom Forum foi consultada se poderia par
ticipar do controle da massa em fusão no interior do reator.
Com objetivos aparentemente semelhantes, dois robots de origem
alemã foram adquiridos para atuarem em ãreas de grande radioa-
tividade. Teleguiados por meio de um rádio e com raio de ação
de 1 km, foram especialmente previstos para trabalharem em
centrais nucleares acidentaaas onde é impraticável o apoio
do homem devido aos índices elevados de radiação.
11
V MEDIDAS ADOTADAS PELOS SOVIÉTICOS NO LOCAL DO ACIDENTE
Além das providências destinadas a estabilizar e extin
guir o incêndio, outras ações, de grande envergadura, foram e
xecutadas pelos soviéticos visando impedir um maior impacto an
biental. Tudo indica que, passados alguns dias do evento, a
maior preocupação das autoridades soviéticas foi exatamente e
vitar uma progressão do côrio no solo e,com isso, impedir que
o mesmo atingisse lençóis d'água. Os riscos de tal progressão
eram por demais evidentes, particularmente pela possibilidade
da massa do núcleo em fusão atingir cursos d'água subterrâneos,
sabidamente interligados com extensa bacia fluvial e lacustre
existente na área. Aquelas ações visavam também preservar as
demais instalações nucleares existentes no sitio," ou seja, os
3 reatores remanescentes e as 2 unidades em construção.
Tais medidas, caracterizadas por empregarem um elevado
número da homens e inusitados equipamentos, começaram a ser
realizadas no início do mês de maio, quando o incêndio foi es-
tabilizado. As mais importantes e que se incluem no escopo do
presente relatório se destinavam a:
a) reforçar o confinamento dos produtos radioativos na
parte inferior do reator através da obturação das
tubulações.
b) esvaziar o conteúdo em água da câmara de supressão
de pressão existente sob o bloco do reator e, pos-
teriormente, concretã-la, evit?.ndo assim o desenca-
deamento da reação do cõrio com a água. Homens-rãs
e técnicos da própria central foram empregados na-
quela que veio a ser considerada uma ãas mais dif.£
ceis e arriscadas tarefas, caracterizada pela aber-
tura de válvulas destinadas ao esvaziamento da refe
rida câmara. O ''iquido, recuperado através do uso
de caminhõfíS-tanque, pôde ser posteriormente estoc^
do.
12
c) abertura de galerias, de 6 metros de profundidade
e 160 metros de extensão, visando a pelo menos 2
objetivos:
1. reforçar o dispositivo já utilizado para con
ter a progressão do cõrio;
2. impermeabilizar o solo através da injeção de
concreto a partir desta galeria, com isto evi-
tando a fuga de radionuclídeos de roeia-vida lon
ga (Sr90, Ru 1 0 6, C s 1 3 7 , Cs 1 3 4) em direção aos
lençóis freáticos.
d) construção de uma profunda contenção em concreto,
daquelas empregadas em trabalhos geotêcnicos, de£
tinada a:
1. preparar um confinamento para a água contamina
da existente no interior da instalação e aju-
dar na contenção da progressão do cório;
2. barragem do lençol d'água para limitar uma
poluição já observada.
e) injeção de azoto líquido no solo destinada a "con
tjclnr" uma certa área cm tomo thi contrai, com
isso evitando a migração de produtos radioativos
em direção aos lençóis freáticos.
VI TERMO - FONTE-E5TIMATIVA DO REJEITO
A avaliação do termo-fonte foi obtida através da análi^
se das características do reator, do cenário plausível para
o acidente, das medições de radioatividade realizadas cm vá
rias regiões da Europa e considerando as condições mctereoló
giras cie toda a área afetada pela radiação.
1. Avaliação do termo-fonte baseada noa caracteristi
cas da instalação acidentada e no cenário do aci-
dente.
13
Ao contrário da maioria dos reatores construídos no Oci-
dente, as centrais nucleares russas do tipo das existentes
em Chernobyl, não apresentam o envoltório de contenção, que
vem a ser a terceira e última barreira de proteção. Caso ha
ja a perda da estanquei da de das duas primeiras barreiras de
confinamento do núcleo do reator, isto é, dos encapsulamen
tos dos elementos combustíveis e dos tubos de pressão, toèo
ixa-Xt Jo material radioativo será completamente liberado para o ex
terior, visto que o teto do prédio não foi concebido para re
ter materiais radioativos que, eventualmente, escapem de um
reator danificado como foi o caso do acidente de Three Mile
Island.
Apesar de estarmos plenamente cientes que a maioria dos
aspectos concernentes à evolução dos eventos que- antecederam
e sucederam o acidente não são até hoje conhecidos, podemos,
para efeito de estimativa, considerar o quadro mais pessimii»
ta. Em outras palavras, que houve fusão total do núcleo ão
reator em um tempo muito curto, que as temperaturas alcança-
ram valores nuito elevados e que todo o confinamentio foi pe£
dido.
Tais considerações somadas ao conhecimento de que o rea
tor operava apenas a 7% de sua potência, fato que já foi ofi_
cialmente aceito, permitiram que especialistas franceses che
gassem às seguintes conclusões:
a) se fosse integrada toda a radiação ambiental exis_
tente, o rejeito liberado estaria situado em to£
no de 10% do inventário do núcleo.
b) após um pico inicial significativo, ocorreu uma
liberação de produtos de fissão durante alguns d_i
as.
c) produtos não voláteis, como o neptúnio, puderam
ser liberados em quantidade significativa.
14
2. Avaliação do termo-fonte baseada nas medidas de ra
dioatividade efetuadas na Europa e levando em con
sideração as condições meteteológicas no dia do a
cidente e nos dias subseqüentes (ver item VII).
O levantamento dos níveis de contaminação ambiental
na maioria dos países europeus, incluindo Espanha e Pcrtu
gal, se concentraram nas taxas de iodo e césio presentes
no arf na água de chuva, na vegetação, no leite de vaca e
em certos vegetais (espinafre, alface, couve-flor, brócolis,
repolhos, e t c ) . Os pontos medidos se localizavam a uma di:s
tãncia do local do acidente que variava de 1000 a 4000 km a
proximadamente. Os valores podem ser analisados no Quadro
II, que apresenta os dados fornecidos pelos países .europeus
ã Comissão da? Comunidades Européias(CEE), até o dia 21 de
maio de 1986, após uma solicitação que a CEE fez aos países
membros, sob os termos do artigo 36 do tratado da Euratom
(2).
3. Avaliação do termo-fonte total.
Considerando todas as variáveis mencionadas anterior^
mente, inclusive as incluídas no item seguinte (VII), as au
toridades francesas estimaram, numa avaliação bem prelimi.
nar, que o rejeito liberado no ambiente foi de pelo menos
10% do inventário do núcleo em produtos físseis voláteis (I,
Cs, Te, etc.,)> 80% do inventário em gases nobres, havendo a
inda uma quantidade significativa de rejeitos sólidos, ôeii
tre eles o Np. Isto representa algo em torno de 130 milhões
de Curies de gases raros, 30 milhões de Curies de iodos e
telúrios e 1 milhão de Curies de césios.
Posteriormente, com um conhecimento mais detalhado
da duração das liberações e tendo era vista as trajetórias
assumidas pelas nuvens radioativas, o conteúdo do rejeito
em césios foi alterado para 20% do inventário do núcleo.Con
siderando-se ainda as medidas efetuadas na Europa, particu-
ÇUADRO II
NÍVEIS OE CONTAMINAÇÃO NA EUROPA DECORRENTES DO ACIDENTE DE CHERNOBYL
^ A M O S T R A S
tís ^ ^ \EMANHA (RFA)
ÉCIA
ANCA
ILANOIA
ÍLATERRA
IAMARCA
L6ICA
ÀNDIA .
'UA
RTUGAL
3ANHA
XEM8URG0
FX1A
" AR (Bq/m*)
I1"
4303
18
10
5
0,26
9
20-40
55
Cs'"
2
1,7
fi total
130
A'GUA (Bq/ I )
I1"
200-7000*
5000*
2300** *
1-13
Cs1"
500
0.20**5
*300
*297
LEITE (Bq/I)
500-1000
60
60
40
400
18
300
2Q9(12-400^
55-95
0.1
65
132(91-250)230 (vaca)
Cs 1 "
200-350
6
400
17,3(11,8-21.7)
i
VERDURAS (Bq/kg)
I.'" n
10000
2750*
200
525
1800
38(15-79)
90
1290
Cs1"
3000
5 ^
100
52(14-95}
10
115
VEGETAÇÃO (Bq/rrv
10000-30000
680
1000'
3700*
8000
2800
>2000
2600-3700
4 1
Cs ' "
2000-500C
69Z
100'
780*
5000
290
: Apresentamos apenas alguns dados que consideramos relevantes e que,na verdade, correspondem ãs medidas efetuadas entre os dias 29/04e 11/05 nesses países. Para maiores informações consultar referencias
1, 2, 3 e 4.
Bq/Kg.RinghalsSac layCadarachcHelsinkiKajaani
LEGENDA:água de chuva»
ãgua de torneira,
16
larroente em relação aos iodos, verificou-se que estes foram
liberados em uma quantidade pelo menos 5 vezes menor que a
anteriormente estimada. Os especialistas franceses não de:L
xarara de estranhar a diferença de liberação existente entre
o I e o Cs, usualmente emitidos em proporções iguais. Ten
tam explicar tal fenômeno arguindo que erros nas medições
desses radionuclídeos pudessem ter ocorridos e que diferen
ças nos deslocamentos atmosféricos da pluiaa fossem também
responsáveis por tal diferença. Finalmente, não afastaram a
possibilidade de que os iodos tenham sido seqüestrados nas
partes superiores da instalação.
VII AS CONDIÇÕES METBREOLÕGICAS SO DIA DO ACIDENTE
As condições atmosféricas no dia do acidente e que
constavam da maioria das cartas metereológicas da Europa,as.
sinalavam a presença na região de Chernobyl (coordenadas
519 17' latitude Norte e 309 06' longitude Este), de zonas
de alta pressão bem como uma zona de baixa pressão entre a
Islândia e o noroeste da Europa e uma segunda zona sobre a
Escandinávia.
Ainda na região de Chernobyl predominou uma situação
anticiclone, caracterizada por ventos de baixa altitude mui.
to fracos, sem direção definida e nevoeiro noturno. A 1500
metros aproximadamente, os ventos sopravam de SSE a uma ve-
locidade de 8-10 m/s . As condições no solo não eram favo
rãveis ã elevação de rejeitos.
A Finlândia, decorridas 24 horas do acidente, detec-
tou na estação de Kajaani níveis da ordem de 70 a 100 mR/h
e a Suécia pôde detectar 48 horas põs-acidente, valores de
até 12 vezes superiores aos limites mãxinos admissíveis, em
uma região situada a 200 km ao norte da central nuclear de
Forsmark. Tais fatos permitem validar a velocidade dos ven
tos estimada pela metereologia bem como o fato de que a nu
vem ascendeu a uma altitude seguramente superior a 1000 rn£
tros.
17
No decorrer do dia 26.04, sábado, os ventos de alta alti.
tude mudaram de direção, passando a soprar de leste, o que
levou a nuvem a se deslocar em direção ã região ocidental da
Europa. No domingo, 27.04, os rejeitos liberados se desloca-
ram primeiro na direção oeste e então para o sul, atingindo
a República Democrática da Alemanha, Polônia, Tchecoslová
guia, Hungria, Áustria, a região sul da Alemanha OcidentaL
Suíça e norte da Itália.
Simplificadamente, podemos dizer que a nuvem radioativa
pode ser classificada, segundo a direção tcmaáa, em 5 grupos
(ver também figuras 3 a 10) (*)
1. Regiões atingidas: Escandinávia, Finlândia,.Mar Bã_l
tico.
Emissão do rejeito: 26 de abril.
Chegada da nuvem: 27 - 30 de abril.
2. Regiões atingidas: Europa Central, Sul da Alemanha,
Itália e Iugoslávia.
Emissão do rejeito: 27 de abril.
Chegada da nuvem: 2 ti de abril - 2 de maio.
3. Regiões atingidas: Ucrânia e regiões situadas ã les-
te.
Emissão do rejeito: 28 - 29 de abril.
Chegada da nuvem: 28 de abril - 2 de maio.
4. Regiões atingidas: Balcans, Romênia e Bulgária.
Emissão do rejeito: 29 - 30 de abril.
Chegada da nuvem: 4 de maio.
5. Regiões atingidas: Mar Negro, Turquia, Grécia e Is-rael.
Emissão do rejeito: 1 - 4 de maio.
Chegada da nuvem: de 2 de maio em diante.
(.*) As cartas metereologicas foram baseadas en informações do
The Swedish Metereological and Hydrolocjical institute(SMHl)
3a
IfDCSLOCâMtNTO O* M.U1U A:Z> TEMPO DC DESIOCAUCMTO M M O Hl'vtL ISOO»31 INCCKTlTUOf EM *£LAÇr.O AO NIVtL 1500»
DDCSLOCAMCHTO 3* PLUM* A:
2) TCH»O Ot Dt*L0C»«l1T0 PA*» 0 Nlvfl3) IXCtlmruDI t » fCLIÇÃO »O Xi'vtV
ífVtOO A VC1T0Í r»*C05 f Miia' /£H
16
F i g u r a 3 i l u s t r a o m o v i m e n t o n a a t m o s f e r a d e q u a l q u e r m a t e r i a lr a d i o a t i v o q u e t e n h a s i d o l i b e r a d o p e l o r e a t o r d e C h e r n o b y l nosp r i m e i r o s d i a s p ó s - a c i d e n t e .
3 a ) s á b a d o , 2 6 d e a b r i l , 0 : 0 0 h ( h o r a l o c a l ) .
3 b ) s á b a d o , 2 6 d e a b r i l , 1 2 : 0 0 b ( h o r a l o c a l ) .
IIDCSIOCAVFNIO D» PIUWA «:
2) TEUPO DE DESLOCAMENTO PAH» O Nl 'vl l 1100m31 IHCtHtltUOE CM HClAÇÃO «O WlWl. 1 5 0 0 -
Cf.VIDO A WfHft'S FDACOS E VARtV
F i g o r a ') i l u s t r a o m o v i m e n t o n a a t m o s f e r a d e q u a l q u e r m a t t rr a d i o a t i v o l i b e r a d o d o r e a t o r d e C h e r n o b y l e n t r e o s á b a d od e a b r i l e t e r ç a - f e i r a , 23 d e a o r i l .
ba) d o m i n g o , 2 7 d e a b r i l , I 2 : 0 0 h ( h n r a l o c a l )
** b ) s e g u n d a - f e i r a , 2 8 d e a b r i l , 0 : 0 0 h ( h o r a l o c a l .
27
5a
I) DESLOCAMENTO 0* «.UMA A:
2ITEMP0 DE DCSLOCAMEnrO « < * O NÍVEL. 19005) iHcenriTuoE EM RELAÇÃO AO NI'VSL U O O »
DEVIDO A VÍNTO5 FRACOS E VARIÁVEIS
5b
DDfSLOCAUINTO
2) TEMPO OE BCSLOOUlsrO P»»» O Nl'vEL 1500»»)INCEHTITUDE EM KfLAçio AO H'VCL I1CO«
CEViBO A VIHTOS fí»«CCrt E v»»>.VvilS
20
Figura 5 il u s t r a o m o v i m e n t o na atmosfera de q u a l q u e r materialr a d i o a t i v o que tenha sido l i b e r a d o pelo reator de Chernobyl nosp r i m e i r o s d i a s p õ s - a c i d e n t e .
5 a ) s á b a d o , 26 de a b r i l , entre 12 e 24h (hora l o c a l ) .
5 b ) d o m i n g o , 27 de a b r i l , 0:00h (hora l o c a l ) .
6a
6b
DntSl.0Ci-H.NTO DA PLUM» A: ~SZ7ZZ S "
I ) TCUMO 0E Df'.iClCAMtHfO PAHA C Nl* • i. 1500 m • 24 h>ilmc-Kiirvoc rv "ti*;Ão JO »i'y:t i » .
OílVIüO A V£ST95 FR4C0S C VAWt.vj(-:"i
21
i ( TEUPO or tirSLOCflnewro I-AO* p m'vti.iiiHCEnnrudc t« RCLAÇÍO to I Í V . >ÍOO
II»I;H> A VLNH"; tnArns c vi»
F i g u r a 6 i l u s t r a o m o v i m e n t o n a a t m o s f e r a d e q u a l q u e r m a t e r i a lr a d i o a t i v o l i b e r a d o p e l o r e a t o r d e C h e r n o b y l e n t r e a s e g u n d a -- f e i r a , 2 8 d e a b r i l e a t e r ç a - f e i r a , 2 9 d e a b r i l .
6 a ) s e g u n d a - f e i r a , 2 8 d e a b r i l , à s 1 2 : O O h ( h o r a l o c a l )
6 b ) t e r ç a - f e i r a , 2 9 d e a b r i l , a 0 : 0 0 h ( h o r a l o c a l ) .
7b
22
— rtOm2)TC«PO P£ DÍW.OCA-EKTO P4KA0 NWCL I5O0P< — — • « h»S) IMf ATITUDE CM aClAÇtO AQ h'vU. I M O »
DCVtDQ A VKMT05 FRACOS E MAAIAVEIS •
HIVll.i)l«Ci'»T|TUOt f « HflíÇÃÍ. «3 Nl'vtr.
Dtvix) A vimos mico* C v*«i«Vtis
Figura 7 i l u s t r a o movimento na atmosfera de qualquer ma te r ia lr a d i o a t i v o que tenha s ido l i b e r a d o pe lo r e a t o r de Chernobyl e£t r e t e r ç a - f e i r a , 29 de a b r i l . e a q u a r t a - f e i r a , 3 0 de a b r i l . ~
7a) t e r ç a - f e i r a , 29 de a b r i l , ãs 12:00n (hora l o c a l ) .
7b) q u a r t a - f e i r a , 30 de a b r i l , a 0:00h (hora l o c a l ) .
8a
8b
D DESLOCAMENTO DA PtUUA A:
Í ) IIM»I> IE DESLOCAMENTO PA»A ;0 fclVfl I W O » — • 24 I»MlNCtlHlfUOE EM Rtl 4IJÂ0 fíi NIVEL I W O »
OCVfüO A VChTOS FR.tCCS V. VADIAVEIS
• **r>>M-.utaO/>«B«
23
F i g u r a R i l u s t r a o m o v i m e n t o n a a t m o s f e r a d e q u a l q u e r m a t e r i a lr a d i o a t i v o q u e t e n h a s i d o l i b e r a d o p e l o r e a t o r d e C h e r n o b y l e nt r e a q u a r t a - f e i r a , 3 0 d e a b r i l e a q u i n t : - f e i r a , 1 Ç d e m a i o .
8 a ) q u a r t a - f e i r a , 3 0 d e a b r i l , S s 1 2 : 0 0 h ( h o r a l o c a l )8 b ) q u i n t a - f e i r a , 1 9 d e m a i o , a 0 : 0 0 h ( h o r a l o c a l ) .
9a
9b
I ) DESLOCAMENTO D* *. UMA A:
Z) TEMPO DE DESLOCAMENTO PARA O Nt*VEL ISOOm3> INCERTITUDE CM RELAÇÀ» AO Ml'vEL l»OOw
DtVtOO A VENTOS FRACO'* f VAKIAVglS
24
3 DA FLU»» »'
2> TEN»O OE OlJlOCANtNTO P4*» O Xl 'v l t 1500*3)IMCt*rirKí>t £« «tlAÇÃO »0 K I V ' L 1500 •«
Dtvioo * vexto» rpucfrt e V*»>»'VEII • <#Tl|r«- ^tfO/tTl!
F i g u r a 9 i l u s t r a o m o v i m e n t o n a a t m o s f e r a d e q u a l q u e r m a t e r i a lr a d i o a t i v o q u e t e n h a s i d o l i b e r a d o p e l o r e a t o r d e C h e r n o b y le n t r e a s e x t a - f e i r a , 2 d e m a i o e o s á b a d o , 3 d e m a i o .
9 a ) s e x t a - f e i r a , 0 2 d e m a i o , a 0 ; 0 0 h ( h o r a l o c a l ) .
9 b ) s á b a d o , 0 3 d e m a i o , a 0 : 0 0 h ( h o r a l o c a l ) .
10a
10b
C EM BtlAÇÃO «O N-VíLDCVIDO * VENTO? FRACOS t WWMVfl*
JMNCfRTlTuC! t » flFLA."T «9 NIW'l PSMln
3
ir
F i g u r a 1 0 i l u s t r a o m o v i m e n t o na a t m o s f e r a d o q u a l q u e r m a t e r i a lr a d i o a t i v o q u e t e n h a s i d o l i b e r a d o d o r e a t o r d e C h e r n o h y i e n -t r e o d o m i n g o , 1 d e m a i o e a s e g u n d a - f e i r a , 5 d e m a i o .
1 0 ) d o m i n g o , 0 4 d e m a i o a 0 ; 0 0 h ( h o r a l o c a l ) .
1 0 b ) s e g u n d a - f e i r a , 0 5 d e m a i o a 0 : 0 0 h ( h o r a l o c a l )
26
VIII AS VITIMAS E O ATENDIMEKTO MÉDICO
Oficialmente foram declaradas 304 vitimas, referidas
genericamente como "feridas" e "irradiadas". Destas, se con-
siderarmos a última informação oficial soviética (19.07.86),
28 já faleceram e 200 permaneciam hospitalizadas devido à ir_
radiação. Tal estatística inclui, naturalmente, o técnico da
central que faleceu em decorrência do desabamento de estrutu
ras de sustentação do reator e um bombeiro, vítima de queima
duras térmicas múltiplas. Estas 2 mortes, reconhecidas publi
camente pelas autoridades russas como decorrentes de efeitos
não radiológicos, ocorreram nas primeiras 48 horas do acideri
te. 204 vítimas foram hospitalizadas imediatamente após o e-
vento e, na verdade, faziam parte das equipes que haviam lu
tado para debelar o incêndio no prédio do reator. As doses
de radiação recebidas variaram, segundo depoimentos de espe-
cialistas russos ã AIEA, de lSv (100 Rem) a mais de 7,5 Sv
(750 Rem). Pelo menos 20 pessoas receberam doses da ordem de
lOSv (1000 Rem) e puderam ser consideradas como sem possibi-
lidade de recuperação (elas viriam a apresentar algum tempo
mais tarde um complexo quadro clínico, dominado pela chamada
síndrome do sistema nervoso central). No decorrer do mês de
maio mais 100 pessoas vieram a ser hospitalizadas.
Face ao elevado número de vítimas e a complexidade e
gravidade dos quadros clínicos apresentados pelas mesmas, de
cidiu-se pela centralização do atendimento médico em uma üni
ca cidade, no caso Moscou, escolhida por dispor de recursos
humanos e materiais compatíveis com a situação. Informes pes_
soais dão conta de que um único hospital foi selecionado pci
ra receber todas as vítimas, o Hospital n9 6. As equipes me
dicas - falam em 3 centenas de profissionais convocados para
acompanhar os pacientes - foram coordenadas pela Dra. A. K.
Guskova, a mais alt.i autoridade soviética em Radiopatologia
e pelo Prof. Voroliev, membro da Academia de Ciências da
U.R.S.S.
27
Tendo em vista o quadro henatologico dramático apresentado
por pelo menos 35 pessoas, decidiu-se pel i realização de uma
terapêutica compensatória, capaz de estimular o sistema san
gfiineo remanescente. Conhecido como transplante de medula õs
sear tal procedimento, apesar de tecnicamente simples, pode
apresentar complicações importantes, do tipo reação imunitã
ria, onde o transplante reage contra os tecidos da pessoa
que o recebeu, causando a morte de um elevado nvunero de paci
entes transplantados.
No acidente de Chernobyl tal terapêutica foi realizai
da por uma equipe da Universidade da Califórnia, coordenada
pelo Dr. Robert Gale, presidente do International Bone
Marrow Transplant Registry, organismo que reüne aproximada-
mente 130 centros de transplantes dt; medula óssea em todo o
mundo.
IX ASPECTOS SANITÁRIOS E CONSEQÜÊNCIAS A MÉDIO E LONGO
PRAZO SOBRE A POPULAÇÃO ATINGIDA
Se levarmos em consideração que uma grande área situ
ada em torno da central foi atingida, principalmente aquela
que correspondia ã trajetória observada pela nuvem radioati
va nos dias seguintes ao acidente, e que elevadas concentra-
ções de radionuclldeos foram detectadas no ar, na água, nos
produtos agrícolas e na vegetação, mormente os iodos a cési
os, podemos antecipar que : repercussões de natureza mêdico-sa-
nitíiria deverão ser objeto de análise e reflexão por parta
dan autoridades locais da Ucrânia e, mesmo, da União Soviéti
c. .
A evacuação rápida e precoce da população de Pripyat
e a extensão desta medida, nos dias subseqfie; :.e&, a outras
regiões circunvizinhas, reflete a preocupação dos soviéticos
em evitar uma contaminação maciça da população existente em
torno da central e o claro conhecimento de que os benefíci-
28
decorrentes de uma operação desta magnitude c complexidade se
riam bem superiores aos riscos potenciais de uma contaminação
interna, via inalação e ingestão de materiais radioativos,par
ticularmente de crianças e gestantes, e de eventuais exposji
ções externas devido ã presença de radionuclldeos no solo e
em outras superfícies.
A curto prazo, os efeitos decorrentes da exposição
aos isótopos do iodo, especialmente o i , são os que geram
maior preocupação. A principal via de contaminação é repre-
sentada pela cadeia alimentar e o leite é, sem dúvida, o
principal alimento envolvido. 0 iodo ê captado pela glândula
tireôide e quando se trata de crianças, que consomem geral
mente leite fresco, o problema é mais grave. A carga de expo
sição é mais elevada do que em relação aos adultos principal-
mente porque o radionuclídeo é absorvido por uma tireõide
proporcionalmente menor, que recebe, entretanto, a mesma ex-
posição que receberia um adulto se a mesma quantidade de io-
do tivesse sido absorvida. Ê oportuno lembrar que a meia-vida
do I i curta (8 dias) e que decorridos algumas semanas de
sua liberação, a quantidade existente no ambiente é quase
nula.
à longo termo os efeitos ficarão por conta do césio
137, liberado nos primeiros dias põs-acidente numa quantiôa©e/w. ,>* W C \çSjZÍli?Q
de de—até^lô* áaquela/íêíiodos. Esse radionuclídeo apresen
ta uma meia-vida de cerca de 30 anos. Por ser capaz de se
fixar sobre produtos agrícolas, bem como de provocar uma ra
diação externa a partir do solo, o césio se configura atua_l
mente num importante problema de ordem médico-sanitária, pois
índices elevados foram detectados em algumas regiões da Uni-
ão Soviética e mesmo em regiões fronteiriças.
De qualquer forma, ainda é muito cedo para se
ar quantitativamente as conseqüências epidemiológicas, ã me
dio c longo prazo, para um importante contigente populacio-
nal afetado. Qualitativamente elas serão, certamente, de ca-
29
ráter carcinogênico e teratogênico.
X AVALIAÇÃO DAS DOSES RECEBIDAS Ã CURTA E MÉDIA DISTANCIA
a - Devido a passagem da nuvem radioativa.
As estimativas de dose ã curta e ã média distância fo
ram baseadas em hipóteses e suposições e por isto devem ser
consideradas com a devida reserva.
Supondo que:
1) o rejeito apresentava 25% de gases raros e 5% de io-
dos e césios de todo o inventário do núcleo, valores que re-
presentam, na verdade, 1/4 do rejeito total estimado, sem in
cluir, naturalmente, o Neptúnio.
2) esta fração do rejeito total não ascendeu a elevadas
altitudes, atingindo somente 100 metros.
3) o tempo de resfriamento do núcleo não ultrapassou a
5 horas (hipótese pessimista).
4) as condições de difusão dos rejeitos eram normais e
que os ventos eram de 5 m/s.
5) haveria um fator redutor de dose equivalente a 5 de
vido a própria dinâmica dos ventos durante a fase mais impor-
tante da liberação de rejeitos.
Em tais condições hipotéticas as doses devido ã irra-
diação externa, do eixo do vento, quando da passagem da nu-
ven radioativa seriam as seguintes:
30
Distâncias (Km)
1
2
5
10
30
50
iOO
Doses (Rad )
112
30
14
5
0,8
0,4
0,12
b - Devido ao depósito no solo â media distância.
Considerando as mesmas hipóteses mencionadas no
item anterior e ainda que os iodos e césios foram os produ-
tos de fissão mais importantes presentes no solo, chegaría-
mos aos seguintes débitos de doses:
Distancias(km)
1
2
5
10
30
100
Taxas de Dose(rad/h)
na 1. hora
2,8
7
3,3
1,2
0,2
0,03
19 dia
20,6
51
24
8,8
1,5
0,2
Taxas de Dose(rad/dia)
29 dia
7
17
8
3
0,5
0,08
Diárias
39 dia
5,6
14
6,6
2,4
0,4
0,06
49 dia
3,9
10
4,6
1,7
0,3
0,04
31
XI POPULAÇÃO DA REGIÃO ATINGIDA
A população existente na área afetada é pouco conhe-
cida. Dados obtidos de diferentes origens, particularmente de
cartas de densidade rural, não indicaram a existência de agio
me rações populacionais num raio de 3 Km em torno da central. A
aglomeração mais próxima ê a cidade nova de Pripyat, locali-
zada ã Noroeste, um pouco além daquele limite. Ela abrigaria
segundo fontes diversas entre 5.000 a 20.000 pessoas.
Se levarmos em consideração as densidades populacio-, 2
nais médias no interior do "oblasto" de Kiev (65 hab/Km ) , po
demos inferir que a população, num raio de 5 a 10 Km em torno
da central, se situa entre 20 a 25.000 habitantes..
Entre 10 e 50 Km, as estimativas ocidentais se base:L
am nas densidades populacionais médias nos "oblastos" de Kiev2 2
(os 3a mencionados 65 hab/Km ), de Tchernigov (47,5 hab/Km )et 2
da Bielo Russia (42 hab/Km ), distribuidos em aproximadamente30 vilarejos com menos de 5.000 habitantes.
Tais dados nos permitem estimar que num raio de 50Km
em torno da central devem haver de 400.000 a 600.000 habitan-
tes, sem nenhuma concentração urbana expressiva.
Além de 50 Km, as cidades mais importantes parecera
ser Chojniki, ã 55 Km ao Norte, na Bielo Rússia, Ovrutch, 100
Km ã Oeste e, principalmente, Tchernigov, com 150.000 habitan
tes, localizada a 80 Km ã Leste da central. A cidade de Kiev,
com 2.500.000 habitantes, se localiza a 100 Km em direção sul.
(Figura 1).
32/33XII REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 - World Health Organisation: Chernobyl
Reactor Accident: Report of a Consultation. 6 May 19 86
(Provisional).
2 - Commission of the European Communities.
Contamination levels in member states resulting from
the Chernobyl reactor accident. 21 May 1986.
3 - Commissariat ã l'Energie Atomique.
Institut de Protection et de Stiretê Nucléaire. L'Acci-
dent de Tchernobyl. Rapport IPSN N9 2 - Revision 1,21
mai 1986 e Revision 2, juin 1986.
4 - Finnish Centre for Radiation and Nuclear Safety.
2^ Interim Report on Radiation Situation in Finland
from 5 to 16 May 1986. May 1986.
5 - Nuclear News: Special Report: The Chernobyl accident.
June 19 86.
6 - Petersson, B. Swedish Nuclear Safety Institute (SKI).
Comunicação ã imprensa(28.04).
7 - Kulikov. State of the art and development prospects for
nuclear power stations containing RBMK reactors. Atoronaya
Energiya vol 56, n9 6 June 1984.
34
ANEXO I
COMUNICADO OFICIAL DO CONSELHO DE MINISTROS DA URSS.
VINTE E QUATRO HORAS APÔS TER ANUNCIADO O ACIDENTE OCOR-
RIDO NA CENTRAL NUCLEAR DE CHERNOBYL, 0 CONSELHO DE MINISTROS EXPE
DIU UM COMUNICADO, RETRANSMITIDO PELA AGÊNCIA DE NOTICIAS TASS E
LIDO NA TELEVISÃO SOVIÉTICA.
"Conforme já foi anunciado na imprensa, ocorreu um aci-
dente na Central Eletronuclear de Chernobyl, a 130Km ao norte da
cidade de Kiev. Uma comissão governamental está trabalhando no Io
cal do acidente, sob a direção do Vice-Presidente do Conselho de
Ministros Boris Chtcherbina. A comissão é formada por delegados de
vários ministérios e departamentos, cientistas e especialistas emi
nentes.
De acordo com dados preliminares, o acidente ocorreu em
um local da quarta unidade e causou a destruição parcial dos ele-
mentos estruturais do edifício do reator e algum vazamento de subs
tâncias radioativas. As outras três usinas nucleares foram para-
lisadas. Elas se encontram em bom estado e constituem uma reserva
operacional.
Foram adotadas medidas, de caráter prioritário, para eLL
minar as conseqüências do acidente. Neste momento, o nível de ra-
diação na central eletronuclear e nos arredores encontra-se estabi
lizado e vem sendo prestada assistência médica adequada às pessoas
atingidas. Os trabalhadores do complexo da central eletronuclear
bem como os habitantes de três localidades próximas foram evacua-
dos.
0 nível de radiação na Central de Chernobyl e nos locais
vizinhos esta sendo monitorado ininterruptamente."
ANEXO II
DECLARAÇÃO DO PRESIDENTE DA AGÊNCIA INTERNACIONAL DE
ENERGIA ATÔMICA DURANTE UMA ENTREVISTA COLETIVA EM MOSCOU, NO DIA
9 DE MAIO:
"Uma descrição completa e atualizada do acidente, de
suas causas e efeitos deverá partir, tão somente, das autoridades
soviéticas após serem concluídas as análises que se impõem.
No entanto, preparamos uma breve descrição com base em
informações recebidas no decorrer de algumas entrevistas com mi-
nistros, funcionários qualificados e peritos soviéticos e, até cer
to ponto, levando em consideração nossas próprias observações vi-
suais feitas durante um sobrevôo, em helicóptero, da central de
Chernobyl.
No dia 26 de abril, c. lh 23 m(hcra local), ocorreram ex
plosões na quarta unidade da central nuclear de Chernobyl.
O reator funcionava a 7% de sua potência. Até este momento, exis-
tem apenas hipóteses sobre as causas reais específicas do acidente.
As explosões provocaram um incêndio. 0 edifício do rea-
tor, os equipamentos que se encontravam no mesmo e o próprio rea-
tor sofreram graves danos acarretando vazamentos de substâncias ra
dioativas que se propagaram além da área onde se situa a central
nuclear.
A reação em cadeia foi interrompida automaticamente no
unomento do acidente. Isto é confirmado pelo fato de que os exames
médicos aos quais foram submetidas as pessoas atingidas não •mostra
van» nenhum sinal de irradiação por neutrons em dose elevada.
Uma parcela substancial dos vazamentos radioativos se
compunha de radionuclxdeos de meia-vida curta. As providências a-
dotadas revelaram que até 50% das emissões produzidas foram de
iodo-131.
Brigadas contra incêncio foram rapidamente deslocadas pai
ra o local do reator. Os trabalhos se tornaram difíceis pela im-
possibilidade no emprego de água ou produtos químicos. Os bombei-
ros e alguns membros da central figuram entre as pessoas atingidas
pela irradiação.
A grande maioria dos moradores das zonas próximas se en-
contrava no interior de suas casas na hora do acidente, reduzindo-
se, por conseguinte, sua exposição às radiações.
Na madrugada de 26 de abril, as equipes de monitoração
registraram um aumento da radioatividade. A evacuação foi inicia-
da no dia 27 de abril, com a remoção de mulheres e crianças. Um nu
mero total de 48.000 pessoas foram evacuadas de Chernobyl e de ou-
tros locais num raio de 30Km.
Como medida de prevenção foram distribuídos comprimidos
de iodeto de potássio tanto na região compreendida num raio de
30Km quanto em áreas circundantes.
20 3 pessoas, dentre as quais trabalhadores dn central nu
clear e bombeiros, tinham recebido doses de irradiação de primei-
ro a quarto grau, sendo que 18 pessoas daquele total foram submeti
das a transplantes de medula óssea.
A fuga de material radioativo da unidade danificada foi
reduzida de maneira considerável mediante a instalação de uma blin
dagem composta de materiais absorvedores de neutrons-areia, boro,
argila, dolomita e estanho - jogados por helicópteros que sobrevoe»
vam o reator, o que fez baixar os níveis de radioatividade na zona
equivalente a ura raio de 30Km.
Algumas seções de grafite do reate danificado incendia-
ram-se. Estes incêndios foram apagados, porém as temperaturas con
tinuam elevadas. A recriticalidade não é considerada, no momento,
um problema. O objetivo visado é isolar o conjunto da quarta uni-
dade em concreto, já tendo sido iniciados os trabalhos de constru-
ção de fundações de concreto sob o reator.
Muito embora não tenha sido fornecido nenhum d ido siste-
mático sobre os níveis de radiação, foram obtidas algumas indica-
ções a esse respeito.
O nível máximo de irradiação dentro da zona de raio igual
a 30Km era de 1015 milUrems/hora. A partir de 5 de maio, esse ní-
vel reduziu-se para cerca de 2 a 3 millirems/hora. No dia 8 de
maio registrou-se uma queda a um valor equivalente a 0,15 milirems/
hora nos limites da referida zona.
O nível de radioatividade do reservatório de Kiev perma-
neceu sempre dentro dos limites da normalidade.
ANEXO III
PRONUNCIAMENTO DO SECRETARIO-GERAL DO PARTIDO COMUNISTA
DA URSS, MIKHAIL GORBATCHEV, NA TELEVISÃO RUSSA, EM 14 DE MAIO.
"Ê a primeira vez que nós entramos em choque com esta
força terrível que ê a energia nuclear fora de controle.
Consciente das características extraordinárias e perigosas do aci-
dente de Chernobyl, o Politburo tomou a si a responsabilidade por
toda a organização dos trabalhos visando a absorver o mais rapida-
mente possível o acidente e circunscrever suas conseqüências.
Foi instituída uma comissão governamental, que se deslocou imedia-
tamente para o local do acidente. Um grupo de trabalho, sob a pre
sidência de Nikolai Richkov, foi criado junto ao Politburo no in-
tuito de estudar os problemas mais urgentes."
"Então, o que ocorreu? Segundo os relatórios dos técni-
cos especializados, houve um repentino aumento da potência do rea
tor durante a paralização da operação da quarta unidade. A libera
ção de considerável quantidade de vapor e a subseqüente reação a-
carretaram a formação de hidrogênio, sua explosão, a destruição do
reator e emissões radioativas."
"Aindc» é cedo para uma conclusão definitiva sobre as cau
sas do acidente. Todos os aspectos do problema - o desenvolvimen-
to do projeto, o projeto propriamente dito, a tecnologia, seu apro
veitamento - são objeto de análise minudente por parte da comissão
governamental. É óbvio que todas an conclusões requeridas serão ti
40
radas depois q: é as causas do acidente forem esclarecidas. Serão
tomadas providências para impedir a repetição de ocorrências desse
gênero."
"Tão logo consigamos as primeiras informações concretas,
transmitiremos as mesmas aos governos estrangeiros através dos ca-
nais diplomáticos. Ê com base nessas informações que foram inicia
dos os trabalhos visando a dominar o acidente e minorar suas nefas
tas conseqüências. Os habitantes das cidades próximas â central nu
clear foram evacuados em apenas poucas horas. Posteriormente, ao
tornar-se claro que a saúde das pessoas que viviam na zona limítro
fe poderia correr um grave risco, foi decidida a sua remoção para
regiões seguras."
"Não obstante, muitas pessoas deixariam de ser salvas pe
Ias medidas adotadas. Dois homens - Vladimir Chachenok, especia-
lista em regulagem de sistemas automáticos, e Valeri Khodemtchouk,
operador da central nuclear - morreram no acidente. 299 pessoas
atingidas pela irradiação, em maior ou menor grau, foram hospitali
zadas. Deste número, sete vieram a falecer.
Toda a assistência possível está sendo prestada às demais."
"Simultaneamente, estão sendo desenvolvidas atividades
em ritmo acelerado na própria central e em seus arredores com o
objetivo de limitar as proporções do acidente.
Conseguiu-se, em condições extremamente difíceis, apagar o incên-
dio e a impedir que o mesmo se propagasse dos demais reatores. Os
funcionários da central providenciaram a paralizaçao dos outros três
reatores e a colocação dos mesmos em condições de segurança. Es-
tes se encontram sob controle permanente."
"Hoje podemos afirmar: o pior já passou. Conseguiu-se
evitar as mais graves conseqüências. £ certo, ainda é cedo para
considerarmos o acidente como encerrado.
Não podemos voltar à tranqüilidade. Deve ser empreendido um traba
lho de grande envergadura e de longo prazo.
O nível de radioatividade na zona da central e nas áreas adjacen-
tes continua oferecendo perigo a saúde."
"Eis porque os trabalhos visando a eliminar as conseqüêri
cias do acidente constituem, presentemente, nossa tarefa primor-
dial. Fox elaborado e está sendo executado um intenso programa de
desativação da área da central e da cidade, dos prédios e das ins-
talações. Ê perfeitamente óbvio que todo este trabalho levará mui
to tempo e exigirá esforços importantes. Esta área deve se tornar
inteiramente inócua ã saúde e ã vida nonrtal dos seus ocupantes."
Depois de ter agradecido aos países socialistas e aos pro
fessores norte-americanos Gale e Terasaki sua valiosa colaboração
e saudado a "atitude objetiva" da Agyncia Internacional de Energia
Atômica (AIEA), Gorbatchev criticou duramente a atitude tomada pe_
Ias nações na reunião de cúpula de Tóquio, acrescentando:
"Os círculos governamentais dos Estados Unidos e de seus
aliados mais zelosos, dentre os quais desfcacarc-i a República Fede-
ral da Alemanha, viram neste acidente apenas uma nova possibilida-
de para colocar obstáculos adicionais no caminho do desenvolvimen-
to e intensificação do diálogo Leste-Oeste - já bastante difícil
sem estes entraves - a fim de justificar a corrida ãs armas nuclea
res."
O Secretário geral do Partido Comunista da União Soviéti
ca classificou, em seguida, de "invenção" a campanha conduzida con
tra seu pais no tocante à falta de informações e passou a expor um
programa de quatro pontos visando a "um aprofundamento sério da co
operação" no âmbito da AIEA.
1) Estabelecer um regime internacional de segurança do
desenvolvimento do setor eletronuclear, baseado em uma estreita co
operação entre todas as nações produtoras de energia elétrica de o
rigem nuclear. No âmbito desse regime, deverá ser criado um siste
ma de contatos urgentes e de informação em casos de acidentes e
defeitos nas centrais nucleares, mormente quando tais ocorrências
forem acompanhadas de emissões radioativas. Simultaneamente, urge
dinamizar um mecanismo internacional com bases bilateral e multi-
lateral para prestar socorros de emergência quando surg.írem situa-
ções perigosas.
2) Convocar uma conferência internacional de peritos em
Viena, sob a égide da AIEA, para debater o conjunto destes proble-
mas.
3) Tendo em vista que a AIEA foi criada no ano de 1957
e que seus recursos e efetivos não correspondem ao estagio atual do
desenvolvimento do setor eletronuclear, reforçar o papel desse ór-
gão internacional, único no gênero e ampliar suas possibilidades.
A União Soviética é favorável a uma campanha nesse sentido.
4) Associar mais ativamente a Organização das Nações ti-
nidas e seus órgãos especializíiclos, tais como a Organização .Mun--
dial de Saúde (O.M.S.) e o Programa do Meio Ambiente da ONU, ãs
medidas que visem a dotar de toda a segurança as atividades de cu-
nho pacifico na área nuclear."