resenha 4 - m e riqueza keynes
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Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)Instituto de EconomiaHO-212-Economia Monetária e FinanceiraProfessores: André Biancarelli, Pedro Rossi e Bruno De ContiAluno: Edson Mendonça da Silva
Dinheiro e Riqueza em Keynes
Enquanto na sua obra principal, “A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda”
(1936), Keynes estivesse mais preocupado com a determinação do emprego e da renda
do que com a moeda, foi no livro “A Treatise On Money” (1930), que o autor aborda de
maneira sistemática as questões monetárias. E dessa forma encontramos neste livro um
estudo sobre a natureza da moeda e suas classificações, com destaque para a moeda
bancária e uma análise sobre os fatores que tendem a alterar o valor da moeda e o modo
como atuam.
A primeira definição feita pelo autor refere-se a moeda como unidade de conta que
representa a unidade em que são expressos as dívidas, os preços e o poder de compra
em geral e é o principal conceito de uma teoria da moeda. Para Keynes, ele surge junto
com as dívidas, que são contratos para pagamento de contratos diferidos, e as listas de
preços que são ofertas de contrato para compra e venda. E tanto as dívidas quanto os
preços só podem ser expressos em moeda como unidade conta (KEYNES, V, p. 3).
Em seguida, o autor apresenta a noção de moeda propriamente dita que é aquela cuja a
entrega se cancelam os contratos de dívidas e de preços, no qual é mantido um estoque
de poder de compra em geral, deriva sua natureza das suas relações com a moeda como
unidade de conta, desde que dívidas e preços tenham sido primeiro expressos em termos
desta última. Mas, segundo o autor, não é qualquer mercadoria que pode se aproximar
de moeda, senão teríamos um estágio de quase escambo, e por isso, a moeda em sentido
pleno só pode existir como uma unidade conta. E Keynes faz uma importante distinção
entre a moeda propriamente dita e a moeda como unidade conta: a segunda é a
descrição ou título e a primeira é a coisa que corresponde a descrição (KEYNES, V, p.
3).
Com a introdução da lei e do costume, emerge o papel do Estado e da comunidade que
não apenas velam pelo comprimento dos contratos monetários, como decidem,
principalmente o primeiro, o que deve ser entregue no contrato. Ou seja, é o Estado que
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intervém como representante legal que regula não apenas a coisa, mas a sua descrição
(KEYNES, V, p. 4).
Para Keynes, a moeda como unidade conta pode ser subdivida em duas categorias: a
moeda propriamente dita que corresponde a ela, a moeda como unidade conta e por
meio do qual se cumprem os contratos e liquidam as dívidas; e o reconhecimento de
dívidas que se expressam nela, a moeda como unidade conta. A relação entre as
categorias ocorre quando o descobrimento de que o reconhecimento das dívidas é para
muitos fins um útil substituto da moeda propriamente dita para liquidar as transações.
Mas mesmo assim, a moeda nessa relação de dívida, a moeda bancária, não é a moeda
propriamente dita. A moeda bancária é simplesmente o reconhecimento de uma dívida
privada expressa em unidade de conta, e a moeda propriamente dita serve para liquidar
uma transação. E dessa forma, segundo o autor, temos a moeda de Estado ou a moeda
propriamente dita que convive com a moeda bancária ou o reconhecimento das dívidas
(KEYNES, V, p. 5).
Como uma nova evolução da moeda de Estado, temos a possibilidade da moeda
bancária também representar uma dívida do Estado e ser usada para liquidar obrigações,
se valendo da prerrogativa cartista. E segundo Keynes, nesse momento a moeda
bancária transforma-se em moeda propriamente dita ou a moeda representativa. Dessa
forma tal moeda deixa de ser uma dívida e passa a ser aceita como pagamento, e assim
sendo uma substituta da moeda de curso legal (KEYNES, V; p. 6).
Ao analisar as formas da moeda, o autor destaca inicialmente três formas que podem
assumir a moeda de Estado: a moeda-mercadoria, a moeda fiduciária (ou fiat money) e
a moeda administrada, sendo as duas últimas, uma espécie de moeda representativa.
Segundo Keynes, a moeda-mercadoria é composta por unidade reais de uma mercadoria
que se obtém livremente e por não ser monopolizada é eleita causalmente para
desempenhar as funções de moeda, tendo assim um padrão objetivo. A moeda fiduciária
é a moeda representativa que e criada e emitida pelo Estado (com valor intrínseco), não
sendo conversível e nem tendo padrão objetivo. Já a moeda administrada é parecida
como a moeda fiduciária, mas neste caso o papel do Estado permite a ela ser conversível
e ter um padrão objetivo. Para Keynes, a moeda administrada é uma forma hibrida das
duas anteriores e por isso é a forma de moeda principal a ser tratada na sua obra. Por
fim, o autor amplia, então, as formas de moeda em quatro: as três formas de moeda
propriamente dita (moeda-mercadoria, moeda fiduciária e moeda administrada) e a
moeda bancária, que não é moeda-em-si (KEYNES, V; p. 6-8).
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Em seguida, o autor trata da circulação da moeda ou de sua quantidade, como parte
importante de uma teoria da moeda. E da relação entre a moeda do Estado, as reservas
dos bancos membros e da moeda nas mãos do público, o autor restringe a circulação a
moeda relacionada com a renda, income money; a moeda relacionada com os negócios,
business money; e a moeda relacionada com a poupança, savings money (KEYNES, V;
p. 8-9).
Em seguida o autor investiga a criação da moeda bancária, ou seja, trata-se dos bancos
em sua versão moderna e totalmente desenvolvida. Dessa forma, os bancos criam
direitos contra si mesmos para entrega de moeda (os depósitos) de duas maneiras: ou
recebe uma determinada quantia de moeda do público ou pode comprar ativos em favor
de um tomador, ou seja, emprestando. Nas duas situações, os bancos podem criar e
cancelar depósitos, e ele deve gerir suas operações de forma que os processos opostos se
compensem aproximadamente, ou seja, os ativos acumulados sejam mais parecidos, no
mesmo ritmo, com o passivo acumulado. Entretanto, Keynes rejeita a ideia de que os
depositantes possuam a iniciativa no processo e os bancos não possam mais do que lhe
foram conferidos. Isto porque os bancos não apenas criam depósitos quando os
indivíduos o desejam, mas também criam dependendo de suas reservas e de suas
relações com o conjunto de bancos. Ou seja, o ritmo da criação de moeda bancária é
determinado pelo sistema interbancário que referenda ou não a quantidade de reservas
dos bancos necessitados (KEYNES, V; p. 22-26).
Analisando a moeda bancária do ponto de vista do depositante, Keynes observa que ele
tem três razões para depositar no banco: o depósito relacionado com a renda, income
money; o depósito relacionado com os negócios, business money; e o depósito
relacionado com a poupança, savings money. No primeiro, a característica principal é
ser um tipo de depósito que reabastece a renda pessoal e emprega para os gastos. O
segundo refere-se a depósitos que estão relacionados com os negócios, especificamente,
com uma margem para fazer frente as contingências. Tanto o primeiro tipo quanto o
segundo formam, o que o autor denomina, de depósito efetivo, cash deposits, ou seja,
aqueles que estão em função da renda, do tempo que transcorre a renda e os gastos. Já o
terceiro tipo representa aqueles depósitos que empregam poupança como investimento,
ou seja, dependem do atrativo relativo diante de outros títulos. É interessante notar que
parte dos depósitos relacionado com os negócios, especialmente, transações
especulativas de bens de capital ou mercadorias e transações financeiras, junto com o
depósito relacionado com a poupança não dependem do volume da produção corrente. E
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por serem característicos das atividades financeiras, especulativas são menos instáveis
que o depósito relacionado com a renda, mais estáveis (KEYNES, V; p. 30-42).
Por fim, o autor analisa a distinção entre circulação industrial e circulação financeira. A
primeira, na qual os negócios teriam como objetivo manter o processo de produção,
distribuição, troca e pagamentos pelos fatores de produção desde o início da produção
até a satisfação final do consumidor. E, segundo o autor, referem-se a uma parte dos
depósitos relacionados com os negócios (tipo A, transações resultantes da divisão das
funções produtivas) e outra parte dos depósitos relacionados com a renda. Já a segunda,
comportaria os negócios que se ocupavam da troca e da conservação de toda a classe de
títulos de riqueza existente, incluindo transações na Bolsa de Valores e nos mercados
monetários, a especulação, e o processo de oferta de poupança correntes e lucros às
mãos dos empresários. Ou seja, uma parte dos depósitos relacionado com os negócios
(tipo B, citados a cima) e outra com os depósitos relacionados com a poupança
(KEYNES, V; p. 41-42 e 217).
Concentrando-se nos fatores que determinam o volume da circulação financeira, Keynes
destaca que as atividades das empresas financeiras não estão estreitamente associadas
ao volume de produção de bens de capital ou bens de consumo, especificamente porque
a produção de capital fixo é pequena em relação a quantidade de riqueza de “valores”
(bônus, ações) existente. Ou seja, a rotação financeira varia de forma independente da
rotação industrial. E isto não se refere aos depósitos relacionados com os negócios e sim
com os depósitos relacionados com a poupança (KEYNES, V; p. 222).
Neste ponto, o autor é enfático ao afirmar que a existência de depósitos relacionados
com a poupança é um indicador de que há pessoas que preferem ter seus recursos na
forma de direitos sobre dinheiro de caráter líquido realizáveis a curto prazo. Além dessa
classe, existem outra que busca empréstimos para financiar uma posse de títulos maior
do que poderiam ter com os seus próprios recursos. E assim, os depósitos relacionados
com a poupança podem ser divididos em dois: aqueles nos quais os proprietários da
riqueza sempre preferem ter tais depósitos a títulos, mais estáveis (tipo A) e aqueles que
assumem, segundo a linguagem da Bolsa de Valores, posições “baixistas” (bear) e
“altistas” (bull) (tipo B). Os “baixistas” são aqueles que preferem ter riqueza na forma
de moeda e prevê que os valores dos títulos irão cair, já os “altistas” são os que
preferem conservar sua riqueza sob a forma títulos ao invés de moeda e preveem que os
seus valores irão subir (KEYNES, V; p. 223-224).
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A conclusão mais geral neste ponto do argumento do autor é que mudanças na situação
financeira, ou seja, no estado de ânimo e opinião de “baixistas” e “altistas”, podem
alterar o valor da moeda de duas formas: alteram a quantidade de moeda disponíveis
para a circulação industrial e podem alterar a atratividade do investimento. E ao menos
que contra tendências agem, ou no sentido do primeiro em alterar a quantidade de
moeda ou no segundo ao modificar as condições de crédito, o nível dos preços de
produção atual será instável (KEYNES, V; p. 227).
Bibliografia:
KEYNES, J. M. (1930) “A Treatise on Money”. In Keynes, J. M. (1971) The Collected
Writings of John Maynard Keynes. Vol. V-VI. London. Cambridge University Press.
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