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Veracel Celulose S/A Programa de Monitoramento Hidrológico em Microbacias Período: 2006 a 2010 RESUMO EXECUTIVO Alcançar e manter índices ótimos de produtividade florestal é o objetivo principal do manejo das plantações florestais de eucalipto da Veracel Celulose S/A. Todavia, está hoje muito claro o fato de que a manutenção deste objetivo principal depende da manutenção do equilíbrio ambiental. Portanto, o monitoramento é um componente fundamental para a avaliação contínua desta interação entre o manejo das plantações e o meio ambiente. Este é o princípio de Manejo Florestal Sustentável adotado pela empresa. A preocupação para com os efeitos do manejo de florestas plantadas sobre a água, por exemplo, tema permanente e atual no mundo todo, também faz parte da preocupação ambiental da empresa. As variáveis básicas destes possíveis impactos hidrológicos envolvem, pelo menos, os seguintes aspectos: conflitos pelo uso da água, saúde das microbacias hidrográficas, impactos a jusante e potencial produtivo do solo. A empresa avalia continuamente estes possíveis impactos através do método de microbacias experimentais pareadas, uma sendo representativa do manejo de plantações de eucalipto e a outra contendo Mata Atlântica, funcionando como referencial (Figura 1). Pela medição criteriosa da precipitação e da vazão e também pela coleta semanal de amostras de água do riacho nestas duas microbacias, a avaliação dos efeitos hidrológicos do manejo é feita através dos seguintes indicadores: balanço hídrico da microbacia, hidroquímica do riacho, perdas de solo (sedimentos em suspensão) e perdas de nutrientes (geoquímica da microbacia).

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Veracel Celulose S/A

Programa de Monitoramento Hidrológico em Microbacias

Período: 2006 a 2010

RESUMO EXECUTIVO

Alcançar e manter índices ótimos de produtividade florestal é o objetivo principal do

manejo das plantações florestais de eucalipto da Veracel Celulose S/A. Todavia, está

hoje muito claro o fato de que a manutenção deste objetivo principal depende da

manutenção do equilíbrio ambiental. Portanto, o monitoramento é um componente

fundamental para a avaliação contínua desta interação entre o manejo das plantações e o

meio ambiente. Este é o princípio de Manejo Florestal Sustentável adotado pela

empresa.

A preocupação para com os efeitos do manejo de florestas plantadas sobre a

água, por exemplo, tema permanente e atual no mundo todo, também faz parte da

preocupação ambiental da empresa. As variáveis básicas destes possíveis impactos

hidrológicos envolvem, pelo menos, os seguintes aspectos: conflitos pelo uso da água,

saúde das microbacias hidrográficas, impactos a jusante e potencial produtivo do solo.

A empresa avalia continuamente estes possíveis impactos através do método de

microbacias experimentais pareadas, uma sendo representativa do manejo de plantações

de eucalipto e a outra contendo Mata Atlântica, funcionando como referencial (Figura

1). Pela medição criteriosa da precipitação e da vazão e também pela coleta semanal de

amostras de água do riacho nestas duas microbacias, a avaliação dos efeitos

hidrológicos do manejo é feita através dos seguintes indicadores: balanço hídrico da

microbacia, hidroquímica do riacho, perdas de solo (sedimentos em suspensão) e perdas

de nutrientes (geoquímica da microbacia).

Figura 1: Vista da estação linimétrica e o instrumental básico da microbacia Peroba II .

Este monitoramento hidrológico das operações florestais da empresa é feito em

parceria com o PROMAB – Programa de Monitoramento em Microbacias, um dos

programas cooperativos mantidos pelo IPEF – Instituto de Pesquisas e Estudos

Florestais, junto ao Laboratório de Hidrologia Florestal do Departamento de Ciências

Florestais da USP/ESALQ. A verificação rotineira do funcionamento dos sensores e as

coletas semanais das amostras de água dos riachos é de responsabilidade da empresa. O

processo de tabulação dos dados, interpretação dos resultados e elaboração do relatório

técnico anual é de responsabilidade do PROMAB, que também gerencia o banco de

dados do programa (www.ipef.br/pesquisas/promab).

A microbacia com floresta plantada de eucalipto, chamada Peroba II, localiza-se

no município de Eunápolis – BA. Por meio de mapas planialtimétricos, a área desta

microbacia foi calculada em 327,8 ha e foi gerado o mapa da hidrografia e do uso do

solo na mesma. Desta área, 2,6% é ocupada por estradas florestais (Figura 2).

Figura 2: Mapa da microbacia Peroba II onde é feito o monitoramento hidrológico do

manejo de plantações de eucalipto.

A microbacia Peroba II é representativa do padrão geral das plantações de

eucalipto da Veracel no Sul da Bahia, que em geral ocupam apenas os platôs

interfluviais da geomorfologia característica dos Tabuleiros Costeiros da Formação

Barreiras, sendo os vales, profundos e amplos, mantidos com a vegetação natural de

regeneração da Mata Atlântica (Figura 3). No caso da microbacia Peroba II, este padrão

equivale a uma ocupação aproximada de 42,4 % da área da microbacia com plantação

de eucalipto.

Figura 3: Padrão geral de ocupação dos espaços produtivos da paisagem pelas

plantações de eucalipto da Veracel no Sul da Bahia.

A fim de verificar as condições gerais da sub-superfície das microbacias de

monitoramento, a empresa contratou o Laboratório de Estudos de Bacias (LEBAC), da

Universidade Estadual Paulista, campus de Rio Claro, que realizou o mapeamento do

lençol freático pelo método da eletrorresistividade nas duas microbacias, principalmente

com o objetivo de determinar a existência ou não de vazamentos freáticos, o que

inviabilizaria a microbacia como área experimental de monitoramento. Os resultados

desse trabalho é resumido na Figura 4, que mostra a área sub-superficial delimitada pelo

divisor freático, comparativamente à área superficial delimitada pelo divisor

topográfico. Apesar da não coincidência entre os dois divisores em algumas partes,

pode-ser concluir pela existência de uma similaridade na conformação da área de

captação da superfície com a do lençol freático, permitindo inferir sobre a consistência

da medição do balanço hídrico da microbacia, que é afinal um dos principais

indicadores de avaliação dos efeitos hidrológicos do manejo de plantações florestais.

O balanço hídrico é a diferença entre o que entra na microbacia pela chuva (P) e

a quantidade que é perdida para a atmosfera por evapotranspiração (ET = evaporação +

transpiração pelas plantas). Portanto, o que sobra representa a água disponível, ou seja,

o excedente hídrico ou deflúvio (Q). Neste cálculo, considera-se que a variação no

armazenamento de água no solo é um valor próximo a zero, o que é válido para valores

médios de um período contínuo de anos de monitoramento e quando o cálculo é

realizado considerando o “ano hídrico”, e não o ano civil. Os resultados acumulados do

balanço hídrico para a microbacia com eucalipto são mostrados na Tabela 1.

Figura 4: Comparação entre a área superficial da microbacia do Peroba II, delimitada

pelo divisor topográfico (linha róseo), com a área freática (linha verde).

Tabela 1. Precipitação (P), Deflúvio (Q) e Evapotranspiração (ET) da microbacia com

floresta plantada de eucalipto (Peroba II), considerando o intervalo hídrico

de março de 2006 a fevereiro de 2010.

Ano Hídrico P (mm) Q (mm) ET (mm) ET (%)

2006/2007 1616 117 1499 93

2007/2008 1478 74 1404 95

2008/2009 1043 53 990 95

2009/2010 1471 101 1371 93

Média 1402 86 1316 94

Para a microbacia de referência coberta com Mata Atlântica, os resultados se

restringem, por enquanto, a apenas dois anos de dados (Tabela 2), devido a problemas

eletrônicos ocorridos nos sensores.

Tabela 2. Precipitação (P), Deflúvio (Q) e Evapotranspiração (ET) da microbacia com

floresta nativa (Estação Veracel), considerando a ano hídrico de março de

2008 a fevereiro de 2010.

Ano Hídrico P (mm) Q (mm) ET (mm) ET (%)

2008/2009 1122 70 1051 94

2009/2010 1248 127 1121 90

Média 1185 99 1086 92

Tendo como base esta comparação preliminar dos dados acumulados, cuja

principal dificuldade momentânea é com relação à diferença da precipitação anual entre

as duas microbacias, é possível observar alguma similaridade entre os componentes do

balanço hídrico nas duas microbacias, assim como as diferenças entre as duas

coberturas florestais, que todavia estão de acordo com a literatura mundial. Ou seja, tem

sido observado um aumento na evapotranspiração na microbacia com eucalipto,

comparativamente à da Mata Atlântica, que se reflete na pequena diferença observada

no deflúvio anual entre as duas microbacias.

De qualquer maneira, os resultados das duas microbacias guardam muita

similaridade com os valores médios do balanço hídrico climático da região onde se

inserem, conforme pode ser observado na Tabela 3.

Tabela 3. Valores de Precipitação (P), Evapotranspiração potencial (ETP),

Evapotranspiração real (ETR) e Excedente hídrico (EXC) para o município

de Eunápolis - BA (SENTELHAS et al., 1999).

P (mm) ETP (mm) ETR (mm) EXC (mm) 1252 1139 1132 120

Conforme mostrado nesta tabela, a região caracteriza-se por uma precipitação

média anual de 1252 mm e uma evapotranspiração real de 1132 mm, o que confere à

mesma um excedente hídrico de 120 mm, como média de 30 anos de medições. O

excedente hídrico, por sua vez, representa a água disponível, que pode alimentar a vazão

dos riachos. Pode-se concluir, desta maneira, em primeiro lugar pela consistência das

medições do balanço hídrico para as duas microbacias. Em segundo lugar, os resultados

mostram também que a plantação de eucalipto apenas diminui um pouco o deflúvio

médio anual da microbacia, relativamente ao excedente hídrico climático. Na

comparação entre as duas microbacias, a diferença entre o deflúvio anual é praticamente

mínima, ainda que esta diferença não possa ainda ser analisada estatisticamente, devido

a dificuldade de se proceder à calibração das duas microbacias devido a insuficiência de

série histórica adequada para permitir esta calibração.

O registro gráfico da série histórica dos dados de precipitação e de vazão da

microbacia Peroba II, contendo plantação de eucalipto, pode ser observada na Figura 5.

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15-jan-06

6-m

ar-06

25-abr-06

14-jun-06

3-ago-06

22-set-06

11-nov-06

31-dez-06

19-fev-07

10-abr-07

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19-jul-07

7-set-07

27-out-07

16-dez-07

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3-jul-08

22-ago-08

11-out-08

30-nov-08

19-jan-09

10-m

ar-09

29-abr-09

18-jun-09

7-ago-09

26-set-09

15-nov-09

4-jan-10

23-fev-10

Precipitação (mm)

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300

400

500

600

Vazão (L/s)

Precipitação (mm) Vazão (L/s)

Figura 5: Série histórica do período acumulado de monitoramento da microbacia

Peroba II, contendo plantação de eucalipto.

Pode-se observar que a microbacia vem mantendo o padrão normal de

comportamento da vazão em relação à ocorrência das chuvas, padrão esse bastante

similar ao que foi possível observar na microbacia da Mata Atlântica, considerando a

existência de apenas dois anos acumulados de dados nesta última microbacia. Esta

similaridade pode ser melhor observada na Figura 6, que mostra a vazão específica das

duas microbacias para o período de fevereiro de 2008 a fevereiro de 2010,

correspondente à série histórica disponível para a microbacia com Mata Atlântica.

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20-abr-09

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20-out-09

20-nov-09

20-dez-09

20-jan-10

20-fev-10

L/s/Km2

Vazão específica (L/s/Km2) - Eucalipto Vazão específica (L/s/Km2) - Nativa

Figura 6: Comparação entre a vazão específica das duas microbacias para o período de

fevereiro de 2008 a fevereiro de 2010.

No que diz respeito aos resultados da qualidade da água, uma síntese do período

monitorado pode ser observada na Figura 7, para o período de antes do corte raso do

eucalipto, que ocorreu no período de agosto a novembro de 2007.

N P K Ca Mg Fe

Concentr

ação d

e n

utr

iente

s (

mg L

-1)

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

Na pH CCE Sedim. Turb. Cor

Concentração m

g L

-1 (exc

eto

CC

E: m

S/c

m, Turb

idez:

NTU

, C

or: P

tCo) pH

0

20

40

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100

Figura 7: Valores médios e respectivo erro padrão dos indicadores monitorados na

microbacia com floresta nativa e na microbacia com floresta plantada, no

período de março de 2006 a agosto de 2007, antes da colheita do eucalipto.

A análise dos resultados sintetizados na Figura 7 demonstrou que para a maioria

dos indicadores não existem diferenças significativas (p>0,01) entre as médias, ou seja,

os valores médios dos indicadores são semelhantes em ambas as microbacias. Esse

resultado fortalece a premissa de que florestas plantadas adultas e bem manejadas

podem contribuir de forma positiva à conservação dos recursos hídricos, tanto quanto as

florestas nativas.

Através de parceria com o setor de Econometria do Departamento de Economia

e Sociologia da ESALQ/USP, todo o conjunto de dados de qualidade da água das duas

microbacias está sendo submetido a uma análise estatística mais apropriada e robusta,

cujos resultados serão incluídos no próximo Relatório Anual. De qualquer maneira, os

dados da Figura 7, embora restringindo-se a apenas o período de março de 2006 e

agosto de 2007, foi mantido neste Resumo Executivo pelo fato de mostrarem justamente

a comparação dos efeitos sobre a qualidade da água durante o período da colheita

florestal, que representa uma atividade mais intensiva e, em tese, potencialmente mais

impactante.