revista Ágora 1_2012

24
Grafite em 3D Arte pop ganha novas técnicas e conquista diferentes espaços ágora Revista do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva Ano V - Janeiro a Julho de 2012 NAS NUVENS No passeio de balão sopra o vento da liberdade A PALAVRA É ... EMPREENDER Com visão de futuro, jovens se arriscam nos negócios VIAGEM LITERÁRIA AO SOM DE PALAVRAS Voluntários leem livros para deficientes visuais

Upload: jornal-lince

Post on 19-Mar-2016

229 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

Revista laboratório do curso de jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva

TRANSCRIPT

Page 1: Revista Ágora 1_2012

Grafite em 3dArte pop ganha novas

técnicas e conquista diferentes espaços

ágoraRevista do Curso de Jornalismo do Centro Universitário Newton Paiva

Ano V - Janeiro a Julho de 2012

NAs NUVeNs No passeio de balão sopra o vento da liberdade

A PAlAVRA É ... emPReeNdeRCom visão de futuro, jovens se arriscam nos negócios

ViAGem liTeRÁRiA AO sOm de PAlAVRAsVoluntários leem livros para deficientes visuais

Page 2: Revista Ágora 1_2012

REVISTA DA DISCIPLINA

JORNALISMO PARA REVISTA

RUA CATUMBI, 546 - BAIRRO CAIÇARA BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS

REVISTA DA DISCIPLINA ágora

Page 3: Revista Ágora 1_2012

expe

dien

te PRO-REITOR ACADÊMICO:

Professor Sudário Papa Filho

COORDENADORA DO CURSO DE JORNALISMO:

Marialice Nogueira Emboava

EDITORA:

Rosangela Guerra

EDITORA DE ARTE E PROJETO GRÁFICO:

Helô Costa 127/MG

ESTAGIÁRIOS DA CPJ:

Geisiane de Oliveira e Nayara Perez

REPÓRTERES:

Bárbara Batista, Bruno Menezes, Diego dos Santos, Lídia Salazar,

Lorayne François, Luciane Lana, Miriã Amaro, Miriam Gonçalves,

Nayara do Carmo, Robson Rodrigues, Sabrina Assumpção,

Sérgio Viana e Thiago Alves

Page 4: Revista Ágora 1_2012
Page 5: Revista Ágora 1_2012

Por que ÁGORANa Grécia antiga, quando um assunto relevante precisava ser discutido nas

assembleias públicas, as pessoas se reuniam na ÁGORA, um espaço de

comunicação, reflexão e debate. Foi por esse motivo que os alunos

escolheram o nome ÁGORA para a revista do Curso de Jornalismo do

Centro Universitário Newton Paiva.

ÁGORA fala de agora, olha o passado e vislumbra o futuro. Textos e

imagens produzidos pelos alunos do 5° período mostram como a

aprendizagem está sendo construída. A vivência desse processo representa

para nós, educadores, uma oportunidade imperdível de partilhar com os

alunos a aventura fascinante de fazer revista.

ROsANGelA GUeRRA Professora de Jornalismo para Revista

Page 6: Revista Ágora 1_2012

nesta edição

Page 7: Revista Ágora 1_2012

nesta ediçãoD

AN

IELA

ME

ND

ON

ÇA

DA

NIE

LA M

EN

DO

A

ESPORTENas nuvens

No passeio de balão sopra o vento da liberdade MIRIÃ AMARO, MIRIAM GONÇALVES E

NAYARA DO CARMO

Escalada: aventura em altaParedões de academia e de pedra para quem quer esporte, desafio e diversão

BÁRBARA BATISTA E BRUNO MENEZES

CULTURAGrafite em 3D Arte pop ganha novas técnicas e conquista diferentes espaçosDIEGO DOS SANTOS E THIAGO ALVES

ETNICORRACIALSentindo na pele

Universitários africanos enfrentam preconceito no Brasil

SÉRGIO VIANA

SOCIALTrilhas da leitura

O prazer da leitura em contato com a natureza ROBSON RODRIGUES

EMPREENDERA palavra é ............empreender

Com visão de futuro, jovens se arriscam no mundo dos negóciosLÍDIA SALAZAR E LORAYNE FRANÇOIS

INCLUSÃO Viagem literária ao som de palavras

Voluntários leem livros para deficientes visuais NAYARA DO CARMO, SABRINA ASSUMPÇÃO E

LUCIANE LANA

Page 8: Revista Ágora 1_2012

No passeio de balão sopra o vento da liberdade. Quem já voou conta que a sensação é de calma e felicidade

Foto

s T

ycia

no M

aia

Rib

eiro

Nas nuvensEs

por

tE

Page 9: Revista Ágora 1_2012

Miriã Amaro, Miriam Gonçalves e Nayara do Carmo

Feche os olhos, respire fundo e sinta o vento bater em seu rosto. Agora olhe para baixo e veja que tudo vai ficando bem pequeno e distante. Esqueça o chefe, a mensalidade em atraso na faculdade, as noites mal dormidas e tantas outras coisas. Para muitos de nós, habitantes de selvas de pedra e adeptos de rotinas cada vez mais extenuantes, a cena descri-ta acima faz parte de um sonho dis-tante da realidade de um jovem em formação acadêmica. Certo? Bom, isso depende se você está lendo essa reportagem na terra, no céu ou a bordo de um balão dirigível.

Meio de locomoção aéreo mais anti-go do mundo, com cerca de dois mil

anos, o balão tem atraído cada vez mais seguidores. De um lado, os empresários que investem no mercado de ecoturis-mo que cresce ano após ano. De outro, os consumidores de serviços com foco no lazer perto da natureza.

O empresário Enrico Dias, pro-prietário da By Brazil Balonismo, é um veterano nos céus. Há mais de 15 anos passeia por entre as nuvens, variando entre a asa delta, o paraque-das e a sua atual paixão: os balões. “É para quem quer realizar o sonho de voar como um pássaro e de interagir de forma plena com a natureza. E isso em qualquer idade”, diz.

Para os que desejam sentir o vento da liberdade batendo nos cabelos, enquanto se está entre a terra e o céu, basta verificar as condições cli-

máticas, ir até o local de decolagem e se admirar ao ver inflar o envelope, como se chama a parte que faz o balão flutuar. O balonismo encanta pela simplicidade. Não é preciso tur-binas, velas ou combustíveis fósseis. Voar de balão significa entrar em sintonia com o vento.

A professora Ana Paula Manso, que já voou de balão várias vezes, diz que é indescritível a sensação de sair do chão sem solavancos e barulho, como acontece no voo de avião. “Devagar vamos deixando o chão. Os olhos vão se enchendo com a beleza da paisagem, que vai ficando peque-na enquanto o horizonte vai se ampliando. Ver a expressão no rosto das pessoas que voam conosco é uma sensação ímpar”, conta. Nas nuvens

Page 10: Revista Ágora 1_2012

NO CesTONo Brasil, há cerca de 70 balões aptos para voar. Parece pouco, mas o valor mínimo de investimento para que uma empresa atue no ramo é

alto: cerca de 500 mil reais para comprar cestos, envelopes, carros, rádios comunicadores entre outros itens necessários, principal-

mente para a segurança do voo. Enrico ressalta que não é ape-nas querer montar uma empresa. É preciso preparo, recursos

e paciência para um negócio desse tipo. Um voo de balão dura em média 50 minutos, a altura

varia de acordo com as condições climáticas. Em cada cesto do balão cabem nove pessoas com o piloto. O valor do passeio custa, em média, R$400,00. A procura é gran-de. Algumas empresas têm lista de espera.

PelO mUNdOOs amantes de balonismo compartilham informações

nas redes sociais e participam de eventos nacionais e internacionais. Torres, no Rio Grande do Sul, sedia um

festival de balonismo, que é realizado há cerca de 20 anos. O maior festival de balonismo do mundo é realizado

em Albuquerque, cidade do Novo México, nos Estados Unidos. Esse evento é famoso por ser palco de lançamentos

de balões diferentes, em forma de bichos ou com mascotes de grandes empresas.

CALMA AÍ, SEU FAZENDEIRO!!!!Depois do frio na barriga antes do voo, da emoção e das lágrimas nos

olhos ao subir e descer do céu, é hora de comemorar em grande estilo: com brinde de champanhe! Essa tradição começou em 1783, quando os franceses

Pilâtre de Rozier e o Marquês d'Arlandes fizeram um dos primeiros voos de balão da história, que durou pouco menos de meia hora e percorreu quase dez quilômetros

sobre Paris. Ao pousar, foram surpreendidos por um fazendeiro que logo quis dar cabo do “dragão

voador”. Para acalmar o dono das terras e impedir que ele estragasse o sonho de percor-rer o céu, os aventureiros decidiram presentear o proprietário das terras com um cham-panhe, aberto ali mesmo e dando início a tradição.

FICA A DICA:

By Brazil Balonismo: (31) 3681-8696 [email protected]

Festival de balonismo de Torres,RS. www.festivalbalonismo.com.br

Page 11: Revista Ágora 1_2012

Ana Paula Manso e Ana Cristina Tôrres e a emoção do voo

Arquivo pessoal

Sempre achei interessan-te e bonito os voos de balão e até já tinha tentado fazer um passeio fora do Brasil, mas as condições climáticas não ajudaram.

Uma das minhas alunas me indicou uma empresa em Belo Horizonte que trabalha com voo de balões. Fiquei curiosa e logo entrei e conta-to, animada com a possibili-dade de realizar o meu desejo de voar. Medo eu não tinha, mas receio era o que não fal-tava, principalmente em rela-ção à segurança.

Como fui muito bem orien-tada, percebi que o receio poderia se transformar em emoção. E foi o que aconteceu.

Ao entrar na cesta a eufo-ria é grande, pois não sabe-mos o que vai acontecer. Pouco depois, sem que percebamos, estamos literalmente flutuan-do. Aí vem a calma e uma sensação de felicidade!

Já voei de balão com pes-soas idosas, adolescentes e crianças. Todos são unâni-mes: voar de balão não tem preço!

Ana Paula Manso, professora de fundamentos de gestão

#eu fui

Page 12: Revista Ágora 1_2012

escalada:

Paredões de academia e de pedra atraem quem procura fazer atividade

física com desafios e diversão

Bruno Menezes

aventura em alta

Espo

rtE

Espo

rtE

Page 13: Revista Ágora 1_2012

Bárbara Batista e Bruno Menezes

As academias de escalada estão revolucionando a forma de fazer ativi-dade física. Mistura de esporte e lazer, a escalada mexe com vários músculos do corpo, além de desenvolver habili-dades para vencer desafios.

Yan Ouriques é o proprietário da academia Rokaz, localizada na Savassi. Ele conta que há dez anos abriu um pequeno centro de escalada em Belo Horizonte e, pouco a pouco, os interessados foram chegando. Hoje, num espaço de 753m², a Rokaz tem uma estrutura que proporciona aos alunos a sensação de desafio e aventura. “As pessoas chegam à aca-demia procurando formas de exerci-tar, e, ao mesmo tempo, de se divertir. Em pouco tempo, todos estão apaixo-nados pela prática da escalada”, afir-ma Ouriques.

A academia conta com um ambien-te "indoor", ou seja, para escalada em local fechado. Mas a estrutura e o sistema de ventilação colaboram para uma simulação em ambiente "outdo-or", ou seja, de escalada na pedra.

Antes da prática, os alunos passam por um curso básico de iniciação para que compreendam como são as aulas e como devem usar os equipamentos de segurança. Há dez vias ou rotas definidas por graus de dificuldade que os alunos e os monitores seguem durante a escalada. Os iniciantes começam pelas vias brancas, de menor grau de dificuldade, e sempre

com o apoio de um monitor. “Á medi-da que ganham confiança passam a explorar as vias mais difíceis”, explica o monitor Renato Seabra.

mOdAlidAdesHá três modalidades principais de

escalada. No "Bolden" não é necessá-rio o uso de cordas, pois a escalada chega, no máximo, a quatro metros de altura. Na “Escalada Guiada” o aluno, ao subir, vai prendendo a corda em ganchos. Para isso, o monitor tem que liberar corda para ele. E por últi-mo, o "Top Rope" que é a escalada tradicional, de paredão, em que a corda vem de cima. Uma pessoa fica embaixo, controlando o freio.

PRePARAÇÃOPara começar a praticar, o aluno

precisa estar bem fisicamente. Deve passar por exames para confirmar a inexistência de lesões e pode come-çar a escalar só após ser liberado por um médico. Crianças, jovens e adul-tos podem escalar, tudo depende da condição física de cada um. Na práti-ca do esporte, todo o esforço se con-centra nas pernas, sendo que os bra-ços servem de apoio para percorrer as rotas.

seGURANÇA Os equipamentos de segurança

básicos são a cadeirinha que serve para sustentar o aluno; o pó de magnésio que ajuda a deixar a mão do escalador

seca para facilitar a subida; e a sapati-lha que deve ser dois números menor do que o pé do aluno para dar firmeza. Todos esses equipamentos podem ser alugados na academia, mas se o aluno quiser, estão também disponíveis para venda. Treino e viagens

TReiNO e ViAGeNsUm treino de escalada para ama-

dores pode variar de 40 minutos a três horas. Em um treino de curta duração, o aluno chega a perder entre 250 e 300 calorias. Na academia Rokaz, o trabalho de escalada "outdo-or" é feito em um sábado por mês. Para que escalem na pedra, os alunos viajam na companhia de monitores para cidades mineiras, como Lapinha, Fidalgo, Pedro Leopoldo, Sabará entre outras.

eXPeRiÊNCiACom apenas 15 anos de idade e

quatro de treino, Yan Kalapothakin já participou de várias competições. “A mais interessante foi na Escócia, onde morei. Treinei forte e venci em primeiro lugar”, relembra.

As mulheres estão aderindo a modalidade e já participam de cam-peonatos. “Eu pratiquei vários espor-tes, mas me apaixonei quando expe-rimentei a escalada. Já participei do campeonato brasileiro de escalada "indoor" e do campeonato de "Bolden”, conta a publicitária Aline Marina Osório, 26 anos.

BENEFÍCIOS DA ESCALADA

TRABALHA DIVERSOS MÚSCULOS

MELHORA A FLEXIBILIDADE, A COORDENAÇÃO MOTORA E O EQUILÍBRIO

AUMENTA A CONCENTRAÇÃO

ALIVIA O ESTRESSE E AJUDA NA SUPERAÇÃO DO MEDO

Page 14: Revista Ágora 1_2012

3d3d3d3d3dcU

ltU

ra

O novo grafite é mais arrojado e conquistou espaços menos convencionais

Diego dos Santos e Thiago Alves

Evolução à vista! Em muros, pon-tes, fachadas de casas e prédios, o grafi-te já não é mais o mesmo e surpreende pela qualidade dos traços. A onda agora é o estilo tridimensional. As imagens simulam situações reais e provocam ilusões nos espectadores. O material usado na produção varia de acordo com o gosto do artista. Alguns andam dei-xando de lado os sprays, que marcaram esse tipo de arte, e partem para o giz.

Grande parte dos grafiteiros inicia-ram sua trajetória com a pichação, que representa um verdadeiro ataque ao patrimônio. “É um caminho evolu-

tivo”, reconhece Alberto dos Santos, que começou a pichar aos 16 anos. Hoje, com 27 anos, ele se dedica ao grafite em 3D e assina como TOT suas obras que estão na região na Região Metropolitana de Belo Horizonte.“Foi um alívio para minha mãe”, brinca. Segundo ele, o estigma continua. Muitas pessoas ainda con-fundem grafite com pichação. “Já me prenderam como se eu estivesse pichando”, lembra.

Apesar disso, TOT diz que a cada dia o grafite se torna uma arte mais respeitada no mundo da comunicação visual. Para ele, isso se deve à satura-ção das artes convencionais. “O 3D

representa uma maneira de combinar o domínio das técnicas da arte renas-centista com o grafite. É um novo conceito visual urbano”. Para fazer seus trabalhos, TOT fez estudos de técnicas de cenografia e, com isso, ganhou destaque no desenvolvimento de painéis de grafite.

Desde 2008, ele trabalha no projeto PDF Crew, que tem como clientes pes-soas que querem ver os muros de suas casas grafitados. O PDF Crew tem dez integrantes de diversos lugares: Bahia, Distrito Federal, Ceará, Minas Gerais e São Paulo. Em Minas, a iniciativa é representada pelos grafiteitos Ed-Mun, Matos, além de TOT.

Agor

a em

Page 15: Revista Ágora 1_2012

3dNascido como arte pública, feita

nas ruas e à vista de todos, o grafite, aos poucos, ganhou espaços privados. Primeiro, conquistou as paredes de empresas, lojas descoladas e galerias de arte. Agora, marca presença em residências, mas sem deixar de captar os olhares de quem passa nas ruas.

Maria Antonieta da Silva, 42 anos, moradora de Contagem, conta que admira a beleza e a leveza tridimen-sional dos painéis assinados TOT

expostos nas ruas. “Fico impressiona-da com a realidade dos desenhos. Eu queria uma arte dessas na minha casa, como a Última Ceia, de Leonardo Da Vinci, feita em grafite 3D”, diz.

Mesmo ainda convivendo com o preconceito, o grafite tem alto poder de comunicação e atrai jovens talen-tosos. Matias Gutierrez, 15 anos, sonha ser um profissional do grafite. Desde pequeno, ele faz rabiscos em

cadernos e, agora, quer fazer arte em proporções maiores nos muros e outros espaços. “Mas eu nunca consi-go comprar tinta em spray para come-çar a grafitar”, lamenta. A razão para isso é a proibição das vendas de aero-sol para menores de 18 anos. A atual legislação da venda do material foi definida pela Lei 12.408, sancionada pela presidente Dilma Rousseff em 26 de maio de 2011. As latas vêm com o aviso: “Pichação é crime”.

da rua para casada rua para casa

GRAFITÊS: VEJA O QUE ELES FALAMGRAFITEIRO OU WRITTER: O ARTISTA QUE PINTABITE: IMITAR O ESTILO DE OUTRO GRAFITEIROCREW: GRUPO DE GRAFITEIROS QUE PINTAM JUNTOS TAG: ASSINATURA DO GRAFITEIROTOY: GRAFITEIRO INICIANTESPOT: LUGAR ONDE É PRATICADA A ARTE DO GRAFITE

Page 16: Revista Ágora 1_2012

na pelesentindo

Universitários africanos enfrentam preconceito no BrasilSérgio Viana

O preconceito racial é uma forma de exclusão social que ainda persiste no mundo. No Brasil, apesar de ser um país em que grande parte da população é negra ou afrodescendente, o racismo é uma prática muito comum. Os congoleses Archange Michael, Peter Abram e Princess Kabilo já sentiram na pele o que é isso. Eles vie-

ram para o Brasil com o propósito de estudar na Universidade Federal de Minas Gerais, (UFMG).

Há três anos morando no Brasil, Peter, 25 anos, estu-dante de jornalismo, conta que já sofreu preconceito por parte da polícia, dos cole-gas da faculdade e ao fazer compras num supermercado. “De repente, olhei para trás e vi os seguran-ças me seguindo,

enquanto as outras pessoas andavam tranquilamente pelos corredores. Muitos acham que somos miseráveis e crimino-sos”, desabafa. Um dia, ele estava com a namorada num chur-rasco e as pessoas começaram a olhar para ele e a cochi-char. O motivo? “Minha namorada é branca e eu sou negro”, responde.

Segundo os congo-leses ouvidos pela

reportagem, o precon-ceito por parte de poli-ciais é o mais frequen-te. Todos eles já foram abordados várias vezes por policiais e nos momentos mais inusi-tados. ”Até a caminho da igreja, que fica perto da minha casa, fui abordado por policiais. Eles duvidaram que eu estava indo para a missa e me pergunta-ram onde estava a Bíblia”, conta Peter.

Também na facul-dade, Peter já passou

por constrangimentos. Ele afirma que os pro-fessores parecem ter receio de tocar em assuntos relacionados ao continente africano. Uma vez, na sala de aula, durante a exibi-ção de um documentá-rio sobre os problemas do Haiti, ele percebeu que os colegas não paravam de olhar para ele. Peter não enten-deu a razão: “O Haiti fica na America Central e eu sou afri-cano!”, ironiza.

Etn

ico

rr

ac

ial

Alunos africanos no

campus da UFMG

Sérgio V

iana

Page 17: Revista Ágora 1_2012

O congolês Archange Michael, 23 anos, estuda geo-logia na UFMG. Ele conta que na faculdade, quando os africanos têm dificuldades nas aulas, ninguém os quer por perto. “As pessoas infeliz-mente associam o negro à pobreza e à falta de inteligên-cia”, observa. E o pior é que o preconceito vem de todos os

lados. Logo que chegou ao Brasil, Archange estava com suspeita de dengue e foi a um posto de saúde. O médico não quis atendê-lo, alegando que não conseguia entender o que ele falava. “Percebi que o médico não queria tocar em mim e me receitou remédios, sem sequer pedir um exame”.

Como Peter, Archange

também reclama da polícia. Uma vez, sem justificativa nenhuma, um policial come-çou a revistá-lo quando ele estava com um grupo de pes-soas, todas brancas: ”Eu per-guntei ao policial por que só eu estava sendo revistado e ele disse que era uma simples batida policial”.

A congolesa Princess

Kabilo, 22 anos, veio para o Brasil há dois anos para estu-dar Física na UFMG. Para ela, a falta de informação e o conhecimento geram o pre-conceito. “A imprensa e as pessoas acham que no conti-nente africano só existem leões e outros animais ferozes e que todas as pessoas pas-sam fome”.

“O mÉdiCO NÃO QUeRiA TOCAR em mim”

Os congoleses Archange Michael, Peter Abram e Princess Kabilo

“As pessoas nos acham miseráveis e que

somos criminosos.” Peter Abram, congolês

Page 18: Revista Ágora 1_2012

Trilhas da

O prazer da leitura em contato com a natureza

so

cia

l

leituraFo

tos:

Rob

son

Rod

rigue

s

Page 19: Revista Ágora 1_2012

Robson Rodrigues

Preocupado com a preservação da natureza e também com a cultura, Ricardo Carvalho, mais conhecido como Cadinho, anda feliz. Ele come-mora um ano do Trilhas da Leitura, projeto que idealizou num período difícil da vida e que agora lhe dá muita alegria.

Funcionário do Parque Ecológico do Eldorado, em Contagem, Cadinho conta que estava de cama em casa, lutando contra um câncer, quando assistiu pela TV uma reportagem sobre uma professora que incentivava a doa-ção de livros para promover a leitura. Ele pensou: “Ôpa! Posso fazer isso no parque também.”

Quando recuperou a saúde e voltou ao trabalho, Cadinho encontrou alguns

livros guardados nos armários do par-que. A partir daí, a ideia do projeto foi tomando forma e assim nasceu o Trilhas da Leitura. “Hoje, o projeto está dando resultados muito positivos. Trabalhamos a questão educacional, cultural e ambiental”, explica.

As pessoas vão ao parque, usufruem da natureza, têm acesso aos livros e par-ticipam de uma série de eventos cultu-rais, como teatro, dança, música, exposi-ções de artes e lançamentos de livros.

dOAÇÕesSegundo Cadinho, todos os livros

doados pela população para a realiza-ção do Trilhas da Leitura passam por uma triagem. Os que estão em boas condições são doados para as pessoas que vão ao parque e se mostram inte-ressadas em sua leitura. Os que não

estão em bom estado são destinados à Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Contagem (Asmac).

Cadinho conta que é fantástica a participação da comunidade. “As pes-soas param o carro na porta do par-que e descarregam caixas de livros”, diz. O projeto conquistou vários par-ceiros, o que contribui para aumentar ainda mais o acerco do projeto. O Trilhas da Leitura fez com que o Parque entrasse na agenda cultural da cidade e, agora, muitos lançamen-tos de livros são realizados ali.

“No começo tudo parecia um sonho. Hoje, o trilhas da Leitura já não cabe em minhas mãos”, diz Cadinho. Ele se orgulha de ser um servidor público no sentido literal da palavra e agradece por ter tido a oportunidade de trabalhar servindo ao povo.

Ricardo Carvalho – Cadinho

PARQUE ECOLÓGICO DO ELDORADOThiago Rodrigues Ricardo

Rua das Paineiras, 1722, EldoradoContagem - MG

Informações: (31) 3351 6188

Page 20: Revista Ágora 1_2012

A palavra é........empreender

EmprEEndEr

Com visão de futuro, jovens

se arriscam no mundo dos

negócios

Lídia Salazar e Lorayne François

Impulsividade e ousadia. Essas são algumas das características de um jovem empreendedor. Mas o que isso significa? Segundo o dicionário Aurélio, o empreendedor é aquele que realiza algo. No mundo contemporâ-neo, a palavra de ordem é empreen-der. E, para isso, é preciso desenvolver uma série de habilidades, além de investir na qualificação profissional.

Aos 21 anos, Marco Túlio Araújo Moreira entrou para o mundo dos empreendedores jovens. Ele perce-

beu que faltava à cidade de Viçosa, MG, uma loja que fugisse da padroni-zação e que atendesse ao gosto dos estudantes e dos professores da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Com um investimento inicial de 15 mil reais, ele abriu a Artesania, loja de vestuário feminino e masculi-no. O diferencial é que a maioria das peças é produzida por Marco Túlio e sua namorada Raíra.

Há dois anos, a loja é um sucesso de vendas. A razão para isso é que Marco Túlio se preocupou com todos

os detalhes. Fez cursos de técnicas de vendas, atendimento ao cliente e de administração, todos ofertados pelo Sebrae. Além disso, assistiu palestras sobre empreendedorismo na UFV.

“ A Artesania é bem organizada, tem peças de bom gosto e bem fei-tas”, avalia o cliente Francisco Fiorini. Como todo empreendedor, Marco Túlio está sempre atento a novas oportunidades. Agora, ele pre-tende ampliar a loja e passar para um ponto mais próximo da UFV, onde está a maior parte de sua freguesia.

NeGóCiO de FAmíliAMariana Rabelo, 25 anos, trabalha

há dois anos na RPD Comunicação. Mas desde a adolescência, ela já se interessava pela empresa que é de sua família. Mesmo sabendo da grande concorrência no segmento da comu-

nicação, ela assumiu a liderança da empresa e aprendeu a lidar com a pressão no dia a dia. “Meu maior desafio foi manter a empresa na posi-ção já alcançada em muitos anos de mercado. Consegui isso através da

apresentação de novas propostas de trabalho’’, revela Mariana. Para ela, o empreendedor deve ser dinâmico, ter capacidade de enxergar oportunida-des até mesmo nos momentos difíceis e, é claro, ter espírito de liderança.

Page 21: Revista Ágora 1_2012

João Vitor acessa a internet para ver como estão os índices na Bolsa de Valores

Lídi

a S

alaz

ar

Um OUTRO TiPO de emPReeNdedORismO

Existem jovens empreendedores que não atuam no próprio negócio. É o caso de João Vitor Silva, 25 anos, formado em administração. Ele é gerente de relacionamento de pessoa jurídica em um banco em Belo Horizonte, MG. João Vitor se considera um “intra-empreendedor”, pois põe em prática suas habilidades para aumentar a sua produtividade no local onde trabalha.

Ele também empreende por meio de aplica-ções na Bolsa de Valores, o que para ele é um grande aprendizado sobre o mercado de capitais.

Dinâmico, antenado e ambicioso, João Vitor, enxerga algumas características que um jovem empreendedor precisa ter: “vontade de apren-der e disponibilidade para assumir riscos”. Ele deixa uma dica para quem quer aplicar na Bolsa de Valores: “Para começar, invista uma pequena quantia, um percentual não muito grande da sua renda. Quando você aplica na Bolsa, já está assumindo alguns riscos e a primeira fase deve ser de aprendizado. É preciso estudar e ter paci-ência para investir na empresa certa e no momento certo”, aconselha.

Page 22: Revista Ágora 1_2012

Viagem literária ao som de

palavrasVoluntários leem

livros para pessoas com deficiência

visual

inclUsÃo

Page 23: Revista Ágora 1_2012

Praça da Liberdade, 21- Funcionários Segunda a sexta-feira, de 8h às 18 horas

e sábados de 8h às 12h. Informações: (31) 3269.1218.

Biblioteca Luiz de Bessa

Nayara do Carmo, Sabrina Assumpção e Luciane Lana

“Clara manhã, obrigado. O essen-cial é viver”. Assim o poeta Carlos Drummond de Andrade saúda o dia. Não viver sozinho, não se isolar, cele-brar a vida por meio da literatura. É essa a a proposta do setor de braille da Biblioteca Pública Luiz de Bessa, em Belo Horizonte, MG. Ali, pessoas com deficiência visual encontram o que pre-cisam para viajar em textos literários. Há tecnologia disponível e, principal-mente, uma equipe de apoio e um grupo de voluntários que leem textos para os que não têm condições de fazer isso sozinho.

“Só o fato de as pessoas doarem uma parte do seu dia para me ajudar, é indício de que vale a pena conviver

com elas”, diz emocionado, o deficien-te visual Luís Chaves, sobre os voluntá-rios do setor braille. Com 25 anos e apenas 10% da visão, Chaves participa toda semana dos grupos de leitura feita pelos voluntários.

Luís nasceu com 30% da visão. Com o agravamento da deficiência visual na época da adolescência, ele passou a ter uma vida com muitas limitações. Não podia mais andar à noite e nem mesmo usar o computador. Como era aluno do curso de Direito, Luís teve que desen-volver outros métodos de estudo para conseguir concluir a faculdade. Hoje, estuda para concursos públicos e, para isso, se aperfeiçoa no braille, além de fazer uso de diversas ferramentas, como as que transformam textos em áudio.

Há três anos, o aposentado Renato Barbosa da Silva, 73 anos, é voluntário

no setor de braille. “Quando conheci o trabalho me surpreendi e a cada vez que faço a leitura é um novo aprendiza-do”, diz. Renato mora em um bairro distante da biblioteca, mas conta que tenta realizar o trabalho com regulari-dade. Ele explica que o caráter e o esforço dos deficientes visuais fazem com que ele esqueça a idade que tem e assim não deixa de ir à Biblioteca Pública Luiz de Bessa. “A determinação dessas pessoas em superar suas dificul-dades é incrível, enquanto nós, que enxergamos, não damos valor a isso”, diz Renato.

Voluntários e deficientes visuais discutem os textos literários, trocam experiências e, muitas vezes, criam fortes laços de amizade, Luís conta que fez muitos amigos nos grupos de leitura literária.

serviçosEm Belo Horizonte não há editoras

que publicam livros em braille e, por isso, há na cidade uma grande carên-cia de livros transcritos nessa lingua-gem. O setor de braille da biblioteca tem cerca de 5.600 volumes, a maior parte doados por instituições que tra-balham com deficientes visuais. Além disso, o setor transcreve livros para o braille. “A escala de produção é peque-na e não conseguimos atender à

demanda como gostaríamos”, diz Viviane Pereira, coordenadora do setor braille. Ela explica que na biblio-teca funciona um estúdio para a gra-vação de áudio-livros, em arquivos no formato MP3. A leitura é feita por voluntários. Os áudio-livros são muito requisitados pelos que não podem participar dos grupos de leitura.

O acervo do setor de braille é com-posto por literatura brasileira e estran-

geira, periódicos e dicionários. Atualmente, há 401 leitores cadastra-dos, que utilizam os serviços de empréstimo domiciliar de arquivos de áudio-livros e de livros em braille.

O setor disponibiliza para os defi-cientes visuais acesso à internet por meio de computadores com sintetiza-dor de voz (JAWS); ampliador de tela (MAGIC) e lupa eletrônica para leito-res com baixa visão.

Page 24: Revista Ágora 1_2012