revista cacinf edição zer0

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CACI F N REVISTA DO CAARQ, CABIBLIO E CAMU FACULDADE DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO - FCI DOSSIER POLITICAS PUBLICAS PARA ARQUIVOS E MUSEUS CORRESPONDENTE INTERNACIONAL Alejandro Sanchis O DIA DA LIBERDADE DOS DOCUMENTOS HISTÓRIA MUSEOLOGIA: DOIS ANOS DE UNB VARIEDADES ANO 1, n 0 Jan/ Abr 2011

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Revista estudantil dos cursos de Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia da Universidade de Brasília.

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CACI FNREVISTA DO CAARQ, CABIBLIO E CAMU

FACULDADE DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO - FCI

DOSSIERPOLITICAS PUBLICAS PARA ARQUIVOS E MUSEUS

CORRESPONDENTE INTERNACIONAL Alejandro Sanchis

O DIA DA LIBERDADE DOS DOCUMENTOS

HISTÓRIA

MUSEOLOGIA:DOIS ANOS DE UNB

VARIEDADES

ANO 1, n 0

Jan/ Abr 2011

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CONSELHO EDITORIAL

Matias Monteiro, Juliana Fiallo, César Roberto,Henrique Sertão, Carlos Tiago Goulart Farias Victório,Jonathas Camacho

CONTATOS:

NÚCLEO DE EDITORAÇÃOE COMUNICAÇÃO - NEC/ FCI

Campus Universitário Darci RibeiroBrasília - DF Asa Norte 70.000.00055 - 61- 3107-2643 - [email protected]@gmail.br

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - UNBFACULDADE DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO - FCI NÚCLEO DE EDITORAÇÃO E COMUNICAÇÃO - NECREVISTA CACINF

DIRETORA DA FCI

Elmira Simeão

PROJETO GRÁFICO

Claudia Lopes

ESTAGIÁRIA

Isabela Souza

CENTROS ACADÊMICOS DA FCI

CABIBLIO, CAARQ, CAMU

Foto: Ricardo RodriguesFACULDADE DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO - FCI/ UnB

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ED

ITO

RIA

LOLÁ QUERIDXS LEITORXS.

Como iniciativa estudantil este é o número zer0 desta tentativa utópica de, mais que comunicar, expressar. Expressar ideias e ideais, expressar inquietudes e inquietações, expressar olhares e visões, expressar concretudes e abstrações, expressar dignidades e indignações. Também denunciamos. Verão que não faltam denúncias. A descrição da realidade por si só já nos parece uma denúncia. Denúncia dos descasos continuados, das políticas descontinuadas, das pesquisas desencontradas. Denúncias de maus-tratos com nossos raros livros que desfrutavam de uma posição mais livre em uma biblioteca universitária, documentos se libertando dos formatos pagos, museus desafiando a democratização do acesso, estereótipos se desestereotipando. Também falaremos de política, academia e sociedade. Esta revista funda-se - e esperamos que não se afunde - em uma tentativa de começar um diálogo permanente com o corpo discente da FCI, abrangendo os três segmentos (museu – biblio – arquivo) e, na medida do impossível, extrapolar o debate local convidando todas as Instituições de Ensino envolvidas com a formação e educação dos três segmentos. Uma tentativa de sugerir caminhos para a ação política conjunta. Uma tentativa de nos fazer ler a nós mesmos, uma vez que inauguramos este espaço para que a comunidade acadêmica expresse-se livremente. Pedimos que o corpo estudantil apoie e abrace este importante canal de veiculação, afinal de contas, nossa revista também trará informações que, obviamente, não serão reproduções da grande mídia ou do discurso oficial. Tudo que estamos expondo não passa de uma tentativa (sim, é a sexta vez que esta palavra se repete, afinal de contas tentamos outras tantas vezes antes) de delinear traços gerais, esboçar vontades considerando as necessidades. Pois a ideia implícita é conversar para se conhecer e traçar planos. Escrevemos a vós todos, que se interessaram(ão). Na verdade é um grande chamado à participação, ao sonho, ao projeto, ao delírio. Chamamos; quase convocamos.

Chega o momento de vencer a timidez. Sair do lugar confortável do anonimato e aceitar a função autoral. Queridxs, nada está pronto. Tudo está por fazer. E somos nós que teremos que fazer. Não pensem que ser universitárix consiste em passar nas matérias. Isso é muito medíocre. Como estudantes, a mediocridade tem que ser combatida com energia. Mediocridade não é ser médio e tirar MM, mediocridade é não participar, é não ler, é concordar com tudo, é ser omisso quando é hora de agir. Por que o Movimento Estudantil -ME- precisa ser combativo, de luta, punho esquerdo cerrado acima da cabeça com palavras de ordem? E por que não? Para ter um juízo de valor sobre as práticas do ME, precisamos ter consciência do que significa cada coisa que fazemos. Quando estudantes invadem a reitoria, é necessário refletir o ato em si. Quando estudantes fazem protestos cantando FORA-ARRUDA, o quê isto significa? Quando estudantes de três cursos lançam uma Revista eletrônica, quê importância tem? Um paralelo interessante seria lembrar-vos que enquanto a bandeira de luta do ME das décadas de 50-60 era a “ESTATIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR JÁ!”, ou seja, combater os “tubarões da educação” com o slogan “educação não é mercadoria” (já viram isto antes?), o Movimento Estudantil de hoje “luta” pela não privatização das universidades públicas! Para quem não sabe, até pouco tempo atrás (2008) a UFMG cobrava R$ 194 de taxa de matrícula

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alegando que a arrecadação era para cobrir custos com estudantes carentes e só parou com esta prática depois que o STF declarou sua inconstitucionalidade, uma vez que a União é obrigada a aplicar 18% da arrecadação de impostos na educação, estando incluso os custos para com estudantes carentes que como todos têm direito à educação pública gratuita e de qualidade. Esta informação é um simples exemplo do valor da informação certa no contexto certo. Una guerrilha informacionale, a informação que corrói os discursos superficiais. Guerrilha travada nos espaços privilegiados de fala: internet, salas de aula, cafés, CAs, DCEs e et cetera. Reitero a convocação ao despertar da consciência. Tomemos consciência de nossa posição de estudantes de biblio, museu, arquivo, informação... Seres críticos que atuam na realidade social. Devemos simplesmente assumir o que nos cabe. É isso que queremos inaugurar hoje. Um espaço apenas. A certeza da “folha” em branco esperando por insights? Uma referência no combate à reprodução imbecilizante de teorias espúrias que tentam nos neo-neo-colonizar. Além do prestígio do local -internet, impresso- que veiculamos nossa fala, temos o prestígio de sermos estudantes da Universidade de Brasília, nossa querida universidade interrompida e retomada, feita e desfeita, invadida e re-invadida, ocupada e liberada, respeitada e desrespeitada, alagada e enxugada, uma dicotomia sem fim. Lembro, porém, que há infinitos caminhos e não só o dual, o dialético, o dicotômico, o polar, o masculino, o ufânico, o democrático, o científico, o religioso, o filosófico, o artístico... Caminhos não no sentido metodológico, caminhos rumo ao Brasil livre, rumo a uma biblioteconomiarquivologiamuseologia brasileira que dê conta dos problemas brasileiros e que, mesmo que não consiga, ajude a resolver. Por isso sugerimos a via Utópica. Tem tudo a ver conosco. A ilha paradisíaca. Brás ilha. Campus Utópico Universitário Darcy Ribeiro. Aqui a utopia confunde-se com a topia e muda de significado. Bem vindos a bordo. Há muitas ilhas desconhecidas para acharmos!

Falamos ao futuro. Não ao presente. Agora a hora é de sementeira. Seremos árvores ressequidas, de galhas tortas, caule queimado do fogo do cerrado. Casa de joão-de-barro. Construiremos a cultura informacional necessária, com o espírito do livre acesso? Ensinaremos sem falar? Daremos condições de autonomia de pesquisa? Fomentaremos políticas públicas para o cenário nacional? Alimentaremos os periódicos científicos da área? Educaremos profissionais da informação? Seremos professorxs odiadxs ou queridxs por estudantes? Alguxs serão absorvidxs pelo mercado de concursos públicos e gozarão da sonhada estabilidade, correndo o risco de distanciarem-se da causa do livre acesso à informação? Outrxs venderão sua mão de obra

especializada às grandes corporações detentoras dos direitos autorais da produção científica? Ou não, quem sabe? Independente do futuro que possamos vir a seguir, um fato é irrefutável: neste grande agora, que já é passado!, somos todxs ESTUDANTES, e por escolha nossa. Mesmo não sabendo, este fato nos coloca dentro do Movimento Estudantil. Movimento que ganha nova impulsão com esta Revista.

As problematizações da questão social nos colocam como profissões de conteúdo social, cuja organização se faz necessária desde a graduação para que possamos exercer pressões nas arenas decisórias e obter ganhos para a coletividade, quer na esfera do direito social quer onde seja. O próprio artigo quinto da Constituição Federal-88 já garante o direito á informação, mas como fazer funcionar de fato? Desafios não faltam.

Agradecemos a todas as pessoas que contribuíram de alguma forma com o projeto e o total apoio da Faculdade de Ciência da Informação da Universidade de Brasília, representada pela sua diretora, Doutora Elmira Semeão, cuja orientação foi de capital importância e registramos um agradecimento muito especial à Cláudia Lopes, do Núcleo de Editoração e Comunicação – NEC, responsável pelo projeto gráfico da revista e grande incentivadora. Tal projeto gráfico traz brilhantemente nas páginas que lerão a arte do Grafite captada das paredes desta capital federal. Arte considerada, ou por conservadorismo ou falta de vocabulário, como arte marginal. Como Arte de carácter urbano é um convite a todxs a andarem mais a pé por Brasília e a repararem mais nas paisagens urbanas, uma vez que uma mãozinha de tinta pode apagar uma grande obra de arte nesta cidade-museu a céu aberto. Este referido Núcleo é uma prova do importante papel dos laboratórios na formação profissional e acadêmica dxs estudantes que, por meio deles, podem desenvolver atividades que transbordem a conhecida pesquisensinextenção. Esperamos ainda que as nossas tão importantes Biblioteca-Escola, Arquivo-Escola e Museu-Escola, espaços de aplicação, experimentação, desenvolvimento e prática, se concretizem o mais cedo possível em todos os cursos. Boa leitura.

Henrique Sertão

CONSELHO EDITORIAL

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S U

M Á

R I

ODesafios da democratização do acesso a museus P. 22

Memória e Patrimônio P. 30

DOSSIERPOLÍTICAS PÚBLICAS DE ARQUIVOS 10DESAFIOS DA DEMOCRATIZAÇÃO DE ACESSO A MUSEUS 22MEMÓRIA E PATRIMÔNIO 32

VARIEDADESESTEREÓTIPOS: o bibliotecário e a batgirl 38O DIA DA LIBERDADE DOS DOCUMENTOS 42

ARTESPAISAGENS DESNATURADAS 46

HISTÓRIAMUSEOLOGIA na Universidade de Brasília 56

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Esteriótipos: o biliotecário e a batgirl P. 38

O Dia da liberdade dos documentosP. 42

CALOUROSARQUIVOLOGIA: A ESCOLHA CERTA 64BOAS - VINDAS AOS CALOUROS 68

INTERNACIONALMI EXPERIÊNCIA EN LA UNIVERSIDAD DE BRASÍLIA 76

INFORMATIVOSCONGRESSOS 82

SPEAK CORNERA CRIAÇÃO: meritocracia X autorida(deismo) 84

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D O

S S

I E

RPOLITICAS

PUBLICAS PARA

ARQUIVOS E

MUSEUS

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Políticas Públicas de arquivo no âmbito

do Poder legislativo federal:

verificação da existência de uma Política. Kathyanne Samara Paulino Vasconcelos1

Rodrigo Gonçalves Calazans2

Thais Guidolini de Lima3

1 Aluna do Curso de Arquivologia, Universidade de Brasília, [email protected] Aluno do Curso de Arquivologia, Universidade de Brasília, [email protected] Aluna do Curso de Arquivologia, Universidade de Brasília, [email protected]

Resumo

Este trabalho tem como objetivo verificar a existência de uma POLíTICA PúBLICA ARqUIvíSTICA NO âMBITO DO PODER LEgISLATIvO FEDERAL – CâMARA DOS DEPUTADOS, SENADO FEDERAL E TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIãO. Metodologicamente foi realizado um levantamento nos Poderes Executivo e Legislativo que corrobore para o entendimento da existência de políticas públicas. Pretende-se com este estudo estabelecer uma correlação entre a existência de políticas públicas de arquivos do Poder Legislativo e da Administração Pública Federal, no âmbito do Executivo Federal.

Palavras-chave: Políticas públicas arquivísticas; Poder legislativo; Legislação arquivística brasileira.

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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Diante de grandes transformações nas instituições arquivísticas e o aumento da demanda solicitada tanto pelo público externo como pelo público interno, tornou-se necessário a formulação de políticas públicas arquivísticas visando o melhor desenvolvimento das funções das instituições arquivísticas, tanto para fins administrativos (fiscal, legal e comprobatório) como para f ins culturais, científicos, tecnológicos etc.

O presente trabalho pretende

analisar elementos que podem caracterizar a existência de políticas públicas arquivísticas no âmbito do Poder Legislativo Federal relacionando-o ao Poder Executivo Federal com base em informações coletadas. Para o desenvolvimento da pesquisa foi elaborado um questionário (vide apêndice) contendo indicadores para a verificação da

existência de políticas públicas arquivísticas. Procurou-se não adentrar em ramos específicos devido à dimensão do presente trabalho. A aplicação do questionário foi realizada nos setores de competência arquivística com os responsáveis pelo setor no Poder Legislativo Federal – Senado Federal, Câmara dos Deputados e Tribunal de Contas da União – e em uma amostra do Poder Executivo Federal – Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Ministério da Justiça, Ministério das Cidades, Ministério da Saúde, Ministério da Previdência Social, Ministério das Comunicações, Ministério do Esporte e Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

2 POLÍTICAS PÚBLICAS ARQUIVÍSTICAS E LEGISLAÇÃO ARQUIVÍSTICA

Na realização desta pesquisa, utiliza-se conceitos de política e políticas públicas de acordo com Maria das Graças Rua. A autora define política como: “conjunto de procedimentos formais e informais que expressam relações de poder e que se destinam à resolução pacífica

dos conflitos quanto a bens públicos” (Rua, 1998). Observa-se neste conceito a existência de uma hierarquia entre os governantes e cidadãos com finalidade de solucionar conflitos relacionados ao interesse público que

não depende de formalidade básica.

Rua (1998) afirma que as políticas públicas (policies) compreendem o conjunto das decisões e ações relativas à alocação imperativa de valores, estas são constituídas por outputs, resultantes

das atividades políticas (politics), envolvendo mais do que uma decisão e requer diversas ações estrategicamente selecionadas para implementar as decisões tomadas.

Porém não se pode apenas olhar para o conceito de políticas publicas como normas que partem de um sistema hierárquico, abstendo-se de visões democráticas. Deve-se também entender que políticas públicas são normas que nascem em um conjunto, Estado e povo, pois em um sistema democrático todo o poder deve emanar do povo. Então, como formular decisões sem uma devida conscientização do público alvo de determinadas políticas? Sousa, em apresentação no II Congresso Nacional de Arquivologia em 2006, pontua

...“políticas públicas são normas que nascem em um conjunto, Estado e povo, pois em um sistema democrático todo o poder deve emanar do povo. ”

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políticas públicas como uma construção coletiva que visa garantir os direitos sociais.

A partir de conceitos como Estado de direito, direitos sociais, direitos individuais passa-se a criar sobre o Estado não somente um freio contra atividades autoritárias, mas também o responsabiliza a promover o bem e a proteção de direitos que pertencem tanto a sociedade quanto ao indivíduo. É nesse cenário que se formula políticas públicas como parte das atividades do Estado que visam o interesse público.

Devido à inexistência da definição de elementos caracterizadores de uma política pública arquivística por parte do órgão competente – Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ) – conceitua-se políticas públicas arquivísticas:

o conjunto de premissas, decisões e ações - produzidas pelo Estado e inseridas nas agendas governamentais em nome do interesse social – que contemplam os diversos aspectos (administrativo, legal, científico, cultural, tecnológico, etc.) relativos à produção, ao uso e à preservação da informação arquivística de natureza pública e privada (JARDIM, 2003).

A partir desse conceito pode-se inferir que tais políticas são construídas para atender às demandas da sociedade. Percebe-se também a importância de uma gestão documental para a melhor preservação da informação arquivística, garantindo assim, o interesse social dos arquivos públicos e privados.

Com a criação da Lei nº 8.159 de 1991

foi instituído o Conselho Nacional de Arquivos – CONARQ com a finalidade, segundo o art. 01 do Decreto nº 4.073, 3 de janeiro de 2002:

definir a política nacional de arquivos públicos e privados, bem como exercer orientação normativa visando à gestão documental e a proteção especial aos documentos de arquivo. (BRASIL, 2002, p.47).

Esse pode ser considerado um marco na história da arquivística no Brasil, porém, apesar do CONARQ ter desenvolvido resoluções que incentivam a política de arquivo, esta nunca foi formulada e tampouco implementada. Essa ausência de política dificulta o direito da sociedade à informação pública e à memória coletiva. Na mesma lei são definidos quais são

os Arquivos Federais – o Arquivo Nacional do Poder Executivo, do Poder Legislativo e do Poder Judiciário.

Segundo os art. 18 e 19 da Lei 8.159, de 08 de janeiro de 1991:

Art. 18 Compete ao Arquivo Nacional a gestão o e recolhimento dos documentos produzidos e recebidos pelo Poder Executivo Federal, bem como preservar e facultar o acesso aos documentos sob sua guarda, e acompanhar e implementar a política nacional de arquivos.

Art. 20 Competem aos arquivos do Poder Judiciário Federal a gestão e o recolhimento dos documentos produzidos e recebidos pelo Poder Judiciário Federal no exercício de suas funções, tramitados em juízo e oriundos de cartórios e secretarias, bem como preservar e facultar o acesso aos documentos sob sua guarda. (BRASIL, 1991, p.14).

Portanto, com base nos artigos citados acima, infere-se que cabe ao Poder Legislativo a gestão e o recolhimento dos seus documentos. Dessa forma, percebe-se que o Poder Legislativo

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não está subordinado ao Arquivo Nacional e não é obrigado a seguir as resoluções do CONARQ, o que lhe dá uma liberdade para definir suas próprias políticas públicas de arquivo.

3 RESULTADOS

Conforme Dye (apud Jardim, 2008), realizar “análise de Política é descobrir o que os governos fazem, porque fazem e que diferença isto faz... é a descrição e explicação das causas e consequências da ação do governo”. Portanto este trabalho se destina ao levantamento de dados identificando os elementos gerais que

tem como finalidade garantir que a instituição arquivística desenvolva sua função administrativa e social, além da compreensão da diferença que a aplicação de tais elementos no processo da gestão arquivística.

Na elaboração do questionário buscou-se atingir cinco temas centrais considerados de relevância para a formulação de políticas públicas arquivísticas que são: a organização administrativa, a previsão orçamentária com rubrica própria para o arquivo, a gestão documental, o acesso documental e o recurso humano.

Observa-se a importância de ter dentro do organograma institucional um setor com competência de arquivo, pois assim verifica-se a força política e administrativa do arquivo dentro do órgão. Fator este que tornaria o arquivo mais visível, facilitando até mesmo a inserção de políticas institucionais.

Todos os setores de arquivo dos órgãos do Legislativo estão inseridos no organograma

do órgão e aproximadamente 89% do órgãos pesquisados no Executivo estão inseridos nos organogramas. Nota-se que aproximadamente 33% dos órgãos pesquisados no Poder Executivo estão vinculados a coordenações de logística e

serviços gerais. Isso demonstra que ainda persiste, no Executivo, a visão do arquivo como serviços auxiliares e não como uma atividade importante tanto para a tomada de decisão quanto para a construção da memória institucional e cultural. Apenas um dos órgãos do Executivo pesquisados não está inserido no organograma do órgão.

Outro resultado possível quanto à inserção do arquivo no organograma, refere-se à previsão orçamentária com rubrica própria para o arquivo, o que demonstra uma maior autonomia financeira dentro do órgão.

No Poder Legislativo, nenhuma das instituições arquivísticas possuem orçamento próprio, ao passo que no Executivo aproximadamente 11% possuem orçamento próprio. Apesar do orçamento demonstrar uma maior importância do setor de arquivo no órgão ou ao menos uma maior visibilidade do setor por parte do órgão, constata-se que mesmo sem tal requisito os órgãos vêm apresentando um crescimento em relação às políticas públicas arquivísticas. A exemplo do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão que não possui orçamento próprio mas que vem construindo uma grande mudança na estrutura arquivística do órgão.

A presença da gestão documental tanto no planejamento quanto na implementação de uma política pública de arquivo é de grande importância, pois por meio de uma gestão documental poderá se garantir o controle documental, da produção até a destinação final (BERNARDES; DELATORRE, 2008).

No Poder Legislativo, aproximadamente 33% não possui manual de gestão arquivísticas e aproximadamente 56% dos órgãos pesquisados no Poder Executivo também não possuem tal instrumento. Vale destacar que o manual de gestão

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Gráfico 2 – Disposição de orçamento próprio para o arquivo.

Gráfico 3 – Possui Manual de Gestão Documental.

Gráfico 1 - Inserção do arquivo no organograma do órgão.

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documental – O Plano de classificação e a Tabela de temporalidade. Ainda segundo as autoras esses dois instrumentos aliados garantem uma melhor gestão documental, dando acesso e permitindo a eliminação e guarda de documentos. Além desses instrumentos outros também foram verificados como a listagem de eliminação e a guia de transferência.

Foram analisados ainda quais instrumentos de gestão documental cada órgão usa para desempenhar suas funções. Notou-se que 67% dos órgãos do Legislativo utilizam o plano de classificação e a tabela de temporalidade disponibilizada pelo CONARQ, porém com modificações, e o uso de resoluções do

CONARQ, a exemplo da Resolução nº 7, de 20 de maio de 1997, também com modificações. Todos os órgãos do Executivo também utilizam os instrumentos disponibilizados pelo CONARQ.

Foi analisado ainda a existência de Comissões Permanentes de Acesso. No âmbito do Legislativo apenas aproximadamente 33% não possui tal comissão e na amostra pesquisada no Poder Executivo 89% também não possui a

arquivística visa auxiliar a gestão documental nos setores de trabalho. A falta deste instrumento pode acarretar na falta de padronização no processo de gestão em tais órgãos

Em todos os órgãos do Poder Legislativo esta instituída uma Comissão Permanente de Avaliação e em apenas 11% dos órgãos pesquisados no Poder Executivo não há tal Comissão. A Comissão Permamente de Avaliação é de extrema importância para a gestão dos documentos. Ela é responsável por elaborar a tabela de temporalidade, listagens de eliminição, editais de eliminação, além de orientar a seleção de amostragens dos documentos destinados a eliminação. A falta de tal Comissão compromete

o processo de análise documental. No órgão em que não há a Comissão Permanente de Avaliação, esta está em fase de elaboração.

Na elaboração do questionário também se buscou verificar os instrumentos de gestão documental. Bernardes e Dellatorre (2008) pontuam que a avaliação e classificação são atividades que permitem a construção de dois instrumentos essenciais para a gestão

Gráfico 5 - Utilização de instrumentos para a gestão documental.

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Gráfico 4 – Possui uma Comissão Permanente de Avalização Documental.

Gráfico 6 – Possui uma Comissão Permanente de Acesso.

Gráfico 7 - Cargo de arquivista no quadro do órgão.

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Comissão Permanente de Acesso cujo objetivo é analizar e aprovar quais documentos são sigilosos e por quanto tempo devem ser restritos.

Quanto ao acesso dos documentos aos usuários externos, notou-se que nos órgãos do Poder Legislativo 67% proporcionam aos usuários externos o acesso a seu acervo, garantindo a função secundária do arquivo que é garantir o acesso aos documentos visando a formação cultural e de pesquisa científica. Na maioria dos órgãos pesquisados no Poder Executivo este acesso ainda não é possível, seja pela recente gestão documental ou pela recente formação do órgão, como é o caso do Ministério das Cidades.

Apenas 33% dos órgãos do Poder Legistivo não possui um cargo para o profissional de arquivo – arquivista – em seu quadro, ao passo que aproximadamente 78% da amostra pesquisada no Poder Executivo possui o cargo de arquivista em seu quadro. Verifica-se a importância do profissional de arquivologia dentro do órgão, pela sua função de gestor da informação arquivística. Segundo Schellenberg (2008), o arquivísta tem a função de examinar e avaliar os documentos a fim de determinar sua possível destinação final. O arquivísta também pode ser visto como um fomentador de políticas instítucionais, ele irá coordenar os trabalhos de gestão e concientizar a administração sobre a imporância da gestão documental e de seus benefícos organizacionais.

Conforme analisado, pôde-se constatar que os órgãos do Poder Legislativo se encontra a frente dos órgãos do Poder Executivo em todos os aspectos estudados. Apesar disso, não se pode dizer ainda que o Legislativo tenha uma política pública aplicada, nem uma unificação de normas como sugere o artigo 19 da Lei 8.159 de 19911, mas iniciativas individuais de cada órgão

1 Art. 19 Competem aos arquivos do Poder Legislativo Federal a gestão e o recolhimento dos

que compõe o Poder Legislativo. O mesmo nota-se no Poder Executivo, porém dentro das especificações do CONARQ.

Após a elaboração do questionário, foi perguntado quanto à vinculação hierárquica dos órgãos do Poder Executivo ao Arquivo Nacional, foi constatado que na aprovação do plano de classificação, da tabela de temporalidade e das listagens de eliminação são encontradas barreiras na terminologia utilizada e por vezes na interpretação, além da burocracia.

Ainda a respeito da vinculação dos órgãos do Poder Executivo ao Arquivo Nacional foi destacado o papel que o Sistema de Gestão de Documentos de Arquivo da Administração

Pública Federal – SIGA vem desenvolvendo ao promover meios que propiciam a comunicação e

intercâmbio de informações entre os órgãos da Administração Pública Federal. Além de auxiliar na gestão documental promovendo assistência aos órgãos na elaboração da sua gestão documental.

Constata-se, com base na amostra estudada, que o Poder Legislativo tem maior desenvolvimento na elaboração de suas políticas públicas, percebe-se que é necessário novas pesquisas a respeito, aprofundando diversos aspectos sobre o tema devido aos grandes debates e variáveis que envolvem a conceituação, os agentes e as ações de políticas públicas arquivísticas e ao grande universo do Poder Executivo Federal, podendo oferecer grandes contribuições para as instituições arquivísticas.

documentos produzidos e recebidos pelo Poder Legislativo Federal no exercício das suas funções, bem como preservar e facultar o acesso aos documentos sob sua guarda.

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Gráfico 9 - Análise dos requisitos atendidos por divisão de Poder pesquisado.

Gráfico 8 – Análise dos requisitos atendidos por divisão de órgão pesquisado.

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4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991. Dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados. Acesso em 23 jul. 2010

______. Decreto nº 4.073, de 3 de janeiro de 2002. Regulamenta a Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991 que dispõe sobre a política nacional de arquivos públicos e privados.

______. Resolução nº 7, de 20 de maio de 1997. Dispõe sobre os procedimentos para a eliminação de documentos no âmbito dos órgãos e entidades integrantes do Poder Público. Disponível em:

BERNARDES, Ieda Pimenta; DELATTORE, Hilda.(Coords.). Gestão Documental Aplicada. São Paulo: Arquivo Público do Estado de São Paulo, 2008.

JARDIM, José Maria. A Diversidade arquivística e políticas de arquivo. PontodeAcesso. Salvador, v. 3, n. 1, p. 46-59, abr. 2009. Disponível em: <www.brapci.ufpr.br/download.php?dd0=10433> Acesso em 1 jun. 2010.

______. Políticas públicas arquivísticas: princípios, atores e processos. Arquivo & Administração, Rio de Janeiro, v. 5, n. 2, p. 5-16, 2006.

______. Políticas públicas de informação: a (não) construção da política nacional de arquivos públicos e privados (1994-2006). 2008. Comunicação oral apresentada ao GT-5 - Política e Economia da Informação no IX Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, São Paulo, 2008.

KERBAUY, Maria Teresa Miceli. Descentralização, Processo Decisório e de Políticas Públicas Locais. Estudos de Sociologia. Araraquara, v. 9, n. 16, p. 151-163, 2004. Disponível em:

RUA, Maria das Graças. Análise de Políticas Públicas. In: Maria das Graças Rua; Maria I. V. de Carvalho (orgs.). O Estudo da Política: Tópicos Selecionados. Brasília: Editora Brasília, Paralelo 15, 1998. Disponível em:

SCHELLENBERG, Theodore Roosevelt. Arquivos Modernos: Princípios e Técnicas. 6. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2006.

SILVA, Sérgio Conde de Albite. A preservação da informação arquivística governamental nas políticas públicas do Brasil. 1. ed. Rio de Janeiro: Associação dos Arquivistas Brasileiros/ FAPERJ, 2008. v. 1. p. 284.

SOUSA, Renato Tarciso Barbosa de. O arquivista e as políticas públicas de arquivo. 2006. Texto apresentado no II Congresso Nacional de Arquivologia, Porto Alegre, 2006. Disponível em: < repositorio.bce.unb.br/handle/10482/1026> Acesso em 10 jul. 2010.

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APÊNDICEÓrgão:Responsável:Telefone:Data de aplicação do questionário:

Questionário

1. O órgão possui em seu quadro um profissional da área de arquivo?( ) Sim ( ) NãoSe sim, em qual setor está lotado?__________________________________________________________________________________________________________________________________________

2. Há algum setor com competência de arquivo?( )Sim ( )Não

3. O arquivo tem orçamento próprio?( )Sim ( )Não

4. O setor de arquivo esta inserido no organograma do Órgão?( )Sim ( )NãoSe sim, à qual setor está vinculado?__________________________________________________________________________________________________________________________________________

5. O arquivo possui normatizações que garantam a conservação e preservação dos documentos? ( )Sim ( )Não

6. O órgão dispõe de manual de gestão documental?( )Sim ( )NãoSe sim, é aplicado?( )Sim ( )Não

7. Quais instrumentos são utilizados para a gestão documental?______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

8. O órgão disponibiliza o acesso de documentos aos usuários externos?( )Sim ( )Não

9. O órgão dispõe de normatização que regule as atividades de arquivo?( )Sim ( )Não

10. O órgão disponibiliza de um cargo no quadro para o profissional da área (Arquivista)?( )Sim ( )Não

11. Estipulou uma Comissão Permanente de Avaliação?( )Sim ( )Não

12. Estipulou uma Comissão Permanente de Acesso?( )Sim ( )Não

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Anna Paula da Silva1 Juliana Fiallo 2

RESUMO

Este artigo tem como objetivo apresentar aspectos da democratização e das atuais políticas públicas no campo museológico. Para tanto, o presente trabalho busca, por meio da abordagem da idéia de museus na antiguidade até os tempos atuais, da apresentação e reflexão acerca do processo de democratização das instituições museológicas, além da abordagem da questão das políticas públicas culturais no estado brasileiro e da apresentação e análise de entrevistas, revelar os desafios de se conseguir uma melhor gestão, democratização de acesso e configuração dos museus brasileiros.

Palavras - Chave: Democratização, Museus, Plano Nacional de Museus, Políticas Publicas.

1 Graduada em História. Atualmente aluna do Curso de Museologia da Universidade de Brasília, Matrícula 09/01065042 Graduada em História. Atualmente aluna do Curso de Museologia da Universidade de Brasília, Matrícula 09/0119690

DA DEMOCRATIZAÇÃO DE ACESSO A MUSEUS

DESAFIOSDESAFIOSDESAFIOS

23

DOSSIER

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INTRODUÇÃO

A memória, tanto individual como coletiva, em sua função cognitiva e em sua função social, pode ser definida como a capacidade de conservar e atualizar informações passadas, informações que mediante a linguagem escrita ou falada podem transformar-se em objeto de uma ação comunicativa.

Em seu caso específico, a memória social, que define o marco de nossas ações e, por conseguinte, permite a construção das identidades coletivas, é apreendida, herdada e transmitida através de diversos mecanismos sociais, onde por meio dela é imprimido um significado ao nosso passado, presente e futuro, a tal ponto que nossa memória acaba sendo a representação de nós mesmos ante os demais.1

Vista como fonte de experiência ou como suporte de identidade coletiva, a memória pode ser vista como um sistema onde se cruzam estruturas culturais, políticas e econômicas enquanto códigos de representação. E não há lugar melhor que os chamados “espaços de memória” para expressar essa diversidade.

Os museus, instituições que colecionam, preservam, documentam, exibem e interpretam evidências culturais, trouxeram em seu bojo, ao longo dos séculos XIX e XX, o discurso do poder, quer das elites, quer dos governos, embora tenham sido permanentemente mostrados como espaços de construção e de conservação da memória de todos os grupos.

Considerados como “instituições de memória”, os museus devem estar a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento.

Comprometidos com a gestão democrática e participativa, eles devem ser também unidades

1 FENTES, James e WICKHAM, Chris. Social Memory, Blackwell Publishers, Oxford, 1992, p.7.

de investigação, interpretação, mapeamento, documentação e preservação cultural, além de fazer a comunicação e exposição dos testemunhos do homem e da natureza. Também cabe aos museus propiciar a ampliação do campo das possibilidades de construção identitária e a percepção crítica acerca da realidade cultural brasileira, além do papel social na divulgação do conhecimento.

Assim, dentro das perspectivas de construção de um novo projeto de nação mais inclusivo e com maiores estímulos à participação cidadã, torna-se indispensável a implantação de políticas públicas na área de museus, de instrumentos legítimos de desenvolvimento do

setor museológico brasileiro e de dinâmicas mais democráticas de acesso à informação nessa área de conhecimento.

1 Historiografia dos Museus

A idéia de museu surgiu no século III a.C. com a Biblioteca de Alexandria. A Biblioteca possuía uma grande coleção, o que preservava os conhecimentos dos antigos através de pergaminhos e objetos, além de oferecer também ensino e pesquisa.

Segundo a autora Bruna de Siqueira Araujo

Após o período clássico, o termo ‘museu’ passa por inúmeras transformações, inclusive associando-se às ‘coleções’. As coleções entre os séculos XV e XVIII eram sinônimos de status e poder. Aos museus, cabia o papel de preservar tais coleções para posteridade para que nobres, religiosos, artistas, pesquisadores e detentores de poder pudessem contemplar e estudar os objetos, adquirindo prestígio perante a sociedade. 2

2 ARAUJO, Bruna de Siqueira. O desenvolvimento turístico e a problemática dos museus atuais: a cultura popular e as atividades educativas no caso do Museu do Folclore de São

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dossierCom o advento da Idade Média eram os

detentores de poder que manipulavam o acesso as coleções, o que deixava claro quem deveria ou não ter acesso as essas coleções. E esse aspecto perdurou durante séculos, sendo que as únicas diferenças eram as dos objetos que eram estudados e que faziam parte da coleção. A partir do século XIII, os objetos considerados profanos começam a ser estudados, como: moedas, manuscritos, obras de artes, entre outros. Para a autora Araujo3 “tal fato demonstra, que o pensamento do passado se modifica: não se busca mais uma regressão ao passado, mas uma releitura interpretativa do mesmo”.

A partir do século XV é apresentado

ao mundo os gabinetes de curiosidade, que continham inúmeros artefatos e tinham um vínculo com o novo mundo, pois nesse século foi o auge das grandes navegações. Os objetos que eram encontrados nos outros continentes eram guardados e colocados nos gabinetes de curiosidade, e além desses objetos era possível encontrar artefatos que tinham sido oriundos de guerras na Europa. Nesse momento começa a surgir as idéias de classificação e de uma

verdadeira coleção.

Como observa o autor Durval de Lara Filho em sua dissertação intitulada Museu: de espelho do mundo ao espaço relacional

Até recentemente, esses gabinetes eram vistos como autênticos baús onde se acumulavam objetos sem qualquer relação entre si, cuja atração seria proporcionada pelos artefatos raros ou espécimes monstruosos. No entanto eles possuíam uma forma de organização coerente, eram planejados e tinha uma função muito clara em sua época.4

José dos Campos – SP. Trabalho final do Curso de Turismo da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho. Rosana, 2007, p.18.3 Idem, p.184 FILHO, Durval de Lara. Museu: de espelho do mundo ao espaço relacional. Dissertação, Pós-graduação da Ciência da Informação, USP. São Paulo, 2006, p.25.

Os gabinetes de curiosidade eram lugares pequenos que agrupavam peças e que permitiam a presença de poucas pessoas além de serem locais de estudo e discussões filosóficas. Ainda sim, era perceptível que o acesso continuava restrito aquelas pessoas que eram eruditas e que detinham poder. A autora Araujo afirma que

No entanto, através do longo e lento desenvolvimento das sociedade e por meio da pressão exercida pelas classes medianas, compostas por escritores, sábios e eruditos que buscavam cada vez mais a instrução e o acesso às informações, os detentores do poder proporcionavam, então, o direito a estas classes de estudar os objetos necessários para o desenvolvimento de suas atividades.5

No século XVII, através da mudança de pensamento sobre o acesso e sobre a busca do conhecimento da antiguidade, iniciaram as discussões sobre a museologia. Porém, apenas no século XVIII, o caráter público do museu foi estabelecido, o que possibilitava o acesso de qualquer pessoa, ainda que as coleções que eram expostas tivessem uma relação mais profunda com eruditos e com pessoas que detinham o poder. Para Bruna Araujo6, “a difusão do saber,

por meio da escolarização, torna-se cada vez mais responsabilidade pública. Junto ao movimento iluminista, os detentores de poder se convencem que a disseminação de conhecimento levaria ao progresso”. A autora continua sua observação afirmando que

Os museus surgem como instituição e emergem então as galerias e as novas disciplinas que dispunham de técnicas de estudo que permitisse elaborar novas teorias como a arqueologia, a etnografia e a história da arte. Assim, as funções representativas desta instituição tomam

5 ARAUJO, Bruna de Siqueira. O desenvolvimento turístico e a problemática dos museus atuais: a cultura popular e as atividades educativas no caso do Museu do Folclore de São José dos Campos – SP. Trabalho final do Curso de Turismo da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho. Rosana, 2007, p.19.6 Idem, p.19

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forma, como: a guarda, a preservação, a aquisição e utilização do acervo, fossem para pesquisas de estudos ou para disseminação de conhecimento na sociedade.7

A Revolução Francesa é um grande marco para um melhor entendimento sobre museus, pois a partir daí é pensado o patrimônio cultural da nação, com o desprezo de valores do antigo regime e da preservação do passado, e assim é enaltecida a identidade nacional. Foi através do patrimônio, segundo Bruna Araujo, que surgiram duas vertentes para o museu: “a ‘história nacional’, representada pelas obras como monumentos; e a ‘instrução’, como meio de disseminação de conhecimento para as próximas gerações. Partindo desses princípios, surgem as tendências de “caráter educativo dos museus”. Entretanto ainda nessa época era a aristocracia que tinha acesso aos museus, pois essas instituições se localizavam em universidades, s o c i e d a d e s

acadêmicas e igrejas, ou seja, não era permitido o acesso das classes mais baixas. Apenas em 1915 que os museus democratizam e popularizam suas exposições.

No caso do Brasil, o nascimento dos museus ocorreu entre 1870-1910, mas sua estrutura era semelhante a da Europa, pois grande parte dos diretores e pesquisadores da época eram estrangeiros, pautando assim a estrutura dos museus brasileiros em uma estrutura estrangeira. Os primeiros museus no Brasil foram Museu Paulista, Museu Nacional e

7 Idem, p.20

Museu Paraense Goeldi, e grande parte do seu acervo era de história natural e da história da família real. Esses museus contribuíam com o aspecto acadêmico do país, tornando-se espaços de produção científica juntamente com outras escolas da época. Entretanto, eram poucos os investimentos para esses museus, pois o governo brasileiro ainda não disponibilizava de verba suficiente.

2 Democratização do acesso aos museus

As questões relativas à democratização começaram a ser discutidas com primor nos seminários e mesas redondas promovidas pela UNESCO no início da década de 70 no século XX. A partir de relatos de várias instituições

museológicas foram feitas reflexões sobre métodos e recursos utilizados na arquitetura, e d u c a ç ã o , c o n s e r v a ç ã o , restauração e m u s e o g r a f i a . Sendo assim foram pensadas ações

para um melhor desenvolvimento das instituições museológicas. Para a autora Araujo8 o museu enquanto ação deve ser visto como instrumento dinâmico de ação social. Além disso, a autora observa que “Antes de 1972, não se compreendia o museu como instrumento de desenvolvimento, e neste instante, era amplamente formulado e admitido. Dessa maneira também se deram a função social do museu, e ainda, a responsabilidade política do museólogo.9

A partir das mesas redondas foi criada a

8 Idem, p.249 Idem, p.25

“Quando pensamos na democratização do acesso aos museus devemos ter em mente como diminuir a desigualdade dos diferentes públicos, tornando o museu acessível a qualquer pessoa.”

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dossierNova Museologia, que segundo a autora Araujo tinha seus princípios pautados:

Na utilização de testemunho materiais e imateriais, explicando e desenvolvendo experimentação, antes de se tornarem objetos passíveis de coleções;

Na interpretação e investigação, que deveriam ser voltadas para questões de ordem social;No desenvolvimento comunitário como principal objetivo;Na saída do museu do edifício tradicional, para sua inserção nos meios desfavorecidos;Na interdisciplinariedade, ampliando espaços para reflexão científica; No público como papel fundamental: colaborador, utilizador, e até mesmo, criador.10

Segundo a autora köptcke apud TouraineDemocratizar ou democratização é um termo que pertence ao pensamento crítico, que significa, em sociologia, um processo particular de transformação social. Implica o reconhecimento e a legitimidade dos príncipios de livre acesso e igualdade de direitos diante da escola, dos museus, do esporte, da cultura, da saúde, etc. Propõe identificar os seus limites ao constatar, na realidade, desigualdades e privilégios de fato. Medir os primeiros e identificar e reduzir os segundos são os objetivos da democratização.11

Quando pensamos na democratização do acesso aos museus devemos ter em mente como diminuir a desigualdade dos diferentes públicos, tornando o museu acessível a qualquer pessoa. Para isso as instituições museólogicas e o

10 Idem, p.2611 KÖPTCKE, Luciana Sepúlveda. O Observatório de Museus e Centros Culturais: uma agenda de pesquisa para a democracia cultural p.8. Disponível em: <http://74.125.155.132/scholar?q=cache:CsrgBZXWUaMJ:scholar.google.com/+A+observa%C3%A7%C3%A3o+de+museus+e+centros+cultutais:+uma+agenda+de+pesquisa+para+a+democracia+cultural&hl=pt-BR> Acessado em: 20 de outubro de 2009.

governo devem promover a cultura de forma que permita esse acesso sem demonstrar um conflito entre os contextos dos diferentes públicos. Percebemos então que não é só uma questão de financiamento, mas também de maturidade sobre como ocorrerá o acesso. Segundo Köptcke12 “logo, a democratização diz respeito à oferta (garantia da facilidade de acesso para aqueles que praticam ou que desejariam praticar) quanto à apropriação, à escolha e à fruição diversificada de variados elementos da cultura por diversos grupos sociais”.

Na Conferência Latino Americana de Museus13 (1996) foi produzido um documento que afirma que os museus, nas últimas décadas, têm desempenhado um papel relevante e específico no campo da democratização da cultura, rompendo as barreiras dos seus espaços tradicionais procurando novos públicos e criando exposições que incorporam linguagens mistas.

Ainda sim a realidade apresenta fatores negativos para a democratização do acesso aos museus, como financiamento, capacitação de profissionais, programas educativos, entre outras

coisas. Com a criação do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM) as pessoas envolvidas em patrimônio e museologia esperam que existam políticas públicas que construam novos olhares acerca da área e uma melhor expectativa sobre o acesso.

3 Desafios do Estado: políticas públicas no setor museológico

Visando a autonomia na área dos museus e a afirmação do campo da museologia, instituições

12 Idem, p.913 Conferência Latino Americana de Museus. Museus para o Amanhã. Cadernos de Sociomuseologia Nº 10 – 1997. Disponível em: <http://revistas.ulusofona.pt/index.php/cadernosociomuseologia/article/view/299/208> Acessado em: 20 de outubro de 2009.

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e profissionais do país vêm se movimentando nos últimos anos pela construção de uma política pública para o setor, trazendo como efeito novos mecanismos de financiamento, formação, capacitação e regulação por parte do governo federal. Isso porque, em uma sociedade rica e diversificada em manifestações culturais como a brasileira, a função dos museus é de suma importância para a valorização do patrimônio cultural e conseqüente aperfeiçoamento dos processos democráticos.

Devido a limites ligados às capacidades institucionais e financeiras, o Brasil sempre encarou dificuldades para i m p l e m e n t a r

uma política pública para a área de cultura14. Foram criadas i n s t i t u i ç õ e s p ú b l i c a s atreladas ao setor cultural desde a época do Brasil Império, contudo, somente a partir da década de 1930, com o

aumento do número de serviços oferecidos pelo Estado, políticas públicas reformuladas e a valorização da cultura popular, que se iniciam no país as primeiras políticas de culturas, apontadas nas ações de preservação do patrimônio histórico e artístico brasileiro. Assim, é criada em novembro de 1937, uma instituição com o intuito de defender, organizar, propagar e conservar o patrimônio artístico nacional: o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Sphan, atualmente transformado no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan15.

14 Revista de Políticas Públicas e Gestão Governamental - Vol. 7, No 1 – Pág 11 Jan/Jun 2008 15 http://portal.iphan.gov.br

Nos artigos 215 e 216 da Constituição Federal de 1988 é que se encontra a base legal das políticas públicas de cultura atuais. Segundo o texto constitucional, o Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e o acesso às fontes da cultura nacional; apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais, devendo proteger as manifestações das culturas populares, indígenas e afrobrasileiras, e de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.

Porém, foi com a apresentação do caderno Política Nacional de Museus – Memória

e Cidadania 16, lançada em maio de 2003, que

foram alcançados os primeiros frutos da mobilização política da comunidade m u s e o l ó g i c a . Coordenada pelo Ministério da Cultura, com a participação de

órgãos do governo federal, estadual, municipal, do setor privado e de entidades da sociedade civil

organizada, a Política tem como objetivo

promover a valorização, a preservação e a fruição do patrimônio cultural brasileiro, considerado como um dos dispositivos de inclusão social e cidadania, por meio do desenvolvimento e da revitalização das instituições museológicas existentes e pelo fomento à criação de novos processos de produção e institucionalização de memórias constitutivas da diversidade social, étnica e cultural do país.17

A implementação da Política Nacional teve seu primeiro passo com o Cadastro Nacional dos Museus, que teve por finalidade fazer um

16 http://www.museus.gov.br/politica_apresentacao.htm17 Política Nacional de Museus – Memória e Cidadania. Pág 8. Maio 2003

“...em uma sociedade rica e diversificada em manifestações culturais como a brasileira, a função dos museus é de suma importância para a valorização do patrimônio cultural e conseqüente aperfeiçoamento dos processos democráticos.”

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dossierdiagnóstico de todos os museus brasileiros a partir de informações amplas sobre sua estrutura e gestão. Dentro da organização institucional do setor museológico, foi instituído em novembro de 2004, com a proposta de criar uma rede entre todos os museus brasileiros e instituições afins, o Sistema Brasileiro de Museus. Além do Cadastro e do Sistema Brasileiro de Museus18, essa nova Política Nacional criou o Instituto Brasileiro de Museus - Ibram, um órgão específico para a gestão do setor, tendo em sua estrutura os museus federais atualmente ligados ao Iphan, além de outras unidades museológicas associadas por convênios, acordos e outros dispositivos legais.

Como a realização de pesquisa,

conservação e preservação, além de atividades educativas e sociais são imprescindíveis aos museus, um estatuto também é importante, e previsto pela Política Nacional. Sancionada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em 14 de janeiro de 2009, a Lei nº 11.904 instituiu o Estatuto de Museus19, legislação específica para orientar e auxiliar as instituições museais em suas tarefas de rotina com normas de preservação, conservação, restauração e segurança dos bens

artísticos, tais como a obrigatoriedade de um plano museológico e de um programa de segurança. As instituições museológicas brasileiras terão até cinco anos para se adaptar às novas normas do estatuto, que, além de contribuir para uma definição mais ampla do conceito de museus e estabelecer os procedimentos de criação de instituições museológicas, identifica suas funções e atribuições e regula atividades específicas.

Desse modo, ao se analisar a gestão da política cultural pelo poder público federal, a conclusão é a de que ela sempre foi descontínua e fragmentada, revelando um descaso do tema

18 http://www.museus.gov.br/sbm_apresentacao.htm19 http://www.cultura.gov.br/site/2009/01/15/estatuto-de-museus-2/

cultural na esfera federal. Mesmo assim, um intenso processo de discussão e de reorganização do papel do Estado na área cultural, marcado por destacadas gestões do Ministério da Cultura, em especial a do ministro Gilberto Passos Gil Moreira, resultou em avanços significativos que podem ser observados no setor de museus.

4 Resultado – Entrevistas

A partir do que foi colocado no presente artigo, foram concebidas 14 (quatorze) entrevistas para caracterizar as reflexões produzidas no texto. O objetivo das entrevistas era ter um panorama amplo sobre a motivação e incentivo dos usuários, o que evidenciaria grandes desafios da democratização no acesso aos museus. Sendo assim, o perfil dos usuários é em sua maioria jovens estudantes brasilienses que possuem bom acesso às instituições museológicas.

A primeira pergunta era “Você costuma visitar museus? Com qual freqüência?”.

Respostas como: “Sim, duas vezes ao mês”. (Liana); “sim, todo mês de acordo com a quantidade de exposições de meu interesse”

(Isabela); “não, vou umas duas vezes ao ano”. (Jeremias) “sim, poucas vezes. Geralmente quanto tem alguma exposição do meu interesse, para trabalhos ou quando recebo pessoas de fora de Brasília”. (Marina) evidenciam um bom acesso aos museus, mas ainda muito pouco diante do circuito de exposições que ocorrem em Brasília. Todos eles são estudantes e possuem condições para visitação de instituições museológicas, o que não caracteriza a maior parte da população brasileira.

A segunda pergunta era “Você se sente motivado ou incentivado a visitar museus? Se sim, qual tipo de motivação e incentivo você conhece?”.

Com a segunda pergunta, a partir

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de respostas como: “Sim. Ter contato direto com obras de artistas esteticamente ou até politicamente relevantes”. (Alex); “Sim, através da propaganda de uma determinada exposição, ou a oportunidade de conhecer a obra de artistas que aprecio”. (Gabriela) “Sim. Considero uma excelente forma de turismo, portanto me incentivo com museus famosos com boa propaganda relacionada a propaganda da cidade”. (Thomaz); “A motivação vem por minha parte por ser aluna de museologia, mas não vejo incentivo nem pelos museus nem pelo governo”. (Isabela) é possível ver que os entrevistados tem uma motivação pessoal no momento em que vão à exposições ou aos museus, seja por interesse cultural ou acadêmico, e mesmo que exista propaganda a motivação vem da esfera particular.

A última pergunta “Em sua opinião, quem deve ter a responsabilidade de tornar os museus mais acessíveis aos visitantes?” evidenciou em suas respostas, aqui exemplificadas pelas falas “O governo em conjunto com os agentes do museu na realização de políticas públicas de

incentivo a isso”.

(Hérika); “O governo em parte, mas também os museólogos”. (Sâmia); “Os responsáveis pelo museu em apoio com o governo”. (Isabela); “As instituições vinculadas aos museus, que financiam ou organizam exposições. Também é necessário que haja uma cultura de levar crianças e jovens às exposições”. (Marina), a preocupação dos entrevistados em que se tenha o governo e as pessoas vinculadas aos museus a responsabilidade de motivar e tornar mais acessível esse espaço. Assim acrescentamos que no caso de instituições vinculadas ao governo, devem existir políticas públicas que financiem e motivem esse acesso, e já no caso de instituições privadas, que a propaganda do espaço seja amplamente divulgada.

CONCLUSÃO

A democratização do acesso aos museus está vinculada às políticas públicas, que atualmente são pauta para uma nova gestão de política cultural no estado brasileiro. O apelo por instrumentos institucionais que não se configurem apenas como políticas públicas de governos, mais se sejam efetivamente políticas de Estado, se transformou em uma das principais demandas

da comunidade museológica. As ref lexões estão sendo

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Foto: Claudia Lopes

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dossierconstruídas por instituições museológicas e por importantes órgãos vinculados ao Ministério da Cultura, e a partir destes são feitos documentos que legitimam uma preocupação em democratizar e viabilizar o acesso aos museus. Assim, o governo vem apresentando preocupação em cuidar dos aspectos da memória e identidades brasileiras, que estão inseridas no campo museológico.

O lançamento de uma Política Nacional de Museus, amparada pela criação do Sistema Brasileiro de Museus, do Cadastro Nacional e do Estatuto foi fundamental para se compreender que essa área precisa de cuidado específico, e que além da institucionalização, problemas como o financiamento e a capacitação, é preciso investir na formação e no reconhecimento da museologia como um importante campo de conhecimento, para assim se alcançar uma melhor gestão e configuração do campo museológico, assim como uma democratização e acesso aos bens culturais.

REFERÊNCIAS

ARAUJO, Bruna de Siqueira. O desenvolvimento turístico e a problemática dos museus atuais: a cultura popular e as atividades educativas no caso do Museu do Folclore de São José dos Campos – SP. Trabalho final do Curso de Turismo da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho. Rosana, 2007.

Conferência Latino Americana de Museus. Museus para o Amanhã. Cadernos de Sociomuseologia Nº 10 – 1997. Disponível em: <http://revistas.ulusofona.pt/index.php/cadernosociomuseologia/article/view/299/208> Acessado em: 20 de outubro de 2009.

FENTES, James e WICKHAM, Chris. Social Memory, Oxford: Blackwell Publishers, 1992, p.7.

FILHO, Durval de Lara. Museu: de espelho do mundo ao espaço relacional. Dissertação, Pós-graduação da Ciência da Informação, USP. São Paulo, 2006.

KÖPTCKE, Luciana Sepúlveda. O Observatório de Museus e Centros Culturais: uma agenda de pesquisa para a democracia cultural. Disponível em: <http://74.125.155.132/scholar?q=cache:CsrgBZXWUaMJ:scholar.google.com/+A+observa%C3%A7%C3%A3o+de+museus+e+centros+cultutais:+uma+agenda+de+pesquisa+para+a+democracia+cultural&hl=pt-BR> Acessado em: 20 de outubro de 2009.

Política Nacional de Museus – Memória e Cidadania. Maio 2003, p.8

Ministério da Cultura. Estatuto dos museus. Disponível em: <http://www.cultura.gov.br/site/2009/01/15/estatuto-de-museus-2/> Acessado em: 19 de outubro de 2009.

Ministério da Cultura: Política nacional de museus. Disponível em: <http://www.museus.gov.br/politica_apresentacao.htm> Acessado em: 17 de outubro de 2009.

Ministério da Cultura. Sistema brasileiro de museus. Disponível em: <http://www.museus.gov.br/sbm_apresentacao.htm> Acessado em: 19 de outubro de 2009.

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MEMÓRIA E PATRIMÔNIO

Ana Paula da Silva1

Juliana Fiallo2

Com o predicado de conservar certas informações, a memória

remete-nos primeiramente a um conjunto de funções psíquicas, pelas

quais o homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou

que ele representa como passadas. Ela é um elemento essencial no que

se costuma chamar identidade individual ou coletiva, cuja busca é uma das

atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje.

São as sociedades cuja memória social é, sobretudo, oral, ou que

estão para construir uma memória coletiva escrita, aquelas que nos

possibilitam um melhor entendimento desta busca incessante de dominar

a recordação e a tradição, desta manifestação e conseqüente evolução

da memória.

Ligados ao aparecimento e difusão da escrita e à

evolução social, especialmente do desenvolvimento urbano,

os lugares de memória coletiva surgem desempenhando um

papel de suma importância no processo de reclassificação dos

objetos cotidianos em novos conjuntos classificados como “coleções” e

“patrimônios”. São lugares topográficos, como os arquivos, as bibliotecas,

os museus, lugares simbólicos como as comemorações, as peregrinações, os

aniversários ou os emblemas.

No entanto, a memória coletiva é não somente uma conquista, mas

também um instrumento e um objeto de poder. As conhecidas instituições

de memória: arquivos, bibliotecas, museus, são criações dos reis. Apenas

no movimento científico do XVIII, destinado a fornecer à memória

coletiva das nações os monumentos de lembrança, que começou finalmente a

era dos museus públicos e nacionais. Além de não ser apenas uma conquista,

o que fica do passado no cotidiano dos grupos, ou o que os grupos fazem do

passado, pode à primeira vista, opor-se à memória histórica.

No processo de construção dessas instituições situadas entre a

1 Graduada em História. Atualmente aluna do Curso de Museologia da Universidade de Brasília, Matrícula 09/01065042 Graduada em História. Atualmente aluna do Curso de Museologia da Universidade de Brasília, Matrícula 09/0119690

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DOSSIER

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memória e a História, tais como o patrimônio, as coleções, os monumentos, os museus, os arquivos, opera-se um cuidadoso trabalho de eliminação das ambigüidades. São substituídas as categorias de uso cotidiano que são ambíguas e precárias, por categorias abstratas e com fronteiras claramente delimitadas com a função de representar identidades e memórias.

O interessante desse processo é o fato de que o acesso que o patrimônio possibilita, por exemplo, ao passado, depende, em parte, do acaso. Se, por um lado, constrói-se intencionalmente o passado, este, por sua vez, insinua-se, à nossa inteira revelia, em nossas práticas e representações.

Desse modo, o patrimônio nada mais é do que a representação de estreitas articulações entre o grupo social onde são reverenciados e suas respectivas memórias. Ou seja: é a construção de uma memória coletiva. A partir dessa memória são criadas, então, concepções de identidade nacional e de projeto de nação.

Partimos do pressuposto de que existem valores comuns nessa construção de memória e patrimônio, sendo tanto representações materiais como imateriais. O patrimônio abrange elementos arquitetônicos e também tradições da culinária, artesanato, arte, música, manifestações religiosas e danças de um povo. Sendo assim, o patrimônio além de simbolizar, representar e comunicar, ele constrói e forma as pessoas.

Em termos históricos, toda a herança de um povo sempre foi definida a partir dos seus heróis nacionais e de datas que marcam a evolução política, social e econômica de uma nação. Por muito tempo a história privilegiou as ações de uma determinada elite, o que restringia a história a ser contada. Ou seja: grande parte da nossa herança na idade antiga e média, por exemplo, foi construída por uma aristocracia, mas que

alguns anos atrás é resgatada por documentos e vestígios deixados por um povo.

Após a Revolução Francesa, foram criadas prerrogativas para os bens dotados de valor histórico e cultural, assim como surgem as políticas preservacionistas e legislações específicas. Nesse momento o povo começou a ter uma pequena participação em definir o que seria esse patrimônio. Com o final da 2ª Guerra Mundial, inicia-se o pensamento sobre a diversidade dos povos. Para tal, desenvolve-se a noção de imaterialidade, em que não fazia mais sentido preservar a memória de um povo apenas pelos monumentos históricos, mas também por seu cotidiano e modo de vida. Em 1972, com a

Conferência Geral da UNESCO é reconhecido a diversidade e o patrimônio da humanidade, que engloba monumentos, obras humanas, grupos de construções, formações geológicas e sítios naturais.

No caso do Brasil, o grande escritor Mario de Andrade contribui para um melhor entendimento do patrimônio nacional. Em 1930, o escritor pesquisava o cotidiano do brasileiro, e acreditava que o patrimônio não era apenas a arquitetura popular, sambaquis, jazidas funerárias ou mocambos. Eram também lendas, vocabulários, a medicina e a culinária indígena, os contos, ou seja, as manifestações culturais do povo. Entretanto, essas questões não foram anexadas às políticas de preservação da época. Com o final da ditadura militar veio à democratização do país, em que finalmente o Brasil começou a revisar o campo de preservação de bens culturais, como também a superar as limitações de conservar apenas um patrimônio elitista.

Diante dessa realidade o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional) tem se esforçado para que existam políticas públicas que salvaguardem todo o patrimônio nacional

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brasileiro, com o tombamento de bens materiais e o registro de bens imateriais. Mais que isso, os museus de algumas regiões têm tentado resgatar, a partir dos seus acervos, o patrimônio dessa memória coletiva.

Desse modo, fica claro que nem sempre essas instituições passam a real idéia dessa identidade, mesmo por que os bens intangíveis, como é o caso do patrimônio imaterial devem ser vivenciados ao vivo. Com as variadas representações do patrimônio, percebemos a riqueza da herança dos povos e entendemos que é necessário que exista uma preservação desse patrimônio para que a nação tenha sua

história contada por essa identidade nacional.

REFERÊNCIAS

ABREU, Regina & CHAGAS, Mario. Memória e Patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009.

FUNARI, Pedro Paulo & PELEGRINI, Sandra C. A. Patrimônio Histórico Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006.

Le GOFF, Jacques. Memória. In: História e Memória. Campinas: Editora da Unicamp, 2003, p. 419-476.

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PELEGRINI, Sandra C. A. Historicidades locais: interfaces entre as políticas públicas de preservação do patrimônio imaterial e da cultura material. In: História, Memória e Patrimônio. Maringá: Eduem, 2009, p. 77-88.

PELEGRINI, Sandra C. A. Patrimônio Cultural: consciência e preservação. São Paulo: Editora Brasiliense, 2009.

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Falar em estereótipo é falar em imagem. Cada conceituação estereotipada, seja ela de um extrato social, de um hábito cultural ou de um perfil individual ou coletivo, nada mais é do que uma atribuição caricata de uma imagem a um indivíduo ou grupo social. Pereira et al.(2002 p.389-390), conversando com e sobre diversos entendimentos a respeito de estereótipos, revela em um desses entendimentos o fator imagem que prevalece na definição desse conceito. Nesse sentido, estereótipos são “[...] fotografias na cabeça de um percebedor [...]”; imagens definidas por aquele que entra em contato com a alteridade; construções simbólicas ligadas à categorização e à explicitação da diferença.

Tendo-se em mente a relação entre o diferente e o estereótipo, pode-se notar, em diversas áreas da vida, o impacto social que essas imagens causam na relação entre ”comunidades” distintas. Negros, homossexuais, estrangeiros, nordestinos, loiras e muitos outros grupos com características que destoam das características dominantes se tornam alvo de discriminação e preconceito. Esta grade de classificações faz com que o diferente se torne inspiração para “o racismo e o classismo no humor” identificado por Canclini (1995, p.106) e, além disso, abre portas para reais interações desiguais e desumanas na convivência multicultural dos indivíduos de certo local. Mas não se trata apenas disso,

[...] os estereótipos, uma vez formados,

comporão o conjunto de visões que um determinado grupo tem de sua realidade, assim como possivelmente influenciarão comportamentos e atitudes, o que pode interferir positiva ou negativamente na visão interna e na externa, ou seja, daqueles que não integram aquela comunidade. (WALTER & BAPTISTA, 2007, p.28)

Pode-se perceber então que, mais do que apenas gerar e difundir a imagem caricata de um extrato, grupo social ou indivíduo diante do “outro”, o estereótipo possui a capacidade de construir e de modificar o comportamento do próprio alvo desta caricatura. Canclini (1995, p.108), por exemplo, ao analisar a “ressonância de muitos comediantes que ridicularizam estereótipos populares” no México, percebeu que, ao invés de se posicionarem contra o consumo deste humor, os ofendidos apresentavam tendências autodepreciativas, gerando uma cumplicidade dos “subalternos” na reprodução de desigualdades.

Dentre os diferentes grupos que são alvos dessas estereotipificações, levando-se em consideração nosso interesse pela área de atuação e estudo em destaque, um se destaca: os bibliotecários.

Neste contorno, entender o bibliotecário e sua relação com as classificações e caracterizações estereotipadas da profissão é importante para o futuro deste profissional já que

ESTEREÓTIPO:O BIBLIOTECÁRIO E A BATGIRL

Jônathas Camacho

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VARIEDADES

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o estereótipo negativo dos bibliotecários atrapalha o recrutamento para a profissão; diminue o respeito que os grupos de usuários e de administradores manifestam pelos bibliotecários; inibem iniciativas individuais ou de grupos; e, por fim, atrasam o avanço da profissão. (MORRISEY; CASE apud WALTER; BAPTISTA, 2007, p.30),

A imagem comportamental e profissional do bibliotecário tem sido alvo, no passar dos anos, de caracterizações errôneas e exageradas sobre seu ofício. Fonseca (2007, p.94-97), ao analisar tal imagem, discorre sobre este antigo mal recorrendo à pintura e à literatura universais. Como exemplo, o professor emérito da Universidade de Brasília cita o óleo Il bibliotecário do pintor italiano Giuseppe Arcimboldo (c.1527-1593). Nas palavras de Fonseca (2007, p.95), tal pintura “é a representação artística do bibliotecário t r a d i c i o n a l m e n t e afundado entre os livros, com lupas apropriadas ao exame de textos paleográficos, sem nenhum apreço pelo usuário”. Na literatura, Fonseca cita como exemplos de imagem desfavorável do bibliotecário os poemas Bibliothèques, de Victor Hugo (1802-1885), e Les assis [Os sentados] de Jean-Arthur Rimbaud. Para ele, tais poemas são “terríveis objurgatórias contra os bibliotecários, escritas por dois dos maiores poetas de todos os tempos e em qualquer língua”.

Assim como Edson Nery da Fonseca (2007) analisou, a partir da expressiva literatura e das artes plásticas, o perfil estereotipado do profissional de biblioteconomia, julga-se pertinente se interpretar tal estereótipo também no âmbito das histórias em quadrinhos. Já que, como salientaram Walter e Baptista (2007, p.28), “televisões, filmes, livros e outros veículos de comunicação contribuem

para esse fenômeno de estereótipos [...] de forma a conseguir atrair a atenção das pessoas para os aspectos que se deseja ressaltar”, torna-se possível afirmar que as HQs, dentro de seus limites de alcance, partilham deste potencial de compartilhar identidades e atribuir imagens verossímeis a elas. Neste caso, será analisada de forma sucinta a personagem fictícia Bárbara Gordon,

bibliotecária que se tornou uma das primeiras “batgirls” das histórias do homem-morcego.

A bibliotecária Bárbara Gordon, filha do comissário da polícia de Gothan City James Gordon, estreou nos quadrinhos da DC Comics em 1967. Bárbara era uma mulher comum, tímida e conservadora como toda bibliotecária deveria ser. Dotada de uma grande inteligência e de uma memória fotográfica além do normal, Bárbara Gordon possuía um vasto conhecimento sobre computadores e eletrônicos e não era vista sem seus óculos de grau e seus “coques”. No começo

Figura 1 - Il bibliotecário de Giuseppe Arcimboldo (c.1527-1593)

Fonte: http://www.dillinger.it/il-bibliotecario-28396.html

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da saga da senhorita Gordon como batgirl, sua personagem nada mais era do que uma versão alegre e feminina do Batman, porém, depois de receber sua própria tira na DC Comics, Bárbara torna-se uma mulher mais confiante e moderna que passa a ser chamada carinhosamente por seus amigos de “Babs”. Já sem os coques e os óculos, Bárbara Gordon agora é uma mulher de vários namorados e aventuras, e suas histórias renderam à DC Comics muitos fãs pelo mundo

inteiro. Partindo deste pequeno histórico da personagem em questão é possível listar algumas características que estão eventualmente presentes na formação do estereótipo do bibliotecário.

A primeira e talvez principal destas características estereotipadas é o fato de que Bárbara Gordon é uma mulher! Há um senso comum muito marcante em se relacionar a profissão de bibliotecário a uma atividade essencialmente

exercida por mulheres. Nas

palavras de Walter e Baptista (2007, p.32) “isso redunda na agregação de outros estereótipos, que têm mais relação com o sexo feminino”. A partir desta compreensão torna-se normal a associação do trabalho de bibliotecário aos estereótipos do trabalho feminino. Das mulheres, por exemplo, se espera atividades mais delicadas e suaves; há uma histórica e social relação incoerente entre mulher e serviço doméstico e todos esses clichês sociais acabam

Figura 2 - Quadrinho de estréia da batgirl Bárbara Gordon. DC#359 (1967)

Fonte: http://thewastebasket.blogspot.com/2006_06_01_archive.html

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de certa forma, agregando-se à atividade do bibliotecário. Homens que trabalham ou estudam sobre esta área de atuação, por exemplo, muitas vezes são confundidos com homossexuais e tal associação a uma imagem afeminada da profissão traz restrições e receios a muitos deles.

Outra característica estereotipada da personagem em relação ao bibliotecário é o conservadorismo. Bárbara Gordon é uma mulher conservadora! Suas roupas comportadas, seus trejeitos tímidos, seus óculos de intelectual e seus coques no cabelo apresentam aos fãs de Batman o estereotipado modo bibliotecário de ser. A visão aventureira de ser um bibliotecário, um “desbravador da informação”, esbarra no

estereótipo de boa moça sem graça que é atribuído à personagem. No quadrinho abaixo, por exemplo, o choque entre a diferença, entre o que Bárbara Gordon é antes de se vestir como Batgirl e o que ela é depois de se vestir como tal demonstra o abismo que há entre a acanhada bibliotecária e a intrépida heroína.

Um ponto importante na personagem deve ser abordado e levado em consideração: Diferentemente do apregoado a partir dos estereótipos de bibliotecário, Bárbara Gordon é uma profissional da informação que possui um vasto conhecimento em ciência e tecnologia. Normalmente, a imagem que se tem do bibliotecário é de um personagem cômico que vive grudado em fichas catalográficas e morre de aversão por tecnologias e afins; um profissional passivo que exala cheiro de mofo e pó. Neste sentido, a personagem rompe com o modelo ultrapassado do bibliotecário “deformado pelos processos técnicos” (FONSECA, p.95, 2008) e aponta para a realidade virtual e tecnológica em que o bibliotecário de hoje está inserido. Em síntese, Bárbara Gordon, ao mesmo tempo em que nos revela traços comumente relacionados

ao bibliotecário, traz em si características que evidenciam o cunho tecnológico e moderno desta profissão que ainda precisa, nas palavras de Walter e Baptista (2007, p.37), “explicitar seu valor para a sociedade”.

Muitas outras características estereotipadas são relacionadas ao profissional da área de biblioteconomia, porém, mais importante do que listá-las é perceber como tal estereótipo está impregnado no imaginário do povo. Imagens, filmes, livros e histórias em quadrinhos são apenas espelhos de uma percepção enviesada que tem sido difundida como real para muitos. A identidade do bibliotecário precisa ser afirmada e exposta como realmente é e isso é um entrave

que estudantes, profissionais e admiradores da área devem superar juntos.

REFERÊCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BÁRBARA GORDON. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2010. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=B%C3%A1rbara_Gordon&oldid=21215179>. Acesso em: 28 ago. 2010.

CANCLINI, Nestor García. Consumidores e cidadãos: conflitos multiculturais da globalização. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1995.

FONSECA, Edson Nery da. Introdução à Biblioteconomia. 2. ed. Brasília: Briquet de Lemos Livros, 2007.

PEREIRA, Marcos Emanoel et al. Imagens e significado e o processamento dos estereótipos. Estudos de Psicologia, v. 7, n. 2, p. 389-397, 2002.

WALTER, Maria Tereza Machado T.; BAPTISTA, Sofia Galvão. A força dos estereótipos na construção da imagem profissional dos bibliotecários. Informação e Sociedade, João Pessoa, v.17, n.13, p.27-38, set./dez. 2007.

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Fonte: http://bibliocomics.blogspot.com/

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Fonte: http://bibliocomics.blogspot.com/

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Você conseguirá ler seus documentos daqui há 20 anos? Todos os dias, milhares de usuários de computador como você editam textos, planilhas, tiram fotos e gravam vídeos. Imagine se você não mais conseguisse abrir suas cartas pessoais, ou abrir aquele album de fotos de sua lua de mel? E se você não conseguisse trocar esses arquivos com seus amigos porque o aplicativo usado por cada um de vocês não consegue se comunicar com o outro? No sentido de lutar por um formato de arquivo digital que seja aberto, foi criado o dia da liberdade dos documentos, a ultima quarta-feira de março.

Liberdade dos Documentos significa criar, trocar e preservar seus documentos eletrônicos sem ter de comprar software de um determinado fornecedor. Segundo Georg Greve presidente da Free Software Foundation Europe “O aprisionamento tecnológico dos dados e o subseqüente aprisionamento tecnológico de clientes por parte de fornecedores são alguns dos mais graves problemas que os usuários estão enfrentando hoje”.

O Dia da Liberdade dos Documentos (DFD, Document Freedom Day) é um dia internacional para Libertação de Documentos com ações de base no sentido de promover Formatos de Documento Livres e Padrões Abertos em geral. O DFD foi iniciado e é apoiado por um grupo de organizações e empresas, incluindo, mas não limitado a, a Free Software Foundation Europe, ODF Alliance, OpenForum Europa, IBM, Red Hat e Sun Microsystems, Inc.

O Dia da Liberdade dos Documentos serve para ajudá-lo a ser dono dos seus dados. Você não deve estar amarrado a um aplicativo em particular para poder viver no mundo digital, e você também não deve estar preso a nenhum aplicativo para poder interagir com o seu governo, escola, ou quem quer que seja.

Os objetivos principais do dia da liberdade dos documentos são:

• Promoção livres e adoção de Formatos de Documentos abertos (como por exemplo o formato “ODF” ).

O DIA DA L I B E R D A D E DOS DOCUMENTOS

Carlos Tiago Goulart Farias Victório

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• Formação de uma Rede global

• Coordenação das atividades que acontecem na ultima Quarta-feira de março, para discutir e divulgar a importancia da liberdade dos documentos.

O qUE é O OPEN DOCUMENT FORMAT OU “ODF” ?

Open Document format - ODF (em português Formato de Documento aberto), forma abreviada de OASIS Open Document Format for Office Applications, é um formato

de arquivo usado para armazenamento e troca de documentos de escritório, como textos, planilhas, bases de dados, desenhos e apresentações. Este formato foi desenvolvido pelo consórcio OASIS e baseia-se na linguagem XML. O ODF é um formato aberto e público e foi aprovado como norma ISO/IEC em 8 de Maio de 2006 (ISO/IEC 26300).O ODF foi o primeiro formato de documentos editáveis de escritório a ser aprovado por uma instituição de normalização independente.

O formato ODF foi desenvolvido por uma grande variedade de organizações, sendo possível aceder livremente às respectivas especificações. Isto significa que o ODF pode ser implementado

em qualquer sistema, seja ele de código aberto ou não, sem ser necessário efetuar qualquer tipo de pagamento ou estar sujeito a uma licença de uso restrito. O ODF constitui-se como uma

alternativa aos formatos de documentação que são propriedade de empresas privadas, sujeitos a licença de uso restrito ou onerosas, permitindo a organizações e indivíduos escolherem o software que mais lhes convém para lidar com os arquivos guardados neste formato. O formato é independente de plataforma e fornecedor tornando-o adequado para a armazenagem de documentos a longo prazo.

Fontes :

http://www.blogdoclaitom.blogspot.com/

Acessado em 31/03/2011

http://pt.wikipedia.org/wiki/Dia_da_Liberdade_dos_Documentos

Acessado em 31/03/2011

http://documentfreedom.org/2011/about.pt.html

Acessado em 31/03/2011

http://listas.ibict.br/pipermail/bib_virtual/2008-February/004119.html

Acessado em 31/03/2011

“Liberdade dos Documentos significa criar, trocar e preservar seus documentos eletrônicos sem ter de comprar software de um determinado fornecedor. ”

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Paisagens des-naturadasMatias Monteiro1

“Podemos recorrer ao conceito de paisagem tal como proposto por Karina S. Dias: uma configuração territorial que é abarcada pela visão e por aquilo que dela escapa (invisão); não se trata, portanto, de uma visão panorâmica, vedutista, asseguradora e totalizante, mas de um “aproximar para habitar”, uma aproximação que produz laço. Sendo assim, a paisagem não constituiria apenas um modelo de “representação quase sempre idealizada da natureza”2, seria antes uma forma de perceber e se relacionar com determinado território. Estamos, portanto, autorizados a pensar a paisagem não apenas como vastas extensões topográficas, mas como determinadas configurações espaciais que aprofundam-se em nosso olhar. A paisagem é, acima de tudo, uma exigência do olhar.”3

1 Aluno do 4º semestre do curso de bacharelado em museologia2 DIAS, Karina S. In Visu, In Situ. Universidade de Brasília, Brasília: 2000. P. 24.3 (trecho de FERREIRA, Matias Monteiro. Aqui Ninguém me vê... exercícios de ocultamento e omissão. In: ORTHOF,Gê, DIAS, Karina S. Moradas do íntimo. Brasília [no prelo]) www.omeninodorme.blogspot.com A

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Lua. Escultura.

Pinhas, pigmento negro, pregos e linha de costura. 2010.

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A longa espera. Instalação. Tacos de madeira e plantas. 2010.

Auto-paisagem (como casa). Instalação. Peças do jogo pequeno engenheiro sobre parede. 2006.

Bosque. Instalação. 12 árvores de natal. 2009.

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Outonal (detalhes). Intervenção urbana. Folhas de tecido (branco, marrom, verde, lilás) sob árvores. Parque da Cidade- Brasília. 2009..

ARTES E LETRAS

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Zootropia. Assemblage. Maleta, placa de acrílico, dinossauros de plástico. 2009.

Som de estrelas sobre águas internacionais. Escultura. Luzes de natal, tigela de louça, água. 2006.

ARTES E LETRAS

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ARTES E LETRAS

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Um céu que lhe convém (detalhe). Espuma sintética, linha decostura, 7 agulhas, adesivo, duas luminárias. 2008.

Um céu que lhe convém (detalhe). Espuma sintética, linha decostura, 7 agulhas, adesivo, duas luminárias. 2008.

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MUSEOLOGIAUniversidade de Brasília

Breve relato acerca dos dois primeiros anos do curso de Bacharelado em Museologia da Universidade de Brasília.

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2/ 2009

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PRIMEIRAS TURMAS DO CURSO DE MUSEOLOGIA D A UNIVERSDADE DE BRASÍLIA - UnB

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do Projeto a realidade

Inaugurado no 2º semestre de 2009, o curso de Bacharelado em Museologia vive o paradoxo de ser um dos mais recentes e, ao mesmo tempo, um dos mais antigos cursos da Universidade de Brasília. Se o curso em breve completará dois anos desde o ingresso de sua primeira turma de calouros (2º semestre de 2009), o projeto de implementação de um curso superior para profissionais de museus remonta ao programa do Curso Básico para Pessoal Científico de Museus de História e Arte, proposto pela professora Lygia Martins Costas a pedido de Darcy Ribeiro em 1964. Este programa, jamais implementado, era bastante eclético e já demonstrava o caráter interdisciplinar da formação na área.

Entre a primeira proposta e os inícios da atividades do curso, transcorreram-se quarenta e cinco anos. Nas últimas duas décadas, em diversas oportunidades, a hoje Faculdade de Ciência da Informação vislumbrou a possibilidade de criação de um curso superior em Museologia, integrado a proposta pedagógica dos já existentes cursos de Biblioteconomia e Arquivologia. Esse desejo consolidou-se com uma solicitação do então Departamento de Museus do Instituto

do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Demu/Iphan) da criação de um curso voltado a área.

Após grande debate entre docentes e colaboradores da área, a UnB lançou a proposta de um curso inovador, oferecido não por uma, mas pela parceria de quatro unidades acadêmicas (Faculdade de Ciências da Informação, Departamento de História do Instituto de Ciências Humanas, Departamento de Artes Visuais do Instituto de Artes, Departamento de Antropologia do Instituto de Ciências Sociais) a partir de um termo de compromisso. O curso versaria sobre os diversos aspectos da área a partir dos seguintes eixos integradores: Teoria e Prática Museológica, Museologia e Informação, Museologia e Patrimônio Cultural, Preservação e Conservação de Bens Culturais.

Com apoio do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, REUNI, o curso foi oficialmente lançado em 2008 e iniciou suas atividades em 2009, com o ingresso de cerca de 32 alunos que comporiam a primeira turma de Museologia da Universidade de Brasília, hoje, iniciando o quarto semestre do curso.

Docentes, alunos e convidados na cerimônia do lançamento oficial do curso de museologia. Auditório do FCI. 2008. Fonte: http://www.cid.unb.br/

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HISTÓRIA

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inicio das atividades

Com a chegada da primeira turma e o inicio da implementação do curso alguns problemas começaram a surgir. Um grupo considerável de alunos já havia cursado outra graduação (nas áreas de História, Letras, Artes, Arquivologia, dentre outras), e entraves burocráticos restringiam o acesso a diversas disciplinas; O colegiado interino do consórcio demorou a iniciar suas atividades e, não havendo consenso entre as unidades consorciadas, até hoje não foi aprovado o estatuto do curso, o que impede os discentes e docentes de exercerem seu direito de voto no colegiado do curso; Havia dificuldade por parte dos alunos a acessarem alguns documentos básicos, como fluxo e ementa das disciplinas; Foram localizados problemas nas disciplinas optativas do curso, muitas das quais já não eram ofertadas ou eram restritas; Dificuldades de comunicação entre alunos e coordenação do curso criavam uma atmosfera de incerteza e insegurança quanto a estrutura do curso, etc. Com isso, muitos alunos, desmotivados com a falta de perspectiva, abandonaram o curso antes do primeiro semestre de atividades. Para posicionarem-se de uma forma mais organizada, os alunos da primeira turma fundaram o Centro Acadêmico de Museologia – CAMU- em 14 de setembro de 2009. A partir da criação da representação discente, os alunos de museologia começaram a atuar nas mais diversas esferas da vida acadêmica (reuniões de colegiado e com demais instâncias e representações discentes da Universidade, participação nos Jogos Universitários e Calourada, renvindicações junto

a coordenação, chefia e decanato de graduação, etc.). Foi também a partir da mobilização estudantil que os alunos de Museologia da UnB conseguiram participar de eventos nacionais e internacionais da área.

Para sanar a dificuldade de acesso a estrutura formal e plano pedagógico do curso, o Centro Acadêmico propôs a confecção de um material que reunia os dados obtidos a ser disponibilizado aos alunos. A proposta encontrou grande apoio da coordenação do curso e chefia da faculdade (que tinha planos de lançar um caderno específico sobre cada curso de graduação na área de ciência da informação), de forma que estabeleceu-se uma parceria que resultou no Manual do Curso de Bacharelado em Museologia.

Em 2010 tiveram início as atividades do segundo curso de bacharelado em Museologia do Centro-Oeste na Universidade Federal de Goiás –UFG. Para marcar a parceria entre os dois cursos, uma professora e um representante discente estiveram presentes na solenidade de abertura do curso. Essa experiência deu mais peso a reivindicação discente da

realização de uma aula magna para marcar o início das atividades do curso. A coordenação e os docentes entusiasmaram-se com a proposta e, hoje, a Aula Magna da Museologia, seguida por Ciclos de Palestras temáticas na área, são eventos semestrais integradas ao calendário de atividades pedagógicas do curso. A cada início de período letivo um profissional de reconhecida atuação na área é convidado a realizar uma fala direcionada aos alunos do curso. Essa fala marca a abertura de um ciclo de palestras com temas relevantes para a atuação profissional do museólogo. Já participaram do evento: Mario Chagas, Teresa Sheiner, Maria Célia Santos, dentre outros profissionais da área de conservação e gestão de riscos, Historiadores, Pesquisadores de arte, educadores, representantes do Ibram, Iphan, ICOM e da Rede de Educadores em Museus, bem como representates de instituições museológicas da UnB e do GDF. O tema, “Museologia e Educação” tema do ciclo do 2º Semestre de 2010 foi sugestão dos discentes, enquanto o tema da próximo ciclo (“Museologia, Memória e Patrimônio”) é uma proposta docente.

Visita da primeira turma de Museologia da Universidade de Brasília a Biblioteca Aluísio Magalhães/ IPHAN. 2009.

Fonte: http://biblioam.wordpress.com/tag/visita/

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consolidação do curso

Hoje o quadro de professores da museologia conta com de 13 docentes (lotados nas unidades acadêmicas segundo a seguinte proporção: 9 docentes na Ciência da Informação [biblioteconomia, arquivologia e museologia], 3 na História, 2 na Antropologia e 1 nas Artes Visuais). A entrada de novos docentes ao curso deu um novo ritmo ao curso; hoje existem diversos projetos de parcerias, grupos de pesquisa, publicações e cursos de extensão na área. No entanto, o curso ainda sofre com a falta de espaço físico adequado para a realização de algumas atividades práticas. A proposta do curso previa a criação de quatro laboratórios:

• Laboratório de Multimídias e Espaços Virtuais (LEV)

• Laboratório de Museologia e Reserva Técnica (LART)

• Laboratório de Museografia e Exposição Curricular (LAMEC)

• Laboratório de Conservação e Restauro (LACON)

Sem as condições adequadas de realização das atividades práticas previstas no curso, muitas vezes os docentes tem que recorrer a simulações em ambientes inadequados ou apontar casos e medidas de ação hipotéticos, o que está longe de atender a excelência na formação técnica da área. Nesse sentido é crucial a ampliação dos espaços físicos e adequação as atividades pedagógicas do curso.

Em eventuais pesquisas de campo, atividades educativas e estágios, os alunos deparam-se com a total falta de uma política coerente para a área de cultura no Distrito Federal. O descaso e desinteresse de diversas gestões do Governo do Distrito Federal deixou grande parte das instituições e equipamentos museológicos locais sucateados, em situação insustentável de funcionamento ou, simplesmente, abandonados. Sensibilizados por essa situação, os alunos da Museologia da UnB buscaram apoio docente para capacitar e colaborar com a organização de espaços museológicos da cidade na forma de mutirões de trabalho. No entanto, problemas de comunicação com a Diretoria de Gestão do Patrimônio Histórico,

Aula Magna do curso de Bacharelado em Museologia da Universidade Federal de Goiás. 2010. A professora Silmara Küster e o aluno Matias Monteiro representaram o curso de Museologia da UnB no evento. Fonte: Arquivo CAM

Logo oficial do Centro Acadêmico de Museologia /inscrições parietais da Pedra Do Bisnal- Formosa-GO. 2009. Fonte: Arquivo CAMU.

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futuro que anteciPamos

O curso de Museologia da Universidade de Brasília nasceu como uma demanda local, e como tal, tem contado com inúmeros e valorosos auxílios em sua construção. Durante esse primeiro período de atividade, os alunos encontraram diversos cursos, encontros e palestras locais, que, somados as atividades pedagógicas realizadas pelo curso, tem contribuído para uma formação de qualidade aos alunos. O entusiasmo dos docentes e coordenação é um fator positivo para a realização de mudanças estruturais e parcerias duradouras ao curso, bem como a melhor inserção dos futuros profissionais ao mercado de trabalho.

O corpo discente é otimista, e esperamos que com três anos de atuação do curso possamos estar comemorando novas vitórias como:

- O início da construção de edificação apropriada para as atividades do curso.

• A aprovação de um estatuto do curso que acolha o voto dos discentes e docentes do curso.

• O lançamento de publicação específica na área de museologia.

• Maior integração entre o curso de museologia e os espaços museológicos da UnB.

• Melhoria na administração e gestão dos equipamentos museais e patrimônio local.

• Revisão das disciplinas optativas.

• Realização dos primeiros cursos de extensão na área.

• Criação de Empresa Júnior na área.

• Participação mais efetiva do curso em eventos locais e nacionais.

BEM vINDOS CALOUROS DO 1º DE 2011!

vOCêS TAMBéM FAzEM PARTE DESSA HISTóRIA!

HISTÓRIA

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Dante comemora com a filha ingresso no curso de Bacharelado em Museologia da UnB aos 65 anos.Foto: Luiz Filipe Barcelos/UnB Agência. 2010.C

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Dante comemora com a filha ingresso no curso de Bacharelado em Museologia da UnB aos 65 anos.Foto: Luiz Filipe Barcelos/UnB Agência. 2010.

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porque eu queria realizar meu sonho. A cada vestibular que eu não passava reunia esforços para seguir estudando para o próximo. E assim foi até que no primeiro vestibular de 2010 eu tive uma de minhas maiores alegrias: minha aprovação no vestibular! Meu coração não cabia em mim de tanta alegria. Ria, chorava, gritava, agradecia a Deus, eram tantas emoções simultâneas...

Recebi o cumprimento pela minha aprovação pela internet de vários amigos e conhecidos. No dia que saiu o resultado estava em viagem a Barra Mansa – RJ. Liguei para meus pais, irmãs, todos ficaram felizes pela minha conquista. As pessoas que me conheciam sabiam que nada me satisfaria que não fosse passar no vestibular para esse curso.

Quando retornei a Brasília, dias depois, fiz meu registro no posto avançado da SAA. Estava tão ansioso que cheguei muitas horas antes de o posto abrir para atendimento. Fiz o registro, de lá segui para a BCE onde me cadastrei e tirei a foto para carteirinha estudantil. A foto reflete bem o momento de êxtase em que me encontrava.

Logo chegou o período de matrícula. Tudo pra mim era novidade. Temia que pudesse fazer algo errado, por isso antes de efetuar a matrícula vim conversar com a Coordenadora do curso que me orientou e esclareceu-me algumas dúvidas.

Fiz contato com os demais colegas de classe pela internet, em redes sociais, combinei alguns passeios afim de nos conhecermos e nos confraternizarmos antes do início das aulas. Isso ajudou no convívio dos primeiros dias na rotina pelos corredores da UnB, afinal, era uma forma de romper timidez e conquistar novas amizades. Tudo pra mim era novidade.

Por conta de tudo o que já expus, e por outras razões, tenho um amor incondicional

ARQUIVOLOGIA:A ESCOLHA CERTA

José Mauro Gouveia de Medeiros1

1 Aluno do 3º semestre – UnB, mat.10/0032541, [email protected]

Fazer escolhas que podem mudar o rumo de toda a vida não é nada fácil. Assim acontece também no vestibular, onde as pessoas se veem obrigadas a optarem por uma escolha profissional, com a qual em muitos casos não se tem contato direto. Hoje em dia a multiplicidade dos meios de comunicação, principalmente com o advento da internet, facilitou o conhecimento – mesmo que superficial – das muitas opções profissionais existentes.

No meu caso, em meados da década de 2000, superados algumas adversidades pessoais, resolvi retomar os estudos. Embora tivesse muitas ideias não tinha nenhuma certeza sobre qual rumo tomar. Um dos instrumentos que me esclareceu muitas dúvidas foi o Guia do Estudante, onde pude ter uma noção de como eram as profissões, o mercado de trabalho, remuneração, entre outros aspectos.

Assim, pode-se dizer, tive meu primeiro contato com a profissão de arquivista. Dessa forma a descobri. Foi paixão à primeira vista! Nada me causava tamanha identificação, afinidade, senão o curso de Arquivologia. Fiquei maravilhado com o leque de oportunidades que a profissão oferece e me identifiquei com a descrição feita pela publicação. Posteriormente pesquisei na internet para ter uma conhecimento maior acerca daquela profissão que tanto me chamou a atenção. Desse modo tomei a decisão que queria fazer o curso de Arquivologia na Universidade de Brasília.

Muitas dificuldades se colocaram em minha frente. Com determinação e esforço consegui superar os obstáculos. Prestei vários vestibulares, fiz cursinho pré-vestibular, estudava em casa, tudo

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pelo curso. Sei que não poderia ter feito melhor escolha profissional, afinal, a Arquivologia me propicia uma realização que dificilmente outro curso me ofereceria.

Vim na aula de boas vindas, onde pude conhecer os professores que me dariam aula ao longo de minha formação. Lembro que me chamou a atenção o depoimento da professora Angélica, quando ela falou de sua paixão pela profissão, e da dedicação que teve para ser uma profissional tão dedicada. Naquele momento vi alguém que de certa forma refletia todos os meus anseios. Até conversei com ela, e a disse o quanto desejo me espelhar em sua trajetória.

O semestre começou. Tive o privilégio de conviver com excelentes professores. Pude entender melhor como era a rotina dentro da Universidade, dando-me, assim, noção até mesmo para planejar meu tempo e dividi-lo na rotina entre meu trabalho e os estudos, com provas, leituras e trabalhos.

Introdução à Arquivologia foi sem dúvida a matéria que mais gostei. Não era pra menos, esse foi o primeiro contato com o universo arquivístico. A ministração das aulas da professora Kátia Isabelli, sua bagagem, os textos que nos indicava para leitura, entre outros fatores foram marcantes. Participando com um grupo de colegas fiz um trabalho sobre o mercado de trabalho arquivístico na iniciativa privada, ocasião em que fizemos pesquisas em empresas, entrevistas com profissionais, estudantes, propiciando uma nova visão não muito explorada no meio acadêmico.

Certa vez conversei com a professora

Kátia e contei-lhe de meu interesse em colaborar com seus trabalhos e pesquisas. Resultado: atualmente, junto com minhas colegas Nathaly Rodrigues e Luiza Lima, estamos participando de um Plano de Atividade Complementar – PAC – denominado “Mapa dos espaços de trabalho dos discentes do curso de Arquivologia: os diálogos entre a teoria e a prática” com a professora, o que muito me enche de orgulho pelo incentivo que esse trabalho me propicia e pela confiança depositada. Participo de todas as fases desse projeto que está em andamento e tenho certeza que o resultado será muito interessante.

Ainda como calouro participei do Encontro Nacional dos Estudantes de Arquivologia - Enearq, em julho último, na UFF, em Niterói-RJ. Na verdade eu pensava que a abordagem das palestras e da programação em si do evento fosse voltada para os alunos veteranos, com boa bagagem acadêmica. Apesar desse pensamento tinha interesse em ir.

Fui, e já na ida conheci outros estudantes veteranos com os quais fui me aproximando e curioso como sou, quis conhecer um pouco da trajetória universitária de alguns, o que criou vínculo de amizade.

Sobre o evento em propriamente dito, por ser minha primeira vez num Enearq, gostei muito. Claro que houveram contratempos e críticas quanto à organização, ouvia comentários que o evento tinha o nível ruim porque era feito para estudantes e por estudantes, que eventos voltados para profissionais eram melhor organizados.

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De fato os organizadores pecaram em alguns pontos: as palestras começam atrasadas, em uma mesa redonda os convidados não apareceram e não deram satisfação aos que estavam aguardando. O que mais frustrou os interessados foi o fato de não ter acesso às dependências do Arquivo Nacional.

Ainda assim faço um balanço positivo, afinal os organizadores tentaram fazer com que tudo saísse bem, o que não deu certo não dependia diretamente do esforço deles.

Gostei de todas as palestras que assisti, tanto a de estudantes quanto a de profissionais.

Nas palestras dos estudantes (da Unesp – Marília e UEPB) reparei uma coisa: todos, sem exceção, voltavam suas atividades extracurriculares não para estágios mas sim para a pesquisa! E isso me motivou de tal forma que quero seguir esse caminho e amadurecer a idéia de fazer pesquisas e até mesmo minha monografia, a qual ainda não tenho um tema em mente. Esses estudantes de SP e PB são muito dedicados ao curso e as pesquisas que fazem ajuda-os a entender melhor as carências de nosso curso que em determinados estados não tem tanta visibilidade e retorno financeiro, buscando outras maneiras de difundi-lo. No caso da Unesp os estudantes criaram uma empresa júnior, EGID-Jr, que atua sem fins lucrativos, oferecendo serviços de consultoria e organização de arquivos nas empresas, toda renda é voltada para a própria empresa júnior, para desenvolver pesquisa e melhorar sua estrutura. Isso não é fantástico?!

As palestras dos profissionais que assisti foram: Vladimir Sibyla, da Osklen, “Projeto de Memória Osklen Empresarial!; José Mauro da Conceição Pinto, da Fiocruz, “A classificação de documentos e o Conselho Nacional de Arquivos”; Flávio Leal, Unirio, “Arquivologia: perspectivas que depende dos olhares”; José Maria Jardim, da UFF que falou a respeito da Arquivologia como área de pesquisa.

Todas foram enriquecedoras e do ponto de vista da aprendizagem me ensinaram muito pois trouxeram à tona aspectos que eu não havia parado ainda para analisar. Foram levantados pontos negativos e positivos para que cada pessoa presente refletisse e buscasse sempre melhorar a realidade de atuação do profissional, que em certos casos perece por não encontrar mercado de trabalho fértil e também as dificuldades para elaboração de projetos e pesquisas.

No caso da Osklen, que é uma empresa privada e que tem por objetivo desenvolver seus produtos e vendê-los, ao preço proporcional ao prestígio da empresa, nunca houve interesse em organizar um acervo documental, afinal, não se via isso como necessário, muito menos como um produto que pudesse gerar lucro. Foi então que o Vladimir entrou na empresa para trabalhar em 2006 com esse propósito. Tendo o aval do dono, Oscar, ele levantou o acervo, conseguiu o espaço e montou uma equipe. Juntos criaram o projeto de memória, que reúne acervo documental, fotográfico, iconográfico e serve de referência para os profissionais fazerem pesquisas e influenciar no processo de criação de produtos. Detalhe: esse projeto não é aberto ao público em geral, mas sim aos funcionários e consumidores dos produtos da marca Osklen, que engloba várias empresas e tem sede no Rio.

José Mauro da Conceição Pinto, que de 1996 à 2004 usou a metodologia de Luiz Carlos na classificação dos documentos da Fiocruz abordou a dificuldade na implantação do uso da classificação do CONARQ, visto que possui muitas falhas, com isso deixa algumas lacunas onde buscou-se adaptá-las às normas do CONARQ.

O Flávio Leal conversou a respeito de várias questões, como a visibilidade, o status da profissão, desde seu surgimento no Brasil até os dias atuais. Comentou também a respeito da vocação dos estudantes e das dificuldades para ingresso no mercado de trabalho, a pobreza de literatura técnica e das poucas pesquisas feitas no país. Comentou também sobre o “fazer técnico” que é o investimento que os estudantes e profissionais tem de fazer, ou seja, investimento no conhecimento, participando de eventos como fóruns, encontros, seminários, etc

Sobre as dificuldades na área de pesquisa nos falou o professor José Maria Jardim. Ele nos disse como é a realidade brasileira no campo de pesquisa científica que passa por muitos obstáculos, o que influencia no campo de atuação dos profissionais e de professores, comprometendo assim a qualidade do ensino superior. O investimento na cultura cientifica cria um cenário de expansão na literatura pobre e melhora a qualificação dos docentes.

Voltei do evento entusiasmado e motivei meus colegas de sala a participarem do próximo Enearq que acontecerá em João Pessoa, em julho próximo.

Também consegui muitas referências que

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me ajudarão em meus estudos: livros, filmes, sites, periódicos. Todas indicadas pelos palestrantes.

Observo que muitos estudantes têm interesse maior em fazer estágios remunerados, garantindo assim um fonte de renda. Não vejo isso como prejuízo, mas é importante também ter os olhos voltados para outras oportunidades que poderão contribuir para a formação, como PACs, bolsas de iniciação científica, projetos de extensão, entre outros.

Meu objetivo é poder acolher ao máximo, dentro de meu limite de tempo, as oportunidades oferecidas pela UnB e agregando-as em minha bagagem acadêmica oferecer ao mercado de trabalho no qual estarei inserido um profissional qualificado, em busca constante pelo aperfeiçoamento, motivado e acima de tudo, apaixonado pela profissão.

A oportunidade estou tendo. Quero, portanto, nesse período de graduação poder me dedicar mais às atividades que contribuirão para meu desenvolvimento profissional, cercando-me de pessoas engajadas com a causa arquivística, investir na leitura de artigos e livros, ir a eventos da área, assistir palestras.

Quando se ama algo, faz-se de tudo para estar junto, bem perto, cativando e cuidando. É assim que me relaciono com a Arquivologia, meu amor de profissão!

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Bem vindos à faculdade da ciência da informação que possui os melhores cursos na área da disseminação e armazenamento da informação e do conhecimento no Brasil, onde irão conviver e aprender com a elite intelectual de Brasília na área da ciência da informação e documentação, fortalecendo cada vez mais as bases do conhecimento humano. Procurem participar das atividades proposta pelo departamento e centro acadêmico para mostrar o valor do aluno de nossa faculdade, quebrando aquele preconceito de que nossa futura profissão não seja tão importante em comparação com os cursos mais conhecidos.

Existem várias formas de ingressar na Universidade de Brasília. A mais tradicional delas é o vestibular. Outra é o Programa de Avaliação Seriada (PAS) que reserva, anualmente, 50% das vagas a alunos de ensino médio. Além disso, existe o sistema de cotas para negros, assegurando 20% das vagas em cada curso de graduação. Alunos estrangeiros possuem três formas de acesso: acordo cultural, convênio interinstitucional e

matrícula cortesia.

biblioteconomiaA história da graduação em Biblioteconomia na UnB inicia-se em 1962, ano da fundação do curso. Desde este período até os dias de hoje, o curso tem formado profissionais reconhecidos nacionalmente por sua competência técnica e acadêmica; as reformulações curriculares têm sido constantes com o objetivo de construir um currículo em sintonia com os acontecimentos sociais, políticos, históricos e científicos do país. Além disso, ao longo deste percurso, seu corpo docente buscou capacitação em universidades reconhecidas internacionalmente, fato primordial para um ensino de qualidade.

o curso na unb / estrutura

O estudo da Biblioteconomia é dividido em quatro etapas. A primeira diz respeito a conceitos teóricos de ciência da informação e comunicação. Em outra fase, o aluno aprende noções de gerência, fundamental para a correta administração de fontes de conhecimento. A terceira parte se concentra na técnica especializada, voltada ao trabalho prático dos bibliotecários. É quando os estudantes aprendem a catalogação, a classificação e indexação dos recursos. Em uma última etapa, os professores aprofundam o ensino no aspecto social da Biblioteconomia. Assim, os alunos preparam-se para criar novas formas de acesso a informação e ampliar as já existentes. O curso conta com dois laboratórios de informática para as aulas práticas, com cerca de vinte computadores cada um. Além disso, a coordenação estimula a realização de estágios

complementares. A maioria dos estudantes inicia as atividades do tipo a partir do terceiro

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período, acrescentando informação e conteúdo de uma forma única que só o estágio pode nos proporcionar complementando o curso. A Biblioteconomia pertencia a FACE e agora tem sua própria faculdade a FCI Faculdade de ciência da informação e documentação, integrando o três cursos, biblioteconomia, arquivologia e museologia.

Numero de créditos por semestreO aluno devera cursar o mínimo de 14 créditos e um Maximo de 26 créditos por semestre. No ultimo semestre, o aluno na condição de provável formando poderá cursar um numero maior de créditos parWa concluir o curso não ultrapassando um total de 36.

INFORMAçõES ACADêMICAS

Biblioteconomia

Habilitação: Bacharelado Unidade Acadêmica: Faculdade de ciência da informação e documentação (FCI). Campus: Plano Piloto Turno: Diurno Vagas por semestre: 40 Número de semestres: 6 (mínimo) / 14 (máximo) Recomendado: 8 Veja currículo e fluxo Site: www.fci.unb.br

CONTATOS:

Faculdade de Ciência da Informação (anexo à Biblioteca Central da UnB)Secretaria Administrativa: 3107 - 2608 / 3107 - 2609Secretaria dos Cursos: 3107 – 2634 / 3107 - 2435Site: www.fci.unb.br

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César Roberto

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ARqUIvOLOgIA

HISTóRIA

A origem da arquivística não é conhecida. No entanto, as duas primeiras obras sobre o assunto, de que se tem conhecimento, foram dois manuais de autoria do nobre alemão Jacob von Ramingen. Esses antecessores da ciência arquivística foram impressos em 1571, sob o título “Von Registratur” (O Registrador), e provavelmente foram escritos durante a primeira metade do século XVI, por isto Ramingen pode ser considerado o “pai” (antecessor) desta disciplina, e seus manuais podem ser considerados os responsáveis pelo surgimento de uma tradição arquivística que continuou a existir na Alemanha durante pelo menos mais dois séculos. Em 2010, os manuais de Ramingen foram traduzidos do alemão para o inglês por JBLD Strömberg. Com suas bases modernas fundamentadas na Revolução Francesa, a arquivologia gere a informação que tem por objetivo tornar-se evidência ou prova de que algum evento ocorreu. Também a este campo do conhecimento cabe estudar a informação ligada a processos de trabalho. Ainda hoje há aqueles que confundem as funções e práticas

de bibliotecas, museus e arquivos, visto que essas três instituições se ocupam da guarda, conservação e processamento de documentos para uso futuro ou corrente. No entanto, a natureza do documento e a finalidade de cada instituição diferem e caracterizam cada uma delas, distintamente. Essas três entidades que se ocupam da guarda de documentos podem ser chamadas de órgãos de documentação.

CURSO NA UNB / ESTRUTURA

O curso de graduação em Arquivologia. Nos últimos cinco anos o curso de Arquivologia teve ampliação do quadro docente permanente, o que permitiu aumentar a oferta de disciplinas na graduação, desenvolver e envolver mais aluno e projetos de iniciação científica e atividades complementares, assim como organizar mais eventos, trazendo palestrantes de varias partes do país e do exterior que complementam e enriquecem as atividades acadêmicas já desenvolvidas.Nos primeiros semestres, os estudantes têm uma série de disciplinas introdutórias da Arquivologia e da Administração. É nessa fase que os futuros arquivistas aprendem as diferentes idades dos arquivos corrente,

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informações acadêmicas

Habilitação: Bacharelado Unidade Acadêmica: Faculdade da Ciências da Informação Campus: Plano Piloto Turno: Noturno Vagas por semestre: 40 Número de semestres: 6 (mínimo) / 10 (máximo). Recomendado: 8 Veja currículo e fluxo Site: www.fci.unb.br Telefones: (61) 3307 2422 / 8454

intermediária e permanente. A partir da metade do curso, os alunos passam por matérias que ensinam técnicas de restauração e conservação de documentos e outras que tratam das diferentes tecnologias. No último ano da graduação, os estudantes precisam fazer dois estágios obrigatórios, em arquivos correntes e permanentes. A profissão de arquivista é relativamente nova, mas conta com um mercado em expansão. O arquivista pode trabalhar em instituições públicas ou privadas, centros de documentação, arquivos privados ou públicos, instituições culturais, entre outras.

O arquivista é o responsável pelo gerenciamento da informação, gestão documental, conservação, preservação e disseminação da informação contida nos documentos. Também tem por função a preservação do patrimônio documental de um pessoa, instituição e, em última instância, da sociedade como um todo. Ocupa-se, ainda, da recuperação da informação e da elaboração de instrumentos de pesquisa, observando as três idades dos arquivos: corrente, intermediária e permanente. O arquivista opera na elaboração de projetos, planejamento e implantação de instituições e sistemas arquivísticos; gerenciamento da informação; programação e organização de atividades culturais que envolvam informação documental produzida pelos arquivos públicos e privados.

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MuseologiaOs primeiros museus, chamados “gabinetes de curiosidades”, surgidos entre os séculos XV e XVI, eram um “amontoado” de objetos sem relação entre si, sem nenhuma classificação ou ordenação, que praticamente não transmitiam nenhuma informação. Somente no fim do século XIX que um museu, o Museu de História Natural de Londres, exibiu seus objetos ordenados cientificamente, graças à classificação de Carlos Lineu. Durante o século XX, as técnicas de exposição foram incorporando os avanços da comunicação e da ciência da informação, havendo hoje museus que fazem uso de multimídia. No Brasil, por exemplo, o Museu da Língua Portuguesa usa recursos como projeção de imagens para transmitir a informação sobre o “acervo” (no caso, a própria língua portuguesa).

A museologia hoje trata desde as técnicas de restauração, conservação, acondicionamento e documentação do acervo até a preparação de mostras, exposições e ações culturais. Atualmente o museólogo trabalha com as ciências da comunicação e da computação. A televisão e a informática têm sido incorporadas para transmitir os conteúdos de forma lúdica e eficiente e a manipulação, estudo e catalogação dos objetos passou a ser praticamente uma condição essencial aos museus, assim como a inclusão de tecnologia que durante muito tempo ficou restrita a parques de diversão (trens para percorrer réplicas de minas e cavernas, dinossauros, etc.).No início de 2009, o país passou por uma significativa reestruturação na área museológica com a entrada em vigor do Estatuto de Museus, lei que definiu regras para preservação, conservação e restauração dos acervos. Na mesma época, o governo criou o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), uma autarquia vinculada ao Ministério da Cultura, que deverá coordenar a Política Nacional de Museus. Com a medida, o governo espera aumentar a visitação e a arrecadação, além de fomentar políticas de aquisição e preservação de

acervos. A proposta é também criar instituições em municípios pequenos, favelas, áreas quilombolas e indígenas.

curso na unb / estrutura

O curso de graduação diurno de Bacharelado em Museologia da Universidade de Brasília é oferecido com 169 créditos. Com o propósito de ampliar a flexibilidade e atender interesses e necessidades dos alunos, pelo menos 51 créditos (765 horas) serão compostos por disciplinas optativas. Além desse total estão previstos 24 créditos em Módulo Livre, correspondentes a atividades acadêmicas, científicas, culturais, atividades de extensão e complementares. O bacharelado em Museologia visará o domínio de conteúdos específicos e a preparação do estudante para se tornar um profissional apto a enfrentar com competência e criatividade os desafios com os quais irá se deparar em diferentes espaços e situações de sua atuação museal.

informações acadêmicas

Habilitação: bacharelado Unidades Acadêmicas: Instituto de Artes (IdA), Departamento de História do Instituto de Humanidades (HIS/IH) e Faculdade da ciência da Informação. Campus: Plano Piloto Turno: diurno Vagas por semestre: 30 Número de semestres: 7 (mínimo)/ 10 (máximo). Recomendado: 8 Telefone: (61) 3307 2422 Site: www.fci.unb.br

Referências:www.unb.brwww.fci.unb.br

Fotos:www.diplomáticatipologia.blogspot.comwww.google.com.br/imagensecosapiencia.wordpress.com

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Alejandro Sanchis com a Prof Elmira Simeão, Diretora da FCI e da Prof Maria Antonia, da Universidad Complutense de Madrid. Inauguração do Memorial Darcy Ribeiro - UnB, 06/12/2010.

MI EXPERIÊNCIA EN LA UNIVERDIDADADE DE BRASÍLIA

Alejandro Sanchis Pastor

«Acostumbrado a una ciudad donde

todo se localiza centralizado, como es

Madrid, y con zonas verdes específicas, me

encontré con una metrópolis donde existía

una mayor dispersión, con edificios bajos e

implantada en medio de una sabana. »

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Universidad Complutense de Madrid. Univerdade de Brasília. ICC.

En el presente artículo intentaré dar cuenta de la experiencia que tuve durante el mes de Noviembre de 2010 en la Universidade de Brasília (UnB), y más concretamente en la Facultad de Ciencias de la Información (FCI). También pretendo mostrar aquellas diferencias que considero que existen entre la Universidad Complutense de Madrid (UCM) y la UnB. Mi viaje a Brasilia viene ofrecido por la profesora de la UCM Aurora Cuevas, perteneciente al proyecto ALFINBRASIL, mi estancia tenía como objetivo la colaboración con dicho proyecto, el cual consistía en la implantación de un módulo de alfabetización de la información (o competencias informacionales), principalmente para opositores (o concurseiros), en la Biblioteca Nacional de Brasília (BNB), en un esfuerzo conjunto entre la UnB (como directora la profesora Elmira Simeao), el grupo ALFIN-UCM (con la dirección de la profesora Aurora Cuevas) y la BNB (como director el profesor Antonio Miranda), y financiado por AECID, España. En primer lugar me gustaría mencionar el impacto que causo en mí la propia ciudad de Brasília y su universidad (UnB). Acostumbrado a una ciudad donde todo se localiza centralizado, como es Madrid, y con zonas verdes específicas, me encontré con una metrópolis donde existía una mayor dispersión, con edificios bajos e implantada en medio de una sabana. En la UnB, en comparación con la UCM, no ocurría el mismo caso que con Brasília y Madrid, por el contrario la UnB es un único campus que se divide por facultades y centros donde se reunían todo tipo de personas que ejercían su vida diaria en la zona,

ya fuesen trabajadores, docentes, investigadores o alumnos, para dormir, comer o para labores académicas, ya fuese en la biblioteca o en un centro de investigación. La UCM se encuentra

dispersa en varios campus, y muchas de las facultades que tiene ni siquiera están en ellos, lo cual dificulta el desplazamiento entre las mismas en diversas ocasiones, igual ocurre con los centros de investigación y los lugares de alojamiento para estudiantes, profesores e investigadores. Mas es cierto que los ámbitos para el estudio y el abastecimiento de los alumnos son muy distintos, cada facultad en la UCM dispone de una biblioteca especializada en el área y algunas incluso dos, tres y cuatro bibliotecas (como ocurre con la Facultad de Filosofía y Filología), además de una cafetería propia, de esta manera se cumple con la necesidad de alimento físico y mental de las diversas personas que habitan en ella. Hay dos diferencias entre ambas universidades que fueron los que más me llamaron la atención, por un lado la biblioteca, de lo cual he hablado un poco anteriormente, y el modo de enseñanza. La UnB tiene una única biblioteca para todos los alumnos, en la cual se encuentra reunida toda la información, mientras que la UCM dispone de una red de bibliotecas donde la información se encuentra dispersa, ambos modelos para localizar la información tienen sus pros y sus contras, que en gran medida, según mi criterio, dependen de la disposición geográfica de la propia universidad. En una disposición centralizada, como es el caso de la UnB, considero que una biblioteca como la que tiene le facilita mucho más el trabajo, ya que para solicitar el préstamo de un recurso o varios recursos de una misma o distinta materia, sólo es necesario realizar un desplazamiento de no más de quince minutos. La UCM al encontrarse más dispersa en el espacio ha de ser

conveniente una red de bibliotecas, puesto que en la misma situación anterior sería necesario un desplazamiento a un lugar que puede estar muy alejado para poder adquirir aquello que necesitas,

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perdiendo un tiempo valioso, de tal manera que una red de bibliotecas, teniendo cada biblioteca una especialización en un área, la cual vendría dada por su localización en una facultad, cumpliría en gran medida con las necesidades de información de aquellos que realizan estudios en la facultad donde se encuentra localizada la biblioteca. Aun así nos encontramos con dificultades a mejorar en ambos modelos, un modelo de biblioteca centralizado tiene el inconveniente de disponer demasiada información en la que especializarse, lo cual dificulta la ayuda que se le puede prestar al usuario, y por el otro lado, una red de bibliotecas como la UCM se encontraría demasiado especializada, lo cual impediría la obtención de recursos que no sean competencia de la propia biblioteca, obligando a desplazarse al usuario, una o varias veces, a distintas bibliotecas que pudiesen abastecer su necesidad de información. Teniendo la experiencia de ambos modelos creo que para mejorar ambas bibliotecas sería necesario un modelo mixto, una biblioteca central que pudiese abastecer unas necesidades básicas de información, la cual sería la cabeza de todo un cuerpo de red de bibliotecas especializadas, de esta forma un usuario con una necesidad de información especializada en su área y una necesidad de información en otro área (y al no ser especialista considero que ha se ser de carácter básico), tendría que realizar el siguiente proceso: solicitar el recurso especializado en su área en la biblioteca de la facultad de donde proviene y posteriormente desplazarse a la biblioteca central donde solicitaría aquél o aquellos recursos de distintas áreas que necesitaría, pudiendo quedarse en el último lugar a satisfacer su necesidad de información.La otra diferencia que me llamó la atención fue el modo de enseñanza, considero que un modelo guarda un carácter más práctico-pedagógico e interactivo con los alumnos (este es el caso de

la UnB), y otro más teórico-pedagógico y menos interactivo con los alumnos (este es el caso de la UCM), en definitiva una confrontación entre un modelo de enseñanza creado por el pragmatismo y un modelo de enseñanza como el alemán, por

lo que he visto de ambos, no creo que se pueda juzgar a uno mejor que otro, la razón para decir esto, es que cada uno obtiene resultados, cumpliendo con su objetivo de formar buenos profesionales, me baso para decir esto en mi propia experiencia, ya que en el trabajo conjunto realizado en el proyecto ALFINBRASIL, pude conocer tanto a alumnos como profesores formados por ambos modelos. Lo que considero, también por la propia experiencia, es que ninguno puede suplantar a otro, ya que el modelo que aplica la UnB no se puede implantar en la UCM y en el caso contrario ocurre lo mismo, por tanto considero que ambos modelos son implantados dependiendo de factores culturales, históricos, etc, al fin y al cabo el hábito está por encima en nuestras vidas. Pero, a la vista de los resultados, es inevitable admitir que se puede obtener una gran compenetración, dando lugar a proyectos muy interesantes y realmente enriquecedores como me ocurrió a mí. Por último me gustaría mencionar que disfruté mucho de la experiencia que pude vivir y animo a todos los que puedan realizar algo similar que lo hagan y agradecer a muchas personas el trato que tuve en la UnB y la posibilidad de vivir este viaje, haciéndome partícipe en múltiples eventos tales como: el Workshop internacional en ciencia de la información, el evento por los dos años de la BNB, la inauguración de la biblioteca Darcy Ribero, etc. En especial a la profesora Aurora Cuevas, prof María Antonia García, prof Elmira Simeao, prof Antonio Miranda, Claudia Neves, a todos los profesores y trabajadores de la FCI, en definitiva aquellas personas con las que tuve el gusto de tratar y conocer. Gracias por haberme tratado tan bien y sentirme como en casa.1

1 Alejandro Sanchis Pastor. Licenciado en Filosofía UCM. Cursando estudios de postgraduación, en el Máster gestión de la documentación y archivos.

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Fonte: www.lutecartunista.com.br

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*ENEBD

A Universidade Federal do Amazonas UFAM realizará entre 25 e 30 de julho de 2011 o XXXIV Encontro Nacional de Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação – ENEBD 2011, com o tema: Formação do profissional da informação: desafios, perspectivas e campos de atuação. O prazo para submissão de trabalhos completos foi adiado até dia 08/04/2011.

*EREBD

XIII ErebdSul 2011

A Universidade Estadual de Londrina – UEL, tem a honra de sediar o XIII EREBD Sul - Encontro Regional de Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação da Região Sul, que ocorrerá no período de 21 a 24 de abril de 2011. O evento é parte das comemorações dos 40 anos da UEL e terá como temática central “Os Ambientes de Aprendizagem e a Questão da Memória”.

Inscrições abertas para o XIII EREBD Sul! Mais informações:

www.erebdsul2011.com.br

*ENEMU

IV ENEMU 2011 UFG

A Universidade Federal do Goias convida os estudantes de museologia á participar do IV encontro nacional dos estudantes de Museologia .

“A Museologia e sua interdisciplinaridade”

Acontecerá no dia 10 a 15 de julho.

*ENEARQ

O Encontro Nacional dos Estudantes de Arquivologia – ENEArQ XV O evento ocorrerá na Universidade Estadual da Paraiba e vai do dia 18 a 23 de julho

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SERTÃO, Henrique M. In: visible white cloud.

O ponto pode ser um conceito. Pode o ponto ser adimensional. Pelo ponto podem passar infinitas (r)etas. Pelo ponto posso acessar a rede. Na rede há nós.A nós nos cabe criar lóguin. Não aquele São Login, que nos ajuda achar coisas. Vivemos um marco historiográfico delimitado pela tecnologia da informação. Somos operadores booleanos das requisições de entrada, retornando índices de revocação. Perdemos a noção do mundo pré-máquina. Tão alto estamos que quase podemos ver Ícaro ao longe. Sniffamos satélites geoestacionários. Podemos especular a Radiação Cósmica de Fundo e nos sentir mais perto do grande marco zero do tempo-espaço. Ao passo que operamos e construímos máquinas complexas, ainda cagamos naquela velha posição que todos conhecem.

Qual o significado de criar? Ou, ukiehcriah? Somos bombardeados a todo momento com pedidos de criação. Temos que nos perguntar, crio ou não crio? Posso criar? – RETURN! - A partir da criação a rede é descoberta. Ora, de que nos adianta o modelo burocrático se a todo momento somos levados a agir com bom senso, de forma estritamente pessoal? De que nos adianta a legalidade se a todo momento somos levados a constatar que não existe legislação sobre o assunto? Quem regula a TI? O gerente? ITIL? ou a autoridade (in)competente? Como conviver com uma tecnologia – internet – que nuca está pronta? O usuário é ao mesmo tempo desenvolvedor da tecnologia. Qual é o papel do trabalhador da área de TI?

O profissional de TI é um expansor que lida com fronteiras inexistentes. Cada esfera de atuação é vapor, nuvem, conceito. Temos princípios norteadores das nossas práticas, mas na esfera governamental ficam subordinados

à indecisões ignorantes das autoridades. O profissional de TI é um trabalhador como outro. O que ele constrói é virtual na maioria dos casos. Não nos apegamos ao volátil, mas temos boas lembranças de seu estado mais condensado.

Há várias teclas ao nosso dispor!! Vejam vocês! O alfabeto é finito, mas as combinações quem sabe... Mensurar a incerteza não é garantia contra o azar.

Colegas, me exponho apenas para causar a inquietação necessária. Aquele espinho no cérebro que nos faz desconfiar da realidade pré-estabelecida. Afinal de contas, se não estou feliz há algo me incomodando. O que? Já sei, vou estudar para concurso, estabilidade, bom salário, trabalho pouco. . . Vejam vocês o pensamento que impulsiona nossos candidatos a cargos públicos!! Mas quanta ignorância. O caminho das pedras é para eles. Deixe de ser besta. Vou te colocar lá. Você será indicação Minha! Daí quando você entrar coloque o seu filho de estagiário até que eu consiga algo pra ele. Temos que pensar na família. . .

Cenas do cotidiano. Como podem ver colegas, somos nós mesmos que criamos nosso presente, nossa realidade. O atraso do Brasil, ao contrário do que pensavam os branquelos do norte, não é culpa da mestiçagem de degredados bandidos portugueses com preguiçosos índios canibais e pretos inferiores sem alma. Assim como o atraso também não é culpa do clima tropical. 1888 é bem recente. Hoje não posso mais comprar um preto na feira, que absurdo. Querem acabar com a fonte energética de nossa colônia! Como as máquinas de moer gente irão funcionar sem os pretos! Malditos ingleses e suas máquinas à vapor!! O vapor. Sempre ele. Tocando o barco Mississippi a dentro. Não precisamos mais de “extratores de pau de cor”, ou melhor dizendo, de brasileiros. Vou importar um maquinário e produzir aqui mesmo na colônia! Brilhante!! Psssiu...Silêncio. Não deixe a coroa nos ouvir. Ora covarde, porque temos que comprar de Portugal se podemos produzir aqui! Bem mais barato! Silêncio... que barulho é esse? Corrammmmm. Nos descobriram!! Esquartejei a todos os conspiradores que querem derrubar a Coroa !! Que seus pedaços sirvam de exemplo! Que fique bem claro: aquele insano que tentar romper o “pacto” colonial, lezando assim a arrecadação Real, será ESQUARTEJADO!

Não te disse, manda quem pode, obedece quem tem juízo. Sabedoria popular. Agora ta í,

A CRIAÇÃO:

meritocracia x autorida(deismo)

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SPEAK CORNER

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todo despedaçado...Colegas, vivemos um old colonialismo que

não deixa nos desenvolver. Se não conseguem ver esta realidade, são cegus surdus e burrus. Existimos apenas para manter o ciclo perverso da insensatez humana. Nos utilizamos de conceitos importados do externo, ou seja, conceitos espúrios para nos descrever, para nos estudar. Mas estes conceitos não nos servem, eles não identificam nada de novo, é sempre mais do mesmo. O espúrio serve a reprodução do modelo vigente. E há quem diga que está dando certo, que estamos no caminho. Afinal de contas as coisas são assim mesmo. Pensava-se, no mercantilismo, que a economia era um jogo de soma zero, para que uns tenham outros necessariamente não devem ter. Porém a realidade é mais complexa do que o acúmulo de metal precioso.

Vivemos no século XXI. Isso tudo é coisa do passado. Hoje temos medicina avançada, computadores, e-mails, ipads, e-inks, e-scovas de dente. Ninguém mais passa fome e se passa é porque quer! Tem tanto emprego aí! Vai lavar carro, vender chaveiro, sei lá, o importante é trabalhar dignamente.

Colegas, são assuntos desagradáveis, porém é nosso assunto. Não estou falando de futebol nem de bunda tampouco de violência; ou estou? Acho que sim. O fato é que temos controvérsias sociais, contradições lógicas. Somos explorados ao extremo de nossa capacidade. Precisamos lutar da forma que nos compete, mas com muita bravura. Levantar a cada manhã e ver um caminho bem claro apontando o destino do povo brasileiro, que é superar a adversidades sociais, as corrupções, as não-ações dos capazes, ou seja, nos desenvolver. Desenvolvimento sem dívida externa. Políticas públicas continuadas. Chega de tapinha nas costas meus caros.

Aos concursados chamo ao pelotão da estabilidade. Aos comissionados cabe o pelotão de frente, os primeiros a morrer para deixar o high escalão intocado. Aos executores de contratos cabe o pelotão de execução sumária. Aos políticos cabe o Estado Maior, bem grande mesmo.

Que ridículo nossos assuntos meus colegas. Somos um planeta incerto, ora degelando calotas ora acendendo artefatos explosivos. Grande humano somos. Os maiores mal chegam a 2 metros. A Terra minúscula face o sol. O sol? Um anãozinho com os dias contados. E nós? Não sei. Apenas marchamos e obedecemos. Eu

mesmo nunca servi para marchar, pois a única condição a ser satisfeita – que é ter uma espinha dorsal ereta – nunca consegui satisfazer. Tenho acentuada escoliose desde os 11 anos, causada provavelmente, a um nível de 95% de incerteza , devido à má postura nas minhas horas incontáveis na frente do pc e à mochila pesada da escola. Por isso não marcho bem. Fico sentado, corcunda, sem marchar. Mas escrevo. É o que faço muitas vezes. Até me exponho, como agora faço, aos meus pares, que julgar-me-ão, sem dúvida.

Mas e daí, para que toda essa masturbação mental, tanta blablozeira? Para nada, eu respondo. Só serve a mim mesmo. Só estou me utilizando de um canal de comunicação, não para encaminhar coisas interessantes que recebi sobre novas tendências nuviométricas mega cluster computer máster business, tudo na velocidade do clique do rato, mas dedico um tempinho precioso para vos escrever palavras sinceras e inéditas, destas que não pautam a agenda 7ing da grande mídia que veicula o discurso oficial guela abaixo. Mas me digam, quem tem tempo para escrever nesse mundo corrido? Só o ócio do vagabundo canalizado para aqui.

Desculpe se não vos incomodei antes com tais assuntos descabidos. É que consegui me tornar invisível para ver as pessoas passando sem interferir-lhes o caminho. Vi muita coisa triste e ao mesmo tempo banalizada.

Corrupção? banal... Propina? banal... Desvio de verba? banal... Cabides de emprego? banal... Caixa 2? banal... Livre nomeação e exoneração? banal... Descontinuidade? banal... Violência? banal... Morte? banal... Banalidade? coisa séria e sagrada!

Pois é, devemos continuar criando logins... devemos seguir as despadronizações... devemos nos acostumar com os atos autoritários. Autos-de-fé.

Vivemos num planeta chamado bananalidalândia. Lidando com bananas banais... Denunciar o passado é quase como descrever o presente. Daqui a 40 anos, quem lembrará deste texto que escrevo? Ái que vontade de esquecer de tudo, da miséria, da violência, do trabalho todo dia, da falta de dinheiro, humm já sei! Vou abrir uma cerveja e ligar e TV. Tssss Isto sim que é cerveja gelada! É assim que tem que ser! Bem gelada! Mulhé, cadê a calabresa?

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Museus, coleções e espaços culturais da Universidade de Brasília1

ExperimentotecaDesenvolvido pelo Instituto de Física (IF) da UnB, o projeto Experimentatoteca - a Física para Todos facilita o acessoda comunidade acadêmica e da população como um todo aos experimentos e fenômenos físicos. Contato: (61) 3307 2900 Endereço: ICC Central, sala BT 291 Site: www.fis.unb.br/experHerbárioIdentifica plantas desconhecidas, principalmente para a pesquisa e presta consultoria à comunidade em casos deplantas que causaram intoxicação.Contato: (61) 3307 2671 Endereço: ICC Sul, sala AT 075 Site: www.unb.br/ib/bot/herbario.htmLaboratório de Pesquisas em Ensino de Química (LPEQ)Auxilia professores e estudantes das escolas públicas e particulares do Distrito Federal e Entorno na realização deatividades experimentais em Química, como feiras de ciências, trabalhos e projetos escolares. O laboratório fica aberto na terça e quinta-feira, de 8h às 12h e de 14h às 18h, e na segunda e nasexta-feira, apenas de 14h às 18h. As visitas devem ser agendadas por telefone.Contato: (61) 3307 2159 Endereço: Sala BSS 020 Site: www.unb.br/iq/lpeq/welcome.htmMuseu de Anatomia Humana (MAH)Expõe peças que representam órgãos humanos O espaço é aberto de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14hàs 18h, e as visitas devem ser agendadas por telefone.Contato: (61) 3307 2263 Endereço: Faculdade de Medicina, sala BC-302Museu de GeociênciasCriada em 1965, a unidade ocupa 190m² de área e tem acervo de mais de cinco mil peças. São rochas, minerais,fósseis e meteoritos (parte que é utilizada apenas por pesquisadores e alunos da UnB). O espaço fica aberto de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 18h, no Instituto de Geociências (IG) daUnB.Contato: (61) 3307 2433 e 2434 Endereço: ICC Central, sala AT 379 Site: www.unb.br/ig/exte/museu/index.htmMuseu Virtual de Ciência e TecnologiaÉ um espaço de divulgação científica que, na internet, traz exposições, atividades lúdico-educativas e conteúdos sobreciência e tecnologia. Há, por exemplo, uma biblioteca virtual com coleção de artigos de divulgação científicotecnológica.O visitante encontra também o caminho para conhecer outros museus e espaços oferecidos por instituições nacionais e internacionais.Site: www.museuvirtual.unb.brObservatório AstronômicoMontado em 2006 na Fazenda Água Limpa (FAL) da UnB, o Observatório Astronômico possui um telescópio (MeadeLX 200) com capacidade de aumento entre 200 e 300 vezes. É o único observatório desse porte em Brasília. Aproposta do grupo é especializar-se em corpos menores, como asteróides e cometas.Contato: (61) 3380 2549 Endereço: Fazenda Água Limpa - Núcleo Rural Vargem Bonita, SMPW, quadra 17Observatório Sismológico (SIS)Criado na década de 1960 por recomendação da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e aCultura (Unesco), o Observatório Sismológico (SIS) da UnB atua na detecção de terremotos e na interpretação desinais sísmicos.Contato: (61) 3349 4453 Endereço: Prédio SG-13 Site: www.obsis.unb.brUnidade de Reciclagem de Resíduos da Construção (URC)Utiliza tecnologias de aproveitamento de resíduos da construção, como sobras de concreto, argamassa, tijolos,cerâmica, vidro, sacos de cimento e isopor para reciclagem e reutilização. Atua como pólo multiplicador de tecnologia.As visitas devem ser agendadas.Contato: (61) 3307 1009 Endereço: Lateral da Prefeitura da UnBZoologiaLigado ao Instituto de Ciências Biológicas (IB) da UnB, tem coleções nos seguintes grupos: pequenos mamíferos (cincomil espécimes), morcegos (650 indivíduos de 42 espécies), aves (cerca de dois mil exemplares), insetos (coleção deformigas, vespas e abelhas possui seis mil amostras de 300 espécies), cobras (30 mil espécies), moluscos (dois milexemplares), entre outros. Por meio de visitas agendadas, atende prioritariamente estudantes e pesquisadores.Contato: (61) 3307 2265 Endereço: ICC Sul, sala AT 116Casa da Cultura da América Latina (CAL)Casa da Cultura da América Latina (CAL) foi inaugurada em 15 de julho de 1987, quando a Universidade de Brasília(UnB), junto com o Governo do Distrito Federal, organizou o primeiro Festival Latino-Americano de Arte e Cultura(FLAAC), evento que reuniu mais de 2.500 pessoas das áreas de dança, teatro, música, literatura, fotografia e artesplásticas, em Brasília. À nova casa de cultura foi atribuída a responsabilidade de desenvolver o intercâmbio culturalcom os demais países latino-americanos e do Caribe. Em 28 de dezembro de 1988 foi criada, oficialmente, por ato daReitoria.Contato: (61) 3321-5811/(61) 3325-6543 Endereço: SCS Quadra 04, Ed. Anápolis, 1º andar, sala 103 Site:http://www.cal.unb.brEspaço PilotoComplexo de Galerias (galerias subsolo, térreo e mezanino) vinculadas ao Departamento de Artes Visuais (VIS).Recebe exposições de arte temporárias e itinerantes. Realiza o Salão de Arte Universitára/ Prêmio Espaço Piloto deArte Contemporânea para universitários do DF e duas exposições anuais da disciplina de diplomação do curso debacharelado em Arte da Universidade de Brasília. Produz edital anual para ocupação dos espaços.Contatos: (61) 3307-3726, [email protected] Endereço: Ed. de Oficinas Especiais, Bloco A, AT-11. Campus Universitário Darcy Ribeiro

1 Caderno do Calouro do Curso de Museologia. Centro Acadêmico de Museologia. Brasília, Fevereiro/ 2010

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