revista do curso de líderanças cristãs

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Formação de Lideranças Cristãs para uma Sociedade Sustentável Trabalhos realizados no curso de

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Revista do Curso de Líderanças Cristãs da ADCE-RS

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Page 1: Revista do Curso de Líderanças Cristãs

Formação de Lideranças Cristãs para uma Sociedade

Sustentável

Trabalhos realizados no curso de

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Revista do

Curso Formação de Lideranças Cristãs para uma Sociedade Sustentável

Realização:

Essa revista contém os trabalhos realizados pelos alunos do Curso de Formação de Lideranças Cristãs para uma Sociedade Sustentável

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Consumo Consciente

Acácio Batista RamosAlceu Pedro TraviEnio SimonettiJanete PfuetzenreiterJosé Antônio CéliaLuiz Ariel Santos Ruben EspagnoloTânia Bretschneider Ramos

Page 6: Revista do Curso de Líderanças Cristãs

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Trata-se de um processo de reeducação continuada de valores que elevam o nível de conscientização e responsabilidade, através de atitudes e comportamentos em busca do bem comum. Fundamenta-se em quatro pontos chaves:

Consumo Consciente

Indispensável para mudança no agir, torna-se condição essencial para uma prática sistemática. Assim, pode ser praticado no dia-a-dia, por meio de gestos simples, que levem em conta os impactos da compra, a utilização ou descarte de produtos ou serviços. Alguns pontos a serem pensados são os recursos naturais, como a água, também os diversos produtos ou serviços e a escolha das empresas das quais comprar, em função de sua responsabilidade sócio-ambiental. Portanto, o consumo consciente é uma contribuição voluntária, cotidiana e solidária para garantir a sustentabilidade da vida no planeta. Praticar o consumo consciente consiste em uma atitude de liberdade de escolha e de protagonismo da própria existência. É uma tomada de posição clara, democrática e ética.

O consumo consciente fatalmente irá gerar uma reflexão pelos consumidores, que deverá originar uma cadeia de estímulos, que, por sua vez, irá contagiar positivamente as empresas e seus colaboradores, sua família, colegas e amigos, que, diante do exemplo, serão impelidos a refletir sobre os seus próprios atos de consumo. Para ficar mais claro, vamos dar um exemplo simples. Você já deve ter ouvido falar do recurso natural escasso e que cerca de 30% da população mundial não tem acesso a água tratada e de boa qualidade. Mesmo que você consiga arcar com sua conta de água e possa, em princípio, gastar o montante de água que lhe aprouver, tal fato trará como impacto a não disponibilidade de água, um recurso precioso e muito escasso, para um grande número de pessoas. Além disso, antes da água chegar à sua torneira, ela é tratada. Esse tratamento custa dinheiro. Se você economizar, o volume de água tratada será menor e os custos serão mais baixos. Caso contrário, para aumentar o abastecimento, a prefeitura terá de investir em novas estações de tratamento, que exigirão investimentos e usarão o dinheiro que poderia ser aplicado em outras áreas, tais como, saúde, educação ou transporte.

Outro ponto a considerar é que, se a água for usada em quantidade maior do que a realmente necessária, talvez as fontes usadas já não consigam atender a demanda. Se isso acontecer, as autoridades terão de buscar água mais longe, o que provavelmente vai encarecer o custo da água e vai dificultar o acesso a ela pelas populações de mais baixa renda. A falta de água de boa qualidade provoca diversos males. Entre 1995 e 2000, só no Brasil, ocorreram 700 mil internações hospitalares por doenças relacionadas à falta de água e saneamento básico.

Quando você fecha a torneira ao escovar os dentes, ao se ensaboar no banho e ao lavar a louça, você está praticando um ato de consumo consciente. Um ato que terá impacto positivo sobre a sociedade, porque ajudará a preservar água para os outros; terá um impacto positivo para a economia, porque adiará a necessidade de novos investimentos no setor; terá um impacto positivo sobre a natureza, porque não estará pressionando as nascentes; e terá um impacto positivo para você, que vai economizar na conta da água. (site akatu)

A partir da conscientização, inicia-se o processo de reeducação, que leva a uma nova postura e comportamento. Esta etapa se dá através do melhor preparo dos pais, para que esses ampliem sua visão no processo de orientação dos filhos. Conforme o artigo publicado pela Revista Família Cristã, observa-se que desde cedo a família deve educar os filhos para um consumo consciente, só assim crianças e adolescentes saberão se proteger dos apelos lançados pelo mercado publicitário. Eis que já na criança, verifica-se que o lanche que passa na televisão e traz um brinquedo irresistível, ou a boneca com o corpo perfeito e o seu namorado também perfeito, o tênis que todo mundo usa, o celular de última geração, entre outros, conseguem provocar atração.

A publicidade de mira acerta o alvo: desde pequenos, crianças e adolescentes são expostos a um verdadeiro bombardeio de ofertas de todos os lados. São mensagens coloridas e de muitos efeitos especiais que o fazem imaginar o quanto serão felizes se puderem ter tudo isso. Assim, reproduz-se fielmente no universo infantil o consumismo que já é comum no mundo dos adultos. É claro que todos precisam adquirir produtos e serviços, mas vivemos em uma sociedade culturalmente marcada pelo consumo, em que as pessoas são estimuladas a comprar apenas por comprar.

“Trabalha-se muito para ter mais recursos e há pouco tempo para se dedicar a família. As pessoas buscam a felicidade na compra de coisas materiais, como casas, carros, aparelhos de tevê e celulares, mas não a encontram“ lembra Isabella Henriques, coordenadora do projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, de São Paulo, SP. “As sensações de prazer e felicidade são momentâneas e duram até o próximo lançamento do mercado“, observa.

As crianças e os adolescentes seguem o exemplo dos adultos, mas há uma diferença. Os adultos têm condições – ou pelo menos deveriam ter – de discernir se precisam realmente adquirir certo produto ou não. As crianças, em fase de desenvolvimento, não possuem tal capacidade. Por isso, tornam-se vulneráveis ao consumismo. “Elas são muito mais facilmente cooptadas para o consumo, induzidas principalmente pela publicidade. Tudo é muito arquitetado pelo mercado, que quer vender seus produtos”, explica Isabella. A publicidade mercadológica está em toda a parte, todo dia: na TV, na Internet, nas revistas, nas ruas e até nas escolas.

1ª conscientização: 2ª Reeducação:

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Condição fundamental para a tomada de decisão, planejamento e eficácia na determinação. O consumidor consciente deve sair de sua zona de conforto e desenvolver “visão de futuro”, interpretando o presente (Alkidar). Sendo nós pessoas humanas, dom de Deus e possuidores da inteligência dada por esse poder superior, devem ser inequívocos os cortes radicais que devemos empreender em nossas ações de consumirmos sem consciência.

Enxergar o futuro nesta ocasião constitui-se em tarefa essencial para que possamos ter um planeta sustentável e capaz de abrigar as novas gerações que virão depois de nós. Esta iniciativa, que parte de atitudes simples e de novos comportamentos assumidos no cotidiano, deverá remodelar a capacidade de solidariedade do homem moderno e incluí-lo ainda mais neste processo de globalização, agora trazendo um novo componente, que seria a solidariedade humana e com o meio ambiente em que vivemos.

Chegaremos a novos aerópagos, voltando o mundo globalizado para a verdadeira globalização da solidariedade. A solidariedade, sem dúvida, é sinal de amor ao próximo e vida. Foi para isso que o criador nos constitui: para termos vida e vida em abundância. (Documento de Aparecida)

3ª Atitude: 4ª Responsabilidade:É assumir o compromisso não só de uma ação particular,

familiar e coletiva, mas principalmente, de tornar-se multiplicador através de exemplos e sensibilização. A responsabilidade é consequência da ação e do comportamento do ser humano, que será vista à medida que este se conscientize que deve revestir-se de homem novo, capaz de causar as mudança necessárias e importantes para a busca do bem comum.

Deverá o consumidor consciente ser responsável, sensível, perseverante e encontrar na força da espiritualidade o seu ponto central para que, após optar conscientemente por novo modelo de vida, não deixar-se cair na tentação de retornar aos modos anteriores e assim voltar a ser o mesmo em suas atitudes e comportamentos. Tudo isso requer mudança responsável e prática no estilo de vida, mudando hábitos e costumes antigos, para o bem da humanidade e de todo o ser vivo que habita no ponto azul do universo chamado de planeta terra.

1. Os pais devem dar o exemplo. Se a criança vê os pais consumindo muito e sem critério, entende que isto é certo e procuram imitá-los.

2. Evitar dar presentes para substituir o afeto. É mais importante estar presente do que dar presente.

3. Evitar comprar por impulso e sem reflexão, mesmo que sobre algum dinheiro.

4. Fazer acordos com as crianças antes de sair às compras, combinando o que irão comprar.

5. Ensinar as crianças o valor do dinheiro e a importância de se poupar.

6. Conversar com as crianças sobre o objetivo da publicidade, ensinando os filhos como ela funciona e qual sua finalidade.

7. Dizer “não” à criança com firmeza e confiança, transmitindo uma noção de realidade, limite e proteção.

8. Confiar na própria autoridade e no poder de influência das próprias palavras para a formação das crianças.

9. Incentivar brincadeiras criativas e em grupo que não dependam da compra de produtos e brinquedos.

10.Não deixar aparelhos de tevê ou computadores no quarto das crianças. Estimular mais o contato com a natureza.

11. Verificar os programas, filmes e site que as crianças acessam para garantir que elas não estejam em contato com conteúdos inadequados, nem expostas a conteúdos comerciais.

12. Ensinar às crianças que elas não precisam de produtos “de marca” para serem aceitas e respeitadas. Ensinar que não é preciso “ter” para “ser”.

13. Estimular uma alimentação saudável, balanceada e sem excessos, priorizando comidas caseiras e não industrializadas.

E Como Combater o Consumismo Infantil? Vejamos algumas recomendações para estimular os filhos a serem consumidores conscientes:

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O Ambiente como “recurso” corre o perigo de ameaçar o ambiente como “casa”

Page 8: Revista do Curso de Líderanças Cristãs

Marque com um x esta pesquisa de Auto Avaliação em relação ao Consumo.

1.Da Água:

a) Você costuma fechar a torneira de água enquanto escovas os dentes? ( ) sim ( ) não

b) Você se preocupa e controlar o consumo de água em sua casa? ( ) sim ( ) não

c) Você se preocupa com o desperdício de água quando exerce atividades domésticas, tais como:

limpeza de louças, de roupas, de pisos, regar folhagens, etc? ( ) sim ( ) não

d) Você costuma controlar o consumo de água na higiene pessoal, como no banho e no barbear? ( ) sim ( ) não

2.De Energia Elétrica:

a) Você costuma desligar as luzes e/ou aparelho de TV quando sai do ambiente? ( ) sim ( ) não

b) Você aproveita bem o horário de verão procurando fazer tarefas próprias da luz do dia, antes que fique muito tarde e tenha que ligar as luzes para consumo? ( ) sim ( ) não

3.Para o Lixo:

a) Você observa as orientações da coleta do lixo de acordo com os critérios seletivos?

( ) sim ( ) não

b) Quando você vai para a praia à passeio procura recolher o lixo gerado e colocá-lo nos locais apropriados? ( ) sim ( ) não

c) Você costuma depositar materiais recicláveis nos locais apropriados? ( ) sim ( ) não

d) Mesmo não havendo coleta seletiva do lixo em seu bairro, você costuma separar o lixo seco do lixo orgânico para ajudar os recicladores? ( ) sim ( ) não

e) Você costuma colocar o lixo nos locais apropriados, evitando a ação de animais de rua como cachorros, gatos, etc, bem como a ação de chuvas e tempestades que podem levá-lo para boeiros e canais, correndo o risco de entupi-los e de cair na natureza? ( ) sim ( ) não

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PropostaSensibilizar todas as pessoas de nossas relações, familiares amigos, colaboradores e outros,

chamando-as a também participar do ato de consumir com mais consciência, através do exemplo pessoal, da educação dos filhos, de palestras e de todas as formas que forem possíveis dentro da comunidade, visando a formação de novos multiplicadores. Participar mais efetivamente das decisões políticas adotadas no nosso Município, através da associação dos moradores, orçamento participativo, conselhos afins e demais formas de participação popular, assim estaremos fazendo o que nos compete para colaborar com a proteção do planeta, ou melhor, dizendo da criação!

MétodoEntrevista através de questionário dirigido (conforme

modelo abaixo) a lideranças cristãs: coordenadores de pastorais e movimentos da Igreja (pesquisa Acácio e Tânia); funcionários da Jomhedica ( pesquisa Enio); vizinhos bairro Tristeza (pesquisa Ariel); vizinhos, parentes funcionários, moradores dos bairros Auxiliadora e Floresta (pesquisa do Alceu)

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4 .De produtos em Geral: Alimentação,Vestuário e Eletros- doméstico:

a) Você costuma adquirir os produtos que necessita e vai consumir e utilizá-los, evitando comprar supérfluos desnecessário e similares que já possui em casa, de modo que não haja preocupação com o gasto? ( ) sim ( ) não

b) Você costuma trocar aparelhos de eletrodoméstico e/ou eletroeletrônico tais como geladeira, fogões, celulares, etc, só porque surgiu um novo no mercado? ( ) sim ( ) não

c) Você costuma conhecer a procedência dos produtos que utiliza para se certificar que são produzidos com responsabilidade ambiental? ( ) sim ( ) não

d) Você, quando realiza a compra de um equipamento de eletrodoméstico, verifica qual é o padrão de eficiência energética do mesmo? ( ) sim ( ) não

e) Você costuma se servir no prato de alimentação a quantidade certa que vai consumir, evitando deixar restos e desperdícios? ( ) sim ( ) não

f) Você aproveita e recicla as sobras de alimentos em sua casa evitando o desperdício e sobras para o lixo? ( ) sim ( ) não

5.Do Automóvel e Combustíveis:

a) Você é acomodado e utiliza o carro para deslocar-se a locais perto e de fácil oportunidade de caminhar; tais como padarias, açougues e mini-mercados próximos da sua casa? ( ) sim ( ) não

b) Mesmo que seja oportuno deslocar-se de ônibus, trem ou até mesmo de carona, ainda assim você costuma utilizar o carro, não levando em consideração os gastos de combustíveis e manutenção?

( ) sim ( ) não

c)Você costuma utilizar combustíveis renováveis independente do custo? ( ) sim ( ) não

6. Da sua Cidadania:

a) Você se preocupa em adquirir alimentos de empresas que preservam o meio ambiente?

( ) sim ( ) não

b) Quando você vê alguém jogando o lixo no lugar errado ou no chão procura alertá-lo?

( ) sim ( ) não

c) Você costuma avaliar os impactos ambientais nas suas atitudes e tomadas de decisões?

( ) sim ( ) não

d) Você costuma manter-se informado sobre notícias, pesquisas e acontecimentos sobre o meio ambiente e o mundo? ( ) sim ( ) não

e) Você costuma privilegiar a compra de produtos naturais ao invés dos industrializados, independente do custo? ( ) sim ( ) não

f) Quando você vê um ato ou ação contra o meio ambiente no seu trabalho, residência ou comunidade, você toma as providências para eliminá-los? ( ) sim ( ) não

g) Você se preocupa em passar para os filhos, netos, sobrinhos uma educação e orientação a cerca do respeito ao meio ambiente? ( ) sim ( ) não

h) Você participa e contribui nas campanhas e iniciativas em favor do meio ambiente?

( ) sim ( ) não

i) Você procura ser solidário com as pessoas que possuem necessidades? ( ) sim ( ) não

j) Você costuma praticar a caridade e a partilha de forma espontânea? ( ) sim ( ) não

l) Você costuma comprar produtos piratas ao invés dos regularizados, só porque são mais baratos? ( ) sim ( ) não

Muito obrigado por suas respostas!

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Page 10: Revista do Curso de Líderanças Cristãs

Resultados, discussões e conclusões Foram feitas quatro pesquisas com públicos diferentes, representando 152 amostras, obedecendo às seguintes questões

Consumo de ÁguaAo analisarmos o resultado da pesquisa sobre este item,

podemos concluir que existe uma boa consciência sobre a importância que representa o consumo desta preciosidade, a “água”, nas amostras de nossa pesquisa. É o item de maior preocupação e consciência entre os temas apresentados e representa, na media das amostras, 81,6% de posicionamento afirmativo, ou seja, as pessoas estão adotando atitudes para o adequado consumo.

Apresentamos o intervalo de oscilação entre as cinco amostras, onde se verifica a melhor consciência na pesquisa feita pelo Sr. Ariel, no bairro Tristeza, com 87,5% de posicionamento afirmativo às questões. Talvez esta boa pontuação se deva às características do público pesquisado, por ser a maioria de classe A e B, de onde

podemos deduzir que a consciência é maior. Já o índice mais baixo 77,5% ocorreu na pesquisa feita na empresa. Acreditamos que por ser uma empresa pequena/média, com colaboradores bastante ecléticos no que se refere à formação, idade, local de moradia, possa ter contribuído para o índice de consciência menor. O que pode nos levar a um questionamento sobre o papel do empresariado, no que se refere a sua preocupação com a formação geral do seu colaborador. Contribuindo ao educar o colaborador na empresa, o mesmo, estará praticando estes atos em sua casa e na coletividade.

Consumo de Energia Elétrica Também verificamos uma

boa consciência no publico em geral, atingindo um índice afirmativo de 79,3% dos entrevistados preocupados com o consumo.

Nesse item, o intervalo entre uma amostra e outra foi um pouco maior. Na amostra da pesquisa feita pelo Sr. Alceu, pesquisa geral, verificou-se um índice de 89,0% de consumidores conscientes, sendo o menor índice, novamente na pesquisa feita na empresa, 67,7% se preocupam com este item. O

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que nos chamou a atenção foi o baixo % de consciência do grupo pesquisado pelo Sr. Ariel, que ficou em 68,8%, assim, não podemos adotar a mesma afirmação feita anteriormente, ou seja, não podemos afirmar que a consciência das pessoas de classe A e B seja mais correta quanto a nossa proposta.

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Para o Lixo O índice médio de

73,4% de respostas positivas ao nosso questionamento demonstra que as atitudes precisam ser melhoradas, embora possamos dizer que a média seja ruim. No entanto, se considerarmos a importância que representa este item para a melhoria do meio ambiente e o custo que representa aos órgãos públicos, o que acaba refletindo em custos para nós, além de causar uma má impressão visual, entendemos que muito precisamos fazer.

Chama atenção o intervalo das amostras: 67,3% na amostra do Sr. Acácio e Sra. Tania e 92,5% na amostra do Sr. Ariel. Este intervalo é fundamentalmente explicado porque no ambiente da amostra em que é verificada menor consciência (67,3) não existem políticas de recolhimento de lixo seletivo, ao contrário da outra. Esse fato demonstra a importância de os órgãos públicos adotarem estas ações.

De produtos em Geral: Alimentação, Vestuário, Eletro-doméstico

Existe uma boa consciência nesse quesito, no entanto, o índice geral ficou prejudicado pela questão c (você costuma conhecer a procedência dos produtos que utiliza para se certificar que são produzidos com responsabilidade ambiental?), que apresentou um índice de preocupação somente de 41,8%.

A variação nos intervalos de uma amostra para outra foi de 84,4% de posição positiva na amostra do Sr. Ariel e de 70,7% na amostra Geral do público do Sr. Alceu. O que nos leva a deduzir que quanto maior a formação cultural das pessoas, maior é a consciência geral de consumo sobre o quesito apresentado.

Este item ficou um pouco prejudicado no índice geral que foi de 46,1% de aprovação, tendo em vista que para algumas amostras faltaram dados, pelo fato do pesquisado não ter veículo.

Mesmo assim, considerando os dados da amostra da pesquisa do Sr. Ariel, verificamos que o percentual foi somente de 56,3%, o que demonstra que a consciência dos condutores de veículos é muito baixa.

Do automóvel e Combustível

Da sua Cidadania A questão de atitudes de cidadania merece uma grande

preocupação. Temos muito a melhorar, nossa caminhada está muito no início e não temos muito tempo pela frente. O percentual de aprovação de 67,4% fica muito prejudicado nas 11 questões, novamente pela preocupação com o meio ambiente, pois pode-se verificar nas questões a; e; e h, que as atitudes são muito baixas, o que confirma a análise apresentada na questão 4.c.

A variação de intervalos ficou entre 71,0%, na pesquisa do Sr. Ariel e 54,1%, na pesquisa feita na empresa, o que acreditamos que consolida as explicações já definidas em análise anterior.

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Concluindo nossa análise, podemos afirmar que a formação das pessoas, a educação nos primeiros anos de vida, o papel da escola, a própria igreja, ou seja, o exemplo que nós adultos passamos, que pode ser através de associações de classe e órgãos governamentais, é que contará para melhorar esta realidade.

Este trabalho é um pequeno início, certamente, a pesquisa tem que ser aprofundada, ampliar a amostra, mas mesmo assim, serviu para aumentar nossa consciência. Mas isto não basta. O que efetivamente vamos fazer? Lembramos do que diz o livro de Gênesis capítulo 2 versículo 15: O Senhor Deus tomou o homem e colocou-o no jardim do Éden

para cultivá-lo e guardá-lo. Aí está o desafio do cristão que vai além de salvaguardar o planeta para gerações futuras. É estar dentro do plano de amor que Deus reserva para cada um. Faz parte do ser Cristão a responsabilidade de contribuir de todas as formas para que o planeta, com toda sua complexa estrutura, seus ecossistemas, seja preservados, é complemento

do amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.

Concluindo...

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Público: pessoas da periferia dos Municípios de Alvorada e Cachoeirinha com baixo nível de escolaridade, zona sem coleta seletiva, todos agentes de pastorais

Público: Funcionários da Empresa Jomhedica

Vizinhos do Bairro Tristeza

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Funcionários, vizinhos, parentes, moradores dos bairros Floresta e Auxiliadora

...Trabalho Consumo Consciente, produzido durante o Curso de Formação de Lideranças Cristãs para uma Sociedade Sustentável

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Referências

Carta apostólica Octogésima Adveniens 1971 �

Documento de Aparecida (2007). �

Discurso aos participantes em um Congresso sobre “Ambiente e Saúde” João Paulo II �

L'Osservatore Romano 1987 �

Global Environment Outlook: meio ambiente para o desenvolvimento (GEO-4), Liderança �Saudável – Alkidar de Oliveira, Ed. Academia de inteligência 2007

Relatório-Brundtland-Nosso-Futuro-Comum �

Revista Família cristã / Fonte: Instituto Alana. Núcleo Alana de defesa da Educação. Site: �criançaconsumo.org.br

Site do Instituto Akatu �

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Pronunciar palavras agradáveis em oração, cânticos e petições todos podem fazer.Contudo, fazer da palavra pronunciadauma regra de vida é para poucos.

Do livro Receitas EspirituaisMistérios e Revelaçõesde José MazzarolloAGE Editora

Page 16: Revista do Curso de Líderanças Cristãs
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Ética e escolha responsável para uma sociedade sustentável

Alci Fernandes Clodoaldo Silveira Elvisnei Camargo Margarete Tamagno

Marília Moraes Neusa Schardosim Raquel Leitão Roberto Cabrera

Page 18: Revista do Curso de Líderanças Cristãs

Ética “A criação de valores é aspecto fundamental da existência humana. A ética são os princípios

morais que norteiam os seres humanos nas suas ações com outros membros da coletividade.”

Ética na Educação – André Boelter

Esta frase inicial nos permite enxergar, embora ainda de forma incipiente, a construção humana conjunta do conceito.

Uma escolha é considerada responsável quando sua decisão é fundamentada em bases morais aceitas pela sociedade e está eticamente justificada.

Ética: Palavra gasta, confundida com moral, moralidade ou moralismo. Conceito cujo sentido primeiro, o de morada para todos, foi esquecido, pervertido até. A ética da responsabilidade é a de quem assume a tríplice condição humana: a de indivíduo-sujeito, a de sociedade e a de espécie. É a ética da fraternidade, que parece ter perdido o sentido dentro da Modernidade. Vive-se hoje o convite ou o impulso à exclusão. Ciência, tecnologia, indústria e lucro – excesso de informação, opinião, trabalho e falta de tempo -, diante ou dentro de tudo isso, cabe a questão: qual é o tempo-espaço que se pode dedicar ao outro?

Faz-se urgente uma nova educação, que ensine o amor, a compreensão e a tolerância. Nova educação que deve envolver os educadores, que só se reformarão se, e quando, houver uma reforma do ensino e dos saberes.

Afinal, qual é o papel de cada um de nós na sociedade? Até que ponto nossa vida pessoal e nossos desejos estão dissociados da realidade sócio-ambiental em que estamos inseridos? Seria possível, neste sistema, migrar da perspectiva da convicção rumo à da responsabilidade? Queremos ser protagonistas ou apenas espectadores do mundo que nos cerca?

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Temos observado crescentes contradições existentes em nossa sociedade: riqueza e pobreza; escassez e desperdício; necessidades básicas não satisfeitas e consumismo descontrolado. Parece-nos que, para algumas pessoas o que importa é ter, produzir, acumular, possuir, comprar: uma espécie de fanatismo moderno e secular. No entanto, a emergência de uma nova e diferente consciência social vem provocando profundas mudanças na sociedade e nas empresas. O desejo de suprir as necessidades humanas deveria se tornar mais forte que o desejo de competir, pois os recursos e informações partilhadas tornam todos mais ricos e sábios e nada se perde na distribuição. O desafio do nosso tempo passou a ser criar sociedades sustentáveis, isto é, ambientes sociais e culturais em que possamos atender as nossas necessidades sem diminuir as chances das gerações futuras.

Este trabalho tem como objetivo demonstrar a abordagem da Ética na Educação, bem como a importância e as consequências da inserção desse tema como base para construção de uma sociedade sustentável.

Page 19: Revista do Curso de Líderanças Cristãs

A Liberdade HumanaTambém é impossível falar em ética sem falar em liberdade. Animais, não racionais, agem de

forma instintiva sem uma consciência intencional.

A liberdade humana é um tema abordado por muitos filósofos de épocas e correntes diversas. Segundo Jean-Paul Sartre: “nós somos condenados a ser livres”. O Livro do Eclesiástico 15,14 nos revela: "Deus abandonou o homem nas mãos de sua própria decisão".

No entanto, esta liberdade não é gratuita. Ela traz consigo questões que nos atormentam, consequências imediatas do nosso poder de escolha: o que quero fazer? O que devo fazer? O que posso fazer? É a ética que irá indicar, determinar as nossas escolhas.

Nossas escolhas podem relacionar-se desde assuntos polêmicos que são causa de debates internacionais (como aborto, divórcio, homossexualidade, etc.), até pequenos atos que podem passar despercebidos no nosso cotidiano. Também poderia-se escolher dizer pequenas mentiras a fim de evitar conseqüências desagradáveis, por exemplo, dizendo que a farmácia estava fechada mesmo tendo esquecido de comprar o remédio, embora tenha a intenção de fazê-lo o quanto antes. Apesar de ser uma pequena mentira, torno-me um pequeno mentiroso, passível de mentir outra vez em situações semelhantes ou até mais graves. Contar pequenas mentiras (questões leves, pecados veniais) é um exemplo de "pequena" escolha. Mas se eu mentir sob juramento durante um processo é muito grave, uma "grande" escolha. Como grandes escolhas, podemos citar os compromissos: casamento, sacerdócio ou ser político. Optando por um determinado tipo de vida: conjugal, religiosa ou política, é dever moral integrar outras livres escolhas coerentes com este compromisso, do mesmo modo, é dever evitar escolhas incompatíveis com o compromisso primeiro.

Hoje em dia, com tantas opções, tantas opiniões e tantas não verdades muitas vezes encontramos dificuldades na escolha do caminho a seguir. A regra de ouro que esclarece nossas escolhas em caso de dúvida, a maior verdade moral que sempre ilumina a nossa consciência é: “Amarás o Senhor teu Deus com todo teu coração, com toda tua alma e com todo teu espírito” e “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Se ao nos interrogarmos “quero?”, “posso?”, “devo?” tivermos sempre os dois primeiros Mandamentos da Lei de Deus como norte, com certeza a nossa consciência nos guiará para uma escolha boa, justa e verdadeira.

Se desde a nossa infância entendêssemos que na vida não há prêmios, nem castigo, apenas consequências, talvez tivéssemos mais lucidez para fazer nossas escolhas.

Mesmo no meio de um sistema fechado, somos livres para decidir se aceitamos ou não a situação imposta. Cada um de nós decide livremente o lugar que ocupa no mundo. Nossas escolhas devem ser fruto de uma consciência lúcida, que privilegia os valores da ética e da moral cristã. Assim, não será difícil ser feliz.

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A Manipulação VerbalUm grande problema que

encontramos em nossos dias e que obscurece as nossas escolhas é a manipulação da linguagem, que consiste numa tentativa consciente de modificar a percepção da realidade através do modo distorcido como é apresentada e, consequentemente, de induzir o agir das pessoas.

Podemos achar exemplos deste fenômeno desde os tempos mais remotos ao

longo de toda a história da humanidade. Os sofistas gregos, profissionais na arte da retórica, exercitavam a manipulação das palavras para provocar a resposta desejada. Já na época das grandes navegações ou na modernidade, as nações conquistadoras e os grandes líderes fascistas utilizavam-se da manipulação verbal ao atribuir traços de deficiência humana, ou mesmo de falta

de humanidade, ao grupo que desejavam destruir ou explorar.

Em nosso tempo, um exemplo notório desta manipulação da verdade foi o argumento de existência de armas químicas e arsenais nucleares no Iraque, com o intuito de justificar perante a opinião pública mundial a invasão daquele país, o que veio a acontecer, e desmascarar este artifício, pois

nada foi encontrado

Esse tipo de manipulação social se torna mais frequente graças à influência da mídia, à instituição de ensinamentos liberais e ao aumento do poder do Estado. A Constituição de qualquer país, desde o Irã até o Japão, Itália, Alemanha, EUA, Brasil, Cuba, entre outros, garante nos seus artigos que todo cidadão tem direito à educação, saneamento básico e saúde.

Page 20: Revista do Curso de Líderanças Cristãs

O Meio Ambiente e Escolhas Responsáveis

Também o Papa Bento XVI em sua encíclica Caritas in Veritate (capítulo IV – Desenvolvimento dos povos, direitos e deveres, ambiente) magistralmente nos diz:

51. “As modalidades com que o homem trata o ambiente influem sobre as modalidades com que se trata a si mesmo, e vice-versa. Isto chama a sociedade atual a uma séria revisão do seu estilo de vida que, em muitas partes do mundo, pende para o hedonismo e o consumismo, sem olhar aos danos que daí derivam[122]. É necessária uma real mudança de mentalidade que nos induza a adotar novos estilos de vida, “nos quais a busca do verdadeiro, do belo e do bom e a comunhão com os outros homens para um crescimento comum, sejam os elementos que determinam as opções dos consumos, das poupanças e dos investimentos.”

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Caberia um complemento neste artigo: “Direito de informação qualificada dos meios de comunicação”. A ideologia oferecida pela propaganda é a de que todos são concorrentes num mundo que não oferece espaço a todos. O outro deve ser superado, derrotado e, no limite, eliminado.

Infelizmente, a manipulação verbal hoje não se apresenta para nós “como um monstro”, mas vem disfarçada em pequenos exemplos corriqueiros em nossas vidas, como propaganda de cigarro ou facilidades de crédito bancário. A manipulação verbal ataca na base a dignidade humana, pois os seres humanos vítimas deste “engano premeditado” não

são mais tratados como seres humanos, mas como objetos manobrados, dominados, para depois serem manipulados e controlados.

É sabido que uma mentira, quando repetida muitas vezes e com uma argumentação persuasiva, pode converter-se em verdade na mente de quem a escuta, mesmo sabendo que aquilo é absurdo. Sendo assim, a realidade autêntica é substituída por uma fictícia, de modo que se torna quase impossível discernir entre elas. Uma mentira que nega a verdade objetiva da realidade vai contra a característica fundamental do homem, que é a de procurar a verdade, tal como declarou João Paulo II: "Sempre considerei a procura da ‘verdade das coisas’ como

uma qualidade que distingue o homem.” (João Paulo II , “Discorso per l’apertura dei lavorio del coloquiodi Castel Gandolfo dedicato al tema:”Allá fine del milennio: tempi e modernitá”)

Infelizmente a manipulação verbal está criando novos “falsos direitos" e destruindo milhões de vidas, além de provocar uma profunda confusão na sociedade moderna. Prega-se o “direito” de uma mãe escolher matar o filho que traz em seu ventre; o “direito moral” de exercer a sua própria sexualidade fora do matrimônio; resultando em problemas para o indivíduo e para a sua família.

O sentido da plena liberdade de ação do homem e da sua autodeterminação

foi exposto pelo Papa João Paulo II. Depois de chamar a atenção de que é “justamente mediante os seus atos que o homem se aperfeiçoa como homem”, continua dizendo: “os atos humanos são atos morais, porque exprimem e decidem a bondade ou malícia do homem que realiza aqueles atos. Eles não produzem apenas uma mudança do estado das coisas externas ao homem, mas, enquanto escolhas deliberadas qualificam moralmente a pessoa que os faz e determinam a sua profunda fisionomia espiritual” (Veritatis Splendor, 71)

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Educação: formação de uma nova consciência social

Repetimos que “o caminho é a educação”. Talvez não tenhamos claro de que tipo de educação estamos falando. Seria mera escolarização? Certamente ajudaria, mas isso não teria como consequência imediata uma nação educada, construtora de seu próprio bem-estar, humanista e transformadora.

Precisamos urgentemente de uma reforma da educação, antecedida ainda por uma reforma do pensamento. Reforma que deve alcançar os educadores. O sistema educacional tem mostrado que existe uma grande lacuna entre suas propostas filosóficas e metodológicas e a realidade em sala de aula, assim como seus fins e sua realidade concreta.

O processo educativo não pode reduzir-se apenas aos aspectos teóricos do conhecimento. Configura-se, assim, a necessidade de realização de uma educação integral, que proporcione a crianças e adolescentes condições para o desenvolvimento de sua autonomia, entendida como capacidade de posicionar-se diante da realidade, fazendo escolhas e estabelecendo critérios.

O educando que compreende a importância da ética e da moral é um indivíduo que estará mais consciente do seu papel na sociedade.

A escola de hoje está deixando um pouco de lado a construção moral e a educação ética. Atribui-se prioridades a outros assuntos como o vestibular, a mensalidade escolar, mas se esquece que a formação do indivíduo é o mais importante e que o “permeará” por toda a sua vida. A criança que é educada eticamente torna-se um adulto capaz de ir ao encontro do outro, reconhece-se com seu igual e não assume as regras morais como regras obrigatórias.

Acreditamos que se trabalha a ética e a moral vivendo-as,

demonstrando-as através de nossos atos, das nossas posturas, das nossas escolhas e dos valores nos quais acreditamos.

Essa formação completa, entretanto, deve iniciar-se em casa, na primeira escola, chamada família, instituída por Deus nos primórdios da Criação, que na sua divina sabedoria já previa este papel fundamental a ser desempenhado pelos pais na formação dos filhos. Desde o nascimento, com palavras e exemplos, valores fundamentais vão sendo transmitidos aos filhos e serão carregados por eles pelo resto de suas vidas, constituindo-se em seu tesouro mais valioso. Moral e ética vivencia-se. A atmosfera do lar em que fomos criados, nossas tradições familiares, exemplos, conselhos de nossos pais, seus testemunhos são fatores que influenciam na nossa formação completa. Somos o resultado de um conjunto de esforços que não nos pertencem.

Como revela Ricardo Quadros Gouvêa em seu texto Ética e Cidadania: “a busca humana por valores solidários implica que alunos e alunas entendam que viver não é fácil, e que, viver inteligentemente é ainda mais difícil”.

Eis o desafio de explicar que a vida é escolha e decisão, autônoma ou não e que todas elas referem-se ao mesmo tempo ao sujeito, à sociedade e à espécie.

Talvez o que falte aos nossos jovens seja um Projeto de Vida calcado em valores cristãos e que os leve a discernir entre o certo e o errado com consciência ética e moral, dando-lhes clareza para se manterem firmes em suas escolhas, uma vez que busquem o bem, o justo e o verdadeiro.

Portanto, entendemos que: “há que se cuidar do broto, então ele dará a flor, o fruto e a vida”. (Adaptação do prof. Carlos Barcellos para a música Coração de Estudante, de Milton Nascimento

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“Para preservar a natureza não basta intervir com incentivos ou penalizações econômicas, nem é suficiente uma instrução adequada. Tratam-se de instrumentos importantes, mas o problema decisivo é a solidez moral da sociedade em geral. Se não é respeitado o direito à vida e à morte natural, se tornamos artificial a concepção, a gestação e o nascimento do homem, se são sacrificados embriões humanos na pesquisa, a consciência comum acaba por perder o conceito de ecologia humana e, com ele, o de ecologia ambiental. É uma contradição pedir às novas gerações o respeito do ambiente natural, quando a educação e as leis não as ajudam a respeitar-se a si mesmas. O livro da natureza é uno e indivisível, tanto sobre a vertente do ambiente, como sobre a vertente da vida, da sexualidade, do matrimônio, da família, das relações sociais, numa palavra, do desenvolvimento humano integral. Os deveres que temos para com o ambiente estão ligados com os deveres que temos para com a pessoa considerada em si mesma e em relação com os outros; não se pode exigir de uns e espezinhar outros. Esta é uma grave antinomia da mentalidade e do costume atual, que avilta a pessoa, transtorna o ambiente e prejudica a sociedade”.

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DesafiosFelizmente muitas pessoas e instituições já estão se

dedicando ao trabalho de criar condições para uma sociedade sustentável. Que os exemplos deles nos impulsionem a repensar nossas ações de forma ética e que nossas escolhas, por mais simples que sejam, objetivem o bem comum. Podemos citar como exemplos a Corrente do Bem e o Instituo Kairós.

A Corrente do BemO núcleo de educação

científica de Ciências Biológicas da Universidade de Brasília lançou como desafio para seus alunos, a corrente do bem, a exemplo do filme *A Corrente do Bem, no qual o menino Trevor acredita que é possível melhorar o mundo a partir da ação voluntária de cada um. O protagonista cria a corrente do bem, que é baseada em três premissas: fazer por alguém algo que este não possa fazer por si mesmo, fazer isso para três pessoas e cada pessoa ajudada deve fazer isto para outras três. Assim, como o tema proposto era meio-

ambiente, foi sugerido aos alunos propor quais “grandes favores” poderiam fazer ao mundo, começando com pequenas mudanças em nossos hábitos diários, como consumir menos, trocar copos descartáveis por reutilizáveis, separar o lixo residencial.

Sugerimos aqui, que cada um de nós faça seu propósito concreto de realizar uma mudança para melhorar como pessoa. Um propósito que, por pequeno que seja, colabore para um bem maior. Por exemplo: hoje me comprometo a usar racionalmente a água em

Instituto Kairós - Ética e Atuação Responsável É uma entidade civil sem fins lucrativos, fundada em 2000. Nasceu do encontro de ideias, expectativas, conflitos e sonhos diante

de um mundo contraditório, com tantos desequilíbrios e ao mesmo tempo, com tantas possibilidades. O Instituo Kairós tem como objetivos:

1) Promover a educação para o Consumo Responsável, pautada pela educação ambiental, popular e em valores;

2) Desenvolver ações de formação em Comércio Justo e Solidário para os atores da cadeia produtiva;

3) Contribuir para a consolidação do Comércio Justo e Solidário e fortalecimento da Economia Solidária;

4) Desenvolver estratégias de comercialização justa e solidária visando à aproximação entre produtores e consumidores em sintonia com os movimentos de Segurança Alimentar e Nutricional e agricultura orgânica / agroecologia;

5) Produzir e difundir conhecimento acerca dos temas de referências (CR, CJS, ES, SAN)

http://www.institutokairos.net/

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minha residência e vou pedir a três pessoas que também revejam seus hábitos e que também se comprometam a fazer algo de bom.

Também posso comprometer-me a não mentir, ou não brigar com meu irmão. Esse compromisso assumido de forma consciente nos traria benefícios e certamente ficaríamos felizes com o bem que fizemos.

* nome original Pay it Foward com direção de Mimi Leder

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EntrevistaMércio Tumelero

1) NO SEU PONTO DE VISTA, QUAIS AS DEFICIêNCIAS DO ATUAL SISTEMA EDUCACIONAL EM RELAçãO AO MERCADO E CONSEQUENTEMENTE àS EMPRESAS? COMO NOSSOS JOVENS ESTãO CHEGANDO AO MERCADO DE TRABALHO?

De uma maneira geral nos últimos anos houve um avanço significativo no atual sistema educacional, porém noto ainda certo distanciamento entre o ensino e a prática.

Penso que é necessário ainda uma aproximação maior entre escola e empresa, a escola atual deve entender as mudanças, adaptar-se a elas e manter uma interatividade com o aluno, fazendo-o apto a ser um profissional atual, ainda que com princípios que jamais estarão fora de moda, como ética, esforço, disciplina, solidariedade e aprendizado constante. Em não sendo assim, teremos profissionais distanciados da realidade. A empresa tem uma responsabilidade muito grande, principalmente na fase inicial, porém nem todas têm uma estrutura adequada para isso.

2) A IDEOLOGIA OFERECIDA PELA PROPAGANDA É A DE QUE TODOS SãO CONCORRENTES NUM MUNDO QUE NãO OFERECE ESPAçO A TODOS. PODEMOS PERGUNTAR SE NO MUNDO DOS NEGóCIOS É POSSíVEL ESCOLHER CONDUTAS BOAS SEM PREJUDICAR NINGUÉM, SEM SE DEIXAR PREJUDICAR E SEM QUE O OUTRO O PREJUDIQUE?

Sem dúvida é um exagero da ideologia ou da propaganda, pois, nunca como hoje, o serviço de uma empresa, ou mesmo da família depende do conjunto. Isoladamente, pouco podemos. Uma das regras básicas é manter boas relações com seus colegas. A pessoa esforçada e correta confia em si mesma e no seu trabalho, sem prejudicar ou menosprezar os demais. Não acredito que uma pessoa sem uma boa conduta consiga sucesso profissional, pode até enganar por algum tempo, mas um dia a casa cai.

3) COMO O EMPRESÁRIO PODE SER UM AGENTE INDUTOR DE PRÁTICAS MORAIS E ÉTICAS NO AMBIENTE DE TRABALHO E NO MEIO EMPRESARIAL?

Em primeiro lugar, sendo um mediador. O empresário sabe perfeitamente que promovendo a felicidade dos seus funcionários e clientes, assegura mais ainda a sua própria. A liderança empresarial pressupõe o exemplo. As palavras convencem, porém os exemplos e a boa conduta arrastam os jovens e esses, juntos, formam as multidões que mudarão uma cidade, um estado ou um país. Uma empresa, então, é o reflexo da união de vontades, de mandamentos, posturas e da realização do bem comum. Interna e externamente. Uma empresa tem uma finalidade precípua e cabe ao líder levar essa ideia à comunidade em que está inserida. Uma empresa focada na sua finalidade e defendendo valores que estão na média do seu público e em consonância com a atualidade, com certeza atingirá objetivos sadios. Ética e moral, há que se praticar antes que ensinar. Na família, na escola e no trabalho, as melhores recordações serão as do bem que fizemos e dos males que evitamos. Para nós mesmos e, muito mais, para os nossos colegas ou subordinados. Finalmente, jamais esquecer que a modéstia é uma das maiores virtudes do ser humano.

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EntrevistaPadre Marcos Sandrini*

1) EDUCAçãO: SISTEMA ATUAL A) O QUE REPRESENTA TAL SISTEMA PARA A SOCIEDADE ATUAL?

A educação em todos os tempos foi entregue à família. A educação escolar nunca foi oferecida a todos os povos e a todas as pessoas. Há milhões de analfabetos no mundo. Peguemos a Etiópia como exemplo. Sua população é de mais de 80 milhões de habitantes, metade deles sofre de desnutrição crônica, dos homens, 86% são analfabetos, das mulheres, 92% também o são. Esse país tem incidência na comunidade mundial? Olha que estamos falando apenas de um país.

No início do ano o Haiti teve um terremoto, terrível, porque matou centenas de milhares de pessoas. O terremoto silencioso, porém, grassou no Haiti desde a chegada de Colombo... Aí também o analfabetismo é avassalador. O nível de consumo do Haiti é 280 vezes menor que o norte-americano.

A humanidade caminha com muita lentidão para um procedimento mais ético. Fritjof Capra diz que tecnologicamente estamos no século XXI, mas eticamente ainda estamos na pré-história.

Numa sociedade em que poucos têm acesso à educação escolar, a maioria silenciosa sofre e morre excluída e marginalizada

B) QUAIS AS REFORMAS QUE ESTE SISTEMA DEVE SOFRER PARA PARTICIPAR/COLABORAR PARA TERMOS OS ALICERCES DE UMA SOCIEDADE SUSTENTÁVEL?

No caso do Brasil seria um progresso extraordinário se todos os brasileiros cursassem o ensino fundamental. Enquanto alguns estudam e outros não, nossa sociedade não conseguirá ser sustentável.

Ensino fundamental é básico para a cidadania. A primeira grande reforma é realmente oferecer educação fundamental para todos. Essa é a melhor forma de demonstrar amor às novas gerações.

Nem palmadas e nem trabalho infantil. Criança foi feita para conviver com outras crianças. Os adultos têm condições de prover isso para todos. Não é problema de governo, é problema da sociedade civil, que não se conscientiza e nem se mobiliza suficientemente para isso.

2) QUEM EDUCA OS EDUCADORES?

Se por educadores entendemos os professores, quem os educa é a sociedade. Os educadores são o reflexo da sociedade. É interessante que grandes educadores costumam ser martirizados. Assim foi Sócrates, assim foi Jesus Cristo. Sócrates foi acusado de corromper a juventude, mas com seu método da maiêutica disse apenas que possibilitava aos jovens pensar... Ninguém gosta de ser escravo, sobretudo do pensamento. A escola e os educadores são o reflexo da sociedade. As agências que educam os educadores, como as universidades, são reflexo dessa sociedade. No entanto, os educadores estão um pouco à frente da sociedade, porque estão próximos das novas gerações. Uma criança que sofre é um apelo aos educadores. Um jovem excluído é um apelo aos educadores.

3) SERÁ QUE OS JOVENS REALMENTE ESCOLHEM O QUE GOSTAM DE FAzER, O QUE PODE LHES DAR FELICIDADE, OU SãO FORçADOS A ESCOLHER O QUE A COMPETIçãO EXIGE DELES?

A grande finalidade da educação é formar as novas gerações para esta sociedade que está aí. Só que hoje as coisas não são tão lineares assim. Ainda estamos em uma sociedade em que as pessoas estudam, trabalham e se aposentam...

Uma nova pessoa está surgindo. É aquela que nunca mais para de estudar. É a formação continuada. Quais serão as profissões do futuro? Acredito que metade das profissões dos próximos 20 anos ainda não foram inventadas... Também o grau de violência está crescendo tanto que se tornará impossível manter uma sociedade azeitada pela violência. Ou se rompe este círculo, ou não há futuro para ninguém. Não é gostoso viver marginalizado, mas também não é gostoso viver com medo e artificialmente.

A escola não é a continuação da família, ela é a ruptura com a família. Em uma classe de trinta adolescentes há uma pluralidade de pensamentos, de visões de mundo, de religiões, de condições sociais... A tarefa do educador é ser um mediador cultural, ensinado as novas gerações a escutar o outro, partilhar com o outro, defender o outro...

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...Trabalho Ética e escolha responsável para uma sociedade sustentável, produzido durante o Curso de Formação de Lideranças Cristãs para uma Sociedade Sustentável

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* Sacerdote salesiano graduado em filosofia, letras e teologia. É mestre em teologia pastoral pela Universitá Pontifícia Salesiana D Roma e doutorando em educação pela PUC-RS. Diretor da Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre/RS e professor de história da filosofia e da disciplina o mundo dos jovens, na PUC-RS.

4) EM SEU LIVRO, O SENHOR ENFOCA A UTOPIA COMO A CAPACIDADE DE REPENSAR O COTIDIANO E SONHAR NOVAS SOLUçõES. O SENHOR ACREDITA QUE AS INSTITUIçõES DêEM ESPAçO PARA QUE SURJAM NOVAS UTOPIAS?

Temos que evitar dois extremos. O primeiro é fechar nossos horizontes na realidade que existe. O segundo é acreditar que a sociedade verdadeira é a que virá. Acredito sinceramente que o grande motor da violência é o fechamento de horizontes. Regina Novaes, uma socióloga carioca, diz que os jovens, hoje, têm medo de três coisas: medo de morrer, medo de sobrar e medo de desconectar-se. A utopia diz que avançamos muito, em muitas coisas, mas também nos diz que é preciso avançar muito mais. Nossa sociedade ocidental nunca conseguiu incluir o outro. Transformamos o outro em inimigo, em concorrente. O outro deve ser vencido. Para eu subir na vida, preciso derrubar o outro. O meu lucro tem que ser maior que o do outro, porque senão ele me derruba. Educar não é tornar as pessoas apenas eficientes, mas também eficazes. O estado tem que funcionar bem, mas para quem? A escola tem que funcionar bem, mas para quem?

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Referências

BARREIRO, Ignacio. - Manipulação Verball, in VV.AA., Lexicon Termos ambíguos e discutidos sobre família, vida e questões �éticas, do Pontifício Conselho para a Família. São Paulo: versão brasileira, Salesiana, s.d.

MAY, Willian E. - Escolha Livre (“free choice”)ll, in VV.AA., Lexicon Termos ambíguos e discutidos sobre família, vida e �questões éticas, do Pontifício Conselho para a Família. São Paulo: versão brasileira, Salesiana, s.d.

BARCELLOS, Carlos Alberto – Ensinantes e Aprendentes, construtores necessários da paz. Porto Alegre: Weck 2001 �

BARTOLI, Jean – Pensara Ética para construir o discernimento e a esperança. In Revista de Marketing industrial nº 31 , �dezembro 2005

SANDRINI, Marcos – Para Sempre, o compromisso ético do educador. Editora Vozes. �

BENTO XVI – Carta Enciclica do Santo Padre -Caritas in Veritate �

Da internet:

Ética na Educação – http//www.webartigos.com/aeticles/3557/1/Ética-Na-Educaçao/pagina1.html – Acesso em �29/07/2010

A importância da Religião e da Ética na Educação – http://www.webartigos.com/articles/4979/1/A-Importancia-da- �Religaio-e-da-Etica-na-Educaçao/ - Acesso em 29/07/2010

http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_2778/artigo_sobre_etica_na_educacao [Etica na Educação – André Boelter) �

Instituto Kairós - http://www.institutokairos.net/ �

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A verdadeira religião alimenta o espíritosem embriagar a mente.

Do livro Receitas EspirituaisMistérios e Revelaçõesde José MazzarolloAGE Editora

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A evolução nos chama a refletir

Andrei MenegottoAndré GuaragnaCarolina Christofoli RamosPaulo SantosPlínio AneleSérgio Ivan BorgesRoberto R. Simões FreireTânia Terezinha Pariz

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Vivemos em uma sociedade globalizada, científica e tecnológica, em que a razão atingiu seu ápice. A humanidade chega a este início de milênio tendo incorporado ao seu cotidiano progressos e contribuições importantíssimas em vários setores da ciência, em especial no campo das ciências biológicas.

Os antibióticos começaram a ser usados há cerca de 50 anos. Há 40 anos, teve início a era dos transplantes. Os primeiros bebês de proveta têm pouco mais de trinta anos. Com a engenharia genética, obteve-se a capacidade de manipulação de partes infinitesimais da matéria viva, com efeitos extraordinários, porém carregada de consequências para o futuro da humanidade.

Ao mesmo tempo, vivemos hoje uma cultura que privilegia o ter e aniquila o ser, em que o principal é competir, mesmo que para isso se ignorem as necessidades e os direitos do outro, desaparecendo, portanto, o conteúdo humano de nossas condutas.

A instantaneidade e a capilaridade dos meios de comunicação, gerada pela disseminação da televisão e da internet, fragiliza a riqueza da reflexão e isola a

pessoa, levando-nos a um individualismo carente de partilha e compromisso com o outro.

Dentro deste paradigma, os valores morais, como compaixão, solidariedade, compreensão, justiça, desaparecem e perdem-se os limites para distinguir o que é certo e o que é errado.

O homem pensa e age em relação a si mesmo, em relação aos semelhantes e em relação ao mundo. Para isso, ocupa-se com sua própria pessoa, com seu próximo, com a comunidade e com a natureza. Adquire, assim, experiências através de relações pessoais e dentro de estruturas institucionais. Assim, diante dos problemas e confrontos, indagamos: O que devo fazer? Mesmo quando se trata de uma questão prática, precisamos refletir, pois precisamos fundamentar nossa ação. Tudo isso cabe ser feito diante da própria consciência e da sociedade.

Todos os povos têm regras fundamentais em sua moral cotidiana, como, por exemplo: não matar; não mentir, não roubar e estar disposto a ajudar. Isso, aprendemos desde a infância, na convivência com os adultos, tornando no que chamamos de consciência.

É importante definir ética como sendo um ramo da

filosofia que tem por objeto a moral e é o conjunto de princípios pelos quais o indivíduo deve pautar suas atitudes, seja em família, no trabalho, ou entre algum grupo da sociedade. A ética é um conhecimento racional que, partindo da análise de comportamentos concretos, caracteriza-se pela preocupação em definir o que é bom.

Já a moral é relativa aos costumes, valores e práticas de uma sociedade em uma determinada época. Ela inclina-se ao problema do que fazer em cada situação concreta. Poderia se dizer que decidir e agir são problemas práticos e, portanto, morais. Investigar uma decisão e uma ação é um problema teórico, portanto, ético.

Cada vez é mais necessária uma ética aplicada, uma ética que coexista com o cotidiano das pessoas. Essa ética deve ser específica, dividida em ramos, para melhor analisar cada situação, sendo um bom exemplo disso, os códigos éticos para as diferentes profissões. Isso acontece porque as pessoas têm que entender que as suas ações têm consequências, não só para si, mas também para os outros e que essas não podem ser encaradas por somente um ponto de vista.

A evolução...

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Desmitificando a bioética

Nos seus primórdios, a humanidade era mais defensiva do que pró-ativa. Não se tratava de compreender, nem de transformar a realidade: a questão era de mera sobrevivência. Entretanto, tão logo o ser humano foi conseguindo responder as questões mais primárias, foi também observando melhor o que acontecia ao seu redor e tentando ora adaptar-se a realidade, ora modificá-la.

É nesse contexto que se coloca a evolução das ciências e tecnologias. Surge uma nova compreensão de vida, o que nos introduz em um novo momento histórico. Desde a segunda metade do século XX, a humanidade passou a enfrentar uma série de questionamentos morais decorrentes dos avanços da ciência.

A capacidade humana de manipular as espécies ou de intervir tecnologicamente em sua própria constituição criou um novo período no qual os valores e os princípios éticos clássicos passaram a ser relativizados em diversos âmbitos da ação humana, ou seja, a constatação de que não era mais suficiente a aplicação de normas antigas aos novos casos.

Nesse contexto é que surgiu a bioética, com o objetivo de estabelecer uma mediação nesse terreno de confronto de saberes e problemas surgidos do progresso das ciências biomédicas, das ciências da vida e em geral, das ciências humanas. A Bioética também se alinha com a consciência ecológica de que todas as coisas existentes estão em contínuo relacionamento e coexistem em um planeta único.

O termo Bioética teve origem no ano de 1970, quando Van Rensselaer Potter, bioquímico norte-americano, publicou o artigo: Bioethics, the Sicence of Survival (Bioética, a ciência da sobrevivência). No ano seguinte, Potter publicou o livro Bioethics: Bridge to the Future (Bioética: Ponte para o futuro), cujo primeiro objetivo era buscar uma saída para o progressivo desequilíbrio criado pelo homem na natureza. Nesse livro ele destaca a importância das ciências biológicas na melhoria de vida, pensando na bioética como uma ponte entre a ciência biológica e a ética e a chama de ciência da sobrevivência humana. Para ele, a sobrevivência de grande parte da espécie humana em uma civilização decente e sustentável dependia do desenvolvimento e manutenção de um sistema ético.

Potter defende a ideia de que as ciências e as humanidades são duas culturas e que em algumas situações as mesmas são incapazes de dialogar. Nessas situações a bioética teria a função

de estabelecer uma ponte entre as duas culturas. Ele pretendia que a bioética fosse uma combinação de conhecimento científico e filosófico.

Mais tarde, em 1988, Potter ampliou a bioética em relação a outras disciplinas, não somente sendo a ponte entre a biologia e a ética, mas sendo uma ética global. Potter almejava criar uma nova disciplina em que acontecesse uma verdadeira dinâmica e interação entre o ser humano e o meio ambiente.

A bioética deveria ser vista como uma nova ética científica que combina a humildade, responsabilidade e competência, em uma perspectiva interdisciplinar e intercultural e que potencializa o sentido da humanidade.

Em um artigo de Potter publicado na revista The Scientist, com o título “A ciência e a religião devem partilhar da mesma busca em relação à sobrevivência global”, ele diz que nós não podemos mais ficar confortáveis com a ideia de que no futuro, se as coisas piorarem, a ciência terá as respostas. O momento para agir e provar nossa competência ética, bem como a técnica, é hoje.

No que diz respeito à relação das religiões e a ética global, Potter também se manifestava da seguinte forma: “Estamos conscientes de que as religiões não podem resolver os problemas econômicos, políticos e sociais da terra. Contudo, elas podem prover o que não podemos conseguir através dos planos econômicos, programas políticos e regulamentações legais. As religiões podem causar mudanças na orientação interior, na mentalidade, nos corações das pessoas e levá-las para uma ‘conversão’ de um ‘falso caminho’ para uma nova orientação de vida.”

Com estas contribuições e de outros pensadores, a Bioética passou a refletir a preocupação com a vida humana e com a dimensão moral das pesquisas científicas e das condutas médicas. O que caracteriza a Bioética não é a preocupação com o consenso, mas a busca do bom senso. Esta busca torna-se uma tarefa árdua que deve envolver todas as ciências, todas as filosofias e todas as religiões.

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Os princípios cristãos como base para nossas escolhas

No mundo da vida, existem questões fundamentais do ser humano que não encontram resposta na ciência, tais como a fé, o amor e a dimensão espiritual, que dá sentido à própria existência e ao próprio trabalho. Nessa perspectiva, ciência e fé são complementares.

Ser cientista pode ser um caminho em direção a Deus, pois ele é autor, não só do Universo, mas também de nossa inteligência. Eliminar a dimensão espiritual é mutilar a vida humana, da mesma maneira como se mutilaria o ser humano ao eliminar sua capacidade racional.

Muito se questiona a Igreja Católica e outras expressões religiosas em relação a seus posicionamentos frente a certas formas de avanços científicos, contudo, pouco se sabe sobre os verdadeiros valores que a Igreja utiliza como base para suas argumentações.

A Igreja Católica não contesta que nas últimas décadas ocorreram grandes avanços científicos, sobretudo no campo da biomedicina. O aprimoramento das ciências biomédicas, alinhado às descobertas da biogenética, apresenta tecnologias nunca vistas, representando possibilidades novas de intervir nos processos e na qualidade da vida.

Diz o Compêndio da Doutrina Social da Igreja que “são louváveis as intervenções do homem quando se traduzem no melhoramento”. Mas tal melhoria deve ser avaliada cuidadosamente quanto a sua utilidade e em suas possíveis consequências,

não só em termos de sucesso, mas também em termos de riscos futuros. Nesse campo, o homem sempre deve agir com precaução e muita responsabilidade.

A ética cristã funda-se, com destaque, no valor incomparável da vida humana, o que torna o ser humano “o primeiro e fundamental caminho da Igreja”, sendo que essa é inviolável e inalienável. Quando a Igreja fala em vida humana, sempre visualiza o seu “bem verdadeiro e integral”, não um “material biológico”, muito mais do que um código genético ou um simples programa seqüencial de um genoma a ser manipulado.

O conhecimento científico que tem o temor diante da vida como ponto de partida deve ser o de uma ciência responsável. A responsabilidade para com o ser humano e a criação é fundamental para que se tomem decisões respeitosas diante dos avanços tecnológicos, para que essas não se transformem em ameaças à sobrevivência da humanidade.

Apesar do seu potencial ameaçador, a tecnologia faz parte da capacidade inventiva do ser humano. A criatividade faz com que a sociedade progrida nas conquistas técnicas, científicas, sociais e políticas. Mas tudo isso pode ser profundamente ameaçador se não for dirigido para o fortalecimento dos elementos fundamentais da dignidade da vida humana.

Portanto, os desafios que nos impõe o avanço das tecnologias que podem manipular a vida e o processo irracional de destruição da

vida, seja ela humana, não humana e ecossistemas, conferem a Teologia e a Bioética uma parceria.

O Papa Bento XVI afirmou, na 16ª Assembléia Geral da Academia Pontifícia para a Vida, que “conjugar bioética e lei moral permite verificar, da melhor maneira possível, a referência necessária e que não se pode eliminar, a dignidade que a vida humana possui intrinsecamente desde seu primeiro instante até seu fim natural”.

Constatou que, no contexto atual, os direitos que garantem a dignidade da pessoa nem sempre são reconhecidos à vida humana em seu desenvolvimento natural e nos estágios de maior fraqueza. Para o Pontífice, diante disso, é preciso assumir um grande compromisso nos diversos âmbitos da sociedade e da cultura, para que a vida humana seja sempre reconhecida como um direito inalienável do direito e jamais como objeto exposto ao arbítrio do mais forte.

No encontro, diante do tema lei natural, Bento XVI salienta que “o reconhecimento da dignidade humana de fato, enquanto direito inalienável, encontra seu fundamento primeiro na lei não escrita pela mão do homem, mas inscrita por Deus Criador no coração do homem, que todo ordenamento jurídico está chamado a reconhecer como inviolável e cada pessoa deve respeitar e promover”.

Bento XVI destaca a necessidade de reconhecer a vida do homem, desde o primeiro instante, como vida humana, portadora de

dignidade própria. Para ele, nos âmbitos relativos ao ser humano, os cientistas não podem jamais pensar que têm nas mãos somente matéria inanimada e manipulável.

Este posicionamento é reforçado por Dom Dadeus, que entende que, desde a sua concepção, os seres humanos são iguais em dignidade e direitos. Para ele, a Igreja trabalha sempre o conceito de proteção da vida, desde sua concepção, no embrião, até o seu final. A vida como uma obra de Deus não é uma propriedade do ser humano, não cabendo a esse último ter o domínio sob a decisão de criá-la ou finalizá-la. Nosso livre-arbítrio se limita em usar, desenvolver e multiplicar a vida e não em apoderar-se dela e subjugá-la.

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O homem como co-criador do mundo deve entender suas responsabilidades

A ciência e a tecnologia fazem parte da capacidade inventiva do ser humano, fazendo com que a sociedade progrida nas conquistas técnicas, científicas, sociais e políticas. Tudo o que hoje se denomina como progresso tem atrás de si um crescente acúmulo de ciência e tecnologia cada vez mais aprimorada e numa velocidade cada vez mais acentuada.

Com o desenvolvimento dos conhecimentos genéticos e as biotecnologias o ser humano alcançou um domínio sobre suas vidas e dos outros seres vivos como em nenhum outro momento da história.

A vida em todas as suas manifestações não está apenas sendo compreendida, mas está sendo minuciosamente projetada e construída. Tudo isso pode ser profundamente ameaçador se não for dirigido para o fortalecimento dos elementos fundamentais da dignidade da vida humana.

Nesse contexto, a Bioética surge com o intuito de permitir que todas as ciências entrem em um amplo diálogo, para que os avanços não sejam apenas técnicos, mas humanos. A Bioética procura indicar os caminhos pelos quais se possa chegar a soluções que permitam que a ciência seja encarada como parceira da vida e não sua rival, ou simples usuária.

A Igreja entende que Deus, ao criar o ser humano a sua imagem e semelhança, tornando-o co-criador do mundo, delegou-lhe o desenvolvimento de tudo sobre a terra, incluindo a ciência, para tornar a existência humana uma caminhada para a total santificação.

Carregamos dentro de nós, desde o momento da nossa concepção, a luz e o espírito de Deus. O momento da concepção da vida, quando recebemos o espírito que nos une a Deus, é o momento da formação da unidade individualizada do ser.

Se a natureza humana é um dom de Deus, confiado à inteligência e às mãos do homem, também a inteligência é dom do mesmo Criador para ser usada com responsabilidade. Dentro deste entendimento as pesquisas científicas sempre dizem respeito à humanidade toda, de hoje e de amanhã.

Dentro da moral cristã, o conhecimento científico tem que ter o temor diante da vida como ponto de partida para ser uma ciência responsável. A responsabilidade para com o ser humano e a criação é fundamental diante das decisões e uso dos avanços tecnológicos, para que essas não se transformem em ameaças à sobrevivência da humanidade.

Em síntese, é necessário que se possa estabelecer com a sociedade valores e práticas, portanto uma moral, de forma que os avanços genéticos e biomédicos possam contribuir para o autêntico progresso da humanidade.

Nesse contexto, a Bioética e a Teologia se encontram no interesse de estabelecer uma reflexão compartilhada sobre a adequação das ações que envolvem a vida e o viver, em uma mediação que permita atender aos desafios que o avanço das tecnologias impõe.

O esforço dessa mediação pode determinar o sentido e o valor que o homem dará na forma e uso desses avanços. Não se trata aqui de oferecer uma solução pura e simples, mas indicar os caminhos por onde se pode chegar ao melhor para sociedade.

Esta reflexão cumprirá seu papel na medida em que conseguir que todas as ciências entrem em um amplo diálogo, para que os avanços não sejam apenas técnicos, mas também humanos.

Nesse sentido, a relação entre o desenvolvimento científico e espiritualidade consiste na harmonização continua entre as funções razão e fé, para que a pessoa encontre formas sólidas para o exercício de sua espiritualidade, alcançando o progresso e a felicidade como bem inegociável.

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EntrevistaJosé Roberto Goldim*

1) EM SUA OPINIãO, QUAL O CAMPO DE ATUAçãO DA BIOÉTICA?

O professor Portter, quando lançou o termo Bioética, pensou no geral e no complexo, definiu a bioética como uma ponte entre a ciência e as humanidades. Em 1970, o padre jesuíta André Hellegers, professor da universidade Geogertown, desenvolveu um foco na educação sexual de jovens baseado na bioética, dando início a utilização da mesma na área clínica. Este embate da abrangência ampla, ambiente em geral, versus restrita, somente área médica, persistiu até 1995, quando finalmente o conceito de abrangência global da Bioética passou a ser predominante.

2) QUANDO DEVEMOS RECORRER à BIOÉTICA?

A Bioética pode e deve ser utilizada em todo assunto que é complexo demais para ser resolvido por um único campo do conhecimento humano, bem como em momentos que exigem interdisciplinaridade, quando várias áreas do conhecimento devem atuar em conjunto para determinar a solução. A bioética não é uma disciplina e sim um campo de trocas, ela trabalha na mediação dos conhecimentos.

*Licenciado em Ciências Biológicas. Mestre em Educação. Doutor em Medicina (Bioética). Professor de Bioética na Faculdade de Medicina e da Faculdade de Enfermagem da PUC-RS. Membro fundador do Programa de Atenção aos Problemas de Bioética do HCPA e Consultor em Bioética Clínica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Membro dos Comitês de Ética e bioética do HCPA, da UFRGS e da PUCRS. Membro do Kennedy Institute of Ethics, da Georgetown University, em Washington, EUA. Membro da Sociedade Brasileira de Bioética (SBB) e da Canadian Bioethics Society (CBS),entre outros títulos.

3) COMO A BIOÉTICA ESTÁ RELACIONADA à RELIGIOSIDADE?

A Bioética não tem uma vinculação direta a um determinado credo religioso, mas como trabalha a interdisciplinaridade, também faz a mediação entre as questões religiosas, morais, éticas, do direito. Na área clínica, é muito comum a intervenção da Bioética para fazer uma mediação entre os conceitos e preceitos religiosos do paciente e as necessidades do tratamento médico. Há vários exemplos de necessidades específicas, conforme a confissão religiosa do paciente, que vão desde o preparo do alimento pela área de nutrição, até a negação direta do tratamento prescrito pelos médicos. Cabe ressaltar que, em todos esses casos, a bioética atua sempre como ponte de mediação entre a área médica e o paciente, em nenhum momento há o intuito de impor ou negar o valor da crença do paciente.

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...Trabalho A evolução nos chama a refletir, produzido durante o Curso de Formação de Lideranças Cristãs para uma Sociedade Sustentável

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Referências

Livro – Bioética – do Consenso ao bom senso – Antônio Moser e André Marcelo M. Soares – 2006 – Editora Vozes �

Artigo – Boiética: das origens à prospecção de alguns desafios contemporâneos. – Leo Pessini – 2005 – Revista o Mundo da �Saúde

Artigo – Bioética complexa: Uma abordagem abrangente para o processo de tomada de decisão. – José Roberto Goldim – �2009 – Revista da AMRIGS

Artigo – Fé e Razão na Filosofia e Ciência – Prof.Dr. Urbano Zilles – Diretor da Faculdade de Teologia da PUCRS �

João Paulo II. Carta Encíclica Fides et ratio. S. Paulo: Paulinas, 1998. �

BIOÉTICA DELIMITAçõES PROTETORAS DA VIDA - Prof. Dr. Nilo Agostini - Texto publicado na Revista Internacional de �Teologia e Cultura Communio, fasc. 87, 2003, p. 137-158.

Bioética e espiritualidade na sociedade pós-moderna desafios éticos para uma medicina mais humana - Virgínio Cândido �Tosta de Souza – 2010 - Revista BIOETHIKOS - Centro Universitário São Camilo

Artigo – Ciência e a Razão: A Grande Separação – Alfred North Whitehead – Livro Quem Somos Nós �

Compêndio da Doutrina Social da Igreja – 2004 - Libreria Editrice Vaticana �

Entrevista: Dom Dadeus �

Entrevista: José Roberto Goldim �

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A Bíblia é um livro para ser entendido pela santidade do espírito e não interpretado pela sabedoria da matéria.

Do livro Receitas EspirituaisMistérios e Revelaçõesde José MazzarolloAGE Editora

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Trilogia do Líder Cristão

I ) Desafios para a Liderança Cristã

II ) Caminho Para Ser Cristão: Existir à Semelhança de Deus

III ) Aprofundamento da Verdade que Liberta

Elacy SantosHugo SouzaNora CelibertoPaulo Coimbra

Vainer CabreiraJosé Ronaldo Leite Da SilvaHans Peter Gerwwy

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Desafios para a Liderança Cristã

Os novos desafios para a liderança cristã consistem em aplicar, nos dias de hoje, o grande mandamento de Cristo: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei” (Jo15, 12). Passaram-se dias, anos, séculos e as dificuldades permanecem: viver como Jesus, amar como Ele, agir com Sua coerência. A história nos aponta para o exemplo de santas e de santos que têm no Mestre, o modelo, confirmando que é possível ser cristão por inteiro.

Mas, em pleno ano de 2010, ainda há espaço para romper com a tendência de individualismo, inerente ao ser humano, trazendo um maior número de pessoas a se engajarem na Igreja? Esta é a

era das contradições: ao lado das grandes descobertas e de uma tecnologia que deveria estar a serviço do homem, vemos pessoas marginalizadas, o que aumenta a diferença entre classes sociais. Existem também os pobres ricos, com fome de afeto. De quem é a culpa? Rapidamente respondemos: do governo, dos políticos, dos empresários, dos bancos, dos professores, dos padres, da televisão e, geralmente, não nos sentimos responsáveis. Será mesmo que não temos nossa parcela de egoísmo? Quais os valores da família contemporânea? Por que vamos à missa e achamos que somos bons, se logo em seguida não ultrapassamos as barreiras do comodismo

Parte I

e não estendemos a mão ao próximo, ajudando-o a torná-lo parte da Igreja, corpo místico de Cristo? Diante destas constatações, poderíamos concluir pela inexistência de líderes cristãos no século XXI. Porém, desconheceríamos as pessoas que, tocadas pela mensagem do Filho do Homem e inquietas diante da Palavra Salvadora, dedicam-se à tentativa de devolver ao mundo a Verdade que liberta e, por isso mesmo, exercem liderança cristã. Há diferentes ramos do Cristianismo, porém vamos nos deter na realidade católica, pois estamos inseridos nela.

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Ponto de partida e de chegada

Em 2008, Dom Orlando Brandes, Administrador Diocesano de Joinville, apresentou trabalho de formação católica, definindo o líder cristão como um servidor que tem a espiritualidade da comunhão e do lava-pés. Para ele, são seis as suas qualidades: 1-zelo pela retidão – um líder de comunidade cumpre seus deveres, evita toda negligência, consome-se de zelo pelo bem comum e faz tudo para a glória de Deus. 2-Compaixão fraterna – o líder é atento às pessoas, zela pelo seu bem-estar, é sensível às suas necessidades. 3-Paciência e tolerância – o líder perdoa as ofensas, cura as mágoas e promove a concórdia. Seu lema é o de não prejudicar, não condenar, não julgar, não agredir. 4-Vida exemplar – evita dizer uma coisa e fazer outra. 5-Bom senso – sabe exigir, sem ferir. Diz a verdade com caridade. 6-Devoção a Deus – sua fé se expressa na oração e no amor solidário, não desanima, é perseverante e aprende com a ciência da cruz.

Um ponto de partida para exercermos a liderança cristã preconizada por Dom Orlando é o de seguirmos a Doutrina Social da Igreja (DSI), conjunto dos ensinamentos contidos no Magistério da Igreja Católica, constante de numerosas encíclicas e pronunciamentos dos papas inseridos na tradição multissecular que tem suas origens nos primórdios do Cristianismo. O pilar fundamental da DSI é a encíclica Rerum Novarum (Das Coisas Novas), escrita pelo Papa Leão XIII no ano de 1891. Ela apóia o direito dos trabalhadores de formarem sindicatos, mas defende o direito à propriedade privada. O documento papal clama

por justiça na vida industrial e sócio-econômica, defende, por exemplo, a melhor distribuição de riqueza, a intervenção do Estado na economia a favor dos mais pobres e desprotegidos, a caridade do patronato aos trabalhadores. Seguindo a tradição, muitas encíclicas sociais têm na Rerum Novarum o modelo. No dia 5 de setembro de 2010, em visita a Carpineto Romano, cidade natal de Leão XIII, o Papa Bento XVI deixou a seguinte mensagem: “amai-vos uns aos outros assim como Cristo vos amou e por este gesto sede luz do mundo”. Dessa forma, ratificou o compromisso cristão de agir como Aquele que fazia o que pregava. Na ocasião, Bento XVI valorizou a ação de Leão XIII, o Papa ancião que, em uma época de anticlericalismo, soube enfrentar os opositores e rejuvenesceu a Igreja, apoiando os católicos na trilha de uma participação construtiva, rica de conteúdo e firme nos princípios cristãos.

Padre Aloysio Bohnen explica que o ser humano, indiscutivelmente um ser social, potencialmente pode ser tudo. O homem cristão produz atos eternos, divinos em Cristo e Cristo pratica atos em nós como homem. Em relação à DSI, Padre Aloysio apresenta os seguintes aspectos - quanto ao objeto: está intimamente ligado à verdade e a verdade é a conformidade da mente com a realidade; quanto aos princípios: os valores fazem parte do homem, confundem-se com a própria essência do ser; quanto ao fim: o indivíduo é responsável pelos seus atos, não pode jogar esta responsabilidade no coletivo.

Com a DSI, responderemos aos anseios reais da sociedade nos

diversos campos: político, religioso, econômico. Padre Manoel Augusto Santos destaca a política como uma das ações fundamentais dos cristãos no mundo, cabendo aos leigos um papel relevante em cargos de liderança. Porém, há pressão para que se proceda na política como se Deus e a Igreja fundada por Cristo não existissem. Até onde chega a autonomia da vida pública? Pode um político cristão prescindir de sua fé no exercício de suas atribuições? Evidentemente que não. Por isso, a liberdade política não é, nem pode ser, fundada sobre a idéia relativista segundo a qual todas as concepções do bem do homem têm a mesma verdade e o mesmo valor. Do concreto da realização e da diversidade das circunstâncias brota, necessariamente, a pluralidade de orientações e de soluções, mas todas devem ser moralmente aceitáveis. Seria um erro confundir a justa autonomia que os católicos devem assumir em política, com a reivindicação de um princípio que prescindisse do ensinamento moral da Doutrina Social da Igreja. Igualmente, nos outros campos de atuação, o cristão deve desafiar-se a si mesmo, sendo cristão em todas as atividades, sem deixar jamais de aproveitar o ambiente em que vive para cumprir sua missão. Desse modo, exercerá a liderança e mudará o mundo, ou ao menos, o seu entorno.

E o ponto de chegada é o da santidade: “Sede santos, porque Eu, Javé, o vosso Deus, sou santo.” (Lev 19,2) Porém, o que importa é a caminhada. “Quem não tem pecado, que jogue a primeira pedra” (Jo 8,7). Mesmo diante das tentações, a santidade está ao alcance de todos os batizados que recorrem

à Confissão e buscam na Celebração Eucarística a garantia de “quem come minha carne e bebe meu sangue permanecerá em mim e eu nele” (Jo 6,56). Também a Confirmação do Batismo é essencial. E se estiver o corpo enfermo ou debilitado pela idade, ainda há a Unção dos Enfermos. Não dá para, igualmente, deixar de recorrer à sempre pronta intercessão de Nossa Senhora, pois nunca falha. Papa Bento XVI, no dia 17 de setembro de 2010, doze dias depois de haver, na terra de Leão XIII, solicitado que seguíssemos a DSI, dirigiu-se a quatro mil jovens estudantes católicos britânicos e revelou a esperança de que entre os que o escutavam, estivessem alguns dos santos do século XXI. A receita para a santidade é tornar-se amigo de Deus, porque só Deus oferece a verdadeira felicidade. Assim, verificamos a crença do Sumo Pontífice de que os homens são vocacionados para o bem.

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A vocação do cristãoSe por um lado, existe

uma vocação comum que nos convida para nos moldarmos “não ao mundo, mas à vontade de Deus” (Rm 12,2), por outro lado, existem diferentes estados de vida e vocações múltiplas. Vocação laical: cristãos leigos; vocação dos ministérios ordenados: bispos, padres e diáconos; vocação religiosa: irmãos religiosos e irmãs religiosas; vocação missionária: leigos, ministros ordenados, irmãos religiosos e irmãs religiosas. As quatro grandes vocações se distinguem umas das outras pelo tipo de serviço a ser feito em comunidade, sem jamais deixar de se ligar a uma paróquia e sempre buscando na Celebração Eucarística a força necessária para deixar o Espírito Santo agir. Nos parágrafos seguintes, um convite para cada leitor se enquadrar em uma vocação ou mais, vivendo seu Cristianismo plenamente.

A palavra portuguesa leigo é proveniente do grego “laikós”, que se origina de “laos", cujo significado é multidão, aglomeração de gente não qualificada. As traduções latinas e os sinônimos empregados para expressar o significado de “laikós” são idiota, iletrado, secular, plebe. Por muito tempo, a Igreja estabeleceu uma distinção entre o clero, os esclarecidos e os leigos, os que estão à margem do conhecimento. Graças ao Concílio Ecumênico Vaticano II, houve uma nova compreensão sobre o papel do leigo na Igreja, embora a Pastoral Vocacional ainda encontre muita dificuldade para que haja a superação desse inconsciente coletivo, que durante séculos criou uma barreira entre os ministros ordenados e os demais cristãos batizados. Na Constituição

Dogmática sobre a Igreja “Luz dos Povos” (Lúmen Gentium), o Concílio Vaticano II superou a distância entre hierarquia e laicato, rompendo com uma desigualdade perniciosa e se interessando em descrever positivamente os leigos, os quais devem buscar e promover o bem-comum, na defesa da dignidade do homem e de seus inalienáveis direitos à vida, à segurança, ao trabalho, à moradia, à educação, à religião, à participação em associações livres, à posse da terra. Deve existir uma opção pelos necessitados: crianças, anciãos, jovens marginalizados, desempregados, encarcerados, operários. O voluntariado é um chamado a todos que têm verdadeiro amor e fazem do outro, seu próximo. O exemplo está no bom samaritano da parábola narrada por Jesus.

Dentro da vocação laical, destacam-se três: a matrimonial; a consagrada no mundo; a celibatária. Sobre a vocação matrimonial, em Mt 19,4: “O homem deixará pai e mãe e se unirá a sua mulher e os dois serão uma só carne”; 1Co 7, 3: “O marido cumpra o dever conjugal para com a esposa; e a mulher faça o mesmo em relação ao marido”. Os ministros do Sacramento do Matrimônio são os noivos. No que diz respeito aos consagrados no mundo, o Papa Pio XII oficializou na Igreja os Institutos Seculares, organização de leigos consagrados que vivem no mundo, unindo o transitório e o eterno, sem fazerem de conventos ou de comunidades religiosas suas moradias, ou seja, inseridos na comunidade à qual pertencem. Papa Paulo VI afirmou: “a tarefa primária dos institutos de vida secular consagrada

consiste em pôr em prática todas as possibilidades cristãs e evangélicas, ocultas sim, mas presentes nas realidades do mundo”. Quanto à vocação de solteiros, São Paulo se refere a pessoas que se sentem e vivem como cristãos leigos, mas não se sentem chamados nem para o matrimônio, nem para a vida religiosa, nem para o ministério ordenado.

As Ordens Terceiras são associações de leigos católicos, vinculados às tradicionais ordens religiosas oriundas da Idade Média e que desejam viver plenamente o Evangelho, tais como Franciscanos, Carmelitas, Dominicanos, etc. Os sacerdotes diocesanos também podem fazer parte das Ordens Terceiras. São Francisco foi quem primeiro pensou em uma regra de vida para leigos, ou seja, uma terceira ordem. A Ordem Franciscana Secular, a partir do ano de 1978, recebeu do Papa Paulo VI a nova regra, em vigor até os dias de hoje. O Papa João Paulo II, quando do Capítulo Geral de 2002, disse: “Vós, Franciscanos Seculares, viveis por vocação a pertença à Igreja e à sociedade, como realidades inseparáveis. Por isso, é-vos pedido o testemunho pessoal no ambiente onde viveis”. Ao longo da história, leigos casados, solteiros, viúvos, reis, rainhas, gente do povo, de todas as classes e idades têm aderido às Ordens Terceiras, para consagrar a Deus suas vidas, permanecendo no mundo e junto dos seus.

A vocação aos ministérios ordenados consiste em três serviços: o da pregação da palavra – ser profeta; o serviço de santificação, sobretudo através dos sacramentos; o serviço do pastoreio, organizando, animando e conduzindo

a comunidade eclesial. O Diaconado é o primeiro grau do sacramento da ordem; o Presbiterato é o segundo; o terceiro é o Episcopado.

O Diaconado, primeiro grau do sacramento da Ordem, permaneceu florescente na Igreja do Ocidente até o século V, sendo restabelecido pelo Concílio Vaticano II. As mãos impostas aos diáconos pelo Bispo não são em ordem ao sacerdócio, mas ao ministério. Fortalecidos com a graça sacramental, servem ao Povo de Deus, em união com o Bispo e o seu Presbitério, no Ministério da Liturgia, da Palavra e da Caridade. As funções do diácono são as de administrar solenemente o Batismo, guardar e distribuir a Eucaristia, assistir e abençoar o Matrimônio em nome da Igreja, levar o viático aos moribundos, levar aos fiéis a Sagrada Escritura, instruir e exortar o povo, administrar os sacramentais, presidir o culto, a oração dos fiéis, os ritos do funeral e da sepultura. Consagrados aos ofícios da caridade e da administração, os diáconos devem se lembrar da recomendação de São Policarpo: “Misericordiosos, diligentes, caminhando na verdade do Senhor, que se fez servo de todos”. Embora a Bíblia Sagrada se refira a diaconisas, o Sacramento da Ordem Diaconal é exclusivo aos homens, porque as diaconisas não recebiam imposição das mãos. Quanto à estola, ela é atravessada no peito para mostrar a horizontalidade de suas funções, pois está voltada para o serviço e deve obediência plena ao Bispo Diocesano, com quem está intimamente ligado.

Os presbíteros, esclarecidos colaboradores da Ordem Episcopal, são

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chamados para o serviço do Povo de Deus e constituem, com o seu Bispo, um presbitério com diferentes funções. Os padres devem reconhecer no Bispo um verdadeiro Pai e obedecer a ele com reverência. Seguindo o exemplo de Cristo, que não chama seus discípulos de servos, mas de amigos (Jo 15,15), o Bispo deve enxergar seus colaboradores como filhos e amigos. Desse modo, todos os sacerdotes ordenados, tanto diocesanos, como religiosos, estão associados ao corpo episcopal. Dom Orani João Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, define o presbítero como o homem da Palavra de Deus, do sacramento, do mistério da fé. Para ele, o sacerdote é, sem dúvida, um Cristo agora, pois o Verbo Encarnado é o mesmo ontem, hoje e sempre. Assim, a primeira e fundamental vocação do padre é a da santidade, juntamente com toda a Igreja. Mas o presbítero contemporâneo tem um novo desafio: o de procurar uma linguagem compatível com este mundo de multimídia.

No que diz respeito aos bispos, Lúmen Gentium, Capítulo III, do Concílio Vaticano II, segue os passos do Concílio Vaticano I e, com base no Evangelho, declara que Jesus Cristo, Pastor Eterno, tendo enviado os Apóstolos como Ele fora enviado pelo Pai, estabeleceu que os sucessores deles, os bispos, fossem pastores na sua Igreja até o fim dos tempos, colocando Pedro à frente dos outros Apóstolos. Hoje, seguindo a tradição, o Papa Bento XVI, como seus antecessores e os que o sucederão, na qualidade de Bispo de Roma, é o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade da Igreja. Como

sucessor de Pedro, é o vigário de Cristo, chefe do colégio dos bispos e pastor de toda a Igreja, sobre a qual tem, por divina instituição, poder pleno, supremo, imediato e universal. O Ministério Episcopal é tríplice: o de ensinar através da pregação do Evangelho; o de santificar, porque é na Igreja que os fiéis se unem para celebrar o mistério da Ceia do Senhor, fazendo com que o corpo da inteira fraternidade seja unido por meio da carne e do sangue de Cristo; o de reger, pois os fiéis devem aderir ao seu Bispo, como a Igreja adere a Jesus Cristo e o Verbo Encarnado adere ao Pai, a fim de que todas as coisas conspirem para a unidade e se multipliquem para a glória de Deus, à luz do Espírito Santo.

A vocação religiosa atinge homens e mulheres ligados a congregações. Existem as mais variadas formas de vida religiosa: contemplativa, ativa e mista, englobando as duas formas anteriores. Em Perfectae Caritatis, do Concílio Vaticano II, fica claro que, desde os princípios da Igreja, houve homens e mulheres que, pela prática dos conselhos evangélicos, procuraram seguir Cristo com maior liberdade e imitá-lo mais de perto, consagrando, cada um ao seu modo, a própria vida a Deus. Religiosas e religiosos já haviam sido consagrados ao Senhor pelo Batismo. Mesmo assim, por um chamado especial, comprometem-se a viver com três votos ou promessas: na castidade consagrada a Deus, na pobreza evangélica, na obediência apostólica que busca fazer sempre a vontade do Senhor.

A vocação missionária é a vocação das pessoas que se ocupam de anunciar

Jesus e seu Evangelho a quem ainda não O conhece, bem como organizar a comunidade eclesial aonde ela não existe. Tanto podem ser missionários leigos, quanto religiosos e padres. O documento Ad Gentes, do Concílio Vaticano II, sobre a atividade missionária da Igreja, apresenta grande relevância teológica, apesar da linguagem jurídica e da predominância de aspectos administrativos. Segundo Ad Gentes, a atividade missionária da Igreja nasce no coração da Trindade, pois Deus quer salvar os homens em sua totalidade. Os missionários pretendem mostrar a todos os povos que o plano de Deus Pai inclui a missão do Filho como modelo e a ação do Espírito Santo como fonte transformadora.

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Concluindo...

Exercer liderança no plano material é uma tarefa de doação; exercer liderança cristã é transformar a entrega humana em prol do bem comum, em algo transcendente, porque tem como ponto de partida a Doutrina Social da Igreja, alicerçada no grande mandamento de amor ao próximo. Como ponto de chegada, santidade, uma graça que será alcançada por quem recorrer aos sacramentos, à intercessão de Nossa Senhora e à comunhão com o irmão. Jesus nos convida ao exercício de nossa vocação, de forma incondicional. “Se alguém quiser vir após mim, tome a sua cruz de cada dia e siga-me”. (Lc 9,23)

O símbolo da cruz remete-nos à história da salvação e à paixão do Senhor. A cruz representa o Verbo Encarnado, a segunda pessoa da Santíssima Trindade. Ser líder cristão é ter consciência do Cristo-Servo, é agir de acordo com o chamado de Deus. A cruz com um braço transversal é a cruz do Evangelho. Seus quatro braços simbolizam os quatro elementos: fogo, terra, ar e água, o conjunto da humanidade atraída para o Cristo, envolvendo os quatro cantos do mundo e as virtudes da alma humana. O pé da cruz enterrado no chão significa a fé assentada em profundas fundações; o ramo superior indica a esperança voltada para o céu; o comprimento da cruz é a perseverança até o fim.

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Parte IICaminho Para Ser Cristão: Existir à Semelhança de Deus

Antes de oferecer aos leitores o depoimento de líderes reconhecidamente cristãos e de apresentar o testemunho de cada um dos componentes do grupo que realizou esta trilogia do líder cristão, como pessoas que se esforçam por trilhar o Caminho da Salvação, vamos recorrer à definição de João Paulo II, segundo a qual “ser cristão é existir à semelhança de Deus”. Na homilia de 1° de janeiro de 1997, começa por lembrar Lc.1,31: “hás de conceber no teu seio e darás à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus”. Em At 4,12, fica enfatizado o fato de que, ao nascer da Virgem Maria, Deus se fez homem e veio ao encontro de cada ser humano.

Jesus significa “Deus que salva”. Muitos em Israel recebiam esse nome, mas Ele o teve de forma única, pois o tempo está unido a Jesus desde o início. Por obra de Cristo, podemos

participar da vida divina: filhos do Filho, destinados à glória da eternidade. O Filho é Aquele que, com todo seu ser, dirige-se a Deus: Abba, papai. Assim, o nome cristão significa existir à semelhança de Deus. Nossos entrevistados são reconhecidamente líderes cristãos, capazes de, conforme o Salmo 103[104], 30, “deixar o Espírito de Deus que renova a face da terra agir neles”.

Cada vez que celebramos a Eucaristia, vivemos na fé o mistério que se realiza no altar, ou seja, preparamo-nos para a liderança cristã, pois participamos do supremo gesto de amor que Cristo realizou com sua morte e ressurreição. “Vim lançar fogo sobre a terra: e que quero Eu, senão que ele já tenha sido ateado?” (Lc 12,49). O verdadeiro fogo, o Espírito Santo, foi trazido sobre a terra por Cristo. Com o maior gesto de amor da história, a sua morte na cruz, o Filho

do Homem nos convida a exercermos liderança cristã, baseados no mandamento de amor ao próximo.

s depoimentos que apresentaremos a seguir revelam a existência de pessoas comprometidas, capazes de não reduzir o Pentecostes a um simples rito. São provas irrefutáveis de que a Igreja, não obstante os limites e as culpas do homem, continua a atravessar o oceano da história, impelida pelo sopro do Espírito e animada pelo seu fogo purificador. Também os realizadores desta trilogia desejam deixar que o Espírito de Deus que renova a face da terra atue neles. Para isso, contam com a intercessão de Maria Santíssima, mãe amorosa e atenta ao pedido de seus filhos, especialmente quando pretendem transmitir um testemunho de fé.

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Depoimento de um empresário e líder cristão

Um exemplo de líder leigo que, por suas ações, revela o Espírito de Deus, que renova a face da terra, é o do empresário gaúcho Humberto Ruga. De família católica, é homem de muita fé e essa virtude sempre o levou a olhar por seu próximo. Para ele, a fé não pode ser guardada, deve ser distribuída, processada através de atos e não de conversa. Não adianta só rezar, a oração se completa com a ação. Ao entrevistá-lo, recebemos a experiência de um verdadeiro líder cristão.

Segundo Humberto Ruga, o agir começa na família, estende-se ao ambiente de trabalho e espalha-se pela sociedade junto aos necessitados. Encontramos Ruga em várias frentes, como na ONG Parceiros Voluntários, de quem é fundador, nos Projetos Prisionais, na Pastoral Carcerária, no Albergue Santa Cruz e em muitas outras atividades beneficentes. É membro ativo da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE).

Nas vilas, o combate às drogas tem no esporte um grande aliado. Para ele, o cristão deve estar em movimento contínuo em prol do bem comum. A sinceridade é a marca de Ruga e a verdade o acompanha, porque

não tem medo de dizê-la. No seu entendimento, a base de quase tudo é a família, mas uma boa escola também é importante para despertar amor e solidariedade.

Em relação à Igreja, sua visão é a de que a hierarquia eclesial tem sido desobedecida. O sacerdote ordenado, para ter mais tempo de exercer sua evangelização, deve se valer de leigos, os quais necessitam se aperfeiçoar para bem desempenharem suas funções, mas há atividades inerentes ao padre e o leigo deve respeitá-las.

Quanto ao surgimento de seitas, ele alerta para a eficiência do marketing das mesmas e acredita que de nada resolve o sacerdote ser doutor em Teologia, se atuar apenas como professor universitário, afastando-se da comunidade.

O empresário Humberto Ruga reconhece a importância da produção e do dinheiro, mas as necessidades comunitárias estão em primeiro lugar. Um líder cristão deve ser coerente com sua religião, ter fé e ser solidário. Por isso, não deve ver o próximo como um ser digno de pena, mas merecedor do amor que Cristo nos transmitiu.

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Depoimento de diáconos

A diaconia é um caminho seguido por alguns cristãos para exercerem seus serviços à obra do Pai, pois mesmo casados, viúvos ou solteiros podem vir a ser ordenados como diáconos. Buscando entender a Diaconia, entrevistamos três diáconos: Júlio Kunzler, José Fernando Costa e Ney Luiz Muller.

O diácono Júlio Kunzler é professor aposentado, pós-graduado, casado, com um casal de filhos, dois netos e uma neta. Foi ordenado diácono permanente em 31 de agosto de 2002. Atua junto à Diaconia Santo Efrém e na Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Bairro Chácara das Pedras. Atualmente é o Coordenador dos Diáconos da Arquidioce.

Segundo Júlio Kunzler, o ministério do diácono na Igreja situa-se em três âmbitos bem definidos: a ação litúrgica, a evangelização e o serviço da caridade, que são a expressão da presença e ação misericordiosa da Igreja. A missão do diácono está ligada ao Cristo-Servo. Na promoção social e na vivência das obras de misericórdia, o diácono assume a opção preferencial pelos pobres, pelos marginalizados e pelos excluídos. Perguntado como se tornar um diácono, explicou-nos que, inicialmente, é necessário colocar-se em oração, lembrando que, antes de ser

um serviço, o Diaconado “é uma vocação, um dom de Deus à sua Igreja” (Santo Domingo). Depois deve haver uma conversa com o pároco, na qual vai externar seu desejo de servir à Igreja como possível diácono. Pela dupla sacramentalidade, matrimônio e ordem, há que se ter cuidado para não se sacrificar a família sob o pretexto do exercício do ministério. O diácono Júlio crê que a maioria dos leigos desconhece o seu papel irrenunciável como cristão e, por isso, deve procurar formação, no sentido de conhecer e pôr em prática os princípios cristãos da Doutrina Social da Igreja na vida em família e na sociedade. Para ele, um autêntico leigo cristão incomoda e deve incomodar. Fazendo um retrospecto de sua vida nos diz: “Como toda a caminhada, a minha apresenta momentos de bastante alegria e satisfação, mas também há momentos que me preocupam. Muito preciso, ainda, crescer para melhor poder servir a Cristo e a sua Igreja.”

O diácono José Fernando Costa atua na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no Bairro Ipanema. Sente-se muito feliz, porque depois da aposentadoria “sentiu o chamado de Jesus para trilhar uma estrada que, apesar de ser escura, lhe faz sentir iluminado pela luz de Cristo a

cada passo dado”.

O curso de formação do diácono José Fernando Costa durou três anos e meio e ele percebeu as mudanças ocorridas, principalmente como chefe de família. Hoje, consegue manter a harmonia e vencer as dificuldades sem se abater como antigamente. Tem a consciência de que o diácono exerce sua função missionária com vistas à libertação integral do homem. Segundo ele, o diácono atende na Paróquia em que está inserido, nas paróquias vizinhas e, também, na Arquidiocese, quando chamado pelo Arcebispo, fazendo da Doutrina Social da Igreja seu carro chefe. Compreende, cada vez mais, que Deus não nos prometeu facilidades, mas sim, felicidade. Na expectativa de melhorar, repete sempre: “Senhor, eu creio, mas aumenta a minha fé”. Ele ensina que o diácono deve testemunhar que não é apegado a cargos e funções, muito menos a honrarias. Também, o diácono casado não deve se descuidar do seu lar e como homem de seu tempo, deve participar da sociedade, menos naquilo que contradiz o Evangelho. Deixa-nos uma mensagem: “Aos que desejam exercer a liderança cristã, leigos ou diáconos, pensem bem antes de assumirem um compromisso, no entanto, é

recompensador”. Segundo Jesus: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus” (Lc 9, 59).

O diácono Ney Luiz Müller, também da Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, em 1989, sentiu o chamado do Senhor e passou a dedicar-se, exclusivamente, ao trabalho de Deus junto à sua paróquia, na evangelização. Em 1993, com orientação do seu pároco, iniciou a preparação ao Diaconado.

Em 1997, Ney Luiz Müller foi ordenado diácono. Desde aquela época, tem se dedicado no auxílio ao padre e está ligado às pastorais, à catequese, à evangelização e ao trabalho junto aos pobres. Sua meta é: “Servir ao Senhor na pessoa dos irmãos”. Tem o apoio de sua família, pois sua mulher e seus filhos têm consciência de que a graça vem de Deus. Segundo o diácono Ney, os santos dizem que a felicidade é o encontro com o Senhor no cumprimento da vocação. Por isso, quando se sente um chamado, não há limites na resposta. Sempre se pode amar mais e servir melhor e isso exige um esforço para vencer os limites e as acomodações. Deus sabe de nossos limites e o que podemos dar. Como bem afirmou o Papa João Paulo II: “Abre o teu coração ao Cristo, Ele só quer te amar”.

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Padre Jacques Szortyka: um pouco da história

A fim de aprofundar o tema relativo a lideranças cristãs, realizaremos uma entrevista com o Padre Jacques Szortyka Rodrigues. Ele pertence ao Clero Secular de Porto Alegre e, até o dia 28 de agosto de 2010, foi Administrador da Catedral Metropolitana da mesma cidade.

Padre Jacques Szortyka, quando deixou a administração da Catedral Metropolitana de Porto Alegre, viajou para Roma, por sugestão do Conselho de Presbíteros da capital gaúcha e com o propósito de se tornar mestre na área de Filosofia. Na volta, deverá ser o professor de novos seminaristas. Antes da sua viagem, concedeu ao nosso grupo uma entrevista, cujas ideias principais passamos a relatar nos parágrafos seguintes.

Ele explicou que depois do Concílio Vaticano II houve uma crise muito grande na identidade sacerdotal, pois, inicialmente, os presbíteros tiveram dificuldade em entender as três grandes missões inerentes à sua vocação: a profética, enquanto anunciador da Palavra e primeiro responsável pela catequese e formação

dos leigos; a sacerdotal, com a responsabilidade de ministrar os sacramentos, para trabalhar no caminho da santificação do Povo de Deus; a régia, que trata a organização da Paróquia, com questões materiais e administrativas.

Como antes do Concílio Vaticano II, os padres eram vistos apenas na missão sacerdotal, ao serem cobrados também pelas outras missões, perderam o rumo e se perguntavam: “E agora? Qual nossa missão na Igreja?” Muitos buscaram a politização, outros partiram para a secularização. Criou-se uma confusão entre o papel dos leigos e o dos padres junto à Igreja. Esta crise se refletiu nos seminários, pois também os padres que formam os seminaristas viveram a época de transição.

Por quase duas décadas, não havia uma orientação clara em relação à própria missa. A Sacrosanctun Concilium, do Concílio Vaticano II, mandou que se revisassem todos os livros litúrgicos. Como a elaboração do Missal estudado e aprovado por Roma levou tempo para ser concluído, um seminarista em formação nessa época

sabia o que não era mais vigente, mas perdeu a noção de limite do que é aceito. Como resultado, igrejas foram descaracterizadas, até mesmo imagens de santos e obras de arte foram destruídas, sem falar em celebrações profanas na tentativa de se popularizarem. O Missal que hoje utilizamos só foi aprovado pelo Papa João Paulo II no final dos anos noventa, do século passado. Graças a esse novo documento já há excelentes formadores e disseminadores do que foi elaborado pelo Concílio Vaticano II, havendo melhor adequação para o mundo de hoje. O Padre Jacques constatou que um irmão seu, seminarista em Viamão, tem melhor orientação do que no seu tempo, o que favorece ao crescimento da formação espiritual e teológica dos futuros padres. Os seminaristas, hoje, estão inseridos nas atividades paroquiais desde cedo e os presbíteros responsáveis pela formação deles também realizam atividade nas paróquias. Esse contato direto com o povo é salutar. Está facilitado igualmente o canal de comunicação entre os seminaristas e o bispo.

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Mais testemunhos“Sou líder cristão?” Animados pela reflexão que esta pergunta provoca, nós, integrantes do

grupo que realizou esta trilogia do líder Cristão, como trabalho de conclusão do curso de liderança cristã realizado pela ADCE, em parceria com o IDC e EMAUS, sentimos a necessidade de transmitir um breve depoimento pessoal.

“Como depoimento pessoal, começo pela base da experiência cristã, agradecendo ao Bom Deus pela vida; graças pelo sacramento do batismo; graças pelo sacramento da comunhão; graças pelo sacramento da penitência e da confissão; graças pela crisma ou confirmação; a especial graça do sacramento do matrimônio, marco inicial e referencial para o exercício da liderança cristã. A partir desse momento iniciei uma nova vida a cinco: esposa, dois enteados, Deus e eu esposamos. Sem a decidida e explícita consciência matrimonial com a presença constante de Deus, o casamento seria muito difícil para a constituição de uma harmoniosa família, acrescida posteriormente com mais um filho. Na minha trajetória de vida, alguns registros me marcaram: influenciei na vida de um colega de trabalho para que não concretizasse o divórcio; como micro-empresário, utilizei um Boletim Informativo publicado por mim e distribuído para seiscentos clientes, para, entre diversas matérias, também divulgar um artigo com mensagem cristã; constatei depois de alguns anos que nunca perdi algum negócio por explicitar a fé cristã; criei um núcleo da ADCE, no município de Nova Petrópolis, com um trabalho aos finais de semana, mas que depois de três anos infelizmente não prosperou, talvez por falta de persistência minha. Finalizo expressando minha gratidão a Deus, mas devedor e compromissado para realizar muitas tarefas evangelizadoras”.

“Sou líder cristão? Nem sempre. A maior prova é a de que meu filho e minha filha estudaram em colégios católicos, fizeram CLJ, foram crismados, porém não frequentam a Igreja. Tanto eu como a mãe deles, unida a mim pelo sagrado sacramento do Matrimônio, gostaríamos que fosse diferente, porém não nos queixamos: eles nos dão muitas alegrias, porque agem movidos por princípios de amor ao próximo. Não sou de fazer promessa, mas no

dia 26 de novembro de 2005, aflito, pedi um milagre e fui atendido. Na hora do aperto disse que se Deus ouvisse meu pedido, não me importaria que o Inter deixasse de ser Interregional. Pior, até acharia justo que o Grêmio ficasse tanto tempo sem ganhar como os vermelhinhos. ‘Meu Jesus Cristinho, vê se vira logo esta gangorra’. Falando sério, busco aperfeiçoamento, valendo-me de leituras; de cursos oferecidos pelo Vicariato de Porto Alegre, na sede da Pastoral, com professores da PUCRS ; de um curso promovido pela

ADCE; dos encontros no IDC dirigidos pelo padre jesuíta Sérgio Mariucci. Antes disso, houve as reuniões promovidas pelo capelão da Universidade Luterana do Brasil, Pastor Gehrard Grasel: lembro-me delas com carinho. Contudo, o que mais me orgulha é o fato de ser Ministro Extraordinário da Comunhão na Igreja da Ressurreição, Colégio Anchieta. Só deixo de ir a jogo no Olímpico quando coincide com a missa de sábado, normalmente celebrada pelo Padre José Eduardo Martins”.

Hans Peter

Gerwy

Hugo Luiz de Souza

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José Ronaldo Leite Silva

“Filho de mãe católica fervorosa e de pai não praticante, fiquei afastado da religião desde o ano de 1962 até a década de 90. Depois do nascimento da filha e da saída da Riocell, fatos que mexeram comigo, por influência de um colega adventista, aos poucos retornei à fé católica. As homilias e palestras do Padre Manoel Santos, no Santuário Nossa Senhora Aparecida, em Ipanema e os cursos dos professores da PUCRS foram decisivos para a minha formação. Atuo hoje como voluntário no Educandário São João Batista, Centro de Reabilitação de crianças deficientes e carentes, que sobrevive de doações e convênios com órgãos oficiais. No local, trabalham fisioterapeutas, fonoaudiólogos e assistentes sociais. As missas semanais nos dão a certeza de que tudo é feito em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Destaco também meu orgulho de participar da ADCE, instituição preocupada em estimular leigos cristãos a trabalharem por amor ao próximo”.

Nora Celiberto

“Casada, tenho um casal de filhos e dois netos, um deles para nascer por esses dias. Como profissão, sou bibliotecária. Por volta de 1970, durante meu Cursilho, vivi um momento belíssimo quando tive a coragem de abrir meu coração e sentir a graça de Deus tomando conta de mim. Desde então, minha vida se transformou completamente. Ao sentir o amor de Deus e saber que esse Deus me ama desde toda a eternidade, minha vida passou a ter outro sentido. Finalmente eu havia encontrado um ideal pelo qual valia a pena viver. Naquele momento, dei meu “sim” ao Pai e até o dia de hoje tenho procurado viver esse “sim”. Confesso que nem sempre tem sido fácil. Como todo ser humano, tenho passado por momentos difíceis, tenho tido minhas quedas também, muitos momentos de aridez,

em que tudo parece vazio e até a oração parece perder o sentido. Em outros momentos me sinto “morna” e, amigos, um cristão “morno” é um triste cristão. Mas, apesar disso tudo, em todos estes anos, no fundo do meu coração e de minha alma, eu nunca duvidei do amor de Cristo. É Ele que me dá forças para levantar e continuar minha caminhada. Nessa caminhada, não posso guardar só para mim esse Cristo que me ama e me acompanha. Eu preciso levá-lo para os outros, para aqueles que me rodeiam e para aquelas pessoas que vou encontrando no meu caminhar pela vida. Tarefa fácil? Não, não é. Em muitas e muitas vezes, é necessário coragem. Para ter essa coragem, me apego à oração e ao estudo de minha religião. Com essa base, caminho para a ação, participando de movimentos da igreja como o

Cursilho, Emaús e outros mais. Também visitando leprosos no leprosário do Rio de Janeiro, quando lá residia, trabalhando em favelas e comunidades carentes como tive ocasião de fazê-lo, quando morava na cidade de Belo Horizonte. Enfim, procurando levar esse Cristo Amor para tantas pessoas que necessitam de um alento em suas vidas, procurando ajudá-las em suas carências. Atualmente me dedico mais à ADCE e faço parte da ONG Parceiros Voluntários, como tal, estou trabalhando na biblioteca da Fundação do Projeto Pescar. Algumas vezes penso que já estou velha e deveria dar lugar para os mais novos, mas Cristo é irresistível. Ele não me deixa acomodar. E quando ele me chama, eu não resisto. Não consigo dizer não para Ele. Perguntam-me: Vale a pena? Claro que vale a pena!”

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“Líder cristão? Por vezes nem ajo como um cristão! Quando o Pai me chama pelo nome, porém, eu sei para Quem efetivamente estou dizendo sim ou não. Percebo Sua onipresença em ambas as decisões, com uma fundamental diferença: a paz de espírito que encontro, durante e após executar a tarefa que Ele confiou a mim. Minha melhor herança? De minha mãe, fervorosa católica, devota de Nossa Senhora, a Fé! De meu pai, de religião desconhecida, os valores morais que me impeliram a buscar nos valores cristãos as armas para enfrentar os desafios do mundo de hoje. Atualmente, encontro o caminho a seguir através do Movimento de Casais Jovens, das Equipes de Nossa Senhora, da ADCE. Também, em breve, com a participação do meu filho, de oito anos de idade, no Movimento dos Focolares, pois definitivamente Ser Cristão é a melhor herança que podemos, minha esposa e eu, deixar para ele”. Posso afirmar, porém, que há um importante marco referencial hoje em minha vida, que é o Curso de Formação de Liderança Cristã, organizado pela ADCE com o apoio do IDC e do EMAUS.

Paulo Prado Coimbra

“No ano de 2003, o Padre Edgar Jost, da Igreja Santa Cecília, chamou-me para a cerimônia do lava-pés e fiquei extraordinariamente emocionado com o ato e o fato. Em junho de 2004, fui nomeado Coordenador das Pastorais. Dois anos depois, recebi convite para continuar e aceitei. Com a enfermidade do Padre, os leigos da Paróquia precisaram assumir as tarefas do dia-a-dia daquela comunidade. Pela ajuda recebida, compreendi que todo o leigo servidor se transforma em líder e não necessita de experiência, riqueza, empresas, curso superior. Até mesmo é desnecessário que conheça profundamente o Evangelho, necessitar é agir. Hoje faço parte da Coordenação Econômica da Paróquia, mas não me considero líder cristão. E cristão? às vezes. Em relação à família, minha mulher e filha vão sempre comigo às missas de domingo, contudo, o filho é mais resistente, mas certamente voltará ao caminho”.

Vainer Rodrigues Cabreira

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Concluindo...

Padre Henrique Soares da Costa explica que ninguém pode compreender o Batismo sem levar em conta o que aconteceu com Jesus na madrugada daquele domingo de Páscoa. Foi ali que tudo começou: o Cristianismo, a fé apostólica e a nossa fé, a salvação e a Igreja. O batismo de João Batista não era um sacramento, mas Jesus batizou sua Igreja no Espírito. A Igreja nasceu com a Ressurreição de Cristo e a partir de então os apóstolos se tornaram cristãos.

Todos nós, que temos a felicidade de haver nascido em uma família católica, temos a graça de reconhecer o Espírito que ressuscitou o Senhor Jesus. “Em verdade, em verdade, vos digo: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino

de Deus” (Jo 3,5). Dessa maneira, nesse artigo em que foram dados testemunhos de fé, fica a certeza de que, se por vezes, atendemos ao chamado do Senhor e nos dedicamos ao próximo, não é por mérito nosso, mas por dom ofertado pelo Ressuscitado.

Particularmente, por parte do grupo realizador dessa trilogia, é importante destacar também que, ao participarmos do curso promovido pela ADCE em parceria com IDC e Emaús, culminando com a elaboração desta trilogia, sentimo-nos novos homens e nova mulher. Compreendemos o que Cristo disse ao Seu povo: “a vós foi dado a conhecer os mistérios do Reino de Deus” (Lc 8,10),

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O Vicariato de Porto Alegre, com o objetivo de estabelecer um plano de ação para o período compreendido entre os anos de 2009 e 2012, partiu do documento de Aparecida, elaborado na V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, o qual deu continuidade ao caminho aberto pelo Concilio Vaticano II e pelas Conferências anteriores, no Rio de Janeiro, 1955; Medellín, 1968; Puebla, 1979; e Santo Domingo, 1992. O texto está dividido em três grandes partes, que seguem o método de reflexão teológico-pastoral: “ver, julgar, agir”. Esse esquema tripartite está alinhavado por um fio condutor em torno à vida, em especial a vida em Cristo, e está inserido transversalmente pelas palavras do Bom Pastor: “eu vim para que as ovelhas tenham vida e as tenham em abundância” (Jo 10,10).

A primeira parte se intitula A vida de nossos povos, os quais têm o dom de um hino de louvor e ação de graças, denominam-se os discípulos missionários. A segunda parte, a partir do olhar sobre o hoje da América Latina e do Caribe, entra no núcleo do tema. Seu título é A vida de Jesus Cristo nos discípulos missionários. Há a busca de se revitalizar a vida dos batizados para que permaneçam e caminhem no seguimento de Jesus. A terceira parte entra plenamente na missão atual da Igreja Latino - americana e Caribenha. O tema tem como título A vida de Jesus Cristo para nossos povos. Num núcleo decisivo do documento, apresenta-se a missão dos discípulos missionários a serviço da vida plena, considerando a vida nova que Cristo nos comunica no discipulado e nos chama a comunicar na missão, porque o discipulado e a missão são como as duas faces de uma mesma moeda. Nesse ponto, surge a grande opção da Conferência: converter a Igreja em uma comunidade mais missionária. Com as palavras dos discípulos de Emaús e com a oração do Papa em seu discurso inaugural, o documento conclui com uma prece dirigida a Jesus Cristo: “Fica conosco, porque é tarde e o dia declina” (Lc 24,29).

Para a fundamentação teórica, haverá um comentário sobre os livros O Sermão da Montanha; Eu, porém, vos digo; Em Segredo, de Georges Chevrot. As obras mostram sucessivamente o que devem ser os seguidores de Cristo, o que os cristãos devem fazer e como devem proceder. Com as leituras, consegue-se uma orientação segura para agir de acordo com os ensinamentos do Filho de Deus feito Homem. Também será dado destaque à oração do Pai Nosso.

Parte IIIAprofundamento da Verdade que Liberta

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Plano de ação do vicariato de Porto Alegre

Dom Dadeus Grings, arcebispo da Diocese de Porto Alegre, afirma que a missão do cristão é a construção do mundo. Para construir o mundo, é necessário agir como Jesus agiu: com compaixão e com aproximação. Só é cristão o homem que se enxerga no outro. Ao contrário de Sartre, que via no outro o nosso inferno, na visão cristã, o outro é o nosso paraíso, porque se não me relaciono com o outro, não sou eu.

Sensível às necessidades do Povo de Deus, o Vicariato de Porto Alegre, que tem à frente Dom Dadeus, oferece aos cristãos um plano de ação evangelizadora. Tal plano se vale do Documento de Aparecida, o qual constata que vivemos uma mudança de época que se manifesta, de forma marcante, no âmbito cultural. A mudança passa pela cidade. O homem urbano, por um lado, sofre o anonimato e a massificação; a solidão e a mobilidade; a insegurança e a violência. Por outro lado, o ritmo acelerado da cidade acaba criando um relativismo moral e uma indiferença religiosa. No entanto, por maiores que sejam os desafios, a

Igreja recebe as graças do Senhor Jesus todos os dias de sua existência terrena, que prometeu que “nada prevaleceria contra ela” (Mt. 16,18) e que “sempre estaria presente nela até a consumação dos séculos”. (Mt 18,20).

Para que, de fato, a Igreja permaneça, os líderes cristãos contam com o Vicariato de Porto Alegre para optarem por um dos projetos que constam da programação pastoral, que são: Projeto de Testemunho de Comunhão – Vivência do espírito fraterno entre as pessoas e os diversos grupos da comunidade; Projeto Diálogo Ecumênico e Inter-religioso – Vivência do espírito ecumênico e de diálogo inter-religioso; Projeto Formação Básica – Formação cristã dos fiéis leigos do Vicariato de Porto Alegre para que possam tornar-se, a partir do encontro com Jesus Cristo, discípulos missionários no mundo de hoje; Projeto Formação Específica para os Ministérios – Formação básica, específica e permanente de todos os Ministros Extraordinários; Projeto Formação Continuada – Formação comunitária, progressiva, orgânica e

sistemática dos agentes de pastoral; Projeto Formação Política – Formação política integral a todas as pessoas interessadas e empenhadas na construção do bem comum; Projeto Ministério da Palavra: Anúncio e Catequese – Anúncio missionário da palavra de Deus; Projeto Ministério da Liturgia – Animação da vida litúrgica do Vicariato; Projeto Ministério da Caridade - Construção conjunta das diaconias e das pastorais sociais.

A fundamentação eclesiológica, que norteia o novo plano de Pastoral, vai ao encontro das ideias do Concílio Ecumênico Vaticano II, o qual pretendeu tornar a Igreja cada vez mais próxima do projeto de Jesus Cristo e fiel a sua missão. Por isso, destacam-se três dimensões capazes de transformar a Igreja: cristocêntrica, um mistério e Povo de Deus; pneumatológica, animada pelo Espírito Santo e vocacionada à santidade; sacramental, estar no mundo em missão.

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Fundamentação teórica

Um referencial teórico indispensável para que se atinja a liderança cristã na sociedade atual passa, necessariamente, pelas obras de Monsenhor Georges Chevrot, que nasceu em 1879, em Paris, onde faleceu no dia 4 de fevereiro de 1958. Ordenado sacerdote em 1903, exerceu diversos ministérios pastorais na diocese, até ser nomeado pároco da Igreja São Francisco Xavier, onde permaneceu até a morte. Homem de profunda vida interior, por humildade recusou todos os títulos e honrarias. Tendo sido brilhante orador, dirigiu diversos retiros diocesanos em toda a França, sendo nomeado pelo Cardeal Verdier, pregador da Catedral de Notre Dame.

Dentre as suas muitas obras, vamos nos deter em três: O Sermão da Montanha; Eu, porém, vos digo; e Em segredo, justamente as que foram objetos de estudo no Curso de Formação de Liderança Cristã. Entre essas, só a segunda não foi traduzida para o português, mas todas têm em comum diretrizes para que se exerça verdadeiramente o Cristianismo.

No livro O Sermão da Montanha, Chevrot lembra que os ouvintes da Boa

Nova de Cristo exclamavam: “Este ensina como quem tem autoridade”. Ainda hoje as bem-aventuranças continuam atuais para nos mostrar o Reino de Deus e a felicidade plena. Num mundo que parece dividir-se em grupos que não se escutam mutuamente, que não se encontram, senão para voltar a se desentender, somente a linguagem comum do Sermão da Montanha é capaz de estendê-la ao terreno do embate entre direitos e deveres, e associá-la, para sempre, aos seus propósitos de aperfeiçoamento moral e espiritual. Dessa maneira, os novos desafios para a liderança cristã só serão vencidos se os seguidores de Cristo, cada indivíduo em particular, conseguirem absorver os velhos salmos de Israel: “Beati!”, “Bem-aventurados”, trazendo para a atualidade o Sermão da Montanha, que inaugurou a formulação da doutrina de Cristo.

Na obra Eu, porém, vos digo, Chevrot destaca que as bem-aventuranças nos indicam o que devem ser os seguidores de Cristo; a continuação do Sermão da Montanha nos dirá o que devem fazer. A regra de ouro, que Mateus coloca

no final do Sermão da Montanha (Mt 7,12), também é mencionada em Lc 6,31: “tratai às pessoas da mesma maneira que você gostaria que eles tratassem a vós”. Não se trata de um conselho ascético, de um provérbio ou de uma parábola, mas de uma regra de conduta. Regra de perfeição, cuja prática é, sem dúvida, difícil, mas é a regra final das relações humanas. Dá-nos o duplo segredo da santidade e da felicidade. A regra de ouro, portanto, não se resume apenas em abster-se de prejudicar os outros, de não lhes infligir o mal ou a dor que não aceitaríamos de sua parte. A regra de ouro é positiva e incondicional. É impossível exercer liderança cristã sem entender que o justo amor de nós mesmos, ao invés de degenerar em egoísmo, torna-se a norma de amor que se deve testemunhar aos demais.

Ao escrever Em segredo, Georges Chevrot concentra-se nas três obras de justiça: Jejum, conversão da alma pela mortificação; Esmola, caridade; Oração, conversa com Deus, que de acordo com o conselho evangélico, deve ser praticada no mais absoluto segredo. Esse é o fio condutor de que se vale o padre francês para descrever

as características da verdadeira relação com o Criador. Assim, fica caracterizada a missão do líder cristão: praticar as boas obras de olhos postos unicamente em Deus, fugindo dos aplausos dos homens, para contar apenas com o sorriso divino. “Quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita”, ( Mt 6,3). É do Pai, e só Dele que se deve esperar recompensa, pois farisaísmo religioso não é do espírito de Cristo. Líder cristão, seja ele ordenado ou leigo, não pode jamais cair na tentação de fazer somente o que agrada aos outros, o que está na moda, omitindo o que agrada a Deus. O cristão é um homem que não se importa de nadar contra a corrente, animado por uma pureza de intenção que resulta de uma vida “escondida com Cristo em Deus”. A oração do Pai-Nosso, tão bem explicada por Chevrot, situa-se na linha de uma vida guiada pelo empenho de somente “fazer o que Deus quer” e “querer o que Deus faz.”

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Pão dos sacramentos e água da oração

Assim como a planta precisa de água e de adubo para crescer e se desenvolver, a vida divina, implantada em nossa alma, no momento do Batismo, não pode se elevar, não pode se engrandecer, nem se desenvolver até chegar à maturidade própria e única (quer dizer, "à plenitude da idade de Cristo" que corresponde a cada um de nós) sem o pão dos sacramentos e a água da oração! Assim, não importando se somos leigos, religiosos ou ordenados, nem quais as nossas ocupações pessoais, a atitude interior de recolhimento diante de Deus é a primeira atitude para a oração, aquela que nos religa àquele que é a nossa Fonte, a Fonte de toda a vida.

Quanto às formas de oração, estas variam de acordo com a própria diversidade de nossas almas, em nosso diálogo íntimo com o Senhor. Não obstante, a oração pessoal não substitui, nem suprime a oração dos diferentes ofícios litúrgicos (oração oficial da Igreja), nem as grandes orações tradicionais da Igreja, dentre as quais, a oração que o próprio Jesus nos ensinou, o "Pai Nosso".

Pai nosso que estais no céu,

Santificado seja o vosso nome,

Venha a nós o vosso Reino,

Seja feita a vossa vontade

Assim na terra como no céu.

O pão nosso de cada dia nos dai hoje,

Perdoai as nossas ofensas, assim como

nós perdoamos

A quem nos tem ofendido.

Não nos deixeis cair em tentação,

Mas livrai-nos do mal,

Amém!

Infelizmente, esta belíssima oração, por vezes, é apenas repetida, sem nos darmos conta da responsabilidade que assumimos diante de Deus e dos homens. Há uma integração nossa com a Divindade: estamos no Pai e o Pai está em nós. Quando pedimos o pão e prometemos perdoar a quem nos tem ofendido, comprometemo-nos a viver em comunhão com o próximo, amando-o como Cristo nos amou primeiro.

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Concluindo...

Para os cristãos, felizmente, muito são os caminhos que levam à vida, como o Pai nos prometeu e propôs: “segue-me e eu vos tornarei pescadores de homens”, (Mc 1,17). Quem deseja servir a Deus, encontrará na Paróquia mais perto da sua casa, nos inúmeros movimentos e pastorais da Igreja, nos cursos de formação, ou junto a um irmão, a oportunidade de dedicar-se à obra do Criador. Quer seja como sacerdote ordenado, religioso, diácono, leigo, cônjuge, homem ou mulher, todos têm um papel a cumprir nesta vida, para que se possa orgulhar por toda a eternidade. Fazer as coisas com zelo, compaixão, retidão e amor ao Verbo Encarnado é com certeza a receita para o sono tranquilo, a verdadeira Paz de Espírito e a trilha para a santidade. “Se alguém quiser vir após mim, tome a sua cruz de cada dia e siga-me”, (Lc. 9,23). O líder cristão se faz pautando sua vida pelo exemplo que Cristo nos deixou. Ao longo da jornada, ele descobrirá os verdadeiros talentos que lhe foram confiados pelo Pai e, consciente de sua missão, irá multiplicá-los, pois este é o maior legado que se pode deixar às futuras gerações.

São João Crisóstomo, referindo-se ao fermento

na massa, concluiu que é tão contraditório um cristão não poder ser útil ao seu próximo, como negar ao sol a possibilidade de iluminar e de aquecer. Não há desculpa para não se praticar o bem. Em At 3,6, Pedro diz: “não tenho ouro nem prata, mas o que tenho, em nome do Cristo, o Nazareno, anda!”. O apóstolo Paulo também era pobre. Saúde frágil? Timóteo é um exemplo de fragilidade física e fortaleza de espírito. No entanto, nenhum deles alegou estas dificuldades para pregar a mensagem de amor ao próximo como a nós mesmos deixada por Cristo. Assim, como existem árvores belas e estéreis, há oliveiras cobertas de frutos. O cristão jamais poderá se negar a estender a mão a um irmão.

Monsenhor Jonas Abib destaca que um dos trechos do Novo Testamento que mais o impressiona é o de Mt 9, 35-38. “Jesus percorria todas as cidades e aldeias e ali ensinava em suas sinagogas, proclamando a Boa Nova do Reino e curando toda doença e toda enfermidade. Vendo as multidões, tomou-se de compaixão por elas, porque estavam exaustas e prostradas como ovelhas sem pastor. Então disse aos seus discípulos: ‘A messe é abundante, mas os operários, pouco numerosos; pedi, pois,

ao dono da messe, que mande operários para a sua messe’” (Mt 9,35-38).

Por que Jesus foi tomado de compaixão? Porque compreendeu que a messe está aí e precisa ser colhida. Cada pessoa tem o tempo de ser colhida para o Senhor. A providência do Senhor é maravilhosa e o amor do Pai, sem limites. Mas nosso tempo é limitado. Cada homem, cada mulher tem um tempo, um tempo de vida, um tempo de graça. Como os padres representam Cristo na terra, não podemos jamais deixar de pedir ao Senhor da Messe, que mande operários para a Sua Messe. E todos os cristãos, qualquer que seja a vocação, precisam assumir seu papel na sociedade, exercendo, dessa maneira, liderança cristã.

Portanto, é necessário, fundamentalmente, enfrentar os desafios (trilogia, parte I), caminhar nos passos do Pai (trilogia, parte II), aprofundar-se no Verbo Encarnado (trilogia parte III) e, sobretudo, “amar ao Senhor, nosso Deus, com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente e com todas as forças e amar aos outros como amamos a nós mesmos”.

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Para refletir:

Como reflexão final, alguns desafios para o líder cristão do Século XXI:

1) Desejo ser, de fato, fermento na massa?

2) O que eu – bispo, padre, diácono, religioso, religiosa, leigo, leiga – tenho feito para fazer jus às promessas de Cristo?

3) Por onde devo renovar minha caminhada rumo à santidade?

4) Como desafiarei o mundo que teima em valorizar tendências instintivas do egoísmo em detrimento de um altruísmo mais generoso?

5) De que forma oferecerei às futuras gerações uma herança alicerçada na caridade?

A receita para vencer esses desafios atemporais, tão velhos como a humanidade, existe há dois mil anos. “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida, ninguém vai ao Pai senão por mim”, (Jo 14,6). Na Boa Nova de Cristo, Deus nos chama a fazer parte do seu reino, que se inicia aqui e agora.

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...Trabalho Trilogia do Líder Cristão, produzido durante o Curso de Formação de Lideranças Cristãs para uma Sociedade Sustentável

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Referências

Parte I

¹ BRANDES, Orlando. Diaconia do Acolhimento: seis qualidades de um líder cristão. Disponível em http: // �acolhimentocristao.blogspot.com Acesso em: 2set.2010.

² Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 2008. Em http: //www.vatican.va. Acesso em: 28ago.2010. �

³ Leão XIII, Papa. Carta Encíclica Rerum Novarum, 1891. Em http: // www.vatican.va. Acesso em: 29ago.2010. �

4 Bento XVI, Papa. [email protected] Acesso em 9 de setembro de 2010 �

5BOHNEN, Padre Aloysio. Revista da ADCE ago 2010 nº173. DSI �

6 Santos, Pe Manuel Augusto. Revista Teocomunicação, páginas 417 a 425. Junho de 2004 �

7 “O que você quer ser quando crescer?”Abertura do Ano Vocacional. 2003. Disponível em http: // amaivos.uol.com.br. �Acesso em 25ago.2010.

8 Bento XVI, Papa. [email protected] Acesso em 18 ee setembro de 2010 �

9 A vocação dos leigos e das leigas. 2010. Em http : //www.catequizar.com.br. Acesso em 28ago.2010. �

10 Paulo VI, Papa. Constituição Dogmática Lúmen Gentium sobre Igreja, 1964. Disponível em http: // www.vatican.va. �Acesso em 30ago.2010.

11 Os leigos e as Ordens Terceiras (seculares), 2009. Disponível em http: // marcioreiser.blogspot.com. Acesso em �28ago.2010.

12 Paulo VI, Papa. Constituição Dogmática Lúmen Gentium sobre Igreja, 1964. Disponível em http: // www.vatican.va. �Acesso em 30ago.2010.

13 Paulo VI, Papa. Constituição Dogmática Lúmen Gentium sobre Igreja, 1964. Disponível em http: // www.vatican.va. �Acesso em 31ago.2010.

14 TEMPESTA, Orani João. 2010. Disponível em http: // www.org.br. Acesso em 1set.2010. �

15 Paulo VI, Papa. Constituição Dogmática Lúmen Gentium sobre Igreja, 1964. Disponível em http: // www.vatican.va. �Acesso em 30ago.2010.

16 Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. São Paulo, Loyola, 2005. �

17 Paulo VI, Papa. Constituição Dogmática Lúmen Gentium sobre Igreja, 1964. Disponível em http: // www.vatican.va. �Acesso em 30ago.2010.

18 Paulo VI, Papa. Constituição Dogmática Lúmen Gentium sobre Igreja, 1964. Disponível em http: // www.vatican.va. �Acesso em 30ago.2010.

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19 Paulo VI, Papa. Decreto Ad Gentes sobre a atividade missionária da Igreja, 1965. Disponível em http: // www.vatican.va. �Acesso em 2set.2010.

20 CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain. 13.ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1999. �

21CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain. 13.ed., Rio de Janeiro: José Olympio, 1999. �

Parte II

1João PauloII, Papa. http://.. Acesso em 26 set 2010. �

2Celebração da Eucaristia. http://www.comshalom.org. Acesso em 30set2010 �

3Da Costa, Padre Henrique. http://www.domhenrique.com.br. Acesso em 26 set 2010. �

Parte III

1 Vicariato de Porto Alegre. Plano de Ação Evangelizadora 2009 – 2012. Disponível em http: // catedralmetropolitana.org. �br. Acesso em 29ago.2010.

2CHEVOT, Monsenhor George. Disponível em http:// WWW. quadrante.com.br. Acesso em 26set2010 �

3Documento de Aparecida. Disponível em http://noticis.cancaonova.com Acesso em26set2010 �

4CHEVROT, Georges. O Sermão da Montanha. São Paulo: Quadrante, 1988. �

5CHEVROT, Georges. Eu porém vos digo �

6CHEVROT, Georges. Em Segredo. São Paulo. Quadrante, 1991. �

7A Importância da Oração. Disponível em: http: // 21A Importância da Oração. Disponível em: http: // www. �mariedenazareth.com/ Acesso em 6set.2010.

8São João Crisóstomo. Disponível em http://catolicismo.wordpress.com. Páginas 345-407. Acesso em 26set.2010 �

9ABIB, Monsenhor Jonas. Disponível em http://canconova.com.acesso em 30set.2010 �

Page 61: Revista do Curso de Líderanças Cristãs

Quanto mais amamos ao próximo, mais somos amados por Deus e mais crescemos no Espírito de santidade.

Do livro Receitas EspirituaisMistérios e Revelaçõesde José MazzarolloAGE Editora

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Capitalismo Sustantável e Comunidades Solidárias

Baptista CelibertoCarlos Augusto Gabech Pereira da SilvaLuciano HossenNestor HeinenSérgio Kaminski

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Desenvolvimento Sustentável

De uns anos para cá, a palavra “sustentabilidade” tem sido integrada ao nosso cotidiano em freqüência e intensidade até então incomuns. Nos jornais, revistas, propagandas e embalagens de produtos, todas as empresas buscam convencer o consumidor de que são “ecologicamente corretas” e “sustentáveis”. Da mesma forma, a maior parte das nações empenha-se em implementar políticas e ações em nome do ”desenvolvimento sustentável”.

Afinal, por que tudo isso?

Iniciemos com a definição do Relatório Brundtland,

intitulado Nosso Futuro Comum – elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, publicado em 1987, que define desenvolvimento sustentável como:

“Desenvolvimento Sustentável é aquele capaz de satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer as possibilidades das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.

Segundo o Relatório da Comissão Brundtland, uma série de medidas devem ser tomadas pelos países para promover o desenvolvimento sustentável. Entre elas:

limitação do crescimento populacional; �

garantia de recursos básicos (água, alimentos, energia) em �longo prazo;

preservação da biodiversidade e dos ecossistemas; �

diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de �tecnologias com uso de fontes energéticas renováveis;

aumento da produção industrial nos países não- �industrializados, com base em tecnologias ecologicamente adaptadas;

controle da urbanização desordenada e integração entre �campo e cidades menores;

atendimento das necessidades básicas (saúde, escola, �moradia).

Em âmbito internacional, as metas propostas são:

adoção da estratégia de desenvolvimento sustentável �pelas organizações de desenvolvimento (órgãos e instituições internacionais de financiamento);

proteção dos ecossistemas supra-nacionais como a Antártica, �oceanos, etc, pela comunidade internacional;

banimento das guerras; �

implantação de um programa de desenvolvimento �sustentável pela Organização das Nações Unidas (ONU).

O conceito de desenvolvimento sustentável deve ser assimilado pelas lideranças de uma empresa como uma nova forma de produzir sem degradar o meio ambiente. Essas devem estender tal cultura a todos os níveis da organização, para que seja formalizado um processo de identificação do impacto da produção da empresa no meio ambiente e esse resulte na execução de um projeto que alie produção e preservação ambiental, com uso de tecnologia adaptada a esse preceito.

Algumas outras medidas para a implantação de um programa minimamente adequado de desenvolvimento sustentável são:

uso de novos materiais na construção; �

reestruturação da distribuição de zonas residenciais e �industriais;

aproveitamento e consumo de fontes alternativas de energia �como a solar, a eólica e a geotérmica;

reciclagem de materiais reaproveitáveis; �

consumo racional de água e de alimentos; �

redução do uso de produtos químicos prejudiciais à saúde na �produção de alimentos.

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O atual modelo de crescimento econômico gerou enormes desequilíbrios. Se por um lado, nunca houve tanta riqueza e fartura no mundo, por outro, a miséria, a degradação ambiental e a poluição aumentam dia-a-dia. Diante dessa constatação, surge a ideia do Desenvolvimento Sustentável (DS), buscando conciliar o desenvolvimento econômico, com a preservação ambiental e ainda, com o fim da pobreza no mundo (Wikipédia).

Trata-se de um Programa da Organização das Nações Unidas (ONU), um conceito ideia que começou a difundir-se mundial e enfaticamente após a Conferência Mundial do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento em 1992 (ECO 92), no qual chegou-se às seguintes conclusões acerca do tema:

é uma situação de progresso, na qual a mudança econômica �em ato (em particular o aumento da produção e dos gastos de recursos materiais) não produz danos ambientais a curto e longo prazo, nem o esgotamento dos recursos naturais;

é uma noção referente ao melhoramento das condições �de vida nos países em via de desenvolvimento, ou seja, às mudanças a serem efetuadas para que esses países (tão dependentes dos recursos e da matéria prima dos respectivos territórios para a sobrevivência econômica e política) possam obter um desenvolvimento harmonioso a partir do presente, sem grandes custos para as gerações futuras;

é um projeto para o futuro e não uma realidade atual (já �que as estruturas sociais e econômicas do mundo não têm assumido, se não parcialmente ou só em palavras, esse objetivo primário), que aspira a um desenvolvimento que satisfaça às necessidades do presente, sem expor a perigos as possibilidades das gerações futuras de satisfazerem suas necessidades.

Em verdade, a ideia de “desenvolvimento sustentável” surgiu a partir da constatação de que a competitividade gerada pelo sistema capitalista, em busca unicamente na produção de riqueza, sem se preocupar com o desenvolvimento humano e com a ausência de renovação de recursos limitados consumidos desordenadamente, gerou uma série de problemas ambientais e sociais.

O capitalismo é um sistema muito eficiente de extração de recursos e exploração, mas não fornece meios para garantir a renovação ou regeneração dos recursos ecológicos e sociais dos quais sua produtividade depende em última instância. Por esta razão, diz-se que o conceito clássico de capitalismo de livre mercado, que atualmente domina a economia global, não é sustentável. Na verdade, nenhuma das condições necessárias para garantir o funcionamento dos mercados capitalistas para o bem da

sociedade prevalece na economia de hoje.

Os mercados agregam um ágio no valor atual em relação ao valor futuro e, portanto, são incapazes de garantir oportunidades para o futuro. As tentativas de rentabilizar e internalizar valores sociais e ecológicos inevitavelmente subestimam e dão má destinação aos recursos ecológicos e sociais.

Em nenhum outro lugar esse comportamento pode ser percebido de forma tão clara como na China. Mais de 80% dos rios do país são considerados contaminados. Além disso, 16 das 20 cidades mais poluídas do mundo estão na China. Por um lado, o país ostenta, há muitos anos, níveis anuais de crescimento econômico perto dos 10%; por outro, mais da metade desse crescimento acaba sumindo por conta dos prejuízos ambientais causados.

Na opinião dos especialistas, em breve a China sofrerá as consequências das mudanças

climáticas, causadas também pelo próprio crescimento econômico a todo custo. Segundo os estudos do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), o aquecimento global ameaçará, sobretudo, as zonas industrializadas próximas aos deltas dos rios chineses.

Se todos vivêssemos como os cidadãos dos EUA, precisaríamos de outros quatro planetas para satisfazer as nossas exigências. Se vivêssemos como os ingleses, seriam necessários outros dois países e meio. Os italianos consomem um pouco menos, mas também precisam de um suplemento igual a mais de um planeta e meio. Hoje já se consomem os recursos de um planeta e meio, e a taxa de voracidade continua aumentando.

A conclusão é que os limites de crescimento econômico já foram alcançados em todo o mundo. O debate está em pauta há mais de 30 anos, mas a crise econômica mundial e as alterações climáticas

deram um novo impulso às discussões sobre o modelo econômico tradicional, que só valoriza o crescimento da economia. Para o economista alemão Gerhard Scherhorn, professor emérito de Mannheim, o problema central da humanidade é o esgotamento dos recursos naturais. "Nós esgotamos os recursos naturais por meio da sobrepesca dos oceanos, da redução do nível das águas subterrâneas, da diminuição da biodiversidade e do aquecimento global", afirma. O ex-vice-ministro alemão do Meio Ambiente Michael Müller tem opinião semelhante. "Temos um histórico de desenvolvimento industrial em que os recursos materiais da Terra foram usados com desperdício e ignorância", afirma.

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A partir da constatação dessa realidade, surgiu uma “megatendência” em prol do desenvolvimento sustentável, pois a maioria dos executivos sabe que sua resposta ao desafio da sustentabilidade irá afetar profundamente a competitividade e até mesmo a sobrevivência de suas organizações. O empresário e escritor John Naisbitt popularizou o termo “megatrends” em seu best-seller, de 1982, de mesmo nome, referindo-se a mudanças econômicas e sociais como a globalização, a ascensão da sociedade da informação e do movimento de organizações hierárquicas para as redes.

As megatendências forçam mudanças fundamentais e persistentes na forma como as empresas competem. Tais transformações surgem a partir da inovação tecnológica, ou de novas formas de fazer negócios e muitos fatores podem iniciar ou ampliar o processo de mudança. Megatendências podem emergir ou serem aceleradas pela crise financeira, por mudanças nas realidades sociais que definem o mercado, ou pela ameaça de um conflito sobre os recursos. A geopolítica da Guerra Fria, por exemplo,

A megatendência da sustentabilidade

levou a inovações que lançaram a corrida espacial e rápida evolução no campo da microeletrônica, finalmente liberando a megatendência da tecnologia da informação. A eletrificação, o aumento da produção em massa e a globalização também foram megatendências, como foi o movimento da qualidade dos anos 1970 e 1980. O traço comum entre elas é que, inevitavelmente, apresentaram imperativos estratégicos para líderes corporativos.

Nos últimos 10 anos, as questões ambientais têm forçado a capacidade das empresas criarem valores para os clientes, acionistas e outros interessados. A força de trabalho globalizada e as cadeias de fornecimento criaram pressões ambientais e os passivos comerciais respectivos, gerando a megatendência da SUSTENTABILIDADE.

A ascensão de novas potências mundiais, notadamente China e índia, intensificou a competição por recursos naturais (sobretudo petróleo) e acrescentou uma dimensão geopolítica para a sustentabilidade. "Externalidades", como as emissões de dióxido de carbono e uso da água, estão se tornando, rapidamente,

elementos constitutivos, o que significa que os investidores consideram a sustentabilidade como ponto central para o desempenho de uma empresa e as partes interessadas esperam que as empresas compartilhem informações sobre elas. Estas forças são ampliadas pelo interesse público e governamental sobre a mudança climática, a poluição industrial, a segurança alimentar e o esgotamento dos recursos naturais, entre outros assuntos. Os consumidores em muitos países estão procurando produtos e serviços sustentáveis, fazendo com que as empresas melhorem seus produtos e serviços tradicionais nesse quesito.

Alimentando ainda mais essa megatendência, milhares de empresas estão apostando na inovação estratégica em matéria de eficiência energética, energia renovável e produtividade dos recursos e controle da poluição. O que a tudo isso se acrescenta, é que os gestores não podem mais ignorar a sustentabilidade como um fator central da competitividade de suas empresas em longo prazo.

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Conforme o maior estudo sobre sustentabilidade entre CEO’s já feito por uma consultoria (“A New Era of Sustainability: UN Global Compact-Acceture CEO Study 2010), apresentado pelo Pacto Global das Nações Unidas em junho de 2010, as estatísticas revelam que o mundo dos negócios já se mexe em direção a uma nova economia, embora em uma marcha desigual. Na média, 93% de todos os executivos entrevistados afirmam que a sustentabilidade será “importante” ou “muito importante” para os negócios. A variação por setor da economia é ainda maior. As porcentagens dos que consideram que a sustentabilidade será um fator crítico para o sucesso dos negócios são de 100% no segmento automotivo, 98% no de bens de consumo e 97% nos bancos. Já os setores mídia e entretenimento (com 84%) e comunicação (com 81%) aparecem no fim da lista.

Dos CEO’s participantes, 70% informaram que estão

O capitalismo sustentável é possível?incorporando atualmente mais práticas ambientais, sociais e de boa governança na estratégia das empresas do que há cinco anos.

As concessionárias de serviços públicos lideram o ranking dos setores que declararam ter incorporado mais práticas responsáveis às estratégias de negócios, seguidas pelas empresas de energia (em alguns países, o setor não depende de concessão pública para funcionar), com 81%, e pelos bancos, com 74%. Por outro lado, os setores de metalurgia e mineração, juntamente com o de comunicação, estão nos últimos lugares, com 64% e 63%, respectivamente, de respostas que dão conta de avanços nas práticas socialmente responsáveis nos últimos cinco anos.

O principal motivo para a adoção imediata de uma gestão responsável, segundo os CEO’s participantes, é a necessidade de restabelecer a confiança no sistema. Aliás, a batalha em prol da confiança no sistema é apontada por 72% dos

CEO’s como fundamental para a transição para uma nova era de sustentabilidade. Eles também consideram fatores como a motivação, a potencial redução de custos e o incremento de lucros que a sustentabilidade pode trazer. Dentre os respondentes, 88% acreditam que precisam integrar a sustentabilidade a sua cadeia de valor.

Para 72% dos presidentes de empresas, a educação é o fator global mais crítico para a sustentabilidade. Segundo os entrevistados, por qualquer ângulo que se avalie o tema, seja econômico,

seja puramente financeiro, social ou ambiental, a educação é fundamental para o surgimento de uma nova geração de gestores capazes de administrar o desenvolvimento sustentável.

Além disso, 80% dos presidentes entrevistados acreditam que a sustentabilidade estará mesmo “entranhada” em todos os processos e procedimentos da empresa em dez anos ou, no máximo, em 15 anos. Mas, para isso, é preciso superar alguns desafios considerados “muito grandes”, tais como:

Os CEO’s também apontam as ações necessárias para preparar o negócio para uma nova era de sustentabilidade, nas seguintes áreas-chave:

Consumidores – ampliar as informações para esse público; �

Educação – produzir e divulgar novos conhecimentos nas �escolas e universidades;

Investidores – adotar uma atitude mais proativa em relação �a eles, de modo a garantir e reafirmar que o valor das ações de sustentabilidade pode ser medido e dá retorno;

Desempenho – medir os impactos positivos e negativos das �atividades da empresa sobre a sociedade e o meio ambiente, para avaliar seu reflexo no real valor do negócio.

Regulação – assumir maior pró-atividade, influenciando �governos a respeito das leis e regras a serem adotadas.

institucionalização da estratégia de sustentabilidade por �todas as atividades da empresa;

perda de reconhecimento por parte dos mercados �financeiros;

competição com outras estratégias prioritárias da empresa. �

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A par de todos os problemas ambientais causados pelo capitalismo tradicional, existem também (e principalmente), as sequelas SOCIAIS: a má distribuição de renda, que permite a concentração de riqueza em alguns poucos, enquanto outros literalmente morrem de fome.

Um dos métodos usados para se medir a concentração de renda, é medir quanto o grupo formado pelos 10% mais ricos da população recebe em comparação ao grupo dos 10% mais pobres, conhecido como P90/P10 ou 10% mais ricos a 10% mais pobres.

Pelo critério P90/P10, o país com a menor concentração de renda do mundo é o Japão, a segunda maior potência econômica do planeta, com 4,23. Dentre os países desenvolvidos, a maior concentração de renda está nos EUA, com 15,57, seguido pela França, com 9,1.

No Brasil, a concentração de renda é tão intensa que o índice P90/P10 está em 68 (em 2001). Ou seja, para cada dólar que os 10% mais pobres recebem, os 10% mais ricos recebem 68. O Brasil ganha apenas da Guatemala, Suazilândia, República Centro-Africana, Serra Leoa, Botsuana, Lesoto e Namíbia.

Segundo dados do Human Development Report (HDR) – Organização das Nações Unidas (ONU), de 2004, o Brasil

Capitalismo sustentável não é só meio ambiente

apresenta historicamente uma desigualdade extrema, com índice de Gini próximo a 0,6. Esse valor indica uma desigualdade brutal e rara no resto do mundo, já que poucos países apresentam índice de Gini superior a 0,5. Dos 127 países presentes no relatório, o Brasil apresenta o 8º pior índice de desigualdade do mundo, superando todos os países da América do Sul e ficando apenas à frente de sete países africanos.

No Brasil, as classes dirigentes têm demonstrado não serem sensíveis às questões de distribuição de renda. Ainda não se deram conta dos graves prejuízos que a excessiva desigualdade na distribuição da renda nacional causa ao próprio desenvolvimento econômico de seu país, em longo prazo. Sobre esse tema já disse Florestan Fernandes:

“No Brasil, sempre se seguiu a rotina de privilegiar os privilegiados, sem tentativas frutíferas de intervenção programada na distribuição da renda”.

Um comitê conjunto formado pelo Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI) conclamou os países em desenvolvimento, assim como os doadores, a acelerar os esforços com vistas a atingir as metas de redução de pobreza, acordadas internacionalmente, até 2015.

"A GRATUIDADE NAS RELAçõES - (Lc, 6, 34-35) - E se vocês emprestam somente para aqueles de quem esperam receber, que gratuidade é essa? Até mesmo os pecadores emprestam aos pecadores, para receber de volta a mesma quantia. Ao contrário, amem os inimigos, façam o bem e emprestem, sem esperar coisa alguma em troca. Então a recompensa de vocês será grande ..." Como se vê, o Evangelista Lucas, há dois mil anos, ensinava INOVAçãO. Exige fazer diferente.

“É urgente criar estruturas que consolidem uma ordem social, econômica e política, qual haja possibilidades para todos... novas estruturas que promovam uma autêntica convivência humana...”, V CELAM–Doc Aparecida, nº 384.

É preciso superar a miopia egocêntrica imperante na sociedade atual, impeditiva de uma justa distribuição de renda e de um progresso sustentável que permita às próximas gerações uma vivência salutar, de respeito mútuo e de busca do bem comum; em um ambiente onde convivam em harmonia o ser, a família e os empreendimentos que repercutem no ecossistema. Todos e tudo em comum união e em comunhão com a ideia de que devemos fazer ao próximo aquilo que queremos que ele faça para nós, tanto na vida pessoal, como nos negócios. Para tanto, propomos essa reflexão, ou um novo paradigma para o futuro sustentável de nosso planeta em uma cultura de PAz e TOLERÂNCIA, em benefício de nossas próprias vidas.

Viés cristão - justiça social, distribuição de renda, bem comum

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Assim, não basta que a megatendência da sustentabilidade atinja o capitalismo apenas no que diz respeito ao meio-ambiente. É necessário ressignificar o atual modelo econômico capitalista como um todo, visando o equilíbrio no desenvolvimento econômico e social, a preservação dos recursos tangíveis e intangíveis e da dignidade humana.

O Projeto denominado PPPR - Congregação InterInstitucional da Sociedade Civil – COMMUNITIES SUSTAINABILITY UniEcoPro System – Rede UniEcoPro COMUNIDADES Brasil foi idealizado, concebido e elaborado integralmente no Rio Grande do Sul, em metamorfose evolutiva de criação durante anos, propõe uma fórmula única e inovadora para essa necessária e profunda transformação. Visa não só à produção e circulação de riquezas com sustentabilidade, vai além, tem como MISSãO o DESENVOLVIMENTO HUMANO SUSTENTÁVEL, Bem-Estar Social, INCLUSãO e a faculdade da SUSTENTABILIDADE EFETIVA do Quadro Social das Organizações. Veja, adiante, o Modelo Conceitual que dá Sustentação Legal ao Projeto PPPR - Congregação InterInstitucional da Sociedade Civil – COMMUNITIES SUSTAINABILITY UniEcoPro System.

Uma economia sustentável deve basear-se em uma visão orgânica, para que possa desenvolver-se de forma orgânica, integrada e sistêmica, como ocorre, por exemplo, em outros sistemas vivos que conhecemos, os quais têm capacidade e

Ressignificar o atual modelo econômico

tendência para serem auto-renováveis e regenerativos, sem que isso comprometa sua produtividade. Organizações sustentáveis devem ser geridas como sistemas vivos, respeitando as necessidades, a diversidade e a interdependência saudável que os caracterizam. A economia individual, a economia social e economia ecológica devem ser geridas não como uma soma de partes individuais, fragmentadas, mas sim como um todo unitário orgânico, em harmonia e equilíbrio, para garantir a sustentabilidade, a exemplo dos trilhões de células do organismo humano. Decisões que afetam o patrimônio de gerações futuras devem ser tomadas através de um processo de consenso ético ou moral; decisões que afetam a equidade e a justiça social devem ser lideradas pelo governo. Somente as decisões que afetam apenas os indivíduos são da iniciativa privada, da economia de mercado.

Por isso, diz-se que o capitalismo sustentável exige a integração da economia e da sociedade, com moralidade. Uma sociedade sustentável capitalista deve, continuamente, renovar e regenerar o capital natural e o social para poder sustentar o capital econômico. É pouco. Exige mais. A área da Tecnologia e Inovação caminha célere na direção de um mundo mais inteligente.

O Organismo Congregação InterInstitucional da Sociedade Civil – COMMUNITIES SUSTAINABILITY UniEcoPro System – Rede UniEcoPro COMUNIDADES - Brasil é inovação tecnológica,

orgânica e interface formal InterInstitucional da Tríplice Hélice – Universidades, Empresas e Governo, congrega Células Cooperativas Subsidiárias Tecnológicas Sistemistas Multissetoriais InterCooperadoras da EcoEconomia no IDEAL COMUM DA SUSTENTABILIDADE, o que demanda um firme propósito de união entre os Entes Públicos e Privados para congregar a Sociedade Civil, no intuito de gerar Desenvolvimento Humano Sustentável, que propicia o Bem-Estar Social, ancorado na Dimensão Familial e Espiritual, que precedem a Dimensão Ambiental, Econômica, Social, Política e Cultural. O almejado reequilíbrio ambiental, econômico e social requer formal simultânea multi-inter-disciplinaridade e transversalidade, integrada e sistêmica, só possível no Organismo Congregação InterInstitucional da Sociedade Civil e que, assim, pode proporcionar o desaparecimento das desigualdades geradas pelo sistema tradicional.

Trata-se de um conjunto de medidas que necessitam ser tomadas em conjunto, inserem-se no âmbito da Responsabilidade SocioAmbiental (Empresarial & Pública), a fim de fomentar EMPREENDEDORISMO INOVADOR E SUSTENTÁVEL, requer a participação dos Entes Públicos e Privados na criação de Células Cooperativas Subsidiárias InterCooperadoras da EcoEconomia, a exemplo das Empresas Holdings com participação em Empresas Subsidiárias, nos termos Constitucionais, Estatutários e da Legislação.

Saiba mais, acesse PPPR - Congregação InterInstitucional da Sociedade Civil – COMMUNITIES SUSTAINABILITY UniEcoPro System – Rede UniEcoPro COMUNIDADES - Brasil no: www.uniecopro.org

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Referências

O jeito de educar e comunicar - Jornal zero Hora - Entrevista CEBDS - Conselho Empresarial Brasileiro para o �desenvolvimento Sustentável - 30/08/2010.

Sustentabilidade versus Conhecimento: Limites do atual Modelo Econômico - de zhang Danhong e publicada pela Agência �de Notícias Deustche Welle, 16-08-2010.

A Sustentabilidade e os Executivos ao redor do Mundo - Por Cristina Spera - Instituto Ethos. �

Uma Ecologia Espiritual - Por Marcelo Gleiser, Folha de São Paulo, 15/08/2010. �

Sustentabilidade está no DNA de sua Empresa? - Do Fórum HSM de Estratégia - por Fábio Barbosa, Presidente do Grupo �SANTANDER, fonte HSM ONLINE, 26/08/2010

O Desenvolvimento Sustentável É Possível? - Roberto G. S. Berlinck é professor do Instituto de Química de São Carlos - USP �

Tradução livre de partes do artigo “The Rhetoric of Sustainability: Perversity, Futility, Jeopardy?”, de Meg Holden, �Sustainability, 2010.

Este texto é parte integrante da revista ECO 21, edição 163 de Junho de 2010, disponível nas bancas. (Envolverde /Revista �Eco 21) 03/07/2010.

Pensamento Sustentável, as Novas Regras do Jogo - Selos verdes e os seus desafios para mercados, consumidores e �governos.

Estratégia e Inteligência em Sustentabilidade por Ricardo Voltolini, é publisher da revista Idéia SocioAmbiental e diretor da �consultoria Idéia Sustentável. 09/08/2010.

...Trabalho Capitalismo sustentável e comunidades solidárias, produzido durante o Curso de Formação de Lideranças Cristãs para uma Sociedade Sustentável

Page 71: Revista do Curso de Líderanças Cristãs

É indispensável a transformação Ecológica da Economia - Por Leonel Plügel, da IPS , 02/09/10. �

Melhores Práticas...Hoje? �

Oscar Motomura, Diretor Geral da Amana-Key, empresa especializada em inovações radicais em gestão. Este artigo foi �publicado originalmente na revista Época Negócios. (Instituto Akatu), 31/08/10.

Capitalism at the Crossroads: Aligning Business, Planet and Humanity - Stuart Hart �

Sustainable Capitalism: A Matter of Common Sense - John Ikerd �

The Sustainability Imperative - David A. Lubin and Daniel C. Esty �

Síntese do Relatório Brundtland intitulado Nosso Futuro Comum elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e �Desenvolvimento – Wikipédia

CINCO TEMAS DO 11º CONGRESSO INTERNACIONAL DA GESTãO, Fonte: Revista do PGQP �

ALÉM DA CRISE: O FUTURO DO CAPITALISMO, Adjiedj Bakas, Conferencista e autor, Fonte: PGQP �

O PODER DA CO-CRIAçãO, Venkat Ramaswamy, Presidente da co-criation Partnership, Fonte: PGQP �

GERENCIANDO A INOVAçãO, Kim Barnes, Presidente da Barnes & Associados, Fonte: PGQP �

SEJA O PRESIDENTE DE SUA VIDA, Hubert Rampersad, Presidente da Personal Branding University, PGQP �

INOVAçãO EMOCIONAL, Henry Langholf, Fundador do Instituto de Aprendizado Inovador em Freiburg, PGQP �

Trabalho Qualificante e Educação Profissional -.....Formação na Escola e na Fábrica, Markert, Werner �

Parques Tecnológicos viram aposta da vez – PROTEC - Folha de S. Paulo - 07/03/2010 �

PROTEC - Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (transcrições diversas) �

Inovação: Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer - 21/05/2009 �

Entrevista com o Ministro Sergio Rezende: SIBRATEC - Sistema Brasileiro de Tecnologia -13/07/2009 �

Opiniões do Presidente Luciano Coutinho e de Membros do BNDES �

Inovação Tecnológica e de Empresas vai servir como Garantia no BNDES - 16/07/2009 �

Proposta Recivilizatória, do livro Pampa Verde, Ecologia: ruptura, método e síntese, Wenzel, José A. �

PPPR - Congregação InterInstitucional da Sociedade Civil –COMMUNITIES SUSTAINABILITY UniEcoPro System- Rede �UniEcoPro COMUNIDADES – Brasil, Idealizador-Fundador-Presidente, Nestor Heinen

Page 72: Revista do Curso de Líderanças Cristãs