revista plano b #03

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O espetáculo da superação nos palcos baianos Artes Visuais Quadrinhos baianos: de profissionais premiados à falta de investimento Patrimônio Sabores regionais invadem as mesas no período mais festejado do ano

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A Revista Plano B #03 traz um olhar apurado sobre a dança sem limites para a arte, a celebração e os obstáculos dos quadrinhos baianos, a festa de sabores nas mesas das festas juninas e muito mais.

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Page 1: Revista Plano B #03

O espetáculo da superação nos palcos baianos

Artes VisuaisQuadrinhos baianos: de

profissionais premiados à

falta de investimento

PatrimônioSabores regionais

invadem as mesas no

período mais festejado

do ano

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Page 4: Revista Plano B #03

CONSELHO EDITORIAL GUAXE PRODUÇÕES E PIPA COMUNICAÇÃO COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO GUAXE PRODUÇÕES E PIPA COMUNICAÇÃO

ATENDIMENTO COMERCIAL BRUNO CÁSSIO LEAL (71) 3381-4656 | [email protected] RELAÇÕES PÚBLICAS KAUANNA ARAÚJO imprensa@

revistaplanob.com.br EDITOR CHEFE FABIO FRANCO CHEFE DE REPORTAGEM MAIARA BONFIM REPORTAGEM PIETRO RAÑA, MAIARA BONFIM E FABIO

FRANCO REVISÃO PIPA COMUNICAÇÃO EDIÇÃO DE TEXTOS PIPA COMUNICAÇÃO FOTOS ERICK OLIVEIRA E MARCELO SANTANA PROJETO GRÁFICO

RAFAELA PALMA E PIPA COMUNICAÇÃO DIAGRAMAÇÃO RAFAELA PALMA E PIPA COMUNICAÇÃO ILUSTRAÇÕES RAFAELA PALMA E PIPA COMUNICAÇÃO

IMPRESSÃO GRASB - GRÁFICA SANTA BÁRBARA www.grasb.com.br

REALIZAÇÃO PATROCÍNIO

Projeto contemplado pelo EDITAL DE APOIO À PUBLICAÇÃO DE PERIÓDICOS 2009

GUAXE PRODUÇÕES

Rua Luiz Anselmo, 115, térreo – Luis Anselmo | Salvador, BA | CEP 40260-485

CONTATO (71) 3381-4656 | www.guaxe.com.br

PIPA COMUNICAÇÃO

Rua Belo Horizonte, 90, sala 15 – Barra | Salvador, BA | CEP 40140-380

CONTATO (71) 3264-0006 | www.pipacomunicacao.com.br

*A PlanoB não se responsabiliza pelos conteúdos dos artigos assinados e as opiniões e conceitos emitidos não refletem necessariamente a opinião da revista.

ED

ITO

RIA

LMuitos dos agentes artísticos classificados como alternativos

têm sempre uma queixa em comum, a falta de visibilidade.

Mas será que essa visibilidade midiática e social se restringe

somente ao campo das artes? A pergunta fixou no lugar mais

profundo da mente e estimulou não apenas uma resposta,

mas uma verdade real e cotidiana. Nessa edição sobrevoamos

um espaço maior que o campo cultural e chegamos a um uni-

verso amplo, divertido e com centenas de estórias de supera-

ção e força de vontade.

Descobrimos que talvez seja sempre necessário fazer um

pouco mais e que nossas atitudes determinam sim os rumos

das nossas caminhadas por este planeta. E encontramos per-

sonagens que demonstram o poder transformador da arte

enquanto elemento de socialização – que permite-nos olhar

e sermos olhados pelos outros para além do simples conceito

de sociedade.

A cultura pode dar oportunidade. No entanto, acima de tudo,

é necessário que se permita ao seu semelhante agarrar essa

chance. E a dimensão que esse simples gesto pode tomar,

pode desencadear uma revolução sem precedentes na histó-

ria humana, bem como despertar o fôlego de esperança para

que aquele que se percebe excluído do

contexto social possa superar os con-

dicionamentos impostos pelos outros.

Logo, compreender o processo de for-

mação da nossa sensibilidade enquanto

indivíduos – trata-se da sensibilidade

no sentido amplo da palavra – contribui

diretamente para que possamos aceitar

o diferente, como membro da nossa pró-

pria realidade.

Por fim, vale levantar alguns questiona-

mentos. Qual o seu conceito de inclu-

são? Porque é tão difícil entender esse

conceito de maneira coletiva? Será que

somos condicionados ou nos deixamos

influenciar para a não aceitação do que

nos parece diferente? A resposta para

cada uma dessas perguntas, no fim das

contas, vai parecer mais fácil do que re-

almente é.

Boa leitura!

ERRATA_Na edição numero 01 da revista Plano B as matérias foram produzidas por mais de um repórter. A seguir, informamos os nomes dos jornalistas que

tiveram participação efetiva na construção do conteúdo: Fabio Franco, Maiara Bonfim, Mariana Miranda, Meiryelle Souza, Ricardo Neiva e Tarsilla Alvarindo.

facebook.com/RevistaPlanoB

twitter.com/RevistaPlanoB

revistaplanob.com.br

EXPEDIENTEEDIÇÃO JUNHO 2012

TIRAGEM 5.000 EXEMPLARES

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Page 5: Revista Plano B #03
Page 6: Revista Plano B #03

6

CAPADeficientes físicos surpreendem o universo da

dança baiana

ARTES VISUAISHQ baianas: o contraste entre profissionais

premiados e a falta de investimento

PATRIMÔNIOTradição junina tem ponto forte nos sabores da

culinária típica

OPINIÃOMarlúcia Mendes

discute o processo de

formação do público

para produtos culturais

ENTREVISTASamuka revela os

segredos que o

transformaram no

mago das fotografias

MÚSICAFestivais oferecem

boa estrutura e

abrem portas para

artistas locais

CIDADANIAOficinas culturais

promovem integração

entre idosas do AMMA

planoB indicaConfira nossas

sugestões sobre o que

rola pela Bahia

MODACustomização: exclusividade e estilo

que começam nos pés

MUSEUA trajetória do povo

sertanejo exposta na

Princesinha do Sertão

PROFISSÃOPuro talento e

criatividade nas

hábeis mãos dos

maquiadores

TURISMOMonte Santo preserva

incontáveis estórias em

meio às montanhas do

Norte da Bahia

OPINIÃOAline Marianne explica

como a cultura pode

facilitar a inclusão

social

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Page 8: Revista Plano B #03

8

ARTES VISUAIS Quadrinhos

TEXTO FABIO FRANCO

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Quadrinhos ARTES VISUAIS

Quem, quando criança, nunca ficou ho-

ras e horas se deliciando com as aven-

turas, os poderes e os desfechos daque-

las narrativas quadro a quadro, repletas

de imagens e diálogos em balões? Pois

é, as histórias em quadrinhos fazem

parte do imaginário de jovens e adultos

desde o século XIX e ao longo do tempo

sofreram modificações de conteúdo dei-

xando de ser uma linguagem exclusiva

do universo infanto-juvenil para des-

pertar o interesse em um número cada

vez maior de leitores.

Nas duas últimas décadas, a produ-

ção de quadrinhos nacionais deu um

salto impressionante, principalmente

por conta do advento da internet e suas

inúmeras possibilidades de divulgação,

permitindo a autores consagrados e

anônimos chegar a um público maior e

diversificado. A turma que apresentava

seus trabalhos para um grupo restrito

conseguiu, enfim, atravessar incólume

por um mar de dificuldades. “Para di-

vulgar minhas criações, recorri às redes

sociais. Hoje movimento blogs e perfis

que já contam com mais de 50 mil se-

Apesar da qualidade

dos trabalhos,

muitos ilustradores

reclamam da falta

de investimento.

guidores, mas quero chegar a 100 mil”, revela William Leão,

criador da série Magarefe.

“Na Bahia existem ótimos profissionais, premiados nacio-

nalmente e que mantêm uma produção reconhecida, como é

o meu caso, de Cedraz (Turma do Xaxado), Luis Augusto (Fala

Menino) e, mais recentemente o pessoal das revistas Lucas

da Feira e São Jorge da Mata Escura, que ganhou prestígio

e projeção na mídia especializada e em outros centros como

São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro”, pontua o cartunista Flá-

vio Luiz, criador das HQs “Aú, o capoeirista” e “O Cabra”.

Entretanto, inversamente ao número cada vez maior de

super-heróis e personagens, o mercado brasileiro não cres-

ceu o suficiente para difundir toda a produção de HQs. Além

disso, publicações estrangeiras ainda povoam maçicamente

as prateleiras das livrarias e bancas do país. “Existe uma ideia

geral de que a produção nacional não presta, ainda mais em

se tratando de quadrinhos nordestinos. Enquanto isso, as

HQs americanas e japonesas lotam as livrarias. Ao mesmo

tempo, mais e mais leitores estrangeiros vêm buscar o que

é nosso. Só como exemplo, a Turma do Xaxado já chegou ao

Canadá, França, Itália...”, revela Antonio Cedraz, cartunista

baiano com mais de 40 anos de profissão e vencedor por seis

vezes do HQMIX, maior premiação do gênero no país.

Apesar de todo o reconhecimento, os investimentos aqui

ainda são escassos. “O artista independente ainda tem que

arcar com todos os custos para publicar sua revista e, mui-

tas das vezes, acaba engavetando ótimos projetos”, desabafa

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ARTES VISUAIS Quadrinhos

Franklin Mendes, nome da nova gera-

ção que recentemente recebeu “men-

ção honrosa” no Salão Internacional de

Desenho para Imprensa 2012.

William acredita que a falta de inte-

resse do público local também interfere

na produção dos cartunistas baianos.

“O público daqui é muito fraco. O pes-

soal desconhece a maior parte dos nos-

sos cartunistas. Outra coisa é o lance

do ‘politicamente correto’ que hoje está

em toda parte. Essa limitação também

prejudica, porque acabamos todos en-

gessados e perdemos algo crucial em

nosso trabalho, a criatividade”, conta.

Flávio Luiz vai mais longe, em se tra-

tando do mercado baiano: “Acho que o

consumo da produção baiana tem sido

mantido pelos aficionados e admirado-

res de quadrinhos que sempre existi-

ram, mas que é uma parcela pequena

do público potencialmente consumidor.

Também temos o desrespeito com o pro-

fissional por parte de quem contrata,

que é algo a ser lamentado. Aquela es-

tória de ‘isso não é trabalho’, ‘coisa de

criança’, ‘enquanto uns trabalham você

só faz desenhar’, entre outras, são pos-

turas que teimam em existir no merca-

do contratante baiano”.

E entre tantas questões, a turma pre-

miada e a nova geração concordam em

uma em especial: a falta de editoras e

distribuidoras de quadrinhos na Bahia.

Franklin pontua que é necessário criar

grandes eventos que contribuam efeti-

vamente para projetar o trabalho dos au-

tores locais. Cedraz e William apontam a

falta de editoras especializadas como en-

trave. E Flávio Luiz complementa: “Não

existe uma grande editora, nem distribui-

dora interessada nesse tipo de material

por aqui. Além disso, Salvador, e acho que

toda a Bahia, sofre com o que chamamos

de setorização, que é a distribuição de re-

vistas em quadrinhos com até três meses

de defasagem em relação ao lançamento

no Sul/Sudeste do país. É como se só che-

gassem as ‘sobras’ das publicações”.

NO BRASIL E NO MUNDOA popularização das HQs não é um processo tão recente. Ofi-

cialmente, a primeira história em quadrinhos do mundo (com

balões nos diálogos) foi The Yellow Kid (1896), do desenhis-

ta americano Richard Felton Outcault. No Brasil, a primeira

aparição da linguagem quadrinística foi no ano de 1855, com

"O Namoro", criação do litógrafo francês Sebastian Auguste

Sisso. Posteriormente, o italiano Ângelo Agostino criou "As

Os diversos

prêmios em

eventos nacionais

comprovam

o talento dos

quadrinistas

baianos.

Page 11: Revista Plano B #03

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Quadrinhos ARTES VISUAIS

Aventuras de Nhô Quim", que mostrava as peripécias de um

caipira no Rio de Janeiro. No entanto, o marco mais importan-

te na história dos quadrinhos brasileiros foi o lançamento da

revista Tico-Tico, em 1905, que tinha como herói o persona-

gem Chiquinho, inspirado em personagens americanos.

Mas se engana quem acha que o papel das HQs é unica-

mente entreter. Alguns exemplos ilustram bem a abrangência

e o grande poder comunicacional desse meio. O personagem

Zé Carioca foi criado durante a Segunda Guerra Mundial com

o objetivo de difundir o ideal e o estilo de vida norte-ameri-

cano entre os brasileiros. Outro que merece destaque quanto

à difusão de um conceito é o personagem Lucas, da HQ Fala

Menino, do baiano Luiz Gustavo. Pela primeira vez, um defi-

ciente físico (mudo) é retratado como personagem principal

em quadrinhos no Brasil, causando grande impacto sócio-edu-

cacional ao discutir temas como deficiência e discriminação.

“No meu caso, optei por retratar um personagem com os

traços típicos do nordestino, a exemplo do chapéu de couro

no Xaxado, que é algo que remete a Luiz Gonzaga, grande de-

fensor de nossa cultura. E no fim das contas, o Xaxado é muito

parecido comigo. Nasci e fui criado no interior e acabei incor-

porando essas características nele”, conta Cedraz, que faz

questão de avisar que a turma vai virar desenho animado: o

projeto já está em fase de execução e deve ser veiculado pela

TV Brasil em intervalos de um minuto de duração.

Recentemente, as HQs também caíram nas graças do pú-

blico adulto, especialmente com a difusão das graphic novels,

com temas mais complexos e um toque literário. Outra opção

é o chamado Jornalismo em Quadrinhos, difundindo em todo

mundo pelo maltês Joe Sacco. No Brasil, ambas as lingua-

gens ganharam fãs e adeptos. Franklin inclusive participou

da primeira reportagem em quadrinhos do Brasil, realizada

em Salvador, intitulada “Vanguarda: Histórias do movimento

Estudantil na Bahia”. “Foi uma experiência bastante enrique-

cedora. É uma receita mágica, juntar a linguagem objetiva

do jornalismo com a poesia visual dos quadrinhos, transfor-

mando um acontecimento real, às vezes duro e frio, em algo

novo e belo”.

Flavio Luiz conseguiu mesclar as duas nuances em um

único trabalho: O Messias, de autoria do jornalista baiano

Gonçalo Jr. “Foi uma honra ter sido convidado para desenhar

o roteiro de Gonçalo. A receptividade foi a melhor possível, na

época que foi lançado, concorrendo inclusive a melhor álbum

nacional no HQMIX”, finaliza.

Page 12: Revista Plano B #03

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MÚSICA Festivais

com mérito e sem jabá

É ínfimo o espaço oferecido para os músicos do chamado “cenário inde-pendente”, que produzem música de qualidade. Contudo, quando eles con-seguem alcançar o público, costumam surpreender e conquistar. Pensando nisso, são lançados os festivais de mú-sica, uma tendência mundial, para mostrar a diversidade e ajudar a dar visibilidade a esses artistas locais.

FESTIVAIS DE MÚSICA:

TEXTO MAIARA BONFIM FOTOS MARCELO SANTANA

LEO DE AZEVEDO

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Festivais MÚSICA

Quem não conhece um artista que atua sem nenhuma visibi-

lidade, que tem o maior talento e qualidade musical, mas não

“emplaca” por falta de investimento? Diversos músicos baianos,

que estão na estrada há muitos anos, caminham durante lon-

gos períodos no anonimato. Isso não quer dizer que eles não

têm admiradores ou que não consigam atrair o público. Eles

apenas não fazem parte da agenda midiática em geral. Os veí-

culos de grande audiência ocupam suas pautas com modismos.

Seguindo uma lógica, até cruel, entende-se que é impossível ser

reconhecido sem aparecer nos meios de comunicação, sem pro-

paganda, sem compor a escalação dos grandes eventos.

Aí a situação vai ficando mais difícil. O sucesso e o público

vão parecendo cada vez mais distantes. Alguns programas com

características menos comerciais e mais alternativas, vez em

quando, convidam uma ou outra banda da terrinha, um ou ou-

tro cantor local para uma entrevista. O certo mesmo é um bre-

ve aviso só pra compor a chamada ‘agenda cultural’, que fun-

ciona como serviço, para ajudar a programar o fim de semana.

Apesar de serem considerados “independentes”, por não

estarem ligados a uma gravadora, para todos aqueles que vi-

vem ou desejam viver de música é importante vender discos,

fazer shows, mostrar seu som. Na terra do axé, ano após ano

é possível acompanhar o sucesso meteórico que alguma ban-

da jamais vista é capaz de alcançar às vésperas do carnaval.

A maioria não consegue sustentar a carreira e com a mesma

velocidade desaparece do cenário.

Se por um lado parece que a cena

musical baiana já tem donos e donas,

por outro lado, novos palcos vão sur-

gindo na capital e no interior para

mostrar a variedade de caras e rit-

mos. Para o produtor Marcus Ferreira,

sócio-diretor da Putzgrillo! Cultura,

a participação em festivais de música

soa como a melhor forma de uma ban-

da circular, mesmo com os baixos ca-

chês oferecidos.

“Os artistas que participam de fes-

tivais tem a facilidade de encontrar

toda uma estrutura (que atenda a sua

necessidade) já montada: sonorização,

iluminação, palco, divulgação, cachê e

público. Quando o artista não tem pro-

jeção suficiente para cobrar altos ca-

chês, a melhor opção são os festivais,

principalmente em uma cidade na qual

não é conhecido. Assim, acaba havendo

interação com o público de artistas lo-

cais ou até mesmo da principal atração

do evento”, explica Marcus, que atua há

oito anos na área de eventos.

Com os festivais,

os artistas

independentes têm a

chance de aparecer

para o grande

público.

Page 14: Revista Plano B #03

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MÚSICA Festivais

MERITOCRACIAO esforço, a dedicação e a produção de qualidade são requisi-

tos para Marcus Ferreira. Para ele, o mérito deve empoderar

os artistas. “Na minha empresa, temos um lema quando o as-

sunto é contratação de atrações: ‘meritocracia’. Não adian-

ta ser amigo de fulano e muito menos nosso, se não estiver

produzindo CD, realizando shows e projetos, gravando ou

lançando clipe, fomentando o mercado de alguma maneira,

certamente não terá espaço em nossos palcos”, sentencia. As-

sim, uma das preocupações na hora da escolha é a busca por

aqueles que fazem um trabalho diferenciado.

A Putzgrillo! está organizando o Recôncavo Jazz Festival

que acontecerá no mês de agosto, em Cachoeira. “A principal

diferença entre os festivais na capital e interior está na facili-

dade estrutural, seja ela física ou técnica. A capital já possui,

naturalmente, uma série de opções de bares, casas de shows,

além de prestadores de serviços que facilitam muito a execu-

ção de um grande evento. Por outro lado, no interior, todas as

bandas querem participar, pois sabem que são raras as opor-

tunidades”, explica.

NA PROGRAMAÇÃO,SEM JABÁHá dez anos acontece um dos mais tra-

dicionais eventos do ramo na Bahia: o

Festival de Música Educadora FM. “O

Festival foi criado com o objetivo de ga-

rantir um espaço para a produção mu-

sical baiana de qualidade, ensejando ao

participante a oportunidade rara de via-

bilizar a veiculação de sua gravação na

programação, sem pagamento de jabá

— como costuma acontecer na grande

maioria das emissoras de rádio”, alfine-

ta o coordenador Tom Tavares.

O elevado número de inscritos

aponta a proporção do Festival. Cerca

de 700 gravações têm sido recebidas

pela Rádio Educadora a cada edição e

de acordo com Tom Tavares, o ponto alto

é a oportunidade que o artista tem de

expor a sua obra: primeiro, através da

programação da Educadora; depois, em

sendo um dos 14 finalistas, tendo a sua

gravação incluída no CD do festival.

Mas, quando questionado sobre

qual seria o maior chamariz desse tipo

de evento, Tom não foge da raia: “Seria

falso dizer que os prêmios em dinheiro

(62 mil reais ao todo) não atraem. Afi-

nal, o artista é gente. E gente precisa

comer”. E, por fim, acrescenta: “Vale

lembrar que os prêmios têm sido fre-

quentemente utilizados pelos agracia-

dos nos festivais para a realização dos

seus projetos musicais”.

Premiações em

dinheiro e CD ainda

são os principais

atrativos dos

festivais.

Page 15: Revista Plano B #03

15

Festivais MÚSICA

Localmente, um incentivo original São inúmeros os tipos de festivais, alguns

reúnem artistas brasileiros, outros até ar-

tistas internacionais. Ano após ano surgem

novos e empolgantes eventos para dar es-

paço para essa turma. O Festival de Música

Instrumental já passou da sua 17ª edição, o

Festival Phoenix Jazz da Praia do Forte reú-

ne artistas de várias partes do mundo e no

Festival de Música da Bahia músicos de todo

o Brasil vão para Vitória da Conquista levar

a diversidade musical. Outro bom exemplo

foi o Origem da Terra, realizado em 2010,

que além dos shows de nomes como Enio e

a Maloca, Baiana System e Juliana Ribeiro,

abriu espaço para a participação dos artis-

tas num CD promocional.

Page 16: Revista Plano B #03

16

CIDADANIA

Page 17: Revista Plano B #03

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CIDADANIA

Apenas mulheres são abrigadas no AMMA – lar de ido-sas, no centro da capital baiana – e cada uma possui seu espaço, como se fossem diversas casas dentro de uma maior, com todo o cuidado e o acolhimento neces-sários para a tranquilidade durante os últimos, porém não menos intensos, anos de vida.

O Abrigo Mariana Magalhães (AMMA) é um asilo curioso.

Apenas mulheres são recebidas na casa, doada pela senhora

Mariana (que dá nome à instituição), que sonhou para suas

irmãs uma velhice tranquila. No AMMA, cada idosa vive em

sua unidade. Ali, elas montam o seu espaço individual, de

acordo com suas preferências. Auditório, capela, áreas para

a convivência e refeitório são alguns espaços oferecidos para

o uso comum.

Cheguei ao AMMA em um dia festivo. Aconteceria ali

uma feijoada beneficente para angariar fundos para a refor-

ma da área de lazer do abrigo. Fui carinhosamente recebida

por senhorinhas enfeitadas e todas visivelmente muito pre-

ocupadas com a organização da festa e com a recepção dos

convidados. A faixa etária varia de 60 a 98 anos. Era visível a

expectativa pela chegada das visitas.

Envolvida no clima de alegria, dona Alice Miranda, 96

anos, me ofereceu um lugar no sofá, ao lado dela e de um

pequeno aparelho de som que tocava o melhor de Gonzagão.

Enquanto respondia minhas perguntas, ia se balançando sem

perder o ânimo. O AMMA é prioritariamente um lugar desti-

nado à longa permanência. “Eu vivo aqui há 23 anos”, conta

dona Alice. Ela pretende fazer como a grande maioria, que só

deixa o abrigo quando falece.

AMMAREÚNE ACOLHIMENTO, FRATERNIDADE, CULTURA E VIDA SOCIAL

TEXTO MAIARA BONFIM FOTOS MARCELO SANTANA

CIDADANIA

Page 18: Revista Plano B #03

18

CIDADANIA

Quem pensa que a vida das idosas

se resume ao convívio dentro do abrigo

está enganado. Elas vão para museus,

teatros, participam de romarias e até re-

alizam viagens. Dona Alice relembra as

festas na Casa D’Itália, sempre regadas

a muita música e dança. Hoje, ela já não

tem força física para participar dos pas-

seios, contudo guarda aqueles festejos,

que participou, em um lugar especial

na memória.

No AMMA, o contato com a cultura

ajuda a manter e até despertar sensa-

ções, desejos, melhorando o ânimo das

assistidas. Nesse sentido, são realizadas

diversas ofi cinas recreativas e culturais

que visam, entre tantos objetivos, traba-

lhar a integração, convivência e a me-

mória – não é à toa que, das 70 vagas

disponíveis na casa, 68 estão ocupadas.

Dona Alice não perde a oportunidade de falar dessas atividades: “Aqui tem muita

coisa para a gente fazer – tem palestras, ofi cinas de arte, dominó e muita diversão”.

E o leque de ações culturais realizadas na instituição é grande. Tem aulas de

dança, artesanato e música, realização colaborativa de jornal, além de atividades

para estimular a memória e a capacidade motora, como alongamento, ginástica,

palestras e exibição de vídeos. As idosas também não deixam de lembrar, orgulho-

sas, das apresentações da Orquestra Sinfônica da Bahia, em concertos ao vivo nas

instalações do abrigo. Bach, Vivaldi e Mozart foram alguns dos visitantes que che-

garam através dos violinos, baixos e violoncelos para levar música e muita emoção.

Tantos momentos e tantas Histórias de vida também chegaram aos ouvidos do ci-

neasta Rafael Jardim, que por duas ocasiões se utilizou das memórias e das narrati-

vas de algumas das residentes do AMMA como base para suas criações. Após breve

São realizadas diversas ofi cinas recrea-tivas e culturais que visam, entre tantos objetivos, trabalhar a integração, convi-vência e a memória

No AMMA, as

idosas participam de

atividades culturais

e sociais durante

todo o ano.

Page 19: Revista Plano B #03

19

CIDADANIA

19

A instituição só

acolhe pessoas que

chegam ao local por

vontade própria.

visita ao local, Rafael Jardim produziu dois curtas: em “Muitos

Anos de Vida”, o enfoque é nas trajetórias de quatro senhoras

do abrigo, que rememoraram os melhores momentos de suas

juventudes; na fi cção “Breve Passeio”, o enredo gira em torno

de uma personagem que se vê abandonada pelo único fi lho às

vésperas do nascimento de sua primeira neta.

LIVRE ESCOLHA OU ABANDONOO AMMA funciona de acordo com as indicações expressas no

estatuto do idoso no que diz respeito à convivência fora do

seio familiar. “Para viver no abrigo, elas não podem estar sen-

do obrigadas pela família”, explica a ministra Lygia Margari-

da de Argollo, responsável jurídica e social da instituição. Para

evitar inconvenientes desse tipo, são realizadas entrevistas

com assistente social, antes da entrada, para sondar se real-

mente é do desejo da idosa viver no local. “Se nós percebemos

que é uma imposição dos familiares, não recebemos. Nosso

objetivo é acolher as pessoas que não podem mais viver em

seus lares, que não tem mais família ou que foram abandona-

das”, pontua Lygia. No curso dos 17 anos em que acompanha o

AMMA, a ministra conta que existem algumas moradoras que

jamais receberam a visita de sequer um parente.

O abrigo possui toda a documentação legal, contudo, isso

não lhes garante nenhuma parceria. As idosas que vivem no

AMMA são associadas e pagam taxas diferenciadas, de acor-

do com o tipo de acomodação que utilizam (há algumas com

banheiros privados, outras com banheiros coletivos; peque-

nos apartamentos e ainda a opção da enfermaria para aque-

las que carecem de assistência durante todo o dia).

Uma estratégia para adquirir recursos foi abrir o Brechó

Benefi cente do AMMA, que possui uma lojinha logo na en-

trada da casa. Lá, são vendidos sapatos, roupas, bijuterias e

bolsas. Doações compõem outra parcela para a manutenção

do espaço, além dos eventos realizados com intuito de anga-

riar fundos. “Realizamos todas as festas do calendário civil e

religioso”, explica a ministra

PARA COLABORAR

A vice-ministra Maria Duque explica que toda aju-

da é bem-vinda. Não é apenas fi nanceiramente que

se pode ajudar o asilo. “Estamos abertos para pro-

postas de voluntários. Cada um ajuda como pode”.

Para isso, basta fazer uma visita ao AMMA, ou en-

trar em contato.

Ladeira dos Barris nº 4A| Salvador - Ba

CEP 40070-310 | Telefone: (71) 3329-4161

Page 20: Revista Plano B #03

20

MODA

Não se sabe ao certo como a ideia surgiu, mas, principalmen-

te no mundo da alta costura, a customização faz parte do dia-

-a-dia de costureiros e estilistas. O hábito é comum também

entre os jovens das grandes cidades, que buscam uma iden-

tidade própria e se favorecem de diversos elementos para

criá-la. Essa mania de modificar as peças do vestuário não é

nova, mas quando se tratam de calçados, especialmente tê-

nis, a tendência é relativamente recente.

De canetas esferográficas coloridas a tintas para tecidos,

o que vale mesmo é a criatividade na hora de dar forma ao

desenho que estampará o calçado. Há os que usam gliter, re-

síduos de materiais recicláveis, metais. Também tem a turma

que recorta, cola, rabisca. A intenção final é sempre a mesma: modificar o original para torná-lo exclusivo.

E como era de se esperar, em se tratando das gerações Z

e Y – nascidos nas décadas de 1980 e 1990 e no início do sé-

culo XXI, a internet é a porta de entrada

para esse tipo de mercado, que se carac-

teriza basicamente pela informalidade

e pelo trabalho artesanal, realizado em

sua grande maioria por artistas plásti-

cos e profissionais da área de Design.

“Essa ideia de customizar remota ao

tempo do colégio, quando pegávamos

os cadernos para fazer colagens, de-

senhos, etc.”, conta o publicitário e fo-

tógrafo Nelson de Castro, 33 anos, que

customiza tênis desde 2009.

“Sempre busco criar algo relaciona-

do à arte, que seja fora do contexto da

realidade do computador ou das mídias

digitais. E numa dessas buscas, resolvi

criar algo diferente para presentear mi-

nha namorada no Dia dos Namorados.

Vi um tênis na rua todo colorido e come-

cei a pesquisar. Comprei o material e fiz

na cara e na coragem”, relembra Nelson.

Ele, como tantos outros, começou

customizando seus próprios tênis, mas

logo se viu criando para amigos e clien-

Nova febre entre os jovens que buscam es-tilos próprios, a customização de calçados, em especial o tênis, dita moda e demonstra o conceito criativo da nova geração, que se apropria de cores e materiais do mais diver-sos para dar cara às suas criações.

TEXTO

FOTOS

FABIO FRANCO

NELSON DE CASTRO

Page 21: Revista Plano B #03

21

tes. “A partir desse primeiro tênis, os amigos e pessoas co-

nhecidas começaram a pedir novas criações. Depois coloquei

algumas imagens na internet e o leque de pedidos cresceu

demais. E o processo de criação não é algo simples. Dá mui-

to trabalho. Fico pelo menos cinco dias trabalhando no tênis,

mas é algo que me dá prazer”.

FAÇA VOCÊ MESMOHoje já é possível adquirir calçados preparados para a custo-

mização, ou seja, crus, sem nenhum tingimento ou detalhe.

Há também grifes e empresas calçadistas de olho nesse filão

– algumas começaram a desenvolver peças cheias de estilo

e atitude. Mas o grande lance é criar seus próprios projetos.

“Gosto desse método de customização, porque o cliente acaba

se envolvendo diretamente no processo criativo, já que suge-

re temas, desenhos, cores e formas que serão impressos no

calçado”, comenta o publicitário.

Nelson conta que essa febre é algo muito vivo na turma mais

jovem, que busca exclusividade da hora de compor um estilo.

“Posso te dizer com segurança que existe um bom mercado para

quem quer customizar. A galera mais nova quer algo somente

seu, que não seja produzido em larga escala. Quer algo que não

tenha outro igual. E isso é bacana, porque até uma falha duran-

te a criação dará uma característica nova ao resultado final”.

Page 22: Revista Plano B #03

22

MUSEU

Page 23: Revista Plano B #03

23

MUSEU

Casa do Sertão reúne rico acervo de peças, livros, jornais e material fonográfico com conteúdos históricos, dando um indi-cativo de como a herança popular influencia diretamente na formação de uma sociedade culturalmente organizada.

A HISTÓRIA DO

EM FEIRA DE SANTANA

ENDEREÇO Rodovia

Transnordestina, s/n

Campus UEFS – Novo

Horizonte.

Feira de Santana

ATENDIMENTO AO

PÚBLICO das 08h

às 11h30 e das 14h às

17h30

ENTRADA GRATUITA

SERTANEJOPOVO

A formação da sociedade baiana está diretamente interligada aos usos e costumes

do homem sertanejo, personagem habituado ao suplício da seca, aos espinhos dos

cactos e a aridez das terras nordestinas. Sempre acompanhado de uma montaria

(cavalo ou mula), com seu tradicional chapéu de couro, o sertanejo acabou incorpo-

rado a um universo que ultrapassa os limites do sertão, com ramificações na gastro-

nomia, na cultura, na linguagem, na religião...

Com o propósito de resgatar e preservar essas tradições sertanejas, o professor

e escritor Raimundo Gonçalves Gama recomendou a construção de um espaço cul-

tural no município de Feira de Santana, que abrigasse artefatos e a memória do

povo feirense. Em 1978, após a execução do projeto por parte do Lions Clube, foi

inaugurado o Museu Casa do Sertão.

Hoje, administrado pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), o mu-

seu guarda um acervo riquíssimo, composto por objetos em couro, madeira, argila e

palha; brinquedos; livros e documentos históricos; além de um arquivo fonográfico. De

acordo com a museóloga Joseane Macedo, que trabalha no local, atualmente a Casa

do Sertão abriga aproximadamente 28 mil peças e traz exemplos de produção volun-

tária, individual ou coletiva realizadas, principalmente, na região de Feira de Santana.

“O acervo é composto por objetos que evidenciam o cotidiano do interior baia-

no, expressos nos candeeiros e fifós, nos instrumentos que simbolizam o dia a dia

do trabalho, nos móveis e utensílios domésticos, nos brinquedos populares que nos

contam histórias do mundo infantil, entre tantas outras peças que singularizam o

universo sertanejo”, revela a museóloga, que destaca também a utilização do local

para a realização de exposições temporárias ou itinerantes.

TEXTO FABIO FRANCO FOTOS MARCELO SANTANA

Page 24: Revista Plano B #03

24

MUSEU

JORNAIS E ÁUDIOSGrande diferencial da Casa do Sertão, seu acervo fonográfico

é composto por materiais de áudio como fitas cassete, discos

musicais, gravações de cantos, entre outros, que conferem

uma representatividade ainda maior ao papel da cultura ser-

taneja na constituição da sociedade baiana. “Esse conjunto

visa resgatar informações sobre a memória histórica, cultural,

econômica e geográfica da microrregião de Feira de Santana

e, sobretudo, valorizando o papel desempenhado pelo homem

sertanejo na formação social do Estado da Bahia. Cada peça,

mais do que objetos estanques, pode e deve ser estudada

como elemento de uma produção histórica e cultural”.

O acervo do museu

conta com quase 30

mil peças, incluindo

jornais digitalizados.

« Esse conjunto visa resgatar informações sobre a memória his-tórica, cultural, econômica e geográfica da microrregião de Fei-ra de Santana e, sobretudo, valorizando o papel desempenhado pelo homem sertanejo na formação social do Estado da Bahia »

JOSEANE MACEDO, MUSEÓLOGA RESPONSÁVEL PELA CASA DO SERTÃO

Desde 2010, o museu também disponibiliza o acesso a

manuscritos e jornais antigos de Feira de Santana, que foram

catalogados e digitalizados. O visitante pode "folhear" digital-

mente periódicos datados dos séculos XIX e XX, como “O Mu-

nicípio” (1892-1894) e “Gazeta do Povo” (1891-1893). “O acervo

é composto por livros, manuscritos, periódicos, documentos,

literatura de cordel, somando mais de 2.000 títulos, alguns

raros. Também foram doados uma coleção de ‘O Pasquim’,

das décadas de 1970 a 1990, e diários feirenses que circula-

ram entre 1960 e 1970, a exemplo do Tribuna Popular, Folha

da Feira e Jornal da Feira”, pontua Joseane Macedo.

Page 25: Revista Plano B #03

25

MUSEU

ILUSTRE DESCONHECIDOApesar de toda a qualidade material do acervo, muitos dos

visitantes reclamam da pouca – quase inexistente – divulga-

ção do museu, que passa despercebido pelos moradores de

Feira. A jornalista Calila das Mercês, 23 anos, que viveu gran-

de parte da vida na cidade é categórica ao apontar esse des-

cuido. “Infelizmente falta divulgação do local. Poucas pessoas

conhecem ou já tiveram a oportunidade de visitar a Casa do

Sertão, que, por sinal, tem uma ótima proposta de preserva-

ção da cultura feirense”.

A jovem, que costuma visitar exposições e atividades cultu-

rais, conta que ‘descobriu’ o museu por conta própria. “Adoro

cultura. Sempre saio com amigos para eventos desse tipo, bus-

cando novas percepções, novos conhecimentos. Mas nem todos

os jovens têm esse hábito. Por isso, acredito que os responsáveis

pelo local, a Secretaria de Cultura e órgãos correspondentes

precisam chamar a atenção desse público, em especial, para

que se possa criar o costume de visitação do museu”, aponta.

MUSEU

Page 26: Revista Plano B #03

26

PROFISSÃO

A profissão de maquiador é pouco lembrada, mas na prática o trabalho é o diferencial para quem atua nas TV e nos palcos. A maquiagem tem o “poder” de transformar e criar novas caracte-rísticas, sendo elemento fundamental na vida de profissionais.

Cantora, ator, jornalista. O que esses três personagens têm em comum? Pensou?

Então vamos lá... nos três casos, figura pelos bastidores de suas carreiras um profis-

sional que é pouco visto, pouco lembrado, mas que faz uma diferença e tanto nas

vidas de todos: o maquiador

“Por mais que um apresentador/repórter saiba se maquiar, o profissional da ma-

quiagem sempre sabe o que é melhor, quais os tons mais adequados e o que pode

e deve ser valorizado”, diz a jornalista e apresentadora Camila Marinho. Seu “anjo

da guarda” é a maquiadora Rose Brito, que diariamente está ao seu lado e cuida

de cada detalhe antes de Camila sentar na bancada para transmitir as notícias ao

público ou até mesmo de ir às ruas para fazer reportagens.

“Camila é uma pessoa amorosa, parceira e amiga! Super tranquila e escuta minhas

idéias e opiniões. Às vezes resolvo ousar um pouco e ela sempre topa”, conta Rose, que

completa: “ela só não gosta mesmo de ba-

tom e tons fortes”. Rose é maquiadora há

oito anos, mas a curiosidade pela área é

mais antiga. “Desde pequena eu sempre

prestava atenção nas produções das no-

velas, filmes e em casa me maquiava e me

via nesse mundo da fantasia”, explica.

Ela fez o primeiro curso ainda na ado-

lescência e logo depois se profissionali-

zou. “O maquiador bem preparado agre-

ga valor ao produto. Para mim é sinônimo

de valorização mesmo. Digo isso porque

a gente faz com que a pessoa rejuvenes-

ça ou envelheça, emagreça ou engorde.

Se for feito com conhecimento técnico, a

maquiagem é uma arte”.

“Em qualquer look a maquiagem tem

um papel crucial. Inclusive vemos nos

MAGICOS´DA VIDA REAL

TEXTO PIETRO RAÑA FOTOS MARCELO SANTANA

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27

desfiles de moda, as experiências mais loucas, que acabam

chamando mais a atenção que as próprias roupas. Para o

artista que está no palco, na TV e em eventos de todo tipo, a

meta é ficar sempre deslumbrante e aí mora o desafio”, afirma

a cantora Carla Visi, que confessa: “apesar de toda minha li-

nha zen, adoro uma boa maquiagem!”. Carla é cuidada, desde

2008, por Afonso Henrique – apresentado a cantora por ou-

tro grande maquiador baiano, Zezinho Santos – que além de

maquiagem, cuida do cabelo da cantora. “As produções mais

recentes têm o seu toque de mestre e sinceramente, me vejo

maravilhosa”, finaliza.

Embora seja uma profissão de bastidor, com importância

mais do que ressaltada, infelizmente o maquiador muitas

vezes é relegado a planos inferiores. “A profissão ainda não

é tão valorizada quanto deveria ser! O caminho vem sendo

trilhado, mas ainda há muito que percorrer. Os maquiadores

vêm se especializando cada vez mais, mas ainda precisam do

reconhecimento, especialmente pelas pequenas empresas,

que muitas vezes não contratam o profissional por conside-

rar um luxo”, diz Camila.

O ponto de vista é confirmado pelo ator Danilo Martins.

“Apenas grandes produções têm maquiadores profissionais.

Nos espetáculos e companhias menores é o próprio ator que

faz sua maquiagem, por uma questão financeira. Ou o ma-

quiador faz a primeira fase da temporada e depois os atores

é que continuam”, conta.

Para Rose, o maquiador é desvalorizado quando se ana-

lisa individualmente a profissão. “Num salão, as pessoas ter-

minam fazendo a maquiagem como resultado de um pacote

com o cabelo. Mas na maior parte das vezes, vemos mulheres

que vão a salões para fazer penteados e voltam para casa

para se maquiarem antes de festas”, conta. E todos são unâ-

nimes quanto a importância desse profissional: “Não resta a

menor dúvida de que o maquiador é um artista! Ele esconde

as ‘imperfeições’, transforma... Basta um pincel e o orgulho

do que se faz!”, conclui Camila.

A História da MaquiagemO INÍCIO

A maquiagem começou a mais de 30 mil anos atrás.

Contudo, o uso desses elementos para fins estéticos

só começaria cerca de 4000 A.C., no Egito. Escava-

ções apontam que os faraós pintavam os olhos para

evitar que as pessoas os olhassem diretamente. Era

simbologia de respeito. Mas havia quem se maquia-

va por vaidade, como Cleópatra, que usava pó khol

nas pálpebras e se banhava em leite de cabra. Tem-

pos depois, na Roma Antiga, as mulheres passaram

a usar máscaras de farinha, miolo de pão e leite,

durante a noite, sobre o rosto, para melhorar a pele.

No Japão, do século IX ao XII, a valorização da pele

branca era regra geral. As mulheres aplicavam um pó

feito de farinha de arroz, chamado oshiroi. Depois pas-

saram a usar uma pasta feita do extrato de açafrão,

para colorir as maçãs do rosto. Em 157 A.C., o médico

grego Galeno, criou o primeiro creme facial do mun-

do, o Unguentum Refrigerans, resultante da mistura

da cera de abelha, óleo de oliva e bórax (composto

derivado do Boro). Com o passar dos anos, o óleo de

amêndoas substituiu o de oliva, tornando o creme

mais cremoso, cuja fórmula básica ainda é utilizada

atualmente em emulsões de água em óleo.

Page 28: Revista Plano B #03

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Page 29: Revista Plano B #03

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Page 30: Revista Plano B #03

30

CAPA DançaCAPA Dança

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31

Dança CAPA

Reconhecida como uma das artes ditas de primeira grandeza, a dança talvez seja aquela que represente, na sua totalidade, toda a perfeição e graciosidade do ser humano. Os movimentos rápidos e sincronizados parecem impossíveis para uma pessoa comum, quem dirá para alguém que tenha limitação de movimentos. Para provar que talento e força de vontade podem superar qualquer obstáculo, pessoas com deficiência física se transformam em dançarinos profissionais e expandem sua arte por todo o país.

TEXTO FABIO FRANCO

Marcelo Santana

Page 32: Revista Plano B #03

32

CAPA Dança

Cada passo, movimento, olhar, revela um estado de leveza e

simplicidade, que ofusca, pelo menos por alguns instantes,

as horas e horas de ensaio e o sacrifício do dançarino para

representar bem o seu papel no palco. Considerada uma das

três principais artes cênicas da antiguidade, além do teatro e

da música clássica, a dança, infelizmente, ainda se restringe

a um público pequeno, às vezes erudito, mas o desejo de am-

pliar o acesso à sua arte é algo cada vez mais vivo nas compa-

nhias de dança locais.

Nos últimos anos essa representação artística também se

transformou em ferramenta das mais substanciais para a in-

clusão social e, porque não dizer, para a melhoria da vida de

pessoas com deficiência. De terapeutas a neurocirurgiões, é

unânime a opinião de que a dança seja mais que um método

que proporcione ao corpo benefícios extraordinários. A dan-

ça é, antes de tudo, um instrumento de transposição de bar-

reiras e afirmação de conquistas perante a sociedade.

“A Dança, de fato, traz inúmeros benefícios, desde a me-

lhoria da autoestima, estímulo à criatividade, contato com o

outro, reconhecimento das possibilidades e eficiências, cons-

ciência corporal, quebra de padrões corporais, entre outros”,

opina Edu O, coreógrafo, diretor artístico e intérprete-criador

do ‘Grupo X de Improvisação em Dança’ e dançarino da ‘Can-

doco Dance Company’ (Londres). No

alto dos seus 35 anos, Edu é um perso-

nagem singular. A deficiência em nada

atrapalhou o seu desenvolvimento no

meio artístico, pelo contrário, foi a for-

ça propulsora para que sua arte tives-

se reconhecimento.

“Me interessa a dança como expressão artística, onde dia-

logo com o mundo, me coloco, externo minhas inquietações

e pensamentos. Sou artista da Dança Contemporânea”. Sua

desenvoltura resultou num projeto pioneiro na Bahia. Desde

2010, Edu reúne profissionais da dança (com ou sem deficiên-

cia) no encontro “O que é isso? de Dança”, para analisar e am-

pliar as discussões sobre questões ligadas à acessibilidade e

profissionalização do artista com deficiência.

Ninfa Cunha também é entusiasta dessa representação

artística. Hoje com 43 anos, a dançarina e produtora, que é

cadeirante, conta que ingressou no universo da dança por

indicação médica, mas acabou se descobrindo uma apai-

xonada pelo fazer artístico. “Costumo dizer que a dança é

como um bichinho que te morde e invade teu corpo. Quan-

do comecei pensava apenas em trabalhar meu corpo e

acabei descobrindo novas sensações. Não tinha a intenção

de me tornar dançarina”. E revela: “Meu início nos tabla-

dos não foi fácil. Pelo contrário, foi extremamente difícil.

Imagina eu, naquele palco imenso, sozinha, de frente para

aquele público? Tremi. Mas minha amiga e incentivadora,

Marcia Abreu, me chamou e disse ‘você pode’. Encarei o

desafio e digo que foi uma das melhores sensações que

tive na vida”.

« A Dança, de fato, traz inúmeros bene-fícios, desde a melhoria da autoestima, estímulo à criatividade, contato com ooutro, reconhecimento das possibilidades e eficiências, consciência corporal,entre outros »

EDU O

Ga

bri

el G

uer

ra

CAPA Dança

Page 33: Revista Plano B #03

33

Dança CAPA

SEM LIMITAÇÕESPara a pesquisadora Carolina Teixeira, que iniciou na dança

em 1995, como substituição a fisioterapia na reabilitação de

um AVC, não existem limites para o deficiente. “A deficiência é,

antes de tudo, uma experiência estética, é um modus de pen-

sar, insuflar por meio das impossibilidades, ela estimula a apro-

priação. Aquele que tem uma deficiência tem uma ‘impotência’

a ser explorada, degustada, confrontada e, acima de tudo, uma

experiência assumida, desvinculada do fetiche especulativo-

-espetacular que a sociedade ao longo dos tempos cristalizou”.

Confrontando o conhecimento próprio e as experiências

de vários outros indivíduos, Carolina se debruçou sobre o uni-

verso das pessoas que atuam, trabalham e se divertem com a

« A deficiência é, antes de tudo, uma experiência esté-tica, é um modus de pensar (...) Aquele que tem uma defi-ciência tem uma ‘impotência’ a ser explorada, degustada, confrontada e, acima de tudo,uma experiência assumida »

CAROLINA TEIXEIRA

LIVRO DEFICIÊNCIA EM CENA

Livraria LDM | (71) 2101 - 8000

R$ 35,00

dança, apesar das possíveis limitações, num livro que acaba

de ser lançado, intitulado “Deficiência em Cena”. “A arte pode

oferecer uma infinitude de possibilidades, mas não tem uma

função específica. A arte é dialética e em constante devir, não

deve ser pensada enquanto uma fonte de resultados, mis-

sões, redenções. Neste sentido, cabe ao artista (com ou sem

deficiência), apropriar-se de suas impossibilidades ou não.

Isso dependerá de seus projetos estéticos e de não querer ser

visto sob a ótica da especialidade, superação heróica de limi-

tes ou do desejo social de uma salvadora promessa de cura

para o mundo”, revela.

O que talvez seja o grande obstáculo para os profissio-

nais da dança com deficiência seja a falta de planejamen-

Marcelo Santana

33

Page 34: Revista Plano B #03

34

CAPA Dança

to e investimento em ações de inclusão e promoção desse

tipo de atividade social e artística. “Somente a dança ou a

arte não é capaz de fazer uma real inserção social da pes-

soa com deficiência. Para isso é necessário um conjunto de

coisas que começam no acesso à boa educação, passando

pela acessibilidade arquitetônica e cultural, real participa-

ção no mercado de trabalho e não as migalhas dadas pelas

empresas. Um verdadeiro reconhecimento das capacidades

e eficiências da pessoa, enfim, muitos pontos para serem le-

vantados”, comenta Edu O.

Ninfa concorda e toma como exemplo dois projetos cria-

dos por ela – Casulo de Artes Inclusivas e Perspectivas em

Movimento, nos quais teve a oportunidade de lidar direta-

mente com agentes que deveriam estar preparados para atu-

ar ao lado de pessoas com deficiência. “Me espanta a falta de

conhecimento e a ausência de experiência em lidar conosco.

No Casulo, ouvi uma professora dizer que a educação inclu-

siva oferecida pelo Estado é de faz de conta. Por isso, eu luto

pelo ideal de acessibilidade plena, não somente para nós, que

temos deficiência, mas para todos os indivíduos. Porque al-

guns acreditam que acessibilidade é você colocar uma barra

de apoio ou uma rampa. Não se trata disso. Trata-se de capa-

citação, de conhecimento no trato diário, de políticas públicas

de ação afirmativa”.

Basílio Boarin Neto

34

« a dificuldade de acessibilida-de, no sentido pleno, é apenas questão atitudinal. Quando você muda sua atitude, acaba se ajudando além do que pode imaginar e faz a diferença »

NINFA CUNHA

Page 35: Revista Plano B #03

35

Dança CAPA

Carolina Teixeira, que elege os editais como uma das poucas

possibilidades de fomento de grupos artísticos na Bahia e no

Brasil, reflete. “A falta de investimentos e, acima de tudo, de pro-

fissionais que discutam o tema sem a ótica analítica de quem

está fora da experiência da deficiência, também compromete,

em grande parte, as discussões necessárias para a promoção

de um pensar menos assistencialista acerca do trabalho do ar-

tista, de sua obra e de sua circulação no mercado nacional e

internacional”. E com um humor cativante Ninfa finaliza. “Para

mim, a dificuldade de acessibilidade, no sentido pleno, é ape-

nas questão atitudinal. Quando você muda sua atitude, acaba

se ajudando além do que pode imaginar e faz a diferença”.

Os benefícios para quem pratica a dança são

inúmeros, em virtude dos movimentos potencia-

lizarem as capacidades e habilidades corporais

do praticante. Por exemplo, para quem tem defi-

ciência nos membros inferiores, a dança propor-

ciona uma melhora significativa da musculatu-

ra, da resistência física, da circulação sanguínea

e da função cardiorrespiratória. A dança tam-

bém favorece os deficientes auditivos e visuais,

otimizando a percepção de espaço, influencian-

do positivamente na sensação de equilíbrio e

integração dos sentidos.

Nota do editor: O grupo X de Improvisação

em Dança é pioneiro no Brasil em audiodes-

crição de cenas de Dança para cegos, além

de realizar tradução para a Língua Brasileira

de Sinais (LIBRAS), nos espetáculos que têm

textos, para contemplar o público com defici-

ência auditiva.

BENEFÍCIOS DA DANÇA

Page 36: Revista Plano B #03

36

OPINIÃO

Cultura: elemento de Inclusão Social!Aline Marianne Magalhães FariasComunicóloga, especialista em administração

e planejamento de projetos sociais e gestora

da Mana Agência de Inovação, Cultura e

Desenvolvimento.

[email protected]

Arquivo pessoal

Pessoas contam estórias. São histórias. Tesouros inestimáveis

de uma experiência que os livros não ensinam. Aliás, pesso-

as são como livros: precisam ser lidas, visitadas, preservadas.

Mas, o que são os livros, sem as mãos e os corações inquietos

que bebem de suas páginas? Que anseiam pelo desfecho da

trama? O que dizer então das pessoas, se no seu processo

de feitura, no seu caminho de se fazer gente, não encontra a

oportunidade de ver as cortinas se abrirem para um mundo

novo, de ver a si mesmo nos picadeiros, nas cordas-bambas

que não seja a costumeira do labor cotidiano? E a cultura,

é um bem popular? Ora, meu Senhor, a festa das cores, dos

ritmos, das formas e texturas exibe uma faixa indicativa em

formato subliminar, mas ao mesmo tempo, incisivo que diz

em som velado e grito seco que a cultura ainda não está para

todos – apesar de ser o povo e dele nascer.

É no mínimo curioso que o Brasil lidere posições em núme-

ro de usuários na rede mundial de computadores e a Bahia

ainda não conheça “o que a Bahia tem”. Mas é no mínimo so-

litário que comunidades e populações inteiras nunca tenham

assistido a uma produção nacional, ido ao teatro ou tivesse

acesso a qualquer manifestação artístico-cultural. Ao visitar

esta realidade, não é difícil conectar a tímida acessibilidade

à cultura com os índices de marginalidade, escolaridade e as

taxas de desenvolvimento de um povo, já que a cultura é con-

dição inalienável do ser e se vista como um valor, um recurso

que deve ser reconhecido, valorizado, mobilizado e articulado

de forma complementar com outros conhecimentos, pode se

transformar em instrumento multiplicador do nosso poten-

cial de crescimento e resolução de nossos problemas sociais.

Salve a Bahia de Todos os Santos, pois nesse estado-nação

temos a graça de exibir um povo, com suas formas e manifes-

tações tão variadas que, por si, já constituem patrimônio. Este

povo merece ver e ser visto e a cultura é um espelho de gran-

de clarividência no processo de inclusão social e garantia

de direitos, pois com ela é possível qualificar as expressões

e práticas da arte e do saber popular, transformando-as em

promoção do bem estar social.

Fazer com que o homem se conheça, reconheça e esta-

beleça vínculos consigo é o que a cultura, este legítimo ins-

trumento de inclusão proporciona. Proporcioná-la ao povo

é torná-lo livre! Ao recorrer ao significado da palavra livre,

uma das referências encontradas define como aquilo que

não apresenta obstáculos, caminho livre. Oxalá, ou seja, to-

mara! Faço votos que a cultura ande por caminhos livres,

sem obstáculos! Que adentre cada vez mais não só o cam-

po estético, mas também se cerque de medidas necessárias

de valoração, profissionalização e seriedade que necessita.

Que artistas, entidades, organizações possam se valer desse

meio de erradicação da miséria como forma de reduzir as

desigualdades sociais e uma das piores espécies de pobreza: a pobreza do conhecimento!

Utilizemos, pois, os veículos que permitem este acesso: editais, incentivos, políticas públicas, patrocínios, parcerias

público-privadas. Permitamos que todo o artista vá onde o

povo está, mas, de igual forma, que todo povo também possa

ir ao encontro desse artista: encantar-se com ele, identificar-

se com ele e nele vislumbrar a perspectiva de um mundo

múltiplo e generosamente possível.

Page 37: Revista Plano B #03

37

PATRIMÔNIO

Especialmente no Nordeste baiano, as festas do mês de junho são celebradas com forró, fogueiras, quadrilhas, fogos de artifício e, é claro, muita comida. Com o pas-sar dos anos, as referências prioritariamente europeias foram ganhando outros ele-mentos, novos ingredientes, cores e sabores graças à mis-tura dos costumes de bran-cos, índios e negros.

TEXTO MAIARA BONFIM

PATRIMÔNIO

Page 38: Revista Plano B #03

38

PATRIMÔNIO

Se o Carnaval não tem nada a ver com culinária e no Natal, para rechear a mesa, é

preciso importar ingredientes e até frutas que vão compor a ceia, o São João é com-

pletamente diferente. Nas festas de junho, a mesa é farta e composta por pratos

típicos à base de ingredientes bem regionais. Laranja, milho e amendoim disputam

a atenção mesmo nas menores expressões da festa.

Nas cidadezinhas do interior da Bahia, as comemorações acontecem, pratica-

mente, durante o mês inteiro. Por influência portuguesa, desde os idos da coloniza-

ção do Brasil, três conhecidos santos católicos são celebrados em junho. O 13º dia

é do casamenteiro Santo Antônio. Dia 29 é destinado ao manda-chuva, aquele que

decide quem entra ou não pela porta do céu, São Pedro. Mas o mais famoso é mes-

mo o primo do menino Jesus, São João, que nasceu no dia 24. Vítimas constantes

da seca, os nordestinos aproveitam esse período para agradecer pelas chuvas que

ajudam a fertilizar a terra.

Festejos não faltam. Mas e a comida, de onde vem? A explicação para a mi-

lharada reinar soberana na mesa está no calendário agrário. Junho é o mês em

que se colhe o milho que foi plantado lá no dia de São José, em 19 de março.

Cozido ou assado na brasa, ele não carece de muita intimidade com a cozinha e

já conquista paladares.

O milho é um produto natural do continente americano, muito apreciado, prin-

cipalmente pelos povos indígenas. Contudo, não era

muito valorizado pelos índios que povo-

avam o Brasil. Aqui, eles tinham a

mandioca (ou aipim ou maca-

xeira) como base das suas

refeições. Os europeus

também não incluíam o milho em sua

dieta, pois o consideravam de segunda

categoria. Sendo assim, era oferecido

para os animais e estava farto nas sen-

zalas. Justamente ali é que foram cria-

dos diversos pratos, juntando à maioria

deles o leite de coco.

Ainda hoje, quem tem mais traque-

jo na cozinha prepara bolos, canjicas,

pamonhas, mingaus, lelês, curaus e

broas, especialidades que são verda-

deiros manjares para os amantes desse

cereal. Para quem não tem habilidade

ou busca profissionalização, na capital

baiana, muitas escolas de culinária e

até grandes empresas distribuidoras de

alimentos oferecem cursos para ensinar

o preparo das iguarias juninas não ape-

nas feitas à base de milho, mas incluin-

do também o amendoim, o aipim e a

carimã. “Com esses quatro ingredientes

você faz praticamente todas as receitas

para a sua festa junina”, ressalta a culi-

narista Regina Gantois, que trabalha

nessa área há quase 40 anos.

PATRIMÔNIO

38

Page 39: Revista Plano B #03

39

PATRIMÔNIO

OPORTUNIDADEAlguns buffet da cidade também oferecem em seus catálogos

kits juninos para entregas domiciliares e eventos corporati-

vos. “Os orçamentos começam a ser realizados antes mesmo

do carnaval”, conta a doceira Jaciara Delmar, que é respon-

sável por uma empresa que oferece esse tipo de serviço. A

demanda começa a aumentar a partir dos meses de abril,

quando são feitos diversos agendamentos para festas.

Jaciara aprendeu com sua mãe a cozinhar todo o cardápio

de comidas regionais. “Tudo isso já fazia parte dos festejos ju-

ninos e do dia a dia da minha família”, conta, relembrando

como eram as refeições no café-da-manhã, almoço... Tudo era

feito em casa, de uma forma bem artesanal. Essa é a fórmula

para o sucesso do seu buffet atualmente.

Ela enumera quais são as comidas mais pedidas que não

podem faltar em qualquer cardápio junino: “Bolos de aipim,

carimã (que em alguns lugares chamam de puba), milho e

tapioca, canjica, mungunzá, amendoim cozido e os licores”.

Ela ainda conta que, ao longo do tempo, foram acrescentando

outras iguarias: “pé-de-moleque, paçocas doces e salgadas,

bombom de genipapo, pipoca, maçã do amor, doce de leite e

doce de abóbora em compota”.

Hoje, os festejos de São João costumam ser um verdadei-

ro chamariz que contribui para a propagação da imagem

do Brasil no exterior, bem como movimentam o turismo e a

economia nos pequenos municípios nordestinos. Na capital,

especialmente as feiras são responsáveis por trazer os pro-

dutos vindos do interior para compor as mesas das famílias

soteropolitanas. Nos shoppings, escolas e até nas igrejas são

montadas barraquinhas e realizadas festas comemorativas,

sempre repletas de comidas típicas do período junino.

Curau? Mingau? Lelê?(Por Regina Gantois)

Curau é o que chamamos de canjica, ou melhor, é a nossa

canjica no sul do Brasil. Mingau de milho é feito com milho

verde ou fubá de milho, acrescido de leite, leite de coco e

açúcar, que devem ser levados ao fogo para dar o ponto.

E o melhor é consumi-lo ainda quentinho. E por fim, o lelê

é um prato feito com milho pilado, coco e açúcar: é quase

um mingau que na proporção que vai esfriando, vai endu-

recendo e fica em ponto de corte.

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40

Page 41: Revista Plano B #03

41

As diversas facetas da cidade de

MonteSantoMunicípio baiano se destaca pelo turismo religioso, rica arquitetura do período colonial e situações insólitas, a exemplo da descoberta em suas terras do maior meteorito do Brasil. E além de tudo isso, a cidade, que recebeu personagens históricos como Lampião e Antonio Conselheiro, também serviu de locação para o filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, do cineasta Glauber Rocha.

TEXTO FABIO FRANCO FOTOS ACERVO MONTESANTO.NET

TURISMO

Page 42: Revista Plano B #03

42

TURISMO

Incrustada na região Nordeste da Bahia, a cidade de Monte

Santo guarda segredos incontáveis, capazes de encantar até

o visitante mais informado. Entre as edificações do período

colonial, se esconde uma rica história com personagens e

acontecimentos no mínimo inusitados, que influenciaram di-

retamente a construção da cultura brasileira. A começar pela

sua fundação: os mais antigos contam que a cidade começou

a sua caminhada por volta de 1755, quando o frei Apolônio de

Todd, ao passar pela região onde hoje se encontra o municí-

pio, percebeu a semelhança das terras com o Monte Gólgota,

localizado em Jerusalém.

Anos depois, o lugar passou por mudanças, sofreu alte-

rações na nomenclatura, mas finalmente em 25 de julho de

1929, por conta da Lei Estadual nº 2.192, foi elevado à condi-

ção de cidade, oficialmente com o nome de Monte Santo. Dois

séculos depois de sua criação, Monte Santo ainda preserva

boa parte do seu conjunto arquitetônico, que abriga casarões

construídos entre os séculos XVII e XVIII. O município tam-

bém é um expoente do chamado turismo religioso, caracte-

rística que remota a grande peregrinação de romeiros, tão

antiga quanto o surgimento da localidade.

“Queremos mostrar ao mundo o devido valor histórico e

cultural que a cidade tem e também promover o turismo re-

ligioso, que é sinônimo de gerações. Com isso, realizamos um

trabalho com comprometimento e amor que nos torna ainda

mais ricos culturalmente”, conta o repórter Anderson Silva

que, ao lado de amigos, criou um site (www.montesanto.net),

contando causos e fatos marcantes sobre o lugar.

PERSONALIDADESA cidade de Monte Santo também ganhou fama através dos

séculos graças às constantes visitas de personagens dos mais

folclóricos da história brasileira. O primeiro deles e talvez o

mais intrigante, foi Antônio Conselheiro, que criou em 1893

a comunidade de Canudos, num local em que anteriormente

havia apenas uma fazenda. De acordo com documentos da

época, Monte Santo era o centro das atividades do exército

brasileiro que lutou e derrotou os seguidores de Conselheiro.

Outra aparição que deu o que falar foi a de Lampião.

Mas antes mesmo de se tornar o “Rei do Cangaço”, Virgu-

lino Ferreira já havia dado as caras pelo município baiano

— na época o jovem sertanejo comercializava peles de ani-

mais em um mercado local. Anos depois, o já famoso can-

gaceiro sempre passava por Monte Santo para reabastecer

seu bando.

Mas não foi somente na área política que a localidade se

tornou conhecida. A cidade também serviu de expoente, em

solo baiano, na divulgação da cultura regional por diversas

ocasiões. Em uma delas, recebeu de braços abertos o cineasta

Glauber Rocha, que a utilizou como locação e set de filmagens

para o longa-metragem “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, consi-

derado um marco do movimento denominado ‘Cinema Novo’.

Anos depois foi a vez de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, le-

var a sua sanfona e seus trejeitos típicos do povo nordestino

para o município. Conta a estória popular que Gonzagão foi

contratado para comandar os festejos juninos e acabou se

tornando amigo do então prefeito Ariston Andrade. E como

forma de retribuir o carinho do novo amigo, Luiz Gonzaga

ofertou a sua sanfona, que hoje se encontra em exposição no

Museu do Sertão. “Monte Santo se desenvolveu baseada na

história de grandes personagens, mas também vale lembrar

que outras personalidades locais divulgam e muito a nossa ci-

dade, a exemplo do cantor e compositor Gereba e do escritor

Padre Enoque”, conta Anderson.

Legenda legenda

legenda legenda

legenda legenda

legenda legenda .

Page 43: Revista Plano B #03

43

TURISMO

METEORITO E ARTE RUPESTRENão bastasse tudo isso, Monte Santo também recebeu visitas

intergalácticas. Mas não se tratam de extraterrestres ou na-

ves espaciais. No ano de 1784, foi encontrado, às margens do

Rio Bendegó, aquele que seria classificado como o maior me-

teorito já localizado em terras brasileiras. A rocha, que pesa

mais de cinco toneladas, está exposta no Museu Nacional, no

Rio de Janeiro. Mas o visitante ainda pode visualizar a impo-

nente relíquia espacial por meio de uma réplica em exposi-

ção no museu da cidade.

Outro atrativo dos mais procurados são os sítios arqueoló-

gicos da região. Pelo menos cinco fazendas — Maria de Lima,

Pedra Branca, Riacho da Onça, Caixão e Santa Rita — abri-

gam inscrições rupestres em suas terras. Além disso, também

existe um povoado chamado Pedra Vermelha, onde foram

encontrados fósseis de animais do período pré-colombiano.

“Existem várias opções de lazer para quem visita a cidade

como o Museu do Sertão, onde está inserida grande parte da

história local e da Guerra de Canudos; o Centro de Lazer e

Cultura Amélia Andrade, onde o visitante poderá relaxar e

comer algumas comidas típicas da região; o Santuário San-

ta Cruz, que apresenta uma grande riqueza não só religiosa,

mas também cultural e natural. Também podemos citar as be-

las praças Monsenhor Berenguer e Professor Salgado, além

das trilhas da Serra da Santa Cruz, que apresentam fontes

naturais como a conhecida ‘Simão’ e uma diversidade de fau-

na e flora”, finaliza Anderson.

A cidade costuma

receber milhares

de turistas para

visitar o Santuário

Santa Cruz.

Page 44: Revista Plano B #03

44

ENTREVISTA Samuka

“Se você se refere ao mercado de Salvador, bas-ta ter um computador com Photoshop e pronto. Qualidade ainda não é o primordial para se trabalhar aqui”. A afirmação é de Samuka Ma-rinho, que se batizou de ‘Tratador de Imagem’ e há sete anos criou seu próprio estúdio. Em um panorama sobre o mercado baiano de pós-pro-dução de imagens, Samuka critica, aconselha e desmistifica. Idealista, defende que “é preciso conhecer o real para só depois fazer o fantás-tico ou o fantasioso. Assim você começa todo o trabalho com técnica e termina com arte”. E conta: “Já tive que entregar oito imagens em menos de duas horas. E claro que deu proble-ma. Não ficou tão bom como poderia”.

ARTE

MÃOS ENTRE A TÉCNICA E A

TEXTO FABIO FRANCO IMAGENS ACERVO DESCONSTRUTORA

Page 45: Revista Plano B #03

45

Samuka ENTREVISTA

Quais são as qualidades essenciais para quem deseja tra-

balhar nessa área? É correto denominar esse profissional

como “pós-produtor”?

Eu trabalho com pós-produção fotográfica, mas me intitulo

“tratador de imagem“. Trabalho exclusivamente para publici-

dade. Para trabalhar nessa área, se você se refere ao mercado

de Salvador, basta ter um computador com Photoshop e pron-

to. Qualidade ainda não é o primordial para se trabalhar aqui.

A pinça ainda seleciona pelo preço. Mas para ser um bom

profissional é preciso muito mais do que ter um bom equipa-

mento. Como tudo na vida, para se colocar entre os melhores é

preciso viver o ofício, se privar de tempo, pesquisar e fazer por

gostar. Se não for assim, você nem vai ser chamado.

Como surgiu a vontade de fazer esse trabalho? Tem um

simbolismo artístico?

Na verdade não foi muito planejado viver exclusivamente

disso. Em 2004, voltando de um período de trabalho como

assistente e diretor de arte em São Paulo, comecei a oferecer

esse serviço de cortesia nas agências. Ainda que “de grátis”,

eram poucos os que aceitavam imagens com céu esverdeado,

pele amarelada ou algo dessaturado em suas imagens. A ga-

lera sabia que existia uma diferença gritante entre os traba-

lhos de fora e os daqui, mas não sabia ainda o que era e não

abria a mente para o que estava aparecendo.

Com o tempo e depois de muito encher o saco, consegui

pegar algumas imagens e trabalhar em cima delas, deixando

um resultado diferente, que conseguia ir muito além. Com a

demanda, tive que abrir uma empresa, a Desconstrutora, já

que finalmente o mercado estava aceitando e pagando pelo

novo serviço. Hoje, o estúdio completou sete anos e nesse pe-

ríodo eu pude presenciar quando os fotógrafos começaram

a trabalhar atrás das lentes da câmera e em frente às telas

de computador.

Ainda é possível desvincular a manipulação de imagens

do mundo publicitário?

Atualmente, sem manipulação, uma foto publicitária não

está completa. É possível existir tratamento de imagem sem

fotografia? Não. Mas, sem o tratamento, tem foto que não

existe. Hoje, fotógrafo e artista gráfico devem (ou poderiam)

trabalhar sempre juntos.

Talento e muitas

horas de trabalho

são imprescindíveis

para o pós produtor

de imagens.

Page 46: Revista Plano B #03

46

ENTREVISTA Samuka

O trabalho de pós-produção de fotos se resume ao trata-

mento e manipulação de imagens ou existe algo mais?

Normalmente uma única pessoa da conta do recado ou

há casos onde é necessário auxilio extra para trabalhar

em apenas uma foto?

O que dá margem para o meu trabalho são as produções

complicadas, verbas limitadas e uma falta de tempo cada

vez maior entre o criador e a peça criada. Eu já trabalhei em

agência e posso te dizer isso por experiência própria. Um

efeito digital depende muito do efeito físico que foi incluso

ou que faltou lá na hora da fotografia. Por isso, eu sempre

acompanho a produção das fotos nas quais irei fazer o trata-

mento para poder programar alguns facilitadores. Essa seria

a primeira etapa do serviço.

Depois que as fotos são selecionadas, começo o tratamen-

to no computador. Começo recortado as imagens, mesmo

quando essas não precisam necessariamente de outro fundo.

No recorte, a parte do cabelo é a mais delicada. Em seguida

faço a limpeza da foto. Tiro rugas, multiplico, diminuo, tiro ou

acrescento elementos. Por último eu faço a parte mais artís-

tica que é dar os efeitos visuais e realces. O que realmente

fará diferença na imagem. Existem trabalhos que consigo fa-

zer sozinho. Para outras, divido as partes mais técnicas, mas

sempre dou o toque final.

Qual foi o tempo máximo que você já dedicou a um traba-

lho? E qual foi o seu maior desafio?

Na verdade minha briga é contra o tempo mínimo. As coisas

são muito rápidas hoje em dia. Já tive que entregar oito imagens

em menos de duas horas. E claro que deu problema. Não ficou

tão bom como poderia. O meu maior desafio sempre foi o último

trabalho que fiz. Apesar de fazer isso quase que diariamente,

ainda fico muito ansioso e muito realizado com o resultado.

Qual a real interferência da tecnologia no seu trabalho?

Como era antes do boom tecnológico e da chegada de pro-

gramas para tratamento de fotografias?

O Photoshop é o software mais profissional que existe. Ele

virou substantivo para coisas modificadas. Todos já sabem o

que é, como usar e está aí para todo mundo. Justamente por

isso, por ser uma ferramenta fácil, barata e que todos podem

ter, fica parecendo que é fácil fazer um tratamento de ima-

gem. Mas ter um carro não torna qualquer pessoa um piloto

ou ter uma câmera fotográfica não torna qualquer um fotó-

grafo.

O computador mais caro, a maior tela, o processador mais

rápido e mais avançado sempre serão apenas ferramentas.

Antes do Photoshop tudo era feito através de processos quí-

micos, durante a revelação. Esse era o tempo em que não bas-

tava ser técnico ou somente artista. O profissional tinha que

ser os dois para poder dar um bom resultado.

Com a popularização desse tipo de programa, você diria

que houve uma banalização da “estética pela estética”?

Achar que a fotografia representa a realidade passou a

ser um pensamento poético. Ao menos na publicidade. To-

dos os clientes esperam seus produtos com mulheres lindas,

homens bonitos, estátua sem sujeira de pombo e objetos si-

« Como tudo na vida, para se colocar entre os melhores é preciso viver o ofício, se privar de tempo, pesquisar e fazer por gostar. »

SAMUKA

Page 47: Revista Plano B #03

47

Samuka ENTREVISTA

É de suma

importância para o

pós-produtor ter um

olhar artístico ao

tratar as fotografias.

Page 48: Revista Plano B #03

48

ENTREVISTA Samuka

métricos. É real a necessidade de um tratamento de imagem

na maioria das peças publicitárias. Por mais que a foto crua

esteja impecável, está se criando hoje uma dependência da

manipulação digital. Tanto que, devido a alguns exageros, já

tem país criando leis para controlar o excesso.

Existe até a possibilidade de regulamentar peças de pu-

blicidade com uma tarja similar a dos anúncios de cigarro: “Esta fotografia foi retocada para modificar a aparência física

de uma pessoa”. Outros pensam em classificar uma fotogra-

fia manipulada como ‘ilustração’. Isso tudo para evitar que

o consumidor não seja enganado, achando que aquele con-

dicionador deixa seu cabelo igual ao da modelo ou que seu

carro realmente vira um robô.

Como está o mercado de trabalho para a área? Existem

boas oportunidades?

Está crescente para quem vende e para quem compra.

Ninguém é mais refém de ninguém. Existem inúmeros forne-

cedores e inúmeros clientes, cada um com seu perfil. Com a

internet é possível trabalhar de qualquer lugar, para qual-

quer outro. Me orgulho em dizer que, no mercado que eu tra-

balho, fui um dos pioneiros e ofereci qualidade, conseguindo

valorizar o serviço.

Qual o conselho que você daria a alguém que quer atuar

na manipulação de imagens?

Desista, já está cheio demais (risos). Caso contrário, estu-

de, dedique-se, inspire-se. É preciso observar o cotidiano. É

preciso conhecer o real para só depois fazer o fantástico ou o

fantasioso. Assim você começa todo o trabalho com técnica e

termina com arte. E quando for pensar em cobrar pelo traba-

lho, venda valor e não somente preço.

Page 49: Revista Plano B #03

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planoB indica

EXPOSIÇÃO

Olhar Cotidianode Justino Marinho

POESIA

Poesia cantada no projeto Symbiose

MÚSICA

Novo CD do Cascadura de graça na internet

Com a proposta de unir poesia, teatro

e música, o projeto Symbiose apresen-

ta seu primeiro CD, que traz 10 faixas: nove composições próprias e uma do

mestre Villa-Lobos. O trabalho, idealiza-

do por Rodrigo Chianca (violão, Viola,

Guitarra) e Pedrinho Faria (Voz e Tex-

tos), miscigena a essência da música

(instrumental e cantada), com textos

de autores consagrados e a entoação

de mantras.

Livraria Cultura

R$ 14,90

Já está disponível para download o novo disco da banda Cascadura. O material

pode ser baixado gratuitamente através da página www.facebook.com/cascadura.

rock ou do site www.bandacascadura.com, por meio de login (aleluia) e senha (ALE-

07M5WX4K). O ponto alto do CD é a participação de grandes nomes da música nacio-

nal como Orkestra Rumpilezz, Móveis Coloniais de Acaju, Pitty e Jajá Cardoso (Viven-

do do Ócio). Há também composições em parceria com Nando Reis, Ronei Jorge e Beto

Bruno, sendo que os dois últimos cantaram junto com o vocalista Fábio.

www.facebook.com/cascadura.rock

www.bandacascadura.com/aleluia

Download gratuito

SHOW

Música erudita noPalácio da Aclamação

O grupo Arena Companhia das Artes se

apresenta no projeto ‘Música no Palá-

cio’, realizado no Palácio da Aclamação,

no Campo Grande. A iniciativa busca

popularizar o acesso à música erudita

com concertos gratuitos. Formado pelos

cantores Antônia Bahia, Carlos Eduardo,

Eduardo Ferreira, Francisco Meira, Ra-

mon Sena, Verônica Santos e Vanda Ote-

ro, o conjunto apresentará os concertos

“Ave Maria” e “Cantando o Brasil”.

Palácio da Aclamação

27 de julho, às 18h

Entrada gratuita

Foto divulgação Foto divulgação: Governo da Bahia Foto divulgação

Foto divulgação

A exposição “O Olhar Cotidiano”, com

obras de Justino Marinho, pretende colo-

car, de forma plástica, as imagens que po-

voam o dia-a-dia do artista. São 30 obras

em acrílico sobre tela, guache e pigmento

sobre papel cartão. Justino Marinho tam-

bém destaca-se no cenário cultural como

produtor, crítico de arte e curador. Em

1998, recebeu o prêmio COPENE de Cultu-

ra e Arte pelos seus 30 anos de pintura.

CAIXA Cultural Salvador

Até 08 de julho, de terça-feira a do-

mingo, das 9h às 18h

Entrada Franca

Page 50: Revista Plano B #03

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OPINIÃO

Quem produz e consome cultura?Marlúcia Mendes da RochaProfª adjunta do curso de Comunicação Social

(Rádio e TV) da UESC, Drª em Comunicação e

Semiótica e coordenadora da Rádio e TVUESC.

[email protected] pessoal

Os artistas brasileiros, de maneira geral, se ressentem da di-

ficuldade que é divulgar suas obras. No entanto, o problema

não está só na divulgação, mas, também na própria produção.

Vivemos um momento de incentivo à produção cultural, tanto

nos grandes centros, como na periferia, enfim, onde houver

pessoas capacitadas para concorrer aos vários editais das Se-

cretarias de Cultura, nos órgãos de fomento à pesquisa e insti-

tuições em geral. No entanto, o que se vê é uma enorme dificul-

dade no cumprimento dos quesitos exigidos pelos editais. Há

um excesso de burocracia no preenchimento dos formulários

que acaba por torná-los um “bicho de sete cabeças”. É preci-

so empreender esforços para que qualquer produtor cultural

possa participar democraticamente dos editais de cultura.

O contexto cultural brasileiro apresenta grande aptidão

para conectar séries culturais que em lógica cartesiana são

excludentes. Tal contexto apresenta uma visão contrária do

culturalismo dos EUA e do multiculturalismo das várias comu-

nidades que se conflitam na Europa, tentando viver separadas

com o intento de firmar sua proteção étnico-cultural. No Brasil,

as séries e os objetos da cultura vivem se reinventando e esta-

belecendo novas conexões passando por processos de elabo-

ração, reflexão, interpretação e transmissão de valores num

permanente embricamento de interação cultural. Vários textos

reverberam e dialogam em tramas narrativas que vão da ficção

à realidade ficcionada e vice-versa. A exemplo, o estreito diálo-

go que a televisão mantém com os outros gêneros artísticos.

Neste processo, a que chamamos de mestiçagem cultural, não

há uma hierarquia entre as diferenças, não se busca uma relação

de poder. Não existe uma cultura mais importante e outra menos

importante. Os elementos entram em acordo, ampliando a capa-

cidade de comunicação no convívio das diferenças. São novos mo-

dos de perceber o mundo. Todas as informações se reorganizam

e as características dos elementos são aproveitadas e transforma-

das. Este processo é dinâmico, invenção criativa dos seres huma-

nos e da participação dos indivíduos na aprendizagem social.

Hoje, portanto, a pergunta que é preciso responder é: o

que é globalização, para nós, latino-americanos e brasileiros?

Trata-se de um fenômeno de mera assimilação de ideologias

e produtos culturais dos grandes centros ou é algo mais com-

plexo que isso, que atinge de maneira equivalente tanto os

países marginais quanto os países centrais, e onde é possível

que os países centrais também acabem importando produ-

tos culturais dos países marginais? São muitas as questões

que precisam ser respondidas. Precisamos entender defini-

tivamente que produzir manifestações artístico-culturais de

valor implica em ter uma educação de qualidade. Os nossos

jovens intelectuais na maioria das vezes não sabem sequer

cumprir, a contento, as etapas exigidas pelos editais de cultu-

ra. Logo não é só uma questão de divulgação, mas, também,

de produção cultural.

As pessoas transitam por diversos códigos e registros cul-

turais. A depender das circunstâncias em que se encontram,

por exemplo, em nome do que a mídia estiver legitimando

como moda, pessoas com alto nível de renda e escolaridade

acabam por consumir práticas culturais que consideram pou-

co legítimas culturalmente.

Há espaço para tudo, até porque democracia cultural im-

plica na existência de públicos distintos e se ancora nos no-

vos estudos que visam ultrapassar as questões relacionadas

à classe social, faixa etária, centro-periferia como sendo os

únicos quesitos para determinar um maior ou menor consu-

mo das práticas culturais. É fundamental que se invista na

formação de público e para que isso aconteça não basta dizer

que ir a concertos, óperas, saraus, museus e exposições de

arte de artistas consagrados seja suficiente, mais do que nun-

ca é preciso investir em educação e priorizar a ampliação do

repertório cultural de nossa gente, possibilitando-lhes tomar

conhecimento das inúmeras linguagens e códigos culturais.

¹ Conceito criado pela antropologia cultural norte-americana que afir-

ma a existência de características específicas de cada grupo étnico

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