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A ARQUITETURA COLONIAL BRASILEIRA Teoria, Hist. e Crítica da Arq/Urban 2 TH-2 Curso de Arquitetura e Urbanismo PUC - Escola de Artes e Arquitetura

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A ARQUITETURA

COLONIAL BRASILEIRA Teoria, Hist. e Crítica da Arq/Urban 2 – TH-2

Curso de Arquitetura e Urbanismo

PUC - Escola de Artes e Arquitetura

ANTECEDENTES

HISTÓRICOS

A Arquitetura colonial brasileira é

definida como aquela que é realizada

no território brasileiro desde 1500, ano

do descobrimento pelos portugueses,

até a independência, em 1822.

ANTECEDENTES HISTÓRICOS

Encontram-se no Brasil edifícios coloniais com traços

arquitetônicos renascentistas, maneiristas, barrocos,

rococós e neoclássicos, porém a transição entre os

estilos se realizou de maneira progressiva ao longo

dos séculos e a classificação dos períodos e estilos

artistísticos do Brasil colonial é motivo de debate entre

os especialistas.

Cidade de

Goiás / GO

São Miguel das

Missões/RS

Salvador / BA

ANTECEDENTES

HISTÓRICOS

Por volta de 1530, os portugueses começaram a se

estabelecer na costa do Brasil, e iniciaram a construção

de entrepostos comerciais (pau-brasil, escravos, etc).

Os entrepostos eram construções precárias, cercadas

de paliçadas que serviam como defesa contra os

ataques dos índios e dos aventureiros,

especialmente os franceses, que

na época disputavam o comércio

europeu com os portugueses.

Nos dois primeiros séculos é visível o protagonismo

econômico do Nordeste na manutenção das relações

políticas e econômicas com a Metrópole, devido à

atividade da cana-de-açúcar.

Esta ordem social serviu de base para o processo de

transculturação que resultou do embate de matrizes

culturais múltiplas:

cultura nativa existente dos indígenas + cultura europeia

+ cultura dos africanos escravos.

A cultura emissora (portuguesa) é hegemônica, pois

impõe a subordinação às demais culturas.

A própria cultura emissora sofre um processo de síntese e adaptação impostas não somente pela resistência do ambiente material, mas pelo contato com as culturas receptoras.

A arquitetura do período provém deste contexto.

Quanto aos programas arquitetônicos há pouca

diversidade tipológica: a arquitetura religiosa, a

arquitetura militar e arquitetura civil de função pública e

privada.

ANTECEDENTES HISTÓRICOS

A arquitetura do período obedece às influências

estilísticas a princípio do maneirismo e,

posteriormente, do barroco praticado em Portugal.

Apresentava uma austeridade própria, devido aos

recursos materiais disponíveis, sejam técnicos, sejam

de mão-de-obra.

A arquitetura surge como expressão da necessidade

de adaptação do repertório arquitetônico da Metrópole

às especificidades locais.

Pelo significado da Igreja na cultura da Colônia

verifica-se uma maior preocupação funcional, estética

e construtiva com os edifícios religiosos.

ARQUITETURA RELIGIOSA

A diversidade nos arranjos arquitetônicos das igrejas é

proveniente das especificidades impostas pelas

ordens religiosas (jesuítas, franciscanos, carmelitas e

beneditinos), que geram maior complexidade funcional

quando associadas a conventos e colégios.

A autoria dos edifícios religiosos é, sobretudo, de

origem erudita (religiosos arquitetos ou engenheiros-

militares)

Em alguns casos, nos lugares mais remotos, as igrejas

e capelas são de autoria popular.

ARQUITETURA CIVIL URBANA

Mais simples e austera,

surge como contraponto das

edificações com finalidade

religiosa.

A simplicidade da vida

social corresponde à

austeridade da residência

urbana, que não conhece

grande variação funcional

ou formal.

Caracteriza-se por uma

planta estreita e alongada

ocupando quase todo o lote.

EDIFÍCIOS CIVIS DE

FUNÇÃO PÚBLICA

As casas de câmara e cadeia, marca do poder da Coroa, além de outros edifícios de acordo com as funções econômicas dos núcleos urbanos.

TIPOLOGIAS RURAIS

A atividade agrícola contribuiu para a criação de

tipologias rurais com características próprias como

os complexos dos engenhos (casa grande,

senzala e capela), confirmando a estrutura social

baseada na monocultura de base escravocrata.

ARQUITETURA MILITAR

Outra tipologia importante do período colonial eram as

fortificações, essenciais para a defesa do território e

espalhados ao longo de toda a costa.

Os projetos eram da responsabilidade dos engenheiros-

militares e as construções apresentavam, apesar das

dimensões, grande simplicidade plástica e soluções

racionais.

SÉCULO XVIII

A penetração no interior do país bandeirantes

Consequente descoberta do ouro

Pólo econômico e político região Sudeste do país

A emergência do ciclo do ouro não significa a extinção

do anterior; o ciclo da cana, embora enfraquecido,

continua existindo.

Há uma mudança na

rede urbana no período,

provocada pelo

processo migratório da

metrópole para a

Colônia e intra-territorial

em função da atração

exercida pelo ouro.

A transferência do Governo Geral para o Rio de

Janeiro se justificou pela proximidade com a zona

das minas, favorecendo os fluxos comerciais e a

fiscalização por parte da Coroa.

Percebe-se uma fragmentação no território:

o extremo norte, que correspondia ao Governo do

Grão-Pará, independente do Governo Geral;

o Nordeste, que abrangia do Ceará até os limites do

Rio São Francisco;

o Centro, região que gravitava em torno de Salvador;

o Rio de janeiro, que se estendia pelo sul;

e finalmente o interior, correspondendo à área das

Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás.

A passagem do século

XVIII para o século XIX:

decadência do ouro.

Mudanças significativas

no desenvolvimento da

arquitetura e da cidade

no Brasil, sobretudo

ligado à infiltração do

Neoclassicismo, período

considerado por muitos

como sendo de ruptura.

SÉCULO XIX

ARQUITETURA

COLONIAL BRASILEIRA

ARQUITETURA COLONIAL BRASILEIRA

No Brasil, os portugueses não tinham ao seu dispor a

vida cultural europeia (vida social, comodidades,

educação, cultura).

Formava-se um novo quadro, uma nova realidade

constituída a partir de três veios distintos: África

(negro), Brasil (índio) e Portugal (branco).

Os portugueses deram origem a uma sociedade

diferente daquela conhecida em Portugal: a sociedade

colonial.

As raízes da formação da casa brasileira estão

baseadas na “convivência” e no legado das três

culturas distintas, quando da colonização da Terra de

Santa Cruz.

ARQUITETURA COLONIAL BRASILEIRA

Esse novo espaço habitado nutria um programa de

necessidades que se tornou o fator determinante da

composição arquitetônica dos espaços formados a

partir de então.

Esta dimensão cultural pode ser vista em diversos

momentos:

Nos hábitos, costumes e forma de viver, definindo

espaços;

Nas técnicas de construção e materiais utilizados;

Na mão de obra para sua realização;

No mobiliário da residência.

ARQUITETURA COLONIAL BRASILEIRA

ARQUITETURA VERNÁCULA: PRÓPRIA DE UM

PAÍS OU REGIÃO, NO CASO DO BRASIL, REPRESENTA A ARQUITETURA INDÍGENA

(LEMOS, 1999).

ARQUITETURA POPULAR: AQUELA QUE É PRÓPRIA DO POVO E POR ELE É REALIZADA

(WEIMER, 2005).

Características da arquitetura popular destaca-se:

Simplicidade: resultado da utilização dos materiais

fornecidos pelo ambiente.

Adaptabilidade: adaptação das técnicas tradicionais

para novos programas e exigências.

A forma é resultado da técnica e materiais

empregados.

É o resultado de uma evolução multissecular: em

situação estáveis ressalta seu espírito conservador;

em situações de rápidas transformações demonstra a

criatividade.

ARQUITETURA COLONIAL

BRASILEIRA – INFLUÊNCIA

INDÍGENA

INFLUENCIA INDÍGENA

A contribuição do índio na caracterização do espaço

habitacional é restrita em termos de técnicas

construtivas.

Foram emprestados técnicas vernaculares utilizadas

pelos nativos a partir do momento da colonização

portuguesa.

Das mesmas podemos destacar os ranchões – ao

molde das ocas indígenas, até mesmo os primeiros

entrepostos construídos no litoral pelos colonizadores.

INFLUENCIA INDIGENA

Grande quantidade de etnias

Uma tradição construtiva em comum

Várias soluções arquitetônicas (tipologias diferentes, variantes de formas arquetípicas)

Classificação pela forma de organização das aldeias e arquitetura das casas

INFLUENCIA INDÍGENA

Classificação pela forma e organização das

aldeias:

Casa unitária (toda a tribo vive sob o mesmo teto);

Aldeias formadas por várias construções;

Circulares (círculo fechado, dois semicírculos ou arco

de círculo);

Retangulares (com as casas dispostas em torno de um

pátio com forma de U);

Lineares (fileiras de casas alinhadas às margens de

um rio, Indios Karajás).

Casa aldeia tucano Casa aldeia marubo

Ca

sa

unitária

Casa aldeia ianomami

Ca

sa

un

itá

ria

ALDEIAS FORMADAS POR VÁRIAS CONSTRUÇÕES

Circulares: tribos xinguanas e Timbiras. Ex: Bororo,

Yawalapiti e Xavante.

Aldeia Bororo: forma circular rígida.

número variável de casas, que mantém a mesma

distância entre si. Ao centro do pátio situa-se a Casa

dos homens.

LINEARES

Aldeia Karajá: Casas construídas em duas filas

paralelas ao rio, separadas por uma “praça”com 5m de

largura e distantes da barranca do rio cerca de 30m.

As aberturas das casas (apenas uma) eram voltadas

para o rio.

ARQUITETURA DAS CASAS

Planta Circular: três formas

básicas, variando de

acordo com a disposição

dos esteios e a forma da

cobertura.

Planta elíptica:

povos xinguanos.

Ex: moradia

Yawalapiti.

Possui aprox.

28m de

comprimento

e 13m de

largura, com

altura em

torno de 8m.

Planta retangular: Tupi-

guaranis. Aldeias

formadas por quatro

edificações ortogonais

entre si, gerando uma

grande praça quadrada.

Outro caso importante:

casas elevadas sobre

palafitas dos Waiãpi.

MATERIAIS

Estrutura: madeiras roliças.

Cobertura: folhas de palmeiras

(ubim, bacaba, açai, inajá),

podendo ser associadas a outros

tipos de folhas (bananeira-brava)

ou ser de sapê. Fixadas à

estrutura por meio de amarrações

com cipós.

Paredes: mesmas palhas da

cobertura, esteiras, estacas de

madeira.

Há registros de fechamento em

taipa, na região dos rios Branco e

Orinoco.

CONCLUSÕES

Grande influência nas habitações dos povos

ribeirinhos amazônicos;

De um modo geral: utilização dos materiais naturais

disponíveis, especialmente pelos primeiros habitantes

da colônia;

Incorporação de hábitos e utensilhos: redes, jirau,

prensa para mandioca (feitio de farinha, etc.)

O ato de cozinhar fora da residência;

Área da sala e varandas – local de reunião.

ARQUITETURA COLONIAL

BRASILEIRA – INFLUÊNCIA

AFRICANA

INFLUÊNCIA AFRICANA

A contribuição africana na caracterização do espaço

habitacional muitas vezes referentes:

Ao mobiliário e equipamento que compõem o ambiente

doméstico (cerâmica utilitária da cozinha);

Ás técnicas construtivas;

À mão de obra;

À organização e apropriação do espaço, resultante de

sua presença (e cultural), que repercute no modo de vida

da sociedade colonial.

Era a máquina viva da casa, que não funcionava sem a

sua presença: a água, o saneamento, o cozimento, a

ventilação artificial de ar (abanando), coleta do lixo,

babás, etc.

hoje se reconhece nos traços da cultura brasileira a forte

manifestação das raízes africanas.

A culinária, o misticismo, o folclore, a música e a dança

nacionais atestam-na.

ARQUITETURA COLONIAL

BRASILEIRA – INFLUÊNCIA

PORTUGUESA

INFLUÊNCIA PORTUGUESA

Era ele o colonizador, social e economicamente superior, numa situação privilegiada de domínio e poder, e era possuidor de uma cultura mais elaborada.

Algumas características e atributos arquitetônicos conferem a essa arquitetura traços de identidade nacional:

Uma relação de certa submissão à natureza (material, técnica, forma);

Emprego de tecnologia artesanal (antiga);

Volumetria fortemente marcada e formas bem definidas, (norte e sul portugues).

Ausência ou pouca frequência de ornatos, cujo despojamento é a marca mais forte;

Técnicas e materiais construtivos: taipa de pilão, o adobe, a alvenaria de tijolo, a pedra e cal.

INFLUÊNCIA PORTUGUESA

A casa colonial brasileira, no seu processo de

composição arquitetônica, recebeu adaptações

condicionadas pelos meios de composição.

Justapostos ao fator sociocultural

irão determinar o seu programa de

necessidades .

ARQUITETURA COLONIAL BRASILEIRA – SÍNTESE

As principais condições que determinaram o caráter das

construções na época colonial foram:

Uso da mão-de-obra escrava.

Precariedade dos meios construtivos.

Tentativa de repetição do padrão português.

Arquitetura popular em Portugal –Viana do Alentejo

Claustro do convento do Desterro -Bahia

Residência feita em pedra –Portugal

A arquitetura também sofreu esse processo: formas,

estilos e escolas seguidos no Brasil-colônia.

Toda arquitetura colonial foi construída através de

métodos construtivos do velho mundo, pois para se

fazer arquitetura é preciso construir e para isso são

necessários técnicas e conhecimentos científicos ou

experiências antecedentes, empíricas.

Residência feita em pedra -Goiás

Tudo o que se fazia era baseado em experiências

anteriores bem sucedidas, em muitos casos só se teria

certeza que a construção iria parar em pé depois de

pronta.

Técnicas construtivas e materiais vindos de Portugal

sofreram lenta transformação e algumas técnicas

fundamentais, como taipa de pilão e a cantaria,

sobreviveram até a Era Industrial.

Dividiam-se basicamente duas vertentes: uma popular e

outra erudita.

Erudita: representada pelos engenheiros militares,

construção de fortificações, desenvolveram as formas

de representação projetual arquitetônica. Os

conhecimentos eram transmitidos através de “Aulas” e

“Tratados” segundo o modelo da Aula de Lisboa.

Popular: representada pelos Mestres de Ofício

conhecimentos eram acumulados durante séculos

transmitidos de forma oral/prática pelos mestres para os

seus aprendizes.

resultado é um sistema construtivo econômico e seguro,

capaz de ser aplicado nas condições de uma terra recém

descoberta, “Taipa de Pilão”, “Taipa Travada”, “Pau-a-

Pique”, “Alvenaria de Pedra”, “Alvenaria de Tijolo” e os

chamados Sistemas Mistos.

Fortaleza de São José da Ponta Grossa –Santa Catarina

Pirenópolis-GO

Salvador –Bahia

“A produção e o uso da arquitetura e dos núcleos urbanos coloniais baseavam-se no trabalho escravo. Por isso mesmo, o seu nível tecnológico era dos mais precários.”

Preocupação com o caráter formal

dimensões e números de aberturas, altura dos pavimentos e alinhamentos com as edificações vizinhas

garantir as vilas e cidades brasileiras uma aparência portuguesa.

Sistema de cobertura, em telhado de duas águas

Fundação cultural do Maranhão

Lenta evolução tecnológica mesmo após o final do

período colonial.

1800-1850

Continuação da dependência do trabalho escravo

Missão Cultural Francesa e a fundação da Academia

de Belas Artes favorecem o emprego de construções

mais refinadas

1850-1900

Decadência do trabalho escravo e com o início da

imigração europeia

Desenvolvimento do trabalho remunerado

aperfeiçoaram-se as técnicas construtivas.

uso de equipamentos importados, que libertariam os

construtores do primitivismo das técnicas tradicionais.

ARQUITETURA COLONIAL BRASILEIRA

Bibliografia:

VAZ, Maria Diva A. Coelho & ZÁRATE, Maria Heloísa Veloso. A casa goiana: documentação arquitetônica. Goiânia: Ed. da UCG, 2003.

MOUTINHO, Mário. Arquitectura Popular Portuguesa. 3 ed. Lisboa: Editorial Estampa, 1995.

Fragmentos do texto de Lúcio Costa, “Lúcio Costa –

Registro de uma vivência”

Fragmentos do livro de Nestor Goulart Reis Filho, “Quadro da arquitetura no Brasil”