seleÇÃo e caracterizaÇÃo de peptÍdeos recombinantes … · 2016. 6. 23. · imunogênicas, e...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE GENÉTICA E BIOQUÍMICA
PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E BIOQUÍMICA
SELEÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE PEPTÍDEOS RECOMBINANTES
LIGANTES A ANTICORPOS MONOCLONAIS REATIVOS A PROTEÍNAS DE
Anaplasma marginale
Vanessa Rodrigues Borges da Cunha
Orientador: Dr. Malcon Antônio Manfredi Brandeburgo
Co-Orientador: Dr. Luiz Ricardo Goulart Filho
UBERLÂNDIA – MG
2008
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE GENÉTICA E BIOQUÍMICA
PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E BIOQUÍMICA
SELEÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE PEPTÍDEOS RECOMBINANTES
LIGANTES A ANTICORPOS MONOCLONAIS REATIVOS A PROTEÍNAS DE
Anaplasma marginale
Aluna: Vanessa Rodrigues Borges da Cunha
Orientador: Dr. Malcon Antônio Manfredi Brandeburgo
Co-Orientador: Dr. Luiz Ricardo Goulart Filho
Dissertação apresentada à Universidade
Federal de Uberlândia como parte dos
requisitos para obtenção do Título de
Mestre em Genética e Bioquímica (Área
Genética)
UBERLÂNDIA – MG
2008
iii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE GENÉTICA E BIOQUÍMICA
PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E BIOQUÍMICA
SELEÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE PEPTÍDEOS RECOMBINANTES
LIGANTES A ANTICORPOS MONOCLONAIS REATIVOS A PROTEÍNAS DE
Anaplasma marginale
Aluna: Vanessa Rodrigues Borges da Cunha
COMISSÃO EXAMINADORA
Presidente: Dr. Malcon Antônio Manfredi Brandeburgo (Orientador)
Examinadores: _________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
Data da defesa: _________/_________/_________
As sugestões da Comissão Examinadora e as normas PGGB para o formato da
Dissertação foram contempladas.
______________________________
Dr. Malcon Antônio Manfredi Brandeburgo
iv
Dedico este trabalho aos meus pais,
Iraci e Mário, fonte de inspiração e
exemplo de esforço e dedicação, e ao
meu marido Walter, companheiro de
todos os momentos, sua sabedoria e
paciência têm me inspirado a tentar ser
o melhor que eu posso.
v
Agradecimentos
Agradeço a Deus por nos guiar pelos caminhos mais difíceis e por sempre estar
presente ao nosso lado.
Aos meus pais Iraci e Mário e meus irmãos Fernanda e Marcos, que sempre me
acompanharam, incentivaram e com muito amor torceram pelo meu sucesso.
Ao meu marido, Walter, pelo amor, incentivo, paciência e dedicação, o que sem
dúvida possibilitou meu crescimento pessoal e profissional.
Ao meu orientador Dr. Malcon Antônio Manfredi Brandeburgo pela oportunidade.
Ao Dr. Luiz Ricardo Goulart Filho pela oportunidade de realizar esse trabalho sob
sua orientação, pelo estímulo, otimismo, compreensão.
Aos amigos Rafael, Carlos Prudêncio, Fausto, Rone, Carlos Ueira, que me
auxiliaram na realização deste trabalho.
À amiga Fabiana que trabalhou firmemente na realização deste trabalho
demonstrando uma disposição ímpar.
Ao Dr. Guilherme Rocha Lino de Souza e ao Dr. Carlos Henrique Marchiori por
aceitarem participar desta banca examinadora.
Aos amigos dos laboratórios de Genética que sempre contribuíram para o
esclarecimento de dúvidas que surgiram neste período.
À Direção, Professores e Funcionários do Instituto de Genética e Bioquímica e à
Universidade Federal de Uberlândia pelo apoio.
Ao instituto de Genética e Bioquímica pela disponibilidade da infra-estrutura
utilizada.
vi
Sumário
Lista de abreviatura ........................................................................................ viii
Lista de aminoácidos ...................................................................................... x
Lista de tabelas .............................................................................................. xi
Lista de figuras ............................................................................................... xii
Apresentação ................................................................................................. 1
Fundamentação teórica .................................................................................. 3
Anaplasmose bovina............................................................................ 4
Anaplasma marginale .......................................................................... 4
Distribuição do Anaplasma marginale ................................................. 5
Transmissão do Anaplasma marginale ................................................ 6
Ciclo evolutivo do Anaplasma marginale ............................................. 7
Controle da anaplasmose .................................................................... 8
Proteínas de membrana de Anaplasma marginale .............................. 9
MSP1 ........................................................................................ 10
MSP2 ........................................................................................ 11
Resposta imune contra Anaplasma marginale .................................... 11
Phage Display ...................................................................................... 13
Referências bibliográficas .................................................................... 17
Capítulo único
Resumo ............................................................................................... 31
Abstract ................................................................................................ 32
Introdução ............................................................................................ 33
Material e Métodos
Anticorpos monoclonais ................................................................ 34
Seleção de peptídeos
Bipanning em solução ............................................................... 34
Titulações ................................................................................. 36
Extração de DNA de Fagos ........................................................... 36
Seqüenciamento de DNA .............................................................. 37
Análise dos dados por Bioinformática ........................................... 38
Phage ELISA ................................................................................. 38
vii
Resultados
Seleção de Peptídeos – Biopanning e titulações ................................. 40
Extração de DNA e seqüenciamento dos clones dos fagos ................ 41
Análise de dados por bioinformática .................................................... 42
Phage ELISA ....................................................................................... 51
Discussão ....................................................................................................... 53
Conclusão ...................................................................................................... 57
Referências bibliográficas .............................................................................. 58
viii
Lista de Abreviaturas
°C Graus Celsius
µg Microgramas
µl Microlitros
µm Micrometro
BSA Soro albumina bovina
DNA Ácido Desorribonucleico
DO Densidade otica
EDTA Etileno diamino tetra acetato
ELISA Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay
g Grama
IgG Imunoglobulina G
IPTG Isopropil α-D-tiogalactosise
kDa Quilodaltom
kg quilograma
l Litro
LB Meio de cultura Luria-Bertania
M Molar
M13KE Vetor de clonagem de bacteriófagos filamentosos
M13mp19 Vetor de clonagem de bacteriófagos filamentosos
mg miligrama
ml mililitro
mM milimolar
MSP major surface proteins
MSP1a major surface proteins 1a
MSP1b major surface proteins 1b
MSP2 major surface proteins 2
MSP3 major surface proteins 3
MSP4 major surface proteins 4
MSP5 major surface proteins 5
ng Nanogramas
p/v Peso por volume
ix
pb Par de base
PBS Tampão fosfato de sódio
PBST Tampão fosfato de sódio com tween 20
PCR Reação em cadeia da polimerase
PEG Polietilenoglicol
PEG Polietileno glicol
pfu Unidades formadoras de colônias
pH Potencial Hidrogenionico
Ph.D Bibliotecas de Phage display New England Biolabs
Ph.D- 12mer Biblioteca contendo 12 peptídeos randômicos
pIII
Proteína III capsídica menor de bacteriófagos
filamentosos
pIX
Proteína IX capsídica menor de bacteriófagos
filamentosos
pVI
Proteína VI capsídica maior de bacteriófagos
filamentosos
pVII
Proteína VII capsídica menor de bacteriófagos
filamentosos
pVIII
Proteína VIII capsídica menor de bacteriófagos
filamentosos
RELIC Receptor ligants Contents
rpm Rotações por minuto
TBS Tampão Tris-NaCl
TBST Tampão Trifosfato de sódio com Tween 20
UFU Universidade Federal de Uberlândia
X-gal 5-Bromo-4-cloro-3indolil- α-D-galactosideo
x
Lista de aminoácidos
Alanina Ala A
Arginina Arg R
Asparagina Asn N
Ácido aspártico Asp D
Cisteína Cis C
Ácido glutâmico Glu E
Glutamina Gln Q
Glicina Gly G
Histidina His H
Isoleucina Ile I
Leucina Leu L
Lisina Lys K
Metionina Met M
Fenilalanina Fen F
Prolina Pro P
Serina Ser S
Treonina Thr T
Triptofano Trp W
Tirosina Tyr Y
Valina Val V
xi
Lista de Tabelas
Tabela 1 - Seleção dos fagos com peptídeos ligantes a anticorpos monoclonais
anti-MSP1 e anti-MSP2 para Anaplasma. Título obtido (pfu) no processo de
seleção dos fagos por imunoafinidade. ................................................................ 41
Tabela 2 – Freqüência dos aminoácidos individuais dos peptídeos expressos nos
fagos selecionados pelos anticorpos anti-MSP1 e anti-MSP2; e a freqüência
esperada dos aminoácidos na construção da biblioteca realizada pelo AADIV ... 43
Tabela 3 – Seqüências de aminoácidos dos clones selecionados, freqüência
observada, freqüência esperada, amplificação dos peptídeos e grau de
informação............................................................................................................ 46
Tabela 4: Alinhamento linear das seqüências de aminoácidos dos peptídeos
selecionados por afinidade realizado pelo MOTIF 2. ........................................... 47
xii
Lista de Figuras
Figura 1 – Anaplasma marginale em eritrócitos circulantes. Fonte: Kessler et al,
2002. .................................................................................................................... 5
Figura 2 – Modelo de resposta imune celular e humoral contra Anaplasma
marginale. (BROWN et al. 1998a) ........................................................................ 12
Figura 3 – Vetor M13KE (Tang et al., 2002) ........................................................ 14
Figura 4 – Esquema representativo de um bacteriófago filamentoso ilustrando as
proteínas do capsídeo viral: pIX, pVII, pVIII, pVI e pIII (ARAP, 2005). ................. 15
Figura 5 – A – Arquitetura do Fago M13KE; B – Esquema do Ciclo de Seleção
por Afinidade (Adaptado de Smothers, J. F., 2002). ............................................ 16
Figura 6 – Exemplo de placa de titulação. As colônias azuis representam as
bactérias infectadas com os fagos M13 carreadores do gene da β-galactosidase.
............................................................................................................................. 40
Figura 7 – Eletroforese em gel de agarose 0,8% de 12 amostras de DNA extraído
de fagos (1-12) aleatoriamente escolhidos e de 200ng de DNA controle (C) com
7249pb. ............................................................................................................... 41
Figura 8 – Freqüências observadas e esperadas de cada um dos 20 aminoácidos
para os peptídeos expressos nos fagos selecionados pelos anticorpos anti-MSP1
e anti-MSP2, conforme o programa AADIV, Relic.. .............................................. 42
Figura 9 – Gráfico construído pelo programa DIVAA que ilustra a diversidade de
sucessão dos aminoácidos em cada posição nos peptídeos. .............................. 44
Figura 10 – Proteína MSP1a de Anaplasma marginale, com destaque para o
domínio STSSxL dentro da região repetitiva de 28-29 aminoácidos (rico em
serina) que ocorre em cinco blocos repetidos. ..................................................... 49
Figura 11 – Alinhamento dos 49 peptídeos recombinantes selecionados por
Phage Display ao domínio protéico STSSxL em seqüência parcial de dois motivos
repetidos da proteína MSP1a (com 28 ou 29 aminoácidos) de Anaplasma
marginale. No motivo consenso final, as letras em vermelho indicam todos os
aminoácidos que foram alinhados com a seqüência original (em azul) ............... 50
xiii
Figura 12 – Placas de Elisa mostrando a reatividade dos clones contra o
anticorpo anti-MSP1a. .......................................................................................... 51
Figura 13 – Gráfico representativo das leituras a 492nm do ensaio de ELISA
mostrando a reatividade dos clones de fagos capturados por anticorpo anti-MSP1
e anti-MSP2 para Anaplasma marginale. ............................................................. 52
1
APRESENTAÇÃO
2
A anaplasmose bovina, causada pela rickettsia Anaplasma marginale, é
uma doença de grande importância econômica que é transmitida
principalmente por carrapatos. A rickettsia infecta eritrócitos bovinos, causando
severa anemia associada à anorexia, febre, diminuição no ganho de peso e
produção de leite, e morte nos casos severos em animais não tratados
(ZAUGG et al., 1985).
O controle da anaplasmose é realizado por quimioterapia, controle de
vetores e imunização, sendo esse último mais eficiente (PALMER, 1989).
A membrana externa de A. marginale é capaz de induzir reposta imune
protetora contra desafio homólogo e parcialmente protetora contra desafio
heterólogo (TEBELE et al., 1991). Nela foram identificadas seis proteínas
principais de superfície - MSPs (PALMER & MCGUIRE, 1984; TEBELE et al.,
1991), as quais têm sido alvo de estudos para o desenvolvimento de
imunógenos contra a anaplasmose. Destas proteínas, MSP1a e MSP2 têm
demonstrado maior potencial como imunógenos, protegendo os animais contra
desafio com isolados virulentos homólogos e heterólogos de A. marginale,
apesar das múltiplas isoformas da primeira proteína e variabilidade do gene
que codifica a segunda.
A tecnologia de phage display tem apresentado um grande impacto na
Imunologia, Biologia Celular, descoberta de medicamentos e de fármacos em
geral. Esta técnica permite a obtenção de diferentes peptídeos ou proteínas
imunogênicas, e tem sido utilizada para revelar os diversos tipos de interações
que existem entre antígeno–anticorpo, caracterizando epítopos reconhecidos
por anticorpos.
O presente trabalho teve como objetivo identificar peptídeos ligantes à
anticorpos monoclonais reativos a proteínas de Anaplasma marginale a partir
de bibliotecas de peptídeos recombinantes por meio da tecnologia Phage
Display.
3
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
4
Anaplasmose bovina
Anaplasmose bovina é uma doença causada por uma rickettsia intra-
eritrocitária obrigatória, do gênero Anaplasma (RISTIC, 1968), que infecta
eritrócitos de bovinos, bubalinos, ovinos e caprinos, além de uma variedade de
ruminantes silvestres (WANDURAGALA & RISTIC, 1993). Duas espécies
acometem o bovino: Anaplasma marginale (THEILER, 1910), rickettsia
responsável pela doença malígna, com ampla distribuição geográfica
(KESSLER et al., 1992) e A. centrale (THEILER, 1911), agente da
anaplasmose pouco patogênica para bovinos, com baixa distribuição
(KESSLER et al., 1992).
A enfermidade é caracterizada por febre elevada, palidez de mucosas,
icterícia marcada, desidratação, perda de apetite, coprostase e fezes
ressequidas; a anemia é decorrente da massiva hemocaterese; pode ocorrer
ainda, aborto, esterilidade, queda de produção (TOKARNIA & DOBEREINER,
1962; KESSLER et al., 1992) e eventualmente morte (DREHER et al., 2005;
KOCAN et al., 2004).
A anaplasmose é uma doença economicamente importante em muitas
regiões tropicais e subtropicais do mundo, por determinar perdas econômicas
devido à mortalidade, redução do peso e da produção de leite e custos com
tratamentos (KOCAN et al., 2003).
Anaplasma marginale
Anaplasma marginale é uma rickettsia intraeritrocitária obrigatória que
causa anaplasmose em bovinos e outros ruminantes (PALMER et al., 1999).
Esse patógeno é classificado dentro da ordem Rickettsiales e tem sido
reorganizado na família Anaplasmataceae (KOCAN et al., 2004).
A espécie mais patogênica e de maior importância para os bovinos é a
A. marginale (VIDOTTO & MARANA, 2001). Essa rickettsia é visualizada em
microscopia ótica como pequenos pontos escuros, de localização periférica,
variando entre 0,1µm a 0,8µm de diâmetro (FARIAS, 1995) (Figura 1).
5
Distribuição do Anaplasma marginale
Anaplasma marginale está amplamente distribuída nas regiões tropicais,
subtropicais e temperadas do mundo (PALMER, et al., 1989). É considerada
endêmica em vários países das Américas Central e do Sul, com exceção as
áreas de deserto e de elevadas altitudes como os Andes (GUGLIELMONE,
1995). Nos Estados Unidos, A. marginale é enzoótica em vários estados do
sudeste, ao longo da costa do Atlântico, e estados da região oeste (KOCAN et
al., 2003). A bactéria já foi relatada também em países europeus às margens
do Mediterrâneo (KOCAN et al. 2000), Oriente Médio (RAPJUT et al., 2005;
MOLAD et al., 2006) e Ásia (LIU et al., 2005), além do continente africano
(THEILER, 1910), onde foi inicialmente descrita. Bovinos infectados por A.
marginale têm sido encontrados na Áustria (BAUMGARTNER et al., 1992),
Itália (CRINGOLI et al. 2002), Espanha (FUENTE et al., 2004), Portugal
(CAEIRO, 1999) e alguns países do leste europeu (KOCAN et al. 2003). Na
América do Sul, o carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus é apontado
como o único vetor biológico de A. marginale (AGUIRRE et al., 1994), o que
torna a distribuição da bactéria nestas áreas diretamente associada à
distribuição do vetor.
No Brasil, a situação epidemiológica da anaplasmose bovina, na maioria
das regiões, é de estabilidade endêmica (ARAÚJO et al., 1998). Mas, estudos
soroepidemiológicos da anaplasmose têm revelado variações na prevalência,
com áreas de instabilidade endêmica (PAYNE & OSÓRIO, 1990), onde os
Figura 1 – Anaplasma marginale em eritrócitos circulantes. Fonte: Kessler et al, 2002.
6
fatores ecológicos e climáticos não favorecem o desenvolvimento de R.
microplus e de dípteros hematófagos, transmissores de A. marginale (SOUZA
et al., 2000) e com situação de estabilidade em outras áreas (MADRUGA et al.,
1983; RIBEIRO et al.,1984).
Cada vez mais casos de anaplasmose têm sido observados em regiões
de clima temperado, como o norte da Europa (HOFMANN-LEHMANN et al.,
2004) e Canadá (DONKERSGOED et al., 2004).
Transmissão do Anaplasma marginale
A transmissão do Anaplasma marginale pode ser biológica, mecânica ou
transplacentária. A transmissão biológica é realizada pelos carrapatos. Mais de
20 espécies de ixodídeos com capacidade de transmitir a rickettsia para
bovinos já foram descritos (EWING, 1981). A. marginale é transmitida pelo
carrapato Dermacentor sp. em regiões temperadas como na América do Norte
e por Boophilus sp. e outros gêneros nas outras regiões geográficas (KOCAN
et al., 1992, RIBEIRO & LIMA, 1996). Sabe-se que os carrapatos são capazes
de transmitir patógenos de forma transovariana, transestadial e intraestadial,
porém a transmissão transovariana de A. marginale não tem sido confirmada
(STICH et al., 1989, RIBEIRO & LIMA, 1996, KOCAN et al, 2000, RUIZ et al,
2005). No Brasil, o carrapato Boophilus microplus é o único vetor biológico
conhecido de A. marginale (RIBEIRO & LIMA, 1996).
A transmissão mecânica de A. marginale freqüentemente ocorre via
instrumentos contaminados com sangue infectado, tais como agulhas,
instrumentos de castração, colocação de brincos, descorna e tatuagem
(POTGIETER et al., 1987; FOIL, 1989; KOCAN et al., 2003). A transmissão
mecânica por dípteros hematófagos, principalmente os dos gêneros Tabanus e
Stomoxys é uma realidade (POTGIETER et al., 1987; FOIL, 1989), embora
ainda seja contestada por alguns pesquisadores (KESSLER, 2001). Essa forma
de transmissão tem sua importância epidemiológica enfatizada quando, em
áreas consideradas livres de carrapatos vetores, casos clínicos de
anaplasmose bovina são registrados (GUGLIELMONE, 1995; HOFMANN-
LEHMANN et al., 2004).
7
A transmissão transplacentária tem sido notificada com certa freqüência
(RIBEIRO et al., 1995). Na maioria dos casos, os fetos apresentaram infecção
congênita quando as mães foram infectadas durante a gestação (KESSLER,
2001). Entretanto, também pode ocorrer em vacas portadoras crônicas
(NORTON et al., 1983).
Ciclo evolutivo do Anaplasma marginale
O desenvolvimento de A. marginale em carrapatos é complexo e
coordenado pelo ciclo de alimentação do artrópode (KOCAN et al., 2003). Os
eritrócitos infectados ingeridos durante o repasto sangüíneo do carrapato são a
fonte de infecção para suas células intestinais. Após o desenvolvimento de A.
marginale no intestino, muitos outros tecidos do carrapato são infectados,
incluindo as glândulas salivares, a partir das quais a rickettsia é transmitida
para os vertebrados durante a alimentação do carrapato (KOCAN et al., 1985;
KOCAN et al., 1992; GE et al., 1996). De forma semelhante ao que acontece
no hospedeiro vertebrado, A. marginale se desenvolve em vacúolos formados
pela invaginação da membrana celular das células dos vetores, a primeira
forma vista na colônia é a reticulada (vegetativa), que se divide por fissão
binária, formando grandes colônias que podem conter centenas de organismos.
Esta forma evolui para a forma denominada “corpos densos”, que é a forma
infectante e é capaz de sobreviver por um curto período de tempo no meio
extracelular (KOCAN et al., 2003).
Em bovinos, os eritrócitos são as únicas células infectadas por A.
marginale. Os corpúsculos iniciais, adquiridos biológica ou mecanicamente pelo
hospedeiro susceptível, após atingirem a corrente sanguínea aderem-se aos
eritrócitos, provavelmente por meio de moléculas adesivas de membrana como
a MSP1a (FUENTE et al., 2001a), e em seguida promovem a invaginação da
membrana eritrocítica até seu total englobamento. No interior dos vacúolos
formados pela membrana celular, os corpúsculos iniciais sofrem sucessivas
fissões binárias até atingirem um número de quatro a oito novos corpúsculos. O
vacúolo contendo os novos corpúsculos desloca-se em direção a periferia do
eritrócito, até a fusão do mesmo com a membrana celular, quando os novos
8
corpúsculos iniciais de A. marginale são liberados para infectar novos
eritrócitos (RISTIC & WATRACH, 1963).
Controle da anaplasmose
As estratégias de controle da anaplasmose variam com a localização
geográfica e têm sido focadas não só no controle de infecções agudas, mas
também na diminuição da população de bovinos cronicamente infectados, por
meio da redução das populações de vetores, utilizando acaricidas e antibióticos
ou por vacinação (ERIKS et al, 1993; KOCAN et al, 2000). O controle de
artrópodes não é prático em muitas áreas e protege apenas parcialmente
contra a transmissão de A. marginale, uma vez que esta rickettsia possui
outras vias de transmissão (KOCAN et al, 2000).
O grande paradoxo no controle da anaplasmose bovina são os animais
persistentemente infectados. Estes, apesar de possuírem uma sólida
imunidade contra o desenvolvimento da doença clínica, representam o principal
reservatório de infecção para animais susceptíveis, por meio da transmissão
mecânica e biológica, e contribuem para a difusão da anaplasmose. Bovinos
infectados com baixos níveis de rickettsemia são muitas vezes difíceis de
serem detectados por meio de distensões sanguíneas coradas. Além disso,
bovinos que são tratados com tetraciclinas, que reduz a rickettsemia e
subseqüentemente os títulos de anticorpos, podem mostrar-se sorologicamente
negativos para A. marginale (KOCAN et al. 2000). De acordo com COETZEE et
al. (2006) foi testada a eficiência da enrofloxacina contra A. marginale em
bezerros experimentalmente infectados. Cerca de 12 dias após a administração
de 12,5 mg/Kg da droga, observou-se uma redução no percentual de eritrócitos
parasitados de 39,13%. No entanto, esse regime de tratamento não foi capaz
de promover a eliminação total da rickettsia.
O controle de vetores, principalmente carrapatos, por meio da utilização
de acaricidas, requer altos investimentos e, segundo alguns pesquisadores, o
seu uso prolongado torna a população bovina suscetível quando a utilização é
interrompida ou quando ocorre resistência dos carrapatos aos acaricidas. Além
disso, o impacto ambiental causado por parte dos acaricidas deve ser
considerado (MOLLOY et al., 1999).
9
Com relação às vacinas vivas, existe o risco de causar manifestações
clínicas de anaplasmose em bovinos adultos, particularmente em vacas
prenhes, enquanto que os antígenos mortos podem causar isoeritrólise
neonatal, devido à sensibilização de vacas para grupos sangüíneos (ROGERS
et al., 1988). Ademais, ambos os sistemas de vacinação constituem fontes
potenciais de contaminação do animal imunizado com microrganismos
veiculados pelo sangue (KESSLER & SCHENK, 1998).
Segundo Kessler et al (2002), as pesquisas voltadas para o
desenvolvimento de vacinas mais eficazes e seguras contra A. marginale estão
focalizadas nas proteínas de membrana dos corpúsculos iniciais. A inoculação
de bovinos com membrana externa dessa rickettsia resultou em proteção de
70%.
Proteínas de membrana de Anaplasma marginale
Seis proteínas principais de superfície [major surface proteins – MSPs:
MSP1a (105kDa), MSP1b (100kDa), MSP2 (36kDa), MSP3 (86kDa), MSP4
(31kDa) e MSP5 (19kDa)] foram inicialmente identificadas em A. marginale
derivado de eritrócitos bovinos e de tecido de carrapatos (BARBET et al., 1987;
OBERLE et al., 1988; BOWIE et al., 2002).
MSP1a, MSP4 e MSP5 são codificadas por um único gene e não variam
antigenicamente durante a multiplicação da rickettsia (VISSER et al., 1992;
BOWIE et al., 2002; MOLAD et al., 2004). A conservação destas proteínas é
importante para definir os epítopos comuns e específicos que podem ser
usados para o desenvolvimento de testes sorodiagnósticos e vacinas para
anaplasmose (BARBET et al, 1999; KANO et al, 2002). Já as proteínas MSP1b,
MSP2 e MSP3 são codificadas por famílias multigênicas e podem variar
antigenicamente durante os ciclos de rickettsemia persistentes (ALLEMAN &
BARBET, 1996; FRENCH et al, 1999; BOWIE et al, 2002) inclusive em isolados
brasileiros (KANO et al, 2002).
Proteínas principais de superfície de A. marginale (MSPs)
desempenham importante papel no desenvolvimento da resposta imune de
animais infectados (PALMER & MCGUIRE, 1984). Destas proteínas, MSP1a e
MSP2 têm demonstrado maior potencial como imunógenos, protegendo os
10
animais contra desafio com isolados virulentos homólogos e heterólogos de A.
marginale, apesar das múltiplas isoformas da primeira proteína e variabilidade
do gene que codifica a segunda (ARAÚJO et al., 2003).
Algumas proteínas de membrana, não associadas a nenhuma
superfamília, também foram descritas em A. marginale (VIRB3, VIRB9 e OMA
87) (BRAYTON et al., 2005; LOPEZ et al., 2005; BRAYTON et al., 2006).
MSP1
A MSP1 é um complexo de duas proteínas, com massas moleculares de
105 e 100 kDa, denominadas MSP1a e MSP1b, respectivamente (BARBET et
al., 1987, OBERLE et al., 1988). Uma única proteína MSP1a está ligada
covalentemente, por pontes dissulfeto, a proteínas MSP1b (VIDOTTO et al.,
1994).
A MSP1a é codificada por um único gene (MSP1a), porém possui
marcante variação de tamanho entre os diferentes isolados de A. marginale (46
a 105 kDa), como verificado em isolados brasileiros desta rickettsia (KANO et
al., 2002, OLIVEIRA et al., 2003). Isso resulta da presença de um número
variável de blocos repetitivos de 28 a 29 aminoácidos, ricos em serina, na
região amino (N) terminal (OBERLE et al., 1988, ALLRED et al., 1990). Essa
região contém um epítopo sensível à neutralização conservado entre os
isolados (ALLRED et al., 1990), incluindo brasileiros (KANO et al., 2002,
OLIVEIRA et al. 2003).
Sabe-se que MSP1a e MSP1b atuam como adesinas (MCGAREY et
al.1994), estando envolvidas no processo de invasão dos corpúsculos iniciais
de A. marginale à membrana dos eritrócitos do hospedeiro. Verificou-se
também que a MSP1a é uma adesina para células de carrapato (FUENTE et al.
2001a), influenciando na transmissão de A. marginale por esse artrópode.
Carrapatos Dermacentor variabilis foram capazes de transmitir o isolado de
Oklahoma dessa rickettsia, porém não transmitiram o isolado da Flórida
(FUENTE et al., 2001b). Nesse estudo, constatou-se ainda que a MSP1 do
isolado da Flórida de A. marginale não foi capaz de mediar aderência às
células intestinais dos carrapatos, inibindo, portanto, a posterior infecção da
glândula salivar e transmissão para os bovinos.
11
Anticorpos contra MSP1, MSP1a ou MSP1b inibem a ligação de A.
marginale aos eritrócitos, o que sugere que os mesmos desenvolvem uma
atividade neutralizante da invasão da rickettsia às células do hospedeiro
(MCGAREY & ALLRED 1994, MCGAREY et al. ,1994).
A classe de anticorpo predominantemente direcionada contra a MSP1 é
a IgG (BROWN et al. 2001b). Na MSP1a, são reconhecidos epítopos na região
carboxi (C) terminal e na região N terminal (BROWN et al. 2001b). Essa última
região contém o epítopo B EASTS(S/Q)ASTSS sensível à neutralização
(PALMER et al, 1987; ALLRED et al. 1990). Acredita-se que esses motivos
sejam sítios para uma forma distinta de glicosilação (MCBRIDE et al. 2000)
ligada a resíduos O, o que explicaria o fato de que, para um determinado
isolado, a massa molecular da MSP1, separada em géis de poliacrilamida, é
maior do que o esperado, por meio da análise de sua seqüência (ALLRED et
al. 1990).
MSP2
A MSP2 é uma proteína imunodominante de superfície, codificada por
uma família de genes polimórficos (PALMER et al, 1994a). Ocorre com
monômeros ou multímeros, ligados por pontes dissulfeto (VIDOTTO et al,
1994). A análise dos diversos transcritos que codificam a MSP2 mostraram
uma região central hipervariável única flanqueada por regiões N e C terminais
altamente conservadas (FRENCH et al, 1999).
Durante cada ciclo de rickettsemia, ocorre emergência de A. marginale
expressando variantes distintas de MSP2, as quais contêm epítopos
imunogênicos que induzem anticorpos específicos durante a infecção
persistente da rickettsia (FRENCH et al, 1999).
Resposta imune contra Anaplasma marginale
Possivelmente, anticorpos contra MSPs funcionam como opsoninas,
facilitando a fagocitose e a eliminação de A. marginale por macrófagos
(CANTOR et al. 1993). Outra possível função dos anticorpos seria o bloqueio
da invasão de eritrócitos pela rickettsia. Anticorpos contra MSP1 bloqueiam a
12
aglutinação de eritrócitos de bovinos por corpúsculos iniciais de A. marginale
(MCGAREY & ALLRED, 1994).
Apesar da importância dos anticorpos na imunidade contra A. marginale,
é pouco provável que, isoladamente, os mesmos sejam capazes de proteger os
bovinos contra a anaplasmose (BROWN et al., 2001b), uma vez que a
inoculação de soro de animais imunes em bovinos susceptíveis não protege
contra desafio com A. marginale (GALE et al., 1992). Dessa forma, evidencia-
se a importância das repostas celulares, as quais envolvem a participação de
linfócitos T auxiliadores (CD4+), produtores de interferon-gama (IFN-γ)
(BROWN et al. 1998). Essa citocina ativa macrófagos, aumentando a produção
de óxido nítrico (NO), substância que têm ação tóxica sobre rickettsias;
estimulando a expressão de receptores de Fc e a fusão de fagossomos e
lisossomos (BROWN et al. 1998) (Figura 2). Além disso, demonstrou-se que,
em bovinos, o IFN-γ atua sobre linfócitos B, estimulando a produção de IgG2
(ESTES et al. 1994). Esse isotipo apresenta maior capacidade de promover
fagocitose por meio de opsonização do que a IgG1 (MCGUIRE et al. 1979),
estando provavelmente envolvido no processo de neutralização da
infectividade de corpúsculos iniciais de A. marginale mediada por anticorpos
(TUO et al. 2000).
Figura 2 – Modelo de resposta imune celular e humoral contra Anaplasma marginale. a. Linfócitos T auxiliadores
(CD4+), estimulados por antígenos de A. marginale, produzem interferon-gama (IFN-γ),o qual atua sobre macrófagos
e linfócitos B. b. Sobre macrófagos, o IFN-γ estimula a expressão de receptores de Fc, facilitando a fagocitose de A.
marginale. c. Atua também aumentando a fusão fagossomo-lisossomo e a produção de óxido nítrico, resultando na
destuição intracelular de A. marginale. d. O IFN-γ estimula a produção de IgG2 por linfócitos B. Esse isotipo tem
importante função na opsonização de A. marginale para a fagocitose. (BROWN et al. 1998a).
13
Phage Display
Bibliotecas de peptídeos têm sido selecionadas com o intuito de produzir
motivos protéicos capazes de mimetizar epítopos de anticorpos produzidos em
doenças. Os anticorpos reconhecem motivos de peptídeos baseados somente
em três ou quatro resíduos conservados. Por esse motivo, é possível a
determinação da região de uma proteína que está sendo reconhecida por um
anticorpo utilizando-se Phage Display (SCOTT et al 1990). Biblioteca de
peptídeos sintéticos apresentados em fagos é uma ferramenta importante para
identificar os sítios ligantes de moléculas biológicas de interesse. É um método
de seleção no qual uma biblioteca de peptídeos ou proteínas é expressa no
exterior da partícula viral, enquanto o material genético codificante para cada
peptídeo encontra-se no genoma viral (AZZAZY & HIGHSMITH, 2002).
A tecnologia Phage Display foi desenvolvida por Smith, em 1985, e
permite a seleção de peptídeos ou proteínas com propriedades específicas de
ligação a alvos de interesse. A tecnologia é baseada no princípio de que
polipeptídeos podem ser expressos na superfície de bacteriófagos filamentosos
pela inserção de um segmento de DNA codificante no genoma dos mesmos, de
modo que o peptídeo ou proteína expressado fique exposto na superfície da
partícula viral fusionado a uma proteína endógena.
Smith (1985) foi o pioneiro em conseguir a expressão da enzima de
restrição EcoRI como uma fusão da proteína três (pIII) do capsídeo do fago.
Tipicamente, utiliza-se o bacteriófago M13, um vírus bacteriófago filamentoso
que parasita bactérias gram-negativas que por sua vez apresentam pilus F. O
vírus utiliza maquinária de replicação, transcrição e tradução da bactéria para
se reproduzir. Este bacteriófago não provoca lise na célula hospedeira, mas
induz um estado no qual a célula infectada origina e libera partículas virais,
causando uma queda na taxa de reprodução bacteriana (AZZAZY &
HIGHSMITH, 2002).
O vetor M13KE, derivado do vetor de fagos m13mp19 possui uma rápida
propagação e não necessita de seleção por antibiótico ou superinfecção por
fago helper. Além disto, o gene lacZ, presente neste vetor, facilita a distinção
entre colônias bacterianas infectadas com fagos de bibliotecas (colônias azuis)
e colônias não infectadas ou infectadas com fagos selvagens (colônias
14
brancas) (MESSING et al., 1977; MESSING, 1983). O vetor M13KE (Figura 3)
permite a construção e propagação de bibliotecas de phage display pelo uso de
técnicas padronizadas para fagos M13. Para pequenos insertos, a biblioteca
pode ser amplificada repetidamente com pouca perda de seqüências e
diversidade (BARBAS et al., 2001).
Anticorpos monoclonais utilizados na tecnologia Phage Display têm sido
direcionados contra uma série de proteínas, muitas vezes consistindo em
glicoproteínas imunodominantes de superfície de patógenos, como vírus,
bactérias e protozoários, envolvidos nas mais diferentes patologias humanas e
animais, como alergias, doenças auto-imunes, doenças infecto-contagiosas e
outras. A seleção de peptídeos por meio de anticorpos monoclonais serve a
muitos propósitos, sendo o mais comum deles a identificação e mapeamento
de epítopos. A localização inequívoca de epítopos envolve a identificação de
homologia entre o peptídeo selecionado e o antígeno natural. O mapeamento
de epítopos pode produzir, também, informações que ajudem no
esclarecimento da organização estrutural do antígeno e suas relações
estruturais e funcionais (DEROO & MULLER, 2001).
A partícula de fago (Figura 4) é formada por uma fita simples de DNA
envolta por uma capa protéica constituída por cinco proteínas (pIII, pVI, pVII,
pVIII e pIX). Destas cinco proteínas existem aproximadamente 2800 cópias da
pVIII e cinco cópias da pIII. Neste sistema, o gene codificador do peptídeo ou
Figura 3 – Vetor M13KE (Tang et al., 2002).
15
proteína de interesse é geralmente fusionado a um dos genes destas duas
proteínas da capa protéica do fago (PHIZICKY & FIELDS, 1995; BRÍGIDO &
MARANHÃO, 2002).
Figura 4 - Esquema representativo de um bacteriófago filamentoso ilustrando as proteínas do capsídeo viral: pIX, pVII,
pVIII, pVI e pIII (ARAP, 2005).
A apresentação do peptídeo pelo fago é possível, pois, nesse sistema,
seqüências aleatórias de DNA são introduzidas no gene que codifica a proteína
do capsídeo do fago (camada externa e protetora). Desta forma, seqüências
aleatórias de peptídeos fundidas à proteína do capsídeo (pIII ou pVIII,
dependendo do sistema a ser empregado) são geradas durante a produção da
partícula viral (SMITH, 1985). No fim do processo, bilhões de bacteriófagos são
gerados, cada um deles apresentando um peptídeo diferente. Esta coleção de
partículas virais recebe o nome de biblioteca apresentadora de peptídeos.
Estas bibliotecas são, então, incubadas com as moléculas alvo do estudo
(receptores purificados, células expressando seus receptores de superfície,
anticorpos, entre outros). Este processo denominado biopanning (Figura 5), ou
simplesmente panning, permite selecionar os fagos ligantes, expressando os
peptídeos que mimetizam ligantes naturais destas moléculas (BARBAS et al.,
2001).
16
Figura 5 – A – Arquitetura do Fago M13KE; B – Esquema do Ciclo de Seleção por Afinidade (Adaptado de SMOTHERS, J. F., 2002).
Várias aplicações das bibliotecas de peptídeos randômicos expostos em
fagos têm sido realizadas com sucesso, tais como mapeamento de epítopos
(JEFFERIES, 1998), desenvolvimento de vacinas (IRVING et al., 2001),
identificação de substratos de proteínas quinases/ligantes de SH2 (KAY et al.,
2001), e identificação de peptídeos miméticos de ligantes não peptídeos
(OLDENBURG, 1992). As vantagens da utilização da técnica são: a habilidade
de selecionar ligantes de alta afinidade, a possibilidade de produzir proteínas
solúveis, o baixo custo, o fácil manuseio e a rapidez (SMITH & PETRENKO,
1997). Uma particular aplicação é a identificação de novos peptídeos bioativos
pela seleção contra receptores de superfícies celulares imobilizados ou em
células intactas (SILVA, et al., 2002). Phage display pode ser utilizado também
in vivo para identificar peptídeos que se ligam em órgãos específicos. Neste
caso, a biblioteca de fagos é injetada por via intravenosa, geralmente em
roedores, e após o período de incubação os órgãos de interesse são
removidos, homogeneizados e mantidos em suspensão com E. coli (RAJOTTE
et al., 1998).
17
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30
CAPÍTULO ÚNICO
SELEÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE PEPTÍDEOS RECOMBINANTES
LIGANTES A ANTICORPOS MONOCLONAIS REATIVOS A PROTEÍNAS DE
Anaplasma marginale
31
RESUMO
Anaplasmose bovina é uma infecção causada por Anaplasma marginale
e A. centrale. A espécie mais patogênica e de maior importância para bovinos é
a A. marginale e está amplamente distribuída nas regiões tropicais,
subtropicais e temperada do mundo. A. marginale é uma rickettsia intra-
eritrocitária de ruminantes susceptíveis, transmitido biológica e mecanicamente
por carrapatos e insetos hematófagos. O carrapato Rhipicephalus (Boophilus)
microplus é o principal transmissor de A. marginale no Brasil. A forma
congênita de transmissão em bovinos pode ocorrer, ocasionando a
anaplasmose neonatal. A membrana externa do A. marginale inclui seis
proteínas principais de superfície (MSPs) bem caracterizadas, designadas de
MSP1a, MSP1b, MSP2, MSP3, MSP4 e MSP5 e desempenham papel
importante no desenvolvimento da resposta imune de animais infectados. Para
o desenvolvimento deste estudo, foi utilizada a técnica de Phage Display para
identificar peptídeos ligantes a anticorpos monoclonais reativos a proteínas de
Anaplasma marginale a partir de bibliotecas de peptídeos recombinantes por
meio da tecnologia Phage Display. Para seleção dos peptídeos foi realizado
uma seleção subtrativa utilizando uma biblioteca de peptídeos com 12
aminoácidos randômicos, Ph.D.-12, expressa na superfície do fago filamentoso
M13 concomitantemente contra os anticorpos anti-MSP1a e anti-MSP2. Após
quatro ciclos de seleção e validação por ELISA, o conjunto de peptídeos
selecionados apresentou ser unicamente reconhecido pelo anticorpo anti-
MSP1. Análises de bioinformática identificaram 45 peptídeos, que
apresentaram o motivo proteico consenso STxS, representado em 78% dos
fagos seqüenciados. Devido aos múltiplos sítios repetidos encontrados na
proteína MSP1, o motivo proteíco STSSxL pode ser um importante alvo
biológico, com potencial utilização em ensaios diagnósticos e vacinais para o
controle de Anaplasma marginale.
Palavras chave: Anaplasma marginale, MSP1, Phage Display
32
ABSTRACT
Bovine anaplasmosis is caused by Anaplasma marginale and A.
centrale. The most pathogenic and important species for cattle production is A.
marginale, and is widely distributed in tropical, subtropical and temperate
regions of the world. A. marginale is an intra-erythrocyte rickettsia of susceptible
ruminants, biological and mechanically transmitted by ticks and hematophagous
insects. The tick Rhipicephalus (Boophilus) microplus is the main vector of A.
marginale in Brazil. The congenital form of transmission in cattle may occur,
causing the neonatal anaplasmosis. The outer membrane of A. marginale
includes six well characterized major surface proteins, MSP1a, MSP1b, MSP2,
MSP3, MSP4 and MSP5, which play important role in the development of the
immune response of infected animals. In this study, we have used the Phage
Display technology to identify specific peptides that were immunoreactive to
monoclonal antibodies anti-A. marginale proteins. Peptide selection was
performed using a subtractive selection of a peptide library with 12 random
amino acids, Ph.D.-12, expressed on the surface of the M13 filamentous phage
concurrently against the anti-MSP1a and anti-MSP2. After four rounds of
selection and validation by ELISA, the selected peptides have recognized only
the anti-MSP1. Analysis of bioinformatics identified 45 peptides, which showed
the protein consensus sequence STxS that was represented in 78% of selected
phages. Due to the multiple motif repeats found in MSP1 protein, the STSSxL
motif may become an important biological target, with potential use in diagnostic
tests and vaccine for the control of Anaplasma marginale.
Key-words: Anaplasma marginale, MSP1, Phage Display.
33
INTRODUÇÃO
A anaplasmose bovina, causada pela rickettsia Anaplasma marginale, é
uma doença de grande importância econômica que é transmitida
principalmente por carrapatos. A rickettsia infecta eritrócitos bovinos, causando
severa anemia associada à anorexia, febre, diminuição no ganho de peso e
produção de leite, e morte nos casos severos em animais não tratados
(ZAUGG et al., 1985).
O controle da anaplasmose é realizado por quimioterapia, controle de
vetores e imunização, sendo esse último mais eficiente (PALMER, 1989).
A membrana externa de A. marginale é capaz de induzir reposta imune
protetora contra desafio homólogo e parcialmente protetora contra desafio
heterólogo (TEBELE et al., 1991). Nela foram identificadas seis proteínas
principais de superfície - MSPs (PALMER & MCGUIRE, 1984; TEBELE et al.,
1991), as quais têm sido alvo de estudos para o desenvolvimento de
imunógenos contra a anaplasmose. Destas proteínas, MSP1a e MSP2 têm
demonstrado maior potencial como imunógenos, protegendo os animais contra
desafio com isolados virulentos homólogos e heterólogos de A. marginale,
apesar das múltiplas isoformas da primeira proteína e variabilidade do gene
que codifica a segunda.
A tecnologia de phage display tem apresentado um grande impacto na
Imunologia, Biologia Celular, descoberta de medicamentos e de fármacos em
geral. Esta técnica permite a obtenção de diferentes peptídeos ou proteínas
imunogênicas, e tem sido utilizada para revelar os diversos tipos de interações
que existem entre antígeno–anticorpo, caracterizando epítopos reconhecidos
por anticorpos.
O presente trabalho teve como objetivo identificar peptídeos ligantes à
anticorpos monoclonais reativos a proteínas de Anaplasma marginale a partir
de bibliotecas de peptídeos recombinantes por meio da tecnologia Phage
Display.
34
MATERIAIS E MÉTODOS
ANTICORPOS MONOCLONAIS
Os anticorpos monoclonais 15D2 (MSP1) do isotipo IgG3 e O50A2
(MSP2) do isotipo IgG1, ligantes às proteínas de superfície de Anaplasma
marginale, foram adquiridos na empresa Veterinary Medical Research &
Development, VMRD, Inc. (PO Box 502, Pullman, WA 99163 USA,
www.vmrd.com).
SELEÇÃO DE PEPTÍDEOS
Biopanning em Solução
A seleção de peptídeos sintéticos reativos aos anticorpos acima
descritos foi realizada utilizando uma biblioteca randômica de peptídeos de 12
aminoácidos (“Ph.D. – 12mer – New England Biolabs”), seguindo-se, com
algumas modificações, as recomendações do fabricante.
A biblioteca é composta por doze peptídeos randômicos seguidos por
uma curta seqüência espaçadora Gly-Gly-Gly fusionada à região N - terminal
da proteína capsídica menor (Proteína III) de bacteriófagos M13 filamentosos.
A biblioteca consistia de 2,8 x 10¹¹ clones independentes, os quais representam
as 1.9 x 109 possíveis combinações contidas nos 12 resíduos de aminoácidos.
Todas as cinco cópias da Proteína III capsídica dos fagos contêm peptídeos
randômicos aminoterminais (NOREN & NOREN, 2001).
A seleção foi realizada em solução, sendo utilizado como substrato 50µL
de proteína G agarose em 50% de solução aquosa (Recombinant Protein G
Agarose – InvitrogenTM), lavados por ressuspensão em microtubo com 1 mL de
TBS-T (TRIS – HCl 50 mM, pH 7,5; NaCl 150 mM; Tween 20 0,1%). Após
centrifugação a 4000 rpm por 1 minuto em centrífuga refrigerada à 4ºC, o
sobrenadante foi cuidadosamente retirado e descartado. Em seguida, a resina
foi bloqueada por uma hora em solução de bloqueio (NaHCO3 0,1 M, pH 8,6;
BSA 5 mg/mL; NaN3 0,02%) a 8ºC, sendo misturada de 15 em 15 minutos.
Após a incubação, a mesma foi lavada por quatro vezes, conforme descrito
anteriormente, para então receber a mistura de 300ng dos anticorpos
35
monoclonais MSP1 e MSP2, seguido pela adição de 2,0 x 1011 partículas virais
em um volume final de 200 µL de TBS-T 0,1%, previamente incubados à
temperatura ambiente por 20 minutos.
A mistura resina/anticorpo/fago foi agitada vagarosamente por 3 vezes
durante os 15 minutos de incubação a temperatura ambiente e em seguida
lavada por 10 vezes com 1 mL de TBS-T 0,1%, preparando-a para a eluição
dos fagos ligantes feita com 1 mL de tampão de eluição (Glicina – HCl 0,2M,
pH 2,2; 1 mg/mL de BSA) por 10 minutos à temperatura ambiente. Esta
solução foi então centrifugada por 1 minuto a 4.000 rpm e o eluato transferido
para um novo microtubo, onde foi imediatamente neutralizado com 150 µL de
TRIS-HCl 1 M, pH 9,1.
Após a neutralização do eluato, uma amostra de 10 µL do mesmo foi
titulada e o volume restante utilizado na reamplificação dos fagos em 30 mL de
meio de cultura de E. coli (ER2738) contendo tetraciclina e em fase inicial de
crescimento bacteriano (OD600 ≤ 0,3). A cultura foi incubada por 6 horas em
agitador com temperatura e rotação controladas a 37ºC e 210 rpm, antes dos
procedimentos de precipitação e titulação dos fagos.
A precipitação dos fagos iniciou-se pela centrifugação da cultura por 10
minutos e 4.000 rpm, afim de extrair as células bacterianas. Após o descarte
destas células, a cultura foi novamente centrifugada e extraídas as células
residuais. O sobrenadante foi transferido a um novo tubo, onde foi adicionado
20% do volume de PEG-NaCl (20% p/v de polietileno glicol – 8000 e NaCl
2,5M). A mistura permaneceu em repouso por 12 horas a 8ºC e posteriormente
foi centrifugada por 15 minutos a 14.000 rpm e 4ºC. O sobrenadante foi
descartado e a amostra foi novamente centrifugada, agora por 2 minutos, a fim
de ser possível a retirada do sobrenadante residual. O “pellet” foi diluído em
200 µL de TBS 1X e os fagos foram posteriormente titulados.
Os fagos reamplificados a partir do primeiro ciclo de seleção foram
utilizados no segundo ciclo em número de partículas de 2,0 x 1011 e assim
subseqüentemente por mais 3 ciclos, sendo que cada ciclo envolveu os
procedimentos de seleção, titulação do eluato, reamplificação e titulação dos
fagos reamplificados. A partir do segundo ciclo, a estringência do tampão de
36
lavagem foi aumentada de 0,1% para 0,5%, utilizando-se, então, 0,5% de
Tween-20 nas lavagens.
Titulações
Para todas as titulações de fagos foram utilizados 10 µL de solução
contendo os fagos, diluídos em 90 µL de meio de cultura LB. As diluições
seqüenciais (101 a 104 para eluatos não amplificados e 108 a 1011 para fagos
amplificados e purificados) foram incubadas por 5 minutos com 200 µL de E.
coli (ER2738) em fase de crescimento inicial e plaqueadas em meio de cultura
LB sólido contendo IPTG (0,5 mM) e X-Gal (40 µg/mL) juntamente com 3 mL
de Agarose Top (10g de Bacto-Triptona, 5g de Extrato de Levedura, 5g de
NaCl e 1g de MgCl2.6H2O por litro de água).
As placas foram então incubadas em estufa por 18 horas a 37ºC e as
colônias azuis (resultantes da quebra do substrato X-Gal pela enzima β-
galactosidase) foram contadas para a obtenção dos títulos de entrada e saída
de partículas de fago, através da multiplicação do número de colônia azuis pelo
fator de diluição, para todos os ciclos de seleção.
Extração de DNA de Fagos
Para a extração do DNA dos fagos, colônias isoladas de uma placa
oriunda do 3º ciclo do biopanning foram transferidas para poços de 2mL de
placas de cultura tipo deepwell, contendo 1mL de cultura de ER2738 em fase
early-log (OD600 ~ 0,3); a cada poço foi adicionada apenas uma colônia de fago.
A placa foi vedada com um adesivo próprio e incubada a 37ºC, por 24 horas,
sob vigorosa agitação (250rpm).
Para isolar os fagos das bactérias, as placas foram centrifugadas a
3700rpm, a 20ºC, durante 10 minutos. Apenas 800µL do sobrenadante da
centrifugação foram transferidos para novas placas e incubados a temperatura
ambiente por 10 minutos com 350µL de PEG/NaCl. Após o período de
incubação, as placas foram centrifugadas a 3700rpm, a 20ºC durante 40
minutos para precipitação dos fagos. Em seguida, o sobrenadante foi
37
descartado e 100µL de Tampão Iodeto (10mM de Tris-HCl pH 8,0, 1mM de
EDTA e 4M de NaI) foi adicionado ao precipitado de fagos.
As placas foram agitadas vigorosamente e, em seguida, 250µL de etanol
absoluto foi acrescentado. Após uma incubação de 10 minutos, a temperatura
ambiente, as placas foram centrifugadas 3700rpm, 20ºC, 10 minutos e o
sobrenadante descartado. O precipitado de fagos foi lavado com 500µL de
etanol 70% e recentrifugado. Finalmente, o precipitado remanescente foi
diluído em 20µl de água ultrapura. A qualidade do DNA fita simples foi
verificada pela corrida eletroforética em gel de agarose 0,8% corado com
solução de brometo de etídeo e leitura espectrofotométrica (260nm e 280nm),
respectivamente.
Seqüenciamento de DNA
Na reação de sequenciamento foram utilizados 500ng de DNA molde,
5pmol do primer -96 gIII (5’- OHCCC TCA TAG TTA GCG TAA CG -3’ - Biolabs)
e Premix (DYEnamic ET Dye Terminator Cycle Kit. – Amersham Biosciences).
A reação de 35 ciclos foi realizada em um termociclador de placas
(MasterCycler - Eppendorf) nas seguintes condições: desnaturação (a 95ºC por
20 segundos), anelamento do primer (a 58ºC por 15 segundos) e extensão (a
60ºC por um minuto). O DNA seqüenciado foi precipitado com 1µL de acetato
de amônio e etanol, homogeneizando a placa com leves batimentos. Então,
foram acrescentados 27,5µL de etanol absoluto, em seguida, a placa foi
centrifugada por 45 minutos, a 4000rpm e o sobrenadante descartado.
Adicionou-se 150µL de etanol 70% ao DNA precipitado e centrifugou-se
por 10 minutos, a 4000rpm. A solução de etanol foi descartada, a placa
permaneceu invertida sobre um papel toalha e nesta posição foi pulsada a
800rpm, durante um segundo. A placa foi coberta por um papel alumínio
durante cinco minutos para evaporar o etanol remanescente. Os precipitados
resultantes foram ressuspendidos no tampão de diluição (DYEnamic ET Dye
Terminator Cycle Kit – Amersham Biosciences).
A leitura do sequenciamento foi realizada em um seqüenciador
automático MegaBace 1000 (Amersham Biosciences) no laboratório de
Genética Molecular (UFU).
38
Análise dos Dados por Bioinformática
A tradução das seqüências de aminoácidos obtidas no seqüenciamento
foi realizada pelo programa DNA2PRO12. Este programa é designado para a
tradução de seqüências de insertos tanto de bibliotecas da New England
Biolabs (Ph.D.-12TM ou Ph.D.-C7CTM) quanto de outras bibliotecas de interesse
que contiverem as seqüências inicial e final do vetor. O programa
automaticamente localiza a posição do inserto, traduz o mesmo e indica
qualquer erro possível na seqüência, tais como códons inesperados ou erros
na seqüência próxima (http://relic.bio.anl.gov/dna2pro12.aspx).
DIVAA (http://relic.bio.anl.gov/divaa.aspx) foi utilizado para o cálculo da
diversidade e derivação padrão dos aminoácidos em cada posição nos
peptídeos. O cálculo da freqüência, diversidade de aminoácidos dentro da
população de peptídeos foi realizado pelo programa AADIV
(http://relic.bio.anl.gov/aafreqs3.aspx).
As homologias de cada peptídeo, individualmente ou não, com proteínas
de Anaplasma marginale foram testadas utilizando-se o programa MATCH
(http://relic.bio.anl.gov/match.aspx). O programa MATCH foi usado para parear
uma seqüência específica de proteína de A. marginale com todas as
seqüências peptídicas selecionadas.
Phage ELISA
Para quantificação da reatividade dos clones aos anticorpos foi realizado
o ensaio de ELISA onde placas de microtitulação foram sensibilizadas, com os
anticorpos anti-MSP1 e anti-MSP2, para todas as amostras, com 1µg/poço de
cada anticorpo diluído em tampão carbonato 100mM (8,3g NAHCO3, dissolvido
em 1L de água, autoclavado) pH 8,5 por 1 hora a temperatura ambiente.
Decorrido o tempo de incubação as placas foram bloqueadas com 150µL de
BSA a 1% overnight a 4ºC.
As placas foram lavadas por três vezes com PBST (0,1% de Tween 20)
e incubadas por 2 horas a temperatura ambiente com 100µL/poço de cultura
dos fagos selecionados, do fago selvagem (fago que não expressa nenhuma
proteína exógena) e de meio de cultura sem fago, para controle das reações.
39
Posteriormente as placas foram lavadas cinco vezes e incubadas com
anti-M13 conjugado com peroxidase diluído 1:5000 em PBST 0,1%, durante 1
hora a temperatura ambiente, lavadas novamente por cinco vezes e a ligação
antígeno/anticorpo foi detectada pela adição de tampão orto-fenilenodiamina
(OPD) a 1mg/mL. A reação foi interrompida pela adição de ácido sulfúrico 4N.
A reatividade foi obtida em leitor de placas (Titertek Multiskan Plus, Flow
Laboratories, USA) pela leitura a 492nm.
O índice ELISA (IE) para os clones testados foi calculado realizando a
divisão das leituras das densidades óticas (DO) das amostras pelo valor de
cutoff. O valor cutoff foi calculado segundo a fórmula: cutoff = média das DOs
do fago selvagem + 2X desvio padrão. Os IEs maiores que 1 foram
considerados positivos e os IEs menores que 1 foram considerados negativos.
40
RESULTADOS
Seleção de Peptídeos - Biopanning e Titulações
Os procedimentos de titulação dos fagos foram eficientes em todos os 3
ciclos de seleção realizados, as colônias de bactérias apresentaram coloração
azulada, demonstrando a quebra do substrato X-Gal e a expressão do gene da
β-galactosidase pelas bactérias ER2738, como mostrado na Figura 6. Não
foram observados, nas titulações, colônias transparentes resultado da ausência
de bactérias não infectadas ou infectadas com fagos selvagens (não
carreadores do gene lac Z).
A contagem do número de colônias azuis foi realizada em placas com
aproximadamente 100 colônias. Após a contagem e multiplicação pelo devido
valor de diluição, foram obtidos os títulos de entrada e saída para cada ciclo.
Figura 6 – Exemplo de placa de titulação. As colônias azuis representam as bactérias infectadas com
os fagos M13 carreadores do gene da β-galactosidase.
41
Tabela 1 - Seleção dos fagos com peptídeos ligantes a anticorpos monoclonais anti-MSP1 e anti-MSP2
para Anaplasma. Título obtido (pfu) no processo de seleção dos fagos por imunoafinidade.
Ciclos
Número de partículas de fagos
Entrada Saída
1º Ciclo de seleção 2x1010 1,7x103
2º Ciclo de seleção 2x1010 2,1x104
3º Ciclo de seleção 2x1010 3,8x104
A quantidade de fagos selecionados durante os três ciclos de seleção foi
estimada pela titulação dos eluatos amplificado e não amplificado de cada ciclo
(Tabela 1). Os títulos de entrada dos fagos no “biopanning” foram sempre
maiores que os títulos de saída, pois os fagos com maior afinidade a proteínas
anti-MSP1 e anti-MSP2 ficam ligados a elas por interação peptídeo/anticorpo e
o restante dos fagos com baixa ou sem afinidade foi removido durante as
lavagens. Nas amplificações ocorre o inverso, indicando a eficiência do
processo.
Extração de DNA e Seqüenciamento dos Clones de Fagos
O DNA extraído dos fagos foi submetido à eletroforese em gel de
agarose 0,8%, para verificar sua qualidade e estimar sua quantidade,
comparando a intensidade das bandas das amostras com a intensidade da
banda do DNA padrão, o qual continha uma massa de 200ng (Figura 7). Em
seguida o DNA foi seqüenciado e analisado.
C 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Figura 7 – Eletroforese em gel de agarose 0,8% de 12 amostras de DNA extraído de fagos (1-12)
aleatoriamente escolhidos e de 200ng de DNA controle (C) com 7249pb.
42
Dos 96 clones seqüenciados, 52 apresentaram seqüências válidas (sem
erros de sequenciamento), onde foram identificadas 49 seqüências diferentes e
as demais ocorrendo repedidas vezes.
ANÁLISE DE DADOS POR BIOINFORMÁTICA
Após a tradução das seqüências de DNA pelo programa DNA2PRO12, o
cálculo da freqüência de cada aminoácido nos peptídeos seqüenciados foi
realizado pelo programa AADIV.
A Figura 8 e a Tabela 2 apresentam a comparação entre a freqüência
dos vinte aminoácidos presentes nos peptídeos ligantes e a freqüência
esperada dos aminoácidos na biblioteca original. Mais uma vez, observa-se
que a seleção foi eficiente principalmente pelos aminoácidos Cisteína, Glicina,
Lisina e Arginina que foram selecionados negativamente apresentando
freqüência bem abaixo do esperado, e pela seleção positiva dos aminoácidos
Asparagina, Serina e Treonina, os quais apresentaram uma freqüência bem
elevada em relação à esperada sugerindo que esses aminoácidos estão
envolvidos na maioria das interações peptídeo-anticorpo.
Figura 8 – Freqüências observadas e esperadas de cada um dos 20 aminoácidos para os peptídeos
expressos nos fagos selecionados pelos anticorpos anti-MSP1 e anti-MSP2, conforme o programa
AADIV, Relic.
43
Tabela 2 – Freqüência dos aminoácidos individuais dos peptídeos expressos nos fagos selecionados
pelos anticorpos anti-MSP1 e anti-MSP2; e a freqüência esperada dos aminoácidos na construção da
biblioteca realizada pelo AADIV.
DIVAA é uma medida quantitativa de diversidade de sucessão dos
aminoácidos, e gera hipóteses relativas à contribuição de resíduos individuais
para as relações funcionais e evolutivas entre proteínas. A Figura 9 apresenta
um gráfico gerado pelo programa DIVAA que calcula a diversidade de
aminoácidos em cada uma das 12 posições nos peptídeos e a derivação
padrão, mostrando as posições onde ocorreu a maior diversidade de
aminoácidos, o gráfico mostra que nas posições 1, 2 e 3 houve a maior
diversidade de aminoácidos enquanto que as diversidade nas posições 7, 8, 9
e 10 foram reduzidas, ficando abaixo de 0,2.
Aminoácido 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Total Freqüência
A (Alanina) 3 4 5 3 8 5 2 3 7 3 1 4 48 0,0816
C (Cisteína) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,0000
D (Aspartato) 1 3 0 1 1 0 0 0 0 1 3 2 12 0,0200
E (Glutamato) 2 2 0 2 2 0 0 0 1 0 1 0 10 0,0170
F (Fenilalanina) 6 0 0 2 2 2 3 1 4 5 6 3 34 0,0578
G (Glicina) 3 0 0 0 1 0 0 0 1 1 1 1 8 0,0136
H (Histidina) 4 2 2 5 4 1 1 0 0 0 1 2 22 0,0374
I (Isoluecina) 1 2 1 3 0 1 0 1 1 1 1 1 13 0,0221
K (Lisina) 2 0 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 4 0,0068
L (Leucina) 4 3 4 3 0 2 1 3 2 5 9 22 58 0,0986
M (Metionina) 5 0 4 2 2 1 0 0 0 0 1 0 15 0,0255
N (Asparagina) 3 7 6 7 3 4 3 1 1 1 2 1 39 0,0663
P (Prolina) 0 7 4 1 5 2 3 0 0 2 6 2 32 0,0544
Q (Glutamina) 4 1 2 1 4 0 1 1 0 0 1 1 16 0,0272
R (Arginina) 0 2 3 1 0 2 0 0 1 0 2 0 11 0,0187
S (Serina) 3 5 8 5 13 18 26 16 21 26 10 3 153 0,2602
T (Treonina) 4 3 3 10 2 7 9 21 7 2 1 4 73 0,1241
V (Valina) 1 2 1 1 1 1 0 1 1 1 2 2 14 0,0238
W (Triptofano) 1 1 2 0 0 0 0 0 1 0 0 1 6 0,0102
Y (Tirosina) 2 6 3 1 1 3 0 1 1 1 1 0 20 0,0340
Diversidade 6/50 7/52 8/52 10/53 13/54 18/55 26/56 21/57 21/58 28/59 10/60 22/61
CONSENSO F N/P S T S S S T S S S L 588
44
Figura 9 – Gráfico construído pelo programa DIVAA que ilustra a diversidade de sucessão dos
aminoácidos em cada posição nos peptídeos.
Existem diversos parâmetros que indicam o sucesso de seleção de cada
peptídeo. Na Tabela 3 são apresentados os seguintes parâmetros: seqüências
de aminoácidos obtidas, freqüência dos peptídeos selecionados (FO),
freqüência esperada desses peptídeos na biblioteca original (FE), amplificação
dos peptídeos decorrentes do processo de seleção em relação à freqüência
esperada dos peptídeos da biblioteca original (FO/FE), grau de informação de
cada peptídeo (I(m)) e número provável de clones independentes dentro da
biblioteca (λ). Estes parâmetros são obtidos mediante cálculos a partir das
freqüências dos aminoácidos para cada posição no clone, a freqüência
esperada é calculada pela multiplicação das freqüências de todos os
aminoácidos observados, tabela que é apresentada pelo fabricante para cada
tipo de biblioteca de fagos. Todos os outros parâmetros são fórmulas que se
originam desta FE, conforme apresentadas na publicação de Rodi et al.,
(2002). Ao analisar a tabela, deve-se relacionar todos os dados de cada
peptídeo selecionado, assim um peptídeo que apresenta um baixo valor de FE
45
e λ, e alto valor para I(m) e FO/FE possui uma baixa probabilidade de ser
selecionado, a menos que a seleção seja de fato específica. Ao observar os
clones 4, 5, 40 e 45, por exemplo, veremos que eles possuem os maiores
valores para I(m) e FO/FE, e os menores para FE e λ, mas mesmo assim foram
selecionados durante o biopanning, o que comprova mais uma vez a eficiência
da seleção.
Para identificar um motivo consenso entre os 49 clones selecionados,
analisou-se a freqüência dos aminoácidos observados em cada posição da
seqüência peptídica formada, de 1 a 12 aminoácidos (Tabela 2). Para efeito de
estabelecer o motivo consenso observou-se a maior freqüência em cada
posição, e aquelas freqüências que eram inferiores à menor freqüência
observada na posição 7 (9/56) não foram consideradas para compor o motivo
central, considerando então somente aquelas posições com ≥10 observações
do mesmo aminoácido, que originou o motivo TSSSTSSSL. Se ainda for
considerado apenas aquelas posições com freqüência acima de 35%, o motivo
consenso seria STSSxL.
Motivos protéicos comuns também foram identificados por meio do
alinhamento dos clones, após a terceira seleção no experimento (Tabela 4).
Dois grupos de aminoácidos foram gerados, sendo o primeiro grupo constituído
pelo motivo STxS e o segundo grupo pelo motivo TSS. Nestes dois casos, o
motivo consenso foi considerado quando ocorreu quatro ou mais vezes nos
clones distintos. Contudo, pode-se considerar ainda dois outros motivos
semelhantes e muito freqüentes, STSS e STAS, sendo que o primeiro se
repete duas vezes dentro da seqüência consenso geral entre todos os clones
(Tabela 2).
46
Clone Peptídeo Freqüência Observada
(FO)
Freqüência Randômica*
(FE)
Amplificação** (FO/FE)
I(m)*** λ****
1 YNSTASFSTPHL 2/52 1,86 x 10-13 1,05 x 1011 29,3 3,73 x 10-4
2 HTMTSASTSSLL 1/52 6,77 x 10-13 2,89 x 1010 28 1,35 x 10-3
3 QYAPSTNSYLLL 1/52 1,18 x 10-12 1,65 x 1010 27,5 2,37 x 10-3
4 INPIHNSTASFT 1/52 4,59 x 10-21 4,26 x 1018 46,8 9,18 x 10-12
5 FVPFASTSSNLA 1/52 4,17 x 10-19 4,69 x 1016 42,3 8,35 x 10-10
6 VYANQASTASRL 1/52 2,37 x 10-13 8,26 x 1010 29,1 4,74 x 10-4
7 HSTEAASTSSFA 1/52 1,16 x 10-14 1,67 x 1012 32,1 2,33 x 10-5
8 FASDMRPSTSSF 1/52 1,88 x 10-14 1,03 x 1012 31,6 3,77 x 10-5
9 FNSTSSLLTSSP 1/52 6,91 x 10-17 2,83 x 1014 37,2 1,38 x 10-7
10 LESRYFPVITPT 1/52 1,25 x 10-14 1,56 x 1012 32 2,50 x 10-5
11 FNNTNSTSSFVS 1/52 8,85 x 10-16 2,21 x 1013 34,7 1,77 x 10-6
12 QWNTSSFAVYDP 1/52 6,49 x 10-16 3,01 x 1013 35 1,29 x 10-6
13 LEYHQVTLRDVL 1/52 3,23 x 10-13 6,06 x 1010 28,8 6,46 x 10-4
14 ESAAPYSTNSFA 1/52 5,26 x 10-12 3,72 x 109 26 1,05 x 10-2
15 HLASSSTSSSLG 2/52 1,29 x 10-15 1,51 x 1013 34,3 2,59 x 10-6
16 FNRLPYSTSSSL 1/52 1,87 x 10-14 1,04 x 1012 31,6 3,74 x 10-5
17 NDRNSLNTTSFL 152 2,42 x 10-14 8,08 x1011 31,4 4,85 x 10-5
18 ASQMVSTSSFND 2/52 2,83 x 10-13 6,90 x 1010 28,9 5,67 x 10-4
19 HVMSPHPQSTLL 1/52 2,14 x 10-17 9,13 x 1014 38,4 4,29 x 10-8
20 TPVNEAQNTASF 1/52 3,22 x 10-16 6,07 x 1013 35,7 6,45 x 10-7
21 GTWNNTSSLLLN 1/52 8,53 x 10-13 2,29 x 1010 27,8 1,70 x 10-3
22 MHMTHSSTASYL 1/52 9,93 x 10-14 1,97 x 1011 29,9 1,98 x 10-4
23 SALNSTSSFSSH 1/52 7,95 x 10-13 2,46 x 1010 27,9 1,59 x 10-3
24 MRAVSTSSFPAL 1/52 3,68 x 10-13 5,32 x 1010 28,6 7,36 x 10-4
25 KLSLHNTSSVLT 1/52 1,26 x 10-17 1,55 x 1015 38,9 2,52 x 10-8
Clone Peptídeo Freqüência Observada
(FO)
Freqüência Randômica*
(FE)
Amplificação** (FO/FE)
I(m)*** λ****
26 ANLHHPSTSSQL 1/52 9,93 x 10-14 1,97 x 1011 29,9 1,98 x 10-4
27 DQRMASTASFSS 1/52 1,89 x 10-15 1,03 x 1013 33,9 3,78 x 10-6
28 QYSTSSSLGISI 1/52 9,64 x 10-14 2,03 x 1011 30 1,92 x 10-4
29 NRYTTSHILSPV 1/52 7,58 x10-14 2,58 x 1011 30,2 1,51 x 10-4
30 GDKHSTSSFLIT 1/52 1,53 x 10-11 1,27 x 109 24,9 3,06 x 10-2
31 TSNSTASFSSPA 1/52 4,02 x 10-13 4,86 x 1010 28,5 8,05 x 10-4
32 MDMAQLSTSSNL 1/52 3,24 x 10-11 6,03 x 108 24,2 6,49 x 10-2
33 NYHHQIAYALLD 1/52 2,42 x 10-14 8,08 x 1011 31,4 4,85 x 10-5
34 TPYSMSSTASRL 1/52 3,98 x 10-16 4,92 x 1013 35,5 7,96 x 10-7
35 GYSFENSTSSPL 1/52 4,78 x 10-14 4,09 x 1011 30,7 9,57 x 10-5
36 KPLLASSTSSTL 1/52 1,15 x 10-13 1,69 x 1011 29,8 2,30 x 10-4
37 WALAPSTASFLS 1/52 5,73 x 10-14 3,42 x 1011 30,5 1,14 x 10-4
38 TLTYAPSTSSPL 1/52 1,78 x 10-15 1,09 x 1013 34 3,56 x 10-6
39 MYHNNTSSWLGV 1/52 2,59 x 10-13 7,55 x 1010 29 5,19 x 10-4
40 SPPEFSNSTASF 1/52 3,73 x 10-18 5,25 x 1015 40,1 7,46 x 10-9
41 MHISDMSTSSML 1/52 1,47 x 10-11 1,32 x 109 24,9 2,94 x 10-2
42 YTQNSTASFGPW 1/52 6,36 x 10-12 3,07 x 109 25,8 1,27 x 10-2
43 SPNTSSFTEADL 1/52 3,92 x 10-14 5,00 x 1011 30,9 7,84 x 10-5
44 FINHASSTSSSL 1/52 6,19 x 10-13 3,16 x 1010 28,1 1,23 x 10-3
45 LAPIGNSTTSFL 1/52 5,46 x 10-19 3,58 x 1016 42,1 1,09 x 10-9
46 EISKAFSTSSFH 1/52 7,56 x 10-13 2,59 x 1010 27,9 1,51 x 10-3
47 APNQFRSTASEL 1/52 1,76 x 10-14 1,11 x 1012 31,7 3,52 x 10-5
48 QNWTSSTSSFSQ 1/52 1,63 x 10-17 1,19 x 1015 38,7 3,27 x 10-8
49 LPTIPYSTASDL 1/52 4,38 x 10-15 4,46 x 1012 33,1 8,77 x 10-6
*Probabilidade de seqüência randômica = freqüência esperada na biblioteca (FE) **Amplificação = freqüência observada/freqüência esperada ***I(m) = grau de informação = -In (probabilidade de seqüência randômica) ****λ = número provável de clones independentes na biblioteca = complexidade x FE, onde complexidade da biblioteca (2,7 x 109 - Ph.D.-12).
Tabela 3 – Seqüências de aminoácidos dos clones selecionados, freqüência observada, freqüência esperada, amplificação dos peptídeos e grau de informação.
47
Motivo Alinhamento
YNSTASFSTPHL
STxS* HTMTSASTSSLL
QYAPSTNSYLLL
37 peptídeos
com este
motivo.
INPIHNSTASFT
FVPFASTSSNLA
VYANQASTASRL
HSTEAASTSSFA
FASDMRPSTSSF
FNSTSSLLTSSP
FNNTNSTSSFVS
ESAAPYSTNSFA
HLASSSTSSSLG
FNRLPYSTSSSL
ASQMVSTSSFND
MHMTHSSTASYL
SALNSTSSFSSH
MRAVSTSSFPAL
ANLHHPSTSSQL
DQRMASTASFSS
QYSTSSSLGISI
GDKHSTSSFLIT
TSNSTASFSSPA
MDMAQLSTSSNL
TPYSMSSTASRL
GYSFENSTSSPL
KPLLASSTSSTL
WALAPSTASFLS
TLTYAPSTSSPL
SPPEFSNSTASF
MHISDMSTSSML
YTQNSTASFGPW
FINHASSTSSSL
LAPIGNSTTSFL
EISKAFSTSSFH
APNQFRSTASEL
QNWTSSTSSFSQ
LPTIPYSTASDL
TSS
29 peptídeos
com este
motivo.
HTMTSASTSSLL
FVPFASTSSNLA
HSTEAASTSSFA
FASDMRPSTSSF
FNSTSSLLTSSP
NSTSSLLTSSP
FNNTNSTSSFVS
QWNTSSFAVYDP
HLASSSTSSSLG
FNRLPYSTSSSL
Tabela 4: Alinhamento linear das seqüências de aminoácidos dos peptídeos selecionados por
afinidade realizado pelo MOTIF 2.
48
*Letras em negrito denotam resíduos conservados.
A seqüência original da proteína MSP1a de A. marginale apresenta
cinco repetições de 28 a 29 aminoácidos na extremidade NH2-terminal da
molécula. Um domínio consenso STSSxL encontrado ao final de cada
repetição, que funciona como epítopo ativo reconhecido pelo anticorpo
monoclonal anti-MSP1a, foi identificado pela maior freqüência de aminoácidos
nos clones selecionados (Figura 10).
ASQMVSTSSFND
GTWNNTSSLLLN
SALNSTSSFSSH
MRAVSTSSFPAL
KLSLHNTSSVLT
ANLHHPSTSSQL
QYSTSSSLGISI
GDKHSTSSFLIT
MDMAQLSTSSNL
GYSFENSTSSPL
KPLLASSTSSTL
TLTYAPSTSSPL
MYHNNTSSWLGV
MHISDMSTSSML
SPNTSSFTEADL
FINHASSTSSSL
EISKAFSTSSFH
QNWTSSTSSFSQ
QNWTSSTSSFSQ
49
Figura 10 – Proteína MSP1a de Anaplasma marginale, com destaque para o domínio STSSxL dentro da
região repetitiva de 28-29 aminoácidos (rico em serina) que ocorre em cinco blocos repetidos.
Neste estudo, epítopos potenciais (miméticos ou com homologia
perfeita) são apresentados a partir de similaridades significativas entre os
peptídeos e a seqüência protéica da MSP1a. Foram identificadas similaridades
entre 46 dos 49 clones selecionados com a proteína de membrana MSP1a
(Figura 11). Dentre os 28 ou 29 aminoácidos da seqüência repetitiva da
proteína MSP1a, 14 aminoácidos foram identificados por alinhamento com a
sequência original, que provavelmente formam os resíduos críticos do epítopo
na molécula, caracterizados em negrito como a seguir:
DSSSASGQQQESSVSSQSEASTSSQLGA. Dentre os resíduos críticos, o
domínio mais freqüente entre todos os 46 clones foi o STSSxL, conforme
identificado pela análise de bioinformática.
(0-69) MSAEYVSTQSD|DSSSASGQQQESSVSSQSEASTSSQLGA|DSSSAGGQQQESSVSSQSDQASTSSQLGA| (70-681) DSSSAGGQQQESSVSSQSDQASTSSQLGA|DSSSAGGQQQESSVSSQSDQASTSSQLGA|DSSSAGGQQQE
SSVSSQSDQASTSSQLGT|DWRQEMRSKVASVEYMLAARALISVGVYAAQGEIARSRGCAPLRVAEVEEIV
KDGLVRSHFHDSGLSLGSIRLVLMQVGDKLGLQGLKIGEGYATYLAQAFADSVVVAADVQSSGACSASLDS
AIANVETSWSLHGGLVSKGFDRDTKVERGDLEAFVDFMFGGVSYNDGNASAARSVLETLAGHVDALGISYN
QLDKLDADTLYSVVSFSAGSAIDRGAVSDAADKFRVMMFGGAPAGQEKTAEPEHEAATPSASSVPSTVHGK
VVDAVDRAKEAAKQAYAGVRKRYVAKPSDTTTQLVVAITALLITAFAICACLEPRLIGASGPLIWGCLALV
ALLPLLGMAVHTAVSASSQKKAAGGAQRVAAQERSRELSRARQEDQQKLHVPAILTGLSVLVFIAAVVACI
AVDARRGTWQGSICFLAAFVLFAISAAVVMATRDQSLAEECDSKCATARTAQAVPGGQQQPRATEGVVSGG
GQEGGAGVPGTSVPSAESGAVPPATIMVSVDPQLVATLGAGVAQAAA
50
Figura 11 – Alinhamento dos 49 peptídeos recombinantes selecionados por Phage Display ao domínio
protéico STSSxL em seqüência parcial de dois motivos repetidos da proteína MSP1a (com 28 ou 29 aminoácidos) de Anaplasma marginale. No motivo consenso final, as letras em vermelho indicam todos os aminoácidos que foram alinhados com a seqüência original (em azul).
DSSSASGQQQESSVSSQSEASTSSQLGA (28 AA) DSSSAGGQQQESSVSSQSDQASTSSQLGA (29 AA) Clone 1 YNSTASFSTPHL Clone 2 HTMTSASTSSLL Clone 3 QYAPSTNSYLLL Clone 4 INPIHNSTASFT Clone 5 FVPFASTSSNLA Clone 6 VYANQASTASRL Clone 7 HSTEAASTSSFA Clone 8 FASDMRPSTSSF Clone 9 FNSTSSLLTSSP Clone 11 FNNTNSTSSFVS Clone 12 QWNTSSFAVYDP Clone 14 ESAAPYSTNSFA Clone 15 HLASSSTSSSLG Clone 16 FNRLPYSTSSSL Clone 17 NDRNSLNTTSFL Clone 18 ASQMVSTSSFND Clone 19 HVMSPHPQSTLL Clone 20 TPVNEAQNTASF Clone 21 GTWNNTSSLLLN Clone 22 MHMTHSSTASYL Clone 23 SALNSTSSFSSH Clone 24 MRAVSTSSFPAL Clone 25 KLSLHNTSSVLT Clone 26 ANLHHPSTSSQL Clone 27 DQRMASTASFSS Clone 28 QYSTSSSLGISI Clone 29 NRYTTSHILSPV Clone 30 GDKHSTSSFLIT Clone 31 TSNSTASFSSPA Clone 32 MDMAQLSTSSNL Clone 34 TPYSMSSTASRL Clone 35 GYSFENSTSSPL Clone 36 KPLLASSTSSTL Clone 37 WALAPSTASFLS Clone 38 TLTYAPSTSSPL Clone 39 MYHNNTSSWLGV Clone 40 SPPEFSNSTASF Clone 41 MHISDMSTSSML Clone 42 YTQNSTASFGPW Clone 43 SPNTSSFTEADL Clone 44 FINHASSTSSSL Clone 45 LAPIGNSTTSFL Clone 46 EISKAFSTSSFH Clone 47 APNQFRSTASEL Clone 48 QNWTSSTSSFSQ Clone 48 QNWTSSTSSFSQ Clone 49 LPTIPYSTASDL DSSSASGQQQESSVSSQSEASTSSQLGA (Homologia entre 14 resíduos entre os 28/29 aminoácidos da repetição peptídica) Clones Sem Alinhamento: Clone 10 LESRYFDVITPT Clone 13 LEYHQVTLRDVL Clone 33 NYHHQIAYALLD
51
Phage ELISA
Para confirmar a eficiência de seleção, os fagos foram submetidos a
ensaios de ELISA para quantificação da reatividade ao alvo. Para a
normalização da quantidade de partículas virais entre os clones a serem
testados, placas de microtitulação foram sensibilizadas com os anticorpos anti-
MSP1a e MSP2 na concentração de 1 µg por poço. Utilizou-se o fago selvagem
como controle negativo de reação (Figura 12).
Figura 12 – Placas de Elisa mostrando a reatividade dos clones contra o anticorpo anti-MSP1a.
A Figura 13 apresenta um gráfico representativo da reatividade dos
clones selecionados aos anticorpos anti-MSP1 e anti-MSP2, o cutoff foi
calculado somando-se a média das leituras das réplicas do fago selvagem
(controle negativo) mais duas vezes o desvio padrão. Observa-se que apenas
os clones 6, 16, 26 e 40 não apresentaram razões dos índices ELISA maiores
que 1, ou seja, não foram significativos; enquanto que os outros 45 peptídeos
apresentaram IE maior que 1,0, inclusive para os três clones que não foram
alinhados na seqüência da proteína MSP1a.
52
Figura 13 – Gráfico representativo das leituras a 492nm do ensaio de ELISA mostrando a reatividade dos clones de fagos capturados por anticorpo anti-
MSP1 e anti-MSP2 para Anaplasma marginale.
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49
Clones
Índ
ece
EL
ISA
MSP1 MSP2
53
DISCUSSÃO
Este trabalho se propôs identificar peptídeos ligantes a anticorpos
monoclonais reativos a proteínas de Anaplasma marginale a partir de bibliotecas
de peptídeos recombinantes por meio da tecnologia Phage Display. Foram
identificados peptídeos, os quais apresentaram homologias significativas com
seqüências da proteína MSP1a. A seleção dos fagos ligantes aos anticorpos anti-
MSP1 e anti-MSP2 foi realizada com uma biblioteca de peptídeos expressos em
fagos M13 com 12 resíduos randômicos.
Durante os ciclos de seleção houve um enriquecimento do número de
fagos, já esperado pelo fato de que, a cada ciclo, clones/fagos com determinadas
seqüências foram retidos para subseqüente eluição e amplificação no ciclo
seguinte (Tabela 1). Os títulos dos fagos na entrada do biopanning foram sempre
maiores que os títulos de saída, pois os fagos com maior afinidade aos anticorpos
imobilizados na placa ficam ligados a estes pela interação com o parátopo, e o
restante dos fagos com baixa ou sem afinidade aos anticorpos são lavados
(removidos). Fagos com baixa afinidade pelos anticorpos podem ficar aderidos
diretamente à placa, não interagindo com os anticorpos, ou ainda permanecerem
suspensos na solução (não ligados), assim após as sucessivas lavagens muitos
destes fagos não específicos são excluídos (FRESCHI, 2006). Isto leva a redução
nos títulos após as etapas do biopanning. Os títulos do 1º, 2º e 3º ciclos de
seleção (1,7 x 103, 2,1 x 104, 3,8 x 104) evidenciam a ocorrência de uma seleção
específica dos fagos.
Após a avaliação preliminar dos clones e sequenciamento, foi constatada a
ausência de cisteína, e o aminoácido arginina apresentou-se com uma freqüência
abaixo da freqüência esperada na biblioteca original (Tabela 2) Sabe-se que os
aminoácidos arginina e cisteína nas seqüências de peptídeos randômicos atuam
na secreção da Proteína III e podem interferir na infectividade dos fagos.
Conseqüentemente, clones com peptídeos contendo estes aminoácidos podem
ser menos freqüentes durante a seleção. (NOREN, 2001).
A proteína MSP1a é codificada por um único gene (MSP1a), porém possui
marcante variação de tamanho entre os diferentes isolados de A. marginale (46 a
54
105 kDa), como verificado em isolados brasileiros desta rickettsia (KANO et al.,
2002, OLIVEIRA et al., 2003). Isso resulta da presença de um número variável de
blocos repetitivos de 28 a 29 aminoácidos, ricos em serina, na região amino (N)
terminal (OBERLE et al. 1988, ALLRED et al., 1990). Essa região contém um
epítopo sensível à neutralização conservado entre os isolados (ALLRED et al.
1990), incluindo brasileiros (KANO et al. 2002, OLIVEIRA et al. 2003).
O fato das bibliotecas serem de peptídeos randômicos permite que vários
clones possam compartilhar os mesmos motivos, mas com resíduos em posições
diferentes do peptídeo, fazendo com que certos aminoácidos sejam mais
freqüentes após a seleção e sequenciamento. Assim, a alta freqüência desses
aminoácidos nas referidas posições do peptídeo recombinante, pode indicar um
provável motivo não apresentado nos clones selecionados, mas descoberto pela
combinação de várias seqüências (SANTOS, 2006).
A presença dos motivos protéicos pode ser relacionada com a seleção a
favor do ligante, pela indicação de que estes aminoácidos poderiam ser cruciais
para o reconhecimento dos peptídeos pelo parátopo (CORTESE et al.,1995). Os
motivos STxS e TSS são constituídos por peptídeos representados mais de uma
vez e também representados em 78% e 59% dos fagos seqüenciados. Os
aminoácidos presentes no motivo (S e T) foram acima da freqüência esperada
quando comparados na tabela 2 e figura 8, especialmente para a serina,
apresentando freqüência superior frente a treonina, e estando presente nos 2
grupos de seqüências consenso. Além disso, os aminoácidos serina e treonina,
por serem altamente hidrofílicos indicam estar constituídos em epítopos ou
mimetopos selecionados (MANOUTCHARIAN et al., 1999).
Quando se considera apenas as posições dos aminoácidos mais
freqüentes (>35%), o motivo consenso é o STSSxL, exatamente a seqüência
encontrada na molécula original da MSP1a, com cinco repetições (Figura 11).
Quando se considera o motivo consenso STSSxL e sua variação, STASxL,
os clones 30, 32, 34, 35, 36, 37, 38, 41, 44, 48 e 49 foram os que apresentaram
os maiores índices ELISAs, exceto para o clone 16, que apresentou índice abaixo
de 1 (não significativo), provavelmente devido ao efeito dos aminoácidos
adjacentes ao motivo protéico na extremidade anterior (N-terminal), uma vez que
a maioria dos clones apresentou o domínio na porção COOH-terminal.
55
A seqüência repetitiva DSSSASGQQQESSVSSQSEASTSSQLGA
apresentou 14 aminoácidos (em negrito) críticos que formam o epítopo da
molécula MSP1a. Dentre os resíduos críticos alinhados nos 49 clones
selecionados, o domínio mais freqüente, STSSxL, foi observado em 23 clones,
semelhante ao descrito para o epítopo B, EASTS(S/Q)ASTSS, sensível à
neutralização (PALMER et al, 1987; ALLRED et al. 1990). Nesta investigação os
resíduos EASTSS foram identificados corretamente pelo alinhamento dos clones
com a sequência repetitiva, mas nenhum clone apresentou a identidade perfeita,
sendo que apenas quatro clones apresentaram o motivo ASTSS ou QASTxS. É
importante enfatizar que, diferentemente do apresentado na literatura, o domínio
mais freqüente e mais reativo, conforme os resultados sorológicos, foi o STSSxL.
Diante do reconhecimento de novos domínios dentro da seqüência repetitiva, e da
alta freqüência do domínio STSSxL, sugere-se que o epítopo desta proteína seja
mais complexo e maior do aquele publicado, e que maior avidez e afinidade de
peptídeos deve-se levar em conta o novo domínio aqui definido.
No ensaio de ELISA foram testadas a reatividade dos 49 clones
selecionados contra os anticorpos anti-MSP1 e anti-MSP2 separados. Não houve
reatividade contra o anticorpo anti-MSP2, provavelmente devido à competição
com o anticorpo imunodominante anti-MSP1a que também possui alta avidez pelo
domínio repetitivo da molécula. Contudo, é possível ter ocorrido problemas na
viabilidade do anticorpo anti-MSP2, uma vez que este não fora testado contra
soros positivos. Já o teste com os clones contra o anticorpo anti-MSP1, somente
os clones 6, 16, 26 e 40 apresentaram razões dos índices ELISA menores que 1,
ou seja, não foram significativos; enquanto que os outros 45 peptídeos
apresentaram IE maior que 1,0, o que pode evidenciar a imunorreatividade
específica a proteína MSP1a do Anaplasma marginale. Tais resultados podem ser
justificados pelo fato das proteínas MSP1a, MSP4 e MSP5 serem codificadas por
um único gene não variando antigenicamente durante a multiplicação da rickettsia
(VISSER et al, 1992; BOWIE et al, 2002; MOLAD et al, 2004). A conservação
destas proteínas é importante para definir os epítopos comuns e específicos que
podem ser usados para o desenvolvimento de testes sorodiagnósticos e vacinas
para anaplasmose (BARBET et al, 1999; KANO et al, 2002). Já as proteínas
MSP1b, MSP2 e MSP3 são codificadas por famílias multigênicas e podem variar
56
antigenicamente durante os ciclos de rickettsemia persistentes (ALLEMAN &
BARBET, 1996; FRENCH et al, 1999; BOWIE et al., 2002) inclusive em isolados
brasileiros (KANO et al, 2002).
A originalidade deste trabalho foi realizar uma seleção específica de
peptídeos recombinantes por phage display contra o anticorpo monoclonal anti-
MSP1a de Anaplasma marginale, identificando prováveis peptídeos
recombinantes miméticos com potencial uso em diagnósticos e em vacinas.
Estudos adicionais sobre a especificidade e a sensibilidade dos peptídeos
obtidos neste estudo estão sendo realizados. Desta forma, testes preliminares de
imunizações com os peptídeos fusionados nos fagos são imprescindíveis para a
determinação da produção de resposta imune cruzada dos peptídeos contra as
proteínas do Anaplasma marginale para a obtenção de peptídeos candidatos a
vacinas.
57
CONCLUSÃO
A análise de peptídeos ligantes à anticorpos monoclonais reativos a
proteínas de Anaplasma marginale selecionados a partir de bibliotecas de
peptídeos recombinantes por Phage Display revelaram que:
• Não foi possível obter e, portanto selecionar clones contra o anticorpo anti-
MSP2, provalvelmente por problemas de viabilidade do anticorpo ou por
competição com o anti-MSP1a, que provavelmente apresentou maior avidez e
afinidade durante a seleção.
• Os peptídeos obtidos contra o anticorpo monoclonal anti-MSP1a
apresentaram alinhamentos significativos com a proteína de Anaplasma
marginale e foram altamente reativos contra o anticorpo, sendo caracterizado
como domínio principal a seqüência STSSxL.
• Definiu-se, por meio de alinhamentos e reatividade nos ensaios ELISA,
novos resíduos críticos dentro da seqüência repetitiva da proteína MSP-1a, que
provavavelmente compõem o epítopo reativo, com a seqüência caracterizada
parcialmente em negrito como: DSSSASGQQQESSVSSQSEASTSSQLGA.
• Embora estudos adicionais sejam necessários para determinar a
efetividade dos peptídeos obtidos, os resultados poderiam colaborar na definição
de seqüências antigênicas que mimetizam epítopos naturais do Anaplasma
marginale.
58
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