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  • 7/25/2019 Seminrio Svori

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    Conterrneo de Nstor Perlongher, Horcio Svori completou sua graduao

    em Antropologia Sociocultural na Universidade Nacional de Rosrio em 1992, local

    e ano onde so ambientadas as cenas descritas no captulo indicado para hoje, do

    livro

    Locas, chongos y gays de 2005. Atualmente Horcio professor da UFRJ ecoordenador geral do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos

    Humanos.

    Fiquei surpreso com o captulo Transformaes pblicas de la intimidad,

    destacado para a leitura, pois no o conhecia e ele dialoga diretamente com

    questes relacionadas minha pesquisa. Ao longo do captulo Horcio descreve as

    relaes entre construo dos espaos pblicos e de uma visibilidade poltica com

    as diferentes formas de representao relacionadas homossexualidade,

    locas

    ,

    gays, entendidos, chongos.

    Em primeiro lugar, Horcio chama a ateno para as prticas no ambiente.

    Nos lugares privados seria possvel loquearentre amigos. A utilizao de categorias

    para nomear as prticas tambm denota marcadores etrios e de gnero os gays

    jovens tienen onda, ao passo que os entendidos mais velhos andan.

    Nos boliches, era possvel desvelar as inclinaes implcitas, tcita[s] entre

    entendidos e oculta[s] frente a estranhos (p.100). Assim, no espao pblico, a

    forma de comunicao entre gays e entendidos se dava mediante cdigos e

    padres de conduta no ditos. Era possvel, seno inferir, aventar, a partir da

    apresentao de uma pessoa, inclusive seu papel na cama, ativo ou passivo,

    dominante ou dominado, na leitura do Horcio.

    Um conceito importante no texto o de eufemismo, isto , uma linguagem

    que define a homossexualidade pelo seu negativo. Ademais, a

    homossexualidadeno era construda que como um fragmento da pessoa total

    (p.101), isto , no havia um expediente que favorecesse a constituio de uma

    subjetividade particular homossexual.

    Outro ponto diz respeito tenso entre ocupao do espao e expresso de

    afetividades e eroticidades. Cito: se bem que os nichos de interao homossexual e

    os lugares gays eram pblicos, no sentido de ser coletivamente criados e livremente

    acessveis, a participao individual neles no era necessariamente construda

    como um compromisso com uma opo de vida e muito menos como algo aberto ao

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    escrutnio pblico, seno como o exerccio de um desejo ou interesse

    pessoalssimo, vivido de modos diversos e sobre cuja definio s algum poderia

    opinar sobre si (p.102). Da os escndalosrelacionados homossexualidade, do

    qual fala o autor, como uma forma de agenciamento operada subversivamentepelas locas.

    Ao ethosheterossexual, daqueles que conseguiam com sucesso pasar por,

    tanto quanto postura da loca, aquela a que se le notara, destinava-se diferentes

    papeis na vida pblica. Esta vida pblica era, em Rosario, incipientemente posta em

    questo pela militncia homossexual no incio dos anos 1990s, fato que Horcio

    relaciona abertura poltica e ao impacto da epidemia de HIV-AIDS. Contudo, uma

    identidade pblica homossexual tensionaria a construo da homossexualidade

    como um assunto privado, uma prtica destinada aos pubs e boliches, onde,

    privatizadas, estavam seguras.

    As referncias da militncia anglo-sax, orientada por um ethospuritano, de

    acordo com o qual a individualidade s encontra completude e liberdade atravs do

    reconhecimento pblico (p.106) tensionava-se, portanto, vontade de muitos

    entendidos e chongos, de manter a homossexualidade como um dado privado. O

    segredo era a garantia de um espao seguro para o desenvolvimento de interesses

    e desejos pessoalssimos (p.106).

    Por fim, Horcio se encaminha para uma discusso muito interessante sobre

    poltica e privacidade, mencionando como, em veculos de imprensa, no espao

    urbano e na circulao de representaes, a homossexualidade, e apenas a

    homossexualidade, era construda como um assunto privado, sendo sua expresso

    pblica marcada pela presena de eufemismos. O autor d papel central s locase

    militantes na atribuio as fraturas nessa linguagem pblica hegemnica as

    primeiras em funo das provocaes e escndalos, os segundos em funo da

    vontade cvica de construir uma comunidade gay ou homossexual em oposio ao

    molde de excluso que a cotidianeidade do boliche estava reproduzindo (p.109).

    Assim, os gays viris, as locas, os chongos, aqueles que se consideravam

    heterossexuais, compunham essa fauna rosarina, no ambiente onde, por mais

    frequente que fosse, a homossexualidade era indizvel.

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    Alguns pontos que chamaram a ateno.

    a) As convergncias e divergncias da cena urbana, da poltica institucional e

    da construo de uma visibilidade pblica relacionadas ao afeto entre pessoas domesmo sexo, entre o contexto rosarino e o paulistano.

    b) Me incomoda um pouco a maneira como os termos pblicoe privadoso

    usados. Ainda que, na relao, eles paream exprimir de maneira tpico-ideal uma

    polaridade, me parece pouco preciso definir um lugar como um boliche como

    pblico ou privado. Me parece, olhando de outro modo, que ele pode ser ambos,

    pblico em um sentido, visto que seu acesso implica em visibilidade, e privado

    noutro, visto que seu acesso circunscrito a uma determinada clientela. Assim que,

    antropologicamente falando, me soa pouco rentvel essa postura de assumir as

    atribuies formais dadas aos espaos. Que convencionalmente um boliche um

    lugarprivado, no deveria ser suficiente para descrev-lo como tal.