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    Bioenergia

    BNDES Setorial 36, p. 119-178

    Bens de capital para o setor sucroenergtico:a indstria est preparada para atenderadequadamente a novo ciclo de investimentos em

    usinas de cana-de-acar?

    Marcelo Soares ValenteDiego NykoBrunno Luiz Siqueira Ferreira Soares dos ReisArtur Yabe Milanez*

    Resumo

    Apesar da estagnao dos investimentos do setor sucroenergtico, pro-jees oficiais da demanda por acar e etanol brasileiros indicam a ne-

    cessidade de implantao de quase 130 novas usinas at 2020-2021, o queequivale a esforo de investimento to ou mais desafiador do que o realizadona ltima dcada, quando foram inauguradas mais de cem novas usinas emcinco anos. Com base em pesquisa de campo com os principais fornece-dores de bens de capital sucroenergticos e grandes grupos de usinas, esteartigo tenta responder se o atual parque fabril de mquinas e equipamentos

    *

    Respectivamente, engenheiro, economista, estagirio e gerente do Departamento de Biocombustveisda rea Industrial do BNDES. Os autores agradecem os valiosos comentrios de Patrcia Zendron,assessora da Superintendncia da rea Industrial do BNDES.

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    Bensdecapitalparaosetorsucroenergtico:aindstriaestpreparadapara

    atenderadequadame

    nteanovociclodeinvestimentosemu

    sinasdecana-de-acar?

    120 para acar e etanol estaria em condies de atender retomada vigorosade investimentos em novas usinas sucroenergticas. Tambm so discutidaseventuais alternativas para reverter o atual quadro de estagnao de enco-

    mendas de bens de capital pelo setor sucroenergtico e promover o fortale-cimento dos fornecedores dedicados a esse setor.

    Introduo

    O crescimento do setor sucroenergtico coloca em movimento diversasatividades econmicas que orbitam em torno das usinas de cana-de-acar.Para que esse crescimento se viabilize, cada elo dessa cadeia produtiva devereunir as condies necessrias para atender demanda por seus produtos.O crescimento da ltima dcada, quando o setor praticamente duplicou sua

    produo, deu mostras de que seria possvel realizar nova e vigorosa roda-da de investimentos. No entanto, esse aparente sucesso ocultou percalosconsiderveis na execuo de muitos projetos.

    Naquele contexto, o segmento fornecedor1de mquinas e equipamen-tos agrcolas e industriais para a indstria sucroenergtica foi apontadocomo origem de problemas e, portanto, como possvel gargalo no caso de

    nova expanso da produo brasileira de acar, etanol e energia eltrica.Alguns dos principais clientes desse segmento indicaram como proble-mas os atrasos na entrega e a dificuldade de encontrar produtos dentro daespecificao desejada.

    Alm disso, a crise de investimentos pela qual passa o setor canavieiro,iniciada em 2009, no tem dado sinais de recuperao, estendendo perodode baixo volume de encomendas por novos equipamentos e, com isso, tem

    gerado conjuntura econmica adversa para vrios fabricantes.De outro lado, com base nas projees oficiais para os prximos anos

    de demanda por acar e etanol brasileiros, estima-se que seja necessria ainstalao de mais de cem novas usinas de cana-de-acar, o que equivalea um esforo de investimento to ou mais desafiador do que aquele empreendidoentre 2005 e 2009.

    1 Neste artigo, tanto fornecedor quanto fabricante so usados para designar os produtores demquinas e equipamentos agrcolas e industriais do setor sucroenergtico.

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    121Assim, com base nesse cenrio, este artigo busca mapear quais so,de fato, os principais problemas dos fornecedores de bens de capitalagrcolas e industriais, a dimenso dessa eventual fragilidade e, conse-

    quentemente, os impactos gerados na cadeia sucroenergtica. Em outraspalavras, busca-se responder seguinte questo: em que medida os for-necedores de mquinas e equipamentos para a indstria sucroenergtica

    podem representar obstculo para a retomada vigorosa de investimentosem novas usinas?

    A fim de responder a essa questo, o artigo est dividido em seis sees,incluindo esta introduo. Na seo seguinte, luz da cadeia produtiva do

    setor sucroenergtico, so feitos o recorte analtico e a caracterizao doobjeto estudado neste artigo: os fornecedores de mquinas e equipamentosagrcolas e industriais. So descritos os processos produtivos existentes nasusinas, bem como os principais equipamentos por elas utilizados. Essa des-crio facilita a anlise, j que os diferentes tipos de equipamentos e seusfornecedores tm caractersticas muito distintas entre si.

    Na terceira seo, realizada uma estimativa de investimentos neces-srios em novas usinas para os prximos anos. Essa estimativa baseia-se

    em projees oficiais de demanda feitas pelo governo federal. Os inves-timentos projetados, portanto, refletem o tamanho do desafio que se co-locaria para os fornecedores aqui estudados, caso as demandas projetadasse concretizassem.

    Na quarta seo, so apresentados os resultados de entrevistas realiza-das com os principais fornecedores e os principais grupos processadoresde cana do Brasil. Para os mais importantes equipamentos do processo

    agroindustrial das usinas, os entrevistados avaliaram o risco de no aten-dimento da demanda estimada na terceira seo. Com isso, possvelidentificar, na percepo dos entrevistados, os bens de capital que podemse tornar obstculos caso ocorra retomada vigorosa dos investimentos.Essa anlise feita por meio de trs indicadores: um para fornecedores,um para usinas e um geral.

    Em seguida, na quinta seo, so sugeridas possveis solues e alter-

    nativas para a mitigao dos problemas levantados. Por fim, a ltima seotraz as consideraes finais deste artigo.

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    sinasdecana-de-acar?

    122 A cadeia produtiva e o processo de produo do setorsucroenergtico2

    O setor sucroenergtico brasileiro3tem razes seculares, especialmente

    na produo de acar. Do perodo colonial aos dias atuais, o pas se con-sagrou como maior produtor e exportador mundial desse alimento. Atual-mente, as exportaes brasileiras de acar respondem por cerca de 50%do total das vendas mundiais.

    Figura 1 | A cadeia produtiva de cana-de-acar

    Indstria de mquinase implementos agrcolas

    Produtores decana-de-acar

    Indstria de insumosagrcolas

    Indstria de mquinas eequipamentos industriais

    (BC industrial)

    Distribuidores

    Industriaisde bebidas,cosmticos,qumica etc.

    Atacado

    Distribuidores

    Consumidorlivre

    Postos

    revendedores

    Varejo

    Indstria dealimentos e

    outras

    C

    O

    N

    S

    U

    M

    I

    D

    O

    R

    F

    I

    N

    A

    L

    Indstria deprocessamento

    da cana

    Etanol

    Acar

    Energiaeltrica

    Fonte: Elaborao prpria, com base em dados de Neves, Trombin e Consoli (2010).

    Apesar de sua liderana histrica na atividade aucareira, o setor su-croenergtico notabilizou-se recentemente por sua capacidade de produzir

    energia limpa em larga escala. O etanol de cana-de-acar e a bioeletrici-dade gerada com base no bagao de cana foram os grandes determinantes

    2 As tabelas relativas ao processo de produo do setor sucroenergtico foram de elaborao prpria, masbasearam-se fortemente na descrio do processo agroindustrial apresentada noManual de conservaoe reuso de gua da agroindstria sucroenergtica, de elaborao conjunta da Agncia Nacional deguas (ANA); do Ministrio do Meio Ambiente (MMA); da Federao das Indstrias do Estado de SoPaulo (Fiesp); da Unio da Indstria Canavieira (Unica); e do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC).3 O termo sucroenergtico s passou a ser usado recentemente para o setor, especialmente para destacarsua produo de etanol e de bioeletricidade, alm do j tradicional acar. Para os perodos anteriores,

    o uso desse termo pode representar certo anacronismo. Contudo, para simplicar a identicao dosetor a essas atividades produtivas, optou-se pelo uso de sucroenergtico indistintamente ao longode sua histria.

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    123das decises de investimento do setor na ltima dcada. Desse modo, astradicionais unidades processadoras de cana, alm de produzirem acar,

    passaram tambm a produzir etanol e bioeletricidade.

    Essa diversificao de produtos trouxe consigo mudanas importantespara o setor sucroenergtico. Acar, etanol e bioeletricidade fazem par-te de mercados essencialmente distintos entre si. Por conseguinte, foramagregados novos elos cadeia produtiva da cana-de-acar, notadamentea jusante das usinas. De maneira simplificada, a Figura 1 esboa a cadeia

    produtiva da cana-de-acar.

    Todos os elos a montante da usina de cana vertem direta ou indireta-mente para ela, ou seja, a usina o ncleo que concentra a utilizao dos

    insumos produzidos pelos elos anteriores. Entre esses elos, destacam-se aindstria de mquinas e implementos agrcolas4e a indstria de mquinase equipamentos industriais, que so foco deste artigo.

    A seguir, so apresentadas as etapas do processamento agroindustrial des-de a produo da cana-de-acar at a fabricao de seus principais produ-tos. nfase colocada na descrio de cada fase produtiva e nos principaisequipamentos e mquinas utilizados nesses diferentes processos.

    Fase agrcola

    A fase agrcola pode ser resumida em seis etapas: (1) planejamento;(2) preparo; (3) plantio; (4) cultivo; (5) colheita; e (6) transporte. Veri-fica-se que as etapas de planejamento, preparo, cultivo e transporte somais gerais e, portanto, com prticas mais semelhantes s utilizadas emoutras culturas. J nas fases de plantio e colheita, encontram-se mtodose procedimentos mais especficos da cultura da cana-de-acar, assimcomo as principais mquinas e equipamentos utilizados. O fluxogra-ma de produo referente fase agrcola apresentado na Figura 2. As

    principais etapas e os equipamentos envolvidos nessa fase de produoesto descritos na Tabela 1.

    4 Para a produo de cana-de-acar, alguns insumos agrcolas so essenciais, como os fertilizantes,defensivos, combustveis e lubricantes. A essa mesma denominao, Neves, Trombin e Consoli (2009)agregam as mquinas e os equipamentos agrcolas, como as colhedoras, os tratores, os caminhes e os

    implementos. Contudo, como o foco aqui recai sobre os fornecedores de mquinas e equipamentos parao setor sucroenergtico, optou-se pela segregao entre a indstria de insumos agrcolas e a indstriade mquinas e implementos agrcolas.

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    124 Figura 2 | Fluxograma dos processos agrcolas

    Planejamento Preparo Plantio

    Cultivo Colheita Transporte

    Fonte: BNDES.

    Tabela 1 | Principais etapas e equipamentos da fase agrcola

    Etapas Principais atividades Principais equipamentosutilizados

    PLANEJAMENTO

    Escolha dos principais componentes daproduo: variedades adequadas, adubos,defensivos, fertilizantes, alm de mquinas,equipamentos e servios

    Estimativa de custo de implantao e

    elaborao de cronogramafsico-financeiro

    Levantamento topogrfico da rea eelaborao de mapa georreferenciado,com a utilizao de tecnologia GPS

    Sistema de Posicionamento Global(GPS); Sistemas de InformaesGeogrficas (GIS); tratores

    Amostragem do solo: realizao de anlisesfsico-qumicas, com recomendao doscorretivos e fertilizantes

    Nas reas de expanso e reforma, as culturaspassam por processo de dessecao, com

    utilizao de instrumentos especficos

    Pulverizadores; pontas depulverizao; tratores

    A partir do mapa georreferenciado, feitoplanejamento virio e conservacionistado solo

    PREPARO

    Gradagem: objetiva eliminar soqueiras,pastagens e compactao superficial dosolo e melhorar a arao e a infiltraode gua

    Implemento: grades aradoras com16 a 20 discos de 30 ou 32;tratores de pneus ou esteiras

    Correo: aplicao de calcrio comocorretivo, visando adequar o pH do solo, almde fonte de clcio e magnsio para cana

    Implementos: aplicadoresespalhadores

    Continua

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    125Continuao

    Etapas Principais atividades Principais equipamentosutilizados

    PREPARO

    Arao ou subsolagem: objetiva a

    descompactao total do solo, melhorandoa capacidade de infiltrao e reteno degua e a formao das razes das plantas

    Implementos: subsoladores; hastes

    de 50 cm; tratores

    Adubao: objetiva a recomposio dafertilidade do solo, com a utilizaode macro e micronutrientes, alm defertilizantes orgnicos advindos do

    processo industrial, tais como a vinhaa ea torta de filtro

    Implemento: sulcador adubadorcom bico tipo beija-flor; carretas

    para aplicao torta de filtro;tratores

    PLANTIO

    No caso de plantio mecanizado tendncia para o futuro , utiliza-semquina especfica plantadora, que,abastecida das gemas, abre o sulco, dosa oadubo, distribui os toletes com trs gemas(de vinte a 25 por metro linear), aplica odefensivo agrcola (fungicida) e finalizacom o cobrimento das mudas

    Mquinas plantadoras

    Para tanto, a plantadora recebe as mudasde cana do viveiro, que foram colhidasmecanicamente por colhedoras adaptadas,inclusive com kitde emborrachamento

    para no danificar as gemas

    Mquina colhedora adaptada paracolheita de gemas

    CULTIVO

    Fertiirrigao: realizada em reas maisprximas das usinas, que so preparadaspara receber vinhaa e guas residuais. Tempor principal objetivo fornecer a quantidadeadequada de potssio no solo para a lavoura

    Implementos: aspersores tipocanho; motobombas; tubulaes

    para irrigao; pulverizadores;carretas; tratores; caminhes-tanque

    Controle de plantas invasoras e de pragaspara a cana-de-acar. No primeiro caso,so utilizados herbicidas que so aplicados

    por pulverizadores acoplados a tratores.Para o segundo caso, so utilizadosinseticidas, ou controles biolgicos emecnicos variados

    Implementos: pulverizadores;tratores

    Rotao de culturas e adubao verde:objetiva alternar o ciclo da cana comoutras culturas (em geral, leguminosas), emmdia a cada quatro anos, com a reformado canavial. Com isso, quebra-se o ciclode algumas pragas, fixa-se nitrognio aosolo, incorpora-se material orgnico egera-se receita com a venda de gros

    Implementos: grades aradoras;pulverizadores; tratores

    Continua

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    Etapas Principais atividades Principais equipamentosutilizados

    COLHEITA

    Controle de maturao: objetiva obter

    o teor mximo de sacarose da cana,adiantando ou retardando seu processofisiolgico natural de maturao, a

    partir de amostragens e anlises da canafeitas no campo, com a pulverizao doscanaviais, com maturadores qumicos

    Implementos: pulverizadores;

    avies agrcolas

    Colheita mecanizada: realizada emterrenos com menos de 12% deaclive, com mquinas especializadasdenominadas colhedoras, que tm

    propulso prpria e dois extratoresde palha. Nesse caso, a cana jvem picada, com o carregamentofeito concomitantemente com adescarregamento diretamente noscaminhes para o transporte, ou emunidades de transbordo acopladas atratores. Cabe salientar que o foco doartigo a colheita mecanizada, pois esta a tendncia econmica e, at mesmo legal,em relao ao setor. Dessa forma, apenasessa modalidade ser tratada no presenteartigo

    Mquinas colhedoras; unidades detransbordo; tratores; caminhes

    TRANSPORTE Carregamento e transporte da cana para

    a usina, sendo realizadas por unidadestransportadoras compostas de cavalomecnico, carretas e caminhes

    Carretas: no caso de cana picada(colheita mecnica), carroceria tipogaiola;cavalos mecnicoscaminhes: Romeu e Julieta;rodotrens (duas carretas); treminho(mais de duas carretas)

    Fonte: Elaborao prpria, com base em dados de Agncia Nacional de guas (2009).

    Fase industrial

    A fase industrial pode ser resumida em nove etapas, descritas no fluxo-grama da Figura 3. As etapas iniciais, que vo da recepo, preparo, ex-trao at o tratamento do caldo, so comuns tanto fabricao do acarquanto do etanol. E, logo depois da etapa de extrao do caldo, o bagaoali gerado direcionado para as caldeiras para ser queimado, a fim de ser

    produzida a energia eltrica, no s para a exportao para a rede pblica(cogerao), como tambm para alimentar todo o processo produtivo inclusive, tambm, com a energia mecnica e trmica, onde tais formas

    forem requeridas na etapa industrial da usina. As principais etapas e osequipamentos envolvidos nessa fase de produo esto descritos na Tabela 2.

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    127Figura 3 | Fluxograma dos processos industriais

    Recepo Preparo Extrao

    do caldoProduo de

    energia

    Rede

    Tratamento docaldo

    Fabricao deacar

    Fabricao deetanol

    Estocagem

    Tancagem

    Para oprocesso

    Fonte: BNDES.

    Tabela 2 | Principais etapas e equipamentos da fase industrial

    Etapas Principais atividades Principais equipamentosutilizados

    RECEPO

    Chegada da cana na usina Caminhes diversos

    Pesagem dos caminhes, antes e depois dedescarregamento da cana

    Balanas eletrnicas

    Retirada de amostras de cana de algunscaminhes, para determinar a quantidade deacar total recupervel (ATR)

    Sondas oblquas ehorizontais

    Descarregamento da cana: (i) se for cana inteira,proveniente de corte manual, por meio deguindaste tipo Hillo, nas mesas alimentadoras;e (ii) se for cana picada, proveniente de colheitamecnica, por meio de travs de tombador

    hidrulico para o basculamento de caminhes

    Guindastes tipo Hillos;mesas alimentadoras;tombador hidrulico;esteiras

    Continua

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    Etapas Principais atividades Principais equipamentosutilizados

    RECEP

    O Lavagem da cana: (i) se inteira, pode ser lavada

    com gua; (ii) se picada, tem de ser lavada a seco,com sopragem de ar, para evitar perda grande decaldo

    Peneiras; sopradores

    PREPARO

    Nivelamento: a cana limpa segue pela esteirametlica, onde passa por equipamento que tem

    por finalidade regularizar a distribuio da canano condutor e nivelar a camada a uma medidacerta e uniforme, evitando problemas no trabalhodas facas que fazem parte do equipamento da

    etapa seguinte

    Niveladores

    Picamento: a cana passa, ento, por equipamentoque dispe de um jogo de facas oscilantes para

    picar a cana em pedaos menores

    Picadores

    Desfibramento: a cana picada desfibrada emequipamento que dispe de martelos oscilantes,denominado desfibrador

    Desfibrador

    Retirada de materiais ferrosos: como nessepercurso podem ficar pedaos de metal de etapasanteriores, feita antes de seguir para a prxima

    fase de extrao

    Eletroms

    EXTRAODOCALDO

    Na extrao, dois processos, mutuamenteexclusivos, podem ser utilizados

    Moagem: a cana pr-tratada passa por trs rolosde esmagamento chamados ternos. Em geral,as moendas tm de quatro a sete ternos. Depoisdo primeiro terno, a maior quantidade do caldo extrada (cerca de 60%), obtendo-se o caldo

    primrio; a seguir, a massa resultante embebidaem gua, para facilitar a retirada do restante do

    caldo (misto); depois passa pelo segundo terno,at chegar ao terno final, depois do qual o bagaoresultante encaminhado por meio de esteiras

    para as caldeiras, para a produo de energia

    Moendas

    Difuso: a extrao no feita por esmagamento,mas sim por meio de um processo de lixiviao(ou lavagem) em contracorrente da camada decana desfibrada, com cerca de 13 recirculaesdo caldo. No fim do processo, a cana ainda passa

    por um conjunto de moendas, a fim de retirar ocaldo final

    Difusores

    Continua

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    129Continuao

    Etapas Principais atividades Principais equipamentosutilizados

    TRATAMENT

    ODOCALDO

    Sulfitao: consiste na absoro do SO2(anidrido

    sulforoso) pelo caldo, em contracorrente com oSO

    2gasoso proveniente da queima do enxofre

    em fornos, sendo realizado no sulfitador.Objetiva inibir reaes que causam a formaode cor; propiciar a coagulao de coloidessolveis, diminuir a viscosidade do caldo e,consequentemente, do xarope, massas cozidase mis, facilitando as etapas posteriores deevaporao e cozimento

    Sulfitadores

    Caleao: realizada em tanques apropriados,

    a caleao consiste na adio do leite de Cal(Ca(OH)) ao caldo, elevando seu pH. Essaneutralizao tem por objetivo a eliminao decorantes, a neutralizao de cidos orgnicos e aformao de sulfito e fosfato de clcio, produtosestes que, ao sedimentarem, arrastam consigoimpurezas presentes no lquido

    Caleadores

    Aquecimento: o caldo aquecido a cerca de105 graus, com a finalidade de acelerar e facilitara coagulao e a floculao de coloides, e noacares proteicos, emulsificar graxas ou ceras,ou seja, acelerar o processo qumico, aumentandoa eficincia da decantao

    Aquecedores

    Clarificao (decantao): a etapa depurificao do caldo pela remoo das impurezasfloculadas nos tratamentos anteriores. Esse

    processo realizado de forma contnua emequipamento denominado clarificador oudecantador. O caldo decantado retirado da

    parte superior de cada compartimento e enviadoao setor de evaporao para concentrao. As

    impurezas sedimentadas constituem o lodo, quenormalmente retirado do decantador pelo fundoe enviado ao setor de filtrao, para recuperaodo acar, que ainda ser utilizado posteriormente

    Decantadores

    Filtrao: visa recuperar o acar contido,fazendo com que este retorne ao processo naforma de caldo filtrado. Esse processo feito coma utilizao de um filtro rotativo a vcuo para aextrao do caldo e tem como resduo a chamadatorta de filtro, que enviada lavoura para ser

    utilizada como fertilizante no solo

    Filtro rotativo a vcuo

    Continua

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    sinasdecana-de-acar?

    130 Continuao

    Etapas Principais atividades Principais equipamentosutilizados

    FABRICA

    ODEACAR

    Evaporao: o caldo clarificado submetido a

    processo de concentrao por meio da eliminaoda gua, cuja primeira etapa realizada nosevaporadores, que operam de forma contnua.Os evaporadores so formados por caixas,normalmente em nmero de quatro ou cinco,ligadas em srie, de maneira que o caldo sofreuma concentrao progressiva da primeira ltima, quando recebe a denominao de xarope

    Pr-evaporadores;

    evaporadores

    Cozimento: nesta etapa, so formados oscristais de acar, em virtude da precipitaoda sacarose dissolvida na gua. Para tanto, so

    utilizados equipamentos denominados cozedores,semelhantes s caixas dos evaporadores, quetrabalham individualmente sob vcuo, de formadescontnua ou contnua. A evaporao da guad origem a uma mistura de 50% de cristaisenvolvidos em mel (soluo aucarada), querecebe o nome de massa cozida

    Cozedores

    Cristalizao: a massa cozida descarregada noscristalizadores tanques em forma de U dotadosde agitadores , onde vai ocorrer o resfriamentolento, geralmente com auxlio de gua ou ar. Essaoperao visa recuperar parte da sacarose queainda se achava dissolvida no mel

    Cristalizadores

    Centrifugao: a massa cozida e resfriada segue,ento, para as centrfugas, as quais consistem deum cesto perfurado, fixado a um eixo e acionado

    por um motor que o gira a alta velocidade. A aoda fora centrfuga faz com que o mel atravesseas perfuraes da tela do cesto, ficando retidos,em seu interior, somente os cristais de sacarose.O mel removido coletado em um tanque e

    retorna aos cozedores para recuperao do acardissolvido ainda presente. A partir desse ponto, omel passa a ser denominado mel final ou melao e enviado para a fabricao de lcool

    Centrfugas de acar

    Secagem: O resfriamento e a secagem do acarso realizados em secador rotativo, que consisteem um tambor metlico atravs do qual passa,em contracorrente com o acar, um fluxo de arsuccionado por um exaustor. Ao deixar o secador,o acar est pronto para ser enviado ao ensaque

    Secadores

    Continua

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    131Continuao

    Etapas Principais atividades Principais equipamentosutilizados

    FABRICAODE

    ACAR

    Ensacamento: o acar , ento, recolhido a

    uma moega com fundo afunilado, que o despejade forma descontnua, diretamente no sacolocalizado em cima de uma balana, realizando,

    portanto, a operao de ensaque e pesagem.Mquinas de costura industriais realizam ofechamento do saco, que, ento, est pronto paraa armazenagem. No caso de acar a granel, estesegue do secador atravs de esteiras, para um siloarmazenador com balana de pesagem em linha

    Ensacadoras; silos;

    balanas

    FABRICAODEETANO

    L

    Preparo do mosto: o mosto uma mistura

    aucarada utilizada na fermentao alcolica eque dar origem ao lcool. composto de misturacontendo caldo primrio e misto, j previamentetratados, e de mel e melao, provenientes de

    processos paralelos oriundos da fabricao doacar, e gua

    Fermentao: o processo mais utilizado nasdestilarias brasileiras o Melle-Boinot, cujacaracterstica principal a recuperao deleveduras por meio da centrifugao do vinho. na fase de fermentao que os acares contidos

    no mosto so transformados em lcool. Asreaes ocorrem em tanques apropriadores. Osacares (sacarose), em contato com as leveduras,nas dornas so, ento, transformados em lcool

    Fermentadores (dornas);centrfugas de lcool(leveduras)

    Destilao: o vinho que vem da fermentaotem, em sua composio, 7GL a 10GL (% emvolume) de lcool, alm de outros componentesde natureza lquida, slida e gasosa. O lcool ento recuperado pela destilao, processoque se utiliza dos diferentes pontos de ebulio

    das diversas substncias volteis presentes,separando-as. A operao realizada com auxliode sete colunas de destilao distribudas emquatro troncos: destilao propriamente dita,retificao, desidratao e debenzolagem. Desse

    processo, um dos principais subprodutos avinhaa, retirada na proporo aproximada de13 litros para cada litro de lcool produzidoe utilizada principalmente na lavoura comofertilizante. O processo pode prosseguir visando produo do etanol anidro (99,3 INPM), pormeio de sua desidratao em coluna adicional

    Destilarias

    Continua

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    atenderadequadame

    nteanovociclodeinvestimentosemu

    sinasdecana-de-acar?

    132 Continuao

    Etapas Principais atividades Principais equipamentosutilizados

    FABRICAO

    DEETANOL

    Tancagem: os lcoois produzidos, hidratado,

    anidro e industrial, so quantificados por meiode medidores de vazo ou tanques calibradose so enviados para armazenagem em tanquesespecficos de grande volume, situados em

    parques de tanques, onde aguardam suacomercializao e posterior remoo porcaminhes

    Tanques

    PRO

    DUO

    DEENERGIA

    Produo de energia trmica, mecnica e eltrica,no s para alimentar todo o processo produtivo,na fase industrial de produo de acar e lcool,como tambm para a exportao de energia

    eltrica para a rede, por meio da queima dobagao de cana, oriundo da extrao do caldo nasmoendas ou difusores

    Caldeiras; turbinas;redutores; geradores;motores de grande porte;subestaes

    Fonte: Elaborao prpria, com base em dados de Agncia Nacional de guas.

    A partir dos oramentos de importantes empresas do mercado de forne-cimento de bens de capital, de servios de engenharia e de acar e etanol,so apresentados, por ordem decrescente dos custos (includos os serviosassociados implantao e impostos), os principais equipamentos que com-

    pem a planta completa de processamento de cana-de-acar, considerando-sedois casos:

    1) Usina para produo apenas de etanol, implantada no Centro-Oeste,com capacidade de processamento anual de quatro milhes de tone-ladas de cana-de-acar.

    Quadro 1 | Investimentos em equipamentos agrcolas e industriais emgreenfield(s etanol) de quatro milhes de toneladas de cana-de-acar

    Subsistemas Equipamentos Valor mdio

    (R$ milhes)

    %

    Cogerao/energia Caldeiras 135 18,3Fbrica de etanol Destilariascolunas de destilao

    (vinho e desidrat. lcool)100 13,5

    Diversos Tubulaes, bombas e motores 80 10,8Extrao do caldo Moendas ou difusores 75 10,1Cogerao Subestaes 45 6,1Agrcola Caminhes, tratores e implementos

    agrcolas44 6,0

    Estocagem etanol Tancagens (preparo de mosto, lcool

    hidrat., anidro e neutro)

    44 6,0

    Continua

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    |

    Bioenergia

    133Continuao

    Subsistemas Equipamentos Valor mdio(R$ milhes)

    %

    Agrcola Plantadoras, colhedoras e transbordos 39 5,3

    Cogerao Turbinas 33 4,5

    Fbrica de etanol Fermentadores (dornas) 27 3,7

    Fbrica de acar/etanol

    Evaporadores/cozedores/cristalizadores/secadores/ensacadores

    25 3,4

    Recepo Esteiras (borracha, metal, acar,bagao, gerais) / mesas alimentadoras

    24 3,2

    Cogerao Geradores 14 1,9

    Tratamento docaldo

    Decantadores/aquecedores/sulfitadores/flotadores

    12 1,6

    Fbrica de etanol Centrfugas de lcool 11 1,5

    Preparo Niveladores/picadores/desfibradores 10 1,4

    Cogerao Motores (grande porte ) 9 1,2

    Tratamento docaldo

    Filtro rotativo a vcuo 8 1,1

    Cogerao Redutores 4 0,5

    Fbrica de acar Centrfugas de acar 0 0,0

    Total 739 100,0

    Fonte: Elaborao prpria, com base em informaes disponibilizadas por empresas de engenharia,bens de capital e grupos usineiros.

    Neste caso, a estimativa de custo total dessa usina greenfield deR$ 739 milhes. Os principais gastos de equipamentos envolvem aaquisio de: (1) caldeiras, no valor de R$ 135 milhes (18,3% do total);(2) destilarias, no valor de R$ 100 milhes (13,5%); (3) tubulaes, novalor de R$ 80 milhes (10,8%); e (4) moendas ou difusores, no valor de

    R$ 75 milhes (10,1%), correspondendo tais equipamentos a 53% docusto total; os restantes 47% do custo esto distribudos pelos demaisequipamentos descritos no Quadro 1.

    2) Usina para produo de etanol (mixde 60% do caldo) e acar (mixde40%), implantada no Centro-Oeste, com capacidade de processamentoanual de quatro milhes de toneladas de cana-de-acar.

    Neste caso, a estimativa de custo total dessa usina greenfield deR$ 817 milhes. Os principais gastos de equipamentos envolvem a

    aquisio de: (1) caldeiras, no valor de R$ 135 milhes (16,5% do to-tal); (2) evaporadores, cozedores e outros, no valor de R$ 125 milhes

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    sinasdecana-de-acar?

    134 (15,3%); (3) diversos tubulaes, bombas e outros , no valor deR$ 90 milhes (11,0%); (4) moendas ou difusores, no valor de R$ 75milhes (9,2%); (5) destilarias, no valor de R$ 70 milhes (8,6%), cor-

    respondendo tais equipamentos a 61% do custo total. Os restantes 39%esto distribudos pelos demais equipamentos descritos no Quadro 2.

    Quadro 2 | Investimentos em equipamentos agrcolas e industriais emgreenfield(etanol e acar) de quatro milhes de toneladas de cana-de-acar

    Subsistemas Equipamentos Valor mdio(R$ milhes)

    %

    Cogerao/energia Caldeiras 135 16,5

    Fbrica de acar/etanol

    Evaporadores/cozedores/cristalizadores/secadores/ensacadores

    125 15,3

    Diversos Tubulaes, bombas e motores 90 11,0

    Extrao do caldo Moendas ou difusores 75 9,2

    Fbrica de etanol Destilariascolunas de destilao(vinho e desidrat. lcool)

    70 8,6

    Cogerao Subestaes 55 6,7

    Agrcola Caminhes, tratores e implementosagrcolas

    44 5,4

    Agrcola Plantadoras, colhedoras e transbordos 39 4,8

    Cogerao Turbinas 33 4,0

    Recepo Esteiras (borracha, metal, acar,bagao, gerais)/mesas alimentadoras

    24 2,9

    Fbrica de acar Centrfugas de acar 23 2,8

    Estocagem etanol Tancagens (preparo de mosto, lcoolhidrat, anidro e neutro)

    20 2,4

    Tratamento do caldo Decantadores/aquecedores/sulfitadores/flotadores

    16 2,0

    Fbrica de etanol Fermentadores (dornas) 16 2,0

    Cogerao Geradores 14 1,7

    Preparo Niveladores/picadores/desfibradores 10 1,2

    Cogerao Motores (grande porte) 9 1,1

    Tratamento do caldo Filtro rotativo a vcuo 8 1,0

    Fbrica de etanol Centrfugas de lcool 7 0,9

    Cogerao Redutores 4 0,5

    Total 817 100,0

    Fonte: Elaborao prpria, com base em informaes disponibilizadas por empresas de engenharia,bens de capital e grupos usineiros.

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    135Esse quadro oramentrio indica, portanto, um nvel de investimentoem relao capacidade instalada de moagem de cerca de R$ 200 portonelada de cana processada (TCP). De acordo com Milanez et al.

    (2012), os valores praticados na safra 2007-2008, no incio do ltimociclo de investimentos do setor, giravam em torno de R$ 150/TCP.Esse aumento de mais de 30% pode ser explicado, segundo boa partedos fabricantes entrevistados, principalmente em funo do aumentodas despesas com mo de obra. Isso decorreria do fato de que, como

    boa parte dos bens de capital sucroenergticos so feitos sob encomen-da, o espao para automatizao relativamente baixo, o que expeos fabricantes aos reajustes salariais anuais negociados nos dissdios

    coletivos da classe metalrgica. Para alguns bens, a participao damo de obra chega a 40% do custo total do equipamento.

    Histrico recente e perspectiva de demanda por bens decapital sucroenergticos

    Foram vultosos os investimentos realizados pelas empresas do setorsucroenergtico na ltima dcada. O Grfico 1 mostra o nmero de novas

    usinas que entraram em operao no Brasil entre 2005 e 2011.Grfico 1 | Nmero de novas usinas entrando em operao

    35

    30

    25

    20

    15

    10

    5

    0

    2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

    9

    19

    25

    33

    21

    10

    5

    Fonte: Elaborao prpria, com base em dados de EPE (2012) e Unica.

    interessante observar que o principal determinante dos investimentosnesse perodo foi o mercado de etanol combustvel. O surgimento da tecno-

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    sinasdecana-de-acar?

    136 logia de motores flexveis recuperou a confiana do consumidor brasileiro,5o que impulsionou as vendas de veculos flexe, consequentemente, a de-manda potencial por etanol. Diante desse novo contexto, os investidores

    formaram expectativas positivas para o futuro do mercado, desencadeandouma srie de decises de investimento entre 2003 e 2008.

    No total, 122 novas usinas processadoras de cana-de-acar iniciaramsuas operaes, o que equivale a uma mdia de cerca de 17 unidades porano. digno de nota o expressivo contedo local do setor sucroenergtico.Tendo como referncia o perodo entre 1996 e 2006, Varrichio (2012) de-monstra que o valor adicionado localmente por essa cadeia produtiva foimuito maior do que o da aeronutica, maior do que o da petroqumica e da

    mesma magnitude do da automobilstica.6

    De fato, a expanso do setor ge-rou efeitos positivos em diversos elos da cadeia sucroenergtica, como nosegmento fornecedor de mquinas e equipamentos agrcolas e industriais.Em Neves, Trombin e Consoli (2009), estima-se que esse segmento tenhafaturado cerca de US$ 9,1 bilhes em 2008,7o que representou 10,5% dareceita bruta da cadeia da cana naquele ano.

    Diante desses nmeros, Varrichio (2012) avista indcios de perspectivaspositivas para o pas, principalmente se consolidada, no longo prazo, a inser-

    o internacional dessa cadeia. A tarifa norte-americana sobre a importaode etanol foi extinta recentemente, o que representa mais um passo rumo formao de um mercado mundial para o produto. Tal fato abre mais espa-o para que outros pases, principalmente os africanos e latino-americanos,

    passem tambm a produzir etanol. Esses movimentos, por sua vez, criammaiores oportunidades de exportao de mquinas e equipamentos produ-zidos no Brasil.

    5 Em muitas ocasies durante o Prolcool, o proprietrio de veculos dedicados exclusivamente aetanol enfrentou diculdades de abastecimento desse biocombustvel, o que abalou sua conananaquela tecnologia. Como resultado, os automveis capazes de rodar unicamente com etanol deixaramgradativamente de ser produzidos.6 Para vericar o valor adicionado pela cadeia sucroenergtica, a autora utiliza como indicador ovalor de transformao industrial disponvel na Pesquisa Industrial Anual do IBGE. Para se ter umaideia dos valores envolvidos, em 2006 a cadeia sucroenergtica apresentou VTI de R$ 18,18 bilhes; aaeronutica, R$ 3,42 bilhes; a petroqumica, R$ 12,32 bilhes; e a automobilstica, R$ 18,46 bilhes.7 No estudo, assim como feito para as mquinas e implementos agrcolas, os autores denominam osegmento industrial de insumos industriais, incorporando construo civil, produtos qumicos, leocombustvel e lubricantes, sacarias etc. Contudo, optou-se aqui por considerar apenas as indstrias

    de fornecedores de mquinas e equipamentos e os servios de montagem e manuteno associados.Ressalta-se ainda que no h dados nem estudos mais recentes que objetivam estimar o PIB do setorsucroenergtico.

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    137No longo prazo, pode-se at mesmo vislumbrar maior internacionaliza-o de parte desses fornecedores, seja pelo aumento de suas exportaes,seja pelo estabelecimento de unidades no exterior, visto que a competiti-

    vidade de seus produtos est associada qualidade do servio ps-venda.Logo, haveria necessidade de estabelecer e manter ao menos esse servioprximo aos novos clientes.

    Apesar dessas perspectivas otimistas, o cenrio atual desanimador. Asdecises de investimentos em novas usinas encerraram-se com a crise finan-ceira internacional de 2008-2009. Desde ento, as unidades que entraram emoperao foram frutos de decises tomadas antes da deflagrao da crise.8

    Esse cenrio de estagnao de investimentos, iniciado em 2009, implicou

    um perodo de escassez de demanda por bens de capital sucroenergticosque, caso no haja mudana do cenrio no curto prazo, alcanar perodo de

    pelo menos cinco anos. A atual carteira de projetos do BNDES, por exemplo,indica que apenas duas novas usinas iniciaro moagem na safra 2012-2013e outras duas unidades na safra 2013-2014. Para a safra 2014-2015, aindano h projeto de novas usinas na carteira do BNDES.

    Conforme discutido em mais detalhes nas prximas sees, a reduodas vendas de bens de capital agrcolas e industriais para o setor sucroener-gtico vem provocando diversos efeitos sobre a indstria de fornecedores,tais como elevado nvel de ociosidade, necessidade de reduo de pessoale ainda um movimento mais intenso de diversificao de mercados.

    Por outro lado, as vendas de veculosflexno pararam de crescer. A de-manda potencial por etanol continuou e continuar crescente nos prximosanos, na medida em que continue crescendo a participao desses veculosna frota total de veculos leves do Brasil. Brasil/EPE (2011) estima que a

    demanda por etanol crescer em 50,7 bilhes de litros at a safra 2020-2021.Por sua vez, a demanda por acar tambm apresentar crescimento, ain-

    da que com taxas menores. Segundo projees de Brasil (2011), o consumodomstico e externo de acar brasileiro dever crescer em 13,6 milhes detoneladas at a safra 2020-2021.

    Nesse cenrio de demanda crescente pelos principais produtos do setor,espera-se nova onda de investimentos para os prximos anos. Com base nas

    8 Para mais detalhes sobre a retrao dos investimentos no setor e suas possveis causas, ver Milanezet al.(2012).

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    sinasdecana-de-acar?

    138 projees de demanda realizadas em Brasil (2011) e em Brasil/EPE (2011),realizou-se estimativa do nmero de usinas necessrias para atender a essademanda adicional at a safra 2020-2021.9Para isso, foram consideradas

    as seguintes premissas tcnicas: consumo mdio de ATR (em quilos) para produzir um quilo de acar

    igual a 1,0495;

    consumo mdio de ATR (em quilos) para produzir um litro de etanolanidro igual a 1,7492;

    consumo mdio de ATR (em quilos) para produzir um litro de etanolhidratado igual a 1,676;

    produtividade agrcola mdia igual a oitenta toneladas de cana por hectare;

    mixde produo de etanol de 30% para anidro e 70% para hidratadodurante todo o perodo;

    produtividade mdia de 140,5 quilos de ATR por tonelada de cana; e

    capacidade instalada das usinas existentes suciente at a safra 2013--2014, quando as novas unidades deveriam comear a entrar em operao.

    Estima-se que 134 novas usinas, com capacidade de moagem de quatromilhes de toneladas de cana cada, sejam necessrias para atender demanda

    projetada para os prximos anos. Isso equivale a cerca de 17 unidades porsafra a partir de 2013-2014, quando a capacidade produtiva instalada deixa-ria de ser suficiente para atender demanda projetada para acar e etanol.

    Para atingir tais nmeros, o esforo de investimentos nos prximos anosdeve ser maior do que aquele j realizado pelas empresas do setor na d-cada passada. Em termos de capacidade instalada de moagem e de novasreas de colheita, teriam de ser adicionados, respectivamente, 536 milhesde toneladas de cana e 7,2 milhes de hectares para cultivo entre as safras2014-2015 e 2020-2021.10A ttulo de comparao, o setor colheu cerca de230 milhes de toneladas a mais e incorporou produo 3,2 milhes dehectares entre as safras 2005-2006 e 2010-2011, quando foi atingido seurecorde histrico de produo.11

    9 Ressalta-se, contudo, que no objetivo deste artigo discutir as projees de Brasil (2011) e Brasil/EPE (2011). Essas estimativas ociais so usadas unicamente como cenrio referencial (premissas) paraa avaliao das condies de oferta dos fabricantes de bens de capital sucroenergticos.10 A estimativa de capacidade instalada de moagem para a safra 2010/2011 foi de setecentos milhesde toneladas, com base em dados utilizados em Milanez et al.(2012), e a estimativa de rea colhidacom cana-de-acar no mesmo perodo foi de cerca de 9,1 milhes de hectares, conforme dadosdisponibilizados pela Unica em seu stio eletrnico.11 Conforme dados disponibilizados pela Unica em seu stio eletrnico.

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    Bioenergia

    139Assim, diante desse cenrio referencial, fica a dvida: o atual parquefabril de mquinas e equipamentos agrcolas e industriais para o setor su-croenergtico estaria em condies de atender a novo e vigoroso ciclo de

    investimentos de seus clientes? Essa a questo a que a prxima seoprocura responder.

    Os fornecedores de bens de capital e sua capacidade deatender expanso projetada do setor sucroenergtico

    Metodologia

    Para responder a essa questo, foram realizadas entrevistas com 24 for-

    necedores de bens de capital para o setor sucroenergtico. Alm disso, foramentrevistados tambm representantes de seis grandes grupos processadoresde cana-de-acar, o que permitiu anlise comparativa entre a viso dos

    principais demandantes e a dos principais fabricantes de bens de capitalpara o setor sucroenergtico.

    No que se refere qualidade da amostra, pode-se dizer que ambos osgrupos respondentes so representativos de seus segmentos. No caso dasusinas, os seis grupos entrevistados tinham, na safra 2011-2012, capacidade

    de moagem de quase duzentos milhes de toneladas de cana, o que equiva-le a cerca de 30% da capacidade total do setor naquela safra. Ademais, porestarem entre os grupos de maior moagem do setor, essas usinas foram esero lderes na construo de novas unidades, o que torna ainda mais re-levante essa contribuio amostral.

    Do lado dos fabricantes, entre os entrevistados esto os principais fa-bricantes de bens de capital sucroenergticos. A seleo dos entrevistados

    contou com o auxlio da Associao Brasileira de Mquinas e Equipamen-tos (Abimaq), que tambm colaborou por meio da disponibilizao de in-fraestrutura para acomodar as reunies presenciais em Sertozinho e SoPaulo. Alm de contar com os principais fornecedores, a amostra tambmcontemplou a maioria dos subsistemas da agroindstria canavieira, confor-me evidencia o Quadro 3.

    Nessas entrevistas, foram buscadas informaes que indicassem pos-sveis gargalos de fornecimento de mquinas e equipamentos no cenrio

    hipottico de forte recuperao dos investimentos nos prximos anos, talcomo aventado na seo anterior.

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    atenderadequadame

    nteanovociclodeinvestimentosemu

    sinasdecana-de-acar?

    140 Quadro 3 | Distribuio dos fabricantes entrevistados segundo seu principalmercado de atuao

    Etapa Subsistema de produo Nmero de empresas

    Agrcola Plantio/colheita 3Industrial Recepo/preparo 3

    Industrial Extrao e tratamento do caldo 5

    Industrial Fabricao de acar e etanol 6

    Industrial Cogerao 5

    Industrial Outros 2

    Total 24

    Fonte: BNDES.

    Os entrevistados avaliaram cada grupo de equipamentos considerado deacordo com quatro critrios (ou caractersticas) que, isoladamente ou rela-cionando-se entre si, podem representar riscos para a cadeia sucroenergticano que tange ao fornecimento de bens de capital em eventual retomada dosinvestimentos. Os quatro critrios de avaliao so os seguintes:

    1) Especicidade (ativo especco):procura aferir at que ponto deter-

    minado equipamento exclusivo/especco do setor sucroenergtico,

    o que poderia dicultar a substituio/entrega por empresas que, emprincpio, no sejam fornecedoras tradicionais do setor.

    2) Capacidade de entrega:avalia em que medida determinado equi-

    pamento teria restries de capacidade instalada de produo para

    atender ao cenrio hipottico de forte expanso das usinas de cana.

    3) Nmero de fornecedores: quantica o nmero de fornecedores de

    determinado equipamento. Considera-se o nmero baixo quando os

    fornecedores forem, no mximo, cinco; mdio, quando estiverem

    entre cinco e dez; e alto, quando forem acima de dez.12

    4) Dependncia do setor: procura identicar at que ponto os for-

    necedores de determinado equipamento so dependentes do setor

    12 Ressalva-se que o nmero de fornecedores pode ser um indicativo do grau de concentrao dedeterminado mercado. Ressalva-se ainda que para muitos equipamentos, as empresas compradorasarmaram existir muitos fornecedores. Apesar disso, os compradores deixaram claro que s consideram

    uma pequena parcela quando realizam suas compras, ou seja, boa parte dos fornecedores no consideradarelevante nesse mercado. Os indicadores elaborados com base nas entrevistas no capturam essa diferena,que, todavia, tratada de modo qualitativo quando pertinente.

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    Bioenergia

    141sucroenergtico ou, de outro modo, em que medida diversicaram

    suas atividades ou mercados de atuao.

    Em cada um desses critrios, os entrevistados atriburam notas 1, 2 ou 3

    para cada grupo de equipamentos. A nota 1 em determinado critrio significaque ele no contribui ou contribui muito pouco para aumentar o risco de ofer-ta. Nesse caso, considera-se no haver problemas para seu fornecimento ou,em outras palavras, o equipamento no deve ser gargalo, ao menos segundoaquele critrio, para o pleno atendimento da demanda potencial projetada.

    A nota 2 corresponde a uma situao intermediria, quando os riscos de noatendimento no so desprezveis e, portanto, o fornecimento do equipamento

    pode ser comprometido por conta da caracterstica em questo. A nota 3, porfim, corresponde a uma situao de alto risco ou mesmo de restrio de oferta.

    Cabe ressaltar que, em funo de caractersticas semelhantes, alguns equi-pamentos foram agrupados, o que permitiu simplificar a anlise. Contudo,quando percebida alguma diferena significativa entre os equipamentos agru-

    pados, o entrevistado pde atribuir-lhes notas distintas para cada equipamentoclassificado na mesma linha do quadro.13O Quadro 4 mostra o formulrio da

    pesquisa de campo utilizado para identificar os equipamentos potencialmente

    crticos do processo produtivo de acar, etanol e energia eltrica.Quadro 4 | Formulrio da pesquisa de campo

    Empresa:

    Subsistemas Produtos/

    equipamentos

    Especicidade Capacidade

    de entrega

    Nmero de

    fornecedores

    Dependncia

    do setor

    1 Agrcola Caminhes, tratores

    e implementos

    agrcolas

    Notas

    (1, 2

    ou 3)

    2 Agrcola Plantadoras,

    colhedoras etransbordos

    Notas

    (1, 2ou 3)

    3 Recepo Esteiras

    (borracha, metal,

    acar, bagao,

    gerais)/mesas

    alimentadoras)

    Notas

    (1, 2

    ou 3)

    Continua

    13

    Tambm no intuito de conferir maior simplicidade analtica, alguns equipamentos, embora sejamutilizados em mais de uma etapa do processo produtivo de acar e etanol, foram alocados, de acordocom sua importncia relativa, em apenas uma etapa.

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    atenderadequadame

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    sinasdecana-de-acar?

    142 Continuao

    Empresa:

    Subsistemas Produtos/

    equipamentos

    Especicidade Capacidade

    de entrega

    Nmero de

    fornecedores

    Dependncia

    do setor

    5 Extrao docaldo

    Moendas oudifusores

    Notas(1, 2ou 3)

    6 Cogerao/energia

    Caldeiras Notas(1, 2ou 3)

    7 Cogerao Subestaes Notas(1, 2ou 3)

    8 Cogerao Turbinas Notas

    (1, 2ou 3)

    9 Cogerao Redutores Notas(1, 2ou 3)

    10 Cogerao Geradores Notas(1, 2ou 3)

    11 Cogerao Motores (grandeporte)

    Notas(1, 2ou 3)

    12 Tratamentodo caldo

    Decantadores/aquecedores/sulfitadores/flotadores

    Notas(1, 2ou 3)

    13 Tratamentodo caldo

    Filtro rotativo avcuo

    Notas(1, 2ou 3)

    14 Fbrica deacar

    Evaporadores/cozedores/cristalizadores/

    secadores/ensacadores

    Notas(1, 2ou 3)

    15 Fbrica deacar

    Centrfugas deacar

    Notas(1, 2ou 3)

    16 Fbrica delcool

    Fermentadores(dornas)

    Notas(1, 2ou 3)

    17 Fbrica delcool

    Destilarias colunas de destilao(vinho e desidrat.

    lcool)

    Notas(1, 2ou 3)

    Continua

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    |

    Bioenergia

    143Continuao

    Empresa:

    Subsistemas Produtos/

    equipamentos

    Especicidade Capacidade

    de entrega

    Nmero de

    fornecedores

    Dependncia

    do setor

    18 Fbrica delcool

    Centrfugas delcool

    Notas(1, 2

    ou 3)

    19 Estocagem

    de lcool

    Tancagens (preparo

    de mosto, lcool

    hidratado, anidro e

    neutro)

    Notas

    (1, 2

    ou 3)

    20 Diversos Tubulaes

    interligaes

    Notas

    (1, 2

    ou 3)

    21 Diversos Bombas, vlvulas,ventiladores

    Notas(1, 2

    ou 3)

    22 Diversos Painis eltricos/

    transformadores

    Notas

    (1, 2

    ou 3)

    23 Diversos Motores eltricos

    pequeno porte

    Notas

    (1, 2

    ou 3)

    Fonte: BNDES.

    Para chegar ao indicador multicritrio de percepo de risco de oferta decada equipamento, optou-se por fazer a mdia ponderada de cada um doscritrios, com a seguinte hierarquia de pesos: 1/2 para capacidade de entre-ga, 1/4 para nmero de fornecedores, 1/6 para a especificidade e 1/12 paraa dependncia do setor.

    Essa opo analtica justifica-se pelo fato de que a restrio fsica de pro-duo, medida pela capacidade de entrega, , em ltima anlise, o principal

    fator limitador de fabricao de determinado bem. Assim, os demais fatoresforam considerados vetores agravantes ou atenuantes e receberam, em con-

    junto, o mesmo peso do critrio analtico principal.

    A hierarquizao dos critrios secundrios foi feita de acordo com seu graude influncia sobre o critrio principal. Com isso em mente, considera-se queo nmero de fornecedores seja o critrio secundrio que se relaciona maisdiretamente com o fator crtico principal, dado que a presena de poucos fa-

    bricantes (oligopsnio ou, at mesmo, monopsnio) pode implicar restriesda capacidade produtiva setorial.

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    sinasdecana-de-acar?

    144 Em segundo lugar, est a especificidade dos ativos, que diz respeito pos-sibilidade de haver atendimento por fabricantes dedicados a outros setores,o que lhe garante, portanto, uma ligao intermediria com o critrio princi-

    pal. J a exposio ao setor, por ter como foco a identificao de excesso deexposio econmico-financeira aos ciclos de investimento do setor sucroe-nergtico, foi considerada de ligao menos relevante com o fator principal,na medida em que seu efeito sobre a capacidade fsica de entrega sentidocom maior relevncia apenas no mdio e no longo prazos.

    Uma vez compiladas as informaes, para os 23 grupos pesquisados foramcalculados trs indicadores de percepo de risco de oferta: um para o grupode usinas (RU), um para os fabricantes (RF) e, com base na mdia aritmtica

    simples entre esses dois grupos, um indicador geral de percepo de risco (RG).A Tabela 3 resume as frmulas utilizadas para cada um desses indicadores.

    Tabela 3 | Indicadores de percepo de risco

    Critrio i Indicador de percepo de risco

    Fornecedores Fi = Ti/Ni RF = (Fi*Pi)/ Pi

    Usinas Ui = Vi/Ki RU = (Ui*Pi)/ Pi

    Mdia geral Mi = (Fi + Ui)/2 RG = (RF + RU)/2

    Fonte: BNDES.

    Tie Viso, respectivamente, as somas das respostas atribudas por fornecedores e usinas para cadacritrio i

    Nie Kiso, respectivamente, o nmero de fornecedores e de usinas respondentes para cada critrio i

    Pi o peso atribudo para cada critrio i

    ifaz referncia aos critrios utilizados, que so:

    e= especicidade (Pe = 1/4)

    c= capacidade de entrega (Pc = 1/2)

    f= nmero de fornecedores (Pf = 1/6)

    d= dependncia do setor (Pd = 1/12)

    Fi a mdia aritmtica das respostas dos fornecedores para cada critrio i

    Ui a mdia aritmtica das respostas das usinas para cada critrio i

    Mi a mdia aritmtica entre Fi e Ui para cada critrio i

    RF a percepo de risco dos fornecedores para cada equipamento

    RU a percepo de risco das usinas para cada equipamento

    RG a percepo de risco de todos os entrevistados para cada equipamento

    Os resultados foram classificados de forma a estabelecer trs nveis dife-

    rentes de percepo de risco. Desse modo, dado que as notas mdias poderiamvariar entre 1 e 3 e quanto maior o valor do indicador, maior a percepo

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    Bioenergia

    145do risco , optou-se por utilizar uma diferena de 0,7 entre as classes de ris-co, o que resultou na seguinte classificao:

    risco alto: mdia maior ou igual a 2,3;

    risco intermedirio: maior que 1,7 e menor que 2,3; e

    risco baixo: menor ou igual a 1,7.

    Anlise dos resultados obtidos

    Os resultados das entrevistas foram tabulados de duas formas distintas.Na primeira, mais geral, os equipamentos foram classificados de acordocom as notas obtidas referentes aos ndices de percepo de risco de oferta

    de cada um deles. Desse modo, calculou-se o indicador geral (RG) e os in-dicadores para cada um dos grupos respondentes (RF e RU).

    Essa primeira anlise mostra uma viso mais objetiva e direta do grau depercepo de risco, tanto absoluto quanto relativo, sobre todos os principaisequipamentos que compem o processo agroindustrial, o que permite umaanlise resumida e abrangente dos resultados finais.

    A segunda abordagem, por sua vez, procura seguir o prprio fluxo do

    processo produtivo, nas etapas agrcola e industrial, e, em cada uma delas,o fluxo dos processos e dos subsistemas de produo, onde esto grupadosos principais equipamentos.

    Portanto, nessa anlise, por haver maior detalhamento de cada etapa doprocessamento de cana-de-acar, so discutidas possveis determinantesdas notas atribudas a cada um dos critrios avaliados (especificidade, ca-

    pacidade de entrega, nmero de fornecedores e dependncia do setor), o

    que facilita o entendimento acerca dos resultados apresentados na anlisemais consolidada.

    Indicador geral de percepo de risco (RG)

    Ao considerar a mdia simples entre RF e RU, o clculo do indicadorRG tem como principal objetivo permitir a obteno de maior equilbrioentre as opinies de ambos os grupos. Essa opo analtica foi escolhida

    para evitar maior concentrao na opinio do grupo de fabricantes, que

    tem um nmero quase quatro vezes maior de respondentes do que o gru-po de usinas.

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    146 Quadro 5 | Resultado geral

    Subsistemas Produtos/equipamentos Mdia ponderada

    Extrao do caldo Moendas ou difusores 2,5

    Cogerao/energia Caldeiras 2,3

    Fbrica de lcool Destilarias colunas de destilao(vinho e desidrat. lcool)

    2,3

    Cogerao Turbinas 2,2

    Tratamento docaldo

    Filtro rotativo a vcuo 2,2

    Preparo Niveladores/picadores/desfibradores 2,2

    Cogerao Motores (grande porte) 2,1

    Recepo Esteiras (borracha, metal, acar, bagao,gerais)/mesas alimentadoras

    2,1

    Cogerao Geradores 2,1

    Agrcola Plantadoras, colhedoras e transbordos 2,1

    Fbrica de lcool Centrfugas de lcool 2,0

    Cogerao Redutores 1,9

    Fbrica de acar Centrfugas de acar 1,9

    Cogerao Subestaes 1,8

    Fbrica de acar Evaporadores/cozedores/cristalizadores/secadores/ensacadores

    1,8

    Fbrica de lcool Fermentadores (dornas) 1,8

    Agrcola Caminhes, tratores e implementosagrcolas

    1,7

    Tratamento docaldo

    Decantadores/aquecedores/sulfitadores/flotadores

    1,7

    Diversos Motores eltricos pequeno porte 1,5

    Estocagem lcool Tancagens (preparo de mosto, lcoolhidratado, anidro e neutro)

    1,3

    Diversos Painis eltricos/transformadores 1,3

    Diversos Tubulaes interligaes 1,2

    Diversos Bombas, vlvulas, ventiladores 1,2

    Fonte: BNDES.

    Desse modo, quando se analisam os resultados do RG, trs equipamen-

    tos aparecem na faixa de risco mximo: moenda/difusores, caldeiras e des-tilarias. Esses equipamentos, alm de exigirem longo prazo de fabricao,

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    Bioenergia

    147necessitam de significativa base industrial instalada para sua produo emontagem, mo de obra treinada e especializada e, em muitos casos, en-genharia. Alm disso, representam parte significativa do investimento emnovas usinas (cerca de 40% do total), o que torna o resultado encontradofoco da maior preocupao.

    No caso das moendas e difusores, cabe salientar que so equipamentosbem especficos do segmento de acar e etanol, tm grande porte e altovalor unitrio e requerem capacidade instalada industrial especificamentededicada para sua produo. Principalmente por essas caractersticas, veri-fica-se que baixa a quantidade de fornecedores desse equipamento, o quetambm explica sua posio no ranking.

    Quanto s caldeiras, importante levar em conta que se trata do equi-pamento de maior valor unitrio de toda a usina, com o ciclo mais lon-go de produo e vital para todo o processo industrial, pois dela provmtoda a energia para abastecer o processo produtivo. Alm disso, em fun-o das caractersticas citadas, representa o caminho crtico de implanta-o de nova unidade industrial de uma usina, a partir da qual devem ser

    planejadas a compra e a implantao de diversos outros equipamentos.As destilarias, por sua vez, so tambm equipamentos de grande porte,

    mais complexos, feitos de ao inox com base em desenhos especficos econtendo engenharia proprietria, o que j limita a entrada de fabricantesmenos especializados.

    Na faixa intermediria, encontra-se a maior parte dos equipamentos(15 grupamentos), com RG variando entre 1,7 e 2,2, dos quais oito bemespecficos do setor sucroenergtico e o restante com aplicaes em ou-tros segmentos.

    E na zona considerada de baixo risco, exceo do grupamento em quese encontram decantadores e aquecedores, bem especfico do segmento decana, mas sem maiores dificuldades de fabricao e com grande nmero defornecedores, os demais so todos tambm de uso geral em diversos seg-mentos, no representando maiores problemas de oferta na viso combinadade ambos os grupos.

    Cabe destacar que apenas cinco dos 23 equipamentos pesquisados rece-beram avaliao de baixo risco, o que demonstra que a maior parte do in-

    vestimento de novas usinas sucroenergticas est sujeita a riscos de ofertasrelevantes em uma eventual retomada dos investimentos no setor canavieiro.

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    148 Portanto, no fica dvida de que, mesmo quando se apura opiniomais equilibrada entre os grupos de respondentes, a pesquisa sugeredificuldade de atendimento de equipamentos cruciais para a instalao

    de novas usinas.

    Indicador de percepo de risco dos fabricantes (RF)

    Quadro 6 | Fornecedores

    Subsistemas Produtos/equipamentos Mdia ponderada

    Extrao do caldo Moendas ou difusores 2,3

    Fbrica de lcool Destilarias colunas de destilao(vinho e desidrat. lcool)

    2,2

    Cogerao/energia Caldeiras 2,1

    Cogerao Turbinas 2,1

    Tratamento do caldo Filtro rotativo a vcuo 2,0

    Preparo Niveladores/picadores/desfibradores 2,0

    Agrcola Plantadoras, colhedoras e transbordos 1,9

    Cogerao Motores (grande porte) 1,9

    Cogerao Geradores 1,8

    Fbrica de lcool Centrfugas de lcool 1,8

    Recepo Esteiras (borracha, metal, acar, bagao,gerais)/mesas alimentadoras

    1,8

    Fbrica de acar Centrfugas de acar 1,8

    Cogerao Redutores 1,7

    Agrcola Caminhes, tratores e implementos agrcolas 1,6

    Fbrica de acar Evaporadores/cozedores/cristalizadores/secadores/ensacadores

    1,6

    Tratamento do caldo Decantadores/aquecedores/sulfitadores/

    flotadores

    1,6

    Cogerao Subestaes 1,5

    Fbrica de lcool Fermentadores (dornas) 1,5

    Diversos Motores eltricos pequeno porte 1,5

    Estocagem delcool

    Tancagens (preparo de mosto, lcoolhidratado, anidro e neutro)

    1,2

    Diversos Painis eltricos/transformadores 1,1

    Diversos Bombas, vlvulas, ventiladores 1,1

    Diversos Tubulaes interligaes 1,1

    Fonte: BNDES.

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    Bioenergia

    149De modo geral, analisando-se o Quadro 6, obtido de entrevistas com24 empresas, a avaliao de percepo de risco, por parte dos fabricantes, a de que no haveria problemas de atendimento caso houvesse retomada

    vigorosa de investimentos no setor. Essa posio explicada, em parte, peloatual nvel de ociosidade que os fabricantes informaram. Para boa parte dosentrevistados, em especial para aqueles mais dependentes do setor sucroe-nergtico, o nvel de ociosidade gira em torno de 50%, sendo que a principalfonte de faturamento da empresa passaram a ser os servios de manuteno.

    Alm disso, os fabricantes advogam ter maior conhecimento sobre a realcapacidade instalada de produo de equipamentos, que foi at testada noltimo ciclo de investimentos do setor, quando mais de cem novas usinas

    foram construdas no Brasil. Tal ciclo, segundo a opinio dos fabricantes,foi plenamente atendido sem que houvesse problemas significativos comrelao oferta de bens de capital sucroenergticos.

    Como resultado, apenas o grupo de moendas e difusores foi consideradode risco elevado pelo grupo de fabricantes. A seguir, na zona intermediriade percepo de risco, encontram-se classificados 12 grupos de equipamen-tos. Mais uma vez, tais notas, em termos absolutos, sinalizam que no ha-veria grandes problemas de entrega no caso de retomada dos investimentos.

    Portanto, na viso dos fabricantes, no haveria insuficincia de capacida-de instalada para atender a um novo ciclo de investimentos, mas, se persistira atual ausncia de novas encomendas, o enfraquecimento dessa indstriaser crescente, o que poderia levar a problemas futuros de atendimento dademanda projetada.

    Indicador de percepo de risco das usinas (RU)

    A viso das usinas bem distinta da dos fornecedores, como se pode verno Quadro 7, que se baseia em entrevistas com seis grandes grupos usinei-ros. Ao menos nove grupos de equipamentos foram considerados com altorisco de oferta e, alm de ter sido elencado um nmero bem maior de equi-

    pamentos na zona crtica, as notas absolutas obtidas so tambm mais altas,variando de 2,3 at quase 2,7. Para ambos os grupos, as moendas e difusoresesto em primeiro lugar, seguidas tambm das caldeiras e destilarias, mas,nesse caso, em posies trocadas. Os demais equipamentos elencados nessazona so, em geral, de grande porte e bem especficos do setor de acar e

    etanol, exceo dos motores (de grande porte) e geradores, que atendema uma gama bem maior de setores da economia. Esses equipamentos tm

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    150 um nmero reduzido de fornecedores. Na viso das usinas, a percepo foide alto risco de oferta.

    Quadro 7 | UsinasSubsistemas Produtos/equipamentos Mdia

    ponderada

    Extrao do caldo Moendas ou difusores 2,7

    Cogerao/energia Caldeiras 2,5

    Fbrica de lcool Destilarias colunas de destilao(vinho e desidrat. lcool)

    2,4

    Tratamento do caldo Filtro rotativo a vcuo 2,4

    Preparo Niveladores/picadores/desfibradores 2,4

    Cogerao Turbinas 2,4

    Recepo Esteiras (borracha, metal, acar, bagao,gerais)/mesas alimentadoras

    2,3

    Cogerao Motores (grande porte) 2,3

    Cogerao Geradores 2,3

    Agrcola Plantadoras, colhedoras e transbordos 2,2

    Fbrica de lcool Centrfugas de lcool 2,1

    Cogerao Subestaes 2,1

    Cogerao Redutores 2,1Fbrica de lcool Fermentadores (dornas) 2,1

    Fbrica de acar Centrfugas de acar 2,0

    Fbrica de acar Evaporadores/cozedores/cristalizadores/secadores/ensacadores

    2,0

    Tratamento do caldo Decantadores/aquecedores/sulfitadores/flotadores

    1,8

    Agrcola Caminhes, tratores e implementos agrcolas 1,8

    Estocagem de lcool Tancagens (preparo de mosto, lcool hidratado,

    anidro e neutro)

    1,5

    Diversos Motores eltricos pequeno porte 1,4

    Diversos Painis eltricos/transformadores 1,4

    Diversos Tubulaes interligaes 1,3

    Diversos Bombas, vlvulas, ventiladores 1,2

    Fonte: BNDES.

    J na zona intermediria (tambm com notas mdias mais altas queaquelas atribudas pelos fornecedores), encontram-se nove grupamentos de

    equipamentos que, em sua quase totalidade, so bem especficos do setorsucroenergtico. Destes, alguns tm maior nmero de fornecedores e so

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    Bioenergia

    151de mais fcil fabricao, tais como o grupamento dos evaporadores, dos de-cantadores e fermentadores (dornas), ao passo que os demais, por sua vez,so mais elaboradores e tm nmero menor de fornecedores.

    Por fim, para as usinas, na zona de baixo risco encontram-se apenas cin-co grupamentos de equipamentos. Em comum a todos eles, o fato de seremtodos pouco especficos do setor sucroenergtico, ou seja, so utilizadosnos mais diversos setores industriais.

    Essa diferena de opinio por parte das usinas, mais pessimista em re-lao aos fabricantes, pode ser entendida pelo fato de que, na experinciavivida no ltimo ciclo de investimentos, a inaugurao de mais de cemnovas usinas no ocorreu sem gerar alguns problemas.

    Entre as eventuais dificuldades apontadas pelos grupos de usinas en-trevistados, podem-se destacar: (i) atrasos na entrega; (ii) dificuldade deconseguir equipamentos dentro das especificaes do projeto, sem prejuzono prazo de entrega; e (iii) necessidade de colocao de pessoal prprio dausina para acompanhar o processo de fabricao.

    Assim, fica claro que, na viso das usinas, um novo ciclo de investimentosto vigoroso quanto o experimentado na ltima dcada no seria adequada-mente atendido pela atual indstria de bens de capital sucroenergticos. OGrfico 2 sintetiza essa significativa diferena de percepo de risco entreos dois grupos respondentes.

    Grfico 2 | Nmero de equipamentos por classe de percepo de risco para cadagrupo respondente e geral

    1

    Alto Mdio Baixo

    9

    3

    12

    9

    14

    10

    5 6

    Fabricantes Usinas Geral

    Fonte: BNDES.

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    sinasdecana-de-acar?

    152 Anlise dos resultados por etapa produtiva

    Fase agrcola

    Planejamento e preparo do solo, cultivo e transporte da cana

    As etapas de planejamento e preparo do solo, assim como as de culti-vo e transporte da cana, so mais gerais e tm muitas similaridades comas formas de produo de diversas outras culturas e com os equipamentosnelas utilizados.

    De modo geral, essas atividades utilizam diversos e variados implemen-tos agrcolas, tais como: gradadores, picadores de colmos e pulverizadores,

    que, em sua maior parte, por no terem propulso prpria, precisam ser tra-cionados por tratores. J para o transporte da cana at a usina, so empre-gados vrios tipos de caminhes (rodotrens, treminho etc.), que utilizamdiferentes tipos de caambas.

    Nesse cenrio, o primeiro grupo de equipamentos considerado nas en-trevistas foi composto de caminhes, tratores e implementos agrcolas. Osresultados obtidos encontram-se no Quadro 8.

    Quadro 8Produtos Respondentes Especicidade Capacidade

    de entrega

    Nmero de

    fornecedores

    Dependncia

    do setor

    Indicador de

    percepo

    de risco (RF,

    RU e RG)

    Caminhes,tratores eimplementosagrcolas

    Fornecedores 1,6 1,2 2,4 1,5 1,6

    Usinas 1,8 1,8 2,0 1,5 1,8

    Mdia geral 1,7 1,5 2,2 1,5 1,7

    Fonte: BNDES.

    Em relao ao RG, o resultado de 1,7 indica percepo de baixo riscode oferta desse conjunto de equipamentos em um eventual novo ciclo deinvestimentos no setor sucroenergtico. Alm disso, a proximidade entreRF e RU demonstra certa convergncia de opinio entre os grupos respon-dentes, apesar de usinas e fabricantes colocarem esses equipamentos emnveis distintos de risco.

    Como dito anteriormente, as atividades que demandam tais equipa-

    mentos so mais gerais. Muitos deles so utilizados em outros cultivosagrcolas e, no caso especfico dos caminhes, em diversos outros seg-

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    Bioenergia

    153mentos da economia, como o transporte de carga. Some-se a isso o fato deo Brasil ser um grande produtor agrcola. Portanto, tratores, implementosagrcolas e caminhes tm nmero relativamente maior de fornecedores

    do que equipamentos mais especficos e focados apenas no plantio e nacolheita da cana.

    Tanto para as usinas quanto para seus fornecedores, esse conjunto de equipa-mentos tem nmero razovel de fornecedores, que, por sua vez, tm boa situaoquanto capacidade de entrega e baixa dependncia do setor sucroenergtico.

    Plantio e colheita da cana

    As etapas de plantio e colheita da cana so muito mais especficas do que as

    demais etapas do processo agrcola. Os equipamentos utilizados nessas ativida-des so muito mais especializados e, em alguns casos, so feitos sob encomenda.

    Os principais equipamentos que fazem parte dessa etapa so as planta-doras e colhedoras de cana, que tm valor unitrio maior do que os equi-

    pamentos relacionados na etapa anterior, e os veculos de transbordo, quefazem parte do sistema de colheita por acompanharem as colhedoras emseu processo de trabalho. Os resultados das entrevistas para esses itens

    encontram-se no Quadro 9.

    Quadro 9

    Produtos Respondentes Especicidade Capacidade

    de entrega

    Nmero de

    fornecedores

    Dependncia

    do setor

    Indicador de

    percepo

    de risco (RF,

    RU e RG)

    Plantadoras,colhedoras etransbordos

    Fornecedores 2,7 1,3 2,8 1,7 1,9

    Usinas 3,0 1,8 2,9 1,1 2,2

    Mdia geral 2,8 1,5 2,8 1,4 2,1

    Fonte: BNDES.

    O RG apurado para esse grupo foi de 2,1, ou seja, ele apresenta percep-o de risco de oferta intermediria no cenrio projetado. As percepesno variam muito entre os grupos respondentes, dada a proximidade entreo RF e o RU apurados.

    Contribui para elevar o RG a especificidade desses equipamentos. Comnota de 3,0 e de 2, 7, dadas, respectivamente, pelas usinas e pelos fabrican-

    tes, a viso sobre a elevada especificidade desses ativos foi bastante con-vergente entre os entrevistados.

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    nteanovociclodeinvestimentosemu

    sinasdecana-de-acar?

    154 A capacidade de entrega no parece ser um problema para as empresasentrevistadas. Contudo, esse mercado pode ser considerado bastante con-centrado, na percepo dos entrevistados. As notas dos fabricantes e das

    usinas foram, respectivamente, 2,8 e 2,9.Por fim, no se nota grande dependncia dos fabricantes em relao ao

    setor sucroenergtico. Tal fato pode ser atribudo natureza dos fabrican-tes, notadamente grandes grupos multinacionais bastante diversificados emtermos de produtos e de mercados atendidos.

    Nas entrevistas, tambm se constatou que, durante o ltimo ciclo de in-vestimentos do setor, os dois principais fornecedores desses equipamentos

    investiram no incremento de sua capacidade instalada, que, no momento,se encontra com certo grau de ociosidade. Sendo assim, h capacidade paraatender demanda projetada.

    Alm disso, como atualmente o nvel mdio de mecanizao da culturade cana no Brasil est em torno de 60% e como a legislao j aprovadaem vrios estados (em especial, em So Paulo) determina o trmino gradualdas queimadas, haver demanda por mecanizao do processo de colheita,independentemente de recuperao dos investimentos em expanso de ca-

    pacidade do setor. Tal situao favorece, portanto, as empresas fornecedorasdesses equipamentos, pois estar assegurado um nvel razovel de demandade seus produtos nos prximos anos, enquanto ainda no retomam os inves-timentos mais expressivos em novas usinas no setor.

    Fase industrial

    Recepo e preparo da cana

    Nessa fase da produo industrial, dois grupos de equipamentos podemser considerados os mais relevantes. O primeiro formado pelos diferen-tes tipos de esteiras transportadoras e de mesas alimentadoras. O segundo formado por equipamentos que fazem o pr-tratamento da cana, de modo afacilitar o processo posterior de extrao de caldo. Entre esses equipamen-tos, encontram-se niveladores, picadores e desfibradores.

    Em relao s esteiras e mesas alimentadoras, o Quadro 10 apresenta osresultados das entrevistas realizadas.

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    155Quadro 10

    Produtos Respondentes Especicidade Capacidade

    de entrega

    Nmero de

    fornecedores

    Dependncia

    do setor

    Indicador de

    percepo

    de risco (RF,

    RU e RG)

    Esteiras(borracha,metal, acar,

    bagao,gerais)/mesasalimentadoras

    Fornecedores 2,0 1,8 1,7 2,0 1,8

    Usinas 1,9 2,6 2,1 2,3 2,3

    Mdia geral 2,0 2,2 1,9 2,2 2,1

    Fonte: BNDES.

    Com RG de 2,1, esses equipamentos representam risco intermedirio de

    oferta para o cenrio projetado neste artigo. Porm, com RF de 1,8 e RU de2,3, evidente a diferena de percepo de risco entre fabricantes e usinas.

    Observando-se as respostas para cada um dos grupos, a especificida-

    de leva 2,0 dos fornecedores e 1,9 das usinas, o que caracteriza as esteiras

    como produtos medianamente especficos em relao a esse setor. Segundo

    os entrevistados, os fornecedores podem tambm atender a outros segmen-

    tos da economia, como o de minerao e o de citros. Da mesma forma, for-

    necedores dedicados a outros segmentos tambm so capazes de atender demanda do setor sucroenergtico.

    Mas, para tanto, duas ressalvas foram feitas. A primeira se refere

    natureza do bagao, que uma substncia aglomerante, bem diferente

    dos gros ou dos minrios. Por isso, adaptaes nas esteiras teriam de ser

    feitas para lidar com essa caracterstica prpria do bagao. A segunda diz

    respeito capacidade de engenharia dos novos entrantes. Dadas as pecu-

    liaridades do sistema industrial das usinas, os entrevistados consideraramque os fornecedores de outros segmentos s teriam sucesso se lhes fosse

    fornecido o projeto a ser seguido. Caso contrrio, esses entrantes pode-

    riam vir a ter grandes problemas.

    Com relao capacidade de entrega, os resultados sugerem que haja

    uma capacidade fabril instalada medianamente preparada para produo dos

    equipamentos em questo. Cabe salientar que o nmero de fornecedores,

    embora relativamente elevado (maior que dez), no revela a real concen-trao desse mercado. Nas entrevistas realizadas, verificou-se a existncia

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    sinasdecana-de-acar?

    156 de apenas trs grandes fornecedores, o que configura, portanto, um merca-

    do concentrado.

    Com relao dependncia do setor, os fornecedores encontram-se em

    situao intermediria. Com base nas entrevistas individuais, verificou-seque, apesar da aparente tentativa de diversificao citada desse segmento,

    o setor sucroenergtico continua sendo um mercado muito importante.

    Ainda dentro da fase do preparo da cana, o outro grupo de importan-

    tes equipamentos composto de niveladores, picadores e desfibradores. O

    Quadro 11 mostra os resultados das entrevistas para esses equipamentos.

    Quadro 11

    Produtos Respondentes Especicidade Capacidade

    de entrega

    Nmero de

    fornecedores

    Dependncia

    do setor

    Indicador de

    percepo

    de risco (RF,

    RU e RG)

    Niveladores/picadores/

    desfibradores

    Fornecedores 2,8 1,4 2,2 2,5 2,0

    Usinas 3,0 2,4 2,0 2,5 2,4

    Mdia geral 2,9 1,9 2,1 2,5 2,2

    Fonte: BNDES.

    Com RG de 2,2, esse grupo de equipamentos apresenta risco interme-dirio de no atendimento da demanda projetada. Assim como no casoanterior, usinas e fabricantes classificam esses equipamentos em classesdiferentes de risco.

    Pela anlise de cada caracterstica, nota-se que a especificidade consi-deravelmente elevada. De fato, esses equipamentos quase no tm aplica-

    es em outros processos.

    Por sua vez, capacidade de entrega foi atribuda nota 1,4 pelos fabri-cantes e 2,4 pelas usinas, o que demonstra a divergncia entre percepesnesse quesito. importante lembrar que tais produtos no so de alta com-

    plexidade tecnolgica, mas exigem capacidade industrial pesada para suafabricao, o que pode limitar o nmero de eventuais fornecedores. Nomomento, contudo, h grande capacidade ociosa nesse segmento, que

    bastante dependente do setor sucroenergtico. Normalmente, os fabricantes

    desses equipamentos so empresas com diversificao de produtos e baixadiversificao de mercados.

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    157Com relao ao nmero de fornecedores, a situao do segmento foiconsiderada intermediria, j que existem entre cinco e dez fabricantes ca-

    pazes de ofertar esses equipamentos. Por causa das crescentes exigncias

    das usinas entrevistadas, apenas os maiores fornecedores desse segmentotm sido efetivamente considerados. Contudo, segundo as mesmas usinas,os fabricantes menores poderiam ser subcontratados pelos maiores em casode um novo ciclo de demanda, prtica bastante usual no setor.

    Portanto, o maior rigor de exigncia por parte das usinas em relao aosfornecedores desses equipamentos explica, ao menos em parte, a grandediferena de percepo entre os dois grupos, no que concerne capacidadede entrega desses equipamentos.

    Extrao do caldo

    Nessa fase do processo industrial, so utilizados moendas ou difusores.Esses equipamentos so de grande porte, de alto valor unitrio e de prazode entrega relativamente longo. O Quadro 12 mostra o resultado das entre-vistas para esses equipamentos.

    Observando-se um RG de 2,5, verifica-se que esses equipamentos tmpercepo de risco elevada de no atendimento em um cenrio de forterecuperao dos investimentos. Com RF e RU maiores ou iguais a 2,3, asmoendas e difusores foram o nico grupo de equipamentos considerado derisco elevado tanto por fabricantes quanto pelas usinas.

    Quadro 12

    Produtos Respondentes Especicidade Capacidade

    de entrega

    Nmero de

    fornecedores

    Dependncia

    do setor

    Indicador de

    percepo

    de risco (RF,

    RU e RG)

    Moendasoudifusores

    Fornecedores 3,0 1,9 2,7 2,5 2,3

    Usinas 2,9 2,7 2,6 2,4 2,7

    Mdia geral 3,0 2,3 2,6 2,5 2,5

    Fonte: BNDES.

    Tanto na viso dos fornecedores, com nota 3,0, quanto na viso das usi-

    nas, com nota 2,9, a especificidade caracterstica marcante desses produtos,que praticamente no encontram utilizao em outros setores.

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    158 Em relao capacidade de entrega, h ntida diferena de percepo entreos entrevistados. Enquanto os fornecedores atriburam-lhe nota 1,8, as usinasatriburam nota 2,7. Em que pese a grande capacidade instalada de alguns for-

    necedores e a sua atual ociosidade, a capacidade financeira dos fabricantesvem sendo crescentemente critrio utilizado pelas usinas no momento de suascompras. Nesse contexto, dificuldades econmico-financeiras oriundas da atu-al estagnao dos investimentos em novas usinas sucroenergticas explicam,em parte, essa avaliao crtica por parte das usinas. Como resultado, parte dacapacidade instalada existente parece ser desconsiderada pelos compradores,o que pode explicar, em parte, a avaliao mais crtica com relao a atualestrutura fabril instalada para produo de moendas e difusores.14

    Apesar da estagnao dos investimentos do setor, cabe salientar que, paraesse tipo de equipamentos, so imprescindveis grandes intervenes anuaisde manuteno. Logo, alguns dos fornecedores desses produtos continuamauferindo uma considervel receita anual referente prestao de serviosde manuteno para base j instalada de usinas.

    No que toca ao nmero de fornecedores, comum a percepo de quese trata de um mercado bastante concentrado, com at seis fornecedores.

    Em geral, essas empresas tm maiores estruturas industriais e, muitas vezes,engenharia prpria. Estas tambm so empresas bastante dependentes dosetor. Apesar de terem um portflio de produtos relativamente amplo, essesfabricantes ainda esto focados no setor sucroenergtico.

    Cogerao de energia

    Nesse subsistema da fase industrial, aparece um dos equipamentos maisimportantes para a definio do projeto de uma usina: as caldeiras. Isso

    acontece no s por ser o equipamento de maior valor unitrio entre todos,mas tambm por apresentar o maior prazo de fabricao e montagem, quevaria de 14 a 24 meses. Sendo assim, a caldeira determina o caminho cr-tico do projeto, j que, alm do tempo de fabricao e montagem, fornece

    praticamente toda a energia da usina. O Quadro 13 mostra as respostas dasentrevistas referentes a esses equipamentos.

    14

    Essa armao discurso corrente na presena de um mercado muito vendedor, com grandeociosidade, tal como o caso atualmente. Na presena de um mercado mais comprador, ou seja, commenos ociosidade, provvel que determinadas restries dos compradores sejam reduzidas.

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    Bioenergia

    159Quadro 13

    Produtos Respondentes Especicidade Capacidade

    de entrega

    Nmero de

    fornecedores

    Dependncia

    do setor

    Indicador de

    percepo

    de risco (RF,

    RU e RG)

    Caldeiras Fornecedores 2,1 2,0 2,5 2,4 2,1

    Usinas 2,3 2,6 2,6 2,1 2,5

    Mdia geral 2,2 2,3 2,6 2,3 2,3

    Fonte: BNDES.

    Apesar de apresentar divergncia de opinio entre usinas e fabricantes,com RG de 2,3, esse equipamento tem percepo de elevado risco de oferta.

    Esse resultado no favorvel, pois, conforme j discutido, esse um dosequipamentos mais crticos para o sucesso de toda a implantao industrial.

    Caldeiras no so ativos to especficos. Para esse critrio, os fornece-dores atriburam nota 2,1 e as usinas, 2,3. Alguns fabricantes argumentaramque, ao menos em teoria, possvel fazer caldeiras para outros segmentos daeconomia usurios desse produto. Por sua vez, as usinas argumentaram quecaldeiras prprias para a queima de bagao tm considerveis especificida-

    des, o que as diferencia das caldeiras que usam gs ou outros combustveis.Logo, no seria to simples essa transio de mercados.

    A capacidade de entrega foi o principal ponto de divergncia entre for-necedores e usinas. Na viso dos primeiros, que deram nota 2,0 a esse cri-trio, a atual capacidade instalada do setor estaria medianamente preparada

    para atender a novo ciclo de investimentos. Alm disso, segundo algunsfabricantes, o setor teria capacidade instalada para produzir e entregar, semmaiores problemas, de 15 a vinte caldeiras por ano. J pelo lado das usinas,que deram nota 2,6 para esse critrio, a capacidade de produo de caldeirasno estaria apta para atender adequadamente a uma retomada vigorosa deinvestimentos do setor canavieiro.

    Pelo fato de a caldeira tambm ter alto valor unitrio, de acordo comos entrevistados, os grupos processadores de cana passaram a considerartambm o fator financeiro de seus fornecedores. Nesse sentido, em que pe-sem sua capacidade industrial e a qualidade tcnica, alguns fornecedores

    podem ser colocados em posio subsidiria em caso de retomada dos in-vestimentos pelas usinas.

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    160 Nesse cenrio, fica claro que a recuperao dos investimentos das usinas de fundamental importncia para equilibrar financeiramente os diversosfornecedores, que, por sua vez, sero essenciais para o pleno atendimento

    da demanda projetada.Em relao ao nmero de fabricantes, a percepo conjunta de que se