sinergia em música: a interação professor-professor no ... · conhecimentos que fazem o...

58
Universidade Federal do Rio Grande do Norte Escola de Música Licenciatura em Música RAIANE SILMARA NASCIMENTO DA SILVA Sinergia em Música: a interação professor-professor no projeto Som Azul da EMUFRN Natal/RN 2017

Upload: truonglien

Post on 07-Feb-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Escola de Música

Licenciatura em Música

RAIANE SILMARA NASCIMENTO DA SILVA

Sinergia em Música: a interação professor-professor no

projeto Som Azul da EMUFRN

Natal/RN

2017

RAIANE SILMARA NASCIMENTO DA SILVA

Sinergia em Música: a interação professor-professor no

projeto Som Azul da EMUFRN

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura

Plena em Música da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte (UFRN) como requisito parcial para

a obtenção do grau de Licenciado em Música.

Orientadora: Prof.ª Ms. Catarina Shin Lima de Souza

Co-Orientadora: Prof.ª Mestranda Liana Monteiro de

Araújo

Natal/RN

2017

3

4

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Escola de Música

Licenciatura em Música

Sinergia em Música: a interação professor-professor no

projeto Som Azul da EMUFRN

Monografia apresentada ao Curso de Licenciatura

Plena em Música da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte (UFRN) como requisito parcial para

a obtenção do grau de Licenciado em Música.

5

DEDICATÓRIA

A todos os meus alunos,

Que me ensinaram a ensinar.

Aos meus pais,

Por serem sempre meu porto seguro!

6

AGRADECIMENTO

Não poderia deixar de começar essa parte tão especial da monografia, sem antes atribuir

essa conquista ao meu Criador, meu Senhor, a razão de minha existência, a Ele atribuo essa

vitória. Um versículo que tem me acompanhado desde o início dessa jornada que compartilho

sempre que possível, encontra-se no livro de Jó no capítulo 42 e versículo 2 que diz: “Bem sei

eu que tudo podes, e nenhum dos teus pensamentos pode ser impedido. ” E assim foi comigo,

seus pensamentos tão altos me trouxeram a esse lugar, onde me redescobri como pessoa, como

professora da área de inclusão musical, e que até o dia em que ele quiser, continuarei lutando

por aqueles que muitos ignoram, dando voz aqueles que não são ouvidos.

Segundo, as pessoas que me acolheram, cuidaram de mim, e que foi citado

anteriormente como meu porto seguro, pois são assim para mim, meus pais seu Ronaldo e dona

Celma! Depois de uma semana tão agitada e que pouco nos víamos, os finais de semana eram

para celebrar a família, com risadas, piadas e muita comida. Meus pais, que mesmo sem cursar

uma faculdade, detêm um conhecimento extraordinário e me ensinaram e me prepararam para

o mundo. A vocês meus sinceros agradecimentos por tudo que fizeram e fazem por mim, por

nossa família.

A meus irmãos, especialmente aqueles que estão mais presentes, Romildo e Alice Lima,

vocês que são mais uma base do meu conhecimento para o mundo, especialmente meu irmão

mais velho Romildo, meu exemplo a seguir. A minhas irmãs e não menos importante, Cecília,

Érika, Tainá e Beatriz, mesmo algumas estando longe, seremos sempre irmãs, não importa o

que aconteça, tenho respeito e admiração por vocês minhas queridas.

Ao meu querido amor Junior, que com muita paciência está comigo ao longo desses

quatro anos da faculdade e também de relacionamento. E com muito amor e carinho soube me

compreender nesses dias tão difíceis que foram esses no processo da escrita da minha

monografia. Obrigador por me amar, me incentivar, me apoiar nas decisões, me aconselhar, me

ouvir, por partilhar tantos momentos comigo, não sou eu mesma longe de você.

Agradeço aquelas amigas que Deus nos proporciona que são como irmãs, Eli e Clara e

meus pacotinhos de amor da titia mais babona do mundo, Rayscila Brenda e Yan Lucas, meu

amor por vocês quatro não tem limites, vocês tornam minha vida, com certeza, mais feliz,

simplesmente por existirem. Agradeço a toda a equipe de DEPIANOS e crianças do DEPIN. A

querida Laís, que coordena com muito amor todos eles e soube compreender o período que

passei ausente das atividades.

7

Agradeço imensamente a Catarina Shin e Liana Monteiro, minhas

orientadoras/mães/amigas nesse árduo trabalho, porém muito especial e também com grandes

contribuições para nossa área. Obrigado pela parceria, pelas trocas de mensagem tarde da noite,

obrigado pelas risadas de descontração, por todo o incentivo em não desistir. Um agradecimento

todo especial para Beth, que também foi aquele braço forte em muitos momentos, só Deus pode

retribuir vocês por tanto carinho.

A todos os mestres da música e da educação que tive o prazer de tê-los como meus

professores, vocês que estiveram presentes desde o primeiro semestre até aqui, alguns se

tornaram amigos mais chegados, outros, com certeza, admirados por compartilharem

conhecimentos que fazem o diferencial na minha vida profissional. Agradeço especialmente a

Maristela, Flávia, Camila, Danilo, Carol, Tamar, Johnson, Débora e Andreia, sou o que sou,

também graças a vocês. Aos meus colegas e amigos de curso, vocês com certeza souberam

fazer de nossa turma a mais animada e divertida, não vou dizer a mais unida, mas chegamos

perto. As amigas mais chegadas da turma: Joyce Dayane, parceria forte nos planejamentos de

aula da vida, nas conversas que só nós duas entendia, Vanessa, Karollen, Ana Paula, Elionai,

Érica, Kadja, Thaís, Pamela, vocês são muito especiais para mim, e juntas somos o grupo das

“Girl of Music” para todo sempre amém!

A todos os integrantes da família CIART e Esperança Viva, o meu muito obrigado por

partilhar tanto aprendizado ao longo desses anos. Na família CIART não poderia deixar de citar

Aja e Letícia, que foram um braço forte em muitos momentos, no apoio mútuo, palavras de

incentivo sempre! A minha linda equipe do Som Azul, vocês são a minha inspiração para esse

trabalho. A Janny Maluvida (Janiely), que desde o dia que nos conhecemos no NEI-CAp nos

tornamos amigas inseparáveis e alguns dizem até que somos irmãs... Janny, obrigado por ser

minha “co-co-orientadora” nesse trabalho, como sempre dizia, obrigado pelos momentos de

risadas, conversas, até naqueles dias em que estava difícil de produzir.

Agradeço imensamente a todos os meus alunos, da igreja de teoria e flauta doce, do

CIART, meus bebês da Maternagem e do Àgape. Agradeço especialmente aqueles que alegram

as minhas tardes de segunda, alunos e as mamães do Som Azul sem vocês não seríamos

professores autistas.

Enfim, quero estender meus agradecimentos a todos da Escola de Música especialmente

Juninho, seu Sérgio, a equipe da limpeza, Isabel, Risélia, seu Agnaldo, a todos eles que com

muito carinho estavam sempre prontos para me ajudar nas atividades do dia a dia. A todos que

contribuiram, direta ou indiretamente, meus sinceros agradecimentos por fazerem parte da

minha vida!

8

EPÍGRAFE

A construção da aprendizagem de ser professor, portanto, é colaborativa,

Se faz na prática de sala de aula e no exercício de atuação cotidiana [...].

É uma conquista social, compartilhada, pois implica trocas e representações.

(BOLZAN; ISAIA; MACIEL, 2013, p.59)

Um mais um, mais um, mais um, são todos que eu gosto.

Um mais um, mais um, mais um, sou eu e já são tantos.

Um mais um, mais um, mais um, de mãos dadas rodando.

Um mais um, mais um, mais um, somos um no meio dos outros.

O que eu sou pra você?

O que você é pra mim?

O que nós somos juntos?

(Trecho da letra: “Um para o outro” – Música em família)

E, se alguém prevalecer contra um, os dois lhe resistirão;

E o cordão de três dobras não se quebra tão depressa.

Eclesiastes 4.12

9

RESUMO

O presente trabalho conecta duas áreas complementares: a educação e educação musical

especial. A educação é compreendida como o processo socializador buscando a formação

integral do ser humano, e a educação musical especial por sua vez, é entendida como sendo o

ensino de música para pessoas com deficiência ou com necessidades educacionais específicas.

Esse estudo visa, compreender o processo de interação entre professor-professor do projeto

Som Azul, grupo esse voltado para o ensino de música para adolescentes e adultos com autismo.

Bem como, relatar como esse processo de interação influencia no desenvolvimento musical dos

alunos envolvidos no referido projeto na perspectiva dos professores/monitores atuantes;

trazendo assim, a visão de vários autores que ressaltam os reflexos da interação professor-

professor no ambiente de ensino. Como o universo da pesquisa está inserido no projeto Som

Azul, apontamos no decorrer do trabalho, alguns dos saberes necessários para professores de

música que desejam desenvolver atividades com alunos com o Transtorno do Espectro do

Autismo – TEA. No estudo, discutimos a diversidade do termo Sinergia em algumas áreas de

conhecimento, e aplicando o sentido da palavra no campo educacional como sendo interação

professor-professor. As reflexões tecidas no decorrer do estudo foram baseadas nas declarações

dos participantes que, com frequência, situaram o fazer musical e a troca de experiência docente

como a instância mais valorizada durante o processo de ensino aprendizagem musical no

projeto Som Azul.

Palavras-chave: Interação professor-professor; Sinergia; Educação Musical Especial;

Autismo.

10

ABSTRACT

The present work connects two complementary areas: education and special musical education.

Education is understood as the socializing process seeking that integral formation in human

beings, and the special musical education, in turn, is understood as the teaching of music for

people with disabilities or with specific educational needs. This study aims to understand the

process of interaction between teacher-teacher of the Som Azul project, a group that focuses on

teaching music to adolescents and adults with autism. This study also aims to report how this

interactional process influences the musical development on students accompanied by the

project from the teacher's or acting monitor's prospects; bringing the vision of several authors

that highlights the reflexes of teacher-teacher interaction in the learning environment. As the

academical research is part of the Som Azul project, we pointed out some necessary knowledge

for music teachers who wish to develop activities in students with Autism Spectrum Disorder–

ASD. In the study, we discussed the diversity of the term Synergy in some areas of knowledge,

and applying the meaning of that in the educational field as teacher-teacher interaction. The

reflections developed during the study were based on the statements of students that often

placed the musical playing and the exchange of teaching experience as the most valued instance

during the musical learning in the Som Azul project.

Keywords: Teacher-teacher interaction; Synergy; Special Music Education; Autism.

11

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Reunião de planejamento Som Azul .................................................................... 38

Figura 2 – Reunião de planejamento Som Azul .................................................................... 38

12

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Grupos e cursos do Projeto Esperança Viva .......................................... 16

Quadro 2 – Classificação do Autismo ........................................................................ 24

Quadro 3 – Diferentes conceitos de Sinergia............................................................... 30

Quadro 4 – Perfil dos professores entrevistados.......................................................... 38

Quadro 5 – Características básicas da abordagem qualitativa...................................... 49

13

LISTA DE SIGLAS

APAARN – Associação dos Pais e Amigos dos Autistas do Rio Grande do Norte

EMUFRN – Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UFPE – Universidade Federal de Pernanbuco

TEA – Transtorno do Espectro do Autismo

APA – Associação Psiquiátrica Americana

CID-10 – Código Internacional de Doenças

DSM-IV – Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (Manual de Diagnóstico e

Estatística de Transtornos Mentais) – IV edição

DSM-V – Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (Manual de Diagnóstico e

Estatística de Transtornos Mentais) – V edição

14

SUMÁRIO

1 – INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 15

2 – EDUCAÇÃO MUSICAL ESPECIAL E AUTISMO ................................................... 21

2.1 Saberes necessários para professores de música voltados para pessoa com autismo ... 24

3 – SINERGIA COMO INTERAÇÃO PROFESSOR-PROFESSOR ............................... 29

4 – PENSANDO COLETIVAMENTE: CONECTANDO OS ELOS DA CORRENTE ... 35

4.1 – Universo da pesquisa ................................................................................................. 35

4.2 – Descrição dos sujeitos ............................................................................................... 38

4.3 – Procedimentos metodológicos .................................................................................... 38

4.4 – Instrumentos de coleta de dados ................................................................................ 40

5 – ANÁLISE ...................................................................................................................... 41

6– CONCLUSÃO ................................................................................................................ 46

REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 48

ANEXOS

APÊNDICES

15

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho busca compreender o processo de interação professor-professor do projeto

de extensão Som Azul oferecido pela Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte – EMUFRN para pessoas com autismo e que funciona, ao mesmo tempo, como

laboratório de ensino para estudantes em formação inicial. Através de uma maior compreensão

sobre as particularidades e possibilidades do fazer musical para pessoas com autismo, busca-

se, ainda, ressaltar a importância da interação dos professores para o desenvolvimento

educacional do aluno bem como na formação dos profissionais envolvidos; identificar os

processos de elaboração dos planejamentos pedagógicos; caracterizar a experiência de

formação e atuação do professor de música na perspectiva da educação inclusiva.

A motivação para o tema da pesquisa surgiu a partir de vivências musicais durante a

prática docente no Som Azul. Dessa forma, houve um desejo de querer compreender os reflexos

da interação entre os professores no aprendizado musical do grupo de alunos que está sendo

coordenado por eles, tanto na elaboração quanto na execução das atividades. Esse ensino

colaborativo ocorre em outros projetos da Escola de Música da UFRN, entanto, não há nada

documentado sobre o tema, ou seja, não há trabalhos acadêmicos que envolvam essa temática.

O grupo Som Azul faz parte do projeto maior que é o Esperança Viva, e os

professores/monitores envolvidos também valorizam essa troca de saberes docentes. Sendo

assim a interação pode ser compreendida nesse trabalho como sendo o compartilhar de saberes

entre pessoas de um mesmo grupo, visando a construção do conhecimento enquanto indivíduos

e no coletivo. Em virtude do grupo Som Azul estar vinculado ao projeto de extensão Esperança

Viva, faz-se necessário relatar em um breve histórico, sobre o surgimento do projeto do qual

faz parte.

O projeto Esperança Viva surgiu na EMUFRN em setembro de 2011, inicialmente com

o nome “Curso de Flauta Doce para pessoas com Deficiência Visual”, coordenado pela

professora Catarina Shin. A sugestão do nome Esperança Viva foi sugerido por um dos alunos

que testemunhou no projeto a possibilidade de transformar vidas, trazendo esperança e alegria

para todos os envolvidos (SILVA; FONSECA, 2016). A partir de então o projeto tem se

renovado e ampliado a cada ano, como alguns dos professores/monitores dizem, “ele

floresceu”. Atualmente o projeto conta vários grupos musicais e cursos para pessoas com

deficiência e outras necessidades especificas conforme podemos verificar no quadro abaixo:

Quadro 1 - Grupos e cursos do Projeto Esperança Viva

16

Nome Grupo/Curso Tipo Público Alvo

Grupo Esperança Viva Flauta doce Deficientes visuais (DV)

Grupo Som Azul Musicalização e Flauta Doce Pessoas com autismo (PA)

Banda Braille Ponto Positivo Banda Baile DV

Orquestra de Violões Inclusiva Violão DV

Coral ViVendo o Canto Coral DV

Instrumento Percussão DV, microcefalia, Sindrome

de Down (SD)

Piano DV

Violão DV

Flauta Doce DV e PA

Violoncelo DV

Contrabaixo DV

Musicalização Musicalização PA, SD, Paralisia Cerebral,

Surdez

Cantando com a Libras Libras Estudantes e profissionais –

Capacitação em Libras por

meio de canções Fonte: O autor.

Todavia, o projeto não é apenas para pessoas com deficiência, é também para a formação

dos alunos da Graduação em Música, a fim de que estejam melhor preparados para atuarem em

sala de aula seja em contexto especial ou inclusivo, a partir da experiência no projeto. Essa é

uma característica dos projetos de extensão na Universidade, uma vez que ela é um lugar de

pesquisa e ensino, é de fundamental importância que os alunos estejam em contato com a ação

interativa entre ensino, pesquisa e extensão. Severino (2007) salienta que: “conhecimento se dá

como construção do objeto que se conhece, ou seja, mediante nossa capacidade de

reconstituição simbólica dos dados de nossa experiência. ” (SEVERINO, 2007, p.24-25).

Ele ainda ratifica que: “[...] na universidade, o conhecimento deve ser construído pela

experiência ativa do estudante e não mais ser assimilada passivamente, como ocorre o mais das

vezes nos ambientes didáticos-pedagógicos do ensino básico. ” (SEVERINO, 2007, p.25).

Silva e Fonseca (2016) ao relatarem um trabalho apresentado em um evento de educação

musical, relatam que:

Nós enquanto professores em formação inicial, consideramos que o projeto

proporciona uma nova visão sobre as pessoas com Necessidades Educacionais

Especiais (NEE1), desta forma, passamos a percebê-los como cidadãos com

1 Atualmente, esse termo foi substituído por necessidades educacionais específicas.

17

direitos, que merecem respeito e atenção. Tal visão permite que a sociedade

enxergue a capacidade desses indivíduos de serem produtivos como qualquer

outro indivíduo dito normal. (SILVA; FONSECA, 2016, p.4).

Dessa forma, a relação entre pesquisa, ensino e extensão é notório no projeto, uma vez

que possibilita a todos os envolvidos a experiência de compartilhar o que aprendem com os

outros professores/monitores, alunos e com a sociedade em geral por meio dos trabalhos

científicos.

Entrei no projeto Som Azul por ter uma curiosidade enorme sobre o que é o autismo,

tive contato ao longo da vida com algumas deficiências, mas ainda não tinha me deparado com

uma pessoa com autismo. Ao me deparar com esse novo mundo, comecei a querer saber mais

de como trabalhar musicalmente com esses alunos que tem tanto a nos ensinar em poucas

palavras. Nas primeiras aulas lembro que tive um choque muito grande porque achei que seria

apenas o ensino de música para pessoas com autismo, só que com crianças, e ao entrar na sala

me deparei com alunos até mais velhos que eu, e em uma sala pequena com vários deles

agitados, gritando, fiquei sem saber o que fazer e até a pensar: “Socorro, onde foi que eu me

meti”.

Mas, achei desafiador, porque pensei por que não conhecer o processo de ensino

aprendizagem das pessoas com autismo? E me imaginei como uma educadora musical que

poderia terminar o curso superior sem o conhecimento prévio sobre o autismo. E me indaguei

novamente, como seria se ao lecionar em uma escola me deparasse com um aluno com autismo?

Saberia como incluir ele nas aulas de música? E foi então que resolvi “arregaçar as mangas” e

me unir à equipe no final do segundo semestre de 2015.

A partir da troca de experiências e do apoio mútuo que recebi da equipe, fui ganhando

mais confiança a cada aula, e no projeto pude então colocar em prática os meus conhecimentos

acadêmicos, observando os erros e acertos.

Foi a partir desse apoio, da troca de experiências que me surgiu a ideia de escrever esse

trabalho de conclusão de curso sobre a temática, chamando assim de um termo bastante

praticado no grupo como um todo, entretanto, pouco divulgado na área de educação musical, a

Sinergia que há na equipe.

Diante disso, o presente trabalho conecta duas áreas complementares: a educação e

educação musical especial. A educação como processo socializador busca a formação integral

do ser humano, e nessas relações sociais a interação entre sujeitos possibilita a constante troca

de conhecimentos dos saberes que são criados e recriados pela sociedade. A educação musical

especial por sua vez, é compreendida como sendo o ensino de música para pessoas com

18

deficiência ou com necessidades educacionais específicas, desenvolvendo e estimulando

habilidades musicais por meio de recursos adaptados diante das especificidades de cada aluno.

Diante dessas particularidades que cada educando apresenta, Fonterrada (2008) discute

que:

Com isso, constata-se que o mundo atual tem necessidades específicas, que

impõem a busca de alternativas, tornando-se claro que se está diante da

emergência de um novo paradigma, não-linear, acausal e multidirecional,

determinante de procedimentos e ações humanas que, talvez, sejam a única

maneira de fazer frente às demandas da sociedade contemporânea em todos

os campos (...) (FONTERRADA, 2008, p.17)

Nesse contexto de educação musical especial, discutir o ensino de música para pessoas

com deficiência é necessário pensar que o professor precisa estar capacitado para atender a

diversidade de espaços multidisciplinar, uma vez que a educação musical estuda as múltiplas

vivências musicais com diferentes sujeitos, situações e faixas etárias.

Dessa forma, o professor é peça fundamental no desenvolvimento musical do aluno, ele

é o agente mediador nesse processo. O professor e psicólogo Reuven Feuerstein, desenvolveu

em meados da década de cinquenta a sua teoria da Experiência da Aprendizagem Mediada

(EAM) partindo da posição que todo o ser humano é modificável. Para que tal modificação

aconteça, é preciso haver a mediação como sendo uma estratégia de intervenção por meio de

um mediador que primará por sua qualidade, visando produzir efeitos no organismo do

mediado, buscando melhor eficácia no processamento de sua informação (Orrú, 2003).

Embora, apesar de saber da importância desses aspectos, nosso foco na pesquisa não

está no processo professor-aluno, todavia na interação professor-professor e na relevância dessa

relação no desenvolvimento musical dos alunos. A interação professor-professor oportuniza aos

educadores envolvidos a troca de experiências, o apoio mútuo, encorajamento, crescimentos

pessoal e profissional. À vista disso, Pacheco (2007) diz que:

O ensino em equipe permite uma intervenção coordenada de diferentes

professores para um aluno ou um pequeno grupo de alunos. Isso encoraja o

estabelecimento de uma diversidade de contatos e diferentes tipos de

comunicação e abordagens entre professores e alunos. (PACHECO, 2007,

p.119)

Diante do exposto, o procedimento metodológico adotado para o estudo é a Experiênci-

Ação dentro de uma abordagem qualitativa. A Experiênci-Ação é compreendida por Costa e

Leão (2013) como sendo o:

19

Processo de vivência musical definido como o processo planejado, flexível

quanto ao atendimento das necessidades que os alunos trazem para a sala de

aula e observado pelo professor intermediador/pesquisador, com fins de

análise de seus resultados a curto e longo prazo. (COSTA e LEÃO, 2013,

p.61)

Sendo assim, para esse estudo foi adotado a abordagem qualitativa que tem sido bastante

utilizada no estudo de fenômenos subjetivos e que precisam de maior flexibilidade na pesquisa.

A pesquisa qualitativa é compreendida a interpretação de fenômenos que não podem ser

traduzidos em números. Segundo Silva e Menezes (2005), “ambiente natural é a fonte direta

para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento- chave. (SILVA; MENEZES, 2005, p.20).

Para essa pesquisa estruturamos o trabalho em seis capítulos, os quais apresentarei a

seguir. O primeiro capítulo é destinado a apresentação do trabalho, quanto as questões

norteadoras, os objetivos do estudo, a motivação para a justificativa, a metodologia e os

caminhos da análise.

Logo após, no segundo capítulo, conceituamos a educação musical especial de forma

geral e específica, abordando assim os conhecimentos essenciais que o professor necessita para

desenvolver atividades musicais com o aluno com deficiência, eliminando os diversos rótulos

relacionados à educação especial. Bem como, apontamos nesse mesmo capítulo, os saberes

necessários para professores de música voltados para pessoa com autismo, conceituando o

Transtorno do Espectro do Autismo – TEA, em um breve relato histórico.

No terceiro capítulo apresentamos o contexto central da pesquisa que é a Sinergia em

Música, abordando o termo em diferentes áreas de conhecimento, e relacionando a palavra

Sinergia como sendo interação professor-professor dentro do projeto Musicalização e Autismo

– Som Azul. Será apresentado ainda, a visão de vários pesquisadores sobre a temática, falando

sobre os reflexos no aprendizado musical que essa interação produz, tanto para o professor

quanto para o próprio aluno.

Em seguida, no quarto capítulo abordamos as etapas da Experiênci-Ação sob o princípio

da abordagem qualitativa. Portanto, destacaremos o universo da pesquisa, os procedimentos

metodológicos adotados para a pesquisa, as ferramentas para a coleta de dados, e também

descrevendo os sujeitos do estudo.

No capítulo cinco, corresponde aos resultados da pesquisa, abordando a maneira como

os professores/monitores espontaneamente se expressam por meio do questionário online

disponibilizado, como compreendem o processo de interação professor-professor. Por fim, o

último capítulo é destinado as considerações finais do trabalho no qual esperasse que mais

pessoas pesquisem sobre a temática na área de educação musical.

20

2 EDUCAÇÃO MUSICAL ESPECIAL E AUTISMO

Iniciarei esse capítulo citando uma frase muito comum, que para alguns já é clichê em

trabalhos voltados para educação musical especial: “A música é para todos”. Acredito que sim,

a música é para qualquer sujeito que esteja disposto a conhecer esse fantástico mundo, ela pode

romper barreiras de todo o tipo. Cabe a nós como educadores musicais proporcionar o ensino

de qualidade e facilitar o acesso de todos os alunos à música, sem exceção.

Certa vez em uma entrevista falando sobre o ensino de música voltado para pessoas com

autismo, uma moça me perguntou se nós tínhamos um conteúdo diferenciado para trabalhar

com o grupo, eu disse que não, trabalhamos os mesmos conteúdos musicais como se fossem

pessoas neurotípicas, a única coisa que procurávamos fazer era adaptar os materiais e

abordagens de acordo com as especificidades que o aluno apresentasse.

Por se tratar de um curso de formação de professores em música, a grade curricular do

curso de licenciatura em música da Escola de Música da UFRN – EMUFRN poderia priorizar

mais disciplinas que qualificassem o professor em formação inicial nessa área, tendo em vista

que na área de educação musical especial poucos são os profissionais capacitados para atender

a demanda de um ensino musical inclusivo de qualidade.

A educação musical especial é a área que engloba o ensino de música para pessoas com

deficiência, desenvolvendo e estimulando habilidades musicais por meio de recursos adaptados

diante das necessidades especificas de cada aluno. No Brasil o interesse pelo tema está

crescendo cada vez mais em virtude de duas vertentes, a primeira na inserção da música como

currículo obrigatório nas escolas e a segunda decorre das políticas de inclusão de alunos com

deficiência nas redes de ensino. Visto que a música está prevista como conteúdo curricular

obrigatório, estes alunos também terão direito de usufruir das mesmas atividades musicais que

seus colegas (VIANA, 2015).

Nesse contexto, Gainza (2010) falando sobre o ensino mais democrático da música

aponta que:

Um ensino de música mais democrático seria aquele que abrangesse

absolutamente toda a população, independente da característica física ou

social, se tem deficiência ou não, se pertence à classe considerada de risco

social ou não. (GAINZA, 2010 apud VIANA, 2015, p.19)

Diante dessas duas vertentes, a segunda, em especial, nos leva a uma reflexão sobre a

preparação do professor de educação musical ante a inclusão de pessoas com deficiência nas

21

redes básicas de ensino. Quais são seus principais desafios? Quais os saberes e competências

deveriam estar implicados na preparação do educador musical na perspectiva da educação

inclusiva?

A partir de estudos realizados na EMUFRN por outros pesquisadores e conversas

informais com alunos da graduação em licenciatura em música, verificamos que muitos deles

não se sentem seguros frente ao aluno com deficiência na rede básica de ensino. Alguns dos

alunos da Licenciatura em Música buscam complementar sua formação cursando disciplinas

em outros departamentos da universidade, a fim de se preparem melhor para atuarem como

educadores musicais capazes de incluir um aluno com deficiência nas aulas de música.

Outra parte desses alunos buscou no projeto de extensão Esperança Viva a oportunidade

de adquirir mais experiência e conhecimento na área de educação musical especial. A

participação do aluno em projetos de extensão é vista como sendo a interligação entre Ensino-

Pesquisa-Extensão e é “um conceito de qualidade do trabalho acadêmico que favorece a

aproximação entre universidade e sociedade. ” (ANDES, 2003, p.30) A extensão universitária

proporciona “ao acadêmico postura de pesquisador, mobilizando sua criticidade e, por meio da

reflexão, será capaz de empreender uma nova intervenção social, iniciando um novo ciclo de

aprendizagem. ” (ROSÁRIO; ARAÚJO; MESQUITA; SANTOS, 2013)

Sendo assim, destacamos a seguir, alguns pré-requisitos que o professor que lida com

pessoas com deficiência precisa saber. Antes de tudo, ele deve eliminar os diversos rótulos

relacionados à deficiência e transferir sua atenção para o modo como seu aluno recebe as

informações em decorrência dos déficits que apresenta (HAMEL, HOURIGAN, 2011, p.13

apud OLIVEIRA, 2015, p.36)

Louro (2012) aborda alguns pré-requisitos para o professor que deseja uma educação

musical especial de qualidade, dentre os quais destaco quatro pontos:

Quebra de barreiras atitudinais: no que se diz respeito ao estigma, mais

especificamente à infantilização da pessoa com deficiência, tornando-a incapaz e impedindo-a

de conquistar sua própria independência, um bom professor não deve jamais ter esses

pensamentos ou atitudes com relação ao seu aluno, todavia deve “ater-se ao potencial do aluno

e não à sua deficiência” (LOURO, 2012, p.50);

Conhecimento mais profundo da deficiência: isso facilitará nos planejamentos das

aulas, pois quanto mais se conhece do aluno e de sua deficiência, melhor o desenvolvimento

cognitivo do mesmo;

Definição clara e realista das metas pedagógicas-musicais: Para traçar uma proposta

metodológica o professor precisa antes de qualquer coisa, conhecer o aluno e o contexto de

22

ensino. A partir desse conhecimento prévio, o educador elabora os conteúdos, objetivos, além

da organização das aulas e, por fim, a avaliação.

Intercâmbio de informações: vários profissionais fazem parte da rotina do aluno e o

professor de educação musical precisa estar integrado com essa equipe. Eles serão os

facilitadores de recursos pedagógicos que para a nossa área podem ser desconhecidos e que,

sem dúvida, trarão um retorno positivo no processo de aprendizagem do aluno.

É certo que não estaremos completamente aptos para lidar ou trabalhar com um aluno

com deficiência, não há uma regra, nem uma fórmula a seguir, entretanto os pontos levantados

aqui nos auxiliam no fazer musical com esses alunos.

Como o contexto da pesquisa está centrada nos educadores musicais que ensinam

pessoas com autismo, a seguir abordarei alguns saberes que os professores necessitam para lidar

com alunos com autismo.

2.1 Saberes necessário para professores de música voltados para pessoa com autismo

Vimos anteriormente, de forma geral, os pré-requisitos necessários que um professor de

educação musical especial deveria conhecer sobre alunos com deficiência. Nesse tópico

apresentaremos os saberes fundamentais que o educador musical deve conhecer para o ensino

de música voltado para pessoas com TEA – Transtorno do Espectro do Autismo, visto que está

inserido no contexto da pesquisa. Antes de abordamos os saberes do ensino de música para

pessoas com TEA, traremos um breve comentário histórico do autismo, quanto a utilização dos

termos, critérios e principais características do autismo.

A palavra autismo tem sua origem no termo grego autos, que significa de si mesmo, e

ismo, voltado. Atualmente a expressão transtorno do espectro autístico, é utilizada para

caracterizar um grupo de “patologias do desenvolvimento neuro-psicológico que diferem em

termos da etiologia subjacente e das formas de manifestação” (CHARMAN, 2011). No campo

da psiquiatria, o termo foi empregado na expressão “pensamento autístico”, utilizado pela

primeira vez por volta de 19062 por Eugen Bleuler, psiquiatra suíço, para caracterizar a perda

de contato com a realidade e o isolamento social de pacientes esquizofrênicos (NUNES, 2013).

Na década de 1940, o psiquiatra austríaco, Léo Kanner (1894 – 1981), dedicou-se a

estudar e a investigar o comportamento das pessoas que eram consideradas estranhas. Kanner

foi um dos pioneiros na descoberta e da elaboração do conceito sobre autismo no século XX.

2 A partir de algumas pesquisas sobre o início do uso da expressão empregada por Eugen Bleuler, constatou-se

que não há uma data precisa, uma vez que vários autores trazem datas diversificadas.

23

Ele realizou uma pesquisa com 11 crianças que apresentavam comportamentos e movimentos

estereotipados, por meio de padrões ritualísticos e não funcionais, como também certa

dificuldade no modo de se relacionar com as pessoas, além da intolerância às mudanças de

rotina, a partir desse estudo, ele percebeu que era um quadro de sintomas próprios apresentados

por aquelas crianças. Após ele, surgiram vários outros pesquisadores, a fim de registrarem seus

estudos e hipóteses sobre a origem do autismo. (ORRÚ, 2016).

O TEA possui uma história marcada por várias alterações de nomenclatura e também

nos critérios utilizados para o diagnóstico. Atualmente, para estabelecer os critérios de

diagnósticos do autismo é utilizado de dois critérios, o primeiro é o Código Internacional de

Doenças (CID-10) que foi elaborado pelo Organização Mundial de Saúde (OMS) em 1993; o

segundo é o Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais (DSM-53) que está na

5ª edição e foi elaborado pela Associação Americana de Psiquiatria (APA), lançada em 2013.

Vale ratificar que o autismo não é uma doença nem uma síndrome, já que não é

conhecido o gene causador. Entretanto, é classificado como sendo um transtorno ou um

distúrbio do neurodesenvolvimento. (DSM-5, 2013; ORRÚ, 2017.)

Como forma de apontar as alterações de terminologias e de critérios diagnósticos na

classificação do autismo pelo CID-10, DSM-IV, e o DSM-V. Trago abaixo no Quadro 1, um

comparativo, apontando suas diferenças:

Quadro 2 - Classificação do Autismo

CID-10 (Transtornos Globais do

Desenvolvimento – F84)

DSM-IV (Transtornos Globais do

Desenvolvimento)

DSM-V (Transtornos do Espectro

Autista – TEA)

Transtornos Autista

Transtorno de Rett

Transtorno Desintegrativo da

Infância (Síndrome de

Heller, demência infantil a

psicose desintegrativa)

Transtorno de Asperger

Autismo Infantil – F84.0

Autismo Atípico – F84.1

Síndrome de Rett – F84.2

Outro Transtorno

Desintegrativo da Infância –

F84.3

Transtorno com Hipercinesia

Associada a Retardo Mental

Grau leve: necessidade de

pouco apoio.

Grau moderado: necessidade

de apoio substancial.

Grau severo: Necessidade de

apoio muito substancial.

3 É uma sigla inglesa, Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – DSM, da Associação Psiquiátrica

Americana (APA) que em maio de 2013 apresentou oficialmente a quinta edição do DSM.

24

Transtorno Invasivo do

Desenvolvimento Sem Outra

Especificação. TID-SOE

e a Movimentos

Estereotipados – F84.4

Síndrome de Asperger –

F84.8

Transtorno Globais não

Especificados do

Desenvolvimento (TID-

SOE) – F84.9

Fonte: Direito de ser diferente, 2011.

Quanto aos critérios de diagnósticos elaborados pela Associação de Psiquiátrica

Americana (APA) relatada no DSM-5 (2013), estabelece que devem ser preenchidos os critérios

abaixo:

1) Déficits clinicamente significativos e persistentes na comunicação social e

nas interações sociais, manifestadas de todas as maneiras seguintes:

a) Déficits expressivos na comunicação não verbal e verbal usadas para a

interação social;

b) Falta de reciprocidade social;

c) Incapacidade pera desenvolver e manter relacionamentos de amizade

apropriados para o estágio de desenvolvimento.

2) Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades,

manifestados por pelo menos duas das maneiras abaixo:

a) Comportamentos motores ou verbais estereotipados, ou

comportamentos sensoriais incomuns;

b) Excessiva adesão/aderência a rotinas e padrões ritualizados de

comportamento;

c) Interesses restritos, fixos e intensos.

3) Os sintomas devem estar presentes no início da infância, mas podem não se

manifestar completamente até que as demandas sociais excedam o limite de

suas capacidades. (DSM – V, 2013, p.50-51)

Outros autores como Orrú (2016, p.34), sinalizam algumas características,

frequentemente associadas ao autismo. A partir do estudo, destaco a alguns pontos:

Expressões de uma ou duas palavras ao invés da elaboração de expressões de frases;

Poucas fala comunicativa, com tendências ao monólogo;

Utilização do pronome pessoal da terceira pessoa no discurso ao invés da primeira;

Dificuldade na compreensão de informações ou significados abstratos;

Pouca alteração na expressão emocional;

25

Ecolalia imediata e/ ou posterior;

Ausência do contato olho a olho;

Interesses e iniciativas limitadas.

O trabalho pedagógico junto a alunos com autismo quase sempre é desafiador,

entretanto o professor não deve tratar o aluno autista como um indivíduo com laudos

diagnósticos, rotulando como uma pessoa incapaz de fazer alguma atividade como os ditos

“normais” pela sociedade. Esse processo excludente é abordado por Orrú (2016) quando diz

que:

[...] a partir do diagnóstico infundido, do estigma e do rótulo impregnado na

criança, aquelas características preditas nos critérios diagnósticos que até

então eram abortas, separadas do indivíduo, passam então a tomar vida, a se

concretizar neste indivíduo. Nesse instante o processo iatrogênico inicia-se a

materialização do diagnóstico na criança que é transposta à condição daquele

diagnóstico; portanto, agora ela é uma “autista”, pois o diagnóstico

desempenha a função de identificar, nomear, classificar as coisas; não

obstante, ele nomeia algo (coisifica) no indivíduo, neste caso, o designa de

autista. (ORRÚ, 2016, p.44)

A coisificação do indivíduo, tratada pela autora, é o resultado de concepções

reducionistas do potencial de uma pessoa, culminando com a exclusão do mesmo de seu grupo

social. Até mesmo quando ele ainda nem possui formalmente o laudo diagnóstico, mas

apresenta características do TEA

Há profissionais da educação, tanto nas redes públicas ou privadas de ensino, que

exigem do pais o laudo médico para que a criança possa ter acesso ao Atendimento Educacional

Especializado (AEE) ou frequentar classes especiais para que possam avaliar seu processo de

aprendizagem. Isso chama a atenção para a supervalorização dos diagnósticos, onde os

indivíduos são deixados de lado e todas as suas possibilidades de aprendizagem. Orrú (2016)

citando Wener Jr. acentua que:

Infelizmente, mesmo aqueles que lutam pela inclusão social do deficiente

buscam, incessantemente, o apoio de diagnósticos e classificações como

instrumentos fundamentais para abordagem do deficiente. [...] Esse fato fica

bem marcado na dependência do educador às avaliações médicas,

neuropsicológicas, em que se procura referência (diagnóstico médico, teste de

QI, nível de atenção) para planejar o processo pedagógico, que se torna cada

vez mais centrado na deficiência do aluno do que no processo de interação

social. (WERNER JR., 2010 apud ORRÚ, 2016, p.50-51)

26

A autora ratifica ainda que a escola torna-se dependente do laudo médico, como se o

diagnóstico trouxesse inspiração para a elaboração dos planejamentos metodológicos

adequadas para o aluno rotulado como a deficiência, aumentando ainda mais o estigma do

indivíduo.

Em contrapartida a isso, devemos atentar para o aluno com autismo como um ser, que

tem sonhos, personalidade, tem uma história de vida e que pode nos ensinar muito mais do que

imaginamos, basta tão somente deixar de lado a rotulação do diagnóstico e enxergar além do

Transtorno do Espectro do Autismo.

A partir do que foi relatado acima, abordaremos algumas considerações sobre o

educador musical que deseja desenvolver um trabalho junto com pessoas com autismo. Para

início, é fundamental que o professor seja um conhecedor do TEA e das suas características.

Como uma das características predominantes do autismo é o isolamento social, o professor que

deseja retirar o aluno desse isolamento necessita ter uma relação de qualidade com o mesmo, é

certo que não é uma tarefa fácil, entretanto, também não é impossível de ser realizada.

Outro fator importante que deve ser lavado em consideração pelo educador musical é a

rotina, uma vez que é muito comum que pessoas com autismo tenham apego a rotina, por esta

razão é preciso que o professor organize um trabalho estruturado e organizado, a fim de que tire

proveito desse apego rotineiro que o aluno possui.

Hammel (1999 apud OLIVEIRA, 2015, p.44), destaca algumas habilidades e técnicas

que o educador musical precisa dispor, entre elas enfatizo:

Capacidade de monitorar o processo de aprendizagem de todos os alunos;

Capacidade de modificar/adaptar o ambiente físico da sala de aula para os alunos

especiais;

Capacidade de incentivar interações sociais adequadas entre todos os alunos;

Conhecimento de técnicas eficazes de gestão da sala de aula;

Conhecimento dos materiais apropriados para os diversos estilos e habilidades de

aprendizagem;

Capacidade de adaptar o material em decorrência das diferenças individuais.

De forma geral, as pessoas com autismo apresentam dificuldades na comunicação

verbal, todavia por intermédio da música elas podem conseguir se expressar mais facilmente.

Diante dessa visão Lisardo (2009) afirma que:

A música cria a comunicação entre as pessoas, de diversas maneiras, pois sua

vivência se assenta em atividades conjuntas: quem cria, cria para alguém

27

ouvir. Quem interpreta, interpreta para o outro. Quem ouve, ouve a criação de

um terceiro. Daí, direta ou indiretamente, a música cria comunicação,

favorecendo o sentimento de pertencimento a um grupo (LISARDO, 2009

apud OLIVEIRA 2015, p. 42).

A partir dessa exposição, notamos a capacidade de interação que a música proporciona

as pessoas, independente se ela tem algum Transtorno do Espectro do Autismo ou não. A

comunicação através da música possibilita ao aluno com TEA tanto um crescimento de

conhecimento como uma aproximação com o mundo que o cerca.

28

3. SINERGIA COMO INTERAÇÃO PROFESSOR-PROFESSOR

Como o desenvolvimento deste trabalho está fundamentado no termo Sinergia, julgou-

se necessário fazer algumas considerações sobre o significado desse termo, como também

conceituar algumas áreas de conhecimento onde ele é aplicado.

O psicólogo José Morelli em seu blog “Comunicando Psicologia”, discorre sobre a

origem do termo Sinergia. Segundo ele, essa palavra derivada da junção de dois vocábulos

gregos: syn que significa cooperação e érgon que significa trabalho.

Sinergia não é um termo novo na história da humanidade, há uma diversidade de

conceitos em diversas áreas de conhecimento, e tem sido aplicado nessas áreas desde os

primórdios da civilização. Na área de música, por algumas vezes, utilizamos esse termo seja na

docência compartilhada em projetos de extensão, seja na área performática, seja ainda na

execução de uma sinfonia por uma orquestra ou no fazer musical na área composição, quando

o compositor precisa pensar em outros instrumentos para executar sua música. A partir da

pesquisa bibliográfica, constatei que é uma temática, aparentemente, escassa na área de

educação musical. Entretanto, foi achado estudos em outras áreas, como psicologia,

administração e na área de ciências humanas (sociologia e filosofia), que apresentarei a seguir.

Encontramos, o sentido da palavra Sinergia no livro do filósofo e sociólogo francês

Pierre Lévy, o qual aborda o termo “inteligência coletiva” em seu livro “L'Intelligence

collective. Pour une anthropologie du cyberespace” (A Inteligência coletiva – por uma

antropologia do ciberespaço”). O autor aborda que a inteligência coletiva de ser “compreendida

como na expressão trabalhar em comum acordo” (LÉVY, 2011, p.26). Ele ainda expressa que

a base e o objetivo da inteligência coletiva é “o reconhecimento e o enriquecimento mútuos das

pessoas ” (LÉVY, 2011, p.29). A inteligência coletiva não está restrita a poucos privilegiados,

mas distribuída em todos os indivíduos, não há ninguém que seja nulo nesse contexto. Em seu

livro o Lévy discorre sobre o termo política molecular que procura aproveitar e valorizar cada

qualidade humana, sendo assim ela

Promove uma engenharia do laço social que faça trabalhar o conjunto, que

faça as criatividades, a capacidade de iniciativa, a diversidade das

competências e as qualidades individuais entrar em sinergia, sem acerrá-las

ou limitá-las por meio de categorias ou estruturas molares, a priori. (LÉVY,

2011, p.59, grifo do autor).

29

A partir do exposto anteriormente, trago abaixo um Quadro 2 retratando o termo

Sinergia em algumas áreas de conhecimento, afim de compreendermos a definição desse termo

em outros campos.

Quadro 3 – Diferentes conceitos de Sinergia

Área Autor Definição

Administração Hindle – 2002 “É um pensamento filosófico

que afirma que, somando-se

uma força negocial com

outra, pode-se criar algo

maior que o total desse

somatório”

Sociologia Houaiss – 1982 “Coesão dos membros de um

grupo ou coletividade em

prol de um objetivo comum”

Filosofia Aurélio - “Ação simultânea de diversos

órgãos ou músculos, na

realização de uma função”

Medicina Aurélio - “Ato ou esforço coordenado

de vários órgãos na

realização de uma função”

Ecologia Aurélio - “Cooperação entre grupos ou

pessoas que contribuem,

inconscientemente, para a

constituição ou manutenção

de determinada ordem

ecológica, em defesa dos

interesses individuais.”

Fonte: MARTINS; FARAH; NETO; GIULIANI; CORRÊA, 2006.

NOTA: Texto adaptado.

Na área da música, encontramos o sentido da palavra Sinergia no campo da

performance, nessa área aplica-se o sentido desse termo para que haja a troca de conhecimentos

na busca de expertise. O pesquisador Stenberg (1989) definiu expertise como sendo a

30

capacidade, adquirida pela prática, de desempenhar qualitativamente bem uma tarefa particular

de domínio específico (STENBERG, 1989, p. 158 apud ALVES, 2013 p. 11). Na dissertação

de Alves (2013), ele aborda um estudo sobre a expertise e fundamenta a pesquisa na visão de

vários teóricos sobre a temática e traz que a expertise se relaciona com o acúmulo de

conhecimentos, esse processo de conhecimento é desenvolvido ao longo prazo, como resultado

de experiências e práticas extensivas.

No campo da música, podem ser considerados experts os que apresentam uma execução

excepcional no seu instrumento, para tanto faz-se necessário que o indivíduo tenha, pelo menos,

dez mil horas de prática deliberada e atinja o nível de performance expert. Entretanto é

importante que realize seu estudo com quantidade e qualidade, preocupando-se com a

manutenção da performance e não apenas com a aquisição da expertise. Outro fator importante

que o autor traz em sua dissertação, é a motivação do indivíduo durante a manutenção da

expertise, por ser um elemento fundamental para apoiar os esforços necessários afim de que ele

realize a tarefa com virtuosidade.

O estudo motivacional do aluno expert, é reforçado a partir do método de aprendizado

cooperativo ou colaborativo. O pesquisador Stipek (1996), aponta que a motivação no trabalho

em grupo depende das habilidades mistas de cada indivíduo envolvidos no grupo, mostrando

ainda que a comparação dos diferentes níveis dos alunos é um importante mecanismo

motivacional, visto que o desempenho de cada aluno depende do sucesso de todos os membros

do grupo. A motivação, portanto, pode ser considerada como elemento fundamental para

manter o foco no estudo a longo prazo.

No processo de aquisição da expertise, um componente fundamental na aprendizagem

é o chamado feedback, e são mencionados dois tipos: o autofeedback e o feedback externo, esse

estudo foi apresentado na dissertação de Navia (2013). Segundo o autor, o primeiro feedback

está relacionado com capacidade que o indivíduo tem em monitorar aspectos específicos de seu

aprendizado. O segundo, vem da capacidade das pessoas dos círculos externos, certamente o

do professor é o mais importante, em potencializar a aprendizagem provendo o aperfeiçoamento

das técnicas do estudo individualizado e auxiliando a monitoração da autoanálise.

A partir do exposto, vimos que a expertise exige dedicação e estudo diário do músico,

ele passa horas e horas de treino frequente ao seu instrumento, tornando sua prática musical

muito individualizada. Todavia, a interpretação de uma obra aproxima-se do coletivo pelo

constante diálogo com o pensamento do compositor, pela observação e imitação das maneiras

de outros intérpretes, além do convívio com professores e colegas em disciplinas teóricas e

possíveis ensaios em grupos. Sendo assim, a prática colaborativa em música torna-se “o produto

31

do que é feito por ele [o sujeito] e por aqueles que com ele compartilham da ação. Tocar, cantar,

improvisar, compor e ouvir são, assim, ações praticadas por sujeitos cuja presença e atividade

compõem um espaço específico de interação” (SANTOS, 1996 apud CUNHA, 2013, p. 347,

grifo nosso).

A partir dessa perspectiva compreendemos que a prática colaborativa (ou coletiva)

revela, segundo Cunha (2013),

O espaço invisível, porém, perceptível da prática coletiva, favorece a união da

expressividade de cada um dos musicantes, de forma que ali se revela a força

da atitude musical coletiva: nesses momentos o grupo se torna socialmente

criado e criador de cultura, locus de transmissão de conhecimentos e da

emergência de afetos. (CUNHA, 2013, p. 363, grifo do autor).

Sendo assim, a prática isolada do músico ajuda a desenvolver a expertise, sua habilidade

em desempenhar com qualidade no instrumento, entretanto a prática coletiva cria um ambiente

de interação entre os músicos.

Com base no que foi dito acima, podemos aplicar o sentido da palavra sinergia no campo

educacional como sendo como interação professor-professor. O sentindo do termo aplica-se a

equipe do Som Azul – grupo voltado para o ensino de música para pessoas com autismo dentro

da EMUFRN, no qual todos têm a oportunidade de expressar suas opiniões, de compartilhar

suas experiências, e cada um se torna importante com as vivências musicais que traz consigo

ao longo de sua atuação. Kinoshita (2009) evidencia que o exercício de compartilhar a docência

permite a troca de saberes que cada professor traz consigo em sua bagagem de formação, e

“abre-se um espaço real de compartilhamento de conhecimentos e relações de ajuda,

transformando movimentos solitários em movimentos solidários. ” (KINOSHITA, 2009, p. 50).

Nessa perspectiva, ninguém é inferior a ninguém, todos tem sua importância no projeto, a

participação e a atuação como educador é imprescindível na construção do ensino colaborativo,

visando o desenvolvimento musical dos alunos.

Ao estudar a literatura sobre o tema central da pesquisa: interação professor-professor,

percebe-se a existência de uma lacuna na área de educação musical. Os trabalhos que

identificamos durante a revisão de literatura, embora não sejam específicos de música,

fortalecem essa temática e apontam o termo interação professor-professor com diferentes

expressões. É o caso de Bolzan; Isaia; Maciel (2013) que traz em suas pesquisas o termo

professoralidade que pode ser entendida como:

32

Uma ótica de reflexão sistemática em que o foco está nas relações

interpessoais, entendidas como o componente intrínseco ao processo de

ensinar, aprender, formar-se e, consequentemente, desenvolver-se

profissionalmente” (BOLZAN; ISAIA, 2006, 2007, 2008; ISAIA; BOLZAN,

2007).

Sendo assim, o professor não deve só dominar saberes, conhecimentos de um

determinado campo, mas ter a reflexão crítica como componente no processo de ensinar,

aprender, formar e formar-se, a fim de que nesse processo, desenvolva a professoralidade.

Outro artigo que foi tomado como referência inicial para esse estudo, é o de Raposo e

Maciel (2005) que procuram investigar os processos co-construtivos presentes nas interações

professor-professor, fundamentais para a elaboração e execução dos projetos vividos em uma

escola pública de formação de professores do Distrito Federal. A partir desse tema, as autoras

indicam que “as identidades isoladas, construídas historicamente pelos docentes precisam ser

superadas em busca de uma dimensão de grupo, que rejeite o corporativismo e afirme a

existência do coletivo profissional”. (RAPOSO; MACIEL, 2005, p.311). Dessa forma,

compartilhamos da mesma linha de pensamento das autoras, porém, o contexto de ensino

encontrasse no projeto de extensão Som Azul da EMUFRN, o qual abordarei mais à frente no

universo da pesquisa.

Outros autores trazem que o trabalho solitário do professor pode limitar o crescimento

profissional e a construção do sentido do seu trabalho (PASSOS, 1999, p.110). Por esta razão,

Pacheco (2007) afirma que “as pessoas atingem níveis mais altos de desenvolvimento juntas do

que conseguiriam separadamente” (PACHECO, 2007, p.115), uma vez que juntos (em equipe)

somos capazes de realizar tarefas que seriam difíceis de alcançar sozinhos. O ensino em equipe

é ratificado por Pacheco (2007) quando afirma que:

Uma colaboração estreita dos professores parece levar à sinergia e é, portanto,

qualificadora. Dessa forma, o ensino em equipe, em que os professores

compartilham responsabilidades total, é recomendado (PACHECO, 2007,

p.210)

Visão essa que é ressaltada por Zeichner (1993) quando valoriza a interação entre os

membros do grupo, visto que os professores podem apoiar e sustentar o crescimento um dos

outros. A interação professor-professor reflete nos próprios alunos, tendo em vista que um só

professor não conseguiria atender, nem muito menos conhecer todas as limitações que seu aluno

apresente, no nosso caso se tratando de alunos com autismo. Diante disso, Pacheco diz que

33

Conhecer as características dos alunos, suas habilidades e dificuldades, como

resultado de diferentes observações e perspectivas, parece ser uma experiência

mais rica do que aquilo que resulta da visão de apenas um professor.

(PACHECO, 2007, p.119)

Compartilhamos da mesma concepção do autor, uma vez que a equipe toda se envolve

no processo de desenvolvimento educacional do aluno, pois sabemos o quão difícil seria ter

apenas um professor para organizar a sala, materiais, fazer o acolhimento, o desenvolvimento

das atividades, e ainda ter tempo de analisar cada dificuldade apresentada pelos alunos na

execução das atividades. Com a equipe toda participando desses procedimentos metodológicos

da aula, não irá sobrecarregar ninguém, pois cada um terá sua responsabilidade no decorrer da

aula.

Vimos que as contribuições dessa sinergia entre os professores, beneficia tanto os

educadores, quando permite que eles auxiliem nas limitações um dos outros, troquem

experiências, uma vez que na equipe há diversos níveis de formação profissional, e como a

maioria dos professores/monitores são do curso de Licenciatura em Música é uma excelente

oportunidade para partilhar conhecimentos, como também praticar à docência. Quanto

beneficia aos alunos do projeto, no processo de desenvolvimento musical, visto que no grupo

todos estão focados nesse único ponto a aprendizagem do aluno, e com uma equipe o trabalho

flui melhor.

34

4. PENSANDO COLETIVAMENTE: CONECTANDO OS ELOS DA CORRENTE

Nesse capítulo, apresentaremos as etapas da experiência ação sob o princípio da

abordagem qualitativa, destacando a maneira como os professores/monitores espontaneamente

se expressam, falam sobre o que é importante para eles, como pensam suas ações sobre a dos

outros, ou seja, como compreendem o processo de interação professor-professor.

Essa forma de conceber a pesquisa tornou-se um importante apoio metodológico, uma

vez que as reflexões tecidas no decorrer do estudo foram baseadas nas declarações dos

participantes que, com frequência, situaram o fazer musical e a troca de experiência docente

como a instância mais valorizada durante o processo de ensino aprendizagem musical no

projeto Som Azul – Musicalização e autismo.

4.1 Universo da pesquisa

A pesquisa foi realizada na Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte – EMUFRN no projeto de Extensão denominado Som azul – Grupo de Musicalização

e Autismo, no período de 14 de agosto a 30 de outubro de 2017, onde foram observadas aulas

num total de 12 encontros. O projeto foi criado pela iniciativa da professora Luana Kalinka em

2012. Inicialmente, as atividades aconteciam na Associação dos Pais e Amigos dos Autistas do

Rio Grande do Norte – APAARN. No ano seguinte, a professora Ms. Catarina Shin,

coordenadora do projeto Esperança Viva, solicitou que as aulas fossem realizadas na EMUFRN

na sala 16, local onde a aulas ocorrem até hoje.

O projeto Som Azul é direcionado a pessoas com autismo com idade média entre 11 a

30 anos e, atualmente, o projeto conta com 22 alunos, sendo 9 alunos no Módulo I e 13 alunos

no módulo II. Alguns dos alunos precisam de acompanhante, que geralmente são os pais,

cuidadores ou os profissionais da Associação. O projeto é dividido em dois módulos sendo o

primeiro com alunos iniciantes no projeto e alguns com um grau de autismo mais severo; o

segundo módulo é composto por alunos que já estão desde a criação do grupo, como também

alunos com um grau mais leve do transtorno. Os participantes têm aulas semanais com duração

de 1h, com exceção do módulo dois que tem um acréscimo de 20 minutos a mais porque têm

aula de flauta doce. Para atender e realizar as atividades com os dois módulos, o projeto conta

com a formação de uma equipe composta de 7 professores/monitores (incluindo a pesquisadora)

concluintes e formandos do curso de Licenciatura em Música, sendo que quatro são alunos da

graduação do referido curso e duas são mestrandas na área de educação musical. Conta ainda

35

com a colaboração dos pais e profissionais da APAARN (psicóloga e pedagoga) que auxiliam

os alunos na execução das atividades.

As aulas acontecem sempre nas segundas-feiras no horário das 14h00min às 15h00min

(Módulo I) e das 15h00min às 16h20 min (Módulo II), na sala 16 da EMUFRN. A sala é

equipada com cadeiras, mesas, ar-condicionado, quadro branco pautado, piano acústico, acesso

à internet via Wi-fi, data show, armários com instrumentos musicais percussivos e melódicos e

outros armários com materiais didáticos.

No primeiro momento da aula, os alunos são recebidos com canções de integração, e

logo em seguida executamos as atividades propostas para a aula, que se encerra com uma

canção alusiva ao término das atividades. No módulo I as propostas de atividades são voltadas

para histórias sociais para pessoas com autismo, que consiste em Atividades de Vida Diárias

(AVDs), onde criamos uma representação desses espaços utilizando objetos, sensações,

texturas, degustações e etc.. Como foi o caso da aula três, onde recriamos o espaço do circo na

sala, pode ser visto no anexo 1, o cronograma e algumas fotos dessa aula. No módulo II

desenvolvemos atividades que abordam ritmos musicais de diferentes regiões do Brasil como

Norte, Nordeste e Centro-Oeste, envolvendo um personagem infantil bastante conhecido, o

Shrek. Após da apresentação da proposta a turma, foi solicitado pela equipe de professores a

um dos alunos um roteiro envolvendo os personagens do filme e da cultura popular brasileira.

O resultado desse trabalho foi entregue em quadrinhos conforme o anexo 2. O objetivo final

dessa atividade é chegar a uma encenação de teatro musical com a participação dos alunos. A

média de aulas por semestre fica em torno de 12 encontros, que se encerra com uma

apresentação de todos os grupos integrados ao Projeto Esperança Viva, o Recital de Inclusão.

As reuniões pedagógicas ocorrem semanalmente, todas as segundas-feiras, após a aula

do módulo II. Nas reuniões de planejamentos cada professor tem a oportunidade de comentar

os pontos relevantes das práticas aplicadas, levar sugestão de atividades adequadas para o

grupo, e também são delegadas algumas funções que cada monitor irá executar durante a aula

da semana seguinte. Os professores utilizam um programa de serviços virtual (Google Drive)

para armazenamento de materiais (arquivos diversos como: fotos, vídeos, partituras, livros,

artigos, etc.) referentes à todas as aulas do projeto, bem como materiais complementares na área

de educação especial. Nessa pasta contém um documento salvo como “2017.2 – Planejamento”

criado para descrever o cronograma de atividades durante o semestre. Esses recursos

tecnológicos permitem mais praticidade no cotidiano, visto que cada professor tem outros

compromissos em lugares distintos; por esta razão, foi criado também um grupo em um

36

aplicativo de celular para troca de mensagens de textos instantaneamente, nele os professores

discutem e compartilham ideias, detalhes das aulas, registros fotográficos, avisos, etc.

Figura 1 – Reunião de planejamento Som Azul

Fonte: A autora.

Figura 2 – Reunião de planejamento Som Azul

Fonte: A autora.

37

4.2 Descrição dos sujeitos

Os sujeitos da pesquisa são os professores/monitores que participam do projeto, têm

idade média entre 20 a 36 anos. Cabe destacar que dos seis professores/monitores que compõe

a equipe, um tem deficiência visual e atua com o ensino de flauta doce para alunos do módulo

II. Para esse estudo os sujeitos serão representados com nomes fictícios, preservando assim a

identidade real dos mesmos. Segue abaixo um quadro descrevendo os professores que

participaram da pesquisa, contendo os pseudônimos adotados para a pesquisa, idade e o tempo

que participam do Som Azul.

Quadro 4 – Perfil dos professores entrevistados

Pseudônimo Idade Tempo de participação

no Som Azul

Professor 1 (P1) 36 1 ano

Professor 2 (P2) 29 1 ano

Professor 3 (P3) 28 5 anos

Professor 4 (P4) 20 1 ano e meio

Professor 5 (P5) 27 2 anos

Professor 6 (P6) 32 1 semestre

Fonte: A autora.

4.3 Procedimentos metodológicos

O procedimento metodológico adotado para o estudo é a Experiênci-Ação dentro de

uma abordagem qualitativa. A Experiênci-Ação é compreendida por Costa e Leão (2013) como

sendo o:

Processo de vivência musical definido como o processo planejado, flexível

quanto ao atendimento das necessidades que os alunos trazem para a sala de

aula e observado pelo professor intermediador/pesquisador, com fins de

análise de seus resultados a curto e longo prazo. (COSTA e LEÃO, 2013,

p.61)

38

A partir dessa nova perspectiva, amplia-se a análise dos resultados da experiência e da

ação dos participantes envolvidos no processo da pesquisa, sendo assim, a Experiênci-Ação

possibilita ao pesquisador viver a experiência musical e praticar a ação necessária. Ainda

segundo a autora Leão (2017), a Experiênci-Ação, possibilita que o pesquisador atue no

processo de ensino aprendizagem sugerindo, apresentando melhorias na metodologia e

procedimento no campo de pesquisa e é uma maneira de “observar, refletir e indicar o que de

melhor, ou não, ocorre no processo de ensino musical. ” (LEÃO e CARVALHO, 2017, p.19)

Para esse estudo foi adotado a abordagem qualitativa que tem sido bastante utilizada no

estudo de fenômenos subjetivos e que precisam de maior flexibilidade na pesquisa. De acordo

com Bogdan e Biklen (1994) a abordagem qualitativa apresenta cinco características básicas

que a configuram na tabela a seguir:

Quadro 5 – Características básicas da abordagem qualitativa.

Fonte: BOGDAN, Roberto C.; BIKLEN, Sari Knopp. Investigação qualitativa em educação.

Portugal: Porto Editora, 1994.

1. Na investigação qualitativa a fonte direta de dados é oambiente natural, constituindo o investigador o instrumentoprincipal;

2. A investigação qualitativa é descritiva;

3. Os investigadores qualitativos interessam-se mais pelo

processo do que simplesmente pelos resultados ou produtos;

4. Os investigadores qualitativos tendem a analisar os seus

dados de forma indutiva;

5. O significado é de importância vital na abordagem

qualitativa.

39

Dessa forma, a pesquisa qualitativa é compreendida a interpretação de fenômenos que

não podem ser traduzidos em números. Segundo Silva e Menezes (2005), “ambiente natural é

a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento- chave. (SILVA; MENEZES,

2005, p.20).

4.4 Instrumentos de coleta de dados

Após a definição da metodologia, utilizamos como estratégias para a coletas de dados

os seguintes instrumentos:

Observação participante: é entendida como sendo a interação do pesquisador com o

espaço investigado, nos quais atuamos no papel de professora-pesquisadora, ou seja,

participando e observando os processos que ocorrem durante as aulas do projeto.

Registros das aulas: em forma de gravação em vídeo e fotos.

Questionário: foram elaboradas perguntas objetivas e subjetivas aplicado com os

professores/monitores do projeto Som Azul, a fim de destacar suas impressões nas

particularidades encontradas na atuação como educador no projeto, como eles consideram os

diferentes níveis de formação dos professores/monitores envolvidos e como a interação entre a

equipe pode influenciar no processo de aprendizagem musical dos educandos. (APÊNDICE 01)

40

5. ANÁLISE

Depois da coleta das informações por meio do registro das observações, e pela aplicação

do questionário com os professores/monitores do projeto, iniciaremos a etapa da análise dos

dados. Foram estabelecidos dois critérios de análise: interação professor-professor; diversidade

de formação.

A partir das informações colhidas por meio das respostas do questionário elaborado para

os participantes, e conforme a literatura enfatizada na pesquisa, segue-se a análise dos dados a

partir dos critérios anteriormente estabelecidos.

1. Interação professor-professor

No que se refere a esse primeiro critério e o tema central do trabalho, buscou-se

compreender a visão dos professores/monitores quanto aos reflexos da interação que ocorre

entre eles e de que forma influencia no desenvolvimento musical dos alunos.

O trabalho colaborativo entre professores é evidenciado em escolas regulares, por

diversos autores, como Zanata (2004) e Loiola (2005) onde o corpo docente constitui-se como

um excelente espaço de aprendizagem, socialização de conhecimentos, formação de identidade

grupal e também transformação de suas práticas pedagógicas. A partir do compartilhamento de

experiências e apoio mútuo entre eles, cria-se um espaço de crescimento profissional e o

educador passa ver a escola não apenas como um lugar que ele ensina, mas também onde ele

aprende, uma vez que, o mais importante do que formar é formar-se, pois todo conhecimento é

autoconhecimento e toda formação é auto formação (Nóvoa 2001).

Uma vez que, cada professor tem uma aprendizagem musical e abordagem

metodológica diferenciada, possibilitando a troca de experiências entre o grupo, Daniels,

Creese e Norwich (2000 apud DAMIANI 2008, p. 218) abordam que as culturas de trabalho

colaborativo são importantes ambientes para a troca de experiência e, consequentemente, de

aprendizagens, promovendo incremento nessas atividades.

Nono e Mizukami (2001) ressaltam também sobre a importância do compartilhamento

de experiências entre professores, explicando que pode favorecer o desenvolvimento da

destreza de análise crítica, de resolução de problemas e de tomada de decisões.

Isso se apresentou de maneira muito clara nos relatos dos professores, quando dizem

que:

41

P1: Influencia, e muito. Sempre após as aulas, compartilhamos o que ocorreu

em sala [...] e vemos claramente quando o grupo está sintonizado. Isso reflete

diretamente no ritmo da aula e no engajamento dos participantes nas

atividades.

P2: Essa interação acaba influenciando nos planejamentos, na confiança e

na forma com que as tarefas são distribuídas dentro do grupo.

P3: Aqui não vem só uma única opinião de cima e que todos têm que acatar.

Os professores debatem entre si para o melhor pro [sic] aluno. Essa

diversidade de pontos de vista e experiência só ajuda no desenbolvimento

[sic] do aluno e na dinâmica das aulas.

P6: É uma forma de vários professores pensarem juntos e dar uma união

visando o desenvolvimento musical dos alunos.

A partir do exposto, a interação entre professores possibilita a troca de experiência e

consequentemente de aprendizagem entre os envolvidos, enriquecendo a maneira de pensar,

agir e possibilitando a criação de alternativas para resolver eventuais problemas. Dessa forma,

a interação beneficia até mesmo os alunos por oportunizar um ensino e aprendizagem de boa

qualidade. É a partir da interação entre os professores/monitores do projeto que o formar e o

formar-se acontece, visto que o processo de construção de confiança é fundamental para que

alcancem os objetivos planejados.

2. Diversidade de formação

Na equipe de professores há diferentes níveis de formação acadêmica, alguns estão em

formação inicial, outros estão concluindo o curso de Licenciatura em Música e há aqueles que

já se formaram na graduação e estão dando continuidade à sua formação no programa de pós-

graduação em música da EMUFRN e na Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Sendo

assim, a interação dos participantes com diferentes níveis de conhecimentos e experiências

permite a construção de um espaço coletivo de ensino e aprendizagens, criando novas vivências

para o grupo, possibilitando, dessa forma, um ambiente pensado como um dispositivo de

formação. Essa visão é reforçada por Oliveira (2011), quando diz que:

[...] damos um enfoque especial às experiências singularmente vividas no

grupo pensado como um dispositivo de formação e (auto)formação e entramos

em contato com histórias do grupo, pensado como coletivo, e histórias

individuais, a partir dos lugares e papéis assumidos pelas pessoas nesse

espaço/lugar. (OLIVEIRA, 2011, p. 183)

42

Oliveira (2011) comentando o trabalho do pedagogo Gilles Ferry, diz que a formação é

diferente de ensino aprendizagem uma vez que esses elementos são suportes da formação.

Segundo ela:

[...] a dinâmica do desenvolvimento pessoal não é solitária; não nos formamos

sozinhos, nem passivamente, pois há mediações que viabilizam, acionam,

orientam o desenvolvimento de formar-se, nas quais se incluem as outras

pessoas, as leituras, as circunstâncias, os acidentes de vida. (OLIVEIRA 2011,

p. 183)

Destacamos ainda a visão das autoras Bolzan; Isaia; Maciel (2013) que ratificam a troca

de experiências entre mais de um professor no processo formativo, quando dizem que:

Auxiliar o outro pode iluminar minha própria experiência, além de

proporcionar sua ampliação. Por fim, é importante referir os processos

formativos que exigem espaços de reflexão compartilhada, considerando-se

os múltiplos contextos socioculturais dos sujeitos desse processo.

Diante do exposto, podemos destacar a fala dos quatro professores/monitores, quando

expressam a importância da diversidade de formação no projeto:

P1: Considero importante ter pessoas com níveis diferentes de formação, pois

o projeto acaba se tornando laboratório para experimentar muitas

possibilidades de praticas [sic] pedagógico-musicais, influenciando

diretamente a atuação de cada um, e cada um colabora com o outro.

P2: [...] esses níveis diferentes da a possibilidade das pessoas que ainda não

possuem tanta experiência [...]absorver muitos conceitos e metodologias.

[...] o aprendizado acontece para todos e isso é importante na formação de

qualquer professor.

P3: Acho que todos aprendem juntos e uns com os outros [...] todos trazem

muitas sugestões significativas. E a equipa [sic] só tem a ganhar.

P4: [...] já que as pessoas envolvidas tem níveis diferentes de formação e

idade a equipe se ajuda e se completa tanto em nível acadêmico como por

exemplo no planejamento e no decorrer da aula já que alguns já tem

experiencia [sic] profissional.

Contudo, o grupo de professores da pesquisa não compartilha somente experiências

profissionais, mas experiências de vida e de formação profissional que estimulam cada vez mais

a interação entre eles e essas relações vão além da sala de aula. Isso é salientado por Cunha e

Isaia (2006), quando dizem que o:

43

Percurso construído na inter-relação das dimensões pessoal e profissional, ao

longo do qual o professor se reconhece, formando-se e transformando-se em

interação com grupos que lhe são significativos, sejam estes formados por

colegas, alunos ou demais integrantes da comunidade educativa (CUNHA;

ISAIA, 2006, p.368)

Essa relação além da sala de aula é vista na fala de alguns professores quando relatam

que:

P1: Considero cada um deles como amigos, me sinto a vontade para brincar,

compartilhar de situações pessoais, da minha casa, enfim, temos livre acesso

por meio da amizade que foi adquirida ao longo das atividades do projeto.

P3: Só tenho a agradecer por sermos uma equipe unida. Acho que todos se

admiram um pouco e somos companheiros e amigos dentro e fora do projeto.

Dessa forma, vimos que a formação não se dá apenas no âmbito acadêmico, ela vai

muito além do que concluir um curso e receber um diploma. É a possibilidade de vivenciar

novas experiências, de partilhar os conhecimentos que você obteve ao longo da vida com outras

pessoas, com um grupo da comunidade educativa, como é o caso dos integrantes do projeto

Som Azul.

Como professora participante e pesquisadora, pude observar ao longo das aulas do

semestre algumas situações em que as atitudes dos professores tiveram forte influência no

desenvolvimento musical dos alunos. Um exemplo disso, ocorreu em uma das aulas de flauta

doce do módulo II, quando o grupo de professores/monitores do projeto, viram a necessidade

de dividir a turma para a execução da música “Asa Branca” (Luiz Gonzaga) em duas vozes.

Decisão essa que foi pensada a fim de desenvolver as habilidades de alguns alunos que já

conseguiam executar as notas inicias da mão esquerda no instrumento. Evitando a monotonia

na aula e também para que se sentissem motivados e desafiados a aprender novas notas na flauta

doce, para isso a equipe de professores também se dividiu, tudo isso pensando na aprendizagem

musical dos alunos.

Como alguns educandos da turma tinham dificuldades em controlar a intensidade no

sopro na flauta doce, o grupo de professores reproduzido um objeto (anexo 3) feito com material

reciclado para melhorar a qualidade do som no instrumento e com intenção de que os alunos

conseguissem dosar a intensidade do sopro. O resultado dessas intervenções foi refletido até

com algumas mães dos alunos que passaram a estudar a flauta doce juntamente com os filhos,

tanto em casa quanto nas aulas, saindo da situação passiva, que só cobrava dos filhos; para a

situação ativa, aprendendo e ajudando o filho.

44

Em um grupo em que há sinergia, cada um desempenha um papel importante, e quando

uma das peças está faltando, o “jogo” da aprendizagem fica comprometido, ou seja, interfere

no ritmo e no engajamento da aula, e isso também é refletido no aprendizado do aluno.

45

6. CONCLUSÃO

O grupo Som Azul tem desempenhado um importante papel na busca do ensino de

música cada vez mais especializado para pessoas com autismo, propiciando situações em que

o conhecimento é construído junto com o outro. Bem como, oportunizando a interação entre

professor-professor, professor-aluno e cada vez mais minimizando o estigma da pessoa com

deficiência.

Pacheco (2007) o fundador da Escola da Ponte em quatro países, buscou o

aprimoramento das habilidades dos professores quanto à inclusão. Na visão do educador, uma

colaboração estreita entre os professores leva à sinergia e permite diferentes olhares e

observações sobre um aluno, possibilitando uma experiência educacional enriquecedora para o

mesmo. Bom seria que as escolas brasileiras se espelhassem nesse modelo escolar, visando o

desenvolvimento educacional do aluno por meio da interação entre os professores, que na

grande maioria das vezes atuam de forma solitária durante muitos anos em sala de aula.

A partir dos dados expostos podemos perceber que a interação professor-professor no

projeto Som Azul contribuiu de forma significativa para a formação dos professores envolvidos,

através da troca de experiências que existia entre as pessoas com diferentes níveis de formação

profissional. O processo de interação entre os professores/monitores influenciou diretamente

no desenvolvimento musical dos alunos, como foi perceptível na fala de alguns professores em

resposta ao primeiro critério da análise. O que aqui entendemos como aprendizagem musical,

pode ser definido em termos de: reconhecimento e execução correta dos instrumentos,

desenvolvimento da coordenação motora, identificação dos elementos estruturais da música,

como por exemplo altura e duração, precisão rítmica, prática de conjunto e desenvolvimento

dos aspectos vocais. Esses conhecimentos musicais dos alunos foram construídos à medida que

a equipe estava em sintonia.

O projeto, portanto, se configura como um importante laboratório de ensino para os

estudantes de Licenciatura em Música que, com esse conhecimento sobre o universo da pessoa

com autismo e a sua relação com a música, procuram preencher a lacuna existente na grade

curricular do referido curso. Dessa forma, podem encontrar nele uma possibilidade de melhor

preparo na área e, assim, se tornarem educadores musicais mais capazes de envolver um aluno

com deficiência nas suas aulas.

Foi a partir da prática e experiência nesse laboratório de ensino, que hoje tenho uma

visão diferente sobre música e educação especial, principalmente na área do autismo. Não tenho

mais todo aquele sentimento, como foi dito na introdução desse trabalho, de “Socorro, onde foi

46

que me meti”, mas sim “Ainda bem que estou aqui”. Com a equipe de professores dando a

assistência nas aulas e fora das aulas, me sinto segura para enfrentar os desafios da carreira

como docente, onde não terei aquela equipe de professores de música para me apoiar e

compartilhar à docência, será apenas eu.

Toda essa interação da equipe de professores/monitores, possibilitou uma vivência

musical que não encontrei na graduação em meio a tantas teorias. Uma vez que o projeto me

proporcionou a praticar e aprender com pessoas que possuem mais experiências que eu, e

também compartilhar o pouco conhecimento que adquiri durante a graduação com aqueles que

estão ainda ingressando na Licenciatura em Música. Não me sinto expert na área de educação

musical especial, mas com certeza o período em que estive no projeto Esperança Viva, desde

de 2015, me deu mais confiança e paixão por essa área que muito se fala, mas que ainda existe

tanto preconceito e estigma.

Diante de todas as informações contidas nesse estudo, espera-se que mais educadores

pesquisem e se inspirem em outros grupos em que acontece sinergia musical dentro ou fora da

educação musical especial, a fim de que os conhecimentos obtidos sejam expandidos para

outras áreas de conhecimento.

47

REFERÊNCIAS

ALVES, Anderson César. Expertise na clarineta: possibilidades de construção da

performance musical de "alto nível". 2013. 103 f.; Dissertação (Mestrado) - Universidade de

Brasília, Instituto de Artes, Departamento de Música, Brasília, 2013.

ANDES-SN para a Universidade Brasileira. n° 2, 3ª ed. atual. e rev. Brasília/DF, 2003.

Disponível em: <https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos13/56218703.pdf>. Acesso em:

08/dez.2017.

BOGDAN, Roberto C.; BIKLEN, Sari Knopp. Investigação qualitativa em educação. Portugal:

Porto Editora, 1994.

BOLZAN, D. P. V.; ISAIA, S. M. A. Aprendizagem docente na educação superior: construções

e tessituras nos processos de formação da professoralidade. Educação, v. 3, p. 489-501, 2006.

BOLZAN, D. P. V.; ISAIA, S. M. A. O conhecimento pedagógico compartilhado no processo

formativo do professor universitário: reflexões sobre a aprendizagem docente. In:

CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO - PEDAGOGIAS (ENTRE) LUGARES

E SABERES, 5., 2007, São Leopoldo. Anais... São Leopoldo: UNISINOS, 2007.

BOLZAN, D. P. V.; ISAIA, S. M. A. Aprendizagem colaborativa: processos formativos em

construção. In: SEMINÁRIO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO DA REGIÃO SUL - ANPED

SUL, 7., 2008, Itajaí. Anais... Itajaí: UNIVALI. p. 1-15. v. 1.

BOLZAN, Doris Pires Vargas; ISAIA, Silvia Maria de Aguiar; MACIEL, Adriana Moreira da

Rocha. Formação de professores: a construção da docência e da atividade pedagógica na

Educação Superior. Revista Diálogo Educação, Curitiba, v. 13, n. 38, p. 49-68, jan./abr. 2013.

CHARMAN, Tonny. Autismo e seu impacto no desenvolvimento infantil. In: Tremblay RE,

Boivin M, Peters RDeV, eds. Elsabbagh M, Clarke ME, eds. tema. Enciclopédia sobre o

Desenvolvimento na Primeira Infância [on-line]. Disponível em: <http://www.enciclopedia-

crianca.com/autismo/segundo-especialistas/autismo-e-seu-impacto-no-desenvolvimento-

infantil>. Acesso em: 08/out.2017.

COSTA, Kristiane M. C.; LEÃO, Eliane. A improvisação na educação musical para adultos –

como ocorre o pensamento criador. In: LEÃO, Eliane. Pesquisa em Música: apresentação de

metodologias, exemplos e resultados. Curitiba, CRV, 2013.

CUNHA, Maria Isabel da; ISAIA, Silvia Maria de Aguiar. Professor da educação superior. In:

MOROSINI, Marília Costa (Org.). Enciclopédia de pedagogia universitária. Glossário.

Brasília: INEP/MEC, 2006. v. 2.

CUNHA, Rosemyriam. A prática musical coletiva. Revista brasileira de música: Revista do

Programa de Pós-Graduação em Música da Escola de Música da UFRJ, Rio de Janeiro, v. 26,

n. 2, p. 345-365, Jul./Dez. 2013.

DAMIANI, Magda Floriana. Entendendo o trabalho colaborativo em educação e revelando seus

benefícios. Educar em Revista, v.31, p. 213-230, 2008.

48

DIREITO DE SER DIFERENTE. Classificação do Autismo. Disponível em:

<https://sites.google.com/site/direitoadiferencaamais/tgd-transtorno-global-do-

desenvolvimento/autismo>. Acesso em: 17/out.2017.

FONSECA, Maurício Eslabão da. SILVA, Raiane Silmara Nascimento da. Contribuição do

projeto Esperança Viva para a formação de docentes e alunos com deficiência. In: ENCONTRO

REGIONAL NORDESTE DA ABEM, 13., 2016, Teresina, PI. Anais... Teresina, PI: UFPI,

2016. Não paginado. Disponível em:

<http://www.abemeducacaomusical.com.br/conferencias/index.php/regnd2016/regnd2016/pa

per/viewFile/1995/911>. Acesso em: 02/nov. 2017.

FONTERRADA, M. T. O. De tramas e fios: um ensaio sobre música e educação. 2, ed. São

Paulo: Unesp, 2008.

ISAIA, S. M. A. Aprendizagem docente como articuladora da formação e do desenvolvimento

profissional dos professores da Educação Superior. In: ENGERS, M. E.; MOROSINI, M.

(Org.). Pedagogia universitária e aprendizagem. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007, p. 153-

165. v. 2.

KINOSHITA, Julia Harue. Docência Compartilhada: dispositivo pedagógico para acolher

diferenças? Porto Alegre, 2009. Disponível em:

<https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/17909/000726079.pdf?sequence=1>

Acesso em: 16.set 2017.

LEÃO, Eliane; CARVALHO, Valéria Lázaro de (Org.). Pesquisa em música II: O ensino, a

vivência e a aprendizagem musical. Curitiba, PR: Ed. CRV, 2017.

LÉVY, Pierre. A inteligência Coletiva. Por uma antropologia do Ciberespaço. 8ª Ed. São Paulo:

Loyola, 2011.

LOIOLA, L. J. S. L. Contribuições da pesquisa colaborativa e do saber prático contextualizado

para uma proposta de formação continuada de professores de educação infantil. In: REUNIÃO

ANUAL DA ANPED, 28., Caxambu, 2005. Anais... Caxambu, 2005. p. 1-16. CD-ROM.

LOURO, Viviane. Fundamentos da aprendizagem musical para pessoa com deficiência. 1ª Ed.

São Paulo, SP: Editora Som, 2012.

MANUAL DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICO DE TRANSTORNOS MENTAIS [recurso

eletrônico]: DSM-5 / [American Psychiatric Association; tradução: Maria Inês Corrêa

Nascimento ... et al.]; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli ... [et al.]. – 5. ed. – Dados

eletrônicos. – Porto Alegre: Artmed, 2014.

MARTINS, Sidarta da Silva; FARAH, Osvaldo Elias; NETO, Mario Sacomano; GIULIANI

Antonio Carlos; CORRÊA, Dalila Alves. Administração, Marketing e Sinergia: Uma Análise

das Interrelações que levam ao Foco no Cliente. Disponível em:

<https://www.aedb.br/seget/artigos2006.php?pag=10> Acesso em: 12/09/2017.

MORELLI, José. Comunicando a Psicologia. Publicado em: 20/12/2013. Disponível em:

<http://comunicandopsicologia.blogspot.com.br/2013/12/sinergia.html>. Acesso 11/set.2017.

49

NAVIA, Diogo Goulart. A contribuição das neurociências para a aprendizagem da música no

desenvolvimento ou manutenção da expertise musical. 2013. 115 f. Dissertação (Mestrado em

Música) – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

NONO, M. A.; MIZUKAMI, M. G. N. Aprendendo a ensinar: futuras professoras das séries

iniciais do ensino fundamental e casos de ensino. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 24.,

2001, Caxambu. Anais... Disponível em: <http://24reuniao.anped.org.br/tp.htm>. Acesso em:

03/nov. 2017.

NÓVOA, Antonio. Professor se forma na escola. Revista Nova escola, São Paulo: Associação

Nova Escola, Ed. 142, mai.2001.

NUNES Leila Regina d’Oliveira de Paula; SUPLINO Maryse; WALTER, Cátia Crivelenti de

Figueiredo. Ensaios sobre autismo e deficiência múltipla. ABPEE: Marquenize&Manzini,

2013.

NUNES, Débora Regina de Paula. Transtornos do Espectro do Autismo. In. Débora Nunes.

Educação Inclusiva. Ed.1. Natal: EDUFRN, p. 232, 2013.

OLIVEIRA, Gleisson do Carmo. Desenvolvimento musical de crianças autistas em

diferentes contextos de aprendizagem: um estudo exploratório. 2015. 123 f. Dissertação

(Mestrado) – Escola de Música, Universidade Federal de Minas Gerais, 2015.

OLIVEIRA, Valeska Fortes de. Formação docente e dispositivo grupal: aprendizagens e

significações imaginárias no espaço biográfico. Educação: revista do Programa de Pós-

Graduação em Educação Escola de Humanidades Pontifícia da Universidade Católica do Rio

Grande do Sul, Porto Alegre, v. 34, n. 2, p. 180-188, maio/ago. 2011.

ORRÚ, Silvia Ester. A formação de professores e a educação de autistas. Iberoamericana de

Educación: revista da Organización de Estados Iberoamericanos para la Educación, la Ciencia

y la Cultura (OEI). Espanha, n.31, p.01-15, 2003. Disponível

em: <http://www.rieoei.org/deloslectores/391Orru.pdf>. Acesso em 10/out. 2017.

ORRÚ, Sílvia Ester. Aprendizes com autismo: aprendizagem por eixos de interesse em espaços

não excludentes. Vozes: Rio de Janeiro, Petrópolis, 2016.

PACHECO, José. Caminhos para a inclusão: um guia para o aprimoramento da equipe escolar.

Porto Alegre: Artmed, 2007.

PALLARÉS, Josep Artigas; PÉREZ, Isabel Paula. Autismos que se ‘curan’. XVIII Curso

Internacional de Actualización en Neuropediatria y Neuropsicologia Infantil. Revista

Neurologia. Vol. 62, suplemento 1, p. S41-S47Jan/jun. 2016. Disponível

em: <http://diposit.ub.edu/dspace/bitstream/2445/114924/1/657449.pdf>. Acesso em 07/nov.

2017.

PASSOS, L. F. (2001). O projeto pedagógico e as práticas diferenciadas: o sentido da troca e

da colaboração. In: ANDRÉ, Marli (Org.), Pedagogia das diferenças na sala de aula.

Campinas: Papirus, 1999. (pp.107-131). Portugal: Porto Editora, 1994.

50

RAPOUSO, Mírian. MACIEL, Diva Albuquerque. As Interações Professor-Professor na Co-

Construção dos Projetos Pedagógicos na Escola. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, Vol.

21, nº 3, pp. 309-317, 2005.

ROSÁRIO, Cyntia Lopes do. ARAÚJO, Klayton Oliveira de. FERREIRA, Nataly Nunes.

MESQUITA, Stephanie Caroline da Rocha. SANTOS, Raimunda Maria Rodrigues.

Indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão universitária: experiências nos cursos de

licenciatura do Instituto Federal de Roraima. Disponível em:

<https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos13/56218703.pdf>. Acesso em: 08/dez.2017

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 21. ed. São Paulo: Cortez,

2007.

SILVA, Edna Lúcia da; MENEZES, Estera Muskat. Metodologia da pesquisa e elaboração de

dissertação. Edª. Florianópolis: UFSC, 2005.

STIPEK, D. J. Motivation and instruction. In: D. C. Berliner & R. C. Calfee (Eds.), Handbook

of Educational Psychology. New York: Macmillan, p. 85–113, 1996.

VIANA, Ana Célia de Lima. Uma proposta de capacitação na área da educação musical

especial. 2015. 119 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de São Carlos, 2015.

ZANATA, E. M. Práticas pedagógicasi inclusivas para alunos surdos numa perspectiva

colaborativa. Tese (Doutorado em Educação Especial) – Universidade Federal de São Carlos,

São Carlos, 2004.

51

ANEXO 1

Cronograma da aula 3, módulo I.

28/ago ● Atividade de Integração: No lado de fora da sala - Boa tarde, amigo;

- Música de Circo: https://www.youtube.com/watch?v=5Gevip4bdX0 (entrada)

● Passei ao Circo: pipoca antes de entrar no circo.

- Personagens: Raiane (palhaça e apresentadora), Kalinka (malabarista),

Maurício (mágico), Liana (equilibrista).

- Música e movimento com bambolês: “It’s a dog’s life”

● Relaxamento

- Estica dobra (Palavra Cantada)

● Encerramento: A aula de música já vai terminar

Foto 1: Integração lado de fora da sala.

Foto 2: Início do espetáculo.

52

Foto 3: Atividade com bambolês com a música “It’s a dog’s life”.

53

ANEXO 2

Roteiro envolvendo os personagens do filme Shrek e da cultura popular brasileira.

54

ANEXO 2

Objeto com Material reciclado para melhorar a qualidade do sopro na flauta doce.

55

APÊNDICE 1

Apêndice 1: Questionário aplicado com os professores/monitores do projeto Som Azul.

Sinergia em Música: a interação professor-professor no projeto Som Azul da EMUFRN

Essa pesquisa tem um intuito de levantar dados a um de compreender o processo de interação

professor-professor no projeto de extensão Som Azul.

Os dados coletados neste questionário da pesquisa são destinados apenas para uns acadêmicos.

1. Sexo: *

Feminino ( )

Masculino ( )

2. Idade: *

3. Qual sua formação acadêmica: *

Estudante de graduação em Música (Licenciatura) ( )

Estudante de pós-graduação em Música ( )

Outro:__________________________

4. Qual a previsão de conclusão do curso?

5. Caso você seja estudante de pós-graduação em Música, em que ano você concluiu o

curso de graduação?

6. Você atua na área de educação musical em escolas regulares ou em projetos

sociais? *

Sim ( )

Não ( )

7. Você já teve alguma experiência com alunos com Necessidades Educacionais

Especiais? Se sim, como foi essa experiência? *

8. Durante a sua formação, você cursou (ou está cursando) alguma disciplina

relacionada à educação especial? Se sim, qual? *

9. Se respondeu sim à questão anterior, e analisando a grade curricular do seu curso,

você acha suficiente a quantidade de disciplinas a um de preparar um professor para

atuar com alunos especiais em escolas regulares? Justifique. *

56

10. Na sua opinião, qual a importância para o aluno de graduação participar dos

projetos de Extensão voltados para o ensino de educação musical especial? *

11. Como você entrou no projeto Som Azul? *

12. Há quanto tempo você trabalha no projeto Som Azul? *

13. Qual sua maior dificuldade como professor/monitor dentro do projeto Som Azul? *

14. Você participa das reuniões de planejamento? *

Sim ( )

Não ( )

Às vezes ( )

15. Durante as reuniões de planejamento você: *

Participo ativamente das discussões e na apresentação de propostas de atividades ( )

Participo apenas observando, sem interagir muito com a equipe ( )

Não frequento ( )

16. Durante as aulas, como é a sua atuação? *

Participo ativamente das aula, conforme o planejamento bem como tomo iniciativa no caso de

imprevistos ( )

Fico só no apoio, caso precise de algum material e não participo muito das aulas ( )

Participo e só faço o que me foi delegado ( )

17. Sabendo que na equipe há diferentes níveis de formação entre os professores

envolvidos, como você considera esses diferentes níveis? Você acha que isso influencia na

sua formação e nos outros membros da equipe? Se sim, de que forma? *

18. Você acha que a interação professor-professor influencia no desenvolvimento

musical dos alunos? Justifique sua resposta. *

19. Defina como é sua relação com os outros membros fora do projeto? *

57

20. Você aplica em outros locais de ensino os conhecimentos obtidos no projeto Som

Azul? *

Sim ( )

Não ( )

Às vezes ( )

21. Caso afirmativo, em que locais?

Estaversãofoirevisadaeaprovadapelo(a)orientador(a),sendoaceite,pelaCoordenaçãodeLicenciaturaemMúsica,comoversãofinalválidapara

depósitonoRepositóriodeMonografiasdaUFRN.

____________________________DaniloCesarGuanaisdeOliveira

CoordenadordeLicenciaturaemMúsica