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SINTOMAS DEPRESSIVOS EM MULHERES IDOSAS: Aplicando a Escala de Depressão Geriátrica de Yesavage
DEPRESSIVE SYMPTOMS IN ELDERLY WOMEN: Applying the Yesavage Geriatric Depression Scale
Amanda Heloisa da Cruz Figueira Tofanelli -
[email protected] Analine Cristina Ferreira Lima – [email protected]
Graduandos em Enfermagem – UniSALESIANO Lins Prof.ª Ma. Helena Ayako Mukai - [email protected] Prof.ª Ma. Jovira Maria Sarraceni – [email protected]
UniSALESIANO Lins
RESUMO
O objetivo pesquisa foi identificar a prevalência da sintomatologia depressiva em mulheres idosas na área de abrangência da Unidade Básica de Saúde (UBS) Dr. Péricles da Silva Pereira do bairro Ribeiro na cidade de Lins-SP, aplicando instrumento Yesavage conhecido como Escala de Depressão Geriátrica – 15. Um dos instrumentos mais utilizados para verificar a vulnerabilidade causada pela depressão, é um instrumento preconizado pelo Ministério da Saúde, mostrando-se de grande valor na detecção de depressão geriátrica em diferentes contextos clínicos e alcança importância cada vez maior na Atenção Básica (AB). Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva com abordagem quantitativa, realizada com 462 mulheres com idade entre 60 e 74 anos. Foi possível constatar a alta prevalência dos indícios depressivos nas idosas, sendo que 18% apresentaram predisposição para sintomas depressivos e 61% indicativo para a doença. Conclui-se que há a necessidade de uma linha de cuidado visando a promoção e prevenção da saúde através de intervenções propostas para a enfermagem. Palavras-chave: Idosos. Depressão. Atenção Primária de Saúde.
ABSTRACT
The objective of this research was to identify the prevalence of depressive symptoms in elderly women in the area of Basic Health Unit (BHU) Dr. Péricles da Silva Pereira in the neighborhood on the city of Lins-SP, applying instrument known as scale of Yesavage Geriatric Depression – 15. One of the most used instruments to verify the vulnerability caused by the depression, is an instrument established by the Ministry of health, is of great value in detection of geriatric depression in different contexts clinicians and achieves increasing importance in the basic attention (AB). This is an exploratory and descriptive research with quantitative performed with 462 women aged between 60 and 74 years. Was possible to note the high prevalence of depression in the elderly evidence, and 18% presented predisposition and 61% call for the disease. It is concluded that there is a need for a careful line seeking promotion and prevention through proposed interventions for nursing. Keywords: Elderly. Depression.Primary health attention.
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INTRODUÇÃO
O Brasil ganhou cerca de 4,8 milhões de idosos desde 2012, superando a
marca dos 30,2 milhões em 2017, sendo que as mulheres são maioria nesse grupo,
com 16,9 milhões (56% dos idosos), enquanto os homens idosos são 13,3 milhões
(44% do grupo). O envelhecimento da população é uma resposta à mudança de
alguns indicadores de saúde, em especial a queda da fecundidade e aumento da
expectativa de vida (IBGE, 2017). O ritmo de crescimento da população com 60
anos de idade ou mais está à aumentar em velocidade acelerada e, essas
alterações na dinâmica populacionais são claras, inflexíveis e irreversíveis. Tais
mudanças trazem desafios que podem levar a sérios problemas sociais e
econômicos.
De acordo com Magalhães (2016), a Organização Mundial de Saúde projeta
que até 2020 o grupo de idosos corresponderá a 15% da população brasileira. Em
2025, estima-se que a população idosa deverá ter aumentado até 15 vezes. Assim
como ocorre o crescimento da população idosa, consequentemente haverá o
aumento das doenças crônicas e psíquicas e, dentre tantas doenças e transtornos, a
depressão merece uma maior atenção. A depressão é um distúrbio que acomete a
população como um todo, especialmente o idoso, tendo uma alta prevalência e
estando associada, quando não tratada, à maior morbidade e mortalidade entre eles,
mostrando a necessidade de investigação e análise das ações de prevenção e
promoção à saúde.
O diagnóstico e o tratamento ainda se mostram deficientes, seus sintomas
muitas vezes são subdiagnosticados ou ignorados, portanto, a familiaridade dos
profissionais de saúde com as características das sintomatologias depressivas no
idoso é de grande importância na investigação. Segundo Kawakita (2012), a
depressão geriátrica é um quadro pouco reconhecido em unidades de atenção
primária, portanto, faz-se necessário pesquisá-la em todos os pacientes idosos por
meio de instrumentos de rastreamentos. As escalas de depressão vêm sendo muito
utilizadas na detecção de casos depressivos, sendo que um dos instrumentos mais
utilizados é a Escala de Depressão Geriátrica de Yesavage -15 uma escala criada
especificamente para a população idosa.
Acredita-se que, utilizando a Escala de Depressão Geriátrica de Yesavage, é
possível detectar sintomas depressivos. De acordo com Nogueira (2014), a Escala
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de Depressão Geriátrica (EDG-15) vem alcançando importância cada vez maior na
Atenção Básica (AB), sendo um instrumento preconizado pelo Ministério da Saúde e
de grande valor na detecção de depressão geriátrica em diferentes contextos
clínicos. Paradela (2011) ressalta as vantagens que a GDS-15 possui, como a
pequena variação das respostas: sim/ não, diferente de outras que comportam
múltiplas opções e não necessitando de um profissional da área da saúde mental
para sua aplicação, podendo ser auto aplicadas ou por um entrevistador treinado.
Em países em desenvolvimento como o Brasil, a depressão não tem sido
suficientemente estudada para fornecer os elementos necessários ao
desenvolvimento de políticas públicas, promoção e prevenções adequadas a essa
população. Tais impactos ocasionados pela depressão, afeta também os familiares,
o estado e a comunidade, demostrando o quanto é importante estar atento ao idoso
em relação aos problemas psiquiátricos, pois a presença de comorbidades prejudica
a qualidade de vida desses indivíduos e de seu convívio com a sociedade.
O estudo objetivou-se em Identificar a prevalência de sintomas depressivos
utilizando a Escala de Depressão Geriátrica de Yesavage em idosas e assim
elaborar e propor intervenções de enfermagem para melhorar a qualidade de vida,
pois estudos sobre depressão em idosas demonstram a importância das
intervenções efetivas e a prevenção dos fatores de risco precoces. Diante do
contexto acima, chegamos a seguinte pergunta problema: Como se configura a
prevalência de sintomas depressivos entre idosos assistidos por uma Unidade
Básica de Saúde (UBS)?
1 MÉTODO
Trata–se de um estudo exploratório, descritivo com abordagem quantitativa.
De acordo com Gil (2012), a pesquisa deste tipo tem como objetivo primordial a
descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o
estabelecimento de relações entre variáveis. São inúmeros os estudos que podem
ser classificados sob este título e uma de suas características mais significativas
está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados. As pesquisas
descritivas são, juntamente com as exploratórias, as que habitualmente realizam os
pesquisadores sociais preocupados com a atuação prática.
Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do
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UniSALESIANO Araçatuba-SP, Parecer: 2.887.831, sendo garantidos aos
entrevistados os aspectos éticos, conforme determina a resolução 466/12 e 510/16.
As participantes receberam informações detalhadas acerca da pesquisa e assinaram
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os envolvidos na pesquisa
foram mulheres idosas com idade igual ou superior a 60 anos e inferior a 74 anos,
da área de abrangência da UBS “Dr. Péricles da Silva Pereira”, no bairro Ribeiro no
município de Lins-SP, Brasil. A coleta de dados foi realizada entre setembro e
outubro de 2018, pelas alunas pesquisadoras.
2 TÉCNICA
Para a coleta de dados foram utilizados os seguintes instrumentos: Um
formulário sociodemográfico estruturado e a versão reduzida da Escala de
Depressão Geriátrica. O formulário contemplava questões mistas, relativas aos
fatores sociodemográficos como tempo de permanência na casa, lazeres, os laços
familiares, condições gerais de saúde e a autopercepção de saúde referida pelos
idosos, classificando sua saúde no momento da pesquisa como: excelente, boa,
regular e ruim, assim como os meios utilizados para o deslocamento, a higiene
pessoal e dependência.
E a Escala de Depressão Geriátrica, um instrumento relativamente estável
para ser utilizado na detecção de casos de depressão no idoso e monitoramento da
gravidade dos seus sintomas com 15 questões objetivas de sim ou não, de forma
reduzida e simplificada referentes ao humor e ao estado de saúde. Conforme o
resultado, considerar o idoso com quadro normal ou indicativo de sintomas de
depressão leve, moderado ou grave, o ponto de corte varia, considerado de 0 a 5
estado normal, de 5 a 10 depressão moderada; e acima de 10 pontos depressão
grave.
3 APRESENTAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA
Esta pesquisa foi realizada na cidade de Lins, localizada no centro oeste
paulista na área de abrangência da UBS “Dr. Péricles da Silva Pereira”. A população
estudada correspondeu a 462 idosas e teve como risco o constrangimento ao
participante no momento da aplicação do instrumento e do questionário e, para
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minimizar, foram utilizados locais reservados e utilização da ética durante todo o
processo através do sigilo profissional. O benefício oferecido é a detecção de
sintomas depressivos na população idosa para uma melhor assistência de
enfermagem a ser prestada.
Com relação aos critérios de inclusão, participaram idosas, que concordaram
em participar do estudo e que assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, com idade entre 60 e 74 anos e não participaram idosas com quadro de
demência grave ou não estiveram aptas a responderem às questões. Após a
aprovação do Comitê de Ética, Parecer: 2.887.831, a pesquisa foi realizada por meio
de visita domiciliar após um levantamento nos registros da UBS do bairro do Ribeiro,
de nomes e contatos dos idosos que atendiam aos critérios de participação.
4 ANÁLISE
Gráfico 1 – Participação no estudo pelas idosas residentes na área de abrangência
UBS Ribeiro – Lins, 2018
A análise do rastreamento de sintomas depressivos por meio da aplicação da
Escala de Depressão Geriátrica de Yesavage resultou em 233 (50,54%) idosas
entrevistadas de um total de 461. O gráfico 1 mostra, dentre o total da população
apta a participarem deste estudo, que foram excluídos 162 (35,14%) por não
estarem em casa na hora da pesquisa, mesmo após várias tentativas, 29 (6,30%)
não entraram no critério de inclusão
não aceitaram participar
faleceram
35.14%
estavam trabalhando 50.54%
não estavam em casa
Entrevistado
0.44%
1.08% 6.30% 6.50%
141
que não aceitaram participar, 30 (6,50%) estavam saindo para o trabalho, 2 (0,44%)
excluídos por não atenderem o critério de inclusão e 5 (1,08%) faleceram.
7 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 1 apresenta as características sociodemográficas da população
estudada onde se verificou estado civil, escolaridade, com quem reside, religião,
percepção da saúde, renda, medicamentos, atividades físicas, como utiliza o tempo
livre e se tem algum tipo de preocupação relacionado à vida.
Em relação a escolaridade, 46% relataram ter frequentado a escola de 1 a 5
anos, 14% são analfabetas e somente 4% concluíram o ensino superior.
Predominaram os casados (57%) e os demais 43% não têm companheiros. Em
relação à moradia, 48% declararam morar com familiares e 36% moram sozinhas. A
grande maioria (81%) têm renda pessoal de até 1 salário mínimo. Não houve
diferença significativa da prevalência entre as religiões católica (42%) e evangélica
(37%).
Tabela 1 - Caracterização Sociodemográfica das participantes da pesquisa – Lins-SP, 2018
VARIÁVEIS SOCIODEMOGRÁFICAS
Variável Quantidade % Faixa Etária 60-65 incompletos 78 33% 65-70 incompletos 100 43% 70-74 55 24% Escolaridade Analfabeto 32 14% 1-5 108 46% 6-8 32 14% 9-12 52 22% Superior 9 4% Estado Civil Solteiro 30 13% Casado 132 57% Viúvo 62 27% Separado/Divorciado 9 4% Renda Mensal até 1 Salário Mínimo 189 81% 1-3 Salários Mínimos 35 15% 3-6 Salários Mínimos 9 4% Religião
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Católico 99 42% Evangélico 87 37% Espírita 47 20% Moradia Sozinho 84 36% Familiares 112 48% Outros 37 16% Não 128 55% Total 233 Fonte: As autoras, 2018
Conforme a pontuação obtida pela escala GDS, 50 participantes não
apresentaram características depressivas sendo equivalente a 21%. Entretanto foi
identificado 41 (18%) idosas indicando uma possível predisposição para depressão
com a pontuação 5 e 113 (61%) indicando possível condição depressiva e, destes,
93 (48,5%) obtiveram pontuação entre 6 e 10 com indicativo de depressão
moderada e 29 (12,5%) com pontuação superior a 11 pontos, indicando depressão
grave, de acordo com a escala. A depressão geriátrica estabelecida pela escala
GDS encontra-se exposta no Gráfico2.
Gráfico 2 – Percentuais da prevalência depressiva nas idosas – Lins - SP, 2018
Fonte: Autoras, 2018
21%
61%
18%Normal
Indicativo de Depressão
Pré - Disposição
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Tabela 2 – Classificações do índice de depressão em idosos –Lins – SP, 2018
Caracterização da
Depressão
N %
Normal
Escore 0 pontos
3
1,29%
Escore 1 pontos 4 1,72%
Escore 2 pontos 1 0,43%
Escore 3 pontos 14 6,01%
Escore 4 pontos 28 12,02%
Predisposição
Escore 5 pontos
41
17,60%
Depressão Moderada
Escore 6 pontos
34
14,59%
Escore 7 pontos 32 13,73%
Escore 8 pontos 19 8,15%
Escore 9 pontos 19 8,15%
Escore 10 pontos 9 3,86%
Depressão grave
Escore 11 pontos
13
5,58%
Escore 12 pontos 8 3,43%
Escore 13 pontos 8 3,43%
Total
233
100,00%
Fonte: Autoras, 2018
Dentre as idosas entrevistadas que não apresentaram indicativos de sintomas
depressivos, 29 (58%) encontravam-se na faixa etária de 60 aos 65 anos
incompletos, porém as idosas com predisposição para sintomas depressivos, 27
(65,9%) estavam nesta mesma faixa etária. Os sintomas depressivos moderados
foram prevalentes na faixa etária dos 65 aos 70 anos incompletos, 60 (63,10%) e,
para os sintomas graves, encontrado 29 pacientes e, destes, 20 (69%) encontravam-
se na faixa etária dos 70 aos 74 anos, como mostra a tabela 3.
Tabela 3 Percentual de depressão por faixa etária, Lins-SP, 2018. FAIXA ETÁRIA 60-65incompl . 65-70inc ompl. 70-74
Quantidade % Quantidade % Quantidade %
NORMAL 29 37,67% 19 20,00% 2 3,28%
PRÉ 27 35,06% 9 9,50% 5 8,20%
MODERADO 19 24,67% 60 63,10% 34 55,74%
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GRAVE 2 2,60% 7 7,40% 20 32,78%
TOTAL 77 100% 95 100% 61 100%
Fonte: Autoras, 2018.
Na pesquisa as mulheres que apresentaram um maior risco para os sintomas
depressivos graves foram as viúvas e, para moderada, as idosas casadas, conforme
demonstra o gráfico 3.
Gráfico 3 Percentuais de sintomatologia depressiva por estado civil – Lins – SP, 2018
Fonte: Autoras, 2018
Em muitas literaturas é possível encontrar resultados de autores que
utilizaram o método de rastreamentos e observaram a alta prevalência dos sintomas
depressivos nesses indivíduos. Como Alvarenga, Oliveira e Faccenda (2012) que
por meio do mesmo instrumento analisou 503 indivíduos idosos, onde 69% das
mulheres apresentavam sintomas depressivos. Em dados de pesquisa realizados
pelo mesmo, constatado que, de 259 mulheres, 40,15% possuem depressão ou pré-
disposição para doença, enquanto que os homens de 245 apenas 16,32%.
Estudos existentes direcionados para essa população, são frequentemente
realizados em homens e mulheres, porem mostram que o número de mulheres com
depressão e predisposição é superior ao número de homens. Verifica-se este
DIVORCIADA
CASADA SOLTEIRA VIÚVA
0 0 1 1
0 3
1
7 8 10 9
10
NORMAL
PRÉ
MODERADA
GRAVE 17 20 20
30
31 32
36 40
50
57 60
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fenômeno entre mulheres durante a velhice, pelo fato de que elas vivem, em média,
mais do que os homens, tornando-as mais vulneráveis e predispostas a uma maior
incidência de doenças crônicas, entre elas, a depressão.
Quanto a idade, foi encontrada semelhança na pesquisa de Ferreira (2013),
que obteve um maior resultado nas idosas na faixa etária entre 60 e 70 anos, com a
de Fernandes, Nascimento e Costa (2010), que identificaram a prevalência dos
sintomas depressivos em 77% das mulheres com a idade entre 70 e 80 anos, e
Grecolti e Scortegagna (2015), que destacavam a prevalência no sexo feminino com
idade de 60 a 80 anos.
Usando desses estudos como referência, direcionamos a nossa pesquisa
para o gênero feminino, realizando o uso de um questionário sóciodemográfico,
estruturado pelas autoras, e a Escala GDS como base para avaliação dos indicativos
depressivos, para a formulação dos dados em tabela e gráfico. Foi observado, com o
questionário, que o maior percentual das entrevistadas, cerca de 43%, se
concentravam na faixa etária dos 65 a 70 anos incompletos e 46% possuíam
escolaridade do 1º ao 5º ano.
Estes dados corroboram estudos realizados, em que foi constatado que o
analfabetismo e a baixa escolaridade associaram-se à maior detecção de depressão
(Nogueira, 2014), assim como Silva et al, 2014, referiu que a escolaridade é um fator
de destaque, tendo em vista que quanto mais alto o nível escolar, menores são os
sintomas psicossomáticos, ou seja, há relação entre baixa escolaridade e elevado
número de idosos deprimidos. Assim como, há associação entre detecção de
depressão e renda pessoal abaixo de dois salários mínimos, descrito na literatura,
que aponta a baixa renda e a pobreza como fatores de risco para depressão.
A Escala GDS resultou em escore de 0 a 13 pontos, com o maior percentual
em moderado (48,5%) e menor em grave (12,5%). Categorizando por idade, houve
um maior percentual de idosas para o indicativo depressivo moderado na faixa etária
de 65 a 70 anos incompletos, correspondendo a 63% das entrevistadas, divergindo
dos 7% com o indicativo depressivo grave.
Todavia, verifica-se uma associação significante entre os casos de depressão
nas mulheres viúvas e casadas, pois apresentam um maior indicativo aos sintomas
depressivos graves (8,5%) e moderados (24,4%) respectivamente. As observações
obtidas nessa pesquisa assemelham-se a diversos trabalhos que constataram esses
mesmos aspectos, como, por exemplo, Ferreira (2013) em suas pesquisas, onde
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verificou que as mulheres casadas e viúvas apresentaram maiores porcentagens
dos sintomas depressivos.
Analisando os fatores emocionais, verificamos que as idosas com depressão
têm significativamente piores resultados em todas as medidas. A solidão, juntamente
com outros problemas físicos e mentais, dá origem a sentimentos depressivos.
Fatores como os aspectos sociais, escolaridade baixa, a falta de apoio familiar,
aposentadoria, relação intrapessoal, entres outros fatores, podem transfigurar risco
para o aparecimento da doença. Advém que foi observado a insatisfação das idosas
em relação a alguns fatos de suas vidas, pois, durante a pesquisa, relataram
sentirem-se sozinhas por conta da viuvez ou desamparadas pelos familiares (filhos e
esposos). Também pela condição socioeconômica, das doenças crônicas, a perda
de autonomia de algumas tarefas do dia-dia e a dependência de outros (familiares).
Observou-se, neste estudo, o quanto as mulheres estão vulneráveis a essa
patologia. Portanto, conhecer as características dessas idosas e as associações
com a depressão pode alertar e agregar conhecimentos para possibilitar melhor
aprofundamento acerca dos cuidados relacionados ao tratamento. O uso de
instrumentos como a Escala de Depressão para rastreamento de sintomas de
depressão em idosos são relevantes, pois permitem a detecção prévia da
depressão, possibilitando uma intervenção adequada, bem como a prevenção de
fatores de risco.
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Diante dos dados obtidos na pesquisa, se faz necessário uma proposta de
intervenção de enfermagem na área de abrangência dessa unidade, como a
implantação de uma linha de cuidado por meio de terapias psicoterapêuticas.
Enquanto estratégia de intervenção psicoterapêutica, a terapia de reminiscência tem
resultados positivos, como alcançar serenidade e sabedoria, expiar culpas e resolver
problemas, entre outros. A reminiscência tem vindo a ser utilizada em pessoas
idosas como técnica de intervenção para promover a autoaceitação e bem-estar e os
resultados sobre os seus benefícios apoiam a sua implementação na melhoria da
saúde mental desse paciente.
A Terapia de Reminiscência (TR) pode ser utilizada para estimular a
prevenção do surgimento de sintomatologia depressiva e a diminuir a sintomatologia
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depressiva, além de outros beneficios como: adaptação a transições de vida,
promoção da autoestima e a auto percepção de saúde, satisfação de vida, auxilia no
processo de luto entres outros.
Segundo Marques (2012) a terapia de reminiscência baseia-se na
recuperação das memórias que o sujeito possui sobre o seu passado, ajudando a
pessoa a fazer uma revisão cronológica da sua vida, analisando os eventos mais
marcantes. Consistindo num processo onde estas memórias são significativamente
acedidas para serem então revistas, repetidas, interpretadas e muitas vezes
partilhadas com outras pessoas, com o objetivo de promover a adaptação ao
momento de vida atual. Essa estratégia terapêutica foi proposta inicialmente por
Butler, em 1963.
Muitos estudos documentam dados sobre a eficácia da terapia de
reminiscência, como uma técnica de grande potencial enquanto estratégia de
intervenção na depressão geriátrica, por meio de estudos de intervenção direta com
idosos. De acordo com Pinquart (2012) podem distinguir-se três formas de aplicação
de reminiscência como intervenção com pessoas idosas: reminiscência simples,
revisão de vida e terapia de revisão de vida. A reminiscência simples estimula as
funções sociais da reminiscência (comunicação, ensino, informação) através da
recuperação de acontecimentos autobiográficos positivos de forma não estruturada.
A revisão de vida implica uma descrição mais abrangente e avaliativa dos
principais acontecimentos autobiográficos do ciclo de vida, no sentido dos mesmos
serem integrados numa história de vida coerente. Por último, a terapia de revisão de
vida reporta a sua aplicação a pessoas com problemas de saúde mental, tais como a
depressão, com o intuito de reduzir os efeitos potencialmente negativos da
reminiscência (reavivamento da amargura, tédio) aliviando a sintomatologia
depressiva.
CONCLUSÃO
A depressão é uma condição que pode colocar em risco a vida do individuo
sendo uma enfermidade mental frequente em idosos. Além disso, é um estado
mental nem sempre diagnosticada, ocasionando ausência de uma linha de cuidado
estratégico para uma busca ativa na detecção precoce, tomada de decisão
preventiva e de encaminhamentos para confirmação desses diagnósticos.
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Com relação aos resultados obtidos na pesquisa se torna preocupante o
numero de indicativo da sintomatologia depressiva nas mulheres estudadas da área
de abrangência da unidade do Ribeiro “Dr. Péricles da Silva Pereira”, o que justifica
a necessidade de pesquisas que auxiliem em seu rápido diagnóstico ou, ainda, na
promoção de saúde, contribuindo para a identificação precoce da doença. Também
é necessário que o profissional tenha uma visão ampla e integral sobre os idosos,
conhecendo melhor a sua população para assim, atuar com criatividade e senso
critico mediante uma pratica de intervenção humanizada, envolvendo uma ação
inter-relacionada de promoção de prevenção à reabilitação daqueles envolvidos.
Para ajudar nessa detecção recomendam-se os métodos existentes de
rastreio dos indicativos depressivos que podem ser usados tanto no âmbito clinico
quanto na atenção primária e secundária servindo de base para possível
confirmação do diagnóstico, como estratégia de fortalecimento de programas
preventivo e de controle da doença depressiva.
REFERÊNCIAS
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