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1º Ten Al ALINE HAMILTON GOULART RIO DE JANEIRO 2010 AS ENFERMEIRAS NA FEB: AS PRIMEIRAS MULHERES NO EXÉRCITO BRASILEIRO.

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1º Ten Al ALINE HAMILTON GOULART

RIO DE JANEIRO 2010

AS ENFERMEIRAS NA FEB: AS PRIMEIRAS MULHERES NO

EXÉRCITO BRASILEIRO.

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1º Ten Al ALINE HAMILTON GOULART

AS ENFERMEIRAS NA FEB: AS PRIMEIRAS MULHERES NO EXÉRCITO BRASILEIRO.

Projeto de pesquisa apresentado à Escola de Saúde do Exército, como requisito parcial para obtenção de Grau de Pós-Graduação Lato Sensu, especialização em Aplicações Complementares às Ciências Militares.

Orientador: Maj Marcelo Cândido F. Fernandes

RIO DE JANEIRO 2010

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1º Ten Al ALINE HAMILTON GOULART

AS ENFERMEIRAS NA FEB: AS PRIMEIRAS MULHERES NO EXÉRCITO BRASILEIRO.

COMISSÃO DE AVALIAÇÃO

MARCELO CÂNDIDO FARIAS FERNANDES - Major Orientador

LUÍS FELIPE SIMÕES RAMOS – Capitão Coorientador

FABRÍCIO ALMEIDA DE MOURA – Capitão Avaliador

RIO DE JANEIRO 2010

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela felicidade de vencer mais um desafio.

Aos meus pais que sempre me apoiaram e me deram todas as

condições para prosperar.

Ao meu marido, maior inspirador para cursar a Escola de Saúde, pelo

exemplo de militar que é e por incansável que foi me proporcionando todo o

suporte para realizar essa conquista.

A minha filha, razão do meu viver, que só por existir justifica toda e

qualquer busca por aprimoramento.

Ao meu coorientador pela atenção e entusiasmo no desenvolvimento

deste trabalho.

Aos meus instrutores pela dedicação na minha formação.

E aos meus colegas pelo companheirismo e amizade. Sem o apoio

deles e delas o peso da jornada seria muito maior.

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Dedico este trabalho aos meus amores:

meu marido, minha filha e aos meus pais. Sem esses, a Escola da vida não teria

brilho e as dificuldades seriam impossibilidades.

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo investigar a atuação das enfermeiras na Força Expedicionária Brasileira (FEB) e evidenciar como essa participação serviu de alicerce para a entrada definitiva das mulheres ao Serviço de Saúde do Exército Brasileiro. Trata-se de uma revisão bibliográfica de livros históricos, artigos científicos, revistas civis e militares e publicações em sites nacionais. O início da Segunda Guerra se deu quando Hitler começou a aplicar seu programa de expansão nazista. O Brasil, neste momento estava vivendo a Era Vargas (1930-1945) e ficou neutro no período inicial do conflito. Porém, após ter sofrido ataques aos seus navios, em 31 de agosto de 1942, o presidente Getúlio Vargas assinou um decreto declarando “Estado de Guerra” em todo o território nacional. Após realizar os atos diplomáticos indispensáveis, tratou-se de organizar e preparar a FEB para atuar no Teatro de Operações do Mediterrâneo. A inclusão de mulheres enfermeiras nas fileiras da FEB, se deveu, entre outros fatores, à solicitação norte-americana. Então, através do Decreto nº 6097, de 15 de novembro de 1943, foi criado o Quadro de Enfermeiras da Reserva do Exército no Serviço de Saúde. Após a seleção, as enfermeiras, participaram do Curso de Emergência de Enfermeiras da Reserva do Exército. Este curso teve duração de 6 semanas e foi composto por 3 módulos: parte teórica, preparação física e instrução militar. Após a finalização do curso preparatório, as enfermeiras foram incorporadas como enfermeiras de terceira classe do círculo de oficiais subalternos. Da primeira turma de voluntárias, num total de 50 alunas, 37 foram incorporadas e seguiram para a Itália. Assim que o contingente de enfermeiras se completou, elas atuaram desde o hospital de campo, na frente de batalha, até os hospitais de retaguarda. As atividades executadas no dia-a-dia dos hospitais de campanha incluíam a realização de curativos, checagem de prontuários, administração de medicamentos e monitoração de sinais vitais. Com o término da guerra, a FEB foi desmobilizada e as enfermeiras desligadas do Exército. Em 1957, o Congresso Nacional, promulgou a Lei Nº 3.160 que incluiu no Serviço de Saúde do Exército as enfermeiras que participaram da FEB, no posto de 2º tenente: fato este, importante para o ingresso efetivo do segmento feminino nas Forças Armadas do Brasil. Não resta a menor dúvida de que as primeiras mulheres brasileiras a ingressarem oficialmente no serviço ativo das Forças Armadas Brasileiras foram as enfermeiras da FEB. Constata-se, no entanto, o esquecimento sobre a presença da mulher na História Militar do Brasil. Foi só em 1997 que iniciou de forma definitiva o segmento feminino no Serviço de Saúde do Exército, ao se formarem as primeiras médicas, dentistas e farmacêuticas de carreira na Escola de Saúde do Exército. Conclui-se que o Brasil segue uma tendência mundial de incluir as mulheres nesse universo tradicionalmente masculino, porém sempre com algumas décadas de atraso. Aqui as mulheres, como nos demais países, iniciaram como força auxiliar temporárias e aos poucos, foram ganhando espaço nos Quadros e Serviços de carreira.

Palavras-chave: Enfermeira. Força Expedicionária Brasileira. Brasil-Exército.

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ABSTRACT

This work aims to investigate the role of nurses in the Brazilian Expeditionary Force (BEF) and show how such participation worked as the foundation for the final entry of women to the Health Service of the Brazilian Army. This is a review of historical books, papers, magazines civilian and military sites in national publications. The onset of World War II was when Hitler began to implement its program of Nazi expansion. Brazil, by this time was living the Vargas Era (1930-1945) and remained neutral in the initial period of conflict. However, after attacks suffered on their ships, on August 31st, 1942, the president Getúlio Vargas signed a decree declaring a "State of War" throughout the national territory. After performing the necessary diplomatic actions, the order was to organize and prepare the BEF to operate in the Mediterranean Theater of Operations. The inclusion of women nurses in the rows of the BEF, was due, among other factors, to request the United States. Then, through Decree No. 6097 of November 15th, 1943, the Nurses Board of the Army Reserve in the Department of Health was created. After selection, the nurses, participated of the Course of Emergency Nurses of the Army Reserve. This course lasted six weeks and was composed of three modules: theoretical part, fitness and military training. After completing the preparatory course, the nurses were incorporated as nurses of third class. The first group of volunteers, a total of 50 students, 37 were incorporated and went to Italy. Once the contingent of nurses was completed, they worked in field hospitals, in the battle front and in the hospitals in the rear. The activities performed in day-to-day field hospitals included the preparation of dressings, checking records, administering medication and monitoring vital signs. With the end of the war, the BEF was dissolved and nurses went off the Army. In 1957, the Congress has enacted Law No. 3160 which included to the Army Health Service, nurses who participated in the BEF, as 2nd lieutenant. This was really important for the effective entry of the female segment in Armed Forces of Brazil. Not the least doubt that the first Brazilian women to enroll officially in active service of the Brazilian Armed Forces were the nurses of BEF. However, the presence of women in the military history of Brazil is usually forgotten. It was only in 1997 that the female segment definitively started on Health Service of the Army, when the first medical, dental and pharmaceutical career women were formed at the Health School of the Army. We conclude that Brazil follows a global trend of including women in traditionally male work, but always a few decades later. Here, as in other countries, women began as assistant temporary strength and gradually have been gaining role in Tables and Career Services. Keywords: Nurse. Brazilian Expeditionary Force. Brazil-Army.

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 8 2 DESENVOLVIMENTO .................................................................................. 10 2.1 A CRIAÇÃO DA FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA ...................... 10 2.2 O SERVIÇO DE SAÚDE DO EXÉRCITO .................................................. 12 2.3 AS ENFERMEIRAS INTEGRAM A FEB .................................................... 12 2.3.1 O Curso preparatório para a Guerra ................................................... 15 2.4 A ATUAÇÃO DAS ENFERMEIRAS NA ITÁLIA ....................................... 15 2.5 A DESMOBILIZAÇÃO DA FEB .................................................................. 17 2.6 O RE-INÍCIO DO SEGMENTO FEMININO NO EB ................................ . 17 2.7 A MULHER MILITAR NO BRASIL ............................................................. 18 2.8 A MULHER MILITAR NOS PAÍSES OCIDENTAIS ................................... 19 2.8.1 Na Inglaterra ......................................................................................... 19 2.8.2 No Canadá ............................................................................................. 19 2.8.3 Nos Estados Unidos ........................................................................... 20 2.8.4 Na França ............................................................................................. 20 3 CONCLUSÃO ............................................................................................. 21 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 23

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1 INTRODUÇÃO

A Segunda Guerra Mundial (IIGM) teve início em primeiro de setembro de

1939 com a invasão da Polônia, seguida da anexação de Dantzig ao Reich

(KOSHIBA e PEREIRA, 2004).

O Brasil vivia a Era Vargas (1930-1945) e vinha mantendo-se neutro no

conflito da Segunda Guerra Mundial. Com o ataque japonês a Pearl Harbor em

1941, o Brasil e outras 25 nações livres se associaram e firmaram uma declaração

de findar as relações diplomáticas com os países do Eixo: Alemanha, Japão e Itália.

A partir desse momento os submarinos alemães e italianos passaram a atacar os

navios mercantes brasileiros (CANSANÇÃO, 1987).

Desde então o governo Vargas começou a sofrer pressões internas e

externas para o ingresso do Brasil na grande guerra. Nesse contexto histórico, em 9

de agosto de 1943, através de portaria ministerial, foi criada a 1ª Divisão de

Infantaria Expedicionária, força combatente da FEB, composta por unidades de

infantaria, artilharia, engenharia e saúde; comandados pelo general-de-divisão João

Baptista Mascarenhas de Moraes (OLIVEIRA e SANTOS, 2007).

Os aliados norte-americanos, através do comando do V Exército Americano,

solicitaram ao Brasil a presença de enfermeiras no front de operações terrestres sob

a alegação de aliviar a demanda de profissionais de enfermagem norte-americanas,

que já estavam atuando na guerra há 4 anos, e também de dirimir as futuras

dificuldade lingüísticas entres os pacientes e atendentes de saúde (OLIVEIRA e

SANTOS, 2007).

Em nove de outubro de 1943 o jornal O Globo publicou uma chamada

solicitando mulheres voluntárias com idade entre dezoito e trinta e seis anos para

aderirem o Exército. Ao se apresentarem para seleção, elas deveriam ser solteiras,

viúvas ou separadas, e comprovar alguma qualificação para o serviço de

enfermagem (CANSANÇÃO, 1987).

Dessa forma, em 5 de janeiro de 1944 foi criado oficialmente o Curso de

Emergência de Enfermeiras de Reserva do Exército. Em 28 de janeiro iniciou o

curso propriamente dito, que constava de treinamento militar, intenso treinamento

físico e instruções teóricas e práticas hospitalares (LEITE, 2000).

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A participação de 67 enfermeiras (61 hospitalares e 6 especializadas em

transporte aéreo) na Força Expedicionária Brasileira (FEB), durante a Segunda

Guerra Mundial, marcou a primeira entrada de mulheres nas fileiras do Exército

Brasileiro (EB) (BERNARDES, LOPES e SANTOS, 2005).

A figura feminina na guerra representava a imagem de pátria-mãe, que levava

os cuidados maternos aos soldados, filhos da pátria. Desta forma, as enfermeiras

brasileiras estariam destinadas a cumprir o seu papel assistencial (OLIVEIRA e

SANTOS, 2007). E, através do voluntariado, as Forças Armadas acolheram

mulheres das classes média e alta brasileira, que aceitando o desafio de fazer parte

da história do Brasil na Segunda Guerra Mundial determinaram o início da presença

feminina no nosso Exército.

Atualmente o segmento feminino no EB, especialmente no Serviço de

Saúde, é numericamente significativo, tanto no círculo de oficiais quanto de praças.

Historicamente, no entanto, não havia lugar para as mulheres nas Forças Armadas

Brasileiras. Fato esse observado quando se analisa o crescimento do efetivo

feminino de 49 membros em 1992 para 3.086 mulheres em 1998 (GOMES, 2006).

A realidade social do Brasil e políticas de pessoal da força terrestre foram se

modificando com o tempo, tendo na Segunda Guerra um marco importante, mas não

sendo definitivo para a entrada das mulheres nesse universo (CYTRYNOWICZ,

2000).

Surge desta constatação a motivação para realizar este trabalho: resgatar a

memória social da atuação da enfermagem na FEB e firmar a importância da

presença do segmento feminino dentro do Exército.

O presente projeto poderá contribuir para realçar a importância da presença

feminina nas fileiras do EB, indicando as dificuldades encontradas pelas pioneiras

para figurar nessa categoria profissional.

Este trabalho tem como objetivo investigar sobre a atuação das enfermeiras

na FEB e evidenciar como essa participação serviu de alicerce para a entrada

definitiva das mulheres ao Serviço de Saúde do Exército Brasileiro.

Trata-se de uma revisão bibliográfica de livros históricos, artigos científicos,

revistas civis e militares e publicações em sites nacionais. Dados colhidos em

publicações do período de 1987 a julho de 2010.

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2 DESENVOLVIMENTO

O início da Segunda Guerra se deu quando Hitler começou a aplicar seu

programa de expansão nazista. Em março de 1938 ele anexou a Áustria à

Alemanha. Após ter invadido e tomado para si toda a Tchecoslováquia, a Grã-

Bretanha assumiu o compromisso de auxiliar os países ameaçados e ficou atenta

em relação a Polônia, uma vez que o objetivo de Hitler era a hegemonia européia.

Como previsto, em 1° de setembro ele ordenou a inva são da Polônia. Dois dias

depois a Grã-Bretanha e a França declararam guerra à Alemanha.

Em 27 de setembro de 1940, a Alemanha, a Itália e o Japão assinaram um

pacto de aliança, formando o Eixo. Do outro lado da linha de batalha estavam os

Aliados: Inglaterra, França, União Soviética e Estados Unidos.

O Brasil, neste momento estava vivendo a Era Vargas (1930-1945) e ficou

neutro no período inicial do conflito. Após o ataque japonês a Pearl Harbour, 26

nações livres – incluindo o Brasil - se associaram. Em 1° de janeiro de 1942, o Brasil

entrou na guerra ao lado dos Aliados. Dessa forma, o nosso país encerrou ligações

diplomáticas com os países do Eixo.

Em represália a atitude brasileira, os submarinos alemães e italianos

passaram a atacar nossos navios mercantes ofendendo assim nossa soberania.

Consequentemente, em 31 de agosto de 1942, o presidente Getúlio Vargas assinou

o Decreto n° 10.358 declarando “Estado de Guerra” e m todo o território nacional.

2.1 A CRIAÇÃO DA FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA

Após realizar os atos diplomáticos indispensáveis, tratou-se de organizar e

preparar uma Força Expedicionária Brasileira para atuar no Teatro de Operações do

Mediterrâneo (MOURA, 1990).

Dessa forma foi nomeado Ministro da Guerra o General Eurico Gaspar Dutra

que convidou o General Mascarenhas de Moraes, comandante da 2° Região Militar

para comandar a FEB. Nasceu assim a FEB e foi organizada a Primeira Divisão de

Infantaria Expedicionária (1° DIE) (ALBERTO, 2001).

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Segundo Moraes (1960) a 1° DIE era composta da seg uinte forma:

- Comandante Geral de Divisão;

- Quartel Geral, Estado Maior Geral e Estado Maior Especial;

- Infantaria Divisionária: Comandante e 03 Regimentos de Infantaria;

- Artilharia Divisionária: Comandante e 04 Grupos de Artilharia;

- Esquadrilha de Aviação;

- Batalhão de Engenharia;

- Batalhão de Saúde;

- Esquadrão de Reconhecimento;

- Companhia de Transmissões – Comunicações.

A tropa especial era assim composta, ainda segundo Morais (1960):

- Comando do Quartel General e da Tropa Especial;

- Destacamento de Saúde;

- Companhia de Manutenção;

- Companhia de Intendência;

- Pelotão de Sepultamento;

- Pelotão de Polícia;

- Banda de Música.

Os Órgãos Não-Divisionários eram compostos pelos seguintes:

- Comandante da FEB

- Serviço de Saúde da FEB;

- Agência do Banco do Brasil;

- Pagadoria Fixa;

- Seção Brasileira de Base;

- Depósito de Intendência;

- Serviço Postal;

- Serviço de Justiça;

- Depósito de Pessoal.

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2.2 O SERVIÇO DE SAÚDE DO EXÉRCITO

O 1° Batalhão de Saúde, criado pelo Decreto-Lei Re servado número 6071-A,

de 6 de dezembro de 1943, foi uma unidade nova. Tinha subordinação militar ao

Comando da Divisão e técnica ao Chefe do Serviço de Saúde dessa mesma

Divisão, que era comandada pelo Major Médico Bonifácio Antônio Borba. Era

constituído por uma Companhia de Comando e Serviço, uma Companhia para

Tratamento e 03 Companhias de Evacuação.

A chefia do Serviço de Saúde da FEB coube ao Coronel Médico Emanuel

Marques Porto. O Serviço somou entre médicos, dentistas e farmacêuticos 198

oficiais, 67 enfermeiras, 44 enfermeiros, 6 manipuladores de farmácia, 6

manipuladores de radiologia e 2 protéticos (ALBERTO, 2001).

Na organização doutrinária do Serviço de Saúde foi abandonada a

organização francesa e adotada a forma Norte-Americana (Destacamento de Saúde,

Batalhão de Saúde, Hospitais Cirúrgicos de Urgência, de Evacuação e de Guarnição

(ALBERTO, 2001).

A instrução foi programada na área de primeiros socorros, triagem, cirurgia de

guerra, normas de evacuação, tratamento e transporte de feridos, cadeia de

evacuação e suprimento e manutenção.

O Serviço de Saúde brasileiro não dispunha de hospitais próprios, formando,

deste modo, “Grupos Suplementares em Hospitais Norte-Americanos”.

2.3 AS ENFERMEIRAS INTEGRAM A FEB

Conforme Oliveira (2007), deve-se considerar que nunca houve, de

forma tão enfática, a convocação de mulheres para alinharem-se ao lado de uma

tropa em um conflito de ordem mundial como a Segunda Guerra. Isso combinou

sentimento nacionalista, treinamento rigoroso, prontidão, alerta e marcha, e fundindo

ideais do Estado Novo com a mobilização para guerra. Surgiu, então, um modelo de

sociedade militarizada.

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A inclusão de mulheres enfermeiras nas fileiras da FEB se deveu, entre

outros fatores, à solicitação norte-americana (V Exército Americano). As enfermeiras

americanas já estavam no Teatro de Operações Terrestre (TOT) há cerca de 4 anos,

sobrecarregadas, e não falavam português, o que certamente seria um problema

significativo no trato com os futuros pacientes brasileiros.

Sabe-se que a participação feminina durante a IIGM era rotineira nos outros

países combatentes. A Rússia, por exemplo, preparava mulheres para o combate

antes mesmo do início do conflito (CAIRE, 2002). Na França, as mulheres ocupavam

seus espaços em três escalões diferentes: nas fábricas e setores administrativos, as

enfermeiras e as condutoras de ambulâncias da Cruz Vermelha. Na Inglaterra as

mulheres, já em 1938, assumiram posições em tarefas não-combatentes, mas com a

evolução do conflito elas gradativamente se aproximaram mais do combate. Nos

Estados Unidos, foi através de uma lei do Congresso, instituída em 14 de maio de

1942, que se criou o corpo de auxiliares femininos no Exército. Na Alemanha, já

havia o serviço militar obrigatório das mulheres nos primeiros anos da Guerra. Na

Inglaterra, a mulher era muito bem reconhecida e servia nas formações de serviço

territorial auxiliar.

Então, através do Decreto nº 6097, de 15 de novembro de 1943, foi criado o

Quadro de Enfermeiras da Reserva do Exército no Serviço de Saúde. Iniciou assim

a formação de enfermeiras militares. O Corpo de Enfermeiras da Reserva foi todo

criado com voluntárias (CAMERINO, 1983). Houve uma tentativa de extrair alunas

da Escola Anna Nery, a principal formadora de enfermeiras da época, porém o

salário oferecido (quatrocentos e vinte mil réis) foi considerado muito baixo pela

diretora da instituição que não permitiu que suas alunas se alistassem nessas

condições.

O surgimento das voluntárias foi um fator positivo para inserção das mulheres

no meio militar. Havia na época uma mobilização nacional espontânea e popular

para o ingresso do Brasil na guerra, e as mulheres encontraram na profissão de

Enfermagem o caminho para participarem. Houve, por parte de moças da sociedade

brasileira, uma procura importante pelos cursos das escolas de formação de

enfermagem da época, sendo inclusive o voluntariado feito por duas princesas:

Maria Francisca e Maria Tereza Órleans e Bragança (MEDEIROS, 2001).

Em contrapartida, falta de estímulo era o que não faltava. Havia intensa

reprovação social, e mesmo dentro dos núcleos familiares das voluntárias, eram

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poucas as que encontraram apoio. Além disso, as atitudes do Exército em relação

às mulheres também não favorecia a imagem das voluntárias: desde uniformes não

adaptados a elas, até a inadequação dentro do quadro hierárquico em relação a

outros exércitos aliados. Ressalta essa afirmação a constatação de que as

enfermeiras americanas já possuíam posto de capitão ou major e eram chefes dos

Serviços de Enfermagem dos Hospitais de Campanha, enquanto as enfermeiras

brasileiras chegaram ao front com graduação de terceiro sargento.

Como descreve Cansanção (1987), a forma que a brasileira encontrou de

participar da defesa do território nacional foi recorrer às escolas de enfermagem e,

mesmo assim, a incorporação das mulheres só ocorreu devido a imposição dos

americanos. Essa abertura ao segmento feminino levou a um aumento na procura

por capacitação na área de enfermagem de toda sociedade ativa e, depois de

terminado o evento, colocou a profissão de enfermeira sob nova perspectiva frente à

sociedade.

Inicialmente o Exército exigiu diploma de Enfermagem reconhecido, mas com

a recusa da Escola Anna Nery, foram ampliadas as possibilidades de formação

profissional. Havia, na época, 3 tipos de cursos: o de profissionais (duração de 3

anos), o de Samaritanas (duração de 1 ano, seria o supletivo de Enfermagem) e o

de Voluntárias Socorristas (duração de 3 meses) (CYTRYNOWICZ, 2000). Dessa

forma, ingressaram na FEB apenas 6 enfermeiras profissionais, vindas do Hospital

Alfredo Pinto, da Cruz Vermelha e uma da Escola Anna Nery.

Assim, as mulheres que possuíam qualquer experiência na área de

enfermagem poderiam ou não aceitar a convocação; todavia, um forte apelo

patriótico esteve presente na propaganda veiculada pela mídia da época, que

anunciava a possibilidade da mulher ingressar num universo eminentemente

masculino (BERNARDES, 2003). Em 9 de outubro de 1943, houve a publicação no

jornal “O Globo” de uma propaganda solicitando mulheres entre 18 e 36 anos para

aderirem ao voluntariado, sendo que elas deveriam ser solteiras, viúvas ou

separadas e comprovar alguma qualificação para o serviço de Enfermagem

(BERNARDES; LOPES, 2007).

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2.3.1 O Curso Preparatório para a Guerra

Após a seleção, as enfermeiras, participaram do Curso de Emergência de

Enfermeiras da Reserva do Exército (CEERE), ministrado pela Diretoria de Saúde do

Exército no Rio de Janeiro e, nas sedes das Regiões Militares, pelas respectivas

chefias do Serviço de Saúde (BERNARDES; LOPES, 2007). Este curso teve

duração de 6 semanas e foi composto por 3 módulos: parte teórica, preparação

física e instrução militar.

O curso fez com que as voluntárias civis incorporassem o habitus militar e

padronizou o comportamento das novas militares no TOT. Possibilitou treinamento

para todas as implicações que pudessem advir de um evento bélico desta natureza,

inclusive o de transportar feridos em aeronaves, sobre o oceano Atlântico, sem a

presença médica.

Ao término do curso, as alunas consideradas aptas eram propostas para

nomeação ao Ministério da Guerra. Da primeira turma de voluntárias, num total de

50 alunas, 37 foram incorporadas e seguiram para a Itália. Depois ainda ocorreram 4

cursos.

Foi assim que as mulheres brasileiras iniciaram uma nova fase do Exército

Brasileiro. Seguindo tendências internacionais, o Brasil contava agora com a

presença feminina no seu front de guerra. E essas mulheres, que fugiam do padrão

socialmente aceito na época, tinham o ideal de servir ao país, seguindo para Guerra.

2.4 A ATUAÇÃO DAS ENFERMEIRAS NA ITÁLIA

Após a finalização do curso preparatório, as enfermeiras foram incorporadas

como enfermeiras de terceira classe do círculo de oficiais subalternos do EB (posto

este criado para elas).

Foi formado o Destacamento Precursor da FEB, composto pelas enfermeiras

Elza Cansanção Medeiros, Virgínia Maria de Niemeyer Portocarrero, Carmen

Bebiano de Mello Braga, Antonieta Ferreira e Ignacia de Melo Braga. Foi designado

o major médico Ernestino Gomes de Oliveira para comandar o destacamento.

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O Destacamento Precursor saiu no dia 7 de julho, de avião, para Natal. De lá

fizeram diversas escalas até chegarem a Nápoles, aonde tinham a missão de

recepcionar os cinco mil brasileiros do 1º Escalão da FEB.

Esse Destacamento foi designado para a seção hospitalar brasileira do 45th

Field Hospital e para o 182nd Station Hospital. Já ao desembarcarem na Itália, 300

pracinhas brasileiros foram baixados nesses hospitais.

Assim que o contingente de enfermeiras se completou, elas atuaram desde o

hospital de campo, na frente de batalha, até os hospitais de retaguarda, quais sejam:

32nd Fiel Hospital, 16th Evacuation Hospital, 38th Evacuation Hospital, 7th Station

Hospital, 105th Station Hospital, 45th General Hospital, 182nd General Hospital e o

300th General Hospital (CANSANÇÃO,2003).

Uma vez que a Guerra é dinâmica e sua localização geográfica muda

conforme o desenvolvimento do conflito, outra atribuição das enfermeiras brasileiras

era realizar as diversas mudanças de localização dos hospitais. Dessa forma, o

Serviço de Saúde acompanhou essa mobilidade. As lutas do cotidiano da guerra,

tais como o clima adverso e a barreira lingüística foram alguns dos desafios

encontrados pelo grupamento feminino de enfermagem. Por outro lado, as

experiências vividas junto às enfermeiras de outras nacionalidades possibilitaram a

incorporação de uma cultura determinante nas suas vidas e futuro profissional

(BERNARDES; LOPES; SANTOS, 2005).

As atividades executadas no dia-a-dia dos hospitais de campanha incluíam a

realização de curativos, checagem de prontuários, administração de medicamentos,

monitoração de sinais vitais dentre outros. Já nos hospitais de Evacuação, a função

da equipe de saúde era colocar os pacientes em condições de viajar para a

retaguarda.

Para o transporte de feridos, foi criado um Serviço de Transporte Aéreo,

composto por 6 enfermeiras. Os aviões de carga eram adaptados com padiolas nas

laterais e as enfermeiras prestavam a assistência aos feridos sem o

acompanhamento de médico. Eram transportados entre 18 e 20 pacientes em cada

aeronave e os vôos transatlânticos duravam 10 horas (BERNARDES; LOPES,

2007).

Assim, a atuação das enfermeiras da FEB foi marcada por inúmeros elogios

dos chefes militares e dos soldados, o que enfatiza a importância da sua

contribuição para o êxito da campanha do Brasil na IIGM.

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2.5 A DESMOBILIZAÇÃO DA FEB

Ao término da guerra, em julho de 1945 e, antes mesmo do regresso da FEB

ao Brasil, houve a desmobilização da Força, ainda na Europa. Acabou assim, de

forma frustrante, a participação dos cidadãos brasileiros na força combatente desse

grande evento histórico de forma geral e das enfermeiras em particular.

Fato esse que pode ser analisado por mais de um ângulo. Segundo

Cansanção toda a FEB foi desmobilizada para que o governo Vargas não ficasse

ameaçado diante de uma tropa treinada e vitoriosa justamente por combater um

regime semelhante ao dele próprio. E, ainda, a própria desvalorização das

profissionais de saúde, na época, propiciou um corte imediato no vínculo entre as

partes, não considerando os excelentes serviços prestados.

Através do Aviso Ministerial 217-185 de 6 de julho foi dissolvida a FEB.

Coordenaram esse feito os generais Eurico Gaspar Dutra (Ministro da Guerra) e

Góis Monteiro (Chefe do Estado Maior).

Um fato impressionante é que as voluntárias nem sequer puderam participar

do desfile em homenagem ao retorno das tropas brasileiras, e sendo assim,

desligadas do Exército imediatamente.

Ao ser desmobilizada a FEB, o Serviço de Saúde do Exército perdeu o

segmento feminino (OLIVEIRA; SANTOS, 2007).

2.6 O RE-INÍCIO DO SEGMENTO FEMININO DO EB

No final dos anos oitenta, com a nova Constituição da República Federativa

do Brasil, às mulheres foram garantidos os mesmos direitos dos homens. No

entanto, em muitas profissões de destaque social, a presença das mulheres era

mínima.

A aceitação das mulheres nos quadros de carreira de oficiais do Exército

Brasileiro só aconteceu nos anos noventa e, ainda hoje, parece haver resistência

nesse universo em lidar com a situação de comandante e comandado, quando na

primeira situação está uma mulher, e na segunda, um homem.

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Segundo Leite (2000), não resta a menor dúvida de que as primeiras

mulheres brasileiras a ingressarem oficialmente no serviço ativo das Forças

Armadas Brasileiras foram as enfermeiras da FEB. Observa-se, no entanto, o

esquecimento sobre a presença da mulher na História Militar do Brasil.

Após terem sido excluídas das fileiras do EB, algumas enfermeiras

continuaram prestando seus serviços como servidoras civis. Outras iniciaram uma

luta jurídica para serem re-incorporadas. Em 1957, o Congresso Nacional,

promulgou a Lei Nº 3.160 que inclui no Serviço de Saúde do Exército as enfermeiras

que participaram da FEB, no posto de 2º tenente. Fato importante para o ingresso

efetivo do segmento feminino nas Forças Armadas do Brasil (CANSANÇÃO, 2003).

Mas foi só em 1997 que iniciou de forma definitiva o segmento feminino no

Serviço de Saúde do EB, quando se formaram médicas, dentistas e farmacêuticas

de carreira na Escola de Saúde do Exército.

2.7 A MULHER MILITAR NO BRASIL

O início da carreira feminina nas Forças Armadas Brasileiras começou na

Marinha em 1980, com a criação do Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da

Marinha. Na segunda metade dos anos 1990 a mulher foi incorporada na estrutura

oficial de Corpos e Quadros da Marinha (LOMBARDI, BRUSCHINI e MERCADO,

2009).

Na Força Terrestre a mulher só pode ingressar, após a desmobilização da

FEB em 1945, através da Escola de Administração do Exército (EsAEx). A lei n°

7831, de 2 de outubro de 1989, criou o Quadro Complementar de Oficiais (QCO) do

Exército. Abriram-se, assim, vagas para mulheres com formação em nível superior

em: Administração, Ciências Contábeis, Direito, Economia, Enfermagem, Estatística,

Informática, Magistério, Pedagogia, Psicologia, Relações Públicas e Veterinária.

Em 1996 o Exército instituiu o Serviço Militar Feminino Voluntário para

médicas, dentistas, farmacêuticas, veterinárias e enfermeiras.

Em 1997 a Escola de Saúde do Exército (EsSEx) e o Instituto Militar de

Engenharia (IME) matricularam pela primeira vez, mulheres em suas turmas. Na

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EsSEx formaram-se médicas, dentistas e farmacêuticas que iniciaram o oficialato do

segmento feminino na saúde.

Acompanhando a mesma tendência e indo além, em 1997, ingressou a

primeira turma feminina na Academia da Força Aérea – permitindo, assim, às

mulheres a mesma carreira que a dos homens. Situação, até hoje, privilégio da

Aeronáutica.

2.8 A MULHER MILITAR NOS PAÍSES OCIDENTAIS

Inglaterra, Canadá, Estados Unidos e França estão em vias de alcançar a

integração total das mulheres nas Forças Armadas, especialmente no que se refere

às modalidades de carreira. Atualmente esses países já estão na fase de

experimentação para incluir as mulheres em especializações operacionais.

2.8.1 Na Inglaterra

Os três corpos femininos: o Corpo Feminino do Exército Real (Women Royal

Army Corps), o Serviço Feminino da Marinha Real (Women Royal Navy Service) e a

Seção Feminina da Real Força Aérea (Women Air Force) foram definitivamente

integrados às forças nacionais em 1949.

As funções são diversificadas, desde cargos burocráticos (secretárias,

datilógrafas e contadoras) aos de telefonista, fotógrafa, químicas e cozinheiras e até

os mais próximos ao combate como os de enfermeira e condutoras.

2.8.2 No Canadá

A assinatura do Tratado do Atlântico Norte e a eclosão da Guerra da Coréia

em 1950 favoreceram a readmissão das mulheres nas forças armadas. Já em 1951

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foi formada a divisão feminina da força aérea. Seguiu o Exército em 1954 e a

Marinha em 1955.

2.8.3 Nos Estados Unidos

Durante a IIGM o número de enfermeiras foi cerca de 57 mil no Exército e 11

mil na Marinha.

Após o término da grande guerra, em 1948, o Congresso aprovou uma lei

chamada: “Lei de Integração das Mulheres nas Forças Armadas”, que autorizou sua

assimilação e suprimiu a reserva feminina.

2.8.4 Na França

Já em 1930 havia a possibilidade da mulher enfermeira da Cruz Vermelha

francesa se voluntariar (sem remuneração) para as formações de saúde em

campanha. A duração do engajamento era mínima de 1 ano e máxima conforme

durasse o conflito. Outra atividade que elas exerciam era de condutoras de viaturas.

Em 1940 as opções de serviço foram ampliadas. As novas missões poderiam

ser nos estados maiores e corpo de tropa, nos serviços de artilharia, engenharia,

intendência e saúde e nos transportes.

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3 CONCLUSÃO

As enfermeiras da FEB representaram o início da carreira militar do segmento

feminino no EB, fato este impulsionado pelas mudanças sócio-econômicas

brasileiras na década de quarenta.

Seguindo uma tendência internacional, e por solicitação dos aliados norte-

americanos, o Estado Maior do Exército implementou, em caráter de urgência, a

busca por voluntárias para compor o Quadro de Enfermeiras a fim de atuar no

cenário da Guerra. Havia uma mobilização popular espontânea no Brasil no mesmo

sentido, de tal forma que, desde o início do conflito, muitas mulheres já estavam se

preparando, através de cursos profissionalizantes, para esse voluntariado.

Assim, em 9 de outubro de 1943 o jornal “O Globo” publicou a chamada às

voluntárias cujos critérios de inclusão eram os seguintes: ter entre 18 e 36 anos, ser

solteira, viúva ou separada e possuir qualquer diploma de enfermagem. Assim que

selecionadas, as enfermeiras foram submetidas ao Curso de Emergência de

Enfermeiras da Reserva do Exército.

O curso, coordenado e ministrado pela Diretoria de Saúde do Exército,

constou de três módulos distintos: parte teórica, preparação física e instrução militar.

O treinamento físico a que foram submetidas era basicamente o mesmo que o

aplicado aos soldados em treinamento na época. O objetivo era inserir nas mulheres

o habitus militar, padronizando, assim, o comportamento dessas enfermeiras no

Teatro de Operações na Itália.

As enfermeiras selecionadas atuaram na Itália em cooperação com o Serviço

de Saúde Americano. Realizaram, entre tantas tarefas, a evacuação aeromédica dos

feridos brasileiros.

Após o final da Guerra e antes mesmo de chegarem ao Brasil em 1945, a

FEB foi desmobilizada. Todos os reservistas foram desligados do EB. Desta

maneira, também as enfermeiras deixaram de fazer parte do contingente brasileiro.

Esse fato foi muito frustrante para todos os febianos, e explicado pelo fato de um

possível temor do governo Vargas de ter em seu território uma força treinada para

combater o regime totalitário, como era o seu.

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Comparativamente com as Forças Armadas de outros países, a aceitação das

mulheres no meio militar no Brasil, é recente. Na França, por exemplo, isso ocorreu

vinte anos antes (MARIUZZO, 2008).

Dentro desse panorama, o Exército, no Brasil, foi o último das Forças

Armadas a incorporar mulheres. E até hoje, elas não podem ingressar na carreira

combatente.

Conclui-se que o Brasil segue uma tendência mundial de incluir as mulheres

nesse universo tradicionalmente masculino, porém sempre com algumas décadas

de atraso. Aqui as mulheres, como nos demais países, iniciaram como força auxiliar

temporária e aos poucos foram ganhando espaço nos Quadros e Serviços de

carreira.

Destaca-se que as enfermeiras da FEB tiveram um papel importantíssimo

nesse processo, pois mostraram que mulheres são muito capazes de tolerar o

treinamento, absorver o habitus militar e desempenhar importante papel no front de

guerra, tanto como profissionais, bem como símbolos da Pátria Mãe que acolhe e dá

suporte aos seus combatentes.

Contudo, algumas lacunas ainda devem ser preenchidas. Uma delas é

entender porque o EB não deu continuidade ao serviço feminino ao término da

Segunda Guerra, uma vez que internacionalmente houve essa continuação. E outra

questão a ser pensada com olhos no futuro, é o estudo da oportunidade de mulheres

ingressarem nas carreiras combatentes do Exército.

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