textos - estafeta da leitura eb1 do carandá

24
Estafeta de Leitura

Upload: biblioteca-caranda

Post on 05-Dec-2014

1.063 views

Category:

Documents


6 download

TRANSCRIPT

Page 1: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

Estafeta de

Leitura

Page 2: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

UMA AVENTURA DO CAPITÃO MERGULHÃO

Quando o navegador Fernão Magalhães desembarcou naquela ilha, que não vinha no

mapa, sentiu um tremor nas pernas como nunca antes tinha sentido.

Provavelmente, os seus homens, também marinheiros experientes, sentiram o

mesmo, mas ninguém deu parte fraca. Há muito que rasgavam mares desconhecidos, no

veleiro de velas ao vento. Por isso ansiavam por terra firme.

Na ilha de rocha lisa e escorregadia não despontava uma única árvore ou arbusto ou

ervas sequer. Era uma ilha deserta de que mal se adivinhava o final. Mas era uma ilha, não

havia dúvida.

- Vou dar-lhe o meu nome – declarou o capitão Fernão Mergulhão.

Os marinheiros à ordem do velho capitão trouxeram do veleiro uma laje esculpida

que, enterrada no chão da ilha, destacaria para todo o sempre o nome do seu descobridor.

O pior é que não conseguiram abrir o buraco para enterrar o cruzeiro de pedra. Mal as

picaretas picaram a superfície rochosa da ilha, um abanão de tremor de terra fê-los cair a

todos. Outro abanão, nova queda. De seguida, ouviu-se um ronco, rugido, uivos imensos

que ecoaram nas nuvens.

- Isto não é uma ilha! – gritaram. – É um monstro e nós acordámo-lo.

Pois devia ser. O olhar humano não conseguia abranger o tamanho do monstro

marinho. Baleia gigantesca? Polvo descomunal? Ou outro animal fantástico ainda por

descobrir?

A mando do capitão, os marinheiros meteram-se no bote e remaram com todas as

suas forças para o navio. Parece que o monstro terá voltado a adormecer, depois das

incómodas picadelas sentidas nos lombos, senão teria provocado tal tempestade que bote,

veleiro e marinheiro tudo seria engolido pelas ondas da sua raiva. E, se assim acontecesse,

nós não teríamos para contar esta história do capitão Fernão Mergulhão, o que era pena.

António Torrado, in Uma aventura do capitão Mergulhão

Lido pelo Tiago Salomão, 3.º B

Page 3: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

O CARANGUEJO EM FÉRIAS

Era uma vez um caranguejo que se cansou do mar.

- Estou farto, farto, farto. Sempre as mesmas ondas, sempre a mesma areia…

Precisava de férias, era o que era!

Foi a uma agência de viagens, dessas que têm muitos cartazes turísticos nas montras e setas

que apontam para Roma, paris, Londres, como se fossem ali, ao virar da esquina.

- Quero umas férias descansadas – pediu o caranguejo.

O empregado, muito atencioso, sugeriu:

- Talvez Vossa excelência gostasse de um cruzeiro marítimo…

- Nunca. Cruzeiro marítimo não quero. Bem basta o que basta! – cortou logo o caranguejo.

- Nesse caso, talvez um hotel na Costa Azul, com vista para o mar – lembrou o empregado,

sempre muito atencioso.

- Nunca. Com vista para o mar não quero. Bem basta o que basta! – corto logo o caranguejo.

Entretanto, reparou num cartaz, com uma montanha carregadinha de neve.

- Quero ir para ali – apontou o caranguejo.

- Mas é uma estância de Inverno… - disse o empregado.

- Não me importa. Eu vou para onde me apetece. Trate-me de tudo.

O empregado tratou e o caranguejo foi.

Acabara o caranguejo de chegar ao cimo de um rochedo, sobre um vale imenso, quando uns

alpinistas deram por ele. Meteram-no logo no saco das lembranças. Caranguejos na montanha são

raridade.

- Tirem-me daqui. Tirem-me daqui – gritava o caranguejo, mas em vão.

Logo aconteceu que, no dia seguinte, os alpinistas iam trepar a umas arribas, no litoral.

Quando o caranguejo conseguiu libertar-se e caiu na areia da praia, desesperou-se:

Estragaram-me as férias. Que azar o meu. Só vejo a vida a andar para trás.

E talvez tivesse razão.

António Torrado, in Da rua do contador para a rua do ouvidor

Lido pelo Nuno, 3.ºB

Page 4: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

STELLA – ESTRELA DO MAR

A Stella e o Simão foram passar o dia à beira-mar. Para Simão é a primeira vez.

- Não é lindo, Simão? – perguntou Stella.

- É muito grande, - respondeu Simão – e tão barulhento.

A Stella já tinha visto o mar uma vez, antes de o simão nascer. Ela conhecia todos os seus segredos.

- A água está fria? – perguntou Simão – É muito funda? Não há lá monstros marinhos?

- A água está ótima – disse Stella. - E nem um monstro marinho à vista. Anda, Simão!

- Ainda não – disse Simão.

- Donde vêm as estrelas do mar? – perguntou Simão.

- Do céu – respondeu Stella. – As estrelas do mar são estrelas cadentes que se apaixonaram pelo mar.

- E as estrelas não tiveram medo de se afogar? – perguntou Simão.

- Não, - respondeu Stella – elas sabiam nadar.

- O que é isto? - perguntou Simão.

- É uma concha da lua, - disse Stella – vem da Lua.

- O que é aquilo?

- É uma asa de anjo, - disse Stella – pertenceu a um anjo.

- E isto?

- É um olho de tubarão – respondeu Stella.

- Achas que há tubarões no mar? – perguntou Simão. Já viste algum?

- Só um pequenino, - disse Stella – com uma pala no olho. Vens, Simão?

- Agora não – disse Simão.

- Anda ver, Simão – gritou Stella – encontrei um cavalo marinho.

- O cavalo marinho relincha? O cavalo marinho galopa?

- Sim! – gritou Stella – E podes montar um cavalo marinho mesmo sem sela. Anda lá, Simão.

- Não agora – disse Simão.

- Vamos cavar um buraco muito fundo - disse Stella.

-Porquê? Para quê? Aonde é que vamos parar?

-À China – respondeu Stella.

- Já chegamos lá? – perguntou Simão.

- Vamos antes pescar, Simão – suspirou Stella. Talvez apanhemos um peixe gato.

- O peixe gato ronrona? - perguntou Simão. O peixe porco ronca? O peixe papagaio fala?

- Não sei, - suspirou Stella – vou mas é nadar.

- O peixe galo nada? - perguntou Simão – ou voa e cacareja? O mar toca no céu? Os barcos caem para lá daquela borda? De onde vêm as ondas? Por que é que…

- Simão! – gritou Stella – Vens ou não?

- SIM! – gritou Simão.

Marie-Louise Gay, Stella, estrela do mar

Lido pela Leonor, 3.º B

Page 5: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

O MACACO E O TUBARÃO

O macaco vivia perto do mar e passava horas de olhos postos nas águas, maravilhado por apresentarem vários tons de azul ao longo do dia e encantado com o vaivém das ondas, que deixavam tiras de espuma branca sobre a praia. Em tempos esforçara-se por aprender a nadar, mas como não conseguiu, desistiu.

- Se eu ao menos pudesse navegar – suspirava sempre que passavam navios. – Ah! Se eu ao menos pudesse navegar!

Um tubarão que frequentava aquelas paragens ouviu e resolveu aproveitar-se daquele desejo. Fingindo-se muito amigo e muito simpático, aproximou-se e meteu conversa:

- Parece que gostavas de dar um passeio à tona de água, não é?

- É o meu sonho, mas não tenho quem me leve.

- Eu levo-te com todo o gosto.

- A sério?

- Mais sério não posso ser. Se quiseres, sobe agora mesmo para as minhas costas, agarra-te à minha barbatana, e o teu sonho torna-se realidade.

O macaco ficou contentíssimo e saltou da palmeira para o dorso do tubarão. De início, viajaram perto da praia, mas o macaco estava tão entusiasmado com o passeio que não se cansava de pedir:

- Mais longe, amigo tubarão! Leva-me mais longe!

- Queres ir para o alto mar?

- Quero, por favor!

O tubarão disfarçou um sorriso maldoso e fez-lhe a vontade. Mais adiante, perguntou:

- Que tal, amigo macaco? Está a gostar do passeio?

- Muito, muitíssimo. Acho que é o dia mais feliz da minha vida.

- Ainda bem. Porque eu tenho um problema difícil de resolver e vou resolvê-lo hoje.

- Que problema?

- O meu pai está muito doente no fundo do mar e o curandeiro disse que ele só melhorava se comesse um coração de macaco…

Ao ouvir aquilo, o pobre macaco ia morrendo de susto, mas como era muito inteligente, resolveu controlar-se e fingir que colaborava.

- Tenho muito gosto em te dar o meu coração para salvares o teu pai. Há de fazer-lhe bem, porque é a parte mais saborosa do meu corpo.

- Ai sim?

- Sim. Mas se queres o meu coração temos que ir buscá-lo a casa.

- Estás a falar verdade? – perguntou o tubarão já desconfiado.

- Claro que estou. Tu se calhar não sabes que a minha espécie não usa o coração dentro do peito.

- Ai não?

- Não. Deixamos sempre o coração em casa. Se me levares de volta vou buscá-lo num instante e o teu pai come o melhor petisco deste mundo.

O tubarão, que era gulosíssimo, acreditou e levou-o à praia. Assim que pôs o pé na areia, o macaco fugiu aos saltos e nunca mais apareceu.

Há quem diga que o tubarão ainda hoje ronda aquela praia, na esperança de comer um coração de macaco.

Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, in Rãs, Príncipes e Feiticeiros

Lido pela Ana Filipa Gonçalves, 3.º A

Page 6: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

LENDA DE TIMOR

Em tempos que já lá vão, vivia na ilha Celebes um crocodilo muito velho, tão velho que

não conseguia caçar peixes no rio. Certo dia, apertado pela fome, decidiu aventurar-se nas

margens, em busca de algum porco distraído que lhe servisse de refeição. Andou, andou,

até cair exausto e desesperado, pois não encontrara nada e perdera as poucas forças que

lhe restavam. Como havia de regressar à água? Valeu-lhe um rapaz simpático e robusto que

teve pena dele e o arrastou pela cauda.

Em paga do serviço prestado, o crocodilo ofereceu-se para o transportar às costas

sempre que quisesse navegar. O rapaz aceitou e fizeram várias viagens juntos.

Isso não impediu no entanto que, sentindo fome de novo, o crocodilo se lembrasse de

comer o companheiro. Antes porém quis ouvir a opinião de outros animais e todos se

mostraram indignadíssimos. Devorar quem o salvara? Que ingratidão!

Envergonhado e cheio de remorsos, o crocodilo resolveu partir para longe e

recomeçar a vida onde ninguém o conhecesse. Como o rapaz era o único amigo que tinha,

chamou-o e disse-lhe:

— Vem comigo à procura de um disco de ouro que flutua nas ondas perto do sol

nascente. Quando o encontrarmos seremos felizes.

Mais uma vez viajaram juntos, agora sulcando o mar que parecia não ter fim… a certa

altura o crocodilo percebeu que não podia continuar. Deteve-se por um instante e logo o

corpo se transformou numa ilha magnífica.

O rapaz viu-se homem feito de um momento para o outro e verificou encantado que

trazia ao peito o disco de ouro com que sonhara o crocodilo. Percorreu então as praias, as

colinas, as montanhas, concluindo que ali realizaria o seu destino. Instalou-se para ficar e

deu à ilha o nome de Timor que significa Oriente.

Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada, Prémio Nobel da Paz 1996

Lido pelo Guilherme, 4.º A

Page 7: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

A SEREIA

Era uma vez uma sereia. E, como todas as sereias, vivia no mar. Tinha os cabelos

loiros e compridos, os olhos verdes, a pele cor-de-rosa, e uma cauda de peixe com

escamas brilhantes, tão bonitas, tão bonitas que faziam inveja aos pargos e às

pescadas, que andavam sempre por ali. Mas a sereia era muito caprichosa, e o pai,

que estava velho e já tinha perdido a paciência, fazia-lhe todas as vontades.

— Quero um pente de tartaruga para pentear os meus cabelos! — dizia ela. E

logo o velho mar mandava chamar a tartaruga para lhe fazer o pente.

Quero isto, quero aquilo! E sempre a cirandar dum lado para o outro, metendo

o nariz em tudo e tudo apetecendo...

Um dia, a sereia declarou à mesa:

— Quero ir para terra!

— Não pode ser — respondeu o pai. — Quem tem cauda de peixe como tu, só

pode viver dentro de água, de outra forma é capaz de morrer.

A sereia teimou e tornou a teimar. Para ver se aquilo lhe passava, o velho mar

mandou buscar, aos seus tesouros, um colar de lindas pérolas, um espelho com cabo

de coral e um ramo de anémonas. Mas a sereia continuou: «Quero ir para terra!» Foi

preciso o pai zangar-se. Zangou-se tanto, que nesse dia houve ondas muito altas e

furiosas.

Mas a sereia continuou a teimar e, nessa mesma noite...

Ricardo Alberty, As aventuras da pequena sereia

Lido pelo Pedro, 2.º A

Page 8: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

As lágrimas são netas do mar

Vieram dizer ao Mar que o Sal andava a portar-se mal.

Quem veio meter minhocas na cabeça do velho Mar foi a Areia e a Espuma. Tudo porque o Sal era bonito e não lhes ligava nenhuma.

De queixinha em queixinha, disseram ao Mar que o Sal tinha uma namoradinha.

Chamava-se Gota de Água. Era linda, branca, cristalina e tinha vindo do Céu Azul.

As duas, com dores de cotovelo, contaram ao Mar as conversas de amor que tinham ouvido quando o Sal estava a namorar muito entretido.

Então, a Areia disse que a Gota de Água falou assim para o Sal: - Meu bem amado, ..se quiseres casar comigo ..deixarás de ser salgado.

E a Espuma disse que o Sal respondeu à Gota de Água: - Minha ternura, ..por ti deito o salgado fora ..e fico uma doçura.

E neste disse-que-disse, as duas marotas aproveitaram a maré e de tal maneira atazanaram o velho, que os seus cabelos ficaram em pé.

- O Sal virar doçura? – pensou o Pai Mar. E, ao pensar nisto, deixou entrar a tristeza e a amargura no seu imenso coração.

O Pai Mar nem queria acreditar. Então, ele, pai, criou o Sal, desde catraio até homem feito,

feito para conservar a beleza e a saúde dos habitantes do seu reino - os peixes – e o rapaz queria tornar-se doçaria? Não podia!!!

Chamou o filho e disse-lhe: - Filho, tem paciência, ..se continuas com o namoro, ..considero desobediência.

O Sal fez ouvidos de mercador, encolheu os ombros, e continuou o seu grande amor… pela Gotinha de Água.

Ao saber o que o filho tinha decidido, o Mar ficou bravo, enraivecido, tornou-se turbilhão, e foi grande a aflição: as Ondas andaram numa fona, os Mexilhões levaram tapona, a Baleia veio respirar à tona, um Cavalo-Marinho tropeçou num penedo e partiu o focinho. Até uma Gaivota, de perna manca, que era vizinha do Mar, teve de dar à perna para não se afogar.

O velho Mar, amargurado e furioso, pôs o filho fora de casa, em terra.

Mas o sal não se importou. Casou. Mas, como não havia casas para alugar, o Sal e a Gota de Água foram morar para os olhos das pessoas.

É por isso que, quando estamos tristes e amargurados nos nossos corações, choramos. E as nossa lágrimas são salgadas porque são filhas do Sal e da Gota de Água e… netas do Mar.

José Vaz, in Para Sonhar com Borboletas Azuis

Lido pelo Eduardo, 4.º B

Page 9: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

Duas estrelas

Duas estrelas vieram ter comigo. Não, não eram de cinema. Estrelas verdadeiras.

Uma do mar. Outra do céu.

- Queremos trocar de vida – disseram as duas, ao mesmo tempo.

Como é que há de ser? Não se pode virar o mundo ao contrário. O céu em cima. O

mar em baixo. Assim é que está certo.

- Não nos interessa. Faça-nos a vontade, pronto! O senhor é que inventa histórias,

pois invente mais esta – disseram as duas estrelas, muito birrentas.

Às vezes, vem ter comigo cada complicação, que nem imaginam…Tentei, muito

pausadamente, explicar às estrelas que a distância entre o céu e o mar é colossal. Os

astronautas que o digam.

- Mentira! – respingaram elas. – Na linha do horizonte encontram-se. Nós vemos.

- É uma ilusão ótica – esclareci. – Ao longe, parece que o mar e o céu se confundem,

mas nunca tal acontece. No entanto, se quiserem, experimentem e, quando lá chegarem,

deem um saltinho e troquem de posições – e ri-me, cinicamente.

Elas não ouviram mais nada. A estrela do céu partiu, que nem um cometa, em

direção ao horizonte. O mesmo fez a estrela-do-mar. Nunca mais chegavam ao fim da

viagem. Deram assim a volta ao mundo, num instante. E vieram, de novo, ter comigo.

- Não resultou – disseram. – Arranje outra solução.

Aí perdi a cabeça. Tive uma fúria – desculpem! – e dei-lhes um piparote. A estrela

do céu desmaiou. Apagou-se. E a estrela-do-mar fugiu a sete pontas.

Mas, segundo me consta, parece que conseguiram, pouco mais ou menos, os seus

intentos. Foram ter com um pintor e ofereceram-se para modelos. O pintor, muito

paciente, colocou-as num quadro. A do céu, no céu. A do mar, no mar. Tudo azul à volta.

Depois, como era muito distraído, esqueceu-se do que pintara.

Mais tarde, pendurou na parede o quadro de pernas para o ar…E elas lá estão como

querem.

António Torrado, in Da rua do contador para a rua do ouvidor

Lido pela Ana Alexandra, 4.º A

Page 10: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

O caranguejo verde

No grande mar azul, junto às grandes rochas roídas pelas ondas e pelo vento, vivia um pequeno caranguejo verde. Gastava o dia a trepar pelas muralhas de pedra, em correrias desengonçadas. De tão desajeitado, todos troçavam dele.

Voavam as brancas gaivotas no ar e no seu voo liso, pareciam preguiçosas bailarinas cansadas de dançar. Às vezes pousavam nas rochas negras; o pequeno caranguejo ficava a olhá-las, enquanto penteavam as longas penas finas, brancas, com a vaidade de quem se sente belo e admirado. As penas velhas caíam sobre as pedras, mas mesmo essas eram ainda tão leves e macias que o caranguejo verde, de casca dura, rugosa sonhava ter um vestido assim lindo, leve, branco como uma espuma, um vestido que o fizesse voar.

Então, em segredo, todas as noites, quando os bichos dormiam e as próprias estrelas piscavam os olhos de sono, o pequeno caranguejo saía da sua toca para apanhar as penas caídas. Tantas foi juntando, tantas e tão belas, que o feio esconderijo de pedra mais parecia um ninho de pássaros.

Já ninguém agora via o caranguejo trepar pelos rochedos, arrastado e triste, pois o seu prazer era unir as penas, de forma a arranjar um vestido da mais fina penugem, com longas asas brancas como as das gaivotas, para parecer uma delas.

— Que será feito do caranguejo verde? — perguntavam as algas. — Nunca mais se viu... Terá fugido com vergonha de ser tão feio. - respondiam os peixes, e as

ondas brincalhonas ficavam a cantarolar: Caranguejo / não te vejo / caranguejo / não te vejo. O caranguejo fingia nada ouvir, continuando a trabalhar no seu disfarce. Faltava-lhe só uma

touca de penas. Os polvos peganhentos e senhores de tantos braços, que viviam também nas rochas,

andavam intrigados, censurando entre si: — Ora esta, ir-se embora sem avisar os vizinhos! Este caranguejo, afinal, não presta para nada

e ainda por cima é malcriado! O caranguejo ria, ria sozinho ao escutar tais conversas, no seu buraco, mascarado de gaivota.

Até que um dia, quando o sol ia bem alto no céu, com a cara redonda e quente toda a faiscar labaredas, voltada para o negro castelo de rochas, o caranguejo saiu, majestosamente, do esconderijo, branco como um nenúfar, uma noiva, uma espuma, uma gaivota. O próprio sol se ia deixando cair, de espanto, na praia. Pararam as ondas, com as cristas erguidas. Os peixes ficaram com as bocas abertas. E o vento, mais atrevido, soprou de mansinho, que era essa a sua maneira de cumprimentar.

Com a saudação, o caranguejo, de tão leve, voou pelo ar, ondejando lentamente, admirado e trémulo com a sua proeza. Quando tornou a cair nas rochas já os polvos, os ouriços, os mexilhões, as algas estavam atónitos, a admirá-lo e as próprias gaivotas vinham descendo dos seus passeios pelas nuvens.

— Que belo! Que gentil! Que pássaro maravilhoso! — exclamavam uns e outros. — Que brancura! Que ligeireza! Que graça! O pequeno caranguejo verde agradecia tanta simpatia, por baixo do seu disfarce, sorrindo.

Luísa Ducla Soares, in O caranguejo verde

Lido pelo José Miguel, 4.º A

Page 11: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

A estrela do mar foi viajar

Era uma vez uma estrela-do-mar que queria ser estrela do céu. Mas como

havia de lá chegar?

- Ajuda-me polvo que tens os braços tão compridos - pediu a estrela-do-mar.

O polvo desdobrou os tentáculos, pegou na estrela e levou-a do fundo do mar

até ao cimo das ondas.

Já não faltava tanto! Por ali voava um pássaro com as asas a rasar as ondas.

- Ajuda-me tu passarinho, a chegar até às nuvens - pediu ela.

O pássaro fez-lhe a vontade. Levou-a no bico até ao cimo das nuvens e poisou-

a de-va-ga-ri-nho.

Nessa noite, a estrela-do-mar, de tão feliz que estava, brilhou como as estrelas

do céu. Mas na manhã seguinte começou a chover.

A estrela-do-mar, que estava pendurada na nuvem, desequilibrou-se e caiu

com os pingos de chuva. E sabem onde foi cair? Foi cair no fundo do mar, mesmo no

sítio onde esta viagem tinha começado. Que grande aventura!

A estrela ainda ouviu o polvo dizer:

- Vê-la de volta, menina estrela, é um prazer...

Mas a estrela-do-mar estava tão cansada que não ouviu mais nada. E

adormeceu.

Mafalda de Azevedo

Lido pelo Diogo, 2.º A

Page 12: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

Lenda da ilha da Madeira

Imaginai, ao ler, que a escutais da boca de algum velho marinheiro como

aqueles que há cinco ou seis séculos, pelas noites de Inverno, ao pé do lume, as

contavam aos netos.

Lá fora o vento lembrava a voz do mar.

Um dos marinheiros, o Machico, ouvia falar das ilhas encantadas que já tinham

sido avistadas por outros mareantes, mas que jamais foram abordadas. Concebeu em si

um ardente desejo de ir à busca delas. Carregou a sua barca de mantimentos e partiu.

Passados quatro ou cinco dias, numa bela manhã, ele e os seus homens viram no

horizonte névoas que pousavam sobre o mar, sinal certo de ilha ou terra próxima.

Seguiram naquela direção.

A névoa tornou-se tão densa, as ondas atiravam ímpeto e os marinheiros,

pálidos de espanto, murmuravam que ali seria a entrada do inferno.

O Machico persistente bradou: "Avante, não temais. São as ondas a bater na

costa. Estamos quase à vista de alguma das ilhas encantadas."

De súbito, a nuvem começou a descobrir-se. E viu-se um espetáculo tão belo

que os marinheiros ajoelharam-se de pasmo sobre as tábuas da barca. O Machico com

os seus companheiros cuidaram logo de saltar em terra. O ar era morno e suavíssimo.

Das árvores pendiam flores de infinitas qualidades e cores.

Tamanho era o esplendor da ilha!

E, porque a terra era tão coberta de florestas como ele vira, chamou-lhe a Ilha da

Madeira.

Jaime Cortesão

Lido pela Sofia, 3.º A

Page 13: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

O regato, o lago e o mar

Um ribeirinho correu para um lago, implorando:

– Meu irmão Lago, toma conta de mim, por favor!

Dando uma olhadela ao fio de água, o lago respondeu:

– Põe-te a andar! Não necessitamos aqui de miseráveis como tu!

O desesperado regato continuou o seu caminho. E pouco a pouco aproximou-se

do mar:

– Meu tio Mar, aceite-me, por favor!

E logo o mar, estendendo-lhe a mão, disse:

– Vem! Vem depressa! Todos os teus irmãos e irmãs te esperam!

Os meses foram passando e, ao chegar o Verão, o lago secou. Ao passo que o

mar continuava à flor da água e com ondas verdes.

Maria Ondina Braga,

in O Jantar Chinês e Outros Contos

Lido pela Catarina, 2.º B

Page 14: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

Trago o mar na minha pasta

Nesse dia de Maio o Eduardo trazia um sorriso aberto. E antes de se sentar na

carteira contou a novidade:

- Trago o mar na minha pasta!

- Quê?

- Trago o mar na minha pasta!

- Quê?

- É verdade, eu tenho o mar na minha pasta. Está aqui dentro.

- O mar? - perguntou o professor.

- É verdade. Tenho o mar na minha pasta! Está aqui bem guardadinho.

- Então mostra!...

Fez-se um profundo silêncio na sala. O Eduardo abriu a pasta com muitas

demoras. Depois apareceu uma garrafa cheia de água.

- Está aqui! Isto é o mar!

E o Eduardo contou que tinha feito uma excursão com os pais. Quando pararam

em frente ao mar, que ele via pela primeira vez, pegou numa garrafa e encheu-a com a

água.

- E é mesmo salgada!

E então a garrafa andou de carteira em carteira, de mão em mão, de boca em

boca. E era verdade o que o Eduardo dizia. Aquela era a tal água salgada de que

falavam os livros...

António Mota,

in Segredos

Lido pela Mariana Mota, 3.º A

Page 15: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

O marinheiro

Lido pela Leonor, 4.º B

Uma vez um marinheiro,

Com um lindo barco novo,

Disse: - Vou navegar para longe

E correr o mundo todo.

“Uh!... Uh!...”, cantou a sereia

Quando o marujo embarcou.

“Adeus! Até ao regresso!”,

Gritou…E o barco partiu.

O marinheiro viu o farol.

Era uma luz a brilhar.

Já não se avistava terra,

Mas só, a toda a volta,

O azul do mar.

Surge uma baleia

A esguichar água e a nadar.

“Não desistas, marinheiro.

Em breve verás a terra

Onde os esquimós

Costumam morar.”

A vista

(O sol estava vermelho.)

E quando o barco chegou,

O marinheiro

Só neve e gelo encontrou.

Correu logo um esquimó

A dizer ao viajante:

- Sê bem-vindo, marinheiro

Que vens de Terra distante.

Veio a senhora esquimó

Com um bebé no capuz:

- Vem connosco no trenó

Visitar o nosso igloo.

E todos, muito contentes,

Subiram para o trenó,

E lá foram a correr,

A correr no branco gelo

Pra casa do esquimó.

- Aqui tens a nossa casa

Que se chama um igloo.

Fizemo-la com o gelo

Que além se vê a brilhar! –

Disse a senhora esquimó

Ao convidá-lo a entrar.

No confortável igloo

Sentou-se logo o marinheiro

Junto ao fogo crepitante.

E falou aos seus amigos

Da sua terra distante.

O peixe cozinhava na panela.

O marinheiro comeu dois pratos cheios

Depois, adormeceu

Embrulhado nas peles

Que o esquimó lhe deu.

- Adeus! Adeus! Até breve! –

Disse o marujo à partida. –

Adeus e muito obrigado

Pela vossa companhia.

Dick Bruna

Page 16: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

O Peixe contador de Histórias

Pedrito era um menino que gostava de brincar como todos os outros

meninos, mas sobretudo gostava de ir à praia.

Nessa praia havia um pescador, o Mestre Hildo, que sabia muitas histórias

sobre o mar, e afirmava que lhe tinham sido todas contadas por peixes, seus

amigos.

O menino não acreditava que as histórias lhe fossem contadas por peixes

mas, certo dia, o Mestre Hildo levou o menino a passear pelo mar, em busca de

histórias.

Nessa viagem encontraram um peixe que lhes contou uma história que

lhe havia sido contada por uma tartaruga centenária que havia presenciado

tudo...

A história falava de um homem chamado D. Pedro Álvares Cabral que

chegara às terras do Brasil atravessando um imenso oceano. Este homem vinha

de um reino longínquo na Europa, que era habitado por corajosos marinheiros e

um rei sonhador.

Todos sonhavam com novas e distantes terras, com pessoas e culturas

para conhecer e criaturas fantásticas para avistar.

Após ouvir a história do peixe, o Pedrito nunca mais duvidou das histórias

do Mestre Hildo.

Afinal existiam mesmo peixes com histórias para contar!

Rui Sousa, O Peixe contador de Histórias

Lido pela Eva, 2.º A

Page 17: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

Maria na praia

Eu sei uma história

De vento e de mar,

Com areias brandas

Ondas a cantar.

Cavalos marinhos,

Conchas nacaradas

Tesouros, segredos,

Algas perfumadas.

Eu sei uma história

Sem tempo, nem margens,

Com ondas abertas

A muitas viagens.

Eu sei uma história

De vento e de mar.

Se queres ser feliz

Aprende a sonhar!

Maria Rosa Colaço,

in Versos diversos para meninos travessos

Lido pela Ana Margarida, 2.º B

Page 18: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

Onda

Ondinha do mar

Tão verde, tão pura,

Tão leve, tão breve,

Que dura e não dura.

Ondinha verdinha

Que vai-e-que-vem.

Verdinha e sozinha

Não é de ninguém.

De olhos molhados

E braços com frio:

Ondinha sozinha

De peito vazio.

Ondinha verdinha

Que de si não sai:

Que vai-e-que-vem

Que vem-e-que-vai.

Maria Rosa Colaço,

in Versos diversos para meninos travessos

Lido pelo André, 2.º B

Page 19: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

A água do mar

Sabes a que sabe a água do mar?

Já alguma vez a foste provar?

Pois é: sabe a sal,

Um gosto sem igual;

É assim salgadinha

A água marinha.

Um mundo salgado, muito salgadinho,

É a água do mar,

Para todo o peixinho

Viver e nadar.

Maria Teresa Maia Gonzalez,

in O Planeta está em perigo. Por isso conta contigo!

Lido pela Sara, 1.º B

Page 20: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

O búzio

Pus um búzio da praia

na concha do meu ouvido.

Logo ouvi o mar chamar

muito longe, num gemido.

Ó mar,

Ó mar...

Peguei num búzio das águas,

pousado ali na areia.

Ele guardava a canção

secreta duma sereia.

Ó mar,

Ó mar...

É só um búzio das ondas,

todos o julgam vazio.

Mas eu viajo lá dentro

num sonho feito navio.

Ó mar,

Ó mar...

Luísa Ducla Soares,

in Poemas da Mentira e da Verdade

Lido pelo Rodrigo, 1.º B

Page 21: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

A bailarina do mar

Bela e leve a flutuar

É a medusa do mar.

Leve e bela bailarina,

Graciosa, muito fina.

Bela e leve, tão sensível!

Transparência inacessível…

Leve e bela a deslizar;

Cores suaves, de encantar…

Bela e leve a ondular,

A dançarina do mar.

Bela e leve, leve e bela,

Esta formosa donzela.

Maria Teresa Maia Gonzalez,

in Ser invulgar

Lido pela Mariana, 1.º A

Page 22: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

Se…

- Se eu tivesse um carro

havia de conhecer

toda a terra.

-Se eu tivesse um barco

havia de conhecer

todo o mar.

-Se eu tivesse um avião

havia de conhecer

todo o céu.

-Tens duas pernas

e ainda não conheces

a gente da tua rua.

Luísa Ducla Soares

Lido pelo Pedro, 1.º A

Page 23: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

Estrela?

Vive na areia,

Vive no mar,

Vive voando

Nas nuvens do mar.

Tem forma de estrela,

Não arde nem queima.

Dorme de noite

Em vez de acordar?

Nem sei se estrela

Lhe posso chamar,

Que a estrela-do-mar

Tem nome de estrela

Mas não sabe brilhar.

João Pedro Mésseder,

in O g é um gato enroscado

Lido pelo Guilherme, 1.º B

Page 24: Textos - Estafeta da Leitura EB1 do Carandá

Uma lágrima no mar

Uma lágrima

Caiu no mar

E veio uma onda

Para a abraçar.

Sal com sal

Torna mais amargo

O grande areal.

Quem quiser chorar,

Que o faça ao luar.

Uma lágrima salgada

É uma espécie de peixe

Que não chora

Nem nada.

Luís Infante, in Poemas pequeninos

para meninas e meninos

Lido pela Maria, 1.º A