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Universidade Federal de Sergipe Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa Núcleo de Pós-Graduação e Pesquisa em Psicologia Social Mestrado em Psicologia Social THIAGO SANTOS SOUZA A INSERÇÃO DO PSICÓLOGO NA EDUCAÇÃO BÁSICA DE SERGIPE: DA FORMAÇÃO À ATUAÇÃO PROFISSIONAL São Cristóvão Sergipe 2014

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Universidade Federal de Sergipe

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Núcleo de Pós-Graduação e Pesquisa em Psicologia Social

Mestrado em Psicologia Social

THIAGO SANTOS SOUZA

A INSERÇÃO DO PSICÓLOGO NA EDUCAÇÃO BÁSICA DE SERGIPE:

DA FORMAÇÃO À ATUAÇÃO PROFISSIONAL

São Cristóvão – Sergipe

2014

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THIAGO SANTOS SOUZA

A INSERÇÃO DO PSICÓLOGO NA EDUCAÇÃO BÁSICA DE SERGIPE:

DA FORMAÇÃO À ATUAÇÃO PROFISSIONAL

Trabalho Apresentado ao Programa de Pós-

Graduação em Psicologia Social do Centro de

Ciências de Educação e Ciências Humanas da

Universidade Federal de Sergipe como requisito

parcial para obtenção de grau de Mestre em

Psicologia Social.

Orientador: Prof. Dr. Joilson Pereira da Silva

São Cristóvão – Sergipe

2014

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Dissertação do Discente Thiago Santos Souza, intitulada A INSERÇÃO DO

PSICÓLOGO NA EDUCAÇÃO BÁSICA DE SERGIPE: DA FORMAÇÃO À

ATUAÇÃO PROFISSIONAL, defendida e aprovada em 29/05/2014, pela Banca

Examinadora constituída pelos Professores Doutores:

Prof. Dr. Joilson Pereira da Silva (Orientador)

Universidade Federal de Sergipe-UFS

Prof. Dra. Dalila Xavier de França (examinador)

Universidade Federal de Sergipe-UFS

Prof. Dra. Marilene Proença Rebello de Souza (examinador externo)

Universidade de São Paulo - USP

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A todos os psicólogos que se dedicam a fazer

da área educacional um espaço legítimo

de transformação social.

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AGRADECIMENTOS

À Trindade, pela certa presença em todos os momentos da minha vida e pela força que me

concede em cada passo que dou.

À minha mãe Maria Auxiliadora, que sempre me ensinou o valor e a importância da

Educação para uma vida digna que faça sentido e promova realização.

À Universidade Federal de Sergipe, por todas as oportunidades de aprendizado oferecidas,

em especial a realização desta pesquisa.

Ao Prof. Dr. Joilson Pereira, pela oportunidade da orientação, pelas contribuições e pelo

incentivo a pesquisar um tema tão importante e de tanto significado para mim.

A Prof. Drª. Dalila Xavier, pela oportunidade do estágio docente, pelas conversas, os

ensinamentos e as contribuições para aperfeiçoar este trabalho.

Ao Prof. Dr. André Faro, pelo apoio e todo aprendizado compartilhado desde a graduação.

Ao Prof. Dr. Renato Sampaio, que me fez enxergar a Educação como um espaço de

transformação social. Agradeço pela oportunidade de participar do seu grupo de pesquisa,

por todo conhecimento compartilhado, por toda disponibilidade e pelas contribuições

dadas nesta pesquisa.

A Prof. Drª. Marilene Proença, pela inspiração que suas pesquisas e textos promovem em

mim, aumentando meu anseio de contribuir para a construção de uma Psicologia Escolar e

Educacional compromissada com a qualidade dos processos educativos.

Aos participantes da pesquisa, pela disponibilidade em participar dela e contribuir com a

construção deste estudo a partir de suas experiências profissionais.

Aos amigos de turma Vanessa, Claudia, Flor e Khalil pela necessária companhia nesta

etapa, cuja presença, carinho e cuidado fez com que eu acreditasse que era possível chegar

ao final. Sem dúvida vocês foram o diferencial do mestrado. Muito obrigado por tudo!

A Jackeline Souza, por tudo que me ensinou, pela parceria, amizade e pelo exemplo de

dedicação.

A todos do Grupo de Pesquisa Normas Sociais, Estereótipos, Preconceito e Racismo

(NSEPR), em especial ao Prof. Dr. Marcus Eugênio, cuja participação me agregou muito

conhecimento sobre pesquisa e sobre Psicologia Social.

À família Almeida Machado por torcer por mim e por tudo que me dedica e todo bem que

me faz.

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Ao meu amigo e irmão Thiago Italo com quem aprendi o quanto é importante e necessário

se dedicar com empenho e disciplina a realização dos sonhos. Agradeço por todo apoio,

incentivo, motivação e por estar sempre perto.

Ao meus amigos Rafael, Sterphesson, Juninho, Carol, Gladson, Guilherme, Robério e

Éden por me apoiar e me motivar a seguir em frente e a lutar por aquilo que acredito.

Aos amigos “Jonhsons” Naiara, Carina, Biancha, Claudinha, Rodrigo e Charles, pela

cumplicidade, incentivo, bom humor e por atribuir qualidade de vida a minha caminhada

acadêmica.

À Comunidade Bethânia, em especial a Vicente de Paula, Lúcio Tardivo, Daniel, Ana

Paula, Jhonys e Loreci por todo apoio, incentivo, força e compreensão, ajudando-me a

entender que escolhas e renuncias caminham juntas e que é preciso sabedoria para

vivenciar o tempo certo das coisas.

A todos que de alguma forma contribuiu na minha trajetória e na realização deste trabalho.

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“Educação não muda o mundo.

Educação muda pessoas.

Pessoas transformam o mundo!”

(Paulo Freire)

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RESUMO

No Brasil, a Educação constituiu-se como um dos primeiros campos para atuação

profissional do psicólogo, quando estes começaram a sair dos consultórios clínicos e se

inseriram nos espaços institucionais, incluindo as escolas. Essa inserção foi caracterizada,

inicialmente, com o desenvolvimento de práticas clínicas tradicionais, cujas intervenções

eram direcionadas aos alunos e, posteriormente, demarcada por proposições críticas que

apontavam para a necessidade de um trabalho onde a dinâmica escolar, o processo

educativo e as interações sociais fossem os objetos de intervenção, levando-se em conta os

aspectos pedagógicos, culturais, sociais, institucionais e históricos na compreensão das

questões educacionais. Ainda, dentre as questões relacionadas a essa inserção, a formação

acadêmica constitui-se como uma das principais problemáticas, devido ao fato da área

escolar e educacional ser consideravelmente negligenciada pelos cursos de graduação em

Psicologia, não sendo oferecidos, geralmente, os subsídios e conhecimentos necessários

para uma prática adequada ao contexto escolar. Contudo, após 50 anos de constituição

deste campo de atuação, vê-se em alguns estados uma paulatina transformação das práticas

tradicionais em práticas críticas. Nos últimos cinco anos, pesquisas no Brasil vêm sendo

realizadas com o intuito de conhecer a realidade estadual dos psicólogos que trabalham nos

contextos educacionais. Devido a essas questões o presente estudo teve por objetivo

conhecer a atuação do psicólogo no contexto da educação básica no estado de Sergipe,

buscando analisar a relação entre a atuação profissional destes com sua formação

acadêmica, além de traçar um perfil profissional dos psicólogos escolares; investigar os

fatores que motivaram a escolha dessa área de atuação; analisar as concepções existentes

acerca do papel do psicólogo no contexto escolar; analisar as atividades desenvolvidas; e

conhecer como os psicólogos avaliam as contribuições de sua formação acadêmica para

sua atuação na educação. Esta pesquisa teve uma abordagem qualitativa, sendo realizada

com 14 psicólogos que trabalham em escolas ou Secretarias de Educação do estado de

Sergipe. Para a coleta dos dados foram realizadas entrevistas semiestruturadas, cujos dados

recolhidos foram tratados e analisados segundo a análise de conteúdo de Bardin, com o

devido respeito às normas éticas de pesquisa. A partir das análises foi possível traçar uma

caracterização dos psicólogos participantes, sendo estes predominantemente do sexo

feminino, os quais em sua maioria (78,5%) atuam a menos de quatro anos nessa área.

Além disso, foi encontrada a existência de dois tipos de concepções referentes ao papel do

psicólogo na escola, as de caráter limitante (papel clínico e de resolvedor de problemas) e

as de caráter facilitador (papel de parceiro e colaborador) à atuação profissional. Em

relação a formação foi observado que 42% dos psicólogos avaliam positivamente a

formação acadêmica recebida, afirmando terem sido instrumentalizados para atuar no

contexto escolar. Ainda, os modelos de atuação identificados demonstram a existência de

uma inicial transição de práticas de cunho tradicional para intervenções de caráter crítico,

sendo grande parte destas desenvolvidas sob a concepção de que as demandas

educacionais são produtos das interações sociais que ocorrem durante o processo de

escolarização e devem ser direcionadas aos diversos componentes da instituição. Por fim, a

partir das análises, conclui-se que apesar de ser um campo de atuação recente em Sergipe,

é possível perceber avanços na forma de inserir-se e conceber a atuação do psicólogo no

contexto escolar e educacional.

Palavras Chaves: Psicologia Escolar e Educacional; Atuação profissional; Formação

acadêmica.

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ABSTRACT

In Brazil, the education was one of the first camps for professional performance of the

psychologist, when these began to come out of clinical practices and crept in institutional

spaces, including schools. This insertion was characterized initially by developing

traditional clinical practice, whose interventions were targeted to students and,

subsequently, demarcated by critical propositions which pointed to the need for a job were

the school dynamics, the educational process and social interactions were the objects of

intervention, taking into account the educational, cultural, social aspects, historical and

institutional in the understanding of the issues. Still, among the issues related to that

insertion, the education is one of the main problems, due to the fact the school and area

educational be considerably neglected us undergraduate courses in psychology, not being

offered, generally, subsidies and knowledge necessary for a proper practice to school

context. Due to these issues the present study aimed to know the role of the psychologist in

the context of basic education in the State of Sergipe, seeking to analyse the relationship

between the professional performance of these with his academic training, in addition to

profiling the professional school psychologists; investigate the factors that motivated the

choice of this area of performance; analyze the existing conceptions about the role of the

psychologist in the school context; analyze the interventions carried out; and to meet how

psychologists evaluate the contributions of his academic training for your performance in

education. This research had a qualitative approach, being held with 14 psychologists who

work in schools or Secretariats of education in the State of Sergipe. For the collection of

data was conducted semi-structured interviews, whose collected data were processed and

analyzed according to Bardin's content analysis, with all due respect to the ethical

standards of research. From the analysis it was possible to trace a characterization of

psychologists participants, these being predominantly female, which in their majority

(78.5%) work for less than four years in this area. In addition, it was found the existence of

two types of conceptions concerning the role of the school psychologist, the limiting

character (clinical role and problem resolver) and the facilitator character (role of partner

and collaborator) to professional performance. In relation to formation was observed that

42% of psychologists evaluate positively the academic training received, claiming to have

been prepared to act in the school context. Still, the models of performance identified

demonstrate the existence of an initial transition from traditional practices for interventions

of critical character, being a large part of these developed under the conception that the

educational issues are products of social interactions that occur during the schooling

process and should be directed to the various components of the institution. Finally, from

the analysis, it is concluded that despite being a recent field in Sergipe, is possible to

realize progress in the form of insert and conceive the role of the psychologist in the

school and educational context.

Key words: School and Educational Psychology; Professional performance; Academic

training.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 15

CAPITULO I: Aspectos históricos da interface Psicologia e Educação: a

constituição da Psicologia Escolar e Educacional no Brasil ...........................................

22

CAPÍTULO II: Formação em Psicologia e a preparação para atuação no contexto

escolar .............................................................................................................................

39

CAPÍTULO III: Características da participação do psicólogo no cenário educacional

brasileiro ..........................................................................................................................

58

3.1 Funções do Psicólogo na Educação Básica ............................................................ 58

3.2 As demandas educacionais para o psicólogo .......................................................... 66

3.3 Intervenções possíveis ............................................................................................ 68

CAPÍTULO IV: MÉTODO ............................................................................................. 83

4.1 Participantes ........................................................................................................... 83

4.2 Procedimentos ........................................................................................................ 83

4.3 Instrumentos ........................................................................................................... 87

4.4 Análise dos dados ................................................................................................... 87

4.5 Critérios éticos ........................................................................................................ 89

CAPÍTULO V: RESULTADOS E DISCUSSAO ........................................................... 90

5.1 Caracterização do Perfil dos Psicólogos Escolares e Educacionais ....................... 90

5.1.1 Sexo e Idade ..................................................................................................... 90

5.1.2 Tipo de instituição formadora, tempo de formação e tempo que atua na área . 91

5.1.3 Formação continuada, tipos e classificações .................................................... 94

5.1.4 Caracterização do local de trabalho dos participantes da pesquisa .................. 97

5.2 Concepções acerca do papel dos psicólogos nos contextos educacionais .............. 101

5.2.1 Concepções dos demais componentes na ótica dos psicólogos ........................ 101

5.2.1.1 Concepções limitadoras à atuação .............................................................. 102

5.2.1.1.1 Concepção de uma função clínica psicoterapêutica ............................. 103

5.2.1.1.2 Concepção de uma função de ‘resolvedor’ de problemas .................... 107

5.2.1.2 Concepções facilitadoras à atuação ............................................................ 111

5.2.2 Concepções dos próprios psicólogos sobre suas funções ................................. 118

5.3 Motivos à escolha da área escolar e educacional como campo de atuação ............ 127

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5.3.1 Pretensões de atuação na área ........................................................................... 129

5.3.2 A escolha da área e seus possíveis motivos ...................................................... 132

5.3.2.1 Trabalhar na área Escolar e Educacional foi escolha ................................ 132

5.3.2.2 Não foi escolha ........................................................................................... 138

5.4 Formação em Psicologia e o preparo à atuação em contextos educacionais .......... 151

5.4.1 Avaliação da formação em relação ao preparo à atuação no contexto

educacional ...............................................................................................................

151

5.4.2 Como avaliam a disciplina de Psicologia Escolar e Educacional ou

correlatas ..................................................................................................................

164

5.4.3 Outras disciplinas que contribuem na atuação ................................................ 172

5.4.4 Contribuições da Psicologia Social para a atuação em Psicologia Escolar e

Educacional ..............................................................................................................

175

5.4.5 Participação em estágios ................................................................................... 179

5.4.6 Busca por formação complementar .................................................................. 183

5.5 Intervenções desenvolvidas .................................................................................... 186

5.5.1 Intervenção junto aos professores .................................................................... 186

5.5.2 Intervenção junto aos alunos ........................................................................... 193

5.5.3 Intervenção junto aos familiares ....................................................................... 207

5.5.4 Outras intervenções .......................................................................................... 213

CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 216

REFERENCIAS .............................................................................................................. 222

APÊNDICE A - Questionário.......................................................................................... 231

APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ...................................... 234

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ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Idade e sexo dos psicólogos participantes .......................................................... 90

Tabela 2. Tipo de instituição em que se formou ................................................................ 92

Tabela 3 Tempo de formado............................................................................................... 92

Tabela 4. Tempo de atuação na área em Sergipe................................................................ 93

Tabela 5. Comparação entre o tipo de serviço educacional oferecido pela escola e o nível

de ensino que o psicólogo atende ...................................................................... 98

Tabela 6. Remuneração, Carga horária e turno de trabalho.............................................. 100

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ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Áreas dos cursos de Pós-graduação – Especializações....................................... 95

Figura 2. Outras áreas de atuação dos psicólogos entrevistados ....................................... 96

Figura 3. Níveis de ensino em que atuam os psicólogos entrevistados.............................. 99

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ÍNDICE DE QUADROS

Quadro 1. Exemplificação do processo de categorização das falas.................................... 88

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INTRODUÇÃO

No Brasil, hoje, acredita-se que a educação formal seja capaz de promover uma

mudança em toda a problemática social existente, através da oferta de uma educação de

qualidade, que permita a inclusão de todas as pessoas que dela necessitar, sendo um direito

inalienável ao indivíduo (Gentili, 2009). Entretanto, apesar do aumento significativo nos

últimos anos do número de ingresso de crianças, jovens e inclusive adultos nas escolas,

observam-se índices alarmantes no Brasil, tais como taxa de analfabetismo com 10,5%, de

abandono com 14,6%, de distorção entre idade e série com 70,6% e de reprovação com

30,9%, os quais demonstram a precariedade do ensino no Brasil (Todos pela educação,

2012).

Além dos problemas relacionados à progressão educacional, identificam-se nas

escolas diversas questões que se impõem como limitantes ao seu bom funcionamento

como a violência escolar, o uso e abuso de drogas, a desresponsabilização da família, o

preconceito, a homofobia, a exclusão, a desvalorização e desmotivação dos professores, as

dificuldades nas relações interpessoais, dentre outros fatores. Dessa forma, submersa em

problemas profundos a escola tem encontrado dificuldades no cumprimento de sua função

social de proporcionar ao indivíduo recursos que o auxilie em seu desenvolvimento e em

sua construção como pessoa e como cidadão.

Diante disso, sabe-se que a instituição escolar constitui-se como uma verdadeira

ferramenta de humanização e socialização para o homem, contribuindo com seu

desenvolvimento educacional, que implica também em um desenvolvimento das funções

psicológicas (Tafarel, 2013; Bernal, 1996). Sendo assim, acredita-se que a Psicologia por

ser uma ciência que estuda o desenvolvimento humano, os processos de aprendizagem, os

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processos de subjetivação e os processos sociais, caracteriza-se como uma das áreas que

tem muito a contribuir com as estratégias para lidar, sanar ou diminuir a ocorrência de

muitos desses problemas citados anteriormente, bem como auxiliar a escola no

cumprimento de seu papel.

Esse diálogo entre a Psicologia e Educação é antigo e pode ser visto no Brasil

desde as primeiras décadas do Brasil colônia (Antunes, 2003). Séculos depois, essa

aproximação foi estreitada quando a Educação cedeu espaço para Psicologia, recebendo,

desta, contribuições através de conhecimentos teóricos. Posteriormente, a Psicologia

passou a oferecer também serviços profissionais, sendo intensificados a partir da década de

1960 com a regulamentação da profissão de psicólogo. Entretanto, a presença de

Psicólogos no sistema educacional é permeada de encontros e desencontros.

Inicialmente, a participação desses profissionais nas instituições de educação básica

foi muito requisitada e suas ações eram consideradas imprescindíveis para a “ordem” da

escola e à adequação dos alunos a esta. Respondendo a esta expectativa os psicólogos

desenvolveram práticas de caráter clínico, voltadas exclusivamente para os alunos, os

quais eram considerados responsáveis pelos seus fracassos escolares (Souza, 2010).

Entretanto, a partir na década de 1980 essa forma clínica de atuar nos espaços educacionais

passou a ser criticada por não ser adequada ao contexto, por não produzir uma efetiva

resolução das questões educacionais às quais se propunha a trabalhar (Barbosa & Marinho-

Araújo, 2010) e por contribuir com práticas excludentes, preconceituosas e

discriminatórias.

Sob a égide de pressupostos teórico-críticos, que concebe o indivíduo como um ser

social que se constrói e é construído a partir das relações sociais em que estão inseridos

(Meira, 2002), muitos pesquisadores passaram a defender a necessidade de que as

contribuições do psicólogo para a Educação fossem fundamentadas sob uma concepção

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crítica que compreendesse o indivíduo, o processo educativo e os problemas educacionais

a partir de suas relações sociais e dos aspectos psicossociais presentes nestas relações

(Tanamachi, 2002).

Dessa forma, pautado em uma perspectiva psicossocial dos fenômenos educativos,

acredita-se que a atuação no contexto escolar e educacional deve estar voltada para os

processos educativos e as interações sociais existentes na escola, objetivando provocar

reflexões sobre esses processos e essas relações, fazendo emergir as reais causas das

disfuncionalidades e não apenas agir sobre seus sintomas (Curonici e McCulloch, 1998),

através de uma postura ética e de um legítimo compromisso com as reais demandas sociais

e educacionais.

Décadas depois, observa-se que os debates estabelecidos dentro desse campo de

atuação permitiram uma visível, embora que paulatina, mudança nas formas do psicólogo

atuar no contexto educacional, principalmente na forma de compreender as demandas e

agir sobre elas, tomando a escola e seus processos como objeto de intervenção,

aproximando-se cada vez mais da perspectiva crítica (Souza, 2007). Porém, com essa

mudança outros desafios surgiram, a exemplo da resistência em relação à presença do

psicólogo nas instituições educacionais, uma vez que ao desenvolver intervenções

contextuais que denunciava o sistema escolar como produtor dos problemas educacionais,

os psicólogos passaram a ser profissionais não gratos nas escolas, fosse por parte dos

professores ou dos gestores, fazendo com que sua participação antes tão solicitada fosse

gradativamente rejeitada e retirada desses espaços (Souza, 2009).

Além disso, identificou-se que a dificuldade de se inserir às vezes estava no próprio

profissional que não sabia ao certo como agir naquele contexto específico. Neste aspecto, a

formação acadêmica tem um grande peso e importância, ao oferecer ou não subsídios para

a construção dessa representação e identidade profissional. Acredita-se que boa parte das

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graduações em Psicologia no Brasil não apresentam temas e conteúdos que possibilitem

uma melhor e mais eficaz atuação do psicólogo na área educacional, mesmo após tantos

avanços na discussão sobre o tema. Assim, muitos psicólogos acabam inserindo-se na

escola sem possuir os conhecimentos necessários sobre a atuação do psicólogo nesse

contexto e sobre quais são as especificidades desta prática profissional, sendo muitas

destas inserções feitas não porque a área escolar era desejada durante o curso, mas por uma

questão de falta de opção (Souza, 2011).

Mesmo com tudo isso, passados 50 anos o diálogo efetivo entre a Psicologia e a

Educação constituiu a área de atuação chamado de Psicologia Escolar e Educacional, que

se refere a um campo de produção científica e práticas profissionais da Psicologia voltado

para o âmbito escolar e educacional, tendo como objetivo contribuir com a qualidade dos

processos educativos (Martinez, 2007).

Tal área tem procurado estabelecer-se, procurando cada vez mais a garantia de sua

inserção nos sistemas educacionais no país, uma vez que, embora pareça existir uma

concordância na sociedade sobre a importância desse profissional para a Educação, há

pouco espaço para ele nesse sistema (Del Prette e Del Prette, 2008). Isso fica visível ao

comparar o grande número de escolas (públicas e particulares) existentes no Brasil com o

inexpressivo número de contratações.

No entanto, vislumbra-se futuramente um aumento significativo em relação a esta

inserção, devido à regulamentação do projeto de lei PL 60/2007, que tramita no congresso

federal desde o ano de 2007 e está atualmente em fase final de aprovação. Este projeto

refere-se a prestação de serviços de Psicologia e do Serviço Social no sistema público de

ensino básico, inserindo o psicólogo e o assistente social nas escolas (BRASIL, 2007).

Quando aprovada a lei federal, caberão aos estados a elaboração e aprovação de leis

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regularizadoras que organizem essa inserção. Contudo, alguns estados e municípios já

aprovaram essas leis de regulamentação, tais como São Paulo, Londrina e Sergipe.

Por isso, na última década, a partir do possível crescimento da presença deste

profissional nas instituições educacionais, foram realizadas pesquisas em alguns estados

com o objetivo de conhecer a atuação dos psicólogos nesses contextos, em especial na rede

pública. Guzzo, Mezzalira e Moreira (2012), em sua recente revisão na literatura

encontraram pesquisas como essas realizadas em cidades como Londrina-PR, Assis-SP,

Vitória-ES, Rio de Janeiro-RJ, São Luís-MA, Campina Grande-PB e Brasília-DF, além

desses municípios identificaram outros estudos de âmbito estadual em São Paulo, Minas

Gerais, Rondônia, Santa Catarina, Acre, Paraná e Bahia, não sendo encontrados dados da

realidade sergipana. Também em pesquisa feita pelo CFP (CFP, 2009) sobre a atuação dos

psicólogos em políticas públicas da Educação Brasileira, Sergipe não aparece entre os

respondentes desse levantamento.

Acredita-se que a realização de estudos e discussões que busquem conhecer as

características e demais questões referentes a um determinado campo, em um determinado

contexto, possibilita que ele se desenvolva e se aperfeiçoe. Assim, se observa que apesar

de muitos dos temas apresentados aqui serem amplamente discutidos na área da Psicologia

Escolar e Educacional, alguns estados apresentam certa carência de pesquisas que se

proponham a discutir suas realidades locais em relação a tais assuntos, fazendo com que

haja pouca ou nenhuma expressividade no cenário brasileiro, sendo Sergipe um desses

estados.

Este estado é composto por aproximadamente 96 instituições de educação da rede

particular; seis escolas federais; 368 escolas estaduais; além das escolas dos 75 municípios

sergipanos. Este número revela a abrangência do campo escolar e educacional para os

psicólogos em Sergipe, entretanto não foram encontrados dados que informem a presença

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desses profissionais nesses locais, sua quantidade, as ações desenvolvidas e as dificuldades

encontradas em sua atuação, existindo apenas dados sobre a atuação na rede pública de

educação da cidade de Aracaju-SE (Souza, 2011).

A partir do exposto, algumas questões surgem: qual é a realidade dos psicólogos

que atuam em contextos escolares em Sergipe? Onde estão e quantos são? Como avaliam a

formação recebida? Quais demandas atendem? Quais as atividades que desenvolvem?

Quais contribuições têm oferecido ao cenário educacional sergipano?

Esses questionamentos motivaram esse estudo que se propõe a investigar a inserção

dos psicólogos na educação básica de Sergipe, tanto na rede particular quanto pública. Para

tanto, entendendo que a inserção profissional está intrinsecamente ligada à atuação e esta à

formação acadêmica, será tomado como ponto de análise à relação entre a atuação

desenvolvida e a formação recebida. Além disso, objetiva-se de forma mais específica: a)

Traçar um perfil profissional dos psicólogos que trabalham em contextos educacionais em

Sergipe; b) Investigar os fatores que motivaram a escolha dessa área de atuação e se há

relação com a formação acadêmica; c) Analisar as concepções existentes acerca do papel

do psicólogo no contexto escolar; d) Analisar as atividades desenvolvidas pelos psicólogos

entrevistados; e) Verificar como os psicólogos avaliam as contribuições de sua formação

acadêmica para sua atuação em Psicologia Escolar e Educacional.

Deste modo, o trabalho aqui apresentado estrutura-se em cinco capítulos. No

capítulo um, apresenta-se um recorte histórico sobre a constituição do campo de atuação

da Psicologia Escolar e Educacional, enquanto um produto da interlocução entre as áreas

da Psicologia e da Educação. Em seguida, no capítulo dois, aborda-se a questão da

formação acadêmica em Psicologia e a preparação para a atuação em contextos

educacionais, apresentando as problemáticas que envolvem esse assunto. Já no capitulo

três é feita uma caracterização da inserção do psicólogo nos espaços educacionais

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brasileiros, a partir do que a literatura apresenta sobre as funções pertinentes a esse

profissional no âmbito escolar e as atividades desenvolvidas apontadas nas pesquisas

estaduais já realizadas.

No capítulo quatro, serão apresentados os aspectos metodológicos escolhidos para

a realização da pesquisa de campo, tais como amostra, instrumentos, procedimentos e

análise. Ainda, no capítulo cinco serão demonstrados e discutidos os resultados obtidos a

partir da análise dos dados, os quais serão discorridos à luz dos aspetos teóricos, através de

classes categóricas. Por último, encontram-se as considerações finais sobre todo o trabalho

desenvolvido.

Por fim, esta pesquisa traz em sua essência, além dos objetivos já expostos, um

intuito maior de incitar a realização de mais pesquisas na área, bem como fomentar o

campo educacional como uma possibilidade legítima de atuação para o psicólogo,

apresentando as questões referentes à área e as possibilidades deste profissional estar e

intervir no espaço escolar de maneira efetiva, agregando qualidade aos processos

educativos e ajudando assim a escola a cumprir sua função de, num primeiro momento,

promover o indivíduo em sua dimensão humana e cidadã, e num segundo plano, contribuir

à transformação social.

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CAPÍTULO I

ASPECTOS HISTÓRICOS DA INTERFACE PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO: A

CONSTITUIÇÃO DA PSICOLOGIA ESCOLAR E EDUCACIONAL NO BRASIL

Para um melhor entendimento sobre como a área escolar/educacional se constituiu

um possível campo de atuação profissional para o psicólogo faz-se necessário apresentar

como ocorreu a articulação entre estas duas áreas científicas: a Psicologia e a Educação,

cuja interlocução, segundo Antunes (2011), é antiga e delimita um amplo campo de

estudos e pesquisas. Além disso, de acordo com Correia e Campos (2004), é importante

considerar os aspectos históricos da Psicologia Escolar e Educacional, pois eles trazem em

si fatores que contribuem para algumas das problemáticas existentes neste campo.

Para Antunes (2003), as demandas produzidas na esfera da Educação

impulsionaram o desenvolvimento da Psicologia como uma ciência específica a ser

consolidada e não apenas uma disciplina curricular coadjuvante que servisse apenas como

subsídio teórico para outras áreas científicas. Entretanto, assim como outras ciências, a

Psicologia iniciou sua constituição sem possuir o status e o reconhecimento de uma ciência

autônoma, surgindo e ganhando espaço, no Brasil, a partir de outras áreas científicas, como

a Medicina e a Educação, oferecendo constructos teóricos que contribuíssem na resolução

de questões específicas dessas áreas (Cruces, 2006).

Na Educação, a Psicologia existia inicialmente apenas enquanto conhecimento

teórico, que contribuía com assuntos relevantes à área educacional, servindo para ajudar a

compreender e explicar os fenômenos educativos como, por exemplo, o fracasso escolar

(Meira, 2002; Rosa, 2011). Desta forma, desde o fim do século XIX existe uma articulação

entre estas duas áreas e, de acordo com aquilo que era possível, esta articulação construiu

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um campo interdisciplinar, entendido e denominado no presente estudo de Psicologia

Escolar e Educacional (PEE), recebendo influências de países europeus e norte-americanos

(Antunes, 2003; Netto, 2008).

Historicamente, o estreitamento da relação entre os conhecimentos psicológicos e

os processos educativos ocorreu a partir dos trabalhos de Francis Galton (Inglaterra),

Alfred Binet (França) e James Cattel (EUA), que aconteceu dentro do intuito de

autonomização da Psicologia em relação à Filosofia, ou seja, uma busca por constituí-la

como área autônoma. Nesta busca, Wundt, em 1879 criou um laboratório para estudar

sensações, iniciando um movimento de pesquisa positiva e experimental que poderia dar a

Psicologia a objetividade esperada na época, marcada pelo paradigma positivista, para

aquisição de status de ciência. Algumas décadas depois Galton, em 1884, cria o

Laboratório de Psicometria, onde estudava sobre possíveis diferenças individuais entre

escolares, “através da mensuração de faculdades mentais” (Correia e Campos, 2004, p.

139).

A partir dos estudos psicométricos outro importante marco histórico foi realizado

por Binet e Simon, em 1905, com a construção de uma escala métrica para mensuração da

inteligência infantil, instrumento este bastante utilizado posteriormente na classificação de

escolares primários de acordo com a capacidade mental. Com tal escala, foram criados

programas de mensuração que foram bastante aceitos na sociedade e difundidos para

outros países. Nos Estados Unidos, Lewis Terman aperfeiçoou a escala de Binet-Simon,

propondo o cálculo do quociente intelectual (QI), dando ainda um maior ganho para a

difusão deste tipo de testes, denominado por James Cattel como testes mentais. Com isso,

os instrumentos psicométricos, sendo eficazes para os objetivos propostos de selecionar e

classificar pessoas, foi largamente difundido nas escolas e sua aceitação e utilização

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justificava a segregação de “tipos de pessoas”, entre os alunos considerados normais e os

considerados anormais (Correia e Campos 2004).

Essas produções técnico-científicas estavam ocorrendo dentro do contexto histórico

no qual, durante o século XIX com a obrigatoriedade e universalização da educação, houve

um considerável aumento das escolas públicas. Consequentemente, o número de alunos

nas escolas também aumentou, resultando na ocorrência de inúmeros problemas (Nunes,

2005). Para Fagan (1992 citado por Netto, 2008), além da escolarização compulsória,

outros fatores como a realização de pesquisas e estudos sobre a criança, o aperfeiçoamento

da psicologia clínica e os desafios da educação especial, também suscitaram o surgimento

da PEE. Assim, a ocorrência desses problemas ocasionou a busca por profissionais que

auxiliassem na compreensão dos fenômenos educativos a fim de sanar ou diminuir os

problemas que tinham surgido, sendo o psicólogo um deles (Nunes, 2005; Pandolfi et al.

1999). A Educação abria, portanto, espaço (embora pequeno e pontual) para outros

profissionais além dos pedagogos.

De acordo com Netto (2008), a Psicologia Escolar foi criada e desenvolvida de

forma controversa, devido às múltiplas e diferentes perspectivas teóricas da Psicologia,

que ocasionam variadas formas de conceber os fenômenos educativos e uma diversificada

forma de entendimento sobre como deve ser a atuação do psicólogo em contextos

educacionais. Ainda segundo este autor, muitos países pleitearam o título de criadores da

Psicologia Escolar e Educacional, pois em uma determinada época histórica, tanto na

Europa quanto na América, fatores diversos da Educação fizeram com que surgisse a

necessidade da criação de concepções e práticas que pudessem resolver as questões dos

fenômenos educativos, dentre elas a Psicologia Escolar e Educacional. Para Correia e

Campos (2004), a Psicometria foi a perspectiva assumida inicialmente pela PEE não só no

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surgimento, mas em sua consolidação criando assim uma identidade profissional voltada

para seleção e adaptação de alunos a escola, servindo aos interesses da sociedade da época.

No Brasil, no entanto, a história da Psicologia Escolar é recente, pois diferente do

que aconteceu em outros países, a expansão do ensino público demorou a acontecer, uma

vez que no fim do Brasil colônia e durante o Brasil Império, o ensino era benefício de

poucas pessoas, não sendo a Educação uma preocupação para os governantes (Netto,

2008). Mesmo assim, Antunes (2003) afirma que o diálogo entre Psicologia e Educação no

Brasil é mais antigo do que se pensa, uma vez que é possível encontrar ideias psicológicas

(tais como aprendizagem, desenvolvimento sensorial, controle de comportamento,

motivação) relacionadas às questões educativas, nas obras dos jesuítas no período colonial.

Nessa época acreditava-se fortemente que a Educação estava diretamente ligada ao

comportamento e por isso estudava-se o papel do castigo e prêmios no controle das

condutas dos indivíduos (Antunes, 2011).

Observa-se assim que o uso dos conhecimentos psicológicos a fins de conter e

normatizar comportamentos é antigo. Isto também é observado nas produções científicas

realizadas pelas Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia, no início do século

XIX. Os títulos de algumas teses mostram os assuntos que eram abordados, tais como

‘Dissertação sobre a Educação Física e Moral’ (1843), ‘Proposições a respeito da

Inteligência’ (1843) e ‘Da instrução do vagabundo, ao enjeitado, ao filho do proletário e ao

jovem delinquente: meios de fazê-la efetiva’ (1874). Estes estudos produzidos

relacionavam saberes psicológicos a questões educacionais, cuja principal função era a

formação moral dos alunos diante do que era socialmente aceitável (Antunes, 2011).

Nesta época, o Brasil passava da condição de Colônia para a de Império e devido a

isso, precisava desenvolver uma estrutura administrativa e social compatível com o

crescimento urbano. Portanto, a Educação passou a ser alvo de uma preocupação maior,

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sendo atribuída a uma organização mais sistemática. Dessa forma questões como métodos

de ensino, a aprendizagem e o desenvolvimento infantil passaram a ser utilizados na

sistematização e organização dos processos pedagógicos. Para a promoção dessa

escolarização formal e sistematizada foram criados os Liceus, referentes à educação

secundária, e posteriormente as Escolas Normais, que se referia à formação de professores

(Correia e Campos, 2004).

Para Antunes (2003), o advento das escolas normais em 1830 foi um dos momentos

chaves na trajetória da constituição da Psicologia Escolar e Educacional. De acordo com

Netto (2008) e Antunes (2011) a participação da Psicologia nessa época acontecia através

da oferta de constructos teóricos por meio de disciplinas oferecidas nos cursos de formação

de professores. Essa participação sofreu avanços gradativos, começando como uma

disciplina básica de Psicologia, de caráter teórico geral, adquirindo depois um caráter mais

específico, com ênfase para a aplicação na Educação, passando a disciplina, inclusive, a

receber uma nova denominação de “Psicologia Educacional” e “Psicologia Aplicada à

Educação”.

Segundo Cruces (2006) e Antunes (2011), esta época também foi marcada por

pesquisas e estudos realizados em laboratórios que ficavam anexos às instituições

escolares. No Rio de Janeiro por exemplo, foi criado o Pedagogium, um grande centro de

pesquisas educacionais, junto ao qual foi criado o primeiro laboratório de pesquisas em

Psicologia no Brasil, cujos estudos voltavam-se à relação entre fatores psicológicos e

aspectos pedagógicos (Correia e Campos, 2004).

Através da experimentação, nestes locais, eram realizados geralmente estudos de

questões relativas ao indivíduo, como as características dos estudantes em relação à

aprendizagem e a motivação, pois se acreditava que a identificação destas diferenças

individuais nessas características poderiam explicar porque uns alunos conseguiam se

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adaptar às escolas e outros não; a deficiência mental em escolares; a memória infantil;

dentre outras questões (Nunes, 2005).

Dessa forma, a criação desses laboratórios servia também como campo de

desenvolvimento à Psicologia, através da realização de pesquisas, permitindo o ensino dos

procedimentos e do uso de instrumentos nas investigações científicas, a exemplo da

utilização de testes psicológicos (Netto, 2008). Essas pesquisas abordavam temas como

maturidade para leitura, grafismo, memória, atenção, inteligência infantil, dentre outras

(Antunes, 2011).

Com isso, também se abria espaço à reprodução dos conhecimentos psicológicos,

em especial à Psicologia Experimental e à Psicometria, trazidos de outros países (europeus

e norte-americanos) para o Brasil, por psicólogos estrangeiros como Waclaw Radecki,

Emilio Mira y Lopez e Helena Antipoff (Cruces, 2006). Também, era comum nesse

período a busca de formação nestes países e quando os pesquisadores retornavam para o

Brasil buscavam reproduzir no país o que tinham aprendido no exterior (Souza, 2009;

Tanamachi, 2002).

Entretanto, diferentemente dos países norte-americanos e europeus, no Brasil, os

centros que ofereciam serviços psicológicos voltados ao público escolar demoraram a

acontecer, tendo seus primeiros indícios na época normalista, nos estados do Rio de

Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Minas Gerais, caracterizando-se como uma atuação

prática efetiva da Psicologia, onde eram realizadas atividades de ensino a deficientes

mentais, a crianças superdotadas e de auxílio a “alunos-problema”, como eram chamados

na época (Netto, 2008).

Outro momento da história da PEE, compreendido entre os anos de 1930 e 1960, é,

de acordo com Netto (2008), uma fase que se caracteriza pelo ensino de Psicologia em

cursos de nível superior. Para Antunes (2003), esse período foi muito importante para a

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consolidação da Psicologia, uma vez que a articulação desta com a Educação continuou

rendendo numerosos frutos, sendo este um campo fértil para o crescimento da Psicologia,

destacando-se como uma das áreas que mais promoveu estudos e intervenções.

Ainda, conforme esta autora, o ensino da Psicologia teve início nos cursos de

Pedagogia e Filosofia, sendo instaladas cátedras de Psicologia Educacional em muitas

universidades, como a Universidade de São Paulo, Universidade Federal da Bahia e

Universidade Federal de Minas Gerais. Entretanto, embora obtivesse espaço enquanto

disciplina em tais cursos, isso não bastava para a consolidação de uma ciência autônoma,

devido a isso, nesse mesmo período e paralelo a esses acontecimentos, começou-se a

pensar na criação dos próprios cursos de Psicologia, dos quais já existiam resquícios em

forma de cursos de especialização para professores (Amazonas, 2008; Cruces, 2006).

Conforme Antunes (2003), o curso de aperfeiçoamento de professores (formados

pela escola normal), em alguns estados, serviu como base para o Curso de Pedagogia e

depois para cursos básicos de Psicologia na década de 1950, estando vinculado às

Faculdades de Filosofia. O primeiro curso universitário de Psicologia viria a surgir três

anos depois no Instituto de Psicologia da PUC do Rio de Janeiro (Cruces, 2006).

A partir de tudo que foi apresentado até agora, observa-se o quanto a Educação

(seja através das escolas normais, dos cursos de formação e especialização de professores,

dentre outros) proporcionou um importante espaço à Psicologia, espaço este muito bem

aproveitado com fins de desenvolver, cada vez mais, esta área de conhecimento a uma

instituição científica autônoma, consolidando-a enquanto ciência e campo de atuação no

Brasil. Conforme Antunes (2011), até mesmo intervenções nas áreas da Psicologia Clínica

e do Trabalho partiram de demandas provenientes do campo educativo. Segundo este autor

(2011):

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A orientação educacional, sustentada teoricamente pela Psicologia, foi uma das

bases para o desenvolvimento da Psicologia do Trabalho, assim como psicólogos-

educadores participaram do desenvolvimento desta área. As primeiras iniciativas

no campo da Psicologia Clínica também tiveram suas origens em questões

educacionais, particularmente a necessidade de compreensão e intervenção sobre

crianças com problemas no processo de escolarização (p.23).

Em relação à contextualização histórica, esse segundo momento da PEE, de acordo

com Pato (1984), foi delimitado pelo plano econômico capitalista que influenciava todo o

cenário ocidental, nas ciências e na sociedade de forma geral. A lógica socioeconômica do

capitalismo que influenciava os países ocidentais suscitava no Brasil a necessidade de

mudanças capazes de aumentar a produção material e comercial no país. Para isso o Brasil

precisaria de mão de obra cada vez mais qualificada, possibilitando tanto a criação de

novos serviços e produtos, quanto do aperfeiçoamento daqueles que já existiam. A

promoção desta mão de obra qualificada para o trabalho se daria através da Educação, que

precisava ser otimizada para tal propósito (Antunes, 2003; Bock 2003a).

Além disso, esperava-se também que a Psicologia pudesse ajudar o país, no

oferecimento de seus conhecimentos e técnicas, objetivando promover a seleção dos mais

aptos e a adaptação dos que fugiam à norma. Grande parte das intervenções da Psicologia

nesse período aconteceu nesse sentido (Bock, 2003a). É assim que a PEE entra no seu

terceiro momento (1960 em diante), quando a Psicologia começa a ser aplicada dentro das

escolas, como uma prática profissional, reproduzindo o caráter adaptacionista da atuação

do psicólogo nesta época, de adequação do indivíduo (no caso, os alunos), à sociedade (no

caso, a escola) (Marinho-Araújo & Almeida, 2005).

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Em 1962 com a regulamentação da profissão do psicólogo, a atuação deste

profissional nas escolas se intensificou ainda mais (Nunes, 2005). Além disso, a

regulamentação não repercutiu apenas no aumento da atuação profissional, mas também na

formação, uma vez que seu decreto fixou o currículo mínimo dos cursos de Psicologia.

Uma vez oficializada a profissão, os cursos de graduação também aumentaram

consideravelmente, principalmente devido ao fato de que logo em seguida, com a vigência

da Ditadura Militar e seu incentivo a economia privada, houve um considerável aumento

dos estabelecimentos de ensino superior, fazendo com que surgissem muitos cursos

particulares, criando um excesso de contingente profissional, maior até do que a procura

existente no mercado de trabalho (Antunes, 2003).

Ainda, durante esta fase do processo de profissionalização da Psicologia os

serviços psicológicos oferecidos em clínicas de orientação infantil passaram a ser

oferecidos em órgãos públicos estaduais e municipais de Educação, como os

Departamentos de Assistência ao Escolar (DEA). Também nesses setores os serviços

oferecidos referiam-se a atendimentos pautados no modelo clínico e psicométrico, voltados

praticamente à identificação e tratamento de patologias relacionadas a aprendizagem; e

suporte a equipe técnica da escola no trato desses alunos. Alguns anos depois, por volta de

1975, as intervenções realizadas nesses departamentos foram substituídas pelas ações dos

Serviços de Psicologia Escolar, que não ficavam mais em local específico, acontecendo

dentro da própria escola, pois se acreditava que assim as contribuições para o

desenvolvimento do ensino seriam maiores. Até então esses serviços eram prestados em

escolas de Ensino Fundamental e Médio, vindo a ser oferecido ao nível infantil apenas em

1985 (Correia e Campos, 2004).

A partir de então as práticas psicológicas desenvolvidas na escola aconteceram

como uma extensão das práticas clínicas para este ambiente, tendo em vista que como a

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Psicologia Escolar e Educacional não tinha um modelo prático de atuação utilizou-se dos

conhecimentos clínicos para a realização das intervenções frente às demandas escolares.

Essa forma de atuação pensada a partir do modelo médico biologicista, servia como base

para a atuação clínica do psicólogo (Souza, 2009).

Dessa forma, pode-se dizer que no início tal atuação foi fundamentada no

paradigma científico vigente da época, o positivismo, sob o qual estava alicerçada a

maioria das ciências, principalmente as ciências da natureza e as biológicas (Silva et al

2012; Tanamachi, 2002). Este paradigma pautava-se por uma lógica de linearidade e

causalidade, tendo um viés determinista de pensar o homem, e uma forma rigorosa e

objetiva de concebê-lo como objeto de estudo (Andrada, 2005b). Estes pressupostos

serviram como base para uma grande parte das teorias psicológicas e educacionais

hegemônicas até meados do século passado.

Nessa época o entendimento sobre o papel da escola era de que ela deveria oferecer

ao homem a possibilidade de desenvolver suas capacidades para melhor servir a sociedade.

Para isso seria preciso sanar os problemas que surgiam neste espaço, principalmente os

referentes ao fracasso escolar. Questão essa que era compreendida colocando no aluno a

culpa pelo não aprendizado (Andrada, 2005b; Lessa e Facci, 2011; Tanamachi, 2002).

Pensava-se assim: se o homem é dotado da capacidade de aprender e este não aprende,

algo de errado há com ele e precisa ser “consertado”.

Essa lógica de pensar as demandas educacionais, em especial as questões de

aprendizagem, também foi seguida pelos psicólogos. Para estes já existiam as concepções

(advindas da clínica) de um profissional que resolvia problemas psicológicos. Assim,

entendendo a aprendizagem como um fenômeno próprio da Psicologia, e sendo estes

profissionais os detentores de conhecimentos psicológicos, foi atribuído a estes

profissionais a “tarefa” de resolver os problemas da escola, de “tratar” os “alunos-

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problema”. Atribuição esta aceita e referendada pelas práticas desenvolvidas (Pandolfi et

al, 1999).

A partir desta concepção da atuação nas escolas os psicólogos desenvolviam

atendimentos individuais e realizavam avaliações diagnósticas com objetivos diversos,

como classificar crianças em turmas de acordo com sua capacidade (Patto, 1984), através

do uso de testes psicológicos (Andrada, 2005b); redirecionamento de alunos para centros

de educação especial, dentre outras atividades. Todas essas intervenções eram feitas de

forma pontual, levando-se em conta apenas o aluno, e às vezes sua família, excluindo a

relevância dos demais processos referentes à escola, como a qualidade do ensino, as

práticas pedagógicas, a interação professor aluno, dentre outros (Barbosa & Marinho-

Araújo, 2010; Neves et al, 2002). Foi assim que, durante as décadas de 1960 e 1970, a

PEE se consolidou enquanto campo de atuação profissional para o psicólogo, constituindo

uma compreensão da prática pautada numa concepção, entendida no presente estudo, como

tradicional da Psicologia Escolar e Educacional.

Entretanto, esta forma de atuar nas escolas, no final da década de 1970, começou a

ser criticada por alguns teóricos que denunciava ser inadequada e ineficaz para trabalhar as

demandas provenientes do campo da Educação (Antunes, 2003). Nesse momento, a

Psicologia no Brasil como um todo passava por uma crise de identidade, na qual se

questionava sua originalidade e seu compromisso social. Tal acontecimento repercutiu

dentro do âmbito da PEE, suscitando e fortalecendo ainda mais as críticas à concepção

tradicional mencionada anteriormente.

Um marco para o início desse movimento de crítica refere-se à Tese de Maria

Helena Souza Patto, intitulada de Psicologia e Ideologia, na qual a autora denuncia o

distanciamento da Psicologia com as reais demandas sociais, produzindo teorias que

desconsideravam as desigualdades sociais existentes, servindo-se ao ajustamento dos

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indivíduos aos ideais capitalistas vigentes da época (Tanamachi, 2002; Meira, 2002). No

campo educacional isso se repetia uma vez que o serviço psicológico, até então, servia-se

ao ajustamento dos alunos as exigências disciplinares da escola, sem levar em

considerações os demais aspectos presentes no processo educativo (Neves et al, 2002).

Com isso, o movimento de crítica se acentuou, sendo realizadas no Brasil pesquisas

e estudos que se propunham a discutir a atuação que o psicólogo vinha desenvolvendo no

âmbito educacional e a defender a necessidade de uma nova postura e novas formas de

analisar, compreender e intervir nestes contextos, tais como Almeida (1982); Andaló

(1984); Antunes (1988); Wescheler (1989); Patto (1990); Balbino (1990); Maluf (1994);

Souza (1996), dentre outros. Essas discussões criticavam o paradigma positivista das

ciências naturais sob o qual a Psicologia predominantemente se constituiu e a adoção do

modelo-clínico no desenvolvimento das práticas de intervenção (Souza, 2009).

As críticas direcionadas aos pressupostos positivistas, referia-se à concepção de

indivíduo proposto, no qual o mesmo é visto como um ser passivo e determinado pela

lógica linear de causa e consequência, bem como por seu aparato biológico. Na Educação

essa concepção de indivíduo se desdobra no entendimento, equivocado, de que os

problemas educacionais como o fracasso escolar, por exemplo, são produtos de

disfuncionalidades particulares do indivíduo, ou seja, problemas de aprendizagem do

aluno. Tal entendimento era fortalecido pela Psicologia, ao se disponibilizar como ciência

que possuía conhecimentos que explicavam tais disfunções e diferenças individuais dos

alunos (Correia e Campos, 2004).

Já o outro foco das críticas se relaciona às práticas desenvolvidas, que

fundamentada nessa concepção biologizante do indivíduo, pautava-se no modelo clínico

como forma de intervir nas demandas educacionais, realizando avaliação diagnóstica e

ações de caráter terapêutico, bem como utilizando de forma exacerbada e pouco criteriosa

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os testes psicológicos (Antunes, 2003). Dessa forma, atribuía-se aos alunos a

responsabilidade pelas causas dos problemas existentes na escola e escamoteava-se as reais

causas e os reais produtores dos problemas encontrados, gerando com isso consequências

danosas como exclusão, estigmas e preconceitos no âmbito da Educação (Amazonas,

2008; Marçal, 2010).

Ainda, um dos pontos mais criticados do modelo tradicional refere-se a atuação

voltada exclusivamente para o aluno e sua família, uma vez que deixa de considerar fatores

importantes como os sociais, pedagógicos, institucionais, políticos, estruturais e históricos

que estão presentes na instituição escolar e que levam ao seu fracasso (Souza, 2002). Além

disso, desconsidera que o sistema educacional produz e fortalece os problemas

educacionais culpabilizar os alunos. Para Meira (2002, p.53), a Psicologia Escolar e

Educacional durante muito tempo se limitou “a atuar em direção as questões secundárias

que, na melhor das hipóteses, são apenas algumas manifestações de problemas escolares e

sociais mais graves e complexos”.

Assim, essas questões passaram a ser denunciadas por estudiosos que, com base em

suas pesquisas, apontavam para a necessidade da utilização de outros referenciais teóricos

que pudessem subsidiar uma atuação adequada a realidade educacional, superando assim

os modelos tradicionais vigentes. Esses referenciais deviam permitir ao psicólogo uma

compreensão mais abrangente e crítica do indivíduo, do processo educativo e das questões

escolares (Tanamachi, 2002).

Nesse sentido, o paradigma sócio histórico forneceu subsídios importantes para que

a Psicologia Escolar e Educacional cumprissem esse objetivo, principalmente sua

concepção de indivíduo. Nessa perspectiva o homem é considerado um ser social que se

constitui a partir das relações sociais que está inserido, numa determinada época histórica e

em um determinado contexto social, político e econômico. Sendo assim, a busca em

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compreender o indivíduo deve sempre ser pautada em uma análise crítica das suas relações

e do contexto em que se encontra (Rosa, 2011).

Outrossim, além da concepção de indivíduo, a concepção de Educação e de seus

processos também precisou fundamentar-se em referenciais teórico-críticos, tais como a

concepção histórico-crítica, proposta por Saviani (1987 apud Meira, 2002), na qual os

processos educativos são compreendidos a partir do seu contexto e de sua realidade

socialmente construída. Nesta perspectiva a Educação é entendida como um instrumento

mediador que deve objetivar, de forma não instantânea, a transformação social, tornando-a

possível através da conscientização dos indivíduos sobre os processos sociais, políticos,

históricos e econômicos, dos quais muitas vezes estão alheios (Meira, 2002).

Logo, a perspectiva crítica pressupõe um movimento de reflexão sobre a realidade

referente a um determinado contexto, em um determinado tempo histórico, sendo esta um

produto das relações sociais. Assim sendo, é através da análise crítica dessas relações que

os indivíduos e os fenômenos educativos devem ser compreendidos. A partir disso, com

base nesta concepção o psicólogo deve então buscar conhecer da forma mais abrangente

possível os diversos fatores e nuances incidentes no processo educativo (presentes dentro

ou fora do espaço institucional) na compreensão da realidade da escola, para com isso

poder atuar em dois sentidos: intervir diretamente nas reais causas das questões

consideradas disfuncionais na escola; e promover reflexões acerca dessa realidade, levando

os alunos a pensarem nos processos que vivenciam na escola e suas potencialidades diante

desses processos, bem como os professores a refletirem sobre sua atividade pedagógica e

seu compromisso com a eficácia do ensino, criando assim condições para um bom

desenvolvimento educacional, pautado na autonomia e na emancipação dos indivíduos

(Meira, 2002).

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De acordo com Antunes (2003), muitos psicólogos fecharam-se às ideias da

perspectiva crítica de atuação do psicólogo em contextos educacionais, defendendo a

realização das práticas clínicas dentro do ambiente escolar e se opondo ao

desenvolvimento de ações relacionadas ao âmbito pedagógico, por acreditarem que

intervenções deste tipo deveriam ser exclusivas dos pedagogos.

Entretanto, a partir das proposições feitas pelo movimento de crítica, observa-se a

ocorrência de mudanças, embora que paulatinas, na atuação desenvolvida por alguns

psicólogos escolares (Martinez, 2009). Segundo Souza (2009), tais mudanças inclusive

tiveram como consequência negativa a retirada dos psicólogos do sistema educacional em

São Paulo, uma vez que estes pautados por uma postura e uma atuação crítica passaram a

questionar a escola e os demais componentes, desvelando aquilo que o sistema educacional

por muito tempo tentou camuflar e não se responsabilizar, que eram as falhas provenientes

de seus próprios processos.

Nos anos que se seguiram estas duas formas de conceber a atuação do psicólogo

nos contextos educacionais, tanto a tradicional quanto a crítica, continuaram a ser

promovidas nas escolas. Ainda, a Psicologia no campo da Educação recebeu durante sua

constituição algumas terminologias, que muitas vezes são utilizadas sobre o mesmo

entendimento e por vezes para referir-se a âmbitos diferentes. Segundo Meira (2002), o

termo Psicologia Educacional ou Psicologia da Educação estaria relacionado ao aporte

teórico voltado à elaboração de teorias e constructos que possam contribuir na

compreensão dos fenômenos educacionais; enquanto a expressão Psicologia Escolar

estaria relacionada às práticas desenvolvidas em sua atuação profissional nas escolas.

Antunes (2011), também apresenta estes termos entendendo-os como definições distintas e

defendendo a ideia de que elas não podem ser compreendidas de forma igual, de acordo

com ela:

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A Psicologia da Educação pode ser entendida como subárea de conhecimento, que

tem como vocação a produção de saberes relativos ao fenômeno psicológico

constituinte do processo educativo. A Psicologia Escolar, diferentemente, define-se

pelo âmbito profissional e refere-se a um campo de ação determinado, isto é, o

processo de escolarização, tendo por objeto a escola (e seus similares) e as relações

que aí se estabelecem; fundamenta sua atuação nos conhecimentos produzidos pela

Psicologia da Educação, por outras subáreas da Psicologia e por outras áreas de

conhecimento (p.470).

Entretanto, essa forma de definir a área acaba por reproduzir o movimento

dicotômico de segregação entre teoria e prática, separação esta tão criticada nas discussões

estabelecidas sobre a formação profissional e sua relação com o desenvolvimento do

campo de atuação. Além disto, observa-se que grande parte das produções científicas que

aconteceram na intersecção da Psicologia com a Educação, foram produzidas a partir do

campo, através das práticas desenvolvidas estando teoria e prática intrinsecamente ligadas.

Dessa forma, acredita-se que a melhor denominação para tal campo é Psicologia

Escolar e Educacional, uma vez que se entende que uma prática profissional adequada e

legítima não se desenvolve sem um aporte teórico que a fundamente, não sendo possível

sua separação, mas exigindo sua complementaridade (Del Prette & Del Prette, 2008a;

Correia e Campos, 2004). Outrossim, o propósito e compromisso desta área acontecem no

campo teórico e prático, sempre objetivando oferecer contribuições que somem qualidade

a Educação (Marinho-Araújo & Almeida, 2005).

Mesmo existindo as referidas definições, observa-se muitas vezes uma confusão

sobre a denominação do psicólogo que trabalha na escola, sobre como ele deve ser

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chamado: se Psicólogo apenas, se Psicólogo Escolar ou Psicólogo que trabalha em

contextos educacionais. Essa falta de uma definição concreta é percebida nos textos da

PEE, os quais não delimitam um termo único. No presente estudo o entendimento que se

tem sobre essa questão é que um profissional para ser entendido como psicólogo escolar e

educacional, dependerá, não só do lócus, mas do direcionamento que dá as atividades que

desenvolve. Isso porque um psicólogo pode trabalhar na escola (tendo-a como seu lócus),

mas desenvolver sua atividade com outra finalidade que não seja relacionada aos processos

educativos, como os processos organizacionais, por exemplo, constituindo-se nestes casos

como um psicólogo organizacional cujo lócus de trabalho é a escola.

Por fim, como vimos os fatos descritos até aqui a construção da Psicologia Escolar

e Educacional ocorreu sobre o pano de fundo não só de uma contextualização histórica,

como também de paradigmas científicos, inicialmente sob a égide da hegemonia científica

positivista e posteriormente do paradigma sócio-histórico, os quais influenciaram essa

construção. Assim, a forma de conceber a PEE, em todas as suas características, possui

influências epistemológicas que, por sua vez, influenciam as práticas.

Logo, percebe-se que as práticas desenvolvidas dependerão da concepção de

indivíduo e das concepções acerca dos fenômenos educacionais e das suas funções,

enquanto psicólogo escolar e educacional, que o profissional tenha construído em sua

formação. No tópico seguinte serão abordadas algumas características dessa atuação no

cenário brasileiro, através da apresentação das variadas funções e das diversas

possibilidades de atividades que tem sido desenvolvida nos contextos educacionais.

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CAPÍTULO II

FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA E A PREPARAÇÃO À ATUAÇÃO EM

CONTEXTO ESCOLAR E EDUCACIONAL

Entende-se que a falta de uma boa formação profissional constitui-se como um dos

grandes déficits de muitos profissionais, inclusive da Psicologia. Tal ciência possui um

campo de atuação vasto e a formação acadêmica acaba não conseguindo abranger todas as

áreas, constituindo-se como um grande problema para que haja um adequado desempenho

profissional em outros campos de atuação, que atualmente tem se aberto para o psicólogo.

Os cursos de formação em Psicologia no Brasil foram instaurados na década de

1960, mas desde 1953 iniciou-se o movimento que levaria a isso com a criação do Instituto

de Psicologia da PUC/RJ e pela solicitação de sugestões para estruturação do curso de

Psicologia feita pelo MEC a alguns órgãos representativos da categoria. Essas sugestões

foram feitas através de dois projetos, um realizado nesse mesmo ano, mas que por

divergências entre alguns professores contrários à criação de um curso específico acabou

não indo a diante. O segundo projeto, elaborado em 1957 enfim foi aprovado tendo em

suas proposições: a criação de uma graduação com dois níveis de formação, o bacharelado

e a licenciatura; a vinculação às faculdades de filosofia; período formativo de seis anos,

distribuídos equitativamente entre os dois níveis; e escolha de uma ênfase no último ano,

existindo opções nas áreas Industrial, Clínica ou Escolar (Carvalho, 2004).

Em 1962, com o reconhecimento da Psicologia como profissão, os cursos de

graduação começaram a ser inaugurados, sendo instaurados depois da PUC/RJ um curso

também na USP. De acordo com Carvalho (2004), nos primeiros anos grande parte dos

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cursos tinham um caráter público e se concentravam no eixo sul-sudeste, havendo

posteriormente um considerável crescimento deles no Brasil.

Esse aumento pode ser visto através dos dados apresentados em dois grandes

levantamentos feitos sobre a realidade do psicólogo no Brasil. O primeiro, realizado em

1988 pelo CFP (vinte cinco anos após a inauguração do primeiro curso), detectou a

existência de 81 cursos regulamentados no país, estando 40% concentrados em São Paulo

e sendo 70% deles de redes particulares (CFP, 1988). O segundo feito 19 anos após a

pesquisa do CFP encontrou 350 cursos de graduação de Psicologia, sendo metade destes

situados na região sudeste e 83,1% de instituições privadas. Este aumento ocorrido entre

um estudo e outro perfaz um total de 332%, ou seja, o número de graduações triplicou em

pouco menos de vinte anos, oferecendo a sociedade aproximadamente 236 100 psicólogos

até o ano de 2006 (Yamamoto, Souza & Zanelli, 2010). No entanto, o alto índice

encontrado nos números de instituições formadoras parecem não ter sido acompanhado

pelo aumento e melhoria da qualidade da formação em Psicologia proporcionada no país.

Em relação a estrutura dos cursos, nesses 50 anos de formação de psicólogos,

observa-se que devido às influências do paradigma positivista e do modelo médico, os

cursos de formação no Brasil foram constituídos sobre o molde da área clínica. Neves et al

(2002), em sua pesquisa, ao analisar relatos de pesquisas feitos nos congressos nacionais

de Psicologia Escolar e Educacional (realizados entre 1991 e 1998), identificou que os

dados apontavam a formação como insuficiente e inadequada ao preparo do profissional

para uma atuação efetiva no âmbito educacional. Passado uma década, ainda hoje, outras

áreas de atuação como a Educação acabam sendo negligenciadas, existindo apenas uma ou

duas disciplinas neste âmbito. Entretanto, como tem sido observado, este campo tem se

constituído como uma área de mercado que tem crescido para o psicólogo, faltando a este,

porém, a formação necessária para atuar nesses contextos.

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Dessa forma, entende-se que a formação profissional constitui-se como uma das

grandes problemáticas à área da PEE. Diante disso, a formação tem sido uma pauta

consideravelmente estudada e debatida nas últimas décadas em grupos de trabalho e em

congressos (Guzzo, 2008; Marinho-Araújo & Almeida, 2005), principalmente após o

movimento de crítica da PEE e da realização de diversas pesquisas (Cruces 2003; Guzzo,

2008; Novaes, 2008; Silva 2005; Souza, 2000).

Estes estudos denunciaram possíveis deficiências na formação acadêmica destes

profissionais, suscitando a necessidade de outras pesquisas que buscassem responder a

algumas questões sobre: como tem se dado a formação inicial em Psicologia? Como se

organiza seu currículo frente às novas demandas do mercado? De que maneira a formação

tem preparado o psicólogo a intervir nos diferentes campos de atuação, principalmente no

campo educacional? De que forma os cursos podem instrumentalizar os psicólogos para

um olhar crítico de entendimento e atendimento as demandas da escola?

A partir de tais questões, pretendeu-se compreender e solucionar as diversas

problemáticas referentes à formação acadêmica, tais como a ênfase dos cursos na área

clínica, a falta de consenso sobre o perfil profissional, a diversidade de currículos, a

desconfiguração da identidade profissional, a desarticulação entre teoria e prática; a

abrangência das diretrizes curriculares, a relação mercado de trabalho e escolha de ênfases

para os cursos, dentre outras.

Pesquisas recentes realizadas em alguns estados apresentam dados referentes a

essas questões (Lessa & Facci, 2011; Medeiros & Aquino, 2011; Sena e Almeida, 2007;

Silva et al, 2012; Souza, Ribeiro & Silva, 2011; Viégas, 2012). No Distrito Federal Sena e

Almeida (2007), evidenciaram que os psicólogos escolares de seu estado não estão

instrumentalizados para uma atuação que atenda adequadamente as demandas do contexto

educacional; que há uma forte preferência pela clínica nos profissionais recém-formados; e

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que 80% dos entrevistados afirmaram ser insuficiente a sua formação para atuar em

escolas. Souza, Ribeiro & Silva (2011), também identificaram que os psicólogos avaliam

como insuficiente a formação proporcionada na academia, percebendo lacunas

relacionadas à prática quando começaram a trabalhar na área escolar. No estado da Paraíba

também foram encontrados dados referentes a problemas na formação em preparar os

futuros profissionais para uma atuação que se distancie das práticas tradicionais

individualizantes (Medeiros & Aquino, 2011).

Com isso, observa-se que nas últimas décadas ocorreram mudanças na realização

das práticas, abandonando modelos individualizantes de entender e atender as demandas,

para utilizar estratégias relacionais, direcionadas as interações e ao contexto escolar.

Entretanto, o mesmo movimento de mudança não é visto na formação, que ainda privilegia

uma área específica, não oferecendo conhecimentos necessários a outras formas de atuação

e de atendimento das demandas.

Segundo Wechsler (1990), Souza (2000), Correia e Campos (2004) e Marçal

(2010) a formação na grande parte dos cursos de Psicologia no Brasil possui uma

tendência para a atuação clínica. Historicamente, os primeiros currículos da graduação em

Psicologia tinham esse viés como modelo para uma futura atuação, privilegiando assim a

realização de práticas psicoterápicas no fazer do psicólogo, em detrimento de outras

possibilidades (Nunes, 2005; Marçal, 2010), criando a concepção tradicional de atuação

em PEE já apresentada neste estudo e incidindo sobre a preferência dos formandos à área

clínica, predominantemente, como futuro campo de atuação (Cruces, 2003).

Para Marçal (2010), a ênfase no foco psicológico do indivíduo, exclui muitas vezes

a relevância dos fatores sócio-históricos que estão imbricados nele, fazendo com que em

sua atuação os psicólogos levem apenas em consideração os aspectos psicológicos,

desenvolvendo práticas predominantemente no âmbito individual, buscando encontrar

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apenas no sujeito as causas de suas questões. Na área escolar isso toma forma na

psicologização e patologização dos fenômenos escolares, bem como na culpabilização do

estudante em suas dificuldades de aprendizagem, sendo o contexto escolar e os processos

pedagógicos desconsiderados por muitos profissionais da Psicologia (Nunes, 2005).

Isso também foi evidenciado por Souza (2000) ao pesquisar sobre a formação do

psicólogo, mais especificamente sobre como esta conduz o entendimento e atendimento da

queixa escolar. Em sua pesquisa, ela observou que os cursos capacitavam o psicólogo para

entender a queixa escolar de forma acrítica, cuja análise direcionava-se para a criança e

seus familiares na busca de identificar possíveis causas para os problemas de

aprendizagem, desconsiderando os aspectos relacionados aos processos de escolarização.

Wechsler (1990), afirma que a tendência à psicoterapia pode ser percebida através

das disciplinas que compõe a grade dos cursos, bem como na ausência da oferta de

estágios em outras áreas que não seja a clínica. Ainda, segundo esta autora, isto acontece

geralmente em algumas instituições particulares, que retiram essas possibilidades de

estágios e disciplinas, devido ao fato de acharem que estas áreas, como a escolar por

exemplo, não seja uma área promissora no mercado e consequentemente pretensa pelos

alunos.

Assim, uma formação que não informe e prepare para outras possibilidades de

trabalho, pode imprimir no futuro profissional uma concepção limitada do papel e das

funções deste, criando um círculo vicioso onde uma formação insuficiente gera uma

atuação inadequada, que por sua vez reforça a concepção equivocada.

Sabe-se que ao iniciar o curso de graduação em Psicologia, o estudante possui

ideias e representações sobre o que é ser um psicólogo e durante o decorrer do curso

muitas delas são reelaboradas (ou não) a partir das informações que são compartilhadas e

as experiências que vivencia (Gondim et al, 2010). O problema é que na Psicologia a

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formação, predominante clínica, acaba gerando uma confusão ao psicólogo quanto às

práticas a serem desenvolvidas e a postura a ser tomada por ele em instituições que não

estejam relacionadas à psicoterapia.

Guzzo (2008), aponta que o maior problema para que haja um trabalho satisfatório

do Psicólogo Escolar e Educacional, está justamente na ausência de um perfil profissional

definido e delimitado, seja na formação do aluno ou seja por órgãos representativos (como

os conselhos profissionais ou associações). Nesta ausência, ao inserir-se na escola, este

profissional acaba muitas vezes atuando de uma forma que atenda mais as expectativas da

instituição do que ao seu real papel.

De acordo com Gondim et al (2010, p.225), “a identidade profissional começa a ser

construída desde o processo de formação e segue continuamente redefinida quando o

psicólogo se insere profissionalmente nos diversificados cenários de atuação”. Entretanto,

acredita-se que essa redefinição nem sempre aconteça de forma harmoniosa e acertada,

uma vez que no próprio campo escolar não há clareza de qual é o real papel e perfil do

psicólogo nos contextos educacionais, confundindo esse profissional mais do que

redefinindo e o ajudando nesta reconfiguração identitária.

Ou seja, durante a formação, muitos alunos são tendenciosamente direcionados e

instrumentalizados para a área clínica e ao se formar e inserir-se no campo, tendem a ser o

psicólogo que aprenderam a ser (o clínico) e aplicar estes conhecimentos (inadequados na

maioria das vezes ao campo escolar) na escola. Com isso, uma vez inserido na área

escolar, para que houvesse uma redefinição de seu perfil estritamente clínico para um

caráter também educacional, necessitaria que ambos (psicólogo e instituição) soubessem

quais as características compõe a identidade do PEE, e a partir da dialética entre a atuação

(do psicólogo) e as expectativas (da instituição) essa nova identidade fosse tomando forma.

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No entanto, como mostra Medeiros e Aquino (2011), isto não é o que acontece, havendo

uma grande lacuna entre as expectativas e as reais funções.

É importante frisar que o que se defende aqui não é a suplementação de um perfil

sobre o outro, mas a necessidade de que na formação haja a construção de uma identidade

profissional mais ampla do psicólogo, que não tendencie ou privilegie uma ou outra forma

de atuação, mas que o prepare para ser psicólogo e oferecer contribuições acertadas para a

área (seja qual for) na qual se inserir, de forma a ter uma boa base teórica e instrumental, a

ter segurança quanto ao seu papel, e consequentemente a ter autonomia sobre suas ações

para não sucumbir as expectativas equivocadas da instituição quanto à sua ciência e sua

profissão. Para isso, o perfil profissional precisa ser desenvolvido com a promoção de

conhecimentos teóricos, habilidades técnicas e interpessoais, postura ética e comprometida

com as questões às quais o psicólogo se envolve e se propõe a contribuir (Marinho-Araújo

& Almeida, 2005).

Del Prette & Del Prette (2008a), corroboram com a ideia de que a consolidação da

identidade e eficácia da atuação dependerá das habilidades que o profissional possua. Para

eles é importante que a formação proporcione duas frentes de capacidades: uma analítica e

outra instrumental. A capacidade analítica, refere-se às habilidades de raciocínio,

criticidade e avaliação para que possa ler e compreender os fenômenos educativos e a

dinâmica institucional, identificando disfuncionalidades a serem trabalhadas e

potencialidades a serem aperfeiçoadas, bem como planejando ações que concretizem as

mudanças e avanços necessários. É através deste poder de análise que o psicólogo

consegue colocar a escola em questão, refletindo e fazendo refletir seus processos,

analisando-a primeiro para intervir depois.

Já a capacidade instrumental se caracteriza de duas formas: a técnica, relacionando-

se ao domínio das técnicas de entrevistas, de observações, de trabalho com grupos, dentre

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outras aprendidas na graduação ou por conta própria através da literatura disponível; e a

interpessoal, referente a aspectos de liderança, assertividade, persuasão, criatividade,

comunicação, habilidades sociais, etc. Estas habilidades interpessoais são demasiadamente

importantes para a atuação, entretanto o fomento delas costumam ser consideravelmente

negligenciadas no curso, pelo fato de muitas vezes serem vistas como características

pessoais, as quais não podem ser promovidas através da formação acadêmica (Del Prette &

Del Prette, 2008a).

No âmbito das capacidades interpessoais Novaes (2008) destaca a importância da

criatividade para a promoção de autonomia na forma de pensar e agir, para o

reenquadramento das demandas, à superação dos imprevistos, à utilização dos recursos que

a escola dispõe, os quais muitas vezes são escassos a depender da instituição. Ainda,

dentre as habilidades consideradas necessárias ao PEE está a capacidade de trabalhar em

equipes multi e interdisciplinares, uma vez que esta tem sido uma condição de trabalho

presente nas instituições escolares e a maneira mais indicada de atender de forma completa

as demandas da instituição, onde cada profissional oferece suas contribuições específicas,

porém de forma integrada (Gomes, 2007; Souza, Ribeiro & Silva, 2011).

Essa a participação em equipes multiprofissionais exige do profissional, no caso o

psicólogo, a capacidade de pensar de uma forma mais abrangente, que não se limite aos

conhecimentos de sua área, nem a defesa da hegemonia de seus conhecimentos, em

detrimento dos outros profissionais. Nestas equipes, a leitura das demandas, a busca por

soluções e a realização de intervenções precisa dar espaço a todos os olhares, de forma que

se complementem no alcance dos objetivos propostos. Assim, a formação precisa dar

espaço à interdisciplinaridade, bem como capacitar os futuros profissionais a trabalhar

dessa forma (Novaes, 2008).

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Logo, a promoção dessas habilidades durante a graduação se faz muito necessária

para o desenvolvimento da competência do profissional em sua atuação (Marinho-Araújo

& Almeida, 2005), principalmente as competências específicas para a caracterização de

suas práticas, legitimação de seu perfil profissional e demarcação de seu espaço na

instituição (Souza, Ribeiro & Silva, 2011).

Marinho-Araújo e Almeida (2005, p.250), define competência como um “recurso e

ferramenta que habilitam o sujeito a dominar com intencionalidade e segurança contextos

técnicos e complexos, diante dos quais ele pode fazer opções éticas e transformadoras”.

Dessa forma, desenvolver a competência profissional do psicólogo escolar é possibilitar a

ele não só um acervo de conhecimentos teórico-práticos e de habilidades, mas também

ensiná-lo a articular e usar esse acervo da melhor forma possível.

Apesar de historicamente, haver esse déficit na formação do psicólogo, observa-se

a ocorrência de algumas mudanças na maneira de conceber e realizar os cursos em

Psicologia nos últimos anos. Infere-se que essas mudanças foram provocadas pelas

pesquisas que denunciavam essa formação tendenciosa; suscitadas pelo entendimento da

real existência de outras possibilidades de atuação; e pela necessidade advinda da oferta de

inúmeras demandas dos mais variados setores da sociedade. De acordo com Nunes (2005)

e Marçal (2010) algumas das transformações ocorridas nas graduações foram promovidas

pela resolução N.º 8 de 7 de maio de 2004, feita pelas Diretrizes Curriculares Nacionais

para os Cursos de Graduação em Psicologia, com exigências básicas para os referidos

cursos, as quais serviram como direcionamentos para as instituições de ensino superior

(IES) realizarem sua reformulação curricular.

Tais diretrizes propõem uma grade curricular que organize-se com uma estrutura

básica, com eixos que estruturaria o curso com os conhecimentos próprios da Psicologia,

possibilitando articulações com conhecimentos de outras áreas, importantes para a atuação

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profissional. Segundo Marinho-Araújo e Almeida (2005), as diretrizes apresentam alguns

princípios norteadores para uma formação que prepare para o futuro desempenho

profissional, sendo eles:

Autonomia pessoal, capacidade de criar e produzir, resolver problemas e tomar

decisões, o exercício da cidadania e a inserção responsável e comprometida com o

mundo do trabalho. O domínio dos conhecimentos psicológicos, a sensibilidade e

compromisso com os problemas sociais significativos, a competência técnico-

científica, a ética e o desenvolvimento da psicologia como ciência e profissão

Marinho-Araújo e Almeida (p. 77).

A partir dessas exigências percebe-se o movimento de proporcionar uma formação

mais ampla, que possibilite os conhecimentos básicos e epistemológicos da ciência

psicológica; a capacidade de projetar e realizar pesquisas; os conhecimentos referentes às

áreas de interlocução com a Psicologia; o olhar crítico frente às questões sociais e às

demandas da sociedade; e as habilidades técnicas para atuação em diversos contextos.

Porém, mesmo existindo as diretrizes curriculares para normatização básica dos

cursos, Neves (2002) aponta que não há um consenso sobre como deve ser a grade

curricular (disciplinas, ênfases, estágios obrigatórios) dos cursos de Psicologia, o que é

observado pela grande variabilidade das formações nessas graduações no Brasil. Assim,

com tantas diferenças curriculares, não se tem definido qual seria o tipo de formação mais

adequado, se esta deve ter um caráter mais generalista, ou se deve ser mais específica,

levando em consideração as características e particularidades dos diversos campos de

atuação.

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De acordo com Souza (2011), os psicólogos pesquisados, em sua maioria,

afirmaram que uma formação ampla (generalista) ajuda o profissional a estar preparado

para atuar em instituições de uma forma geral, pois muitas vezes não se tem a certeza de

onde realmente a pessoa vai trabalhar depois que se forma, mesmo que haja pretensões ou

preferências de campos de atuação. De acordo com alguns dos seus entrevistados as

especificidades devem ser adquiridas de outras formas (congressos, especializações,

mestrado) ou mesmo na eminência da necessidade.

No entanto, Marçal (2010) entende que é preciso que a formação seja mais

específica para que o futuro profissional esteja tecnicamente preparado para atuar em

diferentes campos. Martinez (2010), corrobora com essa ideia relatando que as disciplinas

básicas e comuns como a Psicologia da Aprendizagem e a Psicologia do Desenvolvimento,

não são suficientes para uma boa atuação do psicólogo frente às demandas da escola. Para

uma atuação coerente com o esperado, seria necessária a inserção de disciplinas

relacionadas com outras áreas, como as Ciências Sociais, a Antropologia e a Educação, por

exemplo, para a apropriação de conhecimentos mais específicos. Para Del Prette e Del

Prette (2008a), os conteúdos específicos contribuem para que o profissional tenha uma

visão mais ampla dos fenômenos (além do olhar psicológico) a fim de ter uma

compreensão maior destes e do espaço no qual esta inserido.

Ainda, conforme estes autores, é importante para uma melhor atuação do psicólogo

na área escolar, o conhecimento sobre assuntos e temas teorizados por outras subáreas da

Psicologia, tais como a Psicologia Organizacional, cujos temas como satisfação e

motivação profissional e relações humanas no trabalho, por exemplo, auxiliam o psicólogo

na compreensão de demandas e na elaboração de atividades voltadas para os funcionários e

professores; a Psicologia Institucional, cujos conhecimentos sobre a analise institucional

permite ao profissional uma leitura detalhada e uma compreensão ampliada da dinâmica

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institucional; e a Psicologia Social cujos diversos constructos potencializam a atuação do

psicólogo no contexto educacional.

Destaca-se no presente estudo as contribuições da Psicologia Social, à Psicologia

Escolar e Educacional enquanto campo de atuação, na instrumentalização do psicólogo,

uma vez que conhecimentos como das representações sociais, habilidades sociais,

resiliência, interações sociais, grupos minoritários, preconceito, racismo, discriminação,

motivação, valores, normas sociais, dentre outros temas, estão presentes no ambiente

escolar e permeiam muitas das demandas das quais se espera a ação desse profissional.

Um exemplo dessa importante contribuição refere-se aos estudos sobre as

interações sociais, em especial as postulações de Vygotsky, tão necessárias para uma

compreensão crítica dos processos educativos. Entende-se que essa importância se dá em

dois sentidos, primeiro o de promover no psicólogo uma concepção interacionista dos

fenômenos educacionais, subsidiando o entendimento sobre o papel da Educação, como

grande possibilitadora de interações e, por conseguinte, mediadora do desenvolvimento

humano (Davis, Silva & Espósito, 1989); e num segundo plano o de auxiliar este

profissional no manejo das interações presentes no âmbito escolar, possibilitando-o agir

com vistas a uma valorização dessas relações na escola, uma vez que a qualidade destas

está diretamente ligada a qualidade do processo educativo (Rêgo, 2012).

Assim, dotado de conhecimentos acerca desse construto o psicólogo pode utilizá-

los, principalmente, na formação de professores, capacitando-os sobre a função das

interações no processo de ensino-aprendizagem e fazendo-os refletir sobre o seu papel

como mediador tanto das interações interpessoais, quanto entre o aluno e os objetos de

conhecimento (Rêgo, 2012). Para Davis, Silva & Espósito (1989), clarificar a importância

e o significado das relações aos professores deve ser uma das ações desenvolvidas para

aferir uma melhor qualidade ao processo educacional.

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Outra contribuição da Psicologia Social ao psicólogo escolar refere-se às

postulações sobre as Representações Sociais, servindo como um importante instrumento de

trabalho na escola, uma vez que tais conhecimentos o auxiliam a entender a forma como os

outros profissionais pensam sua função. Além disso, a identificação e manejo das

representações sociais podem ser úteis a este profissional em outros âmbitos de atividades,

como na elaboração de projetos temáticos como a educação inclusiva, educação e trabalho

e o combate a homofobia por exemplo.

Tomando a educação inclusiva como exemplo para ilustrar a afirmação acima,

acredita-se que, anteriormente, somado a elaboração do projeto de implementação de uma

política de inclusão em uma instituição educacional, se faz prudente a realização de

pesquisas e análises para o conhecimento das representações sociais existentes neste

ambiente, sobre a inclusão e o que é incluir, na visão dos professores, gestores e alunos.

Assim, o conhecimento disto pode contribuir para que o projeto contenha ações

direcionadas às representações de caráter limitador que possivelmente possam vir de

encontro a efetivação do referido projeto. Esta análise, também pode ser aplicada na

elaboração dos mais variados projetos, embora destaque-se aqui sua importância na

implementação de políticas dentro da Instituição educacional.

Além das representações sociais, os conteúdos relacionados aos temas de

preconceito, discriminação e diversidade sexual também capacitam melhor o psicólogo na

construção de projetos de combate a homofobia nas escolas, demanda tão recorrente na

atualidade e na realidade educacional local (Souza, 2013). Ainda, a teoria das habilidades

sociais e resiliência também podem ser utilizadas na compreensão da violência escolar e

bullying, bem como na criação de estratégias de enfrentamento a esses problemas

frequentes no âmbito escolar.

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Outrossim, além das áreas citadas anteriormente, defende-se também a necessidade

de proporcionar na formação conhecimentos sobre assuntos próprios da Educação, como a

leitura, a escrita, avaliação escolar, evasão, a repetência, educação inclusiva, práticas

pedagógicas do professor, didática, teorias e metodologias educacionais, etc. Para

Marinho-Araújo e Almeida (2005) muitos conteúdos importantes à atuação do PEE se dão

na interdisciplinaridade das áreas da Psicologia e Educação, onde uma cede espaço para

que a outra a complemente, tornando possível a compreensão dos diversos objetos. Alguns

destes conteúdos são: “análise das relações entre desenvolvimento e aprendizagem, relação

professor-aluno, papel da afetividade na transmissão e aquisição do conhecimento,

representações sociais do sucesso/insucesso escolar, relação família-escola-comunidade e

procedimentos teórico-metodológicos de atendimento psicopedagógico (p.73)”.

Apesar de importantes, a simples oferta desses conteúdos não garantem por si só

uma atuação efetiva, pois além de possibilitar esses conhecimentos nas disciplinas, tais

conteúdos precisam ser adequadamente trabalhados em sala de aula, sendo muito

importante não só a didática que o professor utiliza, como também a abordagem que dá aos

temas estudados. Sobre isto Gomes (2007), por exemplo, defende que além das grandes

teorias é preciso oferecer aos futuros profissionais noções sobre o desenvolvimento e

aprendizagem nas diferentes faixas etárias, não apenas a infantil, tendo em vista que os

processos educativos abrangem hoje tanto crianças e adolescentes, como adultos e idosos.

Acredita-se que fixar a promoção dos conhecimentos sobre desenvolvimento apenas ao

âmbito infantil, pode repercutir negativamente na atuação do psicólogo, já que este pode

vir a desenvolver suas atividades em um nível de ensino que não seja relacionado ao

público pueril, como o nível médio, técnico e superior, deixando lacunas na formação.

Atualmente, entende-se que os conteúdos apresentados nas disciplinas precisam

romper com essas concepções tradicionais e improdutivas ao ambiente escolar,

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possibilitando ao aluno um olhar mais crítico sobre as demandas. Porém, esta abordagem

crítica aos conteúdos, segundo Souza (2000), muitas vezes é desconsiderada pelos

professores, os quais afirmam que ela não permite uma sistematização de ações a serem

desenvolvidas pelos psicólogos, proporcionando apenas compreensões sociológicas das

questões. Apesar de tais opiniões, o que se observa é que os conhecimentos trabalhados

nas disciplinas devem possibilitar ao psicólogo a realização de leituras críticas e coerentes

da instituição educacional e dos seus sistemas, para que se possa analisar e obter

compreensões ampliadas e mais completas dos processos que acontecem na escola

(Marinho-Araújo & Almeida, 2005).

Ainda, em relação à didática utilizada, Novaes (2008), diz que ao conduzir uma

disciplina na graduação é possível proporcionar três aspectos na condução dos conteúdos:

“a simples reprodução, a reprodução ampliada e a produção criativa (p.133)”. Porém,

segundo ela, geralmente esse terceiro aspecto é negligenciado, uma vez que as teorias são

apresentadas através de textos, mas não são colocadas em contexto, por não ser oferecido

ou permitido um espaço de debate, que leve os alunos a refletir sobre os conteúdos

apresentados e a relacioná-los com a realidade do campo.

Essa desarticulação dos conhecimentos teóricos com as demandas reais do campo

também constitui-se como um grande fator nos problemas de formação encontrados nos

cursos de graduação de Psicologia. De acordo com Novaes (2008), Neves et al (2002) e

Guzzo (2008) é necessário que haja na formação dos psicólogos uma melhor articulação

entre teoria e prática, uma vez que a divergência entre esses dois âmbitos causam

limitações ao exercício profissional.

Com isso, entende-se a importância e necessidade de que as disciplinas, em

especial as de Psicologia Escolar e Educacional ou correlatas, sejam repensadas e

reestruturadas com base na realidade atual e contextual do campo educacional, abordando

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as informações de pesquisas atuais sobre a área, as novas práticas e concepções em PEE,

os relatos de experiência dos estudos mais recentes, as diferenças institucionais e de

possibilidades entre a rede particular e pública, dentre outros dados.

Acredita-se que apesar de existirem muitas pesquisas na área sobre as

possibilidades de atuação do psicólogo, bem como a realidade que ele encontra no campo

profissional, pouco desses conhecimentos são utilizados na formação, sendo priorizadas as

grandes teorias de Psicologia do Desenvolvimento e Psicologia da Aprendizagem,

esquecendo-se de apresentar ao futuro profissional as minucias do campo em que irão

atuar e as reais demandas que encontrarão (Gomes, 2007).

Além destes fatores, há outro ponto importante referente a articulação da teoria

com a prática e que possui um caráter importante de complementariedade da formação

profissional, que são os estágios, os quais oportunizam a expressão prática do

conhecimento teórico adquirido. Para Del Prette e Del Prette (2008a), nesse ponto também

existem equívocos, pois os cursos priorizam em demasia os conhecimentos teóricos em

detrimento das atividades práticas. Segundo esses autores, geralmente durante a graduação

os primeiros quatro anos do curso são destinados ao aporte teórico e apenas o último ano é

dedicado aos estágios. Porém, acredita-se que os estágios em final de curso não são

suficientes para qualificarem o aluno a uma atuação em contextos diferenciados (Guzzo,

2008).

Logo, nota-se que é evidente a importância da teoria proporcionada nas aulas para a

formação profissional de um estudante, entretanto, o exercício prático também produz

conhecimentos e ainda mais habilidades que serão necessárias à sua futura atuação como

profissional. Souza (2011), afirma que segundo os psicólogos escolares entrevistados em

sua pesquisa a realização do estágio foi muito importante para sua formação, contribuindo

significativamente para a atuação em instituições, uma vez que oportunizou a criação de

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habilidades técnicas importantes, sendo uma das mais citadas a habilidade de trabalhar em

equipe multidisciplinar.

No entanto, apesar dos estágios constituírem-se como algo benéfico para os

estudantes, este mesmo autor alerta para o perigo que a ocorrência desses estágios,

dependendo da maneira que seja desenvolvido, possa oferecer para o campo da PEE, uma

vez que em sua pesquisa houve relatos de que alguns diretores demonstraram uma grande

resistência na aceitação do psicólogo em sua escola, devido a más experiências com

estagiários de Psicologia. Aqui, cabe uma análise de que se aos psicólogos muitas vezes

existe uma insatisfação por parte dos gestores quanto às intervenções realizadas, por estas

não responderem suas expectativas, os estagiários não estariam alheios a tais insatisfações.

Outra explicação para as insatisfações dos diretores com o trabalho desenvolvido

nos estágios e que realmente se apresenta como uma limitação dessas experiências aos

alunos, pode estar no fato de que os estágios muitas vezes acontecem de forma breve, por

dois períodos letivos, ou seja, entre quatro e oito meses, sendo possível apenas algumas

ações pontuais que não “resolvem” todas as necessidades da escola (como se espera),

muito menos todas as demandas colocadas aos estagiários.

Conforme Correia (2004) propõe, um estágio em Psicologia Escolar e Educacional

deve abranger: observação da instituição, dos componentes, das atividades, e das

interações entre os sistemas; diagnóstico da situação observada, destacando os pontos

disfuncionais a serem trabalhados e os pontos fortes a serem aproveitados; estabelecimento

de objetivos a serem alcançados; planejamento de ações e estratégias para alcance dos

objetivos; estabelecimento de parceria para realização das intervenções; desenvolvimento

das ações planejadas; e avaliação do trabalho desenvolvido, propondo ou não a

continuidade das estratégias ou reelaborando outras. Diante disto, com todas essas

instâncias de atividades, é possível questionar se em apenas alguns meses existe a

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possibilidade do aluno realizar o estágio de forma completa, tal como propõe a referida

autora.

Tal esquema proposto pela autora acima parece completo para a articulação de um

estágio que contribua para o aprendizado do graduando a uma futura atuação profissional

nas escolas. Entretanto, à realização destes existem muitas condições que podem surgir de

forma a limitar seu desenvolvimento. Além da brevidade do tempo já citado anteriormente,

situações como greves em instituições públicas, falta de psicólogo na escola, professores

supervisores de estágios sem experiência na área, dentre outros problemas podem impedir

que o aluno realize de forma positiva seu estágio acadêmico.

Outra problemática envolvendo os estágios é que além de ser realizado apenas no

fim do curso e de forma breve, em muitas instituições não há a oferta de vagas à área

escolar, sendo este optativo, criando a possibilidade de um psicólogo formar-se sem ter

tido um contato mínimo com campos de atuação que venham a trabalhar futuramente.

Observa-se que em algumas dessas universidades o estágio clínico é obrigatório, havendo

também a obrigatoriedade de outro estágio de caráter institucional. Porém, neste último,

não há um direcionamento da área, podendo o aluno escolher a ênfase, se na área

hospitalar, organizacional, jurídica, escolar, dentre outras, de acordo com as possibilidades

ofertadas pela universidade naquele período.

Com isso, se o aluno escolher a área organizacional, por exemplo, não terá tido a

oportunidade do exercício prático em outras áreas de possível atuação quando estiverem

formados, como a escolar ou hospitalar. Assim, como a escolha da ênfase é de acordo com

a preferência dos alunos, estes a farão de acordo com as representações que tiverem das

diversas áreas. Dessa forma, entende-se que a falta de estágios em outras áreas, além da

clínica, pode limitar o campo de possibilidades de escolha para os futuros profissionais,

assim como também inibe a criação de habilidades diversas que são importantes para o

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serviço à sociedade e suas demandas tão diferenciadas, provocando uma considerável

lacuna entre o que a sociedade precisa e a real possibilidade sobre o que um profissional de

psicologia pode fazer.

Logo, muitos psicólogos, pelo déficit em sua formação, não se sentem preparados

para trabalhar em escolas e desenvolver ações para suas demandas. Wechsler (1990) e

Marçal (2010) em suas pesquisas afirmam que esta dificuldade é relatada pelos próprios

psicólogos. Isso incide em consequências negativas em dois sentidos: não se sentindo

preparado para esta atuação o aluno recém-formado pode não preferir esta como uma área

em que possa atuar como psicólogo, chegando até a recusar propostas de trabalho; ou

mesmo não se sentindo preparado para trabalhar as demandas escolares, o psicólogo pode

se dispor a realizar tal atividade e fazê-la de forma inadequada, pouco inovadora e eficaz,

contribuindo para o estigma deste profissional na área escolar e não conseguindo alcançar

sucesso em suas atividades.

É evidente que toda essa questão de formar um bom profissional, não depende

apenas da academia. Também se faz importante a busca pessoal do aluno que está em

formação, por experiências que aperfeiçoem na prática aquilo que está sendo visto na sala

de aula. Aliás, não só na formação, ainda mesmo depois de formado, há a necessidade

dessa busca, de estar sempre se atualizando, uma vez que o objeto de estudo da Psicologia

é o homem e este é dinâmico, bem como aquilo que está ao seu redor.

Enfim, diante de tudo que foi exposto conclui-se que uma formação adequada

proporciona psicólogos que conhecem sua função e sabem o que devem fazer, tendo

autonomia e segurança, oferecendo às instituições uma atuação favorável ao

desenvolvimento educacional da escola, contribuindo para qualidade nos processos

existentes nela e nas interações entre seus diversos sistemas. Assim, uma formação

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consistente que possibilite uma atuação efetiva parece ser o caminho para a inserção deste

profissional nos sistemas educacionais e seu devido reconhecimento nestes espaços.

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CAPÍTULO III

CARACTERÍSTICAS DA PARTICIPAÇÃO DO PSICÓLOGO NO CENÁRIO

EDUCACIONAL BRASILEIRO.

Nos cinquentas anos em que a Psicologia Escolar e Educacional vem se

constituindo enquanto um campo de atuação possível ao psicólogo vê-se a presença de

alguns temas frequentemente discutidos e pesquisados. No presente estudo, destaca-se a

pertinência de três temas para uma melhor compreensão sobre como o psicólogo tem se

inserido no cenário educacional brasileiro, sendo esses temas as funções que a literatura

apresenta como inerentes a esse profissional; as demandas direcionadas a ele; bem como as

intervenções possíveis nesse contexto.

3.1 Funções do Psicólogo no contexto Escolar e Educacional

Mesmo sendo a área escolar um dos campos pioneiros como possibilidade de

atuação para o psicólogo, e apesar da postulação de teorias, da realização de pesquisas e

cursos de especialização, percebe-se que a definição de qual seria a real função do

psicólogo nas instituições educacionais constitui-se como outra grande questão da

Psicologia Escolar e Educacional. Na literatura pesquisada, observou-se que a função do

psicólogo na Educação é referida de forma bastante diversifica e por vezes ambígua.

Assim, dentre as atribuições concernentes ao psicólogo escolar e educacional

encontradas na literatura identificou-se as seguintes: a prevenção dos problemas escolares

(Pandolfi et al, 1999; Leite & Valle, 2003); a promoção de saúde dos componentes da

escola (Andaló, 1984; Dazzani, 2010; Marçal, 2010; Gimenez & Tizzei, 2008; Leite &

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Valle, 2003), bem como a “manutenção da saúde mental no ambiente escolar” (Pandolfi et

al, 1999, p. 34); auxílio no funcionamento institucional (Marçal, 2010; Nunes, 2005); a

otimização das interações sociais e relações interpessoais (Del Prette & Del Prette, 2008a;

Neves et al., 2002; Pandolfi et al., 1999).

Além destes, há outros como; a mediação de conflitos advindos das relações

interpessoais (Gimenez & Tizzei, 2008; Leite & Valle, 2003); intervir nos conflitos que

emergem da divergência entre as expectativas e interesses dos estudantes e as expectativas

e normas da instituição (Dazzani, 2010); Ações voltadas para os problemas de relações

interpessoais na sala de aula, que estejam limitando a eficácia do processo de ensino-

aprendizagem (Neves et al., 2002; Pandolfi et al., 1999); promover reflexões sobre a

educação, as atividades educativas e sua qualidade para o alcance dos objetivos da escola

(Pandolfi et al., 1999; Gimenez & Tizzei, 2008) o diagnóstico e o encaminhamento de

alunos (que requerem uma intervenção mais específica e profunda) a outras redes de

serviço como a saúde e a assistência social (Neves et al, 2002).

Logo percebe-se o quão abrangente parece ser as atribuições referentes a Psicologia

nos espaços educacionais. Segundo Correia e Campos (2004), apesar de ser vista como um

dos grandes problemas da PEE, esta abrangência não deve ser considerada como um fator

negativo, pois muitas das atividades atribuídas podem ser sim realizadas pelo psicólogo.

Também afirmam que definir de forma hermética quais seriam as funções limitariam as

possibilidades da atuação, uma vez que a escola é produtora de diversificadas demandas

que tomam formas específicas a partir da realidade de cada instituição e das interações que

nela acontecem. Sendo assim, observa-se que as funções do psicólogo em contextos

educacionais se encontram, na verdade, dentro das possibilidades que há no espaço escolar

e que estejam em consonância com a sua ciência.

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De acordo com Martinez (2010), uma função muito frequente do psicólogo nas

instituições de Educação é a de oferecer orientações aos diversos componentes da escola

quanto à algumas questões que emergem neste contexto, às quais cabem os conhecimentos

e a intervenção psicológica. Dessa forma, o psicólogo, pode fazer uma leitura diferenciada

dos processos e da dinâmica institucional e a partir desse olhar diferenciado, ele pode

orientar os gestores, professores, alunos e familiares, no sentido de ajudá-los a refletir e

intervir em questões que estão interferindo, de forma negativa, no desenvolvimento

educacional ou na dinâmica institucional (Marçal, 2010).

Estas orientações direcionadas aos diversos componentes visam auxiliá-los a lidar

com situações de relações interpessoais que estão em volta do aluno; criar estratégias de

trabalho frente às dificuldades de aprendizagem, à inclusão de alunos com necessidade de

cuidados especiais, à desmotivação, ao fracasso e à evasão escolar; e garantir o ingresso, a

permanência e a conclusão dos estudos (Del Prette & Del Prette, 2008a; Nunes, 2005;

Pandolfi et al, 1999).

Além destas, outra atribuição voltada para o processo educacional seria informar,

orientar e provocar reflexões nos pais sobre questões diversas, cuja necessidade fosse

identificada a partir das demandas escolares, tais como violência doméstica; sexualidade;

dentre outras (Neves et al, 2002). De acordo com Souza (2011), muitas vezes há questões

de ordem familiar que possam incidir sobre o bom desenvolvimento educacional do aluno,

que precisam ser identificadas e refletidas, também junto às famílias, para que o aluno

obtenha mais qualidade em seu aprendizado.

Ainda, o psicólogo pode participar na construção do projeto político pedagógico da

escola, ajudando os gestores tanto na elaboração, oferecendo conhecimentos diversos no

âmbito psicológico; quanto na avaliação da qualidade e da eficácia das ações previstas no

projeto e desenvolvidas por toda a equipe técnica no decorrer do ano, objetivando aferir

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uma coerência entre aquilo que é preciso ser feito e aquilo que realmente é possível ser

realizado pela escola e seus componentes (CFP, 2013; Del Prette & Del Prette, 2008a;

Martinez, 2010; Neves et al, 2002).

Para Tanamachi e Meira (2003), esta última atribuição só é possível se estiver

somada a ela outra função, a de mediador. Para elas o psicólogo precisa ser:

um elemento mediador que – junto com educadores, alunos, funcionários, direção,

famílias e comunidade – poderá avaliar criticamente os conteúdos, métodos de

ensino e as escolhas didáticas que a escola faz como um todo. Assim, ele pode

participar de um esforço coletivo voltado para a construção de um processo

pedagógico qualitativamente superior, fundamentado em uma compreensão critica

do psiquismo, do desenvolvimento humano e de suas articulações com a

aprendizagem e as relações sociais (p. 53).

Já as orientações voltadas para a dinâmica institucional, acontecem no sentido de

compreender e repensá-la, bem como seus processos instituídos e instituíntes que estão

operando em tal contexto, fazendo emergir os conflitos que estão implícitos, procurando, a

partir disso, aperfeiçoar os processos que são positivos e contribuir para a modificação dos

processos que são negativos à instituição e seu objetivo de educar (Correia & Campos,

2004). Infere-se que tal intervenção está diretamente relacionada ao desenvolvimento

educacional, uma vez que falhas ou sucessos nessa dinâmica repercutem nesse

desenvolvimento (Dazzani, 2010). Entretanto, essa função de orientar em vistas ao bom

funcionamento institucional ainda é um entendimento pouco encontrado nos componentes

da escola, até mesmo nos psicólogos (Martinez, 2010).

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Para Souza (2011), muitos psicólogos entendem que suas orientações devem estar

voltadas mais especificamente para os processos pedagógicos de ensino-aprendizagem,

denotando ser a função mais comum na concepção sobre qual é o papel do psicólogo na

Educação. Porém, acredita-se que esse entendimento seja prejudicial e limitador, pois

muitas vezes aquilo que precisa ser trabalhado não o está sendo. Ou seja, não ter a

dinâmica institucional como objeto de intervenção, pode levar a ações improdutivas,

incidindo sem sucesso nos sintomas, negligenciando a fonte produtora do problema.

Segundo Gimenez & Tizzei (2008), além das funções apresentadas, o psicólogo

possui a competência de elaborar programas para promoção e “desenvolvimento

psicológico e da saúde mental na escola (p.441)”. Sobre isso Dazzani (2010) afirma que:

O psicólogo devera estar preocupado com a prevenção e a promoção de saúde e do

bem estar subjetivo, envolvendo-se em atividades que permitam aos estudantes

obterem sucesso em suas atividades da vida, diminuindo as situações de risco, do

fracasso escolar e de outros fatores que possam ameaçar sua sanidade e inibir suas

potencialidades (p. 372).

Essa função parece ser aceita por muitos psicólogos que desenvolvem ações

voltadas para o diagnóstico e tratamento de problemas escolares, como as dificuldades de

aprendizagem, por exemplo, entendendo-as apenas em nível de saúde. Acredita-se que esta

atribuição de promotor de saúde dependerá consideravelmente da noção que o profissional

tenha sobre este constructo, seu conceito, significados e processos.

Contini (2000), também concorda com esta função, entretanto discute a

necessidade de que a saúde na escola seja pensada além da relação dicotômica tradicional

de saúde-doença, evitando atividades cujo objetivo seja apenas de remediar problemas, e

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que seja trabalhada numa perspectiva preventiva de promoção de bem estar, para que os

componentes da escola possam desenvolver e experienciar os processos educacionais, em

todos os seus âmbitos, com qualidade (Nunes, 2005). Ainda, para Leite e Valle (2003), o

psicólogo pode contribuir para o desenvolvimento dos fatores de proteção que possam

existir na escola, fortalecendo assim a capacidade de resiliência dos componentes da escola

frente às situações estressoras, ajudando-os na promoção de bem estar psicológico.

Outro ponto relevante sobre a função do psicólogo no âmbito escolar e educacional

é que observa-se que suas atividades podem ter dois caráteres: o educacional, voltado para

as questões de aprendizagem; e o psicológico, voltado para questões subjetivas, como

vivências, conflitos e psicopatologias (Andaló, 1984), que por sua vez está diretamente

ligado ao caráter educacional, incidindo, positiva ou negativamente, sobre ele.

Porém, esses dois caráteres não são vistos, por muitos teóricos e profissionais,

como aspectos que se complementam, mas que se opõem (Gomes, 2007). Acredita-se que

aqueles que possuem uma concepção tradicional, geralmente, limitam-se apenas às

atividades individualizadas de atendimento ao aluno. Por sua vez, alguns dos que possuem

uma concepção teórica crítica costumam rejeitar intervenções individuais no contexto

educacional, priorizando ações de âmbito coletivo em sua atuação (Cunha & Betini, 2003).

De acordo com Almeida (2008), alguns teóricos críticos que denunciavam a

ineficácia das práticas tradicionais, em especial as desenvolvidas com foco no indivíduo,

não criaram teorias ou modelos que dessem conta de todas as demandas da escola para as

quais caberia a intervenção do psicólogo. Sua posição de negar as práticas clínicas dentro

da escola e de criticar a psicologização dos fenômenos educacionais, não foi bem

entendida por muitos psicólogos que atuam em escolas, fazendo com que alguns deles

rejeitassem intervenções voltadas para as questões subjetivas que permeiam os fenômenos

educativos e que são tão peculiares ao fazer do psicólogo. Acredita-se que, por causa disso,

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muitos dos componentes da escola são levados a questionar a real necessidade do

psicólogo nessas instituições.

Apesar de existir tal dualidade, infere-se que há também uma concepção integrada

da função, uma vez que para os que pensam assim não há como separar o individual do

coletivo, pois eles são interligados. Essa forma integrada de pensar a Psicologia Escolar e

Educacional, exigindo uma criticidade nas práticas, mas sem deixar de levar em

consideração os processos psicológicos incidentes nos processos educacionais, parece ser a

mais adequada para um desempenho eficaz do papel do psicólogo. Além disso, a questão

relevante não refere-se ao âmbito em que a intervenção é realizada, mas sim na forma

como o psicólogo pensa e entende a instituição, os componentes, os processos e suas

demandas, as quais devem ser refletidas e compreendidas a partir das interações entre os

sistemas.

Entretanto, esta última forma de conceber a função do psicólogo nas escolas não é

a predominante. Acredita-se que as concepções teóricas pautadas na dualidade individual

versus coletivo são as mais frequentes. Esta ambiguidade no entendimento sobre a função

constitui-se como a grande problemática do papel e atuação do psicólogo em contextos

escolares e mostra o quanto, muitas vezes, é confuso o real papel até mesmo para os

próprios psicólogos.

Esse entendimento errôneo pode fazer com que outros profissionais também

tenham uma concepção pejorativamente particular e, por vezes, equivocada da função do

psicólogo. Essas concepções são entendimentos historicamente construídos ao longo do

desenvolvimento da área escolar como um campo de atuação, na qual foi impressa uma

identidade para a atuação do psicólogo, sendo sua função entendida como a de resolutor de

problemas educacionais, através de práticas clínicas desenvolvidas com os estudantes

(Gaspar & Costa, 2011).

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Essa concepção sobre o papel do psicólogo nas escolas foi construído durante

muito tempo e tem sido questionada e modificada nas últimas décadas a partir do

movimento de crítica. Porém o que se nota é que essa mudança na forma de ver a PEE se

deu apenas em nível da categoria dos psicólogos e não foi acompanhada por outros

profissionais.

Assim, é comum ao psicólogo, quando contratado para trabalhar em contextos

educacionais, o enfrentamento de problemas devido às concepções, que seus colegas de

trabalho têm sobre o seu papel, que geralmente é uma concepção clínica, na qual a função

do psicólogo é avaliar, diagnosticar e tratar os alunos que apresentam algum tipo de

disfunção na escola (Ramos, 2011). De acordo com Souza (2011), isto pode acontecer por

dois motivos, um pelo fato de que muitos psicólogos ao se inserir em contextos

educacionais continuaram com a perspectiva baseada num modelo clínico e por outro

porque esses outros profissionais não aceitam realmente outro tipo de atividade

desenvolvida pelo psicólogo.

Somada a uma imagem hermética e equivocada, está também à expectativa destes

profissionais quanto à atuação do psicólogo, acreditando que ele vai resolver todos os

problemas existentes na instituição, uma vez que a representação que eles possuem da

própria ciência psicológica está voltada para isto, para a resolução de problemas. Acredita-

se que as instituições onde houve a mudança de tal concepção pelos diversos profissionais,

ocorreu a partir de uma mudança da própria atuação do psicólogo, porém não sem

resistência e não de forma instantânea. Por isso, esse profissional precisa saber identificar

essas concepções e analisar como elas funcionam, para assim saber lidar com esta situação,

criando estratégias para modificá-las.

Dessa forma, lidar com essas concepções exige certo tato e perspicácia e até

mesmo criatividade no sentido de delimitar seu espaço e sua atuação. Por isso, Gimenez e

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Tizzei (2008) afirmam que há a necessidade do psicólogo ter convicção bem estabelecida

sobre sua função, para evitar o reforçamento de ideias que excedam sua responsabilidade e

que dificultem seu trabalho. Ainda, essa iniciativa de desmistificação da função

profissional perante a instituição deve ser do psicólogo, não devendo ficar à espera que

questões como essas se resolvam por si só, ou então, que não se resolvam. Isto é

importante, pois além do psicólogo escolar fazer parte de uma equipe técnica

multidisciplinar, ele está inserido numa cadeia de relações e concepções que incidem sobre

sua prática (Ramos, 2011).

Além da problemática das funções, há outro fator que também incide muito na

atuação do psicólogo escolar e educacional, que é questão da diversidade de demandas

produzidas pela escola. Isso somado as equivocadas expectativas sobre o papel do

psicólogo escolar, pode fazer com que sua participação na escola aconteça de forma

conturbada. Sobretudo porque, em muitos casos, o que se espera e é direcionado a ele está

fora do quadro de suas funções.

3.2 As demandas educacionais para o psicólogo.

A escola através dos seus inúmeros sistemas e das diversas interações que

possibilita acaba produzindo muitos fenômenos que insurgem contra o bom

desenvolvimento educacional, diminuindo as possibilidades da qualidade e eficácia da

educação brasileira, a qual enfrenta hoje problemas de diversas ordens tais como evasão

escolar, repetência, violência escolar, etc.

De acordo com Souza (2011), as questões existentes na escola geralmente possui

um caráter multifatorial, relacionadas a questões pedagógicas, socioeconômicas,

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comportamentais, culturais e de saúde física e mental. Segundo ele, apesar de não serem os

responsáveis pelas demandas produzidas, os alunos são os que mais as manifestam.

Há algumas décadas atrás, acreditava-se que apenas os alunos eram responsáveis

pela produção dos problemas manifestados no espaço escolar, entretanto hoje se observa

que todos os componentes que fazem parte da escola, de uma forma ou de outra, estão

envolvidos nesta produção e que esta se dá a partir das interações. Assim, gestores,

técnicos educacionais, professores, alunos, família e funcionários configuram sistemas e

promovem interações, das mais variadas, que resultam em fenômenos que podem

constituir-se como promotores ou limitadores ao desenvolvimento educacional. Dessa

forma, as questões que se configuram como problemas à Educação precisam ser

trabalhadas na escola. Para isso, esta instituição precisa contar com os serviços e

contribuições de profissionais que se proponham a pensar, discutir e intervir no âmbito

educacional, podendo ser eles pedagogos, assistentes sociais, fonoaudiólogos e psicólogos.

No presente estudo, tais fenômenos serão entendidos como demandas que a escola

produz e para as quais se espera o desenvolvimento de intervenções, objetivando que os

propósitos educacionais sejam alcançados. Segundo Del Prette e Del Prette (2008b, p.46),

“o termo demanda pode ser compreendido como ocasião ou oportunidade diante da qual se

espera um determinado desempenho”.

Observa-se que para grande parte dos problemas escolares espera-se a intervenção

do psicólogo. Essa expectativa frequente em diferentes componentes escolares, tais como

alunos, professores, gestores e demais funcionários, além da família, são fundamentadas

nas concepções que possuem sobre psicólogo, entendendo-o como um profissional que

sabe falar sobre tudo e é capaz de resolver todos os problemas, mesmo quando as questões

não são de sua área científica e de sua competência profissional.

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Assim, a partir desse entendimento equivocado das funções do psicólogo em

contextos educacionais, percebe-se um grande fluxo de demandas destinadas a eles,

gerando um excesso de atividades a serem realizadas. Com isso, diante do exposto, este

profissional precisa desenvolver intervenções capazes de contribuir efetivamente com os

processos educativos, sendo possíveis variadas formas de intervenções.

3.3 Intervenções possíveis

A partir do entendimento das inúmeras funções apontadas na literatura, do grande

número de demandas existentes na escola, e de que muitas destas são direcionadas ao

psicólogo, percebe-se que este se encontra no centro de uma dinâmica que se impõe para

sua atuação. De um lado estão as atribuições referentes às suas funções ensinadas na

formação (quando há) ou apresentadas nos artigos e livros da área (quando se busca), e do

outro estão as demandas que a instituição escolar encaminha para ele.

Assim, acredita-se que diante destas duas frentes, o psicólogo pode atender aquelas

demandas que foram direcionadas e que condiz com suas funções, ou pode (por motivos

diversos) atender as demandas encaminhadas e que não correspondem a suas atribuições.

Entende-se que esta última opção é prejudicial para a categoria profissional, uma vez que

desvirtua a real identidade do psicólogo nos contextos educacionais. Esta é outra

problemática da área escolar e educacional, a qual vem sendo combatida há algumas

décadas.

Além disso, assumir a responsabilidade sobre questões que não lhe diz respeito faz

com que a quantidade de serviços a serem realizados, que já são muitos, aumente

consideravelmente, roubando atenção e tempo de atividades que realmente seriam de sua

competência e para as quais possivelmente ele poderia oferecer efetivas contribuições, mas

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que pelo excesso de atividades acaba sendo negligenciada e maquiada com ações pontuais

e superficiais.

Para Curonici e McCulloch (1999), o psicólogo precisa ter bastante cuidado no

recebimento das demandas que chegam até ele, pois uma vez que se recebe uma demanda

(que não é de sua competência) como sendo sua, fará com que sejam encaminhadas outras,

criando um ciclo vicioso do qual será difícil fugir. Paradoxalmente, ele também não deve

simplesmente rejeitar a solicitação de intervenção, para que não sejam criadas resistências

quanto à sua presença. De forma estratégica, ele deve fazer a escuta do relato e não sendo

o caso de sua intervenção, explicar os motivos que o impedem de contribuir diretamente,

encaminhando a demanda a quem de direito.

Logo, de acordo com a postura de atuação defendida pelo psicólogo, ele irá

desenvolver intervenções em forma de atividades e serviços. Essas intervenções são

bastante diversas em possibilidades, podendo ser classificadas de acordo com o objetivo da

atividade, ou do público alvo a quem se direciona as ações.

3.3.1 Estruturação dos serviços

Em muitos casos, antes mesmo de desenvolver as intervenções propriamente ditas,

o psicólogo precisa realizar um trabalho inicial de estruturação dos serviços de Psicologia.

Geralmente isso acontece quando o psicólogo inicia seu trabalho em uma escola que nunca

houve tal profissional em seu quadro técnico. Entretanto, apesar dos componentes da

escola não terem tido contato com intervenções e práticas psicológicas na instituição onde

trabalham, eles possuem concepções sobre o psicólogo e, como citado anteriormente, estas

geralmente referem-se a uma atuação clínica.

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Por isso, Souza (2011), identificou em sua pesquisa que ao iniciar um serviço de

psicologia escolar numa escola o primeiro desafio do psicólogo é identificar qual o

entendimento que os gestores, professores e alunos possuem sobre o psicólogo, seu papel e

o que esperam de sua atuação. Isso se faz importante porque estas informações

possibilitará ao psicólogo fazer uma análise melhor das expectativas a seu respeito e

também sobre como estabelecer relações funcionais com os outros profissionais, com a

gestão e com os alunos.

Ainda, com base nessas informações o psicólogo pode avaliar a necessidade de

realizar esclarecimentos quanto às funções e as possibilidades de sua atuação, ou seja,

percebendo que determinada escola possui concepções que não se refiram ao seu real

papel, ele pode desenvolver estratégias que busquem esclarecer sobre essas questões. Essas

estratégias devem buscar apresentar um pouco da história da PEE e de sua evolução

teórica (início com caráter clínico e o gradativo afastamento das práticas clínicas),

procurando mostrar que algumas concepções que existem têm respaldo histórico, mas que

atualmente não condiz com sua identidade profissional. Além disso, apresentar funções e

possibilidades de intervenções coerentes com o que determina o Conselho Federal de

Psicologia (CFP), bem como apresentar dados de pesquisas de boas intervenções

realizadas em escolas também se constituem como boas táticas.

Outro passo necessário na estruturação dos serviços de Psicologia na escola é a

realização de uma análise minuciosa da instituição, buscando verificar os diferentes

aspectos dela, independente das demandas ofertadas inicialmente pelos gestores ou

coordenadores pedagógicos, ou seja, obter o máximo de informações sobre toda a

dinâmica escolar, através inclusive do que não foi dito sobre ela. Isso pode ser feito de

diversificadas formas, a partir de observações nos diversos ambientes da escola, conversas

e entrevistas com os diferentes componentes dela (Correia e Campos, 2004).

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Os referidos autores apontam que esta análise pode acontecer em dois campos o

pedagógico e o relacional. No pedagógico, a análise pode ser feita buscando identificar as

concepções da escola sobre os fenômenos educativos (como entendem o fracasso escolar,

por exemplo), a quem costumam atribuir a causalidade deles, as referências teóricas que

fundamentam suas práticas, e qual a postura e as ações dos técnicos e professores frente a

essas questões, bem como a identificação de como os gestores lidam e interferem nesses

fenômenos, na dinâmica da escola e nos processos educativos. Já no campo relacional,

deve-se analisar como são as relações entre os componentes e os diversos grupos, as

interações que ocorrem entre os diversos sistemas (aluno-aluno; aluno-professor;

professor-professor; família-professor; família-escola; etc).

Para Correia (2004), é interessante também nessa análise da instituição considerar o

Organograma e o Projeto Político Pedagógico da Escola (PPPE), como importantes

instrumentos de coleta de informações. Sendo necessário, portanto, realizar um estudo e

uma análise comparativa entre o que está escrito e proposto neste documento com as

concepções e práticas realmente desenvolvidas na escola. Segundo esta autora, geralmente,

projeto e práticas costumam distanciar-se um do outro, ou seja, pouco do que é planejado

para a escola é desenvolvido nela. Assim, essa percepção deve ser tomada como um objeto

de análise e intervenção.

Após a análise da instituição, é possível a elaboração de uma espécie de

diagnóstico institucional, contendo os fenômenos identificados (problemas e

potencialidades), seus produtores (causas) e produtos (consequências), bem como as

mudanças necessárias a serem implementadas. Isso pode ser feito sob a forma de um

relatório, o qual poderá ser apresentado na íntegra ou parcialmente aos gestores e demais

interessados. Dessa forma, com base neste diagnóstico, pode-se pensar quais as

intervenções podem ser executadas, devendo-se partir sempre daquilo que é prioritário e

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possível ao momento e contexto da escola, criando um plano de ações, com objetivos

claros a serem alcançados, prazos, recursos (humanos e materiais) necessários, e a

delimitação de responsabilidades de cada componente envolvido em cada demanda

(Correia e Campos, 2004).

Ainda segundo estes autores, esse primeiro momento de estruturação dos serviços

de Psicologia é muito importante para a efetividade da atuação do psicólogo no contexto

escolar, pois incide sobre as atividades planejadas que serão desenvolvidas posteriormente.

Essas ações posteriores à estruturação são chamadas por eles de ações periféricas, as quais

podem conter intervenções relacionadas ou direcionadas a um componente específico da

escola, seja professores, pais, alunos ou demais grupos, sendo estas apresentadas nos

tópicos a seguir.

3.3.2 A atuação com professores

Como vimos, uma atuação crítica e pautada num compromisso real com as

questões educacionais, precisa estar relacionada a todos os componentes da escola. Dentre

todos eles um dos principais profissionais que podem auxiliar o trabalho do psicólogo é o

professor, uma vez que é ele quem está inserido nos diversos sistemas (professor-aluno,

professor-gestor, professor-família), além deste também estar frequentemente nas salas de

aulas, interagindo com os alunos, onde muitas vezes se manifesta boa parte das demandas.

Souza e Silva (2013), apresentam algumas situações em que o psicólogo pode desenvolver

intervenções junto aos professores, são elas:

Potencializar a atividade de ensino-aprendizagem dos professores; de melhorar a

relação professor aluno; auxiliar na identificação de reais dificuldades de

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aprendizagem; acolhimento e orientações a questões de conflitos no trabalho, bem

como orientá-los quanto à forma de lidar com alunos com necessidades de cuidados

especiais (p. 189).

Para Santana e Lima (2010), muitos professores não estão aptos para identificar as

dificuldades de aprendizagens dos seus alunos (tais como a dislexia, a descalculia, o

TDAH, dentre outras), entendendo essas limitações como um mau comportamento, uma

questão de desinteresse do estudante ou até mesmo de baixa inteligência. Através de um

trabalho conjunto com os professores, a partir de conversas com eles para entender a

demanda de um aluno, de conversas com os próprios discentes e se necessário com seus

pais ou responsáveis, pode ser possível a identificação da existência de reais dificuldades

de aprendizagem, para as quais caberão intervenções adequadas para cada caso e

encaminhamentos a outros profissionais e redes, quando necessário.

Entretanto, na realização desta atividade existem limitações a serem superadas pelo

psicólogo, primeiro ele tem que possuir um aporte teórico, sobre dificuldades de

aprendizagem, que favoreça essa identificação com base em critérios éticos e científicos;

em segundo lugar, precisa lidar com as expectativas do professor que o busca (até com

certa frequência) esperando dele uma intervenção pontual, que retire o aluno da sala de

aula, para um possível “tratamento” ou “conversa”; e em terceiro precisa trabalhar a

resistência dos professores em pensar a questão da aprendizagem de forma mais ampla,

incluído a si mesmo e sua pedagogia na busca de melhorias, uma vez que geralmente os

professores colocam a culpa da não aprendizagem apenas nos alunos e, às vezes, na falta

de estrutura das escolas (Santana & Lima, 2010).

Curonici e McCulloch (1999) propõe um modelo de intervenção junto ao professor,

o qual chama de intervenção mediada. Para estas autoras o psicólogo precisa ser

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estratégico no trabalho junto a este profissional tanto para evitar resistências, quanto para

não reforçar as representações equivocadas que possam existir quanto ao seu papel. Assim,

um dos primeiros princípios propostos por elas é que o psicólogo ao se colocar num

trabalho com o professor, não se apresente com uma postura de especialista, cheio de

certezas e como único capaz de conhecimentos relacionados à resolução da demanda. Pelo

contrário, o entendimento que o psicólogo precisa ter é de que, na verdade, o professor é

que possui os conhecimentos necessários para que a demanda seja compreendida em toda

sua complexidade e também está nele grande parte dos recursos de intervenção para

solucioná-la. O trabalho do psicólogo é então ajudá-lo a descobrir isso. A partir desta

perspectiva o psicólogo cumpre uma função importante: devolver a autonomia ao

professor, para que este consiga desenvolver suas atividades funcionalmente na sala de

aula.

Geralmente quando um professor procura o psicólogo ele acredita não ser mais

capaz de lidar com a questão para qual busca ajuda. Além disso, esta queixa que ele faz

traz uma opinião parcial da questão, que não os inclui entre os possíveis responsáveis pela

produção do problema. Assim, se existem culpados para o problema ou é o próprio aluno,

pelo seu mau comportamento, ou é a família, pela sua desestruturação e negligência. De

acordo com Curonici e McCulloch (1999), é muito comum no relato de uma queixa os

professores terem uma atitude de desqualificação da família, culpabilizando-a pelo

fracasso do aluno. Segundo as autoras essa postura serve como uma espécie de escudo para

o sentimento de impotência frente ao fracasso. Porém, apesar desta atitude ser funcional

para o professor, ela se coloca como um problema para a escola, pois quanto maior a

culpabilização da família e a desresponsabilização do professor, menor serão os esforços

empreendidos para trabalhar as demandas.

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Devido a isso, o psicólogo ao receber a queixa do professor, deve entender que há

sim um problema, mas que provavelmente ele não se reduz ao que foi relatado. Com isso,

o psicólogo deve buscar ampliar a visão do docente quanto à questão apresentada,

levando-o a ver fatores que eram até então desconsiderados por ele. O propósito principal

nesse primeiro contato é orientar o professor a olhar de forma mais criteriosa a

problemática, levando-os a encontrar respostas e soluções a partir de suas próprias

observações, redefinindo o problema. Ao fazer isso o psicólogo transforma a queixa (que

até então era um problema, visto de forma negativa) em uma demanda (que é um objetivo

a ser alcançado), compreendida de forma mais completa e adequada (Curonici &

McCulloch, 1999).

Após definida qual é então a demanda a ser trabalhada, eles elaboram juntos as

possíveis ações a serem realizadas para que o próprio professor as desenvolva, uma vez

que além de resolver a questão o objetivo é aferir autonomia a este profissional. Esse é o

grande diferencial da proposta das intervenções mediadas: o centro realizador da

intervenção não é o psicólogo, mas o docente. Dessa forma, após definir o lugar e as

modalidades de intervenção, o psicólogo estabelece um contrato de colaboração com o

professor, definindo papéis a serem assumidos e a responsabilidade de cada um (a fim de

que se evitem maus entendidos), delimitando prazos curtos para que as mudanças

estabelecidas sejam percebidas, fortalecendo ainda mais a ideia de que é possível sim ele

mesmo, o professor, lidar com as questões que insurgem na sala de aula (Curonici e

McCulloch, 1999).

Para aquelas situações em que, no diálogo entre psicólogo e professor, for definido

que não há como o professor sozinho realizar as intervenções, o psicólogo então passa de

forma mais direta a desenvolver ações junto aos alunos.

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3.3.3 A Atuação com alunos

Acredita-se que grande parte dos problemas que ocorrem nas escolas incidam sobre

o aluno, até mesmo por seu maior número de componentes, sendo importante frisar que

apesar dessa incidência ser grande neste público, isso não significa que é ele o único

produtor de demandas, uma vez que a ideia que se defende neste estudo é que as demandas

surgem a partir das interações entre os componentes que constituem o processo educativo.

Assim, os alunos constituem-se também como um alvo das intervenções do

psicólogo objetivando contribuir na qualidade do desenvolvimento educacional deles,

sendo diversas as possiblidades de ações para este público, tais como orientação

profissional, escuta e atendimento individual, observação e visitas as salas de aula,

avaliações psicodiagnósticas, grupos operativos, educação especial, campanhas

informativas, projetos, dentre outros (Martinez, 2010; Souza, 2011).

Para Martinez (2010), a atividade mais tradicional do psicólogo nas escolas é a

avaliação diagnóstica, devido ao fato já apresentado de que durante muito tempo a função

entendida e desenvolvida pelos psicólogos escolares e educacionais era de uma atuação

clínica. Entretanto, segundo esta mesma autora, durante os últimos anos essa atividade

tem sido desenvolvida de uma forma diferenciada, levando-se em conta outros fatores para

produção desta avaliação, como o contexto no qual ele está inserido, bem como outras

técnicas além do atendimento individual e exclusivo com os alunos, buscando entender a

demanda no contato com os professores, familiares e outros técnicos da educação que

fazem parte da escola, como pedagogos e assistentes sociais.

Apesar de tais mudanças, observa-se que essa atividade ainda é desenvolvida, ou na

escola ou deslocada dela, em Centros de Referência de Educação Especial, vinculados as

Secretarias Estaduais e Municipais de Educação. Nestes locais são realizados atendimentos

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a alunos que são encaminhados pelas escolas da Rede Pública, levando-se em conta no

diagnóstico apenas a escuta do aluno e do familiar responsável. Em Aracaju-SE, por

exemplo, a avaliação diagnóstica feita baseia-se nas informações recolhidas, geralmente,

em dois atendimentos realizados com o aluno e seus pais ou responsáveis e com aplicação

de testes psicológicos. Depois de concluída, além de fazer uma devolutiva para os pais,

elabora-se um relatório diagnóstico que é encaminhado para a escola onde o aluno estuda,

para que lá sejam desenvolvidas intervenções de acordo com suas necessidades de

aprendizagem (Souza, 2011).

Entende-se que este tipo de ação, apesar de ser realizado fora da escola, está

diretamente ligado a esta e causa um real impacto nela, podendo produzir rótulos nos

alunos com os quais não são desenvolvidas intervenções adequadas pela falta de

profissionais capacitados. Entretanto, ainda segundo Souza (2011), para os psicólogos que

participaram dessa pesquisa, o trabalho que desenvolvem é importante pois “ajuda as

escolas a conhecer melhor aqueles alunos que estavam sob suspeita de terem alguma

dificuldade de aprendizagem, deficiência física ou mental e, com base no diagnóstico,

poder trabalhar melhor suas dificuldades (p.45)”, embora reconheça que para que isso seja

efetivo a instituição escolar deve ter uma estrutura, com profissionais capacitados, para

que essa ferramenta seja trabalhada de forma positiva para o aluno, ao invés de limitá-lo,

rotulá-lo ou excluí-lo.

Curonici e McCulloch (1999), são contrárias as intervenções compreendidas fora

do contexto escolar. De acordo com elas, se um problema surge na escola, é nela e partir

dela que o problema precisa ser refletido, debatido, compreendido e solucionado, ou seja, a

escola que produziu a demanda tem os recursos para trabalhá-la. Sendo assim, avaliações

diagnósticas solicitadas pela instituição escolar, mas que são feitas em clínicas ou Centros

de Referência, e que não levam em consideração outros fatores além do aluno e da família,

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podem não ser capazes de produzir mudanças efetivas às problemáticas manifestadas

dentro da escola.

Outra atividade realizada (que até mesmo potencializa a avaliação

psicodiagnóstica), são as visitas às salas de aula, que podem possibilitar os psicólogos a

observação do contexto de aprendizagem dos alunos (pedagogia utilizada pelo professor,

relação professor-aluno, interações entre pares; dentre outros) com o intuito de, mediante

suspeita, identificar a existência de possíveis dificuldades de aprendizagem (DA) ou de

ensino e planejar intervenções (Souza, 2010).

Apesar das fortes críticas ao atendimento individual, a escuta ao aluno é uma

atividade comum na atuação de muitos psicólogos. Para Martinez (2010) e Almeida

(2008), esta ação é importante, uma vez que ela permite o conhecimento de questões que

requerem outras intervenções, bem como uma melhor compreensão da dinâmica dos

alunos ou grupo, desenvolvendo atividades que ajudem na superação de dificuldades

concretas e contribuindo na elaboração de recursos psicológicos importantes para a

eficácia educacional. Entretanto, esses atendimentos não devem possuir um caráter de

psicoterapia, apenas de acolhimento e aconselhamento. Assim, sendo identificada a

necessidade de um acompanhamento clínico, se deve fazer o encaminhamento às redes de

apoio.

Ainda, a escuta aos alunos pode ajudar na identificação de questões semelhantes

entre os alunos que precisam e podem ser alvo de intervenções coletivas. Isso pode ser

feito através da realização de grupos operativos (Souza, 2011). Conforme Patias e Gabriel

(2011), entende-se por grupo operativo um coletivo de pessoas reunidas a fins de

realização de uma tarefa. Tal grupo pode ser desenvolvido para reflexão e resolução de

questões, possibilitando conhecer um determinado tema de forma abrangente, a partir das

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diferentes percepções das pessoas que o compõe, sendo inclusive bastante úteis na

resolução de conflitos interpessoais.

Nesses grupos de trabalhos com os estudantes, podem ser trabalhados diversos

temas como relações humanas e interpessoais, abuso de álcool e drogas, relacionamento

familiar, juventude e sexualidade, trabalho e profissão, mídia, consumo, etc. No livro

Experiências Profissionais na Construção de Processos Educativos na Escola, elaborado

pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2010), há relatos de experiências deste tipo. De

acordo com os relatos desses profissionais, muitas vezes percebe-se um boa implicação

dos alunos com as atividades propostas a cada encontro, levando muitos deles a obter um

maior comprometimento também com a escola e suas questões.

3.3.4 A atuação com a família

Outro grupo importante que deve ser levado em conta são os familiares,

constituindo-se também como atividades realizadas pelos psicólogos (Martinez, 2010;

Neves et al, 2002). Acredita-se que problemas provenientes do contexto familiar, tais

como a separação conjugal; o abuso infantil; e a violência doméstica; são fatores que

podem interferir no aluno e consequentemente no seu aprendizado (Souza, 2012). Além

disso, a família constitui-se como a primeira fonte de aprendizagem do aluno e é nela que

ocorrem as primeiras interações sociais.

Por esse motivo a escuta da família em muitos casos é importante (Leite & Valle,

2003). Muitas vezes essa ação pode ser desenvolvida através do convite do psicólogo, que

o faz buscando conhecer qual o contexto familiar que um determinado aluno (que

apresenta alguma dificuldade) está inserido, para compreender de forma mais completa

todos os fatores que estão incidindo sobre sua dinâmica; ou por vontade dos próprios

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familiares que buscam o serviço por algum motivo. Esse diálogo pode acontecer com o

objetivo da realização de devolutivas quanto a alguma questão escolar manifestada no

aluno, sobre formas de lidar com a situação e, se houver necessidade, quais devem ser os

encaminhamentos; e ainda dar orientações diversas que precisem ser conhecidas pelos pais

para a promoção educacional do aluno.

Porém, acredita-se que esse trabalho com os pais não pode ser feito no sentido

estritamente informativo de problemas, muito menos culpabilizador. O objetivo da busca

desse contato é criar também na família uma dinâmica de colaboração que promova o

aluno e o ambiente escolar. Dessa forma, uma intervenção importante a ser feita pelos

psicólogos é criar estratégias para promover uma aproximação entre a família e a escola,

bem como a escola e a família, pois esta relação se faz importante para o desenvolvimento

educacional do aluno, devendo ser reforçada e promovida. Segundo Melo, Silva e Santana

(2013), grande parte dos professores reclamam sobre a falta de participação da família no

processo educativo do discente, não ajudando-o nas tarefas escolares, não incentivando-os

e motivando-os para estudar e não participando das reuniões de pais realizadas pelas

escolas.

Entretanto, observa-se que as reuniões de pais realizadas na escola, geralmente, são

feitas para expor problemas comportamentais dos alunos a seus pais e ainda de forma

culpabilizadora a eles. Isso talvez faça com que muitos pais não se interessem e

desacreditem da efetividade e importância da participação em reuniões como essas.

Encontros como estes são importantes para promover a aproximação entre família e escola,

mas a forma como elas são desenvolvidas precisam ser repensadas e bem elaboradas, com

o claro objetivo de criar um sentimento e atitude de verdadeira participação e colaboração

dos pais com a escola no processo educativo de seus filhos, levando-os ao entendimento de

seu papel e importância nesse processo. Vale ressaltar que o alcance desse objetivo não

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deve ser buscado apenas através de reuniões de pais, mas em outros formatos e projetos,

tais como a realização de grupos operativos.

Souza e Silva (2013), encontraram em sua pesquisa a realização de grupos

operativos com pais, onde eram trabalhados temas oportunos, identificados a partir da

escuta e acolhimento aos pais e alunos, tais como educação, cidadania, diversidade sexual

e violência doméstica. Entretanto, na literatura pesquisada foi encontrado um número

pequeno de produções ou relatos de experiências realizadas por psicólogos com a família,

que apresentassem intervenções inovadoras e rompessem com o caráter de reclamação de

problemas.

3.3.5 Outras possibilidades de atuação no contexto escolar

Ainda, dentro do espaço escolar, o psicólogo pode desenvolver ações voltadas para

os funcionários, sempre que precisar. Entende-se que este tipo de atividade se faz

necessário, pois muitas vezes esses componentes podem limitar a qualidade do

desenvolvimento educacional de um aluno. Um exemplo é a perpetração de preconceitos

contra grupos minoritários na escola, bem como assédio moral a alunos, dentre outros.

Para estes profissionais também são possíveis a realização de grupos de trabalho que

abordem questões como as que foram citadas acima, bem como de outras que estejam

intervindo na dinâmica institucional e incidindo na ineficácia do objetivo da escola.

Assim, uma vez fazendo parte da escola, esses componentes interagem em grande

parte dos processos presentes na instituição, podendo promover ou dificultar o bom

funcionamento da dinâmica institucional. Apesar de importantes, estas não são práticas

comuns ao psicólogo escolar, sendo consideradas por Martinez (2010) como atividades

emergentes. Ainda, alguns profissionais da própria Psicologia Escolar e Educacional

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criticam a realização destas atividades por entenderem-nas como práticas organizacionais e

não referentes à área escolar e educacional.

Outra ação desenvolvida pelo psicólogo nas escolas refere-se aos encaminhamentos

feitos para outros profissionais como psicoterapeutas, médicos, fonoaudiólogos,

psicomotricistas, dentre outros, bem como para as redes de serviços como Centro de

Referência da Assistência Social (CRAS), conselho tutelar, postos de saúde, etc (Marçal,

2010). Tais direcionamentos são feitos quando há a impossibilidade de realizá-los dentro

da escola, seja por limites institucionais como a falta desses profissionais no quadro de

funcionários, ou pelo fato de que a demanda realmente precisa ser trabalhada fora do

contexto educacional, no caso das psicoterapias por exemplo. Porém, Martinez (2010),

alerta que o encaminhamento precisa ser o último recurso utilizado, após esgotarem-se

todas as alternativas e possibilidades de intervenção na escola, pois as consequências do

encaminhamento podem ser muito danosas ao aluno, que na maioria das vezes volta

apenas com um rótulo diagnóstico.

Por fim, conclui-se que o psicólogo em sua atuação profissional dentro das escolas

encontra-se numa situação dialética entre as funções apresentadas como suas pela literatura

e as demandas solicitadas a ele pela escola, sendo suas intervenções uma espécie de síntese

desse diálogo. Essas ações consistem em necessárias contribuições a qualidade dos

processos educativos, quando realizadas de forma adequada levando-se em conta todos os

avanços no entendimento de como o psicólogo deve se inserir no contexto educativo e de

como que ele deve conceber a escola, seus componentes e seus processos.

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CAPÍTULO IV

MÉTODO

Neste capítulo, serão apresentados os recursos metodológicos escolhidos para o

desenvolvimento da presente pesquisa. Ademais, para o alcance dos objetivos propostos,

optou-se por um estudo de cunho qualitativo, com caráter exploratório e descritivo,

caracterizando-se como exploratório, pela ausência de informações sobre o objeto tomado

para a investigação, e descritivo uma vez que objetiva-se conhecer e interpretar uma

determinada realidade (Rudio, 1996), bem como descobrir a existência de associações

entre fatores (Gil, 2008). Ainda, de acordo com Gil (2008), as pesquisas exploratório-

descritivas são geralmente utilizadas por pesquisadores sociais que preocupam-se com

atuações práticas.

2.1 Participantes

A pesquisa de campo foi realizada com 14 psicólogos que atuam na rede de

educação básica de Sergipe, sendo oito da rede particular, quatro da rede pública municipal

e dois da rede pública federal. Estes participantes foram escolhidos de maneira intencional,

utilizando-se como critério de inclusão sua composição no quadro de funcionários das

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85

respectivas redes de educação; e por conveniência, levando-se em conta a aceitação e a

disponibilidade destes.

2.2 Procedimentos

Inicialmente, foi feito um levantamento, nas redes públicas e privadas de Educação

de Sergipe, objetivando identificar a existência e localização de psicólogos que fizessem

parte de seus quadros de funcionários. Para a realização do levantamento na rede

particular, foi solicitada à Federação dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do

Estado de Sergipe (FENEN-SE), uma lista com o contato das escolas particulares do

estado. Após concedida a solicitação, com base nesta lista, foi estabelecido contato com as

escolas, por telefone, para saber se na respectiva escola existia algum psicólogo na grade

de funcionários e que atuasse como tal. Então, estabeleceu-se contato com 84 escolas das

quais 28 responderam positivamente à existência desse profissional em seu quadro, sendo

que em algumas delas existiam mais de um. Com isso, apurou-se que há o total de 32

psicólogos que atuam em contextos educacionais na rede particular.

Quanto ao levantamento na rede pública de ensino, nesta rede houve mais

dificuldades para realização do levantamento uma vez que esta possui um grande numero

de escolas. Na rede pública federal a identificação foi breve, sendo encontrados cinco

psicólogos, distribuídos em cinco campus de cinco cidades sergipanas.

A partir de pesquisa anterior (Souza, 2011), sabia-se que na rede estadual existiam

10 psicólogos, sendo que oito estavam lotados no Centro de Referência em Educação

Especial de Sergipe (CREESE) e dois trabalhavam em duas escolas estaduais em Aracaju.

Mesmo assim, devido ao fato de já se passarem dois anos, observou-se a necessidade de

novo contato com a respectiva rede para confirmação e identificação da presença de

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86

psicólogos escolares e educacionais em seu quadro. Ao estabelecer contato por telefone,

foi informado que existiam alguns psicólogos naquela rede, sendo que alguns deles

estavam no CREESE e outros estavam em escolas, mas que não sabiam informar quais

escolas eles estavam lotados e quantos eram.

Em relação à rede pública municipal, dos 75 municípios sergipanos foram

identificados apenas seis psicólogos vinculados às Secretarias Municipais de Educação

(SEMED), distribuídos em quatro municípios do interior do estado, que por motivos de

sigilo não serão aqui elencados. O contato com alguns municípios sergipanos não foi

possível por diversos motivos, tais como o número de telefone disponível estar errado ou

não completar a ligação; ninguém atender a ligação, mesmo estas sendo feitas em dias e

horários diferentes; as atendentes não saberem responder, mesmo fazendo-se ligações

posteriores para obtenção de reposta.

Para superar essas limitações, uma última tentativa para identificar os psicólogos

que atuam em contextos educacionais no estado de Sergipe foi feita através do Conselho

Regional de Psicologia (CRP), sessão 19. Na época do levantamento da amostra, o CRP

19, recém- separado do estado da Bahia, estava se estruturando e tinha acabado de fazer

um recadastramento com os psicólogos do estado. Esse recadastramento foi realizado

utilizando um formulário que solicitavam algumas informações, dentre elas o local e área

de trabalho do referido profissional. Com isso, foi solicitado ao CRP, o acesso a tais

formulários, com o objetivo de realizar uma pesquisa documental para identificar

psicólogos que trabalhassem na área escolar e educacional, respeitando-se o sigilo das

demais informações contidas no formulário. Sendo concedida a solicitação foram

agendados alguns dias e a pesquisa desenvolvida.

A partir de todas essas formas de levantamento foram encontrados 45 psicólogos

que atuam em contextos educacionais (escolas e/ou secretarias de educação), sendo 13 da

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rede pública e 32 da rede particular, dos quais foram retirados os 14 participantes previstos

para a realização da pesquisa, de acordo com a disponibilidade e a aceitação deles.

Para isso, foi feito um segundo contato com estas escolas, dessa vez com o objetivo

de agendar uma conversa com os psicólogos. Entretanto, em muitas delas não foi possível,

pois o psicólogo estava constantemente ocupado e não podia atender a ligação, até mesmo

ligações realizadas em outros dias e horários diferentes. Outra limitação encontrada para o

agendamento com os psicólogos da rede particular é que em algumas escolas na tentativa

de conversar previamente com o psicólogo, foi identificado que na verdade na escola havia

era um psicopedagogo, sem formação em Psicologia, reduzindo para pouco mais de 20 o

número desses profissionais nesta rede.

Para suplantar tais obstáculos o contato com os demais psicólogos foi feito na

própria escola, o que exigiu a visita à instituição por mais de uma vez, devido ao fato

destes profissionais estarem sempre ocupados em atendimentos ou realizando atividades

pela instituição. Por fim, oito psicólogos aceitaram conceder a entrevista, com os quais foi

agendado um dia e horário para a realização destas. Já o agendamento dos psicólogos da

rede pública aconteceu através de telefone pessoal, dos quais seis aceitaram participar da

pesquisa.

Os agendamentos das entrevistas foram realizados respeitando sempre a

disponibilidade do entrevistado. Depois de agendadas, as entrevistas foram realizadas no

dia e horário marcado, havendo por algumas vezes a necessidade de remarcação devido à

impossibilidade do entrevistado participar. Em relação ao local de realização, uma grande

parte dessas entrevistas aconteceu no local de trabalho dos psicólogos, sendo esta uma

solicitação feita no agendamento. Entretanto, com aqueles que por motivos pessoais não

quiseram conceder a entrevista in loco, esta foi realizada num local de sua preferência,

ocorrendo numa clínica particular, na biblioteca de universidade e na residência. O tempo

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88

dessas entrevistas variaram entre 36 minutos a 1 hora e 33 minutos. Ainda, para a coleta

dos dados foi utilizado um gravador de voz, com o qual foram registradas todas as

entrevistas.

2.3 Instrumento

A referida pesquisa foi desenvolvida através de entrevistas semiestruturadas com

base num questionário (APENDICE A), cujas questões pré-estabelecidas referiam-se aos

objetivos propostos neste estudo. Este questionário foi dividido em duas partes, a primeira

buscou informações sobre dados pessoais e em relação ao perfil profissional dos sujeitos,

tais como formação, tempo que atua na área, horário de trabalho, salário e especializações;

e sobre características gerais do local de trabalho como níveis de ensino que atendem e se

possuem outros profissionais de psicologia.

Já a segunda, procurou descrever a atividade profissional do psicólogo na escola,

investigando especialmente questões referentes à sua formação acadêmica, as motivações

para escolha, ideia de permanência na área, funções atribuídas e desenvolvidas, modelos

de atuação, dificuldades encontradas na realização das intervenções e sua satisfação

profissional com a área em que trabalha. Outrossim, antes de realizar a coleta dos dados, o

questionário foi submetido a um pré-teste, no qual foi avaliado a efetividade do mesmo

para o alcance dos objetivos, sendo feitas algumas modificações que se mostraram

necessárias.

2.2.4 Análise dos dados

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89

Segundo Gunther (2006), após a coleta dos dados de uma entrevista, a transcrição

desse material deve ser feita de forma literal e completa, informando inclusive emoções e

entonações na fala. Desta forma, com base nas informações registradas nas entrevistas, foi

realizada a transcrição dos dados, os quais foram submetidos à análise, segundo os

pressupostos da análise de conteúdo de Bardin. Para Bardin (2008), a análise de conteúdo

possui funções básicas e uma delas é a que visa promover a pesquisa exploratória

oferecendo a ela a descoberta de conteúdos para que seja possível conhecer o fenômeno

estudado.

Deste método, utilizou-se especificamente a forma temática ou categorial, cuja

proposta é a categorização dos relatos através da pré-análise, da exploração do material e

do tratamento dos resultados obtidos pelas interpretações e inferências (Bardin, 2008). A

partir disso, os dados foram submetidos a uma pré-análise, através de leitura flutuante feita

desde a construção dos aspectos teóricos até o momento da transcrição (com a escuta das

falas), permitindo um pano de fundo para a análise subsequente. Posteriormente, o material

transcrito foi lido detalhadamente, analisado, ordenado sistematicamente em categorias e

subcategorias segundo as semelhanças de temas, e enumerado de acordo com a frequência,

para com isso serem realizadas as possíveis inferências e discussões dos resultados.

Um exemplo do referido processamento dos dados colhidos, feito com base na

análise de conteúdo categorial, pode ser observado no quadro 1 a seguir:

Quadro 1. Exemplificação do processo de categorização feito a partir das falas

Processo de categorização

Trechos de falas Núcleo de sentido Subcategoria Categoria

Sempre gostei da área de

educação. Costumo dizer que

veio na genética, porque assim

eu tive tios que tiveram

escolas, minha mãe formou em

pedagogia, atuou em

coordenação escolar e eu

Influência

familiar associada

à escolha

Atuar na área foi

uma escolha

Fatores que

motivaram a

escolha

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90

sempre tive muita vontade

(P8).

...eu avalio como muito boa,

eu fiz o meu estágio e embora

eu não tenha feito em escola

pública a gente desenvolveu

várias ações e a professora

dava um suporte muito bom e

tinha uma associação muito

boa entre teoria e prática (P9).

Avaliação

Positiva

Associação entre

teoria e prática

Avaliação da

formação em

relação ao preparo

à atuação

Formação em

Psicologia e o

preparo à

atuação em

contextos

educacionais

Ainda, conforme Bardin (2008), a análise de conteúdo permite a realização de

operações estatísticas simples como as porcentagens, por exemplo, para a criação de

figuras, quadros e tabelas que colocam em evidência alguns tipos de informações. Sendo

assim, a partir da enumeração dos enunciados, foram utilizados cálculos de médias e

porcentagens na apresentação de alguns resultados.

2.2.5 Critérios éticos

Outrossim, é importante destacar que esta pesquisa respeitou os padrões éticos e

legais para pesquisas com seres humanos e utilizou o documento de ética necessário para a

referida atividade. Assim, antes da realização das entrevistas foi lido pelo pesquisador o

termo de consentimento livre e esclarecido (APENDICE B), o qual foi posteriormente

assinado pelo entrevistado. Além disso, os dados coletados foram tratados com o devido

sigilo, sendo preservadas as identidades dos participantes.

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91

CAPÍTULO V

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste capítulo serão apresentados os resultados e as discussões possíveis a partir

das inferências realizadas, através de cinco categorias, sendo elas: Caracterização do Perfil

dos Psicólogos Escolares e Educacionais; Concepções sobre o papel do psicólogo; Fatores

que motivaram a escolha da área escolar e educacional; Formação em Psicologia e o

preparo à atuação em contextos educacionais; e Atuação desenvolvida.

5.1 Caracterização do Perfil dos Psicólogos Escolares e Educacionais

5.1.1 Sexo e idade

A partir dos dados foi possível observar que o campo da psicologia escolar e

educacional é predominantemente constituído por mulheres, uma vez que 13 (92,8 %) dos

14 entrevistados são do sexo feminino. Esta identificação assemelha-se a resultados de

pesquisas relacionadas às características dos psicólogos no Brasil, como o estudo realizado

pelo CFP em 1988, que identificou que 86,6% dos psicólogos brasileiros eram mulheres.

Passados 20 anos, Bastos, Gondim e Rodrigues (2010) mostraram que essa predominância

feminina ainda existia, ao identificar que 83,3% dos profissionais eram do sexo feminino.

Os dados em Sergipe podem ser visualizados na tabela 1:

Tabela 1. Idade e sexo dos psicólogos participantes

Participantes Idade Sexo

P1 26 F

P2 30 F

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P3 28 F

P4 29 M

P5 37 F

P6 45 F

P7 28 F

P8 34 F

P9 31 F

P10 29 F

P11 31 F

P12 26 F

P13 33 F

P14 33 F

Conforme se observa na tabela 1, em relação a idade, a média encontrada foi de

aproximadamente 31 anos, sendo que o psicólogo de menor idade tem 26 anos e o de

maior idade possui 45. Nesse aspecto a média encontrada nesta pesquisa é menor do que a

encontrada em pesquisas relacionadas à realidade do perfil profissional, sendo a média

nacional de 36,7 anos (Bastos, Gondim & Rodrigues, 2010), bem como em outros locais,

como São Paulo, com média de 40 anos (Souza, 2010) e Minas Gerais, com média de 39

anos (Silva et al, 2012).

5.1.2 Tipo de instituição formadora, tempo de formação e tempo que atua na área

De acordo com a tabela 2, a formação dos psicólogos entrevistados se deu

predominantemente em instituições particulares (71,5%), em detrimento das instituições

públicas (28,5%), dado este muito semelhante ao encontrado na pesquisa realizada na

Bahia, com 71,4% (Viégas, 2012). Em Sergipe, existem quatro Instituições de Ensino

Superior (IES) que oferecem a formação de graduação em Psicologia. Dentre as três IES

da rede particular, apenas duas foram citadas, não havendo diferença significativa entre

elas, sendo que 55, 5% compõe a formação em uma e 45,5 % em outra IES da rede

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privada. Ainda, de todos os entrevistados apenas um se formou em IES fora do estado de

Sergipe.

Tabela 2. Tipo de instituição que se formou

Tipo de Instituição N %

Privada 9 71,5

Pública 5 28,5

TOTAL 14 100

Segundo Souza (2010), em relação à categoria acadêmica das instituições, existe

uma classificação entre faculdades, centros universitários e universidades. Dessa forma,

com base nesta classificação, observa-se que em Sergipe as IES que formam psicólogos se

dividem equitativamente entre Faculdades (50%) e Universidades (50%), porém na

pesquisa em São Paulo, identificou-se que 71,5% dos psicólogos possuem formação em

Instituições classificadas como Universidades. Na pesquisa nacional também foi

evidenciado a predominância da universidade com 57,1 % das formações (Bastos, Gondim

& Rodrigues, 2010). A identificação destes dados se faz importante, pois eles serão

utilizados como parâmetros para análise a ser desenvolvida no capítulo em que será

discutida, mais especificamente, a formação acadêmica dos participantes.

Tabela 3. Tempo de formação

Intervalo de tempo N %

0 a 4 anos 4 28,5

5 a 9 anos 7 50

10 anos em diante 3 21,5

TOTAL 14 100

Já o tempo de conclusão da formação encontrado no estudo, variou de 2 a 22 anos,

sendo que 28,5% possuem até 4 anos de formados, 50% entre 5 e 9 anos e 21,5% se

formaram há mais de 10 anos. Percebe-se com isso que boa parte dos psicólogos

entrevistados que trabalham em contextos escolares possuem uma formação

consideravelmente recente com menos de 9 anos. Uma explicação para isso pode ser o fato

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de que no estado a abertura deste mercado de trabalho, para este profissional é algo novo,

ou seja, apenas nos últimos anos as escolas tem dado espaço para a contratação de

psicólogos para compor seu quadro de funcionários, ressalvando-se obviamente uma ou

outra inserção mais antiga.

Ao comparar esse resultado com os dados encontrados no estado de São Paulo,

onde a inserção dos psicólogos na educação existe desde o início da constituição dessa

área, foi identificado que 67,7% dos psicólogos escolares possui mais de 9 anos de

formados. Infere-se que, em São Paulo, como a abertura do mercado de trabalho para este

tipo de atuação já acontece a um considerável tempo, há maior possibilidade de encontrar

nestes contextos profissionais com mais tempo de formados. Realidade semelhante foi

verificada em Minas Gerais, tendo os psicólogos escolares uma média de tempo de

formação de 13 anos (Silva et al, 2012)

Essa hipótese é corroborada quando observado, no presente estudo, o tempo de

atuação dos psicólogos na área escolar educacional, onde o psicólogo que atua há mais

tempo tem 11 anos de trabalho nessa área. Já o que trabalha há menos tempo possui um

ano e cinco meses de atuação. Dessa forma, numa distribuição em intervalo de tempos vê-

se que a maioria (78,5%) dos entrevistados atuam há menos de 4 anos em contextos

educacionais. Essa porcentagem supera a encontrada, em âmbito nacional para o mesmo

intervalo (0-4 anos), na pesquisa realizada pelo CFP (2009), onde foi identificado que

62,7% dos psicólogos no Brasil, que trabalham na educação, têm menos de 4 anos de

atuação na área.

Tabela 4. Tempo de atuação na área em Sergipe

Intervalo de tempo N %

0 a 4 anos 11 78,5

5 a 9 anos 2 14,3

10 anos em diante 1 7,2

TOTAL 14 100

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5.1.3 Formação continuada, tipos e classificações

Outro aspecto relacionado a identificação do perfil do profissional entrevistado,

está relacionado à existência de formação continuada, seus tipos e classificações. Entende-

se que esse ponto seja importante nas discussões acerca de uma atuação profissional, uma

vez que a busca por formações complementares, geralmente, aumenta os conhecimentos,

instrumentalizando ainda mais à prática. Na pesquisa realizada observou-se que 85,7%

possui algum tipo de formação complementar. Dentre estes, nove possuem especialização

e cinco possuem mestrado, sendo que destes cinco, quatro ainda estão em fase de

conclusão do curso. Dentre os cursos de mestrado citados estão um em Saúde e Meio

ambiente, um em Educação, um em Sociologia e dois em Psicologia Social. Percebe-se

que também em outros estados como Bahia e Minas Gerais o número de profissionais com

mestrado é pouco expressivo (Silvia et al, 2012; Viégas, 2012).

Dos que possuem formação continuada, 28,5% fez mais de um curso. Já entre a

classificação desses cursos, os resultados apresentaram certa diversidade, sendo

encontrados 12 cursos diferentes, em nível de especialização, que por suas aproximações

foram categorizados em cinco áreas, organizacional, clínica, social, educação e outras.

Essa distribuição pode ser observada na figura 1:

Figura 1. Áreas dos cursos de Pós Graduação - Especializações

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Cada categoria citada acima é composta dos seguintes cursos: na categoria clínica

estão cursos como Teoria Cognitivo Comportamental (1), Psicodrama (1) e Psicologia

Conjugal (1); na área organizacional cursos de Psicologia Organizacional (2) e Gestão de

Pessoas (2); na área social especializações em Psicologia Comunitária (1) e Psicologia

Social (1); na categoria educação cursos de Psicologia Escolar (1) e Psicopedagogia (1); e

na categoria outras especializações aparecem cursos de Neurociências (1),

Neuropsicologia (1) e Psicologia do Trânsito (1).

Percebe-se que dentre os cursos citados apenas dois referem-se ao campo da

educação mais especificamente, sendo possível inferir que não houve uma busca por uma

formação complementar específica para essa área de atuação. Se faz justo ressaltar que não

se pode afirmar com isso, que os demais cursos não possam, em algo, contribuir para a

prática destes profissionais dentro do âmbito educacional. Porém, pensa-se que uma vez

inserido em uma determinada área e devido as constantes atualizações do campo e da

própria ciência, se faz necessário cada vez mais a busca por formações que ajudem o

profissional a ampliar seus conhecimentos e a se instrumentalizar para uma atuação cada

vez mais efetiva à área que está disposto a atuar.

Organizacional 27%

Clínica 27% Educação

13%

Social 13%

Outras 20%

Áreas referentes aos cursos de especialização

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A priori, uma hipótese é que os outros cursos de especializações fora da área de

educação estão, de algum modo, relacionadas a uma segunda atuação profissional dos

psicólogos entrevistados. Na pesquisa foi identificado que 71,5% deles trabalham em outra

área de atuação além da educação. Dentre estes, 50% atuam em duas áreas e 21,5% em três

áreas de atuação. Para essa demonstração também foram criadas categorias cujas atuações

assemelham-se a um mesmo campo, conforme está apresentado na figura 2:

Figura 2. Outras áreas de atuação dos psicólogos entrevistados

Nas categorias que podem ser observadas na figura 2, foram agrupadas as seguintes

formas de atuação: na organizacional foi citada a Consultoria em Recurso Humanos e

Psicologia Organizacional (dois entrevistados); na área social, identificou-se a atuação

como Psicólogo na Secretaria de Assistência Social (dois entrevistados); no campo clínico,

cinco entrevistados atuam também em consultório clínico particular; e na categoria outras

atuações estão a de docente no ensino superior (dois entrevistados), de psicólogo Jurídico

(um entrevistado) e uma atuação em psicologia do trânsito.

Dessa forma, ao correlacionar os tipos de cursos de especialização feitos em outras

áreas, com os outros campos de atuação em que trabalham os participantes da pesquisa,

Organizacional 16%

Clínica 38% Social

15%

Outras 31%

Outras áreas de atuação citadas

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denota-se que muitos desses cursos contribuem de forma mais específica a essas outras

atuações além da educacional. Analisando de forma mais detalhada se evidencia que dos

dez psicólogos que trabalham numa segunda área, seis possuem pós-graduação nesse outro

campo em que atuam, enquanto que apenas dois deles possuem formação complementar

em educação.

Logo, pode-se inferir quatro hipóteses: 1. há uma maior preocupação com a busca

de conhecimentos para essa segunda atuação, do que com a área da educação; 2. a

formação inicial já ofereceu os conhecimentos necessários para uma atuação pertinente a

tal campo; 3. há o entendimento entre os psicólogos que a educação é um campo pouco

complexo, interessante e dinâmico e que, por isso, suscita uma menor necessidade de

formação continuada que os demais campos, citados anteriormente como o organizacional

e o clínico; 4. a oferta de cursos de especializações na área de Educação no estado de

Sergipe é menor se comparada as demais áreas. A posteriori, este resultado será discutido a

partir das análises apresentadas nos capítulos seguintes sobre os fatores que motivaram a

escolha da área de atuação e a formação acadêmica.

5.1.4 Caracterização do local de trabalho dos participantes da pesquisa

Outro ponto a ser conhecido relaciona-se às características dos locais de trabalho

onde os psicólogos entrevistados atuam, tais como locus de trabalho, tipo de rede de

ensino, níveis de ensino oferecido pelas escolas e os níveis que os entrevistados atendem,

existência de outros psicólogos na instituição onde atuam, remuneração, horas de trabalho

e turnos em que trabalham.

Dessa forma, foi possível identificar que a maioria dos profissionais (78,5%) estão

lotados em escolas e 21,5% estão lotados em Secretarias Municiais de Educação.

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Entretanto, o fato de estar na SEMED não limita a atuação deste profissional a este

ambiente, o qual atua também nas respectivas escolas que fazem parte da rede institucional

em que está inserido. Quanto à rede de ensino, 57,2% são da rede particular e 42,8% da

rede pública, e dentre esses últimos 66% pertencem à rede pública municipal e 34% à rede

pública federal.

Em relação ao nível de ensino, buscou-se investigar em quais níveis de ensino esses

psicólogos atuam e comparar com os níveis de ensino oferecidos pela escola, objetivando

saber se sua atuação abrange todos os níveis existentes na escola ou é limitado a um ou

alguns deles.

Tabela 5. Comparação entre o Tipo de serviço educacional oferecido pela escola e o nível

de ensino que o psicólogo atende

Participante Tipo de serviço educacional

oferecido pela escola

Nível de Ensino a que

atende

P1 Do Infantil ao Ensino Médio Ensino Fundamental e

Médio

P2 Do Infantil ao Ensino Médio Do Infantil ao Ensino

Médio

P3 Do Infantil ao Ensino

Fundamental Menor

Do Infantil ao Ensino

Fundamental Menor

P4 Ensino Médio Ensino Médio

P5 Do Infantil ao Ensino Médio Ensino Médio e Pré-

vestibular

P6 Do Infantil ao Ensino Médio Ensino Fundamental

Maior

P7 Do Infantil ao Ensino Médio Infantil e Ensino Médio

P8 Do Infantil ao Ensino Médio Ensino Fundamental

Menor e Maior

P9 Ensino Fundamental Menor e

Maior

Ensino Fundamental

Menor e Maior

P10 Ensino Médio Regular e

Técnico; Ensino Superior

Ensino Médio Regular e

Técnico;

P11 Ensino Médio Regular e

Técnico;

Ensino Médio Regular e

Técnico;

P12 Infantil ao Fundamental

Maior

Infantil ao Fundamental

Maior

P13 Infantil ao Fundamental

Maior

Infantil ao Fundamental

Maior

P14 Infantil ao Fundamental Infantil ao Fundamental

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100

Maior Maior

A partir da tabela 5, observa-se que os níveis de ensino encontrados na amostra

referem-se aqueles que compõem a Educação Básica, havendo uma predominância da

atuação direcionada ao nível Fundamental de ensino, sendo citado por nove psicólogos,

seguido do Ensino Médio mencionado por sete profissionais e em último lugar o ensino

infantil citado por seis psicólogos, conforme a figura 3:

Figura 3. Níveis de ensino em que atuam os psicólogos entrevistados

Faz-se importante salientar que alguns psicólogos afirmaram atuar em mais de um

nível, assim 50% atuam em um, 42,8% atuam em dois e 7,2% atua nos três níveis de

ensino. A predominância da atuação em um único nível de ensino talvez seja explicada

pela quantidade de psicólogos existente em uma escola. Assim, se uma escola possui mais

de um psicólogo é possível que cada um deles contemple uma única esfera de ensino,

organizando melhor o serviço de psicologia na Instituição. Dentre os entrevistados, cinco

deles afirmaram que na instituição onde trabalham há mais de um psicólogo. Destes,

quatro alegaram que atuam em apenas um nível porque os demais são atendidos por outros

psicólogos.

Infantil Fundamental Médio

0

2

4

6

8

10

Níveis de ensino citados

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101

Outra possível explicação refere-se ao fato de que sendo a escola produtora de

uma grande quantidade de demandas, limitar a atuação a um único nível de ensino ajuda o

psicólogo a centrar suas atividades de forma a conseguir atuar de forma efetiva na escola.

Logo, se houver um desequilíbrio entre a quantidade de demandas e a quantidade de

profissionais, a qualidade e efetividade da atuação deste pode ser prejudicada. Ou seja, se

numa escola ou SEMED as demandas aumentam e o número de psicólogos permanece o

mesmo, tal desequilíbrio pode fazer com que o único profissional existente (que é a

realidade da maioria das instituições) encontre dificuldades em sua atuação.

Em relação à remuneração, evidenciou-se que 50% dos participantes da pesquisa

tem remuneração entre três e quatro salários, 28,5% recebe entre um e dois salários e

21,5% recebem acima de cinco salários. Este resultado mostra que os profissionais que

atuam nessa área são, em sua maioria, remunerados de forma razoável. Porém, a maioria

deles afirmou não ser o suficiente para sua estabilidade financeira, necessitando assim de

outra atividade remuneratória. Quanto a carga horária identificou-se que a maioria, com

42,8%, trabalham vinte horas semanais, 28,5% trinta horas semanais, 14,3% vinte e cinco

horas semanais e 7,2% quarenta horas semanais.

Tabela 6. Remuneração, Carga horária e turno de trabalho

Participante Remuneração Horas de trabalho Turno em que

trabalha

P1 Entre 2034,00 e

2712,00 reais

20h/sem Alternado –

Manhã e Tarde

P2 Entre 2034,00 e

2712,00 reais

22h/sem Alternado –

Manhã e Tarde

P3 Entre 2034,00 e

2712,00 reais

20h/sem Alternado –

Manhã e Tarde

P4 Entre 2034,00 e

2712,00 reais

40h/sem

Alternado –

Manhã e Tarde

P5 Mais de 3390,00

reais

25/sem Alternado –

Manhã e Tarde

P6 Entre 2034,00 e

2712,00 reais

25h/sem

Manhã

P7 Entre 2034,00 e Alternado –

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102

2712,00 reais 24h/sem Manhã e Tarde

P8 Entre 2034,00 e

2712,00 reais

20h/sem

Alternado –

Manhã e Tarde

P9 Entre 678,00 e

1356,00 reais

20h/sem

Alternado –

Manhã e Tarde

P10 Mais de 3390,00

reais

30h/sem

Alternado –

Manhã e Tarde

P11 Mais de 3390,00

reais

30h/sem

Alternado –

Manhã e Tarde

P12 Entre 678,00 e

1356,00 reais

30h/sem

Manhã

P13 Entre 678,00 e

1356,00 reais

30h/sem

Alternado –

Manhã e Tarde

P14 Entre 678,00 e

1356,00 reais

20h/sem

Alternado –

Manhã e Tarde

5.2 Concepções acerca do papel dos psicólogos nos contextos educacionais

Observa-se que é comum que o psicólogo ao chegar a um determinado contexto de

atuação se depare com algumas concepções sobre ele, sua função e suas possibilidades.

Além das concepções que ele mesmo possui sobre o seu papel e sua atuação. Dessa forma,

constitui-se como um objetivo desta pesquisa analisar as concepções existentes acerca do

papel do psicólogo escolar e educacional, tanto para os outros componentes quanto para os

próprios psicólogos. Contudo, como o estudo foi realizado apenas com psicólogos buscou-

se identificar as concepções dos demais componentes a partir da ótica dos psicólogos

entrevistados, ou seja, investigou-se num primeiro momento qual a percepção do psicólogo

quanto as concepções que os demais componentes da escola possuem sobre o seu papel, e

num segundo momento quais as concepções que eles possuem sobre suas funções no

contexto escolar.

2.1 Concepções dos demais componentes sobre o papel do psicólogo nas escolas

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103

Segundo Ramos (2011), os psicólogos em sua atividade profissional nas escolas

precisam saber identificar e lidar com as diversas concepções existentes no âmbito escolar

e principalmente com aquelas que são direcionadas a ele, para que não fique refém das

expectativas produzidas por entendimentos prévios que não são compatíveis com sua real

atuação dentro daquele contexto. Ademais, acredita-se que tais entendimentos podem se

impor para o psicólogo como um fator que limita sua atuação, impedindo-o de realizar

atividades ou como um fator facilitador que o ajuda em suas ações.

Isto foi identificado no presente estudo, onde após a análise dos relatos, foi

observado que na concepção de outros componentes (como familiares, professores,

gestores e demais funcionários) sobre o papel do psicólogo no contexto escolar, há

concepções que são limitadoras à atuação e outras que são facilitadoras ao trabalho do

psicólogo na escola, sendo apresentadas a seguir as formas como essas concepções se

configuram na atuação no estado de Sergipe.

5.2.1.1 Concepções Limitadoras à atuação

De acordo com Bastos e Gomide (1989), grande parte das dificuldades no exercício

profissional do psicólogo decorrem do desconhecimento ou confusão, por outros

profissionais, sobre o que um psicólogo pode fazer. Assim, foi observado em muitos

relatos da presente pesquisa que a forma como os entrevistados são vistos dentro da escola,

bem como a expectativa que existe sobre as atividades que os mesmos podem desenvolver

muitas vezes se apresenta como um obstáculo a ser superado pelo psicólogo. Isso porque

uma vez que há um determinado entendimento sobre o seu papel por um componente da

escola, há também expectativas que estão relacionadas a esse entendimento, às quais se o

psicólogo não responde de forma favorável se torna mal visto e acaba sofrendo resistências

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104

ao tentar desenvolver outras atividades que fujam a essa expectativa que é vista como a

única possível para tal profissional (Andaló, 1984; Medeiros & Aquino, 2011)

Assim sendo, na escola pode haver um movimento tendencioso que tente limitar a

atuação do psicólogo àquilo que se espera dele, não sendo permitida ou incentivada outras

formas de intervenções que se diferenciem das expectativas. A partir disso, na presente

pesquisa foram encontradas duas concepções consideradas limitantes que se sobressaíram

e foram mais frequentes nos relatos, sendo relatadas como algo a ser superado para que

possam desenvolver suas ações. Estas concepções sustentam o entendimento da função

como sendo a de um psicólogo clínico e a outra como sendo a de um profissional que

resolve problemas.

5.2.1.1.1 Concepção de uma função clínica psicoterapêutica

Geralmente a concepção predominante que existe acerca do psicólogo e do seu

trabalho está relacionada ao modelo clínico psicoterápico ou suas características (Leme,

Bussab & Otta, 1989; More, Leiva & Tagliari, 2001). Dentro do contexto escolar essa

forma de entender a função do psicólogo existe e foi encontrada nas pesquisas de Souza,

Ribeiro e Silva (2011); e Medeiros e Aquino (2011).

Na presente pesquisa, de acordo com cinco dos entrevistados, na instituição em que

trabalham, a ideia que os demais componentes têm deles e do seu trabalho é de um

terapeuta que ao invés de ter uma sala e fazer atendimentos em um consultório, faz

atendimentos em uma sala na escola. Isso fica perceptível não só no tipo de demanda que

encaminham, mas principalmente pela forma que o fazem e pelo que se espera que seja

feito: a retirada do aluno da sala de aula para ser atendido na sala específica do psicólogo,

o que é demonstrado nos relatos a seguir:

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105

Clínica! Não tem jeito. Eles enxergam a gente como terapeuta, aí dizem: “vocês

precisam ir lá na escola...” Eles enxergam dessa forma, que a gente tem que

clinicar. Quando a gente chegou lá disseram: “graças a Deus que agora tem

psicólogo na Educação, pois eu estou sem aguentar, estou precisando de psicólogo

mesmo, eu estou ficando doida”, é isso que os professores falam, é o que a gente

ouve deles (P13).

Eles vêm o papel do psicólogo clínico. Eles querem que tenham uma sala lá dentro,

que eu atenda a demanda que eles querem e que peguem o menino na sala de aula,

que pegue o menino, coloque na sala de atendimento e salve o menino, ou a

menina (P14).

Nas pesquisas de Ramos (2011), Baía (2010) e Silva et al (2008), também foi

identificado que os professores entrevistados possuíam uma perspectiva clínica sobre esse

papel, o qual deve ser desenvolvido buscando o ajustamento do aluno à escola ou a

superação de suas dificuldades de aprendizagem.

Para P10 esta é a visão predominante da escola como um todo, tanto para os

professores como para os alunos também. O entrevistado relata que quando começou a

desenvolver atividades que se distanciavam das características clínicas de atendimento

individual e periódico passou a sofrer rejeição em relação a algumas intervenções ou

projetos que propunha à escola. No seguinte trecho de um dos seus relatos diz:

Enfim, tudo que apareceu de demanda a gente ia trabalhando, e aí isso acabou

criando um problema, quer dizer as pessoas só imaginavam um psicólogo como

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aquele que faz um atendimento individual, faz psicoterapia, é a visão que as

pessoas têm, e com o desenvolvimento dessas novas atividades as pessoas

começaram a ver que o psicólogo fazia outras coisas. Mas mesmo assim, hoje em

dia como tem muita gente nova, tem muita gente que não me conhece ainda, que eu

percebo que chegam com a expectativa que vai ser psicoterapia (P10).

De acordo com P11, essa ideia clínica da função do psicólogo na escola é

fomentada muitas vezes pela própria instituição, uma vez que os que estão à frente dos

processos educativos, como gestores, coordenadores, professores e alguns funcionários

entendem que tudo que acontece e surge na escola e que é considerado de caráter

comportamental, emocional, ou mental deve ser direcionado ao psicólogo, pois pertence ao

mesmo a competência para trabalhar tais conteúdos. Isso pode ser observado na seguinte

fala:

Infelizmente, eu acho que a instituição de ensino faz com que as pessoas associem

a clínica e aqui na escola ao imediatismo, porque de repente surgiu um problema

ali e é o psicólogo que vai resolver, se o menino está chorando no corredor, vamos

lá chamar o psicólogo (P11).

Para Andaló (1984), ao direcionar essa demanda ao psicólogo por considerá-lo

mais habilitado, esses profissionais, em especial os professores, acabam por se

desresponsabilizar das questões do aluno, com as quais eles estão diretamente envolvidos,

não fazendo nenhuma relação dos problemas que identificam nos discentes com sua

atividade pedagógica, sendo as dificuldades uma questão de aprendizagem e não de

ensino-aprendizagem.

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107

Além disso, Baía (2010), evidenciou em seu estudo sobre a função do psicólogo na

visão de professores que estes não sabem dizer ao certo quais as ações que competem

àquele profissional no contexto escolar, sendo atribuídas funções de acordo com a ideia

geral que fazem do psicólogo (clínico), consistindo basicamente em ajudar e orientar as

pessoas. Isto também foi identificado por Carvalho e Souza (2012), cuja pesquisa mostrou

que havia uma ausência de informações, na maioria dos alunos entrevistados, sobre as

possibilidades de intervenções de um Psicólogo na escola. Para Correia (2004), superar

este desconhecimento é um dos desafios a serem enfrentados por este profissional.

Além do desconhecimento sobre o que realmente um psicólogo faz, percebe-se que

a expectativa de uma atuação clínica a ser desenvolvida por este profissional é permeada

por uma compreensão equivocada sobre o que realmente é uma psicoterapia, como

acontece, quais seus objetivos e procedimentos. Semelhante a isso, More, Leiva & Tagliari

(2001), evidenciaram que a maioria dos participantes de sua pesquisa, que acreditavam

numa clínica do psicólogo escolar, não sabiam informar as possibilidades de intervenções

que este profissional poderia fazer. Ou seja, possuem uma imagem do profissional, mas

não possuem informações sobre o que ele realmente faz e como faz.

No âmbito escolar e educacional, observa-se que um componente, seja um

professor ou coordenador, ao direcionar um aluno à sala do psicólogo, o faz esperando a

realização de ações pontuais, como conversas e dinâmicas, que resolva de forma imediata

e mágica o “problema” do aluno (Souza, Ribeiro & Silva, 2011; Pandolfi et al, 1999).

Alguns dos psicólogos entrevistados relatam tal expectativa como sendo comum, existindo

com frequência essa ideia do psicólogo como um mágico capaz de com uma palavra

solucionar aquilo que lhe é apresentado.

Logo, conclui-se que não só a concepção sobre a função do psicólogo no contexto

escolar é distorcida e equivocada como a própria função do psicólogo no campo clínico

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108

parece também ser, fazendo com que essas concepções sobre o papel deste profissional

impactem negativamente sobre sua prática, constituindo-se um desafio a ser superado.

5.2.1.1.2 Concepção de uma função de ‘resolvedor’ de problemas

Outra concepção inferida, a partir das respostas de quatro entrevistados, relaciona-

se ao entendimento que há em muitos componentes de que o psicólogo é um profissional

capacitado para resolver problemas de qualquer ordem, sendo assim, a mínima ocorrência

considerada como um problema acaba sendo direcionada ao psicólogo escolar.

Corroborando com os achados do presente estudo, Carvalho e Souza (2012) também

identificaram em sua pesquisa que todos os alunos participantes entendem a função do

psicólogo como um solucionador de problemas. Segundo Neves et al (2002), essa também

costuma ser a visão de muitos professores.

Acredita-se que esse tipo de concepção exista devido ao entendimento que as

pessoas têm da própria ciência psicológica, de que ela capacita aqueles que possuem esta

formação acadêmica para dirimir questões que são problemáticas no indivíduo. De acordo

com P4, observa-se que os demais componentes da escola realmente acreditam que ele

possui melhor capacidade para lidar com essas questões de problemas de comportamento e

que não há outro setor mais indicado para serem encaminhadas tais demandas:

Então a função do psicólogo aqui que eu vejo que os outros enxergam é na

verdade de dirimir problemas, é lidar com o problema de uma forma mais

capacitada que os outros setores. Então problemas de comportamento de aluno,

questões familiares, tudo isso é direcionado para o psicólogo... Eu acho que

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109

enxergam dessa forma como um grande resolvedor de problemas dentro da

instituição, voltado para os alunos especificamente (P4).

Esse entendimento de que o psicólogo é o profissional mais apropriado para lidar

com os problemas da escola, indica a existência de uma forma de conceber esses

problemas onde se atribui as causas deles apenas aos aspectos psicológicos, o que por sua

vez, demonstra a maneira como muitos profissionais da Educação pensam o processo

educativo, relacionando-o e reduzindo-o unicamente a questões de aprendizagem

(entendida somente como uma questão psicológica), negligenciando outros fatores que

estão presentes e que incidem sobre esse processo, tais como os aspectos sociais e os

aspectos pedagógicos (Neves et al, 2002).

Segundo Marçal (2010) e Amazonas (2008), esta concepção de processo educativo

foi hegemônica durante muito tempo, passando a ser questionada a partir da década de

1980, quando as questões educacionais começaram a ser pensadas com uma maior ênfase a

partir de aspectos sociais e com uma maior criticidade quanto aos aspectos pedagógicos,

ou seja, a escola e as relações promovidas nelas passaram a ser consideradas na análise e

compreensão dos fenômenos educativos. Desta forma, os problemas educacionais

começaram a ser analisados e compreendidos, por alguns psicólogos de perspectiva crítica,

levando em consideração a escola, seus processos, sua dinâmica e as relações sociais

existentes nela, demonstrando assim não ser o psicólogo o único profissional capaz de

intervir sobre as questões escolares, havendo a necessidade da contribuição de outros

profissionais para um olhar multidisciplinar sobre as questões educacionais (Souza, 2010;

Rosa 2011).

No trecho do relato anterior, percebe-se outro ponto que está imbricado nesse tipo

de concepção, que é o fato de que o “problema” geralmente é de ordem do indivíduo e está

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intrinsecamente relacionado ao aluno. Ou seja, quando uma situação insurge e esta é vista

como um problema à instituição e para seus componentes, como professores e

coordenadores, a ideia que se tem é que esse problema ou está no aluno ou é criado apenas

por este, sendo desconsiderados quaisquer outros fatores que estão presentes na dinâmica

institucional, nos sistemas e nos processos educativos que ocorrem na escola.

Logo, infere-se que nas escolas possa existir o pensamento de que se o problema é

da ordem do indivíduo, ou melhor, do aluno, deve haver alguma forma de intervenção que

“resolva” o problema ocorrido, sendo o psicólogo o mais indicado para isso, uma vez que

sua ciência lhe permite o manejo dos problemas do comportamento. Para P12, este

pensamento existe e é compartilhado por todos os que compõem a escola, conforme diz

nesse trecho:

Porque todo mundo espera que eu entre em uma sala e qualquer uma, pois não

existe sala para isso, e quer que eu chegue e que eu chame um aluno que esteja

dando trabalho, que esteja sendo um problema para a escola, que eu converse com

esse aluno meia hora ou 50 minutos e que ele saia de lá transformado. Todo

mundo espera isso. Então, dentro da secretaria, dentro da escola, os pais

acreditam ainda que a escola é uma coisa para consertar um defeito, que é para

alguém que tem um problema, que é para doido (P12).

Sendo assim, o entendimento de que o psicólogo está na escola para resolver

problemas e que estes são causados ou estão nos alunos, causa um impacto sobre a

atuação, no sentido de que esta possa vir a ser limitada e direcionada apenas a este público,

fortalecendo e perpetuando a concepção tradicional de atuação do psicólogo escolar, da

qual a categoria há muitos anos vem buscando se afastar (Martinez, 2009).

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Acredita-se que essa limitação pode acontecer não por iniciativa do psicólogo, mas

por parte dos gestores que podem determinar o âmbito de atuação do profissional de

Psicologia. O mesmo foi observado na fala de dois dos entrevistados, para os quais a

gestão limitou sua atuação aos alunos e familiares, não havendo ações voltadas aos

professores, o que pode ser visto na seguinte fala:

A atuação é voltada para os alunos. Essa é a grande diferença, eu não tenho

nenhum vínculo com os professores, por exemplo. Essa parte já vai para o

coordenador pedagógico. Então meu vínculo é totalmente com o aluno e sua

família (P4)

Ambas as formas de concepções que se impõem como limitantes ao trabalho do

psicólogo não são inerentes apenas à realidade do estado de Sergipe, nem algo recente, que

tenha ocorrido apenas nos últimos anos, mas que se constitui como uma questão antiga,

que está muito ligada à concepção tradicional de atuação do psicólogo em contextos

educacionais e que pode ser explicada historicamente.

Ao buscar as origens dessas concepções percebemos que elas foram criadas ainda

na constituição da Psicologia Escolar e Educacional, quando os psicólogos começaram a se

inserir nas instituições escolares. Sabe-se que nessa época, não havendo um modelo de

atuação próprio para este campo, foi utilizado o modelo clínico de consultório para o

trabalho nas escolas, acontecendo assim por muitos e muitos anos (Gimenez & Tizzei,

2008), imprimindo uma imagem clínica para a função desse profissional na escola.

Além da força que a imagem clínica tem nas concepções existentes na sociedade

sobre o que faz um psicólogo, este recebeu sem ressalvas nessa época as demandas que

eram encaminhadas a eles, às quais se caracterizavam como queixas escolares feitas pelos

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112

professores sobre seus alunos que eram considerados problemáticos em sala de aula

(Marçal, 2010; Correia e Campos, 2004). O recebimento e as intervenções realizadas sobre

essas demandas fortaleceram, portanto, essas duas concepções de que a atuação é clínica,

ou seja, deve ser feita apenas com os alunos e de forma periódica (que o tire da sala o

máximo de tempo e vezes) e, em segundo, que resolve os problemas existentes na escola.

Esses são fatores históricos que não podem deixar de ser considerados na

compreensão dessas formas de conceber o papel do psicólogo. O que se observa é que em

locais onde a PEE é mais difundida essas concepções limitantes tendem a ser menos

comuns, pois a atuação dos psicólogos que antes tinham um caráter tradicional/clínico

começaram a ser transformadas ou substituídas por ações mais críticas e contextuais,

fazendo com que os equívocos no entendimento sobre as funções dos psicólogos fossem

perdendo força, embora sejam ainda encontradas, com menor frequência, até mesmo

nesses locais.

Dessa forma, infere-se que o fato da existência dessas concepções terem sido

encontradas na maioria das falas desta pesquisa realizada em Sergipe, talvez possua

relação com o recente desenvolvimento da área escolar enquanto campo de atuação do

psicólogo. Neste estudo identificou-se que dentre os entrevistados o profissional mais

antigo na área trabalha há 11 anos, o que sugere que em Sergipe esse campo profissional

encontra-se no início de sua constituição, sendo encontradas inclusive poucas pesquisas e

produções científicas sobre a realidade sergipana em relação aos diversos fatores que

atualmente se discute neste campo.

5.2.1.2 Concepções Facilitadoras à atuação

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Paralelo às concepções que se interpõem como limitadoras ao psicólogo foi

identificada, a partir da fala de seis entrevistados, a existência de entendimentos que

facilitam a atuação dele na escola, fazendo com que os componentes não só acolham suas

intervenções como também contribuam com elas, se disponibilizando e permitindo um

trabalho de parceria para o desenvolvimento de ações que alcancem os objetivos da escola.

Tais concepções facilitadoras são percebidas através de alguns aspectos como o tratamento

recebido pelos outros componentes, pela importância que é considerada sua prática, pela

colaboração oferecida na realização das atividades, bem como o entendimento com o qual

o seu papel é visto.

Essa compreensão e as concepções positivas quanto às funções do Psicólogo no

âmbito escolar contribui para uma boa inserção deste profissional nesses locais e facilita a

realização de atividades tanto na colaboração de ações e projetos de outros componentes e

setores, como no recebimento de ajuda na realização de suas próprias ações e projetos.

Segundo cinco dos entrevistados suas intervenções são bem aceitas, não havendo nenhuma

ou pouca resistência.

De acordo com P1, a Psicologia na escola em que trabalha é uma profissão bastante

respeitada e valorizada, o que se torna visível nas boas condições oferecidas pela gestão

para o trabalho e pelo apoio que manifesta aos projetos propostos. Também para P2, isso é

perceptível uma vez que seu trabalho é muito solicitado pelos componentes, sendo

constantemente incentivado a realizar projetos e atividades. Ainda segundo esse

entrevistado, o fato da escola ter uma concepção humanista em relação à Educação faz

com que a gestão tenha no psicólogo um profissional imprescindível para a escola, o qual

pode colaborar para a qualidade dos processos educativos existentes na instituição, como

pode ser visto nos seguintes relatos:

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Aqui, por conta de ser uma escola humanista, a direção sempre viu a importância

e foi uma das primeiras escolas que contratou psicólogo para trabalhar dentro da

instituição, ela sempre enfatizou essa importância e para ela é imprescindível o

psicólogo aqui dentro (P2).

Antes de eu vir para essa escola eu trabalhava num município e eu sempre tive

portas muito abertas, o público tanto professores, quanto alunado eles me

respeitavam, assim, eram parceiros em relação ao trabalho e hoje eu vejo também

como uma parceria (P3).

Conforme o último relato, além do respeito e da solicitação dos seus serviços,

alguns psicólogos relataram que sua atuação também é vista como uma parceria no

desenvolvimento de ações que lidem com as questões escolares. Para P7, o psicólogo é

visto como um parceiro, pois dentro da escola ajuda a dividir a quantidade de “tarefas” e

atribuições que antes a coordenação acumulava. Já para P8, P5 e P3 eles são vistos como

um grande colaborador que agrega qualidade aos processos junto aos demais profissionais

e não como o único responsável pelos fatos a serem trabalhados. Ambas as percepções

podem ser vistas nos seguintes trechos:

Então posso dizer que eles têm a psicologia como parceira, não como

determinante, mas com uma área que vai agregar na função deles, sabe? Esse é o

meu sentimento, eu não tive uma experiência das minhas vivências que fosse

contraria a isso (P3).

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Acho que eles veem mesmo como uma ajuda, um suporte, como a quem recorrer

em situações em que se pensa assim: “e agora?”. Então eles chamam muito a

gente (P7).

Eu acho que a coordenação vê como uma ajuda muito grande, porque sem o

serviço da psicologia a coordenação abarca tudo, todos os problemas (P8).

Nota-se nas entrevistas que há diferentes formas do entrevistado perceber-se

importante dentro da instituição em que trabalha. Entretanto, uma dessas formas chama a

atenção e deve ser considerada com certa ressalva, configurando-se na associação do fato

do psicólogo ser demasiadamente chamado a intervir com a hipótese de que isso acontece

por causa da sua dada importância. O que se quer alertar com isso é que o fato do serviço

do psicólogo ser constantemente solicitado, não significa necessariamente que este é visto

como importante em si. Tamanha solicitação pode ter causas relacionadas com uma visão

distorcida sobre sua função (já mostrada anteriormente, como aquele que resolve todos os

problemas que acontecem na escola). Sendo assim, vê-se o quanto é necessário que a todo

o tempo o psicólogo coloque em análise esses movimentos institucionais que vêm em

direção a sua atuação, a fim de não serem dissuadidos sobre as reais causas desses

movimentos. O entrevistado P5, em uma de suas falas, traz uma análise sobre como sua

atuação é vista em relação a este aspecto: Então eu acho que eles têm como uma ajuda,

mas uma ajuda saudável, não aquela como uma ideia de pronto socorro (P9).

Outro aspecto relacionado às concepções facilitadoras está no entendimento que

alunos, professores e coordenadores têm em relação às funções do psicólogo, pelo fato de

que este entendimento se aproxima do real papel e das reais e possíveis atribuições desse

profissional nos contextos escolares, fazendo com que não existam aquelas expectativas

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equivocadas, citadas anteriormente. De acordo com P5, isso se deve talvez ao fato do

serviço de Psicologia já estar bem constituído na instituição onde atua e, portanto, tal

atuação se configurar hoje de forma bem mais desmistificada, além do fato da escola

possuir três psicólogos, um para cada nível de ensino. Devido a isso, os diversos

componentes estão habituados à presença do psicólogo e de suas intervenções, fazendo

com que saibam com maior clareza o que lhe compete. Isso está presente no relato a

seguir:

A Psicologia dentro dessa escola já existe há muito tempo, tem uma história bem

construída, então a grande maioria entende o papel que a gente desempenha

aqui... Mas eles estão bem habituados eu diria, a grande maioria, porque se você

perceber nós temos a presença do psicólogo em cada um dos ensinos, então desde

muito cedo eles se habituam a esse acompanhamento... Então diante dessa história

que vem sendo construída já há algum tempo, os alunos tenham uma visão pouco

distorcida do que seja o papel do psicólogo dentro dessa instituição atualmente.

Da mesma forma acontece com os professores e coordenadores (P5).

Percebe-se então que a concepção do papel do psicólogo tende a ser mais próxima

da real função quanto mais tempo tiver o serviço de Psicologia na escola. A partir das

entrevistas viu-se que os relatos de concepções facilitadoras apareceram no discurso de

psicólogos que trabalhavam em escolas onde tal serviço já existia há algum tempo. Uma

conclusão semelhante a esta foi observada por Ramos (2011) o qual identificou que os

profissionais da Educação que tinham desenvolvido um trabalho com psicólogos escolares

possuíam uma ideia desta atuação muito próxima daquela preconizada e defendida pelos

estudiosos da área da Psicologia Escolar e Educacional. Com isso, intui-se também que a

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117

vivência e aproximação do psicólogo com os diversos profissionais do campo educativo,

com o passar do tempo, tende a impactar a concepção até então existente, aproximando

esta das reais funções descritas nas produções acadêmicas.

Com isso, infere-se que as concepções existentes no início, geralmente, tendem a

ter um caráter limitador, podendo ser transformadas com o passar do tempo para um

caráter facilitador. Entretanto, se faz necessário frisar, que o fator transformador de tais

concepções, não é em si o tempo, mas a maneira como o psicólogo lida com estas e o que

ele faz para proporcionar tal mudança, no decorrer desse tempo. Isso é apresentado de

forma clara no seguinte trecho de P9:

Então assim, no início até poderia ter, mas aí já começou diferente, como a

princípio eu já fui apresentada e passei em todas as salas apresentando o meu

papel, talvez isso também me ajudou um pouco, eu fiz esse processo de interação

no serviço, de esclarecer o que eu poderia desenvolver e em que eu poderia estar

ajudando. Então assim, eu visitei cada sala de aula, todas as turmas eu visitei, fiz

reunião com os pais falando do serviço de psicologia, para que esse serviço é

voltado dentro de uma escola. Então foi muito esclarecido isso (P9).

Para Correia e Campos (2004), na busca de estruturar o serviço de Psicologia em

uma instituição educacional, o psicólogo precisa desenvolver ações que possibilitem a

efetividade de ações futuras, chamadas por eles de periféricas. Com base nisso e a partir do

relato acima observa-se a importância de que, por vezes, sejam feitas pelo psicólogo

intervenções voltadas para o esclarecimento das suas reais atribuições, limites e

possibilidades na escola, consistindo esta também como uma atividade de estruturação dos

serviços. Em conformidade, P8 afirma que é responsabilidade do psicólogo desmistificar

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as ideias equivocadas que existem sobre ele, uma vez que, caso não o faça, sua atuação

pode vir a ser comprometida, seja pelas resistências e limitações impostas, seja pelo

aumento exacerbado de demandas que lhe são encaminhadas de forma equivocada:

Eu acho que quando a gente chega em uma escola a gente tem que desmistificar

que o psicólogo é para resolver problema ou é o pronto socorro, que qualquer

probleminha disciplinar já leva para o psicólogo. Não é assim! Se fosse teria uma

fila imensa na porta da minha sala, então a gente tem esse cuidado de administrar

e eu tenho um cuidado muito grande (P8).

Ainda, segundo P10, mesmo depois de certo tempo e depois de realizar ações

informativas sobre seu papel dentro da escola, constantemente surge a necessidade de que

novas ações deste tipo sejam realizadas, uma vez que a escola se constitui como uma

instituição dinâmica e com uma intensa rotatividade de pessoas que entram e saem a cada

ano no sistema escolar, seja pela contratação ou afastamento de outros profissionais ou

pelo início ou conclusão dos estudos pelos alunos. Sobre isto ele diz:

Mas mesmo assim hoje em dia como tem muita gente nova, tem muita gente que

não me conhece ainda, que eu percebo que chegam com a expectativa que vai ser

psicoterapia, ou algo que eu escutei da professora um dia desses, que aí que eu

percebi mesmo que precisa ser feito um trabalho de construção da identidade da

psicologia aqui, que é isso que eu e as outras psicólogas estamos fazendo aqui,

essa discussão... Aí eu percebi que estava sim precisando ser feito um trabalho de

construção da identidade da psicologia, sobre o que é a psicologia escolar, o que é

o psicólogo na escola (P10).

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Logo, conclui-se que as funções do psicólogo dentro de uma escola são

compreendidas de maneiras diversas, sendo concebidas de forma que limite ou facilite a

atuação dele. Dessa forma, entende-se a importância da clareza do real papel desse

profissional no respectivo campo em que está atuando, para que não sejam criadas

expectativas que fujam àquilo que ele pode fazer ou barreiras ao que se propõe a

desenvolver. Porém, essa clareza geralmente não acontece por si só, sendo necessário que

seja promovida através de um trabalho informativo acerca desse papel e dessa identidade.

Por fim, sabe-se que os psicólogos não são apenas objeto das concepções dos

outros componentes da escola, possuindo eles mesmos entendimentos sobre sua função e

seu papel no âmbito educacional, constituindo aí outra problemática a ser discutida e

investigada a partir de algumas questões, será que os psicólogos conhecem seu real papel?

Será que conseguem definir suas funções no campo educativo? E de que maneira

entendem seu papel no contexto escolar?

5.2.2 Concepções dos próprios psicólogos sobre suas funções

Independente do campo de atuação em que o psicólogo esteja inserido é importante

que o mesmo tenha clareza de seu papel, das funções que lhe competem e das atribuições

que lhe são possíveis. Esta clareza lhe permite uma maior efetividade em suas ações e o

impede de adentrar searas que não lhe dizem respeito, ajudando-o a centrar-se nas suas

reais responsabilidades dentro da escola (Gimenez e Tizzei, 2008).

Além disso, não saber suas funções faz com que o profissional caia no risco de

desenvolver atividades incoerentes com sua área e com seu real papel. Em pesquisa

conduzida por Medeiros e Aquino (2011) foi evidenciado que os psicólogos escolares

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entrevistados não possuíam clareza quanto a suas atribuições no contexto escolar,

provocando um entrave diante de sua atuação. Desta forma, pretendeu-se identificar

também na realidade sergipana como os psicólogos entrevistados entendem e definem suas

funções na instituição onde trabalham.

Após a análise dos dados evidenciou-se que as funções segundo o entendimento

dos psicólogos entrevistados são diversas, existindo porém algumas aproximações entre as

que foram relatadas. Assim, percebeu-se que o psicólogo que atua em contexto escolar tem

um papel multifuncional, que está relacionado aos diferentes componentes existentes na

escola, tendo essas funções tanto um caráter coletivo (quando desenvolvida com grupos),

como um caráter individual (quando desenvolvida com um determinado componente), bem

como um caráter remediativo (quando desenvolvida sobre questões já estabelecidas que

precisam ser trabalhadas), quanto preventivo (quando desenvolvida para fortalecer

potencialidades e/ou prevenir a ocorrência de questões disfuncionais).

O entendimento de que a função do psicólogo deve ser desenvolvida tanto no

âmbito coletivo, quanto no âmbito individual parece ser de fato o mais apropriado ao se

pensar a atuação deste profissional. A partir desta concepção, entende-se que este deve

atuar junto aos diversos componentes, uma vez que grande parte da produção da escola é

feita a partir das interações do coletivo, distanciando-se da antiga e tradicional ideia que o

papel do psicólogo estava unicamente relacionado ao aluno (Cunha & Betini, 2003).

Entretanto, também é importante compreender que por vezes esse papel passa sim pelo

âmbito individual, devendo ser levado em consideração a subjetividade dos indivíduos que

compõe o todo (Almeida, 2008).

Outrossim, se faz necessário entender que não basta apenas atuar sobre as

necessidades imediatas da escola, ou seja, desenvolver funções remediativas sobre as

ocorrências escolares, sendo imprescindível que a função do psicólogo escolar possua um

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caráter de prevenção dessas ocorrências. De acordo com Andaló (1984, p. 43), prevenir

significa “antecipar-se” e/ou “impedir que algo aconteça”, sendo assim, uma atuação

preventiva consiste na promoção de condições que fortaleçam as potencialidades da

escola, os vínculos entre os indivíduos, os vínculos entre os sistemas, atribuindo qualidade

e funcionalidade às interações, para que seus produtos não se interponham como entraves e

problemas ao alcance dos objetivos educacionais da instituição. Assim, acredita-se que

esta função preventiva do psicólogo na escola deve preceder a função remediativa, sendo o

ideal a ser alcançado ao inserir-se como um profissional deste contexto. Entretanto, essa

não se constitui como uma tarefa fácil, como se observa no relato a seguir:

Para mim, é atuar preventivamente, mas é um sonho, a gente ainda não

consegue, porque a demanda é grande. Apesar de termos três psicólogas, a

demanda é muito grande... e muitas vezes eu não consigo fazer a atuação que

eu gostaria (P6).

Trabalhar com prevenção, meu sonho de prevenção... (risos), que aqui eu

ainda não consegui, mas acho que a gente já esta no caminho da prevenção. A

gente tira isso pela demanda, né? Eu costumo dizer assim que eu passei os três

primeiros anos só apagando fogo. Hoje nesse quarto ano a gente já consegue

ter um trabalho bem legal de prevenção, um trabalho de controle e é o ideal, é

o que a gente quer na escola e não deixar os problemas crescerem, tomarem

uma dimensão... É esse o ideal que a gente está buscando, mas é um trabalho

que é construído (P8).

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Conseguir trabalhar numa perspectiva de prevenção aparece na pesquisa como um

objetivo do psicólogo, mas que requer tempo e ações que promovam essa cultura na

escola, sendo a quantidade de demandas um dos grandes desafios a serem vencidos para o

estabelecimento de um trabalho preventivo. Isso porque quando as demandas a serem

trabalhadas são demasiadas para um único profissional, este pode sucumbir àquelas que

são imediatas e que precisam de intervenções mais urgentes, tornando difícil a realização

de ações preventivas.

Outro aspecto que foi percebido se refere ao papel do psicólogo como um

colaborador da instituição, no sentido de que este possui, através de sua ciência,

conhecimentos e técnicas que contribuem para que a escola cumpra sua função social e

educativa, de promover o desenvolvimento educacional e formar cidadãos. Sobre isso, o

CFP (2013) diz:

Na direção de contribuir pra a melhoria da qualidade da Educação em todos os

níveis, nossas ações devem pautar-se em tornar disponível um saber específico da

Psicologia para questões da Educação que envolvam prioritariamente o

fortalecimento de uma gestão educacional democrática que considere todos os

agentes que participam da comunidade escolar, e de formas efetivas de

acompanhamento do processo de escolarização (p. 53).

Como demostrado pela fundamentação teórica que embasa o presente estudo, esse

acompanhamento ao processo de escolarização pode ser feito de formas diversas. Nas

entrevistas realizadas, foi percebido que essas contribuições podem ser divididas em dois

âmbitos: um onde a função é relacionada ao desenvolvimento pedagógico da escola e o

outro onde a função é relacionada ao desenvolvimento e funcionamento institucional.

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Em relação aos aspectos pedagógicos, os relatos mostraram que a função do

psicólogo consiste em contribuir para que os processos educativos ocorram com a melhor

qualidade possível. Como vimos, tradicionalmente esta função era desenvolvida buscando

a resolução de problemas de aprendizagem relacionados aos alunos, fazendo com que eles

fossem o alvo de toda a intervenção do psicólogo (Martinez, 2009). Isto foi encontrado em

uma das entrevistas na qual o psicólogo afirmou ser essa a principal função que ele

desenvolve na escola, seja de forma individual através de acompanhamento ou no âmbito

coletivo através da realização de projetos. Segundo ele, a escola apresenta problemas

micros e macros e cabe ao psicólogo a elaboração de estratégias para a superação dessas

ocorrências. Porém, em outras entrevistas se percebe que atualmente outras formas de

cumprir essa função e de atuar vêm sendo desenvolvidas nas escolas, de uma maneira mais

abrangente, objetivando o acompanhamento de todo o processo escolar.

Esse processo de escolarização consiste na forma sistematizada da promoção de

conhecimento sobre os diversos conteúdos, sendo oferecidos através de instituições, em

níveis de ensinos, e por etapas (séries) a serem superadas, a fim de que o indivíduo adquira

sua formação educacional (Ferreira, Bastos & Pereira, 2010). Logo, o desenvolvimento

educacional do aluno refere-se à passagem do aluno pela escola, sua aquisição de

conhecimentos, sua formação de cidadania e seu avanço nos processos educativos

subsequentes. A partir deste entendimento, acredita-se que o psicólogo deve trabalhar em

função de colaborar com esse desenvolvimento educacional do aluno, garantindo sua

inserção, permanência e conclusão dos estudos, agindo sobre os fatores que estão

relacionados a este processo e buscando possibilitar um ambiente favorável e interações

funcionais para que o aluno aprenda e se desenvolva, conforme foi observado nos relatos a

seguir:

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A função do psicólogo na verdade, em minha opinião, ela tem que ser voltada para

o bom desenvolvimento do aprendizado do aluno, então ela tem que estar voltada

pra isso... a grande função é essa, é facilitar o aprendizado e facilitar o

aprendizado envolve diversas coisas (P4).

Eu acho que o psicólogo vai estar auxiliando nesse processo mesmo do aluno, num

acompanhamento, para estar auxiliando esse aluno nesse caminhar dentro da

escola, auxiliando para que ele permaneça até que saia dessa escola... há diversos

fatores que estão presentes que interferem no processo de ensino-aprendizagem, e

aí a gente como profissional estaria auxiliando nisso (P11).

Na escolarização, apesar do processo de ensino-aprendizagem acontecer devido aos

diversos atores escolares é geralmente protagonizado por alunos e professores, devido a

isso, as funções do psicólogo estão muito relacionadas à atuação junto aos docentes,

através da assessoria sobre temas da Psicologia, como afetividade, desenvolvimento

humano, aprendizagem, relações humanas, bem como na elaboração e desenvolvimento de

cursos ou encontros de formação de professores sobre temas diversos solicitados pela

coordenação pedagógica ou por alguma necessidade identificada. Para Nunes (2005), o

desenvolvimento dessa função é muito importante, uma vez que os conhecimentos da

ciência psicológica podem auxiliar consubstancialmente a prática docente.

Ainda, a função de orientador também foi citada pelos psicólogos entrevistados. De

acordo com a maioria deles seu papel refere-se a oferecer orientações diversas aos

diferentes componentes com o intuito de instrumentalizá-los e assim potencializar o

desenvolvimento educacional da escola, em todos os seus processos. Neste aspecto, houve

nas entrevistas o destaque para a orientação feita aos pais, a qual é realizada buscando não

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só informar sobre o processo educacional de seus filhos, mas também suscitar a

importância do acompanhamento deste desenvolvimento por parte dos familiares. Para

Leite e Valle (2003), essa relação de diálogo entre os pais e o psicólogo deve ser

considerada por este como uma intervenção importante e necessária.

Já no âmbito do desenvolvimento institucional, a principal função do psicólogo, de

acordo com o que foi evidenciado nessa pesquisa, refere-se ao papel de mediador, seja em

relação às questões de relações interpessoais e intergrupais, como em relação aos

processos. De acordo com Souza (2011), o psicólogo muitas vezes consegue fazer uma

leitura diferenciada das interações que acontecem nos diversos sistemas, sendo capaz de

identificar aspectos disfuncionais que estejam criando desequilíbrio e conflitos nessas

interações, impactando assim a dinâmica institucional. Devido a isso o trabalho com vistas

a essa dinâmica não pode ser negligenciado, uma vez que ele está relacionado ao

desenvolvimento educacional da escola.

Outra forma de mediação pertinente à função está em relação aos processos que

ocorrem na escola para que os objetivos e metas que estão presentes no seu planejamento

político pedagógico sejam alcançados. Nesse sentido, o psicólogo deve contribuir na

elaboração desse documento e também atuar como um verdadeiro promotor de reflexão

acerca do funcionamento desses processos, levando os diversos componentes a avaliarem

suas ações e implicações para o bom andamento pedagógico e institucional da escola (Del

Prette & Del Prette, 2008a; CFP, 2013). Para P12, esta é a sua principal função:

Eu lembro da bibliografia que eu usei pra fazer esse relatório, falava-se muito de

uma função do psicólogo como sendo um criador de espaços de reflexão sobre as

práticas do dia-a-dia da escola e eu acredito que seja muito isso também. Como eu

tento me inserir em reuniões, em horas de estudo, em formação, para tentar

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sempre trazer esse tipo de reflexão sobre o que se está fazendo, se está dando

resultados, se estão no caminho certo (P12).

Esse tipo de intervenção deve ser realizada buscando sempre fomentar na equipe

uma auto responsabilização sobre seus papéis, suas atribuições e sua parte no todo que

constitui a instituição em que trabalham (Correia e Campos, 2004). Segundo P14, no local

em que trabalha é perceptível a troca de papeis entre os diversos cargos, onde o

coordenador age como diretor, por exemplo, tomando decisões que não lhe caberiam,

dificultando a realização de muitas atividades e provocando conflitos entre outros

componentes, cabendo aí uma intervenção sua.

Ainda, é comum no ambiente escolar haver uma desresponsabilização quanto aos

aspectos que se impõe como problemas a serem superados, direcionando geralmente a

culpa a outro componente da equipe ou para o aluno e sua família. Quando isso acontece,

os problemas existentes na escola parecem ganhar força, tornando-se mais difíceis de

serem resolvidos, uma vez que ao negar sua parcela de responsabilidade sobre uma

determinada questão, o respectivo componente não se envolve na busca de estratégias e

ações para resolvê-la. Desta forma, percebe-se a necessidade de que o psicólogo realize

essa mediação reflexiva entre os processos e seus produtores.

Também em sua função mediadora, este profissional pode atuar no sentido de

provocar uma aproximação entre a família e a escola, buscando criar estratégias junto aos

gestores e equipe pedagógica, para que a instituição escolar seja um espaço procurado e

frequentado pelos pais dos alunos, envolvendo-os em seus processos, potencializando

ainda mais o desenvolvimento educacional dos discentes (Correia e Campos, 2004).

Outrossim, ainda em relação ao caráter mediador da função do psicólogo,

identificou-se que este também pode ser o promotor de reflexões entre o aluno e o seu

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próprio desenvolvimento educacional e sua formação cidadã. Para P4, este é um trabalho

que busca fazer, objetivando que os alunos entendam porque estão na escola, qual a

importância da educação para sua vida e seu futuro profissional. Segundo ele, é importante

o desenvolvimento de projetos e atividades que provoquem o protagonismo nos alunos,

para que também sejam construtores desses processos educativos que estão inseridos, que

atuem na escola, questionando-a e também contribuindo com ela. Além disso, essa atuação

passa também na formação de jovens líderes e multiplicadores de informações, com uma

consciência cidadã, dispostos a um compromisso maior com questões sociais.

Por fim, observa-se que as questões relacionadas às funções dentro da área escolar

constitui-se de fato como algo a ser considerado, investigado e compreendido para um

bom entendimento da inserção e da atuação do psicólogo no contexto educacional. Por um

lado, vê-se o quanto essa função é vista de forma equivocada pelos demais componentes,

havendo em muitas instituições uma falta de clareza quanto ao real papel deste profissional

e por outro lado se identifica muitas vezes uma dificuldade entre os próprios psicólogos

em definir suas funções no espaço escolar, denotando a existência de problemas quanto à

identidade profissional. Corroborando com isso, P13 em uma de suas falas, diz:

A gente chegou ali meio que cego, e foi tentando seguir o que estava no edital, qual

seria nossa função. Então o meu cargo lá na SEMED é de Analista Educacional, e

esse cargo foi aberto para 4 tipos de profissionais, Fonoaudiólogo, Assistente

Social, Psicólogo e Nutricionista. Só que eles nos colocaram numa função que nem

eles sabiam o que fazia e foi mandando uma demanda que não era nossa... foi

difícil desse jeito, porque na faculdade eu não aprendi qual era. A gente lia, lia e

não formava uma opinião. Se você pegar muitos artigos que falem sobre isso,

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ainda assim é escorregadio esse entendimento. Acho que é tudo muito abstrato e

muito romântico, só que a realidade não é nada romântica (P13).

De fato, percebe-se na literatura a sugestão de tantas funções ao psicólogo que

talvez crie uma dificuldade de apropriação e definição de uma identidade específica.

Porém, também consiste em fato que a função deste profissional na escola não pode ser

reduzida apenas a um viés, sendo ela essencialmente multifacetada, uma vez que se dá

dentro de um sistema, a escola, intensamente dinâmico e profundamente complexo. Para

Correia e Campos (2004), essa questão de multifunções não deve ser considerado como

um problema, pois a área requer que assim o seja, segundo eles, o que precisa ser

problematizado é como essas funções são desenvolvidas, devendo-se sempre partir daquilo

que é possível e prioritário na escola.

Levando isso em consideração e buscando encontrar respostas que ajudem a

entender melhor essa questão, infere-se que um dos possíveis fatores que pode explicar

essa confusão quanto aos papeis e função do psicólogo no contexto escolar pode estar no

âmbito da formação acadêmica, a qual geralmente não oferece ao futuro psicólogo

conhecimentos e experiências suficientes para uma atuação adequada a esses contextos.

Isso porém, será analisado e discutido na categoria subsequente que se refere a formação.

5.3 Motivos à escolha da área escolar e educacional como campo de atuação

Historicamente a Psicologia enquanto profissão possuiu durante muito tempo três

principais e tradicionais campos de atuação profissional, sendo eles a clínica, a escolar e a

industrial (Bastos, 1988), porém, atualmente há uma maior diversidade desses campos de

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práticas, proveniente dos “novos mercados”, ou seja, da inserção dos psicólogos em áreas

como a hospitalar, jurídica, do esporte, etc (Gondim, Bastos & Peixoto, 2010).

Para Bastos (1988, p.167), as áreas de atuação na Psicologia são contextos

relacionados ao campo profissional, que se constituem não só pelas características

específicas do espaço e da intervenção psicológica, mas também pelas “relações sociais,

valores e papeis” que permeiam esses contextos, obtendo uma configuração própria.

Assim, segundo este autor, a busca por uma área teria relação não só com os aspectos

práticos do campo, mas também com questões de identificação “a nível de valores, visão

de mundo e concepção de homem, etc.” que o psicólogo possui.

Logo, tendo em vista a diversidade de áreas no campo da Psicologia, acredita-se

que o psicólogo vivencia, durante a formação acadêmica e mesmo depois de formado, um

processo de identificação, escolha e busca por uma área de atuação profissional.

Entretanto, observa-se que muitos atravessamentos podem acontecer durante esta

trajetória, como a abertura do mercado de trabalho e a oportunidade de emprego, por

exemplo.

Em relação à classificação das áreas, de acordo com Gondim, Bastos e Peixoto

(2010, p.176), em sua pesquisa sobre as áreas de atuação do psicólogo brasileiro realizada

em 2006 foi possível identificar sete áreas de atuação, a saber: “Clínica e Avaliação

Psicológica, Organizacional e do Trabalho, Social e Comunitária, Saúde e Hospitalar,

Jurídica, Docência e Pesquisa e a Educacional e Escolar”.

Segundo esses autores, esta última área citada, a escolar e educacional, ficou

classificada em quinto lugar (9,8%) na classificação de áreas ocupadas pelos profissionais

de Psicologia no Brasil. Esse dado indica um decréscimo dessa classificação ao comparar

esse índice com o dado encontrado na pesquisa realizada pelo CFP em 1988, onde o

percentual obtido por essa área foi de 14,7% , estando ela no terceiro lugar das áreas

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ocupadas pelos psicólogos brasileiros. Ou seja, passado dezoito anos houve uma

considerável diminuição na ocupação dos psicólogos nos espaços educacionais e escolares.

Diante disso, indagam-se a quais aspectos estariam relacionados às causas deste

decréscimo, se a questões mercadológicas ou a questões da formação acadêmica. Em

relação ao mercado de trabalho, embora seja fato que a inserção de psicólogos em

contextos educacionais é pequena se compararmos a quantidade de instituições escolares e

educacionais no Brasil, observa-se um aumento na contratação destes profissionais nestes

espaços, seja no âmbito público ou particular. Assim, acredita-se que possivelmente a

formação acadêmica esteja associada às motivações para a escolha da área e seja, no caso

da área escolar e educacional, um dos principais motivos de sua queda no ranking das

áreas de atuação do psicólogo no Brasil.

Dessa forma, interessou investigar junto aos psicólogos que atuam em contextos

educacionais quais os motivos que os levaram a atuar profissionalmente nesta área da

Psicologia, buscando ainda evidenciar se há algum tipo de relação com a formação

acadêmica recebida. Para isso, buscou-se identificar a existência de pretensão em relação à

área durante a graduação, os motivos da escolha e a ideia de permanência no campo

educacional.

5.3.1 Pretensões de atuação na área

Acredita-se que durante o decorrer da graduação acadêmica seja natural a criação

de expectativas quanto ao futuro profissional, sobre questões relacionadas ao local de

trabalho, tipos de atividades, remuneração, entre outros. Além disso, na Psicologia, diante

do fato de existir variadas possibilidades de atuação que se referem a campos com

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características tão diferentes parece também ser comum a existência de expectativas

quanto a uma determinada área (Leite et al, 2011).

Assim, no presente estudo, antes de conhecer os possíveis fatores que levaram a

escolha do campo da educação para que pudessem atuar enquanto psicólogos, nos

interessou investigar junto aos entrevistados se durante a formação acadêmica a área

escolar era uma área de pretensão para sua futura atuação. A partir desse questionamento,

identificou-se que apenas metade dos entrevistados tinha a pretensão de trabalhar como

Psicólogo Escolar e Educacional quando se formasse. Dentre estes, P7 e P8, afirmaram

que esta sempre foi sua pretensão, mesmo antes de começar o curso. Já para P6 a ideia de

atuar nessa área surgiu durante o curso, a partir de sua identificação com o campo, o que o

fez direcionar seus estudos, trabalhos e estágios para esta forma de atuação. Ainda, P4

enfatizou ser esta a única área em que queria atuar como psicólogo, conforme vemos nos

relatos a seguir:

Sinceramente na área da Psicologia só a escolar. Na verdade eu também sempre

quis ser professor, aí eu acho que junta as duas coisas, entendeu? Hoje eu não sou

um professor, mas estou atuando na Educação (P4).

Sim, sim! Eu fiz monitoria em Psicologia Escolar, procurei voltar sempre meu

currículo enquanto eu estava na faculdade sempre pra área escolar. Fiz estágio

voluntário em escolas sem remuneração, pois eu queria estar dentro da escola

para conhecer (P7).

A outra metade dos participantes afirmou não ter a referida pretensão, embora

atualmente trabalhem na área. Segundo P5, durante sua graduação sempre teve consigo a

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convicção de que não trabalharia na Educação, pois gostava muito da área clínica. Isso é

visto nos seguintes relatos:

Sendo franca com você, não! Eu tinha uma colega de turma que ela era

verdadeiramente apaixonada pela psicologia escolar. Eu lembro que eu brincava

dizendo assim pra ela: “olhe eu acho que em absoluto eu nunca vou trabalhar em

psicologia escolar.” (risos). Porque a minha paixão pela psicologia clínica era

muito forte. Enfim, terminei me encontrando com a psicologia escolar, muitos anos

depois, mas não era uma pretensão inicial (P5).

Não, de jeito algum! Trabalhar como eu trabalho hoje, eu nunca pensei (P13).

O relato de P5 é corroborado pelos dados de uma pesquisa de Cruces e Maluf

(2007), realizada em dois momentos com estudantes de Psicologia, quando os alunos já

estavam concluindo o curso e quando já estavam formados há um ano. Em ambos os

momentos, identificou-se que a área de maior pretensão entre eles, nas duas etapas, foi

predominantemente a área clínica e saúde. Na primeira etapa, a clínica obteve 58,6%, em

detrimento da escolar que teve apenas 9,6% e na segunda a clínica teve 48,2% enquanto a

escolar e educacional obteve 13%. Para os responsáveis pela pesquisa, há a hipótese de

que a formação que vem sendo proporcionada nos cursos de graduação em Psicologia

tendencia a preferência dos estudantes para um campo em detrimento dos demais, no caso

o campo clínico.

Enfim, entende-se que a pretensão em relação a futura área de atuação, acaba se

consolidando ou não a partir da inserção profissional do psicólogo recém-formado no

mercado de trabalho. Como vimos, na pesquisa de Gondim, Bastos e Peixoto (2010),

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apenas 9,8% dos psicólogos participantes encontravam-se inseridos em contextos

educacionais. Tendo em vista esse índice, considerado pequeno se comparado com o

mercado que poderia absorver este profissional, instiga o interesse de saber os motivos que

levaram os psicólogos a atuarem neste campo.

5.3.2 A escolha da área e seus possíveis motivos

Foi identificado que, no quesito escolha da área, os entrevistados se dividem entre

aqueles que afirmam que trabalhar nessa área foi uma escolha (50%) e aqueles que

afirmam que não foi uma escolha (50%), sendo estes dois subgrupos apresentados a seguir.

5.3.2.1 Trabalhar na área Escolar e Educacional foi escolha

Dos psicólogos entrevistados, metade afirmou ter escolhido a área escolar e

educacional como seu campo de atuação profissional, buscando uma oportunidade de

trabalho para se inserir nesse contexto, logo após sua formação. Dentre estes, foi percebido

que a dinâmica da escolha se deu de forma diferenciada, pois alguns já gostavam do

campo de Educação antes de iniciar o curso de Psicologia, outros passaram a gostar

durante o curso e outros após o término da graduação.

Conforme P3, P7 e P8, o campo educacional sempre foi do seu interesse e mesmo

antes de começar o curso de Psicologia já havia uma predisposição a essa área, devido ao

fato de em sua família haver muitos profissionais que trabalham na Educação. Segundo P8

o gosto por essa área sempre foi forte, fazendo com que ele, ao concluir o Ensino Médio,

mesmo antes de iniciar um curso de nível superior, buscasse um emprego em escolas para

que pudesse se aproximar desse campo.

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Além de haver uma predisposição para a afinidade com os contextos educacionais

de atuação, P7 afirma que as disciplinas referentes às práticas na Educação vistas no curso

de Psicologia foram muito importantes para fortalecer sua escolha, uma vez que o contato

com esses conteúdos fez com que se interessasse ainda mais, passando a ter então a

Psicologia Escolar e Educacional como sua perspectiva futura de atuação como psicólogo.

Da mesma forma, P8 reconhece que sua professora da disciplina de Psicologia Escolar e

Educacional contribuiu muito para que seu interesse na área de PEE aumentasse mais.

Na verdade essa minha escolha se deu desde antes da graduação, não sei se por

influência da minha família, pois minha família é toda pedagoga. Eu tenho mãe

professora, tias professoras, temos escola no interior, entendeu? E aí eu acho que

isso contribui na escolha, e na época da faculdade eu sempre me identifiquei com

as matérias de psicologia escolar... enfim, eu acho que foi por isso a escolha (P3).

Eu sempre quis escola, então minha vó foi orientadora, minhas tias são

professoras, eu sempre vivenciei muito isso e eu acho que acabou influenciando de

algum jeito. Então, quando eu entrei na faculdade eu comecei a trabalhar numa

escola de educação infantil, como professora, monitora. E aí fui gostando mesmo

da área e quando eu fui começando ver as matérias eu fui dizendo: “eita! Eu acho

que pode ser”. Tanto que no 3º período eu brincava com a professora dizendo que

ia ser psicóloga escolar, porque de fato eu me identifico bastante (P7).

Sempre gostei da área de educação. Costumo dizer que veio na genética, porque

assim eu tive tios que tiveram escolas, minha mãe formou em pedagogia, atuou em

coordenação escolar e eu sempre tive muita vontade (P8).

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Percebe-se que para estes psicólogos, que relatam afinidade pela área Escolar e

Educacional mesmo antes de fazer o curso de Psicologia, a família se apresenta como o

aspecto de maior influência na escolha tomada. Todos eles relatam que sua primeira

aproximação com as questões profissionais da Educação se deram a partir das referências

que tinham dos seus familiares. De acordo com Mattiazzi (1977), a família constitui-se

como um forte fator de influência no desenvolvimento de interesses por uma determinada

profissão. De forma semelhante, Bohoslavsky (2003) afirma que o grupo familiar

oferecem bases de valores significativos na construção da escolha profissional de um

indivíduo, tornando-se, muitas vezes, uma referência a ser seguida.

Entretanto, além do aspecto familiar, percebe-se também o quanto foram

importantes para o fortalecimento de sua escolha as disciplinas de PEE ministradas durante

a formação em Psicologia. Essa importância também é relatada por outros psicólogos para

os quais o interesse pela atuação em Psicologia Escolar e Educacional surgiu apenas

durante o curso de graduação em Psicologia, a partir do contato estabelecido com as

disciplinas, especialmente as de PEE, com a qual foram se identificando. Segundo P4 essa

área foi a que mais lhe chamou a atenção durante o curso, tanto que para ele não havia

outra perspectiva de trabalho como psicólogo. Já para P1 foram as práticas de estágios que

despertaram sua atenção para esta possibilidade de atuação, conforme se observa nos

trechos a seguir:

Durante a graduação na disciplina de Psicologia Escolar 1 e 2, a gente acabou

desenvolvendo vários projetos em escolas públicas que acabaram despertando esse

desejo em compreender melhor as relações professor-aluno, aluno-família e que

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tipos de consequências acabam acontecendo na aprendizagem e aí fui gostando da

área (P1).

Na verdade durante a formação foi a área que mais me interessou, quando eu

passei na seleção aqui tinha a opção entre organizacional que todo mundo queria

e a escolar que só eu queria, e foi a que eu escolhi, pois realmente eu me

interessei, então desde a faculdade foi a área que mais me chamou a atenção (P4).

Ah! Isso é desde a época da universidade que achei interessante, era uma das

disciplinas que eu mais tinha facilidade, fui me identificando, fui achando uma

área bem interessante (P6).

Acredita-se que o surgimento do interesse pela área a partir da formação

acadêmica, pode ser explicada pelo fato de que, no processo de escolha de uma profissão,

uma etapa importante que deve ser vivenciada pelo indivíduo que escolhe é a informação

profissional, ou seja, o conhecimento dos fatores e características referentes a um

determinado campo de atuação (Bohoslavsky, 2003) . Sendo assim, infere-se que durante

um curso de formação acadêmica essa informação profissional aconteça através das

disciplinas e atividades disponibilizadas com as quais o aluno tem contato, podendo

identificar-se (ou não) com essas características e consequentemente com a área

profissional.

Apenas para P2 a escolha não foi algo que já existia quando terminou a graduação,

mas uma decisão que se deu após seu término. Ele afirma que inicialmente não achou a

área interessante para trabalhar como psicólogo, pois os conteúdos apesar de serem

interessantes não lhe despertaram nenhuma pretensão de atuação profissional. Entretanto,

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após se formar, teve uma oportunidade de trabalhar com projetos que seriam

desenvolvidos em escolas e por este motivo, ao se aproximar do ambiente escolar, foi se

identificando com o contexto educacional, se permitindo pensar numa atuação enquanto

psicólogo nestas instituições e a partir disso escolheu permanecer na área como Psicóloga

Escolar e Educacional.

Inicialmente eu não me identifiquei na faculdade em trabalhar com Psicologia

Escolar. Eu gostei, achei muito interessante, mas eu não me identifiquei tanto.

Quando eu fiz estágio em psicologia escolar eu fiz com orientação profissional, foi

bem específico, mas não me despertava tanta curiosidade em trabalhar com isso

nessa área. Quando eu terminei a faculdade, já no finalzinho eu fui chamada pra

trabalhar numa ONG de educação empreendedora e lá eu era gestora de projetos.

Aí eu comecei a me aproximar, fui pra escola aplicar os projetos, e aí eu fui pra

sala de aula e amei. Então na verdade foi se encaminhando, mas também eu fui

escolhendo ficar e fui me apaixonando. Não foi uma coisa que eu já saísse da

faculdade certa não (P2).

Desse modo, analisando todos os relatos dos entrevistados citados anteriormente, é

possível inferir que o fato de ter existido algum tipo de aproximação com o campo

contribuiu e serviu de influência na escolha da área de atuação. Como vimos, para três

destes entrevistados essa aproximação se deu através das referências passadas pelos

familiares que trabalhavam em escolas, para outros três participantes a aproximação

aconteceu devido aos conteúdos e as práticas das disciplinas e estágios relacionadas ao

campo educativo e para outro ocorreu a partir da experiência de trabalho no âmbito

educacional. Percebe-se que todas essas formas de contato possibilitaram a essas pessoas

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um melhor conhecimento do referido campo de atuação profissional, permitindo-os se

identificar com as características presentes nesse contexto, incidindo em sua escolha.

Destaca-se aqui a aproximação proporcionada pela academia durante o curso de

graduação, pois como foi evidenciado nas entrevistas destes psicólogos a escolha da

maioria teve relação com a formação acadêmica recebida, seja no fortalecimento de uma já

existente predisposição ou na descoberta de afinidades com a área até então desconhecida.

Assim, a partir destes dados, observa-se o quanto é importante que haja durante o curso de

Psicologia a oferta de disciplinas, práticas de estágio e projetos de extensão que

possibilitem a aproximação dos diferentes campos de atuação. Corroborando com isso Del

Prette e Del Prette (2008a) defendem que a formação deve proporcionar um contato com

os campos práticos e teóricos, de forma associada, levando a promoção das habilidades

necessárias à atuação profissional.

Além disso, como vimos anteriormente, a promoção de estágios, atividades de

extensão e disciplinas de um determinado campo de atuação, como o escolar e

educacional, por exemplo, permite a informação profissional necessária para a abrangência

da capacidade de escolha do futuro campo de atuação. Logo, pode-se pensar que a não

oferta dessas informações, ou seja, a não oportunização de disciplinas e atividades de uma

determinada área, incorre em risco de limitar o âmbito da escolha do graduando apenas

àquelas áreas promovidas pelo currículo do curso. De acordo com Sparta, Bardagi e

Andrade (2005), a falha ou insuficiência de informação profissional geralmente são as

causas de dificuldades e limitações no processo de escolha profissional.

De acordo com Medeiros e Aquino (2011) há certa desvalorização dessa área em

algumas universidades. Isto pode ser observado pelo fato de que em boa parte das

graduações em Psicologia essas disciplinas e estágios tendem a ser negligenciados

existindo pouca ou nenhuma oferta durante o curso. Isso talvez explique o porquê de boa

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parte dos psicólogos recém-formados não cogitar o contexto educacional como um

possível campo de trabalho.

5.3.2.2 Não foi escolha

Na presente pesquisa, metade dos participantes entrevistados afirma não ter

escolhido a área Escolar e Educacional como seu local de atuação. Entretanto, apesar de

não ser uma escolha sua, hoje atuam nessa área por motivos de acaso, seja por terem

passado em concursos públicos ou por ter sido a primeira oportunidade de trabalho que

apareceu. Isso pode ser explicado a partir da teoria da escolha vocacional por acidente,

cuja postulação afirma que os acontecimentos casuais podem determinar a aproximação

com uma profissão, causada pela força de um estímulo significativo (a oportunidade de

emprego) diante de uma situação não esperada (a necessidade de trabalhar), por exemplo

(Gondim, Magalhães & Bastos, 2010).

Dessa forma, dois dos entrevistados afirmam que foram para a área educacional por

terem recebido um convite de trabalho. Segundo P9, quando ele se formou, a primeira

oportunidade de trabalho que apareceu como psicólogo foi no campo da Educação e,

mesmo não pretendendo inicialmente trabalhar nesse contexto, aceitou o convite. Já para

P5, o convite surgiu depois de formado, estando ele na área clínica já há mais de 3 anos, o

qual encarou como um desafio, pois não havia trabalhado ainda como psicólogo em

contextos educacionais. Isso é apresentado nos seguintes relatos:

Um ano depois eu já estava formada, foi quando eles me convidaram, a secretaria

de educação propôs esse convite de assumir enquanto psicóloga da escola. Era o

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meu primeiro emprego como psicóloga, embora eu não sonhasse com a Psicologia

Escolar era uma coisa boa naquela época que estava acontecendo (P9).

Na verdade eu fui convidada, eu já tinha bastante tempo de atuação na área

clínica e surgiu a oportunidade de trabalhar na Psicologia Escolar, então na

verdade eu acho que ela acabou me escolhendo do que eu propriamente, então foi

um convite, um convite com caráter de desafio porque eu não tinha nenhuma

experiência na área de psicologia escolar. Mas em se tratando de psicologia

escolar mesmo foi um convite que de certa forma me seduziu e eu disse: eu vou pra

ver como é que é. Foi assim que se deu meu inicio na Psicologia Escolar (P5).

Para cinco dos participantes que afirmam ter sido uma questão de acaso, trabalhar

na área educacional foi algo que aconteceu devido a aprovação em um concurso público.

Segundo P12, o mercado de trabalho para o psicólogo não permite a este muitas escolhas,

sendo restrito e deixando-o na dependência daquela oportunidade que primeiro lhe

aparecer. Já para P11, sua busca por estabilidade financeira foi o que fez com que se

dedicasse à aprovação em concursos públicos, por considerar que a Psicologia enquanto

profissão não permite ao psicólogo uma segurança financeira. Corroborando com esta

ideia, P14 relata que ao se formar tentou se estabelecer na área clínica, que era a área de

sua preferência, mas não obteve sucesso devido ao mercado de trabalho estar cada vez

mais fechado para o psicólogo clínico. Com isso, começou a fazer concursos e foi

passando em alguns, sempre escolhendo ficar naquele que fosse mais rentável e mais

próximo da capital, estando vinculada atualmente à Secretaria Municipal de Educação.

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Não foi bem uma escolha, foi um concurso. Então, infelizmente, na nossa profissão

a gente não está tendo muita escolha (P12).

Então, não foi nada planejado porque eu acabei fazendo concurso para áreas

diversas né, e aí realmente o primeiro que convocou foi aqui, então eu acabei

vindo (P10).

Depois de 2 anos eu fiz um concurso e passei para o CRAS de um município do

estado. Então eu fui buscando uma estabilidade em minha vida também, claro que

a gente tem que se identificar com o local e tal, mas eu tive que tentar buscar

estabilidade pra minha área... Aí por buscar essa estabilidade eu fui fazer

concursos e consegui passar nesse concurso, que foi uma benção porque a

remuneração é boa e aí é mais tranquilo você estar nessa situação de estabilidade

(P11).

Com isso, infere-se que o concurso público se apresenta para muitos psicólogos

recém-formados como uma saída para a conquista de uma oportunidade de trabalho, não

parecendo importar se a área de atuação é aquela com a qual a pessoa se identificou

durante o curso ou até mesmo se ela se sente preparada para atuar.

Dentre todos que afirmaram não ter elegido o campo da educação para atuar,

apenas um deles afirma saber inicialmente que o concurso a ser feito seria para a área da

Educação. Mesmo sabendo ele acredita que não se constituiu como uma escolha da área

em si, pois esta era a única à qual poderia concorrer no concurso, ou seja, na verdade a

busca foi pela vaga de psicólogo e não pelo trabalho de Psicólogo Escolar e Educacional.

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De acordo com os outros entrevistados que ingressaram via concurso, quando se

inscreveram para fazer a seleção não havia no edital a especificação da área de trabalho,

constando apenas a função de “Psicólogo”. Porém, somente após a aprovação e

convocação para começar a trabalhar é que foram informados de que iriam atuar na área

escolar e educacional, sendo para alguns uma surpresa por nunca terem cogitado a

possibilidade de atuar nessa área ou até mesmo não se sentirem preparados para tal.

Apenas um destes participantes afirmou receber a notícia com contentamento por acreditar

que teria muito a contribuir e por este ser um campo desafiador e novo ao Psicólogo,

conforme vemos no relato a seguir:

Mas, uma vez que eu entrei no concurso, passei e fui convocada, eu fiquei feliz de

ser na área da Educação, principalmente por ser uma área pouco habitada por

psicólogos, então para mim era um espaço que eu visualizei um lugar que não

tinha práticas engessadas, que eu ia poder aprender junto e ajudar a inventar este

espaço dentro da nossa profissão. Pra mim foi bom por isso (P12).

Ainda, três dos entrevistados afirmaram que o campo da Educação era justamente a

área da qual eles queriam fugir. De acordo com P9, muitas pessoas de sua família

trabalham na Educação e as referências que teve desse campo não foram boas, fazendo

com que nunca tivesse interesse por essa área enquanto psicóloga. Conforme Bohoslavsky

(2003), a família enquanto fator que exerce influência na escolha do indivíduo oferece

referências tanto positivas quanto negativas sobre um determinado objeto, como um

campo profissional por exemplo. Ainda segundo este autor, tanto as satisfações como as

insatisfações quanto a profissão vivenciada pelos pais e demais familiares também se

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constituem como referências a serem apropriadas de forma negativa ou positiva por uma

pessoa.

De forma semelhante, P13 relata que sua experiência nesta área, proveniente de sua

atuação como professora, também fez com que rejeitasse a perspectiva de trabalhar como

Psicóloga Escolar e Educacional, conforme nos trechos seguintes:

Não foi por que eu quis. Ah! Era meu sonho... não era! Eu queria até fugir da

educação, como eu já trabalhava há 10 anos como professora, eu pensei: “não

quero mais essa vida”. Esse era o último concurso que talvez eu fosse escolher,

mas como no concurso precisava ter especialização, a única especialização que eu

tinha era na área de educação e eu disse vou fazer, aí fiz e passei (P13).

Olhe eu vou ser sincera! Meu interesse nunca foi a área escolar, embora eu tivesse

uma formação em pedagogia. Então, porque não? Porque meus pais já são

professores e eu sempre brinquei, eu quero fazer uma coisa diferente, eu não quero

ouvir assunto de aluno todo dia em casa, porque eu já vivia muito essa realidade

(P9).

Na verdade eu nunca tinha pensado em trabalhar na área escolar, porque na

época de escola eu odiava escola e eu continuo odiando escola, não vou mentir

(P14).

A evidência de que metade dos entrevistados ingressou na área devido à busca de

uma vaga de psicólogo sem haver o interesse inicial na área em que trabalhariam, nos

permite pensar algumas questões importantes e que ajudam a discutir a inserção

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profissional do Psicólogo nos espaços educacionais, em especial nos âmbitos públicos. A

priori, provoca um questionamento se essa ‘não escolha’ pode vir a impactar a atuação

profissional desse psicólogo. Ou seja, o fato de não se escolher a área de atuação, mas

eventualmente vir a trabalhar nela, pode causar alguma implicação na qualidade e

efetividade dos serviços oferecidos?

Um segundo ponto observado é que dos sete profissionais que afirmaram não terem

escolhido o trabalho pela a área de atuação, seis são da rede pública de educação. Assim,

outra reflexão possível é: será que a ‘não escolha da área’ é algo comum à atuação na rede

pública? Acredita-se que esses questionamentos se apresentam como pertinentes ao se

pensar na perspectiva futura do aumento da inserção do psicólogo na rede pública de

educação, a ser promovido quando o Projeto de Lei da Câmara 60/2007 for aprovado e

efetivado. Ou seja, esses apontamentos nos levam a um questionamento maior: será que a

abertura de vagas, no campo educacional público, para a contratação de psicólogos incorre

em risco de insucesso na luta de uma inserção profissional de qualidade e efetiva do

psicólogo nos contextos educacionais?

Vale ressaltar que o que se coloca em discussão aqui não é em si a competência de

psicólogos que passam em concursos sem possuir afinidade com a área, mas apontar para

questões que precisam ser discutidas no meio acadêmico e no meio da categoria

profissional. Num primeiro momento, em relação ao meio acadêmico, a não escolha de

uma determinada área de atuação nos leva a duas hipóteses: ou foi uma questão de falta de

afinidade após conhecer as características da área e possibilidades de atuação nela, ou foi

uma questão de não conhecimento dessas características do campo e do trabalho nesse

contexto. Acredita-se que, em grande parte dos casos, a segunda hipótese seja a mais

constante e provável. Isso fortalece o já foi denunciado em pesquisas sobre a necessidade

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de discutir e reestruturar a formação acadêmica em Psicologia (Marçal, 2010; Gimenez &

Tizzei, 2008; Nunes, 2005; Cunha & Betini, 2003).

Num segundo momento, algo que precisa ser discutido pela categoria profissional,

associações e conselhos de classe refere-se à forma como os concursos públicos para

preenchimento da vaga de Psicólogo nas diferentes instituições públicas têm sido

realizados. Acredita-se que essas realizações apresentam um problema considerável que é

o fato de não especificar no edital as áreas a serem preenchidas pelas vagas e

consequentemente exigir os conhecimentos específicos adequados para o trabalho em cada

campo de atuação. Como defendem Guzzo, Mezzalira e Moreira (2012, p. 335), essa

indefinição “tem se configurado como um entrave para uma ação contextualizada e crítica

desse profissional no sistema público de ensino”.

Também, o que se observa é que esses concursos feitos de forma abrangente

exigem assuntos diversos, ou muitas vezes mais voltados para a área da saúde e clínica,

oportunizando a aprovação desse tipo de perfil de psicólogo, sendo estes direcionados para

outras áreas da qual não tem nenhuma proximidade, interesse ou conhecimento adequado

para este determinado contexto, sendo consequentemente desempenhadas ações

inapropriadas e que não conseguem agir sobre as reais causas dos problemas educacionais.

De acordo com Guzzo, Mezzalira e Moreira (2012), além da não especificação da área nos

editais, muitas vezes, o número de psicólogos contratados não são equivalentes a

população atendida, havendo uma sobrecarga de demandas.

Ainda, Guzzo, Mezzalira e Moreira (2012) apresentam algumas setas de ações

possíveis e necessárias para a superação dessa situação tais como a especificação do cargo

e área nos editais, exigência de especialização às áreas a serem ocupadas, adequação da

bibliografia e dos conteúdos exigidos com a área afim, e melhoria dos salários, uma vez

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que estes são, geralmente, desvalorizados e de baixa remuneração, incitando uma maior

desistência de atuação nesse campo.

Diante disso, apesar do fato de que as instituições públicas possuem autonomia

para promover, estruturar e realizar suas seleções e concursos públicos, compreende-se que

os conselhos e associações precisam intensificar as discussões sobre essas questões a fim

de criar estratégias ou formas de intervenção junto aos órgãos públicos para que problemas

como esses sejam devidamente contornados. Acredita-se que este deve ser mais um

aspecto a ser considerado e somado à luta, já existente, por uma maior inserção

profissional dos psicólogos nos espaços educacionais públicos, uma vez que não basta

suscitar a abertura de vagas sem haver uma preocupação sobre como essas vagas serão

geridas, ocupadas e efetivadas. Entende-se ainda, que a questão da inserção profissional do

psicólogo na Educação Pública efetiva-se não apenas com a contratação deste pelas

Secretarias Municipais e Estaduais de Educação, mas sim com a prestação de serviços e

contribuições eficazes que atribuam qualidade aos processos educativos que ocorrem

nesses contextos.

Outrossim, nos interessou saber, além dos aspectos relacionados à escolha, se esses

psicólogos estavam satisfeitos com a área Escolar e Educacional como local de atuação

enquanto psicólogos, bem como se pretendiam continuar ou sair dessa área de atuação.

Isso foi investigado na pesquisa nacional realizada por Bastos, Magalhães e Carvalho

(2010), na qual foi identificado que os psicólogos que atuavam em contextos educacionais

apresentou menor desejo de permanência na área.

No presente estudo realizado em Sergipe, a partir da análise dos relatos, foi

identificado que nove dos quatorze entrevistados pretendem continuar trabalhando no

campo educacional. Segundo P6 o trabalho nessa área tem sido satisfatório tanto para ele

quanto para a instituição onde trabalha. De acordo com esse entrevistado, no local onde

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trabalha sempre existiu uma rotatividade de psicólogos, entretanto ele permanece neste

cargo já há quatro anos. Já para P7, o fato da área escolar e educacional possuir uma

flexibilidade que lhe permite ter um segundo emprego, numa outra área que gosta muito,

contribui para que não cogite sair dela.

Vale frisar que dentre estes que afirmaram ter a intenção de continuar atuando

nessa área, estão três dos psicólogos que não tinham a pretensão de trabalhar nessa área,

vindo a estar nela por motivo de acaso. Ou seja, mesmo tendo iniciado na área sem tê-la

como um local possível de atuação, atualmente não pensam em sair dela. Isso é relatado

por P5, o qual afirma que, apesar dos problemas encontrados neste campo, passou a gostar

das qualidades e das características do trabalho como Psicólogo Escolar e Educacional.

Segundo Gondim, Magalhães e Bastos (2010), essa possível identificação surge a partir da

descoberta de afinidades com uma área que a princípio era estranha ou avessa ao

indivíduo. Isso é corroborado por P13 que, inclusive, antes de fazer a experiência dessa

forma de atuação tinha a intenção de “fugir” da PEE. Ainda, para P11 a identificação foi

tamanha que seu interesse é de buscar cada vez mais se especializar para melhor se fixar

no contexto educacional.

Assim, eu não penso em sair, certo? É algo que eu aprendi realmente a gostar, com

aquilo que há de melhor nela e com aquilo que não há de tão bom, obviamente,

como em qualquer linha ou em qualquer profissão. Então não é algo que eu pense

em deixar não (P5).

Olhe, minha vontade é de fazer carreira aqui. É tanto que eu estou tentando fazer

meu mestrado, eu estou tentando me focar nessas ações, buscando cada vez mais

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fazer cursos pra me especializar na área educacional, buscando cada vez mais,

pois é uma área que existe muita coisa pra conhecer (P11).

Sim! É tanto que o meu mestrado tem essa relação com a educação, ela não me

deixa. Eu gosto (P13).

Buscando investigar também se existia algum limite para a existência do interesse

em continuar na atual área foi questionado a estes entrevistados se eles continuariam nesse

campo, mesmo que recebessem uma proposta para trabalhar em outra área e com uma

maior remuneração, sendo essa possibilidade recusada por todos eles. De acordo esses

participantes, mesmo que o ganho financeiro fosse maior, existem benefícios imateriais e

ganhos relacionados à realização pessoal que o trabalho desenvolvido no campo

educacional lhes proporcionam e que acham importante, além do fato de se identificarem e

gostarem deste campo. Para Medeiros (1971), existem satisfações pessoais que são

adquiridas por meio do trabalho, as quais são consideradas, por muitos profissionais, tão

importantes quanto a remuneração financeira. Segundo P6, trabalhar em algo que se gosta

é primordial. Corroborando com isso, P3 afirma ter passado pela experiência de realizar

essa troca, mas acabou voltando para a área escolar por reconhecer que esta é a área de sua

preferência e que lhe dá realização.

Não, nem me pagando mais, pois pra mim eu tenho que trabalhar numa área que

eu goste que eu me identifique (P6).

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Não! eu estou muito satisfeita! Não trocaria, eu hoje faço dois dias de psicologia

clínica, faço consultório. Mas não faço mais do que isso, meus outros dias tem que

ser para psicologia escolar (P8).

Por outro lado, nem todos os entrevistados da pesquisa possuem a pretensão de

continuar trabalhando como Psicólogo Escolar e Educacional. Assim, três deles afirmaram

que permanecerão nesse campo até alcançar suas metas profissionais de se estabelecer em

outras áreas de atuação. Segundo P1 e P12, seu objetivo é trabalhar e conseguir se fixar

apenas na área acadêmica, trabalhando na docência e com pesquisas. Já para P9, a falta de

identificação com o campo da PEE também é decisivo.

Ademais, para P12 e também para P9, outro fator que os fazem pensar em não

continuar é a desvalorização do profissional nessa área, bem como as condições precárias

de trabalho que são oferecidas nesses contextos. De acordo com Puente-Palacios, Abbad e

Martins (2010), fatores como insatisfação em relação ao reconhecimento profissional,

remuneração e condição de trabalho possuem relação com a intenção de abandono do

trabalho. Essas ideias de abandono da área podem ser vistas nos seguintes relatos:

Em longo prazo não, porque meu foco é realmente a docência, mas como eu tenho

horário disponível e é uma área que eu tenho afinidade, então nesse momento eu

estou conciliando, mas o meu objetivo é o ensino superior em universidades (P1).

Já tenho consciência, não permaneço. Não permaneço porque de fato assim é uma

questão de identificação. Eu acho que o psicólogo na educação é muito

importante, em todo o processo escolar, mas ele ainda é muito desvalorizado. Sem

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contar que você deve fazer por amor, eu até gosto disso que eu faço na escola, mas

eu sinto amor por outras áreas da psicologia (P9).

Ainda, para 14% dos entrevistados há dúvidas se permanecerão trabalhando como

Psicólogo Escolar e Educacional. De acordo com P10, atualmente ele se encontra numa

verdadeira crise em relação ao seu trabalho como psicólogo escolar e educacional, pois

tem enfrentado muitas contrariedades, problemas e situações que o tem desgastado e

desmotivado, chegando a se questionar se essa é uma área que realmente vale a pena

continuar. Também para P14 a permanência em seu trabalho é uma dúvida, pois as

condições de trabalho que são oferecidas são ruins e limitantes à atuação e caso, num

futuro próximo, essas condições não mudem e melhorem, ele não continuará nesse

emprego.

A partir dos relatos, percebe-se que a ideia de permanência está ligada à questão de

identificação com a área de atuação, como características do ambiente de trabalho, das

ações desenvolvidas nele, função social e etc. Para a permanência essa identificação parece

ser importante, uma vez que até mesmo aqueles que afirmaram não ter inicialmente um

interesse na área, depois de atuar nela, conhecê-la e se identificar, hoje desejam continuar

atuando como psicólogo em contextos educacionais.

Observa-se, ainda, que as condições de trabalho oferecidas para que o psicólogo

possa desenvolver suas atividades também são relevantes e podem incidir sobre o interesse

do profissional em continuar ou não atuando na área. Segundo Puente-Palacios, Abbad e

Martins (2010), as condições de trabalho tendem impactar a satisfação e consequentemente

a intenção de permanência. Evidenciou-se nesta pesquisa que quanto mais as condições de

trabalho são avaliadas como ruins pelos profissionais, menor é seu interesse em

permanecer na área.

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Ao analisar os relatos foi percebido que há certa generalização de que as condições

ruins encontradas no seu emprego por um indivíduo são tomadas como algo próprio do

campo de atuação e não como algo da instituição em si, causando nesse psicólogo uma

espécie de estigmatização da área e consequentemente uma possível fuga ou rejeição da

mesma. Entretanto, neste sentido, cabe a ressalva de que muitas vezes essas condições

ruins de trabalho estão mais relacionadas com aspectos de gestão e características

administrativas da instituição onde se está trabalhando do que com as características da

área como um todo.

Por fim, a partir do exposto, foi possível identificar que metade dos participantes

escolheram a área escolar e educacional como campo de atuação, sendo o grande fator de

motivação para essa escolha a aproximação com área, proporcionada pela influencia

familiar, pela formação acadêmica, ou por contato direto com a área após a formação. Já a

outra metade, afirma não ter escolhido a área, vindo a atuar nela por fatores de acaso, tais a

oportunidade de um emprego proveniente de um convite ou da aprovação em concurso

público.

Ademais, em relação à ideia de permanência na área, viu-se que tal ideia está

relacionada com a identificação com características do referido campo de atuação; que

fatores como condições ruins de trabalho tendem a impactar negativamente o anseio por

continuar atuando como psicólogo escolar e educacional; e que a intenção de permanecer

na área suscita a busca por especializações que subsidiem cada vez mais a prática nesse

contexto. Logo, infere-se a importância da formação nesse processo de escolha, a qual

deve oportunizar ao graduando essa proximidade com o campo para que possa tê-lo como

uma possível opção, bem como deve oportunizar ao profissional formado cursos de

especialização para o aperfeiçoamento de sua atuação.

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5.4 Formação em Psicologia e o preparo à atuação em contextos educacionais

A formação acadêmica é considerada uma questão importante nas discussões sobre

a inserção e a atuação dos psicólogos em contextos educacionais, estando diretamente

relacionada a estes dois aspectos, uma vez que uma boa formação incide positivamente

sobre a inserção nos espaços profissionais e consequentemente na atuação e prestação dos

serviços. Entretanto, a literatura aponta que em muitos locais a formação acadêmica não

tem conseguido proporcionar ao futuro psicólogo os subsídios instrumentais e as

habilidades necessárias para sua prática nos diferentes contextos de atuação, dentre eles os

espaços escolares e educacionais (CFP, 1988; CFP, 1994; Neves et al, 2002; Del Prette e

Del Prette, 2008a).

Devido a isso, constituiu-se como uma dos objetivos do presente estudo

compreender como os participantes da pesquisa avaliam sua formação acadêmica em

relação a esta ter lhes preparado para sua atuação como psicólogo em escolas e instituições

educacionais, bem como analisar o possível impacto dessa formação na inserção e atuação

desses profissionais. Para isso, também foram investigadas questões como: a avaliação que

fazem dos estágios e da disciplina de Psicologia Escolar e Educacional ou correlata; os

conteúdos que mais ajudam em suas práticas; e sobre a busca por formação complementar.

A seguir, serão apresentados os pontos que emergiram na análise realizada.

5.4.1 Avaliação da formação em relação ao preparo à atuação no contexto educacional

A Psicologia possui um complexo objeto de estudo, diferentes linhas teóricas e

diversificados campos de atuação. Devido a isso, a formação acadêmica encontra, nessa

diversidade, um grande problema a ser superado, que é o fato de que muitas vezes a

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formação proporcionada nos cursos de graduação em Psicologia não consegue abranger e

instrumentalizar de forma adequada os psicólogos para atuarem nessas diversas áreas

(Gomes, 2007). De acordo com Marçal (2010), muitos psicólogos, ao iniciar suas

atividades profissionais depois de formados, não se sentem devidamente preparados para

se inserir e atuar no contexto escolar. Por isso, esse se constituiu como um dos primeiros

pontos a ser analisado em relação a formação acadêmica dos participantes da presente

pesquisa.

Assim, quando questionados sobre a avaliação que faziam de sua formação no

sentido de esta ter lhe oferecido instrumentos para trabalhar como psicólogo na área

Escolar e Educacional, foram identificados três grupos de respostas: o daqueles que

afirmam que a formação preparou à atuação; o daqueles que afirmam que essa preparação

foi parcial; e aqueles que avaliam que não houve preparação para esta forma de atuação.

No primeiro grupo, evidenciou-se que a maioria (42%) dos entrevistados avalia a

sua formação acadêmica de forma positiva, afirmando terem sido oferecidos os

instrumentos necessários para sua atuação como Psicólogo Escolar e Educacional, sendo

inclusive considerado por dois deles como excelente. Dentre os fatores apresentados para

esta avaliação, o mais frequente nos relatos foi o fato de durante o curso ter havido o

contato com práticas relacionadas ao campo de atuação. De acordo com P3, essa prática

foi proporcionada através da disciplina de Psicologia Escolar e Educacional, afirmando ser

muito importante a existência de disciplinas específicas que apresentem os diferentes

campos possíveis ao psicólogo. Já para P6 e P9, esse contato com os aspectos práticos se

deu através dos estágios realizados, os quais oportunizaram a transformação e aplicação

dos conteúdos vistos em sala em práticas voltadas às demandas e realidade do campo.

Estas afirmações podem ser vistas nos seguintes relatos:

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Me ajudou, me ajudou sim! Porque eu tive a prática, tive a possibilidade de, na

época, a faculdade ela tinha essa grade da Psicologia Escolar, e a disciplina e a

prática me ajudou nesse sentido (P3).

Eu acho que minha formação foi bem interessante. Com a disciplina de Psicologia

Escolar eu sempre tive muita facilidade e como eu fiz estágio, ele me preparou

muito, foi muito legal. Então eu acho que não teve defasagem nenhuma, eu acho

que me deu um embasamento bom (P6).

Em relação a graduação em Psicologia eu avalio como muito boa, eu fiz o meu

estágio e embora eu não tenha feito em escola pública a gente desenvolveu várias

ações e a professora dava um suporte muito bom e tinha uma associação muito

boa entre teoria e prática (P9).

Outro fator identificado foi o aspecto de que em alguns alunos já havia uma

aproximação com a área Escolar e Educacional, seja pela vivência familiar de parentes que

trabalhavam na Educação, ou por já existir interesse em atuar futuramente nessa área. Essa

existente aproximação fez com que, durante o curso, esses psicólogos direcionassem seu

foco para os conteúdos e práticas relacionados a este campo, fosse pela procura de

disciplinas optativas, de atividades de monitoria, na realização de trabalhos acadêmicos,

nas leituras de textos ou na realização de estágios não obrigatórios. Esse dado reafirma a

conclusão anterior do impacto e influência que a pré-existente aproximação com uma

determinada área possui sobre a formação e a maneira como o graduando a conduz.

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Quando eu comecei, eu me foquei nela. Então na graduação eu fiz monitoria em

Psicologia Escolar, sempre tentando me voltar pra isso (P7).

Sim! Eu não tenho queixas da minha formação acadêmica e acho que ela me

preparou. Além disso, eu já sabia desde sempre que eu queria atuar com

Psicologia Escolar. Então eu direcionei meus estudos muito para essa área (P8).

Na verdade eu acredito que sim, mas existe também outra questão, é aquilo que eu

já falei, eu sou filha de profissionais que atuaram sempre na Educação, além disso

eu tenho uma formação como pedagoga, então eu conheci essa realidade de

escola, eu já conhecia um pouco do campo (P9).

Além disso, um ponto interessante que foi observado é que um desses entrevistados

que avaliaram positivamente sua formação acadêmica, foi enfático em afirmar que a

graduação lhe preparou para ser psicólogo de forma geral e atuar como tal seja qual for o

contexto, entretanto, em seguida admite não ter tido nenhuma disciplina ou conteúdo da

área da Educação ou que fizesse relação da Psicologia com o campo Escolar, causando

com isso, segundo ele, limites e dificuldades quando passou no concurso e começou a

trabalhar na área, pois não sabia de forma mais específica quais as possibilidades de

atuação no contexto educacional. Ou seja, apesar de sua formação ter lhe preparado

suficientemente para ser psicólogo, infere-se pelo seu relato que ela não foi tão eficaz em

prepará-lo para ser psicólogo em um contexto específico (nesse caso, o educacional), o

qual traz em si características particulares e demandas próprias, exigindo conhecimentos

psicológicos sim, porém com aplicações práticas específicas. Logo, embora este psicólogo

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afirme que sua formação foi adequada, infere-se que, na verdade, o que houve foi uma

preparação parcial à atuação.

Essa ideia de uma preparação parcial, observada no entrevistado citado

anteriormente, foi manifestada por 29% dos participantes da pesquisa. Segundo eles, a

formação que receberam foi limitada, tendo em vista as demandas que encontraram

quando começaram a trabalhar. Aqui, o principal fator atribuído à preparação considerada

insuficiente foi a ausência de aplicações práticas, não havendo uma instrumentalização

técnica adequada. De acordo com todos eles, durante a graduação houve uma ênfase na

promoção de conteúdos teóricos em detrimento do contato com as práticas e as

características da área.

Segundo Del Prette e Del Prette (2008a), essa separação entre teoria e prática é

antiga e a priorização da teoria na formação é comum aos cursos de Psicologia. Estes

autores não questionam a grande importância dos conhecimentos teóricos oferecidos,

apenas defendem a ideia de que a dimensão prática constitui-se como um legítimo espaço

de promoção de conhecimentos e habilidades e por isso não pode ser negligenciado em um

curso de formação.

Para P10, a dimensão teórica é essencial para a formação profissional de qualquer

indivíduo, pois oferece a este os conhecimentos necessários a serem utilizados quando

estiverem atuando profissionalmente, entretanto ele reconhece que também é importante o

conhecimento das especificidades do campo de atuação, tais como as demandas e

realidades particulares, e que este aspecto não lhe foi proporcionado no curso de

graduação, conforme o vê-se nos seguintes relatos:

Eu sei que alguma coisa traz, mas a nossa formação acaba sendo muito falha em

relação a isso, a essas reais práticas e esses reais campos de atuação que a gente

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tem, a gente acaba tendo que aprender mesmo na hora em que já está trabalhando,

que já esta no campo (P11).

Eu não me senti preparada... eu até acho que eles preparam, que houve um

preparo, eu aprendi sobre o que era dislexia e essas coisas, mas na hora que você

vem para o campo, quando você não aplicou aquilo... Então uma das coisas que

me dá a sensação de que foi incipiente é isso e outras coisas que são questões que

só vem com a partir da experiência prática mesmo e que não tem como se passar

através de livros (P2).

Ainda, para P2 e P4, quando se formaram e começaram a trabalhar na área o

sentimento que tinham era de que a formação foi insuficiente e por isso não estavam

preparados para este tipo de atuação. Isso também foi observado na pesquisa realizada por

e Sena e Almeida (2007) e Souza, Ribeiro & Silva (2011), os quais identificaram a

existência desse mesmo pensamento em seus entrevistados. Contrapondo a isso, P12

acredita que de fato o sentimento de despreparo é comum a qualquer recém-formado que

inicia um trabalho profissional. Entretanto, pelo que pode ser observado nos relatos de P2

e P4 é que essa sensação de não estar preparado não parece ser um sentimento de

insegurança, de alguém que possui o conhecimento e se sente inseguro por ser a primeira

experiência com o novo emprego, mas algo causado pela constatação de não saberem

como atuar, enquanto psicólogos, realizando ações próprias e adequadas a esses contextos.

Esse fato de não saber o que fazer diante das demandas, dos processos educativos

e da realidade particular concernente a área Escolar e Educacional também foi relatada, e

de forma mais enfática, pelo terceiro grupo identificado como aqueles que afirmaram não

terem sido preparados pelo curso para este tipo de atuação. Para estes psicólogos, o fator

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do despreparo é unicamente a ausência de instrumentalização prática, ou seja, falta de

oportunidades de contato com o campo prático de atuação, o que fez com que ao chegar na

instituição educacional ficassem “perdidos” quanto as possibilidades de intervenção.

(risos) Não foi, eu não tive preparação nenhuma pra atuar como psicóloga escolar

ou educacional. Eu não tive, não tive de jeito nenhum. Nesse aspecto a formação é

deficitária, zerada (P13).

Diante do exposto, a partir da análise das afirmações destes três grupos quanto a

avaliação que fazem do preparo recebido através da formação acadêmica, é possível

apontar neste estudo algumas inferências que podem contribuir com a discussão e com o

entendimento da existente relação entre a atuação profissional e a formação proporcionada

nos cursos de Psicologia.

O Primeiro ponto consiste na dualidade percebida nos discursos tanto da avaliação

feita quanto da opinião sobre como deve ser a formação no curso de Psicologia, se esta

deve ter um caráter generalista ou se deve abranger as especificidades dos diversos

campos. De acordo com Souza (2011), em sua pesquisa os psicólogos entrevistados

afirmaram que ter uma formação generalista é importante para a atuação em instituições de

uma forma geral e que os conhecimentos específicos devem ser buscados por outros

meios. Já para Gomes (2007) e Martinez (2010), a formação inicial deve sim oferecer os

conhecimentos específicos necessários para a realização de intervenções em contextos

diferenciados.

Assim, foi identificada nas falas de alguns entrevistados desta pesquisa a

compreensão de que a formação recebida foi generalista e que realmente ela precisa ser

assim, para que ao se formar, o psicólogo possa atuar em qualquer área para qual se

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propuser ou for contratado. Entretanto, estes mesmos entrevistados alegam que ao chegar

no campo profissional da Educação não sabiam muito ou nada das práticas específicas a

este campo, bem como sobre quais demandas eram responsáveis e cabiam sua atuação,

dentre outras limitações, colocando em dúvida a ideia de que a formação generalista

prepara efetivamente o psicólogo para atuar em qualquer contexto. Isso pode ser visto no

seguinte relato:

Porque na verdade o curso da gente ele não preparar a gente especificamente para

uma área, a gente sabe que a gente não sai totalmente preparado para aquela

área, então se a gente não buscar uma formação específica para área que a gente

quer atuar, então sinceramente a gente se sente perdido no início, eu já percebi

isso com diversos colegas, então eu avaliaria que a formação ela é muito genérica,

mas ela tem mesmo que ser genérica, pois a gente tem que sair pronto para

qualquer coisa, porque o que aparecer a gente tem que encarar. Só que para área

Escolar eu posso dizer para você que eu não sai muito preparado não, eu sai um

pouco preparado por conta dos estágios que teve, foram dois, mas dizer que eu

cheguei aqui preparado para atuar no contexto escolar eu não posso dizer

realmente porque a gente não sai (P4).

Essas mesmas dificuldades e limitações no início da atuação profissional também

são apontadas e vistas de forma crítica por outros entrevistados, que defendem a ideia de

que a formação deve abranger os campos de atuação do psicólogo e instrumentalizá-lo

para a prática nesses diferentes contextos, oferecendo na grade curricular disciplinas e

conteúdos que apresentem as características dessas áreas, bem como as possibilidades de

intervenção da Psicologia nesses espaços.

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Entretanto, isto não parece ser o que realmente acontece. De acordo com Marçal

(2010), Nunes (2005), Wechsler (1990), há uma tendência nos cursos de Psicologia no

Brasil a priorização de conteúdos e disciplinas que subsidiem uma prática voltada

essencialmente para a área clínica ou desse modelo, em detrimento de outras

possibilidades de atuação que atualmente existem para o psicólogo. Dessa forma, observa-

se que em alguns discursos onde há a defesa de uma formação generalista, muitas vezes se

esconde a ideia de que essa generalização na formação deve acontecer tendo as

características, conteúdos e práticas da clínica como pano de fundo, o que se consiste num

considerável equívoco tendo em vista que o fazer psicológico vai muito além de uma única

possibilidade teórica e prática e um perigo à atuação em outros contextos. Essa

tendenciosidade clínica no curso foi apontada por um dos entrevistados, o qual afirma ter

sido esta a ênfase dada e promovida durante todo curso, conforme vemos no seguinte

relato:

Eu fui formada numa instituição onde todos sabem que ela privilegia a formação

clínica, e unicamente clínica. Na época que eu fazia o curso eu queria somente

clínica, tinha aqueles sonhos mágicos de que quando eu saísse ia ter um

consultório, de que pessoas iriam brotar na porta, algo bem fantasioso (risos).

Mas a medida que a formação foi andando eu percebi que não tinha nada além do

clínico. Então te respondo que não prepara (P14).

Este relato nos aponta ainda duas questões interessantes de serem analisadas. A

primeira questão, refere-se ao fato de que uma formação tendenciosa para uma

determinada área pode vir a promover ou influenciar o interesse do futuro profissional

apenas a esta área que foi apresentada para ele, deixando os demais campos em segundo

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plano, uma vez que como vimos aqui anteriormente, o contato com as características

(teóricas e práticas) do campo causa uma aproximação que pode influenciar no interesse e

na escolha de uma determinada área de atuação (Cruces & Maluf, 2007).

A partir desta questão, buscando investigar se entre os entrevistados havia relação

entre a escolha e a formação acadêmica, comparamos o grupo dos psicólogos que

afirmaram não terem sido preparados para este tipo de atuação com o grupo daqueles que

afirmaram não terem pretensão de atuar na área quando se formaram, com isso foi

observado que dos quatro entrevistados que não foram preparados, três deles não

pretendiam trabalhar nessa área. O contrário também foi relacionado, ou seja, o grupo dos

que se sentiram preparados foi comparado com o grupo dos que tinham pretensão na área,

sendo evidenciado que dos seis que foram preparados, quatro pretendiam atuar como

psicólogo no contexto educacional. Dessa forma, infere-se que provavelmente exista uma

relação entre a formação acadêmica e a pretensão para uma determinada área. Isto

inclusive chega a ser indagado por um dos entrevistados, conforme o seguinte trecho:

Eu não diria pra você que tive uma formação forte nesse sentido não. Na minha

época da graduação isso não era um forte, não era uma cadeira forte na minha

época não. Eu acho que dai tenha vindo o fato de não ter uma grande paixão

talvez, em relação a própria psicologia escolar (P5).

A segunda questão suscitada aborda o impacto da formação tendenciosa nas

seleções de psicólogos dos concursos públicos. A partir do relato, observa-se a

possibilidade de haver uma perigosa combinação entre essas duas instâncias. De um lado

está a formação acadêmica que predominantemente promove uma única forma de atuação,

a clínica, e por conseguinte a criação deste perfil e identidade profissional para o futuro

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psicólogo. Do outro lado está o conteúdo exigido na prova do concurso, o qual é

geralmente selecionado de acordo não com o perfil esperado para uma determinada área de

atuação, mas para o cargo de psicólogo, cuja representação existente de tal profissional

refere-se predominantemente à clínica. Assim, na junção dessas duas ocorrências, o perfil

de psicólogo que tende a ser selecionado nesses concursos é o perfil clínico que uma vez

dentro de instituições como a Secretaria de Educação ou o CRAS (Centro de Referência de

Assistência Social), por exemplo, pode vir a desenvolver uma atuação inapropriada para

estes contextos, vindo a realizar práticas tradicionais clínicas, muito embora esse espaços

necessitem de outra forma de intervenção. Em um dos relatos de P14, essa questão é

abordada:

Então o que aconteceu depois foi que a medida que eu ia passando nos concursos e

que a prova era clínica, e eu sempre pontuei isso, para os locais de todos os

concursos que eu passei, eu dizia: “olha, eu só passei aqui porque a prova era

clínica e clínica eu consigo atender, se for social eu não sei nada, se for escolar

também”. E trabalhei em CRAS e nos concursos que eu fiz eu não tinha a menor

noção do que eu ia fazer num CRAS. Nas provas dos concursos não tinha nada da

área, pra não dizer que o desse município que eu estou trabalhando não tinha, na

prova tinha duas questões de Vygotsky, só, pronto! O resto era clínica (P14).

Dando prosseguimento, a segunda inferência conclusiva está relacionada à

importância aferida a dimensão prática para a formação acadêmica poder ser considerada

como satisfatória pelos entrevistados. Em todos os três grupos o critério de avaliação sobre

a formação e o quanto esta os preparou para a atuação esteve relacionado com a questão

das práticas. Para o grupo que avaliou positivamente a formação, os relatos sempre

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abordavam que a formação foi satisfatória pelo fato de ter havido a promoção tanto da

teoria quanto da prática, havendo sempre a ênfase neste último aspecto e o quanto ele

contribui para que se sentissem preparados para atuar quando começaram a trabalhar. Já

para o grupo que avaliou negativamente, a avaliação esteve em torno justamente da

ausência destas atividades, conforme se vê no seguinte trecho:

O que eu vejo é que de repente se prende muito a teorias e não a práticas em si.

Ela traz, ela trouxe, psicologia educacional e aquelas leituras todas que se tem, só

que a gente precisa ver a prática, discutir sobre ela, claro que a gente precisa ver

um pouco de teoria, mas precisa associar a prática porque se não fica sem sentido,

fica falho (P11).

Também, para P2 a inexistência de atividades práticas não contribuiu à fixação dos

conteúdos teóricos, bem como à apropriação das possibilidades de aplicação deles e

segundo P1 a ausência de aproximação com campo prático impede que o futuro

profissional adquira conhecimentos técnicos que o instrumentalize quando estiver atuando

profissionalmente naquele contexto. De acordo com Del Prette e Del Prette (2008a, p.150)

essa dimensão prática se constitui como uma “atividade transformadora do sujeito” que a

experiencia, possibilitando a este uma espécie de autonomia na construção de seus

conhecimentos, ajudando-o no seu desenvolvimento profissional.

Outro ponto observado e que está relacionado a esta questão é que além da enfática

solicitação de um maior fomento da dimensão técnica, através da inclusão de atividades

praticas, requere-se junto a isso que os conteúdos ministrados tenham associação com as

reais práticas e com as reais demandas do campo. Segundo P1, P5 e P13 apesar de terem

recebido conteúdos teóricos, ao chegar ao campo de atuação viram pouca aplicabilidade

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desse conteúdo, pois não existia muita relação com aquilo que a realidade da área e com o

que ela demandava.

Porque a gente enquanto estudante a gente quer saber a prática, porque ler artigo,

ler livro, ler texto, você lê varias coisas e tudo bem, mas e a prática? Como eu vou

ligar essa teoria ao que esta acontecendo na escola realmente? Precisa pegar o

texto do doutor fulano de tal e trazer pra realidade, porque às vezes no papel é

muito romântico, é muito bonito, mas e aí no dia-a-dia como é que eu vou

trabalhar? Então é preciso que seja ensinado como a gente entra em determinadas

questões, porque não é só ensinar ao aluno a ler e interpretar texto, saber a regra,

mas é ir além, é ver o aluno inserido além do mundo acadêmico. A ideia que se

vende é muito bonita, mas no como não acontece, porque fica muito bonito

estarmos na sala discutindo textos, mas precisa levar o aluno ao como. Então há

até uma teoria, mas não há nada prático, no real. Tem que ligar a teoria a prática,

não para a gente imitar as práticas que já fizeram, é uma questão de nos nortear

(P13).

Dessa forma, conclui-se que os conteúdos precisam ter consonância com a

realidade do campo de atuação, com suas características particulares, suas demandas,

limitações e possibilidades, para que possam aplicá-los adequadamente (Novaes, 2008).

Sendo assim, uma estratégia para tornar isso possível consiste que, na formação, sejam

utilizados os conhecimentos disponibilizados nas pesquisas e periódicos atuais sobre as

questões referentes a área. Porém, segundo Gomes (2007), a utilização desses recursos e

suas informações tem sido negligenciada nos cursos de Psicologia.

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Ainda, para P13 essa articulação entre teoria e prática depende muito dos

professores que ministram as disciplinas. Segundo esse entrevistado, o fato de o professor

possuir uma experiência no campo referente a disciplina que ele ensina é fundamental para

que os conteúdos sejam escolhidos e direcionados para que os alunos obtenham o máximo

de conhecimentos e principalmente o máximo de aplicabilidade destes, frente às reais

demandas existentes na área. Corroborando com a ideia P9 atribui a boa qualidade de sua

formação em parte à experiência que seu professor tinha na área.

Na época, eu me lembro muito bem, a professora que trabalhava na área dava um

suporte muito bom e tinha uma associação muito boa entre teoria e prática (P9).

Enfim, diante dos pontos discutidos, observou-se que a maioria afirma ter sido

preparada para a atuação, divergindo do que era esperado, uma vez que a literatura

pesquisada denuncia a existência de uma formação deficitária na preparação dos

psicólogos para uma atuação adequada e eficaz aos contextos educacionais. Além disso,

outro ponto importante identificado, refere-se à importância aferida a dimensão prática a

ser oferecida durante a formação, uma vez que tanto aqueles que se sentem quanto os que

não se sentem preparados, relacionam a prática ao seu preparo ou despreparo, denotando

com isso a necessidade de que durante a formação seja possibilitado um contato com a

realidade do campo de atuação, seja através de estágios, projetos de extensão ou

disciplinas. Estes recursos formativos também foram investigados junto aos entrevistados,

sendo apresentados e discutidos nos subtópicos a seguir.

5.4.2 Como avaliam a disciplina de Psicologia Escolar e Educacional ou correlatas

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Além da avaliação que fazem da formação como um todo, também interessou

pesquisar se os entrevistados tiveram disciplinas de PEE ou correlatas e como eles avaliam

os conteúdos abordados nela e a metodologia utilizada pelo professor na condução da

disciplina. Assim, pode-se identificar que a grande maioria (treze entrevistados) teve

alguma disciplina voltada para o campo da Psicologia Escolar e Educacional. Destes, três

psicólogos afirmam terem feito apenas uma matéria nessa área, seis fizeram duas matérias

e quatro participantes não conseguiram lembrar quantas disciplinas dessas cursaram. Estes

dados divergem da crença de que, segundo Sena e Almeida (2008), nos cursos de

Psicologia há uma ausência de oferta de matérias específicas da PEE

Em relação aos conteúdos, grande parte dos entrevistados disse não lembrar bem de

quais foram, sendo que apenas cinco deles conseguiram denominar alguns temas e teorias.

Segundo estes, os conteúdos versavam sobre dificuldades de aprendizagem, noções de

pedagogia, memória e concentração, o brincar e o lúdico, teorias do desenvolvimento e da

aprendizagem. Com isso, percebe-se que na formação desses psicólogos o ensino

relacionado à atuação no âmbito educacional esteve estritamente ligado às questões de

desenvolvimento e aprendizagem, esta última em especial. Isso é visto no relato a seguir:

Na universidade o livro indicado foi um de Diná Campos, de Psicologia da

Aprendizagem, ou seja, pra quem está atuando como psicólogo escolar não diz

muita coisa da atuação, apenas que existe diversas abordagens de entender a

aprendizagem e só, que é importante, mas não aborda as questões reais que a

gente enfrenta no dia-a-dia da escola (P14).

Apesar de serem úteis e importantes, acredita-se que estes conteúdos não devem ser

tomados de forma isolada à compreensão dos processos educativos. Como já visto

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anteriormente, esse tipo de formação tende a capacitar o psicólogo para uma atuação

tradicional e parcial no contexto escolar, podendo este vir a desenvolver um trabalho que

considere apenas os fatores psicológicos e de aprendizagem, sem levar em conta a relação

com as demais questões, processos e interações que acontecem nestes espaços (Marçal,

2010).

Quanto à avaliação que fazem da disciplina e dos conteúdos abordados nela, foi

possível perceber a existência de três grupos: aqueles que avaliam de forma positiva; os

que avaliam com pontos positivos e negativos; e os que o fazem de forma negativa. Dessa

forma, no primeiro grupo, evidenciou-se que apenas 23,07% mostraram-se satisfeitos com

a disciplina. Segundo eles, as teorias apresentadas forneceram uma boa base para sua

atuação e para dois destes, o fator mais importante na eficácia da disciplina foi a

experiência do campo que os professores tinham, uma vez que realizavam pesquisas e

trabalhavam na área de PEE. Estas afirmações podem ser vistas a partir dos seguintes

relatos:

Eram bem pertinentes a prática, ajudou muito, ajudou sim! Também tive

professores que atuavam na área de escolar, professores com os quais eu acabei

me identificando muito, sabe? (P3).

Sim, eu tive um ano! Elas ajudaram, inclusive eu acho que escolar foi uma das

áreas que eu tive uma boa base. A professora também é um dos fatores, pois como

ela atuava em escola, então ela trazia muita experiência pra sala, e isso ajudou

muito (P7).

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Eu lembro muito do meu início que ajudou muito a teoria. Lembro muito que a

base que eu tinha foi muito boa, a base teórica me ajudou bastante (P8).

Entretanto, para o segundo grupo, também com 23,07%, apesar das disciplinas

apresentarem alguns pontos positivos, como o simples fato da sua oferta no curso e do

oferecimento de teorias importantes, isso não é o suficiente para subsidiar uma atuação

profissional. De acordo com eles, na condução das disciplinas houve uma

descontextualização das teorias com as concepções e realidades contemporâneas da

Educação, do processo educativo e das problemáticas escolares. Ainda, segundo estes

psicólogos, é preciso que haja uma adequação dos temas trabalhados em sala de aula em

relação as concepções educativas atuais, como por exemplo o entendimento de que as

questões educacionais devem ser pensadas a partir das relações e abordadas sobre a ótica

social, e não só com base em aspectos psicológicos ou pedagógicos, conforme se observa

nos seguintes trechos:

Tive, na grade tinha sim. Os conteúdos são pertinentes sim a prática, mas são

limitados, a gente estudou psicologia do desenvolvimento e hoje a gente consegue

visualizar isso, aqui. Agora é claro que para realidade de hoje é preciso

contextualizar o momento. Não sei como é que esta a grade hoje, mas penso que

deveria abordar sobre as relações, pois a gente tem que estar em contato com a

família. E a realidade de uma escola, principalmente pra quem vai pra escola

pública, é de se deparar com tudo. Então as disciplinas trazem teorias importantes,

mas deixam brechas em pontos da realidade da escola. Os conteúdos dessas

disciplinas poderiam ser revisados (P9).

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Tive, Psicologia escolar I e II. E a II foi melhor que a I. Eram professores

diferentes e o segundo foi melhor que o primeiro, porque ele tinha outro olhar,

mais social, que é isso que não pode faltar. Não é que você vai confundir

Educação e Social, mas aquela criança que esta ali tem uma realidade fora

daquela paredes e muito além de questões somente de aprendizagem, e todos os

fatores precisam ser levados em conta, o olhar social permite isso... Quanto aos

conteúdos tem um pouco a ver com o campo educativo sim, mas a gente tem que

ver que hoje as coisas mudaram, há um novo olhar sobre a educação, sobre a

educação básica, então como esse olhar tem mudado acredito que os conteúdos

também precisem ser mudados, porque se não mudar não vai servir. Esse olhar

social dentro da educação, da educação básica tem que ser visto. A gente via sobre

educação num contexto mais privado e numa perspectiva pedagógica (P13).

Esse entendimento de que os fenômenos educativos precisam ser lidos,

compreendidos e analisados a partir de um olhar social, é o esperado pelos psicólogos que

atuam em uma perspectiva crítica nos contextos escolares (Souza, 2009) e deveria ser a

postura promovida nos cursos de formação em Psicologia, embora se acredite não ser o

que acontece em grande parte dos cursos no Brasil.

Além deste, outros fatores foram apontados pelo terceiro grupo (com 46,15%), que

se mostrou insatisfeito em relação aos seguintes aspectos: conteúdos unicamente

direcionados ao âmbito infantil; excesso de teoria; pouca atividade prática; poucas

informações sobre as realidades e demandas do campo; utilização de pesquisas antigas e

ultrapassadas da realidade atual; foco apenas no âmbito psicológico e pedagógico;

conteúdos distantes das necessidades do campo; repetição de conteúdos de outras

disciplinas; e desarticulação entre teoria e prática.

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170

Dentre estes pontos a metodologia utilizada pelo professor foi um dos fatores mais

criticados. De acordo com P6 na disciplina poderia ter sido proporcionado os conteúdos de

uma forma melhor, tendo em vista a grandeza de possibilidades que este âmbito oferece,

mas que acabou sendo oferecido de forma restrita a questões mais básicas da Psicologia.

Corroborando com isso, P11 relata que boa parte dos conteúdos traziam temas e teorias já

trabalhados em outras disciplinas como as de Psicologia do Desenvolvimento e Psicologia

da Aprendizagem, dando às aulas um caráter repetitivo, conforme vemos nos trechos

abaixo:

Tem um pouco de tempo, mas eu acho que poderia ter sido um pouco mais

trabalhado. Eu lembro que levava muitos textos para trabalhar, mas eu não acho

que era bem explorados, acho que deveriam ser mais discutidos. Eu acho que não

foi bem explorado (P6).

Eu não consigo me recordar da disciplina lá, mas o que eu lembro é que era

muitas teorias, até repetidas de desenvolvimento e aprendizagem (P11).

Observa-se também nos relatos a insatisfação não só quanto aos temas dos

conteúdos, mas a maneira como estes foram utilizados, havendo uma limitada exploração

do material e a ausência de discussão e debate entre os alunos, não permitindo assim uma

maior reflexão acerca dos assuntos abordados nos textos. Segundo Novaes (2008), essa

ausência de debates sobre os conteúdos na condução das disciplinas, acaba por promover a

simples reprodução teórica, sem promover a habilidade reflexiva sobre as teorias e sua

relação com as questões educacionais. Embora esta queixa apareça como pano de fundo de

alguns relatos, isso foi relatado mais enfaticamente por P12:

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Eu acho que é uma disciplina importante e que poderia ser dada de outra forma. A

gente fazia muito fichamento e não tinha discussão... eu acho que era uma

disciplina que deveria ter textos que fizesse você refletir, sobre como a gente

gostaria de fazer caso a gente viesse trabalhar na educação, mas nunca teve isso

na disciplina (P12).

Também, ainda em relação a metodologia, a didática dos professores foi alvo de

reclamação de alguns desses entrevistados. De acordo com P2, a aula de um dos

professores era ruim e a ministração dos conteúdos era feita “de uma forma que não

empolgava”, segundo ele, isso acontecia pela falta de experiência do docente na área, uma

vez que a outra professora que trabalhava como psicóloga em uma escola, se referia à área

de forma mais motivadora. Essa importância de o professor ter algum tipo de aproximação

com a área de atuação também foi relatado por P13 e P12, para este último ainda, o fato

das aulas serem “desinteressantes” talvez tenha feito com que ele tivesse dificuldade de

lembrar que tinha feito a disciplina.

Outro fator bastante citado por essa parte dos entrevistados foi a desarticulação

entre os conteúdos vistos em sala com as demandas do campo, havendo um excesso de

textos em detrimento de poucas atividades práticas no decurso da disciplina. De acordo

com P11, apesar de terem sido apresentadas teorias importantes, elas não eram

relacionadas a realidade do campo, permitindo pensar sua aplicabilidade e uso nas

necessidades da escola. Confirmando isso, P4 relata utilizar muito pouco do que viu na

disciplina, pois ao chegar para trabalhar no campo, percebeu que os assuntos não tinham

muito a ver com as reais demandas que há na escola, conforme vemos no relato a seguir:

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Quanto aos conteúdos é aquela coisa, né? Teoria e prática elas deveriam

trabalhar juntas mas na realidade são muito diferentes, o que eu vi na teoria lá

sinceramente eu não consigo aplicar aqui... eu vejo assim que teoria e pratica são

muito diferentes (P4).

Essa desarticulação entre teoria e prática, já apontada na avaliação do curso como

um todo, também foi evidenciada nas pesquisas de Medeiros e Aquino, (2011) e Sena e

Almeida (2007). A partir disso, acredita-se que durante a preparação de um programa de

disciplina devem ser levados em conta os dados apresentados por pesquisas atuais sobre o

campo da Educação e as demandas contemporâneas destinadas ao Psicólogo que trabalha

em contextos escolares, para que os temas, teorias e atividades possibilitem um

conhecimento adequado, que promova não só habilidades analíticas como também

habilidades técnicas. Para Del Prette e Del Prette (2008a), a efetividade da atuação

profissional está relacionada ao desenvolvimento dessas habilidades, as quais devem ser

promovidas durante a formação.

Ainda, conforme P4 a pouca parte prática que viu, foi direcionada apenas ao nível

infantil, auxiliando em práticas voltadas apenas a este público, sendo portanto limitada

uma vez que na escola, há também jovens e adultos. Além disso, de acordo com P1 as duas

disciplinas que teve não abordaram temas relacionados a atuação com gestores,

professores e demais funcionários, mas apenas aos alunos, promovendo, segundo ele, a

ideia de que a atuação do PEE deve ser desenvolvida apenas com os estudantes. Para P4,

essa limitação, criada durante o curso, em relação aos conteúdos que seriam necessários

para toda a atuação do psicólogo nas escolas, faz com que haja a necessidade de busca por

formação complementar após o aluno estar formado.

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Enfim, percebe-se que durante o curso de Psicologia se faz importante a oferta de

disciplinas específicas sobre a atuação do psicólogo na Educação, porém, não sendo

bastante a simples oferta. Também, se faz importante uma adequada elaboração do

programa de disciplina e uma apropriada condução das aulas e atividades para que os

conhecimentos referentes a esta área sejam promovidos e a atuação profissional nesses

contextos seja subsidiada. Entretanto, apesar de essencial, disciplinas como essa, entende-

se que existem outros conteúdos e outras áreas de conhecimentos proporcionadas durante a

graduação que também contribuem com o trabalho do Psicólogo Escolar e Educacional,

como veremos no tópico a seguir.

5.4.3 Outras disciplinas que contribuem na atuação

Segundo Martinez (2010), para que a atuação na área Escolar e Educacional seja

adequada às demandas que existem nela, que são muitas e são diversificadas, é necessário

que na formação sejam proporcionados conteúdos e disciplinas diversificadas. Dessa

forma, interessou pesquisar junto aos psicólogos entrevistados quais os conteúdos, além

dos concernentes aos do campo educacional, que contribuem para sua atuação no contexto

escolar frente as suas demandas.

Diante disso, identificou-se que a disciplina mais citada pelos entrevistados, com

43%, foi a Disciplina de Psicologia do Desenvolvimento, a qual foi apresentada como uma

das que mais contribui pelo fato de possibilitar a compreensão dos processos de

desenvolvimento humano, conhecimento esse tão necessário para a realização,

sistematização e adequação dos processos pedagógicos e promoção do desenvolvimento

educacional do aluno. Corroborando com isso, Sena e Almeida (2007), também evidenciou

em sua pesquisa realizada com psicólogos que atuam em contextos educacionais que para

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maioria destes esta disciplina é a que mais possui utilidade devido as contribuições teóricas

que oferece.

Essa importância da Psicologia do Desenvolvimento para o PEE é também

histórica, uma vez que foi através da oferta dos conhecimentos desta disciplina que a

Psicologia passou a ter espaço no âmbito educacional, contribuindo com esses construtos

teóricos na formação dos cursos dos Liceus e Escolas normais no período de 1890 a 1930,

no qual a Psicologia Escolar e Educacional se caracterizava pelo ensino de Psicologia no

campo da Educação. Nas décadas seguintes, com a inserção dos psicólogos nas escolas

esses conhecimentos passaram a ser aplicados na compreensão das demandas e na

realização de intervenções (Antunes, 2011).

Entretanto, apesar de sua evidente importância, entende-se que uma formação que

prepare para a atuação nos diferentes campos de atuação, não deve se sustentar apenas nas

disciplinas básicas como Psicologia do Desenvolvimento ou da Aprendizagem (Martinez,

2010), sendo necessária a oferta de disciplinas de outras subáreas da Psicologia, como as

referentes às da área da saúde, social, organizacional, etc.

A segunda disciplina mais citada, com 35,7%, foi a Psicologia Social, a qual

segundo P1 oferece construtos importantes para trabalhar as interações na escola. A

terceira, com 28,5%, foi a Psicologia Institucional, cujo conhecimento contribui para

análise e compreensão da instituição e seus processos. E a quarta, com 21,4%, foram as

disciplinas de Dinâmica de grupo e relações humanas, sendo muito utilizadas para as

intervenções grupais, e a de Técnicas e Exames Psicológicos.

Outras disciplinas citadas, porém de forma pouco expressiva, com 7%, foram as

referentes a Psicopatologia, Psicologia da Personalidade, Psicologia Comunitária,

Observação em Psicologia, Ética, Psicologia da Aprendizagem, Psicologia clínica, Teorias

e Técnicas Psicoterápicas, Psicologia Comunitária, além de disciplinas de outras áreas de

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conhecimento como Sociologia, Antropologia e Filosofia. Para Del Prette e Dele Prette

(2008a), o conhecimento oportunizado por outros campos científicos são importantes para

que o psicólogo possa compreender de forma mais abrangente as complexas demandas

existentes na educação.

A partir desses dados foi possível evidenciar a relevância que a Psicologia do

Desenvolvimento possui para a maioria dos psicólogos. Além disso, foi observada com

certa surpresa a importância aferida à Psicologia Social, em detrimento de outras áreas

que, a princípio, parecem ser mais óbvias a esse contexto como a Psicologia da

Aprendizagem, por exemplo. De acordo com Andrada (2005b), a formação em Psicologia

durante muito tempo enfatizou no curso básico de Psicologia as disciplinas tradicionais

desta área, tais como Psicologia do Desenvolvimento, da Aprendizagem, da Personalidade,

Técnicas e Exames Psicológicos, etc. A ênfase nessas disciplinas contribuiu para que

muitos psicólogos psicologizassem as demandas educacionais, negligenciando outros

aspectos que envolvem o espaço escolar como os pedagógicos e principalmente os sociais.

Desse modo, acreditando-se que Sergipe se constitui como um local principiado em

relação às discussões, estudos e pesquisas na área Escolar e Educacional, esperava-se

encontrar uma visão mais tradicional da Psicologia Escolar e Educacional dentre estes

profissionais, os quais atribuiriam maior importância a Psicologia do Desenvolvimento, da

Aprendizagem e as Técnicas de Exames Psicológicos. Este último, por exemplo,

considerado importante por 21%, ficando inclusive a frente de disciplinas como Ética e

Observação em Psicologia, ainda denota resquícios desse entendimento tradicional, o qual

muitas vezes tem nos testes um recurso único de avaliação e análise das demandas,

fortalecendo e perpetuando práticas individualizantes, consideradas pelos que defendem

uma atuação mais crítica como inadequadas às necessidades da escola. Esse risco da

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utilização e do sentido dado aos testes psicológicos no espaço escolar chegou, inclusive, a

ser citado por um dos entrevistados, conforme vemos no seguinte trecho:

Tem também as de testes, mas a gente não utiliza aqui, tínhamos até uma proposta,

mas desistimos porque vimos que fica uma coisa perigosa, porque quando a gente

introduz um teste, mesmo que a gente saiba que vai ser mais um instrumento, pra

avaliação, mas as pessoas entendem de outra forma (P10).

Entretanto, a relevância da Psicologia Social manifestada pelos entrevistados

denota também um avanço na perspectiva de atuação dentro do contexto educacional em

Sergipe, permitindo inferir que as interações sociais e suas produções são importantes e

devem ser levadas em consideração na análise, compreensão e ações sobre os fenômenos

educativos para os quais o psicólogo tem sido chamado a contribuir. Com base nisso, essa

contribuição da Psicologia Social para a atuação do psicólogo nas instituições educacionais

foi investigada junto aos participantes desta pesquisa, cujos dados serão apresentados no

tópico a seguir.

5.4.4 Contribuições da Psicologia Social para a atuação em Psicologia Escolar e

Educacional

Partindo da hipótese de que é possível um diálogo entre a Psicologia Social e a

Psicologia Escolar e Educacional, no presente estudo também buscou-se investigar junto

aos participantes se existe, na opinião deles, a partir do conhecimento que possuem e das

demandas que observam no campo em que atuam, alguma relação entre essas duas

subáreas e de que forma essa inter-relação acontece e se configura.

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Assim, 71,4% dos entrevistados relataram existir relação entre a Psicologia Social e

a Psicologia Escolar e Educacional, afirmando serem áreas afins. Segundo P14, a forma de

entender o objeto na área Social deve ser a mesma na escola, ou seja, o indivíduo deve ser

considerado não de forma particular e individualizado, mas a partir de suas interações com

os demais indivíduos e grupo. De forma semelhante, Cazals-Ferré e Rossi (2007), define o

objeto da Psicologia Social como sendo o estudo das relações interpessoais entre os

indivíduos, entre estes e os grupos e entre os grupos em si, num determinado contexto

social.

Essa forma compartilhada de conceber o objeto foi muito importante para os

avanços na atuação do psicólogo em contextos escolares, suscitando a necessidade de

mudança de perspectiva na forma de intervir sobre as demandas escolares, retirando o

aluno do foco de suas ações, para poder analisar, compreender e trabalhá-las a partir das

interações que acontecem entre os diversos sistemas presentes nesse ambiente, através dos

processos que nela ocorrem (Andrada, 2005a).

Além disso, para P13, a Educação é um campo estritamente social, por ser um

legítimo espaço promotor de interações humanas e para P8 um lugar de socialização.

Corroborando com isso, P12 acredita que a escola enquanto produtora e possibilitadora de

associações e agenciamentos entre indivíduos e grupos, necessita dos conhecimentos da

Psicologia Social para análise e compreensão dessas associações.

Segundo Bernal (1996), essa relação entre essas duas subáreas da Psicologia além

de possível se faz necessária, uma vez que, segundo este autor, os processos educativos

constitui-se como o coração da Psicologia Social, por ser a educação escolar uma das

formas mais importantes de socialização do indivíduo.

De acordo com P4, outra relação estabelecida entre esses campos está no fato de

que uma das funções da Psicologia Social é a promoção da transformação social, sendo a

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escola um lugar onde isso pode ser promovido através da formação da cidadania e do

desenvolvimento educacional proporcionado. Essa formação cidadã e a promoção humana

constitui-se em uma das funções da Educação e deve ser promovida também através das

ações do psicólogo escolar e educacional, o qual deve empreender esforços na “superação

dos processos de exclusão e estigmatização social” (CFP, 2013, p.32).

Outrossim, conforme o entendimento de P13, no ambiente escolar estão presentes

muito dos fenômenos que a Psicologia Social se pretende estudar e pesquisar como os

processos e interações grupais, racismo, preconceito, socialização, representações sociais,

influência social, homofobia, dentre outros construtos pertencentes à Psicologia Social.

Confirmando essa ideia, Bernal (2007) aponta que a escola, devido a sua complexidade e

demandas, constitui-se em um dos lugares mais privilegiados para a aplicação dos

conhecimentos da Psicologia Social.

Dessa forma, acredita-se que esses conhecimentos servem para os Psicólogos como

necessários instrumentos no desenvolvimento do seu trabalho no contexto escolar,

contribuindo e potencializando suas intervenções. Um exemplo dessa aplicabilidade é o

uso dos conhecimentos oferecidos por teorias como: a das relações interpessoais e

habilidades sociais, no entendimento e na intervenção de demandas de violência escolar;

da dinâmica de grupos para a realização de grupos operativos; sobre preconceito, racismo

e discriminação permitindo a compreensão e elaboração de ações em processos de inclusão

e combate a exclusão; das Representações Sociais, a qual é muito útil na compreensão de

muitos objetos e fenômenos que acontecem na escola, como a evasão escolar para os

alunos e professores ou até mesmo o próprio papel do psicólogo na escola para os demais

componentes dela; entre outros construtos que podem ser utilizados de acordo com as

necessidades das diversas demandas que existe nesse âmbito educacional.

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Ainda, de acordo com P2, P9, P13 e P14, a instrumentalização proporcionada pelos

conhecimentos da Psicologia Social contribui para que o olhar sobre a escola, seus

processos e seus produtos sejam lidos e compreendidos de forma mais completa, a partir

das inter-relações e interações entre os diversos sistemas, evitando que questões como o

fracasso escolar, por exemplo, seja entendido como algo concernente ao indivíduo e não

algo produzido no processo educativo. Com isso, revestido desta forma de olhar e ler a

instituição educacional, o Psicólogo pode trabalhar a partir das relações sociais, tendo esta

como seu objeto de intervenção (Del Prette e Del Prette, 2008a)

Outra contribuição evidenciada a partir da fala de alguns entrevistados está nos

conhecimentos referentes à Análise Institucional. Para P10 estes conhecimentos ajudam no

entendimento da instituição escolar, sua dinâmica, seus fatores e as relações de poder

existentes nela. De acordo P11, a partir da análise institucional é possível compreender,

por exemplo, porque alguns projetos não dão certo ou encontra dificuldades para se

efetivar, porque existem divergências e conflitos entre alguns grupos e etc. Segundo

Bleguer (1984), a instituição é o “cliente” mais importante da intervenção do psicólogo e é

a partir do trabalho sobre ela, fazendo emergir ao explícito as tensões e forças implícitas,

que as mudanças necessárias podem ser visualizadas, trabalhas e promovidas.

Por fim, a partir do exposto, percebe-se não só a existência de inter-relação entre a

Psicologia Social e a Psicologia Escolar e Educacional, como também a necessidade do

diálogo entre estas subáreas da Psicologia. Acredita-se que tal diálogo seja favorável para

ambas, pois se é verdade que a psicologia social oferece contribuições consistentes à

pratica do Psicólogo no âmbito da Educação, garantindo a esta uma maior eficácia,

também é verdade que na utilização de seus constructos o Psicólogo Escolar e Educacional

contribui para o desenvolvimento da Psicologia Social, uma vez que a teoria se aperfeiçoa

a partir da prática, fazendo surgir novas questões.

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Para Bernal, (1996) a área Escolar e Educacional tem sido utilizada por muitos

pesquisadores que investigam determinados temas da Psicologia Social, entretanto há

pouco diálogo entre estas duas áreas e poucos são os estudos que se comprometam em

pensar os processos educativos, a partir das contribuições que os conhecimentos da

Psicologia Social podem oferecer, uma vez que segundo ele, grande parte dos problemas

produzidos pela escola está relacionada aos aspectos psicossociais.

Em contrapartida, também é verdade que os psicólogos escolares e educacionais

precisam cada vez mais se apropriar destes conhecimentos e de uma concepção crítica,

ética e comprometida com as reais demandas educacionais e com práticas que contribuam

com a qualidade dos processos educativos e que vá de encontro contra toda forma de

exclusão que existir no ambiente educacional.

5.4.5 Participação em estágios

Durante a formação acadêmica, além das disciplinas que são proporcionadas

durante o curso, há também atividades práticas que devem ser desenvolvidas, sendo uma

delas os estágios curriculares. Estes, porém, também são alvo de discussões nos debates

sobre as problemáticas da formação acadêmica em Psicologia, uma vez que havendo nesta

ciência muitas áreas de atuação, constitui-se uma dificuldade a promoção de estágios

nestes diferenciados âmbitos.

Acredita-se que na área de Psicologia Escolar e Educacional exista essa

problemática da não oferta de estágios obrigatórios nesse campo, em muitos cursos de

Psicologia no Brasil (Sena & Almeida, 2007), fazendo com que muitas vezes o psicólogo

vá trabalhar numa determinada área de atuação sem ter tido alguma forma de contato com

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ela. Por isso, a participação em estágios e a avaliação que fazem deles foram pontos

investigados nesta pesquisa.

Dessa forma, identificou-se que 35,7% dos entrevistados afirmam não terem feito

estágio na área de Escolar e Educacional, de acordo com eles não havia estágio curricular

obrigatório nesta área e o estágio curricular que existia era institucional, o qual a pessoa

escolhia de acordo com os campos que eram disponibilizados. De acordo com P10 e P12

as opções de estágio dependem da oferta naquele ano e na época não houve pra área da

Educação e acreditam que dificilmente esse campo é oportunizado pela universidade em

que estudou.

Entretanto, 64,2% afirmaram ter realizado estágio na área de PEE, sendo que para

um destes o estágio foi extracurricular, feito por iniciativa e busca particular do psicólogo,

pois já pretendia trabalhar nessa área quando estivesse formada. Para os demais o estágio

foi curricular e obrigatório para a formação. Neste ponto observa-se que grande parte

destes psicólogos se formaram em Instituições de Ensino Superior particular, as quais

possuíam em sua grade curricular, o estágio obrigatório com ênfase em Psicologia Escolar

e Educacional. Quanto aos locais de realização destas práticas, um deles as desenvolveu na

clinica-escola da universidade e os outros oito realizaram em escolas, sendo quatro delas

na rede pública, três na rede particular, e um entrevistado não informou o tipo de rede.

Em relação às atividades desenvolvidas, a maioria dos psicólogos relatou não ter

conseguido desenvolver muitas atividades, porém dentre as realizadas evidenciou-se que

elas subdividissem entre atividades pontuais e diversificadas. As pontuais são aquelas que

não partem da observação do local e destinam-se a apenas uma demanda, a qual foi

direcionada pelo supervisor do estágio ou pela direção da escola. Sendo assim, P2 relata

que a atividade que desenvolveu foi relacionada unicamente a Orientação Profissional e

para P4 a intervenção que pode realizar refere-se a escuta e orientação aos alunos. Já as

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atividades diversificadas, são entendidas aqui como aquelas que partem da observação da

instituição e que são destinadas a diferentes aspectos e componentes da escola, assim como

as ações desenvolvidas por P9, a qual afirma ter feito observação na escola, orientações a

alunos, e planejamento de ações com os professores.

Foi mais eu fiz o estagio somente voltada pra orientação profissional. Eu não fiz a

observação pra saber a demanda e etc, eu já fui com a demanda estabelecida (P2).

Fiz estágio curricular obrigatório, numa escola particular e as ações foram bem

diversificadas: a gente chegou a dar orientações, a fazer atividade de

planejamento com professores. Eu não lembro se tinha alguma psicóloga na

escola, eu não lembro, talvez tivesse. Eu sei que a gente observava, a gente

planejava atividades juntos. Fizemos atividades direcionadas para alunos e

professores (P9).

Quando questionados sobre a avaliação que faziam do estágio percebe-se no relato

a existência de mais pontos negativos do que positivos. O ponto positivo citado foi a

realização do estágio em si que proporcionou uma aproximação do campo e a

oportunidade de aprender sobre ele, suas características e principalmente sobre suas

dificuldades e possibilidades. De acordo com P4, durante o estágio ele pode aprender sobre

“o que não fazer” em muitas coisas, como atender os alunos nos corredores da escola, por

exemplo, conforme pode ser visto nesse relato:

O estágio em escolar foi numa escola pública, e que um mês depois que eu comecei

a estagiar entrou em greve, então assim, sinceramente eu vi, primeiro, como não

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estruturar um atendimento, eu aprendi como não fazer muita coisa (risos). Como

não estruturar um atendimento porque era tratado de uma forma meio trivial, era

uma coisa meio que de corredor, você estava lá e conversava com o aluno, mas

você não tinha uma sala, não tinha como fazer um acompanhamento com família

por exemplo, porque diziam assim: “a família? A família não, é melhor deixar

para lá.” Então a partir do estágio eu sai pensando muita coisa do que eu não

queria fazer em escolar. Mas em termos de estágio foi complicado pelo contexto e

o momento que estava inserido meu estágio (P4).

Já os pontos negativos estão relacionados a pouca concretização de intervenções,

devido as limitações da própria instituição, como a ocorrência de greves e até mesmo

condições precárias, como falta recorrente de água na escola, impedindo a realização das

ações; a resistência e falta de apoio de componentes da escola, como professores e

gestores; e a limitação do público ser “atendido”.

Ainda, todos os entrevistados concordam que o estágio é uma atividade muito

importante para a atuação, devendo ser sim proporcionado aos alunos para melhor

instrumentalizá-los para a prática profissional. Segundo P10, a importância está na

possibilidade do aluno articular a teoria que aprendeu e a partir dessa articulação construir

ainda mais conhecimentos e habilidades. Para P4, P6 e P12 o estágio é imprescindível para

que um profissional se sinta seguro e mais preparado para a inserção no mercado de

trabalho. Confirmando isso, Gondim (2002) menciona que essa dificuldade da

Universidade promover, na formação, a articulação entre a dimensão científica e a

dimensão profissionalizante, tem como consequência o sentimento de insegurança

vivenciado por muitos profissionais recém-formados.

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Sendo assim, conclui-se que apesar de nem todos os entrevistados terem

desenvolvido estágio na área Escolar e Educacional, todos eles reconhecem a importância

desta atividade acadêmica para sua formação, por isso se reafirma a necessidade dos

cursos oportunizarem esta prática aos graduandos, tornando assim sua formação completa.

No entanto, acredita-se que a simples oferta de estágios não significa em si a efetivação e a

qualidade do aprendizado. Em muitos relatos foi possível inferir certo contentamento e

conformação de que, apesar do estágio ter acontecido sobre a ocorrência de diversas

dificuldades e limitações, o pouco de conhecimento adquirido através dele já foi bom. Esse

entendimento, porém, deve ser melhor refletido, tendo em vista que se as atividades de

estágio costumam ser breves (com duração de quatro meses geralmente) fazê-lo em meio a

tantas intercorrências torna esta experiência infrutífera diante de muitas possibilidades.

O que se quer alertar com isso é que as Instituições de Ensino Superior, através das

coordenações de cursos e supervisores de estágios, precisam estar atentas à maneira como

esses estágios vem sendo disponibilizados, bem como às condições que os locais de prática

oferecem ao aluno para que possam aplicar seus conhecimentos e adquirir habilidades,

devendo ser uma atividade que promova o crescimento não só do estagiário, mas também

da qualidade dos processos educativos que ocorrem na escola.

5.6 Busca por formação complementar

Tendo em vista que segundo pesquisas a formação acadêmica tem encontrado

limitações na instrumentalização dos psicólogos para as diferentes áreas de atuação, como

a Escolar e Educacional por exemplo, uma solução a esta carência de conhecimentos tanto

teóricos quanto em relação ao campo específico está na busca por formação complementar,

chamada no âmbito acadêmico de formação continuada (Gondim, 2002).

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Acredita-se que muitos psicólogos ao começar a trabalhar no âmbito educativo, não

se sentindo devidamente preparados para a atuação, recorrem à busca por conhecimentos

relacionados a esta área de atuação. Essa busca por uma formação complementar pode

acontecer através de métodos informais como a leitura de livros, artigos e demais fontes

disponíveis, ou formais através de participação em cursos, grupos de pesquisas, grupos de

trabalho e associações de classe (Langenbach & Negreiros, 1994).

A partir disso, foi pesquisado junto aos entrevistados se eles buscaram algum tipo

de formação complementar no intuito de aperfeiçoar sua atuação no contexto escolar.

Assim, a partir das análises feitas foi possível evidenciar que todos afirmam ter buscado

conhecimento sobre a atuação na área, havendo, no entanto, diferenças quanto as formas

desta busca, seja através da formação informal ou da formal.

De acordo com 57% dos entrevistados a maneira pela qual buscou adquirir

conhecimentos sobre a atuação como psicólogo no contexto escolar, bem como

informações relacionadas ao campo da Educação, aconteceu informalmente, através de

estudo dos periódicos e livros publicados na área; a partir de conversas com colegas que

atuavam nesse mesmo campo; e participação em congressos. Dentre estes, 28,5% afirmam

ter optado apenas por este tipo de formação complementar, já os outros 28,5% relataram

que além dessa forma, buscaram também na formação continuada formal um maior

subsídio a suas práticas.

A realização dessa formação continuada formal foi relatada por nove psicólogos,

havendo também aqui diferenciadas maneiras de como este tipo de formação aconteceu.

Cinco destes, fizeram cursos de especialização, sendo que dois desses entrevistados já

faziam a especialização em outras áreas (como a organizacional e a clínica), mas afirmam

que muitos conhecimentos são úteis em sua prática. Já três deles disseram que essa busca

aconteceu através do mestrado e por fim outros cinco relataram que optou também por

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aprender sobre a área por meio de cursos de curta duração, existindo destaque par os

cursos realizados a distância.

Ainda, dois dos participantes da pesquisa, afirmaram ter buscado formação

continuada mais específicas na área de Psicologia Escolar e Educacional, mas não foi

encontrada nenhuma instituição local ou em cidades próximas que as oferecesse. Segundo

P14, ele procurou um curso nesta área durante muito tempo e só conseguiu encontrar um

recentemente, mas em outro estado, ficando inviável a participação, uma vez que trabalha

e não recebeu a devida liberação para poder fazer o curso. Com isso, observa-se que além

das limitações referentes a formação inicial na preparação do psicólogo para atuar em

contextos escolares, existem também dificuldades no âmbito da formação continuada na

área de PEE, principalmente pela falta do oferecimento de cursos neste campo, pelo menos

no que se refere a realidade local. Talvez por isso, alguns deles disseram buscar essa

formação nos cursos a distância, como estratégia de superação desta escassez.

Além disso, percebe-se no relato de P14 a ausência de incentivo institucional para a

realização de cursos de capacitação e especialização, seja na não promoção destes ou na

falta de flexibilidade de horários, para que os psicólogos possam buscar essa formação em

outros estados, tendo em vista a inexistência de cursos específicos no estado de Sergipe.

Logo, a partir do exposto, conclui-se que há uma busca por formação

complementar como estratégia de melhoria da atuação do psicólogo nos contextos

educacionais, sendo esta busca efetivada de maneiras diferenciadas, seja através de meio

informal com o acesso a livros e artigos, seja por meio formal de cursos de

especializações, mestrado, ou aqueles realizados a distância. Isso denota a importância de

que a formação aconteça de forma continuada, muito embora exista, no estado, certa

carência de cursos voltados a subsidiar a atuação na área da Psicologia Escolar e

Educacional, sendo necessária a promoção de cursos e eventos científicos voltados a esta

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área (Guzzo, 2008). Além disso, os dados reforçam a importância da produção e

divulgação de estudos e pesquisas sobre os diversos temas relacionados a este campo, para

que sirvam também de instrumentos para a aquisição de formação complementar à atuação

profissional.

5.5 Intervenções desenvolvidas

Como foi apresentado, nesses últimos 50 anos de profissão a Psicologia em seu

diálogo com a Educação tem construído, embora que sobre muitos entraves, uma área de

atuação conhecida como Psicologia Escolar e Educacional, a qual tem muito a contribuir

para a qualidade e efetividade dos processos educativos que acontecem no âmbito escolar e

educacional, através de diversificadas formas de intervenção nesses contextos.

Devido a isso, foi objetivo deste estudo caracterizar e analisar esse tipo de atuação

profissional do Psicólogo no estado de Sergipe, buscando identificar quais atividades esses

profissionais vêm desenvolvendo nas redes de Educação tanto no âmbito privado quanto

no público. Como método para essa classificação optou-se por apresentar, a seguir, as

intervenções evidenciadas a partir do público alvo a quem elas são direcionadas, sendo

eles: alunos, professores, pais, funcionários e outros. Vale a pena frisar que, apesar de o

público alvo ser um dos componentes da escola, não significa necessariamente que a

intervenção só leve em consideração apenas tal componente no entendimento e na ação

realizada frente a demanda.

5.5.1 Intervenção junto aos professores

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A atuação do psicólogo desenvolvida junto aos professores, durante muito tempo

esteve relacionada à recepção de queixas-escolares, que consistia na escuta de reclamações

sobre os alunos que apresentavam algum “problema” de aprendizagem e de

comportamento, os quais eram considerados pelos professores como alguém que precisava

de “ajuda”, sendo o psicólogo, por sua ciência, esse profissional capaz de “ajustar” o aluno

a sala de aula e a escola (Nunes, 2005). Entretanto, com a evolução dos entendimentos

sobre essa forma de conceber os problemas educacionais (a partir de uma análise

contextual) e a necessidade de novas formas de intervir sobre ele (a partir das interações),

esse trabalho com os professores ganharam novos significados, passando estes a serem

entendidos como parceiros nas ações e também a serem alvos da análise, compreensão e

desenvolvimento de intervenções (Gimenez e Tizzei, 2008). Nas análises realizadas neste

estudo, foram encontradas intervenções sobre estas duas formas: direcionadas aos

professores e realizadas em parceria com eles.

Dentre as atividades destinadas aos docentes, a formação de professores foi a mais

frequente, sendo citada por seis dos entrevistados. Essas formações podem acontecer

agregadas a reuniões pedagógicas, às quais o coordenador solicita que o psicólogo faça

uma participação, desenvolvendo alguma atividade com os professores, ou pode também

ser promovidas por iniciativa do próprio psicólogo, conforme vemos nos relatos a seguir:

A gente faz também um trabalho de formação continuada com os professores, onde

a gente tem uma reunião mensal, uma reunião pedagógica e a gente tem um

espaço, normalmente eu tenho uma fala nesse momento (P3).

Formação: escolher temas de formação e capacitação de professores, é a gente

que elabora as formações (P12).

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Observa-se a partir das falas que essas ações formativas podem ser periódicas,

sendo desenvolvidas uma vez ao mês ou a cada bimestre, por exemplo, ou de forma

esporádica, a partir do surgimento de uma necessidade. Ambas as formas, constitui-se

como legítimas, entretanto, acredita-se que as formações realizadas com um caráter

periódico pode produzir maiores efeitos no público atendido, além de criar uma cultura de

formação e um legítimo espaço de intervenção profissional para o psicólogo. Defende-se

essa periodicidade, uma vez que quando a formação é realizada de forma esporádica,

acontecendo uma vez ou outra a partir de uma grande necessidade, esta atividade pode

encontrar mais entraves em sua realização, sendo feita de forma mais limitada por motivos

diversos, tais como a ausência de uma política de “atividade com professor”, a resistência

deles pela falta dessa cultura formativa que a periodicidade ajuda a construir, bem como a

falta de tempo institucional que é um dos fatos relatados por um dos entrevistados:

Também tem o trabalho com os professores, a gente não tem o trabalho com eles

ainda como deveria ter, mas geralmente é quando ele vai fazer o programa

pedagógico do próximo ano, aí eu sou chamada, desenvolvo uma atividade com

eles, ou uma dinâmica de grupo ou outra intervenção para dar um fechamento

(P6).

Com isso, acredita-se que a formação de professores, sendo realizada uma vez por

semestre ou no ano, e ainda com um caráter de participação, ou seja, o psicólogo possui

apenas um momento para realizar algo, que provavelmente não deve ser muito, sendo

então insuficiente para que um trabalho eficaz e que promova transformações possa ser

desenvolvido.

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De acordo com esses entrevistados, essas formações são feitas através do

desenvolvimento de temas que podem ter sido solicitados pela coordenação e/ou pelos

professores, ou ainda que foram escolhidos pelo próprio psicólogo. Neste sentido, acredita-

se que a escolha do conteúdo a ser trabalhado nos encontros de formação deve objetivar o

compartilhamento de subsídios à prática docente, possibilitando a estes o entendimento

sobre os aspectos presentes no processo educativo, tais como os fatores de

desenvolvimento, de aprendizagem e de relações interpessoais (CFP, 2013). Segundo P7, a

escolha que faz dos temas são realizadas sempre de forma estratégica e partem sempre da

observação de uma demanda, sobre isso ele menciona:

Ou então com professores, assim, a gente tem formação com professores a gente

escolhe um tema pensando assim: poxa está surgindo mais isso então vamos falar

com os professores sobre isso, porque ai a gente já fecha essa grande demanda

(P7).

P13 relata que quando ele não possui propriedade para trabalhar algum tema, ele

faz um convite a outros profissionais que possam realizar a formação, feita as vezes em

formato de cursos ou oficinas, com módulos e materiais de estudo. Já P6 diz que outra

ação realizada nesses encontros é o desenvolvimento de dinâmicas, as quais são escolhidas

também de acordo com o tema trabalhado. Entretanto, P10 adverte para o cuidado que o

psicólogo deve ter no recebimento desta solicitação, uma vez que segundo ele muitas

vezes o uso das dinâmicas de grupo são entendidas de forma equivocada, como uma mera

recreação que pode ser aplicada de qualquer maneira.

Dessa forma, entende-se que a formação de professores deve ser uma atividade

criteriosa, planejada e executada com vistas à promoção do trabalho docente e, por

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conseguinte, da qualidade educacional. Segundo o CFP (2013, p.58), essa atividade deve

ter sempre por objetivo: “contribuir para o aprofundamento teórico, a fim de compreender

as relações existentes entre a subjetividade humana, a formação do psiquismo e o

processo educacional, formados nas relações sociais”. Diante disso, percebe-se a

pertinência, a necessidade e a importância da participação do psicólogo na formação

continuada dos professores.

Corroborando com isso, P7 relata que este tipo de intervenção é muito importante

para a escola e na atuação do psicólogo serve como uma estratégia para a diminuição das

demandas, pois uma vez melhor informados sobre diversificados assuntos, os professores

tornam-se mais capacitados para lidar, eles mesmos, com algumas demandas que antes

eram encaminhadas para o psicólogo. Além disso, P1 acredita que esse trabalho tem como

objetivo e como principal efeito a promoção de autonomia do professor dentro do

ambiente escolar.

Além da formação continuada aos professores, outra possibilidade de intervenção

onde possa existir esse compartilhamento de conteúdos, e que foi mencionada por três dos

entrevistados, é a de assessoria aos professores, ação que é realizada quando estes buscam

no psicólogo informações sobre assuntos diversos relacionados a ciência psicológica, seja

para melhor entender uma demanda ou seja na elaboração de alguma atividade.

Ainda, foram relatadas outras formas de intervenção, porém com uma expressão

mínima de um psicólogo para cada uma delas. Segundo P2, as vezes ele realiza visitas às

salas de aula com o objetivo de identificar se o professor está seguindo alguma orientação

feita a ele, por motivo de uma determinada demanda. Já P5, informou sobre a realização de

um projeto de valorização profissional do professor, realizado através de encontros de

integração entre este público, mas que não conseguiu dar continuidade devido a problemas

de tempo à participação dos docentes. Por fim, P12 mencionou a realização de escuta e

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orientação, defendendo a possibilidade desta ação em casos de necessidade, porém de

acordo com ele, esta atividade é feita com bastante critério e de forma a não abordar a

questão isoladamente, buscando compreender a partir do contexto, sobre isso ela diz:

Orientação individual às vezes, pois eu acho que nenhum psicólogo, e não só

psicólogo, nenhum profissional seja na Educação, na Saúde, ou nas Humanas,

deve negar uma escuta. Eu acho que o mínimo que eu posso fazer enquanto

psicóloga é uma escuta, quando necessário e sempre que aparece eu não me nego,

mas ao lidar com isso eu tento não individualizar a queixa e as coisas que

aparecem, trazendo sempre para o contexto da escola, entendendo ela como um

grupo que envolve várias forças (P12).

Além dessas atividades direcionadas ao público docente, foram evidenciadas outras

intervenções realizadas junto aos professores, entretanto com um caráter diferenciado,

onde as ações são desenvolvidas em parceria, através de um trabalho mediado, sendo elas

a participação na criação de projetos ou ações criadas para os professores desenvolverem

em sala de aula.

De acordo com Curonici e McCullooch (1999), o trabalho do psicólogo a ser

desenvolvido na escola, em sua grande parte, deve ser desenvolvido em parceria com os

demais componentes da escola, em especial com os professores. Segundo estas autoras

esse trabalho pode ser realizado através de duas formas de intervenção: a mediada e a

direta. A intervenção mediada consiste numa estratégia de ação que se caracteriza pela

escuta e redimensionamento da queixa, seguida da criação conjunta com os professores de

ações a serem desenvolvidas por estes. Neste tipo de atividade o diferencial está no fato de

que é o próprio professor quem se encarregará de desenvolver aquilo que for planejado em

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conjunto, promovendo assim a autonomia neste profissional, para que ele saiba e se sinta

capaz de lidar com as questões que surgem em sua sala de aula. Já a intervenção direta,

consiste em ações realizadas também em conjunto com o professor, mas com uma

participação maior do psicólogo no desenvolvimento do que foi planejado (Curonici &

McCulloch, 1999).

No presente estudo foi identificado que oito dos treze psicólogos afirmam estar

buscando desenvolver ações junto aos professores, a partir de uma concepção mais crítica,

entendendo a necessidade de um trabalho integrado e contextual junto a este público, com

objetivos de prevenção e promoção de autonomia. Entretanto, observa-se ainda uma

pequena expressão de intervenções que se caracterizam com um caráter mediado, não

sendo possível explicar, a partir dos relatos, o motivo deste fato.

Acredita-se porém, que apesar de os psicólogos apresentarem um entendimento

sobre a importância do trabalho desenvolvido junto aos professores, as instituições de

ensino (tanto as escolas quanto as SEMED’s), ou até mesmo os próprios professores não

trazem em si a compreensão desta relevância, acreditando na individualidade das ações do

psicólogo. Infere-se que esse equívoco interpretativo das possibilidades e funções do

psicólogo (já apresentado anteriormente) causam limitações para que este desenvolva um

trabalho integrado com os docentes. De acordo com P1, P4 e P14 sua atuação não envolve

o âmbito docente e esta é uma condição imposta pela instituição que limita suas ações

apenas aos alunos e familiares. Já P5 e P6, afirmam que apesar de não haver limites quanto

ao âmbito de ações, não há na escola a compreensão da necessidade do seu trabalho ser

realizado junto aos professores. Segundo eles, isso se caracteriza na falta de espaço/tempo

institucional para realização de atividades com estes componentes, sendo inviável muitas

vezes a participação docente nas atividades propostas pelo psicólogo.

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A partir disso, conclui-se que a criação de uma cultura que tenha a parceria destes

profissionais como um aspecto importante constitui-se também como um desafio a ser

enfrentado e superado pelo psicólogo nos contextos escolares, uma vez que quando

desenvolvida dessa forma, a atuação deste profissional torna-se mais efetiva para

contribuir com a qualidade dos processos educativos que ocorrem na instituição em que

trabalham.

5.5.2 Intervenção junto aos alunos

Historicamente, há o entendimento de que a atuação do psicólogo deve ser voltada

para o aluno e seu processo educativo. Porém, antigamente esse entendimento

configurava-se de forma parcial, uma vez que o trabalho desenvolvido com os alunos

cumpria mais a função de rotular, limitar ou excluir o discente, do que contribuir para a

qualidade do seu desenvolvimento educacional. Atualmente acredita-se que a atuação

junto aos alunos deve ser feita de forma contextual, buscando compreender as questões

manifestadas nele a partir das interações e sistemas dos quais eles fazem parte (Meira,

2002).

Na presente pesquisa, evidenciou-se que, de todas as atividades relatadas pelos

participantes, aquelas direcionadas ao aluno foram as mais frequentes (com 100%) e as

mais diversificadas, havendo o destaque para a realização de escuta, acolhimento e

orientação aos alunos. Essa escuta do aluno geralmente pode acontecer por solicitação dos

professores, coordenadores ou pais e por busca espontânea dos próprios alunos. Os

motivos identificados para a solicitação desse serviço por parte da equipe pedagógica

geralmente referem-se a suspeita de dificuldades de aprendizagem, conflitos interpessoais

e queixas em relação ao aluno; por parte dos alunos referem-se a conflitos no

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relacionamento com outros colegas ou com os pais, bem como a dificuldades encontradas

na escola; já por parte da família referem-se a questões do próprio âmbito familiar ou

algum acontecimento ocorrido na escola.

Em relação a esta solicitação, observou-se a existência de cautela no recebimento

desta demanda por alguns dos psicólogos, principalmente para com aquelas provenientes

da equipe pedagógica e dos pais. De acordo com P4, muitas das solicitações feitas pelos

pais não são atendidas uma vez que estes o procuram para que ele faça intervenções sobre

o comportamento do aluno em casa e isso foge a sua função. Além disso, segundo P6,

muitas vezes os professores ou coordenadores e até mesmo os próprios alunos solicitam a

escuta já trazendo um “autodiagnostico” sobre o que o discente tem. Diante disso ele faz

uma triagem e busca desmistificar muitos desses “diagnósticos”.

Só abrindo um parênteses, na maioria das vezes, quando a solicitação é feita pela

família um grande problema que eu tenho é o de explicar pra eles que eu não tenho

como intervir no que a família quer que é sobre o comportamento em casa. Isso

particularmente eu não tenho como, meu trabalho é na escola, então as vezes

dizem que o aluno esta quebrado tudo em casa, mas aqui é um dos melhores

alunos. Então sobre o comportamento em casa eu não tenho o que fazer (P4).

Sobre a maneira que essa intervenção é desenvolvida, foi observado que ela

acontece através de atendimentos individuais e que houve, nos relatos, uma ênfase na

explicação de que esses atendimentos não se assemelham à psicoterapia. Assim, segundo

alguns dos entrevistados, esses encontros não são periódicos e não possuem um caráter

terapêutico de questões psicológicas dos alunos. Conforme P4 e P9, o objetivo dessa ação

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não é a resolução de conflitos, mas de oferecer um suporte ao aluno para que ele saiba

lidar com a situação de uma forma que não interfira no seu desenvolvimento educacional.

Ratificando isso, P9 menciona a importância desse trabalho, pois há questões que

mesmo que não tenham sido produzidas pelo ambiente escolar, podem vir a interferir na

vivência e no aprendizado do aluno na escola. De acordo com Martinez (2010, p.44), o

serviço de escuta e orientação a alunos “tem começado a assumir objetivos promocionais

de bem-estar emocional e de desenvolvimento de importantes recursos psicológicos em

correspondência com os objetivos da educação integral que a escola propõe”.

Já P10, afirma que atualmente a escuta que realiza se restringe apenas a fatores

internos da escola, pois no início fazia o acolhimento por motivo de questões pessoais, mas

com o passar do tempo foi identificando que a intervenção estava tomando um caráter que

fugia as suas funções dentro do contexto escolar. Hoje ele entende que ocorrências mais

profundas devem ser trabalhadas nos serviços psicológicos fora da instituição. Sobre isso

ele relata:

A questão do acolhimento relacionado a questões pessoais eu fazia, mas hoje eu

entendo que isso não deva ser algo específico da escola. Então, as questões

pessoais eu estou encaminhando para os serviços, eu explico o que é uma

psicoterapia, como funciona, e se for uma questão pessoal peço que ela procure

outro profissional, até porque se eu continuasse fazendo o acolhimento que fazia

antes as pessoas não procuravam o profissional fora e se for realmente um caso de

psicoterapia ela conversava comigo e quando chegava lá no outro psicólogo

precisava repetir tudo de novo, então eu acho que essa não é minha atividade fim

aqui, não é específico do psicólogo na escola, e eu estou encaminhando (P10).

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Essa busca por caracterizar os atendimentos individuais feitos nas escolas como

ações diferentes da psicoterapia, denota o conhecimento por parte desses psicólogos dos

avanços na área da Psicologia Escolar e Educacional no que se refere às críticas a

concepção tradicional de atuação e a utilização do modelo médico clínico no atendimento

das demandas educacionais. Sendo importante salientar que o alvo das críticas não é em si

o atendimento individual, mas o mau uso desse recurso, quando feito de forma parcial e

com fins curativos, fortalecendo e perpetuando o entendimento equivocado de que o aluno

possui disfunções criadas por ele mesmo, necessitando por isso de “ajuda” para se ajustar

ao que é considerado normal.

Entende-se a importância desse tipo de intervenção no trabalho do psicólogo na

escola (Almeida, 2008), uma vez que a partir dele é possível o conhecimento de outros

fatores que indicam a necessidade de outras intervenções como os grupos operativos, por

exemplo. Entretanto reafirma-se que o atendimento, mesmo quando feito de forma

individual, deve ser realizado a partir de uma abordagem contextual, ampliando a

possibilidade de compreensão e entendendo a subjetividade do indivíduo como produto

das relações sociais que participa (Meira, 2002).

Ainda, além do atendimento individual feito em caráter de escuta, foi evidenciado

também a realização de avaliação psicodiagnóstica nas falas de quatro psicólogos.

Segundo P6, os professores e coordenadores encaminham alunos sob a suspeita da

existência de dificuldades de aprendizagem (DA). Assim, ao receber a demanda, esse

psicólogo faz uma triagem buscando identificar se há realmente indícios reais que

caracterizem uma DA, a partir de uma escuta atenta e abrangente, pois de acordo com este

entrevistado geralmente há uma patologização, por parte da equipe pedagógica, dos

comportamentos e situações, culpabilizando apenas o estudante, uma vez que não

acreditam existir relação com outras questões como as pedagógicas ou interacionais, por

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exemplo. Essa triagem realizada por P6 consiste justamente como uma estratégia de

desmistificação, esclarecimento e reenquadramento da demanda trazida.

De acordo com P14, a avaliação psicodiagnóstica é a única intervenção que lhe é

permitida pelos gestores em sua atuação, sendo negada qualquer outra possibilidade de

ações seja com os alunos, com familiares, professores ou demais funcionários. Essa

limitação da atuação é fruto da concepção que os gestores possuem acerca da função do

psicólogo que é clínica e se restringe apenas ao “tratamento” de alunos. Diante disso, P14

afirma que realiza as avaliações, porém a faz sobre algumas condições que colocou para

que essa ação não tome um caráter terapêutico dentro da escola, até porque mesmo que

fosse apropriado esse tipo de prática, isso seria inviável em vista das condições precárias

que a instituição oferece e também devido ao excesso de demanda que existe nesses

contextos. Sobre isso ele fala:

Só que as escolas exigem que fique lá, para fazer os atendimentos que elas querem

que eu faça. É meio complicado porque se elas querem avaliação e eu faço, mas

faço um pouco afastado, mas emperram que tem que fazer lá e que seja clínica.

Mas o que acontece é que eu não vejo a mínima possibilidade de isso dar certo, no

máximo fazer escuta do aluno, conversar com a mãe e torcer pelo melhor... mesmo.

Porque não me deixam interagir com o professor. Eu já tentei intervir com a

direção, mas elas não conseguem visualizar a necessidade (P14).

No relato acima, visualiza-se de forma concreta o impacto que uma representação

equivocada sobre a função do psicólogo na escola provoca na atuação deste, limitando e

impedindo a efetividade de intervenções que são mais apropriadas ao ambiente

educacional. Além disso, percebe-se na fala de P14 um sentimento de “mãos atadas”, de

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impotência perante as condições impostas pelos gestores, depois de já ter pleiteado de

forma recorrente (e sem sucesso) por espaço e autonomia em sua atuação, restando

atualmente apenas o cuidado com a ética profissional no desenvolvimento daquilo que lhe

é possível, para evitar que concepções tradicionais como essas dos gestores sejam

fortalecidas e perpetuadas.

A segunda intervenção mais frequente nas entrevistas referem-se aquelas realizadas

em sala de aula e também acontecem por solicitação dos professores ou por iniciativa do

psicólogo. Nesses relatos foi possível observar que cada ação feita em sala possui um

objetivo específico, partindo sempre da identificação da necessidade dela, tendo um caráter

remediativo ou de prevenção.

Geralmente, a ação remediativa é desenvolvida devido a ocorrência de algum

acontecimento ou pela identificação de uma demanda, que apesar de ser manifestada por

um aluno, se entende que refere-se a algo do coletivo. Nesta atividade, também se faz

necessária a cautela em relação a forma como se recebe e se trabalha a demanda, para que

não se individualize a questão apenas ao âmbito dos alunos, uma vez que na sala de aula

estes encontram-se dentro de um sistema de relações, o qual inclui o professor e seus

aspectos didáticos e pedagógicos.

De acordo com P4, é comum a solicitação dos coordenadores para que ele faça

alguma intervenção em turmas consideradas “problemáticas” por alguns professores,

porém muitas vezes quando vai a sala de aula, percebe que não é a turma que é

problemática, que ela está apenas apresentando um sintoma de uma disfunção no campo

relacional, a qual necessita sim de um trabalho concreto. Segundo Curonici e McCulloch

(1999), muitas vezes a ocorrência de problemas na interação entre os componentes de um

determinado sistema (professor-aluno, aluno-aluno, por exemplo), podem causar

ressonância em uma das partes, geralmente no aluno, onde o sintoma é manifestado.

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Diante disso, o psicólogo ao agir em situações como essas deve ir além dos sintomas

percebidos ou relatados, procurando compreender a função que o sintoma exerce e o que

ele quer manifestar, para poder intervir na causa geradora do problema (Curonici e

McCulloch, 1999).

Já quanto ao caráter preventivo dessas atividades, observou-se que estas são feitas

objetivando a promoção de informações e reflexões a cerca de temas específicos e

considerados necessários à qualidade dos processos educativos e como forma de prevenir o

surgimento de possíveis problemas como a violência escolar, a perpetração de

preconceitos e descriminação, dentre outros. Neste sentido, foi mencionado pelos

entrevistados o desenvolvimento de temas como Bullying, Educação Inclusiva, Gênero e

Sexualidade, e abuso de álcool e outras drogas.

Conforme P1, um dos temas trabalhados foi em relação a temática do Preconceito e

do Bullying. Segundo ele, apesar de a iniciativa ter surgido a partir da observação de

alguns casos de violência escolar, decidiu realizar esses encontros na turma para evitar que

novas ocorrências aconteçam. As atividades eram desenvolvidas através de seminários

apresentados pelos próprios alunos, em que cada grupo conduzia a discussão de um tema,

havendo a participação do psicólogo e do professor no esclarecimento de dúvidas. Para P1

esse trabalho foi muito produtivo, pois conseguiu promover as informações desejadas,

além de provocar uma integração entre o psicólogo e os alunos. Outro tema desenvolvido

em sala, refere-se a questão da Educação Inclusiva. De acordo com P8, na escola em que

trabalha há alunos com “necessidades educativas especiais” e por isso é necessário fazer

um trabalho de conscientização com os demais alunos, para que saibam acolher e até

mesmo “entender o tratamento diferenciado dado a um colega”.

Também de forma preventiva, P10 afirmou a realização de encontros nas salas de

aula, com o objetivo de conscientizar os alunos em relação a evasão escolar, uma vez que

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segundo ele a escola oferece uma dinâmica de aula diferenciada, onde o aluno possui a

liberdade de participar ou não, podendo permanecer fora da sala, mesmo em horários em

que as aulas estão ocorrendo. Entretanto, muitas vezes essa “liberdade” não é vivenciada

de forma positiva por alguns discentes que não frequentam as aulas e aproveitam a

ociosidade para outros fins, como o uso de bebida alcóolica nas imediações do local em

que se situa a escola, por exemplo, conforme observa-se no seguinte trecho:

Principalmente com os do 1º ano, porque chegam aqui muitos jovens e aqui é uma

instituição que deixa os estudantes muito soltos, e aí depois a gente vai colher os

problemas, de estudante que faltou demais, que entrou em coma alcoólico porque

bebeu demais, porque não sabia beber e aqui tem uma liberdade muito grande, a

escola é muito grande, saem e entram livremente. Por isso eu acho que é um

trabalho importante (P10).

Em relação aos recursos utilizados, foi identificado o uso de dinâmicas, seminários,

palestras, textos, vídeos e cartilhas, bem como o uso de estratégias como o envolvimento

dos estudantes na construção e desenvolvimento das atividades. Para P11, ao envolver o

aluno na elaboração dos encontros há um maior ganho na participação deste nas ações

propostas, além de promover a integração que um trabalho coletivo exige. De acordo com

P5, quando feitos dessa forma, percebe-se uma maior implicação da turma naquilo que esta

sendo vivenciado na sala.

Outra estratégia é a participação do professor, também como forma de promover a

integração entre este e a turma, bem como fortalecer a concepção de que muitas demandas

podem e devem ser trabalhadas de forma integrada, sem individualiza-las. Um exemplo de

uma intervenção pautada por essa perspectiva foi visto no relato de P2, o qual ao ver a

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202

necessidade de que um determinado assunto seja trabalhado com a turma, reúne os

professores das diferentes disciplinas e solicita que cada um, aborde o tema proposto

correlacionando-o aos assuntos específicos de sua área.

Essa atuação voltada para o desenvolvimento de temas, cuja necessidade foi

identificada a partir de observações do ambiente, da escuta e acolhimento ou da solicitação

de terceiros também pode ser realizada sobre o formato de projetos, sendo mencionada por

seis entrevistados. Esse tipo de atividade possui um alcance maior do que a sala de aula ou

turmas específicas e geralmente é feita por iniciativa e elaboração do próprio psicólogo ou

a convite de outros setores da escola para uma participação complementar. Para Martinez

(2009), essa forma de intervenção é muito relevante justamente devido ao fato de sua

abrangência e por muitas vezes promover a integração entre os diversos profissionais que

compõe a instituição escolar.

De acordo com P4, o principal objetivo na realização de um projeto é a promoção

de reflexão sobre a temática abordada, bem como a formação de multiplicadores de

informações no ambiente escolar e na sociedade de uma forma geral, uma vez que concebe

a educação como uma oportunidade para a formação cidadã. Esse caráter promotor de

reflexões também é apontado por outros entrevistados, no desenvolvimento de temas como

sustentabilidade, Educação ambiental, valores humanos, racismo e discriminação, dentre

outros.

Um objetivo recorrente em dois projetos que foram mencionados por entrevistados

distintos está relacionado ao suporte à preparação dos estudantes para o vestibular e o

Enem. Esse suporte, acontece no sentido de auxiliar na organização, planejamento e

conscientização quanto a disciplina nos estudos, assim como trabalhar a ansiedade e a

motivação diante da pressão que a seleção provoca. Para isso são oferecidas informações

sobre técnicas de estudo, técnicas de relaxamento, através de oficinas, palestras, trabalhos

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em grupos, dinâmicas, partilhas e debates. Em relação a participação, conforme P1 e P5, é

opcional, participando apenas aqueles que assim desejam, havendo uma boa adesão por

parte dos alunos. Sobre o desenvolvimento desse projeto P5 relata:

O projeto ENEM, cujos encontros acontecem a cada 15 dias. Aí a gente abre as

inscrições para os alunos que querem participar e forma grupos e trabalha com

eles temas que são pertinentes a essa vivência própria que é a de estar no ensino

médio prestes a fazer o ENEM, com todas as características que o Enem tem, então

a gente vai trabalhando com ele essas questões e termina sendo um trabalho muito

produtivo. E assim, embora os grupos sejam abertos, então se você participou

numa semana e não quiser participar na próxima fica a seu critério. Mas tem um

fluxo muito bom de gente indo e vindo (P5).

Esse trabalho desenvolvido a partir da formação de grupos também foi mencionado

por outros três psicólogos, porém com objetivos diferentes: um com o tema do combate às

drogas, cujo intuito era oferecer informações acerca dos problemas e consequências

causados pelo uso e abuso de álcool e outras drogas, bem como desmistificar algumas

crenças existentes em relação ao assunto; outro sobre relações interpessoais, com alunos

que apresentavam defasagem de série; e outro com alunas que faziam Ginástica Rítmica

Desportiva.

Outrossim, uma atividade identificada, e que segundo Martinez (2010) constitui-se

como uma ação tradicional do psicólogo nas escolas, foi a Orientação Profissional (OP)

desenvolvida com os alunos do Ensino Médio, em especial com aqueles que estão no

último ano deste nível de ensino, prestes a fazer o vestibular para o ingresso no Ensino

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Superior. Nos relatos foi observado que essa OP é feita de forma processual e em etapas

que envolvem o autoconhecimento e a informação profissional.

Isso é proporcionado através de encontros realizados tanto com grupos quanto

individualmente (de acordo com a etapa ou objetivo da atividade proposta), nos quais são

utilizados recursos metodológicos como: a oferta de palestras de profissionais de cada

área, para que possam apresentar um pouco das características de sua profissão; visitas em

loco de diferentes profissões, para que conheçam a realidade prática do campo; rodas de

conversas sobre futuro profissional, tomada de decisão, mercado de trabalho, entre outros.

Para P5, essa intervenção, embora denote ser referente a uma função secundária do

psicólogo, é importante e de consistente contribuição para o processo e desenvolvimento

educacional do aluno, uma vez que quando realizada de forma coerente, auxilia este num

momento crucial de sua vida que é o da escolha de seu futuro profissional. Essa dada

importância pode ser observada no seguinte trecho:

A gente busca trazer e eu tenho feito isso nesses últimos anos, eu tenho trazido

profissionais das mais diversas áreas, para dialogarem com os alunos do ensino

médio, para falar para eles como anda o mercado de trabalho e o que é que é cada

uma dessas profissões, o que tem de significativo em cada uma delas, para que eles

tenham um contato melhor, com cada uma dessas profissões, a gente desenvolve

também um programa que é de visitas em loco de trabalho, onde eu levo pequenos

grupos pra clínicas, hospitais, empresas, para campo de obras, para que eles

tenham contato com isso e para que também na escola de pais a gente também

possa estar discutindo isso a importância de você fazer uma escuta a respeito

daquilo que seu filho está querendo fazer e porque não? Por que a profissão só

tem que ser a, b ou c? Por que não pode ser d e f? Então a gente termina

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conseguindo dar uma enlaçada boa em questões como essas que são significativas,

mas esta em especial que te falei me marcou e eu sempre me lembro dessa menina

(P5).

Ainda segundo Martinez (2010), apesar de ser considerada uma atividade

tradicional, observa-se que esta sofreu mudanças significativas e necessárias uma vez que

antes era desenvolvida através de ações pontuais, subsidiada pela aplicação de testes

psicológicos e que hoje é feita de forma processual e abrangente, levando em consideração

aspectos sociais e econômicos e com o objetivo de oferecer um suporte e informações para

que o próprio indivíduo tome sua decisão, baseado em fatores diversos e não apenas com o

“diagnóstico” profissional apontado nos testes. Na presente pesquisa, percebe-se que a

Orientação profissional desenvolvida se aproxima dessa perspectiva mais recente, a qual se

acredita ser a mais apropriada.

Ademais, foram identificados outros tipos de intervenção, porém com menor

frequência e menor caracterização de como eram desenvolvidas, sendo elas a observação,

o trabalho com Educação Inclusiva, acolhimento a alunos novatos e o ensino de conteúdos.

A observação pode ser realizada dentro do ambiente escolar (citada por P2), seja na sala de

aula, ou seja em outros locais da escola, com o objetivo de “conhecer a dinâmica da

escola ou de uma turma”, para “conhecer detalhes sobre alguma demanda dos alunos, ou

algum específico”, ou para “verificar se as ações planejadas e orientadas passadas aos

professores estão sendo seguidas”. Além desta, há também a observação feita na casa dos

alunos, através de visita domiciliar (citada por P13), cujo objetivo é conhecer o convívio e

realidade familiar do discente e a partir disso poder entender de forma mais abrangente

sobre ele.

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Além da observação, foi mencionado a intervenção em relação a Educação

Inclusiva, cujas ações referem-se ao manejo da inserção de alunos com necessidades

educativas especiais, tanto no âmbito particular deste aluno, quanto na recepção e inclusão

por parte dos colegas de turma, professores e demais componentes da escola. Esse trabalho

é feito através de “atendimentos individuais esporádicos sem fins terapêuticos” (P7),

“acompanhamento de professores da educação especial” (P3), e visitas frequentes à sala

de aula.

Sobre isso, foi observado o desenvolvimento da função de coordenação do setor de

educação inclusiva, cujas atividades desenvolvidas refere-se a elaboração de projetos

voltados não só para os alunos, mas a toda comunidade escolar e familiares e capacitação

de professores e funcionários, como multiplicadores da cultura de inclusão. De acordo com

a referência técnica do CFP (2013), o psicólogo deve atuar na política de educação

inclusiva, buscando romper com as práticas tradicionais de rotulação dos alunos, assim

como deve atuar desenvolvendo ações de conscientização entre os componentes da escola,

evitando a perpetração de preconceitos e comportamentos de exclusão.

Apesar de ter sido citado esse tipo de intervenção, infere-se que a atuação do

psicólogo escolar e educacional em Sergipe está pouco relacionada a intervenções voltadas

para a Educação Inclusiva, tendo em vista ser esse um assunto presente em grande parte

das escolas tanto da rede pública quanto da rede particular. Entretanto, não foi investigado

no presente estudo o motivo dessa pequena expressividade. Também, segundo a cartilha

do CFP (2013), as ações voltadas para a Educação Inclusiva constitui-se uma das

deficiências na formação do psicólogo, fazendo com que muitas vezes esse profissional

encontra dificuldades na realização de atividades relacionadas a esse tema.

O acolhimento a alunos novatos consiste em atividades voltadas para recepcionar

os alunos no início do ano letivo, principalmente aqueles que “estão vindo de outras

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escolas e passam por um período de adaptação a nova realidade escolar” (P4). De acordo

com P11, esse acolhimento é feito através de “visitas as salas de aulas para dar boas

vindas informar sobre a escola e divulgar os serviços de psicologia” (P11). Já para P6 e

P5, existem duas forma de acolher os alunos: uma que é direcionada aos novatos, à qual é

feito um encontro nos primeiros dias de aula, organizado pela coordenação pedagógica,

com a ajuda do psicólogo que “elabora dinâmicas de integração a serem desenvolvidas

pelos professores em suas turmas e conversa com alguns pais enquanto essa atividade

esta sendo promovida” (P6); já a outra forma de acolhimento são destinadas aos alunos

que já fazem parte do corpo discente da escola mas que estão em fase de transição de um

nível de ensino para o outro, ou seja, do ensino infantil para o fundamental e do

fundamental para o médio. Segundo P6, que atua no nível de ensino fundamental, próximo

ao término de um ano letivo ele recebe um relatório com informações sobre as atividades

desenvolvidas nesse ano com as turmas e alunos, além disso prepara junto a psicóloga do

ensino infantil alguns encontros com os estudantes para eles já irem se preparando para

essa transição.

A partir do exposto, torna-se possível identificar as características das intervenções

direcionadas aos alunos: é diversificada; é desenvolvida no âmbito individual ou coletivo;

pode ser solicitada pelos professores, coordenadores, pais e pelos próprios alunos; também

pode surgir a partir da identificação de uma necessidade pelo psicólogo; possui em alguns

casos um caráter remediativo, onde as intervenções acontecem de forma mais direta e

pontuais e em outros casos um preventivo, cujas ações intencionam a promoção de

informações e reflexões junto aos alunos. Acredita-se que este último tipo de intervenção

seja o mais importante e o mais adequado para a construção de um processo educativo de

qualidade e favorável ao desenvolvimento educacional dos indivíduos.

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5.5.3 Intervenção junto aos familiares

A atuação do psicólogo escolar e educacional destinada aos familiares dos alunos é

uma possibilidade de intervenção antiga, mas que se configurava no início da constituição

da Psicologia Escolar e Educacional sob o pano de fundo de uma compreensão onde os

problemas educacionais, quando não eram causados por “déficits” do próprio aluno, eram

criados devido a questões familiares. Assim, a culpabilização das queixas escolares

passaram a ser compartilhada entre os alunos e seus familiares (Souza, 2009). Entretanto,

essa forma de intervir junto aos pais também passou a ser entendida como insuficiente e

inapropriada uma vez que maquiava os reais problemas educacionais, tornando a atuação

limitada e parcial.

Dessa forma, acredita-se que as ações direcionadas a este público são importantes e

pertinentes à função do psicólogo (Leite & Valle, 2003), desde que este considere a família

como um dos pontos a serem compreendido na análise das demandas. Devido a isso,

interessou saber como se configura as atividades que os psicólogos entrevistados têm

desenvolvido com os familiares dos alunos.

Esse trabalho junto aos pais foi evidenciado em 92,8% dos entrevistados, havendo

uma maior frequência (50%) na realização de escuta e acolhimento. Esta atividade é

desenvolvida por motivos de solicitação da coordenação ou professor, por busca

espontânea dos próprios pais ou ainda por convite do psicólogo. De acordo com a maioria

destes, esses atendimentos tem como objetivo a orientação sobre assuntos diversos, como

limites, dificuldades no relacionamento familiar, dentre outras questões que, segundo P4 e

P9, acabam impactando de forma negativa o aluno e seu processo educativo. Segundo

Martinez (2010), esse tipo de intervenção caracteriza-se como uma ação tradicional do

psicólogo escolar.

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Também foi mencionado por P2 que algumas vezes o objetivo desse atendimento é

informar os pais sobre o “mal comportamento” e indisciplina do respectivo filho, com o

qual já foram desenvolvidas ações na escola, mas que não houve mudanças da parte do

aluno. Infere-se que intervenções que se caracterizem como meramente informativa das

queixas escolares sobre os discentes fortalece a concepção de que os pais são os maiores

responsáveis sobre as questões (consideradas problemáticas) apresentadas pelos

estudantes, cabendo a eles uma ação (punitiva) que mude o comportamento do indivíduo

para o mais adequado e esperado pela escola. Isso vai de encontro as ideias de Curonici e

McCulloch (1999), as quais afirmam que uma questão que é apresentada na escola deve

ser resolvida dentro dela, pois esta possui os recursos necessários para tal, embora muitas

vezes estes sejam mal utilizados ou pouco explorados.

Já para P4, o objetivo da escuta que realiza com os pais é conhecer melhor o aluno

a partir do olhar de sua família. Confirmando isso, Leite e Valle (2003), afirmam que essa

escuta é um instrumento importante para o psicólogo, pois se apresenta como outro olhar

(dentre muitos) sobre o aluno, ampliando as possibilidades de compreensão sobre aquilo

que ele manifesta, mas que não é produzido por ele.

Outra intervenção relatada por quatro dos psicólogos é a realização de reuniões de

pais, as quais podem acontecer de duas formas: pela participação em reunião organizada

pela equipe pedagógica ou na elaboração e desenvolvimento da reunião pelo próprio

psicólogo. Quando desenvolvida como participação, por motivo de solicitação de um

coordenador, professor ou gestor, foi visto que o principal recurso utilizado é o

desenvolvimento de temas pertinentes e que interessem a este público ou sobre algum

assunto do qual eles não possuam muita informação, embora aconteça com frequência,

como é o caso da automutilação citado por P1. Ainda, segundo este, os temas geralmente

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são escolhidos a partir das demandas mais identificadas na escola, conforme vemos neste

trecho:

Aqui também teve um caso de automutilação, as vezes os pais não percebem

porque minha filha, meu filho fica o tempo todo de casaco? As vezes não param

para pensar. Então o objetivo esse ano é trazer essas reuniões temáticas de acordo

com aquilo que foi maior demanda percebida, nos atendimentos, durante o ano

(P1).

A outra forma de desenvolvimento dessas reuniões refere-se àquela onde o próprio

psicólogo elabora e desenvolve (podendo fazê-lo em parceria) a reunião. Este tipo de

atividade foi citada apenas por P13. De acordo com ela essa ação é importante, porém

precisa ser desenvolvida com cautela e criatividade, para que seja superada a representação

negativa que existem nos pais sobre essas reuniões, que tradicionalmente tendem a serem

feitas apenas para repasse de informações superficiais e de queixas escolares dos alunos.

Sobre isso, ele diz:

Com relação aos pais a gente faz reuniões com os pais. Não é uma simples

reunião, onde a gente chama os pais pra reclamar do filho, a gente tenta quebrar

isso nas escolas, porque a gente sabe que os pais nem vão nas reuniões justamente

porque imaginam que vão receber reclamação dos filhos, que ele não esta indo

bem, ou que o filho é o capeta da escola. Então a gente tem tentado mudar esse

estereótipo de que a reunião é para puxar a orelha dos pais (P13).

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Para superar isso, P13 relata a utilização de recursos diversificados como vídeos,

dinâmicas e debates e que o objetivo dessa intervenção é a conscientização dos pais sobre

sua importância no desenvolvimento educacional do aluno, bem como a promoção e o

incentivo ao acompanhamento do filho, para que este saiba que sua família se importa e o

acompanha em seu processo educativo. Segundo ele, essa atividade tem surtido efeito, pois

tem observado que os pais tem procurado mais a escola para saber sobre o

desenvolvimento educacional do filho. Corroborando com isso, Correia e Campos (2004),

afirma que a participação dos familiares tem um impacto positivo no desenvolvimento do

discente.

Semelhante a esta atividade, P5 e P6 relataram a elaboração e o desenvolvimento

de um projeto chamado “Escola de pais” que é desenvolvido na própria escola. Este

projeto consiste na realização prévia de uma pesquisa junto aos alunos sobre um tema

específico como a “utilização de redes sociais” por exemplo, buscando conhecer

representações, características e opiniões deles sobre o tema. Após a realização da

pesquisa, os psicólogos organizam um encontro, fazendo a devida divulgação e

convocação dos pais para participarem. Nesse encontro, os dados encontrados na pesquisa

são apresentados e também são feitas palestras relacionadas ao tema geral, deixando ainda

um espaço para a realização de debate entre os participantes. De acordo com P6, essa é

uma boa oportunidade de proporcionar aos pais informações sobre muitos assuntos

importantes, bem como a opinião dos adolescentes e jovens sobre os diversos temas. Sobre

o projeto ele diz:

Nesse ano a gente fez sobre as redes sociais, os perigos do uso das redes sociais e

as repercussões nos relacionamentos, nas relações interpessoais a gente ia fazer

agora, mas já estamos terminando o semestre, então a gente achou que não seria

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uma boa, então a gente vai iniciar já em agosto trazendo esses pais para cá. É bem

legal porque a gente tem a visão deles e os pais também tem uma curiosidade de

saber como eles estão pensando e aí a gente trabalha meio que assim: oficina,

palestra, porque a gente esta cada vez mais se colocando, então a gente traz uma

pessoa mesmo da escola que trabalha com internet, discutindo com os pais porque

a gente percebe que eles querem ter esse espaço de troca, e é bem melhor do que

trazer alguém de fora que não conhece a realidade da escola (P6).

Apesar de essa ser uma atividade inovadora, que a princípio atrairia mais pais à

participação, P5 considera que essa participação dos familiares é pequena, não chegando

nem a 10%, tendo em vista o número de pais que existem e o numero de pais que

frequentam os encontros semestrais. Ainda segundo este, os familiares que participam dos

encontros os incentivam a não desistir e desanimar por causa da pequena expressividade

dos outros pais. P6 também concorda com isso, pois acredita na importância de atividades

como essa para a promoção da integração entre a família e a escola, o que já tem sido

observado, de acordo com ele.

Uma última intervenção com pais identificada é a realização de grupos operativos

por três dos entrevistados. Essa atividade, geralmente, é planejada de forma prévia, onde

são definidos os objetivos a serem alcançados, os temas a serem desenvolvidos e o

material a ser utilizado. Apesar disso, P11 afirma que o planejamento não é definitivo, nem

fechado, sendo também construído a partir das sugestões dos participantes ou da

observação da inclusão ou exclusão de algo, sobre isso ele relata:

Olhe previamente nós já temos algumas indicações dos temas que nós queremos

trabalhar com eles, mas sempre o primeiro encontro é para isso, para apresentar o

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trabalho; nesse ano nós iremos apresentar um vídeo que nós fizemos com os

estudantes sobre álcool e outras drogas que os estudantes fizeram, e apresentar o

trabalho de grupo que foi desenvolvido com esses alunos e nesse primeiro dia o

que a gente faz com todos os grupos é saber o que eles querem trabalhar também.

Então a gente faz um casamento entre o que a gente acha importante e o que eles

sugerem. Aí eles fazem uma lista dos temas e vai trabalhando. Então esse ano eu

estou fazendo uma proposta diferente, eu vi que sempre que a gente traz o

material, porque mesmo eles sugerindo, a gente é quem trazia o material, o filme, o

texto, a dinâmica e eles participavam bastante da discussão e esse ano eu estou

querendo pedir pra eles trazerem também (P11).

A realização desses grupos não é periódica, sendo desenvolvidos mediante a

necessidade e a identificação de uma demanda. Porém, uma vez criado um grupo para um

determinado fim, elabora-se o projeto desse grupo, faz-se a divulgação e convite aos pais e

realizam-se os encontros, que geralmente tem uma quantidade pré-fixada, podendo ser

estendida caso seja preciso. De acordo com P10, os recursos utilizados são filmes, textos,

dinâmicas, dentre outras estratégias de trabalho com grupos, sempre buscando facilitar a

produção coletiva a partir do tema proposto.

Segundo P11, esses grupos operativos caracterizam-se de forma diferente de uma

reunião de pais pautada num modelo tradicional, uma vez que o objetivo é realmente de

desenvolver um trabalho em grupo, com toda sua dinâmica característica. Entretanto, ele

afirma que a escola apresenta resistência quanto a este tipo de atividade, por haver ainda o

pensamento de que a única possibilidade de ação para este público se faz através dessas

reuniões informativas de queixas escolares. Ainda, P12 aponta outra dificuldade que é a

participação dos pais, que em si constituem-se num grupo mais difícil de ser trabalhado e

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alcançado. Mesmo assim, ambos os psicólogos afirmam a importância dessa atividade para

o desenvolvimento de assuntos e temas pertinentes, criando um legítimo espaço de

construção, integração e reflexão.

Logo, vê-se que as intervenções desenvolvidas junto aos pais, apesar de ter

apresentado predominância de uma atividade considerada tradicional como a escuta,

acolhimento e orientação a pais, observa-se a realização de ações inovadoras norteadas

pelo objetivo de provocar uma aproximação entre a família e a escola, integração essa tão

importante e necessária para o aumento da qualidade e funcionalidade dos processos

educativos e do desenvolvimento educacional dos alunos (Correia & Campos, 2004).

5.5.4 Outras intervenções

Também foi evidenciado nos relatos que, dentre as possibilidades de intervenção,

estão as que são direcionadas aos demais funcionários da instituição educacional tais como

assistentes administrativos, auxiliares de serviços gerais, porteiro e etc, tendo como

objetivo promover a qualidade de vida no ambiente de trabalho, bem como desenvolver

ações da prevenção e promoção da saúde do trabalhador. Isso foi identificado nas

intervenções relatadas por dois psicólogos, os quais afirmam terem realizado projetos com

este intuito. Para P11, além desses objetivos, o projeto também buscava promover uma

maior integração entre os funcionários e as equipes de trabalho e primava pela participação

destes na construção e realização das atividades propostas, fazendo com que eles se

implicassem mais em participar.

Além dos projetos, outro tipo de intervenção mencionada por outros dois

psicólogos foi a realização de capacitações, nas quais são desenvolvidos alguns temas,

escolhidos de acordo com a necessidade observada. Em relação a isso, P2 e P3 afirmam

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que sempre que necessário organizam reuniões, buscando promover a reflexão sobre

questões importantes para a melhoria do funcionamento institucional. Para Souza e Silva

(2013), as ações desenvolvidas com os servidores são relevantes para o bom

funcionamento da dinâmica institucional, uma vez que estes estão presentes em grande

parte dos processos que acontecem na instituição. Um exemplo de ações neste sentido

pode ser percebido nesse relato de P2:

Tem um trabalho com as disciplinarias que eu faço também uma reunião com elas

e antes era uma vez por semana, só que acaba que não dá, aí está sendo de quinze

em quinze, esse momento com elas para estar vendo a percepção delas, e também

fazendo disso um treinamento, porque na verdade elas também tem que estar

ressignificando e refletindo muito sobre a maneira de falar, o impacto que sua

presença e sua ação causa. E isso tem que ser constante, não basta falar só uma

vez pois a rotina te cansa, então você tem que estar promovendo essa reflexão

(P2).

Apesar de ter aparecido numa frequência pouco expressiva, o fato de haver ações

como essas reforçam o que já foi evidenciado e relatado anteriormente, que a atuação dos

psicólogos que estão inseridos em contextos escolares no estado de Sergipe apresenta

indícios de uma compreensão mais abrangente sobre sua função e as possibilidades de

intervenção destes profissionais nesse contexto.

Ainda, outras atividades mencionadas, porém com frequência pouco expressiva

refere-se ao desenvolvimento de atividades burocráticas tais como “a elaboração de

relatório por solicitação de órgãos como Conselho Tutelar, Vara da infância e família,

CRAS, dentre outros” (P4); elaboração de relatórios sobre as intervenções desenvolvidas na

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escola, como forma de registrar as ações do serviço psicológico oferecido, sendo considerado

importante para nortear trabalhos futuros ou informar outro psicólogo caso o atual venha a se

desligar da instituição; produção científica através de relatos de experiência e artigos.

Por fim, observa-se que as intervenções realizadas pelos psicólogos entrevistados

estão relacionadas aos diversos componentes que constituem a escola, constituindo-se

muitas delas em ações consideradas tradicionais no campo da Psicologia Escolar e

Educacional e outras apresentam um caráter mais emergente. As intervenções de caráter

tradicional, referem-se predominantemente ao serviço de escuta, acolhimento e orientação

a alunos e pais, cuja realização é relatada de forma criteriosa, havendo uma preocupação

em diferenciá-la de práticas clínicas psicoterápicas. Já as ações de caráter inovador,

caracterizam-se pelo trabalho realizado em grupos, tendo como objetivo a promoção de

informações, reflexões, bem como o fomento da aproximação da família com a escola.

Observa-se ainda, que a atuação desenvolvida por estes psicólogos, assim como

outros estados, também se encontra em fase de transição, passando de um modelo baseado

numa concepção tradicional, para um modelo subsidiado por uma perspectiva crítica, a

partir do qual são possíveis efetivas contribuições à melhoria dos processos educativos e

ao cumprimento da função essencial da educação que é humanizar os indivíduos e

socializar o conhecimento.

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217

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo buscou investigar como o psicólogo tem se inserido no cenário

da educação básica em Sergipe, analisando a formação acadêmica recebida e a atuação

desenvolvida no contexto escolar. No desenvolvimento da pesquisa, foi possível identificar

a existência de psicólogos atuando tanto na rede particular, quanto na rede pública, sendo a

rede privada aquela que mais contrata esse profissional e que oferece melhores condições

estruturais e melhores salários. Entretanto, em relação à autonomia na atuação, inferiu-se

que na rede pública tende a ser menor a interferência do âmbito gestor no trabalho do

psicólogo.

Sabe-se que essa atuação é permeada de expectativas e concepções acerca do papel

que o psicólogo deve desenvolver no contexto escolar. Nessa pesquisa foram identificadas

dois tipos de concepções que impactam a atuação, as concepções limitantes que causam

um impacto negativo e as concepções facilitadoras que influenciam positivamente. Viu-se

também que os psicólogos possuem clareza quanto a sua função, sendo apresentado o

papel de mediador e orientador, cujo objetivo principal é contribuir com a qualidade do

processo educacional, através do desenvolvimento de práticas de caráter coletivo e

individual, bem como de caráter imediato e preventivo, sendo este último considerado

como o mais difícil de ser cumprido e o ideal a ser alcançado.

Em relação à escolha da área escolar e educacional como campo de atuação,

metade dos participantes afirmou não ter escolhido esse tipo de atuação, vindo atuar nele

devido a alguma oportunidade de emprego. Acredita-se que esta não escolha esteja

relacionada à formação, devido ao inexpressivo conhecimento proporcionado ou a

promoção de informações superficiais e equivocadas sobre a atuação neste campo, durante

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a graduação. Já entre a outra metade que afirmou ter escolhido, identificou-se que os

principais aspectos relacionados a essa escolha referem-se à aproximação com a área, seja

através do contato devido a influencia familiar, seja por causa das disciplinas e atividades

práticas da formação acadêmica, havendo um destaque para esta última. Dessa forma,

entende-se a importância de uma formação que possibilite a oferta de estágios, atividades e

a realização de projetos de extensão voltados para o contexto educacional, possibilitando

assim essa necessária aproximação.

Ademais, a importância do âmbito prático também foi enfatizada na avaliação que

os entrevistados fizeram da sua formação acadêmica. A maioria deles afirma ter sido

preparada para a atuação na rede educacional e aferem isso em grande parte às atividades

práticas. Entretanto, também é predominante a insatisfação em relação à pertinência dos

conteúdos abordados nas disciplinas com a realidade do campo profissional, ficando

muitas vezes aquém uma da outra. Diante disso, percebe-se a necessidade de que haja uma

reformulação dos conteúdos programáticos referentes às disciplinas relacionadas à

Psicologia Escolar e Educacional, os quais devem subsidiar tanto uma concepção crítica

quanto possibilitar o conhecimento de características reais e atuais que constituem essa

área. Para isso, sugere-se a utilização dos estudos e pesquisas mais recentes realizadas em

âmbito nacional e local.

Essa avaliação positiva feita em relação ao preparo proporcionado pela formação

acadêmica foi um dado não esperado, uma vez que os estudos já realizados apontam que

essa formação costuma ser deficitária quanto à preparação profissional para o uso

adequado da Psicologia no contexto escolar. Entretanto, acredita-se que esse sentimento de

preparo deve-se muito a um movimento pessoal, motivado por uma identificação com a

área durante o curso, fazendo com que o aluno buscasse mais conhecimentos sobre o

campo, preparando-se melhor para tal atuação.

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Outro dado não esperado e que foi encontrado refere-se à importância aferida à

disciplina de Psicologia Social para o psicólogo escolar, uma vez que geralmente as

disciplinas de desenvolvimento e aprendizagem são apontadas como as mais importantes.

Este fato constitui-se como um ponto positivo em relação ao desenvolvimento da

Psicologia Escolar e Educacional em Sergipe, uma vez que se acredita que a Psicologia

Social pode contribuir muito para o trabalho desse profissional diante das demandas

educacionais, as quais estão em sua grande parte relacionadas a aspectos psicossociais

(Bernal, 2007).

Sobre as atividades desenvolvidas, evidenciou-se que elas são diversificadas e se

direcionam a todos os componentes da instituição educacional. Dentre as intervenções

desenvolvidas, identificou-se que a ação mais realizada refere-se à escuta, acolhimento e

orientação a pais e alunos. Apesar de esta constituir-se como uma prática tradicional da

PEE, os entrevistados afirmaram desenvolvê-la a partir de um olhar abrangente, levando

em consideração diferentes aspectos, tais como fatores pedagógicos e sociais. Entretanto,

observou-se que em algumas realidades, principalmente no âmbito da rede privada, a

atuação tende a ser limitada pela instituição aos alunos e familiares, não havendo incentivo

e (às vezes) permissão para a realização de um trabalho junto aos professores,

demonstrando haver nessas instituições a presença de uma concepção tradicional e

individualizante dos fenômenos educacionais, que responsabiliza unicamente o aluno pelo

seu desenvolvimento educacional. Entende-se, portanto, que este se constitui em um dos

grandes desafios a ser superado pelos psicólogos que atuam sob esta realidade.

Outro ponto identificado em relação às atividades é que algumas dessas

intervenções já possuem um caráter preventivo, como os grupos operativos, por exemplo,

sendo o ideal buscado pelos profissionais. Isto porém, constitui-se ainda como outro

desafio a ser vencido, uma vez que para os gestores e boa parte dos demais componentes

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da escola, as ações devem ser realizadas por questões imediatas e problemas

concretizados, ficando a prevenção em último plano.

Além disso, um aspecto muito importante que foi evidenciado refere-se às

atividades desenvolvidas com os familiares, fundamentadas numa nova perspectiva e com

o objetivo de promover uma aproximação entre família e escola, buscando fugir das

tradicionais reuniões culpabilizadoras realizadas pelo corpo pedagógico escolar. Neste

sentido, destaca-se a importância do caráter mediador do papel do psicólogo para o

estabelecimento e a melhoria das relações entre os sistemas (Del Prette & Del Prette,

2008). Porém, em toda literatura pesquisada, foi percebida a existência pouco expressiva

de atividades realizadas pelo psicólogo escolar e educacional direcionadas ao aspecto

familiar, sobretudo à promoção da relação família-escola, denotando assim a necessidade

de pesquisas que investiguem de forma mais aprofundada sobre as possibilidades de

intervenção nesse aspecto.

A partir dos dados vistos à luz dos aspectos teóricos presentes em toda literatura

revisada, foi possível comprovar o entendimento de que a formação acadêmica está

relacionada com a atuação do psicólogo no contexto escolar, desde o fomento da escolha

da área, quanto ao preparo para o desenvolvimento de práticas, causando um impacto

positivo ou negativo na inserção deste profissional nestes espaços.

Assim, com a realização deste estudo, foi possível conhecer e analisar aspectos

importantes sobre a inserção e participação do psicólogo na educação básica de Sergipe,

tais como sua caracterização, formação e atuação. Seus resultados permitiram evidenciar

que essa inserção é recente (ao se comparar com a realidade de outros estados como São

Paulo, Minas Gerais, Paraíba, Ceará e Paraná, por exemplo) e também que ela é permeada

pelas problemáticas e pelos desafios presentes nas discussões e estudos já realizados por

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grandes pesquisadoras da área como Souza Patto, Marilene Proença, Albertina Martinez,

Raquel Guzzo, entre outras.

Dessa forma, considera-se que em Sergipe a Psicologia Escolar e Educacional

consiste em um campo de atuação que se encontra, de certa forma, no início do seu

desenvolvimento, não só pela recente presença de psicólogos nesse contexto, mas

principalmente pela pequena produção científica existente neste estado, uma vez que se

observa que é a realização de pesquisas e estudos que dinamiza a evolução e os avanços

que precisam e devem acontecer em um campo de atuação profissional. É através do

conhecimento, da análise e da avaliação da realidade existente, em seus diferentes

aspectos, que é possível vislumbrar as mudanças e transformações necessárias que

precisam ser propostas e desenvolvidas para que a presença do profissional seja efetiva na

contribuição às demandas que a área e que a sociedade como um todo necessita. Sendo

assim, conclui-se que a realização de pesquisas como esta devem ser realizadas para a

continuidade do desenvolvimento da Psicologia Escolar e Educacional.

Assim, como foi mencionado no início deste trabalho, o campo educacional para o

psicólogo em Sergipe é vasto, havendo uma grande quantidade de Secretarias de Educação

Municipal e uma ainda maior quantidade de escolas, às quais a Psicologia tem muito a

contribuir. Apesar disso, identificou-se que é pouco expressiva a presença deste

profissional no cenário educacional sergipano, constituindo-se ainda como um espaço a ser

conquistado.

Logo, percebe-se que é urgente a necessidade de uma maior participação desse

profissional nesse cenário e para isso acredita-se que precisa haver dois movimentos

propulsores, de um lado uma formação acadêmica que possibilite uma fecunda

aproximação dos graduandos com a realidade educacional e com as possibilidades de

intervenção pertinentes ao psicólogo, para que este se sinta inclinado e capacitado a atuar

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nesta área; e do outro lado uma postura ética do psicólogo, pautada num compromisso

social com as demandas educacionais, através do desenvolvimento de uma atuação crítica

e psicossocial, que contribua de forma concreta e efetiva para a qualidade dos processos

educativos e para a emancipação dos indivíduos, possibilitando-os serem capazes de

profundas e consistentes transformações sociais.

O presente estudo, essencialmente, foi desenvolvido tendo este anseio como fator

motivacional, o de contribuir com o desenvolvimento da Psicologia Escolar e Educacional

em Sergipe, oferecendo uma configuração da realidade deste campo nesse estado,

possibilitando a visualização de espaços de investigação que devem ser tomados como

objeto em pesquisas posteriores, de preferência à luz do olhar fecundo que a Psicologia

Social proporciona, uma vez que poucas instâncias são tão afins e complementares como a

Educação e a Social.

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232

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO

Dados pessoais e caracterização profissional

Sexo: _____ Idade: ______ Formação: ________________________ Tempo de formado:

___________

Local de formação: _______________________ Formação adicional: ( ) Sim ( ) Não

Se sim, quais: _________________________________________________________

Tempo que trabalha na área escolar: __________ Tempo na Instituição atual: ___________

Trabalhou em outras escolas: ( ) Sim ( ) Não Se sim, quais:

______________________________

Tem outro emprego: ____________________________________________

Tipo de vínculo empregatício com a instituição:

( ) Contrato ( ) Prestação de serviço ( ) Funcionário Público/efetivo ( ) Outros:

____________

Caracterização do local de trabalho

Tipo de Rede de educação: ( ) Particular ( ) Municipal ( ) Estadual ( ) Federal

Se pública em que local: ( ) Secretarias ( ) Escolas ( ) Coordenações

Se em Secretarias, quantidade de escolas: ____________________

Se em Escolas, quantidade de componentes: __________________

Tipo de Serviço Educacional:

( ) Pré-Escolar ( ) Fund. maior ( ) Fund. menor ( ) Ens. Médio regular ( ) Técnico ( ) Superior

Remuneração (em salários): ( ) Menos de 1 ( ) Entre 1 e 2 ( ) Entre 3 e 4 ( ) Mais de 5

Carga horária: __________________ Turno: ______________________

Outros psicólogos: ( ) Sim ( ) Não - Se sim, quantos: _________________________

EVOCAÇÃO 1:

Quando você houve a palavra escola, quais as 3 primeiras palavras que vem a mente?

1. ______________________ 2. _________________________ 3.

______________________

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Sobre escolha e permanência

1. Porque você escolheu a área escolar? (Quais os motivos que levaram você a trabalhar

nesta área?; Qual a sua trajetória profissional? Quais razões motivaram sua escolha?)

2. Você acredita que houve algum tipo de influência na sua escolha?

3. A atuação como psicóloga escolar era sua primeira pretensão de trabalho? Se você

pudesse ordenar, em que colocação ficaria?

4. Você pretende seguir carreira na área escolar?

5. Se você pudesse você estaria atuando em outra área? Qual?

6. Se você recebesse o mesmo que ganha como psicóloga(o) escolar para trabalhar em

outra área, você mudaria? Qual área você queria que fosse?

7. Você está satisfeita(o) com sua escolha profissional? Como psicóloga(o)? Como

psicóloga escolar?

Funções do psicólogo

1. Como você imagina que os outros componentes da escola veem o papel do psicólogo?

2. Para você qual é o papel do psicólogo nas escolas?

3. A quem se deve destinar as intervenções do psicólogo nas escolas? E as suas a quem se

destina?

4. Você consegue identificar as principais situações em que a presença do psicólogo se faz

necessária? Lembra-se de alguma ocorrência específica?

Atuação: modelos, características e dificuldades.

1. Como surgiu e como se organiza o serviço de psicologia nessa escola?

2. Você teve dificuldade de se inserir enquanto psicólogo nessa escola?

2. Quais as demandas que são direcionadas a você? E como elas chegam até você?

3. Quais dessas demandas você identifica sendo inerentes a sua profissão?

4. A partir dessas demandas, quais as atividades que você realiza na escola enquanto

psicólogo? (tentar buscar da mais frequente a menos frequente).

5. Como é sua rotina de trabalho?

6. Quais os limites e dificuldades que você encontra em seu trabalho na escola?

7. Quais as condições que existem para sua atuação? (Materiais que utiliza? Espaço físico

que utiliza?). Como você avalia a estrutura oferecida pela escola para sua atuação?

8. De que maneira seu trabalho se integra com o dos demais profissionais (professores,

pedagogos...).

9. Como é o relacionamento com os demais componentes da instituição?

10. Existem atividades que você deveria ou queria estar desenvolvendo mais não está? Se

sim, quais e por quê?

11. Que efeitos você acha que o seu trabalho promove na comunidade escolar?

Formação

1. O que você tem a dizer sobre a sua formação acadêmica em relação à sua prática como

psicólogo/a escolar? (Você acha que sua formação lhe preparou para uma atuação como

psicólogo nas escolas?)

2. Como você avalia seu conhecimento acerca do campo educacional?

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3. Quais as disciplinas da graduação que você acredita que contribui hoje com sua

atuação?

4. Que tipo de conhecimento você obteve na universidade e que considera útil no trabalho?

5. Você teve alguma disciplina de psicologia escolar ou equivalente? Sobre os conteúdos

dessa disciplina, como você avalia o conteúdo abordado nela? Qual a sua aplicabilidade na

realidade do contexto escolar?

6. O que você acha que poderia ter-lhe sido acrescentado na graduação em psicologia em

termos de conhecimentos teóricos e práticos que faz falta a você hoje em seu trabalho?

8. Você acredita que há alguma relação entre Psicologia Social e Psicologia Escolar? Se

há, em qual sentido ela se dá?

9. Você fez estágio na área? Foi curricular ou extracurricular?

- SE SIM: Como foi o estágio pra você? (Gostou? O que fez? O que aprendeu? Em que

foi importante pra sua formação?)

- SE NÃO: Porque não fez? Você sentiu essa falta durante a graduação ou só agora

depois de estar na área? Em que você acredita que seria importante pra sua formação?

10. Você desenvolveu ou participou de alguma situação/atividade com a qual adquiriu

conhecimentos que contribuíram para sua atuação como psicólogo escolar?

11. Você fez algum curso de formação complementar para se preparar melhor pra sua

atuação?

12. Você possui alguma orientação teórica? Ela te ajuda na sua atividade de PEE? De que

forma?

13. Antes de começar a trabalhar na área escolar você conheceu algum psicólogo que

atuava nesta área?

14. Você tem algum colega de turma que também trabalha na área escolar?

Satisfação

1. De uma forma geral você está satisfeita(o) com área da psicologia escolar? Por que?

2. Você está satisfeita(o) com o seu trabalho como psicóloga(o) escolar? Por que?

3. Você está satisfeita(o) com seu salário? (Comparado ao quanto você trabalha e a sua

capacidade profissional?) Por que?

4. Você está satisfeito com seus colegas de trabalho? Por que?

5. Em que você não está satisfeita?

Opinião sobre a área

1. Como você avalia esta área de atuação para o psicólogo?

2. Como você acha que os psicólogos avaliam esta área de atuação?

3. Durante a graduação como era que sua turma percebia a área? Eles tinham alguma

opinião?

4. Como é o mercado de trabalho, na área escolar, para este profissional? Como era na

época que começou a trabalhar? Como é hoje? Porque é assim?

5. Qual a importância da Psicologia para esta área de atuação?

EVOCAÇÃO 2:

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Quando você houve a expressão “Psicologia Escolar”, quais as 3 primeiras palavras que vem a

mente?

1. ______________________ 2. _________________________ 3.

_______________________

APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA SOCIAL

MESTRADO EM PSICOLOGIA SOCIAL

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

Prezado(a) participante,

Estou realizando uma pesquisa que visa analisar a atuação profissional do

psicólogo na Educação básica de Sergipe. Esta é uma atividade acadêmica, referente à

pesquisa de Mestrado em Psicologia Social, da Universidade Federal de Sergipe, sob a

orientação do Prof. Dr. Joilson Pereira da Silva.

A sua participação não é obrigatória, mas se você for um dos voluntários

dessa pesquisa, não precisará se identificar. Ainda, vale ressaltar que as informações

dadas somente serão utilizadas para a realização das análises dos dados coletados.

Para participar é importante que você saiba dos seguintes critérios: a

qualquer momento você pode desistir de participar, pois não haverá problema quanto a

isso; é importante que responda às questões de forma espontânea e tranqüilamente; não

existem respostas certas e erradas.

Terminada a entrevista será fornecido um número de telefone que servirá

para entrar em contato com o pesquisador, caso tenha alguma dúvida ou questão que

queira esclarecer a respeito da pesquisa, podendo ter acesso aos resultados da pesquisa

através do mesmo, assim que esta tiver sido concluída.

Lembramos que o sucesso desta pesquisa depende da sua sinceridade.

Obrigado pela participação!

Aracaju, ____ de _________________ de _______.

_______________________________

Thiago Santos Souza (Cel.: 88161450 ou 99595353 / email: [email protected])

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CONCORDO EM PARTICIPAR DA PESQUISA ACIMA REFERIDA, ESTANDO CIENTE

DOS SEUS OBJETIVOS E POSSIBILIDADES QUE ME FORAM ESCLARECIDAS.

__________________________________

Assinatura do participante