toxicidade, toxicocinética e bioacumulação de cádmio e mercúrio
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
INSTITUTO DE CIÊNCIAS DO MAR
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MARINHAS TROPICAIS
ÉVILA PINHEIRO DAMASCENO
TOXICIDADE, TOXICOCINÉTICA E BIOACUMULAÇÃO DE CÁDMIO E
MERCÚRIO NOS MICROCRUSTÁCEOS MARINHOS Artemia sp. E Mysidopsis
juniae
FORTALEZA
2016
ÉVILA PINHEIRO DAMASCENO
TOXICIDADE, TOXICOCINÉTICA E BIOACUMULAÇÃO DE CÁDMIO E MERCÚRIO
NOS MICROCRUSTÁCEOS MARINHOS Artemia sp. E Mysidopsis juniae
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciências Marinhas Tropicais da
Universidade Federal do Ceará, como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre em
Ciências Marinhas Tropicais. Área de
concentração: Análise de impactos ambientais
da região costeira.
Orientador: Profa. Dra. Letícia Veras Costa-
Lotufo.
Coorientador: Profa. Dra. Susana Loureiro.
FORTALEZA
2016
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Rui Simões de Menezes
D162t Damasceno, Évila Pinheiro.
Toxicidade, toxicocinética e bioacumulação de cádmio e mercúrio nos microcrustáceos marinhos
artemia sp e mysidopsis juniae. / Évila Pinheiro Damasceno. – 2016.
56 f.: il. color., enc. ; 30 cm.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Instituto de Ciências do Mar, Programa
de Pós-Graduação em Ciências Marinhas Tropicais, Fortaleza, 2016.
Área de Concentração: Utilização e Manejo de Ecossistemas Marinhos e Estuarinos.
Orientação: Profª. Drª. Letícia Veras Costa-Lotufo.
Co-orientação: Profª. Drª. Susana Loureiro
1. Microcrustáceos . 2. Toxicidade 3. Metais. 4. Toxicocinética. I. Título.
CDD 595.3
ÉVILA PINHEIRO DAMASCENO
TOXICIDADE, TOXICOCINÉTICA E BIOACUMULAÇÃO DE CÁDMIO E MERCÚRIO
NOS MICROCRUSTÁCEOS MARINHOS Artemia sp. E Mysidopsis juniae
Tese ou Dissertação apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Ciências Marinhas
Tropicais da Universidade Federal do Ceará,
como requisito parcial à obtenção do título de
Mestre em Ciências Marinhas Tropicais. Área
de concentração: Análise de impactos
ambientais da região costeira.
Aprovada em: ___/___/______.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Profa. Dra. Letícia Veras Costa-Lotufo (Orientadora)
Universidade Federal do Ceará (UFC)
_________________________________________
Profa. Dra. Susana Loureiro (Co-Orientadora)
Universidade de Aveiro, Portugal (UAVR)
_________________________________________
Prof. Dr. Francisco Wagner da Silva
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFCE)
_________________________________________
Profa. Dra. Helena Becker
Universidade Federal do Ceará (UFC)
AGRADECIMENTOS
À FUNCAP, pelo apoio financeiro com a manutenção da bolsa de auxílio.
À CAPES pelo apoio financeiro através do fomento do projeto de pesquisa o qual
meu trabalho se insere.
À Prof. Dr. Letícia Lotufo e à profa. Dra, Susana Loureiro, pela excelente
orientação.
Aos professores participantes da banca examinadora Prof. Dr. Francisco Wagner e
Profa. Dra. Helena Becker por aceitar o convite de compor a banca.
Aos colegas da turma de mestrado, pelas reflexões, críticas e sugestões recebidas.
Aos amigos do laboratório pelo companheirismo e ajuda durante todo o tempo.
Ao Allan, técnico responsável pela manutenção do cultivo de misidáceos, por
tamanha dedicação.
Ao Prof. Dr Jorge Sarkis (IPEN/USP), pelas análises de metais. Além dos
integrantes de seu laboratório, Marcos Hortelani, pela grande ajuda, e Cristina e Mariana.
“Sweet life must be somewhere to be found”
Bob Marley
RESUMO
As espécies de crustáceos utilizadas neste estudo Artemia sp. e Mysidopsis juniae são bastante
abordadas na Ecotoxicologia e são caracterizadas por terem baixa e elevada sensibilidade,
respectivamente, à diversos contaminantes. Náuplios de artemias e juvenis de misidáceos
foram expostos a cádmio e mercúrio para analisar toxicidade, através do parâmetro
mortalidade, e toxicocinética e bioacumulação, através da concentração de metal por peso
seco dos organismos teste. A duração dos experimentos foram 48 e 96 h para artemias e
misidáceos, respectivamente, sendo que nos experimentos de toxicocinética e bioacumulação,
os organismos foram transportados na metade do tempo de exposição para água do mar sem
contaminantes para analisar a eliminação de ambos os metais. Artemia sp. teve CL50 com três
ordens de magnitude superiores a Mysidopsis juniae para cádmio e mercúrio, sendo assim
menos sensível aos metais. A aplicação dos modelos cinéticos evidenciou a maior acumulação
de cádmio em relação a mercúrio por Artemia sp., na fase de eliminação, apenas cádmio teve
concentrações em Artemia sp. diminuídas, mercúrio apresentou os mesmos níveis até o fim do
experimento. A análise de bioacumulação mostrou que através da alimentação de Artemia sp,
o mercúrio é mais absorvido em relação à cádmio pelos misidáceos. Os resultados obtidos
neste estudo evidenciaram a alta capacidade do mercúrio ser transferido pela cadeia alimentar
e a elevada persistência. Além disso, a principal via de entrada do cádmio nas duas espécies
analisadas foi através da água.
Palavras-chave: Microcrustáceos. Toxicidade aguda. Toxicocinética. Fator de
bioconcentração.
ABSTRACT
The species used in this study crustacean Artemia sp. and Mysidopsis juniae are fairly utilized
in Ecotoxicology and characterized by having low and high sensitivity, respectively, to
various contaminants. Artemias nauplii and juveniles mysids were exposed to cadmium and
mercury for analyze their acute toxicity and toxicokinetics and bioaccumulate through the
metal concentration divided by test organisms dry weight. The experiments duration were 48
and 96 h for artemias and mysids, respectively, and on the toxicokinetic experiments and
bioaccumulation, crustaceans bodies were transported at half time of exposure to sea water
without contaminants for analyze the both metals elimination. Artemia sp. LC50 had thee
orders of magnitude greater than Mysidopsis juniae for cadmium and mercury and thus, it was
less sensitive to metals. The application of kinetic models showed the greatest accumulation
of cadmium mercury for Artemia sp.. On the elimination phase, cadmium concentrations in
Artemia sp. decrease, mercury remained on the same levels until the experiment end. The
bioaccumulation analysis showed that thought feeding Artemia sp, mercury is more absorbed
than cadmium. The results of this study showed the mercury be transferred through the food
chain capacity and high persistence. Furthermore, the main cadmium pathway to the
organisms was through the water in the two species examined.
Keywords: Microcrustaceans. Acute toxicity. Toxicokinetics. Bioconconcentration factor.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Artemia sp.: Náuplios de eclosão ............................................................................ 21
Figura 2 – Mysidopsis juniae macho adulto. ............................................................................ 23
Figura 3 – Desenho experimental dos ensaios de acumulação/eliminação de Artemia sp. e
Mysidopsis juniae. .................................................................................................................... 26
Figura 4 - Curva de calibração das massas de 0,5 a 15 ng de mercúrio. .................................. 33
Figura 5 - Curva de calibração das massas de 20 a 300 ng de mercúrio. ................................. 34
Figura 6 – Gráfico relativo à curva de calibração de cádmio. .................................................. 35
Figura 7 – Toxicocinética da exposição de 24h a 50 µg Cd.L-1
em Artemia sp. ...................... 38
Figura 8 - Toxicocinética da exposição de 24h a 5 µg Hg.L-1
em Artemia sp. ........................ 39
Figura 9 - Toxicocinética da exposição de 48 h a 50 µg Cd.L-1
em Artemia sp. ...................... 40
Figura 10 - Toxicocinética da exposição de 48 h a 5 µg Hg.L-1
em Mysidopsis juniae. .......... 41
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Dados gerais sobre o teste de toxicidade Artemia sp. ............................................. 22
Tabela 2 – Condições de cultivo de Mysidopsis juniae. ........................................................... 23
Tabela 3 - Dados gerais teste de toxicidade de Mysidopsis juniae ........................................... 24
Tabela 4 – Dados gerais do experimento de bioconcentração em Artemia sp.......................... 27
Tabela 5 – Valores certificados e taxas de recuperação do material certificado DORM 2. ...... 35
Tabela 6- Concentrações medidas do material de referencia DORM -4 e suas respectivas taxas
de recuperação. ......................................................................................................................... 36
Tabela 7 - Concentrações letais medianas (CL50) médias em µg.L-1
em Artemia sp. .............. 32
Tabela 8 – Concentrações medidas de cádmio (µg.L-1
) medidas em água do mar durante a os
fase de acumulação em meio contaminado, eliminação após a transferência dos organismos
para meio sem contaminantes. .................................................................................................. 36
Tabela 9 - Concentrações medidas de mercúrio (µg.L-1
) medidas em água do mar durante a os
fase de acumulação em meio contaminado, eliminação após a transferência dos organismos
para meio sem contaminantes. .................................................................................................. 37
Tabela 10 – Parâmetros cinéticos k1, k2 de absorção e eliminação, respectivamente, obtidos
através da equação 1 e 2, fator de bioconcentração (FBC) e soma dos quadrados dos resíduos
(SQ) de Artemia sp. .................................................................................................................. 39
Tabela 11 - Parâmetros cinéticos kágua, kartemia e k2, contante de eliminação, em Mysidopsis
juniae e a soma dos quadrados dos resíduos (SQ) obtidos através das equações de
bioacumulação 4 e 5. ................................................................................................................ 41
Tabela 12 - Valores de CL50 de cádmio para diversas espécies de invertebrados marinhos e
estuarinos. A maioria dos experimentos teve duração de 96 h. ................................................ 44
Tabela 13 - Valores de CL50 de mercúrio para diversas espécies de invertebrados marinhos e
estuarinos. A maioria dos experimentos teve duração de 96 h. ................................................ 46
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 11
2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 20
2.1 Objetivo geral .................................................................................................................... 20
2.2 Objetivos específicos ......................................................................................................... 20
3 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................................. 21
3.1 Reagentes e soluções ......................................................................................................... 21
3.2 Experimentos de toxicidade aguda ..................................................................................... 21
3.2.1 Artemia ............................................................................................................................ 21
3.2.2 Mysidopsis juniae ............................................................................................................ 23
3.2 Experimentos de bioconcentração .................................................................................... 25
3.3 Experimentos de bioacumulação ...................................................................................... 25
3.3 Quantificação de metais .................................................................................................... 28
3.3.1 Mercúrio .......................................................................................................................... 28
3.3.2 Cádmio ............................................................................................................................ 28
3.4 Análise estatística ............................................................................................................... 29
4 RESULTADOS ................................................................................................................... 32
4.1 Toxicidade aguda ............................................................................................................... 32
4.2 Bioconcentração de cádmio e mercúrio............................................................................ 33
4.2.1Curvas de calibração e validação do método de análise de cádmio e mercúrio ............. 33
4.2.2 Toxicocinética de Artemia sp. .......................................................................................... 36
4.2.3 Bioacumulação em Mysidopsis juniae ............................................................................ 40
5 DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 42
6 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 49
11
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos séculos, as atividades humanas, como industriais, agrícolas e o uso de
transporte motorizado, que lançam resíduos químicos de potencial impactante para o ambiente,
foram intensificadas e diversificadas drasticamente. Muitas destas substâncias quando
liberadas no meio ambiente são transportadas através dos corpos hídricos e têm como destino
final o mar.
As áreas costeiras marinhas, além de receberem alta carga de contaminantes
através dos rios, concentram a maior parte de habitantes do mundo, sendo de suma
importância para os seres humanos por prover recursos alimentares e matéria prima, ademais
propiciam áreas de recreação e transporte. Com tamanha intervenção humana, os ecossistemas
costeiros são continuamente e intensamente estressados (USERO et al., 2005; WAYCOTT et
al., 2009).
As ações impactantes do homem nas áreas costeiras se contradizem em relação à
sua importância ecológica. Os ecossistemas de costa têm imensa relevância ambiental, por
abrigar diversos táxons e serem fundamentais na reposição de espécies de peixes e crustáceos
oceânicos, importantes comercialmente e ecologicamente. Além disso, é zona chave no ciclo
reprodutivo de vários organismos, sendo área de berçário de muitas espécies
(NAGELKERKEN et al., 2015). Sendo assim, a porção costeira é a mais sensível da
plataforma continental aos impactos ambientais, incluindo os causados pelo despejo de
contaminantes nos corpos aquáticos (LAFABRIE et al., 2007).
As zonas de costa vêm historicamente recebendo altas cargas de poluentes com a
justificativa de que têm alto poder de dissolução e de resiliência, gerando um falso sentimento
de segurança, levando a acreditar que os mares podem ser usados ilimitadamente na
eliminação de resíduos. No entanto, o ambiente tem um limite de capacidade de recuperação a
perturbações, tanto que há zonas, incluindo costeiras, fortemente poluídas em todo o mundo
(MUNIZ; VENTURINI; BROJA, 2015).
Dentre as muitas classes de contaminantes, possivelmente a que tem presença
mais comum em áreas poluídas é a dos metais (JOYEUX; CAMPANHA FILHO; JESUS,
2004), por isso, nas últimas décadas, criou-se uma preocupação mundial em torno dos metais.
Porém, no Brasil, o nível de poluição pelos metais não alcançou a mesma proporção em
relação aos países desenvolvidos, mesmo assim há interesses em prevenir futuros problemas
ambientais causados pelos metais pesados (BARBIERI, 2009).
12
Esses são importantes poluentes, pois têm alta tendência de se acumularem nos
tecidos dos organismos e são persistentes por longo tempo devido à sua estabilidade química
e baixa biodegradabilidade. Por isso, os metais oferecem riscos aos humanos, já que ao serem
bioacumulados, podem ser transferidos pela cadeia trófica, até serem absorvidos pelos
predadores de topo (MISHA; TRIPATHI, 2008).
Neste trabalho, serão abordados os efeitos tóxicos e a toxicocinética de dois
metais pesados: cádmio e mercúrio que têm ocorrência natural em todo o mundo. Ambos têm
distribuição no ambiente marinho, estudada através de fracionamento isotópico, que fornece
informações para o melhor entendimento de seus processos biogeoquímicos. As maiores
concentrações de cádmio encontram-se em massas de água mais profundas (>900 m), já que o
metal é associado à remineralização da matéria orgânica. Rippeger e colaboradores (2007)
quantificaram cádmio no Oceano Atlântico e Pacífico em diferentes profundidades e as águas
rasas tiveram concentração de aproximadamente 2 ng.L-1
, em águas oceânicas rasas e 30 e
100 ng.L-1
de altas profundidades do Oceano Atlântico e Pacífico, respectivamente.
O mercúrio se distribui em águas marinhas de maneira diferente. Em águas
profundas, o metal é menos concentrado, esse perfil vertical do metal é relacionado com a
deposição atmosférica de mercúrio (FITZGERALD; LAMBORG; HAMMERSCHMIDT,
2007). Fu (2010) encontrou a concentração média de mercúrio de 1,2 ng.L-1
em águas rasas
oceânicas do norte da China, uma das regiões de maior emissão do metal (SELIN et al., 2008).
As concentrações naturais de ambos os metais têm escala menor do que outros
metais essenciais envolvidos em processos bióticos. Porém atividades humanas vêm
incrementando níveis de cádmio e mercúrio em escalas locais, regionais e globais (GREEN;
LEADER; KÜNITZER, 2003).
O cádmio de origem antrópica atinge o ambiente proveniente de atividades
agrícolas, através da aplicação de fertilizantes, esgotos urbanos, pesticidas e resíduos de
veículos automotivos (NABULO; ORYEM-ORIGA; DIAMOND, 2006; ZHAI et al., 2008).
Dentre os metais, o cádmio é um dos que apresenta maior mobilidade no ambiente aquático e
maior absorção pelos organismos (NABULO; ORYEM-ORIGA; DIAMOND, 2006). Assim
como o mercúrio, o cádmio era caracterizado por não atuar em processos biológicos, porém,
foi constatado que o metal é essencial na captação de sílica por diatomáceas (MOREL;
PRICE, 2003).
O mercúrio ainda é amplamente utilizado pelo homem, sendo principalmente
descartado no ambiente pela mineração, queima de carvão, produção de cimento e refino de
óleo (UNEP, 2013). É emitido por fontes naturais e antrópicas principalmente na forma
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elementar, Hg0, que é facilmente volatilizada, permitindo sua dispersão a longas distâncias,
tanto que foi detectado em zonas extremas, como no Oceano Ártico (FISHER et al., 2012). Os
níveis de emissão de mercúrio vêm crescendo em graus alarmantes, as concentrações
atmosféricas do metal dobraram em relação à era pré-industrial e sua deposição aumentou de
duas a quatorze vezes em relação aos níveis pré-industriais (AMOS et al., 2013). Apenas no
ano de 2010, foram emitidas por via antrópica 1960 toneladas de mercúrio e a tendência é que
esse número tenha aumentado (UNEP, 2013).
Cádmio e mercúrio têm grande relevância para os estudos ecotoxicológicos por
serem elementos de alta toxicidade (BARBIERI, 2009; CASTAÑÉ et al., 2003). Um dos
grupos de organismos mais vulneráveis a esses estressores são os invertebrados (SARMA,
2000), que quando expostos a altas concentrações, apresentam alterações em seus processos
fisiológicos e bioquímicos, como na transmissão dos impulsos nervosos e em atividades
enzimáticas (CASTAÑÉ et al., 2003). Umas das causas disso seria a competição iônica com o
cálcio, elemento essencial na regulação homeostática, visto que este tem raio atômico similar
e mesma valência em relação a cádmio e mercúrio (REILEY, 2007).
Após ultrapassar os canais de cálcio na membrana celular, o cádmio pode se ligar
a biomoléculas, ser acumulado ou ser depositado em compartimentos subcelulares, onde
talvez sofra transformação ou eliminação metabólica. Para remover cádmio, proteínas com
alta afinidade ao metal, como glutationa e metalotioneínas garantem o fluxo de saída do
cádmio da célula (CHANDRAN et al., 2005). Quando não eliminado, o metal causa danos
celulares ao inibir a transferência eletrônica nas mitocôndrias e produzir espécies reativas do
oxigênio (ROS) que causam o estresse oxidativo celular e consequentemente danos como
peroxidação de lipídios e danos no DNA (CHELOMIN et al., 2005). Estes efeitos tóxicos
causados pelo cádmio foram constatados em vários táxons de organismos marinhos, como
peixes, bivalves e crustáceos (CHANG et al., 2009).
O mercúrio é tóxico a crustáceos em concentrações pouco acima do nível natural.
Seus efeitos nos organismos marinhos já foram descritos por diversos estudos, dentre eles
mortalidade, e danos subletais, como anormalidades no desenvolvimento embrionário,
inibição da acetilcolinesterase, que afeta a transmissão de impulsos nervosos, dentre outros
(ELUMALAI et al., 2007). A forma mais tóxica desse metal, naturalmente, é produzida em
ambientes aquáticos, o metilmercúrio é uma neurotoxina extremamente forte e tem alto poder
de bioacumulação e transferência através da cadeia trófica (FISHER et al., 2012; UNEP,
2013).
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A bioacumulação ocorre quando há aumento da concentração de substâncias nos
organismos, é uma característica tanto de mercúrio quanto de cádmio e considerada como um
bom indicador de exposição a estressores químicos em indivíduos habitantes de ecossistemas
poluídos. A bioacumulação existe quando a taxa de captação supera a de eliminação, sendo
assim, a concentração de substâncias nos organismos depende dos processos associados a
absorção, metabolização (desintoxicação) e excreção (ROESIJADI, 1992).
A relação entre bioacumulação e toxicidade não é simples, e efeitos tóxicos são
resultados de influências de condições geoquímicas e biológicas nos contaminantes
acumulados. Então, a toxicidade seria causada pela forma como as substâncias são
sequestradas do material bioacumulado (LUOMA; RAINBOW, 2005).
O processo de bioacumulação tem entendimento complexo, visto que há
diferentes formas de entradas de assimilação dentre as espécies aquáticas, podendo ser via
solução, através de contato superficial direto ou via alimentação e consequente retenção de
tecido ou órgão contaminado (LUOMA; RAINBOW, 2005). Sendo assim, este trabalho
considerou também o conceito de bioconcentração, que se refere à acumulação de substâncias
apenas através da água, enquanto a bioacumulação ocorre através de as fontes bióticas do
ambiente, ou seja, alimento, ou da combinação de ambas as vias (GRAY, 2002).
Quando absorvidos, os metais passam por processos diferentes de acordo com a
entrada no organismo. Em invertebrados, a captação de metais dissolvidos do meio externo é
feito principalmente pelas brânquias, onde ocorre indução de proteínas sequestradoras de
metais, as denominadas metalotioneínas. Enquanto que metais ingeridos se ligam às
metalotioneínas logo na glândula digestiva e então são transportados para outros órgãos
(ROESIJADI, 1992).
As metalotioneínas são proteínas participantes de processos saudáveis da célula,
sua função é de transportar metais essenciais que são úteis em reações importantes, como o
zinco, componente de diversas enzimas de invertebrados marinhos (EMERSON; HEDGES,
2008). Além disso, as metalotioneínas também têm função de desintoxicação, elas evitam
efeitos tóxicos devido à alta afinidade a metais traço não essenciais, como cádmio e mercúrio,
por conta da forte atração desses metais a enxofre, componente das metalotioneínas
(RAINBOW, 2002). Outra forma de desintoxicação é a formação de grânulos de metais
dentro das células, que ficam armazenados em compartimentos residuais (BARKA, 2007).
Estas técnicas de proteção contra efeitos deletérios de metais, produção de
proteínas sequestradoras de metais e formação de grânulos permitem a sobrevivência do
organismo, porém geram impacto. Essas medidas têm alto custo energético, perturbando
15
crescimento e reprodução dos organismos, podendo ser expandido a níveis superiores de
organização, como populações e comunidades (DELEEBEECK et al., 2007).
Para facilitar a compreensão de como ocorre a absorção, a distribuição e a
eliminação de substâncias, foram elaborados modelos toxicocinéticos que correspondem a
caracterização matemática de tais processos. Esses modelos fornecem a previsão das
concentrações de substâncias no organismo em função do tempo de exposição e da
concentração em meio externo (BARRON; STEHLY; HAYTON , 1990).
Os modelos cinéticos têm sido utilizados com êxito pela farmacologia por décadas
e foram incorporados por estudos ambientais sobre sistemas aquáticos há alguns anos. Porém,
há dificuldades nessa relação, e a maior delas é a quantidade de parâmetros usados nos
modelos farmacológicos, no entanto, se houver informações suficientes, modelos cinéticos
podem prover previsão de acumulação tanto para exposições simples e curtas, quanto para
exposições de várias rotas de captação (LANDRUM; LEE; LYDY, 1992).
Um dos tipos de modelos cinéticos mais aplicados são os compartimentais. Sua
definição é dada como a descrição matemática simplificada do comportamento de uma
substância química em um ou mais compartimentos de um animal. Um compartimento não
significa a delimitação de órgãos ou tecidos específicos, e sim grupos de tecido/órgãos que
são distinguíveis cineticamente para cada substância. O modelo utilizado neste presente
estudo considera apenas um compartimento, que assume uma teórica distribuição homogênea
de certa substância pelo corpo do organismo (BARRON et al., 1990).
Os padrões de acumulação e eliminação de metais que serão abordados neste
trabalho nos permite o melhor entendimento das estratégias dos organismos a fim de conter os
efeitos tóxicos dos metais e fornecer informações sobre a fisiologia das espécies estudadas.
A ciência criada para estudar esses efeitos tóxicos no meio ambiente, com
objetivo de mitigar e prevenir impactos com intuito de recuperar e preservar ecossistemas, é
denominada ecotoxicologia. Em países desenvolvidos, como europeus e norte americanos, por
conta do desenvolvimento das leis regulatórias, a ecotoxicologia é mais avançada, porém
ainda há muito o que fazer; há vários programas de monitoramento de áreas poluídas que
evidenciam novas substâncias de antes potencial tóxico desconhecido (VAN STRAALEN,
2003). No Brasil, as leis ambientais vigentes têm sido questionadas com o argumento de que
esforços mais vigorosos são necessários, visto que os limites de contaminantes legalmente
previstos não correspondem às capacidades de suporte de seus ecossistemas.
Há três resoluções ambientais brasileiras, a primeira, CONAMA N° 344/2004
regula procedimentos mínimos para avaliação do material dragado. A seguinte, CONAMA N°
16
357/2005 apresentou um relevante avanço em relação à proteção dos sistemas aquáticos, pois
nela estão inseridas condições e padrões para lançamento no meio aquático diferenciando
corpos d’água doces e salgados e com exigência de caracterização ecotoxicológica. Assim
como a resolução CONAMA N° 363/2007 que exige monitoramento de águas de processo de
plataformas marítimas. Porém, apenas em 2011 através da resolução CONAMA N°430,
importantes definições para ensaios ecotoxicológicos como CL50, concentração letal mediana,
CE50, concentração efetiva mediana, e CENO, concentração de efeito não observado, foram
abordadas na legislação brasileira.
A ecotoxicologia foi criada por especialistas em Toxicologia, que se restringe a
tratar humanos, com interesses no meio ambiente. Consequentemente, muitos conceitos
utilizados na farmacologia foram importados para a ecotoxicologia, como descrito
anteriormente. Exemplos desses são: análise da relação dose-resposta, estimativa de
concentração de efeito e mortalidade (CE50 e CL50) e testes ecotoxicológicos (VAN
STRAALEN, 2003).
Tais testes ecotoxicológicos são instrumentos eficientes usados pelos
ecotoxicologistas para avaliar a toxicidade de agentes químicos e a qualidade da água ou
sedimento, dessa maneira, podem servir de base na elaboração de limites permissíveis de
contaminantes no ambiente (ARAGÃO; ARAÚJO, 2006).
De forma geral, os testes ecotoxicológicos são classificados em agudos e crônicos.
Ensaios agudos são realizados em curto período exposição comparados ao ciclo de vida dos
organismos, e o efeito observado é ríspido, geralmente mortalidade. A grosso modo, testes
crônicos têm duração mais longa em relação aos agudos, e seus parâmetros são sub-letais,
como alterações na reprodução e crescimento (WALLER; ALLEN, 2008).
Neste trabalho, foram realizados testes ecotoxicológicos agudos com duas
espécies de microcrustáceos, grupo taxonômico bem utilizado na ecotoxicologia aquática,
dentre as vantagens de seu uso, se destacam a facilidade de obtenção, rapidez do ciclo de vida
e reprodutibilidade entre os testes. Além disso, o pequeno porte dos animais é bastante
vantajoso, pois seus ensaios são de baixo custo, de rotina simples e de métodos práticos e
seguros (VANHAECKE; PERSOONE, 1981).
Os táxons utilizados neste estudo foram os microcrustáceos Artemia e Mysidopsis
juniae. O primeiro táxon, bem abordado na ecotoxicologia marinha há algumas décadas, tem
distribuição geográfica bastante difundida pelo mundo todo devido à sua característica
considerada incomum de suportar condições extremamente adversas, principalmente regiões
hipersalinas. Sendo assim, espécies de Artemia levam vantagem onde habitam por não haver
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presença de predadores (NUNES et al., 2006). No Brasil, sua dispersão é relacionada às
atividades de aquicultura e produção de sal, essa última devido à capacidade de sobrevivência
em ambientes hipersalinos. A espécie Artemia franciscana foi registrada em dispersos pontos
na costa litorânea do Ceará, desde o extremo leste, Icapuí, até o estremo oeste, Camocim
(CAMARA, 2012).
Artemia é um microcrustáceo filtrador obrigatório, o gênero se alimenta de
bactérias, algas unicelulares, pequenos protozoários e detritos em solução (REEVE, 1963). O
gênero é constituído por seis espécies bissexuais com grande número de populações
partogênicas, uma estratégia de reprodução, assim como a formação de cistos, que permite a
manutenção do embrião por muito tempo em condições adversas. Além disso, Artemia se
adapta a um grande intervalo de salinidade (5-250) e, sobrevive em diferentes temperaturas
(6-35°C) (NUNES et al., 2006).
Além disso, também há vantagens laboratoriais no uso de Artemia, sua menor
escala de testes requer pequenos volumes de água do mar e pouco espaço, além de produzir
resíduos em pequenas quantidades (Nunes et al., 2006).
O gênero do microcrustáceo Artemia (Crustacea; Anostraca) tem intensa
utilização em diversas áreas como Aquicultura, Ecologia e Genética, o que provém
importantes informações gerais sobre o táxon para sua utilização na Ecotoxicologia. Dentre as
características do gênero Artemia que o torna bastante aplicável em ensaios ecotoxicológicos,
são: relevância ecológica, ciclo de vida curto, pequeno tamanho e alimentação não seletiva, o
que assegura a assimilação dos organismos a todos os contaminantes expostos, o que prova a
adequabilidade do uso do táxon em ensaios ecotoxicológicos, mesmo sendo ausente na
maioria dos ecossistemas marinhos.
A outra espécie utilizada por este estudo é Mysidopsis juniae, pertencente da
família Mysidae, bem discutido em trabalhos ecotoxicológicos, onde o Mysidopsis bahia, por
exemplo, foi utilizado num ensaio crônico padronizado pela USEPA. O próprio Mysidopsis
juniae tem sido utilizado em ensaios de toxicidade crônica e aguda no Brasil, esse último com
protocolo normatizado pelo órgão brasileiro ABNT em 2011.
Uma característica distintiva do táxon é que por pertencerem à ordem Peracarida,
é a presença de marsúpio, uma bolsa incubadora que tem função de abrigos para os filhotes
carregados pelas fêmeas adultas. Os misidáceos se reproduzem sexuadamente, os ovos são
produzidos e transportados do oviduto para o marsúpio onde ocorre a fertilização e o
desenvolvimento dos imaturos iniciando pelas fases embrionárias, larval e pós-larval. Quando
18
o desenvolvimento marsupial se completa, os filhotes são liberados da bolsa na fase juvenil
(WITTMANN, 1981).
Os misidáceos habitam ambientes costeiros e estuarinos e ocupam uma posição
de grande relevância ecológica. Além de ser o táxon de maior abundância entre o as
comunidades suprabentônicas, têm papel importante nos ambientes que habitam por
servirem de alimento para outras espécies nas primeiras fases de vida. O gênero é
considerado omnívoro, se alimentando geralmente de detritos, algas e zooplâncton, a
escolha seletiva de suas presas ocorre a ponto de determinar comunidades zooplantônicas
(VILAS; DRAKE; FOCKEDEY; 2008).
Os misidáceos (Crustacea; Mysidae) são microcrustáceos amplamente
utilizados em estudos ecotoxicológicos devido a várias características favoráveis para este
tipo de uso, como alta sensibilidade a várias classes de contaminantes, cultivo de manuseio
fácil, desenvolvimento direto e ciclo de vida curto.
Esses dois táxons, náuplios de Artemia sp. e juvenis de Mysidopsis juniae, foram
os organismos-teste utilizados neste trabalho com objetivo de analisar a toxicidade aguda de
cádmio e mercúrio, expressa através de CL50 e CENO.
Posteriormente, foi avaliada a toxicocinética e bioacumulação dos metais para
artemias e misidáceos através de modelos de um compartimento com cinética de primeira
ordem que permitem estipular as taxas de assimilação e eliminação dos metais nesses
crustáceos sob exposição ao CENO de cada metal e após transposição para água do mar sem
contaminantes. A finalidade deste estudo foi de comparar e analisar e comparar a absorção de
eliminação de cádmio e mercúrio em Artemia sp. e, bem como a absorção dos metais via
alimento por Mysidopsis juniae.
Nos primórdios da ecotoxicologia, os metais eram experimentados principalmente
para se observar efeitos agudos (BRUCE, 1985; SLOOF; CANTON; HERMES, 1983). Com
o avanço dos estudos ecotoxicológicos, os modos de ação de vários contaminantes, inclusive
metais, foram sendo esclarecidos e as causas da mortalidade e também de efeitos sub-letais
foram sendo conhecidos. Além disso, modelos bem utilizados na farmacologia foram
importados com êxito para estudos ambientais permitindo o melhor entendimento do
comportamento nos metais quando incorporados pela biota marinha
(BARRON;STTEHLY;HAYTON, 1990).
19
Com tantas ferramentas de análise química e de caracterização matemática, vários
trabalhos sobre toxicocinética em sistemas marinhos surgiram nos últimos anos. Porém, a
maioria analisou organismos de regiões temperadas e polares, a abordagem com espécies
tropicais é escassa, o que exibe uma lacuna de conhecimento, já que animais de climas
quentes têm metabolismo diferente e, portanto, interagem com os contaminantes de forma
distinta.
Neste trabalho, os táxons de microcrustáceos utilizados, a cosmopolita Artemia sp.
e a nativa do Brasil Mysidopsis juniae. Ambos foram eleitos para análise pela facilidade em
obtenção e cultivo, importância na cadeia alimentar e reduzida escala de teste. Além disso, a
sensibilidade a metais traço dos misidáceos é uma condição vantajosa na análise da toxicidade
aguda e, por outro lado, a alta capacidade de acumulação de metais e a resistência das
artemias são fatores positivos para analisar a bioacumulação de cádmio e mercúrio em dois
níveis da cadeia alimentar (VILAS; DRAKE;FOCKEDEY, 2009).
20
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Avaliar a toxicidade, toxicocinética e bioacumulação de cádmio e mercúrio nos
microcrustáceos marinhos Artemia sp. e Mysidopsis juniae.
2.2 Objetivos específicos
2.2.1 Analisar a toxicidade aguda dos metais cádmio e mercúrio em Artemia sp. e
Mysidopsis juniae
Determinar a relação dose-resposta aguda para cádmio e mercúrio;
Determinar o CEO, concentração de efeito observado, e CENO, concentração de
efeito não observado, para cada organismo e metal;
Definir a concentração letal para 50% da população exposta para cádmio e mercúrio.
2.1.2 Avaliar o comportamento toxicocinético dos metais cádmio e mercúrio em Artemia sp.
e Mysidopsis juniae
Determinar teores de cádmio e mercúrio em Artemia sp. e Mysidopsis juniae sob
exposição a esses metais em diferentes períodos, via exposição a água;
Determinar as constantes de assimilação e eliminação de cádmio e mercúrio em
Artemia sp. e Mysidopsis juniae durante a exposição e após a transferência para meio
desprovido de contaminantes.
2.1.3 Avaliar a bioacumulação dos metais cádmio e mercúrio em Mysidopsis juniae através
de alimento contaminado (Artemia sp.)
Analisar a transferência de cádmio e mercúrio de Artemia sp. para Mysidopsis juniae
através da alimentação
21
3 MATERIAL E MÉTODOS
3.1 Reagentes e soluções
O cloreto de mercúrio, HgCl2, (CAS 7387-94-7) e o cloreto de cádmio, CdCl2,
(CAS 10108-64-2) foram adquiridos da Sigma-Aldrich Co. (St. Louis, MO, USA). Tais produtos
foram diluídos em água pura mili-Q para o preparo das soluções-estoque para os bioensaios, nas
concentrações de 9,0 g.L-1 para o cádmio e 2,5 g.L-1 para o mercúrio. A solução estoque foi
acrescida de ácido nítrico a 1% atingindo pH 2 para prevenir a precipitação dos metais e mantidas
a 4°C.
3.2 Experimentos de toxicidade aguda
3.2.1 Artemia
Náuplios de artemia (Artemia sp.) foram obtidos por meio de cistos comerciais de
artemia (Bio Artemia – Grossos, RN, Brasil) no Laboratório de Ecotoxicologia Marinha da
Universidade Federal do Ceará (Figura 1).
Figura 1 – Artemia sp.: Náuplios de eclosão
recente (esquerda) e de após 24 horas (direita).
Fonte: Virginia State University (2009).
Inicialmente, os cistos foram imersos em água destilada com aeração por
uma hora na etapa de hidratação que tem objetivo de reativar o metabolismo interno dos
cistos; posteriormente, a água destilada foi trocada por 100 mL de solução de hipoclorito de
sódio, NaClO, (2,5%) permitindo a desencapsulação sob vigorosa agitação.
Este procedimento foi interrompido a partir da mudança de cor dos cistos, de
marrom para laranja, sendo o hipoclorito de sódio f totalmente retirado por lavagem com
água destilada. Os resíduos de cistos flutuantes foram retirados com água do mar filtrada e
22
em aeração constante em um funil de separação, onde os cistos completaram sua eclosão e
atingiram a fase náuplio I e náuplio II após 24 h e 48 h, respectivamente.
Os experimentos agudos foram realizados em placas estéreis de 24 cavidades.
Em cada cavidade foram inseridos 10 náuplios de Artemia sp., solução de cádmio ou de
mercúrio e água do mar natural, completando o volume final de 2,5 mL. Os testes tiveram
concentrações de 40 a200 µg.L-1
para cádmio e 10 a 500 µg.L-1
para mercúrio e foram
realizados em triplicata, com duração total de 48 h (Tabela 1).
Tabela 1 – Dados gerais sobre o teste de toxicidade Artemia sp.
Recipiente de experimento Placa estéril de 24 cavidades
Volume final 2,5 mL
Água de diluição Água do mar filtrada (0,8µm)
Idade dos náuplios no início do
experimento
48 h
Náuplios por cavidade 10
Temperatura 25°C
Fotoperíodo 12 h luz : 12 h escuro
Duração 48 h
Efeito observado Mortalidade
Aceitabilidade Porcentagem de mortos no controle
menor que 10%
Alimentação -
Duração 48 h
23
3.2.2 Mysidopsis juniae
Os organismos-teste usados nos experimentos deste estudo foram obtidos do
cultivo do Laboratório de Ecotoxicologia Marinha da Universidade Federal do Ceará. (Figura
2).
Figura 2 – Mysidopsis juniae macho adulto.
Fonte: Cebimar, USP.
Os misidáceos foram cultivados de acordo com as condições presentes na
Tabela 2. A água do mar contida nos aquários foi filtrada na bomba a vácuo (TECNAL
modelo TE-058) com salinidade ajustada para 35 com adição de água destilada. A cada
semana, ocorreu a troca de 25% de água de cada aquário, assim como a contagem dos
juvenis gerados e o reestabelecimento da proporção de fêmeas e machos (45:15,
respectivamente), para casos de eventuais mortes de adultos. Diariamente, os misidáceos
foram alimentados por náuplios de Artemia sp. de 72 horas com as últimas 24 horas com
meio enriquecido com óleo de fígado de bacalhau e ômega 3, a fim de acelerar o
desenvolvimento gonadal dos misidáceos.
Tabela 2 – Condições de cultivo de Mysidopsis juniae.
Recipiente de cultivo Aquários de 10 litros
Água de diluição Água do mar filtrada (0,8 µm)
Troca de água Mensalmente: 100%
Semanalmente: 25%
Proporção sexual por aquário 45 fêmeas: 15 machos
Salinidade 35
Temperatura 25 ± 2°C
Fotoperíodo 12 h luz: 12 h escuro
Aeração Constante e suave
Alimentação Náuplios de Artemia sp. Fonte: elaborada pela autora.
24
Os experimentos foram realizados de acordo com a norma padronizada NBR
15.308 da ABNT de 2011 (ABNT, 2011). O padrão de ensaio incluiu as condições, como
fotoperíodo, temperatura e salinidade que foram as mesmas das de cultivo (Tabela 3). As
concentrações utilizadas tiveram valores entre 5 µg.L-1
e 5000 µg.L-1
para cádmio e 0,05
µg.L-1
até 50 µg.L-1
para o mercúrio. Para cada metal, foram feitos quatro experimentos. A
cada 24 h, o número de mortos foi registrado, assim como foi fornecido náuplios de Artemia
sp. para os misidáceos.
As variáveis físico-químicas da solução de teste, pH e oxigênio dissolvido, foram
medidas após o encerramento do teste (96 h) em ou quando mortalidade total nas três réplicas
de uma concentração antes da contagem no período final.
Tabela 3 - Dados gerais teste de toxicidade de Mysidopsis juniae
Tipo de experimento Estático; Sem renovação de água
Volume por réplica 300 mL
Água de diluição Água do mar filtrada (0,8 µm)
Salinidade 35
Temperatura 25°C
Fotoperíodo 12 h luz: 12 h escuro
Recipiente de experimento Béqueres 400 mL
Idade dos misidáceos no início do
teste
1-8 dias
Misidáceos/réplica 10
Réplicas/concentração 3
Alimentação diária Náuplios Artemia sp. 24 h
Aeração -
25
3.2 Experimentos de bioconcentração
Foram realizados quatro experimentos com Artemia sp. e Mysidopsis juniae,
sendo dois para cádmio e dois para mercúrio para cada espécie. Cada teste foi executado com
concentração única, equivalente aos valores de CENO dos misidáceos (Concentração de
efeito não observado) separadamente para cada metal, sendo 50 µg Cd.L-1
e5 µg Hg.L-1
.
Os ensaios com Artemia sp. tiveram maior escala em relação ao teste agudo para
que a massa amostrada fosse suficiente para permitir as análises químicas. Os testes foram
executados em soluções de água do mar acrescidas de cádmio e mercúrio em volumes totais
de 300 mL com cerca de 3000 náuplios de Artemia sp.
Partindo do início da exposição, após 1,5; 3; 4,5; 6; 9; 12 e 24 h, três réplicas de
solução para cada período de tempo foram filtradas em malha e as amostras de artemias foram
congeladas ainda com vida na temperatura de -20°C. Com 24 h de exposição, as réplicas
restantes tiveram suas soluções contaminadas trocadas por água do mar isenta de cádmio e
mercúrio. Após 2; 8; 12 e 24 h deste procedimento, os náuplios filtrados foram congelados
também a -20°C.
3.3 Experimentos de bioacumulação
Os experimentos de bioconcentração de misidáceos ocorreram de forma similar.
As concentrações de exposição de cádmio e mercúrio também corresponderam ao CENO de
cada metal para os misidáceos. A duração total do experimento teve 96 h, sendo as primeiras
48 h de exposição aos metais. Nesse estágio, foram alimentados com artemia no estágio
náuplio II (48 h de eclosão) que haviam passado suas últimas 24 h em exposição também as
CENO dos misidáceos. Após as 48 h de exposição, os misidáceos foram transferidos para
água do mar sem contaminantes e foram alimentados por náuplios de artemia livre de metais.
Após 1,5; 3; 4,5; 6; 9; 12; 24; 36 e 48 h de exposição aos metais, três réplicas de
solução para cada período de tempo foram filtradas em malha e as amostras de misidáceos
foram congeladas ainda com vida na temperatura de -20°C. Com 48 h de exposição, as
réplicas restantes tiveram suas soluções contaminadas trocadas por água do mar isenta de
cádmio e mercúrio. Após 12; 24; 36 e 48 h deste procedimento, os misidáceos filtrados foram
congelados também a -20°C.
Os desenhos experimentais para os ensaios com Artemia sp. e Mysidopsis juniae
encontram-se esquematizados na Figura 3.
26
Meio Com
Metais 50 µg
Cd.L-1
5 µg
Hg.L-1
Meio Livre
de metais
0 1,5
3 4,5
6
9
12
24 26
32
36
48
Troca de
solução
teste
0 1,5 4,5
6
9
12
24
36
48
60
72
96
3
84
Períodos de amostragem (h)
Artemia sp.
Mysidopsis juniae
Alimentação: Náuplios Artemia sp. expostos por 24
hrs a
50 µg Cd.L-1
ou
5 µg Hg.L-1
Alimentação: Náuplios Artemia sp.
livres de metais
Meio Com
Metais 50 µg
Cd.L-1
5 µg
Hg.L-1
Meio Livre
de metais
Troca de
solução
teste
Alimentação: Náuplios Artemia sp.
expostos por 24 h a
50 µg Cd.L-1
ou
5 µg Hg.L-1
Alimentação: Náuplios Artemia sp.
livres de metais
Figura 3 – Desenho experimental dos ensaios de acumulação/eliminação de
Artemia sp. e Mysidopsis juniae.
27
As condições externas foram as mesmas dos experimentos agudos com Artemia
sp. e Mysidopsis juniae e os parâmetros físico-químicos, pH e salinidade, foram registrados ao
fim da exposição em todos os períodos de tempo de exposição. Alíquotas de solução teste
foram armazenadas acidificadas e em baixa temperatura para posterior quantificação de
cádmio e mercúrio.
Amostras de solução teste de artemias e misidáceos foram acidificadas com ácido
nítrico (1%) e armazenadas em baixa temperatura (0°C) após os experimentos para posterior
quantificação de metais. Réplicas do início do teste (t = 0 h), do fim após a transferência dos
crustáceos para meio sem metais e do controle foram escolhidas para análise. As soluções
brutas com mercúrio foram analisadas, ou seja, não passaram por qualquer tratamento antes
da análise pelo detector de mercúrio. Já as amostras contendo cádmio foram diluídas para
evitar que os íons do sal marinho não interferissem no plasma do ICP-MS.
Tabela 4 – Dados gerais do experimento de bioconcentração em Artemia sp.
Tipo de experimento Estático
Volume por réplica 300 mL
Água de diluição Água do mar filtrada (0,8 µm)
Salinidade 35
Temperatura 25°C
Fotoperíodo 12 h luz: 12 h escuro
Recipiente de experimento Béqueres 400 mL
Idade dos náuplios no início do teste 24 h
Náuplios/réplica 3000
Réplicas/período de exposição 3
Aeração -
Posteriormente, as amostras de misidáceos e artemias foram descongeladas e as
soluções-teste que acompanhavam os animais foram substituídas por água mili-Q, essa troca
foi repetida três vezes a fim de remover resíduos de metais nos organismos. As amostras
foram recongeladas e posteriormente secadas a frio por 12 horas, através do liofilizador (L
101 Liotop). A liofilização foi escolhida como método de secagem por conservar o corpo dos
crustáceos, facilitando suas posteriores pesagens.
28
3.3 Quantificação de metais
Mercúrio e cádmio foram quantificados no Laboratório de Análises Química
Ambiental, coordenado pelo prof. Jorge Sarkis, e pertencente ao Centro de Química e Meio
Ambiente do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) da Universidade de São
Paulo (USP).
3.3.1 Mercúrio
Para determinar as bioconcentrações de mercúrio, o equipamento utilizado foi o
analisador direto de mercúrio DMA80 Tricell (Milestone). O mecanismo da máquina resume-
se em decompor amostra em alta temperatura (750°C) causando a sublimação do mercúrio
que é posteriormente reduzido e aprisionado em uma câmara fria por uma amálgama de ouro.
Finalmente, o mercúrio é vaporizado para um feixe único e quantificado por espectrometria
de absorção atômica, sendo sua absorbância, medida a 253,9 nm, proporcional à massa de
mercúrio na amostra (D’AGOSTINO et al., 2014). Dentre as vantagens da utilização deste
equipamento de quantificação, destacam-se a ausência de pré-tratamento das amostras, devido
à decomposição térmica, e o baixo limite de detecção.
3.3.2 Cádmio
Para a quantificação de cádmio, foi utilizado o espectrômetro de massa com
plasma acoplado (ICP-MS NexIon 300D). O equipamento analisa amostras líquidas, por isso
as amostras sofreram digestão ácida como pré-tratamento.
A digestão foi executada em micro-ondas (modelo Mars 5 - CEM), o equipamento
aquece as amostras em tubos e cada um deles recebeu uma réplica de amostra, anteriormente
pesadas em papel manteiga através de uma balança de precisão. Para a digestão, em cada tubo
foi inserido 0,5 mL de ácido nítrico purificado através de destilação, 0,5 mL de peróxido de
hidrogênio, que aumenta a eficiência da digestão da matéria orgânica pelo seu poder oxidante,
e 3 mL de água, totalizando 4 ml de solução de digestão. Foram feitas seis soluções de
digestão com esse mesmo tratamento descrito, porém na ausência de amostra, sendo
considerados como brancos.
O aquecimento gerado pelo equipamento micro-ondas, que operou com potência
variando entre 1030 a 1080 W, foi crescendo constantemente durante 20 a 25 minutos até a
solução de digestão dos tubos atingirem 170°C. Nesse estado, a temperatura foi mantida por 5
minutos, depois disso, o aparelho micro-ondas paralisou seu aquecimento e os tubos
resfriaram até temperatura ambiente.
Em seguida, os tubos de reação tiveram tampas e paredes enxaguadas com água
pura mili-Q e foram diretamente vertidas para tubos falcon, esta transferência foi feita de
29
forma extremamente cuidadosa para não haver perda de material. Além da amostra, foram
adicionados nos tubos falcon volumes de 1 mL de índio (100µg.L-1
), o padrão interno do ICP-
MS, e água mili-Q até que se completasse 10 mL.
As seis amostras do branco tiveram valores de intensidades medidas de cádmio
cerca de 100 vezes inferiores em relação a média das amostras que continham artemias e
misidáceos. As concentrações de cádmios dos brancos foram em média 7 ± 6 µg.L-1
.
3.4 Análise estatística
A partir dos dados de toxicidade, foi obtida a CL50, definida como concentração
letal mediana para 50% dos organismos expostos, através do software Sigma Plot® 10.0, 2006,
utilizando a equação 2, mostrada abaixo, pertencente à categoria sigmoidal e nomeada como
logística com três parâmetros:
Equação 1
𝑦 = 𝑎
1+(𝑥
𝑥0)
𝑏 (2)
Sendo:
a = Sobrevivência do controle;
b = Inclinação da curva;
y = Sobrevivência;
x = Concentração;
x0 = CL50.
O valor da CENO foi obtido através da análise de variância (ANOVA one way)
seguida do teste de Dunnett. Foi considerada como CENO a maior concentração que não
apresentou diferença estatística significativa da mortalidade em relação ao controle.
Nos ensaios de bioconcentração (via água) com Artemia, os dados foram
analisados estatisticamente através de um modelo não linear de um compartimento que
descreve a assimilação e eliminação de metais através da cinética de primeira ordem, sendo k1
e k2 constantes de absorção e eliminação pelos organismos, respectivamente:
k1
[Metal]em solução ⥂ [Metal]absorvido k2
30
Considerando adicionalmente a concentração de exposição constante e a variável
tempo, há duas equações, uma para a etapa de acumulação, quando ocorre exposição aos
metais, e outra para de eliminação (EQUAÇÕES 3 e 4):
Acumulação: 𝑄(𝑡) = 𝑘1
𝑘2 ⨉ 𝐶𝑒𝑥𝑝 ⨉(1 − 𝑒(−𝑘2⨉𝑡)) (3)
Eliminação: 𝑄(𝑡) = 𝑘1
𝑘2 ⨉ 𝐶𝑒𝑥𝑝 ⨉ (1 − 𝑒(−𝑘2⨉(𝑡−𝑡𝑐)) − 𝑒(−𝑘2⨉𝑡)) (4)
Em que Q(t) é a concentração dos metais nos crustáceos em função do tempo t; tc
é o tempo, em horas, de exposição após a transferência dos organismos para meio
descontaminado; as unidades de k1 e k2, respectivamente, L/g/h e 1/h; Cexp é a concentração
nominal de exposição dos metais e e representa a função exponencial.
Para os misidáceos, os dados foram igualmente modelados por equações de
bioacumulação, considerando a absorção de metais via alimentação e água. As variáveis
adicionais nessas equações de bioacumulação são a concentração do alimento, considerada a
concentração de cádmio e mercúrio em Artemia (Calimento) após 24 h de exposição, além de
kalimento e kágua. Sendo também k1 e k2 para as fases de acumulação e eliminação,
respectivamente (EQUAÇÕES 5 e 6).
Absorção: 𝑄(𝑡((𝑘á𝑔𝑢𝑎⨉𝐶á𝑔𝑢𝑎)⨉ (𝑘𝑎𝑙𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜⨉𝐶𝑎𝑙𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜
𝑘2) ⨉(1 − 𝑒(−𝑘2⨉𝑡) ) (5)
Eliminação: 𝑄(𝑡) = ((𝑘á𝑔𝑢𝑎⨉𝐶á𝑔𝑢𝑎)⨉ (𝑘𝑎𝑙𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜⨉𝐶𝑎𝑙𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜
𝑘2) ⨉(1 − 𝑒(−𝑘2⨉𝑡) ) –
((𝑘á𝑔𝑢𝑎⨉𝐶á𝑔𝑢𝑎)+(𝑘𝑎𝑙𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜⨉𝐶𝑎𝑙𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜)
𝑘2) ⨉(1 − 𝑒(−𝑘2(𝑡−48))) (6)
A razão entre k1 e k2 resulta no fator de bioconcentração (FBC) (EQUAÇÃO 7).
FBC = 𝑘1
𝑘2 (7)
Com objetivo de aprimorar o ajuste das curvas dos modelos, as somas dos
resíduos entre as concentrações reais e das equações foram reduzidas através da ferramenta
31
Solver presente no Microsoft Office Excel 2010. Para isso, o software altera os valores de k e
da concentração final dos metais nos crustáceos.
32
4 RESULTADOS
4.1 Toxicidade aguda
Nos ensaios agudos para as duas espécies de crustáceos, o mercúrio foi mais
tóxico em relação ao cádmio em todos os períodos de exposição. Os valores das CL50 para
Artemia sp. expostas a cádmio foram 141770 ± 60305 µg.L-1
em 24 h e 115533 ± 52351
µg.L-1
em 48 h (Tabela 5).
A espécie Mysidopsis juniae foi mais sensível a cádmio e mercúrio em relação à
Artemia sp. (Tabela 5). Portanto, as CL50 entre os dois metais tiveram diferença significativa
de acordo com o teste T de student (p<0,05) para todos os períodos de exposição (Tabela 5).
Tabela 5 - Concentrações letais medianas (CL50) com médias em µg.L-1
em Artemia sp. e
Mysidopsis juniae para cádmio e mercúrio dos períodos de 24 até 96 h. Os valores
representam a média ± desvio padrão de três experimentos independentes (n=3).
Metal Espécie 24 h 48 h 72 h 96 h
Cd Artemia sp. 141767
± 60.305
115533
± 52.351
- -
Mysidopsis
juniae
850,0
± 353,55
333,33
± 152,75
233,33
± 115,47
182,33
± 126,62
Hg Artemia sp. 51100
± 5544
30700
± 5900
- -
Mysidopsis
juniae
19,0
± 9,54
16,1
± 9,44
15,3
± 9,70
15,0
± 9,79
33
4.2 Bioconcentração de cádmio e mercúrio
4.2.1Curvas de calibração e validação do método de análise de cádmio e
mercúrio
A calibração do analisador de mercúrio teve início na etapa primária, feita após a
instalação do equipamento e realizada através da solução certificada (SEM 3133) que contém
9,954 ± 0,053 mg/g. A partir dela, foram feitas alíquotas de 0,01; 0,1 e 1 µg.L-1
de mercúrio
que foram diluídas para a obtenção de 15 valores para a curva, entre 0,5 e 300 ng (Figura 4 e
Figura 5). A curva foi baseada em massa, não em concentrações, e na altura do pico de
absorbância. Os valores discrepantes foram desconsiderados. O limite de detecção, de acordo
com EPA, método 7473, é 0,01 ng, porém a faixa de trabalho característica fica entre 0,05 e
600 ng.
Figura 4 - Curva de calibração das massas de 0,5 a 15 ng de mercúrio.
34
Figura 5 - Curva de calibração das massas de 20 a 300 ng de mercúrio.
Para tornar a calibração primária válida, a cada dia de utilização do detector de
mercúrio, foi feita a calibração diária. Neste procedimento, uma solução de padrão foi
analisada e como seus resultados foram menores que 10% de sua concentração nominal, a
calibração primária foi validada. Além disso, a verificação do padrão gera um fator de
calibração (FC) que é multiplicado pelo resultado das análises gerando as concentrações de
mercúrio assumidas (Equação 1). Os considerados brancos foram recipientes de níquel, onde
a amostra é armazenada para análise, desprovidos de material.
FC = (Concentração nominal/Concentração medida) (1)
Para validar do método, foi utilizada a amostra de referência DORM 2 (Proteína
de peixe produzida por National Research Concil of Canada (NRC – CNRC)). A análise foi
feita em duplicata e em massas pequenas (0,001 e 0,0001g), na mesma escala de pesagem das
amostras para assegurar que a medição de peso dos crustáceos estava sendo feita de forma
precisa. Os resultados das concentrações das amostras de referência não tiveram diferença
35
maior que 20% em relação ao determinado para DORM 2, que valida o método e classifica a
taxa de recuperação do protocolo como satisfatório (Tabela 6).
Tabela 6 – Valores certificados e taxas de recuperação do material certificado DORM 2.
Massa (g) Concentração (µg/g) Concentração
certificada
Taxa de
recuperação
(%)
0,001 5,04 4,47 ± 0,032 112,92
0,0001 4,43 99,21
A curva de calibração para o cádmio foi composta de sete concentrações, sendo
elas 0,1; 0,2; 0,5; 1, 5, 10 e 20 µg.L-1
, provenientes da diluição de soluções estoque padrão de
2 e 100 µg.L-1
. A equação da curva foi y = 4052,7 x + 304, considerando além de
concentração, intensidade de cádmio medida (Figura 6).
Figura 6 – Gráfico relativo à curva de calibração de cádmio com a correlação entre as
concentrações nominais das soluções padrão e intensidade medida (R2= 0,999).
Concentração g.L-1
-5 0 5 10 15 20 25
Inte
nsid
ade (
cps)
0
2e+4
4e+4
6e+4
8e+4
1e+5
36
O material de referência certificado utilizado foi a proteína de peixe DORM 4
(NRCC) também em massas pequenas, entre 0,03 e 0,007, para assegurar a pesagem. Dentre
as 4 análises, todas apresentaram taxa de recuperação acima de 90%, sendo considerado
excelente (Tabela 7).
Tabela 7- Concentrações medidas do material de referencia DORM -4 e suas respectivas taxas
de recuperação.
Massa (g) Concentração
(µg/g)
Concentração
certificada
Taxa de recuperação
(%)
0,0072 278,649
0.299 ± 0.018
93,19
0,0083 273,137 91,35
0,0316 277,512 92,81
0,0290 272,391 91,10
4.2.2 Toxicocinética de Artemia sp.
As concentrações medidas de cádmio das soluções dos experimentos de
bioconcentração se aproximaram das concentrações nominais. Após a transferência das
artemias e misidáceos, a concentração de cádmio da água era próxima ao controle (Tabela 8).
Tabela 8 – Concentrações medidas de cádmio (µg.L-1
) medidas em água do mar durante a fase
de acumulação em meio contaminado, eliminação após a transferência dos organismos para
meio sem contaminantes.
Espécie Fase do
experimento
Concentração
nominal (µg.L-1
)
Concentração
real (µg.L-1
)
Artemia sp. Acumulação 50 49,69
Eliminação 0 0,093
Controle 0 0,195
Mysidopsis juniae Acumulação 50 51,34
Eliminação 0 0,132
Controle 0 0,110
37
O mercúrio medido nas amostras da fase de exposição teve aproximação em relação
aos valores nominais. As réplicas que receberam os crustáceos após a acumulação tiveram
concentrações medidas de mercúrio próximas ao controle (Tabela 9).
Tabela 9 - Concentrações medidas de mercúrio (µg.L-1
) medidas em água do mar durante a
fase de acumulação em meio contaminado, eliminação após a transferência dos organismos
para meio sem contaminantes.
Espécie Fases do
experimento
Concentração
nominal (µg.L-1
)
Concentração real
(µg.L-1
)
Artemia sp. Acumulação 5 5,93
Eliminação 0 1,8
Controle 0 1,93
Mysidopsis juniae Acumulação 5 6,63
Eliminação 0 1,9
Controle 0 0,9
Os dados de bioconcentração foram expressos em microgramas de metal dividido
pelo peso seco dos microcrustáceos (µg.g-1
). Em média, cádmio foi mais absorvido pelas duas
espécies, sendo a maior diferença para Artemia sp., com bioconcentração média do metal para
essa espécie 2000 µg.g-1
e 35 µg.g-1
para Mysidopsis juniae. Enquanto os náuplios de artemia
continham em média 10 µg.g-1
de mercúrio frente a 5 µg.g-1
dos misidáceos.
O máximo acumulado pelos náuplios de Artemia sp., na fase de exposição a
cádmio, foi de 3930,1 µg.g-1
com 9 h de expostos, seguido de decréscimo nos períodos de 12
e 24 h, 2308,34 e 3317,02 µg.g-1
. Após a transposição de uma solução contendo cádmio para
meio limpo, os náuplios reduziram a concentração do metal, tendo em média 1427,13 µg.g-1
de cádmio em 26 h de experimento, 2 h depois de transpostos. Porém o decréscimo não se
correlacionou com o tempo, a concentração média desse período foi ultrapassada por 32 h e
48 h de experimento, tendo 1996,12 e 2101,36 µg.g-1
, respectivamente (Figura 7). Foi
verificado que no total de 48h os organismos não conseguiram eliminar o composto
totalmente.
38
Figura 7 – Toxicocinética da exposição de 24h a 50 µg Cd.L-1
em Artemia sp. A curva do
modelo cinético de um compartimento foi determinada pela equação 1 na fase de absorção e
pela equação 2, fase de eliminação, iniciada após 24 h.
Em relação ao mercúrio, o pico de acumulação de Artemia sp. ocorreu no período
máximo de exposição ao metal, 24 h, sendo a concentração 18,53 µg.g-1
. Em meio limpo, os
náuplios atenuaram a concentração de mercúrio em 26 e 36 h de experimento, sendo 11,32 e
10,65 µg.g-1
, respectivamente. Porém na última etapa de amostragem, 48 h, o metal teve
maior acumulação em Artemia sp., com concentração de 14,14 µg.g-1
(Figura 8). Neste caso a
eliminação de Hg foi muito baixa a nula.
0
1.000
2.000
3.000
4.000
5.000
6.000
0 6 12 18 24 30 36 42 48
[Cd
] (µ
g.g-1
)
Tempo (horas)
[Cd] (µg.g-1 )
Modelo [Cd] (µg.g-1 )
39
Figura 8 - Toxicocinética da exposição de 24h a 5 µg Hg.L-1
em Artemia sp. A curva do
modelo cinético de um compartimento foi determinada pela equação 1 na fase de absorção e
pela equação 2, fase de eliminação, iniciada após 24 h.
A partir das equações da cinética de absorção e eliminação de metais, as
constantes k1 e k2 foram respectivamente determinadas. Para o cádmio e mercúrio em Artemia
sp., k1 e k2 foram aproximadamente 17,7 e 0,5 e 0,32 e 0,17, respectivamente. A grande
superioridade de k1 para o cádmio e a similaridade entre os k2 dos dois elementos químicos
indicam a maior acumulação do cádmio pelos náuplios de artemia, de modo que o valor de
FBC foi maior para o cádmio (Tabela 10).
Tabela 10 – Parâmetros cinéticos k1, k2 de absorção e eliminação, respectivamente, obtidos
através da equação 1 e 2, fator de bioconcentração (FBC) e soma dos quadrados dos resíduos
(SQ) de Artemia sp.
Metal k1 (L/g/h) k2 (1/h) FBC SQ
Cd 17,7 0,32 54,68 26,8 x 106
Hg 0,5 0,17 2,82 403
0
5
10
15
20
25
30
0 6 12 18 24 30 36 42 48
[Hg]
(µ
g.g-1
)
Tempo (horas)
[Hg] (µg.g-1)
Modelo [Hg] (µg.g-1)
40
4.2.3 Bioacumulação em Mysidopsis juniae
O valor máximo de cádmio acumulado pelos misidáceos que foi de 49,68 µg.g-1
após 24 h de exposição. Em meio limpo, os misidáceos reduziram a sua concentração interna
para 12,05 µg.g-1
após 60 h mantendo o mesmo nível de cádmio até o fim do experimento,
sendo 6,19 µg.g-1
com 96 h (Figura 9).
Figura 9 - Toxicocinética da exposição de 48 h a 50 µg Cd.L-1
em Mysidopsis juniae. A curva
do modelo cinético de um compartimento foi determinada pela equação 1 na fase de absorção
e pela equação 2, fase de eliminação, iniciada após 48 h.
A concentração média de mercúrio nos misidáceos atingiu o extremo após 12 h de
exposição, sendo 17,86 µg.g-1
, reduzindo em seguida até a concentração de 6,61 µg.g-1
no
último período de exposição ao metal, nas 48 h. As seguintes amostragens tiveram menor
nível de mercúrio, com concentrações em torno de 4 µg.g-1
até o encerramento do
experimento, nas 96 h (Figura 10).
0
20
40
60
80
100
0 12 24 36 48 60 72 84 96
[Cd
] (µ
g.g-1
)
Tempo (horas)
[Cd] (µg.g-1 )
Modelo [Cd] (µg.g-1 )
41
Figura 10 - Toxicocinética da exposição de 48 h a 5 µg Hg.L-1
em Mysidopsis juniae. A curva
do modelo cinético de um compartimento foi determinada pela equação 1 na fase de absorção
e pela equação 2, fase de eliminação, iniciada após 48 h.
Para a modelação dos ensaios de bioacumulação, a adição das concentrações de
cádmio e mercúrio em Artemia sp. forneceu constantes de absorção via água e alimento no
período de exposição de 48 h para os misidáceos. Para cádmio, a entrada do metal por meio
da água foi maior (kágua = 0,06) em relação à via alimentação (kartemia =0,0029), enquanto que
para mercúrio ocorreu o inverso, a constante cinética de absorção através da água (kágua = 0,01)
foi menor em relação à de alimento (kartemia = 0,67), sugerindo maior absorção de mercúrio
pelos misidáceos através da predação de artemia (Tabela 11).
Tabela 11 - Parâmetros cinéticos kágua, kartemia e k2, contante de eliminação, em Mysidopsis
juniae e a soma dos quadrados dos resíduos (SQ) obtidos através das equações de
bioacumulação 4 e 5.
Metal kágua kartemia k2 SQ
Cd 0,06 0,0029 0,29 5555
Hg 0,01 0,24 0,67 282
0
5
10
15
20
25
0 12 24 36 48 60 72 84 96
[Hg]
(µ
g.g-1
)
Tempo (horas)
[Hg] (µg.g-1 )
Modelo [Hg] (µg.g-1 )
42
5 DISCUSSÃO
O fato de o gênero Artemia ser tolerante a várias classes de contaminantes entre os
crustáceos (NUNES et al., 2006) foi corroborado pelas altas concentrações letais medianas de
cádmio e mercúrio observadas neste estudo. Hadjispyrou e colaboradores (2001) encontrou
valor de CL50 para cádmio de 24 h de 155100 µg.L-1
, similar ao observado neste trabalho
(141767 µg.L-1
).
Há poucos trabalhos com dados de CL50 em animais marinhos de duração igual ou
inferior a 48 h, onde a grande maioria dos trabalhos determina CL50 para 96 h. Outras
espécies marinhas foram mais sensíveis a cádmio num período de exposição mais prolongado,
96 h, porém a discrepância entre as CL50 dessas espécies com Artemia sp. deste estudo
evidencia a alta tolerância de Artemia sp. a cádmio. Como, por exemplo, o bivalve adulto
Modiolus philippinaru e as pós-larvas de camarões Farfantepenaeus paulensis e Penaeus
duorarum com CL50 de 221, 830 e 832 µg.L-1
, respectivamente (BARBIERI, 2009; CRIPE,
1994; RAMAKRITINAN; CHANDURVELAN; KUMARAGURU, 2012).
A toxicidade de mercúrio para Artemia sp., assim como cádmio, foi baixa , sendo
a CL50 para 48 h, 30700 µg.L-1
. Uma busca na literatura não encontrou estudos que expressem
o efeito tóxico agudo do metal para náuplios de artemia em CL50. Porém vários efeitos sub-
letais como danos na eclosão dos cistos e desenvolvimento embrionário foram relacionados à
mercúrio em Artemia sp (MACRAE; PANDEY, 1991; SARABIA et al., 1998).
O provável motivo para a elevada tolerância de Artemia sp. a metais é a alta
indução de metalotioneína, proteína com função de eliminar metais tóxicos, pelo gênero. Del
Ramo e colaboradores (1995) observou que a produção de metalotioneína induzida pelo
cádmio em Artemia se correlaciona com a concentração de exposição. Quando não retidos
pelas metalotioneínas, cádmio e mercúrio agem com modos de ação similares em Artemia sp.
ambos atuam perturbando o equilíbrio celular de íons células ao interferir no funcionamento
do transporte ativo de sódio e potássio ou na bomba de sódio-cálcio (MACRAE; PANDEY,
1991).
Como esperado, Mysidopsis juniae teve sensibilidade significantemente superior à
Artemia sp. em relação aos dois metais experimentados. Por exemplo, os valores de CL50 de
48 h para cádmio foram 115533 e 333,33 µg.L-1
para Artemia sp. e Mysidopsis juniae. No
período citado, a toxicidade de cádmio entre as duas espécies apresentou diferença
significativa (p<0,05) entre as duas espécies.
A concentração letal de cádmio no período de 96 h para os misidáceos, 182,33
µg.L-1
é superior aos valores encontrados para outras espécies de misidáceos, 16 e 19,6 para
43
Mysidopsis bahia e 99,3 µg.L-1
para neonatos de Siriella armata (PÉREZ; BEIRAS, 2010).
Apesar de variáveis, estes valores inferiores a CL50 de outras espécies de decápodes, como os
camarões Farfantepenaeus paulensis, Penaeus duorarum e Penaeus indicus, revelando a
elevada sensibilidade dos misidáceos, uma grande vantagem em testes ecotoxicológicos
(BARBIERI, 2009; CRIPE, 1994; MCCLURG,1984).
Os misidáceos foram mais sensíveis a mercúrio. A CL50 de 96 h foi cerca de 10
vezes maior do que a de cádmio. Na maioria dos trabalhos que aborda a toxicidade de vários
metais traço, o mercúrio é considerado o mais tóxico (LUSSIER; GENTILE; WALKER, 1985;
MACRAE; PANDEY, 1991; VERSLYCKE; VAN, 2003). Isso evidencia o elevado risco
ambiental desse elemento químico, que em meio aquático pode se transformar em metil
mercúrio, sua forma muito mais biodisponível e consequentemente mais tóxica em relação ao
mercúrio inorgânico, utilizado neste estudo (MACRAE; PANDEY, 1991; PANDEY;
MACRAE, 1991).
As tabelas seguintes 12 e 13 contêm dados adicionais de CL50 de cádmio e
mercúrio para outras espécies de água salgada.
44
Tabela 12 - Valores de CL50 de cádmio para diversas espécies de invertebrados marinhos e
estuarinos. A maioria dos experimentos teve duração de 96 h.
Grupo
taxonômico Espécie
Estágio
de vida
Tempo de
exposição
CL50 (µg.L-
1)
Referência
Crustáceo Palaemon
serratus Larval 72 h 1,7
Mariño-
Balsa et al.,
(2000)
Crustáceo Mysidopsis
bahia Juvenil 96 h 16 Nimmo et
al. (1978)
Crustáceo Tigriopus
brevicornsi Náuplio 96 h 17,4 Forget et al.
(1998)
Crustáceo Mysidopsis
bahia Juvenil 96 h 19,6 Cripe (1994)
Crustáceo Tigriopus
brevicornis Copepodit
o 96 h 29,7
Forget et al.
(1998)
Crustáceo Homarus
gammarus Larval 48 h 34
Mariño-
Balsa et al.,
(2000)
Crustáceo Tigriopus
brevicorni Adulto 96 h 47,9 Forget et al.
(1998)
Crustáceo Siriella
armata Neonato 96 h 99,3
Pérez;
Beiras,
(2010)
Crustáceo Maja
squinado Larval 72 h 158
Forget et al.
(1998)
Crustáceo Mysidopsis
juniae Juvenil 96 h
182,3
3
Este
trabalho
Molusco
Modiolus
philippinaru
m Adulto 96 h 221
Ramakritina
n et al.,
(2012)
Crustáceo
Farfantepen
aeus
paulensis Pós-larva 96 h 830
Barbieri
(2009)
Crustáceo Penaeus
duorarum Pós-larva 96 h 832 Cripe (1994)
Crustáceo Penaeus
indicus Juvenil 96 h 2070 McClurg
(1984)
Peixe Mugil seheli Alevino 96 h 5.360 AMED
(2005)
Molusco Cerithedia
cingulata Adulto 96 h 9193
Ramakritina
n et al.,
(2012)
Crustáceo Artemia sp. Náuplio 48 h 11553
3
Este
trabalho
45
Crustáceo Artemia sp. Náuplio 24 h 141.7
67
Este
trabalho
Crustáceo Artemia
franciscana Náuplio 24 h 155.1
00
Hadjispyrou
(2001)
46
Tabela 13 - Valores de CL50 de mercúrio para diversas espécies de invertebrados marinhos e
estuarinos. A maioria dos experimentos teve duração de 96 h.
Grupo
taxonômico Espécie
Estágio
de vida
Tempo de
exposição
CL50
(µg.L-1
) Referência
Crustáceo Palaemon
serratus Larval 72 h 1,7
Mariño-
Balsa et
al., (2000)
Crustáceo Mysidopsis
bahia Juvenil 96 h 3,5
Lussier;
Gentile;
Walker
(1985)
Molusco Modiolus
philippinarum Adulto 96 h 7
Ramakritin
an et al.,
(2012)
Crustáceo Neomysis
integer Juvenil 96 h 6.9
Verslyckle
et al.
(2003)
Crustáceo Mysidopsis
juniae Juvenil 96 h 15 Este
trabalho
Crustáceo Penaeus
indicus Juvenil 96 h 15,3 McClurg
(1984)
Crustáceo Homarus
gammarus Larval 48 h 34
Mariño-
Balsa et
al., (2000)
Molusco Cerithedia
cingulata Adulto 96 h 53
Ramakritin
an et al.,
(2012)
Crustáceo Tigriopus
breicornis Adulto 96 h 53 Barka
(2007)
Peixe Rutilus frisii Juvenil 96 h 86,8
Gharaei;Es
maili-Sari
(2008)
Crustáceo Maja squinado Larval 72 h 158
Mariño-
Balsa et
al., (2000)
Peixe Therapon
jarbua - 96 h 310
Nagarani
(2012)
Peixe Acanthopagrus
latus Imaturo 96 h 648,87 Hedayati et
al., (2010)
Crustáceo Artemia sp. Náuplio 48 h 30.700 Este
trabalho
47
Em relação ao valor de CENO de 96 h de cádmio para Mysidopsis juniae (50
µg.L-1
), Perez e Beiras (2010) encontraram valor de 80 µg.L-1
para o misidáceo Siriella
armata, já o mercúrio teve CENO de 5 µg.L-1
para 96 h, Thondra-gar e colaboradores (2003)
determinaram valor de 30 µg.L-1
para larvas da espécie de peixe Lates calcarifer . A análise
de toxicidade através da CENO deve ser feita de forma cuidadosa, visto que seu valor é a
maior concentração experimentada que não causou morte, sendo assim, tem grande
dependência em relação ao desenho experimental (JAGER, 2011). Porém, neste estudo, os
valores de CENO foram úteis na determinação das concentrações de exposição dos
experimentos de bioconcentração pelo período de 96 h.
Analisar bioconcentrações de metais em organismos aquáticos é importante, visto
que efeitos tóxicos se correlacionam mais fortemente com concentrações internas do que de
exposição. A relação concentração-efeito baseada em concentrações internas é menos variável
entre diferentes espécies e condições ambientais, isso porque a assimilação de substâncias
depende de sua biodisponibilidade (MCELROY et al., 2011). A bioconcentração também é
influenciada por características intrínsecas das espécies. Propriedades fisiológicas podem
determinar a variabilidade de bioacumulação entre táxons. Parâmetros fisiológicos que
incluem taxas de absorção de substâncias através da água e do alimento, assim como níveis de
perda são gerados por modelos de toxicocinética (LUOMA;RAINBOW, 2005).
De acordo com os modelos cinéticos de bioconcentração utilizados neste trabalho
para Artemia sp., as bioconcentrações previstas para cádmio e mercúrio aumentaram
consideravelmente nas primeiras horas de exposição, e nos últimos períodos de exposição as
bioconcentrações permaneceram no mesmo nível (Figura 7 e Figura 8). Isso sugere que há um
equilíbrio entre a taxa de absorção e eliminação de cádmio e mercúrio. Blust e colaboradores
(1991) observaram o mesmo em Artemia franciscana para cobre e indicaram que esse padrão
de equilíbrio é atingido porque o transporte de metais é facilitado por processos de difusão e
que tal mecanismo seria limitado pelo número de transportadores e pela velocidade que ocorre.
Após o fim da exposição, houve o transporte dos náuplios de artemia e juvenis de
misidáceos para solução sem metais, porém, mesmo sem continuar em exposição a mercúrio,
Artemia sp. não conseguiu eliminar o composto já acumulado até o fim do experimento
(Figura 8). Relativamente ao cádmio, misidáceos e artemias tiveram as suas concentrações
internas reduzidas com o tempo, indicando a eliminação do metal (não total). Isso contrapõe
Rainbow e White (1998) que afirmam que crustáceos não regulam a concentração de cádmio,
os organismos apenas desintoxicam o metal através das metalotioneínas que posteriormente
48
sofrem quebra nos lisossomos, apesar de raramente serem visualizados em corpos residuais
dos lisossomos.
Os fatores de bioacumulação (FBC) para Artemia obtidos pelo modelo de um
compartimento tiveram valores de 54,68 para cádmio e 2,82 para mercúrio. Geer (2003)
calculou a FBC médio para vários metais baseando-se em trabalhos com diversas espécies de
organismos aquáticos, em que os valores menores para cádmio e mercúrio foram 2623 e
14550 com concentrações de exposição 0,1 – 0,3 µg.L-1
e 0,1-1 µg.L-1
, respectivamente. A
discrepância de FBC encontrado neste trabalho em relação às médias calculadas por Geer
(2008) pode ter causa na diferença entre níveis de exposição a metais. Sarabia (2006)
encontrou correlação inversa entre FBC e concentrações de cádmio analisando diferentes
populações de espécies de Artemia.
Em relação aos parâmetros cinéticos das equações de bioacumulação, a maior
constante de absorção via alimento (kartemia) foi do mercúrio, 0,2431, frente a 0,0029 do
cádmio, isso indica que os misidáceos acumularam melhor o mercúrio através da ingestão de
Artemia. Esse metal é, de fato, um elemento com alto potencial bioacumulativo e de
biomagnificação, e isso é atribuído ao seu caráter altamente lipofílico, enquanto ao cádmio, há
poucas evidências na literatura que constataram sua bioacumulação e biomagnificação (GEER,
2003).
As constantes de cinética de absorção através da água (kágua) têm maior valor para
cádmio, 0,06, em relação a mercúrio, 0,01. A maior captação de cádmio pelos misidáceos via
água se relaciona com o fato do fator de bioconcentração do cádmio ser superior a vinte vezes
o valor para mercúrio em Artemia sp., que foi exposta apenas ao cádmio em solução.
A aplicação dos modelos matemáticos de cinética de um compartimento foi
certamente útil para descrever, analisar e comparar padrões de acumulação e eliminação de
cádmio e mercúrio, apesar das equações de um compartimento considerarem a distribuição
dos contaminantes no corpo dos misidáceos e artemias de maneira uniforme, o que na
realidade não ocorre. O uso de modelos bicompartimentais praticamente é inviável para
animais desse porte, a limitação de tamanho não permite a análise de tipos de tecido
específico das espécies.
49
6 CONCLUSÃO
A partir dos dados obtidos de toxicidade aguda neste estudo, pôde-se concluir que
os naúplios de Artemia sp. apresentaram alta tolerância a cádmio e mercúrio em relação à
Mysidopsis juniae. Mercúrio foi o metal mais tóxico para ambas as espécies de crustáceos. Os
modelos toxicocinéticos de um compartimento para avaliar bioconcentração e bioacumulação
foram utilizados com êxito e permitiram a interpretação de padrões de acumulação e
eliminação de metais. Os náuplios de artemia tiveram fator de bioconcentração superior para
cádmio, portanto acumularam mais cádmio em relação a mercúrio. Após a transferência para
meio sem contaminantes, apenas o cádmio foi eliminado, mercúrio manteve-se em mesmo
nível. Nos ensaios de bioacumulação, os modelos de bioacumulação permitiram observar que
a transferência de metais de Artemia sp. para Mysidopsis juniae via alimentação é mais
intensa para o mercúrio do que para cádmio. Os resultados obtidos neste estudo evidenciaram
a alta capacidade do mercúrio ser transferido pela cadeia alimentar e sua persistência.
50
REFERÊNCIAS
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