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TRABALHO, TRANSFORMAÇÕES PRODUTIVAS DA INDÚSTRIA TÊXTIL E DE
VESTUÁRIO E O DESENVOLVIMENTO REGIONAL DO ESTADO DE SANTA
CATARINA - SC
Vivian Costa Brito1, Doutoranda
Fundação Universidade Regional de Blumenau – FURB e Bolsista FAPESC,
Área temática: 7. Desenvolvimento regional e urbano
Resumo
O modelo de produção pós-fordista engendrado pelo toyotismo tem influenciado as
transformações produtivas e organizacionais nos diversos subsetores da indústria no Brasil
como parte do processo de reestruturação produtiva. Sua principal característica é a
organização em células de produção, rompendo com o modelo linear do taylorismo/fordismo
e aumento os processos de precarização do emprego. Do mesmo modo que aumentam os
processos de automação que substitui o trabalhador, engendrando o enxugamento no quadro
de empregados da organização. Este estudo procurou analisar essas transformações no tocante
do Complexo Têxtil e de Vestuário de Santa Catarina, realizado através de revisão
bibliográfica sobre o tema e de dados estatísticos primários. As alterações se manifestam com
maior ênfase no subsetor têxtil, o que pode estar relacionado com a inserção de tal modelo.
Palavras-chave: Reestruturação produtiva. Precarização do trabalho. Desenvolvimento
Regional
Introdução
A indústria têxtil historicamente tem assumido a função de alavancar o processo inicial
de industrialização em muitos países. Desde o surgimento da revolução industrial no século
XVIII na Inglaterra, buscou-se descrever a partir desse subsetor as transformações produtivas
decorrentes do modo de produção capitalista e seus efeitos na sociedade, principalmente nas
relações de trabalho.
Essa indústria se consolidou na economia mundial e brasileira. Atualmente possui
características heterogêneas, desde modelos baseados em sistemas manufatureiros até
1 Doutoranda em Desenvolvimento Regional, Fundação Universidade Regional de Blumenau – FURB.
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modelos de produção vinculados com o desenvolvimento de alta tecnologia, com sistemas
automatizados. Outra característica é a formação de aglomerações industriais, compondo
polos regionais de desenvolvimento, tornando-se, portanto um segmento significativo para o
desenvolvimento regional.
A indústria têxtil apresentou um papel relevante no tocante ao desenvolvimento de
algumas regiões brasileiras. Em especial a região de Santa Catarina, consolidada como o
segundo maior empregador têxtil e de vestuário do país (FIESC, p.13, 2013). Este estudo, tem
por objetivo analisar as transformações produtivas da indústria têxtil e de vestuário do Estado
de Santa Catarina a partir do período pós-fordista e seus efeitos nas relações de trabalho.
Este artigo se divide em dois momentos: revisão de literatura sobre o tema e análise
empírica do desenvolvimento da indústria têxtil e de vestuário em Santa Catarina. O ponto de
partida epistemológico é a obra O Capital (MARX, 1995), a partir de sua análise da sociedade
industrial capitalista do século XIX. Deste modo, descreve essas transformações a partir dos
movimentos internos às fábricas, que em sua maioria estão voltadas para a indústria têxtil e de
vestuário. Sua obra expõe em detalhes os conflitos gerados pelo novo modo de produção
capitalista, dentre os quais serão destacados nesse estudo os aspectos mais relevantes que
abordam a relação trabalho, transformações produtivas e desenvolvimento regional.
Inicialmente a análise recai sobre a questão da acumulação primitiva como a condição
precedente para o desenvolvimento do modo de produção capitalista. Perpassa a discussão
sobre as alterações no modo de produção pela retirada dos meios de produção do homem e
sua transformação em força produtiva e à produção da mais-valia a serviço do capital. Do
mesmo modo, que se busca compreender a forma como se dá a reprodução simples e a
formação de um exército de reserva. E ainda, o surgimento da divisão social do trabalho e a
mudança do modo de produção manufatureiro para o modelo fabril da indústria têxtil
moderna. Destarte, este último modelo passou por diversas transformações desde os meados
do século XIX, quando surge o segundo período da Revolução Industrial, e mais adiante no
início do século XX com o terceiro período da Revolução Industrial. Emergem, assim, novos
modelos de produção com efeitos na dinâmica do trabalho, a serem analisados sob a
perspectiva de Mello e Silva (2000) e Antunes (1999). De um lado, o modelo taylorista/
fordista baseado na produção em linha, na verticalização, vinculado com a segunda revolução
industrial. Do outro, o modelo toyotista, fundamentado em estrutura de produção celular, just-
in-time, desverticalização, automação, tercerização e no modo de acumulação flexível.
O estudo empírico está baseado em pesquisa descritiva e exploratória, no qual são
utilizados dados estatísticos primários sobre a indústria têxtil e de vestuário obtidos na FIESC,
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RAIS/MTe, artigos e dissertações, a fim de traçar o perfil das indústrias e dos trabalhadores
do subsetor têxtil e de vestuário do Estado de Santa Catarina, que segue as bases do Código
Nacional de Atividade Econômica (CNAE) do IBGE. Quanto ao estudo do perfil das
indústrias têxtil e de vestuário, foram analisados: o número de empresas por mesorregião; o
crescimento da produção física; a utilização da capacidade instalada; o perfil do
estabelecimento por tamanho e nº de empregados; a rentabilidade líquida; bem como, a
participação das exportações. No tocante ao perfil do trabalhador na indústria têxtil e de
vestuário, foram analisadas a relação emprego e desemprego; por tamanho de
estabelecimento, comportamento do emprego, remuneração média salarial.
1. O desenvolvimento da indústria: modelos de produção e relações de trabalho
No livro o Capital (1995) Marx vai analisar a sociedade burguesa a fim de explicar sua
estrutura e funcionamento e as transformações que ocorriam no século XIX. A fábrica é tida
como a base em que se conformam os interesses materiais capitalistas, e para compreendê-la é
preciso analisar o seu corpo e a articulação dos sistemas de máquinas, tornando-se, portanto,
ponto central de sua análise. Destarte, analisa o modelo fabril da indústria têxtil moderna que
cria uma nova classe de trabalhadores, o operário.
A manufatura é a base inicial da primeira fase da Revolução Industrial, que tem sua
origem na Inglaterra no século XVIII, com o desenvolvimento do Capitalismo Fossilista. Esse
período é marcado pela descoberta da máquina de vapor, uma nova revolução na relação
homem natureza, primeira das grandes mudanças produtivas capitalistas.
Marx (1995) procura destrinchar a relação entre a maquinaria e a formação da grande
indústria. O desenvolvimento da maquinaria perpassa pelo entendimento de suas três partes: a
máquina-motriz, o mecanismo de transmissão, que atua em função da terceira parte, a
ferramenta ou máquina de trabalho. Esta última se apropria do objeto de trabalho humano.
Busca então compreender o que a maquinaria difere do instrumento manual e o como o meio
de trabalho passa de ferramenta para máquina.
A maquinaria contribui para a exploração pelo capital do trabalho humano, a partir do
domínio da técnica, da ciência da Natureza e da ferramenta de trabalho, que objetiva a relação
de produção. Seu efeito devastador nas relações sociais de trabalho é sem precedentes, amplia
a exploração incluindo mulheres e crianças, aumentando a jornada de trabalho, a fim de
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produzir mais, em uma escala menor de tempo e reduzir o homem a condição parcial de
máquina. Para isso, tem na divisão social do trabalho a sua maior aliada.
Marx (1995) critica o papel da maquinaria na melhoria das condições de trabalho do ser
humano e expõe sua aplicação pelo capital, como o meio para a mais valia, através da
ampliação do tempo em que o trabalhador dá de graça para o capitalista e o encurtamento do
tempo que ele precisa para si mesmo. Explica, portanto, que as alterações no modo de
produção servem para “... baratear as mercadorias, encurtar parte do dia de trabalho da qual
precisa do trabalhador para si mesmo, para ampliar a outra parte que ele dá gratuitamente ao
capitalista. A maquinaria é meio para produzir mais valia” (MARX, 1995, p.424). Essa
relação se configura como o cerne da manufatura, e é engendrada pela força de trabalho.
Segundo Marx (1995) é da maquina-ferramenta que se origina a revolução industrial do
século XVIII e executa as mesmas operações que o trabalhador fazia com ferramentas
semelhantes. Em síntese afirma que a Revolução Industrial reduz o homem ao papel de força
motriz, mas que reduzido a isso, não promove a revolução do modo de produção.
A máquina a vapor de Watt vem representar a base de transformação da indústria, pois
faz surgir o primeiro motor que produz a sua própria força motriz. Com o advento do aparelho
mecânico, a máquina passa a ter autonomia dos limites da força humana, e tonar-se capaz de
mover, conjuntamente diversas máquinas de trabalho. Assim, a manufatura, via seu sistema
de máquinas, faz emergir a cooperação por meio da divisão do trabalho, resumindo, portanto a
máquina-ferramenta a um pueril objeto da produção mecanizada.
Essa divisão da produção na manufatura se dá de modo especializado, pois precisa de
um órgão específico para uma função específica e de contínua adequação entre o processo de
produção e o trabalhador. Com o processo de produção mecanizada isso se reverte, pois com a
evolução da fábrica impera a continuidade dos processos particulares, tornando-se um sistema
autômato sem precisar do homem no processo para produzir a matéria-prima. Funções essas
que ao longo do tempo somem, por isso o trabalho e profissões passam a ser descartáveis.
A fábrica a qual retrata Marx, nada tem a ver com a manufatura, em que o trabalhador é
sujeito, mas sim trata da fábrica automática, autocrata, compreendida pelo sistema fabril
moderno capitalista. Essa diferença é dada pela objetividade com que a produção ocorre, sem
interrupção, sob a qual o autômato mecânico emerge como sujeito e os operários estritamente
dependentes da matriz central. Com o desenvolvimento da ferramenta, a máquina não mais é
determinada pela limitação da força de trabalho humano. Do mesmo modo que a hierarquia de
operários especializados constituintes na manufatura, não se faz necessária, substituindo-se
por uma grande massa de operários na fábrica automática.
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O cerne em questão é a retomada da divisão de trabalho, cujo processo de trabalho se dá
de modo desarticulado, por cooperação simples. De um lado o operário principal manipula
máquinas especializadas e do outro seus auxiliares, que geralmente são crianças e pela
simplicidade do trabalho são facilmente substituídos por máquinas ou outras pessoas.
Portanto, são separados entre máquinas especializadas e massa de trabalhadores, distribuídos
em diversos departamentos, atuando em série em máquinas-ferramentas semelhantes.
Em função do sistema de maquinaria ser constituído de máquinas variadas, que atuam
conjuntamente no mesmo momento, alternando initerruptamente os trabalhadores para a
mesma função a fim de manter a atividade contínua, a divisão do trabalho na fábrica não parte
do trabalhador com sua relação funcional, conforme ocorria na manufatura e sim da máquina.
Emerge consequentemente uma classe diferenciada que se dedica ao conjunto da máquina e
que exige uma formação científica, tornando a divisão do trabalho simplesmente técnica. Essa
classe era incluída na Inglaterra como operário fabril. Entretanto, ainda persiste a divisão do
trabalho da manufatura, e esta posteriormente vem a ser utilizado pelo capital para a
exploração da força de trabalho. O homem deixa de ser especialista em manejar uma
ferramenta parcial e passa a ser expert em servir uma máquina parcial, tonando-se parte dela.
A fábrica passa a ser um meio de tortura, em que o trabalhador precisa se adequar ao
ritmo do movimento uniforme e contínuo do autômato, sobrecarregando o corpo humano e
com elevados índices de acidentes de trabalho com perda de membros. Uma vez que a
máquina não livra o trabalhador do trabalho, o amplifica, mas retira conteúdo de seu trabalho.
Dialeticamente Marx (1995) explica que há um embate do meio de trabalho, no decorrer do
trabalho com o trabalhador com o capital, retirando a sua força vital.
Há por parte do “patrão” a retirada do trabalhador como sujeito e uma alteração
profunda de seu papel, em lugar da Ciência, das forças da Natureza e do próprio sistema de
máquinas que corporifica o trabalho social. A divisão do trabalho, através da sujeição técnica
do operário, passa a incluir trabalhadores de ambos os sexos e idades, surge à figura
disciplinadora do supervisor vinculado aos trabalhadores manuais, como também os soldados
rasos da indústria e os suboficiais da indústria.
O código fabril torna-se objeto autocrático do capitalista e passa a regular a relação
social do trabalho, através de penalidades pecuniárias e de salário, definindo as condições
trabalhistas. Substanciado pelo legislativo, expressa que ocorre uma relação contratual de
livre espontânea vontade exercida pelo trabalhador, e que por isso deve cumpri-la. Marx
(1995) compara a esta forma social de trabalho ao trabalho escravo.
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Os efeitos nefastos dessa condição material do trabalho fabril, ao qual justamente
Fourier chama de prisões brandas, são incomensuráveis, os sentidos do trabalhador são
lesados e com frequência são mutilados nas máquinas, com um número significativo de
acidentes. Destarte, o capital em seu sistema de fábricas, deteriora as condições do ambiente
de trabalho, se apropria da Natureza, do homem e da jurisprudência para atender aos seus
interesses e manter seu modo de reprodução.
Marx (1995) compreende que a reprodução é inerente ao processo social de produção
capitalista, um processo contínuo, de repetição de fases, baseado na relação produção e
consumo. Descreve a força de trabalho como elemento chave desse contexto, pois é através da
compra dos meios de trabalho que o capital consegue manter o mesmo nível de produção e de
reprodução, no qual gera mercadoria, mais-valia e principalmente a própria relação capital.
Deste modo, explica que tanto o consumo individual, quanto o consumo produtivo vão servir
para aumentar o capital global, pois ambos são explorados pelo capital.
Sintetiza que há na reprodução simples uma produção e reprodução da relação do
capital, baseado na concepção do trabalhador como um produto do capital antes mesmo dele
ser comprado, ou seja, a relação entre a classe capitalista e trabalhador assalariado. Este
último produzido e reproduzido para atender aos interesses do capital. A reprodução simples é
resultante de um processo de reprodução do modo de produção social capitalista – que separa
o produto do trabalho do próprio trabalhador – tem por força motriz o uso da força de
trabalho, que emerge como meio para produzir e reproduzir o valor adiantado como capital.
Essa força retroalimenta esse modo de produção a partir de seu consumo, seja ele como parte
do consumo produtivo, seja como consumo individual, tornando-os meios de produção.
Quando adota a forma de consumo produtivo a força de trabalho é usada pelo capital a
partir do valor adiantado como capital para dar início à produção, tornando o trabalhador
refém da classe capitalista, pois seu valor e a mais-valia produzida de seu trabalho só são
pagos quando as mesmas viram mercadorias. Quando adota a forma de consumo individual,
passa a ser baseado na “jornada de trabalho”, sendo todo e qualquer consumo extra, definido
como consumo impróprio para o capital. Esse consumo individual é sustentado pelo capital
variável – fundo de trabalho. Dialeticamente é o próprio trabalhador que produz e reproduz a
mais-valia e o fundo de trabalho, e só consegue ser sustentado por ele, por que é através do
mesmo que cria o capital, “a constante manutenção e reprodução da classe trabalhadora
permanece a condição constante para a reprodução do capital” (MARX, 1995 p.205).
A reprodução simples que ora era tida pelo viés da mais valia como renda que provém
do capital, ganha novos contornos. O dinheiro, pelo qual o salário é materializado, encobre a
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real transação entre a classe trabalhista e a classe trabalhadora, sua força de trabalho como
parte de uma mercadoria, produzida e reproduzida revertendo-se em mais valor para o capital.
Marx (1995) explica que a reprodução simples, até mesmo aquela que emergiu de uma
acumulação primitiva, acaba transformando todo capital em mais-valia capitalizada, de
trabalho alheio não pago. Deste modo o trabalhador deixa de ter os meios para produzir a sua
riqueza, pois seu trabalho já esta alienado desde o início do processo. É o próprio resultado de
seu trabalho, o capital, que passa a ser coercitivo ao trabalhador, pois transforma o mesmo em
assalariado, uma reprodução do trabalhador, o alicerce que sustenta a produção capitalista.
O processo de modernização pelo qual passou a fábrica salta de um modelo subjetivo do
meio de trabalho na manufatura, que utiliza a força humana e a rotina empírica, para a
objetividade da indústria que emprega recursos naturais e faz aplicação consciente das
ciências da natureza. Essa modificação na relação sociedade-natureza se dá pelas as alterações
energéticas e o alto valor dado a elas vinculado à expressão monetária. Uma ruptura espacial
da indústria em relação à matéria-prima, oriunda da revolução técnica, exigindo novas
relações de poder, capaz de transformar a sociedade e o ambiente ao mesmo tempo. Essa
alteração na relação de produção possibilita o distanciamento físico de sua matéria prima,
principalmente pelo desenvolvimento dos meios de transporte, permitindo uma divisão social
do trabalho e a conformação da mundialização do capital.
A Revolução Industrial gera uma nova etapa na mundialização da economia, aumenta a
produtividade, a menor custo, diminui o preço dos produtos, eleva à capacidade de consumo,
criando a base para expansão dos mercados. Ainda, apropria-se da força de trabalho do
homem e cria a divisão internacional do trabalho. Isso é decorrente do domínio da Natureza e
seus recursos e pelo desenvolvimento dos transportes que ajudou a interligar regiões.
No século XIX, a Inglaterra e sua produção industrial mecanizada se expandem aos
demais países promovendo a especialização produtiva dos mesmos, bem como, o uso de suas
próprias colônias e ex-colônias, como mercados para os excedentes gerados. A economia
ainda produz uma conexão internacional incipiente. Destarte, Barbosa (2012) afirma que a
integração dos mercados é de interesse dos capitalistas, o que fez surgir na Segunda
Revolução Industrial, a padronização dos estilos de consumo e de vida e as marcas globais.
É a criação da oligopolização dos mercados que oferece as condições político-
econômicas para empreender a expansão do capitalismo. Uma intensidade de volume de
matéria e de trocas em nível global. A partir do final do Séc. XIX a Natureza passa a ser
submetida à logica mercantil e a noção de um tempo uniforme e abstrato.
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2. Os períodos Fordistas e Pós-fordista, o modelo taylorismo/fordismo versus toyotismo
A segunda revolução industrial compreende o período do Capitalismo de Estado
Fossilista Fordista (PORTO-GONÇALVES, 2006), de 1930 aos anos de 1960-70, com efeitos
até hoje. Impregnou a ideia de um capitalismo popular e impôs um consumismo, sem
considerar os limites das matérias-primas e de absorção de seus rejeitos, mesmo havendo
conhecimento sobre o assunto.
No período entre guerras, há um recuo da internacionalização dos mercados pela
restrição dos fluxos de comércio e de capitais, delimitando as fronteiras geográficas,
sobretudo pela crise de 1929, que dilacerou o sistema monetário internacional, um alto grau
de desemprego e uma onda de desconfiança internacional, que levou os países a restruturação
de suas economias nacionais. Porto-Gonçalves (2006) enfatiza que A crise de 1929 deu maior
importância política ao Estado, quanto à questão distributiva no capitalismo.
Um novo avanço ocorre após segunda guerra mundial, incitado por dois fatores, a
produção e o consumo em massa. Isso fez inserir novos hábitos de consumo de produtos
industrializados e um intenso processo de restruturação produtiva, para além das fronteiras
dos países, incluindo os países periféricos. A partir de 1945 adentram-se nos anos dourados
do Capitalismo de Estado Fordista, emergindo a sociedade de consumo de massas.
Em meio a esse processo surge o modelo fordista criado por Henry Ford em 1914,
voltado para produção em massa, baseado em linha de produção nas fábricas. É conhecido
como a segunda fase da Revolução Industrial e ocorre nos Estados Unidos. Fundamentado em
uma racionalidade instrumental da produção capitalista, enfoca em questões de inovações
técnicas e organizacionais, que resultam em uma produção e consumo em massa. Suas
transformações produtivas se dão a partir de processos de trabalho semiautomatizados, linhas
de montagem, sem uma maior necessidade de qualificação do trabalhador, pois este realizava
apenas uma etapa da produção. Esse novo modelo se articula ao modo de produção taylorista,
quanto às questões de padronização e simplificação. O taylorismo desenvolveu a divisão do
trabalho e a especialização do operário, com o desenho de cargos e tarefas, tudo isso baseado
em métodos científicos para reduzir os custos.
O modelo fordista além de criar a produção em massa, institui o processo de
verticalização, na qual a empresa vai produzir desde a extração da matéria-prima até a
comercialização do produto. Desenvolvendo-se assim as grandes empresas, implicando
relações entre distintas regiões. Todavia esse enfoque tinha uma grande rigidez em sua
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produção, exigindo novas formas de fabricação, que atendesse as mudanças pelas quais a
sociedade mundial passava na década de 1970, principalmente pelos efeitos da crise do
petróleo e a entrada de competidores japoneses no mercado mundial.
Antunes (1999, p.36) vai conceber o período fordista como:
Expressão dominante do sistema produtivo e do seu respectivo processo de trabalho, que
vigorou na grande indústria, ao longo praticamente de todo século XX, sobretudo a partir
da segunda década, baseava-se na produção em massa de mercadorias, que se estruturava
a partir de uma produção mais homogeneizada e enormemente verticalizada.
Deve se entender o período fordista como um regime de acumulação vinculado a modos
específicos de produção capitalista e de regulação do consumo social. Pois é desigual a
relação entre produção e consumo, haja vista que a mão de obra, o capital variável nas
fábricas é minimizado em favor de uma crescente produtividade, não havendo, portanto um
desenvolvimento econômico equilibrado. Um maior equilíbrio passa a ocorrer entre os anos
de 1945 e 1960 com a atuação de mecanismos institucionais, como sindicados e acordos
coletivos. Após este período houve uma diminuição no processo de acumulação e uma
redução nos direitos trabalhistas conquistados, incidindo negativamente sobre o consumo.
A terceira Revolução Industrial situa-se no período definido pela Globalização
Neoliberal ou Período Técnico-Científico-Informacional no final dos anos de 1960 conforme
explicita Mello e Silva (2006). A globalização assume as características mundiais segundo
Barbosa (2012) a partir da década de 1970 e com maior ênfase nos anos de 1980 e 1990 com
o surgimento das grandes cadeias globais e da desvinculação do dólar em relação ao ouro. O
marketing e a publicidade são seus principais aliados, pois passa a ampliar a troca desses
produtos em menor escala de tempo. A maior parte das trocas internacionais é feita entre os
países desenvolvidos. Assim, o colonialismo e o imperialismo nesse período não deixam de
existir, mas exibem nova roupagem, através da política. Barbosa (2012) incita a romper com
esse padrão de pensamento eurocêntrico, com a ideia de desenvolvimento via industrialização
incutida nos países subdesenvolvidos no contexto de globalização.
O primeiro a aspecto do processo de globalização é a inserção da maioria dos países aos
fluxos de comércio e de capitais da economia internacional. O segundo aspecto é a expansão
internacional do capital financeiro, uma articulação entre os mercados em geral. Agregado a
isso, o neoliberalismo emerge como uma nova ideologia política, o que justificaria a abertura
de mercado das economias nacionais e estímulos à privatização.
Para as empresas as novas tecnologias abrem espaço para atuação em rede, de modo
mais flexível e com maior ajuste a novos cenários, impactando todas as dimensões
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supracitadas. Por isso, não pode ser restrita a internacionalização dos mercados somente, pois
é um fenômeno complexo, com mudanças rápidas e profundas, impossibilitando prever
cenários econômicos, pois apresenta crises contínuas.
A revolução tecnológica oferece um mundo sem fronteiras, mas com o viés neoliberal,
atrelado a livre circulação de bens e mercadorias e não do homem, além da redução das
hierarquias e expansão do processo de descentralização, a fim de fragilizar o poder do Estado,
através de um Estado mínimo, que age em seu favor. Uma flexibilização em todos os
sentidos, ancorada na mídia.
Essas novas tecnologias e as transformações produtivas desse período tem por base o
surgimento no final da década de 1950 do modelo toyotista de produção. Este modelo
revoluciona o processo de produtivo, pois sua proposta é substituir o paradigma da linha de
montagem, de produção não diversificada para produção diversificada, e alterar as condições
ambientais do posto de trabalho. Esse novo enfoque mais flexível é baseado em uma produção
enxuta, denominada como just in time, em que não há estoque, se produz o que vende, ou
seja, se adequa a realidade da empresa à demanda.
O formato celular é sua principal mudança produtiva. Caracteriza-se pela capacidade
flexível, sua organização em “ilhas” de produção, apta a fazer diferentes artigos num mesmo
dia. A célula é definida como “um conjunto de operações necessárias e relacionadas
estreitamente ao tipo de máquina e a um tempo e um ritmo sincronizados em função de uma
sequencia de operações a montante e a jusante” (MELLO e SILVA, 2007, p.75).
Essas mudanças estão assentadas no que descreve Santos (1996) como o aspecto
técnico-científico-informacional, com a união entre a ciência e a técnica voltada para o
mercado global, entendido aqui produção capitalista. Em que a produção passa a ocorrer em
determinados espaços cada vez mais restritos e a circulação, distribuição e consumo passam a
demandar espaços, incitando a uma especialização produtiva.
As transformações vinculadas à flexibilização nas relações de trabalho decorrentes da
reestruturação produtiva, engendrada pós-crise fordista com a intensificação do
neoliberalismo, tem apresentado efeitos contraproducentes na consciência de classe. Assim,
Mello e Silva (2006) procura mostrar que o poder da organização sobre o trabalho adquire
uma feição menos imposta e mais autoimposta. Baseado em estudos de caso das fábricas de
confecções e automobilística brasileira assinala que não há uma nova ordem conforme
preconiza o modelo toyotista, mas uma hibridização entre o novo e velho paradigma.
Destarte, os elementos centrais do antigo modelo taylorista e fordista ainda persiste uma
racionalidade instrumental, a exemplo do tempo imposto, que assume uma nova roupagem,
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traduzido pela polivalência, autonomia e intensificação do formato célula, amplificando as
condições perversas do modelo anterior. Bem como, a relação salarial, agravada pela sua
porção variável composta pelos prêmios de produtividade e de qualidade, ditam o ritmo e a
ordem da célula, mantendo as condições extremas de exploração do capital. Essas condições
ficam mascaradas pelo autocontrole do grupo, refletido, portanto, como uma “ordem”,
configurando-se no modelo autoimposto supracitado.
O modelo celular já existe no Brasil desde 1990. Caracteriza-se pela capacidade
flexível, sua organização em “ilhas” de produção, apta a fazer diferentes artigos num mesmo
dia. Baseado em uma produção grupal suprime a figura do mediador, o que lhe parece
conferir uma maior autonomia. É justamente com a quebra desse principal elo de dominação e
de poder nas relações de trabalho, através do “enxugamento” no nível da produção direta, que
se desmancha a consciência de classe.
De acordo com Mello e Silva (2007) o ramo de confecção segue o modelo japonês, o
toyotismo do Just Time. O ramo de automobilismo adota em parte o modelo sueco, tem
ênfase em tarefas mais automatizadas, que lhe permite realizar pausas e uma maior autonomia
do grupo para executar as operações, apresentando uma maior influência sindical. Observa-se
que no Brasil a modernização da base produtiva não acompanha a modernização das relações
de trabalho, pois acirra a desintegração do movimento operário, que mantém a relação
conflituosa entre direitos sociais e os direitos individuais trabalhistas.
A ideia de autocontrole das tarefas engendrada no modelo célula não resulta em
autonomia nem na diminuição da exploração da força de trabalho via extração da mais-valia,
mas sim como um novo enfoque de controle do capital através do autocontrole. A proposta do
atual modelo é substituir o paradigma da linha de montagem, de produção não diversificada
para produção diversificada, e alterar as condições ambientais do posto de trabalho.
Entretanto, nos casos analisados verifica-se que há uma forma híbrida que se utiliza das
características dos dois modelos, a ênfase na produtividade, que passa a ser de modo contínuo
com a flexibilização das funções, e o enfoque na qualidade, internalizado na produção sem
defeito. Todas as atividades passam a ser controladas pelo próprio operário.
Diversas são as consequências do novo paradigma. A necessidade de qualificação
assume a função de articular uma tarefa a outra, uma ruptura entre o modelo de célula e linha,
mas que ao mesmo tempo vincula o trabalhador a habilidades específicas e o torna
dependente ao posto de trabalho, consequentemente da máquina. Decorrente disso há uma
resistência a mudanças, próprio do modelo tayloriano. Um paradoxo em relação à proposta de
flexibilidade do novo paradigma celular.
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A indeterminação da produção em função da demanda ocasiona uma maior pressão
psicológica. Pressão essa que é “atenuada” pelas premiações, outro recurso do velho
paradigma. A exigência de premiações, com base em metas para se atingir ganhos variáveis
de salário – salário tarefa evidencia o processo de taylorização do trabalho em grupo. Além
disso, acirra a competividade no plano individual, pois é o próprio trabalhador a controlar a
qualidade e o contingente no posto de trabalho, de modo reflexivo impõe limites para si e para
os outros, tendo que refletir em produção sem defeito. Portanto, Mello e Silva (2007, p.71-72)
chama atenção para o “deslocamento entre formação de salários e identificação da
subordinação como um fato que está necessariamente associado”. Tem-se, portanto, de um
lado um sistema individual e do outro um sistema coletivo de trabalho. Em função dessa
variação salarial o prêmio passa a ter um importante significado, sendo concebido como
“norma”. Portanto, o salário-tarefa é que orienta o pensamento da organização de trabalho.
Na célula exige-se uma atuação polivalente para trabalhar no grupo, decorrente
principalmente da falta de mão-de-obra e como forma também de diminuir os efeitos
causados à saúde pelo trabalho repetitivo. Porém, o efeito é reverso, pois ocorre uma maior
intensificação, repetição do trabalho, sem uma necessidade na qualificação. A polivalência é
considerada por muitos funcionários uma situação extremamente desgastante, principalmente
por essa significar apenas uma adição de tarefas e a sociabilidade ensejada não reflete
autonomia produtiva do trabalhador. Em um dos casos analisados houve uma extrema
racionalização da economia de trabalho, com redução pela metade do número de funcionários,
passam a produzir através da rotação de tarefas a mesma quantidade de peças. O sindicato
passa a não exercer a sua função de classe, atende uma parcela mínima de trabalhadores e que
buscam apenas garantir aumento de salário.
A “célula” vai priorizar de modo soberano o padrão, a gestão pelo grupo, excluindo
todos demais em desacordo, o que não se enquadra em uma democracia, já que é excludente e
os resultados são sempre desiguais. Esse novo modelo altera em escala e em profundidade
variáveis, espaço do trabalho. Há uma relação de subordinação com a postura grupal. A ideia
e o anseio de classe passam a ser traduzidos para um sentimento de pertencimento à célula,
pelo trabalho reflexivo da própria célula, bem diferente da ideia de representação de classe,
pela autorrepresentação dos trabalhadores enquanto uma unicidade grupal.
O modelo atual diferencia a relação de trabalho e cidadania pela subtração de tempo
para si, este definido por regras do grupo, a exemplo do banco de horas, que ficam latentes
nos acordos coletivos. A crise dos paradigmas recai sobre as esferas do conflito público ou
privado e do modo como emergem os sentimentos de justiça e piedade, considerados entraves
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à ação sindical. Assim sendo, a individualização das relações de trabalho escamoteia a
representação de classe dos trabalhadores. Um novo fato social, “onde a carga moral se
apossa dos sujeitos, bem como de novos objetos” (MELLO e SILVA 2007, p.23).
Deste modo, propõe que a individualização seja analisada como resultado da bancarrota
das solidariedades presentes no antigo modelo. Entender essa reconfiguração do modelo é
essencial, sobretudo quanto à questão do enfraquecimento da consciência de classe, do papel
do sindicato, mais precisamente da recombinação entre o particular e o coletivo. Essa
solidariedade se perde, pois acaba sendo explorada pela empresa, principalmente quando
surgem empresas multi ou transnacionais, que não têm maiores vínculos com o espaço. Do
mesmo jeito se depara com o cidadão, que também perde suas raízes locais quando passa a se
identificar com as marcas globais em detrimento das empresas nacionais.
Assim não há uma nova ordem, pois a presença da produtividade, com base no modelo
taylorista e do tempo imposto, traduzido pela polivalência, autonomia e intensificação no
formato célula mantém as condições perversas do modelo anterior. Os estudos fornecem
alguns indícios sobre o modelo de flexibilidade produtiva e a indeterminação da atual fase do
capitalismo. A convivência entre a célula e o método taylorista, com aplicação parcial da
relação salarial fordista, mas que denota uma fragilização da relação de trabalho, que está
assentada na produtividade. E como eixo central para manutenção da exploração capitalista, o
autocontrole do grupo, que com ilusão de soberania fragmenta a experiência de classe.
Esse modelo coloca o trabalhador em uma situação de controle, já que não estabelecem
posicionamento ativo, pois apenas recebem informação. Essa subjugação tem o próprio
trabalhador como seu porta voz, pois executa a informação, como uma ordem, uma
“arquitetura de poder”. Este mecanismo de controle do grupo funciona como o principal
aliado para a reprodução do circuito de acumulação flexível no domínio da fábrica, não
refletindo, portanto, em mudança social.
3. A conformação e o desenvolvimento do complexo regional têxtil em Santa Catarina
A indústria têxtil conformou-se como pioneira no processo de industrialização
brasileira. Monteiro Filha e Corrêa (2002) destacam que as raízes da fabricação de produtos
têxteis no Brasil precedem a chegada dos portugueses. No período de 1500 a 1844 a indústria
têxtil era incipiente e começa a ter seu período de implantação a partir de 1844 e vai até 1913.
14
Assim, é no Séc. XIX que a indústria têxtil se molda. Em 1844 é criada a primeira
política protecionista brasileira, com a elevação para a média de 30% as tarifas alfandegárias,
refletindo em protestos de diversas nações europeias. Em 1864, o Brasil já apresentava uma
base forte de cultura algodoeira, grande mão de obra e mercado consumidor em expansão.
Desde esse período já possui influência os efeitos das guerras no desenvolvimento de sua
indústria, sendo nesse contexto a Guerra Civil dos Estados Unidos e do Paraguai elementos
estratégicos para o seu avanço. Além disso, a derrocada do período escravocrata propiciou
capital, com base em uma acumulação primitiva, capaz de impulsionar essa indústria.
Essas indústrias tendiam a se instalar nas cidades, em função da infraestrutura existente,
baseadas em fatores de localização da produção vinculadas com a mão de obra e o
componente energético. Furtado (1972) descreve a concentração da distribuição geográfica
estimada das fábricas brasileiras de tecidos nos Estados da Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e
Minas Gerais, com destaque a Região Sudeste, com crescimento mais acentuado.
O marco do desenvolvimento da indústria têxtil em Santa Catarina é 1880, quando foi
fundada em Blumenau a Cia. Hering e a empresa Karsten dois anos depois. A Renaux se
instala em Brusque em 1892. Diversas outras empresas surgiram em Blumenau, se
expandindo para Joinville, Brusque e demais regiões do Estado (RENAUX-HERING, 1987).
Os períodos de guerra, entre guerra e da crise de 1929 foram favoráveis para indústria
têxtil de Santa Catarina que amplia a sua atuação no mercado nacional: Rio de Janeiro, São
Paulo e Rio Grande do Sul. As alterações do modo de produção fordista se mostraram
presentes, com as empresas passando a englobar todo processo de produção. Entre 1913 e
1947 inúmeras fábricas surgiram, com destaque para Teka, Sufabril, Artex, dentre outras que
ajudaram a consolidar o complexo têxtil industrial catarinense, atraídos pelo dinamismo,
especialização técnica que tornou essa atividade pujante (LUCLKTENBERG, 2004).
Theis et al (2006) situa a formação de Sistemas Produtivos Regionais (SPR) que
expressam a estrutura regional de Santa Catarina, sendo estes classificados em:
a. SPR centrais são organizações produtivas territorializadas, que apresentam forte meio
urbano-tecnológico-financeiro; a estes se atribuem funções de direção no processo de
trabalho e na valorização do capital; nestes se verificam geração e uso intensivo de
tecnologias avançadas, o que os caracteriza como de acumulação autocentrada.
b. SPR intermediários são espaços econômicos urbanizados que apresentam uma
densidade de força de trabalho qualificada, nos quais tem lugar uma fabricação elaborada.
c. SPR periféricos são espaços pouco urbanizados que apresentam reservas de mão-de-
obra não qualificada, usualmente de origem rural, empregados em atividades de
montagem desqualificada. (THEIS, 2006, apud THEIS et al, 2014, p.43).
Correlacionando com as microrregiões catarinenses, as SPR distribuem-se com a
seguinte configuração:
15
SPR centrais - Blumenau, Joinville e Florianópolis; SPR intermediárias - Campos de
Lages, Canoinhas, Chapecó, Concórdia, Criciúma, Itajaí, Joaçaba, São Bento do Sul e
Tubarão. SPR periféricos - Araranguá, Curitibanos, Rio do Sul, São Miguel D’Oeste,
Tijucas, Xanxerê, Ituporanga e Tabuleiro. (THEIS et al, 2014, p.44, grifo do autor).
As microrregiões de Ituporanga, Tabuleiro, Rio do Sul, Tubarão, Criciúma e
Araranguá têm na confecção de artigos de vestuário e acessórios o subsetor em que
concentram uma das atividades com maior número de geração de empregos. No entanto, é na
Mesorregião do Vale do Itajaí que se concentram o subsetor têxtil e o vestuário na economia
catarinense, mais precisamente na Microrregião de Blumenau, abarcando maior parte da
geração de empregos formais, mais de 50%, vinculados com o subsetor da indústria têxtil,
seguida da confecção de artigos do vestuário e acessórios (THEIS et al, 2014, p.34-36).
Explicam que as 20 microrregiões constitui um conjunto de espaços econômicos poucos
inovativos, em que pese às atividades econômicas mais dinâmicas dessas microrregiões
localizam-se próximo as universidades.
Na década de 1980 a SPR de Blumenau apresentava característica verticalizada, com
vistas a obter maior autonomia, principalmente de matéria prima e máquinas. Entretanto, com
o desenvolvimento do transporte esses elementos passaram a ser problemáticos. Nesse
período, segundo Theis et al (2001, p.221) houve o fortalecimento da indústria têxtil nessa
microrregião, assentadas em unidades produtivas de porte médio e grande, expressando o
padrão de desenvolvimento regional e maior urbanização das cidades da região, esses dois
últimos fatores correlacionados com a “forditização do espaço socioeconômico regional”.
Com abertura comercial na década de 1980 sem o protecionismo no subsetor, as
indústrias têxteis passaram a ter que lidar com a forte concorrência dos produtos importados,
principalmente dos “tigres asiáticos”. Com isso, tiveram que focar no mercado interno, mais
adiante na modernização e expansão da capacidade produtiva. Isso significou a concentração
dos investimentos na aquisição de máquinas e equipamentos, chegando a mais de 60%. O que
levou a microrregião de Blumenau a padrão mundial de produção, em que pese ser intensivo
em capital mais no início do processo produtivo e mais intensivo em mão de obra no final
(THEIS et al, 2014, p.62 apud CAMPOS; NICOLAU, CÁRIO, 2000). Incitam que os postos
de trabalho com menor valor agregado (intensivos em mão de obra) são pertencentes ao final
da cadeia produtiva e os mesmos, foram deslocados para municípios do entorno. Isso decorre
de vantagens fiscais dos municípios vizinhos e redução de custos de mão de obra.
As políticas macroeconômicas brasileiras sob a reestruturação capitalista que
provocaram a desvalorização cambial nos anos de 1990 tiveram efeitos nefastos na indústria
16
nacional. Inicia-se com o governo de Fernando Collor em 1990 a 1992, com a abertura de
mercado e financeira, desfavorecendo a produção nacional e gerando desemprego. Esses
efeitos foram agravados pelos programas neoliberais no Brasil no governo de Fernando
Henrique Cardoso em 1995, que vinculava a estabilidade monetária com a sobrevalorização
cambial e altas taxas de juros, resultando no crescimento das importações e na diminuição da
competitividade do produto brasileiro no mercado internacional, perdurando até 1999. Essa
necessidade de se manter competitivo no mercado internacional fez com que as empresas
nacionais adentrassem no processo de restruturação.
Theis et al (2014) explica que houve, portanto um processo de reestruturação
produtiva fundamentado na inserção de novas tecnologias no processo produtivo e na
precarização das relações de trabalho. Isso significou:
A redução do quadro de funcionários, a terceirização do processo produtivo, e a migração
de parte da estrutura produtiva para outros municípios da microrregião, ou outras regiões
do país, em que se encontrassem incentivos fiscais e/ou menores custos de produção”
(THEIS et al, p.71).
Na década de 1990 o subsetor têxtil brasileiro apresenta profundas mudanças em
função das políticas macroeconômicas do País, vinculadas com abertura da economia
capitalista globalizada, com efeitos negativos nas SPR. Esse impacto foi mais evidente na
estrutura produtiva da SPR Blumenau, acarretando necessidades de ajustes, com redução do
nível de emprego (THEIS et al, 2014, p. 61). Agregado a grande concentração de empresas
têxteis gerou uma série de efeitos negativos, dentre eles:
a. Estrutura produtiva regional quase monoindustrial, elevada vulnerabilidade devido à
baixa diversificação da atividade produtiva; b. renovação lenta do maquinário das
empresas têxteis; c. migração de indústrias têxteis tradicionais da microrregião de
Blumenau para outras regiões do país que ofereciam mão de obra a custos menores; d.
perda de importância da indústria têxtil regional no mercado nacional devido à
concorrência exacerbada pela abertura às importações. Na crise dos anos 1990 verificou-
se uma estagnação da economia regional. Houve nova queda considerável no nível de
emprego na microrregião, dessa vez ocasionada pelos movimentos de terceirização de
parte da cadeia produtiva e pela crescente preocupação com competitividade dos bens
produzidos localmente frente aos produtos importados. (THEIS et al, 2014, p.62).
Jinkings (2002) analisa esse período, em que ocorre a restruturação produtiva e o
emprego aplicado à indústria têxtil catarinense. Observa que as mudanças na política
macroeconômica brasileira na década de 1990, orientada numa perspectiva neoliberal,
ocasionou a abertura de mercado interno ao capital mundializado, com sérias consequências
para a indústria brasileira, provocando alterações no processo produtivo das empresas. Dentre
17
essas alterações estão mudanças tecnológicas, de gestão e na estrutura organizacional, como
forma de se ajustar ao processo de liberalização e desregulamentação da economia.
Em seu estudo Jinkings (2002) vai analisar as inovações das empresas do subsetor têxtil
de Santa Catarina diante de tais alterações e sua repercussão no mercado de trabalho e nas
condições de existência dos trabalhadores. Explica que a existência de precarização do
emprego e de intensificação do trabalho se dá em função do processo de modernização
tecnológica e flexibilização do processo produtivo. Expõe a transformação do perfil do
profissional têxtil, a propagação do modelo de terceirização e o trabalho realizado a domicílio,
estas formas as estratégias empresariais aplicadas para reduzir os custos diante a
competividade em que foram lançados com a abertura de mercado.
A instabilidade é a tônica do processo de restruturação produtiva, que tem o enfoque na
qualidade total e no desenvolvimento de novas habilidades e de qualificação. Agregado a isso,
tem-se a remuneração variável, que provoca o medo de perder o emprego, o que faz com que
o trabalhador se sujeite a uma extensa jornada de trabalho, com elevada carga de tarefas e
condições de subemprego. O trabalhador passa a ter que operar mais máquinas, ao mesmo
tempo e com maior intensidade. O papel do sindicato fica restrito, pois não conseguem conter
os efeitos nocivos aos operários produzidos pelo processo de restruturação produtiva, sem
respostas diante de tais processos. Jinkings (2002) vincula a elementos culturais germânicos e
as questões como desemprego, precarização e informalidade do mercado de trabalho essa
apatia da força sindical. Entretanto, isso se relaciona como uma defensiva do capital têxtil.
Antunes (1997, p.79) já previa tal situação: “Com o aumento do fosso entre operários
estáveis e precários, parciais, reduz-se fortemente o poder dos sindicatos, historicamente
vinculados aos primeiros e, incapazes, até o presente, de incorporar os subsetores não
estáveis”. Isso significa que era preciso enfraquecer os trabalhadores e seus sindicatos.
No âmbito regional de Santa Catarina vê-se o crescimento das pequenas empresas, num
cenário heterogêneo no qual coexistem pequenas, médias e grandes empresas. As grandes
empresas são dotadas de inovações e tem maior flexibilidade para alterar sua estrutura
organizacional e manterem-se competitivas, às micro e pequenas empresas funcionam como
parte do novo arranjo verticalizado das grandes indústrias têxteis, a fim de enxugar a força de
trabalho, compondo a estrutura de terceirização agregada a restruturação produtiva.
Jinkings (2002) sinaliza que não se pode falar em desindustrialização na década de 1990
no subsetor têxtil em âmbito nacional, mas numa relocalização do mesmo, situando-se na
região Nordeste. Entretanto, em Santa Catarina não há o processo de relocalização industrial,
18
mas a migração das unidades das grandes indústrias para outras regiões do Estado catarinense,
por conta de incentivos fiscais e de mão de obra mais barata.
Verificam-se os reflexos da reestruturação do complexo industrial têxtil no sistema
produtivo de Blumenau, a fim de inserir-se na concorrência internacionalizada, adota medidas
de maior racionalização da administração fabril e da produção. (THEIS et al, 2014, p.22). A
questão da desterrritorialização das indústrias têxtil em Santa Catarina, com a mudança das
unidades de produção para municípios menores sem tradição e infraestrutura. Isso ocorre
pelas facilitações das condicionantes ambientais, fiscais, de mão de obra barata.
Deste modo, a restruturação produtiva gerou processos de terceirização,
subcontratação e processos de quarterização. A forte sensibilidade as politicas cambiais e
fiscais, com desemprego conjuntural, foi atenuado pela relocalização destas em municípios
com 50 km de distancia de Blumenau, evitando uma recessão econômica.
Em nível organizacional ocorreu uma redução da estrutura hierárquica, excluindo as
chefias intermediárias a fim de reduzir custos e facilitar a tomada de decisões e operações. Foi
atribuído “maior poder” aos trabalhadores, com a inserção do modelo celular, em que atuam
através de grupos interdependentes e com relações horizontalizadas. As empresas passam
adotar a politica de premiação. Agregado a isso, ocorre à supressão das tarefas manuais em
lugar do uso de maquinário automático de alta produtividade, dependendo, portanto de mão
de obra especializada (THEIS et al, 2014, p.97). Envolve ainda mudança na produção, que
passa a ser personalizada (customizada) em detrimento da produção em massa. Deste modo,
pode-se falar em ruptura do modelo fordista.
Theis et al (2004, p.103) analisam os processos de desterritorialização e
reterritorialização, afirmam que os mesmos resultaram em diminuição de custos, a ampliação
do número de micro e pequenas empresas, o uso de métodos de subcontratação e
terceirização, resultando em aumento de renda per capita e da produtividade total do setor.
Jinkings (2002) cita como mudança no perfil do trabalhador têxtil catarinense, uma
demanda maior por trabalhadores escolarizados. Persiste ainda a diferenciação salarial por
gênero e sua inexpressividade em cargos de chefia e de mobilidade interna. Os dados do
Caged e da Rais demonstram segundo a autora que “os salários estão mais baixos, a
escolaridade é mais alta, os trabalhadores mais jovens e, cada vez mais, as mulheres ganham
participação neste mercado de trabalho exigente e precarizado” (JINKINGS, 2002, p.103).
Em sua análise sugere que está ocorrendo um distanciamento entre o trabalho qualificado
masculino e trabalho desqualificado feminino.
19
A partir de 1999 com a desvalorização do Real, novas contratações no subsetor têxtil
alavancaram os postos de trabalho. Jinkings (2002) revela que o efeito das políticas
macroeconômicas do País na geração de desemprego é maior do que o desemprego vinculado
a inovações tecnológicas ou organizacionais. A localização das indústrias têxteis em Santa
Cataria apresenta uma concentração maior na Mesorregião do Vale do Itajaí e Norte, com
aumento do número de empresas nas Mesorregiões Serrana, Sul e Oeste Catarinense. No que
tange aos empregos, há uma diminuição do mesmo na Mesorregião do Vale do Itajaí em
relação às demais mesorregiões que apresentam aumento do número de empregos. Entretanto,
permanece a relação de maior número de empregados por empresa na Mesorregião Norte,
podendo essa ser mais intensiva em mão de obra, presente também na Mesorregião do Vale
do Itajaí, isso pode estar vinculado com a presença de empresas de médio e grande porte.
Tabela 1 – Montante das empresas e empregos no subsetor têxtil por mesorregião
Mesorregião
2008 2009 2010 2011 2012 2013
Empre-sas
Empre-gos
Empre-sas
Empre-gos
Empre-sas
Empre-gos
Empre-sas
Empre-gos
Empre-sas
Empre-gos
Empre-sas
Empre-gos
Oeste
Catarinense 86 1.502 95 1.672 114 1.913 124 1.888 116 1.831 120 1.862
Norte
Catarinense 220 12.133 220 13.082 234 14.143 237 13.746 239 14.146 236 14.458
Serrana 11 189 16 247 16 272 19 308 25 374 25 488
Vale do Itajaí 1.143 41.081 1.192 40.579 1.252 41.781 1.253 39.132 1.247 36.948 1.268 39.595
Grande
Florianópolis 91 994 93 1.141 87 1.238 86 1.057 88 1.184 86 1.435
Sul
Catarinense 164 2.349 171 2.514 175 2.756 182 2.858 185 2.935 186 3.124
Total 1.715 58.248 1.787 59.235 1.878 62.103 1.901 58.989 1.900 57.418 1.921 60.962
Fonte: Elaboração própria com base em dados da RAIS/MTE, 2015.
Quando analisado o subsetor de confecção de artigos do vestuário e acessórios a
concentração ainda permanece nas Mesorregiões supracitadas, mas com expressividade
também nas Mesorregiões Sul e Oeste Catarinense e crescimento significativo do número de
de empresas e empregos em todas as Mesorregiões.
Tabela 2 – Montante das empresas e empregos no subsetor confecção de artigos do
vestuário e acessórios por mesorregião
Mesorregião 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Empre
-sas
Empre
-gos
Empre
-sas
Empre
-gos
Empre
-sas
Empre
-gos
Empre
-sas
Empre
-gos
Empre
-sas
Empre
-gos
Empre
-sas
Empre
-gos
Oeste
Catarinense 404 4.948 422 5.167 450 5.646 464 5.774 464 5.606 463 5.997
Norte
Catarinense 716 19.061 738 20.674 808 22.114 850 21.443 887 17.454 956 21.852
Serrana 84 779 86 902 96 1.394 89 1.417 100 1.384 107 1.504
Vale do Itajaí 3.866 53.343 4.049 56.830 4.347 60.395 4.592 59.613 4.653 61.811 4.861 60.921
Grande
Florianópolis 321 2.676 328 2.686 350 2.978 371 3.019 396 3.009 398 3.409
Sul
Catarinense 1.185 15.352 1.249 16.468 1.335 18.194 1.435 19.179 1.453 19.561 1.517 19.806
Total 6.576 96.159 6.872 102.727 7.386 110.721 7.801 110.445 7.953 108.825 8.302 1 13.489
Fonte: Elaboração própria com base em dados da RAIS/MTE, 2015.
20
Os dados apresentam um crescimento no número de indústria têxtil e de vestuário
entre 2008 e 2013, que pode ser verificado tanto na tabela 3, quanto na tabela 4. Esse
crescimento ocorreu de modo mais acentuado entre as microempresas, as pequenas empresas
e as médias empresas. Isso pode significar também o processo de desverticalização, com
algumas atividades não mais ocorrendo dentro da grande indústria.
A participação desses dois subsetores é expressiva na economia Catarinense
representando quase um quinto de toda a produção industrial, mantendo o aumento dessa
produção ao longo do período analisado. De outro modo há um decréscimo no número de
exportações, isso pode ter relação com processos de relocalização e pode estar vinculado com
processos de desverticalização, pois a arrecadação de ICMS aumenta ao longo do tempo.
Tabela 3 - Perfil das indústrias têxtil e de vestuário de Santa Catarina - 2007/2013 Indicadores /Ano 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Nº de Indústria têxtil e vestuário 6.850 7.266 8.321 8,659 9.264 9.264* 9.702
Trabalhadores em mil 131,0 139,7 155,0 162,0 172,8 172,8* 169,4
Valor da Transformação Industrial
de SC em %
15,3 15,2 16,0 16,2 18,7 21,4 17,7
Exportações de SC em % 5,8 4,2 3,2 2,7 2,5 1,9 1,9
Exportação em US$ 344,0 314,0 263,0 176,0 190,0 176,0 172,0
% do ICMS estadual 5,0 5,7 5,1 6,9 6,8 6,9 6,7
* Esses dados são referentes ao ano de 2010.
Dados FIESC 2007-2013.
Tabela 4 - Número de empresas, por atividade e tamanho - SC, 2005/ 2011 Ano Têxtil Confecção de art. do vestuário e acessórios
Micro Peq. Méd. Gr. Total Micro Peq. Méd. Gr. Total
2005 1.179 254 67 22 1.522 4.520 712 87 9 5.328
2006 1.285 280 74 23 1.662 4.748 752 92 12 5.604
2008 1.497 292 94 23 1.906 5.508 794 99 14 6.415
2009 1.399 279 88 21 1.787 5.854 882 120 16 6.872
2010 1.480 285 93 20 1.878 6.274 970 125 17 7.386
2011 1.519 268 93 21 1.901 6.678 983 124 16 7.801
Fonte: FIESC.
Quando analisada a relação entre número de estabelecimentos e número de
trabalhadores observa-se na tabela 5 que há uma relação mais equivalente no subsetor de
vestuário e acessórios do que no subsetor têxtil. Mudanças em aspectos estruturais
organizacionais de redução do número de trabalhadores, terceirização, processos de
automação podem estar vinculadas com esse crescimento de estabelecimentos sem uma
correlação direta em aumento no número de trabalhadores principalmente nas grandes
indústrias que possuem uma maior capacidade de inovação. Segundo a tabela 6 as grandes
empresas apresentam índices maiores de redução de trabalhadores. Mesmo assim, seria
preciso uma análise vis a vis das indústrias têxteis para compreender melhor essas alterações.
21
Tabela 5 - Nº de estabelecimentos e trabalhadores na fabricação de produtos têxteis e
de vestuário em SC - 2005 /2011 Ano Têxtil Confecção de art. do vestuário e acessórios
Nº de
estabelecimentos
Nº de
trabalhadores
Nº de
estabelecimentos Nº de
trabalhadores
2005 1.179 55.034 5.328 76.096
2006 1.662 58.499 5.604 81.255
2008 1.906 65.356 6.415 89.524
2009 1.787 59.235 6.872 102.727
2010 1.878 62.103 7.386 110.721
2011 1.901 58.989 7.801 110.445
Fonte: FIESC.
Tabela 6 - Número de trabalhadores por tamanho do estabelecimento 2005 /2011 Ano Têxtil Confecção de art. do vestuário e acessórios
Micro Peq. Méd. Gran. Total Micro Peq. Méd. Gran. Total
2005 5.776 10.652 14.344 24.262 55.034 21.318 27.251 16.990 10.477 76.096
2006 6.549 12.039 15.525 24.386 58.499 23.064 28.966 16.583 12.642 81.255
2008 7.407 12.476 19.954 25.519 65.356 26.660 30.857 17.945 14.062 89.524
2009 6.773 12.013 18.230 22.219 59.235 28.207 33.727 22.760 18.033 102.727
2010 7.285 12.114 20.569 22.135 62.103 30.548 37.315 23.610 19.248 110.721
2011 7.347 11.596 19.191 20.855 58.989 31.112 38.016 22.990 18.327 110.445
Fonte: FIESC.
A capacidade produtiva da indústria têxtil e de vestuário entre 2006 e 2007 apresentou
um período de menor produtividade que a média geral do Brasil conforme apresenta a tabela
7. A partir de 2008, observa-se uma melhoria nos índices, com uma média melhor que a
brasileira, excetuando-se o ano de 2011 para indústria têxtil e o ano de 2008 para indústria de
confecção. Cabe destacar o fechamento da Fábrica de Tecidos Carlos Renaux em 2013, com
mais de 230 demissões (GLOBO, 2013) que apresentava crise de longo tempo. Do mesmo modo,
a Fábrica Teka que encontra-se em situação grave.
Tabela 7 - Comportamento da produção física industrial - SC, 2006/ 2012 Ano Variação de percentual têxtil Variação de percentual vestuário e acessórios
SC Brasil SC Brasil
2006 -0,54 1,54 -10,03 -5,11
2007 2,22 3,82 1,24 5,1
2008 -0,75 -1,90 2,00 3,18
2009 -3,86 -6,39 -2,80 -7,88
2010 4,56 4,33 6,53 7,17
2011 -17,8 -14,9 6,8 -4,4
2012 0,9 -4,2 -8,7 -10,4
Fonte: FIESC.
A perda da utilização da capacidade instalada da indústria do vestuário pode está
relacionada com o aumento do numero de empresas, oferecendo uma maior competitividade.
No subsetor têxtil o crescimento que passou a ocorrer a partir dos anos de 2007 teve uma
22
diminuição significativa nos anos de 2011 e 2012, ver tabela 8. Essa retração é confirmada
pelo consumo de energia elétrica que em ambos os subsetores apresentam uma diminuição da
participação no total industrial do Estado de Santa Catarina.
Tabela 8 – Utilização da capacidade instalada têxtil e de vestuário - SC, 2006/ 2012 Ano Capacidade instalada percentual
médio anual indústria têxtil
Capacidade instalada percentual médio
indústria vestuário e acessórios
2005 78,51 77,01
2006 80,06 77,32
2007 86,21 75,03
2008 87,81 75,39
2009 85,27 77,26
2010 87,20 76,00
2011 81,07 74,77
2012 80,00 73,50
Fonte: FIESC.
As exportações segundo a tabela 9 diminuíram ao longo dos anos, principalmente no
ano de 2008, 2009, 2011 e 2012 no subsetor têxtil. O que pode estar vinculado com as crises
na economia mundial e a emergência da China no mercado mundial. No caso do subsetor de
vestuário os anos de 2009 e 2012 foram mais críticos, mas a crise foi menos acentuada ao
longo do período. O faturamento médio mensal da indústria no subsetor têxtil não obteve uma
perda tão significativa quanto à sua produtividade, ver tabela 10. No caso do subsetor de
vestuário o faturamento médio mensal de 2012 foi quase 60% superior do que o de 2006.
Tabela 9 - Exportações catarinenses por capítulos da NCM na indústria têxtil e de
vestuário - SC, 2006/ 2012 Têxtil Confecção de art. do vestuário e acessórios
Ano VALOR
(US$ FOB)
Variação (%) %do total
industrial
VALOR
(US$ FOB)
Variação (%) %do total
industrial
2006 154.547.890 -18,23 2,58 83.405.357 -13,72 1,39
2007 135.008.587 -12,64 1,83 71.923.677 -13,77 0,97
2008 105.782.849 -21,65 1,28 61.976.081 -13,83 0,75
2009 73.053.486 -30,90 1,14 36.528.782 -40,41 0,57
2010 67.997.530 -6,92 0,90 41.239.154 12,89 0,54
2011 25.216.182 -25,87 2,35 23.297.303 -2,08 2,17
2012 17.149.532 -31,99 1,79 18.230.183 -21,75 1,91
Fonte: FIESC.
Tabela 10 - Faturamento médio mensal da indústria - SC, 2006/ 2012 Ano Têxtil
R$ mil/correntes mês
Confecção de art. do vestuário e acessórios
R$ mil/correntes mês
2006 161.263,61 98.313,26
2007 160.843,38 98.236,75
2008 175.619,63 107.643,51
2009 172.891,72 122.214,31
2010 170.020,84 127.535,23
2011 160.259,18 150.111,09
2012 154.360,62 158.040,75
Fonte: FIESC.
23
A crise na produtividade em 2011 sinalizada na tabela 6 corrobora com o saldo negativo
de -3,151 da relação entre aqueles que foram admitidos e os que foram demitidos descritos na
tabela 11. É significativa a relação entre pessoal demitido, sugerindo, portanto pode ter havido
fechamento ou enxugamento de empresas em 2011. É importante assinalar que esses dados
não oferecem informações detalhadas do comportamento do emprego nos dois subsetores, que
conforme análise da evolução do ganho médio salarial na tabela 12 já sinaliza
comportamentos distintos, propõe-se verificar esses dados mais adiante em outro estudo.
A remuneração média salarial teve um maior crescimento entre o subsetor vestuário
ultrapassando em 2012 o salário da indústria têxtil, ver tabela 12. Questiona-se se ouve
alteração no perfil do trabalhador, conforme foi supracitado por JINKINGS (2002), com
diminuição dos profissionais qualificados.
Tabela 11 - Comportamento do emprego na indústria têxtil e de vestuário 2006 /2012 Ano Admitido Demitido Saldo Variação % por ano
2006 69.092 62.066 7.026 5,38
2007 81.009 72.997 8.012 5,76
2008 86.600 83.452 3.148 2,12
2009 88.268 81.847 6.421 4,11
2010 103.004 94.260 8.744 5,38
2011 94.717 97.868 -3.151 -1,81
2012 96.644 93.868 2776 1,63
Fonte: FIESC.
Tabela 12 - Remuneração média salarial do trabalhador
Ano Têxtil
R$ correntes
Confecção de art. do vestuário e
acessórios R$ correntes
2006 1.129,46 933,54
2007 1.115,99 1.059,12
2008 1.230,01 1.130,62
2009 1.305,57 1.208,55
2010 1.412,64 1.353,70
2011 1.472,58 1.426,85
2012 1.562,55 1.759,29
Fonte: FIESC.
Considerações Finais
Destarte, o neoliberalismo busca incutir a ideia de um mundo sem fronteiras, a fim de
situar as transformações produtivas, vinculadas com as mudanças organizacionais e de
produção como algo necessário para o desenvolvimento regional.
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Os dados coletados e analisados oferecem alguns elementos para situar essas
alterações, mas que carecem de uma análise mais detalhada dos fatores do emprego
relacionados ao gênero, escolaridade, estratificação da faixa salarial, dentre outros aspectos
que não foram observados pela limitação dos dados secundários encontrados. Propõe-se
avançar nessa direção.
No âmbito regional há uma grande concentração dessas atividades industriais na
região do Vale do Itajaí, sendo este o maior polo têxtil e do vestuário do Estado de Santa
Catarina. A análise desses subsetores em âmbito estadual nos revela que há um crescimento
de micro, pequenas e médias indústrias no subsetor têxtil, o que pode estar relacionado com
processos de desverticalização, aspecto a ser aprofundado. E no subsetor de vestuário há uma
expansão das empresas em todos os portes. Observa-se uma diminuição das exportações e
uma ativação maior no mercado interno, observada pelo aumento da arrecadação do ICMS
que vem crescendo. Bem como, o aumento dos estabelecimentos que não acompanha o
mesmo ritmo do número de trabalhadores no subsetor têxtil, voltando à hipótese de
enxugamento e/ou processo de automação, sobretudo se comparado que há aumento da
utilização da capacidade ao longo do tempo. No subsetor de vestuário essa relação se dá de
modo mais equitativo, o que pode estar relacionado a uma atividade menos automatizada.
No comportamento do emprego, em 2011 há uma demissão significativa, necessitando
de um maior detalhamento com os processos de fechamento e enxugamento nas empresas.
Um aspecto relevante é o crescimento da média salarial no subsetor de vestuário,
ultrapassando os ganhos na indústria têxtil. Isso carece um maior detalhamento, para saber se
há um distanciamento entre os níveis hierárquicos da organização, com pessoal com menor
qualificação, exercendo atividades com menos complexidade. Os aspectos das condições e
precarização do trabalho que tanto são pertinentes como parte do novo padrão de acumulação
não puderam ser observados diante de dados pouco detalhados. Do mesmo modo que análise
temporal ficou comprometida e será ampliada em análise futura.
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trabalho. São Paulo. Boitempo Editorial, 1999.
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Brasil. 2ª Edição São Paulo: Boitempo, 2002. (Coleção Mundo do Trabalho).
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25
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Complexo Têxtil. BNDES, 2002.
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Letras, 2007.
JINKINGS, Isabella. Reestruturação Produtiva e Emprego na Indústria Têxtil
Catarinense. Dissertação de Mestrado em Sociologia Política da UFSC, 2002. 112f.
LUCLKTEMBERG, Isabela Albertina Barreiros. A indústria têxtil Catarinense e o Caso da
Cia. Hering. Dissertação de (Mestrado em Geografia), Universidade Estadual Paulista.
Presidente Prudente: [S.N.], 2004. 261f.
MARX, K. Reprodução do simples. In: O Capital: crítica da economia política (vol.2) Trad.
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PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. A globalização da natureza e a natureza da
globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. p.11-58
RENAUX-HERING, Maria Luiza. Colonização e Indústria no Vale do Itajaí: O Modelo
Catarinense de Desenvolvimento. Blumenau: Editora FURB. 1987.
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OLIVEIRA, Francisco de; RISEK, Cibele Saliba. (Orgs.) A era da Indeterminação. São
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THEIS, Ivo Marcos. (Org). Desenvolvimento local/regional na periferia do Capitalismo
mundializado: estudos de caso em Santa Catarina. Blumenau: Edifurb, 2014.