ubu rei ed peixoto
TRANSCRIPT
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 1/91
, i ) "SaoMartinho
LEI DE[NCENTIVOACULTURA
MINISTERIODACULTURA
M
FABER-CASTELL
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 3/91
Colecao O s g ra n de s d ra m a tu rg o s
Volume 19, l ' edicao
Sao Paulo, 2007
T,TULO ORIGINAl.
Ubu roi
© Copyright da traducao da Editora Peixoto Nero, 2007, para a edic;:ao
ern qualquer midia impressa ou eletronica, Para a finalidade de encenacao
ou para qualquer obra audiovisual, os direitos pertencem ao tradutor,
ED1TOR
Joao Baptista Peixoto Neto
COORJ )ENADORA OA cow;Ao
. Silvana Garcia
CONsm:rORA
Maria Thereza Vargas
PE SQUISADORE S F. ASSIST E NT F_5E 01T OR l A l S
Fabiana Lopes Bernardino
Pedro PenafielTRADUTOR
Sergio Flaksman
PREFACIAOORA
Silvia Fernandes
REDATORES
Fabiana Lopes Bernardino
Oficina Editorial
R .VISORA DA TRADU<;A0
Suiang Guerreiro de Oliveira
REVlSORAS
Adriana Soares de Souza (Oficina Editorial)
Milse ConteClaudia Cantarin
PRJ))ETO G" (HCO
Eduardo Quintanilha Faustino (Ofidna Editorial)
C A P A
Eduardo Quintanilha Faustino (Oficina Editorial)
EDITORA<;AO
Oficina Editorial
G E R £ NT E D E D I S TI U B UI c :, :l I .O E V E N D AS
Valdemir Batista de Anunciacao
PA TRO CINA D ORES
'tEJ IL
Canatiba
, ; ; "Siio Martinho
LEI DElNCENTIVOACULTIJRA
AFABER-CASTELL
MINISTERIODACULTURA
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 4/91
Foro DA CAPi\
Cad. Rosser em Ub u, F ol ia s P by si ca s, P at ap by si ca s e M u si ca es , de Alfred ]aflY,
Teatro do Ornitorrinco, 1985
Foto de joao Caldas
Arquivo Multimcios I Divisao de Pesquisas - Centro Cultural Sao Paulo,
[SBN DO LlVRO: 978-85-88069-24-4
[SBN VA COLEc;AO: 85-88069-03-2
DADOS INTERNAC10NAlS DE CATALOGA<,:AO NA PUBL lCAc;AO (C lP )
(Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Jarry, Alfred, 1873-1907,
Ubu rei I Alfred Jarry; traducao Sergio Flaksman, - Ia ed.
- Sao Paulo: Peixoto Neto, 2007. (Os grandes dramaturgos; 19)
Titulo original: Ubu roi
ISBN 85-88069·03·2 (COLE c;AO COMP I . ETA)
ISBN 978·85·88069-24·4
L Teatro frances LTitulo. II. Serie,
06-8149 CDD-842
fndice para caralogo sistematico:
L Teatro: Literatura francesa 842
Tod o s o s d i re ir os d e st a cdh ;:ao e s ta o r e sc r vado s a
Editora Peixoto Neto Ltda.Rua Teodoro Sampaio 1765, cj. 44, Pinheiros
05405c 1SO Sao Paulo, Sp, Brasil
tel, (11) 3063-9040 fax3064-9056
www.peixotoneto.com.br
SuMARIO
PREFACIO
Alfred Jarry
UBU REI
Discurso de Alfred Jarry
Outra apresentacao de U bu re i
Figurinos
Dedicatoria
Personagens
Primeiro ato
Segundo ato
Terceiro ato
Quarto ato
Quinto ato
11
29
33
37
41
43
4567
87
117
143
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 5/91
PREFAcIO
DOSSIE ALFRED lARRY
Cronologia da vida do autor 167
Principais obras do autor 173
Sugest6es de leitura 175
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 6/91
ALFRED lARRY
SILVIA FERNANDES
Ubu rei, do dramaturgo frances Alfred Jarry (1873-1907),
e uma obra precursora de algumas das linhagens teatrais mais
significativas do seculo XX , como 0Dadaismo, 0Surrealismo,
o Teatro do Absurdo e, rnais reeentemente, a performance.
Texto de diHcil classificacao, esse misto de par6dia, satira gro-
tesea e farsa obscena foi encenado pela prirneira vez em lOde
dezembro de 1896, pelo Theatre de l'Oeuvre de Paris, 0mais
importante reduto simbolista da epoca, dirigido pelo encena-
dor Aurelien Lugne- Poe.
E praticamente consenso entre os estudiosos do Simbo-
lisrno considerar a pec:,:ade Jarry apartada dos principios poeti-
cos do movimento, especialmente pelo vies ieonoclasta e pelo
tracado grotesco e caricatural4<l~_p~~~_2!?9:g~E.~.Mas tambem
$I P O ~ ! t i% ~ g ; i i r ; i · 4 m ; f ; ; i m i i . ~ ~ 4 h a . ,4 ~mmor, baseada na i n c Q n : -
gruencia.qas ..a.<;:6eserla.ineQereneia.da.s ..falas. dgprQtag9nis~a..C~~ 0 emprego desses recursos, Jarry opoe-se tanto a atmos-fera rarefeita do Simbolismo como a reproducao naturalista
da realidade, as duas tendencias mais fortes do teatro frances
da epoca, representadas pelo Oeuvre e pelo Theatre Libre, de
Andre Antoine.
Certos analistas, como John A. Henderson, acreditam
que Ubu rei seja uma pec:,:aseminal, por sua influencia deci-
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 7/91
12 Prefdcio
siva nas vanguardas historicas.' Outros, como Denis Bablet,
veem na obra a recusa total do teatro ilusionista e 0 triunfo da
convencao, gra<;:asa projecao de uma cena que e a parodia de
si mesma, e retorna as fontes do teatro para desintegra-las.? Ja
Robert Abirached considera 0textode JarryulP:<los-I2.!ecur::-~(}!esdoTeatrodoAl.>surd(),g;~<;:<lS ao humor avesso aski§ da
199i~a~4a,causalidade e a total derrisao dos pressupost()~~_£<1,.-
~~.iQ!Hlis,ue antecipam procedirnentos de dramaturgos corno
Eugene Ionesco, por exemplo. De fato, Jarry se aproxima do
autor de As cadeiras especialmente no poder anarquico de dis-
sociacao do riso, destinado a inverter a logica dos valores mais
caros a moral burguesa. Como observa 0 ensaista, em Ubu
rei, pela primeira vez na historia do teatro, 0 risoeJ!5.~.4.QJ?_~-
ra agredir e ofender os espectadores, em lugar deplls<:?~.~!:la
cumplicidadenacrfrica ..<llltna ...ersonagerrl aberrante."
Sem duvida, a figura do tirano anarquico e a personiti-
cacao dos instintos mais baixos e das qualidades anti-sociais
par excelencia, Assassino do rei da Polonia, usurpador do tro-
no, ditador que submete os suditos a s maiores atrocidades, nao
apresenta, entretanto, nenhum trace de verossirnilhanca que 0
aproxime de um ser humano real. Talvez 0proprio Jarry tenha
dado sua melhor definicao ao considera-lo "uma abstracao que
~nda". Pois Ubu nao e uma figura composta nos moldes tra-
dicionais, mas urna especie de sintese animada de rapacidade,
crueldade, estupidez, glutonaria, covardia e vulgaridade. E, no
decorrer da pec;:a,da usurpacao do trono ao exilio na Franca,
exibe traces dessas paix6es negativas quase em estado puro. E
1 HENDERSON, John A. The first auant-garde (1887-1894). Londrcs: George G.
Harrap &Co. , 1971, p . 126.
2 BABLET; Denis. La mise en scene contemporaine 1- 1887-1914. Paris: La Renais-
sance du Livre, 1968, p. 42.
3 AB1RACHED, Robert . "Une abs traction qui rnarche". In: La crise du person-
nage dans le thedtre moderne, Paris: Gallimard, p. 191.
Ubu rei 13
como se 0 dramaturgo depurasse e, em seguida, ampliasse os
perfis humanos mais perversos com uma lenre parodies, para
devolver ao espectador seu duplo monstruoso. E por essemoti-vo que Abirached tem razao ao afirmar que Jarry concebe a mi-
mese de forma inseparavel da parodia. De fato, 0cido Ubu, de,Paral ipomedes de U bu a U b u c or nu do (U b u cocu, 1897), incluin-
.do Ub u a co rr en ta d o ( U bu e nc ha in e, 1900), as variantes U bu so -
b re a ~c oli na ( Ub u s ur fa butte, 1901) e os subprodutos, como os
Alm anaques do P ai U bu (1899 a 1901), pode ser comparado a
uma rnaquinade deslocar as aparencias."
Para outroscrfticos, como Bert Cardullo, a criacao da perso-
nagem do tirano quase no principio do seculo XX foi profetica,
especialmente levando em conta que ele sobrevive a revolta na
Polonia grac;:asa sua selvageria, que pode ser comparada aos "mas-
sacres, genoddios e holocaustos das gerac;:6essubseqiientes"."
Maurice Nadeau manifesta opiniao sem~lhante quando
compara a figura de Ubu ao burgues de seu tempo, por sinte-
tizar traces como a covardia, a ferocidade,]o cinismo e 0 des-
dern pOI'todos os valares, 0 que 0 torna 0 "prorotipo de uma
classe de tiranos e parasitas". 6
Como seve, as leituras de U bu rei sao diversificadas. Con-
cebidas por varios analistas, assemelham-se, pela multiplicida-
de, a trajetoria de criacao da personagem, que perrnite pensar
em processos precursores da criacao coletiva no teatro. Na ver-
dade, 0 texto resulta da colaboracao entre estudantes do Liceu
de Rennes, dedicados a satirizar, em esquetes de crueldade
adolescentevumdetestado professordefisic:a, Felix Fregeric:
Hebert. Quando, em 1888, Alfred Jarry entra para o Iiceu, to-
ma conhecimento dos varies episodios de urn roteiro sucinto
4 ABlRACHED, Robert. Op. cit., p. 192.
5 CARDULLO, Bert e KNOPF, Robert (ed.). Theater of the avant-garde.1890-1950.
New Haven/Londres: YaleUniversity Press, 2001, p. 78.
6 NADEAU,Maurice. Historia do surrealismo. Sao Paulo: Perspectiva, 1985, p. 73.
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 8/91
14 Pre fac io
organizado pelos irmaos Morin a partir desses improvises. Na
epoca em que chega a Rennes, Charles Morin, 0mais veIho, ja
havia ido a Paris para cursar a Escola Politecnica, mas Henri,
o cacula, sera seu colega de curso e e quem lhe passa 0manus-
crito da peya. 0 jovem iconoclasts toma posse das cenas bre-ves e mal alinhavadas e acentua, com tray ado sucinto de car-
tunista, a figura detestavel do tirano, destinado a protagonizar
uma verdadeira gesta, narrada, mais tarde, no ciclo complete
de textos e almanaques, e comentada em manifestos teatra is.
Com 0 titulo de O s p o l o n e s e s , 0 roteiro inicial da futura
epopeia bufa mostra as aventuras crucis e anarquicas de Pai
Heb, corruptela do nome do professor, que, nessa fase de ela-
boracao, tambern aparece como P.H., Ebe, Ebon ou Ebouille .
Na primeira versao ja e evidente a parodia a Macbeth , de
Shakespeare, pois a personagem amoral usurpa 0 trono da
Polonia com 0 auxflio da mulher, a Mae Ubu, e se dedica a
toda serie de crimes e desmandos. 0pequeno texto foi re-
presentado diversas vezes na residencia dos irrnaos Morin, em
Rennes, pelo "Theatre des Phynances", ou seja, 0pequeno tea-
tro de marionetes de Jarry e Henri Morin.
Em 1891, ja estudante do Liceu Henri Iv; de Paris, e con-
vivendo com a nata da intelectualidade francesa, especialmen-
te 0 drculo simbolista, Jarry organiza, em sua casa, apresenta-
coes da pe<;aOspo li ed r os ( Le s Polyedres) ou O s c ornos d o P H (Les
com es du P H), que mais tarde se converteria em Ub u c or nu do
(U bu C ocu ). A partir dessas apresentacoes informais para urn
drculo Inrimo, em que se inclufam 0amigo Leon-Paul Fargue e
a escritora Rachilde, faz importantes revisoes no texto, ate che-
gar a uma formalizacao mais proxima da versao que estreia no
l'Oeuvre, com 0nome definit ive da personagem: Pai Ubu,
Na sequencia de transforrnacoes e adaptacoes que sofreu,
e evidente que 0roteiro inic ia l dos Morin foi assumindo as fei-
Ubu rei 15
s:aes de Jarry. 0 que nao impede que estudiosos do porte de
Henri Behar, importante teorico dos movimentos dadaista e
surrealista, refira-se aU_p u r ei como uma I'criacao coletivade
vari~sgeray6es de es~uclantesdeRennes:q~~~h-eg~~1~6~_COITl
t~da _a crueldade, _ail1g~nuidade,a~sple.l1clid<i insolencia e_0,poderde sub~~rsao da infanfii',·7
__De qualquer forma, a parodia tern 0trace inconfundivel
de seu autor. Eo primeiro objeto do deslocamento que opera e
o proprio teatro. 'fudo sc:P<iss(l_con:(_)~_e:-i~fllascle:f!l!,Y: sc:A_c:s-
dobrassem por meio de urn sistema interno dealusoes, citacoes,
alteraS:6esejogosde-imagem, em que _~_dramatllrgomobiliza
uma vasta memoria cultural para ~ubmete-la a criticamaisc:or:_-rosiva, seja por~lrnplifid~l~ ate 0 absurdo, seja pordenuncia-
lacomo forrn<iY<l:zia_.lern da referenciaa trama de Macb~th , 0
proprio titulo da peya prenuncia 0jogo anarquico que esta por
vir, evocando nada menos que E dip o r ei, de Sofocles,
De fato, reduzido a sua estrutura basica, U bu rei repro-
duz urn dos esquemas mais frequentes da. tragedia: 0 assalto
ao poder legitimo por um pretendente a coroa, a exposicao de
suas rnaquinacoes e seu triunfo por meio da asuicia e da forca,
Alern disso, uma leitura mais atenta mostra que 0 texto paro-
dia procedimentos familiares a composicao dramatics, imitan-
do as tecnicas basicas de exposicao e desenvolvimento. A acao
principia pouco antes do momenta decisive, uma serie de pe-
ripecias assegura a progressao constante, a catastrofe e a reso-
lucie da crise sao enfatizadas, e resultaram em urn final pro-
ximo do melodrama. Alern disso, Jarry [anca mao de todo urn
arsenal de recursos dignos de um cornpendio dramatico tradi-
cional. sonhos, aparicoes, mensageiros, deliberacoes, cornplos,
combates, nada falta a trama parodica, desenvolvida por meio
7 BEHAR, Henri. Sabre ei teatro dada y surrealista, Trad, Jose Escue. Barcelona:
BarraI, 1971, p. 34.
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 9/91
16 P re f acio
de diilogos, mon6logos, apartes lfricos e oratorios, sem esque-
cer as tiradas pseudofilosoficas, Para sad-las, Ubu recorre asua consciencia, que permanece fechada numa mala.
No orimo apontamento que faz das caracteristicas do tex-
to, Robert Abirached nao esquece de mencionar as brincadeirascolegiais, os Hertes com 0 vaudevi l le e a opera-bufa, as malicias
eruditas. Segundo 0teo rico frances, ao usar tais procedimentos,
Jarry explode a nocao de racionalidade e submete os elemen-
tos que mobiliza a uma proliferacao indiscriminada, que des-
troi os prindpios de causalidade e nao-contradicao, as estrutu-
ras de tempo e espa<;:o(a peca se passa na PoI6nia, ou seja, "em
lugar nenhum"), os imperativos da consciencia moral, as regras
imemoriais da vida em sociedade. Alem disso, unindo uma ce-
na a outra nao hi encadeamentos plausiveis, mas uma tecnica
inovadora de justaposicao e colagem, tipica das vanguardas, queressalta ainda mais 0 absurdo do comportamento rlaspersona-
gens, avessas a logica mais primaria, Para 0 analista, ao ressaltar
a avidez de Ubu, Jarry sublinha a forca irrepreensfvel dos instin-
tos, cuja unica jusrificariva sao as necessidades primarias do es-
tomago. Nao por acaso, cornegidouil le (cornupapanca) e a pala-
vra cunhada por Jarry para expressar as maiores Fontes de poder
de Ubu, os cornos e 0 ventre monstruoso, sede dos "apetites in-
, ) \ - 2 feriores". De fato, asdecisoesinsensatas, aSll1114~s:~_itl1p.!~yj-
:':.~ sfveis de atitude, os saltos repentinos de hll:lll_(?r,.~{)clQ§_g~_t:QQl-
\/ portamentos da personagern par~cemciitaciQspelos.q.psiC:~Qs
de uma energiaprimitiva,irrefrdvel, qllea condnza uma tra-
vessia delirante da histo~i~ e da geografia,ll1ar~ada pelQ.g!{)!es~o
e pela destruicio, No final da pe<;:a,apesar de vencido e destro-
nado, Ubu parece estar pronto para novas aventuras."
Umdos p~incipa~smeiosdc;pl'(Jv{)C::<l<;:~0.4<lp_es:aeo usa
particular que J~rr)' faz.~~pal~vras'.~?ll1. ()~ll1E~~g.~~4~·~~~
8 AfllRACH!'.D, Robert. Op. cit.
Ubu rei 17
xill1as absllr~as,. termos inventados e outros recursos que ins-
~~~~.~~-~~a esp~~ie de"p~imid';i;~l0 deliberado", um rumor
original que, em certo sentido, se aproxima das propostas de
Anronin Artaud para a cena da crueldade. Palotin (palotino),
por exemplo, e a montagem da palavra palatin (paladino) comi
palot (bocal), Outra violencia verbal e a sarcastica dis~~i~.ui<;:~o
de especialidades a certos objetos, como 0taffibor~dos-nobres,
que anuncia a chegada da nobreza, 0g<lncho-dos ...1(}~1'~~,4~~-
rinado a arrasta-los para(JaJ<;:ap~o,e, Ji l1ahnente,a fa,c;:t..dos-
nobres' llsadO,P<lra~xtermini-los. Um dos exemplos mais f~ -1l'l.O~~sa transforrnacao de vocabulos comuns em inusitados
e a corruptda da palavra "merda' (merde) , que sofre uma leve
distorcao para transforrnar-se em "merdra"c[~~;dr§). Nao por
acaso, essa e a~l2.!.im~alavra <lue Ubu pIOQ.unc:iano texto,
e sem duvida funciona como prenuncio da postura escatologi-ca e da truculencia cornica que acornpanharao a personagem
em todas as suas intervencoes, durante os cinco atos e as trin-
ta e tres cenas da pec_;:a.
Em geral, os crfticos costumam responsabilizar 0 inedi-
tismo do palavrao no palco pelo imenso escandalo que mar-
cou a estreiada pe<;:ano Nouveau Theatre, sede do l'Oeuvre
na epoca. De acordo com os relates, quando 0 ator Firmin
Gemier, inrerprete de Ubu, pronunciou 0 "merdre" inicial, foi
emudecido por quinze minutos ininterruptos de vaias e apu-
pos cornparaveis ao escandalo da primeira representacao de
Hernani , de Victor Hugo, em 1830, que marcou 0 infcio do
Romantismo nos palcos franceses. Sem saber como controlar 0
publico, 0celebrado ator do Odeon improvisa passos de danca
ate cair sentado na caixa do ponto, 0que faz a plateia rir e per-
mite que a apresentacao continue. Mas nao por muito tempo,
pois logo as vaias ressurgem corn maior intensidade. Na diver-
tida reconstituicao que faz do episodic, Roger Shattuck men-
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 10/91
18 Prefacio
ciona 0 pandernonio que se instalou no teatro, com os parti-
darios de larry aplaudindo deliranremente, enquanto os ad-
versarios assobiam e apupam, repetindo, desta vez sem 0 r, a
palavra de ordem de Ubu no palco." 0 critico menciona agres-
soes Hsicas no fosso da orquestra, espectadores em pe nas pol-tronas, punhos erguidos e expedientes desesperados de amigos
do autor, como Ferdinand Herold, que, nos bastidores, acen-
de as luzes da plateia para tentar conter os animos. Quanto
aos entices, ficaram divididos. De urn lado, contra a pes:a,
colocavam-se os mais tradicionais, como Henry Fouquier, do
Figaro , e Francisque Sarcey, do Temps, adepto rnais ferrenho
das "pecas bern-feitas", que nao suporrou assistir a representa-qao ate 0 finaL De outro, aplaudindo, 0 crftico Henry Bauer
do jornal l 'E cb o d e P a ri s, 0 escritor Edmond Rostand, sorrin-
do com indulgencia, e 0poeta simbolisra Stephane Mallarrne,
sentado calmamente, observando a "personagem prodigiosa"
a que se referiria em carta enderecada a larry na manha se-
guinte, ern que trata 0 drarnaturgo como urn "escultor sobrio
e dramatico", Quanto a Catulle Mendes, 0 influente arriculis-
ta do le Journal, elogia 0 esperaculo em crftica entusiasmada,
ern que destaca 0ripo criado pela "irnaginacao extravagante e
brutal de urn homern quase crianca' (Jarry tinha apenas vinte
e tres anos), uma "mascara infarne" cornposta de Polichinelo
e Punch, e destinada a tornar-se urna lenda popular. Tarnbern
estava presente na estreia 0jovem poeta ingles William Butler
Yeats, que registra suas irnpressoes sobre os atores, conside-
rando-os quase marionetes, e sobre a personagem principal,
"uma especie de rei que tern como cetro uma vassoura como
essas que se usam para limpar banheiros", A despeito do cho-
9 0 reluto que se segue, incluindoas opinioesdos crfticos,foi elaboradoa partir
do livro de Roger ShattuckLes primitifs de l'avant-garde, versao francesa de
The banquet years, traducao de Jean Borzice edicao da Flarnmarion, 1974,pp.228-31.
Uburei 19
que, e da pouca Huencia em frances, que deve ter prejudicado
sua compreensao do texto, Yeats condui as observacoes com-
parando os artistas simbolistas a criacao de larry:
Depois de Stephane Mallarme, depois de Paul Verlaine, depois
de Gustave Moreau, depois de Puvis de Chavannes, depois de "nossos proprios poemas, depois de rodas asnossas cores suris e
nosso ritmo hipersensfvel, depois de nossos tons pilidos mes-
clados de Conder, 0que ainda e possivel?Depois de nos, 0deus
selvagem.
Segundo Shattuck, 0 deus selvagem de Jarry inaugu-
rou 0 reino do terror na literatura dramatica. De certa for-
ma, Frantisek Deak, 0mais importante teorico contempora-
neo do Sirnbolismo teatral, concorda com Shattuck, ao refe-
rir-se a Ubu como uma figura de origem satanica, um repre-
sentante da violencia absoluta, feito sob medida para a terna-
tica apocaliptica da peya. Deak reforca suas opinioes recorren-
do a Cisar anticristo, texto do autor publicado em 1895, cujo
terceiro episodic - ° "Ato Terrestre" - e lima versao reduzi-
da de Ubu rei, editado um ana depois. No contexto da tra-
ma, Ubu e concebido como uma deforrnacao da natureza hu-
mana, um duplo terrestre do anticristo destinado a dominar
o mundo e submete-lo a seus instintos bestiais, De fato, a lei-
tura da peya comprova que 0 estranho efeito causado pela fi-
gura de Ubu nao e apenas comico, mas de alucinacao e pesa-delo. De acordo com Deale, esse trace ubuesco permite que se
considere larry 0 inventor de urn modelo de vanguarda basea-
do na compreensao do teatro como realizacao de visoes apoca-
lIpticas. E condui: "Esse modelo mostra que as preocupacoes
metaffsicas, rnfsticas e profeticas sao importantes para a defi-
. ~ d d d" Larucao a arte e vanguar a.
lODEAK,Frantisek. S ymbol i st t h ea t er . The Johns Hopkins University Press, 1993,
p.245.
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 11/91
20 PreHcio
S '-
~0)
0')
'0 '+-:~'
"t
No mesmo ensaio, Deak coloca em xeque 0motivo e a ex-
tensao do escandalo da estreia de Ubu r ei. Para 0 crftico, 0 publi-
co de convidados - intelectuais, arris tas, poetas, rrnisicos, ami-
gos - nao tinha motivos para se escandalizar de tal forma com
a palavra merdre , a despeito do ineditismo do palavrao nos pal-cos da epoca. Afirma, inclusive, amparado em rigorosas pesqui-
sas documentais, que encontrou poucas relerencias aos quinze
minutos de vaia mencionados por varies historiadores. De acor-
do com 0 ensafsta, os minutos lendarios teriam sido prolonga-
dos pela imaginacio climplice de Rachilde, que todos conside-
ravam fonte digna de credito, nao apenas por ser confidente e
amiga de Jarry, mas tarnbem por figurar com destaque no cfr-
culo Iiterario frances, alem de estar presente na polemica apre-
sentacao, 0fato e que 0 estudioso duvida da veracidade do re-
lato de Rachilde. Para Deale, 0 esdndalo de Ubu estaria mais li-gada a problemas esteticos que morais. As inovacoes formais da
encenacao do l'Oeuvre, pela prirneira vez conscienre de si mes-
rna no uso dos recursos abertamente teatrais e antiilusionisras
requeridos pelo texto de Jarry, seriam as grandes responsaveis
pela insurreicao dos espectadores. 0exercito representado ape-
nas porum s()ldado:os cavalos de papeli~ p~nql}g4Q§iQ~p~s.-
~ ? ~ ? - . ~ ~ ~ t : j j ; ~ r i a c : e l 1 a . ·a. g t I ~ i E ~ > ,. .~tY~~:~Q~s_~!II~~g_;!_dQ_dmw,que imita gest()~~<:<:::~_i~osd~l!l:<I!i2.l!~lt?§_~_r~J':Qrr~_<!m , L C : Q _ ! p _ _ - -
po~<;a()--~~~aIin~lsita~a,.~~~qua~~a c~da papel,o uso _~~_~as-c~~,:_~:i_~~~4!!~~_i~~t~ticose ~aoil~~i~~i~t~(~b~;-d~s pinto-
res Bonnard, Serusier:-Vuillard~Toiilouse:Lautrec, Ranson e do
proprio Jarry), os c~E!__~~~jQ4C:<l1!4()_(»)_1Ig<l_E_4<l_t_<;_~Q,tQ4g§~s§;ls
~01u(Q__~_g_punh~am:~seJrQnt9j_mente_a~sJ~!iC:<1~~<l_g<t_l_4::l,~p_9ca,
mesmo considerando as conquistas da cena simbolista.
A impressao de Deak e corroborada peIo relato de Firmin
Cemier sobre a turbulenta noite de estreia. 0tor afirma que
a hostilidade do publico comeqou, realmente, na cena que se
Ubu rei 21
desenrola na casamata das fortificacoes de Thorn (cena V, Ato
IV), quando Ubu vai visitar 0 capitao Bordadura, que man-
tern prisioneiro,
Para subsrituir a porta da prisao, urn ator per1!l~~_~eiltl_l?__P~~
~omo-bras:o -esq~~rdo esterurUIO~-Ell~oIoca"'{a a~~;lve elT l s.ll~_'~ l o c o m o ~ e J o s ; ~ -l lr r ia f ~ c h a d l l~ a . F a z i a0 ruldo, cric-crac, e gi-
; ; ~ i s e u h r a . ~ ( ) c o r n O - s e - a D r i S s f : a . p o r t a : N e s s e m ( ) m e n t 6 , s e mduvidap()ra~harque a brincadeira rinha ido longe demais, 0
publico cornecou a urr ar, a se enfurecer: de todo~ os [ados ,par-
tiarn gritos, injurias, vaias acompanhadas por diversos rufdos:
logo, sob mil formas, a protesto era de tal ordern que eu ~un-
ca vira nada comparavel . Aquilo ultrapassava tudo 0que minha
experiencia conhecia , E essa exper iencia eu havia adquir ido em
pes:as de vanguarda muito mal acolhidas.! '
Levando em conta essa serie de rupturas, e conhecendo 0
depoimento de Cemier, Deale condui que 0 esdndalo de Ubu
deveu-se menos a palavra merdre que a invencao de uma no-
va linguagem teatral,
Historicamente, a cnccnacao de Ubu rei, em combinacao com
os escritos teoricos de larry sobre a producao, resulta na rein-
vencao de urn ce rto tipo de teatralidade . larry rea firma a auto-
nornia do palco e a conecta a generos tearrais populares, mos-
trando uma nova direcao para 0 tearro de vangua rda. Esse ca -
minho do Simbol ismo para a nova teatral idade sera percorr ido,
posteriormente, por muiros encenadores do seculo XX, ent re os
quais Meyerhokl __Reinhardt.12
De fato, nao apenas a encenacao de Ubu, mas tarnbern os
manifestos e as cartas de Jarry sao a definicao e a ampliacao da
teatralidade do texto. As primeiras ideias para a cena ubues-
ca aparecem na carta que 0 dramaturgo endereca a Lugne- Poe
1 1 G EM lE R Firmin. "La creation d' Ubu Roi"~Ent!~j~!;\_te<![_i~<!<i~PQr~ogsr:Y..aI!?_:!!:,
publi~ada-;;;:,s:-c~ki~-;em:'fa~~no~e0b~~~d~iQ~I e reprod~zida em Theatre. Revue
P r i J g i u m m e , n? 7,Reims, Centre Dramatique National de Reims, 1980, P: 30.
12DEAK, Frantisek, O p. cit., p. 237.
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 12/91
22Prefacio
em 8 de janeiro de 1896, onze meses antes da estreia da pe<;:a,
em que apresenta seu texto ao diretor do 1'0euvre e lhe suge-
re diversas solucoes para a montagem. Lugne considera-as ex-
cessivamente radicals e s6 nao desiste do projeto por interfe-
rencia de Rachilde. Entre as sugestoes de larry, ja figuram, porexemplo, as mascaras para os atores e 0cavalo de pctpelao pre-
~~::t.~_P~~S~S:5:)(t~.Y~ucomo no antig~te~t~~-i~gIes", ';Ie~-de
outros detalhes que, segundo 0 dramaturgo, estao de acordo
com 0 espfrito da pe<;:a,pois pretende "fazer urn teatro de rna-
E.i()_fl~~~~"·utros recursos usados na ence~~i~-de iug~~~ p;~tambern aparecem na carta de larry, como 0ator que deve exi-
_biE_c~t~z~~ll~.P~!<:()indicando ... lllg<lr.cla-~~~Q,as~~n~s··cole-
!iyasI~prese~ta1asP9r~tn6~ic~ protagonista, alern do '~<l,~~_n-
~o'~~§R~c:i<l1aracada personagem, uma especie de musicalida-
~~.E!§£!~~gu:.~~Y~_4~~!iIlglli=!<l4~.4~tl}a~~. Quanto aos fi~-
rinos, larry exige 0minimo possfvel de corlocal ou hist6rica,
a fim de acentuar a impressao de algo eterno, para que 0 dra-
ma pare<;:a"rnais mise ravel e horrivel".
Os princfpios dramaturgicos e cenicos sao retomados e
ampliados no artigo teorico mars famoso do escritor, "Da inu-
til~ade _c!Q.l.e._atroO teatro~, publicado no Me rc ur e d e F ra nc e
em seternbro de 1896, com a dara intencao de preparar 0pu-
blico para a encenacao do I'Oeuvre. Dentre os prindpios re-
cidivos esta a_;JJi_!~~s:~()_cioeatro enqual1t()~~<l~~~()e:ll1eg~.!i-:'_~de~<=:~c:~~rno palco quaIcruerilp? A~~hl~~Qdexealidad~
Ainda que se ap-6i.eemceri:as pr~missas de auto res simbolistas,
como Maeterlinck, 0dramaturgo reabilita, contra eles, a auto-
nomia da teatralidade e sua liberacao das fun<;6es representa-
rivas. Tra ta:~e~E:i~~ip_:l!tl}~Il!.e.~_da_defesadoartifkiQ_e..g<l_£_®-
cepcao da personagem como uma mascara autonorna, libera-
A~5l~~:P!~t~~~()~];~Xe~ii~~[Q=q~ltm.ie;r]ll.i~i~q··~~~~:·p ~~'i;oJarryafirma, no mesmo ensaio, que so deve escrever para teatro
( _ " )
\))
J~
Ubu rei 23
quem consiga irnaginar uma personagem sern correspondente
na vida cotidiana, Essa personagem unica, abstrata, deve fun-
cionar como sfntese compTe~~d~difer~ntes caracteres e, por is-
so, osatores que [orem representa-la necessit~lT111sa~lllascara,
;Uem de adquirir "a voz do papel", para atingir rnais facilmen-'
te a completa illlpessoalid~~~,. AMm disso, para larry, eo prota-
'g;nl; t~cl~~~~ q~emdev eeterminar todo 0espetaculo, des-
de os antagonistas ate os cenarios, todos submetidos a seu clr-
culo de inlluencia e, se possfvel, criados a partir de princfpios
abstratos de construcao. 0 resultado da proposta, ousada pa-
ra a epoca, e que a personagem Ubu passa a gozar de autono-
mia, criando sua propria historia e seus adversaries por meio
de intrigas e peripecias que surgem e sedesfazem segundo seu
capricho. Para permitir que Ubu enfrente a armada polonesa,passe suas tropas em revista, atravesse a Livonia com seu seqtii-
to em fuga ou converse com sua consciencia, e suficiente, pa-
raJarry, criar uma contracena precaria e esquematica. que fun-
ciona apenas para aquela situacao, Como observa, com razao,
Abirached, Ubu escapa a s leis da vida humana exatamente por-
que seus moy~is de acao sao as necessidades primarias da hu-
manidade, levadas, entretanto, ao grau mais extremo. 0 medo,
o desejo e 0 instinto de conservacao em estado puro so podem
ser protagonizados por silhuetas estilizadas, atemporais, dispa-
ratadas, estereotipadas como as figuras da pe<;a.':~eE:~~_~~!~c~as
ou n~o por marionet~~,_e~sasp~rs{)~~geI1sC:()l?P<:Jr~<llT1::-~~<:;()lT1()
b;necos'manlp'uElclos porl1fi1a.tl}ag iIly~§iyel,.qu~os. <:()I1tr()l,~
com u r n fio:das·m:lfiofl~~es, ..tefi1osl1lovimentos trucados, 0
torn flauteadoeafeerica insellsibilidade." 13
Na noite seguint~ ~ primeira apresentacao da pec,:a,no dia
11 de dezembro de 1896, 0 publico frances assiste a ultima
apresentacao de U bu r ei no Theatre de l'Oeuvre, depois de ter
13AmRACllED, Robert. Op. cit., p_ 189_
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 13/91
24Pref':icio
ouvido uma palestra de larry apresentando a obra, em que re-
toma alguns pontos de seu manifesto.
o texto e remontado quase dez anos depois pelo mes-
mo Gemier, em 1908, epelo encenador Lugne-Poe, em 1922,
com acolhida fria no primeiro caso e fracasso no segundo. Noentanto, a rna recepcao nao diminuiu 0 entusiasmo dos sur-
realistas com 0 texto, Pois, nesse momento, a obra de larry e
objeto das primeiras recuperaqoes, especialmente par parte de
~dre Breton, urn de seus maio res defensores e divulgadores.
E bastante significativo que, pouco depois, em 1926, quando
Robert Aron, Antonin Artaud e Roger Vitrac decidem criar
uma nova companhia de teatro, resolvem batiza-la com 0no-
me de Alfred larry.
Nesse memento, a fama do excentrico escritor de Laval ja
e consideravel. Motto prematuramente aos 34 anos, em urnsanatorio de Paris, em meio a iniimeras privacoes, talvez larry
tenha sido urn dos primeiros representanres de uma das prati-
cas mais radicais das vanguardas do principia do seculo XX, ao
perrnitir que a criacao ficcional contaminasse sua vida, a pon-
to de referir-se a si mesmo, nas ultirnas cartas, como 0proprio
Ubu. Como observa Andre Breton, a partir de larry a dis t an-
cia entre arte e vida sera contestada, para terminar negada ern
__eus principios.
\ A excentricidade do attista era famosa nos cfrculos boe-
mios de Montmartre, que reconhecia a figura pequena, com
calcas apertadas em meias de ciclista, pedalando a inseparave]
biciclera pelas ruas do bairro, nao raro dedamando trechos de
suas peyas com voz de falsete e acento inconfundlvel, imitado
£.or Gemier na criacao original de Ubu. Nesse perfodo, larry
desen volve ~_pataphysica'''1lleto~odassolllyQ~s_ jrgggi!1arjas"
que aplica, simultaneamenn-, a vida e a dramaturgia, duas fa-
ces de uma mesma mascara. Urn "modo de desrazao razoavel" ,
Ubu rei 25
como define Shattuck, ou uma maneira de "descobrir ~~~!s
que regem~~_~:l{~~s:~~~,p~ra~JCP_Uc:a,rQ1TIliYel'~llPJ~!TIt;:g~~J"
deacordo-com larry, apataphysica e comparavel ao estado que
se produz no sonho. A verdade e que a aplicacao de seus prin-
dpios transforma a vida do dramaturgo em algo semelhante ,a uma ficcao teatral, que acaba par leva-lo ao abandono com-
pleto da realidade, ern favor de urn mundo de alucinacao. A
passagem e facilitada pela bebida e pelo consumo do absinto.e
do eter, que inicia logo apos a motte de sua mae, 0 que expli-
ca ern parte 0 estado de completo delirio em que termina seus
dias, quando abdica totalmente da propria personalidadepa-
ra transformar-se em urn outro, adotando urn comportamen-
to transgressor e autodestrutivo que Shattuck compara a ima-gem contrafeita de urn Fausto.
De qualquer forma, a simbiose entre arte ~v ida faz parte
deuma estrategia mais ampla de acao, iniciada pelas vanguar-
das, que coloca Alfred Jarry no centro de urn debate extrema-
mente conternporaneo, quando performers fazem de suas bio-
grafias Fonte de criacao, atenuando a mascara ficcional a pon-
to de, muitas vezes, colocarem em questao os proprios funda-
mentos do atode representar, par meio de recursos autobio-
graficos e insercoes do real nos processos ficcionais.
Ubu rei temuma carreira bem-sucedida nos palco§ 1 l _ _ l 0 -
demos -; -c~-~t~~p-or1neos. ]eanYila,;,-'_le;n -Louis Barraul],
Georges-Wilson epei:~!.$;<?ok, para citar os diretores mais fa-
mosos, 'encenaram a peS:?:_C<?lll,clapta<_;:i)es_supress6es, conti-
nuando a obra em progresso iniciada par larry. A montagem
de Brook estreou no Theatre du Bouffes du Nord, em Paris,
em 1977, com Andreas Katsulas no papel de Ubu e Michelle
Collison como Mae Ubu. Preservando sua simplicidade pro-
verbial, 0 diretor eliminou as mascaras e os figurinos, conser-
vando 0minima de elementos cenicos. A cena rnais cornen-
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 14/91
26 Preficio
tada pelos crfricos foi a do exercito russo, feita com bal6es de
J2,~~"olucao ingenua que d~~a-ip~~~'~-~~ri~~;'d~'j~~
fantil bastante apropriado a origem do texto. Brook conside-
ra a satira feroz e a caricatura grotesca de Ubu uma atualizacao
das tradicoes populares agressivas e primitivas, presentes, por
exemplo, no teatro elisabetano."
Em Sao Paulo, a prirneira montagem de Ubu rei foi cria-
da pelos alunos da Escola de Arte Dramatica (EAD) em 1958,
com traducao e direcao de Alfredo Mesquita. Em critica do es-
petaculo, Decio de Almeida Prado menciona as adapracoes do
diretor e observa que 0 trabalho, de modo geral, privou a peqa
de seu lado mais feroz e intransigente. Ainda, ve na montagem
cerro aspecro de brincadeira de estudantes e pergunta: "Ubu
rei, entre outras coisas, nao sera tarnbern essa inconseqiiencia
e essa irresponsabilidade?"15Sem duvida tambern e. Nao por acaso, uma das encena-
coes mais iconoclastas do texto foi realizada pelo grupo cario-
ca Asdnibal Trouxe 0Trombone, em 1976, e funcionou co-
mo preparacao para as futuras criacoes coletivas, especialmen-
te a rnais famosa delas, ' Ir a t e-me Ledo . E interessante constatar
a atracao que a peqa exerce sobre coletivos de teatro, que pare-
cern interessados em dar continuidade a critica corrosiva dos
alunos de Rennes, reescrevendo 0 roteiro para mirar alvos mats
proxirnos. Outra equipe paulista, 0 Teatro do Ornitorrinco,
em arividade ate hoje, montou Ubu rei em 1980, com direcao
e interpretacao de Cad Rosset, numa criacao memo ravel da
personagem Ubu, que unia as varias vers6es da peqa a propos-
tas de Eisenstein, especialmente a "montagem de atracoes",
Mats recentemente, em 1996, 0 grupo Sobrevento ence-
nou Ubu rei em cornemoracao conjunta dos cern anos do tex-
14BRoolC,Peter, 0t ea tr o e s e u e s pa f o. Petr6polis: Vozes, 1970, p. 67.
15PRADO,Declo deAlmeida. "Ubu rei". In: ' Ie a tr o em p r og r es so . Sao Paulo: Martins
Editora, 1964, p. Ill .
Ubu rei 27
to e da primeira decada de trabalho da equipe, estreando no
Teatro Sergio Porto, no Rio de Janeiro. Com cenografia de
Helio Eichbauer, a montagem unia 0 conceito de superrnario-
nete de Gordon Craig as propostas de Jarry e embaralhava os
limites entre0
teatro de atores e0
de bonecos.k:, apropriacoes recentes provam que Ubu rei continua
sua historia de transgress6es, ainda que seu protagonista te-
nha perdido rnuito do carater diabolico, graqas a competicaodesleal da cena contemporanea. De todo modo, a personagem
derrisoria ainda sobrevive no equilibrio precario entre a con-
vencao e seu duplo, preservando 0 "rnimetisrno invertido" das
mascaras universais.
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 15/91
DrSCURSO DE ALFRED lARRY
P ro nu nc ia do n a e str eia d e Ubu rei n o T h ea tr e d e l'O e uo re ,
d ia 10 de dezem bro de 1896,. e p ub lic ad o e m f oe -s im ile n o to mo
XX I de Vers et Prose (abril-maio-junbo de 1910).
Senhoras, senhores
Seria supertluo - alern do certo ridiculo de urn autor fa-
lar de sua propria pe~a - eu vir aqui preceder de algumas pala-
vras a encenacio de U bu re i, depois que pessoas mais notorias
ja se dignaram a dela falar, pelo que Ihes agrade<;:o,e, com des
todos os outros, os senhores Silvestre, Mendes, Scholl, Lorrain
e Bauer, se nao acreditasse que sua benevolencia tenha visto 0
ventre de Ubu mais replete de mais s imbolos satiricos do que
pudemos infla-lo para esta noire.
o swedenborgiano dr. Mises comparou excelenternen-
te as obras rudimentares as mais perfeitas, e os seres ernbrio-
narios aos mais completos, mostrando que aos primeiros fal-
tam todos os acidentes, protuberancias e qualidades, 0 quelhes deixa a forma esferica ou quase, como ocorre com o ovu-
1 0 e com 0 senhor Ubu, acrescentando-se aos segundos tan-
tos detalhes que os tornam pessoas que adquirem, de manei-
ra similar, uma forma de esfera, em virtude do seguinte axio-
rna: 0 corpo e mais polido tanto maior a quantidade de as-
perezas que apresente. Eis por que as senhoras e os senhores
tern a liberdade de ver no senhor Ubu as multipjas alus6es
que quiserern, ou urn simples fantoche, a deformacao jocosa
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 16/91
30Alfred Jarry
de urn dos seus professores que representasse todo 0 grotes-
co existente no mundo.
£, este aspecto que lhes apresentara hoje 0 Theatre de
I'Oeuvre. Alguns atores tiveram, nas duas noites, 0 prazer de
. . ...rripessoais e representarem cobertos por rnasca-
·ericatnarem exatameme 0homem interior e a a l-W i) i/ii i L IJ : i] Z I " ' } i, fZ , . ·rnati()Iletes a s quais irao assisrir, Tendo sido a
.. as pressas e, sobretudo, com muiro pouca boa
Uburiao reve tempo de receber sua verdadeira masca-
r a , alias muito incornoda de usar, e seus comparsas, como ele,
estarao revestidos de aproximas:6es. Era muito irnportanre que
tivessernos, para um teatro de marionetes cornplero, uma rnti-
sica de circo, e a orquestracao foi distribuida por metals, gon-
gos e trombetas marinhas que faltou-nos 0tempo de reunir,
Nao condenemos alern da coma0
Theatre de I 'Oeuvre: alme-javamos rnais que tudo encarnar Ubu na leveza do ralento do
senhorr Cemier, e sao hoje e amanha as duas unicas noites em
que 0 senhor Ginisty - e a interpretas:ao de Villiers de l'Isle-
Adam - terao a liberdade de empresra-Io a nos. Vamos apre-
sentar a pes:a com tres atos que foram decorados e dois atos
que tarnbern foram decorados gras:as a alguns cortes. Fiz to-
dos os cortes pedidos peIos atores (rnesrno de varios trechos in-
dispensaveis ao sentido da peca), e rnantive a pedido deles ou-
tras cenas que, por mim, teria cortado com rnuito gosto. Pois,
por rnais marionetes que quisessemos ser, nao suspendemos ca-da personagem a urn fio, 0 que teria sido, se nao absurdo, pelo
menos para nos bastante complicado, e, ademais, nao estava-
mos seguros do conjunto de nossas hostes, embora no Guignol
urn feixe de fios e engrenagens baste para comandar todo urn
exerciro, Podemos esperar ver personagens notaveis, como a se-
nhor Ubu eo Czar, forcados a eorcovear frente a frente em ci-
rna de cavalos de papelao (que passamos a noite pintando) a
Ubu rei 31
fim de oeupar 0 palco. - Os tres primeiros atos pelo menos e
as ultimas cenas serao apresentados na integra, tais como fo-
ram eseritos.
Contaremos, alem disso, com urn cenario perfeitamente
exato, pois ao mesmo tempo que este e urn reeurso Heil pa-
ra situar uma pes:a na Eternidade, a saber, de fazer com que
seem por exemplo no ana mil tiros de revolver, as senhores ve-
rao portas que se abrem para planfcies nevadas debaixo de urn
ceu azul, lareiras guarneeidas de relogios de parede abrindo-se
para servir de P9rtas, e palrneiras verdes ao pe das camas.' _para
terem as folhas consumidas pOI'pequenos defames equilibra-
dos em prateleiras.
Quanto a orquestra que deixamos de apresentar, so farao
falta sua intensidade e seu timbre, diversos pianos e dmbalos
executando os temas de Ubu por tras dos bastidores.Quanta a acao, que vai cornecar, passa-se na Polonia: quer
dizer, em Lugar Nenhum.
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 17/91
OUTRA APRESENTA<:=Ao
DE UBU REI
P ub lic ad a c or n 0 t itu lo d e Ubu rei na b r oc b ur a -p r og r ama
editada pe la revista La critique para 0 T hea tre d e l'O eu vr e e d is-
t ri bu id a ao s e s pe c ta d o re s .
Depois de preludiado por uma musica com metais em mi-
mero excessive para formarem rnenos que uma fanfarra, exata-
mente 0que os alemaes chamam de "banda militar", a cortina
se abre revelando urn cenario que pretende representar Lugar
Nenhum, com arvores ao pe das camas, nev~ branca num ceu
muito azul, mais ainda porque a acao se passa na Polonia, pa-
is lendario e desmembrado 0 suficiente para ser este Lugar
Nenhum ou, p~lo menos, de acordo com uma verossimil etirno-
logia franco-grega, bern longe, urn algum lugar interrogativo.
Bern depois que essa pec;:afoi escrita, percebeu-se que ha-
via existido, em tempos ancestrais, no pais onde 0primeiro reifoi Pyast, homern nistico, urn cetto Rogatka, ou Henrique da
barriga imensa, que sucedeu ao rei Venceslas, e aos tres filhos
deste: Boleslas, Ladislas, e 0 terceiro nao era Bougrelas; e que
este Venceslas, 0 outro, era cognominado 0 Ebrio. Nao con-
sideramos mais honroso montar pes;as hist6ricas.
Lugar Nenhum fica em toda parte e, antes de mais nada,
o pais onde nos encontramos, E por essa razao que Ubu fala
frances (no original, e aqui, portugues, NT). Mas seus varios
- ---------------------.-------~
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 18/91
34Alfred Jar ry
defeitos nao sao de modo algum vfcios exclusivamente france-
ses, pois favorecem ainda 0capitao Bordure, que fala ingles, a
rainha Rosamunda, que tern sotaque do Can tal, e a massa dos
poloneses, que tern cara grotesca, fala pelo nariz e se veste de
cinza. Sevarias satiras se deixam ver, 0local da cena torna seus
interpreres irresponsaveis,
o senhor Ubu e urn ser ignobil, e por isso ele (par baixo)
lembra a todos nos. Assassina 0 rei da Po16nia (ataque ao tira-
na, 0assassinate parece justo a algumas pessoas, por ser urn si-
mulacra de urn ato de justica), e depois, quando se torna rei,
massacra os nobres, em seguida os funcionarios, mais tarde os
camponeses. E assim, tendo matado todo mundo, ele certa-
mente tera expurgado alguns culpados, e se manifesta homem
moral e normal. Finalmente, como urn anarquista, executa em
pessoa seus decretos, despedaca as pessoas porque isso the da
prazer e pede aos soIdados russos que nao atirern em sua dire-
yaOporque assim de nao gosta. E urn pouco urn menino mi-
mado, e nada a contradiz tanto quanta 0 fato de nao levantar
a mao contra a czar, que e a que todos nos respeitamos, 0 czar
faz-lhe justica, tira-lhe a coroa de que fez mau uso, reinstala
Bougrelas no trono (sed que valia a pena?) e expulsa 0 senhor
Ubu da Pol6nia com tres partes de sua potencia (pelo poder
dos apetites inferiores),
Ubu menciona com Ireqtiencia tres coisas, sempre parale-
las em seu espfrito: a fisica, que e a natureza comparada a arte,o minimo de compreensao oposta ao maximo de cerebralida-
de, a realidade do consentimento universal oposta a alucina-
yao da inteligencia, Dom Juan oposto a Platao, a vida oposta
ao pensamento, 0ceticisrno oposto a crenca, a rnedicina opos-
ta a alquimia, 0exerciro oposto ao duelo; - e, paralelamente, a
j inanr;a, que sao as honras diante da satisracao consigo s o pOI'
si, como os produtores de literatura segundo 0prejulgamento
35
mirnero universal, em comparacao com a compreensao do s
inteligentes; - e, paralelamente, a Merdra.
Sera talvez iruitil expulsar 0 senhor Ubu da Polonia, que
como ja dissemos, Lugar Nenhum, pois ele pode se com-
primeiro com alguma inacao de artista como "acender
fogo enquanto nao the trazem a lenha", ou comandar tripu-
percorrendo 0 Balrico de iate, e acaba conseguindo ser
llVH-<-~~ senhor das Phynancas em Paris.
Ele nos era menos indiferente naquele pais de Longe-
Lugar, onde, diante dos rostos de papelao de atores
tiveram talento suficiente para ousar pretender-se impes-
urn publico de inteligentes por algumas horas consen-
polones.
A?fred farry
'"!,
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 19/91
FIGURINOS
Pub li ca do p o r J H Sainm on t, em m anuscrito ined ito , nos
Cadernos do Colegio de Pataphysica, ' I ' fM 3-4 (22 haha 78 e. p.).
PAlUBU- Terno com colete cinza cor de a<;:o,sempre uma
bengala enfiada no bolso direito, chapeu melao. Coroa par cima
do chapeu, a partir da cena II do SegundoAto. De cabeca nua a
partir da cena VI (Segundo Ato). - Terceiro Aro, cena II, coroa e
capa branca em forma de manto real. Cena IV (Terceiro Ato) ja-
pona, capacete, urn sabre na cinta, uma vara de gancho, tesouras,
uma faca, sempre a bengala no bolso direito. Uma garrafa baten-
do-lhe nas nadegas, Cena V (Quarto Aro) japona e capacete, sem
armas nem bastao, Uma valise na mao na cena do navio.
MAEUBU::;-Trajes de quitandeira bem-vestida. Garro cor-
de-rosa ou chapeu com flores e plumas, ao lado uma bolsa
de rede ou cesta de compras. Urn avental na cena do festim.
Manto real a partir da cena VI, Segundo Ato.
CAPITAo BORDURE- Trajes de instrumentista hungaromuito colante, vermelho. Sobretudo comprido, espada longa,
botas craneladas, chapska com plumas.
o REI VENCESLAS - 0 manto real e a coroa que Ubu usa-
r a depois do assassinato do rei.
A RAINHA ROSAMUNDA - 0 manto e a coraa que serao
usados pela Mae Ubu.
BOLESLAS, LAorSLAS - Trajes poloneses cinzentos ornados
de galoes, calcas curtas.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ~ ~ - - . ~
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 20/91
38Alfred larry
BOUGRELASVestido de bebe, com vestidinho e touca de
( du a s p a la v ra s a p ag a da s ).
o GENERALAsCY - Traje polones, com urn chapeu bicor-
nio adornado de plumas brancas e urn sabre.
STANISLASECZINSKI De polones, Barba branca.
JEANSOBIESKI,N. RENSKY - De poloneses.
o CZAROU IMPERADORALEXIS Traje negro, grande cin-
turao amarelo, adaga e condecorac,:oes, botas alras, Urn colar
aterrorizante de barba. Gorro ( pa fa v ra r is ca d a: p o nt ud o ) em
forma de cone negro.
Os PAIATINOS Multo barbudos, com sobretudos amplos
sern colarinhoe de mangas largas adornados de pele cor de mer-
dra; de verde ou de vermelho, de acordo com 0caso; malha.
COTfCE- ( pa fa v ra r is ca d a: ma lb a )
POVO- De poloneses.SR. FEDEROVITCH- Idem. Gorro de peles em lugar de
chapska.
Os NOBRES- De poloneses, com mantos adornados depeles e bordados.
MAGISTRADOS Togas negras, perucas.
CONSELHEIROS,INANCISTAS - Trajes negros, gorros de as-
trologo, oculos, narizes pontudos.
UCAIOS DASPHYNAN<;:ASOs palatinos.
CAMPONESES De poloneses.
o ExERCITOPOLONES- De cinza, com galoes e detalhes
de pele. Pelo menos tres homens armados de fuzis.
o ExERCITORusso - Dois cavalarianos: traje semelhante
ao dos poloneses, mas verde com gorros de pele. Cabecas de
cavalo de papelao.
UM SOLDADORAso DAINFANTARIARussx - De verde,com quepe.
Os GUARDASDAMAE UBU- De poloneses, com alabardas.
. . . .Ubu rei 39
UM CAPITAO 0general Lascy.
OURSO - Bordure vestido de urso.
o CAVALODASPHYNANC;:ASCavalo de pau com rodinhas
ou cabeca de cavalo de papelao, conforme a cena.
A TRIPillAc;:Ao- Dois homens vestidos de marinheiro, de
azul, com gala quadrada etc. .
o COMANDANTEVestido de oficial da Mannha francesa.
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 21/91
UBU REI
Drama ern cinco atos em pwsa reproduzido na integra tal
como foi encenado pelas marionetes doTeatro das Financas em 1888.
Edicao do M erc ur e d e F ra nc e 15, rue de l':Echaude-Saint-
Germain M DCCC XCVI
Acabado de imprimir em 11 de junho de 1896 com tipos
Perhinder ion por Charles Renaudie 56, rue de la Seine, Paris
Es te l iv r o e d ed ic ad o a M a rc el S ch wo b
E entao 0 Pai Uhu sacudiu a pera, pelo que ficou desde
entao conhecido pelos anglos como Shakespeare, e conheceis
dele sob este nome rnuita bela tragoedia escripta..';~
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 22/91
PERSONAGENS
PAl UBU
M AE U BU
CAPITAo BORDURE
o REI VENCESLAS
A RAINHA ROSAMUNDA
BOLESLAS
f ilho deles
LADISLAS
f ilho deles
BOUGRELAS
f ilho deles
o GENERAL LASCY
STANISLASLECZINSKI
JEAN SOBIESKI
NICOLAS RENSKY
o IMPERADOR ALEXIS
GIRON
cortesao
PILE
cortesao
COTICE
cortesao
CONJURADOS E SOLDADOS
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 23/91
OPOVO
MIKHAIL FEDEROVITCH
NOBRES
MACISTRADOS
CONSELHEIROS
FINANCISTAS
LACAIOS DAS PHYNANc;AS
CAMPONESES
TODO 0 ExERCITO Russo
TODO 0 ExERCITO POLONEs
Os GUARDAS DAMAR UBU
UM CAPITAO
OURSO
o CAVALO DAS PHYNANc;AS
A MAQUINA DE DESCEREBRAR
A TRIPUIAc;AO
o COMANDANTE
PR IM EIR O A T O
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 24/91
CENAI
Pai Ubu,Mae Ubu.
PAl UBU
Merdra!
MAEUBU
Ah! Que papelao, Pai Ubu, voce nao vale nada mesmo!
PAl UBU
E quase te pego, Mae Ubu!
MAE UBU
Mas nao sou eu, Pai Ubu, e urn outro que a gente precisa-
va assassmar.
PAl UBU
Pela luz da minha vela verde, nao entendi.
M A E UBU
Quer dizer, Pai Ubu, que esta contente com a sua sorte?
PAl UBU
Pela luz da minha vela verde, merdra, minha senhora, com
certeza que sim, estou contente. E sei de gente que se contenta
com bern menos: capitao dos drag6es, oficial de confianca do
rei Venceslas, condecorado com a ordem da Aguia Vermelha
da Polonia e antigo rei de Aragao, que mais a senhora deseja?
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 25/91
48
Alfred larry
MAE UBU
Como! Depois de ter sido rei de Aragao, satisfazer-se em
comandar mana bras de quatro duzias de escudeiros armadas
de facas de cozinha, quando poderia equilibrar em Sua cacho-
la a coroa da PoMnia sucedendo a de Aragao?
PAr UBU
Ah, Mae Ubu, nfio entendo patavina do que voce diz.
MAE UBU
Voce: e tao burro!
P A l UBU
Pda luz da minha vela verde, 0rei Venceslas atnda esta bern
vivo; e, mesmo admitindo que ele venha a rnorrer, nao ternuma legiao de filhos?
MAE UBU
E quem 0 impede de massacrar a familia inteira e rornar 0lugar de todos?
P A l U BU
Ah, Mae Ubu, a senhora me of ende, e ainda acaba fritan-do numa chapa quente.
MAE UBU
Ah, pobre infeliz, se eu fritar numa chapa quente, quem iraremendar os fundilhos das suas calcasr
P A l UBU
E verdade! Mas e dai? A minha bunda nao e igual a de to-do mundo?
MAEUBU
No seu lugar, bern que eu gostaria de instalar minha bun-
da num trono. Voce: poderia aumentar infinitamente suas ri-
49
PAl DBU
Se eu Fosserei, mandaria construir urn elmo grande como,
o que eu tinha em Aragao e aqueles malfeitores espanhois me
sem a menor vergonha na cara.
MAEUBU
E poderia conseguir tambern urn guarda-chuva, alem de
uma capa cornprida descendo ate os calcanhares.
p A J DBU
Ah assirn eu cedo a tentacao. Biltre de merdra, merdra de
biltre: se urn dia eu pego 0 rei nurn canto da floresta ele vai
passar urn mau bocado!
MAEUBU
Ah, muito bern, Pai Ubu, agora voce esta falando como urn
homem de verdade.
P A l D BU
Ah, nao! E~, capitao dos dragoes, massacrar 0 rei da Polo-
nia? Antes a rnorte!
MAEUBU
(A parte.) Ah, merdra! (Alto.) Com que entao voce quer con-
tinuar miseravel como urn rato, Pai Ubu?
p A J DBU
Raios me partam, pela luz da minha vela verde, prefiro ser
miseravel como urn rato magro e digno a ser rico como urn
gato mau e gordo.
MAEUBU
'd ?o elmo? E 0guarda-chuva? E a capa compn a.
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 26/91
50 Alfred J arry
PAl UBU
E verdade. Mas e depois, Mae Ubu?
( Sa i b a te nd o a p o rt a.)
MAEUBU(56.) Arre, merdra, foi duro de explicar: mas arre, merdra,
ainda assirn acho que agora ele recebeu a mensagem. Gracas a
Deus e a mim mesma, daqui a oito dias talvez eu me tome rai-
nha da Polonia,
CENA IIo ce nd rio re pre sen ta u m ap osen to da ca sa do P ai U bu on de
u m a m e sa e sp le nd id a e std p o sta .
P a i U bu , M de U bu.
MAEUBU
Ora, nossos convidados se atrasaram.
P A l UBU
E verdade, pela luz da minha velaverde. Estou morto de fome.
Mae Ubu, voce esta bem feiahoje. Sera porqu~ temos visitas?
MAE DBU
(D an do d e o m br os .) Grande merdra.
P A l DB U
(A ga rr an do u m f ra ng o a ss ad o.) Olhe, estou com fome. Vou
morder esta ave. E uma galinha, ao que me parece. E nao es-
ta nada mao
MAE UBU
o que voce esta fazendo, infeliz? Eo que van comer os nos-
sos convidados?
P A l DB U
Vai sobrar mais do que 0 bastante para eles. E depois disso
nao comerei mais nada mesmo. Mae Ubu, va olhar pela jane-
la para ver se os convidados estao chegando.
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 27/91
52Alfred jarry
MAE DBU
(Vtzi.) Nao estou vendo nada.
{ En qu a nto i ss o, 0P ai U bu rouba um a fo tia d e v ite la .}
MAE DBU
Ah, esta chegando 0Capitao Bordure com seus seguidores.
E voce, 0que esta comendo, Pai Ubu?
PAl DBU
Nada, s6 um pouquinho de vitela.
MAE DBU
Ah, a vitela! A vitela! Vi tela! Ele esta comendo a vitela!Acudam!
PAl DBU
Pela luz da minha vela verde, vou arran car os seus olhos.
(Ap or ta s e a br e.)
CENA IIIP ai U bu , M ile U b u, C ap itilo B or du re e s eu s s e gu id or es.
MAE DBU
Born dia, senhores, estavam sendo esperados com impacien-
cia. Sentern-se.
CAPITAo BORDURE
Born dia, minha senhora. Mas onde esta 0Pai Ubu?
P A l DBU
Estou aqui! Estou aqui! Caspite, pela luz da minha vela ver-
de, eu sou bern gordo!
CAPITAo BORDURE
Born dia, Pa i Ubu. Sentern-se, meus homens. {Todosse sen tam.)
P A l DBU
Ufa, urn pouco mais e eu desmontava minha cadeira.
CAPITAo BORDURE
E entao, Mae Ubu, 0 que temos de bom hoje?
MAEDBU
o cardapio e 0 seguinte.
P A l DBU
Ah, isto me interessa.
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 28/91
54 AlfredJarry
M A E DBU
Sop a polonesa, costeletas de rastrao, vitela, frango, pastelao
de cachorro, sobrecus de perua, charlote russa ...
P A l DBU
Ora, e ja chega, acho eu. Tern mais?
MAE DBU
(Continuando.) Bomba, salada de frutas, sobremesa, cozi-
do, inhame, couve-Hor com molho de merdra.
P A l DBU
Ora, e voce acha que sou imperador do Oriente, para fa-
zer tanta despesa?
MAEDBU
Nao escutem 0que ele diz. E urn imbecil.
P A l DBU
Ah, vou war meus dentes nas suas candas!
MAE DBU
Melhor jantar, Pai Ubu. Primeiro a sop a polonesa.
PAl DBU
Raios me partam, que coisa horrivel.
CAPITAo BORDURE
De fato, nao esta nada born.
MAE DBU
Ora, eo que voces esperavam, seus arabes imprestaveis?
P A l DBU
(D an do u m ta pa n a p ro pria te sta .) Ah, tive uma ideia. Volto
daqui a pouquinho. (Sai.)
55
Senhores, vamos saborear a vitela.
CAPITAo BORDURE
Esta muito boa, ja acabei.
; E agora os sobrecus de perua.
CAPITAo BORDURE
Soberbos, soberbos! Viva a Mae Ubu!
TODOS
Viva a Mae Ubu.
P A l DBU
(Voltando.) E daqui a pouco todos van gritar viva 0 Pai
Ubu.
(T raz um a v asso ura in om in dv el n as mdos, e a a tira sobre 0
banquete.)
MAE DBU
Miseravel, Q que esta fazendo?
P A l UBU
Experimentem so. {V dr io s e x pe r im en t am e c a em en v en e n ad o s. }
Mae Ubu, passe as costeletas de rastrao, para eu servir.
M AE U BU
Tome.
P A l UBU
Todos para a porta! Capitao Bordure, preciso conversar com
o senhor.
OS OUTROS
Ei, nos nao acabamos de jantar,
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 29/91
56Altred Jarry
P A l DB U
Como nao acabaram? Fora, todo mundo! Fique, Bordure.
(Ninguem se mexe.)
P A l D BUNfio foram embora? PelaIuz da minha vela verde, yOU ata-
ca-los com as costeletas de rastrao.
(Comera a atird-las.)
TODOS
Ohl Ai! Socorro! Precisamos nos defender! Que desgraca!Estou morrendo!
P A l UBU
Merdra, merdra, merdra. Fora! Ficaram impressionados.TODOS
Salve-sequem puder! Pai Ubu, desgracado, traidor, vaga-bundo rniseravell
PAl DBU
Ah!Foram embora. E um alfvio, mas jantei rnuito mal. Ve-nha, Bordure.
(Saem com a Mae Ubu.)
CENA IV
Pai in« M ae U bu , C apita o Bo rd ure.
PAl UBU
E entao, Capitao, jantou bern?
CAP I TA o BORDURE
Muito bern, senhor Ubu, menos no caso da merdra.
PAl UBU
Pois a merdra ate que nao estava ruim.
M A E UBU
Gosto nao se discute.
P A l UBU d L' A •
Capirao Bord'ure, decidi nomea-lo duque a ituarua.
CAP I TA o BORDURE . .
Mas como? Eu achava que 0 senhor era pobre dernais, Pal
Ubu.
P A l UBU . . dDentro de alguns dias, se 0 senhor perrnitir, serer 0 ret a
Polonia,
CAP I TA o BORDURE
o senhor quer matar Venceslas?
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 30/91
58A l fr ed J a rr y
PAl UBU
Ele nao e burro, 0patife, e adivinhou.
CAPlTAo BORDURE
Se for 0caso de matar Venceslas, pode contar comigo. Ele e
meu inimigo mortal, e respondo pelos rneus homens.
PAl UBU
(A tir an d o- se s ob re e le p a r a b eij d- io .) Oh! Oh! Gosto muito
de voce, Bordure.
CAPlTAO BORDURE
Ora! Como 0senhor cheira mal, Pai Ubu! Nunca toma banho?
PAl UBU
Raramente.
MAE UBU
Nunca!
PAl UBU
Vou pisar nos seus pes.
MAE UBU
Grande merdra!
PAl UBU
V~, Bordure, nossa canversa esta encerrada. Mas, pela luz
da rninha vela verde, juro pela Mae Ubu rnortinha fazer do se-
nhar duque da Lituania.
MAE UBU
Mas ...
PAl UBU
Cale-se, rninha crianca ...
(Saem.)
CENAV
P ai U bu , M lie U bu , u rn M en sa ge iro .
P A l UBUE entao, a que deseja? Fora daqui, au val me deixar cansado.
MENSAGEIRO
o senhor esta sendo convocado da parte do rei.
(Sai.)
PAl UBU
Ah! Merdra, com mil cacodem6nios, pela luz da minha ve-
la verde, fui descoberto, vou ser decapitado! Que l:istima! Que
Iastirnal
MAE UBU
Que sujeito frouxo! E 0 tempo corre.
PAl UBU
Oh! Tive uma ideia: vou dizer que foram a Mae Ubu e
Bordure.
MAE UBU
Ah, gordo Pai Ubu, se voce fizer urna coisa dessas . ..
P A l UBU
E vou agora mesmo.
(Sai.)
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 31/91
6 0 Alfred larry
MAE UBU
( Co rr e a tr ds d ele .) Oh! Pai Ubu, Pai Ubu, eu the darei urn
chourico,
(Sai.)
PAl UBU
(Nos bas ti dore s. ) Oh! Merdra! Vocegosta mesmo muito de
chourico ...
CENAVI
o paldcio d o r ei.
o R ei V en ce sla s, c er ca do d e s eu s o fic ia is ; B or du re ; o s filh os d o
r ei, B ole sla s, L ad is la s e B ou gr ela s e , e m s eg uid a, U bu .
PAl UBU
(Entrando.) Oh! 0 senhor sabe, nao fui eu, foram a Mae
Ubu e 0Capitao Bordure.
o RE I
o que deu em voce, Pai Ubu?
CAPITAo BORDURE
Ele bebeu demais.
o RE I
Como eu, hoje de manha,
PAl UBU
Pois e , estou embriagado porque bebi vinho frances.
o R E IPaiUbu, resolvi recompensar seus inumeros services como
capitao dos dragoes e quero nomea-lo conde de Sandomir.
PAl UBU
6,senhor Venceslas,nao sei como Ihe agradecer.
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 32/91
6 2AlfredJany
o RE I
Nao me agradeca, Pai Ubu, e arnanha se apresente para
a grande parada.
PAl UBU
Estarei la , mas aceite, por genrileza, este pequeno apito.(O fe re ce u rn a pito a o r ei.)
o REI
Mas 0 que eu posso fazer com um apito? Vou dar para
Bougrelas.
o ]OVEM BOUGRELAS
E mesmo uma besta, 0Pai Ubu.
PAl UBU
E agora vou dar no pe , ( C ai q u an d o dd rneia-volta.) Oh! Ai!Acudam! Pela luz da minha vela verde, rompi meu intestino e
rebentei a bordelial
o R E I
(Erguendo-o . ) Pai Ubu, 0 senhor se machucou?
PAl UBU
Claro que sim, e agora com certeza vou morrer. E 0que vai
ser da Mae Ubu?
OREr
Cuidaremos do sustento dela.
PAl UBU
o senhor tern mesmo bondade de sobra. (Sai.)
E verdade, Rei Venceslas, mas mesrno assim voce vai ser
massacrado.
CENA V II
A c~ade U bu.
G iro n, P ile , C otice , P ai U bu , M ae U bu , C on ju ra do s e so ld a-
d o s, C a p it ii o B o rd u re .
PAl UBU
Entao, meus bons amigos, ji esta mais do que na hora de
decidir a plano da conspiracao. Que cada urn de 0seu palpite.E primeiro vou dar 0meu, se me dao licenca. '
CAPITAo BORDURE
Fale, Pai Ubu.
PAl UBU
Pais bern, ami gas, acho que devfamos sirnplesmente enve-
nenar a rei, pondo arsenico no seu almoco, Quando ele for fa-
zer a repasto cai morto, e at eu viro rei.
TODOSMas que covardia!
PAT UBU
Ora, nao gostaram? Entao que Bordure diga 0 que acha.
CAPITAO BORDURE
Acho que ele deveria levar urn golpe violento de espada, ra-
chando 0 seu corpo da cabeca ate 0 quadril.
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 33/91
64
Alfred larry
TODOS
Ah sim! Este e nobre e valente.
PAl DBU
E se ele reagir aos POntapes? Lembro agora que ele usa nos
desfiles urn par de sapatos de ferro que machucam muito seus
pes. Se eu soubesse que ia ser assirn, ia agora correndo denun-
ciar voces para me Iivrar dessa historia malparada, e acho que
ele ainda me daria algum dinheiro.
MAEDBU
Ah! Traidor, covarde, bandido viI e sem-remedio.
TODOS
Vamos vaiar 0Pai Ubu!
PAl DBU
Ora! Senhores, fiquem calmos se nao quiserem fazer uma
visita aos meus bolsos. No fim das contas, concordei em me
arriscar por voces. E assirn, Bordure, voce se encarrega de ra-char 0 rei.
CAPITAo BORDURE
Nao seria melhor se todos nos nos atidssemos em cirna
dele, gritando e berrando? Ainda seria uma oportunidade detreinar as tropas,
PAl DBU
Muito bern, enrao e isso, Eu tento pisar no pe dele, ele vai
reagir, daf eu Ihe digo: MERDRA, e a este sinal todos voces seatiram ern cirna dele.
MAE DBU
Isso, e assim que de motrer voce se apossa do cetro e dacoroa.
65
CAPITAo BORDURE
E eu saio correndo corn meus homens, perseguindo a fami-
lia real.
PAl DBU
Isso, e eu lhe recomendo especialmente 0jovem Bougrelas.(Saem.)
PAl UBU
( Co rr en do a tr ds d e le s e f o ze nd o- os v ol ta :- ) Sen~ores, esque-
cemos uma cerimonia indispensavel. Precisamos Jurar solene-
mente que esgrimiremos com valentia.
CAPITAo BORDURE
Mas como? Nao temos urn padre presente.
PAl DBUA Mae Ubu substitui.
TODOS
Esra bern.
PAl UBU
E entao, voces juram matar mesmo 0 Rei?
TODOS
Sirn, juramos. Viva 0Pai Ubu!
F im d o p rim eiro a to .
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 34/91
SEGUNDO ATO
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 35/91
CENAI
opa ld cio d o Re i.
V en ce sla s, a R ain ha R os am u nd a, B ole sla s, L ad is la s e B ou gr ela s.
o RE I
Senhor Bougrelas, hoje pela manha 0 senhor foi deveras
impertinence para com 0 senhor Ubu, cavaleiro das minhas
ordens e conde de Sandomir. E e por isso que eu 0 proibo decomparecer a minha parada.
ARA INHA
Mas se for assim, Venceslas,voce nao estara cercado de to-
da a familia para defende-lo.
o RE I '.Senhora, eu nunca volto atras no que eu digo. A senhora me
cansa com essassuas algaravias.
o]OVEM BOUGRELAS
Eu me submeto, senhor meu pai,
ARA INHA
Mas enfim, majestade, estais sempre disposto a ir a essa
parada?
o REI
E por que nao, senhora?
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 36/91
70A l fr ed J ar ry
ARAINHA
Torno a dizer que ja a viem sonhos atacar-vos com a clava e de-
pais atirar-vos nas aguas do Vfstula, e em seguida uma aguia como
a que figura nas armas da Polonia pondo-lhe a coroa na cabeca,
o R E IDe quem?
ARAINHA
Do Pai Ubu.
o RE I
Mas que despropositol a Senhor de Ubu e urn cavalheiro
de grandes qualidades, que seria capaz de se deixar despedacar
por quatto cavalos a meu service.
A RAINHA E BOUGRELASMas que errol
o REI
Cale-se, [overn traidor. E, quanto a senhora, para lhe pro-
var 0 quanto nao temo a senhor Ubu, irei ao desfile assim
mesmo como estou, sern armadura nem espada.
A RAINHA
Fatal imprudencia, nunca mais hei de ver-vos com vida.
OREr
Venha, Ladislas. Venha, Boleslas. (Sa em . A Ra in ha e B ou grela s
udo ati ajanela.)
A RArNHA E BOUGRELAS
Que Deus e 0grande sao Nicolau vos protejam,
ARAINHA
B~ug:elas, venha ate a capela comigo, rezar pelo seu pai e
seus trrnaos.
CENA IIoExe rc i to po lon t s , 0R ei , B o le sl as , L ad is la s, P a i U b u; C a pit do
B ord ur e e se us h om en s, G iro n, P ile e C o lic e.
OREr
Nobre Pai Ubu, aproxime-se de mim com seu seqiiito para
passarmos as tropas em revista.
PAr UBU
(Aos s eu s b omen s .) Atencio, voces. ( it o R e i. ) Estamos indo,
rnajestade, estamos indo.
(a s hom ens de U bu cercam 0 Rei.)
o RE IA h! Eis oregimento dos guardas montados de Gdansk
Como sao garbosos!
PAl UBU
V6s achais? Pois a mim parecem medonhos. Olhai so.este
aqui. ( it o so ld ' ado .) Faz quanto tempo que voce nao lava 0 ros-
to, palhaco ign6bil?
o REI
Este soldado esta limpissimo. a que ha com 0 senhor, Pai
Ubu?
P A l UBU
Isso aqui!
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 37/91
72 Alfred larry
(E pisa com forra no p i do re i)
o RE I
Miseravel!
PAl UBU
MERDRA! A mim, me us homens!
CAPITAo BORDURE
Hurra! Em frente!
(Todos go l pe i am 0 R ei, u m p a!a tin o e xp lo de )
o REI
Oh! Socorro! Santa Virgem, estou morto.
BOLESLAS
(A. Ladislas. ) 0 que esta havendo? Vamos puxar das espadas.
P A r UBU
Ah! J a peguei a coroa! Agora os outros.
CAPITAo BORDURE
Morte aos traidores!!
(O s f ilho s d o R ei fo ge m, e to do s co rr em a tr ds d ele s.)
CENA II I
A R ain ba e B ou gre !a s.
ARA INHA
Finalmente, agora fiquei rnais tranqtiila.
BOUGRELAS
A senhora nao tern motivo nenhumpara temer. ( O uv e- se um
c l amor horr ive l do !ado de fo ra .) '.Ah! 0 que vejo? Meus dois irmaos perseguidos pelo Pal Ubu
e seus homens.
ARA INHA '
6meu Deus! Santa Virgem, estao perdendo, estao perden-
do terreno!
BOUGRELAS
Todo 0exercito esta obedecendo ao Pai Ubu. 0 Rei nao es-
ta mais la . Horror! Socorro!
ARA INHA
Boleslas acaba de morrer! Levou urn tiro.
BOUGRELAS
Ei! ( Lad is la s s e v ir a .) Defenda-se! Vamos, Ladislasl
ARA INHA
Oh! Ele foi cercado.
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 38/91
74 Alfred larry
BOUGRELAS
E foi 0 seu fim. Acaba de se r cortado aomeio por Bordure,
como se Fosseuma salsicha,
A RAINHA
Ah!Ai de nos! Os celerados entraram no palacio, estao su-bindo a escada.
(Aumenta 0 c lamor. )
A RAINHA E BOUGRELAS
(De joelbos.) Meu Deus; defendei-nos.
BOUGRELAS
Ah! EssePai Ubu! 0 canalha, 0 rniseravel, se eu pusesse as
maos nele...
CENA IV
O s m esm os. A porta e a rr omb a da . E n tr am 0 Pai U bu e as re-
uoltosos.
PAl UBU
Ei, Bougrelas, 0que voce iria fazer comigo?
BOUGRELAS
Em nome de Deus! Defenderei minha mae ate a morte! 0
primeiro que der urn passo morre.
PAlUBU
Oh! Bordure, estou com medo! Deixem-me ir embora.
UM SOLDADO
(Auanca . ) Renda-se, Bougrelas.
o JOVEM BOUGRELAS
Tome isso, bandido! E 0 que voce merece! (E r ac ha 0 cra-
ni a do s o ld a do .)
ARAINHA
Pique firme, Bougrelas, fique firmer
VARIOS
(Auancam.) Bougrelas, prometemos poupar a sua vida.
BOUGRELAS
Patifes, miseraveis, traidores!
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 39/91
76 Alfr ed J a rr y
(G ira a espada ao redor do corpo e p roduz um a verdadeira
carni ficina.)
PAl UBU
Ah! Sejacomo for, vou acabar com isso!
BOUGRELAS
Mae, fuja pela escada secreta.
ARAINHA
E voce, meu filho, e voce?
BOUGRELAS
Vou daqui a pouco.
PAl UBU
Tentem pegar a Rainha! Ah! Ela conseguiu fugir. Quanto a
voce, misedvel!
(A van r ;a p a ra Boug re la s .)
BOUGRELAS
Ah! Em nome de Deus! Eis a minha vingancal (E des co s tu -
ra -lh e a b an du lha co m u ma te rr iu el e sto ca da .)
Mae, ja estou indo! (Desaparece pela e scada se c re t a .)
CENAV
Uma c au e rn a n as montanhas.
Ent ra 0[ ou em B ou gr ela s, s eg uid o d e R os am u nd a.
BOUGRELAS
Aqui estatemos a salvo.
ARAINHA
Sim, acho que simI Bougrelas, me segure!
{Eta c ai n a n eu e.)
BOUGRELAS
Ah! 0 que houve com voce, minha mae?
ARAINHA .. ,'
Estou bem doente, acredite, Bougrelas. 56 me restam duas
horas de vida.
BOUGRELASo que! 0 frio the feztanto mal assim?
A RAINHA
Mas como voce quer que eu resista a tantos golpes? 0 Rei
massacrado, nossa familia destrufda, e voce, representante da
raca mais nobre que jamais brandiu uma espada, forcado a se
refugiar nas montanhas como um contrabandista.
------------.~----- ----- .
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 40/91
78Alfred Jany
BOUGRELAS
E por quem, grande Deus! Por quem? Urn vulgar Pai Ubu,
aventureiro saido ninguern sabe de onde, urn cdpu1a vil, urn
misedve1 coberto de vergonha! E quando eu penso que meu
pai condecorou essehornem, que 0 transformou em conde, e
que no dia seguinte 0canalha na~ teve a menor diivida em le-vantar a mao contra de!
A R A r N H A
6 Bougrelas! Quando me Iembro do quanto fomos feli-
zes antes do surgimento desse Pai Ubu! Mas agora, ai de nos!Tudo mudou!
BOUGRELAS
o que voce queria? Vamos esperar, confiantes, sem jamaisdesistir dos nossos direitos.
A R A r N H A
Eo que eu desejo para voce, filho querido, mas, quanto a
mim, nao hei de ver nunea esse dia feliz.
BOUGRELAS
Ora! 0 que foi?Ela empalidece, ela cai, acudam! Mas aqui
e urn 1ugardeserto!6meu Deus! 0 coracao dela parou de ba-
ter. E1amorreu! Sed possive1?Mais uma vitima do Pai Ubu!
(Esconde 0 r os to n a s mdos e cho ra . ) 0 meu Deus! Como e tris-
te, aos catorze anos, ver-se obrigado a cumprir uma vingan-ca terrivel!
( En tr e ga -s e a o ma is v io le n to d e se s pe ro .)
( En q ua n to i ss o, a s a lma s d e V enc es fa s, B o le s la s , L a d i sl as e Ro sa -
m un da e ntr am n a c ao er na ; a co mp an ha da s p or s eu s a nc es tr ais ,
q ue s up er lo ta m a g ru ta . 0m ais v elho d e tod os se a pro xim a d e
B ou gr el as e 0 desper ta gent ilmente .)
79
BOUGRELAS .
Ora! 0 que vejo?Toda a minha familia, rneus ancestrais..." I ' ?Que rru agre sera este....
ASOMBRA .
Pois fica sabendo, Bougrelas, que em vida fui 0 senhorMathias de Konigsberg, primeiro rei e fundador da nossa di-
ri.astia.Passo a ti 0 encargo da nossa vinganca. (Entrega-lbe
u rn a e sp a da im en sa .) E que esta espada que agora te entrego so
descanse depois de golpear de morte 0usurpador.
. (T o do s d e sa pa re cem , e B ou gr ela sf ic a s o, n um a a ti tu de d e e xt as e.)
..,
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 41/91
CENA VI
o p ald cio d o R ei.
P ai U bu, Mae Ub u, C ap itd o B or du re .
PAl UBU
Nao, eu nao deixol Voces querem me arruinar por causa des-
ses pamonhas?
CAPITAn BORDURE
Mas afinal, Pai Ubu, 0 senhor nao ve que 0povo esta a es-
pera dos presentes pelo feliz evento?
MAE UBU
Se voce nao mandar distribuir carne e ouro, acabara derru-
bado em mends de duas horas.
PAl UBU
Carne, sim! Ouro, naol Abatam tres cavalos velhos, ja esta
bom demais para esses traidores.
M A E UBU
Mas 0 traidor e voce! Quem me criou um animal assim?
PAl UBU
Repito: 0 que eu quero e enriquecer, e nao entre go nem
um tostao.
MAE UBU
Quando temos nas rnaos todo 0tesouro da Po16nia!
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 42/91
82Alfred Jar ry
CAP I T A o BORDURE
Isso mesrno, eu sei que existe um tesouro imenso guardado
na capeIa. Vamos distribui-lo ao povo.
PAl DEU
Miseravel! Se voce se atrever ...
CAP I T Ao BORDURE
Mas, Pai Ubu, se 0 senhor nao distribuir nada, 0povo nao
vai mais querer pagar os impostos.
PAl DEU
E mesmo?
MAE DEU
Claro, claro!
PAl DEU
Ah, entao concordo com tudo. Reunam tres milh6es e man-
dem assar cento e cinquenta bois e carneiros, especialmente
porque eu tambern quero comer!
(Saem. j
CENA V II
op dtio d o p ald cio , r ep le to d e g en te .
Pai U bu coroado, M ae U bu , C ap ita o B ord ure , la ca io s carre-
g ad os d e c ar ne .
POvO
Eo rei! Viva 0 rei! hurra!
PAl DBU(Atirando mo ed as d e o ur o.) Peguem, e para voces. Eu nao es-
tava achando a menor gras:a em Ihes dar dinheiro, mas sabem
como e , quem quis foi a Mae Ubu. Voces s6 precisam me pro-
meter que van pagar seus impostos,
TODOS ...~
Vamos, vamos!
CAP I T Ao BORDURE
Esta vendo, Mae Ubu, como eles disputam 0 aura? Que
batalha!
MAE DBU
De fato, que coisa horrivel. Nossa! Acabam de rachar 0era-
nio de urn deles.
PAl DBU
Que belo espetaculol Tragam mais baus de ouro.
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 43/91
84Alfred Jarry
CAPITAO BORDURE
E se organizassemos uma corrida?
P A l UBU
Isso, boa ideia!
( 1 1 . 0 Povo. )
Amigos, estao vendo este bali de ouro? Ele contern trezen-
tos mil nobres da rosaem ouro, emmoeda polonesa de boa li-
gaoQue os candidatos a corrida sealinhem no fundo do patio.
Irao partir quando eu agitar meu lenco, e 0primeiro a chegar
ganhara 0 bali. Quanto aos que nao ganharem, terao como
consolo esta outra caixa, que sera dividida entre todos.
TODOS
Sim! Viva 0 Pai Ubu! Que belo rei! Nao viamos tanta ri-
queza no tempo de Venceslas.
PAl UBU
( A . M ile U b u, c om a le gr ia .) Escute s6 0que des dizem!
( Todo 0p ov o se a lin ha n o fin al d o p dtio .)
P A l UBU
Urn, dois, tres!Todos prontos?
TODOS
Sim! Sim!
P A l UBU
J a ! ( T o d os pa r t em , d e rr u ba n d o u n s a o s o u t ro s . G r it os e t umu lt o .)
CAPITA.o BORDURE
Estao chegando! Estao chegando!
P A l UBU
Ora! 0 primeiro esta perdendo terreno.
Ubu rei
MAE UBU
Nao, agora ele recuperou.
CAPITAo BORDURE
Oh! Vai perder, vai perder! Acabou! Ganhou 0outro!
(0 q ue e sta va e m se gu nd o ch eg a e m p rim eiro .)
TODOS"
Viva Mikhail Federovitch! Viva Mikhail Federovitchl
MIKHAIL FEDEROVITCH
Majestade, na verdade nao sei como vos agradecer...
P A l UBU
Ora, meu caro amigo, nao e nada. Leve0bali para a sua ca-sa, Mikhail; e voces, dividam esseoutro, van tirando uma moe-
da cada urn ate acabar tudo,
TODOS
VivaMikhail Federovitchl Viva 0Pai Ubu!
P A l UBU
Quanto a voces, rn~us amigos, vamos jantar! Hoje eu lhes
abro as portas do palacio, tenham a bondade de honrar a mi-
nha mesa!
P O v O
Vamos entrar! Vamos entrar! Viva 0 Pai Ubu, 0mais no-bre dos soberanos!
( En tr am n o p a ld ci o. O u u e- se 0 baru lho da o r gi a q u e s e pr o la n -
g a a tt! 0 d ia s eg u in te . D e sc e 0pano. )
F im d o se gu nd o a to .
85
_ ____ .._ -- , , ,
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 44/91
TERCEIRO ATO
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 45/91
CENAI
apaldcio.
Pai iu« M iie U bu .
PAI UBU
Pela luz da minha vela verde, agora sou rei deste pals. J aapanhei uma indigestao, e estao trazendo meu chapeu de abas
largas.
MAE UBU
Ele e feito de que, Pai Ubu? Apesar de sermos reis, precisa-
mos ser economicos.
P A l DBU
Senhora rninha femea, e feito de pele de carneiro, com urn
broche e preso por tiras de couro de cachorro.
MAEUBU
Uma beleza, mas eu digo que 0mais bonito ainda e ser-mos reis,
P A l DBU
Sim, voce tern razao, Mae Ubu.
MAE UBU
Devemos muito reconhecimento ao duque da Liruania.
PAl DBU
A quem?
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 46/91
90Alfred Jarry
M A E DBU
Ora! 0 Capitao Bordure.
PAlUBU
Faca-rne 0 favor, Mae Ubu, de nao me falar desse pascacio.
Agora que nao preciso mais dele, ele pode fazer 0 que quiser
que na~ the dou ducado nenhum.
M A E DBU
Mas e urn grande erro, Pai Ubu, ele vai se virar contra voce.
PAl DBU
Oh! Pois eu tenho e peria desse homenzinho, que me da
tanto medo quanro Bougrelas.
MAEUBU
Ora! E voce acha que nao tern mars nada a temer de
Bougrelas?
PAl DBU
E claro que nao, pelo meu sabre das financas! a que vo-
ce acha que ele poderia me fazer, aquele palermazinho de ca-torze anos?
M A E DBU
Pai Ubu, preste atencao no que eu lhe digo. Acredite em
mim, procure atrair Bougrelas para junto de voce pelo bern.
PAI DBU
Mais dinheiro? Ah! nfio, ja chega! Voces ja me fizeram gas-
tar vinte e dois rnilhoes,
MAE DBU
Farra0que quiser, Pai Ubu, mas isso ainda vai custar caro.
PAlUBU
Pode ser, mas voce vai dividir a despesa comigo.
Ubu rei 91
MAEUBU
Escute, mais uma vez, tenho certeza de que 0 jovem Bou-
grelas vai acabar vencendo, porque 0 direito justa esra do la-
do dele.
P A r DBUAh! Porcaria! E 0 direito injusto nao vale tanto quanto 0
justo? Ah! Assim voce me insulta, Mae Ubu, vou faze-la em
pedacos,
(.1 M ae U bu sa i co rren do , p erse gu id a po r U bu .)
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 47/91
CENA IIo s al do d o paldcio.
P ai U b u, M a e U b u, o fic ia is e s o fd ad os ; G ir on , P i fe , C otic e, n o-
b r es a c o rr e nt ad o s, f in a n ci st as , ma g is tr a do s , e s cr e ue n te s .
PAl UBU
Tragam a caixa-dos-nobres, 0 gancho-dos-nobres, a faca-
dos-nobres e 0 l ivro-dos-nobres! E depois mandem que as
Nobres cheguem mais perto. .
(E m pu rr am b ru ta fm e nte o s N o br es .)
M A E UBU
Par caridade, modere-se, Pai Ubu.
PAl UBU
Tenho a honra de lhes anunciar que, para enriquecer a rei-
no, vou mandar matar todos osNobres e tomar osseus bens.
NOBRESHorror! Salvai-nos, povo e soldados!
PAl UBU
Tragam 0 primeiro Nobre e me passem 0 gancho-dos-no-
bres. Os que forem condenados a rnorte, eu puxarei para 0
alcapao: des cairao no subsolo do Principe-Porco e da Camara
dos Tost6es, onde serao descerebrados. ( Ao N o b re .) Quem evoce, pelintra?
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 48/91
Alfred larry
o NOBRE
o conde de Vitebsk.
PAl UBU
E de quanto e a sua renda?
o NOBRETres milh6es de riksdalers.
PAl UBU
Condenado!
(E le puxa 0 c on d e c om 0gancho e 0flz ca ir no buraco.)
MAEUBU
Que ferocidade viI!
PAI UBU
Segundo Nobre, quem e voce? (O Nobre ndo r e sp onde na -
da. ) Nao vai me responder, biltre?
o NOBRE
o grao-duque de Posen.
PAl UBU
Excelente! Excelente! Nem precisa dizer rnais nada. Para 0
alcapao. Terceiro Nobre, e voce? Tern uma cara horrivel.
o NOBRE
o duque de Corlandia, das cidades de Riga, Revel e Mitau.
PAl UBU
Muito bern! Muito bern! E nao tern rnais nada?
o NOBRE
Nada.
Uburei 9 5
PAl UBU
Entao, para 0alcapaol Quarto Nobre, e voce, quem e?
o NOBRE
o principe da Podolia.
P A l UBU,E sua renda e de quanto?
o NOBRE
Estou arruinado.
P A l UBU
Pela r n a notfcia, direto para 0alcapao, Quinto nobre, quem
e voce?
o NOBRE
o marcgrave de Thorn, palatino de Polock.
PAl UBU
Nem e rnuita coisa. E nao possui mais nada?
o NOBRE
Isso me bastava.
P A l UBU
Pois bern! Antes pouco do que nada. Para 0alcapao, 0 que
voce esta resmungando, Mae Ubu?
M A E UBU
Voce e feroz demais, Pai Ubu.
PAl UBU
Ora! Estou enriquecendo, Vou mandar que leiam a MINHA
lista dos MEUS bens. Escrevente, leia a MINHA lista dos
MEUS bens,
96
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 49/91
Alfred larry
o ESCREVENTE
o condado de Sandomir.
PAl UBU
Comece peIos principados, esnipido irnbecill
oESCREVENTE
o principado da Podolia, 0 grao-ducado de Posen, 0 du-
cado de Coriandia, 0 condado de Sando mil', 0 condado de
Vitebsk, 0palatinado de Polock, 0marcgraviado de Thorn.
P A l UBU
Eo que mais?
o ESCREVENTE
Mais nada.
PAl UBU
Como, mais nada? Ora, se e assim, facarn avancar os
Nobres, e como nao vou parar de enriquecer, vou mandar exe-
cutar todos des, e assim ficarei com todos os bens disponfveis.
Vamos, empurrem todos os Nobres para 0 alc;:apao.
(E njia m o sNobres no a1rap li o .)
Vamos, mais depressa, agora quero fazer as leis.
VARIos
Isso e 0que varnos ver.
P A l UBU
Primeiro yOU reformar a justica, e depois chegaremos as fi-nancas,
VARIOS MAGISTRADOS
Somos contrarios a qualquer mudan<_;:a.
Ubu rei 97
P A l D BU
Grande merdra, Primeiro, os magistrados param de receber.
MAGISTRADOS
E vamos viver de que? Somos pobres.
P A l D BU
" Receberao as multas das suas sentencas, e os bens dos con-
denados a morre.
PRIMEIRO MAGISTRADO
Horror.
SEGUNDO MAGISTRADO
Infamia.
TERCEIRO MAGlSTRADO
Escindalo,
QUARTO MAGISTRADO
Indignidade.
TODOS
Nessas condicoes, nos recusamos a julgar., "c~
PAl UBU
OS magistrados, para 0 alcapao!
(E le s s e d eb ate m , e m udo.)
MAEDBU
Mas 0 que voce esta fazendo, Pai Ubu? E agora quem vai
cuidar da justicai
P A l DBU
Ora! Eu. E voce vai ver como vai dar certo.
_-------------------~ .--- .. ---1 '
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 50/91
98 A l fr ed J a rr y
MAE UBU
Ah sim, vai ser uma limpeza.
PAl UBU
Ora, cale a boca, cretinoide, E agora, senhores, chegou a
hora das financas.
FINANCISTAS
Nao hi nada a mudar.
PAl UBU
Mas como, se eu quero mudar tudo? Primeiro, quero des-
tinar a rnim a metade dos impostos,
FINANClSTAS
E nem se envergonha.
, PAl UBU
Senhores, vamos criar urn imposto de dez par cento sobre
a propriedade, outro sobre 0 cornercio e a industria, urn ter-
ceiro sobre os casamentos e urn quarto sobre os falecimentos,
a quinze francos cada urn.
PRIMEIRO FINAN CISTA
Mas e uma idiotice, Pai Ubu.
SEGUNDO FINANClSTA
E urn absurdo.
TERCEIRO FINANClSTA
Nfio tern pe nem cabeca.
PAl UBU
Estao zombando de miml Para 0 alcapao, os financistasl
(Enjiam-se osjinancistas.)
Ubu rei 99
MAE UBU
Mas, afinal, Pai Ubu, que rei e voce? Esta massacrando to-
do mundo.
PAl UBU
Ora, grande merdra!
M A E UBU
Acabou-se a justica, acabaram-se as financas.
PAl UBU
Nao tenha medo, crianca, eu mesmo irei de aldeia em al-
deia recolher os impostos.
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 51/91
CENA II I;,.
Um a c as a d e c am po ne se s n os a rr ed or es d e v ar so via . V dr io s c am -
p on es e s r e un id o s.
UM CAMPONES
(Entrando.)
Saibam da grande novidade. 0 rei morreu, osduques tam-
bern, e 0 jovem Bougrelas fugiu com a mae para as monta-
nhas. Alem disso, 0Pai Ubu seapoderou do trono.
OUTRO
Eu soube de outras. Acabo de chegar da Cracovia, onde vi
passar as corpos carregados de rnais de trezentos nobres e qui-
nhentos magistrados que forammortos; parece que os impostos
vao ser dobrados, e que 0Pai Ubu vira recebe-losem pessoa.
TODOS
Deus do ceu! 0 que vai ser de nos? 0 Pai Ubu e urn cana-
Iha medonho, e sua familia, ao que se diz, e abominavel.
UM CAMPONES
Mas escutern so : nao acham que alguem esta batendo na
porta?
UMAVOZ
(Do !ado de f o ra .)
Chifres de urn monstrol Abram, pela minha merdra, por
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 52/91
102 Alfred Jar ry
sao joao, sao Pedro e sao Nicolau! Abram, pelo sabre de finan-
cas, pelos cornos de finans:as, vim cobrar os impostos!
(Aporta e d err ub ad a, e U bu en tr a s eg uid o p ar u ma le giiio d e
coletares.)
CENAIV
PAl UBU
Quem de voces e 0mais velho? (U m campones d d u m pa sso
it ftente.) Como voce se chama?
o CAMPONES
Stanislas Leczinski.
PAl UBU
Pois muito bern, cornos de uma besta, escute bern 0que eu
vou dizer, ou entao esses senhores aqui cortarao as suas ore-
lhas. E entao, vai me escutar ou nao?
STANISLAS LECZINSKI
Mas Vossa Excelencia ainda nao disse nada .. " . ~
PAl UBU
Mas como? Estou aqui Falando hi uma horal Voce acha que
eu vim ate aqui para pregar no deserto?
STANISLAS LECZINSKI
Longe de mim uma ideia dessas.
PAlUBU
Pois eu vim lhes dizer, ordenar e deixar claro que preci-
sam trazer e me exibir imediatamente a sua Iinanca, senao
serao massacrados. Vamos, senhores pelintroides das finan-
<_;:as,arreiem ate aqui 0 carrinho das finances. (Trazem-lbe
a carrinbo.)
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 53/91
10 4Alfred Jarry
STANISLAS LECZINSKI
Majestade, so temos inscrita no registro a divida de cento
ecinqiienta riksdaters que ja pagamos, no dia de sao Mateus,faz seis semanas.
PAl UBU
Pode ate ser, mas acontece que eu mudd 0govemo e mari-
dei botar no jomal que todo mundo precisa pagar os impastos
por duas vezes, e tres vezes os que poderao ser designados mais
adiante. Com esse sistema, terei feito fortuna em pouco tem-
po, da r matarei todo mundo e irei embora.
CAMPONESES
Senhor Ubu, misericordia, 'tenha pena de nos. Somos cida-daos pobres.
PAl UBU
Pouco se me da. Paguem.
CAMPONESES
Nao podemos, ja pagamos.
P A l UBU
Paguem! Ou eu me encarrego de todos com suplfcio e
degolas:ao, do pes coco e da cabeca! Comas da lua, sou 0
rei, nao sabiam?
TODOS
Ah, e assim?! A s armas! Viva Bougrelas, pela gras:a de Deus,
rei da Polonia e da Lituanial
PALUBU
Adiante, Senhores das Financas, cumpram a seu dever,
(U ma tu ta e tra va da , a c asa e d es tr uid a e 0 ue l ho S t an is l a s
L ee zin sk i, s o, f lg e a tr au es d a planicie. U b u jic a p ar a r ec olh erafinanca.)
CENAV
Uma c as am a ta d a s fl rt if ic af "o e s d e T h or n.
B or du re a co rr en ta do , P a i U b u.
PAl UBU
Ah, cidadao, eis 0 que houve: voce quis que eu pagasse
o que lhe devia, e en tao se revoltou so porque eu nao quis,
conspirou e agora esta af trancafiado. Cornos do cofre, e bern
feita! E 0 golpe foi tao bern aplicado que ate" voce deve ter
achado do seu gosto.
CAPITAO BORDURE
Cuidado, Pai Ubu, Faz cinco dias que voce e rei, mas com
a quanti dade de assassinatos que cometeu, qualquer santo do
Paraiso iria par~~ no inferno. 0 sangue do rei e dos nobres cla-
rna por vinganca, e esse clamor ainda ha de ser ouvido.
P A l UBU
Ora, meu born amigo, 0 senhor tern a lingua solta demais.Nao duvido nada que, conseguindo escapar daqui, pudesse
me trazer complicacoes, mas nao acredito que as casamatas de
Thorn jamais tenharn permitido a fuga de nenhum dos jovens
honestos que lhe foram confiados. Par isso, boa noire, e eu lhe
recomendo que durma protegendo as duas orelhas, pais os ra-
tos daqui dancarn uma bela sarabanda.
(S ai. O s L ac aio s v em tr an ca r to da s a s po rta s.)
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 54/91
CENA V1
op ald cio d e M o sc ou .
o im pe ra do r A le xis e s ua c or te ; 0 Capitdo Bordure .
o CZAR
E tu, infame aventureiro, cooperaste na morte de nosso pri-
mo Venceslas?
CAPITAo BORDURE
Majestade, perdoai-me, fui envolvido contra a vontade pe-
1 0 Pai Ubu.
ALEXIS
6, que mentiroso horrendo. E entao, 0que desejas?
CAPITAo BORDURE
o Pai Ubu mandou aprisionar-rne sob a falsa acusacao de
conspirador; consegui fugir e corri cinco dias e cinco noires
a cavalo atraves das estepes para vir implorar vossa genero-
sa misericordia.
ALEXIS
E 0 que me trazes como sinal de tua submissao?
CAPITAo BORDURE
Minha espada de aventureiro, e urn mapa detalhado da ci-
dade de Thorn.
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 55/91
lO S Alfred Jar ry
ALEXIS
Aceito a espada, mas, par sao Jorge, queima essemapa, nao
quero que minha vitoria sedeva a uma traicao.
CAPITAO BORDURE
Urn dos filhos de Venceslas,0
jovem Bougrelas, ainda estavivo, e tudo farei para restaurar os seus direitos.
ALEXIS
Que patente tinhas no Exercito polonesr
CAPITAo BORDURE
Era coman dante do Quinto Regimento dos Drag6es deVil-
na, e de uma companhia avuIsa a service do Pai Ubu.
ALEXIS
Muito bern, entao te norneio subtenente do Decirno Regi-
mento de Cossacos, e ai de ti seme traires. Selutares bern, se-ras recompensado.
CAPITAo BORDURE
Coragem e 0que nao me falta, majestade.
ALEXIS
Muito bern, desaparece da minha presenca.
(Sai.)
CENA V II
A sala d o con se lho d e U bu .
Pa i Ubu , Mae Ubu , c o ns el be ir o s d e p h yn a nf as .
PAl UBU
Senhores, dedaro aberta a sessao, cuidern de ouvir bern e
Iicar calados. Prirneiro, vamos recapitular a questao das finan-
cas, e depois falaremos do pequeno sistema que imaginei para
provocar 0born tempo e conjurar a chuva. '
UM CONSELHEIRO
Muito bern, senhor Ubu.
MAEUBU
Que homem tolo.
P A l UBU
Esposa da minha merdra, tome cuidado, pois nao irei
tolerar as suas besteiras. Eu lhes dizia, senhores, que as fi-
nan<;:asvan passavelmente. Urn mirnero consideravel de ca-
chorros de meias de la se espalha a cada dia pelas ruas e os
peralvilhos se saem as mil maravilhas. De todos os lados so
vemos casas incendiadas e pessoas que se dobram ao peso
das nossas phynancas.
o CONSELHEIRO
E os novos impostos, senhor Ubu, vao bern?
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 56/91
110 Alfred Jarry
MAE DBU
De maneira alguma. 0 impasto sobre os casamentos so pro-
duziu onze tost6es, e isso porque 0Pai Ubu saiu perseguindo
as pessoas por toda parte para obriga-las a se casar.
p A J DBU
Sabre das finan<yas,cornos da minha gondulha, senhora fi-
nancista, tenho orelhas para falar e a senhora uma boca para
me ouvir. (Risadas.) Ou nao! A senhora me faz trocar as bolas e
me faz passar por burro. Mas, cornos de Ubu! (Entra urn men-
sageiro.) Eendo, a que esse ai me trouxe? Fora daqui, patife,
ou eu te meto no bolso, com degolacao e torcao das pemas.
MAE DBu
Pronto, de ja saiu, mas trouxe uma carta.
PAIDBU
Pode Ier, Acho que perdi 0jufzo, ou entao nao sei ler. Ande
logo, cretinoide, deve ser de Bordure.
M A E DBU
justarnente, Ele conta que foi muito bern acolhido pelo
czar, que vai invadir seu territorio para instalar Bougrelas no
trona, e que voce vai acabar morto.
p A J DBU
Ho! Ho! Que medo! Estou com medo! Hal Parece que es-
tou morrendo. 6, sou mesmo urn desgracado, 0 que sera de
mim, Deus do ceu? Esse homem perverso vai me matar. Santo
Antonio e todos ossantos, protegei-me, eu lhes darei muita phy-
nanya e acenderei velas por vas. Senhor, 0que sera de mim?
( C ho r a e s o lu c a. )
MAE DBU
So ha uma coisa a fazer, Pai Ubu.
Ubu rei
PAl DBU
Qual, meu amor?
M A E DBU
A guerra!!
TODOS
•.E viva Deus! Esta e uma coisa nobre!
p A J DBU
Sirn, e vou apanhar mais ainda, .
PRlMEIRO CONSELHEIRO
Vamos correndo organizar 0exerciro,
SEGUNDO CONSELHEIRO
E reunir os vfveres,
TERCEIRO CONSELHEIRO
E preparar a artilharia e as fortalezas.
QUARTO CONSELHEIRO
E separar 0dinheiro para as tropas.
p A J DBU"'
Ahl nao, nada disso! Eu te mata. Dinheiro eu nao dou. Essa
e rnuito boa! Antes me pagavam para eu fazer a guerra, e ago-
ra querem que ela seja feita por minha conta. Nao, pela luz da
minha vela verde, podemos fazer a guerra, ja que estao todosenfurecidos, mas sem desembolsar urn tostao.
TODOS
Viva a guerra!
111
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 57/91
CENA VIII
O ca mpo , p er to d e Varsooia.
SOLDADOS E OFICIAIS DA CORTE
Viva a Po16nia! Viva 0Pai Ubu!
PAl UBU
Ah! Mae Ubu, passe a minha eouras:a e meu bastaozinho
de pau. Daqui a pouco vou ficar tao pesado que nem consigo
sair do lugar se alguem vier arras de rnim,
MAE UBU
Arre, que covarde!
P A l UBU
Ah! Agora quem esta me atrapalhando e 0 sabre de mer-
dra, e 0 gancho-das-£lnans:as, que nao fica no lugar!!! Nao
aeabo nunea de me arrumar, os russos van chegar e acabar me
matando.
UM SOLDADO
Senhor Ubu, a tesoura de ordhas esta caindo.
P A l UBU
Eu te mato com 0gancho de merdra e a faca de face.
MAEUBU
Como de fica bonito com 0 eapacete e a couraca, pareee
uma ab6bora paramentada.
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 58/91
Alfred Jarry
PAl DBU
Ah! Agora vou montar no meu cavalo. Podem trazer, se-
nhores, 0 cavalo das phynancas,
M A E DBU
Pai Ubu, 0 seu cavalo nao agUenta esse peso, faz cinco dias
que nao come e esta quase morro.
P A l DBU
Essa e boa! Me cobram doze tost6es por dia para cui d ar
desse animal, e de nfio consegue me carregar. E a senhora
pouco esta ligando, cornos de Ubu! Ou sera que esta me rou-
bando? (A M ae U bu enrubesce e baixa os olhos.) Entao que me
tragam outro animal, mas a pe e que eu nao vou, cornos de
esbulho!
(Trazem-lhe um cavalo enorme.)
P A l DBU
Agora vou montar. Oh] Mal me sentei e ja vou cairo (0 ca -
ualo s a i andando .) Ah! Parem esre animal, Deus do ceu, assim
vou cair e morrer!l!
MAE DBU
Ele e mesmo urn imbecil. Ahl Agora conseguiu se endirei-
tar. Mas caiu no chao.
PAl UBU
Cornos da ffsica, quase que eu morro! Tanto faz, vou para a
guerra assim mesmo e rnato todo mundo. Ai daquele que nao
marchar direito. Enfio todo mundo no bolso, com torcao do
nariz e dos dentes e extracao da lingua.
MAE UBU
Boa sorte, senhor Ubu,
Ubu rei 115
P A l D BU
Esqueci de dizer que the entrego a regen cia do pais. Mas le-
vo comigo 0 livro das Iinancas, e ai de voce se me roubar, E
deixo como seu ajudante 0palatine Giron. Adeus, Mae Ubu,
M AE UBUAdeus, Pai Ubu. Mate bern 0czar.
P A l D BU
Com certeza. 'Ibrcao do nariz e dos dentes, extracao da lfn-
gua e insercao profunda do bastaozinho de pau nas orelhas.
(0 exercito se p o e e m m ar ch a a o so m d as f an fa rra s.)
MAEDBU
(So.} Agora que esse gordo imbecil foi embora, vamos cui-
dar de resolver nossos neg6cios, matar Bougrelas enos apode-
rar do tesouro.
F im d o te rc eir o a to .
.-.OJ;
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 59/91
, QUARTOATO
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 60/91
CENAI
A cr ip ta d os a ntig os re is d a P olO nia , n a c ated ra l d e V t1r so via .
M A E UBU
E entao, onde sera que fica esse tesouro? Nenhuma das lajes
do piso soa oca. Contei direitinho treze passos a partir do ni-
mulo de Ladislau, 0Grande, ao lange da parede, mas nao en-
contrei nada. Devem ter me enganado. Ah, mas achei alguma
coisa: aqui a pedra tern urn som oeo. Maos a obra, Mae Ubu.Coragem. Vamos soltar esta pedra. Ela esta bern presa. Vamos
pegar essa ponta do gancho-das-finan~as que ainda pode aju-
dar. Pronto! E e aqui mesmo que esta 0 ourd, no meio das os-
sadas dos reis. Para dentro do nosso saco, entao, tudo! Epa!
Que barulho foi esse? Sera que ainda existe alguern vivo debai-
xo dessas velhas' cupulas? Nao, nao foi nada. Depressa. Vamos
pegar tudo. A luz do dia esse dinheiro vai ter muito melhor
aparencia do que aqui, no meio dos nimulos dos prineipes an-
tigos. Vamos reeolocar a pedra. 0 que foi? De novo 0mesmo
barulho. Minha presen~a neste lugar me causa urn ternor es-
tranho. Pegarei 0 resto do Duro outra vez. Voltarei amanha.
UMA voz(E le ua nd o- se d a t um b a d e J ea n S ig is mo nd .) Isso nunca, Mae
Ubu!
(AM ae U bu flg e pertu rbad a e sa i ca rreg and o 0 o u ro r ou ba -
d o p el a p or ta s ec re ta ')
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 61/91
CENA IIA p ra ra d e V ars ov ia .
B ou gr ela s e s eu s s e g uid or es , P o vo e Soldados.
BOUGRELAS
Avante, amigos! Viva Venceslas, viva a Polonial Pai Ubu, 0
velho malfeitor, foi embora, e s6 fiCOll a bruxa da Mae Ubu
com seu palatine. Eu me otereco para marchar a frente de vo-
o~se recuperar 0 trono para a raca dos meus pais,
TODOS
Viva Bougrelas!
BOUGRELAS
E vamos supeimir todos os impostos criados pelo pavoro-
so Pai Ubu.
TODOS
Hurra! Avante! Vamos correr ate 0 palacio e massacrar es-
sa gente.
BOUGRELAS
Ei! Olhem ali a Mae Ubu saindo com seus guardas pe-
la escada!
MAE DBU
o que desejam, senhores? Ah! E Bougre1as!
(A mu lt id d o l he a t ir a ped ra s .)
122
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 62/91
Alfred larry
PRIMEIRO GUARDA
Quebraram todos os vidros.
SEGUNDO GUARDA
SaOJorge, fui derrubado.
TERCEIRO GUARDA
Maldicao, estou morrendo.
BOUGRELAS
Atirem mais pedras, meus amigos.
PALATINOGIRON
Ora! E assim?
(P uxa a es pa da e se pre eipita a o a ta qu e, pr ov oe an do u ma e ar-
n if ic in a me donb a .)
BOUGRELAS
Nos dois agora!Defende-te, imbecil covarde.
( O s d o is d u el am .)
GIRON
Estou morro!
BOUGRELAS
Vitoria, amigos! Agora chegou a vez da Mae Ubu!
(Ouu em - s e t romb et a s')
BOUGRELAS
Ah! Sao osNobres que estao chegando. Vamos correr e pe-
gar essamegera!
TODOS
Enquanto nao conseguimos enforcar 0velho bandido!
Vi M ae U bu fo ge, pe rs eg uid a p or to do s o s po lo nes es . T iro s d e
fu zil e g r an izo d e p e dr ad as .)
CENA II I
o Exerci to polonis em m ar ch a p ela U cr dn ia .
PAl UBU
Cornos meus, pes de Deus, cabeca de vaca! Vamos pere-
cer,pois estamos morrendo de sede e muito cansados. Senhor
Soldado, tenha a bondade de carregarmeu elmo das financas,
e voce, senhor lanceiro, encarregue-se da tesoura de merdra e
do basrao da physica para aliviar nossa pessoa, pois, repito, es-tamos fatigados!
( O s S ol da d os o be d ec em .)
PILE
Hum! Senhor! E espantoso que os russos nao apare<;:am.'~
PAl UBU
E de faro lamentavel que 0 estado das nossas financas nao
nos permita contar com meios de transporte a altura do nos-
so tamanho; porque, por medo de esgotar nossa montaria, £ 1-zemos todo 0 caminho ape, puxando nosso cavalo pela re-
dea. Mas quando chegarmos de volta a Pol6nia, imaginate-
mos, lancando mao de nossa ciencia em [{sicae auxiliado pe-
las luzes dos nossos conselheiros, uma viatura movida a vento
capaz de transportar todo 0exercito,
eOTICE
Eis Nicolau Rensky que chega a galope.
124 AlfredJarry
. . . . ,.
Uburei 125
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 63/91
PAl UBU
o que houve com esse rapaz?
RENSKY
Esta tudo perdido, majestade. Os poloneses se revoltaram.
Giron foi morto e Mae Ubu fugiu para as montanhas.
PAl UBU
Ave noturna, animal de mau agouro, coruja de polainas!
Onde foi que voce pescou essas lorotas? Essa e muito boa! E
quem fez isso? Bougrdas, aposto. De onde voce vern?
RENSKY
De Varsovia, nobre senhor.
PAl UBU
Rapaz da minha merdra, se eu acreditasse em voce, faria 0
exercito inteiro dar meia-volta. Mas, senhor menino, voce traz
mais plumas do que cerebro em cima dos ombros, e andou
sonhando essas tolices. Siga ate a vanguarda, meu rapaz, os
russos nao estao longe e daqui a pouco precisaremos esgrimir
com todas as nossas armas, tanto de merdra como das phynan-
<;ase da physica.
o GENERAL LAsCY
Pai Ubu, nao esta vendo na planicie os russos?
PAl UBU
E verdade, os russos! Agora estou frito. Se pelo menos exis-
tisse algum modo de ir embora, mas nao ha jeito, estarnos
num ponto alto e ficaremos expostos a todos os golpes.
o EXERCITO
Os russosl 0 inimigo!
PAl UBU
Vamos, senhores, tomar nossas disposicoes para a batalha.
Ficarernos no alto da colina e nao cometeremos a tolice de des-
cer. Eu me porei bern no meio, qual uma cidadela viva, e os se-
nhores todos gravitarao a minha volta. Devo recomendar-lhes
que enfiem em seus fuzis 0maximo de balas que des aglien-tarem, pois oito balas podem matar oito russos e, nesse caso,
serao tantos a menos para me atacar pelas costas. Vamos arru-
mar a infantaria a pe na base da colina para receber os russos
e matar urn pouco deles, a cavalaria por tras para se atirar na
confusao e a artilharia em torno do moinho de vento aqui pre-
sente para disparar no meio do tumulto, Quanto a nos, nos
nos manteremos no interior do dito moinho de vento e atira-
remos com a pistola das phynancas pelajanela. Atravessado na
porta poremos 0bastao de fisica e, se alguem tentar entrar, te-
dde enfrentar 0 gancho de merdra!l! .
OFICIAIS
Suas ordens, majestade Ubu, serao executadas,
PAl UBU
Entao! Pois esta rnuito bern, e havemos de sair vencedores,
Que horas sao?
o GENERAL LASCY
Onze da manha.
PAl UBU
Entao vamos almocar, pois os russos nao irao atacar antes
do meio-dia, Diga aos soldados, senhor general, que cumpram
as suas tarefas e entoem a Cancio das Financas.
(Lascy sa i. )
126 Alfred Jar ry
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 64/91
SOLDADOS E PALATINOS
Viva 0Pai Ubu, nosso grande Financista! Ting, ting, ring; ring,
ting, ting; ting, ting, tating!
PAl UBU
Ah, eu adoro os bravos soldados. (Um a ba la de canbdo rus-
sa ch eg a e d esp ed aca u ma p d d o m oin ho .) Ah, estou com medo,
Deus meu rei, estou marta! Mas por outro lado nao, nao so-
fri nada.
CENAIV
O s m esm os , u m C ap it iio e d ep ois 0 Ex er c it o r u ss o .
U M C AP IT Ao
(Chegando. ) Majestade, os russos estao atacando.
PAlUBU
Ora, e a que voce quer que eu fa(fa?Nao foi por ordem mi-
nha. Enquanto isso, Senhores das Financas, vamos nos prepa-
rar para 0 combate.
o GENERAL LASCY
Uma segunda bala de canhao!
PAl UBU
Ah, nao posso.mais. Aqui esta chovendo ferro e chumbo, e
poderiamos danificar nossa preciosa pessoa. Vamos descer.
( To do s d es ce m a p as so a ce le ra do . A b ata lh a a ca ba d e s e i n ic ia r.
D esaparecem em m eio a ca ta ra ta s d e fom ara no pi da c o li na .)
UM RUSSO
(Atirando.)
Por Deus e pelo Czar!
RENSKY
Ah! Estou morto.
128Alfred Jar ry
_ _ __.
Ubu rei 129
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 65/91
PAl DBU
Avante! Ah, voce, meu senhor, se eu te pego, porque vo-
ce me feriu, sabia? Pipa de vinho! Com essa sua garrucha que
nao faz nada!
o RUSSO
Ah, enrao veja so isso.
(E d es fir e-lh e u m tir o d e reuoluer.)
P A l DBU
Ah! Oh! Estou ferido, estou perfiuado, estou esburacado,
estou administrado, estou enterrado. Ah, mas ainda assim!
Ah! Peguei. (Despedara 0 russo. ) Tome! Agora quero te ver re-
comecarl
o GENERAL LASCY
Adiante, avancemos com vigor, atravessemos 0 fosso! A vi-
toria e nossa.
P A l DBU
Voce acha? Ate aqui, sinto minha testa coroada antes de ga-
los do que de folhas de louro.
CAVALARIANOS RUSSOS
Hurrah! Abram carninho para 0Czar!
(0 C za r c heg a, n a c om pa nh ia d e B ord ure d is fo rrado .)
DM POLONES
Ah! Meu Deus! Salve-se quem puder, e 0Czar!
OUTRO
Ah! Pal do ceu! Ele atravessou 0 fosso.
OUTRO
Pal Pum! E quatro cairam rnortos por aquele imenso tenente.
BORDURE
Ah! Voces nao acabam nunca? Tome, Jean Sobieski, 0 que
voce merecel (Derruba-o. ) Agora outros!
( Pr od u z um m a ss ac re d e p o lo n es es .)
P A l DBUAvante, meus amigos. Agarrem esse biltrel Vamos fazer com-
pota dos moscovitasl A vitoria e nossa! Viva a Aguia vermelha!
TODOS
Adiante! Hurra! Perna de Deus! Agarrem 0grandao,
BORDURE
Por sao Jorge, estou caindo.
P A l DBU
(Reconhecendo Bordure .) Ah, e voce, Bordure! Ah, meu ami-go! Ficamos muito satisfeitos, eu e todos os demais, de encon-
tra-lo aqui. Vou mandar cozinha-lo em fogo brando. Senhores
das Financas, acendam 0 fogo. Oh! Ah! Oh! Vou morrer. Foi
pelo menos urn tiro de canhao 0que eu levei. Ah! Meu Deus,
perdoai meus pecados. Sim, foi mesmo urn tiro de canhao.,..~
BORDURE
Foi urn tiro de pistola com polvora seca.
P A l DBU
Ah! E voce zomba de mimi Ainda! Eu te ponho no bolsol
( A ti ra - se s o br e e le e 0 despedaca. )
o GENERAL LASCY
Pai Ubu, estamos avancando em todas as frentes.
P A l DBU
Estou vendo, e nao agiiento mais, ja estou crivado de pon-
130 Alfred J arryUbu rei l31
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 66/91
tapes, queria me sentar no chao. Ah! Minha garrafa!
o GENERALLASCY
Va pegar a garrafa do Czar, Pai Dbu.
PAl DBU
Isso!Vou agora mesmo. Vamos!Sabre de merdra, eumpraoseu ofieio, e voce, gancho-das-financas, nao va tiear para tras.
E que 0basrao da fisiea trabalhe em generosa emulacao e corn-
partilhe com 0bastaozinho de pau a honra de massacrar, per-
furar e subjugar 0 imperador dos moscovitas, Avante, senhor
nosso eavalodas financas!
(Prec ip i ta - se s obre 0 Czar')
DM OFICIAL RUSSO
Em guarda, majestade!
PAl DBU
Tome, vocel Oh! Ai! Ah, mas ora essa!Ah! Meu senhor,
perdao, deixai-rne em paz. Oh! Mas nfio foi de proposito!
( Fo ge , e I p er se gu id o p elo C za r.)
PAl DBU
Santa Virgem, esse loueo esta me perseguindo! 0 que foi
que eu fiz, santo Deus?! Ah! E ainda preciso atravessar de
volta 0 fosso. Ah! Sinto que ele esta ehegando arras de mim,
com 0 fosso bern a minha frente! Coragem, vamos feehar osoIhos!
(Elepula 0flsso. 0C za r ca i n a u ala .)
o CZAR
Ora, Iiquei aqui dentro!
POLONESES
Hurra! 0 Czar eaiu!
PAl DBU
Ah! Nem ouso me virar! Ele ficou Ia dentro. Ah! Bern fei-
to, e vamos cair em eima. Vamos, poloneses, vamos a issocom toda a disposicao, ele tern as costas largas, 0 miseravell
N~m me atrevo a oIhar! Mas ainda assim nossa previsao se
realizou totalmente, 0 basrao da fisica faz maravilhas e nao
ha duvida de que eu 0 teria matado por complete nao fos-
se um terror inexplicavel que interveio e anulou os efeitos
da nossa coragem. Mas fomos inesperadamente obrigados a
virar a casaea, e so devemos nossa salvacao a nossa habili-dade de cavaleiro, bem como a solidez dos jarretes de nos-
so cavalo das Iinancas cuja rapidez so se compara a sua so-
lidez, celebrizada pela leveza, alem da profundidade do fos-so que bern na hora oportuna se abriu diante dos passos do
inimigo de nos aqui presente, Mestre das Phynancas, Tudo
muito bem, mas ninguem esta me escutando. Vamos! Born,
a coisa recornecal
( Os d ra gO e s r us so sf oz em um a c ar ga e li be rt am 0 Czar.)
o GENERAL LASCY
Dessa vez e a debandada!
PAl UBU
Ah! Eis a ocasiao de por os pes a obra. Ora, senhores polo-neses, em frente! Ou melhor, para trasl
POLONESES
Salve-sequem puder!
PAl UBU
Vamos!A caminho. Quanta gente, que fuga, que multidao,
132 Alfred Jar ry
- . ~
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 67/91
como escapar desse tumulto? (E empurrado.) Ah! Mas voce,
preste atencao, ou acaba experimentando a coragem fervente
do Mestre das Phynancas, Ah! Ele foi embora, salvemo-nos e
depressa enquanto Lasey nao esta vendo.
(Sai, e e m s eg u id a v ee m -s e p a s sa r 0 Czar e 0Ex er c it o r u ss o p e r-
segu indo ospo lone ses .) CENAV
Uma cauerna na Litudnia. Neva. Pai Ubu, Pile, Cotice.
PAl UBU
Ah! Que tempo maldito, faz urn frio de rachar pedras e a
pessoa do Mestre das Phynancas sofre muito com de.
PILE
Ora! Senhor Ubu, ja se recuperou do seu terror e da sua es-
capada? '
PAl UBU
Siml Nao estou mais com medo, mas alguma coisa ainda
escapa.
COTICE
(A parte.)
Que porcalhao!
PAl UBUEi, senhor Cotice, a sua orelha, comoesta?
COTICE
Tao bern quanto pode, senhor meu, estando tao mal. Em
consequencia de que 0peso do chumbo faz tudo pender na di-
recao cia terra e nao consegui extrair a bala.
PAl UBU
Pois e bern feito! Voce tarnbem que ria sempre bater nos
134 Alfred larry
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 68/91
outros. Eu, pelo meu lado, dernonstrei 0 mais alto valor, e
sem me expor massacrei quatro inimigos corn as proprias
maos, sem con tar os que ja estavam mortos enos liquida-
mos de vez.
eOTICE
E voce sabe, Pile, 0 que foi feito do pequeno Rensky?
PILE
Levou uma bala na cabeca,
PAl UBU
Corn que entao meu frangote e meu narciso na flor da ida-
de foram ceifados pela foice implacavel do ceifeiro implacavel
que ceifa implacavelmente com sua impiedosa podadeira. _
Assim 0jovem Rensky deu seu primeiro canto de galo, e lutou
muito bern enquanto isso, mas e que havia russos demais!PILE E eOTICE
Ha! Senhor!
UMECO
Hrron!
PILE
o que sed? Desembainhemos nossas laminas.
PAl UBU
Ah, naol E essaagora, mais russos, aposto! Estou farto!Masdepois e bern simples, se eles me agarrarem, eu ponho todos
no meu bolso.
CENA VI
O s m es mo s. E ntr a u m u rs o.
eOTICE
Hi, Senhor das Financasl
PAl UBU
Ah!Vejam so que toto bonitinho. Ele e urn arnor!
PILE ,
Cuidado! Ah! Que urso enorme: meus cartuchosl
P A l UBU
Urn urso! Ah, que monstro atroz! Ah, pobre de mim, YOU
sercomido! Que Deus me proteja. E ele esta vindo para mim.
Nao, e Coticeque ele pegou. Ah! Que alivio.
( 0 u r so s e a t ir a s ob re C o ti ce . P il e 0 a ta ca a f aca da s. U bu s e r e-
fo gia em cim a d e u ma pedra .)
eOTICE
Socorro, Pile! Socorro! Acuda, senhor Ubu!
PAl UBU
Que lastimal Voce que sevire, meu amigo; por enquanto,
estamos recitando 0 nosso Pa te r N o s te r . Cada urn na sua ho-
ra de ser comido.
PILE
Peguei, agora peguei de jeito.
136Alfred J arry
. .. .. -
Uhu rei 137
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 69/91
COTICE
Firme, amigo, ele cornecou a me largar.
PAl UEU
Sanctificetur nomen tuum.
COTICE
Biltre covarde!
PILE
Oh! Ele me mordeu! Senhor, salvai-me, vou morrer.
PAl UEU
Fiat uoluntas tual
COTICE
Ah! Consegui ferir a besta!
PILE
Hurra! Ele esta perdendo sangue.
(Em meio aos gritos dos palatinos, 0 urso berra de dor e Ubu
continua murmurando.)
COTICE
Segure0bicho firme, que vou usar uma granada.
PAl UEU
Panem nostrum quotidianum da nobis hodie.
PILE
E agora, ele ja esta morrendo? Nao agUento mais.
PAl UEU
Sicut et nos dimittimus debitoribus nostris.
COTICE
Ah! Peguei.
(Ouue-se uma explosiio, e 0 urso cai morto.)
PILE E COTICE
Vitoria!
PAl UEU
Sed libera nos a malo. Amen. Afinal de esta bern morro? Pos-
sodescer da minha pedra?
PILE
(Com desprezo.) Tanto quanto quiser.
PAl UEU
(Descendo.) Voces podem se gabar de que, se ainda estao
vivos e se ainda percorrem as neves da Lituania, tudo devem
a virtude magnanima do Mestre das Financas.ique se empe-
nhou, seesforcou e se esgoelou para debitar paternosters em fa-vor da sua salvacao e que brandiu 0 gladio espiritual da prece
com a mesma coragem e eficicia com que voces brandiram 0
gladio temporal da granada do aqui presentepalatino Cotice.
E na verdade fornos ainda mais longe na nossa devocao, pois
nem hesitamos em subir num penedo bern alto para que nos-
sas preces ficassernmais perto de chegar aos ceus.
PILE
Besta repelente!
PAl UEU
E eis urn animal de born porte. Cracas a rnirn, voces tern
o que comer. Que barriga, senhores! Os gregos ficariarn rnais
bern acomodados nela do que dentro daquele cavalo de pau,
e faltou poueo, caros arnigos, para que tivessernos a oportu-
nidade de verificar sua capacidade interior com nossos pro-
prios olhos.
138 Alfred JarryUhu rei 13 9
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 70/91
PILE
Estou morto de fome. 0que vamos comer?
COTICE
Ourso!
PA l UBUOra, pobres hornens, e vamos comer 0 urso cru? Nao trou-
xemos nada para acender 0 fogo.
PILE
E nao temos as pederneiras dos nossos fuzis?
p A J UBU
Isso mesmo, e verdade. E depois, acho que vi nao longe
daqui urn pequeno bosque onde deve haver galhos secos. Va
buscar, senhor Cotice,
(C otic e s ai a nd an do p ela n eu e.)
PILE
E agora, senhor Ubu, va cortar a carne do urso.
p A J UBU
Ah, naol Talvez ele nao esteja bern rnorro. Voce, por outro
lado, ja esta quase meio comido e mordido por todo lado, e as-
sim esta pronto para a tarefa, Vou acendendo 0 fogo, enquan-
to espero-o chegar com a lenha.
( Pi le c om e ca a c ar ne a r 0 urso.)
Oh! cuidado, ele se mexeu!
PILE
Mas senhor Ubu, ele ja esta frio.
p A J UBU
Que pena, seria bern melhor corne-lo quente. Isto vai pro-
vocar uma indigestao no Senhor das Financas,
PILE
(it parte.) E revoltante. (Alto.) Ajude aqui urn pouco, senhor
Ubu, nao consigo fazer tudo sozinho,
PAl UBU. .~Nao, eu nao posso fazer nada! Estou deveras cansado!
COTICE
(Entrando.) Quanta neve, meus amigos, ate parece que es-
tamos em Castela ou no P610 Norte. Comecon a anoitecer.
Daqui a uma hora vai estar escuro. Vamos nos apressar en-
quanto ainda enxergamos claramente.
p A J UBU
Isso, ouviu, Pile? Mais depressa. Voces dois, se apressem!
Ponham a carne desse animal no espeto, assem' logo esse ani-mal, estou com fome!
PILE
Ah, assim ja e demais! Se nao trabalhar, nao vai comer na-
da, esta me ouvindo, fominha?
p A J UBU
Ah! Por mim tanto faz, como a carne crua rnesmo, quem
perde sao voces. E tam bern estou com sono!
COTICE
o que podemos fazer, Pile? Vamos preparar 0 jantar sozi-
nhos mesrno, e nao damos nada para ele. E pronto. Ou entao
s6 lhe damos os ossos.
PILE
Esta bern. Ah, agora 0 fogo flambou.
140 Alf red J a rr y
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 71/91
PAl UBU
Ah! Que born, agora ficou mais quente. Mas ainda vejo
russos por todo Iado. Que fuga, meu Deus. Ah!
(Ca i ado rmeci do .)
eOTICEEu gostaria de saber se 0 que Rensky disse e verdade, se a
Mae Ubu foi realmente destronada. Nao me parece nem urn
pouco impossfvel.
PILE
Vamos acabar de fazer 0 jantar.
eOTICE
Nfio, precisamos falar de coisas rnais importantes. Acho
que seria born nos certificarmos da veracidade dessas notfcias.
PILE
E verdade, sera melhor abandonar 0 Pai Ubu ou ficar
com ele?
eOTICE
A noite e boa conselheira. Vamos dormir, arnanha resolve-
mos 0que fazer.
PILE
Nao, melhor aproveitar a noite para irmos embora.
eOTICE
Entao vamos.
(Partem.)
CENA V II
UBU
(Fa la do rm indo .) Ah! Senhor dragao russo, atencao, nao ati-
re para este lado, aqui tern gente. Ah! Ali esta Bordure, como
e mau, pareee urn urso. E Bougrelas, que avan'fa sobre mim!
Ourso, 0 ursol Ah! Foi abatido! Como e duro, Deus do ceu!
Nao quero fazer nada! Va embora, Bougrelas! Esta me ouvin-
do, palhacor E ali esta Rensky, eo Czar! Oh! Eles vao me acer-
tar. E a Rbuel Onde foi que voce pegou esse ouro? Voce pegoumeu ouro, rniseravel, foi fucar na minha tumba que fica na ca-
tedral de Varsovia, perto da Lua. J a morri faz muito tempo,
foi Bougrelas quem me matou e fui enterrado em Varsovia ao
lado de Vladislau, 0Grande, e tambem em Cracovia ao lado
de Jean Sigismond, e tambern em Thorn, na casamata, com
Bordure! E olhe"e le ai de novo. Mas va embora, urso maldito!
Voce se parece com Bordure. Estd me ouvindo, animal do de-
monic? Nao, nao esta escutando, os desgracados cortaram-lhe
as orelhas. Vamos descerebrar, rnatar, cortar as orelhas, arran-
car a phynanca e beber ate morrer, e a vida dos Desgracados, ea felicidade do Mestre das Financas.
( Ca la -s e e v o lt a a d or m ir .)
F im do quarto a to .
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 72/91
3 QUINTO ATO
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 73/91
CENAI
N oite . P ai U bu d orm e. E ntr a a M ae U bu s em v e-Io . E scu rid iio
comple ta.
MAEUBU
Finalmente achei urn abrigo. Aqui estou s6 , nao e uma lasti-
rna, mas que corrida desenfreada: atravessar a Polonia ern qua-
tro dias de ponta a ponta! Todos os males me assolaram ao mes-
mo tempo. Assim que aquele jumento gordo vai.embora, resol-vo ir a cripta enriquecer, Logo depois quase fui apedrejada por
aquele Bougrelas e os outros raivosos. Perco 0cavaleiro que me
escoltava, 0 palatine Giron, tao apaixonado pelos meus atrati-
vos que pasmava de encantamento cada vez que me via, e ate,
me contaram, quando nao me via, 0 que e 0ciimulo da ternu-
ra. Por mim, el~era capaz de se deixar ser cortado ao meio, po-
bre rapaz. A prova e que foi cortado ern quatro por Bougrelas.
Paf pif pam! Ah! Achei que ia morrer. Depois, fujo de la , per-
seguida pela multidao em Furia. Deixo 0palacio, chego a beira
do Vfstula, sentinelas em todas as pontes. Atravesso 0 rio a na-do, esperando cansar meus perseguidores. De todos os lados,
a nobreza se reune contra mim. Mil vezes quase chego a rnor-
rer, sufocada por urn drculo de poloneses encarnicados com a
ideia de me matar. Finalmente consigo enganar seu furor e, ao
cabo de quatro dias de correria pelas neves que cobrem 0que
foi meu reino, consigo finalmente refugiar-me aqui. Nao co-
mi nem bebi nesses quatro dias. Bougrelas me seguia muito
146 Alfred Jar ryUbu rei 147
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 74/91
de perto ... Finalmente, cis-me salva. Ah' Estou marta de can-
saco e de frio. Mas bern que gostaria de saber a que foi feito
do meu gordo polichinelo, quer dizer, meu respeitavel esposo.
Tomei dele muita finan<;a. Roubei dele muita pataca. Muita
cenoura arranquei daquela horta. E 0 seu cavalo das finan<;as,
que morria de fome: quase nunca via aveia, 0pobre-diabo, Ah!A historia e boa. Mas ai de miml Perdi meu tesouro! Ficou em
Varsovia, e quem quiser que va buscar.
P Al UBU
( Com e ca n do a d e sp e rt ar .)
Peguem a Mae Ubu, e cortem-lhe as orelhasl
M AE U BU
Ah! Meu Deus! Onde estou? Perdi a cabeca, Ah, nao! Deus
do ceulGra<;as a Deus entrevejo.
o senhor Pai Ubu que dorme aqui perto de mim,
Vamos nos fazer de gentil . E entao, meu gordo, dormiu bern?
P Al UBU
Muito mal! Era duro demais, aquele urso!
Comb ate entre os vorazes e os coriaceos, mas os vora-
zes comeram e devoraram por completo os coriaceos, co-
mo a senhora ha de ver assim que 0 dia clarear; ouviram,
nob res palatinos?
MAEUBU
Mas a que ele esta babujando? Picou ainda mais cretino do
que era ao partir. De quem esta falando?
PAr UBU
Cotice, Pile, respondam, sacos de merdra! Onde se enfia-
ram? Ah, estou com medo. Mas enfim alguem falou. Quem
esta falando? Nao deve ter sido 0urso. Merdra! Onde estao os
meus fosforos? Ahl Devo ter perdido na batalha.
M AE U BU
(A parte.) Vamos aproveitar a situacao e a noire, simulan-
do uma aparicao sobrenatural e fazendo com que de prometa
perdoar nossas canalhices.
p : U UBU
Mas, por santo Antonio! Alguern esta falando. Perna de Deus!
Quem ser enforcado!
M AE U BU
( En g ro ss an d o a v o z. ) Pois bern, Pai Ubu, alguem esta rnes-
mo falando, e a trombeta do arcanjo que vai erguer os mor-
tos das cinzas e do po final nao falaria de outro modo. Escuta
esta voz severa. Pertence ao arcanjo Gabriel, ql,le so pode dar
bons conselhos,
P Al UBU
Oh! E essa, agora!
MAE UBU
Nao me interrompa, ou eu me calo e vai ser 0 fim da sua
carcaca!
P A l UBU
Ah, minha bandulha! Vou ficar quieto, nao digo rnais nada!
Continue, senhora Aparicaol
MAE UBU
Dizfamos, senhor Ubu, que 0 senhor era urn sujeito gordo!
P A l UBU
E rnuito gordo, de fato, e verdade.
148A l fr ed J a rr y Ubu rei 149
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 75/91
M A E UBU
Cale a boca, com os diabos!
PAl UBU
Oh! Mas os anjos nao falam assim!
M A E UBU
Merdra! (Continuando.) 0 senhor e casado, senhor Ubu?
PAl UBU
Perfeitamente, com a ultima das megeras!
MAEUBu
Deve estar querendo dizer que e uma mulher encantadora.
PAl UBU
E urn horror. Ela tern garras por todos os lados, dificil se-
gura-la.
M A E UBU
Pois para segura-la 0 senhor precisa usar carinho, majesta-
de: e se 0 senhor segura-la bern desse jeito, vai ver que ela nao
deixa nada a dever a Venus de Samotracia,
PAl UBU
Quem 0 senhor esta dizendo que tern tracas?
MAE UBU
o senhor nao esta me ouvindo, senhor Ubu; escute-nos
com uma orelha mais atenta, c A parte.} Mas vamos nos apres-
sar, 0dia esta quase nascendo. Senhor Ubu, sua mulher e ado-ravel e encantadora, e nao possui urn tinico defeito ..
PAl UBU
o senhor esta enganado, nao existe urn unico defeito que
ela nao possua.
M A E UBU
Silencio! Sua mulher nao the e infiel!
PAl UBU
Pois bern que eu gostaria de ver se alguem poderia se apai-
xonar por ela, E uma harpia!
MAEUBU;:;
El a nao bebel
PAl UBU
Depois que eu tomei a chave da adega. Antes, as sete da ma-
nha ela ja estava tonta e se perfumava com aguardente. Hoje
que ela se perfuma com heliotropic, nao cheira mais mal. Por
mim tanto faz. Mas agora 0 iinico a ficar tonto sou eu!
MAEUBU
Esnipido personagem! - Sua mulher nao rouba 0 seu ouro.
PAl UBU
Ora, essa e muito boa!
MAE UBU
Ela nunca desviou nem urn tOSIaO!
PAl UBU
E a prova e nosso nobre e infeliz cavalo das Phynancas que,
depois de tres meses sem ser alimentado, precisou fazer toda a
campanha puxado pela redea de urn lado ao outro da Ucrania.E acabou morto no meio da guerra, pobre animal!
M A E UBU
Tudo uma enfiada de mentiras, sua mulher e urn modelo e
o senhor, sim, parece urn monstro!
PAl UBU
Tudo uma enfiada de verdades. Minha mulher e uma ban-
150 Alf red J a rr y
-_ .~
Ubu rei 151
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 76/91
dida e 0 senhor, sirn, parece urn palermal
M A E UEU
Veja 1 :1 0que diz, senhor Ubu!
PAl UBU
Ah! E verdade, esqueci com quem estava falando. Nao, eu
nao disse issol
M A E UBU
o senhor matou Venceslas.
PAl UBU
Mas nfio foi culpa minha, claro. Poi a Mae Ubu que teve
a ideia,
MAEUBU
o senhor causou a morte de Boleslas e Ladislas.
P A l UBU
Azar 0 deles! Queriam me ataear!
M A E UBU
o senhor nao eumpriu a promessa que fez a Bordure e, mais
tarde, matou 0capitao,
P A l UBU
Prefiro reinar eu na Litu:inia, em vez dele. Agora, nao e urnnem 0outro. De maneira que fica claro que nao fui eu.
MAE UBU
56 tern urn modo de 0senhor conseguir ser perdoado por
todos os seus erros.
P A l UBU
Qual? Estou disposto a me transformar num santo, quero
virar bispo ever meu nome na folhinha.
MAE UBU
o senhor precisa perdoar a Mae Ubu por ela ter desviado
certa soma de dinheiro.
P A l UBU
Ah, enrao esta resolvido! Perdoarei quando ela me devolver
tudo, quando ela tiver levado a devida soya e ressuscitado meu
ea'valo das finan~as.
MAE UEU
Ele ficou loueo por esse eavalo! Ah! Estou perdida, 0dia es-
ta raiando.
PAl UBU
Mas afinal fico contente de saber agora com certeza que
minha cara esposa me roubava. E agora fiquei sabendo de fori-
te segura. O m nis a D eo s cie ntia , que significa: Omni s , toda; aDeo, ciencia; scient ia, vern de Deus. Eis a explicacao do feno-
meno. Mas a senhora Aparicio nao diz mais nada! 0 que pos-
so the ofereeer como consolo? 0 que me contava era muito di-
vertido. Ora, mas 0 dia dareou! Ah! Senhor, pelo rneu cavalo
das Iinancas, e . ~ Mae Ubu!
MAE UBU
(Descaradamente . ) Nada disso, e you excomunga-lo!
P A l UBU
Ah, carnical
M A E UEU
Que afronta a religiao!
PAl UEU
Ah! Essa e demais. Estou vendo que e voce, sua megera irn-
becil. Que diabo esta fazendo aqui?
152 Alfred larry
- _ . = ,
Ubu rei 153
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 77/91
MAE UBU
Giron rnorreu, e os poloneses me expulsaram.
P A l UBU
];i eu, quem me expulsou foram os tussos: os belos espfri-
tos sempre se encontram.
MAE UBU
A verdade e que urn belo espfrito encontrou urn jumento!
P A l UBU
Ah! Pois bern, entao va encontrar urn palmipede agora! (Joga
o urso e m cim a dela.)
M A E UBU
(C ain do , d er ru ba da p elo p es o d o u rs o.)
Ah, meu Deus! Que horror! Ah, estou morrendo! Sufocada!Ele me mordeu! Ele vai me engolir! Ele esta me digerindo!
P A l UBU
Ele esta rnorto, mulher grotesca. Oh! Mas, na verdade, tal-
vez nfio.Ah, Senhor! Nao, ele nao morreu, aeudam. (Tornando
a su bir e m su a p ed ra .) P ate r n oste r q ui e s...
MAE UBU
(Desembaracando-se . ) Ora! Onde esta ele?
P A l UBU
Ah, Senhor! Ela voltou! Criatura idiota, acho que nao exis-
te maneira de me livrar dela. Esta morro 0 urso?
MAEUBU
Claro, jurnento idiota, ja esta totalmente frio. Como foi
que ele chegou aqui?
P A l UBU
(Confuso.) Nao sei. Ah! Sim, seil Ele quis comer Pile e Co-
tice, e eu 0matei com urn golpe de Pa te r No s te r .
MAE UBU
Pile, Cotice, P a te r N o ste r. 0 que e isso? Ele enlouqueceu,pela minha financal
PAl UBU
Pois foi exatamente como eu te disse! E voce e uma idiota,
minha carcaca!
MAEUBU
Conte como foi a sua campanha, Pai Ubu.
P A l UBU
Ah, nao l E uma hist6ria comprida demais. 56 sei que, apesar
de minha incontestavel valentia, todo mundo me derrotou.
M A E UBU
Como, ate mesmo os poloneses?
P A l DBU
Eles gritavam: viva Venceslas e Bougrelas! Achei que eles
iam me despedacar, Ah! Estavam enfurecidos! E entao mata-
ram Rensky!
MAE UBU
Pois tanto se me da l Voce sabe que Bougrelas matou 0pa-latino Giron?
P A l UBU
Poueo se me dal E ai mataram 0pobre Lasey!
M A E UBU
Pouco se me d:i!
154 Alfred Jar ry
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 78/91
PAl UBU
Oh! Mas ainda assim chegue mais perto, carnical Ajoelhe-
se diante do seu senhor (Ele a agarra e a flr(a a ajoelhar-se.);
voce vai ser submetida ao derradeiro suplkio.
MAE UBU
Ho, ho, senhor Ubul
P A l UEU
Oh! oh! oh! E agora, ja acabou? Pois estou so comecando:
torcao do nariz, arrancamento dos cabelos, penetracao do bas-
taozinho de pau pelas orelhas, extracao do cerebra pelos cal-
canhares, laceracao do posterior, supressao parcial ou mesmo
total da medula espinhal (Se pelo menos issotornasse seu card-
ter menos espinhosol), sem esquecer a excisao da bexiga nata-
toria e, finalmente, a grande degolacao renovada de sao joao
Batista, totalmente copiada das santfssimas Escrituras, tanto
do Antigo quanto do Novo Testamento, atualizado, corrigido
e aperfeicoado pelo aqui presente Mestre das Financasl Esta
bom assim, sacripanta?
(El e a d es pe d ac a .)
MAEUBu
Piedade, senhor Ubu!
(Grande rumor na entrada da cauerna.)
CENA II
Os mesmos e Bougrelas invadindo a caverna em frente de
seus soldados.
BOUGRELAS
Avante, amigos! Viva a Polonia'
P A l UBU
Oh! Oh! Espere urn poueo, senhor Polaco. Espere eu ter-
minar com a senhora minha cara-metade! '
BOUGRELAS
(Golpeando.) Tome, covarde, misedvel, sacripanta, infiel,
maometano!
PAl UBU
(Respondendo.) E tome! Polaeo desgracado, safado, embria-
gado, bastardo, hussardo, moscardo, tartaro, tarado!
MAEUBU
(Golpeando tambem.) Tome, capao, porcalhao, rnalsao,bestalhao!
(Os Soldados seatiram sabre 0 casal Ubu, que sedefende 0me-
lhor que pode.)
PAl UBU
Deus! Quantos reforcosl
156 Alfred Jarry Uburei 157
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 79/91
M A E UBU
Nos temos pes, senhores poloneses!
J £AN SOBIESKI
Ataquem, ataquem, estao chegando a porta, os rniseraveis.
COTICE
Estamos chegando, sigam todo mundo. Por conseqiiencia
estou vendo 0ceu,
PAl UBU
Pela luz da minha vela verde, isso nao acaba mais, sera 0
fim? Mais urn! Ah, se eu tivesse aqui meu cavalo das financasl
P A l UBU
Ah, chegaram! Hurra! Chegaram osPais Ubus. Adiante, che-
guem logo, precisamos dos senhores, servidores das Financasl
(E ntr am o s P ala tin os , q ue se m is tu ra m a o c on flito .)
PILE
Coragem, senhor Ubu!
P A l UBU
, Ah, estou fazendo nas calcas, Em frente, sacripantariol Ma-
tern, sangrem, esfolem, rnassacrem, cornos de Ubu! Ah! Esta
diminuindol
BOUGRELAS
Batam, batam mais!
VOZ DO LADO DE FORA
Viva 0 Pai Ub6, nosso grande contador!
COTICE
Fora, poloneses!
COTICE
Agora sao so dois guardando a porta.
P A l UBU
(D er ru ba nd o o s d o is a u rs ad as .)
E urn, e dois! Ufa! Cheguei do lado de fora! Vamos fugir!
Sigam-me, voces, e depressa!ILE
Ha! Nos nos encontramos de novo, senhor das Financas.
Em frente, empurrem com toda forca, cheguem a porta; assim
que estiverem do lado de fora, basta fugir.
P A l UBU
Ah, esse e 0meu forte. Oh, como de bate!
BOUGRELAS
Deus! Estou ferido.
STANISLAS LECZINSKY
Nao e nada, majestade.
BOUGRELAS
Nao, fiquei so urn poueo aturdido.
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 80/91
CENA II I
o c en dr io r ep re se nta a p ro vin cia d e L iv on ia , c ob er ta d e n ev e.
O s U bus e sua com itiva em fug a.
PAl UBU
Ah!Acho que desistiram de nos alcancar,
MAE UBU
Sim, Bougrelas foi ser coroado.
P A l UBU
Poisnao tenho a menor inveja da coroa dele.
MAEUBU
Tern toda razao, Pai Ubu.
(De s ap a re c em a o l on g e. )
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 81/91
CENAIV
o canoes de um n av io a o la rg o, perto d a costa n o Bd ltico . N o
canoes, 0Pai U bu e todo seu bando.
o COMAN DANTE
Ah, que bela brisa!
PAl UBU
De fato, navegamos com uma rapidez prodigiosa, Devemos
estar fazendo pelo menos urn milhao de nos por hora, enosque, ainda por eima, depois de feitos, nao sedesfazernmais. Ebern verdade que temos 0vento por tras.
PILE
Que triste imbecil.
(U ma r aja d~ ' cbega, 0 n av io ad erna e Ja z 0 m ar c obr ir-se d e
espuma. )
PA l UBU
Oh! Ah! Deus! Estamos naufragando. Mas 0 seu barco estatornbando de lado, e vai afundar.
o cOMANDANTE
Todo mundo para 0 lado de sotavento!Arnarrem a mezena!
PAl UBU
Ah, naol Mais essaagora! Nao fiquem todos do mesrno la-
do! E uma imprudencia, E se0vento mudar de direcao?Todo
162 Alfred Jarry Ubu rei 163
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 82/91
mundo vai parar no fundo do mar, devorado pelos peixes.
o COMANDANTE
Nao eneostem, cacar todas as velas.
P A l U BU
Mas nao, nao e hora de sairacaca! Estou com pressa. En-
eostem logo, estao me ouvindo? A culpa e sua, capitao de
meia-tigela, se nao chegarmos. J a devfarnos ter eneostado. Oh,
oh! Mas entao you eu comandar! Preparar para virar! Valha-
nos Deus! Molhar a ancora, virar de proa para 0 vento, virar
de popa para 0vento. Icar as velas, ca<_;:ars velas. Retranca pa-
ra eima, retranca para baixo, retranca para 0 lado. Estao ven-
do, vou indo muito bern. Vamos ficar de traves para as vagas,
e tudo vai dar certo.
( T od o s s e c on to rc em , a b ri sa r ef te sc a. )
o COMANDANTE
Abrir a bujarrona, cacar a escota do estai da proal
P A l UBU
Nada mal, esta ate bern! Estd ouvindo, Senhora Tripulacaoi
Abrir a burra mijona,e ca<_;:arescrota que ficou a toa!(V drio s se a ca ba m d e rir. U m a o nd a v arre 0 conues . )
P A l UBU
Oh, que diluviol E 0 efeito das manobras que foram or-denadas.
MAE UBU E PILE
E uma coisa deliciosa a navegacao!
(M ais u ma on da u arre 0 conues . )
PILE
(Encbarcado . )
Suspeitai de Sara e suas pompas.
P A l U BU
Garcom, bebidas para todos.(T o do s s e a c om o da m p ar a b eb er .)
MAEUBU
Ah, que delicia! Rever dentro em pouco a doce Franca, nos-
sos velhos amigos e nosso castelo de Mondragon!
P A l U BU
SimI Logo estaremos IiDentro ern pouco chegaremos ao
castelo de Elseneur.
PILE
A ideia de rever minha querida Espanha me devolve a
coragem.
COTICE
Sim, e vamos encantar nossos cornpatriotas com a narrati-
va de nossas ~~ravilhosas aventuras,
P A l U BU
Oh, e evidente! E eu serei nomeado Mestre das Financas
de Paris.
M AE UBU
E isso!Ah! Como joga!
COTICE
Nao e nada, acabamosde dobrar a ponta de Elseneur.
164 Alfred J arry
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 83/91
PILE
E agora nossa nobre nau avanca a toda, singrando as vagas
escuras do mar do Norte.
P A l U BU
Mar feroz e inospito que banha 0pais chamado Cermania,
assim denominado porque as plantas nele germinam. DOSSIE
ALFRED lARRYAEUBU
E isso que eu chamo de erudicao, Dizem que 0pais e mui-to bonito.
P A l U BU
Ah, senhoresl Por mais belo que seja, nao se compara
com a Pol6nia. Se nao existisse a Polonia, nao existiriarn os
polonesesl
Fim.
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 84/91
CRONOLOGIA DA
VIDA DO AUTOR
1873 Nasce Alfred Henri Jarry no dia 8 de seternbro, na cidade de
Laval. Eo segundo filho deAnselme e Caroline Jarry (Char-
lotte , sua irma, nascera em 1865).
Seu pai dir igia uma fabrica de tecidos e era 0primeiro de sua
famil ia a nao exercer urn of icio manual. 0 casamento com
Caroline Quernest , f ilha de urn magistrado, consolidou sua
ascensao social.
1878 Ingressa no Petit Lycee de Laval, onde estuda com Madame
Venel, que usara como personagem em L 'A m ou r a bs ol ut e ( 0
amor ab s ol u to ) .
1879 Sua famflia passa por dificuldades financeiras e seu pai co-
meca a beber, Alfred e sua irma sao levados por sua mae para
viver em Saint-Brieuc, onde viveseu pai, urn juiz de paz. Em
outubro, Alfred comeca a freqlientar a escola dessa cidade,
1885 A partir desse ana escreve seus prirneiros textos em verso e
prosa, mais tarde compilados na obra intirulada Ontogenie.
Ganha varies premios em virtude de seu destacado desem-
penho academico (latim, grego, frances, ingles, cornposicao
e desenho),
1888 Muda-se para Rennes, cidade natal de sua mae.
Freqiienta 0Liceu de Rennes, onde conhece os irrnaos Hen-
ri e Charles Morin. Henri the apresenta uma pec;:aescrita por
Charles em 1885, Le s p o l onai s (Os p o l on e se s ), em que se nar-
ram as aventuras do senhor Hebert , professor de fis ica, que
168Alfred jarry Ubu rei 169
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 85/91
fora convertido em rei da Pol6nia. Esse professor, motivo de
chacota entre varias geracoes de alunos, havia recebido, entre
outros, os apelidos de P.H., Pere Heb (Pai Heb), Eb, Ebe,
Ebon. Sera ele a base para 0protagonista de sua mais famosa
pe<;a, U bu r oi ( Ub u r ei) .
Os potoneses e encenada em dezembro de 1888 e em janeiro
de 1889 na casa dos Morin.
1890 Escreve On e si m e o u l es t r ib u la ti on s d e p r io u , que i r a se trans-formar em Le s polyedres o u L es co me s d u PH , e mais tarde
em U b u c oc u ( U bu cornudo) .
1891-92 Acompanhado de sua mae, muda-se para Pari s para tentar
ingressar na Ecole Norrnale Superieur, mas e reprovado. Fre-
quenta 0Liceu Henri IV; onde estuda retorica superior e se
prepara para a proxima prova da Ecole Normale Superieur.
Dentre as pessoas que conhece, destacam-se 0 professor de
filosofia Henri Bergson e Leon-Paul Fargue.
Em Paris, volta a rnexer na pe<;aOspoloneses . Faz muitas mu-dancas e uma das mais importantes e a al teracao do nome da
personagem P.H. para Pere Ubu (Pai Ubu).
1893 0 texto intitulado Guigno l e publicado no jornal L 'E c ho d e
Paris litteraire i l lustre. dirig ido por Catulle Mendes e Marcel
Schwob. A este ultimo dedicaria U bu r ei.
Em maio perde a mae. Comeca a beber e a escrever cada vezrnais,
Em dezembro, torna-se colaborador da revista L 'Ar t L i tt e -
raire.
1894 Frequenra os saloes da escritora Rachilde (sua grande amigapor toda a vida), esposa de Alfred Vallette , d iretor do Mercu -
r e d e F r an c e, e0grupo de Mallarrne,
Em outubro, 0Me r cu r e d e F r an c e publica seu primeiro livro,
L es M in ute s d e s ab le m em or ia l ( M in ut os d e a re ia memorial).
Sai 0primeiro mimero da revista L 'Ymag i er , ilustrada e diri-
gida por Jarry e Remy de Gourmont.
U bu r oi (U bu re i) e encenada pda primeira vez na sede do
Me r cu r e d e F r an c e, com as portas fechadas.
1895
1896
1897
1898
Conhece Lugne-Poe, diretor do Theatre de l'Oeuvre.
Em novembro, e incorporado ao servico militar no regime
de infantaria de Laval, depois de varies pedidos de aquarte-
lamento em Paris. Deveria prestar servico por tres anos, mas
ao final de 1895 e dispensado por se encontrar doente ,
Rompe com Leon-Paul Fargue e, pouco depois, com Remy
de Gourmont.
oMe r cu r e d e F r an c e publica L'Acte beraldique e L'Acte terres-
tre, ambos presentes em Cisar antecbrist.
Em outubro, morre seu pai, em Laval.
Em novembro, e publicado Cisar antecbrist.
Propoe a Lugne-Poe a encenacao de sua pe(_,":aU bu ro t
(U bu r ei) .
Durante abril e maio, a revista L iv r e d 'A r t, em pre-lanes-
mento, publica U bu r ei.
Jarry e convidado para t rabalhar no Theat re de l'Oeuvre,onde prepara a programacfio ao lado de Lugne-Poe,
Ub u r ei, em cinco atos, e publicado pelo Me r cu r e d e F r an c e.
Em dezembro, estreia Ubu rei no Theatre de l'Oeuvre
numa sessao turnultuada. Nos dias seguintes, os crfticos,
indignados, atacam a pe(_,":a,ue teve curta temporada, com
apenas duas apresentacoes, e so voltou a ser encenada ap6s
a mot te do autor,
A R ev ue B la nc he publica 0 artigo "Question de theat re"
("Questao de teatro"), em que 0 autor contesta as crit icas
que recebera na estre ia de U b u r ei.
Publicacao de uma edicao fac-simile e autografada de Ubu
rei , pdo Mercure , que ainda edita L e s f ou r s e t l es n u it s.
Prepara Ub u c o cu o u L 'A c he o pt er yx (Ub u cornudo).
U bu re i e encenado no Theatre des Pantis com as marionetes
de Pierre Bonnard.
Muda-se para uma vila em Corbeil com Vallette, Rachilde,
Pierre Quil lard, Herold e Marcel Coll ie re, todos seus ami-
gos do Me r cu r e d e F r an c e. A residencia deles sera conhecida
170 Alfred Jarry Ubu rei
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 86/91
1899
1900
1901
1902
1903
como "Phalanstere" (Falansrerio). La corneca a escrever Ges-
t e s e t o p in i on s d u d o c teu r Fau s tr o ll ; p a t aphy si ci en.
Conhece Oscar Wilde.
Publicacao de L 'Am o ur e n v is it es .
Em setembro, morre Stephane Mallarrne.
No final desse ano e no comeco do proximo, publicaE Alm an ac b d u P er e U bu , ilustrado por Pierre Bonnard.
Publica Commen ta ir e p o ur s er v ir a l a c o n st ru c ti on p r a ct iqu e
d e la m a ch in e a explorer le t emps , assinado pelo dr. Faustroll,
e L 'Amou r a b sol u .
A R e vu e B la n ch e publica U bu e nch ainl (U bu acorrentado),
U bu re i e L a c ha ns on d u d lce rv ela ge (C an cso d a descerebra-
gem) , que pertence ao Ub u c o rn u do .
Jarry, com series problemas de saude, deixa seus amigos pre-
ocupados.
Publica Si lenes e Messal ine na Revu e B l an c he. A Ultima serapublicada em livro no ana seguinte .
Com a colaboracao de Karl Rosenval, estreia Leda .
Edita ? Almanach illustre du Pere Ubu XX ' siecle (Almanaque
do Paz U bu para 0 seculo XX), com colaboracao de Pierre
Bonnard, Claude Terrasse, Fagus e Ambroise Vollard.
Sua pes:a U bu sur la b utte (U bu so bre a co lin a) e encenada
pdas marionetes do Theatre Guignol. Na realidade, tra ta-se
de uma reducao da ja conhecida Ub u r ei.
Le surmdle , uma hist6ria extraordinaria que sepassa em 1920
(no futuro, portanto), e publicada pda Revu e B l an c he. Logoem seguida, tern 0primeiro art igo da serie Gestes publicado
no mesmo peri6dico.
Em marco, em Bruxdas, participa de uma conferencia sobre
manonetes,
Colabora nas revistas L a P lu m e e L e c an a rd s au v ag e .
o primeiro art igo da serie P er ip le d e la lit tlr atu re e t d e l 'a rt
e publicado pda revista L a P lu m e, e L a b a ta il le d e Mo r sa n g,
um fragmento de L a d r ag o nn e , pda Revu e B l an c he. Sao dois
1904
1905
1906
1907
dos muitos textos escritos nesse
ne perrnanecera inacabado e, sornellltf': ~"'~H'J"U"N
sua morte, sera publicado.
Com 0 fim da Revu e B l an c he, a situacao de Jarry
se torna cada vez mais dif ic il , apesar da ajuda dos amigos.
Jarry tern seu Ultimo artigo da serie Periple de fa l i t terature et
d e t ar t publicado pela L a P lu m e.
Entre maio e junho, termina Pantagruel , encenada depois de
sua morte , noTheatre des Celestins, em Lyon.
Em julho, Le F i ga r o publica Fan ta is i e par i si enne .
Viaja 1 1 Bretanha, sua terra natal.
Em outubro, inicia aquele que seria seu Ultimo trabalho em
vida (em colaboracao com 0 doutor Sal tas), a t raducao do
romance La pap es s e j ea n n e , de Jean Rhoides, do grego mo-
demo para 0 frances.
Aceita 0convite de Laurent Thai lhade para montar Ubu
rei .
1908
1911
A pec;:aUbu s ab re a c el in a e publicada por Sansot.
Em maio, vai a Laval para visitar Charlotte, sua irma.
Seu estado de saude piora muito. Em meio a uma grave cr i-
se, dita seus ultimos desejos 1 1 sua irma, recebe os derradeiros
sacramelitos e escreve uma carta emotiva 1 1 amiga Rachilde.
Mesmo muito doente, retorna a Paris em julho.
Durante quase 0 ano todo, permanece em Laval, ao lado da
irma.
Retorna a Paris em outubro.Morre no dia lode novembro em decorrencia de uma me-
ningite tuberculosa.
Ap6s uma curta cerimonia fiinebre em Saint-Sulpice, seus
restos mortais sao enterrados no cemiterio de Bagneux.
Publicacao de La pap e ss e j ea n ne .
Publicacao de Ge st es e t o p in io n s d u Do ct eu r F a us tr o ll , p a ta -
physic ien.
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 87/91
1943 Publicacaode La dragonne, pela Gallimard.
1944 A partir de urnmanuscrito queseencontrava com Paul Elu-
ard, e publicada a primeira versao de Ubu cornudo.
PRINCIPAlS OBRASDO AUTOR
1894 Les minutes de sable memorial
1886 Ubu roi (Ubu rei)
1895 Cisar antechrist
1896 L'Autre Alceste
1897 Les jours et les nuits
1898 L'Amour en uisites
1899 L'Almanach du Pere Ubu
L'Amour absolu
1900 Almanach illustre du Pere Ubu XX! siecle
Uda
Messaline
Silenes
Ubu encha,ine (Ubu acorrentado)
1901 Ubu sur L a butte (Ubu sobrea co lma)
1902 Le surmiile
1903 L'Objet aime
1904 Pantagruel
1906 Par la taille
1907 Albert Samain (souvenirs)
Le moutardier du pape
Publicacoes p6stumas
1911 Gesteset opinion du docteur Faustroll, pataphysicien
1943 La dragonne
174 Alfredlarry
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 88/91
1944 Ubu cocu ( Ubu cornudo)
1949 La revanche d e fa nuit
1969 La chandelle verte
1974 le fL'Amour maladroit
Le bon ro i Dagober t
Le manoir enchant!
Pieter de Delft
SUGEST6ES DE LEITURA
BEHAR, Henri. ''Alfred Jarry 0 10 horrorificamente bello". In:
Sabre e l t ea tr o d a da y surrealista. Traducao de J o se Es cue .
Barcelona: Barral Editores, 1970, pp. 29-35.
Behar dedica 0primeiro capitulo do livro ao autor de Ubu
rei, analisando a peya a parti r da linguagem transgressora e de-
finindo seu parentesco com os dadaistas e os surrealistas , sobre-
tudo com base na "encarnacao magistral do eu nietzschiano e
freudiano, que designa 0 conjunto de forcas ignoradas e repri -
midas". 0 ensafsta faz ainda uma breve analise do artigo "Da
inuti lidade do teatro no teatro",
CARPEAUX, Otto Maria. "Happening Ubu". In: JARRY,Alfred.
Ubu rei. Traducao de Ferreira Gullar. Rio de Janeiro:
Civilizacao :shsileira, 1972, pp. IX-XVIII.
Prefacio de Carpeaux a t raducao brasileira de Ferreira
Gullar, em que 0 ensafsta, com a erudicao e a inteligen-
cia costumeiras, faz uma analise de Ubu rei, por de consi-
derada uma manifestacao antiliteraria e uma expressao derevolta da mocidade, semelhante aos happenings, pois "urn
verdadeiro happening e urn ato aparentemente absurdo pe-
1 0 qual se pretende perturbar urn ato serio e cerimonioso de
outros, para torna-lo tam bern absurdo, desrnascarando-o e
denunciando-o" .
176 Alfred J arry U bu rei 177
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 89/91
FARIA,oao Roberto. "Jarry,Apollinaire e 0 teatro de vanguar-
da". In: 0 teatro n a e st an te . Sao Paulo: Atelie Editorial,
1998, pp. 199-206.
6tima resenha da traducao de Ubu re i realizada por Jose
Rubens Siqueira e publicada pela editora Max Limonad, em
1986, com prefacio de Caca Rosser. 0 historiador e crftico do
teatro brasi leiro recupera a historia da criacao do texto e anali-
sa os procedimentos inovadores de Jarry.
FREITAS,u is Fernando Viti de. O s m o vim en to s c ir cu la re s d e
U bu re i. Sao Paulo: FFLCH, 1999. 178p.
Tese de doutorado defendida na Faculdade de Filosofia,
Let ras e Ciencias Humanas da Universidade de Sao Paulo, que
destaca tres caracterfsricas fundamentais de U bu re i: a violen-
cia, 0 humor e 0 grotesco.
]ARRY , Alfred. "Da inutilidade do teatro no teatro". In: BORIE,Monique; ROUGEMONT,Martine de; SCHERER, Jacques.
Estet ica t e a tra l . T e x t o sde Platdo a Br e ch t. 2a ed.Traducao de
Helena Barbas. Lisboa: Fundacao Calouste Gulbenkian,
2004, pp. 362-366.
o livro publica a integra do manifesto mais importan-
te de Alfred larry, "Da inutilidade do teatro no teatro", edi-
tado pela primeira vez em setembro de 1896, no M ercu re d e
France , de Paris.
____ . UBU - Rei U bu, U bu agrilhoado, U bu cornudo ,U b u n o o ute ir o. Traducao de Luisa Costa Gomes. Lisboa:
Campo das Letras, 2005. 344p.
A edicao retine, pela primeira vez em lingua por tuguesa, as
quatro peyas do ciclo Ubu. A traducao integral e os textos que
as acompanham foram encomendados pelo Teatro Nacional
Sao joao, de Lisboa, para a encenacao UBUs , de Ricardo Reis,
que estreou em 13 de abril de 2005.
PRADO,Decio de Almeida. "Ubu rei". In: T e a tr o em p r og r es s o.
Sao Paulo: Perspectiva, 2002. 316p.
Crftica do espetaculo encenado por Alfredo Mesquita com
os alunos da Escola de Arte Drarnatica (EAD), em 1958.
lliNA,Signer. I ng r ed ie nt es p a ra um a " n ou v el le c ui si ne ': ' 0 re i da '
Vela a o m olho d e U bu rei. Sao Paulo: FFCLH, 2000. 238p.
Tese de doutorado defendida na Faculdade de Pilosofia,
Let ras e Ciencias Humanas da Universidade de Sao Paulo, que
apresenta a vida e a obra dos escr itores Alfred Jarry e Oswald de
Andrade e anali sa as peyas U bu rei e 0r ei d a v ela , consideran-
do seu parentesco tematico e formal.
" -~
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 90/91
AUTO RES E TITULOS PUBLICADOS
1. TENNESSEE WILLIMfS U rn bo nd e c ha ma do D es ejo
2. BERNARD SHAW A p roj is sa o da s r a. wa r re n
3. MAQUIAVEL A m a nd rd go ra
4. LUIGI PIRANDELLO Sei s personagens a procura
d e a uto r
5. FEDERICO GARCfA LORCA B od as d e s an gu e
6. S6FOCLES R e i Ed ip o
7. PETER WEISS P er se gu if do e a ss as si na te d e
J ea n -P a ul M a ra t
. - ~1 r e pr e se n ta d o s p e lo g r u po
te atr al d o H os plc io d e
C haren to n sob a direfao d o
s en ho r d e S ad e
8 . MILLOR FERNANDES E ... B ase ad o n um fltov er id ic o q ue a pe na s a in da
ndo aconteceu
9 . ANTON TCHEKHov A s t re s i rm ii s
10. EUGENE O'NEILL L on ga jo rn ad a n oite a de ntr o
11 . SHAKESPEARE Hamle t
5/7/2018 Ubu Rei Ed Peixoto - slidepdf.com
http://slidepdf.com/reader/full/ubu-rei-ed-peixoto 91/91
12. EUGENEIONESCO A lira o
A s c ad ei ra s
13. NICOLAIGOGOL o i ns p et o r g e ra l
14. LESSING Em ilia G aio tti
15. QORPO SANTO As r e la c o es n a tu r ai s PR6XIMOS AUTORESEu sou v ida; eu ndo so u
morte Alva re s d e Az evedo GoetheM ateu s e M ate us a Ang el o P o li zi ano GorkiH oje so u u m; e am anhfi o utro AristOfanes Gu s ta v e F la u be rt
16. MOLIERE o me dic o u o la n te Balzac H ein ric h v on K leist
As p r ec io s a s r id ic u la s Beaumarchais Ibsen
O s c iu m es d o B ar bo uille B e n J on so n Jo hn F ord
B j oe rn st je rn e B j or ns on J oh n K ea ts17. OSCARWILDE A im po rtdn cia d e ser F ie l
Buchner J oh n M illin gto n S yn ge
18. AUGUSTSTRINDBERG Pai C aldero n d e la B arca J os e Z orilla y M ora l
19. ALFRE DJARR Y U bu rei Cervantes L ord B yro n
Ch ris to ph er Ma rlo w e Ludovico Ariosto20. GIL VICENTE F a rs a d e In es P er eir a C on de C arlo G ozzi Marivaux
Auto da IndiaCorneille Musse t
De ni s D id er ot. -.;~
Ostrovski1. HAROLDPINTER A vo lta ao la r
D um as F ilh o Ptichkin22. EDMONDROSTAND Cyrano de Bergerac
Dum as Pai Racine23. CARLOGOLDONI A rie qu im , ser vid or d e d ois Esquilo Schiller
patriJes E ug en e S cr ib e Terencio24. LEVTOLSTor o c ad d ue r v iv o Euripides T ho mas O tw ay
F ra nk Wedek ind T irso d e M olin a25. LOPEDE VEGA F u en te O v eju n a
F rie de ri ch He bbe l T or qu ato T as so
26. EMILEZOLA The re se Raqu in F rie drich M ax im ilia m v on Turguieniev
SENECA FedraKlinger V ic to r H ug o27.
G io rd an o B ru no Voltaire