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FACULDADE DE ENGENHARIA DE MINAS GERAIS - FEAMIG CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO 55 Um enfoque ergonômico para as posturas de trabalho 0 presente trabalho discute o aparecimento de problemas osteomusculares em trabalhadores, em razão da adoção, por parte destes, de determinadas posturas e movimentos na realização de suas atividades laborais. Define, ainda, as posturas e atividades motoras adotadas pelo trabalhador; aborda a coluna vertebral e seu funcionamento. Autora: THAIS HELENA DE CARVALHO BARREIRA Setor de Ergonomia - FUNDACENTRO - SP. 1. Introdução Inúmeros estudos vêm relacionando o aparecimento e desenvolvimento de problemas osteomusculares em trabalhadores com a adoção, por parte destes, de determinadas posturas e movimentações para a realização de suas atividades laborais. Entre os problemas osteomusculares encontrados e estudados, os que apresentam maior incidência são as lombalgias e cervicalgias (HILDESRANDT, 1987; FINOCCHIARO, 1978; KNOPLICH, 1983). Estatísticas brasileiras e mundiais mostram que a lombalgia é a causa mais freqüente de decréscimo permanente ou temporário da capacidade laboral entre as pessoas em idade produtiva (HILDEBRANDT, 1967; FINOCCHIARO, 1978). Pesquisas epidemiológicas identificam alguns fatores de risco relacionados ao trabalho e outros individuais (HILDEBRANDT, 1987), desencadeantes de problemas para a estrutura osteomuscular da coluna vertebral. Os fatores de riscos individuais como idade, sexo, força muscular, grau de condicionamento físico, características de saúde (episódios de reclamações anteriores) e problemas psicossociais, por exemplo, não serão discutidos neste presente artigo. Neste artigo discutiremos, particularmente, os fatores relacionados a situações de trabalho que podem ser prejudiciais á coluna vertebral. Definiremos, assim, posturas e atividades motoras adotadas pelo trabalhador para o cumprimento das exigências de sua tarefa e abordaremos como é a coluna vertebral e como ela funciona. 2. Definições O que é Postura e Atividade Motora no Trabalho 2.1 - Postura A Academia Americana de Ortopedia, citada por KNOPLICH, 1983, define a postura como sendo um arranjo relativo das partes do corpo e, como critério de boa postura, o equilíbrio entre suas estruturas de suporte, os músculos e os ossos, que as protegem contra uma agressão (trauma direto) ou deformidade progressiva (alterações estruturais). As diversas posturas (em pé, deitado, sentado, inclinado à frente, agachado) podem, durante o repouso e o trabalho, ser realizadas em condições mais adequadas, nas quais os músculos podem desempenhar as suas funções mais eficientemente. A má postura, segundo esta mesma entidade, é aquela na qual existe uma falta de relacionamento das várias partes corporais, a qual induz a um aumento de agressão às estruturas de suporte e que resulta em equilíbrio menos eficiente do corpo sobre as suas bases de suporte. ROAF, em citação de KNOPLICH, 1983. define a postura dinamicamente, afirmando que é a posição que o corpo assume na preparação do próximo movimento. Ressalta que este conceito deve ser aplicado a um determinado momento corporal e para uma determinada circunstância ou atividade como: postura para andar, postura para datilografar, postura para ler ou postura para levantar peso.

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FACULDADE DE ENGENHARIA DE MI NAS GERAIS - FEAMIG CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO E M ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO

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Um enfoque ergonômico para as posturas de trabalho 0 presente trabalho discute o aparecimento de problemas osteomusculares em trabalhadores, em razão da adoção, por parte destes, de determinadas posturas e movimentos na realização de suas atividades laborais. Define, ainda, as posturas e atividades motoras adotadas pelo trabalhador; aborda a coluna vertebral e seu funcionamento. Autora: THAIS HELENA DE CARVALHO BARREIRA Setor de Ergonomia - FUNDACENTRO - SP. 1. Introdução Inúmeros estudos vêm relacionando o aparecimento e desenvolvimento de problemas osteomusculares em trabalhadores com a adoção, por parte destes, de determinadas posturas e movimentações para a realização de suas atividades laborais. Entre os problemas osteomusculares encontrados e estudados, os que apresentam maior incidência são as lombalgias e cervicalgias (HILDESRANDT, 1987; FINOCCHIARO, 1978; KNOPLICH, 1983). Estatísticas brasileiras e mundiais mostram que a lombalgia é a causa mais freqüente de decréscimo permanente ou temporário da capacidade laboral entre as pessoas em idade produtiva (HILDEBRANDT, 1967; FINOCCHIARO, 1978). Pesquisas epidemiológicas identificam alguns fatores de risco relacionados ao trabalho e outros individuais (HILDEBRANDT, 1987), desencadeantes de problemas para a estrutura osteomuscular da coluna vertebral. Os fatores de riscos individuais como idade, sexo, força muscular, grau de condicionamento físico, características de saúde (episódios de reclamações anteriores) e problemas psicossociais, por exemplo, não serão discutidos neste presente artigo. Neste artigo discutiremos, particularmente, os fatores relacionados a situações de trabalho que podem ser prejudiciais á coluna vertebral. Definiremos, assim, posturas e atividades motoras adotadas pelo trabalhador para o cumprimento das exigências de sua tarefa e abordaremos como é a coluna vertebral e como ela funciona. 2. Definições O que é Postura e Atividade Motora no Trabalho 2.1 - Postura A Academia Americana de Ortopedia, citada por KNOPLICH, 1983, define a postura como sendo um arranjo relativo das partes do corpo e, como critério de boa postura, o equilíbrio entre suas estruturas de suporte, os músculos e os ossos, que as protegem contra uma agressão (trauma direto) ou deformidade progressiva (alterações estruturais). As diversas posturas (em pé, deitado, sentado, inclinado à frente, agachado) podem, durante o repouso e o trabalho, ser realizadas em condições mais adequadas, nas quais os músculos podem desempenhar as suas funções mais eficientemente. A má postura, segundo esta mesma entidade, é aquela na qual existe uma falta de relacionamento das várias partes corporais, a qual induz a um aumento de agressão às estruturas de suporte e que resulta em equilíbrio menos eficiente do corpo sobre as suas bases de suporte. ROAF, em citação de KNOPLICH, 1983. define a postura dinamicamente, afirmando que é a posição que o corpo assume na preparação do próximo movimento. Ressalta que este conceito deve ser aplicado a um determinado momento corporal e para uma determinada circunstância ou atividade como: postura para andar, postura para datilografar, postura para ler ou postura para levantar peso.

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Enfatizamos a relação da postura com a atividade motora através da abordagem de PAILIARO, citado por DURAFFOURG, GUERIN, JANKOWSKY, MASCOT, 1977, de que a postura constitui uma imobilização das peças do esqueleto em uma certa organização espacial dos seg-mentos corporais que compõem no corpo uma atitude de conjunto. Esta atitude resultante é obtida através de atividade muscular estática. Mas convém considerar igualmente aquela que permite atender a uma dada organização de segmentos corporais em um dado momento: a ati-vidade muscular dinâmica determinante dos movimentos que permitem passar de uma postura a uma outra. É neste sentido que a atitude é um aspecto fundamental da atividade motora anterior e ponto de partida de uma nova atividade motora. A partir desta abordagem de PAILIARO. e seguindo seu raciocínio, observamos que as posturas de trabalho devem ser analisadas sob dois aspectos indissociáveis: a postura propriamente dita e os encadeamentos posturais. Afinal as posturas de trabalho estão com freqüência situadas dentro de um processo contínuo e dinâmico de modificação de postura. Seguindo o pensamento de PAILLARD, as posturas devem ser analisadas através de sua duração (manutenção da postura), freqüência e período total de tempo ao longo do dia (considerando as mudanças posturais). Ressaltamos, também, outra questão muito bem colocada por PAILIARO: a postura ou atitude de conjunto do corpo exprime e maneira pela qual o organismo enfrenta os estímulos do mundo exterior e se prepara para reagir. Tanto é que inicia, acompanha ou finaliza um movimento dirigido para o espaço. Vemos, assim, que a postura não está sempre dissociada da atividade motora. A postura, aqui, é uma atitude do corpo e seus órgãos para a preparação da ação, a sustentação do seu curso e garantia da eficácia de sua execução. Em relação ao trabalho, WISNER, 1987, concorda com PAILLARD e afirma que a realização da tarefa no local de trabalho estabelece um compromisso entre a adoção de uma postura e as exigências da tarefa a serem cumpridas. Ressaltam que o sucesso deste compromisso pode proporcionar efeitos negativos no cumprimento da tarefa ou na postura corporal do trabalhador, uma vez que se coloca em questão o respeito ou não aos fatores restritivos que agridem as estruturas osteomusculares do corpo, discutidos aqui como fatores de risco. Podemos verificar este compromisso numa análise de tarefa grosseira, como, por exemplo, a tarefa de datilografia de uma secretária, em que observamos que, para alcançar o teclado, ela permanece sentada mantendo os braços em flexão de cotovelo, sem apoio; a cabeça fica, a maior parte do tempo, inclinada para a frente e à esquerda com o objetivo de ler o documento a ser datilografado, mas ela precisa realizar movimentos freqüentes de cabeça da esquerda para a frente, de maneira a visualizar o documento que está sendo datilografado, à sua frente, na máquina. 2. Atividade motora Os vários movimentos, pequenos ou amplos, que promovem um rearranjo dos segmentos corporais são chamados de atividade motora. WISNER, 1987, distingue a atividade motora no trabalho nas seguintes categorias: 2.2.1 Gestos de observação: São as atividades motoras usadas para captar sinais, informações. Ex.: movimentos de cabeça e olhos para captar informações visuais de mostradores num painel ou ler documento a ser transcrito. 2.2.2 Gestos de ação: Correspondem aos modos operatórios utilizados pela trabalhador no desempenho da atividade. Ex.: acionar alavanca de comando; colocar pequenos diodos num dispositivo eletrônico. 2.2.3 Gestos de comunicação: Correspondem à linguagem de comunicação gestual, necessária muitas vezes para a continuidade do processo de produção. Verifica-se que a comunicação por gestos e posturas codificadas, e até não codificadas, é bastante freqüente na prática. Ex.: 1: Para uma pessoa que sustenta uma escada para um operador trabalhar, as variações da atividade motora deste operador são gestos de comunicação, pois informam as dificuldades e o progresso do trabalho.

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2: Quando os operários que parafusam um tubo em outro nos poços de petróleo se levantam e depôem suas ferramentas, o operador de guindaste, situado a 30 metros acima deles, considera que pode passar à etapa seguinte. Ou seja, este gesto de ação dos operários é também um gesto de comunicação para o operador de guindaste. 3. Fatores relativos à tarefa (*) que influenciam a adoção de posturas Como já vimos anteriormente, a realização de uma tarefa ocorre em função do cumprimento das exigências que esta coloca, e para o trabalhador garantir o bom sucesso nesta realização, entre outros meios que ele utiliza, encontram-se as posturas e movimentação. Estas exigências podem ser classificadas por alguns aspectos relativos b tarefa em si e à sua realização que abordaremos como fatores que influenciam a adoção de posturas e atividades motoras. 3.1 Natureza da tarefa Ou seja, no que consiste a tarefa. Para o cumprimento da finalidade da tarefa o trabalhador realiza alguns procedimentos operacionais que requerem dele uma certa atividade física e, também, uma determinada atividade mental. Uma das maneiras observáveis da atividade física compreende, exatamente, a adoção de posturas e movimentações. E a atividade mental, objeto muito mais difícil de ser analisado, pode ser traduzido pelos processos sensoriais de percepção e motores de respostas, e também por processos mentais superiores como pensamento, memória, raciocínio espacial e outros. Podemos dar dois exemplos bem grosseiros do que acabamos de dizer: 3.1.1 Um exemplo de tarefa com muita atividade mental e que é realizada na postura em pé mantida por muitas horas, com alguns deslocamentos e que apresenta movimentação de braços e tronco para acionamento de comandos e movimentação de cabeça e olhos para visualização de mostradores, em salas, por exemplo, de controle de operações de trens ou aviões. 3.1.2 Um exemplo da tarefa com muita atividade física: O trabalhador, para tombar a árvore, utiliza o corpo globalmente, aplicando força à árvore com a alavanca em suas mãos e, também, utilizando seu ombro. (Ver figura abaixo):

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(*) TAREFA: Trabalho a fazer em um tempo determinado e em certas condições (DURABOIS e outros, 1966) 3.2 Fatores físicos ambientais Compreendem intensidade e qualidade de iluminamento, ruído, temperaturas e ventilação, entre outros. 32.1 Caso o iluminamento sela insuficiente para uma boa visualização da tarefa, um escriturário poderá precisar aproximar os seus olhos e, portanto, sua cabeça do papel. Isto pode implicar uma inclinação do tronco à frente ou um encurvamento da coluna, para auxiliar nesta diminuição de distância olho-tarefa (Ver figura abaixo):

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3.2.2 Um digitador, que precisa olhar a tela do terminal para ler o que foi transcrito, poderá ter que inclinar lateralmente a cabeça ou o tronco, caso haja fonte de luz incidindo sobre a tela que reflita sobre seus olhos e provoque ofuscamento, para ter uma melhor leitura do material transcrito e possibilitar a continuidade da tarefa. 3.3 Fatores físicos materiais Compreendem a disposição e o dimensionamento físico dos equipamentos, materiais, fontes de informação, dispositivos de controle e comando, entre outros, em relação à localização do trabalhador no seu posto de trabalho e às dimensões antropométricas deste. Para ilustrar, citamos alguns exemplos de incompatibilidade do trabalhador com seu posto de trabalho. Isto é, o operador não pode ver-se obrigado a adotar posturas como as ilustradas a seguir.

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3.4 Fatores temporais Compreendem a distribuição temporal da tarefa ao longo da jornada de trabalho, ou seja, a distribuição dos períodos de trabalho e pausas, a freqüência e duração de sua realização ao longo do dia e a sua velocidade de execução ou ritmo; o período de duração total desde o início ao término, que pode ser diário, semanal, mensal; e localização da sua realização em um dado período do dia, isto é, se a realização da tarefa concentra-se nos períodos da manhã, tarde ou noite, o que pode ser o caso de trabalho em turnos fixos ou que se alternam, em caso de trabalho em turnos alternantes. A variação temporal de duração, freqüência e ritmo na realização da tarefa constitui um importante fator a ser considerado para a análise da adoção de posturas. Como veremos adiante, a manutenção da postura por períodos prolongados ou a repetição de um mesmo movimento em ritmo acelerado constitui um significativo fator de risco para a ocorrência de problemas osteomusculares. Este risco pode ser ainda mais potencializado quando a manutenção ou a repetição ocorrem sem haver períodos de pausa adequados. O fato de a tarefa ser realizada no período da noite pode constituir fator de risco agravante para o desenvolvimento de problemas osteomusculares da coluna vertebral. Isto porque o ser humano, quando trabalhando no período noturno, pode apresentar uma dessincronização temporal interna, ou seja, pode não apresentar uma adequada relação entre si das diversas variáveis fisiológicas e destas com o meio ambiente, o que é essencial para dizer se os indivíduos estão perfeitamente adaptados (CIPOLLA NETO J.; MAROUES, N.; MENNA-BARRETO, L.S., 1988). Exemplos: 3.4.1 O trabalhador do setor de carga e descarga realiza esta tarefa sempre que chega ou sai um caminhão, o que corresponderia aos períodos de trabalho. E as pausas corresponderiam às ausências de caminhões, às refeições, lanche e necessidades fisiológicas. 3.4.2 A frequência, por período de trabalho, com que ele executa o levantamento, transporte ou descenso do material, depende da quantidade de unidades de material no caminhão e do setor. A freqüência, por dia, corresponde à freqüência por período, multiplicada por todos os caminhões ou período de trabalho do dia. 3.4.3 O ritmo de trabalho pode ser prescrito pela direção da empresa, determinado por um supervisor ou determinado pelo ritmo de trabalho de uma linha de produção que tem que ser abastecida imediata ou simultaneamente.

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4. A coluna vertebral (CAILIIET, 1975, KAPANDJI, 1980, KNOPLICH, 1983). A coluna vertebral constitui o único eixo rígido do corpo humano como um todo, formando verdadeiramente o pilar central do tronco. A maior parte das forças que chegam ou partem do corpo, na relação do ser humano com o mundo exterior, tem como ponto de apoio e referência a coluna vertebral. A coluna vertebral humana constitui uma estrutura articulada e flexível, composta pela superposição de 33 (trinta e três) peças ósseas denominadas vértebras, que compõem ao todo cinco regiões distintas: cervical, torácica, lombar, sacral e coccígea. Considerada no seu conjunto, em vista anterior ou posterior, a coluna vertebral é retilínea, mas ao contrário, em vista lateral num plano sagital, ela comporta quatro curvaturas que são, de baixo para cima: 1º a curvatura sacro-coccígea, que é fixa devido à soldadura das vértebras sacrais e o cóccix e apresenta concavidade anterior; 2ª, a lordose lombar, com concavidade posterior, formada por 5 vértebras: 3º, a cifose dorsal, com convexidade posterior, formada por 12 vértebras; 4º, a lordose cervical, com concavidade posterior, formada por 7 vértebras, conforme a figura anterior. Sua unidade funcional é constituída por duas porções: uma anterior, formada pelos corpos vertebrais e um disco intervertebral1 e uma posterior, que contém as facetas articulares. Funcionalmente, a porção anterior é a estrutura hidráulica suportadora de peso e amortecedora de choques, e a porção posterior funciona como mecanismo direcional, sem suportar peso (Ver figura abaixo)

Corpo vertebral

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Além desta função de eixo e suporte do tronco, a coluna vertebral tem o papel de protetora do eixo nervoso. O canal medular que começa ao nível do FORAMEN occipital aloja o bulbo e a medula nervosa e representa. assim, um protetor elástico e eficaz deste eixo nervoso. Infelizmente, em certas condições osteomusculares, quando há uma hérnia de disco intervertebral e em determinados pontos, o eixo nervoso e os nervos raquidianos que dele emanam podem entrar em conflito com o seu estojo protetor raquidiano. A coluna vertebral apoia-se e está equilibrada sobre uma base pélvica móvel. Os seus componentes ósseos constituem os elementos principais, enquanto as formações ligamentosas são elementos de reforço e estabilização que proporcionam a este complexo estrutural flexibilidade. Os grupos musculares representam um papel fundamental na sustentação e manutenção do posicionamento da coluna vertebral, além de serem os responsáveis pela sua movimentação. A coluna vertebral pode sofrer uma série de alterações nas suas estruturas constituintes, em virtude de posturas e atividades motoras inadequadas a que é obrigado a adotar o trabalhador na realização de sua tarefa. (CALLIET, 1975, KNOPLICH, 1983, FINOCCHIARO, ASSAF FINOCCHIARO, 1978). 5. Situações de trabalho conhecidas como fatores de risco para a coluna vertebral Estudos epidemiológicos e análises biomecânicas (*) do corpo humano em atividade identificam algumas situações de trabalho como sendo potencialmente promotoras de problemas osteomusculares para a coluna vertebral: 5.1 Manutenção de uma postura por períodos prolongados de tempo 5.2 Solicitação extraordinária imposta à coluna vertebral 5.3 Vibrações 5.1 Manutenção de uma postura por períodos prolongados de tempo (CHAFFIN, ANDERSSON, 1974; GRANDJEAN, 1980; PHEASANT, 1986; CHAFFIN, 1974). Como todas as estruturas e órgãos do corpo humano, a coluna vertebral permite e necessita de movimentos. Por serem muito frequentes as situações de trabalho em que posturas são mantidas por longa duração com atividade muscular constante, e outras em que pequenos ou grandes movimentos se repetem às custas do uso de um mesmo grupo muscular, destacamos, a seguir, alguns problemas decorrentes destas situações: _____________ (*) A Biomecânica usa a leis da Física e os conceitos de Engenharia para descrever o movimento realizado pelos vários segmentos corporais e as forças atuando nestas partes do corpo durante as atividades normais diárias (CHAFFIN; ANDERSSON, 1974). 5.1.1 Atividade muscular constante ou sustentada É a atividade muscular que proporciona movimento e sustentação da estrutura óssea. No entanto os músculos para se manterem sadios precisam de períodos iguais ou maiores de relaxamento após o período de contração. A condição de não relaxamento do músculo sustentada por um certo período de tempo, variável de acordo com o tipo e tamanho do músculo, pode provocar o aparecimento de processos irritativos e, em maior grau, processos inflamatórios nas estruturas osteomusculares com sintomatologia, entre outras, de dor (CAILLIET, 1975; PHEASANT, 1986; KNOPLICH, 1983). A atividade muscular é resultado da transformação de energia química em mecânica. Esta transformação implica um certo custo relativo. Portanto podemos afirmar que a postura ortostática

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(ficar em pé) representa mais consumo energético que a postura sentada, uma vez que para a manutenção da postura em pé existe uma grande atividade muscular dos membros inferiores (GRANDJEAN, 1980; CHAFFIN, ANDE RSSON, 1974; PHEASANT, 1986). Outra questão importante a ser lembrada é aquela em que o trabalhador mantêm um membro atuando sem apoio externo, ou acima do nível do coração, na realização da tarefa por período de tempo prolongado. Aqui cabe toda discussão da manutenção de uma atividade muscular constante, agravada nos casos de trabalho em planos elevados pela dificuldade de circulação sanguínea, com aumento do trabalho cardíaco (GRADJEAN, 1980; CHAFFIN, ANDE RSSON, 1974, PHEASANT, 1986). 5.1.2 Compressão constante de vasos sanguíneos e outras estruturas A compressão de vasos sanguíneos pode ocorrer em situações de atividade muscular sustentada ou por apoio de uma mesma área do corpo em qualquer superfície. De acordo com a duração, localização e extensão desta compressão, ocorre diminuição de aporte sanguíneo em menor ou maior grau, que pode resultar em, no mínimo, sensação de formigamento, desconforto ou dor. Outras estruturas podem também ser comprimidas, como ligamentos, inserções musculares, tendões, entre outros. Neste caso pode ocorrer desde pequena irritação local até processos inflamatórios mais graves. Quando há compressão de nervos. além do processo inflamatório, menor ou maior, podem ocorrer, também, alterações da sensibilidade. Um bom exemplo desta situação é quando se permanece na mesma posição em pé por um certo tempo e se sente um desconforto ou dor nos membros inferiores. 5.1.3 Pressão intradiscal mantida O corpo humano é constituído de estruturas e órgãos que são preparados para executar um trabalho dinâmico. Nossas estruturas osteomusculares e igualmente o disco intervertebral são prejudicados, quando é solicitada a manutenção de uma postura estática para realização de uma tarefa (CAILLIET, 1975; e outros) O disco intervertebral, conforme demonstra CAILLlET, 1979, é um sistema hidráulico completo, que absorve choques, permite uma compressão transitória e, devido ao deslocamento do líquido dentro do continente elástico, permite o movimento. É bastante evidente que o disco é um "amortecedor mecânico de choques". A anatomia do disco se presta muito bem à sua função destinada. O anel ou parede do disco é uma rede fibro-elástica entrelaçada que encapsula a matriz do disco. Esta matriz ou núcleo pulposo está, portanto, confinada dentro de uma parede fibro-elástica, o anel, e entre um piso e um teto compostos pelas superfícies terminais das vértebras (Ver figuras do item 4 acima). O fluido contido no anel envolvente amortece o choque de uma força compressora tentando aproximar as duas vértebras, e mantém a separação dos dois corpos vertebrais. O movimento de uma vértebra sobre a outra é permitido pela propriedade do fluido de deslocar-se anterior ou posteriormente dentro do seu continente semi - elástico. A pressão interna do disco separa as duas placas ter- minais e assim mantém tensa a malha fibro-elástica do anel (Ver figuras adiante).

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Considera-se que as propriedades elásticas do disco residem mais na elasticidade do anel do que no conteúdo líquido do núcleo. Num disco "jovem" e não lesado, o tecido fibro-elástico do anel é predominantemente elástico. No envelhecimento, ou como seqüela de uma lesão, há um aumento relativo dos elementos fibrosos e o disco perde sua elasticidade e diminui o "coxim hidráulico". O núcleo pulposo é um gel coloidal que, num disco jovem e não lesado, apresenta 80% de sua constituição em água. Devido à sua natureza química coloidal pode absorver fluidos externos e manter seu equilíbrio hídrico intrínseco. Ao envelhecer, o núcleo perde a capacidade de fixar água e depois das duas primeiras décadas seu conteúdo hídrico já diminui de seus 80% iniciais. Além disso, no processo de envelhecimento, há um decréscimo adicional das propriedades de osmose e absorção. "A vascularização do disco intervertebral desaparece após a segunda década de vida. Na terceira década, o disco, agora não - vascularizado, é nutrido pela difusão de linfa através das placas terminais das vértebras e em virtude das características físico-químicas de absorção do gel

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coloidal do núcleo. Portanto a capacidade que um disco lesado tem de recobrar sua elasticidade é maior nos jovens". Assim, através de um exemplo de KAPANDJI, 1980, verificamos que a diminuição da altura do disco não é a mesma para o lesado, conforme a figura acima. Se, partindo de um disco são e em repouso, carregado com um peso de 100 kg, vê-se que ele sofre um esmagamento de 1,4mm e ao mesmo tempo se alarga (B). Se, agora, carregamos um disco já lesado com um mesmo peso de 100 kg, isso levará a uma diminuição de altura de 2mm (C). Constata-se também que ele recupera de maneira incompleta a sua espessura inicial após ter sido descarregado. Este esmagamento progressivo do disco lesado perturba as relações articulares interapofisárias das vértebras e esta distorção articular, ao fim de algum tempo, representa um fator de artrose" (KAPANDJI, 1980). Portanto, com o passar do tempo, por manutenção ou repetição frequente de uma pressão significativamente aumentada, o disco intervertebral pode perder ou diminuir sua elasticidade e resistência, tornando precoce o inicio do processo degenerativo fisiológico, que faz parte do processo de envelhecimento. Este processo degenerativo, dependendo do grau de evolução, associado a um eventual aumento importante de pressão intradiscal, pode provocar a eclosão de uma hérnia discal (CAILLIET, 1979; FINOCCHIARO, ASSAF, FINOCCHIARO, 1978). Sabe-se que a pressão intradiscal é variável com a posição que o corpo adota. Na postura sentada, a pressão intradiscal na porção lombar é maior que em pé, que, por sua vez, é maior que na posição deitada. (CAILLIET, 1979; CHAFFIN, ANDERSSON, 1974), O fato de a postura em pé significar maior dispêndio energético e a postura sentada maior pressão intradiscal lombar uma em relação à outra, vem apenas reforçar a idéia de que o corpo humano necessita de movimento, dinamismo e alternância de posturas 5.2 Solicitação extraordinária imposta à coluna vertebral (CAILLIET, 1975; e outros) Com o avanço tecnológico muitas das atividades de manuseio de cargas pesadas, ou seja, levantar, transportar, empurrar ou puxar, lá estão mecanizadas, reduzindo assim as agressões físicas á saúde do trabalhador. No Brasil ainda convivemos com situações de trabalho que exigem um grande esforço físico para a sua realização. Abordaremos estas situações de trabalho identificadas como situações de risco para problemas osteomusculares da coluna vertebral a partir do tipo de esforço que solicitam do trabalhador e discutiremos mais extensamente o critério para avaliação de quão pesada é uma carga e qual seria o limite de peso desta suportável para o trabalhador. Dividimos as situações de trabalho a partir do tipo de esforço em: 1. Esforço em flexão, para levantamentos e transporte manual frequentes de cargas pesadas 2. Esforço excessivo, para manipulação física pesada ou trabalho físico pesado de empurrar, puxar ou empilhar objetos pesados. 3. Esforço inadequado, para rotações de tronco sobre a pélvis, isoladas e/ou associadas ao levantamento de cargas, inclinações laterais e flexões e extensão de tronco. 5.2.1 - Esforço em flexão Para o levantamento e transporte manual de cargas, o trabalhador realiza um esforço em flexão do tronco que é maior ou menor, segundo a distância da carga ao tronco e o peso da carga. Constitui a causa mais freqüente das lombalgias (CAILLIET, 1985; e outros) 5.2.2 - Esforço excessivo: Pode ser causado por: 5.2.2.1 - Peso extraordinário imposto à estrutura de sustentação da coluna vertebral. Ocorre nas manobras de empilhar, puxar ou transportar objetos pesados. Pode ser voluntário ou involuntário. Nesta última circunstância, trata-se do trabalhador ocupado em determinada tarefa, que abruptamente faz um movimento involuntário do tronco. A contração abrupta e desordenada das grandes massas musculares do tronco pode originar forças de grande intensidade, que podem causar lesões nas estruturas da coluna vertebral.

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(CAIILIEI, 1985; e outros)

5.2.2.2 - Peso médio, segurado de maneira marcadamente excêntrica. Quando um objeto de peso médio é segurado distante do tronco, seu peso é aumentado pelo comprimento do braço de força da alavanca formada entre o peso e o ponto de fulcro do tronco (CAILLIET, 1975) (Ver figura ao lado) 5.2.2.3 - Peso relativamente leve, segurado por período indevidamente longo. A duração e a freqüência da contração muscular, como vimos na discussão da manutenção de uma mesma postura, são variáveis muito importantes na avaliação do prejuízo à estrutura osteomuscular. Isto é, mesmo um pequeno peso, quando segurado por períodos longos de tempo, pode ser prejudicial aos músculos, tendões e liga-mentos (CAILLIET, 1975). 5.2.3 - Esforço inadequado

A coluna vertebral apresenta características próprias e particulares, como pouca rotação da coluna lombar e ampla rotação da coluna cervical, e pouca inclinação lateral da coluna torácica e da coluna vertebral como um todo. Salientamos, portanto, que rotações sobre a bacia, com ou sem levantamento, inclinações laterais, flexões e extensões da coluna vertebral têm que ser dosadas (CAILLIET, 1975; e outros) 5.2.4 - Critério de avaliação de peso para cargas Muitos estudos foram feitos para se chegar a um consenso sobre o esforço máximo que o trabalhador pode realizar sem sofrer prejuízo em seu organismo. Entretanto a maior parte destes estudos foram realizados em países desenvolvidos, com militares ou estudantes de educação física, os quais, pelo grau sócio-econômico e função que exercem, possuem como característica básica uma estrutura física privilegiada e idade jovem. Apesar de o trabalhador brasileiro certamente ser diferente dos pesquisados e, por isso, não ser possível aplicar os resultados dessas pesquisas diretamente à nossa realidade, é interessante discutir alguns valores adotados fora do Brasil e compará-los aos de nossa norma regulamentadora. FINOCCHIARO, ASSAF, FINOCCHIARO, 1978, citam valores limites de peso de carga recomendados pela International Occupational Safety and Heatth Information Center (Tabela I). Esses limites se aplicam a operações ocasionais de levantamento de cargas e sem emprego de técnica especial, sendo os valores prescritos em função do sexo e faixa etária.

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Tabela I ______________________________________________________________________ Pesos recomendados de cargas para levantamento ocasional Fonte: (FINOCCHIARO, ASSAF, FINOCCHIARO, 1978> ======================================================= Idade Homem Mulher 16 a 18 anos = 19kg 12kg 18 a 20 anos = 23kg 14kg 20 a 35 anos = 25kg 15kg 35 a 50 anos = 21kg 13kg cima de 50 anos = 16kg 10kg _______________________________________________________________________ GRANDJEAN, 1980, cita-nos uma tabela (ver tabela II) de valores limites recomendados para levantamento de carga, pela Organização Internacional do Trabalho - OIT, em Genebra, mas discute que "estes limites recomendados podem ser considerados apenas grosseiramente, pois eles não levam em conta alguns fatores relevantes. como postura corporal ou a distância da carga ao eixo de gravidade do corpo". Tabela II CARGAS MÁXIMAS PARA LEVANTAMENTO MANUAL

(em Kg)

ADULTOS JOVENS ADOLESCENTES APRENDIZES

homem mulher homem mulher

Raramente

50 20 20 15

Freqüentemente 18 12 11-16 7-11

FONTE: GRANDJEAN (1980) No entanto, infelizmente, a Norma Regulamentadora Brasileira da Portaria nº 3214 - NR 17, estabelece que, para transporte e descarga individual de peso, o valor máximo é 60 kg e que, para levantamento individual de peso, o valor máximo é 40 kg. Ou seja, comparando estes valores com os apresentados nas tabelas I e II, verifica-se que além dos valores estrangeiros serem inferiores aos da NR 17, estes últimos ainda se diferenciam quanto à idade, grau de treinamento individual e freqüência da tarefa.(*)

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Retornando à discussão acima expressa por GRANDJEAN, 1980, devemos dizer que há muitos outros fatores a serem considerados para a formulação de recomendações de cargas máximas que não estão presentes nas tabelas apresentadas e nem na Norma Regulamentadora Brasileira. Reafirmando GRANDJEAN, devemos dizer que a pressão intradiscal lombar é diferente conforme o modo pelo qual o indivíduo levanta a carga, ou seja, conforme a dinâmica corporal particular do indivíduo para a situação, em certas circunstâncias e em dado momento. Vale ressaltar que a pressão intradiscal lombar aumentada é conseqüente de algumas situações, como levantamento ou transporte de carga, manutenção de postura ou rotação de tronco, e que é esta pressão intradiscal aumentada que contribui significativamente para agravar e/ou acelerar o processo de degeneração discal. As estatísticas mostram que as lombalgias têm maior incidência na terceira década de vida e esta relação é exemplificada pelo fato de que a progressiva degeneração discal decorrente do processo de envelhecimento tem inicio na 3ª década de vida, e a primeira crise de lombalgia está habitualmente associada a esforço para levantar carga (CAILLIET, 1979 e outros). Como já foi discutido no item 5.1.3 - Pressão Intradiscal Mantida, a presença dessas alterações degenerativas no disco intervertebral diminui a resistência deste aos traumas e às solicitações físicas do trabalho que sobre ele venham agir. Isto é, quanto mais intenso o processo degenerativo, maior a carga resultante no interior do disco e, conseqüentemente, na presença de processos degenerativos, o esforço exigido pelo trabalho determina com maior freqüência a eclosão de síndromes dolorosas vertebrais (CHAFFIN, ANDERSSON, 1974; e outros). A Organização Internacional do Trabalho - OIT, realizou um estudo que demonstra o papel da postura corporal no incremento da pressão intradiscal lombar. Mediu-se a pressão intradiscal de L4 - L5, (região lombar mais freqüentemente acometida) em situação de levantamento de carga pesando 25 kg, com o indivíduo adotando três posturas diferentes, e o resultado da pressão para cada postura foi o seguinte: a) enquanto o indivíduo realizava o levantamento da carga principalmente com a atividade muscular dos membros Inferiores e mantendo a coluna vertebral alinhada em linha vertical, a carga sobra o disco de L4 e L5 era de 150 kg. b) quando o indivíduo levantava a carga com o tronco ligeiramente inclinado, a carga sobre o disco L4 e L5 era de 300 kg;

c) quando o indivíduo levantava a carga com o tronco completamente inclinado, a carga sobre o disco L4 e L5 era de 550 kg. Além destes fatores citados, existem outras variáveis relativas às condições de trabalho que devem ser analisadas com atenção, quando se quer formular uma orientação de peso máximo ou mesmo quando se precisa avaliar o esforço exigido do trabalhador. Entre elas podemos ressaltar:

- a exigência de um certo tempo para a realização de tarefas, - a frequência com que são realizadas, ao longo da jornada de trabalho, - o estado de fadiga do trabalhador, - o formato e a disposição física da carga a ser manipulada.

5.3 Vibrações Há inúmeras atividades que expõem o trabalhador a vibrações. As estruturas da coluna vertebral, assim como outras estruturas do corpo humano, sofrem uma série de micro - traumas repetidos, enquanto perdurar a vibração. Este problema é mais sentido em trabalhadores expostos à vibração na postura sentada, porque, estando em pé, as pernas atenuam os efeitos da vibração para a coluna vertebral (CHAFFIN, ANDERSSON, 1974; e outros)

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____________________ (*) OBS.: O comentário acima diz respeito à versão da NR-17 anterior a 1990. (Airton Marinho, 2002) 6. Discussão Fazemos nossas as palavras de WISNER, 1987: "Ao encontrarmos qualquer tipo e grau de problemas osteomusculares em uma certa população de trabalhadores, é essencial que se proceda a uma análise da atividade envolvendo todos os seus fatores constituintes, pois o trabalhador adota posturas e movimentos inadequados, principalmente em decorrência destes fatores". A Ergonomia expressa isto claramente: encontrar trabalhadores com postura inadequada é muito comum, mas é essencial verificar as causas destas posturas. Para isto, á fundamental analisar a tarefa nos seus vários aspectos, perguntando-se: "Por que o trabalhador está adotando determinada postura ?" WISNER, 1987 enfatiza que é preciso modificar a visão de que o trabalhador adota má postura porque ele não está enxergando bem, ou não regulou seu assento como seria conveniente, mas sim, que, na verdade, o trabalhador está se esforçando para responder às exigências de sua tarefa. Isto é, o fato de observar uma postura inadequada pode indicar que existem dificuldades na situação de trabalho. Por exemplo, se um operador está inclinado sobre seu trabalho de tal maneira que a distância olho-tarefa seja pequena (25-35 cm), isto quer dizer que as exigências visuais são grandes para o operador devido às características da tarefa, da iluminação ou das características visuais próprias do operador. A conclusão desta observação é certamente de que é preciso melhorar a relação homem - máquina, mesmo porque, se esse trabalho se prolonga, assistiremos a uma acentuação de má - postura, com prováveis dores nas costas, pescoço, cabeça e problemas visuais. Outra questão muito discutida na relação homem - máquina ou na relação do homem com dispositivos, materiais e posto de trabalho á a inadequação da estrutura dimensional com as características antropométricas dos trabalhadores. Assim, em muitos escritórios ou área de produção, encontramos mesas, cadeiras e bancadas que tornam a permanência dos funcionários, altos ou baixos, quase impossível. Em outros casos, a máquina está aparentemente bem concebida do ponto de vista dimensional, mas encontramos trabalhadores em posturas inadequadas. E ainda há certas posturas que não estão ligadas à atividade de trabalho, mas a dificuldades superpostas. Assim, no trabalho com terminais de vídeo, certas posturas têm como objetivo apenas evitar os reflexos sobre a tela que atrapalham a leitura dos caracteres, que têm um pequeno contraste em relação ao fundo.

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7. Conclusão Concluímos que muitos dos problemas osteomusculares da coluna vertebral podem ser evitados caso haja responsabilidade e compromisso com a saúde do trabalhador, de quem projeta um posto de trabalho, de quem define a tarefa a ser cumprida ou de quem acompanha as queixas dos trabalhadores. A discussão desta temática não se esgota com este artigo, porque há outros aspectos relativos à adoção de posturas e problemas osteomusculares a serem abordados. Acreditamos que identificados os mecanismos promotores da má-postura ou da postura inadequada, torna-se mais simples, fácil e objetiva a eliminação dos prejuízos à saúde dos trabalhadores, provocados pelo próprio trabalho. Referências Bibliográficas (parciais) 01. BEAKLEY, G.C. & CHILTON, E.G. Design: servicing the needs of man. New York, Macmillan Publishing, 1974. 02. CAILLIET, R. Lombalgias (sindromes dolorosas). Trad. Eugênia Deheinjelin. São Paulo, Ed. Manole, 1979. 03. CHAFFIN, D.E. & ANDE RSSON, G.B.J. Occupational biomechanics. Chischester, Ed. John WileV & Sons, 1974. 04. CIPOLLA NETO, J. et alii. Introdução ao estudo da cronobiologia. São Paulo, Ícone, 1988. Publicado na Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, nº 67, Vol. 17, Julho, Agosto, Setembro, de 1989.