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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
O LÚDICO NA APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS PORTADORAS
DE NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS
Por: Thais Teixeira dos Santos
Orientador
Prof.ª: Mary Sue Pereira
Rio de Janeiro
2012
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
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PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
O LÚDICO NA APRENDIZAGEM DE CRIANÇAS PORTADORAS
DE NECESSIDADES ESPECIAIS
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Educação Inclusiva
Por: Thais Teixeira dos Santos
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço, em primeiro lugar, a Deus
por ter me mantido presente na busca
pela realização do meu sonho. Aos
meus pais por terem me dado força
para eu chegar ao final desta etapa. As
minhas amigas de faculdade pela troca
de informações e conhecimento. Aos
meus professores que contribuíram de
forma decisiva para minha formação.
DEDICATÓRIA
4
Dedico este trabalho a toda minha
família, aos quais amos muito; que direta
ou indiretamente me apoiaram e me
deram força e incentivo a cada dia de
estudo e pesquisas neste caminhar
acadêmico.
RESUMO
5
Com o atual crescimento da utilização de novas metodologias de
ensino para facilitar e melhorar o grau de aprendizagem do aluno, esta
pesquisa mostra a importância do lúdico em sala de aula. Muitos autores,
durante a evolução da didática e da pedagogia, tentaram apontar mudanças
que deveriam ser incorporadas à escola tradicional, para que o ensino
seguisse um modelo moderno, dinâmico, não enfatizando o aluno mais fraco
ou o mais forte, e sim moldando o ensino de maneira que todos conseguissem
aprender de uma forma mais prazerosa e, consequentemente, mais
proveitosa. A utilização de jogos educativos em conjunto com os conteúdos
tende a melhorar o processo ensino-aprendizagem e proporcionar uma
maneira lúdica de aprender, ou seja, podem ser empregados em uma
variedade de propósitos dentro do contexto de aprendizado. Para realização
deste trabalho foram realizadas pesquisas bibliográficas e com professores
que utilizam este recurso como meio de melhorar a aprendizagem de seus
alunos.
METODOLOGIA
6
Esta monografia foi elaborada com base em pesquisas bibliográficas
para buscar subsídios teóricos sobre a importância do lúdico na educação com
escritores como: Vygotsky, Piaget, Pestalozzi, Rousseau, Lopes, Friedrich
Froebel, PCN entre outros. Nestes autores busca-se uma visão do lúdico que
adicione informações contribuindo na prática do fazer pedagógico aplicado nos
currículos para qualificar e diversificar o desempenho em sala de aula.
O trabalho será dividido em três capítulos, apresentados por uma
introdução, na qual constará o anseio sobre o tema e a forma em que o lúdico
esteve presente em minha vida. O primeiro capítulo trata da história da
ludicidade na educação até os dias atuais, para então, poder ser aceito como
recurso pedagógico de aprendizagem. No segundo capítulo é abordada a
importância da legislação do lúdico no intuito de legitimar a temática. No
capítulo III é exposta a presença do lúdico incluindo portadores de
necessidade na sala de aula.
Espera-se após realizar este trabalho de conclusão de curso,
ampliar conhecimentos no tema para utilizar corretamente esta prática
pedagógica em sala e também poder compartilhar os conhecimentos
adquiridos aos demais colegas de trabalho, para que possam usufruir o lúdico
como uma ferramenta auxiliar no processo de ensino-aprendizagem e alcançar
sucesso quanto à melhoria da aprendizagem dos alunos.
SUMÁRIO
7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I - Um mergulho histórico: o lúdico na educação 10
CAPÍTULO II - A importância do lúdico explícita nos PCNs 20
CAPÍTULO III- O Lúdico incluindo Portadores de necessidades
educativas especiais 37
CONCLUSÃO 44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 46
ÍNDICE 59
8
INTRODUÇÃO
Este trabalho monográfico tem como objetivo aprimorar,qualificar e
melhorar o desempenho do aluno em sala de aula.
Sendo assim, escolheu – se o tema : O lúdico na apredizagem de criança
portadoras de necessidade educacionais especiais na educação infantil.Pois
nesse espaço transacional:criança – outro,individuo – meio, dá – se a
aprendizagem.
Logo busca – se o citar o lúdico, que é fundamental no ensino
aprendizagem.Observa – se que no brincar, a criança constrói um espaço de
experimentação de transição entre, o mundo interior e o externo, que a
educação lúdica ajuda e muito aquisição de aprendizagem.
E através do lúdico que o educando desenvolve sua criatividade, demonstra
seus sentimentos, reações e expõe sua idéias, sua forma de pensar e agir,
tornando - se cada vez mais autoconfiante.Sendo que o professor, ao utilizar a
educação lúdica, deve estar preparando, buscando conhecimento
fundamentos.
Por essa razão, o processo lúdico é fundamental, o trabalho, ajuda no
diagnóstico, e mais uma possibilidade de se compreender basicamente o
funcionamento dos processos cognitivos e afetivos- sociais em suas
interferências mútuas. Sendo assim se torna uma prática desafiadora,
inovadora, possível de ser aplicada no dia a dia profissional e também em
outras áreas do conhecimento.
Neste estudo analisa - se as práticas lúdicas - pedagógicas que são utilizadas
como instrumento por diversos profissionais como; professores, educadores
físicos, pedagogos e terapeutas ocupacionais, para o desenvolvimento físico,
psíquico e social dos alunos portadores de necessidades especiais.
Entende - se que seja
importante desenvolver estas considerações a respeito do lúdico, pois ele
mesmo faz parte da vida humana e possui um importante papel no seu
desenvolvimento.
9
Considerar- se que maneira como a criança brinca ou desenha
reflete sua forma de pensar e agir. Brincar é uma das atividades e autonomia.
Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades
importantes tais como atenção, memória, imitação e imaginação.
Para que elas possam exercer suas capacidades de criar é
imprescindível que haja riqueza e diversidade nas experiências que lhe são
oferecidas.
É fundamental que se assegure á criança o tempo e os espaços
para que o caráter lúdico do lazer seja vivenciado com intensidade capaz de
formar a base sólida para a criatividade e a participação cultural e, sobretudo
para o exercício do prazer, viver, como diz a canção... como se fora brincadeira
de roda.
10
CAPÍTULO I
UM MERGULHO HISTÓRICO: O LÚDICO NA
EDUCAÇÃO
O lúdico em latim, “ludus”, que quer dizer jogo. Entretanto, não
podemos dizer que lúdico seriam apenas jogos, seu significado está em
constante evolução, pois este passou a ser reconhecido como um traço
essencial no desenvolvimento do comportamento humano.
As atividades lúdicas integram atividades físicas e mentais, o que
auxilia no desenvolvimento da criança, estimulando seu crescimento e
pensamento.
No Egito e na Grécia o lúdico fazia parte até da vida dos adultos, era
a família que ensinava ao filho o ofício e as artes. Com o passar do tempo, a
educação passou a ser voltada mais para a escrita, então, a família foi
deixando a tarefa de ensinar, que foi sendo transferida para a escola.
A educação Greco-romana utilizava os brinquedos como recursos
para que fizessem com que as crianças associassem o estudo com algo que
lhes aclimatasse ao agradável. Foram os primeiros a apresentar estudos
sobre o lúdico. Atribuíam o valor educativo ao esporte e o colocavam em pé de
igualdade com a cultura intelectual.
Atualmente, vemos de forma concreta as metodologias
desenvolvidas, como a Matemática lúdica, que trabalha a matéria através de
problemas comuns dos educando, fazendo com que os jogos facilitem o
processo de aprendizagem da Matemática. Há escolas que simulam feiras,
onde os alunos têm a possibilidade de fazer cálculos de compra e troco,
remetendo-os a experiências que ocorrem na sociedade.
A educação tradicional grega, considerando que devia ensinar
conceitos úteis e necessários à vida prática e defendia que a moral e o bom
caráter deveriam ser ensinados. Afirmava que a educação tem raízes
amargas, mas os seus frutos são doces.
11
Na Idade Média, houve uma revolução com a ascensão do
cristianismo, que via o jogo como algo profano. Nesta época, imagens de
crianças não apareciam em pinturas e esculturas, o que denotava a
inexistência de um conceito específico para a infância nesta época. As
atividades lúdicas: jogos, brincadeiras e exercícios físicos são equiparados a
nada, pois, a educação que se prima têm finalidade disciplinatória para
evolução da alma.
No Renascimento, surgem algumas concepções pedagógicas, na
qual reabilita-se o brincar e o jogo, vendo estes apenas como uma tendência
natural dos seres humanos para o desenvolvimento do corpo.
No século XVI, os jesuítas resgatam a importância do lúdico,
fazendo uso do mesmo para a aprendizagem de ortografia e gramática.
Perceberam que podiam fazer uso deste para facilitar o aprendizado, ou seja,
chegava mais rápido ao seu objetivo que era transmitir ensinamentos sobre a
ortografia.
Antigamente também era comum, para estimular o aprendizado,
utilizar a educação sensorial. O educador fazia uso de doces em formato de
letras, por exemplo, para tornar mais rápida a assimilação do educando.
Proporcionando assim, momentos de estudos agradáveis, o que acabava por
cativar o aluno.
Há vestígios históricos da presença dos jogos entre os povos
primitivos nas atividades de dança, pesca, caça tidas como meio de
sobrevivência, o que fazia com que o jogo perdesse o seu significado, já que
o jogo é uma forma livre de se expressar, onde se desenvolve a imaginação, a
fantasia, a autocapacidade, autonomia, atenção, concentração, enfim, uma
forma de desenvolver suas potencialidades.
A idéia de unir a educação ao lúdico propagou-se principalmente a
partir do movimento da Escola Nova e da adoção dos chamados "métodos
ativos". Porém, esta ideia não é tão recente. O objetivo fundamental ‘’ de uma
reforma radical do conhecimento humano e da educação’’, objetivo este que
observamos que, em parte, foi atingido nos dias atuais, mas que ainda precisa
ser um ideal a fim de buscar uma melhoria contínua na educação, que ainda
12
passa por altos e baixos quando se remete, por exemplo, a um ensino de
qualidade e igualdade a todos.
Vê-se, atualmente, através do grande número de matérias, a
necessidade que se faz uma língua estrangeira, por exemplo. Comenius
defendia a idéia de “Educar tudo a todos”, ou seja, colocar a educação num
patamar de igualdade, independente da situação financeira, religião, valores
morais, raça, a qual pertencesse à pessoa. Representava através desta idéia
um direito de igualdade na educação.
Rousseau tinha como visão essencial à educação: a liberdade do
indivíduo. Defendia as atividades criadoras e era contra tudo aquilo que levava
o ato de educar como algo formal. Ele afirmava que a educação não vem de
fora, procede de uma liberdade de expressão, que não apenas mudaria um ou
outro indivíduo em especial, mas sim uma sociedade.
Para a época em que viveu, Rousseau, criou seus princípios
educacionais extraordinários que são utilizados nos nossos dias,
principalmente quando afirmamos que a importância da educação é ensinar a
criança a viver a liberdade. Para ele o professor é o responsável pelo processo
de humanização do educando, e a educação é livre expressão da criança no
seu contato com a natureza.
“[...] a ludicidade é uma necessidade do ser humano em
qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O
desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o
desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma
boa saúde mental, prepara para um estado superior fértil,
facilita os processos de socialização, comunicação, expressão
e construção de conhecimento.” (SANTOS: 1995, p.12, apud
QUEIROZ)
Através desta citação, Santos reafirma os princípios de Rousseau e
a importância do lúdico como fonte de adquirir felicidade, educação e o prazer
do indivíduo vivenciar algo mais numa sociedade conjunta.
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Pestalozzi influenciado por um movimento revolucionário uniu-se
àqueles que criticavam a política do seu país. Dedicou anos de sua juventude
pelas lutas políticas, e só abandonou essa área após a morte de um amigo
político, Bluntschli, quando voltou seu rumo para a educação. Fez de sua casa
uma escola, onde escreveu vários pensamentos e reflexões, que fizeram com
que ele saisse do anonimato. Fundou várias escolas e desenvolveu uma
educação que atinge a todos, num tempo em que o ensino era privilégio de
alguns. "A vida educa. Mas a vida que educa não é uma questão de palavras,
e sim de ação.
Considerava a infância uma fase decisiva para a formação da
criança. Criou o jardim de infância com o objetivo de possibilitar brincadeiras
criativas. Defendia uma educação livre de obrigações para que as crianças
aprendessem conforme seu interesse e por meio de atividades práticas,
estabelecendo um clima de compreensão e liberdade.
Foi o primeiro educador a enfatizar o brinquedo como forma de
conhecer a vida social de cada educando, através de sua liberdade de
expressão durante as aulas, quando as crianças se expressavam e
demonstravam o que sentiam.
Através dos jogos a criança assimila e recria as experiências sócio-
culturais. Esta é a porta pela qual ela entra em contato com outras coisas,
tornando-se assim instrumento para construção do conhecimento individual e
coletivo da sociedade em que está inserida.
“A criança ao brincar é introduzida nas experiências sócio-
culturais e imaginários dos outros que pode ser o adulto, mas
também outra criança e, desse modo, assimila, apropria-se e
recria conhecimento e significados do contexto social em que
vive.” (FERNANDES: 2001, p.82)
Uma brincadeira comum é “papai e mamãe” onde as crianças
representam sua realidade social. Há também “bandidos e mocinhas”, que
representa o que a criança enxerga como o bem e o mal ou o bom e o mau,
representações simples que fazem parte de seu cotidiano. Com nos evidência:
14
“Brincar é parte integrante da vida social e é um processo
interpretativo com uma textura complexa, onde fazer
realidade requer negociações do significado, conduzidas pelo
corpo e pela linguagem.” (FERREIRA: 2004, p. 84)
Através do brincar e por meio dele, o indivíduo será um agente
transformador. Deste modo, esta ação é um aspecto fundamental para se
chegar ao desenvolvimento integral do ser humano em formação.
A idéia dos jogos educativos, reforçando o uso destes, para a
educação de cada um dos sentidos. Para ela a atividade lúdica era uma força
propulsora do desenvolvimento da personalidade, incutindo a saúde física e
psíquica do ser humano, educando através das experiências da vida.
De acordo com a didática a criança é um ser livre, porém, livre
apenas na escolha dos objetos sobre os quais possa agir. Os objetos não se
alteram, são sempre os mesmos e típicos para cada tipo de atividade.
Entusiasmo pelo lúdico demonstra em diversas de suas obras, seu
encantamento com os jogos, que não são apenas passatempo e sim um meio
que contribui para o desenvolvimento intelectual. Piaget defende que a
aprendizagem se constrói através de um processo intrínseco do educando,
através de suas próprias pesquisas e experimentações.
A base do aprendizado se dá na ação, ou seja, só se aprende
fazendo. Desta forma o lúdico aparece, pois através das experiências
proporcionadas por ele, a criança pode estruturar sua inteligência. Acreditando
que, a maneira com que as crianças vão se desenvolvendo, pode-se tirar maior
proveito dos jogos, uma vez que, ela mesma manipula livremente os materiais,
proporcionando uma adaptação própria ao inventar ou reconstruir algo.
Nesta perspectiva, o jogo caracteriza-se pela expressão, pois
quando as crianças brincam estão assimilando algo, e podem transformar a
sua realidade.
Já Vygotsky, acredita que o desenvolvimento infantil se dá ao
longo do tempo. Ele não vê a criança como um ser ativo nem passivo, mas
interativo. Para ele, o lúdico influencia no desenvolvimento da criança, pois é
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através do jogo que a criança desenvolve a criatividade, a curiosidade é
estimulada, adquire iniciativa e autoconfiança. O jogo também desenvolve a
concentração, memória, percepção e atenção da criança.
Analisando as teorias de Vygotsky, observamos a importância da
atuação de outros membros da sociedade na formação da cultura do indivíduo.
O que nos faz refletir que o aluno não é apenas o aprendiz, e sim alguém que
assimila inúmeras coisas junto a um grupo social, como valores, linguagem e o
próprio conhecimento adquirido. Para ele, é “por meio do brinquedo que a
criança aprende a agir numa esfera cognitivista, sendo livre para determinar
suas próprias ações”. (VYGOTSKY apud KISHIMOTO, 1997, p.51).
Segundo o autor, o brinquedo estimula a curiosidade e a
autoconfiança, proporcionando desenvolvimento da linguagem, do
pensamento, da concentração e da atenção.
O jogo não deve ser compreendido sob uma ótica minimalista, de
que são apenas meros brinquedos, e sim que existe um amplo contexto em
que pode ser aplicado na educação, como aliado na facilitação do processo de
ensino-aprendizagem e um proporcionador do desenvolvimento físico e
psíquico do educando.
O lúdico possibilita a construção do conhecimento e socialização.
Contos, lendas, brincadeiras, brinquedos desenvolvidos, desde sua forma mais
simples até os mais complexos e luxuosos, constituem e constituirão nesse
contexto, um rico banco de dados de imagens culturais.
De acordo com os preceitos de Garvey, as atividades lúdicas são as
melhores maneiras da criança se comunicar, se relacionar e conviver com
diferentes sentimentos que fazem parte de sua vida. A criança aprende a
estruturar a linguagem através do jogo, isto é, brinca com verbalizações e ao
fazê-lo generaliza e adquire novas formas linguísticas.
No âmbito do universo lúdico, foram criadas as brinquedotecas, os
jogos educativos, os brinquedos pedagógicos e muitos outros materiais, a fim
de proporcionar ambientes gratificantes, atraentes e motivadores para as
crianças. O mais importante deste universo é saber que está diretamente
ligado ao prazer, sendo este almejado no decorrer de toda a vida humana.
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E acreditamos, como educadoras, que é impossível dissociar vida
do prazer de viver e de se saber construindo a nossa história no mundo.
Para viver a educação é preciso ir além do olhar, precisamos ver
que a premência de um trabalho desta natureza atrelado ao elemento de
sensibilidade poderá fazer nascer inúmeras outras idéias que tenham como
essência o movimento qualitativo que dá significado às ações que qualificam a
existência na sua reflexão e no processo de construção. A proposta assumida
e vivida enquanto se pesquisa, acredita-se que possa existir a possibilidade
da abertura de um leque amplificado fundindo o lúdico, as artes, tal como a
música (com estruturas rítmicas variadas) e o movimento (várias escolas de
movimento) deva atingir toda e qualquer faixa etária. A educação, sendo uma
prática social, não pode restringir-se apenas como teoria sem compromisso
com a realidade local e com o mundo em que vivemos. O conhecimento é tão
eficiente quanto se fizer na prática e levar a uma prática coerente e consciente.
E para que as pessoas, envolvidas na proposta, desfrutem e
reconheçam os inúmeros benefícios da linguagem corporal, movimentando
além do corpo, o prazer de estar se constituindo sujeito, indivíduo capaz na
produção da ação e do movimento, na exploração do meio, na mobilidade e na
expressão com liberdade, num gestual fluente e expressivo.
E o que mais nos fascina nesta proposta é o fato de que ninguém é
igual a ninguém, não existe uma receita pré-formada para o ensino lúdico.
É preciso ser positivamente criativo, fazendo de cada oportunidade
de movimento momento próprio para fazer valer a naturalidade que o homem
possui e que vem sendo “esquecida”. Quando questiona aquilo que chamamos
de educação, dirigindo-se apenas para o que está acima do pescoço das
crianças, jovens e adultos; do que está daí para baixo fica para os médicos –
sempre que doer.
A perspectiva de criar oportunidade de movimento traz no seu íntimo
histórias que precisam ser analisadas para melhor compreendermos quem é o
homem que está em nossas mãos, tal como tal como o poeta romano “homo
sum: humani nihil me alienum puto”. No objetivo de pesquisar as formas de
sensibilização do homem para com a vida, favorecemos a mesma no
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desdobramento das atividades de: socialização, afeição, cognição, motivação,
criatividade e interpretação.
Além de compreender a necessidade deste trabalho corporal,
segundo Nanni (p.36), “a auto-estima é composta por dois sentimentos: de
competência pessoal e de valor pessoal (...) que reflete nossa capacidade de
lidar com os desafios da vida e o direito de ser feliz”.
A educação deve ser trabalhada no sentido de promover o
crescimento do indivíduo e sua participação no grupo. Este elemento congraça
com o fato de possuirmos um corpo no qual o mesmo deve ser respeitado,
pois através dele – o corpo – nos fazemos presentes no mundo.
O mundo torna-se cada vez mais um todo. Cada parte do mundo faz
mais e mais parte no mundo e o mundo, como um todo, está cada vez mais
presente em cada uma de suas partes. Isto se verifica não apenas para as
nações e povos, mas para os indivíduos.
Precisamos evoluir de uma prática educativa, uma sisudez que não
lhe pertence, pois é preciso ser mais lúdico, mas ao tempo imbuído de um
sentimento de seriedade, porque com corpos não se brinca.
É difícil entender como em determinadas práticas seja esquecida ou
omitida que a função motora faz um paralelo ao desenvolvimento psíquico,
pois ao mesmo tempo uma área trabalha a outra garantindo um crescimento
harmônico.
Por isto, este estudo pauta pela necessidade de diferentes formas
de aprender e dentre elas lutamos por conquistar o espaço para uma
educação pela sensibilidade e seus desdobramentos de atividades corporais.
Precisamos mostrar ao aprendiz que o corpo é a nossa casa, instrumento
único e maravilhoso e através dele inicia-se a aprendizagem, daí a
necessidade de fazer o corpo como objeto lúdico, estruturando o trabalho de
base no gesto humano.
É nesta perspectiva que se atinge o conhecimento do aluno, o
trabalho e a estimulação da criatividade, garantindo o compartilhar numa
perspectiva de socializar, dando oportunidade ao indivíduo de reconhecer o
mundo através do seu movimento.
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“O ser humano é ao mesmo tempo singular e múltiplo”. Este mesmo
homem traz um universo próprio e uma cultura particular, mas ao mesmo
tempo carrega em si o cosmo.
Precisamos esclarecer, que de acordo com Dieckert, existe uma
prática de cultura corporal que deva ser eminentemente brasileira e que
necessita do devido respeito para não cair no erro de querer que nossas
crianças sejam iguais às crianças europeias e suas características.
Acredita-se assim, que o processo de educação formal e não-formal
deva incorporar o lúdico às atividades escolares principalmente na primeira
infância, quando as crianças começam a perceber a sua constituição como
sujeito desta vida. Sujeitos capazes do movimento de sintonia, de
aprendizados, de partilhas e de risos. Compreendemos, neste universo, que
somos os construtores e protagonistas de nossas próprias vidas, que não se
dá sozinha, mas somente no contato com o outro, que também se constrói nas
mensagens e movimentos apresentados; que se constrói nas situações vividas
e vivificadas pelas experiências humanas.
Há que se entender que este corpo que clama por deixar-se livre
tem em essência reais condições de se mostrar, na medida em que é
conscientizado do poder que sua dimensão corporal tem e, este é um
elemento fundamental de mudança, pois pequenos momentos em forma de
gesto do educador mudam grandes rotas e como Platão preconizava, a vida
precisamos de graça e gentileza e é desta forma que faremos a diferença para
o educar pela sensibilidade. Este fato ratifica-se com Piret Apud Bertazzo
(2001:52)
“Todo gesto personalizante situa-se no plano à nossa
frente. Por isso, nosso rosto e vários órgãos dos sentidos
orientam-se para frente. E a repetição do gesto que
proporciona ao homem o movimento com características
pessoais.”
Por mais que as ações atuais ligadas à arte tenham crescimento em
proporções consideráveis, sabemos dos espaços que se alargam, porém
sendo ainda incipiente a consideração de se possibilitar sua prática a todos.
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Esta pesquisa mostra que é numa intenção superlativa que o profissional que
fomenta esta ação, efetivamente, se preocupa com o futuro do homem que
acreditando no valor da forma singular de trabalhar do homem de maneira
integral. Acreditamos que por este viés se está dando oportunidade à
sensibilidade. É ela um viés uno entre a humanidade e o mundo. É o poder de
mediação e realização.
CAPÍTULO II
A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO EXPLÍCITA NOS PCNS
Os Parâmetros Curriculares Nacionais são referencias de qualidade
para a educação do Ensino Fundamental em todo país.
São como guias, que nos direcionam, com relação aos conteúdos e
matérias que devem ser transmitidos aos alunos, fazendo um apanhado de
todas as disciplinas, são elas: Língua Portuguesa, Matemática, Ciências
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Naturais, História e Geografia, Arte, Educação Física, Temas Transversais e
Ética, Meio Ambientes e Saúde, Pluralidade Cultural e Orientação Sexual.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais são fundamentais para uma
renovação e reelaboração da proposta curricular, já que cada escola deve ter
seu projeto educacional. Podem ser utilizados com objetivos diferentes, de
acordo com a realidade da escola, dos professores, e dos alunos.
Um dos objetivos mais importantes tratado nos PCNs, é que de uma
forma geral, independente da matéria, sempre foca a formação do cidadão, o
conteúdo básico que deve saber, formar pessoas aptas, capacitadas para a
nossa sociedade atual, que compreendam a igualdade, não só a igualdade de
direitos (legais), mas a de fato.
A respeito da igualdade, segundo Rousseau, citado por Palma Filho,
destaca-se:
“Seria preciso não entender por esta palavra que os graus de
poder e de riquezas sejam absolutamente os mesmos; mas
que, quanto ao poder, ele se encontra abaixo de toda a
violência e nunca se exerce, senão em virtude da posição
social e das leis. E quanto à riqueza, que nenhum cidadão seja
suficientemente opulento para poder comprar o outro, e que
nenhum seja tão pobre que seja coagido a vender-se.”
(ROUSSEAU apud PALMA FILHO: 1998, p.104-5).
Os PCNs, dessa forma, atendem a pluralidade, respeitando as
diversidades culturais, regionais, étnicas, religiosas e políticas, atravessando
uma sociedade múltipla, estratificada e complexa, baseando-se em princípios
democráticos.
A pedagogia, durante muito tempo, focou o ensino somente no
professor, como se através deste valorizasse o conhecimento. Hoje o ensino
ganhou sua autonomia e muitas metodologias e recursos didáticos diferentes
passaram a ser praticados pelos profissionais desta área.
O que o aluno aprende, depende de seus pensamentos na fase de
desenvolvimento em que se encontra, dos conhecimentos que adquiriu
anteriormente e do ensino que recebe.
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Para tornar a sala de aula, um ambiente almejado pelas crianças, o
PCN nos dá dicas de como utilizar alguns recursos e incorporar o lúdico às
aulas.
Na disciplina de Português o PCN fala sobre a importância da
biblioteca escolar, como fundamental para o desenvolvimento da criatividade
das crianças.
“Na biblioteca escolar é necessário que sejam colocados a
disposição dos alunos textos dos mais variados gêneros,
respeitados os seus portadores: livros de contos, romances,
poesia, enciclopédias, dicionários, jornais, revistas (infantis, em
quadrinhos, de palavras cruzadas e outros jogos), livros de
consulta das diversas áreas do conhecimento, almanaques,
revistas de literatura de cordel, textos em áudio e em vídeo,
entre outros. Além dos materiais impressos que se pode
adquirir no mercado, também aqueles que são produzidos
pelos alunos – produtos dos mais variados projetos de estudo
– podem compor o acervo da biblioteca escolar: coletâneas de
contos, trava-línguas, piadas, brincadeiras e jogos infantis,
livros de narrativas ficcionais, dossiês sobre assuntos
específicos, diários de viagens, revistas, jornais, etc.” (BRASIL/
PCN: 2001, v.2, p.92).
Através deste trecho, fica clara a menção que o PCN faz as
atividades lúdicas na disciplina de Português. Mostra-nos que temos ou
podemos obter um rico acervo de dados, para ser explorado em classe,
dinamizando as aulas. Outro recurso citado por este, para complementar as
aulas, é fazer uso de recursos audiovisuais para ensinar a Língua Portuguesa.
Já a disciplina de Matemática, costuma gerar insatisfação tanto
por parte dos professores quanto dos alunos que apresentam dificuldade de
assimilar a matéria, através de ensinos mecanizados, que sabemos que alguns
professores continuam a utilizar. O PCN de Matemática norteia para uma
reforma das aulas da matéria. A proposta é inserir os jogos nas aulas e tornar
os conteúdos mais prazerosos.
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O jogo desenvolve o autoconhecimento do educando, pois
articula o conhecido e o imaginado pela criança durante a brincadeira.
“Finalmente, um aspecto relevante nos jogos é o desafio
genuíno que eles provocam no aluno, que gera interesse e
prazer. Por isso, é importante que os jogos façam parte da
cultura escolar, cabendo ao professor analisar e avaliar a
potencialidade educativa dos diferentes jogos e o aspecto
curricular que se deseja desenvolver.” (BRASIL/RCN: 2001,
v.3, p.49).
Idéias relatadas nos PCNs de Ciências Naturais, História e
Geografia, são atividades que envolvam pesquisas, debates de fatos, utilização
de gráficos, de desenhos, representação de dados obtidos por meio de
investigações, enfim, atividades que proporcionam uma aprendizagem ativa,
onde os alunos são convidados a prática.
Artes é a matéria que a maioria das crianças adora por ter um caráter lúdico
muito mais aparente por fugir da monotonia do conteúdo teórico e utilizá-lo
como base para as atividades práticas. Esta disciplina permite também uma
integração com outras matérias, criando uma interdisciplinaridade em sala.
Além disso, proporciona ao aluno a liberdade de imaginar, criar e participar de
atividades criativas.
“E tudo isso integrado aos aspectos lúdicos e prazerosos que
se apresentam durante a atividade artística. Assim, aprender
com sentido e prazer está associado à compreensão mais
clara daquilo que é ensinado.” (BRASIL/RCN: 2001; v.6, p.47).
Outra disciplina que também tem seu caráter lúdico mais explícito e
que as crianças gostam muito é a Educação Física que trata de exercícios
físicos como a ginástica, a prática de esportes, de lutas e inclui os jogos e
brincadeiras. O PCN cita alguns benefícios da execução destas atividades
como: desenvolver técnicas e estratégias de equilíbrio, proporcionar uma
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interação entre os participantes, desenvolver a flexibilidade, o controle motor, a
criatividade, o raciocínio. São citados jogos como: pré-desportivos, populares
e brincadeiras, todos para enriquecer o momento do aprendizado.
Outros PCNs também defendem as atividades de participação,
pesquisas e a utilização de jornais, revistas, rádio, TV e tudo para tornar a sala
de aula um ambiente agradável.
Segundo o próprio Ministério da Educação, o processo de
elaboração dos PCNs se deu da seguinte forma:
“Os documentos apresentados são resultados de longo
trabalho, que contou com a participação de muitos educadores
brasileiros tendo a marca de suas experiências e de seus
estudos, e foram produzidos no contexto das discussões
pedagógicas atuais. Inicialmente foram elaborados
documentos, em versões preliminares, para ser analisados e
debatidos por professores que atuam em diferentes graus de
ensino, por especialistas da educação e de outras áreas, além
de instituições governamentais e não-governamentais.”
(DARIDO & OUTROS: 2001, p.26).
Portanto, os PCNs podem e devem ser utilizados para consulta para
elaboração das aulas e reflexões do próprio professor. É claro que não deve
ser utilizado como um currículo mínimo obrigatório a ser seguido, ao contrário,
como podemos observar nesta fala: “ele pode vir a ser um subsídio importante
para discussão e definição das propostas pedagógicas elaboradas pelas
escolas no exercício de sua autonomia” (FERRAZ: 2001, p.77)
Apesar de lançarem uma rica proposta para a educação, que seria
unir o útil ao agradável, a maior parte dos docentes que atua nas escolas não
realizou uma capacitação para lidar com estes pressupostos e dimensões dos
conteúdos que os PCNs nos indicam a trabalhar. Para utilizá-lo, o professor
deve conhecê-lo bem, podendo tirar maior proveito deste para enriquecer suas
aulas.
Os PCNs fazem uma abordagem, independente de seu volume,
24
sobre a inclusão, seja esta vista como social ou até uma inclusão de matérias
que devem ser trabalhadas em aulas, isto proposto pela interdisciplinaridade.
Através desta interdisciplinaridade acompanhada ao lúdico, pode-se fazer um
trabalho educativo prazeroso aos olhos do educando, facilitando a sua
aprendizagem dos conteúdos propostos.
O objetivo deste trabalho foi verificar como se explicita nos
documentos dos PCNs, especificamente naqueles de Educação Física e de
Arte para o 1º e 2º ciclo do Ensino Fundamental, o jogo enquanto caminho
para vivenciar o tema da Pluralidade Cultural, indicando a presença efetiva da
transversalidade.
Visando atingir esse objetivo, o percurso da construção da
metodologia:
- Vale-se de referencial conceitual acerca do termo jogo, sobretudo no campo
da Educação;
- utiliza-se do aporte metodológico de BARDIN (2002) para elaborar categorias
de conteúdos nos PCNs capazes de dar suporte às inferências pretendidas.
Para isso, descreve e analisa os PCNs como totalidade no que seja relevante
para a compreensão do termo jogo em seu contexto, empregando para tal o
cd-rom Pluralidade nas Escolas (FISCHMANN 2002). Este material, conforme
sua apresentação, “traz a proposta de aplicar os recursos possibilitados pela
linguagem digital à transversalidade proposta pelos Parâmetros Curriculares
Nacionais”;
- emprega o recurso digital de busca localizar para sublinhar todas as
aparições da palavra lúdico, brincadeira e jogo, nos PCNs de Arte e de
Educação Física, para posteriormente buscar as possíveis intersecções e
aplicações do tema Pluralidade Cultural, através destes conceitos.
Historicamente existe uma grande reflexão sobre o jogo. Atendo-se
ao século XX, pode-se afirmar que o holandês Johan Huizinga se tornou uma
das mais importantes referências ao pensar o jogo enquanto atividade
absolutamente imbricada no interior das sociedades humanas.
Para HUIZINGA (2001), a essência do jogo está nele mesmo,
naquilo que ele tem de intensidade, e que mobiliza quem está envolvido no ato
de jogar, com todo o seu ser. Afinal, por qual razão o jogador se deixa dominar
25
totalmente por sua paixão? Por que multidões assistem em transe aos jogos
desportivos? Por que as crianças urram de prazer ao jogar?
O autor pensa que a resposta está dentro do jogo, na fascinação e
excitação que ele exerce. E completa o seu raciocínio ao afirmar que, ao invés
de nos dar meros exercícios mecânicos para relaxamento, a natureza nos
forneceu “(...) a tensão, a alegria e o divertimento do jogo” (HUIZINGA, 2001,
p.5).
Ele destaca ainda outras características essenciais do jogo, tais
como:
“uma atividade livre, conscientemente tomada como ‘não -
séria’ e exterior à vida habitual, mas ao mesmo tempo capaz
de absorver o jogador de maneira intensa e total. É uma
atividade desligada de todo e qualquer interesse material, com
a qual não se pode obter qualquer lucro, praticada dentro de
limites espaciais e temporais próprios, segundo uma certa
ordem e certas regras.” (HUIZINGA, 2001, p.16).
CALLOIS (1967) acrescenta a estas outras características do jogo: a
improdutividade derivada do jogo - ele não visa um resultado final, e o que
importa é realmente o processo, no qual o jogador se engaja de forma
voluntária, sem esperar recompensas a não ser o próprio prazer da atividade; e
a absoluta imprevisibilidade advinda do jogo – ao jogar não se podem prever
rumos, pois tudo está em suspense, dependendo das motivações dos
jogadores, e dos passos que os parceiros ou adversários darão a seguir.
BROUGÈRE (2002) afirma que a característica central do jogo está
mais na intenção de quem joga, do que na atividade em si. Para o autor, ao se
conceituar a atividade lúdica, deve-se ter em conta o estado de espírito de
quem brinca.
Para FILGUEIRAS (1998), o jogo na escola tem uma função
específica, pois a cultura do jogo escolar é muito diferente da cultura lúdica em
outros ambientes sociais.
KISHIMOTO (2002) anota que o jogo educativo possui uma
contradição intrínseca, pois se o jogo tem características de liberdade e
26
atividade voluntária, ele não poderia se conjugar com a procura de objetivos
implicada na educação. Para a autora é necessário que exista, no jogo
educativo, um equilíbrio entre as funções lúdicas do jogo e suas funções
educativas: caso exista a predominância de uma, ou não há mais ensino e
apenas jogo, ou “(...) se a função educativa retira todo hedonismo, resta
apenas o ensino” (KISHIMOTO, 2002, p.19).
Já BROUGÈRE (2002) acredita que o jogar necessita de uma
significação social, e que para tal, há de ocorrer uma aprendizagem dele
próprio. Para o autor, o ato de jogar propicia o aprendizado do próprio jogo.
Parafraseando Drummond, poderíamos dizer que jogar se aprende jogando. A
existência de uma cultura lúdica anterior à criança implica em que, para
adentrar no terreno do jogo, a criança adquira este conhecimento. Assim, a
primeira função educativa da atividade lúdica é ensinar a si própria, suas
regras e limites. Aprender isto é estar em consonância com a cultura lúdica do
seu contexto social.
Para o autor, o conhecimento da cultura do jogo já é em si um
momento educativo. Para desfrutar de tudo o que a atividade lúdica propicia, a
criança precisa conhecer o modus operandi desta atividade - aprender que a
cultura lúdica varia conforme a idade, o gênero, e a sociedade dos
participantes, e que estes interferem nela, sendo sujeitos desta cultura.
O termo jogo é utilizado em documentos de PCNs de diversas áreas
além da Arte e da Educação Física. Com os recursos de hipertexto do cd-rom
Pluralidade nas Escolas (FISCHMANN, 2002), evidenciou-se tal presença -
estes recursos permitem que o pesquisador visualize todos os documentos dos
PCNs de todos os ciclos e áreas, e que, de forma interativa, façam-se diversas
análises, sobre as diferenças e proximidades entre os diversos documentos.
Assim, o entendimento da transversalidade do tema Pluralidade Cultural, e do
jogo, no seio de todas as disciplinas escolares, fica facilitado.
O recurso digital da hipermídia foi empregado na realização de um
sobrevôo, ou leitura flutuante - como trata BARDIN (2002, p.96). esta leitura é
aquela em que se deixa “(...) conhecer o texto deixando-se invadir por
impressões e orientações (...) por analogia com a atitude do psicanalista” – dos
PCNs das outras áreas do Ensino Fundamental (quais sejam, Língua
27
Portuguesa, História, Ciências Naturais, Matemática e Geografia) em busca da
palavra jogo, o que propiciou uma visão abrangente de como o jogo é
encarado pelas diferentes disciplinas.
O documento de Matemática, por exemplo, usa o referencial teórico
do jogo sob diversas facetas. Em alguns momentos, propõe que o jogo seja
usado como um meio para que os alunos aprendam conteúdos específicos da
área. Mais adiante, o documento propõe que o jogo seja valorizado como
atividade em si:
“Além de ser um objeto sociocultural em que a Matemática
está presente, o jogo é uma atividade natural no
desenvolvimento dos processos psicológicos básicos; supõe
um “fazer sem obrigação externa e imposta”, embora demande
exigências, normas e controle. No jogo, mediante a articulação
entre o conhecido e o imaginado, desenvolve-se o
autoconhecimento - até onde se pode chegar - e o
conhecimento dos outros – o que se pode esperar e em que
circunstâncias.” (FISCHMANN, 2002, Matemática).
Este recurso ao jogo que faz as mais tradicionais áreas dos
currículos escolares comprova a dimensão grandiosa e educativa do conceito e
da própria atividade jogada. Após essa investigação preliminar, empregou-se o
mesmo recurso de hipermídia para percorrer detalhadamente os documentos
de Arte e de Educação Física dos PCNs de 1º e 2º ciclos do Ensino
Fundamental, à procura de todos os contextos em que o conceito de jogo, e
termos correspondentes (brincadeira, lúdico) apareciam. Utilizando-se da
ferramenta “localizar” no interior do cd-rom Pluralidade nas Escolas, objetivou-
se estabelecer uma entrevista virtual com os PCNs de Arte e Educação Física
sobre o conceito de jogo.
Assim, foram recortados frases, trechos e parágrafos que continham
as palavras jogo, lúdico e brincadeira. Em seguida, foram realizados alguns
passos para se analisar o conteúdo destes trechos:
28
Inicialmente, destacaram-se os “Objetivos Gerais de Pluralidade
Cultural para o Ensino Fundamental”:
- Conhecer a diversidade do patrimônio etno-cultural brasileiro, tendo atitude
de respeito para com pessoas e grupos que a compõem (...);
- valorizar as diversas culturas presentes na constituição do Brasil como nação;
- desenvolver uma atitude de empatia e solidariedade para com aqueles que
sofrem discriminação;
- repudiar toda discriminação baseada em diferenças de raça/etnia, classe
social, crença religiosa, sexo e outras características individuais ou sociais;
Com foco nestes objetivos de Pluralidade Cultural, trabalhou-se com
as frases e trechos recortados anteriormente dos PCNs de Arte e Educação
Física. Estes foram agrupados por blocos de conteúdos, empregando-se
critérios semânticos, como propõe BARDIN (2002). Cada uma das
capacidades objetivadas pelos PCNs de Pluralidade Cultural encabeçou uma
seqüência de proposições retiradas destes PCNs, quando examinados sob a
ótica do jogo. A cada uma destas seqüências deu-se o nome de “categoria”,
conforme propõe BARDIN (2002).
O segundo passo, foi elaborar a discussão destes resultados,
confrontando-os com o que a literatura pertinente a cada categoria destaca,
para verificar a viabilidade do jogo ser um canal para a Pluralidade Cultural.
Apresentam-se a seguir estes resultados.
O primeiro objetivo de Pluralidade Cultural proposto pelos PCNs,
almeja que a criança possa conhecer a diversidade do patrimônio etno-cultural
brasileiro, tendo atitude de respeito para com pessoas e grupos que a compõe.
(FISCHMANN, 2002).
Em face do diagnóstico que se faz do Brasil, como uma sociedade
múltipla em sua formação étnica – povos indígenas, africanos, latinos,
europeus - e com a diversidade cultural que isto favorece, um dos objetivos do
documento de Pluralidade Cultural é que, ao conhecer e conviver com esta
diversidade, a criança aprenda a respeitá-la.
FISCHMANN (1996) ressalta que, muitas vezes no Sul e no Sudeste
do país, faz-se uma desqualificação dos valores culturais de camadas
populares provenientes do Nordeste. Ao se rebaixar a cultura desta região, se
29
desvaloriza a pessoa rotulando-se de forma pejorativa como “folclórico” ou
“exótico” o que é cotidiano para o nordestino, a cultura que lhe foi transmitida
por seus pais.
Em relação ao conhecimento e respeito das diversas formas
culturais e das pessoas que as incorporam, o jogo apresenta características
que favorecem o aprendizado de elementos de várias culturas.
O documento de Arte dos PCNs traduz esta questão e propõe uma
estratégia lúdica para a consecução deste objetivo, quando fala dos jogos
populares, afirmando que estes são fontes valiosas de reconhecimento da
multiplicidade cultural brasileira
“Os jogos populares, de movimento, cirandas, amarelinhas e muitos
outros, são importantes fontes de pesquisa. Essas manifestações
populares devem ser valorizadas pelo professor e estar presentes no
repertório dos alunos, pois são partes da riqueza cultural dos povos,
constituindo importante material para aprendizagem.” (FISCHMANN,
2002 Arte).
O documento de Educação Física dos PCNs reforça este ponto, ao
comentar sobre a variedade de jogos e manifestações da cultura corporal que
existem pelo Brasil afora.
“A gama de esportes, jogos, lutas e ginásticas existentes no
Brasil é imensa. Cada região, cada cidade, cada escola tem
uma realidade e uma conjuntura que possibilitam a prática de
uma parcela dessa gama.” (FISCHMANN, 2002 Educação
Física).
Para este documento, a Educação Física possibilita a vivência de
práticas corporais advindas das mais diversas culturas, permitindo que, em
termos efetivos, promova-se a compreensão de como convivem na vida
cotidiana do estudante tais possibilidades. Esta cultura corporal é parte de um
30
patrimônio cultural que deve ser apropriado pela educação e pelo estudante,
com vistas não somente ao seu conhecimento, mas também a sua fruição.
Esta apropriação de formas diversas de cultura corporal também
favorece, de acordo com o documento, que a criança esteja apta:
“para adoção de uma postura não preconceituosa e
discriminatória diante das manifestações e expressões dos
diferentes grupos étnicos e sociais e às pessoas que dele
fazem parte.” (FISCHMANN, 2002 Educação Física).
Assim, os PCNs de Arte e Educação Física reafirmam a existência
uma riqueza muito grande de jogos nas diversas regiões do Brasil, o que
permite não apenas o reconhecimento de culturas, mas também a valorização
destas como capazes de criar situações lúdicas e prazerosas.
Outro objetivo dos PCNs de Pluralidade Cultural, espera que sejam
valorizadas as diversas culturas presentes na formação da nação brasileira,
“(...) reconhecendo sua contribuição no processo de constituição da identidade
brasileira.” (FISCHMANN, 2002 Pluralidade Cultural).
Para MOTTA (2000), a partir de pensadores brasileiros da primeira
metade do século XX (como Gilberto Freyre), criou-se um “mito” da identidade
cultural homogênea e única do povo brasileiro.
FISCHMANN (1996) afirma que estudos feitos na transição dos
séculos XIX e XX apontavam uma homogeneidade do brasileiro, como se
houvesse uma única identidade branca e civilizada, semelhante ao padrão
europeu.
Ambos os autores, contudo, demonstram que hoje pode-se afirmar
que não existe uma identidade nacional clara, mas sim diversas identidades
convivendo simultaneamente dentro das mesmas fronteiras que compõem o
Estado brasileiro.
FISCHMANN (1996, p.180) escreve que
“preliminarmente, gostaria de afirmar que não há identidade
entre o nacional e o cultural, entendendo que o Brasil como
31
Nação, compõe-se de diversas nações. Em particular, a cidade
de São Paulo, onde se desenvolve nosso trabalho, é marcada
por um forte e acentuado cosmopolitismo, concentrando em si
uma enorme variedade de etnias e religiões, cuja interação
ocorre dentro de uma situação socioeconômica também
extremamente diversificada (...).”
Percebe-se assim que o Brasil é um país com uma diversidade
cultural enorme. São produções lúdicas e culturais que se manifestam na
forma de uma variedade de brincadeiras, músicas, danças e ritmos, a qual
fornece uma das mais conhecidas facetas do país no mundo. Em
contrapartida, a Educação muitas vezes acaba por privilegiar formas corporais,
lúdicas e rítmicas “importadas”, americanizadas ou europeizadas, não abrindo
espaço às de manifestações brasileiras.
Assim, é fundamental que o professor, junto com os alunos, dê
visibilidade a este arcabouço cultural, o que pode ser feito no contexto do jogo
como elemento diferenciado da cultura de cada região do país.
O documento de Arte, neste sentido, afirma que o professor pode
não só apresentar as formas artísticas que demonstrem a riqueza cultural
brasileira, mas também deve incentivar os alunos que mostrem a arte que é
feita em sua comunidade.
“Este trabalho também é fundamental para que os alunos se
percebam como produtores de cultura, ao mesmo tempo em
que desenvolvem uma compreensão de códigos culturais.”
(FISCHMANN, 2002 Arte).
Para o documento de Educação Física, a escola deve abrir suas
portas para a cultura que a criança traz consigo, que é essencialmente lúdica
(CARVALHO, 1999). A autora escreve que toda a criança conhece um jogo,
uma brincadeira, e deixar que isso venha à tona, é uma proposta viva de
valorização da pluralidade cultural do país.
O documento de Educação Física reafirma que a educação deve
incentivar que as crianças apresentem esta cultura, seus jogos como
32
“pular corda, elástico, bambolê, bolinha de gude, pião, pipas, lenço-
atrás, corre-cutia, esconde-esconde, pegapega, coelho-sai-da-toca,
duro-ou-mole, agacha-agacha, mãe-da-rua, carrinhos de rolimã,
cabo-de-guerra.” (FISCHMANN, 2002 Educação Física).
Para o documento, esta abertura reconhece a importância de todo o
tipo de jogo infantil, promovendo o conhecimento das várias formas culturais
existentes no país, ampliando o rol cultural do aluno - elemento chave na
formação de um cidadão aberto a novas formas de cultura, apto a desfrutá-las
e respeitá-las.
Este tópico dos PCNs de Pluralidade Cultural diz respeito à questão
da tolerância e da discriminação. Ele sugere que, na escola, o aluno possa
“desenvolver uma atitude de empatia e solidariedade para com aqueles que
sofrem discriminação”. (FISCHMANN, 2002 Pluralidade Cultural).
O preconceito e a intolerância tem sido uma característica freqüente
nas sociedades humanas. Estigmatizar aquele que pensa ou age de forma
diferente àquela que se acredita ser a correta, é uma marca recorrente na
história. Do preconceito velado à violência aberta, a história da humanidade
vem produzindo peças horrorosas e sangrentas, plenas de discriminação.
Segundo FISCHMANN (1998, p.969), Adorno concluiu em seus
estudos que traços presentes na personalidade autoritária levariam esta
“(...) a apresentar atitudes preconceituosas e a legitimar formas
várias de discriminação de minorias, aí incluídas nós mulheres,
os homossexuais, todos aqueles que integram etnias ou
religiões não dominantes, além das crianças. Essas formas de
discriminação incluem comportamentos violentos, agressivos,
excludentes.”
A autora afirma ainda que o papel da escola no desvelamento do
preconceito, e na construção de mentalidades que tenham dentro de si
capacidade de sentir empatia para com o outro, e indignar-se em face de
33
injustiças e situações desumanas, é fundamental na construção de um mundo
mais tolerante.
O jogo possui uma grande força no sentido de trazer um clima
repleto de alegria, espontaneidade e solidariedade aos espaços educativos,
contribuindo para a criação de consciências livres de preconceitos, que sejam
tolerantes consigo mesmas e com os diferentes.
Desta forma, o exercício da solidariedade é um aspecto muito
relevante para o trabalho contra a discriminação, e ambos os documentos
encontram propostas lúdicas para trabalhar este tópico.
Para os PCNs de Arte, uma das possibilidades de trabalho solidário
e lúdico é a dança. Tanto nos seus aspectos individuais como grupais, o aluno
quando dança está exercitando a atenção para com o outro, a colaboração e a
solidariedade, estabelecendo e ampliando “(...) assim o seu crescimento
individual e sua consciência social”. Segundo estes PCNs,
“A dança é também uma fonte de comunicação e de criação
informada nas culturas. Como atividade lúdica a dança permite
a experimentação e a criação, no exercício da
espontaneidade.” (FISCHMANN, 2002 Arte).
Os PCNs da área de Educação Física reconhecem nos jogos uma
oportunidade para se trabalharem questões de respeito mútuo e solidariedade
para com o próprio grupo e com adversários. Ao depararam-se com regras, as
crianças acabam desenvolvendo capacidades de julgamento do certo e errado,
e sentimentos de justiça e injustiça. Para os PCNs da área, o trabalho dos
jogos em equipe é fundamental, pois neste a
“solidariedade pode ser exercida e valorizada. Em relação à
postura frente ao adversário pode-se desenvolver atitudes de
solidariedade e dignidade, nos momentos em que, por
exemplo, quem ganha é capaz de não provocar e não
humilhar, e quem perde pode reconhecer a vitória dos outros
34
sem se sentir humilhado.” (FISCHMANN, 2002 Educação
Física).
O processo de construção do jogo, de discussão de regras e formas
de jogar, acaba por abrir as portas para que o educando exercite suas
capacidades de discussão, avaliação do ponto de vista do outro, afirmação de
suas idéias e análise de opiniões contrárias ou complementares as suas.
Concomitantemente, este processo permite que o aluno possa ser capaz de
“(...) adotar atitudes de respeito mútuo, dignidade e
solidariedade em situações lúdicas e esportivas, buscando
solucionar os conflitos de forma não violenta.” (FISCHMANN,
2002 Educação Física).
Assim, a atividade lúdica pode cumprir uma das funções previstas
para a educação voltada para a pluralidade cultural, ressaltada por
FISCHMANN (1998, p.970), qual seja:
“(...) uma pauta para a educação é a elaboração de propostas
que visem enriquecer a capacidade argumentativa. Nesse
sentido, o ponto mais fundamental refere-se à possibilidade de
formação de indivíduos capazes de escapar à tentação
maniqueísta. Novamente aqui, a existência da diversidade
étnica, religiosa, cultural é crucial, porque ensina a relativizar
afirmações, bem como a desenvolver a consciência de que
existem tantos sistemas humanos quanto nos é impossível
conhecê-los a todos.”
Segundo a autora, é possível que o aluno perceba que a sua
capacidade de julgamento será sempre limitada, o que o obriga a ter atitudes
de tolerância, respeito para com a diversidade e para com o outro.
Este objetivo dos PCNs de Pluralidade Cultural propõe que o aluno
seja levado a “repudiar toda discriminação baseada em diferenças de
35
raça/etnia, classe social, crença religiosa, sexo e outras características
individuais ou sociais”.
No que tange à discriminação de gênero no ambiente escolar,
VIANNA, UNBEHAUM e ARANTES (2003), avaliam que até o ano de 1980,
esta temática inexistia nos estudos educacionais no Brasil. A partir desta data
houve avanço nesta questão, destacando-se temas como
“educação infantil, livros didáticos e conteúdos escolares,
significados masculinos e femininos da identidade e trabalho
docentes, reprodução de estereótipos nas relações e nas
políticas escolares (...).”
No entanto, a partir da análise de uma série de documentos
educativos, as autoras mostram que a escola ainda se ressente de políticas
públicas que enfatizem a questão de gênero.
Esta questão também se mostra relevante para o ensino da Arte.
RICHTER (2002, p.90) afirma que, mesmo sem aparecer em destaque nos
PCNs de Arte, esta problemática é de fundamental importância para o ensino
da disciplina uma vez que
“os padrões estéticos familiares que as crianças trazem de
casa para a escola são essencialmente construídos a partir dos
padrões estéticos femininos. Pelo fato de que tudo o que se
relaciona com enfeitar, o tornar agradável, o fazer especial, em
nossa sociedade, foi sendo transformado em uma
preocupação exclusivamente feminina, e, portanto, de certa
forma subalterna às questões mais importantes e pragmáticas
do ganhar a vida, tarefa predominantemente masculina.”
Já para os PCNs de Educação Física, uma das diferenças que é
muito pronunciada na escola é a que enfatiza a desigualdade entre meninos e
meninas a partir de suas diferentes habilidades motoras, construídas
socialmente. Cabe à educação revelar isso, trazendo à tona tanto atividades
36
nas quais os meninos, por uma questão de aprendizado social, possuem uma
maior competência (jogos com bola, de força ou corrida), como
“atividades lúdicas e expressivas nas quais as meninas,
genericamente, têm uma experiência maior; por exemplo,
lengalengas, pequenas coreografias, jogos e brincadeiras que
envolvam equilíbrio, ritmo e coordenação.” (FISCHMANN, 2002
Educação Física).
Desta forma, os jogos e atividades lúdicas apontam para dois
caminhos que se complementam com a finalidade de se trabalhar o repúdio à
discriminação: por um lado, o reconhecimento que qualquer pessoa possui
uma cultura lúdica que pode ser experienciada no contexto de um grupo, e de
outro, a construção do jogo em conjunto, no qual as possibilidades para que
este se realize implicam numa mobilização coletiva.
37
CAPÍTULO III
O LÚDICO INCLUÍNDO PORTADORES DE NECESSIDADES EDUCATIVAS
Quando falamos em educação inclusiva estamos nos referindo
aos excluídos de alguma maneira do ambiente escolar, já que se estivessem
inseridos na escola não haveria a necessidade de incluí- los nesse ambiente.
A educação inclusiva não é simplesmente matricular o educando na
escola como determina a lei , na qual prescreve que as crianças e adolescente
devem ser matriculados preferencialmente em uma rede regular de ensino.
Muitas vezes o educando está em um ambiente escolar e é sente-
se excluído de alguma forma , seja pelos coleguinhas que brincam com ele ou
por qualquer outro motivo,não havendo então a interação a socialização
desses alunos. A visão da inclusão não é moldar o educando para ser inserido
na escola, dele ter que se adaptar do ambiente da sala de aula, da escola
como um todo seja incluindo nesse espaço educacional, e social que é a
escola.
Trata- se de uma Escola Particular Localizada no Município de São
Gonçalo no Estado do Rio de Janeiro, cuja identificação será- preservada.
Verificamos que no, centro de ensino Percepto é bem estruturado, o prédio
destinado à secretária, direção e coordenação, enfim para a parte
administrativa da escola. E outros andares onde ficam salas de aula que são
grandes, bem arejadas, têm boa, iluminação. Cada sala tem 25 à 28 alunos.
Há ainda uma sala de vídeo, uma biblioteca, uma quadra de Esportes, um
almoxarifado, um laboratório de informática, um salão de festas, banheiros
masculino e feminino e uma lanchonete. A escola tem uma sala de recursos
com materiais diversificados para o trabalho especificamente com o alunado
especial como o objetivo de desenvolver as habilidades de cada um dentro da
sua limitação. O Percepto é uma escola cristã por isso relaciona os conteúdos
aplicados aos princípios Bíblicos através de projetos abordando temas
transversais e desenvolvendo atividades culturas como festival de poesia e
38
música, cultos periódicos com participação dos alunos e também passeios
pedagógicos.
Visando uma educação igualitária a escola trabalha de forma
inclusiva, o que facilita o relacionamento entre família e escola promovendo
assim o crescimento e incentivo necessário para a formação de um cidadão
atuante e participativo.
Pelo que foi observado, houve um movimento para acolher os
educandos especiais os funcionários, professores, enfim todos buscaram
meios para incluir o alunado que tem alguma limitação. “Para que ele se
sentisse bem naquele ambiente, sendo recebido na escola da maneira que os
demais educandos “considerados “ normais”, para que assim não
sobressaísse o cuidado em relação a limitação, para que ele não fosse tratado
de maneira diferente por causa disso da sua restrição seja ela física, sensorial,
intelectual, mas sendo visto da mesma forma que os educandos “normais”,
para que suas habilidades fossem desenvolvidas que ocorresse a interação
com os demais alunos. Pelo, que percebi a preocupação dos sujeitosmda
escola e respeitar sempre as limitações do alunado portador de necessidades
especiais que se encontra inserido nessa unidade escolar.
A escola tem que trabalhar para incluir o alunado com
necessidades especiais no ambiente educacional, para que ele possa integrar-
se ao meio que está inserido, pois uma das esferas em que pode ocorre a
socialização e não a segregação do sujeito é na escola, que e importantíssima
no processo de construção, socialização do educando.
Não é suficiente que o educando com necessidades especiais
esteja em uma classe regular de ensino, é importante que ocorra uma
interação com os colegas de classe nas atividades que são desenvolvidas,
como trabalhos manuais, jogos, brincadeiras, enfim, atividades que contribuam
para o trabalho em grupo, a cooperação estimula assim o relacionamento
social do educando especial com o considerado “ normal”.
Podemos refletir hoje que a educação inclusiva segue uma
perspectiva mais ampla, não está voltada para um ensino especializado no
qual ocorreria uma trabalho mais individualizado com o sujeito que tem alguma
limitação mais sim uma educação visando à formação do educando por isso a
39
importância dele estar inserido em um ambiente que propicie a interação com
os demais colegas de classe para que ele consiga desenvolver as suas
habilidades sejam elas motoras, sensoriais, mentais, sociais.
A inclusão do aluno que tem alguma limitação tem que ser realizada
de maneira que ele, sinta- se incluído na escola, participe das atividades que
são desenvolvidas na escola, como está no PCN, “é fundamental que o aluno
se sinta valorizado e acolhido em todos os momentos de sua
escolaridade’’(P.47).E, de certa forma, é isso que acontece na escola. Pude
perceber através da atitude da professora de Educação Física ao mediar as
atividades, tendo uma preocupação para que o educando especial participe
das atividades lúdicas com o demais, faz com que ocorra esse acolhimento e a
interação de todos independentemente se tenham ou não alguma limitação,
contribuindo assim para socialização dos sujeitos através da ludicidade e
também na inserção do alunado especial na escola.Diante desta situação
aqueles educadores que buscam promover mudança neste quadro a utilização
das atividades lúdicas é um fator fundamental.As atividades lúdicas não
resolvem todos os problemas que cercam a educação, mas podem ser
utilizadas como alternativa de resgatar a alegria e o prazer de aprender, o que
poderão contribuir para ampliar os conhecimentos e possibilitar caminhos para
um profissional mais dinâmico e reflexivo, capaz de atender as necessidades
do educandos, pois diariamente o tempo e a história nos impõem a busca por
novas práticas pedagógicas que auxiliem e facilitem processo dinâmico que é a
aprendizagem.E inegável resgatar, que se faz necessário uma escola
diferente, onde a criança queira estar e em que haja alegria e prazer para
descobrir e aprender, pois é notório que em grande parte das escolas particular
situadas em bairros encontram- se muitas crianças.O lúdico é uma ferramenta
que pode auxiliar no desenvolvimento da motricidade, da atenção e
imaginação de uma criança.Apesar de muitos benefícios, há ainda diversas
unidades de ensino que não utilizam o lúdico como recurso de apoio
pedagógico.Nestas escolas a criança, ao chegar ao espaço educativo, é
impedida de assumir sua corporeidade, passando a ser submissa através de
horas que fica imobilizada na sala de aula.
È comum distanciar as brincadeiras da educação. O que é errado.
40
Através da brincadeira também se transmitem conhecimentos e valores úteis
que contribuem para sociedade mais justa. Por isso o lúdico precisa estar
presente na escola e podendo ser várias maneiras como contar e ouvir
histórias, dramatizar, dançar ou disputando desenhar, entre outras atividades
extras constituindo meios prazerosos de aprendizagem.
Para Santos(2000, 42)”Os jogos tornam a aula bem mais atraente,
desenvolve ao professor seu papel como agente construtor do crescimento do
aluno, elimina o desinteresse e, portanto a indisciplina, devolvendo a escola, a
sua função de agência responsável por pessoas mais completas.
Na verdade, a concepção que se defende é uma proposta
intencional à adoção de metodologias que a criança tem de mais comum a
sua espontaneidade, a sua criatividade e a sua imaginação, pois só assim ela
estará aberta para desenvolver suas habilidades e assimilar os conteúdos
curriculares nos momentos em que se ressalta a relevância de resgatar o
prazer na educação e no trabalho diante de tantas mudanças acirradas no
campo do conhecimento, estamos a caminho de uma sociedade em que será
imprescindível a busca por novas metodologias que valorizem a livre
expressão autoconhecimento a afetividade a cooperação a autonomia,
criatividade, enfim, a busca do equilíbrio entre razão e emoção.
Desta forma, o brincar e o lúdico devem ser mantidos desde a
infância até a vida adulta, uma vez que enriquece o cotidiano, distanciando
atitudes negativas e aproximando as pessoas em seu dia a dia.
Um fato comum que acontece nas escolas é que em função do
conteúdo que tem que ser transmitido, o lúdico perde sua vez, tornando- se um
recurso inutilizado, já que
Tem-se um planejamento teórico a seguir, ou seja, há uma
perspectiva educacional em relação aos resultados obtidos na aprendizagem,
almejando de acordo com o período escolar, que algumas vezes impossibilita
o aparecimento do lúdico em sala.
O espaço escolar ainda se encontra deficiente quanto à existência
de elementos que caracterizam a cultura do país, por exemplo, a cultura da
infância através das brincadeiras, das cantigas de roda e dos jogos folclóricos.
41
De acordo com a falta de qualidade das instituições escolares
redunda na seleção inadequada de aspectos da cultura relacionados com o
saber instituído da escola elementar: a escrita e os números, excluindo
elementos caracterizadores da cultura do país como o carnaval, rituais do
bumba meu boi, festa de coroação dos reis, capoeira, futebol, lendas, contos e
a multiplicidade de brincadeira oferecidas pelo folclore brasileiro.Dando
importância a esses temas, que é uma excelente forma de utilizar o lúdico e
fazer com que o educando conheça sua história ampliando seus
conhecimentos quanto à cultura, popular existente em nosso país e ao mesmo
tempo em que desenvolve suas habilidades intelectuais.
A discriminação da sociedade é o grande pivô da inclusão do
educando portador de necessidades especiais nas escolas. Outro fator
considerado muito importante é o despreparo de profissionais para o
desempenho de suas tarefas com esses educandos, pois muitos não recebem
qualificação adequada para desenvolver esse tipo de trabalho. Não somente a
má qualificação como também a falta de recursos materiais.
Esse tema nos chamou atenção por se tratar de uma realidade de
nosso dia a dia em todo o nosso país, pelo descaso das autoridades
competentes, de nossos governantes e da própria população que discrimina
nossos portadores de necessidades especiais.
A pesquisa investiga o que se faz necessário para o total
esclarecimento da sociedade em relação aos existentes, por exemplo, como
ocorre seu desenvolvimento, quem pode ser portador de necessidades
especiais.
Todas essas dúvidas devem ser respondidas de forma objetiva para
extinguir certas crenças e mitos que o ser humano desenvolve ao longo de sua
vida, de que pessoas portadoras de deficiências não podem fazer parte de
nossa sociedade. Para isso seria necessário que toda sociedade pudesse se
conscientizar que essas pessoas não só podem como também tem o direito de
serem inclusos em nossa sociedade o que se dá início na escola juntando-se a
outras crianças.
Outra forma de trabalhar com deficiência dentro das escolas é
capacitar cada vez mais o educador, para que este possa desenvolver
42
atividades de interação entre as crianças P.N.E.E, com aquelas que não são.
Será que se os profissionais fossem bem capacitados, recebessem uma boa
renumeração, melhores recursos materiais e apoio da sociedade, poderiam
desenvolver melhor seu trabalho com essas crianças P.N.E.E para que não
sejam excluídos de nossa sociedade.
Desenvolver uma sociedade inclusiva que experimenta um novo
olhar para todas as pessoas: o olhar que, ao invés das limitações, busque as
eficiências de cada ser, para fazê-lo crescer e evoluir.
A educação inclusiva é consequência da visão social de um mundo
democrático, sem discriminação, onde direitos e deveres são respeitados. Isto
significa que a educação deve ser oferecida a todos, independente de cor,
sexo, credo, nacionalidade ou qualquer outra característica que diferencie as
pessoas. A inclusão não se faz só através da escola, deve envolver toda a
comunidade e começa na família, desde seu nascimento. Quando uma
criança é mal amada, discriminada desde inicio de sua vida, não conseguirá
ser incluída em escola alguma. Ainda que não seja portadora de qualquer
deficiência visível.
A inclusão deve iniciar-se na pré- escola e ser um espaço flexível,
pois as crianças menores respeitam mais as diferenças e crescem com maior
respeito humano.
A inclusão não é apenas educacional. Existem razões sociais,
morais e econômicas que a justificam. Os sistemas de educação separada têm
conduzido à segregação social e isolamento das pessoas com deficiências na
idade adulta: mundos separados criados desde começo.
CONCLUSÃO
Assim como as crianças especiais, todos têm limitações. E sobre
esta reflexão, o trabalho enfim, que o convívio dentro e fora da escola
43
encontra- se em primeiro lugar, nas próprias relações entre os agentes que
constituem essa instituição: aluno, professores, funcionários e pais.
Deste modo, buscamos aprimorar o papel democráticos e inclusivos,
criando condições ideais de realizar cada vez melhor o nosso trabalho.
Em suma, a reflexão sobre as diversas faces das condutas
humanas deve fazer parte dos objetivos maiores da escola comprometida com
a formação para a cidadania.
O convívio escolar refere- se a toda as relações e situadas vividas
na escola, dentro e fora da sala de aula, me que estão envolvidos direta ou
indiretamente todos os sujeitos da comunidade escolar.
Espera-se através deste trabalho de conclusão de curso fazer uma
reflexão sobre a questão do lúdico em meio ao processo de construção do
saber da criança, mostrando que a união entre educação e ludicidade pode
trazer relevantes contribuições no que se refere à formação da criança.
Observa-se que os educadores se ocuparam durante muitos anos
com os métodos de ensino, mas hoje a preocupação está sendo descobrir
como o aluno pode aprender com prazer. O essencial é ir ao mundo da
criança, não se prender a uma só metodologia ou recursos didáticos. É preciso
que estimulem a inteligência do discente e que se construa um ambiente de
aprendizagem prazeroso e significativo.
Os autores estudados direcionam os leitores a uma reflexão da
importância do aprender na formação de um cidadão e o quanto pode ser útil
para o desenvolvimento do ser humano com a utilização deste recurso em sala
de aula, principalmente quando os objetivos estão voltados a uma função
educativa.
Percebe-se que o lúdico é indispensável no papel da construção de
conhecimento dos nossos educandos, pois integra conteúdos escolares ao
aperfeiçoamento das áreas afetivas, cognitiva e motora do desenvolvimento
educacional em um contexto que coloca o ser como elemento ativo do
processo de construção do conhecimento.
A relação de jogo e educação ampliou-se a atividades e atitudes que
não mais se opõem ao trabalho do educador. Devemos estar envolvidos neste
processo diário. Tendo consciência que o brincar com suas estratégias
44
pedagógicas traz resultados positivos quanto ao domínio dos conteúdos
educativos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Fundamental, Ministério da Educação. Brasília:3ª. Ed., 2001.
45
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educação.São Paulo: 2002.
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Parâmetros Curriculares Nacionais. Rio de Janeiro: WAK, 2001.
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janeiro: Lamparina, 2001.
5. FERRARI, Márcio. O educador das crianças pequenas. São Paulo: Ed. 190,
2006.
6. FERRAZ, Osvaldo Luiz. A educação física, a formação do cidadão e os
Parâmetros Curriculares Nacionais. São Paulo: 2008.
7. FERREIRA, Márcio. O jogo segundo a teoria do desenvolvimento humano
de Wallon. São Paulo: Editor Abril, 2007.
8. GADOTTI, Moacir. Concepção dialética da educação:um estudo introdutório.
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Alegre: Artes Médicas, 1991.
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São Paulo: Cortez, 2002.
LOPES, Maria da Glória. Jogos na Educação: criar, fazer, jogar. São Paulo:
Cortez. 2004.
MACEDO, Izabel. A criança e o brincar. São Paulo: Moderna, 2004.
PESTALOZZI, Johann Heinrich. Johnn Heinrich Pestalozzi (Biografia). Porto
Alegre: Artes Médicas, 2008.
46
QUEIROZ, Joristela de Souza. O lúdico no contexto escolar: um resgate ao
prazo resgate ao prazer de aprender. Petrópolis: Cortez, 1995.
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
47
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
Um Mergulho Histórico: O Lúdico na Educação 10
CAPÍTULO II
A Importância do Lúdico Explícita nos PCNs 20
CAPÍTULO III
O Lúdico Incluindo Portadores de Necessidades
Educacionais 37
CONCLUSÃO 43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 45
ÍNDICE 47
.
48
49