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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
MELHORES PRÁTICAS DE GOVERNAÇA CORPORATIVA
Por: Caroline Alexandre de Freitas
Orientador
Prof: SERGIO MAJEROWICZ
Rio de janeiro
2011
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
MELHORES PRÁTICAS DE GOVERNANÇA CORPORATIVA
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista Em Gestão Empresarial,Por: Caroline Alexandre de Freitas
3
AGRADECIMENTOS.
Quero agradecer minha MÃE, pelo apoio e sabedoria, meu namorado Rodrigo pela paciência.
4
DEDICATÓRIA
Dedico a minha mãe.
5
RESUMO
Nos últimos anos têm sido marcados por um processo contínuo de aumento da
liquidez na Bolsa de Valores de São Paulo quando muitas empresas entraram
na Bolsa via oferta pública de ações. Esta monografia procura identificar uma
das principais medidas adotadas pela Bolsa de Valores de São Paulo com
intuito de criar maior confiança aos investidores. Além disso, procura
demonstrar que uma estrutura de governança corporativa contempla disciplina,
transparência, independência, responsabilidade, equidade e responsabilidade
social. Ela é fundamental para estimar e reduzir riscos de investimentos e o
custo de capital, itens fundamentais hoje de crescimento de qualquer empresa.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 07
CAPÍTULO I - Governança Corporativa. 09
CAPÍTULO II - Governança Corporativa,
Mercado de Capitais e Crescimento Econômico. 19
CAPÍTULO III – Testando a hipótese de maior
valoração das empresas listadas nos níveis
diferenciados da Bovespa 22
CONCLUSÃO 26
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 28
7
Introdução
O tema desta monografia foi escolhido tendo em vista as recentes
proporções que tomaram as discussões sobre as melhores práticas de
Governança Corporativa e sua contribuição para o melhor desempenho e
valoração das empresas que adotam tais práticas, pois estas facilitam o acesso
das companhias ao capital e atrai investidores.
Porém, sua implicação vai muita além: a Governança Corporativa é
tratada como um dos fatores preponderantes para o maior desenvolvimento do
mercado de capitais, que pode ser uma das fontes que possibilitariam um
maior crescimento e desenvolvimento econômico de um país.
No Brasil, é um tema que ganhou notoriedade recentemente (por volta
de meados da década de 1990) e números recentes mostram que, ao contrário
do que chegou a se temer, não é uma maré passageira. Prova desta
conscientização das companhias pelo maior respeito aos acionistas e demais
partes envolvidas é que cada vez mais empresas passam a fazer parte de um
dos três níveis diferenciados de Governança Corporativa criados pela Bolsa de
Valores de São Paulo (Bovespa). Estes segmentos, denominados Nível 1,
Nível 2 e Novo Mercado, até o presente momento contam com 89 empresas
(de um universo de 346 listadas na Bolsa paulista).
Como será discutido mais adiante, a Governança Corporativa não só
traz implicações para a empresa e seus acionistas, mas é defendida como algo
essencial para o completo desenvolvimento do mercado de capitais e
consequentemente possibilitando maior crescimento e desenvolvimento
econômico.
Sendo assim, esta monografia tem como objetivo geral responder a
pergunta básica que gira em torno das discussões sobre Governança
Corporativa: afinal, a adoção dessas boas práticas de gestão influenciam no
desempenho da empresa e, em consequência, de seu valor em Bolsa?
8
Dentro deste contexto, o presente texto procura, para responder a tal
pergunta básica, trazer alguns importantes pontos sobre Governança
Corporativa, sendo eles:
- Demonstrar a contribuição do tema para o desenvolvimento do mercado
de capitais e para o crescimento econômico;
- trazer a Governança Corporativa sob vários aspectos, com respectivos
conceitos;
- trazer a tona a origem das discussões sobre o tema, no Brasil e no
mundo;
- sua sustentação teórica;
- procurar verificar empiricamente a relação entre Governança Corporativa
e a valoração das empresas.
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1 – Governança Corporativa
1.1 – Definição de Governança Corporativa
Há um grande número de definições para Governança Corporativa.
Silveira (2005, p. 13) a define como o conjunto de mecanismos de incentivos e
controle (interno e externo), que visam a minimizar os custos decorrentes do
problema de agência, procurando minimizar os prejuízos causados por tais
conflitos entre tomadores de decisão e fornecedores de recursos.
Segundo Andrade e Rossetti (2006, p.138), os conceitos seguem de
acordo com os processos e objetivos da alta gestão observados nas empresas,
podendo ser divididos em quatro grupos:
- Governança Corporativa como guardiã dos direitos das partes
com interesse em jogo:
A Governança Corporativa trata do conjunto de leis e regulamentos que visam: (i) assegurar os direitos dos acionistas (controladores ou minoritários); (ii) disponibilizar informações que permitam aos acionistas acompanhar decisões empresariais importantes, avaliando o quanto elas interferem em seus direitos; (iii) possibilitar aos diferentes públicos alcançados pelos atos das empresas o emprego de instrumentos que assegurem a observância de seus direitos; (iv) promover a interação dos acionistas, dos conselhos de administração e da direção executiva das empresas. (MONKS e MINOW apud ANDRADE E ROSSETTI, 2006, p. 138).
Governança Corporativa como sistema de relações pelas quais as
sociedades são dirigidas e monitoradas:
É o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo os relacionamentos entre acionistas/cotistas, conselho de administração, diretoria, auditoria independente e conselho fiscal. As boas práticas de Governança Corporativa tem por finalidade o aumento do valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para sua perenidade. (IBGC apud ANDRADE E ROSSETTI, 2006, p. 139).
10
- Governança Corporativa como estrutura de poder que se
observa no interior das corporações:
A Governança Corporativa é o sistema e a estrutura de poder que regem os mecanismos através dos quais as companhias são dirigidas e controladas. (CADBURY apud ANDRADE E ROSSETTI, 2006, p. 139).
- Governança Corporativa como sistema normativo que rege as
relações internas e externas das empresas:
A Governança Corporativa diz respeito a padrões de comportamento que conduzem à eficiência, ao crescimento e ao tratamento dado aos acionistas e a outras partes interessadas, tendo por base princípios definidos pela ética aplicada à gestão de negócios. (CLAESSENS e FAN apud ANDRADE E ROSSETTI, 2006, p. 140).
11
1.2 - Equidade, transparência, prestação de contas e conformidade:
Os Valores da Governança Corporativa
A Governança Corporativa, de acordo com Andrade e Rossetti (2006),
tem quatro valores que lhe dão sustentação: equidade, transparência,
prestação de contas e conformidade. Esses quatro princípios básicos podem
ser definidos da seguinte maneira:
§ Equidade – caracteriza-se pelo tratamento justo e igualitário de
todos os grupos minoritários, sejam do capital ou das demais
partes interessadas (stakeholders). Atitudes ou políticas
discriminatórias, sob qualquer pretexto, são totalmente
inaceitáveis.
§ Transparência – mais do que a “obrigação de informar“, a
administração deve cultivar o “desejo de informar“, sabendo que
da boa comunicação interna e externa, particularmente quando
espontânea, franca e rápida, resulta um clima de confiança, tanto
internamente quanto nas relações da empresa com terceiros.
§ Prestação de contas (Accountability) – os agentes da
Governança Corporativa devem prestar contas de sua atuação a
quem os elegeu e respondem integralmente por todos os atos que
praticarem no exercício de seus mandatos.
§ Conformidade: deve haver o cumprimento das normas legais,
estatutos sociais, regimes internos e instituições legais do país.
Estes valores encontram-se em cada diferente conceito de Governança
Corporativa apresentado anteriormente, implícita ou explicitamente. Fazendo
uma amarração com os diferentes conceitos e os valores fundamentais em que
se baseavam, a Figura 1 pode resumir bem tal situação:
12
13
1.3 – Origem da Governança Corporativa
Com certeza este tema nunca teve tanta notoriedade e importância,
sendo que nos últimos anos temos visto uma crescente preocupação com as
boas práticas de Governança Corporativa. Entretanto, se hoje esta encontra-se
no centro das discussões sobre alta gestão dos negócios, sua origem retrocede
a meados da década de 1980. De início nos Estados Unidos para, em seguida,
chegar à Inglaterra e, num passo seguinte, ao restante da Europa. De acordo
com Andrade e Rossetti (2006):
[...] “os conflitos de agência são as razões fundamentais para o surgimento da Governança Corporativa. Mas não são as únicas. Somaram-se a eles dois diferentes conjuntos de fatores que levaram as companhias a adotarem estas melhores práticas“.
No Brasil, o tema é relativamente recente, ganhando forma no final da
década passada. Seu despertar no país, a exemplo de qualquer outro, deve-se
a uma série de mudanças nas forças internas e externas, que interferem nos
princípios e nas estruturas das empresas. Andrade e Rossetti (2006) apontam
que essas forças vão desde as condições macroeconômicas mundiais até as
nacionais e do próprio sistema corporativo brasileiro. Segundo o IBGC,
ocorreram vários fatores que colaboraram para essas mudanças, tais como:
§ Privatizações;
§ Movimento internacional de fusões e aquisições;
§ Globalização;
§ Maior necessidade de financiamento;
§ Postura mais atuante dos investidores institucionais nacionais e
estrangeiros, com destaque para os fundos de pensão.
14
1.4 – Conflitos de Agência
Como enfatizado anteriormente, os Conflitos de Agência são as razões
principais para o surgimento da Governança Corporativa. Estes problemas,
tanto do confronto entre acionistas e gestores quanto de majoritários e
minoritários, segundo Andrade e Rossetti (2006, p. 82) são decorrentes da
dispersão do capital das companhias e na consequente separação entre
propriedade e gestão.
Estes são resultados de um processo histórico e que se desenvolveu ao
longo, principalmente, do último século. De um lado, devido ao processo
natural de partilha da propriedade pela sucessão dos negócios após o
afastamento dos fundadores. Por outro, empresas que recorreram a formas de
financiamento externo para fazer frente à suas necessidades de investimento.
Assim, com a dispersão dos acionistas, estes foram obrigados a
buscarem pessoas especializadas – que tivessem domínio do negócio,
conhecimento de gestão e em estratégias e operações – sendo conferidas a
estas a missão de gerir os negócios corporativos. Segundo Andrade e Rossetti
(2006, p. 84), em troca de recursos para a capitalização de empreendimentos e
remuneração pelos serviços prestados, os gestores ofereceriam aos acionistas:
[...] “serviços que maximizassem o retorno dos acionistas, com o compromisso de prestarem informações precisas, oportunas, confiáveis e abrangentes sobre a condução dos negócios, sobre os riscos e vulnerabilidades da empresa e sobre suas perspectivas futuras“.
A este relacionamento entre gestores e acionistas, Jensen e Meckling
(1976, p. 308) definem como “um contrato no qual uma ou mais pessoas (o
principal) dotam outros (agente) dos poderes de tomada de decisão“. O
principal é o individuo que contrata um ou mais agentes, dotando estes dos
poderes necessários para a obtenção de objetivos definidos pelo principal.
15
Daí pode ocorrer o problema: o agente muitas das vezes poderão tomar
decisões que sejam conflituosas para a obtenção dos objetivos traçados pelo
principal. A este conflito Pindyck e Rubinfeld (2002, p. 617) denominam de
Problema da relação Agente-Principal. De acordo com estes autores, este
conflito, decorrente da assimetria de informações, ocorre devido ao fato de que
os proprietários “não têm condições de acompanhar tudo o que seus
funcionários fazem“ e que estes estão muito mais bem informados do que os
proprietários.
Assim, como a grande parte das maiores companhias é controlada por
administradores não-proprietários e há grade dispersão societária, torna-se
difícil para os vários acionistas obterem informações para que possam
monitorar a performance de seus gestores, sem que incorram em altos custos.
Com estes gastos, denominados Custos de Agência, Silveira (2004, p.
31) afirma que os acionistas podem limitar as divergências, pois com as
devidas ações – que incorrem nestes custos -, eles poderão monitorar as
atividades dos gestores. Os Custos de Agência são a soma de:
§ Custos de criação e estruturação de contratos entre o principal e
o agente;
§ Gastos de monitoramento das atividades dos gestores pelo
principal;
§ Gastos promovidos pelo próprio agente para mostra ao principal
que seus atos não serão prejudiciais aos mesmos;
§ Perdas residuais, decorrentes da diminuição da riqueza do
principal por divergências entre as decisões do agente e as
decisões que iriam maximizar a riqueza do principal.
Ocorre que, de acordo com Rossetti e Andrade (2006, p. 85), dificilmente
os Conflitos de Agência serão totalmente evitados, dado duas razoes: a não
existência do contrato completo (axioma de Klein) e a inexistência do agente
perfeito (axioma de Jensen-Meckling), vistos a seguir:
§ Axioma de Klein – fundamenta-se no fato do ambiente de
negócios ser cada dia mais imprevisível, podendo o resultado
16
ser fortemente impactado por turbulências. Klein afirma que
contratos perfeitos e completos – que contemplassem todas
as contingências e respostas às mudanças no ambiente de
negócios – não existem, se é que já existiu, enumerando três
razões: (i) o grande número de contingências possíveis; (ii) a
multiplicidade de reações às contingências; (iii) a crescente
frequência com que as contingências imprevisíveis passaram
a ocorrer.
§ Axioma de Jensen-Meckling – o agente perfeito seria o que
é indiferente entre maximizar seus objetivos próprios e o de
terceiros, o que em teoria econômica sugeriria uma curva
perfeita de indiferença entre tais objetivos. Ocorre que esta é
uma situação difícil de ser vista, uma vez que a “natureza
humana utilitarista e racionalista levaria os indivíduos a
maximizarem mais sua própria utilidade que a de terceiros“
(ANDRADE e ROSSETTI apud JENSEN e MECKLING6, 2006,
p. 87).
Além deste tipo de conflito (proprietário x gestor), há outro muito
importante que, aliás, é visto na maioria dos países (inclusive o Brasil). Trata-
se dos conflitos entre acionistas majoritários e acionistas minoritários. Esta
nova percepção pode ser conferida a seguir:
O predomínio, por décadas, da visão descrita em Berle & Means (1932)m segundo a qual as grandes empresas modernas possuem propriedade acionária dispersa, moldou o debate sobre Governança Corporativa: o grande problema de agência era visto como o conflito entre administradores (agentes) e acionistas (principais). O oportunismo consistia de decisões dos administradores que não visassem à maximização do valor das ações. Dentro desse paradigma, boa Governança empresaria significaria a adoção de mecanismos que forçassem os administradores (não-acionistas) a proteger os interesses dos acionistas.
Entretanto, uma série recente de estudos (mais notadamente La Porta et al., 1997) tem demonstrado que o paradigma de Berle & Means (1932) é exceção restrita aos Estados Unidos e à Grã-Bretanha. Na maioria dos países, o modelo que predomina é o de um acionista majoritário que detém o controle da empresa e aponta seus administradores. Em tal situação, há mudança no paradigma da Governança Corporativa: a boa Governança não mais consiste em
17
proteger o interesse dos acionistas, mas sim em evitar que os acionistas controladores expropriem os minoritários (CARVALHO, 2001, p. 20).
18
1.5 – Governança Corporativa no Brasil.
Como já mencionado, o início das preocupações com as boas práticas
de Governança Corporativa no Brasil retrocede do final da década passada.
Também foi citado que o modelo de Governança no país busca muito mais
evitar os conflitos entre acionistas majoritários e minoritários. Isso ocorre
principalmente devido ao fato de que o controle de nossas empresas sempre
foi predominantemente concentrado na mão de poucos, sendo que estes
muitas das vezes são detentores de pequena participação relativamente ao
capital total da companhia, devido principalmente ao histórico da permissão
legal de emissão de duas classes de ações – ordinárias ¹(ON) e preferenciais²
(PN).
Essa distorção histórica e praticamente única entre os países deu-se
principalmente em um dos períodos de maior expansão do mercado acionário
brasileiro quando, em meados da década de 1970, a Comissão de Valores
Mobiliários (CVM) permitiu a elevação da proporção de ações sem direito a
voto (PN) no capital total (de 50% para 67%), possibilitando às empresas a
emissão de novas ações sem abrir mão do controle. Em 2001, com a nova Lei
das Sociedades Anônimas, essa proporção foi reduzida novamente para 50%.
________________________________________________________
¹Ação Ordinária: proporciona participação nos resultados econômicos de uma empresa; confere a seu titular o direito de voto em assembléia e dá o direito de eleger a diretoria (Conselho) da empresa que o emitiu. No entanto, quando ocorre uma distribuição de dividendos da empresa, os proprietários de ações ordinárias só receberão os mesmos depois que os proprietários de ações preferenciais tenham recebido o seu percentual fixo.
²Ação Preferencial: que garante ao acionista maior participação nos resultados da empresa, mas não dão direito a voto. A "preferência", no caso, diz respeito à distribuição dos resultados, ou seja, os acionistas preferenciais recebem os dividendos antes dos outros. No Brasil, normalmente são as ações de maior quantidade disponível e, portanto, de maior liquidez
19
2 – Governança Corporativa, Mercado de Capitais e Crescimento Econômico.
A Governança Corporativa tem suas bases fundamentadas na
microeconomia (Problema Agente-Principal), porém, suas implicações vão
muito além. O tema é tratado como forte contribuinte para o completo
desenvolvimento do mercado de capitais que, por sua vez, colabora para o
crescimento e desenvolvimento econômico de um país.
De forma sintetizada, Andrade e Rossetti (2006, p. 326) destacam três
pontos relevantes da Governança Corporativa: criação de valor, harmonização
de interesses e crescimento econômico. Os autores ainda apontam para um
possível “círculo virtuoso“ entre mercado de capitais, investimento e
crescimento econômico, como pode ser visto a seguir:
De acordo com Carvalho et al (2001, p. 235), para o desenvolvimento da
economia, é necessário que haja investimentos. Estes podem ser entendidos
como os recursos de poupança que podem ser utilizados em atividades
produtivas, utilizando os fatores de produção que podem aumentar ainda mais
a renda. Já a poupança é entendida como a parte da renda que não foi
consumida. É acrescentado ainda o seguinte:
“[...] as economias capitalistas modernas descobriram um instrumento poderoso de viabilização do investimento: o desenvolvimento e o aperfeiçoamento de relações financeiras entre os agentes
Figura 2 - Circulo Virtuoso da Governança Corporativa
1) Maximização da criação de valor2) Harmonização de interesses3) Alavancagem do crescimento econômico
Fonte: Andrade e Rossetti (2006, p. 326)
Desenvolvimento e adoção de boas
práticas de Governança Corporativa
20
econômicos. Estas servem assim para alavancar o desenvolvimento econômico, permitindo uma alocação de recursos muito mais eficiente [...]“
Estas relações financeiras ocorrem entre agentes superavitários em
poupanças e agentes deficitários, que desejam recursos para utilizarem em
investimentos produtivos. Assim, para unir poupança e investimento, Pinheiro
(2005, p. 155) apresenta três caminhos: (i) autofinanciamento, através da
utilização de recursos próprios; (ii) governo, quando este financia certas
atividades utilizando a arrecadação tributária ou a imposição de mecanismos
compulsórios de poupanças; e (iii) via mercado financeiro.
Esta última opção é apontada como a mais eficiente, visto também as
dificuldades da primeira e as distorções provocadas pela segunda. Um
mercado financeiro eficiente, nas palavras de Carvalho et al (2000, p. 388) é
“[...] no sentido neoclássico, um mercado competitivo onde há plena
distribuição de informações entre poupadores, investidores produtivos e
intermediários financeiros [...]“.
Segundo OCDE, há claras evidências de correlação entre crescimento
econômico e desenvolvimento do mercado financeiro. Pinheiro e Bonelli (2005)
estudam as inter-relações entre desenvolvimento financeiro, crescimento
econômico e equidade, tendo como exemplo o caso brasileiro. Estes autores
contatam que o problema do menor crescimento do PIB do Brasil é devido à
baixa taxa de investimento, dizendo que o país não investe o suficiente para
aumentar o estoque de capital na medida necessária para o rápido avanço do
PIB. O trabalho acima citado ainda diz que:
Os mercados financeiros são um importante instrumento para acelerar o crescimento e a produtividade devido ao seu papel na mobilização de poupança, seleção e monitoramento de projetos de investimento, diversificação de riscos e pelo fato de permitirem que o investimento e a produção sejam efetuados segundo a escala e duração mais produtivos (Estudos Econômicos da OCDE: Brasil, 2001, p.11).
O mercado de capitais é apontado então como um importante
instrumento de canalização de recursos para o setor produtivo,
21
especificamente o mercado primário de ações. Segundo Pinheiro (2005, p.
155), o mercado de capitais é fundamental para o crescimento econômico
devido a quatro fatores: (i) aumenta as alternativas de financiamento para as
empresas; (ii) reduz o risco global de financiamentos; (iii) diversifica e distribui
riscos; e (iv) democratiza o acesso ao capital.
Para que o mercado financeiro e de capitais então possa servir
completamente como fonte eficiente de ligação entre poupança e investimento
devem ser dadas condições idéias para tal. Rogers et al apud BABIC (2006,
p.2), em que é enfatizada então a Governança Corporativa como forma de
impulsionar estas condições, citando as seguintes influências da Governança:
(i) criação de instituições chaves que direcionem o sucesso da transformação
da economia baseada no mercado; (ii) eficiência alocativa do capital e do
desenvolvimento do mercado financeiro; (iii) atração de investimentos
estrangeiros; e (iv) contribuição para o processo de desenvolvimento nacional.
Há também uma certa discussão sobre a relação causal entre
desenvolvimento financeiro e crescimento econômico. Existe predominância de
argumentos a favor da hipótese de que o desenvolvimento financeiro leva ao
crescimento econômico, entretanto, existem proposições que dizem ser o
contrário, assim como há propostas de determinação conjunta.
Assim, é enfatizado que a Governança Corporativa atua sobre a
eficiência do sistema econômico, como cita Rogers (2006, p. 2):
[...] um bom sistema de governança ajuda a fortalecer as empresas, reforça competências para enfrentar novos níveis de complexidade, amplia as bases estratégicas da criação de valor, é fator de harmonização de interesses e, ao contribuir para que os resultados corporativos se tornem menos voláteis, aumenta a confiança dos investidores, fortalece o mercado de capitais e é fator coadjuvante do crescimento econômico. Monforte (2004, p. 16).
22
3 – Testando a hipótese de maior valoração das empresas listadas
nos níveis diferenciados da Bovespa
Em sua definição sobre Governança Corporativa, o IBGC afirma que as
boas práticas de Governança Corporativa têm por finalidade o aumento do
valor da empresa. Como já mencionado, esta maior valoração decorre do fato
de que a adoção de melhores práticas de Governança Corporativa eleva as
perspectivas de melhor administração dos negócios e dá maiores garantias de
que as decisões sempre visarão o melhor para os acionistas.
Para que possamos comprovar se realmente a adoção de boas práticas
de Governança Corporativa eleva o valor das empresas, será realizado um
simples teste de hipóteses relativos as médias dos retornos do Ibovespa e do
IGC.
De acordo com Stock e Watson (2004, p. 43), para que possamos
realizar um teste de hipóteses estatísticas, a primeira etapa é especificarmos a
hipótese a ser testada, determinada hipótese nula, e uma segunda, que será
comparada a primeira e denominada hipótese alternativa. Os autores definem o
teste de hipótese da seguinte forma:
A probabilidade de rejeição fixada de um teste de hipótese estatística sob a hipótese nula é o nível de significância o teste. O valor crítico da estatística de um teste é o valor da estatística para o qual o teste passa a rejeitar a hipótese nula a um dado nível de significância. O conjunto de valores de estatística do teste para os quais o teste rejeita a hipótese nula é a região de rejeição e os valores da estatística do teste para os quais o teste não rejeita a hipótese nula compõem a região de aceitação. A probabilidade de que efetivamente o teste rejeite de maneira incorreta a hipótese nula quando esta é verdadeira é o tamanho do teste e a probabilidade de que o teste rejeite corretamente a hipótese nula quando a hipótese alternativa é verdadeira é o poder do teste (STOCK e WATSON, 2004, p. 43).
O teste de hipótese a ser realizado será relativo às médias do retornos
mensais do Ibovespa (representando a média do mercado) e do IGC
(representante das empresas que adotam práticas de Governança Corporativa.
O período da amostra será de junho de 2007, até agosto de 2011.
23
Na Tabela 9 podemos conferir o resumo do teste descritivo dos dados
da amostra:
Como o objetivo é testar se realmente as empresas que adotam as
melhores práticas de Governança Corporativa são mais valorizadas que as
empresas que não as adotam, será feito o seguinte teste:
Testaremos a hipótese dos retornos do IGC terem sido maiores do que
os da média do mercado, representado pelo Ibovespa. Como este último, no
período em análise, apresentou média mensal de retorno igual a 1,85%, será
adotada como hipótese nula (H0) a média do IGC maior ou igual a 1,85%,
contra a hipótese alternativa (H1) de IGC menor que 1,85%, como pode ser
bem resumido a seguir:
Podemos testar a hipótese de igualdade entre os retornos mensais dos
índices diretamente, através do teste t:
Tabela 9 - Resumo do Teste Descritivo do IGC e Ibovespa
Média 2,618% Média 1,849%Erro padrão 0,931% Erro padrão 0,980%Mediana 3,067% Mediana 1,779%Desvio padrão 7,505% Desvio padrão 7,903%Variância da amostra 0,563% Variância da amostra 0,625%Curtose -13,780% Curtose -21,968%Assimetria -13,639% Assimetria -30,103%Intervalo 35,553% Intervalo 35,092%Mínimo -14,946% Mínimo -17,173%Máximo 20,607% Máximo 17,919%Soma 170,196% Soma 120,162%Contagem 65 Contagem 65
IGC Ibovespa
24
Onde:
De acordo com Gujarati (2005, p. 107), as regras de decisão para o
Teste t de significância podem ser resumidas da seguinte maneira:
Sendo assim, trazendo estas regras de decisão para o modelo proposto,
temos as seguintes regras de decisão:
Calculando o valor tcalc e comparando-se com valor t obtido na tabela de
distribuição t, determinando-se o grau de significância em 5%, rejeita-se H0 se
tcalc for maior que -ttabela.
Desta forma, encontramos um tcalc igual a 10,26. Na tabela t, com nível
de significância igual a 5% e graus de liberdade em 63, temos -ttabela igual a -2,
o que nos leva a não rejeitar a hipótese nula (H0). Assim, concluímos que o
retorno médio do IGC é significativamente superior ao retorno do Ibovespa. Ou
25
seja, as ações de empresas que adotam boas práticas de Governança
Corporativa são mais valoradas que os papéis de companhias que não as
adotam.
26
CONCLUSÃO.
Mostrados todos esses aspectos, portanto, a Governança Corporativa
não somente traz implicações para a empresa e seus acionistas, mas é
defendida como algo essencial para o completo desenvolvimento do mercado
de capitais e consequentemente possibilitando maior crescimento econômico.
Principalmente em um momento de queda da taxa de juros e de maior
estabilidade econômica, o que acaba estimulando a utilização de outras fontes
de financiamento, corrigindo assim uma distorção histórica no país. A OCDE
aponta que desde 1950 o Estado representava papel fundamental na alocação
do crédito, o que não estimulava o desenvolvimento da Governança
Corporativa, pois as empresas recorriam a fontes oficiais do Governo ou a
lucros retidos.
Outro ponto a se destacar é que a adoção das melhores práticas de
Governança Corporativa atrai novos investidores ao mercado de ações, dando-
lhes maior segurança e garantia de que seus direitos serão respeitados. Em
contrapartida, foi visto que os papéis das empresas que adotam tais práticas
passam a ser mais procuradas (estas representam mais de 60% dos negócios
e 55% do volume transacionado na Bovespa).
O mercado acionário brasileiro ainda tem muito a se desenvolver,
tornando-se fonte de captação de recursos para as empresas, possibilitando a
estas investirem na ampliação de seus negócios, o que gera empregos, mais
renda, maior produção e consequentemente maior crescimento econômico.
Finalmente, em relação a maior valorização das empresas que adotam a
Governança Corporativa, através do teste feito anteriormente, pôde-se
constatar que estas realmente apresentaram melhor desempenho ao
confrontarmos os retornos mensais do Ibovespa com os do IGC. A adoção
dessas boas práticas de Governança começa a ser uma “pré-condição”
também no mercado brasileiro, haja vista que nos últimos anos cada vez mais
empresas têm aderido a algum dos níveis diferenciados da Bovespa. E não
somente companhias já listadas têm migrado para estes níveis. Em geral, as
27
novas empresas a serem listadas na Bolsa entram em algum destes
segmentos, sendo a maioria no Novo Mercado, mais alto nível de Governança
Corporativa de nossa Bolsa de Valores.
28
Bibliográficas
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Fundamentos, Desenvolvimento e Tendências. – 2ª Ed. – São Paulo: Atlas,
2006.
BOLSA DE VALORES DE SÃO PAULO (BOVESPA). Disponível em:
<http://www.bovespa.com.br>. Acesso em : 01/2012.
CARVALHO, Fernando C. et al. Economia Monetária e financeira, Teoria
e Prática. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS (CVM) - Cartilha com
Recomendações da CVM sobre Governança Corporativa. Junho, 2002.
Disponível em: <http://www.cvm.gov.br>. Acesso em: 12/2011.
GUJARATI, Damodar N. Econometria Básica. São Paulo: Makron Books,
2000.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GOVERNANÇA CORPORATIVA (IBGC) -
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